Pitágoras

Na Antigüidade existia uma lenda segundo a qual Pitágoras foi engendrado no seio materno graças a uma intervenção direta do deus Apolo, também pai das Musas e herdeiro da lira de Hermes. Destacava-se assim a origem celeste e divina de sua doutrina, máxime tendo em conta que Apolo (númen da Luz inteligível, da Harmonia e da Beleza) era considerado uma deidade de origem hiperbórea, o que o punha em relação com a Tradição Primordial. O mesmo nome de Pitágoras procede da Pítia do templo de Delfos (dedicado a Apolo) que profetizou seu nascimento como um bem doado aos homens, nascimento que aconteceu aproximadamente no ano 570 a.C., na ilha grega de Samos. Tendo recebido os mistérios órficos próprios da antiga tradição grega, Pitágoras abandona sua pátria natal para realizar uma série de viagens que o levarão por todo o mundo antigo, especialmente Fenícia, Babilônia e Egito, país onde residiu durante um longo período de tempo, sendo iniciado pelos sacerdotes egípcios, guardiões da sabedoria de Hermes-Thot. Amadurecido seu pensamento, e depois de realizar a síntese de todo o saber recebido, Pitágoras regressou a Samos trinta e quatro anos depois, preparado para cumprir com o alto destino predito em seu nascimento, e que não era outro senão o de criar as bases sobre as quais se assentaria a cultura grega, e posteriormente a civilização ocidental.

Em Samos fundou sua primeira escola, que seria o germe das que mais tarde se estabeleceram por toda a planície mediterrânea, especialmente na Magna Grécia (Sicília), em cuja cidade de Crótona esteve o centro mais importante na vida de Pitágoras. Seus ensinos (cosmogônicos, esotéricos e metafísicos) articulavam-se em torno ao Número, onde residia a origem da Harmonia Universal, pois através dele se revelam as medidas e proporções de todas as coisas, celestes e terrestres, idéia que Platão recolhe no Timeu, seu livro pitagórico por excelência. Para Pitágoras “tudo está disposto conforme o Número” encontrando na tetraktys, ou Década, o número perfeito, e a própria expressão dessa Harmonia, pois “serve de medida para o todo como um esquadro e uma corda em mãos do Ordenador”. Harmonia manifestada fundamentalmente também por meio da música e das formas geométricas, como atestam seus famosos teoremas e a estrela pentagramática ou pentalfa, distintivo da própria fraternidade pitagórica, que continuou subsistindo durante longo tempo, ao menos até a Alexandria dos séculos II e III d.C., onde acabou se integrando na Tradição Hermética, chegando assim até nossos dias através das diversas artes e ciências que tendem à transmutação do ser humano mediante a Sabedoria, a Inteligência, o Amor e a Beleza.

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Matrix – o Deserto do Real

Para começarmos a entender Matrix, é fundamental que façamos a pergunta essencial do filme: O que é a Matrix? Nas telas do cinema, Matrix é um mundo de sonhos gerado por computador, o qual, por meio de uma realidade virtual, simula o nosso mundo como é hoje.

O fenômeno Matrix pode ser compreendido, se considerarmos as influências dos temas que aparecem, direta ou indiretamente, no roteiro do filme. Citarei alguns exemplos: distopia, esperança, filosofia, 1984 de George Orwell, artes marciais, cybercultura, agentes secretos, conspirações, romance, Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, messianismo, mitologia grega e céltica, Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, ficção científica e assim por diante.

Poderia começar pelo messianismo — crença na vinda do Salvador, Jesus, Messias, Buda, Krishna, Noé, rei Artur… Mas começarei pela Filosofia, que, segundo o Aurélio: Filosofia 1. é o estudo que visa a compreensão da realidade, no sentido de aprendê-la na sua totalidade; 2. Razão; Sabedoria.

Vamos a Matrix! Morpheus tem aspectos diferentes; algumas vezes o relaciono com o “Mestre” da Grande Fraternidade Branca, que tem de ensinar o seu discípulo, Neo, a vencer a ilusão (Maya) para, desta forma, enfrentar a Matrix. Para que isso aconteça, Neo tem de transformar-se em Mestre. E é por meio dos softwares (programas) que começa seu aprendizado.

Por outro lado, Morpheus é um deus da mitologia grega, filho da noite e do sono, deus dos sonhos, filho de Hypnos. Deus que proporciona o repouso necessário ao homem fatigado para que este possa, por meio dos sonhos, libertar o adormecido de seus pesares.

Em sua missão, Morpheus leva Neo para conhecer o “Oráculo”, que logo lhe mostra a frase “Conhece-te a ti mesmo”, que no Templo de Delfos assim aparece inscrito: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo e os deuses.”.

Pítia (ou pitonisa) era um “título” muito antigo e designava a sacerdotisa de Apolo que, no Oráculo de Delfos, entrava em transe para receber as profecias e as respostas do deus. O nome, talvez relacionado ao antigo nome de Delfos, Pitô, remonta, provavelmente, à época em que o oráculo era consagrado à Gaia e guardado pela serpente Píton, morta por Apolo.

No interior do santuário, a pergunta do consulente era então transmitida à Pítia que, sentada sobre a trípode sagrada e com um ramo de loureiro (um dos atributos de Apolo) nas mãos, inalava os vapores de uma fenda, entrava em êxtase e transmitia a resposta de Apolo. A profecia, sempre enigmática e ambígua, era registrada pelos demais sacerdotes, interpretada por eles entre versos hexâmetros.

A cidade de Delfos fora consagrada a princípio à Terra, em seguida a Têmis (justiça), depois a Febe (a Lua mediadora), por fim a Apolo, o deus solar, o verbo solar, a palavra universal, o grande mediador, o Vishnu dos hindus, o Mithras dos persas, o Hórus dos egípcios, o Logos da Teosofia.

Aliás, Logos significa “espírito”, “razão” ou “linguagem”. Na Bíblia, o Logos aparece no Evangelho de João, no qual é traduzido como “Verbo”, e é um dos atributos de Deus: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”. Os gnósticos interpretavam o Logos como uma denominação do verdadeiro Deus. Durante uma visão, o líder gnóstico Valentino viu o Logos sob a forma de um menino não muito diferente do órfão que fala a Neo a respeito da colher em Matrix. No Gnosticismo, o Arquiteto assemelha-se ao Demiurgo, um deus falso. Os gnósticos acreditavam que todos viviam em um mundo material e que despertaríamos para a realidade verdadeira.

Matrix também nos faz lembrar de Sócrates, esse sábio que mudou o panorama da Filosofia e da humanidade, fundador da ética ou filosofia moral. Por sua causa, as pessoas passaram a se interessar e a estudar, não apenas a realidade exterior, mas a interior.

Sócrates, em sua época, também procurou o “Oráculo”, e este vaticinou ser ele o homem mais sábio dos homens. Todas as pessoas achavam isso, menos Sócrates. No filme, todos acham que Neo é o “Escolhido”, menos ele.

Para Sócrates, a sabedoria consiste no reconhecimento da própria ignorância, o que envolve o abandono de idéias preconcebidas. Isso tem uma profundidade imensa. As pessoas não questionam, são ignorantes (não conhecem). Elas buscam um caminho um tanto controverso, sem nenhum fundamento, baseiam-se em livros sem começo e sem fim, de autoria desconhecida e com traduções duvidosas.

Em Matrix, algumas coincidências com as religiões são fáceis de serem percebidas. A ligação de Neo com o Messias é óbvia, tanto em sua ressureição como nas profecias da vinda do Salvador, que é preparada por Morpheus (na Bíblia, por João Batista); Nabucodonosor é a nave com o mesmo nome do rei babilônico responsável pela destruição do Templo de Jerusalém; na nave de Matrix existe a inscrição Mark III nº 11, em referência ao Evangelho de Marcos 3:11, que diz: “E quando os espíritos impuros o viam, se jogavam gritando: ‘Tu és o Filho de Deus’”.

Já que mencionei o número 11, voltemos ao início do filme, quando deixa gravado na tela por alguns instantes o número 506, que em sua soma tem como resultado o número 11. Este é considerado um número “mestre”.

O 11 é o despertador para a consciência Divina, um portal dimensional, o fogo sagrado presente em nosso ser. Este número está associado à carta “força” do Tarô, que representa a vitalidade, a força e o brilho de todos os seres. Indica energia transbordante. O 11 é o número de Nuit (Deusa da Noite).

Os maçons representam esse número com o Hexagrama Pentáfico, o pentagrama inscrito no Hexagrama. Para a tradição chinesa, o 11 é o número pelo qual se constitui, na sua totalidade, o caminho do Céu e da Terra, Tcheng. É o número do Tao. No hebraico, está relacionado à letra Teth, que significa serpente. É o asilo do homem, seu escudo e proteção. No caminho cabalístico, a letra Teth une e equilibra Chesed (a misericórdia) com Gueburah (a severidade). É a ponte que integra a polaridade da construção e da destruição. Diz Robert Wang: “É o caminho em que o fogo se torna Luz”. Sua atribuição astrológica é leão, signo do fogo e regido pelo sol.

No Sepher Yetzirah está escrito: “O décimo-primeiro é o número da consciência desejada e procurada (Sephel Hachafutz VeHaMevukash), e é assim chamado porque recebe o influxo Divino para outorgar sua bênção a tudo o que existe”.

Podemos ainda relacionar o número 11 a Lúcifer, o portador da Luz, phosphóros (= do grego), Vênus, a estrela matutina e vespertina, a luz mais brilhante.

No Hinduísmo, a figura da mulher é supervalorizada e há a união entre o masculino e o feminino, o yin e o yang. Na Antiguidade, a figura feminina era ligada à Deusa. Era à mulher que os deuses faziam as revelações (como à Pítia, por exemplo). Em Matrix, temos a figura de Trinity, que representa o número 3 e que, em português, significa Trindade — Pai, Filho e Espírito Santo — Brahma, Vishnu e Shiva, e assim por diante. Existe aqui, portanto, um outro ponto, um tanto menos masculino. Trinity é uma mulher e representa a Grande Mãe-Filha e o Espírito Santo. Outra vez o filme faz menção à Grande Fraternidade Branca, na qual a mulher é representada pela Mãe-natureza.

Segundo o pitagorismo, a essência de todas as coisas é o número, ou seja, as relações matemáticas, que afirmam poder explicar a variedade do mundo mediante o concurso dos opostos, que são: o limitado e o ilimitado, o par e o ímpar, o perfeito e o imperfeito.

Como a filosofia da natureza, assim a astronomia pitagórica representa um progresso sobre a jônica; afirmam a esfericidade da Terra e dos demais corpos celestes, denominando o conceito de harmonia, logicamente conexo com a filosofia pitagórica, e as práticas ascéticas e abstinenciais com relação à metempsicose e à reencarnação das almas.

“Simbolismo dos Números Pitagóricos: um é a razão, dois a opinião, quatro a justiça, cinco o casamento, dez a perfeição, etc. Um é o ponto, dois é a linha, três é a superfície, quatro é o volume. Cosmogonia. O Universo e os Planetas esféricos. A Harmonia das Esferas.”

Existem muitas divergências a respeito da verdadeira nacionalidade de Pitágoras, pois uns afirmam ter sido ele de origem egípcia; outros, síria ou, ainda, que ele seja natural de Tiro. Porém, o mais aceito por todos que estudam sua vida é que Pitágoras nasceu em Samos, entre 520 e 570 antes de nossa era. Na mesma época de Gautama — Buda, Zoroastro (Zaratustra), Confúcio e Lao Tse.

Seus Mestres foram Hermodamas de Samos, até os 18 anos; depois, Ferécides de Siros; foi aluno de Tales, em Mileto, e ouvinte das conferências de Anaximando. Foi discípulo de Sanchi, sacerdote egípcio, tendo também conhecido o assírio Zaratustra, na Babilônia, quando de sua estada na Metrópole da Antiguidade.

O hierofante Adonai aconselhou-o a ir ao Egito, recomendado ao faraó Amon, onde foi iniciado nos Mistérios Egípcios, no Santuário de Mênfis, Dióspolis e Heliópolis.

Eis o significado do nome Pitágoras (Píton = serpente; Ágora = espaço aberto onde os gregos se reuniam para conversar e mercadejar). A Serpente representa sabedoria e Ágora a “boca”. Em resumo, seu nome significa a “Voz da Sabedoria”.

Pitágoras ostentava em sua coxa esquerda uma grande marca dourada que os céticos julgavam ter sido um sinal de nascença, mas os iniciados sabem que se trata do sinal de Apolo.

“A ciência dos números e a arte da vontade são as duas chaves da magia, diziam os sacerdotes de Mênfis; elas abrem todas as portas do Universo.”

“O sono, o sonho e o êxtase são as três portas abertas do além, de onde nos vêm a ciência da alma e da arte da adivinhação. A evolução é a lei da vida. O número é a lei do Universo. A unidade é a lei de Deus.”

Não poderíamos falar em Matrix sem mencionarmos a figura de Icarus, um havercrafts que, como Nabucodonosor, de Morpheus, percorre os túneis subterrâneos em busca de um local para transmitir um sinal pirata para dentro da Matrix. Na mitologia grega, Ícaro era filho de Dédalo, o artesão que construiu o Labirinto do Minotauro em Creta, aquele com corpo de homem e cabeça de touro, que devorava os prisioneiros do rei. Dédalo e seu filho foram vítimas dessa prisão e sabiam que só conseguiriam sair dali se fosse pelo alto. Dédalo, então, confeccionou asas para ambos, coladas com cera de abelha, e conseguiram fugir. Mas Ícaro se embriagou pela sensação de voar e aproximou-se demais do Sol, que derreteu a cera de suas asas fazendo com que ele se despedaçasse de encontro ao solo. Os gregos passaram a ter Ícaro como símbolo do pior pecado que um humano possa cometer, Hybris, a tentação de igualar-se aos deuses.

A magnífica obra 1984, de George Orwell, escrita em 1948, fala de um mundo dominado pelo socialismo stalinista em 1984 (o inverso dos números do ano em que foi escrita). Em um mundo onde o Estado domina e nada é de ninguém, mas tudo é de todos, tudo o que resta de privado são os poucos centímetros quadrados do cérebro. E é aí que a batalha se desenvolve, entre o indivíduo e o Estado, lutando na tentativa de controlar a mente.

“Obediência não é o suficiente. A não ser que uma pessoa esteja sofrendo, como você pode ter certeza de que ela está obedecendo à sua vontade e não à dela? O poder está em infringir dor e humilhação. O poder está em rasgar mentes humanas em pedaços e colocá-las juntas de volta em novas formas escolhidas por você mesmo. Você começa a enxergar agora o tipo de mundo que estamos criando? (…) Não haverá lealdade, a não ser lealdade ao partido. Não haverá amor, a não ser amor ao Grande Irmão. Não haverá riso, apenas o riso de triunfo sobre um inimigo derrotado. Não haverá arte, literatura ou ciência. Quando formos onipotentes, já não haverá mais necessidade de ciência. Não haverá distinção entre a beleza e a falta dela. Não haverá mais curiosidade nem alegria no processo da vida. Todos os prazeres competitivos serão destruídos. Mas sempre – não se esqueça disso, Winston – sempre haverá a intoxicação do poder, sempre aumentando e sempre crescendo sutilmente. Sempre, a cada momento, haverá o tremor da vitória, a sensação de pisar num inimigo que já está sem esperança. Se você quer uma imagem do futuro, imagine uma bota pisando num rosto humano – para sempre.”

Lembro-me, também, de Aldous Huxley e sua obra-prima, Brave New World (Admirável Mundo Novo), escrita durante quatro meses, no ano de 1931. Os temas nela abordados remontam grande parte de suas preocupações ideológicas como a liberdade individual em detrimento ao autoritarismo do Estado.

“A sobrevivência da democracia depende da capacidade de grandes maiorias de fazer escolhas de um modo realista, à luz de uma informação suficiente.”

É uma forma diferente de criticar a substituição das pessoas por máquinas: substituindo o lado humano, os sentimentos e emoções por sensações pré-programadas. Os seres humanos são produzidos em linhas de montagem (criadas por Henry Ford, no início deste século), como os produtos genéricos, e condicionados a aceitar uma série de dogmas sociais; são padronizados e, no entanto, continuam presos a dogmas, embora estes mudem de uma sociedade para outra, sendo atribuídos de formas diferentes: por um lado, por meio da educação infantil e, por outro, pelo condicionamento hipnopédico (em outras palavras, adestramento).

Quando Trinity beija Neo, ele revive (ressurreição) e, pelo amor, é feita a penetração do fluído sutil. Vemos que não há nada mais poderoso que o Amor. Sua ressonância dissolve toda ilusão, bem como o véu da separação; sua pureza cura todas as experiências passadas e mágoas profundas, formando um invencível campo de Luz.

Na grande maioria, nas iniciações das Ordens Secretas (entenda-se como secreta aquilo que não é público, não tem registro físico, jurídico, etc.), o neófito morre para o mundo profano e renasce “Iniciado”. Antigamente era normal batizá-lo com nome iniciático.

Na Maçonaria, isso era comum também, mas os céticos, intitulados historiadores, tentam todos os dias diminuir o universo oculto e místico que estão presentes na Ordem Maçônica. Que me desculpem os Irmãos que pensam diferente, mas contra fatos não há argumentos. Nossos Templos estão lotados de alegorias e símbolos, nossos rituais não são a respeito de política, nosso livro da Lei não está ali apenas para os nossos juramentos, enfim, faço questão de lembrá-los dos Mistérios Persas e Hindus; Mistérios Egípcios; Mistérios Gregos, de Ceres ou Deméter; Mistérios Judaicos de Salomão; Mistérios Gregos de Orfeu; de Pitágoras; dos Essênios e dos Mistérios Romanos. E ainda querem argumentar…

Assim como os Mistérios de Ísis, os Mistérios de Elêusis, na Grécia Antiga, também exerceram uma enorme influência no surgimento do Gnosticismo. Dedicados à deusa grega Deméter, os rituais de Elêusis rememoravam a peregrinação dessa divindade pelo mundo em busca da filha Perséfone, seqüestrada por Hades, o Senhor das Almas, que a levou para o mundo subterrâneo e tomou-a por esposa. Foi da filha de Deméter que a mulher de Merovíngio emprestou seu nome, o que faz do próprio Merovíngio um equivalente do Hades grego. O mundo subterrâneo, onde se localizava o Hades, por sua vez, remete ao mundo subterrâneo onde se localiza a cidade de Zion, em Matrix. Outra coisa que nos chama a atenção no filme é Zion — Sião em português. Poderíamos ir pelo caminho do Santo Graal, pois a cidade de Zion está situada no centro da Terra, ou até mesmo citar Júlio Verne em sua obra Viagem ao Centro da Terra.

Há aqui outra referência a respeito do mundo subterrâneo. O mundo de Jina ou de Duat, Agartha e Shamballah, que são reflexos do seio da terra dos três mundos superiores, esquematizado no Hexágono, o seis, o vau (arcano deste número).

Hermes Trismegisto diz: “O que está em cima é como o que está embaixo e o que está embaixo é como o que está acima, para a realização dos mistérios da causa única”.

O significado do nome de Hermes Trismegisto é: Hermes = o intérprete – Trismegisto = 3 megas = 3 vezes grande, ou o que possui os 3 reinos de sabedoria: mineral, vegetal e animal. Sua existência é atribuída no ano de 1900 a.C.; Hermes é o mesmo Thoth dos egípcios, e sua existência acompanha a vida religiosa do Egito.

Voltando à Agartha, foi para lá que Noé conduziu seu povo, a fim de salvá-lo do dilúvio. E podemos dizer ainda que seria a cidade submergida de Atlântida, a mesma de Platão.

Segundo Saint-Yves d’Alveydre, que viveu entre 1842 e 1909 e teve contato com seres desse lugar, é um verdadeiro mundo a quatro dimensões. Chamado de Venerável Mestre do G.O. (Governo Oculto) por seus discípulos, Saint-Yves, dentre suas obras, Mission dês Souverains, Mission dês Juifs e Mission de l’Inde, deixou uma de maravilhosa magnitude, O Arqueômetro, lançamento da Madras Editora.

O nome “sinarquia”, pela sua etimologia grega, pressupõe a realização de uma ordem sagrada num equilíbrio perfeito, de uma harmonia completa, que seria o reflexo das leis cósmicas. Está associado a uma das mais misteriosas sociedades secretas modernas de governantes invisíveis, tendo sido introduzido pelo grande esotérico Alexandre Saint-Yves. Ele recebeu do papa o título de Marquês de Alveydre e, por isso, tornou-se conhecido como Saint-Yves d’Alveydre. Viu-se, então, escolhido pelos governantes invisíveis do mundo para executar seus planos. Saint-Yves apregoava o ideal de uma sinarquia universal, a Sinarquia do Império, e não restam dúvidas de que manteve contato direto com os mais altos governantes secretos.

Na obra Animais, Homens e Deuses, Ferdinando Ossendowsky nos fala do Rei do Mundo, chefe supremo de todas as Ordens Secretas, conhecido na Índia como Jagrat-Dwipa. Na bíblia hebraica, o rei Melkitsedek é um ser mais enigmático que o próprio Apolônio de Tiana; no Tibete, é chamado de Rigden-Jyepo.

Os iniciados chineses da Ordem do Dragão de Ouro faziam referências a Agartha com Salem — A cidade Luz das tradições hebraicas e de vários povos.

René Guénon cita em sua obra, O Rei do Mundo, que Agartha é o centro oculto durante a Kali-Yuga (Idade Negra) de todos os movimentos filosóficos e espiritualistas na Terra. Na mitologia hindu, Kali, também conhecida como Durga, é a deusa-mãe, representada sob o duplo aspecto de nutridora (como aquela que dá a vida) e devoradora (a morte, destruidora de todas as coisas). Seu nome principal, Durga, em sânscrito significa “a que é difícil de abordar, a inacessível”, e na cosmogonia brahmânica, especialmente na filosofia de Sri Ramakrishna, ela é considerada uma personificação do real que se oculta por detrás do mundo das aparências. A palavra Kali, por sua vez, deriva do sânscrito kala, que quer dizer “tempo”. Sob seu aspecto negativo, Kali é a padroeira da Kali Yuga, a quarta e última etapa pela qual o mundo deve passar antes que, de acordo com o Hinduísmo, ele seja reabsorvido em sua origem Divina. Durante a Kali Yuga, o mundo ¬ mergulha quase que completamente nas trevas da ilusão (Maya), uma descrição bastante apropriada ao universo de Matrix. Cabe também ressaltar que Kali é tida como o lado feminino de Shiva, o Senhor da destruição e da renovação; pai de Ganesh, Senhor que remove os obstáculos de nossos caminhos.

Já nos antigos manuscritos indianos, a verdade das revelações globais estava contornada, como se vê da promessa do Espírito da Verdade quando, pela boca de KRISHNA, este diz a seu discípulo Arjuna, no Bhagavad-Gita, profecia que mais uma vez somos obrigados a repetir:

“Todas as vezes, ó filho de Bharata! que Dharma (a lei justa) declina, e Adharma (a lei injusta) se levanta, Eu me manifesto para a salvação dos bons e destruição dos maus. Para restabelecimento da lei, Eu nasço em cada Yuga (idade).”

Blavatsky confirmou que estamos passando por mudanças cíclicas, com as seguintes palavras:

“Em breve, chegaremos ao fim do ciclo. Os cataclismos se sucedem. Grandes forças estão sendo acumuladas, para esse fim, em diversos lugares.”

Com Jeoshua Ben Pandira, o Cristo, retificou-se a antiga tradição: “Eu não vim destruir a Lei, mas dar-lhe cumprimento”, reestabelecendo o Sanctum Santorum, a Grande Assembléia Universal, como a mansão do amanhecer, Cidade de Cristal, Agartha-Shamaballah.

Para conhecer mais a respeito de sociedades ocultas, sugiro a leitura da obra As Forças Secretas da Civilização, de Vitor M. Adrião, Madras Editora.

Sempre houve um elo profundo que unia, na Antiguidade, a adivinhação aos solares. O culto ao Sol é a chave de ouro de todos os mistérios ditos mágicos. Lembre-se de que, no filme, os Mamíferos (seres humanos) destruíam o Sol. Na verdade, o Sol é a fonte de Luz, de calor e de vida. Os sábios hindus viam-no como forma de Agni, o fogo universal que penetra em todas as coisas. Mitras é o fogo masculino e Mitra, a luz feminina. Para o iniciado de Mitras, o Sol é apenas um reflexo grosseiro da luz inteligível. Os egípcios iniciados procuravam o mesmo Sol sob o nome de Osíris. Hermes também reconhece, nas ondas etéreas, uma luz deliciosa. No Livro dos Mortos do Antigo Egito (Madras Editora), as almas vagam a duras penas para essa luz na barca de Ísis. Moisés também adotou essa doutrina na Gênese. “Elohim disse: ‘Que se faça a Luz, e a Luz se fez’”. Zoroastro está de acordo com Heráclito, Pitágoras, São Paulo, os cabalistas e Paracelso, que definem a luz que reina em toda a parte.

Quando Smith e seus agentes capturam Neo, colocam nele um chip. Acerca desse assunto, daria para escrever um livro, mas vou simplesmente pincelar, assim como os demais temas, para não deixar de comentá-lo.

Percebam que o chip se transforma numa espécie de crustáceo (que lembra um camarão) que faz a sua penetração pelo umbigo, que, por sua vez, está relacionado ao chacra abdominal (umbigo, plexo solar, o dom da razão). Sua cor é o amarelo, que no nível físico é uma cor quente, muito boa para entrar em contato com o seu próprio Poder. Mas o mais importante é que, segundo os espíritas, o cordão espiritual está ligado diretamente ao umbigo, ou seja, quando seu espírito sai de seu corpo (viagem astral), fica ligado ao umbigo físico por um cordão invisível.

Em Matrix Reloaded, conhecemos o Arquiteto como o criador da Matrix (Deus dos humanos). Vestido todo de branco, menciona que os seres humanos são anomalias e que estamos numa mistura entre Matrix e Zion. Primeiro fomos colocados na Matrix, e a maioria vive nela, representando um papel a cada encarnação, trocando de “nick” para esquecer-se do que são. Outros poucos encontram-se em Zion, onde todos acreditam que tudo é uma ilusão, onde não existe bem ou mal — uma sociedade alternativa…

Dá para perceber que houve um grande arrependimento desse deus ter criado os seres humanos.

Vários aspectos aqui nos chamam a atenção. Nosso Arquiteto de branco, como o chefe dos anjos, não é aquele ser barbudo nem seu coração está transbordando de amor pelas suas criaturas e muito menos perdoando-as de seus “pecados”. Que horror!

Buda, ao atingir seu estado de iluminação, Nirvana, libertou-se das ilusões do sansara, e falou: “Apanhei-te, Arquiteto. Nunca mais tornarás a construir”. De acordo com a filosofia budista, ele estava referindo-se ao ego, criador da pseudo-realidade em que vivemos.

Não comentei nada sobre Cypher, o traidor, o Judas. Mesmo sabendo que tudo era uma ilusão, ele quer retornar à Matrix e afirma: “A ignorância é maravilhosa”. Mas em Matrix Reloaded existe Haman, que foi um traidor do povo judeu. Na Bíblia, Haman é o grande vilão do Livro de Ester; ele odiava os judeu e tramava secretamente contra o povo, a fim de exterminá-lo. Mas seu plano foi descoberto por Ester, que o denunciou ao rei. Na festa judaica do Purim, é comemorada a derrota de Haman. Também confeccionam bonecos, como fazem os cristãos na malhação de Judas.

Um dos maiores heróis da religião hindu é o Senhor Rama, protagonista do poema épico Ramayana. Rama-Chandra é o sétimo avatar do deus Vishnu, um dos integrantes da Trindade Suprema (Brahma, Vishnu e Shiva), que periodicamente descia encarnado sob forma humana à Terra para libertar os humanos da ilusão.

Gostaria de poder escrever muito mais a respeito desta obra, na qual William Irwin compilou com maestria as diversas visões referentes a Matrix, elaboradas pelos respeitáveis acadêmicos: Barry Smith, Carolyn Korsmeyer, Charles I. Griswold, Cynthia Freeland, Daniel Barwick, David Mitsuo Nixon, David Rieder, David Weberman, Deborah Knight, George McKnight, Gerald J. Erion, Gregory Brassham, James Lawler, Jason Holt, Jennifer L. McMahon, Jonathan J. Sanford, Jorge J. E. Gracia, Martin A. Danahay, Michael Brannigan, Sarah E. Worth, Slavoj Zizek, Theodore Schick Jr. e Thomas S. Hibbis. Espero, entretanto, que com essas poucas palavras, tenha contribuído para que muitas pessoas não apenas vejam os filmes novamente, mas também “acordem” e procurem saber mais a respeito da fonte na qual os irmãos Wachowski foram saciar sua sede. Ou teria a fonte vindo até eles?

Por Wagner Veneziani Costa.

Introdução do livro “Matrix – Benvindo ao Deserto do Real”, da Editora madras.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/matrix-o-deserto-do-real

Pitágoras e Buda, professores de Jesus

Hoje falaremos sobre os antigos ensinamentos de Yeshua, o Jesus histórico real. Já falamos sobre como, onde e quando ele nasceu, mas o que ele pregava? Quais as lições que ele passou, tão opostas a Roma e ao Vaticano para que sua história tenha sido apagada, distorcida e adulterada dos registros “oficiais”? Para começarmos a entender a maneira como Yeshua e seus apóstolos pensavam, precisaremos retornar cerca de 6 séculos no passado e conhecer o trabalho de outro grande ocultista, Pitágoras. Recomendo que antes de ler este texto você leia estes textos AQUI e AQUI, sobre a vida de Yeshua.

Pythagoras de Samos nasceu entre 580 e 572 AC e foi um filósofo e ocultista, fundador da Escola Pitagórica. Reverenciado pela massa cética como o pai da matemática, Pitágoras foi, como muitos outros cientistas, muito mais do que isso. Com o conhecimento adquirido nas iniciações nas Pirâmides, Pitágoras foi considerado um dos maiores homens de seu tempo, equivalente a Leonardo DaVinci durante o Renascimento.

Antes de mais nada, vamos estudar a origem de seu nome, Pyth-agor, ligado ao Oráculo de Delfos. Antes de ser chamado Delfos, este famoso oráculo era conhecido como Pythia e foi fundado no século 8 AC, embora o local tenha sido usado para práticas xamânicas desde o século 11 AC, ou seja, no mesmo período em que Salomão construía seu Templo. É importante ressaltar que o Templo do Oráculo de Delfos possuía as mesmas medidas sagradas da Câmara dos Reis e do Templo de Salomão. Certamente uma coincidência.

A história mitológica deste Templo dizia que no local vivia uma gigantesca serpente chamada Pythia (que deu origem ao nome Píton) e que Apolo, o deus solar, havia dominado e derrotado esta serpente e, a partir do corpo dela, construiu o oráculo.

A simbologia desta história é óbvia. A serpente Pythia, assim como em todas as outras culturas, representa a kundalini sendo dominada pelo aspecto Crístico-Solar (Tiferet, na Kabbalah), resultando em um estado de consciência elevado (“Conhece a ti Mesmo” ).

O nome Pythein (apodrecida, em grego) representava os vapores exalados de um caldeirão (qualquer semelhança com as bruxas celtas NÃO é mera coincidência, como veremos mais para a frente), que colocavam as sacerdotisas iniciadas do templo lunar, chamada Pitionísias (Pythia), em um estado de transe onde recebiam instruções de mestres de outros planos vibracionais (assim como médiuns de hoje em dia recebem mensagens provenientes dos espíritos). Quem assistiu ao filme “300 de Esparta” viu uma representação de como funcionavam estes oráculos.

O nome destas possessões era Venter Loquis (ou a “voz que vem do ventre”), pois os antigos já sabiam que os espíritos utilizavam-se do chakra Manipura, ou Plexo Solar, para obterem energia para estas manifestações (muito tempo depois, no século XVI, charlatões utilizavam truques mundanos de projeção de voz para imitar estas manifestações, dando origem ao que se conhece hoje por Ventriloquismo).

O nome iniciático de Pitágoras significa “aquele que fala (Agor-) a verdade das Pythias (Pyth-)” ou seja, Pyth-Agor. Assim como muitos outros sábios, seu nascimento foi profetizado por outras Pythias e ele nasceu de uma virgem. Seus ensinamentos nada mais eram do que os mesmos ensinados pelos Egípcios em suas Escolas dos Mistérios.

Os pitagóricos estudavam a fundo a matemática, filosofia, a geometria sagrada, proporções áureas, o pentagrama, a ligação entre religião e ciência, numerologia, astrologia, reencarnação, vegetarianismo e a música. A associação entre música e magia é muito antiga e poderosa, e estou devendo um post só sobre isso com exemplos ainda este ano.

O símbolo dos Pitagóricos é o Pentagrama, ou Pentemychos. Eu poderia passar horas explicando as propriedades notáveis do Pentagrama, mas achei este vídeo produzido por Walt Disney (que era Rosacruz) em 1959 chamado Mathmagic, então deixarei “Espírito da Aventura” e o Pato Donald explicarem para vocês AQUI .

O Pentagrama também possui uma relação especial com o Planeta Vênus. Observando o céu e anotando a posição da “Estrela Matutina” durante 8 anos, o traçado do chamado “período sinódico” de Vênus forma um Pentagrama (período sinódico é o tempo que um planeta leva para retornar a uma mesma posição em relação ao sol por um observador na Terra – observe o desenho abaixo).

Portanto, desde sempre o Pentagrama representou o Planeta Vênus, ou seja, a Estrela Matutina, ou seja, Prometeus, ou seja, Lúcifer. O Planeta Vênus também está ligado ao sagrado feminino, às deusas celtas e aos Templos Lunares (Vênus-Afrodite, a deusa arquetipal feminina). Não é muito difícil imaginar como a Igreja Católica chegou a associações toscas entre “satanismo” e “pentagrama” e “adoradores do diabo” e “sacerdotisas/bruxas” e “queimem as bruxas”, não é mesmo?

Não podemos esquecer que o próprio nome Yeshua vem do Pentagrama: Yod-He-Shin-Vav-He.

Pitágoras e a Sociedade Pitagórica viveram através de seus discípulos ilustres como Sócrates, Platão (que, não por coincidência, foi quem primeiro citou a Atlântida, lar de todo o conhecimento ocultista, em seus textos Critias e Timaeus), Aristóteles e finalmente Alexandre, o Grande.

Pitágoras recrutava jovens “Livres e de Bons Costumes” para serem seus estudantes. A palavra “Livre” para os pitagóricos não tinha conotação de escravo/liberto, mas sim de “Livres-pensadores”. Uma das frases mais importantes de Pitágoras é “Nenhum homem que não controla a própria vida pode ser considerado livre”.

Gauthama Buddha

Em 563 AC nascia de Mahamaya (“Rainha Maya”) uma pessoa muito especial, chamada Siddharta Gautama. Mahamaya, a mãe de Buda, era certamente uma sacerdotisa especialmente preparada para a recepção de um Avatar na Terra, que os escritores costumam colocar com o termo “virgem” (apesar dela, assim como todas as outras virgens, terem tido relações sexuais ritualísticas para conceber os Avatares). Segundo a história do Budismo, Maya não teve filhos durante 20 anos de casamento com o rei Suddhodana. Certo dia, ela sonhou com um elefante branco e no dia seguinte, acordou grávida. Desta gravidez nasceu Siddartha.

Após um período de peregrinações e estudos, acompanhado de alguns seguidores, Buda atingiu a iluminação com a idade de 35 anos, após passar um período de 49 dias meditando.

[Vou abrir um parênteses aqui, pois estes 49 dias meditando são os mesmos 49 dias que Moisés passou meditando no deserto antes de receber os 10 mandamentos, no período que os judeus chamam de Sefirat HaOmer, um exercício de Kabbalah que é contado todos os anos pelos judeus. Mais para a frente, quando chegar perto deste período, farei um post só sobre isto].

Os sacerdotes e iniciados chamavam-se de Theravada e pregavam os ensinamentos de Buda. Segundo eles, qualquer pessoa que conseguisse despertar do “sono da ignorância” (olha outra conexão do filme “Matrix” nestes ensinamentos) poderia ser chamado de Buda. De acordo com estes ensinamentos, houveram muitos Budas antes de Gautama e haveriam muitos Budas depois… Yeshua inclusive.

Os budistas estudam a fundo os fatos e leis que regem nossa realidade, como Reencarnação, Karma e Dharma, além de desenvolvimento de toda a estrutura de chakras dos iniciados, tal qual os antigos Indianos e os Egípcios. O objetivo desta iluminação é despertar os sete chakras, chegando ao estado de Nirvana, ou a comunhão com o cósmico. Os Theravada pregavam também o desapego às coisas materiais, o assistencialismo e a caridade, realizando curas com suas habilidades iniciáticas.

Durante o século 3 AC, os Theravada chegaram ao Egito (narrado através do encontro do embaixador Ashako na corte de Ptolomeu II em 250 AC) e de lá partiram para as terras dos judeus e para a Grécia. Ali ficaram conhecidos como Therapeutae (de onde se origina a palavra “terapeuta”). Os Therapeutae eram considerados médicos sagrados, estudiosos e filósofos e muitos de seus iniciados trocaram conhecimentos com os membros das outras ordens secretas pitagóricas.

Os Essênios

Os Therapeutae que viviam na região de Nazaré e especialmente próximos de Quram eram chamados de Essaioi, do aramaico Yssyn (“terapeutas” ou “médicos”) ou, como nós os conhecemos: Essênios.

Os Essênios trouxeram consigo todos os ensinamentos iniciáticos da Escola Pitagórica somados aos ensinamentos budistas. No período em que Yeshua pregava, estima-se que haviam cerca de 4.000 essênios espalhados pela Palestina, além de suas famílias e seguidores.

Os Essênios pregavam o desapego aos bens materiais, uma vida vegetariana e voltada para o lado espiritual. Viviam em comunidades grandes e comunais, com camponeses, estudiosos, filósofos e matemáticos. Seus mestres eram chamados de “Mestres Carpinteiros”.
João Batista foi um dos Essênios mais conhecidos de todos os tempos. Padroeiro de todas as Ordens Templárias, fazia as iniciações aprendidas no Egito no Rio Jordão.

Com isso podemos traçar uma linha de conhecimento que se ocultou desde o Egito até Jerusalém, passando por Moisés, Davi, Salomão, Pitágoras, Platão, Aristóteles, Orfeu, Dionísio, os Terapeutas, as Ordens Essênias e, finalmente, o Buda judeu.

Jesus pregava a RESPONSABILIDADE ESPIRITUAL (a responsabilidade pelas sua própria vida, pensamentos e atos – o que não deixa de ser irônico que é justamente o que a Igreja de Satã do Anton la Vey prega hoje em dia). Jesus também pregava os mesmos ensinamentos sobre Reencarnação, Karma e Dharma ensinados nas Escolas de Mistérios e nas filosofias orientais, que nada mais são do que as leis que regem nossa realidade material, tão palpáveis quanto a Lei da Gravidade. Conhecendo a si mesmo (através da astrologia, kabbalah e outros estudos iniciáticos), as pessoas conseguem descobrir quais suas missões e trabalhar em suas oitavas mais altas para o desenvolvimento e eventual escape da Roda de Sansara ou Ciclo de Reencarnações, tornando-se um iluminado (“Eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta que ninguém pode fechar” – Apocalipse 3:8). Desta forma, Jesus pregava que QUALQUER pessoa poderia se tornar Buda, ou Iluminado, bastando para isso seguir os seus passos.

Muitas pessoas irritadas com a Igreja Católica atacam a imagem de Jesus dizendo que a Igreja roubou os ensinamentos de Buda para colocá-los como sendo de Jesus, como “Amar ao outro como a ti mesmo” ou “oferecer o amor para acabar com a guerra” que virou “oferece a outra face” e outros, mas isso é apenas mais uma das falhas que Constantino e seu “Jesus-Apolo” forjado esqueceram de tapar. Os ensinamentos de Yeshua/Jesus são iguais aos de Buda não porque a Igreja os copiou, mas sim porque Yeshua era discípulo das tradições budistas theravada! Lembrem-se do que eu falei sobre Empilhamentos.

Note que isto é o total oposto a uma igreja DOMINADORA, que quer mandar no que você faz ou deixa de fazer, nos seus pecados, no seu dinheiro e na sua vida.

Agora podemos ter uma idéia do porquê os ensinamentos de Yeshua irritavam tanto as “otoridades” da época e também a Roma, que começa a mandar matar os cristãos (mas veremos isso mais para a frente… não vamos colocar o carro na frente dos bois… ). Mas basta pensar o seguinte: se você fosse um ditador religioso que prega que todos devem te obedecer e te dar dinheiro ou ir para o Inferno e aparece um barbudo falando que todo o seu gado é livre para fazer o que bem quiser e tomar responsabilidade pelas suas ações, o que você faria? Mandava matar o desgraçado, isso sim!

Na próxima coluna: “Se você encontrar o Buda em Jerusalém, Mate-o”.

Marcelo Del Debbio

#Essênios #Gnose

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Ísis

Na continuidade, queremos reproduzir uma oração à deusa egípcia Isis, esposa de Osíris, associada à primeira iniciação, lunar, enquanto seu parceiro se encontra vinculado com a segunda iniciação, solar, e ambos os dois se acham conjugados na terceira e última iniciação, a polar, que faz possível a realização do supracósmico, do não humano. Apuleio a inclui em sua obra “As Metamorfoses” (ou O Asno de Ouro, século II d.C.) onde nos dá notícias de que este antigo mito egípcio sobrevivia incólume na Roma de seu tempo. Esta invocação é pronunciada uma vez que se efetua o descenso aos infernos, onde se percebe diretamente e de modo potencial tudo o que seguirá, do qual este descenso é só uma prova. Lembremos por último a vinculação da deusa Isis com o arcano do Tarot, chamado “A Papisa” ou “A Sacerdotisa”.

“Tu, em verdade santa, perpétua protetora do gênero humano, sempre generosa em favorecer os mortais, Tu tens pelas tribulações dos desafortunados um doce afeto de mãe. Não há um dia, uma noite, nem sequer um pequeno instante que passe, sem que hajas prodigalizado teus benefícios, sem que hajas protegido os homens na terra e no mar, sem ter alongado tua salvadora mão, após afastar os embates da vida. E com essa mão desfazes a inextricável e retorcida urdidura da Fatalidade, aplacas as tempestades da Fortuna e neutralizas a influência funesta dos astros. Veneram-te as divindades do céu, respeitam-te as do inferno; Tu dás o movimento de rotação ao mundo; ao Sol, tua luz; ao mundo, tuas leis, com teus pés pisas o Tártaro. A ti respondem os astros; por ti voltam as estações, alegram-se os deuses, mostram-se dóceis os elementos. A uma indicação tua sopram os ventos, incham-se as nuvens, germinam as sementes, crescem os germes. Temem a tua majestade os pássaros que cruzam os céus, os animais selvagens que vão errantes pelos morros, as serpentes que se ocultam sob terra, os monstros do oceano. Mas eu possuo um pobre talento para cantar teus louvores, e um reduzido patrimônio para oferecer-te dignos sacrifícios; não possuo a facúndia necessária para expressar os sentimentos que me inspira tua majestade; não possuo nem mil bocas, outras tantas línguas, nem um inesgotável manancial de infatigáveis palavras, mas terei sempre diante de minha imaginação, guardando-os no mais recôndito de meu coração, teu rosto divino e teu santíssimo númen.”

Isis é associada ao princípio feminino (e, portanto, vinculada à Terra e à Lua), presente em todas as coisas, e se manifesta com as roupagens da energia passiva, imanente e potencial. Diz-nos Plutarco num dos títulos de seu “Ethika”:

“Isis é, pois, a natureza considerada como mulher e apta para receber toda geração. Este é o sentido em que Platão a chama ‘Nodriza’ e ‘Aquela que a tudo contém’. A maior parte a chama ‘Deusa de infinitos nomes’, porque a divina Razão a conduz a receber toda espécie de formas e aparências. Sente amor inato pelo primeiro princípio, pelo princípio que exerce, sobre todo supremo poder, e que é idêntico ao princípio do bem; deseja-o, persegue-o, fugindo e rejeitando toda participação com o princípio do mal. Ainda que seja tanto para um como para o outro matéria e habitáculo, inclina-se sempre voluntariamente para o melhor princípio; a ele se oferece para que a fecunde, para que semeie em seu seio o que dele emana e o semelhante a ele. Regozija-se ao receber estes germes e treme de alegria quando se sente prenhe e cheia de germes produtores. Efetivamente, toda geração é imagem na matéria da substância fecundante, e a criatura se produz a imitação do ser que lhe deu a vida.”

#Poemas #Tarot

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O Anel de Giges e o Anel de Sauron

Uma possível fonte de inspiração para história do livro de J. R. R. Tolkien O Hobbit (praticamente um prelúdio para a trilogia de O Senhor dos Anéis) pode ter sido Platão, no livro A República (Cap. II), onde Glauco tenta convencer Sócrates de que a injustiça é melhor que a justiça, com a história do Anel de Giges:

É a história de um anel mágico, que um pastor encontra por acaso. Basta virar a pedra do anel para dentro da palma para se tornar totalmente invisível, e virá-la para fora para ficar novamente visível. Giges, que antes era tido como um homem honesto, não foi capaz de resistir às tentações a que esse anel o submetia: aproveitou seus poderes mágicos para entrar no palácio, seduzir a rainha, assassinar o rei, tomar o poder, exercê-lo em seu único e exclusivo benefício. Quem conta a história (Glauco) conclui que o bom e o mau, ou os assim considerados, só se distinguem pela prudência ou pela hipocrisia, em outras palavras, pela importância desigual que dão ao olhar alheio ou por sua habilidade maior ou menor para se esconder… Se ambos possuíssem o anel de Giges, nada mais os distinguiria: “ambos tenderiam para o mesmo fim”. Isso equivale a sugerir que a moral não passa de uma ilusão, de uma mentira, de um medo maquiado de virtude. Bastaria poder ficar invisível para que toda proibição sumisse e que, para cada um, não houvesse mais que a busca do seu prazer ou do seu interesse egoístas.

Interessante como Tolkien usa a mesma premissa, mas botando a “culpa” do mal no anel, e não só no portador do anel (embora Gandalf sugira que o anel não pode criar o mal em quem não tem o mal no coração).

#Mitologia #Tolkien

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Método Científico, Idealismo e Materialismo

Vivemos numa época em que vigora o paradigma materialista. Atualmente a ciência possui status e credibilidade semelhante ao que possuía a Igreja na Idade Média. A visão materialista em si não é incorreta ou negativa. É apenas mais um modelo dentre tantos outros, que não possui nada de especial, fora o fato de estar em voga nos dias de hoje. Nós somos um produto do tempo em que vivemos. O fato de grande parte das pessoas da atualidade acreditarem que a matéria é tudo que existe, ou que todos os fenômenos, incluindo os mentais, podem ser explicados em termos fisiológicos (a mente como subproduto do cérebro) não é acidental.

Enxergar o mundo a partir de uma perspectiva materialista é uma prática antiga, observada em diferentes sociedades. Na Índia, essa escola de pensamento se chamava Charvaka e coexistiu com o bramanismo e o budismo. Não foi tão popular por lá. Na Grécia Antiga, pensadores como Leucipo e Demócrito defendiam ideias materialistas, como a teoria atômica. Claramente, o idealismo de Platão e o neoplatonismo de Aristóteles (como estudante da Academia Platônica, alguns estudiosos já veem traços de neoplatonismo no Estagirita) fizeram muito mais sucesso.

Pode-se dizer que o idealismo foi a doutrina mais aceita no mundo ocidental ao longo da Idade Média, propagada pela Igreja Católica (evidentemente, os católicos não chamam a si mesmos de “idealistas”), se considerarmos que o Mundo das Ideias de Platão foi uma forma de idealismo. Ironicamente, as ideias de Descartes deram brecha tanto para que o idealismo florescesse em novas formas, cores e sabores quanto para que o materialismo renascesse das cinzas com força total, para exaltar a noção de progresso do Iluminismo. O dualismo cartesiano separou mente e matéria. O ato de pensar passou a ser condição de existência (racionalismo) e o corpo passou a ser visto como uma máquina.

Tanto o materialismo quanto o idealismo são formas de monismo: ou seja, a ideia de que todas as coisas derivam de uma única substância. No materialismo, a mente é tida como derivada do corpo físico, enquanto no idealismo é o oposto: o psicológico é o fator primordial (ou a razão, mais especificamente) e dele deriva a nossa realidade. Há também o monismo neutro, que não dividiria o ser em corpo e mente, mas em elementos neutros que não se encaixariam em nenhuma das duas categorias, posição defendida por Hume e Spinoza.

No momento em que é estabelecido um dualismo, é natural do ser humano desejar criar uma hierarquia entre seus elementos, estabelecendo um reino monista que reinaria soberano: a mente é superior ao corpo (idealismo)? Ou o corpo é superior à mente (materialismo)? No período em que vivemos quem está vencendo essa guerra ideológica é o materialismo. Por isso, é natural que os defensores de ideias idealistas se manifestem para mostrar um novo modo de encarar a realidade, que no fundo seria o resgate de ideias que já estiveram em voga no passado.

É normal que os ocultistas contemporâneos se deparem com esse dilema: eles foram educados numa época que defende que o materialismo é a verdade: ou seja, que só existe matéria, não existem coisas como espírito, alma, Deus ou vida após a morte. Ao estudarem grimórios antigos, eles se deparam com conceitos que foram formulados dentro do paradigma no qual viviam seus autores, como é o caso do modelo idealista.

O resultado é que o magista iniciante pode ficar confuso e não saber como trabalhar com aquele sistema de magia. No pior dos casos, o magista pode considerar o grimório como apenas uma superstição boba e julgar seu autor como um charlatão por enganar as pessoas com esse tipo de “bobagem” ou simplesmente considerá-lo pouco instruído por acreditar “nessas coisas”.

Porém, em geral quem se interessa por ocultismo vai pelo menos experimentar um feitiço ou ritual “para ver se dá certo mesmo” antes de concluir que “realmente, era tudo uma grande invencionice, pois magia não existe”. O problema é que o magista contemporâneo, que se encontra no paradigma materialista, irá testar uma magia de um grimório medieval, que foi escrito no paradigma idealista. Resultado? Ele vai duvidar. Vai pensar coisas como: “É claro que não vai aparecer um demônio aqui, pois seres espirituais não existem, só a matéria é real. Acho que Descartes estava drogado quando falou sobre os gênios malignos. É claro que tudo isso é só uma metáfora. Ou é tudo psicológico! Já chega, vou largar essa espada e ir jogar videogame, pois os demônios do meu jogo são mais reais do que esses demônios imaginários… será que existem diferentes níveis de realidade? Deixa pra lá”.

E já que mencionamos Descartes, podemos também observar que além de toda a respeitável bagunça epistemológica que ele gerou, ainda sobrou um tempo para que ele fosse um dos fundadores do método científico. Já podemos até imaginar que tipo de metodologia foi criada em meio a todos esses dualismos, gênios malignos e especialmente da visão do corpo como mera máquina orgânica. Felizmente, Francis Bacon socorreu o bom Descartes dando uns toques de empirismo ao seu racionalismo.

O embate de racionalismo versus empirismo é antigo; é fundamentalmente o mesmo que se encontra no idealismo versus materialismo; Platão versus Aristóteles; Descartes versus Bacon. E por aí vai. Em suma, podemos explicar isso parcialmente pelo fato de Platão ter se baseado na geometria e Aristóteles na biologia, de modo que um se fundamentou mais na razão e outro mais na experiência como critério de verificação da verdade.

Bacon chama de “ídolos” os erros que se pode cometer ao longo do processo de pesquisa científica. Os ídolos da tribo são as limitações dos sentidos físicos e do intelecto. Os ídolos da caverna envolvem o aspecto subjetivo da pesquisa, em função de características individuais do estudioso. Os ídolos do foro seriam as falhas proveniente do uso da linguagem e comunicação. Os ídolos do teatro seriam teorias fruto de mera especulação, que não buscam um resultado experimental para se apoiar. Interessante que esse quarto ídolo se fundamenta no primeiro: a limitação da razão humana para bolar teorias que correspondam à verdade. No entanto, já que nossos sentidos físicos também são ídolos da tribo, por que colocar mais peso no empirismo do que no racionalismo?

Nesse ponto surge a questão do realismo científico versus experimentalismo. Enquanto o primeiro defende que a ciência descreve a realidade tal como ela é, no experimentalismo é dito que a ciência apresenta apenas modelos e não a realidade em si. Afinal, como diria Kant, a coisa em si seria incognoscível.

E já que falamos de Kant, iremos usar o exemplo de seu sistema epistemológico para demonstrar no que consistiria de fato o idealismo. Existem diferentes tipos de idealismo e Kant inaugurou um bem divertido chamado “idealismo transcendental”. Transcendente é o “sublime”; seria aquilo que é domínio da razão, conhecimentos a priori (que vem antes da experiência), para se opor a imanente, que é aquilo que é inerente ao sujeito, do domínio material ou da experiência.

Para Kant, existiam dois mundos (mais dualismo, hã?): o mundo numênico, que é o mundo real das “coisas em si” (basicamente o Mundo das Ideias de Platão) e o mundo fenomênico, que seria a realidade tal qual ela nos aparece (o mundo das cavernas de Platão). Os sentidos físicos não seriam capazes de captar o mundo real. O mais próximo que se poderia chegar disso seria através dos conhecimentos a priori: a razão pura. O racionalismo!

Interpretemos da seguinte forma: a “coisa em si” (a verdade por trás das aparências) de um indivíduo seria sua alma. E será que Deus seria a Grande Coisa Em Si? Bem, para entender o Deus kantiano devemos espiar o sistema ético que ele apoiou sobre sua metafísica.

Digamos que o materialismo encontra um pouco de base na doutrina ética utilitarista de John Stuart Mill: a ação deve conduzir ao máximo bem-estar para o número máximo de pessoas. Ou seja, o foco do materialismo é a felicidade e o bem-estar do indivíduo (e da sociedade); o conforto da mente e do corpo. É nesse paradigma ético que vivemos, que também se fundamentou em parte no materialismo histórico de Marx e Engels, para contrapor o idealismo absoluto de Hegel.

Contudo, o paradigma da felicidade como busca máxima não é o único que existe. A ontologia idealista de Kant aponta uma direção diferente. Para ele, a busca máxima é o cumprimento do dever e isso estaria acima da felicidade. E para explicar isso ele formulou o imperativo categórico: “age como se a máxima de tua ação devesse tornar-se, através de tua vontade, uma lei universal”. Ou seja, para saber se uma ação é boa ou ruim, deve-se aplicar ao universal: se todos mentissem, seria bom ou ruim para a sociedade? Ruim, então mentir não é ético e não devemos mentir em nenhuma circunstância. Esse é o raciocínio.

Caso uma pessoa mentisse em dada ocasião tendo em vista uma felicidade temporária para si ou para outra pessoa, estaria colocando a felicidade acima do dever e isso vai contra a ética kantiana. Isso significa que para o idealismo transcendental importa mais a razão pura por trás do processo do que a razão prática que a ação irá gerar. A filosofia de Kant pode ser resumida numa frase de um imperador romano citada por ele em seu livro: “Fundamentação da Metafísica dos Costumes”:

“Que a justiça seja feita, ainda que o mundo pereça”

Em muitas religiões existe diferença entre “ajudar o próximo” e “louvar a Deus”, sendo que em muitas delas a fé em Deus seria superior a ajudar diretamente uma pessoa. Como se traduz isso em termos kantianos? Servir a Deus seria o cumprimento do dever, do imperativo categórico, dos mandamentos.

No livro “Crítica da Razão Pura” Kant diz:

“Por mais longe que a razão prática tenha o direito de nos conduzir, não consideraremos nossas ações obrigatórias por serem mandamentos de Deus, mas as consideraremos mandamentos de Deus porque temos para com elas uma obrigação interna”

Isso tornaria a existência de Deus necessária ao sistema moral e não somente contingente (acidental). Na obra “Crítica da Razão Prática” temos esse outro trecho interessante:

“Se indagarmos pelo fim último de Deus na criação do mundo, não se deve responder que seja esse fim a felicidade dos seres racionais neste mundo, mas o sumo bem que acrescenta àquele desejo dos seres racionais ainda uma condição, a saber, a de ser digno da felicidade, isto é, a moralidade de todos esses seres racionais, que contém a única medida segundo a qual eles podem aspirar à participação da felicidade por mão de um sábio autor do mundo.”

Pode-se dizer que através dessa explicação Kant daria uma resposta à velha pergunta: “Se Deus tudo sabe, tem todo o poder e é completamente bom, por que existe mal no mundo e por que ele permite esse mal?” A resposta kantiana seria porque como Deus tudo sabe a respeito do que seja o melhor, ele coloca o imperativo categórico (cumprimento do dever moral universal) acima da felicidade humana, que seria apenas uma felicidade relativa, enquanto o agir em conformidade com a razão pura prática e moral seria o fim último da existência.

Outro tipo de idealismo curioso (o meu favorito) é o idealismo imaterialista, de Berkeley, que defende que os seres e as coisas só existem quando são percebidas (ser é ser percebido). Isso significa que não há essência nas coisas ou “coisa em si”. As coisas só não desapareceriam instantaneamente quando não as olhamos porque Deus estaria sempre observando tudo.

Evidentemente, o método científico que usamos hoje (que consiste em modificações de pensadores posteriores nas ideias de Descartes e Bacon) é baseado no materialismo. Isso não significa que ele está errado; e nem que está certo. Um método não pode ser construído fora de um paradigma e, uma vez no interior de um, ele terá que lidar com as limitações inerentes de tal paradigma.

Aqui vão algumas citações sobre ciência, extraídas do livro “Filosofia da Ciência” de Rubem Alves (curioso que o autor foi um dos fundadores da Teologia da Libertação, que seria uma interpretação do cristianismo sob uma perspectiva mais utilitarista e materialista, por assim dizer):

“O místico crê num Deus desconhecido. O pensador e o cientista creem numa ordem desconhecida. É difícil dizer qual deles sobrepuja o outro em sua devoção não racional”

L.L. Whyte

“Não será verdade que cada ciência, no fim, se reduz a um tipo de mitologia?”

De uma carta de Freud a Einstein, 1932

“Contra o positivismo, que para perante os fenômenos e diz: ‘Há apenas fatos’, eu digo: ‘Ao contrário, fatos é o que não há; há apenas interpretações”

Nietzsche

“Não existe coisa alguma mais danosa ao avanço da ciência que a ilusão de que ela marcha para frente pelo acréscimo de fatos novos”

Rubem Alves

Sobre essa última colocação, poderíamos até dizer: não é verdade que os planetas giram em torno do Sol. O sistema heliocêntrico não está “mais correto” do que o geocêntrico, como se a ciência progredisse cada vez mais derrubando as ideias anteriores. São somente dois paradigmas diferentes que têm objetivos práticos. No futuro, se for criado um novo modelo que tenha resultados práticos melhores, o sistema heliocêntrico poderia vir a ser eliminado, hipoteticamente falando. Isso não significa que se descobriu alguma verdade nova, mas que a teoria simplesmente adequou-se para se encaixar a determinado pragmatismo.

E agora fiquemos com alguns trechos inspiradores do livro “A Lógica da Pesquisa Científica” de Karl Popper:

“Teorias são redes para capturar aquilo que chamamos de mundo”

“Instrumentalismo, que foi representado em Viena por Mach, Wittgenstein e Schlick é a visão de que uma teoria não é nada mais que uma ferramenta ou um instrumento para predição”

Na Magia do Caos se costuma dizer: “A crença é uma ferramenta”. Afinal, a metodologia do caoísmo tem inspiração no método científico.

Vamos a mais trechos da mesma obra:

“A ciência não é um sistema de certezas, ou afirmações bem estabelecidas; nem é um sistema que constantemente avança para um estado de finalidade. Nossa ciência não é conhecimento (episteme): ela nunca pode clamar ter atingido a verdade, e nem mesmo um substituto para isso, como probabilidade”.

“Como e por que nós aceitamos uma teoria em detrimento de outras? A preferência certamente não é devido a uma justificação experimental das afirmações que compõem a teoria; não é devido a uma redução lógica da teoria à experiência. Nós escolhemos a teoria que melhor se mantenha em competição com outras teorias; aquela que, por seleção natural, se mostra a mais adaptada a sobreviver. […] De um ponto de vista lógico, testar uma teoria depende de afirmações básicas cuja aceitação ou rejeição, por sua vez, depende das nossas decisões. Então são decisões que definem o destino de teorias. […] A escolha [de uma teoria] é em parte determinada por considerações de utilidade”.

O método científico é uma poderosa ferramenta; uma ferramenta viva, em constante transformação. Não estou dizendo todas essas coisas para que não se acredite nele e sim para que tenhamos consciência de suas limitações e tomemos o devido cuidado para não confundir um modelo com a verdade.

Sobre idealismo, materialismo, dualismo, monismo, etc, nenhum é melhor que outro, por natureza. Novamente, são apenas modelos. Um pode ser mais útil que outro para objetivos diferentes. É importante que todos eles coexistam e sejam debatidos, pois muitas vezes quando cristalizamos um pensamento por muito tempo (ou seja, trabalhamos dentro de somente um modelo) corremos o risco de considerá-lo a verdade e passar a julgar como errado o paradigma do outro.

Alguns defendem que para definir se uma posição é certa ou errada devemos baseá-la na ética. Contudo, devemos lembrar que até a construção do que seja ética e moral muda de tempos em tempos e a definição de moralidade é estabelecida no interior de um modelo ontológico, como foi demonstrado no caso da ética kantiana.

Uma das maiores vantagens da Magia do Caos é ter a mobilidade de poder trabalhar sob diferentes paradigmas e adquirir a habilidade de saltar de um para outro. Mais do que uma brincadeira, isso abre a mente. Você tem toda a liberdade de trabalhar usando somente um modelo e poderá ter muito sucesso seguindo esse método.

Contudo, os caoístas apreciam novas experiências e emoções em lugares inusitados de todos os mundos possíveis. E o mais divertido de tudo: após estudar e experimentar diferentes modelos, você poderá criar os seus, seja usando um caminho epistemológico semelhante ao método científico, seja baseado no idealismo, no materialismo ou em qualquer outra coisa que você optar por criar.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/m%C3%A9todo-cient%C3%ADfico-idealismo-e-materialismo

A Erótica Grega e a Prostituição na Antiguidade

Herbert Emanuel

A prostituição é uma das mais antigas profissões do mundo. Aliás, em algumas civilizações como a babilônica e a suméria era tida como uma atividade sagrada, ligada aos rituais da fertilidade, do amor e da guerra. Há muitos nomes para estas prostitutas: Inana/Ishtar, Hierodula, que significa literalmente “serva dos deuses”, “serva sagrada”, alguém que em geral está a serviço de uma Deusa. Mas o preconceito também remonta de muito tempo, o historiador grego Heródoto, que muito viajou pela Mesopotâmia Antiga (ou pelo menos escreveu extensamente sobre países e culturas diferentes da grega), dá-nos o seguinte relato:

Os Babilônicos têm um costume deveras vergonhoso. Cada mulher nascida naquele país deve uma vez ao longo de sua vida sentar-se no templo de Ishtar e lá consociar-se com um estranho. Grande número destas mulheres sentam-se dentro do átrio sagrado, com guirlandas de correntes ao redor de suas cabeças – e há sempre uma grande multidão, alguns vindo, outros indo; linhas de corda marcam os caminhos em todas as direções entre as mulheres, e os estranhos passam ao longo delas para fazerem suas escolhas. …

A moeda de prata pode ser de qualquer tamanho e não pode ser recusada, pois é proibido , pois uma vez que foi jogada, ela é sagrada. A mulher vai com o primeiro homem que lhe jogou dinheiro, e ninguém é rejeitado. Quando ela tiver ido com ele, e assim satisfeito a Deusa, ela volta para casa.  ( Heródoto, Livro 1, Cap. 199).

Ao rotular de “um costume deveras vergonhoso” (?), é patente o preconceito de Heródoto para com esse tipo de atividade. O significado original de prostituta literalmente é “aquela(e) que está no lugar de outrem”, mas o termo foi degradado para evocar condições sociais e padrões morais. Meretriz, por outro lado, soa como desaprovação bíblica e eclesiástica. Hetaira tem um determinado contexto sócio, histórico-cultural específico para a Grécia, e cortesã refere-se à associação de um aristocrata com uma amante de alta classe (Leick, 1994).

Na modernidade do século 20, as coisas não mudaram muito; há um curioso livro alemão, intitulado “Die Prostitution Als Psichologisches problem“, que pretende estabelecer algumas “definições” (?) do que seria uma prostituta.

Segundo este livro, esta se caracteriza por:

* Entregar seu corpo e realizar atos sexuais para satisfazer a libido de um parceiro.

* Fará isto para receber uma forma de remuneração que poderá ser: dinheiro, presente ou qualquer benefício.

* Não conhecer os parceiros ou clientes.

* Aceitar, sucessivamente, número ilimitado de parceiros.

* Não possuir elemento emocional, tal como, amor, afeição, simpatia e sensação sexual.

* Não ter intenção de procriar.

Uma das pretensas “definições?” acima que mais nos chamou a atenção, é a afirmativa de que a prostituta seria uma pessoa destituída de qualquer sentimento, incapaz de estabelecer uma cartografia afetiva com quem quer que seja. A partir desta perspectiva, seria impossível pensar na prostituta como uma pessoa que tal como nós, ama, apaixona-se, e que, portanto, está sujeita a todas as dificuldades e impasses que este ato significa. Na verdade, para entendermos melhor esse tipo de preconceito, faz-se necessário pensar um pouco esta relação entre sexo amor no mundo ocidental.

Os gregos, antes de Platão (e até mesmo na sua época) não costumavam separar essas duas coisas? sexo e amor.

Segundo Michel Foucault, os gregos possuíam uma ética sexual muito rígida, que estabelecia os padrões de comportamento quanto ao “uso dos prazeres”. Uma ética que era muito mais uma estética sexual, isto é, uma erótica, entendida como sendo a arte refletida do amor e, singularmente do amor pelos rapazes. (Uso dos Prazeres, Rio, Ed. Graal, 1984, p. 201).

E em que consistia essa erótica? Segundo ainda Foucault, quatro características a determinam:

1ª A dissimetria das idades: Sempre um mais jovem (que ainda não ganhou a maturidade política) com um mais velho (que já atingiu a maioridade política), estabelecendo-se entre ambos papéis sexuais muito bem definidos. O jovem, o erômeno (amado) será sempre passivo com relação ao mais velho, o erasta (o amante).

2ª A arte de cortejar : Oferecer presentes, prestar auxílios, inclusive, pedagógico.

3ª A liberdade: Marca uma distinção fundamental em relação o casamento; o jovem é livre para aceitar ou não ser cortejado.

4ª A temporalidade: O tempo de duração do amor. A navalha que cortava os primeiros fios de barba do jovem grego, que marcava a passagem da adolescência para a vida adulta, era a mesma que cortava os fios do amor. Era preciso estar preparado para essa separação. O amor deveria transformar-se em amizade, eros em filia.

Em suma, a erótica grega era uma arte de amar, visava demarcar os limites entre o bom e o mau amor, o que convém e o que não convém fazer para obter o consentimento do amado. Uma arte da conquista, portanto. E que não separa sexo de amor, a atração pelo belo corpo. E aqui começa a diferença entre a erótica grega e a erótica platônica. Ou melhor, a subversão da erótica grega proposta por Platão, pela boca de Sócrates, e que irá influenciar, sobremaneira, a concepção cristã de amor e toda essa dicotomia sexo vs amor que virá depois.

Segundo ainda Foucault, a erótica platônica opera quatro deslocamentos em relação à erótica grega. São eles:

1° O ontológico: Faz-se necessário definir o que é o amor. Para os gregos, era óbvio que o amor era um deus; para Platão, nem tanto, no máximo era um intermediário entre os homens e os deuses.

2° O objeto do amor: A verdade e não mais o belo corpo; portanto, algo mais espiritual do que concreto.

3° A simetria amorosa: Nada de ativo e passivo, ambos são sujeitos do amor, amante-amado, amado-amante.

4° A relação mestre-discípulo, amante-amado: O mestre, o amante, por ser mais velho, orienta o discípulo, o amado, na busca amorosa da verdade.

Daí para a concepção cristã foi só um passo. E o sexo e o amor começaram a ser percebidos como coisas bastante distintas, como na música dos titãs: “Às vezes acho que te amo, às vezes acho que é só sexo. O sexo como alguma coisa puramente biológica, e o amor como algo “especial”, “mais profundo”, “coisas da alma”, etc..

Quem pratica o sexo pelo sexo, é alguém desprovido de amor? Como se traçaria uma cartografia amorosa das(os) chamadas(os) profissionais do sexo? Prostitutas(os) não amam? O beijo na boca seria impossível? Eis aí um tema interessante para pesquisa. É claro que não devemos deixar de lado outros aspectos também importantes no que diz respeito à prostituição: a relação com o cafetão/cafetina, com a polícia, a
exploração sexual, inclusive, infantil. No entanto, acreditamos que um trabalho que dê conta da afetividade das(os) chamadas(os) profissionais do sexo, poderá contribuir e muito – para a redução do estigma social que recai sobre essas pessoas, possibilitando-nos a pensar também esses outros aspectos acima mencionados.

Herbert Emanuel

A prostituição é uma das mais antigas profissões do mundo. Aliás, em algumas civilizações como a babilônica e a suméria era tida como uma atividade sagrada, ligada aos rituais da fertilidade, do amor e da guerra. Há muitos nomes para estas prostitutas: Inana/Ishtar, Hierodula, que significa literalmente “serva dos deuses”, “serva sagrada”, alguém que em geral está a serviço de uma Deusa. Mas o preconceito também remonta de muito tempo, o historiador grego Heródoto, que muito viajou pela Mesopotâmia Antiga (ou pelo menos escreveu extensamente sobre países e culturas diferentes da grega), dá-nos o seguinte relato:

Os Babilônicos têm um costume deveras vergonhoso. Cada mulher nascida naquele país deve uma vez ao longo de sua vida sentar-se no templo de Ishtar e lá consociar-se com um estranho. Grande número destas mulheres sentam-se dentro do átrio sagrado, com guirlandas de correntes ao redor de suas cabeças – e há sempre uma grande multidão, alguns vindo, outros indo; linhas de corda marcam os caminhos em todas as direções entre as mulheres, e os estranhos passam ao longo delas para fazerem suas escolhas. …

A moeda de prata pode ser de qualquer tamanho e não pode ser recusada, pois é proibido , pois uma vez que foi jogada, ela é sagrada. A mulher vai com o primeiro homem que lhe jogou dinheiro, e ninguém é rejeitado. Quando ela tiver ido com ele, e assim satisfeito a Deusa, ela volta para casa.  ( Heródoto, Livro 1, Cap. 199).

Ao rotular de “um costume deveras vergonhoso” (?), é patente o preconceito de Heródoto para com esse tipo de atividade. O significado original de prostituta literalmente é “aquela(e) que está no lugar de outrem”, mas o termo foi degradado para evocar condições sociais e padrões morais. Meretriz, por outro lado, soa como desaprovação bíblica e eclesiástica. Hetaira tem um determinado contexto sócio, histórico-cultural específico para a Grécia, e cortesã refere-se à associação de um aristocrata com uma amante de alta classe (Leick, 1994).

Na modernidade do século 20, as coisas não mudaram muito; há um curioso livro alemão, intitulado “Die Prostitution Als Psichologisches problem“, que pretende estabelecer algumas “definições” (?) do que seria uma prostituta.

Segundo este livro, esta se caracteriza por:

* Entregar seu corpo e realizar atos sexuais para satisfazer a libido de um parceiro.

* Fará isto para receber uma forma de remuneração que poderá ser: dinheiro, presente ou qualquer benefício.

* Não conhecer os parceiros ou clientes.

* Aceitar, sucessivamente, número ilimitado de parceiros.

* Não possuir elemento emocional, tal como, amor, afeição, simpatia e sensação sexual.

* Não ter intenção de procriar.

Uma das pretensas “definições?” acima que mais nos chamou a atenção, é a afirmativa de que a prostituta seria uma pessoa destituída de qualquer sentimento, incapaz de estabelecer uma cartografia afetiva com quem quer que seja. A partir desta perspectiva, seria impossível pensar na prostituta como uma pessoa que tal como nós, ama, apaixona-se, e que, portanto, está sujeita a todas as dificuldades e impasses que este ato significa. Na verdade, para entendermos melhor esse tipo de preconceito, faz-se necessário pensar um pouco esta relação entre sexo amor no mundo ocidental.

Os gregos, antes de Platão (e até mesmo na sua época) não costumavam separar essas duas coisas? sexo e amor.

Segundo Michel Foucault, os gregos possuíam uma ética sexual muito rígida, que estabelecia os padrões de comportamento quanto ao “uso dos prazeres”. Uma ética que era muito mais uma estética sexual, isto é, uma erótica, entendida como sendo a arte refletida do amor e, singularmente do amor pelos rapazes. (Uso dos Prazeres, Rio, Ed. Graal, 1984, p. 201).

E em que consistia essa erótica? Segundo ainda Foucault, quatro características a determinam:

1ª A dissimetria das idades: Sempre um mais jovem (que ainda não ganhou a maturidade política) com um mais velho (que já atingiu a maioridade política), estabelecendo-se entre ambos papéis sexuais muito bem definidos. O jovem, o erômeno (amado) será sempre passivo com relação ao mais velho, o erasta (o amante).

2ª A arte de cortejar : Oferecer presentes, prestar auxílios, inclusive, pedagógico.

3ª A liberdade: Marca uma distinção fundamental em relação o casamento; o jovem é livre para aceitar ou não ser cortejado.

4ª A temporalidade: O tempo de duração do amor. A navalha que cortava os primeiros fios de barba do jovem grego, que marcava a passagem da adolescência para a vida adulta, era a mesma que cortava os fios do amor. Era preciso estar preparado para essa separação. O amor deveria transformar-se em amizade, eros em filia.

Em suma, a erótica grega era uma arte de amar, visava demarcar os limites entre o bom e o mau amor, o que convém e o que não convém fazer para obter o consentimento do amado. Uma arte da conquista, portanto. E que não separa sexo de amor, a atração pelo belo corpo. E aqui começa a diferença entre a erótica grega e a erótica platônica. Ou melhor, a subversão da erótica grega proposta por Platão, pela boca de Sócrates, e que irá influenciar, sobremaneira, a concepção cristã de amor e toda essa dicotomia sexo vs amor que virá depois.

Segundo ainda Foucault, a erótica platônica opera quatro deslocamentos em relação à erótica grega. São eles:

1° O ontológico: Faz-se necessário definir o que é o amor. Para os gregos, era óbvio que o amor era um deus; para Platão, nem tanto, no máximo era um intermediário entre os homens e os deuses.

2° O objeto do amor: A verdade e não mais o belo corpo; portanto, algo mais espiritual do que concreto.

3° A simetria amorosa: Nada de ativo e passivo, ambos são sujeitos do amor, amante-amado, amado-amante.

4° A relação mestre-discípulo, amante-amado: O mestre, o amante, por ser mais velho, orienta o discípulo, o amado, na busca amorosa da verdade.

Daí para a concepção cristã foi só um passo. E o sexo e o amor começaram a ser percebidos como coisas bastante distintas, como na música dos titãs: “Às vezes acho que te amo, às vezes acho que é só sexo. O sexo como alguma coisa puramente biológica, e o amor como algo “especial”, “mais profundo”, “coisas da alma”, etc..

Quem pratica o sexo pelo sexo, é alguém desprovido de amor? Como se traçaria uma cartografia amorosa das(os) chamadas(os) profissionais do sexo? Prostitutas(os) não amam? O beijo na boca seria impossível? Eis aí um tema interessante para pesquisa. É claro que não devemos deixar de lado outros aspectos também importantes no que diz respeito à prostituição: a relação com o cafetão/cafetina, com a polícia, a
exploração sexual, inclusive, infantil. No entanto, acreditamos que um trabalho que dê conta da afetividade das(os) chamadas(os) profissionais do sexo, poderá contribuir e muito – para a redução do estigma social que recai sobre essas pessoas, possibilitando-nos a pensar também esses outros aspectos acima mencionados.

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-sexual/a-erotica-grega-e-a-prostituicao-na-antiguidade/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-sexual/a-erotica-grega-e-a-prostituicao-na-antiguidade/

A Alma é a Alma do Negócio

“Um corpo vivo e um corpo morto contém o mesmo número de partículas. Estruturalmente não há diferença discernível. Vida e morte são abstrações não quantificáveis, por que deveria me importar?”

– Dr. Manhatan, Watchmen

Basta olharmos para um corpo “morto” e percebemos de cara duas coisas: ele é exatamente igual a um corpo vivo, não há uma diferença entre alguém que acabou de falecer e alguém vivo; ao mesmo tempo ele é completamente diferente de um corpo vivo, algo estava lá, agora não está mais.

Essa diferença é percebida inclusive por animais, quem já conviveu com bichos sabe como eles lidam com a morte, podem não fazer funerais, ou passar a vida em preces ou homenageando o “colega que se foi”, mas eles sabem dizer quando o companheiro não está mais lá. Existem até mesmo relatos de que os elefantes africanos possuem uma espécie de rito fúnebre no qual se alinham e guardam silêncio frente a um companheiro morto.

Esse tipo de metáforas, inclusive, é curioso. “Não está mais lá”, “Foi desta para uma melhor”, etc. O que não está mais lá? Obviamente um corpo morto não está realmente morto, cabelos e unhas crescem. Ele pode ter convulsões, arrotar, peidar. Você pode massageá-lo e fazer com que ele se mova sozinho, assuma novas posições. O chamado Sinal de Lázaro pode fazer um paciente com morte encefálica mover os braços e o tronco via estímulo medular.

Segundo a polêmica pesquisadora Mary Roach, o mesmo princípio poderia, ao menos teoricamente, ser usado para dar um orgasmo ao cadáver, embora até hoje nenhum cientesta tenha passado pelo comitê de ética em pesquisa para provar isso experimentalmente. O fato é que o corpo não é como uma fotografia do corpo vivo, ele é dinâmico, continua mudando. Dê tempo e nova vida brota dele, vermes, fungos, etc. Talvez isso tenha sido o que primeiro fez com que as pessoas, muito tempo atrás, pensassem em algo que havia abandonado aquele corpo. Nada tão complexo quanto uma personalidade, ou um conjunto de conhecimento, mas a vida que habitava aquele invólucro de carne e o fazia se mover.

Esse algo foi identificado pela primeira vez pelos egípcios que lhe deram o nome de “Ka”. Mais tarde os hebreus o chamara de “nephesh”, ambos os termos podem ser traduzidos aproximadamente como sopro de vida. Quando perdemos esse sopro, nos tornamos apenas adubo. Esse termo, apesar do que possa parecer, não chegava a ser religioso, já que haviam outras palavras para espírito, como por exemplo “ruah”. Nephesh era algo muito mais etéreo, mais sutil, muito mais fundamental. Os gregos usavam a palavra “psyche”, derivada do verbo soprar, para nomear este princípio que animava os humanos e outros animais. A versão latina da palavra era “anima”. Nos povos de língua barbara a palavra usada era “sáwol”, derivada do gótico “saiwala”, do alemão antigo “sêula”, do antigo saxão “sêola”; os nórdicos diziam “sála” enquanto os lituanos a chamavam “siela”, dando origem ao “soul” moderno em inglês. Os gregos antigos usavam a mesma palavra para indicar algo vivo e algo que possuia uma “alma”, isso já nos mostra que a origem da vida estava ligada de forma inseparável a este “sopro”.

Com a evolução do pensamento a alma não era apenas mais a origem da vida, mas um princípio maior que nos ligava a um mundo do qual estávamos conscientemente separados. O antigo poeta grego Pindarus (522-443 a.C.),  afirmou que a alma não tem vida alguma enquanto nossos membros estão ativos, mas quando dormimos, e a alma desperta, nos revela em sonhos, “uma recompensa de alegrias ou tristezas que se aproximam”. Logo que a alma se tornou uma constante na filosofia muitos acreditavam que ela não possuia vida por si própria, era apenas um princípio, assim que abandonava o corpo ia para o sub-mundo, o Hades, onde ficava presa sem chance de retornar ao corpo. Com Sácrates e Platão, ou o que Platão nos diz que Sócrates dizia, a alma se tornou a essência da pessoa, sendo a responsável pela maneira como a a pessoa se comportava, ela era considerada incorpórea e eterna, ocupando nosso ser, quando um corpo morria a alma pulava para outro.

Ainda na Grécia antiga a alma passou a ser, de acordo com Aristóteles, a primeira atualidade de um corpo organizado, o primeiro momento da formação de um corpo e não acreditava que ela tivesse uma existência independente do corpo.

Então a alma fugiu do controle. Passando por mulçumanos, cristãos, filósofos iluministas e psicólogos a alma foi se metamorfoseando, passando de algo real para um mero conceito. Mas será que essa metamorfose tem fundamento?

Basicamente a crença de cada geração é julgar que a geração passada pecava em sua inocência, ignorância e crença. Em qualquer momento presente a regra é acreditar que por sermos mais evoluidos, tecnologicamente ou socialmente, aquilo que sabemos no momento está muito mais próximo dos fatos, da verdadeira Verdade, do que as superstições que nossos antepassados criavam para explicar o que desconheciam. Esse é um comportamente até certo ponto sadio, o próprio Freud afirmava que o assassinato do pai fazia parte do desenvolvimento do filho, algo claramente, ou nem tão claramente assim, mostrado no mito de Édipo. Mas esse “assassinato” é uma fase, não um fim em si mesmo. Devemos avoluir, não enterrar qualquer coisa que não tenha sido defendida em nossa época, temos que ter em mente que seres humanos adora re-inventar a roda.

Com a atual moda de ateismo/agnosticismo/ceticismo mesmo as pessoas de mente mais aberta costuma ficar reticentes quando o assunto passa para o etéreo. Dificilmente alguém colocaria o próprio nome na reta ao se defender algo que não pode ser engarrafado ou não tem nem cheiro. Um peido é o resultado da formação de gases que sai pelo único caminho que tem acesso. E uma alma? De onde vem, onde fica? Para onde vai? Por onde sai?

Na era do animismo a alma era parte real e fundamental do mundo, um ingrediente que permeava não apenas seres vivos, mas tudo o que era real, quando foi substituído pela religião a alma passou a ser um elo com a força criadora do universo, o sopro da vida que nos distinguia de pedras e dos elementos. Quando surgiu a psicologia, a alma passou a ser parte de nossa mente, um aspecto do cérebro. No mundo moderno científico a alma assumiu o posto de mera superstição, mas podemos dizer que isso acontece simplesmente porque, em tese, ela não pode ser detectada. Isso mostra, talvez, mais a incapacidade de nossa tecnologia do que a comprovação da existência ou inexistência de algo, afinal ondas de rádio sempre existiram, mas nós só pudemos comprová-las quando inventamos aparelhos que as captassem e as traduzissem para uma “linguagem” que pudéssemos compreender, quando passamos a vê-las e ouvi-las. Assim talvez o que precisemos para comprovar a existência da alma são engenhocas que a percebam e a mostrem para nós de uma forma que possamos vê-la e ouví-la.

Diga “X”

Hipólito Baraduc, o médico francês do século XIX, afirmava que os campos magnéticos do corpo humano poderiam ser impressos em uma placa fotográfica sem a ajuda de uma câmera. Influenciado pelo Barão Dr. Karl Ludwig von Reichnbach, o típico gênio de época – era químico, geólogo, metalúrgico, naturalista, industrial e filósofo, membro conhecido da Academia Prussiana de Ciências – Baraduc acreditava ter descoberto evidências de uma força vital misteriosa dentro do corpo humano que ele descreveu como um tipo de névoa fluida. Reichnbach, nos seus últimos anos de vida, estava pesquisando um campo de energia que combinava eletricidade, magnetismo e calor, que emanava de todos os seres vivos que ele batizou de força Ódica. Inspirado pelo trabalho de Reichnbach e pelo próprio, Baraduc afirmou ser capaz de detectar cientificamente essa “força sutil” que ele afirmou emanar da alma humana.

Baraduc então criou um biômetro, um aparelho que poderia medir essa radiação causada pela alma. Seu aparelho foi confeccionado de materiais não magnéticos isotérmicos e isolantes, para descartar qualquer influência magnética, elétrica e térmica. Uma linha, dentro de um containar isolado, era ligada a uma agulha, feita de material que não seria afetoda por essas forças, e colocadas sobre uma tábua com graduações. Quando determinada pessoa colocava a mão sobre o container a agulha se movia e ele podia medir a intensidade do campo da alma da pessoa. Mas apenas medir a radiação e vibrações da alma não era o suficiente, por isso ele foi além. Em 1907 sua esposa, Nadine, adoeceu. Ele então passou a colocar chapas fotográficas e câmeras junto ao leito de sua esposa e a registrar o que quer que houvesse para ser registrado. Logo após a morte da esposa ele tirou fotos e conseguiu registrar três aglomerados nevoentos flutuando acima de Nadine. Quinze minutos após, Baraduc tirou outra foto e viu que as três formas de névoa haviam se aglomerado em uma grande bola branca luminosa – que não era visível aos nossos olhos. Logo em seguida a bola não estava mais presente.

Baraduc afirmou então que “não existe razão, a priori, para a alma não ser um corpo que ocupa um lugar no espaço, a não ser na tradição teológica. Até onde sabemos, a alma pode ser um ponto de força, que existe dentro e anima algum tipo de corpo etéreo, que corresponde, em tamanho e forma, a nosso corpo material”. Se Baraduc estivesse certo, ao ocupar um corpo etéreo nossa alma teria ao menos uma certa massa, algo que pudesse ser medida e quantificada,  ela poderia, livre do corpo, não ter exatamente nossa forma, seria como um gás que assume o tamanho e a forma do container que o contêm, mas teria um peso. Veremos na próxima seção, que ele estava certo.

Outro médico, desta vez um russo, Dr. Konstantin Korotkov sentiu-se obrigado a desenvolver sua própria tecnologia para estudar a alma, na mesma medida em que Galileu inventou o telescópio para estudar os planetas. As fotos Kirliam já eram amplamente conhecidas, mas ele decidiu que iria examinar suas manifestações em uma linha do tempo. Para isso ele e sua equipe desenvolveram uma câmera e um software que não apenas consegue fotografar campos de energia em plantas e animais, mas faz isso de maneira serial de modo que, segundo ele, pode ser usada como uma ferramenta de e feedback quanto à eficiência de remédios e tratamentos em condições específicas. O Chamado GDV faz as antigas fotos Kirlian parecer uma carroça comparada a uma bicicleta, e realmente foi criado a partir de vinte anos de pesquisa em cima desta tecnologia.

Em suas pesquisas para evitar cair em discussões religiosas, Dr. Karatkov chama o que suas câmeras registram de “Campo Biológico”. Ele os define nos seguintes termos: “Uma estrutura energética e informacional complexa composta por diferentes campos de diferentes naturezas e possivelmente diferentes origens. Incluindo os  campos eletro-magnéticos e gravitacionais, assim como campos para os quais não temos nenhum parâmetro conhecido. Assim, o Campo Biológico pode ser definido como uma campo ou aura que  envolve as coisas vivas, ele é invisível em sua estrutura e sua atividade é correlata ao comportamento de um sistema vivo único.”

A maior vantagem do sistema GDV sobre os sistemas anteriores, é a possibilidade de fazer registros e medições em tempo real. isso permitiu que o software desenvolvido pelo Dr. Korotkov registra-se em 2010 a primeira evidência em tempo real de uma “alma” ou “campo biológico” sumindo de um corpo no exato momento de sua morte.

Os instantes registrados na foto acima, foram retirados do monitoramento feito pelo sistema DGV e revelam dois momentos distintos: o primeiro imediatamente após a morte clínica do paciente e o segundo cerca de um minuto depois. Em um corpo vivo e saudável a área azul é dominante. No entanto no momento da morte há uma grande perda na região do abdômen. Essa perda súbita é seguida de uma gradual diminuição energética na região cerebral. por fim, o coração e a virilha são as ultimas partes a se apagarem.

 

Eu Fico Gorda Neste Corpo?

Em 1901 o Dr. Duncan “Om” MacDougall, médico na cidade de Haverhill, Massachusetts EUA, fez uma experiência interessante. Ele pegou uma balança industrial capaz de pesar até os gramas de objetos e sobre ela colocou uma cama. Nesta cama ele colocou pacientes que estavam no estágio final de tuberculose e esperou. Assim que o paciente morreu, a balança registrou uma perda no peso, muito pequena, mas perceptível. MacDougall repetiu o experimento com outro paciente, e novamente, no momento da morte, uma perda ocorreu. Ele repetiu a experiência mais quatro vezes e em todas elas a balança acusava a perda de peso.

O doutor então anotou os resultados, a variação de peso nos seis casos, e desenvolveu a hipótese de que a alma humana de fato tinha uma massa, e essa massa tinha um peso médio de 21 gramas. Ele partiu então para experimentos com animais, ratos e ovelhas, todos mostrando essa perda após a morte. É preciso destacar que está é uma perda súbida, onde o peso cai rapidamente, não podendo portando ser comfundida com a perda lenta e gradual causada pela evaporação que ocorre tanto nos vivos como nos mortos. MacDougall publicou o resultado de seus experimentos no Jornal da Sociedade Americana de Pesquisas Médicas em 1907, seguido por uma publicação no jornal Medicina Americana; não demorou muito até que ele se tornasse notícia no New York Times.

Curiosamente quando repetiu a experiência com cães, incluindo um pesado São Bernardo, a perda de peso não se mafestou, o que o levou a concluir que animais não tem alma. Contudo, pouco depois o professor La V. Twining, chefe do Departamento Científico da Escola Politécnica de Los Angeles, fez experimentos semelhantes com ratos e gatos, que encerrou em frascos de vidro hermeticamente fechados. Suas balanças eram as mais sensíveis de sua época, e comparativamente muito mais precisas que a usada por MacDougall, além disso foram colocadas dentro de uma grande câmara de onde foi extraída toda umidade. Observou-se então que todos os animais perdia peso quando morriam, embora numa escala bem menor que os humanos. Um rato pesando 12,886 gramas perdeu subitamente 3,1 gramas. Um gatinho perdeu 100 miligramas ao agonizar e mais 60 miligramas em seu momento final. Estes experimentos indicariam que a Alma, ou “Corpo Vital” dos animais é proporcionalmente mais leve do que a do ser humano.

Agora, se de fato a alma é um corpo com certa massa e ela “deixa” nosso corpo quando morremos, onde exatamente ela está localizada? Durante eras essa pergunta permaneceu sem resposta. Acreditava-se que a alma ocupava todo o espaço do corpo, ou que existia no coração. Mas com o tempo começaram a se questionar. Se uma pessoa perde um braço, ela perde parte da alma? O coração deixou de ser o receptáculo dos sentimentos e foi rebaixado a mero músculo que bombeia o sangue. E a mente ganhou um súbito destaque dentro do corpo. Logo o cérebro se tornou o lar de tudo o que nos torna únicos, nossa identidade, nossa personalidade, nosso conhecimento… nossa psiquê. Assim como o umbigo é o que nos liga a nossas mães através do cordão umbilical, nossa alma se tornou o umbilical que nos liga, através do cérebro, à vida.

 

É um Pássaro? Um Avião? Não! É o Último Filho de…

Cripton, ou criptônio é um dos elementos químicos presentes em nossa tabela periódica desde 1898, quando foi descoberto por William Ramsay e Morris Travers em resíduos da evaporação do ar líquido. Seu símbolo químico é Kr, possui 36 prótons, 36 elétrons e tem massa atômica igual a 83,8u. Como todo gás nobre ele possui uma baixa reatividade e não combinam com outros elementos. Também é usado principalmente na fabricação de lâmpadas incandescentes e fluorescentes. Outra característica do criptônio é que foi encontrado dentro do cérebro humano.

No córtex do terceiro ventrículo de nosso cérebro, na região exatamente sob nosso tálamo, forma detectados praticamente por acaso, átomos de criptônio, ao todo foram mapeados 86 conjuntos biatômicos – cada um formado por dois átomos – que giravam em órbitas comuns. Seus planos orbitais dispunham de um eixo comum que descrevia um movimento vibratório harmônico. Em uma temperatura ambiente de 35C graus centígrados, apresentava uma frequência e amplitude de 0,2 megaciclos. Encontrar tal gás no cérebro não é algo absurdo, já que desde que começaram a realizar experimentos de fecundação in vitro, muitos laboratórios encontraram o gás no interior de óvulos, na desoxirribose, nos extremos da cadeia helicoidal do ácido desoxirribonucleico. Assim a presença do gás não foi exatamente surpreendente, mas quando decidiram analisar a distribuição dos elétrons nos átomos as surpresas surgiram.

Para prosseguir vamos a uma brevíssima aula para relembrarmos como átomos funcionam. Elétrons são pequenas partículas atômicas que orbitam ao redor do núcleo do átomo, eles tem massa extremamente menores do que a dos prótons e tem carga elétrica negativa. Não é possível se saber onde os elétrons se encontram com precisão, eles ocupam posições instantâneas cuja função probabilística se rege pelo acaso. Esse é o princípio da incerteza da física quântica, o indeterminismo.

Agora, os átomos de criptônio apresentaram um sincronismo desconcertante.

Até então, tais séries ordenadas de átomos só tinham sido detectadas nas células germinais de homens e animais pluricelulares, embora, com o passar do tempo, a descoberta se alargasse ao resto das células. Os átomos homólogos nas cadeias do criptônio dos vários espermatozóides investigados apresentavam uma distribuição semelhante e sincrônica, como se fossem relógios que funcionassem sincronizados, ligados, aparentemente, por algum tipo de emissão até então não detectadas que estimulassem esse comportamento. Era como se um misterioso fenômeno de ressonância obrigasse todos os elétrons a regerem-se seguindo o mesmo padrão. A princípio pensaram-se que era a proximidade das células em estudo que estavam provocando tal efeito de ressonância. Mas então descobriram, com idêntica surpresa, que todos os seres vivos se comportavam nas suas cadeias de átomos de criptônio de maneira idêntica.

Chega a parecer que este fenômeno é universal e que o código genético encerrado no DNA não é mais que um dos elos dessa cadeia de fatores que explicam o comportamento da matéria animada pela vida. Em um experimento buscando observar possíveis alterações quânticas por prováveis transferências energéticas outra descoberta foi feita. Um dos voluntários estudados jazia numa câmara especialmente preparada da qual tinham sido eliminados todos os resíduos do gás nobre.

Ele tinha uma série de sondas fixadas na zona parietal direita de seu crânio e embora tivesse sido submetido a anestesia local, os seus mecanismos reflexos e conscientes não se encontravam inibidos. Em um computador colunas com cifras e parâmetros com as leituras era mostrada em um monitor. Cada um desses dígitos refletia a situação probabilística de cada elétron. Quando uma cifra saltava de uma coluna para outra registrava-se um salto quântico para outro nível energético. De repente notaram que os dígitos mantinham uma relação sequencial, ou seja, apresentavam-se distribuídos harmonicamente, segundo uma função periódica. Os elétrons que deveriam se localizar nos seus níveis energéticos de um modo anárquico pareciam ultrapassar o teórico e obrigatório caos, regulando a sua função probabilística e rompendo assim com a suposta lei imutável do referido indeterminismo quântico. Repetiram a experiência em inúmeros outros voluntários, o resultado foi sempre o mesmo: os movimentos harmônicos dos elétrons corticais coincidiam com os impulsos nervosos emitidos pelo córtex cerebral dos voluntários, ou seja com os movimentos conscientes dos seus braços, pés, mãos, fala, etc. Por outro lado, o mesmo não acontecia com os movimentos chamados reflexivos ou com os impulsos emitidos pelo sistema neurovegetativo. Um ano mais tarde verificaram uma nova descoberta: aqueles movimentos harmônicos PRECEDIAM a conduta voluntária dos homens e mulheres sujeitos à experiência, o avanço, em questão oscilava à volta de um milionésimo de segundo sobre as reações neurofisiológicas do organismo.

Era como se aqueles elétrons ditassem as ordens e nosso corpo as obedeciam.

Os experimentos foram repetidos então em outros seres orgânicos unicelulares e pluricelulares, incluindo-se vírus e compostos orgânicos auto-reproduzíveis, mas os resultados foram negativos. Detectaram-se átomos isolados de néon e xenonônio em muitos seres vivos e milhões de átomos de gás hélio nos sinais dotados de estruturas nervosas superiores. Mas as suas nuvens, de criptônio moviam-se segundo a função probabilística habitual no resto dos átomos na Natureza.

 

Quem Enxerga Aquilo que Seus Olhos Vêem?

Os experimentos de Baraduc, Twining e MacDougall – assim como toda a filosofia metafísica sobre a alma – apontam para algo que apesar de estar, de certa forma, preso ao corpo físico, também pode se desprender dele. Se a evidência coletada a partir da observação dos átomos de criptônio do cérebro aponta para o seu cérebro “saber” que você vai fazer algo mesmo antes que você faça não pode indicar que na verdade a alma é apenas algum efeito colateral neurológico? Apenas uma ilusão causada graças ao próprio comportamento do cérebro?

Bem, existem inúmeros relatos de indivíduos em determinadas situações que falam de uma percepção de consciência existindo àparte do cérebro e do corpo físico. Geralmente este tipo de relato está associado com duas experiências distintas as Experiências de Quase-Morte (EQM) e Experiências Fora do Corpo (EFC). A ciência moderna não tem como explicar este tipo de fenômeno e acaba o classificando como delírios, alucinações ou simplesmente como mentiras, o problema é que a ciência moderna também não sabe como explicar a consciência “normal” “dentro” do cérebro. Hoje temos uma compreensão detalhada de como funcionam nossos neurônios e nossas transmições sinápticas relativas a funções cognitivas não relacionadas à conciência, mas nada que diga respeito a uma consciência de nossa consciência ou livre arbítrio ou seja lá como você queira chamar. Não sabemos nada sobre a neurologia das percepções experienciadas, como a vermelhidão, a textura e a fragrância de uma rosa. E é essa incapacidade de encontrar o foco de nossa consciência que faz com que a ciência moderna simplesmente ignore qualquer tipo de experiência que não envolva o corpo, inclusive rejeitando a possibilidade de sua realidade.

Mas a ciência possui algumas ferramentas para medir atividades de nosso cérebro que se correlacionam com a consciência, um exemplo é a eletroencefalografia sincronizada de alta frequência (EEG) do padrão gama (sincronia gama). Um uso desse processo é garantir que um paciente anestesiado não esteja apenas paralisado mas consciente da operação, ou seja, consciente do que estão fazendo com seu corpo. São utilizados monitores “BIS” que registram e processam a eletroencefalografia (EEG) frontal e produzem um “index bi-espectral”, também chamado de número BIS, em uma escala entre 0 e 100. Um BIS 0 significa silêncio no EEG e um BIS 100 é o valor esperado de um adulto completamente alerta e consciente. Os valores recomendados que indicam um bom nível de anestesia geral está entre 40 e 60. Como era de se esperar, recentemente, esses monitores passaram a ser usados para outras coisas além de auxiliar anestesistas. Começaram a ligá-los a pacientes que estavam para morrer ou naqueles que já se encontravam em um processo irreversível de morte. Os resultados foram surpreendentes, para dizer o mínimo.

Em um estudo publicado no Jornal de Medicina Paliativa foram descritos 5 experimentos onde 7 pacientes em estado crítico tiveram seus sistemas de prolongamento artificial de vida desligados, permitindo que morressem em paz. Por causa do protocolo todos eles foram monitorados com um monitor cerebral BIS. Antes do suporte ser desligado os pacientes estavam neurologicamente intactos, mas sob sedação pesada, seus números BIS próximos de 40. Assim que foram desconectados os números BIS dos pacientes caiam, indo para menos de 20 e se mantinham nesse nível por vários minutos, até o momento que a morte cardíaca ocorria – marcada pela completa ausência de pressão sanguínea ou inexistência de batimentos cardíacos. Então após a confirmação da morte cardíaca nos sete pacientes houve uma explosão de atividade no cérebro, fazendo o número BIS pular para 60, 80 e em alguns casos mais. Os períodos desta atividade duravam entre um e vinte minutos e então os números caiam para quase 0.

Em um dos pacientes a análise dos dados coletados revelou que a explosão de atividade cerebral pós morte cardíaca, apresentava sincronia gama, o que indica o surgimento de uma consciência. Isso fez com que os médicos levantassem a possibilidade de que a atividade mental pós morte cardíaca possam se relacionar com as experiências de EQM e EFC. Infelizmente como os pacientes morreram não há como confirmar se eles tiveram consciencia de algo.

Outro estudo, publicado no Jornal de Anestesia e Analgesia, descreve três pacientes que sofreram lesão cerebral que também tiveram o apoio médico removido e suportes artificiais de vida desligados, suas famílias autorizaram a doação de seus órgãos e nesses casos o suporte é removido para que os pacientes morram de morte natural e então tenham os órgãos removidos. Seus cérebros estavam irremediavelmente danificados, mas não estavam mortos. Antes de desligarem os aparelhos, os números BIS dos pacientes estavam abaixo dos 40, um deles próximo de 0. Após a retirada dos equipamentos, quando estavam próximos do momento da morte cardíaca o número BIS disparou para aproximadamente 80, nos três casos, e permaneceram lá por um tempo que variou de 30 a 90 segundos e então abruptamente retornaram para quase 0, quando foram levados para a remoção dos órgãos.

Que conclusões podemos tirar dessas experiências? Não há como afirmar que esse pico de consciência dentro do cérebro tem algo a ver com as EQM e EFC, nem que isso indique que a alma deixou o corpo. Nem mesmo podemos afirmar com que frequência isso ocorre, apesar de ter ocorrido em dez dos dez casos estudados. Mas podemos tentar entender o que dispara essa atividade no cérebro. Como essa atividade de fim-de-vida pode ocorrer em um tecido cerebral que está metabolicamente morto, um tecido que já não recebe mais sangue ou oxigênio. Os números BIS, que indicam o nível de consciência estão próximod do 0 e então uma explosão de atividade bi-frontal cerebral coerente e sincronizada acontece, aparentemente com sincronia gama – um indicador de auto-consciência (perceber conscientemente algo, não apenas estar “desperto”). Os números chegam próximos do 80 ou mais e então, abruptamente, caem para quase 0.

Foi proposto que a atividade de fim da vida cerebral é não funcional, generalizada e despolarizada. O primeiro estudo sugere que o excesso de potássio extra-celular causam o último pico de espasmos dos neurônios através do cérebro. Mas isso não explica a coerência global, a sincronia e a organização. Também foi sugerido que a indução com cálcio de morte dos neurônios poderia causar a disrupção dos micro-túbulos cistoesqueletais dentro dos neurônios e isso seria um dos fatores que causariam o fenômeno. Mas novamente, como explicar a coerência da sincronia bifrontal?

Talvez essa atividade de morte cerebral tenha relação com as EQM e EFC conscientes, uma consciência que habita o nosso corpo mas não está presa a ele, mas nos casos documentados a parte “quase”, de quase morte, foi removida, os pacientes não foram ressuscitados. Assim as descrições de flutuar para longe do corpo, de observar tudo ao redor, túneis de luz, paz interior, presença de entes queridos mortos seriam experiências reais da consciência, que neste caso não puderam ser recontadas. Existem os céticos – sempre existirão – que sugeram que essas experiências são alucinações ou ilusões, manifestação de um cérebro sofrendo isquemia ou hipoxia, o problema é que pacientes isquêmicos ou hipóxicos, se conscientes, se encontram em um estado de confusão, de agito e não conseguem criar memórias.

Algo que deve ser considerado é porque esse tipo de atividade ocorre quando o corpo está morto e o cérebro pára de funcionar. Uma possibilidade é que a consciência humana seja um processo de baixa energia quântica e neste caso uma dinâmica molecular muito baixa pode limitar uma descoerência térmica criando assim uma janela para um aumento de estados quânticos coerentes e uma explosão de consciência aprimorada. E uma base quântica para a nossa consciência cria a possibilidade científica de um pós vida, de uma alma real abandonando o corpo e persistindo como emaranhados de flutuações na geometria do espaço-tempo quântico.

Suzan McPussy

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/espiritualismo/a-alma-e-a-alma-do-negocio/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/espiritualismo/a-alma-e-a-alma-do-negocio/

Grandes Iniciados – Pitágoras

Pitágoras foi um dos vultos mais elevados deste ciclo de civilização. Nasceu na ilha de Samos, na Jônia (Grécia) no ano 585 AC. Quando ainda criança ele foi levado para residir no Líbano, onde um sacerdote disse à sua mãe: “Ó mulher Jônica, teu filho será grande pela sabedoria; os gregos já possuem a ciência dos deuses, mas a ciência de Deus só se encontra no Egito”. Sua mãe, então, resolveu mandar o jovem Pitágoras para o Egito a fim de obter a sua iniciação.

Portador de uma carta de apresentação endereçada ao Faraó Amasis, Pitágoras chegou ao Egito e foi pelo próprio faraó recomendado aos sacerdotes de Menfis que o aceitaram com reservas. Em Menphis o jovem submeteu-se com inquebrantável vontade às provas iniciáticas. Sua iniciação completa durou 22 anos. Foi após esse longo tempo de preparação que ele teve uma visão sintética da essência da vida e das formas, compreendendo a involução do espírito na matéria ( a queda ), mediante a criação universal e a sua evolução ( ascensão ) rumo à unidade pela criação pessoal, que se chama desenvolvimento da consciência.

Ainda estava Pitágoras no Egito por ocasião em que Cambisses invadiu aquele país, levando os dirigentes como escravos. Assim, Pitágoras acompanhou os escravos para a Babilônia onde foi iniciado nos conhecimentos deixados por Zoroastro (Fundador do Mazdeismo, a religião predominante na Pérsia).

Os sacerdotes egípcios tinham altos conhecimentos das ciências sagradas, mas eram os magos persas os que tinham os maiores desenvolvimento nas práticas mágicas, na manipulação das leis ocultas da natureza. Diziam-se capazes de dominar as potências ocultas da natureza, que denominavam de o fogo pantomorfo e de a luz astral. Há registros que dizem que nos templos persas as lâmpadas ascendiam-se por si, deuses brilhavam com luzes desconhecidas, surgiam raios e trovões. Os magos denominavam “leão celeste”, “fogo incorpóreo”, o gerador daqueles raios.

Por certo os sacerdotes tinham conhecimentos e dominavam muitos fenômenos elétricos, gerando de alguma forma eletricidade. Também mantinham controle sobre fenômenos atmosféricos despertando correntes elétricas na atmosfera e manipulações magnéticas desconhecidas das pessoas da época, muita ainda desconhecidas da ciência atual.

Os sacerdotes da Babilônia tinham grandes conhecimentos do poder sugestivo, atrativo e criativo da palavra humana.

Assim, na Babilônia, Pitágoras penetrou nos arcanos da antiga magia persa. A religião da Pérsia, embora já totalmente degenerada naquela época, mesmo assim ainda havia um grupo de iniciados unidos defensor de uma autêntica ciência oculta. Iniciados que defendiam a sua fé e também a Justiça, e secretamente enfrentavam os déspotas, fascinavam, muitas vezes dominavam o poder absoluto dos governantes.

Depois da iniciação egípcia e caldaica Pitágoras, ainda jovem, já sabia mais que todos os seus mestres e do que qualquer grego de seu tempo. Durante todos aqueles anos ele tomou ciência de fartos conhecimentos secretos, tornando-se sabedor da verdadeira natureza da humanidade e de grande parte da sua verdadeira história, de tudo aquilo que a “conjura do silêncio” a todo custo tentava ocultar ou que havia deformado. Sabia sobre religiões, continentes e raças totalmente desaparecidas.

Com o seu enorme conhecimento ele teve condições de fazer estudo comparado de todas as religiões tanto ocidentais quanto orientais. Estava consciente da força negativa e do obscurantismo importo pela “conjura” que havia imposto sua pesada mão e jugo aos egípcios, e depois à própria Babilônia e Pérsia (onde esteve por cerca de 12 anos). Pitágoras prevendo que o passo seguinte seria a Europa se antecedeu e voltou à Grécia, de onde havia passado cerca de 34 anos ausente.

Voltando à Grécia teve a alegria de ainda encontrar com vida o seu Primeiro Grande Mestre, assim com a sua mãe. Sabedor que o próximo passo do domínio da conjura seria a Grécia tomou a decisão de partir para um lugar onde pudesse fundar uma escola iniciática para legar à humanidade muitos conhecimentos, entre eles os matemáticos, dos quais o mais conhecido é o “Teorema de Pitágoras”. Juntamente com a sua mãe foi se fixar em Crotona no golfo de Tarento na Itália Meridional. Ele pretendia fundar um centro, não apenas para ensinar a doutrina esotérica a um grupo de discípulos escolhidos, mas também para aplicar seus princípios à educação, à mocidade e à vida do Estado. Pretendia fundar uma instituição com a intenção de ir transformando aos poucos a organização política das cidades e estados. É compreensível que bastaria isso para acirrar ódios e perseguições.

Grande matemático, Pitágoras legou importantes conhecimentos à humanidade, e por outro lado foi também um místico proeminente. Estabeleceu um sistema político, além do movimento religioso e educativo e que foi considerado aristocrático e ditatorial. Platão, assim como Aristóteles foram discípulos da Escola Pitagórica. O que Platão escreveu na sua obra “A Republica” teve como base os ensinamentos da Escola Pitagórica.

Pitágoras, por defender o principio da autoridade, hoje seria tido como um ditador, como um opressor, mas na realidade nada disso é verdade, o que pode ser comprovado pelos seus atos pessoais, como veremos depois. Na realidade ele defendia acirradamente o principio da autoridade, e não podia ser diferente. Ele fora iniciado em escolas iniciáticas em que havia uma rígida obediência hierárquica e vivido sobre regimes títeres e escravagistas. Como já dissemos em outras palestras o sistema iniciático era muito rígido como uma forma de defesa contra a mão impiedosa da “conjura”. Também se deve ter em conta que as escolas iniciáticas do Egito descendiam da Civilização Atlântida onde o poder era controlado com rigor pela religião e pela ciência e vice-versa.

O sentido de ordem e respeito estabelecido por Pitágoras, propugnador de um estado hierárquico, fez com que muitos o perseguissem. Se, por um lado, ele tinha uma plêiade de seguidores e de admiradores, também ocorria o inverso, como uma decorrência de Crotona ser uma cidade já degenerada por vícios, com forte tendência à vida voluptuosa, como acontecia na vizinha Sibaris, tida como uma das mais devassas cidades daquela época. Suscitou uma verdadeira revolução nos costumes. Procedia mais como um mágico do que como um filósofo. Reunia os rapazes no templo e com sua eloqüência conseguia afastá-los da vida debochada de então, fazia com que abandonassem até mesmo as suas vestes luxuosas. A beleza da sua fisionomia, a nobreza da sua pessoa, o encanto dos seus traços e da sua voz, concorriam para o fascínio que exercia sobre as pessoas, de modo que as mulheres o comparavam a Júpiter, os rapazes a Apolo.

O Senado de Crotona – o Conselho dos Mil – então começou a se preocupar com o prestígio de Pitágoras e por isso ele foi intimado a dar explicações sobre a sua conduta. Nesta fase foi quando ele criou um Instituto para atender aos seus discípulos. Uma confraria de iniciados com vida comunitária, onde havia um sistema iniciático exigente. Dizia Pitágoras: “Não é qualquer madeira que serve para fazer-se mercúrio”.

No Instituto Pitagórico dava-se grande importância também ao lado físico, por isso era cultivada a prática de ginásticas e exercícios diversos. Ali os que tentavam a iniciação antes tinham que passar por provas sérias, muitas vezes sarcásticas; passava até mesmo por humilhações, cujo objetivo era evidenciar o verdadeiro desejo de saber e a sinceridade do iniciando. Isso gerou inimigos entre os noviços fracassados. Um deles, o Cilon, mais tarde amotinou o povo contra os pitagóricos, levando a cabo o incêndio e o saque do Instituto em que os principais dirigentes morreram e dizem que o próprio Pitágoras. (Dizem que ele conseguir escapar com vida juntamente com uns poucos adeptos).

As controvérsias existentes em torno dos ensinamentos pitagóricos, sobre suas idéias e ensinamentos motivaram ódios tanto por parte do povo quanto dos governantes. Incitados por Cilon isto motivou a destruição do Instituto, mas como não se mata facilmente uma idéia os ensinamentos perduraram por mais de dez séculos e ainda existem até o presente.

Com o intuito de serem evitadas perseguições às pessoas, durante séculos os ensinamentos pitagóricos foram sendo transmitidos através de confrarias e sociedades secretas, entre essa a célebre Ordem Pitagórica que subsiste até hoje funcionando de forma oculta, com caráter rígido de seleção e mantendo um sistema iniciático bem rigoroso. É uma dessas ordens secretas em que não se chega à ela diretamente, mas somente por indicação de outras ordens preliminares. Por outro lado existiram e existem ainda muitas organizações que se intitulam de pitagórica por estudarem a doutrina, mas que na realidade não são autênticas. Algumas estudam com sinceridade e honestidade os princípios pitagóricos mesmo que não mantenham vínculos diretos com a ordem original; mas por outro lado também existem aquelas que usurpam o nome apenas, que nada sabem, nada ensinam de autêntico e quando não, apresentam ensinamentos outros com intenções espúrias.

Por José Laércio do Egito – F.R.C.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/grandes-iniciados-pit%C3%A1goras

Nix, a Deusa da Noite

A noite sempre foi o maior dos mistérios para o Ser Humano e seu maior medo. Qual criança nunca sentiu medo do escuro? Para mostrar que a noite não é algo tão ruim assim, os gregos antigos criaram um belo mito sobre a deusa Nix (que em grego quer dizer “noite”). Nix é uma deusa-mãe muito antiga que habita o espaço conhecido como “nível telúrico” (este espaço terrestre onde vivemos) ao lado de Heméra (o dia), Éter (os espaços aéreos) e Deméter (a Natureza).

Os gregos diziam que a luz é eterna e jamais se apaga nas alturas dos montes sagrados e dos céus. Porém, nós, os mortais, não conseguimos nos manter acordados todo o tempo, como fazem os deuses. Nós necessitamos de descanso… É exatamente por isso que diariamente no fim da tarde Nix, bondosa e cuidadosa para com seus filhos, os mortais, estende por sobre todo o mundo seu enorme manto de veludo azul-escuro: o manto de Nix. Este manto é noite que nos aquece, protege e propicia tranqüilidade e conforto para dormirmos em paz. De manhãzinha, a filha querida de Nix, Aurora, com seus belos dedos cor-de-rosa retira lentamente o manto de Nix e traz novamente a claridade ao mundo. No entanto, este manto está sendo usado há muito tempo e já está velho e puído. Durante a noite pode-se ver os pequenos furinhos que este manto tem e, através deles, perceber que por trás do veludo a luz brilha eternamente. Estes furinhos são as estrelas.

Há quem considere o povo grego como que um gênio que realizou o milagre do nascimento da Razão. Há quem pense, no entanto, que não há mais que um eterno retomar, sempre fundamentado na origem ocidental. Há quem considere que deste gênio, simplista, harmônico e luminoso, emergiu a Filosofia, como culminância de um povo. Há, no entanto, quem imagine que os gregos sempre estiveram imersos em guerras contínuas e em desespero, “dilaceramento trágico e desmedido, de tal forma que a Filosofia exprime a obscuridade do gênio helênico”. A Razão é então um libertar da obscuridade mítica, “libertado do mito, como as escaras caem dos olhos do cego”, ou seria ela tão-somente a continuação do próprio mito e da religião, como herdeira inevitável?

Oriente e Ocidente

Sobre o tema, introduz-nos Pessanha: “durante muito tempo o problema do começo histórico da Filosofia e da Ciência Teórica foi colocado em termos de relação Oriente-Grécia. Desde a própria antiguidade, confrontaram-se duas linhas de interpretação: a dos orientalistas, que reivindicaram para as antigas civilizações orientais a criação de uma sabedoria que os gregos teriam depois apenas herdado e desenvolvido; e a dos ocidentalistas, que viam na Grécia o berço da Filosofia e da Ciência Teórica. (…) As disputas continuariamindefinidamente em termos da relação empréstimo ou herança entre Oriente e Grécia, examinada freqüentemente com bases apenas conjeturais, se dois fatores não viessem, a partir do final do séc. XIX, deslocar o eixo da questão: a expansão das pesquisas arqueológicas e o interesse pela natureza da chamada mentalidade primitiva ou arcaica”

Quando Hesíodo descreve os Persas, há a descrição da cultura oriental com fatos tais como o estudo dos astros pelos babilônicos, o da matemática pelos egípcios, o dos céus pelos caudeus ou a criação da moeda pelos fenícios. Platão e Aristóteles insistem que tais idéias foram apropriadas pelos gregos, poré isto não quer que necessariamente dizer que a Filosofia é oriental. O primeiro motivo é a idéia de que o Oriente é um lugar mítico e especial, por ter sido lá que o ser humano apareceu, como criação direta dos deuses, na metáfora da idade do ouro. O segundo, é que o pensamento filosófico é perturbador por questionar os deuses e as instituições; assim, uma idéia de tradição, funciona como uma espécie de salvaguarda contra possíveis ataques. As cosmogonias orientais são então, retomadas pelas cosmologias gregas.

As cosmogonias orientais contém, então, idéias que seriam retomadas pelos cosmologistas. São elas: 1.a ) Unidade universal e divina que engendra de dentro de si mesma, todos os seres (o uno). 2.a) Passagem do Chaos ao Kósmos; de uma unidade primordial indiferenciada, à diferenciação dos seres existentes; das trevas à luz. 3.a) Mundo como processo contínuo de geração e diferenciação dos seres; quer pela força do uno ou por interação de forças inteligentes que discriminam. 4.a) Conexão ou sympathia que une todos os seres; daí existir o mundo, enquanto órganon e kósmos: a ordem. 5.a) Lei e/ou necessidade que governa a geração, a transformação e a corrupção de todos os seres em movimento circular e cíclico. 6.a) Dualismo entre um corpo mortal e uma alma imortal, que nasceu da purificação feita pelos gregos, de uma felicidade perene oriental.

Em Homero e Hesíodo, as idéias orientais se fazem presentes, guardando-se porém, cuidados em fazer as devidas adaptações ao pensamento helênico: 1.a) Afastamento de monstruosidades e irracionalidades; fundamentalmente a ausência de uma ordem cósmica em que se possa confiar. 2.a) Aproximação dos homens e dos deuses, com uma função de antropomorfização das forças primordiais. A diferença entre os conhecimentos orientais é, portanto, a própria racionalidade imprimida aos conhecimentos antigos. O “milagre grego”revela-se, na verdade, como uma organização do conjunto de conhecimentos empíricos e práticos, em conhecimentos sistemáticos e lógicos. A matéria prima é oriental, e sobre ela, os gregos aplicaram o gênio do logos. Um conjunto de estudos (História, Arqueologia, Filosofia, Lingüística) mostraram que uma série de mitos e cultos religiosos, danças e músicas, poesia, objetos, técnicas e utensílios; demonstra um contato intenso entre o Ocidente e o Oriente. Fica então evidente que a simples rejeição da tese oriental é absurda. Se o termo “milagre” for tomado em sentido de mutação, então tal termo pode ser usado enquanto mudança qualitativa sobre o material do Oriente.

O Gênio Grego

O pensamento do séc. XVIII assume a Filosofia como um fenômeno grego, enquanto espírito do povo grego. O gênio grego caracterizar-se-ia pois, pela liberdade e qualidade racional de espírito. Quando comparada ás demais culturas, a cultura grega explicitaria que na cultura oriental, falta a liberdade frente a natureza; na cultura cristã, falta a memória do espírito e do corpo; na cultura muçulmana, falta a harmonia entre a forma e a matéria e na cultura moderna, que é fruto do cristianismo, os gregos figuram como o povo da luz, da medida, da proporção e do equilíbrio. A objetividade pesa pela razão, sobre as paixões; a simplicidade é racional.

Por causa deste tal gênio grego, enquanto conseqüência e expressão do caráter racional, a imagem de harmonia orgânica grega foi questionada no séc. XVIII por Rousseau e no séc. XIX, por Nietzsche. Para Rousseau, a origem da Filosofia foi a perenidade do conflito entre as cidades. Nietzsche diz que os gregos criaram a Filosofia, porque temiam aquilo que sabiam ser: o dilaceramento trágico, o lado cruel e sombrio da natureza humana. Para Nietzsche, os gregos eram o povo da hýbris, da luta entre os opostos, agonísticos em si, competitivos. A origem de outra expressão do mesmo gênio grego é a tragédia, culto a Dionýsos, culto à demésure. A criação e a separação de todos os seres do uno, traduz-se dor. O principio do sofrimento, da dor, da paixão e da demésure, é o principio dionisíaco. Em contraponto, há um principio racional, luminoso e diferenciador, representado por Apólon. A Filosofia nasce como negação do próprio gênio grego. O fim deste movimento, dá-se com Sócrates, com a vitória apolínea sobre o principio dionisíaco.

Ambas as teses são igualmente abstratas, porque não são históricas. Ambas referem-se aos gregos como entidade abstrata e atemporal. A cultura grega, no entanto, possui efetivamente tais caracterizações, porém tais aspectos estão ligados ás condições sociais, políticas e culturais determinantes. O ideal de harmonia não traduz a realidade grega, pelo contrário, a contrapõe.

Filosofia e Filósofos

Historicamente temos então, o surgimento da democracia e da sociedade estruturada como Estado, e não mais como simples clã ou família. Tais gene eram dominados por um patriarca, o despótes, que era senhor absoluto sobre todos os bens e sobre todas as pessoas de sua família. No entanto, com o crescimento populacional e com o não equivalente crescimento da produção, o sistema autárquico dos gene tornou-se inviável, pela generalizada diminuição das rendas familiares. Além disso, a subdivisão progressiva dos gene em famílias menores, gerou um enfraquecimento do poder centrado nos laços sanguíneos. Os bens foram divididos e apareceu a propriedade privada e, com ela, disputas pela posse e pelo poder. Um período de desordens sociais seguiu-se.

Os aristocratas, aqueles mais favorecidos cm o fim do sistema de génos, passaram a unirem-se com finalidade de autoproteção. Apareceram então tribos que acabaram por fundirem-se em pequenos agrupamentos, mais tarde em vilarejos e, finalmente, em cidades. Fortificações surgiram e, à volta delas, os primeiros núcleos urbanos. A polis surgiu daí e a forma monárquica de poder deu lugar á oligárquica, baseada no comércio e em bens privados. Apareceu, pela primeira vez na história da humanidade, a idéia de indivíduo e a de individualismo. Isto marca a passagem da poesia épica, que canta os grandes heróis e os feitos do génos, para a poesia lírica, que canta o individuo. Estes foram os efeitos básicos que culminariam com o surgimento da Democracia e da Filosofia; e da união delas surgiria a Política.

Com o advento da colonização, ampliaram-se os contatos do mundo grego. Atenas foi extremamente beneficiada devido sua privilegiada localização geográfica e transformou-se em importante centro de redistribuição comercial no meio do mar Egeu. Os comerciantes e artesãos tornaram-se numerosos, ricos e poderosos. Houve uma crise política e uma luta entre a aristocracia e os novos comerciantes enriquecidos. Tornou-se imperiosa uma mudança política em Atenas e surgiram legisladores como resposta à crise que se instalava. Dracon elaborou a primeira legislação de Atenas, extremamente severa e que impunha a pena de morte para a maioria dos crimes; mas, no plano político não houve mudanças substanciais e a aristocracia mantinha para si o poder. A crise continuou, portanto. Sólon foi nomeado legislador e operou reformas sociais em Atenas: estimulou o desenvolvimento da indústria e das artes; estabeleceu pesos, medidas e moeda estável; reviu a legislação de Dracon, amenizando-a e abolindo a escravização por divida; o poder foi retirado da aristocracia e introduziu um sistema político com a participação geral, de acordo as riquezas dos cidadãos. Tais reformas foram feitas no sentido de estabelecer uma justiça correta e válida para todos, sem que fossem favorecidos nem os aristocratas,nem as classes em ascensão, nem as reivindicações extremas das camadas empobrecidas. No entanto as reformas de Sólon não foram totalmente aplicadas, devido aos interesses que se contrapunham. Houve o aparecimento de homens que tomaram o poder pela força e à revelia das leis, apareceu a figura do týrannos.

Um novo movimento de reforma do sistema político surgiu em Atenas com Clístenes. Este legislador reorganizando os espaços físicos e geográficos, aproveitou-se da situação para criar a democracia. Clístenes estabeleceu direitos iguais de participação no poder para os cidadãos, isto é, homens gregos, nascidos na polis, adultos e livres. Apareceu a idéia de demos, com o agrupamento de antigos gene em povos de acordo com sua região de origem na península Ática. Estava instituída de forma estável, a democracia ateniense. Desta forma, a política era exercida pelos cidadãos que se reuniam em assembléia, a ekklesia, para discutir e resolver os problemas políticos. Da necessidade de discussão e de debate, surgiu a oratória, a retórica e o pensamento político grego. Pouco a pouco, a Filosofia que originalmente voltava-se somente para questões cosmológicas e perseguia a idéia de natureza, isto é, a unidade que garante a ordem do mundo; voltou-se para questões ligadas ao individuo e á cidade, fundando a Antropologia e a Política. Nesta fase antropológica da Filosofia grega, temos como expoentes máximos e antagônicos, em um extremo Sócrates e em outro, os sofistas, já aqui, uma Filosofia absolutamente grega e ocidental, não mais guardando resquícios das cosmogonias orientais.

A palavra “política” tem origem na palavra grega politiké, guardando, enquanto substantivo masculino, o significado de homem do Estado; enquanto substantivo neutro, os de cidadania, negócios públicos, política; enquanto substantivo feminino, o de ciência ou arte dos negócios do Estado e enquanto adjetivo, os sentidos de cívico, civil; composto de cidadãos; político, público, do Estado. Por sua vez, são as formas genitivas da palavra, que designa cidade, imediações da cidade, região habitada; reunião dos cidadãos, Cidade-Estado; também refere-se ao Estado e, finalmente, à democracia. Isto quer dizer que o idioma grego associa, de maneira inseparável, a idéia de “cidade”, dupla entidade, tanto física quanto social, à de Estado, e é desta associação que emerge a idéia de “ciência política”.

Da necessidade da discussão em assembléia e do afã de fazer prevalecer uma idéia sobre as demais, nasceu a sofistica. A controversa figura do sofista, correspondia então aquele que se propunha a ensinar e a definir conhecimentos gerais, principalmente a arte da oratória e da retórica; isto, mediante remuneração. A palavra grega designava originalmente apenas sábio, sem cunho filosófico, tendo sido inclusive aplicada a legisladores e políticos (os Sete Sábios). Mas, com o advento da Filosofia e da Democracia, passou a ser sinônimo de homem que sobressai em alguma coisa, engenhoso;mestre de eloqüência e no vocabulário de Sócrates, assumiu caráter pejorativo, significando impostor, charlatão, sofista. Apareceu então, um duplo sentido para a idéia de Sophia: conhecimento, saber ciência; prudência e penetração, persuasão; sagacidade, astúcia. Escreve Abbagnano: Os sofistas não podem relacionar-se com as investigações especulativas dos filósofos jônicos, mas com a tradição educativa dos poetas, a qual se desenvolvera ininterruptamente de Homero e Hesíodo, a Sólon e a Píndaro. Todos eles orientaram a sua reflexão para o homem, para a virtude e para o seu destino e retiraram, de tais reflexões, conselhos e ensinamentos.

Tal função de exegetés, desempenha pelos sofistas, reconhecedores do valor formativo e educacional do saber, atraiu sobre si a critica de Sócrates, que viu na paidéia a elevada função de acordar a psyché para o conhecimento, a partir da admissão do não conhecer. Ensinar é pois lembrar a alguém, inicialmente, de que nada sabe, para exercer uma função destrutiva e libertadora, anulação de qualquer saber fictício e preconceituoso. Mais tarde, há que se lembrar, como quem faz um parto, aquilo que já se sabia; fazendo vir á luz a ânsia pelo saber e o interesse pela pesquisa. Assim ninguém pode ensinar ou proferir doutrina, não é possível o conhecimento e, por isso, não se deve escrever para que não se crie a falsa idéia de que existam tais coisas: Sócrates limitava-se a nada saber. Escreve Abbagnano: aqueles que dele (Sócrates) se aproximam, a principio parecem completamente ignorantes, mas depois a sua pesquisa torna-se fecunda, sem que todavia nada recebam dele.

Radicalmente contrário a qualquer presunção de sabedoria, Sócrates via nos sofistas, indivíduos que pretendiam-se detentores de um saber; saber este, fictício, desprovido de verdade e corruptor em sua prepotência. Filosofar é o exame incessante de si mesmo e dos outros, de si próprio em relação aos outros e dos outros em relação a si. Se a profissão sofística apoiava-se na sabedoria e no ensinamento, a profissão socrática erguia-se da própria ignorância e fazia ver à psyché, a verdade contida no pneûma. Ambas igualmente antropocêntricas, ambas em busca da areté, ambas uma paidéia em si, é certo. Entretanto, em extremos opostos localizavam-se: uma na ânsia de conhecer-se a si mesmo e saber o dever ser e a verdade, outra na ânsia pelo sucesso na discussão através do influenciar e da persuasão. Há que se dizer ainda que, por todos estes motivos, Sócrates, ao contrário dos sofistas, identificava a areté á sabedoria e á ciência e nunca á opinião, á aparência ou á fama.

Ainda em Abbagnano encontramos: O homem não pode ver claro por si só. A investigação de que se ocupa não pode começar e acabar no recinto fechado da sua individualidade: pelo contrário, só pode ser o fruto de um dialogar contínuo com os outros, como consigo mesmo. É aqui que reside, verdadeiramente, a sua antítese polêmica em relação à sofística. A sofística é um individualismo radical. O sofista não se preocupa com os outros a não ser para arrancar a todo custo, e sem se preocupar com a verdade, o consenso que lhe assegura o sucesso; mas nunca chega à sinceridade consigo próprio e com os outros. Jaeger comenta: Na época dos sofistas, a paidéia converte-se pela primeira vez em um problema consciente e situa-se no centro do interesse geral, sob a pressão da própria vida e da evolução do espírito, que sempre colaboram. Surge uma cultura superior e aparece e desenvolve-se, como sua representante, uma profissão especial: a dos sofistas, que abraçam como missão o ensino da virtude. Mas agora põe-se manifesto que, apesar de todas as meditações sobre os métodos pedagógicos e as formas de ensino e apesar da riqueza vertiginosa da matéria didática de que dispõe esta cultura superior, ninguém tem uma idéia clara sobre suas premissas. Sócrates não teve a pretensão de educar aos homens como Protágoras (…) Mas mesmo que estivéssemos instintivamente convencidos desde o primeiro momento, como estavam todos seus discípulos, de que Sócrates é o verdadeiro educador que sua época busca, Platão põe em destaque no “Protágoras” que sua pedagogia não se baseia somente em outros métodos de natureza distinta ou no mero poder misterioso da personalidade; mas sim, fundamentalmente no feito de que, ao reduzir o problema moral a um problema de saber, assenta pela primeira vez aquela premissa que á pedagogia sofística faltava. O postulado da primazia da formação do espírito proclamado pelos sofistas não pode justificar-se pelo simples fato de triunfar na vida. Esta época vacilante em seus fundamentos reclama o conhecimento de uma norma suprema que obrigue e vincule a todos, por ser expressão da natureza mais íntima do homem, e apoiando-se nela, que possa a educação enfrentar sua tarefa suprema: formar ao homem para sua verdadeira arete. A este resultado não podem conduzir os conhecimentos e o training dos sofistas, mas aquele saber profundo sobre que versa o problema de Sócrates.

Considerações Finais

Concluamos então, com o próprio Vernant: “Como a Filosofia se desenvolve do mito, como o filósofo deriva do mago, assim também a Cidade se constitui a partir da organização social: ela a destrói, mas ao mesmo tempo conserva o quadro; transpõe a organização tribal em uma forma que implica um pensamento mais positivo e abstrato.

Deste eterno transformar do pensamento humano: do mito oriental ao mito ocidental, da religião à Filosofia e da Filosofia á ciência, a psyché humana processa sua jornada rumo a Sophia, a Mnemósine, numa metempsicose que faz revelar a verdade em meio a conflitos e paradoxos impostos pelo próprio pensamento. Assim como o poeta, o adivinho possui o privilégio de ver a realidade imutável e permanente, põe-no em contato com o seu original, do qual o tempo, na sua marcha, só descobre uma ínfima parte aos humanos, e para a ocultar logo após.

Um dia chegará em que Nix retirará de sobre tal verdade seu manto e em um apokalypsis o divino aither, de que são formadas as estrelas, mostrará sua face mais brilhante ao ser humano.

Texto de Bernardo de Gregório.

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Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/nix-a-deusa-da-noite