II Simpósio Brasileiro de Hermetismo

O II Simpósio Brasileiro de Hermetismo e Ciências Ocultas, que será realizado nos dias 23, 24 e 25 de junho de 2011, tem por objetivo trazer estudos mais aprofundados à Ciência Hermética. Com apoio da Associação Educacional Sirius-Gaia e do Projeto Mayhem, o evento tem como tema geral a discussão sobre as práticas ocultistas.

A Programação deste ano será composta de Palestras e Workshops com alguns dos mais importantes estudiosos de Hermetismo, Ordens Iniciáticas e Magia no Brasil.

PROGRAMAÇÃO
23/jun/2011

08:30 – 08:50 – Abertura Oficial

08:50 – 10:50 – Astrologia Hermética – Marcelo Del Debbio

11:00 – 12:45 – Umbanda, Xamanismo e Magia – Alexandre Cumino

12:45 – 14:00 – Almoço

14:00 – 16:00 – O Tarot de Crowley e a Magia Sexual Thelemica – Frater Goya

16:00 – 16:30 – Coffe Break

16:30 – 18:00 – Magia no Islamismo – Mário Alves da Silva Filho

18:00 – 20:00 – Xamanismo: O Arquétipo do Animal de Poder – Fernando Maiorino

20:00 – Jantar de Confraternização

24/jun/2011

09:00-11:00 – Arquitetura Sagrada: Simbologia, Geometria e o Ser – Márcio Lupion

11:10 – 12:40 – I Ching, do Xamanismo ao Computador – Gilberto Antônio Silva

12:40 – 13:50 – Almoço

13:50 – 15:50 – Magia Egípcia: O Novo Equinócio dos Deuses – Frater Goya

15:50 – 16:10 – Coffe Break

16:10 – 18:10 – Escolas iniciáticas da Kabbalah: Judaica, Cristã, Hermética, Maçônica e Mágica – Edmundo Pellizzari

18:15 – 20:15 – Mesa Redonda – O lado místico das religiões: Sufismo, Hinduismo, Cristianismo e Judaísmo

25/jun/2011

09:00 – 11:00 – A Felicidade segundo a ótica da Magia Cerimonial – André Calladan

11:10 – 12:45 – Magia do Budismo Esotérico – Renan Romão

12:45 – 14:00 – Almoço

14:00 – 14:55 – Visão da Teosofia sobre os 7 raios – Carlos B. Conte

15:00 – 16:00 – As 7 raças humanas – Carlos B. Conte

16:00 – 16:30 – Coffe Break

16:30 – 18:00 – LHP – O Caminho da Mão Esquerda – Adriano Camargo

18:00 – 19:30 – Projeção Astral – Lázaro Freire

PALESTRANTES
Adriano Camargo – Autor do “Sistemagia” e “Cabala Draconiana”, membro da Dragon Rouge e um dos pouquíssimos caras sérios em LHP no Brasil.

Alexandre Cumino – autor de “A História da Umbanda” e editor do “Jornal da Umbanda Sagrada”. Um dos sacerdotes mais respeitados no Brasil.

Carlos Basílio Conte – Membro da Sociedade Teosófica e Secretário de Cultura da Maçonaria, autor dos livros: “Magia Cerimonial” e “Pitagoras- Ciencia e Magia na Antiga Grecia”.

Edmundo Pellizzari – Prof. Edmundo Pellizzari é teologo (BD, BTh, OCR) com formação em estudos biblicos e judaicos.

Durante trinta anos estudou a Mistica Judaica (Kabalah) em institutos internacionais e com mestres tradicionais. E membro da Order of Corporate Reunion, da Order of Christian Renewal e da Apostolic Church of the Divine Mysteries.

Fernando Maiorino – Fundador e Presidente da Associação Educacional Sírius-Gaia (AESG). Orientador Espiritual em Umbanda Natural, vertente filosófica trazida por seus Guias Espirituais há uma década.

Frater Goya – Mais conhecido nos meios internéticos, é o fundador do Círculo Iniciático de Hermes (CIH). Já postei entrevistas com ele.

Gilberto Antônio Silva – Estudioso de filosofias e culturas orientais desde 1977, pesquisou e analisou com profundidade a cultura e o modo de pensar oriental, especialmente o Taoísmo. É atual Coordenador Editorial da revista Medicina Chinesa Brasil e Editor-responsável do jornal Saúde & Longevidade.

Marcelo Del Debbio – Arquiteto com especializações em Semiótica, História da Arte e História das Religiões Comparadas. Autor da Enciclopédia de Mitologia e coordena o blog “Teoria da Conspiração” e o Projeto Mayhem. É autor da Wikipedia de Ocultismo, com cerca de 5.000 verbetes.

Márcio Lupion – Discipulo da Maha Yoga Chegada ao Ramana Ashram do Brasil Swami Sri Maha Krishna – Aprende as 4 yogas, Bakti, Raja, Jnana e Karma Yoga. Iniciado no budismo tibetano com Chagdud Tulku Rinpoche, Templo Odsal Ling, São Paulo, SP.

Mário Alves da Silva Filho – Pratica e estuda o Sufismo ha mais de 15 anos, tendo sido membro das seguintes Ordens Sufis (Turuq): Attasiyya (foi o representante – Muqadam – para o Brasil), Khalwatiyya al-Jerahiyya e Ahmadiyya at-Tijaniyya (é membro desta atualmente). Viajou pela Turquia, Irã, Iraque e Arábia Saudita entrando em contato com diversos Shaykhs da Tradição do Tasawwuf (Sufismo), aprendendo com eles. Dirige o Centro de Estudos Filosóficos e Espirituais Caminho do Oriente (CEFECO). É membro do Grupo de Pesquisas CERAL- Centro de Estudo de Religiões Alternativas de Origem Oriental, Setor de Pós-Graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP.

Renan Romão – Graduando em Psicologia e Letras (FFLCH-USP), estuda Magia e Misticismo atraves de diversas tradicoes ocidentais e orientais sob a luz do Iluminismo Cientifico. Maçom, membro da ARLS “Estrela do Brasil” n°4321 GOB/GOSP, representante do CALEN/SP e membro-fundador da Confraria de Estudos Antigos.

Informações e inscrições:
http://www.simposiohermetismo.com.br/

#Mayhem #Palestras #SiriusGaia

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/ii-simp%C3%B3sio-brasileiro-de-hermetismo

Instituto Infância Azul

IIA

O Instituto Infância Azul é um projeto da Hospitalaria da ARLS Arcanum Arcanorum, 4269 (GOSP-GOB) idealizado pelo irmão Márcio Amaro e localizada no Templo AyaSofia, cujo objetivo é oferecer para as crianças menos favorecidas a oportunidade de, desde pequenos, receberem a estimulação necessária para vencer as dificuldades que sua situação lhes impõe.

Publico alvo

Crianças com déficits nas áreas sensório-perceptiva, motora, cognitiva, emocional, de comunicação e de adaptação social, objetivando reduzir ou eliminar desvios de padrões de desenvolvimento.

Pacientes vinculados a programas de saúde e residentes dos bairros próximos a associação. A principio será realizado atendimentos nos setores de Fonoaudiologia, Psicologia e futuramente Terapia Ocupacional.

Procedimento

Os serviços prestados pela Associação vão caracterizar-se como serviço de proteção social especial para crianças com deficiência, (Serão atendidas crianças com diagnóstico de Deficiência Intelectual (DI) associada ou não a outras patologias (Síndromes, Encefalopatia Crônica Não Progressiva, Mielomeningocele entre outras) Proporcionando condições favoráveis e recursos necessários para o atendimento de diversos tipos de deficiência, A maioria dos usuários deste Projeto deve ser encaminhada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), Policlínica, médicos e outros. Este processo inicia-se através de uma triagem com toda Equipe Multidisciplinar (Fonoaudióloga, Psicóloga e Terapeuta Ocupacional) para definição e conduta de tratamento.

FONOAUDIOLOGIA – O Trabalho de Fonoaudiologia tem por finalidade contribuir para o desenvolvimento da fala e da linguagem para melhoria de suas funções e processos de aprendizagem nos diferentes contextos de comunicação.
PSICOLOGIA – O Trabalho de Psicologia tem por função contribuir no processo de avaliação de forma interdisciplinar, fornecendo dados básicos para a organização dos atendimentos, orientação ao paciente, as famílias e aos professores, contribuindo para o equilíbrio e ajustamento nas relações entre paciente, professor, família, e comunidade.
TERAPIA OCUPACIONAL – Trabalha a independência da criança em suas atividades de vida prática e vida diária, promovendo maior autonomia como cidadão comum. Trabalha também a coordenação motora fina, coordenação viso motora integrada ao processo de alfabetização.

Conclusão

A idéia e ter uma instituição que trabalhasse estimulação essencial em crianças com algum comprometimento mental e neurológico, desde pequeno, para que o atraso no seu desenvolvimento fosse o menor e menos significativo possível.

Nosso Objetivo é ser uma entidade beneficente sem fins lucrativos, reconhecida como de utilidade Pública.

Juntaremos voluntários que acreditem na proposta e com dedicação, amor e comprometimento irão contribuir de forma decisiva para que o projeto seja uma referência no acolhimento, assistência e competência profissional dentro da área.

#Hospitalaria

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/instituto-inf%C3%A2ncia-azul

Se7en, a origem dos Sete Pecados Capitais

Os chamados “Pecados Capitais” são originários da alquimia e das tradições iniciáticas muito antigas, remontando dos antigos rituais egípcios e babilônicos. Antes de começar, vamos usar a nomenclatura certa: DEFEITOS capitais.

Os defeitos capitais são em número de sete, diretamente relacionados com o avanço espiritual e estando cada um deles associado a um Planeta, de acordo com uma estrutura denominada “Estrela Setenária”.

ORGULHO

Defeito capital relacionado com o SOL e, na minha opinião, o mais difícil de ser destruído.
Em sua síntese, Orgulho é um sentimento de satisfação pessoal pela capacidade ou realização de uma tarefa. Sua origem remonta do latim “superbia”, que também significa supérfluo.

Algumas pessoas consideram que o orgulho para com os próprios feitos é um ato de justiça para consigo mesmo. Que ele deveria existir, como forma de elogiar a si próprio, dando forças para evoluir e conseguir uma evolução individual, rumo a um projeto de vida mais amplo e melhor. O orgulho em excesso pode se transformar em vaidade, ostentação, soberba, apenas então sendo visto apenas então como algo de negativo.
Outras pessoas classificam o orgulho como “exagerado” quando se torna um tipo de satisfação incondicional ou quando os próprios valores são superestimados, acreditando ser melhor ou mais importante do que os outros. Isso se aplica tanto a si próprio quanto ao próximo, embora socialmente uma pessoa que tenha orgulho pelos outros é geralmente vista no sentido da realização e é associada como uma atitude altruísta, enquanto o orgulho por si mesmo costuma ser associado ao sentimento de capacidade e egoísmo.

O Orgulho é um defeito muito traiçoeiro, justamente porque, conforme coloquei no parágrafo anterior, a maioria das pessoas não o enxerga como um “defeito”, mas como uma “recompensa” moral ou espiritual por um trabalho que executaram. Por esta razão, é muito mais difícil livrar-nos dele, pois, ao nos acostumarmos com a recompensa, nos sentimos inferiorizados se não somos “reconhecidos” por nossos feitos.
Em minhas palestras sobre alquimia, sempre coloquei o orgulho como o último (e mais complexo) dos defeitos a serem finalmente destruídos, pois, ao contrário da preguiça ou da raiva, por exemplo, que são (na minha opinião) mais simples de serem trabalhados, o orgulho está enraizado em nosso pensamento de uma maneira intrínseca. É muito fácil cair na tentação de, ao “final” do caminho, batermos com as mãos no peito como o Fariseu da parábola de Lucas ou nos sentirmos injustiçados caso ninguém “reconheça” nossa “evolução”.

Aprender a trabalhar a via interior como algo íntimo para nós mesmos (e não para mostrarmos aos outros) certamente é o primeiro passo para o desenvolvimento espiritual.

A virtude cardeal do Sol é a MAGNANIMIDADE. A capacidade de brilhar e iluminar os outros ao seu redor. A virtude de brilhar pelo reto pensar, reto falar e reto agir. Assim como o orgulho é o pior de todos os vícios, a magnanimidade é a maior de todas as virtudes.

São Thomas de Aquino determinou sete características como inerentes ao orgulho:

Jactância – Ostentação, vanglória, elevar-se acima do que se realmente é.
Pertinácia – Uma palavra bonita para “cabeça-dura” e “teimosia”. É o defeito de achar que se está sempre certo.
Hipocrisia – o ato de pregar alguma coisa para “ficar bem entre os semelhantes” e, secretamente, fazer o oposto do que prega. Muito comum nas Igrejas.
Desobediência – por orgulho, a pessoa se recusa a trabalhar em equipe quando não tem suas vontades reafirmadas. Tem relação com a Preguiça.
Presunção – achar que sabe tudo. É um dos maiores defeitos encontrados nos céticos e adeptos do mundo materialista. A máxima “tudo sei que nada sei” é muito sábia neste sentido. Tem relação com a Gula.
Discórdia – criar a desunião, a briga. Ao impor nossa vontade sobre os outros, podemos criar a discórdia entre dois ou mais amigos. Tem relação com a Ira.
Contenda – é uma disputa mais exacerbada e mais profunda, uma evolução da discórdia onde dois lados passam não apenas a discordar, mas a brigar entre si. Tem relação com a Inveja.

ACÍDIA (Preguiça)

Isto provavelmente quase ninguém entre vocês deve saber, mas o nome original da Preguiça é Acídia. Acídia é a preguiça de busca espiritual. Quando a pessoa fica acomodada e passa a deixar que os outros tomem todas as decisões morais e espirituais por elas. É muito fácil de entender porque a Igreja Católica substituiu a Acídia pela Preguiça dentro dos “sete pecados”! trabalhar pode, mas pensar não !!!
A preguiça está ligada diretamente à LUA. Mas você já devia ter desconfiado disso… qual o dia da semana onde sentimos mais as influências destas energias? Moonday.
A virtude cardeal relacionada com a Lua é a HUMILDADE. É necessário lembrar que estamos sempre falando em termos espirituais dentro da alquimia. Em sua origem, a Humildade (Humilitas) está relacionada a “fazer o seu trabalho sem esperar reconhecimento e sem esperar por recompensas”. Humilde não é sinônimo de “coitadinho”, de “idiota”, de “pobrezinho” e outras tolices que vocês foram forçados a engolir por causa da Igreja. Uma pessoa humilde não precisa (nem deve) ser um pateta. “Cordeiro Humilde” nas palavras de Yeshua significa “Aquele que tem as características de Áries e faz o seu trabalho sem esperar reconhecimento”. Bem diferente do coitadinho medíocre que a Igreja espera que você seja.

São Thomas de Aquino determina sete características como filhas da acídia.
Desespero – quando o homem considera que o objetivo visado se tornou impossível de ser alcançado, por quaisquer meios, gerando um abatimento que domina o seu afeto.
Pusilanimidade – covardia, falta de ânimo, falta de coragem para encarar um trabalho árduo e que requer deliberação.
Divagação da mente – é quando um homem abandona as questões espirituais e se instala nos prazeres exteriores, permanecendo com sua mente rondando assuntos do âmbito material.
Torpor – estado de abandono onde a pessoa ignora a própria consciência.
Rancor – ressentimento contra aqueles que querem nos conduzir a caminhos mais elevados, o que acaba gerando uma agressividade. Está relacionado à Ira. Posso ver muito de rancor em relação aos textos ateístas e outros textos religiosos mais fanáticos..
Malícia – desprezo pelos próprios bens espirituais, resultando em uma opção deliberada pelo mal. Está ligada diretamente ao materialismo e á Luxúria. Hoje em dia tornou-se sinônimo de sexualidade explícita.
Preguiça – a falta de vontade ligada aos esforços físicos.

IRA

Defeito capital ligado diretamente a MARTE, representado acertadamente pelos Deuses da Guerra. A ira é o mal uso da energia agressiva de marte. Ao invés de direcioná-la para o sexo ou para os esportes, a pessoa canaliza este excesso de energia para a destruição. “Faça amor, não faça a guerra”. Com tantas travas e tabus sexuais, não é de se admirar que fanáticos religiosos sejam tão violentos.
A Virtude cardeal relacionada com marte é a DILIGÊNCIA, ou seja, a capacidade de guiar a energia e a capacidade de produzir de maneira efetivamente produtiva.
São Thomas de Aquino determina seis características inerentes como sendo filhas da Ira:
Insulto – uma forma de violência verbal, na qual o interlocutor visa ofender ou agredir moralmente o atacado, atingindo algum ponto fraco para humilhar o outro.
Perturbação – agitação física e psíquica produzida por emoções intensas e acumuladas. Um dos maiores problemas na psicologia, a tensão das emoções acumuladas pode gerar todo tipo de problemas no organismo.
Indignação – sentimento de ira em relação a uma ofensa ou ação injusta.
Clamor – queixa ou súplica em voz alta, reclamação, gritos tumultuosos de reprovação. Quando a Ira extravasa de uma pessoa para um grupo, como se fosse uma entidade viva (na verdade, astralmente, o Clamor É uma entidade viva, manifestada pelas Fúrias).
Rixa – briga, desordem, contestação, tumulto. A Rixa tem ligação com o Orgulho
Blasfêmia – difamação do nome de um ou mais deuses. A Ira voltada para dentro de si mesmo.

INVEJA

Defeito capital ligado ao Planeta MERCÚRIO. Hoje em dia, as pessoas utilizam-se do termo “inveja” de maneira errada. Seu sentido original quer dizer “Caminhar segundo o passo espiritual de outra pessoa”. Ter inveja de outra pessoa é tomar seu próprio caminho com base nos esforços e resultados obtidos por outras pessoas. A Inveja como a conhecemos hoje é a parte material do defeito.
Por esta razão que a Virtude cardeal associada a Mercúrio é a PACIÊNCIA. A paciência é a capacidade de caminhar (espiritualmente) no seu próprio ritmo. Não é sinônimo de “lerdeza” ou de “calma” ou de “ir devagar”… ir devagar é para gente devagar! Ter paciência é ter a capacidade de avançar nos estudos iniciáticos no seu próprio passo.
São Thomas de Aquino determina cinco características inerentes como sendo filhas da Inveja:

Exultação pela Adversidade – Diminuir a glória do próximo. Por causa do sentimento de inveja, a pessoa tenta de todas as maneiras diminuir o resultado do trabalho e das glórias das pessoas ao redor.
Detração – Significa falar mal às claras. Possui os efeitos semelhantes aos do murmúrio, com as mesmas intenções, mas mais abertamente. A diferença entre os dois é que a detração está maculada pelo Orgulho de se mostrar como causador do dano.
Ódio – o efeito final da inveja: o invejoso não apenas se entristece pelas conquistas do outro e deseja o fim das glórias e objetivos alcançados pelo próximo, mas passa a desejar o mal sob todos os aspectos para aquela pessoa também.
Aflição pela Prosperidade – A tristeza pela glória do próximo. Ocorre quando não se consegue de nenhuma maneira diminuir as realizações da outra pessoa, então passa a se entristecer com o resultado das conquistas alheias.
Murmuração – Também conhecido como fofoca, consiste em espalhar mentiras, meias-verdades, distorções, mentira (associada à Avareza) ou fatos embaraçosos ou depreciativos em relação a outra pessoa, com o intuito de prejudicar o próximo.

GULA

A gula, como já era de se esperar, era uma característica do Planeta JÚPITER. Júpiter, como o benfeitor da astrologia, rege a fartura e a prosperidade. O defeito é a gula e a virtude é a caridade.
Oras… estamos lidando com Excessos. A Gula é absorver o que não se necessita, ou o que é excedente. Pode se manifestar em todos os quatro planos (espiritual, emocional, racional e material). Claro que a igreja distorceu o sentido original da alquimia, adaptando-a para o mundo material, então hoje em dia, gula é sinônimo apenas de “comer muito”.
A virtude relacionada a Júpiter é a CARIDADE. A caridade lida com a maneira que tratamos nossos excessos. Ao invés de consumi-los sem necessidade, os doamos para quem não os possui. A caridade não está relacionada apenas a dinheiro, mas também aos 4 elementos da alquimia (espiritual, emocional, racional e material). Esta coluna, por exemplo, faz parte dos meus projetos de caridade intelectual.

São Thomas de Aquino determina cinco características inerentes como sendo filhas da gula:
Loquacidade Desvairada – a desordem no falar, o excesso de palavras atrapalhando e causando confusão mental. Está relacionada ao elemento Ar.
Imundície – aparência desleixada devido à falta de higiene por estar preocupado em demasia com a obtenção de excessos. Não tem o mesmo significado desta palavra em nosso vocabulário moderno, onde imundície quer dizer apenas “excesso de sujeira”, mas sim uma imundície espiritual, ligada à falta de cuidado com o corpo físico por conta dos excessos.
Alegria Néscia – desordem do pensamento e das emoções através do descontrole da vontade, muito associada ao ato de beber. Ligada ao elemento Água.
Expansividade Debochada – O excesso de gesticulações e movimentos do corpo ao comunicar, causando tumulto e desordenação.
Embotamento da inteligência – obstrução da razão devido ao consumo desordenado de alimentos.

LUXÚRIA

Defeito capital ligado ao Planeta VÊNUS, quer dizer em seu sentido original “deixar-se dominar pelas paixões”. Em português, luxúria foi completamente deturpado e levado apenas para o sentido físico e sexual da palavra, mas seu equivalente em inglês (Lust) ainda mantém o sentido original (pode-se usar expressões como “lust for money”, “lust for blood”, “lust for power”). A melhor tradução para isso seria “obsessão”. A luxúria tem efeito na esfera espiritual quando a pessoa passa a ser guiada pelas suas paixões ao invés de sua racionalidade. Para chegar ao auto-conhecimento, é necessário domar suas paixões (vide a representação do Arcano da Força no tarot!).
A virtude associada a Vênus é a TEMPERANÇA (do latim temperatia), ou a virtude de quem é moderado.

São Thomas de Aquino determina 8 características inerentes como sendo as filhas da Luxuria:
Cegueira da Mente – é aquela que nos impede de ver os acontecimentos, situações e ações ao nosso redor. A pessoa fica tão entregue às suas paixões que não consegue raciocinar nem intuir a respeito do mundo ao seu redor.
Amor de Si – faz com que a pessoa feche seus sentimentos para dentro de si mesmo, gerando um amor egoísta que segundo Thomas de Aquino é a origem de todos os outros pecados.
Ódio de Deus – com a vontade dominada pelas paixões, o indivíduo abandona a busca espiritual para se dedicar aos afazeres prazerosos mundanos, esquecendo sua busca por Deus no processo. Do esquecimento, estas paixões acabam se tornando ódio ao criador e a todo o mundo espiritual.
Apego ao Mundo – Os vícios e as paixões criam no indivíduo um apego ao mundo e aos seus desejos e ambições, desviando totalmente o foco espiritual de sua missão.
Inconstância – deixar-se dominar pelas paixões faz com que o indivíduo se torna inconstante, balançando sua dedicação à Grande Obra para dedicar-se às perseguições dos prazeres mundanos.
Irreflexão – Quando as paixões cegam o indivíduo, ele fecha-se a todo estímulo externo ou interno, procurando apenas satisfazer seus instintos, sem refletir nas conseqüências de seus atos.
Precipitação – da mesma forma, a urgência em saciar seus apetites e prazeres gera no indivíduo uma precipitação em agir sem pensar, tomando ações e atos sem o devido pesar.
Desespero em relação ao mundo futuro – os atos mal pensados ou não-pensados causam tantos problemas ao indivíduo que o levam a uma situação de desespero em relação ao seu futuro, quando se vê obrigado a encarar os resultados de suas ações.

AVAREZA

A Avareza (avaritia) é o defeito capital relacionado ao planeta SATURNO. Caracteriza-se pelo excesso de apegos pelo que se possui. Normalmente se associa avareza apenas ao significado materialista, de juntar dinheiro, mas sua manifestação nos outros elementos (espiritual, emocional e mental) é mais sutil e perniciosa. A avareza é a origem de todas as falsidades e enganações.
A virtude associada ao planeta Saturno é a CASTIDADE, ou a pureza dos costumes. Do latim Castitas, quer dizer “de sentimentos puros”. Normalmente a associação errada de “sentimentos puros” com a palavra “castidade” usada da maneira incorreta leva à associação de “abstinência sexual feminina” com “pureza”, esquecendo que esta pureza é Espiritual. A Mãe de Jesus que o diga.

São Thomas de Aquino determina sete características inerentes como sendo as filhas da Avareza:
Mentira – Ao procurar para si coisas que não lhe pertencem, o avaro pode se servir do engano. No desespero para não perder o que possui ou adquirir mais coisas que realmente não necessita, o avaro pode apelar para a falsidade. Se este se verificar através de simples palavras, caracteriza-se a mentira, mas se for através de juramento, então está classificada como Perjúrio.
Quanto ao engano em si: se for aplicado contra outras pessoas, classifica-se como Traição, se for em relação a coisas, classifica-se como Fraude:
Inquietude: Excesso de afã para juntar para si gera excessivas preocupações e cuidados.
Violência: Ao procurar para si bens alheios, o indivíduo pode se servir da violência, tamanha a ganância que possui, ao ver seus desejos negados pelo outro. O sentido esotérico se perdeu e violência hoje em dia é sinônimo de agressão, descaracterizando a razão causadora da agressão.
Dureza de Coração: O excesso de apegos pelo que se tem produz a dureza no coração, pois não permite à pessoa usar de seus bens para socorrer aos irmãos. Para se ser misericordioso, é necessário saber gastar seus bens excedentes.

Lição de Casa:
Utilizando-se da estrela Setenária, São Thomas de Aquino afirma que a bondade divina era tão grande que para cada Defeito Capital existiam DUAS virtudes que poderiam ser utilizadas para combatê-lo. Assim sendo, basta seguir as pontas da estrela para as virtudes associadas dos planetas opostos e meditar sobre quais virtudes podem ser utilizadas para combater os sete pecados capitais.

#Alquimia #hermetismo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/se7en-a-origem-dos-sete-pecados-capitais

[parte 4/7] Alquimia, Individuação e Ourobóros: A arte Alquímica

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“Tudo vai, tudo volta; eternamente gira a roda do ser. Tudo morre, tudo refloresce, eternamente transcorre o ano do ser. Tudo se desfaz, tudo é refeito; eternamente constrói-se a mesma casa do ser. Tudo se repara, tudo volta a se encontrar; eternamente fiel a si mesmo permanece o anel do ser. Em cada instante começa o ser; em torno de todo o “aqui” rola a bola “acolá”. O meio está em toda parte. Curvo é o caminho da eternidade.”

– Nietzsche

Alquimia

Esta é a quarta parte da série de sete artigos “Alquimia, Individuação e Ourobóros”, que é melhor compreendida se lida na ordem. Caso queira acompanhar desde o começo, leia as parte 1, 2 e 3.

No post anterior, vimos que, o arquétipo de Hermes, juntamente com o simbolismo do caduceu, serve como organizador e centralizador da psique, atuando no “caos primordial”, estruturando-o e elevando seu potencial. Este caos primordial é análogo ao conceito de prima matéria dos alquimistas. Ambos os conceitos se apresentam como uma fonte de energia desordenada, cuja harmonização permite a obtenção de um potencial incalculável.

“Nasce como uma ciência natural que busca a compreensão da própria natureza a partir de uma especulação filosófica, como se pode ver já na filosofia pré-socrática no século VI a C. É dela que nasce o conceito de prima matéria a partir da crença de que o mundo tinha origem em uma única substância que era subdividida nos quatro elementos terra, ar, fogo e água, os quais, segundo diferentes recomposições faziam surgir todos os objetos físicos existentes no universo. Esta idéia, a prima matéria, teve sua evolução chegando com Aristóteles a ser considerada como pura potencialidade, que em seguida adquire forma, quando é atualizada na realidade.” (SANTOS, 2013)

Para Jung (2008), a manipulação da prima matéria, correspondente aos aspectos inconscientes dissociados. O alquimista tem que realizar a Opus Alquimica, que corresponde ao processo de individuação, transformando seus conteúdos internos e os trazendo a luz da consciência. Esse processo acontece através de três (podem ser quatro) momentos alquímicos e psíquicos: nigredo, albedo, rubedo. Vale a pena frisar que as metáfora alquímicas compreendem um vasto simbolismo, que varia entre os alquimistas e pesquisadores, porém todos resultam no mesmo objetivo: a obtenção da pedra filosofal.

Dentro destes momentos, pode-se dividir a Opus em diferentes estágios, que variam dentro do arcabouço alquímico, mas que neste trabalho, será utilizado as definições de Hauck (1999), podendo ser resumidas em sete estágios de transformação: calcinação, dissolução, separação, conjunção, fermentação, destilação e coagulação.

Esta imagem mandálica é um clássico da alquimia medieval, ela foi primeiramente publicada em 1959 pelo alquimista alemão Basil Valentine, e representa o conceito de Azoth:

“Azoth era considerado como um remédio universal, ou solvente universal utilizado na alquimia. Seu símbolo era o caduceu; o termo, que foi originalmente um nome para uma fórmula oculta necessária para os alquimistas parecida com a pedra filosofal, se tornou uma palavra poética para o elemento mercúrio, o nome é proveniente do Latim Medieval, uma alteração de “azoc”, sendo originalmente derivado do árabe “al-zā’būq”, que significa “o mercúrio”.” [tradução livre] http://en.wikipedia.org/wiki/Azoth

Esta imagem irá nos guiar frente ao simbolismo utilizado na metáfora alquímica. No centro da imagem temos o homem, alquimista. A sua direita, um rei, princípio masculino, solar, a sua esquerda uma rainha, princípio feminino, lunar. A dicotomia já nos é evidente, sugerindo que a integração destes aspectos seriam necessários para atingir a Opus.

Podemos notar a presença dos quatro elementos, como manifestação quaternária do todo, associados à tipologia junguiana. Vemos na imagem, o pé direito do homem na terra, seu pé esquerdo na água, sua mão direta segurando uma tocha, associada ao fogo, e sua mão esquerda segurando uma pena, associada ao elemento ar. Há também os triângulos adjacentes a roda, representando a manifestação trina do corpo, alma e espírito.

Na parte superior da figura, é possível ver uma estranha figura alada, que pode ser associada com o disco solar egípcio ou o topo do caduceu de Hermes (Mercúrio), analisado anteriormente. Exstem uma série de simbolismos na imagem, como por exemplo o leão sob o rei, a salamandra em chamas e os pássaros da roda, porém seria necessário um outro post apenas para interpretá-los.

Por fim, temos a circular dos raios, associados com diferentes cores, que representam os estágios alquímicos. Estes estágios serão nosso foco daqui pra frente.

As etapas Alquímicas

O primeiro raio está associado à calcinação, ou calcinato, intrínseca ao elemento fogo. Para Hauck, esta etapa está psicologicamente associada a morte do ego e destruição dos mecanismos de defesa, a extinção do interesse no mundo material, e as respectivas ilusões associadas a este. Inicia-se o processo de enegrecimento, podemos citar como ilustração desta etapa, “escuro e nebuloso é o início de todas as coisas, mas não o seu fim”, frase de autor desconhecido.

Para Masan (2009), esta operação é realizada na Sombra, onde permanecem os desejos instintivos e não integrados. O fogo é está ligado com a frustração dos desejos, aspecto natural do processo de desenvolvimento associado ao Si-mesmo.

“Os aspectos do ego identificados com as energias transpessoais da psique (Self ou mesmo, o fogo Divino) e utilizados para fins pessoais, sejam de poder ou de prazer, serão calcinados. Quanto maior a dicotomia entre bem e mal, certo e errado, ou seja, quanto maior a polarização desses aspectos neuróticos, mais longa será a calcinação desses elementos, até que o fogo da própria culpa esvazia a balança do julgamento por essa imagem punitiva e compensatória, representada pela ira divina, enquanto imagem arquetípica constelada no psiquismo”(MASSAN, 2009, 26).

O segundo raio está associado com a etapa de dissolução, ou solutio, representada pelo elemento água. Psicologicamente dizendo, está atrelada com a quebra das estruturas artificiais da psique, através da imersão no inconsciente, ou das partes irracionais e rejeitadas. O elemento água como uma abertura das comportas, e inundação de energias pessoais antes cristalizadas, dissolução de aspectos fixos da personalidade.

“A operação apresenta, no aspecto negativo e sombrio, um sentido de dissolução da matéria diferenciada ou conteúdo do ego […]. Por outro lado, em seus aspectos superiores, onde ocorre à transposição de opostos, consolida-se o espírito, ou seja, os aspectos transpessoais da pisque objetiva, o Si-mesmo. É o encontro com o Numinoso, que reestabelece a saúde da relação ego-Self, salvando apenas o que vale ser salvo, os conteúdos realmente alinhados com o Si-mesmo, e redimindo os conteúdos comprometidos, derretendo-os ou reordenando-os em novas estruturas”.(MASAN, 2009, 14)

O terceiro raio diz respeito à separação, ou separatio. É o momento de captar tudo aquilo que sobrou das etapas anteriores e selecionar. É recuperar a energia congelada dos hábitos e pensamentos cristalizados (pré-conceitos, crenças, fobias). Refere-se à essência e energia separada das amarras da matéria. Esta psicologicamente associada à escolha dos aspectos dissolvidos anteriormente, desapegando daquilo que não mais apresenta valor psíquico, explicitando a essência e valores espirituais, portanto, associado ao elemento ar.

“Surge aí à necessidade de dissecar esses conteúdos do inconsciente pessoal e coletivo e realizar a escolha, a separatio, trazendo a consciência, através do ato de julgar, uma vinculação com o Self. Isso requer um poder para arcar com o ônus dessa escolha, uma desvinculação da necessidade de atender aos critérios do outro, mas sim de ser fiel àquilo para o que aponta o Si-mesmo, da mesma forma como não se pode servir a dois senhores, só que sem o domínio neurótico da unilateridade” (MASAN, 2009, 25).

A conjunção, ou coniunctio, é análoga ao quarto raio da figura. Conjunção é a grande guinada do opus alquímico. Notemos que na figura, através do movimento circular, existe o deslocamento das forças da alma (na direita), para o espírito (na esquerda). Em nível pessoal, a conjunção é o fortalecimento do nosso verdadeiro Self, a união dos aspectos masculinos e femininos de nossa personalidade em um novo sistema psíquico. Esta etapa corresponde à ‘pequena pedra’, ou o primeiro esboço do que seria a pedra filosofal atingida no final da operação.

“Conjunção pode ser vista com a criação de um self superior e a conquista do que Carl Jung nomeou de individuação, no qual o self fragmentado é reunido à um todo original. A criação desta pessoa completa e harmoniosa significa que atingimos nosso máximo no plano terrestre”. (HACUK, 1999, 162)

Associada então com o elemento terra, a conjunção pode ser divida em duas sub-etapas, segundo Masan: coniunctio inferior e superior. Na primeira, a união dos opostos separados de forma imperfeita, resulta em algo que deverá ser submetido a novos procedimentos.

Masan define que a coniunctio inferior acontecerá sempre que o ego identificar aspectos inconscientes, como a sombra, anima, ou mesmo o Si-mesmo (Self), através de uma perspectiva introvertida ou coletiva. Essa identificação deve ser ‘purificada’, ou seja, eliminada, redimida, para dar continuidade ao processo de individuação. A coniunctio superior representa a conjunção mor dos aspectos previamente impossíveis de serem integrados. Após passar pelos estágios anteriores da Opus, a prima matéria pode finalmente ter seus opostos complementados.

“Assim como na alquimia, a psique, dentro do processo analítico, vai transformando-se, ora dispondo-se num lado e ora de outro, no sentido das suas polaridades, até que lhe seja capaz a absorção de uma terceira figura, gradativa e construída, surgida de dentro da sua própria alma que lhe traduz essa expressão de convivência com o dual. A dissolução do conflito, gerado pelas dicotomias neuróticas, concebe o cenário onde essa pedra, em cujo seio se fixa o espírito, se manifesta. […] O casamento Divino, que somente existirá se ali houver o Amor, sua causa e seu efeito.

Enquanto na coniunctio inferior o amor é concupiscente, aqui, na coniunctio superior, esse amor é transpessoal. Revela-se no mundo como o altruísmo em seu sentido extrovertido e na psique, como a conexão com o Si-mesmo, gerando a unidade” (MASSAN, 2009, 34).

Masan apresenta o Amor como uma das chaves para a integração psicológica dos opostos. Seria insensato pensar em amor se associá-lo com o coração. A simbologia do coração é estudada no livro “A Psique do Coração”, de Denise Ramos. A autora apresenta mitos e imagens de culturas americanas que tinham como centro o coração, sendo ele, em quase todas as histórias um ícone do sagrado ou oferecido ao sagrado.

No capítulo “Elegias Para Acalmar o Coração”, é somado às ideias de rezas para ‘abrir’ o coração e permitir o esvaziamento do sofrimento com o preenchimento de Deus. No capítulo “O Coração em Julgamento” é recapitulado toda a simbologia do coração no antigo Egito, como este sendo um exemplar da alma do indivíduo.

Ainda nesse mito egípcio, ao morrer, o coração era pesado numa balança, onde na contraparte ficava a pena de Maat. Neste julgamento especial, se o coração fosse mais pesado que a pena, ou seja, estivesse carregado das impurezas do ego, não era permitido ao falecido integrar-se a completude.

No sub-capítulo “O Lugar Secreto” é destacado o valor simbólico do coração na tradição hindu, e como o coração está associado nestas culturas como o ‘lugar da consciência”, sendo o Self em si, o lugar que o homem emana a si mesmo, um guia de luz.

Ainda segundo a autora, Anãhata é a representação do chakra cardíaco no Tantra Yoga, que une os chakras superiores com os inferiores, o Tantra Yoga tem como objetivo alinhar e equilibrar as polaridades masculinas e femininas. Tal equilíbrio acontece no coração, e quando acontece, o praticante da técnica consegue ouvir o som ‘hum’ (ॐ), do vazio, que emana por todo o tempo e espaço.

Essas informações aparecem no sub-capítulo “O Lugar do Som Universal”. Uma frase que pode exemplificar o amor como via de integração das polaridades é a de Nietzsche: “Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal”.

Hauck (1999) sincretiza o processo alquímico da conjunção da seguinte forma: “Psicologicamente, Conjunção é usar a energia sexual dos corpos para transformação pessoal. Conjunção se ocupa no corpo no nível do coração”

A próxima figura, é uma foto tirada no dia 06/06/2013 no Elevado Presidente Costa e Silva, São Paulo, conhecido também como “Minhocão”:

É possível perceber inúmeras analogias com os temas tratados neste trabalho. A expressão artística urbana expressando a angústia de uma sociedade doente, cindida. Amor e Ourobóros como resoluções arquetípicas coletivas. Apesar de toda a fertilidade do tema social em questão, voltemos a descrição das etapas alquímicas.

Podemos perceber, portanto, que apesar de todo o processo alquímico estar intimamente ligado ao processo de individuação, a etapa de Conjunção é a que representa o ápice do processo, que é a integração dos aspectos complementares.

A quinta etapa do processo alquímico descrito por Hauck, observado na imagem é a fermentação. É a introdução de uma nova perspectiva de vida, resultado da etapa anterior – Conjunção – que é a ascensão para um novo estado de consciência, a transição para um estado mental elevado. Nesta etapa, existe a transição da nigredo para a leukosis, resultando no aparecimento da cauda pavonis, metáfora para imaginação ativa e ‘coloração da vida’, alguns autores definem esse amarelamento (leukosis) e o aparecimento da “cauda pavonis” como uma quarta etapa, entre o nigredo e albedo, enquanto outros, definem apenas como um aspecto transitório entre estas duas etapas. Representa psicologicamente a transição da psique para um estado mais conectado com o espírito, ou na nomenclatura junguiana, Si-mesmo (Self).

O penúltimo raio é análogo à etapa de destilação, ou destilatio. Neste estágio a metáfora que se apresenta é o aumento da pureza, associado com a cor branca, ou albedo. Psicologicamente, representa o esforço para que as impurezas do ego e do id não sejam incorporadas no último estágio. Representa a eliminação dos sentimentalismos e emoções, ou ainda melhor, das paixões egoístas e infantis, aspectos que na manifestação do verdadeiro Self, não são pertinentes, uma vez que se procura um estado pleno de espiritualidade.

“Seus pensamentos e sentimentos são os sentimentos e pensamentos do Universo inteiro”, Esta declaração descreve o processo de destilação, onde [o alquimista] se tornou muito mais interessado no bem maior do que apenas em seu próprio. É a fase de transformação onde estamos espiritualmente e emocionalmente maduros o suficiente para fundir-nos com o inconsciente coletivo sem sermos devastados pelo o que encontramos lá. A razão pela qual nós podemos manter o nosso equilíbrio, depois de ter chegado à fase de destilação é que o ego não nos controla e, portanto, podemos apreciar os mistérios do coletivo – e pessoal – material da sombra, sem a intromissão do ego.

Destilação traz o criativo fora de nós. Ela incentiva tudo o que somos se manifestar em formas equilibradas e serenamente poderosas. Ele anuncia a entrada da influência das forças superiores e do equilíbrio dessas forças com os inferiores, que fornecem firmeza, tão crucial para a totalidade” (SHANDERÁ, 2002).

O sétimo e último estágio é chamado de coagulação, ou coagulatio. Representa a ressurreição do espírito, materializado no corpo.

“A Coagulatio é uma operação que expressa, pelas suas imagens, o processo de formação do ego e sua ligação com os aspectos da vida, as forças ctônicas, através da vivência da carnalidade no seu sentido mais amplo, construindo, pelas experiências, a terra onde se lastreia o ego em seu caminhar e, logicamente, configurando, por essas mesmas vivências, a relação do eixo Ego-Self” (MASSAN, 2009, 34)

É a representação da pedra filosofal, ou Grande Pedra, antes anunciada pela coniunctio. O alquimista adentra o estágio de rubedo, e pode “curar-se de todas as feridas e enfermidades” (HAUCK, 1999, 140). Esta etapa é utilização da libido dentro de sua forma plena, integrada com a impulsão da consciência para os estados mais elevados do vir-a-ser.

“Vale ressaltar que o desejo é o agente da coagulatio. Esta operação é necessária não para aqueles que já se movimentam adequadamente dentro de sua libido, mas para aqueles outros com uma inconsistência em seu querer e o temor de colocar os pés na vida, com dificuldade, inclusive de sorver os cálices que ela dispõe. O desenvolvimento do ego nestes casos passa pelo lugar dessa consciência e realização do desejo, a fim de que haja a movimentação da energia psíquica” (MASSAM, 2009, 22).

Neste estágio, para Hamilton (1985), é manifestada, no alquimista a vontade de encarnar na terra o estado de consciência iluminado na mente e no corpo. É como se uma alma desejasse ser ‘encorpada’ sem o senso de separação do seu estado puro original. Só quando a alma está encarnada na psique que pode ser vivenciado o estado espiritual de completude. A psique pode agora expressar as qualidades da alma e da natureza. A frase “assim na terra como no céu” ilustra com perfeição este estado.

“Esta união do espírito / alma com o corpo / mente representa o final e mais importante casamento alquímico. Agora a anima torna-se a Mãe de Deus, ou a Consorte de Deus, o objeto do amor místico. As figuras de animus correspondentes são Os Iluminados – Cristo, Buda, Santos, etc. Isto significa que a consciência de Deus, ao nascer no mundo da terra, percebe sua natureza divina conscientemente – como um indivíduo transcendental e iluminado, num estado de unidade com o todo cósmico. Isso, então, é a pedra filosofal que o alquimista procurava. É o grande ponto culminante da Grande Obra” (HAMILTON, 1985, 8).

Ainda para o autor, o equivalente terapêutico é fácil de ser percebido, uma vez que o paciente transcendeu a natureza de seus dilemas e conflitos, e isso envolve uma mudança de personalidade que vai acomodar e manter essa realização. O paciente percebe que sua vida tem sido uma imposição que resultou numa série de problemas, e agora inicia um processo de mudança para uma sustentação mais pertinente a sua verdadeira natureza.

Hauck (1999) define que, ao atingir este estágio, o raio de transformação se volta a terra, e é iniciado novamente o ciclo previamente proposto, indicando que os estágios e transformações são processos eternos e constantes, assim como a lapidação do Self, ou o processo de individuação proposto por Jung, fazendo com que o alquimista volte à etapa de nigredo, e continue seu processo.

“Tudo o que coagula está sujeito a transformar-se. Dai decorre que após a coagulatio, os processos de putrefactio e mortificatio se realizam também, até porque, o fim da encarnação é o desencarne, visto que está sujeito às injunções do tempo e do espaço” (MASSAN, 2009, 27).

Percebemos que o processo alquímico é cíclico, e, assim como o processo de individuação, exige um constante processo de atuação do indivíduo para com seus conteúdos, processo este que Jung define acontecer por toda a vida.

A mesma metáfora pode ser utilizada para definir o Ourobóros, um processo cíclico e constante, que representa a integração de opostos e a volta para a unidade. No capítulo seguinte iremos analisar a figura arquetípica do Ourobóros e avaliar suas correspondências com o processo alquímico e o de individuação.

Referências Bibliográficas:

HAMILTON, Nigel. The Alchemical Process of Transformation. Disponível em: http://www.sufismus.ch/assets/files/omega_dream/alchemy_e.pdf. 14/05/2013

HAUCK, Dennis Willian. The Emerald Tablet: Alchemy for Personal Transformation. Arkana. Ed.Pengun Group. 1999.

MASSAN, Francisco. Opus Alquímica e Psicoterapia. Disponível em: www.clinicapsique.com/doc/opus.doc. 14/05/2013

RAMOS, Denise Gimenez. A Psique do Coração: Uma Leitura Analítica de seu Simbolismo. São Paulo. Cultrix. 1990.

SANTOS, Vitor P. Calixto. Jung e a Metáfora Alquímica. Disponível em http://www.symbolon.com.br/artigos/jungeameta.htm. 14/05/2013

SHANDERÁ, Nanci. The Alchemy in Spiritual Progress – Part 7: Distillation. Disponível em: http://alchemylab.com/AJ3-1.htm. 14/05/2013

Imagens:

“Nigredo, Albedo e Rubedo” de Thomas Norton em ‘Ordinal of Alchemy’, 1477

“Azoth” de Basil Valentine

“Calcinato Angelus” de Suanne Iles

Trecho do filme “Elena” de Petra Costa, 2013

“Artodyssey” de Tomasz Alen Kopera

A interação das polaridades (sol e lua). “Rosarium Philosophorum”, Séc XVI

Andrógino, representando a natureza dual. “Rosarium Philosophorum”, Séc XVI

“Heart Chakra” de Ormus Oils

Coração e pena na balança em hieróglifo egípcio

“Mais amor por favor” (ygormarotta.com/mais-amor-por-favor)

Pavão em tecido

Gravura representando a destilação, capa do livro “O Museu Hermético” de Alexander Robb

“Aquamarine Muse” de Philip Rubinov Jacobson

A natureza de Buddha

Ricardo Assarice é Psicólogo, Reikiano e Escritor. Para mais artigos, informações e eventos sobre psicologia e espiritualidade acesse www.antharez.com.br

#Alquimia

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/parte-4-7-alquimia-individua%C3%A7%C3%A3o-e-ourob%C3%B3ros-a-arte-alqu%C3%ADmica

Origens do Espiritismo

Neste trabalho procuraremos reunir alguns dados importantes da história do Espiritismo, especialmente os referentes a Allan Kardec e ao Espiritismo nascente. Nossa fonte básica será a obra Allan Kardec, em três volumes, da autoria de Zêus Wantuil e Francisco Thiesen, dada a público pela Federação Espírita Brasileira em 1979/80. Qualquer estudioso do Espiritismo reconhecerá prontamente que ela representa o mais completo e rigoroso estudo já publicado sobre a vida e a obra de Kardec. Os volumes 2 e 3 contêm ainda análises e comentários de grande justeza e profundidade sobre muitos tópicos referentes à Doutrina e ao movimento espíritas.

Os três volumes dessa obra apresentam uma massa de informações bastante densa. Dispõem de índices e antroponímicos e analíticos, mas não remissivos. Nos dois últimos volumes, os capítulos são de amplas proporções, contendo muitas seções. Os autores optaram, com razões ponderáveis, por não fazer uma apresentação cronológica dos fatos. Tudo isso torna um tanto difícil a localização rápida de determinados assuntos. Por tais motivos, julgamos útil compilar aqui, de forma mais simples e direta, alguns dos acontecimentos mais importantes. Fomos motivados por nossa experiência pessoal, de muitas vezes querermos citar datas e lugares precisos e não conseguirmos encontrar de pronto as referências. Também pode ser de alguma utilidade dispor de um painel sucinto dos fatos, que permita sua visualização global.

Naturalmente, sabemos que o que mais importa não são os nomes, as datas e os lugares, mas a sua significação histórica, científica e filosófica. O pesquisador cuidadoso não poderá dispensar a respeitável obra de Thiesen e Wantuil. Também deve-se lembrar que a segunda parte das Obras Póstumas de Allan Kardec consiste de textos de enorme relevância para a história do Espiritismo, repletos, como não poderia deixar de ser, de preciosas considerações doutrinárias. O mesmo vale para os volumes da Revue Spirite editados por Kardec.

Há algumas outras fontes sobre o Espiritismo e sua história, que podem ser consultadas, embora nem de longe se aproximem, em abrangência e precisão, da que nos legaram Thiesen e Wantuil. Entre elas encontram-se:

* Moreil, André. La vie et l’Œuvre d’Allan Kardec. Paris, Vermet, sem data.[2]

* Sausse, Henri. Biographie d’Allan Kardec. 4a ed., Paris, Éditions Jean Meyer, 1927. A Federação Espírita Brasileira faz figurar uma tradução dessa biografia em sua edição de O que é o Espiritismo, sem indicação do tradutor.[3]

Para facilidade de referência, adotaremos as seguintes abreviaturas:

* AK I, AK II e AK III ¾ respectivamente volumes I, II e III da obra Allan Kardec.

* OP ¾ Obras Póstumas

* Revue ¾ Revue Spirite

* SPES ¾ Société Parisienne des Études Spirites

* FEB ¾ Federação Espírita Brasileira

Os números que aparecerão diante desses símbolos referem-se a páginas das obras, salvo indicação em contrário. Utilizamos a 1a edição de Allan Kardec e a 18a edição da tradução febiana de Obras Póstumas, traduzida por Guillon Ribeiro (o texto em francês, em versão fiel à edição original de Leymarie, está hoje disponível na Internet, na “página” do Centre d’Études Spirites Léon Denis (http://perso.wanadoo.fr/charles.kempf/).

2. Hippolyte-Léon Denizard Rivail

1804 – (3/10) – Nascimento de Hippolyte-Léon Denizard Rivail, o futuro Allan Kardec, em Lyon, a segunda maior cidade francesa depois de Paris. Seus pais foram Jean-Baptiste Antoine Rivail, homem de leis, e Jeanne Louise Duhamel, residentes à Rue Sale, 76; essa casa foi demolida ainda em meados do século XIX. (AK I 29)

1815 – Rivail segue para o Instituto de Johann Heinrich Pestalozzi para continuar seus estudos. O Instituto ficava na cidade de Yverdon, Suíça, e funcionava em regime de internato. Os alunos recebiam ali educação integral esmerada, segundo inovador método pedagógico do famoso professor, baseado na convicção de que o amor é o eterno fundamento da educação. (AK I caps. 2 a 11 e 15)

1822 – Rivail deixa Yverdon e instala-se em Paris. Não há segurança completa sobre essa data. Sabe-se que em janeiro de 1823 já residia à Rue de la Harpe, 117. Confirma-se também que pelo menos de 1828 a 1831 morou na Rue de Vaugirard, 65. (AK I , caps. 12, 21 e p. 184)

1824 – Rivail publica o seu primeiro livro didático, o Cours pratique et théorique d’arithmétique, concebido segundo o método pestalozziano. Foi publicado em Paris na Imprimerie de Pillet Ainé, Rue Christine, 5. (AK I caps. 14 e 16)

1825 – Rivail abre sua primeira escola, a École de Premier Degrée. (AK I cap. 18)

1826 – Rivail funda a Institution Rivail, instituto técnico, sito à Rue de Sèvres, 35; funcionou até 1834. Neste mesmo local existiria depois o Lycée Polymathique, dirigido também por Rivail, até 1850, quando foi cedido a A. Pilotet. A partir dessa data o Prof. Rivail não mais exerceria atividades didáticas. (AK I cap. 19 e pp. 131, 145 e 146)

1828 – Rivail dá a público o “Plan proposé pour l’amélioration de l’éducation publique”, sugerindo diretrizes para a educação pública, à venda com o autor e com Dentu (que mais tarde publicaria diversas obras espíritas de Kardec; ver AK I cap. 21 e p. 184).

1831 – Aparece, da autoria de Rivail, a Grammaire Française Classique sur un nouveau plan. (AK I cap. 22)

1832 – Casa-se com Amélie-Gabrielle Boudet (1795-1883), que seria sua dedicada companheira e apoio de todos os momentos, até a sua desencarnação. Conhecida mais tarde entre os espíritas como “Madame Allan Kardec”, Amélie-Gabrielle era professora e colaborou com o esposo em suas atividades didáticas. Não tiveram filhos, conforme explicitamente se lê na Revue Spirite de 1862. (AK I cap. 20, III 45)

Rivail e sua esposa foram pessoas dignas, de moralidade inatacável, dedicando-se integralmente aos ideais superiores da cultura, da educação, do bem. Lutaram a favor das causas da liberdade de ensino e da educação para meninas. Rivail ministrou por muitos anos cursos gratuitos para crianças pobres. Além de mestre, foi sempre amigo dos alunos. (AK I cap. 23 a 29)

Do ponto de vista material, o casal Rivail levou vida simples, não raro enfrentando dificuldades econômicas. Na fase espírita, seus parcos recursos seriam empregados na publicação das obras iniciais e em outras despesas referentes ao Espiritismo. Nos anos de maiores limitações, Rivail complementou sua receita com empregos temporários modestos, como o de guarda-livros. (AK I cap. 33)

Há referências seguras de cerca de 21 textos publicados pelo Prof. Rivail, entre livros didáticos e opúsculos diversos referentes à educação. (AK I cap. 37)

Rivail possuía sólida erudição, conhecendo bastante bem as diversas ciências, a filosofia e as artes. Traduziu, preferencialmente, obras alemãs para o francês, e vice-versa. Foi membro de diversas academias culturais, possuindo vários diplomas. (AK I caps. 22, 30, 35)

Contrariamente ao que afirmou Henri Sausse, e alguns mantém até hoje, Rivail não foi médico (AK I cap. 31). Também não há evidência de que tenha sido maçon, sendo mais razoável assumir que não o foi (AK I cap. 32).

3. Das observações iniciais à primeira edição de O Livro dos Espíritos

1848 – Início dos famosos fenômenos espíritas que envolveram a família Fox, em Hydesville (EUA). A 28 de março verificam-se as primeiras manifestações físicas; três dias após, estabeleceu-se a primeira comunicação tiptológica. Em poucos anos, fenômenos semelhantes passaram a chamar a atenção pública, não somente nos Estados Unidos, mas também na Europa. Foi a fase das chamadas “mesas girantes”. (AK II 49-60; ver também As Mesas Girantes e o Espiritismo, de Zêus Wantuil, publicado pela FEB.)

1854 – Rivail é informado pelo Sr. Fortier, magnetisador seu conhecido, acerca da ocorrência dos fenômenos das mesas girantes. Embora estranhando-os, não os julgou impossíveis, já que poderiam ter alguma causa física ainda não bem determinada. No entanto, algum tempo depois esse mesmo Sr. Fortier lhe disse que as mesas também “falavam”, isto é, davam sinais de inteligência. A reação agora foi cética: “Só acreditarei quando o vir e quando me provarem que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir e que possa tornar-se sonâmbula.” (OP 265; AK II 62)

1855 – No início desse ano, o Sr. Carlotti lhe faz longo relato dos singulares fenômenos. Embora Rivail o conhecesse havia 25 anos, mais uma vez expressa reservas, dado o temperamento exaltado do amigo, tão em oposição ao seu. (OP 266; AK II 124)

1855 – Em maio, Rivail vai, em companhia de Fortier, à casa da Sra. Roger, sonâmbula, onde conhece o Sr. Pâtier e a Sra. Plainemaison. Este lhe fala dos fenômenos, mas com seriedade e frieza, o que o predispõe, finalmente, a observar os fatos. (OP 266)

1855 – Assim foi que, ainda em maio, a convite de Pâtier, Rivail assiste a algumas experiências na casa da Sra. Plainemaison, sita à Rue Grange-Batelière, 18. Rivail impressiona-se com os fenômenos, declarando que se verificavam em condições “que não deixavam lugar para qualquer dúvida. […] Minhas idéias estavam longe de precisar-se, mas havia ali um fato que necessariamente decorria de uma causa. Eu entrevia naquelas aparentes futilidades […] qualquer coisa de sério, como que a revelação de uma nova lei, que tomei a mim estudar a fundo.”(OP 267; AK II 64)

1855 – Numa dessas reuniões, conhece a família Baudin, então residente à Rue Rochechouart (a partir de 1856 iria para a Rue Lamartine; ver AK II 64). Convidado pelo Sr. Baudin, passou a freqüentar assiduamente as sessões semanais que se realizavam em sua casa. Os médiuns eram as filhas do casal, Caroline e Julie, que no início escreviam com o auxílio de uma cestinha.[4] De numerosas e frívolas que eram, sob a influência de Rivail as reuniões passaram a reservadas e sérias, dedicadas à pesquisa racional e metódica do novo domínio. “Compreendi, antes de tudo, a gravidade da exploração que ia empreender; percebi, naqueles fenômenos, a chave do problema tão obscuro e tão controverso do passado e do futuro da Humanidade […]. Era, em suma, toda uma revolução nas idéias e nas crenças; fazia-se mister, portanto, andar com a maior circunspeção, e não levianamente; ser positivista e não idealista, para não me deixar iludir” (OP 267-68; AK II 64). Rivail submetia aos Espíritos séries de questões visando a elucidar problemas relativos à filosofia, à psicologia e à natureza do mundo invisível. Um grupo de intelectuais encarregou-o de analisar e joeirar cerca de 50 cadernos com comunicações espirituais diversas. (AK II 71, 68 e 125)

1856 – Nesse ano passou a freqüentar também as reuniões espíritas da casa do Sr. Roustan, na Rue Tiquetonne, 14. O médium era a Srta. Japhet, sonâmbula. As anotações de Rivail, provenientes em grande parte das comunicações obtidas pelas Srtas. Baudin, tomaram as proporções de um livro, embora se saiba que por volta de abril ainda não estava claro para ele que deveria ser um dia publicado (OP 276). Depois que isso se tornou evidente, foi por intermédio da Srta. Japhet que os Espíritos auxiliaram Rivail a fazer uma revisão completa do texto já elaborado. Era O Livro dos Espíritos. (OP 270, 276 e 277; AK II 72)

1856 – A 30 de abril, pela mediunidade da Srta. Japhet, Rivail tem a primeira notícia de sua missão, em linguagem bastante alegórica. Outras se seguiram, de cunho mais positivo. O conjunto dessas comunicações e, principalmente, os comentários de Rivail indicando sua reação, constituem leitura obrigatória para todo espírita, por sua beleza e elevada significação. (OP 277-87; AK II 69 e 72)

1857 – No início desse ano o texto manuscrito de O Livro dos Espíritos está concluído; o editor, E. Dentu, envia-o à Imprimerie de Beau, em Saint-Germain-en-Laye, que dista 23 km de Paris, a oeste (AK II 73 e 75). As despesas correm inteiramente por conta de Rivail (AK II 257). O casal Rivail residia então à Rue des Martyrs, 8, no segundo andar, nos fundos do pátio, onde estava pelo menos desde março de 1856 (OP 273).

1857 – A 18 de abril, vem à luz a primeira edição de O Livro dos Espíritos (Le livre des Esprits). Contendo os princípios da doutrina espírita sobre a natureza dos Espíritos, sua manifestação e suas relações com os homens; as leis morais, a vida presente, a vida futura e o porvir da humanidade; escrito sob o ditado e publicado por ordem de Espíritos Superiores por Allan Kardec. Paris, E. Dentu, livreiro, Palais Royal, Galerie d’Orléans, 13.[5]

Essa primeira edição contém 501 questões, distribuídas em 3 partes (176 pp.). Afora a tábua dos capítulos, há um útil índice remissivo (“Table alphabétique”). Não há conclusões; apenas um Epílogo, de menos de uma página. As notas de Rivail, em número de 17, vêm todas no final, ocupando 12 páginas. Ao longo de toda a primeira parte (“Livre premier. ¾ Doctrine spirite.”) adota-se uma forma de exposição dupla: na coluna da esquerda, perguntas e respostas; na da direita, o texto corrido equivalente. É nesta obra que Rivail adota o pseudônimo de Allan Kardec, nome que teria tido em antiga encarnação entre os druidas, sacerdotes do povo celta, que ocupou a Gália, a Grã-Bretanha e a Irlanda (AK II 74-80). No Epílogo, anuncia-se para breve a publicação de um suplemento, contendo novos ensinos. No entanto, Kardec acaba desistindo da idéia, elaborando, em seu lugar, uma se­gunda edição “inteiramente refundida e consideravel­mente aumentada”, que viria a público em março de 1860 (ver seção 6 deste nosso trabalho). Em 1957 Canuto Abreu publicou edição bilíngüe da primeira edição de O Livro dos Espíritos, sob o título O Primeiro Livro dos Espíritos (São Paulo, Companhia Editora Ismael).

4. A Revue Spirite

1858 – A 1o de janeiro Kardec lança o primeiro número da Revue Spirite (Revista Espírita), jornal de estudos psicológicos. Contendo o relato das manifestações materiais ou inteligentes dos Espíritos, aparições, evocações, etc., assim como todas as notícias relativas ao Espiritismo. ¾ O ensino dos Espíritos sobre as coisas do mundo visível e do mundo invisível; sobre as ciências, a moral, a imortalidade da alma, a natureza do homem e seu porvir. ¾ A história do Espiritismo na Antigüidade; suas relações com o magnetismo e o sonambulismo; a explicação das lendas e crenças populares, da mitologia de todos os povos, etc. Paris; bureau à Rue des Martyrs, 8.

O primeiro número, com 36 páginas, foi impresso na Imprimerie de Beau, em Saint-Germain-en-Laye, a mesma que já imprimira O Livro dos Espíritos; as despesas, como no caso desse livro, também ficaram por conta e risco de Kardec (AK III 21-33; II 76). A Revue era de periodicidade mensal e durante a vida de Kardec funcionou em sua própria residência, ou seja:

· 1o /1/1858 – Rue des Martyrs, 8.

· 15/7/1860 – Passage Ste.-Anne (Rue Ste.-Anne, 59)).

· 1/4/1869 – Nessa data estava programada a transfferência dos Escritórios e do Expediente para a Librairie Spirite, Rue de Lille, 7, que também sediaria provisoriamente a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas; a Redação iria para a Villa Ségur (Av. de Ségur, 39), casa de propriedade de Kardec pelo menos desde 1860, para a qual se mudaria com a dedicada esposa. (AK III 21-24, 35-37, 118-19; II, pp. 24-25). Kardec desencarnou na véspera.

Era Kardec quem redigia integralmente a revista e cuidava de toda sua correspondência e expedição, trabalho hercúleo suficiente para consumir todo o tempo de uma pessoa ordinária. E isso era apenas uma parte de seus trabalhos, havendo ainda os livros, a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, as centenas de visitantes anuais, as viagens…[6]

A Revue Spirite constitui rico manancial doutrinário, pouco explorado pelos espíritas. Os originais franceses, necessários para pesquisas cuidadosas, são raríssimos em todo o mundo. Em feliz iniciativa, motivada pela comemoração do 140o aniversário da fundação da Revue, o Centre d’Études Spirites Léon Denis, de Thann, França, está inserindo o precioso material em seu “site” na Internet (http://perso.wanadoo.fr/charles.kempf/), à razão de um fascículo por mês.

Kardec discorre sobre a idéia da criação da Revue em OP 293-94. Em suas própria palavras, ela tornou-se-lhe “poderoso auxiliar” na elaboração da doutrina e na implantação do movimento espírita (AK III 22; OP 294).

A partir da declaração de propósitos do primeiro número da Revista e do exame dos volumes escritos por Kardec (ver também AK III 21-33; II 24-25), podem-se identificar os seus objetivos principais, entre os quais destacam-se:

1. Manter o público atualizado quanto à evolução da ciência espírita;

2. Alertá-lo acerca dos excessos de credulidade e ceticismo;

3. Servir de meio de comunicação entre as pessoas que compreendem a doutrina “sob seu verdadeiro ponto de vista moral”;

4. Veicular relatos de fenômenos espíritas, psicológicos e antropológicos que contribuam para a elucidação da natureza espiritual do ser humano;

5. Fazer a “apreciação racional” desses fenômenos e examinar-lhes as conseqüências;

6. Publicar e analisar criticamente produções mediúnicas selecionadas, obtidas na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas ou enviadas por correspondentes;

7. Sondar a opinião dos homens e Espíritos sobre princípios em elaboração;

8. Examinar, à luz do Espiritismo, as crenças, lendas e tradições referentes aos Espíritos;

9. Comentar artigos de jornais, obras literárias, filosóficas e científicas à luz do Espiritismo.

Kardec editou a Revue até o número de abril de 1869, inclusive. Após a morte de Kardec (31/3/69) ela continuou sendo publicada, graças ao idealismo da Senhora Allan Kardec, de Pierre-Gaëtan Leymarie e de Jean Meyer, principalmente (AK III 153-57; Reformador, 09/1990, p. 286). A partir de 1913, aditou-se ao título da revista o artigo ‘la’ (‘a’), a qual ficou, desde então ‘La Revue Spirite’ (AK III 32 e 47).

Em lamentável decisão, a publicação foi extinta em 1976 por André Dumas, junto com a Union Spirite Française,[7] para dar lugar a Renaître 2000 e a Union des Sociétés Fran­cophones pour l’Investigation Psychique et l’Étude de la Survivance (USFIPES), ambas de cunho não-espírita. Sob a lúcida e firme direção de Francisco Thiesen, a FEB envidou esforços para salvá-la em 1977, não obtendo sucesso (AK III 45-57). Felizmente, em 11 de maio de 1989 a Union Spirite Française et Francophone, com sede em Tours, conseguiu judicialmente recuperar o título, retomando a publicação da Revue, com periodicidade trimestral.[8]

5. A Société Parisienne des Études Spirites

1857 – Por volta de outubro desse ano iniciaram-se reuniões espíritas na residência do casal Allan Kardec, à Rue des Martyrs, 8. Aconteciam às terças-feiras à noite e o médium principal era a Srta. Ermance Dufaux. Com o número crescente de freqüentadores, fez-se indispensável encontrar um local mais amplo. A solução encontrada foi alugar uma sala, cotizando-se as despesas entre as pessoas. (OP 294-95; AK III 34)

1858 – A 1o de abril é fundada legalmente a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, ou, em francês, Société Parisienne des Études Spirites (SPES), cujo título Kardec freqüentemente abreviava para ‘Societé Spirite de Paris’, ‘Societé des Études Spirites’, ou mesmo ‘Societé de Paris’.

Foi nas reuniões semanais da Société que boa parte das atividades mediúnicas e de estudo supervisionadas por Kardec se desenvolveram. As portas da SPES não eram abertas ao público, conquanto houvesse “reuniões gerais” em que visitantes apresentados por membros da Société podiam ser admitidos; essas reuniões se alternavam, semanalmente, com as “reuniões particulares”, às quais somente os sócios tinham acesso. Isso se compreende perfeitamente, dados os objetivos das reuniões, ligados essencialmente à pesquisa teórica e experimental dos fenômenos. A Société era, assim como a Revue, um terreno de elaboração da doutrina espírita. (OP 294-95; AK III 34-44; II 36-37)

Durante a vida de Kardec, a SPES esteve em três endereços (OP 295; AK III 35-37 e 118):

· 1o /4/1858 – Galerie de Valois, 35, no Palais Royal. As reuniões eram às terças-feiras. O Palais Royal é importante edifício histórico situado ao lado do Louvre. Foi construído pelo Cardeal Richelieu no século XVII. Suas elegantes galerias externas, que circundam o jardim (Galeries Montpensier, de Beujolais e de Valois), foram mandadas construir por Louis-Philippe d’Orléans, na segunda metade do século seguinte. Na Galerie d’Orléans (do séc. XIX) ficavam as livrarias de Dentu (no 13) e Ledoyen (no 31), que editaram várias das obras espíritas de Kardec (ver adiante).

· 1o /4/1859 – Galerie Montpensier, 12, no Palais Royal (num salão do restaurante Douix). Nesse local SPES reunia-se às sextas-feiras.

· 20/4/1860 – Passage Ste.-Anne (Rue Ste.-Anne, 59). Nesse mesmo endereço, a partir de 15 de julho, passa a residir Kardec, que levou consigo a Revue Spirite. Embora nessa época já possuísse a casa da tranqüila Villa Ségur, Allan Kardec viu-se na contingência de se alojar nesse apartamento com a abnegada esposa, dividindo espaço com a Revue e a SPES, para economizar seu minguado tempo.

· 1/4/1869 – Estava programada para essa data a trransferência provisória da Société para a Librairie Spirite, Rue de Lille, 7. Com a desencarnação de Kardec, a transferência ainda se verifica, mas a SPES não se sustenta por muito tempo.

6. As outras obras importantes de Allan Kardec

Fornecemos a seguir alguns dados sobre as principais obras de Allan Kardec (além de O Livro dos Espíritos, de que já tratamos; para uma lista possivelmente completa, ver AK III 15, 18 e 19). Algumas das informações referentes a dias e meses das publicações foram colhidas nas edições da FEB. Quanto às edições em francês atuais, indicamos as que pessoalmente possuímos; em alguns casos, há nas livrarias outras edições.[9] Abreviaremos os dados referentes aos editores originais segundo estas convenções (note-se que várias das obras saíram por mais de um editor):

* Dentu ¾ E. Dentu, Libraire. Palais Royal, Galerie d’Orléans, 13.

* Ledoyen ¾ Ledoyen, Libraire. Palais Royal, Galerie d’Orléans, 31.

* Didier ¾ Didier et Cie., Libraires-Éditeurs. Quai des Augustins, 35.[10]

1858 – Instrução Prática sobre as Manifestações Espíritas (Instruction pratique sur les manifestations spirites). Contendo a exposição completa das condições necessárias para se comunicar com os Espíritos, e os meios de se desenvolver a faculdade mediadora nos médiuns. Paris, bureau da Revue Spirite, Rue des Martyrs, 8; Dentu; Ledoyen.

Com a publicação de O Livro dos Médiuns, em 1861, Kardec deixou de imprimir a Instrução (152 pp.), à época já esgotada, considerando-a superada, quanto à abrangência, pela nova obra. O livro é, porém, de significativo valor histórico; hoje está novamente disponível em francês (Paris, La Diffusion Scientifique) e em português, em tradução de Cairbar Schutel (in: Iniciação Espírita, 6a ed., São Paulo, Edicel, 1977; foi também publicado pela Casa Editora O Clarim, de Matão, em 1987).

1859 – O que é o Espiritismo (Qu’est-ce que le Spiritisme). Introdução ao conhecimento do mundo invisível pelas manifestações dos Espíritos, contendo o resumo dos princípios da doutrina espírita e respostas às principais objeções.[11] Ledoyen. [100 pp.]

Edição francesa corrente: Paris, Dervy-Livres. Tradução brasileira recomendada: Rio, FEB (não se indica o tradutor).

1860 – (março) – Segunda edição de O Livro dos Espíritos. Contendo os princípios da doutrina Espírita sobre a imortalidade da alma, a natureza dos Espíritos e suas relações com os homens; as leis morais, a vida presente, a vida futura e o porvir da humanidade. Segundo o ensino dado pelos Espíritos Superiores com o auxílio de diversos médiuns, recolhidos e ordenados por Allan Kardec. Segunda edição, inteiramente refundida e consideravelmente aumentada. Didier; Ledoyen.

Acima do título, aparece agora a frase “Filosofia espiritualista”. Essa nova edição, que se tornou definitiva, tem 1019 questões, distribuídas em quatro partes. É acrescentada a Conclusão, mas o índice alfabético infelizmente não mais existe. A forma de exposição dupla não aparece em nenhuma das partes. As notas vêm agora logo após as respostas dos Espíritos, sendo muitíssimo mais numerosas; é fácil ver que muitas delas provêm do texto corrido da primeira parte da primeira edição.[12]

1861 – (15 de janeiro) – O Livro dos Médiuns (Le livre des médiums), ou guia dos médiuns e dos evocadores. Contendo o ensino especial dos Espíritos sobre a teoria de todos os gêneros de manifestações, os meios de se comunicar com o mundo invisível, o desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades e os escolhos com que se pode deparar na prática do Espiritismo. Para fazer seqüência ao Livro dos Espíritos. Didier; Ledoyen. [498 + iv pp.; AK III 173]

1861 – Segunda edição de O Livro dos Médiuns. Revista e corrigida com o concurso dos Espíritos, e acrescida de grande número de instruções novas. Didier; Ledoyen. [510 + viii pp.]

Edição francesa corrente: Paris, Dervy-Livres. Edição brasileira recomendada: FEB, tradução de Guillon Ribeiro, inteiramente revista a partir da 59ª edição.

1862 – (fevereiro) – O Espiritismo na sua expressão mais simples (Le Spiritisme à sa plus simple expression). Exposição sumária do ensino dos Espíritos e de suas manifestações. Ledoyen. [36 pp.]

Em 1994 esse opúsculo foi recentemente reeditado pelo Centre d’Études Spirites Allan Kardec, de Paris. Existem várias traduções para o vernáculo, sendo hoje disponíveis as de Dafne R. Nascimento, publicada pela Federação Espírita do Estado de São Paulo em 1984, e a de Joaquim da Silva Sampaio Lobo (in: Iniciação Espírita, 6a ed., São Paulo, Edicel, 1977).[13]

1862 – Viagem Espírita em 1862 (Voyage spirite en 1862). Contendo: 1. As observações sobre o estado do Espiritismo; 2. As instruções dadas por Allan Kardec nos diferentes grupos; 3. As instruções sobre a formação dos grupos e das sociedades, e um modelo de regulamento para o uso deles e delas. Ledoyen. [64 pp.]

Esse livro é atualmente publicado em Paris pela Éditions Vermet; no Brasil, em Matão, pela Casa Editora O Clarim, em tradução de Wallace Leal Rodrigues. Nenhuma dessas edições trazem dizeres após o título; tomamo-los de AK III 18.[14] Afora as mencionadas instruções e regulamento, o corpo da obra consiste de três discursos proferidos por Kardec aos espíritas de Lyon e Bordeaux em sua famosa viagem.

1864 – (abril) – Imitação do Evangelho segundo o Espiritismo (Imitation de l’Évangile selon le Spiritisme). Contendo a explicação das máximas morais do Cristo, sua concordância com o Espiritismo e sua aplicação às diversas posições da vida. Por Allan Kardec, autor do Livro dos Espíritos. Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade. Paris, os editores do Livro dos Espíritos; Ledoyen, Dentu, Fréd. Henri, livreiros, no Palais Royal, e no escritório da Revue Spirite, Rue e Passage Sainte-Anne, 59.

Essa obra, impressa na Imprimerie de P.-A. Bourdier et Cie, Rue Mazarine, 30, possui 444 + xxxvi páginas. É precursora de O Evangelho segundo o Espiritismo. No entanto, é de grande valor histórico, sendo essa a razão pela qual em 1979 a FEB reeditou-a em reprodução fotográfica. Não temos notícia de outras edições recentes, nem de traduções. Naturalmente, ‘imitação’ aqui não se deve entender no sentido hoje popular, de ‘cópia’, mas no de ‘prática’ (ver as anotações de Hermínio Miranda à edição febiana para esclarecimentos adicionais).

1865 – (1o de agosto) – O Céu e o Inferno, ou a Justiça Divina segundo o Espiritismo (Le ciel et l’enfer, ou la justice divine selon le Spiritisme). Contendo o exame comparado das doutrinas sobre a passagem da vida corporal à vida espiritual, as penas e recompensas futuras, os anjos e os demônios, as penas eternas, etc.; seguido de numerosos exemplos acerca da situação real da alma durante e depois da morte. “Por mim mesmo juro, disse o Senhor Deus, que não quero a morte do ímpio, senão que ele se converta, que deixe o mau caminho e que viva.” (Ezequiel, 33:11). Paris; os editores de O Livro dos Espíritos, Librairie Spirite.

Em nossos dias, está disponível edição belga da Éditions de l’Union Spirite. A tradução da FEB é, neste caso, de Manuel Quintão. (AK III 108 faz menção à “21a edição, revista, 1974, FEB.”)

1866 – O Evangelho segundo o Espiritismo (L’Évangile selon le Spiritisme).

Os dizeres da página de rosto são idênticos aos de Imitation, exceto pela data e pela frase “Terceira edição, revista, corrigida e modificada”. Segundo se infere do que é dito no prefácio de Thiesen à edição febiana de Imitation (página 15, não numerada), a segunda edição, de 1865, seria apenas outra tiragem da edição princeps. No entanto, em AK III 18 está escrito: “Da 2a ed. – 1865 – em diante, essa obra tomou novo título…”, querendo-se com isso dizer que já na 2a edição o título fora mudado para O Evangelho segundo o Espiritismo, tal como consta na coluna 322 do tomo II do Catalogue Général des livres imprimés de la Bibliothèque Nationale (Auteurs), Paris, Imprimerie Nationale, MDCCCXCIX, edição essa assim catalogada na referida Biblioteca: R 39901. Na Revue de 1865, meses antes do lançamento da 3a edição, já se fazia referência, em artigos, a O Evangelho segundo o Espiritismo, certamente da 2a edição.[15]

De qualquer modo, é a terceira edição que se tornou definitiva, servindo de base para as edições posteriores em francês e nos vários idiomas em que foi traduzida. Também devido à sua raridade e seu valor histórico, a FEB lançou, em 1979, uma reprodução fotográfica dessa edição. Na França, é hoje em dia publicada por La Diffusion Scientifique. Em português, a tradução clássica recomendada é a de Guillon Ribeiro (FEB), inteiramente revista a partir da 104a edição.

1868 – (6 de janeiro) – A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo (La genèse, les miracles et les prédictions selon le Spiritisme). Paris, Librairie Internationale.

Esse foi o último livro publicado por Kardec. Pode ser encontrado hoje em edição da La Diffusion Scientifique, de Paris. A corrente edição da FEB foi traduzida por Guillon Ribeiro, da 5a edição francesa, “revista, corrigida e aumentada”.

1890 – Obras Póstumas (Œuvres Posthumes). Paris, Société de Librairie Spirite. [450 pp.]

Organizado e editado por Pierre-Gaëtan Leymarie, esse livro reúne importantes textos de Kardec, quer de caráter teórico, sobre diversos assuntos, quer sobre fatos relativos às atividades espíritas do mestre. Em AK III 19 lê-se que uma segunda edição veio a lume ainda no mesmo ano de 1890. Guillon Ribeiro traduziu o livro para a FEB, a partir da primeira edição francesa. Hoje está disponível, em francês, a edição parisiense da Dervy-Livres, em que, no entanto, as matérias foram rearranjadas e renomeadas relativamente à edição original de Leymarie. Um aprofundado estudo sobre a história dessa obra pode ser lido no artigo “No centenário de Obras Póstumas”, de Zêus Wantuil, estampado em Reformador de janeiro de 1990, pp. 3 e 4.

Consoante o objeto deste nosso trabalho, a lista que acaba de ser dada menciona somente os textos mais importantes, dando, a seu respeito, apenas algumas informações básicas. O volume III da obra Allan Kardec é de consulta obrigatória para o estudioso que queira acercar-se da fonte mais extensa e segura de dados sobre o conjunto da produção de Kardec.

7. A partida de Allan Kardec e alguns acontecimentos posteriores

1869 – (31 de março) – Desencarna subitamente Allan Kardec, enquanto atende a um caixeiro de livraria, no seu apartamento da Rue Ste.-Anne, muito provavelmente vitimado pela ruptura de um aneurisma de aorta (AK III 110, 116 e 119). No dia seguinte, deveria desocupar esse imóvel, indo para a casa da Villa Ségur; os escritórios da Revue iriam para a Rue de Lille, 7 (onde funcionava a Librairie Spirite), que sediaria também a SPES.

O corpo foi sepultado ao meio-dia de 2 de abril, no cemitério de Montmartre. Estima-se que mais de mil pessoas acompanharam o cortejo, que seguiu pelas ruas de Grammont, Laffitte, Notre-Dame-de-Lorette, Fontaine e pelo Boulevard de Clichy. À beira da sepultura, Camille Flammarion, astrônomo e médium da SPES, pronunciou o seu importante discurso, que a FEB fez figurar na sua edição de Obras Póstumas. Na primeira reunião da SPES após esse fato, os membros presentes lançaram a idéia de se levantar um monumento ao mestre, que logo recebeu adesão de espíritas de muitas cidades. Foi assim que se fez construir o famoso dólmen do cemitério Père-Lachaise, para onde os restos mortais de Kardec foram transladados a 29 de março de 1870.

1870 – (31 de março) – Inaugura-se o monumento druida do Père-Lachaise. Esse famoso cemitério é considerado museu, tendo sido ali sepultados inúmeros dos grandes vultos franceses e mesmo de outros países. O de Kardec é o túmulo mais visitado e o mais florido de todos.[16]

Quando de sua inauguração, o dólmen não registrava a célebre frase “Nascer, morrer, renascer ainda e progredir continuamente, tal é a lei”, que foi insculpida ainda em 1870. Ao contrário do que muitas vezes se afirma, essa frase não se deve textualmente ao próprio Kardec, não obstante represente corretamente o pensamento espírita (AK III 118-152).

1871 – ( junho) – Pierre-Gaëtan Leymarie assume a gerência da Revue e da Librairie Spirite (AK III 157).

1875 – Vêm à público as primeiras edições brasileiras de livros de Kardec (excetuando-se o já citado opúsculo O Espiritismo na sua Expressão mais simples, publicado em São Paulo em 1862; ver nota no 10, acima): O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns e O Céu e o Inferno, traduzidos pelo Dr. Joaquim Carlos Travassos. No ano seguinte, 1876, também apareceria, pelo mesmo tradutor, O Evangelho Segundo o Espiritismo. O Editor dessas obras foi B. L. Garnier, do Rio de Janeiro. (AK III 175-80)

1883 – (21 de janeiro) – Desencarna Madame Allan Kardec. Dois dias após seu corpo é sepultado junto ao do esposo, no Père-Lachaise, saindo o féretro de sua casa na Villa Ségur. Amélie-Gabrielle Boudet nascera em 1795, a 23 de novembro, e não a 21, como se insculpiu no túmulo. (AK III 158-60)

1883 – (21 de janeiro) – Fundação, por Augusto Elias da Silva, da revista Reformador.

1884 – (2 de janeiro) – Fundação da Federação Espírita Brasileira, também por Augusto Elias da Silva, à qual Reformador passa a pertencer.

1898 – A Revue muda-se da Rue du Sommerard, 12 para a Rue St.-Jacques, 42, onde permaneceu por um bom tempo; no local existe hoje a Librairie Leymarie, que pertenceu a Pierre-Gaëtan Leymarie. (AK III 226-27)

1923 – Jean Meyer funda a Maison des Spirites, na Rue Copernic, 8 (AK I 172; cf. porém AK III 203 ). Continha arquivos importantes que foram destruídos pelos nazistas. Sediou a Éditions Jean Meyer (B.P.S), que publicou muitas das obras clássicas do Espiritismo, bem como a Revue, de 1923 a 1971, quando morreu Hubert Forestier (AK III 227).

8. Relação dos endereços:

Fornecemos abaixo uma relação dos principais endereços ligados ao Espiritismo na França, destinada a facilitar visitas e a localização em mapas:

1) Rue Sale, 76 (Lyon) – Local onde nasceu Rivail.

2) Rue de la Harpe, 117 – Rivail estava nesse endereço em janeiro de 1823.

3) Rue Vaugirard, 65 – Rivail esteve nesse endereço pelo menos de 1828 a 1831.

4) Rue Christine, 5 – Imprimerie de Pilet-Ainé, que em 1824 publicou o primeiro livro de Rivail.

5) Rue de Sèvres, 35 – Institution Rivail, de 1826 a 1834; Lycée Polymathique, até 1850.

6) Rue Grange-Batelière, 18 – Casa da Sra. Plainemaison, onde Rivail fez as primeiras observações, em maio de 1855.

7) Rue Rochechouart – Família Baudin, 1855. Aqui começaram as pesquisas sistemáticas de Rivail.

8) Rue Lamartine – Novo endereço dos Baudin, a partir de 1856. Grande parte do trabalho inicial de Kardec desenvolve-se nesse local.

9) Rue Tiquetonne, 14 – Casa do Sr. Roustan. Com a médium Srta. Japhet, Rivail realizou aí importantes trabalhos, como a revisão de O Livro dos Espíritos.

10)Rue des Martyrs, 8 (segundo andar, ao fundo do pátio) – Residência de Rivail pelo menos desde março de 1856, ficando até 14/7/1860. Em outubro de 1857, começaram aí as reuniões de estudo que dariam origem à SPES. No local foi lançada 1a edição de O Livro dos Espíritos (18/4/57) e a Revue Spirite (1/1/58).

11)Saint-Germain-en-Laye (23 km oeste de Paris) – Imprimerie de Beau, que imprimiu a 1a ed. de O Livro dos Espíritos e a Revue Spirite.

12)Galerie d’Orléans, 13 (Palais Royal) – Dentu, editor da 1a edição de O Livro dos Espíritos, da Instrução Prática, da Imitação e de O Evangelho.

13)Galerie d’Orléans, 31 (Palais Royal) – Ledoyen, editor da 2a ed. de O Livro dos Espíritos, da Instrução, de O Livro dos Médiuns, de O Espiritismo em sua expressão mais simples, da Viagem Espírita, da Imitação, de O Evangelho e de O Céu e o Inferno.

14)Galerie de Valois, 35 (Palais Royal) – primeiro endereço da SPES, a partir de 1/4/58 (reuniões às terças-feiras)

15)Galerie de Montpensier, 12 (Palais Royal; restaurante Douix) – segundo endereço da SPES, a partir de 1/4/59.

16)Quai des Augustins, 35 – Didier et Cie, editor da 2a edição de O Livro dos Espíritos, de O Livro dos Médiuns e de O Céu e o Inferno.

17)Rue Mazarine, 30 – Imprimerie de P.-A. Bourdier et Cie, que imprimiu L’Imitation de l’Évangile, em abril de 1864.

18)Passage Sainte-Anne (Rue Sainte-Anne, 59) – SPES, a partir de 20/4/60; domicílio de Kardec e Revue Spirite, a partir de 15/7/60;

19)Villa Ségur (Av. de Ségur, 39) – casa de propriedade de Kardec pelo menos desde 1860, para a qual se mudaria definitivamente em 1/4/1869. O casal por vezes usava a casa para recepcionar visitas e para realizar trabalhos que exigiam recolhimento. Amélie-Gabrielle ficou nela até sua morte, em 1883. Era desejo de Kardec que a casa se transformasse, quando não mais estivessem encarnados ele e a esposa, em abrigo para espíritas desvalidos.

20)Rue de Lille, 7 – Revue e SPES depois da morte de Kardec (31/3/69); aí já funcionava a Librairie Spirite.

21)Rue du Sommerard, 12 – Sediou a Revue por breve período, de 1897 (quando foi liquidada a Librairie Spirite ) a 1898 (AK III 202, 227 e 262).

22)Rue Saint-Jacques, 42 – Librairie Leymarie, que abrigou a Revue de 1898 até 1923 (AK III 227); existe ainda hoje como livraria espiritualista.

23)Rue Copernic, 8 – Maison des Spirites, fundada em 1923 por Jean Meyer (AK I 172), funcionou até a década de 1970.

24)Rue Jean-Jacques Rousseau, 15 – Union Spirite Française, fundada em 1919 por Jean Meyer e Gabriel Delanne; substituída em 1976 pela U.S.F.I.P.E.S.

25)Rue du Docteur Fournier, 1, 37000 Tours – Union Spirite Française et Francophone, que atualmente publica La Revue Spirite.

26)Rue de Flandre, 131, Résidence Île de France, bâtiment E1, 75019 Paris, tel.: (01)42090869- Centre d’Études Spirites Allan Kardec (em funcionamento).

27)Cemitério de Montmartre (região norte de Paris) – Sepultamento de Kardec a 2/4/69.

28)Cemitério do Père-Lachaise (região leste de Paris) – Sepultura definitiva de Kardec, a partir de 29/3/70; o dólmen é inaugurado dois dias depois.

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[1] Gostaríamos de expressar nosso agradecimento a Zêus Wantuil, que leu com excepcional cuidado uma versão preliminar deste trabalho, contribuindo, com sua experiência e erudição, para que diversas falhas de conteúdo e de forma fossem eliminadas. Forneceu-nos ainda algumas informações históricas bastante relevantes, que não pudéramos haver obtido de outra forma; as principais delas são explicitamente indicadas nos locais pertinentes do texto.
[2] Na p. 79 do vol. I da obra Allan Kardec, encontra-se estampada a página de rosto de uma edição parisiense de 1961 do livro de Moreil, da editora Sperar. Em sua introdução a esse vol. I, Thiesen se refere, à p. 26, a uma tradução para o vernáculo, de Miguel Maillet, publicada sem data em São Paulo pela Edicel. Zêus Wantuil gentilmente informou-nos que tal tradução brasileira teve sua impressão concluída em junho de 1966.
[3] A primeira edição dessa biografia data de 1896 e aparecia traduzida na coletânea O Principiante Espírita, que a FEB publicava no passado; a quarta edição foi prefaciada por Léon Denis (ver Allan Kardec, vol. I, pp. 200, 198 e 29; vol. II, p. 15). Há referências a uma “nouvelle édition”, de 1910, com prefácio de Gabriel Delanne (ver ibid., vol III, p. 117 e vol II, p. 15).
[4] Em Obras Póstumas, p. 271, há uma comunicação atribuída à mediunidade da Senhora (“Mme” ) Baudin; teria sido uma falha tipográfica, ou ela também era médium? Embora na página 267 Kardec diga que os médiuns eram “as duas senhoritas Baudin”, nas comunicações mediúnicas transcritas nunca especifica qual serviu de médium, escrevendo simplesmente “Mlle Baudin”. Na Revue Spirite de 1858 (ver AK II 64-65) Kardec refere-se explicitamente a uma série de comuncações transmitidas por Caroline, notando, incidentalmente, que “mais tarde o médium se serviu da psicografia direta”. Em OP 271 Kardec relata que em fins de 1857 ambas se casaram e a família se dispersou, ficando implícito que não pôde mais contar com sua mediunidade. Em seus controversos comentários à edição bilíngüe da primeira edição de O Livro dos Espíritos (p. viii), Canuto Abreu avança que Caroline e a irmã tinham, em agosto de 1855, 16 e 14 anos, respectivamente, e que a mais velha era o médium principal; não pudemos confirmar essas informações em fontes independentes.
[5] Esses dizeres que se seguem ao título são os que constam da página de rosto da obra (ver fac-símile à p. 75 de AK II). Observações semelhantes valem para os demais livros de Kardec mencionados nas seções seguintes.
[6] Em 1866 sofreu séria crise de saúde, conseqüente à sobrecarga de trabalho e de preocupações, sendo assistido pelo Dr. Demeure, que o advertiu quanto aos limites das forças corporais. Por insistência desse Espírito, Kardec passou a contar, para a correspondência comum e a parte mais material das tarefas, com a ajuda de um secretário, o Sr. A. Desliens, médium e membro da SPES ( AK III 111, 286, 301, 302 e 42). Com a desencarnação do mestre em março de 1869, Desliens ficou como secretário-gerente da Revue, até junho de 1871 (AK III 157, 136).
[7] A Union Spirite Française foi fundada por Jean Meyer e Gabriel Delanne em 1919, não tendo relação direta com a antiga SPES, que encerrou suas atividades ainda no século passado, bem pouco tempo após a morte de Kardec. (AK II 16 e 17; III 156)
[8] Notícia veiculada em Reformador, abril e maio de 1990, pp. 128 e 130, respectivamente; ver também La Revue Spirite, janeiro de 1997 (no 30), p. 7. Assinaturas podem ser feitas escrevendo-se para o endereço da USFF: 1, Rue du Docteur Fournier, 37000 Tours, France. A USFF pode também ser contactada por e-mail (union.spirite@creaweb.fr), tendo recentemente inaugurado sua “página” na Internet (http://www.creaweb.fr/union-spirite). Além de editar La Revue Spirite, a Union, promove o intercâmbio entre os grupos espíritas da França (pouco mais de uma dezena, a maioria de criação recente), e tem representado o movimento espírita francês no plano internacional. Segundo se depreende de artigo da autoria de Affonso Soares publicado em Reformador de novembro de 1986 (p. 341), a USFF teria sido fundada em fins de 1985, junto com uma publicação oficial, a Revue des Spirites. No entanto, no número de junho de 1989 do periódico febiano, o mesmo autor diz que a fundação da Union ocorreu em 1987; este dado parece dever-se a um lapso. Neste artigo mais recente assevera-se ainda que a publicação trimestral se chama La Nouvelle Revue Spirite. Desse modo, antes de conseguir recuperar o título ‘La Revue Spirite’ o valoroso grupo espírita de Tours teria dado dois outros nomes à sua revista.
[9] No “site” da Federação Espírita Brasileira na Internet (http://www.febrasil.org.br) estão disponíveis diversas obras de Kardec, em francês, português, inglês e espanhol. Alguns outros originais franceses podem ser encontrados no “site” do Centre d’Études Spirites Léon Denis (http://perso.wanadoo.fr/charles.kempf/). No primeiro desses endereços também está a Livraria Virtual da FEB, com seu rico acervo de obras. Destacamos ainda que as exemplares traduções febianas das obras de Kardec foram recentemente lançadas em CD-ROM, que pode ser adquirido escrevendo-se para a FEB ou para info@apalavradigital.com.br .
[10] Pierre-Paul Didier foi um dos mais dedicados colaboradores de Kardec, membro fundador da SPES, tendo nela atuado como médium (AK III 377, 79, 323 e 82); desencarnou em 2/12/1865, mas como Espírito continuou diretamente envolvido nas atividades de Kardec (ibid. 85, 92, 289).
[11] Não vimos a primeira edição; nas edições a que tivemos acesso, há divergência quanto ao texto que segue ao título. O que traduzimos consta da edição atual da Dervy. Nas notícias da segunda edição de O Livro dos Espíritos (ver fac-simile no Reformador de abril de 1989, p. 105) está do seguinte modo: “Introduction à la connaissance du monde invisible ou des Esprits, contenant les principes fondamentaux de la doctrine spirite et la réponse à quelques objections préjudicielles.” O que se encontra em AK III 15 corresponde aproximadamente a esse texto.
[12] Constatou-se, em época relativamente recente (ver Reformador, abril de 1989, pp. 104-107), que Kardec anexou à segunda edição algumas notas e erratas, destinadas a complementar e corrigir o texto. Pôde-se também verificar que na oitava edição elas ainda apareciam; não se sabe a partir de qual edição deixaram de figurar, nem por que Kardec não conseguiu inserir as correções e acréscimos refundindo o texto. Lamentavelmente, nem as edições francesas atuais nem as traduções para o vernáculo incorporam ou sequer mencionam as modificações, que o próprio Kardec considerava imprescindíveis. Parece-nos de suma importância que esse material venha a público de forma completa, e que seja incorporado às novas edições.
[13] Em AK III 18, 176 e 353-54 informa-se acerca de três traduções antigas: uma por Alexandre Canu, colaborador da SPES, “que se achava à venda com J.P. Aillaud, Monlon e C…, em Lisboa, Rio de Janeiro e em Paris (1862); outra publicada em São Paulo, sem indicação de tradutor, pela Typographia Litteraria (1866); e finalmente outra da FEB, traduzida e anotada por Guillon Ribeiro (não se menciona a data da primeira edição, dizendo-se apenas que ainda há nos arquivos exemplares de 1921 e 1933).
[14] Zêus Wantuil gentilmente confirmou-nos que são os que constam na edição original da obra.
[15] As substanciais informações desse parágrafo foram-nos comunicadas por Zêus Wantuil, a quem agradecemos.
[16] Destaca-se esse ponto no próprio mapa do cemitério. Na madrugada 2 de julho de 1989 o túmulo sofreu um atentado a bomba, que o danificou parcialmente, sendo posteriormente restaurado pela Prefeitura de Paris. (Reformador, julho de 1989, p. 194, e setembro de 1990, p. 284.)

Texto fantástico e completo do Silvio Seno Chibeni.

#Espiritismo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/origens-do-espiritismo

Estudos sobre Astrologia

Ainda hoje, quando falamos em astrólogos, muita gente pensa em homens sinistros de chapéus pontudos, a contemplar o céu de suas altas torres e a interpretá-lo segundo seus delírios. E, no entanto, eles já estão penetrando nos gabinetes e laboratórios da ciência, misturando-se entre químicos, biólogos, meteorologistas, médicos e financistas. . .

No século passado, Carl Gustav Jung anunciou a volta da astrologia às cátedras universitárias. Na época, isso era verdade apenas em algumas raras escolas de psicologia na Suíça, onde pioneiros corajosos, como o próprio Jung, incentivavam ou promoviam cursos semi-oficiais de astrologia, à noite, para os futuros clínicos, sob os olhos complacentes dos velhos reitores.

Hoje, a Universidade de Stanford, a Escola Técnica Superior de Zurique e mais sete universidades em todo o mundo promovem estudos regulares sobre a astrologia. Na Universidade de Paris (e a França é o pais mais conservador face a astrologia), o professor Robert Jaulin, no curso de etnologia, concede “créditos” suplementares aos alunos que frequentam aulas de astrologia, e outro etnólogo, Jacques Halbronn, fundos o Movimento Astrológico Universitario, que reúne centenas de estudantes e professores da mesma universidade, e promoveu o último Congresso de Astrologia, em Paris. Desse congresso participaram figuras do porte de um Eric Weil, professor de filosofia em Louvain e pensador de renome universal.

Em 1666, expulsa das cátedras universitárias

Para começo de conversa, quem expulsou a astrologia das cátedras universitárias não foi o avanço da ciência, como normalmente se supõe, mas uma interpretação apressada das descobertas de Copérnico. A expulsão foi decretada em 1666, por Colbert, ministro de Luís XIV, com a alegação de que a astrologia não tinha fundamento cientifico.

Na realidade, a ciência da época não tinha condições mínimas para averiguar isso realmente, e a primeira pesquisa estatística sobre o assunto foi feita só trezentos anos depois. O que Colbert supôs foi que, como os horóscopos eram desenhados geocenteicamente – isto é, com a Terra no meio, e o Sol, a Lua, os signos e os Planetas em torno – não podiam funcionar, já que Copérnico havia demonstrado que o que estava no centro era o Sol e não a Terra.

Colbert simplesmente não percebeu que o horóscopo não era propriamente geocêntrico mas antropocéntrico, isto é, que representava o universo centralizado não na Terra enquanto realidade física, mas no Homem, no indivíduo. O horóscopo não era um mapa físico do universo (embora fosse também isto), mas um mapa do seu significado, um mapa do sentido do universo, tal como este se apresentava para determinado indivíduo na hora e no local em que este nascia. Para esses fins, o centro do universo, o centro da experiência individual, continuava a ser obviamente a Terra (excetuando-se a hipótese de o consulente ter nascido em Marte ou na Estrela Vega), e o próprio Kepler, que calculou as órbitas heliocêntricas dos planetas, continuou a desenhar horóscopos geocentricamente até o fim dos seus dias.

Enquanto o mapa astronômico era inteiramente objetivo e material, o mapa astrológico era ao mesmo tempo objetivo e subjetivo, tal como as mandalas tibetanas, que representam ao mesmo tempo o círculo do universo exterior e o interior do homem. Esta sutileza escapou a Colbert. As universidades alemãs e suíças, mais sensatas, preferiram deixar abertas suas cátedras de astrologia, embora sem ocupantes, e foi esta brecha que permitiu a Jung anunciar uma volta triunfal.

Em 1945, reabilitada pelas provas estatísticas

Essa volta não seria nada triunfal, entretanto, se não se houvesse descoberto, pouco depois, provas eloqúentes de que a relação astroHomem não é uma pura fantasia.

Essa descoberta veio quando, em 1950, o pesquisador francês Michel Gauquelin resolveu tirar a limpo, pela estatística (sua especialidade acadêmica), a questão das “influências astrais”. Desde o começo do século, o grande astrólogo Paul Choisnard pedia aos estatísticos que fizessem isso. Mas era muito difícil, porque um único mapa astrológico (feito para a hora, data e local de nascimento de um indivlduo) tem mais de mil fatores a serem levados em ponta.

Por volta de 1945, outro astrólogo, Léon Lasson, conseguiu finalmente formular um bom método de aplicar a estatística à astrologia. Gauquelin aperfeiçoou esse método e o empregou numa pesquisa que abrangeu cinco mil mapas astrológicos.

A pesquisa submeteu à prova uma única doutrina astrológica, porém antiga e fundamental: a de que não só determinados planetas estão associados a determinadas profissões (Júpiter à política e ao teatro, Saturno à ciência, Marte aos esportes e artes militares, Lua à literatura), como também tais planetas exercerão uma influência mais intensa, se no instante do nascimento do indivíduo estiverem colocados em determinados pontos privilegiados do céu. Esses pontos são, segundo a doutrina, o ascendente, que é a parte mais oriental da linha do horizonte, e o meio-do-céu, que é o ponto mais alto do Zodíaco (faixa dos signos) em relação a determinado lugar da Terra.

Se a teoria estivesse certa, pensou Gauquelin, determinados planetas estariam com maior frequência no ascendente e no meio-do-céu no nascimento das pessoas cujas profissões estivessem relacionadas com esses planetas, do que no nascimento das outras pessoas. Saturno estaria com mais freqüência no ascendente e meio-do-céu dos cientistas, Marte no dos militares, Júpiter no dos políticos e atores, etc. Inversamente, seria raro um Saturno no ascendente ou meio-do-céu dos esportistas ou atores, e assim por diante. Mais ainda: seria preciso que essa freqüência ultrapassasse a média do acaso (no jargão dos estatísticos: feeqüência teórica) de maneira significativa, para se poder acreditar que o fenômeno fosse algo mais do que mera coincidência.

Do ponto de vista cientifico, a hipótese a ser testada era um absurdo completo, mas as estatisticas foram mais favoráveis ao absurdo do que ao ponto de vista científico. Com uma freqüência que só seria possível atribuir ao acaso com uma possibilidade de 1 contra 10 milhões (isso mesmo), os planetas estavam lá onde os astrólogos diziam que estariam: Júpiter no ascendente e meio-do-céu dos atores e políticos, Saturno no dos cientistas, Marte no dos esportistas e militares, Lua no dos escritores. Inversamente, a Lua não estava no ascendente nem no meio-do-céu de quem não era escritor, Marte no de quem não era militar, etc.

Embora tudo isso parecesse uma trama diabólica dos astros para confundir o bom senso dos pobres cientistas, Gauquelin, com exemplar honestidade intelectual, publicou os resultados da pesquisa, que se tornaram imediatamente motivo de escândalo e protestos gerais. O diretor do Instituto Nacional de Estatística da França, Jean Porte, convidado pelos adversários de Gauquelin a desmascarar a farsa toda, refez os cálculos e informou depois de algum tempo: lamentavelmente, os cálculos estavam certos. Ainda assim, Gauquelin refez a pesquisa, desta vez reunindo nada menos que 25.000 mapas, na França, na Bélgica, na Holanda, na Itália e na Alemanha, e chegou novamente aos mesmos resultados. Novamente Jean Porte refez as contas, e novamente elas estavam impecáveis.

Recentemente, nos Estados Unidos, a revista The Humanist publicou um abaixo-assinado de 186 cientistas contra a astrologia. Em resposta, vieram centenas de cartas a favor, e The Humanist resolveu arbitrar a questão promovendo uma pesquisa igual à de Gauquelin, com amostragem menor mas controle estatístico maior. Os resultados, pela terceira vez, foram os mesmos. (No Brasil, durante um debate na TV, o abaixo-assinado de The Humanist foi exibido como o sumo argumento antiastrológico por um psiquiatra, que obviamente não contou a continuação da história . . .)

Agora, resta saber qual e natureza do fenómeno

Todos os debates que houveram serviram para mostrar que a astrologia é um assunto infinitamente mais completo do que seus opositores jamais imaginaram.

Exemplo. Quando não pôde mais negar os resultados da pesquisa, o mais feroz adversário francês da astrologia, o astrônomo Paul Couderc, então chefe do Observatório de Paris, julgou ter descoberto um argumento fulminante ao declarar que uma correlação era uma coisa, e um mecanismo de causa e efeito, outra; que a pesquisa Gauquelin havia estabelecido uma correlação entre os astros e o Homem, mas não havia de modo algum provado que os astros causam as ações humanas, “como pretendem os astrólogos”.

Os astrólogos limitaram-se a exibir os textos clássicos da sua arte, desde a Tábua de Esmeralda de Hermes Trimegisto (milênios anterior a Cristo) e as Enéadas de Plotino (século 39) até os tratados de Paracelso (século 15), Kepler (século 16) e Robert Fludd (século 17), em que por toda parte se explica a relação entre os astros e os homens como um processo de semelhança, de analogia, de simpatia, de correlação, de sincronismo, e nunca de causa e efeito.

E completaram: nenhum astrólogo jamais disse que os astros causam as ações humanas, pela simples razão de que o principio de causa e efeito, tão importante para o cientista materialista, é, para os astrólogos, um principio menor e secundário. O princípio maior é a lei de analogia, mediante a qual o grande e o pequeno, o macrocosmo e o microcosmo, a matéria e a consciência, têm uma estrutura e uma dinâmica semelhante, já que são apenas faces diversas do mesmo fenômeno.

O pobre Couderc jamais imaginou que estivesse mexendo num vespeiro tão grande. Desde essa época, praticamente cessou a polêmica rasteira tipo pró-e-contra a astrologia, e desencadeou-se um debate teórico de alto nível sobre a natureza do fenômeno revelado pela pesquisa Gauquelin. Se não se tratava de uma relação de causa e efeito, que relação era então? Um sincronismo, como pretendia Jung? Ou, como afirmava o próprio Gauquelin, tenaz estudioso dos biorritmos, existe em cada ser vivo um “relógio cósmico” que o torna receptivo a todos os ritmos do universo ao seu redor? Qual era precisamente o sentido com que os antigos falavam em “analogia”? Não seria a analogia um instrumento mental utilizável pela ciência, para a análise de fenômenos demasiado grandes e complexos, como a dinâmica da vida social e política, os grandes sistemas ecológicos, a economia das grandes nações? Não teriam os antigos astrólogos tido, milênios atrás, a intuição de um método cientifico para a abordagem de grandes problemas? Não teriam feito, como disse Lucien Malavard, “ciências humanas avant Ia lettre”? Esse é hoje o grande debate astrológico, que envolve algumas das questões mais contundentes e vivas da cultura contemporânea e ocupa alguns dos melhores cérebros da atualidade.

Os astros na religião, na biologia, nas finanças . . .

Paralelamente, prosseguiram as pesquisas. No campo da história, foi possível obter uma vasta coleção de evidências em favor da tese da astróloga Marcelle Senard (e de todos os astrólogos tradicionalistas), segundo a qual o Zodíaco é uma espécie de chave universal de todas as religiões.

Aplicando um método estrutural a praticamente todas as religiões e mitologias do mundo, o historiador Jean-Charles Pichou descobriu que existem apenas doze mitos básicos em todos os povos e lugares, e que esses mitos se sucedem segundo uma ordem mais ou menos regular.

Essas estruturas básicas são nada menos que os doze signos do Zodíaco. O trabalho de Pichou é demasiado revolucionário e demasiado volumoso para poder ser endossado ou contestado em bloco, mas certamente permanecerá como um clássico na historiografia das religiões.

Os biólogos também descobriram algumas coisas agradáveis aos astrólogos. Primeiro, simples correlações entre ciclos planetários e o metabolismo de animais e plantas estabelecidas por Frank A. Brown, da Northwestern University, EUA (o que não tem valor astrológico direto, mas constitui indicio favorável ao tipo de interdependência postulado pelos astrólogos, e que até 40 anos atrás era considerado mera ficção). Depois, um vendaval de confirmações da antiga correlação – esta, puramente astrológica – entre a lua e a fertilidade. Um pesquisador tcheco, Eugen Jorias, médico e astrólogo, chegou a estabelecer um processo astrológico de previsão de períodos de fertilidade das mulheres pela posição da Lua no instante do seu nascimento. Uma pesquisa feita pelo governo tcheco encontrou 94 por cento de acerto no método Jonas.

Em seguida, o neurologista Leonard Ravitz, da Duke University, descobriu que mudanças marcantes de potencial elétrico emitido pelo corpo humano ocorriam segundo as fases da Lua e, mais ainda (coerente com a doutrina astrológica de que a Lua está relacionada com as doenças mentais, donde a palavra lunático), que nos pacientes psicóticos tais mudanças eram nitidamente mais agudas do que nas pessoas mentalmente sadias.

Mais recentemente o economista norte-americano L. Peter Cogan procurou averiguar em que medida os ciclos de pessimismo e otimismo dos investidores, com reflexos nítidos na bolsa de valores, coincidiam com posições planetárias. Abarcando o período de 1873 a 1966, seu estudo concluiu que tais ciclos respondiam simetricamente às posições do Sol com relação a Saturno e Urano (planetas que, segundo a astrologia, regem o capitalismo). Os ciclos de pessimismo correspondiam às relações de 180 e 90 graus (ângulos “maléficos”, segundo a tradição astrológica).

“Bem-aventurado aquele que pode ler no céu estrelado”

Ao lado disso, o médico holandês Nicholas Kollerstrom, pesquisador do Medical Research Hospital de Londres, refazendo uma experiência do filósofo Rudolf Steiner, demonstrou que certas reações químicas com tons metálicos têm seu resultado alterado quando realizadas sob determinadas conjunções planetárias. Kollerstrom observa que os planetas que tiveram o poder de alterar essas reações foram precisamente aqueles que, segundo a tradição astrológica, estão relacionados com os metais que, em solução, ele usou na experiência. Saturno, cujo metal tradicional é o chumbo, alterava as reações com sulfato de chumbo, e ficava indiferente às demais; a Lua, cujo metal é a prata, só mexia com o nitrato de prata; Vênus só alterava o sulfato de cobre, já que seu metal é o cobre; e Marte, que rege o ferro, alterava as reações de sulfato de ferro.

Paralelamente, médicos e biólogos de todo o mundo vêm estudando, até sob o patrocínio da Unesco, as relações entre os ciclos planetários e os ritmos biológicos e emocionais humanos, sob o nome de biometeorologia ou de biopsicometeorologia.

Diante da convergência de tantos caminhos em direção a um fenômeno que há algumas décadas era negado em bloco, os entusiastas da conexão entre homens e astros exultam de alegrias e esperanças. Mas o que importa não é isso, e sim estudar esse fenômeno, aprender a contempla-lo e a compreendê-lo. Épocas inteiras o ignoraram. Kant e sua época viam acima de si o céu estrelado e dentro de si a lei moral. Viam um universo dividido, onde a necessidade interior do homem, a lei moral, não tinha nenhuma relação com a realidade objetiva. Até muito recentemente foi assim.

Assim no inicio do século XX, entre os horrores da Grande Guerra, o pensador materialista Georg Lukacs dizia: “Bem-aventuradas as épocas que podem ter no céu estrelado o mapa dos caminhos que lhe estão abertos! Bem-aventuradas as épocas cujos caminhos são iluminados pela luz das estrelas! Para elas, tudo é novo, e entretanto familiar! Tudo é aventura, e tudo lhe pertence, pois o fogo que arde em suas almas é da mesma natureza das estrelas”. Ao redescobrir a pista das relações entre o cosmo e o Homem, nossa época recomeça a ver, depois de uma longa escuridão, a lei moral no céu estrelado e as estrelas no coração do Homem.

Texto de O. de Carvalho

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/estudos-sobre-astrologia

Hochma

Texto extraído do livro “A Cabala Mística”, de Dion Fortune

1. Toda fase de evolução tem início num estado de força instável e caminha, graças à organização, para o equilíbrio. Uma vez este alcançado, nenhum desenvolvimento posterior poderá ocorrer, se a estabilidade não for superada, dando início, mais uma vez, a uma fase de forças em conflito. Como já vimos, Kether é o ponto formulado no vazio. De acordo com a definição euclidiana, um ponto tem posição, mas não dimensões. Se, contudo, concebermos esse ponto movendo-se no espaço, ele se transformará numa linha. A natureza da organização a da evolução das Três Supremas está tão distante da nossa experiência que só podemos concebê-la simbolicamente; mas, se imaginarmos o Ponto Primordial que é Kether estendendo-se pela linha que é Hochma, teremos a representação simbólica mais adequada que seremos capazes de alcançar em nosso presente estágio de desenvolvimento.

2. Esse fluxo de energia, representado pela linha reta ou pelo cetro ereto do poder, é essencialmente dinâmico. Trata-se, na verdade, de um dinamismo primário, pois não podemos conceber a cristalização de Kether no espaço como um processo dinâmico; ela partilha, antes, de uma certa estaticidade – a limitação do informe a do liberto, nos moldes da forma, por mais tênue que a forma possa parecer aos nossos olhos.

3. Atingidos os limites da organização dessa forma, a força que flui incessantemente do Imanifesto transcende as suas limitações, demandando modos novos de desenvolvimento a estabelecendo relações a tensões novas. Hochma é esse fluxo de força desorganizada a desequilibrada, e, sendo Hochma uma Sephirah dinâmica, que flui incessantemente como energia ilimitada, poderíamos considerá-la, apropriadamente, mais como um canal por onde passa a energia do que como um receptáculo em que a força é armazenada.

4. Hochma não é uma Sephirah organizada, a sim a Grande Estimuladora do Universo. É de Hochma que Binah, a Terceira Sephirah, recebe o seu influxo de emanação, a Binah é a primeira das Sephiroth organizadoras e estabilizantes. Não é possível compreender nenhuma Sephirah sem estudar a sua companheira; por conseguinte, para compreender Hochma, deveremos dizer algo a respeito de Binah. Notemos, preliminarmente, que Binah é atribuída ao planeta Saturno, recebendo o título de Mãe Superior.

5. Em Hochma a Binah temos, respectivamente, o positivo e o negativo arquetípicos; a masculinidade e a feminilidade primordiais, estabelecidas quando “o rosto não contemplava rosto algum” a quando a manifestação ainda era incipiente. É desses pares de opostos primários que surgem os Pilares do Universo, por entre os quais se tece a rede da manifestação.

6. Como já observamos, a.Árvore da Vida é uma representação diagramática do Universo, na qual os aspectos positivo a negativo, masculino a feminino são representados pelos dois pilares laterais, da Misericórdia e da Severidade. Pode parecer estranho que o título de Misericórdia seja conferido ao Pilar masculino a positivo, e o de Severidade ao feminino; mas, quando se compreende que a força dinâmica masculina é a que estimula a elevação e a evolução, a que é a força feminina que edifica as formas, percebe-se que a nomenclatura é adequada, pois a forma, embora seja edificadora a organizadora, é também limitadora; toda forma constituída precisa, por sua vez, ser superada, perdendo sua utilidade a assim, tomando-se um obstáculo à vida evolutiva; por conseguinte, ela é a causadora da dissolução a da desintegração que conduz à morte. O Pai é o Dador de vida; mas a Mãe é a Dadora da morte, porque seu útero é a porta de ingresso para a matéria, a por intermédio dela a vida é animada na forma, a nenhuma forma pode ser infinita ou eterna. A morte está implícita no nascimento.

7. É por entre esses dois aspectos polarizados dá manifestação – o Pai Supremo e a Mãe Suprema – que se tece a rede da vida; as almas vão a vêm entre eles, como a lançadeira de um tecelão. Em nossas vidas individuais, em nossos ritmos fisiológicos, na história da ascensão a queda das nações, observamos a mesma periodicidade rítmica.

8. Nesse primeiro par de Sephiroth, temos a chave para o sexo – o par de opostos biológicos, a masculinidade e a feminilidade. Mas a paridade de opostos não ocorre apenas no tipo; ela ocorre também no tempo, a temos épocas alternadas em nossas vidas, em nossos processos fisiológicos, a na história das nações, durante as quais atividade a passividade, construção a destruição prevalecem altemadamente; o conhecimento da periodicidade desses ciclos integra a antiga sabedoria secreta dos iniciados e é operado astrológica e cabalisticamente.

9. A imagem mágica de Hochma a os símbolos atribuídos a ela confirma essa idéia. A imagem mágica é a de um homem barbado – barbado para indicar maturidade; o pai que provou sua masculinidade, não o homem virgem inexperiente. A linguagem simbólica fala claramente, e o lingam dos hindus e o falo dos gregos são o órgão gerador masculino em seus respectivos idiomas. O pedestal, a torre e o cetro levantado simbolizam o membro viril em sua potência maior.

10. Não devemos pensar, contudo, que Hochma é apenas um símbolo fálico ou sexual. Ela é, antes de mais nada, um símbolo dinâmico ou positivo, pois a masculinidade é uma forma de força dinâmica, assim com a feminilidade é uma forma de força estática, latente ou potencial, inerte até que se lhe comunique o estímulo. O todo é maior do que a parte, a Hochma e Binah são o todo de que o sexo é uma parte. Compreendendo a relação existente entre o sexo e a força polarizante como um todo, descobrimos a chave para a correta compreensão desse aspecto da natureza, a podemos avaliar, no contexto do padrão cósmico, os ensinamentos da psicologia a da moralidade a respeito da sexualidade. Podemos observar também, com os freudianos, os inúmeros símbolos de que se vale a mente subconsciente do homem para representar o sexo, compreendendo, ademais, conforme assinalam os moralistas, o processo de sublimação do instinto sexual. A manifestação é sexual porque ocorre sempre em termos de polaridade; e o sexo é cósmico a espiritual porque suas raízes mergulham nas Três Supremas. Devemos aprender a não dissociar a flor aérea da raiz terrestre, pois a flor que é separada de sua raiz fenece, a suas sementes ficam estéreis, ao passo que a raiz, protegida pela terra-mãe, pode produzir flor após flor a levar o seu fruto à maturidade. A natureza é maior do que a moralidade convencional, que, no mais das vezes, não passa de tabu a totemismo. Felizes sáo os povos cuja moralidade incorpora as leis da natureza, pois suas vidas serão harmoniosas a eles crescerão e, multiplicados, dominarão a Terra. Desgraçados são os povos cuja moralidade é um sistema selvagem de tabus, concebido para incensar uma divindade imaginária como Moloch, pois eles serão estéreis a pecadores; a desgraçados também são os povos cuja moralidade ultraja a santidade dos processos naturais a que, ao arrancarem a flor, não prestam atenção ao fruto, pois seu corpo será doente e o seu Estado, corrupto.

11. Em Hochma , portanto, devemos ver tanto a Palavra criadora que disse “Faça-se a luz” como o lingam de Siva e o falo adorado pelas bacantes. Devemos aprender a reconhecer a força dinâmica, e a reverenciá-la, onde quer que a vejamos, pois seu nome divino é Jehovah Tetragrammaton. Vemo-la na cauda aberta do pavão a na iridescéncia do pescoço do pombo; igualmente, podemos ouvi-la no chamado do gato no cio, e a senti-la no cheiro do bode. Também a encontramos nas aventuras colonizantes das épocas mais viris da história inglesa, especialmente as de Elizabeth a Vitória ambas mulheres! Vemo-la novamente no homem diligente que se esforça em sua profissão para manter o lar. Esses aspectos pertencem todos a Hochma , cujo título adicional é Abba – Pai. Em todas essas manifestações, devemos ver o pai, o progenitor, que dá vida ao não-nascido, assim como o macho que deseja a sua companheira; teremos, assim, uma perspectiva mais autêntica dos assuntos relativos ao sexo. A atitude vitoriana, em sua reação contra a grosseria da Restauração, atingiu praticamente o padrão de tribos muito primitivas, as quais, como nos contam os viajantes, não associam a união dos sexos com o nascimento da prole.

12. Está dito que a cor de Hochma é o cinza; em seus aspectos superiores, cinza-pérola iridescente. Essa cor simboliza o velamento da pura luz branca de Kether, que desce, em sua rota de manifestação, até Binah, cuja cor é o preto.

13.O Chakra Cósmico, ou manifestação física direta de Hochma , é o Zodíaco, que em hebraico se chama Mazloth. Vemos assim que os antigos rabinos compreendiam corretamente o processo da evolução de nosso sistema solar.

14.O Texto Yetzirático atribuído a Hochma é, como de costume, extremamente obscuro em sua formulação; não obstante, podemos extrair dele algumas pistas esclarecedoras. O Segundo Caminho, como se denomina Hochma , chama-se Inteligência Iluminadora. Já nos referimos à Palavra criadora que diz “Faça-se a luz”. Entre os símbolos atribuídos a Hochma no 777 (sistema Malher-Crowley), encontramos o do Manto Intemo da Glória, que é um termo gnóstico. Essas duas idéias, tomádas em conjunto, suscitam a idéia da vida animadora – o espírito iluminador. É a força masculina que, em todos os planos, deposita a centelha fecundante no óvulo passivo e transforma a latência inerte deste no desenvolvimento ativo do crescimento a da evolução. É a força dinámica da vida, que é espírito, que anima a argila da forma física a constitui o Manto Interno da Glória.

15. O Texto Yetzirático confere também a Hochma o título de Coroa da Criação, implicando assim que essa Sephirah, como Kether, é antes extema ao universo manifesto do que imanente a ele. É a força viril de Hochma que dá impulso à manifestação e, por conseguinte, é anterior à própria manifestação. A Voz do Logos clamou “Faça-se a luz” muito antes que as águas e o firmamento fossem separados. Essa idéia se destaca ainda mais na frase do Texto Yetzirático que fala de Hochma como o Esplendor da Unidade, que o iguala, indicando assim claramente a sua afinidade antes com Kether, Unidade, do que com os planos da forma dualística. A palavra esplendor, tal como é aqui empregada, indica claramente uma emanação ou irradiação, a nos ensina a pensar em Hochma mais como a influência emanante do ser puro do que como uma coisa em si. Isso nos leva a uma compreensão mais verdadeira do sexo. Fique bem claro, contudo, que a esfera de Hochma nada tem a ver com os cultos da fertilidade como tais, salvo pelo fato de que é a masculinidade, a força dinámica, que promove a vida primordial a evoca a manifestação. Embora as manifestações superiores e inferiores da força dinãmica sejam da mesma esséncia, elas são de níveis diferentes; Priapo não é idintico a Jehovah. Não obstante, a raiz de Priapo se encontra em Jehovah, e a manifestação de Deus Pai encontra-se em Priapo, como o indica o fato de que os rabinos chamam Hochma de Yod do Tetragrammaton, e o Yod, em sua fraseologia, é idêntico ao fngam.

16. É curioso que a Sepher Yetzirah afirme, a respeito das duas Sephiroth, que elas são exaltadas sobre todas as cabeças – o que é uma contradição; no entanto, como essa afirmação diz respeito a Hochma a Malkuth, poderemos compreender-lhe o significado se meditarmos sobre seu sentido. Hochma é o Pai Supremo, Malkuth é a Mãe Inferior, e o mesmo texto que declara sua exaltação sobre todas as cabeças afirma que ela se senta no trono de Binah, a Mãe Superior, a contraparte negativa de Hochma . Ora, Hochma é a forma mais abstrata da força, a Malkuth é a forma mais densa da matéria, de modo que temos nessa afirmação uma pista de que cada um dos membros desse par de opostos extremos é a manifestação suprema de seu próprio tipo, sendo ambos igualmente sagrados em seus diferentes caminhos.

17. Devemos fazer uma distinçâo entre o rito da fertilidade, o rito da vitalidade e o rito da iluminação ou inspiração, que invoca as línguas de fogo de Pentecostes. O culto da fertilidade visa à reprodução clara a simples, seja dos rebanhos, dos campos ou das esposas; pertence a Yesod, a nada tem a ver com o culto da vitalidade, que pertence a Netzach, a esfera de VênusAfrodite, a que diz respeito a certo ensinamento esotérico muito importante, relativo ao tema das influências vitalizantes a magnéticas que os sexos exercem um sobre o outro a que é distinto do ato sexual, do qual trataremog quando estudarmos Netzach, a esfera de Vênus.

18.O rito de Hochma , se assim podemos chamá-lo, diz respeito ao influxo da energia cósmica. É informe, por ser o impulso puro da criação dinâmica; e, sendo informe, a criação a que dá lugar pode assumir toda e qualquer forma; daí a possibilidade de sublimar a força criativa, desviando-a de seu aspecto puramente priápico.

19. Até onde sei, não existe uma cerimônia mágica formal de qualquer das Trés Supremas. Só podemos entrar em contato com elas participando de sua natureza essencial. Kether, ser puro, é atingido quando alcançamos a compreensão da natureza da existência sem partes, atributos ou dimensões. Essa experiência é apropriadamente chamada de Transe da Aniquilação, a aqueles que a experimentaram caminham com Deus a não mais retomam, pois Deus os arrebata; por conseguinte, a experiência espiritual atribuída a Kether é a União Divina, a aqueles que a experimentam penetram na luz a nela permanecem.

20. Para nos colocarmos em contato com Hochma , temos de experimentar a precipitação da energia cósmica dinâmica em sua forma pura; uma energia tão imensa que o homem mortal nela se funde a se desagrega. Conta-se que, quando Semele, mãe de Dionísio, viu Deus – seu amante divino sob a forma de Zeus -, foi ela crestada a queimada, dando à luz prematuramente o seu filho. A experiência espiritual atribuída a Hochma é a Visão de Deus face a face; a Deus (Jehovah) disse a Moisés: “Não podes contemplar minha face a sobreviver.”

21. Mas, embora a visâo do Pai Divino queime os mortais com Fogo, o Filho Divino pode ser evocado familiarmente por meio dos ritos apropriados – as Bacanálias, no caso do Filho de Zeus, e a Eucaristia, no caso do Filho de Jehovah. Vemos, assim, que existe uma forma inferior de manifestação, que “nos mostra o Pai”, mas esse rito deve sua validade apenas ao fato de que deriva sua Inteligência fuminadora, seu Manto Interno de Glória, do Pai, Hochma .

22. O grau de iniciação correspondente a Hochma é o do Mago, a as armas mágicas atribuídas a esse grau são o falo e o Manto Interno da Glória. Esses símbolos têm um significado microcósmico ou psicológico, assim como um significado macrocósmico ou místico. O Manto Interno da Glória significa seguramente a Luz Interna que ilumina todos os homens que vêm ao mundo – a visão espiritual por meio da qual o místico disceme as coisas espirituais, a forma subjetiva da Inteligência Iluminadora a que se refere o Texto Yetzirático.

23. O falo ou lingam é uma das armas mágicas do iniciado que opera o grau de Hochma . O conhecimento do significado espiritual do sexo a do significado cósmico da polaridade diz respeito a esse grau. Aquele que é capaz de compreender o aspecto mais profundo das coisas místicas a mágicas não pode deixar de perceber o fato de que, na compreensáo desse poder tremendo a misterioso (que chamamos sexo em uma de suas manifestações), reside a chave de muitas coisas. Não é por acaso que as imagens sexuais invadem as visões do vidente, desde o Untico dos Cânticos até O Castelo Interior.

24. Não se deve deduzir do que antecede que advogo ritos orgiásticos como Caminho de Iniciação; mas posso dizer claramente que sem a correta compreensão do aspecto esotérico do sexo o Caminho é um beco sem saída. Freud falou a verdade à sua geração quando apontou o sexo como a chave da psicopatologia; mas ele errou, em minha opinião, quando o transformou na única chave da multiforme alma humana. Assim como não pode haver saúde da subconsciência sem harmonia da vida sexual, não pode haver operação positiva ou dinâmica no plano da superconsciência sem a correspondente compreensão a observação das leis da polaridade. Para muitos místicos que buscam refúgio da matéria no espírito, essas palavras poderáo parecer duras, mas a experiência provará que elas traduzem a verdade; por conseguinte, é preciso dizê-las, embora isso não suscite muitos agradecimentos.

25. O tremendo fluxo descendente da força Hochma evocada por meio do Nome Divino de Quatro Letras vai do Yod macrocósmico ao Yod microcósmico, sendo, então, sublimado. Se a mente subconsciente não estiver livre de dissociações a repressôes, a todas as partes da multiforme natureza humana não estiverem coordenadas a sincronizadas, as reações e os sintomas patológicos serão o resultado desse fluxo descendente. Isso não significa que o invocador de Zeus é necessariamente um adorador de Priapo, mas significa, isto sim, que nenhum homem pode sublimar uma dissociação. Quando o canal está livre de obstruções, a força descendente pode voltear o nadir a transformar-se numa força ascendente, a qual pode ser dirigida para qualquer esfera ou transformar-se no canal que desejarmos; mas, queiramos ou não, essa força assumirá necessariamente a direção descendente antes de tomar-se ascendente e, a menos que os nossos pés estejam firmemente plantados na terra elemental, rebentaremos como velhos odres de vinho.

26. Os ocultistas práticos sabem que Freud falou a verdade, embora não toda a verdade, mas não ousam afirmá-lo, por medo de serem acusados de adoração do falo a de práticas orgiásticas. Essas coisas têm seu lugar, embora não no Templo do Espírito Santo, a negar-lhe o seu lugar é uma loucura pela qual a era vitoriana pagou bem caro com uma rica colheita de psicopatologia.

27. Quando operamos dinamicamente em qualquer plano, nós o fazemos no Pilar Direito da Árvore, derivando nossa energia primária da força Yod de Hochma . A esse respeito, devemos nos referir ao fato de que a correspondência microcósmica de Hochma se estabelece com o lado direito da face. As correspondências macrocósmicas a microcósmicas exercem um papel importante nos trabalhos práticos. O Macrocosmo, ou Grande Homem, é, naturalmente, o próprio universo; e o microcosmo é o homem individual. O homem é o único ser cuja natureza, quádrupla, corresponde exatamente aos níveis do cosmo. Os anjos carecem dos planos inferiores, a os animais carecem dos planos superiores.

28. As referências ao microcosmo não devem ser tomadas literalmente em relação às panes do corpo físico; as correspondências referem-se à aura a às funçôes das correntes magnéticas na aura, a devemos ter sempre em mente, como afirma Swami Vivelcananda, que o que está à direita no macho está à esquerda na fêmea. Além disso, deve-se lembrar que o que é positivo no plano físico é negativo no plano astral; é positivo novamente no piano mental a negativo no plano espiritual, como o indicam as serpentes gêmeas branca a preta do caduceu de Mercúrio. Se colocarmos esse caduceu sobre a Árvore quando pretendermos com ela representar os Quatro Mundos dos cabalistas, formaremos um hieróglifo que revela as operaçôes da lei da polaridade em relação aos pianos. Esse é um hieróglifo muito importante, que fornece aspectos interessantíssimos à meditação.

29. Decorre entáo que, estando a alma numa encarnação feminina, funcionará ela negativamente em Assiah a Briah, mas positivamente em Yetzirah a Atziluth. Em outras palavras, uma mulher é física a mentalmente negativa, mas psíquica a espiritualmente positiva, sucedendo o contrário no homem. Nos iniciados, contudo, há um considerável grau de compensação, pois cada um aprende a técnica tanto dos métodos psiquicos positivos quanto negativos. A Centelha Divina, que é o núcleo de toda alma viva, é, naturalmente, bissexual, contendo as raízes de ambos os aspectos, como ocorre com Kether, à qual corresponde. Nas almas altamente desenvolvidas, o aspecto compensador está desenvolvido pelo menos até certo ponto. A mulher puramente feminina e o homem puramente mascuiino estão hipersexualizados, a julgar pelos padrôes civilizados, a só podem encontrar um lugar apropriado nas sociedades primitivas, onde a fertilidade é a primeira exigência que a sociedade faz às mulheres, e a caça e a guerra são a ocupação constante dos homens.

30. Isso não significa, contudo, que as funções físicas dos sexos estão pervertidas no iniciado, ou que a configuração de seu corpo apresente qualquer modificação. A ciência esotérica ensina que a forma física e o tipo racial que a alma assume em cada encarnação são determinados pelo destino, ou Carma, a que a vida deve ser vivida de acordo com isso. É muito arriscado para nós introduzir mudanças em nosso tipo, racial ou físico, a deveríamos sempre aceitá-to como a base de nossas operaçôes, a escolher nossos métodos de acordo com ele. Há certas operações a certas atividades numa loja para as quais o veículo masculino é mais apropriado do que o feminino e, quando é preciso realizar trabalhos práticos numa cerimônia, os oficiantes são selecionados por seu tipo; mas, quando se trata de realizar os rituais referentes ao treinamento de um iniciado, é costume deixar que cada um se ocupe dos diferentes ofícios para que possam aprender a manipular os diferentes tipos de força e, assim, alcançar o equilibrio.

31. Benjamin Kidd, em seu estimulante livro, Lhe Science of Power, assinala que o tipo superior do ser humano se aproxima ao da criança. Observamos que o tamanho de sua cabeça é relativamente grande em comparação com o peso do corpo, a que as características sexuais secundárias não estão presentes. Encontramos a mesma tendência, de uma forma modificada, no adulto civilizado. O tipo superior de homem não é um gorila hirsuto, nem é o tipo superior de mulher um mamífero exagerado. A tendência da evolução na civilização é para uma aproximação do tipo entre os sexos no que diz respeito às características sexuais secundárias. Que porcentagem de varões civilizados poderia deixar erescer uma barba realmente patriarcal? O caráter sexual primário, contudo, precisa manter-se integralmente ou a raça perecerá rapidamente; a não temos razão alguma para acreditar que esse seja o caso, mesmo entre nossos mais modernos epicenos, que enchem as cortes de divórcio com abundantes evidências de sua transbordante filoprogenitividade.

32. Podemos entender melhor essas coisas se as “colocarmos sob a Ârvore”. Os dois Pilares, o positivo sob Hochma e o negativo sob Binah, correspondem, respectìvamente, ao Ida a ao Pingala dos sistemas da ioga. Essas duas correntes magnéticas, que correm na aura paralelamente à espinha, chamam-se correntes do Sol a da Lua. Numa encarnação masculina, trabalhamos predominantemente com a corrente do Sol, a fertilizadora; numa encarnação feminina, trabalhamos predominantemente com as forças da Lua. Se desejamos operar com o tipo de força oposto àquele com que somos naturalmente dotados, temos de fazê-to utilizando nosso modo natural como base de operação e, por assim dizer, fazê-to “por tabela”. O homem que deseja utiiizar as forças da Lua emprega algum artifício que lhe possibilite obter, por reflexo, a força lunar; e a mulher que deseja utilizar as forças solares emprega um artifício pelo qual é capaz de focalizá-las em si mesma a refleti-las. No plano físico, os sexos se unem, e o homem gera um filho na mulher, aproveitando-se dos poderes liuiares de que esta dispõe. A mulher, por outro lado, desejando a criação a sendo incapaz de realizá-la por si própria, seduz o homem por meio de seus desejos, até que este lhe derrame sua força solar, fecundando-a.

33. Nas operações mágicas, o homem e a mulher que deseja operar com a força oposta à de seu veículo físico (e essa operação é parte integrante da rotina do treinamento oculto) eleva o nível de consciência para o piano no qual se acha a polaridade necessária a passa a operar desse plano. O sacerdote de Osíris emprega às vezes os espíritos elementais para suplementar sua polaridade, e a sacerdotisa de Ísis invoca as influências angélicas.

34. Como toda manifestação se produz por meio dos pares de opostos, o princípio da polaridade está implícito não apenas no macrocosmo, mas também no microcosmo. Compreendendo tal princípio a sabendo aproveitar as possibilidades por ele concedidas, seremos capazes de elevar nossos poderes naturais a um nível muito acima do normal; poderemos utilizar o meio ambiente como uma rampa de empuxo, descobrindo a poderosa força de Hochma nos livros, em nossa tradiçáo racial, em nossa religião, em nossos amigos a colegas; poderemos receber de todos eles o estímulo que nos fecunda a nos toma mental, emocional a dinamicamente criativos. Fazemos o nosso meio ambiente exercer o papel de Hochma para nosso Binah. Da mesma maneira, podemos exercer o papel de Hochma para o Binah do meio ambiente. Nos planos sutis, a polaridade não é fixa, mas relativa; o que é mais poderoso do que nós é positivo para nós, tomando-nos comparativamente negativo; o que é menos poderoso do que somos em qualquer aspecto é negativo para nós, a podemos assumir comparativamente o papel positivo. Essa polaridade fluídica, sutil a flutuante constitui um dos aspectos mais importantes dos trabalhos práticos; se a compreendermos a formos capazes de aproveitá-la, poderemos fazer coisas notáveis, estabelecendo nossas vidas a nossas relações com nosso meio ambiente em bases completamente diferentes.

35. Devemos aprender a discernir quando podemos funcionar como Hochma a produzir feitos no mundo; a quando podemos atuar melhor como Binah, a fazer o nosso meio ambiente fertilizar-nos, de modo a nos tomarmos produtivos. Jamais devemos esquecer que a autofertilização envolve a esterilidade em poucas gerações, a que precisamos sempre ser fertilizados pelo meio no qual estamos trabalhando. É preciso haver um intercâmbio de polaridade entre nós a tudo o que nos propomos a fazer, a devemos estar sempre alerta para descobrir as influências polarizantes, seja na tradição, ou nos livros, seja nos colegas que operam no mesmo campo, ou mesmo na própria oposição a antagonismo dos inimigos; pois há tanta força polarizante num ódio sincero quanto no amor, quando sabemos utilizá-la. Precisamos ter estímulos se desejamos criar alguma coisa, mesmo que esta se resuma a viver uma vida útil. Hochma é o estímulo cósmico. Tudo que estimula é atribuído a Hochma , na classificação da Árvore. Os sedativos são atribuídos a Binah. Compreenderemos melhor esse princípio de polaridade cósmica quando estudarmos Binah, a Terceira Sephirah, pois é muito difícil compreender as implicações de Hochma sem as relacionar ao seu oposto polarizante, com o qual ela sempre funciona. Por conseguinte, não prosseguiremos nosso estudo da polaridade no presente capítulo, concluindo nosso exame de Hochma com o estudo das cartas que lhe são atribuídas no Tarô. Retomaremos nossa investigação sobre esse tema tão significativo quando Binah nos proporcionar mais dados.

36. Como observamos no capítulo sobre Kether, os quatro naipes do baralho do Tarô são atribuídos aos quatro elementos, a vimos que os quatro ases representavam as raízes dos poderes desses elementos. Os quatro dois são atribuídos a Hochma , a representam o funcionamento polarizado desses elementos em equilíbrio harmônico; por conseguinte, um dois é sempre uma carta de harmonia.

37.O Dois de Paus, que é atribuído ao elemento Fogo, chama-se Senhor do Domínio. O pau é essencialmente um símbolo fálico masculino, e é atribuído a Hochma ah, de modo que podemos interpretar essa carta como referência à polarização – o positivo que encontrou seu parceiro no negativo a está em equilíbrio. Não há antagonismo ou resistência ao Senhor do Domínio, a um reino contente aceita o seu governo; Binah, satisfeita, aceita seu parceiro.

38.O Dois de Copas (Agua) chama se Senhor do Amor; temos aqui, novamente, o conceito da polarização harmoniosa.

39. O Dois de Espadas (Ar) chama-se Senhor da Paz Restaurada, indicando que a força destrutiva das espadas está em equilíbrio temporário.

40.O Dois de Ouros (Terra) chama-se Senhor da Mudança Harmoniosa. Aqui, como nas Espadas, vemos a natureza essencial da força elemental modificada por seu oposto polarizante, indicando, assim, o equilíbrio. A força destrutiva de Espadas retoma à paz, e a inércia e a resistência da Terra tomam-se, quando polarizadas pela influência de Hochma , um ritmo equilibrado.

41. Essas quatro cartas indicam a força Hochma na polaridade, isto é, o equilíbrio essencial do poder, tal como este se manifesta nos Quatro Mundos dos cabalistas. Quando surgem na adivinhação, elas indicam poder em equilíbrio. Não traduzem, porém, uma força dinâmica, como se poderia esperar em relação a Hochma , pois Hochma , sendo uma das Sephiroth Supremas, apresenta força positiva nos planos sutis e, conseqüentemente, nos planos da forma. O aspecto negativo de uma força dinâmica é representado pelo equilíbrio – polaridade. O aspecto negativo de um poder negativo é representado pela destruição, como podemos observar no hieróglifo de Kali, a terrível consorte de Siva, cingida de crânios a dançando sobre o corpo de seu esposo.

42. Esse conceito dá-nos uma chave para outro dos muitos problemas da Árvore – a polaridade relativa das Sephiroth. Como já se observou anteriormente, cada Sephirah é negativa em sua relação com a Sephirah que lhe é superior a da qual recebe o influxo das emanações, a positiva em relação àquela que lhe é inferior, que procede dela, a em relação à qual representa o papel de emanadora. Alguns dos pares de Sephiroth têm, contudo, uma natureza mais definitivamente positiva ou mais definitivamente negativa. Por exemplo, Cholanah é Positiva positiva a Binah é Negativa positiva. Chesed é Positiva negativa, a Binah Negativa negativa. Netzach (Vênus) a Hod (Mercúrio) são hermafroditas. Yesod (Lua) é Negativa positiva a Malkuth (Terra) é Negativa negativa. Nem Kether nem Tiphareth são predominantemente masculinas ou femininas. Em Kether, os pares de opostos estão em estado de Iatência a ainda não se manifestaram; em Tiphareth, eles estão em perfeito equilíbrio.

43. Há dois meios pelos quais a transmutação pode ser efetuada na Árvore; a esses são indicados por dois dos hieróglifos que se superpôem sobre os Sephiroth; um deles é o feróglifo dos Trés Pilares, e o outro é o Hieróglifo do Relâmpago Brilhante. Os Pilares já foram descritos; o Relâmpago Brilhante indica simplesmente a ordem de emanação das Sephiroth, que ziguezagueia de Hochma a Binah a de Binah a Chesed, para a frente a para trás, através da Árvore. Se a transmutação ocorre de acordo com o Relâmpago Brilhante, a força altera seu tipo; se ocorre de acordo com os Pilares, ela permanece do mesmo tipo, mas num arco superior ou inferior, de acordo com o caso.

44. Esse ponto pode parecer muito complexo~ a abstrato, mas os exemplos servirão para demonstrar-lhe a simplicidade e a praticidade, quando o compreendemos bem. Tomemos o problema da sublimação da força sexual, que tanto preocupa os psicoterapeutas, e a respeito do qual, embora falando muito, eles dizem tão pouco. Em Malkuth, que no microcosmo é o corpo físico, a força do sexo se expressa em termos de óvulo a espermatozóide; em Yesod, que é o duplo etéreo, ela se expressa em termos de força magnética, a respeito da qual nada sabe a psicologia ortodoxa, mas sobre a qual temos muito a dizer sob o cabeçalho da Sephirah correspondente. Hod e Netzach estão no plano astral; em Hod a força do sexo se expressa em imagens visuais e, em Netzach, num tipo diverso de magnetismo, mais sutil, popularmente referido como “aquele algo”. Em Tiphareth, o Centro Cristológico, a força torna-se inspiração espiritual, iluminação, influxo oriundo da consciência superior. Se é de tipo positivo, ela se toma inspiração dionísica, inebriação divina; se é negativa, toma-se o amor cristão impessoal a harmonizador.

45. Quando a transmutação é óperada nos Pilares, ficamos impressionados com a verdade da irônica frase francesa Plus ça change, plus c’est la Wme chose. Hochma , dinamismo puro, estímulo puro sem expressão formada, toma-se, em Chesed, o aspecto edificador a organizador da evolução; anabolismo, em oposição ao catabolismo de Geburah. Em Chesed, a força Hochma toma-se essa forma peculiarmente sutil de magnetismo que concede o poder de liderança e é a raiz da grandeza. Assim também, no Pilar Esquerdo, a força restritiva de Binah toma-se a força destrutiva de Geburah, e novamente a produtora de imagens mágicas, Mercúrio-Hermes-Thoth.

46. De tempos em tempos, os símbolos da ciência oculta transpiraram para o conhecimento popular, mas o não-iniciado não compreendeu o método de dispor esses símbolos num padrão como o da Árvore, nem soube aplicar-lhe os princípios alquímicos da transmutação a destilação, que é onde residem os segredos reais de sua utilização.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/hochma

De médicos e loucos

» Parte 2 da série “Para ser um médium” ver a introdução | ver parte 1

Para saber o que é loucura, a gente tem que entender o que é ser normal. E isso ninguém conseguiu definir até hoje. Mas, uma coisa é certa, um pouco de maluquice faz parte da normalidade e ser normal demais é o mesmo que ser muito louco. (Psicologia UERJ) [1]

A esquizofrenia é um transtorno psíquico severo que se caracteriza pelos seguintes sintomas: alterações do pensamento, alucinações, delírios e distúrbios no contato com a realidade. É hoje encarada não como doença, no sentido clássico do termo, mas sim como um transtorno mental, podendo atingir diversos tipos de pessoas, sem exclusão de grupos ou classes sociais. De acordo com algumas estatísticas, a esquizofrenia atinge 1% da população mundial.

Quando aqueles que se sentem escandalizados com o fato da mediunidade ser praticada até hoje são céticos quanto à existência de deuses e demônios, eles invariavelmente costumam resumir a questão com um comentário do tipo: “sim, mediunidade existe, e é loucura, esquizofrenia, mas tem tratamento!”. Você pode ficar especialmente chateado por ser chamado de louco, e até mesmo entrar numa discussão inútil, mas existe uma outra questão que estará ignorando: E o que é exatamente “ser louco”? O que é “ser esquizofrênico”?

A esquizofrenia como entidade de diagnóstico tem sido criticada como desprovida de validade científica ou confiabilidade e é parte de críticas mais amplas à validade dos psicodiagnósticos em geral. Uma alternativa sugere que os problemas com o diagnóstico seriam melhor atendidos como dimensões individuais ao longo das quais todos variam, de tal forma que haveria um espectro contínuo em vez de um corte entre normal e doente… Para alguns produtores de pornografia, ou criadores de comerciais de cerveja, podemos talvez separar a população entre jovens e velhos: “jovens” seriam todos aqueles com menos de 25 anos, “velhos” seriam os demais. Esta visão radical obviamente não condiz com a realidade, e o mesmo poderia ser dito da esquizofrenia e da loucura – não é a questão de dizermos “este é louco, aquele é são”, mas sim de analisarmos as patologias psíquicas uma a uma, tentando tratar das que são prejudiciais ao convívio social.

Taxar alguém de esquizofrênico ou louco pode ser também um julgamento político. Particularmente na antiga Rússia comunista este diagnóstico foi utilizado com a finalidade de silenciar os dissidentes políticos ou forçá-los a desistir de suas ideias através da utilização forçada de confinamento e tratamento. Em 2000, houve preocupações semelhantes quanto à detenção e “tratamento” de praticantes do movimento religioso Falun Gong pelo governo chinês. Se pensarmos em médiuns ativos e equilibrados, me parece óbvio que julgá-los loucos é também uma espécie de “julgamento político” – assim alguns céticos evitam ter de pensar muito no assunto.

Desde 2009, pesquisadores da UFJF analisam cerca de 100 médiuns de Juiz de Fora para listar critérios para um diagnóstico que diferencie experiências espirituais saudáveis de transtornos mentais, como os psicóticos, pois os dois estados podem se confundir, afirmam pesquisadores. Outro estudo captou imagens do cérebro de médiuns quando psicografavam e quando escreviam um texto de sua autoria, para avaliar quais áreas são ativadas nessa parte do organismo. Já uma pesquisa, finalizada, concluiu que as ocorrências mediúnicas não implicam necessariamente em esquizofrenia: “Se a pessoa diz que está vendo vultos, será que é uma experiência espiritual não patológica ou alucinação, indicando um transtorno mental?”, questiona o professor da UFJF, Adair Menezes Júnior.

Se as imagens da atividade cerebral indicam que médiuns quando em transe apresentam características muito semelhantes a dos esquizofrênicos, isso nada nos diz sobre a capacidade do médium de controlar este transe, de “entrar e sair da loucura” como quem entra e sai de casa. Na verdade, tais estudos genuinamente científicos com eletroencefalogramas (EEGs) e outras ferramentas de scanning cerebral são muito interessantes e promissores, pois desde muito cedo já identificaram dois fatos que muitos médiuns já sabiam, mas alguns céticos não: (1) a grande maioria dos médiuns não está fingindo, dentro de seus cérebros “coisas estranhas” realmente ocorrem; (2) a mediunidade não é doença mental, pois se os médiuns “ligam e desligam” seus transes de forma consciente, isso em nada interfere em seu convívio social e equilíbrio mental geral – de fato, tais pesquisas indicam que os médiuns em geral são mais equilibrados do que a média da população.

O Dr. Sergio Felipe de Oliveira, psiquiatra com mestrado na USP que vem estudando a mediunidade há anos [2], talvez tenha resumido essa questão da melhor forma: “Na doença mental, o paciente não tem crítica da razão; no transe mediúnico, ele tem essa crítica. Quando o médium diz que incorporou tal entidade espiritual, mas que ele, médium, continua sendo determinada pessoa, ele usou a crítica, julgou racionalmente o que aconteceu. Agora, um indivíduo que diz ser Napoleão Bonaparte? Aí ele perdeu a crítica da razão. Essa é a diferença. O que não quer dizer que o indivíduo que esteja em psicose não possa estar em transe também. A mediunidade se instala no indivíduo são, ou pode dar uma dimensão muito maior a uma doença. A mediunidade sempre vai dar um efeito superlativo. Se a pessoa alimenta bons sentimentos, ela cresce. Se ela tem uma doença, aquela doença pode ficar fora de controle”.

Esse tipo de abordagem é interessante para os médiuns porque é sempre importante considerar que nossa sensibilidade é mais aflorada do que a das demais pessoas – podemos dizer que ser médium é essencialmente sentir mais do que os outros, de acordo com as capacidades da mediunidade de cada um. Porém, se “abrimos nossa mediunidade” há todo momento e em qualquer lugar, estamos nos arriscando… É como andar com um rádio ligado tentando sintonizar diversas estações ao mesmo tempo, uma após a outra, sem muito controle, sem muito cuidado: às vezes vamos ouvir música boa, muitas vezes vamos ouvir algo de que não gostamos.

Muitos médiuns procuram centros espíritas ou terreiros de umbanda não exatamente por curiosidade ou por vontade de auxiliar nos trabalhos da casa, mas simplesmente porque estão desesperados, desequilibrados, aturdidos, prestes a entrar em colapso mental… Nesses casos, a pior coisa que um dirigente pode dizer é: “não se preocupe, isso é mediunidade, com o trabalho na casa vai passar rapidinho”. Não! Não vai passar rapidinho, e pode até piorar… Pois a mediunidade é uma atividade sagrada de contato com as forças espirituais que preenchem toda a natureza, algo tão antigo quanto às primeiras tribos e os primeiros xamãs. Mas os xamãs não eram pessoas desequilibradas e desesperadas, eles eram, pelo contrário, os mais equilibrados e sábios, e exatamente por isso que tinham a oportunidade de guiar sua tribo nos assuntos espirituais. Ainda que um centro espírita esteja desesperadamente precisando de médiuns ativos, aceitar qualquer ser angustiado que bata a porta como “trabalhador da casa”, da noite para o dia, só vai agravar ainda mais a situação.

O primeiro espírito que um médium precisa aprender a incorporar é o seu próprio. Precisa estar equilibrado, no mínimo, para poder exercer sua mediunidade de forma sadia. Não estou querendo dizer que um médium precise ser muito normal, pois como vimos ser muito normal pode ser a mesma coisa que ser muito louco – mas precisa pelo menos tomar posse de seus sentimentos, pensamentos, intuições. Nem que seja apenas para saber diferenciar melhor as informações que vem de dentro, das que vem de fora.

No mais, aqueles seres angustiados que procuraram a casa espírita ou espiritualista pela dor, e não pelo amor, não são irrecuperáveis, pelo contrário: muitos dos grandes médiuns começaram assim. Mas precisam primeiro se tratar, inclusive na medicina tradicional, inclusive tomando remédios, caso necessário. E, paralelamente, irem estudando a doutrina que pretendem seguir: sejam livros de Allan Kardec, sejam livros de Umbanda Sagrada, sejam livros espiritualistas em geral. Quanto mais conhecimento, mais poderão compreender o que se passa em seu interior, particularmente durante os transes. Nesse sentido o trabalho nas casas espiritualistas pode servir de um excelente complemento terapêutico para o tratamento de distúrbios mentais, desde que se desenvolvam gradualmente, sem procurarem ser “grandes médiuns” em alguns meses [3].

Diz o ditado popular que de médico e louco, todos têm um pouco. Talvez por isso mesmo todos sejam médiuns. Em maior ou menor grau, com a sensibilidade desperta ou ainda sonolenta, com compreensão ou sem compreensão, com muitas ou poucas dúvidas, todos nós somos um pouco loucos. Todos às vezes captamos pensamentos, belos ou obscuros, que parecem ter vindo com o vento, a escorar pelo ombro – e não adianta nos virarmos para tentar identificar para onde foram: se perderam com as brisas. Mesmo assim, por vezes captamos tais pensamentos, de início fragmentados mas, caso queiramos realmente desenvolver tais sentidos ocultos, dia virá que os perceberemos de forma cada vez mais clara.

Então faltará sermos também médicos. Faltará auxiliar aos outros a curar suas dores e angústias através de uma poderosa corrente de amor. Faltará converter nossa loucura em luz.

» A seguir, as diversas formas de manifestação da mediunidade…

***

[1] Li este texto em uma imagem que circulava nas redes sociais anos atrás. O texto estava em um cartaz no centro acadêmico de psicologia da UERJ.

[2] Sua pesquisa, genuinamente científica e objetiva, procura associar o número elevado de cristais de apatita encontrados na glândula pineal dos pacientes a um grau mais elevado de mediunidade. Segundo este promissor estudo, os cristais da pineal podem ser receptores e emissores de ondas eletromagnéticas, e esta poderia ser a via pela qual a troca de informações com espíritos “de fora” ocorre. O Dr. Sergio pode comprovar que Descartes estava errado – a pineal não é a sede do espírito no corpo –, mas nem tão errado assim.

[3] Suspeite de qualquer um que lhe diga que a mediunidade se desenvolve “rapidinho”. Na verdade, um médium só se torna plenamente equilibrado e de posse das próprias capacidades após muitos e muitos anos. Uns 10 a 15 anos não seria um cálculo muito distante da média.

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Crédito da imagem: CJ Burton/Corbis

O Textos para Reflexão é um blog que fala sobre espiritualidade, filosofia, ciência e religião. Da autoria de Rafael Arrais (raph.com.br). Também faz parte do Projeto Mayhem.

Ad infinitum

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A Bipolaridade do Mundo e do Homem

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“Tudo é duplo, tudo tem dois polos, tudo tem o seu oposto.”  (Lei da Polaridade) 

Átomos e astros se movem em elipses bicêntricas – não existe no Universo um único círculo unicêntrico.

A eletricidade só se manifesta como luz, calor e força, graças à sua bipolaridade positiva e negativa.

Toda a vida superior da terra está baseada na bipolaridade dos elementos masculino e feminino.

Esses dois polos da natureza são rigorosamente equilibrados e funcionam em perfeita harmonia.

De modo análogo, é o Universo hominal governado pela bipolaridade da natureza humana, que a Filosofia e a Psicologia modernas denominam o Eu e o ego.

A Filosofia multimilenar do Oriente chama o Eu Atman e o ego Aham.

Os livros sacros do cristianismo usam os termos Alma ou espírito divino para designar o Eu central do homem, e a expressão corpo ou mundo para significar as periferias da natureza humana.

“Que aproveita o homem ganhar o mundo inteiro se chegar a sofrer prejuízo em sua própria alma”? (o Cristo, Eu)

“Eu te darei todos os reinos do mundo e sua glória, se te prostrares em terra e me adorares”. (o Anticristo, ego)

O Eu corresponde ao Uni do Universo, e o ego ao elemento Verso.

O homem perfeito e integralmente realizado estabeleceu perfeito equilíbrio entre o seu Uno (Eu) e seu Verso (ego).

O homem profano só cultiva o seu ego, atrofiando o Eu. Alguns místicos tentam realizar somente o Eu sem o ego.

O homem cósmico, univérsico, porém, realiza o seu Eu através do seu ego, porque sabe que o Eu ou Uno é Fonte, e o ego ou Verso é canal, pelo qual as águas vivas da nascente fluem e beneficiam a sua vida.

A ciência tem por objeto as leis da natureza externa. A sapiência ou filosofia visa ao conhecimento e à realização do homem interno.

A ciência é cosmo-cêntrica.

A filosofia é antropo-cêntrica.

O aperfeiçoamento do Eu ou da alma humana é o fim supremo da vida – e essa realização se faz através do ego, cujos elementos são o corpo, a mente e as emoções.

Sendo que a evolução do homem começa pela periferia e vai rumo ao centro, os grandes Mestres da humanidade insistem sobretudo no desenvolvimento do Eu ou da alma humana, a fim de evitarem a hipertrofia unilateral do ego e a atrofia do Eu.

O homem perfeito é o homem cósmico ou universificado, que estabeleceu perfeito equilíbrio e harmonia entre os dois polos interno e externo. É este o fim supremo de toda a educação verdadeira.

O educador deve eduzir de dentro do educando, e desenvolver o Eu dele, a fim de equilibrá-lo com seu ego.

Huberto Rohden, Filosofia Univérsica: Sua origem, natureza e finalidade. 

#hermetismo #Rohden #Universalismo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/a-bipolaridade-do-mundo-e-do-homem

Analisando um Mapa Astral

Uma das minhas maiores broncas com os que acreditam que não existe nada além do físico e suas “experiências refutando a Astrologia” é que a imensa maioria das experiências feitas até hoje que já caíram nas minhas mãos (e não foram poucas) caem nos seguintes quesitos:

1) usam apenas o “Signo” das pessoas para avaliar os resultados ou

2) pegam uns astrólogos e tentam fazer com que eles “adivinhem” alguma coisa a partir de um mapa e algumas vítimas ou façam “previsões” sobre algum assunto.

Não é de se estranhar que nada dá certo nunca. Ou estes experimentos apenas reforçam o que eu já expliquei em várias colunas: que o que vendem por ai hoje com o nome de “Astrologia” é puro LIXO.

Mas não posso culpar os céticos de verdade e as pessoas inteligentes. Eu mesmo, dez anos atrás, fui fazer um curso de Astrologia com um dos maiores astrólogos do país, Frank Avabash, com esse preconceito. Na época, ele devia ter uns 25 anos de experiência com Astrologia e eu estava totalmente convencido que seria uma furada. Mas me enganei. A Astrologia Hermética (aquela que Isaac Newton, Galileu Galilei, Kepler, Tycho Brache, John Dee, Max Heindel, Fernando Pessoa, Winston Churchill e Hitler estudavam) não lembra nem de longe o que os profanos chamam de “astrologia”.

Então, afinal de contas, o que é Astrologia?

Para começar, falaremos sobre o que se entende por “astrologia” no mundo profano: segundo os horóscopos, os humanos são divididos em 12 castas estereotipadas chamadas “signos”. Todo dia no jornal sai o “horóscopo” que é o que vai acontecer com 1/12 da população do mundo naquele dia e volta e meia algum picareta vai na TV fazer “previsões” que nunca se concretizam…

Isso é o que as pessoas pensam que seja Astrologia.

Bem… agora vamos falar sobre Astrologia de Verdade.

Um Mapa Astral, ou Carta Natal, é uma representação geométrica e simbólica do céu no exato momento do nascimento de qualquer coisa no Planeta. Uma pessoa, um objeto, um contrato, um ritual… Nenhum dos planetas “influencia” nada. Muito menos a “atração gravitacional” ou “energias emanadas” deles, como eu já vi céticos afirmarem.

As posições dos Planetas atuam apenas como mostradores; ponteiros invisíveis de um relógio astral, movimentando-se em sincronicidade com os acontecimentos em cada planeta. Tudo o que está em cima é semelhante ao que está em baixo. E o que realmente conta na confecção de um Mapa Astral é a angulação que eles fazem com o horizonte. Para alguém totalmente materialista, não parece mesmo fazer sentido… é como se alguém da segunda dimensão desse de cara com uma esfera atravessando o plano… na visão deles, o máximo que poderiam compreender seria o círculo aumentando e diminuindo de raio, mas não conseguiriam explicar o que está acontecendo porque não possuem o conhecimento da terceira dimensão. O mesmo ocorre no exemplo acima. A explicação para o por quê a astrologia Funciona está em um plano que a ciência ortodoxa AINDA não consegue explicar.

O cálculo exato das efemérides e a posição exata dos planetas no Mapa é de vital importância para a ciência da Astrologia. Por esta razão, em seu nascimento, Astrólogos e Astrônomos eram uma profissão apenas.

Mas tio, e as Constelações?

Constelações não servem para nada no cálculo de Mapas. São apenas REFERÊNCIAS simbólicas que os antigos encontraram para explicar para as pessoas algo que é extremamente difícil descrever apenas com palavras. Se fomos avaliar diferentes métodos astrológicos (astrologia chinesa, védica, asteca, etc) veremos que, apesar de cada uma delas dar NOMES DIFERENTES para casa signo, as descrições de cada período temporal em relação ao comportamento dos indivíduos é rigorosamente o mesmo. Mudam apenas a referência. Em um horóscopo são animais, em outro são deuses, no terceiro constelações, em outro constelações diferentes e assim por diante…

Esta é uma das “refutações” que mais vejo entre os céticos: de que se a Astrologia fosse una, todas as Astrologias seriam iguais. Só que elas SÂO iguais… onde em uma cultura o signo é chamado de “touro”, em outra é chamado de “urso” e em outra de “elefante”. São símbolos que expressam uma mesma idéia, apenas culturalmente diferentes.

As próprias “constelações” não fazem sentido, quando agrupadas em um universo 3D. Peguemos, por exemplo, a constelação de Libra: alfa de Libra (Zubenelgenubi) está a 77 anos luz. Beta de Libra (Lanx Australlis) está a 160 anos-luz, gama de Libra está a 150 anos-luz e sigma de Libra (Brachium) está a 300 anos-luz… ou seja, elas não tem NADA em comum para serem agrupadas “próximas”.

Mas elas serviam como símbolos para contar histórias e fazer com que os cientistas primitivos fossem capazes de entender os conceitos abstratos que regem a psicologia.

Além disso, devido à precessão dos equinócios, o Sol atualmente cruza as constelações de Áries de 18 de abril a 12 de maio, Touro de 13 de maio a 20 de junho, Gêmeos de 21 de junho a 19 de julho, Câncer de 20 de julho a 9 de agosto, Leão de 10 de agosto a 15 de setembro, Virgem de 16 de setembro a 30 de outubro, Libra de 31 de outubro a 22 de novembro, Escorpião de 23 de novembro a 28 de novembro, Ofiúco de 29 de novembro a 16 de dezembro, Sagitário de 17 de dezembro a 18 de janeiro, Capricórnio de 19 de janeiro a 15 de fevereiro, Aquário de 16 de fevereiro a 11 de março e Peixes de 12 de março a 17 de abril (e não riam… já vi astrólogos esquisotéricos querendo “reformular” os signos baseado nessas bullshits).

Ou seja, outros céticos usam isso como desculpa para “refutar” a Astrologia, alegando que graças à precessão dos Equinócios, o signo que você pensa que possui não é o verdadeiro signo que deveria ter e assim por diante…

Retornando aos planetas

Na “astrologia” que as pessoas conhecem, existem 12 tipos de signos/pessoas… ou 144 tipos de pessoas (12×12) se você for legal e contar o ascendente.

Na Astrologia Hermética, temos 10 planetas (o nome Planeta vem de “viajante”, ou os “astros que caminham no céu”, por isso consideramos o Sol, a Lua e Plutão como planetas) mas, na realidade, são apenas os ponteiros do Sistema solar que contam.

O círculo do Zodíaco possui 360 graus. Sabendo que Mercúrio, pela posição relativa do sol em relação à Terra nunca estará mais do que 28 graus afastado do sol e Vênus nunca estará mais do que 46 graus afastado do sol, temos então:

360 (sol) x 56 (mercúrio) x 92 (Vênus) x 360 (terra/ascendente) x 360 (marte) x 360 (júpiter) x 360 (saturno) x 360 (urano) x 360 (netuno) x 360 (plutão) x 360 (lua) Mapas Astrais diferentes! Fazendo as contas, temos: 1,45344 E+24, ou seja,

1,453.440.000.000.000.000.000.000 de possibilidades diferentes. Um SETILHÃO de combinações possíveis, se levarmos em conta 1 grau de precisão. A conta inclui os 360 graus do sol por causa das CASAS. Se quisermos “facilitar” e considerarmos apenas as combinações dos 12 signos com os 10 planetas, teremos 61.917.364.224 tipos de Mapas diferentes (ou 61 BILHÕES de combinações).

Complexo, não? Mas se a biologia ou a astrofísica podem chegar a complexidades matemáticas absurdas, porque insistem em manter a astrologia presa no século XVIII?

Simbolicamente, cada Planeta reflete um aspecto da Árvore da Vida dentro de cada pessoa. Para compreender a Astrologia, então, é necessário um conhecimento da Kabbalah (não a judaica, mas a estrutura que originou tanto a Kabbalah judaica quanto a hermética) e o que cada sephira representa dentro do Mapa de Estados de Consciência Humana (ou seja, o Astrólogo também precisa estudar a fundo psicologia e simbologia). E aqui começa o real problema da Astrologia: VOCABULÁRIO.

O vocabulário humano é extremamente limitado. Vamos a um exemplo simples: Você conseguiria descrever em palavras o amor que sente por sua mãe? E por seu pai? E por sua esposa/esposo? Por sua/seu amante? Pelo seu/sua filho mais velho? É o mesmo amor que o do filho caçula? E o amor que você sente pelos seus colegas de exército? Seu time de futebol? O amor-compaixão que sente por um mendigo pedindo esmola? o amor-piedade que sente por uma criança espancada? o amor-ódio que sente pela ex-namorada/o ? Não há nenhum degradê entre estas formas de “amor”?

Certamente que quando você diz “eu amo minha esposa” e “eu amo meu time de futebol”, “eu amo meus amigos torcedores” e “eu amo batata frita” há diferenças enormes de significado.

Talvez um poeta conseguisse “traduzir” estes sentimentos em poemas enormes; colocar em palavras os nobres sentimentos humanos… textos longos, rebuscados, melodias singelas, pinturas… ainda assim não conseguiria chegar ao ponto exato.

Se o olho humano pode distinguir 10 milhões de cores diferentes, por que não temos um nome diferente para cada uma delas? E para cada um dos sentimentos/emoções?

Estão conseguindo chegar ao cerne do problema?

Se a astrologia tivesse avançado como as outras ciências, ao invés de ter sido expulsa das universidades pela IGREJA (e não por ser uma “pseudo-ciência” como a maioria dos céticos gosta de afirmar), talvez teríamos hoje um código para o Mapa de cada pessoa semelhante ao código genético ou ao código Pantone, com letras e números; e computadores buscando similaridades comportamentais, ao invés de astrólogos se matando para explicar sentimentos com palavras.

Queria ver se o Richard Dawkins tivesse de dar nomes simbólicos ou fazer poemas para cada código genético que encontrasse…

O Mapa Astral, então, é um perfeito mapa vocacional que mostra onde estão suas facilidades e dificuldades, a maneira como você pensa, sente, briga, transa, intui, aprende… mostra o que te agrada e o que te incomoda; mostra os vícios que você tem e às vezes nem sabe por quê. Mostra suas virtudes e os seus defeitos.

O que o Astrólogo faz é analisar um mapa e tentar achar palavras que se encaixem com cada uma destas combinações em suas diversas matizes. Quando falamos “seu Marte está em Gêmeos”, estamos usando um código que simplifica MUITO, mas MUITO mesmo o que realmente estamos vendo naquele código… é como falar “sua camisa é azul”. Azul o que? Azul royal? azul royal bebê? azul royal bebê fúcsia? azul royal bebê fúcsia prussiano do inverno do rio Volga?

Um Astrólogo está limitado pelo seu próprio vocabulário e pelo seu conhecimento da astrologia e simbolismo; também está limitado pelo seu próprio mapa astral. Um astrólogo cujo próprio mapa tenha muitos planetas em virgem fará uma interpretação de um mapa de outra pessoa bem diferente de um astrólogo com muitos planetas em peixes… mesmo que os dois tenham entendido as nuances de maneira iguais,

certamente se expressarão de maneira diferente, com palavras diferentes. Os céticos adoram pegar estas diferenças para alegar “que os astrólogos não falam a mesma língua nas mesmas interpretações”.

E nessa “subjetividade” acabam as chances da Astrologia de se enquadrar nas ditas ciências ortodoxas… imagine a dificuldade que os geneticistas teriam se precisassem ficar dando nomes e descrições para cada um dos 27.000 genes humanos baseado em sua interpretação pessoal…

Desta forma, o que os Astrólogos fazem é compilar em tabelas palavras, símbolos e descrições que mais se encaixam àquela determinada matiz energética (novamente, usando vocabulário de acordo com seu próprio entendimento). O que eu acho “teimoso” como um adjetivo depreciativo, você pode achar que é um elogio relacionado com “obstinação”, por exemplo! Uma pessoa “curiosa” é um elogio ou é uma pessoa frívola?

E assim caímos nas brechas para as astrologias esquisotéricas… tentando rotular e simplificar ao máximo, chegam e dizem “todo virginiano é discreto, gosta de organização e limpeza”. Não é necessariamente verdade. Boa parte deles possui estas características, mas isso não define absolutamente nada em alguém… para vocês terem uma idéia, um Mapa bem feito não tem menos do que 15-20 páginas de texto sobre a pessoa.

Conhece a ti mesmo

E como se todas estas dificuldades não bastassem, também há o livre-arbítrio. Uma pessoa que tenha, por exemplo, “Mercúrio em Gêmeos” terá uma facilidade muito maior que a média de lidar com palavras… ela terá facilidade bem maior do que outras pessoas se desejar tornar-se escritor, jornalista, repórter, contador de casos… ou um grande fofoqueiro… ou um grande mentiroso, ou combinações destes adjetivos. A habilidade de manipular bem as palavras não implica necessariamente que você as usará para o bem. E nas facilidades que estão as tentações.

Não temos como distinguir no mapa um grande repórter de um hábil mentiroso. Podemos dizer “fulano tem facilidade para lidar com palavras” (você sentiria alguma diferença se eu tivesse escrito “fulano tem facilidade para manipular palavras”?); talvez alguns céticos considerem isso vago (é outra das alegações furadas dos céticos em relação à astrologia). E NADA garante que alguém que tenha Mercúrio em Gêmeos vá seguir a carreira de lidar com palavras… ele pode muito bem ser um vendedor de carros usados que usa isso como lábia.

Para mim, “Mercúrio em gêmeos” diz muita coisa… Questão de vocabulário. Não podemos aprofundar a descrição sem conhecer a pessoa… talvez, somente a própria pessoa vai realmente saber o quanto ela usa esta capacidade para o bem ou para o mal.

É nisso que entra o autoconhecimento e a parte Hermética do “Astrologia Hermética”.

Avaliando nossos mapas, podemos detectar as energias com as quais temos mais facilidade e lapidar nossa pedra bruta para chegarmos até a pedra filosofal.

Mas é duro olharmos para o espelho e reconhecermos nossos defeitos… e mais difícil ainda lutar para transmutá-los das oitavas mais baixas nas oitavas mais altas; vencer as paixões que nos levam ao uso egoísta de nossas habilidades e transformá-las em virtudes. É como transformar chumbo em ouro.

Desta forma está a dificuldade em adequar o real ao experimento… fazer “testes de múltipla escolha” parece completamente nonsense para alguém que sabe para que o mapa realmente serve. Minha sugestão seria pegar um psicólogo neutro para fazer um levantamento psicológico completo de cada pessoa, bem como uma entrevista onde ela revelaria suas ambições, fantasias, o que realmente gostaria de fazer, o que realizou dos sonhos, que tipo de parceiro sexual gosta e assim por diante.

Por outro lado, o Mapa seria gerado pelo banco de dados que estamos organizando através das doações dos leitores do Teoria da Conspiração, ou seja, sem a “interpretação” pessoal do Astrólogo. E como comparação, um grupo de psicólogos/astrólogos compararia o perfil psicológico da pessoa com o do mapa e faria as correspondências. Claro que eu gostaria de fazer isso não com 20 mapas, mas com 10.000 mapas. Só que daria um puta trabalho… e os céticos já estão previamente convencidos que astrologia não funciona (embora eu sempre pensasse que cientistas avaliassem primeiro e julgassem depois, mas tudo bem).

#Astrologia

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/analisando-um-mapa-astral