Arcano 5 – Hierofante – Vav

Um grupo de três personagens em que um deles é visto de frente, sentado, com a mão direita levantada no sinal da benção, tendo em sua mão esquerda o eixo de uma cruz de seis braços; sua cabeça está coroada por uma tiara. Os outros dois personagens que se encontram em primeiro plano, de costas para quem contempla a imagem, têm os rostos voltados para o primeiro personagem.

Este, protagonista da figura, tem veste azul, capa vermelha ornada de amarelo. Sua mão esquerda está fechada e coberta por uma luva que tem impressa uma cruz dos templários. A barba e o cabelo do Pontífice são brancos.

Percebe-se apenas vagamente a cadeira em que o personagem central está sentado, com duas colunas ao fundo.

Os dois personagens que estão de costas mostram a tonsura. O da esquerda aponta sua mão direita para o solo, com os dedos separados. O homem da direita aponta para o alto com sua mão esquerda, com os dedos juntos.

Significados simbólicos
É o arcano do ato da bênção, da iniciação, da demonstração, do ensino. Lei, simbolismo, filosofia, religião.

Dever. Moral. Consciência. O Santo.

Interpretações usuais na cartomancia
Autoridade moral, sacerdócio. Proteção, lealdade. Observância das convenções, respeitabilidade. Ensino, conselhos equilibrados. Benevolência, generosidade indulgente, perdão. Mansidão.

Busca de sentido, revelação, hora da verdade, confiança, indicações do caminho da salvação.

Mental: O Pontífice representa a forma ativa da inteligência humana, que traz principalmente as soluções lógicas.

Emocional: Sentimentos poderosos, afetos sólidos, solicitude, sem cair em sentimentalismos. O Pontífice indica os sentimentos normais, tal como devem ser manifestados na vida, de acordo com as circunstâncias.

Físico: Equilíbrio, segurança na situação e na saúde. Segredo revelado. Vocação religiosa ou cientifica.

Sentido negativo: Indica um ser desprovido de sua razão e seus instintos, na obscuridade, carente de apoio espiritual. Projeto retardado.

Chefe sentencioso, moralista estreito, prisioneiro das formalidades, metafísico dogmático, professor autoritário, teórico limitado, pregador da “boca pra fora”.

Conselheiro desprovido de sentido prático.

Problemas com saúde, indecisão, negligência.

História e iconografia
O Arcano V é uma das figuras que permitiram precisar com maior exatidão a antiguidade do Tarô, já que seus detalhes iconográficos remontam a um modelo perdido em que se inspirou necessariamente o desenho de Fautrier (Tarô de Marselha), o que é confirmado pelas diferenças e semelhanças com maços mais antigos, como os de Baldini (1436-1487) e Gringonneur (1450).

Em primeiro lugar, é preciso destacar que o Pontífice do Tarô de Marselha é barbudo, enquanto seus precursores renascentistas e medievais não o são. Há estudos que estabelecem uma curiosa cronologia da moda papal neste aspecto. Torna-se assim evidente que o tarô clássico copia um modelo mais antigo que não chegou até nós, mas que assegura a continuidade evolutiva do Tarô desde os imagiers du moyen age até a atualidade.

Outro detalhe interessante é o da evolução da tiara papal na iconografia do Tarô. A tiara (com seu simbolismo sobre a existência dos três reinos ou mundos) não é um elemento litúrgico que permaneceu invariável ao longo da História. Os estudiosos tendem a concluir que as composições das tiaras representadas no Tarô clássico estão inspiradas em gravações bem anteriores ao final do século XV, possivelmente dos fins do primeiro milênio.

A luva papal ornada com a cruz-de-malta indica também a origem remota da imagem, já que desde os tempos de Inocêncio III (1197-1216) a cruz havia sido substituída por uma plaqueta circular.

Arcano da capacidade adivinhatória, da intuição filosófica, do conhecimento espontâneo, o Pontífice simboliza também (por seu número) o homem como intermediário entre a divindade e o plano das coisas criadas.

A soma destes simbolismos permite associá-lo ao mediador por excelência, o pacifista, o construtor de pontes, o que encontra a saída para situações aparentemente insolúveis, mediante um luminoso clarão intuitivo.

O Papa também é visto como representante da lei moral, não escrita, que domina a consciência e, no setenário que as pontas da sua cruz organizam, as virtudes necessárias para vencer os sete pecados capitais:

– orgulho (Sol), preguiça (Lua),

– inveja (Mercúrio), cólera (Marte), luxúria (Vênus),

– gula (Júpiter) e avareza (Saturno).

Wirth o imagina um ancião pleno de indulgência para com as debilidades humanas, pontificando ante duas categorias de fiéis: aqueles que compreendem (representados pelo personagem com a mão para o alto); e os que formam o rebanho cego e inconsciente que obedece por temor ao castigo, e não por autodeterminação (representados pelo personagem que aponta a mão para o chão). Estas combinações (alto e baixo, direita e esquerda) voltam a colocar a ordem do quaternário como modelo de organização. Considerado do ponto de vista do quaternário formado pelos arcanos anteriores, o Pontífice representaria o conteúdo da forma, a quintessência concebível (se bem que imperceptível), o domínio da quarta dimensão.

Por Constantino K. Riemma
http://www.clubedotaro.com.br/

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/arcano-5-hierofante-vav

A Estrela Luciférica

Por Adriano Camargo Monteiro

Pentagrama é a estrela de cinco pontas e cinco linhas (“penta” = cinco; “grama” = linha), e não simplesmente um decágono em forma de estrela. Além de simplesmente representar os cinco Elementos da Alquimia – Ar, Fogo, Água e Terra, e a quintessência, o Espírito –, o pentagrama sempre foi, desde a Antiguidade, um símbolo da deusa Vênus e do planeta de mesmo nome; o outro símbolo estelar de Vênus é o heptagrama.

Os elementos associados ao pentagrama, que também são os elementos da Alquimia, estão relacionados às suas manifestações no iniciado, como segue, resumidamente:

– Ar ? inteligência, mente expandida, intelecto;

– Fogo ? animus, amor e ódio impetuosos, impulso sexual;

– Água ? anima, emoções, sentimentos, instintos;

– Terra ? corpo físico, força, resistência, veículo que carrega e suporta todas as consequências da inteligência (e também da inépcia que pode levar ao aprendizado pela dor indesejável), do amor, do ódio, das emoções caudalosas e dos sentimentos mais profundos;

– Espírito ? a Individualidade, o Eu Superior que assimila todas as experiências do indivíduo iniciado e sem sempre “se iniciando”.

O pentagrama também se tornou conhecido como um dos selos do lendário rei Salomão, pois sua mitologia o mostra como um fenício politeísta que cultuava Vênus (Ashtart), entre outros diversos deuses e deusas. Assim como muitos sacerdotes e “feiticeiros” do período mitológico de Salomão, os reis, que se consideravam filhos e esposos de Ashtart, também a cultuavam para se obter as dádivas da fertilidade (em seu sentido amplo), prosperidade para o povo, riquezas, ascensão social e êxito no amor, além de marcar as fases do ano, as celebrações e de empreender rituais de morte e renascimento – na Árvore cabalística do Conhecimento do Bem e do Mal o Túnel da Morte liga a qlipha (“concha”) A’Arab Zaraq (os “Corvos da Dispersão” de Odin) a Thagirion (o Sol Negro, o “Instigador”); na Árvore da Vida, o Caminho da Morte liga a sephira (esfera) Netzach/Vitória (Vênus) a Tiphareth/Beleza (Sol). Essa ligação entre Vênus e Sol ficará mais clara, a seguir.

Na grande Mesopotâmia e Oriente Médio, Vênus era conhecida por diversos outros nomes, tais como Asherah, Baalat, Ishtar, Shekinah, Baalat, Inanna, Anat e Astaroth e Ashtart.

Como planeta, Vênus é o terceiro corpo sideral mais brilhante no céu visto da Terra, tendo um albedo de 79 % (o “Portador da Luz”, Lúcifer), e aparece de manhã, ao leste, antes do nascer do Sol, sendo, portanto, chamado de Estrela da Manhã, Estrela d’Alva ou Estrela Matutina. Nos templos maçônicos, por exemplo, essa estrela flamejante deveria ficar ao leste, de fato (esse ponto cardeal pode ser facilmente localizado nos templos), contextualizando o selo de Salomão pentagramático e representando a luz do crepúsculo da manhã, a luz da Estrela Matutina, ou seja, o planeta Vênus-Eósforo que surge antes do Sol.

Desde a Antiguidade, Vênus tem sido observado e seu movimento estudado. O percurso que faz em sua órbita para formar conjunções com a Terra e o Sol descreve o pentagrama a partir do ponto inicial da primeira conjunção com a Terra; cada ponto de conjunção é uma ponta do pentagrama. E a cada oito anos um pentagrama invertido se forma no espaço sideral, com as conjunções entre Vênus, Terra e Sol, demonstrando uma relação “sexual” metafísica em nível astronômico. É claro que isso tudo pode ser “aproveitado” em trabalhos ritualísticos específicos.

As conjunções de Vênus

Do ponto de vista prático, algumas observações importantes sobre os pentagramas parecem ser necessárias, já que existe uma grande confusão sobre sua utilização e significado. Mas este texto será breve, pois há outros que abordam diferentes aspectos de tal questão pentagramática.

Antes, porém, será esclarecida brevemente a diferença entre pentáculo e pantáculo, já que confundir os dois é tão comum e corrente que até mesmo esse erro aparece em livros, etc., sem que ninguém note. “Penta” nos remete ao número cinco; “pan”, à ideia do todo e do completo (“pan” e “pantos”). Assim, pentáculo se refere apenas a um pentagrama inserido em um círculo (pois, para fins operativos, há uma diferença importante entre o pentagrama rodeado por um círculo e o pentagrama sem o círculo). Pantáculo é qualquer objeto de natureza talismânica, geralmente circular, no qual podem estar quaisquer símbolos, sigilos, selos, assinaturas, letras, números e diversas outras inscrições de modo contextualizado e pertinentes a determinados trabalhos, rituais, filosofias mágico-ocultistas, etc. Um pentáculo pode estar inserido em um pantáculo e pode ser um pantáculo, mas um pantáculo jamais significa pentáculo nem pentagrama.

É preciso compreender que não existe um pentagrama “do bem” e um pentagrama “do mal”, etc. e tal. Tanto o pentagrama invertido como o outro são dispostos e usados segundo a perspectiva do operador. Se, por exemplo, desenhado e colocado na soleira da porta com uma ponta voltada para fora, o pentagrama parecerá invertido aos olhos de quem está chegando, de quem está do lado de fora do aposento, e parecerá “de pé” para quem está do lado de dentro. Em um caso tal, onde estará então o pentagrama “do mal” e o pentagrama “do bem”? Percebe-se que esses conceitos dicotômicos e maniqueístas de fato são ridículos. Quando traçado um caminho “oculto” da esfera/sephira de Binah (Compreensão) a Chesed (Misericórdia) e da esfera de Chokmah (Sabedoria) a Geburah (Severidade) na Árvore cabalística, poder-se-á notar que o desenho forma um pentagrama invertido (e isso na Árvore da Vida “convencional”); na Árvore do Conhecimento, ou da Morte, quer dizer, das Qliphoth, o mesmo também ocorre.

Ambos os pentagramas podem ser utilizados para qualquer propósito predeterminado. Só depende da Corrente com a qual esteja trabalhando, ou seja, Nox ou Lux, e não “do bem” e “do mal”, pois a ideia estereotipada de que as trevas são o mal e a luz é o bem absoluto é completamente equivocada, estúpida e ilusória. Por exemplo, os dois pentagramas (o invertido e o “normal”) podem ser usados para se trabalhar com as quatro principais forças da Corrente Draconiana, a saber: Lúcifer, Vênus, Samael e Lilith.

E essas forças arquetípicas não são maléficas, malignas, malévolas, malevolentes, malfazejas, malfeitoras, malditas, do mal, ou qualquer asneira semelhante, mas sim elas são mal-entendidas, intencionalmente ou não, por mentes maledicentes e maldosas. Essas são forças arquetípicas inerentes à vida e à evolução, são forças da inteligência, da razão, das emoções, do amor, do ódio, das paixões, dos instintos e dos prazeres sensoriais, materiais e psicomentais, tudo o que é necessário à vida, ao aprendizado e à evolução, especialmente a evolução deliberada e por livre vontade. O mal, como as pessoas o categorizam, só existe na mente humana maligna, malévola, malevolente, malfazeja, etc., e nada mais. Usar no pescoço ou no anel um pentagrama invertido ou “de pé” não tem qualquer conotação moral ou dogmática com relação ao que é “do mal” ou “do bem”. Alguns dizem que o pentagrama convencional protege contra magia negra. Isso parece um tanto incoerente, já que a magia não tem cor, não existe magia negra nem magia branca. Tanto o pentagrama convencional como o pentagrama invertido podem banir e resguardar o operador de forças intrusas, perturbadoras e inconvenientes ao trabalho que será empreendido, mas não necessariamente contra “forças do mal”, como a maioria das pessoas imagina. O próprio indivíduo tem em si elementos indesejáveis, ruins e nocivos aos outros e a ele mesmo, só que ninguém quer admitir isso.

Um exemplo da “isenção moral” do pentagrama está no sigilo ou selo de Astaroth, um espírito da Goécia, supostamente um “demônio”, mas que de fato era uma das deusas mesopotâmicas. Seu sigilo é formado por, entre outros símbolos, um pentagrama “convencional” e não por um pentagrama invertido. Já o pentagrama invertido é também a estrela de Set (Shiva, Samael, etc.), o deus arquetípico egípcio primordial representado pela estrela Sírius, o que indica sua relação metafísica com os mais altos níveis de manifestação “caósmica” e de consciência, muito além da vida comum e corrente.

Por outro lado, em nível mais próximo da realidade prosaica do ser hamano, o pentagrama invertido pode ser usado também em trabalhos que visam a objetivos materiais (afinal, estamos todos encarnados na matéria, e nem só de espírito é possível se viver neste mundo).

O pentagrama invertido traçado no ar significa que forças venusianas estão sendo invocadas para a Terra, que influências astrais e siderais de Vênus estão sendo “puxadas” para o nosso plano físico, para o magista e para o templo, para atuarem em seus rituais, especialmente de magia sexual, um elemento importante da filosofia oculta afrodisiana (ou venusiana). O pentagrama invertido pode ser traçado na direção dos quatro quadrantes e os nomes são vibrados devidamente e não simplesmente falados de qualquer jeito (cada nome tem sua vibração e pronúncia corretas, de acordo com o quadrante do Elemento), com concentração mental e comoção emocional, sentindo a vibração em si. O pentagrama invertido tem seu traçado de acordo com os quatro Elementos também. Quando se faz o pentagrama invertido traçando-o pelo Elemento Terra, o indivíduo estará também invocando a força da Terra (e tudo o que ela representa) e daqueles poderes arquetípicos para o seu real Ser encarnado na Terra, fazendo-os se manifestarem em si mesmo e na obra que se realizará, e não simplesmente banindo. Nos trabalhos de magia sexual o pentagrama invertido é particularmente usado para invocar a Serpente do Sexo e o Dragão de Sabedoria, além dos objetivos materiais (e o sexo, a princípio, não é realizado material e sensoriamente no plano físico?).

Como mencionado, o pentagrama invertido está associado à deusa Vênus (e ao planeta), à fertilidade, ao amor e ao sexo, além de representar de forma bastante estilizada os órgãos sexuais femininos.

No contexto da Filosofia Oculta e da Magia, a estrela luciférica é também um símbolo da Sabedoria e do Amor, pois Sophia é Vênus, a deusa do Amor e esposa/irmã do filósofo Portador da Luz, Lúcifer – Fósforo e Héspero. Aliás, consta que, entre os gregos, foi o sábio Pitágoras quem primeiro observou que Fósforo e Héspero eram o mesmo planeta, pois se acreditava que fossem planetas distintos, um surgindo pela manhã e o outro, à tarde.

A sabedoria sempre foi o ideal dos filósofos, e, novamente entre os gregos, foi Pitágoras quem cunhou o termo “filósofo”, referindo-se a si mesmo como um “amante da sabedoria”, ou de Vênus, em toda sua significância, incluindo, principalmente, a prática de magia sexual com a esposa-sacerdotisa que encarna Sophia-Vênus no ritual. Além disso, sua Escola Pitagórica, iniciática e semissecreta, tinha como símbolo o pentagrama, considerado como a representação da perfeição, do microcosmo (ser humano), da harmonia entre as forças opostas (homem e mulher, luz e trevas, positivo e negativo) e da natureza. Todos esses significados do pentagrama se justificam, pois ele próprio apresenta em suas medidas a razão áurea que está presente em tudo (Pan)…

Portanto, use e abuse dos abusadamente famosos pentagramas, mas com conhecimento e discernimento, logicamente. E para aqueles que sabem ler nas entrelinhas, aqui há alguns segredos operativos…

#LHP

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/a-estrela-lucif%C3%A9rica

Arcano 5 – Vav – O Hierofante

Um grupo de três personagens em que um deles é visto de frente, sentado, com a mão direita levantada no sinal da benção, tendo em sua mão esquerda o eixo de uma cruz de seis braços; sua cabeça está coroada por uma tiara. Os outros dois personagens que se encontram em primeiro plano, de costas para quem contempla a imagem, têm os rostos voltados para o primeiro personagem.

Este, protagonista da figura, tem veste azul, capa vermelha ornada de amarelo. Sua mão esquerda está fechada e coberta por uma luva que tem impressa uma cruz dos templários. A barba e o cabelo do Pontífice são brancos.

Percebe-se apenas vagamente a cadeira em que o personagem central está sentado, com duas colunas ao fundo.

Os dois personagens que estão de costas mostram a tonsura. O da esquerda aponta sua mão direita para o solo, com os dedos separados. O homem da direita aponta para o alto com sua mão esquerda, com os dedos juntos.

Significados simbólicos

É o arcano do ato da bênção, da iniciação, da demonstração, do ensino. Lei, simbolismo, filosofia, religião.

Dever. Moral. Consciência. O Santo.

Interpretações usuais na cartomancia

Autoridade moral, sacerdócio. Proteção, lealdade. Observância das convenções, respeitabilidade. Ensino, conselhos equilibrados. Benevolência, generosidade indulgente, perdão. Mansidão.

Busca de sentido, revelação, hora da verdade, confiança, indicações do caminho da salvação.

Mental: O Pontífice representa a forma ativa da inteligência humana, que traz principalmente as soluções lógicas.

Emocional: Sentimentos poderosos, afetos sólidos, solicitude, sem cair em sentimentalismos. O Pontífice indica os sentimentos normais, tal como devem ser manifestados na vida, de acordo com as circunstâncias.

Físico: Equilíbrio, segurança na situação e na saúde. Segredo revelado. Vocação religiosa ou cientifica.

Sentido negativo: Indica um ser desprovido de sua razão e seus instintos, na obscuridade, carente de apoio espiritual. Projeto retardado.

Chefe sentencioso, moralista estreito, prisioneiro das formalidades, metafísico dogmático, professor autoritário, teórico limitado, pregador da “boca pra fora”.
Conselheiro desprovido de sentido prático.
Problemas com saúde, indecisão, negligência.

História e iconografia

O Arcano V é uma das figuras que permitiram precisar com maior exatidão a antiguidade do Tarô, já que seus detalhes iconográficos remontam a um modelo perdido em que se inspirou necessariamente o desenho de Fautrier (Tarô de Marselha), o que é confirmado pelas diferenças e semelhanças com maços mais antigos, como os de Baldini (1436-1487) e Gringonneur (1450).

Em primeiro lugar, é preciso destacar que o Pontífice do Tarô de Marselha é barbudo, enquanto seus precursores renascentistas e medievais não o são. Há estudos que estabelecem uma curiosa cronologia da moda papal neste aspecto. Torna-se assim evidente que o tarô clássico copia um modelo mais antigo que não chegou até nós, mas que assegura a continuidade evolutiva do Tarô desde os imagiers du moyen age até a atualidade.

Outro detalhe interessante é o da evolução da tiara papal na iconografia do Tarô. A tiara (com seu simbolismo sobre a existência dos três reinos ou mundos) não é um elemento litúrgico que permaneceu invariável ao longo da História. Os estudiosos tendem a concluir que as composições das tiaras representadas no Tarô clássico estão inspiradas em gravações bem anteriores ao final do século XV, possivelmente dos fins do primeiro milênio.

A luva papal ornada com a cruz-de-malta indica também a origem remota da imagem, já que desde os tempos de Inocêncio III (1197-1216) a cruz havia sido substituída por uma plaqueta circular.

Arcano da capacidade adivinhatória, da intuição filosófica, do conhecimento espontâneo, o Pontífice simboliza também (por seu número) o homem como intermediário entre a divindade e o plano das coisas criadas.

A soma destes simbolismos permite associá-lo ao mediador por excelência, o pacifista, o construtor de pontes, o que encontra a saída para situações aparentemente insolúveis, mediante um luminoso clarão intuitivo.

O Papa também é visto como representante da lei moral, não escrita, que domina a consciência e, no setenário que as pontas da sua cruz organizam, as virtudes necessárias para vencer os sete pecados capitais:

– orgulho (Sol), preguiça (Lua),
– inveja (Mercúrio), cólera (Marte), luxúria (Vênus),
– gula (Júpiter) e avareza (Saturno).

Wirth o imagina um ancião pleno de indulgência para com as debilidades humanas, pontificando ante duas categorias de fiéis: aqueles que compreendem (representados pelo personagem com a mão para o alto); e os que formam o rebanho cego e inconsciente que obedece por temor ao castigo, e não por autodeterminação (representados pelo personagem que aponta a mão para o chão). Estas combinações (alto e baixo, direita e esquerda) voltam a colocar a ordem do quaternário como modelo de organização. Considerado do ponto de vista do quaternário formado pelos arcanos anteriores, o Pontífice representaria o conteúdo da forma, a quintessência concebível (se bem que imperceptível), o domínio da quarta dimensão.

Por Constantino K. Riemma
http://www.clubedotaro.com.br/

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/arcano-5-vav-o-hierofante

Aritmosofia e Geometria

Os símbolos geométricos têm, como dissemos antes, uma relação simbólica precisa com as cifras matemáticas. Como se verá, a cada número corresponde exatamente uma ou mais figuras da Geometria; poderíamos dizer que estas são a representação espacial das mesmas energias que os números também expressam à sua maneira.

Como todos os números podem ser reduzidos aos nove primeiros (por exemplo, o número 8765 = 8 + 7 + 6 + 5 = 26 = 2 + 6 = 8, e desse modo poderíamos proceder com qualquer número maior que nove), limitar-nos-emos por agora a descrever sucintamente o simbolismo dos nove primeiros números, mais o zero.

1 – O número um, e seu correspondente o ponto geométrico, representando aparentemente o menor, contém em potência, no entanto, todos os demais números e figuras. Sem ele nenhum outro poderia ter existência alguma. Todo número está constituído pelo anterior mais um, bem como toda figura geométrica nasce a partir de um primeiro ponto; ou seja, que este gera todas as demais.

O Um simboliza a Origem e o Princípio único do qual derivam os princípios universais, e também o Destino comum ao qual todos os seres têm que retornar. É, segundo a máxima Hermética, “o Todo que está em Tudo”, ou seja, o Ser Total.

Ainda que o ponto e o um sejam uma primeira afirmação (proveniente de uma página em branco ou do zero, ou do Não-Ser), normalmente se os descreve melhor em termos negativos, posto que representam o indivisível, o imutável, ou seja, o motor imóvel, pai de todo movimento e manifestação.

A meta primeira dos trabalhos iniciáticos é atingir a consciência de Unidade

2 – O número dois simboliza o primeiro casal, que se dividindo da Unidade opõe seus dois termos entre si, ao mesmo tempo em que os complementa. Diz-se que constitui o primeiro movimento do Um, que consiste no ato de se conhecer a Si Mesmo, produzindo uma aparente polarização: o sujeito que conhece (princípio ativo, masculino, positivo) e o objeto conhecido (passivo ou receptivo, feminino e negativo). Desde a perspectiva da Unidade esta polarização ou dualidade não existe, pois o ativo e o passivo (yang e yin no extremo Oriente) contêm uma energia comum (Tao) que os neutraliza, complementa, sintetiza e une (já se vislumbra aqui o três); mas desde o ponto de vista do ser manifestado, esta dualidade está presente em toda a criação: noite e dia, céu e terra, vida e morte, luz e obscuridade, macho e fêmea, bem e mal se encontram na própria gênese do ato criacional, e a partir dali, toda manifestação é necessariamente sexuada.

O dois é representado geometricamente com a linha reta:

3 – Mas como dissemos, para que a dualidade se produza tem de ter sempre um ponto central do qual nasce a polarização:

O três se corresponde com o triângulo eqüilátero (símbolo da triunidade dos princípios e representa à Unidade enquanto ela conjuga todo par de opostos. As três colunas da Árvore, suas tríades e os três princípios da Alquimia de que falamos assim o testemunham; e podemos também encontrar esta lei ternária nas três cores primárias (azul, amarelo e vermelho) de cuja combinação nascem todas as demais; nas três primeiras pessoas da gramática (eu, tu, ele); nas três faces do tempo (passado, presente e futuro); nas três notas musicais que compõem um acorde (dó, mi, sol, por exemplo); e nos três reinos da natureza (mineral, vegetal e animal), etc.:

Na dualidade céu-terra o terceiro elemento é o homem verdadeiro (o Filho) que os une, conjugando assim o material e o espiritual.

4 – Se o ponto não é dimensionável, a reta expressa uma primeira dimensão e o triângulo é de duas dimensões (é a primeira figura plana), o número quatro é o símbolo da manifestação tridimensional, como se vê na geometria no poliedro mais simples (nascido do triângulo com um ponto central), o tetraedro regular de quatro faces triangulares:

Diz-se que os três primeiros números expressam o imanifestado e incriado e que o quatro é o número que assinala toda a criação. Por isso, divide-se o espaço em quatro pontos cardeais, que ordenam toda a medida da terra (geo = terra, metria = medida), e se divide todo ciclo temporal em quatro fases ou estações, como vimos.

A representação estática do quaternário é o quadrado e seu aspecto dinâmico está expresso no símbolo universal da cruz.

Queremos lembrar aqui o que mencionamos referente aos quatro mundos da Árvore Cabalística e aos quatro elementos alquímicos e apontar que estes se relacionam na tradição judaica com as quatro letras do Tetragramaton ou nome divino (YHVH).

Também apontar de passagem que, segundo a chamada lei da tetraktys que estudavam os pitagóricos, o quatro, como a criação inteira, reduz-se finalmente na unidade:

4 = 1 + 2 + 3 + 4 = 10 = 1 + 0 = 1

5 – O cinco, que é o central na série dos nove primeiros números, na geometria aparece quando a unidade se faz patente no centro do quadrado e da cruz:

Este ponto médio representa o que em Alquimia se denomina a quintessência, o éter, o quinto elemento que contém e sintetiza os outros quatro e que simboliza o vazio, a realidade espiritual que penetra em cada ser unindo tudo dentro de si.

No símbolo tão conhecido da pirâmide de base esquadrejada, esse ponto central se coloca em seu vértice, mostrando assim que essa unidade se encontra em outro nível ao que conflui o quaternário da manifestação:

O número cinco –que se representa também geometricamente com o pentágono– é relacionado com o homem ou microcosmo, já que este tem cinco sentidos, cinco dedos nas mãos e nos pés, e cinco extremidades (contando a cabeça), pelo que se pode vê-lo inscrito numa estrela de cinco pontas:

6 – A tríade primordial se reflete na criação como num espelho, o que se representa com a Estrela de David ou Selo salomônico, e também com o hexágono:

Se vimos as três cores primárias (azul, amarelo e vermelho) no primeiro triângulo, as três secundárias, que completam as seis do arco íris, nascidas da combinação daquelas (verde, laranja e violeta) colocam-se no segundo triângulo invertido.

Na geometria espacial é o cubo aquele que representa ao senário, já que este tem seis faces –como se observa no símbolo do dado, de origem sagrada–, das quais três são visíveis e três invisíveis. A esfera (como o círculo) simboliza o céu, e o cubo (como o quadrado), a terra:

Por outra parte, se pomos as faces do cubo no plano, produz-se o símbolo da cruz cristã, que se relaciona também por esse motivo com o seis:

Outro modo de representar geometricamente o seis é por meio da cruz tridimensional, ou de seis braços, que marcam seis direções no espaço: encima e embaixo, adiante e atrás, direita e esquerda:

7 – O sete, como o quatro, representa a unidade em outro plano, já que pode se reduzir ao um da mesma forma:

7 = 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + 7 = 28 = 2 + 8 = 10 = 1 + 0 = 1

Na geometria, o setenário pode ser representado com o heptágono e com a estrela de sete pontas, mas, sobretudo, é visto quando se agrega às figuras que simbolizam o seis seu ponto central ou unidade primordial (observe-se que as duas faces opostas de um dado sempre somam sete):

São variadíssimas as manifestações do número sete no simbolismo esotérico. Mencionaremos de passagem as mais conhecidas: são sete os dias da criação (seis mais o de descanso) em correspondência com os dias da semana, os planetas e os metais como já vimos. Este número representa uma escala de sete degraus –relacionada com as sete notas da escala musical e com os sete chakras do Kundalini Yoga–, bem como com os sete arcanjos e os sete céus em correspondência com sete estados da consciência:

Diz-se que este número se produz pela soma dos três princípios mais os quatro elementos, aos que também podemos vincular com as sete artes liberais da Tradição Hermética, constituídas pela soma do trivium (gramática, lógica e retórica) e do quadrivium (matemática, geometria, música e astronomia).

8 – Se na geometria plana, como apontamos, o círculo é símbolo do céu e o quadrado da terra, o octógono vem ser a figura intermédia entre um e outro através da qual se consegue a misteriosa circulatura do quadrado e a quadratura do círculo, que nos fala da união indissolúvel do espírito e da matéria.

O oito, diz-se, é símbolo da morte iniciática e da passagem de um mundo a outro. Por isso o encontramos no simbolismo cristão, tanto nas pias batismais (na passagem entre o mundo profano e a realidade sacra) e na divisão octogonal da cúpula (que separa simbolicamente a manifestação e o imanifestado) bem como no símbolo da rosa dos ventos, idêntico ao timão das embarcações:

9 – Considera-se o nove como um número circular, já que é o único que tem a particularidade de que todos seus múltiplos se reduzem finalmente a ele mesmo (ex.: 473 x 9 = 4257 = 4 + 2 + 5 + 7 = 18 = 1 + 8 = 9).

Este número (que é o quadrado de três) representa-se na geometria com a circunferência, a que se assinalam 360 graus (3 + 6 + 0 = 9) e que se subdivide em duas partes de 180º (1 + 8 + 0 = 9), em quatro de 90º (9 + 0 = 9) e em 8 de 45º (4 + 5 = 9).

No entanto, a circunferência não poderia ter existência alguma se não fosse pelo ponto central do qual seus indefinidos pontos periféricos não são senão os múltiplos reflexos ilusórios a que esse ponto dá lugar.

Se adicionarmos à circunferência seu centro, obteremos o círculo (9 + 1 = 10) com o que se fecha o ciclo dos números naturais.

#hermetismo

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O Círculo

Pode-se perceber na figura precedente que não há circunferência sem um ponto interior que a gere, pois ela extrai sua forma, assim a tracemos com compasso ou cordel, de um centro existente previamente. Conjuntamente, circunferência e centro conformam a circularidade. O centro geralmente é invisível, ou tácito, ou se acha outras vezes especificamente assinalado como elemento constitutivo. Este ponto original é o que emana sua energia a todos os pontos da circunferência, que são um reflexo de sua potencialidade num plano definido e limitado. Essas emanações são representadas como irradiações do centro e formas de conexão entre este e a periferia. A mais singela e notável destas figurações é a seguinte:

Este é também o símbolo do quaternário, ou seja, o da maneira “quatripartida” em que se produz toda manifestação. Os exemplos mais claros desta divisão são os quatro pontos cardeais no espaço, as quatro estações do dia ou do ano no tempo, a interação dos elementos que em ordem mutável, configuram a matéria, as quatro idades na vida de um homem, etc. Ou seja, que este número caracteriza a todo o criado.

A cruz é, pois, o símbolo do número quatro em seu aspecto dinâmico e generativo, que recebe sua energia original da quintessência central, do ponto que é a origem da irradiação, e ao que esta tem de voltar necessariamente num espaço curvo.

Advertências:

a) Deve se considerar, da mesma forma, o círculo como uma esfera. Ou seja, adicionar volume, ou tridimensionalidade, às figuras simbólicas planas com as quais iremos trabalhando.

b) Não se tem que se considerar aos símbolos como exteriores a nós, pois se deve ter em conta que a esfera do universo nos envolve. Estamos dentro dela, somos unos com ela.

#hermetismo #Matemática

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-c%C3%ADrculo

O Que é Bruxaria Tradicional?

“Você pode andar pelo caminho,

Você pode falar as palavras,

Mas você pode conjurar um espírito?”

Sentimos-nos honrados com o convite para contribuir com esta coluna sobre Bruxaria Tradicional aqui no blog “Teoria da Conspiração”, e é com humildade e os pés no chão que adentramos este espaço de compartilhamento de saberes, de generosidade e aceitação. É neste espírito que inflama a alma que iniciamos este pequeno ensaio de introdução no tema.

Cremos que “Bruxaria” tenha sido um assunto fascinante ou aterrorizante para todos os povos de todas as eras, e sua “função” constitui no único consenso eterno nela existente, pois dela nunca uma única forma prevalece perene dada à sua fluidez. A mídia replica a figura imutável e cada um interpreta de acordo com amplitude de sua visão. Para alguns, a bruxa é uma figura folclórica, mítica, uma fantasia – e para outros – ela é a portadora das chaves para inúmeras possibilidades ainda ocultas.

É possível coletar algumas percepções importantes dentro das muitas opiniões e disposições a respeito do tema, assim como é muito fácil ficarmos atordoados com o amontoado de teorias “esquizotéricas” sobre o tema. A confusão não é proveniente da simples gradação de refinamento cultural, mesmo porque esta é uma Arte que fala à mente do erudito com a mesma facilidade com a qual fala ao coração da benzedeira. É uma questão de afinidade energética, de marca em espírito e carne, e assim, a linguagem – por mais refinada que seja – ainda é pobre para expressar.

Ao contrário da teoria de Margaret Murray de que a Bruxaria seria um culto organizado em toda a Europa, com uma estrutura fixa de rituais e crenças religiosas, a Bruxaria tem suas raízes exatamente naquilo que Murray descartou ainda no prefácio de sua teoria, a qual ela chamou de “Bruxaria Operacional”, ou seja, a prática de magia, feitiços e bruxedos. Como cita Nicholaj Frisvold, em sua fascinante visão sobre a história da prática da Bruxaria, “Artes da Noite” (Ed. Rosa Vermelha – 2010): “Também temos uma idéia persistente de que a organização em cultos e ordens seja uma prática de longa data, mas na realidade há mais evidências que apontam para o fato de que a organização de diversas crenças tenha ocorrido no século XVII, quando a maçonaria se encontrava dentre os grupos mais famosos. Antes do século XVII as pessoas se reuniam, muito provavelmente em unidades menores, já que as organizações eram bem locais”. Mais a frente, o autor nos diz: “Como também a seção de história tem demonstrado, a bruxaria era, até o século XVI, algo que se praticava, e não uma identidade referindo a alguém que era parte de um culto organizado.”

Na seqüência dos estudos de Murray, Gardner lançou ao mundo sua “Religião Neo-Pagã de Fertilidade” sob o termo Wicca (ou “Bruxaria Moderna”). Dada subseqüente campanha de dissolução e branqueamento, alguns poucos que preservavam certas práticas antigas de bruxaria vieram a público, como vemos no caso de Robert Cochrane, que nos anos 60 fez possível a distinção entre os que predecediam os gardnerianos, cunhando o termo Bruxaria Tradicional. Antes disso não havia a necessidade da utilização deste termo, e pelo contrário, tanto a prática quanto o termo “bruxaria” eram considerados assuntos “sub-rosa”, ou seja, mantidos em absoluto sigilo. Como exposto no artigo “Bruxaria Tradicional para Iniciantes”[1]: A Bruxaria ‘Tradicional’ passou a existir como um rótulo de identificação, justamente quando houve a necessidade de se preservar o espaço das práticas que eram consideradas heréticas (de manipulação de forças ‘sagradas’ ou ‘profanas’ a fim de se alterar realidades).

De fato, até os séculos XVI e XVII, os bruxos e bruxas eram comumente solitários, e seu conhecimento era transmitido via indução iniciática de um para o outro, na maioria das vezes em caráter hereditário. Pequenos grupos podiam existir, mas já mencionado, em unidades menores e locais. Foram os séculos XVIII e XIX que experimentaram o nascimento dos Cuveens[2] e Coventículos, onde a sabedoria dos bruxos, que até então era focada na terra, nos espíritos da natureza, no uso de ervas e venenos e na conjuração dos mortos, passou aliar com os conhecimentos místicos da Alta Magia, Hermetismo, Astrologia Medieval e Renascentista e a Filosofia, e cujos expoentes classificavam-na como “infernal” em oposto imediato e necessário ao “celestial”, fosse pela compreensão maniqueísta da época, fosse pela forçosa proteção contra punições eclesiásticas. Este é o período que mais contribuiu com o caráter mais Místico e Quintessencial da Bruxaria. Os bruxos sempre aproveitaram o conhecimento de onde quer que ele jorrasse, fosse ele o folclórico de sua terra (com os resquícios do paganismo de outrora), fosse o conhecimento obtido numa Missa Católica (basta lembrarmos das leituras de Salmos como encantamentos). Existiram os bruxos iletrados, e existiram os bruxos eruditos, e a Sabedoria de ambos é tida como um tesouro de mesmo valor para os Bruxos Tradicionais contemporâneos. Como tal, a Arte Tradicional não é totalmente pagã ou neo-pagã como a Bruxaria Moderna do século XX, mas contém em seu Ethos[3] elementos pagãos na mesma medida em que contém elementos cristãos ou místicos.

Os bruxos tradicionais definem sua Arte como um Ofício (Função), no qual a bruxa opera com os poderes da terra e das estrelas, dos mortos da terra e seus ancestrais. A Bruxaria é a Arte de provocar mudanças, o uso alegado de poderes sobrenaturais ou mágicos seja qual for a crença espiritual do bruxo, é a manipulação da Quintessência contida na Natureza através da Vontade, Desejo e Crença de seu praticante.

A adição do termo “Tradicional” compreende o sentido das verdades perenes, ou o “perenialismo” contido nas tradições da terra. A Palavra Tradição é proveniente do latim “tradere”, “traditio”, ou ainda “traditionis”, que significa trazer, entregar, transmitir. Assim, ela transmite certo conteúdo que pode ser uma memória cultural, espiritual e material, geralmente um conjunto de idéias, recordações e símbolos que passam através de gerações. A Tradição, via de regra, é uma doutrina, uma cosmovisão que se descortina ao iniciado e não um dogma a ser abraçado cegamente. A partir de uma Tradição, é possível encontrar correlações com todas as outras, por mais diferentes que sejam suas origens e formas, ou estéticas, e sem descartar o panorama geral do contexto cultural onde se desenvolveu. Infelizmente em nossos dias é comum ater-se somente ao aspecto de legado, sem haver um critério específico no conteúdo ou qualidade deste legado, e assim é que a “Tradição” tem conhecido fronteiras em tempos onde fronteiras tendem a cair.

O estudante e o praticante devem ter sempre em mente ambos os conceitos, Forma e Função, pois é através destes dois conceitos que é possível identificar a tradicionalidade de uma dada prática ou grupo. Em todas as vertentes da Arte Tradicional com as quais fomos afortunados em nos associar em algum nível, encontramos uma grande similaridade na Função dentro da grande diversidade de Formas. Todas elas apontam para o mesmo Mistério da Unicidade, o eterno Princípio Divino.

A Arte Tradicional é muito bem exemplificada nas palavras de Andrew D. Chumbley, em seu artigo homônimo a este, onde ele diz: “A Bruxaria Tradicional é o Caminho Sem Nome da Arte Mágica. É o Caminho da Bruxa, o chamado do coração que indica a vocação do Cunning Man e da Wise Woman[4]; é o Círculo Secreto de Iniciados constituindo o corpo vivo da Antiga Fé. Seu ritual é o Sabbat do Sonho-feito-Carne. Seu mistério jaz no Solo, abaixo dos pés Daqueles que trilham o caminho tortuoso de Elphame. Sua escritura é o caminho do Wort-Cunning[5] e encantadores das Bestas, o tesouro da tradição relembrada por Aqueles que honram os Espíritos; é a gramática do conhecimento sussurrado ao pé do ouvido, amados por Aqueles que mantém sagrados os segredos dos Mortos e confiados Àqueles que lançam seu olhar adiante… as respostas a quem pergunta sobre a Bruxaria Tradicional jazem na suas terra nativa: o Círculo da Arte das Artes!”. Sua origem é traçada nos Cunning-Men e nas Wise-Women, nos sábios Pellar[6], nas benzedeiras e curandeiros, nos exímios Wortcunners, como também nos Doutores dos Planetas, Magos Renascentistas e Pensadores Liberais.

Por fim, podemos dizer que a Bruxaria é um patrimônio cultural da Humanidade, ou ainda, que é o Caminho Tortuoso que guia o Bruxo rumo a Forja de Fogo Estelar para seu aperfeiçoamento. Esta é a Arte da Troca de Pele da Serpente, da solidão e expiação Cainita, daqueles que carregam a Marca e Maldição na Fronte, na Alma e no Sangue.
Possam a Bênção, a Maldição e a Sabedoria estarem convosco!

Nota Biográfica:

Draku-Qayin (a.k.a. Adriano Carvalho) e Qelimath (a.k.a. Katy de Mattos Frisvold) são Bruxos Tradicionais, fazem parte da Irmandade conhecida externamente como Via Vera Cruz, e são também membros do Clan of Tubal Cain por sua extensão brasileira conhecida como Lilium Umbrae Cuveen. Draku mantém o blog Crux Sabbati (www.cruxsabbati.com) e Qelimath o blog Diablerie (www.diablerie.com.br) onde discutem a Arte Tradicional em um amplo sentido.

Notas:

[1] – Para ler este ensaio acesse:

http://www.diablerie.com.br/2011/01/bruxaria-tradicional-para-iniciantes.html

[2] – Cuveen, ou Covine, são os termos mais comumente utilizados na Arte Tradicional para aquele mais conhecido como “Coven”.

[3] – Ethos, palavra de origem grega, na Sociologia, é uma espécie de síntese dos costumes de um povo. O termo indica, de maneira geral, os traços característicos de um grupo, do ponto de vista social e cultural, que o diferencia de outros. Seria assim, um valor de identidade social.

[4] – Cunning Man e Wise Woman, respectivamente “Homem Sábio” (ou “Homem Astuto”) e “Mulher Sábia”, são os termos aplicados na Inglaterra aos sábios habilidosos na arte das conjurações, dos feitiços, benzimentos e maldições.

[5] – Wort-Cunning é o termo inglês para o ofício dos herbanários, estes últimos sendo conhecidos como Wortcunners.

[6] – Pellar é um termo originário da Cornualha usado para designar curandeiros rurais, homens sábios e exorcistas populares.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-que-%C3%A9-bruxaria-tradicional

Egoísmo, por Aleister Crowley

Cara Soror:

Faze o que tu queres deverá ser o todo da Lei.

Egoísmo? Estou contente ao encontrá-la se afligindo por causa daquele osso, pois ele tem muita carne; carne excelente e suculenta, nada do seu cordeiro congelado da Argentina ou de Canterbury. É uma pélvis, e mais ainda; pois de certo modo toda a estrutura da ética de Thelema está baseada nisso. Há algum perigo aqui; pois a questão é um campo minado para o nobre, o generoso e o altruísta.

“Abnegação”, a grande característica do Mestre do Templo, a verdadeira quintessência da sua realização, não é contraditória, ou mesmo o seu contrário; ela é perfeitamente compatível (mais ainda, digamos, amigável?) com ele.

O Livro da Lei tem muito a dizer sobre este assunto, e ele não mede as suas palavras.

“Primeiro o texto; depois o sermão”, como diz o poeta.

AL II, 18, 19, 20, 21.:

“These are dead, these fellows; they feel not. We are not for the poor and sad: the lords of the earth are our kinsfolk.”

“Is a God to live in a dog? No! but the highest are of us. They shall rejoice, our chosen: who sorroweth is not of us.”

“Beauty and strength, leaping laughter and delicious languor, force and fire, are of us.”
“We have nothing with the outcast and the unfit: let them die in their misery. For they feel not. Compassion is the vice of kings: stamp down the wretched & the weak: this is the law of the strong: this is our law and the joy of the world

“Estes estão mortos, estes homens; eles não sentem. Nós não somos para o pobre e o triste: os senhores da terra são nossos parentes.” – AL II:18.

“Deve um Deus viver em um cão? Não! porém os mais elevados são de nós. Eles regozijarão, os nossos escolhidos: quem se lamenta não é de nós.” – AL II:19.

“Beleza e força, gargalhada vibrante e leveza deliciosa, força e fogo, são de nós.” – AL II:20.

“Nós não temos nada a ver com o proscrito e o incapaz: que eles morram na sua miséria. Pois eles não sentem. Compaixão é o vício dos reis: dominai o miserável e o fraco: esta é a lei do forte: esta é a nossa lei e a alegria do mundo.” – AL II:21

“…É uma mentira, esta tolice contra o ser….”

Aquilo estabelece um padrão, com uma vingança!

(Observe: “eles não sentem”, repetido duas vezes. Deve haver alguma coisa importante para a tese aqui ocultada).

A passagem se torna exaltada, porém um verso posterior resume o tema, lançando a base filosófica destas observações aparentemente violentas e arrogantes.

“…It is a lie, this folly against self.…” (AL II:22)

Esta é a doutrina central de Thelema neste assunto. O que nós devemos compreender através dela? Que este culto imbecil e nauseabundo à fraqueza – alguns o chamam de democracia – é absolutamente falso e vil.

Observemos a questão a fundo. (Primeiro consulte AL II, 24, 25, 48, 49, 58, 59. e III, 18, 58, 59. Poderia ser confuso citar estes textos na sua totalidade; porém eles lançam muito mais luz sobre o assunto). Na palavra “compaixão” é o seu sentido aceito – que é uma etimologia deficiente – implica que você é um sujeito agradável, e o outro muito sujo; ou seja, você o insulta por pena dos seus infortúnios. Porém “Todo homem e toda mulher é uma estrela”; e então você não age dessa forma! Você deveria tratar a todos como a um Rei na mesma condição que você. Naturalmente, nove entre dez pessoas não tolerarão isto, nem por um minuto; o simples fato de você tratá-las decentemente as assusta; seu sentido de inferioridade está exacerbado e intensificado; elas insistem em se rebaixar. Isto as identifica. Elas lhe forçam a tratá-las como os vira-latas que são; e assim todo mundo fica feliz!

O Livro da Lei se esforça para indicar a atitude adequada de um “Rei” com relação a outro. Quando você combate com ele, “Como irmãos lutai!”. Temos aqui o antigo tipo cortês de combate, o qual a introdução da razão no assunto tornou impossível no momento. Razão e Emoção; estes são os dois grandes inimigos da Ética de Θελημα. Eles são os obstáculos tradicionais ao sucesso no Yoga tanto quanto na Magia(k).

Agora, na prática, na vida quotidiana, esta abnegação está sempre aparecendo de repente. Não apenas você insulta o seu irmão Rei através do seu “nobre auto sacrifício”, mas também está prestes a interferir com a Verdadeira Vontade dele. “Caridade” sempre significa que a alma sublime que a concede está realmente, profundamente, tentando escravizar o recebedor da sua doação bestial!

Na prática – eu começo de novo – é quase inteiramente uma questão de ponto de vista. Aquele pobre companheiro parece dar a impressão de que uma farta refeição não iria lhe fazer mal; e você joga para ele uma meia coroa[6]. Você ofende o seu orgulho, você o empobrece, você se torna um indivíduo grosseiro, e você vai embora com um entusiasmo de ter feito sua boa ação para este dia. Está tudo errado. Neste caso, você deveria fazer com que o pedido se tornasse um favor. Digamos que você está “morrendo de vontade de conversar com alguém, e que ele gostaria de acompanhá-lo até um local para almoçar” no Ritz, ou em qualquer outro lugar onde você sinta que ele se sentirá mais feliz.

Quando você puder fazer este tipo de coisa tal como deveria ser feito, sem constrangimento ou falsa timidez, de todo o coração nas suas palavras – simplesmente faça, para resumir – você se encontrará a caminho da estrada que leva àquela república republica real que é o ideal da sociedade humana.

Amor é a lei, amor sob vontade.

Fraternalmente,

666

P.S.: Deixe-me insistir que a “pena” é quase sempre uma impostora. Ela é o consolo psíquico para o medo, o “homem deplorável” é realmente um homem que inspira piedade! Pois tal é a sua covardia que ele não ousa encarar o seu medo, mesmo na imaginação!

P.P.S.: No dia seguinte no qual escrevi o pós-escrito acima, por acaso encontrei um exemplar de O Ministério do Medo de Graham Greene – após uma longa busca. Ele salienta que a pena é uma emoção madura; os adolescentes não a sentem. Exatamente; mais um passo e ele teria chegado ao meu próprio ponto de vista como declarado acima. Ela é a gêmea da “responsabilidade moral”, no sentido de culpa ou pecado. A fábula hebraica do Éden e da “Queda” é claramente concebida. Mas lembre-se que a serpente נחש é equivalente ao Messiach, משיח, o Messias. O מ é o “Enforcado”, o pecador; e é redimido através da inserção do י Fálico.

P.P.P.S.: Uma coincidência interessante. Exatamente quando eu estava revisando esta carta, a senhora que eu tinha acabado de contratar para me ajudar com uma parte do meu trabalho me irritou a tal ponto que os meus gritos ficaram tão atrozes que a vila jamais dormirá novamente tão suavemente quanto de costume. Eles romperam o firmamento em vários lugares; e embora remendos invisíveis fossem imediatamente aplicados, percebe-se que ele nunca mais terá a sua integridade original.

E por quê? Simplesmente por causa da ansiedade dela em me agradar! Ela me perguntou se poderia fazer algo; Eu disse “Sim”; ela então continuou pedindo o meu consentimento, explicando o motivo de ela ter feito o pedido, se desculpando pela sua existência!

Ela não conseguia entender que tudo o que ela tinha de fazer era tentar e satisfazer a si mesma – a parte mais elevada de si mesma – para estar segura da minha plena satisfação.

P.P.P.P.S.: “Porém pelo juramento da A∴A∴; não estamos você—nós—todos decididos a melhorar a raça, não importa o quanto custe a nós mesmos!”.

Puro egoísmo, filho, com previsão! Eu quero um lugar decente para morar na próxima vez que voltar. E uma escolha maior de veículos de primeira classe para a minha Obra.

Publicado originalmente no http://www.thelema.com.br/espaco-novo-aeon/ensaios/egoismo/

#Thelema

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/ego%C3%ADsmo-por-aleister-crowley

Amar e Perder

Uma das coisas que mais traz sentido a nossa existência é o amor. Embora não seja algo passível de ser totalmente abarcado pela filosofia – ou, pela razão, por assim dizer –, tivemos a sorte de poder contar com alguns grandes pensadores que trataram do amor, e da perda do amor. O que seria mais traumático, amar e perder, ou jamais ter amado verdadeiramente? A resposta para essa questão, tão essencial, muitas vezes esbarra em nossa falta de compreensão do que quer que seja “amar verdadeiramente”. Quase sempre, só nos damos conta de um amor verdadeiro após o termos perdido…

Em seus Ensaios sobre a amizade, Michel de Montaigne nos traz um exemplo do tipo [1]: “O falecido Senhor de Monluc, o marechal, quando conversou comigo sobre a perda do filho (um cavalheiro muito corajoso, de grande futuro, que morreu na Ilha da Madeira), enfatizou, entre outras tristezas, o luto e a mágoa que sentiu por nunca ter se mostrado para o filho e por ter perdido o prazer de conhecê-lo e aproveitar sua companhia. Tudo por causa de sua mania de lidar com ele com a gravidade de um pai rígido. Ele nunca falara sobre o imenso amor que sentia pelo filho e sobre como ele o considerava digno de sua virtude. ‘E tudo o que o pobre menino viu de mim’, disse ele, ‘foi um rosto fechado, cheio de desprezo. Ele se foi acreditando que eu não era capaz de amá-lo ou de julgá-lo como ele merecia. Para quem eu estava guardando tudo isso, a afirmação do amor especial que eu cultivava em minha alma? Será que ele não deveria ter sentido o prazer trazido por ela e todos os elos da gratidão? Eu me forcei, me torturei, para manter essa máscara boba e assim perdi a alegria de sua companhia – e também sua boa vontade, que deveria ser muito pouca para comigo. Ele nunca recebeu de mim nada além de rispidez ou conheceu nada além de uma fachada tirana’.”

Tal relato tão sincero de uma relação familiar do século XVI nos demonstra como passam os séculos, mas nossa angústia existencial muitas vezes gravita em torno do amor, o grande Sol da vida. No entanto, vivemos como roedores encondendo-se nas tocas e túneis de nossa alma, sempre com medo de encarar tal luz solar frente a frente, sem as máscaras apropriadas. Toda nossa sociedade, todo nosso racionalismo: um grande manual para quando e como amar. Obviamente, um manual absurdo e enganador. O amor é livre, não segue liturgias nem manuais de boa conduta, e jamais, jamais pode ser capturado – assim como os raios solares, que podem no máximo aquecer nossa mão, mas não encerrarem-se nela.

Não há como se amar com garantias, seguros de perdas. O risco de se amar é o risco de se viver, verdadeiramente: eis a essência do existir. Quando Montaigne cita a verdadeira amizade em seus Ensaios, está a falar em realidade do verdadeiro amor. Supreendentemente, seu grande amor não foi sua esposa ou algum parente, mas um amigo (e estamos aqui falando de uma amizade sem conotações sexuais, por favor). “Pior”, um amigo que conheceu já no fim de sua vida, e que conviveu por pouco anos, já que ele era mais velho:

“Em nosso primeiro encontro, que acabou acontecendo por acaso em uma grande festa em uma cidade, nos descobrimos tão amigos, tão conhecidos, tão unidos, que, a partir dali, ninguém foi mais próximo do que nós dois […] Por ter tão pouco tempo para durar e por ter começado tão tarde, já que nós dois éramos homens feitos e ele alguns anos mais velho do que eu, não havia tempo a perder seguindo o padrão das amizades menores e comuns, que exisgem tantas precauções e longas conversas preliminares. Essa amizade não tinha nada a seguir a não ser a si mesma […] Não havia nada em especial, mas algum tipo de quintessência em que tudo se misturou e, tendo capturado minha vontade, me fez mergulhar e me perder na dele. E, tendo capturado a sua vontade, também o fez mergulhar e se perder na minha com uma fome e uma vontade iguais. Digo ‘perder’ com convicção. Não guardávamos nada um do outro. Nada era dele nem meu.”

Montaigne citava Étienne de La Boétie, um filósofo conterrâneo da França, e para o qual escreveu este e outros belíssimos trechos em sua homenagem, nos seus Ensaios, já anos depois da morte do grande amigo. Há que se notar com que entusiasmo Montaigne fala sobre uma amizade tão grandiosa, um verdadeiro entrelaçamento de almas, mas que no fundo também se tratava de um amargo lamento sobre a perda de alguém tão querido… Amar e perder, será esta a nossa sina? Será que o sofrimento, a ferida aberta da saudade persistente, valem os breves períodos da mais pura das felicidades?

Epicuro não tinha esse tipo de dúvida, para o filósofo grego, que era conhecido por morar com os próprios amigos e filósofos em uma casa de largo jardim, só a amizade valia a pena: “De todas as coisas que nos oferecem a sabedoria para a felicidade de toda a vida, a maior é a aquisição da amizade… Alimentar-se sem a companhia de um amigo é o mesmo que viver como um leão ou um lobo.”

Essa busca pela felicidade na amizade, no querer o bem ao outro, não poderia ser eclipsada nem mesmo pela morte. Afinal, para Epicuro, a morte era o mesmo que nada: “A morte não significa nada para nós, justamente porque, quando estamos vivos, é a morte que não está presente; ao contrário, quando a morte está presente, nós é que não estamos. A morte, portanto, não é nada, nem para os vivos, nem para os mortos, já que para aqueles ela não existe, ao passo que estes não estão mais aqui. E, no entanto, a maioria das pessoas ora foge da morte como se fosse o maior dos males, ora a deseja como descanso dos males da vida” [2].

É então que, conforme nos alertou o Dalai Lama, vivemos como se não fôssemos morrer, e morremos como se jamais tivessemos vivido [3]… Esta sim é a sina dos que se abstém de amar, por temor da perda, e terminam os seus dias com um certo arrependimento obscuro de nunca terem tido a chance de absorver um pouco da luz do Sol, mesmo que para nunca mais ter a mesma experiência… Quem vai saber? Quem pode definir quantas vezes irá amar, e quantas vezes irá perder o amor? Quantas vezes será verdadeiramente feliz, para então voltar ao estado de tristeza habitual: a tristeza de ter experimentado o Céu, para uma vez mais cair no pântano do Mundo?

A única coisa que o sábio poderá responder é: “não sabemos, não fazemos a menor ideia”. Porém, do pequeno monte de sua sabedoria, ainda que tenha rolado uma vez mais abaixo, o sábio pôde ver, ainda que de relance, toda a imensidão da montanha que se estende no País do Amor. É para lá que ele, desde aquele dia, deseja retornar… É para este objetivo que ele dedica boa parte dos seus dias, e um bom tanto dos seus pensamentos… É precisamente esta ponte, a ponte que se eleva sobre o pântano das máscaras e dos hábitos moribundos, e se conecta a toda a liberdade, e todo o divino risco do amor, que ele deseja percorrer agora: pé ante pé, sonho após sonho, ele deseja nalgum dia acordar neste Céu de Liberdade.

E, uma vez tendo chegado lá, talvez toda a mágoa, toda a dor, toda a saudade, toda a profunda tristeza da perda de tantos e tantos amores pelo caminho, seja recompensada pela visão de tal Sol, de onde todos os suspiros de primeiro encontro partiram, e para onde todas as derradeiras lágrimas de despedida escorreram de volta… É isto, é apenas isto, o grande sentido, a misteriosa e escancarada essência da vida: é, sim, melhor, muito melhor, ter amado tanto, e cada vez mais, e ter sofrido tanto por saudade deste amor, e cada vez mais, do que nunca haver sequer amado, do que se despedir desta vida sem saudades, sem grandes tristezas e sem momentos de felicidade realmente dignos de nota. O que conta é o amor: não importa se o tempo passou, o amor ainda estará lá, aguardando ser redescoberto na luz da eternidade.

Para Teresa, Flávio, Flávia, e todo o amor envolvido…

***
[1] Publicado no Brasil com o título de Sobre a amizade, num pequeno livro da Editora Tinta Negra, com a luxuosa introdução de Viviane Mosé (filósofa brasileira).
[2] Trecho de Carta sobre a felicidade (a Meneceu), publicado pela Editora Unesp.
[3] Na verdade este é um antigo ditado da sabedoria milenar oriental, do qual não sabemos ao certo o autor original.

Crédito da foto: Heide Benser/Corbis

O Textos para Reflexão é um blog que fala sobre espiritualidade, filosofia, ciência e religião. Da autoria de Rafael Arrais (raph.com.br). Também faz parte do Projeto Mayhem.

Ad infinitum

Se gostam do que tenho escrito por aqui, considerem conhecer meu livro. Nele, chamo 4 personagens para um diálogo acerca do Tudo: uma filósofa, um agnóstico, um espiritualista e um cristão. Um hino a tolerância escrito sobre ombros de gigantes como Espinosa, Hermes, Sagan, Gibran, etc.

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#amor #Espiritualidade #Filosofia #morte

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/amar-e-perder

Anotações sobre o Liber C vel Agape

O Livro sobre a Revelação do Santo Graal, onde se discorre sobre o Vinho do Sabat

Amor é a lei, amor sob querer.
O Sol é o Vinho, a Lua é a Taça.
Vertido seja o Sol na Lua.
Hafis

“Inverte o círculo três vezes
e cerra temerosamente os olhos:
ser-lhe-á concedido do mel do orvalho
e do leite do paraíso.”
Sal Philosophorum

“De um lado Baco, o Criador de ambos os sexos, do outro lado um tigre em pleno salto, devorando os cachos de uma vinha em forma de gente, cujas mãos recebem do mesmo Baco uma outra videira. Esta gravura representa a vinha entre os atributos criativo e destruidor de Deus: um deles dá o fruto, o outro imediatamente o devora. No pescoço do tigre enrola-se uma guirlanda de hera, o que mostra que o destruidor e o criador são Um. A hera (como também outras trepadeiras sempre-verdes) simboliza a Juventude e a Virginalidade perenes.”

Criatio in Principio

De tua mão, ó Senhor, provém todo o Bem: de ti provém toda a Misericórdia e a Bênção! Os sinais da Natureza são indicados por teus dedos, contudo só quem aprendeu em tua escola é capaz de decifrá-los. E como os servos miram as mãos de seu Senhor e as criadas as de suas amas, assim nossos olhos te seguem, pois tu sozinho és nossa ajuda. Ó Senhor Nosso Deus, quem não louvar-te-ia? A ti, o Senhor do Universo! Tudo provém de Ti, Tu és Tudo, a ti tudo retorna! Tu sozinho és os Senhor e não existe outro além de ti! Quem não honrar-te-ia, ó Senhor do Universo, a quem ninguém se iguala, que tem morada exterior no céu e interna em nossos corações? Ó Deus, imensamente grande e indizivelmente pequeno, estás em todas as coisas e todas as coisas estão em ti. Ó Natureza! Tu mesma derivaste do Nada! Como deveria eu chamá-la? Em mim mesmo não existe mais que eu mesmo: Sou em Ti o Nada verdadeiro! Vive, pois, em mim e conduze-me ao Ser em Ti”.

Instrução do O.H.O. a Baphomet

Merlin [Reuss] pela graça do Deus que é três em um, e pelo consentimento do Mestre do Oculto, conferem o Serviço à Humanidade e entre vós como Chefe Externo da Ordem, exaltado O.H.O, a Baphomet [Crowley] Summus Sanctissimus Xº O.T.O. da Irlanda, Iona e Bretão no Santuário da Gnosis, Grão-Mestre dos Cavaleiros do Espírito Santo, o mais alto comandante e Poderoso Soberano da Ordem Sagrada do Templo, etc., Saudações e Paz em todos os nomes santos e misteriosos do mais verdadeiro e sempiterno Deus, e em Palavra e em Espírito Santo.

Ouve tu, ó mais-que-santo, Irmão-Mor e mais iluminado, minha palavra, e acata meu conselho e meu sermão.

Encerra minha palavra em teu coração e sela teus lábios!

Revela isto somente a quem o merecer: e manifesta-o apenas àqueles que crêem.

Há algum dentre vós mui distintos Senhores Cavaleiros [Sir] que são soberanos grão-general-inspetores e que minha palavra compreenda? Há alguém em Konistorium [Conselho da Ordem] que compreenda a O.T.O. verdadeiramente?

Procurai e vede: revelai a mais íntima vontade de cada cavaleiro e ungí-a com um juramento. Testai-a ademais ao extremo e conduzi-a à derradeira prova.

Iniciai-a então secretamente no mais alto mistério: deixa-o então participar do último dos Mistérios.

Pois somente neste Arcano e neste apenas jaz a Divindade, sim, aquele que o possuir já não será um homem, mas DEUS.

Ex conventu
Ettae
die Mariae
Sacrificatae An VIII [1912]

Salutatio

Baphomet, sob a Graça do Deus Uno e Tripartido e sob o beneplácito e a nomeação da O.H.O. e do Mestre Secreto: Rex Summus Sanctissimus Xº O.T.O. da Irlanda, Iona e o Bretão no Santuário da Gnosis, Grão-Mestre dos Cavaleiros do Espírito Santo, Lugar-Tenente Comandante [Komtur] da Sagrada Ordem do Templo, aos mui distintos senhores Cavaleiros [no âmbito de] um Grande Soberano e Inspetor-Geral do Antigo e Presumido Rito de 95º do Real Ritual de Memphis inteiramente iniciado nosso Augusto IXº, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, um Deus, IAO, eterno, indivisível, Todo-Poderoso, Onisciente e Onipresente.

Graças a Deus e à graça de Nosso Senhor Jesus Cristo e a presença do Espírito Sagrado esteja convosco, hoje e até o final dos dias. Amém.

Aqui se segue agora o secretíssimo dos Secretos, a chave de toda Magia, sob a amorosa bondade do O.H.O. me é revelado sob vossa Instrução e Proveito.

Lege. Judica. Tace.

De Natura Arcani

“Sou o A e o O, o Princípio e o Fim. Eu, a quem
tem sede darei de graça da fonte
da Água da Vida. Vencedor tudo isto herdará
e eu lhe serei Deus e ele me será filho”
Apocalipse, 21:6-7

“Ex henos ta hanta genesthai, kei eis t’auton analuesthai.”
Plato, Phaedr.

Achega-te a mim, para que eu te possa descortinar a mais imensa das maravilhas. Sabei, nosso início é em Deus, e nosso fim é em Deus: isto constitui-se assim na Grande Obra, para a conquista da Divindade.

Compadecido e com afetuoso amor descortinou ele os campos da antigüidade para o caminho da [para tanto necessária] prontidão contida. Os gnósticos e os maniqueístas têm-no preservado [o caminho da prontidão] em todas as suas arqui-secretas congregações, tal como o aprenderam dos grandes magos egípcios: tampouco aos crísticos era estranho este mistério, nem aos adoradores de MITHRAS. O mistério jaz oculto na Fábula de Samsão; e nosso Senhor Jesus Cristo proferiu-o pela boca dos Amados Discípulos.

Este foi o mais oculto dos mistérios dos Senhores Templários e os irmãos Rosa-Cruzes o conservaram em seu Colégio do Espírito Santo. Diretamente deles e de seus seguidores os Irmãos Herméticos da Luz. Nós o recebemos e agora o transmitimos.

Sabei que o mistério consiste num determinado Rito, numa Alta Missa que se faz celebrar no Templo do Sagrado Espírito. Não sois vós então Reis e Sacerdotes de Deus, Mui Elevados Senhores Cavaleiros e meus amados e iluminados irmãos [IXº – XIº]?

Este é o verdadeiro sacramento [do Esperma e do Glúten] através do qual vós ides tomar parte no corpo e no sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo – não em sua morte mas em sua Ressurreição. Através disto vos tornais crianças da Luz, Veículos do Espírito Santo, totalmente puros, cavaleiros do Santo-Gral, Majestosos Cavaleiros da Ordem Sumamente Sagrada dos Kadosch. Através disto obtende vós GNOSIS; através disto tornai-vos Membros do Santuário [da O.T.O.].

Abençoados aqueles que recebem esta oferenda e assim adquirem direito à Árvore da Vida, podendo penetrar na cidade pelo portal adentro.

Pois cães e magos e prostitutas e assassinos e idólatras estão sem [este sacramento] e também todos aqueles que amam a mentira.

E o Espírito e a Noiva dizem: Vinde! E deixai que aquele que ouve diga: Vinde! E deixai que o sedento diga: Vinde! E quem ainda quiser, deve graciosamente tomar da Água da Vida .

De Alechemis

Nossos iluminados irmãos os Alquimistas eram sábios na Sabedoria de Deus e hábeis nas habilidades humanas – eles se consagravam extensivamente à magia material para encontrar a medicina dos metais, do Aço dos Sábios, a Tintura Alva e a Vermelha, o Elixir da Vida.

Pois (assim dizem eles) com a prosperidade vem o ócio, através da saúde, energia e com uma vida longa um tempo a mais: tudo isso queremos consagrar à execução da Grande Obra.

Eles possuíam verdadeiramente esse segredo, que a Tradição não perdeu com o passar dos séculos.

Ó tu que lá no alto estás com Deus!

Ó tu Eleito dos Homens!

Ó tu sobre quem caiu a Misericórdia de Cristo!

A ti desvelamos o indizível e insondável Mistério. Passamos a confiar-lhe o Arcanum Arcanorum, o ocultíssimo Tesouro dos Sábios. Sem ele, tudo se torna frio, inerte, morto. Com ele tudo é fogo, força, espírito, criação. Esta é a porta para todas as portas do Reino dos Céus! Este é o Cetro do Rei, que lá habita.

A posse e o correto uso desse mistério possibilita centuplicadas forças. Sim, verdadeiramente cêntuplo é o ganho. Pois este mistério foi passado diretamente por Jove ele-mesmo, cuja letra PK é: as iniciais de nosso Athanor e de nosso Curcurbite , como são em grego denominadas.

E verdadeiramente nomeio dessas forças apenas sete, a Eleusis da Glória, a Estrela sobre o Firmamento dos Irmãos da Hermética Luz.

Lua: A primeira delas é a construção dessa, que é não-nascida, e deveras transforma-se num prodígio.

Vênus: A segunda é a Harmonia e a Maestria desta, que simultaneamente e com amparo ajuda – desde sempre tua gêmea e consorte.

Marte: O terceiro traz juventude, beleza e força, com os quais tu nunca envelhecerás.

Saturno: O quarto traz o prolongamento da vida.

Mercúrio: O quinto é a obtenção do Altíssimo, a Magia da Luz.

Júpiter: O sexto te protege e te auxilia a estabelecer-te no mundo dos negócios. Ele o conduz a um alto nível e à honra.

Sol: Através do sétimo recebes toda Luz e reconheces o terreno, pois tu compreendes tanto a alma terrena quanto a alma espiritual do homem.

Não é esta propriedade mais valiosa do que toda a imundície da Terra?

Não é uma pérola mais cara do que todos os tesouros marinhos?

Não compensa, por este objetivo, despires-te de toda a indumentária? Um preço, que para alcançá-lo nenhum esforço é cansativo demais, nenhum movimento excessivamente exaustivo, nenhum sacrifício demasiadamente grande. E que de tuas mãos jorrem bênçãos, sim, verdadeiramente e Amém, seja tua cornucópia elevada para todo o sempre.

Tu esforçaste-te para tanto e o conseguiste! Ei-la aqui, ei-la aqui, não menos, aqui nesta hora em que te corôo, aqui no Santuário da Gnosis, Elevado, Iluminado e agora três vezes Sagrado Irmão da O.T.O..

De Natura

Aprende primeiramente o que concerne à natureza. O fundamento da vida mineral é matéria [Hyle] e é escuridão.

O fundamento da vida das plantas á a clorofila e é verde.

O fundamento da vida animal é o sangue e é vermelho.

O fundamento da vida divina é Luz, cujo mais suave brilho vai além do violeta.

Portanto ninguém [na O.T.O.] tem permissão de usar seja o que for de violeta exceção feita aos OHO e seus substitutos diretos Mais Sabios Soberanos Grande Mestre Geral, o Mais Potente Soberano Grande Comandante da Grande Loja e Soberano Geral Comandante o mais elevado e santo Regente Xº de cada país.

De Nomine Dei

[Encontra-se aqui o Hexagrama como foi desenhado por Eliphas Levi, o fundo contudo não está tão escuro]

Eu vos conjuro, Altos Senhores Cavaleiros e Plenamente Iluminados Irmãos [IXº] compreendai que este Mistério depende de um mais alto do início ao fim .

Ele não está representado de maneira que nosso entendimento possa compreendê-lo: e ainda que nossos corações dissolvam-se em Amor, nós não o alcançamos, pois ele, assim como o Sol é a alma, que por sua vez o reflete, ainda assim não o contém.

Agora é Ele o Pai, que gera a Palavra, que transforma, e o Espírito, que recebe: assim é também o Espírito que do pai emana, a Essência, que une o Pai ao Filho: e este Mistério está oculto em muitos nomes secretos, que agora lhes serão descortinados, vós Mui Elevados Senhores. Cavaleiros e Totalmente Iluminados Irmãos de nossa Antiga Ordem.

Aprendei portanto esta nossa terceira divisa de nosso Mais Alto Conselho, a significação mística. DEUS EST HOMO, i.é., Deus é Homem. O que significa também: ASSIM ACIMA COMO ABAIXO: ASSIM FORA COMO DENTRO. Não existe parte alguma do homem que não seja de DEUS: e não existe parte alguma de DEUS que não tenha sua correspondência na Humanidade.

E aprendei isto: nunca alcançarás Deus: pois tudo o que compreendes é tua própria criação como d’Ele Próprio. Tu O conheces, pois és Ele. Portanto há três no Céu, que disso prestam testemunho: o Pai, a Palavra e o Espírito: e estes Três são Um. E há deles Três na Terra, que disto dão testemunho: o Espírito, a Água e o Sangue: e esses Três são Um.

Neste três-em-um IAO o Pai é o I, o Espírito o A e O a Palavra: e aí A é o Espírito, M a água e Sh o Sangue: tudo isso perfaz 358: MS-hlCh, o Messias, nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, que por Sua morte liberou o Espirito, a Água e o Sangue – como testemunhou o Santo João em seu Evangelho. Deste modo Jesus Cristo é o Alpha e o Omega, o Símbolo da União de Deus com a Humanidade.

E aqui reside a segunda tríplice-unidade: DEUS, DEUS-Humanidade, Humanidade. E a este DEUS-Humanidade nossos antigos irmãos deram muitos nomes.

E mesmo tendo o Cristianismo profanado completamente o nome de Jesus Cristo, foi Ele preservado por nossos verdadeiros irmãos Rosa-Cruzes: e o que d’Ele se diz nos Evangelhos, nas Epístolas e no Apocalipse é verdadeiro, desde que interpretado à luz do Discípulo da Pedra [o sábio].

Portanto nossa salvação reside no DEUS-Humanidade: n’Ele somos ambos, DEUS e homens. O Testemunho disto foi traído e a quantidade dada maculada – assim como está escrito: “Não atireis vossas pérolas aos porcos, para que a vós não retornem, destruindo-vos!”

Por esta falha na guarda dos Mistérios foram os Adeptos perseguidos por 2000 anos. Atentai, Reverendíssimos Senhores Cavaleiros, que por vosso erro a verdade não se perca. Não confieis em estranhos: procurem por um herdeiro [do Mistério].

De Arcano Fratum Amussis

Dele é Nosso Senhor o Pai-Filho, Criador, Mantenedor e Destruidor, Um, Altíssimo, Plenipotente, Dispensador da Vida e da Morte, Imperador e Vice-Rei dos Céus: e na Terra temos Seu Representante, a Imagem Sagrada [Eidolon] na área aliada, da qual somente falamos de maneira encoberta, pois Ele está acima de tudo, do que é e do que há de existir, sagrado e oculto, o Archote no qual Prometeu nos trouxe o fogo celestial.

E tanto a Imagem quanto o Filho do Pai Supremo suportam morte e ressurreição: e os símbolos se correspondem: e as festas tanto de uma quanto da outra têm sido comemoradas através dos tempos pelos que crêem. E a massa néscia acabou por confundir ambos esses rituais na qual os ritos e processos de um e de outro se confundem; e assim passou a imperar a incompreensão e a ignorância. Portanto, tem-se festejado na Páscoa a crucificação e a cópula e, nove meses depois o nascimento da criança, que viveu 33 anos, o que significa uma geração humana inteira, tendo sido então crucificado. Isto se dá simultaneamente com o declínio do Sol pelo Equador e seu ressurgimento, e se renova com a batalha diária de morte que o Sol perfaz. E agora podem nossos Irmãos possuidores da verdadeira chave de todas as religiões [compreender que] todos os cultos representam quer os mistérios do Lingam e da Yoni, ou os do Sol, Lua e Terra, que em si mesmos encerram todos os ritos, criando novas crenças e novas festas, regendo o mundo de direito e por direito sob a égide do Altissimo e Sacríssimo Rei Xº, que se constitue em seu Pai e Deus.

Este é portanto o mistério dos velhos hierofantes, ou seja, o de que os homens podem unificar neste culto o Sol no Céu e o Falo sobre a terra, pois tais Mistérios iluminam e são verdadeiros, e não há quem o possa negar. Ou seja, o que está escrito: “Paz na Terra e Alegria aos Homens”!

E este é o mistério final e verdadeiro da maçonaria: não é este Sol o Construtor Todo Poderoso de todos os mundos, o Pai do Universo, a Representação do Macrocosmos? E não é este Falo o Todo Poderoso Construtor deste outro universo humano, o pai dos homens, a representação do Microcosmos? Não é esta uma Verdade que foi confirmada pela boca de duas testemunhas? Estai, portanto, vigilantes, preservai o Deus de realeza que habita em vós na imundície, conservai-o puro diante de vosso Senhor, que é a verdadeira Luz, Vida, Amor e Liberdade.

Cuidem, portanto, para que nessas preleções nenhuma palavra seja dita a mais: e que vós através de profunda e contínua leitura dos textos iluminai vossas almas.

Finalmente, sede verdadeiramente iniciados maçons: agora finalmente sois merecedores de executar o ritual adequadamente e com probidade – sede vós os portadores da Luz, Vida, Liberdade e Amor a todos os homens livres, maiores de idade e de boa reputação, e concedei a eles o acesso a esta Loja.

De Sactissime Trinitate

A mais-que-sagrada Tri-Unicidade, Una e Indivisível, encontra-se oculta:

Por nossos Irmãos egípcios arianos no trigrama AUM

por nossos Irmãos egípcios no trigrama AuMN

por nossos Irmãos árabes no trigrama ALL

(o L se dobra para denotar a natureza dupla do Logos)

por nossos Irmãos gnósticos no trigrama IAO

por nossos Irmãos hebreus no trigrama IHV e AMN

por nossos Irmãos chineses no trigrama TAO e em seu símbolo

por nossos Irmãos rosa-cruzes no trigrama INR e em seu símbolo

por nossos Irmãos da Arca Real na tríplice palavra de seu grau

por nossos Irmãos maçons pela palavra tríplice de seu Grau de Mestre

por nossos Irmãos cristãos no trigrama IHS e por nós mesmos à nossa própria maneira e modo de muitas formas secretas e sabidamente pelo trigrama O.T.O..

Vós conheceis ainda muitas outras designações d’Ele: todas contudo significam Um: e embora Ele seja Tudo, esteja em Tudo, sobre Tudo e sobre Todos, existe ali um aspecto que todas as descrições enfatizam, qual seja o de que ele é Um com nossa Natureza, tanto em carne como também em espírito.

De Meditatione

Por ser ele Tudo e por através dele estarem todas as coisas ordenadas, apesar da completa confusão, a diversidade sobrepujou a Unicidade, o Uno.

E aqui jaz a razão: nenhum homem sozinho é a representação completa e proporcional de Deus, como também nenhuma mulher sozinha o é. Pensai exatamente acerca destas palavras e percebei o que elas não dizem.

Quando nossos irmãos na China fecham um contrato eles costumam rasgá-lo ao meio e cada parceiro recebe uma metade, de tal forma que apenas juntando-se as duas partes a coisa fica inteira. Da mesma maneira dão-se as coisas em relação ao Reino dos Céus.

Esta é portanto a introdução. Até que não contenhais a outra metade na parte posterior de sua cabeça, não o compreenderás.

Esta é portanto a Obra do Criador, que dividiu, para poder reunir novamente.

Foi a Grande Obra perpetrada em Nosso Senhor Jesus Cristo.

Segue-se aqui o Liber 333 [Crowley], Capitulo 36.

A Safira Estrela

Que o Adepto esteja munido de sua Cruz Mágica (e provido de sua Rosa Mística).

No centro [do círculo mágico] que dê os sinais L.V.X.; ou, caso os conheça, e [se quiser e ousar, e puder manter silêncio sobre eles] os de N.O.X., sendo eles os sinais de: Jovem, Homem, Donzela, Mulher. Omita o sinal de “Ísis Regozijando”.

Que vá em direção ao Leste, faça o Hexagrama Sagrado e diga: “PAI E MÃE, DEUS UNO ARARITA”.

Que gire em direção ao Sul, faça o Hexagrama Sagrado e diga: “MÃE E FILHO, DEUS UNO ARARITA”.

Que gire em direção ao Oeste, faça o Hexagrama Sagrado e diga: “FILHO E FILHA, DEUS UNO ARARITA”.

Que gire em direção ao Norte, faça o Hexagrama Sagrado e diga: “FILHA E PAI, DEUS UNO ARARITA”.

Que retorne ao Centro, e então Ao Centro de Tudo (fazendo a Rosa-Cruz como deve conhecer) dizendo: “ARARITA ARARITA ARARITA.”

(Então os Sinais serão os de Set triunfante e de Baphomet. Set também aparecerá no Círculo. Que beberá desse Sacramento e o comunique.)

Que então diga: “TUDO EM DOIS: DOIS EM UM: UM NO NADA. O QUE FAZEM QUATRO OU TUDO OU DOIS OU UM OU NADA.

GLÓRIA AO PAI E MÃE E FILHO E FILHA E ESPÍRITO SANTO EXTERNO E ESPÍRITO SANTO INTERNO QUE FOI É E SERÁ ATÉ O FIM DO MUNDO SEIS EM UM PELOS NOMES DE SETE EM UM ARARITA.”

Que então ele repita os sinais L.V.X. mas de não os N.O.X.: pois não é ele que ascenderá diante de Ísis Regozijando.

De Tota Symbola Dei

Te proteja, caríssimo Irmão, que não te confundas e te atoles no raciocínio sobre a Unidade: pois o Primeiro Princípio aparece em sua forma contrária. Pois é Ele teu Pai e tua Mãe, apesar de que o modo pelo qual o apreendes possa se ter alterado. Agora macho e fêmea estão opostos, embora n’Ele não exista nenhuma antinomia.

Estuda pois o símbolo inteiro e, ainda que o gires e o revires, ele não se altera. Vai de abismo em abismo! O encontrarás sempre como Nada e sempre como Muitos e sempre como Um e sempre como Tudo.

Como já o dissemos, o símbolo inteiro é tríplice. Freqüentemente, porém, homens sábios e santos o representaram com Dois-em-Um, o terceiro tornado invisível. Exemplos são: o ponto no círculo, Lingam e Yoni, a Rosa e a Cruz, o círculo subdividido dos chineses, a cruz no círculo ou o diamante [cruz no quadrado], a torre e a nave da igreja, a cruz tríplice e eneavada em diamantes invisíveis, diante dos quais os membros de nosso Superior Conselho antepõem suas assinaturas, entre outros.

E cada um desses símbolos testemunha a Grande Obra: o êxtase de reunificar-se com o Todo. Pensa portanto em:

1. DEUS e Humanidade como Humanidade-Deus.
2. Sujeito e Objeto em Samadhi.
3. Macho e Fêmea como Humanidade.
4. Círculo e Quadrado em k (pi) ou: como queiras: TUDO É UM.

[Segue-se aqui a Ilustração de Baphomet e do Microcosmos por Vitruvius.]

Alter Tractatus De Trinitate

Lavado em puro vinho e consagrado pelo fumo da cozinha da Luz aparece tiritante em puro júbilo diante da Arca, enquanto o véu do Mistério-Todo-Sagrado é rasgado pela espada do Grande Mestre do Todo Altíssimo.

Vê a sacramentada Tri-Unicidade, Una e Indivisível, IAO. Uma é a Tri-Unicidade Toda-Consagrada: e três suas pessoas ou máscaras. Um é seu Espírito, Um é sua Especificidade, sua Mutabilidade. Ararita! Ela é o Sêmen, que através de todas as alterações permanece o mesmo, se conserva o mesmo, protegido e Todo-Abrangente, IAO SABAO.

Agora é o Pai Um, vertical [ereto], Uno, Eterno.

E o Filho é Um, na similitude com o Pai, e contudo duplo em sua natureza de Deus-Homem. E reside aqui um Mistério: pois por ele ser Palavra, é Espírito que emana do Pai e cria os mundos.

E o Espírito é Um, Não-Nascido, mas permanentemente Existente, o Sêmen, do qual Pai e Filho em Verdade são meros Guardiões e Veículos. E a natureza do Espírito é Liberdade e, como o vento, Ele vai onde quer e a quem lhe compraza, fecundando os mundos.

E assim como o Filho é duplo, é duplo o Espírito: pois é ele ambos, macho e fêmea. Pois a pomba é o pássaro de Vênus: nosso então Irmão Marcus Valerius Martialis, grande conferencista do Império Romano na Antigüidade, encobriu o Falo Sagrado nesse quadro. Ele é a Mãe. Ele é o Regaço. Ele é o esperma que fecunda o óvulo; não, Ele é a coisa fecundada, auto-pulsante, que não é esperma nem útero, mas o casamento desses dois, a Tintura Perfeita, a Medicina dos Metais, a Pedra dos Sábios, o Remédio Universal, o Elixir da Vida.

É ele a Pomba que, em seu retorno à Arca de Noé, trouxe em seu bico um ramo de oliveira. É ele a Águia de Júpiter, o Cisne de Brahman.

Esta duplicidade causou intermináveis mal-entendidos na compreensão usual. Pois não fica aí entendido que o homem é o guardião da vida divina e a mulher apenas sua transitória ajudante: o depositário de Deus mas não o próprio Deus. E assim blasfema quem quer que cultue a falsa Tri-Unicidade de Pai-Mãe-Filho; bocarras cegas que cospem veneno: que pereçam no Dia do Conosco-Estai!

Além do mais, é o Espírito Santo a Unidade na Tri-Unicidade, o Pai e o Filho que são os guardiões da Quintessência mesma, herdeiros da Quintessência, [guardiões] do próprio âmago quintessencial, não são contudo a Quintessência ela-mesma. E esta é Divina [ocorre no céu]: na Terra unem-se contudo o Filho Pai e Espírito como Homem e Mulher, Deus e Homem. Este Mistério não será compreendido enquanto [fazendo uso] dos instrumentos divinos o homem não se aperceba e aperfeiçoe-se nisso, da maneira como foi aqui revelado, Altíssimos e Iluminados Irmãos.

De Una Substancia

[Aqui se encontra a Tábua Esmeraldina de Hermes Trimegistos]

Deus é Espírito e Verdade é Una: e Uno é Deus em matéria e ilusão. Ó Irmão! Ó Iluminados e Excelsos Senhores Cavaleiros, guardai isto tão energicamente quanto o punho da espada na hora do perigo!

Una é a Essência Divina e Una é a Essência Humana.

Mas assim com Deus é apenas Um, pois ele é três em Um, assim também é Uno o Homem, sendo ele dois em Um.

Assim como a Essência de Deus jaz n’Ele mesmo, da mesma forma ocorre também com a Essência Humana.

Mas em virtude de não ser o homem ele-mesmo, mas apenas uma parte de si-mesmo, essa essência (Divina) não se encontra nele de forma plena. Ela só pode ser encontrada plenamente sem ele, e pode ser obtida “per se” através da pureza do Sacramento Eucarístico.

De Cena Suprema

[Título Original: “De Sacrificia Eucharistico”]

Ler João IV:13-16, 31-32, VI:27, 48-58: VIII: 38,1. Epístola de Paulo aos Coríntios X: 1-4, 16-17 e 23-30:XIII:3.

O sacramento se celebra em duas etapas: pão (o feminino) e vinho (o masculino).

O pão é solido, branco, o fruto da Terra, o alimento do Homem, o Corpo de Cristo, a
Tintura Branca.

O vinho é fluido, vermelho, o fruto da videira, Fonte da Humanidade, o Sangue de Cristo, a Tintura Vermelha.

Este bi-partido sacramento é mortal: nele a Grande Obra não se consuma. A vida não está nem no pão nem no vinho: e ainda que eles possam ser o corpo e o sangue de Cristo, não são o próprio Deus, pois o Deus pregado na cruz não é o rei ressurrecto.

E, portanto, mui excelsos Senhores Cavaleiros e plenamente Iluminados Irmãos, eu vos conclamo a que cheguem à compreensão de que este sacramento de morte pouca serventia tem.

Deveis participar da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo em sua ressurreição: e só então a essência do sacramento do Elixir da Vida tornar-se-á autêntica.

Pois há de haver um e não dois, quer seja masculino ou feminino, sólido ou líquido. Ele conterá todas as possibilidades e sem isso nada será possível.

É o fogo prometéico no bem lubrificado Candeeiro de Vesta, a Kneph do Sacerdote de Memphis, o Disco Solar nos braços de Kephras: e a serpente que se enrodilha em volta do ovo.

Perguntai a nossos Irmãos, os alquimistas, e aos adeptos da Rosa e da Cruz. A primeira resposta: nada mais é do que o Leão com seu sangue coagulado e com o glúten da Águia Branca: é o oceano, que o Sol e a Lua banham. A outra: é o orvalho sobre a Rosa, aquele que oculta a Cruz. Perguntai aos antigos: sua resposta é que o mais velho dos deuses é Saturno. Tomai todo cuidado para que nisto não haja engano.

De Quintessencia

[Representação da Carta do Tarot “A Temperança”]

Abençoado seja aquele que a nós desvelou o Arcano dos Arcanos: é ele a Pedra Dissolvida: é o Elixir da Vida, o Remédio Universal, a Tintura, o Ouro do qual se pode beber.

Toma um Athanor e um Curcurbite e deixa preparado um Flaconete para este vinho do Espírito Sagrado.

Além disto, necessitarás de uma chama para a destilação. No Athanor está teu Leão, no Curcurbite a águia. Utiliza a princípio somente pouca chama, aumenta em seguida para chama total, até que o Leão apareça. Despeja teu destilado imediatamente no Flaconete que de antemão foi preparado.

De Modo Sacrifici Parandi

Estando agora tudo esclarecido diante de vós, mui augustos Senhores Cavaleiros e Iluminados Irmãos, não ide em atropelo ao Sacramento. Pois é esta Festa Sagrada. é o casamento da alma com Nosso Senhor Jesus Cristo: e deves estar adornado, como está escrito, pois a Filha do Rei é puro esplendor: Sua Vestimenta é de ouro fundido.

Assegura-te de ter cumprido a primeira regra de castidade: pois virginal deves comparecer diante de teu Senhor.

Em segundo lugar é preciso que jejues por sete horas antes de adorar, na Festa, a Tri-Unicidade Divina.

Terceiramente que compareças ao teu “Um” ornado de uma vestimenta multicolorida, que recebeste quando de tua iniciação.

E então, adentre tua Capela Secreta, passa uma hora em oração/adoração diante do Altar, eleva-te em amor a Deus e louva-o em Estrofes.

Efetua então o sacrifício da Missa.

Tendo o elixir sido preparado em silêncio e solenemente, consome-o sem demora. [Acontece agora a decantação da Gnosis sobre a Magia]. E durante todo o tempo mantém tua Vontade inquebrantável, totalmente concentrada sobre a finalidade estabelecida da operação. Além do que confia em Deus, que Ele com sua força conduza teus desejos correspondentemente.

Este é o mais antigo caminho, mas também o mais perigoso, pois há risco de profanação, o que amaldiçoaria teu comer e teu beber.

Reflete também no fato de que necessitas de experiência e de um condutor nas práticas, caso queiras criar/extrair o supra-sumo desta Obra. Quando semeias na ignorância das estações do ano, do clima e do solo, poucas sementes germinarão; o sábio agricultor, ao contrário, auferirá o rendimento ideal. Considera, portanto, que a Eucaristia é de tal tipo que algum resultado [de toda maneira] advirá, pois a Graça de Deus não é passível de ser contida ou manipulada. Se exercitares diariamente, te aprimorarás. E se estiveres na Obra com Espírito e Energia, atingirás a mais alta perfeição e levarás a termo a Grande Obra, antes da Terra ter completado seu segundo giro sobre si mesma. Assim isto deve ser.

[Segue aqui a Décima-Segunda Chave de Basil Valentinus]

[O manuscrito original contém agora as seguintes passagens]

In Fine

A matéria do Sacramento é a Quintessência da Vida de Deus, Deus é Homem. Prepara-te pela castidade, pelo jejum, pela vontade, pela vigília e pela adoração. Veste a túnica de tua iniciação e inflama-te diante do Altar.

Prepara o Elixir de Sangue do Leão Vermelho e do Glúten da Águia Branca. Consome o Elixir tão logo ele esteja pronto.

Exercita-te freqüentemente, pelo menos a cada mudança de Lua ou a cada dia do Senhor.

[Nota: O texto acima foi riscado por Aleister Crowley no manuscrito e falta em todas as cópias].

De Cantu

Este Elixir é o Germe da Vida. E apesar de ser a coisa mais poderosa e refulgente que existe no Universo, como a verdadeira representação de nosso Pai, o Sol, ao mesmo tempo ele é também a coisa mais delicada e mais sensível. Durante o preparo e a consumação permanece com tua espada flamejante para guardar seus portões: venera e inclui aí também a Luz do Todo-Poderoso e o poder das forças de tua operação.

E isto podes fazer adequadamente. Primeiro de tudo, deixa que tua Obra aconteça no Círculo Mágico. Depois, deixa que as forças (conforme indicadas) manifestem-se por invocações e sentenças. Por último, para iniciar a Obra propriamente dita e por toda sua duração, apenas uma invocação deve acompanhar o progresso da Obra:

Para uma Obra de Magia Sexual:

Tu Venus orta Mari Venias tu filia Patris,
Exaudi penis carmina blanda, precor,
Ne sit culpa nates nobis futuisse viriles,
Sed calaet cunnus semper amore meo.

Faze assim sempre com as palavras com as quais teu gênio poético te inspirar.

Contra Segnitatem

(Um sermão do Grão-Mestre da Ordem dos Templários em sua Igreja em Cambridge)

Lembrai-vos da promessa de vossa autoridade, Senhores Cavaleiros, Irmãos e Camaradas. Não desperdiceis vosso tempo com mulheres e torneios de cavalgadas! Pelas oito colunas que sustentam esta sagrada casa, isto não está direito! Verdadeiramente nossa Lei é Alegria, com toda virtude não negamos nossa humanidade, mas errais quando não vêde por detrás de vossos esportes o juramento ao Todo Poderoso. Não é este o cerne da verdade? O âmago da prova?

Portanto, ainda que sejais galantes ou façais torneios de cavalgadas (como o Santo Paulo, o bravo cavaleiro, quis dizer em sua carta) fazei tudo pela Glória de Deus. Mesmo quando fordes acometidos pelo poderio do demônio, sede homens, lutai fervorosamente pela graça de nosso Senhor Jesus Cristo e pensai em sua crucificação entre dois ladrões (como não pensar então na lança que o transpassou?) ali onde ele entregou seu espírito ao Pai, seja por trato ou por sofrimento.

Não digamos “Non nobis domine, non nobis!”? E ainda: “Accendant in nobis Dominus ignem sui amoris et flamman aeternae caritatis.” O que significa, Tua é a Pureza, não minha: e esta é a descida e a morada interior do Espírito Santo.

Não, verdadeiramente Deus est Homo, Deus est in Homine, Homo est Deus, quem creant Elohim. Assim sois cada um de vós masculino e feminino. Fazei, portanto, num o bem, no outro o mal, para que assim a inspiração se aposse de vós, sobre a qual vos asfixiais e morreis no instante de cruzar o portal e descerrar a arca.

Pois está o Espírito do Senhor comigo e eu profetizo.

Se vos não penitenciardes, vossa Ordem vos será arrancada pelo Senhor pela raiz. Eu, o Senhor, rir-me-ei por causa de vossa penúria, e me comprazerei em virtude de vosso medo. Sereis objetos do escárnio dos maus e as mulheres vos insultarão. Pelo grande nome de Baphomet eu vos admoesto a retornar com toda pressa ao Senhor, para que a misericórdia do Leão e da serpente convosco esteja, em nome de MEITHRAS ABRAXAS IAO SABAO.

Ide, pois, Senhores Cavaleiros, uni-vos, Damas e Cavalheiros, mas não deixeis que se obscureça vosso intelecto, não aprisioneis vossa Sabedoria. Conservai a indescritível coroa em sua beleza e de cada lado dela a maravilha que aguarda a todo aquele que segue com verdade seu juramento, que permanece puro, apesar de todas as tentações da vida, assim como a regra prescreve. E a bênção de Deus esteja convosco em Nome do Pai + Filho + Espírito Santo + Amen.

Tractatus De Re Maxima Occulta In Palacio Regis

Reflitai agora ainda que, no jogo cambiante dos opostos o homem é ativo e a mulher passiva, apesar de o homem representar a Alegria e a mulher a Força. É este o Paradoxo Hermético: e aquele que tiver ouvidos que ouvem, que ouça.

Portanto existe [exatamente] uma Arte Mágica que conduz à Vida e uma outra, que conduz à Morte. A primeira termina, a segunda retorna a si mesma. É, portanto, a segunda perfeita, o verdadeiro Ritual do Altíssimo a ser executado para a Missa, até mesmo para nossos sagrados e iluminados Irmãos.

Como Forma prolongada ela faz brotar [a arte mágica] o demônio e suas manifestações impuras, tal como consta “Demon est Deus inversus”. E, embora ela seja, ainda que limitada e não possa ser transmitida vida após vida, a mais alta de todas das ferramentas de clemência, assim como o vinho para a água ela se comporta em relação às outras [artes mágicas]. A seu modo, o que ela faz é elevar a Alma Humana. E quem adquirir maestria sobre isto, achará seu poderio austero. Este era o Segredo das forças de nosso Grão-Mestre Gaius Julius Caesar, de nosso irmão Richard Wagner que foi eminência no Canto em Bayern e de tantos que se tornaram famosos dentro e fora de nossa Ordem, atingindo o tamanho e o brilho dos astros celestes. Esta [arte magica] sobretudo é mais luzidia por conter em si a verdadeira Luz mais que as outras. Aquele que, portanto, for capaz de inverter o turbilhão da matéria é maior que aquele que ali trabalha. Amaldiçoado seja, portanto, e mais uma vez amaldiçoado seja aquele cujas forças se deixam solapar, que seja para sempre destroçado no abismo!

Despertai, meus senhores, sêde vigilantes, intransigentes, perseverantes e estai alertas: pois aqueles que procuram destruir-vos estão à porta!

Mas disso tudo nada está escrito aqui: este é o Livro do Caminho Estreito, que conduz à Vida.

De Lege

Amor é a Lei, amor sob querer.

Não tem então Agape o mesmo valor numérico que Thelema?

A palavra de pecado é restrição.

Faze o que queres há de ser o todo da lei.

Consta também: Também, tomai vossa fartura e desejo de amor como quiserdes, quando, onde e com quem quiserdes! Mas sempre para mim. Teus sejam o êxtase e a alegria da Terra: para mim! Sempre para mim!

Eu vos exorto, distintos Senhores poderosos e Príncipes Soberanos Plenos da Rosa e da Cruz, Senhores Cavaleiros Companheiros do Santo Gral, compreendai estas palavras para vossa nobre castidade e impoluta humanidade!

Vêde! Eu anunciei a Lei; eu a promulguei para vós. Coloquei-a simbolicamente diante de vós, troquei convosco a Palavra.

Vencedores do pecado e da preocupação, partícipes do Cálice das Bênçãos, Adeptos do mais alto dos Ritos, guardiães do Inefável Santuário, [livres] Cidadãos da Cidade da Verdade, Santos do Tabernáculo Perpétuo! Vos tenho revelado sobre a Eucaristia da Ressurreição.

Indiquei-vos o caminho.

Vos promulguei a Verdade.

Vos presenteei com a Vida.

Filhos dos Céus e Filhas da Terra, Crianças de Deus e Herdeiros da Imortalidade. O banquete encontra-se pronto nos palácios de meu Pai.

Irmãos da Luz, Vida, Amor e Liberdade, consagrados Senhores Cavaleiros da Ordem Kadosch, batei com vosso castão à porta do Reinado de Mais Sagrado, da Sacríssima Arca, pois temos vigiado através de todas as catástrofes, reino sobre reino, dos dias de Henochs até hoje – batei e vos abrirá e adentrareis e provareis do MANNA que vem de Deus.

Valedictio

E agora, mui distintos senhores cavaleiros e iluminados Irmãos, saúde e alegria de viver!

Eu vos saúdo secretamente, assim como “adequado” é: troco [convosco] o símbolo: eu sussurro a palavra, tal como a recebi: e de nenhuma outra maneira ou modo. Beijo três vezes o punho da espada.

Conclamo sobre vós a Benção do Deus Tri-Uno em seu nome mais secreto e oculto de Potentade, Oniciência e Onipresença: em nome do Pai + do Filho + do Espírito Santo + tomo eu minha despedida de vós.

Que a verdade do Deus Pungente e Altíssimo esteja convosco!

A Graça de nosso Senhor Jesus Cristo esteja convosco!

Que desperte em vós o âmago do Espírito Santo!

Agora e para sempre assim seja, Amen!

Emitido por minha mão e com meu selo Baphomet Rex Summus Sanctissimus O.T.O. M.W.S.G.M.G. M.P.S.G.Cr de F. e I. G.B. e I., neste décimo dia de Dezembro de 1912 era vulgatis An VIII Sol no grau décimo-oitavo de Sagitário. Ano da Verdadeira Luz 000’000’000 no Zênite de Londres.

(Fornecido ao preço de 33 guinéis na Irmandade dos Totalmente Iluminados IXº , Associados do Santuário da Gnosis).

Anotações por Peter R-Köenig

Postagem original feita no https://mortesubita.net/thelema/anotacoes-sobre-o-liber-c-vel-agape/

A Quintessência Alquímica

A Quintessência (quinta essência) é o nome dado quinto Elemento.

A quintessência é uma energia espiritual psíquica que é superior aos outros quatro elementos: terra, ar, fogo e água. Ela pode unir os outros elementos ou dissolvê-los.

De acordo com Pitágoras, a quintessência era o equivalente da alma. Paracelso dizia que a quintessência permeia e anima o corpo, permitindo que ele se torne um ser vivo.

Na Alquimia, a quintessência foi mantida para curar qualquer doença ou condição e para rejuvenescer o corpo. Era importante no processo de transmutação de metais de base para o Ouro e a Prata.

O Primeiro Livro dos Segredos da Natureza ou a Quinta Essência, uma obra espúria atribuída a Raimundo Lúlio, descreve os alegados poderes miraculosos e adaptativos da quintessência: Ela preserva o corpo da corrupção, fortalece a constituição básica (elementativa), a juventude pura é restaurada por ela, unifica o espírito, dissolve os rudes, solidifica o que está solto, solta o sólido, engorda o magro, enfraquece a gordura, resfria o inflamado, aquece o frio, seca o úmido, umedece o seco; de que forma, sempre que uma e a mesma coisa pode realizar operações contrárias, o único ato de uma coisa é diversificado de acordo com a natureza do receptor, assim como o calor do sol tem efeitos contrários, pois seca a lama e liquefaz a cera.

Numerosas receitas de remédios milagrosos foram escritas com a quintessência como ingrediente chave.

A quintessência está associada com a Anima Mundi, a Prima Materia, o Pentáculo, o Pentagrama, a Rosa e o Akasha.

Leitura Adicional:

Patai, Raphael. The Jewish Alchemists. Princeton, N.J.: Princeton University Press, 1994.

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Fonte: The Encyclopedia Of Magic And Alchemy, por Rosemary Ellen Guiley.

Copyright © 2006 by Visionary Living, Inc.

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/alquimia/a-quintessencia-alquimica/