As Sete Linhas da Umbanda

A Umbanda possui sete cultos diferentes, chamados “Linhas”, que se distinguem:

1. pelas energias cósmicas que são identificados como orixás ou “santos” que os presidem ou lideram os cultos;

2. pelos tipos de Espíritos atuantes em suas sessões, chamadas Giras, representados em em seus santuários, os Congás.

Os cultos, que se auto-proclamam “de Direita” ou seja, que trabalham com magia branca, “do bem” e todos os umbandistas insistem que somente atuam para o bem], recorrem ao auxílio, à manifestação de Espíritos de santos católicos, Pretos-Velhos e Preta-Velhas e aqui questiona-se qual o problema com pretos e pretas jovens… que em geral foram escravos no Brasil, Caboclos, Indígenas, Cafuzos, Curibocas e trabalhadores da colônia e do império como boiadeiros, mineiros, navegantes de rios e mares e sábios do oriente e da Europa.

Os cultos “de Esquerda”, renegados pela Umbanda “oficial” e, em geral, relegados ao domínio da Quimbanda, não têm pudores em praticar a magia negra através dos Exús, Pombas-Giras e Malandros. A magia negra, na Umbanda, tal como em culturas de todos os povos do mundo, não tem freios éticos que impeçam os rituais destinados a arruinar a vida amorosa, as finanças, a saúde ou mesmo provocar a morte dos desafetos daqueles que procuram seus “sacerdotes”. Tal como os criminosos que jamais confessam seus crimes espontaneamente, os umbandistas “do mal” negam veementemente qualquer envolvimento em práticas dessa natureza embora todos admitam a existência de “ovelhas desgarradas”, que não são poucas, corrompidas pela vaidade, luxúria e/ou ganância que se prestam ao triste papel de usar os cultos para prejudicar àqueles que são “pedras no sapato” de seus clientes.

Voltando às sete Linhas de cultos de Umbanda “do bem”, são elas e suas respectivas Falanges, especificamente:

I. LINHA DE OXALÁ [Liderada por Jesus Cristo] ─ Falanges: 1. Santo Antônio | 2. São Cosme e Damião [“espíritos-crianças”, não necessariamente infantes mas, antes, Espíritos com mentalidade infantil] | 3. Santa Rita | 4. Santa Catarina | 5. Santo Expedito | 6. São Francisco de Assis. Esta Linha dedica-se a desmanchar trabalhos de magia.

II. LINHA DE IEMANJÁ [Liderada por Oxun] ─ Falanges: 1. Ondinas de Nanã | 2. caboclas do Mar | 3. Indaiá dos Rios | 4. Iara dos Marinheiros | 5. Tarimã das Caluga-Caluguinhas da Estrela Guia.

III. LINHA DO ORIENTEFalanges: Hindus, árabes, chineses e outros orientais além de europeus. Dedicados à medicina.

IV. LINHA DE OXOSSIFalanges: 1. Urubatão | 2. Araribóia | 3. Caboclo das Sete Encruzilhadas [aquele do fundador Zélio Fernandino] | 4. Águia Branca. Indígenas, caboclos, são curandeiros que protegem contra magia e ministram passes, prescrevem ervas medicinais em preparados para banhos, defumações ou uso tópico. Estes preparados são chamados amacys.

V. LINHA DE XANGÔFalanges: 1. Iansã | 2. caboclo do Sol | 3. Caboclo da Lua | 4. Caboclo Pedra Branca | 5. Caboclo do Vento | Caboclo Treme Terra. Pela característica do orixá que dá nome à linha, supõe-se que atue em casos de problemas judiciais, demandas, litígios.

VI. LINHA DE OGUMFalanges: 1. Ogum Beira-Mar | 2. Ogum-Iara |  3. Ogum-Megê | 4. Ogum Rompe-Mato. Estas falanges tratam das brigas, das situações de disputa pessoal, discórdias.

VII. LINHA AFRICANAFalanges: 1. Povo da Costa | 2. Pai Francisco | 3. Povo do Congo | 4. Povo de Angola | 5. Povo de Luanda | 6. Povo de Cabinda | 7. Povo da Guiné. Esta falange dedica-se à prática do bem em geral e, ao que tudo indica, dentro da confusa divisão das Linhas e Falanges, esta linha africana possivelmente inclui a chamada Falange ou seria [sub-falange?] dos Pretos-Velhos  e a das Almas [que o estudo comparado indica ser sinônima da Falange Povo de Angola].

Panteão das Falanges e Seus Atributos

Como se pode ver na denominação das Falanges, a Umbanda tem em comum com Candomblé a crença em Orixás. Porém, rejeitando a africanidade, os umbandistas não consideram Orixás como deuses, mas como “vibrações originais” emanadas da Consciência Suprema, Deus, naqueles tempos remotos da criação do Universo e do Planeta Terra. Na verdade, um conceito muito parecido com o dos Odus que, no Candomblé são as as energias de onde provêm os Orixás, estes sim, deuses. Sobre a palavra Orixá, muitos autores da Umbanda, como Eduardo Parra, negam sua raiz africana e vão buscar a etimologia no Egito e na Índia:

“O termo Orixá e o nome dos respectivos Orixás deriva-se da Índia, do Egito e de povos mais antigos. Na África esses termos foram conservados em Nagô… O vocábulo antigo Arashá significa O Senhor da Luz, equivale aos Orishis dos Brâmanes e aos Orixás africanos, que em Yorubá significa: O Senhor da Cabeça, ou seja, do princípio espiritual ou Luz. enquanto que Exu também tem o nome de Obara, o senhor do corpo ou Treva.” E aqui subentende-se corpo=matéria=treva.

Na Umbanda, os Orixás [Senhores de Cabeça], que são sete, como as Falanges, são o topo de uma Hierarquia que se desdobra e outros sete “orixás-menores” [Espíritos Superiores] que são chefes de Legiões; Legiões que se dividem em Falanges e sub-falanges, que também possuem chefes e entidades chefes de Grupamentos. Em um plano mais inferior atuam entidades denominadas “capangueiros”, palavra que faz pensar algum tipo de polícia astral ou tropa de choque espiritual…

Aos Orixás maiores, as tais “vibrações originais” são atribuídos nomes africanos compostos pela junção de nomes de anjos conhecidos da teologia judaica:

1. Gabarael Oxalá Odudwa
2. Samael Ogum Obá
3. Ismael Oxossi Ossaim
4. Mikael Xangô Oyá [Yansan Mesan Orun]
5. Yramael Yorimá Nanãn Burucum
6. Yoriel Yori Oxum
7. Rafael Yemanjá Oxumaré

Entre os chefes de Falanges começam a aparecer os caboclos, tidos como orixás menores e representantes do maiores; caboclos que se multiplicam em uma lista quase infinita. Os representantes dos orixás maiores são:

1. Urubatão da Guia – representante de Oxalá
2. Guaraci – intermediário para Ogum
3. Guarani – intermediário para Oxossi
4. Aymoré – intermediário para Xangô
5. Tupi – intermediário para Yorimá
6. Ubiratan – intermediário para Yori
7. Ubirajara – intermediário para Yemanjá

E o “elenco” de caboclos continua entre os guias: Caboclo Águia Branca; caboclo Poty; Caboclo Itinguçu; Caboclo Girassol; Caboclo Nuvem Branca; Caboclo Guarantan etc.. Outros, são caboclos protetores: Guaraná, Malembá, Água Branca, Águas Claras, Jacutinga, Lírio Branco, Folha Branca, Ibitan e outros mais.

Além disso, para cada Orixá Superior e cada Orixá menor existem inúmeras correlações que são utilizadas nas práticas rituais das Giras [sessões]: minerais, figuras geométricas, signos zodiacais, dias da semana, horas vibratórias, perfumes, flores, ervas que são usadas em banhos, remédios e defumações, cores e arcanjos tutores. Se este artigo contivesse o nome de todos os caboclos, seria uma lista telefônica de metrópole; e se fossem indicadas todas as relações de atributos, seria um livro… um “tijolo”. Para quem realmente desejar conhecer em detalhes essa Hierarquia, suas relações e atributos, o melhor é procurar o livro Ponto de Convergência: Fundamentos e Práticas de Umbanda, de Eduardo Parra.

por Ligia Cabús

Postagem original feita no https://mortesubita.net/cultos-afros/as-sete-linhas-da-umbanda/

Krampus

a parte no natal que preferimos esquecer

Todo dia 25 de dezembro ele viaja pelo mundo, entrando em todas as casas. Ele sabem quem foi bonzinho e quem foi malvado – ele perde tempo para checar a lista duas vezes – e não liga a mínima para os bonzinhos.

A figura do Papai Noel hoje é talvez uma das mais conhecidas no ocidente, para as crianças é ele que traz os presentes, para os adultos é o garoto propaganda da Coca-Cola ou uma opção de fantasia em uma sex shop, para os Xamãs ele é o Grande Espírito Rena que viaja em transe pelos céus em um trenó, usando um gorro vermelho pontudo, sendo puxado por renas voadoras; independente de sua cultura ele se tornou um fenômeno popular que tem um papel a cumprir. E é um papel estranho.

Pense. Papai Noel passa a ano fabricando presentes e investigando a vida de todos. Ele precisa saber quem foi bom para ser recompensado. Mas e se você não foi bom? E se foi uma pessoa com altos e muitos baixos. Foi desagradável, mesquinho e egoísta?

De fato, parece que uma figura que só recompensa e não pune não tem muito propósito. Claro, as crianças acostumadas a ganhar presentes podem se sentir mal, ficar tristes, dar chilique se não ganham nada, mas isso não é exatamente uma punição certo? Papai Noel não deveria sujar as mãos e de fato punir quem não entrou na lista dos bonzinhos?

Claro que não! Ele não precisa sujar as mãos porque já existe quem faça isso. Uma figura tão horrível e nefasta que assustou a própria Igreja Católica, e fez com que ela tentasse a todo custo sumir com esse “policial mal” do natal.

Imagine a cena: é noite, você está na cama tem 12 anos de idade. Ouve estalos, alguém anda pela casa. Você se levanta – é véspera de natal – e, pé ante pé, vai até a sala, para tentar pegar o bom velhinho com a mão na massa. Quando chega na porta e olha para a árvore vê uma criatura com mais de dois metros de altura, com chifres, andando nua. O som de passos eram de seus cascos raspando a madeira, seu corpo, coberto de pêlos escuros e sujos fede, ele carrega correntes enferrujadas enroladas no corpo e assim que te vê põe a língua pontuda para fora. Em uma das mãos ele carrega uma vara e começa a vir na sua direção. Neste momento você percebe, apesar da tenra idade, que não devia ter cortado os cabelos da Barbie da sua irmã e que você nunca mais vai ver seus pais.

Se sua imaginação é vívida, parabéns, você acabou de conhecer o Krampus.

O nome Krampus, também escrito Grampus as vezes, se deriva da antiga palavra germânica “garra”. Na Austria ele é chamado de Klaubauf, em outros países e áreas rurais da europa o conhecem como Bartl, Bartel, Niglobartl, e Wubartl.

O Krampus é uma figura antiga na europa, as menções mais antigas precatam o cristianismo na Alemanha. Suas características físicas são semelhantes às dos sátiros da mitologia grega. Na noite conhecida como Krampusnacht, celebrada no dia 5 de dezembro, na Áustria, Itália e outras paisagens européias, hordas de demônios corriam pela noite, intoxicados, carregando tochas, terrificando crianças e adultos, era a Krampuslauf.

Com a chegada do Cristianismo a Igreja começou seu combate a essa criatura, proibindo qualquer menção a ela, a Krampusnacht ou a Krampuslauf. E até o início do século XX, o Krampus foi sufocado, quase foi esquecido; mas todos aqueles que vivem ou viveram no inferno aprendem a ser pacientes, e depois de décadas o Krampus começa a aparecer novamente e mais forte do que nunca.

Para muitos tanto o Krampus, quanto São Nicolau ou mesmo o Papai Noel podem ser mitos, ou apenas figuras comerciais que perderam mesmo seu status de arquétipo cultural, mas nem todos pensam assim.

Nos últimos 3 anos, o projeto Morte Súbita Inc. desejou trazer mais do que um mero artigo sobre mais uma mitologia européia para você e, por isso, enviamos o Prof. Alberto Grosheniark, nosso especialista em deontologia européia freelancer, para vários países nos meses de novembro e dezembro para nos trazer essa criatura, ou ao menos um relatório mais atual de sua existência.

“Para entender o que é, e principalmente o que se tornou, o Krampus, é mister compreender esta celebração a que chamamos Natal”, começa explicando o professor, passemos a ele então as rédeas do texto.

O Nascimento do Natal

É patente que nos dias moderno as celebrações natalinas não passam de um marketing capitalista, uma forma de se conseguir mais lucros do que em qualquer outro mês do ano. Mas essa realidade está presente, obviamente, nas grandes capitais, cidades infladas pelo comercio e que vivem do dinheiro gerado. Longe desses centros urbanos e comerciais o Natal volta a assumir suas características mais religiosas e sociais, famílias se reúnem, freqüentam igrejas, etc.

Este é um exemplo claro e muito interessante de um mecanismo de transição cultural de festividades. Por um lado pessoas desesperadas para gastar seus salários em produtos que elas sabem, serão liquidados por valores mais baixos nos dias que se seguem ao natal. Por outro pessoas menos urbanizadas que ainda vivenciam o espírito natalino. Perceber como uma celebração se transmuda em outra nos mostra como o Natal se formou em seus primórdios.

O Natal foi criado, sim, criado, pela Igreja Católica para celebrar o nascimento de Cristo. A própria palavra Natal se deriva de Natalis, do latim, que se origina do verbo nascor – nasceria, nasci, natus sum – que tem o sentido de nascer. É a mesma origem do Natale italiano, do Noel francês, o Nadal catalão e do natal castelhano, que acabou evoluindo para navidad – com o sentido do nome de um dia religioso.

Quando enfatizei a criação da festividade, não desejava implicar que muitos acreditavam que ela existisse desde os primórdios da humanidade e sim que ela foi desenvolvida de forma anacrônica com uma finalidade bem determinada. Natal seria o nascimento de Cristo, mas foi instituído apenas no século IV. A primeira celebração natalina que se tem notícia hoje ocorreu em Roma no ano 336 d.C – apesar de algumas evidências que apontem para a Turquia pelo menos 2 séculos antes. O ponto é que o Natal só passou a ser atribuído a Cristo ao menos 300 anos depois de sua suposta existência.

Não há evidências hoje que Cristo tenha sido mais real do que o Dr. Griffin ou Roderick Usher. Duramente perseguidos por onde quer que passassem, os cristãos começaram a ser tolerados no decurso do século IV e em breve se tornariam a religião oficial do estado. Teodósio, o imperador romano, por esta época, já ajudava a organizar as estruturas territoriais da nova igreja. Por que criar uma festividade que exaltasse um homem que era praticamente um agitador comunista quando a instituição passava a ganhar poder político que bateria de frente com os supostos ensinamentos de Cristo?

Devemos nos atentar que os primeiros concílios religiosos visavam eliminar aquilo que consideravam heresias entre os cristãos; foi formulada a doutrina da trindade, colocou-se a questão da relação entre as naturezas humana e divina de Cristo definindo-se que era “perfeito Deus e perfeito homem” e que Maria era Theotokos – Aquela que portou Deus – e não Christotokos – Aquela que portou Cristo. As maiores discussões teológicas, em contrapartida à de cunho administrativo, tinham a ver com a divindade de Cristo, tentando limpar de sua figura qualquer aspecto humano. Por que perder tempo então festejando algo tão mundano quanto seu nascimento “na carne”? Sua vida teve inúmeros pontos que logicamente teriam mais força popular como o início de seu ministério, seus milagres, sua ressurreição, sua subida aos céus. O nascimento é justamente o aspecto mais humano de sua vida. Por que haveria de se tornar então a festa mais conhecida e celebrada de todas?

A existência de Cristo sempre foi um assunto que, inclusive, poderia complicar a Igreja Cristã. Seus ensinamentos eram anti-autoridade, anti-institucionais. Se não fossem as cartas de Paulo de Tarso, não haveriam sequer bases para a fundação de uma igreja, e nessas cartas Paulo deixa claro que aquilo que escreve são opiniões suas e não inspirações procedentes de Deus. Além disso os primeiros cristãos não celebravam o nascimento do Nazareno pois consideravam a comemoração de aniversário um costume pagão.

Para entender o Natal devemos recuar no tempo e nas culturas humanas.

Dia 25 dezembro

Não há como como discutir celebrações de Dezembro sem nos atentarmos ao solstício. Praticamente todo texto sobre o assunto o reduz a celebrações solares de povos primitivos.

O Solstício de inverno é um fenômeno astronômico usado para marcar o início do inverno. Como todo fenômeno astronômico ele não tem um dia fixo para ocorrer – geralmente por volta do dia 21 de Junho no hemisfério sul e 22 de Dezembro no hemisfério norte. No dia do solstício, uma derivação latina das palavras sol e sistere – “que não se move” – o Sol atinge a maior distância angular em relação ao plano que passa pela linha do equador. Hoje acredita-se que povos primitivos, ao notarem que o Sol não se movia no céu e que aquele era o dia mais curto do ano, lhe atribuíam grande importância, o associando, de modo geral, simbolicamente a aspectos como o nascimento ou renascimento.

Bem, por mais que abusemos de nossa fé em relação aa inocência dos povos antigos, não faz sentido acreditar que culturas capazes de, em uma época sem dispositivos digitais, anotar com tanta precisão as posições de corpos celestes e a duração da claridade do dia, se degenerariam em culturas que simplesmente acreditavam que o solstício era o renascimento e morte de algo e então voltariam a evoluir para atribuir esse nascimento e morte a algum Deus.

A crença que temos hoje é a de que em certas regiões, bem próximas do pólo norte, no solstício de inverno o sol desaparece da linha do horizonte, justamente por causa da sua inclinação aparente para o sul. Para quem vive nessa região, o sol fica dias sem nascer, trazendo, portanto, uma noite longa. Conhecendo, então, o “sumiço” aparente do sol em certas regiões, fica fácil entender como surgiu o culto ao sol. Dai basta ver qual a representação arquetípica do sol em diferentes culturas – o deus greco-romano Apolo, considerado como “Sol invicto” e seus equivalentes entre outros povos, Ra o deus egípcio; Utu dos babilônicos; Surya da Índia; assim como também Baal e Mitra. Todos estes e as Saturnálias, deram origem ao dia 25 de dezembro, como o dia do sol.

O único problema com essa teoria preconceituosa é que nem o solstício nem as Saturnálias ocorriam no dia 25 de dezembro.

Então o que teria de interessante este dia específico do ano?

Bem, para início de conversa, este dia só passou a existir, como o conhecemos hoje em 1582, com a criação e instituição do Calendário Gregoriano, o calendário atribuído ao Papa Gregório XIII que visava corrigir o antigo Calendário Juliano que tinha uma contagem imprecisa dos dias do ano – quando foi instituído o calendário gregoriano, seu antecessor já apresentava uma discrepância de 10 dias que “não existiam”.

Como segundo ponto veja a seguinte lista e veja se nota algo em comum:

  •  Prometeu, aproximadamente no alvorecer da humanidade
  •  Osiris, aproximadamente 3000 anos antes de Cristo;
  •  Hórus, aproximadamente 3000 anos antes de Cristo;
  •  Átis de Frígia, aproximadamente 1400 anos antes de Cristo;
  •  Krishna, aproximadamente 1400 anos antes de Cristo;
  •  Zoroastro, aproximadamente 1000 anos antes de Cristo;
  •  Héracles, aproximadamente 800 anos antes de Cristo;
  •  Mitra, aproximadamente 600 anos antes de Cristo;
  •  Tammuz, aproximadamente 400 anos antes de Cristo;
  •  Hermes, aproximadamente 400 anos antes de Cristo;
  •  Adonis, aproximadamente 200 anos antes de Cristo;
  •  Dionísio, aproximadamente 186 anos antes de Cristo;

Todas essas figuras se mostraram seres excepcionais, tiveram tamanho impacto sobre a cultura onde viveram que se tornaram precursores de cultos. Eram seres de magia e ciência. Avatares. Todos eles nasceram dia 25 de dezembro. Todos eles enfrentaram as trevas e, mais importante, todos são portas.

Prometeu é um titã, filho de Jápeto e irmão de Atlas, Epimeteu e Menoécio. Foi um defensor da humanidade, conhecido por sua astuta inteligência, responsável por roubar o fogo de Zeus e dá-lo aos mortais, assegurando a superioridade dos homens sobre os outros animais. Por causa disso foi acorrentado pelos deuses no cume do monte Cáucaso, onde todos os dias um pássaro dilacerava o seu fígado que, todos os dias, se regenerava. Esse castigo devia durar 30.000 anos.

Osiris era um deus da mitologia egípcia. Oriundo de Busíris foi um dos deuses mais populares do Antigo Egito, cujo culto remontava às épocas remotas da história egípcia e que continuou até à era Greco-Romana, quando o Egito perdeu a sua independência política. Osíris governou a terra (o Egito), tendo ensinado aos seres humanos as técnicas necessárias à civilização, como a agricultura e a domesticação de animais. É morto e então esquartejado por seu irmão. Seu corpo é reconstruído e ressuscitado, ele então tem um filho com sua irmã/esposa e passa a governar apenas o mundo dos mortos.

Horus é o filho póstumo de Osiris e Isis. Recebeu a missão de sua mãe de proteger o povo do egito de Set, o Deus do deserto, o assassino de seu pai. Após derrotar Seth se tornou o primeiro Deus nacional do Egito e patrono dos Faraós, conhecido como o filho da Verdade. Era visto como um falcão cujo olho direito era o sol e o esquerdo a lua e nesta forma era conhecido como Kemwer, o Negro.

Átis era o consort humano de Cibele, considerado por muitos um semi-Deus. No dia de seu casamento ele enlouquece e se castra. Depois de morto ressuscita e se torna um Deus da vegetação e fertilidade.

Krishna é retratado em várias perspectivas: como um deus do panteão hindu, como uma encarnação de Vishnu ou ainda como a forma original e suprema de Deus. Krishna é o oitavo avatar de Vishnu. Teve um nascimento milagroso, uma infância e juventude pastoris, e a vida como príncipe, amante, guerreiro e mestre espiritual. Ao ser ferido mortalmente por uma flecha diz ao caçador que “tudo isso fazia parte do meu plano”. Dizendo isso, Krishna partiu para Goloka, sua morada celestial.

Zoroastro foi um profeta nascido na Pérsia (atual Irã), fundador do Masdeísmo ou Zoroastrismo após receber a visita de um ser indescritível que se identificou como Vohu Mano, a Boa Mente. Foi abduzido por este ser e teve acesso ao conhecimento e à sabedoria.

Hermes era o Deus das fronteiras, transitando entre o mundo dos mortais e dos deuses.

Tamuz um deus da fertilidade e da vegetação, viajou ao submundo em busca de sua amada.

A lista prossegue. Hoje se sabe que o nascimento de muitas dessas figuras não ocorreu em dezembro, mas passaram a ser comemorado neste mês. Por quê?

 

Os Espancadores

Existem inúmeras criaturas correndo pelo planeta que, apesar de não possuírem relação entre si, podem ser agrupadas graças a sua natureza. São criaturas violentas cujo maior prazer parecer residir em assustar, punir ou simplesmente espancar os infelizes que cruzam seu caminho. O Barrete Vermelho que vive na Escócia e Inglaterra, que espanca até a morte suas vítimas. O Nain Rouge francês. Jack Calcanhar de molas na Inglaterra. O saci e o curupira na américa do sul, etc.

Algumas dessas criaturas são conhecidas por sua sazonalidade, algumas delas agindo no período que se encontra entre o início de dezembro e do final de janeiro.

  • O Belsnickel, um ser que se aparece envolto em trapos imundos e batidos, invade casas nas primeiras semanas de Janeiro para espancar crianças.
  • No dia 6 de dezembro, casas são visitadas pelo Knecht Ruprecht, que espanca crianças que não sabem rezar com um saco de cinzas.
  • A Grýla, uma gigante que visita casas na Groenlândia, durante a última semana de dezembro para seqüestrar e então cozinhar crianças.
  • No Japão, durance as últimas semanas de Janeiro o Namahage, armado de facas e palmatórias caminha pela rua em busca de crianças.
  • O Pai Espancador, caminha no dia 6 de dezembro espancando crianças na França e Bélgica.
  • Na Austria é Bertha que visitas as casas na última semana de Dezembro e primeira de Janeiro procurando crianças mal comportadas para lhes abrir o estômago, remover o intestino e o substituir com palha e pedras.

E dentre essas criaturas temos figuras como o Homem do Saco aqui no Brasil, ou o Krampus no Velho Continente. Hoje muitos o consideram apenas mais uma figura do enorme universo de criaturas que compõe a angústia Infantil, criaturas como a Cuca e o Boi da Cara Preta, que são evocados pelos pais para que as crianças se comportem. Apenas um mito que serve para manter os pequenos na linha. Mas isso não é verdade.

A figura do Krampus, como já foi discutida, é a de um ser bestial que vive nas áreas não civilizadas. Antes da chegada do moralismo Cristão o Krampus possuía um papel de iniciador. Em diferentes regiões da Alemanha, jovens eram enviados munidos apenas de um pequeno saco de provisões, para as áreas selvagens e desabitadas. Depois de um período que variava de jovem para jovem, ele retornava para sua vila ou aldeia, vestido como o Krampus, mostrando que havia encorporado este espírito na época em que viveu como um animal selvagem.

Quando a bravura e a resistência eram qualidades fundamentais para uma pessoa enfrentar as adversidade do meio, Krampus era um espírito temido, mas desejado pelas pessoas. Uma tradição não muito diferente dos Berserkes saxões, que matavam, se alimentavam e depois vestiam a pele de um animal – lobo ou urso – para se tornarem o animal e assim se tornarem adultos – os engraçados chapéus da guarda inglesa são um remanescente deste ritual de passagem.

O Krampus então, era uma presença real, uma presença que deixava a humanidade, o aspecto civilizado ou mesmo “domesticado” se preferir, do indivíduo para que se tornasse algo novo, mais selvagem, mais resistente. Claro que muitos não sobreviviam e muitos não conseguiam se tornar o Krampus, a garra, e simplesmente retornavam para a aldeia como meros humanos, em alguns casos em condição de vergonha.

Com o Cristianismo não veio apenas a crença em um único Deus, mas também uma série de rituais de iniciação, como o batismo, a crisma, etc. Os primeiros embates da Igreja com as crenças locais eram reencenações dos primeiros conflitos do Jeovah Judeu: Não haverão outros Deuses! E assim a Igreja Católica se valia de sua magia para liquidar outros Deuses.

Falar em Magia Católica não é exagero também. Ela foi uma das grandes responsáveis pelo surgimento dos protestantes, que não suportavam ver os ensinamentos de Cristo sendo proferido por “magos pagãos vestidos de padre”.

A Igreja passou a combater essas criaturas iniciáticas não apenas catequizando aqueles que as buscavam, mas criando uma magia mais poderosa. Isso chegou ao ponto de que em muitos lugares as pessoas acreditavam que um simples pedaço do pão usado no ritual de comunhão era o suficiente para curar doenças, espantar maus espíritos e curar o gado de qualquer mal que o afligisse.

Assim, a igreja passou a atacar não apenas a iniciação com o Krampus, mas todo e qualquer ato relacionado a ele como a Krampusnacht e a Krampuslauf.

Paralelo a isso a Igreja também buscou colocar seu próprio porteiro na porta que ligava mundos: Jesus Cristo. Mudando a data de seu nascimento para a última semana de Dezembro.

Claro que quando afirmo que o Krampus era uma figura real, uma presença real, não me refiro a um folclore ou a uma crença compartilhada, mas a uma entidade como eu e você. Krampus é algo físico, uma figura que poderia ser hoje descrita em termos de um elementar ou um semi-deus, como sátiros ou tantas outras figuras associadas com as crenças grego-romanas.

Para começar a acabar com essas figuras, a igreja começou primeiro a designar santos para as acompanharem, assim grande parte delas acabou tendo sua época de comunhão compartilhada com os festejos de São Nicolau e em pouco tempo passou a ser o “acompanhante” do santo. As pessoas não buscavam mais ao Krampus ou a outras figuras, e desta forma o “acordo” cultural que existia foi quebrado. O próprio Krampus passa a ser retratado e descrito como uma entidade presa a correntes.

Isso explica a atitude da grande maioria dessas figuras, buscar atacar especialmente crianças. Como o flautista que se viu logrado de seu pagamento, os antigos iniciadores partem em busca da maior riqueza dos povos, suas crianças. Mas esses ataques não seriam também gratuitos: o medo gera respeito, ainda mais se infligido durante a infância. Antes de cair nas garras intelectuais do cristianismo, os iniciadores buscariam comprovar sua existência às pessoas em uma época em que elas soubessem distinguir que as criaturas são reais.

Claro que mesmo assim, não havia como conseguir novamente pessoas buscando a iniciação, e tais entes ganharam um tatus de meros bichos-papões, sendo relegados à categoria de lendas.

 

A Volta do Krampus

Curiosamente justamente aquilo que o prendeu em correntes de lenda foi o que o trouxe de volta. Com o crescimento do Cristianismo, logo surgiram aqueles fiéis contrários à magia da Igreja. Julgavam que todo e qualquer ritual ou costume mágico era uma afronta a Deus e passaram a combater qualquer coisa que não a fé e a leitura da Bíblia. Nascia assim o protestantismo.

Os primeiros protestantes buscaram acabar com a Missa Católica, com o ritual de comunhão, com o Batizado, fizeram questão de mostrar que os padres eram pessoas comuns sem poderes e o Papa um mero enganador de todos. Eles proibiram o ritual de exorcismo, de crisma, de extrema-unção. Proibiam atos como abençoar o vinho e o pão, abençoar objetos, fossem sagrados ou não, a consagração de terrenos, construções ou qualquer coisa. Os feriados e comemorações católicas foram sendo combatidos, acusados de não passarem de costumes pagãos transvestidos de cristianismo. E assim o poder da Igreja começou a ser minado.

Não é surpresa ver que nos dias de hoje as comemorações dedicadas ao Krampus voltaram e não apenas na Europa. O Krampus hoje corre solto novamente, livre das amarras cristãs.

Visitei algumas dessas comemorações na Finlândia e na França e de fato rodas de demônios correm pelas cidades, embriagados por Krampus schnapps – um licor muito forte -, intimidando crianças e adultos. O aspecto iniciático se foi, hoje nossos rituais de maturidade estão mais ligados a possuir cartões de crédito e poder ter uma conta bancária do que provarmos sermos capazes de sobreviver à vida.

A Noite de Krampus tem início com algumas pessoas se vestindo com peles, botas pesadas e máscaras com chifres, armados de chicotes e varas. Eles visitam as casas, especialmente as que tem crianças, invadindo-as e correndo, assustando a todos. Então recebem o convite para beber, e o fazem. No fim da noite essas pessoas estão embriagadas e por vezes o número de feras “fantasiadas” ligeiramente maior, é então que a corrida de Krampus se torna mais violenta e fora de controle.

Seria muita inocência acreditarmos, quando observamos a balbúrdia causada por aquelas criaturas barulhentas, que todas elas são apenas pessoas com fantasias. Da mesma forma que as virgens da antigüidade recebiam os oráculos, ou que os praticantes do vodu haitiano se tornam cavalos para os deuses, muitas daquelas criaturas deixam de ser humanas, se é que já o foram. Mesmo nesta “Era de Razão” a figura do Krampus é temida como um folclore jamais seria. O governo Austríco chegou a proibir a tradição da Krampusnacht, na década de 1950 panfletos entitulados “Krampus é um Homem Mau” circulavam pelas cidades.

Hoje existem as Krampusfest, também chamada Kränchen, atendidas por mais de 300 pessoas, bêbadas, lascivas e fora de controle.

Os Krampuskarten

Apesar das proibições, no século XIX surgiram os cartões Krampus, eram como cartões postais que mostravam a criatura, geralmente acompanhados da mensagem: Gruß vom Krampus! (Saudações do Krampus)

Com o tempo a imagem do Krampus mudou, seu aspecto bestial foi lentamente mudando. As cenas onde ele ameaçava crianças começaram a ser subtituídas por imagens com um apelo mais sensual, onde o Krampus aparecia à volta com mulheres de curvas voluptuosas. Hoje em muitos cartões o Krampus surge como uma figura fofa e amável, como um pequeno cupido.

 

   

 

Com o fim de suas amarras o Krampus se viu livre para “expandir sua empreitada”, não apenas para o norte da Itália e o sul da França. Hoje o Krampus é celebrado na Inglaterra, Escócia, Estados Unidos. No México é conhecido como Pedro Preto. Logo as Krampusfest e a Krampusnatch serão celebradas como a noite de Halloween, e o Krampus voltará a correr não apenas por cidades, mas por todo o mundo.

por Albertus Grosheniark

Postagem original feita no https://mortesubita.net/criptozoologia/krampus-a-parte-no-natal-que-preferimos-esquecer/

Carmilla: 150 anos da primeira e mais importante vampira de todos os tempos

Lord A

Ah meus nobres Amigos e Amigas, Carmilla simplesmente é a Primeira Vampira a realmente conquistar espaço, visibilidade, abrir portas, inspirar e influenciar todo universo das “Vamps”. Antes dela as outras eram quase todas jovens espectrais, fantasmagóricas e diluídas em névoas. Nem todas, mas enfim. Carmilla chega com tudo desde a publicação até conquistar seu lugar na indústria cinematográfica e na cultura pop. Nada mal para uma vampira que celebra 150 anos neste ano de 2022. Um século e meio de classe, charme, prestígio, irreverência e dignidade. Isso é histórico e pontual. Além de encantador – inclusive foi uma inspiração ou melhor uma influência para o clássico Drácula de Bram Stoker (que celebra 125 anos em 2022). Nada mal!

Funeral, Ilustração de Michael Fitzgerald para Carmilla em The Dark Blue (Janeiro de 1872)

Carmilla é uma vampira criada pelo escritor irlandês Sheridan Le Fannu (1814-1873) e que foi publicada em meados de 1871-1872 pouco tempo antes de sua morte. Sensual, homoafetiva e sufocante perseguia suas vítimas como a face sombria de um amor venusiano e naturalmente libriano. Um tema que certamente combina com a apreciação dos livros Sob Tuas Asas (E-book, disponível aqui) e também do maravilhoso Canticles of Lilith de Nicholaj e Katy DeMattos Frisvold (2021, Troy Books, Inglaterra – logo postamos review por aqui no portal).

A inspiração e influência de Carmilla, pela tradição, recai na obra proscrita Christabel escrita por volta de 1797, de Samuel Taylor Coleridge (1772-1834), onde havia a vampira Geraldine. Infelizmente, a vampira Geraldine só veio a conquistar seus leitores em 1816 graças ao sucesso de uma outra obra, no caso “The Vampyre” de John Polidori. Já contamos essa história aqui. Aqui no Brasil Christabel ganhou um filme incrível nas mãos do cineasta Alex Levy- Heller, falamos do filme aqui e a entrevista pode ser assistida aqui.

Ingrid Pitt

A performance mais emblemática de Carmilla nos filmes certamente foi da atriz Ingrid Pitt nos filmes da Hammer: The Vampire Lovers (1970), Countess Dracula (1971). Na Hammer Films a personagem ainda apareceu em mais dois filmes: Lust for a Vampire (Yutte Stensgaard) e Twins of Evil (Katya Wyeth) formando a chamada trilogia Karnstein.

A encarnação mais recente de Carmilla nos cinemas foi no filme Styria (do diretor Mauricio Chernovetzky, falamos do filme e entrevistamos o cineasta aqui), no seriado de mistério Carmilla, canadense (2014) ou ainda na animação Castlevania da Netflix (2016) dá indícios de sua plasticidade e versatilidade por um olhar mais objetivo.

As derivações da personagem Carmilla em incontáveis outros meios são ainda mais amplas diante de um foco subjetivo. Carmilla permanece adorável e sufocante e emblemática no imaginário vamp.

A DEUSA SOMBRIA E A VAMPIRA

Carmilla encarna muitíssimo bem uma das muitas facetas da Deusa sombria, do gelo, do húmido alquímico e do elemento Ying – bem como da vastidão que reúne a terra e a morte e não sabemos onde começa uma e termina a outra – um diálogo que o mundo além da Comunidade Vamp no hemisfério norte ou sul ainda não está preparado para ter. A Vampira e a Bruxa são a maneira desencantada como a Deusa ou ainda a Natureza e a sua face sombria são retratadas nos tempos de desencantamento contemporâneo.

O desencanto tem lá seus totens e tabus (um não vive sem o outro) que delimitam o que a turma do RH chama de “zona de conforto” ou a tal da “bolha” como dizem os mais descolados. Ambas repletas de malabarismos semânticos para preservarem a todos do contraste e do indomável que é a natureza e ainda mais a “natureza humana”. A parte mais brega de ambos situa a “pessoa como a própria fonte de valor para si mesma” (aquele tal do só acredito em mim mesmo, só que valores são constructos sociais, históricos, coletivos mais ou menos como o que forma o dólar ou qualquer outra noção de dinheiro, por exemplo) mas esse assunto fica para outra noite.

Há um constelar para o selvagem e a natureza, incluindo a implacável “natureza humana” que assim como o mal é um tema suculento e infinitamente mais denso do que a “psicologização” da magia; ou “politização da magia” que nada mais são do que atestados da prática de marketing pessoal na ampla maioria de casos.

Há uma atmosfera e um tempo para tudo, inclusive para aquilo que o mundo não gosta muito de pensar e de falar a respeito como morte, viver verdadeiramente, sensualidade, sexo e afins. Há um tônus, um repertório e um lugar ou quem sabe um “não-lugar”, algo imaterial. Há quem fale de anti- matéria e afins neste sentido. Focalize na gravitas, na gravidade de como aborda sua intimidade e o que sente com estes tópicos – e constará que há algo. Eis as portas e janelas previamente mencionadas.

Eu já disse antes que todo totem é um tabu as pessoas preferem alucinar e delirar – falando sem parar de suas certezas absolutas, ideias fixas e convicções – aí cada um oculta o própria temor de se ver exposto como pode na vida como ela é. Todo mundo tem algo estranho. Habilidade é espreitar essa estranheza e estranhamento pessoal e ganhar intimidade com o que estiver lá. Já os mais barulhentos e ruidosos principalmente são sempre os mais convictos e os primeiros a correrem disso tudo como protestantes luteranos do passado. Restando demonizar o que não é dos prados da razão.

Sobre totens e tabús quem mais fala é quem menos pratica aquilo que fala – isso é válido quando falamos de sexo por exemplo. Quando falamos de morte, então! O povo fantasia até repartição pública no pós vida, para o que permanece como aposta e hipótese. É um tal deles fazerem o sagrado e os outros como uma extensão deles mesmos para escaparem deles… que olha vou te dizer!

Numa visão mais clara os pecados medievais nada mais são que as tais dissonâncias, danos e vícios de cognição ou parasitismos para falarmos em termos de vampirismo. Quanto a essa história temos conteúdos fascinantes no Amphiteatrvm Campus Strigoi, para nossos assinantes lá no catarse. Lidarmos com a chamada “cognição” é lidarmos com a hostilidade do nosso ego que nos faz oscilar entre o pontual ou natural e o temor por alguma consequência de exclusão social na vida sob a luz do sol. Isso não é algo fácil.

A Deusa Negra no passado e ainda a Bruxa andando pelos limiares entre o jardim e a floresta escura; a Vampira espreitando e caçando nos castelos em meio as intrigas palacianas são marcadores e variáveis deste repertório ancestral contido na Deusa Negra – que espreitamos, buscamos entender e nos transformarmos ou nos refinarmos em suas constelações, alquimias e vastidão – diante do Gelo, da Húmidade Alquímica, do Ying e do Negativo. Falei muito disso (de processos e resultados) de maneira velada nas edições #553 e #554 da Vox Vampyrica Podcast lá no Spotify.

HAVIAM VAMPS ANTES DE CARMILLA?

Naturalmente houveram outros contos, prosas e romances de vampiras bem legais, eu costumo contar a Christabel (escrita em 1797 circa, publicada só em 1816) e a Deusa pagã do Rhyme of Anciet Mariner (1797–1798) como as primeiras aparições dessa figura de poder na modernidade, mas certamente poderíamos encontrar algo anterior a elas. Neste caso teríamos a “Noiva de Coríntio” do Johann Wolfgang Von Goethe (1797) balada sobre uma noiva virgem que morreu e volta pelo sangue do ex-noivo e saciar seus desejos. Nada mal! Goethe o célebre autor de Fausto se baseia numa passagem do “Livro dos Milagres” do grego Flégon de Trales (Século II). A noiva poderia ser a mais antiga pelo peso do nome do autor e por também ser de 1797. Ainda assim ela pode se contentar com ser a primeira vamp da literatura germânica. Christabel era inglesa.

A noiva era uma imagem subjetiva demais para um contexto vamp e acaba por esbarrar na primeira personagem de traços vampíricos mais proeminentes da literatura alemã que figura em “Feitiço de Amor” (1812), um conto maravilhoso de Ludwig Tieck. Inglaterra continua liderando a parada.

Se focalizarmos a Inglaterra teremos teremos a personagem Oneiza, um cadáver feminino possuído por um demônio que figura no poema “Thalaba, O Destruidor”(1801) de Robert Southey. Foi públicada antes de Christabel, poderia levar o título, mas nossa Christabel data de 1797.

De volta a alemanha teremos a personagem Aurelia que aparece na obra “Vampirismus” (1821) de E.T.A Hoffman, uma vampira subjetiva, mais parecendo uma morta-viva que se alimenta de cadáveres. Adiante encontraremos a rediviva Brunhilde do conto “Deixe os Mortos Repousar” (1823) novamente uma dose de necromancia na parada, onde o viúvo reanima a falecida e se arrepende amargamente.

Seguimos para a França onde conheceremos a vampira Clarimonde, da obra “A Morte Apaixonada” de Théophile Gautier. Um prato delicioso para quem aprecia sonho lúcido e amantes astrais. Um jovem padre recém ordenado irá responder o que é mais amaldiçoado, se é o desejo realizado ou não realizado. Clarimonde é espectral, uma amante morta-viva.

Mas dentro dessa chave espectral o romance Senhorita Christine (1936) de Mírcea Elíade, é mais apimentado e deliciosamente diabólico. E infelizmente esta descendente de Carmilla ainda é desconhecida além dos pórticos da Rede Vamp.

E QUANTO A FIGURAS MITOLÓGICAS VAMPIRESCAS?

Algumas pessoas mencionarão as Lâmias, as Empusae e mesmo a soberana Lilith e outras figuras poderosas da mitologia de naturezas e tons librianos e venusianos. As vezes escorpianos ou leoninos também. Não estão errados na associação delas com o arquétipo “Vamp”. Apenas, quem sabe, na conclusão desencantada que oferecem nos blogs e vídeos ao tecerem comentários sobre estes temas reduzindo tudo a disputas de poder, classes e afins.

“Os deuses e deusas não são ou nunca foram pessoas como a gente” – sempre frisou meu nobre amigo Hermínio Portela quando conversamos sobre estes temas (assista a entrevista dele aqui). Os mitos, os relatos e as histórias sobre seus relacionamentos, assédios, estupros e guerras falam de algo simbólico e de natureza cósmica de intersecções e embates de forças e pulsões também expressas na natureza. Mas não exatamente do que tais palavras representam na vida comum.

O significado de uma “inteligência não-humana” e além dessa “abstração chamada humanidade que acredita apenas em si” é bastante autoexplicativo e óbvio. É não-humano e além do atendimento de qualquer expectativa social e não passivo de nenhum tipo de controle por nada que tenha nascido. Mais claro que isso, poderemos cegar alguém e tornar este artigo incompreensível.

Basicamente, é apenas a sua dissonância cognitiva (danos ou vícios) que lhe dão a impressão de que entende tais forças e os seus malabarismos ou fantasmas semânticos que podem acabar por lhe manterem sobre o cabresto das mesmas – que apenas intensificam o que você já tem na sua têmpera e mistura – ou “Destino” – e quando estes passam da sua justa medida, complica. E sobre isso não falarei mais hoje.

É muito fácil associar Deusas e Deuses Sombrios com a figura vampírica inventada entre os séculos 16 e 18 pelo cristianismo, porque a mesma foi criada para isso. Uma generalização tão ou mais brega do que apresentador televisivo chamar cartas de Yugi Oh de cartas do demônio.

É preciso uma certa sofisticação para interpretar o tema das deusas negras por um viés astrológico hermético ou clássico – e mesmo arremeter tais figuras para um tom mais histórico empregado com dignidade por Robert Graves ou ainda Carlos Ginzbourg. No caso de Lilith e outras deidades tempestivas penso que Robert Patai e ainda Maria de Naglowska são interessantíssimos.

Acho mais sofisticado pensarmos nos mitos do passado associados a vampiros como versões cristianizadas dos relatos sobre guildas de profissões marginais, ritos de fertilidade da terra e outras expressões de tons xamânicos da antiguidade. É sempre interessante lembrar que a maior parte desses relatos são feitas por padres e monges – que não entendiam muito bem o que viam e ainda estavam obrigados a tornarem aquilo depreciativo por conta da vaidade intelectual e também institucional.

Lá no cerne de tudo isso, no coração do redemoinho há ainda a questão dos mortos e dos redivivos associados ao vampirismo quando a Hungria retomou algumas terras dos otomanos. Os mortos tomados por uma força sombria ou demoníaca, ou ainda a serviço das mesmas e suas estranhas agendas. Não é um tema tão estranho assim quando olhado de maneira distanciada do sensacionalismo e do desencantamento. Quantas vezes o culto e a veneração dos mortos ou ancestrais não era encabeçada por um guardião ou deidade no passado, não é mesmo?

Poderíamos ainda falar de algo semelhante ao zumbi haitiano, uma pessoa torturada e embebida em estranhas drogas, processos químicos e ritualística para pensar ter morrido e agora vivendo como escravo de alguém. Mas isso fica para a obra “A Serpente e o Arco Íris” de Wade Davis, um antropólogo e etnobotânico da National Geographic Society.

Mas nunca deixará de ser interessante a encruzilhada presente nos grimórios europeus, nos black books escandinavos e nos terreiros das américas – deidades de diversos povos, personagens folclóricos, santos, demônios e figuras bíblicas engajam e fazem acontecer o que é necessário e o destino se cumprir. Este tema é desenvolvido no meu primeiro livro Mistérios Vampyricos (Madras Editora, 2014) e no Deus é um Dragão (Penumbra Livros 2019).

VAMPIRAS NO BRASIL

Retornando para o viés literário. Aqui no Brasil temos uma rica tradição de mais de 170 anos de produção cultural e literária vampírica. Falamos dela na obra “Despertar Vamp”, disponível aqui. por exemplo nos anos 60 em diante temos as criações fantásticas de Rubens Francisco Lucchetti; as “vamps também figuram em nossos quadrinhos nas personagens como Mirza ou Nádia e em nomes de desenhistas como Eugênio Collonese, Rodolfo Zalla e muitos outros desde os anos sessenta e setenta.

No final da década de noventa temos as vampiras criadas nas obras de Martha Argel. Outro destaque são as vampiras da autora Giulia Moon recentemente reunidas há pouco tempo na fantástica antologia Flores Mortais. Isso sem mencionarmos a midiática Liz Vamp interpretada pela escritora Liz Marins. Só para pincelarmos alguns nomes indispensáveis.

Pensando cronológicamente a primeira grande vampira brasileira chama-se Branca, é do texto Octávio e Branca A Maldição Materna, escrito por João Cardoso de Menezes e Souza, publicado lá na segunda metade dos 1800´s. Acredita-se que a obra tenha sido escrito por volta de 1846 e publicada em 1849. A jovem ainda que espectral e fantasmagórica, tal como muitas outras damas da escuridão que mencionamos hoje, já inseria os Vamps na literatura brasileira – quase na mesma época que Carmilla foi publicada no velho mundo.

VENHA CELBRAR OS 150 ANOS DE CARMILLA COM A GENTE EM 13.08.2022

Concluindo, se a atmosfera emblemática das mansões dos filmes da Hammer e da Universal, bem como a adaptação de Entrevista com o Vampiro de Neil Jordan (1994) ou mesmo o charme vitoriano de Drácula de Bram Stoker (de Francis Ford Coppola) lhe encantam e atraem – seja pela atmosfera e o charme ou por outras razões, garanta seu ingresso para 13/08/22 – Carmilla Noite de Gala Sombria – são poucos convites…

Fonte: https://redevampyrica.com/

Postagem original feita no https://mortesubita.net/vampirismo-e-licantropia/carmilla-150-anos-da-primeira-e-mais-importante-vampira-de-todos-os-tempos/

H. P. Lovecraft, Charles Dexter Ward, Joseph Curwen e Necromancia

No início do ano de 1927, Howard Phillips Lovecraft escreveu o seu único romance, entitulado “O Caso de Charles Dexter Ward“, um romance que o autor não pôde ver publicado. A história foi impressa de forma resumida em 1941, quatro anos após a morte do escritor, nas edições de Maio e Julho da revista Weird Tales e em sua forma completa apenas dois anos depois, na coleção Beyond the Wall of Sleep publicada pela editora Arkham House.

O livro conta a história de Charles Dexter Ward, um jovem preso ao passado, especialmente à figura de seu tataravô Joseph Curwen, um feiticeiro que fugiu da caça às bruxas que tomou conta da cidade de Salem indo se estabelecer na província de Providência, na Ilha de Rodes. Joseph Curwen ganhou notoriedade em sua época por seus estranhos hábitos, como vagar por cemitérios, e pelas experiências alquímicas que realizava. A semelhança física que compartilha com o antepassado é motivo de espanto para Ward, que se torna obcecado em reproduzir as experiências cabalísticos e alquímicas registradas nos diários de Curwen e, pesquisando as anotações do mago, descobre uma forma de trazer de volta à vida qualquer ser já morto, e decide que conversar com seu ascendente renderia mais frutos do que apenas estudar sobre sua vida.

Apesar do resumo da obra, o primeiro presuposto deste texto é que o leitor já tenha lido o romance. Caso não seja o seu caso seria interessante parar agora para ler a obra antes de prosseguir, não apenas porque o texto que segue contém o que pode ser considerado como spoilers, mas também porque isso contribui com um compreendimento mais amplo sobre o que será apresentado. Você pode fazer o download do texto integral clicando aqui.

Antes de continuar é importante frisar que este tratado não defende de forma alguma que Lovercraft tenha se envolvido com o ocultismo, tenha participado de alguma ordem iniciática secreta ou que praticasse qualquer forma de magia além de sua própria escrita. Ele era um homem extremamente culto, um gênio até para os padrões modernos, e tinha acesso a muita informação. De mitologia a obras de ocultismo, que já eram de conhecimento geral como os escritos de Papus, Blavatsky e Eliphas Levi – todos esses livros que poderiam ser adquiridos por qualquer curioso na época. Lovecraft cresceu entre livros e aproveitou cada oportunidade que tinha para ler e estudar. Outro ponto que não será desenvolvido aqui é o argumento que defende que mesmo não sendo mago ele era um médium, um portal de contato com uma realidade maior e mais sombria. Sabemos que ele era vítima de sonhos e devaneios que lhe serviam de inspiração para muito do que escrevia, mas qualquer tentiva de desenvolver a hipótese de um dom de vidência do desconhecido merece um tratado próprio que desenvolva o assunto com a seriedade que merece.

 

Despertando os Mortos

Conforme a história se desenrola Ward, a princípio gradualmente e então de maneira brusca, vai perdendo a sanidade e a substituindo com rituais mágicos, evocações e experimentos alquímicos que o distanciam não apenas de seus entes mais próximos como também da realidade, atingindo seu clímax quando é realizado o ritual para trazer da morte Joseph Curwen. O ritual em si é descrito de forma simples mas traz implicações profundas.

O ritual e seus elementos podem ser organizados da seguinte forma:

 

– Sais Essenciais

“Sobre a imensa mesa de mogno jazia virado para baixo um exemplar de Borellus, gasto pelo uso, trazendo muitas notas misteriosas escritas à mão por Curwen ao pé da página e entre as linhas”, este livro trazia um “trecho sublinhado” de “forma febril”. O trecho dizia:

“Os Sais Essenciais dos Animais podem ser preparados e preservados de tal forma que um Homem engenhoso possa ter toda a Arca de Noé em seu próprio Estúdio e fazer surgir a bela Forma de um Animal de suas próprias Cinzas a seu Bel-prazer; e, pelo mesmo Método, dos Sais essenciais do Pó humano, um Filósofo pode, sem recorrer à Necromancia criminosa, evocar a Forma de qualquer ancestral Falecido das cinzas resultantes da incineração de seu Corpo”.

 

– Um Local Reservado ou Afastado Para o Ritual

Conforme sua obcessão por seu antepassado, Curwen, crescia, Ward comprou uma “fazenda na Pawtuxet Road que havia sido propriedade do bruxo. Um lugar para onde se mudava, durante o verão. A propriedade era habitada apenas por duas pessoas, além do próprio Ward, um casal de índios da tribo Narragansett “o marido mudo e com curiosas cicatrizes, e a mulher com uma expressão extremamente repulsiva”, eles eram “seus únicos empregados, trabalhadores braçais e guardas”.

Em um anexo dessa casa ficava o laboratório onde era realizada a maior parte das experiências químicas. Os vizinhos mais próximos à fazenda se encontravam a uma distância de mais de um quarto de milha. Também existe menção “a um grande edifício de pedra, pouco distante da casa, com estreitas fendas em lugar das janelas”.

 

– Diagramas e figuras geométricas desenhados no chão

Dr. Willet, outro personagem central na história, quando investiga o sótão onde Ward passava tanto tempo, percebe “restos semi-apagados de círculos, triângulos e pentagramas traçados com giz ou carvão no espaço livre no centro do amplo aposento” e mais tarde, investigando o laboratório subterrâneo de que Ward montara no antigo bangalô de Curwen, em Pawtuxet, “um grande pentagrama no centro, com um círculo simples de cerca de noventa centímetros pés de diâmetro, entre este e cada um dos outros cantos”

 

– Invocação Per Adonai

Durante uma Sexta-Feira Santa, no fim do dia, “o jovem Ward começou a repetir certa fórmula num tom singularmente elevado” enquanto queimava “alguma substância de cheiro tão penetrante que seus vapores se expandiram por toda a casa”. A repetição da fórmula se prolongou por tanto tempo que a mãe de Ward foi capaz de reproduzí-la por escrito.

A fórmula descrita pela senhora Ward era:

Per Adonai Eloim, Adonai Jehova, Adonai Sabaoth, Metraton On Agla Mathon, verbum pythonicum, mysterium salamandrae, conventus sylvorum, antra gnomorum, daemonia Coeli God, Almonsin, Gibor, Jehosua, Evam, Zariatnatmik, veni, veni, veni. 

Depois de duas horas repetindo initerruptamente a evocação “se desencadeou por toda a vizinhança um pandemônio de latidos de cachorros”, tamanho foi o estardalhaço dos latidos que viraram manchetes de jornal no dia seguinte.

 

– A Invocação Dies Mies Jeschet

Então o pandemônio causado pelos cães da região foi sobrepujado por um “odor que instantaneamente se seguiu; um odor horrível, que penetrou em toda parte, jamais sentido antes nem depois” e então se seguiu “uma luz muito nítida como a do relâmpago, que poderia ofuscar e impressionar não fosse dia pleno”. Uma voz, “que nenhum ouvinte jamais poderá esquecer por causa de seu tonitroante tom distante, sua incrível profundidade e sua dissemelhança sobrenatural da voz de Charles Ward […] abalou a casa e foi claramente ouvida pelo menos por dois vizinhos, apesar do uivo dos cães”. A voz dizia claramente:

DIES MIES JESCHET BOENE DOESEF DOUVEMA ENITEMAUS 

 

– A Invocação Yi-nash-Yog-Sothoth

Logo após a poderosa voz declarar seu intento, “a luz do dia escureceu momentaneamente, embora o pôr-do-sol demorasse ainda uma hora, e então seguiu-se uma lufada de outro odor, diferente do primeiro, mas igualmente desconhecido e intolerável”. Ao mesmo tempo Ward volta a entoar de forma monótona uma nova fórmula, que era percebida como sílabas aparentemente sem sentido:

Yi-nash-Yog-Sothoth-he-lgeb-fi-throdog

Sendo seguida por um grito de YAH!, “cuja força desvairada subia num crescendo de arrebentar os tímpanos”.

Instantes depois um “grito lamentoso que irrompeu com uma explosividade desvairada e gradativamente foi se transformando num paroxismo de risadas diabólicas e histéricas”, este episódio foi seguido por um segundo grito, desta vez proferido certamente por Ward, se fez ouvir, ao mesmo tempo em que a risada continuava a ser ouvida.

 

Tão Morto Quanto Um Morto Pode Estar

Necromancia é uma forma de divinação que envolve os mortos. Na grécia antiga o objetivo do ritual era enviar o mago praticante para o mundo subterrâneo, onde ele consultaria os mortos e voltaria com o conhecimento adquirido. Com o passar do tempo a viagem às profundezas foi substituída por uma evocação, o morto era arrancado do domínio da morte e por momentos poderia se comunicar com os vivos em nosso mundo. Nekros, “morte”, e manteia, “divinação”, o termo foi adotado pelos povos cuja língua se derivou do latim, como os italianos, espanhois e franceses, como nigromancia, nigro significando também “negro”, uma forma negra, escura, de divinação; termo que deu origem a magia negra ou artes negras, uma prática que causava resultados maravilhosos graças à intervenção de espíritos mortos.

Conforme o cristianismo foi se tornando a crença dominante na europa, os espíritos dos mortos que se envolviam com tais rituais começaram a ser considerados espíritos cruéis, almas atormentadas e eventualmente demônios do próprio inferno. Se havia uma magia “negra”, em um mundo de dualidade com certeza haveria o seu oposto, a magia “branca”, se a primeira lidava com almas de mortos que habitavam o submundo e com demônios a segunda obviamente colocava o mago em contato com os espíritos dos Santos e com os Anjos de Deus. Em uma analogia ao Gênese bíblico ou ao Big-Bang moderno, a escuridão e trevas “nigro” deu origem à luz. Nesta aspecto a magia negra é muito mais antiga do que a sua contraparte branca.

 

Necromancia à Moda Antiga

A necromancia é encontrada com outras formas de divinação e magia em praticamente todas as nações da antiguidade, mas nada pode ser dito com certeza a respeito de suas origens. Strabo afirmou que era a principal forma de divinação dos Persas, ela também era praticada na Caldéia, Babilônia e Etrúria. O livro de Isaias, da Bíblia, se refere à prática entre os egípcios – 19:3 – e no livro de Deuteronômio – 18:912 – alerta os israelitas contra a sua prática, chamada de “abominação dos Cananeus”.

Como vimos, as práticas mais antigas eram de ir ao submundo buscar os mortos no reino do qual não podiam escapar, assim na Grécia e em Roma o ritual tinha lugar especialmente em cavernas ou vulcões, que supostamente tinham ligação com o submundo, ou próximo a lagos e rios, já que a água era vista como um “canal de acesso” de comunicação com os mortos, sendo o rio Acheron o mais procurado.

A menção mais antiga à prática da necromancia é a narrativa da viagem de Ulisses ao Hades e sua evocação das almas dos mortos através de vários rituais que lhe foram ensinados por Circe. Outra romantização da evocação de mortos está no sexto livro da Eneida, de Virgílio, que relata a descida de Enéas às regiões infernais, mas neste caso não existe um ritual, o herói vai fisicamente à morada das almas.

Além das narrativas poéticas e mitológicas existem inúmeros registros, por parte de historiadores, de praticantes da necromancia. Em Cabo Tenarus, Callondas evocou a alma de Archilochus. Periandro, o tirano de Coríntio, conhecido como um dos sete sábios da Grécia, enviou mensageiros para o oráculo do Rio Acheron para interrogar sua falecida esposa, depois de dois encontros os mensageiros conseguiram a resposta que buscavam. Pausanis, rei de Esparta, matou Cleonice ao confundí-la com um inimigo durante a noite, e como consequência não encontrava mais paz de espírito nem descanso, após tentativas infrutíferas de se livrar dos sentimentos que o afligiam ele se dirigiu para o Psicopompeion de Phigalia e evocou a alma da morta, recebendo a garantia de que assim que voltasse para Esparta seus pesadelos e medos desapareceriam, assim que voltou para a cidade ele morreu. Após sua morte os espartanos viajaram para Psicagogues, na Itália, para evocar e aplacar sua alma. Entre os romanos, Horácio constantemente alude à evocação dos mortos. Cícero testemunha que seu amigo Appius praticava a necromancia e que Vatinius conjurava as almas do além. O mesmo é dito a respeito do imperador Drusus, de Nero e de Caracalla.

Não existe certeza sobre os rituais realizados, ou os encantamentos feitos. A cada relato surgem descrições complexas e completamente diferentes entre si da maneira de chamar os mortos. Na odisséia Ulisses cava uma trincheira, entorna libações nela e sacrifica uma ovelha negra, cujo sangue será bebido pelas sombras, antes que elas lhe respondam a qualquer pergunta. Lucan descreve em detalhes inúmeros encantamentos e fala de sangue fresco sendo injetado nas veias de um cadáver para que ele retorne à vida. Cícero nos relata sobre Vatinius, que oferecia à alma dos mortos as entranhas de crianças e São Gregório fala de virgens e meninos sendo sacrificados e dissecados para que os mortos pudessem ser evocados ou para que o futuro pudesse ser visto.

Nos primeiros séculos depois de Cristo, os patriarcas da nova religião testemunharam a adoção da prática dentre seus novos convertidos, a necromancia era praticada em conjunto com outras artes mágicas que passaram a ser associadas com demônios, e passaram a advertir seus novos seguidores contra essas práticas nas quais: demônios se apresentavam como se fossem a alma dos mortos” (Tertuliano, De anima, LVII, em P.L., II, 793), mesmo assim, como seria de se esperar, muitos ignoravam os alertas e se entregavam à prática. Surgiram então os esforços das autoridades eclesiásticas, Papas e conselhos em suprimir por completo tal abominação. Leis criadas por imperadores cristãos como Constantino, Constantius, Valentino, Valens e Teodósio não se restringiam apenas à necromancia mas a qualquer forma de magia considerada pagã – precisamos nos lembrar que a igreja aceita que de acordo com a vontade de Deus as almas de pessoas mortas podem aparecer para os vivos lhes revelando coisas desconhecidas, ou que milagres podem ser realizados. Graças a este combate contra magia, rituais e superstição pagã, com o tempo o termo necromancia perdeu seu sentido estrito e passou a ser aplicado a toda forma de “magia negra”, se tornando associado com alquimia, bruxaria e magia. Mesmo com todos seus esforços, a igreja não conseguiu abolir essas práticas e a necromancia sobreviveu, se adaptando quando necessário, à Idade Média ganhando um novo ímpeto pela época do renascimanto.

 

As Raízes da Necromancia de Charles Dexter Ward

smackDuas coisas precisam ser levadas em consideração quando estudamos os rituais de necromancia apresentados por Lovecraft em sua obra, especialmente no Caso de Charles Dexter Ward.

Em primeiro lugar a superstição causada pela religião dominante. O cristianismo abominava qualquer ato religioso e ou mágico que não os rituais consagrados pela igreja e realizado por seus clérigos. Qualquer coisa além disso era vista de forma agressiva pelos religiosos, isso se refletiu no grande público frequentador de igreja e formado por uma sociedade criada a partir de uma moralidade cristã. O medo do sobrenatural acompanhou a raça humana desde seus primórdios, mas além deste sentimento natural houve, a partir do século IV, uma campanha focada em cristalizar esse medo e mudar seu status de característica humana em virtude humana. Isso é o motivo por até hoje religiões que não flertem diretamente com o cristianismo sejam vistas com preconceito, medo ou indiferença por uma sociedade religiosamente “morna”.

No início do século XX, a menção de rituais depravados era tabu. Ordens religiosas como a Golden Dawn, O.T.O., Maçonaria, Teosofia, Wicca e Rosa-Cruz, haviam mostrado para a Europa que cultos mágicos haviam sobrevivido ao feudo religioso da Idade Média, grimórios mágicos falavam sobre as práticas de evocação e negociação com espíritos vindo do inferno. E rumores sobre tais feitos e grupos chegavam através do oceano a um continente onde por anos a luta contra a feitiçaria havia sido uma realidade. A Inquisição teve seus ecos em solo americano, onde bruxas eram caçadas, torturadas e queimadas ainda com vida. Novas religiões nasciam em segredo e tinham que se afastar de áreas populadas para poderem ser seguidas – religiões que se derivavam do cristianismo, como os Mórmons por exemplo. Esses rumores assustavam muitas pessoas que consideravam estar a salvo da sombra do diabo e de seus seguidores.

Em segundo lugar havia a literatura gótica e fantástica. Escritores de contos de terror tinham inspiração de sobra na época. Cultos pagãos que haviam sobrevivido em segredo. Criaturas demoníacas que roubavam crianças recém nascidas e colocavam cópias maléficas em seu lugar. Livros que ensinavam a evocar o próprio demônio. Histórias que se aproveitavam dos temores mais profundos das pessoas e os exploravam para se tornarem fenômenos comerciais, em uma época, diga-se de passagem, em que o analfabetismo era a regra.

Dos principais temas góticos que se tornaram sucesso, e por isso recorrentes em inúmeros livros, temos o dos fantasmas que surgiam como pessoas vivas, interagindo com os protagonistas para apenas revelar sua natureza sobrenatural no clímax da obra, e o do alquimista que após concluída a aventura se revelava uma pessoa com séculos de idade, prolongada de forma artificial através de rituais, acordos e da química proibida. Esses livros inspiraram muito o trabalho de Lovecraft e estão presentes em muitos de seus contos como por exemplo Ar Frio, O Alquimista e A Coisa Na Soleira da Porta.

Quando Lovecraft escrevia ele buscava transpor para o papel algo que despertasse no leitor seus medos mais ocultos e violentos, um temor puro e inexplicável de algo incompreensível para a mente humana. E assim ele combinou em um texto a ficção que admirava com a superstição que dominava as pessoas, e para isso ele buscou bases reais para seu romance.

 

Senhor Mather e Mestre Borellus

Durante o desenrolar da história o nome do livro de Borellus não é citado, e nem qualquer outra informação direta sobre seu autor, mas Lovecraft nos dá uma pista importante. Durante sua narrativa ele escreve uma passagem sobre uma carta escrita por Jebediah Orne, de Salem, para Curwen na qual lemos:

“[…]Não possuo as artes químicas para imitar Borellus e confesso que fiquei confuso com o VII Livro do Necronomicon que o senhor recomenda. Mas gostaria que observasse o que nos foi dito a respeito de quem chamar, pois o senhor tem conhecimento do que o senhor Mather escreveu nos Marginalia de______”

Aqui entram dois personagens importantes na solução do mistério, Mather e suas escritas marginais em algum livro.

Mather muito provavelmente se trata de Cotton Mather, o ministro puritano da Nova Inglaterra que teve grande influência nos tribunais de caças a bruxas nos Estados Unidos, especialmente na cidade de Salém. A mera citação do nome de Mather no texto é importante pois ajuda a dar credibilidade ao passado de Joseph Curwen, um bruxo que deixou Salém na época em que bruxos era perseguidos e se isolou para dar continuidade a seu trabalho, sem perder o vínculo com os feiticeiros de lá. Em 1702, a maior obra de Mather é publicada, o Magnalia Christi Americana – Os Gloriosos Trabalhos de Cristo na América, o livro traz biografias de santos e descreve o processo de colonização da Nova Inglaterra. A obra, composta de sete livros, traz também o livro entitulado “Pietas in Patriam:  A vida de Vossa Excelência Sir William Phips”. Pietas havia sido publicado anonimamente em Londres em 1697.

Aqui se faz necessária a apresentação de outro escritor, Samuel Taylor Coleridge. Coleridge foi um famoso poeta e ensaista inglês, considerado um dos fundadores do Romantismo na Inglaterra. Dentre de suas obras mais conhecidas se destacam Balada do Antigo Marinheiro – conhecida também por ter inspirado a música de mesmo nome da banda Iron Maiden – Kubla Khan e Cristabel. Lovecraft conhecia e admirava o escritor, como deixa claro em seu O Horror Sobrenatural na Literatura. Mas além de escrever os próprio poemas e prosas, Coleridge era famoso por suas marginália nos livros que possuia. Como todo leitor da revista MAD ou qualquer fã de Sérgio Aragonés já sabe, marginália (do latim marginalia, como também é usado – sem o acento) é o termo geral que designa as notas, escritos e comentários pessoais ou editoriais feitos na margem de um livro, o termo é também usado para designar desenhos e floreados nas iluminuras dos manuscritos medievais. Tantas foram que hoje existem volumes com suas anotações pessoais sendo impressos e um livro em particular se encaixa nesta obra de Lovecraft, o Magnalia Christi Americana de Mather. A Biblioteca de Huntington contém alguns dos livros que Coleridge cobriu com suas notas e comentários e um deles é a edição de 1702 do Magnalia. A principal característica dessas notas são o tom anti puritano e anti Mather, Coleridge se surpreende com a credulidade do ministro e se perturba com suas descrições sobre bruxaria, como detectar e tratar as acusadas de feitiçaria. Em um ponto Coleridge se aborrece com a incapacidade de Mather fornecer dados suficientes para que o poeta pudesse calcular a velocidade com que um fantasma se desloca.

Neste ponto é importante frisar que não há evidência de que Lovecraft tenha descoberto o livro de Mather por causa de Coleridge, existe uma chance dele próprio ter possuido uma cópia do Magnalia, ou ao menos do Pietas. Muitas das coisas descritas ali com certeza seriam de seu interesse, especialmente as alusões ao sobrenatural e à bruxaria, um tema também tratado por ele em muitos contos. Mas de fato este livro contém a chave para a identificação de Borellus. Mather o inicia com algumas palavras sobre a natureza da arte da biografia, comparando o biógrafo com a teoria defendida por Borellus de se evocar a forma dos ancestrais – Livro II, Capítulo XII. Na época de Mather viveu um químico, alquimista, físico e botânico francês que ganhou muita notoriedade escrevendo sobre ótico, história antiga, filologia e também sobre bibliografia, Pierre Borel (1620-1679). Não é difícil de se supor que Mather, também um biógrafo apaixonado, conhecesse Pierre Borel e sua obra. Dos muitos textos existentes de Borel não existe a passagem literal citada por Mather, o que leva a crer que Mather parafraseou o alquimista francês usando suas próprias palavras. Este ponto também é importante porque mostra que Lovecraft de fato teve acesso ao livro de Mather e não à obra de Borel, cujo nome em latim era escrito Petrus Borellius, ou simplesmente Borellus, já que atribui ao alquimista a passagem literal.

Fora isso, a menção de uma Marginalia de punho do próprio Mather pode servir como subterfúgio para indicar que Curwen e Jebediah possuiam anotações não publicadas de Mather, o que agrega ao romance um ar muito mais sinistro; uma das grandes contribuições de Mather para os tribunais de feitiçaria foi o incentivo do uso de provas sobrenaturais para acusar as supostas feiticeiras. Notas marginais de Mather em  um livro de evocações demoníacas seria o mesmo que um selo legitimando o ritual.

 

A Alquimia do Sal

“Se um químico renomado como Quercetanus, juntamente com uma tribo inteira de ‘trabalhadores no fogo’, um homem culto encontra dificuldades em fazer a parte comum da humanidade acreditar que eles podem pegar uma planta em sua consciência mais vigorosa, e após a devida maceração, fermentação e separação, extrair o sal da planta, que, como se encontra, no chaos, de forma invisível reserva a forma do todo, que é seu princípio vital; e que, mantendo o sal em um pote hermeticamente selado, podem eles então, ao aplicar um fogo suave ao pote, fazer o vegetal se erguer ao poucos de suas próprias cinzas, para surpreender os espectadores com uma notável ilustração da ressurreição, na mesma fé que faz os Judeus, ao retornarem das tumbas de seus amigos, arrancarem a grama da terra, usando as palavras da Escritura que dizem “Seus ossos florecerão como uma erva”: desta forma, que todas as observações de tais escritores, como o incomparável Borellus, encontrarão a mesma dificuldade de criar em nós a crença de que os sais essenciais dos animais podem ser preparados e preservados de tal forma que um homem engenhoso possa ter toda a Arca de Noé em seu próprio estúdio e fazer surgir a bela forma de um animal de suas próprias cinzas a seu bel-prazer: e, pelo mesmo Método, dos sais essenciais do pó humano, um filósofo pode, sem recorrer à necromancia criminosa, evocar a Forma de qualquer ancestral falecido das cinzas resultantes da incineração de seu corpo. A ressurreição dos mortos será da mesma forma, um artigo tão grandioso de nossa crença, mesmo que as relações desses homens cultos se passem por incríveis romances: mas existe ainda a antecipação da abençoada ressurreição, carregando em si algumas semelhanças a estas curiosidades, quando em um livro, como no pote, nós reservamos a história de nossos amigos que partiram; e ao aquecermos tais histórias com nosso afeto nós revivemos, de suas cinzas, a forma verdadeira desses amigos, e trazemos com uma nova perspectiva tudo aquilo que era memorável e reprodutível neles.”

Magnalia Christi Americana – Livro II, Capítulo XII

Como descrito por Mather, Borellus, Quercetanus e os membros da tribo dos “Trabalhadores no Fogo” afirmam que para ressucitarmos os mortos, precisaríamos apenas de um processo puramente químico, isso se torna evidente na passagem “sem recorrer à necromancia criminosa”. Mas, em sua história, Lovecraft sugere que Borellus, em seu livro misterioso, afirmava a necessidade de componentes ritualísticos. Na troca de correspondência entre Jebediah, Hutchinson e Curwen lemos:

Jebediah:

“Eu ainda não possuo a arte química para seguir Borellus…”

Curwen:

“As substâncias químicas são fáceis de serem conseguidas, eu indico para isso bons químicos na cidade. Doutores Bowen e Sam Carew. Estou seguindo o que Borellus disse, e consegui ajuda no sétimo livro de Abdul Al-Hazred.

Hutchinson:

“Você me supera em conseguir as fórmulas para que um outro o possa dizê-las com sucesso, mas Borellus supôs que seria assim, se apenas as palavras corretas fossem proferidas.”

Isso faria com que o processo alquímico da obtenção dos sais e da sua conseguinte restauração em suas formas originais deveria ser acompanhado de certos rituais, fórmulas pronunciadas, combinando a química com a Alta Magia.

 

Entra em Cena Eliphas Levi

A fórmula recitada por Ward na Sexta-Feira Santa, anotada por sua mãe foi identificada por especialistas como uma das evocações encontradas “nos escritos místicos de ‘Eliphas Levi’, aquele espírito misterioso que se insinuou por uma fenda da porta proibida e teve um rápido vislumbre das terríveis visões do vazio além”.

Eliphas Levi era o nome mágico do ocultistas francês Alphone Louis Constant (1810-1875), um dos grandes, se não o maior, responsável pelo renascimento do ocultismo moderno. Paracelso elevou a magia ao status de ciência, Cagliostro a incorporou na religião que buscava a regeneração da espécie humana, mas foi Levi que a tranformou em literatura. A atmosfera e densidade com que trata o ocultismo diferenciava as obras de Levi dos outros grimórios que existiam e circulavam na época. O assunto que parecia tomar a forma de livros de receitas demoníacas e angelicais, passou a ser tratado com reverência, como uma filosofia e um estudo no qual eram necessários anos de aprimoramento para se dominar.

Seu livro mais conhecido do grande público é o Dogma e Ritual da Alta Magia, e é exatamente nesta obra que encontraremos a fórmula usada por Ward, mas muito provavelmente não foi este livro que Lovecraft teve em suas mãos para inspirar esta passagem.

Crowley sempre fez questão de ser conhecido e lembrado como o mais depravado dos homens, o mago negro de sua geração, a Grande Besta 666, e fez um bom trabalho nisso. Mas como devemos chamar então o seu arqui-inimigo, aquele que inspirou a vilão Arthwate do livro Moonchild escrito por Crowley?

Arthur Edward Waite se tornou um místico muito menos popular do que Crowley, mas em alguns pontos muito mais poderoso. Durante sua vida escreveu extensamente sobre ocultismo e esoterismo. Foi um dos criadores do Tarô Raider-Waite, considerado um Tarô clássico até os dias de hoje. Ele fez parte da Ordem Hermética da Aurora Dourada, Sociedade Rosa-Cruz Inglesa, Sociedade da Cruz Rosada, dentre outras. Seus trabalhos atravessaram o atlântico e acabaram chegando às mãos de Lovecraft que inclusive o incluiu em um de seus contos, também como um vilão, o mago negro Ephraim Waite de A Coisa Na Soleira da Porta. Mas não foi com seus trabalhos que Waite influenciou O Caso de Charles Dexter Ward. Além de escrever sobre Tarô, divinações, esoterismo, os Rosacruz, Maçonaria, Cabala e alquimia, Waite também traduzia e publicava muitos livros ainda inéditos na língua inglesa, e Eliphas Levi havia se tornado uma celebridade entre os praticantes de magia cerimonial. Em 1886 Waite publicou um livro intitulado Os Mistérios da Magia, formado por vários artigos tirados de livros de Levi, posteriormente em 1896 conseguiu publicar as duas obras do ocultista francês, Dogma da Alta Magia e Ritual da Alta Magia, em uma versão em inglês, rebatizada para Magia Transcedental, Sua Doutrina e Rituais. Ambos os livros possuem um mesmo capítulo entitulado O Sabbat dos Feiticeiros, e neste capítulo encontramos a fórmula Per Adonai. Hoje não há como saber com certeza de qual livro de Waite Lovecraft tirou o encantamento, mas muitos pesquisadores apontam para o livro de coletânia de textos, o Mistérios da Magia.

O capítulo em questão, trata do que Levi define como “o fantasma de todos os espantos, o dragão de todas as teogonias, o Arimane dos persas, o Tifon dos egípcios, o Píton dos gregos, a antiga serpente dos hebreus, a vouivre , o graouilli , tarasque , a gargouille , a grande besta da Idade Média, pior ainda do que tudo isso, o Baphomet dos templários, o ídolo barbado dos alquimistas, o deus obsceno de Mendes, o bode do Sabbat”. Dentro do assunto tratado em seu romance, Lovecraft não podia ter escolhido uma fonte melhor de onde tirar a porção de magia cerimonial do ritual realizado por Ward. Mas apesar de tratar do ritual de adoração ao Diabo, Levi deixa clara sua visão quando afirma que “digamos bem alto, para combater os restos de maniqueísmo que ainda se revelam, todos os dias, nos nossos cristãos, que Satã, como personalidade superior e como potência, não existe. Satã é a personificação de todos os erros, perversidades e, por conseguinte, também de todas as fraquezas”. Indo mais a fundo em sua exposição, Levi classifica tais rituais em três grupos distintos:

– Os que se referem a uma realidade fantástica e imaginária;

– Aqueles que revelam os segredos expostos nas assembléias ocultas dos verdadeiros adeptos;

– Aqueles realizados por loucos e criminosos, tendo como objetivo a magia negra.

E prossegue:

“[…]e existiu realmente; até ainda existem as assembléias secretas e noturnas em que foram e são praticados os ritos do mundo antigo, e destas assembléias umas têm um caráter religioso e um fim social, outras são conjurações e orgias. É sob este duplo ponto de vista que vamos considerar e descrever o verdadeiro Sabbat , quer seja o da magia luminosa, quer o da magia das trevas.”

Levi então descreve a personalidade de alguém que será bem sucedido em suas evocações infernais. A pessoa deve ser teimosa, ter uma consciência ao mesmo tempo endurecida e acessível ao remorso e ao medo, acreditar naquilo que “a parte comum da humanidade” não acredita ser real. Para o ritual ter sucesso são necessários sacrifícios sangrentos.

Por toda a cidade se comentavam sobre os hábitos estranhos adotados pelo jovem ward, que incluíam encomendas de quantidades imoderadas de carne e sangue fresco fornecidas pelos dois açougues da vizinhança mais próxima, uma quantidade muito grande para uma casa em que habitavam apenas três pessoas.

Levi então diz que após os preparativos, que podem levar dias a evocação deve ser feita, de segunda para terça-feira ou de sexta-feira para sábado, o que coincide com o ritual realizado na Sexta-Feira Santa por Ward. A pessoa então deve traçar círculos e triângulos e os molhar não com o sangue de uma vítima, mas do próprio operador.

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“A pessoa pronunciará, então, as fórmulas de evocação que se acham nos elementos mágicos de Pedro de Apono ou nos engrimanços, quer manuscritos, quer impressos. A do Grande Grimório , repetida no vulgar Dragão Vermelho , foi voluntariamente alterada na impressão. Ei-la como deve ser lida:

“Per Adonai Elohim, Adonai Jehova, Adonai Sabaoth, Metraton On Agla Adonai Mathom, verbum pythónicum, mystérium salamándrae, convéntus sylphórum, antra gnomórum, doemónia Coeli Gad, Almousin, Gibor, Jehosua, Evam, Zariatnatmik, veni, veni, veni ”.

 

Veni, Veni, Veni

Como Levi afirma, a evocação Per Adonai já existia muito tempo antes dele a publicar em seu livro, dizendo que a do Grande Grimório, talvez mais antiga que tenha visto pessoalmente, foi reimpressa de forma alterada no Dragão Vermelho.
Apesar de na cabeça das pessoas a história dos grimórios, ou engrimaços, se perder no tempo, eles não são tão antigos assim. A maior fonte de todos os livros mágicos que surgiram na Europa até recentemente, foi a Bíblia. Os primeiros cinco livros das Escrituras Sagradas, conhecidos como Pentateuco, são atribuídos a Moisés. Muitas pessoas acreditavam que Moisés escreveu muito mais coisas do que apenas os cinco livros e não demoraram a aparecer cópias do livro entitulado o oitavo livro de Moisés. Esse livro, datado de aproximadamente IV d.C., trazia, supostamente, os ensinamentos de Deus que ficaram fora do Pentateuco, as maneiras de se chamar anjos e realizar maravilhas, curiosamente os manuscritos mais antigos retratavam Moisés como um egípcio e não um judeu. Outros textos que diziam ter sido escritos por Salomão, existiam na forma de um livro que circulava no primeiro século cristão. Outro autor bíblico que fazia sucesso era Enoque, haviam inúmeros manuscritos mágicos que descreviam o que Deus supostamente havia lhe ensinado sobre o controle das forças por trás da Criação. Todos esses livros, obviamente, não tinham ligação direta com os patriarcas bíblicos, mas eram muito populares porque as pessoas que os adquiriam acreditavam nisso, o que torna os primeiros grimórios excelentes exemplos de jogadas de marketing séculos antes do marketing sequer ser criado. Em 1436, com o advento da prensa móvel por Gutenberg, dezenas de grimórios “antigos” começaram a circular, dentre eles as Claviculas de Salomão, o Pequeno Alberto, o Grimório de Honório, o Sexto e Sétimo Livros de Moisés, o Galo Negro, Grande Grimório, Grimorium Verum e inúmeros outros. Os livros mais caros eram grandes, ilustrados, os mais baratos eram cópias mal feitas, com coletânias de textos vindo de outros livros sem muita explicação de como seguí-las, eram de fato livros de receitas em que anjos e demônios eram evocados em horas planetárias pré determinadas.
O Grande Grimório, citado por Levi, traz uma introdução que afirma que a obra foi impressa em 1552, mas não existem registros de publicações anteriores ao século XVIII. Seu autor é apresentado como Alibek, o Egípcio. Em sua página de introdução está escrito:
“Este livro é tão raro e procurado em nosso país que foi chamado, por nossos rabinos, de a verdadeira Grande Obra. Foram eles que nos entregaram este precioso original que muitos charlatães tentaram inutilmente reproduzir, tentando imitar a verdade que eles nunca encontraram, de forma a tirar vantagem de indivíduos ingênuos que tem fé em encontros com pessoas quando buscam a Fonte original.
Este manuscrito foi copiado de inúmeros escritos do grande Rei Salomão. Este Grande Rei passou muitos de seus dias na mais árdua busca atrás dos mais obscuros e inesperados segredos.”
Ao examinar o Grande Grimório é fácil perceber que a evocação Per Adonai não se encontra nele, a maior parte das evocações lá presentes são variantes da fórmula:
“Eu Te imploro, O grande e poderoso ADONAI, lider dos espíritos. Eu Te imploro, O ELOHIM, eu Te imploro O JEHOVA, O grande Rei ADONAI, seja condescendente e favorável. Que assim seja. Amém.”
Mas isso não é uma surpresa. Grimórios eram colchas de retalhos, hoje um exemplo disso é o Livro de São Cipriano, diferentes editoras o lançam com diferentes nomes, O Livro de São Cipriano, O Verdadeiro Livro de São Cipriano, São Cipriano da Capa Preta, São Cipriano da Capa Metálica, etc. Na época de Levi ainda havia o agravante de cada tradução ser uma versão diferente do grimório traduzido, partes eram introduzidas ou retiradas, assim quando mudava de língua, o livro mudava de conteúdo, não eram traduções e sim editorações de conteúdo. Outro problema era a origem do livro e seu nome real. Muitos grimórios afirmavam ser versões modernas inspiradas por livros mais antigos, no caso do Grande Grimório, há aqueles que acreditem que ele foi amplamente inspirado no livro conhecido como o Grimório Jurado de Honório, o Liber Juratus – não confundir com o Grimório do Papa Honório III. No Liber Juratos é possível se encontrar fórmulas muito mais próximas à de Levi, como por exemplo:
“HAIN, LON, HILAY, SABAOTH, HELIM, RADISH~~, LEDIEHA, ADONAY, JEHOVA, YAH, TETRAGRAMMATON, SADA!, MESSIAS, AGIOS, ISCHYROS, EMMANUEL, AGLA”
O que pode indicar que talvez o Grande Grimório ao qual Levi se referia seria na verdade o Liber Juratus. Levi o compara ao Dragão Vermelho, que se conecta de forma diferente aos dois livros, Grande Grimório e Liber Juratus. Muitos afirmam que o Dragão Vermelho e o Grande Grimório são os mesmos livros, outros afirmam que são livros diferentes, mas que o Dragão Vermelho, por seu conteúdo também era conhecido como um grande grimório, o maior e mais perverso de todos, dai o nome Grande Grimório ser mais um título no ranking dos maiores grimórios do que simplesmente o nome que trazia. Como Levi o descreve nos leva a crer que ao menos na França, onde circulava com o nome “Le Veritable Dragon Rouge” o Dragão Vermelho poderia ser uma versão mais popular do Grande Grimório original. Neste caso ele poderia ter alguma relação ao Liber Juratus e trazer uma versão mais próxima da fórmula apresentada, mas sem o livro que Levi tinha em mãos, não há como saber se a evocação se manteve fiel ao original ou não, mas hoje é sabido que Levi tinha uma estranha atração pelo livro, o que pesa a favor da fidelidade do texto, por outro lado Levi era um romancista e adorava “corrigir” textos que ele percebia haver chegado em suas mãos com desvios do original, assim essa evocação pode ter sido desenvolvida pelo próprio Levi para sua obra.
Independente de sua origem a evocação se consagrou, fazendo parte de inúmeros livros publicados posteriormente. Tais evocações, mesmo conflitantes entre si em sua formulação, eram muito comuns nos livros. Como grande parte dos os grimórios, se não todos eles, se derivaram da Bíblia, por mais nafasta que fosse a criatura evocada, ela deveria se curvar perante o poder de Deus, assim a fórmula era recitada, após os diagramas desenhados, para obrigar, em nome de Deus, que o espírito se materializasse.
Nas palavras de Cornelius Agrippa, quando fala sobre necromancia em seus Três Livros de Filosofia Oculta:
“Para a empreitada de chamar e compelir os maus espíritos, adjurando por um certo poder, especialmente aquele dos nomes divinos; pois sabemos que toda criatura teme, e reverencia, o nome de quem a criou, não é de admirar, se infiéis goetians, pagãos, judeus, sarracenos, e homens de toda seita profana e da sociedade, conseguirem controlar demônios ao se invocar o nome divino.”
Assim, a evocação Per Adonai traduzida se lê:
Por meu Senhor Deus, meu Senhor que Vive, meu Senhor Das Hostes Celestes, por Metraton[1] On[2] e o Senhor Eternamente Forte, pela quinta hora da noite, pela palavra profética, pelo mistério das salamandras, pelos espíritos das florestas, pelas cavernas dos gnomos, pela fortuna descrita nos céus pelos espíritos, por Almousin, Senhor da Força, por Jesus, por Evam[3], o Filho de Deus, VENHA, VENHA, VENHA.”
[1] Metraton é o príncipe dos Anjos, o único que fala diretamente com Deus, por isso chamado também A Voz de Deus.
[2] ON é outro nome de Deus.
[3] Evam é um termo que permanece incerto
O objetivo era, assim que um canal com o mundo dos mortos fosse aberto, obrigar, através da menção dos nomes/qualidades de Deus, o espírito escolhido a se manifestar. Mas, seguindo a lógica do texto de Lovecraft, as conversas trocadas pelo círculo de Curwen, o espírito deveria animar a forma, ou seja o corpo, criado alquimicamente a partir dos sais do corpo original, não apenas se manifestar em sua forma etérea. A alquimia criava um corpo físico, uma versão antiga da gentética de hoje, e a magia devolvia o espírito original a esse novo corpo.
E aparentemente Ward obteve sucesso em sua evocação, já que junto com seus clamores uma segunda voz lhe respondeu, uma voz que com certeza não era a sua.
Corta Para o Signore Pietro d’Abano
Também conhecido como Petrus De Apono ou Aponensis, viveu entre as décadas de 1250 e 1310, ele foi um filósofo italiano, que estudava astrologia e medicina em Pádua. Eventualmente, como toda pessoa culturalmente prolífera que não fazia parte da igreja, foi acusado de heresia e ateísmo e acabou caindo nas mãos da Inquisição, morrendo na prisão em 1315.
Durante sua vida estudou por muitos anos em Paris, onde recebeu os três graus de doutorado em filosofia e medicina, se tornando um médico talentoso e de muito renome, chegando a ser chamado de O Grande Lombardo. Foi em Pádua que ganhou sua reputação como astrólogo e físico e foi acusado pela primeira vez de praticar magia – diziam que com a ajuda do demônio ele conseguiu recuperar todo o dinheiro que gastou em sua educação e que possuia uma pedra filosofal, as pessoas que o acusavam disso não deviam saber dos honorários salgados que cobrava para exercer a medicina.
Pietro também gostava de escrever e registrar os conhecimentos que ia coletando, criando uma verdadeira enciclopédia de ciências ocultas, procurando sempre provar através de experimentos, aquilo que registrava sobre fisiognomia – diferente de fisionomia -, geomancia e quiromancia entre outros. E foi dentre esses estudos que registrou o seguinte:
pega saci“A peneira é sustentada por tenazes ou pinças que são erguidas pelos dedos médios de dois assistentes. Desta forma pode ser descoberto, com a ajuda de demônios, as pessoas que cometeram um crime ou que roubaram algo ou feriram alguém. A conjuração consiste de seis palavras – que não são compreendidas nem por aqueles que as proferem nem pelos que as escutam – que são DIES, MIES, JUSCHET, BENEDOEFET, DOWIMA e ENITEMAUS; uma vez que sejam pronunciadas elas compelem o demônio a fazer a peneira, apoiada nas tenazes, a girar no momento que o nome da pessoa culpada for pronunciado (pois o nome de todos os suspeitos devem ser pronunciados), tornando o culpado imediatamente conhecido.”
Mais de 200 anos depois da morte de Pietro, Agrippa começa a coletar o conhecimento ocultista existente até então em seus próprios escritos, que posteriormente foram coletanos em dois volumes entitulados Opera omnia em 1600 pela editora Lyons. Em seu total os volumes traziam seus três volumes do De occulta philo-sophia, De incertitudine et vanitate scientiartn argue artium declamatio, Liber de Iriplici ratione cognoscendi Dewn e In artem brevem Ravtnundi Lulli commentaria. Popularmente esse trecho foi apontado como saindo de algum dos três livros do Occulta, mas ele não se encontra neles, o que fez muitos pesquisadores modernos o atribuirem ao apócrifo quarto livro do Occulta philo-sophia, um livro que surgiu, escrito em latim, aproximadamente 30 anos após a morte do autor e que foi denunciado como fraude por Johann Weyer, um dos estudantes de Agrippa. Esse tipo de confusão entre D’Abano e Agrippa é comum já que um dos maiores tratados ocultos, o Heptameron – ou Elementos Mágicos – atribuído a D’Abano apareceu como apêndice no quarto livro de filosofia oculta atribuído a Agrippa. Em ambos os casos parece que os livros apenas foram atribuídos aos ocultistas como forma de marketing, já que parece que nenhum dos dois redigiu nenhuma das obras. Mas Agrippa faz menções a D’Abano em seu trabalho, especificamente em seu terceiro livro da Filosofia oculta, apontando o italiano como sendo sua fonte para o alfabeto Thebano, desenvolvido por Honório de Thebas, o suposto autor do Liber Juratus.
Assim um texto escrito por D’Abano se tornou famoso como sendo a Grande Evocação de Agrippa:
“Dies Mies Jeschet Boenedoesef Douvema Enitemaus”
As seis palavras, que antes surgiam como fórmulas mágicas individuais, agora são uma única frase, ou fórmula. Levi provavelmente a incluiu nesta parte de seu tratado por se tratar de uma fórmula de evocação ao demônio, e a associou ao ritual do sabbat, onde o diabo era supostamente evocado, mas como podemos ver, o objetivo original da fórmula não era chamar O diabo, e sim forçar algum diabo a identificar um malfeitor. Levi provavelmente teve acesso aos dois volumes do Opera omnia de Agrippa e reproduziu de lá a frase. E de lá cai nas mãos de Lovecraft.
Em seu texto sobre o Sabbat Levi esclarece:
“A grande evocação de Agrippa consiste somente nestas palavras: Dies Mies Jeschet Boenedoesef Douvema Enitemaus . Não temos a pretensão de entender o sentido destas palavras que, talvez, não têm nenhum, e ao menos não deve ter nenhum que seja razoável, pois que têm o poder de evocar o diabo, que é a soberana irracionalidade.”
Esta declaração talvez tenha tornado este trecho da obra de Levi irresistível a Lovecraft, pai dos livros que não podiam ser lidos, dos cultos inomináveis e dos nomes impronunciáveis. Giovanni Pico della Mirandola, o cabalista italiano do século XV, era outro que afirmava que  as palavras mais bárbaras e absolutamente ininteligíveis são as que produzem melhores resultados em rituais na magia negra. Até nas Mil e Uma Noites encontramos referências a tal prática, onde uma feiticeira apanha uma porção de água lago com as mãos e sussurra sobre ela “palavras que não podiam ser compreendidas”, e as Mil e Uma Noite foram uma das maiores fontes de inspiração de Lovecraft, tanto quando criança quanto quando adulto.
 
Eis o Professor de Aleister Crowley
O encontro de Darth Vader e Obi Wan Kenobi, no filme Uma Nova Esperança da saga Guerra nas Estrelas, se tornou um clássico do cinema, mas poderia ter sido plagiado da vida de dois outros grandes ocultistas: Samuel Liddell MacGregor Mathers e Aleister Crowley. Mathers, antigo amigo e mestre de Aleister Crowley nas artes mágicas, com o tempo se tornou um vilão para o ex-aprendiz.
Mathers era um Mestre Maçom, um membro da Societas Rosicruciana in Anglia e então em 1888 fundou a Ordem Hermética da Aurora Dourada. Ele também era um poliglota que dominava, entre outras línguas, o inglês, o francês, o latim, o grego, o hebraico, o gaélico e o copta, e dedicou parte da vida a traduzir e publicar antigos livros de magia em inglês, sua língua nativa. Um desses livros foi o grimório conhecido como A Clavícula Maior de Salomão – ou a Chave do Rei Salomão. Mathers aceitava a tradição que dizia que livro havia de fato sido escrito pela Rei Bíblico, mesmo que o manuscrito mais antigo que tenha estudado fosse datado do século XVI. Até a publicação da versão de Mathers o texto da Clavicula se encontrava fragmentado, partes dele circulavam em diferentes países até ser reunido em um único tomo na edição de 1889. No trabalho traduzido e publicado por Mather a evocação Dies Mies Jeschet aparece no capítulo IX do livro I no feitiço para “Como Saber Quem Cometeu o Roubo”, a fórmula aparece ligeiramente diferente e apesar de não haver uma tradução oferecida Mathers oferece, de forma discreta um possível significado:
“DIES MIES YES-CHET BENE DONE FET DONNIMA METEMAUZ; Deus Meu, Que liberou a santa Susanna da falsa acusação do crime”
Este feitiço descreve exatamente o mesmo procedimento do de D’Abano, se utilizando de uma peneira para descobrir quem realizou um roubo. Isso indica que Mathers pode ter tido acesso ou a algum texto de D’Abano ou a algum texto ao qual D’Abano teve acesso.
Curiosamente Lovecraft usa esta fórmula como uma resposta por parte do morto que foi trazido de volta a este mundo graças ao ritual realizado por Ward, ou talvez Lovecraft tenha achado interessante um espírito que volta da morte proferir as palavras usadas em rituais de demonologia antigos que ninguém sabe o significado. Mas historicamente Joseph Curwen e seus associados poderiam ter obtido a fórmula Dies Mies Jeschet tanto da Opera omnia de Agrippa, algum manuscrito que poderia fazer parte da Clavicula de Salomão.
Muito Trabalho, Sem Diversão
Tudo o que Jack Torrance precisou para resolver dar um fim em sua mulher e filho com um machado foi um tempo isolado nas entranhas do Hotel Overlook. De fato a isolação pode perturbar uma mente comum e ordinária, mas ela é ingrediente fundamental para a magia – tanto o isolamento quando a perturbação mental.
A magia é real e nos cerca, mas enxergá-la e lidar com ela é algo trabalhoso. O mago ou feiticeira deve aprender a percebê-la e a trabalhar com ela e para isso deve se distanciar da rotina que o cerca. Da mesma forma que um casal pode buscar lugares que despertem o desejo sexual e a inspiração luxuriante quando desejam novas experiências, o praticante deve buscar ambientes que tornem mais fácil para seus sentidos perceberem os poderes ocultos. Quando o ritual tem a ver com necromancia, o local de isolamento deve evocar sentimentos característicos no mago.
Levi recomenda “um lugar solitário e assombrado, tal como um cemitério freqüentado por maus espíritos, uma ruína temida no campo, os fundos de um convento abandonado, o lugar onde foi cometido um assassinato, um altar druídico ou um antigo templo de ídolos”.  Esta citação tem uma origem judaica, nos livros do antigo testamento que faz um alerta sobre rituais e sacrifícios realizados no alto de montanhas ou nos profundezas da terra.
Ward realizou rituais tanto no porão da casa da família, quanto no bangalô de seu antepassado, na cripta subterrânea. Curwen, antes dele, era conhecido também por vagar em cemitérios, e posteriormente construiu um laboratório subterrâneo em seu bangalô, sua “ruína no campo”.
Yog-Sothotheria: A Cabeça e a Cauda do Dragão
 
beautyful one
Seguindo a agenda de Ward, após a invocação Dies Mies, seguiu-se uma invocação a Yog-Sothoth, quando ele volta a entoar de forma monótona uma nova fórmula, que era percebida como sílabas aparentemente sem sentido:
“Yi-nash-Yog-Sothoth-he-lgeb-fi-throdog”
Sendo seguida por um grito de YAH!, “cuja força desvairada subia num crescendo de arrebentar os tímpanos”.
Esta nova fórmula descrita por Lovecraft não possui origem clássica; ou invés de se utilizar de um ritual tradicional Lovecraft parece ter inventado um ritual próprio dedicado a uma das deidades que apresentou ao público. A invocação a Yog-Sothoth criada por Lovecraft segue um padrão usado não apenas pelo autor, mas também por outros escritores, de se fazer valer da linguagem alienígena, batizada de Aklo, sempre que se tenta evocar, banir ou chamar algum de seus antigos. Essa “pseudo-liguagem” está presente em outros contos, como O Chamado de Cthulhu e o Horror de Dunwich e não possui um significado claro.
O Portão, a Chave e o Guardião
Em o Horror de Dunwich, Lovecraft nos oferece a seguinte descrição deste Antigo:
“Também não é para se pensar (dizia o texto, que Armitage ia traduzindo mentalmente) que o homem é o mais velho ou o último dos mestres da Terra, nem que a massa comum de vida e substância caminha sozinha. Os Antigos foram, os Antigos são e os Antigos serão. Não nos espaços que conhecemos, mas entre eles. Caminham serenos e primitivos, sem dimensões e invisíveis para nós. Yog-Sothoth conhece o portal. Yog-Sothoth é o portal. Yog-Sothoth é a chave e o guardião do portal. Passado, presente e futuro, todos são um em Yog-Sothoth. Ele sabe por onde os Antigos entraram outrora e por onde Eles entrarão de novo. Ele sabe por quais campos da Terra Eles pisaram, onde Eles ainda pisam e por que ninguém pode vê-los quando pisam […] Yog-Sothoth é a chave para o portal, onde as esferas se encontram.”
No conto Através dos Portões da Chave de Prata, Randolph Carter identifica Yog-Sothoth com a origem de todo o universo criado:
“Era um Tudo em Um e Um em Tudo de ser e existir ilimitado – não meramente uma coisa de um continuum de espaço-tempo, mas aliado à essência criadora máxima de toda a existência – aquele último ímpeto sem limites que não possui fronteiras e que transcende tanto a fantasia quanto a matemática. Foi, talvez, isso que certos cultos secretos da terra sussurraram como sendo Yog-Sothoth…”
Podemos dividir os seres do universo Lovecraftiano em alguns grupos. Existem aqueles que podem ser classificados como seres, indivíduos, como o próprio Cthulhu, Nyarlatothep, Shub Niggurath, e outros. Existem também as criaturas “menores” como Bronw Jenkings, shoggoths, o sabujo voador e entidades que fazem parte de uma história maior ou que estão ligadas a outros seres maiores. E existem aqueles que são como forças da natureza, Azathoth e Yog-Sothoth são exemplos desses. Eles cumprem uma função quase cósmica. Enquanto Cthulhu pode ser considerado um líder ou um sacerdote alienígena Yog-Sothoth está além da mera existência, ele não tem um propósito da forma que compreendemos propósitos. Em um primeiro momento Yog-Sothoth parece ser alguém excessivamente poderoso para ser usado apenas com o objetivo de se trazer alguém de volta da morte. Mas dentro da mitologia Lovecraftiana ele também se mostra uma escolha lógica para essa tarefa. Como vemos pela descrição do Horror de Dunwich, Yog-Sothoth é aquele que será usada pelos antigos “mortos”, como Cthulhu por exemplo, para retornarem à vida. Isso nos mostra que nossa compreensão de vida e morte é extremamente limitada, se comparada àquela de criaturas que mesmo mortas sonham, e com a afirmação de que até mesmo a morte um dia pode morrer. Assim, magos como Curwen talvez tenham enxergado uma vantagem em entrarem em contato com algo tão poderoso assim. Podemos acompanhar essa decisão na correspondência trocada por ele com outros magos de seu círculo:
“Mas eu estou disposto a enfrentar tempos difíceis, como lhe disse, e tenho trabalhado muito sobre a maneira de reaver o que perdi. Na noite passada, descobri as palavras que evocam YOGGE-SOTHOTHE e vi pela primeira vez aquele rosto de que fala Ibn Schacabac”.
Em uma carta escrita por Simon Orne encontramos a saudação “Yogg-Sothoth Neblon Zin” e mais adiante em outra escrita por Curwen lemos:
“Evoquei três vezes Yog-Sothoth e no dia seguinte fui atendido.”
Evidentemente o poder de Yog-Sothoth é reconhecido como algo que jamais poderia ser controlado após a primeira morte de Curwen, em uma carta escrita por Ezra Weeden, onde o escritor cita um aviso de Simon Orne enviado anteriormente para Curwen:
“Eu lhe digo novamente, não chame aquilo que você não possa dispensar depois; e com isso me refiro a ninguém que, por sua vez, possa evocar algo contra o senhor, algo contra o qual seus recursos mais poderosos não terão nenhuma eficácia. Busque os menores, para que aqueles que são grandes não respondam mostrando um poder maior do que o seu”.
Este não é o primeiro conto de Lovecraft onde Yog-Sothoth é evocado mas traz uma peculiaridade que não surge em nenhum outro lugar. A evocação usada por Ward, como mais tarde é descoberto por Willett, é uma das duas partes de um feitiço aparentemente maior. As fórmulas descobertas são:
Y’AI ‘NG’NGAH,
YOG-SOTHOTH
H’EE—L’GEB
F’AI THRODOG
UAAAH
OGTHROD AI’F
GEB’L—EE’H
YOG-SOTHOTH
‘NGAH’NG AI’Y
ZHRO
Assim como Willett percebeu, basta uma olhada cuidadosa em ambas as fórmulas para notarmos que uma é o inverso da outra. Se excluimos os dois gritos finais, UAAAH e ZHRO, uma fórmula é exatamente a outra com cada letra escrita de trás para frente, à excessão do nome de Yog-Sothoth. Os gritos finais são uma pista da funcionalidade das fórmulas – indicam o início e o fim, talvez uma aluzão ao A e ao Z do alfabeto, ao “Alfa et Ômega”. Junto com as  fórmulas encontramos dois símbolos:
caput e  cauda
conhecidos respectivamente como a Cabeça do Dragão e a Cauda do Dragão.
Esses dois conceitos estão presentes em três ciências que possuem ligações íntimas: a alquimia, a geomancia e a astrologia.
Quando Lovecraft escreveu o texto, seu personagem lidava com a alquimia, e nela o dragão tem um papel fundamental, como explicou Carl Gustav Jung em seu Psicologia e Alquimia:
“Quando o alquimista fala de Mercúrio ele está falando de duas coisas, superficialmente ele está falando do elemento químico mercúrio, mas de forma mais profunda ele se refere ao espírito criador do mundo que se encontra aprisionado na matéria. O dragão é provavelmente o mais antigo símbolo pictórico na alquimia que temos evidência. Ele surge como o Ouroboros, deverando a própria cauda, no Codex Marcianus, que data do século X ou XI, juntamente com a legenda ‘O Um o Todo’. Vezes sem fim o alquimista reafirma que a obra se origina no um e leve de volta ao um, que é como um círculo tal qual um dragão que devora a própria cauda. Por essa razão a obra já foi chamada de circulare (circular) e rota (roda). O Mercúrio está presente no início e no fim do trabalho: ele é a matéria prima (primeira matéria), o caput corvi, o nigredo; como o dragão ele também se devora, morrendo para então ressurgir no lápis.”
Assim um símbolo draconiano deixa claro o objetivo do trabalho, ou obra, que estava sendo realizado, seria um trabalho lidando com morte e renascimento. Algo que tanto Curwen quanto Ward estavam fazendo.
na geomancia ambos os símbolos tem uma relação oposta. Cauda Draconis está relacionada à má orientação, mau conselho, más companhias, engano, etc., já a Caput Draconis à boa orientação, bom conselho, bons contatos, boa dica. A geomancia é uma arte muito antiga, uma das ferramentas oraculares mais primitivas que se tem notícia. Suas origens remontam à Pérsia antiga, e traz consigo muitas semelhanças com o I-Ching chinês. Algumas pessoas mais exaltadas inclusive apontam para as passagens bíblicas que mostram Jesus escrevendo nas areias antes de responder aos questionamentos de alguns homens que o procuravam como evidências de Jesus ser um geomante. Os 16 símbolos geomânticos possuem hoje uma ligação direta com os planetas e signos da astrologia e com os Planetas da Alquimia.
A escolha dos símbolos atrelados à fórmula de evocação de Yog-Sothoth se mostram curiosos, pois apesar de existirem em tratados alquímicos antigos, como o Últimos Desejos e Testamento de Basil Valentine, publicado em 1671, traz um símbolo semelhante ao Caput Draconis com o significado de Sublimação ou o Medicinisch Chymisch und Alchemistisches Oraculum, publicado em 1755, que traz o símbolo equivalente ao Caput Draconis com o significado de purificação, estão ligados à astrologia a aos nodos lunares. Os dois símbolos usados na obra de Lovecraft se derivam, então, da astrologia.
A Cabeça e a Cauda do Dragão, ou Caput Draconis e Cauda Draconis, são os nomes dos dois nós ou nodos lunares; são pontos imaginários que mostram onde a órbita da lua ao redor da Terra atravessa a órbita que a terra faz ao redor do sol. Essas órbitas coincidem a cada 28 dias, em 2 momentos,como se fossem 2 nós, amarrando aquelas órbitas naquele momento específico.
Na interpretação astrológica, todos os signos têm os seus nós que em algum momento cortam a órbita ascendente e descendente. O nós ascendente é onde a lua atravessa o norte da elipse, o descendente onde cruza o sul, é por isso que as eclipses só podem ocorrer próximos aos nós lunares, os eclipses solares ocorrem apenas quando a lua cruza o nó em sua fase Nova e eclipses lunares quando a lua cruza o nó em sua fase Cheia.
Os nós recebem diferentes nomes em diferentes lugares do mundo. O nó ascendete, também chamado de nó norte, era conhecido na europa antiga como Cabeça do Dragão, ou Anabibazon, e representado pelo símbolo à esquerda. O nó descendente, ou sul, era chamado de Cauda do Dragão, ou  Catabibazon, e representado pelo símbolo da direita – uma inversão do primeiro.
Com a popularização da astrologia e seu distanciamento com a estronimia, esses nós acabaram se relacionando com aspectos ocultos e indicadores do destino das pessoas. A crença é que a Cabeça do Dragão se relacione com o caminho do destino da pessoa, enquanto a Cauda do Dragão se relaciona com o passado da pessoa, ou o Karma que traz consigo.
Não há como apontar uma obra específica que tenha inspirado Lovecraft a usar esses dois signos, mas com certeza ele estava familiarizado com eles de estudos que realizou e de contatos que tinha com entusiastas do assunto, como mostra este trecho de uma carta que escreveu para E. Hoffmann Price em fevereiro de 1933:
“Quanto a astrologia – como sempre fui um devoto da ciência real da astronomia, que tira todo o apoio no qual se baseiam os arranjos celestes irreais e aparentes todas nos quais se derivam todas predições astrológicas, eu desprezo essa arte de forma que não tenho interesse nela – exceto quando refutando suas afirmações pueris. Pelos idos de 1914 eu realizei uma pesada campanha contra um defensor local de astrologia em um de nossos jornais, e em 1926 eu li uma bela quantidade de livros astrológicos (desde então esquecidos em sua maioria) para que pudesses trabalhar como escritor fantasma em uma obra que expusesse de forma irrefutável a falsa ciência, tendo como cliente ninguém menos do que Houdini. Isto resume a soma do meu conhecimento astrológico – já que criar horóscopos nunca foi uma de minhas ambições. Se eu em algum momento me utilizar de qualquer subterfúgio astrológico em algumas de minhas histórias eu com todo o prazer lhe escreverei atrás de detalhes mais realistas”
Com o desenrolar da história a fórmula acaba se revelando não apenas a chave para de evocar o morto, para que possa se manifestar em nosso mundo, mas também a chave para despachá-lo de volta para a morte. Isso se reflete na escrita das duas chamadas, uma sendo o inverso da outra, a primeira cria a obra, a segunda a descria.
Curiosamente, o efeito reverso “Caput Draconis” parece ser muito mais poderoso do que a obra para se trazer o vivo e se recriar seu corpo a partir de seus sais. Qual o possível motivo disso?
E Se Eu Cortasse Seus Braços e Cortasse Suas Pernas?
Outro livro de ocultismo que com certeza fez parte da coleção de Lovecraft foi a Enciclopádia de Ocultismo de Lewis Spence. O artigo sobre necromancia no livro a define como “divinação através dos espíritos dos mortos”. Lovecraft foi muito além disso.
A história nos fala de duas pessoas que foram trazidas de volta: Curwen e Daniel Green.
Daniel Green foi trazido de volta por Curwen e posteriormente escapa de sua fazenda em Pawtuxet. O processo utilizado por Curwen difere em muito daquele descrito no livro de Spence, que escreve:
“Se o fantasma de uma pessoa morta deve ser chamado, a sepultura deve ser procurada à meia-noite e uma forma diferente de conjuração se faz necessária. Ainda outra é o sacramento infernal “todo corpo que já foi enforcado, afogado ou de outra forma liquidado”; e neste caso as conjurações são realizadas sobre o corpo, que finalmente se erguerá e, de pé, responderá com uma fraca voz oca as questões que lhe forem feitas.”
Parte do trabalho de Curwen reflete a necromancia clássica. Ele violou a sepultura de Green, que posteriormente foi encontrada vazia, e tinha o costume de interrogar o morto:
“A natureza das conversas pareciam sempre ser uma espécie de catequismo, como se Curwen estivesse tentando extorquir algum tipo de informação de horrorizados prisioneiros rebeldes […] a maior parte das questões que podia compreender eram de cunho histórico ou científico; ocasionalmente relativas a lugares e eras remotas.”
Mas sua obra não tinha como objetivo apenas prender uma alma a um corpo morto, ele desejava restaurar a vida ao corpo morto. Ao contrário dos processos descritos em outros livros que falam sobre necromancia, como O Livro da Magia Negra de A. E. Waite – que Lovecraft chegou a recomendar a um amigo escritor em uma carta escrita anos depois de ter terminado O Caso de Charles Dexter Ward -, o corpo utilizado por Curwen não precisava ser o de um suicida. O corpo não precisava ser de alguém que havia morrido há pouco tempo. Não necessitava ser revivido no local. O processo envolvia substâncias químicas que podiam ser obtidas de “bons químicos na cidade”
O morto deveria então ser incinerado para que seus sais – ou cinzas – fossem conseguidos antes que a operação tivesse início. A reanimação necessitava de grandes quantidades de sangue fresco, não importando se animal ou humano. Posteriormente quando revivido, Curwen diz para Ward que precisa de sangue humano por três meses – o que deu origem à série de ataques vampíricos.
O corpo revivido aparentemente pode permanecer vivo por longos períodos, mas não é imortal. Daniel Green, assim que foge da fazenda de Curwen é encontrado morto, se pelo frio ou pela falta de novas infusões de sangue não há como dizer. Curwen depois de ressuscitado viveu por mais de um ano.
A chave para esse ligação mais duradoura pode ser a presença de Yog-Sothoth, que é evocado com a fórmula da Cabeça do Dragão depois de longos rituais – Ward passou horas recitando a evocação Per Adonai, a fórmula Dies Mies, além de qualquer outra coisa que possa ter realizado que não foi percebida graças ao desmaio de sua mãe, a única testemunha do ocorrido.
E mesmo assim, o novo corpo recriado pelo trabalho com os sais não é perfeito: Daniel Green apresentava certas “peculiaridades” como um aparelho digestivo que parecia nunca ter sido usado, “enquanto toda a sua pele tinha uma textura grosseira e frouxa impossível de explicar”. Curwen também possuia os tecidos grosseiros e suas funções vitais eram mínimas, mesmo assim ele foi capaz de personificar e então tomar o lugar de seu descendente, Ward.
A necessidade constante de quantidades de sangue e a indicação de que o sistema digestivo dos novos corpos pareciam nunca ter sido usados sugerem que os novos corpos não possuiam um metabolismo próprio e necessitavam ser constantemente “alimentados”. Além da alquimia e do sangue a magia era parte fundamental de sua manutenção. Quando o Dr. Willet acaba se confrontando com Curwen, ele usa a fórmula OGTHROD AI’F, associada à Cauda Draconis, para desfazer o feitiço que mantinha a alma presa ao corpo, fazendo com que ele “morra” imediatamente. Isso indica que apesar de ser necessário muito trabalho e muita energia para se recriar e reviver alguém, apenas um encantamento pode desfazer o trabalho. Outra sugestão é que o corpo permanecesse funcional pela intervenção de Yog-Sothoth, e que a menção da fórmula Cauda Draconis encerra o acordo, Yog-Sothoth encerra seu contato, seja lá qual for, com o corpo e ele morre novamente, isso tornaria o papel de Yog-Sothoth no ritual muito mais importante do que uma mera evocação para liberar uma alma.

por Rev. Obito

Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/h-p-lovecraft-charles-dexter-ward-joseph-curwen-e-necromancia/

Fantasmas no Cinema

O ILUMINADO [The Shining ─ EUA, 1980]
Um homem é contratado como zelador de um hotel em baixa temporada e, isolado com sua mulher e filho, gradualmente enlouquece enquanto forças sobrenaturais começam a persegui-lo.
Elenco: Jack Nicholson, Shelley Duvall, Danny Lloyd
Direção: Stanley Kubrick
Roteiro: Diane Johnson e Stanley Kubrick, baseado em livro de Stephen King

POLTERGEIST – O FENÔMENO (Poltergeist ─ EUA, 1982)
Em Poltergeist, uma família é visitada por fantasmas em sua casa, que inicialmente se manifestam apenas movendo objetos. Com o tempo, aterrorizam cada vez, até que capturam a caçula, levando-a para outra dimensão, através do tubo de imagem do televisor. Os pais se desesperam e uma especialista em fenômenos paranormais sugere a ajuda de uma mulher com poderes mediúnicos. Dominique Dunne, que interpretou a jovem adolescente Dana Freeling em Poltergeist, morreu no mesmo ano do lançamento do filme, asfixiada pelo seu namorado. Poltergeist – O Fenômeno gerou ainda duas seqüências, chamadas Poltergeist II – O Outro Lado (1986) e Poltergeist III – O Capítulo Final (1988).
Diretor: Tobe Hooper
Elenco: Craig T. Nelson, JoBeth Williams, Beatrice Straight, Dominique Dunne.
Roteiro: Steven Spielberg, Michael Grais e Mark Victor, baseado em história de Steven Spielberg

A HORA DO PESADELO (A Nightmare on Elm Street ─ EUA, 1984)
Quatro amigos começam a ter pesadelos recorrentes com uma criatura assustadora que usa uma luva com lâminas nos dedos. Quando um deles morre os outros acreditam a entidade é Freddy Kruger (Robert Englund). Eles têm pesadelos, nos quais se vêm sedo assassinados e começam a morrer na vida real. Daí por diante, eles têm que ficar acordados e desvendar o segredo por trás de Freddy Kreuger e de sua matança. O filme fez muito sucesso e teve várias seqüências tornando Freddy Kreuger um dos vilões mais conhecidos do cinema. O diretor, Wes Craven, seguiu dirigindo e produzindo outros filmes de terror adolescente, como a série Pânico. Filme de estréia de Johnny Depp.
Diretor: Wes Craven
Elenco: John Saxon, Ronee Blakley, Heather Langenkamp, Robert Englund, Amanda Wyss, Johnny Depp, Nick Corri.
Roteiro: Wes Craven

OS CAÇA-FANTASMAS (Ghostbusters ─ EUA, 1984)
Comédia. Quatro parapsicólogos que estudam fantasmas vêem suas pesquisas canceladas e resolvem abrir uma agência para combater assombrações. Armados com parafernálias, eles saem às ruas de Nova York em busca dos fantasmas que aterrorizam a cidade. Mas as coisas ganham novas proporções quando encontram um portal para outra dimensão, onde está uma terrível força maligna que ameaça tomar conta do mundo.
Diretor: Ivan Reitman
Elenco: Bill Murray, Dan Aykroyd, Sigourney Weaver, Harold Ramis, Rick Moranis.
Roteiro: Dan Aykroyd, Harold Ramis e Peter Torokvei

GHOST [EUA, 1990]
Sam Wheat (Patrick Swayze) e Molly Jensen (Demi Moore) formam um casal apaixonado que tem suas vidas destruídas: ao voltarem de uma apresentação de “Hamlet” são atacados e Sam é morto. Porém seu espírito não vai para o outro plano e decide ajudar Molly, pois ela corre o risco de ser morta. Para poder se comunicar com Molly ele utiliza Oda Mae Brown (Whoopi Goldberg), uma médium trambiqueira que acaba se descobrindo verdadeira paranormal.
Diretor: Jerry Zucker
Elenco: Patrick Swayze, Demi Moore e Whoopi Goldberg
Roteiro: Bruce Joel Rubin

OS ESPÍRITOS (The Frighteners ─ Nova Zelândia/EUA, 1996)
Na pacata cidadezinha de Fairwater, a população está diminuindo misteriosamente, os médicos estão desesperados e o medo está crescendo. Chega, então, Frank Bannister, um psicólogo diferente, que junta seus amigos fantasmas para assombrar as pessoas até que eles consigam exorcizá-las. Logo as autoridades começam a suspeitar do envolvimento de Frank nas mortes e somente ele sabe da verdade. Frank morre, ressuscita, morre novamente, volta a vida e estabelece um vínculo entre a “figura da Morte” e um assassino em série que foi parar na cadeira elétrica há 40 anos.
Diretor: Peter Jackson
Elenco: Michael J. Fox, Trini Alvarado, Peter Dobson, John Astin, Jeffrey Combs, Dee Wallace-Stone, Jake Busey, Chi McBride, Jim Fyfe, Troy Evans, Julianna McCarthy, R. Lee Ermey, Elizabeth Hawthorne, Angela Bloomfield, Bannister, Desmond Kelly.
Roteiro: Peter Jackson, Frances Walsh.

O SEXTO SENTIDO [The Sixth Sense ─ EUA, 1999]
Cole Sear (Haley Joel Osment), um menino de 8 anos, é assombrado por um segredo: ele vê fantasmas. Confuso com seus poderes paranormais, Cole é muito jovem para entender sua missão e muito assustado para contar a qualquer pessoa sobre suas angústias. O psiquiatra infantil Dr. Malcolm Crowe (Bruce Willis) tenta descobrir a causa do comportamento introvertido e assustado do garoto, sem saber de seu dom sobrenatural.
Elenco: Bruce Willis, Haley Joel Osment, Toni Collette, Olivia Williams
Direção: M. Night Shyamalan
Roteiro: M. Night Shyamalan

A LENDA DO CAVALEIRO SEM CABEÇA (Sleepy Hollow ─ EUA, 1999)
Um conto de Washington Irving sobre a aventura de Ichabod Crane e o Cavaleiro Sem Cabeça. Dirigido por Tim Burton com seu estilo característico, Ichabod (Johnny Depp) é um detetive nova-iorquino enviado à distante cidade de Sleepy Hollow para desvendar uma série de assassinatos que tinham um detalhe em comum: todas as vítimas encontradas estavam sem cabeça. Toda a cidade acusava o temido Cavaleiro Sem Cabeça, lenda local que o jovem detetive considerava mera crendice popular. Durante a história, Ichabod começa a mudar de opinião.
Diretor: Tim Burton
Elenco: Johnny Depp, Christina Ricci, Miranda Richardson, Michael Gambon, Casper Van Dien.
Roteiro: Andrew Kevin Walker
Fotografia: Emmanuel Lubezki

OS OUTROS (The Others/Los Otros ─ Espanha/EUA/França, 2001)
Nicole Kidman está no papel de Grace, uma mulher que nos anos 40 mora com seus filhos em um isolado casarão na costa inglesa enquanto seu marido está na guerra. As crianças sofrem de uma rara doença, em razão da qual não podem receber diretamente a luz do dia, vivendo isoladas. Três novos empregados, contratados para substituir os anteriores, que desapareceram misteriosamente, precisam aprender regras importantes: a casa tem de estar sempre na penumbra, nunca se deve abrir uma porta antes de fechar a anterior. Mas estas regras são quebradas ao mesmo tempo em que eventos assustadores e sobrenaturais começam a acontecer. Inicialmente, Grace mostra-se relutante em acreditar nas visões assustadoras narradas pela filha, mas logo começa também a sentir a presença de intrusos em sua casa. Para descobrir a verdade, Grace deve deixar todos seus medos e crenças de lado e entrar no mundo intangível do sobrenatural.
Diretor: Alejandro Amenábar
Elenco: Nicole Kidman, Christopher Eccleston, Fionnula Flanagan, Elaine Cassidy, Eric Sykes, Alakina Mann, James Bentley, Rene Ascherson.
Roteiro: Alejandro Amenábar

OS 13 FANTASMAS (Thirthen Ghosts/13 Ghosts ─ EUA, 2001)
Remake do filme de 1960. Arthur Kriticos (Tony Shalhoub) e seus filhos, Kathy (Shannon Elizabeth) e Bobby (Alec Roberts) perderam tudo em um incêndio. Inesperadamente, eles herdam a velha mansão do excêntrico e misterioso Tio Cyrus (F. Murray Abraham) e se mudam para lá. Embora arquitetonicamente bonita, a casa é bastante estranha, com paredes que parecem mudar de lugar e fantasmas assustadores e perigosos transitando por ali. Em pouco tempo, eles percebem que a nova residência é, na verdade, uma charada. A busca por sua resposta pode significar a salvação ou a destruição.
Diretor: Steve Beck
Elenco: F. Murray Abraham, Tony Shalhoub, Shannon Elizabeth, Kathryn Anderson, J.R. Bourne, Embeth Davidtz, Rah Digga, Matthew Lillard, Alec Roberts.
Roteiro: Neal Marshall Stevens, Steve Beck, Todd Alcott, James Gunn, Rich d’Ovidio

DARK WATER – ÁGUA NEGRA (Honogurai mizu no soko kara/Dark Water Japão ─ 2002)
Recém-divorciada, Yoshimi (Hitomi Kuroki) muda-se para um apartamento antigo com sua filha de seis anos, Ikuko (Rio Kanno). O lugar parece ser perfeito para as duas, apesar de ser um prédio antigo. Os problemas começam quando uma goteira insuportável invade o apartamento. Ela pede a ajuda do agente imobiliário e do síndico, mas nenhum dos dois parece competente o suficiente para consertar seus problemas. Quando ela descobre que o apartamento de cima, aparentemente vazio, está inundado, ela e a filha são envolvidas em uma trama sobrenatural.
Diretor: Hideo Nakata
Elenco: Hitomi Kuroki, Rio Kanno, Mirei Oguchi. Asami Mizukawa, Fumiyo Kohinata, Yu Tokui, Isao Yatsu, Shigemitsu Ogi.
Roteiro: Hideo Nakata, Takashige Ichise, baseado em romance de Kôji Suzuki.

O CHAMADO (The Ring ─ EUA, 2002)
Rachel Keller (Naomi Watts) é uma jornalista que resolve investigar a morte misteriosa de quatro adolescentes. Com o tempo, descobre que os assassinatos aconteceram após as pessoas assistirem a um determinado vídeo. Cada em que assiste à fita recebe um telefonema avisando que viverá apenas mais sete dias; depois vê algumas alucinações e recebe uma espécie de chamado, fazendo com que ele morra sem que haja qualquer motivo aparente. Decidida a decifrar esse enigma, Rachel assiste ao vídeo e agora terá apenas uma semana para descobrir a razão das mortes. Refilmagem do cult japonês Ringu.
Diretor: Gore Verbinski
Elenco: Naomi Watts, Martin Henderson, David Dorfman, Brian Cox, Jane Alexander, Lindsay Frost, Amber Tamblyn, Rachael Bella, Daveigh Chase, Shannon Cochran.
Roteiro: Ehren Kruger, Hiroshi Takahashi, baseado em texto de Kôji Suzuki

ROSE RED ─ A CASA ADORMECIDA (Rose Red ─ USA, 2002)
A professora de parapsicologia Joyce Reardon (Nancy Travis) forma um grupo de paranormais para desvendar os mistérios de Rose Red, uma casa mal-assombrada no centro de Seattle (EUA). Juntos, eles despertam estranhos poderes na casa e terão de enfrentar os espíritos que estavam adormecidos. A história foi baseada em fatos reais, na Califórnia. Porém o filme foi gravado em Seattle por causa das locações.O ator David Dukes morreu de ataque cardíaco, jogando tênis, durante as filmagens. Foi substituído por Craig Baxley Jr. com uma máscara de zumbi.
Diretor: Craig R. Baxley
Elenco: Nancy Travis, Matt Keeslar, Kimberly J. Brown, David Dukes, Judith Ivey, Melanie Lynskey, Matt Ross, Julian Sands, Kevin Tighe, Julia Campbell, Emily Deschanel, Laura Kenny, Tsidii Leloka, Yvonne Sciò, Jimmi Simpson, Robert Blanche, Bobby Preston.
Roteiro: Stephen King

NAVIO FANTASMA (Ghost Ship ─ EUA/Austrália, 2002)
A equipe de resgate Artic Warrior é comandada pelo capitão Sean Murphy (Gabriel Byrne) e constituída pelos melhores especialistas da área: a chefe de equipe Maureen Epps (Julianna Margulies), o contramestre Greer (Isaiah Washington) e os técnicos Dodge (Ron Eldard), Munder (Karl Urban) e Santos (Alex Dimitriades). Eles são capazes de localizar e consertar qualquer navio e levá-lo até a costa. Quando o piloto canadense Jack Ferriman (Desmond Harrington) os contrata para encontrar um navio perdido na costa do Alasca, a equipe encontra destroços do lendário barco italiano Antonia Graza, desaparecido há 40 anos. O problema é que agora o navio é habitado por um ser estranho e imortal, que colocará a vida de todos em risco.
Diretor: Steve Beck
Elenco: Gabriel Byrne, Julianna Margulies, Ron Eldard, Desmond Harrington, Isaiah Washington, Alex Dimitriades, Karl Urban, Emily Browning, Francesca Rettondini, Boris Brkic.
Roteiro: Mark Hanlon, John Pogue

THE EYE – A HERANÇA (The Eye/Jian Gui ─ Hong Kong/Reino Unido/Tailândia/Cingapura, 2002)
Este filme de terror asiático, inédito nos cinemas brasileiros, virou cult depois de ser exibido em festivais internacionais e caiu nas graças de Hollywood depois que Tom Cruise comprou os direitos para refilmagem. A produção conta a assustadora história de Mun (Angelica Lee), cega desde os dois anos. Aos 18, ela faz um transplante de córneas, mas começa a também enxergar coisas que as outras pessoas não conseguem ver. Assombrada por esses espíritos, ela conta com a ajuda de um psicanalista para descobrir a identidade do doador e, assim, esclarecer o caso.
Diretor: Oxide Pang Chun, Danny Pang
Elenco: Angelica Lee, Lawrence Chou, Chutcha Rujinanon, Yut Lai So, Candy Lo, Yin Ping Ko, Pierre Png.
Roteiro: Jo Jo Yuet-chun Hui, Oxide Pang, Danny Pang

MEDO (A Tale Of Two Sisters ─ Coréia, 2003)
Baseado numa lenda tradicional na Coréia, o terror conta a história de duas irmãs que, após passarem um bom tempo numa instituição mental, voltam ao lar, onde vivem com o pai e sua cruel madrasta. Lá, um espírito ajuda as irmãs a lidarem com os hábitos obsessivos e violentos da madrasta.
Diretor: Ji-woon Kim
Elenco: Kap-su Kim, Jung-ah Yum, Su-jeong Lim, Geun-yeong Mun, Seung-bi Lee.
Roteiro: Ji-woon Kim

O GRITO (The Grudge ─ EUA/Japão, 2004)
Karen (Sarah Michelle Gellar) é uma enfermeira norte-americana que vive em Tóquio. Ao entrar em uma casa, ela é exposta a uma maldição antiga e sobrenatural: a assombração de um espírito de uma pessoa que morreu durante um momento de extremo ódio, condenado a vagar até que outra vítima seja feita e contraia a mesma maldição. Agora cabe a Karen a tarefa de desvendar esse mistério.
Diretor: Takashi Shimizu
Elenco: Sarah Michelle Gellar, Jason Behr, Clea DuVall, William Mapother, Kadee Strickland, Bill Pullman.
Roteiro: Stephen Susco, Takashi Shimizu

ESPÍRITOS – A MORTE ESTÁ AO SEU LADO (Shutter ─ Tailândia, 2004)
Jovem fotógrafo Thun (Ananda Everingham) e sua namorada Jane (Natthaweeranuch Thongmee) descobrem misteriosas sombras em suas fotografias, tiradas do local de um acidente. Enquanto investigam o fenômeno, descobrem que os retratos contêm imagens sobrenaturais, assim como outras.
Diretor: Banjong Pisanthanakun, Parkpoom Wongpoom
Elenco: Ananda Everingham, Natthaweeranuch Thongmee, Achita Sikamana, Unnop Chanpaibool.
Roteiro: Banjong Pisanthanakun, Sopon Sukdapisit, Parkpoom Wongpoom

VOZES DO ALÉM (White Noise ─ Canadá, 2004)
O tema do filme está relacionado ao FVE (Fenômeno de Voz Eletrônica). Segundo a teoria, o ruído, estática de um rádio mal sintonizado permite ouvir vozes do além. Se o mesmo é feito em relação a uma TV fora do ar, faces podem aparecer. São as imagens e sons da morte. Neste filme, Michael Keaton é John Rivers, um homem que acredita ter sido contatado por sua mulher, morta em um acidente de carro. A partir daí, ele usa as técnicas no FVE para rever mais uma a esposa mas a situação foge de controle.
Diretor: Geoffrey Sax
Elenco: Michael Keaton, Deborah Unger, Ian McNeice, Chandra West, Colin Chapin, Anastasia Corbett, Mike Dopud.
Roteiro: Niall Johnson

ALMAS REENCARNADAS (Rinne ─ Japão, 2005)
Professor universitário inicia massacre num hotel turístico, matando 11 hóspedes e funcionários. Enquanto filma seus atos com uma câmera 8mm, ele esfaqueia uma vítima após a outra. Trinta e cinco anos depois, Matsumura (Kippei Shiina) é um diretor que vai transformar esse crime em filme. Intitulado Memory, ele convida a atriz Nagisa Sugiura (Yuuka) para interpretar a heroína de seu projeto. Mas, quando o início das filmagens se aproxima, Nagisa começa a ter alucinações e sonhos assustadores.
Diretor: Takashi Shimizu
Elenco: Yûka, Takako Fuji, Mantarô Koichi, Marika Matsumoto, Tomoko Mochizuki, Kippei Shiina.
Roteiro: Masaki Adachi, Takashi Shimizu

HORROR EM AMITYVILLE (The Amityville Horror ─ EUA, 2005)
George (Ryan Reynolds) e Kathy Lutz (Melissa George) mudam-se, com os três filhos, para uma antiga mansão na cidade de Amityville (Long Island). A casa, que parecia ser a dos sonhos para esse jovem casal, acaba sendo um pesadelo. Um ano antes, Ronald DeFeo matou seus pais e os quatro irmãos com uma arma, enquanto eles dormiam. Apenas 28 dias depois da mudança, a família Lutz começa a ser aterrorizada por uma força demoníaca presente na casa. Baseado em fatos verídicos, refilmagem de clássico do terror de 1979.
Diretor: Andrew Douglas
Elenco: Ryan Reynolds, Melissa George, Jimmy Bennett, Philip Baker Hall, Jesse James, Chloe Moretz, Jason Padgett.
Roteiro: Scott Kosar, Sheldon Turner

1408 (1408 ─ EUA, 2007)
Mike Enslin (John Cusack) é escritor cético e famoso por suas obras sobre paranormalidade, as quais começou a escrever após a morte da filha. Para terminar seu livro Dez Noites em Quartos de Hotéis Mal-Assombrados, hospeda-se no hotel Dolphin e passa uma noite no quarto 1408. Mesmo com os avisos do gerente Gerald Olin (Samuel L. Jackson) sobre a morte de quase 60 pessoas naquele quarto, ele decide enfrentar os medos e encarar o desafio.
Diretor: Mikael Håfström
Elenco: John Cusack, Samuel L. Jackson, Mary McCormack, Jasmine Jessica Anthony, Len Cariou, Ray Nicholas, Paul Kasey, Tony Shalhoub.
Roteiro: Matt Greenberg, Scott Alexander, Larry Karaszewski, Stephen King

por Ligia Cabús

Postagem original feita no https://mortesubita.net/espiritualismo/fantasmas-no-cinema/

Livro Enochiano dos Espíritos

Por Robson Bélli

Aviso Legal: Todo tipo de pratica magica envolve algum tipo de risco, a saúde mental e física de seus praticantes, você não deve praticar magia enochiana se tiver algum distúrbio mental, usar algum tipo de entorpecente ou mesmo fizer uso de remédios tarja preta, este grupo é indicado apenas para maiores de idade, menores devem ter paciência e se retirar imediatamente, responsabilidade de seus atos é de toda maneira apenas sua! não nos responsabilizamos de maneira alguma por qualquer problema que você possa vir a ter com a pratica da magia enochiana, tanto na pratica quando no pós pratica da magia, o grupo é de cunho informativo, se você não concorda com estes termos esteja livre para não praticar e se retirar do mesmo!

Sumário

Finalidade e uso deste manual

Este é um guia gratuito de práticas indicado para nossos membros que estão iniciando na pratica da magia enochiana tradicional, não sendo indicado a praticantes da magia neo enochiana, muitas pessoas conhecem relativamente bem a parte teórica da magia enochiana, mas estão confusos com relação as primeiras praticas, antes de qualquer coisa, você precisa ser apresentado a Egregora enochiana e para isso é conveniente que você passe pelo ritual de 18 dias, nos quais você praticará sua pronuncia das chamadas enochianas, que deve ser feito em Enochiano e não em nosso idioma nativo, e clame inflamado em oração por toda hierarquia celestial da magia enochiana.

Após este ritual preparatório o estudante estará apto as práticas regulares da magia enochiana, nenhum material especial ou diferente se faz necessário neste nível, mas a pratica não pode ter dias pulados, é uma pratica devocional que exige que seja feita de forma ininterrupta, caso você esqueça de praticar por algum dia, deve reiniciar suas práticas do princípio novamente, não importando qual seja seu motivo.

Todas as práticas devem ser iniciadas com um ritual de banimento, recomendamos o ritual de banimento do pentagrama, caso não saiba é cabível você fazer uma breve pesquisa no youtube para aprender tal ritualística, e então a chamada enochiana correspondente ao dia da pratica, seguida da oração do dia correspondente e por fim novamente um ritual de banimento.

(Nota do Editor: O documento original aqui adaptado para web contêm o detalhamento do ritual do Pentagrama Enoquino. O mesmo pode ser enocntrado aqui no Morte Subita inc, em um artigo a parte. )

Essas práticas precisam e devem ser feitas três vezes ao dia, ao amanhecer, ao meio dia e ao anoitecer, de preferência durante a hora do amanhecer, durante as 12:00 e durante a hora do crepúsculo.

Adiante se fará necessário materiais que a princípio podem ser todos de PAPEL IMPRESSO (devidamente purificado e consagrado) e caso você tenha condições e se sinta confortável com isso, você pode adquirir ou confeccionar suas próprias ferramentas magicas, contudo, neste momento tais materiais são TOTALMENTE DISPENSAVEIS.

Desejo a todos boas práticas e quaisquer dúvidas podem ser sanadas em nosso grupo do Telegram, se este material chegou a suas mãos e você não faz parte de nosso grupo fica aberto o convite para que faça parte copiando o link: https://t.me/+qkGJMK8BgsQzYzQ1, as orações aqui descritas não são de minha autoria e nem mesmo conheço sua origem, mas elas são de toda maneira um exemplo de como isso deveria ser feito, e como este manual deseja ser algo para o iniciante, deixamos os exemplos todos o mais especifico possível para evitar complicações iniciais.

Há duas formas de fazer a sua auto iniciação no método Enochiano, uma mais rápida e uma completa a mais rápida termina do 18º. Dia e a completa leva 49 dias, o que o praticante pode fazer, e eu particularmente sugiro que faça é o seguinte, faça a iniciação longa, porem inicie suas práticas enochianas após o 18º. Dia onde tecnicamente você já foi apresentado para todos os anjos e está apto a operar.

Atenciosamente Robson Bélli 10/01/2022 as 13:13

I. Apresentação a Entidades

Práticas do primeiro dia

Inicie todos os procedimentos dos demais dias com um banimento com a finalidade de purificar o ambiente de qualquer energia negativa, Oração e a chamada devem ser repetidas três vezes, ao amanhecer, ao meio dia e ao pôr do sol.

Primeira chamada

– Ol sonf vors-g goho lad balt, lansh calz vonphu; sobra zol ror i ta nazpsad, od graa ta malprg, ds holq qaa nothoa zimz od commah ta nobloh zien; soba thil gnonp prge aldi, ds urbs oboleh g-rsam; casarm ohorela taba pir, ds zonrensg cab erm jadnah. Pilah farzm znra adna gono ladpil ds hom toh soba [iaod] ipam lu ipamis; ds loholo vep zomd poamal, od bogpa aai ta piap piamos od vaoam. Ca zacare od zamram! Odo cicle qaa zorge lap zirdo noco mad, hoath zaida.

Oração

Adonai Tsabaoth, Senhor das Hostes, a fonte da verdadeira sabedoria, que abres os mistérios do ser e do não-ser, que conheces as imperfeições e as escuras profundezas do homem, Eu   , um recipiente frágil feito por tuas mãos, permaneço aqui diante de

ti e clamando teu nome. Sou menor que um grão de areia diante de tua montanha. Sou menor que as torrentes primaveris diante das maravilhosas ondas do teu Mar. Chamo o teu nome, e por teu nome, eu me torno poderoso.

Acenda minha alma e me faça um vidente, que eu possa ver tuas criaturas, que são a glória do teu semblante. Elogiarei seus nomes e engrandecerei seus trabalhos entre eles. Aqueles que dedicam seus corações a ti ascenderão pelo único portão ao Leste, e através do portão descem seus mensageiros designados, porque nós temos todos um Deus, tudo começa em ti, e todos o reconhecem como único Criador.

Ofereço e dedico esta Tabela da Torre do Leste a Ti, e a ti teus Santos Anjos, cujos nomes aparecem inscritos sobre esta tabela e escritos nesse livro, desejando tua presença, e através dos santos nomes do Leste, ORO, IBAH, AOZPI, e seus outros nomes tem domínio no Leste. Deixe-me agradar teus Anjos para habitarem comigo, para que eu possa habitar com eles; alegrarem-se comigo, para que eu possa alegrar-me com eles; auxiliarem-me, para que eu possa engrandecer seus nomes.

Como tu és a Luz e o Conforto para teus Anjos, então eles podem me iluminar e confortar com seus nomes; como teus favores levam a eles o que tu ofertas, então eu receberei com prazer o que eles oferecem para mim; como foi escrito anteriormente, não há leis para ti, Oh Senhor, então eu não escrevo leis para eles.

Contemplai, quando eu chamar seus nomes que estão na Torre do Leste, deixaios vir a mim com misericórdia como verdadeiros servidores do Altíssimo. Deixe-os manifestarem-se a mim nas regiões orientais em qualquer tempo ou circunstância, e por quaisquer palavras, eu os chamarei. Então eles partirão quando eu permitir que partam. Deixe-os servirem a mim, como servidores do Senhor.

Contemplai, Oh Senhor, a verdadeira luz e conforto do mundo, os reguladores dos Céus, eu ofereço esta Tabela da Torre do Leste a ti. Comandes conforme te aprouver.

Em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo. Amém, Amém, Amém.

Encerre todos os trabalhos a partir daqui com um Banimento Final.

Praticas do segundo dia

Tanto a Oração quanto a chamada devem ser repetidas três vezes neste dia, ao amanhecer, ao meio dia e ao pôr do sol.

Banimento inicial.

Segunda chamada

– Adgt upaah zong om faaip sald, viu l? Soban lalprg izazaz piadph; casarma abramg ta talho paracleda q-ta lorslq turbs oogo baltoh givi chis lusd orri od micalp chis bia ozongon; lap noan trof cors ta ge oq manin laidon. Torzu gohe-l! Zacar, ca c-noqod! Zamran micalzo, od ozazm urelp, lap zir loiad.

Oração

Adonai Melekh, Senhor das Hostes, a fonte da verdadeira sabedoria, que abre os mistérios do ser e do não-ser, que conhece as imperfeições e as escuras profundezas do homem, Eu,     um recipiente frágil feito por tuas mãos, permaneço aqui diante de

ti e clamando teu nome. Sou menor que um grão de areia diante de tua montanha. Sou menor que as torrentes primaveris diante das maravilhosas ondas do teu Mar. Chamo o seu nome, e por seu nome, eu me torno poderoso.

Acenda minha alma e me faça um vidente, que eu possa ver tuas criaturas, que são a glória do teu semblante. Elogiarei seus nomes e engrandecerei seus trabalhos entre eles. Aqueles que dedicam seus corações a ti ascenderão pelo único portão ao Sul, e através do portão descem seus mensageiros designados, porque nós temos todos um Deus, tudo começa em ti, e todos o reconhecem como único Criador.

Ofereço e dedico esta Tabela da Torre do Sul a Ti, e a ti teus Santos Anjos, cujos nomes aparecem inscritos sobre esta tabela e escritos nesse livro, desejando tua presença, e através dos santos nomes do Leste, MOR, DIAL, HCTGA, e seus outros nomes tem domínio no Sul. Deixe-me agradar teus Anjos para habitarem comigo, para que eu possa habitar com eles; alegrarem-se comigo, para que eu possa alegrar-me com eles; auxiliarem-me, para que eu possa engrandecer seus nomes.

Como tu és a Luz e o Conforto para teus Anjos, então eles podem me iluminar e confortar com seus nomes; como teus favores levam a eles o que tu ofertas, então eu receberei com prazer o que eles oferecem para mim; como foi escrito anteriormente, não há leis para ti, Oh Senhor, então eu não escrevo leis para eles.

Contemplai, quando eu chamar seus nomes que estão na Torre do Sul, deixai-os vir a mim com misericórdia como verdadeiros servidores do Altíssimo. Deixe-os manifestarem-se a mim nas regiões meridionais em qualquer tempo ou circunstância, e por quaisquer palavras, eu os chamarei. Então eles partirão quando eu permitir que partam. Deixe-os servirem a mim, como servidores do Senhor.

Contemplai, Oh Senhor, a verdadeira luz e conforto do mundo, os reguladores dos Céus, eu ofereço esta Tabela da Torre do Sul a ti. Comandes conforme te aprouver.

Em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo. Amém, Amém, Amém.

Banimento final

Práticas do terceiro dia

Tanto a Oração quanto a chamada devem ser repetidas três vezes neste dia, ao amanhecer, ao meio dia e ao pôr do sol.

Banimento inicial

 

Terceira chamada

– Micma, goho piad, zir comselh a-zien biab os londoh; norz chis othil gigipah; undl chis ta puim q mospheh teloch; quiin toltorg chis i-chis-ge m ozien ds-t brgda od torzul. I-li eoi balzarg od aala thiln os netaab dluga, vomsarg lonsa capmiali vors cla, homil cocasb, fafen izizop od miinoag de g-netaab, vaun nanaeel, panpir malpirgi caosg pild. Noan unalah balt od vooan. Dooiap nad, goholor, gohus micma, iehusoz cacacom, od dooain noar micaolz aaiom; casarmg gohia zacar uniglag od imvamar pugo plapli ananael qaan.

Oração

Elohim Tsabaoth, Senhor das Hostes, a fonte da verdadeira sabedoria, que abre os mistérios do ser e do não-ser, que conhece as imperfeições e as escuras profundezas do homem, Eu  , um recipiente frágil feito por tuas mãos, permaneço aqui diante de

ti e clamando teu nome. Sou menor que um grão de areia diante de tua montanha. Sou menor que as torrentes primaveris diante das maravilhosas ondas do teu Mar. Chamo o seu nome, e por seu nome, eu me torno poderoso.

Acenda minha alma e me faça um vidente, que eu possa ver tuas criaturas, que são a glória do teu semblante. Elogiarei seus nomes e engrandecerei seus trabalhos entre eles. Aqueles que dedicam seus corações a ti ascenderão pelo único portão ao Oeste, e através do portão descem seus mensageiros designados, porque nós temos todos um Deus, tudo começa em ti, e todos o reconhecem como único Criador.

Ofereço e dedico esta Tabela da Torre do Oeste a Ti, e a ti teus Santos Anjos, cujos nomes aparecem inscritos sobre esta tabela e escritos nesse livro, desejando tua presença, e através dos santos nomes do Leste, MPH, ARSL, GAIOL, e seus outros nomes tem domínio no Oeste.

Deixe-me agradar teus Anjos para habitarem comigo, para que eu possa habitar com eles; alegrarem-se comigo, para que eu possa alegrar-me com eles; auxiliarem-me, para que eu possa engrandecer seus nomes.

Como tu és a Luz e o Conforto para teus Anjos, então eles podem me iluminar e confortar com seus nomes; como teus favores levam a eles o que tu ofertas, então eu receberei com prazer o que eles oferecem para mim; como foi escrito anteriormente, não há leis para ti, Oh Senhor, então eu não escrevo leis para eles.

Contemplai, quando eu chamar seus nomes que estão na Torre do Oeste, deixaios vir a mim com misericórdia como verdadeiros servidores do Altíssimo. Deixe-os manifestarem-se a mim nas regiões ocidentais em qualquer tempo ou circunstância, e por quaisquer palavras, eu os chamarei. Então eles partirão quando eu permitir que partam. Deixe-os servirem a mim, como servidores do Senhor.

Contemplai, Oh Senhor, a verdadeira luz e conforto do mundo, os reguladores dos Céus, eu ofereço esta Tabela da Torre do Oeste a ti. Comandes conforme te aprouver.

Em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo. Amém, Amém, Amém.

Banimento final

Praticas do quarto dia

Tanto a Oração quanto a chamada devem ser repetidas três vezes neste dia, ao amanhecer, ao meio dia e ao pôr do sol.

Banimento inicial

 

Quarta chamada

– Othil lasdi barbage, od dorpha, gohol, gchisge avavago cormp pd, d-sonf viu diu? Casarmi oali mapm sobam ag cormpo crp-l casarmg crodzi chis od ugeg; ds-t capimali chis capimaon od lonshin chis ta lo cla. Torgu, nor quasahi, od f caosga bagle zir-enaiad, ds-i od apila. Dooaio qaal, zacar od zamran obelisong rest-el aaf nor-molap.

Oração

Eloah Va-Daath, Senhor das Hostes, a fonte da verdadeira sabedoria, que abre os mistérios do ser e do não-ser, que conhece as imperfeições e as escuras profundezas do homem, Eu  , um recipiente frágil feito por tuas mãos, permaneço aqui diante de

ti e clamando teu nome. Sou menor que um grão de areia diante de tua montanha. Sou menor que as torrentes primaveris diante das maravilhosas ondas do teu Mar. Chamo o seu nome, e por seu nome, eu me torno poderoso.

Acenda minha alma e me faça um vidente, que eu possa ver tuas criaturas, que são a glória do teu semblante. Elogiarei seus nomes e engrandecerei seus trabalhos entre eles. Aqueles que dedicam seus corações a ti ascenderão pelo único portão ao Norte, e através do portão descem seus mensageiros designados, porque nós temos todos um Deus, tudo começa em ti, e todos o reconhecem como único Criador.

Ofereço e dedico esta Tabela da Torre do Norte a Ti, e a ti teus Santos Anjos, cujos nomes aparecem inscritos sobre esta tabela e escritos nesse livro, desejando tua presença, e através dos santos nomes do Leste, OIP, TEAA, PDOCE, e seus outros nomes tem domínio no Norte. Deixe-me agradar teus Anjos para habitarem comigo, para que eu possa habitar com eles; alegrarem-se comigo, para que eu possa alegrar-me com eles; auxiliarem-me, para que eu possa engrandecer seus nomes.

Como tu és a Luz e o Conforto para teus Anjos, então eles podem me iluminar e confortar com seus nomes; como teus favores levam a eles o que tu ofertas, então eu receberei com prazer o que eles oferecem para mim; como foi escrito anteriormente, não há leis para ti, Oh Senhor, então eu não escrevo leis para eles.

Contemplai, quando eu chamar seus nomes que estão na Torre do Norte, deixaios vir a mim com misericórdia como verdadeiros servidores do Altíssimo. Deixe-os manifestarem-se a mim nas regiões do Norte em qualquer tempo ou circunstância, e por quaisquer palavras, eu os chamarei. Então eles partirão quando eu permitir que partam. Deixe-os servirem a mim, como servidores do Senhor.

Contemplai, Oh Senhor, a verdadeira luz e conforto do mundo, os reguladores dos Céus, eu ofereço esta Tabela da Torre do Norte a ti. Comandes conforme te aprouver.

Em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo. Amém, Amém, Amém. Banimento final

Praticas do quinto dia

Tanto a Oração quanto a chamada devem ser repetidas três vezes neste dia, ao amanhecer, ao meio dia e ao pôr do sol.

Banimento inicial Quinta chamada

– Sapah zimii d diu od noas ta qaanis adroch, dorphal [ulcinina] caosg, od faonts [luciftias] peripsol ta blior. Casarm amipzi naz-arth af, od dlugar zizop zlida caosgi toltorgi; od zchis esiasch l ta viu od iaod thild, ds peral [pild] hubar peoal, soba cormfa chis ta la, vls, od q-cocasb. Ca niis od darbs qaas; f etharzi od bliora. Iaial ednas cicles. Bagle? Geiad i-l.

Oração

Vós quatro Seniores que permanecem à esquerda das Atalaias na linha do Espírito ao lado esquerdo do pilar do Filho e do Pai, no nome de Deus que é uma pessoa em três, eu

——- os invoco para que se manifestem.

Tu que és Abioro na Atalaia do Leste, o ministro da misericórdia de Deus Filho, eu o invoco em nome da misericórdia Bataiva; mas quando és Habioro, o ministro de severidade do Deus Pai, eu o invoco pelo nome de severidade Bataivh.

Tu que és Aidrom na Atalaia do Sul, o ministro da misericórdia de Deus Filho, eu o invoco em nome da misericórdia Ichhca; mas quando és Laidrom, o ministro de severidade do Deus Pai, eu o invoco pelo nome de severidade Iczhhcl.

Tu que és Srahpm na Atalaia do Oeste, o ministro da misericórdia de Deus Filho, eu o invoco em nome da misericórdia Raagios; mas quando és lsrahpm, o ministro de severidade do Deus Pai, eu o invoco pelo nome de severidade Raagiol.

Tu que és Aetpio na Atalaia do Norte, o ministro da misericórdia de Deus Filho, eu o invoco em nome da misericórdia Eldprn a; mas quando és Aaetpio, o ministro de severidade do Deus Pai, eu o invoco pelo nome de severidade Edlprna.

Digo a todos vós, desçam pelos portões que para vós preparei passagem, e habitem comigo. Sejam manifestos para mim de qualquer modo, por quaisquer palavras, no momento em que eu vos invocar, de forma que eu possa glorificar o nome de Deus entre vós. Sejam meus professores e guias no conhecimento de todos os assuntos humanos, e executem fielmente e de modo perfeito qualquer tarefa que eu requeira de vós que seja de vosso ofício. Sejam luz e conforto para mim, porque eu sou um verdadeiro servidor do Altíssimo, que é a luz dos Céus e o conforto do Mundo. Amém, Amém, Amém.

Banimento final

Praticas do sexto dia

Tanto a Oração quanto a chamada devem ser repetidas três vezes neste dia, ao amanhecer, ao meio dia e ao pôr do sol.

Banimento inicial

Sexta chamada

– Gah s diu em, micalzo pilzin; sobam el harg mir babalon od obloc samvelg, dlugar malprg ar caosgi, od acam canal, sobolzar f-bliard caosgi, od chis anetab od miam ta viv od d. Darsar solpeth biem! Brita od zacam g-micalzo sobha-ath trian luiahe od ecrin mad qaaon.

Oração

Vós quatro Seniores que permanecem acima das Atalaias sob a linha do Filho e sobre a linha do Espírito Santo, no nome de Deus que é uma pessoa em três, eu………………………………………………………………………………………….. os

invoco para que se manifestem.

Tu que és Aaoxaif na Atalaia do Leste, o ministro da misericórdia de Deus Filho, eu o invoco em nome da misericórdia Bataiva.

Tu que és Aczinor na Atalaia do Sul, o ministro da misericórdia de Deus Filho, eu o invoco em nome da misericórdia Iczhha.

Tu que és Saiinou na Atalaia do Oeste, o ministro da misericórdia de Deus Filho, eu o invoco em nome da misericórdia Raagios.

Tu que és Adoeoet na Atalaia do Norte, o ministro da misericórdia de Deus Filho, eu o invoco em nome da misericórdia Eldprna.

Digo a todos vós, desçam pelos portões que para vós preparei passagem, e habitem comigo. Sejam manifestos para mim de qualquer modo, por quaisquer palavras, no momento em que eu vos invocar, de forma que eu possa glorificar o nome de Deus entre vós. Sejam meus professores e guias no conhecimento de todos os assuntos humanos, e executem fielmente e de modo perfeito qualquer tarefaque eu requeira de vós que seja de vosso ofício. Sejam luz e conforto para mim, porque eu sou um verdadeiro servidor do Altíssimo, que é a luz dos Céus e o conforto do Mundo. Amém, Amém, Amém.

Banimento final

Praticas do sétimo dia

Tanto a Oração quanto a chamada devem ser repetidas três vezes neste dia, ao amanhecer, ao meio dia e ao pôr do sol.

Banimento inicial Sétima chamada

– Raas i-salman paradiz oecrimi aao ialpirgah quiin enay butmon, od i-noas ni paradial casarmg ugear chirlan; od zonac luciftian, corns ta vaul zirn tol-hami. Soba lodoh od miam chis ta d od es, umadea od pi-bliar othil-rit od miam. C noquol rit, zacar zamran, oecrimi qadah od omicaolz aai-om. Bagle papnor idlugam lonshi, od umplif ugegi bigliad.

Oração

Vós quatro Seniores que permanecem acima das Atalaias sob a linha do Pai e sobre a linha do Espírito Santo, no nome de Deus que é uma pessoa em três, eu

………………………………. os invoco para que se manifestem.

Tu que és Htmorda na Atalaia do Leste, o ministro do severo julgamento de Deus Pai, eu o invoco em nome do julgamento Bataivh.

Tu que és Lzinopo na Atalaia do Sul, o ministro do severo julgamento de Deus Pai, eu o invoco em nome do julgamento Iczhhcl.

Tu que és Laoaxrp na Atalaia do Oeste, o ministro do severo julgamento de Deus Pai, eu o invoco em nome do julgamento Raagiol.

Tu que és Alndood na Atalaia do Norte, o ministro do severo julgamento de Deus Pai, eu o invoco em nome do julgamento Edlprna.

Digo a todos vós, desçam pelos portões que para vós preparei passagem, e habitem comigo. Sejam manifestos para mim de qualquer modo, por quaisquer palavras, no momento em que eu vos invocar, de forma que eu possa glorificar o nome de Deus entre vós. Sejam meus professores e guias no conhecimento de todos os assuntos humanos, e executem fielmente e de modo perfeito qualquer tarefa que eu requeira de vós que seja de vosso ofício. Sejam luz e conforto para mim, porque eu sou um verdadeiro servidor do Altíssimo, que é a luz dos Céus e o conforto do Mundo. Amém, Amém, Amém.

Banimento final

Praticas do oitavo dia

Tanto a Oração quanto a chamada devem ser repetidas três vezes neste dia, ao amanhecer, ao meio dia e ao pôr do sol.

Banimento inicial Oitava chamada

– Bazme, lo l ta [d] piripson oln naz-a-vabh ox, casarmg uran chis ugeg; ds abramg baltoha, goho lad; soba miam trian ta lolcis vovin abai od aziagier rior. Irgil chis da ds paaox busd caosgo, ds chis od ip-uran teloah, cacrg oi-salman loncho od vovina carbaf! Niiso! Bagle avavago gohon! Niiso! Bagle momao siaion od mabza jadoiasmomar poilp! Niis, zamran ciaofi caosgo, od bliors, od corsi ta abramig.

Oração

Vós quatro Seniores que permanecem sob a linha do Espírito ao lado direito do pilar do Filho           e      do        Pai,   no  nome  de             Deus      que     é      uma      pessoa         em     três,          eu

…………………………………………………………… os invoco para que se manifestem.

Tu que és Haozpi na Atalaia do Leste, o ministro da severidade de Deus Pai, eu o invoco pelo nome de severidade Bataivh. Mas quando és Ahaozpi, o ministro misericórdia de Deus Filho, eu o invoco em nome de Bataiva.

Tu que és Lhctga na Atalaia do Sul, o ministro da severidade de Deus Pai, eu o invoco pelo nome de severidade Iczhhcl.

Mas quando és Alhctga, o ministro misericórdia de Deus Filho, eu o invoco em nome de Iczhhca.

Tu que és Lgaiol na Atalaia do Oeste, o ministro da severidade de Deus Pai, eu o invoco pelo nome de severidade Raagiol. Mas quando és Slgaiol, o ministro misericórdia de Deus Filho, eu o invoco em nome de Raagios.

Tu que és Apdoce na Atalaia do Norte, o ministro da severidade de Deus Pai, eu o invoco pelo nome de severidade Edlprna. Mas quando és Aapdoce, o ministro misericórdia de Deus Filho, eu o invoco em nome de Eldprna.

Digo a todos vós, desçam pelos portões que para vós preparei passagem, e habitem comigo. Sejam manifestos para mim de qualquer modo, por quaisquer palavras, no momento em que eu vos invocar, de forma que eu possa glorificar o nome de Deus entre vós. Sejam meus professores e guias no conhecimento de todos os assuntos humanos, e executem fielmente e de modo perfeito qualquer tarefa que eu requeira de vós que seja de vosso ofício. Sejam luz e conforto para mim, porque eu sou um verdadeiro servidor do Altíssimo, que é a luz dos Céus e o conforto do Mundo. Amém, Amém, Amém.

Banimento final

Praticas do nono dia

Tanto a Oração quanto a chamada devem ser repetidas três vezes neste dia, ao amanhecer, ao meio dia e ao pôr do sol.

Banimento inicial Nona chamada

– Micaoli bransg prgel napta ialpor ds brin efafafe p vonpho olani and obza; sobcah upaah chis tatan od tranan balye, alar lusda soboln, od chis holq c-noquodi cial. Unal aldon mom caosgo ta las ollor gnay limlal. Amma chiis sobca madrid z-chis! Ooanoan chis aviny drilpi caosgin, od butmoni parm zumvi cnila. Dazis ethamz a-childao, od mirc ozol chis pidiai collal. Ulcinin a-sobam ucim. Bagle? Ladbaltoh chirlan par. Niiso! Od ip ofafafe! Bagle a-cocasb i-cors-ta unig blior.

Oração

Vós quatro Seniores que permanecem sob a linha do Pai abaixo da linha do Espírito Santo, no nome de Deus que é uma pessoa em três, eu………………………………………………………………………………………….. os invoco para que se

manifestem.

Tu que és Hipotga na Atalaia do Leste, o ministro do severo julgamento de Deus Pai, eu o invoco pelo nome do julgamento Bataivh.

Tu que és Lhiansa na Atalaia do Sul, o ministro do severo julgamento de Deus Pai, eu o invoco pelo nome do julgamento Iczhhcl.

Tu que és Ligdisa na Atalaia do Oeste, o ministro do severo julgamento de Deus Pai, eu o invoco pelo nome do julgamento Raagiol.

Tu que és Arinnap na Atalaia do Norte, o ministro do severo julgamento de Deus Pai, eu o invoco pelo nome do julgamento Edlprna.

Digo a todos vós, desçam pelos portões que para vós preparei passagem, e habitem comigo. Sejam manifestos para mim de qualquer modo, por quaisquer palavras, no momento em que eu vos invocar, de forma que eu possa glorificar o nome de Deus entre vós. Sejam meus professores e guias no conhecimento de todos os assuntos humanos, e executem fielmente e de modo perfeito qualquer tarefa que eu requeira de vós que seja de vosso ofício. Sejam luz e conforto para mim, porque eu sou um verdadeiro servidor do Altíssimo, que é a luz dos Céus e o conforto do Mundo. Amém, Amém, Amém.

Banimento final

Praticas do décimo dia

Tanto a Oração quanto a chamada devem ser repetidas três vezes neste dia, ao amanhecer, ao meio dia e ao pôr do sol.

Banimento inicial Decima chamada

– Coraxo chis cormp od blans lucal aziazor paeb, soba lilonon chis virq op eophan od raclir maasi bagle caosgi, ds ialpon dosig od basgim, od oxex dazis siatris od salbrox cynxir faboan. Unal-chis const ds daox cocasb ol oanio yor eors vohim gizyax od matb cocasb plosi molvi ds page-ip larag om droln matorb cocasb. Emna l patralx yolci matb nomig monons olora gnay angelard. Ohio! Ohio! Ohio! Ohio! Ohio! Ohio! Noib ohio caosgon, bagle madrid, i, zirop chiso drilpa. Niiso! Crip ip nidali!

Oração

Vós quatro Seniores que permanecem sob a linha do Filho abaixo da linha do Espírito Santo, no nome de Deus que é uma pessoa em três, eu …….. os invoco para que se manifestem.

Tu que és Autotar na Atalaia do Leste, o ministro misericórdia de Deus Filho, eu o invoco em nome de Bataiva.

Tu que és Acmbicu na Atalaia do Sul, o ministro misericórdia de Deus Filho, eu o invoco em nome de Iczhhca.

Tu que és Soaiznt na Atalaia do Oeste, o ministro misericórdia de Deus Filho, eu o invoco em nome de Raagios.

Tu que és Anodoin na Atalaia do Norte, o ministro misericórdia de Deus Filho, eu o invoco em nome de Eldprna.

Digo a todos vós, desçam pelos portões que para vós preparei passagem, e habitem comigo. Sejam manifestos para mim de qualquer modo, por quaisquer palavras, no momento em que eu vos invocar, de forma que eu possa glorificar o nome de Deus entre vós. Sejam meus professores e guias no conhecimento de todos os assuntos humanos, e executem fielmente e de modo perfeito qualquer tarefa que eu requeira de vós que seja de vosso ofício. Sejam luz e conforto para mim, porque eu sou um verdadeiro servidor do Altíssimo, que é a luz dos Céus e o conforto do Mundo. Amém, Amém, Amém.

Banimento final

Praticas do décimo primeiro dia

Tanto a Oração quanto a chamada devem ser repetidas três vezes neste dia, ao amanhecer, ao meio dia e ao pôr do sol.

Banimento inicial

Decima primeira chamada

– Oxiayal holdo od zirom o coraxo ds zildar raasy, od vabzir camliax od bahal. Niiso! [od aldon od noas] salman teloch, casarman holq, od t-i ta z-chis soba cormf i ga. Niisa! Bagle abrang noncp! Zacar ca od zamran. Odo cicle qaa zorge, lap zirdo noco mad, hoath laida.

Oração

Vós dezesseis Seniores, que permanecem acima dos braços das cruzes menores orientais das quatro Torres, e são potentes e hábeis na união e na destruição de substâncias naturais, no nome de Deus que é uma pessoa em três, eu …….. os invoco para que se manifestem.

Ó Vós, quatro Luzes do Entendimento que habitam na Torre do Leste, permanecendo sobre os braços da cruz menor do Leste, e tendo vosso ministério na parte oriental do mundo, Rzla, Zlar, Larz e Arzl, Eu os invoco no nome de quatro letras da cruz IAON, e no nome particular do Deus de vosso ministério, Erzla.

Ó Vós, quatro Luzes do Entendimento que habitam na Torre do Sul, permanecendo sobre os braços da cruz menor do Leste, e tendo vosso ministério na parte meridional do mundo, Boza, Ozab, Zabo e Aboz, Eu os invoco no nome de quatro letras da cruz AONI, e no nome particular do Deus de vosso ministério, Eboza.

Ó Vós, quatro Luzes do Entendimento que habitam na Torre do Oeste, permanecendo sobre os braços da cruz menor do Leste, e tendo vosso ministério na parte ocidental do mundo, Taad, Aadt, Adta e Dtaa, Eu os invoco no nome de quatro letras da cruz ONIA, e no nome particular do Deus de vosso ministério, Ataad.

Ó Vós, quatro Luzes do Entendimento que habitam na Torre do Norte, permanecendo sobre os braços da cruz menor do Leste, e tendo vosso ministério na parte Norte do mundo, Dopa, Opad, Pado e Adop, Eu os invoco no nome de quatro letras da cruz NIAO, e no nome particular do Deus de vosso ministério, Adopa.

Digo a todos vós, desçam pelos portões que para vós preparei passagem, e habitem comigo. Sejam manifestos para mim de qualquer modo, por quaisquer palavras, no momento em que eu vos invocar, de forma que eu possa glorificar o nome de Deus entre vós. Sejam meus professores e guias no conhecimento de todos os assuntos humanos, e executem fielmente e de modo perfeito qualquer tarefa que eu requeira de vós que seja de vosso ofício. Sejam luz e conforto para mim, porque eu sou um verdadeiro servidor do Altíssimo, que é a luz dos Céus e o conforto do Mundo. Amém, Amém, Amém.

Banimento final

Praticas do décimo segundo dia

Tanto a Oração quanto a chamada devem ser repetidas três vezes neste dia, ao amanhecer, ao meio dia e ao pôr do sol.

Banimento inicial Decima segunda chamada

– Nonci d-sonf babage, od chis ob, hubaio tibibp; allar atraah od ef. Drix fafen mian, ar enay ovof, soba dooain aai l vonph. Zacar gohus od zamran. Odo cicle qaa. Zorge lap zirdo noco mad, hoath laida.

Oração

Vós dezesseis Seniores, que permanecem acima dos braços das cruzes menores orientais das quatro Torres, e são potentes e hábeis no transporte de um lugar a outro, no nome de Deus que é uma pessoa em três, eu…………………………………………… os invoco para que se manifestem.

Ó Vós, quatro Luzes do Entendimento que habitam na Torre do Leste, permanecendo sobre os braços da cruz menor do Leste, e tendo vosso ministério na parte oriental do mundo, Utpa, Tpau, Paut e Autp, Eu os invoco no nome de quatro letras da cruz LANU, e no nome particular do Deus de vosso ministério, Eutpa.

Ó Vós, quatro Luzes do Entendimento que habitam na Torre do Sul, permanecendo sobre os braços da cruz menor do Sul, e tendo vosso ministério na parte meridional do mundo, Phra, Hrap, Raph e Aphr, Eu os invoco no nome de quatro letras da cruz ANUL, e no nome particular do Deus de vosso ministério, Ephra.

Ó Vós, quatro Luzes do Entendimento que habitam na Torre do Oeste, permanecendo sobre os braços da cruz menor do Oeste, e tendo vosso ministério na parte ocidental do mundo, Tdim, Dimt, Imtd Mtdi, Eu os invoco no nome de quatro letras da cruz NULA, e no nome particular do Deus de vosso ministério, Atdim.

Ó Vós, quatro Luzes do Entendimento que habitam na Torre do Norte, permanecendo sobre os braços da cruz menor do Norte, e tendo vosso ministério na parte Norte do mundo, Anaa, Naaa, Aaan e Aana, Eu os invoco no nome de quatro letras da cruz ULAN, e no nome particular do Deus de vosso ministério, Aanaa.

Digo a todos vós, desçam pelos portões que para vós preparei passagem, e habitem comigo. Sejam manifestos para mim de qualquer modo, por quaisquer palavras, no momento em que eu vos invocar, de forma que eu possa glorificar o nome de Deus entre vós. Sejam meus professores e guias no conhecimento de todos os assuntos humanos, e executem fielmente e de modo perfeito qualquer tarefa que eu requeira de vós que seja de vosso ofício. Sejam luz e conforto para mim, porque eu sou um verdadeiro servidor do Altíssimo, que é a luz dos Céus e o conforto do Mundo. Amém, Amém, Amém.

Banimento final

Praticas do decimo terceiro dia

Tanto a Oração quanto a chamada devem ser repetidas três vezes neste dia, ao amanhecer, ao meio dia e ao pôr do sol.

Banimento inicial Decima terceira chamada

– Napeai babagen, ds-brin vx ooaona lring vonph doalim eolin ollog orsba, ds chis affa. Micma isro mad od lonshi-tox, ds i-umd aai grosb. Zacar od zamran. Odo cicle qaa. Zorge lap zirdo noco mad, hoath laida.

Oração

Vós dezesseis Seniores, que permanecem acima dos braços das cruzes menores orientais das quatro Torres, e são potentes e hábeis nas artes mecânicas e nas ciências, no nome de Deus que é uma pessoa em três, eu………………………………………. os invoco para que se manifestem.

Ó Vós, quatro Luzes do Entendimento que habitam na Torre do Leste, permanecendo sobre os braços da cruz menor do Leste, e tendo vosso ministério na parte oriental do mundo, Cnbr, Nbrc, Brcn e Rcnb, Eu os invoco no nome de quatro letras dacruz ACMU, e no nome particular do Deus de vosso ministério, Hcnbr.

Ó Vós, quatro Luzes do Entendimento que habitam na Torre do Sul,permanecendo sobre os braços da cruz menor do Sul, e tendo vosso ministério na parte meridional do mundo, Roan, Oanr, Anro e Nroa, Eu os invoco no nome de quatro letras da cruz CMUA, e no nome particular do Deus de vosso ministério, Hroan.

Ó Vós, quatro Luzes do Entendimento que habitam na Torre do Oeste, permanecendo sobre os braços da cruz menor do Oeste, e tendo vosso ministério na parte ocidental do mundo, Magl, Aglm, Glma e Lmag, Eu os invoco no nome de quatro letras da cruz MUAC, e no nome particular do Deus de vosso ministério, Pmagi.

Ó Vós, quatro Luzes do Entendimento que habitam na Torre do Norte, permanecendo sobre os braços da cruz menor do Norte, e tendo vosso ministério na parte Norte do mundo, Psac, Sacp, Acps e Cpsa, Eu os invoco no nome de quatro letras da cruz UACM, e no nome particular do Deus de vosso ministério, Ppsac.

Digo a todos vós, desçam pelos portões que para vós preparei passagem, e habitem comigo. Sejam manifestos para mim de qualquer modo, por quaisquer palavras, no momento em que eu vos invocar, de forma que eu possa glorificar o nome de Deus entre vós. Sejam meus professores e guias no conhecimento de todos os assuntos humanos, e executem fielmente e de modo perfeito qualquer tarefa que eu requeira de vós que seja de vosso ofício. Sejam luz e conforto para mim, porque eu sou um verdadeiro servidor do Altíssimo, que é a luz dos Céus e o conforto do Mundo.

Amém, Amém, Amém.

Banimento final

Praticas do decimo quarto dia

Tanto a Oração quanto a chamada devem ser repetidas três vezes neste dia, ao amanhecer, ao meio dia e ao pôr do sol.

Banimento inicial Decima quarta chamada

– Noromi bagie, pasbs oiad, ds trint mirc ol thil dods tolham caosgo homin; ds brin oroch quar; micma bial oiad. Airsro tox ds-i-um aai [bagiel] q balfim. Zacar od zamram. Odo cicle qaa. Zorge lap zirdo noco mad, hoath laida.

Oração

Vós dezesseis Seniores, que permanecem acima dos braços das cruzes menores orientais das quatro Torres, e são potentes e hábeis na descoberta dos segredos humanos, no nome de Deus que é uma pessoa em três, eu os invoco para que se manifestem.

Ó Vós, quatro Luzes do Entendimento que habitam na Torre do Leste, permanecendo sobre os braços da cruz menor do Leste, e tendo vosso ministério na parte oriental do mundo, Xgzd, Gzdx, Zdxge, Dxgz , Eu os invoco no nome de quatro letras da cruz ASIR, e no nome particular do Deus de vosso ministério, Hxgzd.

Ó Vós, quatro Luzes do Entendimento que habitam na Torre do Sul, permanecendo sobre os braços da cruz menor do Sul, e tendo vosso ministério na parte meridional do mundo, Iaom, Aomi, Omiae, Miao, Eu os invoco no nome de quatro letras da cruz SIRA, e no nome particular do Deus de vosso ministério, Hiaom.

Ó Vós, quatro Luzes do Entendimento que habitam na Torre do Oeste, permanecendo sobre os braços da cruz menor do Oeste, e tendo vosso ministério na parte ocidental do mundo, Nlrx, Lrxn,Rxnl e Xnlr, Eu os invoco no nome de quatro letras da cruz IRAS, e no nome particular do Deus de vosso ministério, Pnlrx.

Ó Vós, quatro Luzes do Entendimento que habitam na Torre do Norte, permanecendo sobre os braços da cruz menor do Norte, e tendo vosso ministério na parte Norte do mundo, Ziza, Izaz, Zazi e Aziz, Eu os invoco no nome de quatro letras da cruz RASI, e no nome particular do Deus de vosso ministério, Pziza.

Digo a todos vós, desçam pelos portões que para vós preparei passagem, e habitem comigo. Sejam manifestos para mim de qualquer modo, por quaisquer palavras, no momento em que eu vos invocar, de forma que eu possa glorificar o nome de Deus entre vós. Sejam meus professores e guias no conhecimento de todos os assuntos humanos, e executem fielmente e de modo perfeito qualquer tarefa que eu requeira de vós que seja de vosso ofício. Sejam luz e conforto para mim, porque eu sou um verdadeiro servidor do Altíssimo, que é a luz dos Céus e o conforto do Mundo.

Amém, Amém, Amém.

Banimento final

Praticas do decimo quinto dia

Tanto a Oração quanto a chamada devem ser repetidas três vezes neste dia, ao amanhecer, ao meio dia e ao pôr do sol.

Banimento inicial Decima quinta chamada

– Ils tabaan lialprt, casarman upaahi chis darg, ds oado caosgi orscor, ds omax monasci baeovib od emetgis iaiadix. Zacar od zamran. Odo cicle qaa. Zorge lap zirdo noco mad, hoath laida.

Oração

Vós dezesseis Anjos, que se erguem abaixo dos braços das cruzes menores orientais das quatro Torres, e são potentes e hábeis no ensino de medicamentos e curando as doenças, no nome de Deus que é uma pessoa em três, eu     os invoco para que se manifestem.

Ó Vós, quatro anjos bons de Luz que habitam na Torre do Leste, servindo na cruz menor do Leste, e tendo vosso escritório na parte oriental do mundo, Czns, Tott, Sias e Fmnd, Eu os invoco no nome de seis letras do pilar da sua Cruz, Idoigo que vos manifestes de forma perceptível para minha consciência; eu vos comando no nome de cinco letras da viga de sua cruz, Ardza, a cumprir todos meus propósitos declarados que estejam dentro das funções de vosso ofício. E quando as necessidades de vossos serviços forem extremas, seus nomes serão expressados Czons, Toitt, Sigas e Fmond.

Ó Vós, quatro anjos bons de Luz que habitam na Torre do Sul, servindo na cruz menor do Leste, e tendo vosso escritório na parte Sul do mundo, Aira, Ormn, Rsni e Iznr, Eu os invoco no nome de seis letras do pilar da sua Cruz, Angpoi que vos manifestes de forma perceptível para minha consciência; eu vos comando no nome de cinco letras da viga de sua cruz, Unnax, a cumprir todos meus propósitos declarados que estejam dentro das funções de vosso ofício. E quando as necessidades de vossos serviços forem extremas, seus nomes serão expressados Aigra, Orpmn, Rsoni e Izinr.

Ó Vós, quatro anjos bons de Luz que habitam na Torre do Oeste, servindo na cruz menor do Leste, e tendo vosso escritório na parte ocidental do mundo, Taco, Nhdd, Paax e Saiz, Eu os invoco no nome de seis letras do pilar da sua Cruz, Olgota que vos manifestes de forma perceptível para minha consciência; eu vos comando no nome de cinco letras da viga de sua cruz, Oalco, a cumprir todos meus propósitos declarados que estejam dentro das funções de vosso ofício.

E quando as necessidades de vossos serviços forem extremas, seus nomes serão expressados Tagco, Nhodd, Patax e Saaiz.

Ó Vós, quatro anjos bons de Luz que habitam na Torre do Norte, servindo na cruz menor do Leste, e tendo vosso escritório na parte Norte do mundo, Opmn, Apst, Scio e Vasg, Eu os invoco no nome de seis letras do pilar da sua Cruz, Noalmr que vos manifestes de forma perceptível para minha consciência; eu vos comando no nome de cinco letras da viga de sua cruz, Oloag, a cumprir todos meus propósitos declarados que estejam dentro das funções de vosso ofício. E quando as necessidades devossos serviços forem extremas, seus nomes serão expressados Opamn, Aplst, Scmio e Varsg.

Digo a todos vós, desçam pelos portões que para vós preparei passagem, e habitem comigo.

Sejam manifestos para mim de qualquer modo, por quaisquer palavras, no momento em que eu vos invocar, de forma que eu possa glorificar o nome de Deus entre vós. Sejam meus professores e guias no conhecimento e prática da cura das doenças, danos e fraquezas, e executem fielmente e de modo perfeito qualquer tarefa que eu requeira de vós que seja de vosso ofício. Sejam luz e conforto para mim, porque eusou um verdadeiro servidor do Altíssimo, que é a luz dos Céus e o conforto do Mundo. Amém, Amém, Amém.

Banimento final

Praticas do decimo sexto dia

Tanto a Oração quanto a chamada devem ser repetidas três vezes neste dia, ao amanhecer, ao meio dia e ao pôr do sol.

Banimento inicial Decima sexta chamada

– Ils viu-ialprt, salman balt, ds brin acroodzi busd, od bliorax balit; ds-insi caosg lusdan emod ds- om od tliob hami; drilpa geh ils madzilodarp. Zacar od zamran. Odo cicle qaa. Zorge lap zirdo noco mad, hoath laida.

Oração

Vós dezesseis Anjos, que se erguem abaixo dos braços ao Sul das cruzes menores das quatro Torres, e são potentes e hábeis em encontrar e trabalhar metais e pedras preciosas, no nome de Deus que éuma pessoa em três, eu……………………………………… os invoco para que se manifestem.

Ó Vós, quatro anjos bons de Luz que habitam na Torre do Leste, servindo na cruz menor do Leste,e tendo vosso escritório na parte oriental do mundo, Oyub, Paoc, Rbnh e Diri, Eu os invoco no nome de seis letras do pilar da sua Cruz, Llacza que vos manifestes de forma perceptível para minha consciência; eu vos comando no nome de cinco letras da viga de sua cruz, Palam, a cumprir todos meus propósitos declarados que estejam dentro das funções de vosso ofício. E quando as necessidades de vossos serviços forem extremas, seus nomes serão expressados Oyaub, Pacoc, Rbznh e Diari.

Ó Vós, quatro anjos bons de Luz que habitam na Torre do Sul, servindo na cruz menor do Leste, e tendo vosso escritório na parte Sul do mundo, Omgg, Gbal, Rlmu e Iahl, Eu os invoco no nome de seis letras do pilar da sua Cruz, Anaeem que vos manifestes de forma perceptível para minha consciência; eu vos comando no nome de cinco letras da viga de sua cruz, Sondn, a cumprir todos meus propósitos declarados que estejam dentro das funções de vosso ofício. E quando as necessidades de vossos serviços forem extremas, seus nomes serão expressados Omagg, Gbeal, Rlemu e Iamhl.

Ó Vós, quatro anjos bons de Luz que habitam na Torre do Oeste, servindo na cruz menor do Leste, e tendo vosso escritório na parte ocidental do mundo, Magm Leoc, Ussn e Ruoi, Eu os invoco no nome de seis letras do pilar da sua Cruz, Nelapr que vos manifestes de forma perceptível para minha consciência; eu vos comando no nome de cinco letras da viga de sua cruz, Omebb, a cumprir todos meus propósitos declarados que estejam dentro das funções de vosso ofício. E quando as necessidades de vossos serviços forem extremas, seus nomes serão expressados Malgm, Leaoc, Uspsn e Ruroi.

Ó Vós, quatro anjos bons de Luz que habitam na Torre do Norte, servindo na cruz menor do Leste, e tendo vosso escritório na parte Norte do mundo, Gmnm, Ecop, Amox e Brap, Eu os invoco no nome de seis letras do pilar da sua Cruz, Vadali que vos manifestes de forma perceptível para minha consciência; eu vos comando no nome de cinco letras da viga de sua cruz, Obaua, a cumprir todos meus propósitos declarados que estejam dentro das funções de vosso ofício. E quando as necessidades devossos serviços forem extremas, seus nomes serão expressados Gmdnm, Ecaop, Amlox e Briap.

Digo a todos vós, desçam pelos portões que para vós preparei passagem, e habitem comigo. Sejam manifestos para mim de qualquer modo, por quaisquer palavras, no momento em que eu vos invocar, de forma que eu possa glorificar o nome de Deus entre vós. Sejam meus professores e guias no conhecimento para encontrar e trabalhar metais e pedras preciosas, e executem fielmente e de modo perfeito qualquer tarefa que eu requeira de vós que seja de vosso ofício. Sejam luz e conforto para mim, porque eu sou um verdadeiro servidor do Altíssimo, que é a luz dos Céus e o conforto do Mundo. Amém, Amém, Amém.

Banimento final

Praticas do decimo sétimo dia

Tanto a Oração quanto a chamada devem ser repetidas três vezes neste dia, ao amanhecer, ao meio dia e ao pôr do sol.

Banimento inicial Decima sétima chamada

– Ils d-ialprt, soba upaah chis namba zixlay dodsih, od brint faxs hubaro tustax ylsi; soba lad i vonpo-unph; aldon daxil od toatar! Zacar od zamran. Odo cicle qaa. Zorge lap zirdo noco mad, hoath laida.

Oração

Vós dezesseis Anjos, que se erguem abaixo dos braços ao Sul das cruzes menores das quatro Torres, e são potentes e hábeis na transformação das formas, no nome de Deus que é uma pessoa em três, eu os invoco para que se manifestem.

Ó Vós, quatro anjos bons de Luz que habitam na Torre do Leste, servindo na cruz menor do Leste, e tendo vosso escritório na parte oriental do mundo, Abmo, Naco Ocnm e Shal, Eu os invoco no nome de seis letras do pilar da sua Cruz, Aiaoai que vos manifestes de forma perceptível para minha consciência; eu vos comando no nome de cinco letras da viga de sua cruz, Oiiit a cumprir todos meus propósitos declarados que estejam dentro das funções de vosso ofício.

E quando as necessidades de vossos serviços forem extremas, seus nomes serão expressados Abamo, Naoco, Ocanm e Shial.

Ó Vós, quatro anjos bons de Luz que habitam na Torre do Sul, servindo na cruz menor do Leste, etendo vosso escritório na parte Sul do mundo, Opna, Doop, Rxao e Axir, Eu os invoco no nome de seis letras do pilar da sua Cruz, Cbalpt que vos manifestes de forma perceptível para minha consciência; eu vos comando no nome de cinco letras da viga de sua cruz, Arbiz, a cumprir todos meus propósitos declarados que estejam dentro das funções de vosso ofício. E quando as necessidades de vossos serviços forem extremas, seus nomes serão expressados Opana, Dolop, Rxpao e Axtir.

Ó Vós, quatro anjos bons de Luz que habitam na Torre do Oeste, servindo na cruz menor do Leste, e tendo vosso escritório na parte ocidental do mundo, Paco, Ndzn, Iipo e Xrnh, Eu os invoco no nome de seis letras do pilar da sua Cruz, Maladi que vos manifestes de forma perceptível para minha consciência; eu vos comando no nome de cinco letras da viga de sua cruz, Olaad, a cumprir todos meus propósitos declarados que estejam dentro das funções de vosso ofício. E quando as necessidades de vossos serviços forem extremas, seus nomes serão expressados Palco, Ndazn, Iidpo e Xrinh.

Ó Vós, quatro anjos bons de Luz que habitam na Torre do Norte, servindo na cruz menor do Leste, e tendo vosso escritório na parte Norte do mundo, Datt, Diom, Oopz e Rgan, Eu os invoco no nome de seis letras do pilar da sua Cruz, Volxdo que vos manifestes de forma perceptível para minha consciência; eu vos comando no nome de cinco letras da viga de sua cruz, Sioda, a cumprir todos meus propósitos declarados que estejam dentro das funções de vosso ofício. E quando as necessidades devossos serviços forem extremas, seus nomes serão expressados Daltt, Dixom, Oodpz e Rgoan.

Digo a todos vós, desçam pelos portões que para vós preparei passagem, e habitem comigo. Sejam manifestos para mim de qualquer modo, por quaisquer palavras, no momento em que eu vos invocar, de forma que eu possa glorificar o nome de Deus entre vós. Sejam meus professores e guias no conhecimento da transformação das formas, e executem fielmente e de modo perfeito qualquer tarefa que eu requeira de vós que seja de vosso ofício. Sejam luz e conforto para mim, porque eu sou um verdadeiro servidor do Altíssimo, que é a luz dos Céus e o conforto do Mundo. Amém, Amém, Amém.

Banimento final

Praticas do decimo oitavo dia

Tanto a Oração quanto a chamada devem ser repetidas três vezes neste dia, ao amanhecer, ao meio dia e ao pôr do sol.

Banimento inicial Decima oitava chamada

– Ils micaolz olprit od lalprg bliors, ds odo busdir oiad ovoars caosgo, casarmg laiad [vaoan] eran brints cafafam, ds iumd a-q-loadohi moz, od maoaffs; bolp como-bliort pambt. Zacar od zamran. Odo clicle qaa zorge lap zirdo noco mad hoath laida.

Oração

Vós dezesseis Anjos, que se erguem abaixo dos braços à Oeste das cruzes menores das quatro Torres, e são potentes e hábeis no uso dos quatro elementos e nos elementais que ali habitam, no nome de Deus que é uma pessoa em três, eu os invoco para que se manifestem.

Ó Vós, quatro anjos bons de Luz que habitam na Torre do Leste, servindo na cruz menor do Oeste, e tendo vosso escritório na parte oriental do mundo, Acca, que habita o ar, que compreende as qualidades e usos do Ar e seus Silfos, Npat, que habita a água e compreende as qualidades e usos da águae suas Ondinas, Otoi, que habita a terra e compreende as qualidades e usos da terra e seus Gnomos, e Pmox que habita o fogo vivo e compreende suas qualidade e usos do fogo e suas Salamandras, eu os invoco no nome de cinco letras do pilar de sua cruz, Aourrz, que vos manifestes de forma perceptível para minha consciência; eu vos comando no nome de cinco letras da viga de sua cruz, Aloai, a cumprir todos meus propósitos declarados que estejam dentro das funções de vosso ofício. E quando as necessidades de vossos serviços forem extremas, seus nomes serão expressados Acuca, Nprat, Otroi e Pmzox.

Ó Vós, quatro anjos bons de Luz que habitam na Torre do Sul, servindo na cruz menor do Oeste, etendo vosso escritório na parte Sul do mundo, Msal, que habita o ar, que compreende as qualidades e usos do Ar e seus Silfos, Iaba, que habita a água e compreende as qualidades e usos da água e suas Ondinas, Izxp, que habita a terra e compreende as qualidades e usos da terra e seus Gnomos, e Stim que habita o fogo vivo e compreende suas qualidade e usos do fogo e suas Salamandras, eu os invoco no nome de cinco letras do pilar de sua cruz, Spmnir, que vos manifestes de forma perceptível para minha consciência; eu vos comando no nome de cinco letras da viga de sua cruz, Ilpiz, a cumprir todos meus propósitos declarados que estejam dentro das funções de vosso ofício. E quando as necessidades de vossos serviços forem extremas, seus nomes serão expressados Msmal, Ianba, Izxp e Strim.

Ó Vós, quatro anjos bons de Luz que habitam na Torre do Oeste, servindo na cruz menor do Oeste, e tendo vosso escritório na parte ocidental do mundo, Xpcn, que habita o ar, que compreende as qualidades e usos do Ar e seus Silfos, Vasa, que habita a água e compreende as qualidades e usos da águae suas Ondinas, Dapi, que habita a terra e compreende as qualidades e usos da terra e seus Gnomos, e Rnil que habita o fogo vivo e compreende suas qualidade e usos do fogo e suas Salamandras, eu os invoco no nome de cinco letras do pilar de sua cruz, Iaaasd, que vos manifestes de forma perceptível paraminha consciência; eu vos comando no nome de cinco letras da viga de sua cruz, Atapa, a cumprir todos meus propósitos declarados que estejam dentro das funções de vosso ofício. E quando as necessidades de vossos serviços forem extremas, seus nomes serão expressados Xpacn, Vaasa, Daspi e Rndil.

Ó Vós, quatro anjos bons de Luz que habitam na Torre do Norte, servindo na cruz menor do Oeste,e tendo vosso escritório na parte Norte do mundo, Adre, que habita o ar, que compreende as qualidades e usos do Ar e seus Silfos, Sisp, que habita a água e compreende as qualidades e usos da água e suas Ondinas, Pali, que habita a terra e compreende as qualidades e usos da terra e seus Gnomos, e Acar que habita o fogo vivo e compreende suas qualidade e usos do fogo e suas Salamandras, eu os invoco no nome de cinco letras do pilar de sua cruz, Rzionr, que vos manifestes de forma perceptível para minha consciência; eu vos comando no nome de cinco letras da viga de sua cruz, Nrzfm, a cumprir todos meus propósitos declarados que estejam dentro das funções de vosso ofício. E quando as necessidades de vossos serviços forem extremas, seus nomes serão expressados Adire, Siosp, Panli e Acrar.

Digo a todos vós, desçam pelos portões que para vós preparei passagem, e habitem comigo. Sejam manifestos para mim de qualquer modo, por quaisquer palavras, no momento em que eu vos invocar, de forma que eu possa glorificar o nome de Deus entre vós. Sejam meus professores e guias no comando e uso dos quatro elementos e nas quatro classes de criaturas elementares, e executem fielmente e de modo perfeito qualquer tarefa que eu requeira de vós que seja de vosso ofício. Sejam luz e conforto para mim, porque eu sou um verdadeiro servidor do Altíssimo, que é a luz dos Céus e o conforto do Mundo. Amém,

Amém, Amém.

Banimento final

II. Conhecendo os Eteres Enochianos

Práticas do decimo nono dia em diante

Banimento inicial Decima nona chamada

– Madriax ds-praf (nome do Æthyr’s ) chis micaolz saanir caosgo, od fisis balzizras laida. Nonca gohulim: micma adoian mad, iaod bliorb, soba ooaona chis luciftias piripsol, ds abraassa noncf netaaib caosgo, od tilb adphaht damploz, tooat noncf gmicalz oma lrasd toflgo marb yarry idoigo, od torzulp iaodaf golul; caosga, tabaord saanir, od cristeos yrpoil tiobl, busdir tilb noaln paid orsba od dodrmni zulna; elzaptilb, parm-gi peripsax, od ta qurlst booapis. L-nibm, oucho symp, od christeos ag-toltorn lel mirc ton paombd, dilzmo o aspian, od christeos ag l tortorn parach a-symp; cordziz, dodpal od fifalz l- smnad; od fargt, bams omaoas; conisbra od avavox, tonug; orsca-tbl, naosmi tabges levithmong; unchi omp-tilb ors. Bagle? Moooah ol-cordziz. L capimao ixomaxip, od ca- cocasb gosaa; baglen pi-i tianta ababalond od faorgt telocvovim.

Madriiax, torzu! Oadriax orocha aboapri. Tabaori priaz ar-tabas; adrpan cors-ta dobix; yolcam priazi ar-coazior, od quasb qting. Ripir paaoxt saga-cor; uml od prdzar cacrg aoiveae cormpt. Torzu! Zacar od zamran aspt sibsi butmona, ds surzas tia baltan; odo cicle qaa, od ozazma plapli iadnamad.

Os 30 Æthyr’s

A ordem dos Æthyr’s é decrecente iniciando no 30 terminando no 1

1. LIL. 11. ICH. 21. ASP.
2. ARN. 12. LOE. 22. LIN.
3. ZOM. 13. ZIM. 23. TOR.
4. PAZ. 14. VTA. 24. NIA.
5. LIT. 15. OXO. 25. VTI.
6. MAS. 16. LEA. 26. DES.
7. DEO. 17. TAN. 27. ZAA.
8. Z1D. 18. ZEN. 28. BAG.
9. ZIP. 19. POP. 29. RII.
10. ZAX. 20. KHR. 30. TEX.

Oração

Oração que deve ser repetida três vezes neste dia, ao amanhecer, ao meio dia e ao pôr do sol.

Oh Senhor das Hostes, há qualquer criatura que meça os céus que seja mortal? Pode um recipientede carne frágil e medroso elevar-se a si mesmo, elevando as mãos ou atrair o Sol a seu seio? Como eu ascenderei então às esferas? O ar não me levará, mas escarnece minha loucura e minha tolice. Eu caio, porque eu sou o barro da terra.

Então, como pode a luz do céu pode entrar na imaginação dos Homens? Todavia, estou confortado. Em seu nome eu tenho ficado poderoso. Vós que sois a luz da verdade e salvador da possibilidade mundial, e deve, e faz, comandando os céus e todos as suas hostes como voz apraz.

Nada mais peço por você, ou através de você, para engrandecer sua honra e sua glória. O que te aprouver me oferecer, eu recebo. Contemplai, eu empenho minhas posses, meu trabalho, meu coração e alma para o cumprimento deste trabalho.

Estas mesas consagradas, amoldadas e preparadas de acordo com vosso testamento, eu a ofereço para seus Santos Anjos, desejando sua freqüência dentro e através dos teus Nomes de Poder.

Comandai- os conforme tua vontade, Oh Senhor. Possa agradar teus anjos habitarem comigo, e que eu possa habitar com eles, que possam alegrar-se comigo, e que eu possa alegrar-me com eles; auxiliarem-me, para que eu possa engrandecer vosso nome.

Como és a luz deles e seu conforto, assim eles serão minha luz e conforto; como eles recebem o que vos agrada oferecer, assim eu receberei o que os agrada oferecerem a mim; como eles não prescrevem nenhuma lei a vós, assim, eu não devo prescrever nenhuma lei a eles.

Ainda quando eu os chamar em vosso nome, Oh Senhor, seja misericordioso comigo como servidor do Altíssimo.

Me tornei um vidente na Luz de vosso semblante. Eu vejo o brilho de teus Anjos e aumento vosso nome entre eles.

Adonai Tsabaoth, Eu ………. invoco no poder de vosso nome. No poder de vosso nome Poderoso este trabalho de prece será bem e verdadeiramente cumprido.

Amém, Amém, Amém!

Banimento final

III.Conclusão

A iniciação curta vai do dia um ao dezoito do décimo nono dia em diante se fará a mesma cerimônia do dia 19, utilizando-se o nome do Æthyr correspondente ao dia a ordem é decrescente iniciando em 30 (TEX) terminando no nome número 1 (LIL).

A pratica do dia 19 em diante visa realinhar seu corpo com os Æthyr para as viagens na visão espiritual.

Parabéns pela sua iniciação, pois a partir daqui você é um de nossos irmãos na Egregora enochiana, parabéns!


Robson Belli, é tarólogo, praticante das artes ocultas com larga experiência em magia enochiana e salomônica, colaborador fixo do projeto Morte Súbita, cohost do Bate-Papo Mayhem e autor de diversos livros sobre ocultismo prático.

 

 

Postagem original feita no https://mortesubita.net/enoquiano/livro-enochiano-dos-espiritos/

Apócrifo de Tiago

Tiago escreve para os eleitos: paz esteja com vocês de Paz, amor de Amor, graça de Graça, sabedoria de Sabedoria, vida de Vida Santa!

Já que você pediu que eu te enviasse um livro secreto que foi revelado a Pedro e eu pelo Senhor, e como eu não poderia te recusar nem falar contigo pessoalmente; eu traduzi ele para o alfabeto Hebraico e te enviei, e apenas a ti. Como você é um ministro da salvação dos santos, empenhe-se intensamente e tenha cuidado para não recitar este texto para muitos – visto que o Senhor não quis revelar estas coisas para todos nós, os doze discípulos dele. Mas abençoados serão aqueles que se salvarão através da fé neste discurso.

Dez meses atrás eu te mandei outro livro secreto, sobre o que o Salvador havia me ensinado. Portanto, considere aquele como revelado a mim, Tiago; mas este… [fragmentos intraduzíveis]

Os doze discípulos estavam todos sentados juntos recordando o que o Salvador disse para cada um deles, fosse em segredo ou abertamente, e colocando em livros. Eu estava transcrevendo aquilo que estava nos meus livros – Veja, o Salvador apareceu de novo, após ter nos deixado, enquanto nós o aguardávamos. E quinhentos e cinquenta dias depois dele ter se erguido dos mortais, nós dissemos a ele, “Você partiu e se separou de nós?” Jesus disse, “Não, mas eu irei para o lugar de onde eu vim. Se vocês desejam vir comigo, venham!”

Eles todos responderam e disseram, “Se você nos convidar, nós vamos.”

Ele disse, “Realmente eu digo a vocês, ninguém jamais irá entrar no reino eterno pelo meu convite, mas (somente) porque vocês mesmos estão repletos. Deixem Tiago e Pedro para mim, para que eu os preencha.” E tendo chamado estes dois, ele os puxou de lado e pediu aos restantes que se ocupassem com aquilo o que eles estavam fazendo.

O Salvador disse, “Vocês são afortunados …

(7 linhas perdidas)

Vocês, então, não desejam ser preenchidos? E o coração de vocês está embriagado; vocês, então, não desejam estar sóbrios? Portanto, estejam envergonhados! Daqui por diante, acordando ou dormindo, lembrem-se que vocês viram o Filho do Homem, e falaram com ele em pessoa, e ouviram ele em pessoa. Ai daqueles que viram o Filho do Homem; abençoados serão os irmãos que não viram o homem, e que não andaram com ele, e que não falaram com ele, e que não ouviram nada da boca dele; a vocês pertence a vida! Saibam, então, que ele os curou quando vocês estavam doentes, para que vocês possam reinar. Ai daqueles que encontraram alívio para a doença deles, pois eles recairão em doença. Abençoados são aqueles que não estiveram doentes, e encontraram alívio antes de caírem doentes; a vocês pertence o reino de Deus. Portanto, eu digo, ‘Estejam repletos, e não deixem nenhum espaço vazio dentro de vocês, para que ninguém que se opuser a vocês seja capaz de ofendê-los.”

Então Pedro respondeu, “Veja, três vezes você nos disse, ‘Estejam repletos’; mas nós estamos repletos.”

O Salvador respondeu e disse, “Por isso mesmo eu disse a vocês, ‘Estejam repletos,’ para que vocês não estejam em carência. Aqueles que estão em carência, entretanto, não serão salvos. Pois é bom estar repleto, e ruim estar em carência. Contudo, a princípio é bom que vocês estejam em carência e ruim que estejam repletos, porque aquele que acha que está repleto, está em carência, e aquele que está inadvertidamente em carência não se torna repleto como aquele que entendia que estava em carência se torna repleto, mas aquele que foi preenchido alcança a perfeição devida. Portanto, vocês devem estar em carência enquanto é possível preenchê-los, e estar repletos enquanto é possível para vocês estar em carência, para que vocês sejam capazes de se preencher ainda mais. Estejam repletos do Espírito, mas estejam sedentos de razão, pois a razão enobrece a alma; sendo assim, ela deve ser sempre almejada pela alma.”

Mas eu respondi e disse a ele, “Senhor, nós podemos obedecê-lo se você desejar, pois nós abandonamos nossos pais e nossas mães e nossas aldeias, e seguimos a ti. Conceda-nos, portanto, não sermos tentados pelo demônio, o perverso.”

O Senhor respondeu e disse, “Qual é o seu mérito se você fizer a vontade do Pai enquanto te é concedido como um presente dele não ser tentado por Beliel? Mas se você é oprimido por Beliel, e perseguido, e você faz a vontade do Pai, eu digo que ele irá amá-lo, e torná-lo igual a mim, e reconhecer que você se tornou querido na presciência dele por sua própria escolha. Então você não irá parar de amar a carne e de temer os sofrimentos? Ou você não sabe que você ainda terá de ser abusado e acusado injustamente; e ainda terá de ser trancado numa prisão, e condenado ilegitimamente, e crucificado sem razão, e enterrado como eu, pelo maligno? Você ousa poupar a carne, você quem, para o Espírito, é uma muralha circundante? Se você considerar quanto tempo o mundo existiu antes de ti, e quanto tempo ele existirá depois de ti, você descobrirá que a sua vida é apenas um dia, e seus sofrimentos uma única hora. Porque o bem não irá permanecer no mundo. Despreze a morte, portanto, e anseie pela vida eterna! Lembre-se da minha vitória sobre a cruz da morte e você viverá!”

Mas eu respondi e disse para ele, “Senhor, não mencione para nós a cruz e morte, pois elas estão longe de ti.”

O Senhor respondeu e disse, “Verdadeiramente, eu te digo, ninguém será salvo a menos que eles também carreguem a minha cruz. Mas aqueles que suportaram a minha cruz, a eles pertence o reino de Deus. Portanto, tornem-se procuradores da morte, como mortais buscando a imortalidade, pois aquilo o que procurarem com diligência será desvelado.

E o que poderia ser mais importante do que isso? Quanto a vocês, quando examinarem a morte, ela os ensinará eleição. Realmente, eu digo a vocês, nenhum daqueles que temem a morte será salvo; porque o reino pertence àqueles que se dispõem à morte. Tornem-se melhores do que eu; sejam como a criança do Espírito Sagrado!”

Então eu perguntei a ele, “Senhor, como nós seremos capazes de profetizar para aqueles que solicitam que profetizemos a eles? Pois há muitos que nos pedem, e nos procuram para ouvir um oráculo de nós.”

O Senhor respondeu e disse, “Vocês não sabem que a cabeça da profecia foi cortada fora com João?”

Mas eu disse, “É possível remover a cabeça da profecia?”

O Senhor disse para mim, “Quando você entender o que significa “cabeça”, e que profecia é emitida da cabeça, (então) entenda o significado de ‘A cabeça dela foi removida.’ Antes eu falava com vocês em parábolas, e vocês não entendiam; agora eu falo com vocês abertamente, e vocês (ainda) não percebem. De fato, eram vocês que me serviam como personagens em minhas parábolas.”

“Falarei claramente e de forma compreensível: apresse-se para ser salvo sem precisar ser impelido! De preferência, esteja ansioso por iniciativa própria, e, se possível, chegue até antes de mim; pois assim o Pai irá amá-lo.”

“Deteste a hipocrisia e reprove os pensamentos impuros; porque esses pensamentos te tornarão hipócrita; e os hipócritas estão longe da verdade.”

“Não permita que a sabedoria do reino eterno se extinga, pois ela é como o broto que germinou quando os frutos dos cachos de uma grande palmeira caíram ao redor dela. Ele cresceu, floresceu, e com o tempo a matriz secou. Igual é o caso dos frutos desta raiz singular. Quando eles foram colhidos, muitos os partilharam, visto que sua qualidade era excelente. Então, quem puder dar prosseguimento à produção das plantas a partir de agora herdará o reino.”

“Já que eu fui glorificado desta maneira, por que vocês me impedem na minha ânsia de ir? Pois após a missão, vocês me obrigaram a ficar com vocês mais dezoito meses em função das parábolas. Foi o suficiente para alguns ouvir o ensinamento e compreender ‘Os Pastores’ e ‘A Semente’ e ‘A Construção’ e ‘As Dez Virgens’ e ‘O Salário do Trabalhador’ e ‘As Duas Dracmas e a Mulher.’”

“Sejam rigorosos quanto à palavra! Pois a respeito da palavra, a primeira parte dela é fé; a segunda, amor; a terceira, proclamação; pois destes vêm a vida. Porque a palavra é como um grão de trigo; quando alguém o semeou, ele teve fé nele; e quando ele havia brotado, ele o amou, porque ele havia visto muitos grãos em lugar de um. E quando ele havia proclamado, ele foi salvo, porque ele zelou pelo alimento imortal, e novamente surgiram outros para semear. Deste mesmo modo vocês também podem receber o reino eterno; a menos que vocês aprendam com quem possui sabedoria vocês não conseguirão alcançá-lo.”

“Portanto, eu digo a vocês, estejam sóbrios; não se poluam com as coisas deste mundo! E muitas vezes eu disse a todos vocês juntos, e também a ti somente, Tiago, eu disse, ‘Seja perfeito!’ E eu te comandei a me seguir, e eu te ensinei o que dizer frente aos arcontes. Observe que eu desci, proclamei a palavra, passei por tribulação e recebi a minha coroa após vencer os regentes do universo. Pois eu desci e vivi com vocês por um tempo, para que em troca vocês possam subir e viver comigo para sempre. E, ao encontrar quase todas as casas do mundo destelhadas, eu habitei nas casas que puderam me receber enquanto eu estive aqui embaixo.”

“Por essa razão, confiem em mim, meus irmãos; entendam o que a Grande Luz é. O Pai não tem necessidade de mim, – porque um pai não precisa de um filho, mas é o filho quem precisa do pai – e é para Ele que eu vou. Pois o Pai do Filho não tem necessidade de vocês.”

“Ouçam atentamente a palavra, compreendam a sabedoria, amem a vida santa, e ninguém que persegui-los e oprimi-los terá alguma importância, exceto vocês mesmos.”

Aos detentores do conhecimento e manipuladores da informação:
“Ó seus desgraçados; Ó seus infelizes; Ó seus fingidores da verdade; Ó seus falsificadores da sabedoria; Ó seus pecadores contra o Espírito! Vocês ainda suportam ouvir, quando cabia a vocês falarem em primeiro lugar? Vocês ainda conseguem dormir, quando cabia a vocês ficarem acordados em primeiro lugar, para que o reino eterno possa recebê-los? Saibam que é mais fácil uma pessoa santa se corromper, ou um iluminado cair na escuridão do que vocês serem salvos, ou até mesmo eles não serem salvos.

Eu escutava as lamentações e o choro dos humildes, enquanto vocês diziam ‘Nós estamos muito à frente deles’. Mas fiquem cientes que vocês é que estão de fora do benefício do Pai. Portanto, chorem, lamentem, se arrependam e comecem a proclamar a verdade, pois eu vim reprovar todos que habitam na escuridão.

Verdadeiramente, eu digo a vocês, tivesse eu sido enviado apenas para os que me ouvem, para ensinar só a eles, eu nunca teria descido para a terra. Portanto, estejam envergonhados por suas ações.”

“Vejam, eu irei deixá-los e ir embora, e não desejo permanecer com vocês por mais tempo, assim como vocês mesmos também não desejam. Agora, sigam-me depressa. É por isso que eu digo, ‘Em consideração a vocês eu desci.’ Vocês são os amados; vocês são aqueles que serão a causa de vida em muitos. Invoquem o Pai, implorem a Deus frequentemente, e ele será generoso com vocês. Abençoado é aquele que o reverencia como fazem os anjos eternos, e que o glorifica junto aos santos; a vocês pertence a vida. Alegrem-se e estejam felizes, como filhos de Deus. Cumpram a vontade dele para que vocês sejam salvos. Aceitem a minha repreensão e se corrijam. Eu intercedo em seu favor com o Pai, e ele os perdoará bastante.”

E quando nós ouvimos estas palavras, nós ficamos contentes, pois nós estávamos aborrecidos pelo que mencionamos antes. Mas quando ele viu nós nos alegrando, ele disse, “Ai daqueles que necessitam de um defensor! Ai daqueles que necessitam da graça! Abençoados serão aqueles que se manifestaram e obtiveram graça para si mesmos.”

“Assemelhem-se aos sentinelas, como eles atuam na vigilância de suas cidades? Por que vocês desanimam e entregam a sua cidade ao invés de defendê-la? Por que você desprotege a sua cidade 1, propositalmente, deixando-a propícia para aqueles que querem invadi-la? Ó seus réprobos e fugitivos, ai de vocês, pois vocês serão pegos! Ou vocês talvez acham que o Pai é um amante da humanidade, ou que ele é conquistado sem orações, ou que ele concede remissão a um em nome de outro, ou que ele atende a qualquer um que pede? Porque ele conhece os desejos que a carne pecaminosa busca. Eles não derivam da alma? Sem a alma que as autoridades conferem à humanidade, o corpo é incapaz de pecar, porque está morto; e sem o Espírito que Deus confere aos seus eleitos a alma não pode ser salva, porque está morta. Mas quando a alma é prudente e rejeita o mal através do poder do Espírito, então a pessoa escapa do pecado. Pois é o Espírito que purifica a alma, e o corpo que a corrompe; consequentemente, a alma insensata destrói a si própria. Realmente, eu digo a vocês, as autoridades celestiais não perdoarão os pecados da alma de forma alguma, nem a culpa da carne; porque nenhum daqueles que adoraram vestir a carne imunda será salvo. Vocês acham que muitos deste mundo conseguiram se tornar perfeitos? Bem-aventurado será o quarto humano que conseguir essa façanha!”

Quando ouvimos estas palavras, nós ficamos angustiados. Mas quando ele viu que nós estávamos perturbados, ele disse, “Por causa disso eu digo isto a vocês, para que vocês possam conhecer a si próprios. Pois o reino eterno é como um grão de centeio que brotou num campo. Quando ele amadureceu ele dispersou suas sementes e preencheu o campo com brotos para mais um ano. Vocês também, corram para colher um broto de vida para si mesmos, para que vocês possam ser preenchidos com o reino!”

“E enquanto eu estiver com vocês, deem atenção a mim, e me obedeçam; mas quando eu os deixar, lembrem-se de mim. E se lembrem de mim porque quando eu estava com vocês, vocês não me conheciam. Abençoados serão aqueles que me conheceram; ai daqueles que ouviram e não acreditaram! Abençoados serão aqueles que não viram, e mesmo assim acreditaram!”

“E mais uma vez eu os ajudo, pois eu revelo que estou construindo uma casa valiosa para vocês se abrigarem, e ela será capaz de resistir ao lado da casa do seu vizinho quando a dele ameaçar desabar.
Verdadeiramente, eu digo a vocês, ai daqueles em função dos quais eu fui enviado para baixo para este lugar; abençoados serão aqueles que sobem para o Pai! Mais uma vez eu os repreendo: vocês que são mundanos, tornem-se como aqueles que são espirituais, para que vocês possam estar com os seres espirituais.”

“Não permitam que o poder do Espírito enfraqueça em vocês, nem sejam arrogantes por causa da luz que os ilumina, mas sejam para os outros como eu sou para vocês. Em função de vocês eu me coloquei sob a maldição, para que vocês sejam salvos.”

Mas Pedro respondeu a estas palavras e disse, “Às vezes você nos incentiva para o reino eterno, e então novamente nos recusa, Senhor; às vezes você nos estimula e atrai para a fé, e nos promete vida, e então novamente nos expulsa do reino eterno.”

Mas o Senhor respondeu e disse para nós, “Eu lhes dei esperança muitas vezes; além do mais, eu me revelei para você, Tiago, e vocês (todos) não me conheceram. Agora, eu os vejo se alegrando muitas vezes, e quando vocês se enchem de felicidade pela promessa de vida, vocês ainda ficam tristes, e se aborrecem quando são instruídos sobre o reino?
Mas todos aqueles que tiverem fé, sabedoria e santidade, podem receber a vida eterna. Portanto, que os perfeitos desdenhem a rejeição quando a ouvirem, mas quando ouvirem a promessa da imortalidade, que se alegrem ainda mais! Realmente, eu digo a vocês, aquele que se tornar perfeito e receber o Espírito de Vida jamais será recusado, e não deixará o reino mesmo se o Pai desejar bani-lo.”

“Estas são as coisas que eu quero dizer por enquanto; agora eu deverei subir para o lugar de onde eu vim. Mas vocês, quando eu estava ansioso para ir, me impediram, e ao invés de me acompanharem, vocês me importunaram. Mas atentem para a glória que me espera, e, tendo aberto o coração de vocês, ouçam os hinos que me aguardam acima dos céus; porque hoje eu devo tomar o meu lugar na mão direita do Pai. Esta é a minha última declaração a vocês, e eu devo os deixar, pois uma carruagem do Espírito me erguerá para o alto, e deste momento em diante, eu irei me despir deste corpo perecível, para que eu possa me vestir de Luz. Mas prestem atenção; abençoados são aqueles que proclamaram o Filho antes da descida dele, para que quando eu viesse, eu possa subir novamente. Triplamente abençoados são aqueles que foram proclamados pelo Filho antes deles surgirem, para que vocês possam ter um quinhão entre eles.”

Tendo dito estas palavras, ele partiu. Mas nós dobramos nossos joelhos, eu e Pedro, e agradecemos, e mandamos nossos corações para cima aos céus. Nós ouvimos com nossos ouvidos, e vimos com nossos olhos, o barulho de guerras, e um soar de trombeta, e um grande tumulto.

E quando nós havíamos ultrapassado os céus dos regentes, nós mandamos nossas mentes ainda mais acima, e vimos com nossos olhos e ouvimos com nossos ouvidos hinos, e bênçãos angelicais, e júbilo angelical. E majestades imortais cantavam louvor, e nós, também, nos alegramos.

Após isto, nós desejamos mandar nosso Espírito para cima para a Majestade, e após subir, não nos foi permitido ver ou ouvir qualquer coisa, porque os outros discípulos nos chamaram e perguntaram, “O que vocês ouviram do Mestre?” e “O que ele disse a vocês?” e “Para onde ele foi?”

Mas nós respondemos a eles, “Ele subiu e nos deu uma confirmação, e prometeu vida para todos nós, e nos revelou crianças que virão depois de nós, e ordenou que nós as amássemos, pois nós seríamos salvos em função delas.”

E quando eles ouviram isto, eles de fato acreditaram na revelação, mas ficaram descontentes por aqueles que irão nascer. E assim, não desejando magoá-los, eu enviei cada um para um lugar diferente. Mas eu mesmo subi para Jerusalém, orando para que eu possa obter um quinhão entre os amados, que se manifestarão.

E eu rezo para que a iniciativa possa vir de ti também, pois assim eu serei digno de salvação, já que eles serão iluminados através de mim, pela minha obra – e através da obra de outros melhores do que eu, porque eu não quero pensar que a minha obra seja a maior. Empenhe-se seriamente, então, para tornar-se como eles, e reze para que você possa obter uma parte entre eles. Porque, como eu havia dito, o Salvador nos revelou tudo em função deles. Nós também, de fato, almejamos uma parte com aqueles para os quais a proclamação foi feita – aqueles a quem o Senhor chamou de filhos dele.

Apócrifo de Tiago.

1. No texto Ensinamento de Silvano, cidade é uma metáfora para ‘alma’.

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Fonte:

Apócrifo de Tiago. Biblioteca de Nag Hammadi. Tradução por: http://misteriosantigos.50webs.com. Mistérios Antigos, 2010. Disponível em:<https://web.archive.org/web/20200225001531/http://misteriosantigos.50webs.com/apocrifo-de-tiago.html>. Acesso em 16 de março de 2022.

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

 

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Postagem original feita no https://mortesubita.net/jesus-freaks/apocrifo-de-tiago/

As origens do culto de Cosme e Damião

Júlio Cesar Tavares Dias
juliocesartdias@hotmail.com

“Aqui queremos lembrar
Dois Dois a biografia
Pouco vamos encontrar
Porque pouco se escrevia
O que pude pesquisar
Só resolvi publicar
Porque muitos me pediam”
– Frei Urbano de Souza (1991, p. 7)

Nós compartilhamos o sentimento de Frei Urbano de Souza expresso nos seus versos de cordel que vêm à epígrafe deste artigo. No Brasil existe a prática de distribuir balas e doces como pagamento de promessas aos Santos Cosme e Damião, padroeiros das crianças. Em 2010, quando resolvemos escrever sobre este tema (Dias, 2010), frisávamos que o modo de distribuir o doce de Cosme e Damião vem sofrendo mudanças devido à recusa dos evangélicos em receber o doce. Mas, além do fato de que Cosme e Damião foram sincretizados no Brasil com os Ibeji e que os evangélicos rejeitavam o doce justamente por conta desse sincretismo, praticamente nada sabíamos sobre essa devoção e suas origens. Pesquisar as origens do culto desses santos é encarado por nós, então, como um desafio.

Celeno de Figueiredo (1953, p. 5), na introdução de sua obra, afirma que escrever sobre os santos gêmeos é um desejo da mocidade, não realizado há mais tempo, “em virtude da inegável escassez de literatura”. Acreditamos que, ainda hoje, embora passadas décadas desde o seu trabalho, há escassa biografia sobre esse tema em relação à força que essa devoção continua demonstrando no Brasil.

O culto aos santos

Como sabemos, nos inícios do cristianismo, o termo “santo” (que significa separado) era usado de forma geral para se referir aos cristãos. Para se verificar isso basta dar uma olhada rápida nas saudações das epístolas (BÍBLIA, 1993, 1 Coríntios 1: 2 e Efésios 1: 1, e. g.). Com o tempo, esse termo passou a designar as pessoas na comunidade cristã dignas de admiração por alguma virtude ou feito particular. O problema, como coloca Bárbara Lucas (1969, p. 417), ocorre porque “com o tempo, grande número de lendas […] começou a envolver alguns dos santos”, como resultado disso, “a Igreja decidiu que no futuro só se deveriam aceitar como santas as pessoas que fossem formalmente declaradas como tais pelo Papa. Dá-se a isso o nome de Canonização”. O processo visa constatar se o candidato possui uma “virtude verdadeiramente heroica” (Lucas, 1969, p. 418).

As honrarias católicas dos santos e o próprio processo de canonização, a nosso ver, devem-se muito a heroização que os romanos faziam de seus entes falecidos: “tais crenças eram largamente tributárias aos usos tradicionais por meio dos quais os pagãos honravam seus defuntos e especialmente aquêles que criam promovidos à heroização” (Danieloo; Marrou, 1966, p. 320, sic).

O culto dos mártires

Luiz Mott (1994, p. 4) propõe uma tipologia dos santos adorados no Brasil Colonial: “Mártires, Clérigos e Religiosos, Santas Mulheres, concluindo com uma relação dos que tiveram a má sorte de serem considerados Falsos Santos”. A devoção a Cosme e Damião se enquadra no culto aos mártires, pois “chama-se mártir quem derrama seu sangue pela causa de Cristo” (Martins, 1954, p. 5). Claro que não só no cristianismo existem mártires, o mártir cristão seria caracterizado por uma atitude especial ao enfrentar o martírio. Mondoni (2001, p. 56) procede à caracterização do mártir cristão:

[…] não procurava o perigo, mas quanto possível o evitava, […] enfrenta a morte não como cortejo triunfal, mas numa via solitária e em pleno abandono […]; sua fortaleza aparecia não do desejo do sofrimento, mas da serenidade com que ia ao encontro do fim inevitável.

Para o estudo da vida dos mártires, podemos contar com os seguintes documentos: Acta, Passio, Gesta (narrações posteriores às perseguições com justaposição de elementos históricos e lendários) (Mondoni, 2001, p. 56). São critérios para historicidade de um mártir: testemunho direto (Acta, Passio3), inscrição tumular com o qualificativo ‘mártir’, traços seguros de um antigo culto (basílica, cemiterial), menção nos antigos martirológios (Mondoni, 2001, p. 56-57).

Martirológio era, basicamente, “um fichário ou catálogo daqueles que com, com sangue, abonaram o testemunho de sua fé em Cristo. Os antigos martirológios constituíam uma espécie de calendário litúrgico” (Martins, 1954, p. 5). O Martirológio Romano consiste da junção dos vários martirológios regionais, sendo considerado definitivo o texto de Barônio, que depois foi muitas vezes revisto, corrigido e ampliado, tendo sido atualizado pela última vez em 1922, por ordem de Bento XV. Ele é um dos livros litúrgicos oficias da igreja, os quais são, a saber: Missal, Breviário, Ritual Pontifical, Cerimonial e Martirológio.

Claro que no Martirológio Romano “Alguns dados são passíveis de revisão histórica […]. A Santa Igreja desde muito procura escoimá-lo de erros e inexatidões históricas” (Martins, 1954, p. 6). Aliás, “A Igreja é a primeira a querer a verdade histórica. Mas convenhamos. Corrigir não é arrasar, sem mais nem menos, textos venerandos” (Martins, 1954, p. 7).

Foxe4 (2005, p. 13) lembra que ao fundar sua igreja Cristo deixou claro que haveria perseguição, mas que as portas do inferno não prevaleceriam contra ela. Assim deve-se ler a história dos mártires como “proveito do leitor e da edificação da fé cristã” (Foxe, 2005, p. 14). Para esse autor:

As causas de tanta perseguição aos Cristãos por parte dos imperadores romanos foram principalmente estas: o medo e o ódio. Primeiro o medo, porque os imperadores e o senado, por ignorância cega, […] temiam e desconfiavam que ele (Cristo) pudesse subverter o seu império. Por isso buscaram todos os meios possíveis […] para extirpar totalmente o nome e a memória dos cristãos. Em segundo lugar, o ódio em parte porque este mundo […] sempre odiou e tratou com maldade o povo de Deus […] Em parte, porque os cristãos, tendo uma natureza e uma religião contrária às dos imperadores […] desprezavam os seus falsos deuses […] e muitas vezes detiveram o poder de Satanás que agia nos seus líderes […]. Por isso, Satanás […] instigou os príncipes romanos e os idólatras cegos a nutrir contra eles um ódio e despeito cada vez maiores (Foxe, 2005, p. 25)

O mais seguro documento acerca de um mártir são as atas: “Para nosso objeto é importante notar uma formalidade que não faltava em nenhum processo: as atas”5 (Bueno, 2003, p. 136, tradução livre). Convém-nos aqui esclarecer, portanto, de que se constitui esse documento:

“As atas dos mártires não são outra coisa que a transcrição exata, ou pouco menor, dos processos verbais redigidos pelos pagãos e conservados nos arquivos oficiais, transcrição que os cristãos recuperavam por diversos meios, por exemplo, a compra a os agentes do tribunal”6 (Bueno, 2003, p. 136, tradução livre).

Essas atas eram obtidas pelas comunidades cristãs através da compra. Mas uma ata, claro, como tudo que é valioso, “era objeto de engano e falsificação”7 (Bueno, 2003, p. 137, tradução livre).

Para Danieloo e Marrou (1966, p. 320), “não resta dúvida que já se conhecia [o culto aos mártires] […] desde o final do segundo século, e de alguma forma se oficializara na Igreja Cristã”, mas sublinham que no quarto século “O fato mais considerável é o desenvolvimento realmente exuberante do culto dos mártires”, desenvolvimento motivado pelo fim das grandes perseguições e pela paz constantiniana.

O arquétipo dos gêmeos

Divindades duplas, gêmeas ou não, aparecem na cultura e na literatura de muitos povos da Antiguidade: Castor e Polux entre os gregos, Osíris e Seth no Egito, Rômulo e Remo em Roma, Vishnu e Lakshmi, na Índia (cf. Araújo, 2010, p. 1); “estes seres costumam ser divindades benfeitoras” (Cirlot, 1984, p. 274). Aliás, “todos os heróis gêmeos da cultura indo-européia são benéficos” (Chevalier, 1997, p. 466). No Candomblé também existe o orixá Ibeji, “representado pelos gêmeos na África, sendo estes sagrados” (Cacciatore, 1988, p. 141), com quem Cosme e Damião foram sincretizados. Ibeji8 significa gêmeos, sendo o orixá Ibeji, o único permanentemente duplo.

Então, Cosme e Damião seriam mais uma manifestação do arquétipo dos gêmeos, presente “na maioria de tradições primitivas e de mitologias relativas às altas culturas” (Cirlot, 1984, p. 273), o que haveria permitido seu sincretismo com os Ibeji. Isso nos levaria a pensar o sincretismo, como fez Pedro Iwashita (1991), a partir de conceitos jungianos. Mais exatamente a partir da psicologia dos arquétipos. Isso significa que foi possível o sincretismo entre os santos e orixás, por serem equivalentes “para a experiência humana, no seu sentido profundo e existencial” (Iwashita, 1991, p. 247). Assim, perguntar pelas origens do culto de Cosme e Damião não significaria apenas estabelecer e fixar uma data, mas verificar a força desse arquétipo.

Para Cirlot (1984, p. 274), “O sentido simbólico mais geral dos gêmeos é que um significa a porção eterna do homem […], a alma; e o outro a porção mortal”. Isso faz muito sentido em relação a Cosme e Damião, pois se, como médicos, buscavam a cura do corpo, essas curas objetivavam a conversão, ou seja, a cura também da alma.

Essa recorrência da figura dos gêmeos em várias lendas e mitologias teria origem em personagens históricos que foram depois mitologizados? Acreditamos que possa ter tido origem em diversos personagens históricos em diversas culturas. Entendemos que a pergunta pela motivação dessa recorrência possa ser respondida não na perspectiva histórica, mas na esfera existencial. “Todas as culturas e mitologias testemunham um interesse particular pelo fenômeno dos gêmeos” (Chevalier, 1997, p. 465). O nascimento de gêmeos envolvia um mistério que causava espanto nos povos antigos.

A Vida de Cosme e Damião

Cosme e Damião são santos católicos que foram médicos9 e, por isso, são tidos como protetores das crianças. Eles teriam exercido a medicina sem nunca cobrar nada, por isso são chamados de “anargiros”, ou seja, que não são comprados por dinheiro. Conforme Figueiredo (1953, p. 7), teriam conhecido o cristianismo através de sua mãe Teódota, que os criou na fé cristã. Nos livros litúrgicos ocidentais10 sua festa foi fixada a 27 de setembro11. Uma reforma litúrgica no ano de 1969 moveu sua comemoração para o dia 26 de setembro, contudo o povo mantém a devoção no dia 27. O padre Michelino Roberto explica que “pelo calendário oficial da igreja, a festa é celebrada no dia 26. Mas o povo prefere 27, data da inauguração da basílica que o papa Félix IV mandou erguer para os dois em Roma, no ano 500” (Roberto, 2000). Na fala do padre Josevaldo, pároco da Igreja de Cosme e Damião na Liberdade, Salvador (BA), parece haver a necessidade de frisar a diferença das datas para combater o sincretismo com as religiões afro:

No candomblé, explica o padre, o dia de homenagear as crianças ou seja a falange de Ibejí é dia 27, enquanto que na igreja católica o dia de Cosme e Damião é 26. Mas, no imaginário popular ficou marcado mesmo o dia 27, explicou o padre. (Sodré, 2012).

São santos do século III cuja data de nascimento é incerta, como, aliás, vários outros aspectos de suas vidas. “Devemos, pois, contentar-nos com as poucas noticias que a seu respeito se extrahiram de varios autores de reconhecida probidade”, como lemos na obra Vidas de S. Cosme e Damião e S. Cesário, Médicos da Federação das Congregações Marianas de São Paulo (1935, p. 3, sic), na qual temos essa descrição de como eles procediam para ocorrer a cura: “começavam por fervorosa oração. Informando-se da natureza do mal, faziam sobre o enfermo o signal da cruz, e com isto, em geral, sem necessidade de remédios, […] o paciente via-se restituído a saúde” (Federação de…, 1935, p. 4, sic) . Essa obra, de cunho devocional, tem, na verdade, por pressuposto, que “As enfermidades do corpo vêm por castigo das desordens da alma”, assim, “Aplaque-se a ira de um Deus ofendido e recobrará saúde o enfermo” (Federação…, 1935, p. 6), e, assim, seu intento é o incentivo à prática da confissão.

Seus atos caridosos que eram motivo de conversões ao cristianismo “não passaram despercebidos aos inimigos da fé cristã” (Basacchi, 2003, p. 7). Denunciados pelo procônsul Lísias, acusados de serem “inimigos dos deuses”, foram mortos por ordem do imperador Diocleciano por não se curvarem diante dos deuses pagãos. Uma tradição diz que foram alvejados por dardos, mas miraculosamente os dardos se desviaram deles, por isso depois foram decapitados12. “O Passio descreve-os como sendo queimados, apedrejados, serrados, e finalmente decapitados13, mas isto é pura lenda14” (Cosmas…, 1967, p. 361, tradução livre). Outra tradição conta que eles foram atirados de sobre um despenhadeiro. “Seus restos mortais, segundo consta, encontram- se em Ciro na Síria, repousando numa basílica a eles consagrada. Da Síria o seu culto alcançou Roma e dali se espalhou por toda a Igreja do Ocidente” (Cosme…, 2013, s/p). Depois, no século VI, uma parte das Relíquias foi levada a Roma e está na igreja que adotou seus nomes. “Outra parte foi guardada no altar-mor da igreja de São Miguel, em Munique, na Baviera” (Encyclopedia…, 1997, p. 449).

Embora muitas lendas tenham sido agregadas a história de seu martírio, podemos acreditar que tenham realmente sofrido muitas torturas15, conforme afirma Foxe (2005, p. 26):

Os tiranos […] não se contentavam apenas com a morte […]. Tudo o que a crueldade da invenção do homem pudesse conceber para castigar o corpo humano era posto em prática contra os cristãos […] os seus corpos eram amontoados e junto a eles deixavam cães para guardá-los a fim de que ninguém pudesse vir dar-lhes sepultura.

Mas a ênfase dada nos relatos da igreja sobre a intensidade do sofrimento por que eles passaram mostra a clara intenção de impressionar os fiéis. No Martirológio Romano (Vaticano, 1954, p. 222), sobre o dia 27 de setembro, lê-se sobre eles:

Em Egéia, o natalício dos santos irmãos mártires Cosme e Damião, que, com o auxílio de Deus, aturaram muitos tormentos, grilhões, cárceres, águas, fogueiras, cruzes, pedras, e flechas, antes de serem degolados na perseguição de Diocleciano. Conta-se que, com eles, padeceram três irmãos seus: Ântimo, Leôncio e Euprébio.

Conforme Danieloo e Marrou (1966, p. 400, 401), “Nos anos que seguem ao Concílio de Éfeso16, desenvolve-se o culto, até então estritamente local dos Santos Cosme e Damião”. Assim, o desenvolvimento dessa devoção segue o grande crescimento do culto aos mártires, ocorrido com o fim das grandes perseguições.

Conforme a historiadora Ignez Aquiar o culto aos irmãos foi introduzido no catolicismo pelo papa São Félix que mandou trazer os corpos dos santos para Roma, colocando-os no cemitério da igreja de Santa Cecília, dando início à veneração dos santos na Itália e por toda a Europa. A fé dos devotos nos santos gêmeos era tanta, que apareceu uma relíquia curadora – o óleo de São Cosme e Damião, cuja distribuição nas igrejas católicas predominou até 1780. Como ritual para curar-se, […] o doente ia à igreja, expunha a parte afetada diante da imagem junto ao altar dos santos, uma rezadeira esfregava o óleo no local doente, rezando: Per intencessionem beati Cosmi, liberetabomni malo. Amém, destaca a pesquisadora. (Aquiar apud Pernambuco…, 2011, s/p).

O óleo também serviria para dar filhos a mulheres estéreis (Basacchi, 2003, p.8

O culto na Europa e a Basílica de Cosme e Damião em Roma

Ainda que seja difícil precisar uma data de início do culto, “Sabemos que o culto aos dois irmãos é muito antigo, pois no século V já existiam escritos sobre eles” (Basacchi, 2003, p. 8). Conforme o Dicionário Patrístico (Di Berardino, 2002, p. 347), “Teodoreto de Ciro (458 d. C.) é o primeiro a falar do culto dos santos ‘anárgiros’, culto prestado na cidade sede de seu episcopado”, conforme ele menciona em uma carta, havia, em 434, um local dedicado aos santos em Ciro, no norte da Síria (Harrold, 2007, 28). Harrold (2007, p. 26, tradução livre) considera que:

Sem nenhuma prova histórica dos verdadeiros santos denominados Cosme e Damião, as origens do culto são impossíveis de identificar com absoluta certeza, mas um quadro pode ser construído da evidência proveniente pelas notações litúrgicas, documentos históricos e os primeiros lugares de adoração e as coleções associadas de milagres. Além disso, o rápido alastramento do culto popular obscureceu suas origens17.

A primeira data disponível aos hagiógrafos é, portanto, uma omissão (Harrold, 2007, p. 27). Mas sabe-se que “os santos doutores eram certamente conhecidos bem o bastante no início do século quinto para um santuário ter sido construído em honra deles18” (Harrold, 2007, p. 28, tradução livre). A autora segue citando várias construções feitas aos gêmeos e, então, levanta uma hipótese:

[…] dentre estas primeiras dedicações é possível levantar a hipótese de um ponto geográfico inicial para o culto […] há alguma evidência apoiando a crença na existência da tumba dos dois na região de Ciro, no norte da Síria de uma data antiga”19 (Harrold, 2007, p. 30, tradução livre).

Daí, a “adoção dos santos em muitos lugares seguiu rapidamente. Por exemplo, por meados do século V, ao mínimo duas igrejas dedicadas aos SS. Cosme e Damião tinham sido erguidas em Constantinopla20” (Harrold, 2007, p. 28, tradução livre).

Porém, como se sabe, há uma basílica que o “papa Félix IV mandou construir em honra deles no Foro Romano […]. Da Síria o seu culto alcançou Roma e dali se espalhou por toda a Igreja do Ocidente”, sendo que com a “meta mais de turistas que de devotos, pelo esplêndido mosaico que lhe decora a abside” (Cosme…, 2013, s/p). Assim, a Basílica de SS. Cosme e Damião em Roma21 é importante para o estudo do desenvolvimento e expansão da devoção. Teodorico, o Grande, rei dos Ostrogodos e a sua filha Amalasunta, doou ao papa Félix IV, em 527 d. C., a biblioteca do Templo da Paz (Bibliotheca Pacis) e também uma parte do Templo de Rómulo. Félix IV uniu os dois edifícios e criou a basílica dedicada aos dois santos gregos Cosme e Damião, um contraste ao culto pagão a Castor e Pólux, outrora adorados num templo situado no Fórum Romano (Basilica…, s/d)22. A fundação da igreja está descrita no LiberPontificalis:

“Aqui ele erigiu a basílica dos Santos Cosme e Damião no lugar chamado Via Sacra, perto do templo da cidade de Roma”(apud Harrold, 2007, 34, tradução livre)23.

Como coloca Harrold (2007, p. 34, 35), não se sabe as razões exatas porque essa igreja foi construída nessa área, mas podem-se levantar algumas especulações. Aliás, a área em que foi construída a Basílica não era populosa. No começo do quinto século mostrava-se interesse pelos santos orientais (uma igreja à Santa Anastácia é dedicada também nessa época). Acreditamos que é bom o argumento de que a igreja intencionava competir e combater cultos pagãos de cura que ocorriam na mesma área. “A locação da igreja, no lado oposto do fórum para os centros devocionais dedicados a Dioscuri e Asclépio, pode ter intentado providenciar uma alternativa cristã a  estes lugares” 24 (Harrold, 2007, p. 35, tradução livre).

O culto de Cosme e Damião em Portugal

Augusto da Silva Carvalho, em 1928, escreveu O Culto de Cosme e Damião em Portugal e no Brasil – História das Sociedades Médicas Portuguesas. Segundo ele, a devoção a esses santos em Portugal está muito  ligada ao  fato das confrarias se constituírem naquele país principalmente reunindo pessoas de uma mesma profissão em volta de um santo protetor. A escolha pelos médicos dos santos Cosme e Damião como patronos entre tantos outros santos médicos (Carvalho faz uma longa lista) deve-se ao fato de que eles, além de terem sido médicos, foram santos. Por isso, para Carvalho, acompanhar essa devoção em Portugal termina por desembocar em falar da história das sociedades médicas.

Conforme Carvalho (1928, p. 3), “Nos séc. XII e XIII o culto dos dois santos espalhou-se pela Europa Central e Ocidental”. Como padroeiros dos médicos, nota-se que o prestígio da medicina e dos santos estão relacionados. Carvalho (1928, p. 7) nota que “Na Itália o culto dos dois irmãos foi muito extenso”, extensão relacionada “a alta consideração que na Itália tinham pelos médicos”. Assim, a manutenção do culto dos santos e crescimento por obra de confrarias não é algo peculiar ao país lusitano.

Por serem padroeiros dos médicos, um dos materiais para pesquisa dessa devoção em Portugal é um tanto inusitado: os livros de medicina. “Nos livros de medicina publicados em Portugal encontram-se muitas referências aos patronos dos médicos e algumas vezes até esses livros lhes foram dedicados” (Carvalho, 1928, p. 17). Contudo, estudar em Portugal esse culto a partir da devoção às relíquias não é tão promissor porque Portugal é “muito pobre em relíquias dos dois santos” (Carvalho, 1928, p. 15).

Conforme Carvalho (1928, p. 9), “Em Portugal o culto dos dois santos data dos primeiros tempos da monarquia, ou melhor, começou antes da constituição do nosso reino”. Vestígios disso são quadros, monumentos e documentos, incluindo testamentos onde o falecido deixava alguma imagem de santos para um herdeiro. Devoção realmente muito antiga, já em 568, numa freguesia de Azar ou Azere, “no actual concelho dos Arcos de Val houve um mosteiro de frades bentos dedicado a Cosme e Damião” (Carvalho, 1928, p. 21, sic). Em Portugal também “Foi uso em tempos dar a gémeos os nomes dos dois santos” (Carvalho, 1928, p. 17), uso que continua no Brasil. Parece mesmo que os pais portugueses destinavam os filhos à medicina desde o berço dando-lhes o nome desses santos, e “Algumas vezes os médicos e cirurgiões escolhiam para seus filhos os mesmos nomes” (Carvalho, 1928, p. 18), demonstrando não só sua devoção aos santos, mas o desejo de que os filhos seguissem na mesma devoção. Assim, uma família de médicos seria também uma família de devotos.

No entanto, a veneração dos patronos dos médicos não é encontrada somente nos grandes centros, onde haveria concentração tanto de médicos como dos cursos de medicina, mas também “nas mais humildes aldeias, em tôscas e pobres capelas, onde os oragos são representados por ingénuas imagens, em que os sapateiros de província consubstanciaram as lendas e tradições do povo humilde daqueles lugarejos” (Carvalho, 1928, p. 20, sic). Assim, outros profissionais responsáveis pela popularidade dos santos são os sapateiros, que se não têm o mesmo prestígio que os médicos estão mais próximos do povo das aldeias do que aqueles.

Carvalho segue em seu livro listando várias localidades, pequenas aldeias, com nomes dos gêmeos ou nomes derivados dos deles (Cosmode, por exemplo), assim, ele nos mostra que a toponomia e a antroponomia são estudos importantes para acompanhar a expansão da devoção, o que serve certamente também para o caso brasileiro. Aliás, “No Brasil ha várias localidades com o nome dos dois mártires” e “Nos nomes de homens tambêm se encontra vestígio do culto dos mesmos santos” (Carvalho, 1928, p. 54, sic).

A origem do culto de Cosme e Damião em Igarassu e no Brasil

Como sabemos o catolicismo brasileiro é santorial, a ponto de que em “certas casas mais devotas, podemos encontrar folhetos de cordel, quadros ou até imagens reproduzindo a figura de alguns destes santos mais populares” (Mott 1994, p. 3). E catolicismo santeiro brasileiro tem suas origens na religiosidade ibérica, pois “Portugal e Espanha costumavam disputar entre si para saber qual dos reinos ostentava o maior número de santos e beatos reconhecidos” (Mott, 1994, p. 4). Assim, é um tanto natural que a devoção aos santos gêmeos, trazida pelos portugueses, tenha se fixado e se expandido em solo brasileiro.

A Matriz dos Santos Cosme e Damião de Igarassu25, Pernambuco, de 1535, “considerada uma das principais relíquias da arte colonial brasileira” (Basacchi, 2003, p. 9), é a igreja mais antiga26 do Brasil ainda em atividade.

No dia 27 de setembro de 1530, dia dos Santos Cosme e Damião, com a expulsão dos índios, pelos portugueses, das terras margeantes ao Rio Igarassu, inicia-se o processo de ocupação de Pernambuco. A Construção da Vila de Igarassu é, assim, a marca original da cultura portuguesa nesta região do país. (Programa…, 1979, p. 15).

As despesas para sua edificação correram por conta do Capitão Afonso Gonçalves, que, em carta ao rei de Portugal, datada de 10 de maio de 1548, diz textualmente: “Senhor eu quisera os dízimos desta igreja para os gastar nela e em coisas necessárias para o culto divino e ornamentos, pois sou fundador dela e a fiz à minha custa própria” (Pereira da Costa, 1983, p. 248, 249).

A capela primitiva, provavelmente em taipa, ruiu por volta de 1590/94, segundo informação contida no livro “Primeira Visitação do Santo Ofício: Denunciações e Confissões de Pernambuco”. No mesmo sítio e obedecendo a um alvará real datado de 11 de novembro de 1595, foi construída entre 1595/97, uma nova capela, desta vez de pedra e cal. Hoje, após processo de restauração iniciado em 1958, a igreja recuperou suas características primitivas (Prefeitura de Igarassu, 2010, p. 9).

O professor C. Smith, titular da Cadeira de História da Arte na Universidade da Pensilvânia, nos informa: “A igreja paroquial dos Santos Cosme e Damião, fundada em 1535, foi ampliada no século XVIII por ter sido considerada como a mais antiga do Brasil e o dinheiro usado proveio dos cofres reais” (Biblioteca…, 2011, p. 14). Nos Anais Pernambucanos lemos acerca da conquista dessa terra e acerca dessa igreja:

Dêste porto dos marcos, escreve Jaboatão, saiu Duarte Coelho, e deixando esse braço do rio que cerca a ilha de Itamaracá pelo poente e buscando outra vez o mesmo rio para o sul pouco mais de uma légua, navegando por êle acima duas ao mesmo poente ou meio dia, deram fundo e saltaram em terra, não sem grande oposição do gentio, que no alto, à margem daquele porto tinha uma mui forte e abastada aldeia, que depois de larga resistência, combates e pelejas, foram vencidos e afugentados os seus habitadores. Foi a última vitória a vinte e sete de setembro, dia dos gloriosos mártires Santos Cosme e Damião, e a sua memória consagraram logo aquêle lugar, levantando nêle igreja sua e dando princípio a uma povoação, que depois passou a vila com os nomes dos santos mártires, e foi a primeira da capitania de Pernambuco. […] Aquela igreja, com a invocação dos referidos santos, já estava construída em 1548, como se vê de uma carta de Afonso Sanches, seu fundador, dirigida ao rei a 10 de maio daquele ano, e teve depois a categoria de matriz com a criação da paróquia de Igarassu, em época porém desconhecida; mas como se vê da Informação da Província do Brasil, do Padre José de Anchieta, escrita em 1585, já então estava ereta e canônicamente provida […].(Pereira da Costa, 1983, p. 170-176, sic).

Num dos painéis27 da igreja28 retratando a vitória sobre os índios caetés lê-se:

Vencidos os índios pelos Portuguezes em o dia dos Santos Cosme e Damião, em reconhecimento de tão grande benefício, no mesmo lugar da vitória, que he este de Iguaraçú, fundarão logo este templo, o primeiro que houve em Pernambuco, e o consagrarão aos gloriosos Santos, d’onde forão sempre continuas suas victorias e maravilhas, e debaixo da proteção dos mesmos Santos fundarão esta villa, que também foi a primeira que houve (Igreja…, 1729, s/p, sic).

Augusto da Silva Carvalho (1928), porém, no seu O Culto de S. Cosme e S. Damião em Portugal e no Brasil, não faz nenhuma referência a essa igreja, o que é uma grande falha em sua pesquisa, que a respeito do culto desses santos em Portugal é tão rica de detalhes. Uma das riquezas da obra de Carvalho, no entanto, sobre essa devoção no Brasil, é recuperar a memória da existência de confrarias dedicadas aos gêmeos. Conforme ele, as confrarias “constituíram-se e mantiveram-se durante muito tempo com a designação do santo patrono de cada profissão” (Carvalho, 1928, p. 1).

A escolha dos santos gêmeos para serem os patronos dos médicos no meio de tantos santos que também se dedicaram a medicina (entre os quais S. Lucas, evangelista) explica- se por serem eles mártires. Por extensão, se tornaram santos de todos profissionais da área da saúde. Interessante terem sido tomados também como padroeiros dos sapateiros. Jaime Sodré, em vídeo a TVE Bahia, explica que isso se deve a eles, como médicos, terem feito botas de funções ortopédicas (na azulejaria portuguesa do interior da capela do Convento de Santo Antônio em Igarassu, há a figura deles cuidando da perna de um homem usando desse artifício). Acreditamos que também se deva a associação feita entre Cosme e Damião e Crispim e Crispiniano29, mártires também do século III, patronos dos sapateiros devido a um trocadilho feito entre seus nomes e a palavra grega para sapatos (Di Berardino, 2002, p. 358).

Diferente de Portugal, no Brasil não perecia ter havido confrarias dedicadas a Cosme e Damião, já que o autor não encontrara memória30 delas na população que investigara; “no entanto existem documentos que provam sua existência” (Carvalho, 1928, p. 56). Trata-se dos documentos do Santo Ofício referentes a Manuel Mendes Morforte e Francisco de Siqueira Machado. O primeiro veio à baía em 1698, e lá se tornou irmão da Confraria de S. Cosme e S. Damião e mandou dourar o retábulo da capela desses santos. O segundo, cristão novo, natural do Rio de Janeiro, para provar sua crença na religião católica, lembra, durante o interrogatório, que quando no Rio de Janeiro estava quase extinta a irmandade dos gêmeos, ele que se esforçou para que ela se restabelecesse (Carvalho, 1928, p. 56,57). Em entrevista, o professor Jorge Barreto, diretor do Museu Histórico de Igarassu, afirmou-nos haver nas dependências do Museu, onde funciona o Departamento de Pesquisa Histórica, uma prestação de contas, datada de 1854, da Irmandade de São Cosme e Damião, já dando sinais de falência. Segundo ele, a Irmandade não alcançou a República31.

No Rio de Janeiro32 pareceria “haver uma devoção por estes santos na Igreja de Gonçalo Garcia e S. Jorge, sita na Praça da República. Mas noutros estados a devoção é mais viva e sobretudo na população portuguesa é conservada como grande amor” (Carvalho, 1928, p. 57). É na Bahia, contudo, onde a devoção é mais intensa, onde “não ha casa de gente do povo que não tenha as imagens dos santos, muito tóscas e ingénuas” (Carvalho, 1928, p. 58, sic). Em Salvador, a devoção aparece ligada ao candomblé, onde se distribui o caruru, iguaria feita de quiabo e camarão. Como explica o professor Jaime Sodré (apud Caruru…, 2012), por serem vistos como meninos nas religiões afro, Cosme e Damião têm uma ligação muito especial com os orixás, pois “não tem orixá que não vá ouvir o canto de um menino”. Na zona rural da Bahia, como mostra o documentário Bahia Singular e Plural (Cosme…, 2012), é comum a prática do “Lindro Amor”, quando homens e mulheres saem33 de casa em casa cantando, usando chapéus enfeitados com folhas de seda, e duas crianças à frente levando uma caixa enfeitada contendo a imagem dos santos e flores, para arrecadar donativos (dinheiro, mantimentos, velas…) para fazer a festa.

Como frisamos, a devoção foi trazida ao Brasil de Portugal, onde em muitas de suas localidades “os santos eram invocados para proteger os que faziam longas viagens”, como a devoção aqui chegou “pelos que os tinham como patronos dos navegantes […] o seu culto se radicou sobretudo na beira-mar” (Carvalho, 1928, p. 58). Devoção trazida pelos portugueses e que se espalhou pelo litoral, depois se interiorizou com o garimpo. Os negros eram a grande “máquina” produtiva do garimpo, e, reduzidos a “coisa”, tinham que – como forma de resistência cultural – “sincretizar seus orixás com os santos católicos que lhe foram impostos” (Araújo, 2010, p. 2). Sincretismo esse que perdurou até os dias de hoje, fazendo parte da religiosidade popular do povo brasileiro.

Conclusão

Como no início deste texto, gostaríamos de novamente lembrar a literatura de cordel do Frei Urbano de Souza (1991, p. 23):

É religiosidade
De roupagem popular
Espiritualidade
Com certeza aí está
Toda a criatividade
De nossa modernidade
Muito tem a escutar

O que achamos importante destacar, ao chegar agora ao final desse texto, é que a devoção a Cosme e Damião, tão antiga, como mostramos, no Brasil ainda permanece viva, principalmente na religiosidade popular.

Notas:

Notas:

1 Texto referente a uma comunicação apresentada na 2ª Semana de Ciência da Religião da UFJF realizada entre os dias 16 e 19 de setembro de 2013.

2 Doutorando em Ciência da Religião pela UFJF. Bolsista CNPq

3 Interessante que Acta e Passio sejam atribuídos como os “verdadeiros” nomes de Cosme e Damião.

4 Foxe escreve de dentro do seio protestante, assim, é claro que ele assume o pensamento de o protestantismo é o verdadeiro herdeiro da fé dos mártires, por isso, ele inclui no seu “livro dos mártires” nomes como os de William Tyndale, John Wyclif e John Huss.

5“Para nuestro objeto es importante notar uma formalidade que no faltaba em ningún processo: las actas”.

6 “Las actas de los mártires no son otra cosa que la transcripcion exacta, o poco menor, de los procesos verbales redactados por los paganos y conservados em los archivos oficiales, transcripción que los cristianos reprocuraban por diversos médios, por ejemplo, la compra a los agentes del tribunal”

7“era objeto de trampa e falsificación”

8 Conforme Cacciatore (1988, p. 141) o termo advém do iorubá: “ìbi” – parto; “èji” – dois. A Enciclopédia Barsa (Encyclopedia…, 1997, p. 449) informa que “No Rio Grande do Sul, os Ibejis são denominados Beifes”.

9 Conforme Figueiredo (1953, p. 8), eles se dedicaram a curar não apenas os homens, mas também os animais.

10 Estes são “O Liberorationum visigodo, dos inícios do séc. VIII, o sacramentário Leonino, o Gregoriano de Pádua, o Calendário de Nápoles” (Di Berardino, 2002, p. 347).

11 Já “O sinaxário de Constantinopla contém a 1º de julho três pares de santos homônimos”, ao passo que numa paixão grega sua data aparece como 25 de novembro (Di Berardino, 2002, p. 347).

12 Na imaginação do poeta Frei Urbano de Souza (1991, p. 18), eles morreram abraçados: “Eles então se abraçam/ No auge da santidade/ A Deus do céu adoraram/ Em espírito e em verdade”. Lembrando a clássica distinção aristotélica entre poesia e história, como poeta, ele tem o direito de cantar o que poderia ter sido, diferente do historiador, que tem o dever de contar o que foi.

13 Um dos milagres dos santos doutores teria sido que após serem decapitados, a cabeça deles voltou a se encaixar sobre o pescoço. Esse milagre seria para gente “não perder a cabeça”, ou seja, não perder o juízo.

14 “The Passio describes them as being burnt, stoned, sawed, and finally decapitated, but it is pure legend”

15 Harrold (2007, p. 26) propõe dividir o estudo sobre esses santos entre a tradição latina e bizantina, conforme Harrold (2007, p. 28), no Ocidente desenvolveram-se menos lendas do que na tradição do Oriente.

16 O Primeiro Concílio de Éfeso foi realizado em 431 na Igreja de Maria em Éfeso, na Ásia Menor. Foi convocado pelo imperador Teodósio II e debateu sobre os ensinamentos cristológicos e mariológicos.

17“With no historical proof of actual saints named Cosmas and Damian, the beginnings of the cult are impossible to identify with absolute certainty, but a picture can be built up from the evidence provided by liturgical notices, historical documents and the earliest locations of worship and associated collections of miracles. The rapid spread of the popular cult further obscured its origins”.

18 “doctor saints were certainly known well enough by the early fifth century for a sanctuary to have been built in their honour”

19 “From amongst these early dedications it is possible to hypothesize a geographic starting point for the cult (…) there is quite a bit of evidence supporting the belief in the existence of the tomb of the saints in the region of Cyrrhus in northern Syria from an early date”.

20“The adoption of the saints in many places quickly followed. For example by the mid fifth century at least two churches dedicated to SS. CosmasandDamianhadbeenbuilt in Constantinople.”

21                       Há                       várias                       imagens                          disponíveis         em:

<http://www.franciscanfriarstor.com/archive/theorder/Basilica/index.htm>. Acesso em 21 nov. 2014.

22 As pinturas e o texto desta página da internet são a reprodução permitida do livro The Basilica of Santi Cosma e Damiano e é propriedade da FranciscanFriars.

23″Hic fecit basilicam sanctorum Cosmae et Damiani in urbe Roma, in loco qui appellatur II Via Sacra, iuxta templum urbis Romae.”

24“The location of the church, on the opposite side of the forum to devotional centres dedicated to the Dioscuri and Asklepios, could have been intended to provide a Christian alternative to these places”

25 “A localidade que recebeu o nome de Igarassu, corruptela de Ygara-açu, barco grande, navio, canoa grande, originário dos índios, vem do fato, como escreve Teodoro Sampaio, de ser o porto, desde os primeiros anos da colônia, visitado por barcos que o atingiam com o percurso da maré” (Silva; Alheiros, 1986, p. 10).

26 Silva (2011) haverá de negar essa afirmação advogando em favor da Igreja de Nossa Senhora do Monte em Olinda.

25 “A localidade que recebeu o nome de Igarassu, corruptela de Ygara-açu, barco grande, navio, canoa grande, originário dos índios, vem do fato, como escreve Teodoro Sampaio, de ser o porto, desde os primeiros anos da colônia, visitado por barcos que o atingiam com o percurso da maré” (Silva; Alheiros, 1986, p. 10).

26 Silva (2011) haverá de negar essa afirmação advogando em favor da Igreja de Nossa Senhora do Monte em Olinda.

27 São quatro painéis, todos de 1729: o primeiro retrata vitória sobre os índios caetés, marco da fundação da cidade; o segundo, a construção da Igreja; o terceiro, a invasão e saque de Igarassu pelos holandeses, (ocorrida em 1632, os holandeses ao terem tentado saquear as telhas do telhado da Igreja de Cosme e Damião, teriam sido surpreendidos pela aparição dos santos numa nuvem e, pelo esplendor dos santos, caíram cegos); o quarto painel retrata a peste de febre amarela de 1685 (Igarassu, diferente das cidades suas vizinhas, esteve ilesa a esta peste, o painel retrata várias cidades sendo invadidas pela morte – retratada como tradicionalmente com um esqueleto com uma foice, enquanto em Igarassu os santos, postos nas fronteiras, barram a entrada da morte na cidade. Esses painéis foram transferidos para o Museu Pinacoteca de Igarassu, que funciona no Convento de Santo Antônio, em 1969, para fins de melhor preservação.

28 Não é acessível a todos viajar para Igarassu para conhecer essa igreja, mas é possível “visitar” seu interior         virtualmente   através    de              um                        vídeo                       disponível       em:

<http://www.youtube.com/watch?v=8szLsX1HV2M>. Acesso em 21 nov. 2014.

29 Na Bahia, Crispim e Crispiniano também foram sincretizados com os Ibêjis, por isso, no dia 25 de outubro, dia desses santos, ocorre comemorações como as feitas a Cosme e Damião, porém, com menor intensidade.

30 Seria o caso de perguntarmos quais forças operaram ou contribuíram para que operasse esse esquecimento. Quais razões e circunstâncias motivaram o apagamento das reminiscências?

31 Não pude ter acesso a esse documento porque quando estive em Igarassu (19/09/2013 – 28/09/2013) para minha pesquisa de campo, o acesso ao Departamento de Pesquisa Histórica estava suspenso devido às festividades dos santos. As visitas ao museu aumentam nessa época.

32 No Rio de Janeiro, como o policiamento é feito por duplas de soldados, essas duplas ganharam do povo a alcunha de “Cosme e Damião”, gesto que foi recebido com simpatia pelos policiais, assim “os santos gêmeos tornaram-se também patronos da Polícia Civil da Guanabara” (Basacchi, 2003, p. 9).

33 Já que São Cosme e Damião são vistos como crianças, é natural que eles gostem de passear. Uma das músicas de tradição do “Lindro Amor” chama a dona da casa: “Ô minha senhora/ abra essa porta/ porque São Cosme é tradição/ é coisa nossa”. Como a caixa é levada ao interior da residência ninguém fica sabendo o valor exato que a pessoa depositou, o que evita constrangimento.

Referências

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Disponível                                                                                                         em:

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Postagem original feita no https://mortesubita.net/cultos-afros/as-origens-do-culto-de-cosme-e-damiao/

Apócrifo de João (Longo)

(O Livro Secreto de João – A Revelação Secreta de João)

O ensinamento do salvador, a revelação dos mistérios, das coisas escondidas no silêncio, e também as coisas que ele ensinou a João, seu discípulo.

E aconteceu um dia, quando João, irmão de Tiago (que são os filhos de Zebedeu), ele havia subido ao templo, e um Fariseu chamado Arimanes o aproximou e disse, “Onde está seu mestre a quem você seguia?” E João respondeu, “Ele retornou para o lugar de onde ele veio.” O Fariseu disse a ele, “Este Nazareno os enganou com ilusão, ele encheu suas orelhas com mentiras, fechou seus corações e desviou vocês das tradições dos seus pais.”

Quando eu, João, ouvi estas coisas, eu abandonei o templo e fui para um lugar deserto. E eu fiquei muito angustiado em meu coração, dizendo, “Como então o salvador foi escolhido? Por que ele foi enviado ao mundo pelo Pai dele? Quem é o Pai dele que o enviou? De que tipo é aquele aeon para o qual nós deveremos ir? Pois o que ele quis dizer quando ele nos falou, ‘Este aeon para o qual vocês irão é do tipo de aeon imperecível’, mas ele não nos ensinou sobre este último.”

Enquanto eu estava contemplando estas coisas, imediatamente, veja, os céus se abriram e a criação que está abaixo de todos os céus brilhou, o mundo inteiro estremeceu. Eu tive medo, no entanto, veja, na luz eu vi uma criança que ficou diante de mim. Enquanto eu observava, ele se tornou um homem velho. E ele mudou sua aparência novamente, se tornando um jovem. Não eram vários diante de mim, mas sim uma aparência com múltiplas formas na luz. E uma aparência surgia através da outra. A aparência tinha três formas.

Ele me disse, “JoãoJoão, por que você duvida, ou por que você está assustado? Esta imagem não é estranha para você, é? – portanto, não seja medroso! – Eu sou aquele que está com vocês sempre. Eu sou o Pai, eu sou a Mãe, eu sou o Filho. Eu sou o inviolado e impoluto. Agora eu vim para te ensinar sobre o que é, o que foi, e o que será, para que você conheça tanto as coisas que estão invisíveis quanto aquelas que estão visíveis, e te ensinar a respeito da raça inabalável do Homem perfeito. Agora, em vista disso, levante seu rosto, para que você possa receber as coisas que eu irei te ensinar hoje, e possa contar para aqueles espíritos que são seus companheiros da raça inabalável do Homem perfeito.”

E eu perguntei por curiosidade, e ele me disse, “A União é uma monarquia com nada acima dela. É o Deus e Pai do Todo, o sagrado, o invisível, que existe acima do Todo. Aquele que é o Pai de imperecibilidade, existindo como luz pura, dentro da qual nenhum olho consegue olhar.

Ele é o Espírito Invisível. Não é correto pensar Dele como um deus, ou algo similar. Porque Ele supera divindade. É um domínio que não tem nada acima Dele para governá-lo. Porque não há nada existindo antes Dele, nem Ele necessita deles. Ele não necessita de vida. Pois Ele é eterno. Ele não precisa de nada. Ele não pode ser aperfeiçoado, como se Ele fosse deficiente e necessitasse de aprimoramento; pelo contrário, Ele é sempre completamente perfeito. Ele é luz. Ele não pode ser limitado, já que não há nada anterior a Ele para o limitar. Ele é insondável, já que não existe ninguém anterior a Ele para o examinar. Ele é imensurável, porque não há alguém anterior a Ele que possa medi-lo. Ele é invisível, já que ninguém é capaz de visioná-lo. Ele é uma eternidade existindo eternamente. Ele é inefável, já que ninguém foi capaz de compreendê-lo para falar sobre Ele. Ele é inominável, já que não há ninguém anterior a Ele para dar-lhe um nome.

Ele é luz imensurável, o puro, que é sagrado e impoluto. Ele é inefável, sendo incorruptivelmente perfeito. Ele não é perfeição, nem bem-aventurança, nem divindade, pois Ele é algo muito superior a estes. Ele não é indelimitado nem delimitado, mas Ele é algo muito superior a estes. Ele não é corpóreo nem incorpóreo. Ele não é grande nem pequeno. Ele não é uma quantidade. Ele não é uma criatura. Nem é possível que alguém o compreenda. Ele não é algo que pertença ao Todo que existe, pelo contrário, Ele é algo que é melhor do que isso. Não que Ele seja simplesmente superior, como se Ele fosse comparável aos outros, mas Ele é algo que pertence a Si próprio.

Ele não participa em um aeon (como parte constituinte dele). O tempo não existe em relação a Ele. Pois qualquer um que participa em um aeon foi criado. O tempo não foi determinado a Ele, já que Ele não recebe nada de outro que estabelece limites. E Ele não necessita de nada.

Nada do Todo existe antes Dele. Ele é suficiente para si próprio em sua luz perfeita. Porque a perfeição é majestosa. Ele é mente pura imensurável. Ele é um aeon doador-de-aeon. Ele é vida doadora-de-vida. Ele é uma bem-aventurança doadora-de-bem-aventurança. Ele é sabedoria doadora-de-sabedoria. Ele é bondade doadora-de-bondade. Ele é piedade e redenção doadores-de-piedade. Ele é graça doadora-de-graça, não porque ele as tem, mas porque Ele doa a luz imensurável e incompreensível.

Como eu devo falar Dele com você? Ele é um aeon indestrutível, em repouso, existindo em silêncio, em tranquilidade, e sendo anterior a tudo. Pois Ele é o topo de todos os aeons, e é Ele quem os dá força e bondade. Porque nós não conhecemos as coisas inefáveis, e nós não compreendemos o que é imensurável, exceto por aquele que veio Dele, ou seja, do Pai. Pois foi ele quem disse para nós somente. Porque é ele quem se olha na luz que o envolve, isto é, a nascente da água da vida. E é Ele quem doa para todos os aeons, de todos os modos, e que observa sua própria imagem visível na nascente do Espírito. É Ele quem coloca sua vontade na fonte da água-luz pura que o envolve.

E seu pensamento teve uma ação, e ela surgiu, ou seja, aquela que tinha aparecido diante Dele no brilho da sua luz. Este é o primeiro poder que existia antes deles todos, e que veio da mente Dele. Ela é o Pensamento do Todo (Protenoia) – a luz dela brilha como a luz Dele – o poder perfeito, que é a imagem do Espírito puro, invisível, e perfeito. É o primeiro poder, a glória de Barbelo, a glória perfeita nos aeons, a glória da revelação. Ela glorificou o Espírito puro, e foi ela quem o saudou, porque graças a ele, ela havia surgido. Este é o primeiro pensamento, a imagem Dele; ela se tornou o útero de tudo, pois ela que é anterior a todos eles, ela é a Mãe-Pai, o Primeiro Homem, o Espírito sagrado, os três-vezes-macho, os três-vezes-poderosos, o andrógino três-vezes-nomeado, o aeon eterno entre os invisíveis, e o primeiro a vir.

<Ela> pediu para que o Espírito puro invisível a desse previsão. E o Espírito consentiu. E quando ele havia consentido, a previsão veio, e ficou ao lado da presciência; esta origina do pensamento do Espírito puro invisível. A previsão glorificou o Espírito e Barbelo (o poder perfeito dele), porque foi por ela que ele tinha surgido.

E ela pediu novamente para a conceder indestrutibilidade, e ele consentiu. Quando ele havia consentido, a indestrutibilidade veio, e ficou ao lado do pensamento e da presciência. A indestrutibilidade glorificou o Espírito invisível e Barbelo, aquele pelo qual eles haviam surgido.

E ela solicitou que a concedesse vida eterna. E o Espírito invisível consentiu. E quando ele havia consentido, a vida eterna veio, e estes auxiliaram e glorificaram o Espírito invisível e Barbelo, aquele pelo qual eles haviam surgido.

Ela solicitou novamente, para que a concedesse verdade. E o Espírito invisível consentiu. E quando ele havia consentido, a verdade surgiu, e estes auxiliaram e glorificaram o Espírito excelente invisível e Barbelo, aquele pelo qual eles haviam surgido.

Este é o grupo-de-cinco dos aeons do Pai, que é o Primeiro Homem, e que é a imagem do Espírito invisível; a presciência, que é Barbelo, e o pensamento, a previsão, a indestrutibilidade, a vida eterna, e a verdade. Este é o grupo-de-cinco andrógino dos aeons, o qual é o grupo-de-dez dos aeons, que é o Pai.

E ele olhou para Barbelo com a luz pura que envolve o Espírito invisível e com sua centelha. E ela concebeu dele. Ele gerou uma centelha de luz possuindo bem-aventurança. Mas que não o iguala em grandeza. Esta foi uma criança unigênita da Mãe-Pai que tinha vindo; é o fruto único, o unigênito do Pai. A Luz pura.

E o Espírito puro invisível se alegrou pela luz que veio, que surgiu pelo primeiro poder da presciência dele, que é Barbelo. E ele a ungiu com sua bondade até que se tornasse perfeita, não carecendo de qualquer valor, porque ele tinha ungido com a bondade do Espírito invisível. E ela (a luz) o auxiliou quando ele derramou sobre ela. E imediatamente, quando a luz tinha recebido do Espírito, ela glorificou o Espírito sagrado e a presciência perfeita, pela qual ela tinha vindo.

E ela pediu que lhe desse um ajudante, que é a mente, e ele consentiu alegremente. E quando o Espírito havia consentido, a mente veio, e auxiliou Cristo, glorificando ele e Barbelo. E todos estes surgiram no silêncio.

E a mente quis realizar uma ação através da palavra do Espírito invisível. E a vontade dele se tornou uma ação, e apareceu com a mente; a luz o glorificou. E a palavra acompanhou a vontade. Porque pela palavra, Cristo, o Autogenes divino, criou tudo. A vida eterna, a vontade dele, a mente, e a previsão, serviram e glorificaram o Espírito invisível e Barbelo, pelos quais eles haviam surgido.

E o Espírito sagrado completou o Autogenes divino, que é o filho dele, junto com Barbelo, para que ele pudesse auxiliar o Espírito puro invisível e poderoso como o Autogenes divino, o Cristo, a quem ele havia reverenciado com uma voz poderosa. Ele veio pela presciência. E o Espírito puro invisível colocou o Autogenes divino de honestidade acima de tudo. E submeteu a ele toda a autoridade e a verdade que ele possui, para que ele conheça o Todo, que foi aclamado com um nome exaltado acima de todos os nomes. Porque esse nome será mencionado para aqueles que são dignos dele.

Pois pela luz, que é Cristo, e a indestrutibilidade, através da dádiva do Espírito, as quatro luzes apareceram do Autogenes divino. Ele esperou que eles o assistissem. E os três são: vontade, pensamento, e vida. E os quatro poderes são: compreensão, graça, percepção, e prudência. E a graça pertence ao aeon-luz Armozel, que é o anjo de luz no primeiro aeon. E há três outros aeons com este aeon: graça, verdade, e forma.

E a segunda luz é Oriel, que foi colocado sobre o segundo aeon. E há três outros aeons com ele: concepção, percepção, e memória. E a terceira luz é Daveithai, que foi colocado sobre o terceiro aeon. E há três outros aeons com ele: compreensão, amor, e ideia. E o quarto aeon foi colocado sobre a quarta luz Eleleth. E há três outros aeons com ele: perfeição, paz, e sabedoria. Estas são as quatro luzes que assistem o Autogenes divino, e estes são os doze aeons eternos que assistem o filho do poderoso, o Autogenes, o Cristo, através da vontade e da dádiva do Espírito invisível. E os doze aeons pertencem ao filho do Autogenes. E todas as coisas foram estabelecidas pela vontade do Espírito sagrado através do Autogenes.

E pela previsão da mente perfeita, através da revelação da vontade do Espírito invisível, e da vontade do Autogenes, o Homem perfeito apareceu, a primeira revelação, e a verdade. É ele quem o Espírito puro chamou de Pigera-Adamas, e ele o colocou sobre o primeiro aeon com o poderoso, o Autogenes, o Cristo, ao lado da primeira luz de Armozel; e com ele estão seus poderes. E o invisível lhe deu um poder mental imbatível. E ele falou, glorificou, e saudou o Espírito invisível, dizendo, “Foi por ti que tudo surgiu, e tudo retornará para ti. Eu saudarei e glorificarei a ti, o Autogenes, e os aeons, os três: o Pai, a Mãe, e o Filho – o poder perfeito.’

E ele (Adamas) colocou o filho dele, Seth, sobre o segundo aeon, na presença da segunda luz Oriel. E no terceiro aeon, a semente de Seth foi colocada sobre a terceira luz Daveithai. E as almas dos santos foram colocadas lá. E no quarto aeon foram colocadas as almas daqueles que não conhecem o Pleroma, e também aqueles que não se arrependeram imediatamente, mas que persistiram por um tempo e se arrependeram depois; eles estão ao lado da quarta luz Eleleth. Estas são criaturas que glorificam o Espírito invisível.

E a Sofia da Epinoia, sendo um aeon, concebeu um pensamento dela mesma pela concepção do Espírito invisível e pela previsão. Ela queria produzir reinos por conta própria sem o consentimento do Espírito (ele não havia aprovado), sem o cônjuge dela, e sem a apreciação dele. E, embora a pessoa da masculinidade dela não tinha aprovado, e ela não tinha obtido a autorização, e ela havia pensado sem o consentimento do Espírito, mesmo assim ela prosseguiu. E devido ao poder invencível que existe nela, o pensamento dela não permaneceu inativo, e algo que era imperfeito e diferente de sua aparência saiu dela, porque ela havia criado aquilo sem seu cônjuge. E era diferente da aparência da mãe, pois tinha uma outra forma.

E quando ela viu as consequências do seu desejo, aquilo se transformou numa serpente com cabeça de leão. E os olhos dele eram como chamas com clarão. Ela o lançou para fora dela, para fora daquele lugar, para que nenhum dos imortais o visse, porque ela o havia criado em ignorância. E ela o rodeou com uma nuvem luminosa, e ela colocou um trono no meio da nuvem para que ninguém visse exceto pelo Espírito sagrado, que é chamado a mãe dos vivos. E ela o nomeou Yaldabaoth.

Este é o primeiro arconte que tomou um grande poder da mãe dele. E ele se separou dela, e se dirigiu para longe do lugar em que ele tinha nascido. Ele ficou forte, e criou para si outros aeons com uma chama de fogo luminoso que ainda existe hoje. E ele se juntou com a arrogância que existe nele, e gerou autoridades para si. O nome do primeiro é Athoth, a quem as gerações chamam de o ceifeiro. O segundo é Harmas, que é o olho da inveja. O terceiro é Kalila-Oumbri. O quarto é Yabel. O quinto é Adonaios, que é chamado Sabaoth. O sexto é Caim. Aquele a quem as gerações dos homens chamam de sol é o sétimo, Abel. O oitavo é Abrisene. O nono é Yobel. O décimo é Armoupieel. O décimo primeiro é Melceir-Adonein. O décimo segundo é Belias (ou Beliel), é ele quem está acima da profundeza de Hades. E ele colocou sete reis – cada um correspondente aos firmamentos do céu – sobre os sete céus, e cinco sobre as profundezas do abismo, para que eles reinem. E ele compartilhou seu fogo com eles, mas ele não emitiu do poder da luz que ele havia tomado de sua mãe, porque ele é escuridão ignorante.

E quando a luz havia se misturado com a escuridão, ela fez a escuridão brilhar. E quando a escuridão havia se misturado com a luz, ela escureceu a luz e não ficou nem claro nem escuro, mas ficou uma penumbra.

Agora o arconte que é penumbra tem três nomes. O primeiro é Yaldabaoth, o segundo é Saclas, e o terceiro é Samael. E ele é ímpio em sua arrogância. Porque ele disse ‘Eu sou Deus, e não há outro Deus além de mim,’ pois ele é ignorante da força dele, e do lugar de onde ele veio.

E os arcontes criaram sete poderes para eles mesmos, e os poderes criaram para si seis anjos cada um, até se tornarem 365 anjos.

Estes são os nomes das autoridades com seus corpos: o primeiro é Athoth, e ele tem um rosto de ovelha; o segundo é Eloaiou, ele tem um rosto de burro; o terceiro é Astaphaios, ele tem um rosto de hiena; o quarto é Yao, ele tem um rosto de dragão com sete cabeças; o quinto é Sabaoth, ele tem um rosto de serpente (naja); o sexto é Adonin, ele tem um rosto de macaco, o sétimo é Sabbede, ele tem um rosto de fogo brilhante. Estes são os sete da semana.

Mas Yaldabaoth tem muitas faces, mais do que todos eles, para que ele pudesse por uma face diante deles quando ele desejasse, quando ele está no meio dos serafins. Ele compartilhou seu fogo com eles; por isto ele se tornou senhor sobre eles. Por causa da glória e do poder que ele possuía da luz da mãe dele, ele se chamou Deus. E ele não respeitou o lugar de onde ele veio. Ele uniu os sete poderes no seu pensamento com as autoridades que estavam com ele. E quando ele falou, aconteceu. E ele nomeou cada poder, começando pelo mais alto; bondade, com a primeira autoridade, Athoth; previsão com o segundo, Eloaio; divindade com o terceiro, Astaphaio; senhoria com o quarto, Yao; reino com o quinto, Sabaoth; inveja com o sexto, Adonein; compreensão com o sétimo, Sabbateon. E estes têm um firmamento correspondente a cada aeon-céu. Eles foram nomeados de acordo com a glória que pertence ao oitavo céu, para a destruição dos poderes. E havia poder nos nomes que foram dados a eles pelo seu Originador. Mas os nomes que foram dados a eles, de acordo com a glória que pertence ao oitavo céu, significam para eles destruição e impotência. Portanto, eles têm dois nomes.

E tendo criado […] tudo, ele organizou de acordo com o modelo dos primeiros aeons que tinham surgido, para que ele pudesse criá-los como aqueles indestrutíveis. Não porque ele tinha visto aqueles indestrutíveis, mas o poder dentro dele, que ele tinha tomado de sua mãe, produziu nele a aparência do cosmos. E quando ele viu a criação que o rodeava, e a multidão dos anjos em sua volta que tinha vindo através dele, ele disse para eles, ‘Eu sou um Deus ciumento, e não há outro Deus além de mim.’ Mas, anunciando isto, ele indicou aos anjos que o servem que existe outro Deus. Porque se não houvesse outro, de quem ele teria ciúmes?

Então a mãe começou a se mover para lá e para cá. Ela percebeu a deficiência quando o brilho da luz dela diminuiu. E ela ficou escura, porque seu cônjuge não havia concordado com ela.”

E eu disse “Senhor, o que significa ela se moveu para lá e para cá?” Mas ele sorriu e disse, “Não pense que é como Moisés falou, ‘sobre as águas.’ Não, mas quando ela havia visto a perversidade que tinha ocorrido, e o roubo que o filho dela tinha cometido, ela se arrependeu. E ela foi dominada pelo esquecimento da escuridão da ignorância, e ela começou a ficar envergonhada. E ela não ousou retornar, mas ela estava circulando. E a movimentação é o ir para lá e para cá.

E aquele arrogante tomou um poder da mãe dele. Porque ele era ignorante, pensando que não havia outro além da mãe dele. E quando ele viu a multidão dos anjos que ele havia criado, então ele se exaltou acima deles.

E quando a mãe reconheceu que a vestimenta da escuridão era imperfeita, aí ela soube que seu cônjuge não havia concordado. Ela se arrependeu com muito choro. E o pleroma inteiro escutou a oração do arrependimento dela, e em nome dela, eles solicitaram a bênção do Espírito puro invisível. Ele consentiu; e quando o Espírito invisível havia consentido, o Espírito sagrado, a partir do pleroma deles inteiro, derramou a bênção sobre ela. Porque não foi o cônjuge dela que veio, mas ele veio até ela pelo pleroma, para que ele pudesse corrigir a deficiência. E ela foi levada, não para o seu aeon, mas para um lugar mais elevado do que o filho dela, para que ela esteja no nono céu até que ela tenha corrigido sua deficiência.

E uma voz veio do aeon-céu sublime: ‘O Homem existe, e o filho do Homem também.’ E o chefe arconte Yaldabaoth ouviu isto, e achou que a voz tinha vindo da mãe dele. E ele não sabia de onde tinha vindo realmente: a Mãe-Pai perfeita e sagrada, a previsão completa, a imagem do invisível que é o Pai de tudo, e através do qual surgiu tudo, o Primeiro Homem. Porque ele revelou sua aparência numa forma humana.

E o universo inteiro do arconte chefe estremeceu, e os alicerces do abismo balançaram. E o fundo das águas que estão sobre a matéria foi iluminado pelo aparecimento da imagem Dele, que havia sido revelada. E quando todas as autoridades e o arconte chefe olharam, eles viram a região inteira do fundo que estava iluminada. E, através da luz, eles viram a forma da imagem na água.

E ele disse para as autoridades que o servem, ‘Venham, vamos criar um homem de acordo com a imagem de Deus e de acordo com a nossa forma, para que a imagem dele se torne uma luz para nós.’ E eles criaram, por meio de seus respectivos poderes, de acordo com as características que foram dadas. E cada autoridade forneceu uma característica nos moldes da imagem que eles tinham visto na forma natural. Eles criaram um ser segundo a aparência do Primeiro Homem perfeito. E eles disseram, ‘Vamos chamá-lo de Adão, para que o nome dele se torne um poder de luz para nós.’

E os poderes começaram: o primeiro, bondade, criou uma alma-osso; e o segundo, previsão, criou uma alma-nervo; o terceiro, divindade, criou uma alma-carne; e o quarto, senhoria, criou uma alma-medula; o quinto, reino, criou uma alma-sangue; o sexto, inveja, criou uma alma-pele, o sétimo, compreensão, criou uma alma-cabelo. E a multidão de anjos o ajudou, e eles receberam dos poderes as sete substâncias da forma natural para criar as proporções dos membros, a proporção do quadril, e o funcionamento correto do conjunto de cada uma das partes.

O primeiro começou a criar a cabeça. Eteraphaope-Abron criou a cabeça dele; Meniggesstroeth criou o cérebro; Asterechme (criou) o olho direito; Thaspomocha, o olho esquerdo; Yeronumos, a orelha direita; Bissoum, a orelha esquerda; Akioreim, o nariz; Banen-Ephroum, os lábios; Amen, os dentes; Ibikan, os molares; Basiliademe, as amídalas; Achcha, a úvula; Adaban, o pescoço; Chaaman, a vértebra; Dearcho, a garganta; Tebar, o ombro direito; […], o ombro esquerdo; Mniarcon, o cotovelo direito; […], o cotovelo esquerdo; Abitrion, a axila direita; Evanthen, a axila esquerda; Krys, a mão direita; Beluai, a mão esquerda; Treneu, os dedos da mão direita; Balbel, os dedos da mão esquerda; Kriman, as unhas dos dedos; Astrops, o seio direito; Barroph, o seio esquerdo; Baoum, a articulação do ombro direito; Ararim, a articulação do ombro esquerdo; Areche, a barriga; Phthave, o umbigo; Senaphim, o abdome; Arachethopi, as costelas da direita; Zabedo, as costelas da esquerda; Barias, o quadril direito; Phnouth o quadril esquerdo; Abenlenarchei, a medula; Chnoumeninorin, os ossos; Gesole, o estômago; Agromauna, o coração; Bano, os pulmões; Sostrapal, o fígado; Anesimalar, o baço; Thopithro, os intestinos; Biblo, os rins; Roeror, os nervos; Taphreo, a espinha do corpo; Ipouspoboba, as veias; Bineborin, as artérias; Atoimenpsephei, os seus são as respirações que estão em todos os membros; Entholleia, toda a carne; Bedouk, a nádega direita; Arabeei, o pênis; Eilo, os testículos; Sorma, os genitais; Gorma-Kaiochlabar, a coxa direita; Nebrith, a coxa esquerda; Pserem, os rins (músculos?) da perna direita; Asaklas, o rim (músculo) esquerdo; Ormaoth, a perna direita; Emenun, a perna esquerda; Knyx, a tíbia direita; Tupelon, a tíbia esquerda; Achiel, o joelho direito; Phnene, o joelho esquerdo; Phiouthrom, o pé direito; Boabel, os dedos do pé direito; Trachoun, o pé esquerdo; Phikna, os dedos do pé esquerdo; Miamai, as unhas dos pés; Labernioum – .

E aqueles que foram designados sobre todos estes são: Zathoth, Armas, Kalila, Jabel, (Sabaoth, Caim, Abel). E aqueles que são especialmente ativos nos membros (são) a cabeça Diolimodraza, o pescoço Yammeax, o ombro direito Yakouib, o ombro esquerdo Verton, a mão direita Oudidi, a mão esquerda Arbao, os dedos da mão direita Lampno, os dedos da mão esquerda Leekaphar, o seio direito Barbar, o seio esquerdo Imae, o peito Pisandriaptes, a articulação do ombro direito Koade, a articulação do ombro esquerdo Odeor, as costelas da direita Asphixix, as costelas da esquerda Synogchouta, a barriga Arouph, o útero Sabalo, a coxa direita Charcharb, a coxa esquerda Chthaon, todos os genitais Bathinoth, a perna direita Choux, a perna esquerda Charcha, a tíbia direita Aroer, a tíbia esquerda Toechtha, o joelho direito Aol, o joelho esquerdo Charaner, o pé direito Bastan, os dedos do pé direito Archentechtha, o pé esquerdo Marephnounth, os dedos do pé esquerdo Abrana.

Sete possuem poder sobre todos estes: Michael, Ouriel, Asmenedas, Saphasatoel, Aarmouriam, Richram, Amiorps. E aqueles que estão no comando dos sentidos (são) Archendekta; e aquele que está no comando das recepções é Deitharbathas; e aquele que está no comando da imaginação é Oummaa; e aquele que está sobre a composição é Aachiaram, e aquele que está sobre todo o impulso é Riaramnacho.

A origem dos quatro demônios que estão no corpo todo são: calor, frio, umidade e secura. E a mãe de todos eles é a matéria. Aquele que reina sobre o calor é Phloxopha; aquele que reina sobre o frio é Oroorrothos; aquele que reina sobre o que é seco é Erimacho; e aquele que reina sobre a umidade é Athuro. A mãe de todos estes, Onorthochrasaei, fica entre eles, já que ela é ilimitável, e ela se mistura com todos eles. E ela é verdadeiramente material, pois eles são nutridos por ela.

Os quatro chefes demônios são: Ephememphi, que pertence ao prazer, Yoko, que pertence ao desejo, Nenentophni, que pertence à tristeza, Blaomen, que pertence ao medo. E a mãe deles todos é Aesthesis-Ouch-Epi-Ptoe. E dos quatro demônios surgiram paixões. E da tristeza vieram: inveja, ciúmes, incômodo, aborrecimento, dor, insensibilidade, ansiedade, lamentação, etc. E do prazer surge muita perversidade, orgulho vazio, e coisas similares. Do desejo vem raiva, fúria, amargura, paixão amarga, insaciabilidade, e coisas similares. Do medo vem temor, adulação, agonia, e vergonha. Todas estas são como coisas úteis e também coisas más. No entanto, a percepção profunda do caráter verdadeiro delas é Anaro, que é a cabeça da alma material. Porque ela pertence aos sete sentidos, Ouch-Epi-Ptoe.

Este é o número dos anjos: juntos eles são 365. Eles todos trabalharam nisto até que, membro a membro, o corpo material e natural foi concluído. Agora há outros no comando das paixões restantes, os quais eu não mencionei a você. Mas se você quiser conhecê-los, está escrito no livro de Zoroaster (Zostrianos?). E todos os anjos e demônios trabalharam até que eles haviam construído o corpo natural. E o produto deles ficou completamente inativo e imóvel por um longo tempo.

E quando a mãe quis reaver o poder que ela havia dado ao arconte chefe, ela fez uma petição à Mãe-Pai do Todo, que é muitíssimo misericordioso. Ele enviou, por meio do decreto sagrado, as cinco luzes abaixo para o universo dos anjos e do arconte chefe. Eles o aconselharam que eles deveriam acionar o poder da mãe. E eles disseram para Yaldabaoth, ‘Assopre no rosto dele algo do seu espírito, e o corpo dele se erguerá.’ E ele soprou no rosto dele o espírito que é o poder da mãe dele, mas ele não sabia disto, pois ele existe na ignorância. E o poder da mãe saiu de Yaldabaoth e entrou no corpo natural, o qual eles haviam produzido segundo a imagem daquele que existe desde o início. O corpo se moveu e ganhou força, e era luminoso.

E naquele momento, os restantes dos poderes ficaram com ciúmes, porque ele havia surgido deles todos, e eles haviam dado poder ao homem, e a inteligência dele era maior do que a daqueles que o haviam criado. Maior do que a do arconte chefe. E quando eles reconheceram que ele era luminoso, que ele podia pensar melhor do que eles, e que ele estava livre da perversidade, eles o tomaram e o jogaram na região mais baixa de toda a matéria.

Mas O abençoado, a Mãe-Pai, O misericordioso e beneficente, teve misericórdia do poder da mãe que havia vindo do arconte chefe, pois eles (os arcontes) podiam ganhar força sobre o corpo natural e perceptível. E ele enviou, através do Espírito beneficente dele e de sua grande misericórdia, um ajudante para Adão, a Epinoia luminosa que surge dele, que se chama Vida. E ela auxilia a criação inteira, trabalhando com ele e o restaurando à sua totalidade. Ela o instrui sobre a descida da sua semente e sobre o caminho da ascensão, que é o caminho que ele veio para baixo. E a Epinoia luminosa estava escondida em Adão, para que os arcontes não a conhecessem, mas para que a Epinoia pudesse ser uma correção da deficiência da mãe.

E o homem veio por causa da sombra da luz que está nele. E o raciocínio dele era superior a todos aqueles que o haviam feito. Quando eles verificaram, eles viram que o raciocínio dele era superior. E eles consultaram a ordem inteira de arcontes e anjos. Eles pegaram fogo e terra e água e misturaram com os quatro ventos flamejantes. E eles os forjaram em conjunto, e causaram uma grande perturbação. E eles trouxeram ele (Adão) para dentro da sombra da morte, para que eles o formassem novamente pela terra, água, fogo, e o espírito que origina na matéria (o qual é a ignorância da escuridão e do desejo), e o espírito falsificado deles. Esta é a tumba do corpo recém-formado com a qual os ladrões haviam vestido o homem, o laço do esquecimento; e ele se tornou um homem mortal. Este é o primeiro que desceu, e a primeira separação. Mas a Epinoia da luz que estava dentro dele, ela é que iria despertar o raciocínio dele.

E os arcontes o pegaram e o colocaram no paraíso. E eles disseram para ele, ‘Coma sem se preocupar,’ pois a luxúria deles é amarga, e a beleza deles é depravada. A luxúria deles é enganação, e as árvores deles são ateísmo, a fruta deles é um veneno mortal, e a promessa deles é a morte. A árvore da vida deles, eles haviam colocado no centro do paraíso.

E eu irei ensinar a vocês qual é o mistério da vida deles, que é o plano que eles fizeram juntos, que é a aparência do espírito deles. A raiz desta árvore é amarga, e seus galhos são morte, sua sombra é ódio, e a enganação está em suas folhas. Sua florescência é o unguento do mal, e sua fruta é morte. Desejo é a sua semente, e ela germina em escuridão. A morada daqueles que provam dela é Hades, e a escuridão é o lugar de repouso deles.

Mas o que eles chamam de árvore da sabedoria do bem e do mal, que é a Epinoia da luz, eles ficaram na frente dela para que ele (Adão) não pudesse ver sua plenitude e reconhecer a nudez de sua infâmia. Mas fui eu quem propiciou que eles comessem.”

E eu falei para o salvador, “Senhor, não foi a serpente que ensinou Adão a comer?” O salvador sorriu e disse, “A serpente ensinou eles a comer da perversidade da procriação, do desejo sexual, e da destruição, para que Adão pudesse ser útil para ele. E Adão sabia que ele tinha sido desobediente ao arconte chefe, devido à luz da Epinoia que está dentro dele, a qual o fez mais correto no seu raciocínio do que o arconte chefe. E o arconte queria incitar o poder que ele mesmo tinha dado para Adão. E ele trouxe um esquecimento sobre Adão.”

E eu disse ao salvador, “O que é o esquecimento?” E ele disse “Não é como Moisés escreveu e como você ouviu. Porque ele disse no primeiro livro dele, ‘Ele o colocou para dormir’ (Gn 2:21), mas foi apenas na percepção dele. Pois ele também disse através do profeta, ‘Eu tornarei pesado os corações deles, para que eles não prestem atenção e não vejam’ (Is 6:10).

Então a Epinoia da luz se escondeu em Adão. E o arconte chefe queria tirá-la da costela dele. Mas a Epinoia da luz não pode ser agarrada. Embora a escuridão a perseguiu, ela não a pegou. E ele retirou uma parte do poder dele. E ele fez uma outra criatura, na forma de uma mulher, de acordo com a aparência da Epinoia que havia aparecido em Adão. E ele pegou a parte que ele havia tomado do poder do homem, e pôs na criatura fêmea, e não como Moisés falou, ‘ele pegou uma costela e fez a mulher.’

E Adão viu a mulher ao lado dele. E naquele momento a Epinoia luminosa apareceu, e ela removeu o véu que cobria a mente dele. E ele ficou sóbrio da embriaguez da escuridão. Ele reconheceu sua contraparte e disse, ‘Esta é de fato um pedaço de mim e possui a minha semelhança.’ O mistério disso é o seguinte: para adquirir a sua contraparte espiritual o homem deverá rejeitar a união carnal com as criaturas mortais, assim sua consciência despertará, e a partir do reino invisível ele receberá a sua cônjuge, então os dois serão um único ser. Pois os dignos receberão a sua ajudante, e eles deixarão os costumes dos seus pais e suas mães … (3 linhas ilegíveis)

E nossa irmã Sofia, é ela quem desceu em inocência para retificar a deficiência. Portanto, ela foi chamada Vida, porque é a mãe dos vivos, pela previsão da soberania do oitavo céu. E através dela, eles provaram da Sabedoria perfeita. Eu apareci na forma de uma águia na árvore da sabedoria, que é a Epinoia da previsão da luz pura, para que eu pudesse instruir e acordá-los para fora da profundeza do sono. Porque eles dois estavam em um estado decaído, e eles reconheceram sua nudez. A Epinoia apareceu para eles como luz; ela despertou o raciocínio deles.

E quando Yaldabaoth percebeu que eles se afastaram dele, ele amaldiçoou a sua terra. Ele encontrou a mulher quando ela estava se preparando para o marido dela. Ele entregou a mulher para que o homem fosse dono dela, porque ele não sabia o mistério que tinha se passado através do decreto sagrado. E eles estavam com medo de renegar Yaldabaoth. E ele demonstrou a seus anjos a ignorância que está dentro dele. Ele os expulsou (Adão e Eva) do paraíso, e os vestiu com escuridão lúgubre. E o arconte chefe viu a virgem que estava com Adão, e viu que a Epinoia luminosa de vida havia aparecido nela. E Yaldabaoth estava cheio de ignorância. Quando a previsão do Todo percebeu o que iria acontecer, ela enviou alguns assistentes, e eles removeram Vida Divina de Eva.

E o arconte chefe a seduziu, e ela gerou dois filhos; o primeiro e o segundo são Eloim e Yave. Eloim tem um rosto de urso, e Yave tem um rosto de gato. Um é justo e o outro é injusto. (Yave é justo, mas Eloim é injusto.) Ele colocou Yave no comando do fogo e do vento, e Eloim ele colocou no comando da água e da terra. E estes ele chamou de Caim e Abel, com a intenção de enganar.

Agora, até os dias de hoje, a prática sexual continuou devido ao arconte chefe. E ele incitou desejo de procriação naquela que pertence a Adão. E ele produziu as cópias dos corpos através da relação, e os inspirou com seu espírito falsificado.

Então Sabaoth colocou os dois arcontes no poder supremo, para que eles governassem sobre a tumba (corpo). E quando Adão reconheceu a aparência da sua própria previsão, ele gerou a aparência do filho do homem. Ele o chamou de Seth, de acordo com aquele da raça nos grandes aeons. Do mesmo modo, a mãe também enviou para baixo o espírito dela (que é a sua aparência), e uma cópia daqueles que estão no pleroma, pois ela preparou uma habitação para os aeons que desceram. E ele os fez beber beber da água do esquecimento, do arconte chefe, para que eles não saibam de onde eles vieram. Deste modo a semente permaneceu por um tempo, para que quando o Espírito vier dos aeons sagrados, o Espírito possa os erguer e curar a deficiência. Para que o pleroma inteiro se torne sagrado e perfeito novamente.

E eu disse para o salvador, “Senhor, então todas as almas serão trazidas com segurança para dentro da luz pura?” Ele respondeu e me disse, “Coisas grandiosas surgiram em sua mente, porque é difícil explicar elas para outros, exceto àqueles que são da raça inalterável. Aqueles em quem descerá o Espírito de vida, e com quem ele permanecer com o poder, eles serão salvos, e se tornarão perfeitos e dignos da grandeza. Eles serão purificados de toda a perversidade e envolvimentos com o mal naquele lugar. Então eles não têm outra preocupação senão a incorruptibilidade apenas, para a qual eles direcionam a atenção deles daqui por diante, sem medo, raiva, inveja, ciúmes, desejo, ou ganância por nada. Eles não são afetados por nada exceto apenas pelo estado de espírito na carne, a qual eles suportam enquanto esperam ansiosamente pela hora em que eles se encontrarão com os destinatários (do corpo). Estes então são dignos da vida eterna, incorruptível, e do chamado. Pois eles resistem a tudo e suportam tudo, para que eles possam terminar a boa luta e herdar a vida eterna.”

Eu disse a ele, “Senhor, as almas daqueles que não fizeram os trabalhos, mas aos quais o poder do Espírito desceu, eles serão rejeitados?” Ele respondeu e me disse, “Se o Espírito desceu sobre eles, de qualquer modo eles serão salvos, e eles se tornarão melhores. Pois o poder irá descer sobre todos os eleitos, porque sem ele ninguém consegue se manter puro. E após eles nascerem, então, quando o espírito de vida aumenta, e o poder vem e fortalece aquela alma, ninguém consegue desencaminhá-la com trabalhos do mal. Mas naqueles que o espírito falsificado descer, estes são compelidos por ele, e se desencaminham.”

E eu disse, “Senhor, aonde irão as almas destes quando eles tiverem saído da carne?” E ele sorriu e me disse, “A alma na qual o poder se tornar maior do que o espírito falsificado, é forte e ela escapa do mal, e através da intervenção do incorruptível, ela é salva, e é levada para cima, para o repouso dos aeons.”

E eu disse, “Senhor, aqueles que, pelo contrário, não souberam a quem eles pertencem, onde estarão as almas deles?” E ele me disse, “Nesses, o espírito desprezível ganhou força quando eles se desencaminharam. E ele atormenta a alma, e a atrai para os trabalhos do mal. Ele joga a alma no esquecimento. E após ela deixar o corpo, ela é entregue para as autoridades que vieram pelo arconte, e eles a prendem com correntes e a jogam na prisão novamente. Eles a acompanham até que ela se liberte do esquecimento e ganhe sabedoria. E se então ela se tornar perfeita, ela é salva.”

E eu disse, “Senhor, como a alma pode ficar menor e retornar para dentro da natureza da mãe dela, ou dentro do homem?” Então ele se alegrou quando eu perguntei isto, e me disse, “Realmente você é abençoado, porque você entendeu! Aquela alma é feita para seguir uma outra em quem está o Espírito de vida. Ela é salva através dele. Portanto, não é novamente jogada dentro de outra carne.”

E eu disse, “Senhor, aqueles que compreenderam, mas mesmo assim se desviaram, aonde irão as almas deles?” Então ele me disse, “Eles serão levados para aquele lugar onde os anjos da pobreza vão, o lugar onde não há arrependimento. E eles serão detidos para o dia em que serão torturados aqueles que blasfemaram o espírito, e eles serão punidos com punição eterna.”

E eu disse, “Senhor, de onde vem o espírito falsificado?” Então ele me disse, “A Mãe-Pai que é rica em misericórdia, o Espírito sagrado em todos os sentidos, Aquele que é misericordioso e que simpatiza com vocês, a Epinoia da previsão da luz, ela fortaleceu a descendência da raça perfeita, junto com seu raciocínio e a luz eterna do homem. Quando o arconte chefe percebeu que eles eram mais elevados do que ele – e eles superavam o raciocínio dele – ele então quis sabotar o raciocínio deles, sem saber que eles o superavam em raciocínio, e que ele não seria capaz de capturá-los.

Ele planejou com as autoridades que são seus poderes, e eles juntos cometeram adultério com Sofia, e a pobreza amarga foi gerada através deles. Esta é a principal forma de dominação. A necessidade varia de acordo com o lugar e a época. Ela é mais resistente e mais forte do que aquela com quem os deuses se uniram, e do que os anjos, e os demônios, e todas as gerações, até hoje. Porque através da necessidade veio cada ato imoral, e injustiça, blasfêmia, e a corrente do esquecimento e da ignorância, e cada ordem rígida, e ofensas graves, e grandes medos. Deste modo, a criação inteira foi aprisionada, para que eles não conhecessem o Deus Eterno, que está acima de todos eles. E por causa da corrente do esquecimento, as ofensas deles foram escondidas. Pois eles estão presos a medidas, e tempos, e momentos, já que a necessidade governa sobre tudo.

E o arconte chefe se arrependeu de tudo o que tinha surgido através dele. Desta vez ele planejou trazer um dilúvio sobre o trabalho do homem. Mas a grandiosidade da luz da previsão informou Noé, e ele proclamou para todos os descendentes que eram filhos dos humanos. Mas aqueles que eram estranhos a ele não deram ouvidos. Não foi como Moisés falou, ‘Eles se esconderam numa arca’ (Gn 7: 7), mas eles se esconderam num lugar, não apenas Noé, mas também muitas outras pessoas da raça inalterável. Eles entraram num lugar, e se esconderam numa nuvem luminosa. E Noé reconheceu sua autoridade, e aquela que pertence à luz estava com ele, tendo brilhado sobre eles, porque o arconte chefe havia trazido escuridão sobre toda a terra.

E o arconte planejou com seus poderes. Ele mandou seus anjos para as filhas dos homens, para que eles tomassem algumas delas para si mesmos e gerassem filhos para diversão própria. E primeiramente eles não conseguiram. Quando eles falharam, eles se reuniram novamente e fizeram um plano juntos. Eles criaram um espírito falsificado, que se parece com o Espírito que havia descido, com o intuito de poluir as almas através dele. E os anjos se transformaram de suas aparências para a aparência dos cônjuges delas (as filhas dos homens), preenchendo elas com o espírito da escuridão (que eles haviam misturado para si), e com o mal. Eles trouxeram ouro, prata, e um presente, e cobre, e ferro, e metal, e todos os tipos de coisas materiais. E eles conduziram as pessoas que os haviam seguido para grandes aborrecimentos, desencaminhando elas com muitas ilusões. Elas (as pessoas) envelheceram amarguradas, pois elas trabalharam incansavelmente até o fim de suas vidas e não encontraram o repouso. Elas morreram sem ter encontrado a verdade, e sem conhecer o Deus da verdade. E deste modo, a criação inteira foi escravizada para sempre, desde a fundação do mundo até agora. E eles tomaram mulheres, e geraram crianças, através da escuridão, com a aparência do espírito. E eles fecharam seus corações, e eles se endureceram pela rudeza do espírito falsificado, até hoje.

Eu, portanto, a Pronoia perfeita do todo, me transformei na minha semente, pois eu existia antes, caminhando por cada estrada. Porque eu sou a abundância da luz; Eu sou a lembrança do pleroma.

E eu entrei no reino da escuridão e resisti, até que cheguei ao centro da prisão. Os céus do caos estremeceram. E eu me escondi por causa da perversidade deles, e eles não me reconheceram.

Eu voltei novamente uma segunda vez, e prossegui. Eu vim daqueles que pertencem à luz, que sou eu, a lembrança da Pronoia. Eu entrei no meio da escuridão e dentro de Hades, já que eu buscava completar minha tarefa. E os céus do caos estremeceram, para que eles caíssem sobre aqueles que estão no caos e os destruíssem. E novamente eu corri para a minha raiz de luz, para que eles não fossem destruídos antes do tempo.

Ainda por uma terceira vez eu fui – eu sou a luz que existe na luz, eu sou a lembrança da Pronoia – para que eu pudesse entrar no centro da escuridão e no centro de Hades. E eu enchi meu rosto com a luz, contemplando o fim do universo deles. E eu entrei no meio da prisão, que é a prisão do corpo. E eu disse, ‘Aquele que escuta, que se levante do sono profundo.’ E ele chorou e derramou lágrimas. Lágrimas amargas ele derramou e disse, ‘Quem é que chama meu nome, e de onde veio esta esperança até mim, enquanto eu estou nas correntes da prisão?’ E eu disse, ‘Eu sou a pronoia da luz pura; eu sou o raciocínio do Espírito puro, que te elevou para o lugar digno. Se levante, e lembre que foi você quem ouviu. Siga sua raiz, que sou eu, o misericordioso, e se resguarde contra os anjos da pobreza, e os demônios do caos, e todos aqueles que te seduzem. Tenha cuidado com o sono profundo, e com a opressão de dentro de Hades.

Eu o ergui, e o selei com cinco selos na luz da água, para que a morte não tivesse poder sobre ele daqui por diante.

E veja, agora eu devo retornar para o aeon perfeito. Eu completei tudo para você em sua audição. E eu te disse tudo, para que você escreva e dê secretamente para seus espíritos companheiros, pois este é o mistério da raça inalterável.”

E o salvador apresentou estas coisas a ele, para que ele escrevesse e guardasse em segurança. E disse, “Amaldiçoados sejam todos aqueles que trocarão estas coisas por um presente, ou comida, ou bebida, ou roupas, ou qualquer outra coisa do tipo.” E estas são as coisas que ele apresentou a João em um mistério, e imediatamente ele desapareceu. E João foi até seus companheiros discípulos, e relatou a eles o que o salvador havia lhe contado.

Jesus Cristo, Amém.

Apócrifo de acordo com João.

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Fonte:

Apócrifo de João (versão longa). Biblioteca de Nag Hammadi. Tradução por: http://misteriosantigos.50webs.com. Mistérios Antigos, 2015. <https://web.archive.org/web/20200220170351/http://misteriosantigos.50webs.com/apocrifo-de-joao.html>. Acesso em 16 de março de 2022.

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

 

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Postagem original feita no https://mortesubita.net/jesus-freaks/apocrifo-de-joao-versao-longa/

As Estâncias de Dzyan

ESTÂNCIA I

1. O Eterno Pai, envolto em suas Sempre Invisíveis Vestes, havia adormecido uma vez mais durante Sete Eternidades.

2. O Tempo não existia, porque dormia no Seio Infinito da Duração.

3. A Mente Universal não existia, porque não havia Ah-hi para contê-la.

4. Os Sete Caminhos da Felicidade não existiam. As Grandes Causas da Desgraça não existiam, porque não havia ninguém que as produzisse e fosse por elas aprisionado.

5. Só as trevas enchiam o Todo Sem Limites. porque Pai. Mãe e Filho eram novamente Um, e o Filho ainda não havia despertado para a Nova Roda e a Peregrinação por ela.

6 . Os Sete Senhores Sublimes e as Sete Verdades haviam cessado de ser; e o Universo, filho da Necessidade, estava mergulhado em Paranishpanna, para ser expirado por aquele que é e todavia não é. Nada existia.

7. As Causas da Existência haviam sido eliminadas; o Visível, que foi, e o Invisível, que é, repousavam no Eterno Não-Ser – o Único Ser.

8. A Forma Una de Existência, sem limites, infinita, sem causa, permanecia sozinha, em um Sono sem Sonhos; e a Vida pulsava inconsciente no Espaço Universal, em toda a extensão daquela Onipresença que o Olho Aberto de Dangma percebe.

9. Onde, porém, estava Dangma quando o Alaya do Universo se encontrava em Paramârtha, e a Grande Roda era Anupâdaka?

ESTÂNCIA II

1. …Onde estavam os Construtores, os Filhos Resplandecentes da Aurora do Manvantara? …Nas Trevas Desconhecidas, em seu Ah-hi Paranishpanna. Os Produtores da Forma, tirada da Não-Forma, que é a Raiz do Mundo, Devamâtri e Svabhâvat, repousavam na felicidade do Não-Ser.

2. …Onde estava o Silêncio? Onde os ouvidos para percebê-lo? Não; não havia Silêncio nem Som: nada, a não ser o Incessante Sopro Eterno, para si mesmo ignoto.

3. A Hora ainda não havia soado; o Raio ainda não havia brilhado dentro do Germe; a Matripâdma ainda não entumecera.

4. Seu Coração ainda não se abrira para deixar penetrar o Raio Único e fazê-lo cair em seguida, como Três em Quatro, no Regaço de Mâyâ.

5. Os Sete não haviam ainda nascido do Tecido de Luz. O Pai-Mãe, Svabhâvat, era só Trevas; e Svabhâvat jazia nas Trevas.

6. Estes Dois são o Germe, e o Germe é Uno. O Universo ainda estava oculto no Pensamento Divino e no Divino Seio.

ESTÂNCIA III

1. …A última Vibração da Sétima Eternidade palpita através do Infinito. A Mãe entumece e se expande de dentro para fora, como o Botão de Lótus.

2. A Vibração se propaga, e suas velozes Asas tocam o Universo inteiro e o Germe que mora nas Trevas; as Trevas que sopram sobre as adormecidas Águas da Vida.

3. As Trevas irradiam a Luz, e a Luz emite um Raio solitário sobre as Águas e dentro das Entranhas da Mãe. O Raio atravessa o Ovo Virgem; faz o Ovo Eterno estremecer, e desprende o Germe não Eterno, que se condensa no Ovo do Mundo.

4. Os Três caem nos Quatro. A Essência Radiante passa a ser Sete interiormente e Sete exteriormente. O Ovo Luminoso, que é Três em si mesmo, coagula-se e espalha os seus Coágulos brancos como o leite por toda a extensão das Profundezas da Mãe: a Raiz que cresce nos Abismos do Oceano da Vida.

5. A Raiz permanece, a Luz permanece, os Coágulos permanecem; e, não obstante, Oeaohoo é Uno.

6. A Raiz ela Vida estava em cada Gota do Oceano da Imortalidade, e o Oceano era Luz Radiante, que era Fogo, Calor e Movimento. As Trevas se desvaneceram, e não existiram mais: sumiram-se em sua própria Essência, o Corpo de Fogo e Água, do Pai e da Mãe.

7. Vê, ó Lanu! o Radiante Filho dos Dois, a Glória refulgente e sem par: o Espaço Luminoso, Filho do Negro Espaço, que surge das Profundezas das Grandes Águas Sombrias. É Oeaohoo, o mais Jovem, o ***. Ele brilha como o Sol. Ê o Resplandecente Dragão Divino da Sabedoria. O Eka [1] é Chatur, e Chatur toma para si Tri, e a união produz Sapta, no qual estão os Sete, que se tornam o Tridasha, os Exércitos e as Multidões. Contempla-o levantando o Véu e desdobrando-o de Oriente a Ocidente. Ele oculta o Acima, e deixa ver o Abaixo como a Grande Ilusão. Assinala os lugares para os Resplandecentes, e converte o Acima num Oceano de Fogo sem praias, e o Uno Manifestado nas Grandes Águas.

8. Onde estava o Germe, onde então se encontravam as Trevas? Onde está o Espírito da Chama que arde em tua Lâmpada, ó Lanu ? O Germe é Aquilo, e Aquilo é a Luz, O Alvo e Refulgente Filho do Pai Obscuro e Oculto.

9. A Luz é a Chama Fria, e a Chama é o Fogo, e o Fogo produz o Calor, que dá a Água – a Água da Vida na Grande Mãe.

10. O Pai-Mãe urde uma Tela, cujo extremo superior está unido ao Espírito, Luz da Obscuridade Única, e o inferior à Matéria, sua Sombra. A Tela é o Universo, tecido com as Duas Substâncias combinadas em Uma, que é Svabhâvat.

11. A Tela se distende quando o Sopro do Fogo a envolve; e se contrai quando tocada pelo Sopro da Mãe. Então os Filhos se separam, dispersando-se, para voltar ao Seio de sua Mãe no fim do Grande Dia, tornando-se de novo uno com ela. Quando esfria, a Tela fica radiante. Seus Filhos se dilatam e se retraem dentro de Si mesmos e em seus Corações; elas abrangem o Infinito.

12. Então Svabhâvat envia Fohat para endurecer os Átomos. Cada qual é uma parte da Tela. Refletindo o “Senhor Existente por Si Mesmo” como um Espelho, cada um vem a ser, por sua vez, um Mundo.

ESTÂNCIA IV

1. …Escutai, ó Filhos da Terra. Escutai os vossos Instrutores, os Filhos do Fogo. Sabei: não há nem primeiro nem último; porque tudo é Um Número que procede do Não-Número.

2. Aprendei o que nós, que descendemos dos Sete Primeiros, nós, que nascemos da Chama Primitiva, temos aprendido de nossos Pais…

3. Do Resplendor da Luz – o Raio das Trevas Eternas – surgem no Espaço as Energias despertadas de novo; o Um do Ovo, o Seis e o Cinco. Depois o Três, o Um, o Quatro, o Um, o Cinco, o duplo Sete, a Soma Total. E estas são as Essências, as Chamas, os Construtores, os Números, os Arupa, os Rupa e a Força ou o Homem Divino, a Soma Total. E do Homem Divino, a Soma Total. E do Homem Divino emanaram as Formas, as Centelhas, os Animais Sagrados e os Mensageiros dos Sagrados Pais dentro do Santo Quatro.

4. Este foi o Exército da Voz, a Divina Mãe dos Sete. As Centelhas dos Sete são os súditos e os servidores do Primeiro, do Segundo, do Terceiro, do Quarto, do Quinto, do Sexto e do Sétimo dos Sete. Estas Centelhas são chamadas Esferas, Triângulos, Cubos, Linhas e Modeladores; por- que deste modo se conserva o Eterno Nidâna – o Oi-Ha-Hou.

5. O Oi-Ha-Hou – as Trevas, o Sem Limites, ou o Não-Número, Adi-Nidâna, Svabhâvat, o O:

I. O Adi-Sanat, o Número; porque ele é Um.

II. A Voz da Palavra, Svabhâvat, os Números; porque ele é Um e Nove.

III. O “Quadrado sem Forma”.

E estes Três, encerrados no O, são o Quatro Sagrado; e os Dez são o Universo Anlpa. Depois vêm os Filhos, os Sete Combatentes, o Um, o Oitavo excluído, e seu Sopro, que é o Artífice da Luz.

6. . . . Em seguida, os Segundos Sete, que são os Lipika, produzidos pelos Três. O Filho excluído é Um. Os “Filhos-Sóis” são inumeráveis.

ESTÂNCIA V

1. Os Sete Primordiais, os Sete Primeiros Sopros do Dragão de Sabedoria, produzem por sua vez o Torvelinho de Fogo com os seus Sagrados Sopros de Circulação giratória.

2. Dele fazem o Mensageiro de sua Vontade. O Dzyu converte-se em Fohat; o Filho veloz dos Filhos Divinos, cujos Filhos são os Lipika, leva mensagens circulares. Fohat é o Corcel, e o Pensamento, o Cavaleiro. Ele passa como um raio através de nuvens de fogo; dá Três, Cinco e Sete Passos através das Sete Regiões Superiores e das Sete Inferiores. Ergue a sua Voz para chamar as Centelhas inumeráveis e as reúne.

3. Ele é o seu condutor, o espírito que as guia. Ao iniciar a sua obra, separa as Centelhas do Reino Inferior, que se agitam e vibram de alegria em suas radiantes moradas, e com elas forma os Germes das Rodas. Colocando-as nas Seis Direções do Espaço, deixa uma no Centro: a Roda Central.

4. Fohat traça linhas espirais para unir a Sexta à Sétima – a Coroa. Um Exército dos Filhos da Luz situa-se em cada um dos ângulos; os Lipika ficam na Roda Central. Dizem eles: “Isto é bom.” O primeiro Mundo Divino está pronto; o Primeiro, o Segundo. Então o “Divino Arupa” se reflete no Chhâyâ Loka, a Primeira Veste de Anupâdaka.

5. Fohat dá cinco passos, e constrói uma roda alada em cada um dos ângulos do quadrado para os Quatro Santos… e seus Exércitos.

6. Os Lipika circunscrevem o Triângulo, o Primeiro Um, o Cubo, o Segundo Um e o Pentágono dentro do Ovo. É o Anel chamado “Não Passarás”, para os que descem e sobem; para os que, durante o Kalpa, estão marchando para o Grande Dia “Sê Conosco”… Assim foram formados os Arupa e os Rupa: da Luz Única, Sete Luzes; de cada uma das Sete, sete vezes Sete Luzes. As Rodas velam pelo Anel. . .

ESTANCIA VI

1. Pelo poder da Mãe de Misericórdia e Conhecimento, Kwan-Yin a Trina de Kwan-Shai-Yin, que mora em Kwan-Yin-Tien – Fohat, o Sopro de sua Progênie, o Filho dos Filhos, tendo feito sair das profundezas do Abismo inferior a Forma Ilusória de Sien-Tchan e os Sete Elementos.

2. O Veloz e Radiante Um produz os Sete Centros Laya, contra os quais ninguém prevalecerá até o Grande Dia “Sê Conosco”; e assenta o Universo sobre estes Eternos Fundamentos, rodeando Sien-Tchan com os Germes Elementais.

3. Dos Sete – primeiro Um manifestado, Seis ocultos, Dois manifestados, Cinco ocultos; Três manifestados, Quatro ocultos; Quatro produzidos, Três ocultos; Quatro e Um Tsan revelados, Dois e Meio ocultos; Seis para serem manifestados, Um deixado à parte. Por último, Sete Pequenas Rodas girando; uma dando nascimento à outra.

4. Ele as constrói à semelhança das Rodas mais antigas, colocando-os nos Centros Imperecíveis. Como as constrói Fohat? Ele junta a Poeira de Fogo. Forma Esferas de Fogo, corre através delas e em seu derredor, insuflando-lhes a vida; e em seguida as põe em movimento; umas nesta direção, outras naquela. Elas estão frias, ele as aquece. Estão secas, ele as umedece. Brilham, ele as ventila e refresca. Assim procede Fohat, de um a outro Crepúsculo, durante Sete Eternidades.

5. Na Quarta, os Filhos recebem ordem de criar suas Imagens. Um Terço recusa-se Dois Terços obedecem. A Maldição é proferida. Nascerão na Quarta; sofrerão e causarão sofrimento. É a Primeira Guerra.

6. As Rodas mais antigas giravam para baixo e para cima … Os frutos da Mãe enchiam o Todo. Houve combates renhidos entre os Criadores e os Destruidores, e Combates renhidos pelo Espaço; aparecendo e reaparecendo a Semente continuamente.

7. Faze os teus cálculos, ó Lanu, se queres saber a idade exata da Pequena Roda. Seu Quarto Raio “é” nossa Mãe. Alcança o Quarto Fruto da Quarta Senda do Conhecimento que conduz ao Nirvana, e tu compreenderás, porque verás…

ESTÂNCIA VII

1. Observa o começo da Vida informe senciente.

Primeiro, o Divino, o Um que procede do Espírito-Mãe; depois, o Espiritual; os Três provindos do Um, os Quatro do Um, e os Cinco de que procedem os Três, os Cinco e os Sete. São os Triplos e os Quádruplos em sentido descendente; os Filhos nascidos da Mente do Primeiro Senhor, os Sete Radiantes. São eles o mesmo que tu, eu, ele, ó Lanu, os que velam sobre ti e tua mãe, Bhumi.

2. O Raio Único multiplica os Raios menores. A Vida precede a Forma, e a Vida sobrevive ao último átomo. Através dos Raios inumeráveis, o Raio da Vida, o Um, semelhante ao Fio que passa através de muitas contas.

3. Quando o Um se converte em Dois, aparece o Triplo, e os Três são Um; é o nosso Fio, ó Lanu! o Coração do Homem-Planta, chamado Saptaparma.

4. É a Raiz que jamais perece; a Chama de Três Línguas e Quatro Mechas. As Mechas são as Centelhas que partem da Chama de Três Línguas projetada pelos Sete – dos quais é a Chama – Raios de Luz e Centelhas de uma Lua que se reflete nas Ondas moventes de todos os Rios da Terra.

5. A Centelha pende da Chama pelo mais tênue fio de Fohat. Ela viaja através dos Sete Mundos de Mâyâ. Detém-se no Primeiro, e é um Metal e uma Pedra; passa ao Segundo, e eis uma Planta; a Planta gira através de sete mutações, e vem a ser um Animal Sagrado. Dos atributos combinados de todos esses, forma-se Manu, o Pensador. Quem o forma? As Sete Vidas e a Vida Una. Quem o completa? O Quíntuplo Lha. E quem aperfeiçoa o último Corpo? O Peixe, o Pecado e Soma…

6. Desde o Primeiro Nascido, o Fio que une o Vigilante Silencioso à sua Sombra torna-se mais e mais forte e radiante a cada Mutação. A Luz do Sol da manhã se transformou no esplendor do meio-dia…

7. “Eis a tua Roda atual” – diz a Chama à Centelha. “Tu és eu mesma, minha imagem e minha sombra. Eu revesti-me de ti, e tu és o Meu Vâham até o dia ‘Sê Conosco’, quando voltarás a ser eu mesma, e os outros tu mesma e eu.” Então os Construtores, metidos em sua primeira Vestimenta, descem à radiante Terra, e reinam sobre os homens – que são eles mesmos…

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Fonte:

https://www.sacred-texts.com/atl/dzyan/dzyan.htm

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/alta-magia/as-estancias-de-dzyan/