As Divindades Thelêmicas

Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei.

A maioria das Deidades Thelêmicas é oriunda do Egito antigo. Apenas as duas principais são retiradas do Apocalipse de São João. Em Thelema, são usadas com referência de conceitos e não adoração. As Divindades Egípcias variam de significado e origem de acordo com a Dinastia.

A primeira ideia a ser descartada quando se estudam as divindades Thelêmicas é a de que elas sejam, de fato, deuses. Antes de mais nada o thelemita enxerga a divindade como a representação simbólica de um arquétipo inerente ao próprio Ser Humano. Desta forma os deuses do Panteão thelêmico não são vistos como entidades externas e sim internas.

Outra característica do Panteão Thelêmico é ser aberto. Ou seja, algumas ideias principais são expostas na figura de um determinado grupo de divindades, aqui apresentadas. Entretanto sendo as divindades representações arquetípicas, toda e qualquer divindade, de qualquer mitologia é aceita como ferramenta de trabalho dentro de Thelema.

AIWASS – o “Ministro de Hoor Paar Kraat” , aquele que ditou o Livro da Lei a Aleister Crowley em 1904. Posteriormente Crowley o reconheceu com o seu Sagrado Anjo Guardião, o S.A.G. Para uma melhor descrição ir para Liber AL vel Legis. Aiwass não soletrou a Crowley o seu nome.

Em grego é Aiwass e na Cabala Grega o nome resulta 418, o número da Grande Obra. Em hebraico é Aiwaz, que resulta 93. Crowley usava as variações de acordo com o trabalho a ser realizado, se místico, Aiwaz, se de natureza mágica, Aiwass.

AHATHOOR – a Vênus egípcia.

ANKH-F-N-KHONSU – Pronuncia-se “Ankhefenkhons”. Sacerdote da cidade de Thebas, Egito, do culto ao deus Mentu, (Deus Egípcio da Guerra) da 25ª Dinastia (cerca de 725 Antes de nossa Era; Crowley achava que era 26ª mas recentes pesquisas provam 25ª).

A Estela da Revelação seria uma tábua funerária deste Šacerdote. Crowley afirmava que ele iniciara o Æon de Osíris e ao mesmo tempo, que fora uma de suas encarnações passadas.

Ao lado, frente da Estela da Revelação, onde aparecem o Deus Ra Hoor Khuit, a Deusa Nuit, o globo alado Hadit, e o Sacerdote Ankh-f-n-Khonsu.

APOPHIS – As forças da destruição e decadência. Também chamada de Apep. Por vezes é representada por uma Serpente alada com o Disco Solar na cabeça.

BAPHOMET – Mais do que uma divindade, Baphomet é um dos maiores símbolos da Egrégora thelêmica. Sua imagem é um complexo glifo de simbolismos alquímicos, herméticos, astrológicos, etc.. Dentro da filosofia tHelêmica, a imagem de Baphomet não possui qualquer correlação com o demônio, Satã ou similares.

CHAOS – Ideia irrepresentável do princípio básico de tudo. O Caos, tal como na mitologia grega, é a matriz de onde qualquer idéia, forma, etc. pode surgir. Diferente do Chaos conforme encontrado na vertente conhecida como “Magia do Caos”, possui um valor semelhante à possibilidade e não necessariamente a um rompimento.

HADIT – O Segundo Conceito. O ponto que define a circunferência, o movimento ou o Verbo gramático. O globo solar alado de Hadit é a representação da individualidade, o Self. Simboliza a Serpente de Luz que deve se elevar para encontrar Nuit e assim alcançar a plenitude. O Sol interior, a fonte de toda a luz e sabedoria. Assemelha-se ao conceito do Logos.

HARPÓCRATES – Forma grega de Hoor Paar Kraat, o deus criança. Representado como uma criança fazendo sinal de silêncio e a letra Aleph. Crowley associava-o com o como Sagrado Anjo Guardião. Ver carta 20 do tarô, “O Aeon”.

HOOR PAAR KRAAT – o Senhor do Silêncio, uma forma de Hórus, gêmeo de Ra Hoor Khuit.

HÓRUS, HORO, HERU – A Criança Coroada e Conquistadora. Senhor do presente Æon, que iniciou em 1904 com o recebimento do Livro da Lei. Hórus é a forma grega de Heru Ra Ha, o herói solar comum a vários mitos. A sua forma egípcia possui a cabeça de falcão.

Em algumas lendas egípcias é irmão de Set em outras é seu sobrinho. Na última, matou-o por este ter assassinado seu pai, Osíris. Desde então tornou-se rei do Egito e precursor dos faraós, que seriam sua encarnação na Terra. Hórus é uma divindade dual, composta por Ra-Hoor-Khuit e Harpócrates.

Ra-Hoor-Khuit é o deus de cabeça de falcão, simbolizando o Ser Humano em sua porção ativa, masculina, material. Harpócrates é a criança nascida no Reino dos Mortos, representado como um menino nu com o dedo indicador direito sobre os lábios, representando o Ser Humano em sua porção silenciosa, passiva, feminina. Juntos eles perfazem a divindade solar Hórus, que representa o Ser Humano íntegro, divinizado.

ÍSIS – Mãe de Hórus, senhora do Æon anterior ao de Osíris, onde o poder residia na mulher.

KEPHRA, ou KEPH-RA – O Deus do Sol da Meia-Noite, com cabeça de escaravelho. O escaravelho deposita seus ovos numa grande bola de estrume e o empurra pelo sol do deserto afim de choca-los, além disso, voa contra todas as leis da aerodinâmica. Tal força de vontade não ficou indiferente aos egípcios. O estrume representa o Deus Sol Ra, e como sai debaixo da terra, das regiões ocultas, ele é um símbolo de Renascimento, o Sol interior.

KHABS – Segundo Crowley: “‘estrela’ ou ‘luz íntima’, é a essência original individual, eterna. O Khu é a vestimenta mágica que o Khabs tece para si mesmo, uma ‘forma’ para seu Ente. Além-da-Forma, pelo uso da qual ele ganha experiência através de autoconsciência, como explicado na nota aos versos 2 e 3 . O Khu é o primeiro véu, muito mais sutil que mente e corpo, e mais verdadeiro; pois sua forma simbólica depende da natureza de sua Estrela.”

KHONSU – Deus Egípcio da Lua, filho de Ammon com Mut.

KHU – ver Khabs.

MAAT, MA’AT – Deusa da Verdade e Justiça. Representada por uma mulher com uma pluma na cabeça.

Frater Achad, filho mágico de Crowley, anunciou o seu Aeon em 1948, um ano após a morte de Crowley. No ano de 1955, Kenneth Grant, na sua Loja Nu-Ísis, obteve uma experiência de contato através de um local chamado Zona Mauva.

Em 1974, uma magista chamada Soror Nema Andahadna, recebeu um livro chamado Liber Pennae Praenumbra. Seus conceitos batiam com os de Achad e os de Grant. O Aeon de Maat, evoca uma característica muito ligada ao Aeon de Hórus, conceitos, divindades, rituais, etc. Soror Nema Andahadna disse que o Aeon de Maat está “grudado” no de Hórus, além de evocar um conceito caoticista, o de que todos os Aeons acontecem simultaneamente, depende apenas do magista canalizar a energia desejada.

MENTU, MONTU – Deus da guerra Egípcio, também associado com Ra-Hoor-Khuit.

NUIT – O Primeiro Conceito. A deusa egípcia preenchida de estrelas, cujo corpo forma a abóbada celeste é a representação do Todo em um nível Macrocósmico. Sendo todo homem e toda mulher uma estrela, Nuit simboliza a união de toda a humanidade em nível espiritual. Costuma ser representada por um círculo.

A Grande Mãe e o Grande Nada/Tudo. A matéria. A circunferência infinita e complemento de Hadit, o ponto. Pode ser representada pelo Espaço Infinito e na Cabala por Ain Soph.

Ver carta 17, “A Estrela”.

OSÍRIS – O deus morto e ressuscitado. Senhor do Æon passado, onde o poder masculino era o centro mágico (phallus).

Segundo uma das principais lendas do Egito, Osíris era casado com sua irmã Isis, e invejado por seu irmão Set. Durante um banquete, Set trancafiou-o em uma urna e jogou no Nilo indo até a Fenícia. Isis, em desespero, procura por seu marido e o encontra. Set novamente ataca e o esquarteja em 14 pedaços e os espalham por todo Egito. Com a ajuda do filho Hórus, da irmã Nephtys, do sobrinho Anúbis e do deus da Magia Thoth, Isis recupera todas as partes do marido, menos uma: o pênis, que fora devorado por três peixes. Daí a sua associação como deus dos mortos. Com a ajuda deles realizou o primeiro embalsamento e graças a Thoth, ele ressuscitou para a imortalidade (no reino dos mortos). O deus egípcio dos mortos, que teve seu corpo destruído e espalhado pelo mundo e depois reconstruído por sua esposa Isis, representa o Ser Humano espiritualmente redivivo. Considera-se que o Ser Humano é composto de várias partes (corpo, mente, espírito) que encontram-se em um estado de desarmonia. Osíris simboliza, tal como em seu mito, a harmonização destes componentes do Ser Humano pleno por força de um amor maior.

Possui forte relação com o Jesus Cristo católico.

PAN, ou PÃ – Inicialmente associado com o Deus Bacco e a carta 15, “O Diabo”.

Este deus grego de extrema sexualidade representa o princípio masculino ativo e criador. É também uma simbologia para o Todo do Microcosmo. É o homem em contato com o seu eu instintual, O “pai de todos”, o homem-besta, o religare entre o racional humano e o instinto natural presente em toda a criação. Está ligado ao poder criativo e, por gematria, ao número 61, Nuit/Nada. Em grego quer dizer “Tudo”. Daí a associação metafísica de Nada = Tudo, a fórmula da iniciação universal. Ra-Hoor -Khuit – Gêmeo de Hoor Paar Kraat, uma versão de Hórus. Também é conhecido como filho de Nuit e Hadit. É o Senhor do Atual Aeon. O Capítulo III de Liber AL vel Legis é referente ao seu Aeon.

RA, AMMOUN-RA, AMMEN – O Deus Sol egípcio, um dos principais do panteão. O Deus que ressuscita toda manhã. O Deus Oculto. Seu Templo de Karnak, em Tebas, (atual Luxor) era o maior dos Templos Egípcios, e pouco antes da época de Ammenhotep IV, também conhecido como Akhénaton, na XVIII Dinastia, era detentor de 2/3 do território egípcio. Por este motivo, Akhénaton elevou o deus Aton (uma das representações do sol) no panteão, para tentar distribuir o poder sacerdotal entre outros cleros, visto que os Sacerdotes de Ammon tinham um poder tal que formavam um estado dentro do estado.

RA-HOOR-KHUIT – Gêmeo de Hoor Paar Kraat, uma versão de Hórus. Também é conhecido como filho de Nuit e Hadit. É o Senhor do Atual Aeon. O Capítulo III de Liber AL vel Legis é referente ao seu Aeon.

SHAITAN – Forma de Seth. Shaitan foi uma divindade adorada na Mesopotâmia, por um povo chamado Iezide. (Ver a obra “Renascer da Magia” ,de Kenneth Grant), e cujo culto Crowley diz ter ressuscitado.

TEITAN – Forma caldeia de Shaitan.

TEMU – O Criador, o primeiro deus a aparecer do caos (Nuit). Ao se masturbar gerou dois filhos, Shu e sua irmã Tefnut. Estes criaram Geb (o deus da Terra) e Nut, também chamada Nuit, (a deusa do Céu) que por sua vez deram origem a Osíris e Isis, Seth e Nephtys, e Harpócrates.

SETH – Aquele que assassinou Osíris. Posteriormente foi morto por Hórus, a Criança Vingadora.

É a divindade mais antiga criada pelos egípcios, assumindo diversas conotações, de vilão a herói. A sua forma mais comum é um humano com cabeça de algum animal não-identificado, ou de um crocodilo. A simbologia do crocodilo é a de devorador (de deuses).

THERION – A Grande Besta do Apocalipse. Conceito assumido por Crowley na edificação do Novo Aeon, aquele que iria acabar com o pensamento cristista associado ao Aeon de Osíris.

O poder masculino, que conjugado com o seu igual feminino, Babalon, geram a força no Aeon de Hórus. Therion é Besta em grego, e durante a sua infância, no seio de uma família fundamentalista cristã, devido ao seu comportamento bagunceiro, foi apelidado de Besta do Apocalipse pela mãe.

No Cairo ao receber o Livro da Lei, sua então esposa Rose Kelly, identificou o mensageiro na Estela da Revelação, cujo número era 666. A sincronicidade espantou Crowley que, ao assumir o grau de Magus, adotou o motto TO MEGA THERION (A Grande Besta). Também representado por um Leão, como na Carta 11 “A Luxúria”, representada ao lado, onde é cavalgado por Babalon, a Mulher Escarlate.

THOTH, TAHUTI – Deus da Sabedoria e Magia. Criou a escrita. Possui cabeça de íbis. Associa-se com Mercúrio e a Hermes Trismegisto.

TUM – Deus do oeste, o local do Sol, deus do Sol à noite.

TYPHON, TÍFON – Inicialmente mãe de Seth, deusa do caos e da noite. As vezes confundida com Seth, o Destruidor.

Amor é a lei, amor sob vontade.

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Revisão final: Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/thelema/as-divindades-thelemicas/

O Uso Oracular do RPGQuest

O RPGQuest foi o maior Financiamento Coletivo de RPG no Brasil e, até agora, o terceiro maior entre os Jogos de Tabuleiro, mas o que pouca gente sabe é que ele traz dentro de si um conjunto oracular dos mais completos e complexos já criados, envolvendo Tarot, Runas e a própria Árvore da Vida.

Antes de começarmos, vamos explicar o que a Sincronicidade. Termo cunhado por Carl Gustav Jung para sua teoria de que tudo no universo estava interligado por um tipo de vibração, e que duas dimensões (física e não física) estavam em algum tipo de sincronia, que fazia certos eventos isolados parecerem repetidos, em perspectivas diferentes. Tal idéia desenvolveu-se primeiramente em conversas com Albert Einstein, quando ele estava começando a desenvolver a Teoria da Relatividade. Einstein levou a idéia adiante no campo físico, e Jung, no psíquico.

A sincronicidade é definida como uma coincidência significativa entre eventos psíquicos e físicos. Um sonho de um avião despencando das alturas reflete-se na manhã seguinte numa notícia dada pelo rádio. Não existe qualquer conexão causal conhecida entre o sonho e a queda do avião. Jung postula que tais coincidências apóiam-se em organizadores que geram, por um lado, imagens psíquicas e, por outro lado, eventos físicos. As duas coisas ocorrem aproximadamente ao mesmo tempo, e a ligação entre elas não é causal.

Desta maneira, quando se utiliza um Oráculo, o leitor está trabalhando o contato com o Sagrado Anjo Guardião e as cartas escolhidas, embora pareçam ter sido sorteadas ou escolhidas aleatoriamente, formarão uma história através do significado simbólico daquelas cartas e, ao ser interpretada, trará uma luz aos fatos que estão sendo perguntados.

O RPGQuest, além de sua utilidade como Boardgame para passar uma tarde de diversão, pode ser usado para o autoconhecimento através da Jornada do Herói em sincronicidade com sua própria Jornada naquele momento. Vou detalhar melhor isso com um exemplo de uma partida:

– Os territórios são formados por Esferas da Árvore da Vida, cada qual trazendo na forma de símbolos as características próprias daquela esfera, e são embaralhados formando uma Grande Ilha que se chama “Arcádia”. Nela serão sorteados três grandes Monstros que, por sua vez, são baseados nos Elementos da Alquimia e possuem uma Escala de dificuldade. Existem Combinações pareadas de todos os 4 Elementos, e graduações que variam de 12 a 18 em Dificuldade. Em uma Partida ritualística em Modo Oracular, o Leitor jogará sozinho ou cada um dos Jogadores terá seu próprio Desafio, que será sorteado entre os Desafios e representará o Problema a ser derrotado.

Os Monstros são representações simbólicas dos 4 elementos: Terra (Concretização, dificuldades no Reino Material); Ar (Razão, problemas no campo de trabalho/intelectual); Água (Emoção, problemas no campo emocional) e Fogo (Vontade, problemas em realizações de Projetos pessoais). A Combinação de 2 ou mais elementos deverá ser interpretada em sincronicidade ao que está acontecendo na vida do Jogador naquele momento.

Os símbolos podem aparecer na forma de um Observador Qliphotico (água/Fogo – um problema emocional que afeta um projeto importante), um Gigante Bestial (Ar/Terra – A dificuldade de se colocar um texto no papel), um Dragão (fogo/Terra – a dificuldade de concretização de um projeto importante), Cérberus (Agua/Ar/Terra – A dificuldade de entendimento em uma relação e trazer isto para algo mais concreto), uma Hidra (uma dificuldade no trabalho, onde cada problema resolvido parece criar mais problemas) e assim por diante… a intensidade dos Problemas em correlação aos Elementos sorteados indicam que tipo de problemas seu Herói (ou seja, você mesmo) terá de lidar em sua Jornada (o Ritual de enfrentamento deste Problema).

Os Heróis que farão esta jornada também são cartas e possuem poderes relativos aos Quatro Elementos da Alquimia. Podem representar a Terra (Guerreiros), o Ar (Ladinos, Espiões e Diplomatas), a Água (os Clérigos e Curadores emocionais) e o Fogo (os Magos e Intelectuais), e eles serão as forças que serão trabalhadas durante o ritual.

O Sorteio do Herói inicial também ocorre por Sincronicidade e você pegará UM Herói, que representará suas virtudes naquele momento. Pode ser um Personagem mais focado em resolver problemas concretos, em ajudar emocionalmente, em realizar tarefas intelectuais ou em tocar projetos de Verdadeira Vontade. As imagens e desenhos deles, em suas classes de heróis medievais, facilitarão todo o processo da Jornada.

E realiza-se o ritual jogando a partida solitária (ou, no caso de um grupo, cada um estará focado em resolver seu próprio Nêmesis). Ao longo do jogo, os Heróis vão resolvendo enigmas, solucionando missões e cumprindo tarefas dadas pelos Arcanos do Tarot, Runas e pelas Esferas da Árvore da Vida. Para quem já tem um conhecimento em Oráculos, pode interpretar os próprios Arcanos enquanto a Jornada vai se desenrolando. Os Heróis encontrarão com outros Aventureiros e poderão recrutá-los (escolher amigos e aliados representando as classes de energias que se deseja trabalhar e resolver, como Magos e Clérigos se o Desafio envolver estas dificuldades).

Se o Monstro apresentado possui desafios emocionais, busque cartas de curandeiros e clérigos para remediar a situação. Pesquise no interior das Cavernas: “Visita o Centro da Terra, Retificando-te, encontrarás a Pedra Oculta”. Muitos Artefatos estão disponíveis para serem encontrados pelos buscadores, e nesta partida oracular, cada um deles (são todos relacionados a Artefatos da História e do Hermetismo) trará uma parte da energia que falta ao Herói para derrotar sua sombra.

O Herói encontrará Ordens Iniciáticas, Artefatos (alguns amaldiçoados), Cavernas a serem exploradas e quem sabe até a Pedra Filosofal?

O Jogo é o Ritual. Cada Jogador se torna mais próximo de compreender o problema real ao mesmo passo em que o Aventureiro se torna mais próximo de conquistar o poder que precisa para derrotar o Grande Desafio da partida. Os Arcanos do tarot vão guiá-lo através das Esferas da Árvore da Vida. Algumas Esferas mais difíceis de serem trilhadas, outras mais fáceis.

As Esferas da Árvore da Vida, as Runas e os Arcanos do Tarot guiarão o Herói até a solução do Grande Problema.

O Financiamento Coletivo oficial já terminou, mas fizemos cerca de 200 unidades a mais do que as que foram vendidas no Projeto e abrimos pré-venda por mais 30 dias enquanto o Jogo está sendo produzido na gráfica (e já vendemos umas 30 até agora, então restam 170 jogos e o RPGQuest não será reimpresso). É a sua última chance de poder apoiar este projeto único que trabalha Jogos, Alquimia e Hermetismo! Uma maneira bacana de ensinar hermetismo para seus filhos e também para utilizá-lo em suas meditações.

Você pode comprar o RPGQuest aqui:

https://daemoneditora.com.br/categoria-produto/boardgames/

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-uso-oracular-do-rpgquest

Angel Tech: Guia de um xamã moderno para seleção de realidades

Perder-me na seção de religiões da minha livraria favorita costumava ser puro prazer cerebral… um prazer incomparável. Isso foi antes da invasão dos livros da Nova Era e de auto-aperfeiçoamento que, nos últimos anos, inundaram as estantes e empurraram para fora as gemas clássicas e mais obscuras da tecnologia psíquica. Você não pode mais encontrar os paradigmas cristalinos do Ensino Superior sem esbarrar em mais bobagens de palavras da moda. Ironicamente, devido à popularidade vertiginosa da Metafísica em geral, uma diluição generalizada de informações espirituais genuínas passou para a seção de história e filosofia. Talvez seja um sinal dos tempos, quem sabe? Não sei e, francamente, não quero saber. Metafísica para os Milhões não é minha praia.

Balançando em meio ao rio lamacento da literatura oculta está Angel Tech: A Modern Shaman’s Guide to Reality Selection (Angel Tech: Guia de um xamã moderno para seleção de realidade), de Antero Alli ,um residente de Boulder, Colorado, com um prefácio de Robert Anton Wilson, famoso por Cosmic Trigger. “Seleção de realidade”, hmmm… isso me chamou a atenção. Não é exatamente um livro de auto-ajuda ou um tratado metafísico, Angel Tech é (em suas próprias palavras), “um manual de sobrevivência para anjos caídos que acabaram com suas respostas congeladas aos pesadelos ao nosso redor”. Várias frases depois, ele nos instrui a: “voar mais alto, plantar os dois pés firmemente no chão… chão”. O título também é um pouco enganador, porque Angel Tech não é sobre anjos em si; pelo menos não do tipo pintado por artistas e descrito na Bíblia. Para citar mais uma vez o texto, “Um anjo é um ser de Luz. Tech vem de techne, significando arte ou habilidade. Angel Tech é a Arte de Ser Luz… Somos, em essência, seres de luz.”

Alli assumiu a responsabilidade de redefinir a terminologia comum, bem como criar palavras próprias para descrever sua jornada psíquica. Esta jornada atravessa a Lei das Oitavas e Harmônicos traduzidos na visão evolutiva das funções da Inteligência Única. Seu destino é a incrível tarefa de Aumento de Inteligência. O formato da lei dos oitos é tão antigo quanto as Escolas de Mistério Sufi e vigoroso o suficiente para atrair o próprio Gurdjieff. Mais recentemente, o guru patife Timothy Leary pegou e escreveu sua obra, Exo Psychology (também esgotada), um dos livros de origem da Angel Tech. O que diferencia a Angel Tech de outras interpretações desse sistema óctuplo é seu brilho cômico e algumas ilustrações histericamente perversas. Também visivelmente ausente é o tipo de dogma que quase sempre acompanha assuntos como este. (O autor nos lembra constantemente que o livro é um mapa e não o território em si, e que nós, leitores, devemos fazer nossos próprios mapas tão rápido quanto absorvemos informações para minimizar a constipação psíquica.)

Este livro não é para todos. Considere a seção intitulada Mecânica do Karma, que é “um curso de estudo mais adequado para robôs auto-realizados”. Quem vai admitir a seu papel de robô? Gurdjieff e sua espécie certamente o fizeram, mas não sem muito trabalho. Mais adiante nesta seção há outro chamado Problemas Mecânicos que, com detalhes meticulosos, explora os sintomas, causas e ajustes necessários para “robôs enlouquecidos”… em termos leigos, o processo de consertar pessoas quebradas. Apesar da leitura bastante densa nesta seção, Alli conseguiu me atrair com seu humor, que às vezes é implacável. Para o neófito não iniciado, Fred Mertz (lembra-se, do programa I love Lucy?) ressuscitou ao status espiritual de Bodhisattva com o propósito de transmitir sua compaixão através do “meio neuroeletrônico da televisão nas reprises…” Se Fred Mertz é um Avatar da Nova Era, então eu sou o papa. E em algum universo paralelo, provavelmente sou mesmo.

Angel Tech não é uma leitura fácil. Suas 380 páginas descrevem uma abordagem abrangente para reprogramar sua mente. O único outro autor que conheço que apresentou uma visão tão lúcida desta digna tarefa é o Dr. John Lilly (Simulations of God, Center of the Cyclone, etc.). Mais uma coisa surpreendentemente perdida da Angel Tech são os endossos pró-drogas que proliferam em livros de predecessores como Leary, Wilson e Lilly. A fórmula de Alli para Brain Change vem diretamente do próprio biocomputador humano. Técnicas para flexionar os músculos psíquicos são abundantes na Angel Tech. Os tópicos de pesquisa incluem Arrebatamento, Carisma, Ritual, Desenhando um Tarô, Alquimia, Sincronicidade, Astrologia, Rituais do Sonho e Fator X… se ao menos eles tivessem nos ensinado essas coisas quando fomos para a escola. E ao longo de tudo isso, uma corrente sublinhada chamada “aterramento” conecta o que é psíquico à terra. Só isso, na minha opinião, já vale o preço do ingresso.

Às vezes, este livro fica no limite entre a redundância e a repetição instrutiva com a esperança de levar seu ponto para casa. Esse ponto parece ser a autorresponsabilidade e a necessidade de se definir ou ser definido pelos outros. Alli dá como certo que os leitores já entendem que eles criam sua própria realidade, então não há muita escolaridade sobre isso.  É, talvez, por esta razão que o público da Angel Tech permanecerá limitado àqueles que atualmente projetam seu próprio programa. Desta forma, a Angel Tech é até elitista. Ele se recusa a tentar alcançar todo mundo. No entanto, as pessoas que tocarão serão mais ricas devido à falta de compromisso de Alli. Não é um livro totalmente inacessível, mas é baseado em uma suposição bastante radical. Ele falha em reconhecer a divisão entre os Eus Inferiores e Superiores que a maioria dos livros metafísicos quase divinizam. Meu palpite é que Alli é uma espécie de anarquista que encontrou seu caminho no sistema. Sua paixão por aniquilar a hierarquia com o propósito de desmistificar as comunicações é difícil de ignorar.

O que eu achei a parte mais atraente de Angel Tech foi que a seção chamada Capela Perigosa, que poderia ter sido expandida e reescrita como outro livro. Para aqueles familiarizados com o Cosmic Trigger de Robert Anton Wilson, a menção da Capela Perigosa deve tocar os sinos do inferno. De acordo com Alli, a Capela é um “lugar para onde as almas vão depois de serem catapultadas para fora de seus corpos, tateando sem rumo pela outra metade… enquanto seus corpos permanecem vivos, no automático, andando pelo planeta” (parafraseado). Esta seção do livro explora o processo de “Iniciação como resposta criativa ao choque do desconhecido”. É apresentado dramaticamente como Oito Sermões contados a uma congregação de almas perdidas por um padre que lembra vagamente os Sermões dos Mortos no final do livro de Carl Jung, Memórias, Sonhos e Reflexões. Os títulos dos sermões incluem: Paixões Fatais, Suicídio e Livre Arbítrio, Céu e Inferno, A Crucificação… entre outros. A Capela Perigosa não é um lugar bonito para se estar e Alli olha através de seus vitrais, sombriamente.

Angel Tech é o livro um de uma trilogia chamada Manual de Referência de Operadores de Campo. Os outros dois livros, All Rites Reversed e The Akashic Record Player, serão lançados. Até lá, recomendo esta viagem irreverente e alucinante de um livro, Angel Tech, e espero mais de Alli.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/psico/angel-tech-guia-de-um-xama-moderno-para-selecao-de-realidades/

Hellblazer – Constantine

Um dos quadrinhos que eu mais recomendo é Hellblazer , título das histórias do famoso Mago John Constantine , uma das séries mais longas da Vertigo.

Constantine foi abençoado desde sua criação , afinal foi criado por Alan Moore e mais tarde passou por outros excelentes escritores e desenhistas.

Ele apareceu pela primeira vez em Swamp Thing , o Monstro do Pântano , como personagem secundário quando o Alan Moore assumiu e mudou completamente a revista , aliás recomendo Monstro do Pântano , e ainda vou falar dessa HQ aqui.

Logo ele ganhou uma revista só pra ele com o nome de Hellblazer.

O título Hellblazer era para ser na verdade HellRaiser , mas como já existia um filme de terror com o nome foi decidido usar Hellblazer.

Na ideia original era para ser uma HQ de terror , mas o estilo fica meio como de aventura e suspense.

Em Hellblazer você pode encontrar muitos temas diferentes por edição , são alguns deles são : xamanismo , mitologia , voodoo , radiestesia, I ching , projeção astral , uso de drogas para acessar outras dimensões , pactos , evocações , deuses , egrégoras , arquétipos , anjos, demônios , demônios feitos do inconsciente coletivo , sincronicidade, histórias bíblicas , conspirações governamentais , camelot/Merlin/Rei Arthur , maçonaria e muito mais.

A história de John e ocultismo começa antes mesmo dele nascer , pois muitos dos seus ancestrais já eram ligados com magia.

Ele é um homem loiro , fumante , adora uma cerveja de preferência Guinness e não é tão anti-herói quanto alguns textos da internet dizem , porém na maior parte das vezes acaba por envolver pessoas inocentes em suas tramas , fazendo ele carregar algumas mortes na consciência.

Constantine na maior parte das vezes usa originalidade para resolver seus problemas , e apesar de ter dons muito úteis ele os usa raras vezes , um exemplo dessas habilidades é a Hipnose e em alguns capítulos ficamos sabendo que ele é sensitivo também.

Cada capítulo tem em torno de 26 páginas , isso sempre deixa o leitor com aquela sensação , de “Já Acabou?”.

As histórias são meio que narradas por John , uma estratégia que faz o leitor entender melhor alguns fatos , com eles sendo “explicados” , tudo com uma pitada de humor e com excelentes frases e tiradas de John.

Uma coisa que também ajuda Hellblazer ser um grande sucesso é o sistema em que os capítulos são criados , que na maior parte vezes não são relacionadas uns com os outros , isso ajuda um pouco em relação as vendas pois você não deixa de comprar uma edição porque perdeu outras , uma estratégia muito presente na editora vertigo , mas é claro que tem momentos em que uma edição tem continuação em outra.

Gosto de deixar claro que no universo de Constantine , basta você ter um Grimorium Verum e você pode evocar qualquer entidade e essa vai aparecer para você toda bonitinha , por isso mesmo não podemos esquecer que é um mundo de “fantasia” , apesar disso vemos conceitos ocultistas presentes tipo como a diferença entre Lúcifer e o Diabo.

Entre os diversos escritores e ilustradores de Hellblazer temos , Jamie Delano , Garth Ennis , Neil Gaiman , Grant Morrison, Warren Ellis , e outros mais.

Além disso as capas de Hellblazer são verdadeiras obras de arte.

Dica : Quando for ler Hellblazer , abra o Google e procure as palavras interessantes ou nomes que não conhece você pode aprender muito assim.

Atualmente Hellblazer esta sendo distribuído pela Panini que assumiu boa parte das HQ´s do Brasil , mais já passou por muitas editoras e como foi dito no começo a série é uma das mais longas já passando de 275 edições.

Em 2005 foi lançado o filme com o nome Constantine adaptado dos quadrinhos , foi um sucesso de bilheteria e foi feito para agradar tanto quem goste do tema Magia , como também religiosos , tanto agradou que uma cena do final do filme foi usada em uma propaganda da igreja universal , mal sabem que o filme foi baseado em uma HQ de tema que eles repudiam (John Constantine é mesmo muito irônico).

Apesar disso não acredite em nada do que eu disse , vá ler Hellblazer e tire suas próprias conclusões!

Outros Textos da Coluna de Quadrinhos

Lembrando que anotei os pedidos para novas postagens e aos poucos vou colocar aqui , só quero que vocês tenham paciência , pois é apenas uma postagem por mês e agradeço aos comentários na última postagem.

Abraços!!

#HQ

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/hellblazer-constantine

O Legado Mágico de John Dee

por Julie Stern.

Na época da ascensão dos fundamentalismos e outros versos satânicos não é inútil viajar ao século XVI para descobrir um ponto central de respostas e questões relacionadas com a ética da felicidade e a tecnologia ocidental. Nove séculos após a revelação islâmica, 200 ocidentais de toda a Europa se viram carregando o espírito do Renascimento com a tocha de suas certezas. Eram místicos, engenheiros, matemáticos, técnicos, corteses, evangelistas do céu na terra. Eles criaram o humanismo de que todos falam em nossos tempos de reflexões morais, mas que poucos conhecem. A democracia tira disso uma dimensão transcendental e bíblica. John Dee é quem recebeu a revelação mais imponente – várias centenas de páginas, incluindo um monólogo de Deus tão amargo e profundo quanto o Livro de Jó, onde ele até se arrepende de ter criado o ser humano…  famoso livro dos Diálogos com o Anjo – uma revelação espiritual de alcance universal oculto que se inscreve implicitamente no coração da relação atual do homem com sua identidade, da sociedade e da natureza, da mulher e do homem, dos povos e suas histórias, das religiões e política, liberdade e amor. E da Arte. A grande aventura da evolução do espírito humano.

Os Mistérios de John Dee

Até recentemente, John Dee era considerado um maníaco isolado e marginal da história britânica da dinastia Tudor, não tendo se beneficiado de nenhum estudo aprofundado, acadêmico e sério, um homem digno de interesse apenas aos olhos de uma pequena minoria de antiquários e ocultistas . Ainda hoje, a Enciclopédia Britânica nos oferece apenas um pequeno e acanhado parágrafo sem informações exaustivas – um destino nada invejável para um homem que foi reverenciado em seu tempo – o grande Renascimento – como o homem mais erudito de toda a história.

Inspiração para o personagem Próspero na Tempestade de Shakespeare, John Dee está na raiz da revolução técnica anglo-saxônica moderna e das contradições éticas do sistema herdado e transformado pelo exercício do poder. Escrever uma biografia significa trabalhar na história da ciência e da tecnologia (astronomia, astrologia, matemática, mecânica), das sociedades (da antiguidade ao século XVI) e das espiritualidades (em todo o mundo).

John Dee deu à Inglaterra o conceito político de “Império Britânico” e abriu os fluxos marítimos da Grã-Bretanha com a Rússia e a América. Ele alegou ter se comunicado com os anjos como se reis, imperadores e os grandes não fossem suficientes para ele. Uma vida que se desenrola como um filme de aventura místico-política, um épico ao ritmo de um thriller mítico porque Shakespeare não está muito longe e a Tempestade realmente aconteceria….

Biografia

John Dee nasceu em Londres em 13 de julho de 1527. Ele era filho de Rowland Dee, um cortesão a serviço privado do rei Henrique VIII. As duas famílias de origem galesa se uniram durante a guerra das duas rosas, onde a púrpura dos Tudors derrotou a brancura da rosa de York. De 1542 a 1545, John Dee estudou no St John’s College em Cambridge, do qual ele conta; “Eu estava tão profundamente imerso no estudo que durante esses anos aderi inviolavelmente ao meu horário; apenas quatro horas de sono por noite; duas horas por dia para comida e bebida (e alguns refrescos depois); e o resto das dezoito horas (exceto o tempo para ir e realizar o serviço divino) foi gasto em meus estudos e aprendizado).” Em seguida, Trinity College. Recebeu o título de Bacharel em Artes em 1546, tornou-se membro da Sociedade dos Amigos do Trinity College, ainda em Cambridge.

Nesse mesmo ano, construiu uma máquina voadora para a representação teatral de Zeus em Paz, peça de Aristófanes. Infelizmente, essa proeza técnica para a época forjou a base para uma acusação de prática de artes mágicas malignas (pense em Zeus voando em uma carruagem dentro do Olimpo no final da Idade Média religiosa!) e um evocador de espíritos malignos. Ordinário. A dura vida do século XVI. Como Bertrand Gilles indicou em seu famoso livro Les Ingénieurs de la Renaissance, apenas os místicos estudavam matemática, o que levou ao projeto de máquinas que permitiram fazer desaparecer trabalhos difíceis para a humanidade. Mas a Igreja havia proibido essa prática de “artes mecânicas” consideradas diabólicas. Só os reis e a alta nobreza militar protegiam parte do saber técnico herdado da antiguidade para fabricar armas, pontes, veículos, fatos de mergulho, moinhos, protomáquinas voadoras ou de mergulho… E os 200 do renascimento europeu…

Mas Dee foge com isso. Corremos por toda a Europa e as cidades estão cheias de vegetação florida. E fugiu. Bélgica. Flandres. De 1548 a 1551, John Dee estudou em Louvain, uma universidade financiada pelo papado e pelo imperador Carlos V, renomada em toda a Europa pelo estudo de leis civis e matemática. John Dee também visita Antuérpia antes de chegar a Paris e realizar ali a notável performance para um jovem de 33 leituras sucessivas sobre Euclides. “Uma coisa que nunca havia sido feita publicamente em nenhuma universidade da cristandade”, como ele mesmo observou antes de prefaciar a primeira obra britânica de Euclides que ainda seria usada para o ensino de matemática nas faculdades inglesas de 1914. Mas, acima de tudo, a obra de John Dee a visita a Louvain, que não foi para completar o doutorado, foi a do encontro e da longa amizade com Gérard Mercator, o primeiro geógrafo do globo terrestre real, fundador da geografia moderna. John Dee retorna à Inglaterra de posse do segredo da bússola orientada no pólo magnético, cujo lugar e papel são descobertos por Gérard Mercator, os países da América e as supostas passagens para o Mar Báltico e a Rússia. Foi a amizade de John Dee que abriu a dimensão do “império marítimo” ao mundo anglo-saxão. Rússia. E Virgínia…

Na Inglaterra, ele passou os anos de 1551 a 1553 como tutor de Robert Dudley, filho do Lord Protector Northumberland, e mais tarde Conde de Leicester. Em 1553, Eduardo VI concedeu-lhe duas igrejas em funcionamento, com suas pensões, as reitorias de Upton-on-Seven, Worcestershire e Long Leadenham, Lincolnshire. No entanto, a ascensão da rainha Maria Tudor (casada com o ultracatólico rei da Espanha Filipe II que reprime o protestantismo puritano) causou uma desagradável reversão da sorte, especialmente como estudantes de magia e artes matemáticas (na época ele é a mesma disciplina, proibidos ao mesmo tempo que o estudo de qualquer arte “mecânica”) são perseguidos pelas apostas. John Dee foi preso em 1555 sob a acusação de ser “suspeito de lançar feitiços contra a rainha”. Ele é libertado, mas seu mordomo, Barthlet Grene, é queimado vivo.

Para recuperar seu crédito, John Dee dirige uma petição à rainha Maria para a pesquisa e preservação de escritos antigos (queimados pelos tribunais) e monumentos. 1556. É contratado como assistente de um inquisidor. Ele recupera todos os manuscritos de alquimia (que estuda) apreendidos nas casas dos réus da justiça eclesiástica e acumula um enorme fundo de manuscritos que serão usados ​​para o desenvolvimento científico posterior da Grã-Bretanha. “Se o fator essencial de uma universidade é uma excelente biblioteca, FR Johnson apontou que a casa de Dee pode realmente ser considerada a academia científica da Inglaterra durante a primeira metade do reinado de Elizabeth 1ª da Inglaterra.” como apontam os biógrafos modernos de John Dee, Frances Yates e Peter French. Sua biblioteca inclui as obras completas de Platão e Aristóteles, os dramas de Ésquilo, Eurípides, Sófocles, as sentenças de Sêneca, Terêncio e Plauto, os escritos de Tucídides, Heródoto, Homero, Ovídio, Lívio, Plutarco.

Mas a rainha Maria Tudor acaba de morrer.

Ele teve muitas obras sobre religião e teologia: a Bíblia, o Alcorão, São Tomás de Aquino, Lutero, Calvino. Todas as principais obras para antiquários britânicos contemporâneos estavam presentes, incluindo todas as obras de ciência e matemática. Geografia. Obviamente, para um homem renascentista, o misticismo e a magia eram importantes no esquema de arranjo, junto com Plotino, Roger Bacon, Raimundo Lúllio, Alberto Magno, Marsílio Ficino, Pico de la Mirandola, Paracelso, Tritemius e Agripa, e outros. Todo o Renascimento em um único estudioso. Escrever sua biografia é dar conhecimento científico e técnico desde a antiguidade até o século XVI. Uma aula de arte da memória (a base da educação tradicional) como bônus.

O Mago da Rainha Elizabeth I da Inglaterra

O astrólogo da data escolhida para a coroação solene da rainha Elizabeth 1ª da Inglaterra chama-se John Dee. Ele a servirá com devoção incomum durante todos os anos de seu reinado. Dee era conhecido na corte com seu ar de bardo merlinesco e se reuniu com o conde de Leicester, seu primeiro aluno, bem como o círculo de Sir Philip Sydney, a profunda amizade de Sir William Cecil e muitos outros parentes da Coroa, incluindo o chefe do serviço secreto, Sir Gresham, incluindo – especialmente – a própria rainha. O número de agente secreto de Dee com a Rainha era o número 7. É uma época muito boa. Anos “estudiosos, produtivos e cheios de sucesso”. Ele via a rainha várias vezes por semana em conversas privadas. Ela muitas vezes vinha à sua casa sem avisar. Ele parece ter cumprido o papel de conselheiro político, espiritual, militar, cultural e técnico ao mesmo tempo. Segredos de estado britânicos. John Dee vê a Inglaterra salva se ela decidir adquirir o domínio das águas. A criação da frota inglesa com madeira russa. Ivan, o Terrível, logo se tornou conhecido pelos cortesãos como o “czar inglês”. Ele ficou tão impressionado com a fama de John Dee que o convidou para Moscou, oferecendo-lhe comida e uma grande casa, além de £ 2.000 por ano. John Dee se recusa como um bom patriota. Em 1580, John Dee presenteou a rainha Elizabeth com um mapa do hemisfério norte, permitindo que ela estabelecesse sua legitimidade dos direitos ingleses na América do Norte. E promover três anos depois as viagens de seu amigo Sir Walter Raleigh com o batismo de “Virginia” e a expedição ao Orinoco, inspirando também as de Francis Drake. O Império Britânico nasceu enquanto a França lutava em suas Guerras Religiosas, distanciadas à vontade pelas obras do francês Rabelais…

Para ler as obras criptografadas e avaliar o papel de seu país no nível físico e metafísico, John Dee está especialmente interessado nas criptografias da alquimia, da cabala e das possibilidades de comunicação direta com as forças divinas da vida que emanam dos textos. Ele tem todas as obras de Roger Bacon, este monge franciscano do século XIII que descreve as etapas da revolução científica que não se completará até o século XVII, e fará a ponte com Francis Bacon, que encontra duas vezes, revelando-lhe o essencial papel do método experimental para o desenvolvimento de ciências e técnicas úteis à humanidade, bem como sua responsabilidade perante Roger Bacon, que leva o mesmo nome que ele. Francisco não foi tão profundo, mas apresentará ao mundo científico uma visão do método experimental que, embora carente de sal, não permanece menos real.

Como todos os grandes renascentistas, John Dee descobre na Árvore da Vida um diagrama de síntese ecumênica de todas as religiões e mitologias, um diagrama funcional onde cores, minerais, plantas, árvores, letras, números, partes do corpo, porções do céu e nomes divinos correspondem. A alquimia o obriga a fazer uma viagem à Hungria para comprar um famoso antimônio, mas os experimentos que ele realiza há muitos anos não são conclusivos. São sobretudo os manuscritos mágicos que abrirão as portas para experiências estranhas, as da filosofia oculta.

O ano é 1582. Ele conhece o homem com quem seu nome será tantas vezes associado, Sir Edward Kelley. Muitas pessoas meditaram em vão para entender como era possível que um homem inteligente como Dee, formado em estudos clássicos, aficionado em navegação, matemática, lógica, literatura e filosofia, tivesse cuidado de alquimia, magia e conjuração de espíritos com a habilidade de Kelley. ajuda. Vamos examinar esta questão.

A filosofia oculta teve uma influência muito grande no Renascimento. Descreveu o universo em três dimensões: o mundo elementar da Natureza Terrestre que era a província das ciências físicas, o Mundo Celestial das estrelas que poderia ser entendido e apreendido pelo estudo e prática da Alquimia e Astrologia, incluindo astronomia e matemática, e o Mundo Supercelestial que poderia ser estudado por operações numéricas e pela evocação dos próprios anjos. Dee tenta explorar o Mundo Supercelestial em busca de respostas vivas que não encontrou mais nos livros que leu. Sua tentativa de obter esse contato angélico é do ponto de vista de seu tempo e do método experimental puramente lógico. As motivações profundas de Dee são científicas e religiosas. Religioso nisso o próprio Dee acreditava sinceramente que estava conversando com os emissários de Deus e mostrava uma atitude constante marcada pela sabedoria cristã. Científico em que Dee colocou a questão: existe vida inteligente em outras dimensões? Ele acreditava que assim era e que o Homem poderia conseguir estabelecer uma comunicação permanente com os anjos. Ele tentou. Encontrando-se pobre vidente, John Dee procura um médium para ver e ouvir os anjos convocados. Saul Barnabé foi substituído por Edward Kelley, de quem pouco se sabe.

Nascido em Worcester em 1º de agosto de 1555, ele entrou em Oxford sob o nome de Edward Talbot e depois desapareceu da universidade. Alguns historiadores acreditam que ele abriu a tumba de São Dunstão na esperança de encontrar ali um pó de projeção alquímica mencionado nas lendas. Seja como for, ele se tornou por um tempo o secretário do matemático e estudante hermético Thomas Allen, antes de apresentar seus próprios serviços na casa de Dee em Mortlake.

A Língua Enoquiana

10 de março de 1582. De acordo com o doutor Thomas Head: “O retrato do relato das sessões com Dee é o de uma personalidade ambígua no mais alto grau, má e mentirosa, instável e ácida, rápida de um lado a terríveis explosões de raiva acompanhada de violência física e, por outro, a súbitas explosões espirituais das quais ele se separa rapidamente”. A maioria dos biógrafos concorda que o contraste entre a vida e o caráter de Dee e os de Kelley é a fonte do fascínio dos dois homens. O santo e o debochado. Nossa própria tradução das atas das sessões nos fornece outras pistas. Dee foi atraído por Kelley quando ele se apresentou como um “alquimista operativo”. Dee não teria conseguido experimentar sua “magia angelical” sem o excepcional apoio mediúnico de Kelley e levando, após resultados iniciais extraordinários em relação ao objetivo pretendido, a emergência de um enigma ainda não resolvido: a língua enoquiana . Dee ainda não sabia o que pensar disso na noite de sua vida, trinta anos depois…

Os preparativos iniciais foram simples. Como observa o Dr. Head: “Simplesmente colocando uma pedra de visão ou cristal de rocha na mesa de prática e uma breve oração dita pelo Dr. Dee”. O resultado foi que Kelley recebeu uma visão do Anjo Uriel no primeiro dia que revelou sua assinatura secreta e deu instruções preliminares para a construção de “dois talismãs mágicos”:

1 – O “Sigillum Dei Aemeth (O “Selo da Verdade Divina”), um pantáculo de cera purificada de 9 polegadas de diâmetro, atualmente guardado no Museu Britânico.

2 – A “Tabula Sancta” (A “Mesa Sagrada”), uma mesa feita de madeira preciosa, com 1,60 metros de altura por 0,8 de largura, sobre a qual um grande selo retangular contendo 12 letras de um alfabeto desconhecido (o Enoquiano…) 7 selos circulares atribuídos aos poderes planetários.

Os dois talismãs que eram de fato os dois primeiros documentos enoquianos deveriam ser usados ​​juntos, o pantáculo sendo colocado sobre a Mesa Sagrada durante seu uso. Dee e Kelley estavam convencidos de que essa língua era a dos próprios anjos e correspondia a uma espécie de língua de origem, da qual viriam as línguas mais antigas. A complexidade dos eventos aumenta. Em 14 de março, um espírito posando como o anjo Miguel dá instruções para fazer um anel mágico de ouro, com um selo que ele disse ser o mesmo que “possibilitou todos os milagres e obras divinas e maravilhas realizadas por Salomão”. Em 20 de março o Anjo Uriel dita um quadrado de 49 caracteres, contendo 7 nomes angélicos identificados por Dee e Kelley. Um dia depois, um segundo quadrado é ditado. Kelley estava prestes a começar a ditar a Dee as visões na linguagem angelical ou “enoquiana”. Como escreve Head: “O alfabeto enoquiano apareceu primeiro: 21 caracteres semelhantes ao etíope em forma de letras, embora não em estrutura semelhante à grega, escritos da direita para a esquerda, como todas as línguas semíticas. Isso continuou com um livro também contendo cem quadrados, a maioria preenchido com 2401 quadrados (49 vezes 49), cujo ditado se tornou o principal trabalho de todas as sessões diárias por 14 meses. E o material continuou a se acumular página após página, livro após livro, até a separação final entre Dee e Kelley em 1589.”

Dee e Kelley vão para a Polônia a convite de um aristocrata, ficam em Cracóvia onde os Anjos conversam com eles sobre alquimia, antes de serem recebidos em Praga pelo imperador Rudolf II de Habsburgo, imperador dos alquimistas, protetor de Dürer, Arcimboldo, Tycho Brahe , Kepler e muitos outros. O anti-Philip II da Espanha. Ele leva Dee (que lhe dá um manuscrito original de Roger Bacon contando sobre seus contatos angelicais) e Kelley sob sua proteção. Pura sincronicidade da presença da palavra “Aemeth” colocada no selo de cera de Dee e o “Aemeth” colocado no Golem do famoso rabino Loew que viveu em Praga na mesma época? O diário de Dee não menciona um encontro com o rabino, mas ele conhece o médico alquimista do imperador, Michael Maïer, o primeiro que escreverá para atestar a existência de uma fraternidade com o emblema da Rosa e da Cruz, presente curar a humanidade de seus males. Irmandade invisível. Mas qualquer que seja o encontro fictício ou real narrado pelo romancista Gustav Meyrink em seu famoso “Anjo na Janela Ocidental”, qualquer que seja a desgraça social que recai sobre os dois homens (Dee retornou à Inglaterra com sua esposa em 1589, Edward Kelley foi preso por Rudolf II de Habsburgo e morreu em 1595), a verdadeira questão colocada por Dee é a da Rosa. Etno-história. Crônicas da transmissão xamânica européia.

John Dee na Origem da Rosa-Cruz?

A lenda Rosacruz – a história da fundação de uma irmandade mística por um certo Christian Rosenkreuz, sua morte em 1484 e a abertura de seu túmulo 120 anos depois – foi contada pela primeira vez em vários panfletos publicados nos anos de 1614 e 1615. Dee morreu em 1608. O mais influente dos textos foi o Fama Fraternitatis rapidamente traduzido para todas as línguas dos estudiosos do século XVII. René Descartes procurou febrilmente os Rosacruzes na Europa e manteve sua marca em sua filosofia pessoal. Este livreto influenciou não apenas os cabalistas e mágicos da época, aqueles humanos que tendiam a pensar mais em símbolos do que em palavras, mas também as irmandades maçônicas do século XVIII e os ocultistas do período posterior a 1850. em todos os tempos e em todos os lugares o emblema da beleza da vida e do amor expressa o pensamento secreto de todos os protestos manifestados durante o Renascimento. É como escreveu Eliphas Lévi: “A carne se revoltou contra a opressão do espírito; era a natureza se declarando Filha de Deus, como a Graça; era a Vida que não queria mais ser estéril; era a humanidade aspirando a uma religião natural, toda de razão e amor, fundada na revelação da harmonia do ser, da qual a rosa era para os iniciados o símbolo vivo e florido.”

A rosa é uma arma mágica. Um pantáculo natural universal. A rosa vinda da gnose de Alexandria, das tradições monásticas e das ordens religiosas de cavalaria, é o Amor invencível que une a carne ao espírito, é o Amor do Rosto feminino da Divindade. É claro que se pensa em Guillaume de Lorris, que iniciou o Roman de la Rose (O Romance da Rosa), sem esquecer o Cântico dos Cânticos do Antigo Testamento. A Rosa de Saron e o Lírio do Vale. A Rosa é a Natureza, a Mulher. E o cabalista cristão Agripa publica seu livro Sobre a Superioridade das Mulheres. A Inquisição e as Guerras Religiosas atingiram duramente as mulheres sob a cobertura de julgamentos de feitiçaria, como muitos estudiosos anglo-saxões apontam. Pensa-se na Ordem do Templo e na construção de catedrais na Europa. As cidades. Jehan de Meung retoma o Roman de la Rose (O Romance da Rosa) depois de ter lido, é o mínimo, os textos taoístas transmitidos a Felipe VI, o Belo pelos mongóis em 1265. Esta é a data de nascimento de Dante que será um dos líderes da Fede Santa, terceira ordem de filiação templária. Ele descreverá em seu oitavo céu do paraíso o Céu Estrelado, o da Rosa-Cruz, perfeito vestido de branco que ali professa o universalismo da doutrina evangélica, oposta à doutrina católica romana, evitando a ruptura. Dee era pela reconciliação do cristianismo de todos os matizes. Mas os abusos do papado os acharam impiedosos. Ali se juntaram às correntes ocultas do Hermetismo, do Catarismo, das teses abertamente gnósticas defendidas por Alberto Magno, São Tomás de Aquino, Pedro Lombardo, Ricardo de São Vitor, São Francisco de Assis, Santa Clara e toda a Ordem Terceira. A Ordem Terceira que derrotará o feudalismo deixando o Terceiro Estado brotar dele. Porque para John Dee a coisa fica clara na carta de 1563 que ele dirige a Sir William Cecil:

  1. Tudo é Uma Unidade, criada e sustentada pelo Uno através de suas Leis.
  2. Essas leis são ensinadas pelos Números-Filhos.
  3. Há uma arte combinatória das letras hebraicas que as torna válidas com o Número, de tal forma que se revelam verdades profundas sobre a natureza do Único e sua relação com o Ser humano.
  4. O ser humano é de origem divina. Longe de ter sido criado do pó como narrado no Gênesis, ele é, em essência, um gênio estelar.” Ou como dirá O Livro da Lei, transmitido a Aleister Crowley que estudou Dee no início do século XX: “Todo homem e toda mulher é uma estrela”.
  5. É essencial regenerar a essência divina dentro do ser humano, e isso pode ser alcançado pelos poderes do intelecto divino.
  6. Segundo a sagrada Cabala, Deus se manifesta através das intenções de 10 emanações progressivamente densas: e o ser humano, dedicando sua mente ao estudo da sabedoria divina e refinando todo o seu ser, e pela possível comunhão dos próprios anjos, acabará por poder entrar na presença de Deus.
  7. Uma compreensão cuidadosa dos processos naturais, visíveis e invisíveis, permite ao ser humano jogar com esses processos através dos poderes de sua vontade, sua inteligência e sua imaginação.
  8. O Universo é um padrão ordenado de correspondências. Qualquer coisa no Universo tem ordem, simpatia e força estelar com muitas outras coisas.

Para John Dee, isso não é uma metáfora. Todo ser humano é verdadeiramente uma reprodução terrena de uma das estrelas visíveis no céu, conforme Paracelso. A astrologia astronômica esboça uma síntese das ciências que leva a uma astrosofia e uma geosofia. As revelações angélicas lhe fornecerão importante material relacionando os diferentes povos conhecidos, com suas qualidades específicas e suas singularidades, segundo um esquema relativamente próximo da história real das civilizações. O primeiro raio é formado pelo Egito, França no dia 8, Alemanha no dia 10… Diplomacia psicológica, histórica e metafísica para relaxar.

O Romance da Rosa do século XVI:

História de amor. 1578. John Dee tem 51 anos. Seu cabelo e barba ficam brancos e ele parece cada vez mais um Merlin sóbrio. Sua reputação como mágico discreto não é discutida na corte da rainha. Mas a verdadeira magia da vida vem quando a jovem mais bonita da comitiva de Elizabeth I, a atendente de Lady Howard, então Jane Fromont, então com 25 anos, se apaixona perdidamente por ele. Eles se casaram. Ela lhe dará 5 filhos e a ideia certa da verdadeira dimensão do amor de uma mulher em um tempo muito patriarcal e muito puritano/debochado. Jane e John Dee casaram com rosas brancas, rosas e vermelhas, sem esquecer as rosas negras da arte ocidental do amor, tantrismo natural onde o espírito revisita toda a história das divindades femininas, a Rosa da Suméria, do Egito, Babilônia, Grécia, Roma, Gália, País de Gales, Celta, Idade Média e século XVI com a descoberta da Face Feminina da Vida reivindicando seus direitos ao longo da história humana, paridade em um mundo dominado pelo poder masculino.

Pétalas de Rosas. O Romance Escarlate.

Mas ninguém é profeta em seu país e o retorno de Praga a Londres, em 1589, é difícil. Certamente, Jane está com John e a Invencível Armada das frotas espanholas lançadas para conquistar a Inglaterra pereceu em 1588 na Grande Tempestade cuja lenda atribui o milagre ainda no povo à fabricação por John Dee de um pentagrama consagrado aos elementos das águas para proteger a Grã-Bretanha da dominação marítima. Mas, ao mesmo tempo, a mesma fama de mago destruiu pelas chamas a casa de Dee em Mortlake, tendo a vizinhança percebido a presença de espíritos e espectros ao redor antes de queimá-la.

Não houve recepção suntuosa para recebê-los. Seus pedidos de assistência e proteção falharam sucessivamente, e Dee foi intensamente atormentada por problemas financeiros e escândalos. Finalmente, foi a rainha Elizabeth quem o nomeou para o College of Christ, em Manchester, em 1596. Mas os estudantes deram as costas às reformas de John Dee, que lhes deram mais trabalho. Em 1605, eles o forçaram a desistir de seu posto. Ele voltou para Mortlake, viúvo, Jane tendo morrido pouco antes. Seus últimos anos foram filosóficos. Ele morreu em 1608.

A história da descoberta do trabalho “mágico” de John Dee é bastante surpreendente. Sua propriedade foi vendida e passada como herança. Um século depois, um amigo de Elias Ashmole o apresenta à jovem que os possuía. Sir Elias Ashmole já estava fundando o que viria a se tornar a Maçonaria Inglesa quando recebeu os escritos completos e o Sigillum Dei Aemeth de John Dee.

Não conhecemos nenhum comentário particular sobre a chance objetiva que permitiu que ele se tornasse seu possuidor, sem que ninguém interferisse em uma transmissão que faria o “depósito ou o legado enoquiano” passar ao médico legista do século XIX, Dr. Wynn Westcott, que as oferece para leitura a um jovem e brilhante estudante maçônico, que se tornará cunhado do filósofo francês Henri Bergson: Samuel Liddell MacGregor Mathers. Um dos homens por trás da Ordem Hermética da Golden Dawn (Aurora Dourada).

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Fontes: Sobre John Dee, Lucie Stern, fevereiro de 1995 e.v.

Ilustração: Retrato de John Dee. Século XVI, artista desconhecido. Museu Ashmolean, Oxford, Inglaterra.Consulte a página do autor/domínio público.

Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.


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Postagem original feita no https://mortesubita.net/enoquiano/o-legado-magico-de-john-dee/

História das Maldições

Dedicamos grande parte da vida a lidar com nossa maldição, a jogar com as cartas que nos foram dadas que não são boas. Isso nos tranforma em monstros ou conseguimos encarar isso de forma serenam ou aindam aceitamos esse fato e simplesmente seguimos com a vida?

O autor da frase acima é o pai de um dos monstros mais conhecidos do cinema – ou que na minha humilde opinião deveria ser o monstro mais conhecido do cinema. Não tenho condições de afirmar até onde Wes Craven realmente acredita no que disse, se é de fato tão fatalista ou, de um ponto de vista cínico, tão realista quanto às vezes ele deseja aparentar ser, claro que estando envolvido com o cinema de horror, essa aura lhe cai bem, mesmo que apenas como forma de marketing de seus produtos, mas algo que qualquer um pode constatar é que ele há dácadas lida como poucos com maldições.

Se de fato dedicamos grande parte da vida a lidar com elas, ou simplesmente fazemos tempestades em copos d’água não há como negar que, de uma forma ou outra, as maldições estão presentes ao nosso redor, quer queiramos ou não. Mas ao que parece são poucas as pessoas, se é que existem, que param para pensar nelas. As maldições sempre existiram? São reais? Precisam de pessoas para existirem ou tem uma vida independente? Ela pode ser arremessada para se atingir alguém, ou colocada em um prato de comida apra ser ingerida? É mera crendice ou um vírus que não se reproduz em meio físico?

Pegue dicionários e o consenso geral é de que uma maldição é algo especificamente ruim. Algo associado ao sofrimento e à desgraça. Isso por si só levanta algumas questões interessantes. Deixando de lado por um momento a legitimidade de uma maldição, é curioso ver que ela serve, de uma forma ou de outra, como uma arma ofenciva. No primeiro episódio da série Mr. Deity [www.mrdeity.com], vemos Deus, o Senhor Deidade, conversando com seu engenhrio chefe, logo após a criação do universo e decidindo sobre que males permitiriam, ou Deus permitiria, que existissem em sua criação, e de acordo com a ata da última reunião viram que Deus havia chegado à conclusão de que não permitiria que as pessoas machucassem uma às outras usando apenas o pensamento. A conversa seguia então mostrando como, apesar do que parecia ser uma primeira decisão sábia, Deus permitia então que outros males como terremotos, guerras e síndrome de Down existissem. Como já se é possível imaginar o programa, criado para a internet, consistia de uma série de quadros satíricos curtos parodiando vários aspectos da religião – essencialmente o cristianismo. O ponto discutido brevemente neste episódio é interessante porque, humor ateu posto de lado, as pessoas tem um ímpeto de querer causar a desgraça a outros e se pudessem usar apenas a mente para isso estariam ainda mais satisfeitas. Você com certeza já viveu momentos da vida quando imaginou como seria bom conseguir descascar uma pessoa como uma banana, tirando fatias de pele e a deixando no chão, sem ter que sair de casa ou sujar as mãos. Quem aqui nunca teve um momento em que pensou “como eu gostaria que fulano morresse gritando em chamas enquanto anões tortos mijam na boca dele” que atire a primeira pedra.

Este primeiro episódio de Mr. Deity é engraçado neste aspecto, porque se por um lado tenta mostrar a “insensates” que Deus seria, comparando um mal absurdo como matar alguém com a mente com males aparentemente mais cruéis como doenças degenerativas, catástrofes da natureza e Celine Dion, por outro ele passa batido, como aparentemente toda a nova leva de ateus céticos agnósticos, por um ponto interessante. Nós vivemos em um mundo onde pessoas maltratam, machucam e mesmo matam outras usando apenas a mente. Através de rituais sociais, como o ostracismo e o preconceito, através de rituais profissionais, como “fazer a caveira”, “fritar” ou “puxar o tapete” de alguém, através de rituais psicológicos, como minar a confiança e auto-estima de alguém. Em novembro de 1992 uma adolescente de 13 anos, Megan Taylor Meier, se matou por causa de conversas com um garoto inexistente através da rede social MySpace. Claro que em todos esses casos existe ao menos uma forma de comunicação, são necessarias ferramentas, contato entre o atacante e a vítima, e o ataque não acontece em um plano inteiramente mental. E em todos os casos eles necessitam de certa repetição, a pessoa que ataca tem que manter o ataque por um certo tempo. A menina que se matou passou incontáveis horas conversando com o garoto, e dificilmente você consegue quebrar mentalmente uma pessoa com apenas um insulto. Imagine como seria se você pudesse fazer um alto executivo de sucesso perder tudo o que tem simplesmente passando ao lado dele e dizendo: FRACASSADO!

Uma maldição teria este poder. Mas isso nos faz voltar ao ponto anterior de questionar se uma maldição é algo real.

Os responsáveis pelo que chamamos hoje de maldição é um grupo que faria Wes Craven parecer um vendedor de cocos nos farois do Alasca. Eles foram os criadores dos maiores monstros da história da humanidade, e não apenas do cinema. Eles criaram as dimensões mais assustadoras, as torturas mais inimagináveis, os monstros mais bizarros, e diferente do Freddy Krueger de Craven, fizeram as pessoas de fato acreditarem no que inventaram.

A palavra “maldição” tem sua origem no latim, em duas outras palavras: male, “mal” e dicere, “dizer, falar”. Juntas elas significavam mal dizer alguém, ou seja, falar mal de alguém. “Fulana é uma vagabunda!”, “Beltrano é um cafajeste!” Pronto acabamos de mal dizer duas vezes. Isso de fato poderia afetar a vida da pessoa, mas apenas se o maldicere fosse sustentado pela máquina da fofoca. Mas então vieram os cristãos, e a coisa ficou feia. Com o cristianismo maldizer alguém se tornou sinônimo de execrar alguém – e execrar por sua vez também é composta por outras duas palavras latinas: ex, “fora”, e sacer, “sagrado”. Com o cristianismo alguém maldito era alguém afastado do sagrado, e tudo o que se afasta do sagrado é considerado detestável e ruim, no mínimo.

Mas de onde surgiu um salto tão grande? De alguém cujas pessoas falavam mal para alguém que recebeu o pior castigo e foi afastado de tudo o que é bom e decente? Vamos dar uma olhada na Bíblia para isso.

O oposto de uma maldição é uma benção (do Latim BENEDICTIO, “ato de abençoar”, de BENE, “bem”, mais DICTIO, de DICERE, “dizer”); e diferente do que a maioria das pessoas, e talvez mesmo você, pensa, uma benção não é apenas algo que se possa sair dando por ai. Uma bênção, originalmente era um dom sobrenatural, como meio de salvação ou satisfação. É considerado um dom sobrenatural porque viria direto de Deus, e não pode ser usado por ai, “abençoo você, sua família, seu carro e seu cachorro! Próximo… abençoo você, sua filha, sua mãe, etc…” porque a bêncão é muito mais do que simplesmente falar, é um dom que é passado adiante. Isso fica claro no episódio do Gênesis, todo o capítulo 27, quando Isaque em sua velhice, estando praticamente cego, chama Isaú e pede que ele vá caçar e prepare um guisado para que o próprio Isaque comece e então sua alma pudesse abençoar Isau na face do Senhor antes que morresse. O problema é que a mãe de Isau, mulher de Isaque, ouviu a conversa e achou que seria melhor que a bênção fosse para Jacó, irmão de Isaú. Resumindo a história ela preparou um guisado, vestiu Jacó com as roupas do irmão, tomou conta de certos detalhes que os diferenciaram mesmo para um homem cego e o mandou levar a comida para o pai moribundo. Resultado da história, Jacó recebeu a bênção no lugar de Isaú. QUando Isaú voltou da caçada e levou o guisado para o pai descobriu que haviam lhe passado a perna e pede ao pai: “Abençoa-me também a mim, meu pai!” ao que Isaque responde: “Veio teu irmão e com sutileza tomou a tua bênção.” Isaú se desespera e depois de curto diálogo pede de novo: “Porventura tens uma única bênção, meu pai? Abençoa-me também a mim, meu pai.” E vendo que aparentemente o pai possuia uma única bênção “levantou Esaú a voz, e chorou”.

Curiosamente neste texto existe um diálogo apontando para a equivalência inversa de bênção e maldição quando Jacó ao ouvir o plano da mãe de enganar o pai cego, teme ser apanhado e “e serei a seus olhos como enganador; assim trarei sobre mim uma maldição, e não uma bênção.” Isso mostra que se uma bênção era um dom enviado pela criador e passado direto pela alma de seu portador para alguém, uma maldição seria o oposto disso. Para entender melhor isso basta perceber que a religião, neste aspecto, passou a perna na física em pelo menos 4000 anos.

Enquanto o assunto de radiação, como um fenômeno físico onde partículas ou ondas de energia viajam através de um meio ou do espaço propagando assim sua energia é algo relativamente recente na história da ciência, os antigos patriarcas falavam já de formas de energia que passavam por certos condutores, vindo de determinada fonte, e eram transmitidas. O sol emite radiação solar, especificamente radiação eletromagnética, metade desta energia é emitida como luz visível e a outra metade como energia invisível (que se fora da frequência visível do espector eletro magnético). Por mais difícil que seja imaginar, a luz que você vê hoje não é a mesma que vê amanhã, na verdade a luz que você vê em um instante não é a mesma que você vê no instante seguinte, cada fóton é emitido, viaja e chega aqui onde o vemos. Um mesmo fóton não ilumina o mesmo lugar duas vezes. É como a água que sai de uma torneira. Se uma gota te molhou, não vai sair de novo e te molhar de novo. A história de Jacó e Isaú nos mostram que a visão de uma bênção é muito próxima disso. Isaque possuia UMA bênção, uma vez usada não pode usá-la com outro filho, ou simplesmente sacar yuma segunda bênção do nada. Neste aspecto fica fácil de entender que assim como um fóton é um objeto real, físico e até mensurável em certos aspectos para um físico, uma bênção também é algo real, físico e até mensurável para os que lidam com isso. Neste aspecto, também fica fácil de compreender porque não muito tempo atrás, afirmar que algo ou alguém era maldito era uma ofença extremamente séria.

Já que uma bênção era algo que poderia fazer alguém se tornar o próspero patriarca de uma nação, uma maldição poderia condenar alguém ao pior tipo de existência imaginável, e assim passou a ser entendida como a ação efetiva de um poder sobrenatural, caracterizada pela adversidade que traz, sendo geralmente usada para expressar o azar ou algo ruim na vida de uma pessoa. Na época do Antigo Testamento, Deus era responsável por tudo de bom e de ruim que acontecesse na vida de uma pessoa. Com a criação do cristianismo Deus passou a ser visto como uma criatura de amor, e caiu ao diabo a vontade de trazer o mal para o mundo. Assim foi natural que Satã (ou um de seus infinitos nomes ou equivalentes) se tornasse a fonte do poder sobrenatural de onde se originava a maldição. Dai é fácil imaginar o que aconteceu a seguir: as religiões patriarcais (judaismo e cristianismo) se institucionalizaram.

A base de qualquer instituição é simples: um chefe e um bando de empregados produzindo algo para o resto do mundo. Se todo mundo pudesse ser padre viveríamos em um planeta repleto de igrejas, todas elas vazias. Aparentemente o Deus dos abrahâmicos não é um Deus popular. Assim muito poucas pessoas tinham um acesso às bênçãos. Isso mudou quando na época do protestantismo aparentemente todo mundo se tornou capaz de ser um padre/pastor e o número de bênçãos cresceu. Por outro lado, sempre foi do conhecimento de todos que o Diabo não era tão exigente em relação a seus escolhidos, praticamente qualquer um podia se relacionar com ele, assim maldições sempre foram algo que podiam ser lançadas a torto e direito por qualquer um. Uma pessoa que quisesse sua casa, seus filhos, seu casamento abençoado teria que procurar um padre ou um rabino. Já se qualquer pessoa te olhasse feio e te amaldiçoasse, você estava em maus lençóis. A maldição não poderia ser revogada até que um poder espiritual superior interviesse trazendo libertação.

 

Origem das Maldições na História Humana

 

Texto Gn 2.17: “mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.”

A primeira maldição concreta que surge na Bíblia foi lançada em um objeto e em quem entrasse em contato com esse objeto, pelo próprio Deus. Fica claro que a primeira maldição, então, estava vinculada à desobediência. Se me obedecer, vive no paraíso, se me desobedecer, terá a morte. Era um fato. Uma lei que não poderia ser quebrada impunemente. Por causa de uma distorção da percepção que as pessoas passaram a ter de Deus, uma das maiores fontes de desobediência passaram a ser o ato de desobedecer ao Senhor; já que Deus era bom, ele não poderia causar o Mal, o Mal viria do ato das pessoas.

Com a institucionalização da religião pessoas que tem autoridade passaram a poder amaldiçoar também. Pais podiam amaldiçoar filhos. Líderes amaldiçoar aqueles a quem liderava, Professores amaldiçoar alunos. Sempre seguindo o princípio da desobediência, como castigo para uma ordem não acatada. Pense bem: assim que Adão e Eva desobedeceram a Deus, eles não apenas contraíram a maldição para si como a transmitiram para todos os seus descendentes, que tecnicamente seríamos todos nós humanos. Assim nós temos também o poder de passar a maldição adiante, para quem quisermos, como uma batata quente. É como se por direito divino, cada um de nós nascêssemos com um revólver contendo apenas uma bala, claro que com o tempo poderíamos conseguir mais munição e mesmo armas maiores.

Davi, por exemplo, em Salmos 2 1:21 profere uma maldição conte os montes de Gilboa: “Não caia sobre vós nem orvalho e nem chuva, a fim de que a terra ficasse estéril”. Claro que podemos encarar isso como uma forma primitiva de tentar compreender porque aqueles montes são estéreis, mas também podemos aprar para pensar por que, mesmo hoje com toda a tecnologia que Israel possui no campo do reflorestamento, não consegue sucesso em reflorestar os montes de Gilboa.

 

Tipos de Maldições

Assim, as maldições podem afetar as pessoas de diferentes maneiras e vir de diferentes lugares, podemos classificá-las para estudar melhor isso.

Maldições Hereditárias

O melhor exemplo é o já citado caso de Adão e Eva, que ao serem amaldiçoados, amaldiçoaram toda a raça humana. Agora podemos ver isso sob um aspecto mais moderno. Imagine um pai alcoólatra, qual chance ele tem de criar um filho que seja propenso ao alcoolismo? Se esqueça por um momento do aspecto “sobrenatural” da maldição. O pai pode influenciar seus filhos geneticamente, pode influenciar os valores que os filhos terão, pode influenciar o cotidiano dos filhos. A informação alcoolismo pode ser interpretada de várias maneiras mas tecnicamente é um pacote de informação que será passado adiante, como um programa de computador, e será processado por outra pessoa com os mesmos resultados. Crie um processador de textos e instale em 4 computadores diferente, em cada um ele funcionará do mesmo jeito. Neste caso o alcoolismo será processado de maneira semelhante (por ser analógico e não digital com eventuais diferenças) por pessoas que forem alimentadas com ele.

Assim uma maldição lançada, pode ser desenvolvida para afetar não só sua vítima, mas os decendentes da vítima.

 

– Maldições Indiretas

Tecnicamente esse é um tipo de maldição não lançada diretamente a alguém. Lembre-se que tecnicamente todos possuem o poder de amaldiçoar. Ao ser descuidada, uma pessoa pode lançar uma maldição a algo ou alguém, seja através de palavras ou atos. No ocultismo existe o lema de SABER OUSAR SABER CALAR. Palavras tem poder, se usadas indevidamente podem trazer consequências desastrosas. Muitos magos, por esse motivo, não dizem “a última vez que vi determianda pessoa” e sim “a vez mais recente que vi determiada pessoa”, não dizem “estou morrendo de vontade” e sim “quero muito”. Não é nem necessário se acreditar nessa “besteira supersticiosa”, a cada mês mais e mais estudos de como nomes dados a crianças afetam sua vida. Desde a espectativa dos pais sobre a criança – imagine pais que batizam um filho de Magno e outros que nomeiam o filho de Jaguncinho – até o sucesso profissional e sexual na vida da pessoa, estudos que mostram que certos nomes não passam confiança em curriculos enviados a empresas ou que, por exemplo, nos Estados Unidos um levantamento mostrou que pessoas batizadas de Michael, James e David conseguem muito mais relações sexuais do que pessoas chamadas George e Paul (a não ser que os Georges e Pauls sejam Beatles).

Marta Suplicy pode ter sido ou não uma grande política, mas quando proclamou a fórmula Relaxa e Goza para justificar o caos nos aeroportos de fim de ano, teve sua popularidade e seu respeito dramaticamente reduzidos. Outro exemplo clássico foi a afirmação de que “Este navio nem Deus afunda” feita para o Titanic logo antes de sua primeira, e última, viagem.

E nem paramos para pensar o que deve ser uma criança que cresce sendo chamada por nomes como “diabrete”, “imprestável”, “imbecil”, “preguiçoso”, por pessoas que tem autoridade sobre ela – pais, professores, etc. Ou mesmo depois de adultas e ai já entram no hall de amaldiçoadores os sócios, conjuges, amantes, colegas, superiores do exército, chefes, etc.

 

– Auto-Maldições ou Maldições que se Auto-Realizam

É muito parecida a Maldições Indiretas, mas neste caso ocorrem quando a maldição é lançada sobre a própria pessoa que a profere. São pessoas que passam a se achar burras, incapazes, desastradas. É como o português da piada que ao ver a casca de bananas na calçada já profetiza: “Ai meu Deus… outro tombo!”. Uma forma popular de auto maldição muito mais comum é a do tipo: “quero ser mico de circo se isso não é…”, quando a pessoa em determinada situação proclama algo de ruim ou sinistro a si mesma em decorrencia a um ato banal. “Nossa, como eu não vi isso antes! Eu devia apanhar por causa disso!”, “Nossa, se isso é uma pepita de ouro legítima eu sou um cachorro sarnento!” ou outros similares. Um outro exemplo clássico, para os fãs de citações bíblicas, ocorre em Mateus 27:24-25, quando Pilatos, após lavar suas mãos do destino de Jesus diz para o povo presente que eles serão responsáveis pelo destino de Cristo, ao que eles respondem dizendo: “O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos”. Se Jesus era ou não o filho de Deus, ou a encarnação de Deus, ou se seu julgamento foi justo ou não, não interessa agora, mas basta olharmos a história e a atualidade do povo Judeu para ver que os presentes no julgamento deveriam ter escolhido outras palavras naquele momento.

Em 1995 foi a vez de Paulo Maluf de entrar no Hall dos que deram um tiro no pé. Naquela época, prefeito de São Paulo, lançou Celso Pitta para o substituir nas eleições que aconteceriam em 1996. Em campanhas publicitária políticas profetizou na televisão: “Se ele não for um grande prefeito, nunca mais votem em mim”. Pitta foi eleito, governou entre janeiro de 1997 e maio de 2000, foi afastado do cargo acusado de várias irregularidades, reassumiu em julho de 2000 e terminou o mandato naquele ano. Assim como Maluf, chegou a ser preso, mas deixou a cadeia. Maluf, que depois de abonar Pitta na campanha nunca mais foi eleito para cargos executivos, apesar de tentar ser governador e prefeito, conseguiu apenas se eleger deputado federal.

 

– Maldição Adquirida

Existem casos de pessoas que por um motivo ou outro pegaram para si uma maldição destinada a outra pessoa. Uma mãe que sabendo que o filho foi amaldiçoado pede para que o filho seja poupado e a maldição recaia sobre ela. Ou alguém que clama para si uma maldição destianada a uma pessoa amada.

Mais Bíblia? Voltando para Gênesis capítulo 27, Jacó temeu ser amaldiçoado por Isaque quando este percebesse que o tinha abençoado no lugar de seu irmão; então Rebeca declara: “Caia sobre mim essa maldição, meu filho; atende somente o que eu te digo…” . Esta maldição recai sobre ela que nunca mais vê seu filho, quando Jacó retorna, ela já é morta.

Menos Bíblia? Seu filho precisa de um transplante por causa de algum acidente ou doença, e você decide doar seu coração para ele, por exemplo. Ou você assume o erro de algum colega para que ele não perca o emprego, ou uma futura promoção ou algo parecido.

 

– Maldições Sem Causa

São as maldições que não conseguimos compreender porque foram lançadas, nem por quem foram lançadas, ou como escolhem suas vítimas.

 

Mas São Reais?

Até agora apenas discorremos sobre maldições, alguns exemplos concretos, outros religiosos, mas nenhum deles serve como prova concreta de sua existência. Afinal, praticamente toda maldição pode ser explicada como uma coincidência, certo?

Bem, “coincidência” é apenas uma maneira educada e culta de se dizer MAS QUE MERDA É ESSA? EU NÃO TENHO IDÉIA DE COMO EXPLICAR ISSO! Coincidências podem ser entendidas como simultaneidade de diversos acontecimentos, não necessariamente relacionados. Você deixa um ovo cair no chão e do outro lado do mundo alguém cai do terceiro andar e sua cabeça se abre como um melão na calçada. Até algum tempo atrás apelar para coincidências era uma maneira fácil de se tirar um peso incômodo dos ombros. Não havia um meio de se provar que algo havia acontecido por mero acaso ou se estava ligado a alguma outra coisa. Alguém enfiava uma agulha em um boneco de cera e o rei tinha dores de cabeça, grande coisa o rei vive tendo dores de cabeça, eventualmente alguém diria ou faria algo contra ele que coincidiria com uma de suas crises certo? Pessoas se acidentam o tempo todo, logo a chance de alguém ser amaldiçoado e algo acontecer a essa pessoa é pequena, mas uma chance real. Pense por outro lado: de todas as pessoas amaldiçoadas, quantas sofrem a “maldição” e quantas passam a vida sem serem incomodadas nem por um resfriado?

Bem, essa é uma ótima questão e ai está justamente uma resposta para podermos medir uma maldição. Uma ferramenta para medirmos intensidades, alcance e durabilidade, ou seja a existência e a eficácia de uma maldição e discartarmos de uma vez por todas essa falsa noção de coincidência. Basta que para isso estudemos as estatísticas de um caso e vejamos como isso se aplica em determianda situação.

 

Raios

Entre 2001 e 2010, 280 pessoas foram atingidas por raios nos Estados Unidos em média por ano. Com base nesses números se fizeram mais dois levantamentos, uma estimativa de quantas pessoas, que sobreviveram ou não, teriam sido atingidas. Isso é interessante porque se uma pessoa leva um raio na cabeça e morre no meio do deserto sozinha, ela não entraria na lista de mortes por raios registradas, mas teria, mesmo assim, sido atingida por um raio. Assim chegaram a um número um pouco maior de pessoas que PODERIAM ter sido atingidas por raios nesse período de anos: 400 em média por ano.

Isso nos dá uma série de probabilidades interessantes. Suponha que você é um americano, quais as chances de você:

A) ser atingido por um raio em um dado ano (baseado nos registros)?
B) ser atingido por um raio em um dado ano (baseado nas estimativas)?
C) ser atingido por um raio durante a sua vida?
D) ter sua vida afetada por alguém que já foi atingido por um raio (tendo como base que uma pessoa atingida afeta dez outras pessoas)?

A população estadunidense foi estimulada em 310.000.000 de habitantes no anos de 2011. As respostas então para as perguntas são:

A)1/1.000.000 (uma chance em um milhão)
B)1/775.000 (uma chance em setecentos e setenta e cinco mil)
C)1/10,000 (uma chance em dez mil, levando-se em conta uma estimativa de vida de 80 anos)
D)1/1000 (uma chance em mil)

Isso nos mostra que levar um raio na cabeça não é tão raro assim, mas vejamos dois casos interessantes:

Suponha que exista uma pessoa X. Para ficar mais claro de se visualizar, imagine que essa pessoa é um homem, que esse homem seja um oficial do exército e que ele se chame Summerfold. Major Summerfold. Enquanto estava no meio de uma batalha, montado em seu cavalo, em 1918, Summerfold foi atingido por um raio. Felizmente – ou não – ele sobreviveu.

Antes de continuar tenha em mente também que isso não é tão absurdo quanto parece, no levantamento de pessoas atingidas por raios de cada 241 atingidas, apenas 39 morreram (em média por ano), ou seja de cada 6 pessoas que levam um beijo de Thor na testa, 5 sobrevivem para contar a história.

Continuando com Summerfold, após ser atingido ele ficou paralizado da cintura para baixo. Anos depois, 6 para ser exato, enquanto pescava em um rio, voltou a ser atingido por um raio, o que paralizou todo o seu lado direito. Sua recuperação levou tempo, mas dois anos depois ele era capaz de passear por ai, em parques por exemplo, e foi em um desses parques que em um verão de 1930 ele foi atingido pela terceira vez por um raio, que o deixou permanentemente paralizado. Ele morreu dois anos depois. Apenas para interromper seu processo mental que deve estar começando e formular exclamações como “Caceta! Que azarado!”, em 1936, durante uma tempestade que se formou na região onde ele vivera, um raio atingiu o cemitério local, destruindo um dos túmulos, quebrando a lápide de pedra. Adivinhe quem estava enterrado ali?

O segundo caso envolve uma família.

Na virada do século passado um homem caminhava por uma rua. Foi atingido po um raio. Ele fazia parte da minoria que não sobrevive para contar a história. 30 anos depois, seu filho, andando pela mesmo rua, foi atingido por um raio, morrendo também. No dia 8 de outubro de 1949, um homem caminhava pela mesma rua, é atingido por um raio e morre, esse homem era filho da segunda vítima, ou seja, neto da vítima original.

Agora que leu isso, pare e pense. Coincidência?

Coincidências supostamente ocorrem quando algo acontece sem uma conexão causal definida. Uma forma de sincronicidade. Por exemplo, você acorda, olha para o despertador e vê que são 5:15 da manhã, vai para o trabalho no ônibus 515 e poe ai a fora. Agora e quando existe algo que ofereça uma conexão causal aos eventos?

Enquanto Jacques Demolay era amarrado para ser quiemado vivo, ele gritava para a multidão que assistia:

” – Vergonha! Vergonha! Vós estais vendo morrer inocentes. Vergonha sobre vós todos”.

Enquanto DeMolay queimava na fogueira, ele disse suas últimas palavras:

“- Nekan, Adonai!!! Papa Clemente… Cavaleiro Guillaume de Nogaret… Rei Filipe; Intimo-os a comparecerem perante o Tribunal do Juiz de todos nós dentro de um ano para receberdes o seu julgamento e o justo castigo. Malditos! Malditos! Todos malditos até a décima terceira geração de suas raças!!!

Após essas palavras, Jacques DeMolay, inclinou a cabeça sobre o ombro e morreu.

Quarenta dias depois, Filipe e Nogaret recebem uma mensagem: “O Papa Clemente V morrera em Roquemaure na madrugada de 19 para 20 de abril, por causa de uma infecção intestinal”. O Rei Filipe IV, o Belo, faleceu em 29 de novembro de 1314, com 46 anos de idade, quando caiu de um cavalo durante uma caçada em Fountainebleau. Guillaume de Nogaret acabou falecendo numa manhã da terceira semana de dezembro, envenenado. Após a morte de Filipe, a sua dinastia, que governava a França ha mais de 3 séculos, foi perdendo a força e o prestígio. Junto a isso veio a Peste Negra e a Guerra dos Cem Anos, a qual tirou a dinastia dos Capetos do poder, passando para a dinastia dos Valois.

Coincidência?

Claro que podemos observar a coisa pelo outro ângulo: e todas aquelas maldições vociferadas em momentos de raiva cega que todo mundo profere todos os dias e que nunca se concretizam? Isso não mostra que comparado com o número das maldições que de fato acontecem, essas últimas devem ser obras do acaso?

Para responder isso pense no seguinte: quem nunca tentou fazer um bolo que solou? Quem nunca jogou em alguma loteria, inspirado por um palpite e não ganhou? Quem nunca tentou montar algo que não funcionou? Isso não significa que a culinária, a intuição ou palpite ou a engenharia não funcionem, isso apenas significa que essas pessoas não tinham a habilidade necessária para que sua empreitada desse certo.

Para deixar as coisas ainda mais claras, vejamos agora alguns exemplos de maldições e você decide quais podem ser simples “coincidências”, e quais estão além do mero acaso.

Obito

Postagem original feita no https://mortesubita.net/realismo-fantastico/historia-das-maldicoes/

Carl Gustav Jung

1875 – 1961

Carl Gustav Jung nasceu a 26 de julho de 1875, em Kresswil, Basiléia, na Suíça, no seio de uma família voltada para a religião. Seu pai e vários outros parentes eram pastores luteranos, o que explica, em parte, desde a mais tenra idade, o interesse do jovem Carl por filosofia e questões espirituais e o pelo papel da religião no processo de maturação psíquica das pessoas, povos e civilizações. Criança bastante sensível e introspectiva, desde cedo o futuro colega de Freud demonstrou uma inteligência e uma sagacidade intelectuais notáves, o que, mesmo assim, não lhe poupou alguns dissabores, como um lar algumas vezes um pouco desestruturado e a inveja dos colegas e a solidão.

Ao entrar para a universidade, Jung havia decidido estudar Medicina, na tentativa de manter um compromisso entre seus interesses por ciências naturais e humanas. Ele queria, de alguma forma, vivenciar na prática os ideais que adotava usando os meios dados pela ciência. Por essa época, também, passou a se interessar mais intensamente pelos fenômenos psíquicos e investigou várias mensagens hipoteticamente recebidas por uma médium local (na verdade, uma prima sua), o que acabou sendo o material de sua tese de graduação, “Psicologia e Patologia dos Assim Chamados Fênomenos Psíquicos”.

Em 1900, Jung tornou-se interno na Clínica Psiquiátrica Bugholzli, em Zurique, onde estudou com Pierre Janet, em 1902, e onde, em 1904, montou um laboratório experimental em que criou seu célebre teste de associação de palavras para o diagnóstico psiquiátrico. Neste, uma pessoa é convidada a responder a uma lista padronizada de palavras-estímulo; qualquer demora irregular no tempo médio de resposta ou excitação entre o estímulo e a resposta é muito provavelmente um indicador de tensão emocional relacionada, de alguma forma, com o sentido da palavra-estímulo. Mas tarde este teste foi aperfeiçoado e adaptado por inúmeros psiquiatras e psicólogos, para envolver, além de palavras, imagens, sons, objetos e desenhos. É este o princípio básico usado no detector de mentiras, utilizado pela polícia científica. Estes estudos lhe granjearam alguma reputação, o que o levou, em 1905, aos trinta anos, a assumir a cátedra de professor de psiquiatria na Universidade de Zurique. Neste ínterim, Jung entra em contato com as obras de Sigmund Freud (1856-1939), e, mesmo conhecendo as fortes críticas que a então incipiente Psicanálise sofria por parte dos meio médicos e acadêmicos na ocasião, ele fez questão de defender as descobertas do mestre vienense, convencido que estava da importância e do avanço dos trabalhos de Freud. Estava tão enstusiasmado com as novas perspectivas abertas pela psicanálise, que decidiu conhecer Freud pessoalmente. O primeiro encontro entre eles transformou-se numa conversa que durou treze horas ininterruptas. A comunhão de idéias e objetivos era tamanha, que eles passaram a se corresponder semanalmente, e Freud chegou a declarar Jung seu mais próximo colaborador e herdeiro lógico, e isso é algo que tem de ser bem frisado, a mútua admiração entre estes dois homens, frequentemente esquecida tanto por freudianos como por junguianos. Porém, tamanha identidade de pensamentos e amizade não conseguia esconder algumas diferenças fundamentais, e nem os confrontos entre os fortes gênios de um e de outro. Jung jamais conseguiu aceitar a insistência de Freud de que as causas dos conflitos psíquicos sempre envolveriam algum trauma de natureza sexual, e Freud não admitia o interesse de Jung pelos fenômenos espirituais como fontes válidas de estudo em si. O rompimento entre eles foi inevitável, ainda que Jung o tenha, de certa forma, precipitado. Ele iria acontecer mais cedo ou mais tarde. O rompimento foi doloroso para ambos. O rompimento turbulento do trabalho mútuo e da amizade acabou por abrir uma profunda mágoa mútua, nunca inteiramente assimilada pelos dois principais gênios da Psicologia do século XX e que ainda, infelizmente, divide partidários de ambos os teóricos.

Aterior mesmo ao período em que estavam juntos, Jung começou a desenvolver uma sistema teórico que chamou, originalmente, de “Psicologia dos Complexos”, mais tarde chamando-a de “Psicologia Analítica”, como resultado direto de seu contato prático com seus pacientes. O conceito de inconsciente já está bem sedimentado na sólida base psiquiátrica de Jung antes de seu contato pessoal com Freud, mas foi com Freud, real formulador do conceito em termos clínicos, que Jung pôde se basear para aprofundar seus próprios estudos. O contato entre os dois homens foi extremamente rico para ambos, durante o período de parceria entre eles. Aliás, foi Jung quem cunhou o termo e a noção básica de “complexo”, que foi adotado por Freud. Por complexo, Jung entendia os vários “grupos de conteúdos psíquicos que, desvinculando-se da consciência, passam para o inconsciente, onde continuam, numa existência relativamente autônoma, a influir osbre a conduta” (G. Zunini). E, embora possa ser frequentemente negativa, essa influência também pode assumir caracterísiticas positivas, quando se torna o estímulo para novas possibilidades criativas.

Jung já havia usado a noção de complexo desde 1904, na diagnose das associações de palavras. A variância no tempo de reação entre palavras demonstrou que as atitudes do sujeito diante de certas palavras-estímulo, quer respondendo de forma exitante, quer de forma apressada, era diferente do tempo de reação de outras palvras que pareciam ter estimulação neutra. As reações não convencionais poderiam indicar (e indicavam de fato) a presença de complexos, dos quais o sujeito não tinha consciência.

Utilizando-se desta técnica e do estudo dos sonhos e de desenhos, Jung passou a se dedicar profundamente aos meios pelos quais se expressa o inconsciente. Os sonhos pessoais de seus pacientes o intrigavam na medida em que os temas de certos sonhos individuais eram muito semelhantes aos grandes temas culturais ou mitológicos universais, ainda mais quando o sujeito nada conhecia de mitos ou mitologias. O mesmo ocorria no caso dos desenhos que seus pacientes faziam, geralmente muito parecidos com os símbolos adotados por várias culturas e tradições religiosas do mundo inteiro. Estas similaridades levaram Jung à sua mais importante descoberta: o “inconsciente coletivo”. Assim, Jung descobrira que além do consciente e inconsciente pessoais, já estudados por Freud, exitiria uma zona ou faixa psíquica onde estariam as figuras, símbolos e conteúdos arquetípicos de caráter universal, frequentemente expressos em temas mitológicos. Por exemplo, o mito bíbilico de Adão e Eva comendo do fruto da árvore do Conhecimento do Bem e do Mal e, por isso, sendo expulosos do Paraíso, e o mito grego de Prometeu roubando o fogo do conhecimento dos deuses e dando-o aos homens, pagando com a vida pelo sua presunção são bem parecidos com o moderno mito de Frankenstein, elaborado pela escritora Mary Schelley após um pesadelo, e que toca fundo na mente e nas emoções das pessoas de forma quase “instintiva”, como se uma parte de nossas mentes “entendesse” o real significado da história: o homem sempre paga um alto preço pela ousadia de querer ser Deus.

Enquanto o inconsciente pessoal consiste fundamentalmente de material reprimido e de complexos, o inconsciente coletivo é composto fundamentalmente de uma tendência para sensibilizar-se com certas imagens, ou melhor, símbolos que constelam sentimentos profundos de apelo universal, os arquétipos: da mesma forma que animais e homens parecem possuir atitudes inatas, chamadas de instintos, também é provável que em nosso psiquismo exista um material psíquico com alguma analogia com os instintos. Talvez, as imagens arquetípicas sejam algo como que figurações dos próprios insitintos, num nível mais sofisticado, psíquico. Assim, não é mais arriscado admitir a hipótese do inconsciente coletivo, comum a toda a humanidade, do que admitir a existência instintos comuns a todos os seres vivos.

Assim, em resumo, o inconsciente coletivo é uma faixa intrapsíquica e interpsíquica, repleto de material representativo de motivos de forte carga afetiva comum a toda a humanidade, como, por exemplo, a associação do femino com características maternas e, ao mesmo tempo, em seu lado escuro, crueis, ou a forte sensação intuitiva universal da existência de uma transcendência metaforicamente denominada Deus. A mãe boa, por exemplo, é um aspecto do arquétipo do feminino na psique, que pode ter a figura de uma deusa ou de uma fada, da mãe má, ou que pode possuir os traços de uma bruxa; a figura masculina poderá ter uma representação num sábio, que geralmente é representado por um ermitão, etc. As figuras em si, mais ou menos semelhantes em várias culturas, são os arquétipos, que nada mais são que “corpos” que dão forma aos conteúdos que representam: o arquétipo da mãe boa, ou da boa fada, representam a mesma coisa: o lado feminino positivo da natureza humana, acolhedor e carinhoso.

Este mundo inconsciente, onde imperam os arquétipos, que nada mais são que recepientes de conteúdos ainda mais profundos e universais, é pleno de esquemas de reações psíquicas quase “instinitvas”, de reações psíquicas comuns a toda a humanidade, como, por exemplo, num sonho de perseguição: todas as pessoas que sonham ou já sonharam sendo perseguidas geralmente descrevem cenas e ações muito semelhanes entre si, senão na forma, ao menos no conteúdo. A angústia de quem é perseguido é sentida concomitantemente ao prazer que sabemos ter o perseguidor no enredo onírico, ou a sua raiva, ou o seu desejo. Estes esquemas de reações “instintivas” (uso esta palavra por analogia, não por equivalência) também se encontram nos mitos de todos os povos e nas tradições religiosas. Por exemplo, no mito de Osires, na história de Krishna e na vida de Buda encontramos similiradades fascinates. Sabemos que mitos encobrem frequentemente a vida de grandes homens, como se pudessem nos dizer algo mais sobre a mensagem que eles nos trouxeram, e quanto mais carismáticos são esses homens, mais a imaginação do povo os encobrem em mitos, e mais esses mitos têm em comum. Estes padrões arquetípicos expressos quer a nível pessoal que a nível mitológico relacionam-se com caracterísiticas e profundos anseios da natureza humana, como o nascimento, a morte, as imagens parterna e materna, e a relação entre os dois sexos.

Outra temática famosa com respeito a Jung é a sua teoria dos “tipos psicológicos”. Foi com base na análise da controvérsia entre as personalidades de Freud e um outro seu discípulo famoso, e também dissidente, Alfred Adler, que Jung consegue delinear a tipologia do “introvertido” e do “extrovertido”. Freud seria o “extrovertido”, Adler, o “introvertido”. Para o extrovertido, os acontecimentos externos são da máxima importância, ao nível consciente; em compesação, ao nível insconsciente, a atividade psíquica do extrovertido concentra-se no seu próprio eu. De modo inverso, para o introvertido o que conta é a resposta subjetiva aos acontecimentos externos, ao passo que, a nível insconsciente, o introvertido é compelido para o mundo externo.

Embora não exista um tipo puro, Jung reconhece a extrema utilidade descritiva da distinção entre “introvertido” e “extrovertido”. Aliás, ele reconhecia que todos temos ambas as características, e somente a predominância relativa de um deles é que determina o tipo na pessoa. Seu mais famoso livro, Tipos Psicológicos é de 1921. Já nesse período, Jung dedica maior atenção ao estudo da magia, da alquimia,das diversas religiões e das culturas ocidentais pré-cristãs e orientais (Psicologia da Religião Oriental e Ocidental, 1940; Psicologia e Alquimia, 1944; O eu e o inconsciente, 1945).

Analisando o seu trabalho, Jung disse: “Não sou levado por excessivo otimismo nem sou tão amante dos ideais elevados, mas me interesso simplesmente pelo destino do ser humano como indivíduo – aquela unidade infinitesimal da qual depende o mundo e na qual, se estamos lendo corretamente o signficado da mensagem cristã, também Deus busca seu fim”. Ficou célebre a controvertida resposta que Jung deu, em 1959, a um entrevistador da BBC que lhe perguntou: “O senhor acredita em Deus?” A resposta foi: “Não tenho necessidade de crer em Deus. Eu o conheço”.

Eis o que Freud afirmou do sistema de Jung: “Aquilo de que os suíços tinham tanto orgulho nada mais era do que uma modificação da teoria psicanalítica, obtida rejeitando o fator da sexualidade. Confesso que, desde o início, entendi esse ‘progresso’ como adequação excessiva às exigências da atualidade”. Ou seja, para Freud, a teoria de Jung é uma corruptela de sua própria teoria, simplificada diante das exigências moralistas da época. Não há nada mais falso. Sabemos que foi Freud quem, algumas vezes, utilizou-se de alguns conceitos de Jung, embora de forma mascarada, como podemos ver em sua interpretação do caso do “Homem dos Lobos”, notadamente no conceito de atavismo na lembrança do coito. Já por seu turno, Jung nunca quis negar a importância da sexualidade na vida psíquica, “embora Freud sustente obstinadamente que eu a negue”. Ele apenas “procurava estabelecer limites para a desenfreada terminologia sobre o sexo, que vicia todas as discussões sobre o psiquismo humano, e situar então a sexualidade em seu lugar mais adequado. O senso comum voltará sempre ao fato de que a sexualidade humana é apenas uma pulsão ligada aos instintos biofisiológicos e é apenas uma das funções psicofisiológicas, embora, sem dúvida, muitíssimo importante e de grande alcance”.

Carl Gustav Jung morreu a 6 de junho de 1961, aos 86 anos, em sua casa, à beira do lago de Zurique,em Küsnacht após uma longa vida produtiva, que marcou – e tudo leva a crer que ainda marcará mais – a antropologia, a sociologia e a psicologia.

Freud e Jung: Estudos Críticos

A fecunda e tumultuada amizade entre Freud e Jung, nas palavras de Paul Roazen, é um dos marcos da história do pensamento e da cultura ocidental.

O rompimento dessa amizade entre os dois maiores cientistas e sábios do século impediu a continuação de  uma parceria que poderia ter contribuído para um desenvolvimento ainda maior da ciência da psique e para o alargamento dos horizontes de conhecimento da interioridade do homem.

Muito já se disse e se escreveu sobre o assunto. Mas não há conclusão que se imponha de modo a silenciar a polêmica que se arrasta e prossegue entre os discípulos menos avisados de cada um dos mestres.

Relacionamos a seguir textos que iluminam a questão, embora alguns dos seus aspectos permaneçam obscuros e possivelmente nunca venham a ser completamente elucidados. Talvez porque sejam manifestações cujas origens estão fincadas nas mais abissais regiões do inconsciente dos protagonistas.

De qualquer sorte, talvez seja necessário àqueles que se propõem seguir as orientações teóricas de Freud ou de Jung ou, ainda, de Freud e Jung – mergulhar na história dessa turbulenta amizade e extrair as suas próprias conclusões. É possível que esse mergulho termine por ser um encontro pessoal de cada um com a sua própria verdade. Um confronto rico e saudável com o seu inconsciente. Então, quem sabe, talvez tenhamos aprendido a lição maior desses mestres segundo a qual pessoa alguma pode acompanhar ou orientar uma jornada que ela mesmo não a tenha feito.

O confrontar-se com o inconsciente e o defrontar-se com a própria sombra parece ser o exemplo maior de coragem pessoal e honestidade intelectual que Freud e Jung legaram às gerações de estudiosos da alma humana que os sucederam.

Esse entendimento poderá ser útil à compreensão aprofundada das teorias do Dr. Sigmund Freud e do Dr.Carl Gustav Jung.

E, parafraseando o bardo inglês, o resto é silêncio!

  • AMIGOS ÍNTIMOS, RIVAIS PERIGOSOS – A turbulenta convivência de Freud e Jung
    Duane Schultz
    Rio de Janeiro: Rocco, 1991 – 274 p.
    O autor, psicólogo e pesquisador da história da psicologia e da psicanálise, apresenta um relato claro e objetivo da turbulenta convivência entre Freud e Jung.

  • CORRESPONDÊNCIA COMPLETA DE SIGMUND FREUD E CARL G. JUNG
    William McGuire (org.)
    Rio de Janeiro: Imago, 1993 – 651 p.
    Contém a correspondência de Freud e de Jung no período de 1906 a 1914.

  • FREUD E JUNG – Anos de amizade, anos de perda
    Linda Donn
    Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991 – 358 p.
    Percorrendo a trajetória da amizade de Freud e Jung, desde o início até o tempestuoso conflito que levou ao seu rompimento, a autora mostra o trabalho que os dois cientistas realizaram para dar forma e substância à psicanálise e, por fim, focaliza o lastimável conflito que impediu a continuação da amizade e da colaboração científica entre os dois maiores estudiosos da mente humana de todos os tempos.

  • FREUD E A PSICANÁLISE
    Carl Gustav Jung
    Petrópolis: Vozes – Volume IV das Obras Completas
    Reúne os principais escritos de Jung sobre Freud e sobre a psicanálise, destacando principalmente as mudanças do seu ponto de vista sobre a ciência freudiana. Contém uma análise detalhada sobre as suas idéias fundamentais e as suas diferenças em relação a Freud.

  • FREUD E SEUS DISCÍPULOS – Capítulo VI – p. 259-335
    Paul Roazen
    São Paulo: Cultrix, 1978 – 669 p.
    Completo estudo de Freud, contemplando suas idéias, personalidade e as relações com os seus discípulos. No captítulo VI, o autor trata da relação Freud-Jung e da sua importância para psicanálise.

  • FREUD – Uma vida para o nosso tempo – Capítulo 5 – p. 191-231
    Peter Gay
    São Paulo: Companhia das Letras,1989 – 719 p.
    Considerada uma das mais bem documentadas biografias de Freud, Peter Gay dedica praticamente todo o
    seu capítulo 5, que trata da Política Psicanalítica, à análise da amizade Freud e Jung. No começo, Jung
    era o “Principe Herdeiro” , depois transformado no “Inimigo”.

  • UM MÉTODO MUITO PERIGOSO – Freud, Jung e Sabina Spielrein – A história ignorada dos primeiros anos da psicanálise
    John Kerr
    Rio de Janeiro: Imago, 1997 – 643 p.
    Nesse livro, John Kerr apresenta um estudo dos primórdios da história da psicanálise, principalmente sobre o papel que Jung desempenhou nessa etapa do surgimento da ciência freudiana. O autor reexamina a polêmica relação Freud-Jung-Sabina Spielrein e seu impacto na estruturação das idéias de Jung e a importância desse tríplice relacionamento para o movimento psicanalítico.

  • VIDA E OBRA DE SIGMUND FREUD – 3 VOLUMES
    Ernest Jones
    Rio de Janeiro: Imago, 1989
    Tradicional biografia de Freud, escrita por um dos seus contemporâneos e discípulo. No segundo volume da trilogia, Capítulo 5, Ernest Jones trata das dissenções sofridas pelo movimento psicanalítico, dentre as quais inclui o rompimento com Jung ( p. 146-160).

    • VIENA DE FREUD E OUTROS ENSAIOS
      Bruno Bettelheim
      Rio de Janeiro: Campus, 1991 – 273 p.
      Ensaios sobre Freud e a psicanálise. Na primeira parte, no ensaio Uma assimetria secreta, o autor comenta o Diário de uma secreta simetria, que apresenta a correspondência entre Sabina Spielrein, Freud e Jung organizada pelo psicólogo junguiano Aldo Carotenuto.

 

Volume .. Título
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I ESTUDOS PSIQUIÁTRICOS Esse volume reúne os primeiros escritos psiquiátricos de Jung sobre os chamados fenômenos ocultos:
-SOBRE A PSICOLOGIA E PATOLOGIA DOS FENÔMENOS CHAMADOS OCULTOS – (1902)
-ERROS HISTÉRICOS DA LEITURA-(1904)
-CRIPTOMNÉSIA – (1905)
-DISTIMIA MANÍACA-(1903)

Outros trabalho incluídos:
-UM CASO DE ESTUPOR HISTÉRICO EM PESSOA CONDENADA À PRISÃO – (1902)
-SOBRE A SIMULAÇÃO DE DISTÚRBIO MENTAL – (1903)
-PARECER MÉDICO SOBRE UM CASO DE SIMULAÇÃO DE INSANIDADE MENTAL – (1904)
-UM TERCEIRO PARECER CONCLUSIVO SOBRE DOIS PARECERES PSIQUIÁTRICOS CONTRADITÓRIOS (1906)
-SOBRE O DIAGNÓSTICO PSICOLÓGICO DE FATOS

Os estudos que se contém nesse volume expressam a polêmica de Jung com o modelo psiquiátrico vigente e a tendência de seus estudos e pesquisas.

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II ESTUDOS EXPERIMENTAIS Contém as contribuições de Jung aos “Estudos diagnósticos de associações”, cujas principais experiências foram realizadas, sob a sua direção, na clínica psiquiátrica da Universidade de Zurique, a partir de 1902 e publicados entre 1904 e 1910. Outros estudos incluídos referem-se aos trabalhos de “Pesquisas Psicofísicas” (1907-1908).
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III PSICOGÊNESE DAS DOENÇAS MENTAIS Os artigos integrantes desse volume pertencem à fase das primeiras publicações de Jung e, na sua maioria, abordam temas psiquiátricos, de modo particular a esquizofrenia.
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IV FREUD E A PSICANÁLISE Reúne os principais escritos de Jung sobre Freud e sobre a psicanálise, destacando as mudanças do seu ponto de vista sobre a ciência freudiana. Contém uma análise detalhada sobre as idéias fundamentais de Jung e as suas diferenças em relação às de Freud.
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V SÍMBOLOS DA TRANSFORMAÇÃ0-Análise dos primórdios de uma esquizofreniaVersão completa e definitiva de uma das mais importantes e avançadas obras de Jung, publicada em 1952. O texto original, denominado, Símbolos e transformações da libido data de 1911-12. A elaboração da versão definitiva se estendeu por quase 40 anos. Esse escrito, em que Jung abandona a terminologia da psicanálise e da psiquiatria da época, assinala o ponto de sua ruptura com Freud.
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VI TIPOS PSICOLÓGICOS Publicado em 1921, contém a teoria junguiana sobre as diferenças entre as pessoas e suas relações com o mundo. Nele, o autor faz incursões pelo campo da arte, da filosofia, da mitologia, da religião e do simbolismo para fundamentar as suas idéias. É um dos textos mais conhecidos e divulgados de Jung. A sua elaboração, nas palavras do autor, demorou quase vinte anos para ser concluída.
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VII ESTUDOS SOBRE PSICOLOGIA ANALÍTICA Reúne dois estudos publicados independemente:

– Psicologia do Inconsciente – Vol VII/1

Nesse tomo, Jung discute as concepções de Freud e de Adler sobre o inconsciente, ao mesmo tempo em que apresenta uma introdução à psicologia do inconsciente, fundamentada nos arquétipos do sonho. O texto, publicado inicialmente em 1912, foi modificado ampla e sucessivamente ao longo dos anos, inclusive quanto ao título.

– Eu e o Inconsciente – Vol VII/2

Publicado em 1928, resulta de uma conferência proferida em 1916, subordinada ao tema “A Estrutura do inconsciente”. O trabalho original está incluído no apêndice desse tomo. O texto é uma introdução aos conceitos fundamentais da Psicologia Analítica.

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VIII A DINÂMICA DO INCONSCIENTE Os textos desse volume expõem os conhecimentos fundamentais e as hipóteses de trabalho de Jung, o que permite conhecer a sua posição epistemológica. Destacam-se os seguintes trabalhos: a energia psíquica; a função transcendente;,a teoria dos complexos; o significado da constituição e da herança para a psicologia; determinantes psicológicas do comportamento humano; instinto e inconsciente; a natureza do psíquico; psicologia do sonho; os fundamentos psicológicos da crença nos espíritos; o real e o supra-real; as etapas da vida humana; a alma e a morte; sincronicidade.
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IX – 1 OS ARQUÉTIPOS E O INCONSCIENTE COLETIVO Encontra-se em fase de tradução para o português.
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IX – 2 AION – Estudos sobre o simbolismo do Si-mesmoO segundo tomo do volume IX das obras completas de C.G.Jung contém uma extensa monografia sobre o arquétipo do Si-mesmo.
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X PSICOLOGIA EM TRANSIÇÃO Reúne estudos sobre a relação do indivíduo com a sociedade, tendo como ponto de partida o escrito Sobre o Inconsciente(1918), em que Jung expõe a teoria de que o conflito na Europa, naquela época, tinha a sua origem no inconsciente coletivo, influenciando grupos e nações. A partir desse trabalho, o autor escreveu ensaios que retomam e aprofundam os temas abordados. O volume inclui, ainda, o texto Um mito moderno: Sobre coisas vistas no céu(1958). Nesse trabalho, Jung considera o mito como uma compensação pela unilateralidade de nossa era tecnológica, cuja tendência preponderante é cientificista.
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XI PSICOLOGIA DA RELIGIÃO OCIDENTAL E ORIENTAL Contém os principais estudos de Jung sobre o fenômeno religioso e a sua importância para o desenvolvimento psicológico do homem. Os ensaios contidos neste volume abordam a religiosidade oriental e ocidental, por meio dos quais o autor mostra que subjacentes a todas as religiões estão conteúdos arquetípicos, representações primordiais da alma humana.
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XII PSICOLOGIA E ALQUIMIA Reúne os principais estudos de Jung sobre a alquimia, em que faz relação entre os processos alquímicos e o desenvolvimento da personalidade.
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XIII ESTUDOS ALQUÍMICOS Encontra-se em fase de tradução para o português.
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XIV MYSTERIUM CONIUNCTIONIS Publicada em dois volumes (XIV/1 e XIV/2), essa obra contempla os estudos avançados de Jung no campo da alquimia, em que ele mostra que a alquimia antecipa parte da problemática do homem moderno. O subtítulo do volume “Pesquisas sobre a separação e a composição dos opostos psíquicos na Alquimia” indica a idéia central do trabalho: a unificação ou superação dos opostos.
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XV O ESPÍRITO NA ARTE E NA CIÊNCIA Nesse volume estão publicados os ensaios de Jung sobre:
-Paracelso (1929)
-Sigmund Freud, um fenômeno histórico-cultural (1932)
-Sigmund Freud (1939)
-Richard Wilhelm (1930)
-Relação da psicologia analítica com a obra de arte poética (1922)
-Psicologia e poesia (1930)
-Ulisses, um monólogo ( 1932) – Refere-se à obra de James Joyce.
-Picasso (1932)
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XVI A PRÁTICA DA PSICOTERAPIA Contém trabalhos sobre questões relativas à prática da psicoterapia. Na primeira parte trata, o autor trata dos problemas gerais:princípios básicos da prática da psicoterapia; o que é psicoterapia; alguns aspectos da psicoterapia moderna; os objetivos da psicoterapia; os problemas da psicoterapia moderna; psicoterapia e visão do mundo; medicina e psicoterapia; psicoterapia e atualidade; questões básicas da psicoterapia. E na segunda, aborda os temas específicos:o valor terapêutico da ab-reação; aplicação prática da análise dos sonhos; a psicologia da transferência.
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XVII O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE Esse volume reúne os trabalhos de Jung sobre psicologia infantil, cuja parte mais importante é constituída por três preleções sobre “Psicologia Analítica e Educação” Foram incluídos também os ensaios “O casamento como relacionamento psíquico” texto que tem sido amplamente estudado e debatido nas questões de terapia de casais. Outro estudo incluído:”Sobre a Formação da Personalidade”.
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XVIII ESCRITOS DIVERSOS XVII/1 -Fundamentos de Psicologia Analítica

Reúne as cinco conferências proferidas por Jung, na Clínica Tavistock, em Londres. em 1935. Nessas textos, Jung faz um introdução ampla aos princípios fundamentais de sua psicologia. Dentre os ouvintes dessas conferências encontravam-se médicos, psiquiatras, psicanalistas freudianos, etc. É interesssante registrar que o psicanalista Wilfred R.Bion esteve presente, pelo menos, às duas primeiras exposições.No texto estão registradas as intervenções que fez.  Os demais textos que compõem este volume estão em fase de tradução para o português.

OUTRAS OBRAS DE C.G.JUNG PUBLICADAS EM PORTUGUÊS

  • HOMEM E SEUS SÍMBOLOS (O)
    Editor:Carl G.Jung e, após a sua morte, Marie-Louise von Franz
    Edição especial brasileira
    Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 317 p.
    Nesse livro, Jung acentua que o homem só se realiza através do conhecimento e da aceitação do inconsciente – conhecimento que ele adquire por intermédio dos sonhos e seus símbolos. Trata-se do único trabalho de Jung destinado a explicar ao público leigo a sua maior contribuição ao conhecimento da mente humana: a sua teoria a respeito da importância do simbolismo. Particularmente, o simbolismo dos sonhos.
  • HOMEM À DESCOBERTA DA SUA ALMA (O)
    Porto: Livraria Tavares Martins, 1975.
    Livro publicado originariamente em francês-“L’HOMME À LA DÉCOUVERTE DE SON ÂME”. No prefácio que escreveu, em setembro de 1943, Roland Cohen declara que a obra destinava-se a apresentar ao público francês o essencial da psicologia de Carl Gustav Jung, reunindo os trabalhos que expunham as bases de sua obra:
  • LIVRO I – EXPOSIÇÃO

I – O problema fundamental da psicologia contemporânea
II- A psicologia e os tempos presentes

  • LIVRO II – OS COMPLEXOS

III-Introdução à psicologia analítica – Primeira parte: Psicologia geral
IV-Introdução à psicologia analítica – Segunda parte: Os complexos
V- Considerações gerais sobre a teoria dos complexos

 

  • LIVRO III – OS SONHOS

VI-A psicologia do sonho
VII-A utilização prática dos sonhos
VIII-Introdução à psicologia analítica – Terceita parte: Os sonhos

  • MEMÓRIAS, SONHOS E REFLEXÕES
    Compilação e prefácio de Aniela Jaffé
    Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1989. 361 p.
    Testemunho que Jung dá de si mesmo. No prólogo ele afirma “A minha vida é a história de um inconsciente que se realizou”. A leitura desse livro é imprescindível para uma compreensão adequada da personalidade do criador da psicologia analítica.

 

 

Postagem original feita no https://mortesubita.net/biografias/carl-gustav-jung/

A Sincronicidade

NOTA: Os números em colchetes referem-se à numeração original dos parágrafos e serve como referência para citação bibliográfica[1].

[959] Talvez fosse indicado começar minha exposição, definindo o conceito do qual ela trata. Mas eu gostaria mais de seguir o caminho inverso e dar-vos primeiramente uma breve descrição dos fatos que devem ser entendidos sob a noção de sincronicidade. Como nos mostra sua etimologia, esse termo tem alguma coisa a ver com o tempo ou, para sermos mais exatos, com uma espécie de simultaneidade. Em vez de simultaneidade, poderíamos usar também o conceito de coincidência significativa de dois ou mais acontecimentos, em que se trata de algo mais do que uma probabilidade de acasos. Casual é a ocorrência estatística — isto é, provável — de acontecimentos como a “duplicação de casos”, p. ex., conhecida nos hospitais. Grupos desta espécie podem ser constituídos de qualquer número de membros sem sair do âmbito da probabilidade e do racionalmente possível. Assim, pode ocorrer que alguém casualmente tenha a sua atenção despertada pelo número do bilhete do metro ou do trem. Chegando à casa, ele recebe um telefonema e a pessoa do outro lado da linha diz um número igual ao do bilhete. À noite ele compra um bilhete de entrada para o teatro, contendo esse mesmo número. Os três acontecimentos formam um grupo casual que, embora não seja freqüente, contudo não excede os limites da probabilidade. Eu gostaria de vos falar do seguinte grupo casual, tomado de minha experiência pessoal e constituído de não menos de seis termos:

[960] Na manhã do dia Iº de abril de 1949 eu transcrevera uma inscrição referente a uma figura que era metade homem, metade peixe. Ao almoço houve peixe. Alguém nos lembrou o costume do “Peixe de Abril” (primeiro de abril). De tarde, uma antiga paciente minha, que eu já não via por vários meses, me mostrou algumas figuras impressionantes de peixe. De noite, alguém me mostrou uma peça de bordado, representando um monstro marinho. Na manhã seguinte, bem cedo, eu vi uma outra antiga paciente, que veio me visitar pela primeira vez depois de dez anos. Na noite anterior ela sonhara com um grande peixe. Alguns meses depois, ao empregar esta série em um trabalho maior, e tendo encerrado justamente a sua redação, eu me dirigi a um local à beira do lago, em frente à minha casa, onde já estivera diversas vezes, naquela mesma manhã. Desta vez encontrei um peixe morto, mais ou menos de um pé de comprimento [cerca de 30 cm], sobre a amurada do Lago. Como ninguém pôde estar lá, não tenho idéia de como o peixe foi parar ali.

[961] Quando as coincidências se acumulam desta forma, é impossível que não fiquemos impressionados com isto, pois, quanto maior é o número dos termos de uma série desta espécie, e quanto mais extraordinário é o seu caráter, tanto menos provável ela se torna. Por certas razões que mencionei em outra parte e que não quero discutir aqui, admito que se trata de um grupo casual. Mas também devo reconhecer que é mais improvável do que, p. ex., uma mera duplicação.

[962] No caso do bilhete do metro, acima mencionado, eu disse que o observador percebeu “casualmente” o número e o gravou na memória, o que, ordinariamente, ele jamais fazia. Isto nos forneceu os elementos para concluir que se trata de uma série de acasos, mas ignoro o que o levou a fixar a sua atenção nos números. Parece-me que um fator de incerteza entra no julgamento de uma série desta natureza e reclama certa atenção. Observei coisa semelhante em outros casos, sem, contudo, ser capaz de tirar as conclusões que mereçam fé. Entretanto, às vezes é difícil evitar a impressão de que há uma espécie de precognição de acontecimentos futuros. Este sentimento se torna irresistível nos casos em que, como acontece mais ou menos freqüentemente, temos a impressão de encontrar-nos com um velho conhecido, mas para nosso desapontamento logo verificamos que se trata de um estranho. Então vamos até a esquina próxima e topamos com o próprio em pessoa. Casos desta natureza acontecem de todas as formas possíveis e com bastante freqüência, mas geralmente bem depressa nos esquecemos deles, passados os primeiros momentos de espanto.

[963] Ora, quanto mais se acumulam os detalhes previstos de um acontecimento, tanto mais clara é a impressão de que há uma precognição e por isto tanto mais improvável se torna o acaso. Lembro-me da história de um amigo estudante ao qual o pai prometera uma viagem à Espanha, se passasse satisfatoriamente nos exames finais. Este meu amigo sonhou então que estava andando em uma cidade espanhola. A rua conduzia a uma praça onde havia uma catedral gótica. Assim que chegou lá, dobrou a esquina, à direita, entrando noutra rua. Aí ele encontrou uma carruagem elegante, puxada por dois cavalos baios. Nesse momento ele despertou. Contou-nos ele o sonho enquanto estávamos sentados em torno de uma mesa de bar. Pouco depois, tendo sido bem sucedido nos exames, viajou à Espanha e aí, em uma das ruas, reconheceu a cidade de seu sonho. Encontrou a praça e viu a igreja, que correspondia exatamente à imagem que vira no sonho. Primeiramente, ele queria ir diretamente à igreja, mas se lembrou de que, no sonho, ele dobrava a esquina, à direita, entrando noutra rua. Estava curioso por verificar se seu sonho seria confirmado outra vez. Mal tinha dobrado a esquina, quando viu, na realidade, a carruagem com os dois cavalos baios.

[964] O sentimento do déjà-vu [sensação do já visto] se baseia, como tive oportunidade de verificar em numerosos casos, em uma precognição do sonho, mas vimos que esta precognição ocorre também no estado de vigília. Nestes casos, o puro acaso se torna extremamente improvável, porque a coincidência é conhecida de antemão. Deste modo, ela perde seu caráter casual não só psicológica e subjetivamente, mas também objetivamente, porque a acumulação dos detalhes coincidentes aumenta desmedidamente a improbabilidade (Dariex e Flammarion calcularam as probabilidades de 1:4 milhões a 1:800 milhões para mortes corretamente previstas). Por isto, em tais casos seria inadequado falar de “acasos”. Do contrário, trata-se de coincidências significativas. Comumente os casos deste gênero são explicados pela precognição, isto é, pelo conhecimento prévio. Também se fala de clarividência, de telepatia, etc, sem, contudo, saber-se explicar em que consistem estas faculdades ou que meio de transmissão elas empregam para tornar acontecimentos distantes no espaço e no tempo acessíveis à nossa percepção. Todas estas idéias são meros nomina [nomes]; não são conceitos científicos que possam ser considerados como afirmações de princípio. Até hoje ninguém conseguiu construir uma ponte causal entre os elementos constitutivos de uma coincidência significativa.

[965] Coube a J. B. Rhine o grande mérito de haver estabelecido bases confiáveis para o trabalho no vasto campo destes fenômenos, com seus experimentos sobre a ESP (extra-sensory-perception). Ele usou um baralho de 25 cartas, divididas em 5 grupos de 5, cada um dos quais com um desenho próprio (estrela, retângulo, círculo, cruz, duas linhas onduladas). A experiência era efetuada da seguinte maneira: em cada série de experimentos retiravam-se aleatoriamente as cartas do baralho, 800 vezes seguidas, mas de modo que o sujeito (ou pessoa testada) não pudesse ver as cartas que iam sendo retiradas. Sua tarefa era adivinhar o desenho de cada uma das cartas retiradas. A probabilidade de acerto é de 1:5. O resultado médio obtido com um número muito grande de cartas foi de 6,5 acertos. A probabilidade de um desvio casual de 1,5 é só de 1:250.000. Alguns indivíduos alcançaram o dobro ou mais de acertos. Uma vez, todas as 25 cartas foram adivinhadas corretamente em nova série, o que dá uma probabilidade de 1:289.023.223.876.953.125. A distância espacial entre o experimentador e a pessoa testada foi aumentada de uns poucos metros até 4.000 léguas, sem afetar o resultado.

[966] Uma segunda forma de experimentação consistia no seguinte: mandava-se o sujeito adivinhar previamente a carta que iria ser retirada no futuro próximo ou distante. A distância no tempo foi aumentada de alguns minutos até duas semanas. O resultado desta experiência apresentou uma probabilidade de 1:400.000.

[967] Numa terceira forma de experimentação o sujeito deveria procurar influenciar a movimentação de dados lançados por um mecanismo, escolhendo um determinado número. Os resultados deste experimento, dito psicocinético (PK, de psychokinesisj, foram tanto mais positivos, quanto maior era o número de dados que se usavam de cada vez.

[968] O experimento espacial mostra com bastante certeza que a psique pode eliminar o fator espaço até certo ponto. A experimentação com o tempo nos mostra que o fator tempo (pelo menos na dimensão do futuro) pode ser relativizado psiquicamente. A experimentação com os dados nos indica que os corpos em movimento podem ser influenciados também psiquicamente, como se pode prever a partir da relatividade psíquica do espaço e do tempo.

[969] O postulado da energia é inaplicável no experimento de Rhine. Isto exclui a idéia de transmissão de força. Também não se aplica a lei da causalidade, circunstância esta que eu indicara há trinta anos atrás. Com efeito, é impossível imaginar como um acontecimento futuro seja capaz de influir num outro acontecimento já no presente. Como atualmente é impossível qualquer explicação causal, forçoso é admitir, a título provisório, que houve acasos improváveis ou coincidências significativas de natureza acausal.

[970] Uma das condições deste resultado notável que é preciso levar em conta é o fato descoberto por Rhine: as primeiras séries de experiência apresentam sempre resultados melhores do que as posteriores. A diminuição dos números de acerto está ligada às disposições do sujeito da experimentação. As disposições iniciais de um sujeito crente e otimista ocasionam bons resultados. O ceticismo e a resistência produzem o contrário, isto é, criam disposições desfavoráveis no sujeito. Como o ponto de vista energético é praticamente inaplicável nestes experimentos, a única importância do fator afetivo reside no fato de ele ser uma das condições com base nas quais o fenômeno pode, mas não deve acontecer. Contudo, de acordo com os resultados obtidos por Rhine, podemos esperar 6,5 acertos em vez de apenas 5. Todavia, é impossível prever quando haverá acerto. Se isto fosse possível, estaríamos diante de uma lei, o que contraria totalmente a natureza do fenômeno, que tem as características de um acaso improvável cuja freqüência é mais ou menos provável e geralmente depende de algum estado afetivo.

[971] Esta observação, que foi sempre confirmada, nos mostra que o fator psíquico que modifica ou elimina os princípios da explicação física do mundo está ligado à afetividade do sujeito da experimentação. Embora a fenomenologia do experimento da ESP e da PK possam enriquecer-se notavelmente com outras experiências do tipo apresentado esquematicamente acima, contudo uma pesquisa mais profunda das bases teria necessariamente de se ocupar com a natureza da afetividade. Por isto, eu concentrei minha atenção sobre certas observações e experiências que, posso muito bem dizê-lo, se impuseram com freqüência no decurso de minha já longa atividade de médico. Elas se referem a coincidências significativas espontâneas de alto grau de improbabilidade e que conseqüentemente parecem inacreditáveis. Por isto, eu gostaria de vos descrever um caso desta natureza, para dar um exemplo que é característico de toda uma categoria de fenómenos. Pouco importa se vos recusais a acreditar em um único caso ou se tendes uma explicação qualquer para ele. Eu poderia também apresentar-vos uma série de histórias como esta que, em princípio, não são mais estranhas ou menos dignas de crédito do que os resultados irrefutáveis de Rhine, e não demoraríeis a ver que cada caso exige uma explicação própria. Mas a explicação causal, cientificamente possível, fracassa por causa da relativização psíquica do espaço e do tempo, que são duas condições absolutamente indispensáveis para que haja conexão entre a causa e o efeito.

[972] O exemplo que vos proponho é o de uma jovem paciente que se mostrava inacessível, psicologicamente falando, apesar das tentativas de parte a parte neste sentido. A dificuldade residia no fato de ela pretender saber sempre melhor as coisas do que os outros. Sua excelente formação lhe fornecia uma arma adequada para isto, a saber, um racionalismo cartesiano aguçadíssimo, acompanhado de uma concepção geometricamente impecável da realidade. Após algumas tentativas de atenuar o seu racionalismo com um pensamento mais humano, tive de me limitar à esperança de que algo inesperado e irracional acontecesse, algo que fosse capaz de despedaçar a retorta intelectual em que ela se encerrara. Assim, certo dia eu estava sentado diante dela, de costas para a janela, a fim de escutar a sua torrente de eloqüência. Na noite anterior ela havia tido um sonho impressionante no qual alguém lhe dava um escaravelho de ouro (uma jóia preciosa) de presente. Enquanto ela me contava o sonho, eu ouvi que alguma coisa batia de leve na janela, por trás de mim. Voltei-me e vi que se tratava de um inseto alado de certo tamanho, que se chocou com a vidraça, pelo lado de fora, evidentemente com a intenção de entrar no aposento escuro. Isto me pareceu estranho. Abri imediatamente a janela e apanhei o animalzinho em pleno vôo, no ar. Era um escarabeídeo, da espécie da Cetonia aurata, o besouro-rosa comum, cuja cor verde-dourada torna-o muito semelhante a um escaravelho de ouro. Estendi-lhe o besouro, dizendo-lhe: “Está aqui o seu escaravelho”. Este acontecimento abriu a brecha desejada no seu racionalismo, e com isto rompeu-se o gelo de sua resistência intelectual. O tratamento pôde então ser conduzido com êxito.

[973] Esta história destina-se apenas a servir de paradigma para os casos inumeráveis de coincidência significativa observados não somente por mim, mas por muitos outros e registrados parcialmente em grandes coleções. Elas incluem tudo o que figura sob os nomes de clarividência, telepatia, etc, desde a visão, significativamente atestada, do grande incêndio de Estocolmo, tida por Swedenborg, até os relatos mais recentes do marechal-do-ar Sir Victor Goddard a respeito do sonho de um oficial desconhecido, que previra o desastre subseqüente do avião de Goddard.

[974] Todos os fenômenos a que me referi podem ser agrupados em três categorias:

1. Coincidência de um estado psíquico do observador com um acontecimento objetivo externo e simultâneo, que corresponde ao estado ou conteúdo psíquico (p. ex., o escaravelho), onde não há nenhuma evidência de uma conexão causal entre o estado psíquico e o acontecimento externo e onde, considerando-se a relativização psíquica do espaço e do tempo, acima constatada, tal conexão é simplesmente inconcebível.

2. Coincidência de um estado psíquico com um acontecimento exterior correspondente (mais ou menos simultâneo), que tem lugar fora do campo de percepção do observador, ou seja, especialmente distante, e só se pode verificar posteriormente (como p. ex. o incêndio de Estocolmo).

3. Coincidência de um estado psíquico com um acontecimento futuro, portanto, distante no tempo e ainda não presente, e que só pode ser verificado também posteriormente.

[975] Nos casos dois e três, os acontecimentos coincidentes ainda não estão presentes no campo de percepção do observador, mas foram antecipados no tempo, na medida em que só podem ser verificados posteriormente. Por este motivo, digo que semelhantes acontecimentos são sincronísticos, o que não deve ser confundido com “sincrônicos”.

[976] Esta visão de conjunto deste vasto campo de observação seria incompleta, se não considerássemos aqui também os chamados métodos mânticos. O manticismo tem a pretensão, senão de produzir realmente acontecimentos sincronísticos, pelo menos de fazê-los servir a seus objetivos. Um exemplo bem ilustrativo neste sentido é o método oracular do I Ging que o Dr. Helmut Wilhelm descreveu detalhadamente neste encontro. O I Ging pressupõe que há uma correspondência sincronística entre o estado psíquico do interrogador e o hexagrama que responde. O hexagrama é formado, seja pela divisão puramente aleatória de 49 varinhas de milefólio, seja pelo lançamento igualmente aleatório de três moedas. O resultado deste método é incontestavelmente muito interessante, mas, até onde posso ver, não proporciona um instrumento adequado para uma determinação objetiva dos fatos, isto é, para avaliação estatística, porque o estado psíquico em questão é demasiadamente indeterminado e indefinível. O mesmo se pode dizer do experimento geomântico, que se baseia sobre princípios similares.

[977] Estamos numa situação um pouco mais favorável quando nos voltamos para o método astrológico, que pressupõe uma “coincidência significativa” de aspectos e posições planetárias com o caráter e o estado psíquico ocasional do interrogador. Ã luz das pesquisas astrofísicas recentes, a correspondência astrológica provavelmente não é um caso de sincronicidade mas, em sua maior parte, uma relação causal. Como o prof. KnolI demonstrou neste encontro, a irradiação dos prótons solares é de tal modo influenciada pelas conjunções, oposições e aspectos quartis dos aspectos que se pode prever o aparecimento de tempestades magnéticas com grande margem de probabilidade. Podem-se estabelecer relações entre a curva das perturbações magnéticas da terra e a taxa de mortalidade — relações que fortalecem a influência desfavorável Â, Ã e Å [aspectos quartis] e as influências favoráveis de dois aspectos trígonos e sextis. Assim é provável que se trate aqui de uma relação causal, isto é, de uma lei natural que exclua ou limite a sincronicidade. Ao mesmo tempo, porém, a qualificação zodiacal das casas, que desempenha um papel no horóscopo, cria uma complicação, dado que o Zodíaco astrológico coincide com o do calendário, mas não com as constelações do Zodíaco real ou astronômico. Estas constelações deslocaram-se consideravelmente de sua posição inicial em cerca de um mês platônico quase completo, em conseqüência da precessão dos equinócios desde a época do 0º  [ponto zero de Áries] (em começos de nossa era). Por isto, quem nascer hoje, em Aries, de acordo com o calendário astronômico, na realidade nasceu em Pisces. Seu nascimento teve lugar simplesmente em uma época que hoje (há cerca de 2.000 anos) se chama “Áries”. A Astrologia pressupõe que este tempo possui uma qualidade determinante. É possível que esta qualidade esteja ligada, como as perturbações magnéticas da Terra, às grandes flutuações sazonais às quais se acham sujeitas as irradiações dos prótons solares. Isto não exclui a possibilidade de as posições zodiacais representarem um fator causal.

[978] Embora a interpretação psicológica dos horóscopos seja uma matéria ainda muito incerta, contudo, atualmente há a perspectiva de uma possível explicação causal, em conformidade, portanto, com a lei natural. Por conseguinte, não há mais justificativa para descrever a Astrologia como um método mântico. Ela está em vias de se tornar uma ciência. Como, porém, ainda existem grandes áreas de incerteza, de há muito resolvi realizar um teste, para ver de que modo uma tradição astrológica se comportaria diante de uma investigação estatística. Para isto, foi preciso escolher um fato bem definido e indiscutível. Minha escolha recaiu no casamento. Desde a antiguidade a crença tradicional a respeito do casamento é que este é favorecido por uma conjunção entre o Sol e a Lua no horóscopo dos casais, isto é,  com uma órbita de 8º em um dos parceiros, e em  com  no outro parceiro. Uma segunda tradição, igualmente antiga, considera   também como uma característica do casamento. De importância são as conjunções dos ascendentes com os grandes luminares.

[979] Juntamente com minha colaboradora, a Dra. L. Frey-Rohn, primeiramente procedi à coleta de 180 casamentos, ou 360 horóscopos individuais, e comparamos os 50 aspectos astrológicos mais importantes neles contidos e que poderiam caracterizar um casamento, isto é, as  Â (conjunções) e  (oposições) entre  (Sol),  (Lua),  (Marte),  (Vênus), asc. e desc. O resultado obtido foi um máximo de 10% em   . Como me informou o Prof. Markus Fierz, que gentilmente se deu ao trabalho de calcular a probabilidade de meu resultado, meu número tem a probabilidade de cerca de 1:10.000. A opinião de vários físicos matemáticos consultados a respeito do significado deste número, é dividida: alguns acham-na considerável, outros acham-na questionável. Nosso número parece duvidoso, na medida em que a quantidade de 360 horóscopos é realmente muito pequena, do ponto de vista da Estatística.

[980] Enquanto analisávamos estatisticamente os aspectos dos 180 casamentos, esta nossa coleção se ampliava com novos horóscopos, e quando havíamos reunido mais 220 casamentos, esse novo “pacote” foi submetido a uma investigação em separado. Como da primeira vez, agora também o material era avaliado justamente da maneira como chegava. Não era selecionado segundo um determinado ponto de vista, e foi colhido nas mais diversas fontes. A avaliação do segundo “pacote” produziu um máximo de 10,9% para   . A probabilidade deste número é também aproximadamente de 1:10.000.

[981] Por fim, foram acrescentados mais 83 casamentos, a seguir estudados também separadamente. O resultado foi de um máximo de 9,6% para   ascendente. A probabilidade deste número é aproximadamente de 1:3.000.

[982] Um fato que logo nos chama atenção é que as conjunções são todas conjunções lunares, o que está de acordo com as expectativas astrológicas. Mas estranho é que aquilo que logo se destaca aqui são as três posições fundamentais do horóscopo, a saber:  (Sol),  (Lua) e o ascendente. A probabilidade de uma coincidência de    com    é de 1:100 milhões. A coincidência das três conjunções lunares com  (Sol),  (Lua) e o ascendente tem uma probabilidade de 1:3×10; em outros termos: a improbabilidade de um mero acaso para esta coincidência é tão grande, que nos vemos forçados a considerar a existência de um fator responsável por ela.  Como os três “pacotes” eram muito pequenos, as probabilidades respectivas de 1:10.000 e 1:3.000 dificilmente terão alguma importância teórica. Sua coincidência, porém, é tão improvável, que se torna impossível não admitir a presença de uma necessidade que produziu este resultado.

[963] Não se pode responsabilizar a possibilidade de uma conexão cientificamente válida entre os dados astrológicos e a irradiação dos prótons por este fato, pois as probabilidades individuais de 1:10.000 e 1:3.000 são demasiado grandes, para que se possa considerar nosso resultado, com um certo grau de certeza, como meramente casual. Além disto, os máximos tendem a se nivelar, quando aumenta o número de casamentos com a adição de novos pacotes. Seriam precisas centenas de milhares de horóscopos de casamentos para se determinar uma possível regularidade estatística de acontecimentos tais como as conjunções do Sol, da Lua e dos ascendentes, e, mesmo neste caso, o resultado seria ainda questionável. Entretanto, o fato de que aconteça algo de tão improvável quanto a coincidência das três conjunções clássicas só pode ser explicado ou como o resultado de uma fraude, intencional ou não, ou mais precisamente como uma coincidência significativa, isto é, como sincronicidade.

[964] Embora mais acima eu tenha sido levado a fazer reparos quanto ao caráter mântico da Astrologia, contudo, agora sou obrigado a reconhecer que ela tem este caráter, tendo em vista os resultados a que chegou meu experimento astrológico. O arranjo aleatório dos horóscopos matrimoniais colocados seguidamente uns sobre os outros na ordem que nos chegavam das diversas fontes, bem como a maneira igualmente aleatória com que foram divididos em três pacotes desiguais, correspondia às expectativas otimistas do pesquisador e produziram um quadro geral melhor do que se poderia desejar, do ponto de vista da hipótese astrológica. O êxito do experimento está inteiramente de acordo com os resultados da ESP de Rhine, que foram favoravelmente influenciados pelas expectativas, pela esperança e pela fé. Mas não havia uma expectativa definida com referência a qualquer resultado. A escolha de nossos 50 aspectos já é uma prova disto. Depois do resultado do primeiro pacote havia certa esperança de que a    se confirmasse. Mas esta expectativa frustrou-se. Na segunda vez, formamos um pacote maior com os horóscopos acrescentados antes, a fim de aumentar a certeza. Mas o resultado foi a    . Com o terceiro pacote havia apenas leve esperança de que a    se confirmasse, o que também, mais uma vez, não ocorreu.

[985] O que aconteceu aqui foi reconhecidamente uma curiosidade, aparentemente uma coincidência significativa singular. Se alguém se impressionasse com esta coincidência, poderíamos chamá-lo de pequeno milagre. Hoje, porém, temos de considerar a noção de milagre sob uma ótica diferente daquela a que estávamos habituado. Com efeito, os experimentos de Rhine nos mostraram, nesse meio tempo, que o espaço e o tempo, e conseqüentemente também a causalidade, são fatores que se podem eliminar e, portanto, os fenómenos acausais ou os chamados milagres, parecem possíveis. Todos os fenómenos naturais desta espécie são combinações singulares extremamente curiosas dos acasos, unidas entre si pelo sentido comum de suas partes o resultando em um todo inconfundível. Embora as coincidências significativas sejam infinitamente diversificadas quanto à sua fenomenologia, contudo, como fenómenos acausais, elas constituem um elemento que faz parte da imagem científica do mundo. A causalidade é a maneira pela qual concebemos a ligação entre dois acontecimentos sucessivos. A sincronicídade designa o paralelismo de espaço e de significado dos acontecimentos psíquicos e psicofísicos, que nosso conhecimento científico até hoje não foi capaz de reduzir a um princípio comum. O termo em si nada explica; expressa apenas a presença de coincidências significativas, que, em si, são acontecimentos casuais, mas tão improváveis, que temos de admitir que se baseiam em algum princípio ou em alguma propriedade do objeto empírico. Em princípio, é impossível descobrir uma conexão causal recíproca entre os acontecimentos paralelos, e é justamente isto que lhes confere o seu caráter casual. A única ligação reconhecível e demonstrável entre eles é o significado comum (ou uma equivalência). A antiga teoria da correspondência se baseava na experiência de tais conexões — teoria esta que atingiu o seu ponto culminante e também o seu fim temporário na idéia da harmonia preestabelecida de Leibniz, e foi a seguir substituída pela doutrina da causalidade. A sincronicidade é uma diferenciação moderna dos conceitos obsoletos de correspondência, simpatia e harmonia. Ela se baseia, não em pressupostos filosóficos, mas na experiência concreta e na experimentação.

[986] Os fenômenos sincronísticos são a prova da presença simultânea de equivalências significativas em processos heterogêneos sem ligação causal; em outros termos, eles provam que um conteúdo percebido pelo observador pode ser representado, ao mesmo tempo, por um acontecimento exterior, sem nenhuma conexão causal. Daí se conclui: ou que a psique não pode ser localizada espacialmente, ou que o espaço-é psiquicamente relativo. O mesmo vale para a determinação temporal da psique ou a relatividade do tempo. Não é preciso enfatizar que a constelação deste fato tem conseqüências de longo alcance.

[987] Infelizmente, no curto espaço de uma conferência não me é possível tratar do vasto problema da sincronicidade, senão de maneira um tanto corrida. Para aqueles dentre vós que desejam se informar mais detalhadamente sobre esta questão, comunico-vos que, muito em breve, aparecerá uma obra minha mais extensa, sob o título de Sincronicidade como Princípio de Conexões Acausais. Será publicada juntamente com a obra do Prof. W. Pauli, num volume denominado Naturerklärung und Psyche.

 

Notas:

[1] Publicado pela primeira vez no Eranos-Jahrbuch XX (1951). Tratava-se originariamente de uma conferência que o autor pronunciou perante o Círculo Eranos de 1951, em Ascona na Suíça.

[2] O material aqui recolhido provém de diversas fontes. Trata-se de horóscopos de pessoas casadas. Não se fez nenhuma seleção. Utilizamos indiscriminadamente todos os horóscopos de que pudemos lançar mão.

Tradução de Pe. Dom Mateus Ramalho Rocha, OSB. Petrópolis: Vozes, 2000, 10ª edição, volume VIII/3 das Obras Completas.

Carl Gustav Jung

Postagem original feita no https://mortesubita.net/psico/a-sincronicidade/

A Senda Infinita

Paulo Jacobina

Para se compreender o processo de transformação do Eu, sua passagem pelos planos, é preciso entender a sua jornada e, consequentemente, a sua origem e o seu destino. Religiões e doutrinas filosóficas pelo mundo inteiro abordam esta origem, cada uma à sua maneira, mas todas com um ponto em comum: o homem, o Eu, decorre de uma entidade superior, que é conhecida por muitos nomes, dependendo de onde se origina a doutrina. Deus, Rahim, Elohim, Brahman, Nhanderuvuçú são apenas alguns exemplos dos infinitos nomes dados pelo homem ao Absoluto, aquele que deu causa a tudo o que existe e ao que não existe. A questão do nome utilizado pouco importa, uma vez que, por ser inefável, o Absoluto não possui nome e, por isso, pode ser chamado por qualquer um sem deixar de ser o Absoluto. Isso porque, caso tivesse um nome, não seria possível chamá-lo por milhares de nomes, pois, assim, deixaria de ser o Absoluto[1].

Aqui, apenas por questões conceituais e buscando facilitar a compreensão, serão utilizados nomes como o Absoluto, o Todo e Aquele que É. Tal escolha se baseia, unicamente, na imanência que se busca ressaltar, de que o Absoluto é uno, eterno, imóvel, imutável e perfeito.

É uno, porque tudo o que existe, e o que não existe, nEle está contido, sem que Ele deixe de existir como um todo, nem que nada dEle se separe.

É eterno, porque não possui início, nem meio, nem fim.

É imóvel porque preenche o infinito e, por isso, não tem para onde se locomover, pois nada existe para além dEle, uma vez que não existe o “além do Absoluto”. Se existe além, lá o Absoluto também estará e também será o além, da mesma forma que o vazio e o nada inexistem, pois, para existirem teriam de ser desprovidos de tudo, inclusive do Absoluto, e o Absoluto se encontra em tudo o que existe e o que não existe.

É imutável, porque não se transforma e, assim, nunca está e sempre é. E, por não se transformar, é perfeito, pois não necessita de corrigir detalhes.

Compreender essas informações pode parecer difícil e isso é normal. Uma vez que o ser humano se encontra limitado pelo estado de consciência no qual se encontra, e a compreensão do Todo está muito além do estado de consciência no qual aqueles que aqui estão encarnados conseguem visualizar. É também fundamental destacar, que mesmo entre o que se tem consciência e o que se consegue expressar, há uma distância, posto que as palavras, os símbolos, as imagens, são limitadas face àquilo que se tem consciência.

Consciência não se restringe ao simples saber. Consiste em ter aquele conhecimento arraigado no seu âmago, ao ponto de ele estar intrinsicamente contido em sua conduta. Não há, sequer, necessidade de se pensar naquele comportamento, pois sobre ele não recaem dúvidas ou qualquer tipo de questionamento filosófico, físico, metafísico, religioso, abstrato…

Estar consciente de algo consiste em ter o comportamento fluido, natural e sem empecilho, por menor que seja, no sentido de se sublimar em direção ao Absoluto, cumprindo, assim, o que alguns conhecem por Dharma, o caminho pelo qual o Eu flui sem atritos, sendo verdadeiramente Eu.

Porém, como se dá a criação do Homem, estado transitório no qual o Eu, que estuda este material, se encontra? Novamente, doutrinas por todo o mundo contam a mesma história travestida de acordo com a realidade local ou o grau de compreensão que possuem.

Para alguns, a “vida” surgiu com o sopro da divindade. Para outros, de centelhas divinas. Há, ainda, os que defendem que a divindade primordial animou uma porção de matéria. O que poucas doutrinas deixam claro (até porque não visam explicar esse processo), é que existe um aparente lapso entre esse “sopro” e o “aparecimento” do Homem, do Eu: que o Homem, o Eu, assim como ele está hoje, não veio imediatamente da divindade primordial, mas percorreu um longo período de transformação até alcançar a sua atual condição.

De igual forma se percebe, ao analisar os homens, que estes também se encontram em estágios distintos, embora, ao se observar numa análise macro, ainda próximos uns dos outros.

Outro ponto que se constata é o de que todos os homens, por não serem perfeitos, ainda podem se transformar. Dessa forma, verifica-se que existe uma jornada iniciada no seio do Absoluto e que não fica estagnada, mas se desloca infinitamente até algum lugar. Mas, que lugar seria esse para o qual o homem se desloca? Mais uma vez, as doutrinas estão corretas ao afirmarem que o destino do Eu em sua jornada existencial é o retorno ao Absoluto. Então, a jornada tem o seu início no seio do Absoluto e, após percorrer toda a jornada existencial, retorna ao seio do Absoluto.

Assim com a dança de Shiva, o Absoluto parece se expandir em um processo de subdivisão[2] até o infinito, quando, após atingir o infinito, volta a se recolher, reunindo as partes que foram divididas inicialmente. Nesse processo de sístoles e diástoles[3], a existência é criada na origem primordial e caminha à infinitésima partícula, até retornar, percorrendo todos os planos de existência, passando, em certo ponto, pelos reinos mineral, vegetal, animal, hominal, angelical…

Contudo, tal como ondas num lago provocadas pelo contínuo e eterno estímulo inicial, o processo existencial jamais se esgota, pois, quando a primeira onda inicia o processo de retorno após atingir o infinito, uma nova onda a substitui chegando ao infinito. Por existirem infinitas ondas neste indo e vindo infinito, inexiste movimento aparente, embora ele ocorra, tal qual objeto que vibra em altíssima velocidade e, mesmo assim, parece estático para aquele que o observa[4].

Como todas as ondas são partes integrantes do Todo, ele se estende eternamente até o infinito, jamais se movendo, embora o movimento exista em seu interior[5]; jamais se limitando, embora a limitação exista em seu interior; jamais se transformando, embora a transformação exista em seu interior; e, por não se transformar, é perfeito, embora a imperfeição também exista em seu interior.

Dessa forma, a jornada existencial se inicia no seio do Absoluto e a Ele retorna ao término do seu processo transformador. Tal lugar pode ser considerado o centro do Absoluto e estar localizado nos confins da galáxia mais distante, na Terra, em Aldebarã, no Sol, em Sirius, em Alcione ou, até mesmo, no Eu. Pois, uma vez que se estabelece um ponto localizado no Absoluto, ele sempre será o Seu centro, uma vez que se encontra infinitamente equidistante a todas as direções do Absoluto.

O Ser, então, seria como um raio, que irradia do seio do Absoluto até o infinito, atravessando todas as ondas geradas pelo eterno e contínuo estímulo inicial. Esse raio, assim como o Absoluto, por conta do Princípio de Correspondência[6], também é imóvel, embora o movimento exista em seu interior; também é imutável, embora a transformação ocorra em seu interior; também é perfeito, embora a imperfeição exista dentro dele.

Entretanto, se o Ser é imóvel, o que se desloca na senda infinita não é o Ser propriamente dito, mas alguns de seus atributos[7]. E é um desses atributos que passa por um infindável processo de transformação nas esferas existenciais, nascendo quando se inicia o retorno do infinito em direção ao seio do Absoluto. Este atributo é o que costumeiramente chamamos de Consciência. Seu nascimento ocorre no retorno do infinito, pois, apenas então, tem início o processo restaurador, o de se reconectar as partes do Absoluto que ilusoriamente foram desconectadas: ali se dá o início da jornada de compreensão.

Da mesma forma que o Ser, pelo Princípio de Correspondência[8], a Consciência também é imóvel, embora em seu interior ocorra o movimento; também é imutável, embora exista transformação em seu interior; também é perfeita, embora a imperfeição exista dentro de si.

Contudo, se a Consciência também é imóvel, quem se desloca na senda infinita não é a Consciência em si, mas um de seus atributos, o Eu. É o Eu que se desloca pela Consciência, sendo impulsionado pelas ondas que se propagam em direção ao seio do Absoluto e sofrendo o impacto das ondas que se deslocam ao infinito. O impulso dado pelas ondas que rumam para o seio do Absoluto é a força motriz que inexoravelmente leva o Eu em direção ao Eu Superior, enquanto o impacto das ondas em direção ao infinito tem o efeito de gerar o atrito necessário para a depuração do Eu, fazendo com o que é mais bruto seja arrancado, permanecendo no Eu Inferior, e apenas aquilo que é sutil possa se deslocar na senda infinita, nas vicissitudes existenciais, para se transformar no Eu Superior, no processo que alguns chamam de reencarnação e outros conhecem como roda de Samsara.

Nesse processo de transformação, o Eu se desloca do Eu Inferior (aquele que acredita ser uma criatura individualizada e ainda apegada àquilo o que é bruto) e começa a se perceber parte integrante do Absoluto quando a ideia do eu desaparece e passa a ser suplantada pela ideia do nós, até chegar ao Eu Superior, onde habita um novo Eu, o Eu Coletivo, aquele que sabe o que é, o Eu que sabe que tudo o que existe também faz parte dele e que ele está intimamente associado a tudo o que existe, como uma única coisa, como parte integrante, indissociável e indelével do Absoluto.

Desta forma, o Eu é o atributo da Consciência que se encontra em processo de transformação, cada vez mais, tornando-se a Consciência, e, consequentemente, o Ser; percebendo-se, passo a passo, parte integrante do Absoluto; sutilizando-se, abandonando corpos mais brutos e mantendo os mais sutis.

Enquanto a Consciência nasce na volta do infinito, quando inicia o processo restaurador, outro atributo do Ser, faz o caminho inverso, nascendo no seio do Absoluto e infinitamente se subdividindo até os confins do infinito. A este atributo, que nasce no seio do Absoluto e se dirige até o infinito, pode ser dado o nome de Tecido Elementar[9].

Tal qual a sua contraparte[10], a Consciência, o Tecido Elementar, pelo Princípio de Correspondência, também é imóvel, embora em seu interior ocorra o movimento; também é imutável, embora exista transformação em seu interior; também é perfeito, embora a imperfeição exista dentro de si.

Por ser imóvel, não é o Tecido Elementar que se desloca na senda em direção ao infinito, mas um de seus atributos, o Agente Modelador, que se desloca do seio do Absoluto, impulsionado pelas ondas que se expandem até o infinito e sofrendo o atrito das ondas que se concentram em direção ao seio do Absoluto, brutalizando-se e dando forma aos planos de existência. Este atributo, que carrega dentro de si a capacidade de moldar os planos de existência, foi amplamente relatado ao longo da história humana e, no contato com os planos existenciais que o Homem costuma ter mais acesso, recebe, comumente, o nome de Elemental. Assim, o Eu e o Agente Modelador se deslocam em sentidos paralelamente opostos, mas unidos no processo existencial.

Ponto que merece destaque é o de que, assim como o próprio Absoluto, todos os seus Atributos e subatributos não são bons ou maus, mas neutros. É normal, para alguns, pensar que o deslocamento do Agente Modelador, brutalizando-se, o deixe mau, enquanto o deslocamento da Consciência, sutilizando-se, a deixe boa. Na verdade, tanto um, quanto o outro, apenas cumprem a sua função estabelecida no plano criador e, por isso, não podem ser rotulados como bom ou mau, melhor ou pior.

Essa falsa necessidade que o Homem possui, de criar dualidades e demais separatismos, decorre da influência exercida pelo Agente Modelador, que atua em tudo o que existe, inclusive na forma com que o Eu analisa tudo o que existe e o que não existe, subdividindo conforme foi programado, em essência, para ser. Tal atuação não se limita ao plano material, mas também se aplica ao espiritual, ao mental e a todos os demais, uma vez que tudo o que existe e o que não existe é moldado no Tecido Elementar e, consequentemente, sofre a ação de seus atributos, inclusive a do Agente Modelador, gerando o Princípio de Polaridade[11].

Por isso, não se pode catalogar algo como bom ou mau, pior ou melhor: apenas deve ser verificado se aquilo está cumprindo o seu propósito de ser. Se o Agente Modelador está sendo Agente Modelador, se a Consciência está sendo Consciência, se o Tecido Elementar está sendo Tecido Elementar, isso significa que tudo está em sintonia e, por isso, respondendo à determinação do Absoluto, pois é para isso que cada coisa serve: para ser ela mesma.

Os aparentes conflitos, no plano em que o Homem atualmente se encontra, decorrem do desejo do Homem em ser o que ele não nasceu para ser. Por exemplo, imagine que uma planta deseja abandonar o seu propósito: ao invés de realizar fotossíntese e servir de alimento e moradia para outros seres, ela deseje ser um leão, caçar gazelas para se alimentar e deixar de fazer o que ela foi destinada a ser. Não é necessária muita elucubração para se constatar que o mundo entraria em colapso. Porém, a planta não deseja nada além de ser planta, assim como o leão não deseja nada além de ser leão: tanto a planta, quanto o leão têm o seu desejo em sintonia com a Vontade do Absoluto, que é a de que eles sejam eles mesmos.

Assim como a planta existe para ser planta, o animal para ser animal e o mineral para ser mineral, o ser humano existe para ser humano, para que o seu desejo se confunda com a Vontade do Absoluto, que é a de que ele seja benevolente, piedoso, tenha compaixão, seja integralizador. Quando o homem respeita a sua essência, não há conflitos. Contudo, quando, ao fazer uso de seu Livre-Arbítrio, tenta fugir daquilo para o qual foi criado, os atritos acontecem e o conflito aparece.

Só há atrito onde há a separação do desejo e da Vontade. Onde a Vontade e o desejo estão unidos, inexiste atrito, existe o Dharma[12]. Dessa forma, pode-se acreditar erroneamente que o Livre-Arbítrio seria ruim, pois permite ao Homem ter um querer distinto da Vontade. Entretanto, assim como tudo o que existe e o que não existe, o Livre-Arbítrio também não é bom ou mau, ele é neutro e cumpre a função para a qual foi criado: permitir, pela experimentação, que o Eu encontre o caminho para o Eu Superior, ao compreender que tudo o que existe e o que não existe é apenas o Absoluto e nada mais. Por cumprir a função para a qual foi criado, o Livre-Arbítrio não é bom ou mau, ele apenas é o Livre-Arbítrio e, ao ser Aquele que É, ele é neutro.

Da mesma forma que o Livre-Arbítrio tem como essência permitir que o Eu escolha o caminho ao qual seguir, para, assim, encontrar o Dharma, o Karma existe, em sintonia com o Livre-Arbítrio, como forma de gerar a compreensão no Eu. Enquanto o Livre-Arbítrio permite a realização de uma escolha, o Karma é a escolha permitida pelo Livre-Arbítrio. É aquilo que, com base no estado de Consciência no qual se encontra, o Eu opta por fazer. É o agir. Ao agir, o Eu gera a Consequência, isto é, respostas às ações realizadas pelo Eu.

Assim como tudo o que existe e o que não existe, essas respostas, a Consequência, não são boas nem más, mas neutras, pois têm como função atuar em sintonia com o Karma e o Livre-Arbítrio, gerando o atrito necessário para que o Eu se desloque, por ressonância, na Consciência em direção ao Eu Superior. E, pelo fato de a Consequência cumprir a sua essência, ela é Aquele que É.

Aqui, deve ser destacado que a inação verdadeiramente inexiste. Só o que realmente existe é o agir, pois mesmo no que está parado, há, em seu interior, o movimento, da mesma forma que ocorre com o Absoluto, que está parado, mas, em seu interior existe o movimento[13]; e, onde há o movimento, há o agir, e o agir é o Karma.

Entretanto, como o movimento não está limitado a um único plano existencial, acontecendo em todos eles, o Karma também ocorre simultaneamente em todos os planos de existência, e como o Karma é agir, e o agir gera a Consequência, ele produz efeitos que reverberam em todos os planos de existência[14], em sincronicidade. Esses efeitos, pela aplicação do Princípio de Polaridade, tornam-se novas causas e, ressonando, propagam-se pela existência.

Como tudo o que existe e o que não existe se encontra em perfeita sintonia com a Vontade, aquilo que o Eu ilusoriamente entende como futuro, já está determinado, que é o momento no qual o Eu se torna o Eu Superior. Contudo, embora o destino se encontre determinado, o caminho percorrido pelo Eu é traçado pelo seu Karma, com base no Livre-Arbítrio. Porém, o Karma escolhido pouco importa para o resultado final, pois tudo se compensa sincronisticamente, de forma a permanecer na perfeita sintonia, no Princípio de Ritmo[15].

Como “o que está em cima é como o que está embaixo e o que está embaixo é como está em cima”, o Karma e a Consequência também são neutros, visto que atendem ao seu propósito e, assim, não são bons ou maus, mas são Aquele que É. Essa compreensão é importante para se constatar que nenhum caminho pelo o qual o Eu escolhe seguir é errado, pois tem como função primordial, como essência, gerar as condições necessárias para o deslocamento do Eu na Consciência. Toda escolha que o Eu faz, isto é, todo o Karma, é realizado com base no estado de consciência no qual o Eu se encontra e, portanto, o Eu sempre realizaria a mesma escolha baseada nos mesmos fatores e na condição na qual se encontra.

Apenas com o Karma e a Consequência, as condições são modificadas para gerar a ressonância necessária para impulsionar o Eu em direção ao Eu Superior. Desta forma, toda escolha realizada é a escolha certa, pois é feita no estado de Consciência na qual o Eu se encontra e o permite experimentar as sensações necessárias para o seu deslocamento na Consciência em direção ao Eu Superior.

Quando se compreende esse fato, o apego ao que é chamado de passado e a insegurança quanto ao que é chamado ilusoriamente de futuro desaparecem. O Eu se concentra no que é chamado de presente, afastando-se da ilusão da transitoriedade e fixando-se na perenidade, onde ele deixa de ser “Aquele que Está” e se revela Aquele que É.

Ao compreender a sua essência, o Eu deixa de se preocupar com a ilusão do que aconteceu e do que vai acontecer, pois ele sabe que apenas acontece o que tem de acontecer, pois essa é a sintonia perfeita, a contradança[16] na qual tudo o que existe e o que não existe se encontra; ele sabe que bom e mau apenas são polaridades da Consequência, assim como Luz e Trevas são polaridades da Consciência e, portanto, são ilusões criadas pelo Agente Modelador.

A percepção de que bom e mau são polaridades da Consequência é facilmente constatada quando o Eu faz uma análise das experiências às quais se submeteu. Quando ocorre a Consequência, o Eu, influenciado pelo Agente Modelador, tende a observar de um jeito pontual e, consequentemente, a cataloga como algo bom ou ruim. Contudo, caso o Eu visse a Consequência em sua real forma, ele compreenderia que ela não é boa ou má.

Um meio pelo o qual o Eu pode ver a real forma da Consequência é analisar um fato que já foi vivenciado. No momento no qual o fato foi vivenciado, o Eu o classifica como bom ou mau, porém, em momento posterior, quando o Eu já se deslocou na Consciência em direção ao Eu Superior, ao olhar para esse mesmo fato (já vivenciado), o vê de forma diferente, classificando-o, algumas vezes, de forma diversa da que fizera inicialmente. O fato em si não mudou, então como pode algo que permanece inalterado ter o seu significado modificado? Isto ocorre porque o observador mudou, o Eu que analisou o fato pela primeira vez não é o mesmo Eu que analisou o fato da última. Assim, ser bom ou mau não é uma característica do fato, da Consequência, do Karma ou de tudo o que existe e o que não existe, mas uma característica da forma com que o Eu os analisa.

Uma vez que a distinção entre bom e mau, melhor ou pior, existe na forma com que o Eu analisa aquilo que existe e o que não existe, e não nessas coisas em si, encontra-se a verdade por de trás do Princípio de Polaridade, o qual determina, conforme já se definiu acima, que “tudo é duplo; tudo tem polos; tudo tem o seu oposto; o igual e o desigual são a mesma coisa; os opostos são idênticos em natureza, mas diferentes em grau, os extremos se tocam; todas as verdades são meias verdades; todos os paradoxos podem ser reconciliados”.

Sabendo que a polaridade está na forma de analisar o que existe e o que não existe, o Eu pode modificá-la ao seu bel-prazer, transformando o que é ruim em bom e o que é pior em melhor, ao aplicar o Princípio de Vibração[17] sob a influência do que se conhece no Hermetismo como Princípio de Mentalismo[18]. Assim, enxergar as coisas como boas ou más, melhores ou piores, torna-se uma escolha permitida pelo Livre-Arbítrio, e isto é o Karma.

Karma e Consequência são polos do Livre-Arbítrio, haja vista que de todo agir decorre uma consequência e a consequência se torna um novo agir, desencadeando uma nova consequência, isto é, um influencia e é influenciado pelo outro, pois, um, além de gerar o outro, também é gerado por este, uma vez que “tudo se manifesta por oscilações compensadas, sendo que a medida do movimento à direita é a medida do movimento à esquerda”[19], compensando-se em sincronicidade para permanecer em um estado de perfeito equilíbrio na divina contradança.

Ao compreender que o Karma e a Consequência são unos, o Eu também compreende que o tempo é uma ilusão provocada pelo fracionamento da Existência, através da ação do Agente Modelador, pois tudo o que existe e o que não existe, na verdade, apenas é, e, por isso, é Aquele que É.

Contudo, apesar de ser ilusório, o tempo, como todas as ilusões, existe para o Eu, uma vez que é um evento e, como tal, pode ser vivenciado. Tudo o que pode ser vivenciado pelo Eu existe para ele, pois tem a capacidade de gerar a energia necessária para que o Eu mude a sua vibração e, por ressonância, se desloque na Consciência em direção ao Eu Superior.

Esta é a distinção entre aquilo que não existe e aquilo que inexiste: enquanto aquilo que não existe, por ser ilusório, existe em algum plano de existência, mas não em todos; o que inexiste não existe em nenhum deles[20]. Apenas o Absoluto existe em todos os planos de existência, uma vez que ele é Aquele que É, enquanto todo o resto, por ser transitório, pode ou não existir dependendo do plano existencial observado. Desta forma, verifica-se que por ser Aquele que É, o Absoluto é o único que verdadeiramente existe, enquanto tudo o mais, por ser transitório, inconstante, é ilusório[21] e não existe verdadeiramente.

A Compreensão do que é permanente e daquilo que é transitório, auxilia o Eu a superar os ilusórios sofrimentos aos quais voluntariamente se submete. O sofrimento nasce do apego do Eu ao que é transitório, da sua vã tentativa de tornar imóvel aquilo o que é móvel, de deter o que não pode ser detido, de escapar da inexorabilidade do Dharma. Ao compreender o que é permanente, o que é transitório e o que isso significa, o Eu se desapega do que é mutável e se fixa no que é imóvel, tornando-se Aquele que É.

Assim como tudo o que existe e o que não existe, o mutável, também não é bom ou mau, mas neutro, pois apenas existe para cumprir a sua função, a de proporcionar as experiências necessárias para que o Eu se desloque por ressonância na Consciência. E, por ser aquilo que foi determinado em essência para ser, o mutável também é Aquele que É.

Notas:

[1] O mesmo se aplica a tudo o que existe e ao que não existe. O estabelecimento de nomes, como os que aqui são adotados, trata-se apenas de uma ferramenta que visa facilitar a compreensão e a absorção de conceitos, não um mecanismo de limitação que a imposição de um nome pode estabelecer.

[2] Processo decorrente da aplicação daquilo o que se conhece no Hermetismo por Princípio de Gênero: “o Gênero está em tudo; tudo tem o seu princípio masculino e o seu princípio feminino; o gênero se manifesta em todos os planos”.

[3] Segundo o que se conhece no hermetismo pelo Princípio de Ritmo: “tudo tem fluxo e refluxo; tudo tem suas marés; tudo sobe e desce; tudo se manifesta por oscilações compensadas; a medida do movimento à direita é a medida do movimento à esquerda; o ritmo é a compensação”.

[4] Segundo o que se conhece no hermetismo pelo Princípio de Vibração: “nada está parado, tudo se move, tudo vibra”.

[5] Princípio de Vibração, citado na Nota de Rodapé (“NR”) anterior.

[6] Segundo o que se conhece no hermetismo pelo Princípio da Correspondência, “o que está em cima é como o que está embaixo, e o que está embaixo é como o que está em cima”.

[7] Este processo de ser gerado e gerar (ou ser derivado e derivar) que será visto constantemente, só é possível por conta do Princípio de Gênero (“o Gênero está em tudo, tudo tem o seu princípio masculino e o seu princípio feminino; o gênero se manifesta em todos os planos”, vide NR nº. 2) no qual tudo tem o seu princípio masculino, isto é, fecundante, e o seu princípio feminino, isto é, fecundável.

[8] “o que está em cima é como o que está embaixo, e o que está embaixo é como o que está em cima”.

[9] Também conhecido por Fluido universal, elemento universal, fluido elementar.

[10] Segundo o que se conhece no hermetismo pelo Princípio de Polaridade: “tudo é Duplo; tudo tem polos; tudo tem o seu oposto; o igual e o desigual são a mesma coisa; os opostos são idênticos em natureza, mas diferentes em grau; os extremos se tocam; todas as verdades são meias-verdades; todos os paradoxos podem ser reconciliados”.

[11] “tudo é Duplo; tudo tem polos; tudo tem o seu oposto; o igual e o desigual são a mesma coisa; os opostos são idênticos em natureza, mas diferentes em grau; os extremos se tocam; todas as verdades são meias-verdades; todos os paradoxos podem ser reconciliados”.

[12] Pois o Dharma é o fluxo sutil decorrente da impulsão das ondas que retornam ao seio do Absoluto, sem colidir nem sofrer o impacto denso daquelas que se expandem até o infinito.

[13] Mesmo que o corpo físico possa parecer parado, dentro dele, o Corpo Energético estará vibrando, isto é, em movimento. Mesmo que o Corpo Energético possa parecer parado, dentro dele, o Corpo Emocional estará em vibração. Da mesma forma que se o Corpo Emocional parece sem movimento, dentro dele o corpo mental estará em movimento; e assim sucessivamente.

[14] Segundo o que se conhece no hermetismo pelo Princípio de Causalidade: “toda Causa tem seu Efeito; todo Efeito tem sua Causa; tudo acontece de acordo com a Lei; o Acaso é simplesmente um nome dado a uma Lei não reconhecida; há muitos planos de causalidade, porém nada escapa à Lei”.

[15] “Tudo tem fluxo e refluxo; tudo tem suas marés; tudo sobe e desce; tudo se manifesta por oscilações compensadas; a medida do movimento à direita é a medida do movimento à esquerda; o ritmo é a compensação.”

[16] É uma dança de ritmo rápido e compasso binário, composto de várias seções de oito compassos que se repetem.

[17] “Nada está parado; tudo se move; tudo vibra”.

[18] “O TODO é MENTE; o Universo é Mental”.

[19] Princípio de Ritmo.

[20] O “vazio”, por exemplo, verdadeiramente inexiste, visto que assumir a sua existência, significaria que, em algum lugar, o Absoluto não se encontra, o que, por si, O faria deixar de ser o Absoluto.

[21] Princípio de Mentalismo: “o TODO é MENTE; o Universo é Mental”.

~ Paulo Jacobina mantêm o canal Pedra de Afiar, voltado a filosofia e espiritualidade de uma forma prática e universalista.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/psico/a-senda-infinita/

Projeção Consciente e Inconsciente

Texto de Lázaro Freire, da lista Voadores.

Todos nos projetamos, mas nem sempre temos a consciência do processo. É comum nosso corpo espiritual sair, mas nossa lucidez se manter baixa, o que faz que, ao voltarmos ao corpo, a saída do corpo seja às vezes lembrada como imagens simbólicas, confundíveis com sonhos.

Mais frequente ainda é nos projetarmos, até com boa lucidez, mas depois da saída (em geral na fase delta do sono) entrarmos em outras fases, sonharmos, e a partir daí encobrirmos a experiência. Ainda assim, a informação fica absorvida de forma inconsciente, podendo, dependendo do caso, gerar “intuições” ou rememorações ao longo do dia, ainda que nem sempre associemos a uma experiência projetiva anterior.

Boa parte do esforço dos projetores mais experientes concentra-se não na saída em si, mas nas técnicas de rememoração, altamente eficientes, e na melhora do metabolismo visando uma atividade mais consciente. Dentre elas, é recomendado:

– Anotar todos os sonhos e projeções em um caderno

– Evitar alimentos pesados, especialmente à noite

– Evitar dormir com timer e/ou TV ligada

– Não ingerir aceleradores do metabolismo à noite (guaraná em pó, bebidas com cafeina, etc)

– Não cobrir a cabeça, evitando inalação de gás carbônico

– Procurar dormir de lado ou de barriga para cima

– Ler sobre o assunto, especialmente à noite, para que a mente considere normal e não mascare a experiência

– Fazer práticas que ativem os chakras laríngeo e frontal

– Dormir de forma confortável

– Preservar o quarto como local para dormir, estudar ou amar, zelando pela egrégora do local

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SINTOMAS PROJETIVOS:

Cada pessoa pode ou não apresentar sinais característicos de uma facilidade projetiva. Note que há projetores que não tem um ou vários dos sintomas:

– Catalepsia projetiva: sensação de imobilidade noturna, acordando abruptamente a seguir

– Balonement: sensação de expansão da aura, como se o corpo inchasse

– Ruidos intracranianos: estalos no interior do cérebro, provavelmente relativos ao desenvolvimento da pineal

– Estado Vibracional: choques que parecem percorrer o corpo espiritual, ligeiramente desconfortáveis, acompanhados de intensa vibração

– Flutuações e quedas abruptas: sensação de estar flutuando, em relaxamentos ou sono, em geral com uma ligeira queda no reencaixe no corpo.

– Deslocamento na reentrada : sensação de acordar com referência equivocada da posição das janelas e portas do quarto, como se reencaixado inadequadamente no corpo ao “acordar” – corrigindo a “posição” relativa aseguir.

Além dessas evidências relativas ao corpo espiritual, há sinais menores que ocorrem em períodos projetivos, ainda que não rememorados. Dentre eles, maior incidência de sincronicidades, fortes sensações de deja vu, pequenos “estados vibracionais” ocorrendo durante o dia, maior contato com amparadores (e/ou intuições inspiradas por eles) na vigília, ativação mais frequente do chakra frontal e maior incidência de fenômenos mediúnicos. Note que nenhum destes caracteriza, por si, a existência de projeções não relembradas, mas são quase todos presentes quando estas estão ocorrendo.

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MECANISMOS

Em linhas gerais, a projeção astral se dá sempre que a consciência torna-se mais ativa que o estado de ondas cerebrais. Ou seja, é como se consciência e atividade cerebral andassem juntas na maior parte do tempo. Adormecemos e “apagamos” ao mesmo tempo que nossas ondas cerebrais caem. Ao começarmos a sonhar, o cérebro também acompaha: entramos numa fase chamada REM (Rapid Eyes Movement) ou “Sono Paradoxal”, na qual nosso estado onírico de quase lucidez é acompanhada por uma atividade cerebral mais intensa, porém ainda inferior à da vígilia. E agora, acordados, estamos tanto com consciência quanto com o cérebro desperto. Esta espécie de “sintonia vibracional” constante mantém os corpos físico e espiritual (psicossoma, corpo psíquico, corpo astral) unidos.

Se o corpo físico tem morte cerebral, porém, o espírito evidentemente se despreende. Mas existem estados intermediários ou alterados de consciência onde o cérebro diminui sua atividade, mas a consciência se mantém um pouco mais ativa. A consequência será uma saída natural, porém temporária. Após um tempo relativamente curto, o espírito volta ao corpo rapidamente, assim que as ondas cerebrais aumentam – por “alarmes” externos, metabolismo ou fases do sono.

Imagine, assim, um exercício de relaxamento – ou uma palestra enfadonha. Em seu esforço para manter a atenção, a consciência se mantém parcialmente desperta, enquanto o metabolismo cai, o cérebro entra em estado de ondas “alfa”, no estado alterado de hipnagogia (cochilo). A consequência dessa pequena diferença entre atividade cerebral e consciencial, tentando se encontrar para se manter desperto, será uma ligeira desconcidência entre corpos físico e espiritual. Daí não raro a sensação de pequena “queda”, como se flutuassemos a alguns centímetros da cadeira.

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(c) Lázaro Freire – http://www.voadores.com.br

#PlanoAstral

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/proje%C3%A7%C3%A3o-consciente-e-inconsciente