A Visão Tântrica Do Relacionamento

Por Keith Sherwood

A sexualidade humana não pode ser entendida fora do conceito de Yin e Yang. Na visão tântrica, um ser humano e suas relações são um espelho do universo – ou melhor ainda, do universo inteiro em microcosmo. O próprio universo é visto como uma união dos princípios masculino e feminino, representados pelo casal divino Shiva e Shakti.

No tantra, o Shiva masculino e a Shakti feminina são reverenciados tanto como o casal divino quanto como os arquétipos de consciência (Shiva) e energia (Shakti). Os antigos textos védicos, que são sagrados para a ioga e o tantra, descrevem através de metáforas e mitos a relação de uma pessoa com seu campo energético e a relação do campo energético com outras pessoas e com o cosmo. Os textos védicos mais conhecidos, os Upanishads e o Bhagavad Gita, nos dizem que depois que o universo foi criado, Shiva e Shakti emergiram da singularidade chamada Consciência Universal através dos tattvas, que são passos na evolução do universo físico e não-físico.

Trinta e seis tattvas são responsáveis pela incrível diversidade do nosso universo. O primeiro tattva foi o mundo original que emergiu da Consciência Universal, um mundo sem forma. A partir daí, surgiram Purusha e Prakriti. Purusha, o predecessor de Shiva, foi a consciência primordial e Prakriti, a predecessora de Shakti, a fonte primordial de poder (energia sexual). O tattva seguinte, que resultou de sua união, foi chamado de Mahatattva. Foi nesta fase que o equilíbrio perfeito no universo primordial, não-físico, foi perturbado e a evolução – como os seres humanos podem conceber – começou. No tattva seguinte, surgiram Shiva e Shakti, e foi neste ponto que o êxtase sexual apareceu pela primeira vez.

No tantra, a evolução é considerada como um processo contínuo através do qual Shakti (Yin) é continuamente impregnada por Shiva (Yang). Este ato constante de criação e seu deleite sexual associado são centrais para a experiência tântrica e para a visão tântrica da transcendência (esclarecimento). O universo está sendo criado continuamente através da união de opostos: Yin/Yang, Shiva/Shakti.

O casal divino serve como o arquétipo para o amor sexual (Eros) e uma relação transcendente. O êxtase sexual que dois indivíduos experimentam juntos é visto como sendo fundamentalmente o mesmo que o experimentado pelo casal divino. É por isso que, no tantra, a sexualidade humana é elevada para além do mero ato de procriação, ela se torna um veículo para alcançar a transcendência. O sexo é usado para quebrar as barreiras que fazem as pessoas se sentirem separadas e as transporta para um estado de união entre si e com a Consciência Universal.

Como os antigos mestres tântricos, você pode experimentar estados semelhantes de êxtase sexual. Você pode usar os poderes anteriormente adormecidos de seu campo energético para alcançar transcendência ou iluminação, onde prazer, amor, intimidade e alegria emanam espontaneamente de dentro de você, e você pode compartilhar essas qualidades edificantes com seu parceiro.

Do livro Sex and Transcendence (Sexo e Transcendência), por Keith Sherwood

Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-sexual/a-visao-tantrica-do-relacionamento/

A Tradição Feri

A Tradição Feri é uma tradição iniciática da bruxaria pagã moderna. Foi fundada na Califórnia na década de 1960 pelos americanos Victor Henry Anderson e sua esposa Cora Anderson.

Os praticantes a descreveram como uma tradição de êxtase, em vez de uma tradição de fertilidade. Forte ênfase é colocada na experiência e consciência sensual, incluindo o misticismo sexual, que não se limita à expressão heterossexual. A Tradição Feri tem influências muito diversas, como Huna, Vodu, Faery, Cabala, Hoodoo, Tantra e Gnosticismo.

Estudiosos do paganismo como Joanne Pearson e Ethan Doyle White caracterizaram Feri como uma tradição wicca. Este último notou, entretanto, que alguns praticantes da Bruxaria pagã moderna restringem o termo Wicca à Wicca Tradicional Britânica, caso em que Feri não seria classificado como Wicca; ele considerou esta definição excludente do termo “inadequada para fins acadêmicos”. Em vez disso, ele caracterizou Feri como uma forma de Wicca que, no entanto, é distinta de outras, como a Wicca Tradicional Britânica, a Wicca Diânica e a Stregheria.

Anderson conheceu Cora Ann Cremeans em Bend, Oregon, em 1944; eles se casaram três dias depois, em 3 de maio, alegando que já haviam se encontrado antes no reino astral. Nascida em Nyota, Alabama, em janeiro de 1915, Cora foi exposta a práticas mágicas populares desde a infância; supostamente, seu avô irlandês era um “médico das raízes” que era conhecido entre os locais como o “druida”. Os Andersons alegaram que um de seus primeiros atos após o casamento foi a construção de um altar. No ano seguinte, nasceu um filho, e eles o chamaram de Victor Elon, sendo este último a palavra hebraica para carvalho; Cora alegou que ela havia recebido o nome em um sonho. Após o nascimento, foi realizado um ritual para dedicar a criança à Deusa. Em 1948, a família mudou-se para Niles, Califórnia, mais tarde naquele ano comprando uma casa em San Leandro. Lá, Anderson tornou-se membro da Loja Alameda da Ordem Fraternal das Águias, e posteriormente permaneceu assim por quarenta anos. Victor ganhava a vida como músico, tocando acordeão em eventos, enquanto Cora trabalhava como cozinheira de hospital. Alegou-se que Anderson poderia falar havaiano, espanhol, crioulo, grego, italiano e gótico.

Em meados da década de 1950, Victor e Cora leram Witchcraft Today (Bruxaria Hoje), um livro de 1954 do wiccano inglês Gerald Gardner, com Cora alegando que Victor se correspondia com Gardner por um tempo. O estudioso de estudos pagãos Chas S. Clifton sugeriu que os Andersons usaram o trabalho de Gardner como um “guia de estilo” para o desenvolvimento de sua própria tradição de bruxaria pagã moderna. Da mesma forma, Kelly afirmou que a tradição dos Andersons “começou a se assemelhar cada vez mais à dos Gardnerianos”, à medida que o casal aprendeu mais sobre o último, adotando elementos dele. Anderson estava em correspondência com o wiccano ítalo-americano Leo Martello, que encorajou Anderson a fundar seu próprio coven. Por volta de 1960, os Andersons fundaram um coven, nomeando-o Mahealani, em homenagem à palavra havaiana para lua cheia. Ao longo do final dos anos 1950 e início dos anos 1960, os Andersons iniciaram um número de indivíduos no coven. Um deles era Gwydion Pendderwen, um amigo de seu filho que compartilhava seu interesse pelo esotérico. Pendderwen contribuiu para o desenvolvimento do que veio a ser conhecido como a tradição Feri, com alguns membros da linhagem vendo-o como seu co-fundador. Pendderwen observou que conheceu a família quando, aos treze anos, brigou com Victor Elon, embora os dois mais tarde se tornassem amigos. Pendderwen foi particularmente influenciado pela mitologia galesa e, em uma visita à Grã-Bretanha, passou um tempo com os wiccanos alexandrinos Alex Sanders e Stewart Farrar, posteriormente introduzindo vários elementos alexandrinos na Wicca Feri. No início dos anos 1970, os Andersons estabeleceram um novo coven com Pendderwen e sua iniciada, Alison Harlow. Depois que Pendderwen se casou, sua esposa também se juntou a este coven, embora tenha se dissolvido em 1974.

O Ensino de Anderson

Nas quatro décadas seguintes, os Andersons iniciariam entre vinte e cinco e trinta pessoas em sua tradição. Anderson foi descrito como um dos “professores fundadores” e a “voz seminal” da tradição Feri. A palavra original que os Andersons usavam para sua tradição era Vicia, que Cora alegou ser italiana. Ela acrescentou que “o nome Fairy (Fada) tornou-se acidentalmente ligado à nossa tradição porque Victor tantas vezes mencionou essa palavra ao falar de espíritos da natureza e magia celta”. Os primeiros iniciados alternadamente soletravam o nome da tradição como Fairy, Faery ou Faerie, embora Anderson tenha começado a usar a grafia Feri durante a década de 1990 para diferenciá-la de outras tradições de bruxaria com o mesmo nome; nem todos os praticantes seguiram seu exemplo. Cora afirmou que Feri era a grafia original da palavra, acrescentando que significava “as coisas da magia”. Anderson também se referiu à sua forma de Wicca como a tradição picta. Em seus escritos, os Andersons misturaram a terminologia adotada de Huna, da Wicca Gardneriana e do Voodoo, acreditando que todas refletiam a mesma tradição mágico-religiosa subjacente. Baseou-se fortemente no sistema huna desenvolvido por Max Freedom Long. De acordo com um iniciado Feri, Corvia Blackthorn:

“O método de ensino dos Andersons era muito informal. Não havia aulas no sentido acadêmico, apenas conversas e um ritual ocasional, geralmente seguido de uma refeição caseira. As discussões com Victor não eram lineares e transbordavam de informações. Alguém uma vez apropriadamente comentou que falar com Victor era como tentar beber de uma mangueira de incêndio. Muitas vezes, os fios de conexão e os padrões subjacentes nas informações não se tornavam aparentes até mais tarde. Havia também um componente não verbal no ensino de Victor. Ele era um verdadeiro xamã, e tinha a capacidade de mudar a consciência de seus alunos em um nível bem abaixo da superfície da conversa.”

De acordo com Kely:

“Estudar com Victor apresentou alguns problemas incomuns. Ele exigia tanto respeito quanto qualquer avô da classe trabalhadora. Alguém poderia pedir esclarecimentos, mas até mesmo insinuar que alguém discordava dele, ou pior ainda, contradizê-lo, resultaria em um ordem imediata e permanente para sair. Alguém estava tentado a fazer essas perguntas proibidas porque Victor vivia no tempo mítico e estava totalmente desinteressado pelos conceitos de lógica ou consistência de outras pessoas;… Outro aluno me disse que quando Victor leu um novo livro e acreditou era verdade, então ele considerou que sempre foi verdade e repensaria sua história de acordo.”

De acordo com um iniciado, Jim Schuette, Anderson era “um capataz. Ele se orgulhava de testar seus alunos”. Um dos iniciados na tradição Feri dos Andersons foi Starhawk, que incorporou ideias da tradição Feri ao criar o Reclaiming. Ela também incluiu aspectos dele em seu livro de 1979, The Spiral Dance (A Dança Cósmica das Feiticeiras), incluindo menção ao Pentagrama de Ferro e Pérola e as três almas, todos originados dentro de Feri. Outro iniciado de destaque foi Gabriel Carillo (Caradoc ap Cador), que no final da década de 1970 desenvolveu um corpo escrito de ensinamentos Feri, e começou a oferecer aulas pagas na tradição na década de 1980, gerando a linhagem Bloodrose; isso gerou controvérsia entre os iniciados de Feri, com os críticos acreditando que era moralmente errado cobrar pelo ensino.

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Fontes:

Anaar, The White Wand (A Varinha Baqueta). Olha para as fundações artísticas de Feri. Também inclui uma entrevista com Victor Anderson. (disponível em pdf em White Wand: Intersection of Feri and Art: http://www.whitewand.com/ )

Blackthorn, Corvia (2003). “The Feri Tradition: Vicia Line”. The Witches’ Voice. Archived from the original on 2 February 2015.

Cora Anderson, Fifty Years in the Feri Tradition (Cinquenta Anos na Tradição Feri). Reflexões sobre a tradição e comunidade Feri.

Cora Anderson, Kitchen Witch: A Memoir. (A Bruxa da Cozinha: Uma Livro de Memórias) – Harpy Books. Sua vida.

Kelly, Aidan A. (1991). Crafting the Art of Magic – Book I: A History of Modern Witchcraft, 1939–1964. St. Paul: Llewellyn. ISBN 978-0-87542-370-8.

Kelly, Aidan A. (2007). Inventing Witchcraft: A Case Study in the Creation of a New Religion. Loughborough, Leicestershire: Thoth Publications. ISBN 978-1-870450-58-4.

Kelly, Aidan A. (2011). Hippie Commie Beatnik Witches: A Social History of the New Reformed Orthodox Order of the Golden Dawn. Tacoma: Hierophant Wordsmith Press. ISBN 978-1-4609-5824-7.

Victor Anderson, Thorns of the Blood Rose (Espinhos da Rosa Sangrenta). Uma coleção de sua poesia, muito da qual encontrou seu caminho nas liturgias e rituais da tradição.

Victor Anderson, Lilith’s Garden (O Jardim de Lilith). Um volume companheiro para Thorns of the Blood Rose (Espinhos da Rosa Sangrenta), é outra coleção de poesia principalmente litúrgica, incluindo algumas que foram consideradas muito “escandalosas” para serem incluídas no volume original.

Victor Anderson. Etheric Anatomy: The Three Selves and Astral Travel, (Anatomia Etérica: Os Três Eus e a Viagem Astral) – Harpy Books. Um olhar sobre a estrutura psíquica do ser humano, com insights intuitivos sobre algumas das práticas da magia Feri.

Cornelia Benavidez. Victor H. Anderson: An American Shaman, (Um Xamã Americano) – Megalithica Books. Entrevistas com Victor Anderson acompanhadas de ensaios contextualizadores.

  1. Thorn Coyle, Evolutionary Witchcraft (Bruxaria Evolucionária). Manual de treinamento em Feri escrito principalmente para um público pagão não Feri. Contém poesia, exercícios e lendas.
  1. Thorn Coyle, Kissing the Limitless (Beijando o Ilimitado). Expande e continua o treinamento em Evolutionary Witchcraft (Bruxaria Evolucionária), para uso com qualquer caminho espiritual que o leitor seguir.

Francesca De Grandis, Be A Goddess (Seja Uma Deusa). Treinamento abrangente em xamanismo Fey (não-Feri). A melhor parte de sua liturgia, visão de mundo e cosmologia foi canalizada pela autora, que veio de uma tradição familiar, com feedback de Victor Anderson sobre partes do manuscrito.

Francesca De Grandis, Goddess Initiation (Iniciação da Deusa). Uma jornada iniciática experiencial na espiritualidade da Deusa e no xamanismo Fey.

Schutte, Kelesyn (Winter 2002). “Victor H. Anderson: May 21, 1917 – September 20, 2001”. Reclaiming Quarterly (85). Archived from the original on 24 September 2015. Retrieved February 20, 2012.

Storm Faerywolf, “Betwixt and Between: Exploring the Faery Tradition of Witchcraft”. (Nem Uma Coisa Nem Outra: Explorando a Tradição Faery da Bruxaria) – Llewellyn Worldwide. Um estudo abrangente da Tradição Feri, que inclui lendas, rituais, liturgia e receitas.

Starhawk, The Spiral Dance (A Dança Cósmica das Feiticeiras). Codificação litúrgica inicial e influente da bruxaria de Anderson.

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-sexual/a-tradicao-feri/

A Boca do Abutre

Por Kenneth Grant, O Lado Noturno do Éden, Capítulo Onze.

A PALAVRA do Aeon de Maat que os iniciados afirmam ter sido recebida enquanto em comunicação com inteligências extraterrestres,392 é IPSOS, significando ‘a mesma boca’. No segundo capítulo de AL (verso 76) surge uma cifra críptica que contém um grupo de letras possuindo o valor de IPSOS. De fato, duas grafias diferentes de Ipsos resultam em números equivalentes a um grupo de letras em AL. O criptograma em AL é RPSTOVAL, que tem o valor cabalístico de 696 ou 456 conforme ou a letra ‘S’ é lida como um shin ou como um samekh. Similarmente, IPSOS = 696 ou 456 conforme se o primeiro ‘s’ é tomado como um shin ou um samekh. IPSOS é portanto o equivalente cabalístico de RPSTOVAL. O significado deste grupo de letras não é conhecido, mas Ipsos a boca, o órgão da Palavra de Expressão (saída_?), de Alimentação, Sucção, Beberagem, etc., é o órgão não apenas de expressão mas também de recepção da Palavra.

A fórmula RPSTOVAL compartilha com IPSOS, pois a fórmula da Torre393 é aquela do Falo em erupção, e a ejaculação394 da Palavra do Aeon de Maat, a Palavra que se estende até ‘o fim da terra’.395 A terra está sob o domínio do Príncipe do Ar (i.e. Shaitan), mas os espaços além estão sob o domínio do Senhor do Aethyr, cujo símbolo é o abutre.

Nenhuma fórmula pode ser cósmica que não seja essencialmente microcósmica, pois uma contém a outra. É portanto sugerido que a fórmula de RPSTOVAL é aquela de um processo especificamente fisiológico que envolve a boca (útero) em sua fase mais recôndita.

A boca enquanto Maat, a Verdade, a Palavra; Mat, a Mãe; Maut, o Abutre; e Mort, o Morto,396 está implícita no simbolismo da Torre. A erupção ou expressão da Torre (falo) é a saída (?) da Palavra para dentro dos espaços além da terra que são um com os aethyrs397 representada por el Mato, o Louco, o Mat ou O Louco, e Le Mort, o Morto.

O Caminho do Louco (décimo primeiro caminho) é a extensão secreta do Caminho da Torre (Atu XVI) e uma compreensão iniciática deste simbolismo apresenta uma chave para a fórmula do Aeon de Maat que está resumido pelo número 27 (11 + 16), o número do Caminho do Morto e do Atu XVI, A Torre.398 É significativo que o Caminho da Torre seja de fato o 27o Caminho. Este número é atribuído ao Liber Trigrammaton, um Livro Santo, embora ainda não compreendido, recebido por Crowley de Aiwass. Crowley suspeitava que ele continha o segredo da cabala ‘Inglesa’, e em seus Comentários sobre o AL ele tentou equacionar os trigramas com as letras do alfabeto Inglês de modo a descobrir a cabala Inglesa tal como ele estava ordenado a cumprir no AL.399 Mas as equações estavam longe de serem convincentes, mesmo para ele mesmo. O que ele parecia não compreender era que a cabala que ele buscava pertencia a uma dimensão completamente diferente, e que a boca que iria comunicar esta cabala era a boca cujas emanações são os próprios kalas. Portanto, como eu sugeri em Cultos da Sombra (capítulo 7) com relação à palavra RPSTOVAL, com igual probabilidade pode a palavra IPSOS ocultar uma fórmula de kalas psicossexuais que podem ser compreendidos com relação a uma interpretação tantrica da polaridade sexual.

A interação da vagina e do falo (i.e. a boca e a torre) está resumida sob a fórmula eroto-oral conhecida na linguagem popular como o soixante-neuf (69). Mas o assunto é um pouco mais recôndito do que aquele geralmente implicado por esta prática. Os números 6 e 9 denotam o sol e a lua, Tiphareth e Yesod, e, em termos dos 32 kalas o 6 e o 9 se referem àqueles de Leo400 e Pisces401 A enumeração total resulta 109, o número de NDNH, uma palavra Hebraica significando ‘vagina’402. Deduzindo a cifra, 109 se torna 19, que é o ‘glifo feminino’.403 109 mostra portanto o ovo ou esfera – 0 – do Vazio, o ain do infinito em sua forma feminina. O significado mágico deste simbolismo está colocado numa categoria mais ampla sob o número 69: a radiante energia (relâmpago) solar-fálica do Anjo404 correndo veloz para dentro da boca, cálice ou útero da Lua para misturar-se com o qoph kala.405 A bebida resultante é o vinum sabbati, o Vinho do Sabá das Feiticeiras que pode ser destilado, segundo os antigos grimórios, ‘quando o finial(???) da Torre está oscurecido (ou velado) pela asa do abutre’.

Diz-se que um grito peculiar é emitido da boca do abutre. Em O Coração do Mestre,406 Crowley observa que este grito ou palavra é Mu. Seu número, 46, é a ‘chave dos mistérios’, pois ele é o número de Adam / Adão (Man / Homem). Mu é a semente masculina,407 mas ela é também a água (i.e. sangue) da qual o homem foi moldado. 408 O abutre é um pássaro de sangue e seu grito penetrante é expressado no momento de retalhar(?)409 que acompanha o ato de manifestação: ‘Pois estou dividida por causa do amor, para a chance de união’. (AL. I. 29).

O número 46 também implica o véu divisor (Paroketh), previamente explicado. MAH, 46, é o hebraico para 100, o número de qoph e portanto da ‘parte de trás da cabeça’, o assento das energias sexuais no homem. O cem implica na totalização ou realização de um ciclo de tempo.410 O pleno significado do simbolismo é portanto que quando o abutre abre suas asas para receber o golpe fálico no silêncio e discrição da nuvem,411 seu grito penetrante de êxtase, hriliu412, é MU (46).413

Neste estágio é necessário fazer uma digressão aparentemente irrelevante caso a total importância do simbolismo da Torre deva ser entendida.

Numa construção dilapidada anteriormente situada no local atualmente ocupado pelo Centre Point414 ocorreu, em 1949 um rito mágico curioso. Ele aconteceu por instigação de Gerald Gardner.415 O aposento no qual o rito ocorreu estava alugado naquela ocasião por uma ‘bruxa’ a qual eu chamarei de Sra. South. Ela era realmente uma cafetina(?) e prostituta que temperava suas atividades com um sabor ‘oculto’ calculado para apelar à um certo tipo de clientela. Acompanhado por minha esposa e Gerald Gardner, nós três nos dirigimos ao apartamento da Sra. South após passarmos uma tarde com Gardner em seu apartamento em Ridgemount Terrace afastado da Tottenham Court Road. O rito exigia cinco pessoas e só poderia começar após a chegada de uma jovem senhora a quem a Sra. South estava aguardando para aquele propósito. Supunha-se que a jovem senhora era – como a própria Sra.South – bem versada nos aspectos mais profundos da feitiçaria. Eu não vou negar o fato de que sua feitiçaria provou ser genuína, mas que ela sabia menos ainda sobre a arte do que a Sra.South eu também não vou negar.

Gardner explicou que o propósito do rito era demonstrar sua habilidade em ‘trazer para baixo o poder’. Ele pretendia elevar uma corrente de energia mágica com o propósito de contatar certas inteligências extraterrestres com as quais eu estava, naquela ocasião,416 em rapport quase constante. O rito deveria consistir na circunvolução de nós cinco ao redor de um grande sigilo gravado em papel pergaminho que foi especialmente consagrado. O sigilo foi desenhado para meu uso por Austin Osman Spare que também estava, naquele tempo, ocupado em contatar extraterrestres. O sigilo seria mais tarde consumido na chama de uma vela disposta sobre um altar no quadrante norte do apartamento. À parte deste equipamento mágico, o aposento da Sra.South continha apenas duas ou três estantes de livros sobre feitiçaria e o ‘oculto’ em geral; eles foram sem dúvida importados por ela para emprestar um ar de autenticidade à suas buscas mais usuais.

Se o rito teria sido eficaz ou não fica aberto para questionamento. Ele foi interrompido antes da invocação inicial ter sido concluída. Esta consistia de uma circunvolução horária ao redor do altar com rapidez crescente em círculos que iam diminuindo. A campainha da porta da frente tocou subitamente nas profundezas da construção no restante deserta, primeiramente fraca, então de forma penetrante e insistentemente. O determinado visitante provou ser o proprietário de uma livraria ‘oculta’ situada numa distância não muito grande do apartamento da Sra.South. Contudo ao saber que eu estava no alto da escadaria o visitante decidiu não subir.417 Ele saiu e então meteu-se na vaga névoa de Novembro que mais tarde naquela noite se desenvolveu em um bom fog (nevoeiro) Londrino à moda antiga.

O objetivo deste relato é ilustrar um fato curioso característico da estranha maneira na qual a magia(k) freqüentemente funciona. O sigilo que deveria ter formado o foco da Operação aquela noite era o de um espírito particularmente potente, que teria sido indubitavelmente descrito por Gardner e a Sra. South como essencialmente ‘fálico’. Este fato é importante, pois logo após a cerimônia abortada a Sra. South morreu sob circunstâncias misteriosas; o casamento do dono da livraria se desintegrou violentamente e ele também morreu logo após. O próprio Gerald Gardner não demorou em seguir o exemplo(?). Mas o alto edifício mais tarde erguido sobre o local que estes magos frequentavam é no meu entender um monumento adequado à futilidade daquela Operação noturna.

Fui induzido à lembrar de fazer este relato sobre um rito mágico que deu errado devido à uma declaração feita por Ithell Colquhoun que reconhece na Torre do Correio um monumento à magia de MacGregor Mathers, algumas de cujas atividades foram concentradas naquela região de Londres.418 A premissa pode ser absurda, mas deve ser lembrado que os surrealistas, dos quais Ithell Colqhoun era um, penetraram muitos mistérios mágicos que escaparam aos praticantes e investigadores mais prosaicos. Os casos de Centre Point e a Torre do Correio (ambas formas da Torre Mágica discutida no presente capítulo) conduzem logicamente ao simbolismo da Torre que penetra os Trabalhos de vários ocultistas contemporâneos que operam independentemente uns dos outros.

Durante os últimos anos recentes o presente escritor tem recebido cartas de pessoas e grupos mágicos de todo o mundo, e talvez não seja surpreendente – em vista da natureza comum de nossas pesquisas – que certos símbolos dominantes devam recorrer. Por exemplo, o Liber Pennae Praenumbra que foi recentemente recebido por Adeptos em Ohio, EUA, está permeado com os símbolos mostrados no vívido delinear de Allen Holub de O Abutre na Torre do Silêncio (vide ilustração 8): O Abutre de Maat, a Abelha de Sekhet, a Torre do Silêncio, e a Serpente cujas espirais formam a palavra IPSOS.

Um outro grupo independente de Adeptos em Nova Iorque, conduzido por Soror Tanith da O.T.O., também recebeu símbolos idênticos, dos quais a Torre do Silêncio e a Abelha de Sekhet são os predominantes. A transmissão à Soror Tanith foi emitida por uma entidade extraterrestre conhecida como LAM que foi anteriormente contatada por Crowley em 1919.419

O líder do Culto da Serpente Negra, Michael Bertiaux, também contatou LAM enquanto operava com a Corrente Bön-Pa Tibetana nos anos sessenta.420 Em todas estas invocações e operações mágicas, o simbolismo acima descrito tem sido predominante, o que sugere que em todos os três locais (i.e. Ohio, Nova Iorque e Chicago) uma idêntica energia oculta, entidade ou raio, está irradiando vibrações em conformidade com os símbolos de Mu ou Maat e podem portanto proceder daquele aeon futuro. Isso tende à confirmar a teoria de Frater Achad de que existe uma sobreposição provocada por uma ‘curvatura no tempo’ que está manifestando seu enrolar espiral conforme a antiga sabedoria,421 onde era simbolizada pelo abutre com o pescoço em espiral e pelo pescoço torto cujas peculiaridades físicas fizeram dele um totem ou símbolo senciente similarmente apto.

Outro totem, menos facilmente explicável, é a hiena. Como o abutre, a hiena é uma ‘besta de sangue’, mas apenas isso não responde por seu uso como um glifo zoomórfico na Tradição Draconiana. Segundo a antiga sabedoria a hiena só pode enxergar à direita ou à esquerda girando(?) ao redor de todo o seu corpo; i.e. ele não consegue virar sua cabeça. Ele é portanto de igual valência, simbolicamente, como o pescoço torto. Como um totem do abismo, a atribuição da hiena é por si evidente à respeito de esta povoar as criptas e tumbas do antigo Egito e se alimentar dos mortos. O simbolismo do deserto também se aplica. Na Índia o abutre e a hiena estão entre as bestas associadas com os ritos de Kali. O elemento tântrico do rito está então implícito.

Existem similaridades próximas entre os ritos Afro-Egípcios de Shaitan celebrados na Suméria e Acádia, e os posteriores ritos tântricos Indianos de Kali. O sabor distintamente mongol desses ritos observados por estudiosos422 é evidente no ethos(?) peculiar que permeia muito da literatura conectada aos Kaulas, que usam o bode, o porco, o abutre, a serpente, a aranha, o morcego, e outras bestas tipicamente Tifonianas em suas cerimônias sacrificiais. Existem também uma confraternidade secreta na América do Sul atualmente que mantém entre os devotos de seu círculo interno aqueles que atravessaram os Portais Intermediários(?) na forma-deus do morcego. Este é o zoótipo da besta de sangue vampira que está ligada ao simbolismo do abutre e da hiena. O morcego se pendura de ponta cabeça para dormir após se alimentar; a hiena é retromingent423; e o abutre, cujo pescoço torto sugere uma forma de ‘visão’ para trás, são determinativos ocultos daquela retroversão dos sentidos que torna possível o salto por cima do abismo. Este salto é um mergulho para trás através do vazio tempo-espaço de Daäth com o resultado de que o fundo salta fora do mundo do Adepto que o ensaia. Sax Rohmer, que foi uma vez um membro da Golden Dawn,424 faz uma alusão de passagem à este culto em seu romance Asa de Morcego (Batwing), e embora ele prejudique o efeito de sua estória ao recorrer ao truque literário vulgar de uma solução mecanicista, ele não obstante se refere à um culto real quando ele diz:

Enquanto que serpentes e escorpiões tem sido sempre reconhecidos como sagrados por cultuadores do Voodoo, o real emblema de sua religião impura é o morcego, especialmente o morcego vampiro da América do Sul.425

Rohmer, como H.P.Lovecraft, tinha experiência direta e contínua dos planos internos, e ambos estabeleceram contato com entidades não-espaciais. Além do mais, estes dois escritores recuaram – em seus romances e em suas correspondências privadas respectivamente – do atual confronto com entidades que são facilmente reconhecíveis como os enviados de Choronzon-Shugal. As máscaras destas entidades adquiriram uma qualidade de tal clareza forçada que nem Rohmer nem Lovecraft eram capazes de encarar o que jaz abaixo. Ainda assim o repúdio insuperável inspirado por tais contatos ocultavam potencial mágico, comprimido e explosivo, o que tornou estes dois escritores mestres em seus respectivos ramos de ocultismo criativo.

Não há dúvidas que escritores como Sax Rohmer, H.P.Lovecraft, Arthur Machen, Algernon Blackwood, Charles Williams, Dion Fortune, etc., trouxeram influências poderosas para serem ostentadas sobre o cenário ocultista através de seus vários esboços das Qliphoth. A fórmula do abismo, por exemplo, tem sido incomparavelmente expressa em alegoria pelo simbolismo do salto mortal psicológico descrito por Charles Williams (em Descida ao Inferno) que usa as linhas assombrosas:

O Mago Zoroastro, meu filho morto,
Encontrou sua própria imagem caminhando no jardim.

como um tema para sua estória.

O ato de girar ou virar para trás é a fórmula implícita na antiga simbologia da bruxaria.426

Os familiares das bruxas, não menos que as formas-deuses assumidas pelos sacerdotes egípcios, foram adotadas de modo à transformar os praticantes, não nos animais em questão, mas em um estado de consciência que eles representavam no bestiário psicológico de poderes atávicos latentes no subconsciente. A fórmula é resumida por Austin Spare em seu sistema de feitiçaria sexual e ressurgência atávica que são os temas do Zoz Kia Cultus.427 Ithell Colquhoun situa corretamente este culto em seu arranjo contemporâneo como um ramo da O.T.O. e da ‘Feitiçaria Tradicional’,428 mas o Zoz Kia Cultus comporta um outro fio que se origina de influências mais antigas que qualquer uma que possa ser atribuída meramente à ‘feitiçaria tradicional’, o que quer que aquele termo possa significar. Estas influências emanam de cultos tais como aqueles que Lovecraft contatou na Nova Inglaterra via Feitiçaria de Salem que – por sua vez – tinha contato com correntes vastamente antigas que se manifestaram no complexo astral Ameríndio como as entidades ‘eldritch’(?) descritas por Lovecraft em seus contos de horror.

Tais também eram as entidades que Spare contatou através de ‘Black Eagle’.429 Black Eagle induziu em Spare a extrema vertigem que iniciou um pouco de sua mais fina obra. Spare ‘visualizou’ esta sensação de vertigem criativa num quadro entitulado Tragédia do Trapézio (ilustração 15) cujo tema ele repetiu em várias pinturas. A fórmula é essencial à sua feitiçaria.

O trapézio ou balanço era o vahana430 de Radha e Krishna, cujo jogo amoroso está associado à vertigem induzida pelo balançar das emoções e do cair (loucamente) em amor. Com Spare, contudo, o êxtase alcança sua apoteose através de uma sensação catastrófica de opressão esmagadora, de ser empurrado para baixo e mergulhar no abismo.

O balanço é idêntico ao berço que desempenha papel tão proeminente nos mistérios do Culto de Krishna Gopal.431 Porém muito antes de pré datar os ritos da criança negra, Krishna, haviam os ritos da criança negra Set, ou Harpocrates, o bebê dentro do ovo negro do Akasha.432 O Aeon da Criança433 é o Aeon do Bebê do Abismo, sendo que um de seus símbolos é o berço que simboliza o balanço ou travessia para o Aeon de Maat (Mu). Mu, 46, a Chave dos Mistérios, é também o número de MV (água, i.e. sangue) que é tipificado pelo abutre, a hiena, e outras ‘bestas de sangue’. Em termos mágicos, a sensação induzida no trapezista mergulhador é resumida por Spare numa fórmula pictórica à qual ele não deu nenhum nome particular, mas que pode ser descrita como a Fórmula da Vertigem Criativa. No seu quadro do trapezista a executante é feminina pois ela representa a personificação humana da Serpente de Fogo despertada. É o pé,434 e não a mão que é escolhido para instigar os meios da queda.

No Zoz Kia Cultus Spare exaltou a Mão e o Olho como os principais instrumentos de reificação. Isto quer dizer que ele exaltava uma fórmula mágica similar àquela que caracteriza o oitavo grau da O.T.O.435 Ainda assim ele percebeu que a suprema fórmula eficaz na transição do abismo é aquela que envolve não a mão, mas o ‘pé’. O pé está sob ou embaixo da mão e assim, simbolicamente, a mão ‘esquerda’ tipificada pela Mulher Escarlate, de cujos pés a poeira é o pó vermelho celebrado pelos Siddhas Tamil.436 A poeira vermelha, ou poeira do fogo, é a emanação nuclear da Serpente de Fogo em seu veloz deslocamento para cima, e ela conduz à iluminação em um sentido cósmico. Mas é necessário um processo adicional para admitir o Adepto às zonas do Não-Ser representadas pelo outro lado da Árvore da Vida que aterroriza o não-iniciado como sendo a Árvore da Morte.

Além do Abismo, sexualidade ou polaridade perdem todo o sentido. Isto explica porque, segundo a doutrina da Golden Dawn, os Adeptos além do Grau de 7o=4437 não eram mais encarnados. Por não existir nenhuma terminologia adequada (na Tradição Ocidental) para este estado de ocorrência podemos não mais do que nos referirmos, por meio de analogia, aos Mahapurusas da Tradição Hindu. Mahapurusas são seres não humanos que aparecem para os Adeptos no caminho espiritual. Um exemplo recente bem documentado de tal manifestação ocorreu na vida de Pagal Haranath.438 Ele era considerado como sendo uma encarnação de Krishna e uma reencarnação de Sri Caitanya, o bhakta439 do século 15 que inspirou os habitantes de Bengala pela intensidade e fervor de sua devoção à Krishna (Deus). À Pagal Haranath um Mahapurusa apareceu como uma forma radiante com luz gigantesca. O único paralelo ocidental (de anos recentes) que vem à mente é o relato muito citado do encontro de MacGregor Mathers com os ‘Chefes Secretos’ que ocorreu no Bois de Boulogne.440

Aleister Crowley em contradição à MacGregor Mathers, sustentava que os Adeptos de suprema realização algumas vezes permanecem de fato na carne; quer dizer, a experiência conhecida como ‘cruzar o abismo’ não comporta necessariamente a morte física. Isto é, naturalmente, bem conhecido no oriente, onde, em nosso próprio tempo, tem havido exemplos excepcionais tais como Sri Ramakrishna Paramahamsa, Sri Ramana Maharshi, Sri Sai Baba (de Shirdi), Sri Anandamayi Ma e Sri Anusaya Devi,441 para mencionar apenas uns poucos.

Tem sido refutado [o fato de] que Crowley não cruzou o Abismo com sucesso.442 Seja como for, certos iniciados ocidentais indubitavelmente conseguiram fazer esta travessia e isso está evidente em seus escritos. Embora um caso de opinião – e isto é aqui declarado como tal, e não mais – o mais importante dos Adeptos Ocidentais nesta categoria é aquele que escreve sob o pseudônimo de Wei Wu Wei. Seus livros devem ser elogiados como as excursões mais ricas, mais sutis e mais vivamente potentes para dentro do Vazio da Consciência Sem Forma, ainda assim reduzidas em palavras.

Notas:

392 Vide Página 116, nota 36.

393 Associada com a fórmula de IPSOS; vide Figura 8.

394 Via o meatus, uma boca inferior.

395 Maat = 442 = APMI ARTz = ‘o fim da terra’.

396 i.e. o subconsciente (Amenta).

397 IPSOS grafado como 760 é equivalente à ‘Empyreum’, o empíreo.

398 Em alguns maços de Taro este atu é conhecido como A Torre Destruída.

399 Tu obterás a ordem & valor do alfabeto Inglês; tu encontrarás novos símbolos aos quais as atribuirá’. (AL. II. 55).

400 O kala do Sol, atribuído à letra Teth, significando um ‘leão-serpente’.

401 O kala da Lua, atribuído à letra Qoph, significando ‘a parte de trás da cabeça’.

402 O número 109 é também aquele de OGVL, ‘círculo’, ‘esfera’; BQZ, ‘relâmpago’; e AHP, ‘Ar’.

403 Vide 777 Revisado: Significado dos [Números] Primos de 11 a 97.

404 Tiphareth; a Esfera do Santo Anjo Guardião.

405 Vide Diagrama 1, Cultos da Sombra.

406 Reeditado em 1974 pela 93 Publishing, Montreal.

407 Compare a palavra egípcia mai.

408 A-DM ou Adam foi feito da ‘terra vermelha’ (i.e. DM, sangue).

409 HBDLH (retalhando_?) = 46.

410 Compare com a palavra egípcia meh, ‘encher’, ‘cheio’, ‘completar’.

411 Paroketh também significa ‘uma nuvem’; uma referência à invisibilidade tradicionalmente assumida pelo deus masculino ao impregnar a virgem.

412 Em sua cópia pessoal do Liber XV (A Missa Gnóstica), Crowley explica hriliu como o ‘êxtase metafísico’ que acompanha o orgasmo sexual.

413 É interessante observar juntamente com o significado da palavra IPSOS, que Frater Achad chegou muito próximo à uma interpretação similar de sua própria fórmula do Aeon de Maat, a saber: Ma-Ion. Numa carta datada de 7 de Junho de 1948, ele escreve: ‘Por gentileza observe que em Sânscrito Ma = Not (Não). Na mesma linguagem ela também significa: ‘Mouth’ (‘Boca’).

414 Londres WC1.

415 O autor de dois livros sobre Feitiçaria que atraiu alguma atenção no tempo de sua publicação nos anos 50.

416 O incidente ocorreu durante o estágio formativo de uma loja da O.T.O. que eu havia fundado para o propósito de canalizar influências mágicas específicas desde uma fonte transplutoniana simbolizada por Nu-Isis.

417 Minha associação com Aleister Crowley não era desconhecida à ele.

418 Vide a Espada da Sabedoria: MacGregor Mathers e a Golden Dawn, por Ithell Colquhoun, Nevile Spearman, 1975. A Srta.Colqhoun observa que W.B.Yeats e outros foram iniciados na Rua Fitzroy, e comenta: ‘Hoje a Torre do Correio ofuscando a rua poderia, eu suponho, ser vista como uma projeção do poder de Hermes, aqui substituindo o de Isis- Urania’.(p.50).

419 Crowley também estava em Nova Iorque na ocasião em que ele estabeleceu contato com esta entidade. Uma gravura de LAM desenhada por Crowley aparece em O Renascer da Magia, ilustração 5. O desenho foi exibido originalmente em Greenwich Village em 1919 e publicada em O Equinócio Azul.

420 Vide Cultos da Sombra, capítulo 10.

421 Zoroastro (circa 1100 A.C.) estava bem consciente da misteriosa dobra do tempo que exercitou o talento de alguns dos mais perspicazes pensadores modernos. Ele descreveu Deus como tendo uma ‘força espiral’ e associou o hiato de tempo com a progressão dos aeons que retornavam à sua fonte de origem, assim reativando os atavismos primais da consciência primeva.

422 Vide Estudos sobre os Tantras , de Prabodh Chandra Bagchi.

423 Nota do Tradutor: Micção realizada ao contrário.

424 Segundo Cay Van Ash & Elizabeth Sax Rohmer. Vide Mestre da Vileza , capítulo 4. Ohio Popular Press, 1972.

425 Asa de Morcego, p.92.

426 Esta fórmula é equivalente ao nivritti marga hindu ou ‘caminho do retorno’, ou inversão dos sentidos à sua fonte em pura consciência. Ela é tipificada nos tantras como viparita maithuna, simbolizada pela união sexual de ponta cabeça.

427 Vide Imagens & Oráculos de Austin Osman Spare, Parte II.

428 Espada da Sabedoria (Colquhoun), capítulo 16.

429 Para uma imagem desta entidade, vide O Renascer da Magia, ilustração 12.

430 Este termo em Sanscrito denota um ‘veículo’ ou foco de força.

431 Culto da Criança Krishna.

432 Akasha, significando ‘Espírito’ou ‘Aethyr’(Éter), é o quinto elemento.

433 i.e. o Aeon de Hórus. Hórus ou Har significa a ‘criança’.

434 O simbolismo dos pés da deusa é explicado em Aleister Crowley & o Deus Oculto , capítulo 10.

435 A fórmula é aplicada por meio de auto-erotismo manual.

436 Vide A Religião e Filosofia de Tevaram, de D.Rangaswamy.

437 O Grau imediatamente precedente ao Abismo.

438 Sri Pagal Haranath, o ‘Louco’ ou ‘Doido’, viveu na Bengala Ocidental de 1865 a 19 27. Um relato da visita está contido em Shri Haranath: Seu Papel & Preceitos, de Vithaldas Nathabhai Mehta. Bombay, 1954. Tais manifestações ocorrendo nos tempos primitivos poderiam ter dado início ao conceito dos NPhLIM ou Gigantes. Vide capítulo 9, supra.

439 Devoto de Deus.

440 Citado em Aleister Crowley & o Deus Oculto, capítulo 1.

441 Os dois últimos Sábios estão, felizmente, ainda encarnados e na extensão do que sei, estão disponíveis para
darshan.

442 Frater Achad. Vide Cultos da Sombra, capítulo 8.

Revisão final: Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/thelema/a-boca-do-abutre/

A Verdadeira História do Necronomicon

“basta que um livro seja possível para que exista.”
– Jorge Luis Borges

Escrevendo sonhos…

 

Dentro dos contos que formam o Mito de Cthulhu, o leitor se depara com duas dimensões: o mundo humano normal e o Exterior infestado. É a tensão ontológica entre essas duas dimensões que dá poder ao Realismo Mágico Lovecraftiano. Apesar de Cthulhu e seus amigos possuírem aspectos materiais, a sua realidade é horrenda quando paramos para escutar o que ela diz a respeito do universo. Como o estudioso de Lovecraft, T.S. Joshi observa, os narradores dos contos de Lovecraft freqüentemente enlouquecem “não por causa de qualquer tipo de violência física nas mãos de entidades sobrenaturais, mas pela mera realização da existência de uma tal raça de deuses e seres”. Diante de “reinos cuja mera existência atordoa o cérebro”, eles experienciam graves dissonâncias cognitivas – precisamente os tipos de ruptura desorientadoras buscadas pelos magos do Caos.

O jogo RPG “O Chamado de Cthulhu” expressa maravilhosamente a violência desta mudança de paradigma Lovecraftiana. Em jogos de aventura como “Dungeons & Dragons”, uma das medidas mais significativas do seu personagem são seus pontos de dano – um número que determina quanto de punição física seu personagem pode receber antes de se ferir ou morrer. “O Chamado de Cthulhu” substitui esta característica física pela categoria psíquica da sanidade. Encontros face-a-face com Yog-Sothoth ou os insetos de Shaggai tira pontos de sua sanidade, e o mesmo acontece com a sua descoberta de mais informações sobre os Mito – quanto mais você descobrir a partir de livros ou cartas astrológicas, maior a chance de você acabar no Asilo de Arkham. Poder mágico também vêm com um preço irônico, um preço diante do qual os magos lovecraftianos deveria se acautelar. Se você usar qualquer um dos rituais presentes no De Vermis Mysteriis ou nos Manuscritos Pnakóticos, você necessariamente vai aprender mais sobre o Mito e, assim, perder mais um pouco da sua sanidade.

Os heróis acadêmicos de Lovecraft investigam o Mito não apenas se utilizando de leitura e pensamento mas também de movimentos através do espaço físico, e esta exploração psicológica atrai a mente do leitor diretamente para o loop. Normalmente, os leitores suspeitam que a verdade sombria do Mito enquanto o narrador ainda se apega a uma atitude cotidiana – uma técnica que sutilmente força o leitor a se identificar mais com o “Exterior” do que com a visão de mundo convencional do protagonista. Sob um ponto de vista mágico, a cegueira dos heróis de Lovecraft corresponde a um elemento crucial da teoria ocultista desenvolvida por Austin Osman Spare: o de que a magia age sobre e contra a mente consciente, que o pensamento comum deve ser silenciado, distraído, ou completamente perturbado para que a vontade ctônica possa se expressar.

Para conseguir invadir nosso plano, as entidades Lovecraftianas precisam de um portal, uma interface entre os mundos, e Lovecraft enfatiza dois: livros e sonhos. Para invadir o nosso avião, entidades de Lovecraft precisa de um portal, uma interface entre os mundos, e Lovecraft enfatiza dois: livros e sonhos. Em “Sonhos na Casa da Bruxa”, “A Sombra Fora do Tempo” e “A Sombra sobre Innsmouth”, sonhos infectam seus hospedeiros com uma virulência que se assemelha às posses psíquicas mais evidentes que ocorrem em “O Assombro Nas Trevas” e o “Caso de Charles Dexter Ward”. Como os próprios monstros, os sonhos de Lovecraft são forças autônomas rompendo do Exterior e engendrando sua própria realidade.

Mas esses sonhos também evocam um “Exterior” mais literal: a estranha vida de sonhos do prórpiro Lovecraft, uma vida que (como o fã informado sabe) inspirou diretamente alguns de seus contos. Semeando seus textos com seus próprios pesadelos, Lovecraft cria uma homologia autobiográfica entre ele e seus protagonistas. As próprias histórias começam a sonhar, o que significa que também o leitor situa-se no caminho da infecção.

Lovecraft se coloca em seus contos devárias maneiras – os protagonistas em primeira pessoa refletem aspectos de seu próprio estilo de vida recluso e livresco, a forma epistolar do “Um Sussurro nas Trevas” ecoa seu próprio compromisso com a troca regular de correspondência; nomes de personagens são tirados de amigos e a paisagem da Nova Inglaterra que é a sua própria. Esta auto-reflexão psíquica parcialmente explica por que os fãs de Lovecraft geralmente tornam-se fascinados com o próprio homem, um solitário recluso que tinha a correspondência como forma de socialização, exaltava o século XVIII e adotou a aparência e os maneirismos de um velho ranzinza. A vida de Lovecraft e, certamente, sua volumosa correspondência pessoal fazem parte de seu Mito.

Desta forma, Lovecraft solidifica assim sua realidade virtual ao adicionando elementos autobiográficos ao seu mundo compartilhado de criaturas, livros e mapas. Ele também cria uma aura de documentário ao tornar seus contos mais densos com manuscritos, recortes de jornais, citações eruditas, entradas de diário, cartas, e bibliografias que listam livros falsos ao lado de clássicos reais. Tudo isso produz a sensação de que “fora” de cada conto indivídual encontra-se um mundo meta-ficcional que paira à beira do nosso próprio, um mundo que, como os próprios monstros, está constantemente tentando romper nossa realidade para se tornar atual. E graças aos escritores que expandiram o Mito, aos RPG’s e magos sinistros, ele está conseguindo.

 

… e sonhando o Livro

 

Em “A Sombra Fora do Tempo”, Lovecraft torna explícita uma das equações fantásticas que impulsiona seu Realismo Mágico: a equivalência entre sonhos e livros. Por cinco anos o narrador, um professor de economia chamado Nathaniel Wingate Peaslee, é tomado por uma misteriosa “personalidade secundária.” Depois de recuperar sua identidade original, Peaslee é atormentado por sonhos poderosos em que ele se encontra em uma cidade estranha, habitando um enorme corpo brotando repleto de tentáculos, escrevendo a história do mundo ocidental moderno em um livro. No clímax do conto, Peaslee viagensja para o deserto australiano para explorar ruínas antigas enterradas sob as areias, lá ele descobre um livro escrito em Inglês, de próprio punho: o mesmo volume de que ele havia produzido dentro de seu corpo de sonho monstruoso.

Embora não tenhamos conhecimento de seu conteúdo, a não ser pequenos fragmentos, os grimórios diabólicos de Lovecraft são tão pestilentos que até mesmo olhar para os seus sigilos sinistros se mostra perigoso. Tal como acontece com os seus sonhos , estes textos se tornam obsessões para os protagonistas estudiosos de Lovecraft, chegando a um ponto em que os volumes, nas palavras de Christopher Frayling, “vampirizam o leitor”. Seus títulos, por si só, são palavras mágicas, os encantamentos alucinógenos de um antiquário excêntrico: os manuscritos Pnakóticos, o Papiro Ilarnet, o texto de R’lyeh, os Sete Livros Enigmáticos de Hsan. Os amigos de Lovecraft contribuiram com o De Vermis Mysteriis e o Unaussprechlichen Kulten de von Junzt, e Lovecraft batizou o autor de seu Cultes Des Goules de conde d’ Erlette, homenageando seu jovem fã August Derleth. Pairando sobre todos esses tomos sombrios está o “temível” e “proibido” Necronomicon, um livro de invocações blasfemas para acelerar o retorno dos Antigos. O fetiche intertextual supremo de Lovecraft, o Necronomicon, se destaca como um dos poucos livros míticos na literatura que tenham absorvido tanta atenção imaginativa que conseguiram se materializar, publicados, em nossa realidade.

Se os livros devem a sua vida não para os seus conteúdos individuais, mas para a rede intertextual de referências e citações dentro do qual são criados, então o temido Necronomicon claramente possui vida própria. Além de estudos literários, o Necronomicon tem gerado numerosas análises pseudo-eruditas, incluindo a “História do Necronomicon”, escrita pelo próprio Lovecraft. Uma série de perguntas frequentes podem ser encontrados na Internet – onde guerras costumam estourar periodicamente entre magos, os fãs de horror e especialistas em mitologia – sobre a realidade do livro. A entidade morta-viva à qual se refere o famoso par de versos do Necronomicon:

“Não está morto o que pode eternamente jazer,
Ainda, em eras estranhas, até a morte pode morrer”

pode ser nada mais nada menos do que o próprio texto em si, sempre à espreita nas margens da realidade.

 

A breve “História”, escrita por Lovecraft, foi aparentemente inspirada pelo primeiro Necronomicon falso: um estudo de uma edição do tomo temido, submetido ao Massachusetts Branford’s Review em 1934. Décadas mais tarde, cartões de índice para o livro começaram a aparecer em catálogos de bibliotecas universitárias .

É talvez o princípio do Realismo Mágico de Lovecraft,que torne possível que todas essas referências fantasmagóricas finalmente tenham manifestado o livro. Em 1973, uma edição de Al Azif (nome árabe do Necronomicon) apareceu, composto por oito páginas de uma imitação detexto sírio repetidas 24 vezes. Quatro anos depois Satanistas nova iorquinos da de Magickal Childe publicaram o Necronomicon de Simon, um saco de gatos repleto de mitos sumérios e quase nenhum material Lovecraftiano (embora o livro traga um aviso que porções foram “propositadamente deixadas de fora” para a “segurança do leitor” ). O Necronomicon de George Hay – também uma criança dos anos 1970, conhecido como O Livro dos Nomes Mortos, se mostrou o mais complexo, intrigante e lovecraftiano de sua época. No espírito pseudoerudito do mestre, Hay pareia as invocações fabulosas de Yog-Sothoth e Cthulhu com um conjunto de ensaios analíticos, literários e históricos.

Embora sejam comuns os magos que afirmam que mesmo o livro Simon faz maravilhas, as pseudo histórias dos vários Necronomicons são muito mais atraentes do que os próprios textos. O próprio Lovecraft ofereceu as bases sobre as quais a história do livro seria erguida: o texto foi escrito em 730 dC por um poeta, o louco árabe Abdul Al-hazred, recebendo seu nome dos sons noturnos dos insetos. Posteriormente, foi traduzido por Theodorus Philetas para o grego, por Olaus Wormius para o latim e por John Dee para o Inglês. Lovecraft lista várias bibliotecas e coleções particulares, onde fragmentos do volume residem, e insunua que o escritor de fantasia R.W. Chambers derivou o livro monstruoso e suprimido, citado em seu romance “O Rei de Amarelo” a partir de rumores do Necronomicon (Lovecraft chegou a dizer que obteve sua inspiração nos trabalhos de Chambers).

Todos os subseqüentes pseudo-histories do Necronomicon colocam e removem o livro da história real do ocultismo, com John Dee desempenhando um papel particularmente notável. Segundo Colin Wilson, a versão do texto publicado no Necronomicon de Hay fazia parte do texto cifrado em enoquiano de Dee, o Liber Logoaeth. O FAQ sobre o Necronomiconm escrito por Colin Low, afirma que Dee descobriu o livro na corte do rei Rodolfo II em Praga, e que foi sob a influência do livro que Dee e seu vidente, Edward Kelly, conseguiram seus mais poderosos encontros astrais. Nunca publicada, a tradução de Dee tornou-se parte da coleção célebre de Elias Ashmole, abrigado na Biblioteca Britânica. Foi lá que Crowley o leu, tirando livremente dele várias das passagens que usaria para escrever “O Livro da Lei”, de onde, finalmente, teria chegado até Lovecraft, graças a uma amante em comum que teria tido com Crowley: Sophia Greene – que chegou a se casar com Lovecraft. O papel de Crowley no conto de Low é apropriado, já que Crowley certamente conhecia o poder mágico de se combinar farsa com história.

A história do ocultismo é uma confabulação , ela se encontra apegada às suas genealogias, suas “verdades eternas e imutáveis”, fabricadas por revisionistas, loucos e gênios, suas tradições esotéricas são uma conspiração de influências em constante metamorfose. O Necronomicon não é a primeira ficção de gerar atividade mágica real dentro dessa zona de penumbra potente que se encontra entre a filologia e a fantasia.

Para dar um exemplo de uma época anterior, os manifestos Rosacruzes anônimos que apareceram pela primeira vez no início de do século XVII afirmavam se originar de uma irmandade secreta de Cristãos Herméticos que, finalmente, julgaram ser aquele o momento de sair da obscuridade. Muitos leitores imediatamente desejaram juntar-se ao grupo, no entanto é improvável que tal grupo tenha existido na época. Mas essa farsa trabalhou o desejo esotérico da época e inspirou uma explosão de grupos Rosacruzes “reais”. Apesar de um dos dois autores suspeitos dos manifestos, Johann Valentin Andreae, nunca ter assumido ou negado nada, ele fez referências veladas ao Rosacrucianismo como um “jogo engenhoso que uma pessoa disfarçada poderia gostar de brincar no cenário literária, especialmente em uma época apaixonada por tudo que fugisse do ordinário”. Tal como os manifestos Rosacruzes ou o Livro de Dzyan de Blavatsky, o Necronomicon de Lovecraft é o equivalente oculto da transmissão de rádio de Orson Welles da “Guerra dos Mundos”. Como o próprio Lovecraft escreveu: “Nenhuma história bizarra pode realmente causar terror se não for planejada com todo o cuidado e verossimilhança de uma farsa real”.

No “O Pêndulo de Foucault”, Umberto Eco sugere que a verdade esotérica é, talvez, nada mais do que uma teoria da conspiração semiótica, nascida de uma literatura auto-referencial infinitamente requentada – o tecido inter textual que Lovecraft tanto compreendia. Para aqueles que precisam fixar seus estados profundos de consciência em versões correspondentes objetivas, esta é uma acusação grave de “tradição”. Mas como os magos do caos continuam a nos relembrar, a magia não é nada mais do que a experiência subjetiva interagindo com uma matriz internamente consistente de sinais e efeitos. Na ausência de ortodoxia, tudo o que temos é o tantra dinâmico entre o texto e a percepção, da leitura e de sonho. Nos dias atuais a Grande Obra pode ser nada mais nada menos do que este “jogo engenhoso”, fabricando-se a si mesmo sem encerramento ou descanso, tecendo-se para fora do vazio resplandecente onde Azazoth se contorce em seu trono de Mandelbrot.

 

por Shub-Nigger, A Puta dos Mil Bodes

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/a-verdadeira-historia-do-necronomicon/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/a-verdadeira-historia-do-necronomicon/

Milão Sagrado e a Origem do Panetone

Texto do meu querido irmão Vitor Manuel Adrião.

A cidade de Milão tem por Armas um brasão carregado de simbologia esotérica, cuja peça heráldica apresenta em fundo prateado uma serpente azul coroada de ouro vomitando um jovem cor de carne descrito como mouro. Trata-se da vipera (“víbora) ou bissa, mais conhecida entre os milaneses como biscione (“cobra grande”).

A História afirma que este brasão foi criado por Ottone Visconti, dito Ottorino (1207 – 8.8.1295), que nasceu em Milão e foi arcebispo desta cidade. Era filho do poderoso feudatário Ubaldo Visconti, família que dominava a Lombardia, e com o senhorio deOttorino a capital ficou sob o poder dos Visconti, que durou até 1447. A eleição arcebispal de Ottone Visconti, depois de severas controvérsias e lutas com um outro candidato a esse cargo, Martino della Torre, acabou reconhecida pelo Papa Gregório IX, cujo nome era Tedaldo Visconti (1210-1276). Como agradecimento, Ottone Visconti perpetuou no seu brasão “o mouro vomitado pela serpente” referindo-se ao envolvimento de Gregório IX, antes de ser eleito Papa (1271-1276), na Nona Cruzada (1271-1272) a São João de Acre, na Terra Santa, com o príncipe futuro rei Eduardo I de Inglaterra.

De facto, o biscione é historicamente o brasão de armas da Casa dos Visconti, instalada no Palácio dos Arcebispos na Piazza del Duomo da cidade milanesa. Por vezes, no brasão aparecem as iniciais IO (HANNES), indicando o nome do arcebispo Giovanni Visconti (1290-1354), amigo e protector do grande poeta e humanista Francesco Petrarca (1304-1374), frequentemente chamado de “Pai do Humanismo”.

Além de se referir no plano imediato ao exclusivo senhorio dos Visconti, o biscionecoroado é sobretudo emblema hermético ou esotérico de origem muitíssimo anterior a Ottone Visconti, que o terá adoptado para brasão familiar. O primeiro indício está na própria vipera que afinal é um basilisco, o animal mitológico que Plínio o Velho descreve como uma serpente verde com uma coroa dourada. Na Alquimia, o basiliscoé chamado a “Criança dos Filósofos” e expressa a natureza inferior do homem transmutada e redimida pela sua natureza superior, que assim o “vomita” como Espírito Vivente ou Ego Integrado na Natureza Divina do Universo. Representa o verdadeiro Alquimista, o Filósofo do Fogo Sagrado, o Delfim Iluminado ou Adepto Perfeito, tanto valendo por Ser Eucarístico ou “Pedra Filosofal” Viva. Ora é isto mesmo que está retratado no brasão do biscione. E o IO de Iohannes (Giovanni) pode muito bem reforçar o sentido oculto do brasão se for transposto para essa outra IO de que fala Apuleio no seu Asno de Ouro, ou seja, a Mónada imperecível integrada no Todo Divino e iluminando o Tudo Humano.

Os tratados orientais de Tantra-Yoga do Hinduísmo primitivo, referem a Força Electromagnética que jaze no interior do Homem e da Natureza a que chamam Kundalini e retratam esta como uma serpente coroada que se eleva iluminando espiritualmente o homem. Decerto por esta razão os antigos egípcios, cuja cultura e religião os greco-romanos posteriormente adoptaram e adaptaram à sua mentalidade, retrataram o seu deus Serapis com corpo de serpente e cabeça humana, algo semelhante ao que aqui se apresenta. Serapis foi assim representado por ser o deus dos Mistérios Subterrâneos, celebrados em criptas e grutas sagradas, e também por representar a Força Vital da Terra, o seu telurismo, circulando no seu interior como uma serpente, ou seja, serpenteando pelos veios ou linhas telúricas que animam o Globo.

Por essa razão de geradora e mantenedora da Vida, a “serpentária” Kundalini veio a ser associada ao Fogo do Espírito Santo e à própria Mãe Divina. Ora os Ínsubres celtas que por volta do ano 600 a. C. fundaram Mediolanum, Mediolano ou Milão, dedicavam profunda adoração à serpente por verem nela a representante zoomórfica da Deusa-Mãe, pois acreditavam ter sido a serpente marinha que ao sair das Águas Originais da Criação havia povoado a Terra. As crenças primitivas consideravam a serpente como a serva do Altíssimo, sendo muitas vezes figurada com a cabeça coroada.

As ondas do mar – a matéria por excelência – foram representadas nos hieróglifos egípcios por uma linha sinuosa. Naturalemente que o animal mais conforme a esta linha é a serpente, pelo que os ofídios foram escolhidos como totem da Acqua Mater, a matéria fecudante da Natureza. Esta está assinalada no nome do Orago da catedral milanesa: Santa Maria Nascente.

Este simbolismo aquático ou genesíaco da serpente está implícito no nome que certos povos lhe deram. Assim, dos temas semita asiáticos Na, “água”, e Aha, “santa”, engendraram-se os nomes Nahas (hebraico) e Nagas (hindustânico), ambos significativos de “serpente”, sobretudo com o sentido de Serpente de Sabedoria ouSer-Apis, ou seja, Ser Divino que é todo o Iluminado Perfeito.

Nesse sentido vai também a iconografia paleocristã para a história bíblica de Jonas e a baleia Leviatã, no acto de engoli-lo e regurgitá-lo, que é um motivo comum representativo da morte profana e da ressurreição iniciática. Esse episódio bíblico reaparece na lenda de Teodórico, o Grande, rei da Itália Ostrogoda (493-526 d. C.), que diz ter sido engolido e vomitado por uma serpente monstruosa na cidade de Arona, a qual significativamente era propriedade da família Visconti.

Como esta figura do biscione amplamente conhecida das tradições e tratados herméticos milenares pode ser rastreada até à Casa de Visconti, com inteira comprovação, permanece desconhecida a maneira como chegou aí, todavia ficando a suspeita que Ottone Visconti talvez não fosse inteiramente alheio à antiga Sabedoria Tradicional.

Panetone: de iguaria ritual a doce regional

O panetone é a iguaria tradicional do Natal na Lombardia, sendo um pão doce recheado de frutas secas (passas de uvas e frutas cristalizadas tais como damasco, laranja, limão, figo e maçã) e com fragrância de baunilha, tendo uma consistência macia resultado do processo de fermentação natural. A sua origem permanece um mistério, que várias lendas tentam explicar sem explicar coisa alguma excepto o seguinte: o panetone tem origem em Milão.

Sabe-se que o panetone também existe noutras partes de Itália e até de França, mas invariavelmente afirma-se que a sua origem é Milão. Esta palavra panetone deriva daquela outra italiana panetto, indicando um pão de forma pequena. O sufixo italianoum que se pronuncia one, mudou o sentido para “pão grande”.

Quando Milão se chamava Mediolano e fora fundada pelos ínsubres celtas por volta do ano 600 a. C., estes por altura do Solstício de Inverno nas proximidades do que viria a ser o Natal dos cristãos, celebravam o renascimento do Sol então recolhido sob o manto invernoso da Natureza, evocando o seu reaparecimento para que propiciasse boas sementeiras, por norma começando em Janeiro e inícios de Fevereiro. Esta celebração celta chamava-se Midwinter ou Yule e foi a primeira festa sazonal comemorada pelas tribos neolíticas do Norte da Europa. Durante esse festejo os druidas, que eram os sacerdotes da religião celta, ofereciam entre si e depois ao povo um pão doce feito de cevada recheado de maçãs e uvas, que era o principal alimento sagrado do Yule. Acompanhavam-no com uma bebida de fermento de cevada (que veio a dar na atual cerveja, cuja base de fabricação é a cevada) adocicada com mel de abelhas que, há falta de designação apropriada, actualmente alguns folcloristas dum pretenso e ingénuo “neopaganismo” urbano chamam inapropriadamente “hidromel”, mas nada tem a ver com este que, dentre outros elementos, comporta mel e cidra.

Quando Milão foi ocupada pelos romanos em 222 a. C. e passou a pertencer ao Império sob o nome Mediolanum, os usos e costumes celtas foram incorporados aos latinos, razão de na mesma época do Solstício de Inverno celebrar-se o Nascimento de Mitra que viria a corresponder ao nascimento de Cristo como Sol Invictus, como também se designava o deus solar Mitra. Simultaneamente, eram celebradas asSaturnais romanas, festejando-se o triunfo de Saturno (Sol Subterrâneo, Inverno) sobre Júpiter (Sol Celeste, Verão), isto porque Saturno representava a Idade de Ouro de Roma e era o próprio Sol original de quem Júpiter descendia. Nesta época ninguém trabalhava, acendiam-se velas e grandes fogueiras para iluminar a noite e havia muita comida. Nas Saturnais, os celebrantes deram origem ao costume agradável de um doce ritual que era servido na altura após as celebrações, constando de um fermento de trigo ou cevada adocicado com mel e recheado com frutas da época. Desse fermento de trigo originou-se a hóstia das celebrações cristãs, e foi assim que os historiadores romanos do século II-III d. C. descreveram a origem milanesa dopanetone como um “pão doce grande”, confeccionado com uma massa conservada pronta, modelada e depois posta a assar.

O panetone, por sua fama e singularidade, seria definitivamente identificado ao Natal cristão no século XVIII, por via dos escritos do filósofo e historiador Pietro Verri (1728-1797), onde ele refere o panetone como pane di tono, ou seja, “pão de luxo”, só para ser consumido em ocasiões especiais. Já antes, no século XVI, o pintor flamenco Pieter Bruegel, o Velho (1525-1569), pintara o panetone num quadro como “bolo de frutas da época”, possivelmente inspirado na menção a ele que terá encontrado num livro de receitas escrito pelo lombardo Bartolomeo Scappi (1500-1577), mestre de culinária dos Papas Pio IV e Pio V. Também o pintor holandês Jan Albert Rootins (1615-1674) representou no centro do seu quadro “Natureza morta com frutas”, um magnífico panetone.

O pane di tono, por já se ter perdido o seu sentido original e o povo gostar de simplificar e dar lógica imediata , deu origem à lenda do pane di Toni: o panetone foi criado por um padeiro chamado Toni, que trabalhava na padaria Della Grazia, em Milão, na época de Ludovico, o Mouro (1452-1508). O jovem padeiro, apaixonado pela filha do patrão, teria inventado o pão doce para impressionar o pai da sua amada. Os fregueses passaram a pedir o pane di Toni, designativo que evolui para o panatón(vocábulo milanês) e depois para o panetone (italiano).

Segundo outra lenda, o panetone foi inventado na corte de Ludovico, o Mouro, na véspera do Natal, entre os anos 1494-1500. Conta a lenda que o Natal era uma grande festa celebrada com grandes banquetes. Em um dos Natais, a sobremesa que havia sido preparada queimou ao ser assada. Um dos empregados da cozinha, chamado Toni, havia preparado uma massa com sobras de ingredientes, que pretendia levar para sua casa. Sem outra opção, ofereceu a sua massa para servir como sobremesa para a corte. Diz a lenda que a sobremesa foi tão apreciada que Ludovico perguntou qual era o nome da iguaria. O jovem Toni, chamado para responder à pergunta do monarca, disse que a sobremesa não tinha nome. Ludovico resolveu chamá-la de pane di Toni, dando origem ao nome panetone.

O formato típico do panetone deu-lhe o apelido de doce do duomo de Milão, para vincar bem o lugar de origem da sua confecção. Com o passar do tempo, na Itália, passaram a surgir novos tipos de panetones baseados em duas escolas: a primeira, descrevendo-o como um panetone redondo, com base larga, bastante baixo e achatado, comum durante a Páscoa; a segunda, preferida pela indústria de doces, descrevendo-o como um panetone alto, com base estreita e uma cúpula bastante acentuada, comum durante o Natal.

Depois, conforme o panetone foi cada vez mais consumido em outros países, novos tipos foram surgindo, novos ingredientes foram acrescentados para satisfazer o paladar e os gostos. Assim, esta singular iguaria ritual se transformou num doce regional, nascido nos templos e crescido nos gostos dos milaneses.

#Mitologia

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/mil%C3%A3o-sagrado-e-a-origem-do-panetone

A Ascensão Tifoniana: O Legado Mágico de Kenneth Grant

Matthew Levi Stevens

Onze anos após a morte do autor, ocultista e poeta britânico Kenneth Grant (1924-2011), estamos apenas agora começando a ver as primeiras tentativas de avaliar o impacto e o legado do homem que foi o último estudante e secretário do famoso Aleister Crowley, e que muitos acreditam ser seu sucessor natural.

Grant também foi um amigo próximo do mago artista Austin Osman Spare, apoiando-o em seus últimos anos, teve o padrinho de Wicca, Gerald Gardner, como um colega e às vezes rival, assim como durante seu tempo com Crowley e conheceu a Sacerdotisa da Nova Era, Dion Fortune. Como tal, Grant teve contato direto com quatro das figuras mais influentes do Renascimento Mágico e Místico dos meados do século XX.

Com relação a seu próprio trabalho, os nove volumes das três “Trilogias Tifonianas” de Grant escritos ao longo das três décadas de 1972 a 2003 – assim como vários volumes de ficção com temática oculta, e memórias das personalidades mágicas que ele encontrou – abrangem temas como Alquimia, Cabala, Controle de Sonhos, Egiptologia, Mitos de Cthulhu de H. P. Lovecraft, Caminho da Mão Esquerda, Magia Sexual, Surrealismo, Tantra, Thelema, Budismo Tibetano, Ufologia, Bruxaria e Vodu, que são um retrato único do Renascimento Oculto Moderno, assim como indiscutivelmente uma de suas correntes mais criativas.

Então, quem era exatamente Kenneth Grant?

Nascido em 23 de maio de 1924, muito pouco se sabe sobre os antecedentes de Grant ou sobre a sua biografia real. Ele era um homem intensamente reservado, que apesar – ou talvez até mesmo por causa – da natureza de seu trabalho e a notoriedade de seu mentor, Aleister Crowley, seguia uma rígida política de não divulgação, semelhante ao apagamento da história pessoal defendida nos livros de Carlos Castañeda.

Por sua própria natureza, algo como um jovem livreiro, sonhador, fascinado pela magia e pelo misticismo, o jovem Grant havia experimentado projeção astral e, aos 15 anos de idade, o que ele vivia eram contatos espontâneos de um ser que se chamava Aushik ou Aossic, que mais tarde identificaria como seu Santo Anjo Guardião. Grant tinha encontrado Magick In Theory and Practice (Magia em Teoria e Prática) de ‘Mestre Therion’ (um pseudônimo de Crowley’s) na livraria Charing Cross Road, Zwemmer’s, e, sentindo aqui talvez uma chave para entender – ou mesmo controlar – suas experiências, convenceu Michael Houghton, proprietário da Livraria The Atlantis Bookshop, a colocá-lo em contato com o autor. Houghton declinou, no entanto – as razões para isso não são claras – mas o que é um assunto de registro é que Grant, depois de escrever pela primeira vez, finalmente se encontrou com Crowley. Era dezembro de 1945, e quando eles apertaram as mãos pela primeira vez a música Shine On Harvest Moon estava tocando no rádio em segundo plano.

Foi assim que o jovem Kenneth Grant se tornou, por um tempo, um assistente-secretário do velho Magus ao abandonar Londres devastada pela Blitzkrieg, pela paz, tranquilidade e relativa segurança de uma hospedaria na costa sul. Foi em ‘Netherwood’ em Hastings, onde A Grande Besta terminou seus dias apenas três curtos anos depois, que Grant se tornaria aprendiz da Magia de Crowley a sério, e seria iniciado em sua Ordo Templi Orientis, conheceria pessoas como Dion Fortune, Gerald Gardner e Lady Frieda Harris, a artista talentosa que ilustrou o superlativo Livro do Tarô de Toth de Crowley. Ele também tomou conhecimento da ainda extensa rede de correspondência de Crowley com ocultistas no exterior – tais como Karl Germer e Eugen Grosche na Alemanha, e Jane Wolfe, W. T. Smith e Jack Parsons na América. Por um tempo, parece até que a Besta envelhecida estava preparando o jovem Grant para ser um possível sucessor, referindo-se a ele como um “Presente dos Deuses“, e anotando em seu diário:

“…o valor de Grant. Se eu morrer ou for para os EUA, deve haver um homem treinado para cuidar da OTO inglesa.”

Mas mesmo nesta fase inicial, a propensão de Grant para o devaneio e para o outro mundo desnorteou e frustrou o homem mais velho, que – afinal de contas – procurava assistência prática, no dia-a-dia, em primeiro lugar, e treinar um herdeiro, em segundo. Finalmente tudo se tornou demais – particularmente para Grant, que sentia falta de sua noiva Steffi – e Crowley o deixou ir, mas não antes de iniciar Grant no Grau IXO da O.T.O. e de fornecê-lo com uma Carta para montar um acampamento da Ordem.

Pouco antes da morte de Crowley, Grant também conheceu um homem que mais tarde provaria ser quase tão influente sobre ele quanto A Grande Besta: embora mais na forma de uma eminência parda, que influenciou Grant nos bastidores. Ele forneceu uma iniciação e inspiração que teve um impacto definitivo na reformulação da Thelema de Grant, no propósito e rituais do ramo da O.T.O. que ele fundou, e muito do foco das suas Trilogias Tifonianas. Seu nome era David Curwen.

Um alquimista praticante e aluno do Tantra, que havia dado o passo da devoção a um guru indiano – incomum para um ocidental na época – David Curwen foi mencionado pela primeira vez nas memórias de Grant de 1991, Remembering Aleister Crowley (Relembrando o diário Aleister Crowley):

“David Curwen foi mencionado pela primeira vez nos diários de Crowley, em 2.9.1944. Quando o conheci, pouco antes da morte de Crowley, ele era membro do IX° O.T.O. Sua paixão pela Alquimia era tão grande que ele quase morreu depois de absorver o ouro líquido. Seu conhecimento do Tantra era considerável. Foi através de Curwen que recebi, eventualmente, a iniciação completa em uma fórmula altamente recôndita do Tântrico vama marg.”

Ao discutir a tentativa de Crowley de formular um “elixir” como parte de seu trabalho da magia sexual, Grant menciona um detalhe de relevância fundamental para sua posterior tecelagem de Tantra e Thelema, que seria essencial para sua própria jornada de iniciação:

“Existe um documento relativo a esta fórmula compilado pelo antigo guru de Curwen, um tântrico do sul da Índia. É na forma de um extenso comentário sobre um texto antigo da Escola Kaula. Curwen emprestou a Crowley uma cópia do mesmo.”

O documento em questão era uma cópia do Anandalahari, ou a “Onda de Felicidade“, anotado pelo guru sul-indiano de Curwen e com um Comentário explicando o simbolismo fisiológico – e explicitamente sexual -. Isto forneceu a Grant a chave para desvendar os mistérios ocultos dos Textos Sagrados em Sânscrito, a partir dos quais ele foi capaz de desenvolver – com a ajuda de Curwen – uma visão mais profunda do Tantra do que seu antigo mentor jamais havia conseguido:

Nas instruções que acompanham os graus superiores da O.T.O., não há um relato abrangente do papel crítico dos kalas, ou emanações psicossexuais da mulher escolhida para os ritos mágicos. O comentário foi um abrir de olhos para Crowley, e explicou algumas de suas preocupações durante minha estada no ‘Netherwood’. Estas envolviam uma fórmula de rejuvenescimento. Faltava ao O.T.O. algumas chaves vitais para o verdadeiro segredo da magia que Crowley afirmava ter incorporado nos graus mais altos. Curwen, sem dúvida, sabia mais sobre estes assuntos do que Crowley, e Crowley ficou irritado com isso.

Apesar de suas credenciais externas como ocultista e às vezes transgressor, como um bissexual promíscuo e drogado, Aleister Crowley ainda era, em muitos aspectos, um produto de seu tempo: ele pode não ter sido um misógino, mas sofria de um chauvinismo masculino, todo típico de sua origem vitoriana, privilegiada e branca. Ele também tinha pouco ou nenhum conhecimento do autêntico Tantra de fontes originais, enquanto quando eu troquei cartas e me encontrei brevemente com Kenneth Grant em 1981, ele deixou claro que apesar de sua dedicação de toda sua vida a Crowley e à Lei de Thelema, realmente seu “primeiro amor”, espiritualmente falando, foi o Advaita Vedanta. Esta antiga filosofia hindu da não-dualidade afirma que Atman, ou o Verdadeiro Eu, não é essencialmente diferente do Princípio Universal mais Elevado, ou Brahman. Grant se tornaria por um tempo, nos anos 50, um seguidor do Sábio de Arunachala, Bhagavan Sri Ramana Maharshi, e via sua meditação essencial “Quem sou eu?” como equiparada à busca de Thelema de realizar a Verdadeira Vontade de alguém, escrevendo:

“O espírito natural do Oriente, em sua rotunda mais profunda, está em total concordância com a doutrina de Thelema. Que isto pode ser provado comparando os princípios básicos de Thelema com o Caminho Chinês do Tao, a doutrina Vedântica de Advaita e a filosofia central do Tantricismo Hindu e Budista.”

Vários artigos que Grant escreveu para as revistas anglo-indianas foram posteriormente reunidos e publicados como At the Feet of the Guru (Aos Pés do Guru).

Depois de um período de associação com Gerald Gardner – que também era membro da O.T.O., também com um estatuto para criar um acampamento (embora não haja evidências de que ele alguma vez o tenha utilizado) – Grant criaria um Grupo de Trabalho próprio, “evoluído… para fins de tráfego com os Outer Ones (Exteriores)”, do qual ele escreveu:

“Entre os anos 1955-1962, eu estava envolvido com uma Ordem oculta conhecida como New Ísis Lodge (Nova Loja Ísis). Ela funcionava como uma filial da Ordo Templi Orientis (O.T.O.), com sede em Londres. Fundei a Loja para canalizar transmissões de fontes transplutônicas… O corpo dessas transmissões forma a base das Trilogias Tifonianas.”

Isto causou uma briga com Karl Germer, chefe nominal da O.T.O. quando da morte de Crowley, que sentiu que Grant havia excedido sua autoridade. Houve também conflitos de personalidade porque a New Ísis Lodge havia emitido um manifesto em conjunto com o antigo Grão-Mestre da Fraternitas Saturni alemã, Eugen Grosche, com quem Germer havia se desentendido anteriormente – o resultado foi a expulsão de Grant da Ordem. Este Grant desconsiderou, entretanto, considerando sua autorização de ter vindo do próprio Crowley, e também seus próprios contatos dos “Planos Interiores”. Assim começou a separação dos caminhos entre a Ordem Tifoniana de Grant e o chamado ‘Califado’ O.T.O. reformulado na América por Grady McMurtry.

Uma chave para entender a noção de ‘Gnose Tifoniana é a identificação enfática de Kenneth Grant com Tifón – uma entidade monstruosa da mitologia grega, líder dos Titãs, que fazem guerra contra os deuses do Olimpo, e decididamente feminina – como a Mãe de Set. Grant não hesita em se apropriar deste gigantesco monstro ctônico, de múltiplas asas e membros de cobra, Tifón Primordial, como um avatar da Grande Mãe, ou seja, da própria “Mãe Natureza”, e ousadamente afirma:

“Ela tipificou a primeiro progenitora numa época em que o papel do macho na procriação era insuspeito. Como ela não tinha consorte, ela era considerada uma deusa sem um deus, e seu filho – Set – sendo sem pai, também não tinha deus e era, portanto, o primeiro ‘diabo’, o protótipo do Satã das lendas posteriores.”

Em relação a Set – uma figura sombria e primordial da potência bruta do Egito aborígine, pré-dinástico, mais tarde lançado como o assassino do deus-rei Osíris e depois protótipo do “Deus contra os deuses” – Grant escreveu no prefácio da edição de 1990 do que havia sido originalmente seu primeiro livro, O Renascer da Magia:

“Para nós, que temos o conhecimento interior, herdado ou vencido, resta restaurar os verdadeiros ritos de Átis, Adônis, Osíris, de Set, Serápis, Mitra, e Abel”.

Estas palavras de Aleister Crowley me inspiraram quando jovem e, imaginando-me como um daqueles a quem eram dirigidas, logo descobri que, por alguma razão, não fui capaz de entender que era o deus Set que eu estava sendo chamado a honrar. Assim, tomei a mim mesmo a tarefa de penetrar nos Mistérios deste, o mais antigo dos deuses, e traçar a história de seus ritos desde uma antiguidade indefinida até os dias de hoje.

Os Mistérios Egípcios formam em grande parte o núcleo da Tradição Mágica Ocidental e foram certamente a base para os mitos e rituais da  Hermetic Order of the Golden Dawn (Ordem Hermética da Aurora Dourada), onde Crowley tinha aprendido a maior parte do que precisava para seu desenvolvimento posterior. O Antigo Egito como fonte de poder sobrenatural sancionou seu papel como Profeta, e construiu sobre o Éon de Horus de Crowley e O Livro da Lei, tanto quanto Grant cuja principal fonte para sua Gnose Tifoniana foi o controverso trabalho do egiptólogo esotérico autodidata, Gerald Massey.

Em obras monumentais como o Natural Genesis and Ancient Egypt: The Light of the World (Gênesis Natural e o Egito Antigo: A Luz do Mundo), Massey expôs em termos inequívocos o que ele afirmava ser a base afrocêntrica e fisiológica da Gnose: “Os mais antigos símbolos e religiões têm origem na África”. Ele concebeu o Tifón como equivalente à Tauret egípcia, ou Ta-Urt, o hipopótamo “Senhora da Casa de Nascimento”. Ela era a Deusa das Sete Estrelas do Norte (A constelação da Ursa Maior), e seu filho era a Estrela da (Constelação) do Cão (Maior), Sothis ou Sírius (igualado a Set), cuja ascensão heliacal aparecia acima do horizonte pouco antes da inundação do Nilo. A palavra “Tifoniano” se referia àqueles que adoravam esta Deusa Primordial, e os membros de Seu Culto Estelar haviam fugido para o Oriente, levando sua sabedoria com eles, quando os adoradores do Culto Solar ganharam a ascendência. Em muitos aspectos, a maior inovação de Kenneth Grant foi ligar esta Tradição Tifoniana ao Ocultismo Moderno.

Enquanto Grant se baseava extensivamente nas obras de outros ocultistas que o precederam – Blavatsky, Crowley, Fortune, Grosche, Spare – e citou acadêmicos e estudiosos, do sexólogo pioneiro Havelock Ellis ao ‘Egiptosofista’ Gerald Massey, ele também tinha o curioso hábito de referenciar obras de ficção com a uma aparente mesma seriedade. Assim, as discussões sobre a Sabedoria Estelar e a sobrevivência do culto pré-dinástico do primeiro Egito podem incluir, assim como referências a fontes arqueológicas, também material especulativo extraído dos Registros Akáshicos. Comparações com escritos sobre Tantra e Vodu são todas misturadas com as histórias de terror de Bram Stoker, as pulp novels (romances de celulose) de Sax Rohmer, a ficção sobrenatural de Arthur Machen e os ‘Contos Estranhos’ de H. P. Lovecraft.

Grant tinha uma afeição especial por Lovecraft, aparentemente acreditando que ele estava “em alguma coisa” – que seu temido grimório, O Necronomicon, de fato existia no plano astral, e que HPL (Lovecraft) tinha apreendido isso através de seus sonhos, mas era incapaz de aceitar a “verdade” do que ele tinha discernido – que ele era, de fato, um mago inconsciente. Para aumentar a aparente confusão, em várias obras Grant deu relatos – alegadamente dos Anais de sua Nova Loja Ísis – que parecer como algo da prosa roxa de escritores de horror sobrenaturais, e falou de personagens fictícios como se fossem “reais” – e então em suas obras supostamente fictícias ele se baseou em elementos presumivelmente biográficos de sua própria vida, também personagens e locais “reais”.

A meu ver, este exame excessivamente literal de certos escritos, tais como Grant – ou mesmo Carlos Castañeda, com quem às vezes foi comparado – pode passar despercebido. Se Don Juan ‘realmente’ transformou Castañeda em um corvo, ou se eles saltaram da montanha juntos – ou se Crowley ‘realmente’ perguntou a Kenneth Grant se eles eram parentes distantes por meio de um primo compartilhado em um clã estendido, que por acaso estava de posse de uma herança de família na forma de um grimório documentando seu tráfego de gerações – com inteligências de outros mundos – não está nem aqui nem lá. O que Grant está tentando enfatizar – do que ele era um indubitável Mestre – é o uso da ficção ou literatura como uma forma de Glamour mágico.

As palavras podem tecer mundos, as palavras podem conjurar fantasmas – as palavras podem transportar, transformar, e alterar a consciência – o único limite sendo a imaginação. É preciso lembrar que a imaginação se preocupa com a criação de imagens, em cujo respeito está diretamente relacionada à Antiga Heka egípcia: uma palavra que significava tanto “Magia” quanto “a criação de imagens”. O rol de escritores que também eram magos – ou, alternativamente, ocultistas que empregam a ficção como meio de expressar conceitos mágicos – é longa e distinta.

O próprio Grant segue as pegadas de Aleister Crowley e Dion Fortune, ambos com um passado na Golden Dawn e seus descendentes, assim como Algernon Blackwood, J. W. Brodie-Innes, Arthur Machen, Sax Rohmer, Bram Stoker e A. E. Waite. Grant viu as implicações ocultas no trabalho de tais escritores como não sendo tão diferentes das suas próprias:

“Machen, Blackwood, Crowley, Lovecraft, Fortune e outros, frequentemente usaram como tema para seus escritos o influxo de poderes extraterrestres que têm moldado a história de nosso planeta desde o início dos tempos…”

Assim como outros poetas e escritores decadentes e simbolistas, como Baudelaire, Huysmans, Lautréamont e Rimbaud, pintores surrealistas como Salvador Dali, Paul Delvaux, Max Ernst e Yves Tanguy tem uma apreciação especial. Dali em particular foi elogiado como “Um dos maiores magos de nosso tempo” – com Grant passando a explicitar a comparação deste com Spare:

“Spare já havia conseguido isolar e concentrar o desejo em um símbolo que se tornou senciente e, portanto, potencialmente criativo através dos relâmpagos da vontade magnetizada. Dali, parece, levou o processo um passo adiante. Sua fórmula de ‘atividade paranóico-crítica’ é um desenvolvimento do conceito primordial (africano) do fetiche, e é instrutivo comparar a teoria de Spare de ‘sensação visualizada’ com a definição de Dali de pintura como ‘fotografia colorida feita à mão de irracionalidade concreta’. A sensação é essencialmente irracional, e sua delineação em forma gráfica (“fotografia a cores feita à mão”) é idêntica ao método de Spare de “sensação visualizada”.”

A ênfase no uso de tal criatividade, carregada de intenção mágica e dirigida pela vontade treinada, é um conceito chave da Gnose Tifoniana:

“Dion Fortune enfatizou a importância do devaneio conscientemente controlado. Baseando suas práticas em aspectos dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola, ela demonstrou o valor mágico do “sonho verdadeiro”, uma expressão derivada do romance de George du Maurier, Peter Ibbetson. A teoria é que se alguém tece um sonho diurno com intensidade suficiente induz a uma abstração tão total dos sentidos que o sonhador se funde num sonho acordado, no qual ele é o criador e mestre de suas próprias fantasias. Se poderosamente formuladas, estas concretizam, reificam e assumem uma realidade igual em grau – e muitas vezes maior – àquela que é experimentada na consciência desperta comum. As vantagens de ser capaz de induzir tal estado são evidentes.”

Talvez mais do que qualquer outro escritor ocultista moderno, Grant enfatizou a importância, potencial e poder de tal criatividade, escrevendo em Aleister Crowley & O Deus Oculto que, “A Grande arte é sempre simples… a verdadeira arte expressa a Eternidade”. Desde o início, a arte de Austin Osman Spare e a esposa de Grant, Steffi, é essencial para a função das Trilogias Tifonianas – o texto ilustra as figuras tanto quanto as figuras ilustram o texto. Mais tarde, em Outside the Circles of Time (Fora dos Círculos do Tempo), Grant escreve a respeito de artistas como Dali, Sidney Sime, Spare, e Tanguy:

“Estes artistas deram um salto em outras dimensões e – este é o ponto importante – voltaram para registrar suas experiências extradimensionais… A arte, no sentido verdadeiro e vital, é um instrumento, uma máquina mágica, um meio de exploração oculta que pode projetar o vidente no reino do invisível, e lançar a mente desperta nos mares do subconsciente.”

Por mais que as obras de Kenneth Grant possam ser documentos inestimáveis da evolução do ocultismo contemporâneo – assim como registros da contribuição de muitas das figuras pioneiras com as quais ele teve contato pessoal – é de se esperar que a maior contribuição de seus livros seja como catalisadores mágicos para o leitor que está preparado para abordá-los sob a mesma luz. Como escreveu a antiga protegida de Grant, Sacerdotisa da Magia de Maat, Nema: “Estes não são apenas livros sobre Magia; são livros que são Magia”.

Usados como portais para o Nightside (Lado Noturno), os nove volumes das Trilogias Tifonianas – assim como os vários outros livros de Grant – podem finalmente servir como guias para aquele lugar de exploração e inspiração além de distinções como ‘fato’ e ‘ficção’ que ele gostava de chamar de “a Zona Malva”.

Como tal, eles podem servir como plataformas de lançamento ou mesmo veículos para aquele lugar que cada um de nós precisa encontrar por si mesmo: o lugar onde a Magia acontece.

Finalmente, para concluir, sei que uma imagem de Grant é frequentemente pintada como autocrático, até mesmo autoritário da “Velha Escola”, o que pode muito bem ter sido assim – várias pessoas me levaram a acreditar que ele era realmente mais fácil de lidar se você não fosse um membro da sua Ordem Tifoniana! – mas não há dúvida da sua óbvia dedicação ao Feminino Daemônico (ou Demoníaco). A  Fellowship of Isis (Irmandade de Ísis), que Grant apoiou, afirmou que ele era “totalmente a favor da Deusa”. Sua defesa da obra de Dion Fortune, de Marjorie Cameron – numa época em que a maioria das pessoas, se é que tinham conhecimento dela, apenas a consideravam como a “viúva de Jack Parsons” – seu encorajamento ativo às sucessivas gerações de mulheres fortes ocultistas, como Janice Ayers, Jan Bailey, Linda Falorio, Margaret Ingalls (a supracitada Nema), Mishlen Linden e Caroline Wise – assim como sua devoção vitalícia à sua esposa, a artista Steffi Grant, cujas obras complementam e ilustram vividamente seus livros – todas atestam isso.

Retrato de Steffi e Kenneth Grant, por Austin Osman Spare.

Sendo o último elo vivo* com Aleister Crowley, Gerald Gardner, Eugen Grosche e Austin Osman Spare, o legado de Kenneth Grant ainda está para ser totalmente avaliado e não voltaremos a ver algo semelhante a ele novamente.

* Kenneth Grant faleceu em janeiro de 2011 aos 86 anos.


Fonte: Tifon Rising: The Magical Legacy of Kenneth Grant.

Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-do-caos/a-ascensao-tifoniana-o-legado-magico-de-kenneth-grant/

‘Stregheria: a bruxaria italiana

A velha religião na Itália começou com os povos Etruscos que apareceram na Itália por volta de 1.000a.c, por serem povos místicos e possuidores de conhecimento de magia eles influenciaram em muito a religião da Itália.

Os povos Etruscos deixaram tumbas magníficas decoradas, pintadas e ás vezes com jóias armas, utensílios de uso pessoal, todos esses objetos indicavam o nível social da pessoa que ali estava enterrada, acreditavam na vida após a morte e que os deuses se fossem bem celebrados durante suas vidas na terra, poderiam lhes reservar uma boa vida após a morte.

Os deuses ocupavam um lugar importante na vida dos Etruscos, influenciavam seus comportamentos, seus relacionamentos e a idéia principal dos Etruscos era o poder que os deuses podiam emprestar “aos humanos”, portanto o poder divino era consciente entre os Etruscos, com seus hábitos, sua religião e seus conhecimentos influenciaram sobre maneira toda a região da Itália.

A vinda do cristianismo na Itália determinou a queda do Paganismo e os cultos mágicos aos deuses foi considerado ilegal .As sacerdotizas de Diana se refugiaram em vilas isoladas… onde hoje é encontrado o templo de Diana em ruínas, portanto a Velha Religião foi conservada nessas áreas rurais e o seu conhecimento existem até hoje na Itália moderna.

A perseguição das bruxas na Itália não foi violenta como foi em outros países pois as bruxas italianas se concentravam em vilas isoladas e eram geralmente muito bem toleradas.

A bruxa italiana chama-se Stregha e o bruxo italiano chama-se Streghone e o coven de bruxos é chamado de Boschetto A Stregheria também tem várias tradições conforme as regiões da Itália, por exemplo na Sicilia, norte da Itália, sul da Itália etc…

Na Stregha é muito importante os laços familiares, os espíritos que protegem e preservam a antiga religião e seus conhecimentos. Ha muitas diferenças entre as bruxas americanas e as bruxas italianas, essas diferenças além de serem históricas são devidas a diferentes tradições e diferentes crenças. Os Estados Unidos fica muito longe da Itália e numa época passada, nos tempos primitivos é lógico que o conhecimento da Itália eram diferentes dos conhecimentos americanos assim como a sua história, por exemplo: uma bruxa Strega nunca ouviu falar sobre karma há tempos atrás, por que o conceito oriental místico só chegou na Itália neste século, portanto não se escutava falar sobre tantra, I’ching, chákra, yoga, estes conceitos não estavam presentes na Itália no ano de 1.300… Como a Stregha italiana têm seus alicerces na velha religião praticada nessa época, genuinamente ela não usa conceitos orientais .

Outro exemplo: Na Itália temos quase 200 dialetos diferentes, o que originam diversas formas de conhecimentos, tradições e clãs.

A magia Stregha usa muitos objetos da natureza, amuletos, talismãs, adivinhações, feitiços, os círculos mágicos também são feitos, é muito comum se encontrar chaves feitas de ouro ou prata, tesouras ferraduras, pérolas, fitas vermelhas e sal.

Já foi dito que é muito importante os laços familiares na bruxaria Stregha e geralmente a iniciação de uma bruxa Stregha começa desde o momento de seu nascimento. as mulheres mais velhas da família gradativamente vão oferecendo conhecimentos para a iniciada e vão notando quais os dons que esta iniciada nasceu com eles.

Isto também se dá com os meninos que florecem mais tarde na magia que as meninas.

Objetos usados na Strega

A concha: a mais antiga ferramenta que se tem conhecimento na Strega é a concha. Elas representam o útero feminino, a deusa, e é muito usadas em invocações. elas podem ser de vários tamanhos mas do tipo da concha da “shell”, são colocadas em altares com água do mar com uma pequenina concha no centro da maior para representar o poder da lua, a concha maior simboliza a grande deusa e a menor o pedido a ser feito para a deusa, ela pode ser preenchida com licor Stregha que ao pegar fogo representa a divindade.

A varinha: pode ser feita de árvores frutíferas tomando um galho delas de forma consagrada, cada árvore tem um poder respectivo que imanta a varinha com este poder. Quando formos colher um galho de uma árvore para fazer uma varinha devemos fazer uma reverencia a o espírito dela. A varinha representa a extensão do braço humano e ela pode ser usada desde para debelar uma demanda espiritual até mandar uma mensagem .É o símbolo do elemento ar.

O cálice: O cálice é uma derivação da concha ,também simbolizando o útero sagrado, a mesma associação feita à concha, o cálice está associado á compaixão e ao poder pessoal.

A espada ou athame: também chamada espada da razão , ela é necessária para manter a estabilidade mental. E associada ao elemento fogo onde foi forjada.

O pentagrama: O pentagrama original Stregha eram feitos em rochas ou substancias naturais como madeira, couro. Eles sempre foram usados como símbolos de proteção e para delimitar um espaço sagrado.

Nantabag: A Nantabag é usada na Stregha para manter sempre perto da bruxa seus objetos usados para os rituais e para ela criar sua magia em qualquer lugar e qualquer tempo. Ela é feita de couro ou tecido de algodão e nela temos representações em miniaturas das ferramentas usadas em rituais. Uma típica Nantabag contém:

  • um cálice

  • uma varinha ou a própria semente da árvore

  • um pentagrama cunhado em uma moeda

  • uma pedra representando a terra

  • uma pena representando o ar

  • um incenso

  • duas velas pequenas brancas

  • um pedaço de corda com os nós

  • um pequeno copinho para o licor

  • uma pequena concha, um símbolo da deusa

  • uma porção de sal

  • algumas ervas

  • seu objeto de poder pessoal, que pode ser um amuleto, um cristal etc…

A vassoura: A vassoura é usada na Stregha como proteção e para rituais de banimento, a vassoura é um símbolo de como uma bruxa Stregha pode viajar no astral, se projetar para qualquer lugar, entrar em qualquer porta e em qualquer área. Em rituais de banimento ela é usada atravessada na porta de entrada com o sal para remover as energias negativas, quando atravessamos a vassoura na porta de entrada de uma casa estamos impedindo a entrada de qualquer energia.

Tesouras: As tesouras são usadas para quebrar feitiços e para ajudar nas conexões astrais, deve ser colocadas sobre as janelas ou atrás das portas para cortar qualquer maldição.

O caldeirão: É usado nos rituais em celebração e oferendas aos deuses e espíritos.O ponto central do altar da bruxa Stregha é a chama azul gerada pela queima do Stregha, um licor preparado especialmente para os deuses que pode ser colocado no caldeirão ou na concha.

Oratório: O oratório é usado para representar um templo sagrado suportado por duas colunas esse oratório deve ser colocado sobre a terra e de maneira que oferendas possam ser feitas nesse lugar, o oratório é o ponto principal onde os velhos espíritos se comunicam com a Stregha. A imagem da deusa, de um anjo pode estar contido no oratório, um prato com leite, vinho e mel deve ser oferecido aos deuses, velas acesas, jóias, pinturas e os objetos pessoais da bruxa.

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/paganismo/introducao-a-stregheria/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/paganismo/introducao-a-stregheria/

A Experiência Interior me leva à Deusa Mãe Tara

Por Yogini Shambhavi

“Saktivikase tu siva eva” – Pratyabhijnahrdayam

No desdobramento de Sakti, um se torna Shiva

Na madrugada de Brahma Muhurta, o tempo sagrado de Brahman, em um lindo e ainda alvorecer do trigésimo dia do mês de março, acordei para as vibrações sonoras e poderosas do som OM………… As paredes brancas lavadas da minha sala do templo ressoaram com suas reverberações. Foi um trovão que acenava dos céus, uma chuva que saudava a primavera? O som ondulante do OM parecia ter origem fora de minha janela e permeava as paredes, fazendo com que todo o meu ser tremesse. Eu me deitei para trás tomando esta incrível corrente, acordada bruscamente do meu sono.

E lá estava Ela em sua forma esplendorosa, a Deusa Tara, sua pele nila (cor azul profundo) brilhando na semiescuridão do meu quarto. A luz tênue da diya iluminada (lâmpada de ghee, manteiga clarificada) realçava sua beleza enquanto ela estava de pé à esquerda de minha cama, um braço estendido na minha direção carregando uma Munda, um crânio na palma de sua mão! Meu corpo estava encharcado em suor pelo choque e medo de Sua presença. Sentei-me na cama e limpei o suor encharcado do pescoço e dos seios e com uma mão trêmula acendeu a lâmpada ao lado da minha cama. As delicadas tensões de luz do candeeiro filtraram através do meu quarto.

Ainda havia um tremor peculiar em meu corpo. Encontrei meu equilíbrio e caminhei até meu Espaço Sagrado no canto do meu quarto, que é meu Templo, e ajoelhei-me diante de sua imensa presença. Acendi um incenso de sândalo e rezei em silêncio, lágrimas rolando pelas minhas bochechas até as coxas nuas.

Eu me senti quase como um zumbi, em transe, tentando me convencer do belo darshan de Ma (Mãe) Smashan Tara…… E assim começou meu encontro com as Deusas Dasha Mahavidya, As Dez Deusas da Sabedoria…………… e toda minha vida começou a metamorfosear. A realização de todos os meus anos de sadhana apaixonada parecia estar se manifestando. Minha necessidade de aprofundar ainda mais a experiência do Tantra, através da meditação, do Mantra yoga e da Bhakti yoga estava começando a deixar sua marca em meu processo interior.

E a vida estava se apaixonando novamente, acordando a cada dia para experimentar o êxtase e a paixão em tudo ao meu redor. Este encontro com a Deusa foi uma mudança completa do meu namoro com Shiva, a quem eu vinha tentando cortejar através de intenso bhakti por vários anos.

Certa tarde, enquanto ainda estava meditando, procurei orientação dos Poderes Divinos para me mostrar claramente a data em que a Mãe começaria a se conectar comigo. Perguntei ao meu pêndulo: “Mostre-me um número quando Ma me aparecerá”. A resposta foi “9”, o nono de abril de 2003! Minha mente começou a calcular, percebendo o significado desta data. Toda a configuração somava uma contagem de 9 (09.04.2003), que por acaso era a data da primavera Navaratri e meu número de destino. No mesmo dia, um médium que conheci me pediu para usar uma conta Rudraksha de nove caras (Nava Muhki), que é atribuída à Deusa Durga, no meu braço esquerdo. A viagem estava em andamento!

Ma Tara na Tradição Hindu:

Algumas pessoas tendem a identificar Ma Tara na tradição hindu com o Bodissatva Budista Tara, pois Tara é a forma de deusa dominante no budismo tibetano. Embora se sobreponham até certo ponto, as duas divindades são diferentes na representação e nas energias. Como termo geral no budismo há muitas formas de Tara governando os diferentes aspectos da vida, indicando a graça e a orientação dos poderes da Mente de Buda. Ela é a consorte do Bodhisattva Avalokiteshwara, que se tornou Kwan Yin no pensamento budista chinês.

Ma Tara no hinduísmo tântrico é um pouco diferente. Ma Tara é uma deusa da sabedoria, a suma sacerdotisa, por assim dizer. Ela detém o poder do OM como o Taraka ou vibração cósmica sonora que nos leva através da escuridão da ignorância até a luz da Autorrealização. Isto conecta Tara com a morte, mas como um poder de transformação, a morte potencial do ego. Como tal, Ma Tara é uma manifestação de Ma Kali como Kali-Tara. Tara é a segunda das Dasha Mahavidya ou dez grandes deusas da sabedoria que começam com Kali e se manifestam a partir de sua energia. A ideia da Deusa como o poder que nos leva através da escuridão à luz é tão antiga quanto a mais antiga Rigveda. Tara é uma manifestação da força guia e protetora da Mãe Suprema do Universo. Neste sentido, ela é a graça salvadora de Ma Durga como Durga-Tarini, assim como Durga significa dificuldade e Tara a capacidade de nos levar para além destas. Tara é uma das muitas formas da Deusa como a Shakti do Senhor Shiva que também é Omkara ou o som cósmico.

Na astrologia védica Tara significa uma estrela e é frequentemente considerada como a esposa do planeta Júpiter, o guru entre os Devas. Tara nos ajuda a superar nossos karmas negativos e trazer uma energia jupiteriana positiva de criatividade, inteligência e contemplação. Que Ma Tara traga tudo o que é auspicioso para você!

***

Fonte:

SHAMBAVI, Yogini. Inner Experience Leads Me to Ma Tara. Vedanet, 2019. Disponível em: <https://www.vedanet.com/inner-experience-leads-me-to-ma-tara/>. Acesso em 11 de março de 2022.

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/yoga-fire/a-experiencia-interior-me-leva-a-deusa-mae-tara/

A Cura Sexual Através da Magia Sexual

Por Christopher Penczak

Sexo. É um dos mistérios espirituais. Não se pode realmente explicá-lo. Você tem que vivenciá-lo diretamente, como todos os mistérios de expansão de consciência das tradições orientais e ocidentais. Tantas histórias de criação têm o universo nascendo através do amor do casal divino. Mas ao contrário dos estados profundos da meditação iogue e dos rituais cabalísticos em línguas secretas, a maioria das pessoas comuns têm a chance de explorar os mistérios do sexo, e encontrar seu poder curativo e transformador. Todos nós o buscamos. Embora seja um impulso primordial, em um nível superior, também buscamos experiências sexuais para explorar os mistérios da divindade.

Através da atividade sexual, estimulamos os centros de energia do corpo e podemos experimentar uma profunda sensação de consciência alterada. Você encontra a sexualidade na yoga tântrica oriental e nas práticas taoístas, na magia cerimonial ocidental e no Grande Rito Wiccano. Você vê dicas de uma tradição de magia sexual nos mistérios de Ísis e Osíris, o Canto de Salomão, e, alguns especulariam, os mistérios gnósticos de Cristo e Maria Madalena. A ideia de união e cura através da sexualidade é universal.

Mesmo que não saibamos nada sobre energia, meditação, ou ritual, ativamos a corrente sexual e experimentamos estes estados de ser. O sexo é muito poderoso e por causa disso, muitas emoções, sentimentos e expectativas se envolvem em nossa sexualidade, tornando-a uma de nossas maiores forças e alegrias, mas também criando alguns de nossos maiores problemas. Ter uma compreensão dos componentes esotéricos da sexualidade pode influenciar profundamente nosso desenvolvimento espiritual, cura e atitudes em relação à sexualidade, transformando-nos.

De todas as tradições da sexualidade sagrada, a palavra mais fortemente ligada à prática é tantra. O tantra é um sistema esotérico oriental, enraizado nas religiões da Índia, e inclui uma variedade de práticas, incluindo aquelas associadas à sexualidade sagrada, mas seria negligente pensar que o tantra é apenas sobre sexualidade. Alguns traduzem a palavra tantra para significar ou “tear” ou “texto”, referindo-se a uma tradição maior. Embora grande parte desta tradição tenha tradicionalmente permanecido escondida de olhos abertos, ela felizmente veio à tona e foi disponibilizada ao público. Qualquer pessoa que deseje encontrar mais informações sobre a sexualidade espiritual pode fazê-lo com bastante facilidade.

O mais famoso destes manuais sexuais é o amplamente conhecido Kama Sutra. Um texto da Índia, a mais famosa tradução de Sir Richard Francis Burton apareceu em 1883. O Kama Sutra causou muita agitação por causa de seus diagramas que detalham várias posições sexuais, mas em geral, a maioria do livro não é sobre sexo, mas cobre tópicos de relacionamentos, casamento e como ser um bom cidadão, no contexto da cultura indiana na época em que foi escrito.

Os místicos modernos levaram seus próprios empreendimentos para a sexualidade sagrada e escreveram sobre suas experiências e ensinamentos. Eles estão se baseando em fontes tântricas tradicionais, assim como as da alquimia taoísta quando se aproximam dela a partir de uma visão oriental. As tradições mágicas ocidentais analisam o papel da alquimia ocidental, e a imagem do casamento divino, em suas práticas rituais. Elas se expandiram sobre as explorações do moderno renascimento ocultista que combinou teorias e ensinamentos tanto do Oriente como do Ocidente.

Um dos clássicos modernos a partir do qual se pode olhar a magia sexual de uma perspectiva ocidental é a Magia Sexual Moderna de Donald Michael Kraig. Como seu predecessor, Modern Magick, este texto fornece um manual minucioso e detalhado nas artes da magia sexual ocidental. Kraig traça a história a partir de uma variedade de tradições e inovadores, e cobre a prática real da magia sexual usando terminologia e um estilo que são fáceis de entender. Kraig tem uma extensa preparação para quem procura explorar a magia sexual. Uma de suas sugestões envolve o uso do Exercício de Kegel:

Este exercício, cujo nome vem de seu inventor, tonifica os músculos usados durante o ato sexual. Uma maneira fácil de aprender este exercício é parar o fluxo quando você urina. Permitir que o fluxo seja retomado e interrompido novamente. É esta contração e relaxamento que compreende o exercício. Certifique-se de que você não está apenas contraindo o esfíncter anal. Repita o exercício várias vezes. Você pode praticar este exercício em quase qualquer momento e em qualquer lugar. Trabalhe até fazer isso pelo menos cem vezes por dia.

– Modern Sex Magick, p. 72.

Os exercícios de Kegel podem ajudar uma mulher a ser orgástica, e também ajudar com alguns problemas em torno do fluxo urinário e incontinência. A construção deste músculo ajuda a preparar um para os rituais de magia sexual.

O contato sexual com entidades espirituais nos coloca em contato com a divindade aparentemente intangível, mas descobrimos através da sexualidade que a divindade também está dentro dela. Através de experiências sexuais individuais, duplas ou grupais, encontramos o divino dentro dos participantes, vendo os deuses dentro da humanidade, e encontramos nossa própria centelha divina interior. Ao encontrar esta centelha, temos epifanias e revelações espirituais que transformam nossas vidas.

Para uma visão mais ortodoxa sobre o assunto a partir de uma perspectiva taoísta oriental, temos a Yoga Taoísta & Energia Sexual de Eric Steven Yudelove. Este é um curso de 14 semanas apresentado pelo autor para incorporar a yoga taoísta, Chi Kung, alquimia taoísta e kung fu sexual em um sistema transformacional. Os iniciantes e os experientes nestas artes serão beneficiados com o livro.

O primeiro exercício na Semana Um do curso é chamado de Respiração Capilar. Envolve a retirada de energia excedente para dentro do corpo. O cabelo é um depósito de energia excedente.

Isto pode não parecer um exercício sexual, mas muitos dos exercícios preliminares de uma tradição devem ser dominados para se passar para as práticas mais exóticas. As tradições orientais estão focalizadas nos centros energéticos e refinando a energia que passa por esses centros, na vida diária e durante a interação sexual. O poder da energia sexual que passa por esses caminhos nos cura em vários níveis, aumentando nossa vitalidade, ajudando o sistema imunológico, curando doenças e, finalmente, expandindo a consciência.

Aqueles que procuram instruções mais diretas nas tradições tântricas podem se beneficiar do CD Yoga Nidra: Meditação Tântrica e Visualização pelo Dr. John Mumford e Jasmine Riddle. O Dr. Mumford é um renomado especialista em artes orientais e instrutor experiente em seus mistérios. Yoga Nidra é uma técnica de desenvolvimento que lhe permite progredir para um estado refinado de sono psíquico. Os elementos gêmeos que a yoga tântrica utiliza são a sensação e a visualização do corpo. Dr. Mumford e Jasmine Riddle guiam você através de estágios de desenvolvimento, movendo sua consciência através de diferentes partes de seu corpo. O componente de visualização permite que você entre em contato com seus centros psíquicos, ou chakras. Como exemplo, o Enigma nos guia através da sintonia sensacional em cada mão, concentrando-se individualmente em cada dedo. Nós nos movemos pela ponta, o prego, a primeira articulação seguida do nó, a segunda articulação seguida do nó, a terceira articulação seguida do nó, e terminamos com a almofada na palma de sua mão.

Depois de guiá-lo pelos centros de consciência de seu corpo com consciência sensacional, as visualizações avançam em direção aos diferentes sentidos. Luz, calor, frio e alegria são sentidos, seguidos por exercícios de chakra que se movem da base para a coroa e para trás novamente. Acompanhada de música meditativa, a voz suave de Jasmine Riddle dá uma sensação relaxante que o acompanhará ao longo de sua viagem. Em última análise, você pode alcançar um estado de movimento consciente através das sensações corporais usando exercícios de visualização que culminam em uma perspectiva iluminada.

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Fonte: https://www.llewellyn.com/journal/article/1037

COPYRIGHT (2006) Llewellyn Worldwide, Ltd. All rights reserved.

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-sexual/a-cura-sexual-atraves-da-magia-sexual/

‘Kama Sutra (texto completo)

Antes de ser uma livro de imagens, o kama sutra é um poema. Este poema divertido e instrutivo doi criado para a nobreza da Índia por um nobre Vatsyayana, em alguma época entre 100 e 400 d.C. Originalmente em sânscrito, está inserido na concepção de mundo da religião hindu. Seus ensinamentos, embora conduzam seus praticantes ao orgasmo intenso e ao prazer visam, antes disso, à elevação espiritual do casal.

Kama significa sexo, amor, prazer, satisfação. É um dos três sustentáculos da religião hindu. Os outros são Dharma e Artha. Dharma é o mérito religioso e Artha a aquisição de riquezas e bens materiais..

Os hindus acreditavam que aquele que praticar Dharma, Artha e Kama, sem se tornar escravo das paixões, conseguirá êxito em todos os seus empreendimentos. Em outras palavras, deve-se desfrutar as riquezas e os prazeres sexuais sem jamais perder a virtude religiosa.

Estas três metas possuem suas contrapartes modernas. Muitos de nós não somos tão voltados para a religião, mas buscamos desenvolvimento pessoal e realização; muitos de nós não aspiram grandes riquezas, mas sim ter o dinheiro suficiente para viver confortavelmente; e a maioria de nós quer um relacionamento sexual carinhoso.

Não é apenas um manual de posições sexuais. Além de trazer detalhadamente 64 formas de amar consideradas essenciais, pretende também desenvolver o erotismo e sensualidade de ambientes, situações e pessoas. Velas e óleos aromáticos, comidas afrodisíacas, perfumes e músicas, fazem parte de todo o ritual. Os amantes são encorajados a estarem sempre enfeitados com tecidos leves, coloridos e sensuais e cheios de adornos como colares e brincos. O sexo vai além do simples prazer genital e explodia em todas as direções dos cinco sentidos.

Segue a tradução do poema original para o português:

Os Beijos

Beijar, com unhas marcar,

as mordidas de amor,
sempre devem o acto do amor preceder,
enquanto os golpes e gritos de amor
são usados apenas para apressar o orgasmo.

Mas Vatsyayana diz: a paixão desperta,
pouco tempo resta para a etiqueta.
Faça o que bem quiser,
quando lhe aprouver,
pois Kama não respeita convenções.

Na primeira vez que se deitar com uma mulher,
não exagere nos beijos, unhas e dentes,
melhor sempre é uma coisa de cada vez.
A confiança dela aumentando, recorra a tudo,
que neste livro há, para alimentar o desejo.

Os Beijos

Dê os seus beijos na fronte,
olhos, cabelos, nas faces e lábios,
no pescoço e nos seios,
que sua língua peregrine
pelos sagrados recônditos da suave boca.

Um homem de Lat também beijaria
os tufos de macaco nas axilas, o umbigo,
as coxas, os lábios secretos.
Essa demonstração exuberante de paixão
reflecte a nacionalidade, não é para todos.

Três beijos têm encanto especial
quando dados pelas jovens em flor.
São o Quase-não-um-beijo,
o Beijo Trémulo,
e refinado Primeiro-toque-de-sua-língua.

O primeiro ocorre com a nervosa jovem,
importunada por um beijo,
um abraço relutante lhe permite,
aceita a homenagem de seus lábios,
mantendo os dela fechados firmemente.

Depois que ganha confiança,
ela pode permitir que os lábios se entreabram.
Se você então lhe mordiscar o lábio inferior,
sentir que treme, o prazer ao medo surpreende,
a vitória conquistou, pelo segundo beijo.

Um dia os olhos dela vão fechar,
aos seus olhos as mãos dela cobrirão
e uma língua furtiva indagará
se pode prosseguir por aventuras mais ousadas:
é o terceiro beijo, que o aprendizado encerra.

Mais quatro beijos há nos textos de amor,
Lábios se encontrando em cheio formam o Beijo
Recto, se inclinados, o Beijo de Viés.
Ao queixo dela levante para o Beijo Alteado;
qualquer deles, se ardente, é Beijo Esmagado.

Há quem chame Sorver o Vinho
quando, ao queixo dela se levanta,
a boca se comprime para um “O” formar,
cautela para com os dentes não feri-la
se dá um beijo sôfrego, com força.

Jogos de Beijar

Façam apostas sobre quem, os lábios só usando,
primeiro pode ao lábio inferior do outro
capturar. Se ela perder, há de gritar,
a mão lhe sacudindo, clamando que é injusto,
que você a enganou, outra chance vai querer.

Quando você por direito recusar,
seu nariz ela deve morder e magoar,
até levá-lo a concordar com suas exigências.
E se você ganhar outra vez,
um rebuliço maior ela deve criar.

Se desprevenido ela pegá-lo
o seu lábio captura entre os dentes,
entre os risos declarando
vitória maior ter conquistado,
morder ameaçando, se tentar escapar.

A vitória ela deve proclamar, exuberante,
provocando com gracejos refinados,
recorrendo às nuanças de expressão
que os lindos olhos e sobrancelhas forjam,
no desafio a seu orgulho lançar em nova prova.

Invente outros jogos de beijar,
competições de unhas, de dentes,
quem perder fazendo o que foi apostado.
Esses jogos o desejo aguçam,
por muitas horas o prazer do amor prolongam.

Se, ao beijar ela seu lábio superior,
você suga seu lábio inferior, é o Beijo Alto.
Se os dois lábios dela pelos seus são apanhados
(a esse beijo ela pode retribuir
apenas com você raspado), então é o Broche.

Se nesse beijo as duas línguas,
os dentes explorando, o céu da boca,
se encontrarem em feroz justa,
então se chama Torneio das Línguas.

Outras batalhas se travam com lábios e dentes.
Quatro beijos usam lábios, dentes, língua,
tudo junto. O Sama nos seios se dá,
nas sensíveis curvas de joelho e cotovelo,
onde as coxas ao corpo encontram:
mordisque delicado, a língua faça cócegas.

Pidita se reserva para as faces,
seios, quadris, barriga, a bunda,
seus dentes na carne afundando,
sem chegar a machucá-la,
lábios, língua, em massagem vigorosa.

Anchita é o beijo da língua,
as curvas sob os seios percorrendo,
sondando o umbigo, perdurando
no secreto lótus,
o desejo atiçando, sem propor alívio.

Mridu é usar os lábios no alívio
da comichão nas costas, seios, braços,
nos quadris, por dentro das coxas dela,
depois que suas unhas por lá roçaram, de leve,
levando os cabelos a se arrepiar, assim ficar.

Quando ela olha o seu rosto adormecido
e sua boca beija,
para despertá-lo, o desejo incendiar,
o beijo longo, tão ardente, tem o nome
Ragadipa, Amor-em-chama-se-tornando.

Se você ignora por estar absorvido
em música, pintura ou discussão,
porque os dois discutiram,
e ela o surpreende com um longo beijo,
será Chalita, o Beijo do Desvio.

Se tarde em casa chega, adormecida encontra,
você a beija com ternura,
é Pratibodlha, o Beijo que Desperta.
E ela deve fingir que está dormindo
quando a sua voz ouvir à porta.

Os Abraços

Homens e mulheres que pouco se conhecem
os sentimentos podem transmitir
usando o Toque ou Pontada.
A Carícia e o Aperto
são dos amantes que os desejos se conhecem.

Quando ela se aproxima,
como se você não existisse,
e sua mão ou corpo, na passagem,
deixa roçar contra, o seu, de leve,
é o abraço que se chama Toque.

Quando uma mulher avança, ao vê-lo
exclamando que algo deixou cair
e se abaixa para pegar,
os seios duros em seu corpo espetam
(furtivamente acaricie), é a Pontada.

Quando à noite saem juntos,
num bazar apinhado,
ou passeiam pelos campos,
os corpos se aninham em suas curvas,
a sensação que os percorre é a Carícia.

Quando a comprime contra uma coluna
ou de costas num portal,
o fôlego de seu corpo extraindo,
as mãos se pondo a explorar
os corpos mútuos, é o Aperto.

Babhravya mais quatro abraços dá
para amantes de experiência.
Trepadeira e Árvore de pé são feitos,
Sésamo e Arroz, Leite e Água,
muitas vezes se convertem no ato do amor.

Quando ela entrança os braços em seu pescoço,
como a trepadeira que a sal envolve,
o rosto erguendo para o beijo,
depois recua um pouco, respirando fundo,
seu rosto ansiosa olhando, é a Trepadeira.

Quando ela põe os pés entre os seus,
pelo seu corpo subindo, como liana,
sua cintura com as coxas agarrando,
seus ombros apertando, gemidos soltando,
sua cabeça aos beijos inclinando, é a Árvore.

Quando se deitam de frente um para outro,
as coxas entrelaçadas, os seios comprimidos
contra você, as mãos buscando lugares novos
para acariciar, cabeças em beijos se unindo,
o braço é como a mistura de Gergelim e Arroz.

Quando ela trança as pernas em sua cintura,
o peito contra o seu se comprimindo
em tão violento abraço que seus corpos,
à dor indiferentes, parecem quase
se penetrar, é chamado Leite e Água.

São esses os oito abraços de Babhravya.
Suvarnanabha dá mais quatro
em que partes do corpo diferentes
despertam para o amor: os abraços
das coxas, virilhas, seios e testa.

Deitados nos braços um do outro,
ela prende uma de suas coxas,
apertando com força entre as dela,
os músculos se encharcando de prazer:
os conhecedores chamam de Abraço de Coxa.

Quando ela ergue as lindas coxas
e sua virilha puxa contra a colina do amor,
as unhas lhe crava, belisca, em beijos suga
os seus lábios, os cabelos derramados
soltos por seu rosto, é o Abraço da Virilha.

Quando ela o monta,
o seu peito suportando todo o peso
dos seios cheios,
que trançam círculos em seu corpo,
quem conhece chama Abraço dos Seios.

Os três abraços também podem
pelo homem serem iniciados.
Quando as testas se unem, olho no olho,
nariz em nariz, lábio em lábio, os rostos
em carícias mútuas, é o Abraço de Testa.

Alguns mestres a massagem incluem nos abraços
pelo prazer físico que proporciona
mas Vatsyayana diz: a massagem visa
ao cansaço remover, não atiçar o desejo,
assim não pode entrar nas artes do amor.

Mesmo os que indagam, ouvem ou falam
de tais abraços
hão de sentir, na descrição correcta,
o desejo em seus corpos despertar.

Quem usar, maior prazer terá.
São muitas as carícias adoráveis
que os textos jamais mencionaram.
Descubra-as com quem ama,
use quando puder,
se aguçar o prazer e o desejo.

Os textos do amor podem se úteis
só quando o desejo está sereno,
mas com a roda do oleiro em movimento,
joguem fora até o Kama Sutra,
pois não há, nem ciência.

Dentes e Unhas

A paixão, se ateada,
que as unhas entrem em cena.
Electrizante é o efeito:
sob as unhas da mulher, o tímido amante
sente o corpo lentamente de desejo impregnar.

O jogo das unhas mais excita
a primeira vez em que juntos deitam,
nas noites antes e depois de longa separação,
depois de briga furiosa,
e quando ela bebeu além da conta.

Boas unhas são compridas, bem talhadas,
ao contacto bem suaves,
limpas, firmes, refulgentes,
os arranhões devem ser
tão rosados quanto as unhas.

Os ardorosos deixam as unhas
da mão esquerda crescer, longas, afiadas.
Há quem lixe em duas pontas, às vezes três,
como a lâmina da serra,
outros lixam em crescente, em bico de papagaio.

Textos de amor aconselham a se marcar
da amante apenas seios, axilas,
garganta, costas, coxas e virilha.
Mas no amor, lembra Suvarnanabha,
de tais coisas ninguém se recorda.

Marcas de Unhas

As oitos técnicas se aprendam:
Rasgar Seda, a Meia-Lua,
Círculo, Sulco, Garra do Tigre,
o Pé do Pavão,
Salto da Lebre, a Pétala do Lótus Azul.

Passe as unhas afiadas
pelas faces, seios, lábio inferior,
tão de leve que marca alguma fique,
mas ao contacto a pele se arrepie de prazer,
no som da seda que se rasga.

Esta carícia torturante use
quando ela pedir que lhe massageie o corpo,
o couro cabeludo, que lhe arranhe as costas,
que uma bolha impertinente fure, sempre
que quiser deixá-la ardente de desejo.

A Meia-Lua é suave crescente
com uma unha feito na garganta e seios.
Um par de crescentes fundo impressos,
na barriga, quadris, bunda ou virilha,
como marcas de um parêntesis, são o Círculo.

O Sulco é a linha vermelha
que unha afiada estende pela pele,
do corpo, em qualquer parte.

Se curvo, é uma Garra de Tigre,
quase sempre nos seios e pescoço.

Quando o mamilo se pega
entre as cinco unhas, comprimindo,
na explosão de suaves raios vermelhos,
é o famoso Pé de Pavão,
difícil de fazer, tão do gosto das mulheres.

Se ela roga, despudorada,
o Pé de Pavão, num dos seios,
e você usa as cinco unhas,
sobre um seio, depois no outro,
é o virtuoso Salto da Lebre.

A Pétala do Lótus Azul
se faz nos seios, na cintura, tão-somente,
moldada sempre na sugestão do nome.
Tal marca em elogio é,
equivalente a jóias de presente dadas.

É falta de cavalheirismo
sair de casa, em viagem longa,
sem marcar seios e coxas da esposa,
com três ou quatro pelo menos,
pequenas linhas, momentos do seu amor.

Novas marcas sempre invente
a praticar com quem ama.
Sejam de flores, passarinhos,
vasos, folhas, trepadeiras,
tudo é possível, não se pode enumerar.

Tentar sequer catalogar
o potencial infinito de marcas e técnicas,
para não falar dos sinais bizarros
que amantes ardentes improvisam,
é pura perda de tempo, dizem os sábios.

Há de se ressaltar, diz Vatsyayana,
a importância de variar no amor.
Qualquer tolo sabe: variar é o tempero
da vida, mas só cortesãs bem sucedidas
sabem, ao que parece, se a essência do amor.

Para acabar, jamais crave as suas unhas
na esposa de outro homem.
A discretos crescentes se limite,
ocultos onde ela apenas vai observar,
a se lembrar dos encontros secretos com você.

Mordidas de Amor

Cada parte do corpo, que se beija,
tirando a língua, olhos, lábio superior,
também aceitará mordidas de amor.
Até lugares que os Latas muito beijam
são alvos certos para dentes hábeis.

Bons dentes são limpos, brilhantes, iguais,
afiados, bem formados, com paan se colorindo.
Dentes lascados, rudes, sujos, gastos,
sobrepostos, salientes,
melhor ficam se ocultos, são insultos ao amor.

Prática é preciso par oito mordidas
bem famosas: a Secreta e a Inchada,
o Ponto e a Linha de Pontos,
o Coral e o Colar de Coral,
a Tempestade e o Javali.

Quando o lábio inferior morder,
avermelhando, mas sem marca, é a Secreta.
Se morder até o lábio machucar,
é a Inchada (só depois vem o Inchar),
e também se faz na face esquerda.

Quando a pele mordisca tão de leve
que marca é do tamanho da semente
de sésamo, fez um Ponto, incha de Pontos
bonita há de ficar na macia pele
do pescoço, seios, dentro das coxas.

A vermelha curva, irregular, do Coral,
se faz mordendo apenas com os incisivos
de cima. No seios começando, nas coxas,
Colares de Coral se vão fazendo,
as laçadas pelo corpo se espalhando.

Tempestade é um círculo de marcas
que no seio suave se imprime.
Se profundo, ardentes marcas,
no centro violeta, é Javali.
Que só agrada aos ardorosos.

Quando unha e dente marcas fazem
na folha de bhurja, flor de lótus azul,
que as mulheres nas orelhas usam,
são convites amorosos,
a se fazer com o esmero das cartas de amor.

Se um homem ignora os gritos da amada
de que unhas e dentes a machucam,
na mesma espécie ela deve revidar,
Garra de Tigre pelos Sulcos,
Javali à Tempestade confrontando.

Na paixão, que a mulher agarre
os cabelos do amado, lábio prenda
entre os dentes, qual a borda de uma xícara,
sorvendo sempre, de desejo se inebrie,
mordendo a esmo, de frenesi, em mil lugares.

Quando ele mostra, orgulhoso, manhã seguinte,
aos amigos tantas marcas
que unhas, dentes em seu corpo deixaram,
que ela o fite, impassível,
rindo apenas ao lhe virar as costas.

Censurá-lo ela pode, furiosa,
sendo amarrado exibindo mas próprias marcas.
Se um ao outro amam,
a censura é sempre afectuosa,
o amor nem em cem anos se esvai.

Golpes e Gritos

Como o amor, por natureza,
é quase uma batalha entre os sexos,
os vários golpes de amor,
que podem o prazer acentuar,
são analisados nos textos de amor.

Quando golpes, Apahasta (Costa da Mão),
Prasritaka (o Capuz), Mushti (o Punho)
e Samatal a(a Palma),
usados são na cabeça, ombros, costas,
flancos, no espaço entre os seios.

A amada, claro, há de sentir
dor quando você a golpear,
mas os gritos que à garganta lhe subirem,
se cada tipo você puder reconhecer,
vão dizer o quanto ela se encontra excitada.

Hinkara é o ar que se suga bruscamente,
como um sobressalto repentino.
Stanita é mais profundo, som ressonante,
que vem dos tímbales dos pulmões dela.
Kujita é suave arrulho, como a pomba.

Rudita é o soluço gutural da mulher
que o orgasmo alcança.
Sutrita é o ofego áspero.
Dutkrita é abafado chocalhar.
Phutrita é o morango que na água cai.

Sitkrita são palavras, sons,
que seus golpes dela arrancam,
exclamações de dor, lutando com prazer.
A sequência, que aprender se deve,
vai do prazer à dor ao prazer maior.

A princípio, soluçando, ela dirá:
“Mamãe”, “Pare!”, “Já chega!”,
“Deixe-me em paz!”, Estou morrendo!”,
mas os sons que em sua garganta adejam
logo se tornam gritos sem palavras.

Os tímidos gritos do início
podem ser como o choro de uma pomba,
o chamado do cuco entre as folhas,
o suspiro sonolento dos pardais,
o grito estridente do papagaio.

Mas logo a amada, gemendo como abelha,
gritando qual galinha assustada,
emitindo gritos baixos, que soam,
como gansos e patos no voo chamando,
acaba choramingando, como a perdiz .

Quando deitada ela está sob você,
com as costas da mão deve bater-lhe
entre os seios, gentilmente,
a paixão crescendo, deixe que os golpes
sejam mais fortes e rápidos: é Apahasta.

Se hábil aplicado, este golpe
há de arrancar uma raga
de arrulhos, gritos e soluços.
Se você a machucar, que ela fique furiosa,
revidando golpe a golpe.

Os gritos de amor não precisam
obedecer a qualquer ordem:
que ela tudo faça de improviso,
mas cada golpe desferido
deve arrancar um grito de prazer.

Se satisfação ela não tem
de Apahasta e outro lhe pedir,
na cabeça da amada bata
com os dedos encurvados:
é Prasritaka (o Capuz).

O alvo é excitá-la
tanto que os gritos “Hare Rama”
se prendam na garganta, virando
um trinado de vogais abertas e fechadas,
terminando em soluços estrangulados.

Você deve provocá-la
seus gritos imitando,
até que ela ria, e depois,
com unhas e dentes espicaçando,
lhe arranque efeitos mais extravagantes.

Quando sentir que o orgasmo se aproxima,
nas coxas dela bata e nos lados,
de mãos abertas, palmadas de Samatala.
Se o momento for exacto, há de ouvir
o ganso e a perdiz chamando o orgasmo dela.

Por natureza, os homens são mais duros,
mais cruéis e violentos que as mulheres,
sempre delicadas e tímidas,
daí porque o homem geralmente bate
e a mulher é quem grita.

Mas se a paixão a sufoca,
se uma postura especial a excita
ou se tal é o costume do país,
a mulher pode chover golpes no amado.
Mas tal coisa raramente acontece.

Quatro outros golpes são usados
às vezes: Kila (Cunha) no peito,
Kartai (Tesoura) na cabeça,
Vidram (Espeto) nas faces,
Samdanshikam (Tenaz) nos seios .

Tais golpes perigosos
são bem populares pelo sul.
Nos peitos dos sulistas e esposas
as marcas às vezes são visíveis
dos golpes desferidos no estilo Kila.

Mas os costumes do sul
não devem ser copiados por nortistas
curiosos. Vatsyayana diz: esses golpes
são antiarianos e impróprios ao homem de bem,
que deve encarar tal violência com desdém.

Nenhuma dúvida pode haver
que práticas que a membros quebrados levem,
à mutilação e à morte,
não podem ser justificadas, nem mesmo
aos que se recusam a vê-las como barbarismo.

Não é segredo que o Rei Chola
matou há pouco a cortesã Chitrasena,
ao golpeá-la no estilo Kila.
O Rei Shatkarni dos Kuntalas matou
sua rainha, Malyavati, com a Tesoura.

Naradeva, o supremo comandante
dos exércitos de Pandya,
de mão esquerda deformada,
um dia bateu à Vidvam numa dançarina,
errando o alvo, cegou-a de um olho.

Mas quando os homens a paixão inflama,
pouco se lembram de pensar
nos shastras ou nas consequências
de tão louca violência:
a paixão causa tais calamidades.

O sexo perturba o equilíbrio:
os anseios e loucas fantasias
que afloram à imaginação de um homem,
quando o amor faz, são mais estranhos
que os sonhos mais grotescos.

Como um cavalo, em pleno galope,
não percebe valas, muros e os poços
que margeiam seu caminho,
a fúria da paixão cega os amantes
aos males que unhas, dentes, punhos causam.

Procure sempre recordar
que a amada é bem mais fraca que você,
que paixão é bem mais forte.
E como nem todas gostam de apanhar,
duas vezes pense para usar golpes de amor.

Prazeres Orais

Os sábios condenam o prazer oral,
alegando que não é civilizado
e rigorosamente proibido pelos shastras.
Os homens doenças contraem, dizem eles,
ao beijar mulheres e eunucos após a felação.

Mas Vatsyayana diz que os shastras
não se aplicam no caso dos eunucos
(com o sexo oral a vida ganham)
nem em países de costumes diferentes.
Quanto às doenças, evitá-las é bem fácil.

Os shastras dizem ainda que são quatro
as bocas puras: do bezerro a mamar,
do cão de caça pegando a sua presa,
o bico do pássaro a fruta arrancando
e a boca da mulher enquanto faz amor.

Mas nesta questão tão delicada,
os shastras são contraditórios.
O conselho de Vatsyayana é agir
de acordo com os desejos, sua consciência,
os costumes da terra em que nasceu.

As oito técnicas da felação
normalmente se praticam na seguinte ordem:
Nimitta (Contacto),
Parshvatoddashta (Morder nos Lados),
Bahiha-samdansha (Pinça Externa).

Antha-samdansha (Pinça Interna),
Chumbitaka (Beijar),
Parimrshtaka (Golpear a Ponta),
Amrachushita (Chupar a Manga)
e Sangara (Engolir Tudo).

Quando a amada seu pénis captura
na mão dela, os lábios forma
num “O”, de leve os pousa na ponta,
a cabeça mexendo em círculos pequenos,
é o primeiro estágio, Nimita (Contacto).

Pegando a glande em sua mão,
ela comprime os lábios pela haste,
primeiro de um lado, depois no outro,
evitando que os dentes lhe machuquem:
é Parshvatoddashta (Morder nos Lados).

A ponta do pénis ela pega,
gentilmente, entre os lábios,
ora apertando, ora beijando ternamente,
a pele macia puxando:
é Bahiha-samdansha (Pinça Externa).

Ela deixa agora a cabeça deslizar
inteiramente para a sua boca,
a haste entre os lábios comprime firmemente,
por um momento parando, antes de puxar:
é Antaha-samdansha (Pinça Interna).

Quando ela pega o pénis em sua mão
e os lábios bem redondos
beijos dão por toda a extensão,
sugando qual faria com seu lábio inferior,
o nome que se dá é Chumbitaka (Beijar).

Se, ao beijar, ela deixa que a língua
por todo o pénis se esbata
e depois, em ponta, ataca insistente
a glande tão sensível,
vira Parimrshtaka (Golpear a Ponta).

Agora, pela paixão inflamada, o pénis
ela enfia bem fundo em sua boca,
puxando e sugando com vigor,
como se fosse da manga o caroço:
é Amrachushita (Chupar a Manga).

Quando ela sente que o seu orgasmo
é iminente e engole todo o pénis,
sugando, trabalhando, com os lábios,
com a língua, até o momento final,
é Sangara (Engolir Tudo).

Técnicas de Cunilíngua – Ratiratnapradipika
O santuário da amada venere
com as oito técnicas de cunilíngua:
Adhara-sphuritam (Beijo Trémulo),
Jihva-bhramanaka (Língua Circulando)
Jihva-mardita (Massagem da Língua).

Chushita (Sugar), Uchchushita (Sugar para
Cima), Kshobhaka (Remexer),
Bahuchushita (Sugar com Força) e Kakila
(o Corvo); improvisar com os dentes
produz infindáveis variações ao amor.

Com as pontas dos dedos, delicado,
aperte os lábios arqueados da casa do amor
e devagar, bem lentamente, os una,
beijando qual faria com o lábio inferior:
é Adhara-sphuritam (Beijo Trémulo).

Agora a arcada abra com o nariz,
deixe que a língua entre,
a yoni explore gentilmente,
o nariz girando, os lábios e o queixo:
é Jihva-bhramanaka (Língua Circulando).

Deixe a língua descansar por um momento
na arcada do templo o amor,
antes de entrar para o culto vigoroso,
fazendo a seiva dela escorrer:
é Jihva-mardita (Massagem da Língua).

Prenda agora os seus lábios
nos lábios da yoni da amada,
a beijos profundos se entregue,
mordiscando, ao clitóris sugando:
é Chushita (Sugar).

Com as mãos suspenda a bela bunda,
a língua o umbigo sonde, resvale
para girar suavemente na arcada
do templo do amor, e lamber a seiva:
é Uchchushita (Sugar para Cima).

Remexendo as lindas coxas,
que ela própria com as mãos segura
e abre o mais que pode,
sua língua adeja, a seiva sorve:
é Kshobhaka (Remexer).

Sua amada num divã estenda,
os pés dela em seus ombros, a cintura
pegue, sugue com força, deixe a língua
remexer o templo do amor a transbordar:
é Bachuchushita (Sugar com Força).

Se de lado deitados,
em direcções opostas,
as partes íntimas beijam mutuamente,
usando as 15 técnicas descritas,
é Kakila (o Corvo).

Comentários finais- Kama Sutra
Tão grande é o prazer que o corvo
às mulheres oferece que por sua causa
muitas cortesãs abandonaram
respeitáveis cidadãos e se ligaram
a escravos, machuts , a homens inferiores.

As mulheres encerradas em haréns
o Corvo acabam praticando.
Depravados praticam em segredo
com outros homens, íntimos seus,
deitados lado a lado, em mútua felação.

Jovens dândis que se exibem,
com brincos e outros ornamentos,
não são avessos a chuparem outros;
mas os mais hábeis nas artes orais
são eunucos, cortesãs ou as escravas.

O intercurso oral deve se evitado
por altos sacerdotes, brahmins, reais
ministros, reis, políticos, por quem tenha
posição e por sua reputação zele,
pois a ética é extremamente duvidosa.

Não é suficiente alegar que práticas
não são condenadas pelos shastras,
estes são conselhos para os casos todos
e inevitavelmente encerram ideias
que corrompidas ficam, se fora de contexto.

Nos textos médicos de Ayurvedic,
vai se encontrar a declaração
de que carne de cão é saborosa, nutritiva,
mas sinceramente isso implica
todos passarem a come-la?

Os shastras podem aconselhar com sensatez
em quase todas as questões sexuais,
mas se em dúvida estiver, respeite
as convenções de tempo, costume e lugar,
na própria consciência se apoie.

Como tais coisas na intimidade se fazem
e são mantidas em segredo absoluto,
como a paixão sobre a razão predomina,
quem pode saber o que alguém fará,
por quê, como, onde, quando, com quem?

Compatibilidade

Os textos sagrados divide
os homens em quatro classes,
mas Ama apenas três conhece,
a casta determinada pelo tamanho do pénis:
lebre, touro, cavalo.

Kama às mulheres classifica
como corça, égua ou elefanta,
a profundeza da yoni sendo a medida.
Corça com lebre, égua com touro,
elefanta com cavalo: são os pares ideais.

Com casais de dimensões
que bem não correspondam,
há seis graus de inadequação:
elefanta e lebre ou touro, égua
e lebre ou cavalo, corça e touro ou cavalo.

Uniões iguais são melhores:
conjunções extremas (elefanta com lebre,
corça ou cavalo) raramente satisfazem.
Com os pares restantes, o sucesso depende
em grande parte de temperamento e perícia.
Os temperamentos sexuais são três:
ardoroso, moderado e frio.

Um homem de fria natureza pouco desejo tem;
o sémen esguicha sem vigor;
sempre evita unhas e dentes da amada.
Homens ardentes o desejo não escondem,
os moderados sabem manter o controle.

Cada tipo tem o equivalente feminino,
às conjunções físicas acrescentando
nove possíveis relações de temperamento.
A perícia de amante, diga-se agora,
se avalia na medida
em que sabe prolongar o prazer do amor.

Amantes podem ser peritos, adequados e inábeis,
em mais nove aumentando as relações.

Falácia

No papel da mulher é que se concentra
a controvérsia pela necessidade de perícia.
Auddalaki diz: as mulheres
não encontram satisfação no amor,
apenas alegria de satisfazer os amantes.

A perícia no beijo e na carícia,
variação de posturas, o amor prolongado,
são coisas que aumentam o prazer de um homem;
mas as mulheres não precisam,
seu prazer é muito diferente.

Nenhum homem ou mulher saberá jamais
o que sente o outro exactamente no amor;
palavras jamais vão descrever,
mas o prazer do homem se encerra com o orgasmo
enquanto jamais termina o prazer da mulher.

Resposta

Por que então é um fato
que a mulher adora um homem que uma hora fica
e despreza aquele que se vai
em duas ligeiras investidas?
Não prova que o orgasmo ela também quer?

Falácia

Seria anormal, os cépticos dizem,
para uma mulher experimentar
prazer intenso, emocional, no amor,
mas não querer que continue.

E citam até os versos de Auddalaki:
“Na paixão do homem se abate
o desejo da mulher feliz,
não há beijo, carícia, arremetida
do falo que sua paixão sacie.
O prazer do homem é seu único prazer.”

Ao contrário do homem, diz Babhravya,
cujo sémen esguicha, ao final do prazer,
a seiva da mulher flui do início,
a toda fibra inundando de alegria;
não precisa assim de um longo amor.

Resposta

É Auddalaki em disfarce.
Se tal prazer ela sente, desde o início,
por que tão quieta fica no começo,
o corpo só aos poucos à paixão se entregando,
o que tanto a abala ao final?

A paixão da mulher não seria
como a roda do oleiro, a piorra da criança,
a princípio girando lentamente,
a velocidade aumentando, até explodir
na beleza indescritível do orgasmo?

O próprio Babhravya escreveu:
“O orgasmo dele é o final do seu prazer,
o ardor intenso dela não tem fim,
pois ambos devem se gastar na batalha do amor
e a seiva misturar, antes que a paz ela encontre.”

Como homem e mulher são humanos,
ambos absorvidos no mesmo ato,
por que o prazer seria diferente?
Vatsyayana conclui
que a mulher tem orgasmo, como o homem.

Falácia

Mas homem e mulher não são iguais!
Um homem é para a mulher
o que a mó para o moinho é:
são feitos de forma diferente,
naturezas opostas, papéis separados.

Não é absolutamente ridículo
dizer que homem e mulher,
divergindo um do outro,
tanto no corpo como no temperamento,
experimentam o prazer de formas diferentes.

Resposta

É mais que óbvio, até para Vatsyayana,
que homem e mulher são diferentes.
Ele também aceita que, por costume,
homens dominam, mulheres são dominadas,
o que há de se reflectir no ato do amor.

A natureza do homem é apregoar
“Estou fazendo o amor!”
A mulher arrulha: “Este homem me faz o amor!”
Mas o prazer, quando chega,
não sabe quem é a mulher, quem é o homem.

Quando os carneiros se chocam, de cabeça,
quando os galos se agridem,
quando lutadores se engalfinham,
o choque pelos dois se distribui;
assim também é, quando homem faz amor à mulher.

Não se alegue que carneiros são carneiros,
lutadores, lutadores, mas homens não são mulheres.
Homem e mulher o mesmo nervo são, mesmo sangue,
mesmo músculo, osso, tendão e alma:
não há diferença, por baixo da pele.

Linga e shaki feitos são um para o outro,
de que outro jeito vida nova nasceria?
O desejo junta homem e mulher num só amor,
numa ardente união,
criando um filho do choque partilhado do prazer.

Vatsyayana diz: toda mulher
a alegria do orgasmo deve conhecer.
Todo homem deve aprender as artes do amor,
o beijo, carícia, asanas, jogos de dentes
e das unhas, o prazer da amante antes do seu.

Como dois amantes jamais poderão
em tamanho, temperamento e arte se igualar,
não existem regras que governem o amor.
Só a experiência pode lhe dizer
que técnicas satisfarão que amantes.

O sábio também sabe que o prazer físico
não é o fim exclusivo do acto do amor.
Pode ser como música, atiçando emoções,
intensificando sentidos, dissolvendo
pensamento em ritmo, até que um só ritmo exista.

Vai fluindo, corações acelerando,
os lábios tremem na batida
de tambores na mais rápida marcha,
até que a própria música se dissolve
na sagrada e longa nota de silêncio.

O amor tem muitas yogas:
o contacto de dois corpos; virilhas presas;
a ruptura na separação;
o acalmar da respiração violenta;
a serenidade de corpo e mente.

Pessoas de inteligência e sensibilidade
vão achar tais comentários
suficientes para esclarecer o delicado assunto.
Para quem precisa de mais esclarecimento
as artes do amor agora são descritas.

Posições Sexuais

Se a amada é menor do que você,
posições de amor escolha
em que as coxas dela bem abertas fiquem.
Se ela puxa ao generoso,
use aquelas que as coxas se unem.

Se ela muito o sobrepuja,
o prazer lhe dê com um falo de ouro ou prata.
Mas se os dois à perfeição combinam,
cada postura conhecida se pode exaltar
nesta yoga deslumbrante de dois corpos.

Se a amada é menor do que você,
posições de amor escolha
em que as coxas dela bem abertas fiquem.
Se ela puxa ao generoso,
use aquelas que as coxas se unem.

Se ela muito o sobrepuja,
o prazer lhe dê com um falo de ouro ou prata.
Mas se os dois à perfeição combinam,
cada postura conhecida se pode exaltar
nesta yoga deslumbrante de dois corpos.

Posições Deitadas 

Grupo Utphullaka- Kama Sutra
A mulher corça mais prazer encontra
nas abertas posturas do grupo Utphullaka:
Utphullaka (Flor em Botão),
Vijrimbhitaka (Bocejo Largo)
e Indranika, da deusa Indrani a postura.

Em Utphullaka a mulher usa uma almofada,
quadris bem alto erguendo,
as coxas abre, o mais largo que puder.
Gentilmente a penetre,
sem ferir a ela, magoar a si mesmo.

Em Vijrimbhitaka as coxas são abertas,
as pernas se estendem para o alto,
os quadris na cama permanecem.
A yoni assim se expande, mas se inclina
para baixo, cuidado na entrada.

Indrani os joelhos ergue,
nas curvas dos seios se aninham,
os pés encontram as axilas do amado.
Quem é pequena esta postura adora,
mas uma deusa se faz com muita prática.

Grupo Utphullaka- Textos Medievais
Com as palmas ela pega e ergue a bunda,
as coxas abre, o mais possível,
põe ao lado dos quadris,
enquanto você os seios lhe acarinha:
assim é Utphullaka (a Flor em Botão).
(Ratirahasya)

Os tornozelos pegando
da mulher de quadris cheios, bunda
como abóboras maduras,
as lindas coxas erga
e bem estenda na abertura.

De desejo impregnado, em palavras doces,
dela se aproxime, seu corpo rígido,
arremeta direito para frente,
penetre o lótus, os corpos se unindo:
é Madandhvaja (a Bandeira de Cupido).
(Panchasayaka)

Os dois pés da amada agarre,
suspenda até os seios comprimirem,
as pernas dela um círculo formando.
Pelo pescoço a enlace e faça o amor:
é Ratisundara (Delícia de Afrodite).
(Smaradipika)

Os pés da amada erga até as solas
se encontrem paralelas
nos dois lados do pescoço esguio,
os seios pegue, o amor faça:
é técnica é Uthkana (Alto do Pescoço).
(Ratimanjari)

A linda esposa, na cama deitada,
os próprios pés segura
e levanta até os cabelos,
você lhe pega os seios e faz amor:
assim é Vyomapada (Pé no Céu).
(Ananga Ranga)

Seus próprios joelhos, segurando, sua esposa,
na cama estendida,
estica as pernas, os pés erguendo,
enquanto você comprime os seios juntos:
assim é Vyomapada (Pé no Céu).
(Panchasayaka)

A mulher de coxas roliças, na cama,
os tornozelos agarra, os pés bem alto ergue,
você crava até a raiz, beijando,
batendo com as palmas entre os seios:
assim se faz Markata (o Macaco).
(Srnararasaprabandhadipika)

De costas ela deita,
você senta entre os joelhos e suspende,
os pés dela engancha em suas coxas,
os seios pegue, faça o amor:
é Manmathpriya (Caro a Cupido).
(Smaradipika)

Entre as coxas da esposa sente,
as mãos na cama ponha, junto à cintura dela,
gire os quadris, ao fazer amor:
é Smarachakra (a Roda do Amor),
tão do grado de mulher mais ardentes.
(Ananga Ranga).

No leito do amor se estende,
braços, pernas estendidos, qual estrela-do-mar,
você se abate sobre ela, achatando
os seios, juntos os comprimindo:
é Ratimarga (Estrada do Amor).
(Srngararasaprabandhadipika)

Grupo Samputa- Kama Sutra
Se tem o pénis para uma mulher pequeno,
então use as posturas do grupo Samputa:
Samputa (a Caixa de Jóia),
Pidita (o Aperto), Veshtita (Entrelaçado)
e Vadavaka (o Truque da Égua).

Em Samputa suas pernas se estendem
junto às delas, em carícia de alto a baixo.
Sua amada põe por baixo,
ou os dois de lado estendidos,
mas neste caso que ela fique à sua esquerda.

Em Pidita as coxas dos amantes
se entrelaçam e se apertam, ritmadas.
Em Veshtita as coxas ela cruza
ou cada rola para dentro,
assim forçando o aperto da yoni.

Quando a amada como a égua
que , cruel, agarra o garanhão,
pretende e suga o seu pénis com vagina,
é Vadavaka (o Truque da Égua),
que só a longa prática aperfeiçoa.

Grupo Samputa – Textos Medievais
Quando amantes, as pernas estendidas,
rígidos, pés acarinhando,
fazem amor pelo desejo em seus corações,
sábios em Tantra chamam Samapada (Pés Iguais),
todos concordam se caminho para o êxtase.
(Ratikallolini)

Como estaca rígida, no meio da cama,
ela se estende no ato do amor,
arrulhando e gorjeando como a pomba,
a jóia do clitóris bem polida:
isto é Mausala (o Pilão).
(Srngararasaprabandhadipika).

Quando de costas ela deita,
as coxas juntas, comprimidas,
você lhe faz amor,
suas coxas além das coxas dela,
é Gramya (o Rústico).
(Ratirahasya)

Se envolvendo, aprisionando,
as coxas dela com as suas,
tão forte aperta que ela grita em dor,
é Ratipasha (o Nó do Amor),
que às mulheres sempre agrada.
(Smaradipika)

Os membros dela, nos seus entrelaçados,
como tentáculos de jasmim fragrante,
se contraem e relaxam lentamente,
no ritmo suave de linga e yoni:
é Lataveshta (Trepadeira Ardente).
(Ratimanjari/Ananga Ranga)

As pernas ela junta,
os joelhos contra os seios comprimindo,
a yoni, como o botão que desabrocha,
em oferenda ao prazer:
quem conhece chama de Mukula (o Botão).
(Srngararasaprabandhadipika)

Se ela ergue os joelhos
e os seus se prendem nas coxas levantadas,
um nó bem firme se formando,
enquanto a monta pela bunda sedutora,
ardente a beija, é Shankha (a Concha).
(Srngararasaprabandhadipika)

Grupo Bhugnaka – Kama Sutra
Suvarnanabha tem sequência de posturas
que derivam de Bhugnaka (Ascendente),
a mulher de costas se deitando,
as pernas alto levantando
e juntas, comprimidas.

Se ela cruza as pernas levantadas,
a postura vira Piditaka (o Aperto).
Se, alternativamente, os pés ela põe
sobre os seus ombros,
vira Jrimbhitaka (o Bocejo).

Se os pés em seu peito se apoiam e você comprime contra os seios
os joelhos dela, é Utpiditaka (Aperto Alto).
Se agora ela estende uma das pernas,
é Ardhapiditaka (Meio Aperto).

Se ela solta um pé, em Jrimbhitaka,
lentamente a perna estende até o fim,
torna a puxar, a outra perna estende
pela cama, até onde pode ir,
é Venudaritaka (Bambu Rachado).

Se o calcanhar ela põe em sua cabeça,
a outra perna estendida para fora,
alternando como acima,
é Shulachita (Assado no Espeto):
você o assado, ela o espeto.

Grupo Bhugnaka – Textos Medievais
Quando ela ergue os pés bem alto,
você ajoelha entre as coxas separadas
e faz amor, vigorosamente,
acariciando e comprimindo os seios,
é Ardhasamputa (Meia Caixa de Jóia).
(Ratimanjari)

Quando sua amada ergue as coxas cruzadas
e os calcanhares põe
num dos seus ombros, a bunda
ardentemente golpeada por seu pénis,
bem depressa, é Nagara (O Caminho da Cidade).
(Panchasyaka).

Quando, de costas estendida,
a bela amada os pés levanta aos seus ombros
e os mantém cruzados
ao ritmo de suas invertidas,
é Vanshadaraka (as Varas de Bambu).
(Smaradipika)

De costas ela deita,
as coxas se enganchando em sua cintura,
e você senta para entrar:
é Nagara (o Caminho da Cidade),
tão do agrado entre as chitrini.
(Ananga Ranga).

Se os pés você coloca
da amada no seu colo
e faz amor enquanto
a enlaça no pescoço,
é Ratilila (Jogo da Deusa).
(Ratikallolini).

Os pés dela junte,
contra o seu coração comprima,
a outra mão vagueando
por vales e picos do país dos seios:
assim é Priyatoshana (Delícia da Amada).
(Smaradipika).

Se agora ela balança, para a frente, para trás,
os pés contra o seu peito empurrando,
suas mãos entre as dela segurando,
enquanto a yoni se golpeia ardentemente,
então é Prenkha (o Balanço).
(Ratirahasya/Ratimanjari).

Se deitada de costas ela ergue
um pé para o seu ombro
e o outro você aninha em sua palma,
a mão livre lhe afagando os seios,
é Ekapada (Um Pé).
(Smaradipika).

A perna esquerda recta estendida,
ela ergue a direita e puxa para trás,
até que os dedos no colchão encostem, além
de sua cabeça. Faça amor, sem que o seu peso
a force: é Traivikrama (Passo Largo)
(Ananga Ranga)

Lado a lado estendidos, na cama,
um pé dela ao seu coração levante,
deixando a outra perna recta:
assim é Vinasana (o Alaúde),
postura que a mulher experimente adora.
(Ananga Ranga)

De lado deitados,
os corpos em carícia,
dos pés aos lábios,
levante um pé ao coração da amada,
assim penetre a sua yoni:
é Ratibana (Flecha do Amor)
(Ratikallolini).

Grupo Karkata – Yoga – Kama Sutra
Como um caranguejo, cruzando as pernas,
sobre a barriga, a sua amada
os pés levanta ao seu umbigo,
as solas se encontrando,
a postura é Karkata (o Caranguejo).

Grupo Karkata – Yoga- Textos Medievais
De costas ela deita,
membros estendidos, como o caranguejo,
braços e pernas se contraem, a puxá-lo,
com força apertando,
é Karkata (o Caranguejo).

Os pulsos dela agarre, estenda os membros,
sua língua acarinhando
os mamilos, a região entre as coxas,
abrace-a, os seios esmagando
contra seu peito: é Ghattita (Acariciando).
(Srngarasaprabandhadipika)

De costas ela deita,
você a abraça,
os braços passa sob os seus joelhos
para assediá-la, destemido:
é Nagapasha (o Nó de Cobra).
(Smaradipika)

Quando a amada os braços passa
sob as coxas levantadas
e os dedos se enlaçam por trás do seu pescoço,
seu rosto descendo para o beijo,
é Phanabhritpasha (o Nó do Encapuçado).
(Ratiratnapradipika)

Lábios sobre os lábios,
braços sobre os braços,
coxas sobre as coxas,
seu peito esmagando os seios dela:
é Kanakakshaya (Destruidor de Riqueza).
(Smaradipika).

Os dois com pernas e braços estendidos,
numa completa Kaurmasana,
ela por baixo, você por cima,
lábios, braços, coxas juntos, mãos unidas:
é Kaurma (a Tartaruga).
(Ratiratnapradipika)

De costas ela deita, os pés no alto
das coxas opostas;
pelo corpo dela passe as mãos, penetre
de repente, o prazer dê em golpes firmes:
é Padmasana (a Posição do Lótus).
(Ratimanjari).

Quando amantes de costas se deitam,
os membros adoráveis
em flor jungidos (pés cruzados em lótus),
no centro da cama,
se dá o nome de Vriksha (a Árvore).
(Srngararasaprabandhadipika).

De costas deitada, as pernas ela ergue,
os dedões agarra,
com força apertando,
você senta entre as coxas levantadas,
pelo pescoço a enlaça e faz amor.
É a famosa Sanyama
(a Controlada),

tão recomendada no Kama Sutra
de Mallanaga Vatsyayana
e por outros bem versados na arte do amor.
(Ratiratnapradipika)

De costas deitadas, a sua amada
os joelhos leva aos lados do rosto,
calcanhares na cama bem abertos,
expondo o cume triplo e orgulhoso da yoni:
é Shulanka (Trindente de Shiva).
(Ratiratnapradipika).

Posições Sentadas

Grupo Padmasana – Kama Sutra
Quando o pé esquerdo no alto se coloca
por cima da coxa direita,
o pé direito sobre a coxa esquerda sobe,
a postura do amor
é Padmasana (a Posição do Lótus) .

Grupo Padmasana -Textos Medievais
Se sua esposa põe o pé esquerdo
sobre a coxa direita
e vice-versa, as pernas cruzadas ergue
na direcção da barriga,
é Padmasana (Posição do Lótus).

Mas se apenas um dos pés
assim está cruzado,
na coxa oposta bem alta se prendendo,
enquanto a outra perna se estende,
é Ardhapadmasana (Meio Lótus).
(Ananga Ranga).

Quando você erecto senta, na pose do lótus,
as mãos aos pés pegando,
e sua amada os pés coloca em suas coxas,
os seios seu peito perfurando,
e faz amor assim, é Matsya (o Peixe).

Se firme e apertado neste abraço,
ela põe os pés na cama
e lentamente gira a lhe voltar o rosto,
sem romper a união,
é Jvalamukhi (o Rosto em Chama).
(Srngararasaprabandhadipika)

Sentada erecta, na cama,
se ela cruza os pés em prece no umbigo
e faz amor, apoiada
em suas coxas fortes lhe amparando a cintura,
é Kauliraka (Tantra-yoga Kauli).

Se durante Kauliraka
os pés você firma contra a cama,
a jovem amada balançando, gentilmente,
para a frente, para trás, é Prenkhi (o Balanço),
caminho pelo para a perfeita paz.
(Ratiratnapradipika).

Grupo Kaurma – Kama Sutra
Se vocês estão sentados em firme abraço
e ela se vira,
sem romper o ritmo do amor,
para abraça-lo por trás,
é o virtuoso Paravrittaka (Raviravolta).

Paravrittaka também é possível
em algumas posições de penetrar por trás,
mas tão difícil é
de dominar, tanta prática exige,
quanto a versão sentada.

Grupo Kaurma – Textos Medievais
Sentados, boca em boca,
braços coxas em coxas,
assim é o Kaurma (a Tartaruga).
Se as coxas dos amantes, juntas, se levantam,
é Paravartita (Virando).
( Ananga Ranga)

Se dentro da caverna das coxas dela
você senta, os quadris girando, qual abelha ,
é Markata (o Macaco).
Se, nesta pose, você se vira,
é Marditaka (Especiarias Moídas).
(Ratiratnapradika)

Ela senta com as coxas levantadas,
os pés se encaixam nos lados de sua cintura,
linga penetra yoni,
golpes fortes no corpo você lhe inflige:
é Kshudgara (Golpeando).
(Ratimanjari)

Quando sua esposa senta,
com os joelhos ao corpo comprimidos
e você esta postura espelha,
quem é versado na arte do amor chama
Yugmapada (o Jugo dos Pés).
(Ananga Ranga)

Sentada erecta, a bela dama
uma perna dobra contra o corpo,
a outra estende pela cama,
o mesmo você fazendo:
é Yugmapada (o Julgo dos Pés).
(Ratirahasya)

Com a perna esquerda estendida,
se ela lhe enlaça a cintura com a direita,
o tornozelo pondo sobre a coxa esquerda,
e tal postura também você assume,
é Svastika (a Suástica).
(Srngararasaprabandhadipika)

Na cama sentados, frente a frente,
os seios dela no seu peito comprimindo,
os calcanhares se engancham
por trás da cintura do outro,
e para trás se inclinam, pulsos segurando.

O balanço ponha em movimento,
a sua amada, em medo simulado,
a seu corpo aderindo com pernas impecáveis,
de amor arrulha, geme de prazer:
assim é Dolita (o Balanço).
(Srngararasaprabandhadipika)

Sentados frente a frente,
os dedos de seus pés os mamilos dela acariciam,
os pés dela em seu peito comprimidos
e fazem amor, as mãos se dando,
é Kaurma (a Tartaruga).
(Srngararasaprabandhadipika)

Sentada, a mulher ergue
um pé sobre a cabeça, na vertical aponta
e com as mãos o firma,
a yoni ao amor oferecendo:
é Mayura (o Pavão).
(Srngararasaprabandhadipika)

Sentado erecto, a cintura pegue da amada
e a puxe contra você,
as virilhas golpeando sem parar,
com o som do bater de orelhas de elefante:
assim é Kirtibandha (Nó de Fama)
(Panchasayaka)

Entre as coxas dela ajoelhado,
os seios coce, sob os braços,
de “meu querido amor” a chame,
marcas de unha lhe faça nos mamilos:
assim Jaya (Vitória) se consuma.
(Srngararasaprabandhadipika)

Grupo Bandha – Textos Medievais
Quando você senta com seus braços
e pescoço da amada enlaçando
e ela as palmas pressiona
contra o seu coração, batendo forte,
é Nagara (o Caminho da Cidade).
(Smaradipika)

Aos pescoços um do outro segurando,
sorvendo ternos beijos
do lábio inferior, como botão,
as coxas firmemente enredadas,
fazendo amor: é Pallava (a Folha Nova).
(Srngararasaprabandhadipika)

Quando sentado os braços você passa
sob as coxas levantadas da amada,
os dedos se cruzando por trás de seu pescoço
e assim lhe fazer amor,
é Sanyama (a Controlada).
(Ananga Ranga)

As mãos cruzando
sob os próprios joelhos,
os ombros um do outro segurando,
o duplo engate
se chama Bandhura (o Nó Curvo).

(Ratikallolini)

À sua frente sentada,
a amada passa os braços sob as próprias coxas
e dedos entrelaça por trás de seu pescoço,
o mesmo exactamente você faz,
é Bandhurita (o Nó Curvo)
(Ananga Ranga)

Se a amada seu pescoço enlaça
e seus braços entre os dela igual enlaçam,
assim fazem amor, bem juntos,
diz Kalyana Malla, Príncipe dos poetas,
é Phanipasha (Nó da Cobra).
(Ananga Ranga)

Posições de Pé

Do Kama Sutra

Vamos agora às posturas de amor
com que os escultores adoram nossos templos
Quando um casal faz amor de pé
ou se firmando em parede, numa coluna,
se dá o nome Sthita (Firmada)

Quando a mulher senta nas mãos do amado
aninhada, os braços ao pescoço enlaçam,
as coxas a cintura apertam,
os pés contra a parede em balanço,
é Avalambitaka (Suspensa).

Do Textos Medievais
Quando a amada pega e esmaga
na jaula dos seus braços,
os joelhos com os seus força a abrirem
e nela afunda lentamente,
é Dadhyayataka (Coalho Remexido).
(Panachasayaka).

Quando na parede ela se encosta,
os pés abertos, até onde possível,
e você entra na caverna
entre as coxas, ansioso pelo amor,
é Sammukha (Frente a frente).
(Ratiratnapradipika)

Se você numa parede encosta
e a amada as coxas trança pelas suas,
os pés em seus joelhos prende,
e seu pescoço agarra, fazendo amor
ardentemente, é Dola (o Balanço).
(Smaradipika)

Quando sua amada uma perna ergue,
o calcanhar deixando
aninhar-se logo atrás de seu joelho,
e você lhe faz amor, em braço vigoroso,
é Traivikrama (a Longa Passada).
(Ratiratnapradipika)

Se um joelho da amada você pega,
em sua mão, bem firme,
e de pé lhe faz amor,
as mãos por seu corpo acarinhando,
é Tripadam (o Tripé).
(Panchasayaka)

Se uma perna ela ergue
e o mimoso pé você pega,
os seios acarinhando,
dizendo o quanto a ama,
é Ekapada (Um Pé).
(Srngararasaprabandhadipika)

O seu coração o pé da amada pressiona,
seus braços a envolvem e sustentam,
as costas na parede se apoiam
e você desfruta a linda jovem:
assim é Veshta (o Envolvimento).
(Smaradipika)

Na parede ela se encosta,
as mãos em lótus nos quadris,
dedos longos ao umbigo se estendendo,
um pé você lhe pega em sua palma,
a outra mão seu anjo acarinhando.
Ao pescoço da amada passe o braço
e a desfrute, com ela à vontade.

Vatsyayana e muitos outros
que a arte do amor bem conheceram
à postura um nome davam: Tala (a Palma).
(Ratiratnapradipika)

Numa parede encostada,
a amada ao seu pescoço agarra
e os pés levanta,
em suas palmas, para o amor:
é Dvitala (Duas Palmas).
(Ratirahasya)

Se a amada você ergue,
seus cotovelos sob os joelhos dela,
a bunda lhe agarrando,
enquanto ela se pendura em seu pescoço,
é Janukurpara (O Joelho-Cotovelo).
(Ratiratnapradipika)

Sua esposa o pescoço lhe segura,
as pernas trança, na cintura sua:
assim é Kirti (Fama), uma postura
que não se encosta no Kama Sutra.
Jamais a tente se a amada muito pesa.
(Ananga Ranga).

Posições de Penetração por Trás
Do Kama Sutra
Se de quatro ela fica,
as palmas no tapete estendidas,
e você a monta como um touro,
acarinhando as costas, em vez dos seios,
é Dhenuka (a Vaca Leiteira).

Aos animais imitar divertido pode ser,
como cães, veados, bodes,
movimentos copiando, a seus gritos:
atacar abruptamente, como o asno,
as costas arquear, como gatos sensuais.

Como o tigre ataque; nas costas dela
lentamente suba, qual solene elefante;
pode grunhir, qual javali;
com orgulho a cubra, um garanhão:
são jogos que novas coisas ensinam.

Dos Textos Medievais

Para a frente ela se inclina e pega
a armação da cama, a bunda levantada;
suas mãos como serpentes se insinuam
e os seios junto apertam:
é Dhenuka (a Vaca Leiteira).
(Srngararasaprabandhadipika)

Se você a monta como um cão,
sua cintura agarrando,
ela se vira para seu rosto olhar,
quem conhece as artes do amor
chama Svanaka (o Cão).
(Srngararasaprabandhadipika)

Se a amada, pelo amor ansiosa,
de quatro fica, lombo erguido, como a corça,
e por trás você a desfruta,
como se a natureza humana perdesse,
é Harina (o Cervo).
(Panchasayaka)

Os pés em lótus,
no chão bem aparados, ela se inclina,
cada mão sobre uma coxa,
por trás você a toma:
é Gardabha (o Asno).
(Srngararasaprabandhadipika)

Se de barriga ela deita
e com as mãos você lhe agarra os tornozelos,
bem alto levantando e o amor fazendo,
o queixo para trás puxando com a outra mão,
é Marjara (o Gato).
(Srngararasaprabandhadipika)

De frente ela se deita,
com as mãos seus tornozelos pega,
para trás bem alto levantando:
a esta difícil postura quem conhece dá o nome
de Mallaka (o Lutador).
(Panchasayaka)

Quando sua amante deita,
seios, braços, testa no tapete,
a bunda bem alto elevando,
e você guia o pénis à yoni,
é Aibha (a Elefanta).
(Ratirahasya)

Bem alto você ergue os tornozelos dela,
ela se estica,
as pernas estendendo,
como pelo ar a rastejar:
é Hastika (o Elefante).
(Srngararasaprabandhadipika)

De quatro ela fica,
por trás você se põe,
um dos pés ao ombro leva,
a linda jovem desfruta:
é Traivikrama (a Passada).
(Panchasayaka)

Os pés dela alto erga
(como um carrinho de mão),
o pénis na yoni enfie
e a sacie com golpes vigorosos
é Kulisha (o Raio).
(Smaradipika)

De joelhos, como arqueiro,
em seu colo a pegue
e dobre para frente, até que os seios
nas coxas dela se comprimam:
é Ekabandha (Um Nó).
(Smaradipika)

De lado deitada, contra você virada,
a linda jovem, olhos de corça,
a bunda lhe oferece
e seu pénis entra na casa do amor:
é Nagabandha (o Elefante).
(Panchasyaka)

Amor Exótico – Kama Sutra
Suvarnanabha diz ser uma delícia
fazer amor em águas fundas:
os nós mais complexos, contorções,
posturas da yoga e do templo,
com prazer e fáceis se dominam.

Mas o conselho é sem valor,
diz Vatsyayana: contradiz ensinamentos
dos santos sábios, dos smritis,
por Gotama é proibido: “O casal
que na água copula será amaldiçoado.”

Quando você na cama faz um trio
com duas esposas que gostam,
é Sanghataka (o Par).
Se a muitas deleita a um só tempo,
é Goyuthika (a Manada).

Qual manada de elefantes
no calor do verão se refrescando,
uma incursão você faz com as esposas
a algum remanso de um rio, à sombra:
é Varikriditaka (o Jogo da Água).

O papel você assume
de carneiro, garanhão,
entre o rebanho das concubinas.
A mulher que aprecia dois ou mais
amantes desfrutar desse jogo vai gostar.

Nas montanhas em que vivem os Nagas,
em Balkh, Strirajya,
frustadas damas de casas reais
rapazes sempre atraem
e seus haréns, onde os escondem.

Uma rainha no colo de um homem senta,
enquanto outro a penetra
e mais um seu corpo cobre de beijos,
unhadas e mordidas de amor,
os três se revezando, até que ela se canse.

Em terras civilizadas, há que ressaltar,
essas sessões de orgia são prerrogativas
de cortesãs e prostitutas
só bem raro alguém ouve falar
de princesas se entregando aos sirdars.

Os povos das terras do sul
se afeiçoam à sodomia
e praticam livremente com homens e mulheres.
Sexo oral e inversão dos papéis
também aqui serão tratados.

Inversão de Papéis

Primeiro, os meios de excitar e saciar
uma difícil amante.
Comece por atraí-la para a cama
e a enleve com palavras doces,
antes de abrir furtivamente o nó da saia.

Se ela tentar impedi-lo, beije-a,
suplicante, até que o desejo prevaleça.
Quando seu pénis rígido subir,
faça-a senti-lo, gentilmente,
comprimindo e acarinhando as coxas.

Se for a primeira vez em que se deitam,
ela certamente há de protestar
quando a mão entre as coxas você estender
e prontamente as fechará:
acaricie até as coxas tornem a se abrir.

Embale agora as suspeitas
fingindo as mãos pelos seios atraídas,
a garganta, braços, os quadris.
Isto é muito importante com as virgens
que sempre exigem carícias infindáveis.

Se é mulher de experiência,
do recurso terá conhecimento,
pelos cabelos a pegue,
vire a boca para beijos,
nas faces plante mordidas de amor.

Se a amada é virgem,
fechados os olhos e tímida estará,
seu trabalho às cegas deve ser,
pois nos belos olhos das mulheres
quem sabe ler encontra segredos de amor.

Quando a carícia é vibrante,
os olhos dela para cima se reviram
em êxtase, ao que diz Suvarnanabha.
Deixe que os olhos dela a carícia escolham
e sua amada logo ardente há de ficar.

Quando para o amor ela estiver pronta,
as pernas pesadas há de sentir,
os movimentos lentos, langorosos,
os olhos ela fecha e comprime
o templo do amor contra você.

Você sente que o orgasmo dela é iminente
quando os braços começam a tremer,
o corpo de suor se torna lúbrico,
ela morde, arranha,
agita as pernas, incontrolável.

Se ao orgasmo você chega
enquanto ela à beira ronda,
o agarra, não o solta,
a amada em paixão desesperada
continua a arremeter, com frenesi.

Para que tal não aconteça
você deve prepará-la,
antes do amor, formando os dedos
em romba de elefante e acarinhando
a yoni dela, até molhada estar.

Durante o amor, dez golpes você pode
com o pénis desferir,
mas apenas Upasripta (Natural),
instintivo até para quem não conhece,
ao clitóris estimula plenamente.

É um golpe para cima bem suave
que se pode variar na profundidade,
rapidez, em ritmo subtil,
tão espontâneo,
que os outros nove jamais hão de alcançar.

Se o pénis você pega e move
em círculo na yoni,
é Manthana (Batedeira).
Se o pénis comprime, implacável, a yoni,
Quando golpeia bem fundo na yoni,
é Hula (a Faca de Duplo Gume).

Os quadris dela numa almofada erguidos,
se você desfere um golpe vigoroso
para cima, é Avamardana (Pontada).
Se o pénis comprime, implacável,
a yoni, é Piditaka (Pressão).
Se for completo você sai
e depois ataca, violento,
é Nirghata (o Tapa).

Pressão contínua num lado da yoni
é Varahaghata (Golpe do Javali).
Se por todos os lados você arremete,
como um touro os chifres enfiando,
é Vrishaghata (o Golpe do Touro).

Um tremor na yoni é Chatakavilasa
(Canto do Pardal), que o orgasmo anuncia.
À convulsão involuntária do orgasmo
se dá nome de Samputa (Caixa de Jóia).
Mas não há duas mulheres que o amor
igual façam e assim varie seus ritmos
pelos ânimos e cores da raga da amada.

Se o amor longo o esgota
antes que a amada o orgasmo alcance,
você deve permitir
que ela de costas o vire e monte,
a iniciativa tomando.

Se a postura a ela dá prazer
ou se você desfruta a novidade,
ela pode tornar a mudança em rotina,
embora cuidado extremo sempre tome
para a linga não sair do templo do amor.

Uma amante hábil os papéis
troca sem romper os ritmos do amor.
Se o amor você já fez,
ela pode bem fácil despertá-lo,
assumindo o papel de homem desde o início.

Pense um pouco: em você ela monta,
caindo flores dos cabelos desgrenhados,
os risinhos em ofegos se tornando,
a cada vez que se dobra para o beijo,
os mamilos seu peito perfuram.

Os quadris dela se remexem agora,
a cabeça, para trás jogada, mais depressa
se balança, ela arranha, com os punhos
o agride, os dentes lhe crava no pescoço,
em você fazendo o que tantas vezes fez a ela.

Ela grita, conquistadora inebriada:
“Você me doma, agora é humilhado!”
Mas o orgasmo a domina abruptamente,
os lindos olhos fechando,
ela a você se anima, outra vez mulher.

Quando o papel do homem assume,
sua amada escolher pode
três famosas técnicas de amor:
Samdmsha (a Pinça),
Bhramara (a Abelha), Prenkholita (o Balanço).

Se o Truque da Égua ela usa,
seu pénis com a yoni apertando,
comprimindo e afagando,
a mantê-lo por tempo infindável,
é Samdamsha (a Pinça).

Se ela ergue os pés
e os quadris gira, seu pénis
bem fundo na yoni circulando,
e você arqueia o corpo em sua ajuda,
é Bhramara (a Abelha).

Se agora os quadris ela balança
em largos círculos, fazendo oitos,
no seu corpo balançando,
como se andasse de gangorra,
é Prenkholita (o Balanço).

Quando a paixão se esvai,
ela deve repousar, à frente se inclinar,
a testa sobre a sua,
sem romper a união dos corpos:
o desejo logo há de renascer.

Dos Textos Medievais

O seu pénis segurando, a amada,
olhos revirados qual pétalas de lótus,
o guia para yoni,
a você se agarra, a bunda mexe:
é Charunariksshita (Bela Dama no Comando).
(Ratikallolini)

Em seu pénis entronizada,
as mãos na cama a amada põe
e faz amor, enquanto você
as mãos comprime no coração dela:
é Lilasana. (Assento do Amor).
(Smaradipika)

Sobre você ela senta, empertigada,
cabeça para trás, qual égua empinada,
os pés unindo,
na cama, ao lado de seu corpo:
é Hansabandha (o Cisne).
(Srngararasaprandhadipika)

A amada põe um pé
em seu coração, outro na cama.
Mulher ousada adora esta postura,
que no mundo se conhece
por Upavitika (Cordão Sagrado)
(Panchasayaka)

Se com um pé
preso em sua mão
e o outro em seu ombro,
a jovem dama o desfruta,
é Viparitaka (Invertida).

Se a amada, em você sentada,
os pés cruzados em lótus,
o corpo erecto, imóvel,
lhe faz amor,
é Yugmapada (Jugo dos Pés).
(Ratiratnapradipika)

Por cima de você sentada,
os pés cruzados, na pose do lótus,
ela cruza os braços por baixo
e as palmas no chão encosta:
é Kukkuta (o Frango).
(Srngararasapradhadipika).

A cavaleiro em você,
ela se vira e um pé em sua coxa põe,
o outro pé levantando
para um seu peito pôr:
é Viparitaka (Invertida).
(Ratimanjari)

Se em você ela senta,
de frente para os seus pés,
os pés dela às suas coxas conduzindo,
os quadris meneando em frenesi,
é Hansa-lila (o jogo do Cisne).
(Smaradipika).

Se a sua amada um pé coloca
em seu tornozelo, o outro aloja
logo acima de seu joelho,
e assim montada, os quadris mexe,
é Garuda (Garuda)
(Srngararasaprabandhadipika).

Se de costas você deita
com as pernas estendidas
e a amada o monta, ao outro lado
virada, os pés lhe segurando,
é Vrisha (o Touro).
(Srngararasaprabandhadipika).

Com os membros se enlaçando,
a beijar e a brincar,
em mil e um jogos de amor,
a amada seu papel usurpa:
é Valli (a Trepadeira).
(Srngararasaprabandhadipika)

Sobre você deitada, a amada
gira, como uma roda,
as mãos pela cama comprimindo,
seu corpo beijando, enquanto vira:
é Chakrabandha (a Roda).
(Srngararasaprabandhadipika)

Se, por meio de algum mecanismo,
a amada sobre você suspeita fica,
seu linga encaixa em sua yoni
e sobe e desce sem parar,
é Utkalita (Orissana).
(Ananga Ranga)

O Comentário Final

Mesmo a tímida, recatada,
que seus sentimentos oculta,
ao desejo simulando indiferença,
não pode evitar demonstrar sua paixão
quando sentada sobre um homem no amor.

Mas jamais assim brinque
com uma mulher menstruando
ou que acabou de ter um filho,
muito menos com mulher-corça,
grávida ou por demais pesada.

 

 

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-sexual/kama-sutra-texto-completo/ […]

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