Conexão ZosKia – Aliens

O contato imediato entre Magos e os seres de fora de nosso mundo é um fato há muito conhecido pelos interessados em Ocultismo. Quer seja o ser contatado do Espaço Sideral ou procedente de Espaços Interiores, eles representam em si aspectos da consciência que são a síntese do próprio Universo e que talvez seja o que há de perene nele: informação & dissolução, o velho jogo entre Thanatos e Eros. Sendo assim, cada magista que contata esses seres de outros mundos impregna de si a própria manifestação exterior do ser contatado. Isso explicaria o que seja popular e, digamos, erudito, em se tratando de contatos.

Essas visões e manifestações diferentes revelam também um pouco mais como a vida em seus diversos graus de evolução e consciência se dá como fenômeno e provam, talvez, que o próprio ser humano já fora alienígena à este mundo. Sejam deuses, anjos, demônios, gnomos, supermáquinas, todas estas visões foram se expressando de acordo com o lugar, época e pessoas que com elas fizeram contato. A interpretação que trata esses seres como Alienígenas, no atual sentido que compreendemos o termo, sempre existiu desde o antiqüíssimo passado. É o que vemos expressado, por exemplo, na Cabala e seu design de mundos interconectados; no Egito com seus deuses zoomórficos; no conhecimento sideral destes mesmos egípcios assim como dos Maias, dos Dogons da África, dos deuses astronautas dos Astecas, os seres divinos do Bön Po e da tradição Lamaista do Tibet relatado por Lobsang Rampa; assim como mais remotamente, na Suméria e sua tradição Tiphoniana.

Aleister Crowley e sua filosofia-mágicka, chamada Thelema, pertence à essa tradição Sumeriana, uma corrente mágicka que teve John Dee como antecessor direto de Crowley, como perscrutador de seus mistérios e busca de contato com seres ditos angelicais. E tanto Crowley como seus contemporâneos, principalmente aqueles que se engajaram nas fileiras renovadoras do que foi Thelema então, adentraram em uma verdadeira orgia de relações com seres alienígenas particularmente designadas então de “Inteligências Praeter-Humanas”.

No livro “Aleister Crowley e o Deus Oculto” Kenneth Grant escreve que Aleister Crowley “estava ciente da possibilidade de abrir portais espaciais e admitir a existência de uma corrente extraterrestre na onda vital do ser humano”, e que ao contrário do que outros iniciados de sua época chegavam a crer, essas forças não eram más e não queriam destruir a raça humana, mas investiam na expansão e evolução da consciência humana para torná-la cósmica, como salienta Robert Anton Wilson, que em seus escritos expõe tais conexões cósmico-consciência-thelemicas. Essa corrente leva consigo personagens como Ron Hubbard, Jack Parsons, Charles Stanfield Jones, Dion Fortune, Austin Osman Spare; assim como os expoentes mais recentes do ocultismo que inclui principalmente Kenneth Grant, Michael Bertiaux, tudo, pode-se dizer, seguidos de refrões de sucesso de Raul Seixas em parceria com Marcelo Motta.

Não podemos deixar de citar o background dos contos de H.P. Lovecraft que se interpenetra com H.P. Blavlastsk dando em J.J. Benitez, etc… Pensadores que fundiram espiritualidade e ufologia. Dentre todo o rol de magistas que tentaram contatos com seres extraterrestres, talvez aquele que tenha destilado a visão mais estranha destes seres alienígenas foi Austin Osman Spare. Encarando estes Aliens como seres interdimencionais, os quais viajam pelas frestas dos Universos, da matéria, do espaço, do tempo e da consciência, eles podem também podem possuir corpos como forma de traficar entre mundos sensações, conhecimento, energias e todo tipo de coisas que se pode trazer dos sonhos à carne e levar do Ser ao Não-Ser e vice-versa. A forma dos seres que se expressaram à Spare se aproxima bastante da descrição de entidades como o Mothman, que fora pesquisado por John Keel, ou como os alienígenas nomeados de Greys da casuística OVNI; seres extraterrestres que se relacionam intimamente no nível conciência-carne-medo-vácuo-matéria-caos… Seres sem nenhum vestígios de causalidade ou moral humana, seres que não podem ser compreendidos através da lógica, alcançando seus particulares objetivos somente se usando da loucura ou da crença cega que reflete a impotência da inteligência humana diante de tão dês-aforado lócus de ação por parte deles.

Particularmente em se tratando da criatura conhecida como Mothman que fez “fama” em suas aparições nos EUA no fim da década de 1960, é sabido que houve aparições deste em Londres nos idos do final do Século 19, mas precisamente na região de Piccadilly Circus Station, no centro de Londres. O que fazia lá, como fora atraído para o lugar, é como sempre uma questão que o pensamento humano comum não tem como responder, e talvez só se responda pela lógica da mística ou da própria loucura. Esses seres “entremundos” recordam-nos muito também os seres dos contos de Lovecraft, ligação que Kenneth Grant fez remetendo-se até a Anciã Paterson, iniciadora de Austin Osman Spare no culto da feitiçaria. Esses seres são feitos da mais pura essência do Necronomicon, o guia cósmico das aberrações interestelares. Seres, assim como a caracterização do Mothman feito por John Kell, parecem se alimentarem do próprio medo humano, vampiros psíquicos que se nutrem de emoções. Seres assim são citados inclusive pela tradição de alguns discípulos de Carlos Castãneda.

Tais parâmetros de contato e de seres, acrescido ao caráter especial de Austin Osman Spare, traz à tona o quanto mais tenebroso e intrínseco é o Fenômeno Alien e sua relação com o fator humano. É uma emanação que abarca Sexo, referência da lembrança humana de deuses, anjos e todo tipo de seres que desejaram e copularam com “as filhas dos homens”. Há também o congresso sempiterno da Carne que relembra o contato Alien carregado de mutilações e experiências cientificas com corpos humanos e animais, espécies de “êxtases feios”. Austin Osman Spare sempre aventa também o papel da Medicina, da Ciência, do Vírus, o que aproxima as referências aos agentes da desinformação no mundo OVNI, sempre munidos de tecnologia avançada e táticas de combate mental. Falamos dos misteriosos interventores conhecidos como Homens de Preto (MiB) e sua proximidade com os Irmãos Negros (Black Brothers), humanos que dedicam sua existência à construírem no Astral a engenharia necessária para a permanência indefinida de seu Ego (EU).

Em suas obras de arte, Spare retrata paisagens estranhas, de outros mundos onde habitam seres de uma estranheza inumana, parecendo seres vistos pela lente distorcida da mente que não os compreende em sua perfeição, uma carência estética humana talvez, ou simplesmente a distorção da compreensão máxima. Kenneth Grant escreve em “O Estranho Espírito de Zos vel Thanatos”, referente à Spare e o Culto de Zos Kia: “…Há um certo estado de consciência caracterizado por uma estranha perichoresis em que os sentidos mundanos, exaltados e infundidos com a Vontade magickamente carregada, i. e., dirigida, atraem influencias misteriosas do exterior.

A interação de elementos deste mundo com elementos de outro criam uma realidade ultradimensional Universo conhecido como Meon que só os artistas (ou Magos) mais sensíveis são capazes de responder de forma criativa…” Na obra que Spare busca representar aquilo que talvez seja o ponto de partida de sua inspiração místico-artística, tal obra é “Isis Sem Véu”, a figura dos mitos egípcios que representa o Infinito Espaço de Infinitas Estrelas, a morada dos Aliens. Enquanto que no livro-mor de Thelema, o Líber AL vel Legis (de 1904), já são explicitas as referências à alienígenas, outros mundos, tecnologia nuclear, et. al, já nos escritos de Spare tais referências são muitas das vezes subentendidas pelo véu da mística particular do Culto de Zos Kia. Assim podemos traçar uma linha de influência extraterrestre vindo através da Anciã Paterson, trazendo consigo a sabedoria de uma corrente mágicko-alienigena proveniente das paragens da América do Norte que fora herdada pelos nativos aos quais pertencia a anciã bruxa, tradição esta registrada pavorosamente nos escritos de Lovecraft e da qual Kenneth Grant pesquisou e descobriu ligações. A Sra. Paterson, como era usualmente chamada por Spare, migrou dos Estados Unidos para a Inglaterra, talvez fugindo do ambiente hostil de caça às bruxas das terras da outrora colônia, e então transmitiu ao jovem Spare essa diligência de outros mundos. Tal determinada espécie de conhecimento coincidentemente entraria novamente na vida de Spare quando mais tarde ele fora iniciado na Aurora Dourada e no pensamento de Thelema de Crowley. Conta-se que Spare só veio a aceitar de fato a revelação de “Líber AL” no fim de sua vida, mas Grant também nos revela que em certa fase de sua vida, Spare esteve totalmente devotado em fazer contato com seres alienígenas, buscando para isso os meio adequados. E esses meio segundo Grant, se revelam além dos grimórios que são cada uma de suas obras de arte e sigilos, mas também, e principalmente como sendo através da “Postura de Morte” como uma espécie de meio mediúnico para o contato interrealidades, uma forma de levar a consciência às plataformas de lançamento cósmicas para alcançar seres dispostos ao contato com os homens.

Dois parênteses: Primeiro, tais espécies de contatos a nível mediúnico, de forma mais tradicional, foram mais tarde efetuados com sucesso também pelo dito Grupo Rama nos Andes para contatar alienígenas e programar então avistamentos e até contatos do terceiro grau também. E segundo, em plena atividade nos dias de hoje, Michael Bertiaux, sacerdote Voodoo, identificou e em contatou, usando das mais diversas tecnologias mágickas-mediúnicas, os chamados Voltigeurs, seres esses que são caracterizados como reptilianos que saltam de mundo em mundo e que abarcam uma mística da lua. Parece-nos então que Austin Osman Spare foi um vetor muito especial de contatos com aliens, e seu Culto de Zos Kia então não poderia deixar de ser também um poderoso vortex que converge para si os portais de contato yóguicos da flexão da carne e da mente, uma espécie de crença astral e para o astral.

Com a influência Ameríndia através da Anciã Paterson e a influência Sumeriana via Aleister Crowley e Thelema, onde talvez o ponto de convergência seja não só o Necronomicon, mas também a própria ancestralidade humana neste mundo, que Spare explorou através da flexão dos atavismos, onde se pode perceber um verdadeiro rememoramento de “nomes mortos”. Então, do Oriente provém a Tradição Sumeriana via a síntese abrangente de Thelema, do Ocidente os eflúvios dos Mitos de Cthulhu, no meio de tudo isso o Greenwich de Zos Kia Cultus: a corrente xamânica que leva direto aos Alienígenas que sempre estiveram próximos ao seres humanos, em corpo, alma & Discos Voadores.

De todas estas escassas aproximações e fantásticos desdobramentos, a mente recua, mas as cartas estão na mesa. Anjos, Demônios ou Alienígenas, Inteligências Praeters-humanas, irradiações do subconsciente ou radiação do espaço sideral. Código Morse das estrelas refletida no DNA. Homens possuídos por deuses usando tecnologia e irremediando a realidade com vislumbres de outros mundo incapazes de habitarmos por simples leis físicas… Nikola Tesla pisou neste mundo… Heinrich Reich pisou nestas terras, Albert Einstein viveu aqui… Austin Osman Spare habitou aqui e lá, mas não viveu nem por isto e nem por aquilo. Ele traficou interrealidades através de uma arte alienígena a tudo, pois concretizou em caos e tinta sentimentos que não poderiam nunca coabitar com os homens sem pedir o pagamento do engrandecimento da visão humana que tem do vislumbre que é estar-aqui e do que está lá. A Ciência de mais baixa tecnologia que poderia haver abriu todos os canais de comunicação que poderiam existir com o Além/Alien, e essa ciência foi Arte, a expressão mais ferrenha e sem mentiras que possamos juntos fluir do Zos Kia Cultus.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-do-caos/conexao-zoskia-aliens/

Asas de Morcego: a arte de Koppay

Asas de Morcego: violação da eugenia e empoderamento da marginalidade na arte de Koppay

Shirlei Massapust

Por motivo de antiguidade e pertinência temática decidi realizar um estudo de imagem das xilogravuras (holzstich) da série Kraft und List, produzidas e/ou inspiradas pelo conceito original dum pintor de nome Barão Jószef Arpád Koppay von Drétoma (1859-1927), que assinava simplesmente Koppay.

Kraft und List significa “Poder e Astúcia” em idioma alemão. Nas versões de 1880 e 1982 a personagem List tem asas de morcego. Na última versão, datada de 1891, ela é apenas uma mulher normal. List tem pele branca e cabelos pretos, sem cachos ou frisos. Está sedutoramente recostada sobre o leão Kraft, embora lance um olhar feroz sobre ele. A fera desconhece o perigo, pois olha distraidamente para o nada.

Aparentemente Kraft pensa que é amado por List e se deixa domesticar, tendo uma corrente no pescoço, com função de coleira. Na Bíblia, o leão (Panthera leo) é o símbolo heráldico do rei (Provérbios 19:12 e 20:2), especialmente da classe governante da tribo de Judá (Gênese 49:9, Oséias 5:15; Apocalipse 5:5). Segundo Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, outros povos entendem que Kṛṣṇa é o leão entre os animais (Bhagavad Gītā 10:30). Buda é o leão entre os Shakya. O brasão do rei budista Açoca († 232 a. C.) tinha a efigie de três leões sobre um pedestal de roda. Tais são, ainda hoje, as armas do Hindustão. Ali, genro de Maomé, glorificado pelos xiitas, é o leão de Alé, razão pela qual a bandeira iraniana é estampada com um leão coroado. “Com a libertação feminina de nossa época, o leão soberbo e generoso tornou-se o macho falocrata, que não sabe ou finge não saber que seu poder é bem relativo[1]”.

Em todo os casos, leões iconográficos podem ser interpretados como pessoas. Koppay vivenciou um período conturbado da História. Nascido em Viena, capital da Áustria, sentiu-se subitamente rebaixado à nacionalidade austro-húngara com a dissolução do Império Austríaco, sucedido pelo Império Austro-Húngaro, resultado dum acordo entre as nobrezas austríaca e húngara que durou de 1867 até 1918. Era como se repentinamente os Estados Unidos integrassem o México e declarassem que todo mexicano teria igual direito à cidadania. O húngaro era historicamente valorado pelos austríacos como os colonos brasileiros perante os colonizadores portugueses.

Na primeira versão de Kraft und List (1880), a jovem mulher morcego de biótipo húngaro está pobremente vestida, com pernas expostas e pés descalços. Mesmo sem asas, num quadro subsequente a andrajosa List é facilmente reconhecida com seu traje esfarrapado e pés descalços, prestes a girar a maçaneta da porta dum prédio luxuoso. Esta maçaneta é um símbolo fálico[2]. List está cercada por um semicírculo de víboras. Um ramo de visco[3] sobre a porta revela a intenção oculta da visita.

Rudolf Lothar, na biografia Koppay Gebundene Ausgabe (1919), fornece o título Das Unheil (1982)[4] ou “A Calamidade” para tal xilogravura. Antigos cartões postais com reproduções de estampas colorizadas trazem o título Das Verhängnis ou “A Perdição”.

Seria List uma “perdida” entrando escondida pela entrada de serviço? Ou uma “calamidade” atravessando a porta principal, na qualidade jurídica de nova dona da casa, ostentando status de esposa do arrimo? Uma pessoa assim, ocupando o lugar da mulher de classe alta, olhando com um ódio nascido do ressentimento para a vizinhança que não aceita seu relacionamento com um nobre, nem sua ascensão social, era com um espelho que refletia todo o asco dirigido à sua laia.

Segundo Lothar, 1882 também foi o ano da censura dos pés de List na segunda versão de Kraft und List. Nela existe outra assinatura além da de Koppay, do coautor Mlanges, que assina junto à folha de palma (ou pena gigante) deitada sobre a cauda alongada do vestido que passa a cobrir a vergonha de List. Desde então a personagem não mais exibiria pernas e pés. Mlanges adicionou um cemitério ao fundo do cenário.

O meio artístico pressentia que o futuro reservava algo de terrível para a nação representada por Kraft. Faltavam trinta e dois anos para o início da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). A terceira versão de Kraft und List (1891) é tautológica[5]. A última produção de Koppay com pertinência temática foi Ein weiterer Sieg für die Mächte der Dunkelheit (1894) ou “Mais uma Vitória das Forças das Trevas” onde um exemplar masculino com asas de morcego e o mesmo biótipo de List aparece totalmente nu, carregando uma mulher branca caucasiana enrolada num lençol transparente. Ele voa levando-a para o fundo dum penhasco com neblina, onde acaba de pular. Uma estrela isolada, ou o planeta Vênus, brilha num céu carregado de nuvens nimbos estratos.

Apesar da ausência de chifres, rabo e forcado, e embora já houvesse descrições de vampiros que viram morcego em Portugal, é mais provável que List e Dunkelheit sejam sobrenaturais austro-húngaros da eterna espécie diabólica (Teufelin), composta de gênero feminino súcubo (sukkuba) e masculino íncubo (inkubus), e não do eveterno espírito (geist) que cria o vampiro (vampir) ao reentrar em seu próprio cadáver.

O Diabo é nada menos que um dogma, que depende de todos os outros. Modificar o eterno vencido não é o mesmo que modificar o vencedor? Duvidar dos atos do primeiro corresponde a duvidar dos atos do segundo, dos milagres que ele fez precisamente para combater o Diabo. As colunas do céu estão apoiadas no abismo[6].

Os anjos diabólicos existem desde o princípio dos tempos, conforme o folclore do século XIX, e não buscam companheiros humanos porque gostam de dormir com gente. O modus operandi organizacional da súcubo e da íncubo segue uma estratégia padronizada pelo serviço de inteligência da governança do Inferno. O objetivo é hibridar a linhagem adâmica para torná-la imprestável aos propósitos da ideologia monárquica e, consequentemente, promover mudanças sociopolíticas favoráveis à sua causa.

Esse mito, que nada tem de bíblico, atualiza a concepção original dos teólogos Heinrich Kramer e James Sprenger, no Malleus Maleficarum (1484), em contestação à teoria da desumanidade dos filhos de relacionamentos extraconjugais, quando o diabo usa alguém como instrumento, outorgando o poder de causar o mal por vias de fato.

Ademais, anjo agostiniano não tem sexo. Para suprir sua impotência sexual, o mesmo sobrenatural agénero teria o habito de solidificar-se como súcubo de aparência humana feminina para colher esperma de algum homem, sublimar-se e solidificar-se novamente como íncubo de aspecto masculino para ejetar o esperma recém colhido numa mulher. “Pode-se agora perguntar de quem é filha a criança assim gerada. Está claro que não é do diabo, mas do homem cujo sêmen recebeu[7]”. O súcubo-íncubo não faz mais do que manipular o genoma, produzindo “transmutações no sêmen[8]”.

Houve até um magistrado, o assessor criminal de Baiona (França), que deixou fazer o sabbat em sua casa. O senhor de Saint-Pé, Urtubi, foi obrigado a fazer a festa no seu próprio castelo. Com isso lhe ficou a cabeça tão abalada que imaginou que uma feiticeira lhe estava a chupar o sangue. Tendo-lhe o medo dado coragem, foi em companhia de um outro senhor a Bordéus, dirigiu-se ao Parlamento, os senhores d’Espagnet e de Lancre, fossem encarregados a julgar os feiticeiros do país basco.[9]

O filósofo e historiador francês Jules Michelet (1798-1874) verificou que a tradição da feitiçaria era múltipla e muito diversificada. Quanto mais próxima da Alemanha, onde o Diabo era forte, mesclado a restos de mitologia nórdica, afigurava-se mais pesada e sombria, “só gosta de animais pretos[10]”.

Ignoro o que foi produzido e exposto primeiro, se a primeira versão de Kraft und List (1880) de Koppay ou La chauve-souris (1880) do francês Albert Joseph Pénot (1862-1930). Porém o tema é o mesmo. Pénot se especializou em pintar nu artístico. Em muitos de seus quadros as mulheres voam, deitam ou flutuam sobre nuvens. Na cena de nu artístico de “A Morcega”, uma jovem de pele branca e longos cabelos pretos, com asas pretas, voa à frente dum céu tempestuoso. Diferentemente das demais personagens voadoras de outros quadros, a morcega é fisicamente idêntica a bruxa que voa sentada numa vassoura em Départ pour le Sabbat (1910), do mesmo autor.

Quadros La chauve-souris (1880) e Départ pour le Sabbat (1910) de Albert Pénot

Notas:

[1] CHEVALIER, Jean & GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos. Trad. Vera da Costa e Silva, Raul de Sá Barbosa, Angela Melim e Lúcia Melim. Rio de Janeiro, José Olympio, 1999, p 539.

[2] Toda fechadura é constituída de algumas partes. As exteriormente visíveis são a maçaneta, o espelho e a chave. Espelho é a placa com buraco onde entra a chave, que também suporta a maçaneta. Nesta xilogravura a fechadura tem espelho circular que compõe uma figura fálica em conjunto com a sombra do braço da personagem.

[3] Uma lenda que sobreviveu à civilização escandinava diz que duas pessoas que se encontram de baixo de visco devem se beijar para celebrar com amor a ressurreição de Balder (Balðr) no Ragnarök. Há uma tradição derivada em alguns países do hemisfério norte (Canadá, EUA, Inglaterra, Irlanda, Escócia) onde se um homem e uma mulher se encontrarem sob um ramo de visco, devem se beijar para trazer boa sorte.

[4] KOPPAY, MALER DER HIGH SOCIETY.  Resenha ilustrada publicada no blog Kunst Kommt Von Können, em 06/03/2009. URL: <http://kunstkommtvonkoennen.blogspot.com.br/2009/03/koppay-maler-der-high-society.html>

[5] A terceira versão de Kraft und List (1891) é uma pintura a óleo colorida. Não é uma xilogravura ou estampa colorizada derivada de impressão xilográfica. A inscrição Koppay – 1891, em letras de fôrma diferentes da assinatura usual, consta numa rocha quadrada com partes rústicas a serem esculpidas. Essa é a pedra angular que indica o conceito autoral duma obra inacabada pelo autor, concluída por outrem. Todavia, há mais perda de elementos iconográficos do que indícios de transcendência na variante. O cemitério de Mlanges foi descartado juntamente com as asas de Koppay. O fundo do novo coautor, cuja assinatura é ilegível, é um escuro túnel circular.

[6] MICHELET, Jules. Sobre as Feiticeiras. Trad. Manuel João Gomes. Lisboa, Edições Afrodite, 1974, p 17.

[7] KRAMER, Heinrich & SPRENGER, James. O Martelo das Feiticeiras. Trad. Paulo Froés. Rio de Janeiro. Editora Rosa dos Tempos, 1991, p 85.

[8] KRAMER, Heinrich & SPRENGER, James. O Martelo das Feiticeiras, p 87.

[9] MICHELET, Jules. Sobre as Feiticeiras. Trad. Manuel João Gomes. Lisboa, Edições Afrodite, 1974, p 190.

[10] MICHELET, Jules. Sobre as Feiticeiras. Trad. Manuel João Gomes. Lisboa, Edições Afrodite, 1974, p 369.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/vampirismo-e-licantropia/asas-de-morcego-violacao-da-eugenia-e-empoderamento-da-marginalidade-na-arte-de-koppay/

ABC da Umbanda

 

Água Fluida Nada mais é que um veículo preparado com elementos espirituais e da natureza, saturada por hábeis manipuladores do astral, com fins terapêuticos.
Amaci Banho purificatório na cabeça, feito com folhas, flores, mel, perfumes, ervas e outros, de acordo com orientação das pelo diretor dos trabalhos. Sua finalidade é auxiliar na incorporação e firmar o médium e seus guias nas correntes material e espiritual do Centro Espírita (Egrégora). É o começo da caminhada mediúnica no Centro Espírita escolhido pelo médium, para o seu desenvolvimento e de suas entidades.
Amuletos Objetos os mais variados possíveis em todo o mundo, tornam-se populares como “quebradores”  de olho-grande. Ao serem colocados em locais visíveis, alguns preparados para dissolver descargas negativas, são a primeira coisa a ser vista por aqueles portadores deste tipo de magnetismo pesado, recebendo em primeiro lugar, a descarga do mesmo. Ou seja, viram objetos de descarrego, de limpeza, absorvendo ou dissolvendo tais vibrações na entrada de residências.

Todos esses objetos e práticas auxiliam muito como paliativos, no teor magnético existente nas casas. Todavia, o mais importante é o tipo de ambiente que é criado pelas mentes que ali habitam. Se não, tornam-se inúteis ou de muito baixa influência.

Aruanda Lugar de onde veem os Orixás e as entidades superiores. No catolicismo é o céu. No Espiritismo são as colônias espirituais.
As Ervas As ervas, ao crescerem, absorvem as radiações do sol, da lua, dos minérios, enfim, de toda a natureza, e dos elementos espirituais, à semelhança da aura humana, daí o seu uso nos tratamentos, nas limpezas e na fixação de energias. Devem ser frescas, se possível, e nunca demasiadamente fervidas.
As Leis de Umbanda São 10 os princípios básicos que regem a Umbanda:

1 – Crença em um Deus único, onipotente, eterno, incriado, potência geradora de todo o Universo material e espiritual, adorado sob vários nomes.

2 – Crença em entidades superiores: Orixás, anjos e santos que chefiam falanges.

3 – Crença em guias, em planos médios, mensageiros dos Orixás, anjos e santos.

4 – Existência da alma e sua sobrevivência após a morte.

5 – Prática da caridade desinteressada, na busca de aliviar o Karma do médium.

6 – Lei do Livre-Arbítrio, pela qual cada um escolhe fazer o bem ou o mal, e o ser humano afiniza com sua faixa vibratória e a do ambiente que o cerca.

7 – O ser humano é a síntese do universo.

8 – Crença na existência de vida inteligente em todo o Universo, vivendo e habitando.

9 – Crença na reencarnação, na lei cármica de causa e efeito.

10- Direito de liberdade de todos os seres.

Benzeduras Nada mais são do que passes magnéticos. Nossos pretos velhos eram eficazes, assim como nossos índios. Utilizam-se de metais, água, ervas, saliva etc. como condutores desse magnetismo curativo.
Crendices Há crendices verdadeiras e falsas. Quando muitos dizem que determinada atividade é correta, deve-se analisar os fundamentos do ponto de vista científico e espiritual. Ou seja, devem ser analisadas friamente, sem serem repetidas, mecanicamente, sem discussão prévia. Certa vez ouvi que determinada imagem, dentro de casa, produziria efeito negativo na sexualidade feminina e coisas do gênero. Já falamos repetidas vezes que o que vale são os pensamentos e a magnetização dos objetos. Como foi comprovado, mais tarde, a dita imagem nada produziu de negativo, muito pelo contrário.
Defumação Nada mais é do que as plantas que, com todo o magnetismo absorvido da natureza, ao serem queimadas e suas emanações dirigidas por entidades encarregadas da purificação de ambientes, diluiriam fluidos pesados ou  atrairiam boas vibrações. Usam-se desde a tradicional arruda ou outras ervas, cascas de alho, açúcar, resinas aromáticas etc.
Elementais Sem eles a Umbanda não existiria. São entidades primárias, quase infantis na espiritualidade, sempre dirigidas por entidades superiores, habitando um dos quatro elementos. No fogo, as salamandras que trabalham nas áreas relacionadas ao amor, ao sexo, à amizade, à agressividade e à proteção. Na terra, há vários, sendo os mais conhecidos os gnomos, cuja atividade relaciona-se ao trabalho, à criatividade, à perseverança e aos bens materiais. As ondinas, nas águas, atuam na sabedoria, na doçura, nas atividades espirituais e mediúnicas. Nos ar, os silfos, ágeis e inquietos, dominam as áreas de saúde, da cura e do equilíbrio físico e mental.

Todos eles participam dos trabalhos umbandistas como auxiliares valiosos, e nas outras doutrina e religiões, muitas vezes, em discreto anonimato.

Elementares São diferentes dos elementais. São entidades primitivas em situação intermediária entre o animal e a racionalidade. Dirigidos por entidades, colaboram na limpeza, na guarda, tomando formas as mais variadas possíveis. São colaboradores dos Exus e boiadeiros, principalmente.
Exu e Quiumba Os quiumbas são malfeitores do astral, avessos ao bem e altamente perturbadores. Tanto que há concordância entre autores quanto ao fato de serem eles os verdadeiros executores dos trabalhos destinados ao mal. São os costumeiros “encostos” ou “rabos de encruza”. Fazem-nos pensar que muitos quiumbas mistificam, fingindo, em casas desatentas, serem Exus ou até mesmo Orixás, com fins de alcançar seus objetivos.

Os Exus, não. São eles que desmancham os trabalhos de magia negra, transportando magneticamente as mazelas, as dores e doenças físicas e espirituais, aliviando Carmas. Alguns Exus, por estarem ainda no início de sua evolução, como trabalhadores do bem, necessitam de orientação e doutrina, tanto pelo médium como pelos dirigentes dos trabalhos e devem ser colocados na disciplina da Casa.

Daí temos os Exus orientados, que não pedem sacrifícios, com oferendas mais simples, e aqueles que não tiveram uma colocação correta, que se acostumam com extravagâncias e exigências repletas de vaidades  humanas

Fases da Lua para Trabalhos A ação eletromagnética da lua é conhecida desde a mais remota antiguidade nos fenômenos das marés, na germinação e crescimentos das plantas, na poda de plantações, na fecundação de seres, nas alterações de humor e um sem-número de fenômenos. Já que se trata de trabalhos, com fins quaisquer, é natural que se escolham dias em que a força eletromagnética  da Terra, sob a influência lunar, crie um ambiente mais propício ao crescimento, ou não, do teor magnético nocivo ou benigno desses mesmos trabalhos.

Na lua minguante são entregues os trabalhos destinados a diminuir ou acabar com algo, tal como doenças ou vícios, dias esses com poderoso influxo magnético lunar de retração. Nos dias de lua cheia ou crescente, para trabalhos de crescimento, tais como os destinados a melhoria no trabalho, estudos, amor e saúde. Na lua nova não recomendamos, pois já é sentida a influência da passagem para a lua minguante.

Feitiço Infelizmente existe sim. São trabalhos feitos pela quimbanda com fins de prejudicar alguém, perfeitamente lógicos, dentro do ponto de vista magnético.
Como Evitar (Feitiço) Já vimos no conceito de magnetismo que, dependendo da sintonia que vibre em cada um, podemos assimilar o feitiço ou não. Nesses casos, quando a pessoa vibra em frequência mais elevadas, a onda do mal emitida tende a ricochetear e, muitas vezes, retorna a quem o emitiu, que, na realidade, vibra nessa faixa, pelo simples fato de Ter desejado o mal.
Há Nomes Que Não Devem Ser Ditos na Umbanda? Cada letra possui um som. Cada som produz uma frequência. A soma das letras produz um nome que poderá, ou não, formar uma melodia harmoniosa do ponto de vista espiritual. Todavia, antes de mais nada, não produz efeitos desastrosos se comparados ao teor de pensamento que exprime a palavra.
Imagens de Exus. Por Que Tão Assustadoras? Os Exus costumam tomar tais formas como meio de impor respeito e medo a espíritos inferiores (quiumbas) e, desta forma, facilitar o controle e vigilância que obtêm sobre estas mentes vinculadas ao mal, para que não perturbem trabalhos ou até mesmo lares e locais.
O Pensamento Tem Cor Segundo Ramatis: “A qualidade do pensamento determina-lhe a cor; a natureza do pensamento compõe-lhe a forma; e a precisão do pensamento determina-lhe a configuração exata” (Magia de Redenção, pág. 64). Dependendo da intensidade do mesmo, podem-se criar as conhecidas formas- pensamento, criações estas com volume, cor, som, verdadeiros marionetes espirituais de quem os criou. Na maioria das vezes, exprimem o verdadeiro interior de cada um, visíveis pelos guias que as analisam. São percebidas, também, pelos médiuns videntes e, muitas vezes, confundidas com entidades.
O Que é Pemba? Em sua origem, é um calcáreo extraído da terra, cuja finalidade é riscar os pontos que identificam a linha vibratória da entidade. Há diversas cores. A mais comum é a branca, que serve para todos, pertencente a Oxalá.
O Que é um Orixá? São divindades africanas diretamente relacionadas às forças da natureza. Seriam as falanges específicas que trabalham especializadas em determinado meio, como mar, céus, plantas, etc. Um Orixá é um regente de uma das forças do mundo material, sempre abaixo de Olurum (Zambi, etc.), o Deus Supremo. Fala-se, também, que seriam antigos governantes africanos tornados deuses após a morte. Na África há em torno de 600 Orixás. No Candomblé, 16. Na Umbanda 7.
O Que é um Orixá de Cabeça? O mesmo que Orixá de Frente. No Brasil, costuma-se dar uma pessoa a dois Orixás, normalmente formando casais, sem ser, com isso, regra. Em certos cultos, adotam-se três Orixás, os demais seriam conhecidos como “passagens”, exercendo menor influência. O Orixá de Cabeça corresponde à energia básica, fundamental, do indivíduo, dando-lhe características mais marcantes em sua personalidade. O segundo é o Adjuntó, de características mais sutis, muitas vezes amenizando o caráter o Orixá de Cabeça, que poderá Ter o caráter arrebatado por ser jovem e guerreiro. O terceiro seria o Orixá de Herança, que acompanha a família por algumas gerações.
O Que é Umbanda? Surgiu em 1908, no Brasil. Grosso modo, seria a mistura do culto congo-angola (misturado com o nagô), catolicismo, noções de Espiritismo, esoterismo, pajelança e até mesmo budismo. Umbanda quer dizer “Arte de Curar” ou “Magia”.
Objetos de Cera e as Velas A cera natural, vinda das abelhas, é impregnada dos fluidos existentes nas flores, em grande quantidade. Este elemento, vindo da natureza, é utilizado na prática do bem e do mal como matéria prima poderosa para somar-se com os teores dos pensamentos, tornando eficaz o trabalho e o objetivo ao qual se propõe. Comparada  a uma bateria, uma pilha natural, a cera sempre foi utilizada em larga escala na magia. A vela é considerada, na espiritualidade, como uma das melhores oferendas por ter, em sua função, os quatro elementos da natureza ativos, desprendendo energia. O fogo da chama, a terra ( através da cera), a água (a cera ao ser diluída desprende este elemento), o ar aquecido queimando resíduos espirituais. O umbandista não deve, jamais, retirar  nada da natureza sem deixar, pelo menos, uma vela para repor aos elementos mentais o fluido retirado do seu ambiente, em profundo respeito à criação divina.
Oferenda Na Umbanda trabalha-se com os quatro elementos da natureza: água, fogo, terra e ar, como matéria-prima básica. Manejados convenientemente, por entidades especialistas, promovem o equilíbrio, o descarrego, a harmonia. Na Umbanda, em respeito à natureza, nada pode ser retirado sem uma restituição ao elemento básico. Muitas vezes, ao entregar-se determinada oferenda, por afinidade fluídica, a mesma fica saturada dos fluido densos retirados do solicitante, pelas entidades. Assim, os Exús utilizam o álcool com fins de evitar os vícios do médium; o dendê, para evitar a desordem psíquica; a farofa, para trazer bens materiais (alimentação); a pipoca, para atrair doenças cármicas.
Orixá não é uma Entidade Um Orixá é energia vinda de um elemento primordial. Existem entidades que trabalham com essas energias e são especializadas nelas. São com tais energias que os umbandistas trabalham. Assim, mesmo que a entidade se identifique como Oxóssi ou Odé, não é o Orixá em si, mas está se identificando em sua linha vibratória. Isso explica porque pode, em um mesmo trabalho ou simultaneamente em vários locais, haver entidades com o mesmo nome.
Os Mortos Não são Orixás, podendo se tornar um guia, Exú, auxiliar ou anjo, de acordo com sua elevação espiritual. São chamados Eguns.
Pintura de Objetos Na escala de cores, cada qual possui uma frequência específica, daí o seu uso.
Ponto Riscado Identifica a origem da entidade, quais os seus domínios e a quem é subordinada. Risca-se com a pemba.
Por Que Despachar Objetos em  Água Corrente? Sabemos que a água é um dos mais poderosos elementos da natureza, no que se refere a sua capacidade de excelente condutor de eletricidade e fluidos quaisquer, sendo um poderoso solvente. Ao atirar-se o objeto saturado, a água de imediato absorve este teor magnético, levando-o, para longe do enfeitiçado (ou daquele que quer  livrar-se de objetos imantados). Assim, quebra os vínculos que antes existiam, por proximidade ou assimilação do dono.
Quebrantos /
Olho-grande (ou gordo)
Funcionam similar as pragas. Há pessoas que, de baixo teor espiritual e magnético, emitem, alguma sem desejar, poderosos feixes de caráter nocivo capazes de matar plantas, animais ou causar mal-estar em pessoas.
Quiumbas Espíritos de mortos sem luz ou esclarecimento, escravizados pelos seus próprios sentimentos em grande ódio e revolta. São as levas de obsessores existentes na espiritualidade, que induzem ideias maléficas aos vivos, apreciam fingir que são entidades iluminadas, quando não o são. Da mesma forma, são os verdadeiros executantes da magia negra e os vampiros do astral.
Ritual É um processo gradativo, onde se utilizam acessórios, os mais diferentes possíveis, até ser atingido o clímax desejado. Na verdade, assemelha-se a uma subida em uma escada, degrau a degrau, frequência a frequência, até a sintonia com as falanges desejadas, cujos objetivos podem variar sobremaneira.
Umbanda Cruzada Chamada de Quimbanda pelos umbandistas (ditos de linha branca) e macumba, os seus trabalhos ou feitiços. Cultuam dez a doze Orixás, dependendo da nação africana de origem, sendo que os Orixás “descem” pessoalmente, podendo haver, ou não, gira de caboclos e pretos-velhos em outros dias, intercalados. Fazem comidas (oferendas) mais elaboradas que na Umbanda Branca e sacrifícios animais. Nela é comum o jogo de búzios e rituais assemelhados ao Candomblé, feitos pelo pai ou mãe-de-santo ou babalorixá e iyalorixá. O vestuário é elaborado, há toque de instrumentos (algumas casas de Umbanda Branca aboliram), seu cerimonial e ritualística possuem maior quantidade de preceitos, proibições e quizilas (proibições alimentares). Cultuam-se os Orixás ligados à morte e aos cemitérios, fonte de energética de muitos trabalhos de magia negra, como Xapanã (Obaluaiê ou Omulu), Exu (Elebaras) e Iansã como dominadora de Eguns.
Umbanda de Branco/Umbanda Branca/ou de Cáritas Na verdade, varia infinitamente de casa para casa. Mas seus fundamentos básicos são que algumas casas se recusam a trabalhar com giras de exus, por considerá-los indisciplinados e só trabalharem com sacrifícios sangrentos, coisas que já sabemos incorretas, apesar de serem ideias muito difundidas. Existem sete falanges, denominados por Orixás, Yorimá (Pretos-Velhos) e Yori (Crianças). Na legião de Iemanjá haveria  Orixás comandando suas subdivisões, tais como Oxum, Iansã e Nanã. Em alguns locais, os Orixás não “descem” pessoalmente, mas são representados por Pretos-Velhos, Caboclos e espíritos de Crianças. Há rituais em matas, praias, pedreiras, cachoeiras etc. Nela foram abolidos rituais com sangue e magia negra.
Umbanda Religião Cristã Em seus princípios (Leis de Umbanda), há a crença em um Deus único e a caridade desinteressada, visto nos mesmos princípios do Evangelho de amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Jesus, por sua vez, ocupa seu lugar nas preces como o divino coordenador ou mesmo na figura excelsa de Oxalá, sendo Deus, Ifá. Por que, então, não considerá-la cristã?
Valor das Palavras na Umbanda A palavra, no antigo Egito, era sinônimo de criação. Tanto é verdade que uma palavra exprime uma ideia. Uma ideia, um pensamento. E um pensamento é onda emitida. Daí usar-se algumas palavras que exprimem complexos sentimentos carregados de amor, nos trabalhos de Umbanda. São os conhecidos mantras, na Índia.

Lembretes:

 O respeito à natureza é um dos atributos do umbandista. Em respeito aos Orixás e manutenção de seus locais, jamais deixe lixo de qualquer espécie após as oferendas, como sacolas, papéis, embalagens e garrafas de vidro.

Médiuns devem abster-se de ingerir, nos dias de trabalho, bebidas alcoólicas, comidas picantes, excesso de carne vermelha e, dentro do possível, evitar discussões e agitações de toda a espécie. As entidades de Oriente não admitem o consumo de carne de gado, porco ou carneiro pelo seu médium no dia de trabalho. Incluem-se também nesses itens o excesso de café, chás e chocolates.

Para as Oferendas:

  • Todos os itens da oferenda deverão ser comprados por quem os oferece, sem nenhuma exceção.
  • O local escolhido não poderá ter outras oferendas ou ter havido agitações ultimamente, com exceção das encruzilhadas que são muito ocupadas.
  • Cumprimente o local e as entidades que ali trabalham e estão assistindo à entrega, e sais respeitosamente, em silêncio, não se voltando para trás.
  • Não ofereça bebida gelada.
  • Tudo deve ser aberto, desenrolado, inclusive balas.
  • Pode-se acender ou não cigarros e charutos. A caixa de fósforo deve ficar ao lado, aberta.
  • Os Orixás não se preocupam com a quantidade de itens oferecida, mas sim com o axé mínimo para a troca fluídica e o valor da intenção do pedinte.
  • Peça justiça, nunca o mal de ninguém. A Umbanda não admite trabalhos voltados para o lado da Quimbanda.
  • Não devem ser comidos ou provados os itens da oferenda. O que foi preparada deve ser entregue ou, se sobrar, posto fora.
  • Os despachos (oferendas a Exu) devem ser entregues em um dos quatro cantos da encruzilhada. Alguns trabalhos, com a devida orientação, constam também no centro. Nunca faça, sem o devido preparo e aval das entidades, tais oferendas. Limite-se as velas, charuto e cachaças.
  • As oferendas deverão ser entregues a partir das sete horas da noite ou pela manhã, antes do sol firmar-se no céu, com exceção de Oxalá e Ibeji que aceitam em dia claro. Nunca deverão ser entregues a partir da meia noite, quando se nota maior acúmulo de entidades perturbadoras à procura de encarnados dedicados aos prazeres mais inferiores.
  • Nada será entregue durante a chuva. Podem ser entregues nas estiagens, nas horas em que a chuva cessa.

Fonte: Sociedade Espiritualista Mata Virgem. Curso Básico de Doutrina Espírita – Aula 33. ABC da Umbanda.

Texto revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/cultos-afros/abc-da-umbanda/

As stregoicas do castelo do Conde Drácula

Shirlei Massapust

Certa vez, muitos anos atrás, eu estava num shopping tirando xérox quando um homem que nunca vi na vida se apresentou como jornalista e depositou uma fotografia de Christopher Lee no balcão. Perguntei se me permitiria xerocar a foto também, para minha coleção de vampiros. Então ele anotou seu telefone atrás e gentilmente me doou aquele tesouro. Nunca telefonei. E nunca descobri quem são as três atrizes posando para nu artístico diante do ator vestido dos pés à cabeça.

No século XX a imprensa fazia ruidoso alarido sobre a virilidade do pródigo polígamo que tinha à sua mercê uma coleção de belas mulheres. Sérgio França resumiu o espírito da época numa curiosa edição retirada do mercado por decisão judicial em processo movido por Francis Ford Copolla contra um humilde e trêmulo editor brasileiro:

Essa é a essência do mito de Drácula, presente na totalidade das versões no cinema, na literatura, no inconsciente coletivo. O medo ancestral do hábito de morte e maldição nos dentes do vampiro, a sugar não só o sangue, mas a humanidade e o direito final de todas as pessoas — a morte.

Esse é o Drácula que retorna, o vampiro sempre presente: sangue e fogo; morte e amor — a real natureza do bem e do mal, da magia e do poder. Atitudes geradas pela liberação sexual de mulheres reprimidas. A vitória da sedução. Na verdade, a questão principal não é o efeito de Drácula sobre as mulheres, mas o fascínio que esse poder do vampiro exerce sobre os homens. E a despeito da eterna cena final dos filmes, Drácula sobrevive. Sempre.[1]

Em Drácula (1897) o conde não é o único residente num castelo na Transilvânia, Romênia. A poeirenta ala proibida para visitas era habitada por três stregoicas que, pelas atitudes e trajes, “se comportavam como damas da mais alta classe”.[2] Contudo, embora se comporte como arrimo da família provendo habitação e sustento, o Conde Drácula não parece sexualmente interessado em nenhuma das suas convivas. Quando flagra o trio em frenesi alimentar, aos beijos com o agente imobiliário Jonathan Harker, o vampiro expressa ciúme não por elas, mas por sua mais recente presa humana.

Tive a clara e imediata consciência da presença do conde e de sua explosão de raiva, violenta como a fúria de uma tormenta. Ao abrir meus olhos involuntariamente, vi sua possante mão agarrar a bela mulher pelo pescoço e com brutal violência arrastá-la para traz. Os olhos azuis como safiras expediam fagulhas de ódio, os dentes rilhavam e seu rosto agora estava rubro de paixão.

E o conde?

Eu nunca poderia imaginar tal expressão de ódio e de fúria, mesmo entre os demônios do inferno. Seus olhos estavam literalmente lançando chamas e seus lampejos sanguíneos eram sinistros, dando a impressão de que o fogo do inferno tivesse se concentrado em seu olhar. Agora seu rosto perdera o rubor anormal, se tornara mortalmente pálido e suas feições adquiriam uma rigidez de máscara mortuária. As espessas sobrancelhas que se tocavam por sobre o nariz pareciam formar um arco incandescente. Com um violento empurrão desferido por seu braço, arremessou a mulher para longe de si, e então investiu sobre as outras duas, como se as empurrasse para trás, mesmo sem tocá-las. Era aquele o mesmo e imperioso gesto que eu o vira empregar quando afugentara os lobos. E ele usou um tom de voz que, embora baixo e quase não passando de um sussurrar, parecia cortar o denso ar da sala.

— Como ousam vocês, qualquer uma de vocês, tocar esse homem? Como têm a audácia de se arriscar apenas para vir vê-lo, quando eu as proibi? Para trás, eu lhes ordeno! Esse ser me pertence! Fujam da tentação de se misturar com ele, do contrário terão de se haver comigo!

— Você nunca amou mesmo! Jamais amará!

Essas palavras foram apoiadas pelas outras duas, e as três, em uníssono, explodiram em uma nova, melancólica e cruel gargalhada que ecoou na sala de tal forma que por pouco não me causa um desmaio, parecendo-me antes uma demonstração de prazer demoníaco. Depois disso o conde voltou-se e, olhando firmemente em meus olhos, tornou a falar no mesmo tom sussurrado.

— Sim, eu também posso amar, e vocês mesmas o podem testemunhar através do passado. Não foi assim? Bem, agora lhes farei uma promessa… Depois que eu terminar com ele, as três poderão beijá-lo à vontade. Agora basta! Vão embora! Eu tenho de despertá-lo, pois há muito o que fazer.

— E nós não teremos nada esta noite? — perguntou ainda uma delas.

Ela deu uma breve risada, ao mesmo tempo apontando para um saco que fora lançado sobre o soalho e dentro do qual se debatia, como se ali se ocultasse algum ser vivo. O conde respondeu apenas movendo a cabeça, num leve aceno afirmativo.

Uma das mulheres deu alguns passos para a frente e abriu o pequeno fardo. Se meus ouvidos não me enganaram, ouvi um débil suspiro, acompanhado de um gemido, vindo daquela direção, como o som emitido por uma criança quase asfixiada. Em uma fração de segundo as três mulheres formaram um círculo em torno do local do ruído, enquanto eu estremecia de horror. Mas, quando voltei a olhar, elas já haviam desaparecido com o tétrico fardo.[3]

A minissérie brasileira Drácula – A Sombra da Noite (1985-1987)[4], com roteiro de Ataíde Braz e desenhos de Neide Harue Nakazato, foi a primeira adaptação onde uma das stregoicas ganhou um nome, Natasha. A segunda história é o único trecho fiel ao romance de Bram Stoker, com uma diferença significativa: As vampiras do castelo tem escrúpulos; ao invés de crianças elas só atacam assaltantes em legítima defesa.

Stregoicas, por Luis Royo.[5]

A primeira adaptação do livro Drácula para o cinema que os herdeiros de Bram Stoker autorizaram foi realizada pela Universal Studios Inc., em 1931. Nesta época não somente as stregoicas permaneceram anônimas como os nomes das atrizes Jeraldine Matilda Dvorak (1904-1985), Mildred Pierce (1908-1981) e Dorothy Estelle Triebitz (1906-1992) não foram listados nos créditos finais, em razão do papel secundário ser equiparado ao da mera figuração! As criaturas depravadas, com seios de fora, que mordem a virilha de Jonathan Harker (Keanu Reaves), em Bram Stoker’s Drácula (1992), ganharam coreografia personalizada, mas não identidades. Mas pelo menos os créditos mencionam as atrizes Michaela Bercu, Florina Kendrick e Mônica Belluci.

“Faça com que fique esquisito”, era a instrução básica de Francis a seu filho Roman Coppola, diretor da segunda unidade de Drácula de Bram Stoker e diretor de todos os efeitos especiais vistos no filme. Sem orçamento bastante para disputar com a tecnologia de ponta utilizada em marcos computadorizados (…) ele recorre a técnicas antigas, como (…) alçapões para o surgimento das noivas de Drácula de sob a cama. (…) Outros efeitos criados por Roman obedecem à tradição inicial do cinema — trucagem se dá pela maneira como a cena é realizada, não pela maneira como é filmada. Um exemplo claro é quando as noivas de Drácula se transformam numa gigantesca aranha humana. O “efeito”, ali, resultou de uma complicada coreografia, através da qual as atrizes criaram a forma da aranha combinando seus próprios corpos.[6]

Passaram cento e dez anos até o roteirista Stephen Sommers conceder o mínimo de dignidade às stregoicas, dando-lhes os nomes Aleera, Verona e Marishka no filme Van Helsing (2004). Interpretadas respectivamente pelas atrizes Eleana Anaya, Silvia Colloca e Josie Maran, elas fazem a diferença neste filme onde o conde quase fica em segundo plano. Aliás, tudo acontece porque Aleera, Verona e Marishka desejam superar a infertilidade natural da condição vampírica e criar enxames de bebês morcego.

Drácula ama Jonathan?

A interpretação de tal diálogo depende muito da permissividade e censura prévia dos editores e veículos de comunicação. Na Itália dos anos oitenta Guido Crepax (1933-2003) roteirizou e ilustrou o romance gráfico Conte Dracula (1987), onde fez Jonathan Harker queixar-se em desespero pelo vampiro tê-lo possuído como um animal cobrindo sua fêmea. Esse discurso discreto e minimamente gráfico foi a menção mais explícita a bissexualismo que pudemos encontrar desde sempre até décadas depois.

Noutro extremo, nos EUA do século XXI, a série Dracula (2020), adaptada por Mark Gatiss e Steven Moffat, dirigida por Jonny Campbell, Damon Thomas e Paul McGuigan, obedeceu à agenda progressista intrínseca ao período caracterizando o Conde Drácula (Claes Bang) como um monstro de gênero bissexual que se põe em posição passiva ao se relacionar sexualmente com homens hipnotizados.

Provavelmente a perspectiva menos incorreta era a interpretação majoritária das editoras paulistanas Continental (1959-1961), Outubro (1961-1966), Taika (1966-1978), D-Arte (1967-1993) e outras menos expressivas onde, nas inúmeras e intermináveis quadrinizações do Conde Drácula, o rei dos vampiros até poderia aparecer em posições sugestivas – ele frequentemente elogiava a beleza feminina,  –  todavia estava impedido por imposição de pacto demoníaco de se apaixonar, ou teria seus poderes reduzidos.

Romance de R. F. Lucchetti, sob o pseudônimo Brian Stockeler.

Nesta perspectiva vampiros extrairiam prazer do sangue e poder da maldade. Diferentemente do mitologema e folclore europeu, os vampiros dos principais títulos de quadrinhos brasileiros não faziam indivíduos eleitos para a conversão beberem sangue com propriedade de transposão de informação genética ou mágica, extraído de seus corpos. A reprodução (transformação) se dava por mordedura, como se eles fossem morcegos contaminados transmitindo vírus da raiva. Então o Conde Drácula precisa, ele mesmo, eliminar o perigo de concorrência todas as vezes em que não deseja que suas vítimas se transformem em novos vampiros e disputem território consigo.

Nos romances gráficos de Nico Rosso – especialmente naqueles roteirizados pela brasileira Helena Fonseca – o conde só morde mulheres e, a seguir, crava lâminas de ferro no coração da vítima para prevenir a explosão demográfica e concorrência pelo sangue dos mortais. Se algo der errado, caçadores de vampiros fazem serviço de utilidade pública eliminando restolhos antes que elas se tornem muito numerosas.

R. F. Lucchetti chegou a dar a um livro o título Os Vampiros não Fazem Sexo (1974), o qual originou uma versão em quadrinhos com desenhos de Nico Rosso.

Quando o Conde Drácula desobedece às regras do pacto e cai de amores por alguma mulher, não somente o Diabo vem pessoalmente lhe punir disparando raios como nascem poderosas vampiras boazinhas que atormentam a pós-vida do vilão, a exemplo de Naiara e Nadia, duas filhas de Drácula que ganharam séries próprias.

Voltando ao livro de Bram Stoker, imagino que todos os vampiros, machos e fêmeas, tinham interesse em humanos de qualquer sexo ou gênero; porém perdiam a chama da paixão por eles depois de conversos. — Repare que Drácula não procura Lucy após a conversão. — Se for verdade que uma ou todas as stregoicas foram noivas de Drácula, parece que eles passaram a viver sob regime de separação de corpos porque, embora o costume da época atribuísse à mulher o dever de realizar trabalhos domésticos, era o próprio conde quem limpava a ala do castelo onde somente ele vivia.

Um pesadelo inspirador

Pesquisadores descobriram que Bram Stoker não criou a parte da estória onde Jonathan é arrebatado pelas vampiras. Ele apenas descreveu um pesadelo sonhado em 08/03/1890, no qual “um rapaz vê algumas jovens; uma delas tenta beijá-lo, não nos lábios, e sim no pescoço”. Seis dias depois Stoker voltou a escrever sobre o assunto, já na intenção de produzir as primeiras linhas de um conto:

— “Será um sonho? Mulheres querem beijá-lo. Terror de morte. De repente o conde a afasta: ‘Este homem me pertence!’”

Houve quem sugerisse que a temível mulher era Florence Stoker. Um parente da família descreveu Florence como uma pessoa absorta, amaldiçoada por sua grande beleza e o desejo de preservá-la. Florence rompeu o noivado com Oscar Wilde para casar com Bram Stoker, mas, depois, o esposo preferia passar a maior parte do tempo viajando sozinho… A experiência da paternidade foi demasiadamente dispendiosa e o convívio foi se tornando cada vez mais problemático. Então, neste dia em particular, não foi só a comida indigesta que estragou sua noite. A antipatia pela pessoa real, em sua cama, fê-la invadir seus sonhos na forma de súcubo para exigir a atenção de um marido que não a amava mais.

Papéis descrevem os lugares que visitou, os livros que leu e os pensamentos que teve entre março de 1890 e fevereiro de 1986. O pesadelo esteve sempre presente nesses seis anos. Na redação final Jonathan observa que duas stregoicas possuíam “tez de um moreno dourado” e narizes aquilinos “à semelhança do conde”, detalhe que sugere parentesco consanguíneo.[7] Estas agregadas respeitam a hierarquia doméstica da mulher de etnia caucasiana, que abalou o sono do autor na pele do personagem:

Era dotada de rara beleza — o que de mais fascinante se possa imaginar sob a forma de mulher —, com uma farta e longa cabeleira de cachos dourados e olhos magníficos, da cor e com o brilho de safiras. Tive a impressão, embora indefinida e imprecisa, de já haver visto seu rosto e de conhecê-lo por meio de sua aparição em algum sonho tenebroso, do qual na hora não me foi possível lembrar.[8]

Infelizmente a diversidade genética nunca é representada nos filmes temáticos onde as stregoicas parecem todas iguais, modificando somente a cor da cabeleira lisa. A tendência nas produções cinematográficas do século XX foi o branqueamento da pele das personagens e redução do vestuário até o nudismo.

Notas:

[1] FRANÇA, Sérgio. Drácula: Sangue e sedução. Em: AS MELHORES HISTÓRIAS DE DRÁCULA. São Paulo, Bloch, 1993, p 31.

[2] STOKER, Bram. Drácula. Trad. Vera M. Renoldi. São Paulo, Nova Cultura, 2002, p 45.

[3] STOKER, Bram. Drácula. Trad. Vera M. Renoldi. São Paulo, Nova Cultura, 2002, p 46-47.

[4] A minissérie brasileira Drácula – A Sombra da Noite, com roteiro de Ataíde Braz e desenhos de sua esposa, Neide Harue Nakazato, foi lançada em cinco números pela editora Nova Sampa, indo às bancas de 1985 a 1987. Em 1989 os dois primeiros números foram relançados com novas capas. Em 1991 a minissérie completa foi reunida em um grosso volume. Uma nova edição está prevista para 2022.

[5] COOL WALLPAPERS. Acessado em 21/04/2022. URL: https://coolwallpapers.me/picsup/6058417-art-moon-luis-royo-girls-vampires-vampires-blood-cemetery.jpg>.

[6] RONDEAU, José Emilio. Drácula: Delírio sangrento. Em: SET: Cinema e vídeo, Ano VII, N.º 1. São Paulo, Editora Azul, janeiro de 1993, p 18-19.

[7] STOKER, Bram. Drácula. Trad. Vera M. Renoldi. São Paulo, Nova Cultura, 2002, p 45.

[8] STOKER, Bram. Drácula. Trad. Vera M. Renoldi. São Paulo, Nova Cultura, 2002, p 45.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/vampirismo-e-licantropia/as-stregoicas-do-castelo-do-conde-dracula/

As Rainhas Dragão

Lord A .’. (RedeVamp)
Excerto do livro Mistérios Vampyricos

Existe um relato intitulado “As Rainhas Dragão” que fala sobre os mitos de origem da Transilvânia, o qual descobri ainda na década passada, escrito pelo pesquisador David Wilson – mais conhecido como Awo Falokun Fatunmbi, um oraculista especializado no “Ifa” dos africanos. O artigo foi escrito como uma revelação recebida da parte de seus parentes, originários de Arad na Transilvânia, e que tinham o sobrenome Fenyes, cujo significado é “portador da luz”, mais ou menos como o “cohen” hebreu – tal sobrenome pode indicar uma função ritual nas respectivas culturas citadas. Logo no começo do artigo, somos apresentados ao avô Carlos Fenyes, advogado da família Habsburg, e seu filho Adelbert (Adelburt), que era médico da mesma família nos tempos que antecederam a Primeira Guerra Mundial – este também foi embaixador austríaco no Egito. Para quem não conhece os Hapsburg, eles foram a última família que ocupou o trono do Sacro Império Romano-Germanico; alegavam descendência de Cristo, bem como lhes era atribuída a posse da lança de Longinus, a qual inclusive teria perfurado o peito do Messias crucificado e tornava invencível quem a detivesse, tanto que na Segunda Guerra o próprio Hitler não sossegou até consegui-la. A lança também pertence aos mistérios do Graal e tem muita história – sua aparição mais recente foi na trama do filme Constantine, com Keanu Reeves.

Segundo consta, o título de Sagrado Imperador doado à tal família Hapsburg pela Igreja Católica comprou o silêncio deles em sua peculiar história familiar. Particularmente, dado o tom germânico, eu pensaria em Balder como ancestral totêmico e deus sacrificado, mas isso não importa. Segundo o próprio autor, ele detém provas externas acumuladas ao longo de quatro décadas de pesquisa e acredita que a história como nos é ensinada nas escolas, condicionada por interesses de controle político e filtrada pelo academismo e o pensar moderno, e bastante diferente daquilo que realmente aconteceu – e isso tem a ver com a posse de uma tecnologia espiritual que deveria ser um presente para todos e jamais monopolizada em benefício de poucos. E tudo isso pode ser encontrado na história da própria Transilvânia.

Historiadores dizem que a linguagem escrita começou na Europa há quase 5 mil anos; na Transilvânia, há amostras encontradas em sítios arqueológicos que datam de 10 mil anos atrás – estranho intervalo que parece ser ignorado pelos acadêmicos por romper a conformidade de suas ideias. Na mesma região, também foi encontrado um mapa de porcelana com características topográficas exatas. O mapa é impossível de ser datado, mas itens que estavam enterrados juntamente ao mapa foram datados como tendo 20 mil anos de idade. Então, no tempo em que os europeus supostamente estariam fabricando ferramentas toscas de pedra, também estariam forjando mapas em ajuste exato de escala. Alguma coisa está faltando aí, pois o mito da Criação da Transilvânia diz que um caçador seguia um antílope do norte da África até a região das montanhas do que agora é a Roménia.

Segundo David Wilson, existem evidências de que essa região era uma colônia de mineração do antigo Egito. Os egípcios sabiam, compreendiam e usavam os segredos da alquimia como base para o processamento do metal e a transformação do espírito humano. A história acadêmica tende a dispensar a noção da alquimia como uma ciência real, e a matéria recebe pouco estudo sério nos tempos de hoje. Alquimia, da palavra alkemit ou Ala kemit, significa “luz da terra de kemit” ou “luz da terra negra”. A terra do Egito ao longo do Rio de Nilo é rica em platina. Por um processo de fundição, os egípcios conseguiam extrair irídio da platina e, para Wilson, tal elemento assumia importante caráter sagrado nos ritos iniciáticos – permitindo que os adeptos pudessem ver Deus em um arbusto ardente, ou seja, ver através dos véus e realizar jornadas em duplo etéreo.

Na Transilvânia, os segredos da alquimia e desses mistérios eram guardados pelas misteriosas “Rainhas Dragão”, assim como no Egito – um curioso sacerdócio que se mistura com os dragonistas (escrevia assim há quase 20 anos, mas hoje prefiro draconiano) nesse estranho artigo. Suas origens jazem no imaginário atribuído aos “vigias” e “anjos caídos”, para os místicos, e nas estrelas cadentes e meteoritos, para os míticos.

Aparentemente, houve um dilúvio universal que teria exterminado tais sacerdotisas ou quem sabe uma raça com sangue de dragão. Mas aquelas que moravam na Transilvânia conseguiram escapar para as regiões que atualmente pertencem ao Iraque e ao Egito, conforme é narrado no próprio mito da criação da Transilvânia.

Todo mito de criação tende a ser etnocêntrico e especulativo. Em todo caso, a tradição das Rainhas Dragão existia nas regiões montanhosas da Romênia, na antiga cultura acadiana da Suméria e no começo das dinastias egípcias.

Bárbara von Cilli

David também aponta que o escopo de influência dessas mulheres abrangeu o sul da Europa, o norte da África e porções do Oriente Médio, que possuíam uma cultura única, composta de uma confederação solta de Cidades-Estados. Essa cultura recebeu nomes diferentes por historiadores pronomes que refletem a influência do deslocamento de poder entre Cidades-Estados mas falham na precisão da apreciação espiritual comum, ligações científicas e culturais que sustentaram o desenvolvimento desta região. As Rainhas Dragão eram responsáveis pela consagração ritual de reis na Bacia Mediterrânea. Elas possuíam templos no atual Iêmen, no oeste da Nigéria e no sul da França.

Antigamente um rei não podia reinar a menos que fosse ungido pelas Rainhas Dragão, o processo de unção era feito com uma mistura de gordura de crocodilo e sangue menstrual. As Rainhas Dragão tinham abundância de certos hormônios, que podiam ser usados para abrir o terceiro olho, dando ao rei ungido o dom da clarividência. A habilidade de se produzirem os hormônios necessários era considerada genética, então para ser uma Rainha Dragão era necessário também ser filha de uma Rainha Dragão.

Essas mulheres tinham poder de veto efetivo sobre aquele que iria reinar e, como consequência, a tradição desenvolvida fez com que as Rainhas Dragão se tornassem a primeira esposa do rei e, para proteger sua herança genética, elas se casariam com seus irmãos. Esta é a origem do termo sangue azul. Para manter o terceiro olho aberto, os reis ungidos precisavam ingerir regularmente um ritual preparado de sangue menstrual das Rainhas Dragão, assim eles fariam parte do tribunal real.

No Oriente Médio, as Rainhas Dragão viviam em comunidades chamadas Haréns, mas não eram as rameiras descritas na literatura ocidental. A tradição de beber sangue menstrual era chamada “fogo da estrela”, e tal cerimônia foi denegrida pela Igreja Católica pelas histórias de vampiros.

As Rainhas Dragão não eram mordidas por regentes demoníacos; elas preparavam suas poções com carinho e gostavam de beneficiar a comunidade. Acreditava-se que se o rei estivesse alinhado com seu mais alto self como resultado de contato com outras dimensões, ele reinaria em benefício do povo para manter-se alinhado com o plano original da Criação. Em outras palavras, a vida era feita para o benefício de todos. As Rainhas Dragão também eram as guardiãs do mistério da alquimia. A arte ancestral da alquimia foi tanto usada para transformar o metal quanto como medicina para iniciação. A alquimia é essencialmente o aquecimento da platina para fazer irídio.

Na Bíblia o “irídio” é chamado “maná”, que significa “o que é?”. O irídio ou mana era ingerido como parte de um processo ritual. O iniciado jejuava por 30 dias e ingeria mana por dez dias. No fim do processo, o iniciado era descrito como aquele que podia ver Deus em um arbusto em chamas. Essa iniciação é descrita no Livro do Gênesis, quando Moisés recebe os Dez Mandamentos. O processamento do “maná” exige fornos que geram grande calor, e as Rainhas Dragão podiam abrir portais interdimensionais para criar uma chama azul usada para fazer o “mana”. Essa chama tinha um tremendo calor, mas não queimava a carne humana, era chamada de “a chama eterna” e, uma vez acesa, não se apagava. O processo para fazer tal chama é descrito na literatura alquímica como a linguagem dos pássaros. Quando um portal interdimensional é criado vem a relampejar como um flash de câmera, e este lampejo é simbolicamente descrito como um espírito de pássaro. As Rainhas Dragão tiveram vários nomes que dependiam da cultura e região em que elas atuavam.

Esses nomes incluíam Isis, Hator, Maria e Sheba (como a Rainha de Sabá). Acredito que tenha existido um Jesus histórico, mas sua vida não possui uma precisão refletida na Bíblia. “Messias” quer dizer o “Ungido”, e esta é a palavra hebraica usada para descrever as iniciações das Rainhas Dragão.

Na cultura judaica, as Rainhas Dragão eram chamadas de “Maria”. Então, Jesus foi iniciado por Maria, sua mãe, e por Maria Madalena, sua irmã e esposa. Se olharmos para as tumbas dos faraós egípcios, notaremos que seus órgãos internos eram colocados em jarros separados. As Rainhas Dragão usavam esses órgãos como parte do processo de unção. A alquimia do “mana” é tal que, se você ingerir um órgão interno de alguém que faleceu, absorverá suas memórias e experiências de vida. Esta era a base para a crença de que os reis eram divinos. Eles literalmente recebiam a experiência coletiva de todos os seus predecessores. Por essa razão, o corpo de um rei ungido era importante para a instalação do próximo rei.

Alguns filmes e romances vampirescos até hoje trazem releituras dessa curiosa ideia ligada à antropofagia ritualística de certas culturas – incluindo algumas previamente mencionadas em outras páginas, tais como Schytes (Cítas) e os Getae.

Conforme anunciei é, sem dúvida alguma, um artigo que explora a mitologia e a história de forma audaciosa, embora duvido de que haja acadêmicos dispostos a fundamentá-lo ou oferecer algum detalhamento sobre os muitos tópicos lá presentes.

Reproduzi apenas a parte mais convergente para nosso estudo e com o tema deste livro. Mas aqueles que encontrarem o artigo na íntegra observarão apontamentos do autor que demonstram como o Império Romano decidiu criar imperadores sem a dependência das Rainhas Dragão o que os levou às suas políticas de extermínio ao longo do Crescente Fértil e da região da Galileia, para assegurar que nenhum novo rei ungido surgisse naquela região.

O autor também acredita que o corpo de Jesus foi removido da região e levado para o sul da França, para evitar que este caísse nas mãos romanas, o segredo da atual posse do corpo inclusive é guardado pela família do autor, no caso o David Wilson. Ele também explica que a história europeia é pautada no conflito entre os que regiam por iniciação obtida com as Rainhas Dragão e aqueles que regiam sob as bênçãos do papa que comandava a nova regra divina – sua aceitação levou um milênio e meio de confrontos e programas de extermínio em massa daqueles que estiveram reunidos com as “Rainhas Dragão”. Todas as cruzadas e mesmo a caça inquisitorial às bruxas teriam sido os tentáculos desse plano para assegurar o extermínio de todas as Rainhas Dragão e suas descendências.

Mas elas sobreviveram, mesmo que poucas, e seu alcance era longo, Wilson acredita que os Templários e algumas Ordens Monásticas ou de Cavalaria tenham sido criações veladas delas para preservar descendentes e recuperar artigos importantes do seu culto.

Eleanor de Aquitania

Gosto de pensar que talvez algumas rainhas, como Eleanor de Aquitânia (velada criadora do romance de cavalaria e por extensão do tantra ocidental incluso nessas obras) tivesse sido uma delas. Bem como muitas outras damas que vestiram o manto azul de Nossa Senhora e foram patronas de muitas dessas ordens; sincretismo é sempre uma ferramenta curiosa ao lançarmos nossos olhares rumo ao passado. Sábias dragonistas, hábeis em sua invisível arte, jamais se deixariam pegar fácil e certamente estariam por detrás dos meandros do poder. O que não me deixa esquecer de Bárbara von Cilli e até mesmo Elizabeth e Zsofia, da Famila Bathory, ao menos próximo do contexto vampírico que exploramos neste livro.

Como atribuir elementos míticos e místicos às chamadas Catedrais Góticas é tema recorrente no ocultismo, e próprio David Wilson aponta que elas foram construídas para guardar os segredos dessa alquimia das Rainhas Dragão e que sua grande Deusa era Ísis, velada nos subsolos como uma Madona Negra, onde povos nômades da Transilvânia secretamente iam rezar em suas rotas de peregrinação pelo mundo.

A beleza e a importância do culto das Madonas Negras bem como sua expressão da força maior são exploradas no blog Cosmovisão Vampyrica, em, www.redevamp.com.

Infelizmente, os Templários foram destruídos, como bem sabemos, e seu legado e sabedoria tomados pelos membros ávidos de poder do clero e da monarquia não iniciada nos mistérios das “Rainhas Dragão” e acabaram sendo desvirtuados em muitos lugares. O sacrifício de garotas virgens (e que ainda não houvessem menstruado) atos de pedofilia acabaram sendo algumas das práticas erróneas e criminosas mais comuns associadas com esse contexto.

As acusações de nobres beberem o sangue de terceiros – comum da parte dos protestantes para com algumas famílias no Leste Europeu – podiam ser verdadeiras, talvez fossem apenas propaganda política para intimidar adversários ou, ainda, quem sabe, tentativas posteriores dos descendentes do “Sangue do Dragão” tentando recuperar fundamentos que apenas sentiam o potencial para obter, mas que agora estavam fragmentados ou não acessíveis.

Em todo caso, o artigo de David Wilson se encerra com o autor em tom pesaroso pelo descaso dos administradores do museu criado por seu avô na velha mansão Fenyen em Pasadena, Califórnia, para com a rica história de sua família, que tem no brasão a imagem do Dragão Alado, das antigas Rainhas Dragão.

Um fato relevante é que no transcorrer dos séculos tanto a Igreja Católica romana, como a Reforma e o Protestantismo, e mais recentemente o partido comunista fizeram o possível para denegrir e destruir a herança pré-cristã da Transilvânia. Há uma perene influência ou sincronicidade com a cultura dos dragões da Suméria através dos Cárpatos.

O próprio David Wilson aponta em uma das postagens do seu blog que atualmente existem mais de 26 famílias que carregam o dragão vivendo na região. Vale observar que dragões e povos serpentes intervindo e interagindo com humanos existem em diversas eras e culturas – mais recentemente esses mitos são explicados como os anunnaki e outros alienígenas reptilianos na linguagem moderna – será que eles passaram por Marte antes de chegarem aqui?

Particularmente prefiro o tom conotativo dos mitos e ritos mais antigos.

Um epílogo ao Morte Súbita

Lord A:. em 31.05.2022

Meu livro Mistérios Vampyricos foi pesquisado e redigido entre os anos de 2003-2012 e publicado em agosto de 2014 como sabem. Ainda hoje o lançamento dele no stand da Madras Editora na Bienal do livro, em São Paulo, foi uma marca indelével – lembramos até o sabor do vinho chileno da festa. A obra foi bem sucedida. Reencontrar este trecho do livro em 2022 (quase uma década depois da minha última revisão) é como achar uma garrafa selada com uma mensagem dentro a beira mar. Agradeço ao Thiago Tamosauskas por reviver este trecho aqui no Morte Súbita.

Dragões, anjos caídos ou simplesmente estrelas cadentes e meteoritos? Todos são fascinantes per se! Eles encarnam aqueles relatos atribuídos a “Memória” ou a “Ancestralidade” que é escrita na pedra e no sangue; diametralmente oposta à história escrita em papel ou pergaminho.Que sempre serviu na maior parte das vezes para justificar alguns babacas possuírem as chaves do arsenal, da biblioteca, da prisão e do palácio – e quase sempre essa última chave sempre foi a mais importante para eles. Sem tudo isso esses caras são e sempre serão o que foram um bando de estúpidos. Essa abstração chamada humanidade sempre e em sua maioria foi composta por eles. Desde o neolítico e estes serviam para morrerem como água. E para alguns dos “nossos” transmitirem e ressurgirem através de nós em tempos melhores. Dizem que todas obras ocultistas da modernidade oscilam entre dois pólos – Phil Hine e Michael W Ford para iniciantes versus Kenneth Grant e Michael Bertiaux para quem manja. É o que dizem. No entanto, se ouvidam de uma Maria de Naglowska da vida e outras mulheres muito mais interessantes.

Ainda hoje uma taça de vinho a beira de uma fogueira na floresta em noite de lua negra oferece algo; que jurisprudentes e sacerdotes (abraâmicos) da história escrita pelos povos do livro jamais conseguirão apagar.Sejam generosos com o que lhes direi: ainda assim prefiro interpretar tais assuntos por viés do conotativo, do subjetivo, da alegoria, do simbólico e metafórico tão caro e precioso a alquimia. Então, ao concluírem a apreciação dos meus livros ou este texto não saiam por aí buscando no Mercado Livre por irídio, banha de crocodilo ou fazendo propostas pouco usuais para vossas mulheres. Sejam, digamos, mais razoáveis. Saber o mito não implica ter a receita do rito e do seu preparo ou condução. A vida adulta implica saber disso. E saboreiem mais noites de vinho e a luz de uma fogueira, com limões vermelhos jogados dentro dela antes de acender as chamas.

No livro falei e pontuei bastante o relato do grande David Wilson, ele usava seu nome civil nas redes sociais, na época que escrevi Mistérios Vampyricos; mas hoje é mais conhecido por seu nome religioso como Awo Falokun Fatunmbi e tem um trabalho extraordinário promovendo o Ifá e sendo babalawo na América do Norte. Para investigar e entender as origens de sua família húngara, seguiu curiosas visões de seus ancestrais que o levaram inesperadamente à África. Dentre muitos de seus livros Ancestral Memories, aprofunda seu relato sobre as Rainhas Dragões. Todas as suas obras publicadas falam por si e se encontram disponíveis, lá na Amazon e podem ser conhecidas neste link.

As tais Rainhas Dragões foram aquelas que nos primórdios eram avatares de grandes deusas em tribos notáveis e impérios destacáveis.Sua descendência, sua criação e suas dinastias eram de outra estirpe. O que nos leva a um “Sangue” ou ainda o papo de “Sangue-Bruxo” caro aos tradicionalistas bruxos ingleses. Também falamos de uma raça humana em aparência que figura em histórias de Lovecraft, Yeats, Machen e antes deles nas fábulas onde há seres feéricos. E que depois da idade média foram sintetizadas meramente como bruxas ou vampiras. É uma história talhada na pedra e no “Sangue”, não em pergaminhos delicados ou feitos para evitarem diálogos com o velho norte. O que mais posso lhes dizer sobre tais diálogos é o seguinte – quando o resultado dele parecer biografia e cronologia da editora Marvel, você já perdeu o fio da meada. É sobre lampejos e conexões.

Vocês podem chamar as Rainhas Dragões por outros nomes também, elas estarão lá como sempre estiveram. Estão aqui desde o início, como me confessaram incontáveis vezes.

Contos de fadas antigos e o folclore podem falar melhor disso do que textos acadêmicos – ou tabelas de ocultistas protestantes que juram saber até o cep de Lúcifer na Vila Madalena em São Paulo. Parem com isso! Falamos do que vem desde (pelo menos) o neolítico e jaz nos estratos e camadas cerebrais igualmente primitivas que habitam a camada dos imperativos do nosso cérebro, desvelando como somos mais irracionais e movidos por desejos realizados (ou não realizados) do que gostamos de pontuar e assumir nas redes sociais. Curtam o calor e a luz da fogueira, em uma floresta nas noites sem luar – saboreiem o vinho! Quem sabe no céu escuro anjos caídos, dragões ou estrelas cadentes e meteoritos não lhe contem tudo que estiver preparado para receber?


Lord A.’. é autor de diversos livros entre eles, Mistérios Vampyricos, Deus é um Dragão e a série Codex Strigoi. Desenvolve ainda uma série de iniciativas e eventos culturais para a divulgação da Cosmovisão Vampyrica e da comunidade vamp no Brasil bem como as transmissões da RedeVamp, o site redevampyrica.com, o podcast Vox Vampyrica, e a comunidade Campus Strigoi

Postagem original feita no https://mortesubita.net/vampirismo-e-licantropia/as-rainhas-dragao/

A Comunhão do Nosferatu

Este ritual é baseado em certas tradições de Magia Negra da Romênia, que, segundo a  lenda, haveriam sido legadas aos seguidores de Vlad Dracul, que as teria recebido do  Príncipe das Trevas.  Diz a lenda que Vlad, um Cristão revoltado contra as mentiras da Igreja, escolheu  identificar-se com o Diabo. Este ritual se baseia nas conexões entre vampiros e o Príncipe  das Trevas.

O “Self” na tradição dos Vampiros

O conceito de “Self” nas tradições vampirescas é geralmente o de “não-morto”, com suas  conotações de imortalidade e Segredo da vida e morte. Vampiros freqüentemente possuem  poderes físicos e mentais supra-normais, além de um certo gosto excêntrico.

A imortalidade é freqüentemente confundida com a recusa de morrer. O Vampiro/Magista  escolhe viver completa e intensamente esta vida, e não permitir que a sua consciência se  desintegre após a sua morte física. Esta sobrevivência da consciência não depende de  símbolos mágicos, nomes ou participação em diversos rituais. Depende apenas do  reconhecimento do próprio “Self” e da vontade de continuar a existir, o que ou onde quer  que seja.

O Sangue é muito importante nas tradições de Vampiros. Hoje, é visto como simbólico. No satanismo comtemporâneo de grupos como, a Ordem do Vampiro, a Igreja de Satã e o Templo de Set, não vêem significado no consumo ou no  escorrimento de sangue em sacrifícios.

O sangue simboliza “Vida”. O Mago Negro Vampiro é, portanto, visto como um magista  que deseja e pratica a mais alta Vida, enquanto reconhece as energias da Besta interior – as  energias primevas da Licantropia e da mutação, que formam outro aspecto da magia dos  Vampiros.

O ritual que se segue simboliza um despertar solitário e isolado para um estado  Vampiresco, e uma auto-iniciação ao Caminho da Mão-Esquerda. É um ritual que pode ser  adaptado ou alterado conforme as circunstâncias ou a inspiração de cada um. Como em  todo ritual mágico, cada um deve assumir seu próprio risco, já sabendo que uma prática  como esta não é adequada aos instáveis ou imaturos.

0 – Preparatio

  • Robe negro.
  • Vela negra.
  • Sino.
  • Cálice com líquido avermelhado.

Local: Um local em que você não seja perturbado.
Uma câmara escura, ou pintada ou coberta em  preto ou similar (ex: azul muito escuro). Ou uma floresta afastada. A escolha é sua.

Vestimenta: o ideal é o robe negro. A idéia é que você se torne o próprio modelo de  vampiro que existe na sua mente. Preste atenção em cada um dos seus sentidos: perfume,  vestimenta, música, oferendas.

Dê nove badaladas no sino. Nove, nas tradições de Magia Negra, simboliza a evolução  dinâmica até a perfeição.

Acenda a chama negra.

I – Invocatio

“Nesta noite negra, eu me torno um Vampiro: um mestre da vida e da morte.  Eu acendo a Chama Negra em honra ao Príncipe das Trevas, e me torno o Vampiro que  minha mente cria, ardendo em paixões na perseguição de tudo o que eu desejo.  Eu abandono as restrições do Caminho da Mão Direita, e com Vontade eu me dedico a  controlar o meu próprio destino. Eu agora encaro os testes e as tribulações do Caminho da  Mão Esquerda!

Eu me encho de Poder com a Essência do Vampiro: ser invisível, mesmo sob o dia  escaldante; saber quando ser silencioso, e quando orar; saber explorar por completo minha  psique!

Eu me desfaço desta maldição! Eu, o Vampiro (__nome__,) percorro o Caminho da Mão  Esquerda, e a minha Vontade é impenetrável!  Eu honro o Sangue, que é a minha Vida, e me torno mais do que fumaça e sombras.

Abram-se os Portais do Inferno! Diante da nobre presença do Senhor Negro, eu proclamo o  Juramento que me torna um Vampiro, juro ser verdadeiro para com meu próprio Ser e meu  Caminho escolhido  Salve, Vampiro! Salve, Senhor das Trevas!”

II – Graal Nigrum

O Cálice é o Graal Negro, ou a Taça Herética: a que é sempre buscada, mas raramente  encontrada.  O Graal deve estar cheio de líquido vermelho, simbolizando o sangue, como suco de  tomate, frutas vermelhas ou vinho. Sangria é um ótimo elixir!  Enquanto bebe o elixir, visualize-se apoderando-se dos Poderes das Trevas.  Você está comungando da sua própria essência e do Vampiro que é parte da divindade que  há em seu interior.

III – Fechando os Portais do Inferno  

Feche o ritual tocando novamente o sino, nove vezes.

IV – O despertar

Agora, iniciado nos mistérios dos Vampiros, você pode ver o mundo com olhos diferentes.  Após o primeiro ritual, você poderá ter algumas intuições sobre a natureza dessa magia e do  seu controle sobre ela, e de como moldar o seu destino. Contudo, alguma prática pode ser  necessária.

Algumas pessoas podem apenas se sentir tolas, por estarem se prestando a essa tarefa, ou  mesmo entediadas. Para essas pessoas, desejamos uma vida feliz e temos certeza de que  terão a vida que merecem.

Um Trabalho de Auto-Criação

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/satanismo/a-comunhao-do-nosferatu/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/satanismo/a-comunhao-do-nosferatu/

Yesod – Bem-vindo ao Deserto do Real

Publicado no S&H dia 4/jun/2008,

Continuando nossa série sobre desmistificação de demônios, diabos, encostos e afins, precisamos neste momento ao mesmo tempo fazer uma parada e estabelecer uma conexão com a kabbalah. Sem explicar o que é o chamado “Plano Astral”, será muito difícil entrar em detalhes sobre como exatamente funciona a mecânica por trás dos Anjos, Demônios, Devas, Asuras, Elementais, Exus, Anjos Enochianos, Fantasmas e Gênios.
Da mesma maneira, estava devendo para vocês uma explicação gnóstica sobre o filme Matrix, então este período do tempo-espaço em relação à coluna me parece o ponto exato para comentar três coisas aparentemente distintas, mas ao mesmo tempo intrinsecamente conectadas: Yesod, o Plano Astral e Matrix.

Tome a pílula vermelha e siga o tio Marcelo para descobrir o quão funda é a Caverna de Platão.

Yesod
Para os que fizeram os exercícios do Sefira ha Omer já deve estar bastante clara qual é a função de Yesod dentro das emanações divinas. Yesod se situa abaixo de Tiferet e entre Netzach e Hod. É chamada de “Fundamento” ou “Fundação” e funciona como um reservatório onde todas as inteligências emanam seus atributos, que são misturados, equilibrados e preparados para a revelação material. É compilação das oito emanações e forma o Plano dos Pensamentos, Plano Astral, ou a Base da Realidade.
Malkuth é o plano físico puro, chamado de Plano Material, que nossos sentidos objetivos podem ver, ouvir, cheirar, tocar e provar, mas incapaz de perceber qualquer tipo de consciência além disto. Malkuth é o mundo criado das ilusões para nos manter em torpor ou, fazendo nossa comparação, Malkuth é a Matrix.

Em Malkuth vivem os adormecidos. Pessoas que acordam, tomam café, vão para suas baias em seus trabalhos, trabalham, almoçam, trabalham, vão para casa, jantam, assistem novela, assistem futebol, dormem e no dia seguinte acordam de novo… fazem isso durante a vida toda, aposentam-se e morrem, sem nunca terem realmente vivido. Suas almas estão presas em casulos sem imaginação, sugadas pelo sistema que mantém a ilusão funcionando, tal qual é retratado simbolicamente no filme.

Yesod representa os bastidores da realidade. O mundo real na qual são programados os acontecimentos que surgirão no mundo ilusório. Para fazer uma analogia, imaginemos que Malkuth seja um prédio comercial. Yesod será, então, toda a fundação: canos, fios, dutos de ar, fosso do elevador, esgotos, toda a parte elétrica e hidráulica que faz o prédio funcionar. Quando se aperta um interruptor na parede, a luz da sala acende. Os ignorantes chamam isso de “coincidência”, mas qualquer pessoa que tenha um conhecimento maior de ciência sabe que, por trás daquele interruptor correm fios elétricos escondidos na Fundação e que, quando se aperta um botão neste interruptor, uma série de conexões simples são acionadas, fazendo com que a eletricidade chegue até a lâmpada, acendendo-a.
Magia é compreender como os condutores de energia da realidade material funcionam e apertar os botões certos para que as lâmpadas certas se iluminem.

Yesod representa a Intuição; o sexto sentido; o despertar. Infelizmente, assim como Morpheus diz a Neo no começo do filme, ninguém vai conseguir explicar para você o que é o Plano Astral. Você precisa ter esta experiência sozinho para compreender. E a maioria das pessoas passa sua vida toda como gado, inconscientes da realidade ao seu redor, como baterias inertes de um sistema controlado por egrégoras que mantém as pessoas ocupadas demais rezando para deuses externos, com medo de falsos diabos e trabalhando como escravas para mantê-las no poder. As famosas “otoridades”. No filme, são representadas pelos Agentes da Matrix.

Uma das melhores cenas do filme ocorre logo no começo, quando Thomas (Tomé, escritor do principal livro apócrifo) Anderson (Andras [homem]+Son [filho], ou seja, “Filho do Homem”, em uma analogia a Jesus/Yeshua) está dormindo diante da tela e aparece o texto “Acorde, Neo”. Esta cena resume a fagulha que vai despertar dentro de cada um de nós em direção ao Cristo; a Princesa dos contos de fada; a espada presa dentro da pedra, a Branca de Neve adormecida em um caixão de vidro.
Minutos após despertar, um hacker diz a ele “você é meu salvador… meu Jesus Cristo”. Simbolicamente, isto representa que mesmo esta pequena fagulha de controle sobre a realidade é suficiente para despertar seguidores, de tão perdidas que as pessoas estão.
As referências ao caminho do Sábio na Kabbalah continuam: quando Neo chega a nave (que tem o Nome de Nabucodonosor, o rei da Babilônia que no Livro de Daniel teve um enigmático sonho que precisa ser interpretado) cujo número de série é “MARK III NR. 11” (Marcos, Capítulo 3, versículo 11: “E os espíritos imundos, quando o viam, prostravam-se diante dele e clamavam, dizendo: Tu és o Filho de Deus”). Neo passa pela morte e ressurreição e finalmente, no final do filme, chega a Tiferet, “o escolhido”.

Para os gnósticos, o Deus Supremo (Keter) é totalmente perfeito, e, por isso, estranho e misterioso, “inefável”, “inalcançável”, “imensurável luz, pura, santa e imaculada”(Apócrifo de João). Para este Deus existem outros seres menos divinos no Pleroma (similar ao Paraíso, uma divisão desse universo que não é a Terra), que é dotado de um sexo metafórico masculino (Hochma) ou feminino (Binah).
Pares desses seres são capazes de produzir descendência, que são, eles mesmos, emanações divinas perfeitas em si mesmas (a analogia no filme é a criação de múltiplas matrix pelos computadores). O problema surge quando um EON ou Ser chamado SOPHIA (Sabedoria em grego, representado no filme pela Oráculo), uma mulher, decide “levar adiante sua semelhança sem o consentimento do Espírito” – que gera uma descendência sem sua consorte (Apócrifo de João).

A antiga visão era a de que as mulheres oferecem a matéria na reprodução, e os homens, a forma. Por isso, o ato de Sophia produz uma descendência que é imperfeita ou até mesmo mal formada, e ela a afasta dos outros seres divinos do Pleroma, levando-a para outra região isolada do cosmos. Essas deformadas e ignorantes deidades, as vezes denominadas DEMIURGOS (o Arquiteto, no filme), que equivocadamente acreditam ser o único Deus.

Os gnósticos identificam o Demiurgo como o Deus Criador psicopata do Antigo Testamento, o qual decide criar os Arcontes (Anjos), o mundo material (Malkuth/Terra) e os seres humanos. Embora as tradições variem, o Demiurgo normalmente é enganado dentro do alento divino ou espírito de sua mãe Sophia que antigamente vivia nele, dentro do ser humano (especialmente Apócrifo de João, ecos do Gênese 2-3).
Para os gnósticos, somos pérolas no lodo, espíritos divinos (bom) aprisionados num corpo material (mau) e num mundo material (mau). O Paraíso é nosso verdadeiro lar, mas estamos exilados do Pleroma.
Felizmente, para o Gnóstico a salvação está disponível na forma de Gnose ou Conhecimento, dado pelo Redentor Gnóstico, que é o Cristo, a figura enviado pelo Altíssimo para libertar a espécie humana do Demiurgo, tal qual Neo é o “escolhido” para libertar as pessoas do jugo do Arquiteto.

Quando Neo é desconectado e desperta pela primeira vez em Nabucodonosor, em meio a um brilhante espaço branco iluminado (linguagem cinematográfica para indicar o despertar), seus olhos ardem, conforme explica Morpheus, porque ele nunca os havia usado antes. Tudo que Neo havia visto até aquele ponto o foi através do olho da mente, como num sonho, criado através de um software de simulação. Tal como um antigo Gnóstico, Morpheus explica que a respiração (prana, chi-kung, tai-chi, reiki) conduz Neo pelo programa de treinamento de artes marciais e que não há nada a fazer com seu corpo, a velocidade ou sua força, os quais são todos ilusórios. Mais ainda, eles dependem unicamente de sua mente, que é real.

Ainda outro paralelo com o Gnosticismo, ocorre na figura dos Agentes, como o Agente Smith e seu opositor, o equivalente gnóstico de Neo e todos os demais que tentam sair de MATRIX. A IA criou esses programas artificiais para funcionarem como “porteiros” – os Guardas das portas – que possuem todas as chaves. “Esses Agentes são parentes dos ciumentos Arcontes criados pelo Demiurgo para bloquearem a ascensão do Gnóstico quando tentam deixar o mundo material. Eles defendem as portas em sucessivos níveis ao paraíso (e.g. Apocalipse de Paulo, Divina Comédia de Dante, textos Babilônicos narrando os sete infernos, a estrela setenária dos alquimistas e assim por diante).

Sobre a questão do Samsara, até mesmo o título do filme evoca a visão budista de mundo. MATRIX é descrita por Morpheus como “uma prisão para a mente”. É uma “construção” dependente feita de projeções digitais interconectadas de bilhões de seres humanos (egrégoras) que desconhecem a natureza ilusória da realidade na qual vivem, e são completamente dependentes do “hardware” implantado em seus corpos reais e dos programas (softwares/mapas astrais) elaborados (para fazer a máquina funcionar), criados pelo Demiurgo. Essa “construção” é parecida com a idéia budista do SAMSARA, a qual ensina que o mundo, no qual vivemos nossas vidas diárias, é feito unicamente de percepções sensoriais formuladas por nossos próprios desejos.
O problema, então, pode ser examinado em termos budistas. Os humanos são aprisionados no ciclo da ilusão (Maya), e sua ignorância acerca do ciclo os mantém atados a ele, totalmente dependentes de suas próprias interações com o programa e com as ilusões da experiência sensorial que ele provê, bem como das projeções sensoriais dos demais. Essas projeções são consolidadas pelos enormes desejos humanos de acreditarem que o que eles percebem como real é real de fato (para eles). É o mundo dos materialistas, ateus e céticos.
Este desejo é tão forte que derruba Cypher, que não pode mais tolerar o “deserto do real”, e procura uma maneira de ser reinserido na Matrix. Tal como combina com o Agente Smith num restaurante fino, fumando um charuto com um copo grande de brandy, Cypher diz: “Eu sei que este bife não existe; eu sei que quando eu o levo a minha boca Matrix está dizendo ao meu cérebro que ele é suculento e delicioso. Depois de 9 anos você sabe o que está mais claro para mim? Que a ignorância é a felicidade!” (Ignorance is Bliss).
A contrapartida é a vida monástica dentro da nave: comem uma gororoba vegetariana, vestem-se com trapos, não possuem bens materiais e treinam um kung fu que beira o sobrenatural. Possuem a humildade de quem já se despojou dos bens materiais, tal qual os monges do monastério de Shaolin.
Em determinada parte do filme, Morpheus diz a Neo, “há uma diferença entre conhecer o caminho e percorrer o caminho”. E como Buda ensinou aos seus seguidores, “vocês, por vocês mesmos, devem fazer o esforço; só os Despertos são Mestres”.
Para quem já está no Caminho da Iluminação, Morpheus é somente um Guia. Em última instância, Neo precisará reconhecer a Verdade por ele mesmo.

Reinos Subterrâneos
Na Antiguidade, o estado de consciência de Yesod era representado por Hades, o Reino Subterrâneo. Como tal, podia ser acessado apenas pelos seres chamados Psychopompos (“Condutores das Almas”), que eram apenas cinco: Hermes, Hecate, Caronte, Morpheus e Thanatos. Cada um deles descreve exatamente os estados de consciência que habitam o Plano Astral.

Comecemos por Morpheus, o senhor dos sonhos e o nome do Personagem de Lawrence Fishburn como condutor de Neo (que representa nossa consciência crística que deve ser trabalhada até nos tornarmos “o Escolhido”). Morpheus é o senhor dos sonhos, indicando que uma das maneiras de acessarmos o Plano Astral é durante o sono, quando conseguimos atingir os estados de ondas teta e alfa, necessários para atingirmos a chamada superconsciência (ou meditação profunda, ou transe, dependendo para quem você pergunta). Anote ai no seu caderno: Sonhos.

A segunda Psychopompos é chamada de Hecate, deusa dos Templos Lunares. Ela representa os aspectos da consciência atingidos através do Ajna Chakra (o sexto chakra). Hecate representa as danças sagradas, o sexo mágico, o tantra, o despertar da kundalini, os oráculos (tarot, runas…) e todos os Templos que lidam com a energia lunar/feminina dentro da magia. Hecate também é conhecida como a “Deusa Tríplice” (Trinity).
Anote ai no seu caderno: Oráculos e Magia Sexual.

O terceiro deus condutor de almas é Caronte. Caronte é o barqueiro que conduz os viajantes até os Reinos de Hades. A lenda de Caronte deriva das histórias do Barco de Ísis e das antigas iniciações egípcias onde os sacerdotes e iniciados eram colocados em transe nas pirâmides e tinham sua alma liberta do corpo para que vissem a si mesmos deitados aos pés dos outros sacerdotes e tomassem consciência de que eram espíritos habitando temporariamente um corpo físico. Quando fazemos Viagens Astrais induzidas, a sensação de se desligar do corpo no momento em que saímos do Plano Material é muito semelhante ao deslizar que sentimos quando estamos dentro de um barco. Desta maneira, Caronte representa as Viagens Astrais Conscientes. Tanto a lenda de Orfeu quanto a de Hércules (e também Dionísio, Psique e Enéias) representam iniciados em cultos Dionísicos e o despertar da consciência. Os Barcos Espirituais (tanto de Caronte quanto de Ísis) estão representados na forma dos Hovercrafts. Anote no caderno: Viagens Astrais Conscientes.

Hermes representa o Templo Solar, a magia atuando sobre a Luz Astral. Hermes representa o mensageiro dos Deuses, aquele que domina o caduceu (kundalini) e trabalha com a imaginação de maneira racional. Ele representa os grandes magos e conjuradores, os grimórios que lidam com a conjuração de espíritos, o contato consciente entre os que estão no Plano Material e os que estão no Plano Astral. Assim como Salomão, Eliphas Levi e Crowley, Hermes representa todos os iniciados e médiuns capazes de estabelecer contatos entre o Plano Material e o Plano Espiritual.
Como veremos na próxima coluna, o Caduceu e os Chakras representam a porta de entrada e o controle sobre as energias que atuam sobre Yesod e o Plano Astral. Hermes aparece no filme Matrix na forma de “Mercúrio”, como o espelho que engloba Neo e o guia através da jornada que fará o despertar final.
Anote no seu caderno: Mediunidade, Imaginação e Vontade atuando sobre a Luz Astral.

Por fim, temos Thanatos, deus da morte. Irmão de Hypnos (o sono), Thanatos representava a morte e os espíritos dos mortos, que eram transportados por ele até o Reino Subterrâneo. O Reino dos Mortos. Thanatos está representado na máquina que descarta Neo nos esgotos assim que ele desperta e Thanatos o reconhece como não pertencente àquele local. Anote ai como o quinto item: Espíritos dos Mortos.

A partir destas alegorias, podemos compreender que o Plano Astral é habitado por diversas criaturas, objetos, egrégoras, seres e entidades que possuem uma complexa e intrincada estrutura de organização, a partir das quais explicaremos todas as lendas, contos e bases de muitas religiões e filosofias espiritualistas.

Homens e Espíritos
Começaremos nossa jornada da comunicação entre homens e espíritos pelo Xamanismo. Há mais de 40.000 anos as tribos mais antigas conseguiam entrar em contato com o Mundo Astral de diversas maneiras. Seus sacerdotes comunicavam-se com os espíritos dos antepassados em busca de conselhos e indicações enquanto dormiam ou durante rituais envolvendo ervas capazes de alterar o estado de consciência dos participantes no ritual. Os xamãs também eram capazes de entrar em contato com o Reino Espiritual através de oráculos e rituais de conjuração de seres que eles chamam de Elementais.
Nas religiões Aborígenes (Austrália) e Tribais (Africanas), os nativos possuem o mesmo nome para designar o “Reino dos Sonhos” e o “Reino dos Mortos”. Nestas religiões, os deuses e os espíritos iluminados conseguem se comunicar com os sacerdotes através da mediunidade deles (fazendo conexões entre seu corpo astral e os chakras dos médiuns, os espíritos conseguem agir através do corpo de um médium). Além dos espíritos, outras entidades astrais (chamadas de Devas pelos hindus, Orixás pelos africanos e Elementais pelos celtas) também são capazes de incorporar um médium capaz de recebê-los.
Na Babilônia, os cultos a Astarte envolviam danças sagradas, sexo sagrado e contato com os mortos através dos oráculos.
Entre os hindus, o tantra fazia a ponte entre o despertar da kundalini e a iluminação do ser humano através do sexo sagrado. Com a abertura e desenvolvimento dos chakras, os praticantes tornavam-se canais poderosos de conexão com o cósmico, despertando habilidades consideradas sobrehumanas.
Os Egípcios conheciam como ninguém os desdobramentos astrais, potencialidades dos chakras, telepatia e diversas outras habilidades que são preservadas até os dias de hoje dentro das Ordens Iniciáticas como a Rosacruz, Templários e Maçonaria.
Entre os gregos, as sacerdotisas de Hecate também eram conhecidas pelo nome de Ptionísia ou Oráculo (mais uma conexão com o filme Matrix) e conseguiam estabelecer um contato entre os vivos e os mortos para obter conselhos e previsões.
Do ponto de vista ocultista, praticamente não há diferença entre um oráculo grego da antiguidade e um centro espírita Kardecista, salvo pela ritualística. Os princípios e os mecanismos envolvidos são rigorosamente os mesmos.
O rei Salomão utiliza seu conhecimento sobre o astral para deixar um dos maiores legados ocultistas, o Ars Goetia, ou os 72 espíritos (falarei sobre eles mais adiante, quando retornarmos aos trilhos dos posts sobre demônios). Chamavam estes conhecimentos de Arte Real. Paralelamente, temos os judeus e seu vasto estudo sobre a kabbalah e os 72 nomes de Deus (chamados vulgarmente de “anjos cabalísticos”). Salomão compartilha estes conhecimentos com a rainha de Sheba, que os leva para os Reinos africanos e mistura este conhecimento com as religiões tribais, dando origem aos cultos africanos que muitos séculos mais tarde dariam origem indireta ao Candomblé, Umbanda, Santeria, Vodu e Quimbanda. (explicarei em detalhes cada um deles em posts futuros).

Da Grécia, os oráculos chegavam até praticamente todos os pontos do mundo conhecido. Rituais de magia que lidavam com o astral são descritos em diversos poemas e praticados por comandantes, soldados e sacerdotes iniciados.
Dos romanos e dos celtas, este conhecimento também chegou até a Europa, onde as bruxas utilizavam-se deste contato para conversar com os antepassados, conjurar elementais e adquirir conhecimento e iluminação. As belíssimas obras de arte deixadas por todos estes povos são um retrato claro da interação entre vivos e mortos, espíritos e sonhadores, deuses e mortais.
Os nórdicos possuíam lendas a respeito das Valkírias, dos Einherjar, das runas e de toda a estrutura de contato entre os vivos e os mortos. Suas lendas refletem um profundo conhecimento dos iniciados a respeito da Árvore da Vida. Um dos cursos que mais gosto de ministrar é justamente o de runas, pois cada uma das 24 pedras do Oráculo encerra uma lenda rica e profunda; desde a famosa “Ponte do arco Íris”, guardada por Heimdall, que representa o caminho de Tav na Árvore da Vida, até a própria estrutura da origem das runas, provenientes do sacrifício de Odin durante nove dias (nove esferas fora do mundo material na Kabbalah).

Semana que vem: Vampiros, Encostos, Espíritos do Mal e Poltergeists.

#Kabbalah

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/yesod-bem-vindo-ao-deserto-do-real

Mapa Astral de Bram Stoker

Abraham “Bram” Stoker (Dublin, 8 de Novembro de 1847 — Londres, 20 de Abril de 1912) foi um escritor romancista, poeta e contista irlandês, mais conhecido atualmente por seu romance gótico Drácula, a principal obra no desenvolvimento do mito literário moderno do vampiro. Sempre estudando em Dublin, escreveu seu primeiro ensaio aos 16 anos e, em 1875 concluiu seu mestrado. Conseguiu se tornar crítico de teatro, sem remuneração, no jornal Dublin Eventing Mail. Em 1878 Stoker casou-se com Florence Balcombe, cujo ex-pretendente foi Oscar Wilde. Com a mulher, mudou-se para Londres, onde passou a trabalhar na companhia teatral Irving Lyceum, assumindo várias funções e permanecendo nela por 27 anos.

Em 31 de Dezembro de 1879 nasceu seu único filho, Irving Noel Thornley Stoker. Trabalhando para o ator Henry Irving, Stoker viajou por vários países, apesar de nunca ter visitado a Europa Oriental, cenário de seu famoso romance. Enquanto esteve no Lyceum Theatre de Londres, começou a escrever romances e fez parte da equipe literária do jornal londrino Daily Telegraph, para o qual escreveu ficção e outros gêneros. Antes de escrever Dracula, Stoker passou vários anos pesquisando folclore europeu e as histórias mitológicas dos vampiros. Depois de sofrer uma série de derrames cerebrais, Stoker faleceu em Londres em 1912.

Mapa Astral

O Mapa Astral de Bram possui Sol e Mercúrio em Escorpião; Lua em Virgem; Vênus e Júpiter em Sagitário-Escorpião (Rei de Bastões); Marte e Saturno em Leão (sendo Marte seu planeta mais forte) e Urano em Gêmeos. A primeiras palavras que me vêm em mente ao observar este mapa são: “pesquisador, estudioso, metódico, profundo”, pois a combinação de Lua em Virgem e Mercúrio em Escorpião denotam alguém com a capacidade muito acima da média de se aprofundar e pesquisar qualquer algum assunto e a capacidade acima da média de catalogar e organizar estes estudos. Júpiter e Vênus acentuam esta característica de “acumulador de conhecimentos”, facilitando a conclusão e a síntese das pesquisas realizadas. Urano em Gêmeos e Marte em Leão o levaram para os palcos e peças teatrais. Como possuía Saturno em Leão, não seria como ator, por conta da timidez, mas como escritor e roteirista.

Acumulando as funções de pesquisador de folclore, escritor, roteirista e mitologia, além de ter em sua companhia diversos membros da Golden Dawn e suas pesquisas no ocultismo e hermetismo, Bram Stoker acabou se tornando um dos escritores mais famosos do planeta, com sua obra eterna “Drácula”.

#Astrologia #Biografias

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/mapa-astral-de-bram-stoker

Anton Szandor LaVey

1930 – 1997

Pouco depois do seu nascimento, a família de Anton decide deixar Chicago e mudar-se para a baía de S. Francisco. Em criança, o jovem Anton adorava ler tudo o que tivesse a ver com o sobrenatural e o oculto – incluindo “Frankenstein” de Mary Shelly, “Dracula” de Bram Stoker, e a popular revista “Weird Tales”.

O interesse de Anton pelo lado obscuro da vida foi ainda mais alimentado pela sua avó Cigana, Luba Koltan, que lhe contou histórias e superstições sobre vampiros e magia negra que aprendeu na sua terra natal, Transilvânia.

Depois do começo da 2.ª Guerra Mundial, Anton fascinou-se com os manuais militares e os catálogos de armas. Rapidamente descobriu que se alguém assim o quisesse poderia comprar armas e munições suficientes para criar o seu próprio exército. Isto levou a que Anton percebesse que os fracos nunca podiam herdar a Terra, só os fortes sobreviveriam.

Anos mais tarde, em 1945, um dos tios de LaVey foi contratado para ser Engenheiro Civil no Exército, na Alemanha. Devido ao seu tio ter um visa extra Anton pôde viajar para a Alemanha com ele. Lá, pôde ver filmes de terror Nazis confiscados, dos quais tinha recebido a informação de que continham partes de rituais da Black Order of Satan, que fazia parte do Terceiro Reich (?).

Por esta altura, Anton já tinha descoberto outro dos seus muitos talentos: a música. Na prematura idade de cinco anos, os pais de Anton descobriram o seu talento quando ele numa loja de música tocou uma harmonia numa harpa. Mais tarde, aprendeu a tocar muitos instrumentos, incluindo o violino. Aos 10 anos aprendeu auto-didacticamente a tocar piano, e aos 15 já era o segundo oboísta na Orquestra Sinfónica de Ballet de San Francisco.

Em 1947, LaVey decidiu deixar a escola e juntar-se ao Circo Clyde Beatty. Lá, foi empregue como estivador e guarda de jaulas; a pessoa responsável por alimentar os grandes felinos. Anton rapidamente desenvolveu uma relação com os animais e começou a aprender todos os truques da matéria, como o uso do chicote, stick, revolver e cadeira. Não muito tempo depois, Anton tornou-se domador de oito Leões Nubianos e quatro Tigres de Benguela, numa jaula, todos juntos.

Uma noite, enquanto trabalhava no circo, o tocador de calliope habitual embebedou-se e não podia actuar. LaVey voluntariou-se para o seu lugar e foi um sucesso tão grande que se tornou no tocador de calliope oficial do Circo Beatty.

Quando a temporada do circo acabou em Outubro de 1947, LaVey viu-se desempregado. Seguindo o conselho de alguns dos seus colegas de circo, Anton decidiu procurar trabalho numa feira. Devido aos seus talentos musicais, rapidamente conseguiu emprego tanto a tocar calliope, como órgão Wurlitzer e até mesmo Hammond. Entretanto LaVey passou a tocar em shows de strip femininos nas noites de sábado e aos domingos de manhã, em tendas, para espectáculos religiosos. Foi aqui que ele descobriu em primeira mão a hipocrisia presente na Igreja Cristã. Anton foi citado muitas vezes dizendo que ao sábado à noite via os homens desejando as mulheres semi-nuas na feira, e na manhã seguinte via os mesmos homens na missa, com as suas famílias, pedindo a Deus que perdoassem os seus pecados libidinosos, vendo de novo no fim de semana seguinte as mesmas pessoas no show de strip.

Enquanto trabalhava na feira, Anton também aprendeu os segredos das videntes místicas, das leituras da palma da mão ciganas, das astrólogas, mágicos de palco, e hipnotizadores.

A temporada da feira rapidamente acabou, e LaVey, mais uma vez, viu-se desempregado. Encontrou depois, trabalho em casas burlescas e clubes nocturnos, como tocador de órgão, dentro e na periferia de Los Angeles. Uma noite, enquanto trabalhava no Clube Mayan, conheceu uma actriz que tinha conseguido trabalho como bailarina. Essa actriz era Marilyn Monroe, e ela e Anton vieram a viver um caso amoroso cheio de paixão. Apesar da relação apenas ter durado algumas semanas, deixou no LaVey de 18 anos uma marca muito forte. Anos mais tarde, uma das posses de Anton mais orgulhosas era um calendário de Marilyn nua, onde ela tinha assinado: “Caro Tony, Quantas vezes tu viste isto! Com amor, Marilyn”.

Após o fim da sua relação com Marilyn, Anton decidiu mudar-se para São Francisco. Lá, continuou a tocar orgão para vários shows de strip e reuniões só para homens. Também conseguiu trabalho como fotógrafo na Paramount Photo Sales, onde tirou fotografias a mulheres em várias fases de stripping.

Quando a Guerra Coreana começou, Anton reparou na possibilidade de ser arrastado para o exército. Por isso, em 1949, de modo a poder evitar este possível dilema, LaVey inscreveu-se na Faculdade de São Francisco, no curso de Criminologia, mesmo sem nunca sequer ter acabado o secundário.

Algum tempo depois LaVey conheceu Carole Lansing num parque de diversões na praia de San Francisco. Os pais de Carole de início estavam desconfiados das intensões de Anton, mas rapidamente se habituaram a ele e deram permissão para os dois se casarem.

Anton e Carole casam em 1951 e um ano depois nasce a primeira filha de LaVey, Karla Maritza LaVey.

De modo a poder sustentar a sua família, LaVey decidiu usar os seus talentos de fotografia e a sua educação em Criminologia para conseguir trabalho como fotógrafo na Polícia de São Francisco. Aqui, Anton está de novo exposto ao pior lado da natureza humana, tirando fotografias de assassinatos brutais, acidentes de automóveis, suicídios macabros, incendios, explosões, e outras coisas mais. Depois de um par de anos no terreno, foi dada a LaVey a responsabilidade adicional de tomar conta das “chamadas 800”, que era o código para as chamadas estranhas. Ele investigava de tudo, desde visões de OVNIs a relatos de fantasmas, casas assombradas, e tudo o resto que pertencesse ao sobrenatural. Nos anos seguintes Anton ganhou uma grande reputação como um dos primeiros “caça-fantasmas” da nação.

Em 1955, LaVey cansou-se da Polícia e decidiu deixá-la de modo a ter mais tempo para se concentrar nas Arte Negras. Tornou-se exorcista e hipnotizador, fortalecendo os seus ganhos tocando órgão. Mudou-se também com a sua família para um apartamento perto da praia. Foi nessa altura que Anton recebeu o seu primeiro animal de estimação – um leopardo negro de dez semanas, chamado Zoltan. LaVey costumava levar Zoltan a passear na praia, onde era certo o par excêntrico assustar os pedestres que ali passeavam.

LaVey começou também a receber a imprensa devido às suas práticas singulares e estranho animal de estimação. Ele atraiu muitas personalidades invulgares, juntamente com os seus amigos únicos que fez durante os seus anos de circo e feiras. Quando os rumores sobre o que estava exactamente a acontecer dentro das paredes da sua casa se começaram a espalhar, Anton decidiu mais uma vez que precisava de mudar-se. Na altura desejava uma casa grande longe dos seus vizinhos curiosos, que pudesse decorar e fazer à sua imagem. Anton conseguiu tal lugar na Rua California 6114, o lugar da infame “Black House”, onde LaVey morou até à sua morte em 1997.

Depois de se mudar para a sua nova casa, LaVey rapidamente encontrou um novo emprego tocando órgão Wurlitzer no clube Lost Weekend. Também foi contratado para tocar o maior órgão do mundo no Auditório Cívico de San Francisco. Devido à sua extrema perícia com o instrumento, Anton foi nomeado para organista oficial da cidade de São Francisco, tocando em várias convenções e muitos eventos culturais e desportivos.

Foi também por volta desta altura que LaVey começou a ganhar a reputação de ser o Mágico de Artes Negras de São Francisco. Juntamente com as quatro festas que LaVey fazia todos os anos (Ano Novo, Walpurgisnacht, Solstício de Verão, e Halloween), a Black House era também o lugar de encontro para as reuniões sociais informais que Anton criou. Formado por colegas do circo, amigos das feiras, antigos colegas da Polícia, excêntricos ricos, e iconoclastas literários, o “Círculo Mágico” (Magic Circle) de LaVey, como ele lhe chamava, levava a cabo debates e palestras sobre o Oculto, Magia, encantamentos, rituais, feitiçaria, lobisomens, vampiros, zombies, homúnculos, casas assombradas, PES (Percepção Extra Sensorial), teorias sexuais, e métodos de tortura. Anos mais tarde, LaVey abriu estas reuniões ao público, cobrando $2,50 por pessoa, a quem quisesse ouvir as suas palestras e tomar parte dos seus rituais formais. O Círculo Mágico foi o primeiro passo para o que hoje é a Church of Satan (Igreja de Satan).

Anton ainda tocava órgão várias noites por semana de modo a ganhar algum dinheiro extra. Numa noite de domingo, em 1959, enquanto LaVey tocava na Mori’s Point, uma jovem, linda, loura, de nome Diane Hegarty entrou no clube. Houve uma ligação imediata entre Diane e Anton, e durante os meses seguintes eles começaram a ver-se o maior número de vezes possíveis. No ano seguinte, 1960, Anton e Carole divorciaram-se; e em 1961 Diane não só se tornou na nova esposa de LaVey como também se tornou na anfitriã do Círculo Mágico. Em 1963 Diane deu à luz a segunda filha de Anton: Zeena Galatea LaVey.

Infelizmente, nessa altura, o seu companheiro de longa data Zoltan morreu atropelado por um carro. No entanto, pouco tempo depois Anton recebeu um novo animal de estimação: um leão nubiano que ele chamou de Togare. O Togare viveu na Casa Negra (Black House) por muitos anos com o resto da família LaVey. Foi durante essa altura que ele foi a atracção de um programa de televisão local chamado “The Brother Buzz Show”. Mas depois de muitas queixas e até petições de vizinhos, Anton foi forçado a doar Togare ao Zoo de S. Francisco.

Além do Círculo Mágico, LaVey também criou “Witches Workshops”, para ensinar às mulheres todos os métodos de feitiçaria, e a “The Order of the Trapezoid” (A Ordem do Trapezóide) que era um grupo de magos que, juntamente com o “Council of Nine” (Conselho dos Nove), veio a formar a administração da Church of Satan.

Na noite de Walpurgisnacht, 30 de Abril de 1966, Anton Szandor LaVey cerimoniosamente rapou a sua cabeça, na tradição dos Yezidi, como parte de um ritual que estabeleceu a primeira organização da religião satânica: a Church of Satan. LaVey também declarou o ano 1966 como sendo o I Ano Satanas – o primeiro ano do reino de Satan.

Apesar de terem existido muitos grupos “underground”, como o Hell Fire Club e o Abbey of Thelema, que praticavam os mesmos princípios de LaVey, o nascimento da Church of Satan, que foi a primeira religião organizada, dedicada às filosofias satânicas, foi pública e publicitada.

No espaço de um ano, a Church of Satan recebeu um reconhecimento a nível mundial, devido à cobertura mundial de muitos dos seus eventos. Muitos dos primeiros artigos sobre as “Missas Negras” semanais, apareciam em várias revistas dedicadas ao leitor masculino, devido à Church of Satan usar constantemente uma mulher nua como altar, nos seus rituais. No entanto, no dia 1 de Fevereiro de 1967 a Church of Satan apanhou o mundo de surpresa quando repórteres de todo o mundo juntaram-se em San Francisco para cobrirem o casamento satânico de John Raymond, um jornalista político, com Judith Case, a filha de um conhecido advogado de Nova York. Apesar de este não ser o primeiro casamento satânico a ser feito por Anton LaVey, a fama de John e Judith virem de uma boa família despertou interesse suficiente para o casamento se tornar no evento de San Francisco mais famoso de sempre, maior ainda que a inauguração da Golden Gate Bridge. Os artigos seguintes tornaram LaVey no “Papa Negro”.

Uns meses mais tarde, no dia 23 de Maio de 1967, LaVey achou que era tempo de mostrar ao mundo que o Satanismo não tinha nada a ver com sacrifícios de crianças, conduzindo o primeiro baptismo satânico da sua filha Zeena. Os jornalistas e fotógrafos começaram a fazer fila à porta da Black House tão cedo como 15 horas antes da cerimónia, de modo a conseguirem boas fotografias da menina de 3 anos que estava vestida num robe vermelho vivo completado com o seu medalhão com um Baphomet. Quando o ritual começou a jovem Zeena sentava-se sorridente enquanto o seu pai começava a recitar uma invocação poderosa que veio mais tarde a ser incluída no livro “Satanic Rituals”. Ela adorou toda a atenção que recebeu dos fotógrafos que estavam cativados pela ideia de tanta inocência ser dedicada a Satan.

Em Dezembro de 1967, a Sra. Edward Olsen abordou LaVey com o intuito de lhe perguntar se ele conduziria um funeral para o seu marido, um oficial Naval que tinha sido recentemente vítima de um acidente de automóvel. Apesar dos oficiais Navais terem algumas dúvidas sobre a ideia, acabaram por aceder ao pedido da Sra. Olsen. No funeral, soldados fardados alinharam com Satanistas de túnica negra; e quando o ritual acabou, os guardas Navais dispararam três salvas seguidos de gritos de “Hail Satan! Hail Edward!”. Depois deste evento, o Satanismo foi incluido no Chaplain’s Handbook das Forças Armadas, passando a ser uma religião reconhecida.

No Outono de 1966, a bomba loura de Hollywood, Jayne Mansfield ouviu reportagens desta nova Igreja dedicada a Satan e conheceu o Papa Negro em pessoa. Anton e Jayne entenderam-se imediatamente, e ela rapidamente tornou-se num membro activo e mais tarde numa Sacerdotisa da Church of Satan. No entanto, o namorado/advogado de Jayne, Sam Brody, apercebeu-se que ela estava a apaixonar-se por Anton LaVey. Brody passou então a causar o máximo de problemas possíveis a Jayne e Anton, o que levou LaVey a pôr uma poderosa maldição nele. LaVey avisou Jayne que ela estava em perigo constante sempre que estava com Brody.

Infelizmente Jayne não deu ouvidos a Anton, e a 19 de Junho de 1967, enquanto viajava para Nova Orleans com Sam Brody, o carro que conduziam acidentou-se contra um camião tanque, vitimando ambos. LaVey estava na altura em casa, em San Francisco, a recortar fotografias de uma revista quando reparou que no lado oposto de um recorte tinha cortado uma fotografia de Jayne ao longo do pescoço. Uns minutos depois recebeu uma chamada informando-o que Jayne tinha falecido quase completamente decapitada, num acidente de automóvel.

Esta não foi a única envolvência da Igreja com Hollywood. Em 1968 LaVey fez o papel de Demónio na obra-prima de Roman Polanski: “A Semente do Diabo” (Rosemary’s Baby). Além de actuar, LaVey foi conselheiro técnico e participou em eventos promocionais para o filme. Ao longo dos anos houve um número de membros ligados a Hollywood, como Sammy Davis Jr. e Marilyn Manson.

Em 1969 o número de membros já tinha crescido para 10 mil membros no mundo todo, e LaVey decidiu que estava na altura de publicar o seu maior, mais diabólico, e mais blasfemo trabalho de sempre: “The Satanic Bible” (A Bíblia Satânica). Este livro tornou-se no pilar da Church of Satan daí para a frente. Seguiram-se “The Compleat Witch” em 1970 (mais tarde revisto e re-editado sob o nome “The Satanic Witch”) e em 1972: “The Satanic Rituals”.

Nesta altura a Church of Satan já tinha estabelecido Grottos por todo o mundo e LaVey tentou fazer visitas papais a todos eles, conforme podia. Mas devido às constantes ameaças e agressões que recebia de terceiros, e problemas de segurança para si e para a sua família, LaVey achou que devia cortar com as relações públicas e por volta de 1970 todas as palestras e rituais públicos conduzidos por LaVey deixaram de existir. Depois, em 1972, todas as cerimónias semanais realizadas na Black House cessaram também. A organização e realização de actividades satânicas passou a ser responsabilidade dos Grottos, enquanto que o Grotto Central passou apenas a visionar, aprovar e guiar os membros activos da Church of Satan.

A Church of Satan passou por uma vasta reorganização. LaVey queria que a sua organização se tornasse num cabal “underground” em vez de um Clube de Pen Pal satânico. Mas ao por um alto nas actividades públicas, LaVey levou à alienação de pequeno número de apoiantes. Isto levou a um pequeno cismar em 1975, quando o nº 1 do Grotto de Louisville, KY, Michael Aquino, juntamente com os seus devotos, separaram-se da Church of Satan e formaram uma nova religião e organização chamada Temple of Set.

Enquanto o número de membros da Church of Satan continou a crescer durante os anos 70 e 80, LaVey continou um recluso virtual, raramente dando entrevistas ou aparecendo em público. Ele praticamente contactava com os amigos através do Boletim Informativo oficial da Church of Satan: “The Cloven Hoof”. Quando a “Cloven Hoof” deixou de ser publicada em 1988, outras revistas satânicas como “The Black Flame” pegaram no que a Cloven Hoof deixou.

Diane Hegarty administrou a Church of Satan, como Suma Sacerdotisa (High Priestess) desde 1966 até a sua separação de Anton em 1984. De 1985 a 1990, a filha mais nova de LaVey, Zeena, tomou o lugar da sua mãe como Suma Sacerdotisa. Quando Zeena deixou a sua posição e a Church of Satan em 1990, LaVey apontou Blanche Barton, a sua nova companheira e secretária, para a posição vaga.

Blanche subsequentemente escreveu e publicou dois livros em 1990. Um foi “The Church of Satan”, que detalhava a história da Church of Satan e o segundo foi “The Secret Life of a Satanist”, a biografia autorizada de Anton LaVey. Após a publicação dos livros de Blanche Barton, LaVey publicou então o seu primeiro livro no espaço de 20 anos: “The Devil’s Notebook”, uma colecção de textos e dissertações que tinha vindo a escrever desde os anos 70. No ano seguinte, em 1993, nasceu Satan Xerxes Carnacki LaVey, o primeiro filho varão de LaVey e de Blanche Barton.

Infelizmente, a 29 de Outubro de 1997, o grande líder da Church of Satan e Papa Negro, Anton Szandor LaVey perece devido a um edema pulmonar no Hospital de St. Mary, depois de anos de problemas cardíacos. Dias antes do seu falecimento, LaVey tinha acabado o seu trabalho para o livro “Satan Speaks!”. Foi publicado no ano seguinte, prefaciado por Marilyn Manson e com uma introdução por Blanche Barton.

Apesar de documentos perfeitamente legíveis e assinados à mão por Anton LaVey, indicando o seu filho Xerxes como sendo o seu herdeiro e Blanche Barton como sendo a High Priestess, Blanche acordou trabalhar em parceria com a filha mais velha de Anton, Karla, de modo a preservar o seu legado. Barton até chegou ao ponto de oferecer a Karla a posição de Co-High Priestess. Karla de início aceitou mas mais tarde proclamou ser a única líder da Church of Satan.

Este conflito tornou-se num processo jurídico que resultou num acordo entre Blanche Barton, Karla LaVey e Zeena (LaVey) Schreck, onde Blanche aceitou abdicar dos direitos únicos que Xerxes tinha sobre a herança de LaVey em troca da posição única na liderança da Church of Satan.

Fonte: Associação Portuguesa de Satanismo

 

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/satanismo/anton-szandor-lavey/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/satanismo/anton-szandor-lavey/

Corpos Celestes no Mito de Cthulhu

Lovecraft foi um homem de muitas paixões, e teve uma vida que lhe permitiu explorar várias delas. Mesmo que seu trabalho não tenha lhe proporcionado conforto, ou remuneração, ou mesmo um emprego, sua mente viajava sempre em busca de mais e mais conhecimento. Todos os que o conheceram se maravilhavam com sua cultura e o tamanho de seu conhecimento nas mais diversas áreas do saber. Dentre suas musas intelectuais uma que sempre teve um destaque especial foi a astronomia. Desde criança se dedicava a seu estudo e, quando começou a escrever, não a deixou de fora de seu material.

Quando sua ficção começou a ganhar volume e a inspirar outros escritores os corpos celestes se tornaram uma parte importante no Mito que começou a tomar forma. Os ritos inomináveis em seus textos, e nos de seus colegas, estavam ligados a astros e configurações estrelares. Suas criaturas enlouquecedoras provinham de outros planetas, alguns conhecidos, outros que não existiam em nosso plano mas em outras dimensões. Assim com o tempo tanto Lovecraft quanto seus “colaboradores”, acabaram criando uma carta celeste muito rica e assustadoramente mais estranha e bizarra do que os sonhos mais enlouquecidos dos astrólogos que já viveram.

Com o tempo esses corpos celestes deixaram de existir apenas nas páginas de contos e passaram a integrar a imaginação dos fãs de histórias de terror sobrenatural intergalático e tomaram vida em muitos rituais mágicos, onde cartas astrológicas Cthulhianas são usadas, e onde a energia dos planetas, outrora fictícios, é utilizada. Existem inclusive, horóscopos inteiros baseados nesses gigantes celestes que passam desapercebidos para os astrônomos que insistem apenas em fazer anotações sobre os astros que seus olhos podem perceber.

A Morte Súbita Inc. possuia um artigo com este mesmo título que lidava com alguns desses planetas e estrelas, mas o texto era muito pobre e limitado. Era como uma descrição de três cores deixando toda a caixa de lápis de cor de lado, assim decidimos revisar o artigo e dar o tratamento que um artigo que se propõe a explorar o universo Lovecraftiano merece. O presente texto é o resultado deste fuckerupper. O texto antigo continua no site, mas com o título de Astronomia Lovecraftiana.

Os corpos celestes que veremos a seguir aparecem de forma proeminente nas histórias do Mito de Cthulhu, mas que não foram descritos apenas por Lovecraft mas também por outros contribuintes do mito como August Derleth, Ramsey Campbell, Lin Carter, Brian Lumley, Clarck Ashton Smith e outros. Eles forma hoje parte integrante da egrégora dos Mitos de Cthulhu

 A Cartografia do Medo


Abbith

Um planeta que orbita ao redor de sete estrelas que existem além de Xoth. É habitado por cérebros metálicos que possuem acumulada toda a sabedoria do universo. De acordo com o livro escrito por Friedrich von Junzt, o Unaussprechlichen Kulten, Nyarlathotep vive ou está aprisionado neste planeta, apesar de outras lendas entrarem em contradição a este respeito. Considerado por algum os restos artificiais operantes de uma antiga civilização cósmica.

 

Arcturus

A estrela de onde os gêmeos Zhar e Lloigor vieram. Juntos eles são conhecidos como as “obscenidades gêmeas”, as vezes comportando-se como seres distintos as vezes como um sendo a parte do outro e ainda como sendo um ser só.

 

Celaeno

Uma das sete estrelas das Pleiades. No quarto planeta que a orbita é que se encontra a Grande Biblioteca de Celaeno e nela podemos encontrar as placas de pedra que contém os segredos roubados dos Grandes Antigos e dos Deuses Mais Velhos. Foi nesta biblioteca que o professor Laban Shrewsbury passou um período de tempo transcrevendo a sabedoria contida nos livros para seus cadernos de nota, essas transcrições acabaram se tornando o texto conhecido como os Fragmentos de Celaeno.

 

Cykranosh

Cykranosh é a forma pela qual os antigos sumérios chamavam o planeta Saturno. Ele foi o lar do deus Tssathoggua antes dele vir para a Terra e continua sendo a morada de inúmeros “parentes” seus, inclusive seu tio Hziulquoigmnzhah.

 

Glyu-Uho (também Glyu-Vho, também K’Lu-Vho)

É a maneira que os antigos habitantes do continente Mu chamavam Betelgeuse em sua linguagem nativa, o naacal. Ela é a estrela de onde os Deuses Mais Velhos vieram para guerrear contra os Grandes Antigos.

Existem ainda aqueles que afirmam que na verdade Glyu-Uho e o local onde se encontra um portal que leva para Elysia, a dimensão que se acredita seja o local de origem e habitação dos Deuses Mais Antigos.

 

Haddath (também Haddoth, talvez Urakhu)

É um planeta ardente que possivelmente de localiza no “olho” da constelação de Hidra. Muitos acreditam que ele é o lar dos chthonianos e também de Shub-Niggurath.

 

Ktynga (também o Cometa de Norby)

É o nome de um cometa azulado que faz sua órbita elíptica nas proximidades da estrela Arcturus. O cometa é excepcionalmente quente e possui propriedades estranhas como por exemplo, viajar mais rápido do que a velocidade da luz.

Na superfície do cometa se encontra uma enorme construção onde vive o ser Fthaggua e seus servos, os vampiros de fogo. Fthaggua e seus subordinados podem guiar o cometa e fazê-lo ciajar por entre as estrelas, e eventualmente visitará nosso sistema solar daqui a quatro séculos.

 

Kynarth

Um corpo celestial misterioso que se encontra além de Yuggoth (que muitos afirmam ser o planeta Plutão), nos limites do sistema solar.

 

Kythanil (também Kythamil, também Kthymil)

São planetas gêmeos orbitando a estrela Arcturus e foi dele que as crias sem forma de Tsathoggua vieram.

 

L’gy’hx

É como é conhecido o planeta Urano. É habitado por seres cúbicos metálicos que possuem múltiplas pernas. Essas criaturas adoram uma deidade menor conhecida como L’rog’g, que é possivelmente um outro aspecto de Nyarlathotep. Em sua adoração realizam um ritual que demanda um sacrifício de um ano na forma da amputação das pernas de um nativo.

Quando os Insetos de Shaggai, os Shan, chegaram ao planeta os nativos de L’gy’hx inicialmente os toleraram e permitiram que construíssem uma enorme cidade para si, mas com o passar de dois séculos os nativos começaram a acreditar que os Shan eram também governantes do planeta.

Com o passar do tempo, muitos Shan começaram a substituir a adoração que tinham por Azathoth pela adoração a L’rog’g, mas assim que alguns L’gy’hx passaram a substituir a adoração a L’rog’g pela a Azathoth, os sacerdotes de L’rog’g deram início a uma inquisição, infligindo horríveis punições aos hereges.

Por causa disso o relacionamento com os Shan rapidamente foi se tornando hostil e os sacerdotes de L’rog’g ordenaram que todos os templos erigidos em nome de Azathoth fossem demolidos. Um pequeno grupo de Shan, ainda fieis a Azathoth, abandonaram L’gy’hx teleportando a si e a sua templo para o planeta Terra.

 

Mthura

Planeta sombrio habitado por seres cristalinos e o lar do Grande Antigo Q’yth-az. Os Nug-Soth de Yaddith viajaram para este mundo na esperança de encontrar uma fórmula mágica que fosse útil para que eles derrotassem os Dholes.

 

Mundo dos Sete Sois

Possivelmente um planeta próximo de Fomalhaut, de acordo com alguns escritores. Seus habitantes criaram sete sóis artificiais para substituir seu sol natural moribundo. Lovecraft afirmou que Nyarlathotep habita no mundo de sete sóis, mas ele não faz nenhuma ligação com Fomalhaut. Já outros escritores ligam os setes sóis às sete estrelas das Pleiades, das Hyades ou provavelmente da Ursa Maior.

 

Shaggai (também Chag-Hai)

É um planeta orbitando os sois verdes gêmeos e o mundo natal dos Shan, os Insetos de Shaggai. O planeta foi destruído oito séculos atrás, provavelmente por Ghroth o Mensageiro. O ser conhecido apenas como O Verme que AtormentaRói à Noite também vivia neste planeta.

 

Shonhi (também Stronti) 

É um mundo transgalático frequentado pelos habitantes de Yaddith.

 

Thuggon

Um planeta habitado por algum tempo pelos Insetos de Shaggai. Eles inicialmente acreditaram que o planeta era inabitado, mas quando seus escravos começaram a desaparecer logo descobriram a terrível verdade. Eles deixaram o planeta logo depois.

 

Thyoph

Um planeta gigante que se partiu, formando um cinturão de asteróides. De acordo com os Fragmentos de G’harne, o evento foi causado por uma “semente de Azathoth”.

 

Tond

Um planeta misterioso que muitos acreditam fazer parte de nosso sistema solar, apesar de grande parte dos relatos o colocar em um sistema de estrelas binárias próximo de Baalbo (uma estrela negra) e do astro que a acompanha Yifne (um sol verde). Muitos dizem que o ser Glaaki visitou este mundo em sua rota rumo à Terra.

 

Vhoorl

Um planeta existente na “vigésima terceira nebula” e supostamente o local de nascimento do Grande Cthulhu.

 

Xentilx

Uma galaxia distante e o lar do Grande Antigo Zathog.

 

Xiclotl

O planeta irmã de Shaggai. Os Shan conquistaram este mundo e escravizaram seus habitantes nativos, uma raça de monstros carnívoros. Quando Shaggai foi destruído os Shan reuniram ali seus irmãos e lá permaneceram por algum tempo.

 

Xoth (também Zoth)

É a estrela binária verde que brilha como um olho demoníaco na escuridão além de Abbith. De acordo com o ciclo de lendas de Xoth, foi onde Cthulhu se acasalou com Idh-yao e gerou Ghatanothoa, Ythogtha, e Zoth-Ommog, antes de virem para a Terra.

Xoth também é o mundo nativo de Ycnágnnisssz e Zstylzhemghi e o lar temporário de Ghisguth, parceiro de Zstylzhemghi, e seu infante Tsathoggua.  Tsathoggua acabou mais tarde indo para Yuggoth, mais tarde indo para Cykranosh tentando escapar dos hábitos canibalísticos de Cxaxukluth.

Muitos estudiosos ligam Xoth à estrela Sirius, devido à sua similaridade com Sothis, o nome egípcio da estrela.

 

Yaddith

Um planeta distante que orbita cinco sóis. Eras atrás foi habitado pelos Nug-Soth, criaturas com características similares aos mamíferos, répteis e insetos. Os Nug-Soth buscavam uma forma de evitar a destruição da crosta de seu planeta pelos Dholes, mas sem sucesso. Eventualmente os Dholes os subjulgaram e destruiram a civilização Nug-Soth. Sobreviventes da catástrofe conseguiram escapar e se esconderam em outros planetas. Yaddith era o lar do feiticeiro Zkauba e seus cientistas visitavam a Terra regularmente para realizar experimentos em seus habitantes, alguns inofencivos, como muda o tipo sanguíneo de algumas pessoas de A para B, e outros nem tanto, como os gêmeos alemãos que afirmavam que um anjo surgiu e trocou suas mãos e olhos.

 

Yaksh

É como é conhecido o planeta Netuno e é habitado por estranhos seres de constituição fungóide. Foi o lar temporário de Hziulquoigmnzhah, antes que partisse para Yuggoth para escapar das compulsões canibais de Cxaxukluth. Hziulquoigmnzhah foi adorado pelos Yakshians, mas logo se cansou da veneração e se mudou para Cykranosh.

 

Yarnak

Planeta com três luas que orbita Betelgeuse no misterioso Golfo Cinza de Yarnak. A agora deserta cidade de Bel Yarnak ainda existe em sua superfície. Esse mundo pode ter sido o lar do Grande Antigo Mnomquah.

 

Yekub

Um planeta em uma galáxia distante. É habitado por uma raça de seres tecnologicamente avançados que se assemelham a centoupéias gigantes, pouco maiores que um ser humano. A população adora uma entidade conhecida como Juk-Shabb, que surge como uma orbe brilhante de cores que mudam. Muito pouco se sabe a respeito desta deidade além de ser telepata e muito reverenciada pelos cidadãos de Yekub.

Os Yekubianos destruiram toda a vida inteligente na galaxia que habitam e tentaram expandir sua influência para todo o universo. Como parte de seu grande plano eles enviaram probes em forma de cubo capazes de realizar uma troca de mentes com qualquer criatura inteligente que as encontrasse. Desta forma agentes Yekubianos poderiam se infiltrar no mundo do descobridor da sonda. Um desses cubos chegou à Terra no período do reinado da Grande Raça dos Yith. Quando os Yith descobriram o perigo do cubo vários membros da raça já haviam sido dominados, o cubo então foi escondido e mantido sob guarda. Eventualmente o cubo foi perdido.

 

Yith

O planeta natal da Grande Raça dos Yith, de acordo com o Eltdown Shards. Ele é descrito como uma “orbe negra morta ha eras”. Sua localização é atualmente um mistério, alguns estudiosos a colocam em algum lugar do nosso sistema solar logo além de Plutão; outros dizem que ele é o quarto dos cinco planetas que orbitam a estrela Ogntlach. Yith possui uma atmosfera muito rala e os oceanos são aquecidos pela energia geotérmica do planeta.

 

Ylidiomph

O nome hiperbóreo do planeta Jupiter.

 

Ymar

Um planeta na mesma constelação de Abbith, Xoth e Zaoth.

 

Yrautrom

É um planeta distante orbitando a estrela Algol, alguns afirmam ser o lar de Zvilpogghua, uma das crias de Tsathoggua.

 

Yuggoth (também Iukkoth)

É o planeta anão Plutão. Alguns estudiosos afirmam que na verdade se trata de um planeta gigante que orbita nos confins do sistema solar.

 

Zaoth

Um planeta próximo a Xoth. É o lar dos cérebros metálicos e possuiu uma grande biblioteca de livros de Yuggoth. Logo após a destruição de Yaddith pelos Dholes, vários sobreviventes da catástrofe fugiram para este planeta.

Mudança de Planos

Um ponto importante na questão da cartografia sideral dos mitos de Cthulhu é que as viagens entre estes mundos dificilmente, para não dizer nunca, são percorridas no estilo homo sapiens, ou seja com uso de naves, foguetes e sistemas de propulsão. A viagem entre mundos e muitos deles não possuem condição de ser habitados por seres humanos, é feita ou por intersecções dimensionais, ou viagens astrais ou ainda uma visita telepática onde é a mente e não o corpo que se desloca. Assim encerraremos este artigo propondo, como isso pode ser feito por um magista experiente.

Inicialmente, saiba que se você não tem nenhuma experiência com exercicios básicos do ocultismo, a prática abaixo pode se revelar não apenas inútil mas prejudicial a sua sanidade. Além disso se você não possui intimidade com a egrégora cthulhiana os resultados podem revelar-se igualmente funestos.

O primeiro passo é chamado ‘Mudar de fase’. Isso pode ser feito de muitas formas, seja induzindo um sonho lúcido, iniciando uma projeção astral ou entrando em estado de gnosis. Assim, apague a luz, certifique-se  que não será interrompido e abandone a realidade mundana.

Após isso contemple em sua mente o nome do Planeta para onde quer ir e expulse do pensamento qualquer outra impressão mental que possa surgir. Você deve manter em um estado abissal de vazio e silêncio onde tudo o que existe é o nome. A chave desta técnica é a mesma usada por tradições ocultistas para direcionar viagens astrais. Ela se baseia no fato de que no mundo real da mente não há diferença entre um nome e aquilo a que ele se refere. Pensar no nome de uma pessoa é para a consciência como estar com essa pessoa.

No caso dos planetas cthulhianos é natural e esperado que antes das primeiras imagens se formarem você seja invadido por um sentimento de medo ancestral. Não fuja disso, continue com sua concentração. O pavor é parte essencial daquilo que você vai ver em seguida.
por Shub-Nigger, A Puta dos Mil Bodes

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/corpos-celestes-no-mito-de-cthulhu/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/corpos-celestes-no-mito-de-cthulhu/