Contextualizando os Textos Mágicos Clássicos e Antigos

Por Kayque Girão

A crítica mais comum ao tradicionalismo mágico proveniente da magia dos séculos XVII e XVIII diz respeito a interpretação, viabilidade e funcionalidade dos textos mágicos. O caro leitor certamente já deve ter lido ou ouvido alguma opinião desse tipo, o que revela muitas vezes um grande desconhecimento baseado no senso comum acerca da a tradição clássica que o tempo todo procura se renovar e, principalmente, se reinventar diante das diversas circunstâncias temporais, políticas, religiosas e étnicas. Mas antes de partirmos para o assunto principal se faz necessário antes compreender o que são exatamente esses textos e manuscritos antigos.

O que são Grimórios?

Grimórios são textos antigos, copiados à mão, com fórmulas mágicas para os mais diversos fins, da consagração talismânica a conjuração infernal. Receberam esse nome a partir da palavra “grimoar” por se assemelharem a “gramática”, uma disciplina que envolve linguagem e nomes, aspectos principais desses textos místicos e fantásticos.

Os mais antigos textos com “voces magiae” – os assim chamados “nomes bárbaros de evocação” – documentados até então remontam da Antiguidade tardia, durante os períodos de helenização de parte da Europa assim como do fenômeno de cristianização a que passavam esses povos com a influência romana até a queda do Império com a cisão entre o Ocidente católico e o Oriente ortodoxo bizantino.

Então textos comuns como “Higromanteia” (termo ligado a “clarividência pela água” ou por superfícies refletoras) e uma coletânea esparsa do que ficou conhecido como “Papiros Mágicos Greco-Egípcios” (conhecida mais pela sigla “PGM” entre os estudiosos) foram cooptados pelo clero como resquícios do antigo paganismo clássico e da influência tardia da escrita, que ia do antigo cóptico, aramaico e hebraico arcaico. Esses textos possuíam fórmulas místicas e mágicas de consecução espiritual que não eram reconhecidos por nenhuma religião hegemônica, estando ligado a praticantes marginais à Civilização de então.

Com a expansão cristã e o fenômeno de conversão dos povos pagãos por sobre a Europa, esses textos ficaram restritos ao controle religioso do clero quando não eram destruídos pelo fundamentalismo religioso. Alguns integrantes religiosos foram pagãos convertidos ou religiosos muito estudiosos que conseguiram perpetuar seus textos e copiá-los para outras bibliotecas a fim de servirem de estudo por parte da própria Igreja (o leitor iria se surpreender bastante com o quanto o clero ainda hoje sabe mais de magia).

Então, como não poderia deixar de ocorrer, alguns desses religiosos também incorreram no risco da prática clandestina desses textos pagãos impondo sobre eles a influência litúrgica cristã sem quebrarem diretamente as regras clericais de sua classe, por mais heréticas que parecessem aos olhos da hierarquia religiosa temporal.

Sendo assim, isso explica o anonimato de grande parte dos textos atribuídos ao mítico “Salomão” e tantos outros magos desconhecidos e de origens bíblicas ou egípcias, bem como da limitação textual dos procedimentos descritos nos textos referidos, dado que em sua grande parte foram escritos, copiados e mantidos por padres, rabinos e monges que tinham noções básicas de liturgia, o que deixavam escrito nos textos apenas o essencial a ser praticado.

Se um desses livros fosse pego por alguma autoridade ao revistar um praticante, o mesmo ainda poderia tentar “escapar” sob o argumento de que se tratavam somente de textos de orações, tão comuns da época por devotos. Basta observar essa semelhança de textos como “Liturgia Diária” para com “Liber Juratus” (o “Livro Jurado” atribuído ao Papa Honório, um dos textos mais antigos textos da tradição salomônica, datado de meados do Séc. XIV) : ambos são textos predominantemente organizados com orações.

Grimórios podem ser adaptados?

Antes de responder essa pergunta, temos de entender o contexto do qual os grimórios foram escritos. Eles são resultado inquestionável de um determinado pensamento sobre um determinado período em uma determinada localidade.

Sendo assim, quem os escreveu e os perpetuou foram religiosos ou estudiosos, mas ambos ligados a centros de conhecimento vinculados ao poder da Igreja. O maior de seus mecenas intelectuais fora o próprio Abade Johanes Trithemius (1462-1516), que administrava a maior biblioteca hermética de seu tempo, servindo de ponto de encontro para estudiosos como Marcílio Ficino (1433-1499) e Cornelius Agrippa (1486-1535), autor dos “Três Livros de Filosofia Oculta”, o maior compilado de conhecimento hermético disponível na época.

Então pode ser percebida três camadas de influência desses textos:

1ª Camada: a influência pagã com entidades celestes e telúricas, provenientes em grande parte do paganismo tardio e da goécia mais arcaica;

2ª Camada: a influência religiosa cristã, com a inserção de elementos litúrgicos dentro da ritualística mágica dos textos, com recomendações de purificação e até de orações, quase todos esses procedimentos tento intertextualidade direta com textos sacros, como a Bíblia e a Liturgia das Horas;

3ª Camada: A influência acadêmica escolástica e hermética, que tentou reorganizar esse conhecimento e justificá-lo sob a chancela cristã em detrimento da “magia natural” pagã, como que legitimados pela autoridade religiosa e mágica de Cristo. Grande parte dos hermetistas do período assim se posicionaram para organizarem a sua “prisca theologia”;

Também não deixamos de mencionar uma influência contínua da cultura judaica e rabínica sobre os referidos textos, com procedimentos que são muito pertinentes a visão do Velho Testamento e inteiramente parte da visão religiosa judaica, como o sacrifício de animais e o “holocausto ao Senhor”, de modo que parte das analogias pagãs a pedaços de couro de animais vem da curtição de cabra, bode, boi e leão, por exemplo.

E pode parecer hoje algo terrivelmente horroroso ao pensamento moderno sacrificar um animal para curtir o couro para a feitura de talismãs, considerando esse ato como de extrema brutalidade e selvageria, impactando a psiquê do magista quando isso era visto como natural por quem o fazia nos tempos idos onde não havia açougue e tecnologia de refrigeração e se comia carne o mais fresca possível.

A analogia não era somente literal, mas por verossimilhança, de modo que se um texto como “Grimorium Verum” (o documento mais antigo sobre Goécia) exigia o couro de bode e o das “Clavículas de Salomão” (e suas inúmeras versões latinas, gregas ou hebraicas) o de leão, havia uma equiparação e funcionalidade orgânica em tais trabalhos que os diferenciavam profundamente em significado e simbolismo.

Na visão do Lemegenton, o couro de leão era uma proteção e chancela espiritual sobre o domínio do bestial. Daí pode se considerar os mais diversos níveis de interpretação e analogia, do astrológico ao mitológico. O mesmo para o couro de bode, numa aproximação ao ctônico e bestial, propriamente pagão e mortuário.

Sendo assim, se pudesse-mos sintetizar a praticidade de um grimório, seria sob o raciocínio de etapas descrito a seguir:

“Etapa A”. Um homem com faculdades sensíveis e noção mística/religiosa de mundo entra em contato com um espírito;

“Etapa B”. O espírito mantém contato com o homem e ensina seus conhecimentos sobre a natureza das comunicações e como melhorá-las, prescrevendo materiais acessíveis a este de modo que a comunicação possa tornar-se cada vez mais estreita;

“Etapa C”. O homem alfabetizado anota para deixar registrada a receita para uso frequente e transmite a outros indivíduos, que copiam o texto e passam pra frente, ora incorrendo em erros de tradução ou deturpações conforme suas próprias visões de mundo;

Nenhum grimório, em tese, deveria ser visto como um texto escrito em pedra, mas assim como em todas as vertentes, existirão sempre os fundamentalistas e dogmáticos que farão tudo à risca e com a maior exatidão de detalhes descritos por esses textos.

Como adaptar os Grimórios?

Não existe fórmula pronta e perfeita, que fique claro. Entretanto, à luz dos tempos atuais, faz-se necessário ter uma visão mais aberta ao estudo acadêmico e entender com alteridade tais textos e culturas distintas sob um olhar mais “antropológico”.

Isso porque ao longo da história esotérica muitos se propuseram a adaptar conforme as conveniências pessoais ou filosofias místicas do período, como a própria “Ordem Hermética da Aurora Dourada” MacGregor Mathers (1854-1918), que incorporou diversos textos em sua ritualística e estrutura maçônica e rosacruz. Mesmo Mathers não sendo o melhor dos exemplos, deve ser reconhecido pelas diversas traduções que fez da “Magia Sagrada de Abramelin, o Mago” (Séc. XV apróximadamente) e da “Chave Menor”, do qual, apesar dos erros, soube adaptar tão bem à luz de outras fontes de consulta, como dos livros do Agrippa e do Francis Barret (1770-…) e seu “Magus – A Milícia Celeste”.

Nessa mesma esteira, também é devida a menção honrosa a Papus (Vincent Encausse, 1865-1916), Eliphas Levi (Alphonse Louis Constant, 1810-1875) e Arthur Edward Waite (1857-1942) por seguirem a mesma linha de conduta. Até Aleister Crowley (1875-1947) soube adaptar conforme suas conveniências pessoais aspectos de sistemas pregressos como a Magia Enochiana e o próprio “PGM” na construção de sua carreira mágica com Thelema.

Até aí, Ok. Todos os poucos citados são europeus. Falar que eles puderam adaptar é fácil porque, excluindo-se as devidas diferenças, seguiam uma mesma linha cultural, o que não seria viável para pessoas inseridas em outras culturas que nunca tiveram o contato íntimo com essas tradições, certo?

Então…

A questão é que talvez não tenhamos feito a pergunta certa. Não caberia “adaptar os grimórios” porque eles se consolidaram num contexto específico e local e que dificilmente encontraria a mesma abordagem em outra circunstância. Sendo assim, a pergunta que poderia ser feita de forma mais fortuita seria em “como adaptar as práticas dos grimórios”. E é aí que podemos perceber “o pulo do gato”.

O melhor exemplo que posso dar com base em estudo e vivência é a questão da popularização da leitura. Isso foi crucial com a industrialização e a invenção da imprensa, de modo que muitos desses textos deixaram de ser exclusivos do clero e de uma aristocracia pedante e caíram ao gosto popular e mais informal de uma plebe e burguesia menos intelectuais e mais técnicas, voltadas ao consumo e a busca por alívio espiritual em tempos de materialismo da era moderna.

Esse processo não foi de imediato, claro. Em muitos casos demorou gerações. Imaginemos a situação de um camponês da Irlanda semi-letrado que se tornou monge franciscano e teve acesso a uma Bíblia e textos mais “heterodoxos” como “Galinha Preta” (“Black Chicken”, no original, pouco conhecido do público). O que ele vai contextualizar não vai ser a cosmovisão de um clérigo que está no topo da liturgia rebuscada cristã, mas de um sacerdote popular. Sendo assim, a adaptação dessas práticas vão encontrar uma aproximação com a cultura popular camponesa de sua região.

A leitura e prática do “Galinha Preta” foi corrompida? Não, de maneira alguma. Fora adaptada às circunstancias, necessidade e entendimentos práticas da “magia popular”.

Agora, peguemos o mesmo exemplo, desse monge. Chamemos o gajo de “Willie”. Willie alfabetiza Patrick, jovem mancebo que era literato tanto quanto o monge, e ganha de presente o “Galinha Preta”, numa confidência entre eles. Patrick vivía em tempos difíceis e também tinha o desejo de se aventurar por aí, então ele se arrisca a virar marujo e enfrentar os mares a comerciar nos portos especiarias e produtos diversos, como cana-de-açúcar e algodão.

Patrick, que era um pouco menos inteligente que seu padrinho e mentor de sua terra natal, aprendeu diversas coisas em seu intercâmbio comercial. Num desses portos negreiros do Haiti e da América travou contato com diversos escravos alforriados e letrados e trocou seus textos por diversas outras coisas.

Então o “Galinha Preta” passa das mãos de um Irlandês semi-letrado alfabetizado por um monge popular para as de um escravo liberto que não entende absolutamente nada de Teologia e religiosidade cristã, mas reconhece o poder daqueles espíritos de tão longe, e os trata sob sua mentalidade pagã e ancestral a ponto de adaptar o que aprendeu aqui e acolá, com magia popular, magia de índio, magia de europeu e o que restou da sua religião natal.

Entendem onde quero chegar? Ocorre a mesma coisa.

Em meus estudos pessoais sobre Voodoo e Hoodoo, dentre outras tradições africanas e ameríndias, encontrei muitas aproximações cerimoniais que em nada devem a hegemonia do pensamento católico/protestante de uma elite aristocrática e clerical. E mesmo com suas diferenças conceituais, o texto em prática continua funcionando.

Então, mais uma vez reitero: fazemos as perguntas erradas e por isso deixamos de nos integrar a tradição mágica.

Engenharia Espiritual Reversa e a Prática Hoje

“Certo, você provou seu ponto, mas isso é a sua opinião! Me mostre mais alguém que considera esse raciocínio como válido”

Ok, desafio aceito. Alguns exemplos que me fazem concordar com essa visão reconstrucionista:

Se os grimórios são resultados do desenvolvimento de práticas místicas e mágicas, é natural que aqueles que os escreveram não pensaram e tornarem funcionais para outras pessoas, achando que as condições de vida de seus praticantes se manteriam com o passar das gerações, o que é um erro comum.

Alguns desses textos tem erros grosseiros de tradução dado os inúmeros fragmentos, rasuras e rudimentos de preservação dos textos. Acaba sendo a mesma coisa que sua avó faz ao copiar as receitas que a Palmirinha dá no programa matinal, muitas vezes naquele caderno velho e quase apagado, já amarelado pelo tempo.

Se isso não fosse verdade, não existiriam trabalhos acadêmicos e compilações ou mesmo novas traduções, como as de Joseph H. Peterson, o que implica sempre em novas descobertas que não limitam a interpretação de um texto sob uma chancela de uma única tradição religiosa, a menos, claro, que você pense da mesma maneira que Joseph Lisiewiski e ache que só cristão pode praticar a magia dos grimórios.

Os erros também não são só de linguagem, também dizem respeito a outros conhecimentos dos quais o grimorista poderia não conhecer com profundidade. O autor de Abramelin, por exemplo, tava se lixando para astrologia e deu uma visão simplista e mais gnóstica do tema. Astrólogos como Christopher Warnock chegaram a peitar muito “devoto” ao afirmar que “As Clavículas estão erradas!” pelo simples fato de que, na sua visão de astrólogo, o texto continha erros conceituais e os retificou segundo o que aprendeu.

Mas o derradeiro exemplo que guardo sempre como citação honrosa são de dois autores dos quais tenho grande respeito e admiração: Humberto Maggi (e suas atuais traduções compiladas dos grimórios conhecidas como “Thesaurus Magicus”) e Jake Stratton-Kent. Maggi possui diversos artigos nos quais mostrou um senso de adaptação muito prático e acessível, seguindo a mesma linha original de Jake, que fora capaz de afirmar que “preferia desobedecer os grimórios a desrespeitar os espíritos” e em diversas entrevistas relatou o desagrado de algumas entidades com o tratamento de algumas orações mais tradicionais, demonstrando que é possível uma cordialidade de tratamento mútuo entre o homem e os espíritos.

Sendo assim, e usando o bom senso, eu não vejo a recusa a contatar os espíritos usando adaptações sensatas e aplicadas a vida prática a fim de reduzir esse distanciamento entre teoria e resultados. No mais das vezes, tudo vai se resolver com a mão na massa e na boa e velha “tentativa e erro”. Seria muita ingenuidade não tratar tais textos apenas como tábuas de convocação em vez de listas telefônicas acessíveis as entidades.

Afinal de contas, se elas deixaram por os nomes delas num pedaço de papel, é porque elas desejam ser comunicadas também e receber um chamado para irem de encontro ao “karcista” (outro termo pouco conhecido para o espiritualista que trabalha com evocação de espíritos). Por isso se faz tão necessário tentar ver o tema sob diversos matizes a fim de construir o melhor contato possível, e isso só é possível tentando atender não a forma, mas a essência de tais fontes e seus objetivos: o contato com os espíritos e a formação de vínculos espirituais.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/contextualizando-os-textos-m%C3%A1gicos-cl%C3%A1ssicos-e-antigos

As Forças das Trevas

Por Konstantinos

Acusar-me de ser obcecado pela escuridão. Vá em frente. Só lhe peço que use uma palavra mais forte, e lhe digo que não estou sozinho. Não, eu não estou me referindo aqui à legião da humanidade noturna que vê as coisas na mesma, aham, luz. Deixei claro o quanto estes adultos e crianças são queridos para mim, mas não é deles que eu falo.

Acontece que os cientistas também são muito pendurados na escuridão. Ah, sim, verdadeiros e respeitados cientistas. Na verdade, na última década, mais ou menos, o trabalho mais fascinante que vem sendo feito na Mecânica Quântica e na Cosmologia tem sido o estudo da matéria escura e da energia escura. A primeira é um tipo de matéria que é invisível, mas que se acredita ocupar até noventa e cinco por cento do universo conhecido. A segunda é uma energia que se acredita estar acelerando o crescimento do universo.

O que temos nestes conceitos deliciosamente denominados são os segredos do verdadeiro poder oculto, sendo finalmente compreendido pela comunidade científica aceita. Uma peça de cada vez, a ciência do oculto, ou oculto, está sendo encontrada e quantificada, mais frequentemente sob os fenômenos bizarros que abundam na Mecânica Quântica. É um grande momento para ser um estudante das artes negras.

Como a compreensão da matéria escura e da energia escura ajuda a alcançar o domínio sobre o mundo invisível? Como isso não acontece? Estamos lidando aqui com uma forma de matéria que toca a maior parte da criação, e um tipo de energia que comprovadamente acelera o processo contínuo de criação – a expansão contínua do universo a partir do Big Bang. Coisas poderosas, de fato.

Tão perto quanto os cientistas estão chegando de quantificar a escuridão que permeia tudo, eles não estão muito perto de aproveitar seu poder. Provavelmente teremos carros movidos a fusão antes que um microwatt de energia escura seja usado de qualquer forma em um laboratório, ou seja.

Você pode usar a matéria escura e a energia em seu benefício nesta mesma noite. O ocultista já tem as ferramentas necessárias para chamar e aplicar forças cósmicas, sejam elas escuras ou claras. Mais uma vez, eu escolho a escuridão. Ao lidar com coisas complicadas como, oh, alterar a realidade, é melhor ater-se ao que é mais confortável.

As ferramentas são bastante simples, na verdade: psicodrama e elos simpáticos. Esqueça os anos de treinamento de concentração. Esqueça os estudos nos calcanhares dos chamados mestres ascendidos, que estão mais interessados em ter um servo indistinto do que em passar a sabedoria. Domine a arte de usar o psicodrama e ligá-lo a uma força universal, e essa força universal está à sua disposição.

O psicodrama é o “vestir” em um ritual: velas, incenso, cânticos, símbolos místicos ou outros métodos preparatórios – o que for preciso para que você possa ativar a parte de sua mente que está em sintonia com a energia invisível do universo. Andamos no mundo desperto muito adormecidos. O psicodrama desperta as partes de nosso cérebro que podem fazer coisas mais surpreendentes do que digitar e fazer pedidos na Starbucks, por mais importantes que essas coisas possam ser.

O conceito de ligação simpática tem sido usado para aplicar a consciência elevada a algum objetivo útil. Os bonecos Voodoo permitem enviar energia ao caminho de alguém, com o boneco atuando como um elo de ligação com a pessoa. Mas é aqui que o ocultismo pode ser extra potente. E se, em vez de aplicarmos apenas o princípio da magia simpática a um objetivo ou objeto, o aplicássemos ao acesso a uma força poderosa? Para acessar a matéria escura que permeia toda a criação, e para ter o poder enérgico da energia escura à sua disposição, tudo o que você precisa é de algo que aja como um elo de simpatia com a escuridão.

Entre na noite doce. Saia e você pode quase sentir isso como um campo etérico. Este é o melhor elo de simpatia com a matéria escura e a energia que existe. Por que se preocupar com conceitos físicos como a velocidade da luz e tentar enviar sua magia a um ritmo tão intenso? A escuridão é mais rápida que a luz. Já está lá!

Os ritos escuros que apresento em Nocturnicon permitem acesso total às forças que podem ter afugentado os exploradores do invisível no passado. O mago da morte, os seres Lovecraftianos, os demônios úteis e o próprio Lúcifer esperam por vocês em suas páginas. O psicodrama está lá para criar mudanças surpreendentes no resto de suas noites.

Ao contrário das explorações obscuras da Bruxaria Noturna e do Grimório Gótico, a magia do Nocturnicon não depende de um sistema de crenças específico da deidade. Na verdade, estes rituais nem sequer mencionam ou utilizam um ser supremo. A única coisa em que você estará confiando é na habilidade divina latente em todos nós. Sendo feitos da mesma energia e matéria invisível que o cosmos, podemos acessá-la e manipulá-la.

Corajoso o suficiente para experimentá-la? Ninguém, que eu saiba, tem sido levado a gritar pelas forças que você vai chamar. Pelo menos, ninguém que tenha vivido para contar sobre isso…

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Fonte:

KONSTANTINOS. Dark Forces. The Llewellyn’s Journal, 2005. Disponível em: <https://www.llewellyn.com/journal/article/909>. Acesso em 8 de março de 2022.

COPYRIGHT (2005). Llewellyn Worldwide, Ltd. All rights reserved.

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/as-forcas-das-trevas-2/

A Tradição Feri

A Tradição Feri é uma tradição iniciática da bruxaria pagã moderna. Foi fundada na Califórnia na década de 1960 pelos americanos Victor Henry Anderson e sua esposa Cora Anderson.

Os praticantes a descreveram como uma tradição de êxtase, em vez de uma tradição de fertilidade. Forte ênfase é colocada na experiência e consciência sensual, incluindo o misticismo sexual, que não se limita à expressão heterossexual. A Tradição Feri tem influências muito diversas, como Huna, Vodu, Faery, Cabala, Hoodoo, Tantra e Gnosticismo.

Estudiosos do paganismo como Joanne Pearson e Ethan Doyle White caracterizaram Feri como uma tradição wicca. Este último notou, entretanto, que alguns praticantes da Bruxaria pagã moderna restringem o termo Wicca à Wicca Tradicional Britânica, caso em que Feri não seria classificado como Wicca; ele considerou esta definição excludente do termo “inadequada para fins acadêmicos”. Em vez disso, ele caracterizou Feri como uma forma de Wicca que, no entanto, é distinta de outras, como a Wicca Tradicional Britânica, a Wicca Diânica e a Stregheria.

Anderson conheceu Cora Ann Cremeans em Bend, Oregon, em 1944; eles se casaram três dias depois, em 3 de maio, alegando que já haviam se encontrado antes no reino astral. Nascida em Nyota, Alabama, em janeiro de 1915, Cora foi exposta a práticas mágicas populares desde a infância; supostamente, seu avô irlandês era um “médico das raízes” que era conhecido entre os locais como o “druida”. Os Andersons alegaram que um de seus primeiros atos após o casamento foi a construção de um altar. No ano seguinte, nasceu um filho, e eles o chamaram de Victor Elon, sendo este último a palavra hebraica para carvalho; Cora alegou que ela havia recebido o nome em um sonho. Após o nascimento, foi realizado um ritual para dedicar a criança à Deusa. Em 1948, a família mudou-se para Niles, Califórnia, mais tarde naquele ano comprando uma casa em San Leandro. Lá, Anderson tornou-se membro da Loja Alameda da Ordem Fraternal das Águias, e posteriormente permaneceu assim por quarenta anos. Victor ganhava a vida como músico, tocando acordeão em eventos, enquanto Cora trabalhava como cozinheira de hospital. Alegou-se que Anderson poderia falar havaiano, espanhol, crioulo, grego, italiano e gótico.

Em meados da década de 1950, Victor e Cora leram Witchcraft Today (Bruxaria Hoje), um livro de 1954 do wiccano inglês Gerald Gardner, com Cora alegando que Victor se correspondia com Gardner por um tempo. O estudioso de estudos pagãos Chas S. Clifton sugeriu que os Andersons usaram o trabalho de Gardner como um “guia de estilo” para o desenvolvimento de sua própria tradição de bruxaria pagã moderna. Da mesma forma, Kelly afirmou que a tradição dos Andersons “começou a se assemelhar cada vez mais à dos Gardnerianos”, à medida que o casal aprendeu mais sobre o último, adotando elementos dele. Anderson estava em correspondência com o wiccano ítalo-americano Leo Martello, que encorajou Anderson a fundar seu próprio coven. Por volta de 1960, os Andersons fundaram um coven, nomeando-o Mahealani, em homenagem à palavra havaiana para lua cheia. Ao longo do final dos anos 1950 e início dos anos 1960, os Andersons iniciaram um número de indivíduos no coven. Um deles era Gwydion Pendderwen, um amigo de seu filho que compartilhava seu interesse pelo esotérico. Pendderwen contribuiu para o desenvolvimento do que veio a ser conhecido como a tradição Feri, com alguns membros da linhagem vendo-o como seu co-fundador. Pendderwen observou que conheceu a família quando, aos treze anos, brigou com Victor Elon, embora os dois mais tarde se tornassem amigos. Pendderwen foi particularmente influenciado pela mitologia galesa e, em uma visita à Grã-Bretanha, passou um tempo com os wiccanos alexandrinos Alex Sanders e Stewart Farrar, posteriormente introduzindo vários elementos alexandrinos na Wicca Feri. No início dos anos 1970, os Andersons estabeleceram um novo coven com Pendderwen e sua iniciada, Alison Harlow. Depois que Pendderwen se casou, sua esposa também se juntou a este coven, embora tenha se dissolvido em 1974.

O Ensino de Anderson

Nas quatro décadas seguintes, os Andersons iniciariam entre vinte e cinco e trinta pessoas em sua tradição. Anderson foi descrito como um dos “professores fundadores” e a “voz seminal” da tradição Feri. A palavra original que os Andersons usavam para sua tradição era Vicia, que Cora alegou ser italiana. Ela acrescentou que “o nome Fairy (Fada) tornou-se acidentalmente ligado à nossa tradição porque Victor tantas vezes mencionou essa palavra ao falar de espíritos da natureza e magia celta”. Os primeiros iniciados alternadamente soletravam o nome da tradição como Fairy, Faery ou Faerie, embora Anderson tenha começado a usar a grafia Feri durante a década de 1990 para diferenciá-la de outras tradições de bruxaria com o mesmo nome; nem todos os praticantes seguiram seu exemplo. Cora afirmou que Feri era a grafia original da palavra, acrescentando que significava “as coisas da magia”. Anderson também se referiu à sua forma de Wicca como a tradição picta. Em seus escritos, os Andersons misturaram a terminologia adotada de Huna, da Wicca Gardneriana e do Voodoo, acreditando que todas refletiam a mesma tradição mágico-religiosa subjacente. Baseou-se fortemente no sistema huna desenvolvido por Max Freedom Long. De acordo com um iniciado Feri, Corvia Blackthorn:

“O método de ensino dos Andersons era muito informal. Não havia aulas no sentido acadêmico, apenas conversas e um ritual ocasional, geralmente seguido de uma refeição caseira. As discussões com Victor não eram lineares e transbordavam de informações. Alguém uma vez apropriadamente comentou que falar com Victor era como tentar beber de uma mangueira de incêndio. Muitas vezes, os fios de conexão e os padrões subjacentes nas informações não se tornavam aparentes até mais tarde. Havia também um componente não verbal no ensino de Victor. Ele era um verdadeiro xamã, e tinha a capacidade de mudar a consciência de seus alunos em um nível bem abaixo da superfície da conversa.”

De acordo com Kely:

“Estudar com Victor apresentou alguns problemas incomuns. Ele exigia tanto respeito quanto qualquer avô da classe trabalhadora. Alguém poderia pedir esclarecimentos, mas até mesmo insinuar que alguém discordava dele, ou pior ainda, contradizê-lo, resultaria em um ordem imediata e permanente para sair. Alguém estava tentado a fazer essas perguntas proibidas porque Victor vivia no tempo mítico e estava totalmente desinteressado pelos conceitos de lógica ou consistência de outras pessoas;… Outro aluno me disse que quando Victor leu um novo livro e acreditou era verdade, então ele considerou que sempre foi verdade e repensaria sua história de acordo.”

De acordo com um iniciado, Jim Schuette, Anderson era “um capataz. Ele se orgulhava de testar seus alunos”. Um dos iniciados na tradição Feri dos Andersons foi Starhawk, que incorporou ideias da tradição Feri ao criar o Reclaiming. Ela também incluiu aspectos dele em seu livro de 1979, The Spiral Dance (A Dança Cósmica das Feiticeiras), incluindo menção ao Pentagrama de Ferro e Pérola e as três almas, todos originados dentro de Feri. Outro iniciado de destaque foi Gabriel Carillo (Caradoc ap Cador), que no final da década de 1970 desenvolveu um corpo escrito de ensinamentos Feri, e começou a oferecer aulas pagas na tradição na década de 1980, gerando a linhagem Bloodrose; isso gerou controvérsia entre os iniciados de Feri, com os críticos acreditando que era moralmente errado cobrar pelo ensino.

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Fontes:

Anaar, The White Wand (A Varinha Baqueta). Olha para as fundações artísticas de Feri. Também inclui uma entrevista com Victor Anderson. (disponível em pdf em White Wand: Intersection of Feri and Art: http://www.whitewand.com/ )

Blackthorn, Corvia (2003). “The Feri Tradition: Vicia Line”. The Witches’ Voice. Archived from the original on 2 February 2015.

Cora Anderson, Fifty Years in the Feri Tradition (Cinquenta Anos na Tradição Feri). Reflexões sobre a tradição e comunidade Feri.

Cora Anderson, Kitchen Witch: A Memoir. (A Bruxa da Cozinha: Uma Livro de Memórias) – Harpy Books. Sua vida.

Kelly, Aidan A. (1991). Crafting the Art of Magic – Book I: A History of Modern Witchcraft, 1939–1964. St. Paul: Llewellyn. ISBN 978-0-87542-370-8.

Kelly, Aidan A. (2007). Inventing Witchcraft: A Case Study in the Creation of a New Religion. Loughborough, Leicestershire: Thoth Publications. ISBN 978-1-870450-58-4.

Kelly, Aidan A. (2011). Hippie Commie Beatnik Witches: A Social History of the New Reformed Orthodox Order of the Golden Dawn. Tacoma: Hierophant Wordsmith Press. ISBN 978-1-4609-5824-7.

Victor Anderson, Thorns of the Blood Rose (Espinhos da Rosa Sangrenta). Uma coleção de sua poesia, muito da qual encontrou seu caminho nas liturgias e rituais da tradição.

Victor Anderson, Lilith’s Garden (O Jardim de Lilith). Um volume companheiro para Thorns of the Blood Rose (Espinhos da Rosa Sangrenta), é outra coleção de poesia principalmente litúrgica, incluindo algumas que foram consideradas muito “escandalosas” para serem incluídas no volume original.

Victor Anderson. Etheric Anatomy: The Three Selves and Astral Travel, (Anatomia Etérica: Os Três Eus e a Viagem Astral) – Harpy Books. Um olhar sobre a estrutura psíquica do ser humano, com insights intuitivos sobre algumas das práticas da magia Feri.

Cornelia Benavidez. Victor H. Anderson: An American Shaman, (Um Xamã Americano) – Megalithica Books. Entrevistas com Victor Anderson acompanhadas de ensaios contextualizadores.

  1. Thorn Coyle, Evolutionary Witchcraft (Bruxaria Evolucionária). Manual de treinamento em Feri escrito principalmente para um público pagão não Feri. Contém poesia, exercícios e lendas.
  1. Thorn Coyle, Kissing the Limitless (Beijando o Ilimitado). Expande e continua o treinamento em Evolutionary Witchcraft (Bruxaria Evolucionária), para uso com qualquer caminho espiritual que o leitor seguir.

Francesca De Grandis, Be A Goddess (Seja Uma Deusa). Treinamento abrangente em xamanismo Fey (não-Feri). A melhor parte de sua liturgia, visão de mundo e cosmologia foi canalizada pela autora, que veio de uma tradição familiar, com feedback de Victor Anderson sobre partes do manuscrito.

Francesca De Grandis, Goddess Initiation (Iniciação da Deusa). Uma jornada iniciática experiencial na espiritualidade da Deusa e no xamanismo Fey.

Schutte, Kelesyn (Winter 2002). “Victor H. Anderson: May 21, 1917 – September 20, 2001”. Reclaiming Quarterly (85). Archived from the original on 24 September 2015. Retrieved February 20, 2012.

Storm Faerywolf, “Betwixt and Between: Exploring the Faery Tradition of Witchcraft”. (Nem Uma Coisa Nem Outra: Explorando a Tradição Faery da Bruxaria) – Llewellyn Worldwide. Um estudo abrangente da Tradição Feri, que inclui lendas, rituais, liturgia e receitas.

Starhawk, The Spiral Dance (A Dança Cósmica das Feiticeiras). Codificação litúrgica inicial e influente da bruxaria de Anderson.

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-sexual/a-tradicao-feri/

A Boca do Abutre

Por Kenneth Grant, O Lado Noturno do Éden, Capítulo Onze.

A PALAVRA do Aeon de Maat que os iniciados afirmam ter sido recebida enquanto em comunicação com inteligências extraterrestres,392 é IPSOS, significando ‘a mesma boca’. No segundo capítulo de AL (verso 76) surge uma cifra críptica que contém um grupo de letras possuindo o valor de IPSOS. De fato, duas grafias diferentes de Ipsos resultam em números equivalentes a um grupo de letras em AL. O criptograma em AL é RPSTOVAL, que tem o valor cabalístico de 696 ou 456 conforme ou a letra ‘S’ é lida como um shin ou como um samekh. Similarmente, IPSOS = 696 ou 456 conforme se o primeiro ‘s’ é tomado como um shin ou um samekh. IPSOS é portanto o equivalente cabalístico de RPSTOVAL. O significado deste grupo de letras não é conhecido, mas Ipsos a boca, o órgão da Palavra de Expressão (saída_?), de Alimentação, Sucção, Beberagem, etc., é o órgão não apenas de expressão mas também de recepção da Palavra.

A fórmula RPSTOVAL compartilha com IPSOS, pois a fórmula da Torre393 é aquela do Falo em erupção, e a ejaculação394 da Palavra do Aeon de Maat, a Palavra que se estende até ‘o fim da terra’.395 A terra está sob o domínio do Príncipe do Ar (i.e. Shaitan), mas os espaços além estão sob o domínio do Senhor do Aethyr, cujo símbolo é o abutre.

Nenhuma fórmula pode ser cósmica que não seja essencialmente microcósmica, pois uma contém a outra. É portanto sugerido que a fórmula de RPSTOVAL é aquela de um processo especificamente fisiológico que envolve a boca (útero) em sua fase mais recôndita.

A boca enquanto Maat, a Verdade, a Palavra; Mat, a Mãe; Maut, o Abutre; e Mort, o Morto,396 está implícita no simbolismo da Torre. A erupção ou expressão da Torre (falo) é a saída (?) da Palavra para dentro dos espaços além da terra que são um com os aethyrs397 representada por el Mato, o Louco, o Mat ou O Louco, e Le Mort, o Morto.

O Caminho do Louco (décimo primeiro caminho) é a extensão secreta do Caminho da Torre (Atu XVI) e uma compreensão iniciática deste simbolismo apresenta uma chave para a fórmula do Aeon de Maat que está resumido pelo número 27 (11 + 16), o número do Caminho do Morto e do Atu XVI, A Torre.398 É significativo que o Caminho da Torre seja de fato o 27o Caminho. Este número é atribuído ao Liber Trigrammaton, um Livro Santo, embora ainda não compreendido, recebido por Crowley de Aiwass. Crowley suspeitava que ele continha o segredo da cabala ‘Inglesa’, e em seus Comentários sobre o AL ele tentou equacionar os trigramas com as letras do alfabeto Inglês de modo a descobrir a cabala Inglesa tal como ele estava ordenado a cumprir no AL.399 Mas as equações estavam longe de serem convincentes, mesmo para ele mesmo. O que ele parecia não compreender era que a cabala que ele buscava pertencia a uma dimensão completamente diferente, e que a boca que iria comunicar esta cabala era a boca cujas emanações são os próprios kalas. Portanto, como eu sugeri em Cultos da Sombra (capítulo 7) com relação à palavra RPSTOVAL, com igual probabilidade pode a palavra IPSOS ocultar uma fórmula de kalas psicossexuais que podem ser compreendidos com relação a uma interpretação tantrica da polaridade sexual.

A interação da vagina e do falo (i.e. a boca e a torre) está resumida sob a fórmula eroto-oral conhecida na linguagem popular como o soixante-neuf (69). Mas o assunto é um pouco mais recôndito do que aquele geralmente implicado por esta prática. Os números 6 e 9 denotam o sol e a lua, Tiphareth e Yesod, e, em termos dos 32 kalas o 6 e o 9 se referem àqueles de Leo400 e Pisces401 A enumeração total resulta 109, o número de NDNH, uma palavra Hebraica significando ‘vagina’402. Deduzindo a cifra, 109 se torna 19, que é o ‘glifo feminino’.403 109 mostra portanto o ovo ou esfera – 0 – do Vazio, o ain do infinito em sua forma feminina. O significado mágico deste simbolismo está colocado numa categoria mais ampla sob o número 69: a radiante energia (relâmpago) solar-fálica do Anjo404 correndo veloz para dentro da boca, cálice ou útero da Lua para misturar-se com o qoph kala.405 A bebida resultante é o vinum sabbati, o Vinho do Sabá das Feiticeiras que pode ser destilado, segundo os antigos grimórios, ‘quando o finial(???) da Torre está oscurecido (ou velado) pela asa do abutre’.

Diz-se que um grito peculiar é emitido da boca do abutre. Em O Coração do Mestre,406 Crowley observa que este grito ou palavra é Mu. Seu número, 46, é a ‘chave dos mistérios’, pois ele é o número de Adam / Adão (Man / Homem). Mu é a semente masculina,407 mas ela é também a água (i.e. sangue) da qual o homem foi moldado. 408 O abutre é um pássaro de sangue e seu grito penetrante é expressado no momento de retalhar(?)409 que acompanha o ato de manifestação: ‘Pois estou dividida por causa do amor, para a chance de união’. (AL. I. 29).

O número 46 também implica o véu divisor (Paroketh), previamente explicado. MAH, 46, é o hebraico para 100, o número de qoph e portanto da ‘parte de trás da cabeça’, o assento das energias sexuais no homem. O cem implica na totalização ou realização de um ciclo de tempo.410 O pleno significado do simbolismo é portanto que quando o abutre abre suas asas para receber o golpe fálico no silêncio e discrição da nuvem,411 seu grito penetrante de êxtase, hriliu412, é MU (46).413

Neste estágio é necessário fazer uma digressão aparentemente irrelevante caso a total importância do simbolismo da Torre deva ser entendida.

Numa construção dilapidada anteriormente situada no local atualmente ocupado pelo Centre Point414 ocorreu, em 1949 um rito mágico curioso. Ele aconteceu por instigação de Gerald Gardner.415 O aposento no qual o rito ocorreu estava alugado naquela ocasião por uma ‘bruxa’ a qual eu chamarei de Sra. South. Ela era realmente uma cafetina(?) e prostituta que temperava suas atividades com um sabor ‘oculto’ calculado para apelar à um certo tipo de clientela. Acompanhado por minha esposa e Gerald Gardner, nós três nos dirigimos ao apartamento da Sra. South após passarmos uma tarde com Gardner em seu apartamento em Ridgemount Terrace afastado da Tottenham Court Road. O rito exigia cinco pessoas e só poderia começar após a chegada de uma jovem senhora a quem a Sra. South estava aguardando para aquele propósito. Supunha-se que a jovem senhora era – como a própria Sra.South – bem versada nos aspectos mais profundos da feitiçaria. Eu não vou negar o fato de que sua feitiçaria provou ser genuína, mas que ela sabia menos ainda sobre a arte do que a Sra.South eu também não vou negar.

Gardner explicou que o propósito do rito era demonstrar sua habilidade em ‘trazer para baixo o poder’. Ele pretendia elevar uma corrente de energia mágica com o propósito de contatar certas inteligências extraterrestres com as quais eu estava, naquela ocasião,416 em rapport quase constante. O rito deveria consistir na circunvolução de nós cinco ao redor de um grande sigilo gravado em papel pergaminho que foi especialmente consagrado. O sigilo foi desenhado para meu uso por Austin Osman Spare que também estava, naquele tempo, ocupado em contatar extraterrestres. O sigilo seria mais tarde consumido na chama de uma vela disposta sobre um altar no quadrante norte do apartamento. À parte deste equipamento mágico, o aposento da Sra.South continha apenas duas ou três estantes de livros sobre feitiçaria e o ‘oculto’ em geral; eles foram sem dúvida importados por ela para emprestar um ar de autenticidade à suas buscas mais usuais.

Se o rito teria sido eficaz ou não fica aberto para questionamento. Ele foi interrompido antes da invocação inicial ter sido concluída. Esta consistia de uma circunvolução horária ao redor do altar com rapidez crescente em círculos que iam diminuindo. A campainha da porta da frente tocou subitamente nas profundezas da construção no restante deserta, primeiramente fraca, então de forma penetrante e insistentemente. O determinado visitante provou ser o proprietário de uma livraria ‘oculta’ situada numa distância não muito grande do apartamento da Sra.South. Contudo ao saber que eu estava no alto da escadaria o visitante decidiu não subir.417 Ele saiu e então meteu-se na vaga névoa de Novembro que mais tarde naquela noite se desenvolveu em um bom fog (nevoeiro) Londrino à moda antiga.

O objetivo deste relato é ilustrar um fato curioso característico da estranha maneira na qual a magia(k) freqüentemente funciona. O sigilo que deveria ter formado o foco da Operação aquela noite era o de um espírito particularmente potente, que teria sido indubitavelmente descrito por Gardner e a Sra. South como essencialmente ‘fálico’. Este fato é importante, pois logo após a cerimônia abortada a Sra. South morreu sob circunstâncias misteriosas; o casamento do dono da livraria se desintegrou violentamente e ele também morreu logo após. O próprio Gerald Gardner não demorou em seguir o exemplo(?). Mas o alto edifício mais tarde erguido sobre o local que estes magos frequentavam é no meu entender um monumento adequado à futilidade daquela Operação noturna.

Fui induzido à lembrar de fazer este relato sobre um rito mágico que deu errado devido à uma declaração feita por Ithell Colquhoun que reconhece na Torre do Correio um monumento à magia de MacGregor Mathers, algumas de cujas atividades foram concentradas naquela região de Londres.418 A premissa pode ser absurda, mas deve ser lembrado que os surrealistas, dos quais Ithell Colqhoun era um, penetraram muitos mistérios mágicos que escaparam aos praticantes e investigadores mais prosaicos. Os casos de Centre Point e a Torre do Correio (ambas formas da Torre Mágica discutida no presente capítulo) conduzem logicamente ao simbolismo da Torre que penetra os Trabalhos de vários ocultistas contemporâneos que operam independentemente uns dos outros.

Durante os últimos anos recentes o presente escritor tem recebido cartas de pessoas e grupos mágicos de todo o mundo, e talvez não seja surpreendente – em vista da natureza comum de nossas pesquisas – que certos símbolos dominantes devam recorrer. Por exemplo, o Liber Pennae Praenumbra que foi recentemente recebido por Adeptos em Ohio, EUA, está permeado com os símbolos mostrados no vívido delinear de Allen Holub de O Abutre na Torre do Silêncio (vide ilustração 8): O Abutre de Maat, a Abelha de Sekhet, a Torre do Silêncio, e a Serpente cujas espirais formam a palavra IPSOS.

Um outro grupo independente de Adeptos em Nova Iorque, conduzido por Soror Tanith da O.T.O., também recebeu símbolos idênticos, dos quais a Torre do Silêncio e a Abelha de Sekhet são os predominantes. A transmissão à Soror Tanith foi emitida por uma entidade extraterrestre conhecida como LAM que foi anteriormente contatada por Crowley em 1919.419

O líder do Culto da Serpente Negra, Michael Bertiaux, também contatou LAM enquanto operava com a Corrente Bön-Pa Tibetana nos anos sessenta.420 Em todas estas invocações e operações mágicas, o simbolismo acima descrito tem sido predominante, o que sugere que em todos os três locais (i.e. Ohio, Nova Iorque e Chicago) uma idêntica energia oculta, entidade ou raio, está irradiando vibrações em conformidade com os símbolos de Mu ou Maat e podem portanto proceder daquele aeon futuro. Isso tende à confirmar a teoria de Frater Achad de que existe uma sobreposição provocada por uma ‘curvatura no tempo’ que está manifestando seu enrolar espiral conforme a antiga sabedoria,421 onde era simbolizada pelo abutre com o pescoço em espiral e pelo pescoço torto cujas peculiaridades físicas fizeram dele um totem ou símbolo senciente similarmente apto.

Outro totem, menos facilmente explicável, é a hiena. Como o abutre, a hiena é uma ‘besta de sangue’, mas apenas isso não responde por seu uso como um glifo zoomórfico na Tradição Draconiana. Segundo a antiga sabedoria a hiena só pode enxergar à direita ou à esquerda girando(?) ao redor de todo o seu corpo; i.e. ele não consegue virar sua cabeça. Ele é portanto de igual valência, simbolicamente, como o pescoço torto. Como um totem do abismo, a atribuição da hiena é por si evidente à respeito de esta povoar as criptas e tumbas do antigo Egito e se alimentar dos mortos. O simbolismo do deserto também se aplica. Na Índia o abutre e a hiena estão entre as bestas associadas com os ritos de Kali. O elemento tântrico do rito está então implícito.

Existem similaridades próximas entre os ritos Afro-Egípcios de Shaitan celebrados na Suméria e Acádia, e os posteriores ritos tântricos Indianos de Kali. O sabor distintamente mongol desses ritos observados por estudiosos422 é evidente no ethos(?) peculiar que permeia muito da literatura conectada aos Kaulas, que usam o bode, o porco, o abutre, a serpente, a aranha, o morcego, e outras bestas tipicamente Tifonianas em suas cerimônias sacrificiais. Existem também uma confraternidade secreta na América do Sul atualmente que mantém entre os devotos de seu círculo interno aqueles que atravessaram os Portais Intermediários(?) na forma-deus do morcego. Este é o zoótipo da besta de sangue vampira que está ligada ao simbolismo do abutre e da hiena. O morcego se pendura de ponta cabeça para dormir após se alimentar; a hiena é retromingent423; e o abutre, cujo pescoço torto sugere uma forma de ‘visão’ para trás, são determinativos ocultos daquela retroversão dos sentidos que torna possível o salto por cima do abismo. Este salto é um mergulho para trás através do vazio tempo-espaço de Daäth com o resultado de que o fundo salta fora do mundo do Adepto que o ensaia. Sax Rohmer, que foi uma vez um membro da Golden Dawn,424 faz uma alusão de passagem à este culto em seu romance Asa de Morcego (Batwing), e embora ele prejudique o efeito de sua estória ao recorrer ao truque literário vulgar de uma solução mecanicista, ele não obstante se refere à um culto real quando ele diz:

Enquanto que serpentes e escorpiões tem sido sempre reconhecidos como sagrados por cultuadores do Voodoo, o real emblema de sua religião impura é o morcego, especialmente o morcego vampiro da América do Sul.425

Rohmer, como H.P.Lovecraft, tinha experiência direta e contínua dos planos internos, e ambos estabeleceram contato com entidades não-espaciais. Além do mais, estes dois escritores recuaram – em seus romances e em suas correspondências privadas respectivamente – do atual confronto com entidades que são facilmente reconhecíveis como os enviados de Choronzon-Shugal. As máscaras destas entidades adquiriram uma qualidade de tal clareza forçada que nem Rohmer nem Lovecraft eram capazes de encarar o que jaz abaixo. Ainda assim o repúdio insuperável inspirado por tais contatos ocultavam potencial mágico, comprimido e explosivo, o que tornou estes dois escritores mestres em seus respectivos ramos de ocultismo criativo.

Não há dúvidas que escritores como Sax Rohmer, H.P.Lovecraft, Arthur Machen, Algernon Blackwood, Charles Williams, Dion Fortune, etc., trouxeram influências poderosas para serem ostentadas sobre o cenário ocultista através de seus vários esboços das Qliphoth. A fórmula do abismo, por exemplo, tem sido incomparavelmente expressa em alegoria pelo simbolismo do salto mortal psicológico descrito por Charles Williams (em Descida ao Inferno) que usa as linhas assombrosas:

O Mago Zoroastro, meu filho morto,
Encontrou sua própria imagem caminhando no jardim.

como um tema para sua estória.

O ato de girar ou virar para trás é a fórmula implícita na antiga simbologia da bruxaria.426

Os familiares das bruxas, não menos que as formas-deuses assumidas pelos sacerdotes egípcios, foram adotadas de modo à transformar os praticantes, não nos animais em questão, mas em um estado de consciência que eles representavam no bestiário psicológico de poderes atávicos latentes no subconsciente. A fórmula é resumida por Austin Spare em seu sistema de feitiçaria sexual e ressurgência atávica que são os temas do Zoz Kia Cultus.427 Ithell Colquhoun situa corretamente este culto em seu arranjo contemporâneo como um ramo da O.T.O. e da ‘Feitiçaria Tradicional’,428 mas o Zoz Kia Cultus comporta um outro fio que se origina de influências mais antigas que qualquer uma que possa ser atribuída meramente à ‘feitiçaria tradicional’, o que quer que aquele termo possa significar. Estas influências emanam de cultos tais como aqueles que Lovecraft contatou na Nova Inglaterra via Feitiçaria de Salem que – por sua vez – tinha contato com correntes vastamente antigas que se manifestaram no complexo astral Ameríndio como as entidades ‘eldritch’(?) descritas por Lovecraft em seus contos de horror.

Tais também eram as entidades que Spare contatou através de ‘Black Eagle’.429 Black Eagle induziu em Spare a extrema vertigem que iniciou um pouco de sua mais fina obra. Spare ‘visualizou’ esta sensação de vertigem criativa num quadro entitulado Tragédia do Trapézio (ilustração 15) cujo tema ele repetiu em várias pinturas. A fórmula é essencial à sua feitiçaria.

O trapézio ou balanço era o vahana430 de Radha e Krishna, cujo jogo amoroso está associado à vertigem induzida pelo balançar das emoções e do cair (loucamente) em amor. Com Spare, contudo, o êxtase alcança sua apoteose através de uma sensação catastrófica de opressão esmagadora, de ser empurrado para baixo e mergulhar no abismo.

O balanço é idêntico ao berço que desempenha papel tão proeminente nos mistérios do Culto de Krishna Gopal.431 Porém muito antes de pré datar os ritos da criança negra, Krishna, haviam os ritos da criança negra Set, ou Harpocrates, o bebê dentro do ovo negro do Akasha.432 O Aeon da Criança433 é o Aeon do Bebê do Abismo, sendo que um de seus símbolos é o berço que simboliza o balanço ou travessia para o Aeon de Maat (Mu). Mu, 46, a Chave dos Mistérios, é também o número de MV (água, i.e. sangue) que é tipificado pelo abutre, a hiena, e outras ‘bestas de sangue’. Em termos mágicos, a sensação induzida no trapezista mergulhador é resumida por Spare numa fórmula pictórica à qual ele não deu nenhum nome particular, mas que pode ser descrita como a Fórmula da Vertigem Criativa. No seu quadro do trapezista a executante é feminina pois ela representa a personificação humana da Serpente de Fogo despertada. É o pé,434 e não a mão que é escolhido para instigar os meios da queda.

No Zoz Kia Cultus Spare exaltou a Mão e o Olho como os principais instrumentos de reificação. Isto quer dizer que ele exaltava uma fórmula mágica similar àquela que caracteriza o oitavo grau da O.T.O.435 Ainda assim ele percebeu que a suprema fórmula eficaz na transição do abismo é aquela que envolve não a mão, mas o ‘pé’. O pé está sob ou embaixo da mão e assim, simbolicamente, a mão ‘esquerda’ tipificada pela Mulher Escarlate, de cujos pés a poeira é o pó vermelho celebrado pelos Siddhas Tamil.436 A poeira vermelha, ou poeira do fogo, é a emanação nuclear da Serpente de Fogo em seu veloz deslocamento para cima, e ela conduz à iluminação em um sentido cósmico. Mas é necessário um processo adicional para admitir o Adepto às zonas do Não-Ser representadas pelo outro lado da Árvore da Vida que aterroriza o não-iniciado como sendo a Árvore da Morte.

Além do Abismo, sexualidade ou polaridade perdem todo o sentido. Isto explica porque, segundo a doutrina da Golden Dawn, os Adeptos além do Grau de 7o=4437 não eram mais encarnados. Por não existir nenhuma terminologia adequada (na Tradição Ocidental) para este estado de ocorrência podemos não mais do que nos referirmos, por meio de analogia, aos Mahapurusas da Tradição Hindu. Mahapurusas são seres não humanos que aparecem para os Adeptos no caminho espiritual. Um exemplo recente bem documentado de tal manifestação ocorreu na vida de Pagal Haranath.438 Ele era considerado como sendo uma encarnação de Krishna e uma reencarnação de Sri Caitanya, o bhakta439 do século 15 que inspirou os habitantes de Bengala pela intensidade e fervor de sua devoção à Krishna (Deus). À Pagal Haranath um Mahapurusa apareceu como uma forma radiante com luz gigantesca. O único paralelo ocidental (de anos recentes) que vem à mente é o relato muito citado do encontro de MacGregor Mathers com os ‘Chefes Secretos’ que ocorreu no Bois de Boulogne.440

Aleister Crowley em contradição à MacGregor Mathers, sustentava que os Adeptos de suprema realização algumas vezes permanecem de fato na carne; quer dizer, a experiência conhecida como ‘cruzar o abismo’ não comporta necessariamente a morte física. Isto é, naturalmente, bem conhecido no oriente, onde, em nosso próprio tempo, tem havido exemplos excepcionais tais como Sri Ramakrishna Paramahamsa, Sri Ramana Maharshi, Sri Sai Baba (de Shirdi), Sri Anandamayi Ma e Sri Anusaya Devi,441 para mencionar apenas uns poucos.

Tem sido refutado [o fato de] que Crowley não cruzou o Abismo com sucesso.442 Seja como for, certos iniciados ocidentais indubitavelmente conseguiram fazer esta travessia e isso está evidente em seus escritos. Embora um caso de opinião – e isto é aqui declarado como tal, e não mais – o mais importante dos Adeptos Ocidentais nesta categoria é aquele que escreve sob o pseudônimo de Wei Wu Wei. Seus livros devem ser elogiados como as excursões mais ricas, mais sutis e mais vivamente potentes para dentro do Vazio da Consciência Sem Forma, ainda assim reduzidas em palavras.

Notas:

392 Vide Página 116, nota 36.

393 Associada com a fórmula de IPSOS; vide Figura 8.

394 Via o meatus, uma boca inferior.

395 Maat = 442 = APMI ARTz = ‘o fim da terra’.

396 i.e. o subconsciente (Amenta).

397 IPSOS grafado como 760 é equivalente à ‘Empyreum’, o empíreo.

398 Em alguns maços de Taro este atu é conhecido como A Torre Destruída.

399 Tu obterás a ordem & valor do alfabeto Inglês; tu encontrarás novos símbolos aos quais as atribuirá’. (AL. II. 55).

400 O kala do Sol, atribuído à letra Teth, significando um ‘leão-serpente’.

401 O kala da Lua, atribuído à letra Qoph, significando ‘a parte de trás da cabeça’.

402 O número 109 é também aquele de OGVL, ‘círculo’, ‘esfera’; BQZ, ‘relâmpago’; e AHP, ‘Ar’.

403 Vide 777 Revisado: Significado dos [Números] Primos de 11 a 97.

404 Tiphareth; a Esfera do Santo Anjo Guardião.

405 Vide Diagrama 1, Cultos da Sombra.

406 Reeditado em 1974 pela 93 Publishing, Montreal.

407 Compare a palavra egípcia mai.

408 A-DM ou Adam foi feito da ‘terra vermelha’ (i.e. DM, sangue).

409 HBDLH (retalhando_?) = 46.

410 Compare com a palavra egípcia meh, ‘encher’, ‘cheio’, ‘completar’.

411 Paroketh também significa ‘uma nuvem’; uma referência à invisibilidade tradicionalmente assumida pelo deus masculino ao impregnar a virgem.

412 Em sua cópia pessoal do Liber XV (A Missa Gnóstica), Crowley explica hriliu como o ‘êxtase metafísico’ que acompanha o orgasmo sexual.

413 É interessante observar juntamente com o significado da palavra IPSOS, que Frater Achad chegou muito próximo à uma interpretação similar de sua própria fórmula do Aeon de Maat, a saber: Ma-Ion. Numa carta datada de 7 de Junho de 1948, ele escreve: ‘Por gentileza observe que em Sânscrito Ma = Not (Não). Na mesma linguagem ela também significa: ‘Mouth’ (‘Boca’).

414 Londres WC1.

415 O autor de dois livros sobre Feitiçaria que atraiu alguma atenção no tempo de sua publicação nos anos 50.

416 O incidente ocorreu durante o estágio formativo de uma loja da O.T.O. que eu havia fundado para o propósito de canalizar influências mágicas específicas desde uma fonte transplutoniana simbolizada por Nu-Isis.

417 Minha associação com Aleister Crowley não era desconhecida à ele.

418 Vide a Espada da Sabedoria: MacGregor Mathers e a Golden Dawn, por Ithell Colquhoun, Nevile Spearman, 1975. A Srta.Colqhoun observa que W.B.Yeats e outros foram iniciados na Rua Fitzroy, e comenta: ‘Hoje a Torre do Correio ofuscando a rua poderia, eu suponho, ser vista como uma projeção do poder de Hermes, aqui substituindo o de Isis- Urania’.(p.50).

419 Crowley também estava em Nova Iorque na ocasião em que ele estabeleceu contato com esta entidade. Uma gravura de LAM desenhada por Crowley aparece em O Renascer da Magia, ilustração 5. O desenho foi exibido originalmente em Greenwich Village em 1919 e publicada em O Equinócio Azul.

420 Vide Cultos da Sombra, capítulo 10.

421 Zoroastro (circa 1100 A.C.) estava bem consciente da misteriosa dobra do tempo que exercitou o talento de alguns dos mais perspicazes pensadores modernos. Ele descreveu Deus como tendo uma ‘força espiral’ e associou o hiato de tempo com a progressão dos aeons que retornavam à sua fonte de origem, assim reativando os atavismos primais da consciência primeva.

422 Vide Estudos sobre os Tantras , de Prabodh Chandra Bagchi.

423 Nota do Tradutor: Micção realizada ao contrário.

424 Segundo Cay Van Ash & Elizabeth Sax Rohmer. Vide Mestre da Vileza , capítulo 4. Ohio Popular Press, 1972.

425 Asa de Morcego, p.92.

426 Esta fórmula é equivalente ao nivritti marga hindu ou ‘caminho do retorno’, ou inversão dos sentidos à sua fonte em pura consciência. Ela é tipificada nos tantras como viparita maithuna, simbolizada pela união sexual de ponta cabeça.

427 Vide Imagens & Oráculos de Austin Osman Spare, Parte II.

428 Espada da Sabedoria (Colquhoun), capítulo 16.

429 Para uma imagem desta entidade, vide O Renascer da Magia, ilustração 12.

430 Este termo em Sanscrito denota um ‘veículo’ ou foco de força.

431 Culto da Criança Krishna.

432 Akasha, significando ‘Espírito’ou ‘Aethyr’(Éter), é o quinto elemento.

433 i.e. o Aeon de Hórus. Hórus ou Har significa a ‘criança’.

434 O simbolismo dos pés da deusa é explicado em Aleister Crowley & o Deus Oculto , capítulo 10.

435 A fórmula é aplicada por meio de auto-erotismo manual.

436 Vide A Religião e Filosofia de Tevaram, de D.Rangaswamy.

437 O Grau imediatamente precedente ao Abismo.

438 Sri Pagal Haranath, o ‘Louco’ ou ‘Doido’, viveu na Bengala Ocidental de 1865 a 19 27. Um relato da visita está contido em Shri Haranath: Seu Papel & Preceitos, de Vithaldas Nathabhai Mehta. Bombay, 1954. Tais manifestações ocorrendo nos tempos primitivos poderiam ter dado início ao conceito dos NPhLIM ou Gigantes. Vide capítulo 9, supra.

439 Devoto de Deus.

440 Citado em Aleister Crowley & o Deus Oculto, capítulo 1.

441 Os dois últimos Sábios estão, felizmente, ainda encarnados e na extensão do que sei, estão disponíveis para
darshan.

442 Frater Achad. Vide Cultos da Sombra, capítulo 8.

Revisão final: Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/thelema/a-boca-do-abutre/

A Gnose Afro-Americana e o Candomblé Gnóstico

Uma visão moderna dos Cultos-Afro e de suas potencialidades mágicas.

O MOTIVO PELO QUAL ESTE CURSO FOI ELABORADO: Durante meus mais de vinte anos de estudos teóricos e experiências práticas no Ocultismo, tenho travado contato com as mais variadas correntes de pensamento Esotérico.

Como pesquisador que sou, não me contento em permanecer na superfície da questão, como a grande maioria de interessados no tema; muito pelo contrário, pois eu procuro me aprofundar sobremaneira no assunto que me desperta interesse, adquirindo a maior quantidade de informações possível, sejam relatos pessoais, sejam escritos de que natureza forem, para, então, colocar em prática os ensinamentos de dito Sistema.

Tenho experimentado de tudo um pouco, em se tratando de Magia, sofrendo, por assim dizer, “na própria carne”, os resultados de minhas experiências e, porque não dizer, de minha ousadia.

Após algum tempo de militância em determinado Sistema de Magia, coloco os resultados obtidos numa balança imaginária, pesando os prós e os contras, até que me tenho por satisfeito com uma resposta clara e sem evasivas, obtida entre duas únicas opções: tal Sistema FUNCIONA, ou NÃO FUNCIONA.

Assim, concluindo definitivamente minhas pesquisas em tal Sistema, passo a incluí-lo em minhas práticas pessoais (meu próprio Sistema, se assim quiserem), caso a conclusão de meus estudos seja de que tal Sistema funciona; ou, então, descarto tal Sistema em definitivo, caso conclua que o mesmo não funciona.

Muitos dos Sistemas de Magia tidos em elevada conta por especialistas diversos, funcionam a contento. Outros, entretanto, ficam muito a desejar.

Como este não é o momento de abordar tal assunto (o que faço em detalhes no meu livro “CURSO DE MAGIA”), deter-me-ei a examinar os Cultos- Afro, sob um prisma Gnóstico e Esotérico.

Voltando ao assunto de Sistemas que funcionam ou não, vamos falar do Candomblé e seus congêneres.

Tenho observado, ao passar dos anos, que muitas pessoas, interessadas em Ocultismo, nutrem um forte preconceito contra o Candomblé e assemelhados.

Apesar disso, quando encontram-se “no aperto”, buscam, de imediato, “socorro” dentro das práticas mágicas candomblecistas.

Socorridos, entretanto, e mais, sanado o problema que os afligia, “dão as costas” para a tal de “macumba”, coisa que não compreendem mas sabem que funciona, voltando aos seus cristais e florais.

Atitude simplista, para dizer o mínimo.

A “macumba”, designação genérica de tudo quanto seja de origem Afro, manteve a fama de ser infalível; apesar disso, poucos estudiosos do assunto se deteviram a examinar o assunto a luz da ciência experimental, para concluir como funciona a “macumba” e, mais ainda, quando funciona, e por qual motivo, assim como compreender suas falhas e deficiências, que aumentam no mesmo passo em que o assunto é difundido – mas não explicado.

Interessante observar que, nos últimos anos, houve uma verdadeira explosão de livros sobre “macumba”, muitos dos quais ensinando trabalhos para os mais diversos fins, tal qual fossem receitas de bolo.

Assim, sem explicar nem justificar, passam adiante ensinamentos que exigem, para serem postos em prática, um profundo conhecimento dos Cultos- Afro, sem o que tais práticas tornar-se-iam perigosas para todos os envolvidos.

Mais ainda, incentivam ao leitor realizar tal trabalho, sem alertar para os cuidados que devem cercar tais práticas.

Dessa forma, indivíduos inescrupulosos, pouco conhecedores do assunto, mas sabedores das necessidades humanas, travestem-se de “Pais-de-Santo” ou “Mães-de-Santo”, realizando todo tipo de trabalhos, jogando búzios, interferindo na vida de todo e qualquer cidadão, sem o menor cuidado ou escrúpulo.

O resultado? Fracasso, desilusão, além da sensação de que “macumba não funciona”.

Eis o motivo deste curso – explicar tudo, tirar todos os véus, trazer o conhecimento mágico-místico-religioso à luz da ciência experimental, para que todos, admiradores ou não do assunto, possam compreender no que consistem tais práticas, tirando, assim, suas próprias conclusões.

Vamos, portanto, ao curso.

“INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS DE MAGIA DE ORIGEM AFRO”

“CANDOMBLÉ, VUDÚ, HOODOO, PETRO, RADA, LUCUMÍ, SANTERÍA, PALO-MAYOMBE, UMBANDA, QUIMBANDA E CATIMBÓ: SUAS SEMELHANÇAS, DIFERENÇAS, TABÚS E FUNDAMENTOS.”

Visão moderna dos Sistemas do Candomblé, do Vudú, da Umbanda e da Quimbanda.

Muitas vezes, quando se fala em Magia, as pessoas pensam imediatamente nas práticas executadas nos Cultos Afro-Brasileiros, Afro-Americanos e Afro- Ameríndios.

Diversas pessoas tem visões semelhantes desses Cultos, mas os conceitos difundidos são preconceituosos, misteriosos e dogmáticos, o que faz, pouco a pouco, com que a Realidade Mágica desses Cultos se perca para sempre.

Para começar, o Candomblé, o Vudú, a Santería, o Palo-Mayombe e o Lucumí são cultos muito semelhantes, de origem africana, mas tremendamente desenvolvidos nas Américas. Já a Umbanda é um culto muito distinto, com bem poucas semelhanças com os outros dois, enquanto a Quimbanda é algo totalmente diferente. O Catimbó é uma espécie de meio-caminho entre a Umbanda e a Quimbanda. O Hoodoo reúne características do Vudú, porém tem diversas peculiaridades, sendo a mais importante delas trabalhar apenas com Elementais, Elementares, Sombras, Cascarões, Larvas e “Almas”. Petro e Rada são duas raízes diferentes do Vudú haitiano, sendo o culto Rada mais voltado às Entidades do panteão Afro original, enquanto o Petro é mais voltado ao culto de Loas semelhantes aos Guias de nossas Umbanda e Quimbanda. O Voudon Gnóstico, apesar do nome, e da nítida influência do Vudú e do Hoodoo, é mais uma Ordem Hermética (uma vez que é ligado à O.T.O.A. – Ordo Templi Orientis Antiqua) do que um culto ou uma religião, razão pela qual está fora deste texto. Todos, porém, tem entre si uma semelhança marcante e de suma importância: são todas “Religiões Thelêmicas”, ou “Cultos Thelêmicos”, como queiram. E o que significa uma religião ser “Thelêmica”? Significa que cada indivíduo, dentro dela, tem sua própria religião, seu próprio Deus, distintos dos de qualquer outro indivíduo. E foi por isso que os cultos africanos sobreviveram na mudança para o novo mundo, cresceram e se multiplicaram.

Sendo assim, vamos começar a definir a Quimbanda.

A Quimbanda é um culto mágico às Entidades malévolas, denominadas Exus, Pombas-Giras, Caboclos Quimbandeiros, Pretos-Velhos Quimbandeiros, e assim por diante. Na Quimbanda não há nenhum tipo de “Iniciação”, quer seja mágica, mística ou religiosa. Basicamente, há duas formas de se praticar a Quimbanda – a Evocação e a Invocação das Entidades. Qualquer que seja o meio escolhido, normalmente desenha-se o “Sigilo” (chamado “Ponto Riscado” na Umbanda e na Quimbanda) da Entidade no chão, pedindo-se, em seguida, sua intervenção. No caso da Invocação, a pessoa que “receber” a Entidade (chamado “Cavalo” ou “Burro” na Umbanda ou na Quimbanda) passa a ter os poderes da mesma; são então feitos pedidos à pessoa “incorporada”, que pedirá então algumas coisas para a execução do “trabalho de magia” . Em geral, na Quimbanda só se trabalha para o mal de alguém, ou então para submeter-se uma pessoa à vontade de outra. Quando se Evoca Entidades na Quimbanda, porém, faz-se oferendas simples, visando obter a intervenção da Entidade para obter o que se deseja, normalmente alguma maldade. Na Umbanda, o que acontece é a mesmíssima coisa, com uma diferença essencial: só se “trabalha” para o bem, pois as Entidades que “baixam” na Umbanda são somente benéficas. Em alguns “terreiros” de Umbanda foram implantados “Rituais Iniciáticos”, herdados de culturas diversas. Na Umbanda, vê-se uma nítida influência do Kardecismo, bem como da mentalidade católico-cristã, além do público e notório sincretismo religioso entre os Orixás da Umbanda (que só comungam dos nomes com os Orixás do Candomblé) e os Santos Católicos. O Catimbó é uma mistura completa entre a Umbanda e a Quimbanda, com algumas diferenças: as Entidades que “baixam” são chamadas de “Mestres”; se são benfazejos, diz-se que “fazem fumaça às direitas”, e dos malévolos se diz que “fazem fumaça às esquerdas”. Concluí-se daí que no Catimbó se “trabalha” indistintamente para o bem e para o mal. Além disso, no Catimbó não se cultuam Deuses ou outras Entidades de grande envergadura de poder, apenas “baixam” Entidades com especial identificação social no grupo aonde se desenvolve a “mesa” do Catimbó. Na Santería ocorrem práticas semelhantes às dos cultos descritos acima, mas há também um culto aos Orixás, no estilo do Candomblé, só que com toda a influência Católico-Cristã imaginável.

Mas existem sutis diferenças entre esses cultos. Na Umbanda, as Entidades são “espíritos” de pessoas desencarnadas (mortas); na Quimbanda, “baixam” indistintamente “espíritos” de pessoas mortas (normalmente de pessoas perniciosas ou criminosas), ou Demônios mesmo. No Catimbó só “baixam” os “espíritos” de mortos.

Mas, será que o que “baixa” em todas essas “sessões” é mesmo uma “alma”? E será que todas essas “almas” são sábias, sinceras e magicamente capazes? Não creio. Para mim, o que ocorre muitas das vezes, é o seguinte: A) o “médium”, desejoso de “receber um guia”, induzido pelo “chefe do terreiro” de que ele/ela “tem mediunidade, precisa desenvolvê-la”, acaba por criar uma Imagem Telemática correspondente a sua idéia do “guia”, que, então, cria “vida”, passando a agir como desejado…

B) cena “A”: alguém morre; seu corpo físico jaz inerte, seu corpo astral separa-se do cadáver físico e, em pouco tempo, o corpo mental do falecido separa-se também do corpo astral, ficando este último também destinado a morrer, a decompor-se; cena “B”: um Elementar Artificial, um Íncubo, um Súcubo, um Vampiro, uma Larva Astral, alguma dessas Entidades simples, busca sobreviver …vampirizando alguém! É porém difícil “sugar vitalidade a força” de alguém; cena “C”: a Larva da “cena B” encontra um cadáver de corpo astral (Cascarão Astral), penetra nele e o “aviva”; cena “D”: o “Cascarão Avivado” encontra uma pessoa receptiva, um “médium”, e começa o ataque; o “médium” acaba por ir a um “terreiro” ou “centro”, aonde “seu guia” o levou, e aonde irá “desenvolver sua mediunidade”; cena “E”: o “médium” já “desenvolvido”, recebendo seu “guia”, dá consultas, passes, faz trabalhos, aconselha…e o “guia” (o Cascarão Avivado) vampiriza o “médium” e as pessoas que vão consultá-los.

É claro que existem incorporações ou possessões reais, mas são muito raras na Umbanda e no Kardecismo. Ocorrem muito freqüentemente no Candomblé e correlatos, mas são raríssimos nos cultos à desencarnados.

Sem mais comentários sobre o assunto.

Agora, Candomblé, Vudú, Palo-Mayombe e Lucumí.

O que digo a seguir é minha experiência e enfoque pessoais. Quem desejar aprofundar-se no assunto deve consultar as obras dos seguintes autores, colocados em ordem de importância: Pierre “Fatumbí” Verger, Fernandes Portugal, Caribé, Bernard Maupoil, William Bascon, Michael Bertiaux, Luis Manuel Nuñes, Jorge Alberto Varanda, Roger Bastide, Juana Elbein dos Santos, Courtney Willis, Ogã Jimbereuá, Babalorixá Ominarê, Lydia Cabrera, Migene Gonzalez-Wippler e João Sebastião das Chagas Varella. Já os apreciadores de Mitologia em geral, deverão conhecer a obra de Joseph Campbell, o mais importante autor do assunto. A Editora Pallas tem bons títulos sobre Candomblé e Vudú. Este texto trata dos aspectos reais das Práticas Mágicas dos Cultos em questão. Desculpem a crueza, mas a verdade é cruel, e dói.

Muitos estudiosos de Magia, bem como inúmeros autores do gênero, colocam os Deuses dos diversos panteãos como Arquétipos. Considerando-os assim, alguns praticantes da Magia Ritual creem que pode-se trabalhar magicamente com os Deuses Internos, como se trabalhassemos com os Arquétipos Universais. Aqui existe um enorme equívoco, pois os Deuses Internos englobam aspectos arquetípicos, não se limitando, porém, a serem Arquétipos simplesmente.

Na verdade, há uma obra muito boa sobre Magia Planetária (Planetary Magick, editora Llewellyn), que, porém, considera os Deuses de diversos panteãos como a mesma coisa que os Arquétipos. Eu particularmente discordo desse prisma, pois considero que os Arquétipos são acessíveis a qualquer pessoa, enquanto que os Deuses só são acessíveis aos que tenham alguma identificação e familiaridade com os mesmos. Na verdade, a experiência chamada de “União com Os Arquétipos Universais”, quando a pessoa entra em “transe” e sofre a “possessão” da Divindade, é o contato que ocorre da pessoa com seu Microcosmos, ou seja, com seu “Universo Interior”, portanto, somente com os Arquétipos Universais, e não com o todo da Egrégora dos Deuses Internos do Homem. A diferença é, portanto, patente, no que diz respeito ao “transe” do sujeito “possuído” pelo Orixá (aonde são despertados poderes latentes dentro do próprio indivíduo), e da Evocação ou Invocação da energia do Orixá como um todo, uma Entidade de existência independente da psique do Mago. O que ocorre entre os profanos, os não-iniciados, o “bolar” no Santo, é somente a “União com O Arquétipo”; o que ocorre na Invocação, feita pelo Mago de forma consciente, é “abrir sua mente” para uma energia externa, de vida autônoma, externa ao Microcosmos do Mago. Portanto, podemos concluir que o Arquétipo Universal existe num nível sub-consciente de cada indivíduo, mas somente manifesta-se no Microcosmos; já o Deus Interno existe num nível Macrocósmico e, após uma iniciação, num nível Macro-Micro-Cósmico, isto é, pode manifestar-se dentro ou fora do indivíduo. Com isso quero dizer que um Orixá pode manifestar-se fora da psique do Mago, até mesmo fora de seu corpo, inclusive, algumas vezes, a um nível social. O poder de um Arquétipo é o de despertar talentos latentes na psique do indivíduo, enquanto que o poder de um Deus Interno (sendo uma Egrégora), é amplo, de uma envergadura bem maior que a psique de um indivíduo apenas, incomensurável em termos humanos. Com isto quero dizer que uma Egrégora antiga e poderosa como a dos Deuses Internos pode quase tudo. Sem exagero. E em se tratando de Deuses Internos (ou Panteônicos), podemos distinguir duas categorias: os Deuses adormecidos, cujo culto inexiste na atualidade, e os Deuses ativos, cujos cultos existem. Nessa última categoria estão os Deuses e Deusas cultuados no Candomblé, no Vudú, no Palo-Mayombe e no Lucumí. Fico, inclusive, muito curioso com a atitude de certos grupos de ocultistas, que cultuam Deuses adormecidos, e torcem o nariz para os Deuses do panteão Afro, talvez considerando-os algo inferior, muito provavelmente pelo motivo de que esses Deuses são cultuados pelo povo, não pelas elites culturais…preconceito e ignorância de sobra! Esses Deuses e Deusas dos Cultos Mágico-Religiosos Afro-Americanos são designados da seguinte forma: na “Fé Indígena” (Indigenous Faith), como o Culto é chamado na Nigéria (África), são chamados de Orixás e Odus, o mesmo ocorrendo nos Candomblés de origem Nigeriana ou Yorubana (“Nação” Keto ou Alaketo); nos Candomblés de origem Daomeana (Fon ou Gêge), são chamados Voduns e Odus; nos Candomblés de origem Angolana (“Nação” Angola), são conhecidos por Inkices ou Santos, e Odus; na Santería, praticada nos Estados Unidos (Puerto Rico, New Orleans, Miami, etc), são chamados de Orichás ou Santos, e Odus; no Vudú, praticado no Haiti e na França, são conhecidos como Loas e Odus; no Lucumí, praticado em Cuba e nos Estados Unidos (Miami), são os Nganga, Orichás, Padrinhos, Prenda, Ndoki, Odus, entre outros nomes, ocorrendo o mesmo no Palo-Mayombe.

Veja-se que o nome do panteão altera-se de região para região, e assim também se alteram as características das Entidades. É interessante notar que o nome Odu (Odus no plural), está presente em todas as “Nações” de Candomblé, e suas atribuições são idênticas em todas as citadas culturas.

Pois Odus são Entidades objetivas que personificam, de forma antropomórfica, as energias das figuras geomânticas. Vê-se que, quando o simbolismo e a energia não sofrem alterações, os nomes permanecem idênticos. O contrário ocorreu com a vinda dos Orixás da África para o Brasil, pois na África os Orixás não possuem as subdivisível ditas “qualidades”, fato que ocorreu no Brasil. Por isso é que o Culto aos Orixás, no Brasil, é mais rico e complexo do que na Nigéria atual, sem nenhuma conotação pejorativa quanto ao Culto praticado na Nigéria. Apenas digo que, no Brasil, cultua-se doze variedades de Xangô, enquanto na Nigéria há somente uma; aqui cultua-se onze Oyá, dezesseis Oxum, dez Oxalá, nove Yemanjá, vinte e um Exu, enquanto na Nigéria há um de cada. É bem verdade que a troca de informações entre Nigerianos e Brasileiros, do Culto, está levando “qualidades” de Orixás para lá, e trazendo para cá as práticas mais modernas do Culto. Assim, em breve, graças às trocas de informações, o Culto aos Orixás estará aprimorado e talvez até estandardizado no Brasil e na Nigéria. Mas aqui o assunto é outro.

Vide os Apêndices desta obra relativos a “Arquétipos” e “Deus, As Egrégoras Coletivas e Os Deuses Internos do Homem”, para compreender a mecânica de que falamos acima.

Somente recomendo, aos que pretendem praticar a Magia Planetária, a Magia Evocativa, a Magia Invocativa ou o “Casamento dos Homens com Os Deuses” (conceito de Aleister Crowley, uma das práticas secretas da O.T.O., revelada no livro “The Secret Rituals of the O.T.O.”, de autoria de Francis X. King)) com os Deuses dos panteãos Afro, que estudem a respectiva mitologia, familiarizem-se com as suas energias, para não sofrerem revezes nem decepções. Estejam avisados que essas energias são incomensuráveis, além de extremamente ativas, pois há, em todo o mundo, pessoas cultuando-os dioturnamente, vivendo para o Culto, alimentando a Egrégora a cada momento, ampliando sua envergadura de poder.

Apesar disso tudo, há muita gente que duvida das potencialidades mágicas dos Cultos-Afro; há também os que creem que tudo quanto se faz nesses Cultos funciona a contento, independentemente dos Fundamentos Mágicos que sejam ou não aplicados às práticas rituais. Pensando nisso gostaria de abordar alguns aspectos importantes desses cultos, muitas vezes mal interpretados pelas pessoas em geral. E é justamente visando separar o joio do trigo, embora revelando muitos segredos guardados com zêlo por muito tempo, que descrevo, a seguir, os Fundamentos Mágicos Racionais das Práticas Mágico-Místico-Liturgicas dos Cultos-Afro.

Espero estar contribuído assim, de alguma forma, para a preservação desse culto que tanto me atrai, e que estudo e pesquiso fazem anos. Afinal, em 1988, fui consagrado Babalaô (Nação Alaketo) – sacerdote de Ifá – , além de ter sido iniciado no culto de Yiá-Mí Oxorongá.

Iniciação

é tipicamente shamânica, quanto a parte do Iniciando, com práticas primitivas (raspar os cabelos da cabeça, esfregar folhas na cabeça e outras partes do corpo, fazer cortes em diversas partes do corpo – cabeça, testa, mãos, pés, língua, braços – para passar “pós mágicos” nos cortes abertos – Kuras – , sacrificar animais deixando o sangue escorrer sobre a região do Chakra Coronário, colocação de substâncias vegetais e animais sobre o Chakra Coronário – o Adoxú, no formato de um cone – , colocação de uma pena de alguma ave no local do Chakra Frontal – Terceiro Olho – , entre outras coisas), requerendo total submissão do Iniciando – Iaô – ao Sacerdote ou Sacerdotisa – Pai ou Mãe de Santo, Babalorixá ou Yialorixá – , que guarda os cabelos daquele, tendo assim, meios de impor sua autoridade à força…

A Iniciação no Candomblé é lenta (21 dias no mínimo) e penosa (a pessoa terá de se submeter aos ditames do Sacerdote, devendo comer o que lhe é permitido – com algumas restrições por toda a vida – , falar quando lhe é permitido, usar as roupas nas cores autorizadas – mais uma vez com restrições para o resto da vida – , até mesmo quais atividades sociais e profissionais poderá ter dali para diante). Uma das partes mais curiosas do Ritual Iniciático reside na pintura da cabeça e do corpo do Iniciando com pontos coloridos, feitos com pós coloridos, numa espécie de Cromo-Punctura rudimentar.

Vê-se aí, nesse conjunto de práticas antiquadas, o aspecto da autoridade do Mestre, inquestionável, sobre a vida do Discípulo, traço típico das iniciações em sociedades primitivas.

Quando, porém, observarmos a parte do Iniciador, do Sacerdote ou da Sacerdotisa, veremos uma enorme quantidade de práticas típicas da feitiçaria, portanto, de caráter muito distinto das práticas shamânicas.

Eis um dos mais flagrantes aspectos da ambiguidade do Candomblé.

Como disse o brilhante ocultista norte-americano Robert North, o que falta aos Cultos-Afro é uma “Auto-Iniciação”. Concordo plenamente. Seguindo as orientações dele, o iniciando deverá praticar uma técnica conhecida nos meios ocultistas como “visualizar uma imagem como se fosse uma porta e mentalmente atravessar a porta”. Daí, o iniciando travará contato com as Entidades que habitam o plano correspondente vibratoriamente à dita imagem.

Mas que imagem é essa? Os desenhos dos Vevés, Pontos-Riscados, Sigilos das Entidades, Figuras Geomânticas (Odus), entre outras. Essa técnica permite uma auto-iniciação com menos riscos que a Invocação Mágica (a “incorporação” da Entidade na pessoa), que evoca riscos óbvios de acidentes.

O que deve, porém, ficar claro, é que ninguém é “filho” desse ou daquele Orixá, ou de qualquer outra Entidade, nem tem tal ou qual Odu. Na verdade, as pessoas identificam-se com um Arquétipo, em geral composto, isto é, com qualidades mescladas de várias Entidades, o que caracteriza o Orixá e suas qualidades, bem como os outros Orixás da pessoa. Identificando-se com o Arquétipo, a pessoa passa a louvá-lo ou cultuá-lo, atraindo então a Entidade Egregórica correspondente ao Arquétipo da identificação pessoal. Fica claro, agora, o motivo pelo qual há pessoas com “santo forte”, outras sempre “acompanhadas” pelo seu Orixá ou Guia, e assim por diante? Lembrem-se de que a energia que flui no contato do Mago com a Egrégora é mutual e simbiótico, isto é, se recebe o tanto que se dá…

No caso dos Odu, eles apresentam-se e manifestam-se em cada momento, mudando de acordo com as chamadas “marés tatwicas”, as marés elementais.

Somente ocasionalmente cristalizam-se num local, situação ou espécie de atividade, promovendo constante sucesso ou fracasso. E os remédios já são conhecidos.

 

Sacudimento

Dá-se esse nome às Práticas Mágicas que são realizadas quando existe uma presença energética intrusa (em pessoas, objetos ou lugares) – Exus ou Egums, isto é, Entidades Demoníacas, Vampiros, Íncubos, Súcubos, Larvas, Espíritos de Desencarnados, entre outras – ; passa-se pelo corpo da pessoa atingida uma série de plantas, folhas, grãos crus, pipocas, legumes, verduras, até mesmo aves (pombo, frango); esses componentes tem atribuições diversas em se tratando de elementos naturais – presentes por analogia nos componentes do sacudimento – , impregnando-se-os com o fluído magnético, que tem a propriedade de sugar energia (no caso, a intrusa), o que então providenciará a remoção das energias intrusas. É prática primitiva que, porém, tem seus méritos; na verdade, há um elemento de grande importância, que não pode faltar, pois é o que faz o “Trabalho” funcionar: o ovo! Sim, um simples ovo de galinha é o suficiente para o “Trabalho” funcionar. Com um ovo e a atitude mental adequada, consegue-se resultados espetaculares.

Na simplicidade está a chave dos grandes mistérios. Quer dizer, a Energia intrusa, nefasta, é transferida para os elementos passados pelo corpo da pessoa; em seguida, esses elementos são deixados em local determinado (praia, cachoeira, rio, praça, encruzilhada, estrada, enterrados, atirados barranco abaixo, cruzeiro do cemitério, etc.), aonde a Energia tornar-se-á inofensiva, ou atingirá curiosos que porventura toquem o material energeticamente contaminado.

 

Ebós

Dá-se esse nome aos sacrifícios ou oferendas, dedicados a alguma Entidade, consistindo nas comidas, bebidas e animais votivos da mesma Entidade; quer dizer, todas as práticas mágicas convencionais do Camdomblé tem o nome de Ebós. Os Ebós funcionam por causa do uso de Condensadores Líquidos e Sólidos, infundidos da vontade do Mago, além de, algumas vezes, a Energia Vital que se desprende de um animal sendo imolado, além da própria Energia do sangue de dito animal. Este é o segredo para a eficiência dos Ebós. E também da ineficiência de muitas bobagens batizadas de Ebó, mas que, na verdade, não são nada, magicamente falando. Para os interessados, basta consultar um dos numerosos livros sobre Ebós – do Ogã Gimbereuá, do Babalorixá Ominarê, de Fernandes Portugal e de Antony Ferreira, por exemplo – para verificar o uso constante de Condensadores Líquidos e Sólidos (pimentas, cebolas e alhos, atribuídas ao Elemento Fogo, por exemplo).

Existem três espécies de Ebós: A) Periódico: dado em períodos de tempo regulares, para fortalecer o elo com a Entidade, ou para fortalecer uma Entidade Artificial criada pelo próprio grupo ou operador; B) Propiciatório: dado quando se deseja obter algo de uma Entidade, dando-se-lhe algo, esperando o favor almejado em troca; C) Expiatório: dado quando se necessita reparar alguma falta para com a Entidade que, aborrecida com o indivíduo, passa a prejudicá-lo; nos três tipos deve haver uma analogia adequada.

Só para ilustrar, incenso é uma oferenda que, além de agradar as Entidades (desde que de aroma análogo à Esfera da Entidade), pode permitir sua materialização (com sua possível aparição espectral); para Entidades Negativas ou perigosas/nefastas, o sangue (quente) de sacrifício animal faz efeito semelhante; a cebola constitui um elemento de grande vibração quando ofertada à alguma Entidade, o mesmo podendo dizer-se dos ovos; as velas são parte importante de qualquer ofertório, as de cera de abelha adequadas às Entidades Positivas, e as de cebo adequadas às Entidades Negativas.

Devemos sempre buscar as leis de analogia ao desejarmos ofertar algo para qualquer Entidade. Seguindo estes princípios, qualquer Mago poderá elaborar seus próprios Ebós, se esse for seu desejo.

 

Pós Mágicos

Também chamados de Atim (Alaketo), Pemba (Angola), Zorra (para o mal), são diversas substâncias misturadas e posteriormente reduzidas a pó; são usadas para atrair boas coisas (saúde, amizade, amor respeito, bons negócios, dinheiro, proteção contra maus fluidos, paz, etc.), espalhando-se nas mãos, pés, sapatos, roupas, cabeça e utensílios da pessoa, ou soprando-o na residência, veículo, local de trabalho, Templo, etc.; ou então para levar desgraças aos desafetos (doenças, acidentes, maus fluidos, ruína, morte), espalhando-se nos locais, ou soprando-se/jogando-se sobre a vítima.

Respeitando-se as leis de analogia, pode-se compor pós mágicos respectivos aos quatro elementos da natureza, que serão Condensadores Sólidos da vontade do Mago. Para maiores detalhes do assunto, ver o livro de Franz Bardon “Initiation Into Hermetics”, citado na bibliografia desta obra.

 

Azeite de Dendê

 

Elemento que constantemente é utilizado nas práticas ritualísticas Afro-Negras, constituindo poderoso Condensador Líquido; Condensador é um elemento capaz de condensar a vontade e os desejos do Mago.

 

Pólvora

Muito utilizada nos Cultos Afro, ao incandescer ou explodir libera tremenda energia ígnea (do Elemento Fogo), podendo ser utilizada para curar, livrar de alguma influência maléfica, criar embaraços ou até mesmo matar, tudo em analogia completa ao Elemento Fogo, isto é, ao seu campo de ação.

Recebe o nome de “Ponto-de-Fogo”. Nas obras do autor N.A.Molina encontra-se constante referência a ditas práticas, o mesmo ocorrendo nos livros de Antônio de Alva e Antônio Alves Teixeira Neto.

 

Nome Mágico

 

Chamado também de Orukó, é o Nome Mágico que a pessoa adota após a Iniciação no Culto; também os Templos (Ilê) recebem um Orukó.

Folhas Mágicas

Camdomblé e seus similares tem como grande fundamento o uso mágico, litúrgico e medicinal das ervas, folhas, frutos, raízes e outros elementos vegetais. Portanto, seria necessário um volume de centenas de páginas para abordar, de forma adequada, o assunto. De qualquer forma, selecionei algumas folhas e frutos especiais, devido às suas particularidades: A) Folha de Pinhão Branco (Jatrofa Curcas) – usada para substituir o sangue animal nas oferendas a Exu; B) Folha de Acocô (Naelvia Boldos) – usada da mesma forma que a anterior, inclusive sobre a cabeça das pessoas, quando falta o animal a ser imolado para o Orixá; C) Folha de Iroco (Clorophora Excelsa) – usada como substituto do sangue animal nas oferendas, iniciações e assentamentos de Orixás; D) Noz de Cola ou Obi (Sterculia Acuminata) – usada em todos os rituais iniciáticos do Camdomblé, exceto no culto à Xangô, que recebe, ao invés desta, o E) Orobô, Orogbo ou Falsa Noz de Cola (Garcínea Guinetóides).

Tendo-se em vista o que foi dito acima, poderemos tornar nosso Camdomblé mais moderno, utilizando as Essências de Flores e de Ervas (Essências Florais) como se utilizam as folhas, frutos, Flores, raízes, etc.

E, também, substituindo muitos elementos por uma substância sua, dinamizada homeopaticamente. Creio que dinamizações de D-1 ou D-3 combinadas com dinamizações de 10MM seriam o mais adequado, unindo presença física e energética. E, para evitar o sacrifício animal ou a destruição de elementos naturais, pode-se preparar tais substâncias pelos meios radiestésico ou radiônico (ver a obra intitulada “MATERIALIZAÇÕES Radiestésicas”, de autoria dos Irmãos Servranx, que trata do uso do Decágono para reproduzir magicamente a energia de qualquer substância).

 

Banhos Energéticos

Abô ou Omieró (banho pronto e, em geral, putrefato) e Amací (banho fresco feito com ervas maceradas com água da chuva), são um dos mais ricos, complexos e deturpados (magicamente falando) aspectos dos Cultos Afro- Negros; os banhos devem ter apenas duas finalidades: Atração e Repulsão.

Conhecendo-se a natureza dos elementos a serem utilizados no banho, através do conhecimento das leis de analogia, pode-se preparar um banho dotado das características de Atração ou de Repulsão de qualquer tipo de energia. Só isso. Basta escolher qual (ou quais) o elemento da natureza adequado (água, ar, terra, fogo), impregná-lo (o banho) com o fluído Elétrico (para Repulsão) ou Magnético (para Atração), e está tudo pronto. De qualquer forma, a obra de Franz Bardon aborda o assunto com maestria.

Defumação

Vale aqui o que foi dito relativamente aos Banhos.

Podem atrair ou repulsar energias.

 

Assentamentos (de Orixás, Exus, Egums, Odus, etc.)

Chamadas em ioruba “Igbas” pu “Ibás”, os Assentamentos são essencialmente uma construção de um corpo físico não-animado, para receber determinada energia. Cria-se um Elementar Artificial com corpo físico.

Assenta-se Orixás, Exus, Egums (Cascarões de desencarnados), Odus, além de outras Entidades cultuadas no Camdomblé – Ikú, a Morte; Yiá-Mi-Oxorongá, o pássaro negro que personifica todas as feiticeiras e suas energias, entre outras -.

Os elementos, vegetais (folhas, ervas, raízes, madeiras, folhas, cascas, frutos, nozes, caroços), minerais (águas, argilas, barros, terras, rochas, cristais, gemas, metais, areias, calcário), animais – insetos, répteis, mamíferos, aves, peixes, aracnídeos, batráquios, etc – (sangue, peles, chifres, garras, unhas, falanges de dedos, pêlos, olhos, dentes, prêsas, línguas, víscera, ossos, testículos, fluidos, cabeças, etc.) e humanos (sangue de aborto, sangue de acidentado, sangue de morto, feto, unhas, crânios, falanges de dedos, dentes, cérebros, línguas, fluidos corpóreos – até mesmo sêmen e fluidos vaginais -, cabelos, fezes, urina, sangue menstrual, placenta, testículos, víscera, tíbias, ossos diversos, corações, etc.), além de objetos variados (facas, lâminas, navalhas, pembas, giletes, cacos de vidro, ladrilhos, pó ou poeira de lugares variados, folhas de jornais e revistas, pedaços de veículos acidentados, bebidas variadas, condimentos, tinturas naturais, o pó produzido pelos cupins, etc.), são colocados num jarro, porrão, panela ou vaso, misturados com cimento e água, posteriormente assentados em camadas. Daí, sacrificam-se os animais votivos sobre o assentamento, decora-se o mesmo com as insígnias ou os paramentos da Entidade, além de enfeitar os elementos de decoração com pedaços dos animais sacrificados – cabeça, asas, penas, patas, etc -, além de praticar-se atos litúrgicos diversos, incluindo orações, cânticos e louvações.

Tudo isso é muito forte, além de Energeticamente eficiente. Apenas creio que podemos realizar coisa melhor sem todo esse trabalho.

Francis King descreve, em diversas obras suas, coisas interessantíssimas e de grande utilidade mágica, como “O Casamento dos Homens com Os Deuses” e o “The Homunculus”; Aleister Crowley no seu “MAGICK” dá os fundamentos do Mistério da Eucaristia, entre outras preciosidades; Franz Bardon no seu “Initiation Into Hermetics” versa sobre os mesmos Mistérios Eucarísticos, além da criação de Elementares e Elementais Artificiais, Animação Mágica de Figuras e Esculturas, além de muito, muito mais; Pascal Beverly Randolph no seu “Magia Sexualis” (em especial na edição espanhola) descreve também a Animação Mágica de Figuras (imagens, pinturas, fotografias, desenhos); Peter James Carroll nos seus “Liber Null & Psychonaut” e “Liber Kaos”, descreve didaticamente outras práticas de muito interesse. Com esse material em mãos, o Mago tem condições plenas de criar seus próprios Assentamentos, sem ter de realizar práticas ou rituais primitivos, nem sacrificar animais ou trabalhar com materiais orgânicos perecíveis.

Para aqueles que desejarem realizar um assentamento no melhor sistema africano, purgando as bobagens, dou a minha versão da conjuração chamada de “Evocação ao nível da Feitiçaria”, de autoria de Peter James Carroll: Construir um boneco, de material proveniente da natureza, com as próprias mãos (contando, é óbvio, com as ferramentas adequadas); dar forma humanóide ou de algum ser real ou mitológico; utilizar, para a escultura, argila, ou tabatinga, ou barro, ou madeira, ou pedra; anexam-se gemas, cristais, rochas e metais que possuam correspondência energética com a energia que desejamos obter do assentamento; todos os materiais utilizados deverão ser purificados com água mineral, sumo de ervas Energeticamente compatíveis, defumação com substâncias adequadas, além de eventuais desimpregnações por meio de gráficos emissores de Ondas-de-Forma; o interior do boneco deverá ser ôco, aonde deverá ser derramado um condensador líquido universal, o que permitirá a “Animação Mágica” da figura, fato este que dará à mesma movimento…(ver Initiation into Hermetics, de Franz Bardon); vasos com flores energeticamente compatíveis poderão ser mantidos próximos do assentamento, o que manterá energia viva perto de nossa criação; símbolos geomânticos ativos, gravados no boneco, ajudarão a definir e manter a energia definida e sob controle; a decoração externa ou acabamento do homúnculo é livre, devendo-se, porém, evitar materiais perecíveis, derivados ou extraidos de cadáveres de animais ou seres humanos, pois, caso contrário, o assentamento emitirá energias nocivas no ambiente; tomar muito cuidado com o formato do boneco, para que o mesmo não emita RADIAÇÕES nocivas – deveremos, durante a execução do corpo físico da entidade, verificar radiestésicamente, todo o tempo, a qualidade das EMISSÕES; utilizando-nos dos pêndulos cabalísticos para efetuar esse controle, nosso boneco deverá emanar “A Terra”, “Sôpro de Vida”, “Espírito” e “Shin”, além de poder emanar (embora devamos ter cuidado com essa energia) “Magia”; quanto as EMANAÇÕES nefastas, que deveremos evitar a qualquer custo, estão “V-e” (Verde Negativo Elétrico), “Matar” (Vermelho Elétrico), “Necromancia”, “Forças-do-Mal”, “O Adversário”, “Shin” invertido, “Iavê” invertido, “Ilha-de-Páscoa”, “A Terra” invertido, figuras geomânticas nefastas, entre outras coisas; seria muito bom que nossa criação emitisse, além das energias harmônicas, a energia-invertida das energias nefastas; se nossa figura destinar-se a causar influência em terceiros, provavelmente emitirá “Magia” – nesse caso, mantê-la longe de áreas de repouso, trabalho ou lazer, num local aonde somente tenhamos acesso quando quisermos realizar um ato mágico, e não um local aonde se realize outras atividades; isto é, no quarto ou escritório, nem pensar!; a entidade trabalhará somente para o Mago, portanto, só deverá emitir radiações benéficas; realizado o corpo físico da entidade, dirigir-se a ela como se a mesma tivesse vida, conversando com a mesma, afirmando e reafirmando nossos desejos e pedidos, sempre dentro do mesmo âmbito; poderemos realizar vários assentamentos, para ter paz e harmonia, para repelir a má-sorte e acidentes, para proteger contra inimigos e malfeitores, para evitar acidentes e enfermidades, para atrair amor e amizade, para obter conhecimento de planos ocultos ou pessoas distantes, para atrair a prosperidade e a riqueza, entre muitas outras coisas; para melhor definir a envergadura de poder de cada entidade, podemos tomar por base as casas astrológico-geomânticas, que contém em si a energia de uma Egrégora poderosa; tudo isso feito, mentalizar a existência de nosso boneco também no mundo da mente, criando uma Imagem Telemática idêntica em aparência e atribuições ao boneco; e, para terminar, tudo quanto existe deve ter um nome, motivo pelo qual nosso boneco deverá ter um nome, se possível análogo às suas quantidades e qualidades, escolhido ou montado com cuidados numerológicos, visando evitar, entre outras coisas, que a criatura se volte contra o criador…

Tudo feito adequadamente, essa entidade artificial poderá, inclusive, ser invocada e evocada pelo seu criador. Agirá então, a entidade, como qualquer inteligência original. Obviamente, poderão ser criadas entidades artificiais para as mais diversas finalidades, mas, coisas nefastas atraem energias perigosas, e assim por diante. Bom senso faz bem.

Para os que preferem “assentar” Entidades não-antropomórficas, podemos utilizar um cristal de quartzo para “corpo” de nossa criação, uma vasilha de cristal translúcido como receptáculo (à lá Dr. Edward Bach). Areia no fundo, para firmar a base do cristal, condensador sólido sob o cristal, condensador líquido pincelado ou espargido sobre o cristal. Pode-se utilizar de Essências Florais para enriquecer o condensador líquido; sigilo ou pantáculo consagrado são uma boa idéia para potencializar o conjunto. Um “Cofrinho Emissor de Raio PY” para colocar-se os “pedidos” à Entidade. Uma pirâmide, que mantenha todo o conjunto dentro de sua geometria, pode manter a energia num nível surpreendente. Substâncias homeopaticamente dinamizadas poderão tornar o Elementar poderoso e versátil. Pode-se utilizar gráficos moduladores de ondas-de-forma para definir melhor a natureza e a envergadura da Entidade. Por outro lado, ao se querer cultuar os Orixás, pode-se realizar rituais simples como a queima de velas coloridas (compatíveis, é claro), ou até mesmo oferendas de ovos ou de rodelas de cebola, com uma vela acesa no centro da rodela de cebola. Só não se deve tentar “assentar” um Orixá, ou cultuar um assentamento, pois são coisas totalmente distintas e que não devem jamais ser misturadas. Por aí é que se vê que muita coisa que se faz no Camdomblé é cultuar Elementares, suponde se estar cultuando o próprio Orixá.

Para os desejosos em se aprofundar no assunto, ver a obra de Franz Bardon, “Initiation into Hermetics”, e a obra de Peter James Carroll, “Liber Kaos”.

A indicação da utilização de materiais orgânicos perecíveis, freqüentemente encontrada nas instruções para a construção do GOLEM, não trará nenhuma vantagem ao Mago que deseje executar assentamentos de Energias Afro; há exceções, mas devem ser deixadas para quem sabe o que está fazendo.

Para terminar o assunto, evitando induzir alguém em erro, é conveniente lembrar que não devemos tratar um assentamento como se fosse um ídolo. O assentamento não pode ser louvado como uma imagem sacra num altar de Igreja.

O assentamento é, na realidade, uma poderosa “Imagem Talismânica”, criada para tornar mais efetiva a concentração quando da “chamada” (Invocação ou Evocação) da respectiva Entidade.

 

Águas

São utilizadas em praticamente todos os tipos de rituais, tendo especial importância devido a procedência (de poço, de chuva, de praia, de alto mar, de rio, de vala, de cachoeira, de lago, de açude, etc.). Seu uso é tanto interno quanto esterno.

 

Pedras

São importantes devido ao uso litúrgico, sendo o elemento principal da maioria dos assentamentos (são chamadas Otá ou Okutá). Nas pedras reside a força dos Orixás, e nelas devem concentrar-se o Culto, segundo a tradição religiosa. Pena não haverem utilizações mais amplas e práticas das pedras no Camdomblé, além da falta de conhecimento relativo às virtudes terapêuticas e mágicas das mesmas. De qualquer forma, há um Culto às Pedras, e isso é importante! E os cristais de quartzo são pedras! – Metais: diferentemente das pedras, os metais, no Camdomblé, tem papel coadjuvante apenas, tendo cada Entidade seus metais correspondentes, mas o conhecimento do assunto no meio é tão superficial que nada há para dizer.

 

As receitas (inflexíveis e complexas)

Peter James Carroll, brilhante autor e ocultista britânico, diz, em suas obras, que, se um ritual é tão complexo que precisamos escrevê-lo detalhadamente para não cometermos deslizes, esse ritual precisa, urgentemente, ser simplificado, de forma que caiba todo na cabeça! É exatamente assim que penso. Os Ebós utilizados no Camdomblé são como receitas de bolo: detalhados até na quantidade de cada elemento! Claro está que a tradição tem seu lugar, mas esse lugar é no folclore ou na religião, não na Magia e no Hermetismo. Para elaborar as próprias “receitas mágicas” seja lá do que for, o Mago deve conhecer as leis de analogia, bastando decidir se deseja atrair uma Energia, repulsá-la, influenciar alguém (ou a si mesmo) com a Energia Elemental escolhida, ou tratar uma enfermidade pelos fluidos eletro-magnéticos. Para aprofundar-se no assunto, ver as obras de Franz Bardon.

Só para deixar claro, os tópicos para que um “trabalho” funcione são: 1) vontade do operador; 2) invocação ou evocação de alguma Entidade cuja envergadura e natureza do poder permita realizar o que se deseja; 3) direcionamento da energia invocada, evocada ou criada.

Divinação

No Camdomblé, é feita utilizando-se da Geomancia. Há o Jogo da Alobaça (praticada com uma cebola cortada em quatro), o Jogo de Búzios (praticado com quatro ou dezesseis búzios da espécie “Ciprae Moneta” e seus semelhantes) e o Opelê-Ifá (praticado com o Opelê). Dividi-se essas práticas em divinações litúrgicas e profanas. O método Afro, apesar de rudimentar, é preciso e com ele obtem-se bons resultados. Só é necessário ater-se à interpretação da Geomancia Racional, descartando a interpretação clássica, por esta última ser insuficiente e inadequada, além de basear-se em parâmetros equivocados.

 

Criação de Zumbis

Aviva-se um cadáver físico de alguém, cria-se um Elementar Artificial, colocando-se o mesmo “dentro” do cadáver, que então terá novamente vida, muito embora de forma distinta. Mas esse processo é trabalhoso, perigoso e de conseqüências imprevisíveis.

 

Paramentos

São as roupas e insígnias dos Orixás e outros, que mostram clara distinção dos Arquétipos aos quais se deseja vinculá-los.

 

Armas

Vale aqui o que disse no item “paramentos”.

 

Fundamentos de Ifá

São os fundamentos da Geomancia e da Magia Geomântica.

 

Animais

Os Animais Sagrados são considerados Animais Votivos, e imolados em holocausto aos Orixás e Exus; uma deturpação do sentido verdadeiro tanto das correspondências das Entidades com os animais, quanto com relação a função dos sacrifícios animais.

 

Plantas

O mais importante item da cultura mágica Afro, pois as plantas são usadas em todos os rituais, da Iniciação aos funerais, da Magia à terapêutica. Há muito o que aprender sobre fitoterapia com o Camdomblé.

 

Efó

São os encantamentos recitados em Ioruba, que acompanham todos os rituais. Podem ser recitados ou cantados.

 

Evocação, Louvação

É o que se pratica quando se oferece algo (Ebó) à Entidade, pedindo sua proteção ou intervenção.

 

Invocação

É o que se chama “virar no santo” ou “bolar no santo”. Consiste em “receber” a Energia do Orixá de forma passiva, deixando-se usar como instrumento da Entidade.

Talismãs

São os “fios de contas”, “Axés” – breves -, alianças de cobre, pós mágicos dentro de saquinhos de tecido, entre outras coisas. A Magia Pantacular inesiste no Camdomblé.

Mangaka

É o bonequinho todo cravejado de pregos. Consiste simplesmente numa estátua animada magicamente, que contém, em seu interior, um condensador líquido. São cravejados nela inúmeros pregos. Quando se tira um prego, se condensa o desejo no mesmo, enfiando-se a seguir de volta no bonequinho.

Assim, o Homúnculo agirá de acordo com a vontade do Mago. É originário do Congo, atual Zaire.

Música, Ritmos e Cantos

Elementos de suma importância nos rituais Afro, aonde as emoções são expressadas livre e primitivamente, facilitando a atuação da Energia Evocada ou Invocada.

Consagrações

São práticas litúrgicas usadas sempre, em tudo. Os rituais em geral são simples, mas eficazes.

Ebós com Animais

São feitos com partes dos animais (intestinos, por exemplo), que recebem o testemunho da vítima, Condensadores Sólidos e/ou Líquidos, sendo posteriormente enterrados; aí, passado um tempo, o efeito se fará sentir por ação do Elemento Terra (por decomposição).

Há alguns tipos de Ebós que utilizam animais vivos (sapo com a boca costurada, cabra, porco ou coelho com caranguejo vivo costurado dentro do ventre, lagartixa ou caranguejo enrolado em filó), aonde se colocam o testemunho da vítima junto com elementos que farão o animal sofrer lenta e terrível agonia; aí, o que ocorre, é que o animal (sempre) emite Ondas Biológicas (as Ondas utilizadas para diagnóstico e tratamento em Tele- Terapias, Radiestesia e Radiônica), emitindo-as, no caso, permeadas de dor e sofrimento terríveis. Junta-se nessa emissão de Ondas Biológicas do animal a Energia também de Ondas Biológicas da vítima, através de seu testemunho (o Testemunho liga-se a seu “dono” por meio do Raio-Testemunho, o raio que liga a pessoa aos seus pedaços ou imagens). Atingido o alvo, é claro que o resultado será desastroso.

 

Assentamentos de Odus

Assenta-se a Energia das Figuras Geomânticas, da mesma forma que se faz com as outras Energias. O principal problema que se enfrenta aqui é que as interpretações das figuras geomânticas dentro do Camdomblé (e seus similares) é sempre ambíguo, tendo sempre aspectos bons e ruins. Uma reformulação é necessária, para desmanchar esse verdadeiro labirinto.

Só uma dica: pode-se fazer a fixação da energia das figuras geomânticas por meio de um simples Pantáculo! Para que tanto trabalho? Sobre Pantáculos, ver a obra de Franz Bardon.

 

Magia Sexual

Inexiste nos cultos Afro, exceto no Vudú Haitiano. Mesmo assim, está muito aquém de algo realmente prático e eficiente. Ver a obra “Magia Sexualis” de Pascal Beverly Randolph.

 

FT e FPA

Forças das Trevas e Forças Psíquicas Assassinas são dois conceitos metafísicos que definem a Energia da Magia maléfica Afro. Desse prisma, podem ser eliminadas pela Radiônica ou Ondas-de-Forma.

 

Boneco Vodu

 

O clássico bonequinho cheio de alfinetes é simplesmente um boneco de cera, madeira ou pano, com diversos elementos da vítima, que, por práticas ritualísticas, passa a ser um Testemunho Artificial Vivo da vítima; deve ser Animado Magicamente, batizado (utilizando-se da Egrégora do Batismo), posteriormente deixado para “Saturar de Energia” (deixado enterrado por toda uma lunação), o que fará com que o que for feito ao bonequinho cause algum efeito na vítima; daí, se espeta o boneco com alfinetes de aço, devidamente impregnadas com nosso desejo. E o desejado deve ocorrer, em breve. Quando se deseja a morte da vítima, se enterra o bonequinho, com caixão e tudo, reproduzindo um verdadeiro funeral (utiliza-se da Egrégora do Funeral, Enterro). Todas essas práticas podem ser classificadas como de “transplantação” ou “Magia Mumíaca”. Sobre o assunto, ver a obra completa de Franz Bardon (em especial o capítulo VIII do “Initiation Into Hermetics” e o “The Practice of Magical Evocation” em sua totalidade).

Podem ser utilizados, também, em magia benéfica, ou até mesmo em magia de proteção – criando-se, por exemplo, várias égides nossas, deixando-as em locais diversos, visando dispersar ataques mágicos desferidos contra nós.

Sobre isso, ver os livros de Frater U.D., sobre Sigilização Mágica e Magia Sexual.

 

Ferros dos Assentamentos

Usados sobre a massa do assentamento, emitem Ondas-de-Forma análogas às qualidades da Entidade.

 

Importância do Ovo

 

É um dos principais fundamentos da Cultura Mágica Afro, conforme disse antes. Só por curiosidade, o ôvo tem a capacidade de sugar Energias nocivas das pessoas, locais e objetos, quer seja pela colocação do mesmo junto a um testemunho da vítima, ou por passá-lo na própria pessoa (ou colocado no local) alvo da Energia nefasta. Se, após impregnado e saturada de dita Energia, for enterrado, o efeito da Energia some, e a mesma se dissipa nos Elementos. Se, porém, for atirado longe, de forma a espatifar-se, a Energia retorna a quem a enviou…e bem rápido! É importante, porém, frisar, que a Energia “sugada” pelo ovo pode, facilmente, passar para o operador, num instante! Além disso, há práticas místicas que transmutam a Energia natural do ovo em outra coisa; por exemplo, há uma “cantiga” que permite dar, ao ovo, a mesma Energia de um galo vivo! Dessa forma, ao se ofertar o ovo, se entrega à Entidade um galo! Só um alerta importante: NÃO TRABALHEM COM OVOS, sem um prévio conhecimento sobre o assunto.

Estejam avisados!

Troca-de-Cabeça

É a troca da vitalidade do enfermo ou do moribundo pela energia de outro ser, saudável e vigoroso.

Eu aconselho fazer-se com ovos, pedras ou plantas; no Camdomblé se faz com animais; há quem faça com pessoas…

Círculo Mágico

Só aparece na divinação, quer seja na peneira ou no colar de contas (Jogo dos Búzios), ou ainda no Opón, tábua de madeira usada na divinação por Ifá.

 

Tarot

 

 

Inexiste a tradição do uso de cartas para divinação ou meditação, mas já existe um Tarot do Voodoo de New Orleans, e um Tarot dos Orixás, da editora Pallas.

 

Proteção contra ataques psíquicos

 

 

Práticas inexistentes nos Cultos Afro.

 

Espelhos Mágicos

 

 

Existem, mas muito rudimentares, e em pequeno número; são mais comuns em Cuba. Ver obra de Franz Bardon e Pascal Beverly Randolph.

Uso de Testemunhos

 

Nos Cultos Afro, se utiliza muito, para Magia a distância, algum Testemunho (no sentido radiestésico) da pessoa visada. Para os Camdomblecistas, são testemunhos válidos quaisquer sinais da pessoa (sangue, urina, fezes, cabelos, aparos de unhas, esperma, SECREÇÕES vaginais, saliva, suor), sua foto (apesar que muitos Sacerdotes do Culto não gostam muito de trabalhar com fotos, enquanto outros exigem fotos novas – tudo bobagem, pois foto é um excelente testemunho, não importa a idade nem o tamanho), a roupa usada e suja (em especial as roupas íntimas e as meias), fronha do travesseiro, sapatos, palmilhas, assinatura, e, até mesmo, a pegada da pessoa – a terra aonde ela pisou ou o pó do local aonde pisou – , o que eu acho muito arriscado para um uso sério.

De qualquer modo, mesmo em se tratando de testemunhos válidos, a falta de cuidados no manuseio dos mesmos pode invalidar o ato mágico. Muito melhor contruir-se testemunhos artificiais do que trabalhar com um testemunho de valor energético duvidoso.

Assim, podemos observar que o Camdomblé navega num mar da mais profunda ambiguidade.

Enquanto suas práticas iniciáticas são decididamente shamânicas do lado do Iniciando ou Iniciado (ao menos durante seu período como Iaô), as mesmas práticas, isto é, as práticas complementares àquelas, mas realizadas pelo Iniciador, são claramente do nível da feitiçaria.

Na Geomancia, rica e elaborada, com um panteão próprio (uma vez que todos os Odus tem suas representações antropomórficas), o método de praticála é sempre simplificado, utiliza-se de instrumentos primitivos sem nenhum significado oculto, ignora-se as fusões das figuras, que portanto são 256 ao invés de apenas 16; essas, por sua vez, variam quanto a natureza da energia a todo momento, ora significando benesses, ora o oposto – e isto a mesma figura! Por exemplo, tomemos a melhor figura geomântica, no domínio energético e sutil, “Laetitia”, 1222; no Camdomblé, é o melhor Odu, “Obará”, 1222. No Camdomblé, Obará prenuncia riquezas (atribuição de Fortuna Major, 2211), promete que seus filhos nascem pobres mas morrem ricos. Obará só tem um aspecto nefasto: seus filhos são os mais sujeitos a feitiços, inveja, olho-grande e coisas afins. Laetitia significa “alegria”, simbolizada por uma barraca, que provê a proteção do céu. Ou a bobagem foi pura burrice, ou é coisa de painhos querendo faturar…

A Geomancia Afro é mais uma forma de Astrologia Horária; como todas essas, não possui um “evolutivo”. Somente a nossa “Nova Geomancia” a Geomancia Racional, possuí o “evolutivo”, obtido através da rotação das casas, resultado do resto na operação de divisão do total de traços obtidos por doze (ver obra do Panisha sobre o assunto).

Outras figuras de manifesta ambiguidade são o Odu Oxé e a figura Amissio (perda), 1212; como Odu, significa riqueza, mas como figura geomântica significa empobrecimento e, até mesmo, a morte. O Odu Oyekú, o Odu da morte (Oyá-Ikú), em nada corresponde a Populus, embora ambas tenham a mesma figura numérica, 2222. O Odu Odí é tido como o pior dos Odus, enquanto que a figura de Carcer é uma figura de entraves, tendo seu aspecto bom na casa 12 (entrava os acidentes, obstáculos e doenças), e algumas vezes bom na casa 8 (entrava as mudanças, mas também a morte). Isso só para começar. Mas basta de Geomancia.

O Camdomblé possuí um dos mais belos e ricos panteãos de Deuses jamais conhecidos, embora muitos aspectos de relevância tenham se perdido ao longo do tempo. E com a ausência desses elementos fica muito complicado encontrar as corretas atribuições com Deuses de outros panteãos, bem como com a Árvore da Vida. Aspectos relativos a sexualidade, tão patentes entre os Deuses da Índia, são praticamente ausentes entre os Deuses Afro, ou, quando presentes, seus dados são por demais perfunctórios, tornando sua utilização mágica muito arriscada. Creio que o resgate do “elo perdido” é necessitado com urgência.

Como se não bastasse o que relatei acima, temos, no Camdomblé, práticas mágicas do nível da feitiçaria, com alguns poucos toques de shamanismo. Curioso é que muitos praticantes do Camdomblé creem que, para que a Magia funcione, é necessário ter-se o auxílio de um “parceiro astral”, um Exu ou um Egum, devidamente assentado, com todos os Ossé (tratamentos e obrigações) em dia (portanto, potencializado). Quer dizer, o Exu (ou o Egum) deve existir tanto no plano físico, através do assentamento (ver Evocação ao nível da Feitiçaria), como nos planos sutis, pela manutenção da imagem mental da entidade (ver Evocação ao nível do Shamanismo).

E, para encerrar com “Chave-de-Ouro” o assunto, uma verdadeira barbaridade, prova cabal da profunda ignorância daqueles que se dizem detentores dos Fundamentos do Culto: definem os Orixás como sendo Elementais! Seria bom que essas pessoas estudassem um pouco de Mitologia, Arquétipos, Egrégoras e Elementais, para saírem do poço de ignorância que está destruindo o último Culto Vivo aos Deuses Internos do Homem, o Camdomblé!

Trocando em miúdos, na Umbanda e na Quimbanda, se pratica e Invocação Mágica (a qual se chama de Incorporação), e a Evocação Mágica – quando se busca, pelas oferendas compostas de velas coloridas, bebidas, charutos e outras coisas, criar uma atmosfera propícia à manifestação da Entidade – , quando então se pede à Entidade o que se deseja.

Já as oferendas no Candomblé – Ebós – tem dois aspectos distintos, o primeiro sendo a criação de uma atmosfera propícia à manifestação da Entidade, e o segundo a criação de Elementares, para a execução de operações mágicas. Nada, aliás, que não se consiga repetir por outras dezenas de métodos mais simples, práticos e baratos – o que, porém, não invalida a tradição. Praticar o Camdomblé com artigos importados da África ou da Nigéria é tão absurdo quanto importar gêlo das geleiras dos polos ou neve da América do Norte ou Europa para realizar rituais da Wicca adequados ao inverno…

É lamentável constatar que o Candomblé, religião Thelêmica, Sistema de Magia antes de tudo Pragmático, foi transformado num culto vazio, pobre, custoso e dominado por pessoas ignorantes, inescrupulosas e mercantilistas.

Apêndices

 

 

“CAMPO DE ATUAÇÃO, CORES VOTIVAS E SAUDAÇÕES AOS ORIXÁS

 

 

OXALÁ: paz, harmonia, longevidade, velhice, vitória;
– “XEU EU BABÁ!” (para o Velho – OXALUFÃ)
– “ÊPA BABÁ!” (para o Moço – OXAGUIÃ, e outras qualidades)
> branco, algumas vezes branco e azul;

XANGÔ: justiça, conquista, vitória, amor, sexo, lar, trabalho, riqueza;
– “OXÉ CAÔ CABIECILE!”
> branco e vermelho, algumas vezes só vermelho;

XANGÔ AFONJÁ: ídem Xangô.
> branco e vermelho;

XANGÔ AYRÁ: ídem Xangô, além de intelectualidade.
> branco, algumas vezes branco e vermelho;

XANGÔ AGANJÚ: ídem Xangô.
> marrom e vermelho;

OGUM: guerra, vitória, trabalhos manuais, habilidades;
– “OGUNHÊ PATACURÍ!”
> azul-escuro, azulão;

ABALUAIÊ: saúde, doenças, morte;
– “AJUBERÚ, ATÔTÔ!”
> branco e preto, preto e vermelho, preto e amarelo, branco-preto-vermelho;

OXUMARÉ: riqueza, boa sorte;
– “ARRÔBÔBÔI!”
> preto e amarelo;

EXÚ, BÁRA, ELEGBARÁ, LEGBÁ, BOMBOMGIRA: tudo;
– “LARÔIÊ EXÚ, EXÚ É MOJIBÁ!”
> preto, vermelho, branco e roxo, algumas vezes preto e vermelho, ou branco;

ERÊ: alegria, paz, harmonia, infância;
– “ERÊ-MIM!”
> azul-claro, ou rosa-claro, ou branco, ou dourado, ou verde-claro;

OXÓSSI: caça, amor, fartura, agricultura;
– “OKÊ ARÔ!”
> azul-claro;

NANÃ: morte, saúde, longevidade;
– “SALÚBA, NÂN!”
> roxo e branco, algumas vezes só branco;

OXUM: amor, sexo, boa sorte, riqueza, prosperidade;
– “ÓRÁIÊIÊO!”
> dourado, algumas vezes dourado e branco;

IEMANJÁ: harmonia, paz, lar, prosperidade, fartura;
– “ÔDÔIÁ!”
> branco ou incolor, algumas vezes azul-claro, outras azul e branco;

OBÁ: justiça, amor;
– “ÔBÁ XIRÊE!”
> vermelho, algumas vezes coral;

OYÁ: sexo, amor, guerra, os mortos;
– “ÊPARRÊI!”
> coral, algumas vezes vermelho, outras vermelho e coral, ou coral e branco;

IRÔCO: hemorragias;
– “IRÔDEGÍ!”
> cinza;

YEWÁ: visão, vidência;
– “RIRÓ!”
> amarelo e vermelho;

OSSÃE: ervas, saúde, medicina, alquimia, magia;
– “EUEU ASSA!”
> branco e verde;

TEMPO: o tempo, as forças da natureza;
– “ZÁRA, TEMPO!”
> amarelo e vermelho;

LOGUM-EDÉ: amor, sexo, caça;
– “LÓSSI, LÓSSI, LOGUM!”
> azul-claro e dourado;

IFÁ: destino, futuro, segredos;
– “ODÚDÚA DÁDÁ ÔRÚMILÁ – AXÉ IFÁ!”
> verde e amarelo;

YIÁ-MÍ-OXORONGÁ: magia-negra;
– “AXÉ!”
> preto;

AJÊ: riqueza, fartura, prosperidade;
– “AXÉ!”
> dourado e prateado;

EXÚ DE QUIMBANDA/POMBA-GIRA DE QUIMBANDA: tudo;
– “LARÔIÊ!”
> preto e vermelho, algumas vezes preto-branco-vermelho

 

CORRELAÇÃO DE NOMES NOS CULTOS AFROS

 

Segue os nomes respectivamente de ORIXÁ (ALAKETU) VODUM (GÊGE) e INKICE (ANGOLA)

OXALÁ OLISASSA LEMBA-DI-LÊ
XANGÔ SOBÔ, BADÊ ZAZE
OGUM GU ROXIMOCUMBI
IBÊJE ERÊ VUNJI
EXÚ BÁRA, ELEGBARA, LEGBÁ BOMBOMGIRA
OMOLÚ, OMULÚ {XAPANÃ, SAPATÁ, AZOANÍ, KIKONGO, CAJANJÁ
{BABALUAIÊ, INTÔTO
OXUMARÉ, OXUMARÊ {BESSÉM, ABESSÉM, SIMBÍ, {ANGOROMÉIA,
{DAMBALAH, SOBOADÃ {ANGORÔ
OXÓSSI, ODÉ ODÉ, AGUÊ KIBUCOMOTOLOMBO
{NANÃ, NANÃ BURUKÚ, TABOSSI RADIALONGA
{ANÃBURUKÚ
OXUM AZIRÍ KISSIMBÍ
{IEMANJÁ, YEMONJÁ, INAÊ, MARBÔ {JANAÍNA, MUCUNÃ,
{YIÊMÔNDJÁ {KAIALA, KIANDA,
{OLOXUM
YANSÃ OYÁ KAIONGO
TEMPO TEMPO KATENDE
IRÔCO LÔCO LÔCO
IFÁ FÁ IFÁ
YEWÁ YEWÁ YEWÁ
YIÁ-MÍ-OXORONGÁ AJÉ, ADJÉ, OXÔ ADJÉ
AJÊ, ADJÊ ADJÊ-XALÚGA AJÊ

 

OS ARCANOS MAIORES DO TAROT E OS ORIXÁS

 

ARCANO ORIXÁ
0 O LOUCO IAÔ – O INICIANDO
I O MAGO OSSAIN
II A GRÃ-SACERDOTISA NANÃ
III A IMPERATRIZ IEMANJÁ
IV O IMPERADOR XANGÔ
V O PAPA/O HIEROFANTE OXALÁ
VI OS NAMORADOS OXÓSSI
VII O CARRO OGUM
VIII A JUSTIÇA OBÁ
IX O HEREMITA/O HERMITÃO OMOLU
X A RODA DA FORTUNA IFÁ
XI A FORÇA OYÁ
XII O PENDURADO/O ENFORCADO LOGUM-EDÉ
XIII A MORTE ÉGUM
XIV A TEMPERANÇA OXUMARÊ
XV O DIABO EXÚ
XVI A TORRE TEMPO
XVII A ESTRELA OXUM
XVIII A LUA YEWÁ
XIX O SOL IBEJI
XX O RENASCIMENTO/O JUÍZO BABÁ-ÉGUM
XXI O MUNDO O ÔVO CÓSMICO DE DAMBALLAH E AYIDA

 

OS ODÚS E O JOGO DOS BÚZIOS

Segue i jogo com dezesseis búzios – “merindilogum”

nº de búzios abertos * figura geomântica * nome em latim  * nome em yoruba

0 * nenhuma * nenhum * Opira
1 * 1111 * Via * Ogbé ou Ejí-Onile
2 * 1112 * Cauda Draconis * Ogundá
3 * 1121 * Puer * Iretê ou Mejioco
4 * 1122 * Fortuna Minor * Irossum
5 * 1211 * Puela * Oturá ou Ejí-Oligbon
6 * 1212 * Amissio * Oxé
7 * 1221 * Carcer * Odí
8 * 1222 * Laetitia * Obará
9 * 2111 * Caput Draconis * Ossá
10 * 2112 * Conjunctio * Iwóri ou Obetegundá
11 * 2121 * Aquisitio * Ofum
12 * 2122 * Albus * Iká
13 * 2211 * Fortuna Major * Owanrin
14 * 2212 * Rubeus * Eji-Laxeborá ou Oturupon
15 * 2221 * Tristitia * Okaran
16 * 2222 * Populus * Aláfia ou Oyekú

 

por J. R. R. Abrahão

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/cultos-afros/a-gnose-afro-americana-e-o-candomble-gnostico/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/cultos-afros/a-gnose-afro-americana-e-o-candomble-gnostico/

A Espiritualidade Queer no Vodu, na Santería e no Candomblé

A HISTÓRIA CULTURAL QUEER DA DIÁSPORA AFRICANA:

Durante o tráfico atlântico de escravos, os europeus transportaram mais do que os africanos de suas terras nativas para as plantações das Américas. Eles transportaram culturas, visões de mundo e crenças religiosas milenares. Por autopreservação e pressão de seus mestres cristãos anticristãos, os filhos da diáspora africana disfarçaram suas tradições espirituais nativas sob o disfarce do catolicismo místico. Ao longo dos séculos, as religiões se misturaram para criar novas fés únicas que espelhavam as crenças tradicionais de escravos e senhores, embora com uma corrente dominante de práticas da África Ocidental. Três em particular ganharam grande destaque e podem contar entre eles legiões de adoradores abertamente LGBT+: o Vodu, a Santería e o Candomblé.

O VODU:

Entre bonecos com alfinetes nos olhos, zumbis e associações com o macabro, o Vodu (alternadamente escrito Vodou, Vodum, Voodoo ou Vodoun) é uma das religiões mais sensacionalistas ao redor. A maioria de seus tons mórbidos vem do fato de ser uma religião ancestral, porque reverenciar os ancestrais envolve reverenciar os mortos. Existem diferentes tipos de Vodu, como o Vodu haitiano, o Vodu da Louisiana e o Vodu ainda praticado na África, mas em geral as versões do Novo Mundo são descendentes crioulos das religiões tribais da África Ocidental e do catolicismo francês.

Por si só, o Vodu é muito acolhedor para a comunidade queer, e em algumas culturas caribenhas onde o sentimento anti-LGBT+ é socialmente forte, a prática do Vodu funciona como um espaço seguro e acolhedor para as pessoas queer serem elas mesmas. Não há proteções legais para pessoas LGBT+ na capital Vodu do Haiti, e na outra Meca Vodu da Louisiana, as proteções são mínimas e muitas vezes não são aplicadas fora de Nova Orleans. Nessas geografias onde o Vodu é mais praticado, ser aparentemente queer muitas vezes corre o risco de repercussões que vão desde ser demitido de seu emprego até ser vítima de vários graus de crimes de ódio. A comunidade Vodu, no entanto, é um oásis tolerante e tolerante em um mar de discriminação, e muitas vezes é o único lugar onde haitianos gays e louisianos podem ser eles mesmos.

Por causa disso, muitas pessoas LGBT+ são atraídas pela natureza inclusiva do Vodu; consequentemente, o Vodu tem um número desproporcionalmente alto de praticantes abertamente queer em comparação com outras religiões. [73]  A sexualidade e a expressão de gênero de uma pessoa nunca são julgadas por padrões morais, pois há um entendimento inerente de que você é como o Divino o fez, e a perfeição inerente do Divino significa que o Divino não comete erros. Portanto, você — como quer que seja — não é um erro. Além disso, a procriação não é um ponto focal da religião como é no catolicismo puro, o que significa que todas as formas de sexo não procriativo não são tabu nem vistas como não naturais. Pelo contrário, até as próprias divindades Vodu têm prazer em atos homoeróticos de sexualidade, mas falaremos mais sobre isso daqui a pouco. [74]

Uma das partes mais conhecidas do Vodu envolve a invocação de um espírito (conhecido como lwa) no próprio corpo. Isso geralmente é feito durante um tipo fortemente rítmico de ritual de dança de forma livre, e às vezes um lwa de um gênero habitará o corpo de um humano do gênero oposto. Nesse ponto, o dançarino possuído começa a pensar, se comportar e agir como o lwa dentro dele. Um homem masculino habitado por um loa efeminado começará a agir de forma efeminada, uma mulher afeminada habitada por um loa masculino passará a agir de forma masculina, e nunca a sexualidade pessoal e a identidade de gênero do homem ou da mulher são questionadas porque naquele momento, através da êxtase da dança, o lwa está no controle; o corpo humano é apenas um vaso. Como nota lateral, é importante saber que o Vodu não rotula seu lwa com rótulos LGBT+, embora os humanos geralmente reconheçam traços LGBT+ em seu caráter.

Nem todos, mas vários praticantes de Vodu também acreditam em uma forma de reencarnação em que o corpo é efêmero, mas a alma é eterna. Para eles, a alma é uma coisa sem gênero, e cada pessoa, independentemente de sua sexualidade e gênero atual, tem sido muitas coisas de muitas vidas passadas. Um homem homossexual branco flamejante hoje pode ter sido uma mulher asiática heterossexual Kinsey 1 em um ponto ou talvez uma mulher negra bissexual ou mesmo uma tribo pansexual de gênero fluido nas selvas de Papua Nova Guiné. Assim, a aparência externa, rótulos e desejos pessoais não definem a verdadeira alma de uma pessoa, tornando-os nulos e vazios nas conversas sobre o certo e o errado. São apenas fatos da vida, todos sujeitos a mudanças durante a próxima transmigração da alma.

A LIÇÃO DO VODU:

 

A INVOCAÇÃO DE DIVINDADES DE GÊNEROS OPOSTOS:

A prática Vodu de possessão espiritual é uma óbvia atividade mágica de lição ou conclusão. Agora, até que você aprenda mais sobre as tradições do Vodu ou já tenha um relacionamento com elas, não vá invocar lwa Vodu de maneira Vodu. Comece com sua própria tradição mágica. Especificamente, se sua fé envolve um panteão de divindades de gêneros diferentes, invoque uma divindade do gênero oposto ao qual você se identifica pessoalmente. Mas faça isso, é claro, à maneira de sua própria tradição com a qual você está familiarizado.

Uma coisa é falar, agir e simpatizar com outros gêneros, mas perder totalmente o controle e permitir que outro gênero tome as rédeas e faça você pensar, sentir e agir como eles é outra coisa. Então, para sua próxima atividade mágica, faça um ritual de invocação de uma divindade que seja o epítome estereotipado do gênero oposto ao seu. Experimente, veja como é e, em vez de apenas entrar em contato com outro gênero, permita que esse outro gênero entre em você.

A SANTERÍA:

A Santería é semelhante, mas muito diferente do Vodu de várias maneiras. Eles são semelhantes no sentido de que ambos são de origem caribenha, criados a partir da mistura de catolicismo colonial e religiões tradicionais da África Ocidental, e acreditam em um panteão de seres espirituais que muitas vezes são chamados a possuir um devoto durante a dança ritual. Suas diferenças predominantes, no entanto, vêm de ramos específicos de suas raízes religiosas, das quais suas outras diferenças evoluíram naturalmente. Especificamente, enquanto o Vodu é mais uma mistura de catolicismo francês e espiritualidade africana da tradição do Daomé, a Santeria é mais uma mistura de catolicismo espanhol e espiritualidade africana da tradição iorubá.

Em vez do lwa do Vodu, os espíritos de Santería são conhecidos como orishas. Os escravos iorubás que antes viviam sob o domínio colonial espanhol no Caribe disfarçavam seus orishas de santos católicos, fazendo com que cada orisha correspondesse a um santo específico. Ao longo dos anos, os traços, mitologias e esfera de domínio espiritual que cada orisha e santo possuíam se misturaram para formar a tradição espiritual única conhecida hoje como Santería, que ainda é popular em seus países caribenhos de língua espanhola, bem como nos EUA. e cidades latino-americanas com grandes populações de imigrantes hispano-caribenhos.

Do lado de fora, Santería tem todas as armadilhas do sensacionalismo: adivinhação com ancestrais falecidos, possessão, uso pesado de rituais de dança de tambores, transes e, mais notoriamente, sacrifício de animais. Soma-se a tudo isso o fato de que a Santería também possui uma porcentagem estatisticamente grande de praticantes LGBT+ em comparação com outras tradições religiosas. O raciocínio para isso é muito semelhante ao raciocínio para o mesmo fenômeno social encontrado no Vodu: a Santería coloca uma ênfase maior na alma sem gênero de uma pessoa, em vez de seu corpo físico ou apetites corporais. Isso permite uma atitude não julgadora e acolhedora para permear a fé. Além disso, a comunidade queer dentro da maior sociedade cultural machista caribenha/católica das ilhas encontra refúgio em sua comunidade religiosa da Santería porque eles podem ser eles mesmos com segurança e abertamente, encontrar outros como eles e conhecer outras pessoas de mente aberta. A identidade queer também é encontrada nos mitos e tradições de seus orishas.

Um exemplo disso é a história de origem da própria homossexualidade da Santería. Segundo a lenda, ela se desenvolveu naturalmente entre dois orishas masculinos em resposta à tentativa de sua mãe de esconder sua própria vergonha. Conforme a história, Yemaya (a orisha da lua, do oceano, dos mistérios femininos e a divindade mãe de todos os orishas) foi enganada para fazer sexo com seu filho Shango (orisha do trovão, raio, fogo e guerra) na frente de seus dois irmãos Abbatá e Inlé (os orishas da cura e da profissão médica). Envergonhada e horrorizada por alguém descobrir isso, ela baniu Abbatá e Inlé para viver no fundo do mar, longe do resto do mundo, e só para garantir ela fez Abbatá ficar surdo e cortou a língua de Inlé. Apesar de sua incapacidade de se comunicar um com o outro, eles ainda eram capazes de se entender com empatia. E juntos, em sua mútua solidão e sofrimento, os dois desenvolveram um vínculo profundo que se transformou em paixão romântica e sexual, dando origem à homossexualidade no mundo. [76]

Além da óbvia história de origem, esse mito também contém reflexões muito mais profundas da sociedade gay. Os laços de ser pária, rejeitado por sua família, sua incapacidade de se expressar plenamente e punição por ações além de seu controle são temas comuns na vida da comunidade queer como um todo. Além disso, também sugere a empatia natural das pessoas LGBT+ por outras pessoas que sofrem. A outra conexão está no símbolo de Abbatá de serpentes entrelaçadas, que, embora tenha associações com o caduceu médico, também tem fortes tons homoeróticos. O papel espiritual de Abbatá como enfermeiro de Inlé também tem uma tendência gay, devido aos estereótipos de enfermeiros do sexo masculino serem gays. No entanto, as especificidades desses dois amantes variam dependendo da preferência do praticante individual. As preferências variam de pessoas que veem Inlé como um ser andrógino a pessoas hetero-normalizando seu relacionamento ao ver Abbatá como uma mulher completa. [77]

Segundo alguns praticantes da Santería, não se pode ser um praticante solitário. Para eles, e para muitos, a Santería é uma religião comunal. Devido à grande porcentagem de praticantes queer na Santería, a exposição a eles permite que a maioria não-LGBT+ interaja com eles e passe a ver a comunidade queer como pessoas boas e comuns como eles. Isso cria um efeito de bola de neve social em que mais e mais pessoas se tornam cada vez mais receptivas e, por sua vez, criam seus filhos para serem mais socialmente liberais, levando a uma aceitação ainda maior dentro da Santería. Além disso, muitos líderes dentro da Santería são abertamente queer; como líderes, eles direcionam o curso da religião para se tornar ainda mais receptivo e de mente aberta. [78]

No entanto, como a maioria das religiões, a Santería está longe de ser um ideal utópico de aceitação perfeita. Apesar de cerca de 30-50 por cento dos praticantes serem indivíduos LGBT+ e a maioria de todos os praticantes serem mulheres, a estrutura hierárquica da Santería impede que pessoas e mulheres queer (na maioria das linhas) alcancem os mais altos cargos de liderança como o Babalawo (o mais alto- nível de classificação no sacerdócio). Além disso, os homens gays são proibidos de tocar os tambores sagrados conhecidos como batá. Por fim, a religião mantém uma estrita divisão de trabalho entre os sexos, e quando a orientação sexual, expressão e identidade de uma pessoa não se alinham com os papéis convencionais de gênero, seu lugar hierárquico dentro da religião pode se tornar complicado e sujeito ao arbítrio de autoridades regionais. Liderança. Mas apesar dessas limitações, a comunidade LGBT+ é geralmente muito aceita dentro de Santería e experimenta muito mais liberdade do que em muitas outras religiões em nosso mundo moderno.

A LIÇÃO DA SANTERÍA:

 

A SACRALIDADE DA COMUNIDADE:

A Santería é uma fé muito comunal, e o aspecto de união é altamente reverenciado. Mais do que apenas ajudar uns aos outros e estar sempre lá um para o outro, a comunidade da Santería considera sagradas suas interações comuns uns com os outros. Então, para sua próxima atividade mágica, vá lá e ajude sua comunidade. Intenções mágicas, palavras e correspondências são ótimas, mas o que elas significam se não agirmos de acordo com elas? Seja voluntário, envolva-se no ativismo, ajude um vizinho literal. Quanto mais interagimos com a sociedade de forma positiva e benéfica, mais a sociedade nos vê como positivos e benéficos. Afinal, uma mão amiga é muitas vezes o trabalho de feitiço mais poderoso que se pode fazer para um bem maior.

O CANDOMBLÉ:

Para completar nosso tour pelas religiões da diáspora africana, vamos velejar para fora do Caribe e atracar na nação sul-americana do Brasil, que tem a dupla desonra dúbia de não ser apenas o destino número um para a maioria dos escravos africanos levados para no Novo Mundo (cerca de 40% do total do comércio de escravos), mas também foi a última nação do Hemisfério Ocidental a abolir completamente a escravidão. O grande número de escravos combinado com a extensa linha do tempo da escravidão legalizada criou uma fusão espiritual e cultural única e duradoura entre o povo brasileiro. Atualmente, o Brasil é um país com uma das maiores populações de afrodescendentes, perdendo apenas para a Nigéria. [80]

De todas as tradições espirituais ecléticas que emergem dessa história única, o Candomblé é uma das maiores e mais conhecidas. Ele compartilha características semelhantes com seus primos do norte, o Vodu e a Santería, mas o Candomblé é mais o resultado das tradições da África Ocidental misturadas com o Catolicismo Português e as várias religiões nativas encontradas no Brasil Aborígene. Como o Vodu e a Santería, no entanto, o Candomblé também coloca grande ênfase em um panteão espiritual de orixás (sua grafia de orishas), bem como tambores ritualísticos, dança de forma livre e possessão de espíritos. Ele também tem um seguimento queer muito forte.

É importante notar que o Candomblé nem sempre aceitou a comunidade queer. Originalmente, suas regras e hierarquias rígidas impunham limitações severas e preconceituosas a qualquer pessoa LGBT+. Mas no início de 1900, um ramo separado da religião conhecido como caboclo se desenvolveu e rapidamente ganhou popularidade devido à sua preferência por orixás mais obscenos e irreverentes e falta de restrições para seus membros LGBT +. Consequentemente, o aumento da popularidade do caboclo forçou o Candomblé mais popular a se tornar menos rígido e mais aberto aos seus adeptos queer. Ainda assim, porém, o ramo caboclo da religião, devido à sua história, é conhecido como a versão “queer” do Candomblé e o próprio título carrega consigo uma nuance compreendida da natureza/ser queer (queerness). [81]

A popularidade moderna do Candomblé entre a comunidade queer é muito semelhante à afinidade da comunidade pelo Vodu e pela Santería. É um lugar acolhedor e tolerante para expressar seu verdadeiro eu em uma sociedade cultural intolerante e discriminatória, sua identidade sexual e expressão de gênero são refletidas tanto na mitologia quanto nas divindades espirituais, e não há moralidade percebida sobre orientação ou identidade sexual.

No Candomblé não existe a dualidade comum do bem e do mal. Em vez disso, cada pessoa está inserida em seu próprio destino pessoal a cumprir, e o destino de uma pessoa pode exigir um código moral diferente do destino de outra. Claro, isso é temperado pela crença adicional de reciprocidade cósmica de que o que você faz aos outros acabará por voltar para você, então isso não é de forma alguma uma tradição espiritual que tolera um tipo de mentalidade do tipo “para o inferno com as consequências”. Mas, em suma, há uma atmosfera de não julgamento entre os fiéis, enfatizando a importância de deixar as pessoas se expressarem da maneira mais correta para elas, que incluem sexualidade e identidade de gênero. É verdade que nem todos os membros são tolerantes, mas como um todo o Candomblé é muito menos intolerante do que muitas das principais religiões do mundo moderno. [82]

Os praticantes do Candomblé Queer costumam ser membros de uma “casa”. Essas casas são semelhantes às casas de drag queen, onde todos se reúnem e formam um vínculo familiar próximo, muitas vezes sob a liderança de uma “mãe” ou “pai” mais experiente. Na sociedade brasileira, essas casas de candomblé têm estado na vanguarda dos movimentos pelos direitos LGBT+ tanto na advocacia quanto na mobilização. Eles são conhecidos até mesmo por se esforçarem para implementar campanhas de prevenção ao HIV/AIDS e ajudar os já infectados, fornecendo referências e informações sobre o tratamento. Por causa de seus esforços, o Brasil hoje tem algumas das proteções legais mais progressistas para a comunidade queer no mundo, embora culturalmente ainda exista uma tremenda discriminação e intolerância.[83]

Além das casas, o Candomblé se destaca em outro pilar gay altamente evoluído: a leitura, como na leitura de uma companheira rainha para a sujeira (chamar a atenção de forma abrangente para as falhas de alguém, isto é, arrastar o nome de alguém com falhas para a lama). De fato, na década de 1980, o antropólogo gay Jim Wafer estudou a cultura gay dos adeptos do candomblé, e ficou particularmente fascinado com sua própria forma de abuso verbal estilizado e lúdico entre si que eles chamam de baixa. Os praticantes do candomblé têm duas formas distintas de baixa; uma forma é usada em ambientes públicos seculares e a outra é usada apenas em rituais privados durante os festivais. A principal diferença está no vocabulário e nos tipos de leitura que se faz. A versão secular é semelhante à leitura comum como a conhecemos na cultura gay contemporânea, mas a versão religiosa faz uso proposital de orixás, piadas internas de rituais e menções à política doméstica. Embora semelhantes, cada tipo de baixa desenvolveu seu próprio fluxo rítmico e forma de arte falada que são distintas umas das outras. Wafer faz uma nota final sobre a baixa, afirmando que é uma coisa muito gaycêntrica, uma vez que é mutuamente compreendida entre gays brasileiros e aqueles que conhecem a comunidade. [84]

A LIÇÃO DO CANDOMBLÉ:

 

A SACRALIDADE DA COMUNIDADE QUEER:

Agora, eu sei o que você está dizendo: “Mas Tomás, essa foi a atividade de algumas páginas atrás.” E sim, é, mas com um foco diferente: essa é a sacralidade de nossa própria comunidade queer. Você vê, a Santería fez grandes avanços na sociedade hispano-caribenha ao reunir as comunidades queer e não-queer, derrubando barreiras e mostrando como todos podemos nos dar bem. Mas o que nossos irmãos e irmãs do Candomblé fazem muito bem é agir para apoiar sua própria comunidade queer sagrada. Através de seu estabelecimento de acolhimento de fugitivos para formar casas, ativismo de HIV/AIDS e desenvolvendo suas próprias formas de comunicação verbal, eles estão aproximando a comunidade queer brasileira e cuidando uns dos outros.

Como pessoas LGBT+, muitas vezes lançamos a palavra “comunidade” como se quiséssemos, mas dando uma olhada ao redor, fragmentação e luta interna estão em toda parte. É bom dizer que somos uma comunidade e, em seguida, todos aparecem juntos em um evento do Orgulho, mas como estamos prestando homenagem à nossa sagrada comunidade queer nas outras cinquenta e uma semanas do ano? Não apenas diga, mostre.

Então, para sua próxima atividade mágica, ajude sua tribo queer. Seja voluntário em seu centro LGBT+ local, inicie um grupo de apoio queer no Facebook, escreva em um blog sobre sua experiência como feiticeiro queer; as opções são infinitas. Independentemente de como você faz isso, mostre sua devoção mágica à comunidade através da ação, porque se tudo o que você está fazendo é acender uma vela e enviar boas intenções para sua tribo queer, em que você é diferente daqueles que, em resposta a um pedido de ajuda, dizer coisas como “meus pensamentos e orações estão com você”? Lembre-se, a ação direta obtém satisfação; como um grupo minoritário global, precisamos ajudar uns aos outros com ações, não apenas palavras. Mãos que ajudam são mais sagradas do que lábios que oram.

AS DIVINDADES E AS LENDAS QUEER:

 

BABALÚ-AYÉ:

Conhecido como Babalú-Ayé na Santería e como Obaluaiê no Candomblé, ele é o orixá da doença e da cura. Além de ser muito temido e muito respeitado, é um dos orixás mais populares devido aos inúmeros relatos de suas milagrosas intercessões de cura. Embora não necessariamente considerado uma entidade queer em si mesmo, desde o nascimento da epidemia de HIV/AIDS ele foi adotado pela comunidade LGBT+. Para muitos na comunidade, Babalú-Ayé é visto como o orixá proeminente para pessoas que sofrem de HIV/AIDS, e as petições específicas para ele por seus poderes de cura são numerosas. E embora ele seja um orixá, ele também sofre de claudicação física e um corpo doente. Esse sofrimento concede uma compreensão de solidariedade entre ele e os mortais, pois, diferentemente de outras divindades, ele pode simpatizar diretamente com sua doença e dor.

Além da conexão com HIV/AIDS, a comunidade LGBT+ o considera especialmente sagrado por sua bondade para com os marginalizados do mundo. As lendas contam como ele é o orixá que vai ajudar os isolados por doenças contagiosas e transmissíveis quando ninguém mais o faria por medo de se infectar. Sua cor sagrada também é roxa, que tem conexões internacionalmente compreendidas dentro da comunidade queer. [85]

A oferta mais comum para ele são grãos, e ele tem fortes correspondências com o elemento terra. Ao usar um recipiente para apresentar ou guardar oferendas, porém, é tradicional que a tampa do recipiente tenha furos, simbolizando a impossibilidade de se proteger para sempre da doença. Além disso, seus navios nunca são deixados parados. Eles são tradicionalmente mantidos em movimento para vários locais de acordo com as histórias mitológicas de Babalú-Ayé, onde o movimento e a atividade são ensinados como as melhores formas de cura porque evitam a estagnação e mantêm o corpo saudável, evitando que o corpo fique doente em primeiro lugar. No trabalho de feitiços, os devotos oram a ele para curar os entes queridos de doenças e punir seus inimigos com doenças. [86]

BARON SAMEDI:

Baron Samedi é indiscutivelmente um dos mais conhecidos lwa do Vodu na cultura pop graças à sua personalidade excêntrica e representação caricaturizada em filmes populares como o Dr. Facilier no filme A Princesa e o Sapo, da Disney, e como o apropriadamente chamado Barão Samedi no clássico de James Bond: Com 007 Viva e Deixe Morrer. Como patrono da morte, sepulturas, cemitérios, cura, fumo, bebida e obscenidades, ele é uma das divindades mais transgressoras de qualquer religião.

Em termos de aparência, ele é frequentemente descrito como tendo uma estrutura magra como um esqueleto, com um copo de rum ou um charuto na mão enluvada e vestindo uma elegante sobrecasaca roxa e cartola. Ele às vezes complementa isso adicionando à mistura alguns itens essenciais femininos, como saia e sapatos de salto alto. Particularmente, ele é conhecido por seu desrespeito ao tato e decoro, bem como por sua devassidão lasciva, mas ele faz tudo com um ar urbano de suavidade.

Às vezes ele é visto como um lwa transgênero, mas sempre com uma preferência descarada pelo sexo anal. Sua capacidade fluida de ir além do binário homem/mulher, hétero/gay, masculino/feminino, terra/submundo, vivo/morto o torna um lwa popular para a comunidade queer e para aqueles que sentem a necessidade de transgredir fronteiras sem vergonha ou que sentem que não se encaixam em uma categoria singular de rótulos. [87]

Na devoção, os cemitérios são lugares sagrados para ele, e muitas vezes ele pede que seus devotos usem as cores preta, branca ou roxa. Para oferendas, ele tem preferência por coisas esfumaçadas pesadas, como café preto, nozes grelhadas, charutos e rum escuro. Ele é solicitado principalmente por feitiços e magia prejudicial, mas também é solicitado para a prevenção da morte durante doenças com risco de vida, durante momentos perigosos e em resposta a ser fatalmente enfeitiçado. Segundo a tradição, diz-se que só se pode morrer se o Barão Samedi cavar a sua cova. Porque ele é um tipo de personalidade caprichosa e impulsiva, ele pode optar por não cavar sua cova, deixando você viver o que está acontecendo com você, se solicitado a fazê-lo, ou se ele simplesmente não o fizer. Não tenho vontade de cavar sua cova por qualquer motivo. [88]

ERZULIE FRÉDA & ERZULIE DANTOR:

Erzulie é uma família de lwa do Vodu, da qual dois membros às vezes estão diretamente associados à comunidade queer: Erzulie Freda e Erzulie Dantor. Erzulie Fréda pode ser mais comparada à deusa grega Afrodite e é a lwa do amor, beleza, joias, dança, luxo, flores e homossexuais masculinos. Diz-se que os gays estão sob sua proteção divina, e não é incomum que os homens afirmem que sua orientação sexual foi diretamente o resultado de ter invocado Erzulie Fréda para possuí-los durante a dança ritualística. Ela também é conhecida por ser muito paqueradora com todos os gêneros, e alguém de quem ela possui muitas vezes será visto flertando com outras pessoas, independentemente de sua orientação sexual regular. Condizente com uma divindade do amor, seu símbolo sagrado é o de um coração, sua cor sagrada é rosa e ela prefere oferendas românticas, como perfumes, sobremesas, joias e destilados com sabor doce. [89]

Erzulie Dantor, em comparação, é a lwa das mulheres, crianças e lésbicas. Ela é frequentemente retratada como uma Virgem Maria de pele negra com cicatrizes no rosto e um seio bem dotado, segurando uma criança de pele negra semelhante a Jesus. Suas cores sagradas geralmente são azul e dourado, enquanto suas ofertas preferidas são água da Flórida, carne de porco, rum e, especialmente, licor de chocolate. [90]

REFERÊNCIAS:

[73]. International Gay and Lesbian Human Rights Commission and SEROvie, The Impact of the Earthquake, and Relief and Recovery Programs on Haitian LGBT People, 2011, https://www.outrightinternational.org/content/impactearthquake-and-relief-and-recoveryprograms-haitian-lgbt-people (accessed Oct. 28, 2016).

[74]. Elizabeth A. McAlister, Rara! Vodou, Power, and Performance in Haiti and Its Diaspora (Berkeley: University of California Press, 2002).

[75]. Rev. Severina K. M. Singh, “Haitian Vodou and Sexual Orientation,” in The Esoteric Codex: Haitian Vodou, ed. Garland Ferguson (Morrisville: Lulu Press, Inc., 2002), 50-53.

[76]. Randy P. Conner, “Gender and Sexuality in Spiritual Traditions,” in Fragments of Bone: Neo-African Religions in a New World, ed. Patrick Bellegarde-Smith (Champaign: University of Illinois Press, 2005).

[77]. From https://www.viejolazaro.com/en/ (accessed Nov. 1, 2016) and http://agolaroye.com/Inle.php (accessed Nov. 1, 2016).

[78]. Scott Thumma and Edward R. Gray, Gay Religion (Walnut Creek: Altamira Press, 2004).

[79]. Salvador Vidal-Ortiz, “Sexual Discussions in Santería: A Case Study of Religion and Sexuality Negotiation,” Journal of Sexuality Research & Social Policy 3:3 (2006), http://www.academia.edu/1953070/Sexuality_discussionsJn_Santer%C3%ADa_A_case_study_o (accessed Nov. 1, 2016).

[80]. Nicolas Bourcier, “Brazil Comes to Terms with Its Slave Trading Past,” The Guardian, Oct. 23, 2012, https://www.theguardian.com/world/2012/oct/23/brazil-struggle-ethnic-racial-identity (accessed Nov. 2, 2016).

[81]. Roscoe, Queer Spirits.

[82]. “Candomble at a Glance,” British Broadcasting Corporation, Sept. 15, 2009, http://www.bbc.co.uk/religion/religions/candomble/ataglance/glance.shtml (accessed Nov. 2, 2016).

[83]. Andrea Stevenson Allen, Violence and Desire in Brazilian Lesbian Relationships (New York: Palgrave Macmillan, 2015).

[84]. Jim Wafer, The Taste of Blood: Spirit Possession in Brazilian Candomble (Philadephia: University of Pennsylvania Press, 1991).

[85]. “Babalu Aye,” Association of Independent Readers & Rootworkers, June 20, 2017, http://readersandrootworkers.org/wiki/Babalu_Aye (accessed Aug. 18, 2017).

[86]. David H. Brown, Santería Enthroned: Art, Ritual, and Innovation in an Afro-Cuban Religion (Chicago: University of Chicago Press, 2003).

[87]. Tomas Prower, La Santa Muerte: Unearthing the Magic & Mysticism of Death (Woodbury: Llewellyn, 2015).

[88]. “Baron Samedi—A Loa of the Dead,” Kreol Magazine, http://www.kreolmagazine.com/arts-culture/historyand-culture/baron-samedi-a-loa-the-dead/dead/(accessed June 12, 2017).

[89]. Des hommes et des dieux, directed by Anne Lescot and Laurence Magloire (2002, Port-au-Prince: Digital LM, 2003), DVD.

[90]. From http://ezilidantor.tripod.com (accessed Oct. 28, 2016).

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Fonte:

Queer Magic: LGBT+ Spirituality and Culture from Around the World © 2018 by Tomás Prower.

COPYRIGHT (2018) Llewellyn Worldwide, Ltd. All rights reserved.

Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/queer/a-espiritualidade-queer-no-vodu-na-santeria-e-no-candomble/