Zaratustra, Mithra e Baphomet – parte III

Publicada originalmente no S&H dia 14/5/2008,

Acompanhando esta série “desvendando a origem dos demônios”, cujos posts iniciais estão AQUI e AQUI, o tio Marcelo explicará hoje sobre como surgiram os conceitos de Bem x Mal, deturpados na Igreja Católica e por conseguinte nas Evangélicas e caça-níqueis afins, para providenciar um campo fértil de “nós versus eles” e permitir que agregassem melhor o gado.

E se existia um deus “do bem”, seria necessário inventar deuses “do mal” para servirem como opositores. Para entender como surgiram os demônios, precisamos entender quem eram os deuses das religiões “adversárias” (Shaitanicas).

E, de quebra, também desvendaremos os mistérios de Baphomet!

Diabo, Diabolos e Daimon

Antes de prosseguir, é necessário fazer um adendo. Muitos religiosos gostam de inventar traduções adaptadas às suas necessidades para certas palavras, normalmente de maneira tosca e grosseira, mas que dependendo da erudição com que são colocadas, acabam enganando os desavisados. Uma das favoritas dos fanáticos religiosos é relacionar Daemon, Diabo ou Diabolos com “Acusador” ou “Caluniador”.

Pois bem: Daimon ou Daemon significa “gênio” ou “espírito”. São os Anjos da Guarda da mitologia católica. A palavra em grego para Daimon é “??????”. Já caluniador se escreve “??????????” e acusador “???’??????”, ou seja, palavras BEM diferentes.

Já Diabo vem de Diabolos, cujo significado está atrelado a outra palavra bem conhecida: Símbolos. Diabolos significa “Aquilo que nos separa” enquanto Símbolos significa “Aquilo que nos une”. Desta maneira, uma seita “diabólica” significa, no sentido correto da palavra, “uma seita que nos separa”. Já a relação entre símbolo e união é bem fácil: basta imaginar um time de futebol. O símbolo do time é o brasão que une os torcedores.

Assim falou Zaratustra

Zaratustra, às vezes chamado de Zoroastro, é o fundador do Zoroastrismo. Ele foi um verdadeiro iniciado, nascido na Pérsia cerca de 1.000 anos antes de Cristo. Desde muito cedo, Zoroastro já demonstrava sabedoria fora do comum; aos 15 anos realizava valiosas obras religiosas e era conhecido e respeitado por sua bondade para com os pobres e pelo sistema religioso-filosófico que criou.

Seus sacerdotes, os Magi (sábios), eram vegetarianos, reencarnacionistas, espiritualistas e conheciam muito bem a astrologia. Zoroastro reformulou uma religião chamada Mazdeísmo, com uma visão mais positiva do mundo.

Para entender melhor esta religião, precisamos estudar a estrutura social da época: os persas estavam divididos em três classes; os sacerdotes, os guerreiros e os camponeses. Os Ahuras (“senhores”) eram venerados apenas pela primeira classe, Mithra era um Ahura venerado na classe dos guerreiros; e os camponeses possuíam seus próprios deuses da fertilidade.

O Zoroastrismo prega a existência de um Deus único, Ahura Mazda (“Divindade Suprema”), a quem se credita o papel de criador e guia do universo (Keter, na Kabbalah). Desta divindade emanam seis espíritos, os Amesas Spenta (Imortais Sagrados), que auxiliam Ahura Mazda em seus desígnios.

São eles: Vohu-Mano (Espírito do bem), Asa-Vahista (Retidão suprema), Khsathra Varya (Governo Ideal), Spenta Armaiti (Piedade sagrada), Haurvatat (Perfeição) e Ameretat (Imortalidade). Estes seres travam uma batalha dentro de cada pessoa contra o princípio do mal: Angra Mainyu, por sua vez acompanhado de entidades malignas: O Mau pensamento, a mentira, a rebelião, o mau governo, a doença e a morte.

A grande questão do bem e do mal, colocada por Zoroastro, se resolve DENTRO da mente humana. O bom pensamento cria e organiza o mundo e a sociedade, enquanto o mau pensamento faz o contrário. Esta opção é feita no dia-a-dia da pessoa e ninguém pode fazer uma opção definitiva, pois este é um processo dinâmico e progressivo.

O nome Mithra (Sol) era visto como o “Deus da Luz”. Os vedas o chamavam de Varuna e os persas de Ahura Mazda.

Zoroastro teve muitos problemas em tentar implementar a religião monoteísta, tentando se opor aos sacerdotes de Mithra e os sacrifícios sangrentos dos touros. Zoroastro foi assassinado por sacerdotes de Mithra no templo de Balkh.

Após este período, o culto a Mithra floresceu. Seu dia sagrado, o Solis Invictus, é comemorado a 25 de Dezembro, mesma data do nascimento de Hórus e celebrando a “vinda da nova luz” (claro que não existia o dia 25 de dezembro com este nome, pois o calendário gregoriano só seria inventado muitos séculos depois; a data era calculada pelas luas e pelos astros para cair no Solstício de Inverno, a noite mais longa do ano).

Mithra era considerado o “Filho de Deus”; filho de Ahura Mazda, recebeu a incumbência de matar o touro primordial. Mithra nasce em uma gruta (lembram-se do que falamos nas outras colunas sobre cavernas, certo?) e o céu é sua casa. Matar o touro é o motivo principal do culto mitraico.

Isto é tão importante para compreendermos várias coisas dentro de diversas culturas que eu vou repetir: “matar o touro é o motivo principal da religião mitraica”.

E tudo isto tem a ver com Astrologia e as precessões (você assistiu Zeitgeist, certo?). Então Mithra simboliza o signo de Áries (o guerreiro) substituindo o signo de Touro nas Eras Cósmicas.

Nos rituais Mitraicos, o boi era sacrificado e imolado (queimado), e sua carne e sangue eram oferecidos aos sacerdotes como oferendas de poder. Eles também consumiam vinho e realizavam rituais sexuais, onde através do sexo e do vinho, chegavam ao êxtase, ou a comunhão com Deus.

Do culto a Mithra também surge a história do Minotauro, onde a cada ano, sete pares de jovens eram oferecidos em seu sacrifício (representando os sete pecados capitais – falaremos mais sobre isto no futuro). Teseu, o guerreiro (Áries), encontra o caminho do labirinto e mata o minotauro (touro), restaurando a paz. A lenda de Teseu é uma derivação iniciática dos cultos a Mithra.

Outro aspecto cultural derivado do Mitraismo são as touradas. Nela, o guerreiro entra em uma arena (a arena representa a Terra) e precisa derrotar em combate o touro, tal qual Mithra fez com o touro primordial. No final da batalha, o touro é imolado e servido como banquete aos sacerdotes e guerreiros da irmandade.

Na bíblia temos referência ao touro quando Moisés desce do monte Sinai com os mandamentos (Kabbalah) e depara com os sacrifícios ao bezerro de ouro. Outra referência astrológica.

Posteriormente, os Essênios e Yeshua (Jesus) substituem o touro imolado e o sangue pelo pão e vinho egípcios: o pão representando o corpo de Osíris e o vinho o sangue de Osíris (“tomai e comei todos vós; este é o meu corpo e o meu sangue que é derramado por vós” é uma oração EGIPCIA e representa o sacrifício de Osíris). Jesus, como iniciado, estava celebrando o culto ao Deus-Sol na chamada “Santa Ceia”.

Com o tempo, as pessoas passaram a preferir a eucaristia vegetariana de Yeshua ao invés do banquete carnívoro de Mithra e o ritual de culto ao Deus-Sol acabou se transformando no que chamamos hoje de Eucaristia. Embora o ritual original tenha sido modificado e sobrevivido até os dias de hoje, de uma forma ou de outra.

Os celtas também tinham o costume de fazer sacrifícios ao Deus-Sol. Mas ao invés do touro, sacrificavam o Javali, símbolo do sol. Quem já leu as aventuras de Asterix sabe que toda vitória era comemorada com um grande banquete celebrado por toda a vila, em um Ágape Fraternal. O mesmo ocorria nas legiões romanas e entre os sacerdotes Mitraicos. Note que a távola redonda (ops, eu disse “távola”… eu quis dizer “Mesa”) ao redor da fogueira forma justamente o símbolo astrológico do SOL (um círculo com um ponto central).

Outro costume de Batismo de Fogo, muito popular entre os soldados romanos de alta patente, consistia no Taubólio, o ritual de sacrifício do touro. Sobre uma forte estrutura em forma de rede de aço, era imolado um touro pelos sacrificadores e seu sangue escorria sobre o iniciado, que fica abaixo desta estrutura, nu, em uma fossa escavada no chão. Ali recebe o sangue sobre a cabeça e banha com ele todo o seu corpo. Ao sair da fossa, todos se precipitavam à sua frente, saudando-o. Após a imolação, recolhiam-se os órgãos genitais do touro (cojones), que eram cozinhados, preparados e servidos ao iniciado.

Apesar de parecer nojento, o ritual é impressionante…

As tradições Mitraicas permaneceram em Roma até o século IV, coexistindo com o Cristianismo. Em 325 DC, o Concílio de Nicéia fixou o deus “verdadeiro” e iniciou-se a queda do culto a Mithra.
Mithra é o padrinho da Igreja Católica, já que roubaram sua festa de aniversário (25 de dezembro), seu dia de celebração (as missas são celebradas no Domingo de manhã – Dia do Sol e hora do sol), o chapéu que os papas, cardeais e bispos usam chama-se Mitra e o templo maior de Mithra ficava em um lugar conhecido como Colina Vaticano, que também foi “substituído” pela Igreja principal católica.

Tertuliano presenciou as cerimônias de culto à Mithra e chamou este ritual de “Paródia Satânica da Eucaristia”, ou “Missa Negra” e muitas das histórias bizarras inventadas sobre o “satanismo” foram derivadas destes cultos. Da distorção destas festividades surgiram as famosas “missas satânicas” nas quais se “usava uma mulher nua como altar, bebia-se sangue e comia-se carne ao invés de pão e vinho, os sacerdotes vestiam-se de preto e usavam o terrível pentagrama” e por ai vai. Uma mistureba de cultos celtas, gregos e mitraicos, com um pouco de criatividade mórbida para assustar os crentes e voilá.

No Concílio de Toledo, em 447, a Igreja publicou a primeira descrição oficial do diabo, a encarnação do mal: “um ser imenso e escuro, com chifres na cabeça e patas de bode”. Claramente uma mistura de Mithra, Pan e Cernunnus.

Claro que quase todos nós prestamos homenagens a Mithra até os dias de hoje: Festividades realizadas no dia dedicado ao Sol (Domingo – Sun-day), envolvendo sacrifícios de bois imolados cuja carne e sangue são consumidos pelos sacerdotes, junto com vinho ou cerveja. A Igreja Católica chama isso de “Paródia Satânica da Eucaristia”, mas as pessoas costumam chamar estas homenagens a Mithra de “Churrasco de Domingo”.

Baphomet

(agradecimentos ao irmão Cezaretti)

Para entender a criação e a falsa associação desta figura meio homem meio bode com a Maçonaria, teremos que seguir um longo e tortuoso caminho iniciando no século XII.

Depois da Primeira Cruzada, no ano 1119 em Jerusalém, surge um pequeno grupo de militares formando uma ordem religiosa tendo como seu principal objetivo proteger os peregrinos visitantes à Palestina. Ficaram conhecidos como os Cavaleiros Templários.

Falarei muito mais sobre eles em uma série de matérias futuras, mas por enquanto, basta sabermos que, devido à necessidade de enviar dinheiro e materiais regularmente da Europa à Palestina, os Cavaleiros Templários gradualmente desenvolveram um eficiente sistema bancário que nunca existira.

Assim, levando uma vida austera com uma forte disciplina, defendendo com desinteresse as Terras Santas, recebendo doações de benfeitores agradecidos, os Templários acumularam com o passar dos anos grande riqueza. Tais poderes, militar e financeiro, os tornaram respeitados e confiáveis para a população da época.

Os Templários financiavam, através de vultosos empréstimos, muitos reis da época. Porém, por volta de 1300 os Templários sofreram diversas derrotas militares, deixando-os em uma posição vulnerável e assim, suas riquezas se tornaram objeto de ganância e ciúme para muitos.

Na época o Rei francês Felipe IV (Felipe, o Belo) estava envolvido em uma tumultuada disputa política contra o Papa Bonifácio VIII e ameaçava com a possibilidade de embargar seus impostos ao clero. Tal agressividade do Rei contra o sumo pontífice era principalmente devido à corte francesa estar falida. Então o Papa Bonifácio em 1302 editou a Bula Unam Sanctam, uma declaração máxima do papado, que condenava tal atitude. Os partidários de Felipe então aprisionaram Bonifácio que escapou pouco tempo depois, mas veio a falecer logo em seguida. Em 1305 Felipe, com uma trama política e pressão militar, obteve a eleição de um dos seus próprios partidários, inclusive amigo de infância, como Papa Clemente V e o convenceu a residir na França, onde estaria sob seu controle todo movimento eclesiástico. (Este era o começo do denominado “Cativeiro Babilônico do Papado”, de 1309 a 1377, durante o qual os Papas viveram em Avignon e sujeitos a lei francesa).

Novamente, falarei mais sobre isso quando chegar a vez de falar sobre os Templários, mas por ora, basta sabermos que o Papa estava sob o controle total do rei Felipe, o Belo.

Agora com o Papa firmemente sob seu controle Felipe voltou-se para os Cavaleiros Templários e a fortuna deles, então denunciou os Templários à Igreja por heresia e esta aceitou tal denúncia. Então em 1307, com o consentimento do Papa, Felipe ordenou uma perseguição aos Templários prendendo-os e jogando-os em calabouços, incluindo o Grão Mestre Jacques de Molay que foi acusado de sacrilégio e satanismo. Em 1312, o Papa, agora um boneco do Rei, emitiu a ordem que suprimia a ordem militar dos Templários com subseqüente confisco da riqueza por Felipe. (Os recursos ingleses dos Templários foram confiscados de forma semelhante pelo Rei Edward II da Inglaterra, sendo a maior parte desta imensa fortuna para Portugal, onde foi criada mais tarde em 1319, a Ordem de Cristo).

Claro que os Templários já sabiam das intenções de Felipe e, quando seus exércitos invadiram os castelos templários, não acharam nem uma moeda sequer do fabuloso tesouro templário, nem a arca da aliança, nem o Santo Graal, que foram enviados em 12 galeões para fora da França.

Assim, os Templários deixaram de existir daquela data em diante e muitos de seus membros, inclusive Jacques de Molay foram torturados e obrigados a se declararem “réus confessos” para uma miríade de crimes, inclusive uma lista 127 acusações e 9 subitens! Estas incluíram tais coisas como a “reunião noturna secreta”, homossexualismo (embasado no símbolo da Ordem, que é dois soldados montando o mesmo cavalo), cuspir na cruz, negar a Cristo, etc…

Entre as acusações contra os Templários havia uma que haviam produzido algum tipo de “cabeça barbuda”. O tal do Baphomet.

Existem várias teorias, inclusive seria um relicário contendo a cabeça de João Batista ou a cabeça de Cristo, a Mortalha de Turin, uma imagem de Maomé (o pai da religião islâmica) entre outras.

Após ser torturado por 7 anos, o Mestre Jacques de Molay acabou, após sua prisão, queimado vivo em praça pública com fogo brando e muitos templários foram mortos também e outros fugindo para outros países. O que vem a ser exatamente o “Baphomet” nunca foi descrito pela Inquisição, mas é fácil perceber que se trata de uma mistureba feita pela Igreja dos ritos antigos egípcios, gregos e romanos, para variar.

Mas… e aquela imagem demoníaca?

Mais de 500 anos depois dos Templários, em 1810 na França, nasce Alphonse Louis Constant, filho de um sapateiro.

Bem cedo, ainda criança, ganhou as atenções de um padre da paróquia local que providenciou para que Alphonse fosse enviado para o seminário de Saint Nichols du Chardonnet e mais tarde para Saint Sulpice estudando o catolicismo romano com o objetivo ao sacerdócio.

Mas deixou o caminho do catolicismo para se tornar um ocultista. De qualquer forma enquanto vivo seguiu o caminho esotérico e adotou o pseudônimo judeu de Eliphas Lévi, que dizia ser uma versão judaica de seu próprio nome.

O trabalho de sua vida foi escrever volumes enormes sobre Magia que incluiam comentários extensos sobre os Cavaleiros Templários e o Baphomet. De todos seus trabalhos o mais conhecido é o que contém a ilustração (o desenho é cópia do original e observe que está assinado por Eliphas Lévi) e era usado como uma fachada para o livro “A Doutrina da Alta Magia” publicado em 1855. Levi também afirmava que se a pessoa reorganizasse as letras de Baphomet invertendo-as, adquiriria uma frase latina “TEM OHP AB” que é a abreviação de “Templi Omnivm Hominum Pacis Abbas“, ou em português, “O Pai do Templo da Paz de Todos os Homens”. Uma referência ao Templo do Rei Salomão, capaz de levar a paz a todos.

A palavra “Baphomet” em hebraico é como segue: Beth-Pe-Vav-Mem-Taf. Aplicando-se a cifra Atbash (método de codificação usado pelos Cabalistas judeus), obtém-se Shin-Vav-Pe-Yod-Aleph, que soletra-se Sophia, palavra grega para “sabedoria”.

E o que esta imagem significa?

Na Alquimia, o uso de alegorias e imagens é muito comum para expressar idéias e conceitos. Vamos analisar com calma a figura do Baphomet:

– A imagem possui a cabeça com características de chacal, touro e bode, representando os chifres da sabedoria, virilidade e abundância. O chacal representa Anúbis (o deus-chacal) e também o “Mercúrio dos Sábios”, o Touro representa o elemento terra e o “Sal dos Filósofos” e o bode representa o Fogo e o “Enxofre fixo”. Juntos, a cabeça da imagem representa os três princípios da Alquimia.

– A tocha entre seus chifres representa a sabedoria divina e a iluminação. Tochas estão associadas ao espírito nos 4 elementos e colocadas sobre a cabeça de uma imagem representam a inspiração divina. Isso pode ser observado até os dias de hoje, em personagens de quadrinhos que, quando tem uma idéia, aparece uma lâmpada sobre suas cabeças (grande Walt Disney!).

– O conjunto dos dois chifres também representam as duas colunas na Árvore da Vida e o fogo sendo o equilíbrio entre elas. A lua branca representa a magnanimidade de Chesed (Júpiter) e a lua negra o rigor de Geburah (Marte).

– O pentagrama na testa de Baphomet representa Netzach (Vênus), o Pentagrama, o símbolo da proteção e da magia. Importante notar que ele se encontra voltado com a ponta para cima. As pernas cruzadas associadas ao cubo representam Malkuth.

– Nos braços do Baphomet estão escritos “Solve” no braço que aponta para cima e “Coagula” no braço que aponta para baixo. Solve representa “dissolver a luz astral” e coagula significa “coagular esta luz astral no plano físico”. Em outras palavras: tudo aquilo que você desejar e mentalizar no plano astral irá se manifestar no plano físico. Alguém ai assistiu ao filme “The Secret?”

– Os braços nesta posição representam o “Tudo o que está acima é igual ao que está abaixo”, ou “O microcosmo é igual ao macrocosmo”, ou “Assim na Terra como no Céu”. É a mesma posição dos braços representada no Arcano do Mago no tarot.

– a imagem possui escamas, representando o domínio sobre as águas, ou emoções.

– a imagem possui asas, representando o domínio sobre o Ar, ou a razão.

– a imagem possui patas de bode, representando seu domínio sobre a Terra, ou o material. Também representam a escalada espiritual.

– a imagem possui fogo em seus chifres, representando o domínio sobre o Fogo.

– Os seios representam a maternidade e a fertilidade, e também o hermafroditismo, simbolizando que a alma não possui sexo e que não “somos” homens ou mulheres, mas “estamos” homens ou mulheres.

– a imagem está parcialmente coberta, parcialmente vestida (atenção, irmãos e fraters), representando que o corpo não está apenas no plano material (roupas), mas por debaixo da matéria está também o espírito (parte nua). Podemos perceber isto melhor nos arcanos Estrela e Lua no tarot.

– Baphomet está sentado sobre o cubo. O cubo e o número 4 representam o Plano Material, e estar sentado sobre ele representa o domínio sobre o plano material (vide arcanos Imperador e Imperatriz no tarot).

– O falo do Baphomet é o Caduceu de Hermes, representando a Kundalini e as energias sexuais ativadas, a virilidade e todo o desenvolvimento dos chakras.

– Finalmente, a figura representa a Esfinge, aquela que guarda os portais das iniciações, pela qual os covardes não passarão. Aquele que teme uma figura por pura ignorância nunca será um iniciado.

No tarot de Marselha, podemos observar algumas destas representações. O Diabo (Arcano XV) no tarot representa as Paixões, por isso o homem e a mulher acorrentados em Malkuth (a Terra, o gado) aos pés da imagem. No tarot de Rider Waite, no século XX, o diabo já aparece com a estrela invertida, por influência da Ordo Templi Orientalis (e que para os iniciados não significa nada “satânico”… falarei sobre pentagramas invertidos na próxima coluna).

Associações mentirosas com a Maçonaria

Para analisarmos como esta figura foi parar nas mãos dos ignorantes evangélicos e católicos, precisamos explicar quem foi Leo Taxil (seu verdadeiro nome era Gabriel Antoine Jogand Pagès).

Taxil havia sido iniciado na Maçonaria, mas fora expulso ainda como aprendiz. Por vingança, acabou por inventar uma ordem maçônica “altamente secreta” chamada Palladium (que só existia na imaginação fértil de Taxil) supostamente comandada por Albert Pike (o Grão Mestre da Maçonaria na época). Seu objetivo, então, era revelar à sociedade tal misteriosa e maléfica Ordem.

Ficou famoso com isso e ganhou uma audiência com o Papa em 1887. Assim, a Igreja Católica alegremente patrocinou e financiou a campanha de Taxil, inclusive a edição de seus livros.

Albert Pike (1809-1891) era um Brigadeiro General da Confederação na Guerra Civil Americana que, quase sozinho, foi responsável pela criação da forma moderna do Rito Escocês Antigo e Aceito. Abastado, literato e detentor de uma extensa biblioteca, foi o Líder Supremo da Ordem de 1859 até à data da sua morte em 1891, tendo escrito diversos livros de História, Filosofia e viagens, sendo o mais famoso “Moral e Dogma”.

O panfleto de lançamento do livro de Taxil pode-se ver Baphomet com algumas modificações e um avental maçônico cobrindo o falo. O livro “Os Mistérios da Franco Maçonaria” (lado esquerdo) descreve um grupo de maçons endiabrados que dançam ao redor do Baphomet puxado por um ex-padre, nada mais nada menos, que o famoso e falecido “Pai do Baphomet”, Eliphas Lévi (falecido em 1875). Leo Taxil ganhou muito dinheiro, inclusive do Vaticano, enganado todo tipo de crédulos.

Finalmente, em 19 de abril de 1897 em um salão de leitura, Taxil iria apresentar uma tal senhorita Vaughan, que na verdade nunca existiu, renunciando a Satã e convertendo-se ao catolicismo. A igreja ansiosamente aguardou tal apresentação. Na data o salão lotou de pessoas do clero católico, maçons e jornalistas. Depois de um palavreado enorme, cheio de volteios, Taxil então finalmente revelou que nada tinha a revelar, porque nunca havia existido tal “Ordem Palladium”. Foi um tumulto imenso. De fato, Gabriel Jogand tinha fabricado a história inteira como uma farsa monumental às custas da igreja. No final, foi chamada a polícia para os ânimos fossem controlados e tudo não acabasse em uma imensa briga e quebra-quebra. (Para ler a A Conferência de Leo Taxil na íntegra, clique AQUI). Taxil morreu dez anos depois, em 1907, com 53 anos.

Em suma, Baphomet nasceu de uma lenda dos Templários, ganhou forma nas mãos de Eliphas Leví e foi associado à Maçonaria por Leo Taxil.

E daqui, o resto é história. A fraude, apesar de ter sido revelada por seu criador, continua e é aceita como “verdade absoluta e incontestável” por novas gerações de religiosos ignorantes (ou de má-fé).

A Maçonaria é difamada por uma acusação absurda e também por aqueles que pensam ser religiosos corretos e acabam por perpetuar uma mentira inconscientemente.

#ICAR

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/zaratustra-mithra-e-baphomet-parte-iii

Faça sua própria moeda da Sorte

Neste sábado, dia 25, acontecerá o melhor período astrológico do ano para a confecção da Moeda. Uma das quatro ferramentas essenciais para um magista (as outras são a adaga, o bastão e a taça), a moeda é a ferramenta de conexão com o elemento TERRA, ou o Plano Material.

Eternizada através do mago Walt Disney na figura da “Moedinha número 1” do Tio Patinhas, a moeda atua astralmente como um fixador da vontade do mago no Plano Físico, ideal, portanto, em assuntos relacionados com dinheiro, trabalho e poder.

No dia 25/04/2009, das 6h10 às 6h25 (tendo ai uma janela de apenas 15 minutos para realizar a consagração – você até pode começar antes, mas precisa FINALIZAR o ritual dentro desta janela), teremos Sol, Lua, Mercúrio e Ascendente em Touro na casa 1 (a casa do “eu”), marte e vênus em áries na casa 11 (os planetas do relacionamento no signo da liderança na casa dos grupos/amigos e fraternidades), júpiter e cabeça do dragão em Aquário na casa 10 (signo da inovação na casa da carreira) e saturno em virgem na casa 5 (responsabilidade no signo do trabalho na casa da criatividade). Esta data é tão forte que eu já parabenizo de antemão qualquer pai/mãe cujo filho/filha venha ao mundo nessa janela. Estes serão abençoados em praticamente tudo o que fizerem na vida profissional.

Recomendo que a moeda seja a mais antiga que a pessoa possuir, preferencialmente a primeira moeda recebida como salário em uma empresa ou como pagamento em uma nova profissão ou da primeira venda em uma loja. Se você quiser, pode ir a uma numismática e comprar uma moeda antiga, ou usar uma moeda de outro país que tenha guardado de lembrança de uma viagem, ou qualquer outra que tenha algum valor sentimental. Faça a consagração da maneira que eu passei em um post antigo, os leitores que possuem o Sigilo Pessoal devem traçá-lo sobre a moeda no momento final da consagração (e isto é tão forte, dado a energia de terra envolvida, que você sentirá o traçado iluminando a moeda onde quer que a carregue). Uma vez consagrada, não permita de jeito nenhum que outra pessoa coloque as mãos nela. Senão perdeu, preyboy.

Também podem ser consagrados pantáculos, chifres, gemas, pedras, cristais ou qualquer objeto que faça as vezes do elemento terra no seu altar. A moeda só é mais prática de guardar na carteira…

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/fa%C3%A7a-sua-pr%C3%B3pria-moeda-da-sorte

Breve Introdução à Magia (Parte 1)

Por: Colorado Teus

Satisfação,

venho expôr minha visão sobre como funciona magia na prática, principalmente sobre aquilo que pode ajudar a pessoa no desenvolvimento de seu Auto-controle. Tentarei expor tudo da maneira mais cética que eu puder. Este material é a base para entender os textos e trabalhos do grupo Queremos Querer.

Primeiramente, o que é magia?

Isso não é algo fácil de se definir, pois magia envolve energias que estão até mesmo em planos acima do espaço onde as definições nascem, então, qualquer definição que eu der abrangerá apenas a sombra, ou o reflexo, do que ela realmente é. Porém, como precisamos de algo para começar, vou tentar falar um pouco de como a experimento em meu dia a dia.

Uma definição inicial é que “Magia é um ato intencional que acontece em um plano/mundo que é capaz de afetar outros planos/mundos diferentes. Isto envolve uma pessoa manipulando um conjunto de fatores responsáveis pela interconexão entre estes planos.”

O objetivo desta apostila é falar um pouco destes mecanismos de interconexão entre planos, para tentar diminuir um pouco o misticismo sobre a magia, tornando-a uma ferramenta muito útil para o autocontrole e até mesmo para o controle sobre uma parte mundo exterior.

O que vemos hoje nas escolas e faculdades foi, por muito tempo, o que chamavam de Magia em épocas passadas; os magos eram filósofos, engenheiros, físicos, médicos, matemáticos, químicos e, dentre muitas coisas, uma maior: buscadores da Verdade. Muitos sabem que conhecer a Verdade é uma utopia, mas o que é utopia senão algo que nos ajuda sempre a continuar caminhando? Como vemos na primeira figura, temos o mundo, como normalmente é visto, e suas engrenagens, que só podem ser enxergadas por quem passar por um véu que os separa.

Claro que muitos vão falar que estou forçando a barra em afirmar que um engenheiro é um mago, mas, olhando para a ideia de magia citada pouco acima, não o é? Ele não é alguém que busca ideias no mundo racional e traz para este mundo, transformando-as em fortíssimas construções, capazes de aguentar até mesmo tempestades? Ou só o trabalho braçal (sem alguém que pense e planeje previamente) é capaz de fazer isso? Talvez, se você pegar um monte de coisas sem escolher e empilhá-las aleatoriamente pode até ser que consiga algo firme, mas se pensar, ou seguir um método já testado por outro, terá muito mais chances de conseguir bons resultados.

E o contrário é possível? Quando você lê um livro (o livro, as palavras estão no mundo físico) ele é capaz de modificar sua mente, mudar suas bases de raciocínio e alguns de seus processos de escolha; aqui temos uma das grandes chaves para o controle da própria mente, mas vou explicá-la um pouco melhor depois.

Então até aqui tivemos ideias capazes de modificar o mundo físico e coisas feitas no mundo físico capazes de modificar o mundo das ideias; mas note que nenhum deles trabalha isoladamente. Foi necessário uma pessoa no mundo físico agir para que a ideia causasse uma alteração no mundo físico, assim como foi necessário uma pessoa ler (a leitura se passa primeiro na mente) o que estava escrito no livro, para que o que ali estava escrito pudesse ir para o mundo das ideias. Então temos o que é um mago:

O Mago é um canal de comunicação entre diferentes mundos (como vemos representado na imagem acima, ele pega algo da terra e ‘joga’ para algo superior ou vice-versa), ele é um meio de passagem, um medium. Mas só se considera Magia quando a comunicação é estabelecida de maneira intencional.

Quais são estes diferentes planos/mundos? Como estas comunicações podem ser feitas? Por que um ser humano consegue fazer isto? Existem sistemas para melhorar estas comunicações? Estas são perguntas com infinitas respostas, contudo indicarei algumas que uso no meu dia a dia.

Uma das maneiras para começar a entender racionalmente como é possível existir diferentes planos de existência é entendendo a equivalência massa-energia, E=mc², fórmula cuja descoberta é atribuída a Albert Eistein. Este “E” da fórmula é uma energia que pode ser entendida como energia em potencial a ser obtida de uma certa massa “m”, como se fosse uma “energia parada”. A ideia aqui é que se fossem quebradas todas as ligações possíveis entre células, átomos e partículas subatômicas, até virar um campo eletromagnético, um corpo de massa “m” teria esta energia total “E”, cuja relação se estabelece proporcionalmente ao quadrado do valor da velocidade da Luz. Simplificando, é possível converter matéria em energia, o que não é exatamente uma conversão, pois matéria é energia em um dado intervalo frequencial.

Então, para entender os diferentes planos pensando desta forma, é bom termos uma ideia de como as energias se comportam. A luz é um campo eletromagnético e sua energia se comporta da seguinte maneira de acordo com a Mecânica Quântica: E= h. f, em que “h” é uma constante (de Planck) e “f” uma frequência associada àquela energia. De acordo com a variação da frequência (normalmente medida em Hz) em determinadas faixas, variam também os diferentes objetos que podem captá-la. Vai aqui uma pequena lista:

Eis uma experiência bem legal para mostrar como a própria matéria pode assumir diferentes frequências: pegue diferentes sais minerais e faça uma solução com água (LiCl, BaCl2, NaCl, CuSO4, CaCl2, KCl etc.) e borrife no fogo. Você verá que a cada vez o fogo ficará, por alguns instantes, de cor diferente, sempre a mesma para um certo tipo de sal (a luz emitida tem relação com a mudança de níveis eletrônicos do elétron da camada de valência). Para quem não conhecia, este é o mecanismo para fabricação de fogos de artifício coloridos.

Vale notar que a frequência varia de 0 a infinito, logo, são infinitas as maneiras como as energias podem se apresentar. Mesmo de 0 a 10KHz existem infinitas frequências diferentes. E já que eu estava falando do mundo das ideias, poderíamos indagar onde ele estaria. Eu diria que bastante à direita deste gráfico, mas o quão à direita ninguém consegue dizer ainda com precisão.

A maioria das pesquisas atuais se baseiam em tentar achar as regiões de neurônios que são ativadas com certos tipos de ideias, como um mapeamento; mas não se sabe como eles são ativados, o que é o gatilho que provoca as primeiras descargas para começar a ativação de uma região; tratam como se fosse sempre um processo de muitos reflexos, simples ação e reação dentro do próprio cérebro, o que tiraria a possibilidade do homem de tomar diferentes atitudes (conscientemente) em relação a repetidos acontecimentos sem modificar a estrutura de neurônios antes; como se tudo se pautasse simplesmente na mecânica por trás das ligações entre neurônios.

Algo interessante de se lembrar neste momento é que toda corrente elétrica gera um campo eletromagnético, assim como campos eletromagnéticos podem gerar correntes elétricas quando se varia o fluxo magnético em relação a um condutor (eis o princípio da geração elétrica da maioria das usinas que transformam energia mecânica em elétrica). É uma boa especulação pensar que sejam campos eletromagnéticos variando que ativam o gatilho dos primeiros pulsos elétricos, mas é especulação 😛

Na minha opinião, é exatamente a capacidade de inovação do homem que o faz um ser único e diferente. Dizem que “nada se cria, tudo se copia”, mas eu discordo, pode-se copiar algumas partes de muitas coisas, mas nem tudo é copiado, nem tudo existia na natureza. Um exemplo de algo que foi primordial na evolução do homem, que foi totalmente novo para a natureza, foi o domínio do fogo. O fogo sempre foi destruição, algo que machuca, nenhum animal jamais utilizou o fogo para seu bem, sempre se tentou evitá-lo. Mas o homem não, algum incrível corajoso resolveu chegar perto daquele perigoso desconhecido e dominá-lo com sua inteligência e consciência, utilizando algum método que não fosse a própria carne, como um graveto, provavelmente. Essa coragem de enfrentar o desconhecido, esse querer, é que fez do ser humano um ser diferente capaz de dominar coisas antes inimagináveis. Então eu pergunto, de onde vem essa coragem, esse querer?

À partir do momento em que alguma tribo dominava o fogo, havia uma grande diferenciação entre esta e as que somente dominavam o material. Com o fogo foi possível matar bactérias e vermes que infectavam alimentos ao cozinhá-los, produzir armas mais poderosas, afastar grandes animais e muitas outras coisas que deram grande vantagem evolutiva às tribos dos que o dominavam. Quando eu falo de evolução falo exatamente de domínio sobre a vida, de controle sobre o que chega até a pessoa e do controle sobre si próprio, para superar a incapacidade de perfeita regeneração do corpo biológico humano (busca que muitos chamavam de “busca do Elixir da vida longa”), de superar aquilo que a separa dos seres utópicos.

Bom, esta diferenciação marca a primeira divisão que fazemos sobre os diferentes mundos possíveis: Yin e Yang, a Terra e o Fogo, o que está no físico e o além do físico, o responder aos puros reflexos físicos e o querer ir além disso para ter domínio sobre sua própria vida. Este querer é representado na primeira imagem deste texto pelo bastão que o ser segura, no qual ele se apoia para conseguir ir além do mundo comum, para conseguir enxergar os diferentes mecanismos que podem ajudá-lo a evoluir.

Para concluir este primeiro texto, ressalto a ideia de magia por trás da história do Fogo, o ser que o dominou foi o veículo pelo qual a Coragem se manifestou no mundo físico; se ele, e todo o resto, tivesse deixado seus reflexos animais prevalecerem e tivesse corrido do fogo, o mundo não seria como é hoje.

“Eu gosto do impossível, pois lá a concorrência é menor.” Walt Disney

Vai dar certo!

#MagiaPrática

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/breve-introdu%C3%A7%C3%A3o-%C3%A0-magia-parte-1

O Alfabeto Templário, o Alfabeto Marciano e o Menino do Acre

Olá crianças,

Desde o suposto desaparecimento do guri lá nos cafundós do Acre, quase todos os dias recebo emails e mensagens pedindo algum comentário sobre todo o circo que a mídia retardada brasileira ergueu. Bem, a gente tem como base “não bater palma para maluco dançar” aqui no TdC, por isso não comentamos falsos Videntes da Luz que “avisam” sobre os desastres DEPOIS que eles ocorrem, ou fazem “previsões” de eventos DEPOIS que eles ocorrem, ou picaretas que vendem “Pactos com Lucifer”, “Pactos Pactoruns” e outras baboseiras porque a cada cinco pessoas que são alertadas e se afastam desses picaretas, outras dez escrevem pedindo recomendações e indicações dos videntes e amarradores “sérios”…

Logo que mostraram as primeiras imagens, ficou claro que o tal “círculo mágico” desenhado aos pés da estátua era uma cópia de um desenho animado japonês (Full Metal Alchemist) e o tal “alfabeto mágico” dos livros nada mais era do que uma versão do Alfabeto Templário, que publiquei no RPG Trevas em 2001. Graças aos deuses este alfabeto saiu também em infinitos lugares e, mais especificamente, no “Manual do Escoteiro Mirim” que tem um alcance infinitamente maior do que os meus livros e blog. E Graças a Zeus que a mídia tosca chegou primeiro ao “Manual do Escoteiro Mirim” e não ao “Manual de RPG” senão teríamos outra caça às bruxas vinda da mídia retardada, como foi no começo dos anos 2000.

Mas tio Del Debbio, não é um alfabeto muito fácil de ser decifrado?

Sim e não. É necessário lembrar que na Idade Média, 99,9% da população era analfabeta, então nem o latim ou inglês as pessoas eram capazes de ler. a substituição funcionava por que mesmo as pessoas que sabiam ler não tinham a ideia de que poderia haver uma substituição deste tipo e acreditavam que os textos fossem runas esculpidas em uma outra língua. E você mesmo só sabe que o alfabeto é de substituição simples porque leu na internet, senão não saberia…

Em 1974, o Manual do Escoteiro Mirim publicou estas cifras como sendo “Alfabeto Marciano”, já que colocar isto como “Alfabeto Maçônico” traria um tremendo problema junto com os crentes de plantão do Brasil. Vale lembrar que o Walt Disney era Rosacruz e Demolay e muito do que foi colocado nos Manuais antigos vinha de conhecimentos hermetistas.

Provavelmente o Full Acre Alchemist escolheu as cifras dos infinitos alfabetos templários disponíveis na internet, ou até mesmo deu uma adaptada e tinha esperança que a mídia fosse pensar que aquilo era um “alfabeto doziluminatti” ou “alfabeto maçônico” mas, para azar dele, a Editora Abril reimprimiu recentemente o Manual do Escoteiro Mirim e a zueira never ends… muito mais engraçado para os sites avacalharem o moleque com referência ao Manual do Escoteiro Mirim do que associarem a escrita à Eliphas levi ou aos Templários.

Sorte nossa, que livrou o RPG de mais uma caça às bruxas, e azar do garoto, que a cada dia que passa perde cada vez mais o status de “cool” para o marketing do livro dele.

Se você gosta de assuntos relacionados a hermetismo e alquimia, apoie o Projeto RPGQuest, um jogo de tabuleiro de Alquimia.
https://www.catarse.me/rpgquest

#Blogosfera

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-alfabeto-templ%C3%A1rio-o-alfabeto-marciano-e-o-menino-do-acre

Branca de Neve e os sete pecados capitais

“Uma vez, no auge do inverno, quando flocos de neve caem como plumas das nuvens, uma rainha estava sentada à janela de seu palácio, costurando as camisas de seu marido. Nisto, levantou os olhos, espetou um dedo e caíram gotas de sangue na neve. E vendo o vermelho tão bonito sobre o branco, a rainha pensou:– Queria ter uma filha tão alva quanto a neve, tão vermelha como este sangue e tão negra como o ébano desta janela. Pouco tempo depois lhe nasceu uma filha que era branca como a neve, vermelha como o sangue e com uns cabelos negros como ébano. Por isso lhe puseram o nome de Branca de Neve. Mas, quando ela nasceu, a mãe morreu…”

Assim começa um dos mais famosos contos de fadas para crianças… mas será mesmo que a Branca de Neve foi escrito originalmente como uma inocente conto para colocar pequerruchos insones na cama?

Acompanhe a versão original e o simbolismo profundo por trás de um dos contos favoritos do tio Marcelo, e também do tio Walt Disney.

Logo de saída, a história de Branca de Neve nos indica que o ponto de vista a ser tomado para entendê-la mais profundamente é, sem dúvida, o iniciático. Chama atenção que o personagem central, Branca de Neve, sintetize em si as três cores que simbolizam, no Hermetismo, as três etapas da prática espiritual estabelecida por aquela doutrina: o negro, o branco e o vermelho, que correspondem respectivamente, ao Nigredo, Albedo e Rubedo dos alquimistas. Além disso, os sete anões, que trabalham numa mina buscando ouro, são uma clara alusão a outro aspecto do simbolismo alquímico, que nos informa ser a meta do alquimista a transformação dos metais impuros em ouro.

Não é também por acaso que a história se divide claramente em três partes. Na primeira, Branca de Neve vive no castelo comandado pela rainha má desde o nascimento (Malkuth) até quando foge do caçador pela floresta; na segunda, vive na casa dos sete anões até se engasgar com a maçã envenenada; na terceira, vive no castelo do príncipe unida com ele, “felizes para sempre”. É evidente aqui a aplicação do simbolismo do número três aos graus do conhecimento e, por extensão, às três fases da realização na via espiritual.

A essência e o objetivo da via espiritual iniciática é a união com Deus. Essa união só é possível porque ser homem é sê-lo à imagem e semelhança de Deus. O mito de Adão (Hochma) e Eva (Binah) nos ensina que, depois da queda, este aspecto essencial do humano tornou-se ineficiente. Por isso, toda e qualquer tentativa de reintegração da forma humana no seu Arquétipo infinito e divino, (a tal da volta ao Paraíso), só é possível se antes for regenerada à pureza do estado original humano. Por conta disso, chegamos à máxima alquímica da “transmutação do chumbo em ouro”, que nada mais é do que a reintegração da natureza humana na sua nobreza original.

Comparando a história da Branca de Neve com a mitologia Bíblica, de modo análogo ao relato do Gênesis, o conto diz que, no princípio, viviam em harmonia complementar um par de opostos, o Rei e a Rainha-Mãe boa. (novamente: Adão e Eva primordiais, ou Hochma e Binah, além do Abismo).

Com a morte da Rainha-Mãe e após o nascimento de Branca de Neve instaura-se um desequilíbrio, uma espécie de afastamento da unidade, que é representado pela chegada da rainha má (o Demiurgo). Assim, depois da morte da mãe, Branca de Neve perde sua dignidade de princesa no castelo do pai e se torna uma serva da madrasta má. Branca de Neve, apesar de ter a marca das três cores, que a qualifica como um ser especial, cai numa função subalterna dentro do mundo profano, marcado pela dualidade, pela dispersão, pelas paixões e dominado pela rainha má (que simboliza ao mesmo tempo as paixões vis e a Igreja dogmática). O conto nos mostra que é necessário reunir em si o disperso, reintegrar-se em retiro além da floresta e nas montanhas, para depois se unir ao Espírito, que aqui é sem dúvida figurado pelo Príncipe (Tiferet, ou o espírito Crístico).

A rainha madrasta descobre que Branca de Neve é a mais bela quando esta última faz sete anos. A rainha má é obcecada com a comparação quantitativa do aspecto estético (beleza física) e, portanto, apenas sensorial da realidade (Malkuth, a Matrix… vocês entenderam…). Ela é incapaz de perceber qualquer beleza interior. A unidade do belo, do bem e da verdade que todas as tradições religiosas e filosóficas sérias proclamam não existe na rainha má, por causa de uma concentração exagerada da inteligência dela no aspecto mais externo da realidade material (a ciência).

No íntimo do ser humano, o bem é bonito e o belo é verdadeiro. Significativamente, e por compensação, a rainha má manda um caçador matar Branca de Neve e trazer-lhe o coração, para que ela o coma. O coração, que no simbolismo astrológico e cabalístico é representado pelo Sol, e no alquímico pelo ouro, é considerado, nas mais diversas tradições, a morada do espírito, o centro (anatômico e simbólico) do ser onde habita o divino. No entanto, o coração que a rainha come (ou que ela pode comer) é o de um animal, que o caçador compadecido sacrifica no lugar de Branca de Neve. Consciente, daí por diante da enorme ameaça de destruição existente no mundo da rainha, e insatisfeita com ele, a alma qualificada (Yesod) foge correndo pela floresta. Sua vida acaba num mundo e se inicia em outro. Mas, essa iniciação não acontece antes que ela passe por uma provação que se revela, no fundo, uma purificação.

A floresta e as provas antes da iniciação

“A pobre Branca de Neve ficou sozinha, e transida de dor se pôs a caminhar, no escuro da floresta, por entre as árvores sem saber que rumo tomar. De repente começou a correr assustada com o barulho dos trovões, com o clarão dos relâmpagos e com a chuva que começava a cair. Correu saltando pedras e atravessando sarças; e os animais selvagens pulavam quando ela passava, mas não lhe faziam mal Ela correu até seus pés se recusarem a continuar, e como já era noite e viu uma choupana ali perto, entrou nela para descansar. Na choupana era tudo muito pequeno, porém nada podia ser mais limpo ou mais gracioso. No centro, via-se uma mesa coberta com uma toalha branca, e nela estavam sete pratinhos, cada um com sua colher, sua faca e seu garfo; havia também sete copinhos do tamanho de dedais. De encontro à parede se viam sete pequenos leitos, numa só fileira cobertos, cada um deles, com lençóis brancos como a neve.”

O texto parece sugerir que as provações iniciáticas são ritos preparatórios da iniciação propriamente dita. Elas representam uma preparação necessária, de tal forma que a iniciação mesma é como se fosse sua conclusão ou seu fim imediato. É bom lembrar que elas tomam a forma de viagens simbólicas em certas tradições (maçonaria, rosacruz, druidismo, wicca) e podem mesmo se apresentar como uma busca ou procura, que conduz o indivíduo das trevas do mundo profano para a luz da iniciação.

No fundo, as provações são essencialmente ritos de purificação; e essa é a explicação verdadeira para essa palavra num sentido claramente alquímico. A corrida de Branca de Neve pela floresta representa de modo muito preciso exatamente isso: uma viagem do mundo profano – figurado pelo castelo da rainha má, que é um mundo de maldade e mentira, o reflexo da mentalidade dela mesma – até o local claro, limpo e protegido, nas montanhas, onde se localiza a casa dos sete anões. É uma viagem do mundo exterior para um outro interior, onde ela vai encontrar e aprender a lidar com as sete faculdades de conhecimento corporal que estão esquecidas no mais íntimo dela mesma (os tais sete pecados capitais).

A chuva que aparece na nossa história mostra que o essencial nos ritos de purificação é que eles operam pelos “elementos”, entendidos no sentido cosmológico do termo, pois que elemento implica em ser simples; e dizer simples é o mesmo que dizer incorruptível. A água é um dos elementos mais usados nos ritos de purificação de quase todas as tradições (ver batismo egípcio, pela qual até mesmo Yeshua passou, e o batismo copiado em todas as tradições católicas/cristãs/essênias).

Talvez porque ela simbolize a substância universal. Notem a presença da limpeza e da cor branca na casa dos anões, indicadoras de que, depois da corrida pela floresta, a purificação se completou.

A casa dos anões é o Plano Mental, na qual todas as batalhas pela evolução do ser serão travadas até a conclusão do conto.

“Depois, estava tão cansada que se deitou numa das camas, mas não se sentiu à vontade. Experimentou outra e era muito comprida; a quarta era muito curta; a quinta dura demais; porém, a sétima era exatamente a que lhe convinha, e metendo-se nela se dispôs a dormir, não sem antes ter-se encomendado a Deus. Quando era noite regressaram os donos da choupana. Eram os sete anões que sondavam e perfuravam as montanhas em busca de ouro. A primeira coisa que fizeram foi acender sete pequenos lampiões, e imediatamente se deram conta – depois de iluminada toda a habitação – de que alguém havia entrado ali, já que não estava tudo na mesma ordem em que haviam deixado. (…) observando seus leitos gritaram: – Alguém deitou nas nossas camas! Mas, o sétimo anão correu à dele, e vendo Branca de Neve dormindo nela, chamou os companheiros que se puseram a gritar de assombro e levantaram seus sete lampiões iluminando a menina.”

Depreende-se desse trecho da história que, desde o ponto de vista das iniciações, a purificação tem como fim conduzir o ser a um estado de simplicidade indiferenciada comparável com o da matéria prima (ou pedra bruta), para usar uma expressão da alquimia, afim de que ele se torne apto a receber o Fiat Lux iniciático; é preciso que a influência espiritual, cuja transmissão vai dar a ele essa iluminação primeira, não encontre nenhum obstáculo devido a pré-formações desarmônicas provenientes do mundo profano (ou, em palavras mais claras, é necessário passar pelas provações dos sete planetas, por isso Branca de Neve deita-se em todas as camas). Relaxada e entregue, Branca de Neve não oferece nenhuma resistência à luz dos sete lampiões dos anões.

Os anões

Abandonar o mundo escuro e encontrar a luz tem suas conseqüências. Existem algumas indicações, sobre quais são essas conseqüências da “saída da floresta escura”. Nos primeiros versos do Inferno, na Divina Comédia de Dante Alighieri (outro grande iniciado: um dia vou explicar para vocês o real significado deste maravilhoso texto medieval), ele mesmo informa que a floresta representa o estado de vício e ignorância do homem. Estar perdido na floresta é o mesmo que estar perdido no labirinto da multiplicidade da manifestação (“Labirinto do Fauno”, anyone?).

Ora, a saída da floresta escura, ou, o que dá no mesmo, a morte ao mundo profano, implica logicamente numa mudança de mentalidade que surge como a primeira parte da fase inicial de mudança no direcionamento geral do ser, que é necessária para alcançar um grau mais elevado de clareza e iluminação. É evidente que a primeira providência prática, para alcançar essa mudança mental, está na revisão dos pontos de vista e das convicções pessoais, dos hábitos mentais, dos coágulos das emoções negativas, etc, etc. etc… ou seja, lapidar a pedra bruta até chegar ao elixir da longa vida.

Por isso mesmo, Branca de Neve deve se submeter a certas condições para poder ficar na casinha dos anões. As condições para ela ficar na casa eram: primeiro, seguir os conselhos deles para não abrir a porta para ninguém, porque a rainha má com o poder de se disfarçar e enganar, poderia atacá-la e matá-la; e segundo, manter a casinha sempre limpa e arrumada. Essa disciplina (em Branca de Neve) e essa limpeza interior (na casa dos anões, que representa nossa mente) são um espécie de treino para dominar todas as tendências obscuras e irracionais da alma, ambas necessárias para a realização do ouro interno, na sua pureza e luminosidade imutáveis. Isto corresponde ao que a alquimia chama de “extração dos metais nobres a partir dos metais impuros por meio da intervenção dos elementos solventes e purificadores, como o mercúrio e o antimônio, em conjunção com o fogo, e que se efetua inevitavelmente contra a resistência e a revolta das forças caóticas e tenebrosas da natureza” (bonito este texto, não?),

Ora, crianças… os anões são os conhecedores da técnica que permite a realização desse trabalho, porque eles sabem extrair ouro da montanha (aliás, a “montanha” será outro objeto de análise assim que eu voltar da Bienal do Livro). Na alma do homem são como que lampejos primitivos de consciência, de iluminação e de revelação. Anões são os gênios da terra, os famosos gnomos (e sim, eles existem mesmo… não como essas baboseiras pseudo-new-ages os retratam, mas um dia falo mais sobre eles).

Como o texto nos diz que são sete, eles correspondem exatamente aos sete metais/planetas que os alquimistas designavam pelos mesmos símbolos usados na astrologia para os sete planetas. Sol – ouro, Lua – prata, Mercúrio – mercúrio, Vênus – cobre, Marte – ferro, Júpiter – estanho e Saturno – chumbo. Essas correspondências colocam em evidência a relação que existe entre a alquimia e a astrologia e que se fundamenta no princípio que a Tábua de Esmeralda exprime assim: “O que está embaixo é semelhante ao que está em cima“. Por isso, Saturno, que é o planeta mais alto para Astrologia pois corresponde ao sétimo céu, eqüivale, na alquimia, ao chumbo, que está no ponto mais baixo da hierarquia. A hierarquia dos planetas é ativa, enquanto a dos metais é passiva.

No próprio filme da Disney, alguns dos anões representam estas características dos metais e dos planetas, como por exemplo, Mestre/Doc – O mais velho dos anões, representa o Sol, o líder. Feliz/Happy – representa a bonança e a fartura de Júpiter, gordinho e feliz. Juntos são os dois anões mais gordinhos na concepção de Disney. Em seguida temos Zangado/Grumpy representando a Ira de Marte, Dengoso/Bashful representando a beleza de Vênus, Soneca/Sleepy representando a Lua e seu pecado capital Preguiça, Atchim/Sneezy representando as atormentações de Saturno e Dunga/Dopey – Mercúrio, o mais rápido dos planetas, e também o menorzinho deles.

Mas, voltemos à parte do texto que descreve na linguagem simbólica e, portanto, mais rica do conto original:

“Quer ser encarregada de nossa casa? Será nossa cozinheira, fará as camas, lavará a roupa, coserá, fará meias para nós e conservará tudo limpinho e arrumado. Se trabalhar bem ficaremos com você, não terá falta de nada e será nossa Rainha. Branca de Neve respondeu: – Aceito, de todo meu coração! E foi assim que ela ficou com os anõezinhos e tomou conta da casa deles. De manhã os anões saiam pelas montanhas para procurar ouro, e quando regressavam, à noite, encontravam a comida preparada. Durante o dia a menina ficava sozinha, e por isto os anões nunca deixavam de lhe dizer quando saiam: – Tome cuidado com sua madrasta, que mais cedo ou tarde acabará sabendo que você está aqui, e não deixe entrar ninguém.”

O tempo que Branca de Neve fica na casa dos anões é um tempo de treinamento, disciplina interior e aprendizado. É nesse período, durante o qual acontecem seus três perigosos encontros com a madrasta disfarçada, que ela aprende a usar a sabedoria representada pelos anões (que no fundo está nela mesma) para lidar com os elementos ainda não ordenados que tem dentro de si.

As práticas ou rituais – implícitas no processo iniciático – preparam para o contato com o poder unificador do Espírito (Tiferet, a iluminação), cuja presença exige que a substância psíquica tenha se tornado um todo unificado. Os elementos mais ou menos dispersos de nossa personalidade mundana são, desse modo, compelidos a juntar-se. E, alguns deles chegam enraivecidos, vindos de lugares ocultos, remotos ou obscuros com os poderes inferiores ainda agarrados a eles. É mais correto dizer, neste caso, que é o inferno que ascende do que afirmar que é o praticante que desce nele.

Quem sai do seu castelo enraivecida pela inveja e vai procurar Branca de Neve é a Madrasta, e não o contrário! Essa guerra das forças inferiores conduz a uma verdadeira batalha que tem a alma como campo de luta (a tal simbologia da luta entre o “céu” e o “inferno” pelas nossas almas.

As três tentativas da rainha má para matar Branca de Neve mostram, que no começo do caminho os elementos psíquicos pervertidos estão de certo modo adormecidos e afastados do centro da consciência, do mesmo modo que a madrasta está no castelo, longe da casa dos anões. Eles devem ser primeiramente acordados, pois não podem ser redimidos e transformados dentro do seu sono. E é no momento em que despertam, num estado de ódio enfurecido contra a nova ordem, que existe sempre o risco de que eles se apossem de toda a alma. O que não acontece no conto porque os anões, que são as partes de conhecimento da alma, não são atingidos pela rainha e por isso salvam a princesa nas duas ocasiões em que a madrasta disfarçada tenta matá-la. A primeira através de sufocação com um espartilho apertado e a segunda com um pente envenenado na cabeça (estas partes acabaram ficando de fora da versão de desenho animado, mas constam da versão original do conto).

Esses episódios são descrições simbólicas da transformação do metal vil em metal nobre. As faculdades corporais de conhecimento, representadas pelos anões, começam a atuar de modo consciente e é através de seu uso que Branca de Neve se salva por duas vezes.

A morte de Branca de Neve

A palavra morte deve ser compreendida neste caso no seu sentido mais geral, segundo o qual pode-se dizer que toda a mudança de estado, qualquer que seja, é ao mesmo tempo uma morte em relação a um estado antecedente e um nascimento em relação ao estado seguinte (como no mito da Fênix).

A iniciação é geralmente descrita como um segundo nascimento que implica, logicamente, na morte para o mundo profano. É bom lembrar que toda mudança de estado deve se passar nas trevas, no escuro, o que explica o simbolismo da cor negra quando relacionada a esse assunto. O candidato à iniciação deve passar pela obscuridade completa antes de alcançar a verdadeira luz. É nesta fase de obscuridade que se dá a chamada “descida aos infernos”, que é uma espécie de recapitulação dos estados antecedentes, através da qual as possibilidades relacionadas ao estado profano serão definitivamente esgotadas, afim de que o ser possa, daí por diante, desenvolver livremente as possibilidades de ordem superior que ele carrega consigo e cuja realização pertence propriamente ao domínio iniciático.

No nosso conto, Branca da Neve “morre” ou muda de estado, depois que come uma maçã. Come? Não. Ela se engasga. Os anões conseguem ressuscitar Branca de Neve por duas vezes, mas não são competentes para fazê-lo quando se trata da maçã porque, como explicaremos em seguida, a maçã representa, não uma provação de ordem corporal, e sim uma do domínio da inteligência, pois que a maçã é o fruto símbolo do conhecimento.

A maçã

Desde a maçã de Adão e Eva até o pomo da Discórdia, passando pelo pomo de ouro do jardim das Hespérides, encontramos, em todas as circunstâncias, a maçã como um meio de conhecimento. Ela está carregada de duplicidade pois, ora é o fruto da Árvore da Vida que está no meio do Paraíso e ora é o fruto da Árvore da Ciência do bem e do mal que, paradoxalmente, lá também se encontra. Pode ser, portanto, conhecimento unificador que confere a imortalidade ou conhecimento desagregador que provoca a queda.

Se examinamos seu simbolismo, também, desde o ponto de vista de sua estrutura física, podemos constatar novamente essa duplicidade característica dos meios de conhecimento. Assim, ela é símbolo do conhecimento, pois um corte feito perpendicularmente ao eixo revela que, no seu íntimo, está um pentagrama, símbolo tradicional do saber, desenhado pela própria disposição das sementes (faça o teste em casa, crianças!). Por outro lado, o pentagrama é também um símbolo do homem-espírito e desde esse ponto de vista ela indica, ao mesmo tempo, a involução do espírito dentro da matéria.

“A Rainha disfarçada bateu à porta, e Branca de Neve enfiou a cabeça e disse:

– Não posso deixar ninguém entrar. Os sete anões me proibiram isso.
– Pior para mim, disse a velha, pois terei de voltar para casa com minhas maçãs. Mas, olhe, eu lhe dou esta de presente.
– Não tenho coragem de comer, respondeu Branca de Neve.
– Será que está com medo? gritou a velha.
– Olhe vou parti-la em duas metades; você come a parte de fora e eu comerei a de dentro. ( A maçã estava preparada com tanta habilidade que só as partes vermelhas estavam envenenadas).”

Os anões não enterraram Branca de Neve, mesmo depois que a encontraram envenenada pela maçã e não conseguiram ressuscitá-la, porque depois de passar por essa fase, Albedo, não se volta mais ao Nigredo, pois o processo segue em frente para o Rubedo, que é a união com o Espírito representado pelo príncipe. As cores alquímicas e seu simbolismo (indicadas também pelas aves que lamentam Branca de Neve) são claramente mostradas no texto abaixo:

“Quando os anõezinhos regressaram à noite encontraram Branca de Neve estendida no chão e aparentemente morta. Levantaram-na e procuraram nela alguma coisa venenosa, desapertaram-lhe o vestido e até lhe despentearam os cabelos e a lavaram com água e vinho. Mas, de nada serviu. A querida menina parecia realmente morta. Estenderam-na então num ataúde e os sete anões colocaram-se à sua volta e choraram sem cessar durante três dias e três noites. Depois quiseram enterrá-la, mas vendo-a tão fresca e com as faces tão coradas disseram uns para os outros:

– Não podemos enterrá-la na terra negra.

E encomendaram uma caixa de cristal transparente. Através dela se via o corpo de Branca de Neve por todos os lados e os anões escreveram seu nome em letras douradas no vidro, dizendo que ela era filha de um rei. Depois colocaram a caixa de cristal no alto de uma rocha e sempre ficava ali um deles vigiando. Até os animais selvagens lamentaram a perda de Branca de Neve: primeiro chegou um bufo, depois um corvo e por último uma pomba. Durante muito tempo Branca de Neve permaneceu placidamente estendida em seu féretro. Nada mudou em seu rosto e parecia que estava adormecida, pois continuava negra como ébano, branca como a neve, vermelha como o sangue.”

Como dissemos acima, a maçã é um símbolo do Mundo. Mas, o que a rainha má oferece a Branca de Neve é APENAS o aspecto mais externo, mais atraente e venenoso deste Mundo com o qual ela tem que entrar em contato para dominá-lo (novamente, temos um paralelo com Matrix). A história nos conta que, apesar de aparentemente morta, Branca de Neve mantinha o mesmo frescor de pele e a beleza luminosa do tempo em que estava viva. Isso nos indica que a alma, com o corpo transfigurado e dissolvido nela, está pronta para que o Espírito aja sobre ela e a torne indestrutível.

“Passaram-se meses, e aconteceu que o filho do rei viajava pelo bosque, e entrou na casa dos anões para passar a noite. Não tardou a dar-se conta do ataúde de cristal no alto da rocha, contemplou nele a bela jovem que repousava, e leu a inscrição dourada. Depois que leu, disse, dirigindo-se aos anões:

– Dêem-me esta caixa, e pagarei o quanto quiserem por ela.
Mas os anões responderam:
– Não venderemos nem por todo o ouro do mundo.
– Então quero-a de presente, disse o príncipe, porque não poderei viver sem Branca de Neve.

Os anões vendo a ansiedade com que ele fazia o pedido, ficaram compadecidos, e acabaram entregando a caixa, e o príncipe ordenou a um dos seus servos que a carregasse nos ombros. Mas, aconteceu que este tropeçou numa raiz, e com o baque, saltou no chão o pedaço da maçã envenenada que estava na boca de Branca de Neve. Imediatamente esta abriu os olhos e levantando a tampa da caixa de cristal, voltou a si, e perguntou:
– Onde estou eu ?
– Está salva e a o meu lado! respondeu o príncipe cheio de alegria. E lhe contou o que havia sucedido, terminando por lhe suplicar que o acompanhasse ao castelo do rei seu pai, pois ele a queria para esposa. Branca de Neve aceitou, e quando chegaram ao palácio celebraram-se as bodas o mais rapidamente possível, com o esplendor e magnificência adequados a tão feliz sucesso.”

O pedaço da maçã, que Branca de Neve não engoliu e, portanto, não se tornou parte dela é um último vestígio do mundo que nela se mantinha, de certo modo, sobreposto. Ele é retirado com a presença do príncipe. O Espírito, então, dá a forma final à alma.

Existe uma versão do conto, bem antiga, na qual o Príncipe mantém relações sexuais com a Branca de Neve e o movimento da transa é que faz o pedaço de maçã escapar da garganta da princesa. Esta versão é mais interessante do ponto de vista do Hieros Gamos, mas certamente daria alguns problemas com a censura se estivesse no desenho da Disney.

E a Rainha má?

“A rainha má a princípio resolveu não ir às bodas, mas depois não pode resistir ao desejo de ver a jovem Rainha, e, quando entrou e reconheceu Branca de Neve, de tanta raiva, e de tanto assombro, ficou como pregada no chão. Levaram-lhe então, seguros por uma tenazes, uns sapatos de ferro, aquecidos em brasa, e com eles a rainha teve que bailar até cair morta.”

O mundo manifestado, feito de agitação e desejo, esgota-se em seu próprio movimento, quando posto em frente da unidade do Espírito. O casamento, símbolo da unidade e do encontro dos opostos toma aqui uma acepção específica: é a união da alma com Espírito. União, impossível de acabar porque é feita de uma felicidade absoluta que está além e acima da matrix. Por isso todos os contos iniciáticos acabam com a expressão “e viveram felizes para sempre.”

É bom lembrar que o sapato tem entre suas acepções simbólicas duas principais: é, primeiramente, representação do viajante e, portanto, do movimento. Simboliza não só a viagem para o outro mundo, mas a caminhada em todas as direções, neste mundo mesmo. Em segundo lugar, é uma prova da identidade da pessoa, como em Cinderela, que é reconhecida pelo príncipe porque seu pé cabe num sapatinho de cristal.

Na história de Branca de Neve, o pé da rainha má cabe num sapato de ferro em brasa. Enquanto a delicadeza do cristal é a marca da identidade de Cinderela (outro dia eu falo sobre Cinderela), a rainha má é reconhecida pelo peso, dureza e densidade do ferro.

O símbolo deve pertencer sempre de uma ordem inferior à daquilo que é simbolizado; assim as realidades do domínio corporal, que são as de ordem mais baixa e mais estreitamente limitadas, não são simbolizadas por coisa alguma porque tal símbolo é completamente desnecessário, já que elas podem ser apreendidas diretamente por qualquer um. Por outro lado, qualquer fenômeno ou acontecimento, (por mais insignificante que seja), devido à correspondência que existe entre todas as ordens de realidade, pode ser tomado como símbolo de algo de ordem superior, da qual ele é de certo modo uma expressão sensível, pois que deriva dela do mesmo modo como uma conseqüência deriva de seu princípio.

Agradecimentos ao irmão astrólogo Cid de Oliveira pelo texto original que eu expandi e adicionei comentários meus.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/branca-de-neve-e-os-sete-pecados-capitais

O Aprendiz de Feiticeiro

Em 1897, um compositor francês chamado Paul Dukas resgatou o poema de Goethe em um poema sinfônico intitulado “L’Apprenti Sorcier“. Quatro décadas depois, sob influência tanto do poema de Goethe como na obra de Dukas, Walt Disney elaborou a conhecida sequência do filme Fantasia, onde Mickey é representado como um aluno de magia.  Nem o escritor brasileiro Mário Quintana escapou dos “feitiços” desta obra.

Goethe, o aprendiz

A idéia para a balada “Der Zauberlehrling” foi tirada do texto Philopseudes do escritor grego Luciano de Samósata, onde o personagem Eucrates narra a história de um feiticeiro, que  na verdade é um sacerdote de Isis chamado Pancrates.

É possível que “O Aprendiz de Feiticeiro” descreva o próprio Goethe, pois ele mesmo dedicou-se a experiências com ciências naturais, alquimia e astrologia. Além disso, teve contato com Cagliostro, um famoso alquimista da época, e foi membro da sociedade secreta os Illuminati, a qual, posteriormente tornou-se “Maçonaria Iluminada”.
“Hat der alte Hexenmeister  /  O velho feiticeiro 
Sich doch einmal wegbegeben!  /  finalmente desapareceu! 
Und nun sollen seine Geister  /  E agora seu espírito deve 
Auch nach meinem Willen leben. /  Viver de acordo com a minha Vontade”.

Cansado das atividades domésticas, o aprendiz utiliza-se da magia, que ele ainda não domina por completo, para encantar sua vassoura. Esta trabalha ininterruptamente trazendo cada vez mais água para casa até causar uma inundação.

 “Und sie laufen! Nass und nässer / E elas correm! Molhadas e cada vez mais molhadas 
wirds im Saal und auf den Stufen: / transformam-se nos aposentos e nas escadas: 
welch entsetzliches Gewässer! / que terrível enxurrada!”

Desesperado, o aprendiz resolve destruir a vassoura com um machado, e parte-a ao meio. Logo, cada metade se transforma em uma nova vassoura, trazendo o dobro de água para casa.

“Herr und Meister, hör mich rufen! – / Senhor e Mestre! Ouve-me chamando por ti! 
Ach, da kommt der Meister! / Ah, ai vem meu mestre! 
Herr, die Not ist groß! / Senhor, o perigo é grande! 
Die ich rief, die Geister, / Os espíritos que invoquei 
werd ich nun nicht los. / Agora não consigo me livrar deles”.

Ao fim o mestre reaparece e resolve o caos provocado pelo aprendiz. Mas do que seria o aprendiz sem a intervenção do mestre? O mago de Nazaré já alertava “(…) de todo aquele a quem muito é dado, muito será requerido; e daquele a quem muito é confiado, mais ainda lhe será exigido.” (Lucas 12:48) Daí sai o lema do tio Ben para o “aprendiz” Peter Parker, “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades“.

A Música

Paul Abraham Dukas (1865 – 1935), foi um compositor, professor e crítico musical. Atuou como professor catedrático de composição e foi eleito membro da Academia de Belas-Artes da França.

Em 1897, finaliza seu Poema Sinfônico, intitulado “L’Apprenti Sorcier”. Obviamente inspirado no poema de Goethe, trata-se de uma obra nitidamente descritiva,  muito brilhante tanto do ponto de vista melódico como da orquestração.

Mas o que vem a ser um Poema Sinfônico? Trata-se de uma obra musical inteiramente baseada em uma história, um romance, um poema, um conto, um tratado filosófico ou até mesmo uma pintura. Não há um esquema formal para isso, em geral são obras orquestrais imprevisíveis quanto a forma.

No entanto, mesmo sem assistirmos a versão animada da obra, é possível visualizarmos apenas com a música, o “passo a passo” das vivências do aprendiz. A fórmula mágica, a invocação, a marcha das vassouras, o pedido de ajuda e etc. Tudo isso graças a utilização de uma técnica criada por Richard Wagner chamada Leitmotiv. Esta técnica consiste em associar um tema musical a um personagem ou situação que vem a ser recorrente em toda a peça.

Dukas faz um verdadeiro trabalho de magia com todos os naipes da orquestra. Desde o tema cômico da marcha das vassouras introduzido pelo fagote (naipe das madeiras), até a brilhante participação do glockenspiel, dos címbalos e do triângulo, coincidentemente todos representantes do elemento água.

Quarenta e três anos depois do lançamento da obra, um mago da animação nascido em Chicago resolve ilustrar a obra em um de seus filmes.

Fantasia

Em 13 de novembro de 1940, o tio Walt Disney (Demolay e Rosacruz) lança seu clássico “Fantasia“. O filme  é um misto de animação com música erudita, algo que ele já havia trabalhado em uma série de animações chamada Silly Symphonies.

No decorrer das suas oito sequências observamos lições de magia, hermetismo, ciências, cosmologia, mitologia e espiritualidade. Tudo isso sem nenhuma palavra e ao som das composições mais populares escritas pelos grandes magos da música.

A fusão das palavras de Goethe com a música de Dukas, resultaram em uma das sequências mais famosas do filme. Altamente simbólico e repleto de elementos magísticos, o que assistimos é praticamente um ritual de iniciação protagonizado pelo personagem Mickey.

O famoso chapéu azul, ilustrado com a lua e as estrelas, além de ser uma referência ao próprio universo e a astrologia, representa o primeiro princípio hermético: “O Todo é Mente; o Universo é mental”.

Ao transferir suas tarefas domésticas para a vassoura encantada, Mickey realiza uma projeção astral. Desta forma, ele governa os céus e os mares, demonstrando literalmente o princípio hermético da correspondência: “O que está em cima é como o que está embaixo. E o que está embaixo é como o que está em cima”.

O sobe e desse das marés nos remete ao princípio do ritmo: “Tudo tem fluxo e refluxo; tudo, em suas marés; tudo sobe e desce;” Ao final desta cena Mickey provoca uma tempestade unindo nuvens opostas, eis aí o princípio hermético de polaridade.

Ao retornar de sua viagem astral, Mickey percebe que o seu “sonho”, de certa forma, afeta a sua realidade. Com isto aprende de maneira dramática o princípio hermético da causa e efeito bem como o princípio do gênero: “(…)o gênero se manifesta em todos os planos” físico, mental e espiritual.”

O fim de sua iniciação se dá aos 10’30” do vídeo. Sob uma “pirâmide” de três degraus e com o Sol ao fundo, Mickey é congratulado pelo mestre (maestro) por sua iniciação ao grau de aprendiz.

Curiosidades

O escritor brasileiro Mario Quintana, publicou um livro com o mesmo título do poema. Segundo o autor, o livro se deve do fato que ele se identificou com a aventura: a magia da palavra poética, assume vida própria e multiplica os poemas no laboratório do livro.

Um dos livros infantis mais bem sucedidos do artista gráfico e ilustrador Tomi Ungerer conta a história do Feiticeiro (1971).

Em uma das cenas do filme O Aprendiz de Feiticeiro (2010), há uma pequena homenagem  à animação de 1940.

O Aprendiz de Feiticeiro é utilizado muitas vezes como material didático nas escolas. (Se teve professor por aí com problemas ao utilizar o livro Lendas de Exu imagina com este…)

No Brasil, a escritora Mônica Rodrigues da Costa é a responsável pela atual tradução da obra.
Links

Poema: “Der Zauberlehrling” de Goethe

Música: “L’Apprenti Sorcier” de Paul Dukas

Filme: Sequência “The Sorcerer’s Apprentice” (Fantasia) de Walt Disney

Biografia de Johann Wolfgang von Goethe

Mapa Astral de  Johann Wolfgang von Goethe

Mapa Astral de Walt Disney

#Biografias #Poemas #Arte #Música #hermetismo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-aprendiz-de-feiticeiro

Dan Brown e o Símbolo Perdido

Publicado no S&H dia 18/9/09,

To Live in the World without becoming
Aware of the meaning of the World is
Like wandering in a Great Library
Without touching the books
– The Secret Teachings of all Ages

Esta semana está sendo mega hiper corrida, mas só para não deixar passar batido, li hoje o novo livro do Dan Brown, “The Lost Symbol” (tradução “O Símbolo Perdido”) e gostei bastante. Será com certeza leitura obrigatória para os fãs desta coluna.
O livro trata basicamente de algumas lendas maçônicas muito interessantes a respeito de Washington e dos “Pais Fundadores” dos Estados Unidos. No terceiro livro da série, Robert Langdon usa seus conhecimentos sobre simbologia para ajudar o maçom Peter Solomon e sua irmã Katherine a enfrentar o misterioso assassino tatuado Mal´akh.
Não darei nenhum spoiler, apenas comentarei sobre algumas das várias lendas maçônicas que Dan Brown coloca neste livro. Aliás, a pesquisa foi sensacional. Resta aguardar o mimimi dos pseudo-céticos e crentes, como sempre.

A colocação da Pedra Angular do Capitólio
Uma das histórias verídicas a respeito da fundação de Washington foi a de que todos os prédios públicos da capital tiveram a sua pedra angular (ou Pedra de Fundação) colocadas precisamente seguindo datas e horários calculados pelo estudo da Astrologia Hermética. Através de cuidadoso estudo dos mapas astrais, estabeleceram-se as janelas mais propícias para a fundação de cada edifício.

Por exemplo, o Capitólio, marco zero da fundação da cidade, foi iniciado precisamente no dia 18 de Setembro de 1793, entre 11h15 e 12h30. Por quê desta data?

Analisando o Mapa Astral, temos Sol, Mercúrio e a Caput Draconis no signo de Virgem e Vênus, Marte e Urano em Leão, uma combinação ideal para um local onde seria exigido trabalho duro e ao mesmo tempo a liderança do País. Saturno em touro para reforçar a responsabilidade nos gastos e Júpiter em escorpião, para facilitar as relações diplomáticas. De curiosidade, fucei em várias datas e combinações em 1793 e não encontrei nenhuma que considerasse mais propícia do que esta. Os “Founding Fathers” estão de parabéns!
Como já coloquei diversas vezes no meu blog, a escolha de datas astrológicas especiais para a realização de eventos e consagrações importantes pode afetar, e muito, o resultado destes eventos.

The Apotheosis of Washington e Constantino Brumidi
Constantino Brumidi, nascido em 1805, foi um artista italiano, membro da maçonaria e responsável por muitos dos mais importantes afrescos do Capitólio, incluindo sua obra mais notável, a Apoteose de Washington, no qual retrata a Ascenção de George Washington aos céus. Este afresco é dividido em seis partes, nas quais mistura elementos da mitologia grega com personalidades americanas:

– Guerra: personificada na deusa grega Colúmbia, fica logo abaixo da figura de Washington, representada em posição de combate e vestindo os símbolos maçônicos da capa, espada, o capacete e o escudo (os fãs de quadrinhos vão notar que o escudo original do Capitão América é uma homenagem ao design DESTE escudo), combatendo as figuras representativas da vilania. Auxiliando Colúmbia está a Águia Careca carregando flechas e relâmpagos, como seria representada na bandeira americana.
– Ciência: personificada na deusa Minerva, que está auxiliando Benjamin Franklin, Samuel Morse e Robert Fulton a montar um gerador elétrico. À esquerda, o uso do esquadro e o compasso.
– Marinha: personificada pelo deus Netuno, empunhando um tridente e montado em sua carruagem de conchas, e Vênus, auxiliando os americanos a instalar o primeiro cabo telegráfico submarino. Ninguém vai duvidar do quanto Poseidon ajuda a Marinha americana, certo?
– Comércio: personificado pelo deus Mercúrio, com suas sandálias aladas e o caduceu, entregando um saco de ouro para Robert Morris (um dos financiadores da Revolução Americana).
– Mecânica: representado pelo deus Vulcano, que auxilia os americanos a preparar um canhão e um Ironclad (um tipo de barco de guerra). Ao fundo, o maçom Charles Thomas, construtor responsável pelas estruturas metálicas na construção do Capitólio.
– Agricultura: representada pela deusa Ceres, com um feixe de trigo e uma cornucópia, símbolos conhecidos no ocultismo, sentada em uma colheitadeira McCormick. Também podemos ver a deusa Flora ao fundo, colhendo flores…

George Washington representando Zeus
Esta é uma estátua muito famosa, esculpida por Horacio Geenough em 1840, representando Washington desnudo, na posição tradicional de Zeus. Muitos religiosos toscos acusaram os maçons de terem feito a estátua na mesma posição do Baphomet. A verdade é que o Baphomet é que TAMBÉM foi desenhado inspirado na posição tradicional de Zeus.
De qualquer forma, depois de inúmeros protestos, em 1908 a estátua acabou sendo movida para o Museu Smithsorian e, em 1964, para o Museu de História e Tecnologia, onde está até hoje.
Claro que manter uma estátua de Washington na posição clássica de ZEUS no meio do Capitólio em um país dominado pelos seguidores de Jesus não faz sentido. Seria quase tão absurdo quanto, por exemplo, se a imagem que todos veneram na Basílica de Aparecida não fosse a de Nossa Senhora, como todos acreditam, mas de Maria Madalena.

A Palavra “MASON” escrita na nota de um dólar.
A imagem fala por si mesma. Se você pegar uma caneta e desenhar o Símbolo de Salomão em uma nota de um dólar, as pontas da estrela formarão a palavra “Mason” (maçom) e a parte de cima fará o topo da Pirâmide. Eu já ouvi da boca de um cético bem famoso que “isso é muito provavelmente apenas uma coincidência”. Então tá, né?

.’.

Melencolie, de Albrecht Durer
Uma das imagens que representa o temperamento Melancólico, carregado de simbolismo alquímico. Para o livro, o que importa é o Kamea de Júpiter, que Durer coloca no canto superior direito da imagem.

Um Kamea é um quadrado mágico dividido em NxN casas, onde N é o número associado na Kabbalah com cada um dos planetas. Assim sendo, Saturno possui um Kamea de 3×3 (tipo um Sudoku), Júpiter um Kamea de 4×4, Marte um kamea de 5×5, Sol 6×6, Vênus 7×7, Mercúrio 8×8 e Lua 9×9.
Cada Kamea é preenchido com números de 1 até o valor máximo do Kamea (9, 16, 25, 36, 49, 64 ou 81) onde a soma de todos os números em cada linha ou coluna sempre é igual. Em um dos meus posts antigos eu expliquei a ligação do Kamea do Sol com o famigerado 666.
A curiosidade é que Durer organizou o Kamea de Júpiter para que os números 15 e 14 ficassem na parte inferior-central do quadrado, formando o ano em que ele fez a ilustração (1514).

O Livro traz muitas outras referências bacanas sobre a cidade de Washington, sobre Benjamin Franklin, sobre os rituais maçônicos (mas não espere nenhum segredo revelado) e especialmente sobre o ídolo e patrono dos cientistas, sir Alquimista Mestre Maçom e Rosacruz Isaac Newton… e muita coisa que eu já disse aqui nas Colunas, devendo impressionar a maioria dos leitores, mas nem tanto os leitores do Teoria da Conspiração.

———————–
Textos relacionados no blog Teoria da Conspiração e n Wikipedia de Ocultismo.
E sigam as novidades do blog no Twitter

Outros textos interessantes:
– Walt Disney Demolay
– Carta Aberta dos Ateus ao Presidente
– O que são Sigilos Pessoais?
– IURD obrigada a indenizar terreiro
– Como lavar dinheiro em Igrejas Evangélicas
– Teoria das Supercordas
– As pesquisas de Michel Gauquelin
– Iniciação ao Hermetismo

#Maçonaria

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/dan-brown-e-o-s%C3%ADmbolo-perdido

Walt Disney e a Incerteza de Heisenberg

No Dia 5 de Dezembro de 1901, com pouquíssima diferença de tempo, nasciam duas mentes que mudariam o mundo: Walt Disney e Werner Heisenberg.

Walter Elias Disney (Chicago, 5 de dezembro de 1901 — Los Angeles, 15 de dezembro de 1966), rosacruz e membro da Ordem Demolay, foi um produtor cinematográfico, cineasta, diretor, roteirista, dublador, animador, empreendedor, filantropo e co-fundador da The Walt Disney Company. Tornou-se conhecido, nas décadas de 1920 e 1930, por seus personagens de desenho animado, como Mickey e Pato Donald. Ele também foi o criador do parque temático sediado nos Estados Unidos chamado Disneylândia, além de ser o fundador da corporação de entretenimento, conhecida como a Walt Disney Company.

Werner Karl Heisenberg (Würzburg, 5 de Dezembro de 1901 — Munique, 1 de Fevereiro de 1976) foi um físico alemão laureado com o Nobel de Física e um dos fundadores da Mecânica Quântica.

Doutorou-se pela Universidade de Munique, em 1923 aos 22 anos, e foi o chefe do programa de energia nuclear da Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, apesar da natureza do seu trabalho nesta função ter vindo a ser fortemente debatida, pois Heisenberg lutou toda a sua vida para que a Energia Nuclear não fosse utilizada com fins bélicos.

—–

Seus Mapas são praticamente iguais, variando apenas as Casas e o Ascendente; Sol e Urano em Sagitário, Lua em Libra, Marte, Saturno e Júpiter em Capricórnio (com uma conjunção fortíssima de Saturno e Júpiter); Caput Draconis em Escorpiao.

O Planeta mais forte destes mapas é Saturno em Capricórnio, com 6 aspectações, e a aspectação mais forte é justamente a conjunção entre Júpiter e Saturno, com 0,4 graus.

Esta conjunção entre Júpiter e Saturno indica uma facilidade quase magistral em se lidar com aquelas energias; no caso: Capricórnio (a disciplina, sobrevivência e militarismo). E ambos ainda possuíam Marte em Capricórnio: A facilidade de se gastar energia em sobrevivência e disciplina.

Mercúrio em Escorpião-Sagitário (o Rei de Bastões ou, se preferirem, o famigerado Ofiúco) indica uma capacidade intelectual de reunir e compilar conhecimentos de maneira muito mais efetiva do que as outras combinações energéticas do zodíaco. Quando você agrega estas duas características, tem um Mapa com potencial para realizar qualquer trabalho mental que se proponha. Lua em Libra indica uma capacidade de lidar com público e um senso de harmonia e equilíbrio acima da média.

Disney tentou entrar para o exército mas foi rejeitado. apesar disso, conseguiu um emprego como motorista de ambulância pela Cruz Vermelha no final da I Guerra. Por outro lado, Heisenberg aprendeu a tocar piano clássico e aos 13 anos já executava peças bem complicadas. Durante a II Guerra, enquanto Disney produzia desenhos animados de propaganda para os civis e vídeos de treinamento para os militares; Werner tornou-se chefe do programa atômico alemão.

Tanto Walt Disney quanto Heisenberg receberam o principal prêmio de suas vidas, em reconhecimento de suas carreiras no mesmo ano: em 1932 Disney recebeu um Oscar e Heisenberg recebeu um prêmio Nobel… com saturno novamente em Capricórnio, completando seu ciclo e premiando aqueles que estabeleceram sua Verdadeira Vontade (é um exemplo do que os Astrólogos chamam de “Retorno de Saturno”).

Ambas artistas com apurado senso estético, ambos com ideais militares: O que fez com que um deles se tornasse um dos maiores físicos teóricos da Alemanha e o outro produtor de desenhos animados? E mais importante: porque as outras pessoas que nasceram neste dia não se tornaram famosas também?

A resposta para esta pergunta é o que confunde os leigos, pseudo-céticos e supersticiosos em relação à Astrologia… É a mesma razão pela qual todas as pessoas negras de 1,72m e 67kgs que jogam futebol não jogam tão bem quanto o Pelé. É provável que se alguém clonar o Pelé algum dia, seu clone não jogará tão bem quanto ele.

A resposta é que o Mapa Astral mostra o POTENCIAL daquele pensamento encarnado (espíritos são pensamentos… os leigos tendem a achar que eles se pareçam com gasparzinhos ou coisas parecidas, mas a definição científica mais precisa é a que espíritos são compostos do mesmo material que nossos pensamentos). Todas as pessoas encarnadas naquele preciso momento tinham estas mesmas potencialidades, que nunca são exatamente as mesmas, por conta das Casas, mas as desenvolveram de acordo com seu ambiente, cultura, riqueza, estudos e criação.

É interessante lembrar que as pessoas nascidas com esta conjunção foram os adolescentes na I Guerra Mundial, passaram pela Grande Depressão com 28 anos ou tinham 39 anos na II Guerra, então toda esta preparação psicológica foi bastante útil para esta geração passar pelo que passou.

Talvez existissem outros potenciais Disneys que morreram em bombardeiros, é provável que muitos soldados nascidos neste momento gostassem muito de música ou de desenhar… nunca saberemos.

E é esta incerteza que faz a Astrologia ser tão difícil de ser medida pelos métodos tradicionais: a vida não tem save game para observarmos o que aconteceria se fizéssemos X ou Y.

E no caso de gêmeos?

A mesma coisa: aqueles dois indivíduos encarnaram dentro da mesma janela potencial, mas eram pessoas totalmente diferentes em sua encarnação anterior e possuem missões diferentes no qual usarão aquele potencial. Existe um estudo que comprovou cientificamente que existe uma correlação psicológica e pode ser lido Aqui mas isso não garante que terão o mesmo emprego ou ambos farão esportes, muito menos que conseguirão atingir o mesmo resultado em suas carreiras, pois isso depende de fatores totalmente externos a um Mapa Astral.

#Astrologia #Biografias

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/walt-disney-e-a-incerteza-de-heisenberg

Mentindo Com Pixels

A imagem que você vê no noticiário da tv pode ser uma falsificação – uma montagem fabricada pelas novas tecnologias de manipulação de vídeo

No ano passado, Steven Livingston, professor de Comunicação Política na George Washington University, deixou atônitos os participantes de uma conferência sobre Geopolítica. Discutia-se o papel dos satélites nas transmissões de imagens. Ele não produziu provas de novas mobilizações militares ou pandemias globais. Em vez disso, mostrou um vídeo da patinadora Katarina Witt durante uma competição de patinação em 1998.

No clipe, Katarina desliza no gelo graciosamente por cerca de 20 segundos. Então vem o que talvez seja uma das mais inusitadas repetições de imagens jamais vistas. O fundo era o mesmo e os movimentos da câmera eram os mesmos. Na realidade, a imagem era idêntica ao original em todas as formas, exceto talvez na mais importante: Katarina tinha desaparecido, junto com todos os sinais dela. Em seu lugar estava exatamente aquilo que você esperaria se Katarina nunca tivesse estado ali – o gelo, as paredes do ringue e a multidão.

Grande coisa, você dirá. Afinal, há mais de meio século a equipe de Stálin, o ditador soviético, já eliminava das fotos personalidades malvistas pelo governo. E, dezessete anos atrás Woody Allen realizou um grande número de deformações da realidade no filme Zelig, onde ele aparece junto a figuras do passado como Adolf Hitler e os presidentes americanos Calvin Coolidge e Herbert Hoover. Também em filmes como Forrest Gump e Mera Coincidência, a distorção da realidade tornou-se lugar-comum.

O que diferencia a demonstração com Katarina Witt – e muito – é que a tecnologia usada para “excluir virtualmente” a patinadora pode agora ser aplicada em tempo real, ao vivo, mesmo enquanto a câmera grava a cena e no mesmo instante em que a transmite aos espectadores. Na fração de segundo entre os quadros de vídeo, qualquer pessoa ou objeto que se mova em primeiro plano pode ser retirado, e objetos que não se encontram ali podem ser inseridos e parecer reais. “Plasticidade de pixel”, eis o nome que Livingston deu a essa técnica. As implicações para as pessoas que compareceram à conferência sobre Geopolítica e imagens de satélite deram o que pensar: as fotos exibidas podem não ser necessariamente aquelas que a câmera eletrônica do satélite efetivamente gravou.
Mas a ramificação dessa nova tecnologia vai além das imagens de satélite. À medida que a manipulação ao vivo se torna mas prática, a credibilidade de todos os vídeos se tornará tão suspeita quanto fotos soviéticas da Guerra Fria. O problema tem sua origem na natureza do vídeo moderno. Ao vivo ou não, ele é composto de pixels e, como diz Liningsotn, pixels podem ser alterados.

Os exemplos mais conhecidos de manipulação de vídeo em tempo real até agora são as “inserções virtuais” em transmissões de esportes profissionais. Em 30 de janeiro deste ano, quase um sexto da humanidade em mais de 180 países assistiu a uma linha laranja repetidamente traçada sobre o campo de futebol americano, durante a transmissão do Super Bowl. A Princeton Video Imaging (PVI), em Lawerenceville, Nova Jersey, criou aquela linha, gravou-a num computador e a inseriu na transmissão ao vivo. Para ajudar a determinar onde inserir os pixels de cor laranja, diversas câmeras do jogo foram equipadas com sensores que rastreavam as posições espaciais das câmaras e os níveis de ampliação. Adicionada à ilusão de realidade estava a capacidade do sistema da PVI garantindo que os jogadores e os juízes ocultassem a linha virtual quando seus corpos a atravessassem.

Mesmo as transmissões de TV ao vivo já podem ser manipuladas com “inserção virtuais”

Nos Estados Unidos, durante a primavera e o verão passados, enquanto a PVI e rivais como a Sport-vision de New York colocavam no ar produtos de inserção virtual, incluindo anúncios simulados em paredes atrás dos batedores da liga principal de beisebol, uma equipe de engenheiros da Sarnoff Corporation, de Princeton, Nova Jersey, voou até o Centro Operacional da Coalizão Aliada, da OTAN, Vicenza, Itália. Sua missão: transformar sua tecnologia experimental de processamento de vídeo numa ferramenta experimental de processamento de vídeo numa ferramenta operacional para localizar rapidamente e converter em alvos os veículos militares sérvios em Kosovo. O projeto foi batizado de Tiger, sigla em inglês que corresponde a “fixação de alvos por georregistro de imagem”. “Nosso objetivo era poder disparar munição guiada com precisão através de veículos militares sérvios – basta marcar as coordenadas e a coisa vai:, explica Michaels Hansen, um jovem e agitado aficionado por equipamentos da Sarnoff que acha difícil acreditar que estava ajudando a fazer uma guerra no ano passado.

Se comparada ao trabalho da PVI, a tarefa técnica dos militares era mais difícil – e o que estava em jogo era muito maior. Em vez de alterar transmissões de futebol, a equipe Tiger manipulou a transmissão de vídeo ao vivo de um Predator, uma aeronave de reconhecimento não-tripulada voando a 450 metros de altura sobre os campos de batalha de Kosovo. Em lugar de sobrepor linhas virtuais ou anúncios em cenários esportivos, a tarefa era colocar em tempo real as imagens “georregistradas” de Kosovo sobre as cenas correspondentes transmitidas ao vivo da câmera de vídeo do Predator. As imagens do terreno tinham sido capturadas antes com fotografia aérea e armazenadas digitalmente. O sistema Tiger, que detectava automaticamente objetos em movimento contra o fundo, podia, quase de forma instantânea, fornecer aos oficiais encarregados da artilharia as coordenadas de qualquer equipamento sérvio no campo de visão do Predator. Esse foi um feito bastante técnico, uma vez que o Predator estava se movendo e seu ângulo de visão apresentava constante mudança. Mesmo assim, aquelas visões tinham que ser eletronicamente alinhadas e registradas com a imagem armazenada em menos de um trinta avos de segundo (para corresponder à taxa de quadros da gravação em vídeo).

Em princípio, a definição de alvos poderia ter sido direcionada diretamente às armas guiadas com precisão. “Não estávamos realmente fazendo aquilo na Força Aliada”, observa Hansen. “Estávamos apenas informando aos oficiais encarregados da pontaria exatamente onde estavam os alvos sérvios e eles, então, dirigiam aviões para atingir os alvos”. Dessa forma, os tomadores de decisão humanos poderiam evitar decisões errôneas tomadas por máquinas com defeitos. De acordo com a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada para a Defesa, a tecnologia Tiger foi usada de forma extensa nas últimas três semanas da operação Kosovo, durante as quais “80% a 90% dos alvos móveis foram atingidos”.

Até então, a manipulação de vídeo em tempo real estava ao alcance somente de organizações tecnologicamente sofisticadas como, por exemplo, redes de televisão e os militares. Mas os desenvolvedores da tecnologia dizem que ela está se tornando simples e barata o suficiente para se espalhar para todos os lados. E isto tem levado alguns observadores a pensar se a manipulação de vídeo em tempo real vai corroer a confiança do público nas imagens de televisão, mesmo quando transmitidas em telejornais. “A idéia de ver para crer pode perder a validade”, diz Norman Winarsky, vice-presidente corporativo para tecnologia de informação da Sarnoff. “Você pode não saber em que confiar.”

Uma forma grosseira de manipulação de vídeo já está acontecendo na comunidade de imagens por satélite. A publicação semanal Space News informou no início do ano que o governo da Índia libera imagens de seus satélites de sensoriamento remoto somente após as instalações de defesa terem sido “removidas”. Neste caso, não há manipulação em tempo real e é aberta, como um marcador de tinta de censor. Mas os pixels são flexíveis. É perfeitamente possível agora inserir conjuntos de pixels em imagens de satálite que os interpretadores de dados poderiam identificar como batalhões de tanques, ou aviões de guerra, ou locais de sepultamento, ou linhas de refugiados, ou vacas mortas que ativistas aleguem ser vítimas de um acidente biotécnico.

Uma fita de demonstração fornecida pela PVI reforça esse aspecto no prosaico cenário de um estacionamento num subúrbio. A cena parece comum, exceto por uma característica perturbadora: entre camionetas e minivans estão diversos tanques estacionados e um monstro armado rodando de maneira desconcertante. Imagine uma fita de tanques paquistaneses virtuais rodando pela fronteira da Índia entregue aos telejornais como autêntica, e você pode sentir o tipo de problema que imagens falsificadas podem provocar.
Fornecedores comerciais de serviços de inserção virtual estão concentrados demais em novas oportunidades de marketing para se preocupar muito com geopolítica. Eles têm os olhos voltados para mercados muito mais lucrativos. De repente, esses grandes espaços de programação entre comerciais – ou seja, o verdadeiro show – tornam-se disponíveis para bilhões de dólares de anúncios em horário nobre. A fita de demonstração da PVI, por exemplo, inclui uma cena em que uma caixa do Microsoft Windows aparece – virtualmente, é claro – na estante do estúdio de Frasier Crane. Esse tipo de colocação de produto poderia tornar-se mais e mais importante à medida que novas tecnologias de gravação em vídeo como, por exemplo, TiVo e RePlayTV, oferecerem aos espectadores mais poder para editar comerciais.

Dennis Wilkinson, especialista em marketing que adora esportes e se tornou CEO da PVI há cerca de um ano, não podia estar mais feliz com isso. Os olhos de Wilkinson brilham quando ele descreve o futuro (próximo) em que a tecnologia de inserção virtual levará os anúncios a extremos de personalização. Combinado com serviços de datamining (através dos quais gostos individuais e padrões de consumo dos navegadores podem ser rastreados e analisados), a inserção virtual abre a possibilidade de enviar anúncios personalizados de acordo com o alvo por linhas ou cabos telefônicos a usuários da Web ou espectadores da TV a cabo. Digamos que você gosta de Pepsi, mas seu vizinho ao lado gosta de Coca e seu vizinho do outro lado da rua gosta de Seven Up – o tipo de dados de fácil coleta por meio de registros de caixas de supermercado. Será possível ajustar a imagem de refrigerante no sinal da transmissão para atingir cada um de vocês com sua marca preferida.

A apenas 15 minutos de distância da PVI, Winarsky, da Sarnoff, também está radiante – não tanto com ganhar fatia de mercado, mas quanto ao poder transformador da tecnologia. A Sarnoff tem uma história distinta nesse campo: a empresa descende dos Laboratórios RCA, que iniciaram a inovação em tecnologia de televisão no início da década de 40 e trouxeram à luz grande quantidade de tecnologias de mídia. O tubo de TV em cores, as telas de cristal líquido e a televisão de alta definição vieram todos, pelo menos em parte, da RCA. A Sarnoff exibe cinco prêmios Emmy técnicos em sua recepção.

A capacidade de manipular dados de vídeo em tempo real, diz Winarsky, tem tanto potencial quanto alguns desses predecessores. “Agora que você pode alterar o vídeo em tempo real, você mudou o mundo”, diz. Isso pode soar pomposo, mas, após ver o vídeo de Katarina Witt, a conversa de Winarsky sobre “mudar o mundo” perde um pouco do tom de exagero.

Apagar pessoas ou abjetos no vídeo ao vivo, ou inserir pessoas previamente gravadas ou objetos em cenas ao vivo é somente o início de todos os truques que estão tornando possíveis. Muito de qualquer vídeo que tenha sido gravado está se tornando clipart que os produtores podem esculpir digitalmente na história que quiserem contar, diz Eric Haseltine, vice-presidente sênior de P&D da Walt Disney Imagineering em Glendale, Califórnia. Com tecnologias adicionais de manipulação de vídeo, os atores anteriormente gravados podem dizer e fazer coisas que eles efetivamente nunca fizeram ou disseram. “Você pode fazer com que atores mortos estrelem novos filmes inteiros”, diz Haseltine.

Filmagens contemporâneas, incluindo gravações de atores mortos, têm estado por aí por muitos anos. Mas o ilusionismo de Hollywood – que, por exemplo, inseriu John Wayne num comercial de TV – exigia um trabalho difícil de pós-produção quadro-a-quadro, feito por técnicos especializados. Existe agora uma grande diferença, diz Haseltine. “O que costumava levar 1 hora (por quadro de vídeo) agora pode ser feito em um sessenta avos de segundo”. Essa aceleração dramática significa que a manipulação pode ser feita em tempo real, instantaneamente, à medida que a câmera grava ou transmite. Não somente podem John Wayne, Fred Astaire ou Saddam Hussein ser virtualmente inseridos em anúncios pré-produzidos, como eles poderiam ser inseridos em, digamos, uma transmissão ao vivo de um show de TV.

A combinação de tempo real, inserção virtual com técnicas de pós-produção existentes e emergentes abre um mundo de oportunidades de manipulação. Consideremos a tecnologia Video Rewrite (regravação de vídeo), desenvolvida pela Interval Corporation e pela Universidade de Berkeley, e demonstrada pela primeira vês três anos atrás. Com apenas alguns minutos de vídeo de alguém falando, seu sistema captura e armazena um conjunto de fotos em vídeo, de modo que a área da boca da pessoa parece mover-se ao dizer diferentes conjuntos de sons. A partir da biblioteca resultante de “visemas” é possível retratar a pessoa como se ela dissesse qualquer coisa que os produtores sonhassem – incluindo expressões que o indivíduo nunca usaria, nem morto.

Num teste de aplicação, o cientista de computação Tim Bregler, agora na Universidade Stanford, e colegas digitalizaram 2 minutos de gravação de domínio público do presidente americano John F. Kennedy falando durante a crise dos mísseis cubanos, em 1962. Usando a biblioteca de “visemas”, os pesquisadores criaram “animações” da boca de Kennedy dizendo coisas que ele nunca disse, entre elas, “Eu nunca me encontrei com Forrest Gump”. Com tecnologia desse tipo, em princípios os ativistas poderão em futuro próximo ser capazes de orquestrar via Internet transmissões de seus adversários dizendo coisas que poderiam fazer a pessoa mais íntegra e honrada soar como o mais rematado dos cafajestes.

Haseltine acredita que as técnicas de manipulação de vídeo serão rapidamente levadas a seu extremo lógico: “Posso prever, com absoluta certeza”, diz ele, “que uma pessoa sentada diante de um computador poderá escrever o roteiro de um vídeo, desenhar as personagens, fazer a iluminação, o guarda-roupa, toda a atuação, diálogo e pós-produção, distribuir esse vídeo numa rede de banda larga, tudo isso num laptop – e os espectadores não notarão a diferença”.

Truques que hoje exigem um sistema de 80.000 dólares poderão em breve estar nas lojas, numa câmera de vídeo comercial
Até agora, as aplicações amplamente encontradas de manipulação de vídeo em tempo real ocorreram em áreas benignas como esportes e entretenimento. Já no ano passado, entretanto, a tecnologia começou a se difundir além desses locais, para aplicações que já provocaram uma certa preocupação. No outono passado, por exemplo, a CBS contratou a PVI para inserir virtualmente o logotipo familiar da rede em toda a cidade de New York, em edifícios, outdoors, fontes e outros locais – durante a transmissão do programa The Early Show da rede. O New York Times publicou uma reportagem de primeira página em janeiro questionando a ética jornalística existente em alterar a aparência de algo que está realmente ali.

A combinação de inserção virtual em tempo real, cibermarionetes, regravação de vídeo e outras tecnologias de manipulação de vídeo com uma infra-estrutura de mídia de massa que transmite instantaneamente vídeo de noticiário para o mundo inteiro tem preocupado alguns analistas. “Imagine se você é o governo de um país hipotético que deseja mais assistência financeira internacional”, diz Livingston, da George Washington University. “Você poderia enviar vídeos de uma área remota com pessoas morrendo de fome, e isto poderia nunca ter acontecido”, diz ele.

Haseltine concorda. “Estou surpreso que ainda não tenhamos visto vídeos falsos”, diz ele antes de voltar atrás um pouco: “Talvez tenhamos visto. Quem poderia saber?”

É exatamente o tipo de cenário exibido no filme Mera Coincidência, de 1988, no qual um assessor presidencial de primeiro nível conspira com um produtor de Hollywood para transmitir uma guerra montada virtualmente entre os Estados Unidos e a Albânia para desviar a atenção de um escândalo de corrupção presidencial. Haseltine e outros ficam imaginando quando a realidade imitará a arte imitando a realidade.

A importância da questão somente se intensificará à medida que a tecnologia se tornar mais acessível. O que agora exige uma máquina de 80.000 dólares do tamanho de um pequeno refrigerador logo será encontrado em placas do tamanho da palma da mão (e no limite, num único chip) que caberão num gravador de vídeo comercial, segundo Winarsky. “Isso estará disponível nas lojas de componentes eletrônicos”, diz ele. Um equipamento de consumo para inserção virtual provavelmente exigirá uma câmera de vídeo com uma placa ou chip especial para processamento de imagem. Esse hardware receberá sinais dos sensores de imagem eletrônica da câmera e os converterá numa forma que poderá ser analisada e manipulada num computador com software adequado – algo idêntico ao que se faz com o Adobe Photoshop e outros programas para “limpar” arquivos de imagem digital. Um usuário doméstico poderia, por exemplo, inserir parentes ausentes numa filmagem da última reunião de família, ou remover estranhos que prefiram não aparecer na cena – trazendo as revisões históricas no estilo soviético direto para o ambiente doméstico.

Nos EUA, especialistas já discutem os riscos do uso político das novas técnicas de vídeo

Combine-se a erosão potencial da confiança na autenticidade de reportagens ao vivo com o chamado “efeito CNN” e o cenário está montado para a falsificação mover o mundo de diferentes maneiras. Livingston descreve o efeito CNN como a capacidade da mídia de massa de ir além da mera reportagem sobre o que acontece, para influenciar verdadeiramente os tomadores de decisões quando examinarem questões militares, de assistência internacional e outros assuntos nacionais e internacionais. “O efeito CNN é real”, diz James Currie, professor de Ciência Política na National Defense University, em Fort McNair, Washington. “Todos os escritórios aonde você vai no Pentágono estão com uma TV ligada na CNN”. E isso significa, diz ele, que um governo, um grupo terrorista ou uma ONG poderia colocar eventos geopolíticos em movimento dentro de poucas horas, partindo de uma credibilidade conseguida graças à distribuição de um pedaço de vídeo bem trabalhado.

Com experiência como reservista do Exército, membro de uma equipe com privilégios de alta confidencialidade no Comitê de Inteligência do Senado, e como oficial de ligação legislativa para a Secretaria do Exército, Currie viu de perto as tomadas de decisões governamentais e políticas. Ele está convencido de que a manipulação de vídeo em tempo real estará, ou já está, nas mãos das comunidades militares e de inteligência. E, embora ainda não tenha evidências de que alguma organização tenha empregado técnicas de manipulação de vídeo, em tempo real ou não, para finalidade política ou militar, ele é capaz de divisar cenários de desinformação. Por exemplo, diz ele, pensa só no impacto de um vídeo fabricado que pareça amostrar Saddam Hussein “derramando uísque escocês num copo e bebendo um grande gole. Você poderia transmiti-lo na televisão do Oriente Médio e isso minaria totalmente a credibilidade dele junto a audiências islâmicas”.

Apesar de todas as reações emocionais, entretanto, alguns especialistas ainda não estão convencidos de que a manipulação de vídeo em tempo real representa uma verdadeira ameaça, não importando quão boa a tecnologia venha a se tornar. John Pike, analista da comunidade de inteligência da Federação de Cientistas Americanos, em Washington, D.C., diz que os riscos são simplesmente grandes demais para que governos ou organizações sérias sejam surpreendidas tentando enganar o público. E, para as organizações que estivessem dispostas a correr o risco de faze-lo, diz Pike, o pessoal que trabalha com notícias – sabendo aquilo que a tecnologia pode fazer – vai se tornar cada vez mais vigilante.

“Se alguma organização de direitos humanos aparecesse na CNN com um vídeo, particularmente uma organização com a qual eles não estejam familiarizados, acho que (a CNN) consideraria aquilo radioativo”, diz Pike. O mesmo vale para as organizações não-governamentais (ONGs). “Nenhum diretor responsável de uma organização séria autorizaria esse tipo de coisa. E eles demitiriam, no ato, qualquer pessoa surpreendida fazendo isso. A moeda corrente de ONGs políticas é “nós falamos a verdade”.

Mesmo pessoas mais ponderadas como Pike, entretanto, admitem que a mídia tem um calcanhar-de-aquiles: a Internet. “A questão não é tanto a capacidade de falsificar vídeos na CNN, mas conseguir coloca-los online”, diz ele. Isso ocorre porque a maior parte do conteúdo da Internet não é filtrado. “Isso poderia interferir no processo de produção de notícias, onde você não reproduziria o relatório original, mas relataria o que foi relatado”, diz Pike. Tal procedimento poderia resultar, em cascata, num efeito CNN. “Sem dúvida, esse tipo de experiência acabará acontecendo”, diz Pike.

O problema, afirma Livingston, é que apenas algumas experiências podem ser suficientes para levar as pessoas a questionar para sempre a autenticidade do vídeo. Isso poderia ter repercussões enormes sobre operações militares, de inteligência e de notícias. Uma conseqüência sociológica irônica poderia surgir: o retorno a uma dependência mais pesada de comunicação cara-a-cara, sem intermediários. Neste meio tempo, entretanto, haverá algumas interessantes torções e reviravoltas, à medida que os pixels se tornarem ainda mais flexíveis.

por Ivan Amato – Publicada originalmente na revista Info Exame No. 175 – Outubro/2000

Postagem original feita no https://mortesubita.net/baixa-magia/mentindo-com-pixels/

Gremlins

A existência dos Gremlins se tornou mundialmente famosa nos anos 1980 graças a dois filmes de terror com tom de comédia produzidos por Steven Spielberg. O filme conta a história de um rapaz que adquiriu uma estranha criatura chamada ‘Mogwai’, um ser meigo de aparência inofensiva e claramente inteligente.  ‘Mogwai’ quer dizer “demônio” em cantones e esse era um prenuncio que não deveria ter sido ignorado. Junto do mascote ele recebeu as três regras para o cuidado do Mogwai que eram: 1 – Não alimentar depois da meia noite, 2 – Não molhar e 3 –  Não expor a luz do sol. A explicação das regras eram igualmente simples: A luz do sol era capaz de matar o Mogwai. A água fazia com que ele se reproduzisse indiscriminadamente. Já a alimentação após a meia noite transformava completamente a criatura que de aparência de mamífero dócil se tornava um reptiliano de agressivo, caótico e malicioso. O filme popularizou os gremlins, mas também foi responsável por uma certa perversão da descrição original desta criatura.  Sim, os gremlins já faziam bagunça por ai antes dos anos 80, e como vamos mostrar a seguir quanto maior nossa expansão tecnológica, mais eles se podem se divertir.

O nome “gremlim” tem origem em uma palavra do inglês antigo “grëmian”, que significa “incomodar” ou “maltratar” e também está relacionado com a raiz “grim” que tem a conotação de “macabro” e “sinistro.”  A primeira aparição impressa do termo “Gremlim” consta em um poema Journal Aeroplane, publicado em 10 de Abril de 1929. Um artigo de 1942 escrito por Hubert Griffith oficial da força aérea real para o Royal Air Force Journal descreve pela primeira vez a atuação destas criaturas com diversas histórias interessantes. Segundo eles os gremlins estão a solta por vários anos aparecendo durante os primeiros testes com os primeiros aeroplanos. Contudo, ele não apresenta qualquer evidência a favor desta hipótese.

A Origem da Lenda dos Gremlins

A origem desta criatura está no folclore inglês sempre descrito como uma criatura travessa e sempre (isso é importante) habitando proximidades de objetos mecânicos, em especial aeronaves. Os primeiros relatos remontam descrições feitas por mecânicos e pilotos ingleses alegando que algum tipo de criatura era a responsável pela sabotagem dos aviões da Royal Air Force (RAF, a Força Aérea Britânica) por todo Oriente Médio, Malta e índia. “. Neste período inicial os casos com os gremlims assombravam apenas o submundo dos pilotos militares. Antes de entrarem em missão era comum compartilharem algumas histórias que eram transmitidas pelo boca a boca. Cantavam algumas cantigas antes de irem voar como a que se segue:

Este é um poema pubicado pela RAF (Royal Air Force) Journal, a primeira referência escrita da lenda:

 

Existiam ainda uma série de “ditos populares” repetidos pelos oficiais da aeronáutica entre eles: “Onde passa um rato passam três gremlins”, referindo-se ao fato deles aparentemente chegarem em pontos inacessíveis das máquinas. “Culpe o Gremlim”, como uma piada interna para quem não assume as próprias faltas.  “Faça um gremlim aparecer. Confie sua vida a uma máquina.”,  usada na tentativa de assustar os novatos. E o mais popular “Quanto mais alto mais gremlins”. Este último mostrou-se assombrosamente verdadeiro, pois conforme o as máquinas foram ganhando altitude as pilhas de relatórios e casos contados entre os recrutas aumentaram na mesma proporção.

Já durante a segunda guerra mundial a idéia de responsabilizar qualquer pane mecânica aos gremlins tornou-se popular entre todos os pilotos do reino unido, em especial as unidade de reconhecimento fotográfico, em especial os esquadrões Benson, Wic e Eval. Para este último os gremlins foram responsáveis por acidentes que de outra forma seriam inexplicáveis e que muitas vezes aconteciam em pleno vôo. Como era óbvio, logo se responsabilizou os nazistas por terem criado tais criaturas, mas investigações revelaram que ambos os lados sofriam de similares problemas técnicos inesperados que só podiam ser causados por criaturas ativas e diminutas durante as operações. Com o tempo os gremlins ganharam a reputação de serem trapaceiros que não tomavam partido no conflito e atacavam em qualquer oportunidade por simples travessura. Talvez ele tenham sido uma experiência nazista que fugiu do controle. Talvez tenham outra origem e interesses próprios. Talvez simplesmente não precisem de uma razão para destruir.

Os Gremlins ganham o grande público

Foi o escritor Roald Dahl que tirou as histórias dos gremlins da subcultura aeronáutica e os levou para a cultura popular. Dahl era familiar com o mito não apenas por ter servido a força aérea inglesa no Oriente Médio, mas também por  ter tido uma experiência de primeira mão perdendo seu avião no deserto da Líbia. Em janeiro de 1942 foi transferido para Washington, D.C. para trabalhar como  comissário de bordo. Foi nesta época que escreveu o livro infantil ‘The Gremlins’ onde descrevia estas criaturas. Os gremlins machos chamada de “Widgets” e as fêmeas de “Fifinellas”. O manuscrito inicial foi enviado a  Bernstein, chefe do Serviço de Informação Britânico, que imediatamente teve a ideia de enviar o roteiro aos estúdios de Walt Disney, que em 1942 ofereceu a Dahl um contrato para uma animação.

Por pedido do autor um ano depois foi publicada também uma versão impressa e revisada da história em um livro ilustrado pela Random House. Foram impressas 50 mil cópias para o mercado norte-americano e Dahl incomendou pessoalmente 50 cópias para usar como material promocional para o filme que seria lançado. A verdade é que o livro foi mais bem sucedido que o próprio filme da Disney. A obra tornou-se um sucesso internacional e Dahl ganhou bastante notoriedade e sua história recebeu diversas reimpressões.

Por outro lado a animação que inicialmente seria um longa metragem foi reduzida a um curta e eventualmente foi cancelado em 1943 por problemas de copyright com a Aeronáutica Britânica. Na mesma época, aproveitando o vácuo deixado pela Disney, a  Merrie Melodies lançou um desenho onde o Pernalonga enfrenta alguns gremlins em espaço aéreo. Um ano depois é lançado ainda outra animação da  Merrie Melodies onde alguns gremlins russos sabotavam um avião pilotado por Adolf Hitler.

O tom humorístico foi deixado de lado nos anos 1960 quando o terror de um Gremlim aparecendo na janela da frente de uma aeronave foi revivido por um episódio de Além da Imaginação chamado “Nightmare at 20,000 Feet” (No Brasil: “Vôo Noturno”). No roteiro uma criatura sabota um vôo comercial, em certa cena o personagem principal (William Shatner) olha pela janela do avião e fica de cara a cara com o gremlim. Este episódio ganhou uma imensa popularidade entre os norte-americanos e é constantemente homenageado e parodiado em outras séries, filmes e desenhos animados até hoje. O episódio foi regravado em 1983 na versão colorida da série.

Cena de Nightmare at 20,000 Feet

Tudo isso colaborou para dar um ar popular as histórias dos Gremlins, mas enquanto o público se divertia nos cinemas os relatos sérios a respeito dos gremlins continuavam aparecendo entre os mecânicos e pilotos de empresas privadas e da força aérea. Devido a popularidade dos desenhos e produções televisivas a respeito do assunto, tais relatos começaram a ganhar fama de ridículos, embora diversos oficiais jurassem que realmente viram criaturas mexendo em seus equipamentos.

A criatura tornou-se até mesmo o mascote oficial da WASPS (Women Airforce Service Pilots) durante a Segunda Guerra Mundial. Os relatórios dos pilotos se acumularam nas décadas seguintes. O caso testemunhado por John Hazen registrado no livro “Funk and Wagnalls Standard Dictionary of Folklore, Mythology and Legend.” publicado pela Funk and Wagnalls em 1972 é emblemático e representa bem a toda uma legião de ocorrências similares. Neste relato Hazen, enquanto pilotava disse que por mais de uma vez durante os voos escutou uma voz rouca e irritadiça provocando-o com palavras que na maior parte do tempo eram ininteligíveis. Em dado momento escutou um forte barulho vindo da parte traseira da aeronave e foi obrigado a pousar.A visão cética atribui estes relatos ao stress de combate e vertigem causada pela altitude que causariam perigosas alucinações durante o vôo.  Entretanto, já em terra firme, Hazen relata ter encontrado a confirmação de sua suspeita de que estava sendo infernizado por um Gremlim. Os  “cabos de parte do equipamento estavam partidos com óbvias marcas de dentição animal” e em uma parte claramente inacessíveis da aeronave.

Dossiê de Criptozoologia de Herman Flegenheimer Jr.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/criptozoologia/gremlins/