Controle do Corpo, Respiração Diafragmática e Relaxamento

Continuando as sugestões de exercícios, temos agora exercícios extremamente básicos – Controle do Corpo, Respiração Diafragmática e Relaxamento. Boas práticas!

1. Controle do Corpo (por Prophecy)

A prática de controle do corpo é muito importante para o mago, porque exerce sua dominância mental sobre seu domínio físico mais imediato. Se você não consegue se sentar parado, é muito difícil regular a sua mente. Se você não pode controlar a sua mente, então toda a magia se torna muito difícil.

Assuma uma postura que você gostaria de usar como sua postura de meditação. Ela poderia ser Siddhasana, Padmasana, sentar de pernas cruzadas, ou sentar com suas costas retas numa cadeira, sendo essas as escolhas mais comuns. Em todos os casos, as suas costas devem ser as mais retas possíveis, o seu queixo deveria estar levantado, a sua respiração deveria estar inteiramente controlada, e seu corpo deveria estar parado. Segure essa postura primeiro por cinco minutos, e concentre-se inteiramente em seu corpo. Tente sentir cada centímetro de sua carne. Sinta toda perturbação possível, incluindo até o cabelo em seus braços e cabeça. Foque-se em cada sensação de coceira, cada agitação, e supere-as. Permaneça totalmente parado, com apenas a sua respiração sendo a fonte de movimento no peito. Quando você conseguir fazer isso por cinco minutos sem sentir o desejo de se levantar e fazer outra coisa, ou sem os seus pensamentos viajando, estenda a prática para 10 minutos por dia. Alguns precisarão pratica mais, e você deveria ser o seu próprio juiz se você não tiver a instrução de um professor. Nunca hesite para praticar o tempo que você precisa, ou como o seu professor lhe instrui. Para a maioria das pessoas, 10 minutos duas vezes por dia serão o bastante para um progresso firme com uma rotina diária abarrotada.

O domínio dos obstáculos do corpo é um grande passo para a capacidade de se fazer meditação. Quando você pode parar completamente o corpo, ele se torna calmo e mais frio, e a energia interna chamada prana flui suavemente através dos canais de energia do corpo. Quando a tensão é deixada e a mente se torna calma, todos os bloqueios em seus circuitos internos de energia são removidos. Embora, no início, a prática possa ser difícil e fazer com que você se sinta desconfortável, deve-se persistir até que se sinta completamente confortável, até de certa forma feliz, em sua asana. Depois de dez minutos de prática, você não deveria nem querer se mover. Deveria-se sentir como se estivesse dentro de uma concha quente, mas você não é a própria concha. Quando isso é alcançado, você estará fazendo bom progresso e deveria avançar ao julgamento de um professor ou ao seu próprio.

Quando você consegue controlar o corpo físico da maneira descrita acima, você pode ser instruído na execução de certas asanas físicas. Essas são melhor aprendidas por um professor que possa executá-las, porque a forma correta e a técnica são muito importantes. Muitas asanas, através de um profundo conhecimento do sistema de energia inteiro, forçam certos movimentos de prana que são vantajosos para a evolução espiritual e para a saúde. Elas conseguem dar clareza mental, pureza astral, e saúde físicaem abundância. Algumas delas até trabalham para o objetivo de despertar da Kundalini, e podem ajudar grandemente na realização de Samadhi. Como uma forma simples de prática de controle do corpo, a asana deveria ser executada com total controle sobre cada centímetro do corpo. Nada pode passar despercebido, nem a preguiça pode ser permitida. Durante a prática da asana física, que pertence à prática da hatha yoga, a mente flui para fora dos músculos e controla o fluxo da energia interna. A inteireza de concentração descansará ou sobre a postura física exata, o fluxo de prana interna ou um certo mantra.

Embora cada postura ofereça um benefício diferente, a meta última de uma rotina inteira de asana é o equilíbrio do elétrico com o magnético, ou o solar com o lunar. Isso faz com que amente se torne parada e a aura se torne equilibrada e saudável. Alguém que pratica ativamente asanas físicas radia saúde. Seu corpo tem uma espécie de brilho, ele manterá sua juventude até os anos posteriores. Frequentemente, até se ele tiver 60 anos de idade, ele parecerá estar no fim dos 30 ou no início dos 40.

2. Respiração Diafragmática (por Paul Tuitéan e Estelle Daniels, no livro “Wicca Essencial”)

Passo 1: Primeiro, fique de pé, deite de costas ou sente-se relaxadamente com a coluna reta. Coloque uma das mãos sobre o estômago, logo acima do umbigo, e a outra sobre o peito, na altura do coração; encoste a língua no céu da boca.

Passo 2: Inspire lentamente pelo nariz. Sinta com a mão o estômago elevar-se, mas procure não levantar o peito. Não queira encher os pulmões completamente, fazer o que se chama de grande respiração. Apenas procure levar o ar para as camadas mais profundas dos pulmões. A isso se dá o nome de respiração profunda.

Passo 3: Em seguida, contraia os lábios como se fosse assobiar, mantendo a língua no céu da boca. Expire lentamente pela boca, pressionando o estômago com a mão. Novamente, não deixe o peito subir ou descer.

Passo 4: Continue respirando assim, ritmicamente. Esse padrão deve criar um ritmo agradável, mas regular, de Inspiração (inspire pelo nariz e dirija o ar para as camadas mais profundas dos pulmões), Retenção (mantenha o fôlego enquanto se sentir bem), Expiração (expire pela boca o mais suavemente possível) e Retenção (mantenha os pulmões vazios pelo tempo que conseguir).

Seguindo a sugestão de Scott Cunningham, adote uma contagem de 3, 4 ou 5, o que for mais confortável. Por exemplo: inspire contando até 4, retenha o ar contando até 4, expire contando até 4, mantenha os pulmões vazios contando até 4, inspire contando até 4. Durante a respiração, mantenha sua atenção total e completamente focada na respiração.

Repita a seqüência durante 10 minutos, pelo menos.

Como você estará substituindo o dióxido de carbono (que a maioria das pessoas armazena no fundo dos pulmões) por oxigênio numa quantidade considerável, você poderá induzir a hiperventilação. Por isso, tome cuidado, pois poderá ficar inconsciente. Nem pense em deixar de fazer esse exercício só porque ficou com medo de respirar! Alguns sinais que mostram que o ritmo não está adequado ao corpo (talvez você esteja respirando muito rápido ou muito lentamente) são tosse, bocejo ou tontura.

Ao acostumar-se com esta técnica, você pode aplicá-la em qualquer situação_ correndo, caminhando, deitado e em qualquer lugar. Ela é uma técnica de meditação excelente, e pode ser-lhe útil sempre que tiver de enfrentar uma dificuldade física ou psíquica, pois ela centra e focaliza automaticamente a sua mente num padrão de comportamento que relaxa o corpo e o prepara para a ação.

3. Relaxamento (por Starhawk, no livro A Dança Cósmica das Feiticeiras)

(Este exercício pode ser feito sozinho, em grupo ou ou com um parceiro. Comece deitando de costas. Não cruze braços ou pernas. Afrouxe qualquer roupa que estiver causando algum tipo de compressão.)

“A fim de conhecermos o relaxamento, em primeiro lugar, devemos experimentar a tensão. Vamos tensionar todos os músculos do corpo, um por um, e mantê-los tensos até relaxarmos todo o nosso corpo em uma só respiração. Não aperte os músculos para que não tenha cãibra, somente retese-os ligeiramente.

“Comece com os dedos do pé. Tensione os dedos do pé direito… e, agora, do pé esquerdo. Tensione o pé direito… e o pé esquerdo. O calcanhar direito… e o calcanhar esquerdo…

(Continue passando por todo o corpo, parte por parte. De vez em quando, relembre o grupo para que tensione quaisquer músculos que deixaram soltos.)

“Agora, tensione seu couro cabeludo. Todo seu corpo está tenso… sinta a tensão em cada parte. Tensione quaisquer músculos que estejam afrouxados. Agora, respire fundo… aspire… (pausa)… expire… e relaxe!

“Relaxe completamente. Você está completa e totalmente relaxado.” (Em tom de melopéia:) “Os dedos de sua mão estão relaxados e os dedos do seu pé estão relaxados. Suas mãos estão relaxados e seus pés estão relaxados. Seus pulsos estão relaxados e seus calcanhares estão relaxados.”

(E assim por diante, por todo o corpo. Periodicamente, pare e diga:)

“Você está completa e totalmente relaxado. Completa e totalmente relaxado. Seu corpo está leve; como se fosse água, como se estivesse desmanchando na terra.

“Permita-se ser levado e vagar tranqüilamente em seu estado de relaxamento. Se quaisquer preocupações e ansiedades perturbarem a sua paz, imagine-as escoando do seu corpo como água e fundindo-se à terra. Sinta-se sendo purificado e renovado.”

(Permaneça em estado de relaxamento profundo por uns 10 ou 15 minutos.É bom praticar esse exercício diariamente, até que seja capaz de relaxar completamente só pela razão de deitar-se e soltar-se, sem necessidade de passar por todo o processo. Pessoas que têm dificuldade para dormir verificarão a eficácia desse exercício. No entanto, não se permita adormecer. A sua mente está sendo treinada para ficar relaxada mas alerta. Posteriormente, você utilizará esse estado para trabalhos de transe, que é muito mais difícil se você não tem o hábito de permanecer acordado. Se você pratica à noite, antes de dormir, sente-se, abra os olhos, e, conscientemente, termine o exercício antes de dormir.)

#meditação #oalvorecer

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/controle-do-corpo-respira%C3%A7%C3%A3o-diafragm%C3%A1tica-e-relaxamento

Branca de Neve e os sete pecados capitais

“Uma vez, no auge do inverno, quando flocos de neve caem como plumas das nuvens, uma rainha estava sentada à janela de seu palácio, costurando as camisas de seu marido. Nisto, levantou os olhos, espetou um dedo e caíram gotas de sangue na neve. E vendo o vermelho tão bonito sobre o branco, a rainha pensou:– Queria ter uma filha tão alva quanto a neve, tão vermelha como este sangue e tão negra como o ébano desta janela. Pouco tempo depois lhe nasceu uma filha que era branca como a neve, vermelha como o sangue e com uns cabelos negros como ébano. Por isso lhe puseram o nome de Branca de Neve. Mas, quando ela nasceu, a mãe morreu…”

Assim começa um dos mais famosos contos de fadas para crianças… mas será mesmo que a Branca de Neve foi escrito originalmente como uma inocente conto para colocar pequerruchos insones na cama?

Acompanhe a versão original e o simbolismo profundo por trás de um dos contos favoritos do tio Marcelo, e também do tio Walt Disney.

Logo de saída, a história de Branca de Neve nos indica que o ponto de vista a ser tomado para entendê-la mais profundamente é, sem dúvida, o iniciático. Chama atenção que o personagem central, Branca de Neve, sintetize em si as três cores que simbolizam, no Hermetismo, as três etapas da prática espiritual estabelecida por aquela doutrina: o negro, o branco e o vermelho, que correspondem respectivamente, ao Nigredo, Albedo e Rubedo dos alquimistas. Além disso, os sete anões, que trabalham numa mina buscando ouro, são uma clara alusão a outro aspecto do simbolismo alquímico, que nos informa ser a meta do alquimista a transformação dos metais impuros em ouro.

Não é também por acaso que a história se divide claramente em três partes. Na primeira, Branca de Neve vive no castelo comandado pela rainha má desde o nascimento (Malkuth) até quando foge do caçador pela floresta; na segunda, vive na casa dos sete anões até se engasgar com a maçã envenenada; na terceira, vive no castelo do príncipe unida com ele, “felizes para sempre”. É evidente aqui a aplicação do simbolismo do número três aos graus do conhecimento e, por extensão, às três fases da realização na via espiritual.

A essência e o objetivo da via espiritual iniciática é a união com Deus. Essa união só é possível porque ser homem é sê-lo à imagem e semelhança de Deus. O mito de Adão (Hochma) e Eva (Binah) nos ensina que, depois da queda, este aspecto essencial do humano tornou-se ineficiente. Por isso, toda e qualquer tentativa de reintegração da forma humana no seu Arquétipo infinito e divino, (a tal da volta ao Paraíso), só é possível se antes for regenerada à pureza do estado original humano. Por conta disso, chegamos à máxima alquímica da “transmutação do chumbo em ouro”, que nada mais é do que a reintegração da natureza humana na sua nobreza original.

Comparando a história da Branca de Neve com a mitologia Bíblica, de modo análogo ao relato do Gênesis, o conto diz que, no princípio, viviam em harmonia complementar um par de opostos, o Rei e a Rainha-Mãe boa. (novamente: Adão e Eva primordiais, ou Hochma e Binah, além do Abismo).

Com a morte da Rainha-Mãe e após o nascimento de Branca de Neve instaura-se um desequilíbrio, uma espécie de afastamento da unidade, que é representado pela chegada da rainha má (o Demiurgo). Assim, depois da morte da mãe, Branca de Neve perde sua dignidade de princesa no castelo do pai e se torna uma serva da madrasta má. Branca de Neve, apesar de ter a marca das três cores, que a qualifica como um ser especial, cai numa função subalterna dentro do mundo profano, marcado pela dualidade, pela dispersão, pelas paixões e dominado pela rainha má (que simboliza ao mesmo tempo as paixões vis e a Igreja dogmática). O conto nos mostra que é necessário reunir em si o disperso, reintegrar-se em retiro além da floresta e nas montanhas, para depois se unir ao Espírito, que aqui é sem dúvida figurado pelo Príncipe (Tiferet, ou o espírito Crístico).

A rainha madrasta descobre que Branca de Neve é a mais bela quando esta última faz sete anos. A rainha má é obcecada com a comparação quantitativa do aspecto estético (beleza física) e, portanto, apenas sensorial da realidade (Malkuth, a Matrix… vocês entenderam…). Ela é incapaz de perceber qualquer beleza interior. A unidade do belo, do bem e da verdade que todas as tradições religiosas e filosóficas sérias proclamam não existe na rainha má, por causa de uma concentração exagerada da inteligência dela no aspecto mais externo da realidade material (a ciência).

No íntimo do ser humano, o bem é bonito e o belo é verdadeiro. Significativamente, e por compensação, a rainha má manda um caçador matar Branca de Neve e trazer-lhe o coração, para que ela o coma. O coração, que no simbolismo astrológico e cabalístico é representado pelo Sol, e no alquímico pelo ouro, é considerado, nas mais diversas tradições, a morada do espírito, o centro (anatômico e simbólico) do ser onde habita o divino. No entanto, o coração que a rainha come (ou que ela pode comer) é o de um animal, que o caçador compadecido sacrifica no lugar de Branca de Neve. Consciente, daí por diante da enorme ameaça de destruição existente no mundo da rainha, e insatisfeita com ele, a alma qualificada (Yesod) foge correndo pela floresta. Sua vida acaba num mundo e se inicia em outro. Mas, essa iniciação não acontece antes que ela passe por uma provação que se revela, no fundo, uma purificação.

A floresta e as provas antes da iniciação

“A pobre Branca de Neve ficou sozinha, e transida de dor se pôs a caminhar, no escuro da floresta, por entre as árvores sem saber que rumo tomar. De repente começou a correr assustada com o barulho dos trovões, com o clarão dos relâmpagos e com a chuva que começava a cair. Correu saltando pedras e atravessando sarças; e os animais selvagens pulavam quando ela passava, mas não lhe faziam mal Ela correu até seus pés se recusarem a continuar, e como já era noite e viu uma choupana ali perto, entrou nela para descansar. Na choupana era tudo muito pequeno, porém nada podia ser mais limpo ou mais gracioso. No centro, via-se uma mesa coberta com uma toalha branca, e nela estavam sete pratinhos, cada um com sua colher, sua faca e seu garfo; havia também sete copinhos do tamanho de dedais. De encontro à parede se viam sete pequenos leitos, numa só fileira cobertos, cada um deles, com lençóis brancos como a neve.”

O texto parece sugerir que as provações iniciáticas são ritos preparatórios da iniciação propriamente dita. Elas representam uma preparação necessária, de tal forma que a iniciação mesma é como se fosse sua conclusão ou seu fim imediato. É bom lembrar que elas tomam a forma de viagens simbólicas em certas tradições (maçonaria, rosacruz, druidismo, wicca) e podem mesmo se apresentar como uma busca ou procura, que conduz o indivíduo das trevas do mundo profano para a luz da iniciação.

No fundo, as provações são essencialmente ritos de purificação; e essa é a explicação verdadeira para essa palavra num sentido claramente alquímico. A corrida de Branca de Neve pela floresta representa de modo muito preciso exatamente isso: uma viagem do mundo profano – figurado pelo castelo da rainha má, que é um mundo de maldade e mentira, o reflexo da mentalidade dela mesma – até o local claro, limpo e protegido, nas montanhas, onde se localiza a casa dos sete anões. É uma viagem do mundo exterior para um outro interior, onde ela vai encontrar e aprender a lidar com as sete faculdades de conhecimento corporal que estão esquecidas no mais íntimo dela mesma (os tais sete pecados capitais).

A chuva que aparece na nossa história mostra que o essencial nos ritos de purificação é que eles operam pelos “elementos”, entendidos no sentido cosmológico do termo, pois que elemento implica em ser simples; e dizer simples é o mesmo que dizer incorruptível. A água é um dos elementos mais usados nos ritos de purificação de quase todas as tradições (ver batismo egípcio, pela qual até mesmo Yeshua passou, e o batismo copiado em todas as tradições católicas/cristãs/essênias).

Talvez porque ela simbolize a substância universal. Notem a presença da limpeza e da cor branca na casa dos anões, indicadoras de que, depois da corrida pela floresta, a purificação se completou.

A casa dos anões é o Plano Mental, na qual todas as batalhas pela evolução do ser serão travadas até a conclusão do conto.

“Depois, estava tão cansada que se deitou numa das camas, mas não se sentiu à vontade. Experimentou outra e era muito comprida; a quarta era muito curta; a quinta dura demais; porém, a sétima era exatamente a que lhe convinha, e metendo-se nela se dispôs a dormir, não sem antes ter-se encomendado a Deus. Quando era noite regressaram os donos da choupana. Eram os sete anões que sondavam e perfuravam as montanhas em busca de ouro. A primeira coisa que fizeram foi acender sete pequenos lampiões, e imediatamente se deram conta – depois de iluminada toda a habitação – de que alguém havia entrado ali, já que não estava tudo na mesma ordem em que haviam deixado. (…) observando seus leitos gritaram: – Alguém deitou nas nossas camas! Mas, o sétimo anão correu à dele, e vendo Branca de Neve dormindo nela, chamou os companheiros que se puseram a gritar de assombro e levantaram seus sete lampiões iluminando a menina.”

Depreende-se desse trecho da história que, desde o ponto de vista das iniciações, a purificação tem como fim conduzir o ser a um estado de simplicidade indiferenciada comparável com o da matéria prima (ou pedra bruta), para usar uma expressão da alquimia, afim de que ele se torne apto a receber o Fiat Lux iniciático; é preciso que a influência espiritual, cuja transmissão vai dar a ele essa iluminação primeira, não encontre nenhum obstáculo devido a pré-formações desarmônicas provenientes do mundo profano (ou, em palavras mais claras, é necessário passar pelas provações dos sete planetas, por isso Branca de Neve deita-se em todas as camas). Relaxada e entregue, Branca de Neve não oferece nenhuma resistência à luz dos sete lampiões dos anões.

Os anões

Abandonar o mundo escuro e encontrar a luz tem suas conseqüências. Existem algumas indicações, sobre quais são essas conseqüências da “saída da floresta escura”. Nos primeiros versos do Inferno, na Divina Comédia de Dante Alighieri (outro grande iniciado: um dia vou explicar para vocês o real significado deste maravilhoso texto medieval), ele mesmo informa que a floresta representa o estado de vício e ignorância do homem. Estar perdido na floresta é o mesmo que estar perdido no labirinto da multiplicidade da manifestação (“Labirinto do Fauno”, anyone?).

Ora, a saída da floresta escura, ou, o que dá no mesmo, a morte ao mundo profano, implica logicamente numa mudança de mentalidade que surge como a primeira parte da fase inicial de mudança no direcionamento geral do ser, que é necessária para alcançar um grau mais elevado de clareza e iluminação. É evidente que a primeira providência prática, para alcançar essa mudança mental, está na revisão dos pontos de vista e das convicções pessoais, dos hábitos mentais, dos coágulos das emoções negativas, etc, etc. etc… ou seja, lapidar a pedra bruta até chegar ao elixir da longa vida.

Por isso mesmo, Branca de Neve deve se submeter a certas condições para poder ficar na casinha dos anões. As condições para ela ficar na casa eram: primeiro, seguir os conselhos deles para não abrir a porta para ninguém, porque a rainha má com o poder de se disfarçar e enganar, poderia atacá-la e matá-la; e segundo, manter a casinha sempre limpa e arrumada. Essa disciplina (em Branca de Neve) e essa limpeza interior (na casa dos anões, que representa nossa mente) são um espécie de treino para dominar todas as tendências obscuras e irracionais da alma, ambas necessárias para a realização do ouro interno, na sua pureza e luminosidade imutáveis. Isto corresponde ao que a alquimia chama de “extração dos metais nobres a partir dos metais impuros por meio da intervenção dos elementos solventes e purificadores, como o mercúrio e o antimônio, em conjunção com o fogo, e que se efetua inevitavelmente contra a resistência e a revolta das forças caóticas e tenebrosas da natureza” (bonito este texto, não?),

Ora, crianças… os anões são os conhecedores da técnica que permite a realização desse trabalho, porque eles sabem extrair ouro da montanha (aliás, a “montanha” será outro objeto de análise assim que eu voltar da Bienal do Livro). Na alma do homem são como que lampejos primitivos de consciência, de iluminação e de revelação. Anões são os gênios da terra, os famosos gnomos (e sim, eles existem mesmo… não como essas baboseiras pseudo-new-ages os retratam, mas um dia falo mais sobre eles).

Como o texto nos diz que são sete, eles correspondem exatamente aos sete metais/planetas que os alquimistas designavam pelos mesmos símbolos usados na astrologia para os sete planetas. Sol – ouro, Lua – prata, Mercúrio – mercúrio, Vênus – cobre, Marte – ferro, Júpiter – estanho e Saturno – chumbo. Essas correspondências colocam em evidência a relação que existe entre a alquimia e a astrologia e que se fundamenta no princípio que a Tábua de Esmeralda exprime assim: “O que está embaixo é semelhante ao que está em cima“. Por isso, Saturno, que é o planeta mais alto para Astrologia pois corresponde ao sétimo céu, eqüivale, na alquimia, ao chumbo, que está no ponto mais baixo da hierarquia. A hierarquia dos planetas é ativa, enquanto a dos metais é passiva.

No próprio filme da Disney, alguns dos anões representam estas características dos metais e dos planetas, como por exemplo, Mestre/Doc – O mais velho dos anões, representa o Sol, o líder. Feliz/Happy – representa a bonança e a fartura de Júpiter, gordinho e feliz. Juntos são os dois anões mais gordinhos na concepção de Disney. Em seguida temos Zangado/Grumpy representando a Ira de Marte, Dengoso/Bashful representando a beleza de Vênus, Soneca/Sleepy representando a Lua e seu pecado capital Preguiça, Atchim/Sneezy representando as atormentações de Saturno e Dunga/Dopey – Mercúrio, o mais rápido dos planetas, e também o menorzinho deles.

Mas, voltemos à parte do texto que descreve na linguagem simbólica e, portanto, mais rica do conto original:

“Quer ser encarregada de nossa casa? Será nossa cozinheira, fará as camas, lavará a roupa, coserá, fará meias para nós e conservará tudo limpinho e arrumado. Se trabalhar bem ficaremos com você, não terá falta de nada e será nossa Rainha. Branca de Neve respondeu: – Aceito, de todo meu coração! E foi assim que ela ficou com os anõezinhos e tomou conta da casa deles. De manhã os anões saiam pelas montanhas para procurar ouro, e quando regressavam, à noite, encontravam a comida preparada. Durante o dia a menina ficava sozinha, e por isto os anões nunca deixavam de lhe dizer quando saiam: – Tome cuidado com sua madrasta, que mais cedo ou tarde acabará sabendo que você está aqui, e não deixe entrar ninguém.”

O tempo que Branca de Neve fica na casa dos anões é um tempo de treinamento, disciplina interior e aprendizado. É nesse período, durante o qual acontecem seus três perigosos encontros com a madrasta disfarçada, que ela aprende a usar a sabedoria representada pelos anões (que no fundo está nela mesma) para lidar com os elementos ainda não ordenados que tem dentro de si.

As práticas ou rituais – implícitas no processo iniciático – preparam para o contato com o poder unificador do Espírito (Tiferet, a iluminação), cuja presença exige que a substância psíquica tenha se tornado um todo unificado. Os elementos mais ou menos dispersos de nossa personalidade mundana são, desse modo, compelidos a juntar-se. E, alguns deles chegam enraivecidos, vindos de lugares ocultos, remotos ou obscuros com os poderes inferiores ainda agarrados a eles. É mais correto dizer, neste caso, que é o inferno que ascende do que afirmar que é o praticante que desce nele.

Quem sai do seu castelo enraivecida pela inveja e vai procurar Branca de Neve é a Madrasta, e não o contrário! Essa guerra das forças inferiores conduz a uma verdadeira batalha que tem a alma como campo de luta (a tal simbologia da luta entre o “céu” e o “inferno” pelas nossas almas.

As três tentativas da rainha má para matar Branca de Neve mostram, que no começo do caminho os elementos psíquicos pervertidos estão de certo modo adormecidos e afastados do centro da consciência, do mesmo modo que a madrasta está no castelo, longe da casa dos anões. Eles devem ser primeiramente acordados, pois não podem ser redimidos e transformados dentro do seu sono. E é no momento em que despertam, num estado de ódio enfurecido contra a nova ordem, que existe sempre o risco de que eles se apossem de toda a alma. O que não acontece no conto porque os anões, que são as partes de conhecimento da alma, não são atingidos pela rainha e por isso salvam a princesa nas duas ocasiões em que a madrasta disfarçada tenta matá-la. A primeira através de sufocação com um espartilho apertado e a segunda com um pente envenenado na cabeça (estas partes acabaram ficando de fora da versão de desenho animado, mas constam da versão original do conto).

Esses episódios são descrições simbólicas da transformação do metal vil em metal nobre. As faculdades corporais de conhecimento, representadas pelos anões, começam a atuar de modo consciente e é através de seu uso que Branca de Neve se salva por duas vezes.

A morte de Branca de Neve

A palavra morte deve ser compreendida neste caso no seu sentido mais geral, segundo o qual pode-se dizer que toda a mudança de estado, qualquer que seja, é ao mesmo tempo uma morte em relação a um estado antecedente e um nascimento em relação ao estado seguinte (como no mito da Fênix).

A iniciação é geralmente descrita como um segundo nascimento que implica, logicamente, na morte para o mundo profano. É bom lembrar que toda mudança de estado deve se passar nas trevas, no escuro, o que explica o simbolismo da cor negra quando relacionada a esse assunto. O candidato à iniciação deve passar pela obscuridade completa antes de alcançar a verdadeira luz. É nesta fase de obscuridade que se dá a chamada “descida aos infernos”, que é uma espécie de recapitulação dos estados antecedentes, através da qual as possibilidades relacionadas ao estado profano serão definitivamente esgotadas, afim de que o ser possa, daí por diante, desenvolver livremente as possibilidades de ordem superior que ele carrega consigo e cuja realização pertence propriamente ao domínio iniciático.

No nosso conto, Branca da Neve “morre” ou muda de estado, depois que come uma maçã. Come? Não. Ela se engasga. Os anões conseguem ressuscitar Branca de Neve por duas vezes, mas não são competentes para fazê-lo quando se trata da maçã porque, como explicaremos em seguida, a maçã representa, não uma provação de ordem corporal, e sim uma do domínio da inteligência, pois que a maçã é o fruto símbolo do conhecimento.

A maçã

Desde a maçã de Adão e Eva até o pomo da Discórdia, passando pelo pomo de ouro do jardim das Hespérides, encontramos, em todas as circunstâncias, a maçã como um meio de conhecimento. Ela está carregada de duplicidade pois, ora é o fruto da Árvore da Vida que está no meio do Paraíso e ora é o fruto da Árvore da Ciência do bem e do mal que, paradoxalmente, lá também se encontra. Pode ser, portanto, conhecimento unificador que confere a imortalidade ou conhecimento desagregador que provoca a queda.

Se examinamos seu simbolismo, também, desde o ponto de vista de sua estrutura física, podemos constatar novamente essa duplicidade característica dos meios de conhecimento. Assim, ela é símbolo do conhecimento, pois um corte feito perpendicularmente ao eixo revela que, no seu íntimo, está um pentagrama, símbolo tradicional do saber, desenhado pela própria disposição das sementes (faça o teste em casa, crianças!). Por outro lado, o pentagrama é também um símbolo do homem-espírito e desde esse ponto de vista ela indica, ao mesmo tempo, a involução do espírito dentro da matéria.

“A Rainha disfarçada bateu à porta, e Branca de Neve enfiou a cabeça e disse:

– Não posso deixar ninguém entrar. Os sete anões me proibiram isso.
– Pior para mim, disse a velha, pois terei de voltar para casa com minhas maçãs. Mas, olhe, eu lhe dou esta de presente.
– Não tenho coragem de comer, respondeu Branca de Neve.
– Será que está com medo? gritou a velha.
– Olhe vou parti-la em duas metades; você come a parte de fora e eu comerei a de dentro. ( A maçã estava preparada com tanta habilidade que só as partes vermelhas estavam envenenadas).”

Os anões não enterraram Branca de Neve, mesmo depois que a encontraram envenenada pela maçã e não conseguiram ressuscitá-la, porque depois de passar por essa fase, Albedo, não se volta mais ao Nigredo, pois o processo segue em frente para o Rubedo, que é a união com o Espírito representado pelo príncipe. As cores alquímicas e seu simbolismo (indicadas também pelas aves que lamentam Branca de Neve) são claramente mostradas no texto abaixo:

“Quando os anõezinhos regressaram à noite encontraram Branca de Neve estendida no chão e aparentemente morta. Levantaram-na e procuraram nela alguma coisa venenosa, desapertaram-lhe o vestido e até lhe despentearam os cabelos e a lavaram com água e vinho. Mas, de nada serviu. A querida menina parecia realmente morta. Estenderam-na então num ataúde e os sete anões colocaram-se à sua volta e choraram sem cessar durante três dias e três noites. Depois quiseram enterrá-la, mas vendo-a tão fresca e com as faces tão coradas disseram uns para os outros:

– Não podemos enterrá-la na terra negra.

E encomendaram uma caixa de cristal transparente. Através dela se via o corpo de Branca de Neve por todos os lados e os anões escreveram seu nome em letras douradas no vidro, dizendo que ela era filha de um rei. Depois colocaram a caixa de cristal no alto de uma rocha e sempre ficava ali um deles vigiando. Até os animais selvagens lamentaram a perda de Branca de Neve: primeiro chegou um bufo, depois um corvo e por último uma pomba. Durante muito tempo Branca de Neve permaneceu placidamente estendida em seu féretro. Nada mudou em seu rosto e parecia que estava adormecida, pois continuava negra como ébano, branca como a neve, vermelha como o sangue.”

Como dissemos acima, a maçã é um símbolo do Mundo. Mas, o que a rainha má oferece a Branca de Neve é APENAS o aspecto mais externo, mais atraente e venenoso deste Mundo com o qual ela tem que entrar em contato para dominá-lo (novamente, temos um paralelo com Matrix). A história nos conta que, apesar de aparentemente morta, Branca de Neve mantinha o mesmo frescor de pele e a beleza luminosa do tempo em que estava viva. Isso nos indica que a alma, com o corpo transfigurado e dissolvido nela, está pronta para que o Espírito aja sobre ela e a torne indestrutível.

“Passaram-se meses, e aconteceu que o filho do rei viajava pelo bosque, e entrou na casa dos anões para passar a noite. Não tardou a dar-se conta do ataúde de cristal no alto da rocha, contemplou nele a bela jovem que repousava, e leu a inscrição dourada. Depois que leu, disse, dirigindo-se aos anões:

– Dêem-me esta caixa, e pagarei o quanto quiserem por ela.
Mas os anões responderam:
– Não venderemos nem por todo o ouro do mundo.
– Então quero-a de presente, disse o príncipe, porque não poderei viver sem Branca de Neve.

Os anões vendo a ansiedade com que ele fazia o pedido, ficaram compadecidos, e acabaram entregando a caixa, e o príncipe ordenou a um dos seus servos que a carregasse nos ombros. Mas, aconteceu que este tropeçou numa raiz, e com o baque, saltou no chão o pedaço da maçã envenenada que estava na boca de Branca de Neve. Imediatamente esta abriu os olhos e levantando a tampa da caixa de cristal, voltou a si, e perguntou:
– Onde estou eu ?
– Está salva e a o meu lado! respondeu o príncipe cheio de alegria. E lhe contou o que havia sucedido, terminando por lhe suplicar que o acompanhasse ao castelo do rei seu pai, pois ele a queria para esposa. Branca de Neve aceitou, e quando chegaram ao palácio celebraram-se as bodas o mais rapidamente possível, com o esplendor e magnificência adequados a tão feliz sucesso.”

O pedaço da maçã, que Branca de Neve não engoliu e, portanto, não se tornou parte dela é um último vestígio do mundo que nela se mantinha, de certo modo, sobreposto. Ele é retirado com a presença do príncipe. O Espírito, então, dá a forma final à alma.

Existe uma versão do conto, bem antiga, na qual o Príncipe mantém relações sexuais com a Branca de Neve e o movimento da transa é que faz o pedaço de maçã escapar da garganta da princesa. Esta versão é mais interessante do ponto de vista do Hieros Gamos, mas certamente daria alguns problemas com a censura se estivesse no desenho da Disney.

E a Rainha má?

“A rainha má a princípio resolveu não ir às bodas, mas depois não pode resistir ao desejo de ver a jovem Rainha, e, quando entrou e reconheceu Branca de Neve, de tanta raiva, e de tanto assombro, ficou como pregada no chão. Levaram-lhe então, seguros por uma tenazes, uns sapatos de ferro, aquecidos em brasa, e com eles a rainha teve que bailar até cair morta.”

O mundo manifestado, feito de agitação e desejo, esgota-se em seu próprio movimento, quando posto em frente da unidade do Espírito. O casamento, símbolo da unidade e do encontro dos opostos toma aqui uma acepção específica: é a união da alma com Espírito. União, impossível de acabar porque é feita de uma felicidade absoluta que está além e acima da matrix. Por isso todos os contos iniciáticos acabam com a expressão “e viveram felizes para sempre.”

É bom lembrar que o sapato tem entre suas acepções simbólicas duas principais: é, primeiramente, representação do viajante e, portanto, do movimento. Simboliza não só a viagem para o outro mundo, mas a caminhada em todas as direções, neste mundo mesmo. Em segundo lugar, é uma prova da identidade da pessoa, como em Cinderela, que é reconhecida pelo príncipe porque seu pé cabe num sapatinho de cristal.

Na história de Branca de Neve, o pé da rainha má cabe num sapato de ferro em brasa. Enquanto a delicadeza do cristal é a marca da identidade de Cinderela (outro dia eu falo sobre Cinderela), a rainha má é reconhecida pelo peso, dureza e densidade do ferro.

O símbolo deve pertencer sempre de uma ordem inferior à daquilo que é simbolizado; assim as realidades do domínio corporal, que são as de ordem mais baixa e mais estreitamente limitadas, não são simbolizadas por coisa alguma porque tal símbolo é completamente desnecessário, já que elas podem ser apreendidas diretamente por qualquer um. Por outro lado, qualquer fenômeno ou acontecimento, (por mais insignificante que seja), devido à correspondência que existe entre todas as ordens de realidade, pode ser tomado como símbolo de algo de ordem superior, da qual ele é de certo modo uma expressão sensível, pois que deriva dela do mesmo modo como uma conseqüência deriva de seu princípio.

Agradecimentos ao irmão astrólogo Cid de Oliveira pelo texto original que eu expandi e adicionei comentários meus.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/branca-de-neve-e-os-sete-pecados-capitais

Teoria da Magia – II – Sistemas Mágicos

SISTEMA DA GOLDEN DAWN (AURORA DOURADA):

É uma fusão rígida da Cabala prática com a Magia Greco-Egípcia. Seu sistema complexo de Magia Ritual é firmemente baseado na tradição medieval Européia. Há uma grande ênfase na Magia dos Números. Os paramentos rituais são de uma impressionante riqueza simbólica, bem como os rituais são bastante variados de acordo com a finalidade e o grau mágico dos participantes. Suas iniciações são por graus, começando pelo Neófito (0=0), indo até os graus secretos (6=5 e 7=4), alcançados, e conhecidos, por poucos; até a bem pouco tempo, fora da Ordem pensava-se ser o 5=6 o grau máximo da Aurora Dourada. Curioso que na Golden Dawn não se praticava (nem se aceitava) a Magia Sexual.

Deste Sistema propagou-se o uso de Sigilos e Pantáculos, bem como ressurgiu o interesse pela Cabala, Numerologia, Astrologia e Geomancia. Além disso, sua interpretação e simplificação do Sistema-dos-Tattwas do livro “As Forças Sutis da Natureza” de autoria de Rama Prasad, permitiu uma grande abertura. Uma das mais importantes adições ao ocultismo ocidental, dada pela Golden Dawn, foi através de seu método de “Criação de Imagens Telesmáticas” (sobre o assunto, ver o texto relativo ao mesmo).

SISTEMA THELÊMICO (THELEMA, ALEISTER CROWLEY):

Criado acidentalmente (foi a partir da visita de uma Entidade que Aleister Crowley tomou o direcionamento que o faria criar este sistema), este Sistema original é, atualmente, um dos mais comentados e pouco conhecidos. Tendo como ponto de partida o “LIBER AL VEL LEGIS” (O LIVRO DA LEI), ditado por uma Entidade não-humana (o Deus Egípcio HÓRUS, Deus da Guerra), o sistema Thelêmico ampliou suas fronteiras, fazendo uma revisão na Magia Ritual, na Magia Sexual e nas Artes Divinatórias. Faz uso, a “Corrente 93”, das Correntes Draconiana, Ofidioniana e Tifoniana.

Thelema, em grego, significa vontade.

Os Thelemitas reconhecem como equivalente numerológico cabalístico o número 93. Os Thelemitas chamam aos ensinamentos contidos no “LIVRO DA LEI”(THE BOOK OF THE LAW) de “Corrente 93”. As duas frases mágicas dos Thelemitas são “FAZ O QUE TU QUERES POIS É TUDO DA LEI” (“DO WHAT THOU WILT SHALL BE THE WHOLE OF THE LAW”) e “AMOR É A LEI, AMOR SOB VONTADE” (“LOVE IS THE LAW, LOVE UNDER WILL”), que dizem respeito aos mais sublimes segredos do “LIVRO DA LEI”. As músicas “A LEI” e “SOCIEDADE ALTERNATIVA”, de autoria de Raul Seixas, definem bem a filosofia Thelemita, que não tem nada a ver com as bobagens que andam dizendo por aí. Rituais importantes são realizados nos dois solstícios e nos dois equinócios, o que demonstra uma influência da Bruxaria.

Aleister Crowley foi iniciado na Golden Dawn; associou-se, após abandonar a mesma, com a A.:A.: (ARGENTUM ASTRUM, ESTRELA DE PRATA), também chamada de GRANDE FRATERNIDADE BRANCA, e com a O.T.O. (ORDO TEMPLI ORIENTIS, ORDEM DOS TEMPLOS DO ORIENTE), as quais ele moldou de acordo com suas crenças e convicções pessoais. Muitos confundiram Thelema com Satanismo, o que é um imenso engano. Há muitas Ordens Thelêmicas, como a O.R.M (Ordo Rosae Misticae), por exemplo, que seguem a filosofia básica, mas com ditames próprios – como utilizar uma “Árvore da Vida” com doze “esferas” (fora Daath), o que resulta num Tarot com 24 Arcanos Maiores.

Há, porém, uma cisão da O.T.O, a O.T.O.A. (Ordo Templi Orientis Antigua, Ordem dos Templos do Oriente Antiga), ocorrida quando Aleister Crowley assumiu a “direção” da O.T.O. mundial; a O.T.O.A. mantém-se fiel à tradição pré-crowleyana, contendo em seu cabedal muitos ensinamentos do VUDÚ Haitiano. A O.T.O.A. é dirigida por Michael Bertiaux, cuja formação mágica é Franco-Haitiana. Foi ele, aliás, quem introduziu os ensinamentos de Crowley na O.T.O.A., tornando-a, assim, uma das Ordens Mágicas com maior quantidade de ensinamentos a dar. A O.T.O.A., além das Correntes citadas acima (Draconiana, Ofidioniana e Tifoniana), também faz uso da Corrente Aracnidoniana. O sistema da O.T.O. também funciona por graus, indo desde o grau Iº até o VIIº, com muita teoria; daí, vem os graus realmente operativos, o VIIIº (Auto-Magia Sexual), o IXº (Magia Heteroerótica) e o XIº (Magia Homoerótica); existe ainda o grau Xº, que não é porém um grau mágico, mas político-administrativo, sendo seu portador eleito pelos outros portadores dos graus IXº e XIº (o candidato a grau X deverá ser um deles), tornando-se o líder nacional da Ordem. Aleister Crowley era portador do grau-mágico XIº da O.T.O..

SISTEMA AURUM SOLIS:

Uma variação do Sistema da Golden Dawn, bastante completo, tendo como principal adição ao Sistema mencionado, o uso de práticas de Magia Sexual – muito embora seus métodos dessa forma de Magia não pareçam ser muito potentes. Mas contém no seu bojo todo o material técnico da Golden Dawn, exceto ter realizado uma simplificação na simbologia dos paramentos. Este grupo é liderado pelos renomados ocultistas Melita Denning e Osborne Phillips.

SISTEMA SALOMÔNICO (de SALOMÃO):

Basicamente consiste no uso de Sigilos e Pantáculos de Inteligências Planetárias, que serão Evocadas, ou Invocadas sobre Talismãs e Pantáculos.

É um sistema importante que foi aproveitado por quase todas as Ordens Ocultas hoje em atividade.

SISTEMA DA MAGIA PLANETÁRIA:

Criado pelo grupo “Aurum Solis”; baseia-se em rituais destinados a Evocar ou Invocar os “Espíritos Olímpicos”, Entidades Planetárias (Inteligências), ou Arquétipos (dos Arcanos do Tarot, Seres ou Deuses/Deusas Mitológicos, entre outros). É um sistema prático, completo, eficiente, de poucos riscos e fácil de colocar em prática.

SISTEMA SANGREAL:

Criado pelo famoso ocultista William G. Gray, é um Sistema que busca fundir a Tradição Ocidental em suas principais manifestações: a Cabala e a Magia. Na verdade, a Cabala aqui abordada é a teórica, que aliás é utilizada em todas as Escolas de Ocultismo, exceto aquelas que abraçam o Sistema de Cabala Prática de Franz Bardon, do Sistema Hermético. Apesar disso, é um Sistema bastante completo e racional, que tem fascinado os mais experientes e competentes ocultistas da atualidade. A obra de W.G.Gray é extensa mas não excessiva, o que contribui para facilitar o estudo deste Sistema.

Sua principal característica é a de “criar” (dentro de cada praticante) um “sistema solar em miniatura”. A partir daí, cada iniciado trabalha em seu Microcosmos e no Macrocosmos de forma idêntica.

SISTEMA DOS TATTWAS:

É um método de utilização dos símbolos gráficos orientais representantes dos cinco elementos (Éter/Akasha, Fogo, Água, Ar, Terra). Usa-se o desenho pertinente como forma de meditação e expansão da mente – transformando-se, mentalmente, o desenho em um “portal”, daí penetrando nesse “portal”, indo dar, mentalmente, em outras dimensões. É um eficiente método de auto-iniciação.

SISTEMA DE PATHWORKING:

Idêntico em tudo ao Sistema dos Tattwas, exceto que utiliza-se desenhos relativos às Esferas e Caminhos (“Paths”, daí o nome) da Árvore-de-Vida, que é um hieróglifo cabalístico. Pode-se, alternativamente, utilizar-se de Sigilos de diversas Entidades (visando “viajar” para as paragens habitadas por aquelas), ou até mesmo Vévés (Sigilos do Vudú), com a mesma finalidade – a auto-iniciação.

SISTEMA SATANÍSTICO (SATANISMO):

É um fenômeno cristão; só existe por causa do Cristianismo. Baseia-se no dualismo Deus-Diabo, presente em tantas culturas; no dualismo Bem-Mal, presente no inconsciente coletivo. Historicamente, o Satanismo como culto organizado nunca existiu, até a criação da Igreja de Satã, fundada em 30 de Abril de 1966, por Anton Szandor La Vey, na Califórnia, Estados Unidos. A partir de então, o Satanismo passou a contar com rituais específicos, buscando criar versões próprias da Magia Ritual e da Magia Sexual, além de ter sua própria versão da Missa Católica, chamada MISSA NEGRA. Basicamente, tudo como convencionou-se chamar de Magia Negra (submeter os outros a nossa vontade, causar enfermidades, provocar acidentes ou desgraças e até a mesmo a morte dos outros, obter vantagens em questões legais, em assuntos ilegais ou imorais, corromper a mente alheia, etc.), tem lugar entre os Satanistas. Na corrente da Igreja de Satã, não se prega o sacrifício animal, substituído pelo orgasmo sexual; o sacrifício humano inexiste, ao menos com a pretensa vítima “ao vivo” – é aceitável realizar um ritual visando a morte de outrem, que, então, será uma “vítima sacrificial”, embora não seja imolada num altar, á lá alguns Satanistas que praticam a imolação de pessoas. Portanto, os Satanistas modernos podem vir a realizar sacrifícios humanos, desde que sejam apenas na forma de rituais representados de forma teatral. Isto é, o sacrifício é de forma simbólica apenas.

Os ensinamentos de La Vey baseiam-se nos de Aleister Crowley, Austin Osman Spare, O.T.O. e F.S. (Fraternitas Saturni), além de fazer extenso uso das “Chamadas Enoquianas”.

O Satanismo de La Vey é um culto organizado, nada tendo a ver com os Satanistas que, volta e meia, são manchete dos noticiários.

Basicamente, a crença do Satanista dividi-se em três pontos:

1) O Diabo é mais poderoso que Deus;

2) aqueles que praticam o mal pelo mal, estão realizando o trabalho de Satã, sendo, portanto, seus servidores;

3) Satã recompensa seus servidores com poderes pessoais e facilita-lhes satisfazer e realizar seus desejos.

Satanistas verdadeiros são raros, a grande maioria dos que se dizem tal são simplesmente pessoas possuídas por forças desconhecidas que invocaram – e seu destino será a cadeia, o manicômio ou a tumba, depois do suicídio.

Satanismo não é Luciferianismo. Ver mais abaixo “Luciferianismo”.

SISTEMA DA MAGIA SAGRADA DE ABRAMELIM (OS QUADRADOS MÁGICOS):

Um tipo de Magia Ritual cujo alvo principal é a conversação com o próprio Anjo da Guarda; depois, se fará uso de uma série de Quadrados Mágicos que evocam energias diversas. É um sistema poderoso e perigoso, no qual muitos experimentadores se “deram mal”, aliás, muito mal.

As instruções dadas no famoso livro que ensina este Sistema não devem ser levadas a cabo “ao pé da letra”, de forma irrefletida; deve-se, porém, ter total atenção aos ensinamentos, antes de colocar os mesmos em prática. Como em todos os textos antigos, aqui também muita coisa está cifrada ou velada.

Deste poderoso Sistema apareceram inúmeras práticas com “quadrados mágicos” que nada têm a ver com o Sistema ensinado nesta obra.

SISTEMA ENOQUIANO (MAGIA ENOQUIANA, ENOCHIAN MAGIC):

É um sistema simbolicamente complexo, que consiste na Evocação de Energias ou Entidades de trinta esferas de poder em torno da Terra. É um sistema poderoso e perigoso, mas já existem diversos guias prático no mercado, que permitem uma condução relativamente segura. Este Sistema foi descoberto por John Dee e Edward Kelley; posteriormente, foi aperfeiçoado pela Golden Dawn, por Aleister Crowley e seus muitos seguidores, entre eles vale destacar Gerald Schueler. Os “nomes bárbaros” a que se referem muitos textos de ocultismo são os “nomes de poder” utilizados neste Sistema Mágico. Aqui, trabalha-se num universo próprio, distinto daquele conhecido no Hermetismo e na Astrologia. Busca-se contato com Elementais, Anjos, Demônios e com o próprio Anjo da Guarda. Dizem alguns entendidos que a famosa “Arca da União” é o “Tablete da União”, peça fundamental deste Sistema. Esse “Tablete da União” encontra-se a disposição de qualquer Mago que cruze o “Grande Abismo Exterior”, após a passagem pelo sub-plano de ZAX, no Plano Akashico, Etérico ou “do Espírito”, local aonde estão situados os sub-planos LIL, ARN, ZOM, PAZ, LIT, MAZ, DEO, ZID e ZIP, os últimos entre os 30 Aethyrs ou sub-planos. Essa região é logo anterior ao último “anel pelo qual nada passa”, tudo isso dentro do conceito do Universo pela física enoquiana.

Para encerrar nossa abordagem sobre a Magia Enoquiana, um aviso:

Muito cuidado ao pronunciar qualquer palavra no idioma enoquiano, pois as mesmas tem muita força, podendo provocar manifestações nos planos sutis mesmo que as “chamadas” tenham sido feitas de forma inconsciente ou inconsequente.

SISTEMA DA BRUXARIA (WITCHCRAFT):

Até virem à luz os trabalhos de Gerald Gardner, Raymond Buckland e Scott Cuningham, não se podia considerar a Bruxaria um sistema mágico. As bruxas e os bruxos se reúnem nos “covens”, que por sua vez encontram-se nos “sabbats”, as oito grandes festividades definidas pelos solstícios, pelos equinócios, e pelos dias eqüidistantes entre esses. Os últimos são considerados mais importantes.

A Bruxaria é um misto de métodos de Magia clássica (Ritual, Sexual, etc.), com práticas de Magia Natural (uso de velas, incensos, ervas, banhos, poções, etc.), cultuando Entidade Pagãs em geral. Nada tem a ver com o Satanismo. Bons exemplos do que podemos chamar de Bruxaria, em língua portuguesa, estão no livro “BRIDA”, de autoria de Paulo Coelho. Aquilo lá descrito mostra bem o Sistema da Bruxaria, menos nítido, mas também presente nas suas outras obras. Pena a insistência de algumas pessoas em condenar a bruxaria a um lugar inferior entre os Sistemas Mágicos.

SISTEMA DRUIDA (DRUIDISMO):

Há muito em comum entre o Druidismo moderno e a Wicca (nome dado nos países de língua inglesa à Bruxaria). As principais diferenças residem na mitologia utilizada nos seus rituais (a Celta), além dos locais de culto (entre árvores de carvalho ou círculos de pedras). O Druidismo pode ser rezumido como um culto à Mãe Natureza em todas as suas manifestações rituais.

SISTEMA SHAMÂNICO (SHAMANISMO):

O Shamanismo é a raiz de toda forma de Magia. Floresceu pelo mundo todo, nas mais diversas formas, dando origem a diversos cultos e religiões. Sua origem remonta a Idade da Pedra, com inúmeras evidências disso em cavernas habitadas nessa era. O Shamanismo moderno está ainda embrionário, embora suas raízes sejam profundas e fortes. O Shaman é uma espécie de curandeiro, com poderes especiais nos planos sutis. O Shamanismo caracteríza-se pela habilidade do Shaman entrar em transe com grande facilidade, e sempre que desejado.

SISTEMA DEMONÍACO (GOETIA, GOÉCIA):

Consiste na Evocação das Entidades Demoníacas, Demônios, de habitantes da “Zona Mauva” ou das Qliphás. É uma variação unilateral da Magia Evocativa do Sistema Hermético. Obviamente é um Sistema muito perigoso.

SISTEMA SOLAR:

Aonde se busca, única e exclusivamente, o conhecimento e a conversação com o Anjo da Guarda.

SISTEMA BON-PO (BON-PA):

É um Sistema de Magia originário do Tibete. É uma seita de Magia Negra, com estreitas ligações com as Lojas da FOGC (Ordem Franco-Massônica da Centúria Dourada), sediadas em Munich, Alemanha, desde 1825, com outras 98 Lojas espalhadas por todo o mundo. Na O.T.O.A. faz-se uso de práticas mágicas Bon-Pa. Membros da seita Bon-Pa estiveram envolvidos com organizações sinistras, como a “Mão Negra”, responsável para Arquiduque Ferdinando da Áustria, o que precipitou o mundo na Primeira Guerra Mundial. Durante a era Nazista na Alemanha, membros da seita Bon-pa eram vistos frequentando a cúpula do poder. Outro nome pelo qual a seita Bon-Pa ou Bon-Po é conhecida é “A Fraternidade Negra”. Muitos chefes de Estado, artistas famosos e pessoas de destaque na sociedade, foram ou são vinculados à Bon-Pa ou à FOGC – através de “pactos” feitos com as Forças das Trevas. Vale notar que, na Alemanha Nazista, todas as Ordens Herméticas foram perseguidas e proscritas – exceto a FOGC. E, na China, após a tomada do poder por Mao Tse Tung, todas as seitas foram perseguidas e proscritas – exceto a Bon-Pa. Seriam Hitler e Mao Tse Tung membros das mesmas, assim como seus principais asseclas? Vale a pena ler a obra “FRABATO”, de autoria de Franz Bardon, e a edição do mês de Agosto de 1993 da revista “PLANETA” (Editora Três). Em ambas, muita coisa é revelada sobre a história dessas seitas – inclusive sobre suas práticas nefastas.

SISTEMA ZOS-KIA-CULTUS:

Criado por Austin Osman Spare, o redescobridor do Culto de Priapo. É a primeira manifestação organizada de Magia Pragmática. Baseia-se na fusão da Magia Sexual com a Sigilização Mágica. A obra “Practical Sigil Magic”, de Frater U.: D.: revela seus segredos. É um Sistema eficiente, mas não serve para qualquer pessoa, somente para aquelas de mente aberta e sem preconceitos. O motivo é simples: seu método de Magia Sexual é o conhecido como “Grau VIIIº”, na O.T.O., ou seja, a Auto-Magia Sexual.

SISTEMA RÚNICO (MAGIA DE RUNAS, RUNE MAGICK, RUNES):

Runas são letras-símbolos, cada qual com significados variados e distintos. Tem uso em Divinação, em Magia Pantacular e em Meditação.

Infelizmente, a Cabala das Runas perdeu-se para sempre na noite dos tempos. As Runas tem origem totalmente Teutônica. As Runas tem se tornado um dos mais importantes alfabetos mágicos, talvez devido a seu poder como elementos emissores de ondas-de-forma, talvez devido à facilidade de sua escrita.

SISTEMA ICÔNICO ou ICONOGRÁFICO (antigo Sistema Hebraísta):

Desenvolvido por JEAN-GASTON BARDET, com a colaboração de JEAN DE LA FOYE, é um sistema tecnicamente complexo, que consiste em utilizar as letras de fôrma hebráicas como fonte de emissões-de-ondas-de-forma. Hoje, com o Sistema aprimorado por António Rodrigues, utiliza-se dessas letras, além de outros símbolos ou ícones, para a detecção e criação de “estados esotéricos”, bem como para neutralizar ou alterar energias sutis diversas. É um dos mais potentes que existe, dentro da visão de emissores e detectores de ondas-de-forma. Rodrigues introduziu muitas “palavras de conteúdo mágico” nesse Sistema, muitas das quais oriundas da obra “777”, de Aleister Crowley. Se for utilizado como forma de meditação, ou conjuntamente à Cabala Simbólica (a que faz uso do hieróglifo da Árvore-da-Vida), é eficiente para a prática do “Pathworking”.

SISTEMA DO VUDÚ (VOUDOUN, VOODOO):

Apesar de ser tido como uma religião primitiva, o VUDÚ é, na realidade, um sistema de Magia, aliás bastante completo.

Nele encontramos Invocação, Evocação, Divinação, Encantamento e Iluminação. Práticas não encontradas nos outros Cultos Afro (Candomblé, Lucumí, Santeria), como por exemplo a Magia Sexual, presente no VUDÚ, embora de forma não muito aprimorada, exceto dentro do VOUDON GNÓSTICO e do HOODOO.

As possessões que ocorrem no VUDÚ (como no Candomblé, Lucumí e Santeria), são reais, fruto da Invocação Mágica dos Deuses, Deusas e demais Entidades. Não se trata de uma exteriorização de algum tipo de dupla-personalidade, nem de uma possessão por Elementares ou por Cascarões Avivados (como normalmente ocorre em religiões que fazem uso das mesmas práticas). A possessão no VUDÚ é um fenômeno completo e real. O Deus “monta” o indivíduo da mesma forma que um ser humano monta num cavalo. As Entidades “sobem” do solo para o corpo do indivíduo, penetrando inicialmente pelos seus pés, daí “subindo”, e isso é uma sensação única, que só pode ser descrita por quem já teve tal experiência. Cada LOA (Deus ou Deusa) do VUDÚ tem sua personalidade distinta, poderes específicos, regiões de autoridade, além de insígnias ou emblemas – vevés e ferramentas. Creio firmemente que uma fusão dos Cultos Afro só trará benefícios a todos os praticantes da Ciência Sagrada.

Os avanços do VUDÚ foram tantos, especialmente do VUDÚ GNÓSTICO, do VUDÚ ESOTÉRICO e do VUDÚ DO NOVO AEON, que entre suas práticas encontra-se até mesmo um Sistema Radiônico-Psicotrônico, que faz uso de Máquinas Radiônicas com as finalidades Radiônicas convencionais (Magia de saúde, de prosperidade, de sucesso, de harmonia, combate às Forças das trevas e às Forças Psíquicas Assassinas, combate aos Implantes Mágicos, etc.), além de favorecer as “viagens” mentais e astrais – as viagens no tempo! Esse Sistema foi batizado, por seus praticantes, de VUDUTRÔNICA.

O VUDÚ é, guardadas as devidas proporções, uma “Religião Thelêmica”, posto que a “verdade individual” que se busca no Sistema Thelêmico, culmina aqui com a descoberta do Deus individual, o que resulta numa “Religião Individual”, isto é, a Divindade e toda a religião de um indivíduo é totalmente distinta do que seja para qualquer outra pessoa. E isso é Thelêmico, ao menos em seu sentido mais amplo. As Entidades do Vudú são “assentadas” (fixadas) em receptáculos diversos, que vão desde vasos contendo diversos elementos orgânicos misturados (os Assentamentos), até garrafas com tampa, passando pelas Atuas – caixinhas de madeira pintadas com os Sigilos (Vévés) dos Loas, com tampa, altamente atrativas para os Espíritos. Mas as práticas utilizando elementos da Magia Natural, como ervas, banhos, defumações, comidas oferecidas às Entidades, são todas práticas adicionadas posteriormente ao VUDÚ, não parte integrante desde seu início. No Vudú se faz uso, além da Egrégora do próprio culto, das Correntes Aracdoniana, Insectoniana e Ofidiana.

SISTEMA DE MAGIA DO CAOS (CHAOS MAGIC, KAOS MAGICK, CIRCLE OF CHAOS, CÍRCULO DO CAOS, I.O.T. – Illuminates of Thanateros, Iluminados de Thanateros):

A Magia do Caos tem origem nos trabalhos de Austin Osman Spare, redescobridor do Culto de Priapo. A Magia do Caos é atualmente bastante divulgada por seu organizador Peter James Carroll, além de Adrian Savage.

Os praticantes da Magia do Caos consideram-se herdeiros mágicos de Aleister Crowley (e da O.T.O.) e de Austin Osman Spare (e da ZOS-KIA CULTUS).

Seu sistema procura englobar tudo quanto seja válido e prático em Magia, descartando tudo quanto for mais complexo que o necessário. Caracteriza-se por não ter preconceitos contra nenhuma forma de Magia, desde que funcione!

Está se tornando o mais influente Sistema de Magia entre os intelectuais da modernidade. Entre suas práticas mais importantes vale ressaltar o uso da Magia Sexual, em especial dos métodos “de mão esquerda”.

Seus graus mágicos são cinco, em ordem decrescente: 4º, 3º, 2º, 1º e 0º.

SISTEMA DE MAGIA NATURAL:

Consiste na utilização de elementos físicos, na forma de realizar atos de Magia Mumíaca (éfiges de pessoas, representando-as, tornando-se receptáculos dos atos mágicos destinados àquelas), bem como no uso de banhos energéticos, defumações, pós, ungüentos, etc., visando obter resultados mágicos pela “via do menor esforço”.

SISTEMA NECRONOMICÔNICO (DO NECRONOMICON):

Uma variação da Magia Ritual, que baseia-se na mitologia presente nos contos de horror do autor HOWARD PHILLIPS LOVECRAFT, em especial no Deus Cthulhu, e no livro mágico O Necronomicon (citado com frequência pelo autor). Atualmente, diversos grupos fazem uso deste Sistema na prática, entre eles valendo destacar a I.O.T., a O.R.M. e a Igreja de Satã. Frank G. Ripel, ocultista italiano que lidera a O.R.M., pode ser considerado o mais importante divulgador deste Sistema de Magia, além de ser o renovador do Sistema Thelêmico; mas o grupo I.O.T. tem sido o responsável pela modernização (e explicação racional) deste poderoso Sistema. Aliás, poderoso e perigoso, por isso mesmo atraente. Tão atraente que foi criada uma coleção de RPG’s versando sobre o culto de Cthulhu, o Necronomicon e outras idéias de H.P.Lovecraft.

SISTEMA LUCIFERIANO (LUCIFERIANISMO, FRATERNITAS SATURNI):

Muito parecido com o sistema de Magia da O.T.O. (Thelêmico), centralizando suas práticas na Magia Sexual (em especial nas práticas de Mão Esquerda), na Magia Ritual e na Magia Eletrônica, conta, porém, com uma distinção fundamental do sistema pregado por Aleister Crowley: enquanto na O.T.O busca-se a fusão com a Energia Criadora, através da dissolução do ego, na Fraternitas Saturni (FS) busca-se elevar o espírito humano a uma condição de Divindade, alcançando o mesmo estado que o da Divindade cultuada: LÚCIFER, a oitava superior de SATURNO, cuja região central é o DEMIURGO, e cuja oitava inferior é SATÃ, SATAN, SHATAN ou SATANÁS (e sua contra-parte feminina, SATANA). Portanto, Lúcifer e Satã são entidades distintas.

Na F.S., há 33 graus, alguns mágicos, outros administrativos.

SISTEMA HERMÉTICO (HERMETISMO, FRANZ BARDON):

Sistema amplamente explicado (na teoria e na prática) nas obras de Franz Bardon, reencarnação de Hermes Trismegistos (conforme sua auto-biografia intitulada “FRABATO, THE MAGICIAN”). O sistema Hermético prega um desenvolvimento gradativo das Energias no ser humano, partindo de simples exercícios de respiração e concentração mental, até o domínio dos elementos, daí à Evocação Mágica, e até à Cabala, aonde aprende-se o misticismo das letras e o uso mágico de palavras e sentenças, algumas das quais foram utilizadas para realizar todos os milagres descritos na Bíblia e em outros textos sagrados. Considero este o mais completo e perfeito Sistema de Magia. É o único Sistema totalmente racional e científico.

SISTEMA CABALÍSTICO (QUABBALAH, KABALAH, TANTRA, FÓRMULAS MÁGICAS):

Conforme dito acima, é a prática do misticismo das letras (isto é, do conhecimento das côres, notas musicais, elementos naturais e suas respectivas qualidades, regiões do corpo em que cada letra atua, etc.), daí das palavras e de sentenças; o uso de mais de uma letra, cabalisticamente, tem o nome de Fórmula Cabalística. E Tantra? Tantra no Oriente, Cabala no Ocidente. Há muitas escolas de Tantra, outras tantas de Cabala, mas a que mais me agrada é a de Franz Bardon. Parece-me a mais completa e precisa.

Muitas Escolas de Ocultismo, que utilizam a Cabala como parte de seus ensinamentos, o fazem utilizando a chamada Cabala Teórica, que baseia-se no hieróglifo da Árvore da Vida e suas atribuições. Poucas Escolas utilizam a Cabala Prática, como ensinada por Franz Bardon. As diferenças entre a Cabala Prática e a Teórica são muitas, mas, como principal distinção, na Cabala Teórica o enriquecimento pessoal é apenas a nível teórico, isto é, intelectual, enquanto que na Prática se aprende, se compreende, se vive a realidade do Misticismo das Letras. O mesmo conhecimento que foi utilizado para criar tudo quanto existe no Universo. É simultâneamente Dogmático e Pragmático.

MAGIA ELETRÔNICA:

É uma forma “acessória” da Magia Ritual, utilizando-se de paramentos do tipo “Bobina Tesla” ou “Gerador Van De Graff”, para gerar poderosas energias visando potencializar os rituais.

SISTEMA PSICOTRÔNICO (PSICOTRÔNICA):

É uma forma de Magia Pragmática, pois utiliza do simbolismo próprio do Mago (uma vez que será este a determinar quais os números a serem utilizados, qual o tempo de exposição ao poder do equipamento utilizado, ou ainda uma série enorme de “coisas” passíveis de emissão psicotrônica, detectadas ou determinadas por meios radiestésicos ou intuitivos), aliado à eletricidade e à eletrônica, para produzir seus efeitos. Apesar de utilizar-se de aparato muitas das vezes sofisticado, tem o mesmo tipo de ação que outras variedades de Magia Ritual, isto é, depende inteiramente (ou quase) das qualidades mágicas do operador.

SISTEMA DE EMISSÕES DE ONDAS-DEVIDAS-ÀS-FORMAS (SISTEMA DE ONDAS-DE-FORMA):

É uma forma de Magia Dogmática, posto que faz uso de paramentos e símbolos sem paralelo no sub-consciente do Mago; exceção se aplica aos gráficos que dependem de uma seleção radiestésica de seu design, como, por exemplo, no sistema Alpha-Omega (aonde se seleciona os algarismos numéricos e a quantidade de círculos em torne daqueles, para se construir o gráfico). Neste, este sistema Pragmático. Para exemplificar o uso prático, se utiliza equipamentos bidimensionais ou tridimensionais; os primeiros são os gráficos emissôres, compensadores e moduladores de Ondas-de-Forma, enquanto os outros são os aparelhos tipo pirâmides, esferas ôcas, meias-esferas, arranjos espaciais que parecem móbiles, etc. Neste Sistema, na sua parte tridimensional, é que se utiliza os pêndulos, as forquilhas e demais instrumentos radiestésicos, rabdomânticos e geo-biológicos.

SISTEMA RADIôNICO (RADIôNICA):

É a única modalidade de Magia que, apesar de totalmente encaixada no sistema de Magia Ritual, e herdeira única do sistema Psicotrônico, reúne em si, simultaneamente, as características de Dogmatismo e Pragmatismo.

Os métodos utilizados para a detecção das energias são nitidamente Pragmáticos, uma vez que fazem uso de pêndulos (radiestesia) ou das placas-de-fricção (sistemas sujeitos à Lei das Sincronicidades, de Carl Gustav Jung).

O “coração” do sistema Radiônico, porém, não é seu método de detecção (uma vez que há aparelhos sem nenhum sistema de detecção, como a Peggotty Board, ou Tábua de Cravilhas), mas seu sistema de índices.

Esses índices são em geral descobertos ou criados pelos pesquisadores do sistema em questão, e passados adiante para os outros usuários do sistema, que não são necessariamente pesquisadores.

Assim, quando se utiliza índices desenvolvidos por outras pessoas, se está operando no sistema Dogmático, apesar de que os números presentes nos índices são sempre comuns à mente de qualquer operador – mas as seqüências em que eles aparecem, que formam os índices, o fazem de forma desconhecida ao sub-consciente do operador, portanto de forma Dogmática.

Quando, porém, fazemos uso de índices que sejam fruto de nossas próprias pesquisas ou experiências, trabalhamos, então, de forma Pragmática.

Portanto, em se tratando de Radiônica, somente nossas próprias pesquisas permitem um trabalho totalmente Pragmático.

SISTEMA DO CANDOMBLÉ:

Muito parecido com o Sistema do Vudú, mas simplificado. Na verdade, o Candomblé é um culto aos Deuses e Deusas do panteão Nagô, aonde predomina a Magia Natural, com grande ênfase nos sacrifícios animais, na criação de Elementares Artificiais e em outras tantas práticas mágicas – como os banhos de ervas, o uso de pós mágicos, etc. – , além de Evocações e Invocações das Divindades cultuadas. É um Sistema de grande potencial, infelizmente tornado, ao longo dos anos, inferior ao Vudú, do ponto de vista iniciático.

SISTEMA DA UMBANDA:

Consiste na Invocação de Entidades de um panteão próprio e extremamente complexo, visando obter os favores das Entidades “incorporadas”; também existe a Evocação quando se faz “oferendas” de coisas diversas para as Entidades. É basicamente um culto de “Magia Branca”.

SISTEMA DA QUIMBANDA:

Muito parecido com o Sistema da Umbanda, somente que aquí se trabalha com Entidades demoníacas; é basicamente um culto de “Magia Negra”.

SISTEMA DA WICCA:

Um aprimoramento do Sistema de Feitiçaria, a Wicca é uma religião muito bem organizada e sistematizada, sendo que nela se aboliu a prática de sacrifícios animais, que era frequente na Feitiçaria. Há um ramo mais elitizado da Wicca, a Seax-Wicca, dos seguidores de Gerald Gardner, que busca aprimorar a Wicca, transformando-a num culto menos dogmatizado que a Wicca tradicional.

SISTEMA DE MAGIA SEXUAL:

Temos aquí uma abertura para sete sub-sistemas, quais sejam:

– SISTEMA DA O.T.O.:

Basicamente um método de Magia Sexual que busca a elevação espiritual através do sexo. Tem três graus de aptidão mágica sexual – o VIII, o IX e o XI. Pode ser considerado o Tantra ocidental. Veja “Sistema Thelêmico”.

– SISTEMA DA O.T.O.A.:

É muito parecido com o da O.T.O., porém faz uso não apenas da Magia Sexual praticada físicamente, mas também de práticas astrais desse tipo de Magia.

– SISTEMA MAATIANO:

Criado por dissidentes da O.T.O., tem uma visão mais moderna da Magia Sexual. Sua visão sobre o grau XIº é particularmente distinta.

– SISTEMA DA FRATERNITAS SATURNI (F.S.):

É derivado da O.T.O., mas abertamente Luciferiano. Veja “Sistema Luciferiano”.

– SISTEMA ANSARIÉTICO:

Criado pelos Ansariehs ou Aluítas da velha Síria, é o primeiro dos modernos métodos de Magia Sexual.

– SISTEMA DE EULIS:

Criado por Pascal Beverly Randolph, um iniciado entre os Aluítas, é um método científico de Magia Sexual ocidental, muito poderoso e perigoso. Seu criador era médico, e cometeu suicídio após muitos problemas na vida – era mulato, político liberal, libertino, residente nos Estados Unidos. No século XIX!

– SISTEMA ZOS-KIA:

Criado por Austin Osman Spare, consiste no uso mágico da “Auto- Magia Sexual” ou “Auto-Amor”. É também um Sistema muito potente e perigoso. Seu criador, talentoso artista plástico, morreu esquecido e quase na miséria. Veja em verbete próprio.

– SISTEMA PALLADIUM:

Criado por Robert North, estudioso de Franz Bardon, P.B.Randolph, Aleister Crowley, além de outros mestres do ocultismo. Tem sua doutrina, os Palladianos, no conceito do ser humano pré-adâmico, isto é, no ser humano bisexuado, para o qual o relacionamento sexual era desnecessário para a procriação. Esses seres eram os “Elohim”, “Filhos de Deus”, que criaram o “pecado” relacionando-se sexualmente uns com os outros – o que era desnecessário – , provocando a “queda” da humanidade. Com o “pecado”, veio a “punição”: Deus dividiu o sexo dos seres humanos, o que provocou a expulsão deles do “Édem”, sua “Expulsão do Paraíso”. Baseando-se nessa crença, além de buscar decifrar os ensinamentos ocultos de todos os Mestres, e interpretar o significado oculto da literatura, os Palladianos buscam trazer luz aos conceito tão mal compreendido da Magia Sexual.

E, para concluir, quem cunhou os termos “Magia Dogmática” e “Magia Pragmática”?

Eliphas Lévi introduziu o termo vinculado à Magia, com sua obra “Dogma e Ritual de Alta Magia”. Frater U.:D.:, nos seus “Secret of the German Sex Magicians” e, particularmente, no “Practical Sigil Magic”, introduziu o termo “Magia Pragmática”.

Retirado de:

http://www.mortesubita.org/

#MagiaPrática

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/teoria-da-magia-ii-sistemas-m%C3%A1gicos

Pai Saturno, Mãe Lua

Sobre Robert Cochrane e seu encontro com o Destino

por Nicholaj de Mattos Frisvold

Evan John Jones & Robert Cochrane

O veneno que Cochrane escolheu para si e o caminho que ele tomou podem nos contar sobre a influência de Saturno e da Lua em sua vida. Ele escolheu ir embora temperado por Saturno e usar o caminho da Lua, através da aliada Beladona. Talvez na escolha da aliada que iria levá-lo à Companhia Oculta possamos entender mais sobre a abordagem de Cochrane ao coração da matéria, o Círculo de Tubal Caim – e, deste modo, entender as polaridades mágicas de sua Pellar Craft, que ele demonstrou de formas aparentemente estranhas, até onde se relaciona o seu suicídio ritual. As polaridades que tenho em mente são aquelas entre a Chance ou Destino e a Sabedoria (ambas em sua oitava feminina, bem como na forma exigida pelo Senhor dos Chifres), assim como podem ser vistas nos mistérios mantidos dentro dos reinos de Tubal Caim e da Senhora Fortuna. Há uma gravura francesa do século XVI que é notável no caso da compreensão de Cochrane sobre o Destino como uma Deusa. 

Nesta gravura, retratada no livro de Paul Huson, vemos a Senhora Fortuna sentada em frente à Senhora da Sabedoria (MOT, pág.37). A Senhora Fortuna está vendada, segurando a roda da humanidade em sua mão esquerda. A Senhora da Sabedoria, por outro lado, monitora cuidadosamente o cosmos e se certifica que sua imagem seja refletida dentro da criação, aqui simbolizada adequadamente como o espelho, que ela segura em sua mão direita. A Roda da Fortuna está sob o domínio da Senhora Fortuna e deve ser refletida pela sabedoria, já que a Senhora Destino é concebida como cega – ou deveríamos dizer que sua cegueira obriga a humanidade a abrir seus olhos à influência de Destino? É minha crença que Cochrane percebeu alguns profundos ensinamentos durante o período de dificuldades com Jane, que foi usada pela Senhora Fortuna e a Senhora Sabedoria para mexer em sua alma e aspiração, rejuvenescer sua alma, e talvez ainda mais, em um nível superior de perfeição e humildade. Esta, acredito, é a melhor forma de visualizar o infortúnio, como uma lição que interfere em nossa alma para uma condição melhor. Pode-se ter a impressão de que ele simplesmente desistiu face ao infortúnio (ou ‘Miss Fortuna’, se preferir) e procurou uma saída digna. Ao fazer uma busca nas próprias palavras de Cochrane, é possível encontrar uma pista para este enigma, e talvez extrair uma lição.

As premissas para a visão de Cochrane sobre a Bruxaria são bastante simples. Ele diz em um de seus poucos ensaios: “Todo pensamento místico é baseado sobre uma premissa maior: a compreensão da verdade como oposta à ilusão” (RT. Pág.49). E esta verdade é “em essência, meios pelos qual o homem pode perceber sua própria divindade inerente” (ibid. 51). Ele usa as discussões sobre bruxaria nos anos 50 e 60 como um espelho desse fato, quando comenta que na bruxaria as ideias que as pessoas do meio da bruxaria tinham em seu tempo continham tanta superstição e ilusão quanto fora dessa esfera. “A Fé está finalmente atinente com a Verdade… trazendo, como faz o homem em contato com Deuses, e o homem em contato com si próprio” (ibid. 56). Cochrane opôs-se a tal ponto contra as formas dogmáticas e superstições que ele viu crescendo em relação à Wicca simplesmente porque aqui ele observou que a verdade foi substituída por ilusão. Pode-se, naturalmente, ver-se isso de duas formas, quer como uma tentativa de colocar-se a si próprio sob os holofotes do crescente interesse pela bruxaria nos anos 60, quer como um homem honesto em sua repulsa pela forma em que a crescente comunidade Wiccana caminhava cada vez mais para longe das diretrizes básicas da Arte, do Mestre Chifrudo e da Senhora Escura e em uma reverência dos ciclos da natureza, com uma Deusa muito mais do que maternal em foco.

Como ele disse: “A filosofia inerente à Arte sempre foi fluida, e o que é fluido deve se transformar novamente antes de desaparecer sob um monte de tolices cediças, teologia cozidas pela metade e filosofia” (ibid. 51). Isso ele demonstra muito bem no ensaio The Faith of the Wise, de 1.965, no qual enfatiza a importância da Experiência, Devoção e Visão como ferramentas em direção ao abraço da verdade. Isto porque a fé não possui nenhum segredo no sentido de que existem certas fórmulas que podem ser prontamente entendidas e ensinadas. Pelo contrário, ele diz que a verdade só pode ser apreendida através do “duro trabalho devocional”, e isso conduz à visão em que se tem uma experiência direta da verdade. Fica evidente aqui a ênfase das qualidades lunares na visão de Cochrane sobre a Arte. Tanto as técnicas e objetivos, quanto as advertências dos perigos, estão sujeitas à lua. O perigo envolvido na Arte é algo que Cochrane estava muito consciente, e seu suicídio ritual pode indicar que nós, que fomos deixados com seu legado em escritos – e que nos sentimos atraídos ao seu espírito – devemos tomar conhecimento disto.

Ele diz: “Primeiramente o Roebuck in the Ticket[1] representa o espírito de sacrifício e liderança. Também pode representar a idéia de destino na velha forma Anglo-Saxã de ‘Shapers’[2], as que criam o futuro que temos que viver” (ibid. 85). Ele entendia muito bem o perigo ao assumir a herança da Arte, e, visto seu fascínio pelo livro The White Goddess de Graves, e sua percepção dentro do mistério demonstrado, ele também sabia como a Mãe Lua pode tanto alimentar quanto devorar sua cria. De certo modo, é possível ver em Cochrane as dificuldades de balancear a Senhora Fortuna e a Senhora Sabedoria em sua vida. Entender pela visão e inspiração é diferente de ser desafiado por Tubal Caim e tendo a nossa ferocidade temperada – o desafio dado no que Cochrane chama de “superação do Destino”. Este desafio também pode ser visto na idéia de iniciação de Cochrane. Ele diz: “Quando os iniciados tomam o juramento completo do coven eles estão se submetendo à vontade de Hécate. De certo modo, ao fazer isso, eles então se tornam o Roebuck in the Thicket, porque eles escolheram seguir o caminho que ela selecionou para eles” (ibid. 92/93).

Abraçar o destino a fim de superá-lo pode ser visto em termos alegóricos como abraçar a Lua enquanto se é armado com Saturno. Isso tudo é relacionado com o Tempo, Cronos – e ao subjugar o Pai Tempo e agarrar a conexão com todas as coisas dentro do Tempo é que podemos estabelecer uma fundação para compreensão e, então, uma profunda superação de todos os desafios, até do próprio Destino. Cochrane foi claro em como ele entendeu a importância da Morte, outro domínio profundamente relacionado à esfera de saturniana. Saturno sem compreensão facilmente se transforma em depressão, abrigando elementos maléficos na vida da pessoa, criando uma perspectiva negativa da vida e fatalismo. Assim como Luna pode fornecer a experiência visionária de profunda verdade, ela também pode dar o golpe doloroso que leva à queda na ilusão – ao abismo onde Saturno e a Lua tomam parte em uma união misteriosa.

Cochrane sabia disso, mas aparentemente foi incapaz de se levantar deste abismo de união maléfica e misteriosa das poderosas forças em sua vida. A Senhora da Sabedoria lhe deu uma mente clara, mas ele escolheu entrar através da aliada Mãe Lua no Castelo da Rosa Imortal. No que diz respeito à morte, suas ideias e considerações eram belas e diretas ao ponto. Ele disse: “Nada é dado se nada for feito, e qualquer coisa que criamos agora cria o mundo no qual existiremos amanhã. O mesmo se aplica à morte: o que temos criado em pensamento, criamos naquela outra realidade. Também deveríamos nos lembrar que Desejo foi a primeira das coisas criadas” (ibid. 70). E, infelizmente, ele escapou do caminho que Destino deitou à sua frente ao passar para o Castelo, da forma que ele fez, no lugar de superá-La. É quase como se ele seguisse a direção contrária de seu melhor discernimento, quando convidou Beladona para levá-lo. Ele disse: “As Três Irmãs também eram consideradas as guardiãs do Caldeirão da Criação, que é lugar onde o passado, presente e futuro são como um, ainda que em estado de fluxo, movimento e potencial prometido” (ibid. 88/89). O que novamente nos leva ao desafio final: “Então, de certo modo, quando começamos a procurar a Deusa e sua magia, estamos, com efeito, nos tornando o caçador. Ainda assim, quando então a encontramos nos tornamos a caça, porque a Deusa nos prega ao chão, e faz-nos dela para sempre” (ibid. 90).

É nesse desafio, quando a mesa vira, que precisamos ser fortes e focarmos na superação através da compreensão e, então, aplicarmos a experiência prática que já temos – isso é crescimento. Sem Saturno existiria pouco progresso, sem a Lua existiria pouca visão. A conjunção destas forças em uma unidade superior de aceitação, já que o destino de cada um é único e grandioso não importando o quão insignificante no grande esquema, é ainda a maior força na vida de cada um e de todos. Destino não é relacionado ao infortúnio, na verdade, talvez devêssemos pensar melhor sobre o termo infortúnio sob a luz do poder que Destino nos apresenta em termos de desafios, dos quais as lições de crescimento podem ser extraídas. Armados à semelhança de Tubal Caim, podemos participar na forja do nosso próprio destino e embarcar com coragem na ordália da superação – e é na luz do elemento do sacrifício relacionado ao Corço (Roebuck) que ela é mais bem compreendida. Como falecido magister da Cultus Sabbati, Andrew D. Chumbley disse: “O Caminho do Sacrifício faz o Homem Completo”. Em outras palavras, quando Destino apresenta os desafios e os enxergamos como infortúnios, isso significa que estamos perdendo o conceito inteiro, que estamos rejeitando a Senhora da Sabedoria e focando somente na cegueira da Senhora Fortuna, maldizendo sua Roda da Fortuna. Com a maldição, caímos nos mais baixos caminhos do ser do Pai Saturno, e nos engajamos em um processo de desintegração e piedade que nos deixa cegos às ferramentas oferecidas de boa vontade por Tubal Caim em nossa batalha no Castelo silencioso, onde nos encontramos não somente com Ela – mas com toda a atrocidade e toda a beleza que conhecemos como ‘Self’.

Um último e significante ponto a se fazer aqui está relacionado a Destino ou fatalismo em um contexto mais filosófico. Parece que há uma brecha entre Destino e Fatalismo. É como se ela pudesse inspirar o abraço de Destino de formas entendidas como boas e/ou más. No passado, quando o fatalismo era uma doutrina filosófica, não existia nada significativamente diferente entre Destino e Fatalismo. O fatalismo simplesmente se referia a uma submissão ao Destino, similarmente às ideias de Cochrane. Ela não carregava nada de necessariamente mal ou ruim em termos de um foco exclusivo na desgraça. Nos casos de pensamentos fatalistas centrados ao redor de algum infortúnio catastrófico, algo glorioso sempre viria na sua esteira. Porém, hoje em dia, o fatalismo normalmente se refere a alguma desgraça inevitável que está prestes a atingir a vida de alguém, ou refere-se a uma perspectiva negativa de vida. Podemos também mencionar o ideal estóico, no qual o suicídio poderia ser transformado em um ato de dignidade frente a Destino, e assim receber a opção de ingerir o Cálice Envenenado, como no caso de Sócrates e Sêneca. É importante ressaltar que os suicídios destes filósofos foram exigidos pelo Imperador. Não foi uma escolha de Destino, mas uma aceitação de Destino, uma saída honrosa de uma situação que não podia ser transformada de modo favorável a eles.

Talvez Cochrane tenha visto o seu suicídio ritual dessa forma, como uma reflexão da Mãe Lua ou, ainda, a vontade de Hécate, a saída inevitável de uma situação que não poderia ser transformada para algo melhor. Existe uma passagem interessante em uma de suas cartas a Joe Wilson que poderia indicar tal atitude. Cochrane disse em relação às “leis bruxas” o seguinte: “Não faça o que você deseja – faça o que é necessário. Tome tudo que lhe é dado – dê tudo de si. O que eu tenho… eu seguro! Quando tudo o mais estiver perdido, e não até então, prepare-se para morrer com dignidade” (RCL:50). Talvez ele visse o suicídio ritual, ao ingerir de bom grado o veneno que Destino lhe deu, como uma forma digna de deixar o corpo terrestre para trás, a favor da Companhia Oculta. Outra citação dele pode ser entendida de tal forma: “Ver a Senhora não é suficiente… porque em Destino, e a superação dela, é que há o ganho da chave da inspiração e da própria morte. Não existe destino tão terrível que não possa ser encarado e superado, seja por uma vitória concreta, ganha pela ação ou uma vitória mais profunda do espírito engajado na batalha solitária do Self. A Senhora do Destino, destino e danação são a provação, o Castelo das Ordálias, no qual devemos nos encontrar, para vencer ou morrer” (RT:161). Pode parecer que Cochrane se viu derrotado por Destino. Seu encontro no Castelo e sua batalha lhe garantiram a morte, ou “polegares para baixo”, para continuar nossa antiga alegoria romana relacionada ao seu suicídio ritual.

Cochrane definiu a Arte de ser sobre a Verdade, Experiência e Devoção. Todos esses elementos ele colocou sob a misericórdia de Hécate, Mãe Lua, Senhora Fortuna ou Destino. Parece que ele pode ter esquecido algo em sua identificação com o Corço, como o símbolo do sacrifício e da liderança, que é a ferocidade e a coragem. De qualquer forma, seu legado vive e sua centelha espiritual continua a inspirar. O que fazer de sua morte prematura e sua atemporalidade ou temporalidade é ainda matéria de uma multiplicidade de opiniões, e no final isso provavelmente não importa, já que as visões e os ensinamentos que ele compartilhou com aqueles que continuaram seu legado ainda estão lá para nutrir. Vendo o crescente interesse em seu legado, podemos observar que ele ganhou, enfim, a vida eterna. Ambas, as lições que ele aprendeu e dominou, e as lições que o derrotaram, estão lá e podem servir como uma bússola no caminho do peregrino.

[1] Nota da Tradução. Roebuck in the Ticket significa literalmente “Corço na Moita”.

[2] Nota da Tradução. “Shapers” significa literalmente “Moldadores da forma”.

Leitura recomendada:

Cochrane, Robert & Jones, Evan John (Ed. Mike Howard). 2001.The Roebuck in the Thicket. Cappall Bann. Abr. No texto, RT.

Cochrane, Robert & Jones, Evan John (Ed. Mike Howard). 2002. The Robert Cochrane Letters. Cappall Bann. Abr. No texto RCL.

Huson, Paul. 2004. Mystical Origins of the Tarot. Destiny Books. Abr. No texto MOT.

Frisvold, Nicholaj. 2010. Artes da Noite – A História da Prática da Bruxaria. Ed. Rosa Vermelha

Links Indicados:

+ Father Saturn, Mother Moon (Ensaio Original em Inglës)

+ The Clan of Tubal Cain (Página Oficial do Clã)

+ O Fluxo e o Contra-fluxo: O Feitiço e o Milagre

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/pai-saturno-m%C3%A3e-lua

Um Olhar Tradicional sobre Charles Leland

por Mazarol Rosmarin

As crenças mágicas dos italianos começaram a ter repercussão na mídia escrita a partir das publicações de Charles Leland, principalmente com o seu Gospel of the Witches e Etruscan and Roman Remains. No Gospel of the Witches, ele parte de um suposto relato de uma bruxa da Toscana, Maddalena, enquanto no Etruscan and Roman Remains ele descreve lendas e crenças mágicas dos camponeses da Romanha, e devido ao recém movimento de unificação da nação e língua italiana, generaliza como sendo absoluta em toda a Itália. No final dos anos 90 se utilizando das fontes de Leland e fragmentos familiares de magia popular, sob uma perspectiva wiccana de culto, o autor ítalo-americano Raven Grimassi lança a sua stregheria, ajudando a intensificar a nostalgia pela velha Itália, de muitos já nostálgicos ítalo descendentes em todo mundo. Atualmente, Brasil, EUA e Argentina são os países com maior número de ítalo descendentes, superando até mesmo a Itália em número de italianos, por isso, somado aos movimentos de Nova Era, esoterismo e revivalismo pagão, o trabalho de Grimassi teve uma aceitação muito grande.

Nos anos 2000 a antropóloga ítalo descendente Sabina Magliocco, da UCLA, apresenta uma série de artigos referentes à magia e espiritualidade italiana e ítalo-americana, classificando a stregheria de Raven Grimassi como uma “bruxaria neo-pagã de origem ítalo-americana”, desvelando o purismo que Raven Grimassi clamava existir em suas tradições.

Atualmente, na segunda década do século XXI, vemos em termos de Brasil um considerável crescimento de uma bruxaria chamada italiana, baseada nos escritos de Raven Grimassi, mas que devido à toda rejeição acadêmica que esse autor possui, mascara-se na forma de uma Bruxaria Tradicional supostamente desintoxicada dos escritos e conceitos desse autor.

As motivações do crescimento dessa bruxaria italiana no Brasil são os mesmos expostos acima. O Brasil é o maior país com concentração de ítalos descendentes, e a cultura italiana influenciou e ainda influencia a cultura de toda região Sudeste e Sul do país, acabando por refletir em muitas áreas das outras regiões brasileiras.

Porém muito do que exposto como bruxaria italiana por essas correntes neopagãs não passa de releituras da religiosidade romana, sem nenhuma relação como os movimentos de bruxaria na Itália medieval. Poucas são de fato as crenças desses stregoni modernos que possam ser classificadas como bruxaria, mas podem e devem ser classificadas como crenças neopagãs baseadas na Roma Antiga.

O trabalho de Leland deve ser lido com olhos cuidadosos e contextualizados na época e cultura no qual foi concebido. Ele relatou uma série de lendas oriundas de um período histórico confuso, onde a Itália tentava estabelecer uma identidade única, que nunca havia ocorrido em sua história. Por isso figuras de exaltação à romanidade dos italianos eram exaltadas, como o poeta Virgílio, tentando enaltecer nos italianos o sentimento de união e patriotismo como se vindo dos antigos romanos. Nunca desde o Império Carolíngio a Itália apresentara uma união.

Nesse clima de ultranacionalismo italiano é que Leland recolhe seus relatos.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/um-olhar-tradicional-sobre-charles-leland

O Sangue e Ossos da Bruxaria Tradicional

Com a primeira faísca da forja sagrada – a primeira gnose, palavra da mesma raiz que gnoscere, ou “conhecer”, o homo sapiens tornou-se capaz de maravilhar-se com toda a criação ao seu redor, assim como se tornou capaz de questionar as razões de tudo o que acontecia com ele. Podemos dizer que esta “faísca” caiu em um corpo que sentia medo, fome, frio, sono e o desejo de procriar, como qualquer outro animal. O homem muito provavelmente ainda nos tempos de “bicho” percebeu que um grupo era mais forte que um indivíduo solitário, assim como os lobos e os macacos, e portanto, é muito provável que ele já tivesse uma idéia do que era uma família, um clã ou tribo. A idéia de lar foi desenvolvida pelas mulheres, que também foram as inventoras da agricultura e muito provavelmente da pecuária, o que possibilitou os assentamentos humanos em regiões específicas.

Com o lar, toda a idéia das conexões entre a terra com o mundo invisível chegou à estrutura de culto – que interessantemente possui a mesma raiz etimológica que a palavra “cultivar”. Os primeiros cultos, de acordo com os resquícios mais antigos deixados pelas lendas do continente africano, foram os das divindades responsáveis em favorecer a vida na região em que se vivia e o culto aos ancestrais. Todos podiam remontar sua ancestralidade a uma divindade, o que lhes dava um ideal mítico como modelo para suas vidas. Cada ser humano era uma divindade na terra, em uma jornada humana, e este ainda é o sentido da iniciação em um culto ancestral.

Nos velhos tempos, os mortos eram enterrados em locais no mínimo significativos, naqueles considerados sagrados, e não raro, próximos ou dentro da própria moradia dos vivos, em porões ou sob o fogo que processava os alimentos. Tomando por base as culturas africanas e bascas, onde os mortos eram e muitos ainda são guardados sob o piso dos vivos, o culto aos mortos teria sido criado também pelas mulheres, que ficavam responsáveis em “cultivar” o fogo dos vivos (processando os alimentos) e o fogo dos mortos (mantendo suas memórias vivas). Algumas tradições de Bruxaria (isto é, Bruxaria Tradicional), mantêm este reconhecimento à mulher como um ser que já nasce com seus poderes completos, enquanto o homem nasceria somente com o poder do fogo, necessitando da mulher como a pedra fundamental de um clã, como aquela que doma o fogo. Nos mitos ancestrais da Nigéria, este período de poder matriarcal é relatado, e é possível observar como este período foi marcado pela tirania. O poder espiritual absoluto das mulheres foi tomado pelos homens quando eles astutamente tomaram os ossos dos mortos e dominaram o culto dos ancestrais, trazendo uma era de equilíbrio entre os gêneros, mas não sem algum conflito. O mito nos relata que os homens, ao tomarem os ossos e as vestimentas sagradas irritaram as mulheres profundamente, ao ponto do caos, e a única forma de resolver o conflito foi a de apaziguá-las com presentes, comidas, confortos e canções, gerando uma coexistência pacífica. A sociedade de Iyami, por exemplo, é sem dúvida a mais temida e poderosa, pois convencer estas “mulheres-pássaros” de uma decisão comunitária sempre dependerá do senso de justiça feminina e muito apaziguamento.

Quando a Igreja tomou o poder de enterrar os mortos, ela “tomou os ossos” dos nossos ancestrais, e da mesma forma, tomou para si o culto aos mortos. Nossos mortos não mais eram enterrados em seus locais favoritos ou sagrados para serem lembrados por qualquer um que ali passasse, e assim fomos convencidos que nem suas presenças eram bem vindas perto de nós. Fomos roubados de nossos ancestrais, e a memória foi roubada deles. Nossos cemitérios são meros depósitos de ossos esquecidos, e nossos mortos são enterrados em um piscar de olhos. Já não são mais velados, enaltecidos e relembrados, e eles já não encontram mais seus lugares em nossas vidas e memórias. Roubaram-nos a nossa memória, e se não conhecemos de onde viemos como saberíamos para onde vamos?

Bruxaria e Paganismo

Pessoalmente, eu concordaria com uma “bruxaria” ligada ao paganismo se as correntes ancestrais – que dão contexto mitológico às bruxas – não estivessem rompidas. E é por esta mesma razão que a iniciação nos cultos pagãos ainda se perpetua e se faz necessária: quando entramos em um culto ancestral, recebemos não só os ensinamentos acumulados do culto, mas o vínculo espiritual com os ancestrais deste culto, que é sem dúvida o ponto central de onde toda a sabedoria parte. E é aqui que reside a diferença entre conhecimento e sabedoria, pois esta última só pode ser obtida com experiência e memória. O neopaganismo, por exemplo, tem uma enorme desvantagem neste quesito, desde que tenta reconstituir o vínculo espiritual muito frequentemente sem terem a noção precisa de quem foram estes ancestrais, e muitas vezes tateando através da história e antropologia para reconstituir fatos, e assim, limitando-se ao “conhecimento” enquanto desbrava-se o caminho rumo à “sabedoria”. Eu diria que isto é uma desvantagem, e não uma diminuição de valor, desde que a meta é a mesma.

Em especial por conta das ocorrências da Idade Média – no período que foi nomeado como a “Era das Fogueiras” – muitas pessoas ganharam o direito de clamar para si a herança “bruxa”. Pagãos, judeus, pervertidos, criminosos, alcoviteiras e feiticeiras foram os indiscutíveis bodes expiatórios que queimaram como “bruxos”. No Brasil, especificamente, ondas de novos convertidos ou degradados (ou seja, expulsos de seus países pela Santa Inquisição), mesclaram suas crenças – unidas por uma espantosa similaridade – às dos indígenas e negros escravos, dando origem a híbridos singulares e interessantes. As benzedeiras não devem em nada daquelas que foram julgadas nos tribunais inquisitórios, e apesar do freqüente rigor cristão da maioria delas, elas continuam marginalizadas pelo cristianismo moderno. Para elas, nada mudou. É bom ainda ressaltar que a Inquisição foi um processo de limpeza interna da igreja para livrá-la das heresias. Este processo que saiu fora do controle, e acabou perseguindo muitos que se consideravam “bons cristãos”, mesmo que mantivessem certos costumes remanescentes do paganismo através do velho catolicismo em uma Europa protestante. O próprio termo “auld faith”, ou como se traduziu “Antiga Religião” era uma alusão ao catolicismo anterior ao protestantismo, que considerava o culto aos santos – uma derivação pagã – uma grande heresia. Lutero, por exemplo, apontou a Igreja Católica como a “Sinagoga de Satã” por este motivo entre outros muitos. E isto, aliás, é um dos motivos pelos quais não é absurda a cristandade para uma bruxa, apesar da histeria que isto causa entre os bruxos modernos. É lógico que a própria Igreja Católica possui todo um capítulo negro em sua história, mas nem por isso deve ser descartada, desde que manteve uma herança viva dos antigos cultos – disfarçados e distorcidos ou nem tanto.

O Bruxo e a Tradição

A diferença que se faz de um “bruxo” para um “bruxo tradicional” é que o primeiro pode não estar necessariamente ligado a uma ancestralidade mítica conhecida, e assim, alguns buscam o híbrido “pagão-bruxo” da Wicca exatamente para recompor uma ancestralidade mítica perdida. Outros permanecem manifestando seus dons ancorados nas religiões exotéricas, como o catolicismo, ou dentro do misticismo new age, buscando fortalecer os laços com seus espíritos guias solitariamente. Um “bruxo tradicional” é um ser já consciente de sua ancestralidade mítica (ou ainda, de suas plurais ancestralidades míticas), que podem ser passadas através da família (blood in) ou da adoção como novo parente (blood out).

Não podemos deixar de discutir um outro subgrupo que deve ser apresentado dentro do contexto tradicional da bruxaria, que remonta de sociedades similares à Maçonaria, e que operam como “guildas de ofício”. Uma guilda de ofício é basicamente um grupo que possui uma determinada especialidade. Antigamente, todas as guildas de ofício possuíam não só um caráter social – mas um espiritual, já que possuíam suas próprias mitologias ligadas à profissão. Aqueles cuja profissão era a de ferreiro, por exemplo, prestavam cultos a deidades “ferreiras”, como Hefestos, Tubelo, Ogum, etc. Com o surgimento destas confrarias, grupos que giravam em torno de deuses ctônicos, obscuros e marginalizados pela religião oficial também surgiram. O fato é que estas guildas se formaram através de pessoas que possuíam uma linhagem ancestral em um determinado culto, e que possibilitavam a adoção de novos “parentes” ligados ao ofício.

Bruxaria e o Ofício

Para falarmos do caráter “ofício” da bruxaria, temos necessariamente que trazer à memória o arquétipo primordial do que é uma Bruxa. Aliás, se esta figura sobreviveu aos tempos, é graças à sua imagem arquetípica.

Particularmente, gosto sempre de relembrar as figuras de Circe e Medeia, mas outros “personagens” imortalizados nos contos de fadas, no folclore e nas tradições da terra contam um pouco sobre esta figura assombrosa, magnífica e incompreendida quando colocada dentro esta sociedade destituída da Tradição Perene. Ela reina absoluta no papel da resistência necessária que o herói deve enfrentar para que floresça e se torne imortalizado. Ela é a sábia que perscruta o destino dos homens, que alimenta o fogo dos vivos com seus remédios fervendo no caldeirão, assim como alimenta o fogo dos mortos ao jamais esquecê-los. Como podemos observar nas inquebradas tradições ancestrais da terra, estas mulheres são as nigromantes, curandeiras, feiticeiras e conselheiras… megeras que são donas de seus narizes e que jamais tiveram ou terão rédeas. A única forma de domá-las é através da rendição completa, é o dar-se para ter. Sem esta doação, pode-se até brincar de ser bruxo, e manter a esperança de coerência, mas em última instância, é bom torcer que esta força indomada da natureza, representada por deusas cujos mistérios são relegados a poucos, nunca preste atenção em você.

Originalmente postado em http://www.espelhodecirce.com.br/2011/05/o-sangue-e-ossos-da-bruxaria.html

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-sangue-e-ossos-da-bruxaria-tradicional

Linha do tempo histórica da comunidade vampyrica

Malcaius Davion

Este projeto foi iniciado na esperança de construir uma linha do tempo definitiva da Comunidade de Vampiros ao longo da história, esperamos obter e registrar qualquer informação das ações passadas da comunidade de Vampiros enquanto esperamos registrar quaisquer ações de mérito que virão.

1966 – Anne de Molay estabelece a “Ordem de Maidenfear”, sem dúvida a mais antiga “House” vampírica conhecida no mundo.

1976 – House Sahjaza formada em Nova York.

1985 – os membros fundadores da Casa Sahjaza, sob a orientação de Godess Rosemary formam a Sociedade Z/n.

1989 – O sigiloso; internacional, o Templo do Vampiro (ToV) é fundado.

1991 – O primeiro protótipo do The Vampire Codex é escrito por Michelle Bellanger para uso como texto instrucional da Casa Kheperu.

1993 – O Sanguinarium é fundado pelo Father Sebastian (Todd) van Houten.

1994 – Lançamento do “The vampire book” de Gordon Melton

1995 – A Sociedade Z/n encerra atividades.

Início de 1995 – Uma versão impressa especial do The Vampire Codex é publicada para selecionar estudantes em conjunto com a Sociedade Internacional de Vampiros.

Final de 1996 – The Black Veil é escrito por Father Sebastian (Todd) van Houten como um código de conduta para o primeiro Noir Haven de Gotham Halo, o Long Black Veil, e os membros do Clan SABRETOOTH.

Primavera de 1997 – Sanguinarius.org for Real Vampires é estabelecido como um site de suporte para todos que se consideram vampiros reais. www.sanguinarius.org/vampire.shtml

1997 – O Long Black Veil (LBV) começa a ser realizado no MOTHER na segunda quarta-feira de cada mês.

1997 – The Black Veil V1.0 lançado para a comunidade em geral, escrito pelo Padre Sebastian (Todd) van Houten, Esta versão inicial foi apresentada à comunidade real de vampiros então em formação, mas foi recebida em grande parte com críticas e rejeição por causa de seu seus conceitos e linguagem de rpg

Abril de 1999 – vampire-church.com registrado.

28 de julho de 1999 – Página de suporte de vampiros reais do SphynxCat vai ao ar

2000 – MOTHER fecha e o LBV é transferido para a boate True por 2 anos.

2000 – O Black Veil V2.0 “as 13 regras da comunidade” é lançado para a comunidade geral composta por Michelle Belanger da Casa Kheperu, Padre Sebastiaan (Todd) van Houten da Casa Sahjaza, e COVICA como um código de ética voluntário para vampiros na comunidade a seguir. O documento recebeu reações mistas mais uma vez devido à sua encenação como redação.

Outubro de 2000 – The Vampire Codex, edição Sanguinarium é publicado pela Sanguiarium Press. O Vampire Codex tem um impacto significativo na comunidade mundial de vampiros psíquicos, tornando-se o texto fundamental usado por inúmeras Casas, Ordens, Covens e Clãs. Influenciou os ensinamentos de grupos de vampiros nos Estados Unidos, Canadá e Europa Ocidental.

Julho de 2001 – Rules of Thumb é composto por Sarah Dorrance como uma lista de conselhos sensatos para membros que se juntam à comunidade

Outubro de 2003 – The Black Veil v3.0 é criado e lançado para a comunidade, após uma revisão por representantes da Vampire Church, Bloodlines, Sanguinarium e indivíduos de muitas outras organizações independentes deu origem a uma segunda revisão do Black Veil. Esta versão foi lançada algumas semanas depois. Reduzido de treze e de volta para sete regras, o novo Black Veil foi simplificado para remover a linguagem pretensiosa e excessivamente “gótica” para mais uma vez aumentar seu apelo à comunidade em constante evolução. A ideia principal por trás dessa revisão final foi expressar, em linguagem clara e simples, a ética já inatamente valorizada pela maioria daquela comunidade.

2005 – A Atlanta Vampire Alliance (AVA) é formada como uma verdadeira casa de vampiros cobrindo a área de Atlanta

2005 – A New Orleans Vampire Association (NOVA) é fundada, foi estabelecida para fornecer suporte e estrutura para as subculturas de vampiros e outros parentes e para fornecer educação e caridade aos necessitados. www.neworleansvampireassociation.org/

2006 – É fundada a Suscitatio Enterprises, LLC. www.suscitatio.com/

Janeiro de 2006 –  Voices of the Vampiric Community (VVC)  é fundada para desenvolver relações amistosas entre as várias Casas, Covens, Ordens, organizações e líderes individuais da comunidade vampírica. www.veritasvosliberabit.com/vvc.html

Março de 2006 – A Vampire & Energy Work Research Survey (VEWRS) é divulgada ao público, 955 membros da comunidade respondem.

Agosto de 2006 – A The Advanced Vampirism & Energy Work Research Survey (AVEWRS) é divulgada ao público, 515 membros da comunidade respondem.

23 de junho de 2007 – Os primeiros resultados das pesquisas VEWRS e AVEWRS são divulgados com muitos gráficos de pizza e gráficos fornecidos para interpretação dos dados.

Julho de 2007 – O site da comunidade de vampiros Sanguinox fica offline devido a custos financeiros e problemas entre o proprietário e os moderadores.

2008 – O Vampire Community News (VCN) é lançado www.facebook.com/groups/vampirecommunitynews

2009 – O Tucson Otherkin Community Group é fundado por Sagunarius como um grupo social e de apoio para vampiros, doadores, otherkin, therians e wiccanos

2010 – Real Vampire News é concebido e iniciado por John Reason. O objetivo é se tornar um recurso do tipo “jornal” para a comunidade online de vampiros reais.

2010 – A Atlanta Vampire Alliance e a Suscitatio LLC iniciam uma segunda série de estudos para complementar as pesquisas VEWR e AVEWR de 2006-2009. Esse esforço incluirá a coleta de exames e informações médicas.

Maio de 2011 – A South African Vampire Alliance (SAVA) é fundada como uma expressão formalizada da South African Vampire Community (SAVC) savampyrealliance.wordpress.com/

Julho de 2012 – Goddess Rosemary e Temple House Sahjaza divulgam a declaração intitulada “Taking back the night” de retorno aos modos cavalheirescos.

1 de outubro de 2012 – John Reason’s Real Vampire Life E-Zine inicia uma pesquisa de um ano sobre a subcultura de vampiros real intitulada “The Living Vampire – A social survey”, destinada a reunir informações sociais e demográficas sobre a subcultura.

8 de fevereiro de 2013 – o Sínodo publica The Official Black Veil (black veil v4.0), esta versão atualizada do documento de longa data que teve inúmeras revisões é declarada a versão final do documento a ser adotado pelo Ordo Strigoi vii e o sanguinário, e afirma-se ser a única versão agora aceita pelo autor original Padre Sebastian (Todd) van Houten. Encontrou pesada censura de muitos membros proeminentes da comunidade Vampira por sua exclusão de Sanguinários e seus tons excessivamente religiosos.

31 de setembro de 2013 – A pesquisa Real Vampire Life de John Reason, “The Living Vampire – A social survey” é concluida.

Setembro de 2013 – Goddess Rosemary e Temple House Sahjaza lançam ao público a versão grafica do “13 Nightside Commandments”

3 de novembro – I.C.E formado por anciãos da comunidade que querem ver mudanças para melhor trazidas para o OVC.

31 de setembro de 2013 – A pesquisa Real Vampire Life de John Reason, “The Living Vampire – A social survey”, conclui.

30 de dezembro de 2013 – Primeira publicação da primeira parte dos resultados de “The Living Vampire – A social survey” é publicada no E-Zine Real Vampire Life de John Reason ( realvampirenews.com)

Fonte: https://vchistoricalsociety.freeforums.net/thread/2/historical-timeline-vampire-community

Postagem original feita no https://mortesubita.net/vampirismo-e-licantropia/linha-do-tempo-historica-da-comunidade-vampyrica/

Bathin – um ritual moderno de demonologia

A demonologia de certa maneira perdeu parte de sua força nos dias de hoje. Talvez o problema seja que com o tempo a “razão” tenha reinvidicado parte do território que antes pertencia à magia. Talvez em um mundo onde Freddy Kruegers, Aliens & Predadores ou Pazuzus estejam a 5 reais de distância de qualuqer pessoa disposta a ir a uma locadora, homens com rabos de pássaro que realizam desejos não tenham mais aquele apelo de horror. Talvez em uma sociedade global onde o humor vem de programas que repetem de novo, de novo, de novo, de novo, de novo e de novo, de novo, de novo, a mesma piada – e o salário ó! – ninguém tenha entendido a piada que Crowley fez na sua introdução às Chaves Menores de Salomão quando disse que o trabalho de evocações demoníacas são meramente uma forma de auto-descoberta psicológica.

Mas não vamos nos prender a explicações que apenas se tornariam mais uma forma de masturbação intelectual, vamos nos atentar aos fatos. A demonologia de fato perdeu parte de sua força nos dias de hoje; mas não perdeu seu poder. E assim começa nossa breve jornada.

24 horas atrás recebi uma notícia interessante que poderia ser traduzida na língua horoscopal:

“Vênus está regendo seu signo. Peso das responsabilidades e limitações quanto aos seus objetivos podem deixar você bem exausto. O dia pode ser exaustivo no setor profissional, muita dedicação para poder segurar as coisas a seu favor. Uma viagem inesperada pode mudar sua rotina.”

Isso acabou se concretizando como tudo o que o horóscopo afirma. Dizem que os astrólogos de hoje fazem suas previsões de maneira tão vaga que tudo o que acontece num dia pode ser visto como a concretização de sua conversa com os astros. Algumas pessoas dizem que isso é o charlatanismo em sua forma mais descarada. Eu digo que se alguém descobre como descrever um evento de forma que ele possa se refletir em qualquer desdobramento que possa acontecer então essa pessoa está fazendo magia.

Há tempos estou trabalhando com demonologia e uma forma não de trazê-la para os dias de hoje, mas de usar o conhecimento contemporâneo para expandi-la e fazê-la crescer. A notícia da viagem me ajudou a colocar a coisa em prática. Veja, os meus problemas eram simples, em uma mão uma maneira de ver como usar na prática uma forma não medieval de demonologia, na outra precisava viajar para a terra do ouro e mel e crises econômicas e não tinha um visto americano no passaporte. Assim pensei, vamos unir a fome com a vontade de comer.

Diferente de outros textos onde lemos como desenhar coisas no chão, ficar pelados, gritar nomes e pedir coisas, vamos ver agora como colocar na prática um ritual de evocação de um demônio e como colher os resultados práticos e diretos.

Antes de prosseguirmos, vamos responder a pergunta daquela linda garota de mini-saia lá no meio da sala: mas por que usar demonologia para conseguir um visto americano?

Ótima pergunta, ótima saia, pode ficar mais à vontade na cadeira se desejar.

Quando o seu chefe vira para você e te diz que você está com uma viajem marcada para Providência, na Ilha de Rhodes, para resolver o que quer que a empresa onde você trabalha quer que seja resolvido, você não simplesmente diz: “escolha outra pessoa, eu não tenho visto!” você se lembra do que o horóscopo previu e pensa, hora da dedicação para segurar as coisas a meu favor! E sai da sala do chefe e entra no site: www.visto-eua.com.br para ver como agendar a sua entrevista para conseguir o visto. E lá descobre que o consulado de São Paulo tem uma espera de pelo menos 112 dias – a entrevista para o visto sairia no início de janeiro de 2012. O consulado de Recife tem uma fila de espera de pelo menos 92 dias, e por ai a fora. Assim a maneira “legal” de se conseguir um visto que possibilite minha viajem para daqui a 12 dias já foi por água a baixo. Vamos ver a maneira ilegal de se fazer isso. Depois de uma hora falando com os mais diversos despachantes “ponta-firme-esse-faz-milagres”, termino sabendo que mesmo que pagasse R$700,00 reais não conseguiria nada para antes da segunda quinzena de outubro. Bem, outubro é bem depois de setembro, então não me adianta. Então chegamos em um ponto interessante da história, a magia.

Bem, o que temos hoje quando falamos de magia? Wiccans que se reúnem em parques e continuam realizando os festivais e trabalhando com suas plantas. Eventualmente realizando esse ou aquele feitiço. Magistas do Caos que buscam fazer rituais tão confusos que nunca vão saber se obtiveram êxito, ou então se mobilizando em mind fucks coletivos de cunho anti-social. Satanistas tentando incrementar a própria vida com sua baixa-magia social. Terreiros de macumba. Trago a pessoa amada em 7 dias. Contato com Chorozon ou meses tentando descascar a árvore da vida para poder batizar as novas cascas que surgem. De fato a magia pode ser usada para o crescimento individual, trazer maturidade, auto-tranformação e sabedoria, e quem sabe uma trepada de vez em quando. Mas onde é que estão os feiticeiros? Onde está a magia para confundir caixas eletrônicos, para fazer luzes de farol de trânsito mudar? Onde estão os mestres que dançam não para trazer a chuva, mas para fazer sua banda favorita por acaso vir para a sua cidade para um show inesperado?

A magia é um modo de encarar o mundo, não uma fita isolante que fica numa gaveta esperando algo despedaçar para que possamos fazer um remendo. Então obviamente, se a solução dos homens não resolve, vamos ver o que podemos fazer apelando para o código fonte da realidade.

Em 1563 um livro foi publicado. Um livro muito interessante de fato, chamado de De Praestigiis Daemonum et Incantationibus ac Venificiis. Seu escritor foi um médico e psiquiatra, a seu modo, originário dos países baixos, o título do livro quer dizer Sobre a Ilusão de Demônios, Feitiços e Venenos. Na introdução do livro lemos em latim:

<tecla sap>
Meu objetivo não é apresentar para as pessoas as blasfêmias daqueles homens enfeitiçados que não tem vergonha de chamarem a si mesmos de magi, nem de expor suas curiosidades, suas decepções, vaidade, imposturas, delírios, sua capacidade de enganar a mente e suas mentiras óbvias mas, ao invés disso, mostrar que eles se mostram relutantes, quando são vistos sob a ofuscante luz do dia, em deixar suas mentes correrem em disparada alucinada, nesta época infame, onde o reino de Cristo é constantemente atacado pela tirania, imensa e impune, daqueles que abertamente realizam os sacramentos de Belial e que, não resta dúvida, em breve receberão sua recompensa justa.
</tecla sap>

O escritor de tal obra, Johann Weyer, havia sido um discípulo de Agrippa. E ele acreditava em magia, e ele acreditava no demônio, mas acreditava também, de forma discreta, que ele não era tão ruim quanto a igreja fazia o povo acreditar. Talvez aquilo fosse apenas uma forma de oferecer um inimigo tão grandioso que as pessoas não tivessem como enfrentar, uma forma de marketing medieval. Assim, dentro de seu livro sobre a ilusão dos demônios, acrescentou um trabalho entitulado Pseudomonarchia Daemonum (Liber officiorum spirituum) <tecla sap> Falsa Monarquia dos Demônios (Livro dos ofícios dos espíritos) </tecla sap> – e você achando que só Lovecraft bolava livros com nomes legais – neste texto, Wier listou e hierarquizou os nomes de diversos demônios acompanhando-os as horas apropriadas e os rituais para invocar-los.

Assim, diante de meu problema na mão esquerda e no da mão direita resolvi seguir o conselho de um dos grandes Reis ocultos deste mundo e bater palmas. Buscando minha biblioteca favorita achei o livro de Wier e passei a ler rapidamente suas páginas xerocadas fui fazendo nota mental dos poderes de cada um dos seres ali descritos. Dos 69 espíritos listados um me chamou a atenção:

Bathym, alibi Marthim Dux magnus & fortis: Visitur constitutione viri fortissimi cum cauda serpentina, equo pallido insidens. Virtutes herbarum & lapidum pretiosorum intelligit. Cursu velocissimo hominem de regione in regionem transfert. Huic triginta subsunt legiones.

Organizando o padre que vive em minha mente pude tirar que isso implicava algo aproximado de:

Bathym, um duque poderoso e forte: ele é visto como um homem de constituição forte, com cauda de serpente, cavalgando um cavalo branco. Ele compreende a virtude das ervas e pedras preciosas. E pode transportar um homem de maneira súbita de um pais para outro. Ele lidera 30 legiões do inferno.

Isso soou como música para meus ouvidos. Vejam, algo que muita gente não compreende é que demônios não são como botões dentro de uma caixa esperando que alguém abra a tampa, escolha o que acha mais adequado e então o costure num casaco enquanto usa um dedal de ferro para se proteger do ato de se trabalhar com ele. Borhs disse que o contrário de grandes verdades é verdade também. Assim se hoje grande parte das pessoas que se envolve com demonologia são pessoas sem cérebro nenhum, o inverso é real, demônios são cérebros sem pessoa nenhuma. Eles estão ao nosso redor o tempo todo.

Lembre-se que eu estava no escritório. Cada segundo vale uma eternidade de vidas. Não podia esperar para ir para casa e tentar chamar Bathym e ver o que negociar com ele, assim me concentrei na praticidade. Se eles estão ao nosso redor o tempo todo, basta conseguir entrar em contato com eles.

Um ritual de evocação mágica consiste de alguns pontos básicos:

1- Ir para um lugar onde ninguém interrompa a comunicação;
2- Entrar no estado de espírito correto de se contactar algo não físico;
3- Entrar no estado mental necessário para conseguir se comunicar com este algo;
4- Ter um assunto que seja interessante para ambos os lados;
5- Conseguir despachar essa coisa de forma que ela não fique puta com você, afinal quem está recebendo o chamado tem o número de que está chamando.

Bem, tendo já prática e experiência com rituais isso não é diferente de usar seu celular para ligar para alguém. Com isso em mente parti para o primeiro passo: descobrir quem é essa pessoa, e qual o número do “celular” dela.

PASSO 1

O livro de Weyer não foi o único a tratar de demônios de forma tão direta e clara então busquei a Goetia. O décimo espírito do Pseudomonarchia aparece também como o décimo oitavo espírito da clavícula de Salomão. A descrição do espírito é a mesma, mas traz uma informação extra:

“seu selo deve então ser feito e deve ser usado diante de você”

A versão de MacGregor Mathers e de Crowley da Goetia trazem duas versões mais modernas do selo e uma grafia diferente do nome do espírito, assim temos que Bathym também é chamado de Bathin, de Mathim e de Marthim. COmo essa informação é muito pouca para criar um programa mental que sirva para me conectar com o espírito resolvi apelar para o tarô. Bathym surge como o décimo e o décimo oitavo demônio dos dois maoires tratados de demonologia que sobrevivram ao tempo. Assim parti para os arcanos maiores:

A roda da Fortuna

Resumidamente a roda da fortuna está ligada à necessidade, ao acaso, mudança e a um objetivo. Esta é uma das cartas mais expressivas da sorte, fortuna e oportunidade. Mas não é necessariamente uma carta positiva, já que pode informar que adiante virá sorte mas não especifica se boa ou má. Tudo irá depender das suas decisões e atitudes, pois estas irão decidir para que lado penderá a balança, se para a boa sorte ou para a má sorte.

A Lua

A famosa luz no fim do túnel, mas não sem antes um monte de dores de cabeça. Uma carta ligada a guiar-se pelos seus instintos, sonhos utópicos, dificuldade em aceitar a realidade.

Não me lembro aonde, mas ainda descobri em algum lugar uma relação entre Bathym e o dez de espadas, já que estava no mundo do tarô parei para analisar a carta. Obviamente é uma carta de merda, mas isso para quem vive uma vida regular e tranquila, apesr de todo o mau agouro o dez de espadas representa a luz no fim do túnel também. Essa carta indica que o seu presente atingiu o tal ponto de mudança que lhe era tão necessário e tendo em mente que a realidade não gosta de mudanças, já que tudo busca permenecer na forma que é, parece que as coisas não podem piorar muito mais, o mundo parece que está virado contra si e parece que apenas lhe resta lamentar-se pelo seu infortúnio. Quando chegamos neste ponto em que não há nada a perder o melhor a fazer é parar de lutar contra a correnteza e se aproveitar dela

Lição de casa feita em quarenta minutos. Agora com o estado mental e de espírito necessários para se comunicar com o espírito decidi usar o sigilo da Goétia para contactá-lo. Como disse, a versão de Mathers/Crowley oferece duas opções, assim como Bathyn é o demônio 18 desta obra, escolhi o sigilo que tem o desenho de uma lua.

Como devemos usá-lo diante de nós o tempo todo, e como resolvi usar a analogia do telefone celular, desenhei ele nas costas da mão esquerda, a mão que uso para segurar o telefone quando trabalho, e me preparei para o passo 2, descobrir como encontrá-lo.

PASSO 2

Aproveitei a hora do almoço e sai para dar uma volta. Agora era o momento de esvaziar a mente de tudo e sintonizá-la em Bathin (grafia do nome no sigilo goético). Depois de caminhar, passei por acaso diante de uma agência de viagens de bairro, pequena e enfiada entre duas lojas. Na porta uma moto branca. Passei perto da vitrine e lá dentro um homem com botas de pele de cobra estava sentado atrás de uma mesinha de madeira. Ótimo sinal. Encostei as costas da mão contra o vidro e pressionei com força, apenas sentindo a psicologia do local se misturar com a de Bathin em minha mente. Quando tirei a mão do vidro havia um decalque fraco do sigilo no vidro. Ótimo sinal.

Voltei para o escritório.

É importante frisar que a partir do momento em que deixei minha mesa minha mente buscava a vacuidade, e me concentrava apenas nas sensações sugeridas pelas cartas do tarô. A agência de viagens é um símbolo de uma viajem rápida, onde você faz o mínimo e eles te levam de um lugar para o outro desde que se pague. Nada racional, apenas a loucura da magia queimando de um neurônio para outro.

Feito o contato e estabelecido uma linha entre mim e o espírito, voltei para o escritório para o passo 3, fazer a ligação.

PASSO 3

Em um ambiente de trabalho só há um lugar que você encontra paz: o banheiro. Mas o banheiro, logo depois do almoço é o local menos calmo de uma empresa.

Novo paralelo com a arte de evocação clássica. Assim que escolhe um local para o ritual, distante dos olhos profanos, você deve realizar um ritual de  banimento para limpar a área de energias contrárias à sua vontade. Resolvi isso com uma folha de papel e uma caneta hidrográfica preta. Sem mudar meu estado mental, desenhei os seguintes sigilos na folha:

BANHEIRO EM MANUTENÇÃO – DESCULPE O TRANSTORNO

e prendi com durez do lado de fora da porta, me trancando dentro.

PASSO 4

Momento de discar para o demônio.

Simplesmente precisei apagar a luz, me sentar no chão de pernas cruzadas, o melhor que pude no pouco espaço, e deixar a mente trabalhar. Ergui a mão até a orelha como se segurasse o celular e imaginei o tom de chamando.

Curiosamente ao invés de ouvir uma voz mental de alô, veio a impressão de deixe o recado após o sinal. Foi neste momento que expus o problema e pedi uma solução:

“Preciso de um visto americano em cinco dias úteis!”

PASSO 5

Agradeci a atenção e pedi para entrar em contato o mais rápido possível, desliguei o celular colocando a mão no bolso. Me levantei, lavei o rosto e sai do banheiro.

CONCLUSÃO

Como disse, o objetivo do texto é mostrar como a demonologia se aplica hoje de forma prática, nada de ficar imaginando como vem uma resposta ou analizar objetivamente fatos subjetivos.

Voltei para a minha mesa e comecei a pensar como a colocar em prática o visto, afinal trabalhar com Bathin aparentemente não me livraria de estress e dificuldades. Vinte minutos depois de me sentar alguém atrás de mim comenta: “é o alimento vivo da chama que ilumina”. Me voltei e pedi para ele repir que não estava prestantando atenção, ele repetiu: “O poeta é o alimento vivo da chama que ilumina”, e completou dizendo que era uma frase de Martí, um poeta cubano. Martí é próximo o suficiente, voltei a checar a previsão para o agendamento de visto. Curiosamente a data para as entrevistas em Recife de 3 meses sumiram e havia uma data para 2 dias. Marquei.

Passei o dia seguinte tentando descobrir como viajar para Recife para ir à entrevista e correndo com a papelada como responder formulários do site de visto, levantar coisas como imposto de renda e todo tipo de documento necessário.

Para alimentar o sigilo que estava em minha mão, perguntava para as pessoas se elas sabiam se era possível tirar o visto em outro estado em dois dias, as risadas delas eram o Big Mac de Bathin.

Como disse acima, a realidade reluta qualquer mudança, isso se traduz na lei da inércia: é necessário sempre mais força para iniciar uma mudança de estado (de parado para se movendo ou de movendo apra parado) do que para se manter esse novo estado. Assim não demorou duas horas para que as sereias começassem a surgir. Pessoas com despachantes milagrosos, ou conhecidos com esquemas. Sabe quando você decide mudar ou pede algo e milagrosamente algo acontece para te empurrar nesse direção, e então parece que outras portas aparecem, que ou te mostram que continuar na mesma é a melhor opção (decide mudar de emprego e recebe uma proposta de aumento neste) ou que esperar é melhor (quero um carro novo, surge um dinheiro do nada e de repente posso usar esse dinheiro em outras coisas e depois financiar um carro)? Isso é a realidade lutando para parmanecer no mesmo estado que se encontra. Muitas vezes é quase impossível resistir. Mas quando lidamos com demônios onde a maior parte do tempo você acha que está louco ou não tem garantia nenhuma de que a coisa vá funcionar, é melhor abraçar o abismo.

No fim do dia havia conseguido milhas de um conhecido para comprar uma passagem para Recife (para facilitar meu cartão precisaria de 10 dias para converter os pontos em milhas e liberá-las, eu precisava estar em recife em 36 horas úteis). Consegui levantar a papelada ontem. Achei meu antigo passaporte que havia desaparecido. Alimentei o sigilo com mais algumas dúzias de: “você vai perder a ciagem e o dinheiro” regado com molho de “se mete nessas loucuras a troco de nada, se fosse fácil assim todo mundo faria, você vai quebrar a cara”.

E assim, ontem à noite, acabando de preencher o formulário virtual que precisa ser preenchido com 48 horas de antecedência, parti para Recife. Hoje às 7:30 da manhã estava no consulado americano. O sigilo quase desbotado em minha mão me alertava do prazo de validade do acordo. Assim que a tinta sumisse de vez, a ligação seria cortada.

Durante a entrevista foram feitas dez perguntas simples. Mesmo morando em São Paulo pareceu não haver problemas de eu estar em Recife pedindo o visto. Depois de alguns minutos o homem com sotaque me falou que enviariam meu passaporte por Sedex para mim.

E assim aconteceu. Vida, magia, demonologia, rituais, resultados.

A demonologia tem poder até hoje, basta saber como se conectar com ela. Há sempre um preço a ser pago, mas nada tão dramático quanto uma alma ou uma vida. É tudo questão de se negociar.

Agora, claro, os correios entram em greve geral. E tenho que receber meu passaporte com o visto até o começo da semana que vem, quando vou embarcar.

Se Bathin deu resultado com o visto, vejamos com quem vou tentar trabalhar para conseguir contornar esse problema. Em breve talvez isso vire um segundo artigo.

Texto escrito 14-09-2011

Por LöN Plo

Postagem original feita no https://mortesubita.net/demonologia/bathin-um-ritual-moderno-de-demonologia/

Faze o que tu queres há de ser o todo da Lei

O dicionário Webster classifica religião como “o serviço e veneração a Deus ou ao sobrenatural; um conjunto de leis ou um sistema institucionalizado de atitudes religiosas, crenças e práticas; a causa, princípio ou sistema de crenças efetuada com ardor e fé”. Ele também coloca a palavra Ritual como sendo “uma forma estabelecida de cerimônia; um ato ou ação cerimonial; qualquer ato formal ou costumeiro realizado de maneira seqüencial”.

Porém, nenhum dicionário vai conseguir dar a vocês a verdadeira definição de Magia. Magia é um processo deliberado no qual eventos do desejo do Mago acontecem sem nenhuma explicação visível ou racional. Os católicos/evangélicos chamam estes eventos de Milagres quando são produzidos por eles e de “coisas do demônio” quando são produzidos por outras pessoas. As religiões ortodoxas acabaram presas em uma armadilha que elas mesmas criaram a respeito dos rituais e da magia. Embora a Igreja Católica (e as Evangélicas por extensão, com seus óleos sagrados, águas do rio Jordão e círculos de 318 pastores) use e abuse de rituais de magia baixa em seus cultos, o mero comentário que seus fiéis estejam usando rituais de magia pode te arrumar confusão.

Então… como os magos definem magia? Um Ritual de Magia é apenas e tão somente a canalização de energias de outros planos de existência, através de pensamentos, gestos, ações e vocalizações específicas, em uma forma manifestada no Plano Físico. O nome que se dá a isso é Weaving (tecer), de onde se originam as palavras Witch (bruxa) e Wiccan (bruxo). Não confundir com a baboseira new age que se difundiu no Brasil e que chamam de “wicca” por aí. Estou falando de coisas sérias.

A idéia por trás da magia é contatar diversas Egrégoras (chamadas de Deuses ou Deusas) que existem em uma dimensão não material. Os magos trabalham deliberadamente estas energias porque as Egrégoras adicionam um poder enorme ao Mago para a manifestação de sua vontade (Thelema, em grego).

O primeiro propósito de um ritual é criar uma mudança, e é muito difícil realizá-las apenas com a combinação dos arquétipos e de nossa vontade solitária. Para isto, precisamos da assistência destas “piscinas de energia” que chamamos de Divindades.

Tudo o que é usado durante a ritualística é um símbolo para uma energia que existe em outro plano. O que define se o contato irá funcionar ou não depende do conhecimento que o Mago possui destas representações simbólicas usadas no Plano Material. O estudo e meditação a respeito da simbologia envolvida nas ritualísticas é vital para o treinamento de um mago dentro do ocultismo.

Para conseguir trazer estas energias das Egrégoras para o Plano Físico, os magos precisam preparar um circuito de comunicação adequado, de maneira a permitir o fluxo destas energias. Isto é feito através da ritualística, do uso de símbolos, da visualização e da meditação.

Para manter este poder fluindo em direção a um objetivo, é necessário criar um Círculo de Proteção ao redor da oficina de trabalho. Este circuito providencia uma área energética neutra que não permitirá que a energia trabalhada escoa ou se dissipe. Este círculo pode ser imaginário, traçado, riscado ou até mesmo representado por cordas (como a famosa “corda de 81 nós” usadas nas irmandades de pedreiros livres na Idade Média).

O círculo de proteção também pode ser usado para limpar um ambiente, para afastar energias negativas ou entidades astrais indesejadas.

Para direcionar este controle e poder, o mago utiliza-se de certas ferramentas de operação, para auxiliar simbolicamente seu subconsciente a guiar os trabalhos no plano mental e espiritual. É por esta razão que a maioria das escolas herméticas utiliza-se dos mesmos instrumentos, como taças, moedas, espadas, adagas, incensos, caldeirões, ervas e velas. O uso de robes e roupas consagradas especialmente para estas cerimônias também é necessário para influenciar e preparar a canalização das energias destas egrégoras.

Para contatar corretamente cada egrégora, o Mago necessita da maior quantidade possível de símbolos para identificar e representar corretamente a divindade, poder ou arquétipo que deseja. Apenas despertando sua mente subconsciente o Mago conseguirá algum resultado prático em seus experimentos. E como o subconsciente conversa apenas através de símbolos, somente símbolos podem atrair sua atenção e fazer com que funcionem adequadamente.

Podemos fazer uma analogia destas egrégoras como sendo cofres protegendo vastas somas de recursos, cujas portas só podem ser abertas pela chave correta. Rezas, orações, práticas mágicas e venerações “carregam” estes cofres e rituais específicos “abrem” estes cofres. Cada desenho, imagem, vela, cor, incenso, plantas, pedras, símbolo, gestos, movimentos e vocalização adicionam “dentes” para esta chave, como um verdadeiro chaveiro astral (qualquer semelhança com o Keymaker do filme Matrix NÃO é mera coincidência). De posse da simbologia correta do ritual e da realização precisa de cada passo da ritualística, o Mago é capaz “girar a chave”, contatar a egrégora e acessar estes recursos.

Ao final do ritual, estes deuses ou formas arquetipais são liberados para que possam manifestar o desejo para qual foram chamados durante o ritual e também permite que o Mago volte a funcionar no mundo normal. Manter os canais de conexão com os poderes ativos após o ritual ter sido completado tornaria impossível para uma pessoa viver uma vida normal.

Os magos enxergam o universo como um organismo infinito no qual a humanidade o moldou à sua imagem. Tudo dentro do universo, incluindo o próprio universo, é chamado de Deus (Keter). Por causa desta interação e interpenetração de energias, os iniciados podem estender sua vontade e influenciar o universo à sua volta.

Para conseguir fazer isto, o iniciado precisa encontrar seu próprio Deus interior (chamado pelos orientais de atmã e pelos ocidentais de EU SOU, ou seja, o seu verdadeiro EU). Este é o verdadeiro significado da “Grande Obra” para a qual nós, alquimistas, nos dedicamos. Tornar-se um mestre da Grande Obra pode demorar uma vida inteira, ou algumas vidas.

A magia ritualística abre as portas para sua mente criativa e para o seu subconsciente. Para conseguir realizar apropriadamente os rituais de magia, o magista precisa desligar o seu lado esquerdo do cérebro (chamado mente objetiva ou consciente, que lida com o que os limitados céticos chamam de realidade) e trabalhar com o lado direito (ou criativo) do cérebro. Isto pode ser conseguido através de meditação, visualização e outras práticas religiosas ou ocultistas para despertar.

O lado esquerdo do cérebro normalmente nos domina. Ele está conectado com a mente objetiva e lida apenas com o mundo material denso (chamado de Malkuth pelos cabalistas). É o lado do cérebro que lida com lógica, matemática e outras funções similares e também o lado do cérebro responsável pela culpa e por criticar tudo o que fazemos ou pretendemos fazer. Na Kabbalah chamamos este estado de consciência de Hod.

O lado criativo do cérebro pertence ao que chamam de “imaginação”. É artístico, visualizador, criativo e capaz de inventar e criar apenas através de uma fagulha de pensamento. Com o desequilíbrio entre as energias da Razão e da Emoção, o indivíduo pode pender tanto para o lado “cético-ateu” quanto para o lado “fanático religioso”. Os verdadeiros ocultistas são aqueles que dominam ambas as partes de sua consciência.

Uma das primeiras coisas que alguém que pretende enveredar por este caminho precisa fazer é aprender a eliminar qualquer sensação de falha, insatisfação ou crença materialista no chamado “mundo real”. Esta é a esfera do gado e dos rebanhos.

Diariamente, todos nós somos bombardeados com estas mensagens negativas na forma de “essas coisas não existem”, “imaginação é faz-de-conta”, “só acredito no que posso tocar”, “magia é coisa de filme”” e outras baboseiras, condicionando o gado desde pequeno a se comportar desta maneira. Esta é a razão pela qual amigos e companheiros devem ser escolhidos cuidadosamente, não importa a idade que você tenha. Diga-me com quem andas e te direi quem és.

Idéias a respeito de limitações ou falhas devem ser mantidas no nível mínimo e, se possível, eliminadas completamente. Para isto, existem certas técnicas de meditação que ensinarei nas colunas futuras.

Desligando o lado esquerdo

Durante um ritual, o lado esquerdo do cérebro é enganado para sua falsa sensação de domínio pelos cantos, gestos, ferramentas, velas e movimentações. Ele acredita que nada ilógico está acontecendo ou envolvido e se torna tão envolvido no processo que esquece de “fiscalizar” o lado direito. Ao mesmo tempo, as ferramentas se tornam os símbolos nas quais nosso lado direito trabalhará.

Existem diversas maneiras de se treinar para “desligar” a mente objetiva durante uma prática mágica. Os mais simples são a meditação, contemplação, rezas e mantras, mas também podemos usar a dança, exercícios físicos até a beira da exaustão, atividades sexuais e orgasmos, rodopios, daydreaming, drogas alucinógenas ou até mesmo bebedeira até o estado de semi-inconsciência. O exercício da Vela que eu passei em uma das primeiras matérias é um ótimo exercício para treinar este desligamento da mente objetiva.

Emoções

O lado esquerdo do cérebro não gosta de emoções (repare que a maioria dos fanáticos céticos parecem robozinhos, ao passo que os fanáticos religiosos parecem alucinados), pois emoção não é lógica. Mas as emoções são de vital importância na realização dos rituais. A menos que você esteja REALMENTE envolvido de maneira emocional e queira atingir os resultados, eu recomendo que você feche este browser e vá procurar uma página com mulheres peladas, porque não vai atingir nenhum resultado prático na magia. Emoções descontroladas também não possuem lugar na verdadeira magia, mas emoções controladas são VITAIS para a realização correta de rituais. O segredo é soltar estas emoções ao final da cerimônia (eu falarei sobre isso mais para a frente).

O primeiro passo para realizar magias é acreditar que você pode fazer as coisas mudarem e acontecerem. A maioria do gado do planeta está tão tolhido de imaginação e visualização que não é capaz nem de dar este primeiro passo, pois acreditam que “estas coisas não existem”. Enquanto você não conseguir quebrar a programação que as otoridades colocaram em você desde criança, as manifestações demorarão muito tempo para acontecer.

É o paradoxo do “eu não acredito que aconteça, então não acontece”.

Para começar a fazer as mudanças que você precisa, é necessário matar hábitos negativos. Falarei sobre a Estrela Setenária e os Sete defeitos capitais da alquimia (ou “sete pecados” da Igreja) mais para a frente. Conforme você for mudando seus hábitos, descobrirá que você gostará mais de você mesmo e os resultados mágicos começarão a fluir.

Esta é a origem dos famosos “livros de auto-ajuda” que nada mais são do que a aplicação destes princípios místicos travestidos de explicações científicas. O livro “O segredo” nada mais é do que uma compilação de ensinamentos iniciáticos desde o Antigo Egito. Ele não funciona para a maioria dos profanos simplesmente porque o gado não possui a disciplina mental, a imaginação e a vontade (Thelema) para executar o que deve ser executado.

O Bem e o Mal

Algumas Escolas iniciáticas, religiões judaico-cristãs e filosofias de botequim irão te dizer que realizar magias para você mesmo é egoísta e “magia negra”. Esqueça estas besteiras… se você não é capaz de operar e manifestar para você mesmo, você nunca conseguirá manifestar nada para os outros.

Não existe “magia branca” ou “magia negra”. O que existe é a INTENÇÃO. A magia é uma ferramenta, como um martelo. Você pode usá-lo para construir uma casa ou para abrir a cabeça de um inocente a pancadas. Quando Aleister Crowley disse “Faze o que tu queres há de ser o todo da Lei”, ele disse isso para iniciados que já tinham total noção do que deviam ou não fazer dentro da Grande Arte, não para um zé mané iniciante. Cansei de ver misticóides do orkut interpretando esta frase como sendo “vou fazer o que minhas paixões de gado me dizem para fazer”, usando as palavras do grande Crowley para justificar suas imbecilidades.

O Karma é uma Lei Imutável. Assim como a Lei da Gravidade, a Lei do Karma não dá a mínima se você acredita nela ou não, ela simplesmente existe: você sofrerá suas ações. Ponto final.

Por esta razão, é essencial pensar nisso quando se fala em magia. Normalmente, utilizar este tipo de conhecimento para causar o mal gratuito não vale o preço kármico a se pagar depois. Simples assim.

Willpower, baby

A força de vontade humana é uma força real e muito poderosa. Ela é possível de ser disciplinada e produzir o que a uma primeira vista parecem resultados sobrenaturais. A força de vontade é direcionada pela imaginação, que é o domínio do lado direito do cérebro. O universo não é aleatório. “Tudo o que está em cima é igual ao que está embaixo”. Ele é constituído de padrões e conexões, como um fractal multidimensional de ações. Através das correspondências, do conhecimento dos padrões e da força de vontade, você será capaz de utilizar as forças arquetipais para seus próprios propósitos, sejam eles bons ou malignos.

Os deuses, demônios, devas, elementais, anjos enochianos, djinns, exús, emanações divinas, qlipoths e entidades astrais são amorais. O poder simplesmente está lá. COMO você vai utilizá-lo é que se torna responsabilidade dos magos. Tanto a magia branca quanto a magia negra trazem resultados, mas no final das contas, todos teremos de nos acertar com a Balança de Anúbis e os preços devem ser pagos. Infelizmente, a maioria das pessoas tem esta idéia errada de que Karma significa “punição” ou “recompensa”. Isto vem de um sincretismo com as religiões judaico-cristãs. Karma significa apenas que cada ação traz uma reação de igual força. E que as pessoas são responsáveis por aquilo que fazem.

A simbologia dos deuses per se são apenas estímulos para serem usados pela humanidade como catalisadores para uma elevação da consciência e a melhoria do ambiente ao redor do mago. Os rituais, em seu senso mais puro, lidam com transformações no mundo. O conhecimento destas ações é o motivo pela qual as Ordens (a maioria delas) trabalha em ações globais além das ações locais. E esta também é a razão pela qual as otoridades tanto temem e perseguem os magos, bruxos e membros de ordens secretas. Eles não querem que o status quo se modifique, pois perderiam todo o poder e o controle sobre o rebanho que possuem.

Carl Jung disse que experiências espirituais são diferentes de experiências pessoais, sendo que a segunda estaria em um nível mais elevado. Isto acontece porque normalmente nem todos em um grupo possuem a concentração ou a dedicação necessária para elevar todo o grupo ao mesmo patamar de consciência (uma corrente é tão forte quanto o mais fraco de seus elos). ESTA é a razão pela qual as ordens secretas (especialmente as invisíveis, já que as discretas já estão sendo contaminadas faz um tempo pelo gado de avental) escolhem com tanto cuidado seus membros.

Muita gente choraminga a respeito do porque as Ordens Iniciáticas serem tão fechadas, e do porquê este conhecimento ficar preso nas mãos de poucas pessoas, mas a verdade é que pessoas perturbadas ou cujo grau de consciência não esteja no mesmo nível do grupo acabarão agindo como sifões de energia ou criarão caos suficiente para estragar a egrégora das oficinas.

Meditação

O conceito de participar de um ritual ou entrar em um templo sagrado (seja ele um círculo de pedra, uma pirâmide ou uma igreja católica) é o de atingir um estado de consciência conhecido na Índia como “a outra mente”. Durante um ritual, todos os participantes são ao mesmo tempo atores e platéia, ativando áreas da mente que não são usadas durante o dia-a-dia. Através deste jogo, conseguimos libertar nossas mentes e espíritos destes grilhões e alcançar que está além.

93, 93/93

#Thelema

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/faze-o-que-tu-queres-h%C3%A1-de-ser-o-todo-da-lei

O Que é Bruxaria Tradicional?

“Você pode andar pelo caminho,

Você pode falar as palavras,

Mas você pode conjurar um espírito?”

Sentimos-nos honrados com o convite para contribuir com esta coluna sobre Bruxaria Tradicional aqui no blog “Teoria da Conspiração”, e é com humildade e os pés no chão que adentramos este espaço de compartilhamento de saberes, de generosidade e aceitação. É neste espírito que inflama a alma que iniciamos este pequeno ensaio de introdução no tema.

Cremos que “Bruxaria” tenha sido um assunto fascinante ou aterrorizante para todos os povos de todas as eras, e sua “função” constitui no único consenso eterno nela existente, pois dela nunca uma única forma prevalece perene dada à sua fluidez. A mídia replica a figura imutável e cada um interpreta de acordo com amplitude de sua visão. Para alguns, a bruxa é uma figura folclórica, mítica, uma fantasia – e para outros – ela é a portadora das chaves para inúmeras possibilidades ainda ocultas.

É possível coletar algumas percepções importantes dentro das muitas opiniões e disposições a respeito do tema, assim como é muito fácil ficarmos atordoados com o amontoado de teorias “esquizotéricas” sobre o tema. A confusão não é proveniente da simples gradação de refinamento cultural, mesmo porque esta é uma Arte que fala à mente do erudito com a mesma facilidade com a qual fala ao coração da benzedeira. É uma questão de afinidade energética, de marca em espírito e carne, e assim, a linguagem – por mais refinada que seja – ainda é pobre para expressar.

Ao contrário da teoria de Margaret Murray de que a Bruxaria seria um culto organizado em toda a Europa, com uma estrutura fixa de rituais e crenças religiosas, a Bruxaria tem suas raízes exatamente naquilo que Murray descartou ainda no prefácio de sua teoria, a qual ela chamou de “Bruxaria Operacional”, ou seja, a prática de magia, feitiços e bruxedos. Como cita Nicholaj Frisvold, em sua fascinante visão sobre a história da prática da Bruxaria, “Artes da Noite” (Ed. Rosa Vermelha – 2010): “Também temos uma idéia persistente de que a organização em cultos e ordens seja uma prática de longa data, mas na realidade há mais evidências que apontam para o fato de que a organização de diversas crenças tenha ocorrido no século XVII, quando a maçonaria se encontrava dentre os grupos mais famosos. Antes do século XVII as pessoas se reuniam, muito provavelmente em unidades menores, já que as organizações eram bem locais”. Mais a frente, o autor nos diz: “Como também a seção de história tem demonstrado, a bruxaria era, até o século XVI, algo que se praticava, e não uma identidade referindo a alguém que era parte de um culto organizado.”

Na seqüência dos estudos de Murray, Gardner lançou ao mundo sua “Religião Neo-Pagã de Fertilidade” sob o termo Wicca (ou “Bruxaria Moderna”). Dada subseqüente campanha de dissolução e branqueamento, alguns poucos que preservavam certas práticas antigas de bruxaria vieram a público, como vemos no caso de Robert Cochrane, que nos anos 60 fez possível a distinção entre os que predecediam os gardnerianos, cunhando o termo Bruxaria Tradicional. Antes disso não havia a necessidade da utilização deste termo, e pelo contrário, tanto a prática quanto o termo “bruxaria” eram considerados assuntos “sub-rosa”, ou seja, mantidos em absoluto sigilo. Como exposto no artigo “Bruxaria Tradicional para Iniciantes”[1]: A Bruxaria ‘Tradicional’ passou a existir como um rótulo de identificação, justamente quando houve a necessidade de se preservar o espaço das práticas que eram consideradas heréticas (de manipulação de forças ‘sagradas’ ou ‘profanas’ a fim de se alterar realidades).

De fato, até os séculos XVI e XVII, os bruxos e bruxas eram comumente solitários, e seu conhecimento era transmitido via indução iniciática de um para o outro, na maioria das vezes em caráter hereditário. Pequenos grupos podiam existir, mas já mencionado, em unidades menores e locais. Foram os séculos XVIII e XIX que experimentaram o nascimento dos Cuveens[2] e Coventículos, onde a sabedoria dos bruxos, que até então era focada na terra, nos espíritos da natureza, no uso de ervas e venenos e na conjuração dos mortos, passou aliar com os conhecimentos místicos da Alta Magia, Hermetismo, Astrologia Medieval e Renascentista e a Filosofia, e cujos expoentes classificavam-na como “infernal” em oposto imediato e necessário ao “celestial”, fosse pela compreensão maniqueísta da época, fosse pela forçosa proteção contra punições eclesiásticas. Este é o período que mais contribuiu com o caráter mais Místico e Quintessencial da Bruxaria. Os bruxos sempre aproveitaram o conhecimento de onde quer que ele jorrasse, fosse ele o folclórico de sua terra (com os resquícios do paganismo de outrora), fosse o conhecimento obtido numa Missa Católica (basta lembrarmos das leituras de Salmos como encantamentos). Existiram os bruxos iletrados, e existiram os bruxos eruditos, e a Sabedoria de ambos é tida como um tesouro de mesmo valor para os Bruxos Tradicionais contemporâneos. Como tal, a Arte Tradicional não é totalmente pagã ou neo-pagã como a Bruxaria Moderna do século XX, mas contém em seu Ethos[3] elementos pagãos na mesma medida em que contém elementos cristãos ou místicos.

Os bruxos tradicionais definem sua Arte como um Ofício (Função), no qual a bruxa opera com os poderes da terra e das estrelas, dos mortos da terra e seus ancestrais. A Bruxaria é a Arte de provocar mudanças, o uso alegado de poderes sobrenaturais ou mágicos seja qual for a crença espiritual do bruxo, é a manipulação da Quintessência contida na Natureza através da Vontade, Desejo e Crença de seu praticante.

A adição do termo “Tradicional” compreende o sentido das verdades perenes, ou o “perenialismo” contido nas tradições da terra. A Palavra Tradição é proveniente do latim “tradere”, “traditio”, ou ainda “traditionis”, que significa trazer, entregar, transmitir. Assim, ela transmite certo conteúdo que pode ser uma memória cultural, espiritual e material, geralmente um conjunto de idéias, recordações e símbolos que passam através de gerações. A Tradição, via de regra, é uma doutrina, uma cosmovisão que se descortina ao iniciado e não um dogma a ser abraçado cegamente. A partir de uma Tradição, é possível encontrar correlações com todas as outras, por mais diferentes que sejam suas origens e formas, ou estéticas, e sem descartar o panorama geral do contexto cultural onde se desenvolveu. Infelizmente em nossos dias é comum ater-se somente ao aspecto de legado, sem haver um critério específico no conteúdo ou qualidade deste legado, e assim é que a “Tradição” tem conhecido fronteiras em tempos onde fronteiras tendem a cair.

O estudante e o praticante devem ter sempre em mente ambos os conceitos, Forma e Função, pois é através destes dois conceitos que é possível identificar a tradicionalidade de uma dada prática ou grupo. Em todas as vertentes da Arte Tradicional com as quais fomos afortunados em nos associar em algum nível, encontramos uma grande similaridade na Função dentro da grande diversidade de Formas. Todas elas apontam para o mesmo Mistério da Unicidade, o eterno Princípio Divino.

A Arte Tradicional é muito bem exemplificada nas palavras de Andrew D. Chumbley, em seu artigo homônimo a este, onde ele diz: “A Bruxaria Tradicional é o Caminho Sem Nome da Arte Mágica. É o Caminho da Bruxa, o chamado do coração que indica a vocação do Cunning Man e da Wise Woman[4]; é o Círculo Secreto de Iniciados constituindo o corpo vivo da Antiga Fé. Seu ritual é o Sabbat do Sonho-feito-Carne. Seu mistério jaz no Solo, abaixo dos pés Daqueles que trilham o caminho tortuoso de Elphame. Sua escritura é o caminho do Wort-Cunning[5] e encantadores das Bestas, o tesouro da tradição relembrada por Aqueles que honram os Espíritos; é a gramática do conhecimento sussurrado ao pé do ouvido, amados por Aqueles que mantém sagrados os segredos dos Mortos e confiados Àqueles que lançam seu olhar adiante… as respostas a quem pergunta sobre a Bruxaria Tradicional jazem na suas terra nativa: o Círculo da Arte das Artes!”. Sua origem é traçada nos Cunning-Men e nas Wise-Women, nos sábios Pellar[6], nas benzedeiras e curandeiros, nos exímios Wortcunners, como também nos Doutores dos Planetas, Magos Renascentistas e Pensadores Liberais.

Por fim, podemos dizer que a Bruxaria é um patrimônio cultural da Humanidade, ou ainda, que é o Caminho Tortuoso que guia o Bruxo rumo a Forja de Fogo Estelar para seu aperfeiçoamento. Esta é a Arte da Troca de Pele da Serpente, da solidão e expiação Cainita, daqueles que carregam a Marca e Maldição na Fronte, na Alma e no Sangue.
Possam a Bênção, a Maldição e a Sabedoria estarem convosco!

Nota Biográfica:

Draku-Qayin (a.k.a. Adriano Carvalho) e Qelimath (a.k.a. Katy de Mattos Frisvold) são Bruxos Tradicionais, fazem parte da Irmandade conhecida externamente como Via Vera Cruz, e são também membros do Clan of Tubal Cain por sua extensão brasileira conhecida como Lilium Umbrae Cuveen. Draku mantém o blog Crux Sabbati (www.cruxsabbati.com) e Qelimath o blog Diablerie (www.diablerie.com.br) onde discutem a Arte Tradicional em um amplo sentido.

Notas:

[1] – Para ler este ensaio acesse:

http://www.diablerie.com.br/2011/01/bruxaria-tradicional-para-iniciantes.html

[2] – Cuveen, ou Covine, são os termos mais comumente utilizados na Arte Tradicional para aquele mais conhecido como “Coven”.

[3] – Ethos, palavra de origem grega, na Sociologia, é uma espécie de síntese dos costumes de um povo. O termo indica, de maneira geral, os traços característicos de um grupo, do ponto de vista social e cultural, que o diferencia de outros. Seria assim, um valor de identidade social.

[4] – Cunning Man e Wise Woman, respectivamente “Homem Sábio” (ou “Homem Astuto”) e “Mulher Sábia”, são os termos aplicados na Inglaterra aos sábios habilidosos na arte das conjurações, dos feitiços, benzimentos e maldições.

[5] – Wort-Cunning é o termo inglês para o ofício dos herbanários, estes últimos sendo conhecidos como Wortcunners.

[6] – Pellar é um termo originário da Cornualha usado para designar curandeiros rurais, homens sábios e exorcistas populares.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-que-%C3%A9-bruxaria-tradicional