Nas manchas lunares, os ingleses crêem decifrar a forma de um homem; duas ou três referências ao homem da lua, ao man in the moon, há no Sonho de Uma Noite de Verão. Shakespeare menciona seu feixe ou arbusto de espinhos; já um dos versos finais do canto XX do Inferno fala de Caim e dos espinhos. O comentário de Tommaso Casini lembra a esse propósito a fábula toscana de que o Senhor deu a Caim a lua por cárcere e condenou-o a carregar um feixe de espinhos até o fim dos tempos. Outros vêem na lua a sagrada família, e assim Lugones escreveu em seu Lunario Sentimental:
“Y está todo: la Virgen com el niño; al flanco,
San José (algunos tienen la buena fortuna
De ver su vara); y el buen burrito blanco
Trota que trota los campos de la luna” [1]
Os Chineses, por sua vez, falam da lebre lunar. Buda, em uma de suas vidas anteriores, padeceu fome; para alimentá-lo uma lebre atirou-se ao fogo. Buda, como recompensa, enviou sua alma à lua. Aí, sob uma acácia, a lebre tritura em um almofariz mágico as drogas que integram o elixir da imortalidade. Na fala popular de certas regiões, essa lebre se chama o doutor, ou lebre preciosa ou lebre de jade.
Acredita-se que a lebre comum vive até os mil anos e encanece ao envelhecer.
Notas
1- Tudo está ali: a Virgem com o menino; em seu flanco,
São José (alguns, boa sorte é sua,
Podem ver seu cajado); e o bom burrinho branco
Trota que Trota pelos campos da lua.
(Trad. de J. V. B.).
Fonte: O Livros dos Seres Imaginários – Jorge Luís Borges e Margarita Guerrero
Postagem original feita no https://mortesubita.net/criptozoologia/lebre-lunar/