O Inconsciente é o divino

A superfície consciente da nossa natureza é o nosso pequeno ego humano – as profundezas inconscientes são o nosso grande Eu divino.

A Realidade Universal é o grande Inconsciente, não o Inconsciente da vacuidade, mas o Inconsciente da plenitude. O Inconsciente da plenitude é o Oniconsciente, mas esse Oniconsciente se apresenta ao nosso ego consciente como sendo o Inconsciente. Os extremos se tocam. Quem olha para dentro da treva nada enxerga; quem olha diretamente dentro da luz solar, nada enxerga. Aquela escuridão é a ausência da luz, esta é a plenipresença da luz. Treva total e luz total são, para nossa percepção finita, a mesma coisa – o Nada, o Vácuo, a Treva, a Ausência. Nós, os finitos, só enxergamos o Todo quando ele é reduzido a Algo, mas não o enxergamos como o Todo, que nos parece o Nada.

A luz Incolor da Realidade Total não é objeto de nossa percepção finita; só a Luz Colorida da Realidade Parcial, isto é, do Algo Finito, é que pode ser percebida por nós. Os nossos sentidos e o nosso Intelecto – o nosso ego humano – funcionam como “válvulas de redução”, diz Aldous Huxley; se assim não fosse, não poderíamos existir como indivíduos. O impacto da Realidade Total nos aniquilaria, desindividualizando-nos, universalizando-nos; deixaríamos de existir finitamente, continuando a ser universalmente. Mas esse “ser universal” não sou eu, não és tu, não é nenhuma creatura finita, isto é a Realidade Infinita do puro Ser. Nós, os finitos, existimos graças à nossa finitude; existimos a mercê das nossas limitações. Se não fôssemos limitados, não existiríamos como indivíduos.

Por isto, o Inconsciente do Todo, do Ser, do Infinito, é percebido por nós como um Inconsciente. O ontologicamente Inconsciente é, para nós, logicamente consciente, uma vez que “o conhecido está no cognoscente segundo o modo do cognoscente”.

Quando nos abismamos em profunda contemplação espiritual, estabelecemos ponto de contato entre o nosso finito consciente e o Infinito Inconsciente. E, quando o Inconsciente do Infinito sobrepuja o nosso consciente finito, então perdemos a percepção dos sentidos e a concepção do intelecto; tudo “desmaia” [1] diante do nosso consciente, nada mais sabemos de tempo e espaço, que são criações do ego consciente, e temos a impressão de submergirmos no eterno e no infinito, que são a negação de tempo e espaço.

Quando entramos profundamente no sagrado “Aum”, e quando espira a derradeira vibração sutil do “m” final, então, dizem os orientais, entramos no grande “nada” [2], que é a derrota do nosso consciente pelo Inconsciente. Estamos no terceiro céu, no samadhi, no ekstasis (êxtase), expressões várias para designar a absorção do consciente pelo Inconsciente.

Fonte:

Huberto Rohden, Roteiro Cósmico: Martin Claret, 2011. pg. 129.

[1] – A palavra “desmaiar” não vem do latim. Provavelmente, os portugueses a trouxeram do Oriente, em séculos pretéritos. Maya é a palavra sânscrita para “natureza”, quem desmaia, perde a noção de Maya; está fora de tempo e espaço, ambiente da natureza perceptivo-conceptiva.

[2] – Como a palavra “desmaiar”, também o vocábulo “nada” não é de origem latina. Na língua sânscrita, o termo “nada” quer dizer silêncio absoluto, o Infinito, o Vácuo. Quando o homem atinge o auge da sua contemplação mística, depois de esgotar todas as vibrações do sacro trigrama “AUM”, abisma-se no grandioso “Nada” do silêncio de Brahman. Esse Nada do existir é o Todo do Ser. O Nada da Imanência de Deus é o Todo da Transcendência da Divindade. Da Divindade nada pode o homem saber, de Deus ele sabe um pouco.

#Filosofia #Inconsciente #Universalismo

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Sinfonia Universal

Toda a matéria de um universo de 156 bilhões de anos-luz de extensão, reunidos em um ponto menor que a cabeça de um alfinete, é uma arte que apenas um nobre arquiteto seria capaz de conceber.

Após a inspiração, o Grande Maestro do Universo deu início ao seu canto celeste, o verbo criador. Dançam as galáxias, a melodia do Grande Maestro. Melodia inaudível aos ouvidos humanos.

Quem sabe o Universo seja como uma imensa orquestra sinfônica onde cada aglomerado de galáxias corresponde a um naipe da grande orquestra celeste, mas, a música das esferas não se enquadra em nossas vãs concepções de harmonia.

Comparar o universo com uma orquestra não significa que tudo funcione dentro de uma harmonia previsível. Os conceitos de harmonia criados pelos humanos servem apenas aos humanos. Nada compreendemos da harmonia celeste, não entendemos nada sobre a perfeição, somos imperfeitos, inacabados, dissonantes.

Em nossa visão racionalista, o universo é composto por muitas dissonâncias e arritmias.  A sinfonia do cosmos está mais próxima da música atonal do século XX do que uma sinfonia do período clássico.

Mergulhados na escuridão cósmica, ansiamos compreender o caos indefinível. Assim nascem as religiões, filosofias e ciências, o homem tentando trazer ordem ao que não é possível ser ordenado, incontáveis nomes ao inominável, tentando imaginar o que é inimaginável.

O Grande Maestro está no Todo, mas ele é maior que o Todo.

Da sua expiração e do seu canto surgem todas as coisas, da sua inspiração para retomar o fôlego, tudo volta lá onde antes estava.

Estrelas explodem e se fundem: da sua poeira nascem os homens.

E do Uno nasce o Verso.

#Universalismo

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Estratégia

O homem que atinge o domínio da vida, isso é, o domínio de si mesmo, de suas ações e palavras, sabe que construirá o próprio destino. No entanto há de saber também que determinados objetivos só se tornam possíveis se o homem preenche-se de vontade e habilidade para fazer o que quiser.

Remanescem em suas mãos as ferramentas de que precisa para ir na direção certa. Strategos, do grego, significa o Líder do Exército. Na patente do Exército Helênico moderno é o cargo mais alto. Significa de fato o domínio e é o que empresas e pessoas de todas as partes utilizam para criar o seu próprio futuro.

O desenho da obra praticamente a define. Para torná-la um todo sistêmico, é preciso arregimentar hipóteses e definir as métricas do que nos dispusermos a criar, desenhar e fazer. Por vezes fazer é necessário para uma criação. Outras vezes, uma criação pode surgir na mente e tornar-se real sem que a façamos, pois a mente cria oportunidades que vão além de nossa imaginação e controle. Por isso deve-se ter cuidado com o que se pensa!

Usar sabiamente a visão estratégica significa ter os olhos pensando em soluções. Mas também significa que você acredita que aquilo dará certo. Muitas vezes num longo prazo ou até mesmo em prazos ainda maiores e inesperados. Ainda que você não saiba muito bem o que vai acontecer — ninguém sabe –, seja você mesmo, admita que é divino e saiba que os seus planos darão certo, pois darão.

Mas e os percalços do caminho? Ora, os percalços não podem ser definidores de estratégias. Os que criam estratégias a cada obstáculo certamente não chegarão a lugar algum. Em verdade, não se deve nunca perder o objetivo verdadeiro, pois se criamos estratégias a cada obstáculo a esse objetivo, esqueceremo-nos do essencial.

Os obstáculos podem atrapalhar algumas metas, no entanto não se deve perder nunca a direção. O Leste tem um lado e isso tem um motivo: é o lado em que o Sol nasce. E nessa onda de dias e noites muitas vezes esquecemo-nos de nossas direções. Devemos orientar-nos aos desafios verdadeiros, que são aqueles que valem a pena. E nem tudo vale a pena.

É perder tempo criar estratégias para antigas lutas que já perdemos ou para inimigos que não trazem um verdadeiro propósito. Nós devemos ser os verdadeiros inimigos e amigos de nós mesmos. Pois assim podemos encontrar em nós os defeitos que temos e usá-los contra eles próprios a ponto de melhorarmos!

Efusivas luzes poderão atingir os seus olhos ao perceber que o controle de sua vida está nas suas mãos. A liberdade é algo de que todos dispomos em nossos dias, faltando-nos apenas nas horas de tristeza e frustração, em que nos prendemos em nós que não desatam. O desenlace só se dá quando se possui a alegria e a vontade de atingir o grande objetivo.

São duas grandes estratégias e seis outras menores que compõem um sistema perfeito. Ele é claramente demonstrado por diversas tradições e transcende a nossa compreensão. A primeira estratégia é Amar a Deus. E isso compreende entender que Deus está em tudo, inclusive em nós mesmos, que podemos sentir a essência de sua criação nesse mundo tridimensional que conhecemos. A isso chamamos fé, no que colocamos a nossa esperança. A segunda é amar ao Próximo como se ele fosse você. Isso significa conhecer o divino que há no outro. A isso chamamos de amor, a grande estratégia da natureza.

As outras seis são grandes recomendações. Porque disposto desses dois nobres sentimentos agora conhecidos, falta pouco para montar uma estratégia de sucesso.

A primeira recomendação é a da consciência: ela deve ser escutada. E isso significa saber falar e saber calar. E reconhecer que o que dizemos ou pensamos ecoa no universo. A segunda é a do conhecimento. Conheça a você mesmo e o mundo que o cerca de todas as maneiras possíveis. Aprecie tudo com os cinco sentidos. Assim saberá notar a construção do seu destino com maior apreço. A terceira é a do tempo. Conheça o seu dia e aproveite-o com alegria. Saiba dividir bem o seu tempo para poder construir melhor a sua vida. A quarta é a da retidão. O pensamento correto e a atitude correta transformam o homem e permitem que ele tenha acesso a novas virtudes e novos sentidos, além dos cinco habituais. Além disso, na vida, o caminho da retidão traz, no fim, muito mais resultado do que o caminho incorreto. A quinta é o desenho. Sempre tenha a imagem do que você deseja bem definida, para que aconteça da exata forma que você desenhou. E mantenha os preceitos básicos para que tudo se manifeste com perfeição. E a sexta é a da sabedoria. Desse ponto em diante, o homem é totalmente livre e consegue construir o que quiser.

A sabedoria é um grande instrumento da arte real da construção da vida. Resida em si mesmo com essa vantagem e você poderá fazer de sua vida o que quiser. Tenha ternura e todas as virtudes que encontrar em sua vida. E, em suas estratégias, procure sempre perder muito tempo na busca da Verdade, pois ela não deve nunca ser abandonada. No final a encontraremos no caminho.

Assim seja.

Por Leonardo Dias.

#Poemas

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O Ovo

O escritor norte-americano Andy Weir escreveu um pequeno conto em 2009. É uma história que é ao mesmo tempo bonita e assustadora. Vou deixar você desbrava-la.

Você estava a caminho de casa quando você morreu.
Um acidente de carro. Nada particularmente marcante, mas mortal, no entanto. Você deixou uma mulher e dois filhos. Foi uma morte indolor. Socorristas tentaram o impossível para lhe salvar, mas sem sucesso. Seu corpo estava tão machucado que é melhor desse jeito, acredite em mim…
E lá, você me conheceu.
“Então… o que houve?” você perguntou. “Onde estou?”
“Você está morto,” eu disse, no mesmo tom que banalidades são ditas. Sem querer enrolar.
Havia… um caminhão? Uma derrapagem…”
“Sim,” eu disse.
“Eu… estou morto?”
“Sim. Mas não se preocupe. Todo mundo morre,” eu disse.
Você olhou ao seu redor. Nada. Uma expansão de nada. Somente você e eu. “Que lugar é este?” Você perguntou. “É o paraíso?”
“Mais ou menos.” eu disse.
“Você é Deus?” você perguntou.
“Sim,” eu respondi. “Eu sou Deus.”
“Meus filhos… minha esposa,” você disse.
“Sim, e?”
“Eles ficarão bem?”
“É isso que eu gosto de ver,” eu disse. “Você acabou de morrer, e sua primeira preocupação é a sua família. Isso é bom, eu gosto.”
Você me observou com fascinação. Em seus olhos, eu não parecia com Deus. Só algum homem. Ou alguma mulher. Um exemplo de autoridade, talvez, mais do tipo professor do que o todo-poderoso.
“Não se preocupe,” eu disse. “Eles vão superar. Seus filhos irão se lembrar de você como uma pessoa perfeita de todos os ângulos. Eles não tiveram tempo de desenvolver desprezo por você. Sua esposa irá chorar, tenha certeza, mas bem lá no fundo ela estará secretamente aliviada. Para ser honesto, seu casamento estava afundando. Se te ajuda, ela se sentirá muito culpada pelo sentimento de alivio.”
“Oh,” você disse. “E agora? Eu irei para o paraíso, ou para o inferno, ou o quê?”
“Nenhuma das opções,” eu disse. “Você irá reencarnar.”
“Ah,” você disse. “Então os Hindus estavam certos!”
“Todas as religiões estão certas, cada uma de sua forma,” eu disse. “Venha, vamos lá.”
Você me seguiu enquanto caminhávamos pelo vazio. “Onde estamos indo?”
“Nenhum lugar em particular,” eu disse. “É bom caminhar enquanto conversamos.”
“Então, qual é o objetivo, de repente?” você perguntou. “Quando eu renascer, eu serei como um quadro em branco, certo?” Um bebê. E, portanto, todas as minhas experiências, e tudo o que eu já tenha feito nesta vida não contarão mais.”
“Nem tanto!” eu disse. “Você tem em você todo o conhecimento, todas as experiências das suas vidas passadas. Você não se lembra agora, isso é tudo.”
Eu parei de caminhar e lhe peguei pelos os ombros. “Sua alma é grandiosa, mais bonita, mais gigante que qualquer coisa que você pode imaginar. Um espírito humano não pode jamais conter mais do que uma pequena parte do que você é. É como colocar seu dedo em um copo d’água para ver se está quente ou frio. Você coloca somente uma pequena parte de você lá, e quando você a tira, você remove todas as experiências que ela teve.”
“Você tem estado em uma forma humana pelos últimos 48 anos, então você ainda não se expandiu, para sentir o resto da sua imensa consciência. Se ficássemos aqui tempo suficiente, você começaria a lembrar de tudo. Mas não há porque fazer isso entre vidas.”
“Quantas vezes eu reencarnei, então?”
“Oh, muitas. Toneladas e toneladas. E em várias diferentes vidas. ” eu disse. “Desta vez, você será uma pequena garotinha camponesa na China de 540 a.C”
“Espera, o quê?” você gaguejou. “Você está me enviando de volta ao passado?”
“Bem, sim, tecnicamente, eu acho. Tempo, como você conhece, somente existe no seu universo. As coisas são diferentes de onde eu venho.”
“De onde você é?” você perguntou.
“Oh, claro,” eu expliquei “Eu venho de algum lugar”. Algum outro lugar. E lá há outros como eu. “Eu sei que você gostaria de saber como é lá, mas honestamente, você não entenderia.”
“Oh,” você disse, um pouco desapontado. “Mas espera. Se eu reencarnei em outros tempos, eu fui capaz de interagir comigo mesmo algumas vezes.”
“Claro. Acontece o tempo todo. E em cada vida sua, você só foi capaz de reconhecer aquela existência, você nem percebeu isso acontecendo.”
“Então, qual o sentido disso?”
“Sério?” eu perguntei. “Sério? você quer que eu te explique o significado da vida?” Não é um pouco clichê?”
“Ok, mas foi uma pergunta razoável,” você insistiu.
Eu olhei em seus olhos. “O significado da vida, a razão pela a qual eu criei este universo todo, é para você crescer.”
“Você quer dizer a humanidade? Você quer que a humanidade cresça?”
“Não, somente você. Eu criei esse universo somente para você. A cada vida você cresce, você se torna mais rígido e seu intelecto amadurece, se amplia.”
“Somente eu? Mas então, e todos os outros?”
“Não há mais ninguém,” eu disse. “Neste universo, só há eu e você.”
Você olha para mim. “Mas e todas as outras pessoas na terra…”
“Tudo faz parte de você. Diferentes incarnações de você.”
“Espera… eu sou todo mundo!?”
“Ah, aqui está você, começando a compreender,” eu disse, pontuando minha sentença com um tapinha de parabenização nas suas costas.
“Eu sou toda a existência humana que já existiu?”
“Ou que irá existir, sim.”
“Eu sou Abraham Lincoln?”
“E você é John Wilkes Booth também,” eu acrescentei.
“Eu sou Hitler?” você disse, consternado.
“E você é os milhões que ele matou.”
“Eu sou Jesus?”
“E você é aqueles que o seguiu.”
Você continuou e silêncio.
“Sempre que você leva alguém como uma vítima,” eu disse, “é você quem está sendo levado como uma vítima. Todo ato de generosidade que você fez, você fez. Todo momento feliz ou triste que um ser humano experimentou foi, ou será, experimentado por você.”
Você continuou pensativo por um longo tempo.
“Por quê?” você disse. Para que tudo isso?”
“Porque um dia, você se tornará como eu. Porque é isso o que você é. Você é um de mim, meu filho.”
Wow,” você disse incrédulo. “Você quer dizer que eu sou um deus?”
“Não. Ainda não. Você é um feto. Você está em crescimento. Uma vez que você tenha vivido todos os tempos, você terá crescido o suficiente para nascer.”
“Então todo o universo,” você disse, “é somente…”
“Um ovo.” eu respondi. “Venha, agora é hora de você seguir em frente para a sua próxima vida.”
Eu eu te encaminhei.

#Reencarnação

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Não procure seu EU na mente

Os problemas da mente não podem ser solucionados ao nível da mente. Depois de ter compreendido a disfunção básica, não há muito mais a aprender ou a compreender. Estudar as complexidades da mente poderá fazer de você um bom psicólogo, mas isso não o levará para além da mente, tal como o estudo da loucura não basta para criar saúde mental. Já compreendeu o mecanismo básico do estado inconsciente: a identificação com a mente, a qual cria um falso eu, o ego, como substituto para o seu eu verdadeiro enraizado no Ser. Você torna-se como que um “ramo cortado da árvore”, como disse Jesus.

As necessidades do ego são inúmeras. Ele sente-se vulnerável e ameaçado e por isso vive num estado de medo e de carência. A partir do momento em que você compreende os mecanismo da disfunção básica, deixa de ser preciso explorar todas as inúmeras manifestações do ego, de fazer dele um problema pessoal complexo. É evidente que o ego adoraria isso. Andando sempre à procura de alguma coisa a que se agarrar, a fim de sustentar e fortalecer a sua ilusória sensação de identidade, o ego prontamente se agarrara aos seus problemas. É por isso que uma grande parte da sensação de identidade de tantas pessoas está intimamente ligada aos seus problemas e a última coisa que essas pessoas querem é livrar-se deles; porque isso representaria a perda do “eu”. Inconscientemente, o ego investe muito na dor e no sofrimento. Portanto, ao reconhecer que a raiz da inconsciência é a identificação com a mente, o que evidentemente inclui as emoções, você sai dela. Torna-se presente. Quando está presente, você pode permitir que a mente seja aquilo que é sem se enredar nela. A mente em si não é disfuncional. É um instrumento maravilhoso. A disfunção instala-se quando você procura nela o seu eu e faz dela a sua identidade. Torna-se então a mente egóica e dirige toda a sua vida.

Enquanto você estiver identificado com a sua mente, o ego dirigirá a sua vida, e uma parte intrínseca da mente egóica é uma sensação profundamente enraizada de falta de algo, ou de não estar completo, de não ser total. Em algumas pessoas, é uma sensação consciente, noutras inconsciente. Quando é consciente, manifesta-se na forma de um inquietante e constante sentimento de não ser digno ou suficientemente bom. Quando é inconsciente, só se sente indiretamente, sob a forma de uma intensa ânsia de possuir, de uma carência, de um precisar de qualquer coisa. Em qualquer dos casos, as pessoas começam muitas vezes a tentar satisfazer o ego de forma compulsiva e a procurar coisas com as quais se possam identificar, a fim de preencherem o vazio que sentem dentro de si. E lançam-se atrás de bens materiais, dinheiro, sucesso, poder, prestígio, ou um relacionamento especial, basicamente para se sentirem melhores consigo próprias, para se sentirem mais completas. Mas depois de alcançarem todas essas coisas, descobrem rapidamente que o vazio continua a existir, que ele não tem fim. É então que começam os problemas a sério, porque elas não se conseguem iludir mais a si próprias. Bem, na verdade conseguem, e até o fazem, mas torna-se muito mais difícil.

Já que o ego é uma sensação derivada do eu, precisa de se identificar com coisas exteriores. Precisa de ser defendido e alimentado constantemente. As identificações mais comuns do ego têm a ver com bens materiais, com o trabalho que você faz, o seu estatuto e prestígio social, os seus conhecimentos e educação, a sua aparência física, os seus relacionamentos, aptidões especiais, historial pessoal e familiar, convicções – incluindo as convicções políticas, nacionalistas, raciais, religiosas e outras identificações coletivas. Nada disso é você próprio.

NADA EXISTE FORA DO AGORA

Já algum dia experimentou, ou fez, ou pensou, ou sentiu alguma coisa fora do Agora? Pensa que algum dia isso acontecerá? Acha que é possível que alguma coisa aconteça ou seja fora do Agora? A resposta é óbvia, não é verdade?

Nunca nada aconteceu no passado; acontece no Agora.

Nunca nada acontecerá no futuro; acontece no Agora.

Aquilo que você considera o passado é uma memória, armazenada na mente, de um antigo Agora. Quando relembra o passado, você reativa uma memória – é o que você está a fazer agora. O futuro é um Agora imaginado, uma projeção da mente. Quando o futuro chega, chega como Agora. Quando pensa no futuro, você está a pensar agora. E óbvio que o passado e o futuro não possuem uma realidade que Lhes seja própria. Tal como a Lua não tem luz própria, mas só pode refletir a luz do Sol, também o passado e o futuro não passam de pálidos reflexos da luz, do poder e da realidade do sempiterno presente. A sua realidade é “pedida emprestada” ao Agora.

A essência do que lhe estou a dizer aqui não pode ser entendida pela mente. No momento em que você entender o seu significado, há uma mudança na consciência da mente para o Ser, do tempo para a presença. De repente, tudo parecerá vivo, irradiará energia, emanará o Ser.

A CHAVE PARA A DIMENSÃO ESPIRITUAL

Em situações de emergência, em que a vida é ameaçada, uma mudança na consciência, do tempo para a presença, acontece por vezes naturalmente. A personalidade, que possui um passado e um futuro, recua momentaneamente e é substituída por uma intensa presença consciente, muito serena, mas ao mesmo tempo muito vigilante. Seja qual for a resposta necessária, ela surgirá então desse estado de consciência.

A razão pela qual algumas pessoas gostam de se lançar em atividades perigosas, como por exemplo montanhismo, corridas de automóveis, ou outras parecidas, muito embora o possam desconhecer; é porque assim se sentem forçadas a entrar no Agora – esse estado intensamente vivo onde não há tempo, não há problemas, não há pensamento, não há o fardo da personalidade. Se esquecerem do momento presente, nem que seja por um segundo, poderão pôr em risco as suas vidas. Infelizmente, acabam por se tornar dependentes de uma determinada atividade para entrarem nesse estado. Mas você não precisa de escalar a face norte do Eiger. Pode entrar nesse estado agora.

Desde os tempos antigos que os mestres espirituais de todas as tradições apontam para o Agora como sendo a chave para a dimensão espiritual. Não obstante, parece que tal continua a ser um segredo. Não é de certeza ensinado nas igrejas nem nos templos. Se você freqüentar uma igreja, poderá ouvir leituras dos Evangelhos tais como “Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã; porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo (Mat 6:34)”, ou “Ninguém que ponha as mãos no arado e olhe para trás é digno do Reino de Deus (Luc 9:62)”. Ou poderá ouvir a passagem sobre os lírios do campo que não se mostram ansiosos pelo amanhã, mas vivem à vontade no Agora intemporal e dos quais Deus toma conta. A profundidade e a natureza radical desses ensinamentos não são reconhecidas. Ninguém parece compreender que se destinam a ser vividas e a proporcionar assim uma transformação interior.

Toda a essência do Zen consiste em caminhar ao longo do fio da navalha do Agora – estar tão absolutamente e tão completamente presente que nenhum problema, nenhum sofrimento, nada que não seja quem você é na sua essência possa sobreviver em si. No Agora, na ausência do tempo, todos os seus problemas se desfazem. O sofrimento precisa do tempo; não pode sobreviver no Agora. Muitas vezes, para afastar do tempo a atenção dos seus estudantes, o grande mestre Zen, Rinzai, costumava levantar um dedo e perguntar lentamente: “O que é que está faltando neste momento?” Uma pergunta extraordinária que não exige uma resposta ao nível da mente. Destina-se a atrair fortemente a sua atenção para o Agora. Uma outra pergunta semelhante na tradição Zen é a seguinte: “Se não agora, quando?”

O Agora também é essencial nos ensinamentos Sufis, o ramo místico do Islão. Os Sufis têm um ditado: “O Sufi é filho do tempo presente”.
E Rumi, grande poeta e mestre Sufi, declara: “O passado e o futuro impedem-nos de ver Deus; queima-os a ambos com fogo”.
Mestre Eckhart, um mestre espiritual do século XIII, resume tudo de uma forma muito bela: “O tempo é aquilo que impede a luz de nos alcançar. Não há maior obstáculo para alcançar Deus do que o tempo.”

Fonte: O poder do Agora; Eckhart Tolle

#Alquimia

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Diálogo entre Jasão e Jesus

“Jasão”, sendo o protagonista do livro “Operação Cavalo de Tróia”, de J.J. Benitez, é um Major da Força Aérea dos EUA que participa de um experimento científico de viagem no tempo. O período que é escolhido para testar a máquina é o da crucificação de Jesus Cristo. Após diversas dificuldades e percalços pelo caminho, Jasão encontra-se com o Galileu na casa de Lázaro, o que ocasiona uma conversa deveras reveladora, profunda e meditativa entre o rabi e o viajante. Aproveitem esse dia para refletir nas palavras ditas pelo Mestre. Embora seja um livro de “ficção”, não deixa de abarcar um significado congruente com o que nós, Livres Pensadores, pensamos e refletimos acerca da Vida e do Universo, entre outros temas. (Os grifos são nossos)

“Ao notar que Jesus se oferecia prazerosamente ao diálogo, aproveitei a ocasião e perguntei-lhe sua opinião sobre o que sucedera naquela tarde.

– Tenho estado no centro do mundo e me revelado a eles na carne. Encontrei-os todos embriagados. Nenhum eu encontrei sedento. Minha alma sofre pelos filhos dos homens porque estão cegos de coração; não vêem que chegaram vazios ao mundo e tencionam sair vazios do mundo. Agora estão bêbados. Quando vomitarem seu vinho se arrependerão…

– São palavras muito duras – disse-lhe -. Tão duras como as que pronunciaste no cume do Monte das Oliveiras, à vista de Jerusalém…

– Talvez os homens pensem que vim para trazer a paz ao mundo. Não sabem que estou aqui para lançar na terra divisão, fogo, espada e guerra… Pois haverá cinco em uma casa: três contra dois e dois contra três; o pai contra o filho, o filho contra o pai. E eles estarão sós.

– Muitos, em meu mundo – acrescentei procurando fazer com que minhas palavras não soassem excessivamente estranhas para Lázaro – poderiam associar essas frases tuas sobre o fim de Jerusalém como o fim do tempo. Que dizes a isto?

– As gerações futuras compreenderão que a volta do Filho do Homem não se dará pela mão do guerreiro. Esse dia será inolvidável: depois da grande atribulação – como não houve outra desde o princípio do mundo – meu estandarte será visto nos céus por todas as tribos da terra. Essa será minha verdadeira e definitiva volta: sobre as nuvens do céu, como o relâmpago que sai do Oriente e brilha até o Ocidente…

– Que será a grande atribulação?

– Poderias chamá-la “um parto de toda a Humanidade…”

Jesus não parecia muito disposto a dar-me detalhes.

– Ao menos diz-nos quando se realizará.

– Daquele dia e daquela hora, ninguém sabe. Nem os anjos, nem o Filho. Só o que posso dizer-te é que será tão inesperado que a muitos os pilhará no meio da sua cegueira e iniquidade…

– Meu mundo, da qual venho – tratei de pressioná-lo – distingue-se precisamente pela confusão e pela injustiça…

– Teu mundo não é nem melhor nem pior do que este. A ambos só lhes falta o princípio que rege o Universo: o Amor.

– Dá-me, ao menos, um sinal para que saibamos quando te revelarás aos homens pela segunda vez…

– Quando vos desnudardes sem sentir vergonha, tornardes vossas vestimentas, as colocardes sob os pés como as crianças e as pisoteardes, então vereis o Filho do Vivente e não temereis.

Lázaro, oportunamente, continuava identificando “meu mundo” como a Grécia. Isso me permitia continuar interrogando o Mestre com uma certa margem de amplitude.

– Então – tornei – meu mundo está ainda muito longe desse dia. Ali os homens são inimigos dos homens e até do próprio Deus…

Jesus não me deixou prosseguir.

– Estais então equivocado. Deus não tem inimigos.

Aquela incisiva frase do Nazareno trouxe-me à memória muitas das crenças sobre um Deus justiceiro que condena ao fogo do inferno o que morre em pecado. E foi o que lhe disse.

Cristo sorriu meneando a cabeça negativamente.
– Os homens são hábeis manipuladores da Verdade. Um pai pode sentir-se aflito com as loucuras do filho, mas nunca condenaria os seus a um mal permanente. O inferno, como crêem em teu mundo, significaria que uma parte da Criação haveria escapado das mãos do Pai… E posso assegurar que crer nisso é não conhecer o Pai.

– Por que então falaste em certa ocasião de fogo eterno e ranger de dentes?

– Se falando por parábolas não me compreendes, como então posso ensinar-te os mistérios do Reino? Em verdade, em verdade te digo que aquele que aposte forte, e se equivoque, sentirá como lhe rangem os dentes.

– É que a vida é uma aposta?

– Tu o disseste, Jasão. Uma aposta pelo Amor. É o único bem em jogo desde que se nasce.

Fiquei pensativo. Aquelas eram palavras novas para mim.

– Que te preocupa? – perguntou-me Jesus.

– A ser assim, que podemos pensar dos que nunca amaram?

– Não há tais.

– Que me dizes dos sanguinários, dos tiranos?…

– Também esses ama à sua maneira. Quando passarem para o outro lado levarão um bom susto…

– Não entendo.

– Eles se darão conta, ao deixar este mundo, de que ninguém lhes perguntará por seus crimes, riquezas, poder ou beleza. Eles mesmos, e só eles, se convencerão de que a única medida válida, no “outro lado”, é o Amor. Se não amaste aqui, em teu tempo, somente tu te sentirás responsável.

– E que ocorrerá com os que não tiverem sabido amar?

– Quererás dizer: com os que não tiverem querido amar…

Novamente me senti confuso.

– …Esses, amigo – prosseguiu o rabi, captando minha dúvida – serão os grandes burlados e, em consequência, os últimos no Reino do meu Pai.

– Então teu Deus é um Deus de amor…

Jesus pareceu agastar-se.

– Tu és Deus!

– Eu, Senhor?!

– Em verdade te digo que todos os nascidos levam o selo da Divindade.

– Mas não respondeste à minha pergunta. É Deus um Deus de amor?

– Não o fosse e não seria Deus.

– Nesse caso devemos excluir de sua mente qualquer castigo ou prêmio?
– É nossa própria injustiça a que se volta contra nós próprios.

– Começo a intuir, Mestre, que tua missão é muito simples. Será que me engano se te digo que teu trabalho consiste em deixar uma mensagem?

O Nazareno sorriu satisfeito. Pôs a mão sobre meu ombro e replicou:

– Não podias resumi-lo melhor…

Lázaro, sem fazer o menor comentário, assentiu com a cabeça.

– Tu sabes que meu coração é duro – acrescentei. Poderias repetir-me essa mensagem?

– Diz ao teu mundo que o Filho do Homem só veio para transmitir a vontade do Pai: que todos sois seus filhos!

– Isso já o sabemos…

– Estás seguro? Diz-me, Jasão, que significa para ti ser filho de Deus?

Senti-me novamente apanhado. Sinceramente, não tinha uma resposta válida. Nem mesmo estava seguro da existência desse Deus.

– Eu to direi – interveio o Mestre com uma grande doçura. Haver sido criado pelo Pai supõe a máxima manifestação de amor. Ele dá tudo sem pedir nada em troca. Eu recebi o encargo de recordar isso. Essa é a minha mensagem.
– Deixa-me pensar… Então, façamos o que façamos, estaremos condenados a ser felizes?
– É questão de tempo. É necessário que o mundo entenda, e ponha em prática que o único meio para ele é o Amor.

Tive de meditar muito minha pergunta seguinte. Naquele instante, a presença do ressuscitado podia constituir um certo problema.

– Se tua presença no mundo obedece a uma razão tão elementar como a de depositar uma mensagem para toda a humanidade, não crês que “tua igreja” é demais?
– Minha igreja? – perguntou por sua vez Jesus, embora, em minha opinião, houvesse entendido perfeitamente – Não tive, nem tenho a menor intenção de fundar uma igreja, tal como tu pareces entendê-la.

Aquela resposta perturbou-me demais.

– Mas tu disseste que a palavra do Pai deveria ser estendida até os confins da Terra…
– E em verdade te digo que assim será. Mas isso não implica condicionar ou dobrar minha mensagem à vontade do poder ou das leis humanas. Não é possível que um homem monte dois cavalos ou que dispare dois arcos. Como não é possível que um criado sirva a dois amos. Senão, ele honrará a um e ofenderá ao outro. Ninguém que beba vinho velho deseja no momento beber vinho novo. Não se verte vinho novo em odres velhos, para que não se azede, nem se transvasa vinho velho em odres novos, para que não se deteriore. Nem se cose um remendo velho a um vestido novo porque se faria um rasgão. Da mesma forma te digo: minha mensagem só necessita de corações sinceros que a transmitam; não de palácios ou falsas dignidades e púrpuras que a cubram.

– Tu sabes que não será assim…

– Ai dos que antepuserem sua estabilidade à minha vontade!

– E qual é a tua vontade?

– Que os homens se amem como os tenho amado. Isso é tudo.

– Tens razão – admiti – para isso não faz falta montar novas burocracias, nem códigos, nem chefaturas… Não obstante, muitos dos homens de meu mundo desejaríamos fazer-te uma pergunta…

– Adiante – animou-me o Galileu.
– Poderíamos chegar a Deus sem passar pela igreja?

O rabi suspirou.
– E tu necessitas dessa igreja para chegar ao teu coração?

Uma confusão extrema bloqueou-me a voz. E Jesus o percebeu.
– Muito antes de que existisse a tribo de Davi, irmão Jasão, muito antes de que o homem fosse capaz de erguer-se sobre si mesmo, meu Pai havia semeado a beleza e a sabedoria na terra. Quem vem antes, portanto, Deus ou essa igreja?

– Muitos sacerdotes do meu mundo – repliquei – consideram essa igreja como santa.

– Santo é meu Pai. Santos sereis todos vós no dia em que amardes.

– Então – e te rogo que me perdoes pelo que vou dizer-te – essa igreja está sobrando…
– O amor não necessita de templos ou legiões. Um homem tira o bem ou o mal de seu próprio coração. Um só mandamento vos é dado, e tu sabes qual é… O dia em que meus discípulos fizerem saber a toda a humanidade que o Pai existe, sua missão estará concluída.

– É curioso: esse Pai parece não ter pressa.

O gigante mirou-me compassivamente.

– Em verdade te digo que Ele sabe que terminará triunfando. O homem sofre de cegueira, mas eu vim abrir-lhe os olhos. Outros seres descobriram já que é mais vantajoso viver no Amor.

– Que ocorre então conosco? Por que não conseguimos encontrar essa paz?

– Eu já disse que os tíbios, vomitá-los-ei pela minha boca, mas não tentes mortificar teus irmãos na malícia ou na pressa. Deixa que cada espírito encontre seu caminho. Ele mesmo, ao final, será seu juiz e defensor.

– Então, tudo isso de juízo final…
– Por que tanto vos preocupais todos com o final, se nem sequer conheceis o princípio? Já te disse que do outro lado espera-vos a surpresa…

– Tenho a impressão de que Tu serias considerado excessivamente liberal para as igrejas do meu mundo.
– Deus é tão liberal, como dizes, que até mesmo permite que te enganes. Ai daqueles que se arrogam o papel de sacerdotes, respondendo ao erro com o erro e à maldade com a maldade! Ai dos que monopolizam Deus!

– Deus… Tu sempre estás falando de Deus. Poderias explica-me quem ou o que é?

O fogo daquele olhar tornou a transpassar-me. Duvido que exista muro, coração ou distância que não pudesse ser vencido por semelhante força.

– Podes tu explicar a estes de onde vens e como? Pode o homem apresar as cores entre as mãos? Pode um menino guardar o mar entre as pregas de sua túnica? Podem os doutores da lei alterar o curso das estrelas? Quem tem poder para devolver a fragrância à flor que foi pisoteada pelo boi? Não me peças que te fale de Deus: sente-o. É o suficiente…

– Eu estaria certo se dissesse que o sinto como… uma “energia”?

Eu não me dava por vencido, e Jesus o sabia.

– Vais muito bem.

– E que há por baixo dessa “energia”?

– É que não há “acima” ou “abaixo” – atalhou o Nazareno, cortando meus atropelados pensamentos – O Amor, quer dizer, o Pai, é o Todo.

– Por que é tão importante o Amor?

– É a vela do navio.

– Permite que eu insista: que é o Amor?

– Dar.

– Dar… mas dar o quê?

– Dar. Desde um olhar até tua vida.

– Que podem dar os angustiados?

– A angústia.

– A quem?

– À pessoa que lhes quer bem…

– E se não tiverem ninguém?

O mestre fez um gesto negativo.

– Isso é impossível… Até os que não te conhecem podem amar-te.

– E que dizes de teus inimigos? Também deves amá-los?

– Sobretudo a esses… O que ama aos que o amam já recebeu a recompensa.

A conversação se prolongaria, ainda, até bem entrada a madrugada. Agora sei que meu ceticismo para com aquele homem havia começado a fender.”

#consciência #Cristianismo #Jesus #Religião

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O Verdadeiro Renunciante

É comum no caminho do místico ouvir (diversas vezes) “você tem que aproveitar a vida”, “você tem que viver”, entre outros, sempre atrelados a um convite para farrar. Enquanto algumas culturas (para citar, Indiana e Tibetana) tem um profundo respeito pelos “renunciantes” a nossa por outro lado parece não entender muito bem como alguém pode desdenhar de sexo, fama, dinheiro e poder.

Com o pouco de experiência que tenho estava a refletir sobre isso e percebi que as maravilhas do caminho espiritual são muito mais elevadas do que os prazeres temporais do nosso mundo carnal.

Renunciante é quem abdica da sua herança divina para brincar um carnaval aqui e pular uma micareta acolá.

Renunciante é quem troca as maravilhas do amor universal, para amar uma pessoa só (de vez em quando uma hoje e outra amanhã).

Renunciante é quem troca o êxtase sagrado por uma droga que vai te consumir na mesma medida que você a consumiu,

Renunciante é quem prefere o vício a virtude.

E por fim, aquele que verdadeiramente renuncia é quem por força de um apego decide encarnar, sem recordar qualquer conhecimento de si, principalmente a lembrança da verdadeira origem.

Logo meus irmãos, eles são os verdadeiros renunciantes e os ditos “renunciantes”, ao contrário do que os ignorantes pensam, estão em busca do seu direito, estão em busca de um tesouro muito maior que a fortuna de Bill Gates.

Dito isso deixo claro que não acredito que ir para um monastério ou uma caverna é o único meio de buscar união com Deus. Em virtude da sociedade que vivemos e dependendo do estágio dos hormônios no seu corpo você pode apreciar um ou outro luxo sem demérito da sua evolução, contudo lembre-se das suas prioridades sempre.

“Em tudo isso, não há pecado – há apenas uma questão de disciplina – mas a nossa meta não é apenas não ter pecados, mas ser Deus” (Plotino)

Sejam Vitoriosos!

#Filosofia

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“I have a Dream inside a Dream”

O filme “A Origem” (Inception – 2010) é muito interessante, bem planejado e nos dá uma dimensão nova, um novo paradigma, uma nova forma de pensar. Mas devemos ponderar qual seria a aplicação disso nos estudos do magista. “I have a dream inside a dream I’m more awake the more I sleep, you’ll understand when you’re dead” (Marilyn Manson). O que resultaria de uma projeção dentro de uma projeção astral?

Primeiro analisemos o contexto de Inception. Num futuro próximo, a ciência criaria uma máquina capaz de colocar uma consciência em contato com outra em estado de sono (inconsciente). Bem, o magista já sabe como fazer isso sem precisar de aparato nenhum. É comum mandarmos mensagens quando em meditação (estado alpha) para outra pessoa, e esta possivelmente recebe-la de forma intuitiva ou em seus sonhos. Essa é uma forma básica de telepatia bem fácil de dominar e inclusive amplamente ensinada pela conscienciologia (www.iipc.org). Então vamos pular essa parte.

The Inception, a inserção, consistiria de uma difícil técnica de inserir uma idéia na mente de outra pessoa, objetivando uma mudança de comportamento baseada na influência dessa idéia na vida da pessoa, e um ponto de grande importância seria que a pessoa acreditaria que essa idéia seria sua, originalmente, nascida de seu próprio livre-arbítrio e meditação sobre sua vida. Pois bem, uma vez que se pode entrar em contato com o inconsciente de uma pessoa enquanto ela dorme – isso seria uma projeção astral consciente indo de encontro com a consciência adormecida de uma outra pessoa – é possível influenciar o inconsciente da mesma, plantando idéias, que podem ser aceitas ou rejeitadas dependendo da personalidade do indivíduo (quanto mais oposta à personalidade da “vítima”, mais difícil seria plantar a idéia). Nada ético e tenho a dizer que possivelmente nunca será visto um magista sério a praticar esse tipo de comportamento, principalmente porque fere a mais alta idéia de se ser um magista, que é a preservação do livre-arbítrio. Mas é possível.

Se várias das idéias do filme são possíveis de serem executadas através da aplicação de nossas disciplinas e técnicas, seriam outras idéias trazidas a tona pelo filme possíveis de serem executadas? No filme vemos que além do mundo real, dentro do sonho, são mostradas quatro camadas, e além destas está o Limbo, onde a noção de realidade daquele que está projetando-se, perde-se dentro de si mesma, ou de outras, pois é algo que não fica muito claro, pois todos que caem no Limbo acabam nos mesmos locais e Cobb mostra a Ariadne o que ele construiu enquanto dentro do Limbo, e o local onde Saito está é o mesmo criado para ele por Arthur. Logo o Limbo seria uma “área coletiva” de todos os sonhos, onde o sonhador se perde, onde a consciência se dilui no todo, não desejando retornar.

Quanto mais fundo o indivíduo vai no sonho, mais tempo ele tem, algumas horas no físico simbolizam dias ou semanas dentro dos níveis do sonho. Isso pode ser explicado e até comprovado através dos experimentos de projeção, sendo que muitos dos que o praticam, acabam relatando ter perdido a noção de tempo a uma certa altura. Certa vez quando questionado sobre como era o reino dos Céus, Jesus teria afirmado que no Reino do Pai não há tempo. Até algumas décadas atrás o tempo era considerado uma constante, porém com a Teoria da Relatividade de Einstein esse pensamente foi totalmente descartado, tendo ele provado que o tempo, assim como o espaço, são relativos e não constantes, podendo variar imensamente dependendo da situação e onde estamos aplicando é muito possível, sendo que não há massa física no astral, o tempo corre de forma diferente, sendo mais rápido lá, e demorando a passar no físico.

A Organização Mundial de Saúde (OMS – www.who.int ) define o ser humano como um ser multidimensional, sendo ao mesmo tempo um ser bio-psico-socio-espiritual, sendo assim englobando quatro aspectos, físico, mental, social e espiritual. Essa história de quatro formas é um tanto conhecida pelos místicos antigos, sendo cada parte, cada ser ou corpo dentro do ser humano relacionado a um dos elementos – terra, ar, água e fogo, respectivamente. Ao realizar a projeção astral o magista tira seu foco do plano material, libertando-se dele temporariamente e vagando pelo astral, onde pode ter certa liberdade e podendo realizar grandes feitos. Ele muda seu foco do elemento Terra, associado ao material e concentra-se no próximo nível de nosso ser, num corpo mais sutil. Uma vez no plano astral, aqueles que já praticaram a projeção e todos os que realizam exercícios de mentalização e visualização sabem que no astral para que algo “se torne real” é importante um bom bocado de força de vontade e o mais importante, sentir como se fosse real, estimular os sentidos, visualizando, sentindo seu peso, sua textura, seu cheiro e seu gosto (quando aplicável), sendo que o tempo de vida de uma mentalização é determinado pela quantidade de energia que foi despendida em sua criação e a quantidade de sentimentos associada a ela. E essa é a palavra chave do astral, sentimento, sendo este associado ao elemento Água.

Agora entramos no tema de nosso post, e quanto a ter “um sonho dentro de um sonho”, uma projeção dentro de outra, seria possível? Sim, é possível, porém muito difícil. Existem poucas pessoas que conseguiram libertar-se, alterando o foco para o próximo nível, assumindo um corpo mais sutil que o anterior, sendo esse o plano mental, associado ao Ar. Os poucos que alcançaram esse nível conseguiram mantê-lo por curtos períodos de tempo, relatando grande dificuldade para alcançá-lo novamente, alguns só conseguindo uma vez em sua existência. Porém as impressões relatadas são maravilhosas e de grande valia para nossos estudos. Sensações de paz, tranqüilidade, a ausência de tempo, espaço ou forma, sendo que as consciências passaram a sentir tudo, saber tudo, como se fossem o tudo, um toque na onisciência de Deus. A maior parte não consegue lembrar de tudo que viu ou absorveu neste plano – como das primeiras vezes que se pratica projeção astral – porém quando retornam (sempre com um baque, como o “coice” usado para acordar em Inception) demonstram habilidades e conhecimentos que não tinham antes desse contato. E já que estamos associando com filmes, porque não associar essa experiência com o atravessar do Portão da Verdade do desenho Fullmetal Alchemist? Sim, seria como no desenho, quando se faz a transmutação humana e se têm acesso ao Portão da Verdade, onde o indivíduo tem acesso a todo conhecimento, porém não consegue retê-lo ao retornar ao corpo, mas vemos que depois de atravessá-lo e voltar os alquimistas conseguem realizar seus feitos sem necessidade de traçar seus diagramas místicos. Não se sabe exatamente o que há no Plano Mental ou como é, os relatos são deveras vagos, mas repletos de significados e sensações.

Mas espere! Inception mostra mais um sonho, e além deste o Limbo! Claro que mostra, pois só passamos por três dos elementos! Porém é aí que a base experimental acaba. Além do plano mental teoricamente está o plano representado pelo elemento Fogo. Mas como seria ou o que ele traria, nunca conheci nenhum magista que tenha estado por lá, nenhum relato. Se teorizarmos que o Plano Mental é um toque na onisciência de Deus, talvez o que esteja além seja a onipresença ou onipotência, vai saber… Não estou escrevendo este texto com o objetivo de ser um guia para a projeção dentro da projeção, muito pelo contrário, sou um pesquisador, um alquimista, um cientista como todos os buscadores, o que estou propondo é uma nova forma de ver a multidimensionalidade humana, estou propondo um novo paradigma, uma nova forma de ver essa questão e recolocando em pauta o Inception, e o Fullmetal Alchemist. E talvez essa nova possibilidade abra uma porta a todos os buscadores que tentam um contato com a Divindade e a descoberta de sua própria espiritualidade.

Só um adendo, quanto ao Limbo, o que vemos em todas as características deste, seria como uma experiência da Morte, algo libertador, acolhedor, de onde o indivíduo não quer retornar. Não a morte do corpo, mas a Morte Final, o diluir da consciência no todo que é Deus, sendo que a consciência do Ser deixa de existir e passa a ser apenas parte do todo que é Deus. Além disso não esqueçamos que falamos dos Quatro Elementos da alquimia, porém os magistas mais experientes sabem que traçamos o Pentagrama pois cada ponta representa um elemento, todas elas abaixo do Espírito que está em tudo, forma tudo é tudo e o princípio ao qual tudo está subjugado, em suma Deus.

PS: Se alguém tiver algum relato sobre os planos mais sutis como o Plano Mental ou o que esteja além dele, estou sempre aberto a novas possibilidades, e aguardo novas experiências para descobrirmos as maravilhas da Criação de Deus.

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O Paradigma Divino é um blog de autoria de Saulo Henrique Alves (Ketalel) e orgulhosamente faz parte do Project Mayhem, com artigos sobre ciência e espiritualidade. Agradeço o espaço no Teoria da Conspiração para difundirmos a cultura e espiritualidade no mundo atual.

#Filmes #PlanoAstral

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/i-have-a-dream-inside-a-dream

Matrix – o Deserto do Real

Para começarmos a entender Matrix, é fundamental que façamos a pergunta essencial do filme: O que é a Matrix? Nas telas do cinema, Matrix é um mundo de sonhos gerado por computador, o qual, por meio de uma realidade virtual, simula o nosso mundo como é hoje.

O fenômeno Matrix pode ser compreendido, se considerarmos as influências dos temas que aparecem, direta ou indiretamente, no roteiro do filme. Citarei alguns exemplos: distopia, esperança, filosofia, 1984 de George Orwell, artes marciais, cybercultura, agentes secretos, conspirações, romance, Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, messianismo, mitologia grega e céltica, Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, ficção científica e assim por diante.

Poderia começar pelo messianismo — crença na vinda do Salvador, Jesus, Messias, Buda, Krishna, Noé, rei Artur… Mas começarei pela Filosofia, que, segundo o Aurélio: Filosofia 1. é o estudo que visa a compreensão da realidade, no sentido de aprendê-la na sua totalidade; 2. Razão; Sabedoria.

Vamos a Matrix! Morpheus tem aspectos diferentes; algumas vezes o relaciono com o “Mestre” da Grande Fraternidade Branca, que tem de ensinar o seu discípulo, Neo, a vencer a ilusão (Maya) para, desta forma, enfrentar a Matrix. Para que isso aconteça, Neo tem de transformar-se em Mestre. E é por meio dos softwares (programas) que começa seu aprendizado.

Por outro lado, Morpheus é um deus da mitologia grega, filho da noite e do sono, deus dos sonhos, filho de Hypnos. Deus que proporciona o repouso necessário ao homem fatigado para que este possa, por meio dos sonhos, libertar o adormecido de seus pesares.

Em sua missão, Morpheus leva Neo para conhecer o “Oráculo”, que logo lhe mostra a frase “Conhece-te a ti mesmo”, que no Templo de Delfos assim aparece inscrito: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo e os deuses.”.

Pítia (ou pitonisa) era um “título” muito antigo e designava a sacerdotisa de Apolo que, no Oráculo de Delfos, entrava em transe para receber as profecias e as respostas do deus. O nome, talvez relacionado ao antigo nome de Delfos, Pitô, remonta, provavelmente, à época em que o oráculo era consagrado à Gaia e guardado pela serpente Píton, morta por Apolo.

No interior do santuário, a pergunta do consulente era então transmitida à Pítia que, sentada sobre a trípode sagrada e com um ramo de loureiro (um dos atributos de Apolo) nas mãos, inalava os vapores de uma fenda, entrava em êxtase e transmitia a resposta de Apolo. A profecia, sempre enigmática e ambígua, era registrada pelos demais sacerdotes, interpretada por eles entre versos hexâmetros.

A cidade de Delfos fora consagrada a princípio à Terra, em seguida a Têmis (justiça), depois a Febe (a Lua mediadora), por fim a Apolo, o deus solar, o verbo solar, a palavra universal, o grande mediador, o Vishnu dos hindus, o Mithras dos persas, o Hórus dos egípcios, o Logos da Teosofia.

Aliás, Logos significa “espírito”, “razão” ou “linguagem”. Na Bíblia, o Logos aparece no Evangelho de João, no qual é traduzido como “Verbo”, e é um dos atributos de Deus: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”. Os gnósticos interpretavam o Logos como uma denominação do verdadeiro Deus. Durante uma visão, o líder gnóstico Valentino viu o Logos sob a forma de um menino não muito diferente do órfão que fala a Neo a respeito da colher em Matrix. No Gnosticismo, o Arquiteto assemelha-se ao Demiurgo, um deus falso. Os gnósticos acreditavam que todos viviam em um mundo material e que despertaríamos para a realidade verdadeira.

Matrix também nos faz lembrar de Sócrates, esse sábio que mudou o panorama da Filosofia e da humanidade, fundador da ética ou filosofia moral. Por sua causa, as pessoas passaram a se interessar e a estudar, não apenas a realidade exterior, mas a interior.

Sócrates, em sua época, também procurou o “Oráculo”, e este vaticinou ser ele o homem mais sábio dos homens. Todas as pessoas achavam isso, menos Sócrates. No filme, todos acham que Neo é o “Escolhido”, menos ele.

Para Sócrates, a sabedoria consiste no reconhecimento da própria ignorância, o que envolve o abandono de idéias preconcebidas. Isso tem uma profundidade imensa. As pessoas não questionam, são ignorantes (não conhecem). Elas buscam um caminho um tanto controverso, sem nenhum fundamento, baseiam-se em livros sem começo e sem fim, de autoria desconhecida e com traduções duvidosas.

Em Matrix, algumas coincidências com as religiões são fáceis de serem percebidas. A ligação de Neo com o Messias é óbvia, tanto em sua ressureição como nas profecias da vinda do Salvador, que é preparada por Morpheus (na Bíblia, por João Batista); Nabucodonosor é a nave com o mesmo nome do rei babilônico responsável pela destruição do Templo de Jerusalém; na nave de Matrix existe a inscrição Mark III nº 11, em referência ao Evangelho de Marcos 3:11, que diz: “E quando os espíritos impuros o viam, se jogavam gritando: ‘Tu és o Filho de Deus’”.

Já que mencionei o número 11, voltemos ao início do filme, quando deixa gravado na tela por alguns instantes o número 506, que em sua soma tem como resultado o número 11. Este é considerado um número “mestre”.

O 11 é o despertador para a consciência Divina, um portal dimensional, o fogo sagrado presente em nosso ser. Este número está associado à carta “força” do Tarô, que representa a vitalidade, a força e o brilho de todos os seres. Indica energia transbordante. O 11 é o número de Nuit (Deusa da Noite).

Os maçons representam esse número com o Hexagrama Pentáfico, o pentagrama inscrito no Hexagrama. Para a tradição chinesa, o 11 é o número pelo qual se constitui, na sua totalidade, o caminho do Céu e da Terra, Tcheng. É o número do Tao. No hebraico, está relacionado à letra Teth, que significa serpente. É o asilo do homem, seu escudo e proteção. No caminho cabalístico, a letra Teth une e equilibra Chesed (a misericórdia) com Gueburah (a severidade). É a ponte que integra a polaridade da construção e da destruição. Diz Robert Wang: “É o caminho em que o fogo se torna Luz”. Sua atribuição astrológica é leão, signo do fogo e regido pelo sol.

No Sepher Yetzirah está escrito: “O décimo-primeiro é o número da consciência desejada e procurada (Sephel Hachafutz VeHaMevukash), e é assim chamado porque recebe o influxo Divino para outorgar sua bênção a tudo o que existe”.

Podemos ainda relacionar o número 11 a Lúcifer, o portador da Luz, phosphóros (= do grego), Vênus, a estrela matutina e vespertina, a luz mais brilhante.

No Hinduísmo, a figura da mulher é supervalorizada e há a união entre o masculino e o feminino, o yin e o yang. Na Antiguidade, a figura feminina era ligada à Deusa. Era à mulher que os deuses faziam as revelações (como à Pítia, por exemplo). Em Matrix, temos a figura de Trinity, que representa o número 3 e que, em português, significa Trindade — Pai, Filho e Espírito Santo — Brahma, Vishnu e Shiva, e assim por diante. Existe aqui, portanto, um outro ponto, um tanto menos masculino. Trinity é uma mulher e representa a Grande Mãe-Filha e o Espírito Santo. Outra vez o filme faz menção à Grande Fraternidade Branca, na qual a mulher é representada pela Mãe-natureza.

Segundo o pitagorismo, a essência de todas as coisas é o número, ou seja, as relações matemáticas, que afirmam poder explicar a variedade do mundo mediante o concurso dos opostos, que são: o limitado e o ilimitado, o par e o ímpar, o perfeito e o imperfeito.

Como a filosofia da natureza, assim a astronomia pitagórica representa um progresso sobre a jônica; afirmam a esfericidade da Terra e dos demais corpos celestes, denominando o conceito de harmonia, logicamente conexo com a filosofia pitagórica, e as práticas ascéticas e abstinenciais com relação à metempsicose e à reencarnação das almas.

“Simbolismo dos Números Pitagóricos: um é a razão, dois a opinião, quatro a justiça, cinco o casamento, dez a perfeição, etc. Um é o ponto, dois é a linha, três é a superfície, quatro é o volume. Cosmogonia. O Universo e os Planetas esféricos. A Harmonia das Esferas.”

Existem muitas divergências a respeito da verdadeira nacionalidade de Pitágoras, pois uns afirmam ter sido ele de origem egípcia; outros, síria ou, ainda, que ele seja natural de Tiro. Porém, o mais aceito por todos que estudam sua vida é que Pitágoras nasceu em Samos, entre 520 e 570 antes de nossa era. Na mesma época de Gautama — Buda, Zoroastro (Zaratustra), Confúcio e Lao Tse.

Seus Mestres foram Hermodamas de Samos, até os 18 anos; depois, Ferécides de Siros; foi aluno de Tales, em Mileto, e ouvinte das conferências de Anaximando. Foi discípulo de Sanchi, sacerdote egípcio, tendo também conhecido o assírio Zaratustra, na Babilônia, quando de sua estada na Metrópole da Antiguidade.

O hierofante Adonai aconselhou-o a ir ao Egito, recomendado ao faraó Amon, onde foi iniciado nos Mistérios Egípcios, no Santuário de Mênfis, Dióspolis e Heliópolis.

Eis o significado do nome Pitágoras (Píton = serpente; Ágora = espaço aberto onde os gregos se reuniam para conversar e mercadejar). A Serpente representa sabedoria e Ágora a “boca”. Em resumo, seu nome significa a “Voz da Sabedoria”.

Pitágoras ostentava em sua coxa esquerda uma grande marca dourada que os céticos julgavam ter sido um sinal de nascença, mas os iniciados sabem que se trata do sinal de Apolo.

“A ciência dos números e a arte da vontade são as duas chaves da magia, diziam os sacerdotes de Mênfis; elas abrem todas as portas do Universo.”

“O sono, o sonho e o êxtase são as três portas abertas do além, de onde nos vêm a ciência da alma e da arte da adivinhação. A evolução é a lei da vida. O número é a lei do Universo. A unidade é a lei de Deus.”

Não poderíamos falar em Matrix sem mencionarmos a figura de Icarus, um havercrafts que, como Nabucodonosor, de Morpheus, percorre os túneis subterrâneos em busca de um local para transmitir um sinal pirata para dentro da Matrix. Na mitologia grega, Ícaro era filho de Dédalo, o artesão que construiu o Labirinto do Minotauro em Creta, aquele com corpo de homem e cabeça de touro, que devorava os prisioneiros do rei. Dédalo e seu filho foram vítimas dessa prisão e sabiam que só conseguiriam sair dali se fosse pelo alto. Dédalo, então, confeccionou asas para ambos, coladas com cera de abelha, e conseguiram fugir. Mas Ícaro se embriagou pela sensação de voar e aproximou-se demais do Sol, que derreteu a cera de suas asas fazendo com que ele se despedaçasse de encontro ao solo. Os gregos passaram a ter Ícaro como símbolo do pior pecado que um humano possa cometer, Hybris, a tentação de igualar-se aos deuses.

A magnífica obra 1984, de George Orwell, escrita em 1948, fala de um mundo dominado pelo socialismo stalinista em 1984 (o inverso dos números do ano em que foi escrita). Em um mundo onde o Estado domina e nada é de ninguém, mas tudo é de todos, tudo o que resta de privado são os poucos centímetros quadrados do cérebro. E é aí que a batalha se desenvolve, entre o indivíduo e o Estado, lutando na tentativa de controlar a mente.

“Obediência não é o suficiente. A não ser que uma pessoa esteja sofrendo, como você pode ter certeza de que ela está obedecendo à sua vontade e não à dela? O poder está em infringir dor e humilhação. O poder está em rasgar mentes humanas em pedaços e colocá-las juntas de volta em novas formas escolhidas por você mesmo. Você começa a enxergar agora o tipo de mundo que estamos criando? (…) Não haverá lealdade, a não ser lealdade ao partido. Não haverá amor, a não ser amor ao Grande Irmão. Não haverá riso, apenas o riso de triunfo sobre um inimigo derrotado. Não haverá arte, literatura ou ciência. Quando formos onipotentes, já não haverá mais necessidade de ciência. Não haverá distinção entre a beleza e a falta dela. Não haverá mais curiosidade nem alegria no processo da vida. Todos os prazeres competitivos serão destruídos. Mas sempre – não se esqueça disso, Winston – sempre haverá a intoxicação do poder, sempre aumentando e sempre crescendo sutilmente. Sempre, a cada momento, haverá o tremor da vitória, a sensação de pisar num inimigo que já está sem esperança. Se você quer uma imagem do futuro, imagine uma bota pisando num rosto humano – para sempre.”

Lembro-me, também, de Aldous Huxley e sua obra-prima, Brave New World (Admirável Mundo Novo), escrita durante quatro meses, no ano de 1931. Os temas nela abordados remontam grande parte de suas preocupações ideológicas como a liberdade individual em detrimento ao autoritarismo do Estado.

“A sobrevivência da democracia depende da capacidade de grandes maiorias de fazer escolhas de um modo realista, à luz de uma informação suficiente.”

É uma forma diferente de criticar a substituição das pessoas por máquinas: substituindo o lado humano, os sentimentos e emoções por sensações pré-programadas. Os seres humanos são produzidos em linhas de montagem (criadas por Henry Ford, no início deste século), como os produtos genéricos, e condicionados a aceitar uma série de dogmas sociais; são padronizados e, no entanto, continuam presos a dogmas, embora estes mudem de uma sociedade para outra, sendo atribuídos de formas diferentes: por um lado, por meio da educação infantil e, por outro, pelo condicionamento hipnopédico (em outras palavras, adestramento).

Quando Trinity beija Neo, ele revive (ressurreição) e, pelo amor, é feita a penetração do fluído sutil. Vemos que não há nada mais poderoso que o Amor. Sua ressonância dissolve toda ilusão, bem como o véu da separação; sua pureza cura todas as experiências passadas e mágoas profundas, formando um invencível campo de Luz.

Na grande maioria, nas iniciações das Ordens Secretas (entenda-se como secreta aquilo que não é público, não tem registro físico, jurídico, etc.), o neófito morre para o mundo profano e renasce “Iniciado”. Antigamente era normal batizá-lo com nome iniciático.

Na Maçonaria, isso era comum também, mas os céticos, intitulados historiadores, tentam todos os dias diminuir o universo oculto e místico que estão presentes na Ordem Maçônica. Que me desculpem os Irmãos que pensam diferente, mas contra fatos não há argumentos. Nossos Templos estão lotados de alegorias e símbolos, nossos rituais não são a respeito de política, nosso livro da Lei não está ali apenas para os nossos juramentos, enfim, faço questão de lembrá-los dos Mistérios Persas e Hindus; Mistérios Egípcios; Mistérios Gregos, de Ceres ou Deméter; Mistérios Judaicos de Salomão; Mistérios Gregos de Orfeu; de Pitágoras; dos Essênios e dos Mistérios Romanos. E ainda querem argumentar…

Assim como os Mistérios de Ísis, os Mistérios de Elêusis, na Grécia Antiga, também exerceram uma enorme influência no surgimento do Gnosticismo. Dedicados à deusa grega Deméter, os rituais de Elêusis rememoravam a peregrinação dessa divindade pelo mundo em busca da filha Perséfone, seqüestrada por Hades, o Senhor das Almas, que a levou para o mundo subterrâneo e tomou-a por esposa. Foi da filha de Deméter que a mulher de Merovíngio emprestou seu nome, o que faz do próprio Merovíngio um equivalente do Hades grego. O mundo subterrâneo, onde se localizava o Hades, por sua vez, remete ao mundo subterrâneo onde se localiza a cidade de Zion, em Matrix. Outra coisa que nos chama a atenção no filme é Zion — Sião em português. Poderíamos ir pelo caminho do Santo Graal, pois a cidade de Zion está situada no centro da Terra, ou até mesmo citar Júlio Verne em sua obra Viagem ao Centro da Terra.

Há aqui outra referência a respeito do mundo subterrâneo. O mundo de Jina ou de Duat, Agartha e Shamballah, que são reflexos do seio da terra dos três mundos superiores, esquematizado no Hexágono, o seis, o vau (arcano deste número).

Hermes Trismegisto diz: “O que está em cima é como o que está embaixo e o que está embaixo é como o que está acima, para a realização dos mistérios da causa única”.

O significado do nome de Hermes Trismegisto é: Hermes = o intérprete – Trismegisto = 3 megas = 3 vezes grande, ou o que possui os 3 reinos de sabedoria: mineral, vegetal e animal. Sua existência é atribuída no ano de 1900 a.C.; Hermes é o mesmo Thoth dos egípcios, e sua existência acompanha a vida religiosa do Egito.

Voltando à Agartha, foi para lá que Noé conduziu seu povo, a fim de salvá-lo do dilúvio. E podemos dizer ainda que seria a cidade submergida de Atlântida, a mesma de Platão.

Segundo Saint-Yves d’Alveydre, que viveu entre 1842 e 1909 e teve contato com seres desse lugar, é um verdadeiro mundo a quatro dimensões. Chamado de Venerável Mestre do G.O. (Governo Oculto) por seus discípulos, Saint-Yves, dentre suas obras, Mission dês Souverains, Mission dês Juifs e Mission de l’Inde, deixou uma de maravilhosa magnitude, O Arqueômetro, lançamento da Madras Editora.

O nome “sinarquia”, pela sua etimologia grega, pressupõe a realização de uma ordem sagrada num equilíbrio perfeito, de uma harmonia completa, que seria o reflexo das leis cósmicas. Está associado a uma das mais misteriosas sociedades secretas modernas de governantes invisíveis, tendo sido introduzido pelo grande esotérico Alexandre Saint-Yves. Ele recebeu do papa o título de Marquês de Alveydre e, por isso, tornou-se conhecido como Saint-Yves d’Alveydre. Viu-se, então, escolhido pelos governantes invisíveis do mundo para executar seus planos. Saint-Yves apregoava o ideal de uma sinarquia universal, a Sinarquia do Império, e não restam dúvidas de que manteve contato direto com os mais altos governantes secretos.

Na obra Animais, Homens e Deuses, Ferdinando Ossendowsky nos fala do Rei do Mundo, chefe supremo de todas as Ordens Secretas, conhecido na Índia como Jagrat-Dwipa. Na bíblia hebraica, o rei Melkitsedek é um ser mais enigmático que o próprio Apolônio de Tiana; no Tibete, é chamado de Rigden-Jyepo.

Os iniciados chineses da Ordem do Dragão de Ouro faziam referências a Agartha com Salem — A cidade Luz das tradições hebraicas e de vários povos.

René Guénon cita em sua obra, O Rei do Mundo, que Agartha é o centro oculto durante a Kali-Yuga (Idade Negra) de todos os movimentos filosóficos e espiritualistas na Terra. Na mitologia hindu, Kali, também conhecida como Durga, é a deusa-mãe, representada sob o duplo aspecto de nutridora (como aquela que dá a vida) e devoradora (a morte, destruidora de todas as coisas). Seu nome principal, Durga, em sânscrito significa “a que é difícil de abordar, a inacessível”, e na cosmogonia brahmânica, especialmente na filosofia de Sri Ramakrishna, ela é considerada uma personificação do real que se oculta por detrás do mundo das aparências. A palavra Kali, por sua vez, deriva do sânscrito kala, que quer dizer “tempo”. Sob seu aspecto negativo, Kali é a padroeira da Kali Yuga, a quarta e última etapa pela qual o mundo deve passar antes que, de acordo com o Hinduísmo, ele seja reabsorvido em sua origem Divina. Durante a Kali Yuga, o mundo ¬ mergulha quase que completamente nas trevas da ilusão (Maya), uma descrição bastante apropriada ao universo de Matrix. Cabe também ressaltar que Kali é tida como o lado feminino de Shiva, o Senhor da destruição e da renovação; pai de Ganesh, Senhor que remove os obstáculos de nossos caminhos.

Já nos antigos manuscritos indianos, a verdade das revelações globais estava contornada, como se vê da promessa do Espírito da Verdade quando, pela boca de KRISHNA, este diz a seu discípulo Arjuna, no Bhagavad-Gita, profecia que mais uma vez somos obrigados a repetir:

“Todas as vezes, ó filho de Bharata! que Dharma (a lei justa) declina, e Adharma (a lei injusta) se levanta, Eu me manifesto para a salvação dos bons e destruição dos maus. Para restabelecimento da lei, Eu nasço em cada Yuga (idade).”

Blavatsky confirmou que estamos passando por mudanças cíclicas, com as seguintes palavras:

“Em breve, chegaremos ao fim do ciclo. Os cataclismos se sucedem. Grandes forças estão sendo acumuladas, para esse fim, em diversos lugares.”

Com Jeoshua Ben Pandira, o Cristo, retificou-se a antiga tradição: “Eu não vim destruir a Lei, mas dar-lhe cumprimento”, reestabelecendo o Sanctum Santorum, a Grande Assembléia Universal, como a mansão do amanhecer, Cidade de Cristal, Agartha-Shamaballah.

Para conhecer mais a respeito de sociedades ocultas, sugiro a leitura da obra As Forças Secretas da Civilização, de Vitor M. Adrião, Madras Editora.

Sempre houve um elo profundo que unia, na Antiguidade, a adivinhação aos solares. O culto ao Sol é a chave de ouro de todos os mistérios ditos mágicos. Lembre-se de que, no filme, os Mamíferos (seres humanos) destruíam o Sol. Na verdade, o Sol é a fonte de Luz, de calor e de vida. Os sábios hindus viam-no como forma de Agni, o fogo universal que penetra em todas as coisas. Mitras é o fogo masculino e Mitra, a luz feminina. Para o iniciado de Mitras, o Sol é apenas um reflexo grosseiro da luz inteligível. Os egípcios iniciados procuravam o mesmo Sol sob o nome de Osíris. Hermes também reconhece, nas ondas etéreas, uma luz deliciosa. No Livro dos Mortos do Antigo Egito (Madras Editora), as almas vagam a duras penas para essa luz na barca de Ísis. Moisés também adotou essa doutrina na Gênese. “Elohim disse: ‘Que se faça a Luz, e a Luz se fez’”. Zoroastro está de acordo com Heráclito, Pitágoras, São Paulo, os cabalistas e Paracelso, que definem a luz que reina em toda a parte.

Quando Smith e seus agentes capturam Neo, colocam nele um chip. Acerca desse assunto, daria para escrever um livro, mas vou simplesmente pincelar, assim como os demais temas, para não deixar de comentá-lo.

Percebam que o chip se transforma numa espécie de crustáceo (que lembra um camarão) que faz a sua penetração pelo umbigo, que, por sua vez, está relacionado ao chacra abdominal (umbigo, plexo solar, o dom da razão). Sua cor é o amarelo, que no nível físico é uma cor quente, muito boa para entrar em contato com o seu próprio Poder. Mas o mais importante é que, segundo os espíritas, o cordão espiritual está ligado diretamente ao umbigo, ou seja, quando seu espírito sai de seu corpo (viagem astral), fica ligado ao umbigo físico por um cordão invisível.

Em Matrix Reloaded, conhecemos o Arquiteto como o criador da Matrix (Deus dos humanos). Vestido todo de branco, menciona que os seres humanos são anomalias e que estamos numa mistura entre Matrix e Zion. Primeiro fomos colocados na Matrix, e a maioria vive nela, representando um papel a cada encarnação, trocando de “nick” para esquecer-se do que são. Outros poucos encontram-se em Zion, onde todos acreditam que tudo é uma ilusão, onde não existe bem ou mal — uma sociedade alternativa…

Dá para perceber que houve um grande arrependimento desse deus ter criado os seres humanos.

Vários aspectos aqui nos chamam a atenção. Nosso Arquiteto de branco, como o chefe dos anjos, não é aquele ser barbudo nem seu coração está transbordando de amor pelas suas criaturas e muito menos perdoando-as de seus “pecados”. Que horror!

Buda, ao atingir seu estado de iluminação, Nirvana, libertou-se das ilusões do sansara, e falou: “Apanhei-te, Arquiteto. Nunca mais tornarás a construir”. De acordo com a filosofia budista, ele estava referindo-se ao ego, criador da pseudo-realidade em que vivemos.

Não comentei nada sobre Cypher, o traidor, o Judas. Mesmo sabendo que tudo era uma ilusão, ele quer retornar à Matrix e afirma: “A ignorância é maravilhosa”. Mas em Matrix Reloaded existe Haman, que foi um traidor do povo judeu. Na Bíblia, Haman é o grande vilão do Livro de Ester; ele odiava os judeu e tramava secretamente contra o povo, a fim de exterminá-lo. Mas seu plano foi descoberto por Ester, que o denunciou ao rei. Na festa judaica do Purim, é comemorada a derrota de Haman. Também confeccionam bonecos, como fazem os cristãos na malhação de Judas.

Um dos maiores heróis da religião hindu é o Senhor Rama, protagonista do poema épico Ramayana. Rama-Chandra é o sétimo avatar do deus Vishnu, um dos integrantes da Trindade Suprema (Brahma, Vishnu e Shiva), que periodicamente descia encarnado sob forma humana à Terra para libertar os humanos da ilusão.

Gostaria de poder escrever muito mais a respeito desta obra, na qual William Irwin compilou com maestria as diversas visões referentes a Matrix, elaboradas pelos respeitáveis acadêmicos: Barry Smith, Carolyn Korsmeyer, Charles I. Griswold, Cynthia Freeland, Daniel Barwick, David Mitsuo Nixon, David Rieder, David Weberman, Deborah Knight, George McKnight, Gerald J. Erion, Gregory Brassham, James Lawler, Jason Holt, Jennifer L. McMahon, Jonathan J. Sanford, Jorge J. E. Gracia, Martin A. Danahay, Michael Brannigan, Sarah E. Worth, Slavoj Zizek, Theodore Schick Jr. e Thomas S. Hibbis. Espero, entretanto, que com essas poucas palavras, tenha contribuído para que muitas pessoas não apenas vejam os filmes novamente, mas também “acordem” e procurem saber mais a respeito da fonte na qual os irmãos Wachowski foram saciar sua sede. Ou teria a fonte vindo até eles?

Por Wagner Veneziani Costa.

Introdução do livro “Matrix – Benvindo ao Deserto do Real”, da Editora madras.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/matrix-o-deserto-do-real

Rastros Luminosos

Só vale a vida terrestre – pelo bem que fizermos…

Pelo rasto de luz que deixarmos após a partida…

Se entre o teu berço e esquife bocejar um vácuo hiante, uma treva estéril, não viveste – vegetaste apenas…

“Aqui jazem os restos mortais de fulano, que morreu – mas não viveu”…

Meu amigo, faze da tua vida um poema de fé – uma epopéia de amor…

Assinala tua passagem pela terra com uma esteira de amor e benquerença…

São tantos os males – não os aumentes com tua chegada…

São tantas as dores – não as intensifiques com tua aspereza…

Ilumina a zona da tua presença com grandes idéias e belos ideais…

Por que extinguir essas lâmpadas que, incertas, bruxuleiam?

Por que quebrar de todo a cana fendida?

Por que apagar a mecha fumegante?

Fala às alma sem luz das luzes eternas…

Aponta às almas tristes as alturas de Deus…

Não olhes, como o chorão, para a terra – que um ente querido tragou…

Verdade nas palavras, sinceridade nas intenções, bondade nos atos, indulgência no juízo, fidelidade nas promessas, serenidade na dor, castidade contigo, caridade com todos – margeia destas luzes tua vida e a vida dos outros…

Ninguém é infeliz em hora noturna – quando sabe que à noite sucede sorridente alvorada…

Faze transbordar nas almas o excesso da tua plenitude.

Transfunde nos homens a abundância da tua luz.

Comunica ao mundo a beatitude de que Deus te encheu.

Fixa a estrela polar da vontade divina – e dirige tua nau por trevas e procelas…

Mão firme no leme! – serena confiança na alma!…

Tua calma acalmará os companheiros da travessia…

Se, algum dia, desalento te invadir o coração – dize-o ao Deus eterno, e não a creaturas efêmeras!

Se lágrimas rebeldes romperem as represas – chora a sós com o Onipotente, e não com seres impotentes.

Se dúvida atroz te oprimir o espírito – pede luzes ao Sapiente, e não aos insipientes.

Vive assim como desejarias ter vivido quando a morte teu corpo ceifar…

Erige nas almas dos pósteros um monumento de amor – um obelisco de fé…

Fonte:

Huberto Rohden, De Alma para Alma: Martin Claret, 2011. pg. 55.

#poesia #Rohden #Universalismo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/rastros-luminosos