A Raposa e as Uvas – Uma Fábula Moderna

Passeando por grupos do facebook, uma raposa, morta de fome de conhecimentos, viu, ao passar diante de um pomar, penduradas nas ramas de uma viçosa videira, alguns cachos de exuberantes uvas negras, e o mais importante, maduras. Eram quase 700 paginas coloridas e 800 mil palavras de conhecimento vinífero penduradas ali na sua frente.

Não pensou duas vezes, depois de certificar-se que o caminho estava livre de intrusos, resolveu colher o seu alimento.

– Alguém conhece este livro? Fiquei muito interessada…

Usou de todos os seus dotes, conhecimentos e artifícios para apanhá-las, mas como estavam fora do seu alcance, acabou cansando-se em vão, e nada conseguiu.

– Alguém tem um PDF para me mandar?

Desolada, cansada, faminta, frustrada com o insucesso de sua empreitada, suspirando, encolheu de ombros e deu-se por vencida. Outras raposas chegaram junto, mas nada conseguiram.

Deu meia volta e foi-se embora, desapontada foi dizendo:

– Está muito caro!

Outras disseram:

– Parece um trabalho superficial, o livreto de 100 paginas da Dion Fortune que pegamos de graça pirata é bem mais profundo.

– Não gosto do autor, autores nacionais nunca se aprofundam nos temas

– A parte gráfica deixa a desejar…

– Não recomendo o autor para ninguém que queira estudar Magia(k), ele é muito pop, só fala de Kabbalah e Harry Potter, Matrix e Senhor dos Aneis

– Com todo respeito aos meus amigos ocultistas, mas se quer aprender cabala “de verdade”, estude Hebraico e pegue livros como Tikunei Zohar, Zohar Hakadosh, Likutei Amarim, Likutei Moharam, Shney Luchot Habrit…

– Um amigo de um primo meu da capital disse que o autor colocou círculos cabalísticos reais em um RPG e faz com que o primo de um conhecido meu invocasse demônios em uma sessão de RPG, por isso não podemos comprar nada deste autor.

Quando já estavam indo, um pouco mais à frente, escutaram um barulho como se alguma coisa tivesse caído no chão… Voltaram correndo pensando ser um pdf…

Mas quando chegaram lá, para sua decepção, era apenas uma folha que havia caído da parreira. As raposas, decepcionadas, viraram as costas e foram-se embora de novo.

Fábula de Esopo, baseada em fatos reais.

#Arte #Fábulas

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A Revolução da Alma

» Parte final da série “Todas as guerras do mundo” ver parte 1 | ver parte 2 | ver parte 3

Até que a filosofia que sustenta uma raça superior e outra inferior seja finalmente e permanentemente desacreditada e abandonada, haverá guerra, eu digo: guerra…
Guerra no leste, guerra no oeste, guerra no norte, guerra no sul, guerra, guerra, rumores de guerra…
(War, Bob Marley – composição de Allen Cole e Carlie Barrett)

Em 3 de junho de 1989, tanques e soldados do exército chinês invadiram a Praça da Paz Celestial, na capital, Pequim. Lá estavam cerca de 100 mil manifestantes que protestavam pacificamente há quase 2 meses, criticando a corrupção e a repressão da liberdade individual vindas de um governo que se dizia comunista [1]. Haviam entre eles muitos intelectuais, professores, estudantes e trabalhadores insatisfeitos com o rumo geral da política chinesa. Mas o Partido Comunista já havia perdido a paciência com eles; Como haviam ignorado as ordens para que as manifestações fossem encerradas, a ala do Partido mais propensa à violência aprovou a ordem para que fosse iniciado o massacre. Na Praça da Paz Celestial, na noite de 3 de junho de 1989, o exército chinês matou 2.600 manifestantes e feriu outros 10 mil [2].

No dia 4 os protestos se intensificaram muito, principalmente por parte dos jovens estudantes. Há essa altura os jornalistas de todo o mundo já estavam se hospedando nos hotéis próximos a Praça, visto que era uma área nobre da capital, e preparavam os flashes para o próximo massacre… Talvez por conta dessa exposição indesejada na mídia mundial, a ala violenta do Partido Comunista recuou, e o que se viu naquele dia foram tanques passeando em torno da Praça, enquanto os jovens prosseguiam com seu protesto ainda pacífico.

No dia 5, ante as manobras de dezenas de tanques pela avenida em torno da Praça, um homem solitário surgiu no meio da rua, impávido ante o avanço de uma coluna de vários tanques enfileirados, enquanto outros civis mais precavidos fugiam desesperadamente do avanço militar… Quando o primeiro tanque da fileira chegou próximo dele, foi obrigado a desviar para não o atropelar. Mas o homem se moveu de lado, brecando o tanque. Ele parecia querer conversar…

Subiu na máquina e trocou algumas palavras com seu piloto, até que duas pessoas (que todos esperam que fossem seus amigos) surgiram na cena e convenceram o homem a desistir de papear com aqueles soldados, que os haviam massacrado dois dias antes. Esta cena foi filmada e fotografada por jornalistas de todo o mundo, e o homem, até hoje um desconhecido, se tornou um mito: o Rebelde Desconhecido… Até hoje tampouco se sabe se ele teria ou não sobrevivido. Especula-se que, mesmo um ano após o incidente, quando às manifestações já havia terminado há meses, o próprio governo chinês ainda procurava pelo homem desconhecido. Aquela altura, seria um grande benefício para o Partido Comunista mostrar aquele mito vivo e intacto, provando para o mundo que ele não havia sido preso, torturado, ou morto (como tantos milhares de civis).

Hoje, entretanto, a China é um outro país, e embora esteja evoluindo lentamente para uma sociedade mais aberta e um governo menos repressor, o mito do Rebelde Desconhecido perdura. Assim se dá com os mitos: eles existem sempre, e sobrevivem ao nascer e ao findar dos impérios. Quem seria aquele chinês corajoso? Um jovem estudante, ou um professor? O que ele teria tentado dizer ao piloto do tanque? “Parem, vocês estão dizimando nosso futuro, nossa liberdade, nossa dignidade” – teria sido algo assim?

Talvez a única coisa que possamos afirmar em relação ao Rebelde Desconhecido é que ele era alguém que havia descoberto como pensar por si mesmo. Um real revolucionário: aquele que travou todas as guerras do mundo no interior, e realizou a revolução na própria alma.

Falávamos a pouco do Deus Bom e do Deus Mal do zoroastrismo. Estes são também mitos, propostos pelo profeta Zoroastro. Dissemos também que se tratava de um conceito infantil e superficial… Mas, será que isso foi mesmo culpa de Zoroastro, ou daqueles que vieram muito depois e, não sabendo interpretar sua mitologia, tomaram-na de forma literal, e a adaptaram para seus próprios interesses?

Ora, será mesmo que uma religião sobreviveu por tantos séculos baseada num conceito superficial, ou são os seus detratores que jamais se interessaram em compreender o que diabos é exatamente um mito, uma interpretação simbólica, uma metáfora? Não quero transformar esta série num tratado sobre mitologia [3], mas vamos considerar aqui, de forma bastante breve, uma outra visão para os deuses do zoroastrismo:

Aúra-Masda, o Deus Bom, não era invenção de Zoroastro, mas uma divindade já existente na cultura indo-iraniana, com muitas semelhanças a deuses ainda bem mais antigos da Índia Védica. Aúra-Masda, ou o Senhor Sábio, era um mito associado ao sol e ao fogo. Através de sua luminosidade, as trevas da ignorância poderiam ser vencidas. Era precisamente através do fogo e suas chamas mensageiras que os homens poderiam se comunicar com o Senhor Sábio.

Já seu irmão, Arimã, o Deus Mal, era o senhor da devassidão e da corrupção, o lado negro da alma de todos os homens, que os atraia para o mau pensamento e o mau governo de sua própria existência. Ora, é precisamente este que foi associado a Lúcifer. Porém, há uma característica essencial do mito que não foi transferida para o cristianismo: Arimã não está no mundo lá fora, mas dentro da alma de cada um de nós. Arimã não nos “seduz” para o mal, mas é antes a própria presença das trevas da ignorância que ainda pairam dentro de nosso coração, impedindo que vejamos a luminosidade do bem.

Percebem a enormidade da diferença? Não se trata mais de deuses criadores do mundo ou do Cosmos, mas de aspectos da própria alma, da mente humana, e de sua longa caminhada em direção à luminosidade, a extinção das trevas da ignorância; Enfim: a evolução da consciência. Zoroastro não estava preocupado com a origem das coisas, do porque existe algo e não nada, mas sim com a origem da ignorância humana, e de como proceder para que os homens reformem a si mesmos, e se tornem melhores e mais sábios. Mas a luz de Zoroastro, quando chegou aos homens da Igreja, foi corrompida em algo menor. Tal qual Lúcifer caiu dos céus, os eclesiásticos também caíram nas trevas da ignorância, e houve mesmo aqueles demônios que um dia acreditaram que Deus pediu guerras santas e conversões sob as torturas mais bárbaras – e os demônios da Igreja diziam falar em nome de Deus.

Mas como falar em nome de um aspecto apenas nosso, uma luz que habita dentro de cada alma, e que em cada uma delas é uma luz distinta, como a íris dos olhos? Somente Deus pode falar por si, mas quando o faz, fala direto a alma daqueles que souberam lhe escutar… Os outros todos que acreditam falar em nome dele devem tomar muito cuidado, pois estes sim terão muito a explicar no Juízo Final. Este sim, terão dificuldades em espantar Lúcifer.

O rabi da Galileia disse que veio trazer a espada, e não a paz. E ele tinha razão: necessitamos de uma espada para batalhar na guerra da alma, para nos livrar dos preconceitos, dos apegos, das zonas de conforto, da estagnação. Como é possível estar em paz com tanta violência, tantas guerras e sofrimento pelo mundo afora? Com a luz do amor voltada para o sistema inteiro, e não para um pequeno grupo, uma pequena região, uma pequena parte do tempo. Quem com ferro fere, com ferro será ferido – disse ele também: a solução não é o olho por olho nem o dente por dente, a solução não é guerrear no mundo lá fora, nem propriamente enfrentar exército com exército, e bomba com bomba. Bastam algumas bombas atômicas explodirem a mais, e todos estarão cegos e desdentados: hoje ao menos sabemos disso.

A solução é a revolução da alma, para que possamos oferecer a outra face ante toda a violência: a face da tolerância, da sobriedade, da espiritualidade. Nenhum soldado jamais será, afinal, tão corajoso, tão heroico, tão mítico, quanto o Rebelde Desconhecido, que não estava mais preocupado consigo mesmo, mas com o rumo que sua pátria iria tomar, continuassem os tanques e os outros soldados dizimando aqueles que lutavam, sem armas que não o próprio pensamento, na guerra pela paz.

E a paz só virá, efetivamente, após a espada, após a guerra que se dá internamente, após a revolução da alma. Só mudando a si mesmo que o homem pode mudar o que está a sua volta. Se o pensamento não muda, o que vemos é o que temos visto pelo mundo afora: um Império substituindo ao outro, e um opressor sentando no trono sangrento de outro opressor. Enquanto o homem não muda a si mesmo, o que vemos é apenas escuridão e ranger de dentes.

Até este precoce despertar da consciência humana, a Natureza nos guiou, através da “guerra da fome e da morte”, por seus caminhos multimilenares: ora presa, ora predador. Lutamos em muitas guerras, e muitas foram com unhas e dentes, e paus e pedras. Fomos alvejados e esquartejados, transpassados e devorados, e decerto por muito tempo pagamos ao olho por um outro olho, e ao dente por um outro dente. Um dia, porém, alguns de nos se cansam deste jogo, e decidem se voltar para a luz, e não mais para a escuridão… Agradecem ao sistema por tê-los feito chegar aonde chegaram, mas agora tratam de viver, não mais sobreviver. E amar, não mais assassinar.

Eis que todo incêndio um dia começou pequeno. Eis que os ventos das asas do Grande Dragão, Arimã, se antes conseguiam extinguir a chama de uma vela, hoje mal conseguem abalar a fogueira que arde no coração daquele que deu os primeiros passos no caminho em direção à luz. Agora, as pedras não mais se chocam para se destruírem e arrancarem lascas umas das outras, mas para produzir ainda mais faíscas de luz, para que o fogo aumente, e aumente, sempre adiante… A ignorância alheia não mais ameaça a nossa convicção. Não há ninguém para ser convertido, há apenas seres para serem amados – e por todos os cantos.

Há seres no leste e no oeste, ao norte e ao sul, acima e abaixo, há vida e beleza, há pensamentos de luz por toda a parte. Há amor por toda a parte. Não há mais nada a temer, nem a duvidar. Então, quando todas as guerras do mundo ficam para trás, nos recônditos da alma que deixou de ser pequena, apenas se é. A paz foi finalmente alcançada, a fera foi domesticada: Arimã, quem diria, também é nosso amigo.

Neste céu de liberdade, Pai, deixe meu país acordar (Tagore)

***

[1] O comunismo de Marx, descrito em sua filosofia, foi algo um tanto distante do comunismo do mundo real. Como alguém já disse: “amo Marx, mas odeio os marxistas”.

[2] Segundo a Cruz Vermelha chinesa.

[3] Para tal, recomendo consultaram a série Os corvos de Wotan.

Crédito das imagens: [topo] Alguns fotógrafos corajosos; [ao longo] Anônimo (encontradas no Facebook, sem crédito dos autores)

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Ad infinitum

Se gostam do que tenho escrito por aqui, considerem conhecer meu livro. Nele, chamo 4 personagens para um diálogo acerca do Tudo: uma filósofa, um agnóstico, um espiritualista e um cristão. Um hino a tolerância escrito sobre ombros de gigantes como Espinosa, Hermes, Sagan, Gibran, etc.

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#Espiritualidade #zoroastrismo #Cristianismo #amor #Mitologia #guerra

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Feliz Thorrablót !!!

Itens:

Hóff (Altar);

Toalha Vermelha (para o Hóff);

Aessirmyndar (Ídolos dos Aesir/Imagens de Thor);

Velas vermelhas;

Flores vermelhas (para decorar);

Hammar (Martelo);

Blótahorn (Chifre);

Blótarkarfa (Cesta de oferendas);

Incenso;

Mjólð (Hidromel);

Ale (Cerveja Vermelha);

Sacrifício (Carne/Alimento ritual) – Lembrando que sacrifício significa “tornar sagrado”, portanto, que a comida e bebida de um blót são consagradas.

Uma vez que muitos de nós enfrentamos dificuldades para “montar” um altar em casa, não existem problemas em suprimir um ou mais elementos, desde que se reserve um tempo a dedicação aos deuses.

Preparação e ritual:

Montagem do altar;

Consagração do local;

Acendimento das velas/fogueira;

Invocação (quando se chama por Thor: Aqui quem tem o od – inspiração – pode fazer um poema para o deus ou apenas dizer o nome e chama-lo pelos seus epítetos, convidando-o a tomar seu assento de honra no blót);

Consagração da bebida e comida com o martelo;

Libação (ergue-se um brinde a força de Thor, a glória dos Aesir, faz-se pedidos para o Poderoso Asathor, etc. Aqui vale lembrar os gigantes que estão em nosso caminho. Eu gostaria de pedir que todos incluíssem em seus pedidos as bênçãos de Thor para o nosso povo, que a cada dia possamos nos tornar mais coesos e fortes);

Agradecimentos (pela presença de Thor e suas bênçãos);

Entrega das oferendas (que podem tanto ser feitas na natureza como podem ser queimadas na fogueira/lareira).

Despedidas.

Essa é apenas uma sugestão de roteiro que pode ser adaptada, simplificada ou incrementada, conforme as possibilidades de cada um, para podermos criar um ele como Poderoso Senhor de Thrudheimr!

Thor blessadur!

#Festividade

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Natureza Imperfeita

» Parte 1 da série “Reflexões sobre a perfeição”

A perfeição é um estado de completude e ausência de falhas. Normalmente atribuímos a perfeição a um Criador, um Ser Perfeito ou as Leis da Natureza.

Ante a grandiosa perplexidade que a observação profunda da natureza nos imprime a alma, somos inexoravelmente levados a crer que o Cosmos – tudo o que há, que foi ou que será – é perfeito. Apesar de ser muitas vezes complexo para nós definir tal perfeição, quase sempre a associamos com a beleza, a simetria, a homogeneidade das formas naturais.

Na geometria a perfeição parece estar associada ao círculo: um espaço onde todos os pontos estão à mesma distância do centro, e conseqüentemente não temos nenhum ponto em posição privilegiada em relação aos demais. Essa igualdade nos parece sublime, e muitas vezes a tentamos traduzir para a realidade, tanto que muitos símbolos e signos da geometria sagrada se baseiam ou contém o círculo… Entretanto, ainda temos o ponto central do círculo – este está em posição privilegiada, na medida em que está a mesma distância de todos os demais. O centro é necessário para que os outros pontos se sintam em igualdade. Retire o centro e teremos novamente uma guerra em busca do ponto de superioridade. É mais simples supor que Deus está no centro. A mente de Deus, o motor inicial do Cosmos, a essência da natureza – aí está a perfeição!

Porém, quando aplicamos essa noção ao espaço-tempo, não temos o resultado que esperaríamos. Segundo a cosmologia, é impossível definir um “centro espacial” do universo. Certamente segundo a teoria do Big Bang, toda a matéria e energia cósmica foi catapultada de um mesmo “ponto inicial”, mas o espaço-tempo cresceu por igual em todas as direções. É como se o próprio centro crescesse ele mesmo, e não os pontos que estavam a sua volta… Nenhum ponto do universo está “em torno de algum centro”, pois que todo o espaço-tempo é ele mesmo um único ponto original que simplesmente cresceu rumo ao infinito. Não há nada fora nem além do universo – e, se é que há, haverá de ser o que o criou.

Costuma-se imaginar que a natureza é perfeita. Perfeita, simplesmente porque é o que havia já aqui muito antes de nós chegarmos (ou pelo menos, muito antes de nossa lembrança de estarmos conscientes da chegada). Como imaginar uma natureza imperfeita? Como imaginar falhas no projeto da criação? A ciência tem descoberto algumas…

Por exemplo: a grama é verde por causa do pigmento clorofila, que absorve as regiões azuis e vermelhas do espectro eletromagnético da luz solar. Por causa dessas absorções a luz que a grama reflete nos parece verde. Entretanto, as regiões verdes e amarelas do espectro da luz solar são as mais energéticas. Portanto, se formos pensar em perfeição no sentido de funcionalidade, a fotossíntese das plantas traria muito mais energia química caso a clorofila absorve-se as regiões verdes e amarelas do espectro, ao invés de absorver as regiões azuis e vermelhas. Seria isso um “erro de design” da natureza?

Não paremos por aqui. Se a grama parece ter “escolhido a cor errada”, mesmo o tão aclamado “projeto homo sapiens” parece ter os seus erros… Soluços, por exemplo, que variam de um aborrecimento passageiro a uma doença que pode durar meses ou, em raríssimos casos, anos. O soluço é provocado por um espasmo de músculos na garganta e no peito. O som característico é produzido quando inspiramos ar repentinamente enquanto a epiglote, uma aba de tecido macio localizada no fundo da garganta, se fecha. Todos esses movimentos são involuntários; soluçamos sem nem pensar no assunto. Os soluços revelam pelo menos duas camadas da nossa história evolutiva: uma parte compartilhada com os peixes e outra com os anfíbios, de acordo com uma teoria bem fundamentada [1].

Herdamos dos peixes os nervos principais usados na respiração. Um desses conjuntos de nervos (frênico) estende-se da base do crânio ao tórax e ao diafragma. Esse caminho sinuoso cria alguns problemas; qualquer coisa que interrompa o trajeto desses nervos pode interferir na respiração. Uma simples irritação pode deflagrar os soluços. Um projeto arquitetônico mais radical do homo sapiens teria colocado o início dos nervos frênicos em local mais próximo do diafragma e não do pescoço.

Já o soluço em si parece ter vindo do passado em comum com os anfíbios. Quando usam a respiração braquial, eles enfrentam um grande problema – precisam bombear água para a boca e garganta e depois para as brânquias, mas essa água não pode entrar nos pulmões. Como conseguem isso? Enquanto inspiram, eles fecham a glote, impedindo que a água escoe pelas vias respiratórias. Pode-se dizer que eles respiram com as brânquias usando uma forma estendida de soluço. Remexendo em nossa história evolutiva, vemos que uma boa parte dela se deu em oceanos, córregos e savanas – e não em cidades, igrejas ou academias.

Para muitos religiosos, essa “ousadia” em se criticar a natureza suscita um senso de ingratidão, de falta de respeito… Provavelmente são os mesmos que criticam qualquer tentativa dos biólogos e geneticistas de “intervir” na natureza – clonando, modificando, até mesmo adicionando informações a obra divina.

Louis Pasteur dizia que “uma pouco de ciência nos afasta de Deus. Muito, nos aproxima”. Eu gostaria de estender essa citação a religião: “um pouco de religião nos esconde a Deus. Muito, nos mostra-O em todo o Seu esplendor”… Para tentar lhes demonstrar o que eu quero dizer com isso, é preciso primeiro falar sobre o paradoxo da perfeição…

» Na continuação, as imperfeições que geraram o Cosmos, e uma visão mais aprofundada do que é realmente a perfeição.

***
[1] Para saber mais consultar “A história de quando éramos peixes”, de Neil Shubin (Ed. Campus).

Crédito da foto: James L. Amos/Corbis

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#Filosofia #Geometria #natureza #perfeição

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Jung – As Cinco etapas da Consciência

A primeira etapa é caracterizada pela participation mystique (termo tomado do antropólogo francês Lévy-Bruhl). Refere-se a identificação entre a consciência do indivíduo e seu mundo circundante. Ex: Quando o carro tem algum problema, o proprietário fica doente, ou tem dores no estômago. Isso acontece por estarmos vinculados inconscientemente ao mundo que nos cerca. Neste sentido, a primeira etapa da consciência é equivalente á última etapa; a unificação com o TODO. O mundo de um bebê é extremamente unificado. Ele considera que a mãe é parte integrante dele, que não há limites entre ele e um móbile acima do berço. Chamamos a isso de projeção. A maioria das pessoas estão vinculadas às suas famílias, e há identificação quando o filho ou o marido acha que é dono da mulher.

Na segunda etapa, já é possível perceber os limites, a diferenciação sujeito/objeto eu/você. Mas isso não significa que a projeção foi superada, apenas passou a ser mais localizada. Note que as etapas não são exatamente superadas, mas interpoladas. É por isso que um adulto possa ter a mesma identificação com a esposa (“ela é minha”) que tinha com a mãe, quando bebê. Mãe, brinquedos favoritos, objetos brilhantes… pessoas especiais são escolhidas e distinguidas. Os pais passam a ser objeto de adoração, e representam a onipotência e onisciência. Jung chamou a isso de projeções arquétipicas: “Papai é super forte, e pode fazer qualquer coisa! Mamãe me ama incondicionalmente!”. A chocante revelação de que os próprios pais não sabem de tudo ocorre na adolescência, e então, durante um certo tempo, os pais estão “completamente por fora” (outro tipo de projeção). Também projetamos em irmãos (daí a rivalidade) e professores (daí as paixões, ou aversões).

Na terceira etapa a pessoa se dá conta que os portadores das suas projeções específicas não correspondem a essas projeções. As pessoas ficam desidealizadas, e o mundo perde muito do seu primitivo encanto. O conteúdo psíquico projetado torna-se abstrato, e manifesta-se através de símbolos e ideologias. O jovem entra pra uma banda, vira rebelde sem causa, usa drogas, manda toda a “sociedade” pra PQP, ou então vira um místico ou religioso. Nesse caso a onisciência e onipotência, antes atribuídas aos pais ou professores, são projetadas em entidades abstratas, como Deus, Destino, Anjos, Verdade ou Bob Marley. Filosofia e Teologia tornam-se possíveis. A Lei, ou a Revelação, passam a estar investidos de projeções arquétipicas, deixando o mundo concreto como algo neutro. A pessoa passa a não temer inimigos, pois quem está no controle é Deus, ou acha que pode manipular e assumir o controle do mundo racionalmente, porque ele obedece às leis da natureza. A empatia com as pessoas tende a diminuir, por não interessar o sofrimento de fulano com sicrano, mas sim as idéias vigentes para o bem comum. Ex: Uma pessoa faz uma coisa ecologicamente certa, não porque lhe doa no íntimo assistir à destruição do mundo natural, mas sim porque é o correto social e moralmente pra solucionar os problemas do mundo. Enquanto uma pessoa achar que Deus vai premiá-la ou puni-la, ela está na etapa 3 do nível da consciência.

A quarta fase representa a extinção total das projeções, mesmo na forma de abstrações teológicas ou ideológicas. Essa extinção leva à criação de um “centro vazio” que Jung identifica com a modernidade. O sentimento de alma – antes grandioso, no sentido e propósito da Vida, de um “Deus íntimo” – é substituído por valores utilitários e pragmáticos (os demônios estão convertidos em sintomas psicológicos e desequilíbrios químicos cerebrais). O indivíduo contenta-se com breves momentos de prazer, ou entra em depressão por querer sempre mais. Nesta quarta etapa da consciência, natureza e história são vistas como o produto do acaso e do jogo aleatório de forças impessoais. Parece como se as projeções psíquicas tivessem desaparecido completamente, quando na verdade o próprio ego é que foi investido com os conteúdos previamente projetados em outros, em objetos e abstrações. Assim, o ego está radicalmente inflado na pessoa moderna e assume uma posição secreta de Deus Onipotente. Embora a pessoa moderna pareça ser razoável e estar assentada em bases firmes, na realidade está louca. Mas isso está escondido, uma espécie de segredo guardado até da própria pessoa.

Jung acreditava que essa quarta etapa era extremamente perigosa pela razão óbvia de que o ego inflado é incapaz de adaptar-se muito bem ao meio ambiente e, por isso mesmo, é passível de cometer catastróficos erros de julgamento. Embora isso seja um avanço da consciência num sentido pessoal ou mesmo cultural, é perigoso por causa do seu potencial para a megalomania. A pessoa da Etapa 4 já não é controlada por convenções sociais relacionadas, seja com pessoas, seja com valores. Por isso o ego pode considerar possibilidades ilimitadas de ação. Isso não significa que todas as pessoas modernas sejam sociopatas, mas as portas para tal estão bem abertas…

Nem todo mundo chega à etapa 4. De fato, muitas pessoas não podem suportar suas exigências. Outras consideram-na maléfica. Os fundamentalismos do mundo insistem em manter-se aferrados às etapas 2 e 3, por temerem os efeitos corrosivos da etapa 4 e o desespero e vazio que ela engendra. Mas é uma verdadeira façanha psicológica quando as projeções têm de ser removidas a esse ponto e os indivíduos assumem responsabilidade pessoal por seus destinos. A armadilha é que a psique passa a estar escondida na sombra do ego. Mas tudo é evolução, e essas etapas são necessárias para o desenvolvimento da consciência. A pessoa que chegou na etapa 4 sem cair numa inflação megalomaníaca passa, na avaliação de Jung, por uma notável transformação.

Na quinta etapa temos a reunificação de consciente e inconsciente. Há um reconhecimento consciente da limitação do ego e uma clara percepção dos poderes do inconsciente; e torna-se possível uma forma de união entre consciente e inconsciente através do que Jung chamou a função transcendente e o símbolo unificador. A psique unifica-se mas, contrariamente à etapa 1, as partes permanecem diferenciadas e contidas na consciência. E, também ao contrário da etapa 4, o ego não é identificado com os arquétipos: as imagens arquetípicas continuam sendo o “outro”, não estão escondidas na sombra do ego. São vistas agora como “aí dentro”, ao invés da etapa 3, onde estão “lá fora” (em algum lugar no espaço metafísico), e não são mais projetadas em algo externo.

Oficialmente, Jung deteve-se na etapa 5, embora em numerosos lugares indique que considerou a realização de novos avanços para além dela. Há sugestões em seus escritos para o que poderia ser considerado uma sexta e talvez até uma sétima etapa. Por exemplo, no seu Seminário de Yoga Kundalini, realizado em 1932, Jung reconhece claramente a realização de estados de consciência no Oriente que superam amplamente o que é conhecido no Ocidente, e que poderia ser considerado uma etapa 7 potencial.

Fonte: Jung e o mapa da alma, de Murray Stein

#Jung

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En Sof

Não falamos ainda em nosso Programa de En Sof, (ainda que o tenhamos citado de passagem) pois nos interessava apresentar primeiro o modelo da Árvore da Vida e trabalhar com ele, para que o estudante se familiarizasse com sua estrutura e ao mesmo tempo jogasse com as diferentes relações a que dá lugar, o mesmo que com as letras e com outras imagens propriamente cabalísticas. Queremos recordar que este modelo da Árvore corresponde exatamente a Adam Kadmon, o homem total, e nos referimos primeiro a ele para tratar de entender certas proporções que nos levarão à idéia do que é En Sof para os cabalistas. Estamos falando de suas medidas, chamadas em hebraico Shiur Koma, pois a Cabala identifica a Adam Kadmon com o cosmos. A “altura dos calcanhares deste ser é de trinta milhões de parasangas”, afirma-se laconicamente. Mas depois se explica que “uma parasangae do Criador tem três milhas, uma milha tem dez mil metros e um metro três empans, e um empan contém o mundo inteiro”.

Sem dúvida estas medidas abarcam todas as possibilidades do Universo, quaisquer que estas sejam. No entanto a idéia de En Sof supera, se assim pode se dizer, todas estas possibilidades.

Como se verá, sua posição é supra-cósmica, chama-se-lhe o Antigo dos Antigos (Deus Ignotu). Não pode ser nem sequer imaginado pelo homem. Expressa-se através do cosmos, do homem celestial, do criador, que mal é um ponto residual de seu nada infinito. A palavra Ayin (Nada), utilizada às vezes pelos cabalistas e pelo Zohar como idêntica a En Sof, entranha uma idéia de vazio absoluto. Mas este nada e este vazio não são “algo” no sentido da expressão moderna, a saber: algo que possa ser percebido ou se expresse como uma negação de outra coisa. Na verdade, En Sof não é nada do que pudesse ser algo, tal a Majestade Imensurável desta doutrina cabalística. Pelo que as três primeiras sefiroth correspondem à Triunidade dos Princípios do Ser Universal, e portanto também as do ser individual. Correspondem-se com os princípios celestes que, por sua vez, geram os terrestres, tal qual no simbolismo construtivo a cúpula e a base do templo. Trata-se da natureza de Deus, se convém utilizar esta forma de dizer, que se sintetiza na Unidade, à qual Deus se assemelha. Estes estados são supra-individuais e estão assinalados no diagrama da Árvore da Vida como supra-cósmicos, já que estão por cima das sefiroth de “construção” (cósmica). No entanto, ainda se encontram determinados pela numeração que se lhes atribui, começando pela Unidade. Efetivamente, a Unidade é a síntese onde se pode encontrar a essência e o sentido da totalidade da Criação; mas ao mesmo tempo esta assunção do Si (chamado também Bem e Só) é, por sua vez, o único meio de passagem a outros “espaços”, estes sim, autênticos e verdadeiramente supra-individuais e supra-cósmicos (metafísicos), claramente assinalados na Cabala com o nome de En Sof, equivalentes ao Não-Ser, dos quais não se fala, já que por definição são inefáveis. Também esta simbolização de uma sucessão de graus de Conhecimento se acha implícita na própria planta do edifício do Templo, por meio da porta, do labirinto, do altar e do sancta-sanctorum, que delimitam zonas simbólicas específicas que se articulam, do menor ao maior, no percurso iniciático que a construção propõe.

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Comodismo

Por que as pessoas se acostumam com o que não lhes faz bem? Acho a capacidade do ser humano se adaptar às adversidades fantástica, mas muito mal utilizada. Se você perguntar a um nativo da Islândia se ele é feliz, muito provavelmente vai dizer que sim, e que ama sua terra onde só tem gelo e ventos que queimam o rosto. Isso não é exatamente adaptação. Ele simplesmente nasceu ali e lhe falta parâmetros. Mas ,esse mesmo habitante pode ter ace$$o a outros países, como as Bahamas, e ainda assim preferir seu lugar gelado. Chega a ser irracional pra quem vê de fora, mas isso é costume, apego, afeição. Somente na mente daquela pessoa é que vamos encontrar os verdadeiros motivos que o mantém preso àquilo, porque na fria lógica não há a menor sustentação. Foi ali onde ele deu os primeiros passos, o primeiro beijo, onde há a lembrança de seus ancestrais, sua cultura, etc. É um apego sentimental.

Isso acontece muito em relacionamentos. Muitas vezes continuamos nos desgastando com nosso parceiro(a) e todos ao seu redor dizem “sai dessa, isso é loucura” e de fato toda a lógica aponta para o rompimento daquilo que só faz mal a eles e até mesmo aos que estão a seu redor. Mas, ainda assim, o vínculo permanece, todo construído a partir de sentimentos. Afinal, somos mesmo seres racionais? Fazemos julgamentos o tempo todo (isso é bom, aquilo é feio, aquilo é melhor, mais alto, mais baixo, etc.) só que não são baseados em coisas absolutas, que sirvam para todo ser humano. Nosso julgamento passa obrigatoriamente por nossos valores, sentimentos, experiências, enfim, pela nossa alma. Uma criança pode caminhar pra boca de um Leão que aparentemente era ameaçador pra todo e qualquer ser humano (não necessitando um conhecimento prévio de que aquele bicho vai lhe fazer mal). Mas, sabe-se lá que associação aquela mente fez? Não é exatamente o que acontece com o álcool e o fumo?

A Islândia foi um exemplo extremo. Mas podemos usar o mesmo raciocínio aqui no Brasil. Vivemos num país abençoado por Deus, com uma natureza exuberante, mas no meio de uma população de canibais. Um país de corda de caranguejos, todos se agarrando pra evitar que escapem da panela. É canibalismo no ambiente de trabalho, nas relações sociais, na violência desmedida nas ruas, na fome que assola uma parte gigantesca da população, enquanto uma minoria aumenta seus salários, etc. E vamos nos adaptando a isso com resignação, com o bom-humor característico do brasileiro, comprando a “carteira do ladrão”, achando natural que possamos estar mortos ao sair pra comprar pão, e que nossos “bem-nascidos” possam e devam andar com escolta e ter polícia na porta de casa, enquanto a maioria da população não tem. Tudo porque nos acostumamos a isso, através da aceitação do mal ao meu vizinho, através das repetidas notícias de violência na imprensa, e através de um comodismo que aceita absurdos dos menores aos maiores. Novas gerações simplesmente nascem acostumadas a esse mundo louco, e o tempo dos nossos bisavós, onde se “amarrava cachorro com linguiça”, torna-se apenas uma lenda distante, como uma Shangrilá.

Mas esse ainda não é o ponto onde quero chegar, que é algo que transcende as notícias de jornal e mesmo o nosso planeta. É sabido que existem pessoas que se acostumam a viver de esmola. Normalmente pensa-se que é o efeito da falta de emprego, da especialização, e tal. Mas tivemos exemplos dramáticos no Nordeste por conta do bolsa-escola, onde famílias que OUTRORA trabalhavam ficaram de braços cruzados por acostumar-se a uma mixaria que o governos lhes dá. E ainda procuram botar mais filhos no mundo pra “aumentar a renda”. Isso é um fato, distante pra maoria (que pode dizer o clássico “o que eu tenho a ver com isso?). O que quero alertar, dentro do espírito do Saindo da Matrix, é que, E SE nos acostumamos de tal forma ao planeta Terra que deixamos nosso verdadeiro lar, nosso “paraíso” e nossos sonhos e potencialidades pra trás, justamente por nos acostumar-mos a uma “esmola” fácil e duradoura? Acostumados a um lugar onde o amor é uma coisa contraditória, hora animalesca e regida por instintos, ora Divina e transcedental? E SE hoje usamos uma couraça que limita nossos movimentos, mas que por outro lado é “fácil de usar” e nivela todos por baixo, e nos acostumamos com isso a ponto de esquecer nosso verdadeiro “corpo”? E SE fizemos como os norte-americanos pós-11 de setembro, um povo altamente endividado com as ações do passado e que termina por ter de abdicar de sua liberdade em favor de um ditador que “cuide” deles? E o pior, E SE ainda cultuássemos essa entidade protetora como um DEUS?

#hermetismo

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A Cidade Celeste II

Também é importante advertir que a fundação das cidades, com seus templos e santuários, era um símbolo que expressava a constituição ou consolidação de uma doutrina tradicional, convertendo-se assim a cidade terrestre na própria expressão dos princípios cosmogônicos e metafísicos revelados por tal doutrina, pois esta sempre foi considerada como a emanação direta da Doutrina do céu, que não é outra que a própria Sabedoria Perene, Lei Eterna, ou Sanatana Dharma, contida na Tradição Primitiva, ou o que é o mesmo, no Centro Supremo. Este, embora em um princípio era acessível a todos os homens, tornou-se, por razões de ordem cíclica, oculto e inacessível para a grande maioria, Por isso que seja através da compreensão do sentido profundo e essencial do Ensino como se pode realmente estabelecer a comunicação com tal Centro, quer dizer, quando a “intenção” e a vontade de todo o ser se oriente para o Conhecimento, e se identifique e seja um com ele, promovendo assim uma verdadeira transformação interior casada com a realização de todas as possibilidades contidas no estado humano, à luz de cuja plenitude todas as coisas aparecem reintegradas na Unidade do Si mesmo, o qual está em relação com a frase evangélica: “Procurem e encontrarão, peçam e serão saciados, chamem e se lhes abrirá”. A essa transformação (precedida por numerosas mortes e nascimentos) refere-se a expressão hermética que sintetiza a consumação da Grande Obra: “espiritualizar os corpos e corporificar os espíritos”, ou “espiritualizar a matéria e materializar o espírito”, como se diz nas primeiras páginas deste Programa.

O centro do estado humano está representado precisamente pelo coração, onde, efetivamente, todas as tradições situam a morada simbólica da Cidade celeste, ou Cidade divina (em sânscrito Brahma-pura), que é o Reino dos céus (identificado com a Cristianópolis ou o Templo do Santo Espírito, “que está em todas partes”, do hermetismo Rosa-Cruz), do que se diz que não virá ostensivamente, “Nem poderá dizer-se: hei-lo ali, hei-lo aqui, porque o Reino de Deus está dentro de vós”, Lucas, XVII, 21. É também a Jerusalém Celeste como dissemos, cujo advento supõe a abolição da condição temporária, e portanto a restauração do estado primitivo e do sentido da eternidade ou “presente eterno”. Em conseqüência, poderia então se afirmar que a Cidade celeste é a possibilidade permanente de viver a realidade em si mesmo, sem reflexos duais, como foi, é e será sempre, constituindo o ponto de referência vertical que dá sentido e plenitude à totalidade de nossa existência, que se reconhece no universal, conduzindo-nos da periferia ao centro através do Eixo que comunica a Terra com a Pátria celeste, que é nossa origem e destino final: “Eis aqui o Tabernáculo de Deus entre os homens, e erigirá seu Tabernáculo entre eles, e eles serão seu povo e o mesmo Deus será com eles”, Apocalipse, XXI, 3-4.

#hermetismo

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Arcano 4 – Imperador – Heh

Sentado num trono com as pernas cruzadas, um homem coroado é visto de perfil. Em sua mão direita traz um cetro que termina por um globo e pela cruz, enquanto a outra mão segura o cinto. No primeiro plano, à direita, um escudo com a imagem de uma águia parece apoiar-se no chão.

Um colar amarelo prende uma pedra (ou um medalhão) de cor verde. A coroa se prolonga extraordinariamente por detrás da nuca.

O trono, uma cadeira em cujo braço esquerdo se apóia o Imperador, repousa – como a mesa do Arcano I – sobre um terreno aparentemente árido, do qual brota uma solitária planta amarela.

Ao contrário do emblema da Imperatriz, a águia do Arcano IIII olha para a esquerda. O desenho das águias, por outro lado, difere notavelmente num e noutro caso.

A notação IIII, no topo do desenho, que ocorre também nos arcanos VIIII, XIIII e XVIIII não é habitual na numeração romana (que registraria IV, IX, XIV e XIX).

@MDD – A notação IIII vem do Grego arcaico, não do romano.

Essa forma de grafar, porém, faz parte da tradição gráfica do Tarô, tal como aparece na versão de Marselha e na maioria das coleções de cartas antigas.

Significados simbólicos
O poder, o portal, o governo, a iniciação, o tetragrama, o quaternário, a pedra cúbica ou sua base. Proteção paternal.

Firmeza. Afirmação. Consistência. Poder executivo. Influência saturnina-marciana. Concretização, habilidades práticas, ordem, estabilidade, prestígio.

Interpretações usuais na cartomancia
Direito, rigor, certeza, firmeza, realização. Energia perseverante, vontade inquebrantável, execução do que está resolvido. Protetor poderoso.

Mental: Inteligência equilibrada, que não despreza o plano utilitário.

Emocional: Acordo, paz, conciliação dos sentimentos.

Físico: Os bens, o poder passageiro. Contrato firmado, fusão de sociedades, situação do acordo. Saúde equilibrada, mas com tendência à exuberância excessiva.

Sentido negativo: Resultados contrários ao pretendido, ruptura do equilíbrio. Queda. Perda dos bens, da saúde ou do domínio sobre coisas e seres. Oposição tenaz, hostilidade preconcebida. Teimosia, adversário obstinado; assunto contrário aos interesses. Autodestruição, grande risco de ser enganado. Autoritarismo, tirania, absolutismo.

História e iconografia
Alguns estudiosos chamam atenção para um aspecto significativo desta figura: o Imperador tem as pernas cruzadas. Este detalhe corroboraria a tese de inspiração germânica do arcano, visto que no antigo direito alemão esta posição era prescrita ritualmente para os altos magistrados (1220). No entanto, imagens semelhantes e igualmente antigas aparecem nas iconografias francesa e inglesa, representando altos dignitários.

O caráter cerimonial e prestigioso do cruzar as pernas pode ter uma origem mais remota, possivelmente oriental, já que isso não é habitual no panteão greco-romano.

O antigo simbolismo, convertido em liturgia pela codificação alemã, admite também um profundo sentido psicológico: cruzar as pernas e os braços indica concentração volitiva, encerra o protagonista na sua esfera pessoal e, do ponto de vista gestual, afirma claramente o desejo de individuação.

Outros detalhes merecem ser assinalados a propósito do Imperador.

É comum, associar o simbolismo do Tetragrammaton à figura do Imperador. É sabido que o tetragrama traduz ao nome de Deus omitindo-o, ao decompô-lo no nome das letras que o formam: Yod – He – Vau– He.

A leitura do nome das letras (grafadas da direita para a esquerda, em hebraico), dá Jehová, que não é o nome de Deus, mas alusão a ele.

Os cabalistas, como demonstra este exemplo, trabalham também com o pensamento analógico, tal como se vê nos demais estudos tradicionais.

“A idéia é perfeitamente clara” – diz Ouspensky – “se o Nome de Deus está realmente em tudo (se Deus está presente em tudo), então tudo deve ser análogo a tudo mais: a parte menor deverá ser análoga ao Todo, a partícula de pó análoga ao Universo, e todos análogos a Deus”.

Do ponto de vista cabalístico, a relação Tetragrama-Imperador parece muito fecunda, já que, comparada com as três letras anteriores (ou os três arcanos), consideradas respectivamente como o princípio ativo (I), o princípio passivo (II) e o princípio do equilíbrio ou neutralizador (III), a quarta letra ou carta é considerada o resultado e, também, o princípio da energia latente.

Isto se harmoniza perfeitamente com a versão de Wirth sobre o Arcano IIII, segundo a qual ele não é apenas o Príncipe deste mundo, que “reina sobre o concreto, sobre o que está corporificado”, mas é também o paradigma do homem estritamente normal, em posse de suas potencialidades, mas ainda não realizado pela iniciação.

Nesse sentido, representa o quaternário de ordem terrena, de organização da vida sensível, e pode ser relacionado também ao demiurgo dos platônicos, às divindades inferiores em geral (os heróis, antes dos deuses), e a toda tentativa de criação de vida no nível terreno e perecível.

Também se vê nele, enquanto rei que propicia a prosperidade e o crescimento de seu povo, uma correspondência ao mito de Hércules, “portador da maçã, que leva as maçãs de ouro ao jardim das Hespérides”.

Hércules, enquanto herói solar, que resume como nenhum outro as fases do processo iniciático no sentido da liberação individual que, esotericamente, só se pode alcançar através do trabalho e do esforço.

Como Hércules, também o Imperador não transcende a condição humana, embora o princípio indique que poderá levá-la à sua mais alta manifestação.

É considerado, em sua face não trabalhada, como representante do aspecto violento e agressivo do masculino, mas também como dispensador da energia vital e, neste aspecto, como a Natureza abundante, divisível, nutritiva.

Por Constantino K. Riemma
http://www.clubedotaro.com.br/

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Os Doze Trabalhos de Hércules

“Hércules é o herói que alegoriza o Homem Autêntico – o Auto realizado. Somente o Herói Solar pode realizar tal tarefa, valente e destemido, onde vive a personificação do Cristo Íntimo.”

Ao estudarmos as narrativas de Hércules e seus Doze Trabalhos, inclusive correlacionando-os com a passagem através dos Doze Signos do Zodíaco, podemos abordar a questão do ponto de vista do aspirante espiritual ou iniciado, individualmente, ou do plano da humanidade como um todo. As provas a que Hércules se submeteu podem ser enfrentadas por milhares de indivíduos que trilham o caminho do desenvolvimento espiritual consciente e da iniciação.

Cada um de nós é um Hércules em embrião; os trabalhos, que ontem foram de Hércules, são de toda a humanidade, ou pelo menos de todos aqueles que mantêm as rédeas de sua evolução em mãos, tendo em vista a iluminação espiritual. Os trabalhos de Hércules demonstram o caminho que aguarda o aspirante espiritual sincero, aquele estágio do buscador espiritual inteligente, onde, tendo desenvolvido a mente e coordenado suas habilidades mentais, emocionais e físicas, esgotou os interesses no mundo fenomênico e procura expandir sua consciência. Esse estágio sempre foi expresso pelos indivíduos mais evoluídos de todos os tempos. Ao se aprofundar nos Doze Trabalhos de Hércules, torna-se claro qual deve ser a conduta de cada aspirante e iniciado no Caminho do Discipulado e da Iniciação Real. Um grande desafio é trazer, para nosso dia a dia hoje, novas maneiras de expressar e vivenciar as velhas verdades contidas nestes mitos, de forma a ajudar as velhas fórmulas para o desenvolvimento espiritual a adquirirem nova e pulsante vida para nós.

Nosso novo projeto no Teoria da Conspiração é trazer para as crianças estes tesouros Iniciáticos de maneira simples, porém profunda de conhecimentos que as acompanharão pelo resto da vida. Começamos com As Aventuras de Lilith, onde descrevemos o Caminho do Iniciado até o Subterrâneo, enfrentando os Sete Vícios para libertar o Deus da Primavera e seu Renascimento dentro de nós; Agora, estamos publicando dois novos livros herméticos e precisamos da sua ajuda: As Aventuras de Ísis, o conto Iniciático Egípcio mais antigo de todos, da Deusa Lunar em busca da reunião das partes do Deus Solar para vencer o Inverno e As Aventuras de Hércules, narrativa do Herói Solar passando pelas doze casas zodiacais em seus Trabalhos Míticos.

#Arte #Hércules #Mitologia

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