Conhecimento Exotérico e Esotérico

Existem duas espécies de conhecimento: exotérico e esotérico.

Vejamos o que significam estes termos. Segundo os dicionários, “Exotérico” vem do grego exoterikós e refere-se ao ensinamento que em escolas da Antiguidade grega era transmitido ao público sem restrições, por tratar-se de ensinamento dialético, provável e verossímil.

“Esotérico” vem do grego esoterikós e refere-se ao ensinamento que era reservado aos discípulos completamente instruídos nas escolas filosóficas da Antiguidade.

Por extensão, todo ensinamento ministrado a círculo restrito e fechado de ouvintes.

Em filosofia, diz-se dos ensinamentos ligados ao ocultismo.

Como vemos, o conhecimento exotérico diz respeito basicamente ao mundo dos fenômenos. É o conhecimento aprendido e acumulado pela raça humana, no mundo físico em que habita. É o conhecimento deste mundo físico, do meio ambiente mais imediato, da adaptação física ao mundo; é o conhecimento das leis que parecem se manifestar, como o movimento dos objetos no espaço, as marés, as mudanças de estações, a gravidade e inúmeras outras.

Por outro lado, todo o conhecimento que não pode ser isolado, confinado, ou descrito em termos de fenômenos físicos, é classificado como conhecimento esotérico.

Para aqueles que aceitam uma filosofia idealística, o conhecimento esotérico é um fato e as verdadeiras realidades do universo estão compreendidas no âmbito deste conhecimento. No entanto, é impossível encontrar prova ou confirmação da existência de qualquer forma de conhecimento esotérico, no mundo físico. Uma tal prova ou confirmação deve, necessariamente, provir de uma condição que transcende o físico. A validade deste conhecimento, segundo o idealista, e segundo os princípios da filosofia templária, depende de sua concordância ou conformação com o Absoluto.

O conhecimento exotérico ou conhecimento do mundo exterior é aquele que percebemos através dos sentidos físicos. Podemos ver, tocar, ouvir, provar pelo paladar e cheirar as coisas que formam o mundo que nos cerca. No entanto, se fizéssemos uma analise técnica da epistemologia, que é a ciência da natureza e validade do conhecimento, poderíamos levantar sérias dúvidas sobre a percepção do mundo real pelo homem. Será que percebemos realmente o mundo material, ou percebemos apenas impressões dele?

O âmbito deste discurso não nos permite tocar, senão de leve, neste assunto. Sabemos, por exemplo, que ao cheirarmos uma rosa, recebemos uma certa impressão; mas será esta impressão proveniente da própria rosa ou será ela resultante de certas reações químicas que ocorrem quando a rosa é aproximada à nossa faculdade sensorial do olfato? Cheiramos a rosa ou cheiramos a alteração química do ar causada pela rosa?

Desenvolvemos nossas atividades no mundo físico e, por isso, acreditamos que percebemos de maneira essencialmente correta aquilo que realmente existe.

Percebemos os objetos substancialmente como são, e a razão de assim acreditarmos é o fato de podermos lidar com eles, até certo ponto. Por conseguinte, nosso mundo de atualidade está relacionado com o nosso mundo de pensamento, pelos canais dos sentidos físicos.

Como decorrência de nossas percepções sensoriais, capacitamo-nos a tirar conclusões, em nossa consciência, sobre a existência, uso e aplicação que fazemos das coisas exteriores. A faculdade da percepção sensorial física, portanto, é o canal que nos une ao conhecimento exotérico, na qualidade de entidades pensantes.

O conhecimento esotérico, por sua vez, não pode ser percebido ou apreendido por meio dos sentidos físicos. Além disso, sabemos que o homem não se apercebe do conhecimento esotérico exclusivamente pelos processos da razão; a associação de ideias, embora seja um processo, uma faculdade do homem, com existência potencial em sua mente, não é, em si mesma, uma função criadora suficiente para produzir conhecimento novo.

A razão consiste na ordenação de uma sequência correta, ou o arranjo, numa certa forma, de conhecimentos obtidos pelos sentidos físicos. Isso nos leva a buscar uma outra fonte, caso desejemos obter conhecimento esotérico.

Esta fonte é a intuição. Em geral, considera-se a intuição como um meio direto, imediato e seguro de obter o conhecimento que dispensa tanto o fator dedução lógica, que está presente na razão, como o fator observação sensorial, associado com as nossas experiências do dia-a-dia. O conhecimento intuitivo existe fora do mundo dos fenômenos, devendo ser obtido por um meio capaz de transcender qualquer limitação física.

Um garoto preferiu jogar futebol em vez de ir à Escola Dominical. Quando voltou para casa, ficou surpreso ao encontrar sua mãe preocupada por ele não ter comparecido à escola. Sua mãe tivera um pressentimento, uma ideia, de que o garoto não fora à Escola, sem que nenhum sentido físico estivesse envolvido nesse pressentimento. A partir daquele dia, o garoto passou a olhar com muito respeito a forma de conhecimento chamada intuição.

Parece-nos inútil negar a existência deste tipo de conhecimento. Ocorrem continuamente inúmeros exemplos que confirmam sua existência, incontáveis experiências em que as pessoas adquiriram um conhecimento não originado do funcionamento dos sentidos físicos.

Aprendemos muitas coisas pelo meio direto e imediato da intuição, por se tratar de uma forma de percepção, um processo no qual o conhecimento vem à consciência diretamente e, com certeza, é opinião de muitos que tal conhecimento existe e chega à nossa consciência através de um sexto sentido.

Muitos psicólogos concordarão com o fato de que muitas pessoas recebem a solução de um problema por inspiração. Mas eles tendem a negar que esta percepção constitui prova suficiente da existência de uma faculdade intuitiva especial, mesmo não podendo negar o fato de que o conhecimento inspirado veio realmente à consciência.

Há uma relação íntima entre intuição e misticismo. Visto que o misticismo é a base fundamental da filosofia templária, devemos sempre, em última análise, correlacionar qualquer princípio que consideramos como filosofia com o conceito básico do misticismo.

A intuição, que conforme sabemos, funciona em diferentes tipos de situações cognitivas, é, em seu significado geral, aquilo que diz respeito ao súbito sentimento que uma pessoa tem de um certo conhecimento, para o qual não há nenhuma prova aparente, além do poder que a convicção estabeleceu no interior da consciência.

Muitos exemplos da função da intuição ocorreram com notáveis figuras históricas, por meio de visões, iluminação interior, vozes interiores e outras experiências deste gênero. Comumente, essa intuição tem o efeito de transformar repentinamente os conceitos metafísicos, morais e religiosos da pessoa. Em muitos casos, esses incidentes provocaram uma completa reorganização de toda a vida. Em todas as épocas e lugares, incidentes desta natureza têm sido experimentados por muitas pessoas.

Em um famoso trecho de “O Simpósio”, afirma Platão que, após tentar laboriosamente ascender ao reino de ideias que existe no Absoluto, pela disciplina de várias formas terrenas de existência, tornou-se capaz de alcançar uma visão da beleza eterna que transcende toda a beleza física.

Sócrates e Joana D’Arc, muito diferentes em suas crenças, cultura, época e lugar onde viveram, ouviram vozes interiores em momentos críticos da vida, e encontraram um caminho para a realidade através do conhecimento assim revelado. São Paulo teve uma visão na estrada para Damasco que o transformou, de perseguidor da cristandade, em seu melhor defensor.

Estas formas de intuição caracterizam a maneira como o conhecimento está relacionado com a experiência mística.

Qualquer um de nós pode experimentar a intuição, e efetivamente nós a experimentamos, em muitas e diferentes situações da vida. Os exemplos históricos foram dados apenas como ilustração, pois a intuição é um fenômeno universal e nos permite resolver os mais variados problemas, além de nos dotar do conhecimento esotérico que nos eleva e refina.

O místico é a pessoa capaz de elevar sua consciência ao ponto em que transcende o mundo físico em que vive, a ilusão do mundo, e alcança a percepção de que existe uma realidade divina com a qual pode sentir-se uno. Para o místico, o conhecimento consiste na capacidade de perceber o Absoluto, de se relacionar com Deus, de se elevar acima das limitações do mundo dos fenômenos físicos e entrar em contato, individualmente, com o reino do conhecimento esotérico.

Entre o conhecimento exotérico e esotérico, qual o mais importante? Em certo ponto, é mais importante obtermos o conhecimento esotérico. Não podemos esquecer, entretanto, que estamos destinados a viver num mundo físico e alcançar a compreensão dos princípios que o regem. O universo não foi criado por Deus para divertimento e espanto de Suas criaturas. O agnóstico pode reconhecer que existe uma realidade e ao mesmo tempo afirmar que o homem nunca poderá conhecê-la.

Há um véu, entre o homem, em seu estado atual, e Deus; esse véu, porém, pode ser levantado, o santuário pode ser visitado, o incognoscível pode se tornar cognoscível. O caminho para o incognoscível desenvolve-se pelo conhecimento. É por meio da ilusão daquilo que parece ser a realidade que podem nos aproximar do conhecimento da verdadeira realidade, e apreendê-la. O homem não passa de um espelho do universo, um pequeno mundo no interior do grande mundo. Mas mesmo este pequeno mundo faz parte integrante da realidade e de tudo aquilo que a criou.

Se aceitarmos a existência do conhecimento esotérico e o ponto de vista da filosofia idealística proposta pelos templários, compreendemos que somos entidades existentes no interior de um mundo físico, lutando para nos libertar dele para alcançar a completa e final fusão com o Real. Para a pessoa comum, que não costuma pensar, pode parecer que tudo seja realidade e ilusão.Ou seja, ela tende a presumir que tudo que pode perceber é realidade e tudo mais é ilusão. Essa pessoa pode presumir que apoia um conceito religioso ou uma filosofia básica, mas na verdade acredita que tudo que não pode ser comprovado fisicamente pertence puramente ao mundo da ilusão.

Este conceito será invertido para a pessoa que verdadeiramente busque o conhecimento esotérico. Ela verificará que vivemos num mundo de ilusão (que todo o mundo físico existe apenas como instrumento incidental, um lugar incidental de ação). Em nossa vida, lembramos com prazer ou mágoa uma paisagem, uma cidade, uma ocasião, dependendo da impressão que nos tenham causado. Talvez nunca vejamos novamente aquele lugar, que foi um incidente isolado na experiência global de nossa vida. Do mesmo modo, cada vida terrena que experimentamos será como um incidente isolado na totalidade da nossa existência, quando alcançarmos o ponto em que poderemos olhar para trás e examinar o propósito de nosso ser individual. Graças às nossas experiências nessas vidas terrenas isoladas, teremos experimentado o que é real e o que é ilusório, e entrado em completa e final associação com o Real. Somos a essência da totalidade dessas vidas.

Portanto, a totalidade da existência inclui o bem e o mal, a luz e as trevas, o exotérico e o esotérico, o material e o espiritual. Todas estas coisas dizem respeito ao mundo dos fenômenos. Deus é a força que se infunde em tudo isso; Ele está em tudo e a tudo transcende. Se podemos chamar esta manifestação de substância da existência, natureza do Absoluto, então podemos compreender que Deus é a existência de todas as coisas. Ele é Luz Absoluta, e transcende o oceano de ilusão que constitui o mundo em que vivemos.

Com este ponto de vista em mente, parece impossível contestar a existência da alma, que é um conceito puramente esotérico. O fato de haver ou não uma vida após a morte, não é importante; existe prova da continuidade do Ser e por isso é lógico admitir a continuidade da vida. Quaisquer que sejam os imensos períodos de tempo a se estenderem diante da alma, em suas jornadas por muitas experiências físicas e seus muitos corpos físicos, existe ao mesmo tempo uma consciência a se ampliar constantemente, uma visão a se expandir infindavelmente, que tem por fim a final integração com o Absoluto.

A imortalidade é a única existência de que estamos conscientes. É um outro nome para a existência total e inclui o passado, o presente e o futuro. Toda a vida, tal como compreendida na imortalidade, pode verdadeiramente proporcionar maravilhosas experiências. Agora, ou no futuro, a verdade e os ideais podem ser apreendidos. Estes são os valores reais, que podem se tornar conhecidos para o homem através dos sentidos físicos e da intuição, ou seja, exotérica e esotericamente. Eles existem eternamente. Nada é destruído; a ideia de total destruição de uma consciência individual pode ser abandonada.

O universo, com tudo que contém, deverá ser finalmente reabsorvido por Deus, de onde emanou, mais enriquecido, de um modo misterioso, para sua existência em termos de tempo e espaço.

A gota que cai no oceano não se perde, apenas torna-se unificada com sua fonte. Podemos facilmente compreender que as possibilidades que se abrem ante a alma confinada neste universo de ilusão podem incluir muitas experiências de fantástica beleza. Podemos nos sentir seguros de que as experiências reservadas para a alma, quando a realidade tiver sido completamente compreendida, deverão ser indizivelmente mais gloriosas.

Por meio do conhecimento exotérico, compreendemos o mundo dos fenômenos. Por meio do conhecimento esotérico, intuitivo, espiritual, emocional e místico compreendemos, cada vez mais, os mistérios do reino da Realidade Absoluta, e dele nos aproximamos e nele mitigamos a nossa sede intrínseca de perfeição.

MENTES E CORAÇÕES ABERTOS

Há séculos, mentes inquiridoras têm demonstrado seu interesse sobre o significado da vida. O reconhecimento de que ela, a vida, não consiste apenas em comer, beber, dormir, em sexo e em posses. Mas o que é esse significado? Podemos algum dia encontrá-lo? As muitas perguntas sem respostas tornam o homem um ser que busca. Buscar significa “questionar”, abandonar todas as posturas rígidas, tornar-se flexível, fazer uma abertura interior para acolher, sem preconceitos, ideias novas e inusitadas.

É difícil satisfazer essa exigência de abertura mental, mais do que normalmente se pensa. Facilmente sucumbimos à tendência de fixação no conhecido e no habitual. Tudo o que é o novo desencadeia medo e mobiliza os mecanismos de defesa. Assim, muitos pensamentos e afirmações provocarão alguma resistência. Ninguém abandona com facilidade os seus queridos clichês e convicções para substituí-los por critérios novos. Contudo, é isso o que temos que fazer: abrir nossa mente, nosso espírito, colocar para baixo nossas defesas, se quisermos que a evolução e a expansão da consciência seja um objetivo a ser alcançado.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/conhecimento-exot%C3%A9rico-e-esot%C3%A9rico

Nigredo, Albedo e Rubedo

Alquimia é a arte e ciência que procura a transformação do corpo e da mente com a finalidade de converter, o indivíduo que a pratica, num canal cristalino para uma nova consciência. Essa consciência, diferentemente daquela que está presente no homem natural, outorga uma percepção do mundo na qual a unidade é a característica fundamental. O alquimista percebe o elo indivisível entre o Criador, o Universo e a Natureza Humana. Esse novo “estado de ser” foi conhecido pelos antigos como a descoberta e desenvolvimento da Pedra Filosofal.

Foi chamado assim, pois em hebraico, pedra é EBEN, sendo que a primeira parte da palavra constituída pelas letras Aleph e Beth formam a expressão AB que se traduz como “pai”. A segunda parte da palavra está constituída pelas letras Beth e Nun, as quais formam a expressão BEN que se traduz como “filho”. Dessa maneira, os antigos alquimistas ocultaram no simbolismo da Pedra Filosofal o conceito místico da união do Pai com o Filho, várias vezes repetido na Bíblia, tanto nas escrituras hebraicas do Antigo Testamento como nas grego-cristãs.

Esta é a Pedra Fundamental que na Bíblia é mencionada como “recusada pelos construtores”. Efetivamente, enquanto o ser humano comum pretende construir sua vida a partir dos efeitos do mundo sensorial, o alquimista reconhece o plano das causas, o nível espiritual profundo: a consciência. Sobre essa “rocha”, a mais sólida de todas, pois a consciência nunca muda nem se vê submetida às mudanças do mundo físico, o Filósofo da Arte trabalha sua personalidade, transformando adversidades em circunstâncias de crescimento favorável em todas as facetas de sua vida.

Uma vez atingida a Pedra Filosofal, isto é, uma vez reconhecido o foco de consciência interna ou o verdadeiro EU SOU em seu interior, o alquimista consegue transmutar o Chumbo em Ouro, isto é, mudar um estado de consciência limitado e pesado, em outro resplandecente e brilhante. Nessa “transmutação metálica”, o chumbo, metal associado ao planeta Saturno, representa o estado inferior, animalizado, no qual a consciência humana se vê limitada às condições de tempo e espaço. O chumbo é o estado de sofrimento produto da ignorância ao respeito de nossa natureza divina. O ouro, um metal solar, tem a conotação de integração, pois o astro central de nosso sistema planetário sempre representou a fonte de vida e regeneração da espécie humana.

Com esse poder renovador funcionando em seu interior, conhecido como a Medicina Universal, o alquimista pode, por meio da força do Amor Incondicional, integrar sua personalidade. Será graças à aplicação dessa força harmônica que chegará no ponto em que atingirá a perfeita saúde física e mental. Nesse estado o alquimista descobre o Elixir da Longa Vida, o reconhecimento de sua essência eterna e infinita, com o qual poderá recodificar seu próprio corpo físico, libertando-o da prisão da carne, isto é, dos resíduos da genética animal que o condena à morte e assim ao renascimento.

O objetivo final, que é a culminação do que se chama Grande Obra, tem lugar no momento em que sua integração com o Cosmos e o Criador é tal que seu corpo chega a um estado de total espiritualização. Em dito momento o alquimista se liberta e ascende, através dos planos de existência, em direção a um estado de ser onde as condições são de plena bem-aventurança em comunhão com o infinito.

Três são as etapas básicas no desenvolvimento alquímico. Neste ponto é importante ressaltar que existem diversas classificações, bem como diversas óticas no uso da Alquimia.

Existe assim, para resumir, uma Alquimia Interna e outra Externa. Neste texto estamos tratando a Alquimia Interna, isto é, aquela que transmuta a personalidade do alquimista. Uma vez realizada a Alquimia Interna se torna fácil entrar na Externa na qual o alquimista é capaz de modificar o “mundo material”. Literalmente, se for necessário, poderá transmutar chumbo físico em ouro. Mas isso nada mais é do que um símbolo da capacidade que o alquimista adquire em seu domínio do plano físico, o qual pode resultar milagroso para aqueles que não compreendem a raiz de seu poder.

Agora, voltando às etapas da Alquimia, podemos dividi-las em três: NIGREDO, ALBEDO e RUBEDO.

A primeira fase é a de ignorância e a do crítico acordar. É pela qual todos nós, em momentos importantes de transformação biológica, passamos de maneira natural. Nesta forma vem como nascimento e morte, ou bem aparece nas transformações que o corpo sofre na transição entre menino e adolescente, ou deste a jovem e daí à clássica crise dos quarenta ou à velhice.

Não obstante, o alquimista ativa por seus próprios meios o processo de transformação mais importante: a morte do ego ilusório. Durante vidas nos identificamos a uma infinidade de conceitos e intentamos faze-los rígidos, estáticos. Refugiamo-nos numa torre de apegos que em vão tentamos defender dos estragos da mudança perpétua ao que se vê submetido o mundo material.

Durante essa fase, de autêntica putrefação de antigos padrões habituais de comportamento, perfila-se pouco a pouco o alvorecer de um novo estado, no qual nossa verdadeira natureza se revela.

Este é ALBEDO, palavra que provém do termo latino “Alba”. Saindo da escuridão das nossas próprias sombras, entramos na dimensão da plena objetividade, em que o momento presente surge como a única realidade na qual vivemos. Vivendo nesse estado o corpo se transforma gradualmente até chegar a uma completa regeneração que ocorre paralela à purificação da alma que nos leva a ALBEDO, pois mente e corpo são partes de uma realidade indivisível e o que sucede em um, tem seu reflexo no outro.

A regeneração, em seu momento definitivo, nos leva ao estado de RUBEDO, o “vermelho”. Neste estado a iluminação se faz patente, um mundo novo se abre ante o “olho interior” e o estado de consciência cósmica se estabelece definitivamente. É a fase de contato pleno com a eternidade e a retificação total da alma. A Grande Obra se vê cumprida e o alquimista, cheio de amor por todos os seres, dedica-se a emanar luz a seus colegas, contemplando-os compassivamente desde as alturas da mais alta realização.

Texto do frater Juan Carlos Romera

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/nigredo-albedo-e-rubedo

Contextualizando os Textos Mágicos Clássicos e Antigos

Por Kayque Girão

A crítica mais comum ao tradicionalismo mágico proveniente da magia dos séculos XVII e XVIII diz respeito a interpretação, viabilidade e funcionalidade dos textos mágicos. O caro leitor certamente já deve ter lido ou ouvido alguma opinião desse tipo, o que revela muitas vezes um grande desconhecimento baseado no senso comum acerca da a tradição clássica que o tempo todo procura se renovar e, principalmente, se reinventar diante das diversas circunstâncias temporais, políticas, religiosas e étnicas. Mas antes de partirmos para o assunto principal se faz necessário antes compreender o que são exatamente esses textos e manuscritos antigos.

O que são Grimórios?

Grimórios são textos antigos, copiados à mão, com fórmulas mágicas para os mais diversos fins, da consagração talismânica a conjuração infernal. Receberam esse nome a partir da palavra “grimoar” por se assemelharem a “gramática”, uma disciplina que envolve linguagem e nomes, aspectos principais desses textos místicos e fantásticos.

Os mais antigos textos com “voces magiae” – os assim chamados “nomes bárbaros de evocação” – documentados até então remontam da Antiguidade tardia, durante os períodos de helenização de parte da Europa assim como do fenômeno de cristianização a que passavam esses povos com a influência romana até a queda do Império com a cisão entre o Ocidente católico e o Oriente ortodoxo bizantino.

Então textos comuns como “Higromanteia” (termo ligado a “clarividência pela água” ou por superfícies refletoras) e uma coletânea esparsa do que ficou conhecido como “Papiros Mágicos Greco-Egípcios” (conhecida mais pela sigla “PGM” entre os estudiosos) foram cooptados pelo clero como resquícios do antigo paganismo clássico e da influência tardia da escrita, que ia do antigo cóptico, aramaico e hebraico arcaico. Esses textos possuíam fórmulas místicas e mágicas de consecução espiritual que não eram reconhecidos por nenhuma religião hegemônica, estando ligado a praticantes marginais à Civilização de então.

Com a expansão cristã e o fenômeno de conversão dos povos pagãos por sobre a Europa, esses textos ficaram restritos ao controle religioso do clero quando não eram destruídos pelo fundamentalismo religioso. Alguns integrantes religiosos foram pagãos convertidos ou religiosos muito estudiosos que conseguiram perpetuar seus textos e copiá-los para outras bibliotecas a fim de servirem de estudo por parte da própria Igreja (o leitor iria se surpreender bastante com o quanto o clero ainda hoje sabe mais de magia).

Então, como não poderia deixar de ocorrer, alguns desses religiosos também incorreram no risco da prática clandestina desses textos pagãos impondo sobre eles a influência litúrgica cristã sem quebrarem diretamente as regras clericais de sua classe, por mais heréticas que parecessem aos olhos da hierarquia religiosa temporal.

Sendo assim, isso explica o anonimato de grande parte dos textos atribuídos ao mítico “Salomão” e tantos outros magos desconhecidos e de origens bíblicas ou egípcias, bem como da limitação textual dos procedimentos descritos nos textos referidos, dado que em sua grande parte foram escritos, copiados e mantidos por padres, rabinos e monges que tinham noções básicas de liturgia, o que deixavam escrito nos textos apenas o essencial a ser praticado.

Se um desses livros fosse pego por alguma autoridade ao revistar um praticante, o mesmo ainda poderia tentar “escapar” sob o argumento de que se tratavam somente de textos de orações, tão comuns da época por devotos. Basta observar essa semelhança de textos como “Liturgia Diária” para com “Liber Juratus” (o “Livro Jurado” atribuído ao Papa Honório, um dos textos mais antigos textos da tradição salomônica, datado de meados do Séc. XIV) : ambos são textos predominantemente organizados com orações.

Grimórios podem ser adaptados?

Antes de responder essa pergunta, temos de entender o contexto do qual os grimórios foram escritos. Eles são resultado inquestionável de um determinado pensamento sobre um determinado período em uma determinada localidade.

Sendo assim, quem os escreveu e os perpetuou foram religiosos ou estudiosos, mas ambos ligados a centros de conhecimento vinculados ao poder da Igreja. O maior de seus mecenas intelectuais fora o próprio Abade Johanes Trithemius (1462-1516), que administrava a maior biblioteca hermética de seu tempo, servindo de ponto de encontro para estudiosos como Marcílio Ficino (1433-1499) e Cornelius Agrippa (1486-1535), autor dos “Três Livros de Filosofia Oculta”, o maior compilado de conhecimento hermético disponível na época.

Então pode ser percebida três camadas de influência desses textos:

1ª Camada: a influência pagã com entidades celestes e telúricas, provenientes em grande parte do paganismo tardio e da goécia mais arcaica;

2ª Camada: a influência religiosa cristã, com a inserção de elementos litúrgicos dentro da ritualística mágica dos textos, com recomendações de purificação e até de orações, quase todos esses procedimentos tento intertextualidade direta com textos sacros, como a Bíblia e a Liturgia das Horas;

3ª Camada: A influência acadêmica escolástica e hermética, que tentou reorganizar esse conhecimento e justificá-lo sob a chancela cristã em detrimento da “magia natural” pagã, como que legitimados pela autoridade religiosa e mágica de Cristo. Grande parte dos hermetistas do período assim se posicionaram para organizarem a sua “prisca theologia”;

Também não deixamos de mencionar uma influência contínua da cultura judaica e rabínica sobre os referidos textos, com procedimentos que são muito pertinentes a visão do Velho Testamento e inteiramente parte da visão religiosa judaica, como o sacrifício de animais e o “holocausto ao Senhor”, de modo que parte das analogias pagãs a pedaços de couro de animais vem da curtição de cabra, bode, boi e leão, por exemplo.

E pode parecer hoje algo terrivelmente horroroso ao pensamento moderno sacrificar um animal para curtir o couro para a feitura de talismãs, considerando esse ato como de extrema brutalidade e selvageria, impactando a psiquê do magista quando isso era visto como natural por quem o fazia nos tempos idos onde não havia açougue e tecnologia de refrigeração e se comia carne o mais fresca possível.

A analogia não era somente literal, mas por verossimilhança, de modo que se um texto como “Grimorium Verum” (o documento mais antigo sobre Goécia) exigia o couro de bode e o das “Clavículas de Salomão” (e suas inúmeras versões latinas, gregas ou hebraicas) o de leão, havia uma equiparação e funcionalidade orgânica em tais trabalhos que os diferenciavam profundamente em significado e simbolismo.

Na visão do Lemegenton, o couro de leão era uma proteção e chancela espiritual sobre o domínio do bestial. Daí pode se considerar os mais diversos níveis de interpretação e analogia, do astrológico ao mitológico. O mesmo para o couro de bode, numa aproximação ao ctônico e bestial, propriamente pagão e mortuário.

Sendo assim, se pudesse-mos sintetizar a praticidade de um grimório, seria sob o raciocínio de etapas descrito a seguir:

“Etapa A”. Um homem com faculdades sensíveis e noção mística/religiosa de mundo entra em contato com um espírito;

“Etapa B”. O espírito mantém contato com o homem e ensina seus conhecimentos sobre a natureza das comunicações e como melhorá-las, prescrevendo materiais acessíveis a este de modo que a comunicação possa tornar-se cada vez mais estreita;

“Etapa C”. O homem alfabetizado anota para deixar registrada a receita para uso frequente e transmite a outros indivíduos, que copiam o texto e passam pra frente, ora incorrendo em erros de tradução ou deturpações conforme suas próprias visões de mundo;

Nenhum grimório, em tese, deveria ser visto como um texto escrito em pedra, mas assim como em todas as vertentes, existirão sempre os fundamentalistas e dogmáticos que farão tudo à risca e com a maior exatidão de detalhes descritos por esses textos.

Como adaptar os Grimórios?

Não existe fórmula pronta e perfeita, que fique claro. Entretanto, à luz dos tempos atuais, faz-se necessário ter uma visão mais aberta ao estudo acadêmico e entender com alteridade tais textos e culturas distintas sob um olhar mais “antropológico”.

Isso porque ao longo da história esotérica muitos se propuseram a adaptar conforme as conveniências pessoais ou filosofias místicas do período, como a própria “Ordem Hermética da Aurora Dourada” MacGregor Mathers (1854-1918), que incorporou diversos textos em sua ritualística e estrutura maçônica e rosacruz. Mesmo Mathers não sendo o melhor dos exemplos, deve ser reconhecido pelas diversas traduções que fez da “Magia Sagrada de Abramelin, o Mago” (Séc. XV apróximadamente) e da “Chave Menor”, do qual, apesar dos erros, soube adaptar tão bem à luz de outras fontes de consulta, como dos livros do Agrippa e do Francis Barret (1770-…) e seu “Magus – A Milícia Celeste”.

Nessa mesma esteira, também é devida a menção honrosa a Papus (Vincent Encausse, 1865-1916), Eliphas Levi (Alphonse Louis Constant, 1810-1875) e Arthur Edward Waite (1857-1942) por seguirem a mesma linha de conduta. Até Aleister Crowley (1875-1947) soube adaptar conforme suas conveniências pessoais aspectos de sistemas pregressos como a Magia Enochiana e o próprio “PGM” na construção de sua carreira mágica com Thelema.

Até aí, Ok. Todos os poucos citados são europeus. Falar que eles puderam adaptar é fácil porque, excluindo-se as devidas diferenças, seguiam uma mesma linha cultural, o que não seria viável para pessoas inseridas em outras culturas que nunca tiveram o contato íntimo com essas tradições, certo?

Então…

A questão é que talvez não tenhamos feito a pergunta certa. Não caberia “adaptar os grimórios” porque eles se consolidaram num contexto específico e local e que dificilmente encontraria a mesma abordagem em outra circunstância. Sendo assim, a pergunta que poderia ser feita de forma mais fortuita seria em “como adaptar as práticas dos grimórios”. E é aí que podemos perceber “o pulo do gato”.

O melhor exemplo que posso dar com base em estudo e vivência é a questão da popularização da leitura. Isso foi crucial com a industrialização e a invenção da imprensa, de modo que muitos desses textos deixaram de ser exclusivos do clero e de uma aristocracia pedante e caíram ao gosto popular e mais informal de uma plebe e burguesia menos intelectuais e mais técnicas, voltadas ao consumo e a busca por alívio espiritual em tempos de materialismo da era moderna.

Esse processo não foi de imediato, claro. Em muitos casos demorou gerações. Imaginemos a situação de um camponês da Irlanda semi-letrado que se tornou monge franciscano e teve acesso a uma Bíblia e textos mais “heterodoxos” como “Galinha Preta” (“Black Chicken”, no original, pouco conhecido do público). O que ele vai contextualizar não vai ser a cosmovisão de um clérigo que está no topo da liturgia rebuscada cristã, mas de um sacerdote popular. Sendo assim, a adaptação dessas práticas vão encontrar uma aproximação com a cultura popular camponesa de sua região.

A leitura e prática do “Galinha Preta” foi corrompida? Não, de maneira alguma. Fora adaptada às circunstancias, necessidade e entendimentos práticas da “magia popular”.

Agora, peguemos o mesmo exemplo, desse monge. Chamemos o gajo de “Willie”. Willie alfabetiza Patrick, jovem mancebo que era literato tanto quanto o monge, e ganha de presente o “Galinha Preta”, numa confidência entre eles. Patrick vivía em tempos difíceis e também tinha o desejo de se aventurar por aí, então ele se arrisca a virar marujo e enfrentar os mares a comerciar nos portos especiarias e produtos diversos, como cana-de-açúcar e algodão.

Patrick, que era um pouco menos inteligente que seu padrinho e mentor de sua terra natal, aprendeu diversas coisas em seu intercâmbio comercial. Num desses portos negreiros do Haiti e da América travou contato com diversos escravos alforriados e letrados e trocou seus textos por diversas outras coisas.

Então o “Galinha Preta” passa das mãos de um Irlandês semi-letrado alfabetizado por um monge popular para as de um escravo liberto que não entende absolutamente nada de Teologia e religiosidade cristã, mas reconhece o poder daqueles espíritos de tão longe, e os trata sob sua mentalidade pagã e ancestral a ponto de adaptar o que aprendeu aqui e acolá, com magia popular, magia de índio, magia de europeu e o que restou da sua religião natal.

Entendem onde quero chegar? Ocorre a mesma coisa.

Em meus estudos pessoais sobre Voodoo e Hoodoo, dentre outras tradições africanas e ameríndias, encontrei muitas aproximações cerimoniais que em nada devem a hegemonia do pensamento católico/protestante de uma elite aristocrática e clerical. E mesmo com suas diferenças conceituais, o texto em prática continua funcionando.

Então, mais uma vez reitero: fazemos as perguntas erradas e por isso deixamos de nos integrar a tradição mágica.

Engenharia Espiritual Reversa e a Prática Hoje

“Certo, você provou seu ponto, mas isso é a sua opinião! Me mostre mais alguém que considera esse raciocínio como válido”

Ok, desafio aceito. Alguns exemplos que me fazem concordar com essa visão reconstrucionista:

Se os grimórios são resultados do desenvolvimento de práticas místicas e mágicas, é natural que aqueles que os escreveram não pensaram e tornarem funcionais para outras pessoas, achando que as condições de vida de seus praticantes se manteriam com o passar das gerações, o que é um erro comum.

Alguns desses textos tem erros grosseiros de tradução dado os inúmeros fragmentos, rasuras e rudimentos de preservação dos textos. Acaba sendo a mesma coisa que sua avó faz ao copiar as receitas que a Palmirinha dá no programa matinal, muitas vezes naquele caderno velho e quase apagado, já amarelado pelo tempo.

Se isso não fosse verdade, não existiriam trabalhos acadêmicos e compilações ou mesmo novas traduções, como as de Joseph H. Peterson, o que implica sempre em novas descobertas que não limitam a interpretação de um texto sob uma chancela de uma única tradição religiosa, a menos, claro, que você pense da mesma maneira que Joseph Lisiewiski e ache que só cristão pode praticar a magia dos grimórios.

Os erros também não são só de linguagem, também dizem respeito a outros conhecimentos dos quais o grimorista poderia não conhecer com profundidade. O autor de Abramelin, por exemplo, tava se lixando para astrologia e deu uma visão simplista e mais gnóstica do tema. Astrólogos como Christopher Warnock chegaram a peitar muito “devoto” ao afirmar que “As Clavículas estão erradas!” pelo simples fato de que, na sua visão de astrólogo, o texto continha erros conceituais e os retificou segundo o que aprendeu.

Mas o derradeiro exemplo que guardo sempre como citação honrosa são de dois autores dos quais tenho grande respeito e admiração: Humberto Maggi (e suas atuais traduções compiladas dos grimórios conhecidas como “Thesaurus Magicus”) e Jake Stratton-Kent. Maggi possui diversos artigos nos quais mostrou um senso de adaptação muito prático e acessível, seguindo a mesma linha original de Jake, que fora capaz de afirmar que “preferia desobedecer os grimórios a desrespeitar os espíritos” e em diversas entrevistas relatou o desagrado de algumas entidades com o tratamento de algumas orações mais tradicionais, demonstrando que é possível uma cordialidade de tratamento mútuo entre o homem e os espíritos.

Sendo assim, e usando o bom senso, eu não vejo a recusa a contatar os espíritos usando adaptações sensatas e aplicadas a vida prática a fim de reduzir esse distanciamento entre teoria e resultados. No mais das vezes, tudo vai se resolver com a mão na massa e na boa e velha “tentativa e erro”. Seria muita ingenuidade não tratar tais textos apenas como tábuas de convocação em vez de listas telefônicas acessíveis as entidades.

Afinal de contas, se elas deixaram por os nomes delas num pedaço de papel, é porque elas desejam ser comunicadas também e receber um chamado para irem de encontro ao “karcista” (outro termo pouco conhecido para o espiritualista que trabalha com evocação de espíritos). Por isso se faz tão necessário tentar ver o tema sob diversos matizes a fim de construir o melhor contato possível, e isso só é possível tentando atender não a forma, mas a essência de tais fontes e seus objetivos: o contato com os espíritos e a formação de vínculos espirituais.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/contextualizando-os-textos-m%C3%A1gicos-cl%C3%A1ssicos-e-antigos

O Caos é do Bem

Usualmente usamos a palavra caos para nos referir a uma situação de desordem e confusão no mundo ou em nossas vidas. Em diversas tradições mitológicas o caos significa um vazio sem forma e ilimitado que propiciou o surgimento do universo. Na tradição platônica é um estado de desarmonia que precede uma nova ordem. O I Ching ensina que o caos traz a tempestade que permite a vida de novo florir. Na Física o termo é utilizado para explicar um sistema dinâmico que evolui de acordo com lei determinista, sensível a pequenas alterações iniciais. De certa maneira todas as definições se encaixam.

O caos é uma alavanca para a evolução. Pessoal e de toda a humanidade.

A lei da evolução é inexorável. Avançamos por gosto ou imposição, o que vai determinar o grau de dificuldade e o tempo do processo. O entendimento e as escolhas determinam a cada um as dores e as delícias da travessia.

A vida avança em ciclos. Ela é um grande ciclo composto de inúmeros outros ciclos menores, que se comportam como escalas de aprendizado na infinita travessia rumo a Luz. Se olharmos para trás e prestarmos um pouco de atenção não teremos dificuldade em identificar diversos ciclos que já vivemos. A casa dos pais, acadêmicos, profissionais, afetivos, paternidade ou maternidade, lugares diferentes que moramos, são exemplos fáceis de vislumbrar, sendo que cada um destes ciclos pode se subdividir em diversos outros. Cada ciclo encerra uma lição essencial para o novo trecho da jornada em que você precisa ser melhor e diferente para enfrentar novos desafios. Quando nos recusamos a aprender a lição o ciclo se repete infinitamente, como se o trem desse uma volta em círculo para retornar à mesma estação. Quem já teve a sensação de uma mesma situação se repetir muitas vezes, parecendo um livro já lido? E você se pega perguntando o porque daquele conflito ser tão recorrente? São sinais de que você está aprisionado àquele ciclo. A vida é antagônica a qualquer espécie de prisão. Para que a página seja virada de maneira definitiva é necessário que percebamos o que precisa ser aprendido e modificado. Então o ciclo será finalizado e um outro se iniciará. O fim de um ciclo necessariamente é o início de um novo.

Ocorre que muitas vezes permanecemos estacionados em um ciclo por conforto ou vício. Consciente ou inconscientemente sabemos o que precisa ser modificado, mas nos falta força, vontade ou dignidade. Então surge a figura maravilhosa do caos como que segurando um poderoso martelo a demolir as velhas formas e conceitos. O velho mundo resta destruído para que o novo possa ocupar o seu lugar nos empurrando para evolução.

No primeiro momento o desconhecido traz o medo instalando a desarmonia às mentes ainda infantis com a falsa e ingênua sensação de fim do mundo, quando na verdade é apenas a faxineira a arrumar a bagunça, jogar fora o lixo para reordenar a casa de maneira diferente e melhor. Um novo universo começa a se descortinar. Como os dedos do caos são longos, naquele momento não conseguimos entender exatamente o que ele nos traz, fazendo com que a insegurança domine as ações. Não raro as pessoas se desesperam.

No entanto, sabemos que graças à destruição provocada pelo caos relacionamentos com bases viciadas são desfeitos para abrir oportunidade a novos laços, construídos dentro de sentimentos e ideias mais nobres; empregos desaparecem para forçar o resgate de dons e talentos adormecidos, que despertado pelo barulho dos desmoronamentos, terminam por afastar a amargura ao apresentar novas e, até então, desconhecidas tintas que passarão a colorir a estrada do viajante; o convite feito pela morte traz o sentido da vida em mentes distraídas; o horror da guerra mostra o valor da paz. Basta que se preste atenção, as lições estão derramadas por toda a parte.

Entender e aceitar que tudo, absolutamente tudo, que acontece em nossas vidas é para o nosso bem é um conceito extraído de quase todas as tradições e é uma das lições embutidas no caos. Só o distanciamento propiciado pelo tempo e a clareza do olhar nos permite entender e agradecer o que a fogueira do caos incinerou em nossa vida.

A vida nunca vai compactuar com a estagnação.

Publicado originalmente em http://yoskhaz.com/pt/2015/06/13/o-caos-e-do-bem/

#Alquimia #MagiadoCaos

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-caos-%C3%A9-do-bem

Egrégoras

Egregora-Maconica

A utilização do Termo Egrégora pode gerar aos pesquisadores diferentes compreensões, mas afinal o que exatamente significa Egrégora?

Algumas definições são bastante enfáticas: “Palavra que se tornou popular entre os espiritualistas, significa a aura de um local onde há reuniões de grupo, e também a aura de um grupo de trabalho”

Outras definições são mais exóticas: “Egrégoras são entidades autônomas, semelhantes a uma classe de “devas” que se formam pela persistência e a intensidade das correntes mentais realizadas nos centros verdadeiramente espiritualistas; pois nos falsos tais criações psicomentais se transformam em autênticos monstros, que passam a perseguir seus próprios criadores, bem como os freqüentadores desses centros”.

Finalmente temos uma definição um pouco mais clássica: “Egrégora provém do grego egrégoroi e designa a força gerada pelo somatório de energias físicas, emocionais e mentais de duas ou mais pessoas, quando se reúnem com qualquer finalidade, A egrégora acumula a energia de várias freqüências Assim, quanto mais poderoso for o indivíduo, mais força estará emprestando a egrégora para que ela incorpore às dos demais”.

Na média temos que: Egrégora é a somatória de energias mentais, criadas por grupos ou agrupamentos, que se concentram em virtude da força vibratória gerada ser harmônica.

Se considerarmos esta como sendo uma definição mais ou menos válida, podemos tecer algumas conclusões.

Se a Egrégora é a somatória de energias, não há limites para que nível de freqüência seja a sua fonte criadora, assim pode existir em potencialidade Egrégoras com freqüências elevadas e egrégoras com freqüências vibratórias menos elevadas ou se preferirem “negativas”.

A existência de diferentes freqüências reforça a antiga lei da dualidade entre o positivo e o negativo, ou ainda entre o claro e o escuro e o bem e o mal, embora esta ultima definição careça de uma analise mais profunda.

Se for então verdadeiro que a somatória de forças vibratórias ressonantes se somam no Éter é provável que esta força criada seja capaz de prover seus geradores de potencialidades, esta hipótese se confirma pela manifestação material do que pode se chamar de energia construtiva (ou destrutiva) dos diversos grupos religiosos, esotéricos ou metafísicos.

Quer me parecer que o mais correto seria considerarmos a hipótese de que realmente possa existir uma Egrégora positiva construtiva, assim como pode haver uma egrégora negativa ou destruidora, até porque, se existe como conhecemos uma arvore da vida cuja existência representa o caminho da queda e da reintegração em ultima analise, também devemos considerar que para que esta arvore exista e permaneça ereta é necessário raízes ou uma outra arvore imersa na escuridão da terra. Em ultima analise o bem e o mal competem para o equilíbrio das forças. Alias o equilíbrio é o objetivo e não o caminho entre os extremos.

Talvez a pergunta mais enfática seja: qual é exatamente a fonte geradora desta energia potencial que anima e mantém uma Egrégora? Como fisicamente isto ocorre? Como as energias vibram em ressonância?

A resposta talvez esteja na Constância, na geração uniforme e linear da mesma e única energia. Como isto pode acontecer?

Possa aí estar depositada a tradição do ritual e das cerimônias Templárias das diferentes tradições, inclusive a Martinista. Tal qual um gerador ou dínamo, a permanência do eixo girando sempre no mesmo sentido, velocidade e harmonia é garantia da geração da energia elétrica que é o seu resultado.

O trabalho templário regular, constante, harmônico somado aos interesses superiores de seus praticantes é a fonte geradora de um nível vibratório elevado, alimentador constante de uma Egrégora capaz de gerar paz, evolução espiritual e conhecimento aos que dela usufruem.

Esta tese também responde a uma questão importante, diz a tradição Martinista que para trabalhar no caminho do equilíbrio não é permitido a “venda”, negociação ou pagamento de graus ou conhecimentos, ou seja, num grupo Martinista o dinheiro não pode e não deve ser uma preocupação, muito menos um objetivo, tais necessidades dentro de um Templo prejudicaria a própria energia potencialmente criadora.

Se os Martinista almejam um dia virem a ser os Soldados de Nosso Senhor, os Guardiões do Vaso Sagrado ou ainda os Sentinelas do Santo Sepulcro, certamente devem primeiro ser os combatentes fervorosos do Bem sobre o mal, das virtudes sobre os vícios, da riqueza espiritual sobre a mediocridade material.

Se isto não é possível em cada segundo de sua vida, uma vez que estamos invariavelmente imersos num mundo globalizado e repleto de necessidades sociais, que o seja pelo menos em espírito, na vontade, em seu Templo.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/egr%C3%A9goras

Ser é Muito Além de Estar

Por Yoskhaz

Todo texto ou palavra é sagrada se tem a força de iluminar o caminho. Dos muitos livros que nos servem de lanterna em auxílio nessa infinita e fantástica viagem, a Bíblia se mantêm como fonte inesgotável de sabedoria e amor, elementos indispensáveis para a nossa transmutação pessoal. Assim, aos poucos, transformamos o mundo.

Narram os evangelistas, em várias passagens dos quatro livros, que Jesus ao entrar em qualquer casa ou repartição saudava a todos com seu jeito sereno, “que a paz seja convosco”!

Por algum tempo acreditei se tratar de erro de tradução, vez que a Escritura foi escrita em aramaico para posteriormente ser traduzida para o grego e somente depois levada aos demais idiomas. Todos sabemos da dificuldade de trasladar uma língua em outra. Achava que o verbo correto seria esteja no lugar de seja. “Que a paz esteja convosco” me parecia a construção correta e, pelo visto, para muitos outros, pois já vi textos e sacerdotes assim se referindo a palavra do mestre. Eu estava errado.

Acredito que não há letra equivocada, em falta ou excesso naquelas páginas, face iluminada inspiração de seus escritores, depois reunidos em um único livro, em sucesso editorial atemporal e sem precedentes para o bem de toda a humanidade.

Jesus era o ourives da palavra e confeccionava seus discursos e parábolas com riqueza que permite até os dias de hoje novas e belas interpretações de acordo com o andar de toda a gente. Não tenho dúvida que “a paz seja convosco” é a correta e mais sábia tradução.

Todos almejamos o paraíso, lugar onde não se conheça o sofrimento e a felicidade seja bastante. Quando perguntado onde se localizava esse santuário, Ele ensinou que não iríamos encontrar em nenhuma província ou país, até porque sempre levaremos nossa dor por onde andarmos, ao menos enquanto permitirmos que ela exista. Explicou que o amor e sabedoria são mapa e bússola a indicar a mais bela de todas as catedrais que pulsa viva dentro de você. A vida é tratamento e cura. É o encontro do divino que habita em ti.

O Reino dos Céus está situado no centro do seu coração. Seus tijolos são feitos com a paz indispensável que buscamos para atravessar a longa estrada da vida. A serenidade e a alegria necessárias a colorir a beleza que há em tudo e em todos. Inclusive em nós.

A paz é pessoal e compartilhada sem qualquer esforço por quem já a alcançou, construída internamente no âmago da alma pela engenharia do entendimento e da tolerância.

Estar é diferente de ser. Muito diferente.

O estar é uma estação, ser é a própria viagem.

Estar é transitório, momento passageiro e condicional por permissão de uma ou outra situação ocasional, que por ter estas bases, é frágil. O ser é permanente, erguido através de experiências e percepções que ao se mostrarem iluminadas tornam-se inabaláveis, sendo incorporadas ao seu jeito de olhar e agir. Sabedoria entremeada com amor que se sedimenta por si e através de si, tal catedral de pedra sob pedra, indestrutível às piores tempestades em razão da solidez de seus alicerces. Riqueza imaterial que nenhum rei ou juiz será capaz de confiscar, tampouco um ladrão de lhe roubar. É parte infinita de sua alma, verdadeiro e eterno tesouro. Estará contigo por onde andar.

Ser é muito além de estar.

“Que paz seja convosco” é uma bonita benção e um ensinamento de valor inestimável do mestre.

Publicado originalmente em http://yoskhaz.com/pt/2015/06/08/ser-e-muito-alem-de-estar/

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Hermes na Alquimia

Referir-nos-emos agora a Hermes, deidade chave na tradição egípcia, grega e romana. Thot, o Hermes egípcio, que na Alexandria é conhecido como Hermes Trismegisto, ou seja, o possuidor das três quartas partes da sabedoria universal, é identificado igualmente com o Hermes grego e com o Mercúrio romano. Sempre se considerou este deus como uma imagem da transmissão, e a isso se deve que os atributos com os quais é identificado, capacetes e sandálias aladas, estejam relacionados com o vento. Uma de suas características é a rapidez de seu deslocamento, o que na Alquimia pode ser observado, de forma análoga, quanto ao metal do mesmo nome, que conhecemos como Mercúrio em sua versão latina.

Bem se diz que Hermes é eterno, seja este ou aquele o nome que lhe dispensaram os distintos povos. Unanimemente é transmissor de ensinos e segredos, chame-se Thot, Enoch, Elias ou Mercúrio, como já dissemos. Sua revelação pelo batismo da inteligência se produz naqueles que encararam sem preconceitos nem muletas o Conhecimento e se filiam intelectualmente a seu patrocínio; sua invocação, a concentração e a aplicação dos distintos métodos de sua ciência estabelecem uma comunicação direta com esta altíssima entidade, que se manifesta internamente em qualquer grau nas individualidades dispostas a isso. Como se sabe, esta deidade se manifestou –e o segue fazendo– na história do Ocidente por meio da Tradição Hermética e das disciplinas que a conformam.

Espírito protetor dos viajantes, dos comerciantes e peregrinos, sua influência se faz sentir como a própria energia que nos transmite as mensagens mais rápidas e ligeiras no caminho iniciático. Seu poder é tal que sem ele nada seria, já que, como iniciador nos mistérios da vida e do Cosmo, suas vibrações protetoras –e também dissolventes– atuam como um catalisador dos efeitos da viagem do Conhecimento. Mercúrio é sutil e ligeiro, mas ao mesmo tempo leva em sua mão a vara do caduceu, símbolo do eixo e das duas correntes que se enroscam simultaneamente nele. Sua missão é específica e nos aguarda em todas as encruzilhadas de nossos caminhos. Seu pensamento é sábio e revelador, como bem o atesta o Corpus Hermeticum, um dos documentos mais excelsos da Antigüidade, emanado da Alexandria nos primeiros tempos do cristianismo, e do qual queremos extrair este texto:

“Já que o Demiurgo criou o mundo inteiro, não com as mãos, senão pela palavra, concebe-lhe, pois, como sempre presente e existente, e tendo feito tudo e sendo Um Só, e como tendo formado, por sua própria vontade, os seres, porque, verdadeiramente, é este seu corpo, que não se pode tocar, nem ver, nem medir, que não possui dimensão alguma, que não se parece a nenhum outro corpo. Já que não é nem fogo, nem água, nem ar, nem alento, mas todas as coisas provêm dele. Agora bem, como é bom, não quis dedicar-se esta oferenda só a si mesmo nem enfeitar a terra só para ele, senão que enviou aqui para baixo, como ornamento deste corpo divino, o homem, vivente mortal, ornamento do vivente imortal.”

#hermetismo

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Qual a origem da Alquimia?

por Anderson Domingues Corrêa

A origem da alquimia se perde no tempo, sendo mais antiga do que a história da humanidade. Seu verdadeiro início é desconhecido e envolto em obscuridade e mistério. Assim, seu surgimento confunde-se com a origem e evolução do homem sobre a Terra.

A utilização e o controle do fogo separou o animal irracional do ser humano. Nos primórdios, não se produzia o fogo, porém ele era controlado e utilizado para aquecer, iluminar, assar alimentos, além de servir para manejar alguns materiais, como a madeira. Bem mais tarde conseguiu-se produzir e manufaturar materiais com metal, a partir de metais encontrados na forma livre e posteriormente partindo dos minérios.

Muitos associam a origem da alquimia a herança de conhecimentos de uma antiga civilização que teria sido extinta. Na Terra, já teriam existido inúmeras outras civilizações em diversas épocas remotas, dentre elas várias eram mais evoluídas que a nossa. Estas civilizações tiveram uma existência cíclica, com o nascimento, desenvolvimento e morte ocorrida provavelmente por meio de grandes catástrofes, como a queda de um grande meteoro, inundações, erupções vulcânicas, dentre outras que acabavam por reduzir grandes civilizações a um número ínfimo de sobreviventes ou mesmo por dizimá-las, fazendo com que uma nova civilização brotasse das cinzas. Os conhecimentos sobre a alquimia estariam impregnados no inconsciente coletivo de todas as civilizações até hoje ou poderiam ter sido transmitidos pelos poucos sobreviventes, desta maneira a alquimia teria resistido ao tempo.

Os textos chineses antigos se referem as “ilhas dos bem aventurados” que eram habitadas por imortais. Acreditava-se que ervas contidas nestas três ilhas após sofrerem um preparo poderiam produzir a juventude eterna, seria como o elixir da longa vida da alquimia.

No ocidente, o Egito é considerado o criador da alquimia. O próprio nome é de origem árabe (Al corresponde ao artigo o), com raiz grega (elkimyâ). Kimyâ deriva de Khen (ou chem), que significa “o país negro”, nome dado ao Egito na antigüidade. Outros acham que se relaciona ao vocábulo grego derivado de chyma, que se relaciona com a fundição de metais.

Os alquimistas relacionam a sua origem ao deus egípcio Tote, que os gregos chamavam de Hermes (Hermes Trimegisto). Alguns alquimistas o considerava como um rei antigo que realmente teria existido, sendo o primeiro sábio e inventor das ciências e do alfabeto. Por causa de Hermes a alquimia também ficou conhecida como arte hermética ou ciência hermética.

Os relatos mais remotos de doutrinas que utilizavam os preceitos alquímicos, remontam de uma lenda que menciona o seu uso pelos chineses em 4.500 a.C. Ao que parece ela teria aflorado do taoísmo clássico (Tao Chia) e do taoísmo popular, religioso e mágico (Tao Chiao). Porém os textos alquímicos começaram a surgir na dinastia T’ang, por volta de 600 a.C. Na China, o mais famoso alquimista foi Ko Hung (cujo nome verdadeiro era Pao Pu-tzu, viveu de 249-330 d.C.) que acreditava que com a alquimia poderia superar a mortalidade. Atribui-se a ele a autoria de mais de cem livros sobre o assunto, dos quais o mais famoso é “O Mestre que Preserva sua Simplicidade Primitiva”. Teria aprendido a alquimia por volta de 220 d.C com Tso Tzu. O tratado de Ko Hung, além da alquimia trata também da ciência da alma e das ciências naturais. Sua obra trata tanto do elixir da longa vida bem como da transmutação dos metais. Até então a alquimia chinesa era puramente espiritual e foi Ko Hung que introduziu o materialismo, provavelmente devido a influências externas. Ela foi influenciada também pelo I Ching “O livro das Mutações”. Posteriormente seguiu a escola dos cinco elementos, que mesmo assim permaneceu quase que completamente mental-espiritual.

Na China a alquimia também ficou vinculada à preparação artificial do cinábrio (minério do qual se extraía o mercúrio – sulfeto de mercúrio), que era considerado uma substância talismânica associada a manutenção da saúde e a imortalidade. A metalurgia, principalmente o ato da fundição, era um trabalho que deveria ser realizado por homens puros conhecedores dos ritos e do ofício. A transformação espiritual era simbolizada pelo “novo nascimento”, associada a obtenção do metal a partir do minério (cinábrio e mercúrio).

A filosofia hindu de 1000 a.C. apresentava algumas semelhanças com a alquimia chinesa, como por exemplo o soma cujo conceito assemelhava-se ao do elixir da longa vida.

No Egito a alquimia teria surgido no século III d.C. e demonstrava uma influência do sistema filosófico-religioso da época helenística misturando conhecimentos médicos com metalúrgicos. A cidade de Alexandria era o reduto dos alquimistas. O alquimista grego mais famoso foi Zózimo (século IV), que nasceu em Panópolis e viveu em Alexandria, escreveu uma grande quantidade de obras. Nesta época, várias mulheres dedicavam-se a alquimia, como por exemplo Maria, a judia, que inventou o um banho térmico com água muito utilizado nos laboratórios atualmente, o “banho-maria”, Kleopatra que possivelmente não seria a Rainha Cleópatra, Copta e Teosébia. Os persas conheciam a medicina, magia e alquimia. A alquimia possuía um pouco da imagem da população de Alexandria, era uma mistura das práticas helenísticas, caldaicas, egípcias e judaicas.

Alexandre “o Grande” foi quem teria disseminado a alquimia durante suas conquistas aos povos Bizantinos e posteriormente aos Árabes. Os árabes, sob a influência dos egípcios e chineses, trouxeram a alquimia para o ocidente ao redor do ano de 950, inicialmente para a Espanha. Construíram-se escolas e bibliotecas que atraiam inúmeros estudiosos. Conta-se que o primeiro europeu a conhecer a alquimia foi o teólogo e matemático monge Gerbert que mais tarde tornou-se papa, no período de 999/1003, com o nome de Silvestre II. Na Itália Miguel Scott, astrólogo, escreveu uma obra intitulada De Secretis em que a alquimia estava constantemente presente.

No século X, a alquimia chinesa renunciou a preparação de ouro e se concentrou mais na parte espiritual. Ao invés de fazerem operações alquímicas com metais, a maioria dos alquimistas realizavam experimentos diretamente sobre seu corpo e espírito. Esta retomada a uma ciência espiritual teve como ponto culminante no século XIII com o taoísmo budaizante, com as práticas da escola Zen.

A alquimia deixou muitas contribuições para a química, como subproduto de seus estudos, dentre eles podemos citar: a pólvora, a porcelana, vários ácidos (ácido sulfúrico), gases (cloro), metais (antimônio), técnicas físico-químicas (destilação, precipitação e sublimação), além de vários equipamentos de laboratório. Na China produzia-se alumínio no século II e a eletricidade era conhecida pelos alquimistas de Bagdá desde o século II a.C.

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O que é Alquimia?

Texto de Spectrum

Agradecimentos à Kimberlly Almeida

O significado da Alquimia pode assumir diversas conotações de acordo com o contexto em que é aplicada e da forma como é interpretada. A alquimia pode ser considerada uma modalidade de ciência, talvez a mais antiga da história da humanidade, que originou diversas outras, inclusive a química contemporânea. Porém, não é possível classificá-la apenas como uma ciência. Isto porque, na alquimia, inclui-se diversos elementos místicos, filosóficos e metafóricos; além de uma linguagem simbólica e interpretativa. Assim, podemos classificá-la genericamente como uma antiga tradição que combina química, física, arte e ocultismo.

Por esse motivo, a alquimia também é classificada como uma ciência ou arte hermética. Neste caso, hermético é uma alusão direta ao lendário Hermes Tris- megistus e significa de difícil acesso e compreensão, reservado apenas para os Iniciados nas artes ocultas.

Esta camada de incertezas relaciona-se também quando se discute a origem da palavra. Alquimia pode ser originada no vocábulo árabe kimia, que por sua vez, deriva-se da palavra egípcia keme, que significa terra negra e era uma das formas usadas para referir-se ao Egito, país onde provavelmente surgiu a alquimia. Ainda, pode-se considerar que a palavra tenha surgido da expressão árabe al khen que tem raiz grega na palavra elkimya e significa o país negro. Também cogita-se uma origem direta no grego, na palavra chyma que se relaciona à fundição de metais.

Os preceitos da alquimia se encontram condensados na misteriosa Tábua Esmeralda. A esmeralda era considerada a pedra preciosa mais bela e com uma simbologia maior.

Uma das características principais dos tratados alquímicos é a linguagem complexa e rebuscada na qual são redigidos. Durante a Idade Média, isto poderia ser um recurso usado pelos alquimistas para que não fossem alvo da perseguição da Santa Inquisição. Porém, também é possível que os autores tentassem ocultar as fórmulas, de modo que apenas outros alquimistas compreendessem.

Símbolos e objetivos

Na linguagem alquímica encontra-se associação de símbolos astrológicos com metais. O Sol, por exemplo, é associado ao ouro; a Lua representa a prata; Marte associa-se ao ferro enquanto Saturno ao chumbo. Animais (mesmo mitológicos como o dragão) e suas características também são usados para definir os elementos e as substâncias e os processos ao qual são submetidos. O unicórnio ou o veado é usado para representar o elemento terra; o peixe representa a água; pássaros fazem referência ao ar e salamandras aludem ao fogo. Ainda, o sal é normalmente representado por um leão verde. A fase de putrefação do processo alquímico é representada por um corvo.

Esta simbologia alquímica é encontrada até mesmo mesclada com ícones do cristianismo medieval. Por exemplo, nas seculares catedrais góticas, há uma imensa combinação de imagens cristãs com animais, símbolos químicos e zodiacais.

De forma geral, pode-se definir três objetivos básicos da alquimia. O primeiro e, conseqüente- mente, mais importante é produzir a chamada Pedra Filosofal (ou mercúrio dos filósofos, entre outros diversos nomes) que seria uma substância obtida a partir de matéria-prima grosseira. Através da Pedra Filosofal seria possível atingir os outros objetivos, que seria a transmutação da matéria (metais inferiores transformados em ouro) e produzir o Elixir da longa vida, uma espécie de medicamento universal que tornaria a pessoa que fizesse uso, imune a qualquer doença. Os sábios alquimistas ocidentais afirmavam que a obtenção de ouro foi um fracasso pela falta de concen- tração e preparação espirituais dos que realizavam as experiências.

Ainda, entre os alquimistas, há uma idéia de criar vida humana de modo artificial. O homúnculo (do latim, homunculus, pequeno homem) seria uma criatura de aproximadamente 12 polegadas de altura que poderia ser criada através de sêmen humano colocado em uma retorta totalmente fechada e aquecida em esterco de cavalo durante 40 dias. Assim se formaria um embrião. Possivelmente, Paracelso foi o primeiro alquimista a divulgar este conceito.

Porém, é provável que a verdadeira intenção dos alquimistas era promover uma profunda mutação na alma e na natureza humana. Este objetivo fica camuflado sobre fórmulas químicas e simbologias complexas.

A alquimia na história

Na China, a prática da alquimia estaria associada ao Taoísmo, que é o ensinamento filosófico-religioso chinês. Além da associação à filosofia védica, na Índia, por volta do ano 1000 a.C., que apresenta semelhanças com alguns fundamentos alquímicos. No Egito antigo, era considerada obra do deus Thoth (divindade associada à Hermes Trismegistus. Ainda no Egito, na cidade de Alexandria, a alquimia recebeu influência da filosofia neoplatônica, que se baseia no conceito de que a matéria, apesar de múltiplas aparências, é formada por uma substância única. Esta seria a justificativa para a transmutação almejada pelos alquimistas através da fusão dos quatro elementos fundamentais da Antigüidade: fogo, ar, água e terra.

De qualquer forma, a alquimia floresceu realmente a partir de meados do século VII, quando os povos árabes invadiram o Egito. Assim, o acervo de escritos alquímicos foram traduzidos para os idiomas árabes e sírio. Aproximadamente 300 anos depois, em meados do século X, os mulçumanos introduziram a alquimia no continente europeu, mais precisamente, através da península ibérica, na Espanha.

No século XIII, o conceito de quatro elementos primitivos e geradores da natureza (água, fogo, terra e ar), foi substituído pela idéia de que havia apenas três elementos básicos: mercúrio, enxofre e sal. O alquimista árabe Abu Musa Jabir ibn Hayyan al Sufi (conhecido como Geber) concluiu que os metais eram gerados no interior da Terra e compostos de mercúrio e enxofre. Acreditava-se que ouro e prata eram compostos de mercúrio e enxofre em sua forma pura. Enquanto os outros metais eram formados com enxofre impuro. Dessa forma, concluiu-se que, se através de um processo adequado, fosse possível “purificar” o enxofre, este poderia facilmente ser transmutado em ouro.

No ano de 1525, surgiu uma espécie de “escola de químicos” fundada por Paracelso. A Iatroquímicos (iatros, do grego, médico) tinha como objetivo principal encontrar um meio de que a humanidade se tornasse totalmente imune às doenças naturais. Porém esta causa poderia também ocultar a intenção de encontrar o chamado Elixir da longa vida. Foi também entre Paracelso e os iatroquímicos que surgiu o conceito de quintessência, que neste caso, seria equivalente ao “elemento divino”.

Entre os alquimistas mais célebres da história, destacam-se Tomás de Aquino, Paracelso, Nostradamus, Nicolas Flamel e Francis Bacon. Além do lendário Conde de Saint Germain, que teria encontrado a Pedra Filosofal e o Elixir da longa vida.

A alquimia medieval é a responsável pelas bases da química moderna. Além disso, os alquimistas contribuíram imensamente com a medicina contemporânea e deixaram como legado de alguns procedimentos que são utilizados até hoje, como o “banho-maria” (em alusão à alquimista conhecida como Maria, a Judia). Porém, a maior influência da alquimia encontra-se nas ciências ocultas ocidentais agindo diretamente na sabedoria e natureza humana.

#Alquimia #Magia #MagiaPrática

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