A presunção dos magos

“O pior cego é aquele que não quer ver”

Ao iniciar a caminhada na Senda, vemos logo no começo um panorama no mínimo fantástico: esclarecimento para todas as nossas dúvidas, solução para todos os nossos problemas, e até a conquista de dons e poderes para nosso deleite! Oh, que maravilhoso é esse caminho!
É precisamente ao adquirirmos esse posicionamento que nos mostramos indignos e, principalmente, ponto focal para as forças destruidoras da ignorância e do orgulho.
Prontamente perdemos o que mal começamos a entender e a, erroneamente, querer. Queremos o que não precisamos querer. E, querendo, caímos quando na verdade queríamos ascender.
Tolo é aquele que acha que, sozinho, consegue fazer tudo. Idiota é aquele que acredita ter algo especial que outro não possui.

“Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás ver com clareza para tirar o cisco do olho de teu irmão”.

Alguns podem torcer o nariz ao ler essas palavras, mas boas lições podem ser encontradas em muitos lugares, e esse lugar, a origem dessa frase, não é diferente dos outros, então, por que não? O sábio reconhece a sabedoria, independentemente do meio em que a sapiência aflorou. Essa é a beleza da lição e do aprendizado: surgir em qualquer lugar. No limpo ou no sujo, no profano ou no sagrado, no corrupto ou no imaculado. O dever é saber reconhecê-la e absorvê-la.
O que essa frase implica denota bem o que foi dito anteriormente: olhar para si antes de olhar para fora. Somos alvo de nossos próprios defeitos, manias, maus-hábitos, vícios, demônios (internos e externos). Esses últimos são combatidos com unhas e dentes, mas e os outros, os internos? Esses estão tão bem alojados e estão tão invisíveis no dia-a-dia, que continuam a agir como se pouca coisa tivesse mudado, embora estejamos fazendo nossas práticas defensivas conforme prega a ordem/ o mestre/ o templo. Há a necessidade de se vivenciar as práticas, internamente, com toda a sua atenção e intenção.
Expurgar o mal que habita em si para daí olhar para as estrelas, buscar e encontrar.
Haveria diferença entre olhar para fora ou para dentro? Ambas são formas válidas de se encontrar o que tanto se busca. Se tem pesquisado para fora e não tem encontrado, procure pesquisando para dentro. Ficará surpreso.

“Nenhum homem é uma ilha”.

Todos precisamos de ajuda, direta ou indireta. Sempre precisaremos de alguém, por mais que se isole ou por mais poderoso que se torne. Há uma interdependência entre tudo. Uma teia invisível nos liga e nos une, e se faz necessário que o outro exista e sobreviva. Nem o mais poderoso ser humano pode viver somente de si próprio. E se há alguém que consiga, sempre há aqueles que o servem, sendo esses os que são a base para ele existir e, sendo assim, o apoio vital desse alguém, sem os quais viria a morrer.

“Sempre há um peixe maior”.

Sempre houve e sempre haverá alguém em uma hierarquia superior a você próprio e, se não houver, então você responderá a toda a classe hierárquica inferior, que é quem lhe dirige. Portanto, saber seu lugar e saber o seu dever e responsabilidades lhe dá perspectiva de sua importância na grande escala. Respeito é bom, humildade é melhor ainda.
Não confundir humildade com humilhação. Humildade é ser o que se é, sem aumentar nem diminuir. Humilhar é se diminuir. Soberba é se aumentar.
O poder não é exclusividade de quem estuda mais, ou de quem tem mais oportunidades. O poder vêm e vai, dos mais pobres aos mais ricos, dos mais simples aos mais letrados.
O poder amplia e mostra o que há em cada pessoa no qual ele “pousa”. O poder é somente emprestado, e é geralmente para testar quem o recebe. Se for alguém digno, essa dignidade será ampliada e mostrada àqueles ao seu redor… se for indigno, essa pessoa exibirá ainda mais seus fortes traços negativos de caráter. Sempre lembrando, que ninguém é totalmente bom ou ruim. Como disse Sirius Black, “o mundo não se divide em pessoas boas e más. Todos temos Luz e Trevas dentro de nós.”, ou seja, estamos o tempo todo decidindo agir em nuances, em graduações entre esses extremos e, ao receber poder, estamos sendo testados. É uma oportunidade que nos está sendo dada de testar-nos, de aprender com nossas capacidades e nossas decisões e de receber o julgamento dos olhos públicos, pois todo aquele que recebe o poder jamais fica oculto de todos os outros por muito tempo. Cedo ou tarde, a Verdade prevalece. A Justiça é feita, as pessoas sabendo ou não.

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Texto publicado originalmente no blog Labirinto da Mente em 12/01/2016.

#MagiadoCaos

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/a-presun%C3%A7%C3%A3o-dos-magos

As Colunas e a Porta

As colunas são evidentemente símbolos do eixo. Estão expressando a idéia de ascensão vertical que une a Terra e o Céu. Quando se tratam de duas colunas rematadas em sua parte superior por um arco ou cimbre, este último simboliza ao Céu, enquanto o retângulo que formam as colunas simboliza a Terra. A porta é também uma esquematização da estrutura completa do templo, especialmente visível nos pórticos das catedrais e mosteiros cristãos. Esse semicírculo do arco simbolizando o Céu se encontra no coro do altar ou abside, que é a projeção sobre o plano de base horizontal da cúpula ou abóbada. E o resto do templo, da porta ao altar, representa a Terra.

A porta (emoldurada pelas duas colunas), com sua dupla função de separar e comunicar dois espaços (o espaço profano do espaço sagrado), está em relação com os ritos de “trânsito” ou de “passagem”, ligados por sua vez com os mistérios da Iniciação, que constituem os mistérios da vida e da morte. Trata-se de um simbolismo primordial que se encontra, sob distintas formas, em todas as tradições.

As duas colunas são um símbolo da dupla corrente de energia cósmica, ativa-passiva, masculina-feminina, rigor e graça, que articula o processo da criação universal em todas suas manifestações. Traspassar o umbral do Templo-Cosmo é ser penetrado por esta dupla energia que convenientemente harmonizada nos conduzirá, através de uma viagem regenerativa e por etapas, à saída do mesmo por outra porta, desta vez pequena (a “porta estreita” do Evangelho, ou “olho da agulha” como se diz na tradição hindu), situada na “chave de abóbada”, e, portanto, na sumidade da cúpula. “Eu sou a Porta”, diz Jesus Cristo, “e quem por mim passa vai ao Pai”. A porta de entrada ao templo, e a que está simbolicamente na sumidade da cúpula, são respectivamente, e utilizando a simbologia da Antigüidade greco-latina, a “porta dos homens” e a ”porta dos deuses”, as duas portas zodiacais de Câncer e Capricórnio. Pela “porta dos homens”, há o nascimento ou a entrada no Cosmo; pela “porta dos deuses”, deixa-se ele, acessando à realidade supracósmica, além do Ser, não condicionada por nenhuma lei espaço-temporal, e da qual nada pode se dizer.

Por sua relação com a caverna iniciática, o templo é semelhante ao corpo da Grande Mãe, sob seu duplo aspecto telúrico e cósmico. As duas colunas são também as duas pernas da Mãe parturiente, em cuja matriz o neófito, que vem do mundo das “trevas profanas”, morre para sua condição anterior, renascendo na verdadeira Vida. Trata-se naturalmente de uma iluminação na esfera da alma, do nascimento do Homem Novo que habita em cada um de nós.

Pela Iniciação, o Cosmo, com todos seus mundos e planos, aparece como a autêntica casa ou morada do homem, na qual já não se sente estranho ou alheio, pois morreu para o velho homem, e se reintegrou ao pulsar do ritmo universal, do qual toma parte.

#hermetismo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/as-colunas-e-a-porta

O Politicamente Correto e as Qlipoth

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“Quando a Educação não é Libertadora,

O Sonho do Oprimido é se tornar o Opressor”

Depois do post polêmico no Facebook no qual eu alertava sobre os perigos do Politicamente correto e de como ele é um câncer tão nocivo quanto o radicalismo religioso, fascista ou extrema direita, muitas pessoas pediram para que eu escrevesse um post no Blog explicitando melhor estas comparações. Para ser justo, farei as comparações das atitudes dos radicais politicamente corretos comparando-as com as atitudes da direita-religiosa, fascista e no totalitarismo, para ficar mais simples a compreensão. Este post será mais complexo do que a média, mas como a maioria de vocês já deve estar com o Livro de Kabbalah Hermética (e se você ainda não tem, o que está esperando?) e podem consultá-lo para a comparação dos túneis com os Caminhos.

Thantifaxath (O Túnel abaixo de TAV)
Para entender a Árvore da Morte, precisamos entender sua contraparte na Árvore da Vida. Se TAV é o Caminho que abre os portões do Templo, permitindo ao Iniciado que descubra um mundo maior e melhor, seja através da imaginação, seja através da expansão da consciência, Thantifaxath atua como “Os portões fechados do Paraíso”, ou seja, toda atitude de censura, bloqueio ou restrição Saturniana (seu Regente) que impede as vítimas de ampliar a consciência.

No Politicamente Correto: todo militante radical começa a se estreitar em um gueto, utilizando vocabulários próprios, banindo o contato com qualquer pessoa que pense diferente (ou simplesmente não concorde com qualquer coisa que é dita pelo grupo), bloqueando o acesso e cortando qualquer tipo de debate sadio. O uso de força (“ocupações”), destruição de patrimônio público (pichações, depredações… tudo é “justificado” pela militância), impedimento da manifestação do outro lado no debate (vide Centros Acadêmicos e DCEs de faculdades “de humanas”) chegando à agressão verbal, moral e até física de qualquer um que se posicione contra o movimento. Proibição de literatura considerada blasfêmica (ex. Monteiro Lobato, Mark Twain) por motivos unilaterais.

No Fanatismo Religioso/partidário: o fiel é proibido de ler qualquer texto sobre outros pontos de vista, qualquer outro livro filosófico ou qualquer outra doutrina. Quem nunca escutou a frase “Harry Potter e RPG são do demônio”?

Gamaliel (A Qlipha de YESOD)
Se YESOD representa a Intuição, Imaginação e a Expansão de Consciência, Gamaliel representa o lado sombrio da Imaginação (ou falta de imaginação), a Ilusão e a Distração. Drogas, Vícios, Fuga da Realidade, Aprisionamento na Maya e o lado sombrio do Sexo. Novelas contam vários pontos nessas tabelas! Futebol, Álcool, Cigarros e Drogas também têm papel fundamental em Gamaliel, principalmente em nosso país onde traficante é “vítima da sociedade”, Big Brother é “herói nacional” e agentes dos direitos humanos trabalham para o PCC. Novela, Futebol, Redes Sociais e Drogas… quem precisa de iluminação?

No Politicamente Correto: A ilusão de fazer alguma coisa é uma constante… na Europa, homens usam minissaia para “protestarem” contra estupros, militantes mudam bandeirinhas em seus perfis de Facebook e pintam as unhas contra o Bullying. Teve até umas radicais que adoram protestar peladas ou com os peitos de fora contra sei-lá-o-que-qualquer-coisa. Enquanto isso, o mundo das drogas (sempre atrelado à violência e assassinatos e ao crime) é louvado nos campi universitários. Como diz o Capitão Nascimento, “É você que financia essa porra!”. Fazem textões de Facebook e precisam de “Espaços Seguros” para protegerem suas frágeis bolhas emocionais e ao mesmo tempo fecham completamente os olhos para atrocidades religiosas cometidas contra as minorias (gays, mulheres e ateus) em países fundamentalistas.

No Fanatismo Religioso/partidário: A primeira coisa que qualquer Igreja que se preze faz é conseguir uma rádio, jornal e televisão, para controlar os meios de comunicação (vide Samael e Thantifaxath) e para providenciar distração para seu rebanho. A Mídia também serve para criar heróis e modelos a serem seguidos (figuras públicas, artistas e big brothers a serem imitados em Raflifu) e principalmente servir como vício e DISTRAÇÂO.

Samael (Qlipha de HOD)
Se HOD lida com a Informação, sua contraparte escura é a MENTIRA, a Falsidade e a Manipulação. O lado sombrio de Mercúrio. Está bem representada na Mídia e nos “jornalistas imparciais” que vemos todos os dias defendendo partidos políticos e igrejas nas Redes Sociais.

No Politicamente Correto: a militância usa de falácias, mentiras e falsidades para pregar idéias absurdas como “Teoria Queer”, “Lugar de Fala”, “Apropriação Cultural”, “Vivência”, “Dívida Histórica” e outras papagaiadas como se tivessem qualquer tipo de embasamento científico (nenhuma delas tem!) ou manipular dados, números e estatísticas ao bel prazer para justificar ações políticas e ativistas. Acusações falsas, Linchamentos virtuais e Coerção são comuns ao atacar adversários ideológicos e personas non gratas.

No Fanatismo Religioso/partidário: Os grupos no poder usam justificativas mentirosas para impulsionar o racismo, machismo e segregações. Por exemplo, a escravidão só foi possível e aceita porque a Igreja tinha como “base científica” que “os negros não tinham alma”; a justificativa para os horrores dos experimentos nazistas era que os judeus eram “uma raça inferior”; a agressão a umbandistas é incentivada por pastores pois eles “adoram o diabo” (também vale para bruxas e a Inquisição); a religião Islâmica permite que se minta e trapaceie se isto ampliar as causas da Sharia (procurem no google por “Taqiyya”, a “Mentira Sagrada”).

Shalicu (O Túnel abaixo de SHIN)
Shin é o Caminho da Iniciação e do Julgamento. É a barreira de testes que separa o Mundo profano do Mundo Sagrado e que seleciona aqueles que estão aptos a prosseguir na Jornada. Sua Qlipha é Shalicu, o Preconceito. Todos os lados radicais são exímios em apresentar preconceitos contra o outro lado: “todo homem é estuprador”

No Politicamente Correto: Shalicu age como uma barreira que privilegia partidários e militantes. As fraudes na Lei Rouanet são um excelente exemplo de como pessoas talentosas e com projetos excelentes eram bloqueadas em detrimento de aberrações culturais alinhadas com o partido e com a linha de pensamento politicamente correta radical. Criação de “cotas” e “bolsas” que logo eram fraudadas em favorecimento a militantes, ao mesmo tempo em que criavam uma situação de guerra ideológica de “Nós contra eles”, gerando MAIS segregação e MAIS preconceito. Sem falar nos “Tribunais Raciais” para julgar aqueles que se declaravam “negros” para ter direito à “cotas”. Goebbels ficaria orgulhoso!

No Fanatismo Religioso/partidário: barreiras raciais e segregações são as desgraças mais comuns neste Túnel. Bloqueio de acesso de pessoas de outras religiões na política, chegando a absurdos maiores como segregação racial, Apartheid e extermínio de homossexuais na Rússia e nos territórios Islâmicos.

A’arab Zaraq, ou “Corvos da Dispersão”
Se cada Qlipha na Árvore Sombria é uma antítese da Sephirah correspondente na Árvore da Vida, devemos primeiro dar uma olhada em A’arab Zaraq com relação à Sephira Netzach, “Vitória” (Emoção). As forças de Netzach são conectadas com a influência planetária de Vênus e representam emoções e paixões, Desejo como uma força motriz que supera os obstáculos no caminho da Ascensão e inspira o adepto ao avanço, para buscar iluminação espiritual. Esta é a energia bruta que precisa ser equilibrada, e este equilíbrio é encontrado na Sephirah Hod, que representa intelecto, pensamento racional e auto controle. No Lado Sombrio da Árvore, estas forças existem em sua forma pura, primitiva, desequilibrada e desenfreada. No plano físico elas se manifestam como ganância, ciúmes, atitudes possessivas, paixões desenfreadas e luxúria descontrolada – a negatividade de Netzach, o lado sombrio de Vênus. Têm este nome porque o desequilíbrio e hipocrisia geram uma ruptura entre “pecado” e “culpa” que destrói qualquer equilíbrio emocional.

O Politicamente Correto: Enquanto uma parte dos movimentos politicamente corretos deturpam o feminismo na cartilha do “meu corpo, minhas regras” incentivando a promiscuidade, luxúria descontrolada, tentam criar um estado de perpétuo medo com “homem é tudo estuprador”, “cultura de estupro” (e curiosamente ignorando completamente a REAL “cultura de estupro” religiosa, que possui até mesmo regras para como “tratar suas escravas sexuais” em seus manuais). Coletivos extremamente revoltados com a Mulher Maravilha ser uma “mulher branca hétero cis magra” e com o tamanho do shortinhos da Arlequina enquanto Feministas alemãs deixam de reportar estupros para proteger refugiados muçulmanos ou até mesmo o caso onde a mulher que foi estuprada pediu desculpas ao seu agressor por ser uma “vítima da sociedade patriarcal”.

No Fanatismo Religioso/partidário: O sexo é considerado tabu, com proibição até do uso de preservativos pelas autoridades eclesiásticas. Sexo antes do casamento? Nem pensar! Sexo anal? Direto para o inferno! As mulheres são obrigadas a se cobrir integralmente “para não despertar a libido pecaminosa do diabo nos homens”, porém ao mesmo tempo, algumas religiões incentivam o “estupro corretivo” e o “estupro das infiéis (infiéis no sentido de que não segue a mesma religião… se for no sentido de traição, ai a pena é apedrejamento… mas APENAS na mulher!)

Rafliflu (O túnel abaixo de RESH)
Chamado de “Caminho dos falsos ídolos”, Rafliflu é a deturpação de RESH, o Caminho da Aurora onde ocorre o Autoconhecimento e a Individualização dos Iniciados.

O Politicamente Correto: Os seguidores da seita precisam primeiro perguntar o que “o movimento” pensa para depois responderem alguma pergunta. Posicionar-se contra qualquer uma das “lideranças” é tornar-se vítima (ops, “opressora”, “passador de pano para machista/racista/hitler”, “vítima do patriarcado”, etc) e nesta condição agora, ser atacado com toda a fúria irracional da militância (ver Perfaxita e Thantifaxath). Quando um negro se posiciona “do lado errado da política”, então está tudo bem xingá-lo e atacá-lo sem piedade (outro exemplo: se a mulher pode fazer o que quiser como quiser, porque a fúria virulenta de ataques quando Marcela Temer, esposa do Vice da Dilma, declarou que era recatada e do lar?). Chamar uma mulher de “grelo duro” é um elogio ou xingamento? Pela cartilha do Politicamente Correto, depende de quem falar…
No Túnel dos Falsos Ídolos, a Militância do Politicamente Correto cria leis que devem ser obedecidas e copiadas por todos os seguidores, como Clones.

No Fanatismo Religioso/partidário: Geralmente esta Qlipha se manifesta na cópia de ídolos como Big Brothers, criaturas fabricadas pela mídia, artistas de TV e cantores pré-moldados. ídolos da Moda e ditadores de modinhas e tendências que fazem com que as pessoas, ao invés de tentarem a individualização do pensamento, se tornam cardumes em uma militância. Transformam facínoras, homofóbicos e assassinos em ídolos (Che Guevara, por exemplo) ou defendem bandidos/corruptos como se fossem heróis da Nação. Pastores e Líderes Religiosos, então, são intocáveis. No mundo profano mais baixo, alguém ai se lembra da moda do corte de cabelo ridículo que surgiu do nada, imitando jogador de futebol? Então…

Tzuflifu (O Túnel abaixo de TZADDI)
O Túnel onde a Arte e a Fé são substituídos pelos dogmas e pelo lixo cultural. Tudo aquilo que não se encaixa no padrão ditado deve ser queimado na fogueira enquanto qualquer lixo mental que se encaixe nos ditames da Mídia é martelado goela abaixo da população. Tzuflifu conecta as Qlipoth de Gamaliel (a Ilusão, Drogas, Vícios e Fuga da Realidade) com A´Arab Zarak (a Luxúria e depravação).

O Politicamente Correto: Doenças como obesidade mórbida são transformadas em “empoderamento”, louvando a desarmonia, feiura e desequilíbrio; defecar, introduzir objetos religiosos nas cavidades em público vira “movimento artístico de protesto” e exploração do ânus dos amiguinhos vira “peça de teatro”, entre diversas outras aberrações.

No Fanatismo Religioso/partidário: Qualquer coisa com “Gospel” no final já prova minha teoria, nem precisa ser Axé Gospel… No mundo mais profano, Tzuflifu está bem representado pelo Funk (“patrimônio cultural brasileiro”, não esqueçamos!), pelos bondes, pelas MCs-qualquer-coisa-empoderada e suas letras edificantes; pelas letras que louvam o crime, tráfico, estupros grupais, “novinhas” e drogas (curiosamente, traficantes e criminosos são colocados como “vítimas da sociedade”); mas nem preciso ir tão longe… basta assistir qualquer novela em TV aberta ou avaliar a qualidade literária de nossos youtubers e seus best-sellers.

Parfaxitas (O Túnel abaixo de PEH)
O Túnel com o lado sombrio da Fornalha do Alquimista não poderia ter um nome melhor: “Ódio ao Diferente”. Enquanto PEH faz a Síntese entre o Mental e o Emocional; o “Calcinatio” da Alquimia e a desconstrução da Torre; seu lado sombrio prega o Ódio ao Diferente. Não preciso me alongar muito aqui, todos nós presenciamos as eleições de 2014 e perdemos muitos amigos nas Redes Sociais. Aliás, vimos todas as Qlipoth inferiores em Ação nos posts falsos disseminados pela mídia regiamente paga de todos os lados, coerção em empregados, alunos e bolsistas, shows de música podre superfaturados e artistas de TV regiamente pagos para defenderem ideologias.

O Politicamente Correto: prega o ódio ao diferente e a segregação ainda mais radical. Ao invés de explicar, unir forças e colaborar, os militantes do “politicamente correto” utilizam-se da mesma truculência para agredir e atacar qualquer coisa que considerem “diferente”. E o ódio não respeita nem eles mesmos… temos Mulheres versus Trans, “Manas Brancas” levando esculacho de “Manas Pretas” porque usavam turbantes (e logo em seguida, as “Manas Pretas americanas” levaram esculacho das “Manas Pretas da África” pelo mesmo motivo).

No Fanatismo Religioso/partidário: O termo “Guerra Santa” já diz muito. No Âmbito das ditaduras, podemos ir até a Coréia do Norte, mas nem precisa ir mais longe do que Cuba para ver o que um regime totalitário faz com seus cidadãos. No âmbito religioso podemos citar a perseguição (com direito a pena de morte) aos homossexuais nos países Islâmicos (nem precisa ir tão longe, basta pregar a bíblia em público em alguns destes países para ser condenado à morte) mas, curiosamente, o Politicamente Correto e sua incoerência protege este tipo de coisa, dando o nome eufemístico de “Multiculturalismo”. Em um panorama mais popular e profano, quantas mortes ocorrem por ano por causa de futebol mesmo?

Acredito que já tenhamos elementos para debate por hoje. Se você se interessou em conhecer e estudar as Qlipoth, recomendo o Curso Avançado sobre a Árvore da Morte na Daemon Editora, mas somente para quem já tem conhecimento sobre Kabbalah Hermética.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-politicamente-correto-e-as-qlipoth

Os 4 Elementos

Os 4 Elementos – É conhecida a divisão em quatro elementos que a Antigüidade greco-romana estabeleceu em suas cosmogonias. Como nossos leitores sabem eles são Fogo, Ar, Água e Terra, e se encontram presentes em tal ou qual proporção em tudo aquilo que consideramos como matéria. Aliás, estes elementos formam uma corrente, ou série sucessiva, já que o Fogo se equipara ao princípio vital que o Ar transporta e a Água difunde, até se concretizar na Terra. Há, por isso mesmo, distintas relações entre estes elementos, a ponto de que a série pode alterar sua ordem, inclusive invertê-la.

E assim vemos que a Terra, equiparada ao sólido (gelo) pode se liquidificar, para logo se evaporar e transformar-se em Ar (hálito vital) emanado diretamente do Fogo (elemento radiante), verdadeiro agente criacional, mediante sua dupla manifestação: luz e calor. Deve-se apontar que estes elementos encontram em sua ronda um denominador comum ao qual se referem e que é a sua essência, da qual dependem. Esse elemento misterioso do qual os princípios radiante, aéreo, fluídico e compacto dependem –já que é sua origem perpétua–, e que por sua vez os sintetiza, é chamado pelos alquimistas quintessência. Aliás, o Fogo é seu primeiro representante, já que toda ação cozinhada no Atanor ou cratera, tanto do macro como do microcosmo, precisa de sua participação, capaz de gerar e também de destruir, às vezes completamente. Pelo que um uso atinado e, sobretudo, regulado deste elemento é imprescindível em qualquer operação alquímica, já que todas elas, divididas em dois grandes temas, dissolver e coagular, efetuam-se a partir da quantidade de fogo (luz e calor) utilizada ou não em diferentes procedimentos transmutatórios.

Deve-se acentuar que estes “elementos” aos quais nos referimos não são estritamente materiais, senão símbolos de Princípios Universais e não substâncias concretas tomadas em sentido literal. Devemos esclarecer que isto também é válido para os sete metais, identificados com os sete planetas astrológicos, com os quais a Alquimia trabalha, já que tanto o ferro como o mercúrio, etc., excedem os limites de sua designação com relação ao que ordinariamente se entende por estas nomenclaturas.

Também se costuma combinar amiúde os três princípios alquímicos, Enxofre, Mercúrio e Sal, com os quatro elementos, e de diversa forma. Em Aritmosofia isto se expressa assim: 3 + 4 = 7; 3 x 4 = 12. Resulta óbvio que esta formulação está ligada à simbologia astrológica e, portanto, também a ritmos e ciclos que da mesma forma obedecem a Princípios Universais.

#hermetismo

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Conhecimento Exotérico e Esotérico

Existem duas espécies de conhecimento: exotérico e esotérico.

Vejamos o que significam estes termos. Segundo os dicionários, “Exotérico” vem do grego exoterikós e refere-se ao ensinamento que em escolas da Antiguidade grega era transmitido ao público sem restrições, por tratar-se de ensinamento dialético, provável e verossímil.

“Esotérico” vem do grego esoterikós e refere-se ao ensinamento que era reservado aos discípulos completamente instruídos nas escolas filosóficas da Antiguidade.

Por extensão, todo ensinamento ministrado a círculo restrito e fechado de ouvintes.

Em filosofia, diz-se dos ensinamentos ligados ao ocultismo.

Como vemos, o conhecimento exotérico diz respeito basicamente ao mundo dos fenômenos. É o conhecimento aprendido e acumulado pela raça humana, no mundo físico em que habita. É o conhecimento deste mundo físico, do meio ambiente mais imediato, da adaptação física ao mundo; é o conhecimento das leis que parecem se manifestar, como o movimento dos objetos no espaço, as marés, as mudanças de estações, a gravidade e inúmeras outras.

Por outro lado, todo o conhecimento que não pode ser isolado, confinado, ou descrito em termos de fenômenos físicos, é classificado como conhecimento esotérico.

Para aqueles que aceitam uma filosofia idealística, o conhecimento esotérico é um fato e as verdadeiras realidades do universo estão compreendidas no âmbito deste conhecimento. No entanto, é impossível encontrar prova ou confirmação da existência de qualquer forma de conhecimento esotérico, no mundo físico. Uma tal prova ou confirmação deve, necessariamente, provir de uma condição que transcende o físico. A validade deste conhecimento, segundo o idealista, e segundo os princípios da filosofia templária, depende de sua concordância ou conformação com o Absoluto.

O conhecimento exotérico ou conhecimento do mundo exterior é aquele que percebemos através dos sentidos físicos. Podemos ver, tocar, ouvir, provar pelo paladar e cheirar as coisas que formam o mundo que nos cerca. No entanto, se fizéssemos uma analise técnica da epistemologia, que é a ciência da natureza e validade do conhecimento, poderíamos levantar sérias dúvidas sobre a percepção do mundo real pelo homem. Será que percebemos realmente o mundo material, ou percebemos apenas impressões dele?

O âmbito deste discurso não nos permite tocar, senão de leve, neste assunto. Sabemos, por exemplo, que ao cheirarmos uma rosa, recebemos uma certa impressão; mas será esta impressão proveniente da própria rosa ou será ela resultante de certas reações químicas que ocorrem quando a rosa é aproximada à nossa faculdade sensorial do olfato? Cheiramos a rosa ou cheiramos a alteração química do ar causada pela rosa?

Desenvolvemos nossas atividades no mundo físico e, por isso, acreditamos que percebemos de maneira essencialmente correta aquilo que realmente existe.

Percebemos os objetos substancialmente como são, e a razão de assim acreditarmos é o fato de podermos lidar com eles, até certo ponto. Por conseguinte, nosso mundo de atualidade está relacionado com o nosso mundo de pensamento, pelos canais dos sentidos físicos.

Como decorrência de nossas percepções sensoriais, capacitamo-nos a tirar conclusões, em nossa consciência, sobre a existência, uso e aplicação que fazemos das coisas exteriores. A faculdade da percepção sensorial física, portanto, é o canal que nos une ao conhecimento exotérico, na qualidade de entidades pensantes.

O conhecimento esotérico, por sua vez, não pode ser percebido ou apreendido por meio dos sentidos físicos. Além disso, sabemos que o homem não se apercebe do conhecimento esotérico exclusivamente pelos processos da razão; a associação de ideias, embora seja um processo, uma faculdade do homem, com existência potencial em sua mente, não é, em si mesma, uma função criadora suficiente para produzir conhecimento novo.

A razão consiste na ordenação de uma sequência correta, ou o arranjo, numa certa forma, de conhecimentos obtidos pelos sentidos físicos. Isso nos leva a buscar uma outra fonte, caso desejemos obter conhecimento esotérico.

Esta fonte é a intuição. Em geral, considera-se a intuição como um meio direto, imediato e seguro de obter o conhecimento que dispensa tanto o fator dedução lógica, que está presente na razão, como o fator observação sensorial, associado com as nossas experiências do dia-a-dia. O conhecimento intuitivo existe fora do mundo dos fenômenos, devendo ser obtido por um meio capaz de transcender qualquer limitação física.

Um garoto preferiu jogar futebol em vez de ir à Escola Dominical. Quando voltou para casa, ficou surpreso ao encontrar sua mãe preocupada por ele não ter comparecido à escola. Sua mãe tivera um pressentimento, uma ideia, de que o garoto não fora à Escola, sem que nenhum sentido físico estivesse envolvido nesse pressentimento. A partir daquele dia, o garoto passou a olhar com muito respeito a forma de conhecimento chamada intuição.

Parece-nos inútil negar a existência deste tipo de conhecimento. Ocorrem continuamente inúmeros exemplos que confirmam sua existência, incontáveis experiências em que as pessoas adquiriram um conhecimento não originado do funcionamento dos sentidos físicos.

Aprendemos muitas coisas pelo meio direto e imediato da intuição, por se tratar de uma forma de percepção, um processo no qual o conhecimento vem à consciência diretamente e, com certeza, é opinião de muitos que tal conhecimento existe e chega à nossa consciência através de um sexto sentido.

Muitos psicólogos concordarão com o fato de que muitas pessoas recebem a solução de um problema por inspiração. Mas eles tendem a negar que esta percepção constitui prova suficiente da existência de uma faculdade intuitiva especial, mesmo não podendo negar o fato de que o conhecimento inspirado veio realmente à consciência.

Há uma relação íntima entre intuição e misticismo. Visto que o misticismo é a base fundamental da filosofia templária, devemos sempre, em última análise, correlacionar qualquer princípio que consideramos como filosofia com o conceito básico do misticismo.

A intuição, que conforme sabemos, funciona em diferentes tipos de situações cognitivas, é, em seu significado geral, aquilo que diz respeito ao súbito sentimento que uma pessoa tem de um certo conhecimento, para o qual não há nenhuma prova aparente, além do poder que a convicção estabeleceu no interior da consciência.

Muitos exemplos da função da intuição ocorreram com notáveis figuras históricas, por meio de visões, iluminação interior, vozes interiores e outras experiências deste gênero. Comumente, essa intuição tem o efeito de transformar repentinamente os conceitos metafísicos, morais e religiosos da pessoa. Em muitos casos, esses incidentes provocaram uma completa reorganização de toda a vida. Em todas as épocas e lugares, incidentes desta natureza têm sido experimentados por muitas pessoas.

Em um famoso trecho de “O Simpósio”, afirma Platão que, após tentar laboriosamente ascender ao reino de ideias que existe no Absoluto, pela disciplina de várias formas terrenas de existência, tornou-se capaz de alcançar uma visão da beleza eterna que transcende toda a beleza física.

Sócrates e Joana D’Arc, muito diferentes em suas crenças, cultura, época e lugar onde viveram, ouviram vozes interiores em momentos críticos da vida, e encontraram um caminho para a realidade através do conhecimento assim revelado. São Paulo teve uma visão na estrada para Damasco que o transformou, de perseguidor da cristandade, em seu melhor defensor.

Estas formas de intuição caracterizam a maneira como o conhecimento está relacionado com a experiência mística.

Qualquer um de nós pode experimentar a intuição, e efetivamente nós a experimentamos, em muitas e diferentes situações da vida. Os exemplos históricos foram dados apenas como ilustração, pois a intuição é um fenômeno universal e nos permite resolver os mais variados problemas, além de nos dotar do conhecimento esotérico que nos eleva e refina.

O místico é a pessoa capaz de elevar sua consciência ao ponto em que transcende o mundo físico em que vive, a ilusão do mundo, e alcança a percepção de que existe uma realidade divina com a qual pode sentir-se uno. Para o místico, o conhecimento consiste na capacidade de perceber o Absoluto, de se relacionar com Deus, de se elevar acima das limitações do mundo dos fenômenos físicos e entrar em contato, individualmente, com o reino do conhecimento esotérico.

Entre o conhecimento exotérico e esotérico, qual o mais importante? Em certo ponto, é mais importante obtermos o conhecimento esotérico. Não podemos esquecer, entretanto, que estamos destinados a viver num mundo físico e alcançar a compreensão dos princípios que o regem. O universo não foi criado por Deus para divertimento e espanto de Suas criaturas. O agnóstico pode reconhecer que existe uma realidade e ao mesmo tempo afirmar que o homem nunca poderá conhecê-la.

Há um véu, entre o homem, em seu estado atual, e Deus; esse véu, porém, pode ser levantado, o santuário pode ser visitado, o incognoscível pode se tornar cognoscível. O caminho para o incognoscível desenvolve-se pelo conhecimento. É por meio da ilusão daquilo que parece ser a realidade que podem nos aproximar do conhecimento da verdadeira realidade, e apreendê-la. O homem não passa de um espelho do universo, um pequeno mundo no interior do grande mundo. Mas mesmo este pequeno mundo faz parte integrante da realidade e de tudo aquilo que a criou.

Se aceitarmos a existência do conhecimento esotérico e o ponto de vista da filosofia idealística proposta pelos templários, compreendemos que somos entidades existentes no interior de um mundo físico, lutando para nos libertar dele para alcançar a completa e final fusão com o Real. Para a pessoa comum, que não costuma pensar, pode parecer que tudo seja realidade e ilusão.Ou seja, ela tende a presumir que tudo que pode perceber é realidade e tudo mais é ilusão. Essa pessoa pode presumir que apoia um conceito religioso ou uma filosofia básica, mas na verdade acredita que tudo que não pode ser comprovado fisicamente pertence puramente ao mundo da ilusão.

Este conceito será invertido para a pessoa que verdadeiramente busque o conhecimento esotérico. Ela verificará que vivemos num mundo de ilusão (que todo o mundo físico existe apenas como instrumento incidental, um lugar incidental de ação). Em nossa vida, lembramos com prazer ou mágoa uma paisagem, uma cidade, uma ocasião, dependendo da impressão que nos tenham causado. Talvez nunca vejamos novamente aquele lugar, que foi um incidente isolado na experiência global de nossa vida. Do mesmo modo, cada vida terrena que experimentamos será como um incidente isolado na totalidade da nossa existência, quando alcançarmos o ponto em que poderemos olhar para trás e examinar o propósito de nosso ser individual. Graças às nossas experiências nessas vidas terrenas isoladas, teremos experimentado o que é real e o que é ilusório, e entrado em completa e final associação com o Real. Somos a essência da totalidade dessas vidas.

Portanto, a totalidade da existência inclui o bem e o mal, a luz e as trevas, o exotérico e o esotérico, o material e o espiritual. Todas estas coisas dizem respeito ao mundo dos fenômenos. Deus é a força que se infunde em tudo isso; Ele está em tudo e a tudo transcende. Se podemos chamar esta manifestação de substância da existência, natureza do Absoluto, então podemos compreender que Deus é a existência de todas as coisas. Ele é Luz Absoluta, e transcende o oceano de ilusão que constitui o mundo em que vivemos.

Com este ponto de vista em mente, parece impossível contestar a existência da alma, que é um conceito puramente esotérico. O fato de haver ou não uma vida após a morte, não é importante; existe prova da continuidade do Ser e por isso é lógico admitir a continuidade da vida. Quaisquer que sejam os imensos períodos de tempo a se estenderem diante da alma, em suas jornadas por muitas experiências físicas e seus muitos corpos físicos, existe ao mesmo tempo uma consciência a se ampliar constantemente, uma visão a se expandir infindavelmente, que tem por fim a final integração com o Absoluto.

A imortalidade é a única existência de que estamos conscientes. É um outro nome para a existência total e inclui o passado, o presente e o futuro. Toda a vida, tal como compreendida na imortalidade, pode verdadeiramente proporcionar maravilhosas experiências. Agora, ou no futuro, a verdade e os ideais podem ser apreendidos. Estes são os valores reais, que podem se tornar conhecidos para o homem através dos sentidos físicos e da intuição, ou seja, exotérica e esotericamente. Eles existem eternamente. Nada é destruído; a ideia de total destruição de uma consciência individual pode ser abandonada.

O universo, com tudo que contém, deverá ser finalmente reabsorvido por Deus, de onde emanou, mais enriquecido, de um modo misterioso, para sua existência em termos de tempo e espaço.

A gota que cai no oceano não se perde, apenas torna-se unificada com sua fonte. Podemos facilmente compreender que as possibilidades que se abrem ante a alma confinada neste universo de ilusão podem incluir muitas experiências de fantástica beleza. Podemos nos sentir seguros de que as experiências reservadas para a alma, quando a realidade tiver sido completamente compreendida, deverão ser indizivelmente mais gloriosas.

Por meio do conhecimento exotérico, compreendemos o mundo dos fenômenos. Por meio do conhecimento esotérico, intuitivo, espiritual, emocional e místico compreendemos, cada vez mais, os mistérios do reino da Realidade Absoluta, e dele nos aproximamos e nele mitigamos a nossa sede intrínseca de perfeição.

MENTES E CORAÇÕES ABERTOS

Há séculos, mentes inquiridoras têm demonstrado seu interesse sobre o significado da vida. O reconhecimento de que ela, a vida, não consiste apenas em comer, beber, dormir, em sexo e em posses. Mas o que é esse significado? Podemos algum dia encontrá-lo? As muitas perguntas sem respostas tornam o homem um ser que busca. Buscar significa “questionar”, abandonar todas as posturas rígidas, tornar-se flexível, fazer uma abertura interior para acolher, sem preconceitos, ideias novas e inusitadas.

É difícil satisfazer essa exigência de abertura mental, mais do que normalmente se pensa. Facilmente sucumbimos à tendência de fixação no conhecido e no habitual. Tudo o que é o novo desencadeia medo e mobiliza os mecanismos de defesa. Assim, muitos pensamentos e afirmações provocarão alguma resistência. Ninguém abandona com facilidade os seus queridos clichês e convicções para substituí-los por critérios novos. Contudo, é isso o que temos que fazer: abrir nossa mente, nosso espírito, colocar para baixo nossas defesas, se quisermos que a evolução e a expansão da consciência seja um objetivo a ser alcançado.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/conhecimento-exot%C3%A9rico-e-esot%C3%A9rico

Hipátia de Alexandria

Quando tive a idéia de escrever sobre a vida das Grandes Mulheres do Passado a primeira personagem real que me veio à cabeça foi Hipátia de Alexandria. Me lembro do dia que li sobre ela em um de meus livros relacionado ao Império Romano. Havia apenas um pequeno parágrafo… a sensação que passava era de que só estava ali para preencher espaço e dizia apenas: Hipátia de Alexandria, matemática e filósofa, foi diretora da Academia de Alexandria (Biblioteca de Alexandria) e morreu em 415. Nada mais, apenas essa curta frase, porém foi o suficiente para despertar em mim a curiosidade. Afinal, quem fora essa mulher que não só fora matemática e filósofa numa época impensável para as mulheres exercerem tais funções, como chegou a ser diretora de uma das maiores escolas da antiguidade?! Dali para frente procurei pesquisar tudo o que podia. Infelizmente não nos chegou muito sobre a vida dessa Grande Mulher, mas o que temos vale como lição para se carregar para sempre.

Hipátia nasceu em Alexandria por volta do ano 370 D.C. Para aqueles que não lembram, Alexandria é uma cidade do Egito e foi fundada por Alexandre da Macedônia, popularmente conhecido como Alexandre, O Grande.

Na antiguidade Alexandria foi um grande pólo de cultura e livre expressão, mas, na época em que Hipátia nasceu, a cidade encontrava-se em uma disputa entre a Igreja Católica, que crescia em poder rapidamente, e as correntes filosóficas que punham em cheque as doutrinas da nova religião.

Filha de Theon, filósofo, matemático e astrônomo, diretor do Museu de Alexandria; Hipátia creceu em um ambiente cercado de cultura sendo guiada por seu pai nos estudos da Matemática e Filosofia. Ele acreditava no ideal grego da “mente sã em um corpo sadio” (“men sana in corpore sano”) estimulando a filha a exercitar tanto a mente como o corpo, contam as lendas que ele desejava torna-la “um ser perfeito”.

Ainda jovem viajou a Atenas para complementar seus estudos. Era conhecida na Grécia como “A Filósofa”, já demonstrando cedo sua profunda sabedoria. Sócrates Escolástico relata:

“Havia em Alexandria uma mulher chamada Hipátia, filha do filósofo Theon, que fez tantas realizações em literatura e ciência que ultrapassou todos os filósofos de seu tempo. Tendo progredido na escola de Platão e Plotino, ela explicava os princípios da filosofia a quem a ouvisse, e muitos vinham de longe para receber seus ensinamentos.”

Ainda em Atenas tornou-se discípula na Escola de Plutarco e professava ensinamentos Neoplatônicos. Ao retornar a sua pátria, foi convidada para assumir uma cadeira na Academia de Alexandria como professora. Por volta dos 30 anos, tornou-se diretora da Academia. Seus conhecimentos abrangiam a Filosofia, a Matemática, Astronomia, Religião, poesia e artes. Era versada em oratória e retórica. Escreveu diversos livros e tratados sobre álgebra e aritmética. Seu interesse por mecânica e tecnologia a levaram a conceber instrumentos utilizados na Física e na Astronomia, como o astrolábio plano, o planisfério e um hidrômetro. Infelizmente suas obras foram perdidas durante o incêndio que destruiu a Biblioteca de Alexandria. Tudo o que chegou-nos vem através de suas correspondências.

Um de seus alunos Hesíquio o hebreu, escreveu:

“Vestida com o manto dos filósofos, abrindo caminho no meio da cidade, explicava publicamente os escritos de Platão e de Aristóteles, ou de qualquer filósofo a todos os que a quisessem ouvi-la… Os magistrados costumavam consulta-la em primeiro lugar para administração dos assuntos da cidade”.

Hipátia foi uma Grande Mulher que nasceu na época errada. Sua defesa fervorosa ao livre pensamento, seus ensinamentos Neoplatônicos, sua observação de que o universo era regido pela leis da matemática a caracterizaram como herege em um momento onde o Cristianismo triunfava sobre o Paganismo. Enquanto Orestes, um ex-aluno, fora prefeito da cidade, sua vida estivera protegida. Mas quando Cirilo tornou-se bispo de Alexandria, determinado a destruir todo o movimento pagão, sua morte foi anunciada.

Em uma tarde de 415 D.C. retornando a sua casa, Hipátia foi abordada por uma turba de cristãos furiosos que a arrancaram de sua carruagem, arrastaram-na para uma igreja e lá rasgaram-lhe as roupas deixando-a completamente nua e assim puseram-se a retalhar seu corpo esfolando-lhe a carne de seus ossos utilizando para isso cascas de ostras afiadas. Por fim desmembraram-lhe o corpo e os atiraram as chamas.

Morria com ela toda uma era de liberdade e florescimento filosófico e cultural em Alexandria e certamente para todos que viviam sobre a espada afiada da nova religião.

Carl Sagan escreveu em seu livro Cosmos:

“Há cerca de 2000 anos, emergiu uma civilização científica esplêndida na nossa história, e sua base era em Alexandria. Apesar das grandes chances de florescer, ela decaiu. Sua última cientista foi uma mulher, considerada pagã. Seu nome era Hipátia. Com uma sociedade conservadora a respeito do trabalho da mulher e do seu papel, com o aumento progressivo do poder da Igreja, formadora de opiniões e conservadora quanto à ciências, e devido a Alexandria estar sob o domínio romano, após o assassinato de Hipátia, em 415, essa biblioteca foi destruída. Milhares dos preciosos documentos dessa biblioteca foram em grande parte queimados e perdidos para sempre, e com ela todo o progresso científico e filosófico da época.”

Essa Grande Mulher nutriu toda uma época com a luz do conhecimento e do saber. Calaram-lhe a voz e empurraram sua lembrança para as profundezas do esquecimento. Mas, dois milênios não foram suficientes para apagá-la da memória de todos os famintos pela verdade. Hipátia retorna forte e vibrante ao alcance daqueles que buscam por seus ensinamentos. Ainda há pouco, enquanto terminava minha última pesquisa para esse artigo, me deparei com a notícia de que o diretor Alejandro Amenábar recentemente lançou no festival de Cannes o filme Ágora, que conta ao mundo a vida de Hipátia de Alexandria.

Texto da coluna Alma Mater, do Nerd Somos Nozes

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VI Simpósio Brasileiro de Hermetismo

Hermes é a figura associada à divulgação das Ciências Ocultas. Quer seja histórico, quer seja mitológico, sua influência foi tão grande que até hoje as ciências ocultas são chamadas de Hermetismo.

N’A Tábua Esmeralda, Hermes avoca o título de Trimegistos, o Três Vezes Grande, por possuir as três partes da Filosofia Universal, que receberam, dentre outros, os nomes de Magia, que é a arte de causar a mudança de acordo com a Vontade, Misticismo, que é o estudo da(s) divindade(s) e das leis que aproximam o ser humano dela(s), e a Alquimia, que é o estudo da natureza humana e sua transformação.

De Magos mitológicos, capazes de controlar os elementos, o clima e os animais, aos Alquimistas com seus fornos, capazes de transformar chumbo em ouro, passando por aqueles aptos a ver a face da(s) divindade(s), conhecer seus nomes e invocá-las, o Hermetismo chegou aos nossos dias imerso em um véu de mistério.

Sem a pretensão de solucionar esses mistérios (Seria o Nome de Deus uma Palavra? A transformação do chumbo em ouro é literal? É possível viver para sempre e eternamente jovem?) o Hermetismo fala sobre a Mudança: Mudar o Mundo, Mudar a Si Mesmo e a Mudança em direção ao Divino.

Nada mais coerente, portanto, que se debruçar sobre as mudanças que o Hermetismo proporciona aos seus praticantes.

E é com essa proposta que a Associação Educacional Sirius-Gaia (AESG) tem a alegria de apresentar o VI Simpósio Brasileiro de Hermetismo e Ciências Ocultas: O Hermetismo como Instrumento da Transformação do Ser.

Nos dias 11 e 12 de novembro poderemos ouvir alguns daqueles que, de uma forma ou de outra, trilhando o caminho das ciências ocultas, puderam observar em sua vida a mudança que lhes aproximou um pouco mais de sua Verdade Individual.

O local escolhido é o Century Plaza, na Rua Teixeira da Silva, 647, próximo a avenida Paulista.

Inscrições:

As inscrições são efetuadas somente pelo site do Simpósio e valem para assistir todas as palestras nos dias 11 e 12 de novembro de 2017. O valor da inscrição no momento é de R$ 180,00.

O calendário das inscrições segue a seguinte progressão:

Inscrições realizadas de 21/05 a 10/06 – R$ 180,00

Inscrições realizadas de 11/06 a 10/07 – R$ 200,00

Inscrições realizadas de 11/07 a 10/08 – R$ 225,00

Inscrições realizadas de 11/08 a 10/09 – R$ 250,00

Inscrições realizadas de 11/09 a 10/10 – R$ 275,00

Inscrições realizadas de 11/10 a 09/11 – R$ 300,00

Esteja atento aos prazos e antecipe sua inscrição!

http://simposiohermetismo.com.br/

#Blogosfera #Simpósio

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Contextualizando os Textos Mágicos Clássicos e Antigos

Por Kayque Girão

A crítica mais comum ao tradicionalismo mágico proveniente da magia dos séculos XVII e XVIII diz respeito a interpretação, viabilidade e funcionalidade dos textos mágicos. O caro leitor certamente já deve ter lido ou ouvido alguma opinião desse tipo, o que revela muitas vezes um grande desconhecimento baseado no senso comum acerca da a tradição clássica que o tempo todo procura se renovar e, principalmente, se reinventar diante das diversas circunstâncias temporais, políticas, religiosas e étnicas. Mas antes de partirmos para o assunto principal se faz necessário antes compreender o que são exatamente esses textos e manuscritos antigos.

O que são Grimórios?

Grimórios são textos antigos, copiados à mão, com fórmulas mágicas para os mais diversos fins, da consagração talismânica a conjuração infernal. Receberam esse nome a partir da palavra “grimoar” por se assemelharem a “gramática”, uma disciplina que envolve linguagem e nomes, aspectos principais desses textos místicos e fantásticos.

Os mais antigos textos com “voces magiae” – os assim chamados “nomes bárbaros de evocação” – documentados até então remontam da Antiguidade tardia, durante os períodos de helenização de parte da Europa assim como do fenômeno de cristianização a que passavam esses povos com a influência romana até a queda do Império com a cisão entre o Ocidente católico e o Oriente ortodoxo bizantino.

Então textos comuns como “Higromanteia” (termo ligado a “clarividência pela água” ou por superfícies refletoras) e uma coletânea esparsa do que ficou conhecido como “Papiros Mágicos Greco-Egípcios” (conhecida mais pela sigla “PGM” entre os estudiosos) foram cooptados pelo clero como resquícios do antigo paganismo clássico e da influência tardia da escrita, que ia do antigo cóptico, aramaico e hebraico arcaico. Esses textos possuíam fórmulas místicas e mágicas de consecução espiritual que não eram reconhecidos por nenhuma religião hegemônica, estando ligado a praticantes marginais à Civilização de então.

Com a expansão cristã e o fenômeno de conversão dos povos pagãos por sobre a Europa, esses textos ficaram restritos ao controle religioso do clero quando não eram destruídos pelo fundamentalismo religioso. Alguns integrantes religiosos foram pagãos convertidos ou religiosos muito estudiosos que conseguiram perpetuar seus textos e copiá-los para outras bibliotecas a fim de servirem de estudo por parte da própria Igreja (o leitor iria se surpreender bastante com o quanto o clero ainda hoje sabe mais de magia).

Então, como não poderia deixar de ocorrer, alguns desses religiosos também incorreram no risco da prática clandestina desses textos pagãos impondo sobre eles a influência litúrgica cristã sem quebrarem diretamente as regras clericais de sua classe, por mais heréticas que parecessem aos olhos da hierarquia religiosa temporal.

Sendo assim, isso explica o anonimato de grande parte dos textos atribuídos ao mítico “Salomão” e tantos outros magos desconhecidos e de origens bíblicas ou egípcias, bem como da limitação textual dos procedimentos descritos nos textos referidos, dado que em sua grande parte foram escritos, copiados e mantidos por padres, rabinos e monges que tinham noções básicas de liturgia, o que deixavam escrito nos textos apenas o essencial a ser praticado.

Se um desses livros fosse pego por alguma autoridade ao revistar um praticante, o mesmo ainda poderia tentar “escapar” sob o argumento de que se tratavam somente de textos de orações, tão comuns da época por devotos. Basta observar essa semelhança de textos como “Liturgia Diária” para com “Liber Juratus” (o “Livro Jurado” atribuído ao Papa Honório, um dos textos mais antigos textos da tradição salomônica, datado de meados do Séc. XIV) : ambos são textos predominantemente organizados com orações.

Grimórios podem ser adaptados?

Antes de responder essa pergunta, temos de entender o contexto do qual os grimórios foram escritos. Eles são resultado inquestionável de um determinado pensamento sobre um determinado período em uma determinada localidade.

Sendo assim, quem os escreveu e os perpetuou foram religiosos ou estudiosos, mas ambos ligados a centros de conhecimento vinculados ao poder da Igreja. O maior de seus mecenas intelectuais fora o próprio Abade Johanes Trithemius (1462-1516), que administrava a maior biblioteca hermética de seu tempo, servindo de ponto de encontro para estudiosos como Marcílio Ficino (1433-1499) e Cornelius Agrippa (1486-1535), autor dos “Três Livros de Filosofia Oculta”, o maior compilado de conhecimento hermético disponível na época.

Então pode ser percebida três camadas de influência desses textos:

1ª Camada: a influência pagã com entidades celestes e telúricas, provenientes em grande parte do paganismo tardio e da goécia mais arcaica;

2ª Camada: a influência religiosa cristã, com a inserção de elementos litúrgicos dentro da ritualística mágica dos textos, com recomendações de purificação e até de orações, quase todos esses procedimentos tento intertextualidade direta com textos sacros, como a Bíblia e a Liturgia das Horas;

3ª Camada: A influência acadêmica escolástica e hermética, que tentou reorganizar esse conhecimento e justificá-lo sob a chancela cristã em detrimento da “magia natural” pagã, como que legitimados pela autoridade religiosa e mágica de Cristo. Grande parte dos hermetistas do período assim se posicionaram para organizarem a sua “prisca theologia”;

Também não deixamos de mencionar uma influência contínua da cultura judaica e rabínica sobre os referidos textos, com procedimentos que são muito pertinentes a visão do Velho Testamento e inteiramente parte da visão religiosa judaica, como o sacrifício de animais e o “holocausto ao Senhor”, de modo que parte das analogias pagãs a pedaços de couro de animais vem da curtição de cabra, bode, boi e leão, por exemplo.

E pode parecer hoje algo terrivelmente horroroso ao pensamento moderno sacrificar um animal para curtir o couro para a feitura de talismãs, considerando esse ato como de extrema brutalidade e selvageria, impactando a psiquê do magista quando isso era visto como natural por quem o fazia nos tempos idos onde não havia açougue e tecnologia de refrigeração e se comia carne o mais fresca possível.

A analogia não era somente literal, mas por verossimilhança, de modo que se um texto como “Grimorium Verum” (o documento mais antigo sobre Goécia) exigia o couro de bode e o das “Clavículas de Salomão” (e suas inúmeras versões latinas, gregas ou hebraicas) o de leão, havia uma equiparação e funcionalidade orgânica em tais trabalhos que os diferenciavam profundamente em significado e simbolismo.

Na visão do Lemegenton, o couro de leão era uma proteção e chancela espiritual sobre o domínio do bestial. Daí pode se considerar os mais diversos níveis de interpretação e analogia, do astrológico ao mitológico. O mesmo para o couro de bode, numa aproximação ao ctônico e bestial, propriamente pagão e mortuário.

Sendo assim, se pudesse-mos sintetizar a praticidade de um grimório, seria sob o raciocínio de etapas descrito a seguir:

“Etapa A”. Um homem com faculdades sensíveis e noção mística/religiosa de mundo entra em contato com um espírito;

“Etapa B”. O espírito mantém contato com o homem e ensina seus conhecimentos sobre a natureza das comunicações e como melhorá-las, prescrevendo materiais acessíveis a este de modo que a comunicação possa tornar-se cada vez mais estreita;

“Etapa C”. O homem alfabetizado anota para deixar registrada a receita para uso frequente e transmite a outros indivíduos, que copiam o texto e passam pra frente, ora incorrendo em erros de tradução ou deturpações conforme suas próprias visões de mundo;

Nenhum grimório, em tese, deveria ser visto como um texto escrito em pedra, mas assim como em todas as vertentes, existirão sempre os fundamentalistas e dogmáticos que farão tudo à risca e com a maior exatidão de detalhes descritos por esses textos.

Como adaptar os Grimórios?

Não existe fórmula pronta e perfeita, que fique claro. Entretanto, à luz dos tempos atuais, faz-se necessário ter uma visão mais aberta ao estudo acadêmico e entender com alteridade tais textos e culturas distintas sob um olhar mais “antropológico”.

Isso porque ao longo da história esotérica muitos se propuseram a adaptar conforme as conveniências pessoais ou filosofias místicas do período, como a própria “Ordem Hermética da Aurora Dourada” MacGregor Mathers (1854-1918), que incorporou diversos textos em sua ritualística e estrutura maçônica e rosacruz. Mesmo Mathers não sendo o melhor dos exemplos, deve ser reconhecido pelas diversas traduções que fez da “Magia Sagrada de Abramelin, o Mago” (Séc. XV apróximadamente) e da “Chave Menor”, do qual, apesar dos erros, soube adaptar tão bem à luz de outras fontes de consulta, como dos livros do Agrippa e do Francis Barret (1770-…) e seu “Magus – A Milícia Celeste”.

Nessa mesma esteira, também é devida a menção honrosa a Papus (Vincent Encausse, 1865-1916), Eliphas Levi (Alphonse Louis Constant, 1810-1875) e Arthur Edward Waite (1857-1942) por seguirem a mesma linha de conduta. Até Aleister Crowley (1875-1947) soube adaptar conforme suas conveniências pessoais aspectos de sistemas pregressos como a Magia Enochiana e o próprio “PGM” na construção de sua carreira mágica com Thelema.

Até aí, Ok. Todos os poucos citados são europeus. Falar que eles puderam adaptar é fácil porque, excluindo-se as devidas diferenças, seguiam uma mesma linha cultural, o que não seria viável para pessoas inseridas em outras culturas que nunca tiveram o contato íntimo com essas tradições, certo?

Então…

A questão é que talvez não tenhamos feito a pergunta certa. Não caberia “adaptar os grimórios” porque eles se consolidaram num contexto específico e local e que dificilmente encontraria a mesma abordagem em outra circunstância. Sendo assim, a pergunta que poderia ser feita de forma mais fortuita seria em “como adaptar as práticas dos grimórios”. E é aí que podemos perceber “o pulo do gato”.

O melhor exemplo que posso dar com base em estudo e vivência é a questão da popularização da leitura. Isso foi crucial com a industrialização e a invenção da imprensa, de modo que muitos desses textos deixaram de ser exclusivos do clero e de uma aristocracia pedante e caíram ao gosto popular e mais informal de uma plebe e burguesia menos intelectuais e mais técnicas, voltadas ao consumo e a busca por alívio espiritual em tempos de materialismo da era moderna.

Esse processo não foi de imediato, claro. Em muitos casos demorou gerações. Imaginemos a situação de um camponês da Irlanda semi-letrado que se tornou monge franciscano e teve acesso a uma Bíblia e textos mais “heterodoxos” como “Galinha Preta” (“Black Chicken”, no original, pouco conhecido do público). O que ele vai contextualizar não vai ser a cosmovisão de um clérigo que está no topo da liturgia rebuscada cristã, mas de um sacerdote popular. Sendo assim, a adaptação dessas práticas vão encontrar uma aproximação com a cultura popular camponesa de sua região.

A leitura e prática do “Galinha Preta” foi corrompida? Não, de maneira alguma. Fora adaptada às circunstancias, necessidade e entendimentos práticas da “magia popular”.

Agora, peguemos o mesmo exemplo, desse monge. Chamemos o gajo de “Willie”. Willie alfabetiza Patrick, jovem mancebo que era literato tanto quanto o monge, e ganha de presente o “Galinha Preta”, numa confidência entre eles. Patrick vivía em tempos difíceis e também tinha o desejo de se aventurar por aí, então ele se arrisca a virar marujo e enfrentar os mares a comerciar nos portos especiarias e produtos diversos, como cana-de-açúcar e algodão.

Patrick, que era um pouco menos inteligente que seu padrinho e mentor de sua terra natal, aprendeu diversas coisas em seu intercâmbio comercial. Num desses portos negreiros do Haiti e da América travou contato com diversos escravos alforriados e letrados e trocou seus textos por diversas outras coisas.

Então o “Galinha Preta” passa das mãos de um Irlandês semi-letrado alfabetizado por um monge popular para as de um escravo liberto que não entende absolutamente nada de Teologia e religiosidade cristã, mas reconhece o poder daqueles espíritos de tão longe, e os trata sob sua mentalidade pagã e ancestral a ponto de adaptar o que aprendeu aqui e acolá, com magia popular, magia de índio, magia de europeu e o que restou da sua religião natal.

Entendem onde quero chegar? Ocorre a mesma coisa.

Em meus estudos pessoais sobre Voodoo e Hoodoo, dentre outras tradições africanas e ameríndias, encontrei muitas aproximações cerimoniais que em nada devem a hegemonia do pensamento católico/protestante de uma elite aristocrática e clerical. E mesmo com suas diferenças conceituais, o texto em prática continua funcionando.

Então, mais uma vez reitero: fazemos as perguntas erradas e por isso deixamos de nos integrar a tradição mágica.

Engenharia Espiritual Reversa e a Prática Hoje

“Certo, você provou seu ponto, mas isso é a sua opinião! Me mostre mais alguém que considera esse raciocínio como válido”

Ok, desafio aceito. Alguns exemplos que me fazem concordar com essa visão reconstrucionista:

Se os grimórios são resultados do desenvolvimento de práticas místicas e mágicas, é natural que aqueles que os escreveram não pensaram e tornarem funcionais para outras pessoas, achando que as condições de vida de seus praticantes se manteriam com o passar das gerações, o que é um erro comum.

Alguns desses textos tem erros grosseiros de tradução dado os inúmeros fragmentos, rasuras e rudimentos de preservação dos textos. Acaba sendo a mesma coisa que sua avó faz ao copiar as receitas que a Palmirinha dá no programa matinal, muitas vezes naquele caderno velho e quase apagado, já amarelado pelo tempo.

Se isso não fosse verdade, não existiriam trabalhos acadêmicos e compilações ou mesmo novas traduções, como as de Joseph H. Peterson, o que implica sempre em novas descobertas que não limitam a interpretação de um texto sob uma chancela de uma única tradição religiosa, a menos, claro, que você pense da mesma maneira que Joseph Lisiewiski e ache que só cristão pode praticar a magia dos grimórios.

Os erros também não são só de linguagem, também dizem respeito a outros conhecimentos dos quais o grimorista poderia não conhecer com profundidade. O autor de Abramelin, por exemplo, tava se lixando para astrologia e deu uma visão simplista e mais gnóstica do tema. Astrólogos como Christopher Warnock chegaram a peitar muito “devoto” ao afirmar que “As Clavículas estão erradas!” pelo simples fato de que, na sua visão de astrólogo, o texto continha erros conceituais e os retificou segundo o que aprendeu.

Mas o derradeiro exemplo que guardo sempre como citação honrosa são de dois autores dos quais tenho grande respeito e admiração: Humberto Maggi (e suas atuais traduções compiladas dos grimórios conhecidas como “Thesaurus Magicus”) e Jake Stratton-Kent. Maggi possui diversos artigos nos quais mostrou um senso de adaptação muito prático e acessível, seguindo a mesma linha original de Jake, que fora capaz de afirmar que “preferia desobedecer os grimórios a desrespeitar os espíritos” e em diversas entrevistas relatou o desagrado de algumas entidades com o tratamento de algumas orações mais tradicionais, demonstrando que é possível uma cordialidade de tratamento mútuo entre o homem e os espíritos.

Sendo assim, e usando o bom senso, eu não vejo a recusa a contatar os espíritos usando adaptações sensatas e aplicadas a vida prática a fim de reduzir esse distanciamento entre teoria e resultados. No mais das vezes, tudo vai se resolver com a mão na massa e na boa e velha “tentativa e erro”. Seria muita ingenuidade não tratar tais textos apenas como tábuas de convocação em vez de listas telefônicas acessíveis as entidades.

Afinal de contas, se elas deixaram por os nomes delas num pedaço de papel, é porque elas desejam ser comunicadas também e receber um chamado para irem de encontro ao “karcista” (outro termo pouco conhecido para o espiritualista que trabalha com evocação de espíritos). Por isso se faz tão necessário tentar ver o tema sob diversos matizes a fim de construir o melhor contato possível, e isso só é possível tentando atender não a forma, mas a essência de tais fontes e seus objetivos: o contato com os espíritos e a formação de vínculos espirituais.

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O Simbolismo do Labirinto

O símbolo do Labirinto exemplifica perfeitamente o processo do Conhecimento, ao menos em suas primeiras etapas, naquelas em que o ser tem de se enfrentar com a densidade de seu próprio psiquismo (reflexo do meio profano em que nasceu e vive), isto é, com seus estados inferiores, separando alquimicamente o espesso do sutil, que a alma experimenta como sucessivas mortes e nascimentos –solve et coagula–, destinando ao mesmo tempo numerosas provas e perigos que somente fazem traduzir o próprio conflito ou psico-drama interior.

Esse desassossego é próprio daquele que, tendo abandonado suas seguranças e identificações egóticas, descobre ante si um mundo completamente novo e, portanto, desconhecido, mas para o qual se sente atraído, porque na verdade intui que ao atravessá-lo é que poderá se reencontrar com sua verdadeira pátria e destino. Essa impressão indelével de estarmos totalmente perdidos tem que nos levar imperiosamente a encontrar a saída, ajudados sempre pela Tradição (e seus mensageiros: os símbolos), que neste caso nos chega por meio do Agartha que, tal como um guia ou eixo, tem de nos conduzir (desde que nossa atitude seja reta e sincera) a um estado de virgindade, a um espaço vazio imprescindível, apto para a fecundação do Espírito, o que se vive no mais interno e secreto do coração.

Devemos assinalar que muitos labirintos representados na arte de todos os povos são autênticos mandalas ou esquemas do Cosmo, ou seja, da própria vida, com suas luzes e sombras, o que nos permitirá compreender que esse processo labiríntico é na realidade uma viagem arquetípica, uma gesta, em suma, que todos os heróis mitológicos e homens de conhecimento têm realizado, e que nos servirá de modelo exemplar a imitar, tal e como estamos vendo na série “Biografias”. Na verdade, a viagem pelo labirinto é uma peregrinação ligada à busca do centro, e neste sentido é importante destacar que em muitas igrejas medievais figurava um labirinto (como em Chartres, em meio do qual aparecia antigamente o combate entre Teseu e o Minotauro) que percorriam de forma ritual todos aqueles que, por uma ou outra razão, não podiam cumprir sua peregrinação ao centro sagrado de sua tradição (por exemplo, Santiago de Compostela, ou Jerusalém), o que era considerado um substituto ou reflexo da verdadeira “Terra Santa”, onde os conflitos e lutas se finalizam, possibilitando assim a ascensão pelos estados superiores até conseguir a saída definitiva da Roda do Mundo.

Como dissemos anteriormente, falando da simbólica do Templo, esses labirintos se encontravam justo após a pia batismal (Yesod), e antes de chegar ao altar (Tifereth, o coração), ou seja, entre o batismo de água –relacionado com a regeneração psicológica e as viagens terrestres– e o batismo de fogo, vinculado por sua vez com o sacrifício pelo espírito e as viagens celestes, horizontais uns e verticais os outros. Na Árvore Sefirótica, o labirinto corresponde, pois, a Yetsirah, ou plano das formações, ou das “Águas inferiores”, que o aprendiz tem de atravessar em sua viagem pelos estados e mundos da Árvore da Vida.

Adicionaremos, para finalizar, que no Adam Kadmon microcósmico, ou seja, o homem, este labirinto tem de ser localizado na zona ventral, área que se destaca tanto por suas combustões e revoluções, como pela analogia que apresentam seus órgãos internos com a representação geral do labirinto.

#Alquimia #hermetismo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-simbolismo-do-labirinto

Hierarquia, Dualismo e Evolução Espiritual

Eu não acho que exista um problema no dualismo ou na hierarquia em si, como ideia. São meras sistematizações. Há muitos exemplos em que se pode utilizar esses sistemas com sucesso e inclusive eles ajudam para a organização.

Meu ponto é que pode ser que em alguns casos essa ideia traga problemas. Por exemplo, como se tornou recorrente citar Platão desde o lançamento de “Epoch: The Esotericon & The Portals of Chaos”, seu “Mundo das Ideias” deu origem a um tipo de idealismo que dividiu o mundo em dois: um mundo espiritual e melhor, e outro material e pior; uma alma superior e um corpo inferior, etc.

Um dos problemas é que o universo criado por Platão é estático, em que tudo tem o seu lugar determinado. Essa ideia era inclusive usada para reforçar o sistema de castas e a escravidão. Claro que seria um pouco precipitado culpar a hierarquia e os dualismos por causa disso, considerando-os fadados ao conservadorismo e preconceitos. Eu não acho que seja esse o caminho.

Essa reflexão serve para alertar o magista sobre o seguinte: caso ele opte por utilizar um sistema idealista e dualista, derivado das tradições neoplatônicas (isso resume praticamente todo o ocultismo tradicional, especialmente os sistemas derivados das religiões judaico-cristãs como a cabala), ele deve ficar atento para não cair nas armadilhas que o dualismo pode gerar.

Evidentemente, cada sistema tem suas armadilhas, pontos fracos e problemas. O próprio caoísmo não é isento disso. Quem é caoísta pode cair na armadilha de confundir a imaginação com o mundo dos sentidos, de acreditar que tem superpoderes realmente extraordinários a ponto de comandar o universo, dentre outras conclusões precipitadas.

Não há respostas definitivas para essas questões, mas para concluir até onde pode ir, o caoísta deve testar: no seu dia a dia, a sua imaginação é tão poderosa a ponto de transformar completamente a realidade lá fora? E até que ponto a imaginação pode alterar suas emoções? Ele é realmente o rei do universo?

Há outras problemáticas em jogo. O magista não é somente mente; ele é corpo. O seu corpo possui aspectos fisiológicos que não devem ser ignorados. Os hormônios influenciam diretamente em suas emoções, não importa o quão forte seja sua mente. Ele precisa de comida, precisa de coisas materiais. Não irá transformar o mundo somente com o poder da mente. Esse poder existe, mas deve ser aliado ao próprio corpo e à realidade material lá fora.

Corpo e mente, mente e espírito, todas essas coisas estão tão conectadas que é difícil separá-las. Elas devem ser vistas e transformadas em sua totalidade. A magia deve ser realizada de forma holística e não pela metade.

Muitos sistemas de magia neoplatônicos que clamam ser o espírito superior à matéria não estão “errados”. Eles são verdadeiros, mas somente dentro de seus modelos. Lá eles funcionam, contanto que se enxergue esse dualismo somente como uma sistematização.

A própria Magia do Caos, ao falar de “caos” não está realmente clamando que não existem padrões na natureza e que eles são somente inventados pela mente. Nós não sabemos se há padrões, falta de padrões ou uma mistura dos dois. Porém, como não é possível viver ou fazer magia fora de um modelo, os caoístas geralmente optam por modelos que mostram uma realidade mais caótica, pois abre um universo de possibilidades. Em suma, cada modelo tem seus altos e baixos.

Claro que quando eu digo que não é possível fazer magia fora de um modelo, nem mesmo isso deve ser visto como uma afirmação absoluta. Eu uso até mesmo essa colocação meta-paradigmática como um paradigma.

Mas você não precisa ficar louco ao estudar teoria da magia, tentando entender o que realmente é a magia e como ela atua. Isso é difícil de descobrir, por isso no caoísmo nós optamos por ser pragmáticos: use a teoria ou a prática que te gere resultados interessantes.

O que é um resultado interessante? Isso cada magista deve descobrir. Cada um é livre para usar magia para o que bem entender. Sempre há os moralistas defendendo que magia só deve ser usada para A e não para B. Algumas vezes pode ser que eles estejam certos, mas os magistas também merecem a liberdade de explorar um pouco o que funciona até chegarem em suas próprias respostas.

E aqui nós caímos novamente na questão da hierarquia. Um sistema hierárquico já te deu estas respostas e já te colocou num ranking. Esse sistema te indicou o caminho que você deve seguir para “evoluir espiritualmente”, seguindo um passo a passo mais ou menos determinado. Isso é válido. Esse sistema pode ser usado com sucesso. Mas não é a única forma de fazer as coisas. Provavelmente não é a melhor, pois o que é melhor pode variar de pessoa para pessoa.

Eu particularmente não me sinto tão à vontade ao pensar em termos de melhor ou pior na magia. Para mim, a Magia do Caos permite descobertas, transformações e sobretudo autoconhecimento. Para alguns (note, não para todos!), é difícil haver autoconhecimento quando você já tem tudo pronto numa cartilha e não tem a liberdade de refletir, de questionar e de construir suas perguntas e respostas. Porém, cada pessoa é diferente e cada um tem a liberdade de conhecer a si mesmo da forma que bem entender e não precisa dar satisfações.

Acredito que a maior parte dos desentendimentos que existem no ocultismo é porque cada magista clama ter encontrado a forma “melhor” de fazer magia. A meu ver, não há uma forma melhor, pois cada indivíduo é único. Ou se realmente existe um caminho melhor, é difícil definir o que ele realmente seja através de nossa razão e de nossos sentidos. Essa primeira falha inerente à natureza humana é chamada de “ídolos da tribo” por Francis Bacon: tanto o intelecto quanto as percepções sensoriais estão sujeitos a enganos.

Alguns magistas podem dizer: “Eu li mais livros” ou “Consigo mover objetos com a mente” ou “Meus feitiços sempre funcionam” ou “Sou iniciado em dez Ordens diferentes” ou “Faço mais doações para instituições” ou “Sou ativo politicamente”.

Todas essas coisas são ótimas, mas eu acredito que não é nada disso que defina em absoluto o nível de magia, nível espiritual ou mesmo o caráter de uma pessoa. Simplesmente porque eu prefiro tentar olhar para a realidade como, por natureza, isenta de hierarquias. Para mim, pelo menos a maior parte dessas hierarquias foram artificialmente inventadas por nós.

Alguém pode clamar: “O certo e o errado, o bem e o mal, eles são absolutos, não são construções históricas e sociais”. Existe uma chance de isso ser verdade. Mas mesmo se for, quem realmente consegue diferenciar essas coisas se a mente e o mundo são tão complexos e existem tantos ídolos distorcendo nosso entendimento?

Vamos supor que, na maior parte das situações, sejamos capazes de diferenciar o bem e o mal. E provavelmente nós somos. Mas quem disse que isso é uma competição?

Há essa mania de competir, seja no mundo ou na magia. E isso não me surpreende. Somos incentivados a competir desde o colégio, com as notas. Na universidade, no trabalho. E os sistemas e teorias da magia foram construídos no interior de um mundo competitivo, que funciona como um jogo.

O jogo da magia é: “vamos evoluir espiritualmente. Vamos ver quem ganha. Vejamos quem é o mais bondoso e o mais poderoso”. Eu não sou contra competições saudáveis. Porém, como eu já mencionei antes, pode haver o risco de transformar uma boa intenção em algo perigoso, como a ideia de que existem os “escolhidos ou iniciados sábios” e a “massa ou o gado ignorante”. Um dualismo, a meu ver, bastante negativo. Em vez de desejar destruir a dualidade, queremos fazer parte dos “sábios” e manter a dicotomia. Como disse Paulo Freire, o sonho do escravo não é acabar com a escravidão, mas tornar-se um senhor que possui escravos.

Acho que cada pessoa deve ser livre para explorar a magia no seu ritmo. Ir descobrindo a si e ao mundo pouco a pouco, de forma natural e divertida. O magista não precisa sacrificar a si mesmo pelo bem do mundo (pode ajudar os outros, mas sem prejudicar a si) ou treinar meditações ou feitiços horas por dia pelo desejo de se tornar “mais poderoso”.

Claro, como foi dito, na magia queremos ganhar o jogo: ser o mais sábio, o mais poderoso, o mais bonzinho, o mais qualquer coisa, contanto que seja “o mais”. Vamos ver quem leu mais livros, quem ganha as discussões, quem dobra o mundo material a seus pés com a magia ou quem é o redentor do mundo, para se tornar um herói e receber a aprovação dos outros.

Evidentemente, quem se diverte jogando o jogo, pode continuar, principalmente se os resultados forem positivos. Se a competição estimula o magista a estudar, praticar ou até a ser mais gentil, que legal! Então use a hierarquia de forma positiva. Isso é possível.

No entanto, devo dizer que eu, particularmente, prefiro tentar não jogar tanto o jogo da hierarquia. Não acho que “os fins justificam os meios”. Não acredito que seja justificável fazer as coisas certas pelos motivos errados (considerando o que é “certo” e “errado” dentro desse modelo).

Ainda acho mais válido simplesmente dizer: que tal deixarmos de lado a ideia de evolução espiritual? Para mim essa é uma ideia de Darwin que faz sentido na biologia (e até mesmo na biologia ela não é absoluta). A evolução não necessariamente se aplica tão bem ao ocultismo. A propósito, no livro “A Origem das Espécies” Darwin deixa claro que aplicou a teoria de Malthus (que posteriormente se mostrou incorreta) para desenvolver a ideia de luta pela sobrevivência. Não sei porque muitos colocam um status quase divino nas ideias de cientistas como Darwin e Einstein, já que a história nos mostra que tais teorias irão eventualmente se mostrar não tão corretas no futuro ou serão no mínimo complementadas por outras. São hipóteses verificadas pela experiência, mas que não descrevem de forma absoluta a realidade. Não há nenhuma razão, tampouco, para aplicar as teorias atualmente aceitas (que são temporais) para o que ocorreria ao nosso espírito, que, segundo se costuma dizer, seria atemporal.(Só abrindo um parênteses: isso não significa que devemos deixar de dar crédito à ciência.

Devemos considerá-la como divulgadora de verdades provisórias até que surjam teorias melhores. O método científico não é perfeito, mas é bom o bastante para confiarmos nele, com os devidos cuidados. É algo vivo e em constante transformação, sempre desafiando a si mesmo).

Não acho que devemos desesperadamente tentar fazer o bem para outras pessoas a custa de nossa saúde e sanidade ou estudar magia loucamente e sem parar para “estar na frente dos outros”. Deve haver um equilíbrio. Eu acho que os magistas formam um grupo múltiplo, vejo beleza na diversidade. Ninguém é melhor, mais poderoso, mais sábio ou mais “espiritualmente avançado” do que ninguém. As pessoas são apenas diferentes.

Claro que sempre podemos melhorar a nós mesmos, mas até essa ideia de “melhorar” a si não precisa ser vista de forma absoluta ou fatalista. Nós estamos sempre aprendendo, mas também desaprendendo. Acho duvidosa essa ideia de que gradativamente nos tornamos cada vez melhores. Até a evolução na biologia frequentemente atua de forma aleatória. Uma mutação pode até extinguir uma espécie. O nosso cérebro é seletivo, deleta informações o tempo todo, esquece coisas. Nossa memória engana. E um dia ela vai desaparecer.

Pode existir coisas como karma e alma imortal, mas não sabemos direito como isso funciona. O que sabemos é que, aparentemente, nosso corpo está vivo, nosso cérebro aprende e esquece coisas, passa os genes adiante e morre. Enquanto isso podemos criar, destruir, aprender coisas e esquecer. A magia entra aí no meio num contexto histórico e cultural, no meio da arte e da espiritualidade.

Nós criamos sentido para as coisas, inventamos padrões e hierarquias. Outros nós descobrimos, sem ter certeza se é uma ilusão ou a verdade. O padrão parece funcionar por um instante. Em outros momentos pode não funcionar mais, pois a realidade e a mente são dinâmicas.

A magia pode trazer grandes momentos de diversão, deleite e descobertas. Aprendizados e esquecimentos, que não são lineares. Para mim, não existe uma escadinha que marque uma evolução espiritual e que te faça subir até o céu. E se existir, ela pode ser tão diferente do que imaginamos que poderia se assemelhar mais a uma espiral ou a algo que aos nossos olhos pareceria um grande caos.

Portanto, a ideia de que estamos realmente “avançando” no entendimento da magia e do mundo ou “evoluindo”… será que faz sentido? A partir do Iluminismo muitos começaram a falar na ideia de progresso (criticada por Rousseau) e na supremacia da razão humana, no domínio sobre a matéria através da ciência. Até que estouraram as Grandes Guerras. Se estamos sempre progredindo, por que o sistema heliocêntrico de Aristarco de Samos foi retomado somente muitos séculos depois?

É bem aceito na biologia que o ser humano não é mais evoluído do que outros animais, mesmo possuindo a razão. Alguns animais voam, outros respiram embaixo d’água; existe a ideia de um ser mais adaptado ao ambiente em que vive e não um animal mais evoluído que todos, de forma absoluta. E se o ser humano não está mais evoluído que outro animal, por que um ser humano estaria mais evoluído que outro? Se isso faz sentido do ponto de vista biológico, faria ainda mais do ponto de vista espiritual, que seria mais subjetivo.

Para alguns a ideia de evolução espiritual pode soar simpática. Para outros, pode haver soluções melhores. Aconselho usar a visão que mais te agrada, que mais faz seu coração bater forte e seguir experimentando e compartilhando suas descobertas. Não somente por desejo de ser melhor ou de evoluir, mas pela alegria de se divertir com os amigos. No final, pode ser que todos esqueçam de tudo, seja ainda em vida ou na morte, mas ainda assim terá valido a pena.

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