Video Game Desvenda os “Segredos Maçônicos”

Querem saber como é o Ritual de Abertura de uma Loja Maçónica? Como decorre uma Cerimónia de Iniciação? Mais: querem conhecer todo o Ritual de Iniciação? Incluindo Palavras de Passe e Sinais?

Querem?

Fiquem então sabendo que está disponível, para descarga gratuita para o vosso computador um pequeno e simples videojogo que desvenda tudo isso. Trata-se de um videojogo graficamente muito primário, que tem por objectivo fornecer informação sobre o que é a Maçonaria. E se fornece informação! Informa tudo, digo-vos eu! Garanto que tudo o que acima referi é facilmente sabido através do dito videojogo, sem especial dificuldade.

Há só dois senãos (há sempre senãos…).

O primeiro é que o videojogo está todo em inglês. Só quem dominar essa língua pode obter os conhecimentos assim desvendados.

O segundo é que esse videojogo foi elaborado por um maçon americano e mostra como abre uma Loja americana, como é feita uma Iniciação na América, quais são os sinais e palavras de passe em uso na Maçonaria Americana, tudo segundo o Ritual de Webb.

Mas garanto que todas as informações que são dadas são fidedignas e correctas! Algumas coisas são iguais ao que se faz no Rito Escocês Antigo e Aceite. Outras são semelhantes. Outras ainda são diferentes, mas facilmente reconhecíveis por um Maçon do REAA. Outras são diferentes.

Pessoalmente, acho o Ritual do Rito Escocês Antigo e Aceite muito mais rico e simbolicamente mais interessante. Acho a Cerimónia de Iniciação do Rito Escocês Antigo e Aceite, de longe, muito mais impressiva e marcante. Mas eu sou suspeito, confesso…

De qualquer forma, quem quer ter uma noção, certa em relação à Maçonaria Americana, e razoavelmente aproximada, em relação ao que praticamos em Portugal e no REAA, certamente que achará proveitoso jogar o jogo. Conseguirá perceber como se processam os Rituais de Abertura e de Iniciação no rito Webb e obterá várias informações, todas fidedignas e correctas, sobre a Maçonaria.

Um alerta: convém dispor de tempo…

E, depois de descarregar o jogo, convém abrir e ler primeiro o ficheiro “Read me” (leia-me). Ali se informa quais as teclas necessárias para movimentar o boneco e interagir com outros personagens e objectos. É muito simples…

O videojogo está disponível para descarregamento gratuito no blogue Excommunicate.net, para fazer a descarga do download file, basta usar este atalho. Os requisitos técnicos para poder usar o jogo são pouco exigentes e, certamente, ao alcance de todos, hoje em dia: Sistema Operativo Windows 2000, XP ou Vista, 128 Mb de memória RAM e processador com uma velocidade mínima de 450 Mhz. Atenção que, se vos suceder como ocorreu comigo, o programa de descarga não cria um ícone com um atalho para o jogo. É preciso ir à pasta onde foi guardado para o abrir. Se fizerem a descarga para a pasta fixada por defeito, encontrarão o jogo em Meu Computador/ Disco Local (C)/Arquivos de Programas/ASCII/RPG2000/Project1. Basta carregar no ícone RPG_RT.exe. A partir daí, o rato é inútil. Só teclado, meus caros… Divirtam-se e saibam um pouco mais!

Quem disse que a Maçonaria é secreta?

por Rui Bandeira

Postagem original feita no https://mortesubita.net/popmagic/video-game-desvenda-os-segredos-maconicos/

V de Vingança, Guia de Referências

Estas anotações sobre a série  V for Vendetta de Alan Moore foram preparadas por uma classe de graduação em Pesquisa Literária, sob a direção do Dr. James Means, da Universidade Estadual do Noroeste da Louisiana, durante a primavera de 1994. Na realização destas anotações, adotou-se um sistema que permite ao leitor seguir cada entrada facilmente.

O primeiro número indica a página na qual a entrada original pode ser achada. O segundo número indica a linha de arte, numerada de cima para baixo; a maioria das páginas tem três linhas de arte, enquanto algumas tem menos. Finalmente, o último número indica a coluna, numerada da esquerda para a direita.

PARTE 1

-, -, – Europa Depois do Reino (título – Na versão da Ed. Globo: O Vilão)

O título do primeiro livro refere-se à pintura Europa Depois da Chuva de Max Ernst, e retém dentro dela implicações de reviravoltas climáticas de um ataque nuclear próximo. Depois do Reino certamente se refere à dissolução da realeza com um certo anel ominoso, da mesma maneira que o título da pintura implica um grande peso em cima de todo continente. A imagem da página do título, de uma única mão enluvada (que com certeza indica tempo frio) colocando algo pesado e sombrio sob a superfície, contribui para a natureza ominosa. A pintura, intitulada L’Europe Apres la Pluie, foi criada entre 1940 e 1942. É descrita como uma cena fúnebre cheia de ruína e putrefação, povoada apenas por criaturas bestiais que vagam solitárias ao redor, (pg. 44-45). Ernst tinha criado trabalhos semelhantes que implicavam os arruinados, os fossilizados, os inanimados; superfícies parecem estar decadentes, corroídas por ácido e perfuradas com inúmeros buracos como a superfície de uma esponja, (pg. 44).
Durante algum tempo antes da Segunda Guerra (trabalhando na técnica chamada de decalcomania, datando de 1936, 37, 40 – será que foi realmente antes da guerra? Onde ele estava neste momento? Estava sendo posto em vários acampamentos, sendo reposto em outros, fugindo e finalmente voando para a América (pg. 94). Mas foi depois da sua “premonição de guerra traduzida em realidade” que ele fugido para a América. Lá, assombrado pelas recordações de uma Europa feita em pedaços, ele criou a composição também chamada Europa Nach dem Regen que se traduz como A Europa depois da Chuva ou A Europa depois da Inundação (pg. 44).
Ernst nasceu em 1891 em Bruhl, sul de Colônia, às margens do Reno (pg. 29). As suas pinturas descrevem freqüentemente um mundo no qual a história de gênero humano foi apagada completamente por um evento cataclísmico no Universo … ou pelo ato consciente de revolução que destruiu tudo (pg. 8). Em 1925, o melhor amigo dele, Paul Eluard escreveu sobre a atitude mental de Ernst, que buscou destruir toda a cultura que foi herdada ou não como resultado de experiência pessoal, como se fosse um tipo de esclerose na sociedade Ocidental: ‘Não pode haver nenhuma revolução total mas somente revolução permanente. Como o amor, é a fundamental alegria de viver’ (nota de rodapé, pg. 8).
Ernst participou de exibições dadaístas onde os observadores destruíram a sua arte e observaram seus pedaços pregados na paredes e espalhados no chão. Para alcançar a galeria onde se desenrolou o evento, espectadores atravessaram o lavatório de uma cervejaria onde uma menina vestida como uma beata que acabou de receber a comunhão recitava versos lascivos. A exibição foi fechada sob a acusação de fraude e obscenidade (baseado na estampa de Adão e Eva de D’rer, que tinham sido incorporada em um das esculturas de Ernst). Subseqüentemente, ela foi reaberta.
De acordo com Hamlyn, o evento foi realizado para embaraçar e provocar o público (nota, página 8). Este elemento de drama e provocação também é uma linha seguida em V de Vingança.

1, 1, 1, O 5 de Novembro…

Esta é a primeira referência ao dia de Guy Fawkes, o aniversário do dia em que Guy Fawkes foi pego no porão de Parlamento com uma grande quantidade de explosivos. Fawkes era um extremista católico e um herói militar que se distinguiu como um soldado corajoso e de fria determinação, através de suas façanhas lutando com o exército espanhol nos Países Baixos (Encyclopaedia Britannica 705). Ele foi recrutado por católicos insatisfeitos que conspiraram para explodir o Parlamento e matar o rei James I. James tinha trabalhado para instituir uma multa à pessoas que se recusassem a comparecer as missas anglicanas (Encyclopaedia Britannica 571), somando isso à opressão que os católicos já sofriam na Inglaterra. Um do conspiradores alugou uma casa que compartilhava parte de seu porão com o Parlamento, e o grupo encheu esse porão de pólvora. Fawkes foi escolhido para iniciar o fogo, e foi determinado que ele devia escapar em quinze minutos antes da explosão; se ele não pudesse fugir, ele estaria totalmente pronto para morrer por tão sagrada causa, (Williams 479). Um dos conspiradores tinha um amigo no Parlamento; ele advertiu o amigo para não estar presente na abertura durante o dia escolhido para o atentado, e o paranóico rei James imediatamente descobriu o complô. Fawkes foi pego no porão e foi torturado. Ele foi executado exatamente em frente ao Parlamento no dia 31 de janeiro de 1606.

2, 3, 2, Utopia (livro na estante)

Este foi o mais famoso trabalho de Sir Thomas em 1516 (Sargent 844) no qual ele esboçou as características humanitárias de um sociedade decente e planejada, (Greer 307) uma sociedade de comum propriedade de terra, liberalidade, igualdade, e tolerância (Greer 456).

2, 3, 2, Uncle Tom’s Cabin (livro na estante)

Escrito por Harriet Beecher Stowe e publicado em 1852, este romance fala sobre os deprimentes estilos de vida dos negros escravos no Sul dos EUA, contribuindo enormemente com o sentimento popular de anti-escravidão (Foster 756-66).

2, 3, 2, O Capital (livro na estante)

Este foi a obra máxima de Karl Marx, publicada em 1867. Foi seu maior tratado sobre política, economia, humanidade, sociedade, e governo; Tucker o descreve como a mais completa expressão (de Marx) de visão global.

2, 3, 2, Mein Kampf (livro na estante)

A biográfica proclamação das convicções do líder nazista Adolf Hitler, Mein Kampf (Minha Luta), foi escrita durante o seu encarceramento após a sua primeira tentativa de golpe contra o governo bávaro, em 1923 (Greer 512). Sem nenhuma dúvida, Moore quis ironizar ao colocar este trabalho próximo ao de Marx, Já que a extrema-direita nazista era forte oponente do comunismo.

2, 3, 2, Murder in the Rue Morgue (cartaz de filme)

Os Assassinatos da Rua Morgue. Este foi um filme de horror de 1932, produzido pela Universal. Foi uma importante adaptação da história de Edgar Allen Poe, estrelada por Bela Lugosi, um famoso ator do gênero. É sobre uma série de terríveis assassinatos que se supõe ser o trabalho de um macaco treinado (Halliwell 678). Esta referência pode conter alguns sinais sobre os métodos de investigação de V para os seus ataques contra o sistema, e suas características de serial killer.

2, 3, 2, Road to Morocco (cartaz de filme)

Este filme de 1942 da Paramount foi um de uma série de leves comédias românticas estreladas por Bing Crosby e Bob Hope como dois ricos playboys que viajam ao redor do mundo tendo tolas aventuras (Halliwell 825).

2, 3, 2, Son of Frankenstein (cartaz de filme)

O Filho de Frankenstein. Filme de horror de 1939 da Universal, Son of Frankenstein foi o último de uma trilogia clássica. Foi estrelado por Boris Karloff, um famoso ator de filmes de terror, e envolveu o retorno do filho do barão e seu subseqüente interesse por ele (Halliwell 906).

2, 3, 2, White Heat (cartaz de filme)

White Heat, feito em 1949 pela Warner, estrelado por James Cagney. O enredo envolvia um gângster violento com fixação por sua mãe que finalmente cai após a infiltração de um agente do governo em sua gangue (Halliwell 1073). Esta pode ser outra importante indicação, de como V também derruba o violento e disfuncional líder do partido se infiltrando através de suas fileiras.

3, 1, 3, …E novamente tornar a Bretanha grande!

Este é um sentimento tipicamente “nacionalista”. O nacionalismo europeu, que tem suas raízes na Guerra dos Cem Anos (Greer 269-275), é o conceito de que cada nação tem que manter em comum uma única cultura e uma única história e no qual se considera, inevitavelmente, que uma nação é melhor que as outras. Foi este sentimento, levado a seus extremos, que levou o partido nacional-socialista trabalhista de Hitler (o nazismo) a tentar livrar a Alemanha dos “não-alemães”. (Wolfgang 246-249).


4, 3, 3, The Multiplying vilanies of nature do swarm upon him… (de vilanias tão cumulado pela natureza…).

Esta é uma fala do Sargento no Ato I, cena II, de MacBeth, de Shakespeare (766).

7, 1, 1-2 Lembrai, lembrai do 5 de novembro, a pólvora, a traição, o ardil. Por isso, não vejo por que esquecer uma traição de pólvora tão vil.

Esta é uma versão de uma rima infantil inglesa. Em busca por um poema confirmatório, eu procurei no The Subject Index to Poetry for Children and Young People (1957-1975) que apresenta cinco coleções de poemas onde se incluiam versos sobre Guy Fawkes (Smith e Andrew 267). Um destes, Lavender’s Blue, incluiu a seguinte versão feita em, pelo menos, 1956:
Please to remember the fifth of November
Gunpowder, treason and plot
I see no reason why gunpowder treason
Should ever be forgot (Lines 161)
Cuja tradução é:

Agradeça por lembrar do 5 de novembro
A pólvora, a traição e o complô
Eu não vejo nenhuma razão por que tal traição de pólvora
Deveria para sempre ser esquecida (linha 161)
O Oxford Dictionary of Quotations atribui esta versão a uma canção de ninar infantil anônima de 1826 (Cubberlege 368), e as primeiras duas linhas como sendo tradicionais desde o século 17, (Cubberlege 9).

7, 1, 2, A explosão do Parlamento…

Nesta cena, V teve sucesso onde Fawkes falhou; a posição dele e de Evey em oposição ao Parlamento é, provavelmente, significativa, como se fosse a posição oposta ao Parlamento em que Fawkes foi enforcado (Encyclopaedia Britannica 705).

7, 2, 2, Os fogos de artifício em forma de V

Isto se refere à prática comum de explodir fogos de artifício no dia de Guy Fawkes como parte da celebração (Encyclopaedia Britannica, p.705). Também é provavelmente uma referência a ‘Arrependa-se, Arlequim!’ Disse o Ticktockman (algo como homem Tique-taque) por Harlan Ellison.
9, 3, 1, Inglaterra triunfa
Este sentimento parece muito com o impulso em um verso da peça Alfred: Uma Máscara, de James Thomson, de 1740 (Ato III, última cena):

When Britain first, at heaven’s command, Arose from
out the azure main,
This was the charter of the land, And guardian angels
sung this strain:
Rule Britannia, rule the waves; Britons never will be
slaves. (Cubberlege 545)
Cuja tradução é:

Quando a Inglaterra primeiro, ao comando do céu, Surgiu do
mar azul-celeste,
Esta foi a escritura da terra, E anjos guardiões
cantaram esta melodia:
Comande Britannia, comande as ondas; Bretões nunca serão
escravos. (Cubberlege 545).

12, 2, 3, Frankenstein (livro na estante)

Este é uma famosa explanação de ficção ciêntífica/social de 1818, por Mary Wollstonecraft Shelley. De acordo com Inga-Stina Ewbanks, é sobre o eterno tema da criação do homem que fica além de seu poder de controle, (5).

12, 2, 3, Gulliver’s Travels (livro na estante)

As viagens de Gulliver. Este foi um romance utópico escrito em 1726 por Jonathon Swift, um satírico escritor social inglês que passou a maior parte de sua vida na Irlanda (Adler ix-x).

12, 2, 3, Decline and Fall of…? (livro na estante)

Este, provavelmente, deve ser o trabalho de Edward Gibbs, The History of the Decline and Fall of the Roman Empire (A História do Declínio e Queda do Império Romano), mais comumente conhecido como The Decline and Fall of the Roman Empire (O Declínio e Queda do Império Romano). A coleção de seis volumes foi escrita entre 1776 e 1788, e é considerada como uma das melhores histórias já escritas (Rexroth 596).

12, 2, 3, Essays of Elia Lamb (livro na estante)

Elia, ou Charles Lamb, primeiro publicou seus famosos ensaios nas páginas da London Magazine, de 1820 a 1825, posteriormente encadernados em dois volumes, publicados em 1923 e 1833. Seus ensaios são considerados como pessoais, sensíveis e profundos (Altick 686-87).

12, 2, 3, Don Quixote (livro na estante)

Este foi um romance satírico sobre cavalaria, escrito por volta de 1600 (Adler) pelo autor espanhol Miguel de Cervantes. Seu herói é um caricatural cavaleiro romântico que é desesperadamente idealista (Greer 307).

12, 2, 3, Hard Times (livro na estante)

Charles Dickens escreveu este quase solitário ataque à… industrialização em 1854. Ele se justapõe aos sérios e aplicados industriais com um circo criativo e divertido que vem à cidade na qual o romance se desenrola (Ewbanks 786). Provavelmente pode ter servido de apelo ao senso de drama de V e sua vitória sobre as mazelas.

12, 2, 3, French Revolution (livro na estante)

Este volume pode ser sobre qualquer história passada durante a Revolução Francesa, ou sobre a própria Revolução Francesa, que ocorreu entre 1787 e 1792.

18, 2, 3, Faust (livro em estante)

O famoso poema de Goethe, Fausto, foi publicado no início de 1808. Ele reconta uma lenda renascentista sobre um doutor que barganha com o diabo por juventude e poder. A segunda parte, postumamente publicada, foi um tratado filosófico no qual a alma de Fausto é salva porque ele ama e serve tanto a Deus quanto a humanidade, apesar dos seus erros. Este Fausto é considerado como a encarnação do “moderno” ser humano (Greer 426).

12, 2, 3, Arabian Nights Entertainment (livro na estante)

As Mil e Uma Noites. Este livro é uma coleção de histórias folclóricas originárias da Índia, mas que foi levada para a Persia e para a Arábia. Embora iniciadas na Bagdá do século 8 ou 9, elas retêm muitos mais características do Egito do século 15, onde foram formalmente traduzidas (Wickens 164).

12, 2, 3, The Odessey (livro em estante)

A Odisséia. Um dos dois históricos poemas épicos gregos, feitos por volta de 800 A.C. e escritos por Homéro. Embora a identidade de Homéro seja incerta, e ele pode ter sido até mesmo um arquetípico personagem de si próprio, A Odisséia é uma aventureira história sobre o retorno de gregos que viram heróis que atravessam mares bravios (Greer 66).

12, 2, 3, V (livro em estante)

O romance V, escrito em 1963 por Thomas Pynchon, é considerado um dos primeiros importantes trabalhos pós-modernos. Ele combina pedaços de história, ciência, filosofia, e psicologia pop com personagens paranóicos e metáforas científicas. O trabalho de Pynchon é descrito como uma variação entre a ‘cultura intelectual’ e o meio termo da cultura pop underground das drogas, (Kadrey e McCaffery 19). Isto também pode ser dito tanto sobre a Galeria Sombria como sobre o próprio livro de V de Vingança.

12, 2, 3, Doctor No (livro na estante)

Ian Fleming, um ex-agente de inteligência britânica, escreveu este romance de espionagem em 1958. Os romances de Fleming eram supostamente baseados na vida que teve como um espião (Reilly 320).

12, 2, 3, To Russia With Love (livro na estante)

Outros dos romances de Fleming, este aqui foi escrito em 1957 (Reilly 320).

12, 2, 3, Illiad (livro na estante)

Outro poema de Homéro, A Ilíada fala sobre a violenta e sangrenta guerra de Tróia.

12, 2, 3, Shakespeare (2 volumes na estante)

Shakespeare foi um escritor elizabetano de peças de teatro cujos dramas e sonetos são considerados trabalhos clássicos do renascimento humanista (Greer 307).

12, 2, 3, Ivanhoe (livro na estante)

Um dos dramáticos romances históricos de Sir Walter Scott, Ivanhoe, foi escrito em 1820 (Greer 425).

12, 2, 3, The Golden Bough (livro na estante)

O exaustivo décimo terceiro volume do trabalho de James G. Frazer sobre superstições primitivas foi publicado primeiro em 1890. A estante de livros de V contém um único volume do trabalho.

12, 2, 3, Divine Comedy (livro em estante)

A Divina Comédia. Esta é uma obra-prima da literatura italiana, escrita por Dante Alighieri. Começada por volta de 1306 e terminada com a morte de Dante em 1321, ela trata da viagem do autor através da vida após a morte.

12, 3, 3, Martha and the Vandellas

Um grupo musical de Rhythm-and-Blues, produzido e distribuído pelo selo Motown Record entre 1963 e 1972. Eles tiveram seu começo como cantores de apoio de Marvin Gaye, outra estrela da Motown, e então se lançaram para uma carreira de sucesso como artistas agressivos e extravagantes. A canção Dancing in the Streets foi lançada em 1964. (Sadie 178).

12, 3, 3, Motown

Motown foi uma gravadora independente, de propriedade de afro-americanos, fundada em Detroit (também conhecida como Motortown, ou a Cidade dos Motores), Michigan. A palavra também descreve o distinto estilo de música pop-soul que trouxe sucesso à gravadora. Este Motown sound foi extraído do blues, do rhythm-and-blues, do gospel e do rock, mas diferente destes outros estilos musicais afro-americanos, também contou com algumas das práticas de música popular anglo-americana socialmente aceitas, e isto obscureceu algumas das mais vigorosas características da música afro-americana (Sadie 283).

13, 1, 2, Tamla e Trojan

Não consegui determinar nenhuma referencia para Tamla e Trojan. Como Motown se refere tanto a gravadora quanto para o estilo de música que ajudou a popularizar, eu não sei que relação Tamla teve com os outros grupos mencionados. Como os outros indivíduos mencionados são reais, eu acredito que Tamla e Trojan tenham existidos, mas não pude achar nenhum registro sobre eles.

13, 1, 2, Billie Holiday

Famosa Cantora de jazz, Billy Holiday foi extremamente popular entre os intelectuais brancos de esquerda de Nova Iorque. Ela gravou com alguns dos melhores do jazz, incluindo Benny Goodman e Count Basie. Ela acabou em um mundo de drogas, álcool e abusos, e morreu em 1959, com a idade de 44 anos (Sadie 409-410).

13, 1, 2, Black Uhuru

Este grupo foi uma das mais famosas bandas de reggae da Jamaica. Foi formada no ano de 1974 em Kingston (Sadie 46-47). Reggae é um típico estilo de dance music jamaicano, influenciado tanto pela música afro-caribenha quanto pelo Rhythm-and-Blues americano (Sadie 464).

13, 1, 2, A Voz do Dono…

O logo da RCA trazia um cachorro fitando o cone de um gramofone (um dos primeiro toca-discos), simbolizando o reconhecimento do animal pela voz de seu dono.

13, 3, 3, Aden

Aden tanto foi o outro nome para os habitantes da República democrática de Iêmen (o Iêmen do Sul) como a cidade da capital do país. O país que agora é fundido com o Iêmen do Norte, ocupou a extremidade Meridional da Península árabe, no sul de Arábia Saudita. Os britânicos o colonizaram, e mantiveram controle parcial ali até que o país se tornou uma república marxista em 1967 (Encyclopaedia Britannica 835). Embora a idade de Prothero não seja mencionada, ele parece ter cerca de 50 anos; é provável que ele tenha servido como soldado imediatamente antes da revolução de Iêmen. Assim, ele seria um jovem durante a revolução de 1967, e cerca de 40 durante os seus anos como chefe no Campo de Readaptação de Larkhill.

18, 3, 1, V num círculo

Este símbolo apresenta semelhanças com o sinal de anarquia de um A num círculo, e também com a dramática inicial de Zorro (Stolz 60).

19, 1, 2, Rosas “Violet Carson”

A Violet Carson é uma rosa híbrida introduzida em 1963 (Coon 201) ou 1964 (Rosas Modernas 7 432) por S. McGredy. É uma criada pelo cruzamento de uma Madame Leon Cuny com uma Spartan. É descrita como uma flor colorida, com creme (Coon 201) ou prata (Rosas Modernas 7 432) por sob as pétalas, e tem um arbusto robusto e espalhado. Não parece ser de uma variedade muito comum, e é listada em publicações de sociedades idôneas de rosas mas não em livros dirigidos a um leitor casual, assim é incerto como Finch pode tê-la reconhecido imediatamente.

20, 1, 3, The Cat (cartaz de filme)

O cartaz para um filme chamado The Cat pendurado na parede parece descrever um homem que segura uma arma. O único filme que pude achar com este título, porém, foi um drama francês de 1973 sobre a relação pouco comunicativa entre uma amarga estrela de trapézio e seu marido (Halliwell 168).

20, 1, 3, Klondike Annie (cartaz de filme)

Um filme de 1936 da Paramount, Klondike Annie foi estrelado por Mae West, como uma ardente cantora em fuga que, disfarçada como uma missionária, revitaliza uma missão no Klondike (Halliwell 542). Alguns dos filmes descritos nos cartazes parecem ter atraído V apenas por propósitos de entretenimento. Porém, este aqui pode dar o leitor uma pista sobre o caráter de V. Ele tanto está em fuga, disfarçado, quanto tenta revitalizar toda uma nação.

20, 1, 3, Monkey Business (cartaz de filme)

Este filme de 1931 dos irmãos Marx, feito pela Paramount, narra as artimanhas de quatro passageiros clandestinos em um navio que bagunçam uma festa social a bordo, onde eles capturam alguns escroques (Halliwell 666). Esta é outra pista, pois V é um clandestino num sistema social que bagunça o sistema e capturas vários inimigos.

20, 1, 3, Waikiki Wedding (cartaz de filme)

Waikiki Wedding foi produzido em 1937 pela Paramount. Seu enredo envolve um agente de imprensa que está no Havaí para promover uma competição de A Rainha do Abacaxi (Halliwell 1050).

21, 3, 2, Salve uma Baleia (camiseta)

Por causa da ameaça de extinção das baleias, muitas pessoas nos anos 70 começaram a usar camisetas e bottons proclamando que alguém deveria Salvar uma Baleia. Este sentimento veio a ser associado com política e ambientalismo “liberais”.

22, 1, 1, …Quando os Trabalhistas subiram ao poder…

De acordo com a Encyclopaedia Britannica, o Partido Britânico dos Trabalhistas é um partido reformista socialista com fortes laços institucionais e financeiros com os sindicatos. Em janeiro de 1981, devido a vastas mudanças internas, o Líder do partido trabalhista eleito foi Michael Foot, um militante socialista cuja política incluia o desarmamento nuclear unilateral, a nacionalização das indústrias-chaves, união de poder e pesados impostos (82), da mesma maneira que Moore descreve em Por Trás do Sorriso Pintado (271).

22, 1, 1, …Presidente Kennedy…

A implicação é que o presidente dos Estados Unidos ou é Ted Kennedy, senador democrata ou John Kennedy Jr, respectivamente, o sobrinho e o filho do ex-presidente John F. Kennedy.

23, 2, 1, Nórdica chama

Este provavelmente é o nome de um partido estadual, com todas as bandeiras e uniformes exibindo grandes N’s. Nórdica deriva dos nórdicos ou Vikings dos países escandinavos que invadiram a Europa nos séculos V e VI (Greer 183). Eles eram ferozes, fortes, e “arianos” – a população “idealizada” pelo partido nazista de Hitler: loira e de olhos azuis (Greer 513-514). A escolha desta imagem ajuda a identificar a política do governo.

27, 2, 3, O mundo é um palco!

Esta é uma citação da peça As You Like It, de Shakespeare, Ato II, cena VII. (Bartlett 211).
40, 2, 3, …voltamos às cinco.

Uma expressão popular para dar um intervalo vem de uma frase do show business, embora leis de sindicatos agora requeiram dez minutos de intervalo (Sergal 219).

46, 3, 2, Mea Culpa

Do latin eu confesso ou a culpa é minha (Jonas 69).

47, 1, 3 – Bring me my bow of burning gold, Bring me my arrows/ of desire, Bring me My spear, O clouds unfold, Bring/ me my chariot of fire…I will not cease from mental/ flight Nor shall my sword sleep in my hand ‘Till we/ have built Jerusalem In England’s green and pleasant/ land.


Este é parte do poema de William Blake, And Did Those Feet (E Fez Esses Pés), do prefácio à sua coleção Milton. O prefácio de Blake para este trabalho foi um chamado aos cristãos para condenassem os clássicos escritos de Homéro, Ovídio, Platão, e Cícero, venerados no lugar da Bíblia. Ele declarou: Nós não queremos modelos gregos ou romanos na Inglaterra; de preferencia, ele disse, seus companheiros Cristãos deveriam se esforçar para criar esses mundos de eternidade nos quais nós viveremos para sempre, (MacLagan e Russell xix). V está, a seu modo, tentando criar a sua idéia de Jerusalém, um mundo livre, na Inglaterra. A tradução é a seguinte:
Tragam meu arco de ouro candente,
Traga minhas flechas de desejo,
Tragam minha espada, ó nuvens que se desfraldam,
Tragam minha carruagem de fogo…
Eu não cessarei minha luta espiritual…
Nem descansarei a espada em minha mão…
Até termos erguido Jerusalém…
Nas terras verdes e aprazíveis da Inglaterra.

54, 2, 2, Por favor, deixe que eu me apresente. Eu sou um homem de posses… e bom-gosto!

Esta é a abertura da canção Sympathy for the Devil, dos Rolling Stones, lançada em 1968.
56, 3, 3, Eu sou o Demônio e vim realizar a obra demoniaca!
Finch descreve esta citação como vindo de um famoso caso de assassinato, quase vinte anos antes de 1997. Uma busca em almanaques dos anos 1974 a 1979 revela que o único caso famoso de assassinato naquele tempo foi o do Filho de Sam/David Berkowitz. Berkowitz foi condenado por matar seis pessoas e ferir outras sete em ataques aleatórios nas ruas de Nova Iorque entre 29 de julho de 1976 e 31 de julho de 1977. Não havia nenhum motivo aparente por trás dos assassinatos; Berkowitz os explicou dizendo que foi um comando. Eu tive um sinal e o segui (Delury, 1978, 942). Considerando esta citação, e a aparente insanidade de Berkowitz, na qual o fez interromper seu julgamento com violentos ataques, é provável que esta citação venha desse caso.

57, 2, 1-2: O Senhor é meu pastor: e nada me faltará; Em um lugar de pastos, ali me colocou. Ele me conduziu junto a uma água de refeição. Converteu minha alma, me levou pelas veredas da justiça, por amor de seu nome!

Esta é a tradução feita da seguinte versão inglesa do 23º Salmo do livro bíblico dos Salmos, usada originalmente na versão em inglês de V de Vingança:
The Lord is my shepherd: therefore I can lack
nothing; He shall feed me in green pasture and lead
me forth beside the waters of comfort. He shall
convert my soul and bring me forth in the paths of
righteousness, for His name’s sake…
Esta parece ser uma estranha versão deste salmo. Não é nada parecida com a versão padronizada pelo Rei James:

The Lord is my shepherd, I shall not want. He maketh
me lie down in green pastures; He leadeth me
beside the still waters. He restoreth my soul: he
leadeth me in the paths of righteousness for his
name’s sake. (Bartlett 18)
Procurei em várias bíblias e descobri que cada uma tinha uma versão diferente. Em uma versão bastante comum, da Holy Bible (versão católica padrão da Bíblia), lê-se:

The Lord is my shepherd, I shall not be in want. He
makes me lie down in green pastures, he leads me
beside quiet waters, he restores my soul. He guides
me in paths of righteousness for his name’s sake. (310)

PARTE 2

9, 3, 1, The Magic Faraway Tree, por Enid Bla?? (na tradução da Ed. Globo – A Árvore distante)

Embora muitos dos livros em V de Vingança sejam reais, este aqui parece ser uma das invenções de Moore. Nem o Oxdford Companion to Children’s Literature, nem a Science Fiction Encyclopedia incluem o seu título.

15, 1, 3, Ouvi falar de um experimento…

A experiência, que não foi tão dramática quanto descrita em V de Vingança, foi administrada na Universidade de Yale em 1963 por Stanley Milgram. Os voluntários não estavam realmente acreditando que estavam matando as vítimas, e 65% (26 de 40 voluntários) continuaram administrando o que eles acreditavam ser perigosos e severos choques em suas vítimas (Milgram 376).

23, 2, 3, … uma mistura de extrato de Hipófise e Pineal.

Moore se refere-se a uma mistura de substâncias extraidas das glândulas Pituitária e Pineal, embora eu duvide que tal mistura apresente os efeitos que Moore descreve na série. Deve ser apenas uma criação de Moore.

24, 3, 3, fertilizante de amônia

Alguns fertilizantes contêm amônia que, na presença de certas bactérias, pode ser transformada em nitrato, que é usada pelas plantas (Chittenden 99).

24, 2, 2, gás mostarda

Este gás foi criado para ser usado como arma química durante a Segunda Guerra Mundial. Causa severas vesículas na pele e irritação nos olhos. Sua estrutura química é (Cl2CH2CH2)2S (sulfeto de 1,1-dicloro-etil) (Enciclopédia Americana 679).

24, 2, 3, napalm

Napalm é um explosivo derivado da gasolina, também usado durante a Segunda Guerra Mundial (Enciclopédia Americana 724). Não acho que uma pessoa possa fazer Napalm ou gás mostarda a partir de ingredientes de jardinagem. (N. do T.: Como foi apontado por outras pessoas, há a possibilidade de produzir tais substâncias com produtos de jardinagem, dependendo, é claro, das condições de produção. Mas como estamos falando de uma obra de ficção, o autor deve ter admitido que, devido a sua impressionante natureza mental, o personagem V seria capaz de tais façanhas científicas).

53, 3, 2, As Dunas de Sal

Este não é um filme real. Halliwell não dá nenhuma referência desse filme, e parece servir apenas como um ponto secundário do enredo, como um popular filme de Valerie Page.

57, 2, 3, Storm Saxon

Este programa de televisão é (felizmente) outra invenção. The Complete Encyclopedia of Television Programs de 1947-1979, não inclui nenhum programa parecido. A escolha do nome Saxon (saxão) é importante; o Saxões foram os descendentes dos conquistadores escandinavos que povoaram a França e a Inglaterra no século V (Greer 178-179). Note que a companheira de Storm é uma mulher branca de cabelos loiros chamada Heidi – o modelo de perfeição da Pureza ariana!

58, 2, 2, …na N.T.V um!

Aparentemente, N.T.V. significa Norse Fire Television (Televisão da Nórdica Chama), e é a substituição para a BBC – TV, a corporação estatal de televisão e radiodifusão britânica (Greene 566). O um se refere ao número do canal. A B.B.C. atualmente vai ao ar pelos canais Um e Dois (Greene 566).

62, 1, 3, …A gente paga, e pra quê?!

A BBC não é um canal comercial; é mantida pela venda das licenças de transmissão, pagas por donos de aparelhos de televisão e de rádio.

PARTE 3

4, 1, 2, Imagem espacial

Este é Neil Armstrong, caminhando na superfície da lua. Armstrong, a primeira pessoa a caminhar na lua, deu seu histórico passo em 1968.

6, 3, 1, Hitler

Um das imagens na colagem ao fundo é de Adolf Hitler, líder do Partido Nazista alemão, a linha de extrema-direita do governo que comandou a Alemanha de 1933 a 1945 e executou aproximadamente 6 milhões pessoas, entre judeus, ciganos, homossexuais e outros prisioneiros políticos (Sauer 248).

6, 3, 1, Stalin

O quadro de Josef Stalin está incluído porque, como Hitler e Mussolini, ele está associado com a tirania violenta. Ele controlou a antiga União Soviética de 1929 a 1953; durante os anos entre 1934 e 1939, ele prendeu e matou seus inimigos políticos, que eram quase todos membros das camadas militar, política e intelectual do país (Simmonds 571-74)

6, 3, 1, Mussolini

Benito Mussolini, outro líder apresentado na colagem, foi um líder italiano que era quase igual à Hitler em despotismo. Embora ele tenha começado como um socialista pacifista, durante a primeira grande guerra, ele formou o seu partido fascista de direita. Ele foi o ditador da Itália de 1922 a 1943, e controlou o norte da Itália de 1943 a 1945, antes de ser executado (Smith 677-78).

7, 2, 1, Imagem de tropas marchando (ao fundo)

Estas são as tropas nazistas do exército de Hitler.

A partir de agora, vamos acompanhar, por conveniência, a numeração das páginas do livro dois de V de Vingança, publicado pela Via Lettera.

17, 2, 1, … alguém que se espelha numa bandeira vermelha…

Historicamente, bandeiras vermelhas simbolizaram o movimento anarquista ou o comunista, ou ambos.

17, 3, 1, …Quero a emoção… da vontade triunfante…

 

Esta linha da canção no caberé se refere o famoso filme-documentário de propaganda nazista, The Triumph of the Will (O triunfo da Vontade, produzido por Leni Riefenstahl em 1934. O filme descreve um comício ao ar livre do partido nazista em Nuremburg como uma experiência mística, quase religiosa, da mesma maneira que a cantora está encenando (Cook 366).

18, 1, 2, …se um gato loiro…
Outra referência ao ideal da raça ariana.

18, 1, 2, O Kitty-Kat Keller

O nome da boate é uma referência ao clube burlesco Kit Kat Klub, do filme Caberet durante a subida de Hitler ao poder numa Alemanha pré II Guerra mundial. Ambos apresentam as iniciais KKK, que leva a uma inevitável associação com a infame organização racista Ku Klux Klan.

18, 3, 1, Faz ‘heil’ pra mim…

Mais uma referência ao nazismo; heil era a saudação verbal dada à Hitler com o braço direito levantado e a palma da mão virada para baixo.

43, 3, 2, …um show de marionetes muito especial…

O show que o pai de Evey menciona, e que vemos representado na página 34 é um tipo de show de marionetes conhecido como Punch & Judy, que se originou na Itália antes do século XVII. É um espetáculo extremamente violento; o boneco Punch geralmente bate nos outros personagens até a morte. Como V, Punch sempre destrói seus inimigos (Encyclopedia Americana 6).

PARTE 4

15, 2, 1, Arthur Koestler, As Raízes da Coincidência

Koestler foi um jornalista humanista e intelectual do início do século XX. Este trabalho trata de fenômenos paranormais [Enciclopédia Americana (530-31)].

34, 3, 1, 1812 Overtune Solennelle

Este peça musical, escrita em 1880 por Peter Ilich Tchaikovsky, foi a consagração da Catedral de Cristo de Moscou. A catedral foi construída em agradecimento à derrota de Napoleão em 1812. O trabalho incorporou um velho hino russo, e incluiu tanto o hino nacional francês, a Marseillaise, para representar a invasão de Napoleão e God Save The Czar (Deus Salve o Czar) para simbolizar a vitória de Rússia. Moore provavelmente escolheu este trabalho tanto pelo seu som revolucionário, quanto por um motivo incomum: a orquestração original incluía sons de tiros de um campo de batalha que o maestro produzia ao acionar interruptores elétricos (Adventures in Light Classical Music 34), uma ação que V imita com suas bombas.

48, 3, 1, Ordnung

Palavra alemã que significa, nesse caso, ordem, disciplina (Betteridge 452).
Aparentemente, na edição da Via Lettera, a grafia está errada: a palavra está escrita como Ordung.

48, 3, 2, Verwirrung

Palavra alemã que significa confusão, perplexidade, desordem (Betteridge 686).

49, 1, 1, Rodando em giro cada vez mais largo,/ O falcão não escuta o falcoeiro;/ Tudo esboroa…/… o centro não segura.

Estas palavras são do poema de William Butler Yeats, The Second Coming (A Segunda Vinda), que fala sobre uma figura que representa Cristo/anti-Cristo que sustenta a caótica história da humanidade (Donoghue 95-96). Isso ilustra visão de V de um mundo caótico, mas V acredita que como resultado do caos virá a ordem. Isto também está prenunciado, pois V representa um Cristo/anti-Cristo e Evey é a segunda vinda. O trecho em inglês do poema original é o seguinte:
Turning and turning in the widening gyre the
Falcon cannot hear the falconer.
Things fall apart…
the centre cannot hold.

54, -, – Todavia, como se diz, vale tudo no amor e na guerra. Como, no caso, trata-se de ambos, maior a validade./ Embora ostente os cornos de um traído, não serão/ eles uma coroa que usarei sozinho./ Como vê, meu rival, embora inclinado a pernoitar fora,/ Amava a mulher que tinha em casa./ Há de se arrepender/ O vilão que roubou meu único amor,/ Quando souber que, há muitos anos…/ Eu me deito com o seu.

V fala freqüentemente, como ele faz aqui, em pentâmetro iambico, que é um esquema rítmico. Cada linha consiste em cinco pés métricos, cada um dos quais contêm duas sílabas, uma breve (átona) e uma longa (acentuada), (Encyclopedia Americana 688). Simplificando, um pentâmetro iambico é uma coluna de cinco estrofes, cada uma formada por um iambo, que é uma medida – um pé de verso – constituído de uma sílaba breve e outra longa. Falando em versos brancos, característicos de peças Jacobeanas, V presta uma homenagem. Era comum que os dramas Jacobeanos fossem uma peça de vingança, que V imita em mortal adaptação ao longo da história. O texto original em inglês é o seguinte:
Still all in love and war is fair, they say,
this being both and turn-about’s fair play.
Though I must bear a cuckold’s horns, they’re not a crown that I shall bear alone. You see,
my rival, though inclined to roam, possessed
at home a wife that he adored. He’ll rue
his promiscuity, the rogue who stole
my only love, when he’s informed how
many years it is since first I bedded his.


56, -, – A Queda dos Dominós (imagem)

Os dominós, que V tem colocado em pé desde o começo, estão prontos para cair. Na pequena história de Harlan Ellison ‘Repent, Harlequin!’ said the Ticktockman ( Arrependa-se, Arlequim! disse o Homem-Tick-Tack), o primeiro ato de terrorismo do Arlequim é descrito dessa forma:
Ele tinha tocado o primeiro dominó na linha, e um após o outro, em um ‘chik, chik, chik’, tinham caído.
‘Repent, Harlequin!’ said the Ticktockman demostra uma ridícula distopia onde o tempo é tanto os meios quanto os fins para o facismo; nisto, o atraso é erradicado pela constante exigência da vingança bíblica: se um indivíduo está dez minutos atrasado, dez minutos são tomados do fim de sua vida. Neste mundo, o Arlequim, disfarçado com uma fantasia de palhaço, consegue perturbar o tempo derramando 150.000 dólares em balas de mascar em uma multidão de transeuntes que esperam em uma calçada móvel. As balas de mascar, que são um mistério já que foram deixadas de ser fabricadas há mais de cem anos (como os fogos de artifício de V e o badalar do Big Ben na página 145 de V de Vingança), literalmente impede o funcionamento da calçada e anula todo o sistema desse mundo por sete minutos. Este ato faz do Arlequim um terrorista contra o estado, e o Mestre Controlador do Tempo (o Homem-Tick-Tack do título) tem que descobrir a identidade do encrenqueiro antes do sistema ser totalmente destruído. Muitos dos truques de V são semelhantes aos do Arlequim: ambos usam fogos de artifício para se comunicar com as massas, e ambos aparecem sobre edifícios para zombar das massas com canções ou poemas. O Ticktockman sabe, como Finch, que a identidade do Arlequimé menos importante que o entendimento de o que ele é. O Arlequim e V fundamentalmente representam idéias opostas àqueles que dirigem seus mundos, e ambos, embora usem de destruição, semeiam os que detém o poder para demolir as realidades que os consomem. Ambos são, de certa forma, celebridades, e ambos são inimigos do estado porque eles querem ser reformadores deste [uma referência à Civil Disobedience (Desobediência Civil) de Henry David Thoreau].

PARTE 5

1, 2, 2, Dietilamida de Ácido Lisérgico

Também conhecido como LSD ou LSD-25, esta droga é um psicotrópico que induz a um estado de psicose. Foi isolada pela primeira vez em Basle, Suíça, em 1938 por Albert Hoffman, que a sintetizou a partir de um fungo que ataca cereais, causando uma moléstia conhecida como ferrugem de gramíneas (Stevens 3-4).

2, 1, 1, Quatro tabletes

Hoffman também foi a primeira pessoa a experimentar a LSD-25. No seu primeiro experimento, ele usou 250 miligramas (Stevens 4). Ele experimentou uma violenta viagem e as doses subseqüentes foram reduzidas para menos de dois terços da quantidade inicial (Stevens 10). Assim, os quatro tabletes de Finch, cada um com 200 miligramas, era uma quantidade muito, mas muito excessiva.

5, 3, 1, …in nomini patri, et filii, et spiritus sancti…

Latim, da missa Cristã: Em nome do Pai, e do Filho, e do espírito santo.

7, 2, -, La Voie… La Verite… La Vie.

Estas palavras são francesas, e significam, respectivamente, o caminho (ou a estrada), a verdade, a vida.

7, 3,1, Stonehenge

Um dos maiores e mais completos monumentos de pedra dispostas da Inglaterra. Sua origem e propósito são desconhecidos, mas se acredita que tenha sido ou um tipo de local de observação astrológica, ou um lugar para cerimônias religiosas, ou ambos.

9, 1, 3, Everytime we say goodbye…I die a little./ Everytime we say goodbye, I wonder/ why a little. Do the gods above me, who must/ be in the know think so little of me they’d/ allow you to go?

A citação é de uma canção de Cole Porter intitulada Ev’ry time we say goodbye (Toda Vez Que Dizemos Adeus), do espetáculo de Porter, Seven Lively Arts, de 1944. Porter (1891-1964) foi um compositor americano que escreveu trabalhos sinfônicos de jazz e musicais. Ele é mais lembrado por sua adaptação da peça de Shakespeare, The Taming of the Shrew (A Megera Domada), no musical Kiss me, Kate (Lax and Smith 611; Havelince 200).
Uma tradução livre para esse trecho da canção é a seguinte:
Toda vez que dizemos adeus… Eu morro um pouco. Toda vez que dizemos adeus, eu desejo saber um pouco porquê.
Será que os deuses acima de mim,
que sabem tanto de tudo, pensam tão pouco em mim,
a ponto de permitir que você se vá?

9, 2, 2, Faze o que quiseres, Eve. Essa será a única lei!

Esta é a Lei de Thelema, de Aleister Crowley, em sua publicação de 1904, The Book of the Law (O Livro da Lei). Crowley foi um controverso e mal-compreeendido mago e ocultista dos meados do século XIX e início do século XX. Ele declarou que esse livro foi ditado a ele por seu espírito guardião, um deus-demônio, a encarnação de Set, um deus egípcio, a quem Crowley chamava de Aiwas. Embora alguns interpretem a lei como permissão para fazer pura anarquia, pode na verdade significar que alguém tem que fazer o que deve fazer e nada mais (Guiley, 76).

13, 1, 1, … uma história de Ray Bradbury que você me leu, sobre um trigal…

A história é A Foice, do livro The October Country. O livro contém outros nove contos, e aqui no Brasil foi publicado com o nome de Outros Contos do País de Outubro.

15, 2, 1, Eu estou esperando o homem.

Esta é uma citação da canção de Velvet Underground Heroin (Heroína) sobre um viciado que espera por sua conexão que vai trazer mais de sua droga para lhe vender.

15, 3, 3, Adeus, Minha Adorada (Cartaz)

Este filme de 1945, cujo título em inglês é Farewell, My Lovely, foi produzido pela RKO. Foi um dos primeiros filmes noir, um estilo caracterizado pelo violência e depravação de suas personagens, seu enredos complexos e sua fotografia sombria e de alto-contraste. Este filme foi adaptado de um romance de Raymond Chandler, e trata da procura de um detetive particular pela namorada de um ex-condenado (Halliwell 314).

21, 2, 2, Eva Perón…, Evita…e Não Chores por mim, Argentina…
Eva Perón foi a esposa de Juan Perón, antigo presidente da Argentina,de 1946 a 1952. Eva Perón, também conhecida como Evita, controlou o sindicato trabalhista, e os purgou de seus líderes, fazendo-os assim completamente dependente do governo. Ela também suprimiu grupos que a insultavam. Porém, ela era bastante querida por muitos de Argentina. Eva Perón inspirou um musical, Evita, escrito por Andrew Lloyd Webber, e encenado pela primeira vez em Londres em 1978.

23, 1, 1, …e deu estes passos em tempos antigos…

As primeiras linhas do poema And Did Those Feets, de William Blake.

27, 2, – …então, como podes me dizer que estas sozinho…/ … e afirmar que o sol não brilha para ti?/ Dá-me tuas mãos e vem comigo pelas ruas de Londres./ Eu lhe mostrarei algumas coisas…/ … que te farão mudar de idéia.

Esta pode ser uma canção real; porém, Fui incapaz de determinar sua origem ou qualquer outra informação sobre ela.

41, 3, 1, … um funeral viking.

Os vikings enterravam seus mortos primeiro colocando o cadáver em um navio e, depois de atear fogo na embarcação, empurravam-na para dentro do mar.

41, 3, 1, Ave atque vale

Latim, que significa, Olá e adeus (Simpson 63, 70, 629).

52, 1, 2, Les Miserables (cartaz)

Este cartaz pertence a Les Miserables (Os Miseráveis), uma moderna peça de ópera de Claude-Michel Schonberg, baseada no romance de Victor Hugo e encenada pela primeira vez em Londres em 1980. Fala sobre um insignificante ex-criminoso que, saído da prisão, se torna um líder revolucionário (Behr 391).

55, 2, 2, As notícias de minha morte foram… exageradas.

Esta citação é de um telegrama enviado de Londres à Associated Press por Mark Twain, escritor americano, em 1897 (Bartletts 625).

Por Madelyn Boudreaux – 27 de abril de 1994.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/popmagic/v-de-vinganca-guia-de-referencias/

Três bacias cheias de sangue

Conto degustação da obra Rei da Dor e outros contos de horror

Gregori não podia reclamar do trabalho. O circo Bruxelas o havia recebido com os braços abertos quando, com apenas 17 anos, ele se juntou à trupe. Foi contratado primeiro como ajudante geral, tirava o lixo dos trailers, carregava e descarregava os vagões, fazia o trabalho pesado. Da limpeza, tornou-se o responsável pela jaula dos animais, alimentando os grandes felinos. Até se apegou a eles. Ficou radiante quando a leoa teve filhotes e assistiu com tristeza chegar até ela as dores e dificuldades da idade avançada. Mas Gregori sempre olhava para o futuro, ele era pró-ativo e solícito e queria progredir na carreira. Já havia tentado se juntar aos malabaristas, mas não tinha a habilidade necessária. Também já havia provado não ter graça o bastante para ser um bom palhaço. Em suas várias tentativas acumulou fracassos, mas também amigos. Não podia reclamar do trabalho, mas podia reclamar do chefe. Embora realmente tivesse progredido – em obrigações, não em salário – na cabeça do Sr. Stephano Bruxelas, o proprietário do circo, ele ainda só era apenas um desprezível ajudante geral.

Suba essas vigas. Bata o chão do picadeiro. Panflete o circo nas ruas. Lave essas roupas. Às vezes Grigori sentia que era o escravo pessoal do Sr. Bruxelas e não um membro da equipe. Nunca era chamado para os anúncios importantes, mas por ser uma espécie de faz-tudo tinha acesso a praticamente todas as partes do circo e ficou sabendo pela mulher barbada da pauta da última reunião. O Grande Jéan Eugene estava morto.

O velho mágico era o funcionário mais antigo do circo e segundo alguns já fazia apresentações antes dos pais do Sr. Bruxelas nascerem. Se morreu com 120 anos foi pouco, mas ninguém realmente sabia sua idade. Seus espetáculos eram lendários e sem dúvida o maior chamariz da bilheteria. Em certa ocasião, teria subido a altura dos trapézios em uma escada de fumaça; em outra, feito um saco de ossos se transformar em um macaco. A verdade é que o proprietário não cuidava dos negócios como seus pais. Sem o grande Jéan Eugene, o Circo corria o sério risco de fechar.

Ao saber do ocorrido, Gregori primeiro se entristeceu. Certa vez, Jéan Eugene tinha lido o futuro em sua bola de cristal e dito que ele tinha um grande futuro no circo. Era esse tipo de apoio dos amigos que o animava. Não que ele acreditasse em bolas de cristal. Mesmo assim, quando se lembrou da profecia, pensou que deveria tentar outra vez. Talvez fosse essa a grande oportunidade que Gregori precisava. Quando sugeriu ao Sr. Bruxelas que poderia tentar a vaga de mágico foi recebido com uma humilhante gargalhada.

— Está louco menino? Quem é você?

— Sr. Bruxelas, sei que parece loucura, mas o que você tem a perder?

— Tempo moleque. E tempo é dinheiro.

— Quero crescer aqui dentro. Olha, escolhe uma carta. E puxou um baralho.

O Sr. Bruxelas deu um tapa de baixo para cima no maço, arruinando a tentativa patética de o impressionar.

— Garoto, nem os palhaços te quiseram. Como você imagina poder tomar o lugar do grande Jeán Eugene?

— Não sei. Mas talvez eu me descubra como ilusionista. Tenho que ser bom em algo, certo?

— Você é bom em limpar o chão – disse a dançarina dos bambolês, Liliane, atual amante do chefe, entrando na conversa sem ser chamada para o prazer do Sr. Bruxelas. Era uma beldade de cabelos cacheados e sabia se aproveitar de sua juventude.

— Ótima essa, meu querubim!

O casal arrogante riu um para o outro e quase se esqueceram da presença de Gregori, que tentou mais uma vez:

— Sei que ainda não descobri meu lugar. Mas eu acredito em mim, Sr. Bruxelas.

— Oras, pivete, saiba do seu lugar! Olhe para si mesmo. Você devia agradecer de limpar nossa sujeira. Onde acha que conseguiria um emprego desse? Sabe como anda a economia?

Após pensar um pouco, o ajudante tomou coragem e desafiou:

— Pois bem! Deixe-me fazer uma apresentação. Uma única apresentação. Se você gostar, me dá a vaga. Se não gostar, eu trabalho de graça por um ano!

Sr. Bruxelas fingiu fazer algumas contas de cabeça e sorriu concordando.

— Você é um tolo, menino. Se é o que quer, eu gostaria mesmo de poupar a esmola que você ganha. Daqui a três dias, você fará seus truques baratos para que eu e meu querubim possamos dar outras risadas.

— Ai docinho, você é demais! – comentou a dançarina.

II

Gregori estava decidido pela vitória. Faria qualquer coisa para ganhar aquela aposta. Imaginou que talvez dentro do trailer do grande Jéan Eugene encontrasse algum truque que pudesse usar. Esperou todos dormirem e entrou no vagão com as chaves a que, como faz-tudo, tinha acesso. Avançou como um ladrão pela noite e chegou na porta. Colocou a chave na fechadura e a virou, praticamente sem emitir nenhum som. Quando entrou, sua espinha gelou. O barulho de bater asas das pombas na gaiola denunciavam o ladrão que rapidamente encostou a porta. Com a morte do mágico, todos haviam esquecido delas. Na verdade, aparentemente ninguém havia entrado lá desde a morte de Jeán. Talvez por respeito, provavelmente por medo.

A cama ainda estava bagunçada do último sono do mágico e sobre a escrivaninha um café frio que nunca seria terminado. Grigori fechou a porta e acendeu o lampião. Pôde assim ver uma série de instrumentos arcaicos dividindo estranhamente o ambiente com artigos de palco. Cristais, incensário ao lado de varinhas e argolas. Em um baú, encontrou uma cartola, luvas brancas e um crânio sem a tampa do osso parietal – tão realista que preferiu não pensar a respeito. No chão, um triângulo desenhado com giz.

A maior parte do trailer era, entretanto, ocupado por uma pequena, mas poderosa biblioteca que ocupa do chão ao teto de praticamente toda a lateral. Nessas prateleiras, havia uma coleção de livros clássicos de ilusionismo pareando com antigos tomos de superstição pagã e feitiçaria medieval. Não havia nenhuma organização aparente, mas era uma biblioteca realmente invejável: O Grande Livro da Magia, de Wendy Rydell, bem ao lado das Clavículas de Salomão, vários volumes do Zohar interrompidos pela Enciclopédia Ilustrada Blackstone de Truques de Baralho. Era muita coisa para ler em uma noite, talvez em um dia, de modo que Grigori apenas fechou os olhos e deixou seus dedos escolherem ao acaso. Puxou um livro de capa de couro carcomido e que emanava um certo poderio oracular.

Colocou o livro sobre a escrivaninha e o abriu. Era um volume velho como uma pirâmide azteca. Como ela, uma obra repleta de desenhos e glifos. As páginas eram amarelas de idade e todas as palavras escritas com uma tinta cor de ferrugem que lembrava sangue oxidado. Na folha de rosto, pôde ler em tipos antigos: “Suk’Nazbot”, abaixo dele o subtítulo excessivamente descritivo: “Coletânea de sortilégios demoníacos e artes trevosas”. Tentou ler, mas conforme o fazia as palavras se agitavam como formigas nervosas e o texto tornava-se ilegível. Quando isso acontecia, avançava algumas páginas para recuperar o poder de leitura. Foi assim guiado pelo próprio volume a ler o que devia ser lido e chegou em um capítulo intitulado “Sacrifício da Carne: Como obter poderes ocultos derramando o sangue dos vivos”.

Aprendeu que poderes verdadeiros poderiam ser adquiridos se fizesse um pacto com certas realidades inumanas. Teria que se comprometer a dar algo em troca. Usando as estranhas runas descritas naquelas páginas, esse acordo poderia ser feito com o mundo oculto, não com dinheiro ou joias, mas oferecendo o sangue dos vivos. O sangue deveria ser todo retirado e oferecido a entidades cujos nomes o homem mal pode pronunciar. Pela descrição e ilustração do livro, seriam necessárias três bacias cheias de sangue. Gregori calculou em torno de nove litros, o equivalente a dois adultos saudáveis. O sangue precisaria ser tirado na hora em que fosse oferecido e seus fornecedores obrigatoriamente mortos no processo.

Gregori foi seduzido por aquelas páginas como Eva pela serpente. Parecia um bom negócio. Com apenas um assassinato, usando aquelas palavras de poder, ele teria acesso às forças que fazem as leis da natureza se curvarem. Podia escolher alguém que merecesse morrer. Não seria difícil encontrar. Poderia depois usar os poderes adquiridos para fazer muitas boas ações que compensariam até mesmo o homicídio. Se matasse duas pessoas, poderia melhorar a vida de outras quarenta. Tentava reduzir a moral a uma conta aritmética. Já não pensava com clareza. Leu o capítulo muitas e muitas vezes como um maníaco. Horas depois, percebeu que não viu o tempo passar. Quando deu por si, notou que não viu a manhã chegar e foi tomado pelo impulso da fuga. Não queria ser pego lá dentro. Saiu do trailer como um animal liberado sai do cativeiro. Estava agora tomado de uma certeza luciferina e sabia exatamente o que fazer. Atrás de si, deixou a porta e o livro aberto.

Naquela mesma manhã, o Sr. Bruxelas fazia a ronda que os chefes gostam de fazer para não ter eles mesmos que trabalhar. Andava devagar com a pompa dos grandes proprietários, avaliando os ensaios dos palhaços e o treino dos trapezistas.  Quando passou pelo trailer do poderosos Jéan Eugene, achou muito estranho ver a porta aberta. Nunca tinha entrado naquele local enquanto o mágico anterior vivia e agora adentrava com a curiosidade de quem explora as ruínas de um templo antigo.  Entrando, notou o livro aberto e se horrorizou com ele. Na escrivaninha e ao lado dele, o molho de chaves do tratador de leões.

Saiu, trancou a porta de forma afetada e mandou chamar o ajudante geral.

— Você sabe que não posso ignorar isso.

— Não se preocupe, Stephano, nada aconteceu. Ele nunca havia chamado ele pelo primeiro nome.

— Você invadiu o trailer do grande Jean. Não é só um desrespeito. É um crime. Um pecado!

— Crime? Pecado? Ainda não… por acaso algo foi roubado? Sua calma era perturbadora.

— Não sei. Parece que não. Mas essas chaves são suas.

– Devo ter esquecido lá quando fui alimentar as pombas. E pegou a chave de forma excessivamente cortez.

O Sr. Bruxelas estava sem ação com a nova postura do ajudante.

— Sacrifício? Pacto de Sangue? Você sabe que isso é loucura não é, Gregori?

— Não é loucura o nome que os covardes dão à sabedoria? – e saiu.

Não se falaram mais até o dia da apresentação. A nova postura dominante de Gregori fez com que não apenas o dono do circo, mas também todos os funcionários se reunissem na ala oeste do picadeiro onde foi montado um palco para a exibição.

 III

As cortinas abriram. No seu centro do palco, havia agora uma caixa retangular de pé como uma enorme lápide dividida em três partes. Em cada uma das partes, uma parcela de uma figura demoníaca estava desenhada ao estilo azteca. A cabeça era como a de um javali, o tronco com o de um macaco e as pernas iguais às de um bode agachado. Gregori entrou no palco pela esquerda em passos lentos com a autoridade com que um juiz entra no tribunal. O silêncio imediatamente se fez presente em todos que escutavam a sola de seus sapatos bater na madeira do chão enquanto ele se aproximava da caixa. 

Audácia das audácias. Estava vestido com as roupas do grande Jéan Eugene. O tamanho era um número maior que o dele, dando-lhe a impressão desleixada. Sua cartola e capa lhe dava uma impressão que seria cômica se não houvesse algo de errado em seu rosto. Havia agora um sorriso quase deformado em seu rosto, como que esticado por dedos invisíveis, uma certa perversão que ninguém até então já tinha observado. Era como se o próprio diabo tivesse emprestado seu corpo para brincar de circo. Sua voz também era quase a mesma:

— Senhoras e senhores, lhes apresento a Tumba Montezuma!

A luz do holofote iluminou a caixa, embora todos os outros funcionários estivessem na plateia.

— Esta noite vamos desafiar a vida e a morte quando um de vocês for colocado na tumba e as próprias leis da natureza forem violadas.

A tumba se abriu. A divisão em três partes continuava na parte de dentro separada por três lâminas que cortavam lado a lado toda sua área interna. O mago se aproximou e retirou as três lâminas com a firmeza de um cirurgião.

— Como devem imaginar, estou sem minha ajudante. Será necessário um voluntário da plateia.

Silêncio total.

— Com certeza, você, nosso amado chefe, Stephano não vai perder a chance de entrar para a história do circo Bruxelas.

O dono do picadeiro olhou para os lados confuso quando uma força invisível pareceu ter forçado sua cabeça para frente. Ele então disse em uma voz tremendo tal qual um gago que se esforça para falar.

— Ee eu soo souu o vooluuuntário…

— Excelente! Aproxime-se! – disse o mágico.

Pouco se moveu à medida em que Stephano se dirigia à tumba como um zumbi. Uma vez dentro, deu uma meia-volta militar e a plateia pôde ver o vazio de seus olhos.

— Agora, algumas medidas de segurança. Não queremos que o corpo caia quando arrancarmos seus pedaços – prosseguiu Grigori com a solenidade de um carrasco. 

Enquanto ele retirava das mãos as algemas, Stephano colocou as mãos para frente. Uma faixa de fita adesiva reforçada foi colocada em sua boca e uma corda de marinheiro apertou forte uma perna contra a outra. Cada parte do corpo estava também bem presa a uma das três partes da caixa. A tudo isso, o dono do circo colaborava tal qual um bovino ignorante do abate. 

— Estamos prontos, amado público! Hora de um pouco mais de ação!

Ao dizer isso, estalou os dedos e todos puderam ver que o dono do circo havia voltado a si. Estava completamente apavorado e se esforçou em vão para se soltar. Emitiu um mugido mudo de sequestrado quando o mágico fechou a porta da tumba à sua frente.

— Música! 

O som que preencheu o ambiente era como um coral de monges do inferno cantando para o deus da morte. O horror que se apossou da plateia fez a maioria dos funcionários paralisar de medo e aqueles que tentaram fugir se viram presos por forças estranhas.

— Primeiro, vamos separar as pernas… para que não corra, sabem? – e piscou para a plateia.

A primeira lâmina foi enviada com a brutalidade de um açougueiro. O grito abafado pela caixa e pela fita adesiva superou até mesmo a música infernal que tocava e foi ouvida da última fileira.  

— Agora, lhe arrancamos a cabeça! – disse Gregori rindo descontroladamente.

O mágico posicionou a segunda lâmina na fenda da caixa e olhou de forma sádica para a plateia.

— Contem comigo, amado público!

Como uma horda de almas condenadas, todas as bocas obedeceram.

— Dez… Nove… Oito..  Sete… Quando a contagem começou os gritos de dentro da caixa se intensificaram e um leve balançar pode ser notado à medida que seu prisioneiro se debatia como um peixe fora d’ água.

— Sete… Cinco… Quatro… – alguns choravam desesperados e outros molhavam as calças. Ninguém conseguia fechar os olhos.

— Três… Dois… Um… – os gritos abafados chegaram ao ápice e pararam, quando a lâmina foi enfiada com força. A música apoteótica sobrenatural também cessou como que para todos pudessem ouvir o barulho de pele e carne rasgada de dentro da caixa. 

A essa altura, o sangue escorria pela abertura da tampa frontal e empatava o espaço ao redor do palco.

— Outro voluntário! Quero outro voluntário! – anunciava o mágico satisfeito – Você, dançarina, venha fazer parte do meu espetáculo!

Liliane se levantou. A urina lhe escorria pela meia-calça. Seu rosto porcamente desmaquiado pelas lágrimas se afastava aterrorizado, enquanto seus braços e suas pernas se dirigiam obedientes ao picadeiro.. 

— Vamos, minha cara… Retire a Lâmina de baixo!

Toda a alma da dançarina devia estar empenhada em resistir a essa ordem, pois a mão vacilava em obedecer. Apesar disso, obedeceu como uma sonâmbula. Tentou retirar a lâmina inferior, mas teve dificuldade. Forçou-a e quando conseguiu a tumba de madeira se mexeu como se um novilho natimorto tivesse sido arremessado ao chão. O fluxo de sangue no chão se intensificou.

— Agora a de cima! Retire ela também!

A segunda lâmina foi puxada com facilidade pelo ajudante involuntário. Manchada do centro em diante de sangue escuro como se um dragão a tivesse lambido após se fartar de carne humana. Novamente, o barulho de algo caindo.

— Agora, abra a tumba! Senhoras e senhores, esse é meu presente para todos!

A mão da circense tremia e vacilava como uma palmeira em uma tempestade denunciando a revolta da alma dominada. Ainda assim, segurou a pequena maçaneta. O sangue do chão começou a evaporar de forma sobrenatural, criando serpentes de fumaça  ao redor da tumba, como coroando o ponto alto do espetáculo.

— Vamos, abra! Abra! Abracadabra!

A porta da tumba foi aberta.

Dentro dela estava Sr. Bruxelas. E que surpresa, sem algemas nem fita. Com pernas e cabeça. No chão, a última gota de sangue evaporava. Estupefato, o homem apenas deu alguns passos para frente e olhou ao redor completamente perplexo. 

Gregori segurou com autoridade a mão do dono do circo e da bailarina e os levou até a frente do palco, obrigando-os a fazer uma teatral referência para a plateia. Ao levantarem suas cabeças, soltou as mãos de ambos e com um gesto liberou todos os funcionários das forças sobrenaturais que os oprimiam. Alguns caíram desmaiados. Outros fugiram de horror.

A dançarina foi uma das que desmaiou quase que imediatamente. Grigori a ignorou e se voltou para o casaco do Sr. Bruxelas. Tirando o pó de seus ombros com o zelo de uma mãe severa, Grigori explicou sorrindo com os olhos:

— Uma fantástica ilusão, não acha, meu caro Stephano? O emprego é certamente meu.

Obedientemente, ele apenas assentiu com a cabeça como uma criança assustada. Sabia que lá estava alguém com quem não poderia discutir. Na verdade, tinha dúvidas sobre quem era o proprietário do circo agora. Grigori ganhou não apenas a vaga de mágico, mas o maior salário da trupe, o trailer com toda coleção de artigos raros de seu antigo dono e principalmente, o nefasto livro Suk’Nazbot. 

O circo não fechou. Pelo contrário, nos meses que se seguiram, as arquibancadas estavam diariamente mais lotadas. As apresentações do grande Grigori Vigatto superaram até mesmo as de Jéan Eugene. Aparições espectrais de cair o queixo. Cabeças decepadas flutuando como balões. Fileiras de esqueletos dançando um cancã macabro como garotas francesas. Criaturas inomináveis brotando do chão. Mãos amputadas correndo pela plateia como caranguejos. Até os jornalistas dos grandes jornais vinham assistir seus espetáculos. O circo estava de volta.

Foi, contudo, logo após a sádica apresentação inicial que o Sr. Bruxelas entendeu o que havia acontecido. Os funcionários que saíram correndo daquele horror encontraram em uma área não muito distante do circo uma cena digna de uma missa diabólica. No centro, um corpo rasgado de peito para cima. Ao seu redor, um triângulo de sal repleto de símbolos indecifráveis. Em cada ponto do triângulo, uma bacia cheia de sangue. O sacrifício havia mesmo sido feito. A velha leoa estava morta.

 

versão impressa e kindle

 

Postagem original feita no https://mortesubita.net/popmagic/tres-bacias-cheias-de-sangue/

Símbolos do Ocultismo na Música Pop

Por Donald Tyson.

Tem havido muita conversa nas mídias sociais recentemente sobre o uso de símbolos ocultos por artistas proeminentes em grandes locais, como o Superbowl Halftime Show e o MTV’s Video Music Awards. Madonna era notória por usar tal simbolismo. Mais recentemente, Lady Gaga tirou a coroa de Madonna e superou a Material Girl em seu próprio jogo. Outros artistas, como Beyoncé, Marilyn Manson, Lil’ Wayne, Ke$ha, Miley Cyrus, Jay-Z, Kanye West e Eminem, para citar apenas alguns deles, entraram na onda e incorporaram simbolismo esotérico em seus apresentações de palco.

O que tudo isso significa? Devemos nos preocupar com isso? Esses artistas são membros de uma organização secreta conhecida como os Illuminati, como afirmam seus críticos? Eles são satanistas? Ou eles são apenas buscadores de atenção, usando e abusando de símbolos que não entendem por seu valor de choque? Você pode pensar que já leu o suficiente sobre esse assunto sobrecarregado, mas deixe-me dar algumas ideias da perspectiva de um mago que trabalha nas tradições ocidentais.

A primeira coisa que noto, quando estudo as fotografias e videoclipes desses artistas populares, é o pequeno conjunto de símbolos ocultos que eles realmente usam. Existem menos de duas dúzias de símbolos que aparecem regularmente. Isso não é muito, considerando que a magia ocidental tem centenas de símbolos potentes com significado esotérico. A limitação do número de símbolos distintos utilizados deve-se provavelmente à necessidade de reconhecimento por parte dos fãs.

Quais são os símbolos? O mais comum entre eles é o sinal da mão dos chifres, com o indicador e o dedo mínimo estendidos; o olho no triângulo; o olho de Odin (um olho coberto por uma mão), o sinal da mão do número 6, com o polegar e o dedo indicador fazendo um círculo e os outros dedos estendidos; a cruz invertida; a chamada cruz satânica ou símbolo alquímico do enxofre; os pentagramas sejam eles “normais” ou invertidos; o olho egípcio de Hórus; um olho na palma da mão; crânio e ossos; o bode; a serpente; o relâmpago; a figura de Baphomet.

Se você considerar esses símbolos, verá que eles se dividem em duas categorias: símbolos de uso geral na magia e símbolos considerados caóticos ou satânicos. Não há nenhuma tentativa dos artistas de diferenciar entre essas duas categorias. Muitas pessoas consideram qualquer símbolo ligado ao ocultismo como inerentemente mau. Aqueles de nós que estudam magia sabem que isso é incorreto. Exatamente o oposto é verdadeiro: nenhum símbolo é inerentemente mau – mas o público geral desses artistas não sabe disso. Para eles, os símbolos ocultos são misteriosos, intrigantes, poderosos e perigosos – tudo que pode fascinar a mente de um adolescente.

Cantores populares voltaram-se para símbolos ocultos como valor de choque porque esgotaram as possibilidades do sexo. Eles não podem ir mais longe com a sugestão sexual, a menos que tenham sexo real no palco. A maioria procura em outro lugar por algo que vai gerar controvérsia, e o encontra no ocultismo. Isso é lamentável, já que os símbolos ocultos têm um significado mais profundo que é rebaixado por sua exploração. Mas ninguém deve supor que os artistas que abusam desses símbolos sabem o que estão fazendo, ou que esses indivíduos pertencem aos Illuminati ou a qualquer outra corrente oculta séria.

Nossos agradecimentos a Donald por seu artigo de convidado! Visite a página do autor de Donald Tyson para obter mais informações, incluindo artigos e seus livros.

***

Fonte:Occult Symbols in Pop Music, by Donald Tyson.

COPYRIGHT (2014) Llewellyn Worldwide, Ltd. All rights reserved.

Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/popmagic/simbolos-do-ocultismo-na-musica-pop/

Presentes do Dia dos Namorados por Signo

Por Olivia.

É o sonho de todo amante que o romance do Dia dos Namorados dure para sempre. Claro, ter um dia dos namorados ao lado do seu amante à luz de uma vela enquanto recebe beijos suaves na nuca, ajuda a criar a ilusão de uma eternidade. Mas para fazer essa magia realmente acontecer, você tem que tecer sua própria magia.

Em meu livro Love After Sex (O Amor Depois do Sexo), falo para aqueles que já foram seduzidos com alegria e estão prontos para embarcar em sua próxima aventura de parar o coração: morarem juntos. Se você está apenas imaginando acordar para o amor da sua vida diariamente, ou se você já é um veterano de um relacionamento comprometido, neste Dia dos Namorados, não dê simplesmente um presente de apenas uma caixa em forma de coração, isso é muito fácil. Em vez disso, faça uma pequena compra em seu próprio coração e veja o quão cheio de amor ele é. Você vê, cada signo do zodíaco tem necessidades emocionais específicas que você simplesmente não encontrará em um catálogo da Neiman Marcus ou de uma Renner. Então, se você tem um rico suprimento de amor e compromisso, dê ao seu amante um presente que realmente continuará dando.

ÁRIES:

Você vai precisar de uma caixa de presente para Áries grande o suficiente para conter muita emoção. A espontaneidade faz com que esse amante se sinta vivo e desejado. Então, quando você sentir o desejo selvagem de fazer amor, emocione seu parceiro quebrando esses mesmos velhos padrões. Por que esperar para fazer amor na mesma velha hora, na mesma velha posição na mesma velha cama? Não é hora de você fazer amor sem David Letterman ou Danilo Gentili olhando de soslaio do aparelho de televisão? Faça isso agora! Onde? Use sua imaginação. É um presente de Dia dos Namorados que seu Áries pedirá ano após ano.

TOURO:

Quando você dá de coração a Touro, faça-o sensual. Se você acha que só ir a um restaurante caro é romântico, pense novamente. Os taurinos também amam sua casa e se você bancar o chef, ele ou ela ficará ainda mais feliz em ficar lá. Lembre-se, você escolheu um amante muito tátil e sensível, então que tal ativar seus sentidos jogando uma manta de pele de vison falsa sobre aquela colcha sem graça? Ou lençóis de cetim? Delicie-se com os óleos quentes e prometo que a magia deve durar até à Páscoa!

GÊMEOS:

O melhor presente para Gêmeos vem em um emocionante pacote de variedades. O limite do tédio do seu amante está a cerca de meio metro do chão, e ele adora ser estimulado. Sim, claro que assim, mas Gêmeos também gosta de ser estimulado de forma intelectual. Fale, provoque e seduza com o pensamento. Brincar com a mente do seu amante significa jogar jogos mentais? Não! Significa simplesmente estimular a mente de Gêmeos antes de estimular qualquer outra coisa. Um fato de amor de Olivia: a mente é a zona mais erógena de todas.

CÂNCER:

Certifique-se de que seu presente para o Filho da Lua esteja bem embrulhado. Sim, seu amante de Câncer anseia por uma sensação de segurança e é algo que todo o dinheiro do mundo não pode comprar. Quando você faz esse amante se sentir seguro com expressões de amor total incondicional, isso evita que ele se torne muito apegado (você sabe, quando ele fica realmente carente e ameaça cortar seu suprimento de oxigênio!) realmente precisa: beijos e carinhos e votos de amor que vêm direto do coração.

LEÃO:

Seja qual for o presente para Leão, envolva-o em camadas de estima. Embora seu amante aja como o ser humano mais confiante do mundo, lembre-se de que um grande ato precisa de um grande público. Leão quer sentir um senso de importância e ele ou ela procura essa validação de você. Se você quer ver a mágica acontecer diante de seus olhos, acaricie o ego do seu amante de uma forma totalmente sem vergonha e pronto! Leo se transforma no amante ideal: romântico, divertido e generoso, criativo, dinâmico, brincalhão. . .e você pode preencher seus próprios adjetivos mais tarde.

VIRGEM:

O presente perfeito para Virgem permite que seu amante desfrute da cura. Virgem é muitas vezes analítico a uma falha, mas eles só procuram problemas simplesmente para poder corrigi-los! Então, ofereça ao seu amante a história uma velha ferida que ainda não cicatrizou (lembra daquele coração partido?) Ou peça conselhos sobre uma promessa quebrada (você saiu daquela dieta de novo, certo?) Seja qual for o problema, o remédio do amor de Virgem é garantido para curar. Lembre-se em um caso de amor com Virgem, que precisa ser necessário, seria apenas um erro não cometer nenhum!

LIBRA:

Obtenha uma caixa de presente de grife para Libra e encha-a até o topo com harmonia. Este signo precisa de um senso de harmonia em suas vidas, e eles o encontram na beleza da arte e da natureza. No entanto, eles também precisam de harmonia em seus relacionamentos. Para conseguir isso, Libra é habilidoso em ser cooperativo e disposto a se comprometer. Por esses traços magníficos, ele ou ela merece uma viagem de dia dos namorados para recordar. Apenas coloque os dois em uma bolha mágica cheia de beleza, harmonia e amor. . .decole e deixe o mundo para trás.

ESCORPIÃO:

Não há melhor presente para Escorpião do que uma paixão. Não que Escorpião precise de mais paixão, mas ele ou ela precisa liberá-la, compartilhá-la e fundir-se com sua amada. Se você pode explorar as profundezas da intimidade com seu amante e dar-lhe um presente de liberação apaixonada, então você tem uma união que pode transcender a realidade. Claro que, para atingir essa intensidade, você precisa de total confiança e isso leva tempo. Se este é o seu primeiro Dia dos Namorados juntos, seja paciente. Basta pensar o que você tem que olhar para a frente!

SAGITÁRIO:

Um presente do seu coração para Sagitário é um presente de fé. Você vê, seu amante é um buscador espiritual e a jornada é sempre mais emocionante do que o destino. Claro, ele ou ela fantasia sobre fazer amor com você em um acampamento base no fundo do Himalaia, mas sua jornada também pode se voltar para dentro e então seu Sagitário estará em uma longa aventura do espírito: explorando religiões, filosofias, e o fascínio da própria vida. Tudo o que Sagitário precisa é do seu otimismo para fazer companhia a eles e sua fé na visão deles para manter o amor vivo.

CAPRICÓRNIO:

Como você nunca pode dar a Capricórnio o presente da perfeição que eles desejam (é como comprar o sonho impossível!), você ainda pode dar-lhes incentivo amoroso enquanto buscam a carreira perfeita, o sucesso perfeito e o status perfeito. Lembre-se, seu capricorniano está com você porque você também é a ideia dele de perfeição. Portanto, é importante manter-se a criatura sexy e inteligente pela qual Capricórnio se apaixonou em primeiro lugar. Mantenha sua cintura fina e seu intelecto em expansão. Como você consegue isso? Perfeitamente, claro.

AQUÁRIO:

Seu amante de Aquário precisa de liberdade psíquica como outros humanos precisam de ar. Este signo é inovador, radical, prospera na mudança e adora experimentar. Como eu disse em Love After Sex (O Amor Depois do Sexo), quando um amante de Aquário pergunta se você está com vontade de experimentar algo diferente, tenha certeza de que não será molho de creme azedo Wasabi. Bem, pensando bem, pode ser, mas não será no seu peixe-espada! O dom da liberdade que você traz para o seu relacionamento é simplesmente deixar seu amante ser a pessoa que ele é. É o único presente que não tem preço.

PEIXES:

Uma vez que você der a Peixes o amor místico que eles desejam, eles o valorizarão pelo presente raro que é. Seu amante é um verdadeiro romântico, que pode transportá-lo para reinos místicos onde o amor é uma verdadeira felicidade. Peixes realmente tem a criatividade e a imaginação para tornar realidade o que sonham. Mas quando é o contrário – e a realidade ameaça seus sonhos – o que você faz? Incentive-os com uma de suas mãos segurando a deles, e a outra colocada firme e amorosamente na parte inferior das costas.

Fonte: Valentine’s Day Gifts by Sun Sign, by Olivia.

Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/popmagic/presentes-do-dia-dos-namorados-por-signo/

Philip K. Dick e Gnosticismo

Por Larissa Douglass, Oxford University

A Scanner Darkly, recente filme baseado na sombria visão de futuro de Philip K. Dick, aborda a discrepância entre a experiênciasubjetiva ou pessoal e a experiência objetiva. Esta última forma de experiência seria fornecida por meio de câmeras que observam processos.
Essa discrepância é uma característica de uma série de histórias e romances de Philip K. Dick, jogando com a noção de que os meios que utilizamos para aprimorar a compreensão da realidade também podem minar e obscurecê-la. Essa confusa realidade subjetiva é, então, associada a um exterior, uma perspectiva objetiva (por meio de scanners: um espelho, uma câmera ou outro meio de vigilância ou dispositivo de gravação) que relaciona-se com a “verdadeira” realidade. O choque resultante aguarda o espectador quando é revelada a discrepância existente entre a narrativa do protagonista e a que aparentemente é a real. O uso de câmeras como um “terceiro olho” tem sido cada vez mais empregado em filmes recentes para revelar uma desconexão entre a percepção dramática dos personagens e acontecimentos reais. Em última análise, que a perspectiva objetiva deve ser colocada em dúvida.

Philip K. Dick, autor

Embora a narrativa subjetiva de Scanner Darkly e em outro romance, The Three Stigmata of Palmer Eldricht, tenha origem no vício por drogas, em outras histórias Dick oferece cifras alternadas num jogo simultâneo de expansão e distorção da percepção. Quando apressentadas em conflito com uma narrativa objetiva, força a consciência humana a níveis cada vez mais altos de vigília do espaço e tempo. Por exemplo, Dick utilizou:

• Robôs em Do Androids Dream of Eletric Sheep? (que deu origem ao filme Blade Runner) para comparar a relatividade humana sobre o “real” e “falsos” seres humanos;
• Colonização de outros planetas, isolamento e doença terminal na história “Chains of Air, Web of Aether”;
• Precognição confundida com autismo ou esquizofrenia em “Martian Time-Slip e a história “A World of Talent”;
• Sono criogênico de humanos em máquinas sencientes e espaçonaves em “Divine Invasion” e na estória “I Hope I Shall Arrive Soon”.

Gnosticismo

Não importa o expediente utilizado, essas estórias, especialmente a última de Philip K. Dick, “Valis”, inspiram-se em no moderno renascimento da antiga heresia cristã do Gnosticismo. Ela pode ser definida mais simplesmente pela Catholic Encyclopedia como “a doutrina da salvação através do conhecimento”. A única verdadeira religião gnóstica que sobreviveu diretamente da Antiguidade tardia é a seita Mandean no Iraque (ou madianitas Mandaeism). Mais ligações tênues são rastreadas na Idade Média, Renascimento e na história do Iluminismo. Um sentido de continuidade histórica foi reforçada pela descoberta arqueológica do século em torno de 1945 de cerca de quatro textos gnósticos em Nag-Hammadi, no Egito.

Com esse pano de fundo, o moderno gnosticismo popular refere-se,a grosso modo, as idéias que incluem:

• Alienação espiritual no mundo material
• Um conhecimento especial, “gnosis”, que pode despertar os seres humanos do estado atual, a falta de consciência semelhante ao sono;
• Uma separação entre os aspectos divinos da existência espiritual e a realidade material, caracterizado por qualidades femininas e masculinas;
• E uma hierarquia de expansão do entendimento através desse conhecimento especial, que pode finalmente curar a cisão entre divindades masculinas e femininas.

Literatura Comparada e Lingüística

Da obra de Dick se originou um mix de novelas, pulp fiction, música popular, vídeo games, animação e filmes cujas referências baseiam-se em muitas idéias gnósticas. Os filmes mais conhecidos incluem a trilogia de Matrix, Dark City (Cidade das Sombras), Vanilla Sky e eXinsteZ e novelas que incluem O Código Da Vinci de Dan Brown. Autores como Umberto Eco e Jorge Luis Borges trouxeram este tema para as fronteiras da literatura comparada e lingüística.
Gnosticismo (Variantes modernas)

Tais exemplos contemporâneos têm raízes culturais no século XIX e no fin-de-siècle, com os aficionados mais notáveis como o psicólogo Carl Jung e o ocultista Aleister Crowley. Crowley se refere ao Gnosticismo, Alquimia, Maçonaria e Cabala para formar suas teorias ocultas, que por sua vez influenciaram L. Ron Hubbard, o fundador da Igreja da Cientologia. Mais provocativo, o cientista político Eric Voegelin, em sua obra “Science, Politics and Gnosticism” (1958), sugeriu que as ideologias do comunismo e do nazismo eram gnósticas, com efeito, heresias cristãs. O escritor Tobias Churton alegou que as idéias gnósticas foram sendo reveladas no campo da física quântica. E com focos sobre o “real” e o “artificial”, e os do sexo masculino e feminino, o gnosticismo pode ter uma influência sobre as teorias pós-modernas e feministas. Assim, o gnosticismo demonstra ser uma gama sincrética de “espiritismo”, Nova Era “,de teorias de conspiração e investigação séria. Tais idéias manifestando-se em tantos campos diferentes sugere que a era moderna tem testemunhado um ressurgimento dessa heresia na cultura ocidental e política.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/popmagic/philip-k-dick-e-gonosticismo/

O Tarô das Sombras, de Linda Falorio

Quem conhece alguma coisa sobre tarô sabe que uma característica dos tarôs espetaculares é que eles são geralmente desenhados por uma mulher. Embora Waite e Crowley tenham ficado com a fama, quem estuda um pouco – ou pelo menos lê a caixa do baralho – sabe que foi Pamela Smith a artista do famoso tarô hermético e Lady Frieda Harris quem desenhou as lâminas do tarô de Thoth. Não poderia ser diferente com o Tarô das Sombras, um deck concebido dentro da via sinistra onde o feminino é celebrado.

O Tarô das Sombras de Linda Falorio é um mergulho no arquétipo da sombras, e por isso mesmo deve usado levianamente nem manipulado por qualquer um. Para reificá-lo cada lâmina nasceu de um período de semanas ou meses de aprofundamento, tantra e meditação.

As lâminas dos Arcanos Maiores em especial são baseadas nos vinte e dois caminhos descritos por Aleister Crowley em seu Liber CCXXXI no qual trata dos “Gênios das 22 Escalas da Serpente e das Qliphoth”. Estes são os chamados Túneis de Set que foram ampliados posteriormente por Kenneth Grant, em seu clássico Nightside Of Eden.  Os Arcanos Menores por sua vez surgem a partir de uma imersão com os Espíritos descritos na Goetia, a Chave Menor de Salomão. Tornando este um baralho único para os praticantes do caminho da mão esquerda.

Esta preciosidade está em financiamento coletivo pela Editora Via Sestra em uma edição limitada e acompanhará um livro com explicação das cartas, técnicas e exemplos de uso ritualístico, meditativo e divinatório, entre outros recursos. A tradução foi encabeçada por Soror Lilith Ashtart, profunda conhecedora dos trabalhos da Linda Falorio.

Serão produzidos apenas 93 decks e o financiamento fica no ar até novembro de 2020, com entrega prevista para janeiro de 2021.

Tarô das Sombras, Catarse

 

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/popmagic/o-tarot-das-sombras-de-linda-falorio/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/popmagic/o-tarot-das-sombras-de-linda-falorio/

O Simbolismo Queer em Matrix Ressurrections

Por Reuben Baron

Até Ressurrections, a série Matrix não reconhecia diretamente as pessoas LGBTQ. A personagem Switch foi escrita como trans no roteiro original de Matrix, mas a personagem foi alterada para o filme finalizado, pois os executivos do estúdio estavam confusos. Isso não impediu as leituras queer da obra, é claro, que se intensificaram depois que as diretoras Lana e Lilly Wachowski se assumiram como mulheres trans.

Até mesmo Lilly Wachowski incentivou essas leituras no documentário Disclosure, de 2020: “Matrix era todo sobre o desejo de transformação, mas tudo vinha de um ponto de vista de dentro do armário”. The Matrix Ressurrections é o primeiro filme da série feito desde que as Wachowskis foram lançadas. Questões queer e trans não são intercambiáveis, mas a última sequência ofereceu uma oportunidade de reconhecer essas leituras. Lana Wachowski (dirigindo sem Lilly, que gravitou longe da ficção científica em favor de histórias queer mais realistas) e a equipe aceitou.

ALERTA DE SPOILERS!

Na última parte da saga, Neo está vivo (surpresa) e preso em uma nova Matrix, vivendo como o desenvolvedor de videogames Thomas Anderson. Enquanto trabalhava em um novo projeto ambicioso intitulado Binary (Binário, muito sutil…), seu chefe Smith o força a desenvolver uma sequência de sua série de videogames de sucesso The Matrix, que é semelhante à trilogia de filmes que todos vimos e que Neo não consegue lembrar que ele realmente viveu.

Este meta primeiro ato permite que Ressurrections comente diretamente as interpretações alegóricas de Matrix. Em uma reunião em que a equipe de desenvolvimento de Anderson discute sobre o que eram os jogos The Matrix, um desenvolvedor comenta que a história original era sobre “política trans”, a primeira referência direta LGBTQ na série. Essa troca é irônica, mas também não é uma rejeição completa dessa leitura. A série obviamente contém muitas das coisas que esses desenvolvedores trazem – “bullet time!” “WTF!” – e a cena está apenas ridicularizando levemente aqueles que dizem que Matrix é sobre qualquer coisa.

A maior parte do conteúdo queer em Ressurrections segue as mesmas linhas alegóricas do original, repetindo antigos cenários de Neo e Trinity despertos rejeitando seus “nomes mortos” e adicionando novas e copiosas referências a “binários” que inevitavelmente foram lidos como um comentário sobre os gêneros binários. Embora ainda não haja nenhum personagem diretamente declarado queer, Ressurrections torna os headcanons LGBTQ muito mais fáceis do que os filmes anteriores, dando a Niobe e Freya, bem como a Bugs e Lexi, demonstrações de afeto suficientes na tela para lê-las como casais.

O que pode ser o aspecto mais fascinante do subtexto queer de Matrix Resurrections, no entanto, é em relação a seus vilões. Vilões com códigos queer têm uma história longa e problemática em Hollywood, mas apesar ou mesmo por causa dessa história, eles costumam ser uma fonte de fascínio para artistas e públicos queer. Então, quando Lana Wachowski decidiu escalar dois atores abertamente gays, Jonathan Groff e Neil Patrick Harris, nos papéis dos dois principais antagonistas de Ressurrections, Agente Smith e o Analista, tenho certeza que ela sabia exatamente o que estava fazendo.

O Agente Smith é o personagem mais rico em relação ao subtexto queer, já que algum grau de subtexto já fazia parte da interpretação de Hugo Weaving de seu personagem na trilogia original. Nas leituras queer de The Matrix, Smith foi comparado aos pregadores homofóbicos enrustidos, mulheres trans que se forçam a viver como homens e defensores da “terapia de conversão”. Quando Smith diz a Morpheus no primeiro filme: “Eu odeio esse lugar, esse zoológico, essa prisão, essa realidade, como você quiser chamar”, sua auto-aversão vem em alto e bom som.

Se o Smith da Weaving está dentro do armário, então o Smith do Groff basicamente saiu dele. Não como trans (Lana já deixou claro que Matrix não é uma alegoria cara a cara para o ser trans), mas como gay. A codificação queer no Smith reiniciado é tão pesada que quase vai além da codificação; é tão óbvio quanto poderia ser sem se tornar um estereótipo ofensivo ou explícito o suficiente para justificar o tipo de censura comum com material LGBTQ+ em filmes de sucesso em todo o mundo. Embora Groff não tenha falado sobre interpretar Smith como gay, ele descreveu o filme como um todo como “mais queer”, e é fácil ler esse sangramento em sua performance.

Apenas na atitude, é evidente que o Smith de Groff é mais relaxado e confortável em sua própria pele do que o Smith de Weaving. Quando Smith faz seu apelo a Neo por volta de uma hora e 22 minutos de Ressurrections, fica claro que ele também se sente muito mais à vontade para expressar afeição por seu lendário oponente. “Há tantas teorias sobre os dois”, Berg, o estudioso de Neo e residente da tripulação, brinca timidamente, talvez aludindo aos shippers Smith/Neo. Smith diz a Neo: “Você nunca apreciou nosso relacionamento”, e diz que o Analista usou seu “vínculo” e o transformou em uma “corrente”. Smith pergunta a Neo sua opinião sobre seus “penetrantes olhos azuis” e faz muitas pausas para fazer expressões faciais sedutoras. É uma isca total para o remetente.

Quando eles finalmente estão prestes a lutar, Smith diz que “Anderson e Smith” são um dos “binários que formam a natureza das coisas”. Dado o subtexto de gênero das críticas de Resurrections aos binários, sinta-se à vontade para fazer uma piada sobre “os dois gêneros” aqui. Com o quão pesadas as imagens do BDSM são ao longo da série Matrix, também não é difícil ver algum erotismo sadomasoquista no desejo apaixonado de Smith de lutar contra Neo e o Analista, o último de quem ele sugestivamente afirma ter “sua coleira no meu pescoço”. Mais tarde no filme, quando Smith finalmente salva Neo e Trinity do Analista, ele diz que quando Neo saiu da Matrix e o despertou, “eu estava livre para ser eu”. (Além disso, Smith e Morpheus tecnicamente têm um filho juntos na forma do novo personagem do programa Morpheus de Yahya Abdul-Mateen II.)

Além dos comentários sadomasoquistas de Smith e da escalação de Harris, o Analista não é tão fortemente codificado como queer quanto Smith. Ele é codificado mais como um daqueles fãs “da direita alternativa” de Matrix que se apropriaram das imagens do original do que qualquer coisa, monólogo sobre “fatos alternativos” e desprezando os outros como “ovelhas”. Enquanto a maioria dos espectadores sabe que Harris é um homem gay, eles também sabem que seus personagens mais icônicos, de Barney Stinson à sua própria caricatura nos filmes Harold & Kumar, foram extremamente heterossexuais.

No entanto, mesmo interpretando um personagem tão diferente de si mesmo na página, Harris diz que interpretou o personagem como uma “versão de mim mesmo”. Dada a relação complicada do Analista com a verdade e a natureza hiper-estilizada da trilogia Matrix original, foi fácil para ele se inclinar para uma estilização semelhante, mas o estilo de Lana Wachowski evoluiu em uma direção mais naturalista, deixando Harris um pouco confuso sobre o quão “verdadeiro” seu desempenho precisava ser. O Analista obviamente não é o “verdadeiro” Neil Patrick Harris, mas mesmo assim qualquer pessoa que conheça o ator vai trazer seu conhecimento de sua identidade pública para o Analista. Em combinação com a pesada codificação queer de Smith, isso cria um fenômeno estranho no qual os dois agentes mais significativos de um sistema geralmente são lidos como uma metáfora para conformidade e opressão anti-LGBTQ emitem pelo menos algumas vibrações gays.

Em 1999, ser abertamente queer automaticamente tornava alguém um inimigo do sistema. Em 2021, isso não é necessariamente o caso. Direitos como casamento e proteção contra discriminação no emprego pelo menos foram escritos em lei, e o suficiente mudou para que algumas pessoas queer (principalmente cis, principalmente brancas, principalmente do sexo masculino) sejam capazes de manter o poder dentro do sistema. Só porque nossos governos e corporações são mais amigáveis ​​​​aos gays do que antes, no entanto, não os torna necessariamente mais amigáveis ​​​​em geral. O “capitalismo arco-íris” é muitas vezes performático, na melhor das hipóteses, para as necessidades da comunidade LGBTQ, e o “pinkwashing (igualdade queer corporativa e política)” usa progressividade nominal em questões queer para desviar a atenção de ações prejudiciais em outras áreas.

Um dos principais temas de Matrix Ressurrections é que os sistemas de poder se apropriam e assimilam forças que originalmente desafiavam esses sistemas. Isso é mais óbvio em como a história de rebelião de Neo contra a Matrix foi transformada em uma franquia de videogame dentro da própria Matrix. A Subversão é reduzida a um produto corporativo que a maioria do público nem entende a mensagem pretendida. Como Bugs diz: “Eles pegaram sua história, algo que significava muito para pessoas como eu, e a transformaram em algo trivial”. Quando o Analista usa o bullet time, a imagem mais icônica de Matrix, como uma arma para congelar Neo e Trinity no lugar, é perfeitamente simbólico de como a estética da revolução é distorcida contra seu significado original.

Os vilões com código queer de Ressurrections são mais um exemplo dessa assimilação no sistema, ao mesmo tempo em que fornecem duas respostas muito diferentes a ele. O Analista abraça seu poder dentro desse sistema, enquanto Smith é finalmente capaz de se redimir rompendo com ele. Sempre houve debates acalorados sobre se os objetivos do movimento LGBTQ devem ser focados em mostrar ao mundo cishétero que as pessoas queer podem ser “como todo mundo” ou se é melhor rejeitar a política de normalidade e respeitabilidade. Lana Wachowski pode se opor a qualquer um dizendo sobre o que Matrix Resurrections é “sobre”, mas é justo dizer que pelo menos parte disso é uma mensagem antiassimilacionista: não gay como em feliz, mas queer como em foda-se.

***

Fonte: The Matrix’s Queer Subtext Is Plain Text in Resurrections, by Reuben Baron.

Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/popmagic/o-simbolismo-queer-em-matrix-ressurrections/