O Caminho do Excesso

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A noção de Caminho do Meio é passada mais notavelmente por Buddha e Aristóteles. Buddha enfatizou o Caminho do Meio no contexto de “Despertar”, dizendo que o caminho da moderação está entre os extremos da austeridade e da indulgência. Aristóteles enfatizou o que ele chama de Doutrina do “Meio termo”. Onde a “virtude” reside na metade dos extremos de qualquer ação moral: Virtude é o meio entre dois vícios.

Thelema, por outro lado, é o Caminho do Excesso. Nesse novo Aeon, nos aventuramos a encontrar ambos os extremos, em qualquer caso: Indulgência & austeridade, orgulho & humildade, bom &mal, alturas & profundidades; O livro da Lei nos dá esta formula de modo claro: “Mas excede! Excede! Esforça-se cada vez mais e se tu és verdadeiramente meu- e não duvide disto, e se tu és sempre jubiloso! Morte é a coroa de tudo! (II:71-72). A formula é dada ainda com mais detalhes no nosso livro sagrado “Liber Tzaddi vel Hamus Hermeticus”:

33. Eu vos revelo um grande mistério. Vós estais entre o abismo do alto e o abismo da profundeza

34. Em qualquer um destes vos aguarda uma Companhia; e aquela Companhia é Vós mesmos

35. Vós não podeis ter outra Companhia

36. Muitos se ergueram, sendo sábios. Eles disseram “Buscai a imagem brilhante no lugar sempre dourado, e uni-vos com Ela”

37. Muitos se ergueram, sendo tolos. Eles disseram “Descei até o sombriamente esplêndido mundo, e desposai-vos com aquela Criatura Cega do Lodo”.

38. Eu que estou além da sabedoria e da Tolice, me ergo e vos digo: realizai ambas as núpcias! Uni-vos com ambos.

39. Cuidado, cuidado, eu digo, a fim de que não busques a um e perdas o outro!

40. Meus adeptos se mantêm erguidos; sua cabeça acima dos céus, seus pés abaixo dos infernos.

Apenas escalando até as alturas e mergulhando nas profundezas nós conseguiremos entender esses Companheiros – isto é, nós iremos compreenderemos toda nossa altura e nossas profundezas ao invés de meramente permanecer no meio termo.

É possível imaginar o Caminho do meio ou a Doutrina do meio termo como uma Torre ou um pau de base pequena que voa facilmente quando um vento assopra. O caminho do Excesso é o oposto disso; nós construímos nossas base o mais largo possível,de forma a construir fundações mais resiliente para nossa pirâmides. Para cada crescida que nossa planta faz para o céu, nossas raízes fazem para o solo.

Agora passamos para o nosso Santo-Sátiro Nietzsche que revelou a psicologia insidiosa por trás destes Caminhos do Meio… Aquilo que eles chamam de moderação é na verdade “mediocridiade”.

“Eu passo pelo meio do povo e mantenho os olhos abertos: eles se tornam menores e menores ainda mais eles se tornam. Deve-se isto à sua doutrina da felicidade e virtude.

É que eles são moderados também em virtude, porque eles querem conforte, com conforto, contudo, uma virtude modesta é o que é compatível apenas.

Alguns deles querem, mas na maioria apenas é querida. Alguns são genuíno, mas a maioria deles é[composta por] maus atores

A virtude pra eles, é o que os faz modestos e domados; assim fizeram do lobo um cão e do próprio homem o melhor animal doméstico do homem .

“Nós colocamos a nossa cadeira no meio” — assim me confessa o seu semi sorriso — “tão distante dos gladiadores moribundos quanto dos suínos saciados”. Isto, porém, é mediocridade, embora chamem-na de moderado.

(assim disse Zarathstra “A verdade amesquinhadora)

O fato é esse: o homem “moderado” é o homem médio e, portanto o homem medíocre. Ele é nada especial, nada importante, nada demasiadamente radiante ou único. Essas doutrinas não geram Leões e lobos, mas sim animais domesticados. Por trás dessas virtudes há o desejo de mansidão, conforto e segurança. Essas pessoas não apenas temem os extremos em si próprios, criando uma ruptura e por consequência, uma restrição em seu íntimo ser, mas consequentemente, eles temem que o Extremo e o Excesso e seja expresso nos outros.

O Medo e o desejo por conforto seguro são antitéticos para uma forte e engenhosa Vontade, que possa ser autoassertiva, movida por amor, forte, bela, que saltita com risadas. Nosso profeta explica em seu comentário ao Livro da Lei essa mesma ideia:

“Progresso, como sua própria etimologia declara, significa Um passo a Frente, É o Gênio, O excêntrico, o Homem que se destaca de seus pares, que é o Salvador da Raça. Ainda que não seja sábio, possivelmente (em algum aspectos) exceder em certos aspectos, podemos ter certeza que aquele que excede não é de forma alguma medíocre”

E assim: concluímos com uma fala de William Blake que To Mega Therion cita em seu comentário para “Exceda!Exceda!” do Liber Al:

“A estrada do excesso leva ao palácio da sabedoria”

Amor é a Lei, Amor sob vontade

The Path of Excess in Thelema

#Thelema

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-caminho-do-excesso

A FRA e o Sol Central

A palavra “Sol” aqui não significa necessariamente a estrela que a Terra gira. Nestes termos, falamos em “Corpo de Consciência”. O corpo humano abriga uma consciência, que alguns designam como Eu. O planeta Terra tem uma massa maior do que um corpo humano, então a Terra abriga uma consciência maior do que um corpo humano, Gaia. Por sua vez, nossa estrela, no centro do nosso sistema solar, é ainda mais pesada e abriga uma consciência ainda maior, Logos Solar. O próximo nível de massividade é o “Sol Central”, na qual diversas tradições esotéricas falam que emana uma consciência maior ainda.

Escreve Helena Blavatsky que: “No oceano sem limites brilha o Sol Central, Espiritual e Invisível. O universo é seu corpo, espírito e alma; e TODAS AS COISAS são criadas de acordo com este modelo ideal”. Essa escada de consciência é também chamada de “Logos”. Heráclito estabeleceu o termo Logos como significando a fonte e a ordem fundamental do universo.

Tal “corpo de consciência” é referido como um Logos ou um Sol. A palavra “Sol” não deve, portanto, ser tomada literalmente. O Logos pode ser uma estrela, um buraco negro, uma constelação, ou qualquer outra coisa. Apesar de causar estranheza inicialmente, lembramos que nas Ciências Ocultas, escreve Papus, o emprego da analogia é o método característico do ocultismo. Essas correspondências unem todos os elementos do universo, assim o que está em cima é como o que está embaixo.

O Sol físico é definido por Blavatsky em sua obra “Ísis Sem Véu” como um símbolo vivo de uma fonte espiritual. Ideia que provem de um conceito pitagórico do Sol Central, na qual o nosso sol físico é apenas reflexo. Esse Sol espiritual é identificado com vários nomes, sendo a causa de diversas manifestações. Rudolf Steiner identificava que as radiações do Sol Oculto não provem de nenhum astro, mas da emanação de seres elevadíssimos, os Elohim ou Exusiai. A Sociedade de Thule também utilizou desse conceito, chamando de Sol Negro ou SS (Schwarze Sonne). Na maçonaria, o Grande Arquiteto do Universo é a outra referência ao ordenador oculto. Blavatsky é a principal fonte, ela lista algumas referências do Sol Central em outras culturas:

“o Caos dos antigos; o sagrado fogo de zoroastrino, ou o Âtas-Behrâm dos pârsîs; o fogo de Hermes; o fogo de Elmes dos antigos alemães; o relâmpago de Cibele; a tocha ardente de Apolo; a chama sobre o altar de Pan; o fogo inextinguível do templo de Acrópolis, e de Vesta; a chama ígnea do elmo de Plutão; as chispas brilhantes sobre os capacetes dos Dióscuros. Sobre a cabeça de Górgona, o elmo de Palas, e o caduceu de Mercúrio; o Ptah egípcio, ou Râ; o ZeusKataibates (o que desce); as línguas de fogo pentecostais; a sarça ardente de Moisés; a coluna de fogo do Êxodo, e a “lâmpada ardente” de Abraão; o fogo eterno do “poço sem fundo”; os vapores do oráculo de Delfos; a luz sideral dos Rosacruzes; o ÂKÂSA dos adeptos hindus; a luz astral de Éliphas Lévi; a aura nervosa e o fluido dos magnetizadores; o od de Raichenbach; o globo ígneo, ou o gato-meteoro de Babenet; o Psicode e a força extênica de Thury; a força psíquica de Sergeant E. W. e do St. Crookes; o magnetismo atmosférico de alguns naturalistas; galvanismo; e finalmente, eletricidade (…).”

Na FRA (Fraternitas Rosicruciana Antiqua) o Mestre Huiracocha também faz referência a uma fonte espiritual, que está por detrás do Sol: (…) “Cristo é a Luz do Sol. Não a física, mas apenas a espiritual, que está por detrás dela”. O Mestre Huiracocha identifica nosso Sol como um mediador, um caminho para o Sol Central. Ele explica que essa manifestação da luz é uma substância ou partícula emanada pelo Sol. Na qual o Sacerdote Gnóstico pode invocar o nome do Cristo e fazer que essa substância cristônica penetre no ritual da Eucaristia. A luz é uma substância ou matéria que provém do Sol e penetra em todas as coisas. Ele escreve em “Igreja Gnóstica” que:

“O Sol, por sua vez, depende de outro Sol Central. Ele por si mesmo, não é mais que um mediador que nos cria, nos faz evoluir constantemente e nos redime pela ação imperativa do Crestos Solar. Este Crestos, não é Maya, não é ilusão, nem sequer um símbolo. É algo de prático, real e evidente e tal como o Logos, tem a sua ressonância, o seu ritmo e o seu tom. Platão disse, que o Logos soa, e afirmou que o Sol tem o seu ritmo. Deste modo, o Crestos Cósmico, tem positividade efetiva e é uma substância, uma força, uma consciência atuante. A Matéria é, por essa ação, Luz materializada”.

Vemos nisso, como as emanações do Sol Central podem implicar perturbações no éter de nosso planeta. Influenciando a vida na Terra.

Kenneth Grant, no seu livro “O Renascer da Magia”, diz que de acordo com a tradição hermética nosso sol é apenas um reflexo do Sol maior: Sothis ou Sírius. O sol do nosso sistema solar, portanto, tem uma relação de filho (Hórus) com essa estrela. Relação que vem desde o Egito Antigo. Kenneth Grant interpreta à luz da Lei da Thelema que “a Estrela reside no poder mágico da essência geradora feminina, pois Canicula (Constelação do Cão Maior) é Sothis, que também é a alma de Ísis”.

Robert Temple em seu livro “O Mistério de Sírius” demonstra que os egípcios relacionavam Sírius com Ísis. Essa correspondência é largamente comprovada por diversos estudos. Na publicação da Royal Astronomical Society, o estudioso Chapman-Rietschi em seu artigo, “The Colour of Sirius in Ancient Times”, escreve que os primeiros egípcios relacionam o nascimento heliacal de Sopdet (Sírius) com o nascimento de Ísis. O nascer helíaco de Sopdet foi observado no Egito com a finalidade de estabelecer o calendário lunar.

Na Thelema, ao adorar ritualisticamente Nuit, seria também uma adoração a estrela Sírius. Remetendo ao simbolismo do Aeon de Ísis, na qual antecede aos Aeon de Osíris. Sírius se levanta quando o Sol se deita no ocaso. O poder por trás do Sol, conclui Kenneth Grant, é Sírius.

Concluímos, então, que o Mestre Huiracocha ao aceitar a Lei da Thelema na FRA estabeleceu uma ponte mágica entre esses dois Aeons: na Missa Gnóstica, invocando o Logos Solar; e nos rituais rosa-cruzes, o Sol Oculto de Sírius, o revelador de Nuit. Um aspecto Solar e outro Estelar: Sol e Sírius; Masculino e Feminino. Unindo as dualidades da nossa vida.

#FRA #rosacrucianismo #Rosacruz

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Aleister Crowley: o Homem Mais Perverso do Mundo

Por Mike Karn

Revista The Square, volume 43, n° 2, junho 2017, páginas 32-34.

Aleister Crowley é considerado uma das figuras mais notáveis e sinistras do século passado. Ele foi um renomado estudioso que usou seu incrível intelecto para se tornar um especialista e praticante do ocultismo e da magia negra. Tão grande era o seu domínio que, para muitas pessoas, ele se transformou na personificação absoluta do mal. Seus ritos, orgias e cerimônias profanas chocaram até mesmo os mais cínicos e despertaram curiosidade, fúria e ódio nas outras pessoas.

​Ele sempre insistiu que seu nome fosse pronunciado como “Crow-ly” – muitas vezes acrescentando, com um sorriso malicioso: “para rimar como holy [sagrado]!”. No entanto, provavelmente é difícil, para quem desconhece a reputação de Crowley, imaginar a controvérsia que seu nome incitou no público em geral – e o ódio e medo que sentiram.

​Crowley nasceu no auge da era vitoriana, em 1875, em Leamington, Warwickshire, Inglaterra. Proveniente de uma família próspera adepta da seita dos Irmãos de Plymouth, ele foi devidamente batizado como Edward Alexander Crowley. Foi criado para acreditar que Deus era todo-poderoso e que o livre-arbítrio não era uma opção. Seu pai, Edward, era de uma rica família quaker, e ele e sua esposa, Emily, eram fanáticos religiosos que se juntaram aos Irmãos de Plymouth na fundação da seita.

​Para Crowley, o Cristianismo assumiu proporções extremas e se tornou o inimigo. Em seu tormento, ele procurava ajuda e conforto em outras fontes – essa direção por fim levava ao inimigo natural: o demônio. Ele se rebelou totalmente contra a religião de sua família e posteriormente mudou seu nome para Aleister, para não partilhar do mesmo nome de seu pai, Edward.

​Crowley teve uma infância muito infeliz. Seu pai viajava pelo país pregando, enquanto sua mãe rezava, lamentava e atormentava o filho. O pior ainda estava por vir: seu pai faleceu quando ele tinha 11 anos de idade, e sua guarda foi concedida à mãe de seu irmão, que o tratava com crueldade. Isso só foi ultrapassado por um mestre sádico de uma escola dos Irmãos Plymouth, à qual foi confiado.

​Portanto, quando criança, Crowley rezou para o demônio em segredo, para se manter protegido de sua mãe, de seu tio, do mestre e dos garotos que o maltratavam na escola. Seus sentimentos em relação ao Cristianismo e à sua família eram de puro ódio, e ele não foi criado como uma criança normal. No início de sua adolescência, como seu comportamento comum era não aceitar a doutrina dos Irmãos Plymouth, a mãe de Crowley o amaldiçoou e passou a chamá-lo de “a besta”, cujo número era 666, conforme o Livro do Apocalipse no Novo Testamento da Bíblia. Em vez de ficar ofendido com isso, ele adotou o nome e agiu como se não houvesse mais nada a fazer a não ser aceitá-lo.

Crowley frequentou a Malvern College como uma criança oprimida e mentalmente perturbada. Uma escola pública não era lugar para um garoto tão tímido e estranho, e ele sofria agressões físicas e psicológicas, a ponto de ser retirado da escola e transferido para a Tonbridge School. Mas então houve uma transformação nele. Crowley tinha crescido e se tornou forte física e mentalmente. Ele passou por uma mudança completa, como se algo tivesse sido despertado dentro dele. Deixando de lado toda a sua insegurança, superou os intimidadores e se transformou em um deles.

Nessa época, ele começou a praticar alpinismo. O cabo de Beachy Head e as montanhas galesas foram os cenários de suas primeiras expedições, mas então ele começou a escalar penhascos que ninguém jamais havia ousado, e realmente obteve muitas experiências na escalada.

Em 1895, aos 20 anos de idade e denominando-se Aleister, foi para a Trinity College, em Cambridge, como graduando do curso de ciência moral. Ele também escreveu, estudou poesia e continuou a praticar alpinismo. Crowley era considerado um jovem com um futuro promissor, mas enveredou pelo ocultismo e por todas as formas de imoralidade. Ele vivia como um aristocrata privilegiado e mantinha uma vida sexual vigorosa, conduzida com prostitutas e mulheres que ele escolhia nos bares locais, mas isso posteriormente se estendeu a atividades homossexuais. Ele também começou a publicar poesia explicitamente sexual.

Quando frequentava a Trinity College, conheceu Allan Bennett. Os dois se interessaram pelo ocultismo e começaram a experimentar rituais mágicos. Ao que tudo indica, eles obtiveram resultados impressionantes, incluindo a manifestação de uma hoste de seres sobrenaturais e de atividades de espíritos.

Em 1898, Crowley e Bennett se juntaram à Ordem Hermética da Aurora Dourada (Golden Dawn) em Londres, que praticava magia ritualística, alquimia, astrologia, tarô e outras ciências ocultas. A ordem foi fundada em 1887 por três membros da Maçonaria: Samuel MacGregor Mathers, William Robert Woodman e dr. William Wynn Westcott. Todos eles também foram membros da Sociedade Rosacruciana.

A Golden Dawn afirma que sua origem remonta de documentos codificados na posse de Wynn Westcott, segundo os quais o grupo era uma ramificação da Ordem Rosacruz alemã. Eles conceberam cinco rituais nos moldes maçônicos, que foram expandidos por Mathers. Sua influência no desenvolvimento do ocultismo moderno ocidental foi profundo, e muitos grupos afirmam serem originados da Golden Dawn.

Um ano depois, um fundo em depósito que foi estabelecido após a morte de seu pai lhe foi liberado. Crowley se tornou um homem rico, sem ter que depender mais de sua família. Ele abandonou a universidade sem concluir o curso, adquiriu um apartamento em Londres e começou a se dedicar a seus estudos ocultistas. Crowley tinha uma aptidão natural para a magia e logo fez avanços, tornando-se um mago poderoso, assim como seu amigo Allan Bennett.

Crowley não apenas se aprofundou no ocultismo, mas também foi promovido rapidamente pelos graus da Golden Dawn. Em 1889, ele completou os estudos necessários para obter o grau de Adeptus Minor. Entretanto, por causa de suas atitudes e de seu comportamento homossexual, o líderes em Londres o consideraram inadequado para avançar na Segunda Ordem. Então, Crowley foi para a França, onde o líder da Golden Dawn em Paris, MacGregor Mathers, o iniciou na Segunda Ordem.

Posteriormente, em 1900, a Golden Dawn foi fragmentada. Mathers, em uma tentativa de se unir à Loja londrina e se tornar um líder incontestável da ordem, mandou Crowley para a Inglaterra como seu “enviado especial”. Crowley fez uma tentativa frustrada de obter novamente o controle das propriedades da ordem em nome de Mathers. Ele surgiu em uma reunião ritualística vestido de maneira excêntrica com traje escocês completo e um capuz preto. Pouco tempo depois, Mathers e Crowley foram expulsos da ordem.

Crowley era maçom. Registros apontam que ele foi para a França em 1903, onde foi iniciado na Maçonaria na Loja Anglo-Saxônica nº 343, em Paris. Essa era uma Loja principalmente para expatriados e para aqueles que não podiam se afiliar à Maçonaria na Inglaterra por causa dos altos padrões da Grande Loja Unida da Inglaterra (GLUI).

Crowley afirmou ter sido recomendado por um Past Grão-Capelão Provinciano de Oxfordshire. No entanto, não existem evidências documentadas disso, e Crowley certamente nunca foi iniciado na Maçonaria inglesa. Posteriormente, ele continuou tentando ser admitido em reuniões de Lojas em Londres, mas frequentemente era recusado, pois pertencia a uma Ordem Maçônica ilegítima.

Em seu livro The Confessions of Aleister Crowley, uma auto-hagiografia, Crowley se explica:

Eu mencionei ter obtido o 33° na Cidade do México. Isso não acrescenta muita importância ao meu conhecimento dos mistérios, mas ouvi falar que a Maçonaria era uma irmandade universal e esperava ser recebido em todo o mundo por todos os Irmãos. Fui surpreendido com um considerável choque nos meses seguintes, quando, tendo a chance de discutir o assunto com um apostador arruinado ou agente de apostas – não me lembro exatamente –, descobri que ele não me “reconhecia”! Havia uma diferença simples em um dos apertos de mão ou alguma outra formalidade totalmente sem sentido. Demonstrei um desprezo imenso por todo o ritual. Eu fui admitido ao ser iniciado na Loja Anglo-Saxônica nº 343, em Paris.

Retornei à Inglaterra um tempo depois, após passar meu posto na minha Loja, e, esperando me juntar ao Arco Real, dirigi-me a seu venerável Secretário. Apresentei minhas credenciais. “Ó Grande Arquiteto do Universo”, o velho homem irrompeu de raiva, “por que não queimais este impostor no fogo dos céus? Senhor, vá embora. Você não é um maçom!”.

Pensei que isso seria um pouco difícil de meu Reverendo Pai em Deus, o criador, e percebi que, obviamente, todos os ingleses e norte-americanos que visitam uma Loja na França correm o risco de expulsão ou detenção instantânea e irrevogável. Então, eu não disse nada, mas fui para outra sala no Freemasons’ Hall sem seu conhecimento, e tomei meu lugar como um Past Master em uma das Lojas mais antigas e importantes de Londres.

Em 1905, Crowley voltou a se dedicar ao alpinismo e tentou conquistar o Kangchenjunga, no Nepal, a terceira montanha mais alta no mundo. Houve grande controvérsia durante a tentativa frustrada, e Crowley foi acusado de crueldade por agredir seus carregadores e deixar outro homem morrer na montanha. Era evidente que ele não conseguia tolerar qualquer tipo de fraqueza nas outras pessoas, mas essa viagem acrescentou muitas outras histórias terríveis à sua reputação crescente como um homem perverso.

Em 1906, Crowley fez uma viagem com sua esposa e sua filha para a China e depois para o Vietnã, onde as abandonou. A criança faleceu posteriormente, e sua esposa recorreu ao consumo de álcool para aliviar a dor, chegando à loucura. Tempos depois, Crowley a internou em um sanatório, e eles por fim se divorciaram em 1909.

Em 1910, Crowley conheceu John Yarker. Yarker era maçom, costumava escrever sobre assuntos relacionados à Maçonaria e era membro da Loja Quatuor Coronati. Em 1871, ele esteve envolvido com a fundação de um Grande Conselho do Rito Antigo e Primitivo em Manchester, uma ordem que se separou da GLUI e criou uma conexão com o Rito Antigo e Aceito e com outros ritos egípcios. Isso não era considerado comum pela maioria das Grandes Lojas. Crowley se juntou à ordem, da qual mais tarde se tornou Grão-Administrador Geral e também Mestre Patriarca Geral.

Em 1913, Crowley visitou o Secretário da Loja Quatuor Coronati e o Grande Secretário do Freemasons’ Hall, buscando uma forma de se juntar à Loja inglesa. Ele então escreveu à Grande Loja solicitando seu direito de se juntar a Lojas inglesas e participar delas, baseado em sua associação à Loja francesa. Seu pedido foi negado, devido à irregularidade de sua Loja-Mãe. A Grande Loja não identificou Crowley como um membro da Maçonaria. Todas as suas afiliações estavam ligadas a órgãos irregulares, portanto lhe negaram reconhecimento.

Crowley estava escalando montanhas na Suíça quando a Primeira Guerra Mundial irrompeu e ele retornou para a Inglaterra. Estava impossibilitado de se juntar às forças armadas por causa de sua saúde debilitada, mas ofereceu seus serviços: sua escrita e sua inteligência. Supostamente, sua oferta foi rejeitada com desprezo pelo Serviço de Inteligência Britânico, e, para um homem como Crowley, isso resultou em seu ressentimento e apoio subsequente à Alemanha. Ele foi para os Estados Unidos, onde escreveu e publicou propaganda antibritânica, o que o tornou um traidor e desertor na Inglaterra.

Nos Estados Unidos, ele estudou com ocultistas norte-americanos, começou a pintar e escreveu muitos livros. Em 1919, enquanto vivia em Greenwich Village, conheceu Leah Hirsig, e os dois sentiram uma conexão imediata e instintiva. Em 1920, eles foram para a Sicília e criaram um templo em uma antiga fazenda. Eles tiveram uma filha e, sob a influência de ópio e cocaína, fundaram um novo culto religioso chamado Thelema. Com Crowley considerando-se um profeta da nova era, a famosa Abadia de Thelema foi fundada. Thelema era uma religião, e sua lei era: “Faze o que tu queres”. Rapidamente, circularam histórias sobre depravação. O povo italiano se ressentiu das atividades diabólicas de Crowley, e Benito Mussolini, o ditador italiano, determinou que ele fosse deportado. Como sempre, Crowley não negou as acusações feitas contra ele.

Crowley também foi membro da Ordo Templi Orientis (O.T.O.) e, em 1925, por fim assumiu liderança e revisou os ritos, estabelecendo rituais da ordem nos mesmos moldes da Maçonaria. A O.T.O. é uma sociedade secreta e, ao longo dos anos, ressurgiu diversas vezes. Atualmente, está em atividade em 25 países, com uma afiliação crescente de mais de 4 mil membros. Segundo consta, todos os homens e mulheres livres, com maioridade completa e bons precedentes, têm o direito de serem iniciados nos primeiros três graus dessa ordem.

Muitos livros ocultos foram escritos por Crowley, os quais, apesar de terem sido escritos com discernimento, são muitas vezes difíceis de serem acompanhados. Um deles é o sagrado Livro da Lei, que tem como princípio fundamental: “Faze o que tu queres há de ser o todo da lei”, que significa que todo homem e toda mulher deverão encontrar sua verdadeira vontade, seu propósito e seu sentido de vida, seguindo isso e nada mais. Dois de seus romances, The Diary of a Drug Fiend (1922) e Moonchild (1929), foram parcialmente baseados em sua vida pessoal e em suas alucinações egomaníacas. Acredita-se que Crowley tenha realizado muitas tentativas sem sucesso, com diferentes mulheres, de procriar uma “criança mágica”. Ele escreveu sobre essas tentativas em forma de ficção no livro Moonchild.

Crowley sempre atraiu um pequeno grupo de seguidores nos Estados Unidos e na Alemanha, talvez não mais de algumas centenas de pessoas por vez, e, por quatro anos, perambulou pela Alemanha e por Portugal, sendo financiado por seus seguidores fiéis. Ao retornar para a Inglaterra, em 1935, foi à falência após perder um processo judicial contra um jornal que o teria chamado de mago negro. A evidência contra ele era devastadora – e é de se imaginar que o caso só tenha sido levado à corte por mera publicidade!

Durante os anos seguintes, Crowley parou de viajar e permaneceu na Inglaterra, onde escreveu muitos outros livros. Ele passou seus últimos anos sozinho em uma pensão em Hastings, como um homem velho e debilitado, mal sobrevivendo por seu vício em heroína. Seu ato final foi amaldiçoar o médico que se negou a prescrever a quantidade de heroína que ele queria. Crowley morreu em 1º de dezembro de 1947, aos 72 anos de idade, e foi cremado em Brighton. Suas cinzas foram enviadas a seus seguidores nos Estados Unidos. O médico que ele amaldiçoou teria morrido em menos de 24 horas depois.

Sem arrependimentos e sem se curvar, ele partiu deste mundo com um desprezo final pela sociedade. Crowley havia preparado seu próprio funeral e, em vez do serviço religioso comum, criou seu último ritual com suas obras. Amigos leram Hymn to Pan e Collects and Anthems, de Gnostic Mass. Passagens selecionadas do Livro da Lei também foram lidas. Houve tantas reclamações por parte do público a respeito do serviço funerário que o Conselho de Brighton decidiu tomar providências para prevenir que um incidente como esse nunca mais acontecesse.

Provavelmente, Crowley foi o mago mais famoso de sua época, tornando-se ainda mais influente após sua morte do que quando estava vivo. Ele foi muitas vezes odiado em vida, mas certamente causou influência e impacto no desenvolvimento da nova era do ocultismo moderno. Seu conhecimento sobre magia e bruxaria era certamente profundo, e ele transmitiu esse conhecimento por meio de seus diversos livros. Na sociedade liberal dos dias de hoje, seus livros estão sendo procurados e reimpressos, e algumas pessoas parecem apreciar seu estranho intelecto. Sua impiedade persistente era um traço de sua personalidade e influenciou homens e mulheres, mas Crowley deixou para traz um rastro de devastação em se tratando das mulheres e dos homens em sua vida. Alcoolismo, vício em drogas, insanidade e suicídio surgiram em seu caminho. Portanto, Crowley era um mago negro perverso? Provavelmente sim, mas tão importante quanto isso era o fato de ele querer que todo mundo acreditasse nisso.

Há uma reviravolta na história, pois, quando Crowley morreu, foi encontrada uma carta da Inteligência Naval Britânica endereçada a ele, requerendo o prazer de sua companhia em uma recepção. A história então revelada é a de que ele teria sido recrutado pela Inteligência Britânica durante a Segunda Guerra Mundial, quando queriam explorar as informações de que nazistas de alto posto estavam envolvidos com astrologia e ocultismo. Agente britânico por muito tempo, Ian Fleming (que escreveu os romances de James Bond) disse que Crowley foi recrutado pela primeira vez para a investigação de Rudolf Hess. Fleming também revelou que foi Crowley quem sugeriu o símbolo de “V” de vitória usado por Churchill – o símbolo com os dois dedos sendo o oposto direto e destrutivo do símbolo solar da suástica.

Atualmente, poucas pessoas irão refutar a ideia de que Crowley teria sido um agente britânico durante a Primeira Guerra Mundial, trabalhando nos Estados Unidos e ajudando na campanha de desinformação, em vez de ter sido um traidor, como se acreditava.

Crowley foi chamado de “o homem mais perverso do mundo”. No entanto, talvez hoje em dia ele não fosse considerado assim. Ele possivelmente seria tratado como um excêntrico, com poucas pessoas se incomodando com seu comportamento – o que não seria de forma alguma apropriado para ele.

#Thelema

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/aleister-crowley-o-homem-mais-perverso-do-mundo

Iniciação no Novo Aeon: O Verdadeiro Eu contém Bem e Mal, O Certo e Avesso

Faça o que tu queres há de ser Tudo da Lei

Nota: originalmente escrito em 14 de abril de 2009

2) O verdadeiro eu contém o bem e o Mau, certo e Avesso

“Meus adeptos ficam de pé ; suas cabeças acima dos céus, seus pés abaixo dos infernos”.

– “Liber Tzaddi”, linha 40

A iniciação no Novo Aeon é “a Criança Crescendo até a Maturidade” pelo assassinato do eu-ego (eu-egóico) cuja “morte é vida por vir” para o Verdadeiro Eu. Mas qual é a natureza desse Verdadeiro Eu? Essencialmente, o Verdadeiro Eu transcende as dualidades. Especificamente, o Verdadeiro Eu transcende a dualidade moral do Bem e do Mau.

As pessoas têm uma tendência comum de imaginar seu objetivo como seu “Eu Superior”, que eles imaginam como Bem Absoluto, cuidadoso, benevolente, etc. Em suma, muitas pessoas constroem um ideal ou uma abstração de seus ideais e crenças mais elevados e acreditam ser essa a sua meta. Crowley afirma em “Magick Without Tears”: “Ele não é, deixe-me enfatizar, uma mera abstração de você mesmo; e é por isso que eu tenho insistido bastante que o termo ‘Eu Superior’ implica uma ‘Maldita heresia e uma perigosa ilusão’”. O termo “Eu Superior” é uma ilusão porque o objetivo da Iniciação no Novo Aeon é fazer com que o indivíduo identifique-se com o “Eu Total” ou “Todo-Eu”, não o “Eu Superior” (ou “Eu Inferior”). Devemos explorar e conquistar os lados “bons” e “maus” de nós mesmos: em termos da psicologia [Junguiana] moderna, não podemos negligenciar nossa própria Sombra. Como Crowley aconselha: “todo mago deve estender firmemente seu império até a profundidade do inferno” (“MIT&P”, capítulo 21). [E] como diz Nietzsche: “As grandes épocas da nossa vida são as ocasiões em que ganhamos a coragem de rebatizar nossas qualidades Malignas como nossas melhores qualidades” (Beyond Good & Evil, Aphorism 116).

Muito do imaginário de Thelema pode ser visto como “sinistro”. Exemplos incluem a “Besta” e “Babalon” do Livro das Revelações (onde eles não aparecem numa ótica favorável); a experiência da divindade como “beijos do Mau [corrompendo] o sangue (…) como um ácido come em aço, como um câncer que corrompe completamente o corpo” (“Liber LXV” I: 13, 16) e “veneno” (“Liber LXV” III: 39 IV: 24-25 V: 52-53, 55-56); o “oculto” dentro de si mesmo em que “todas as coisas são teu próprio Eu” (Liber Aleph, “De Libidine Secreta”) é chamado Inferno ou Satanás (que é identificado com o Sol em Liber Samekh”); etc. Estes [exemplos] poderiam todos ser considerados como tentativas de trazer a psique do indivíduo à aceitação de ambos os aspectos retos e avessos da existência. Poder-se-ia até dizer que é o lado “mais sombrio” do eu que surge por causa de sua negligência nos sistemas do Velho Aeon que se concentram no Bem, Virtude, Graça, etc. e excluem seus opostos. No Novo Aeon afirmamos que o Verdadeiro Eu contém (e portanto transcende) tanto o Bem como o Mau. “Menos que Tudo não pode satisfazer o Homem” (William Blake, “não há nenhuma religião natural”).

Esta idéia do Verdadeiro Eu como contendo tanto o Céu como o Inferno, o Bem e o Mau, certo e Avesso, é capturada sucintamente em “Liber Tzaddi”, linhas 33-42:

“Eu vos revelo um grande mistério. Vocês estão entre o abismo da altura e o abismo da profundidade. Em qualquer um deles vos espera um companheiro; e esse companheiro é Você Mesmo. Você não pode ter outro Companheiro. Muitos se levantaram, sendo sábios. Eles disseram: ‘Buscai a imagem brilhante no lugar sempre dourado e uni-vos a Ela’. Muitos se levantaram, sendo tolos. Eles disseram: ‘Abaixem-se ao mundo sombriamente esplêndido, e se casem com aquela Criatura Cega do Limo’. Eu, que estou além da Sabedoria e da Tolice, me levanto e vos digo: alcançai ambos os casamentos! Unam-se com ambos! Cuidado, cuidado, eu te digo, para que não busques o um e perdeis o outro! Meus adeptos ficam de pé; sua cabeça acima dos céus, seus pés abaixo dos infernos (…) Assim o equilíbrio se torna perfeito”.

Como mencionado na última seção, o Verdadeiro Eu transcende a dualidade da Vida e da Morte. Nesta seção vemos que o Verdadeiro Eu transcende a dualidade de Certo e Avesso, Bem e Mau. O Verdadeiro Eu está mesmo “além da Sabedoria e da Tolice”. Devemos [nos] unir com ambos o Certo, “a imagem cintilante no lugar sempre dourado”, e com o Avesso, “aquela Criatura Cega do Limo.” Somente assim o homem pode vir a conhecer seu verdadeiro Eu: caso contrário, o indivíduo terá uma perspectiva unilateral do eu. Deve-se lembrar que é apenas por causa de suas raízes profundas no chão escuro que uma árvore é capaz de produzir frutos. Como observou o psicólogo Abraham Maslow: “A natureza superior do homem repousa sobre a natureza inferior do homem, precisando dela como fundação e desmoronando sem essa fundação” (Toward a Psychology of Being, 1968).

O método de Iniciação no Novo Aeon é, portanto, um de União de Opostos e Equilíbrio. O equilíbrio não é o da moderação, o Caminho do Meio do Buda (ou a Doutrina da Média de Aristóteles), onde procuramos evitar os extremos e permanecer no centro. O equilíbrio da Iniciação do Novo Aeon é entendido como o equilíbrio alcançado pelo exagero de ambos os extremos de qualquer dualidade. “Vá-te aos lugares mais remotos e subjuga todas as coisas” (“Liber LXV” I: 45). Não tomamos a Certo (“luz branca”) ou avesso (“satânico”) da dualidade Certo/Avesso e miramos apenas para isso; miramos tanto os céus como os infernos. Pode-se dizer, simbolicamente, que o Velho Aeon é como um poste ou uma árvore, onde a seção Certo é reta e estreita, evitando extremos. O Novo Aeon é, então, como um grande edifício ou uma pirâmide onde a base é expandida horizontalmente. Isto mostra simbolicamente que, exagerando os extremos (expandindo a base horizontalmente nessa metáfora), ampliamos nossas fundações, o que nos permite assim suportar melhor os “ventos” da experiência. Como está no Livro da Lei: “A Sabedoria diz: sede forte! Então poderás ter mais alegria. Não seja animal; refina o teu arrebatamento! (…) Mas exceda! Exceda! Esforce-se cada vez mais! “(II: 70-72). William Blake também declarou enigmaticamente: “O caminho do excesso leva ao palácio da sabedoria.”

Novamente, podemos olhar para Hórus (com o Núcleo Infinitamente Contraído em Chama como Seu Coração e o Espaço Infinitamente Expansível como Seu Corpo) como um símbolo Daquilo que transcende as dualidades do Bem e do Mau, do Certo e do Avesso. Ao nos unir tanto com a “imagem cintilante” como com a “Criatura Cega do Limo”, podemos nos conhecer como o Todo que contém, mas transcende ambos: “Posto que duas coisas são feitas e uma terceira coisa é iniciada (…) Hórus pula três vezes armado do ventre de sua mãe” (“Liber A’ash”, linha 8). Como diz Hórus em Visão e a voz: “Eu sou a luz, e eu sou a noite, e eu sou aquilo que está além deles. Eu sou o discurso, e eu sou o silêncio, e eu sou aquilo que está além deles. Eu sou a vida, e eu sou a morte, e eu sou aquilo que está além deles”. Poderíamos acrescentar: “Eu sou bom, e eu sou o Mau, e eu sou aquilo que está além deles”. Hórus, o Sol, é um símbolo Daquilo que contém e transcende as dualidades, uma imagem dos nossos Verdadeiros Eus, idênticos em essência, porém diversos em expressão para cada indivíduo; outros símbolos cognatos incluem o ponto no círculo (o glifo Solar); a Rosa-Cruz; sêmen e fluido menstrual combinados (dois fluidos vivos e generativos combinados em um terceiro que “é uma substância e não duas, não viva e não morta, nem líquida nem sólida, nem quente nem fria, nem macho nem fêmea”- MIT&P, capítulo 20); o Coração circulado pela Serpente “Este meu coração está circundado com a serpente que devora suas próprias espirais” (ver Liber LXV); a cruz no círculo; o círculo ao quadrado (Liber AL II: 47); o Sol e a Lua unidos (chamados “a Marca da Besta” em “Liber Reguli” e “o sigilo secreto da Besta” no 1º Aethyr de Visão e a Voz); o Leão e a Águia; a palavra ABRAHADABRA; e infinitos outros. Em um determinado ritual onde o indivíduo se identifica com Hórus (“Liber XLIV: A Missa da Fênix”), proclamamos nossa transcendência da dualidade moral: “Não há graça: não há culpa:/Esta é a Lei: FAÇA O QUE TU QUERES!”

“Pois a Perfeição não reside nos Pináculos, nem nos Fundamentos, mas na Harmonia ordenada de um com todos”.

– “Liber Causae”, linha 32

Amor é a lei, amor sob vontade.

Link Original: https://iao131.com/2010/08/09/new-aeon-initiation-the-true-self-contains-good-and-evil-upright-and-averse/

#Thelema

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/inicia%C3%A7%C3%A3o-no-novo-aeon-o-verdadeiro-eu-cont%C3%A9m-bem-e-mal-o-certo-e-avesso

Individualização e Verdadeira Vontade

Tradução:Mago implacavel

Revisão: (não) Maga patalógica

Na seção anterior deste ensaio, foi visto como a mente inibe a expressão plena da Vontade. O “fator infinito e desconhecido” é a “Vontade subconsciente”, e, portanto, se podemos eliminar os complexos de pensamento que impedem que essa Vontade se manifeste, conheceremos nossa Vontade. Este processo pelo qual conhecemos e fazemos a nossa Vontade é chamado em alguns lugares “A Grande Obra”. Crowley explica a Grande Obra de conhecer a verdadeira Vontade, de forma concisa quando escreve,

“Não devemos nos considerar como seres básicos, sem cuja esfera é Luz ou” Deus “. Nossas mentes e corpos são véus da Luz interior. O não iniciado é uma “Estrela Negra”, e a Grande Obra para ele é fazer seus véus transparentes “purificando” eles. Esta “purificação” é realmente “simplificação”; não é que o véu esteja sujo, mas que a complexidade de suas dobras torna opaco. O Grande Trabalho consiste, portanto, principalmente na solução de complexos. Tudo em si é perfeito, mas quando as coisas estão confusas, elas se tornam “malvadas”.¹

Este processo da Grande Obra que “consiste principalmente na solução de complexos” também é coincidente com uma frase Crowley freqüentemente usada: Conhecimento e Conversação do Santo Anjo Guardião. Ele afirma essa identidade o mais claramente possível quando escreve: “A Grande Obra é a realização do Conhecimento e Conversação do SAG.”

O processo pelo qual conhecemos e fazemos nossa Vontade é a solução de complexos que inibem o fluxo livre e natural da Vontade. A Grande Obra é simplesmente uma remoção das inibições do eu consciente para permitir que o Eu verdadeiro, que contenha elementos conscientes e subconscientes, reine livremente para fazer o ele Quer. A teoria é que, se só pudermos “limpar as portas da percepção” (como William Blake diz), teremos permissão para manifestar efetivamente a nossa Vontade pura. Crowley escreve: “Nosso próprio Ser silencioso, indefeso e sem palavras, escondido dentro de nós, surgirá, se tivermos arte para soltá-lo para a Luz, avançar rapidamente com seu grito de Batalha, a Palavra de nossas Verdadeiras Vontades. Esta é a Tarefa do Adepto, para ter o Conhecimento e a Conversação de Seu Santo Anjo Guardião, para tomar consciência de sua natureza e seu propósito, cumprindo-os “.³ Aqui Crowley não só faz o Conhecimento e Conversação do Santo Anjo da Guarda análogo a tornando-se consciente e cumprindo a natureza e o propósito de alguém, mas ele admite que tudo o que precisamos é de “ofício para soltar” esse “Eu Mágico” e então, naturalmente, a “Palavra de nossas Verdades Vontades” será “brotar luxuriante pra frente”.

As várias formas de Horus encontradas no Liber AL vel Legis (Ra-Hoor-Khuit, Hoor-paar-kraat, Heru-pa-kraath, Heru-ra-ha, etc.) 4 representam uma expressão simbólica do “Silencioso” ou “True Self” e, portanto, também um símbolo do Sagrado Anjo da Guarda. Horus é, portanto, uma expressão arquetípica do Eu a que todos aspiram a se unir ou se identificar com “A Grande Obra”. Isto é falado em Liber AL quando Hórus, o falante do terceiro capítulo, diz: “Fazei a Mim a vossa reverência! vinde vós a mim através da tribulação do ordálio que é êxtase. “.5 Crowley explica:

Vimos que Ra-Hoor-Khuit é, em um sentido, o Eu Silencioso em um homem, um Nome de seu Khabs, não tão impessoal como Hadit, mas a primeira e menos falsa formulação do Ego. Devemos venerar este eu em nós, então, não para suprimir e subordiná-lo. Nem nós devemos evadir, mas para chegar a ele. Isso é feito “através da tribulação da provação”. Esta tribulação é a experiência no processo chamado Psicanálise, agora que a ciência oficial adotou – na medida em que a inteligência inferior permite – os métodos do magus. Mas a “provação” é “êxtase”; a solução de cada complexo por “tribulação” … é o espasmo da alegria, que é o acompanhamento fisiológico e psicológico de qualquer alívio da tensão e congestionamento “.

Crowley identifica Horus como uma expressão simbólica do Eu cuja Vontade não deve ser suprimida, subordinada ou evadida. O mais surpreendente das declarações de Crowley é que ele afirma que a “tribulação da provação” da Grande Obra é coincidente com a Psicanálise, uma conexão direta novamente entre a psicologia e Thelema. Com isso, podemos ver que o processo da psicanálise é análogo ao “Grande Trabalho” e ao “Conhecimento e Conversação do Santo Anjo da Guarda”: é uma realização do verdadeiro Eu.

Carl Jung considerou esse mesmo processo de “individuação”. Ele define a individuação como:

“Tornando-se um “in-divíduo”, e na medida em que a “individualidade” abrange a nossa singularidade, última e incomparável unicidade, também implica tornar-se a si próprio. Podemos, portanto, traduzir a individuação como “chegando à individualidade” ou “auto-realização …” Os egotistas são chamados de “egoísta”, mas isso, naturalmente, não tem nada a ver com o conceito de “eu”, como estou usando aqui … Individuação, portanto, só pode significar um processo de desenvolvimento psicológico que satisfaça as qualidades individuais dadas; em outras palavras, é um processo pelo qual um homem se torna o ser definitivo e único, ele é de fato. Ao fazê-lo, ele não se torna “egoísta” no sentido ordinário da palavra, mas está cumprindo apenas a peculiaridade de sua natureza, e isso … é muito diferente do egoísmo ou do individualismo.

Jung aqui afirma que a individuação é uma “auto-realização”, mas garante a qualificação dessa afirmação dizendo que isso não significa um fortalecimento do ego essencial. Este eu que se realiza está além da noção egocêntrica normal de “eu”. Em vez disso, este eu contém tanto o consciente (onde o ego reside) quanto os fatores inconscientes. Jung explica que “o consciente e o inconsciente não são necessariamente opostos um ao outro, mas complementam outro para formar uma totalidade, que é o eu” .8 Este é o Eu que vem a “através da tribulação da provação”. Horus é um símbolo desse Eu em Liber AL vel Legis, e em outros lugares o Sagrado Anjo da Guarda é mencionado como esse símbolo. Crowley escreve: “O anjo é o verdadeiro eu de seu eu subconsciente, a vida escondida de sua vida física” e “seu anjo é a unidade que expressa a soma dos elementos desse eu” 9, um paralelo quase exato de A definição de Jung do “eu”.10

Conforme afirmado anteriormente por Crowley, este processo de individuação ou “A Grande Obra … consiste principalmente na solução de complexos”, e é simplesmente tornar-se consciente e satisfazer a própria natureza. Através desta grande obra de individuação, alguém se identifica com este eu. Em Thelema, faz-se tal sob a figura de Hórus.11 Um vem a saber que “ele [ou ela] é Harpocrates, o Menino Hórus … isto é, ele está em Unidade com sua própria Natureza Secreta”. 12

Pode-se até mesmo afirmar que a Grande Obra é um processo natural da psique humana. Carl Jung diz: “a força motriz [do inconsciente], na medida em que é possível para nós entendê-lo, parece ser, na essência, apenas um impulso para a auto-realização” .13 Nesse sentido, todos os humanos estão participando de o drama da “Grande Obra”, cada um esforçando-se, conscientemente ou inconscientemente, para essa união de naturezas subconscientes e conscientes no Eu, para que eles possam realizar suas Forças de forma mais completa.

1 Crowley, Aleister. The Law is for All, I:8.

2 Crowley, Aleister. Liber Aleph, “De Gradibus ad Magnum Opus.”

3 Crowley, Aleister. The Law is for All, I:7.

4 É interessante notar que Crowley diz em seu comentário do Liber Al, “O Louco tamém é o Grande Louco,Bacchus Diphues, Harpocrates, the Eu Anão, o SAG, enfim,” essencialmente equiparando todos os símbolos. Depois, ele escreve em seu comentário do Liber Al II:8, “Harpocrates é… a Alma Anã, o Self Secreto de cada homem, a serpente com a cabeça de Leão.” Se isso for verdade, e de acordo com o Liber Al i:8 “Hoor-paar-kraat” (um nome para Harpócrates) é dado como a fonte do Liber AL vel Legis como o próprio livro proclama, então Liber AL foi de fato a manifestação do inconsciente de Crowley. O fato é que o inconsciente contém “tanto o conhecimento quanto o poder” maior que a mente consciente e, portanto, é bem possível que o Liver Al vel legis seja uma manifestação do mesmo.

5 Crowley, Aleister. Liber AL vel Legis, III:62.

6 Crowley, Aleister. The Law is for All, III:62.

7 Jung, Carl. “The Function of the Unconscious” from The Collected Works of C.G. Jung vol.7, par.266-267.

8 Jung, Carl. “The Function of the Unconscious” from The Collected Works of C.G. Jung vol.7, par.274.

9 Crowley, Aleister. “Liber Samekh,” Ponto II, Seção G.

10 Por estas considerações será visto que o SAG é mais acertadamente não um ente externo como algum grupos thelemicos dizem. Isto é dito provavelemente devido a uma declaração feita por Crowley no Magick Without Tears, um tratado feito pra iniciantes totais. Temos que entender que o subconsciente pode e aparece um autonomo para a mente consciente. Portanto, alguém pode dizer que o Anjo está “fora” do individuo pois parece que ele funciona autonomamente considerando o ponto de vita do ego, mas em ultima instancia , chega-se a ver que o Anjo é, de fato, o somatório de ambas as naturezas subconscientes e conscientes que compõem o Eu.

11 Numa nota de rodapé do capitulo 90 do Confessions of Aleister Crowley, Symonds escreve sobre uma declaração que Crowley fez para um discípulo Frank Bennett: “Quero explicar-lhe plenamente, e em poucas palavras, o que significa iniciação, e o que se entende quando conversamos sobre o Eu Real e o que o Eu Real é. “E então, Crowley disse a ele que era tudo uma questão de conseguir que a mente subconsciente funcionasse; e quando essa mente subconsciente tem permissão a dominação total da mente, sem interferência da mente consciente, então a iluminação poderia começar; Para a mente subconsciente era nosso Santo Anjo da Guarda. Crowley ilustrou o ponto assim: tudo é experimentado na mente subconsciente, e ele (o subconsciente) está constantemente exortando sua vontade na consciência, e quando os desejos internos são restritos ou suprimidos, o mal de todos os tipos é o resultado “. Embora isso seja diretamente ade acrodo com nossas conclusões, incluí-lo apenas em uma nota de rodapé porque é uma conta de terceiros.

12 Crowley, Aleister. Liber Aleph, “De Gramine Sanctissimo Arabico.”

13 Jung, Carl. “The Function of the Unconscious” from The Collected Works of C.G. Jung vol.7, par.291.

Link texto original: https://iao131.com/2013/03/02/psychology-of-liber-al-pt-5-individuation-and-the-true-will/

#Thelema

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/individualiza%C3%A7%C3%A3o-e-verdadeira-vontade