Magia e o Poder da Palavra

Texto muito bacana de K.G.Gomes, ou AbraxasImago.

Um dos grandes questionamentos do iniciante, ao meu ver, é o que “diacho” seria magia e do que ela serviria ao homem que tivesse domínio sobre ela.Isso por ser bastante comum os interessados nelas anteverem primeiramente seus benefícios em detrimento dos encargos impostos.

Pela etimologia da própria palavra sua origem é incerta. Os antigos persas tinham uma visão bem mística da magia,como algo dado ao homem como dons divinos.Muitos desses homens era tidos como “sábios” ou “magi”.Outra possível origem pode ter surgido com a palavra “imago”,que significa “ilusão” e “imagem”. Fazendo uma alusão ao já exposto como “imagem”,”ilusão”,”sábio” podemos arriscar em definir como a magia ser a arte dos sábios de criar coisas miraculosas.

Essa visão de prodígios por muito tempo foi levada pelas mais diversas culturas. Ninguém de fora da arte entendia seu funcionamento.Isso porquê as pessoas não conseguem entender a sua linguagem.

Em qualquer sistema de linguagem e tradução existe uma linguagem que o leigo não entende e a linguagem comum e acessível a sua compreensão, sendo esta separada por um hiato.Essa separação é que afasta o homem do entendimento total acerca daquilo que desconhece.A única maneira de fazê-lo entender algo é ensinando a ele essa linguagem por um sistema de tradução.

Parece viagem,mas a nossa gramática(por exemplo) na verdade é o resultado de séculos de desenvolvimento em cima de grimórios antigos.Sim, grimórios,que são livros de magia compilados ao longo de gerações por autores desconhecidos que atribuiam a autoria e popularidade em cima de autoridades míticas como Salomão,Abraão-O Judeu, Abramelin,etc.

Nesse grimórios o funcionamento de linguagem é o mesmo.Antes de chamar um demônio ou anjo à sua presença,o magista (termo moderninho para mago,mais bonito e menos galhofa) tinha de conhecer a sua hierarquia e função,como um ser vivo de algum filo do reino animalia ou mesmo um indivíduo autônomo que compunha algum dos setores de funcionamento de uma grande empresa ou corporação.

Sabendo a função e posicionamento o mago tinha de saber o seu símbolo arquetípico,uma imagem que codificasse tudo aquilo sobre a dita entidade e que penetrasse no seu subconsciente para acessá-la.Esse caráter de imagem é importante,note bem. A imagem é uma forma de linguagem,porque nela pode se concentrar diversos simbolismos e explicações complexas que levariam mais tempo e esforço de serem transpostas ao papel.

Bom,temos o nome do ser e o seu símbolo.Para ser feita a conexão o magista tem de iniciar uma chamada simples,algo como teclar os números corretos do telefone para poder ter um te-te-a-te-te com a entidade.Mas antes ele deveria estar prevenido de que autoridade investir sobre si e como tratar a entidade,o que falar sem vacilar e expor…em linguagem nada mais são do que pronomes de tratamento,artigos,substantivos…

…essa linguagem é que é fabuloso da magia.O uso da linguagem desconhecida ao grande público e sabida apenas pelo operador do prodígio não é para chamar atenção dos outros,mas do subconsciente do próprio homem.Apopantoskakodaimonos,abrahadabra e outras palavras são fórmulas especiais de acesso a certas áreas restritas do subconsciente que o indivíduo não conseguiria fazer sozinho com a própria consciência.

A arte e ciência entram justamente em comum da magia,porque há uma cosmologia e paradigmas próprios àquele que decide acessar portais ocultos pela realidade aparente das coisas. Pantáculos,círculos,velas,invocações teatrais,orações fervorosas,etc,são muito recorrentes porque existe a técnica e a arte que as desenvolve para acobertá-la daqueles que a querem perverter e não detém de sabedoria e tradução suficientes para entendê-la.Um erro nessa tradução ou não tem efeito ou,no pior dos casos,tem efeitos desastrosos sobre o magista ou sobre o curioso que apenas quer saber como é essa brincadeira,caindo numa puta de uma “bad trip”.

O primeiro passo para o entendimento é se conhecer.O auto-conhecimento é importante,porque a magia não somente mexe com a realidade objetiva que é externa a pessoa,mas com a subjetiva que é interna a este.Caso contrário,como esperas ter o “domínio” sobre uma entidade ou plano de existência se você mesmo não tem controle mínimo sobre sí?

O segundo passo seria conhecer o universo.Estudar todas as ciências-base,que são português,matemática,geografia,história,filosofia,teologia e ciências naturais(física,química e biologia) eram estudadas com afinco por todos os magos.Magia não é um estudo somente da metafísica,mas um aprendizado constante dos planos tangíveis e intangíveis.Paracelso,por exemplo,era químico,médico,filósofo e teólogo.Não à toa Paracelso(o “médico excelso”) é considerado o pai da química e medicina(tanto homeopática quanto alopática,por mais que os últimos e céticos o neguem),algo que o gabarita de forma inquestionável como apto para estudar magia.

O terceiro pode ser o estudo teórico desse conhecimento e a prática deste.Estudar hermetismo ou hermeticismo e praticar theurgia como os gregos antigamente faziam,ou ler cabala e recitar invocações de anjos ou confeccionar pantáculos diversos,ou mesmo rezar sobre a rosa na cruz e transmutar os elementos alquímicos que são inerentes ao seu próprio ser.

Isso se tratando de ciência,em arte não muda muito.O exemplo mais recorrente que me vem agora é o próprio Alan Moore.Ele é escritor, quadrinista,desenhista…e Mago!Ele é simplesmente foda!A frase que me tocou muito quanto a linguagem e que compartilho com vocês é que ele,ao atingir a casa dos 40 ou 50,poderia ter tido uma crise de meia-idade como todo mundo,mas resolveu pirar e se assumir como um mago…e de tanto dizer essas sandices ele se surpreendeu com a ironia do universo,pois a partir do momento que ele se assumiu como mago ele se tornou um.

Essa é a sutileza do caminho.

The mindscape of Alan Moore

(Obs:àqueles que como eu são jumentos em se tratando de inglês,no vídeo tem o recurso de tradutor de legendas fraquinho,mas que dá para se virar bastante,bastando configurar.)

Texto original do blog Lamparina Magicka, que vale ser colocado nos favoritos.

#MagiaPrática

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/magia-e-o-poder-da-palavra

6 ou 18 Meses: Por quanto Tempo, Ó Abramelin, por quanto tempo?

Por Aaron Leitch

Já em 1898, o famoso mago S.L. Mathers publicou uma tradução inglesa de um obscuro pequeno grimório do século 16 chamado ‘O Livro da Magia Sagrada de Abramelin, o Mago.’ Este texto continha o que pode muito bem ser o rito mágico mais único em todo o corpus ocultista ocidental. Não era, como outros grimórios, focado em ganhar riquezas, ou amantes, ou respeito de seu chefe. Não se concentrava em encontrar tesouros enterrados, em tornar-se à prova de balas ou em ganhar outros superpoderes mágicos. Oh, todas essas coisas são encontradas no livro, pode ter certeza, mas todas elas são apresentadas como uma nota de rodapé ao ritual principal: a ligação com o Sagrado Anjo Guardião (ou SAG), a Voz de Deus em sua vida, o Representante Divino e Redentor de sua alma. Não era um ritual simples que se pudesse realizar em uma noite de folga do trabalho e dizer que estava feito; não, o processo de Abramelin era uma dedicação de seis meses que poucos fizeram a gentileza de tentar.

Seria um eufemismo sugerir que o grimório fascinava os ocultistas, tanto na época em que foi publicado como até hoje. Devido ao longo tempo envolvido e ao alto objetivo espiritual do Rito, ele foi rapidamente entronizado como o Ritual Ocidental por excelência. Este era o objetivo final do feiticeiro adepto, a mais alta e mais difícil provação pela qual ele poderia passar, após a qual ele teria acesso ao Verdadeiro Poder! (Tenha em mente, entretanto, que isto contradiz o próprio livro, que apresenta o Ritual como o primeiro passo que se deve tomar no caminho mágico, e até assegura que, uma vez completo o Ritual, você ainda será um neófito com um longo caminho a percorrer (agora com a ajuda de seu Anjo Guardião) e quem sabe um dia alcançar a profundidade.

Assim, o uso do Livro de Abramelin tem sido bastante tímido, com as pessoas esperando muito mais do que deveriam. Você realmente não terminará o do Rito com superpoderes mágicos, ou mesmo com uma firme compreensão de como trabalhar com os espíritos. (Estas são todas as coisas que o Anjo lhe ensinará, lenta e seguramente, ao longo dos anos seguintes). No entanto, de alguma forma, o livro tem sido também subestimado – com a maioria das pessoas assumindo (muito incorretamente) que o Rito, apesar de todo seu comprimento, é simplesmente um ritual de evocação para seu Anjo Guardião. (Na verdade, é um ritual de união permanente com esse Anjo – uma perspectiva muito maior e mais perigosa do que simplesmente convocá-lo para uma conversa e depois mandá-lo embora).

Portanto, no final, o que temos no Livro de Abramelin é um infame grimório que a maioria dos ocultistas colocam sobre um pedestal, mas estão assustados demais para realmente tentar ou geralmente não entendem com o que estão prestes a começar. Tornou-se mais uma lenda do que uma realidade – algo sobre o qual escrever com temor, mas não algo que você ousaria colocar em prática. Ou, como muitos já fizeram, você pode escolher porções do texto que gosta (olhe, talismãs de palavras quadradas que eu não entendo! Vamos usá-los!) enquanto ignora aquele ritual de anjos de meses de duração que exige muito esforço!

Então, no final do século 20, alguns de nós decidimos fazer aquela coisa de Abramelin e ver se funcionava. E, adivinhe? Funcionou muito bem. Tenho quase certeza de que, naquela época, cada um de nós o fazia inteiramente por conta própria. (Sei que eu estava.) Mas então aconteceu a Internet e nós nos encontramos e começamos a conversar a respeito. Em seguida, outros nos encontraram falando sobre isso e perceberam que o Rito de Abramelin não é tão impossível quanto parecia. Então Georg Dehn entrou em cena.

Georg havia colocado suas mãos sobre um manuscrito ainda mais antigo do Livro de Abramelin do que Mathers havia encontrado. Este estava em alemão e não em francês, e era bastante evidente que a versão francesa foi adaptada deste (ou de outro) original alemão. Havia muitas diferenças importantes entre os dois textos – embora este artigo não se trate de compará-los em detalhes. Em vez disso, trata-se de uma diferença importante – provavelmente a maior diferença entre os dois livros: o tempo para o Rito de Abramelin no original alemão era de 18 meses, não de apenas seis!

Agora que as pessoas perceberam que Abramelin é um grimório viável, em vez de um dispositivo literário distante, as duas “versões” de Abramelin causaram certa preocupação. Não é que as instruções técnicas sejam tão diferentes entre as duas, mas a diferença na duração do tempo é marcante. Em vez de trabalhar em três pequenas fases de dois meses cada uma, descobrimos que se pretendia trabalhar em três longos períodos de seis meses cada um. O mago francês que havia adaptado o Rito havia encurtado drasticamente – e isso parece ser o tipo de coisa que você não deveria absolutamente fazer com algo tão importante como isto. Por isso, tenho visto esta pergunta ser colocada repetidamente nos últimos anos: é possível alcançar o Conhecimento e a Conversação do Sagrado Anjo Guardião em apenas seis meses? Será que se deve sequer tentar?

A resposta não é um sim ou não. Para entender isso, há algumas coisas importantes que você tem que entender sobre o Rito. Primeiro, Abramelin não é um ritual com duração de meses, mas apenas de sete dias, que caem logo no final do processo. Os meses de ritual que você realiza antes desses sete dias são todos destinados a um objetivo simples: a purificação. É um longo período de preparação para o Rito de Abramelin propriamente dito, e como tal não é muito diferente das mesmas purificações delineadas em outros grimórios. (A principal diferença é que a purificação de Abramelin dura meses, enquanto a maioria dos grimórios requer apenas dias ou semanas).

A segunda coisa que você precisa entender sobre Abramelin é que ela está longe de ter terminado quando você completa esses sete dias finais. Isto não é um ritual de invocação que você faz e volta para casa! Uma vez alcançado o vínculo com seu SAG, você passará o resto de sua vida trabalhando com seu Anjo Guardião, pois ele o guiará e ensinará de forma lenta e cuidadosa ao longo de seu caminho destinado. Voltarei a este ponto em apenas um momento.

Portanto, o verdadeiro Rito de Abramelin está centrado nesses sete dias finais, e isso nos deixa livres para questionar exatamente quanto tempo precisa ser esse período preliminar de limpeza ritual. O autor francês parecia acreditar que não era necessário passar um ano e meio em reclusão e oração, e encurtou-o para seis meses. Mas será que ele estava certo em fazer isso? É prejudicial ao objetivo final – o Conhecimento e a Conversação do SAG; tomar um atalho tão grande? Ou, se for possível encurtar a duração da purificação, até onde podemos levá-la? Que tal apenas três meses? Três semanas? Três dias? Três horas? Quanto não é o suficiente?

Eu sempre digo a mesma coisa às pessoas: não importa o tempo que você escolha, porque no final você vai fazer a mesma quantidade de trabalho.

Lembre-se, o processo de Abramelin não cessa quando o ritual é feito. Espera-se que você continue trabalhando com seu SAG regularmente pelo resto de sua vida, durante o qual o Anjo o guiará e ensinará, progredindo lentamente de um neófito cabeça dura para um adepto calculista. Todas as promessas de alto nível que você lê no Livro de Abramelin (que, para seu próprio mau serviço, finge acontecer instantaneamente no mesmo dia em que você entra em contato pela primeira vez com seu SAG) realmente acontecem ao longo de um longo período de tempo. Não dias ou semanas, ou mesmo meses – mas anos de trabalho.

Pense desta maneira: para que você consiga uma ligação total com seu SAG, vai levar X anos e/ou meses. Ninguém sabe quanto tempo esse X será para você, exceto seu próprio SAG. Mas, em nome desta explicação, digamos que vai levar 5 anos para você realizar. (Poderia ser menos, mas poderia ser muito mais.) Portanto, não importa o que aconteça, você vai ter cinco anos de trabalho para alcançar seu objetivo. Você pode empreender 6 meses de purificação antes de realizar o Ritual de 7 dias, e ainda levará mais 4 anos e meio de trabalho regular com a SAG antes de alcançar algo. Mas vamos supor que você pegou o caminho dos 18 meses – ainda vai lhe levar mais 3 anos e meio de trabalho regular com sua SAG para atingir o objetivo.

A propósito, no ritual da Santeria chamado Ocha (um Rito muito parecido com Abramelin), eles o fazem passar primeiro pela cerimônia de união, depois você passa um ano na purificação, e depois começa seu treinamento como sacerdote da fé.

Portanto, o tempo que você passa no processo de purificação é relativamente arbitrário. (Eu digo “relativamente” porque não quero dizer que foi escolhido ao acaso, mas apenas que é arbitrário de uma perspectiva técnica). Quer seja 18, 6 ou até 0 meses, você irá passar os X anos /meses de trabalho e treinamento com seu Anjo independentemente.

É claro, não quero dizer isto para sugerir que você pode ou deve encurtar o ritual de Abramelin para algo inferior a 6 meses. Na verdade, acho que ao colocar apenas seis meses de devoção já está empurrando as coisas. Sim, eu mesmo o consegui (e não esqueça que ninguém sabia sobre o original alemão naquela época), mas também acho que tive que compensar isso nos anos seguintes. Meu melhor conselho para os aspirantes é seguir com a versão de 18 meses (mas ainda assim incluindo algumas adições úteis da versão francesa – como o uso de certos Salmos), simplesmente porque isso se encaixará melhor naqueles meses e anos de trabalho que você tem que fazer de qualquer maneira.

Continuem dedicados, buscadores!

 

Aaron Leitch é autor de vários livros, incluindo Secrets of the Magickal Grimoires, The Angelical Language Volume I e Volume II, e o Essential Enochian Grimoire.

Fonte: 6 or 18 Months: How Long, O Abramelin, How Long?, by Aaron Leitch.

COPYRIGHT (2016) Llewellyn Worldwide, Ltd. All rights reserved.

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/alta-magia/6-ou-18-meses-por-quanto-tempo-o-abramelin-por-quanto-tempo/

‘Liber Al vel Legis

Tecnicamente chamado LIBER AL vel LEGIS svb figura CCXX
qual foi ditado por XCIII = 418 a DCLXVI

A.’. A.’.

Publicação em Classe A – B

COMENTO

Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.

O estudo deste Livro é proibido. É sábio destruir esta cópia após a primeira leitura.

Quem não presta atenção a isto incorre em perigo e risco pessoais. Estes são dos mais pavorosos.

Aqueles que discutem o conteúdo deste Livro devem ser evitados por todos, como focos de pestilência.

Todas as questões da Lei devem ser decididas apenas por apelo aos meus escritos, cada qual por si mesmo.

Não existe lei além de Faze o que tu queres.

Amor é a lei, amor sob vontade.

O sacerdote dos príncipes,
ANKH-F-N-KHONSU

I

1 – Had! A manifestação de Nuit.

2 – A desvelação da companhia do céu.

3 – Todo homem e toda mulher é uma estrela.

4 – Todo número é infinito; não há diferença.

5 – Ajuda-me, ó guerreiro senhor de Tebas, em minha desvelação diante das Crianças dos homens!

6 – Sê tu Hadit, meu centro secreto, meu coração e minha língua!

7 – Vede! É revelado por Aiwass o ministro de Hoor-paar-kraat.

8 – O Khabs está no Khu, não o Khu no Khabs.

9 – Identificai-vos pois com o Khabs, e vede minha luz derramada sobre vós!

10 – Que meus servidores sejam poucos e secretos: eles regerão os muitos e conhecidos.

11- Estes são tolos que os homens adoram; seus Deuses e seus homens são tolos.

12 – Aparecei, ó crianças, sob as estrelas, e tomai vossa fartura de amor!

13 – Eu estou sobre vós e em vós. Meu êxtase está no vosso. Minha alegria é ver vossa alegria.

14 –
Acima, o enfeitado azul
É de Nuit o esplendor nu
Curvado em prazer taful;
Hadit secreto é beijado.
Céu de estrela e globo alado
São meus, Ó Ankh-af-na-Khonsu!

15 – Agora sabereis que o escolhido vate e apóstolo do espaço infinito é o sacerdote-príncipe a Besta; e em sua mulher chamada a Mulher Escarlate é todo poder dado. Eles juntarão minhas crianças em seu cercado: eles trarão a glória das estrelas para dentro dos corações dos homens.

16 – Pois ele é sempre um sol, e ela uma lua. Mas a ele é a alada chama secreta, e ela a descendente luz estrelar.

17 – Mas vós não sois assim escolhidos.

18 – Queima sobre suas testas, ó serpente esplendorosa!

19 – Ó mulher de pálpebras azuis, curva-te sobre eles!

20 – A chave dos rituais está na palavra secreta que eu dei a ele.

21 – Com o Deus e o Adorante eu nada sou; eles não me vêem. Eles são como sobre a terra; eu sou no Céu, e não há ali outro Deus além de mim, e meu senhor Hadit.

22 – Agora, portanto, eu vos sou conhecida por meu nome Nuit, e dele por um nome secreto que eu lhe darei quando ele por fim me conhecer. Desde que eu sou o Espaço Infinito e as Infinitas Estrelas de lá, fazei vós assim também. Nada amarreis! Que não haja nenhuma diferença feita entre vós entre qualquer uma coisa e qualquer outra coisa; pois daí vem dor.

23 – Mas quem quer que valha nisto, seja ele o chefe de tudo!

24 – Eu sou Nuit, e minha palavra é seis e cinqüenta.

25 – Dividi, somai, multiplicai e compreendei.

26 – Então diz o profeta e escravo da bela: Quem sou eu, e qual há de ser o sinal? Assim ela lhe respondeu, curvando-se, uma lambente chama azul, tudo-tocando, tudo penetrando, suas mãos amoráveis sobre a terra negra, e seu corpo flexível arqueado para o amor, e seus pés macios não machucando as pequeninas flores: Tu sabes! E o sinal será meu êxtase, a consciência da continuidade da existência, a onipresença do meu corpo.

27 – Então o sacerdote respondeu e disse à Rainha do Espaço, beijando sua amoráveis sobrancelhas, e o orvalho da luz dela banhando o corpo inteiro dele em um doce perfume de suor: Ó Nuit, contínua mulher do Céu, que seja assim sempre; que os homens não falem de Ti como Uma mas como Nenhuma; e que eles não falem de ti de todo, desde que Tu és contínua!

28 – Nenhuma, respirou a luz, tênue e encantada, das estrelas, e dois.

29 – Pois eu estou dividida por amor ao amor, pela chance de união.

30 – Esta é a criação do mundo, que a dor de divisão é como nada, e a alegria da dissolução tudo.

31 – Por estes tolos dos homens e suas penas de todo não te cuides! Eles sentem pouco; o que é, é balançado por fracas alegrias; mas vós sois meus escolhidos.

32 – Obedecei meu profeta! Cumpri as ordálias do meu conhecimento! Buscai-me apenas! Então as alegrias do meu amor vos redimirão de toda a pena. Isto é assim; eu juro pela cúpula do meu corpo; por meu sagrado coração e língua; por tudo que eu posso dar, por tudo que eu desejo de vós todos.

33 – Então o sacerdote caiu em um profundo transe ou desmaio, e disse à Rainha do Céu; escreve para nós as ordálias; escreve para nós os rituais; escreve para nós a lei!

34 – Mas ela disse: as ordálias eu não escrevo: os rituais serão metade conhecidos e metade escondidos: a Lei é para todos.

35 – Isto que tu escreves é o tripartido livro de Lei.

36 – Meu escriba Ankh-af-na-Khonsu, o sacerdote dos príncipes, não mudará este livro em uma só letra; mas para que não haja tolice, ele comentará a respeito pela sabedoria de Ra-Hoor-Khu-it.

37 – Também os mantras e encantamentos; o obeah e o wanga; o trabalho da baqueta e o trabalho da espada; estes ele aprenderá e ensinará.

38 – Ele deve ensinar; mas ele pode fazer severas as ordálias.

39 – A palavra da Lei Q E L H M A Q E L H M A.
(Thelema, formada pelas letras gregas teta-epsilon-lambda-eta-mu-alfa).

40 – Quem nos chama Thelemita não fará erro, se ele olhar bem de perto na palavra. Pois há ali Três Graus, o Eremita, e o Amante, e o Homem da Terra. Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.

41 – A palavra de Pecado é Restrição. Ó homem! Não recuses tua esposa, se ela quer! Ó amante, se tu queres, parte! Não existe laço que possa unir os divididos a não ser o amor: tudo mais é maldição. Maldito! Maldito! Seja para os eons! Inferno.

42 – Deixa estar aquele estado de multiplicidade amarrado e odiando. Assim com teu tudo: tu não tens direito a não ser fazer a tua vontade.

43 – Faze aquilo, e nenhum outro dirá não.

44 – Pois vontade pura, desembaraçada de propósito, livre da ânsia de resultado, é toda via perfeita.

45 – O Perfeito e o Perfeito são um Perfeito e não dois; não, são nenhum!

46 – Nada é uma chave secreta desta Lei. Sessenta e um os Judeus a chamam; eu a chama oito, oitenta, quatrocentos e dezoito.

47 – Mas eles têm a metade: une por tua arte para que tudo desapareça.

48 – Meu profeta é um tolo com seu um, um, um; não são eles o Boi, e nenhum pelo Livro?

49 – Abrogados estão todos os rituais, todas as ordálias, todas as palavras e sinais. Ra-Hoor-Khuit tomou seu assento no Oriente ao Equinócio dos Deuses; e que Asar seja com Isa, que também são um. Mas eles não estão em mim. Que Asar seja o adorador, Isa o sofredor; Hoor em seu secreto nome e esplendor é o Senhor iniciando.

50 – Existe uma palavra a dizer a respeito do trabalho Hierofântico. Vede! Existem três ordálias em uma, e pode ser dada em três caminhos. O grosseiro deve passar por fogo; que o fino seja provado em intelecto, e os elevados escolhidos, no altíssimo. Assim vós tendes estrela e estrela, sistema e sistema; que nenhum conheça bem o outro!

51 – Há quatro portões para um palácio; o chão daquele palácio é de prata e ouro; lápis-lazúli e jaspe estão ali; e todos os perfumes raros; jasmim e rosa, e os emblemas da morte. Que ele entre sucessiva ou simultaneamente pelos quatro portões; que ele fique de pé no chão do palácio. Não afundará ele? Amn. Ho! Guerreiro, se teu servo afunda? Mas há meios e meios. Sede bons portanto: vesti-vos finamente; comei comidas ricas e bebei vinhos doces e vinhos que espumejam! Também, tomai vossa fartura e vontade de amor como quiserdes, quando, onde e com quem quiserdes! Mas sempre em mim.

52 – Se isto não for correto; se confundis as marcas do espaço, dizendo: Elas são uma; ou dizendo Elas são muitas; se os ritual não for sempre para mim: então esperai os terríveis julgamentos de Ra-Hoor-Khuit!

53 – Isto regenerará o mundo, o mundozinho minha irmã, meu coração e minha língua, a quem eu mando este beijo. Também, ó escriba e profeta, se bem que tu és dos príncipes, isto não te redimirá nem absolverá. Mas êxtase seja teu e alegria da terra: sempre a mim! A mim!

54 – Não mudes nem mesmo o estilo de uma letra; pois vê! Tu, ó profeta, não verás todos estes mistérios escondidos aí.

55 – A criança das tuas entranhas, ele os verá.

56 – Não o esperes do Oriente, nem do Ocidente; pois de nenhuma casa esperada vem aquela criança. Aum! Todas as palavras são sagradas e todos os profetas verdadeiros; salvo apenas que eles compreendem um pouco; resolvem a primeira metade da equação, deixam a segunda inatacada. Mas tu tens tudo na luz clara e algo, mas não tudo, na escuridão.

57 – Invocai-me sob minhas estrelas! Amor é a lei, amor sob vontade. Nem confundam os tolos o amor; pois existem amor e amor. Existe o pombo, e existe a serpente. Escolhei bem! Ele, meu profeta, escolheu, conhecendo a lei da fortaleza, e o grande mistério da Casa de Deus.

Todas essas velhas letras de meu Livro estão certas; mas * não é a Estrela. Isto também é secreto: meu profeta o revelará aos sábios.

(o símbolo * é a letra Hebraica Tzaddi)

58 – Eu dou alegrias inimagináveis sobre a terra; certeza, não fé, enquanto em vida, sobre a morte; paz inominável, descanso, êxtase; nem exijo eu coisa alguma em sacrifício.

59 – Meu incenso é de madeiras resinosas e gomas; e não existe sangue ali: por causa de meu cabelo as árvores da Eternidade.

60 – Meu número é 11, como todos os seus números que são de nós. A Estrela de Cinco Pontas, com um Círculo no Meio, e o círculo é Vermelho. Minha cor é negra para os cegos, mas azul e ouro são vistos dos videntes. Também eu tenho uma glória secreta para aqueles que me amam.

61 – Mas amar-me é melhor que toda a coisa: se sob as estrelas da noite no deserto tu presentemente queimas meu incenso diante de mim, invocando-me com um coração puro, e a chama Serpentina ali contida, tu virás deitar-te em meu seio um bocadinho. Por um beijo tu então quererás dar tudo; mas quem quer que dê uma partícula de pó perderá tudo naquela hora. Vós ajuntareis mercadorias e quantidade de mulheres e espécies; vós usareis ricas jóias; vós excedereis as nações da terra em esplender e orgulho; mas sempre no meu amor, e assim vireis à minha alegria. Eu te urjo seriamente a que venhas diante de mim em uma vestimenta única, e coberto com um rico diadema. Eu te amo! Eu te desejo! Pálido ou púrpura, velado ou voluptuoso, eu que sou todo prazer e púrpura, e embriaguez do senso mais íntimo, te desejo. Põe as asas, e acorda o esplendor enroscado dentro de ti: vem a mim!

62 – Em todos os meus encontros convosco a sacerdotisa dirá – e seus olhos queimarão com desejo enquanto ela está de pé nua e regozijante em meu templo secreto – A mim! A mim! Evocando a flama dos corações de todos em seu cântico de amor.

63 – Cantai a canção de amor feliz para mim! Queimai perfumes para mim! Usai jóias para mim! Bebei a mim, pois eu vos amo! Eu vos amo!

64 – Eu sou a filha do Poente, de pálpebras azuis; eu sou o brilho nu do voluptuoso Céu noturno.

65 – A Mim! A Mim!

66 – A manifestação de Nuit está em um fim.

II

1 – Nu! O esconderijo de Hadit.

2 – Vinde! Todos vós, e aprendei o segredo que ainda não foi revelado. Eu, Hadit, sou o complemento de Nu, minha noiva. Eu não sou estendido, e Khabs é o nome de minha Casa.

3 – Na esfera eu sou em toda a parte o centro, enquanto Ela, a circunferência, em parte alguma é encontrada.

4 – No entanto ela será conhecida e eu nunca.

5 – Vede! Os rituais do velho tempo são negros. Que os ruins sejam jogados fora; que os bons sejam purgados pelo profeta! Então este Conhecimento irá corretamente.

6 – Eu sou a flama que queima em todo coração de homem, e no âmago de toda estrela. Eu sou Vida, e o doador de Vida, no entanto por isto conhecer-me é conhecer a morte.

7 – Eu sou o Mago e o Exorcista. Eu sou o eixo da roda, e o cubo no círculo. “Vinde a mim” é uma palavra tola; pois sou eu que vou.

8 – Quem adorou Heru-pa-kraath adorou-me; erro, pois eu sou o adorador.

9 – Lembrai-vos todos vós de que existência é pura alegria; de que todos os sofrimentos são apenas como sombras; eles passam e estão acabados; mas existe aquilo que resta.

10 – Ó profeta! Tu tens má vontade de aprender esta escritura.

11 – Eu te vejo odiar a mão e a pena; mas eu sou mais forte.

12 – Por causa de Mim em ti que tu não conhecias.

13 – Por que? Porque tu eras o conhecedor, e eu.

14 – Agora haja um velar deste sacrário: agora que a luz devore os homens e os engula com cegueira!

15 – Pois eu sou perfeito, não sendo; e meu número é nove pelos tolos; mas o justo eu sou oito, e um em oito: o que é vital, pois eu nenhum sou de fato. A Imperatriz e o Rei não sou eu; pois existe um outro segredo.

16 – Eu sou a Imperatriz e o Hierofante. Assim onze, como minha noiva é onze.

17 –
Ouvi, vós que suspirais!
As dores de pena infinda
Queda aos mortos e mortais,
Quem me não conhece ainda.

18 – Estes são mortos, esta gente; eles não sentem. Nós não somos para os pobres e tristes: os senhores da terra são nossos parentes.

19 – Há um Deus de viver em um cão? Não! Mas os mais elevados são de nós. Eles se regozijarão, nossos escolhidos: quem se amargura não é de nós.

20 – Beleza e vigor, rigor contínuo e delicioso langor, força e fogo, são de nós.

21 – Nós nada temos com o incapaz e o expulso: deixai-os morrer em sua miséria. Pois eles não sentem. Compaixão é o vício dos reis: calcai aos pés os desgraçados e os fracos: esta é a lei do forte: esta é a nossa lei e a alegria do mundo. Não penses, ó rei, naquela mentira: Que Tu Deves Morrer: em verdade, tu não morrerás, mas viverás. Agora seja isto compreendido: Se o corpo do Rei se dissolve, ele permanecerá em puro êxtase para sempre. Nuit! Hadit! Ra-Hoor-Khuit! O Sol, Força e Visão, Luz; estes são para os servidores da Estrela e da Cobra.

22 – Eu sou a Cobra que dá Conhecimento e Deleite e brilhante glória, e movo os corações dos homens com embriaguez. Para adorar-me tomai vinho e estranhas drogas das quais eu direi ao meu profeta, e embriagai-vos deles! Eles não vos farão mal de forma alguma. É uma mentira, esta tolice contra si mesmo. Sê forte, ó homem! Arde, usufrui todas as coisas de senso e raptura: não temas que qualquer Deus te negará por isto.

23 – Eu sou só: não existe Deus onde eu sou.

24 – Vede! Estes são graves mistérios; pois há também de meus amigos quem são eremitas. Agora não penseis encontrá-los na floresta ou na montanha; mas em camas de púrpura, acariciados por magníficas bestas de mulheres com longos membros, e fogo e luz em seus olhos, e massas de cabelo flamejante em volta delas; lá vós os encontrareis. Vós os vereis governando, em exércitos vitoriosos, em toda a alegria; e haverá neles uma alegria um milhão de vezes maior que isto. Cuidado para que algum não force outro, Rei contra Rei! Amai-vos uns aos outros com corações ardentes; nos homens baixos pisai no enérgico ímpeto do vosso orgulho, no dia de vossa cólera.

25 – Vós sois contra o povo, ó meus escolhidos!

26 – Eu sou a secreta Serpente enroscada a ponto de pular: em minhas roscas há alegria. Se eu levanto minha cabeça, eu e minha Nuit somo um. Se eu abaixo minha cabeça, e ejaculo veneno, então há raptura da terra, e eu e a terra somos um.

27 – Existe um grande perigo em mim; pois quem não compreende estas runas fará uma grande falha. Ele cairá dentro do mundéu chamado Porque, e lá ele perecerá com os cães da Razão.

28 – Agora uma maldição sobre Porque e seus parentes!

29 – Seja Porque amaldiçoado para sempre!

30 – Se a Vontade pára e grita Por Que, invocando Porque, então a Vontade pára e nada faz.

31 – Se o Poder pergunta Por Que, então o Poder é fraqueza.

32 – A Razão também é uma mentira; pois existe um fator infinito e desconhecido; e todas as suas palavras são meandros.

33 – Bastante de Porque! Seja ele danado para um cão!

34 – Mas vós, ó meu povo, levantai-vos e acordai!

35 – Que os rituais sejam retamente executados com alegria e beleza!

36 – Há rituais dos elementos e festas das estações.

37 – Uma festa para a primeira noite do Profeta e sua Noiva!

38 – Uma festa para os três dias da escritura do Livro da Lei!

39 – Uma festa para Tahuti e a criança do Profeta-Secreta, ó Profeta!

40 – Uma festa para o Supremo Ritual, e uma festa para o Equinócio dos Deuses!

41 – Uma festa para o fogo e uma festa para a água; uma festa para a vida e uma festa maior para a morte!

42 – Uma festa diária em vossos corações na alegria de minha raptura!

43 – Uma festa toda noite para Nu, e o prazer do mais transcendente deleite!

44 – Sim! Festejai! Regozijai-vos! Não existe pavor no além. Existe a dissolução, e eterno êxtase nos beijos de Nu.

45 – Há morte para os cães.

46 – Falhas? Arrependes-te? Há medo em teu coração?

47 – Onde eu sou estes não são.

48 – Não tenhais piedade dos caídos! Eu nunca os conheci. Eu não sou para eles. Eu não consolo: eu odeio o consolado e o consolador.

49 – Eu sou único e conquistador. Eu não sou dos escravos que perecem. Sejam eles danados e mortos! Amém. (Isto é dos 4: existe um quinto que é invisível, e ali sou eu como um bebê em um ovo.)

50 – Azul sou eu e ouro na luz de minha noiva: mas o brilho vermelho está nos meus olhos; e minhas escamas são púrpuras e verde.

51 – Púrpura além do púrpura: é a luz mais alta que a visão.

52 – Existe um véu; e este véu é negro. É o véu da mulher modesta; e o véu de sofrimento, e o companheiro da morte: e nenhum sou eu. Rasgai abaixo aquele mentiroso espectro dos séculos: não veleis vossos vícios em palavras virtuosas: estes vícios são meu serviço; vós fazeis bem, e eu vos recompensarei aqui e no além.

53 – Não temas, ó profeta, quando estas palavras forem ditas, tu não te arrependerás. Tu és enfaticamente meu escolhido; e abençoados são os olhos que tu contemplares com alegria. Mas eu te esconderei em uma máscara de sofrimento: eles que te verem recearão que tu és caído: mas eu te levanto.

54 – Nem valerão aqueles que gritam alto sua tolice que tu não significas nada; tu o revelarás; tu vales: eles são os escravos de Porque: eles não são eu. A pontuação como quiseres; as letras? Não as mudes em estilo ou valor!

55 – Tu obterás a ordem e valor do Alfabeto Inglês: tu acharás novos símbolos aos quais atribuí-las.

56 – Ide! Vós escarnecedores; apesar de que rides em minha honra vós não rireis longamente: então quando estiverdes tristes sabei que eu vos abandonei.

57 – Ele que é correto será correto ainda; ele que é imundo será imundo ainda.

58 – Sim! Não penseis em mudança: vós sereis como sois, e não outro. Portanto os reis da terra serão Reis para sempre: os escravos servirão. Nenhum existe que será derrubado ou elevado: tudo é sempre como foi. No entanto existem uns mascarados meus servidores: pode ser que aquele mendigo ali seja um Rei. Um Rei pode escolher sua roupa como quiser: não existe teste certo: mas um mendigo não pode esconder sua pobreza.

59 – Cuidado portanto! Amai a todos, pois pode ser que haja um Rei escondido! Dizeis assim? Tolo! Se ele é um Rei, tu não podes feri-lo.

60 – Portanto, golpeia duro e baixo, e para o inferno com eles, mestre!

61 – Existe uma luz diante dos teus olhos, ó profeta, uma luz indesejada, muito desejável.

62 – Eu estou erguido em teu coração; e os beijos das estrelas chovem forte no teu corpo.

63 – Tu estás exausto na fartura voluptuosa da inspiração; a expiração é mais doce que a morte, mais rápida e cheia de riso que uma carícia do verme do Inferno.

64 – Ó! Tu estás sobrepujado: nós estamos sobre ti; nosso deleite está sobre tu todo: salve! Salve: Profeta de Nu! Profeta de Had! Profeta de Ra-Hoor-Khu! Agora regozija-te! Agora vem em nosso esplendor e raptura! Vem em nossa paz apaixonada, e escreve doces palavras para os Reis!

65 – Eu sou o Mestre: tu és o Santo Escolhido.

66 – Escreve, e encontra êxtase na escrita! Trabalha, e sê nossa cama trabalhando! Freme com a alegria de vida e morte! Ah! Tua morte será linda: quem a ver se alegrará. Tua morte será o selo da promessa do nosso anciente amor. Vem! Levanta teu coração e regozija-te! Nós somos um; nós somos nenhum.

67 – Firma! Firma! Agüenta em tua raptura; não se perca com os beijos supremos!

68 – Endurece! Conserva-te a prumo! Levanta tua cabeça! Não respires tão fundo – morre!

69 – Ah! Ah! Que sinto eu? Está a palavra exausta?

70 – Existe auxílio e esperança em outros encantamentos. Sabedoria diz: sê forte! Então tu podes suportar mais alegria. Não sejas animal; refina tua raptura! Se tu bebes, bebe pelas oito e noventa regras de arte: se tu amas, excede em delicadeza; e se tu fazes o que quer que seja de alegre, que haja sutileza ali contida!

71 – Mas excede! Excede!

72 – Esforça-te sempre por mais! E se tu és verdadeiramente meu – e não o duvides, e se tu és sempre alegre! – a morte é a coroa de tudo.

73 – Ah! Ah! Morte! Morte! Tu ansiarás pela morte. Morte está proibida, ó homem, para ti.

74 – A duração da tua ânsia será a força da sua glória. Aquele que vive longamente e deseja muito a morte é sempre o Rei entre os Reis.

75 – Sim! Escuta os números e as palavras.

76 – 4 6 3 8 A B K 2 4 A L G M O R 3 Y X 24 89 R P S T O V A L. Que significa isto, ó profeta? Tu não sabes; nem nunca saberás. Vem um para te seguir: ele o exporá. Mas lembra-te, ó escolhido, de ser eu; de seguir o amor de Nu no céu iluminado de estrelas; de contemplar os homens, de dizer-lhes esta palavra alegre.

77 – E sejas orgulhoso e poderoso entre os homens!

78 – Levanta-te! Pois nenhum existe como tu entre homens ou entre Deuses! Levanta-te, ó meu profeta, tua estatura sobrepassará as estrelas. Elas adorarão teu nome, quadrangular, místico, maravilhoso, o número do homem; e o nome de tua casa 418.

79 – O fim do esconderijo de Hadit; e bênção e veneração ao profeta da amável Estrela!

 

III

1 – Abrahadabra: a recompensa de Ra Hoor Khut.

2 – Existe divisão daqui em direção ao lar; existe uma palavra não conhecida. Soletrar é ineficaz; tudo não é alguma coisa. Cuidado! Espere! Levantai o encanto de Ra-Hoor-Khuit!

3 – Agora seja primeiramente compreendido que eu sou um Deus de Guerra e de Vingança. Eu lidarei duramente com eles.

4 – Escolhei uma ilha!

5 – Fortificai-a!

6 – Cercai-a de engenharia de guerra!

7 – Eu vos darei uma máquina de guerra.

8 – Com ela vós golpeareis os povos; e nenhum ficará de pé diante de vós.

9 – Espreitai! Retirai-vos! Sobre eles! Esta é a Lei da Batalha de Conquista: assim será meu culto em volta de minha casa secreta.

10 – Toma os mandamentos da própria revelação; coloca-os em teu templo secreto – e aquele templo já está corretamente disposto – e eles serão o vosso Kiblah para sempre. Eles não desbotarão, mas cor miraculosa voltará a eles dia após dia. Fechai-os em vidro trancado como uma prova para o mundo.

11 – Esta será vossa única prova. Eu proíbo argumento. Conquistai! Isso basta. Eu farei fácil para vós a abstrução da casa mal-ordenada na Cidade Vitoriosa. Tu a transportarás tu mesmo com veneração, ó profeta, se bem que tu não gostas. Tu terás perigo e tribulação. Ra-Hoor-Khu está contigo. Adorai-me com fogo e sangue; adorai-me com espadas e com lanças. Que a mulher seja cingida com uma espada diante de mim; que sangue corra em meu nome. Calcai aos pés os Gentios; sede sobre eles, ó guerreiro, eu vos darei da carne deles para comer!

12 – Sacrificai gado, pequeno e grande: depois uma criança.

13 – Mas não agora.

14 – Vós vereis aquela hora, ó Besta abençoada, e tu a Concubina Escarlate do desejo dele!

15 – Vós ficareis tristes por isto.

16 – Não penseis demasiado avidamente em apossar-vos das promessas; não temais incorrer nas maldições. Vós, mesmo vós, não conheceis este significado todo.

17 – De todo não temais; não temais nem homens nem Fados, nem Deuses, nem coisa alguma. Dinheiro não temais, nem risada da tolice do povo, nem qualquer outro poder no céu ou sobre a terra ou debaixo da terra. Nu é vosso refúgio como Hadit vossa luz; e eu sou a potência, força, vigor, de vossas armas.

18 – Misericórdia esteja fora: amaldiçoai os que se apiedam! Matai e torturai; não poupeis; sede sobre eles!

19 – Aos mandamentos eles chamarão de Abominação da Desolação; contai bem seu nome, e será para vós tal qual 718.

20 – Por que? Por causa da queda do Porque, que ele não é lá novamente.

21 – Coloca minha imagem no Este: tu te comprarás uma imagem que eu te mostrarei, especial, não dessemelhante àquela que tu conheces. E será subitamente fácil para ti o fazer isto.

22 – As outras imagens agrupa em volta minha para suportar-me: sejam todas adoradas, pois elas se reunirão para exaltar-me. Eu sou o objeto visível de adoração; os outros são secretos; para a Besta e sua Noiva são eles: e para os vencedores da Ordenamemto x. O que é isto? Tu saberás.

23 – Para perfume misturai farinha e mel e grossa borra de vinho tinto: então óleo de Abramelin e óleo de oliva, e depois amolecei e amaciai com rico sangue fresco.

24 – O melhor sangue é da lua, mensal: então o sangue fresco de uma criança, ou pingando da hóstia do céu: então de inimigos: então do sacerdote ou dos adoradores: por último de alguma besta, não, importa qual.

25 – Isto queimai: disto fazei bolos e comei em minha homenagem. Isto tem também um outro uso; seja depositado diante de mim, e conservado impregnado com perfumes de vossa prece: encher-se-á de escaravelhos como já o foi e de coisas rastejantes sagradas para mim.

26 – Estes matai, nomeando vossos inimigos; e eles cairão diante de vós.

27 – Também estes criarão o desejo e o poder do desejo em vós ao serem comidos.

28 – Também sereis fortes na guerra.

29 – Ou então, sejam eles longamente conservados, é melhor; pois incham com minha força. Tudo diante da minha presença.

30 – Meu altar é de latão rendado: queimai sobre ele prata ou ouro.

31 – Vem um homem rico do Oeste que derramará seu ouro sobre ti.

32 – Do ouro forja aço!

33 – Sê pronto a fugir ou a golpear!

34 – Mas vosso lugar santo será intocado através dos séculos: ainda que com fogo e espada ele seja queimado e despedaçado, uma casa invisível está de pé ali, e estará de pé até a queda do Grande Equinócio; quando Hrumachis se erguerá e o que possui duas varas assumirá meu trono e lugar. Outro profeta se erguerá, e trará febre nova dos céus; outra mulher despertará o ardor e adoração da Serpente; outra alma de Deus e da besta misturar-se-á no sacerdote englobado; outro sacrifício manchará a tumba; outro rei reinará; e que benção nenhuma seja mais servida ao místico Senhor de Cabeça de Falcão!

35 – A metade da palavra de Heru-ra-ha, chamado Hoor-pa-kraat e Ra-Hoor-Khut.

36 – Então disse o profeta ao Deus:

37 –
Eu te adoro na canção –
Eu sou o Senhor de Tebas, e eu
O vate inspirado de Mentu.
Para mim desvela o véu do céu,
O sacrificado Ankh-af-na-Khonsu
Cujo verbo é lei. Deixa que eu incite
Tua presença aqui, Ó Ra-Hoor-Khuit!
Unidade extrema demonstrada!
Adoro Teu poder, Teu sopro forte,
Deus terrível, suprema flor do nada,
Tu que fazes com que os deuses e a morte
Tremam diante de Ti:
Eu, eu adoro a ti!
Aparece no trono de Ra!
Abre os caminhos do Khu!
Ilumina os caminhos do Ka!
Nas rotas do Khabs sê tu,
Para mover-me ou parar-me!
Aum! Deixe que me preencha!

38 – De forma que tua luz está em mim; e sua flama rubra é como uma espada em minha mão para empurrar tua ordem. Existe uma rota secreta que eu farei para estabelecer tua rota em todos os quadrantes (estas são as adorações, como tu escreves-te), como é dito:

É minha a luz; faz que eu me vá
Com os seus raios. Sou o autor
De oculta porta ao Lar de Ra
E Tum, de Kephra e de Ahathoor.

Eu sou teu Tebano, Ó Mentu,
O profeta Ankh-af-na-Khonsu!
Por Bes-na-Maut bato no peito;
E por Ta-Nech lanço o feitiço.

Brilha, Nuit, ó céu perfeito!
Alada cobra, luz e viço,
Abre-me tua Casa, Hadit!
Mora comigo, Ra-Hoor-Khuit!

39 – Tudo isto e um livro para dizer como tu chegaste aqui e uma reprodução desta tinta e papel para sempre – pois nisto está a palavra secreta e não apenas no Inglês – e teu comento sobre este o Livro da Lei será impresso belamente em tinta vermelha e negra sobre belo papel feito à mão; e a cada homem e mulher que tu encontras, fosse apenas para jantar ou beber a eles, esta é a Lei a dar. Então talvez eles decidam permanecer nesta felicidade ou não; não tem importância. Faze isto rápido!

40 – Mas o trabalho do comento? Aquilo é fácil; e Hadit ardendo em teu coração fará célere e segura tua pena.

41 – Estabelece em tua Kaaba um escritório; tudo deve ser bem feito e com jeito de negócios.

42 – As ordálias tu fiscalizarás tu mesmo, salvo apenas as cegas. Não recuses ninguém, mas tu conhecerás e destruirás os traidores. Eu sou Ra-Hoor-Khuit; e eu sou poderoso para proteger o meu servo. Sucesso é tua prova; não discutas; não convertas; não fales demais! Aqueles que buscam armar-te uma cilada, derrubar-te, esses ataca sem dó nem trégua; e destrói-os por completo. Célere como uma serpente pisada vira-te e dá o bote! Sê tu mais mortífero ainda que ele! Puxa para baixo suas almas a tormento horrível: ri do medo deles: cospe sobre eles!

43 – Que a Mulher Escarlate se precavenha! Se piedade e compaixão e ternura visitarem seu coração; se ela deixar meu trabalho para brincar com velhas doçuras; então minha vingança será conhecida. Eu matarei sua criança eu mesmo: eu alienarei seu coração: eu a expelirei dos homens: como uma encolhida e desprezada rameira ela rastejará por ruas molhadas e escuras, e morrerá fria e faminta.

44 – Mas que ela se erga em orgulho! Que ela me siga em meu caminho! Que ela obre a obra da maldade! Que ela mate seu coração! Que ela seja gritona e adúltera! Que ela esteja coberta de jóias, e ricas roupas, e que ela seja sem vergonha diante de todos os homens!

45 – Então eu a levantarei a pináculos de poder: então eu irei gerar nela uma criança mais poderosa  que todos os reis da terra. Eu a encherei de alegria: com minha força ela verá e  não perderá tempo para adorar Nu: ela alcançará o  Hadit.

46 – Eu sou o guerreiro Senhor dos Quarentas: os Oitenta se acovardam diante de mim, e são afundados. Eu vos trarei a vitória e alegria: eu estarei nas vossas armas em batalha e vós se deleitareis em matar. Sucesso é vossa prova; coragem é nossa armadura; avante, avante em minha força; e vós não retrocedereis diante de ninguém!

47 – Este livro será traduzido em todas as línguas: mas sempre com o original pela mão da Besta; pois na forma ao acaso das letras e sua posição umas com as outras: nestas há mistérios que nenhuma Besta adivinhará. Que ele não procure tentar: mas um vem após ele, de onde eu não digo, que descobrirá a Chave disso tudo. Então esta linha traçada é uma chave; então este círculo esquadrado em seu fracasso é uma chave também. E Abrahadabra. Será sua criança e isso estranhamente. Que ele não procure por isto; pois dessa forma apenas pode ele cair.

48 – Agora este mistério das letras está acabado, e eu quero prosseguir para o lugar mais santo.

49 – Eu estou em uma secreta palavra quádrupla, a blasfêmia contra todos os deuses dos homens.

50 – Maldição sobre eles! Maldição sobre eles! Maldição sobre eles!

51 – Com minha cabeça de Falcão eu bico os olhos de Jesus enquanto ele se dependura da cruz.

52 – Eu bato minhas asas na face de Mohammed e cego-o.

53 – Com minhas garras eu dilacero e puxo fora a carne do Hindu e do Budista, Mongol e Din.

54 – Bahlasti! Ompheda! Eu cuspo nos vossos credos crapulosos.

55 – Que Maria inviolada seja despedaçada sobre rodas: por causa dela que todas as mulheres castas sejam completamente desprezadas entre vós!

56 – Também por causa da beleza e do amor!

57 – Desprezai também todos os covardes; soldados profissionais que não ousam lutar, mas brincam; todos os tolos desprezai!

58 – Mas os mordazes, aqueles que são sutis e os altivos, a realeza e os elevados; vós sois irmãos!

59 – Lutai como irmãos!

60 – Não existe lei além de Faze o que tu queres.

61 – Há um fim da palavra do Deus entronado no assento de Ra, tornando leves as vigas da alma.

62 – A mim reverenciai! Vinde a mim através de tribulações da ordenação, que é o deleite.

63 – O tolo lê este Livro da Lei, e seus comentários; e ele não o compreende.

64 – Que ele passe pela primeira ordenação, e será para ele como prata.

65 – Pela segunda, ouro.

66 – Pela terceira, pedras de água preciosa.

67 – Pela quarta, as extremas fagulhas do fogo íntimo.

68 – No entanto a todos ele parecerá belo. Seus inimigos que não dizem assim, são meros mentirosos.

69 – Existe sucesso.

70 – Eu sou o Senhor de Cabeça de Falcão do Silêncio e da Força; minha nêmesis cobre o céu azul-noturno.

71 – Salve! Vós gêmeos guerreiros em volta dos pilares do mundo! Pois vossa hora está próxima.

72 – Eu sou o Possuidor Das DUas Varas de Poder, a vara da Força de Coph Nia – mas minha mão esquerda está vazia, pois eu esmaguei um Universo; e nada resta.

73 – Juntai as folhas da direita para a esquerda e do topo ao pé: então contemplai!

74 – Existe um esplendor em meu nome oculto e glorioso, como o sol da meia-noite é sempre o filho.

75 – O fim das palavras é a Palavra Abrahadabra.

 

O Livro da Lei está Escrito
e Escondido.

 

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/thelema/liber-al-vel-legis/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/thelema/liber-al-vel-legis/

A Linguagem Angelical: entrevista com Aaron Leitch

Uma entrevista de Aaron Leitch (AL) concedida à Llewellyn (LL):

Llewellyn (LL): Tenho em minhas mãos dois lindos livros de capa dura – The Angelical Language , volume um e volume dois. Eles parecem incríveis! Primeiro, vamos falar sobre o volume um: A História Completa e Mitos da Língua dos Anjos . O que este livro cobre, e quais partes você está mais animado em termos de ouvir o que a comunidade mágica tem a dizer sobre o que você apresentou aqui?

Aaron Leitch (AL): Sim, o design dos livros é uma verdadeira obra de arte! Vocês da Llewellyn realmente se superaram desta vez, e estou muito orgulhoso de ver este trabalho apresentado com tanta graça digna!

O primeiro volume começa com uma breve visão geral de três tradições ocultas que influenciaram mais diretamente a linguagem – e como ela é usada – nos diários de John Dee. Uma é a prática judaica de “Contar o Ômer” (envolvendo os 50 Portais Cabalísticos do Entendimento). Em segundo lugar estão os vários textos bíblicos apócrifos conhecidos como os Livros de Enoque. Finalmente, incluo também uma breve exploração do misterioso grimório chamado “Livro de Soyga”. Nenhum deste material é exaustivo – eu só queria dar ao leitor uma base histórica básica antes de lançar o material de Dee. O resto do livro se concentra exclusivamente na Linguagem Angélica registrada nos diários e no grimório pessoal de Dee. (A maioria das pessoas conhece isso como a “Língua Enochiana”, embora nunca tenha sido chamada assim por Dee. )

O que mais me empolga é que muitas das informações apresentadas neste livro nunca foram apresentadas antes. Por exemplo, o capítulo dois é dedicado inteiramente ao próprio Livro de Enoque de John Dee – também conhecido como o Livro de Loagaeth (Discurso de Deus). Não é um capítulo curto, mas explora o Livro de Loagaeth em detalhes exaustivos: sua recepção por Dee e Kelley, o que os Anjos tinham a dizer sobre ele, instruções sobre como construí-lo e muito mais. Nenhum outro livro sobre o material de Dee contém tanta informação sobre Loagaeth – e isso é uma pena porque Loagaeth é o coração e a alma de todo o sistema de magia enoquiana.

Outros capítulos cobrem as 48 Chaves Angélicas e seu relacionamento adequado com o Livro de Loagaeth , instruções sobre como usar as Chaves com Loagaeth , o Alfabeto Angélico e como usá-lo para magia angelical e talismânica e uma exploração das mitologias bíblicas por trás o idioma. Para completar, até coloquei um “Saltério Angélico”, que contém as 48 Chaves e outras invocações com traduções e um guia de pronúncia fonética. (É ótimo para uso em cerimônia prática. )

A maior parte do material no Volume Um raramente é mencionado ( se é que é ) na maioria dos livros sobre magia enoquiana. Tanto os iniciantes quanto os adeptos da Enochiana aprenderão aqui coisas que nunca encontraram antes. Isso vai gerar excitação ou controvérsia – qualquer um é legal comigo!

LL: O volume dois é Um Léxico Enciclopédico da Língua dos Anjos . Isso é absolutamente fascinante para mim, pois sou um grande nerd de idiomas. O que deu em você para cruzar todas essas palavras, procurar palavras-raiz e significados alternativos, para fornecer um dicionário de inglês para o angelical? Você é um Trekkie, isto é, um fã de Star Trek? (Estou brincando!)

AL: Este projeto nasceu um dia quando li minha cópia de Stranger in a Strange Land de Robert Heinlein. Essa história é sobre um homem que se perdeu em um planeta alienígena quando criança e foi criado pelos nativos de lá. Quando ele foi descoberto mais tarde e trazido de volta à Terra, eles aprenderam algo que enviou o mundo inteiro ao caos: este homem poderia realizar milagres à vontade. Ele não considerou estranho ou mesmo mágico. Para ele, era como escovar os dentes ou calçar os sapatos: depois que você aprende, é só fazer. Quando as pessoas lhe pediam para ensiná-las a fazê-lo, ele percebeu que não havia palavras humanas para o que ele precisava dizer. Se você quisesse aprender a habilidade, primeiro teria que aprender a língua alienígena. Ele montou uma escola para ensinar essa língua e a chamou de Igreja de Todos os Mundos (soa familiar?).

Na época em que li isso, eu estava trabalhando muito com os Anjos Enochianos. E, enquanto lia o livro naquele dia , eles me contataram com uma mensagem: “Aprenda as partes de nossa Língua que já lhe demos (plural), e vamos te ensinar mais”. Isso fez todo o sentido para mim. Eu tinha visto dezenas de pessoas por aí tentando aprender e até expandir a “Língua Enoquiana” sem a menor referência aos registros de Dee. Como um Anjo poderia levar esse tipo de esforço a sério?

Então, eu me propus a lidar com os diários de Dee e descobrir cada pequeno fragmento de informação que pudesse ser encontrado lá sobre a Língua, a maioria das quais não estava disponível em nenhum livro publicado sobre a magia de Dee. Eu também precisava de um conjunto corrigido das 48 Chaves (também não disponíveis), com referências cruzadas completas, para que eu pudesse montar o Lexicon. Tomado de uma só vez, pretendia ser meu material de estudo pessoal para que eu pudesse aprender a ler e até pensar no idioma.

Como resultado, não me tornei totalmente fluente na língua e certamente não penso nela! Pelo menos ainda não! Mas a promessa feita a mim pelos Anjos se manteve verdadeira. Ao fazer este trabalho, descobri palavras angélicas, elementos- palavra e palavras-raiz – juntamente com vários pontos de gramática, sintaxe e pronúncia que ninguém sabia que existiam. Sem mencionar o fato de que a seção English-to-Angelical do Lexicon é mais abrangente do que qualquer tentativa anterior, e pode ser expandida ainda mais.

Ah, e só para constar — eu também sou um amante da linguística. E eu amo Jornada nas Estrelas!

LL: Como você acha que o Lexicon ajudará outros magos por aí?

AL: Magos praticantes gostam de criar novas invocações Enochianas para sua própria magia. No entanto, nunca houve um recurso para eles traduzirem seus textos adequadamente . Por exemplo, você sabia que Enoquiano [diferente do inglês] tem duas palavras diferentes para o singular “você” e o plural “vocês”? A maioria dos magos enoquianos não sabe disso, mas eu acho que seria uma questão de alguma importância se você estivesse invocando anjos ou espíritos na língua. (Eu posso chamar “você” da Esfera de Júpiter , ou posso chamar “todos vocês” da Esfera de Júpiter – grande diferença!) usá-lo corretamente, é o que leva as pessoas a pensar que a magia enoquiana é de alguma forma excessivamente perigosa ou mesmo demoníaca.

Além disso, e tão importante quanto, analisei e decifrei as notas de pronúncia de Dee para as palavras e criei uma nova chave de pronúncia fonética para facilitar a leitura das palavras. Outros guias de pronúncia para o enoquiano têm sido alfabéticos em vez de fonéticos – o que significa que eles mostram como qualquer letra pode soar, mas não mostram como as letras soam quando combinadas em sílabas. Por causa disso e da obscuridade das próprias notações de Dee, surgiu um mito entre os magos enoquianos de que as palavras não têm pronúncias adequadas, e você pode simplesmente inventar enquanto lê. Na verdade, as palavras têm pronúncias adequadas, e você as verá no meu Léxico pela primeira vez em qualquer lugar.

LL: Em ambos os volumes você se concentra apenas nas palavras que foram transmitidas pelos anjos ao Dr. John Dee e Edward Kelley. Você pode explicar um pouco do seu raciocínio por trás da não inclusão de termos Crowleyanos e outros retardatários na linguagem Angélica?

AL: Assim como mencionei anteriormente, aqueles que seguiram Dee tentaram trabalhar com seu sistema sem gastar muito tempo com seus diários. Isso é ainda mais verdadeiro no que diz respeito à Linguagem Angélica. Nem a Golden Dawn, Aleister Crowley, a Aurum Solis nem muitos outros tiveram tempo para pesquisar exaustivamente os registros de Dee, reunir todas as informações possíveis sobre a Língua e dar uma olhada no quadro maior que teria resultado. Eles não se preocuparam com o que os Anjos tinham a dizer sobre isso, ou sobre como usá-lo corretamente. Eles apenas pegaram as 48 invocações (pelo menos pelo valor nominal!) e correram em suas próprias direções com elas.

De fato, muito trabalho foi feito para propositadamente arrancar a Língua (e a magia enoquiana em geral) de suas raízes na magia dos Anjos da Renascença. Eu queria voltar às raízes da Língua, cortar todas as inclusões posteriores semi-compreendidas dos outros, e fazer o trabalho pesado com os discos de Dee que deveria ter sido feito centenas de anos atrás. Só assim poderemos avançar com a Língua com alguma certeza.

LL: Gosto de me gabar de estar trabalhando nesses livros desde dezembro de 2006, quando seu manuscrito apareceu pela primeira vez na minha mesa em uma caixa enorme . (Ainda tenho aquela caixa – tão pesada que só a postagem custou US$ 15,25!) Mas quanto tempo você levou apenas para chegar a essa fase de rascunho? Há quanto tempo você estava pesquisando e escrevendo antes de imprimi-lo e enviá-lo para Llewellyn?

AL: Dez MUITO longos anos! Bem, na verdade eu tirei dois anos para escrever Segredos dos Grimórios Mágicos! Mas então estava de volta ao Lexicon. Eu tive a ideia para o projeto em 1997, e enviei para você no final de 2006. Adicione o tempo que levou para o processo de publicação, foi um projeto de 13 anos ! E isso, é claro, não inclui meus anos de estudos e práticas enoquianas que levaram à decisão de escrever o Léxico.

LL: Este livro passou por muitas reuniões de visão, reuniões de arte, relatórios de leitores externos e muito mais antes de nos contentarmos em enviá-lo ao nosso departamento de produção – daí a longa linha do tempo deste livro. Esse processo foi frustrante para você ou foi sempre agradável?

AL: Ah não, realmente não foi muito frustrante. Segredos dos Grimórios Mágicos , com suas dezenas de peças de arte e gravuras medievais, foi uma prova muito maior! Este projeto correu muito bem – só foi devagar devido à atenção especializada que obviamente recebeu. Isso sempre me fez sentir bem com esse processo, pois realmente parecia que vocês estavam levando o projeto tão a sério, prestando atenção em cada pequeno detalhe, querendo que isso fosse perfeito.

Enquanto isso, eu realmente não poderia chamar de “agradável” porque era muito trabalho duro! Especialmente considerando o tamanho deste projeto (mais de 900 páginas entre os dois volumes!), as notas de edição continuaram para sempre! Mas cada nota valeu a pena, e o livro resultante é infinitamente melhor do que o que enviei. (Meu editor, Brett, tinha um talento incrível para descobrir meus hábitos de escrita mais irritantes. Quanto ao Angelical, ele confiou em mim para editar meu próprio trabalho, já que ele não pode lê-lo sozinho. Então, confiei em suas habilidades de edição em troca. e funcionou lindamente.)

LL: A pergunta de um milhão de dólares: você acredita que Angelical é uma linguagem real, transmitida por seres celestiais, ou você acha que foi criada por Kelley e Dee, o que seria surpreendente por si só? Ou há uma terceira explicação?

AL: Como de costume , a verdade está no meio-termo. Eu certamente acredito em Inteligências Angélicas, e meu próprio trabalho com elas indicou que Angelical é de fato uma poderosa Linguagem Celestial. Isso não significa que outras pessoas, seguindo outras tradições, possam não obter resultados diferentes.

Enquanto isso, é inegável que as próprias mentes de Dee e Kelley desempenharam um papel no que ele recebeu de seus anjos. Afinal, a palavra angelical para “Reino” é Londoh, e a palavra para “Iniquidade” é Madrid. E você não saberia que o Reino Unido (capital: Londres) estava em guerra com a Espanha (capital: Madrid) na época em que Dee escrevia seus diários?! Nenhuma informação canalizada é encontrada sem a influência da mente que a canalizou.

No entanto, mesmo que o Livro de Loagaeth fosse decifrado e encontrado nada mais do que segredos políticos codificados ou algo assim, não acho que isso impediria os místicos de todo o mundo de usar o Angelical de Dee em sua própria magia e misticismo.

LL: Uma última pergunta – o que os anjos reservam para você em seguida?

AL: Os Anjos já me fizeram trabalhar duro no próximo projeto por vários anos! Desde que Georg Dehn finalmente nos deu uma tradução em inglês do original alemão “Livro de Abramelin”, tenho trabalhado na correção, decifração e tradução da infame palavra quadrada Talismãs encontrada no final do livro. Assim que estiver completo (ou, pelo menos, o mais completo possível) , adicionarei alguma discussão sobre o próprio Rito de Abramelin, incluindo guias aprofundados para aspirantes que desejam realizar a iniciação e colocar a magia de Abramelin em uso prático.

Depois disso, pretendo completar um livro que enfoca as ferramentas mágicas enoquianas, móveis e os vários sistemas de magia que os utilizam. Parte dele será no mesmo estilo de The Angelical Language Volume One , na medida em que explorará os próprios diários de Dee (e de mais ninguém) sobre a magia. Então, parcialmente será um grimório explicando como funciona o sistema. Você poderia dizer que será uma versão enoquiana de Secrets of the Magickal Grimoires .

Fonte: The Angelical Language: An Interview with Aaron Leitch

COPYRIGHT (2010) Llewellyn Worldwide, Ltd. All rights reserved.

Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/enoquiano/a-linguagem-angelical-entrevista-com-aaron-leitch/

Abramelin

Abraao o judeu

1362 – 1460

Tudo o que se sabe sobre Abrão, o mago, alquimista, teólogo e filósofo do século XIV é diretamente derivado do manuscritos de posse da Bibliotheque de l’Arsenal em Paris, um arquivo, deve-se dizer, rico em fontes originais do ocultismo medieval.  O título completo da obra é em português “O Livro da Sagrada Magia de Abramelim, conforme passado por Abrão, o Judeu para seu filho Lamech.” Inteiramente escrito em francês, este documento alega ser a tradução de um manuscrito ainda mais antigo em hebraico, e o estilo da caligrafia sugere um escriba que viveu no século dezoito ou no final do século dezessete. A grafia e gramática do texto sugerem que o autor era ou semiletrado ou pouco cuidadoso, possivelmente não tendo o francês como lingua nativa.

Abraão, (doravente chamado de Abraham para maior acuidade histórica) foi ao que tudo indica nativo de Mayence, nascido em cerca de 1362. Seu pai, Simon, também foi adepto das investigações ocultistas e da prática mágica e desde cedo guioi seu filho nos estudos. Numa certa fase da vida, a tutotia do pai da lugar a um outro professor indetificado com o nome Moses. Abraham no entando ao crescer, rapidamente supera seu segundo mestre ao ponto de o descrever por fim como “um bom homem, mas inteiramente ignorante do Verdadeiro Mistério e da Verdadeira Magia.”

Sem um guia a sua altura, a fase sgeuinte da sua vida é dedicada a numerosas viagens educacionais ao redor do mundo conhecido. Com seu amigo Samuel, boemio por natureza, ele visita a Austria, a Hungria, a Grécia até chegar a Constantinopla (atual Istambul) onde fixou-se por aproximadamente dois anos. Após isso Abraham viajou para a Arabia, em sua época talvez o maior centro de aprendizagem mística do mundo onde dedicou mais alguns anos de vivência. Em seguida dirigiu-se para a Palestina e então para o Egito onde aprendeu uma grande quantidade de segredos ocultos.

Foi nas terras do Egito que Abraham conheceu Abra-Melin, célebre filósofo da região, a esta altura já com idade avançada em uma pequena cidade chamada Arach próxima ao Rio Nilo.  Lá ele vivia em uma casa modesta no topo de um pequeno monte coberto de árvores. Um homem gentil e educado, levando uma vida simples e regrada, apóstolo do Temor a Deus e evitando qualquer acúmulo de riquezas. Ele concordou em ensinar sua sagrada arte a Abraham com a promessa de que ele abandonaria seus falsos fogmas e passaria a viver no caminho e sob a lei de Deus.

Pelo presso de dez florins de ouro, que foram distribuidos aos pobres da cidade, Abra-Melin confiou a Abraham certos documentos contendo uma grande variedade de operações e segredos acumulados durante sua vida. Este conhecimento parece emergir de um cenário ocultista especificamente, mas não exclusivamente judaico. Um exemplo claro disso são as receitas que ele lega para a confecção do óleo e o incenso, que podem ser encontradas de forma idêntica no Pentateuco. Em Êxodo 30:23-25, temos a receita para o Óleo de Abramelim: “Também toma das principais especiarias, da mais pura mirra quinhentos siclos, de canela aromática a metade, a saber, duzentos e cinqüenta siclos, de cálamo aromático duzentos e cinqüenta siclos, de cássia quinhentos siclos, segundo o siclo do santuário, e de azeite de oliveiras um him.” Pouco adiante em Êxodo 30:34-36, temos a receita para o Incenso de Abramelim: “Toma especiarias aromáticas: estoraque, e ônica, e gálbano, especiarias aromáticas com incenso puro; de cada uma delas tomarás peso igual; e disto farás incenso, um perfume segundo a arte do perfumista, temperado com sal, puro e santo e uma parte dele reduzirás a pó e o porás diante do testemunho, na tenda da revelação onde eu virei a ti; coisa santíssimá vos será.”

Após isso Abraham deixa o Egito e segue para a Europa onde eventualmente fixa morada em Würzburg, na Alemanha, tornando-se profundamente envolvido com o estudo da Alquimia. Nesta época ele se casa com uma mulher, provavelmente sua própria prima, que lhe dá três filhas e dois filhos. O filho mais velho foi chamado Joseph e o mais novo recebeu o nome de Lamech.

Assim como seu pai, e provavelmente o pai de seu pai antes dele, Abraham instruiu seus filhos homens nos assuntos ocultos, enquanto que para suas filhas deixou dotes de 100,000 florins de ouro. Esta considerada soma de riqueza, assim como suas muitas viagens demonstram que Abraham foi um homem de posses, a quem nunca faltou sustento e recursos. Tesouro estes que o próprio mago atribuiu aos seus talentos como magista.

Ele também tornou-se célebre ao final da vida ao produzir impressionantes atos de magia na presença de pessoas famosas e importantes de sua época como o próprio Imperador Sigismund da Alemanha, o bisco de Würzburg, Henrioque VI da Inglaterra, o duque da Bavária e o papa João XXII. Aqui a narrativa se encerra e não existe detalhes sobre o final da vida de Abraham, sendo que a data e circustancias de sua morte são incertas, embora seja estimada como ocorrida em meados de 1460.

A Sagrada Magia de Abra-Melin

 

O documento mencionado, que é a origem destas informações biográficas foi traduzido em 1896 por Samuel Liddell MacGregor Mathers, um dos fundadores da Hermetic Order of the Golden Dawn e tornou-se um dos tomos mais importantes da magia cerimonial. As  traduções mais recentes para o inglês feita por Georg Dehn e Steven Guth atribuem a autoria e e identidade histórica de Abraham com a de Rabbi Yaakov Moelin יעקב בן משה מולין. Diversos fatores nos levam a crer que Abraham, o Judeu é o pseudônimo ou o nome iniciático deste Rabbi, pois muitos dados biográficos deles se encaixam como uma luva na narrativa acima passada.

A primeira parte desta obra conta a própria história de vida de Abraham, tal como aqui mencionada. A segunda parte é baseada nos documentos entregues por Abra-Melin durante sua viagem ao Egito. Nesta seção do manuscrito são expostos os princípios gerais da magia, incluindo o capítulos como “Quais são e quais são as classes da Verdadeira Magia”? “O que deve ser levado em consideração para uma operação mágica”, “Como convocar os Espíritos” e “De que maneira devem ser feitas as operações”

A terceira parte do documento é bem menos teórica e o autor supões que seu leitor sabe a base do que está sendo exposto. Aqui são tratadas a parte prática da operação mágica. São técnicas com vários propósitos como: provocar visões, reter espíritos familiares, dominar tempestades, transformar coisas e pessoas em diferentes formas e figuras, voar através dos ares, destruir edifícios, curar doenças, descobrir objetos roubados e caminhar debaixo d`agua. O autor ainda trata da cura taumaturgica de males como a lepra, a paralisia, a febre e o mal estar geral. Ele também oferece conselhos sobre como fazer-se amado por uma mulher e como conseguir o favor de papas, imperadores e pessoas influêntes. Muitas dessas façanhas são realizadas pelo emprego adequado de quadrados e signos cabalísticos. Com eles o autor ensina como causar visões específicas como a de homens armados, ou mesmo como evocar “Comédias, Operas e todo tipo de Música e Dança”. Diferentes símbolos representam diferentes resultados nas operações.

O temperamento e personalidade de Abraham é revelado nas entrelinhas da obra. Nela há um evidênte pouco caso de quase todos os magistas de sua época e um quase desprezo de todas as obras ocultas que não as dele mesmo ou de seu mestre Abra-Melin. Abraham critica abertamente todos aqueles que se contentam com os dogmas das religiões em que nasceram e aponta que ninguém culpado desta falha jamais atingirá qualquer sucesso nas práticas da magia. A doutrina fundamental do livro é que o cosmos é povoado por hostes de anjos e demônios. Os demônios trabalham em última instância, sob a direção dos anjos O homem situa-se entre as forás angélicas e demoniacas. E a cada homem é designado um anjo protetor e um demônio tentador. O objetivo dos grandes iniciados é controlar seu demônio e atingir o contato e conversação com seu sagrado anjo guardião. Uma vez que tenha atigido este grau elevado o magista tem ao seu controle todos os espíritos infernais, e portanto grande poder sobre a criação. Apesar dos claros benefícios materiais e pessoas óbvios, em seus escritos existe uma fé bastante forte de que isso pode e deve ser feito não apenas para o benefício imediato do mago, mas sim como uma conquista que afeta imediatamente a posição da humanidade no cosmos.

 

O impacto no ocultismo posterior

 

Após a tradução de MacGregor Mathers, este sistema ganhou um lugar de destaque no ocultismo ocidental igualavel ao sistema enoquiano e as chaves de Salomão. Sua herança direta pode ser encontrada no Hermetismo, no Rosicrucianismo, na Thelema e mesmo  no Neopaganismo. Sem muita procura pode ser visto nas obras ocultistas posteriores encabeçadas pelo próprio Mathers, assim como nos trabalhos de Aleister Crowley e Dion Fortune. O primeiro obstáculo desta nova geraçao foi tentar sobreviver diante do forte monoteísmo abraamico que permeia todo o sistema de Abra-melin. O temor a Deus é o primeiro e  mais necessário requisito da obra e a todo tempo lembrada. Orações incessantes e leitura constante dos textos bíblicos fazem parte do processo que leva ao contato do Sagrado anjo Guardião. De fato, todos os outros tipos de operações mágicas são tidas por Abraham como falsas e inúteis, verdadeiras armadilhas dos demônios para afastar os adeptos do caminho da Grande Obra. Foi necessária uma releitura histórica de todo o manuscrito para que ele pudesse ser usado em uma época tão mais laica como os século XIX e XX.

O grimório de Abramelim passou a ser visto então como uma coletânea de conhecimentos mágicos muito mais antigos, na mesma medida em que Plotino e Agostinho de Hipona fizeram os ensinamentos de Platão atravessarem a Idade Média, Abramelim foi o responsável por apresentar os mistérios Egípcios e Babilônicos numa roupagem monoteísta. Na perspectiva do ocultismo renascente do período de Crowley e compania, o judeu Abraham aproveitou o trabalho de magistas mais antigos e dos sacerdotes da antiguidade e encharcou com toda a submissão e servidáo própria de sua religião.

Na mão dos autores modernos, o Anjo Guardião de Abraham desdobrou-se em equivalentes como o Gênio da Golden Dawn, ao Augoeideis de Iamblichus, ao Atman do Hinduismo e ao Daemon dos gnósticos. É Cristo em Jesus e Budha em Sidarta. A roupagem judaica foi portanto eliminada em prol de uma imersão com a egrégora mais antiga, mais primal e atávica.

Na magia cerimonial o objetivo é portanto conseguir uma conexão com esta realidade intima superior. Em Magick Without Tears, Crowley é enfático ao dizer: “Nunca se deve esquecer nem por um momento que o trabalho central e essencial do magista é atingir o Conhecimento e Conversação com o Sagrado Anjo Guardião. Uma vez que seja atingido ele deve é claro se inteiramente deixado nas mais deste Anjo, que pode ser invariavelmente e inevitavelmente levá-lo ao grande passo seguinte – atravessar o Abismo e obter o grau de Mestre do Templo.”

Depos da edição de Mathers uma nova edição foi publicada em 1970 reapresentando a história de Abraham e o sistema de Abra-Melin a uma nova geração de magistas, muit mais acostumados com a experimentação e muito menos dada a dogmatismos de qualquer tipo. Apesar do respeito histórico pelo autor, existe uma tendência na maioria dos magistas contemporâneos em afirmam que em realidade o “Anjo da Guarda” de Abraham é o arquétipo profundo do Eu Superior, o Kia de Austin Spare ou do Self, para usar termos psicológicos atualizados. Ao atingir este estado de integração o adepto se torna consciênte de sua Verdadeira Vontade. Sua vida então é esclarecida com seu propósito. Com isso em mente, a operação de Abra-Melin se torna uma exploração do Eu Interior em direção a natureza divina que existe em potencial dentro de cada um. No Brasil, a editora Madras publicou uma edição sob o título “Santo Anjo Guardião – A Magia Sagrada de AbraMelin, o Mago Atribuída a Abraão, o Judeu”.

 

Sources:

The Book of the Sacred Magic of Abra-Melin the Sage. Translated by S. L. MacGregor-Mathers. Chicago: De Laurence, 1932. Reprint, New York: Causeway Books, 1974.
The Book of Abramelin: A New Translation
, Georg Dehn, transl. by Steven Guth, Ibis Publishing, 2006)
Santo Anjo Guardião – A Magia Sagrada de AbraMelin, o Mago Atribuída a Abraão, o Judeu, Editora Madras

 

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/biografias/abrao-o-judeu-e-abramelin/ […]

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