Qliphoth

qliphoth

O Estudo das Qliphoth (ou Qlipoth) não é algo que deva ser feito por pessoas sem o devido conhecimento de Kabbalah, mas certamente faz parte do entendimento necessário a todo estudante de Hermetismo para compreender o mundo ao nosso redor. Através do estudo das cascas, conseguimos compreender os mecanismos pela qual a ignorância, o fanatismo e a violência se entranham na sociedade, tentando corromper todo o Caminho da Criação.

Qliphoth

Por Jeanine Medeiros

No Gênesis, I: 27 encontramos: Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. Se nos colocarmos no lugar dos antigos hebreus e olharmos para este versículo do Livro de Moisés com a mesma sacralidade deles, torna-se impossível o início de uma investigação profunda.

Mesmo antes do nascimento, o bebê no útero encontra no seu pequenino polegar da mão ainda em formação uma fonte de conforto e autocarinho. É o polegar em oposição aos outros quatro dedos que nos torna capazes de construir ferramentas, armas e produzir o fogo desde o inicio dos tempos. A mão distingue primatas de seres humanos no reino animal e é um símbolo perfeito da supremacia da raça humana. Por essa razão, a mão sempre foi objeto de especulação e meditação entre os cabalistas mais antigos.

Os cabalistas do passado nos ensinaram que o alfabeto hebraico é uma ferramenta de criação revelada por Deus aos anjos que instruíram Adão. A letra hebraica para mão é Yod «y», a décima letra do alfabeto e cujo valor gemátrico também é dez. Yod pode ser considerada a letra-mãe ou a letra-fonte de todo alfabeto hebraico, uma vez que todas as outras letras são variações de Yod.

A mão possui quatro dedos e um dedão que os dá suporte, quer dizer, quatro regidos por um. Os qabalistas do passado, portanto, propuseram que a «mão» do Criador – a mecânica do desenvolvimento em evolução – trata-se de uma unidade absoluta manifesta através de um processo quádruplo. Essa fórmula é universal e permeia todos os níveis de existência e consciência. Expressando a mecânica dessa observação fundamental, os místicos qabalistas incorporaram a fórmula em um conceito único de Deus, expresso em um nome de quatro letras: hvhy «IHVH».

Essas quatro letras, hvhy, representam quatro mundos descendentes através do qual o processo de criação se realiza:

y Atziluth, o Mundo Arquetípico, é o mais sublime, sutil e perfeito de todos os mundos (ou planos de existência). Em Atziluth, os aspectos feminino e masculino do Absoluto se encontram em perfeita unidade e bem-aventurança. Os outros três mundos abaixo deste são o produto desta união, que fica mais densa na medida em que se manifesta. Atziluth pode ser considerado a vontade do Absoluto em sua forma mais pura.

h Briah, o Mundo da Criação, é onde a Luz Prístina de Atziluth começa a se organizar. Essa é a morada dos anjos mais sublimes e elevados e pode ser considerado o coração do Absoluto.

v Yetzirah, o Mundo da Formação, é onde a organização fundamental de Briah torna-se específica. Aqui ocorre a formação hierárquica dos anjos, com seus deveres estabelecidos. Yetzirah é a mente do Absoluto.

h Assiah, o Mundo Material, é onde se manifesta a impureza produzida pela degeneração da luz primordial na medida em que ela atravessa (ou passa) através dos três mundos acima, se cristalizando na forma do mundo material como o conhecemos, a natureza e a existência humana.

Tradicionalmente, o Reino dos Qliphoth está associado a Assiah. Os Qliphoth são as cascas ou receptáculos que nos três mundos superiores atuam suportando e mantendo a luz primordial na medida em que ela desce, mas após servir ao propósito da criação/manifestação, eles são descartados como lâmpadas queimadas em Assiah.

Estas cascas são constituídas dos elementos mais grosseiros dos outros três mundos e comportam forças extraordinariamente perturbadoras. Não são espíritos no verdadeiro sentido da palavra, mas receptáculos sem rumo que procuram em vão se preencher com a luz primordial. No entanto, a luz primordial não se manifesta em Assiah da forma sutil que se manifesta nos outros três mundos. Por conta disso, os Qliphoth são desprovidos de energia pura, tornando-se, por assim dizer, vácuos desestruturados que buscam sugar o máximo de luz possível dos habitantes de Assiah, o que inclui a todos nós.

Portanto, os Qliphoth manifestam as qualidades avessas/contrárias dos outros três mundos acima. Assim, o que uma vez foi Kether, a pura essência da unidade, agora se manifesta como Thaumiel, Gêmeos de Deus. O nome significa «gêmeo» ou «deus gêmeo». Representado por dois príncipes malignos, Thaumiel apresenta a polaridade máxima da dualidade. Como as duas faces de Jano, os dois príncipes malignos olham e direções contrárias. Thaumiel é a inversão total dos princípios de Kether. Da mesma maneira, a harmonia representada por Tiphereth encontra sua total oposição em

Thagirion, Litígio. O nome significa «disputa» ou «discórdia». A parte de todas as associações mitológicas, Thagirion representa a natureza antinomiana que opera contra as leis que regem o universo e a criação. Cada Qlipha recebe um nome pejorativo devido sua ação, uma antítese da ordem estabelecida pelas Sephiroth no momento da criação.

Os Qliphoth são, portanto, o dejeto da criação. Uma anti-estrutura demoníaca na Árvore da Vida, no entanto, essencial ao entendimento do processo de criação. Seus habitantes são criaturas titânicas, grotescas e gigantescas que executam o trabalho sujo de construir e sustentar o mundo material como o percebemos. A Tradição Oculta diz que eles são perigosos quando estão desordenados, descontrolados, ignorados ou não são conhecidos. De fato, muito daquilo que acreditamos ser nós mesmos, quer dizer, o corpo, a mente e a personalidade, pode ser considerado receptáculos qliphóticos da essência sutil e incompreendida que representa nossa verdadeira identidade.

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‘Despertar dos Mágicos

Escrito por Louis Pawels, jornalista e escritor e Jacques Bergier, engenheiro químico e escritor, O Despertar dos Mágicos (Le Matin des magiciens) publicado pela primeira vez na França, em 1960, é considerado como um manifesto do realismo fantástico. O livro fala de ocorrências insólitas, dedicando muitas páginas ao trabalho de Charles Fort, incansável compilador de estranhezas do mundo; e apresenta a fantasia real dos grandes mistérios da Humanidade entre as verdades e os mitos de sociedades secretas, civilizações desaparecidas, ciências ocultas, religiões.

Investigando as sombras do terrível fenômeno nazista, os autores revelam as conexões entre a política nacional-socialista do partido de Hitler e o ocultismo mitológico que virou moda no Ocidente a partir da segunda metade do século XIX. O fantástico na realidade é aspecto metafísico interagindo com físico; o invisível em sua relação com o visível; a percepção que vai além dos sentidos; a comunicação sem barreiras de código, tempo e espaço. A realidade fantástica é alquimia, é telepatia, mediunidade; é, também, a decomposição do átomo em partículas.

O Despertar dos Mágicos é livro que introduz o público leigo no Universo do ocultismo, da magia, dos mistérios que a ciência não consegue explicar. A edição inglesa, publicada em 1963, The Morning of the Magicians, transformou o título em best-seller mundial. Entre as décadas de 1960 e 1970 foram vendidos mais de dois milhões de exemplares em diferentes idiomas. A edição espanhola saiu em 1962: El retorno de los brujos.  O sucesso do livro foi tão grande que, já em 1961, Bergier e alguns colaboradores começaram a editar uma revista mensal sobre os mesmos temas. Era a revista Planeta, cuja versão brasileira, muito conhecida, é pioneira na abordagem de assuntos misticos-esotéricos.

 

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[…] Quando estive em Angola, li o livro de Jacques Bergier, Despertar dos Magicos. […]

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As Origens da Mitologia Grega

O mito era o coração da sociedade grega antiga, como forma de entender os fenômenos naturais e os acontecimentos sem a ação dos humanos. Os gregos, crentes nas histórias e nas narrativas dos poetas, estabeleceram rituais e cultos fundamentados nessas lendas heróicas, divinas e humanas. Desde aquele tempo, o ser humano precisou criar concepções lógicas acerca das histórias contadas apenas pelos poetas. O filósofo Homero fazia a educação da Grécia e, para os gregos, os mitos eram a mais pura verdade.

Os deuses eram divindades com atribuições próprias e com inúmeros poderes. Eram imortais, podiam salvar ou destruir. Tinham o poder de transformar-se em objetos e animais ou adquirir outras personalidades. A mitologia, embora seja repleta de narrações sobre batalhas, traições, intrigas e maldades, servem para interpretação subjetiva dos diversos arquétipos que ainda hoje são muito atuais e que encontramos em nossos dias.

Localizada na junção da Europa, Ásia e África, a Grécia é o berço de nascimento da democracia, da filosofia e literatura, da historiografia e ciência política e dos mais importantes princípios matemáticos. É o berço de nascimento do teatro ocidental, incluindo os gêneros do drama, tragédia e o da comédia e dos jogos olímpicos.

Apaixonados pelo debate e pela controvérsia, os gregos criaram os primeiros ordenamentos políticos com cunho democrático, onde compartilhavam e defendiam argumentações. Esses princípios fundamentais definiram o curso do mundo ocidental e também divulgaram a mitologia grega, que ainda se torna eficiente, segundo muitos autores, para a educação acadêmica como também para um entendimento profundo e filosófico do ser humano.

Segundo estudiosos, diversas teorias buscam explicar as origens da mitologia grega:

* Teoria Escritural, as lendas mitológicas procedem de relatos dos textos sagrados, no qual os feitos reais foram disfarçados e, posteriormente, alterados.

* Teoria Alegórica: os mitos antigos eram alegóricos e simbólicos, porém com verdade moral, religiosa ou filosófica ou um fato histórico que, com o passar do tempo, passou a ser aceito como verdade.

* Teoria Histórica: todas as personas mencionadas na mitologia foram seres humanos reais, e as lendas sobre elas são meras adições de épocas posteriores.

* Teoria Física: os elementos ar, fogo e água foram objetos de adoração religiosa, e passaram a ser personificações desses poderes da natureza.

Os historiadores acreditam que os gregos começaram a dar novas interpretações acerca das coisas e a desacreditar dos poetas e dos dramaturgos, insistentes em inventar narrativas e lendas sobre a origem e os motivos das coisas. Ao tentar aprofundar sua compreensão sobre os mitos gregos, o homem da Grécia antiga encontrou certas limitações e contradições nessas histórias, o que desencadeou em uma série de processos filosóficos.

A filosofia surgiu justamente para compreender a verdade, mas de outra forma. Uma das contradições, defendidas por historiadores, foram as viagens marítimas empreendidas pelos gregos e a exploração de algumas regiões nas quais acreditavam serem habitadas por deuses. Porém, ao visitá-las, puderam constatar que era povoada por seres humanos.

As explorações marítimas dos gregos – uma das primeiras do homem antigo – contribuíram para a decadência do mito. Os estudiosos acreditam que os gregos, ao inventarem o calendário, conseguiram calcular o tempo como forma de prever e entender os estados térmicos, o sol e a chuva e outros fatores climáticos, antes vistos como feitos divinos e incompreensíveis. Isso proporcionou uma grande mudança na crença dos mitos.

De forma semelhante, a invenção da moeda como forma de trocas abstratas e a escrita alfabética, como forma de materialização de textos antes propagados somente pela oratória, além da invenção da política para a exposição das opiniões sociais, foram marcos da sociedade grega que, com o início dessa vida urbana e mais moderna, começou a tecer bases para o artesanato, o comércio e outras criações, que propiciaram a depreciação dos mitos.

Com essas mudanças, o homem viu a necessidade de entender e desenvolver, criando a filosofia para suprir essa incompreensão. Os filósofos e estudiosos creem que as habilidades poderosas de mudança saíram das mãos dos deuses imaginários, foram assumidas pelos homens antigos e se estendem até nossos dias atuais, onde acreditamos que uma administração política adequada — realizada e levada avante pelos homens e não pelos deuses — pode resultar numa influência positiva nas sociedades, assim como uma administração inadequada resulta em influências negativas.

OS ARQUÉTIPOS

Arquétipo é um termo usado por filósofos neoplatônicos, como Plotino, para designar as ideias como modelos de todas as coisas existentes, segundo a concepção de Platão. Nas filosofias teístas o termo indica as idéias presentes na mente de Deus. Pela confluência entre neoplatonismo e cristianismo, termo arquétipo chegou à filosofia cristã, sendo difundido por Agostinho, provavelmente por influência dos escritos de Porfírio, discípulo de Plotino.

Arquétipo, na psicologia analítica, significa a forma imaterial à qual os fenômenos psíquicos tendem a se moldar. C. G. Jung usou o termo para se referir aos modelos inatos que servem de matriz para o desenvolvimento da psique. Eles são as tendências estruturais invisíveis dos símbolos. Os arquétipos criam imagens ou visões que correspondem a alguns aspectos da situação consciente.

Jung deduz que as imagens primordiais, um outro nome para arquétipos, se originam de uma constante repetição de uma mesma experiência, durante muitas gerações. Funcionam como centros autônomos que tendem a produzir, em cada geração, a repetição e a elaboração dessas mesmas experiências. Eles se encontram isolados uns dos outros, embora possam se interpenetrar e se misturar.

O núcleo de um complexo é um arquétipo que atrai experiências relacionadas ao seu tema. Ele poderá, então, tornar-se consciente por meio destas experiências associadas. Os arquétipos da Morte, do Herói, do Si-mesmo, da Grande Mãe e do Velho Sábio são exemplos de algumas das numerosas imagens primordiais existentes no inconsciente coletivo. Embora todos os arquétipos possam ser considerados como sistemas dinâmicos autônomos, alguns deles evoluíram tão profundamente que se pode justificar seu tratamento como sistemas separados da personalidade. São eles: a persona, a ânima, o animus e a sombra.

Chamamos de instinto aos impulsos fisiológicos percebidos pelos sentidos. Mas, ao mesmo tempo, estes instintos podem também manifestar-se como fantasias e revelar, muitas vezes, a sua presença apenas através de imagens simbólicas. São estas manifestações que revelam a presença dos arquétipos, que as dirigem. A sua origem não é conhecida e eles se repetem em qualquer época e em qualquer lugar do mundo – mesmo onde não é possível explicar a sua transmissão por descendência direta ou por fecundações cruzadas, resultantes da migração.

Os arquétipos são a principal origem da ligação entre a Física e a Psicologia, pois é por meio deles que os fenômenos psíquicos estudados pela psicologia analítica se manifestam, frequentemente violando as leis físicas da ordem temporal e espacial. O estudo interdisciplinar destas estruturas imateriais e seus fenômenos teve origem com Jung e Pauli, na primeira metade do século 20, estendendo-se até hoje com a linha de pesquisa da Física e Psicologia.

Por Lúcia de Belo Horizonte.

#Mitologia #MitologiaGrega

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“Serpente Kundalini” e o Papel do Sexo em Gurdjieff

C. Baptista

Muitos dos candidatos à senda iniciática e os neófitos em ocultismo exalam suspiros ansiosos diante da simples menção da palavra “sexo”. O pronunciar do mantra “Kundalini” exerce efeito vibracional da mesma magnitude ou maior, sem dúvida ampliado quando conjugado ao vocábulo sânscrito “Tantra” ou junto ao supra sumo dos gurus orientais, a “Yoga”.

Isso resulta em “Kundalini Yoga” ou “Tantra Yoga”. Seria engraçado notar outras associações que só a risível mecanicidade dos homens explicaria mas não é outro nosso propósito que anotar o pensamento de P. D. Ouspensky contido em “Fragmentos de um Ensinamento Desconhecido – Em busca do Milagroso”, esta obra notável que, em que pesem as diferenças com o estilo argumentativo e a didática do mestre conserva em linhas magistrais o essencial de seu pensamento apresentado nas conferências a que compareceu P.D.O.

A visão de G (como chamaremos à moda usual de Georges Illitch Gurdjieff) começa a ser esboçada quando fala do repertório definido de pais que o homem representa habitualmente e como “(…) o estudo dos papéis que cada um representa é uma parte indispensável do conhecimento de si. O repertório de cada homem é extremamente limitado’. Esses papéis, como observa, exercem uma função prodigiosa nas relações entre homem e mulher (pg. 290) e demonstram como o tipo real, a essência, é escondida nestas mesmas relações pois elas se travam com base em uma espécie de “coincidência de gostos”, por assim dizer, correlacionada à personalidade (aparência e não à essência) do casal. “(…) o homem ‘mecânico’ não pode amar. Nele, isto ama ou isto não ama”.

A grosso modo, o “sistema” de Gurdjieff é fundamentada no pressuposto de que o homem é uma máquina e para estudá-lo é antes necessário compreender a mecânica que a psicologia em sentido estrito. Para o homem “tudo acontece” e ele dificilmente escapa ao conjunto de “leis da mecanicidade” por esforço próprio o que, não obstante, pode ser feito por um esforço consciente em grupo capaz de produzir “choques artificiais” adicionais que garantam a cristalização de algo mais sutil em si mesmo.

Poucos compreendem, entretanto, a importância que desempenha o sexo no conjunto do sistema porque via de regra se resumem os “centros do homem” aos centros instintivo, motor, emocional e mental. O “centro sexual” cumpre um papel que é ignorado por muitos adeptos do “Quarto Caminho” (ou a escola introduzida por G. Gurdjieff no Ocidente) ou é entendido como a contrapartida conceitual da famosa “kundalini” hindu, ao qual difere em número, gênero e grau.

“Kundalini” para Gurdjieff em nada se aparenta à “serpente ígnea” que se aloja no chackra situado na base da coluna e o “despertar de kundalini” não se relaciona em absoluto ao acréscimo de faculdades desconhecidas ou poderes (“sidhis”) transcendentes. Na realidade:

“(…) é a potência da imaginação, a potência da fantasia, que usurpa o lugar de uma função real” (…). “Kundalini é uma força introduzida nos homens para mantê-los em seu estado atual”. Despertar para o homem significa ser “deshipnotizado”.

Kundalini é algo que foi colocado no homem “por fora” e serve para mantê-los escravizados, sujeitos ás leis mecânicos e reféns das influências planetárias, transformando-se em “alimento para a lua” de acordo com a utilidade quer forças de ordem cósmica reservaram à terra na economia da universo. Sem “Kundalini” o homem não é mais hipnotizado, não age como na velha fábula em que o cordeiro pensa que é um Leão.

Kundalini, posteriormente tratada nos “Contos de Belzebu a seu Neto” nada mais é que o estranho órgão “kundabuffer” que faz com que os homens e mulheres neste pequeno planeta, estes insólitos seres “tricerebrados” ajam de maneira tão estranha diante dos olhos do estupefato neto do velho e sábio Belzebu.

Como afirmava o velho caucasiano em suas conversas com os mais seletos discípulos,

Ao mesmo tempo, o sexo desempenha um papel enorme na manutenção da mecanicidade da vida. Tudo o que as pessoas fazem está em ligação com o sexo; a política, a religião, a arte, o teatro, a música, tudo é sexo”. (…) Essa é a principal fonte de energia de toda a mecanicidade. Todos os sonos, todas as hipnoses dela decorrem. Tentem compreender o que quero dizer. A mecanicidade é particularmente perigosa quanto as pessoas não a querem tomar pelo que é e tentam explicá-la por outra coisa. Quando o sexo é claramente consciente de si mesmo, quando não se esconde por trás de pretextos, não se trata mais de mecanicidade de que falo. Ao contrário, o sexo, que existe por si mesmo e não depende de mais nada já é uma grande realização. Mas o mal reside nessa perpétua mentira de si mesmo”.

O sexo é a principal fonte da escravidão humana e o laço que o ata em caráter quase irrevogável à mecanicidade, impedindo-o de ser algo mais que uma simples e previsível máquina. Contudo, há algo de positivo nele, desde que exploradas suas possibilidades enquanto fator de “transmutação” do homem.

Lembram-se do que foi dito a respeito das quarenta e oito leis? Não podem ser modificadas, mas é possível libertar-se de grande número delas. Quero dizer, há uma possibilidade de mudar. O estado de coisas para si mesmo pode escapar à lei geral. Aí, como em qualquer outra parte, a lei geral não pode ser mudada, tanto mais que a lei de que falo, isto é, o poder do sexo sobre as pessoas, oferece possibilidades muito diversas. O sexo é a principal fonte de nossa escravidão, mas também nossa principal possibilidade de libertação”.

Neste ponto ingressa-se no campo da alquimia enquanto ciência das transmutações e estudo da unidade da matéria. O sexo se torna ingrediente indispensável no processo que conduz ou ao nascimento de um novo corpo físico à base da união dos princípios masculino ou feminino ou à constituição de um corpo astral sem “bodas alquímicas”, sem o “sol e lua” como se pode dizer (Gurdjieff e Ouspensky não usavam essa notação alquímica.

O processo de Criação de um Novo Corpo Físico depende da forma como são manipuladas substâncias sutis, em especial a mais fina e rara que pode ser produzida pela fábrica humana (o corpo humano de três andares), o hidrogênio si 12. Por assim dizer:

O novo ‘nascimento’ de que falamos, depende da energia sexual tanto quanto o nascimento físico e a propagação das espécies”. “(…) o hidrogênio si 12 é o hidrogênio que representa o produto final da transformação do alimento no organismo humano. É a matéria a partir da qual o sexo trabalha e produz. É a ‘semente’ ou o ‘fruto’. “(…) si 12 pode passar ao dó da oitava seguinte com o auxílio de um ‘choque adicional’. Mas esse ‘choque’ pode ser de dupla natureza e duas oitavas diferentes podem começar, uma fora do organismo que produziu si, outra no próprio organismo. A união dos si 12 masculino e feminino – e tudo que a acompanha – constitui o ‘choque’ da primeira espécie e a nova oitava começada com a sua ajuda desenvolveu-se independentemente, como um novo organismo ou uma nova vida’.

“Essa é a maneira normal e natural de utilizar a energia de si 12. entretanto, no mesmo organismo há outra possibilidade. É a possibilidade de criar uma vida nova dentro do organismo onde si 12 foi elaborado, mas desta vez sem a união dos princípios masculino e feminino”.

Gurdjieff deixa claro que a energia sexual só pode ser gasta de duas maneiras legítimas, a vida sexual normal e a transmutação. “(…)Neste domínio, qualquer invenção é das mais perigosas”. Isso pode ser entendido como uma admoestação que visa coibir as chamadas práticas da “mão esquerda” (não entendidas, diga-se de passagem, à moda piegas de vários autores ocultistas, principalmente “teósofos” mas como um conjunto de ações que deturpam o caminho e aumentam a mecanicidade do homem).

O sexo, em si, se normal e bem utilizado é bom e saudável. O grande mal, o mais pernicioso é o “abuso do sexo” Como Gurdjieff entende a expressão “abuso do sexo”?

Ela designa o mau trabalho dos centros em suas relações com o centro sexual ou, noutros termos, a ação do sexo exercendo-se através dos outros centros e a ação dos outros centros exercendo-se através do centro sexual, ou para ser mais preciso, o funcionamento do centro sexual com o auxílio da energia tomada dos outros centros e o funcionamento dos outros centros com o auxílio da energia tomada do centro sexual”.

Abuso do sexo é qualquer situação que produz o mal funcionamento dos centros, sua desarmonia e desorganização. O centro sexual rouba energia dos demais centros (o motor, o emocional e o mental) e estes se alimentam, por seu turno, das energias do centro sexual. Nesse caso o homem se descontrola e tende a se tornar um ser horrendo e desprezível. O sexo como parte neutralizante do centro motor deixa de operar e seu centro, o centro sexual, passa a se “alimentar” de coisas mais impuras e grosseiras.

”(…) O centro sexual trabalha com o hidrogênio 12, disse ele desta vez. Isto é, deveria trabalhar com ele. O hidrogênio 12 é si 12 mas o fatoé que raramente trabalha com o seu hidrogênio próprio. As anomalias no trabalho do centro sexual exigem estudo especial”.

Além de tomar para si “hidrogênios inferiores”, o centro sexual começa adquirir caraterísticas que não são próprias dele, é contaminado por atributos dos demais centros e, em especial, do centro emocional. Como demonstra G.; no centro sexual, no centro emocional superior e no intelectual superior não há duas partes.

Tudo o que se relaciona com o sexo deveria ser, quer agradável, quer indiferente. Os sentimentos e as sensações desagradáveis provêm todos do centro emocional ou do centro instintivo”.

Mas em conseqüência do mau trabalho dos centros, acontece freqüentemente que o centro sexual entra em contato com a parte negativa do centro emocional ou do centro instintivo. A partir daí, certos estímulos particulares ou mesmo quaisquer estímulos do centro sexual, podem evocar sentimentos desagradáveis, sensações desagradáveis”.

O sexo é importantíssimo por fim pois é o mais rápido dos centros por trabalhar com o hidrogênio 12.

“(…) Isto significa que ele é mais forte e mais rápido que todos os outros centros. De fato, o sexo governa todos os outros centros (pq. 292)”.

“(…) Quando a energia do sexo é saqueada pelos outros centros, é esbanjada num trabalho inútil, nada resta para ele mesmo e deve, a partir de então, roubar a energia dos outros centros, que é de qualidade bem inferior à sua e bem mais grosseira”.

Mas quando o centro sexual trabalha com energia que não é a sua, isto é, com os hidrogênios relativamente inferiores, 48 e 24, suas impressões tornam-se muito mais grosseiras e ele cessa de ter no organismo o papel que poderia desempenhar. Ao mesmo tempo sua união com o centro intelectual e a utilização de sua energia pelo centro intelectual provocam um excesso de imaginação de ordem sexual e, por acréscimo, uma tendência a satisfazer-se com essa imaginação. Sua união com o centro emocional cria a sentimentalidade, ou, ao contrário, a inveja, a crueldade”.

As mais grandiosas obras em todos os terrenos são frutos inegáveis da ação do centro sexual. Essa energia se reconhece “(…) por um ‘sabor’ particular, por um certo ardor, por uma veemência ‘desnecessários”. O maior desafio do homem que trabalha sobre si mesmo no espírito do quarto caminho e compreender (e antes SER para COMPREENDER) como utilizá-la da forma correta e não fazer mal uso do sexo tornando-se um infra-sexual conforme ensina Ouspensky em “Um Novo Modelo do Universo”. Um demônio vil, asqueroso e perverso aguilhoado pela torpe sujeição aos mais abjetos prazeres que satisfaçam sua mecanicidade.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-sexual/serpente-kundalini-e-o-papel-do-sexo-em-gurdjieff/

Os Mistérios Eleusis e a Grande Deusa Demeter

Acredita-se que o culto à Deméter tenha sido trazido à Grécia vindo de Creta durante o período micênico, carregando consigo o seu nome.. Sendo assim, ela é descendente direta da Deusa-Mãe cretense, que com suas virgens e sacerdotisas, empunhavam serpentes e prestavam culto ao touro. Neste caso, podemos afirmar que Deméter representaria a sobrevivência da religião e dos valores matriarcais durante a cultura patriarcal guerreira dos gregos clássicos.

O hino homérico relata que ela teria chegado a Eleusis disfarçada de anciã, na época em que as pessoas vinham do outro lado do mar, de Creta.

A filha de Deméter, Perséfone, também nasceu em Creta, e a lenda arcaica da união de Zeus, em forma de serpente, com sua filha também teve lugar em Creta. O filho que nasceu dessa união foi Dionísio. As coincidências demonstram que existe uma conexão entre a Deméter documentada em Creta e a que é conhecida na Grécia.

Na Grécia antiga, Deméter era responsável por todas as formas de reprodução da vida, mas principalmente da vida vegetal, o que lhe rendeu o título de “Senhora das Plantas”, “A Verde”, “A que atrai o fruto” e “A que atri as estações”. As pessoas a honravam ao usar guirlandas de flores enquanto marchavam pelas ruas, geralmente descalças. Acreditava-se que pisar na terra descalço aumentava a comunicação entre os humanos e a Deusa.

Para os gregos, Deméter era a criadora do tempo e a responsável por sua medição em todas as formas. Seus sacerdotes eram conhecidos como Filhos da Lua.

Outro vestígio da antiga consciência matriarcal da Deusa-Mãe, foi transmitido na devoção católica popular da Virgem Maria entre os povos do Mediterrâneo. Quase certamente há uma continuidade psíquica entre Maria, a Mãe de Deus, as antigas deusas da Grande Mãe no Mediterrâneo e no Oriente Próximo e a deusa Deméter. Mas embora se conheça muitas representações medievais de Maria com cereais e flores, ela não possui o poder emocional das antigas Mães da Terra e suas filhas.

Deméter era a protetora das mulheres e uma divindade do casamento, maternidade, amor materno e fidelidade. Ela regia as colheitas, o milho, o arado, iniciações, renovação, renascimento, vegetação, frutificação, agricultura, civilização, lei, filosofia da magia, expansão, alta magia e o solo.

O RAPTO DE PERSÉFONE

Quando falamos de Deméter, devemos falar de duas Deusas. O cerne do mito e do culto a Deméter, era o fato dela ter perdido sua adorada filha Coré (donzela, em grego). A intimidade entre mãe e filha ressalta o caráter profundamente feminino dessa religião e constelação mitológica. Coré mais tarde passa a ser conhecida como Perséfone.

O mais antigo documento que narra este mito é o belo “Hino à Deméter” homérico, que nos fala tanto da Deusa Deméter como de sua filha Coré. O objetivo deste poema é explicar a origem dos mistérios de Elêusis.

A jovem Coré, diz a narrativa, encontrava-se colhendo flores, quando foi atraída por um narciso muito belo, mas ao estender a mão para pegá-lo, a terra se abriu e Plutão (Hades), Senhor dos Mortos, em sua carruagem de ouro puxada por dois cavalos negros, arrebatou-a e levou-a para ser sua noiva e Rainha do Subterrâneo. Coré lutou e gritos, mas nem os deuses imortais como os homens mortais, ouviram seus clamores. Deméter só pode ouvir o eco do apelo de sua filha e então apressou-se para encontrá-la. Procurou sua filha por nove dias e nove noites, não parando para comer, dormir ou banhar-se, só andando errante pela terra, carregando em suas mãos tochas acesas. Porém quando se apresentou pela décima vez a Aurora, encontrou-se com Hécate, Deusa da Lua Escura, que lhe diz:

–“Soberana Deméter, dispensadora das estações, de esplendidos dons, quem dos deuses celestes ou dos homens mortais raptou Perséfone e afligiu teu animo? Ouvi a sua voz, porém não vi com meus olhos quem era. Em breve vamos desfazer esse engano”.

Assim falou Hécate que partiu com Deméter, levando em suas mãos as tochas acesas. As duas então chegaram até Hélio, o deus do sol, que compartilha esse título com Apolo e a mãe aflita perguntou:

-“Sol, respeita-me tu ao menos, como Deusa que sou…A filha que pari, encantadora por sua figura…ouvi sua vibrante voz através do límpido éter, como a de quem se vê violentada, mas não a vi com meus olhos. Porém tu que sobre toda a terra e por todo o mar diriges desde o éter divino a olhar de teus raios, diga-me sem enganos se teria visto a minha filha querida em alguma parte; quem dos deuses ou dos homens mortais ousou capturá-la para longe de mim, contra sua vontade, pela força”.

Hélio então respondeu:

-“Filha de Rea, ..pois é grande o meu respeito e compaixão que sinto por ti, aflita como estás por tua filha de esbeltos tornozelos. Nenhum outro dos imortais é mais culpado que Zeus fazedor de nuvens, que a entregou à Hades para que se torne sua esposa…Assim que tu, Deusa, dá fim a teu copioso pranto. Nenhuma necessidade há de que tu, sem razão, guarde então um insaciável rancor.”

Deu a entender para a Deméter que ela deveria aceitar a violação de Perséfone, pois Hades, não era um genro tão sem valor, mas a Deusa não aceitou seu conselho e agora sentia-se traída por Zeus. Retirou-se do monte Olimpo, disfarçou-se de uma mulher anciã e vagou sem ser reconhecida entre as cidades dos homens e os campos. Um certo dia, ela se aproximou de Elêusis, sentou-se perto do poço Partenio e foi encontrada pelas filhas de Céleo, o governador de Elêusis. Quando Deméter disfarçada lhes revelou que procura um emprego de babá, ela a levaram para casa, à sua mãe Metanira, para cuidar do um irmãozinho chamado de Demofonte.

Sob os cuidados da Deusa, Demofonte criou-se como um deus. Ela o alimentou com ambrosia e secretamente o colocou em um fogo que o teria tornado imortal não tivesse Metanira entrado no local e gritado por medo do filho. Deméter reagiu com fúria, reclamou à Metanira por sua estupidez, e revelou sua verdadeira identidade. Ao mencionar seu nome mudou completamente seu visual revelando sua beleza divina. Seu cabelo dourado caiu pelas costas, e seu perfume e esplendor encheram a casa de luz.

Imediatamente Deméter ordenou que fosse construído um templo só seu e lá permaneceu envolta em sua dor e não permitindo que nada germinasse na terra.

Zeus, tendo conhecimento da situação enviou sua mensageira Íris até Deméter, pedindo que Deméter retornasse ao Olimpo. Como não concordou, um a um dos deuses olímpicos vieram até ela, trazendo dádivas e honras. Mas a cada um Deméter fez saber que de modo algum retornaria ao monte Olimpo, até que sua filha lhe fosse devolvida.

Finalmente Zeus resolve enviar seu mensageiro Hermes até Hades, ordenado-lhe que trouxesse Perséfone de volta para que “quando sua mãe a visse com seus próprios olhos, abandonasse a sua raiva”. Hermes ao chegar ao mundo de Hades, encontrou-o sentado próximo à Perséfone que se encontrava muito deprimida.

O Senhor dos Mortos, antes de libertar Perséfone, deu-lhe uma semente de romã para comer, o que faria com que ela voltasse para ele. Assim, foi-lhe permitido voltar para Deméter dois terços do ano e o restante do ano no mundo das trevas com Hades.

Com a satisfação de recuperar a filha perdida, Deméter fez com que os cereais brotassem novamente e com que toda a Terra se enchesse de frutos e flores. Imediatamente mostrou esta feliz visão aos princípios de Elêusis, Triptolemo, Diocles e ao próprio rei Celeo e, além disso, revelou-lhes seus sagrados ritos e mistérios.

O amor entre Deméter e Coré é um sentimento que somente uma mãe e uma filha podem realmente compartilhar. Não importa o quanto um pai ame e adore sua filha, jamais chegará perto do estreito vínculo que existe entre mãe e filha. Ao dar á luz, a mãe, vê a si mesma em pura inocência naquela pequena pessoinha. Jung nos diria que uma mãe vê em sua filha é a percepção de seu próprio “self” feminino transcendente, a perfeição do ser feminino.

Podemos afirmar, com convicção, segundo Carl Jung, que “em toda mãe já existiu uma filha e toda a filha contêm sua mãe” e que toda mulher se estende para trás em sua mãe e para frente em sua filha. A conscientização destes laços gera o sentimento de que a vida se estende ao longo de gerações e provocam a sensação de imortalidade.

ARQUÉTIPO MATERNAL

No momento que a mulher recebe em seus braços o seu bebê, o poder arquetípico de Deméter é plenamente despertado. As dores do parto, consideradas como uma transição iniciática, desaparecem e uma irradiação de amor demétrico tudo abrange. Estará aqui e agora desperta para uma nova fase de sua vida: ser mãe. Uma vez mãe, permanecerá sempre mãe, pois nada apaga a emoção de carregar um filho sob o coração.

O arquétipo da Mãe era representado no Olimpo por Deméter. Embora muitas Deusas tenham sido mães, nenhuma se compara à esta Deusa, pois ela deseja ser mãe. Quando está grávida ou criando seus filhos, Deméter atinge o ápice de sua plenitude enquanto mãe. Ela orgulhosamente proporcionou vida nova e novas esperanças à sua comunidade. No antigo simbolismo de seu ciclo, ela corporifica agora a lua cheia, e também o verão abundante com frutos da terra. O cálice da força vital dentro de si está transbordante.

Este arquétipo não está restrito à mãe biológica. Ser mãe de criação ou ama seca, permite que outras mulheres expressem seu amor maternal. A própria Deméter representou este papel com Demofonte.

MÃE-NATUREZA

O povo grego. ano após ano, via, com natural pesar, os dias brilhantes do verão desvanecer-se com a tristeza da estagnação do inverno. Ano após ano, saudava a explosão de vida e cores da primavera. Habituado a personificar as forças da natureza e a vestir suas realidades com roupagem de fantasia mítica, ele criou para si um panteão de deuses e deusas, de espíritos e duendes, que oscilavam com as estações e seguiam as flutuações anuais de seus fados com emoções alternadas de alegria e tristeza, que expressava na forma de ritual e de mito. Um destes mitos é o da Deusa Deméter. Os romanos a conheciam como Ceres.

O símbolo principal de Deméter era um feixe de trigo e, em seus mistérios em, Elêusis, uma única espiga de milho. É retratada como uma mulher bonita de cabelo dourado e vestida com roupão azul, considerada a Senhora das Plantas. Seu animal sagrado é o porco, que representava um sacrifício de fertilidade em todo o mundo por causa de seus múltiplos úteros. Seu animal sagrado marinho era o golfinho.

AS TESMOFORIAS

O festival grego da “Tesmoforias” era celebrado anualmente em outubro, em honra a Deméter e era exclusivo para mulheres. Se constituía de três dias de celebrações pelo retorno de Core ao Submundo.

Neste festival, os iniciados compartilhavam uma beberagem sagrada, feita de cevada e bolos.

Uma das características da Tesmoforia era uma punição aos criminosos, que agiam contra as leis sagradas e contra as mulheres. Sacerdotisas liam a lista com os nomes dos criminosos diante das portas dos templos das Deusas, especialmente Deméter e Ártemis. Acreditava-se que aqueles desta forma amaldiçoados morreriam antes do término de um ano.

O primeiro dia da Tesmoforia era celebrado o “kathodos”(baixada) e o “ánodos”(subida), um ritual em que as sacerdotisas castas levavam leitões para serem soltos dentro de grutas profundas cheias de serpentes e os restos decompostos dos porcos do ano anterior eram recolhidos.

O segundo dia era chamado de “Nestía”, nele as mulheres jejuavam, sentadas no chão, imitando a forma ritual dos processos da natureza e, de acordo com uma perspectiva mitológica, representando a dor de Deméter pela perda da filha, quando, inconsolada, se sentou ao lado do poço. O ambiente era triste e, portanto, não se usavam guirlandas.

No terceiro dia, se celebrava um banquete com carne e os leitões recolhidos (do ano anterior) eram espalhados na terra arada, e se invocava a Deusa de belo nascimento, “kalligeneia”.

MISTÉRIOS ELEUSIANOS

O propósito e o significado dos Mistérios Eleusianos era a iniciação à uma visão. “Eleusis”, significa “o lugar da feliz chegada”, de onde os campos Elíseos tomam seu nome. O termo “Mistérios” provêm da palavra “muein”, que significa “fechar” tanto os olhos como a boca. Faz referência ao segredo que rodeia as cerimônias e a conformidade requerida do iniciado, ou seja, se exige de ele ou ela permita que se faça algo: daí se deduz o significado de “iniciar”. A culminação da cerimônia consistia na exposição de objetos sagrados no santuário interno à mãos do sumo sacerdote ou hierofante (hiera phainon), “o que faz que os objetos sagrados apareçam”. Era somente permitido fazer alusões indiretas sobre o que ocorria. Entre elas, a fundamental era que Deméter falava à sua filha e se reunia com ela em Eleusis. Mas, alguns escritores cristãos violaram essa regra e um assinalou que o ponto culminante da cerimônia consistia em cortar uma espiga de trigo em silêncio.

Qualquer pessoa podia assistir os Mistérios, desde que falasse grego, mulheres e escravos inclusive, desde que não tivessem as mãos sujas de sangue por nenhum crime. Os Mistérios eram realizados uma vez ao ano para mais ou menos três mil pessoas. Se sabe que esses iniciados não formavam nenhuma sociedade secreta, eles vinham de todos os pontos da Hélade, participavam da experiência e logo se separavam.

Os Mistérios menores, que se celebravam até o final de inverno no mês das flores, o Antesterion (nosso fevereiro) e era pré-requisito para a participação nos Mistérios maiores, que se celebravam no outono. Esses Mistérios exploravam o que havia acontecido à Perséfone, Deusa do Mundo Subterrâneo, quando estava colhendo flores em Nisa. Se diz que ela foi raptada por Hades enquanto colhia um narciso de cem cabeças. Os gregos chamavam de narciso toda a planta que tinha propriedades narcóticas.

Esse rapto representa várias idéias, uma é o processo que experimenta a semente ao cair na terra e decompõem-se para voltar de novo à vida. Que se representava simbolicamente como as primeiras núpcias entre os reinos da vida e da morte.

Porém, também representa o rapto extático que proporcionavam certas substâncias que estavam relacionadas com Dionísio, deus da embriaguez, que por sua vez era Senhor de Hades por sua relação com tudo que apodrecia, fermentava e se transformava em outra coisa.

O primeiro estágio da iniciação no Mistérios menores era o sacrifício de um porco jovem, o animal consagrado à Deméter, que substituía simbolicamente a morte do próprio iniciado. Como nas Tesmoforias esse rito se ajusta à variante órfica do mito, que associava a morte do leitão com o rapto de Perséfone.

O segundo estágio da iniciação era uma cerimônia de purificação na qual o iniciado era vendado. As sucessivas etapas dos ritos de iniciação são descritas, através de alusões, inteligíveis para os já iniciados, porém não para os profanos. O acontecimento central dos Mitos Eleusinos era a noite em que se consumia a poção sagrada Kykeon. Os ingredientes dessa poção se constituiu um segredo durante esses 4 mil anos.

Os Mistérios maiores se celebravam a princípio à cada cinco anos. Mais tarde passaram a celebrar anualmente, no outono: começava no dia 15 do mês Boedromión (nosso mês de setembro) e duravam nove dias. Se reuniam iniciados de todos os lugares do mundo helênico e romano, e se declarava uma trégua entre as cidades estado gregas durante quarenta e cinco dias, desde o mês anterior até o mês seguinte.

Na véspera do início, se levavam os objetos sagrados, o “hierá”, de Deméter em procissão desde Eleusis até Atenas.

1- dia 15 do boedromion: Agyrmos, reunião. Proclamação:

Nesse dia tinha lugar a convocação e preparação dos iniciados. Os hierofontes declaravam o “prorrhesis”, o início dos ritos.

2 dia- 16: Elasis ou Helade Mistay: “Ao mar, ó iniciados!”

No segundo dia os iniciados se purificavam no mar (Falero), num rito chamado de “expulsão”. Durante nove dias fariam estas abluções na água do mar, nove dias como Deméter peregrinou pela terra em busca da verdade sobre o rapto de Perséfone. Nesse mesmo dia, os iniciados sacrificavam um leitão enquanto o hierofante os instava: Helade, Mysthai!

3 dia- 17: Hiereia Deuro: Sacrifício

Parece que nesse dia se celebravam o sacrifício oficial em nome da cidade de Atenas.

4 dia- 18: Asclepia

Esse dia era chamado de Asclepia em honra de Asclepio, deus da cura, era outro dia de purificação.

5 dia- 19: Yacós ou Pampa, procissão

Esse era um dia de celebração onde se realizava um grande procissão que inciava em Ceramico (Cemitério de Atenas) até Eleusis, seguindo o itinerário sagrado. Percorriam uns 32 Km. Algumas sacerdotisas levavam as “hierás” em “kistas”fechadas, ou cestas, rodeadas por uma multidão que dançava e gritava o nome de Yaco, cuja estátua, coroada de myrto e carregando uma tocha.

Yaco era o outro nome de Dionísio que, segundo a lenda órfica, era filho de Perséfone e Zeus, pai da mesma. Fui concebido em uma noite em que o deus se aproximou de uma caverna subterrânea transformado em serpente. Não se tratava de Dionísio, deus do vinho e do touro (cujo equivalente é o cretense Zagreo), deus que é desmembrado, porém vive de novo. Era Dionísio como criança de peito místico, o deus que morre e vive eternamente, imagem da renovação perpétua.

Na fronteira entre Eleusis (era uma cidade pequena à 30km noroeste de Atenas) e Atenas, pessoas mascaradas parodiavam a procissão. Encenavam o mito que relatava como Yambe ou Baubo animou Deméter. Como em tantas festas de renovação, preparavam o nascimento do novo para substituir o velho. Quando as estrelas apareciam, os “mystai” (iniciados) rompiam seu jejum, pois o dia vigésimo do mês havia chegado e segundo as “Ranas” de Aristófanes, o resto da noite passavam entre cantos e bailes. Os templos de Poseidón e Ártemis se abriam para todos, porém atrás deles estava a porta que dava ao santuário, e nada, exceto os iniciados, poderiam passar sob pena de morte.

6 dia – 20: Telete (mysteriodites Nychtes)

Esse era um dia de descanso, jejum, purificação e sacrifícios, de acordo com o mito de jejum de Deméter, representando o ritual de esterilidade do inverno. O jejum se rompia com a bebida de cevada, mel e polén (Kykeon) que preparavam e então se permitia que os iniciados entrassem no santuário sagrado. Essa celebração acontecia em um lugar chamado de Telesterion, chamado assim porque aqui se alcançava “o objetivo” ou “telos”. Era um local enorme, que podia albergar milhares de pessoas e onde se exibiam os objetos sagrados de Deméter. No centro estava o Anactoron, uma construção retangular de pedra com uma porta em um de seus extremos, que só o hierofonte podia passar. Essa era a parte mais reservada dos Mistérios eleusianos.

Mas o que exatamente ocorria neste momento?Seria o começo da própria iniciação? Parece que se desenvolvia em três etapas: “drómena, o feito (Ação); legómena, o dito (texto falado); deiknýmena, o mostrado (visão). Depois tinha lugar uma cerimônia especial conhecida como “epoptía”, o estado de “haver visto”, se celebrava para os iniciados do ano anterior.

Em drómena os iniciados participavam de um desfile sagrado pelo qual se representava o relato de Deméter e Perséfone. Os legómena consistiam em invocações ritualísticas curtas, pequenos comentários que acompanhavam o desfile e explicavam o significado do drama. Os deiknýmena, a exibição dos objetos sagrados, culminava na revelação proferida pelo hierofante, cuja difusão era proibida. Os epoptía também incluiam a exibição de “hierá”, não se sabe ao certo o que eram esses objetos sagrados. Segundo as fontes arqueológicas de A. Kórte (Zu den Eleusinischen Mysterien, «Archiv für Religions Wissenschaft» 15, 1915, 116) supõe-se que a enigmática cesta que tomavam os iniciados, entre outros objetos, havia um que representava o órgão sexual feminino, o qual, em contato com o corpo dos mystai, contribuía com a sua regeneração e passavam a ser considerados filhos de Deméter.

M. Picard (L’épisode de Baubó dans les mystéres d’pleusis, «Revue d’histoire des religions» 1927, 220-255) adiciona o órgão masculino. O iniciado tocaria sucessivamente os dois objetos, simbolizando assim a verdadeira união sexual.

7 dia- 21: Epopteia

Somente à tarde tinha início os ritos secretos. Em determinado momentos deviam pronunciar uma contra-senha sagrada:”Jejuei, bebi o kykeon, o tomei do canasto (calathus) e, depois de prová-lo o coloquei de novo no canasto e dali, ao cesto”. Misteriosas palavras, que sem sombra de dúvida, tinham grande significado para os iniciados. Todo o resto do dia era passado em compasso de espera e somente à noite os iniciados entravam no santuário. Um muro à sua direita impedia que vissem o local da “Rocha sem alegria” (local em que se supõe que a Deusa Deméter esteve sentada). Ouviam lamentos procedentes dali. Chegavam ao Telesterion e depositavam os leitões nas “mégara”, uma espécie de sótão do templo. Em seguida peregrinavam fora do Telesterion em busca de Core (Perséfone), na escuridão e com a cabeça coberta com uma carapuça que não lhes permitia ver nada, cada iniciado era guiado por um mystagogo. Imagine andar na escuridão, totalmente desorientado, esperando em silêncio, até que um gongo soa como um trovão e o hierofonte clamando por Core, até que o mundo inferior se abre e das profundezas da terra aparece a Deusa. Daí um clarão de luz enche a câmara, crescem as chamas da fogueira e o hierofonte canta:

-“A Grande Deusa deu à luz a um filho sagrado: Brimo pariu à Brimós”. Então, em silêncio profundo, levanta com a mão uma espiga de trigo.

Para que entendam, Brimo era uma Deusa do Mundo Inferior em Tesália, ao norte. Os nomes Brimo e Brimós sugerem à introdução da agricultura e de que nos Mistérios da Grécia houve influência tesalia.

Mas que estão fazendo Brimo e Brimós em Eleusis?

Kerényi diz que Brimo é “fundamentalmente um nome que designa a rainha do reino dos mortos, atribuído à Demeter, Core e Hécate em sua qualidade de Deusas do Mundo Inferior”. Nesse caso, o filho é o espírito da renovação concebido no Mundo Inferior como testemunho vivo de que na morte há vida, já que está na “riqueza” da colheita, o “tesouro” do conhecimento intuitivo espiritual.

Brimo, portanto, foi o nome dado ao filho de Perséfone, ao qual ela deu à luz no inferno em meio as chamas. Esse nome parece referir-se à Dionísio, o deus de vida indestrutível.

8 dia – 22: Plemochoai

Era dia de sacrifício e festa. Sacrificavam-se touros à Deméter e Perséfone (Core) e outros animais, especialmente leitões. Este festival era chamado Plemochoai, porque esse era o nome dado aos vasos (ou taças) que o sacerdote enchia com um certo líquido e, virando-se para oeste e depois para leste, derrama ao solo o que continham. O povo, olhando para o céu, grita “chuva!” e, olhando para a terra, grita “concebe!”, hýe, kýe.

Harrison escreve que “o rito do matrimônio sagrado e o nascimento da criança sagrada….era o mistério central”. Entretanto, a cerimônia final nos mostra o matrimônio simbólico da chuva celestial com à terra, que havia de conceber o filho do grão (da semente), porém existia a possibilidade se ser celebrado esse casamento simbólica ou literalmente, entre o hierofante e uma sacerdotisa antes do regresso de Core.

9 dia – 23: Epistrofe

Neste dia os iniciados voltavam à Atenas. Eleusis voltava a velar-se em seus mistérios, enquanto se despedia dos visitantes, agora renascidos, levando consigo as experiências de vinculação com as divindades. Assim acabam os Mistérios de Eleusis.

A gestão desse culto era exclusiva das famílias aristocráticas, com funções definidas para cada uma delas. O sumo sacerdote, o chamado hierofante, devia pertencer a família dos Eumólpidas, enquanto a família dos Cérices procediam dos sacerdotes de traço imediatamente inferior, o portador da tocha. A sacerdotisa vivia sempre no santuário. O hierofante ostentava o privilégio de escolher seus iniciados. Sobre todos eles se sobrepunha uma outra figura, o chamado arconte rei (archon basileus) no eleusino, que era ateniense (era os atenienses que controlavam o culto), ao qual assiste uma equipe de colaboradores (epistatai), encarregados das finanças.

MORRER PARA RENASCER

Morrer para renascer, esse é o sentido da iniciação. O sangue dos animais sacrificados simbolizavam a própria morte do iniciado. É Plutarco que nos diz que “morrer é ser iniciado”. Só através da morte se regressa à luz. Clemente e Foucart realmente estão de acordo com essa idéia: representar a busca de Deméter e identificar-se com Perséfone é precisamente vagar no mundo subterrâneo da morte, do mesmo modo que encontrar Core é retornar à vida depois da morte.

Esse mito grego recupera um mito bem mais antigo conhecido como a “Descida de Inanna”, que vai e vem entre ambos os mundos. Perséfone aqui é a faceta da mãe que desce e regressa de novo à mãe, configurando uma totalidade nova. Se percebe claramente uma continuidade nessa relação: vida em morte e morte em vida. Se “vê através” de uma a outra, e isso liberta a humanidade de sua natureza de entidades antagônicas. Quando mãe e filha se percebem como uma única realidade, nascimento e renascimento se convertem em fases que provêm de uma fonte em comum: através da dita percepção se transcende a dualidade.

A DEUSA TRÍPLICE

A triplicidade pode ser vista na lua, que é: crescente, cheia e minguante. E, no fato da Deusa reger o mundo superior, a terra e o mundo inferior. Ela era também a Donzela ou Virgem, a Mãe e a Anciã, as três principais fases da vida de toda a mulher. Pois Deméter se vê “Donzela” em sua filha Coré. É “Mãe” desta filha e de tudo que brota e cresce. Mas, ao perder sua filha Coré para Hades, torna-se “Anciã” associada diretamente com a morte.

Para cada fase ou ciclo há perdas que devem ser vivenciadas por todas as mulheres. No primeiro ciclo, visualiza-se a “morte da donzela”, que torna-se uma jovem nubente e é uma iniciação para fase seguinte, que se tornará mãe, abençoada com seus próprios filhos. Quando a Mãe não pode mais conceber (menopausa), passa a tocha da maternidade para filha, transferindo para ela todos os poderes da fecundidade. A morte da mãe, constitui a mulher idosa que tem agora o potencial para ingressar na esfera espiritual das anciãs, guardiãs dos mistérios da morte.

Hoje estes ciclos raramente são reconhecidos e vividos plenamente pelas mulheres, pelo fato de habitarem um mundo predominantemente masculino. A realidade moderna e científica tornou a “Mãe” uma máquina biológica de produção de bebês, que favorece ou prejudica a política financeira de uma determinada sociedade.

DEMÉTER HOJE

Por mais belo que se pinte um quadro de uma mãe com o filho nos braços, ele estará longe de ser a realidade para a maioria das mães das sociedades industrializadas e urbanas do Ocidente. As pressões financeiras, privam a mulher de permanecer no seio da família, cuidando de seus amados filhos. Até a licença-maternidade, através de duras penas conseguida, possui um tempo vergonhosamente limitado, pois a volta ao trabalho quase de imediato, não permitem que a mãe acompanhe o desenvolvimento de seu bebê. Além de ser estigmatizada por tal feito, pois ter um filho em nossos dias, significa estar fora de ação, inativa e lhes é somente permitido olhar saudosamente para o mundo que caminha sem elas.

Deméter sofre com o eclipse em nossa civilização. As mulheres que representam seu modo de ser, não têm condições de competir com as mulheres mais instruídas, pois a Deméter natural não é tão intelectualizada. Ela adora apenas criar seus filhos e acaba ficando muito sentimentalizada, tratada com condescendência e destituída do poder por suas irmãs feministas.

Deméter nas antigas comunidades agrárias, tinha dignidade, autoridade e uma vida bastante gratificante. Tudo se perdeu numa sociedade onde tudo é subserviente às exigências econômicas do monopólio do consumo.

Por Rosane Volpatto.

#Magia #Mitologia #Ocultismo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/os-mist%C3%A9rios-eleusis-e-a-grande-deusa-demeter

Quando Israel era menino, parte 1

Texto de Mircea Eliade em “História das crenças e das ideias religiosas, vol. I” (Ed. Zahar) – trechos das pgs. 162 a 165. Tradução de Roberto Cortes de Lacerda. Algumas das notas ao final são minhas.

A religião de Israel é acima de tudo a religião do Livro. Esse corpo de escrituras é constituído de textos de idade e orientação diversas, que representam, por certo, tradições orais bastante antigas, mas reinterpretadas, corrigidas, redigidas durante vários séculos e em diferentes meios [1]. Os autores modernos começam a história da religião de Israel por Abraão. Na verdade, segundo a tradição, ele é o escolhido de Deus para se tornar o ancestral do povo de Israel e tomar posse de Canaã. Mas os 11 primeiros capítulos do Gênese relatam os acontecimentos fabulosos que precederam a eleição de Abraão, desde a Criação até o dilúvio e a Torre de Babel. A redação desses capítulos é, como se sabe, mais recente que muitos outros textos do Pentateuco. Por outro lado, alguns autores – e dos mais notáveis – afirmaram que a cosmogonia e os mitos de origem (Criação do homem, origem da morte, etc.) desempenharam papel secundário na consciência religiosa de Israel. Em suma, os hebreus interessavam-se mais pela “história santa”, isto é, pelas suas relações com Deus, que pela história das origens.

[…] Isso pode ser verdadeiro a partir de determinada época e, sobretudo, para certa elite religiosa [2]. Mas não há razão para concluir que os antepassados dos israelitas fossem indiferentes às questões que apaixonavam todas as sociedades arcaicas. […] Ainda em nossos dias, depois de 2.500 anos de “reformas”, os acontecimentos referidos nos primeiros capítulos do Gênese continuam a alimentar a imaginação e o pensamento religioso dos herdeiros de Abraão.

Na abertura do Gênese, temos este passo célebre: “No princípio, Deus (Elohim) criou o Céu e a Terra. Ora, a Terra estava vazia e vaga, as trevas cobriam o abismo, e um vento de Deus pairava sobre as águas” (I:1-2) [3]. A imagem do oceano primordial sobre o qual paira um deus criador é muito arcaica [4]. Entretanto, o tema do deus sobrevoando o abismo aquático não é atestado na cosmogonia mesopotâmica, ainda que o mito relatado no Enuma elish fosse provavelmente familiar ao autor do texto bíblico. (De fato, o oceano primordial é designado, em hebraico, tehôm, termo etimologicamente solidário do babilônico tiamat [5]). A Criação propriamente dita, ou seja, a organização do “caos”, é efetuada pelo poder da palavra de Deus. Ele diz: “Haja luz”, e houve luz (I:3). E as etapas sucessivas da Criação são sempre realizadas pela palavra divina. O “caos” aquático não é personificado (cf. tiamat) e, por conseguinte, não é “vencido” num combate cosmogônico.

[…] O mundo é “bom” e o homem é uma imago dei; ele habita, tal como seu Criador e modelo, o paraíso. Entretanto, como o Gênese não tarda a salientar, a vida é penosa, apesar de ter sido abençoada por Deus, e os homens já não habitam o paraíso. Mas tudo isso é o resultado de uma série de erros e pecados dos antepassados. Foram eles que modificaram a condição humana. Deus não tem responsabilidade alguma nessa deterioração de sua obra-prima. Assim como para o pensamento indiano pós-upanixádico, o homem, mas exatamente a espécie humana, é o resultado de seus próprios atos [6].

O outro relato, javista [ver nota 1], é mais antigo e difere claramente do texto sacerdotal que acabamos de resumir. Já não se trata da Criação do Céu e da Terra, mas de um deserto que Deus (Javé) tornou fértil por meio de uma onda que subia do solo. Javé modelou o homem (âdâm) com a argila do solo e animou-o insuflando “em suas narinas um hálito de vida”. Pois Javé “plantou um jardim em Éden”, fez brotar todas as espécies de “árvores boas” e instalou o homem no jardim “para o cultivar e o guardar” [7]. Em seguida, Javé deu forma aos animais e às aves, levou-os a Adão e este lhes deu nomes. Finalmente, depois de tê-lo adormecido, Javé tirou uma de suas costelas e formou uma mulher, que recebeu o nome de Eva (em hebraico hawwâh, vocabulário etimologicamente solidário do termo que significa “vida”).

Os exegetas observaram que o relato javista, mais simples, não opõe o “caos” aquático ao mundo das “formas”, mas deserto e seca a vida e vegetação. Parece plausível que esse mito de origem tenha nascido numa zona desértica. Quanto à formação do primeiro homem com argila, o tema era conhecido na Suméria. Mitos análogos são atestados quase no mundo inteiro, desde o antigo Egito até as populações “primitivas”. A ideia básica parece a mesma: o homem formou-se de uma matéria-prima (terra, madeira, osso) e foi animado pelo hálito do Criador. Em muitos casos, tem a forma de seu autor. Em outras palavras, mediante sua “forma” e sua “vida”, o homem comparte, de algum modo, a condição do Criador. Só o seu corpo é que pertence à “matéria” [8].

A formação da mulher a partir de uma costela retirada de Adão pode ser interpretada como indicadora da androginia do homem primordial. Concepções similares são atestadas em outras tradições. […] O mito do andrógino ilustra uma crença bastante difundida: a perfeição humana, identificada no antepassado mítico, encerra uma unidade que é simultaneamente uma totalidade. […] É de salientar que a androginia humana tem por modelo a bissexualidade divina, concepção compartilhada por muitas culturas [9].

» Em seguida encerraremos com Caim, Abel, cultivadores e pastores…

***

[1] Nota do autor: […] As fontes dos cinco primeiros livros da tôrâh (Pentateuco) foram designadas pelos termos: javista, porque essa fonte, a mais antiga (séc. X ou IX a.C.), chama a Deus por Javé; eloísta (ligeiramente mais recente: utiliza o nome Elohim); e deuteronômica (quase que exclusiva do Deuteronômio).

[2] Não foi à toa, penso eu, que os primeiros livros da tôrâh eram conhecidos como “os livros da lei”. Eis o que nos diz Alan Dershowitz, professor de direito de Harvard, sobre o Gênese: “É sobre o mundo antes de haver lei. É sobre um Deus em aprendizagem, lutando para ser justo, sem regras (antecedentes). Deus não teve problemas em criar um universo físico, só precisou de seis dias. Ele teve mais dificuldade quando chegou à parte da justiça… O Gênese é sobre isso, sobre tentar fazer as coisas direito, com justiça”. Ou seja: a preocupação de uma suposta elite religiosa com a história somente a partir de Abraão, em detrimento dos mitos de criação, talvez se explique pelo fato de ser exatamente esta elite de legisladores quem debatia e elaborava as leis hebraicas.

[3] Somente este trecho traz inúmeros questionamentos. Por exemplo, o “vento de Deus” poderia ser traduzido (como normalmente o é, nas traduções modernas) como “espírito de Deus”. Ocorre que a palavra que se refere a “Deus” é usada duas vezes: Elohim seria tanto “Deus” quanto o “espírito de Deus”. No entanto, a palavra Elohim pode ser vista tanto no singular quanto no plural, quando normalmente se refere a “deuses” (por exemplo, em XXXV:2). Dessa forma, nada nos impediria de considerar uma tradução como: “No princípio, Deus criou o Céu e a Terra (…) as trevas cobriam o abismo, e os deuses pairavam sobre as águas”. Este tipo de interpretação indica que Deus já havia “tido filhos”, ou irradiado “outras criaturas” de si mesmo, ainda no princípio.

Mesmo aqui, ainda podemos alinhar a possível origem etimológica de “Elohim” ao deus “El”, o “pai dos deuses” das religiões e mitologia dos primeiros semitas a se estabelecerem em Canaã, pouco antes de 3 mil a.C. Até 1929, as informações sobre tais mitos eram fornecidas pelo Antigo Testamento e alguns escritores gregos. Ocorre que o AT trabalha exatamente para a “demonização” dos deuses pagãos, e deve ser visto com certa desconfiança neste contexto.

Mas felizmente, em 1929, uma grande quantidade de textos mitológicos foi descoberta em escavações em Ras Shamra, a antiga Ugarit, cidade portuária da costa Síria, que pode ter sido fundada ainda em 6 mil a.C. Embora a religião de Ugarit nunca tenha sido a religião de toda Canaã, é lá que se ouve falar, pela primeira vez, de El, o “pai dos deuses”, e de Baal, “o Senhor da Terra, que castra o pai e toma seu lugar como administrador do mundo”. Em XXXIII:20 ficamos sabendo que um dos nomes de Deus é exatamente “El”.

[4] Nota do autor: Em numerosas tradições, o Criador é imaginado sob a forma de um pássaro. Mas trata-se de um “endurecimento” do símbolo original: o espírito divino transcende a massa aquática, é livre para mover-se; portanto, “voa” como um pássaro.

[5] Ou seja, tanto o oceano primordial quanto a “serpente-dragão” (tiamat) representariam o caos. Coube a um “herói” mitológico, ou ao próprio Deus, “matar a serpente e a separar em dois”, ou separar os Céus da Terra, e criar todas as coisas a partir de um oceano disforme, um “caos primordial”.

Para outros temas “serpentuosos”, recomento lerem o artigo Serpentes.

[6] Segundo os upanixades, entretanto, a “culpa” não recai sobre o “pecado original” de um antepassado, mas é fruto dos erros dos próprios homens, quando em vidas passadas.

[7] O mito javista é ainda mais próximo do mito de criação do povo Bassari, da África Ocidental: “Unumbotte (Deus) fez um ser humano e seu nome era Homem, e depois fez muitos outros seres (Mulher, Serpente, Antílope, etc.). Então, deu-lhes sementes de todos os tipos e lhes disse: ‘Plantem todas essas sementes’…” – E nele também há o “fruto proibido” que, uma vez comido, faz com que Homem e Mulher sejam “expulsos do jardim”. Aqui também encontrarão maiores detalhes no artigo Serpentes.

[8] Dessa forma, as concepções de vida após a morte através da ressurreição de um “corpo incorruptível” não são somente uma abominação (ao menos em relação à quase totalidade da mitologia antiga), como um “ponto de vista” extremamente materialista em relação à espiritualidade em geral.

[9] Nota do autor: A bissexualidade divina é uma das múltiplas fórmulas da “unidade/totalidade” representada pela união dos pares de opostos: feminino/masculino, visível/invisível, Céu/Terra, luz/escuridão, mas também bondade/maldade, criação/destruição, etc. A meditação sobre esses pares de opostos levou, em diversas religiões, a conclusões audaciosas referentes tanto a condição paradoxal da divindade quanto à revalorização da condição humana.
Meu complemento: Isto tudo tem muito a ver com hermetismo, Parmênides, estoicismo, Plotino e Espinosa. Mas, saindo do conceito de “Uno” e focando apenas nas “dualidades” (particularmente: essência/forma, permanência/impermanência, eternidade/tempo, etc.), chegaremos nas grandes religiões orientais – taoismo, budismo, e algumas interpretações do hinduísmo.

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Crédito da foto: Damon Lynch

O Textos para Reflexão é um blog que fala sobre espiritualidade, filosofia, ciência e religião. Da autoria de Rafael Arrais (raph.com.br). Também faz parte do Projeto Mayhem.

Ad infinitum

Se gostam do que tenho escrito por aqui, considerem conhecer meu livro. Nele, chamo 4 personagens para um diálogo acerca do Tudo: uma filósofa, um agnóstico, um espiritualista e um cristão. Um hino a tolerância escrito sobre ombros de gigantes como Espinosa, Hermes, Sagan, Gibran, etc.

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#história #MirceaEliade #Mitologia #Religião

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/quando-israel-era-menino-parte-1

Devoradores de Maçãs

»
Parte final da série “A ciência da inspiração” ver parte 1 | ver parte 2

Metáfora: Figura de linguagem em que há a substituição de um termo ou conceito por outro, criando-se uma dualidade de significado.

Um dos mitos mais conhecidos da humanidade trata de jardim do Éden, onde os primeiros humanos criados por Deus, a sua imagem e semelhança, viviam imortais, ociosos e aparentemente felizes. Isso foi até que eles resolveram comer os frutos (o mito fala em maçãs) da árvore do conhecimento do bem e do mal, da qual Deus havia alertado que eles não deveriam comer, ou conheceriam a morte. E o resto todos já sabem: Deus ficou furioso e os expulsou do Éden apenas com alguns trapos feitos de couro de animais, pois que agora um se envergonhava da nudez do outro. E Adão e Eva povoaram o mundo, muito embora o pecado de Eva tenha nos amaldiçoado por muitos e muito anos, até que Jesus veio pagá-lo para nós.

Joseph Campbell, grande estudioso do assunto, dizia que “o mito é algo que nunca existiu, mas que existe sempre”. Ele provavelmente queria dizer que os mitos tratam de verdades que existem fora do tempo, ou seja, que existem sempre. Todo grande mito da humanidade fundamenta-se em uma ou mais dessas verdades, dessa partícula de essência que emana da eternidade. Foi exatamente por isso que os sábios antigos tiveram o cuidado de popular suas histórias com vários desses mitos. Eles sabiam, certamente, que muitos aldeãos e camponeses ignorantes de sua época iriam interpretar tais histórias ao pé de letra, de forma literal – mas sem dúvida também tinham a esperança de tocar a alma dos outros sábios que viriam a Terra em épocas posteriores.

O mito do Éden é repleto de metáforas. Talvez a mais interessante delas seja exatamente o paradoxo do pecado pelo qual Eva foi condenada. Ora, antes de devorar a maçã, ela era sem dúvida ignorante do conhecimento (seja do bem, seja do mal). Se nunca houvesse comido o fruto proibido, estaria ociosa e imortal, por toda eternidade, em um jardim onde poucas coisas interessantes acontecem – mas seria feliz, acredita-se. Animais ignorantes também são “felizes” vivendo no meio selvagem; Entretanto, as pressões do meio-ambiente nunca os deixaram relaxar: na guerra do sofrimento e da fome, mesmo em meio a sua “felicidade”, presas e predadores lutaram pela sobrevivência por longos e longos anos. Não fosse por essa pressão da natureza, talvez a Terra estivesse até hoje populada por hominídios, ou nem mesmo isso, por roedores e outros pequenos mamíferos…

Pois foi exatamente quando adquiriu à consciência e o conhecimento do bem e do mal que o ser humano se tornou quem é. Por um lado, portanto, a metáfora do fruto proibido é apenas uma história fantasiosa, por outro, é uma explicação surpreendentemente avançada para a época em que foi escrita. Será que os rabinos judeus tinham ideia de que estavam a antecipar um dos grandes mistérios da evolução das espécies? Será que tinham pleno conhecimento daquilo que escreviam talvez guiados pela pura intuição? Acredito que a resposta não esteja nem tanto lá, nem tanto cá. Certamente os sábios antigos tinham noção de que lidavam com assuntos sagrados, e que os estavam passando adiante “cifrados” em metáforas dentro de mitos. Mas da mesma forma eles certamente tinham consciência de que não tinham como saber tudo, e é exatamente por isso que passavam tais símbolos para as gerações futuras – como uma mensagem numa garrafa arremessada no oceano, a espera de alguma praia onde existam seres mais sábios para decifrar seus enigmas.

Nós já ficamos com nós na cabeça ao abordarmos o conceito de programação genética. E, da mesma forma, já consideramos com carinho a possibilidade da mente humana ser o resultado da interseção de módulos mentais (naturalista, técnico e social). Além disso, também falamos sobre como a neurologia compreende a criatividade: o foco mental em novos estímulos e ideias, em fluxo e trocas constantes com as ideias que já dominamos em nossas respectivas artes ou disciplinas… Ora, em posse dessas informações, talvez o processo misterioso dos algoritmos genéticos não seja mais tão insondável.

Vamos falar, por exemplo, de poesia: da mesma forma que gerações de algoritmos se digladiam no meio-ambiente do problema a ser resolvido, todos os estímulos que os poetas enviam para suas mentes – através de seus olhares sempre atentos aos menores detalhes da natureza à volta – nada mais são do que algoritmos em busca da solução de sua próxima poesia. A grande diferença é que, ao contrário dos programadores, os poetas geralmente sequer tem ideia de qual é o problema a ser resolvido – de certa forma, para eles, as soluções chegam junto com os problemas, embora nenhuma solução seja realmente a derradeira, e todos os problemas sejam quase sempre infinitos. Nessa batalha mental travada por estímulos ambíguos e aparentemente sem relação uns com os outros, ninguém sai derrotado, pois o fruto é sempre uma nova legião de metáforas. E estas maçãs são divinas, jamais proibidas… Os poetas são verdadeiros devoradores de maçãs!

Vejamos uma dessas “soluções”, pelo grande poeta místico, Gibran Khalil Gibran:

Na floresta só existe lembrança dos amorosos
Os que dominaram o mundo e oprimiram e conquistaram,
seus nomes são como letras dos nomes dos criminosos
Conquistador entre nós é aquele que sabe amar
Dá-me a flauta e canta!
E esquece a injustiça do opressor
Pois o lírio é uma taça para o orvalho e não para o sangue

Neste belo trecho do poema “A floresta”, é impossível chegar a uma compreensão efetiva do que o poeta quis dizer sem usar ao menos parte de nossa emoção e nossa intuição juntamente com nossa razão… Mesmo assim, ficará sempre aquela dúvida se realmente compreendemos todo o bem e todo o mal deste belo fruto da inspiração de Gibran. O lírio é uma taça para o orvalho, e não para o sangue – quantas e quantas interpretações e conceitos contidos em apenas uma frase.

Há ainda outros poetas que conseguem inserir metáforas dentro de metáforas dentro de ainda outras metáforas… Quando Fernando Pessoa diz que “o poeta é um fingidor, finge ser dor a dor que deveras sente”, ele está nos trazendo para uma análise existencial da qual a solução jamais será algo racional, objetivo, tal qual 2+2=4. Nesse sentido, é possível que os algoritmos genéticos sejam extensões de nossa racionalidade, aplicadas a problemas descobertos por nossos cientistas e matemáticos, e que tudo o que fazem é poupar seus cérebros de rodar trilhões de cálculos, antecipando uma solução que em séculos passados seria inviável. Entretanto, na poesia pode ser mais depressa ainda: a solução chega junto com o problema. A diferença é que na poesia a solução jamais será final, e após termos devorado todas as maçãs do Éden, teremos de sair nós mesmos em busca de mais conhecimento – ainda que o velho barbudo tenha se esquecido de nos expulsar…

Muito do debate acerca da existência de Deus se resume ao ancião das metáforas do antigo testamento bíblico – sim, pois o Deus de Jesus é sempre um coadjuvante, que intervém apenas por emanação de pensamentos, e não de forma “direta”. Esses debates se parecem mais com debates entre crianças que brincam em uma praia – uma delas constrói um castelo de areia e diz que “esta é a cidade de deus”… Enquanto outras crianças com senso crítico mais desenvolvido esperam as ondas da maré chegar e destruir os castelos, e então bradam convictas: “Viram! Não lhes disse que este deus tinha pés de barro?”.

Ora, mas e se o reino de Deus estiver em sua volta? E se ele abarcar não só os castelos de areia, como cada grão de areia da praia, e cada gota de água do mar, e cada nuvem e cada pássaro a planar pelo céu, e cada sol a flutuar pelo Cosmos, e cada partícula a bailar por nosso cérebro e nossa alma?

Einstein dizia que “a ciência sem a religião é manca; a religião sem a ciência é cega”. Ora, um dos grandes cientistas de nosso tempo, em sua maturidade, defendia uma “religiosidade cósmica”, baseada na presença de um poder racional superior, revelado no universo ainda oculto ao conhecimento da ciência. Muitos outros cientistas e filósofos foram teístas, deístas, panteístas, agnósticos, etc. Para quem possuí muita ciência, fica muito difícil apostar que tudo o que há surgiu do nada como numa “passe de mágica cósmico”. No mínimo, é preciso admitir que tal questão não pode ser compreendida hoje, e talvez jamais possa… De qualquer forma, pela lógica, também se faz necessário concordar com Espinosa (como Einstein, aliás, concordou) quando este afirma em sua “Ética” que “uma substância não pode criar a si mesma”…

E se Deus for um grande programador cósmico? E se nós formos parte dos algoritmos divinos que ele inseriu em sua criação? E se no núcleo de cada átomo, nos filamentos de cada DNA, em cada um de nosso neurônios, nas partículas etéreas de nossa alma, não estiverem inscritos códigos sagrados que ditam que este Cosmos nada mais é do que um problema em solução? E se formos nós mesmos os personagens e co-criadores desta poesia infinita? Navegando dentre raios cósmicos e poeira de estrelas, é impossível participar deste problema sem estarmos encharcados de Deus por todos os lados e a todos os momentos…

O reino de Deus sempre esteve a nossa volta. Nós jamais fomos expulsos do Éden. Tudo o que falta é compreendermos isso – que o Éden jaz, antes de mais nada, em nossa consciência… E que Deus ou o Cosmos jamais foram uma solução, jamais uma muleta na qual pudéssemos nos acomodar, mas sim um grandioso problema que vem sendo solucionado passo a passo, inspiração por inspiração. Nós devoramos uma maçã de cada vez…

Na floresta não existe nem rebanho, nem pastor

Quando o inverno caminha, segue seu distinto curso como faz a primavera

Os homens nasceram escravos daquele que repudia a submissão

Se ele um dia se levanta, lhes indica o caminho, com ele caminharão
Dá-me a flauta e canta!

O canto é o pasto das mentes,

e o lamento da flauta perdura mais que rebanho e pastor

Gibran Khalil Gibran, trecho de “A floresta”.

***

Crédito das fotos: [topo] Guto Lacaz (exposição “Einstein no Brasil”); [ao longo] Marcos Homem

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#Religião #Mitologia #Ciência #Criatividade #poesia

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4 Deuses Lovecraftianos mais poderosos que Cthulhu

Lovecraft é um autor que não precisa mais apresentações. Hoje poucos não conhecem esse fantástico universo criado por sua mente poderosa e alimentado por seu talento literário e mais tarde explorado por muitos outros autores que também contribuiram grandiosamente com histórias macabras das entidade mais horrendas que já habitaram a imaginação humana.

Porém, poucas pessoas compreendem a profundidade deste universo e em especial, a vasta profundidade do panteão e personagens cósmicos no qual, Cthulhu ocupa o primeiro lugar em popularidade, mas não em poder. Sua fama lhe deu o status de ser mais poderoso nos canários lovecraftanos, mas um conhecimento mais aprofundado deste universo revelará seres ainda mais terrivelmente poderosos.

Porque então seria Cthulhu o mais famoso destes seres tão maiores que a humanidade? Simples porque ele vive na Terra. Está dormindo no fundo do nosso oceano. Além disso está destinado a ser o carrasco de tudo aquilo que é, tudo aquilo que foi e tudo aquilo que poderá ser em nossa esfera. Contudo disso resulta que essa entidade de 10 quilometros de altura não é nem maior, nem mais poderosa e nem mais relevante e nem tão pouco o que ocupa o lugar mais alto na pirâmide de deuses do universo lovecraftiano.

De fato, espalhado por todo universo Cthulhu tem incontáveis colegas, inimigos e hermanos e seres em geral que estão em seu mesmo nível de grandiosidade. E vários níveis acima estão os deuses como os Grande Antigos que são sem exagero, milhões de vezes mais poderosos e importantes do que ele. Comparar estes deuses com Cthulhu é como comparar uma formiga com um Mamute. Uma brisa com um furação.

Vamos pinçar aqui pelo menos quatro deuses lovecraftianos mais poderosos que Cthulhu:

Shub-Niggurath

Como toda entidade poderosa que existe desde os tempos imemoriais e que sobrepassam em tudo a criação deste mundo, Shub-Niggurath foi conhecida por muitos nomes, em muitas eras e em muitos mundos diferentes, adorada em alguns e temida em outros. Um deste nomes é a ‘Cabra Negra do Bosque com Dez Mil Crias’.

Criada pelo mestre em 1928 para o conto ” A Útima Prova” essa horrível deusa nunca foi descrita com muitos detalhes. Artistas e mentes criativas ao redor do mundo tomaram para si o desafio e a liberdade de representá-la adequadamente com a pouca informação que há sobre ela. Mais tarde,  descrições foram feitas por outros autores como Robert Bloch e Ramsey Campbel e então aceitas como consenso pelos leitores e fãs, tornando-se consagradas no universo lovecraftiano.

“Uma enorme massa nebulosa da qual sobressaem tentáculos negros, bocas escorrendo saliva e apêndices curtos e retorcidos.” Sem dúvida, seu título que sobressai de seus nomes e que fala sobre nada menos do que 10 mil crias não é gratuito nem tão pouco despropositado. Shub-Niggurath é uma deusa da fertilidade e constantemente da a luz a criaturas grotescas de indisiveis realidades..

Um de seus muito cultos que floresceram no planeta Terra ergueu a ela um templo colossal em sua honra, e conta-se que quando lhes invocava aparecia como uma divindade que atravessava um portal dimensional e com uma de suas muitas boca engolia seu sacerdote favorito para vomitâ-lo como formas desfiguradas como a de um sátiro, mas tendo como recompensa a vida eterna.

Como muitos monstros de Lovecraft, Shub-Niggurath transcendeu seu criador e até hoje, várias décadas depois de sua criação é mencionada em histórias de terror de muitos autores diferentes, incluindo Stephen King em seu conto “Pesadelos e Alucinações”. Sendo parte dos Grandes Antigos Shub-Niggurath foi redescoberta na era moderna graças ao Necronomicon, livro fictício criado por Lovecraft que faz menção a ela em uma frase impronunciável “Ia! Shub Niggurath!”

Sendo objeto de culto universal em incontáveis planetas, e recebendo a adoração de infinitas civilizações e raças inferiores, incluindo muitas das encarnações humanas de civilizações já esquecidas, Shub-Niggurath, e uma onda tsunamica de bocas, pústulas e vaginas parindo sem parar é assim vai para o quarto lugar de nossa lista.

Nyarlathotep

Para todos os entendidos em mitologia lovecraftiana Nyarlathotep é sem dúvida um dos mais malígnos, mais perigosos e mais terríveis deuses com quem qualquer pessoa racional pode ter a infinita e hórrida desgraça de encontrar. E a razão é simples: Seres como Cthulhu, Shub-Niggurath e mesmo os outros que ainda serão listados neste artigo, são descritos como criaturas extraterrestres de idades imortavelmente incompressíveis  para o intelecto humano. Com milhões de anos e tecnologia tão avançada que é confundida com magia, e cujo poder é tal que são temidos como deuses. Aos seus olhos a existência humana é microscópica e a forma como a mente humana funciona, seus anseios e moralidade são por definição incompatível com a forma como pensam. Como a vida de um ácaro é para nós. Por esta razão, Nyarlathotep é muito especial entre os deuses, pois é um dos poucos, senão o único, que tem certo grau de compreensão da mente humana e assim pode fazer coisas que os outros deuses não podem,  como por exemplo conversar com pessoas ou adquirir a forma humana.

Se você acredita que o que foi dito antes é algo bom, lamento desapontar. Não é bom.  Nyarlathotep entende realmente a moralidade humana, mas escolheu mal. Terrivelmente mal. Ele é cruel, ruim e extremamente poderoso. Ele pode conduzir qualquer um a loucura não apenas com seu poder psiquico, mas com sua mera aparência. Com ele a escola lovecraftiana ganhou seu ímpeto mais sinistro que impera até os dias de hoje nas mentes criativas. Um exemplo é Zalgo, um mito nascido na internet mas indubitavelmente influênciado pela figura de Nyarlathotep.

Criado em 1920 por Lovecraft, Nyarlathotep apareceu pela primeira vez em um poema que leva seu nome. Ele não é um dos Grandes Antigos mas pertence a categoria dos Outros Deuses mais baixos. Contudo,  seu poder está muito acima do de Cthulhu. Diz-se que Nyarlathotep têm mil formas distintas, o que é simplesmente uma forma de dizer que pode adotar a aparência que quiser. Seus avatares variam muito, dependendo se ele quer destruir por completo, torturar, fascinar ou simplesmente conversar para induzir você a um destino que provavelmente, será muito obscuro.

Já foi relatado como um imperador egípcio, um homem elegante com o poder de controlar animais, uma monstruosidade de vários quilometros de altura com uma língua gigante no lugar da cabeça, como um furacão de ventos negros, uma mulher chinesa obesa, ou simplesmente, como um deus sem rosto.

Por sua presença entre humanos é talvez o mais adorado deus cósmico da terra. Existem muitas seitas que o adoram sob vários nomes espalhadas pelo mundo, especialmente na África, e muitas delas já foram destruídas por ele depois que perderam suas utilidades. Para algumas pessoas a presença deste ser nefasto em nosso planeta foi de fato a origem de todos os mitos de deuses malignos, desde Ahrimam e Seth até o inexplicavelmente mal Diabo cristão. Sem dúvida,  Nyarlathotep é o deus mais perverso, malicioso e maldoso de todo panteão lovecraftiano.

Azathoth

Azathoth é conhecido na mitologia lovecraftiana por ser o mais poderoso dentre todos os deuses. Azathoth é tão reconhecidamente poderoso, que os mais versados nas narrativas lovecraftianas estranharão ele não estar no topo de nossa lista. Peço que tenham um pouco de paciência. Conheçamos esta terrível entidade cósmica.

Este deus é descrito como o Caos Nuclear, não porque tenha qualquer coisa relacionada com energia atômica, mas porque na palavra nuclear está implícita a palavra núcleo, ou seja, principal, essencial. Diz-se que ele criou acidentalmente o universo e quando despertar o destruirá com a mesma facilidade com que lhe originou.

Criado em 1919, Azathoth apareceu pela primeira vez em uma simples nota de papel de lovecraft, onde escreveu Azathoth – o nome horrível. Era óbvio que lovecraft havia tido uma ideia para uma história que alguns anos depois viraria seu livro “A busca onírica por Kadath”.

A posição de Azathoth está sem sombra de dúvida acima de todas as outras, inclusive de todos os outros Grandes Antigos, sendo descrito como “O motor principal do caos, a antítese da criação, o Sultão retardado de todos os demônios. Aquele que morde, geme e baba no centro do vazio final e absoluto.”

É descrito como um Deus idiota pela simples razão de que carece de qualquer raciocínio. Assim, as vezes, é difícil descrevê-lo como uma deidade, pois se trata de uma força suprema do cosmos e assim é chamado de o Caos Criativo e Infinito do Universo. O Deus Supremo dos mitos de Cthulhu não faz a mínima ideia do que está fazendo. É perturbador como isso explica melhor o cosmos indiferente e insano que vemos daqui de baixo.

Dizem que ao seu redor dançam o resto dos deuses mais antigos, seguindo as suas dementes melodias, entre eles ninguém menos que Shub-Niggurath e Nyarlathotep. A presença de Azathoth vem acompanhada do som de uma flauta, que sem dúvida tocará a melodia que causará o fim, não apenas da desprezível raça humana, mas de toda a criação.

Yog-Shothoth

Sendo que o universo é uma sopa intragável criada por acidente por um ente cósmico chamado Azathoth, o que pode sobrar de mais poderoso para um deus lovecraftiano? Bom, esta é uma questão de opinião, mas não se confundam, o deus que está em primeiro lugar é extremamemente poderoso. Após conversar com pessoas versadas na mitologia lovecraftiana, comparar dados, pesquisar e ponderar muito não tenho dúvida que o primeiro lugar deve ir a Yog-Shothoth.

Criado em 1927 pelo mestre Lovecraft, nascendo na obra “O Caso de Charles Dexter Ward”, Yog-Shothoth é descrito com as seguintes palavras, que não deixam nenhum espaço para dúvidas sobre sua posição de destaque: “Ele é a Chave e a Porta.”, “Além do mais além.” “O morador do Umbral” e o “Um em tudo e o tudo em um.”

Descrito como um conglomerado de esferas de esplendor maligno que podem ser tanto do tamanho da abobada celeste, ou de tamanhos infinitos, é uma entidade que representa o Espaço e o Tempo, o Infinito, e que assim pode existir para além deste mesmo Universo

Yog-Shothoth tudo vê e tudo sabe. Ele enxerga com clareza não apenas todos os universos, mas também todos os pontos de vista de cada um destes universos. Desta era, das eras passadas, das eras antes dos tempos e de todas as que estão por vir. Não se sabe se os cultistas que tentam agradá-lo, realmente o agradam mediante rituais ou se levam a cabo experimentos praeter-naturais e tem vislumbres de coisas muito além da capacidade de entendimento humano
Yog-Shothoth é transcedente a tudo que existe, inclusive possui alguns deuses que são como apêndices de Yog-Shothoth ou avatares menores,  como é o caso de Zathog, que tem o poder de viajar livremente pelo espaço e pelo tempo. Em  O horror de Dunwich,  Lovecraft como um narrador onisciente, descreve este ente supremo como “A porta, o guardião da porta e a chave dela mesma”, “O passado, o presente e o futuro convergem a ele.. Ele sabe como e quando tudo acontece, sabendo inclusive como foi o princípio de tudo. Isso não é pouco, mas não é tudo. Ele sabe também como e quando será o final e quantos ciclos de tudo e nada houveram antes e haverão depois.

Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=mKtlvdQnn_E

DrossRotzank

Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/4-deuses-lovecraftianos-mais-poderosos-que-cthulhu/

‘Manifesto Jesus Freak

1 – Nós propomos que, seguindo o exemplo de Jesus Cristo, não nos deixemos limitar pela religião. Os primeiros inimigos de Cristo foram os altos sacerdotes do Templo. O primeiro amigo de Cristo foi um louco que gritava no deserto.

2 – Nós propomos que as Escrituras são a mais alta autoridade cristã. Portanto devemos nos esforçar para compreendê-las muito mais do que nos esforçamos para aceitar a forma que nossos ancestrais a compreenderam. O mundo dos homens muda a cada instante. O mundo de Deus permanece o mesmo para sempre.

3 – Nós propomos que cada cristão tenha o mesmo credo essencial de Paulo de Tarso, Francisco de Assis, Martinho Lutero, William J. Seymour, Martin Luther King e ainda assim sejam livres para expressar sua fé de sua própria maneira especial, assim como o fez cada um destes cinco homens.

4 – Nós propomos que ninguém tem o direito de dizer que uma pessoa não será salva em Cristo, uma vez que a hora cabe ao Pai e a salvação cabe ao Filho. Assim, ainda que o próximo viva em escândalo você não deve se escandalizar.

5 – Nós propomos que os livros de orações sejam deixados de lado por um tempo. Talvez seja difícil usufruir de nossa liberdade de expressão em um primeiro momento, mas seremos recompensados com uma relação mais intima e próxima com Deus. Por muito tempo temos usado de maneira pobre o nosso missal. É hora de orarmos mais e irmos menos à missa.

6 – Nós propomos que devemos nos preservar um pouco dos hinários e livros de salmos. Eles são lindíssimos, mas nossa mente precisa respirar e perceber que está vivendo em uma época nova e radiante. Devemos compor novas músicas com novas letras, que sejam atuais e de acordo com nossa época. Não existe nenhum problema em cantar as glórias antigas, mas há uma infinidade de glórias novas aguardando e clamando para serem cantadas.

7 – Nós propomos nos libertarmos da arquitetura do passado criando novos espaços para nossos cultos. Derrubemos as igrejas e templos para não haver mais a separação entre irmãs e irmãos, entre crentes e ateus, entre humanos e resto da criação. Chamemos de volta a todo aquele que expulsamos de nossas igrejas: os infieis e os piores pecadores! A Casa de Deus não é uma casa de desespero. Chamemos todos de volta, ainda que continuem pecando para sempre.

8 – Nós propomos que descubramos como os avanços tecnológicos de nossa época podem ser usados para a glória de Deus. “Frutificai e multiplicai-vos” nunca foi um desejo ligado única e exclusivamente ao sexo. “Eis que saiu o semeador a semear” nunca foi restrito as praças públicas. Deus nos presenteou com tecnologias que nossos antepassados sequer sonharam poder existir. Está na hora de aceitarmos essa graça e fazer bom uso dela. Vamos organizar oficinas e mostrar como a arte e a ciência podem fazer parte de nossas festas e nossos exercicios de contemplação.

9 – Nós propomos o uso do intercâmbio cultural para enriquecer nossa literatura litúrgica com materiais até então ignorados por nossos cultos tradicionais. Há uma abundância de sabedoria e beleza nos textos considerados apócrifos pela igreja medieval, nas escrituras sagradas de outras crenças e mesmo na poesia secular que podem e devem ser usados em nossa liturgia para atingirmos um propósito estético superior ao atual.

10 – Nós propomos que em um mundo dominado pela mídia onde o uso da imagem supera o do texto, os cristãos devam fazer uso das figuras mais fortes, corajosas e chocantes possíveis. O cinema, a televisão e mesmo intervenções urbanas devem ser usados. Não há lógica em mostrar o caminho, a verdade e a vida usando imagens piegas, meia luz e baixa resolução.


Sentindo-se freak? Conheça Jesus Freak: o Guia de Campo para o Pecador Pós-Moderno


 

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/jesus-freaks/manifesto-jesus-freak/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/jesus-freaks/manifesto-jesus-freak/

‘O Livro dos Espíritos

Allan Kardec, em 1860

Anunciamos, na primeira edição desta obra, a publicação futura de uma parte suplementar. Seria composta de todas as questões que não encontraram lugar naquela edição, ou que circunstâncias ulteriores e novos estudos tivessem originado. Como, porém, são todas relativas a uma ou outra das partes nela já tratadas, das quais são o desenvolvimento, sua publicação isolada não teria feito nenhuma sequência. Preferimos, assim, esperar a reimpressão do livro, para fundir tudo num mesmo conjunto. É o que agora fazemos. Aproveitamos para conferir à distribuição das matérias uma ordem bem mais metódica, ao mesmo tempo em que suprimimos tudo o que estava repetido. Esta reimpressão pode, pois, ser considerada uma obra nova, embora os princípios não tenham sofrido nenhuma alteração, com um pequeno número de exceções, que são antes complementos e esclarecimentos do que verdadeiras modificações. A coerência dos princípios expostos, não obstante a diversidade das fontes em que os buscamos, representa fato importante para o estabelecimento da ciência espírita. Nossa correspondência mostra que comunicações idênticas em todos os pontos, ao menos quanto ao fundo, foram obtidas em diferentes localidades, e isso mesmo antes da publicação de nosso livro. Ele veio confirmá-las e dar-lhes corpo regular. A história, por sua vez, prova que a maioria desses princípios foram proferidos pelos mais eminentes homens dos tempos antigos e modernos, trazendo-lhes, assim, a sua sanção.

O ensino relativo às manifestações dos Espíritos, propriamente ditas, bem como aos médiuns, forma uma parte distinta da filosofia espírita, podendo constituir objeto de um estudo especial. Havendo recebido desenvolvimentos bastante expressivos em consequência da experiência adquirida, acreditamos ser nosso dever fazer dele um volume separado, contendo as respostas dadas a todas as questões concernentes às manifestações e aos médiuns, além de numerosos comentários sobre o Espiritismo prático. Essa obra será a continuação ou complemento do Livro dos Espíritos.

PARTE I – DAS CAUSAS PRIMÁRIAS

PARTE II – DO MUNDO DOS ESPÍRITOS

PARTE III – DAS LEIS MORAIS

PARTE IV – DAS ESPERANÇAS E CONSOLAÇÕES

Postagem original feita no https://mortesubita.net/espiritualismo/o-livro-dos-espiritos/