A Ordem de Aset Ka e a Popularização do Vampirismo Moderno

Em Hotep,

Tomei conhecimento da Ordem de Aset Ka em 2007 quando a Bíblia Asetiana foi liberada para deleite do publico em geral, em especial os europeus que já tinham alguma noção dos trabalhos vinculados a misteriosa sociedade cuja sede, sabe-se através do autor Luís Marques, se encontra na cidade de Porto, Portugal. É provavel que hajam outros capitulos da mesma espalhados ao redor do globo terrestre, todos estes interligando os adeptos as suas origens vampíricas presentes no Egito Antigo, onde a matriarca divina, Ísis, compartilhou não somente sua sabedoria entre sua descendencia, como sua própria imortalidade.
Por séculos a Ordem tomou a si a regencia do Antigo império egipcio, em um glamoroso reinado de Beleza e Poder, meramente esquecido pelos historiadores de nossa época, sequer reconhecido pelos mesmos.

“Para o seu grupo secreto e silencioso, Aset (Ísis) atribuiu-lhes o nome de Aset Ka, um símbolo direto de suas verdadeiras origens – a essência de Ísis, o Ka de Aset. E assim ela disse te-los vinculados através do sangue, e os fiéis a ela seriam para sempre fiéis para eles próprios, porque eles eram um só. Em seu “Beijo Negro”, ela gravou o sigilo santo no fundo de suas almas, que seria para sempre sua Marca Asetiana, e eles fariam o mesmo com seus seguidores” A Bíblia Asetiana.

A Aset Ka, enquanto ordem iniciática, existia muito antes de qualquer ordem vampírica, tal como Crimson Tongue, Dreaming, House Kheperu, ou até mesmo a notória Black veil, famosa pelos seus roles playing games e fãs de Nox Arcana. É certo que, em contexto de exposição muito diferente e com recursos completamente distantes dos que utiliza hoje em dia, vide o site oficial circulando na Web, mas já à 20 anos atrás haviam serões de palestras sobre manipulação de energia organizadas pela Aset Ka em Londres e Paris. Fatos tais são dificilmente encontrados em textos liberados, mas correm aos sussurros pelos círculos ocultistas, da onde a autora que os expõe aqui, sugou deliberadamente as informações.

Pois bem, antes que tomem notas através do trabalho que aqui se segue, é importante fazer um parecer sobre a pratica do Vampirismo, já muito propagada fora dos círculos ocultos, em especial pelos sujeitos mais problemáticos que são os adolescentes deslumbrados e fãs de qualquer alegoria sombria/sensual. Tais ordens como Aset Ka jamais registraram qualquer indicio de prática canibalista em seus meios como uma questão de obrigatoriedade de sua natureza divina, senão uma alusão ao que seria “sugadores da essência divina”, energia psiquica ou sexual. Fora isto, moldar em mente sujeitos de preto, cabelos longos, pele pálida e feições aquilinas voando entre árvores de um bosque a caçar mocinhas, é apenas uma visão romanceada, figurativa, do que o Vampiro de fato representa. A questão da alimentação sanguinea não é uma condição inerente ao Asetiano, que privado desta dieta, padecerá em uma funesta não-existencia cá entre os vivos. Sobre esta questão, busquei referencias na fonte mais correta da Ordem, sua Bíblia, que nos trás a questão de maneira bem direta:

“O que um vampiro real realmente anseia em seu núcleo é o Ka, a essência da vida, se liberada por um intenso orgasmo sexual, desde o sangue pingando da veia do doador, ou simplesmente pelo toque da carne”

Procede-se então que o Vampiro se comporta de maneira similar a um daemon invocado cujo sigilo necessita ser alimentado pela energia do seu conjurador, seja numa gota de sangue, seja através do fluído sexual. O Vampiro todavia, não é uma condição sobrenatural inalcançavel. Tomando o presuposto que o Vampiro se alimenta da energia exterior, o vampirismo psiquico fora abordado de maneira bastante elucidatoria por autores como Dion Fortune e Anton Lavey.O “Psyvamp” sendo uma condição repassada seja geneticamente ou através de ataques exteriores, PORÉM, não resulta no recrutamento do mesmo para uma Ordem como Aset Ka. Simplesmente porque ser asetiano não é somente ser um vampiro. A questão é mais profunda e essencialmente vinculada a hereditariedade.

Não adianta donativos, puxa-saquismo, sequer seu sangue é interessante a Ordem. Sendo um círcuo estritamente fechado, entende-se bem o porque de poucos conhecerem Aset ka. Esta casa ocultista não é como as casas por ai que dizem serem secretas, e fazem entrevistas até para o Jô Soares se puderem. Não deve-se confundir Ordem restrista com Ordem Secreta, pois nem todas as ordem restritas sobrevivem na obscuridade, por exemplo a famosa Maçonaria. Mas então porque diabos lançar um livro, um site, até uma pagina na Wikipedia, se a palavra de ordem da Aset Ka é Sigilo?

Em dialogos com um possivel conhecedor dos trabalhos asetianos nas terras lusitanas, este me deu a entender que alguns descendentes da Ordem vagavam por ai sem conhecimento de suas origens. As publicações rescentes, por tanto, pretendiam, e pretendem, despertar esses irmãos e levá-los de encontro a suas origens. O reconhecimento se daria de uma maneira profundamente íntima, é deduzível, já que não consta um manual de comportamentos asetianos, senão poucas caracteristicas referentes as linhagens. Obviamente, as publicações atraíram muitos tipos de fanboys e fangirls de RPG, Anne Rice, Saga Crepúsculo e até membros de outras ordens, curiosos acerca desta identidade otherkind presente no asetiano. Mas é provavel que os curiosos não obtiveram sucesso em suas pesquisas, tal como eu que apenas pude me satisfazer com informações minguadas espalhadas entre os círculos.

 

Aset Ka e as Três Linhagens Vampíricas

“Vivemos em segredo. Vivemos em silêncio. E nós vivemos sempre …Que a Serpente beije o infinito de sua beleza fria”

A palavra Asetiana refere-se à linhagem imortal criada por Ísis no Antigo Egito. Em seu ato de criação divina, ela deu sozinha à luz a três crianças para fora de sua essência. Esses são os Asetianos Primordiais, os primeiros de seus parentes, representações perfeitas das Linhagens encontrados em Asetianismo. Isso explica a natureza tríplice da linhagem que é representada por três linhagens distintas: Serpente, a Linhagem dos Viperines, Escorpião, a linhagem dos Guardiões, Escaravelho, a Linhagem dos Concubines.

1 – Linhagem das Serpentes (tambem conhecida como a linhagem de Hórus): Esta linhagem assenta as suas bases na honra, no poder e na força da liderança. Os seres desta linhagem destacam-se por possuir elevados poderes metafisicos, e uma criatividade extraordionária. São habitualmente temidos por aqueles que conhecem os seus poderes. Fisicamente, tem uma aparência frágil (apesar de serem de todas as linhagens os mais poderosos) devido a possuirem um grande desprendimento da Terra em si. São na maioria das vezes pessoas palidas, magras, e tem um olhar profundo que lhes é caracteristico.

2 – Linhagem dos Escorpiões (Guardiões) :os seres desta linhagem denotam-se por uma grande ligação ao amor, e busca do mesmo. Para eles, o amor é a propria razão da vida. São desligados das pessoas em geral, apresentando por diversas vezes pontos de vista divergente da maioria das opinioes da sociedade. São muito ligados á Terra, o que resulta no desenvolvimento de um grande escudo de protecção á sua volta quase constante. São seres notoriamente protetores, contudo só permitem a alguns aproximarem-se de si intimamente. Nao interagem muito facilmente com a energia, devido precisamente ao seu “escudo” quase constante. São donos de uma saude excelente assim como de um ótimo sistema imunologico. São poucos sensiveis á luz solar, e podem ainda ser menos palidos que os asetianos das outras duas linhagens. Tem um metabolismo energetico lento, logo sao raras as vezes em que necessitam de retirar energia dos outros. São avançados na alimentação tantrica. Alimentam-se de energia sexual.

3 – Linhagem dos Escaravelhos (Concubines): Tem uma natureza caótica, e ao mesmo tempo adaptativa. Tem a habilidade de partilhar grandes quantidades de energia, tornando-os excelentes doadores , sobretudo para a linhagem das serpentes. Sao submissos e controlados, mas apenas por aqueles que lhe são bastante proximos. Tem uma grande necessidade de contacto humano social, e por isso mesmo sao das 3 linhagens a que possui uma alma mais humanizada, sendo que o facto de se misturarem com os humanos e agirem muitas vezes como eles emotivamente é um dos seus maiores fardos, uma vez que assim se torna mais dificil de atingir o seu eu interior divino. Umas das suas capacidades mais marcantes é a de conseguirem transformar a dor fisica em prazer, alimentando-se muitas vezes de energia sexualmente liberada. Não tem uma aparencia fisica esteriotipamente definida, a mesma costuma variar imensamente.

Keepers – Crianças de Anubis

São os protetores dos Asetianos, estão a eles ligados através de lealdade, respeito, honra e dedicação. Tal como os Asetianos, tem uma alma imortal nao humana, logo sao conhecidos como otherkins. Alguns possuem uma alma vampirica, outros tem uma alma humanizada. Discípulos de Anubis, sao extremamente avançados no que toca a praticas e ritos de magia e feitiçaria. A sua maior ambiçao é proteger os Asetianos.

“Desenvolvimento e iluminação são processos lentos e persistentes da viagem Asetiana através da vida. Esta iniciação metafísica é um sistema de transmutação. Com esta mudança pura e profunda, significa que o Asetiano consegue alterar de forma,aparência e natureza, que é uma manifestação da força da Chama Violeta em si. Esta transmutação, profundamente conectada com o nascimento vampírico, representa a natureza da alquimia da alma Asetiana, sempre mudando eternamente. De acordo com isto, podemos estabelecer o Asetianos como os alquimistas do alma, criadores e destruidores,catalisadores de mudança e evolução, com o poder de transformar chumbo em ouro. Asetianos são os doadores de vida, os pilares da existência sutil, os proprietários darespiração da imortalidade. ”

Mas então, qual seria o sistema asetiano? Como vivem e o que fazem?

Existem trechos deveras notáveis nas obras de Luis Marques que calam a boca dos insistentes, porém nao conseguem fazer morrer o interesse. Tal como o autor é uma pessoa física E conhecida, os asetianos assim são, habitando entre nós, podendo ser nossos vizinhos ou um apresentador de um talk show na TV.
“Para aqueles fora da Ordem, nós jamais existiremos” (A Biblia Asetiana).

No entando, sabemos que eles sim existem, mas não da maneira extravagante que Hollywood demonstrou.

“Os vampiros e criaturas similares podem ser encontradas em quase todas as culturas ao redor do mundo. Nos contos do Vetalas da Índia encontram-se no folclore sânscrito, chamados demonios vampiricos, tanto que os Lilu são conhecidos desde os mistérios da Babilônia, e mesmo antes, os sanguessugas de Akhkharu foram vistos na mitologia suméria. De fato,um desses demônios do sexo feminino, chamado Lilitu, foi adotado mais tarde pelademonologia judaica, Lilith, sendo um arquétipo ainda atualmente utilizado em algumas tradições ritualísticas do Caminho da Mão Esquerda. Mas a maioria do que é reconhecido do vampiro vem da Romênia e contos eslavos, os Strigoi chamados Nosferatu e Varcolaci, entre outros. No entanto, o Vampiro verdadeiro, como um ser real e não o conceito encontrado em todo o mundo e na história como puro mito criado pelo homem, tem suas raízes no Antigo Egito, sendo ele o Asetiano”. (A Bíblia Asetiana)

Nathalia Claro.

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/vampirismo-e-licantropia/a-ordem-de-aset-ka-e-a-popularizacao-do-vampirismo-… […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/vampirismo-e-licantropia/a-ordem-de-aset-ka-e-a-popularizacao-do-vampirismo-moderno/

A História da Golden Dawn

A Golden Dawn (ou Aurora Dourada), foi a segunda sociedade ocultista mais importante do século passado (a primeira foi a Sociedade Teosófica de H.P. Blavatsky). Foi criada em 1880 por quatro membros da S.R.I.A. (Societas Rosecruciana in Anglia) chamados:

  • A.F.A. Woodford, membro do Clero Anglicano e Maçon;
  • William Wynn Westcott, médico legista;
  • W.R. Woodman, médico;
  • Samuel Liddell Mac Gregor Mathers, estudioso de ocultismo.

A principal proposta da Ordem Hermética da Aurora Dourada, era colocar em prática os Rituais e Ensinamentos da Magia, fortemente influenciados pelos textos de John Dee, Eliphas Levi e Francis Barret, entre outros.

Sua reivindicação era a de ser a verdadeira herdeira dos primórdios do rosacrucianismo e dos princípios de Cristian Rosenkreutz (misterioso pai do rosacrucianismo), baseando-se num misterioso conjunto de manuscritos cifrados, oriundos de Westcott. De posse desses documentos cifrados, encontraram em meio a estes, uma carta com o endereço da Fraülein Ana Sprengel (Sapiens Dominabitur Astris = O Sábio Será Governado pelas Estrelas) originária de Nuremberg. Mais tarde descobriu-se que esses documentos foram na verdade, criados por eles.

Esses manuscritos estavam em inglês arcaico, transcritos num código “secreto” inventado no séc. XVI pelo Abade Trithemius. Nesses manuscritos encontram-se os rituais e a estrutura hierárquica básica da organização.

Através de um grande volume de cartas remetidas pelos dois lados, o quarteto de magos foi instruído de forma a preencher os rituais esboçados nos manuscritos cifrados. Em 1887 Ana Sprengel deu ao grupo, que até então estava subordinado à ela, autoridade suficiente para poderem abrir a primeira Loja (ou Templo) da Aurora Dourada, o Templo de Ísis-Urânia. Logo após a fundação do Templo foi anunciada a morte de Ana Sprengel.

A Aurora Dourada era fundamenta em Graus de aprimoramento, onde o estudante evoluía de acordo com suas aptidões. O recrutamento de novos membros era feito na maioria das vezes por cooptação, através de um padrinho, que iria cuidar de sua evolução dentro da organização e de sua diligência nos estudos.

A divisão dos Graus era baseada na Árvore da Vida, proveniente da Qabalah. São onze Graus divididos em três classes cada. A partir do Sexto Grau, ao que nos parece, reúne não seres humanos, mas entidades ou seres superiores.

A Grade de Estudos era bastante exigente em relação ao estudante, que, para passar de um Grau a outro necessitava provar seu domínio do Grau ao qual estava preste a abandonar.  Partindo de rituais do Pentagrama, Armas Mágicas, Talismãs, conversas com Anjos e Artes Divinatórias, pretendiam dar ao estudante o domínio do mundo em que este vivia.

A partir de 1892, Mathers começou a chefiar a Aurora Dourada praticamente sozinho, alegando que era iluminado por Mestres Secretos, os quais lhe davam plenos poderes para tanto. Criou-se então a Ordem Interna (Rubrae Rosae et Aurae Crucis = R.R.A.C.).

Os rituais da Ordem eram bem construídos pelo profundo conhecimento que Mathers tinha do ocultismo e eram plenos de poesia e filosofia. Seus efeitos sobre o espírito humano eram inegáveis assim como seus resultados.

Em 1898, Aleister Crowley ingressa na Aurora Dourada, tornando-se discípulo de Alan Bennett. Por seu talento com as artes esotéricas e pela sua perspicácia, adquiriu o respeito de Mathers. Por esse mesmo motivo além de sua independência nos estudos, surgiram atritos com outros membros da ordem. Em 1899, os membros de Londres recusaram-se a dar a Crowley o ingresso na Ordem Interna. Essa atitude contribuiu para a desagragação da Ordem conforme veremos a seguir.

Mathers havia se mudado para Paris com sua esposa Moina, para fundar um ramo continental da organização e lá conferiu a Crowley o grau de Adeptus Minor. Isso causou furor nos membros de Londres que votaram a expulsão de Mathers da Chefia da Organização.

A partir de 1900, a história da Aurora Dourada parecia estar chegando ao fim. Mathers troca insultos com vários membros da Ordem. Expulsou Florence Farr de seu posto de segunda no comando da organização. Mathers então manda Aleister Crowley a Londres para reprimir os rebeldes.

Após vários episódios bastante dramáticos e alguns até tragicômicos, Mathers foi afastado da Ordem. Depois do ano de 1900, a Ordem Hermética da Aurora Dourada deixou de existir na sua forma original, sendo dividida em diversos seguimentos, a saber: A Ordem de São Rafael, A Stella Matutina, Alpha-Omega, A Luz Interior, Builders of the Adytum.

A organização tentou reerguer-se através das mãos de outros grandes nomes do ocultismo, como Yeats, e A.E. Waite, mas seus esforços não conseguiram manter nem uma pálida lembrança dos dias de glória daquela que seria conhecida mais tarde como a maior Sociedade Rosacruz de todos os tempos.

A Ordem separou-se em várias facções que lutavam entre si pelo posto de verdadeira herdeira da Ordem Hermética da Aurora Dourada.

Hoje ainda existem várias Lojas e Templos espalhados pelo mundo que se dizem descendentes daqueles quatro magos. A verdade de sua herança, apenas o tempo será capaz de dizer.

A Aurora Dourada foi o centro onde reuniram-se grandes cabeças da época, sendo que, da totalidade, podemos citar com segurança:

  • Maud Gonna, musa inspiradora de William Butler Yeats;
  • William Butler Yeats, poeta, nobel de literatura de 1924;
  • Jean-Marc Bride, pai de Maud Gonna, político;
  • Florence Farr, atriz, conselheira de Bernard Shaw;
  • William Peck, astrônomo;
  • Gérard Kelly, presidente da Real Academia;
  • Arthur Machen, escritor;
  • Bram Stocker, escritor, autor de Drácula;
  • Violet Wirth, ou seja, Dion Fortune, escritora;
  • Sam Rohmer, escritor;
  • Edita Montés, condessa de Landsfeld, filha bastarda de Luís I da Baviera, e de Lola Montés;
  • Bulwer Lytton, escritor de Zanoni;
  • Aleister Crowley, mago, fundador da Astrum Argentum, mais tarde O.H.O. da O.T.O

“Como um prelúdio ao que sucederá mais adiante, haverá agora uma reforma geral, tanto de coisas divinas como humanas, conforme desejamos, e outros esperam. Pois, é natural que, antes do nascer do Sol, surja a AURORA, ou alguma claridade, ou divina luz, no Céu; e, entretanto, alguns, que darão seus nomes, se reunirão para aumentar o número e o respeito de nossa FRATERNIDADE, dando feliz e tão desejado começo aos nossos Cânones Filosóficos, para nós prescritos pelo nosso irmão R.C., participando então dos nossos tesouros (que nunca se esgotam ou corrompem), com toda humildade, e amor que os alivie do labor e das misérias deste mundo, de modo que não caminhem tão cegamente no conhecimento das maravilhosas obras de Deus.” -FAMA

por Frater Goya

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/sociedades-secretas-conspiracoes/a-historia-da-golden-dawn/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/sociedades-secretas-conspiracoes/a-historia-da-golden-dawn/

A Raposa e as Uvas – Uma Fábula Moderna

Passeando por grupos do facebook, uma raposa, morta de fome de conhecimentos, viu, ao passar diante de um pomar, penduradas nas ramas de uma viçosa videira, alguns cachos de exuberantes uvas negras, e o mais importante, maduras. Eram quase 700 paginas coloridas e 800 mil palavras de conhecimento vinífero penduradas ali na sua frente.

Não pensou duas vezes, depois de certificar-se que o caminho estava livre de intrusos, resolveu colher o seu alimento.

– Alguém conhece este livro? Fiquei muito interessada…

Usou de todos os seus dotes, conhecimentos e artifícios para apanhá-las, mas como estavam fora do seu alcance, acabou cansando-se em vão, e nada conseguiu.

– Alguém tem um PDF para me mandar?

Desolada, cansada, faminta, frustrada com o insucesso de sua empreitada, suspirando, encolheu de ombros e deu-se por vencida. Outras raposas chegaram junto, mas nada conseguiram.

Deu meia volta e foi-se embora, desapontada foi dizendo:

– Está muito caro!

Outras disseram:

– Parece um trabalho superficial, o livreto de 100 paginas da Dion Fortune que pegamos de graça pirata é bem mais profundo.

– Não gosto do autor, autores nacionais nunca se aprofundam nos temas

– A parte gráfica deixa a desejar…

– Não recomendo o autor para ninguém que queira estudar Magia(k), ele é muito pop, só fala de Kabbalah e Harry Potter, Matrix e Senhor dos Aneis

– Com todo respeito aos meus amigos ocultistas, mas se quer aprender cabala “de verdade”, estude Hebraico e pegue livros como Tikunei Zohar, Zohar Hakadosh, Likutei Amarim, Likutei Moharam, Shney Luchot Habrit…

– Um amigo de um primo meu da capital disse que o autor colocou círculos cabalísticos reais em um RPG e faz com que o primo de um conhecido meu invocasse demônios em uma sessão de RPG, por isso não podemos comprar nada deste autor.

Quando já estavam indo, um pouco mais à frente, escutaram um barulho como se alguma coisa tivesse caído no chão… Voltaram correndo pensando ser um pdf…

Mas quando chegaram lá, para sua decepção, era apenas uma folha que havia caído da parreira. As raposas, decepcionadas, viraram as costas e foram-se embora de novo.

Fábula de Esopo, baseada em fatos reais.

#Arte #Fábulas

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/a-raposa-e-as-uvas-uma-f%C3%A1bula-moderna

A Boca do Abutre

Por Kenneth Grant, O Lado Noturno do Éden, Capítulo Onze.

A PALAVRA do Aeon de Maat que os iniciados afirmam ter sido recebida enquanto em comunicação com inteligências extraterrestres,392 é IPSOS, significando ‘a mesma boca’. No segundo capítulo de AL (verso 76) surge uma cifra críptica que contém um grupo de letras possuindo o valor de IPSOS. De fato, duas grafias diferentes de Ipsos resultam em números equivalentes a um grupo de letras em AL. O criptograma em AL é RPSTOVAL, que tem o valor cabalístico de 696 ou 456 conforme ou a letra ‘S’ é lida como um shin ou como um samekh. Similarmente, IPSOS = 696 ou 456 conforme se o primeiro ‘s’ é tomado como um shin ou um samekh. IPSOS é portanto o equivalente cabalístico de RPSTOVAL. O significado deste grupo de letras não é conhecido, mas Ipsos a boca, o órgão da Palavra de Expressão (saída_?), de Alimentação, Sucção, Beberagem, etc., é o órgão não apenas de expressão mas também de recepção da Palavra.

A fórmula RPSTOVAL compartilha com IPSOS, pois a fórmula da Torre393 é aquela do Falo em erupção, e a ejaculação394 da Palavra do Aeon de Maat, a Palavra que se estende até ‘o fim da terra’.395 A terra está sob o domínio do Príncipe do Ar (i.e. Shaitan), mas os espaços além estão sob o domínio do Senhor do Aethyr, cujo símbolo é o abutre.

Nenhuma fórmula pode ser cósmica que não seja essencialmente microcósmica, pois uma contém a outra. É portanto sugerido que a fórmula de RPSTOVAL é aquela de um processo especificamente fisiológico que envolve a boca (útero) em sua fase mais recôndita.

A boca enquanto Maat, a Verdade, a Palavra; Mat, a Mãe; Maut, o Abutre; e Mort, o Morto,396 está implícita no simbolismo da Torre. A erupção ou expressão da Torre (falo) é a saída (?) da Palavra para dentro dos espaços além da terra que são um com os aethyrs397 representada por el Mato, o Louco, o Mat ou O Louco, e Le Mort, o Morto.

O Caminho do Louco (décimo primeiro caminho) é a extensão secreta do Caminho da Torre (Atu XVI) e uma compreensão iniciática deste simbolismo apresenta uma chave para a fórmula do Aeon de Maat que está resumido pelo número 27 (11 + 16), o número do Caminho do Morto e do Atu XVI, A Torre.398 É significativo que o Caminho da Torre seja de fato o 27o Caminho. Este número é atribuído ao Liber Trigrammaton, um Livro Santo, embora ainda não compreendido, recebido por Crowley de Aiwass. Crowley suspeitava que ele continha o segredo da cabala ‘Inglesa’, e em seus Comentários sobre o AL ele tentou equacionar os trigramas com as letras do alfabeto Inglês de modo a descobrir a cabala Inglesa tal como ele estava ordenado a cumprir no AL.399 Mas as equações estavam longe de serem convincentes, mesmo para ele mesmo. O que ele parecia não compreender era que a cabala que ele buscava pertencia a uma dimensão completamente diferente, e que a boca que iria comunicar esta cabala era a boca cujas emanações são os próprios kalas. Portanto, como eu sugeri em Cultos da Sombra (capítulo 7) com relação à palavra RPSTOVAL, com igual probabilidade pode a palavra IPSOS ocultar uma fórmula de kalas psicossexuais que podem ser compreendidos com relação a uma interpretação tantrica da polaridade sexual.

A interação da vagina e do falo (i.e. a boca e a torre) está resumida sob a fórmula eroto-oral conhecida na linguagem popular como o soixante-neuf (69). Mas o assunto é um pouco mais recôndito do que aquele geralmente implicado por esta prática. Os números 6 e 9 denotam o sol e a lua, Tiphareth e Yesod, e, em termos dos 32 kalas o 6 e o 9 se referem àqueles de Leo400 e Pisces401 A enumeração total resulta 109, o número de NDNH, uma palavra Hebraica significando ‘vagina’402. Deduzindo a cifra, 109 se torna 19, que é o ‘glifo feminino’.403 109 mostra portanto o ovo ou esfera – 0 – do Vazio, o ain do infinito em sua forma feminina. O significado mágico deste simbolismo está colocado numa categoria mais ampla sob o número 69: a radiante energia (relâmpago) solar-fálica do Anjo404 correndo veloz para dentro da boca, cálice ou útero da Lua para misturar-se com o qoph kala.405 A bebida resultante é o vinum sabbati, o Vinho do Sabá das Feiticeiras que pode ser destilado, segundo os antigos grimórios, ‘quando o finial(???) da Torre está oscurecido (ou velado) pela asa do abutre’.

Diz-se que um grito peculiar é emitido da boca do abutre. Em O Coração do Mestre,406 Crowley observa que este grito ou palavra é Mu. Seu número, 46, é a ‘chave dos mistérios’, pois ele é o número de Adam / Adão (Man / Homem). Mu é a semente masculina,407 mas ela é também a água (i.e. sangue) da qual o homem foi moldado. 408 O abutre é um pássaro de sangue e seu grito penetrante é expressado no momento de retalhar(?)409 que acompanha o ato de manifestação: ‘Pois estou dividida por causa do amor, para a chance de união’. (AL. I. 29).

O número 46 também implica o véu divisor (Paroketh), previamente explicado. MAH, 46, é o hebraico para 100, o número de qoph e portanto da ‘parte de trás da cabeça’, o assento das energias sexuais no homem. O cem implica na totalização ou realização de um ciclo de tempo.410 O pleno significado do simbolismo é portanto que quando o abutre abre suas asas para receber o golpe fálico no silêncio e discrição da nuvem,411 seu grito penetrante de êxtase, hriliu412, é MU (46).413

Neste estágio é necessário fazer uma digressão aparentemente irrelevante caso a total importância do simbolismo da Torre deva ser entendida.

Numa construção dilapidada anteriormente situada no local atualmente ocupado pelo Centre Point414 ocorreu, em 1949 um rito mágico curioso. Ele aconteceu por instigação de Gerald Gardner.415 O aposento no qual o rito ocorreu estava alugado naquela ocasião por uma ‘bruxa’ a qual eu chamarei de Sra. South. Ela era realmente uma cafetina(?) e prostituta que temperava suas atividades com um sabor ‘oculto’ calculado para apelar à um certo tipo de clientela. Acompanhado por minha esposa e Gerald Gardner, nós três nos dirigimos ao apartamento da Sra. South após passarmos uma tarde com Gardner em seu apartamento em Ridgemount Terrace afastado da Tottenham Court Road. O rito exigia cinco pessoas e só poderia começar após a chegada de uma jovem senhora a quem a Sra. South estava aguardando para aquele propósito. Supunha-se que a jovem senhora era – como a própria Sra.South – bem versada nos aspectos mais profundos da feitiçaria. Eu não vou negar o fato de que sua feitiçaria provou ser genuína, mas que ela sabia menos ainda sobre a arte do que a Sra.South eu também não vou negar.

Gardner explicou que o propósito do rito era demonstrar sua habilidade em ‘trazer para baixo o poder’. Ele pretendia elevar uma corrente de energia mágica com o propósito de contatar certas inteligências extraterrestres com as quais eu estava, naquela ocasião,416 em rapport quase constante. O rito deveria consistir na circunvolução de nós cinco ao redor de um grande sigilo gravado em papel pergaminho que foi especialmente consagrado. O sigilo foi desenhado para meu uso por Austin Osman Spare que também estava, naquele tempo, ocupado em contatar extraterrestres. O sigilo seria mais tarde consumido na chama de uma vela disposta sobre um altar no quadrante norte do apartamento. À parte deste equipamento mágico, o aposento da Sra.South continha apenas duas ou três estantes de livros sobre feitiçaria e o ‘oculto’ em geral; eles foram sem dúvida importados por ela para emprestar um ar de autenticidade à suas buscas mais usuais.

Se o rito teria sido eficaz ou não fica aberto para questionamento. Ele foi interrompido antes da invocação inicial ter sido concluída. Esta consistia de uma circunvolução horária ao redor do altar com rapidez crescente em círculos que iam diminuindo. A campainha da porta da frente tocou subitamente nas profundezas da construção no restante deserta, primeiramente fraca, então de forma penetrante e insistentemente. O determinado visitante provou ser o proprietário de uma livraria ‘oculta’ situada numa distância não muito grande do apartamento da Sra.South. Contudo ao saber que eu estava no alto da escadaria o visitante decidiu não subir.417 Ele saiu e então meteu-se na vaga névoa de Novembro que mais tarde naquela noite se desenvolveu em um bom fog (nevoeiro) Londrino à moda antiga.

O objetivo deste relato é ilustrar um fato curioso característico da estranha maneira na qual a magia(k) freqüentemente funciona. O sigilo que deveria ter formado o foco da Operação aquela noite era o de um espírito particularmente potente, que teria sido indubitavelmente descrito por Gardner e a Sra. South como essencialmente ‘fálico’. Este fato é importante, pois logo após a cerimônia abortada a Sra. South morreu sob circunstâncias misteriosas; o casamento do dono da livraria se desintegrou violentamente e ele também morreu logo após. O próprio Gerald Gardner não demorou em seguir o exemplo(?). Mas o alto edifício mais tarde erguido sobre o local que estes magos frequentavam é no meu entender um monumento adequado à futilidade daquela Operação noturna.

Fui induzido à lembrar de fazer este relato sobre um rito mágico que deu errado devido à uma declaração feita por Ithell Colquhoun que reconhece na Torre do Correio um monumento à magia de MacGregor Mathers, algumas de cujas atividades foram concentradas naquela região de Londres.418 A premissa pode ser absurda, mas deve ser lembrado que os surrealistas, dos quais Ithell Colqhoun era um, penetraram muitos mistérios mágicos que escaparam aos praticantes e investigadores mais prosaicos. Os casos de Centre Point e a Torre do Correio (ambas formas da Torre Mágica discutida no presente capítulo) conduzem logicamente ao simbolismo da Torre que penetra os Trabalhos de vários ocultistas contemporâneos que operam independentemente uns dos outros.

Durante os últimos anos recentes o presente escritor tem recebido cartas de pessoas e grupos mágicos de todo o mundo, e talvez não seja surpreendente – em vista da natureza comum de nossas pesquisas – que certos símbolos dominantes devam recorrer. Por exemplo, o Liber Pennae Praenumbra que foi recentemente recebido por Adeptos em Ohio, EUA, está permeado com os símbolos mostrados no vívido delinear de Allen Holub de O Abutre na Torre do Silêncio (vide ilustração 8): O Abutre de Maat, a Abelha de Sekhet, a Torre do Silêncio, e a Serpente cujas espirais formam a palavra IPSOS.

Um outro grupo independente de Adeptos em Nova Iorque, conduzido por Soror Tanith da O.T.O., também recebeu símbolos idênticos, dos quais a Torre do Silêncio e a Abelha de Sekhet são os predominantes. A transmissão à Soror Tanith foi emitida por uma entidade extraterrestre conhecida como LAM que foi anteriormente contatada por Crowley em 1919.419

O líder do Culto da Serpente Negra, Michael Bertiaux, também contatou LAM enquanto operava com a Corrente Bön-Pa Tibetana nos anos sessenta.420 Em todas estas invocações e operações mágicas, o simbolismo acima descrito tem sido predominante, o que sugere que em todos os três locais (i.e. Ohio, Nova Iorque e Chicago) uma idêntica energia oculta, entidade ou raio, está irradiando vibrações em conformidade com os símbolos de Mu ou Maat e podem portanto proceder daquele aeon futuro. Isso tende à confirmar a teoria de Frater Achad de que existe uma sobreposição provocada por uma ‘curvatura no tempo’ que está manifestando seu enrolar espiral conforme a antiga sabedoria,421 onde era simbolizada pelo abutre com o pescoço em espiral e pelo pescoço torto cujas peculiaridades físicas fizeram dele um totem ou símbolo senciente similarmente apto.

Outro totem, menos facilmente explicável, é a hiena. Como o abutre, a hiena é uma ‘besta de sangue’, mas apenas isso não responde por seu uso como um glifo zoomórfico na Tradição Draconiana. Segundo a antiga sabedoria a hiena só pode enxergar à direita ou à esquerda girando(?) ao redor de todo o seu corpo; i.e. ele não consegue virar sua cabeça. Ele é portanto de igual valência, simbolicamente, como o pescoço torto. Como um totem do abismo, a atribuição da hiena é por si evidente à respeito de esta povoar as criptas e tumbas do antigo Egito e se alimentar dos mortos. O simbolismo do deserto também se aplica. Na Índia o abutre e a hiena estão entre as bestas associadas com os ritos de Kali. O elemento tântrico do rito está então implícito.

Existem similaridades próximas entre os ritos Afro-Egípcios de Shaitan celebrados na Suméria e Acádia, e os posteriores ritos tântricos Indianos de Kali. O sabor distintamente mongol desses ritos observados por estudiosos422 é evidente no ethos(?) peculiar que permeia muito da literatura conectada aos Kaulas, que usam o bode, o porco, o abutre, a serpente, a aranha, o morcego, e outras bestas tipicamente Tifonianas em suas cerimônias sacrificiais. Existem também uma confraternidade secreta na América do Sul atualmente que mantém entre os devotos de seu círculo interno aqueles que atravessaram os Portais Intermediários(?) na forma-deus do morcego. Este é o zoótipo da besta de sangue vampira que está ligada ao simbolismo do abutre e da hiena. O morcego se pendura de ponta cabeça para dormir após se alimentar; a hiena é retromingent423; e o abutre, cujo pescoço torto sugere uma forma de ‘visão’ para trás, são determinativos ocultos daquela retroversão dos sentidos que torna possível o salto por cima do abismo. Este salto é um mergulho para trás através do vazio tempo-espaço de Daäth com o resultado de que o fundo salta fora do mundo do Adepto que o ensaia. Sax Rohmer, que foi uma vez um membro da Golden Dawn,424 faz uma alusão de passagem à este culto em seu romance Asa de Morcego (Batwing), e embora ele prejudique o efeito de sua estória ao recorrer ao truque literário vulgar de uma solução mecanicista, ele não obstante se refere à um culto real quando ele diz:

Enquanto que serpentes e escorpiões tem sido sempre reconhecidos como sagrados por cultuadores do Voodoo, o real emblema de sua religião impura é o morcego, especialmente o morcego vampiro da América do Sul.425

Rohmer, como H.P.Lovecraft, tinha experiência direta e contínua dos planos internos, e ambos estabeleceram contato com entidades não-espaciais. Além do mais, estes dois escritores recuaram – em seus romances e em suas correspondências privadas respectivamente – do atual confronto com entidades que são facilmente reconhecíveis como os enviados de Choronzon-Shugal. As máscaras destas entidades adquiriram uma qualidade de tal clareza forçada que nem Rohmer nem Lovecraft eram capazes de encarar o que jaz abaixo. Ainda assim o repúdio insuperável inspirado por tais contatos ocultavam potencial mágico, comprimido e explosivo, o que tornou estes dois escritores mestres em seus respectivos ramos de ocultismo criativo.

Não há dúvidas que escritores como Sax Rohmer, H.P.Lovecraft, Arthur Machen, Algernon Blackwood, Charles Williams, Dion Fortune, etc., trouxeram influências poderosas para serem ostentadas sobre o cenário ocultista através de seus vários esboços das Qliphoth. A fórmula do abismo, por exemplo, tem sido incomparavelmente expressa em alegoria pelo simbolismo do salto mortal psicológico descrito por Charles Williams (em Descida ao Inferno) que usa as linhas assombrosas:

O Mago Zoroastro, meu filho morto,
Encontrou sua própria imagem caminhando no jardim.

como um tema para sua estória.

O ato de girar ou virar para trás é a fórmula implícita na antiga simbologia da bruxaria.426

Os familiares das bruxas, não menos que as formas-deuses assumidas pelos sacerdotes egípcios, foram adotadas de modo à transformar os praticantes, não nos animais em questão, mas em um estado de consciência que eles representavam no bestiário psicológico de poderes atávicos latentes no subconsciente. A fórmula é resumida por Austin Spare em seu sistema de feitiçaria sexual e ressurgência atávica que são os temas do Zoz Kia Cultus.427 Ithell Colquhoun situa corretamente este culto em seu arranjo contemporâneo como um ramo da O.T.O. e da ‘Feitiçaria Tradicional’,428 mas o Zoz Kia Cultus comporta um outro fio que se origina de influências mais antigas que qualquer uma que possa ser atribuída meramente à ‘feitiçaria tradicional’, o que quer que aquele termo possa significar. Estas influências emanam de cultos tais como aqueles que Lovecraft contatou na Nova Inglaterra via Feitiçaria de Salem que – por sua vez – tinha contato com correntes vastamente antigas que se manifestaram no complexo astral Ameríndio como as entidades ‘eldritch’(?) descritas por Lovecraft em seus contos de horror.

Tais também eram as entidades que Spare contatou através de ‘Black Eagle’.429 Black Eagle induziu em Spare a extrema vertigem que iniciou um pouco de sua mais fina obra. Spare ‘visualizou’ esta sensação de vertigem criativa num quadro entitulado Tragédia do Trapézio (ilustração 15) cujo tema ele repetiu em várias pinturas. A fórmula é essencial à sua feitiçaria.

O trapézio ou balanço era o vahana430 de Radha e Krishna, cujo jogo amoroso está associado à vertigem induzida pelo balançar das emoções e do cair (loucamente) em amor. Com Spare, contudo, o êxtase alcança sua apoteose através de uma sensação catastrófica de opressão esmagadora, de ser empurrado para baixo e mergulhar no abismo.

O balanço é idêntico ao berço que desempenha papel tão proeminente nos mistérios do Culto de Krishna Gopal.431 Porém muito antes de pré datar os ritos da criança negra, Krishna, haviam os ritos da criança negra Set, ou Harpocrates, o bebê dentro do ovo negro do Akasha.432 O Aeon da Criança433 é o Aeon do Bebê do Abismo, sendo que um de seus símbolos é o berço que simboliza o balanço ou travessia para o Aeon de Maat (Mu). Mu, 46, a Chave dos Mistérios, é também o número de MV (água, i.e. sangue) que é tipificado pelo abutre, a hiena, e outras ‘bestas de sangue’. Em termos mágicos, a sensação induzida no trapezista mergulhador é resumida por Spare numa fórmula pictórica à qual ele não deu nenhum nome particular, mas que pode ser descrita como a Fórmula da Vertigem Criativa. No seu quadro do trapezista a executante é feminina pois ela representa a personificação humana da Serpente de Fogo despertada. É o pé,434 e não a mão que é escolhido para instigar os meios da queda.

No Zoz Kia Cultus Spare exaltou a Mão e o Olho como os principais instrumentos de reificação. Isto quer dizer que ele exaltava uma fórmula mágica similar àquela que caracteriza o oitavo grau da O.T.O.435 Ainda assim ele percebeu que a suprema fórmula eficaz na transição do abismo é aquela que envolve não a mão, mas o ‘pé’. O pé está sob ou embaixo da mão e assim, simbolicamente, a mão ‘esquerda’ tipificada pela Mulher Escarlate, de cujos pés a poeira é o pó vermelho celebrado pelos Siddhas Tamil.436 A poeira vermelha, ou poeira do fogo, é a emanação nuclear da Serpente de Fogo em seu veloz deslocamento para cima, e ela conduz à iluminação em um sentido cósmico. Mas é necessário um processo adicional para admitir o Adepto às zonas do Não-Ser representadas pelo outro lado da Árvore da Vida que aterroriza o não-iniciado como sendo a Árvore da Morte.

Além do Abismo, sexualidade ou polaridade perdem todo o sentido. Isto explica porque, segundo a doutrina da Golden Dawn, os Adeptos além do Grau de 7o=4437 não eram mais encarnados. Por não existir nenhuma terminologia adequada (na Tradição Ocidental) para este estado de ocorrência podemos não mais do que nos referirmos, por meio de analogia, aos Mahapurusas da Tradição Hindu. Mahapurusas são seres não humanos que aparecem para os Adeptos no caminho espiritual. Um exemplo recente bem documentado de tal manifestação ocorreu na vida de Pagal Haranath.438 Ele era considerado como sendo uma encarnação de Krishna e uma reencarnação de Sri Caitanya, o bhakta439 do século 15 que inspirou os habitantes de Bengala pela intensidade e fervor de sua devoção à Krishna (Deus). À Pagal Haranath um Mahapurusa apareceu como uma forma radiante com luz gigantesca. O único paralelo ocidental (de anos recentes) que vem à mente é o relato muito citado do encontro de MacGregor Mathers com os ‘Chefes Secretos’ que ocorreu no Bois de Boulogne.440

Aleister Crowley em contradição à MacGregor Mathers, sustentava que os Adeptos de suprema realização algumas vezes permanecem de fato na carne; quer dizer, a experiência conhecida como ‘cruzar o abismo’ não comporta necessariamente a morte física. Isto é, naturalmente, bem conhecido no oriente, onde, em nosso próprio tempo, tem havido exemplos excepcionais tais como Sri Ramakrishna Paramahamsa, Sri Ramana Maharshi, Sri Sai Baba (de Shirdi), Sri Anandamayi Ma e Sri Anusaya Devi,441 para mencionar apenas uns poucos.

Tem sido refutado [o fato de] que Crowley não cruzou o Abismo com sucesso.442 Seja como for, certos iniciados ocidentais indubitavelmente conseguiram fazer esta travessia e isso está evidente em seus escritos. Embora um caso de opinião – e isto é aqui declarado como tal, e não mais – o mais importante dos Adeptos Ocidentais nesta categoria é aquele que escreve sob o pseudônimo de Wei Wu Wei. Seus livros devem ser elogiados como as excursões mais ricas, mais sutis e mais vivamente potentes para dentro do Vazio da Consciência Sem Forma, ainda assim reduzidas em palavras.

Notas:

392 Vide Página 116, nota 36.

393 Associada com a fórmula de IPSOS; vide Figura 8.

394 Via o meatus, uma boca inferior.

395 Maat = 442 = APMI ARTz = ‘o fim da terra’.

396 i.e. o subconsciente (Amenta).

397 IPSOS grafado como 760 é equivalente à ‘Empyreum’, o empíreo.

398 Em alguns maços de Taro este atu é conhecido como A Torre Destruída.

399 Tu obterás a ordem & valor do alfabeto Inglês; tu encontrarás novos símbolos aos quais as atribuirá’. (AL. II. 55).

400 O kala do Sol, atribuído à letra Teth, significando um ‘leão-serpente’.

401 O kala da Lua, atribuído à letra Qoph, significando ‘a parte de trás da cabeça’.

402 O número 109 é também aquele de OGVL, ‘círculo’, ‘esfera’; BQZ, ‘relâmpago’; e AHP, ‘Ar’.

403 Vide 777 Revisado: Significado dos [Números] Primos de 11 a 97.

404 Tiphareth; a Esfera do Santo Anjo Guardião.

405 Vide Diagrama 1, Cultos da Sombra.

406 Reeditado em 1974 pela 93 Publishing, Montreal.

407 Compare a palavra egípcia mai.

408 A-DM ou Adam foi feito da ‘terra vermelha’ (i.e. DM, sangue).

409 HBDLH (retalhando_?) = 46.

410 Compare com a palavra egípcia meh, ‘encher’, ‘cheio’, ‘completar’.

411 Paroketh também significa ‘uma nuvem’; uma referência à invisibilidade tradicionalmente assumida pelo deus masculino ao impregnar a virgem.

412 Em sua cópia pessoal do Liber XV (A Missa Gnóstica), Crowley explica hriliu como o ‘êxtase metafísico’ que acompanha o orgasmo sexual.

413 É interessante observar juntamente com o significado da palavra IPSOS, que Frater Achad chegou muito próximo à uma interpretação similar de sua própria fórmula do Aeon de Maat, a saber: Ma-Ion. Numa carta datada de 7 de Junho de 1948, ele escreve: ‘Por gentileza observe que em Sânscrito Ma = Not (Não). Na mesma linguagem ela também significa: ‘Mouth’ (‘Boca’).

414 Londres WC1.

415 O autor de dois livros sobre Feitiçaria que atraiu alguma atenção no tempo de sua publicação nos anos 50.

416 O incidente ocorreu durante o estágio formativo de uma loja da O.T.O. que eu havia fundado para o propósito de canalizar influências mágicas específicas desde uma fonte transplutoniana simbolizada por Nu-Isis.

417 Minha associação com Aleister Crowley não era desconhecida à ele.

418 Vide a Espada da Sabedoria: MacGregor Mathers e a Golden Dawn, por Ithell Colquhoun, Nevile Spearman, 1975. A Srta.Colqhoun observa que W.B.Yeats e outros foram iniciados na Rua Fitzroy, e comenta: ‘Hoje a Torre do Correio ofuscando a rua poderia, eu suponho, ser vista como uma projeção do poder de Hermes, aqui substituindo o de Isis- Urania’.(p.50).

419 Crowley também estava em Nova Iorque na ocasião em que ele estabeleceu contato com esta entidade. Uma gravura de LAM desenhada por Crowley aparece em O Renascer da Magia, ilustração 5. O desenho foi exibido originalmente em Greenwich Village em 1919 e publicada em O Equinócio Azul.

420 Vide Cultos da Sombra, capítulo 10.

421 Zoroastro (circa 1100 A.C.) estava bem consciente da misteriosa dobra do tempo que exercitou o talento de alguns dos mais perspicazes pensadores modernos. Ele descreveu Deus como tendo uma ‘força espiral’ e associou o hiato de tempo com a progressão dos aeons que retornavam à sua fonte de origem, assim reativando os atavismos primais da consciência primeva.

422 Vide Estudos sobre os Tantras , de Prabodh Chandra Bagchi.

423 Nota do Tradutor: Micção realizada ao contrário.

424 Segundo Cay Van Ash & Elizabeth Sax Rohmer. Vide Mestre da Vileza , capítulo 4. Ohio Popular Press, 1972.

425 Asa de Morcego, p.92.

426 Esta fórmula é equivalente ao nivritti marga hindu ou ‘caminho do retorno’, ou inversão dos sentidos à sua fonte em pura consciência. Ela é tipificada nos tantras como viparita maithuna, simbolizada pela união sexual de ponta cabeça.

427 Vide Imagens & Oráculos de Austin Osman Spare, Parte II.

428 Espada da Sabedoria (Colquhoun), capítulo 16.

429 Para uma imagem desta entidade, vide O Renascer da Magia, ilustração 12.

430 Este termo em Sanscrito denota um ‘veículo’ ou foco de força.

431 Culto da Criança Krishna.

432 Akasha, significando ‘Espírito’ou ‘Aethyr’(Éter), é o quinto elemento.

433 i.e. o Aeon de Hórus. Hórus ou Har significa a ‘criança’.

434 O simbolismo dos pés da deusa é explicado em Aleister Crowley & o Deus Oculto , capítulo 10.

435 A fórmula é aplicada por meio de auto-erotismo manual.

436 Vide A Religião e Filosofia de Tevaram, de D.Rangaswamy.

437 O Grau imediatamente precedente ao Abismo.

438 Sri Pagal Haranath, o ‘Louco’ ou ‘Doido’, viveu na Bengala Ocidental de 1865 a 19 27. Um relato da visita está contido em Shri Haranath: Seu Papel & Preceitos, de Vithaldas Nathabhai Mehta. Bombay, 1954. Tais manifestações ocorrendo nos tempos primitivos poderiam ter dado início ao conceito dos NPhLIM ou Gigantes. Vide capítulo 9, supra.

439 Devoto de Deus.

440 Citado em Aleister Crowley & o Deus Oculto, capítulo 1.

441 Os dois últimos Sábios estão, felizmente, ainda encarnados e na extensão do que sei, estão disponíveis para
darshan.

442 Frater Achad. Vide Cultos da Sombra, capítulo 8.

Revisão final: Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/thelema/a-boca-do-abutre/

A Sabedoria Estelar: Uma Perambulação Pericorésica(*) pela obra de Kenneth Grant

AOSSIC – Steffi Grant©
 Por Paolo Sammut.

Kenneth Grant (1924-2011) foi um dos mais notáveis magistas do século XX. Bem conhecido como o último estudante de Aleister Crowley em meados dos anos 1940, ele passou a desenvolver sua própria interpretação de Thelema e levou a Grande Obra através de portais Yuggothianos e em direção de novas dimensões inteiramente estelares. No entanto, apesar de sua sólida obra, ele frequentemente recebeu críticas e (sinto eu, injustamente) ganhou uma reputação de ser incompreensível ou coisa pior. Este equívoco tem manchado a percepção de seus escritos, e talvez tenha contribuído para que se tenha deles uma compreensão mais lenta do que merecem, como um corpo altamente perspicaz de trabalho que forma um complexo e entrelaçado comentário sobre numerosos assuntos esotéricos.

Pelo final de sua longa carreira de escritor, Kenneth Grant havia escrito uma prateleira inteira de livros, mais notavelmente as Trilogias Tifonianas, que construiu sobre a radiação de background oculto deixado para trás por ordens como a Ordem Hermética da Aurora Dourada e luminares como Aleister Crowley, Jack Parsons e Dion Fortune. Estendendo sua Gnose Tifoniana, ele permitiu que conceitos como o tráfico com entidades, gnose sexual e uma inteira tradição do lado noturno1 para infiltrar-se em seus romances que eram muitas vezes trabalhos mais curtos apresentando uma conexão sideral2 à sua própria pessoa, criando assim uma estranha simetria onde Kenneth Grant caminhava dentro de sua própria ficção, e os seres e energias, e de fato o sentido de outro que ele evocou sangrar de volta de sua prosa em nossa realidade. Como muitos de seus leitores notarão, há uma qualidade sonhadora, desconcertante na ficção Grantiana onde a fronteira entre fato e fantasia se dissolve em uma constrangedora narrativa onde alguém é capturado entre as associações e o firmamento da história.

Isso tudo é parte de sua magia, e uma das razões por que seus livros são frequentemente descritos não tanto como sendo sobre magia, mas como objetos mágicos em seu próprio direito. Este é o real valor deles, como Grant envolveu magia na própria estrutura linguística de seu texto, tornando isto um ponto de partida para outras realidades. Eu tenho certamente encontrado isto por mim mesmo, e lendo seu trabalho tarde da noite, sou muitas vezes levado a um sentido de devaneio que se transforma facilmente em estados mais profundos de consciência meditativa. Na verdade, muitas vezes as Trilogias Tifonianas parecem transmutar e refletir aos leitores exatamente o que estes precisam ler naquele momento em particular para promover o seu desenvolvimento mágico.

Kenneth Grant não escreveu para iniciantes, e ninguém encontrará rituais estabelecidos, tais como o Ritual Menor do Pentagrama ou do Pilar do Meio dentro de seus livros, antes é esperado a ponderar sobre as informações e considerações dadas e designadas pelo seu próprio caminho através dos mistérios que ele tão tentadoramente desvenda. Seu estilo de escrita é único, e muito diferente da precisão de fórmulas que encontramos com Aleister Crowley. Grant consolidou os Thelemitas de forma que muitos sentem que essa consolidação depreciou o espírito daquilo que Crowley tentava atingir. No entanto, em contraste com isso, muitas pessoas sentem que Kenneth Grant, seguindo suas próprias estrelas (não aquelas de Aleister Crowley) abriu novas portas para a compreensão, exploração e mistério. Além disso, alguns dos trabalhos de Grant são notavelmente prescientes quanto aos efeitos sobre a consciência humana a partir do universo em geral. Por exemplo seu comentário sobre OVNIs em Outer Gateways3 referentes e construidos sobre ideias sugeridas por Arthur Machen, em The Great God Pan4 e John Keel em livros tais como The Mothman Prophecies5, e descreve um modelo de componentes não práticos de OVNIs a partir da perspectiva esotérica, uma visão que só recentemente está realmente se tornando mais proeminente.

Transmissões Telepáticas de Yuggoth

H.P. Lovecraft e seu gatinho, Sam Perkins

Uma das áreas mais problemáticas dentro do corpo de escritos de Grant é a que se conecta ao mito de Cthulhu de H.P. Lovecraft. Sabemos que de fato que HP Lovecraft produziu este mito, semeando-o tanto com entidades encontradas em mitologia (como Dagon), quanto com aquelas que ele inventou (como Yog-Sothoth ou Hastur o indescritível). Além disso Lovecraft era um materialista ardente, que em suas cartas frequentemente comentava que tudo foi inventado, usando nomes como o Necronomicon ou Abdul Alhazred simplesmente porque ele gostava do som dessas palavra. Finalmente, uma varredura da literatura mostra que não há referências confiáveis ​​ao Necronomicon ou a composição das entidades antes das histórias de Lovecraft serem publicadas.

A fim de adicionar autenticidade a suas histórias Lovecraft criou uma história ficcional do Necronomicon que referenciou personagens históricos reais como John Dee e Olaus Wormius, um esquema que ‘se tornou viral’ conforme outros autores continuaram adicionando ao mito em anos subsequentes. É notável que, ainda recentemente, depois do assunto ter sido desmerecido à morte e excelentes livros sobre o assunto, como Os Arquivos Necronomicon6 apareceram – que claramente apresentam de forma bem referenciados os fatos do caso – ainda existem pessoas que aceitam a literal verdade da confecção blasfema de H.P. Lovecraft.

Como, então, devemos unificar estes fatos com o conhecimento que Kenneth Grant mencionou o Necronomicon ao longo de sua obra desde o início? Grant era um verdadeiro estudioso e muito bom leitor, como a lista de referências no final de seus livros testemunham, assim podemos estar certos de que ele estava ciente da mundana não-história do Necronomicon e que – no nosso nível, pelo menos – é tudo ficção. Na verdade ele reconhece que Lovecraft inventou o Necronomicon no capítulo inicial de Outer Gateways. Nas palavras de Grant:

“Uma série de textos arcanos que reivindicam proveniência não-terrestre são de importância suprema na esfera do ocultismo criativo. Talvez o mais misterioso e, certamente, o mais sinistro seja o Necronomicon, a primeira menção em que aparece é na ficção do escritor HP Lovecraft da Nova Inglaterra. Disse ter sido escrito por um árabe louco chamado Al Hazred, o Necronomicon de fato existe em um plano acessível para aqueles que, conscientemente, como Crowley, ou inconscientemente, como Lovecraft, conseguiram penetrar. ”

Este parágrafo sucintamente resume tudo o que Kenneth Grant tem a dizer sobre o Necronomicon. Ele deixa claro que H.P. Lovecraft produziu, e igualmente claro que ele acredita que o trabalho de Lovecraft tenha sido entusiasmado* a partir de um nível mais profundo de realidade. Na verdade, o Necronomicon, como um grimório primordial; é uma fonte de inspiração atravessando toda a obra inicial de Grant, começando com O Renascer da Magia7 onde Grant enumera uma série de correspondências entre a coletânea dos Mitos de Lovecraft e Thelema.

Desde então Grant contribuiu para o número de conexões usando gematria8 com nomes e palavras encontradas em outras tradições, sobretudo em O Livro da Lei de Aleister Crowley. Isso incluiu a conexão de palavras que têm uma semelhança linguística ou gemátrica a terminologia encontrada no Mito como “Set-Hulu” ou “Tutulu” – uma palavra ouvida por Crowley, enquanto em vidência dos Æthyrs Enoquianos no deserto do Saara em 1909, com o poeta Victor Neuberg9 – o que Grant relaciona com Cthulhu. Ao longo dos volumes posteriores, Grant faz referências ao Necronomicon da mesma maneira que faz referências a outras fontes tradicionais, tais como Gnóstica, Hebraica e Sânscrita. Este tema continua durante todas as Trilogias, porém, sinto que atinge seu clímax no erudito “Hecate’s Fountain” onde Grant fala de rituais para invocar Cthulhu e é aqui que encontramos a comparação mencionada entre O Livro da Lei e o Necronomicon.

Mas, voltando à questão de saber se o mito é literalmente real, podemos melhor responder comparando-o a outras antigas tradições “aceitas” da humanidade. Todos os mitos, religiões e práticas espirituais começam com um místico contato com o inefável e a construção de um elo. Então talvez nós precisemos olhar para o próprio H.P. Lovecraft. Apesar de um materialista e cético externamente, Grant sugere que Lovecraft pode ter sido um vidente inconsciente que poderia perceber padrões mais profundos da realidade, apesar de ser leigo à sua verdadeira natureza, ele, então, foge com medo. Certamente um monte de contos de Lovecraft originado em sonhos, e alguns contos foram quase exatas recontagens de seus sonhos, o que mostra que sua origem não era de sua consciência regular do lado diurno, mas no mínimo uma fonte inconsciente separada do seu materialismo em vigília. No entanto, mesmo que Lovecraft tenha conscientemente produzido o mito, isso não quebra a validade de conexão de Kenneth Grant a ele. Grant reconheceu os padrões familiares místicos que Cthulhu e os Grandes Antigos se enquadram e teceu a sua prática em torno disto. Todos os mitos e religiões começaram de forma semelhante, e, neste sentido o mito é tão real e válido como qualquer outra mitologia e religião, apesar do nosso inconsciente coletivo reprimido.

Talvez possamos entender mais essa ideia se considerarmos um contador de histórias de ficção que está criando um novo personagem serial killer para um romance. Ele usaria certos padrões e arquétipos em sua criação do personagem com sua origem no comportamento de reais assassinos em série. Tal qual nosso serial killer virtual é um símbolo para o espírito de assassinatos em série que está subjacente à loucura em todos os que encontramos (ou esperemos que não) em nosso mundo. Assim, em certo sentido, um ficcional Hannibal Lector, devidamente realizado, é tão real como Jack, o Estripador, e Ted Bundy.**

Dando uma caminhada no Lado Noturno

A partir daqui talvez pudéssemos perguntar por que alguém iria querer encontrar entidades do lado nortuno como Cthulhu. Acredito que o trabalho de Grant ganhou uma reputação injusta ganhou por ser excessivamnete sombria, e que talvez essa reputação se deve aos ocultistas “nova era”*** sem entender que o Universo (e nós mesmos por extensão) é composto por ambas, luz e trevas. É vital explorar essas energias cuidadosamente (e com segurança), uma vez que em certo nível elas estão aí fora e são desagradáveis, mas elas também estão dentro de nós e são potenciais. Lembre-se da ideias de Freud sobre a necessidade de se expressar, e então assimilar as repressões; em um sentido mágico isto é o por que se enfrenta a escuridão, para vir à luz renascido como uma energia saudável ao invés de deixá-la como uma sombria bomba de tempo reprimida pronta para explodir. Muito trabalhos de Grant aqui são realmente uma visão perspicaz no conceito Teosófico do Habitante do Umbral – e ocultistas sérios não trabalham com o lado sombrio para prejudicar, mas sim para regenerar suas próprias repressões mais escuras na luz de um amor próprio.

O mais alto grau em ocultismo, de acordo com a Ordem Hermética da Aurora Dourada, é “Ipsissimus”, que significa “alguém auto-completo em si mesmo”: alguém que tem curado e absorvido todas as suas fraturas, suas peças quebradas, todos os seus demônios pessoais em um ser perfeito no conhecimento de sua (unificada) verdadeira vontade. Isto é mais potente e cura muito mais do que meditar sobre golfinhos e unicórnios, e eu sinto que entender “sombrio” como sendo arrepiante e assustador é perder totalmente as ideias nos escritos de Kenneth Grant, que na realidade mostra ser ele um dos mais sensatos ocultistas por aí. A esse respeito, os mitos servem perfeitamente como um veículo para essas ideias.

Aleister Crowley encontra Drácula e a Múmia

O estranho, a ficção sobrenatural, foi muito importante para Kenneth Grant, e seu uso do mito Lovecraftiano mostra claramente que ele viu isto como um recipiente capaz de transmitir profundas ideias esotéricas. Muitos ocultistas testemunham que a novela oculta muitas vezes serve como uma melhor transportadora de ideias que o livro de ocultismo, e Grant mesmo abraçou este conceito. Por exemplo, a novela Gamaliel10 de Grant, mostra claramente como ele entendeu o conceito oculto de vampirismo, ao contrário do um tanto estereotipado Europeu Oriental em um ‘dinner jacket’ e um sorriso de Bela Lugosi. Grant (em The Magical Revival) delineia o vampirismo de volta ao Egito antigo, fazendo referência as práticas de magia negra projetadas para manter a parte terrestre da alma (o ka) a serviço de um necromante (utilizando este sujeitado ka como um familiar), embora a prática original fosse para proteger as tumbas dos mortos. Este é um tema também explorado por Dion Fortune em The Demon Lover11, não obstante Fortune se aproxima de forma ligeiramente diferente, dado que o seu “vampiro” fictício não foi devidamente morto em primeiro lugar!

Nas Trilogias Tifonianas vemos o vampirismo exposto como uma transação de energia com um nível mais profundo que pode levar a uma diminuição de vitalidade, de vida e do ser, com ambos, o hospedeiro e o vampiro, trocando alguma coisa – geralmente resultando na persistência do vampiro e a diminuição do hospedeiro.

Sobek-neferu-re
(Sobek É a Beleza de Rá)

Tanto Aleister Crowley quanto Austin Osman Spare mergulharam seus dedos no assunto do Vampirismo em seus escritos; Grant, no entanto, pulou na piscina, de roupa e tudo. Na verdade, o assunto é central para um tema encontrado em todo o trabalho de Grant, a ideia de “gnose estelar”. Um dos tópicos históricos que Grant explora é o da Rainha SobekNoferu, que historicamente governou o Egito durante quatro anos, no final da XIIº Dinastia, direcionando o Egito para o fim do período do Médio Reinado. Sabemos muito pouco sobre a SobekNoferu histórica, no entanto o seu nome (que significa “Amada de Sobek”) sugere uma ligação com o deus Egípcio crocodilo Sobek.

Esta conexão faz parte do mito original da tradição Tifoniana, que olha para a antiguidade e para as práticas religiosas iniciais conectando a humanidade com nossas Deusas. Dion Fortune em Sacerdotisa da Lua12 aludiu a uma tradição semelhante, e a ideia de civilizações anteriores ao Egito na região do Nilo é ainda algo considerado hoje controverso através da investigação de pessoas como John Anthony West e Robert Schoch**** e seus revisados encontros da Grande Esfinge. Grant viu SobekNoferu como uma restauradora que trouxe esta tradição a partir da mais remota antiguidade para a antiguidade mais próxima:

“O oráculo é ThERA13, Rainha das Sete Estrelas que reinou na XIII Dinastia como Rainha Sebek-nefer-Ra. Foi ela que trouxe de um passado indefinidamente mais antigo, anterior mesmo ao Egito, a original Gnose Tifoniana.”14

A interpretação da Joia das Sete Estrelas de Bram Stoker pela “Casa de Horror Hammer”***** em Sangue no Sarcófago da Múmia exala pura elegância Cinquentista com a seminua Valerie Leon como a (des)mumificada e ainda vital e altamente sexy cadáver de Tera15 sobrevivendo através dos séculos para reviver nos tempos modernos; uma pegada mais moderna e ocultista sobre o conto de Bram Stoker, e mais fiel ao legado sideral de Grant e Austin Osman Spare e, talvez ,capturando alguns dos ambientes de Nu-Isis em que Kenneth Grant estava mergulhado na década de 1960. Na minha opinião este é o filme mais Tifoniano já feito; embora ligeiramente menos preciso (em um nível arqueológico) do que outros filmes de história16, mas pode facilmente deslizar para uma situação de assistir ao filme, onde o erudito Kenneth Grant sai das sombras para explicar a narrativa (na verdade, ele praticamente o faz nos primeiros volumes de suas Trilogias).

Eu acho que parte da importância para Kenneth Grant em relação a Rainha Sobek-Nefer-Ra é que ela é do sexo feminino. Aleister Crowley, enquanto brilhante em seu caminho, era um iconoclasta que moveu adiante o ocultismo nos difíceis anos de formação do século XX. No entanto, ele era basicamente um cavalheiro Vitoriano, com, sinto eu, algumas tendências misóginas que persistiram em seu ensino. É claro a partir de seus escritos que ele via suas mulheres escarlates como subserviente ao seu trabalho e que todas elas tinham funções dentro de seu caminho. De fato uma das razões pelas quais eu não acho que Aleister Crowley teve muita influência sobre Gerald Gardner durante a formação do movimento Wicca é que Crowley certamente não era do tipo de se submeter a uma Sacerdotisa; tudo o que há a partir de Gardner.

Kenneth Grant, porém, é muito mais equilibrado em seus escritos, e evitando as armadilhas de Crowley e Gardner, dá mérito igual a ambos os mistérios, masculino e feminino, em sua obra, reconhecendo que ambos os sexos adicionam em seus próprios caminhos para a iniciação e o avanço da corrente mágica. No trabalho de Kenneth Grant lemos sobre esoterismo tanto numa perspectiva masculina quanto numa perspectiva feminina e temas importantes como Kalas são introduzidos e desenvolvidos.

O Crepúsculo entre Ficção e Fato

“Mephi” de KG
Against the Light©

Experiências estranhas movem inteiramente o trabalho de Kenneth Grant como parte de um entrelace mais profundo com conexões providas dessas ocorrências. Estas muitas vezes começam como estranhos eventos que são descritos e, depois, desenvolvidos em livros posteriores, muitas vezes crescendo de forma tangencial, como Grant atribui essas manifestações de diferentes conceitos.

Uma vez que tal fio diz respeito à estátua de Mefistófeles (carinhosamente apelidado de “Mephi” por Grant) que primeiro encontramos mencionado em Hecates’s Fountain como uma estátua que Kenneth comprou no empório de Busche, em Chancery Lane, um estabelecimento que parece ter florescido antes da Segunda Guerra Mundial. Esta estátua parece ter tido uma vida própria, aparentemente seguindo Grant até em casa em vez de ser adquirido de forma mais tradicional, com Grant achando um pouco mais tarde, e ao tentar devolver a estátua descobre que o empório tinha fechado17. Um pouco mais tarde, em Hecate’s Fountain18 descobrimos que Mephi encontra seu caminho em um rito de Oolak (um dos Grandes Antigos do sistema de Grant) da Nu-Isis e serve para aterrar os poderes levantados no rito. Mephi em seguida, aparece misteriosamente na Novela Against the Light como uma ilustração na capa, bem como sendo referido no livro em que Grant nos dá um relato da compra da estátua. Tudo isso pode soar um pouco estranho e improvável, no entanto coisas estranhas como esta acontecem aos ocultistas, e alguns objetos entusiasmados com presença parecem, muitas vezes, ter uma finalidade própria. Eu sinto que os relatos de Mephi, em todos os livros de Kenneth Grant, representam estranhos acontecimentos que realmente ocorreram enquanto ele era dono da estátua.

Minha novela favorita de Kenneth Grant é Against the Light, a qual eu sinto ser uma joia absoluta (é importante notar que o “Contra”- Against no original – do título significa próximo a, como se com um amante, e certamente não oposto ou sugerindo diabólica magia negra). Against the Light é tecido através de fios do próprio passado de Grant; como é observado ele menciona o negociante em Charing Cross Road, em Londres, de quem obteve a sua estátua de Mefistófeles; há referências ao (talvez fictício) Grimório Grantino, personagens fictícios de vários contos estranhos, como Helen Vaughan e uma constante indefinição de ficção e realidade. Isso tudo é para o bem, uma vez que nos deixa todos querendo saber o que realmente é a realidade. Talvez a verdade seja que é tudo ficção; tudo verdade. Talvez nossas próprias vidas sejam tudo ficção, tudo verdade. A nebulosidade limítrofe é onde o magista, o artista e o poeta tudo aguenta dentro de suas próprias cadências – e é claro que Grant era tudo isso, e perfeitamente confortável nesta zona de penumbra.

O notável escritor e mago Alan Moore escreveu uma divertida e erudita crítica19 deste livro, que eu entendo Kenneth Grant ter gostado muito. Em sua crítica Moore descreve o valor e o poder dos romances de Grant como emergindo de seu lugar único entre fato e ficção. Aqui, emoldurado em ficção, vemos magia despejar em nossa dimensão infundindo tudo o que toca. Grant é simultaneamente, extremamente brincalhão ainda que mortalmente sério. Oolak (mencionado acima) é uma forma de Conde Orlok de Nosferatu20. Mais uma vez, como a conexão Lovecraftiana através da qual Grant explorou o vampirismo em ritual desses nódulos ficcionais podem servir como entradas para as energias que sustentam a sua existência. Grant dá algumas dicas em seu trabalho sobre exatamente como ele trabalhava, e para entender mais disso, precisamos ler as entrelinhas e nos envolver em alguma especulação. Nós lemos alguns relatos fantásticos nos livros, como o seguinte de Hecate’s Fountain, o que dá o maior número de relatos das práticas que a loja Nu-Isis executou. Mais maravilhosamente lemos na página 53 da edição da Skoob:

“O salão estava preparado para exibir a vastidão nevada daquele abominável platô situação em regiões astrais que coincidem terrestrialmente com certas regiões da Ásia Central não precisamente especificado por Al Hazred. As paredes e o chão eram brancos, e brancos eram os sete caixões arrumados sobre cavaletes diante de um altar deslumbrantemente branco onde montes de neve brilhavam e traçou sobre as pistas de gelo suaves de três pirâmides … “21

Claramente precisamos ler descrições como esta com um olhar atento e perceber que Grant não está falando de alguma decoração em um quarto de hóspedes no andar de cima! Embora possa ter havido alguma decoração física no local de trabalho (dado os talentos artísticos de Kenneth e Steffi Grant), é duvidoso que um espaço para trabalho mágico seja tão grande. Um outro indício, porém, é sugerida a seguinte relato:

“O salão da loja foi preparado para a realização de um tipo de feitiçaria licantrópica e necromântica associada com dois específicos túneis de Set. Imagine, portanto, uma miniatura completa da versão mais complexa das cavernas de Dashwood com – em lugar das várias grutas providas para flerte sensual – uma série de celas em forma de concha, como vórtices petrificados, projetados com o único propósito de atrair em suas circunvoluções as energias ocultas de Yuggoth, e focalizando através delas os kalas de Nu Isis, representados por uma gigantesca vesica em forma de prisma. A decoração era sobrenatural ao extremo, as iluminações engenhosamente arranjadas a conferir um sinistro e cambiante jogo de luz e sombra combinados com audíveis imagens sugestivas de águas impetuosas e assobios de ventos astrais; uma atmosfera completamente estranha criada por poucos toques hábeis e de suprema qualidade artística.”22

Observe o uso de palavras e frases como imagine e ventos astrais. Tal terminologia é sugestiva de que essas configurações foram imaginadas na mente dos participantes do trabalho. Isso não é tão estranho quanto seria de se esperar, uma vez que as habilidades em visualização são cruciais para trabalho oculto, e está dentro dos olhos mentais em que o fenômeno é visto. Estamos todos familiarizados com a ideia de um palácio da memória, onde um edifício é visualmente perpetrado de memória como uma coleção de pontos de ancoragem que prendem objetos específicos em seu locus. Exatamente a mesma coisa está acontecendo aqui e Grant, enquanto escrevendo de uma forma evocativa, está, acredito eu, descrevendo como os participantes da Loja Nu-Isis começariam seu trabalho através da criação de um “espaço visual” interno como um local mental, pronto para contactar as entidades que estavam sujeitas ao ritual em andamento.

Sobre Estranhas Marés

The Oracle
Zos Speaks!©

 

Um dos temas mais notáveis ​​no corpo de trabalho de Kenneth Grant é seu reconhecimento do trabalho de outros ocultistas, como eles se prolongam na corrente do trabalho mágico que ele descreve. O mais notável destes superstars foi, naturalmente, o artista ocultista Austin Osman Spare, que era um amigo próximo de Kenneth e Steffi Grant até sua morte em 1956. Vale bem a pena obter uma cópia do Zos Speaks23 de Grant, que detalha a comunicação entre ele e Spare, bem como a publicação do grimório de Spare, The Book of Zos vel Thanatos. Muitas vezes se tem observado que sem Kenneth Grant continuamente a defender seu trabalho, haveria o perigo de que Spare tivesse sido esquecido atualmente. Certamente Spare, por ser um pouco recluso, tinha desaparecido da ribalta pública na época em que conheceu Kenneth Grant e seu retorno à proeminência só começou realmente em 1975, quando o livro de Grant, Images and Oracles of Austin Osman Spare24 foi publicado. Percorremos um longo caminho desde as imagens monocromáticas encontradas neste livro quase quarentão, até os lindamente talismãnicos livros que as modernas editoras, como Starfire e Fulgur produzem hoje, em que podemos ver a arte gloriosa de Austin Spare pródigamente reproduzidas em cor de total alta definição.

Outro ocultista notável trazido a destaque pelo trabalho de Grant é Michael Bertiaux, cuja obra está recentemente experimentando um renascimento graças à reimpressão de seu famosíssimo obscuro e anteriormente inconseguível Voudon Gnostic Workbook25. Temos também Nema (mencionada nas Trilogias como Soror Andahadna), cuja peça canalizada Liber Pennae Praenumbra lindamente evoca o melhor de Thelema, falando de um universo mágico muito maior do que nós, cheio de mistério e maravilha.

Em livros posteriores de Grant nós até mesmo vemos referência ao falecido Andrew D. Chumbley, cuja reinicialização da bruxaria tradicional em seu Azoëtia26 remete a alguns dos temas desenvolvidos por Austin Spare em “The Witches Sabbath”. Há muitas outras referências a ocultistas emergentes no trabalho de Grant, e não pode haver a mínima dúvida que seu apoio ajudou a trazer esses escritores à atenção de ocultistas e, em alguns casos, de um público mais amplo.

Os escritos de Kenneth Grant tem sido publicados desde a década de 1960, e até sua morte recente, tinha havido sempre um novo livro para aguardar ansiosamente. Alan Moore nota em sua crítica de Against the Light27 “por que a maioria dos ocultistas que eu conheço, inclusive eu, têm mais ou menos tudo que Grant já tenha publicado descansando em suas prateleiras?” Apesar de sua morte, sua influência continua a crescer e estamos já vendo trabalhos de escritores enriquecidos pelas Trilogias Tifonianas movendo-se no lado diurno – por exemplo, o grupo experimental britânico English Heretic produziu um álbum chamado Tales of Nu-Isis Lodgee28 que divertidamente coreografa os relatos em Hecate’s Fountain em música e a ficção fantástica encontrada na literatura e no cinema, como o filme original A Múmia29Fungos de Yuggoth de Lovecraft30 e Invasores de Corpos31 que inspirou Grant.

Infelizmente o último título publicado foi o Grist to Whose Mill32, o qual, ironicamente, foi o primeiro romance de Kenneth Grant, escrito no início de 1950, que só agora emergiu da escuridão à luz para publicação. É triste que não veremos mais os maravilhosos e mágicos livros de Kenneth Grant embora a sua obra deva viver e crescer em nossos corações, mentes e almas.

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NOTAS:

(*)N.R. Perichoresis (pericorese) ou Interpenetração é um termo que surgiu na teologia cristã que aparece pela primeira vez em Gregório de Nazianzo. Do grego peri (“à volta”) e chorein (“conter”). Kenneth Grant em Hecate’s Fountain (pp. 17, cap.2), define o termo de maneira mais precisa como interpenetração de dimensões.

1 Pertencente de informações, contatos e conceitos que se originam de “outro lugar” e entra na esfera da consciência humana através da inconsciência.

2 A palavra sideral é usada aqui para descrever como uma perspectiva particular é necessária quando se olha para alguns dos conceitos e caracteristicas que Grant descreve.

3 Kenneth Grant, Outer Gateways, Skoob books: London, 1994

4 Arthur Machen, The Great God Pan, John Lane, 1984. Em língua portuguesa – O Grande Deus Pã, Editora Saída de Emergência, 2007

5 John Keel, The Mothman Prophecies, Panther Books, 1975

6 Daniel Harms and John Wisdom Gonce, The Necronomicon Files, Red Wheel/Weiser, 2003

*N.T. – Entusiasmo (do grego en + theos, literalmente ’em Deus’) originalmente significava inspiração ou possessão por uma entidade divina.

7 Kenneth Grant, The Magical Revival, Muller, 1972. No Brasil, Renascer da Magia – as Bases Metafísicas da Magia Sexual, Editora Madras, 1999.

8 Tecnicamente falando, gematria é o processo de atribuir números a palavras significativas e depois observar as palavras com o mesmo número para encontrar conexões significativas. Kenneth Grant expande isso com a gematria criativa que leva ainda mais longe as coisas, como veremos mais tarde.

9 É interessante esta sugestão que a palavra possa ser Enoquiana em natureza.

**N.T. – Theodore Robert Cowell, mais conhecido como Ted Bundy foi um dos mais temíveis assassinos em série da história dos EUA durante a década de 1970.

***N.T.- Fluffy-bunny no original; “Coelhinho felpudo”, ou Fluffbunny, é uma expressão pejorativa usada, inicialmente na Wicca e, posteriormente no Neopaganismo e Ocultismo em geral, para se referir aos ‘adeptos’ considerados superficiais ou caprichosos. Ele são aqueles que não gostam de elementos mais sombrios e enfatizam a bondade, luz, ecletismo, e elementos retirados do movimento da ‘Nova Era’, ou os que seguem o neo paganismo e/ou o ocultismo como um modismo.

10 Kenneth Grant, Gamaliel: The diary of a Vampire & Dance, Doll Dance, Starfire, 2003.

11 Embora a ideia de um vampiro como um fantasma faminto de força vital seja muito importante e surja frequentemente no folclore e no ocultismo. No Brasil foi lançado como Paixão Diabólica – Editora Pensamento. 1988.

12 Dion Fortune, Moon Magic, Red Wheel/Weiser, 2003. No Brasil, Sacerdotisa da Lua – Editora Pensamento. 1994.

****N.T. – John Anthony West é um egiptologo americano, autor, professor, guia e um pioneiro na hipótese em geologia de erosão hídrica da Esfinge. Robert M. Schoch é professor associado de Ciências Naturais da Faculdade de Estudos Gerais da Universidade de Boston. Ph.D. em geologia e geofísica pela Universidade de Yale, ele é mais conhecido por seu argumento de que a Grande Esfinge de Gizé é muito mais antiga do que convencionalmente se pensa e que, possivelmente, algum tipo de catástrofe foi responsável por exterminar evidências de uma civilização muito mais antiga.

13 Tera. Ver de Bram Stoker – Jewel of the Seven Stars. No Brasil – A Joia das Sete Estrelas, Europa-América,1997 .

14 Kenneth Grant, The Ninth Arch, Starfire Publishing, 2002, pp386

*****N.T. – Hammer Film Productions é uma companhia cinematográfica britânica especializada em filmes de terror.

15 .Em Stoker ela é chamada Tera como um trocadilho com Margaret, a protagonista do conto. Tera é, claro, as últimas quatro letras de Marg(aret).

16 Como Reencarnação (Awakening – 1980) e A Lenda da Múmia (Legend of the Mummy – 1997).

17 Encontramos com este conto ecos do conto de Aleister Crowley The Dream Circean que é em si mesmo uma releitura de um antigo conto sobre uma pessoa que visitando e sendo entretida dentro de uma casa, apenas para descobrir um pouco mais tarde que tinha sido abordada por anos.

18 Kenneth Grant, Hecate’s Fountain, Skoob, 1992

19 Alan Moore, Beyond our Ken, publicado na revista KAOS 14, Londres, Kaos-BabalonPress, 2002, p155- 162

20 Produzido por Enrico Dieckmann e estrelado por Max Schreck, Nosferatu, 1922.

21 Kenneth Grant, Hecate’s Fountain, Skoob Publishing, 1992, pp53

22 Kenneth Grant, Hecate’s Fountain, Skoob Publishing, 1992, pp10

23 Kenneth Grant, Zos Speaks, Fulgur Publishing, 1999.

24 Kenneth Grant, Images and Oracles of Austin Osman Spare, Muller, 1975.

25 Michael Bertiaux, The Voudon Gnostic Workbook, Red Wheel/Weiser, 2007

26 Andrew D. Chumbley, Azoëtia, Xoanon, 1992, 2002

27 Alan Moore, Beyond Our Ken, publicado na revista KAOS 14, Londres, Kaos-BabalonPress, 2002.

28 English Heretic, Tales of the New Isis Lodge2009. http://www.english-heretic.org.uk/

29 Universal Studios, A Múmia, 1932

30 HP Lovecraft, Fungi from Yuggoth. Em língua portuguesa – Os Fungos de Yuggoth – 36 sonetos produzidos entre 1929 a 1930.  Editora Nephelibata, 2011.

31 Vampiros de Almas (Body Snatchers), 1956.

32 Kenneth Grant, Grist to Whose Mill, Starfire Publishing, 2012

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Texto originalmente publicado na revista Darklore vol. VII.

©Tradução de Lília Palmeira – 2012
©Revisão de Cláudio César de Carvalho – 2012
©By Paolo Sammut – 2012

Paolo Sammut é pesquisador e está sediado no Reino Unido. É interessado primeiramente em assuntos esotéricos e paranormal. Suas principais áreas de foco incluem Magia Cerimonial especialmente Enoquiana e a tradição Tifoniana, Alquimia Espagíria, Investigador psíquico e pesquisador de Paranormalidade. Ele mora em Somerset com uma confraria de gatos e sua mulher escarlate – ela própria uma feiticeira de nenhuma capacidade média.

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Fonte: Kenneth Grant, O Homem, O Mito & O Magista
Revisão final: Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/a-sabedoria-estelar-uma-perambulacao-pericoresica-atraves-pela-obra-de-kenneth-grant/

A Ascensão Tifoniana: O Legado Mágico de Kenneth Grant

Matthew Levi Stevens

Onze anos após a morte do autor, ocultista e poeta britânico Kenneth Grant (1924-2011), estamos apenas agora começando a ver as primeiras tentativas de avaliar o impacto e o legado do homem que foi o último estudante e secretário do famoso Aleister Crowley, e que muitos acreditam ser seu sucessor natural.

Grant também foi um amigo próximo do mago artista Austin Osman Spare, apoiando-o em seus últimos anos, teve o padrinho de Wicca, Gerald Gardner, como um colega e às vezes rival, assim como durante seu tempo com Crowley e conheceu a Sacerdotisa da Nova Era, Dion Fortune. Como tal, Grant teve contato direto com quatro das figuras mais influentes do Renascimento Mágico e Místico dos meados do século XX.

Com relação a seu próprio trabalho, os nove volumes das três “Trilogias Tifonianas” de Grant escritos ao longo das três décadas de 1972 a 2003 – assim como vários volumes de ficção com temática oculta, e memórias das personalidades mágicas que ele encontrou – abrangem temas como Alquimia, Cabala, Controle de Sonhos, Egiptologia, Mitos de Cthulhu de H. P. Lovecraft, Caminho da Mão Esquerda, Magia Sexual, Surrealismo, Tantra, Thelema, Budismo Tibetano, Ufologia, Bruxaria e Vodu, que são um retrato único do Renascimento Oculto Moderno, assim como indiscutivelmente uma de suas correntes mais criativas.

Então, quem era exatamente Kenneth Grant?

Nascido em 23 de maio de 1924, muito pouco se sabe sobre os antecedentes de Grant ou sobre a sua biografia real. Ele era um homem intensamente reservado, que apesar – ou talvez até mesmo por causa – da natureza de seu trabalho e a notoriedade de seu mentor, Aleister Crowley, seguia uma rígida política de não divulgação, semelhante ao apagamento da história pessoal defendida nos livros de Carlos Castañeda.

Por sua própria natureza, algo como um jovem livreiro, sonhador, fascinado pela magia e pelo misticismo, o jovem Grant havia experimentado projeção astral e, aos 15 anos de idade, o que ele vivia eram contatos espontâneos de um ser que se chamava Aushik ou Aossic, que mais tarde identificaria como seu Santo Anjo Guardião. Grant tinha encontrado Magick In Theory and Practice (Magia em Teoria e Prática) de ‘Mestre Therion’ (um pseudônimo de Crowley’s) na livraria Charing Cross Road, Zwemmer’s, e, sentindo aqui talvez uma chave para entender – ou mesmo controlar – suas experiências, convenceu Michael Houghton, proprietário da Livraria The Atlantis Bookshop, a colocá-lo em contato com o autor. Houghton declinou, no entanto – as razões para isso não são claras – mas o que é um assunto de registro é que Grant, depois de escrever pela primeira vez, finalmente se encontrou com Crowley. Era dezembro de 1945, e quando eles apertaram as mãos pela primeira vez a música Shine On Harvest Moon estava tocando no rádio em segundo plano.

Foi assim que o jovem Kenneth Grant se tornou, por um tempo, um assistente-secretário do velho Magus ao abandonar Londres devastada pela Blitzkrieg, pela paz, tranquilidade e relativa segurança de uma hospedaria na costa sul. Foi em ‘Netherwood’ em Hastings, onde A Grande Besta terminou seus dias apenas três curtos anos depois, que Grant se tornaria aprendiz da Magia de Crowley a sério, e seria iniciado em sua Ordo Templi Orientis, conheceria pessoas como Dion Fortune, Gerald Gardner e Lady Frieda Harris, a artista talentosa que ilustrou o superlativo Livro do Tarô de Toth de Crowley. Ele também tomou conhecimento da ainda extensa rede de correspondência de Crowley com ocultistas no exterior – tais como Karl Germer e Eugen Grosche na Alemanha, e Jane Wolfe, W. T. Smith e Jack Parsons na América. Por um tempo, parece até que a Besta envelhecida estava preparando o jovem Grant para ser um possível sucessor, referindo-se a ele como um “Presente dos Deuses“, e anotando em seu diário:

“…o valor de Grant. Se eu morrer ou for para os EUA, deve haver um homem treinado para cuidar da OTO inglesa.”

Mas mesmo nesta fase inicial, a propensão de Grant para o devaneio e para o outro mundo desnorteou e frustrou o homem mais velho, que – afinal de contas – procurava assistência prática, no dia-a-dia, em primeiro lugar, e treinar um herdeiro, em segundo. Finalmente tudo se tornou demais – particularmente para Grant, que sentia falta de sua noiva Steffi – e Crowley o deixou ir, mas não antes de iniciar Grant no Grau IXO da O.T.O. e de fornecê-lo com uma Carta para montar um acampamento da Ordem.

Pouco antes da morte de Crowley, Grant também conheceu um homem que mais tarde provaria ser quase tão influente sobre ele quanto A Grande Besta: embora mais na forma de uma eminência parda, que influenciou Grant nos bastidores. Ele forneceu uma iniciação e inspiração que teve um impacto definitivo na reformulação da Thelema de Grant, no propósito e rituais do ramo da O.T.O. que ele fundou, e muito do foco das suas Trilogias Tifonianas. Seu nome era David Curwen.

Um alquimista praticante e aluno do Tantra, que havia dado o passo da devoção a um guru indiano – incomum para um ocidental na época – David Curwen foi mencionado pela primeira vez nas memórias de Grant de 1991, Remembering Aleister Crowley (Relembrando o diário Aleister Crowley):

“David Curwen foi mencionado pela primeira vez nos diários de Crowley, em 2.9.1944. Quando o conheci, pouco antes da morte de Crowley, ele era membro do IX° O.T.O. Sua paixão pela Alquimia era tão grande que ele quase morreu depois de absorver o ouro líquido. Seu conhecimento do Tantra era considerável. Foi através de Curwen que recebi, eventualmente, a iniciação completa em uma fórmula altamente recôndita do Tântrico vama marg.”

Ao discutir a tentativa de Crowley de formular um “elixir” como parte de seu trabalho da magia sexual, Grant menciona um detalhe de relevância fundamental para sua posterior tecelagem de Tantra e Thelema, que seria essencial para sua própria jornada de iniciação:

“Existe um documento relativo a esta fórmula compilado pelo antigo guru de Curwen, um tântrico do sul da Índia. É na forma de um extenso comentário sobre um texto antigo da Escola Kaula. Curwen emprestou a Crowley uma cópia do mesmo.”

O documento em questão era uma cópia do Anandalahari, ou a “Onda de Felicidade“, anotado pelo guru sul-indiano de Curwen e com um Comentário explicando o simbolismo fisiológico – e explicitamente sexual -. Isto forneceu a Grant a chave para desvendar os mistérios ocultos dos Textos Sagrados em Sânscrito, a partir dos quais ele foi capaz de desenvolver – com a ajuda de Curwen – uma visão mais profunda do Tantra do que seu antigo mentor jamais havia conseguido:

Nas instruções que acompanham os graus superiores da O.T.O., não há um relato abrangente do papel crítico dos kalas, ou emanações psicossexuais da mulher escolhida para os ritos mágicos. O comentário foi um abrir de olhos para Crowley, e explicou algumas de suas preocupações durante minha estada no ‘Netherwood’. Estas envolviam uma fórmula de rejuvenescimento. Faltava ao O.T.O. algumas chaves vitais para o verdadeiro segredo da magia que Crowley afirmava ter incorporado nos graus mais altos. Curwen, sem dúvida, sabia mais sobre estes assuntos do que Crowley, e Crowley ficou irritado com isso.

Apesar de suas credenciais externas como ocultista e às vezes transgressor, como um bissexual promíscuo e drogado, Aleister Crowley ainda era, em muitos aspectos, um produto de seu tempo: ele pode não ter sido um misógino, mas sofria de um chauvinismo masculino, todo típico de sua origem vitoriana, privilegiada e branca. Ele também tinha pouco ou nenhum conhecimento do autêntico Tantra de fontes originais, enquanto quando eu troquei cartas e me encontrei brevemente com Kenneth Grant em 1981, ele deixou claro que apesar de sua dedicação de toda sua vida a Crowley e à Lei de Thelema, realmente seu “primeiro amor”, espiritualmente falando, foi o Advaita Vedanta. Esta antiga filosofia hindu da não-dualidade afirma que Atman, ou o Verdadeiro Eu, não é essencialmente diferente do Princípio Universal mais Elevado, ou Brahman. Grant se tornaria por um tempo, nos anos 50, um seguidor do Sábio de Arunachala, Bhagavan Sri Ramana Maharshi, e via sua meditação essencial “Quem sou eu?” como equiparada à busca de Thelema de realizar a Verdadeira Vontade de alguém, escrevendo:

“O espírito natural do Oriente, em sua rotunda mais profunda, está em total concordância com a doutrina de Thelema. Que isto pode ser provado comparando os princípios básicos de Thelema com o Caminho Chinês do Tao, a doutrina Vedântica de Advaita e a filosofia central do Tantricismo Hindu e Budista.”

Vários artigos que Grant escreveu para as revistas anglo-indianas foram posteriormente reunidos e publicados como At the Feet of the Guru (Aos Pés do Guru).

Depois de um período de associação com Gerald Gardner – que também era membro da O.T.O., também com um estatuto para criar um acampamento (embora não haja evidências de que ele alguma vez o tenha utilizado) – Grant criaria um Grupo de Trabalho próprio, “evoluído… para fins de tráfego com os Outer Ones (Exteriores)”, do qual ele escreveu:

“Entre os anos 1955-1962, eu estava envolvido com uma Ordem oculta conhecida como New Ísis Lodge (Nova Loja Ísis). Ela funcionava como uma filial da Ordo Templi Orientis (O.T.O.), com sede em Londres. Fundei a Loja para canalizar transmissões de fontes transplutônicas… O corpo dessas transmissões forma a base das Trilogias Tifonianas.”

Isto causou uma briga com Karl Germer, chefe nominal da O.T.O. quando da morte de Crowley, que sentiu que Grant havia excedido sua autoridade. Houve também conflitos de personalidade porque a New Ísis Lodge havia emitido um manifesto em conjunto com o antigo Grão-Mestre da Fraternitas Saturni alemã, Eugen Grosche, com quem Germer havia se desentendido anteriormente – o resultado foi a expulsão de Grant da Ordem. Este Grant desconsiderou, entretanto, considerando sua autorização de ter vindo do próprio Crowley, e também seus próprios contatos dos “Planos Interiores”. Assim começou a separação dos caminhos entre a Ordem Tifoniana de Grant e o chamado ‘Califado’ O.T.O. reformulado na América por Grady McMurtry.

Uma chave para entender a noção de ‘Gnose Tifoniana é a identificação enfática de Kenneth Grant com Tifón – uma entidade monstruosa da mitologia grega, líder dos Titãs, que fazem guerra contra os deuses do Olimpo, e decididamente feminina – como a Mãe de Set. Grant não hesita em se apropriar deste gigantesco monstro ctônico, de múltiplas asas e membros de cobra, Tifón Primordial, como um avatar da Grande Mãe, ou seja, da própria “Mãe Natureza”, e ousadamente afirma:

“Ela tipificou a primeiro progenitora numa época em que o papel do macho na procriação era insuspeito. Como ela não tinha consorte, ela era considerada uma deusa sem um deus, e seu filho – Set – sendo sem pai, também não tinha deus e era, portanto, o primeiro ‘diabo’, o protótipo do Satã das lendas posteriores.”

Em relação a Set – uma figura sombria e primordial da potência bruta do Egito aborígine, pré-dinástico, mais tarde lançado como o assassino do deus-rei Osíris e depois protótipo do “Deus contra os deuses” – Grant escreveu no prefácio da edição de 1990 do que havia sido originalmente seu primeiro livro, O Renascer da Magia:

“Para nós, que temos o conhecimento interior, herdado ou vencido, resta restaurar os verdadeiros ritos de Átis, Adônis, Osíris, de Set, Serápis, Mitra, e Abel”.

Estas palavras de Aleister Crowley me inspiraram quando jovem e, imaginando-me como um daqueles a quem eram dirigidas, logo descobri que, por alguma razão, não fui capaz de entender que era o deus Set que eu estava sendo chamado a honrar. Assim, tomei a mim mesmo a tarefa de penetrar nos Mistérios deste, o mais antigo dos deuses, e traçar a história de seus ritos desde uma antiguidade indefinida até os dias de hoje.

Os Mistérios Egípcios formam em grande parte o núcleo da Tradição Mágica Ocidental e foram certamente a base para os mitos e rituais da  Hermetic Order of the Golden Dawn (Ordem Hermética da Aurora Dourada), onde Crowley tinha aprendido a maior parte do que precisava para seu desenvolvimento posterior. O Antigo Egito como fonte de poder sobrenatural sancionou seu papel como Profeta, e construiu sobre o Éon de Horus de Crowley e O Livro da Lei, tanto quanto Grant cuja principal fonte para sua Gnose Tifoniana foi o controverso trabalho do egiptólogo esotérico autodidata, Gerald Massey.

Em obras monumentais como o Natural Genesis and Ancient Egypt: The Light of the World (Gênesis Natural e o Egito Antigo: A Luz do Mundo), Massey expôs em termos inequívocos o que ele afirmava ser a base afrocêntrica e fisiológica da Gnose: “Os mais antigos símbolos e religiões têm origem na África”. Ele concebeu o Tifón como equivalente à Tauret egípcia, ou Ta-Urt, o hipopótamo “Senhora da Casa de Nascimento”. Ela era a Deusa das Sete Estrelas do Norte (A constelação da Ursa Maior), e seu filho era a Estrela da (Constelação) do Cão (Maior), Sothis ou Sírius (igualado a Set), cuja ascensão heliacal aparecia acima do horizonte pouco antes da inundação do Nilo. A palavra “Tifoniano” se referia àqueles que adoravam esta Deusa Primordial, e os membros de Seu Culto Estelar haviam fugido para o Oriente, levando sua sabedoria com eles, quando os adoradores do Culto Solar ganharam a ascendência. Em muitos aspectos, a maior inovação de Kenneth Grant foi ligar esta Tradição Tifoniana ao Ocultismo Moderno.

Enquanto Grant se baseava extensivamente nas obras de outros ocultistas que o precederam – Blavatsky, Crowley, Fortune, Grosche, Spare – e citou acadêmicos e estudiosos, do sexólogo pioneiro Havelock Ellis ao ‘Egiptosofista’ Gerald Massey, ele também tinha o curioso hábito de referenciar obras de ficção com a uma aparente mesma seriedade. Assim, as discussões sobre a Sabedoria Estelar e a sobrevivência do culto pré-dinástico do primeiro Egito podem incluir, assim como referências a fontes arqueológicas, também material especulativo extraído dos Registros Akáshicos. Comparações com escritos sobre Tantra e Vodu são todas misturadas com as histórias de terror de Bram Stoker, as pulp novels (romances de celulose) de Sax Rohmer, a ficção sobrenatural de Arthur Machen e os ‘Contos Estranhos’ de H. P. Lovecraft.

Grant tinha uma afeição especial por Lovecraft, aparentemente acreditando que ele estava “em alguma coisa” – que seu temido grimório, O Necronomicon, de fato existia no plano astral, e que HPL (Lovecraft) tinha apreendido isso através de seus sonhos, mas era incapaz de aceitar a “verdade” do que ele tinha discernido – que ele era, de fato, um mago inconsciente. Para aumentar a aparente confusão, em várias obras Grant deu relatos – alegadamente dos Anais de sua Nova Loja Ísis – que parecer como algo da prosa roxa de escritores de horror sobrenaturais, e falou de personagens fictícios como se fossem “reais” – e então em suas obras supostamente fictícias ele se baseou em elementos presumivelmente biográficos de sua própria vida, também personagens e locais “reais”.

A meu ver, este exame excessivamente literal de certos escritos, tais como Grant – ou mesmo Carlos Castañeda, com quem às vezes foi comparado – pode passar despercebido. Se Don Juan ‘realmente’ transformou Castañeda em um corvo, ou se eles saltaram da montanha juntos – ou se Crowley ‘realmente’ perguntou a Kenneth Grant se eles eram parentes distantes por meio de um primo compartilhado em um clã estendido, que por acaso estava de posse de uma herança de família na forma de um grimório documentando seu tráfego de gerações – com inteligências de outros mundos – não está nem aqui nem lá. O que Grant está tentando enfatizar – do que ele era um indubitável Mestre – é o uso da ficção ou literatura como uma forma de Glamour mágico.

As palavras podem tecer mundos, as palavras podem conjurar fantasmas – as palavras podem transportar, transformar, e alterar a consciência – o único limite sendo a imaginação. É preciso lembrar que a imaginação se preocupa com a criação de imagens, em cujo respeito está diretamente relacionada à Antiga Heka egípcia: uma palavra que significava tanto “Magia” quanto “a criação de imagens”. O rol de escritores que também eram magos – ou, alternativamente, ocultistas que empregam a ficção como meio de expressar conceitos mágicos – é longa e distinta.

O próprio Grant segue as pegadas de Aleister Crowley e Dion Fortune, ambos com um passado na Golden Dawn e seus descendentes, assim como Algernon Blackwood, J. W. Brodie-Innes, Arthur Machen, Sax Rohmer, Bram Stoker e A. E. Waite. Grant viu as implicações ocultas no trabalho de tais escritores como não sendo tão diferentes das suas próprias:

“Machen, Blackwood, Crowley, Lovecraft, Fortune e outros, frequentemente usaram como tema para seus escritos o influxo de poderes extraterrestres que têm moldado a história de nosso planeta desde o início dos tempos…”

Assim como outros poetas e escritores decadentes e simbolistas, como Baudelaire, Huysmans, Lautréamont e Rimbaud, pintores surrealistas como Salvador Dali, Paul Delvaux, Max Ernst e Yves Tanguy tem uma apreciação especial. Dali em particular foi elogiado como “Um dos maiores magos de nosso tempo” – com Grant passando a explicitar a comparação deste com Spare:

“Spare já havia conseguido isolar e concentrar o desejo em um símbolo que se tornou senciente e, portanto, potencialmente criativo através dos relâmpagos da vontade magnetizada. Dali, parece, levou o processo um passo adiante. Sua fórmula de ‘atividade paranóico-crítica’ é um desenvolvimento do conceito primordial (africano) do fetiche, e é instrutivo comparar a teoria de Spare de ‘sensação visualizada’ com a definição de Dali de pintura como ‘fotografia colorida feita à mão de irracionalidade concreta’. A sensação é essencialmente irracional, e sua delineação em forma gráfica (“fotografia a cores feita à mão”) é idêntica ao método de Spare de “sensação visualizada”.”

A ênfase no uso de tal criatividade, carregada de intenção mágica e dirigida pela vontade treinada, é um conceito chave da Gnose Tifoniana:

“Dion Fortune enfatizou a importância do devaneio conscientemente controlado. Baseando suas práticas em aspectos dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola, ela demonstrou o valor mágico do “sonho verdadeiro”, uma expressão derivada do romance de George du Maurier, Peter Ibbetson. A teoria é que se alguém tece um sonho diurno com intensidade suficiente induz a uma abstração tão total dos sentidos que o sonhador se funde num sonho acordado, no qual ele é o criador e mestre de suas próprias fantasias. Se poderosamente formuladas, estas concretizam, reificam e assumem uma realidade igual em grau – e muitas vezes maior – àquela que é experimentada na consciência desperta comum. As vantagens de ser capaz de induzir tal estado são evidentes.”

Talvez mais do que qualquer outro escritor ocultista moderno, Grant enfatizou a importância, potencial e poder de tal criatividade, escrevendo em Aleister Crowley & O Deus Oculto que, “A Grande arte é sempre simples… a verdadeira arte expressa a Eternidade”. Desde o início, a arte de Austin Osman Spare e a esposa de Grant, Steffi, é essencial para a função das Trilogias Tifonianas – o texto ilustra as figuras tanto quanto as figuras ilustram o texto. Mais tarde, em Outside the Circles of Time (Fora dos Círculos do Tempo), Grant escreve a respeito de artistas como Dali, Sidney Sime, Spare, e Tanguy:

“Estes artistas deram um salto em outras dimensões e – este é o ponto importante – voltaram para registrar suas experiências extradimensionais… A arte, no sentido verdadeiro e vital, é um instrumento, uma máquina mágica, um meio de exploração oculta que pode projetar o vidente no reino do invisível, e lançar a mente desperta nos mares do subconsciente.”

Por mais que as obras de Kenneth Grant possam ser documentos inestimáveis da evolução do ocultismo contemporâneo – assim como registros da contribuição de muitas das figuras pioneiras com as quais ele teve contato pessoal – é de se esperar que a maior contribuição de seus livros seja como catalisadores mágicos para o leitor que está preparado para abordá-los sob a mesma luz. Como escreveu a antiga protegida de Grant, Sacerdotisa da Magia de Maat, Nema: “Estes não são apenas livros sobre Magia; são livros que são Magia”.

Usados como portais para o Nightside (Lado Noturno), os nove volumes das Trilogias Tifonianas – assim como os vários outros livros de Grant – podem finalmente servir como guias para aquele lugar de exploração e inspiração além de distinções como ‘fato’ e ‘ficção’ que ele gostava de chamar de “a Zona Malva”.

Como tal, eles podem servir como plataformas de lançamento ou mesmo veículos para aquele lugar que cada um de nós precisa encontrar por si mesmo: o lugar onde a Magia acontece.

Finalmente, para concluir, sei que uma imagem de Grant é frequentemente pintada como autocrático, até mesmo autoritário da “Velha Escola”, o que pode muito bem ter sido assim – várias pessoas me levaram a acreditar que ele era realmente mais fácil de lidar se você não fosse um membro da sua Ordem Tifoniana! – mas não há dúvida da sua óbvia dedicação ao Feminino Daemônico (ou Demoníaco). A  Fellowship of Isis (Irmandade de Ísis), que Grant apoiou, afirmou que ele era “totalmente a favor da Deusa”. Sua defesa da obra de Dion Fortune, de Marjorie Cameron – numa época em que a maioria das pessoas, se é que tinham conhecimento dela, apenas a consideravam como a “viúva de Jack Parsons” – seu encorajamento ativo às sucessivas gerações de mulheres fortes ocultistas, como Janice Ayers, Jan Bailey, Linda Falorio, Margaret Ingalls (a supracitada Nema), Mishlen Linden e Caroline Wise – assim como sua devoção vitalícia à sua esposa, a artista Steffi Grant, cujas obras complementam e ilustram vividamente seus livros – todas atestam isso.

Retrato de Steffi e Kenneth Grant, por Austin Osman Spare.

Sendo o último elo vivo* com Aleister Crowley, Gerald Gardner, Eugen Grosche e Austin Osman Spare, o legado de Kenneth Grant ainda está para ser totalmente avaliado e não voltaremos a ver algo semelhante a ele novamente.

* Kenneth Grant faleceu em janeiro de 2011 aos 86 anos.


Fonte: Tifon Rising: The Magical Legacy of Kenneth Grant.

Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-do-caos/a-ascensao-tifoniana-o-legado-magico-de-kenneth-grant/

A Árvore da Vida: Um Clássico Mágico Renascido para o Século XXI

Por Llewellyn.

Numa época em que a magia era vista pela maioria como suspeita na melhor das hipóteses e perigosamente má na pior, Israel Regardie via a magia como uma disciplina científica precisa, bem como um modo de vida altamente espiritual. Aos 24 anos, ele assumiu a enorme tarefa de torná-la acessível a uma ampla audiência de ávidos buscadores espirituais. Regardie queria apontar os princípios fundamentais comuns a toda magia, independentemente de qualquer tradição específica ou caminho espiritual.

O resultado foi o livro A Árvore da Vida, que apresenta uma enorme quantidade de material diversificado em um todo notavelmente unificado. Desde o dia em que foi publicado pela primeira vez, este livro permaneceu em alta demanda por sua habilidosa combinação de sabedoria antiga e experiência mágica moderna.

Esta obra-prima agora foi meticulosamente editada por dois Adeptos Sênior da Ordem Hermética da Golden Dawn (Aurora Dourada) que trabalharam pessoalmente com Regardie. O material foi esclarecido com anotações, comentários e notas explicativas. Há uma nova introdução, glossário, bibliografia e índice e uma riqueza de novas ilustrações.

“A Árvore da Vida é um livro que seria difícil elogiar demais; será um dos clássicos do ocultismo.”

Essa foi a opinião de Dion Fortune, uma respeitada autoridade nos círculos esotéricos, cujo artigo “Cerimonial Magic Unveiled (Magia Cerimonial Revelada)”, impresso na edição de janeiro de 1933 da The Occult Review, foi uma enorme ajuda para a carreira mágica do jovem Israel Regardie – uma carreira tão bem sucedida e influente que Regardie mais tarde se tornaria conhecido como o homem que removeu o sigilo excessivo que velava o ocultismo moderno e tornou as práticas mágicas da Ordem Hermética da Golden Dawn acessíveis a todos os buscadores espirituais. Antes de sua morte em 1985, “Francis” Israel Regardie foi considerado por muitas pessoas como um dos principais zeladores da tradição da Golden Dawn, uma corrente de magia e disciplina espiritual que atraiu muitos ocultistas proeminentes do final do século XIX e início do século XX. incluindo o Dr. William W. Westcott, Samuel L. MacGregor Mathers, Arthur Edward Waite, William Butler Yeats e Aleister Crowley.

A Árvore da Vida é considerada por muitos como um dos textos mais abrangentes sobre magia já escritos. Ao mesmo tempo, é uma excelente introdução ao assunto. Crowley também tentou escrever livros mágicos que fossem fáceis de ler e fáceis de compreender, mas ele nunca foi realmente capaz de fazer isso. O texto de Regardie, por outro lado, é muitas vezes considerado indispensável para a compreensão dos escritos mais obscuros de Crowley. De acordo com Francis King e Isabel Sutherland em The Rebirth of Magic (O Renascimento da Magia):

“[Crowley] escreveu com grande clareza e simplicidade sobre ioga, mas seus escritos puramente mágicos são em grande parte incompreensíveis para o leitor não equipado com um conhecimento detalhado do sistema cabalístico de Mathers, os ritos da Golden Dawn e até mesmo os eventos da própria vida de Crowley.”

“O aluno teve sucesso onde o mestre falhou. Em 1932, Regardie publicou dois livros, A Árvore da Vida e Um Jardim de Romãs, que muitos consideram pequenas obras-primas ocultas.” Temos o prazer de apresentar esta nova edição comentada e ilustrada do texto clássico de Regardie, A Árvore da Vida. Os títulos dos capítulos foram adicionados por nós para conveniência do leitor. Todas as notas finais também são nossas. Embora as edições anteriores de A Árvore da Vida contivessem um pequeno número de ilustrações, muitas outras foram adicionadas a esta nova edição. Também incluímos uma bibliografia, um glossário abrangente e um índice.

A Árvore da Vida apresenta ao leitor uma extensa pesquisa das práticas da tradição mágica ocidental, bem como uma visão panorâmica da teoria por trás dessas práticas. Em sua introdução à segunda edição, Regardie escreveu que: “Este livro tem um significado especial para mim que nenhum de meus outros escritos jamais teve”. Concordamos plenamente com esta opinião, pois A Árvore da Vida também tem um significado especial para nós. De todos os seus livros, este texto em particular parece expressar aquela rara qualidade de escrita que passamos a valorizar da caneta de Regardie – seu desejo de tocar o leitor com inspiração, seu amor pela poesia mística e invocações sagradas, seu senso de a alegria na busca espiritual pela união com o divino e, acima de tudo, seu desejo altruísta de compartilhar com os outros o que descobriu. A Árvore da Vida é uma joia de livro que tornará o leitor mais rico em espírito.

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Fonte:

The Tree of Life: A Magical Classic Reborn for the 21st Century, by Lllewellyn.

https://www.llewellyn.com/journal/article/91

COPYRIGHT (2001) Llewellyn Worldwide, Ltd. All rights reserved.

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/cabala/a-arvore-da-vida-um-classico-magico-renascido-para-o-seculo-xxi/

A Sabedoria Espiritual de Harry Potter?

Por Christopher Penczak.

Com o sétimo e último livro de Harry Potter, Harry Potter e as Relíquias da Morte de J.K. Rowling, sendo lançada em breve, está crescendo muito interesse na mídia e no público sobre magia, bruxaria e feitiçaria. Sendo um bruxo publicamente e um autor, muitas vezes me perguntam quão “real” é o mundo de Harry Potter. As crianças vão para um internato mágico, voam pelo ar e enfrentam todos os tipos de criaturas sobrenaturais. Quão real você acha que é? Mas o que eles realmente querem dizer é: quão real, quão precisa, é a magia apresentada na série Harry Potter?

Embora eu esteja feliz em saber que a popularidade da série Harry Potter está fazendo as pessoas lerem e fazendo as pessoas se interessarem por magia, lamento informar que a magia de Harry Potter não é muito real. Sim, eu sei que é um filme, e a magia do cinema, mesmo a mais respeitosa magia do cinema, tem que ter um pouco de força extra. As pessoas querem ver relâmpagos e bolas de fogo voando das pontas dos dedos, mesmo que eu não conheça nenhuma bruxa ou bruxo vivo que possa fisicamente realizar tais atos. É parte da emoção do filme, e nossos épicos de espada e bruxaria devem ser capazes de competir com lasers, sabres de luz e outros efeitos especiais espetaculares.

Também sei que parte da tradição está correta (até certo ponto), pelo menos no sentido histórico. Em Harry Potter e a Câmara Secreta, quando a turma de Hogwarts estava transplantando a mandrágora, eles ensinaram corretamente que o grito da mandrágora é perigoso, grita quando é desenraizado, e que precauções especiais são necessárias. No livro, eles usavam protetores de ouvido para abafar o som. Na Europa Medieval, eles supostamente amarravam um cachorro na raiz e colocavam a carne fora do alcance do cachorro, para que quando ele puxasse para pegar a carne, ele arrancasse a mandrágora, recebesse seu grito mortal e fosse morto. A mandrágora então se tornaria inofensiva e estaria disponível para ser usada como um poderoso amuleto. Embora, que eu saiba, nenhuma variedade de mandrágoras literalmente grite quando é desenraizada, tais rituais são um conhecimento remanescente de como apaziguar o espírito da planta, com quem você deve fazer parceria para fazer sua magia.

Trabalhar com os espíritos e a espiritualidade da magia é o que realmente falta no trabalho de J.K. Rowling. Em um esforço para tornar a magia excitante e mais palatável para o leitor moderno (que assume que a magia não tem nada a ver com religião ou espiritualidade), as ricas tradições espirituais históricas da magia são esquecidas e todo um corpo de conhecimento que poderia ser extraído para aprofundar o mundo de Harry Potter é deixado de lado.

Ironicamente, grupos cristãos conservadores nos Estados Unidos acusaram os livros de Harry Potter e J.K Rowling de promover bruxaria em crianças. Como uma bruxa, eu teria que discordar. Enquanto os filmes podem estimular o interesse em bruxaria e magia, a magia retratada neste mundo não é nada parecida com a minha. Se você entrar na Wicca, Magia Cerimonial, ou qualquer forma de magia moderna pensando que você será o Diretor Dumbledore ou a Professora McGonagall (com seus usos explícitos de magia), você ficará realmente desapontado. Para alguns, eles verão o que está faltando em Harry Potter e presente em nossas tradições, e olharão para o espírito da magia.

Embora a magia seja uma ciência para muitos de nós, porque existem padrões e teorias repetidos, também é uma tradição espiritual. Uma das primeiras definições que aprendi de bruxaria é que é “ciência, arte e religião”. Muitas tradições de magia, incluindo as tradições de magia cerimonial mais intelectuais e educadas, enfatizam o lado espiritual da magia, se não o lado abertamente religioso. Para muitos de nós, os talentos mágicos são considerados presentes dos deuses, e talentos específicos indicam aqueles abençoados por deuses específicos. Ao falar com um leigo sobre magia e feitiços, os feitiços são frequentemente descritos como uma forma de oração, petição ou súplica às forças divinas que governam uma área específica da vida. Se o feitiço for bem sucedido, a oração foi respondida. Outros vêem isso como uma parceria espiritual com essas forças, não necessariamente uma súplica. Em ambos os casos, trata de forças divinas sobrenaturais e imanentes com as quais o mago se comunica para criar mudanças.

O mundo de Harry Potter perpetua o que chamo de abordagem química da magia. Se você simplesmente fizer a coisa certa – as palavras e a pronúncia certas, o gesto certo, os ingredientes e o tempo exatos, obterá o mesmo resultado. Os magos sabem que você pode pronunciar palavras incorretamente e ainda ter ótimos resultados se tiver energia e vontade suficientes por trás de sua magia, e você pode pronunciá-las tecnicamente corretamente e ainda assim falhar. Magia é uma arte assim como uma ciência e algo que desafia a reprodução.

Muitas tradições de magia também colocam um código moral na magia. Na Wicca, temos a Rede Wicca: “E não prejudique ninguém, faça o que quiser”. Acreditamos que o que você faz, bom, mau ou não, retorna a você três vezes. Não é um julgamento ou código moral do universo, mas um mecanismo do universo, como a gravidade. Mas os resultados disso nos ajudam a criar uma experiência mágica mais agradável. Outras tradições têm tradições semelhantes de carma e colhendo o que você planta. Muitos magos seguem uma das numerosas variações da Regra de Ouro, popularizada pelo Cristianismo, para “[fazer] aos outros o que você teria feito a você”. Embora a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts tenha muitas regras, o mesmo conceito de ética e moralidade mágica não é mantido fortemente. Os personagens estão sempre se esforçando para fazer o que é bom e certo pela virtude de serem heróis, mas a moralidade não é realmente ensinada como parte de uma tradição espiritual mágica, levando alguns dos alunos (como Draco Malfoy e seus companheiros) a serem menos moral do que os personagens principais. Nem todo mundo pode ser um herói, e esses personagens fornecem um contraponto interessante aos heróis da história.

Enquanto, no livro, Hogwarts é uma escola de magia, bruxaria (witchcraft) e feitiçaria (wizardry), os nomes geralmente são usados ​​para denotar praticantes femininos e masculinos de magia. As meninas são bruxas (witches) e os meninos são bruxos (wizards). No mundo moderno, os homens adotarão o nome de bruxa tão prontamente quanto as mulheres, não de bruxo (wizard) e certamente não de bruxo warlock (já que bruxo warlock é geralmente considerado um termo depreciativo pelos bruxos modernos). As mulheres geralmente não usam o termo maga, mas podem ser magas cerimoniais. Elas podem ser magas, feiticeiras e encantadoras se esses termos os atraírem. A bruxaria moderna tem um forte traço feminista, enfatizando a igualdade (se não a superioridade) das mulheres, e um lugar de destaque para o feminino divino como Deusa e mãe de Deus, bem como posições de liderança para as mulheres. Embora existam professoras e personagens femininas, particularmente a muito inteligente e capaz Hermione Granger, o mundo de Harry Potter não tem a mesma sabedoria feminina divina que o mundo da bruxaria moderna aspira.

Alguns dos aspectos do mundo de Harry que estão de acordo com a magia moderna incluem a ideia dos trouxas. Um trouxa é uma pessoa não-mágica, e na verdade se refere a alguém como sendo de um sangue diferente, enquanto muitas das famílias mágicas tentam permanecer puro-sangue. Tais idéias também são encontradas nas tradições de bruxaria do velho mundo, com o conceito de “sangue bruxo”. Algumas bruxas acreditam que são descendentes das raças mais antigas de seres, incluindo os deuses celtas, o povo das fadas/elfos, ou a raça dos anjos caídos conhecidos como os Vigilantes. A magia foi transmitida nas tradições familiares porque também estava no sangue. As bruxas modernas chamaram não bruxas de cowans, inicialmente um termo que se refere a um pedreiro sem licença, aquele que não foi iniciado na guilda. As bruxas tradicionais britânicas, particularmente aquelas que seguem uma tradição estrita de bruxaria gardneriana ou alexandrina, considerarão todos aqueles não iniciados em uma tradição adequada como cowans. Eu pessoalmente odeio ambos os termos, trouxa e cowan, pois eles implicam que algumas pessoas não são mágicas. Penso que somos todos magos, e que aqueles que chamamos de cowans ou trouxas simplesmente ainda não aprenderam ou não são chamados a reconhecê-lo. Eles ainda são seres divinos e mágicos do jeito que são. Os termos vêm da nossa necessidade de nos sentirmos especiais e superiores aos outros. Essa ideia está em Harry Potter e na magia moderna, infelizmente.

Nos livros, Hogwarts enfatiza o estudo e a disciplina como uma parte importante do treinamento mágico, e devo concordar. Eu acredito que enquanto certas pessoas são talentosas em magia, talvez sendo do sangue de bruxa, qualquer um pode aprender a fazer magia se eles se dedicarem a isso. É preciso educação, treinamento e prática, mas a magia é uma habilidade como qualquer outra, e pode ser desenvolvida com o tempo. Você pode não ser um bruxo ou bruxa de classe mundial, mas pode usar feitiços simples e meditação para melhorar sua vida consideravelmente.

Por fim, o mundo de J.K. Rowling não tem nenhuma ideia tola de que a magia só pode ser usada por pessoas boas, ou para bons propósitos. Magia é uma energia, ou talvez uma maneira de manipular a energia, as forças invisíveis do universo. As pessoas usam para o bem. As pessoas usam para o mal. As pessoas usam para conseguir o que querem. As pessoas usam para ajudar os outros. Existe um espectro de usos para a magia e todos eles, independentemente de suas intenções, têm consequências. Magia nos ensina a assumir responsabilidade, a enfrentar as consequências de todas as nossas ações.

Quando as pessoas me perguntam sobre a realidade da série Harry Potter, depois de falar sobre alguns desses pontos, sugiro que tomem Harry Potter pelo que é: uma história. Apreciá-lo. Toda a série é divertida e provavelmente se tornará um clássico. Cada livro fica um pouco mais profundo e sério, crescendo à medida que a criança cresce lendo-os. E eles são muito divertidos para os adultos também, incluindo bruxas, feiticeiros, magos e pagãos. Mas não confunda um livro ou filme com as profundas tradições espirituais de bruxaria e magia.

Enquanto O Senhor dos Anéis e As Crônicas de Nárnia, ambos clássicos recentemente transformados em filmes, têm associações cristãs devido à fé de seus autores, ninguém os confunde com manuais de como praticar o cristianismo. Enquanto J. K. Rowling está escrevendo sobre bruxaria, ela não está escrevendo da perspectiva de uma bruxa moderna, então não espere que seja um livro de prática preciso. Se você está procurando por ficção que ensine magia, sugiro a leitura da obra de Dion Fortune, como seu livro A Sacerdotisa do Mar, quando terminar a série Harry Potter. Ela é divertida e esclarecedora, e abre um verdadeiro caminho para os mistérios da magia.

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Sobre o autor:

Christopher Penczak é um bruxo, professor, escritor e praticante de cura. Ele é o fundador do mundialmente famoso Temple of Witchcraft (Templo da Bruxaria) e do Temple Mystery School (Escola de Mistério do Templo), e é o criador dos livros e CDs de áudio mais vendidos do Temple of Witchcraft. Christopher é um ministro ordenado, servindo as comunidades pagãs e metafísicas de New Hampshire e Massachusetts por meio de rituais públicos, conselhos particulares e ensino. Ele também viaja extensivamente e ensina em todos os Estados Unidos. Christopher mora em New Hampshire.

http://www.christopherpenczak.com

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Fonte:

The Spiritual Wisdom of Harry Potter?, by Christopher Penczak.

COPYRIGHT (2007) Llewellyn Worldwide, Ltd. All rights reserved.

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/popmagic/a-sabedoria-espiritual-de-harry-potter/

A Meia-Noite, No Jadim Do Bem Do Mal

“Que não está morto aquilo que é capaz de eterno jazer, e ao longo de eras estranhas mesmo a morte pode morrer.”

Na obra “Estâncias” de Dzyan, em torno da qual toda “A Doutrina Secreta” se acha organizada como um comentário, Madame Blavatsky nos informa que cada homem é uma sombra ou centelha de uma divindade de sabedoria, poder e espiritualidade superlativos. Esses seres sensíveis são chamados de deuses ou essências universais por uma das autoridades em teurgia. Deuses esses que representam a ordem.

Mas antes que o Homem caminhasse por sobre a terra, dominavam os Grandes Antigos, que desde as eras mais remotas aguardavam, em outra dimensão, para retomar o que lhes pertence e exterminar a humanidade intrusa.

Os teosofistas fizeram conjecturas sobre a apavorante imensidão do ciclo cósmico, do qual nosso mundo e raça humana constituem meros incidentes transitórios. Eles aludiram a estranhas sobrevivências: “em tempos extremamente remotos criaturas do caos e monstros incríveis vindos de outros universos habitavam a terra.”

O mal descrito por Lovecraft é o mal em si, absoluto, evocando um mal ominoso; um mal se torna real e consistente, tanto quanto os deuses e hierarquias atuais, principalmente as judaicos-cristãos.

Os Grandes Antigos são deuses que não se curvaram, nem se submeteram aos deuses vencedores. São de igual porte. São a existência primordial, o Caos, antes da Ordem chegar. Invoca-los é apagar as leis e as ordens vigentes. Esta é a possibilidade mágica do Necronomicon: a re-ascenção dos Veneráveis Antigos e do Caos.

Keneth Grant faz um paralelo do culto de Crowley, com os deuses do Necronomicon. Então vamos avaliar um pouco Thelema. Declarar-se thelemita é aceitar o Líber Al Vel Legis, é entrar em sintonia com a corrente 93. Ao fazê-lo, certos centros psíquicos estarão sendo colocados em atividade, bem como estaremos nos preparando para enfrentar as ordálias do caminho.

Crowley cultuou o deus SET. A mais velha forma conhecida do Príncipe das Trevas, o arquétipo da Consciência de Si isolada, cujo sacerdócio remonta a épocas pré-dinásticas.

Imagens de Set têm sido datadas de antes de 3200 aEC (aEC = antes da era comum), com estimativas astronomicamente baseadas de inscrições datando do ano 5000 aEC.

A corrente 93 é claramente typhoniana e/ou draconiana. Ou seja, ligada a gnose tipo zhoteriana ( vudu, maat, zos kia, etc). Zother , a estrela Sirius , que se identifica com o monstro Thipon, a mãe de Seth.

Invocar forças mágicas, não é apenas invocar os anjinhos cabalísticos, das sephiroth porque os mesmos têm a sua contra-parte, as qlipoths; que segundo Dion Fortune, “são forças terríveis, havendo perigo até mesmo em pensar sobre elas”. O trabalho do magista, consiste em equilibrar as forças atuantes. No trabalho de invocação do Sagrado Anjo Guardião, baseado no Magia Sagrada de Abramalin, nos diz que : “uma vez que ele (SAG) tenha se manifestado será então necessário, primeiramente, fazer aparecer os Quatro Grandes Príncipes do Mal no Mundo, em seguida os dezesseis sub-príncipes, e finalmente, os trezentos e dezesseis servidores destes.”

No Necronomicon, toda a parte inicial invocatória inexiste. A convocação é imediata, direta e frontal, o que exige do magista um imenso poder, pois é presumível que ele se verá frente a frente com potências obscuras de aparência aterradora, sumamente perversas, detentoras de poder colossal e possivelmente pertencentes a esferas e hierarquias associadas a própria gênese da terra e a disputa da mesma.

Para os mais puritanos, muito antes do cristianismo, temos mitos antigos de mergulho nas trevas infernais. Com por exemplo Hades, irmão de Zeus, a quem coube comandar os mundos abissais, de mesmo nome Hades – o Inferno. Pesquisem o mito de Demeter.

O humor é necessário, até mesmo para prevenir a demência do mago, em suas invocações, e proteger o ego de inflar e explodir . Mas ao ler diversos opiniões nesta lista, percebo pessoas que consideram a magia uma brincadeira, que podem fazer e desfazer pactos; invocar anjinhos, etc. Que podem ser caoístas, thelemitas, maatianos e ao mesmo tempo gnosticos cristãos, carismáticos, new age, etc.

Muitos criticam Paulo Coelho – e não o estou defendendo – porém ele se aplicou as práticas mágicas, e teve de enfrentar forças invocadas ,que hoje ele considera mais, e isto é problema dele. Mas foi um praticante. O ponto é que muitos falam, e são magistas (não ousem se autodenominarem MAGOS), são magistas de cadeira. Lêem um pouco, participam de muitas listas, etc. Antes que venham com pedras e paus, perguntem a si mesmo, quantos fazem diariamente uma meditação ou o rito do Pentagrama Menor?, ou estudaram e praticaram o Liber KKK, por pelo menos um ano e um dia? Ou Liber Resh?

A descoberta de si mesmo, Self, é parte do trabalho mágico. Negar aquilo que está em nós nos sabota e cria traumas: A nossa sombra. O trabalho da corrente typhoniana envolve a assimilação da Sombra.

Quem procura o caminho da magia, vai se confrontar com caminhos desolados no reino das trevas. Talvez seja possível recusar o encontro ou adiá-lo . Ou se colocar no mesmo, enfrentando o seu inferno interior.

O mal o espreita, com aqueles olhos negros, vazios de qualquer sentimento, e você vai encará-lo de frente. Cultue Seth, e despose a sua noiva Nuit. O trabalho de descoberta das sombras é direto. Ao assentar dentro de seu interior, a entidade que trabalha, ocorre uma simbiose, descobrindo as próprias trevas interiores, como a própria entidade.

Estão prontas para as ordálias do caminho escolhido? Sabem realmente o caminho escolhido? Ora pois , a prática da meta-crença, do mote de que “Nada é verdadeiro, tudo é permitido“, confere uma liberdade horrorosa e uma responsabilidade horrorosa. Você, unicamente você, é responsável por todos os seus atos.

Não há deus senão o homem.

IAO! SABAO! AGLA IEOUOUR IOU OUR IATO IAEO IOOU ABRASAX!

IO PAN! IO CAOS!

Hélio

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/a-meia-noite-no-jadim-do-bem-do-mal/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/a-meia-noite-no-jadim-do-bem-do-mal/

Binah

A Cabala Mística, Dion Fortune

1. Binah é o terceiro membro do Triângulo Supremo, e a tarefa de explicá-la será, ao mesmo tempo, extensa a simples, porquanto podemos estudá-la à luz de Hochma, que a equilibra no Pilar oposto da Árvore. Jamais poderemos entender uma Sephirah se a considerarmos em separado de sua posição na Árvore, uma vez que essa posição lhe indica as relações cósmicas; vemo-la em perspectiva, por assim dizer, a podemos deduzir donde provém e para onde vai, que influências intervêm em sua criação, a qual a sua contribuição para o esquema das coisas como um todo.

2. Binah representa a potência feminina do universo, assim como Hochma representa a masculina. Como já observamos, são Positiva a Nega`tiva; Força a Forma. Cada uma encabeça o seu Pilar, Hochma no topo do Pilar da Misericórdia a Binah no topo do Pilar da Severidade. Poder-se-is pensar que essa distribuição é antinatural; que a Mãe deveria presidir a misericórdia, e a força masculina do universo, a severidade. Mas não devemos sentimentalizar essas coisas. ,Estamos tratando de princípios cósmicos, não de personalidades; a mesmo os símbolos pelos quaffs eles são apresentados dãonos boas indicaçbes, se temos olhos para ver. Freud não teria discordado da atribuição de Binah ao topo do Pilar da Severidade, pois ele tinha muitas coisas a dizer sobre a imagem da Mãe Terrível.

3. Kether, Eheieh, Eu Sou, é puro ser, onipotente, mas não ativo; quando um fluxo de atividade emana dele, chamamos essa atividade de Hochma; é esse fluxo descendente de atividade pura que constitui a força dinãmica do universo, a toda força dinâmica pertence a essa categoria.

4. Devemos lembrar que as Sephiroth são estados, não lugares. Sempre que existe um estado de ser puro a incondicionado, sem partes ou atividades, esse estado se refere a Kether. Portanto é nesses dez escaninhos de nosso fichário metafísico que podemos classificar as idéias relativas a todo o universo manifesto, sem precisar remover qualquer objeto, tal como surge à nossa compreensâo, do lugar que ocupa. Em outras palavras, sempre que tivermos energia pura em funcionamento, saberemos que a força subjacente pertence a áokmah; podemos ver, desse modo, a identidade intrínseca, quanto ao tipo, de todos esses fenõmenos, os quaffs, à primeira vista, parecem não apresentar nenhum vínculo mútuo, pois aprendemos, graças ao método cabalístico, a referi-los, de acordo com o seu tipo, às diferentes Sephiroth, podendo assim correlacioná-los com todas as classes de idéias cognatas, de acordo com o sistema de correspondências já explicado anteriormente. Esse é o método que a mente subconsciente segue automaticamenie; cabe ao ocultista treinar sua mente consciente na utilizaçáo desse mesmo método. Podemos notar, a propósito, que esse método é sempre empregado quando os indivíduos operam diretamente do subconsciente, como ocorre no gênio artístico, no lunático, a durante os sonhos ou o trance.

5. Pode parecer estranho ao leitor que essa digressão a respeito de Hochma seja incluída sob o cabeçalho de Binah, mas é apenas à luz de sua polaridade com Hochma que podemos compreender Binah; e, igualmente, teríamos muito mais a acrescentar à nossa explicação de Hochma agora que tomamos Binah para compará-la. Os membros dos pares de opostos se esclarecem mutuamente, a são incompreensíveis quando estudados em separado.

6. Mas voltemos a Binah. Os cabalistas afirmam que ela é emanada por Hochma. Traduzamos essa afirmativa em outros termos. Reza uma máxima oculta – que é, como acredito, confirmada pelas pesquisas de Einstein, embora eu não tenha o conhecimento necessário para relacionar suas descobertas com as doutrinas esotéricas – que a força jamais se move numa linha reta, mas sempre numa curva tão vasta quanto o universo, retomando eventualmente, por conseguinte, ao ponto de onde proveio, mas num arco superior, visto que o universo progride continuamente. Segue-se, portanto, que a força que assim procede, dividindo-se a redividindo-se a movendo-se em ângulos tangenciais, chegará eventualmente a um estado de tensões equilibradas e a alguma forma de estabilidade – estabilidade que será outra vez perturbada no curso do tempo quando novas forças frescas emanarem na manifestação a introduzirem novos fatores para propiciar o necessário ajustamento.

7. É esse estado de estabilidade – produzido pelas forças interatuantes quando agem a reagem a chegam a um equilíbrio – que é a base da forma, como é exemplificado no átomo, que é nada mais nada menos do que uma constelação de elétrons, cada um dos quaffs é um vórtice ou um remoinho. É a estabilidade assim obtida – a qual, note-se, é uma condição a não uma coisa em si – que os cabalistas chamam de Binah, a Terceira Sephirah. Sempre que existe um estado de tensões interatuantes que produzem a estabilidade, os cabalistas referem esse estado a Binah. Por exemplo, o átomo, sendo, para todos os propósitos práticos, a unidade estável do plano físico, é uma manifestação do tipo de força Binah. Todas as organizaçôes sociais sobre as quais pesa opresssivamente a mão morta da estagnação, tal como a civilização chinesa antes da revolução, ou nossas velhas universidades, estão sob a influência de Binah. A Binah atribui-se o deus grego Kronos (que não é outro senão o Pai do Tempo) e o deus humano Saturno. Observe-se a importância atribuída ao tempo, em outras palavras, à idade, nas instituiçaes de Binah; só os cabelos grisalhos são dignos de reverência; a capacidade por si só conta muito pouco. Ou seja, apenas aqueles que são congeniais a Kronos podem obter sucesso em tal ambiente.

8. Binah, a Grande Mãe, chamada às vezes de Marah, o Grande Mar, é, naturalmente, a Mãe de Toda Vida. Ela é o útero arquetípico por meio do qual a vida vem à manifestação. Tudo que fornece uma força para servir a vida como um veículo provém dela. Devemos lembrar, contudo, que a vida confmada numa força, embora seja capaz de organizar-se a desenvolver-se, é muito menos livre do que era quando ilimitada (embora também desorganizada) em seu próprio plano. Incorporar-se numa forma é, por conseguinte, o início da morte da vida. É uma limitação a um encarceramento; uma sujeição a uma constrição. A forma limita a vida, aprisiona-a, mas, não obstante, permite-lhe organizar-se. Visto desse ponto de vista da força livre, o encarceramento numa forma é extinção. A forma disciplina a força com uma severidade sem misericórdia.

9. O espírito desencamado é imortal; não há nada nele que possa envelhecer ou morrer. Mas o espírito encarnado vê a morte no horizonte tão logo o dia nasce. Podemos compreender, portanto, quão terrível deve parecer a Grande Mãe quando aprisiona a força livre na disciplina da forma. Ela é morte para a atividade dinâmica de Hochma; a força Hochma morre quando conflui para Binah. A forma é a disciplina da força; por conseguinte, é Binah a cabeça do Pilar da Severidade.

10. Podemos conceber, assim, que a primeira Noite Cósmica tenha ocorrido – primeiro Pralaya, ou submersão da manifestação no repouso quando o Triãngulo Supremo encontrou estabilidade a equilíbrio de força na emanação a organização de Binah. Tudo era dinâmico antes, tudo era desenvolvimento a expansão; mas, com o início da manifestação do aspecto Binah, houve um entravamento a uma estabilização, e o antigo fluxo dinâmico a livre se deteve.

11. Que esse entravamento – e a conseqüente estabilização – era inevitável num universo cujas linhas de força sempre se movem em curvas, eis uma conclusão inevitável. Se compreendermos que o estado Binah era a conseqüência inevitável do estado Hochma num universo curvilíneo, entenderemos por que o tempo deve passar por épocas nas quaffs ou Binah ou Hochma tem o predomínio. Antes de as linhas de forças terem completado seu circuito no universo manifesto a começado a retomar sobre si mesmas a entrelaçar-se, tudo era Hochma, dinamismo irrestrito. Depois que Binah e Hochma, como primeiro par de opostos, encontraram o equilibrio, tudo era Binah, e a estabilidade era imutável. Mas Kether, o Grande Emanador, continua a manifestar o Grande Imanifesto; a força flui no universo, aumentando a soma da força. Este fluxo de força rompe o equilíbrio a que se havia chegado quando Hochma a Binah atuaram, reatuaram a se detiveram. A ação e a reação começam novamente, e a fase Hochma, uma fase na qual predomina a força completa, se sobrepõe à condição estática que é Binah, e o ciclo prossegue novamente quando Kether, o emanador incessante, quebra o equilíbrio em favor do princípio cinético que se opõe ao princípio estático.

12. Vemos, assim, que, se Kether, a força de todos os seres, é concebida como o supremo bem, como de fato deve ser, a que, se a natureza de Kether é cinetica, e a sua influência se inclina inevitavelmente para Hochma, segue-se obrigatoriamente que Binah, o oposto de Hochma, o opositor perpétuo dos impulsos dinâmicos, seja vista como o inirnigo de Deus, o demônio. Saturno-Satã é uma transição fácil; assim como Tempo-Morte-Demônio. Nas religiões ascéticas como o Cristianismo e o Budismo, encontra-se implícita a idéia de que a mulher é a raiz de todo o mal, porque ela é a influência que sujeita o homem, por seus desejos, a uma vida de forma. A matéria constitui, para ambas as fés, a antinomia do espírito, numa dualidade etema não-resolvida. 0 Cristianismo reconhece prontamente a natureza herética dessa crença quando ela lhe é apresentada sob a forma do Antinomianismo; mas não compreende que seus próprios ensinamentos a sua prática são igualmente antinomianistas quando concebe a matéria como o inimigo do espírito, acreditando que, como tal, ela deve ser vencida a ultrapassada. Essa crença infeliz causou tantos sofrimentos humanos nos países cristãos quanto a guerra a as pestes.

13. A Cabala ensina uma doutrina mais sábia. Para ela, todas as Sephiroth são sagradas, tanto Malkuth quanto Kether, tanto Geburah, o destruidor, quanto Chesed, o preservador. Ela reconhece que o ritmo é a base da vida, não um progresso com um único movimento para a frente. Se compreendêssemos melhor esse aspecto, evitaríamos muitos sofrimentos, pois contemplaríamos as fases Hochma a Binah como fases mutuamente sucessivas, tanto em nossas vidas como nas vidas das naçôes, a compreenderíamos o profundo significado das palavras de Shakespeare, quando diz:

“There is a tide in lhe affairs of men which taken at lhe flood leads on lhe fortune. ”
[Existe uma maré nos assuntos dos homens Que, se aproveitada quando sobe, conduz à ventura.]

14. Binah é a raiz primordial da matéria, mas o pleno desenvolvimento da matéria só pode ser obtido depois que alcançamos Malkuth, o universo material. Veremos repetidamente, no curso de nossos estudos, que as Três Supremas têm suas expressôes especializadas num arco inferior em uma ou outra das seis Sephiroth que formam o Microprosopos. Essas Esferas têm suas raízes na Tríade Superior, ou são os reflexos delas, a essas pistas têm um significado profundo. Binah vincula-sea Malkuth como a raiz ao seu fruto. Isso é indicado no Texto Yetzirático de Malkuth, que diz: “Ela sentava-se no trono de Binah.” É impraticável, por essa razão, atribuir firme a seguramente os deuses de outros panteôes às diferentes Sephiroth. Aspectos de Ísis encontram-se em Binah, Netzach, Yesod a Malkuth. Aspectos de Osíris encontram-se em Hochma, Chesed a Tiphareth. Isso é muito claro na mitologia grega, em que se dão diferentes títulos descritivos aos deuses e deusas. Por exemplo, Diana, a divindade lunar, a caçadora virgem, era adorada em Éfeso como a deusa de muitos seios; Vênus, a deusa da beleza feminina a do amor, tinha um templo em que era adorada como a Vênus Barbada. Esses fatos ensinam-nos algumas verdades importantes, instando-nos a buscar o princípio atrás da manifestação multiforme, e a compreender que o mesmo princípio assume formas diferentes em níveis diferentes. A vida não é tão simples como o desinformado gostaria de acreditar.

15. 0 significado dos nomes hebraicos da segunda e da terceira Sephiroth são Sabedoria a Entendimento, a ambas as Esferas, curiosamente, opõem-se uma a outra, como se a distinção entre os termos fosse de importância fundamental. A Sabedoria sugere às nossas mentes a idéia do conhecimento acumulado, das séries infinitas de imagens na memória; mas o Entendimento comunica-nos a idéia da penetração de seu significado, o poder para perceber-lhes a essência e a inter-relação, o que não está necessariamente implícito na Sabedoria, tomada como conhecimento intelectual. Obtemos, assim, um conceito de uma série extensa, uma cadeia de idéias associadas, em relação a Hochma, o que concorda pelo menos com o símbolo de Hochma de uma linha reta. Mas, em relação ao Entendimento, temos a idéia da síntese, da percepção de significados que se produz quando as idéias são relacionadas umas às outras, a superimpostas umas sobre as outras, em séries evolutivas do denso ao sutil. Isso sugere novamente a idéia do princípio unificador de Binah.

16. Estes sâo meios sutis da operação mental, a podem parecer fantásticos àqueles que não estão acostumados com o método de utilização mental do iniciado; mss o psicanalista os compreende a os aprecia em seu verdadeiro significado, assim como faz o poeta quando constrói suss torres nefelibatas de imagens.

17.0 Texto Yetzirático destaca a idéia da fé, a fé que reside no entendimento, o qual, por sua vez, é filho de Binah. Esse é o único local em que a fé pode repousar adequadamente. Um cínico definiu a fé como o poder de acreditar naquilo que sabemos não ser verdade, a essa parece ser uma definiçáo bastante exata das manifestações de fé tal como aparecem em muitas mentes não-instruídas, fruto da disciplina de seitas carentes de consciência mística. Mas à luz dessa consciência, podemos definir a fé como o resultado consciente da experiência superconsciente que não foi traduzida em termos de consciência cerebral, a da qual, por conseguinte, a personalidade normal não está diretamente consciente, embora, não obstante, sinta-lhe, possivelmente com grande intensidade, os efeitos, a suas reaçôes emocionais são, dessa forma, modificadas fundamental a permanentemente.

18. À luz dessa definição, podemos ver como .as raízes da fé podem de fato residir em Binah, Entendimento, o princípio sintético da consciéncia. Pois há um aspecto formal da consciência, assim como da substância, e consideraremos esse aspecto em detalhes quando estudarmos Hod, a Sephirah básica do Pilar da Severidade de Binah. Vemos, assim, mais uma vez, como as Sephiroth se inter-relacionam, propiciando o esclarecimento de suas vinculações mútuas.

19. A afirmação de que as raízes de Binah estão em Amém refere-se a Kether, pois um dos títulos de Kether é Amém. Isso indica claramente que, embora Hochma emane Binah, não devemos nos deter aqui quando buscamos as origens, mss devemos remontar à fonte de tudo que brota do Imanifesto atrás dos Véus da Existência Negativa. Esse conceito é claramente formulado pelo Texto Yetzirático de Chesed, que, falando das forças espirituais, diz: “Elas emanam uma da outra, em virtude da emanação primordial, a coroa superior, Kether.”

20. Não devemos nos confundir ou nos enganar a esse respeito pelo fato de o Texto Yetzirático de Geburah declarar que Binah, o Entendimento, emana das profundezas primordiais de Hochma, Sabedoria. Binah está em Kether, assim como em Hochma, “mss de outra maneira”. No ser puro, informe a indiviso existem as possibilidades da força a da forma; pois, onde há um pólo positivo, há necessariamente o aspecto correlato de um pólo negativo. Kether está para sempre num estado de devir. Aliás, um cabalista judeu me disse que a tradução correta de Eheieh, o Nome divino de Kether, é “Eu serei”, não “Eu sou”. Esse devir constante não pode permanecer estático; ao contrário, precisa pôr-se em atividade; a essa atividade não pode permanecer para sempre sem correlações; ela precisa organizar-se; cumpre chegar a um modo de equilíbrio entre as correntes. Temos, assim, a potencialidade tanto de Hochma quanto de Binah implícita em Kether, pois, é bom repetir, as Sephiroth Sagradas não são coisas, mss estados, e todas as coisas manifestas existem em um ou outro desses estados, a contêm uma mescla desses fatores em sua constituição, de modo que todo o universo manifesto pode ser classificado nos escaninhos apropriados de nossa mente quando o hieróglifo da Árvore é aí estabelecido. Na verdade, uma vez estabelecido a claramente formulado esse hierógtifo, a mente o utiliza automaticamente, a os complexos fenômenos de existência objetiva classificam-se em nosso entendimento. É por essa razão que o estudante de ocultismo que trabalha numa escola iniciática é instado a memorizar as principais correspondências das Dez Sephiroth Sagradas e a não depender das tabelas de referência. Muitas vezes já se objetou que isso é uma intolerável perch de tempo a energia, a que a referéncia às tabelas de correspondências, tais como a dé 777, de Crowley, é muito melhor. Mas a experiência prova que esse não é o caso, a que o esoterista que se dedica a essa disciplina, e a repete diariamente, como o católico reza o seu rosário, é amplamente recompensado pela iluminação posterior que recebe quando sua mente classifiça as inumeráveis mudanças a acasos da vida mundana na Árvore, revelando, assim, o seu significado espiritual. Deve-se ter sempre em mente que a utilização da Árvore da Vida não é apenas um exercício intelectual; é uma arte criativa, no sentido literal das palavras; a que as faculdades devem ser desenvolvidas na mente, assim como o escultor ou o músico adquire a sua habilidade manual.

21.0 Texto Yetzirático refere-se especificamente a Binah como a Inteligência Santificadora. A santificação evoca a idéia do que é sagrado a posto à parte. A Virgem Maria está intimamente associada a Binah, a Grande Mãe, a dessa atribuição passamos à idéia daquilo que dá origem a tudo, mss retém a sua virgindade; em outras palavras, daquilo cuja criatividade, não o envolve na vida de sua criação, mss permanece à parte a atrás, como a base da manifestação, a substãncia-raiz de onde surge a matéria. Pois, embora a matéria tenha suas raízes em Binah, a matéria, não obstante, tal como a conhecemos, é de uma ordem de ser muito diferente da Sephirah Suprema em que reside sua essência. Binah, a influência primordial formativa, criadora de todas as formas, está atrás a além da substãncia manifesta; em outras palavras, é etemamente virgem. É a influência formativa que subjaz a toda edificaçáo da forma, essa tendência de curvar as linhas de força para correlacionar a alcançar a estabilidade, que é Binah.

22. Essas duas Sephiroth básicas da Tríade Suprema são expressamente referidas como Pai a Mãe, Abba a Ama, a suas imagens mágicas são as de um homem barbado a de uma matrona, representando, assim, não a atração sexual de Netzach a Yesod – que são representados como donzela a adolescente -, mas os seres maduros que se uniram a reproduziram. Devemos sempre fazer uma distinção entre a atração sexual magnética e a reprodução, pois ambas são coisas muito diferentes, a não constituem níveis ou aspectos diferentes da mesma coisa. Aqui está uma importante verdade oculta que consideraremos no devido tempo.

23. Hochma a Binah representam, portanto, a virilidade e a feminilidade essenciais em seus aspectos criadores. Como tal, não são imagens fálicas, mas nelas se acha a raiz de toda força vital. Jamais compreenderemos os aspectos mais profundos do esoterismo se não entendermos o verdadeiro signiiicado do falicismo. Este nada tem a ver com as orgias nos templos de Afrodite, que desgraçaram a levaram à decadência a fé pagã dos antigos e causaram a sua queda; significa que tudo reside no princípio da estimulação do inerte, mas potencial pelo princípio dinâmico, que deriva sua energia diretamente da fonte de toda energia. Esse conceito abrange tremendas chaves de conhecimento, a constitui um dos pontos mais importantes dos Mistérios. É óbvio que o sexo representa um aspecto desse fator; é igualmente óbvio que há muitas outras aplicações concementes a ele que não são sexuais. Não devemos de forma alguma permitir que nossos preconceitos sobre o sexo, ou uma atitude convencional para com esse grande a vital assunto, nos façam retroceder diante desse grande princípio da estimulação ou fecundação do inerte potencial pelo princípio ativo. Aquele que assim se inibe não está preparado para os Mistérios, sobre cujo portal estão escritas as seguintes palavras: “Conhece-to a ti mesmo.”

24. Esse conhecimento não conduz à impureza, pois a impureza implica uma perda do controle que permite às forças ultrapassarem os limites que a Natureza lhes impôs. Aquele que não controla seus próprios instintos e paixões não é mais apto para os Mistérios do que aquele que os inibe e dissocia. Fique bem claro, contudo, que os Mistérios não ensinam o ascetismo ou o celibato como um requisito, pois eles não concebem o espírito e a matéria como um par de antinomias irreconciliáveis, mas, antes, como níveis diferentes da mesma coisa. A pureza não consiste na emasculação, mas na manutenção de diferentes forças em seus níveis a lugares adequados, a no impedimento de invadirem a esfera alheia. Ela ensina que a frigidez e a impotência constituem defeitos tão sérios como qualquer outro, devendo ser consideradas como patologias sexuais, da mesma maneira que a luxúria, que destrói seu objeto e o degrada.

25. Todas as relaçóes da existência manifesta implicam a ação dos princípios de Binah a Hochma e, sendo o sexo uma perfeita representação de ambos, foi ele utilizado como tal pelos antigos, que não se perturbavarrm pela nossa timidez sobre o assunto, a tomavam suas metáforas do tema da reprodução da mesma maneira livre pela qual tomamos as nossas da Biôlia. Pois para eles a reprodução era um processo sagrado, a eles se referiam a ela, não com grosseria, a sim com reverência. Se desejamos compreendê-los, devemos nos aproximar de seus ensinamentos sobre a fonte da vida a da força vital com o mesmo espírito com que eles se aproximaram delas, a ninguém cujos olhos não estejam vendados pelo preconceito, ou que não permaneça nas trevas lançadas por seus próprios problemas irresolvidos, pode deixar de compreender que nossa atitude atual em face da vida seria mais saudável a agradável se tivesse como fermento o bom senso e o discernimento do paganismo.

26. Os princípios da masculinidade a da feminilidade manifestos em Hochma a Binah representam mais do que mera polaridade positiva a negativa, atividade a passividade. Hochma, o Pai Universal, é o veículo da força primordial, a manifestação imediata de Kether. É, na verdade, Kether em ação, pois as diferentes Sephiroth não representam diferentes coisas, mas diferentes funções da mesma coisa, isto é, força pura jorrando na manifestação, oriunda do Grande Imanifesto, que está atrás dos Véus Negativos da Existência. Hochma é força pura, assim como a expansão da gasolina, quando esta se inflama na câmara de combustão de um motor, é força pura. Mas, assim como essa força expansiva se expandiria a se perderia se não houvesse um mecanismo para transmitir seu poder, da mesma forma a energia não-direcionada de Hochma se irradiaria pelo espaço a se perderia se nada houvesse para receber seu impulso a utilizá-lo. Hochma explode como a gasolina; Binah é a câmara de combustão; Gedulah a Geburah são os movimentos altemados do pistão.

27. A força expansiva fornecida pelo combustível é energia pura, mas náo poria um carro em movimento. A organização constritiva de Binah é potencialmente capaz de fazê-lo, mas ela não pode fazê-to a não ser pondose em movimento pela expansão da energia acumulada do vapor da gasolina. Binah é potencialmente ilimitada, mas inerte. Hochma é energia pura, ilirrmitada a incansável, mas incapaz de fazer qualquer coisa, exceto irradiar-se pelo espaço se nada houver que a detenha. Mas, quando Hochma age sobre Binah, sua energia é reunida a utilizada. Quando Binah recebe o impulso de Hochma, todas as suas capacidades latentes são vitalizadas. Em suma, Hochma fornece a energia, a Binah fornece o motor.

28. Consideremos, agora, a masculinidade e a feminilidade desse par de opostos supremo, conforme se expressam no ato da geração. Os espermatozóides do macho tém uma vida brevíssima; eles são as unidades de energia mais simples possfvel; assim que essa energia se expande, eles se dissolvem. Mas o mecanismo reprodutor da fêmea, o útero que gera a os seios que alimentam, são capazes de conduzir essa vida transferida à sua própria vida independente; e, no entanto, todo esse complexo mecanismo deve ficar inerte até que o estímulo da força Hochma o ponha em ação. A unidade reprodutora feminina é potenciahnente ilimitada, mas inerte; a unidade reprodutora masculina é onipotente, mas incapaz de produzir um nascimento.

29. Muitas pessoas pensam que, sendo a masculinidade e a feminilidade, tal como as conhecem no plano físico, princípios fixos detemiinados pela estrutura, o potente e o potencial se limitam rigidamente aos seus respectivos mecanismos. Ora, isso é um erro. Existe uma contínua altemação de polaridade sobre todos os planos, exceto o físico. E, de fato, entre os tipos primitivos de vida animal, há também uma alternãncia de polaridade no plano físico. Entre os tipos superiores, especialmente entre os vertebrados, a polaridade é fixada pelo acaso do nascimento, salvo as anomalias hermafroditas, que só podem ser consideradas como patológicas, a em que apenas um sexo é sempre funcionalmente ativo, qualquer que seja o aparente desenvolvimento do outro aspecto. Um dos segredos mais importantes dos Mistérios consiste no conhecimento dessa contínua interação de polaridade. Não se trata, em absoluto, de homossexualidade, que é uma expressão pervertida a patológica desse aspecto, que surge como uma desordem de sentimento sexual quando a lei da polaridade alternante não é corretamente compreendida.

30. Em suma, embora o modo de reprodução no plano físico seja determinado em todos os indivíduos pela configuração de seu corpo, suas reaçôes espirituais não são tão fixas, pois a alma é bissexual; em outras palavras, em toda relação de vida, somos às vezes positivos a às vezes negativos, conforme sejam as circunstâncias mais fortes do que nós, ou sejamos nós mais fortes do que as circunstâncias. lsso ressalta claramente do fato de que Netzach (Vênus-Afrodite) é a Sephirah basal do Pilar de Hochma. Vemos, assim, que a natureza feminina apresenta uma polaridade diferente em níveis diferentes, pois em Netzach ela é tão positiva a dinâmica como em Binah é estática.

31. Tudo isso não é apenas desconcertante do ponto de vista intelectual, mas também muito confuso moralmente; e, mesmo sob risco de ser acusada de encorajar de todas as maneiras as anormalidades, devo tentar esclarecer o assunto, pois suas implicaçôes práticas são de grande alcance.

32. Afirmam os rabinos que toda Sephirah é negativa em relação à que lhe é superior a que a emanou, a positiva em relação à que lhe é inferior e por ela emanada. Aqui está a chave; somos negativos em nossas relações com o que apresenta um potencial superior ao nosso, a somos negativos em nossas relações com o que possui um potencial inferior. Essas relaçôes estão num perpétuo estado de futuação, o qual varia em cada ponto de nossos inúmeros contatos com o meio em que agimos.

33. Na maior parte dos casos, a relação entre um homem a uma mulher não é inteiramente satisfatória para nenhuma parte, a eles devem resignar-se a uma satisfação incompleta em suas relações sob a compulsão da pressão religiosa ou econômica, ou suprir de alguma forma a sua insatisfação, tendo como resultado a recorrência das condições anteriores, quando a novidade perdeu seu interesse. Deve-se observar que, sob tais circunstâncias, a cuhninação da satisfação sexual acha-se apenas na novidade, a esta é uma coisa que precisa ser constantemente renovada, com o conseqüente resultado desastroso para a economia sexual.

34.0 problema reside no fato de que, embora o macho forneça o estímulo físico que leva à reprodução, não é ele capaz de compreender que, nos planos intemos, em virtude da lei da polaridade inversa, é negativo, dependendo, para sua consecução, do est,.mulo concedido pela fémea. Ele depende deia para a fertilidade emocional, como se pode ver claramente no caso de uma mente altamente criativa, como Wagner ou Shelley.

35.0 matrimônio não é uma questâo de duas metades, mas de quatro quartos, que se unem numa harmonia equilibrada de fecundação recíproca. Binah a Hochma são equilibrados por Hod a Netzach. 0 homem tem deuses a deusas para adorar. Boaz a Jakin são Pilares do Templo, a apenas quando unidos produzem a estabilidade. Uma religiáo sem deuses está a meio caminho do ateísmo. Na palavra Elohim encontramos a chave verdadeira. Elohim é traduzido por “Deus” tanto na Versão Autorizada quanto
na Revisada das Sagradas Escrituras. Ela deveria ser traduzida, na verdade, por “Deus a Deusa”, pois é um substantivo feminino acrescido de uma terminação masculina de plural. Esse é um fato incontrovertível, em seu aspecto lingüístico pelo menos, e é de se presumir que os diversos autores dos livros da Bíblia conheciam seu significado, a que não utilizaram essa forma, única a peculiar, sem alguma boa razão. “E o espírito dos princípios masculino a feminino, conjunto, movia-se sobre a superfície do informe, e a manifestação teve lugar.” Se desejamos o equilrôrio, em lugar de nosso presente estado de tensôes desiguais, devemos adorar a Elohim, não a Jehovah.

36. A adoração de Jehovah, a não de Elohim, pode impedir-nos a “elevação aos planos”, isto é, a obtenção da consciência supranormal como parte de nosso equipamento normal, pois devemos estar preparados para mudar de polaridade enquanto mudamos de nível, pois o que é positivo no plano físico torna-se negativo no astral, a vice-versa. Além disso, como o trabalho oculto prático sempre invoca a utilização de mais de um plano, seja simultaneamente, como na invocação, ou sucessivamente, como quando correlacionamos os níveis de consciência segundo o trabalho psíquico, o fator negativo precisa sempre ter seu lugar em nossa obra, tanto subjetiva quanto objetivamente.

37. Isso nos abre novos aspectos do assunto. Quantas pessoas compreendem que suas próprias almas são literalmente bissexuais em si mesmas, e que os diferentes níveis de consciência agem como macho a fêmea em suas relações mútuas?

38. Freud declarou que a vida sexual determina o tipo de toda a vida. É provável, no entanto, que a vida como um todo determine o tipo da vida sexual; mas, para os propósitos práticos, sua maneira de esclarecer o fato é verdadeira, pois, embora não se possa endireitar uma vida sexual confusa operando-se sobre a vida como um todo – por exemplo, nem a riqueza nem a fama são uma compensação adequada para a repressão desse instinto fundamental -, pode-se endireitar todo o padrão vital, desemaranhando-se a vida sexual. Esse é um assunto de experiência prática a não precisa ser discutido a priori. É por essa razão, sem dúvida alguma (aprendida pela experiência prática das operações da consciência humana), que os antigos conferiam ao falicismo uma parte tão importante em seus ritos. Atualmente, ele é um ponto muito importante no aspecto cerimonial dos cultos modernos, mas o reconhecimento do significado dos símbolos empregados tradicionalmente foi reprimido pela consciência.

39. A psicologia freudiana fornece a chave para o falicismo a abre uma porta que conduz ao Adytum dos Mistérios. Não há como escapar a esse fato no ocultismo prático, por mais desagradável que possa parecer a muitos; a isso explica por que tantos empreendimentos mágicos são estéreis.

40. Esses assuntos constituem segredos recônditos dos Mistérios, dos quais os modernos perderam as chaves, mas a experiência da nova psicologia e a arte da psiquiatria provaram abundantemente a solidez da base com a qual os antigos fundamentaram sua adoração do princípio criativo a da fertWdade como parte importante de sua vida religiosa. É uma experiência já bem-estabelecida que a pessoa que dissociou seus sentimentos sexuais da consciência não pode agarrar-se à vida em qualquer nível. Esse fato é a base da moderna psicoterapia. No trabalho oculto, a pessoa inibida a reprimida tende para as formas desequilibradas de psiquismo a mediunidade, e é totalmente inútil para o trabalho mágico, onde o poder deve ser dirigido e manipulado pela vontade. Isso não significa que a total repressão ou a total expressão seja necessária para o trabalho mágico, mas sim que a pessoa que se apartou de seus instintos, que sâo suas raízes na Mãe Terra, a em cuja consciência há, por conseguinte, um vazio, não pode abrir o canal através do qual a força, oriunda dos planos, possa ser trazida à manifestação no plano físico.

41. Não tenho dúvidas de que serei mal-interpretada por minha franqueza nesses assuntos; mas, se alguém não se adiantar a enfrentar o ódio por falar a verdade, como poderiam os verdadeiros investigadores descobrir seu caminho para os Mistérios? Deveríamos manter na loja oculta a mesma atitude vitoriana que foi abandonada por completo fora de seu recinto? Al. guém precisa quebrar esses falsos deuses feitos à imagem de Mrs. Grundy. Estou inclinada a pensar, contudo, que as perdas que poderíamos sofrer nesse assunto serão bem pequenas, pois não seria possível treinar ou cooperar com a espécie de pessoa que se assusta quando lhe falam claramente. Não se pense também que estou convidando quem quer que seja a participar comigo de orgias fálicas, como bem poderá alguém pensar. Assinalo apenas que a pessoa que não pode compreender o significado do culto fálico do ponto de vista psicológico não tem bastante inteligência para participar dos Mistérios.

42. Tendo concedido um espaço considerável à elucidação do princípio de Binah em seu trabalho na polaridade com Hochma, uma vez que não se pode compreendê-la de outra maneira, sendo ela essencialmente um princípio de polaridade, podemos considerar agora o significado do simbolismo atribuído à terceira Sephirah. Esse simbolismo apresenta dois aspectos – o aspecto da Grande Mãe e o aspecto de Saturno, pois ambas as atribuições são conferidas a. Binah. Ela é a poderosa Mãe de Todos os Viventes, e é também o princípio da morte, porquanto a forma precisa morrer quando cumpriu sua missáo. Nos planos da forma, morte a nascimento são duas faces da mesma moeda.

43. 0 aspecto maternal de Binah expressa-se no título de Marah, o Mar, que se lhe atribui. É um fato curioso que se represente Vénus-Afrodite nascendo da espuma do mar a que a Virgem Maria receba dos católicos o nome de Stella Mans, Estrela do Mar. A palavra Marah, que é a raiz de Maria, significa também “amargura”, e a experiência espiritual atribuída a Binah é a Visáo do Sofrimento. Uma visão que evoca a imagem da Virgem chorando aos pés da cruz, com o coração atravessado por sete punhais. Lembremos também o ensinamento de Buda, segundo o qual a vida é sofrimento. A idéia da submissão à dor e à morte está implícita na idéia da descida da vida aos planos da forma.

44.0 Texto Yetzirático de Malkuth, já citado, fala do Trono de Binah. Um dos títulos conferidos à Terceira Sephirah é Khorsia, o Trono; a os anjos atribuídos a essa Sephirah chamam-se Aralim, palavra que significa também Tronos. Ora, um trono sugere essencialmente a idéia de uma base estável, um firme fundamento sobre o qual o exercitador do poder tem o seu assento a do qual não pode ser removido. É, na verdade, um bloco que suporta a ação do retrocesso de. uma força, da mesma maneira que o ombro do atirador suporta o recuo do rifle. Os grandes canhões, utilizados para disparos de longa distância, precisam ser fixados a estruturas de concreto que ofereçam resistência ao contragolpe da explosão da carga que impulsiona o projétil, pois é óbvio que a pressão na culatra do canhão deve ser igual à exercida na base do projétil quando se efetua o disparo. Essa é uma verdade que nossos credos religiosos idealizadores estão inclinados a ignorar, com o conseqüente enfraquecimento a debilitaçâo de seus ensinamentos. Binah, Marah, a matéria, é a estrutura que empresta à força vital dinámica uma base segura.

45. Da resistência à força espiritual, como já observamos, provém a idéia do mal implícito, que é tão injusta para com Binah. Isso se torna muito claro quando consideramos as idéias que surgem em associação com Saturno-Cronos. Saturno implica algo muito sinistro. Ele é o Grande Maléfico dos astrólogos, a todo aquele que encontra uma quadratura de Saturno em seu horóscopo considera-a como uma pesada aflição. Saturno é o resistente, mas, sendo um resistente, é também um estabilizador a um testador que não nos permite confiar nos’so peso àquilo que não o resistiria. É digno de nota que o Trigésimo Segundo Caminho – que conduz de Malkuth a Yesod e é o primeiro Caminho trilhado pela alma que se eleva – seja atribuído a Saturrio. Ele é o deus da forma mais antiga da matéria. 0 mito grego de C~os, que é simplesmente o nome grego para o mesmo princípio, considê’ia-o como um dos deuses mais velhos; ou seja, aqueles deuses que criaram os deuses. Ele é o pai de Júpiter-Zeus, o qual se salvou graças a um estratagema de sua máe, pois Saturno tinha o desagradável hábito de comer suas crianças. Encontramos nesse mito novamente a idéia do dador da vida e dá morte. Como já observamos, Saturno, com sua foice, converte-se facilmente na Morte. É muito interessante notar as reentráncias dessas cadeias de idéias associadas em relação a cada Sephirah, pois não podemos deixar de ver como as mesmas imagens afloram outra a outra vez em todas as cadeias de idéias que possuímos, mesmo quando partimos de idéias aparentemente muito divergentes como mãe, mar a tempo.

46. Cada planeta tem uma virtude a um vício; em outras palavras, cada planeta pode estar, nas palavras dos astrólogos, bem ou mal-aspectado, bem ou mal-exaltado. Não podemos passar pela vida sem notar que cada tipo de caráter tem os vícios de suas virtudes; isto é, suas virtudes, quando levadas ao extremo, tornam-se vícios. Ocorre o mesmo com as sete Sephiroth planetárias; elas têm seus bons a maus aspectos, de acordo com a proporção com que os apresentam; quando falta o equilrbrio, em razão da força desequilibrada de uma Sephirah particular, experimentamos as más influências dessa Sephirah; por exemplo, Saturno devorara seus filhosi A morte começa a destruir a vida antes que ela tenha cumprido suas funçôes. Nenhuma Sephirah, portanto, é totalmente má, nem mesmo Geburah, que é a destruição personificada. Todas são igualmente indispensáveis ao esquema das coisas como um todo, a suas boas a más influências relativas dependem do papel que desempenham, o qual não deve ser nem muito forte, nem muito débil, mas equilibrado. A pouca influência de uma dada Sephirah conduz ao desequilíbrio na Sephirah oposta. A influência em excesso torna-se uma influência positivamente má – uma dose excessiva de veneno.

47. A virtude de Binah é o Silêncio, a seu vício é a avareza. Vemos aqui, novamente, a influência de Saturno tomar-se presente. Keats fala do “Saturno de cabelos grisalhos, silencioso como uma pedra”, a nessas poucas palavras o poeta evoca uma imagem mágica da era a do silêncio primordial da influência satumiana. Saturno é de fato um dos velhos deuses a está relacionado ao aspecto mineral da Terra. Seu trono acha-se nas rochas mais antigas, onde não cresce planta alguma.

48. É costume dizer que o silêncio é uma das virtudes especialmente desejadas nas mulheres. Seja como for, a não há dúvida de que a língua é a sua arma mais perigosa, o silêncio indica receptividade. Se estamos calados, podemos ouvir, a assim aprender; mas, se estamos falando, as portas de entrada da mente estão fechadas. É a resistência e a receptividade de Binah que são seus poderes principais. E dessas virtudes provém o vício, que é constituído por seu excesso, a avareza, que nega em demasia a retém até o que é dispensável. Quando isso acontece, precisamos da generosa influência de Gedulah-Geburah, Júpiter-Marte, para destruir o velho deus, o devorador de seus filhos, a reinar em seu lugar.

49. Os símbolos mágicos de Binah são o Yoni e o Manto Exterior de Ocultamento. Esta é uma expressão gnóstica, a aquele, um termo indiano, que indica os genitals da mulher, a correspondência negativa do falo do homem. 0 termo Kteis, menos conhecido, é o termo europeu equivalente. Nos símbolos religiosos hindus, o yoni e o lingam surgem com muita freqüência, pois a idéia da força vital a da fertilidade são os motivos principais de sua fé.

50. A idéia da fertilidade é o motivo principal nos aspectos de Binah que se manifestam no mundo de Assiah, o nível material. A vida não apenas penetra a matéria para discipliná-la, mas também retira-se dela triunfahnente, aumentada a multiplicada. 0 aspecto da fertilidade, equilibrando o aspecto Tempo-Morte-Limitação, é essencial ao nosso conceito de Binah. 0 Tempo-Morte ceifa com sua foice o trigo de Ceres, a ambos são símbolos de Binah.

51. A idéia do Manto Exterior de Ocultamento sugere claramente a matéria, assim como o esplendor envolvente do Manto Interno de Glória do princípio vital. Ambas as idéias, reunidas, comunicam-nos o conceito do corpo animado pelo espírito; o Manto Interno ou Glória Espiritual oculto de todos os olhos pelo invólucro exterior da matéria densa. Mais a mais vezes, enquanto meditamos sobre esses mistérios, encontramos a iluminação dessa coleção aparentemente fortuita de símbolos atribuídos a cada Sepliirah. Já vimos em nosso estudo que nenhum símbolo está só, a que toda penetração da intuição a da imaginação serve para revelar as grandes linhas de relaçôes entre os símbolos.

52. Os quatro três do baralho do Tarô são as cartas atribuídas a Binah e, de fato, o número três está intimamente associado à idéia da manifestação na matéria. As duas forças opostas encontram expressão numa tercei. ra, o equilíbrio entre elas, que se manifesta num plano inferior ao de seus pais. O triângulo é um dos símbolos atribuídos a Saturno como deus da matéria mais densa, e o triãngulo de arte, como é chamado, é utilizado nas cerimônias mágicas quando o objetivo é evocar um espírito a fazê-to visível no plano da matéria; para outros modos de manifestação, utiliza-se o círculo.

53. 0 três de paus chama-se Senhor da Força Estabilizada. Temos novamente aqui a idéia do poder em equilíbrio, que é tâo característico de Binah. Lembremos que Paus representa a força dinâmica de Yod. Essa força, quando na esfera de Binah, cessa de ser dinâmica, consolidando-se.

54. Copas é, essencialmente, a forma feminina, pois a copa, ou o cálice, é um dos símbolos de Binah a está estreitamente relacionado com o yoni no simbolismo esotérico. 0 Três de Copas está, portanto, em casa em Binah, pois os dois grupos de simbolismo se completam mutuamente. 0 Três de Copas, que é corretamente chamado de Abundância, representa a fertilidade de Binah em seu aspecto de Ceres.

55.0 Três de Espadas, contudo, chama-se Sofrimento, a seu símbolo no baralho de Tarô é um coração transpassado por três punhais. Nossos leitores lembrarão a referência ao coração apunhalado da Virgem Maria no simbolismo católico, a Maria equivale a Marah, a amargura, o Mar. Ave, Maria, stella marls!

56. As Espadas são, naturalmente, cartas de Geburah e, como tal, representam o aspecto destrutivo de Binah como Kali, a consorte de Siva, a deusa hindu da destruição.

57. Ouros são as cartas da Terra e, como tal, correspondem a Binah, a forma. 0 Três de Ouros, por conseguinte, é o Senhor dos Trabalhos Materials, ou atividade no plano da forma.

58. Notemos que, assim como os planetas têm sua influência rèforçada quando estão nos signos do Zodíaco que são suas próprias casas, também as cartas do Tarô, quando o significado da Sephirah coincide com o espírito do naipe, representam o aspecto ativo da influência; e, quando a Sephirah e o naipe representam influências diferentes, a carta é maléfica. Por exemplo, a carta ígnea de espadas é uma carta de mau augúrio quando se acha na Esfera de influência de Binah.

59. Alonguei-me bastante ao comentar Binah, porque com ela se completa a Tríade Suprema e o primeiro dos pares de opostos. Ela representa não apenas a si mesma, mas também aos pares funcionais, pois é impossível compreender qualquer unidade na Árvore, a não ser em referência às outras unidades com que interage a se equilibra. Hochma sem Binah, a Binah sem Hochma, são incompreensíveis, pois o par é a unidade funcional, a não qualquer uma das Sephiroth em separado.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/binah