O Dharma e a Base da Vida Humana

(*) Publicado na edição de Nov/Dez de 1984 da revista “Vedanta Kesari”

(Cedo ou tarde o homem descobre que os prazeres que os sentidos trazem a ele são extremamente transientes e até contra-produtivos. É o Dharma que o coloca em contato com o mundo supra-sensório da Realidade e o eleva da existência do bruto para a vida Divina. Swami Paratparananda, dirigente do Ramakrishna Ashrama, Argentina (**) e um ex-editor da “Vedanta Kesari”, explica como Sri Ramakrishna enfatiza que o principal ingrediente do Dharma ou disciplina religiosa é a renúncia – externa, se possível, mas interna, categoricamente).

(**) de 1973 a 1988.

Vários são os significados deste termo sânscrito, Dharma. Por exemplo, retidão, a natureza inata de algo, deveres devido ao nascimento e posição na vida, são alguns deles. Nós lidaremos aqui com o mencionado em primeiro lugar, isto é, retidão, retitude ou religião como é algumas vezes definido. É claro que na Índia a religião inclui deveres de acordo com varna e âsrama (nascimento e posição na vida) apesar de que estes são conceitos não tão rigidamente praticados hoje em dia. Religião ou Dharma é algo mais do que a mera conformidade com obrigações sociais, restrições ou regras; mais do que meros dogmas e credos. Regras sociais e códigos morais podem e realmente mudam de acordo com a época e lugar. Por exemplo, o que é considerado como imoral em alguns países pode ser aceito como totalmente normal ou natural em outros, etc. Mas mera moralidade não é a meta e finalidade do homem. É apenas o meio para atingir algo superior, algo eterno e este algo é o sujeito da religião ou Dharma. Pode-se chamar este sujeito como Deus ou Espírito ou por qualquer outro nome.

A questão que surge na mente do homem moderno é: que papel pode a religião desempenhar na atual era de ciência e tecnologia? Poderá ela sobreviver aos ataques destas forças? Devemos lembrar que a ciência e a tecnologia lidam com a matéria, coisas perecíveis e não eternas. A matéria, por mais que possa durar, um dia se destrói; ela não pode durar para sempre, não pode ser permanente. Tendo sido composta de elementos, deve retornar mais cedo ou mais tarde aos seus elementos; e aquilo que não é permanente não pode dar felicidade duradoura. O homem nunca consegue felicidade duradoura. O homem nunca se satisfaz com a riqueza. Quanto mais ele tem, mais ele deseja. Assim também é o caso com os prazeres dos sentidos. O corpo pode ficar fraco, mas o desejo por eles não deixa o homem. Habilmente Bhartrihari disse no seu Vairagya Sataka: bhogâ na bhuktâ vayam eva bhuktâh, “Os prazeres mundanos não foram desfrutados por nós; pelo contrario nós mesmos temos sido devorados”. E ele continua: trsnâ na jirnâ vayam eva jirnâh, “O desejo não é enfraquecido, apesar de que nós mesmos nos debilitamos”. E mais: valibhir mukham âkrântam pâlitena ankitam sirah, gâtrâni sithilâyante trsnaikâ tarunâyate, “A face está coberta por rugas, a cabeça pintada de branco (por causa dos cabelos grisalhos), os membros se tornaram fracos, apesar de que apenas o desejo é sempre rejuvenescido”. Esta é a condição do homem entregue à satisfação dos sentidos. A ciência e a tecnologia ainda não descobriram métodos de parar ou prevenir este declínio ou deterioração das forças físicas e mentais do homem nem trazer a ele a satisfação que pode durar mesmo sob circunstâncias adversas como enfermidade e senilidade, etc.

Contudo, nós não dizemos que não existam pessoas que ignorem as realidades da vida e tentem desfrutar dos prazeres. Como o avestruz, que quando caçado, se diz, corre tanto quanto pode e enfia sua cabeça na areia e acredita que não há mais perigo ou inimigos. Para estas pessoas este mundo é tudo quanto existe.

No Kathopanishad, Yama diz: “O além nunca aparece diante das pessoas tolas, enganadas pela ilusão da riqueza. Aqueles que pensam: ‘Este é o único mundo e não há nenhum outro’, caem sob meu domínio inúmeras vezes”. Swami Vivekananda diz: “Somente os tolos correm atrás dos gozos dos sentidos. É fácil viver nos sentidos. É mais fácil andar pelo velho caminho com o piso batido, comendo e bebendo, mas o que estes modernos filósofos querem dizer a você é que peguem estas idéias confortáveis e coloquem o selo da religião nelas. Tal doutrina é perigosa. A morte jaz nos sentidos. A vida no plano do Espírito é a única vida, a vida em qualquer outro plano é apenas a morte”. Aqui nós encontramos a resposta também para aqueles que querem fazer da religião algo confortável, adaptada ao plano sensório.

O homem busca a felicidade e acha que pode obtê-la nos objetos dos sentidos; mas, tristemente, ele descobre que a felicidade que estes objetos podem dar é de muito pouca duração e que ele tem que ganhá-la a um custo muito elevado. Ele começa com tremendo otimismo, mas quando fica velho, gradualmente torna-se um pessimista. Swami Vivekananda declara: “A felicidade real não está nos sentidos, mas acima dos sentidos e está em todos os homens. O tipo de otimismo que vemos no mundo é o que levará até a ruína através dos sentidos.”

Novamente, por mais que o homem tenda a ignorar o fato de que o sofrimento, físico e mental é inevitável no plano sensório e mergulhe completamente nele, um dia chegará quando ele perguntará a si mesmo: “É isto tudo? Será a meta da vida viver como plantas e animais por alguns anos e morrer?” Isto é um imperativo, pois enquanto o homem retiver a faculdade do raciocínio, ele não pode deixar de colocar estas questões para si mesmo quando deparar com terríveis e insuperáveis circunstâncias. E este raciocínio deveria levá-lo a auto-análise e gradualmente à Religião, pois tendo sofrido no plano dos sentidos ele não tem outra alternativa além de tentar conseguir consolo de algo superior e não perecível.

Agora vamos ver o que a Religião realmente significa e o que ela pode fazer por nós. Religião é um sistema de disciplinas que traz uma penetração intuitiva na natureza real do mundo espiritual, pelo controle dos sentidos e a conquista da mente. Com esta penetração intuitiva, nós chegamos a conhecer o propósito real da vida humana, como também sobre a vacuidade do mundo sensual. Swami Vivekananda afirma: “Este nosso universo, o universo dos sentidos, racional, intelectual, está cercado de ambos os lados pelo ilimitado, o não-conhecível, o sempre desconhecido. Nisto está a busca, nisto estão as investigações, aqui estão os fatos; disto vem a luz que é conhecida para o mundo como religião. A Religião pertence ao Supra-sensório e não ao plano sensório. Está além de todo raciocínio e não está no plano do intelecto. É uma visão, uma inspiração, um mergulho no desconhecido e não-conhecível, fazendo o não-conhecível mais do que conhecido, pois ele jamais poderá ser conhecido.” Isto parece ser um paradoxo, à uma primeira leitura, mas se nós pararmos e refletirmos, poderemos ser capazes de compreender a verdade por detrás desta afirmação. A mente humana em sua forma impura pode conhecer apenas coisas apresentadas a ela pelos cinco sentidos e nada mais. É por isso que o Espírito é chamado de não-conhecível; mas quando esta mesma mente se livra de sua impureza, seu apego e desejos, ela é capaz de perceber o não-conhecível, fazendo-o mais do que conhecido. Pergunta Yajnavalkya: “Com o quê você conhecerá o Conhecedor”- vijnataram are kena vijaniyat. Este desconhecido pode ser percebido somente através de uma mente pura, afirma o Kathopanishad: manasaivedam aptavyam, “Somente pela mente isto será realizado.”

O melhor testemunho com relação à vida interior é daqueles que mergulharam profundamente nela e eles são os homens capazes de falar sobre o assunto. Vamos ver o que Swami Vivekananda diz sobre a necessidade desta buscado que está além: “A vida será um deserto, a vida humana será em vão, se nós não pudermos conhecer o que está além. É muito bom dizer: Contente-se com as coisas do presente. As vacas e os cães estão e estão também todos os animais e isto é o que os faz animais. Portanto se o homem contenta-se com o presente e abandona toda busca do que está além, a humanidade terá que voltar ao plano animal de novo.

É a religião, a investigação do que está além que faz a diferença entre um homem e um animal”. Respondendo à uma pergunta sobre o que a religião pode fazer por nós, ele afirma: “A salvação não consiste na quantidade de dinheiro que em seu bolso ou na roupa que você veste ou na casa em que você vive, mas na riqueza do pensamento espiritual em seu cérebro. Isto é o que promove o progresso humano, esta é a fonte de todo progresso material e intelectual, o poder motivador atrás do entusiasmo que empurra a humanidade para a frente.”

Além disto, a Religião pode nos dar a vida eterna, trazer-nos a Luz que jamais falha e a paz e tranqüilidade constantes. Contudo a religião não deveria ser julgada do ponto de vista das posses ou coisas materiais. Swami Vivekananda comenta: “Várias vezes você escuta esta objeção levantada: ‘Pode ela retirar a pobreza dos pobres?’ Suponha que ela não possa, isto provaria a inverdade da religião? Suponha que uma criança se levante entre vocês quando você está tentando demonstrar um teorema astronômico e diz, ‘Isto vai me dar biscoitos de gengibre?’ ‘Não, isto não vai dar’, você responde. ‘Então’, diz a criança, ‘não serve para nada’. Crianças julgam o universo inteiro de seu ponto de vista, de produzir biscoitos de gengibre; e assim também fazem as crianças do mundo. Nós não devemos julgar as coisas superiores de um baixo ponto de vista… A Religião interpenetra toda a vida do homem, não apenas o presente, mas o passado, presente e futuro… É lógico medir seu valor por sua ação sobre cinco minutos da vida humana?” Ele continua: “A Religião fez do homem o que ele é e fará deste humano animal um Deus. Isto é o que a religião pode fazer. Tire a religião da sociedade humana e o que restará? Nada além de uma floresta de brutos.”

Do que foi dito nós vemos como a religião está inerentemente absorvida na estrutura da existência humana, mais ainda, a própria existência do homem depende dela. E é por isso que o Senhor se encarna sempre que houver o declínio de Dharma e o crescimento de Adharma, como Ele mesmo diz no Bhagavad Gita. Agora nós veremos quais são as disciplinas que a religião recomenda para atingir o supremo estado da Eterna Bem-aventurança que ela promete. A primeira e mais importante destas disciplinas é a renúncia, sem ela o homem não pode avançar em direção à meta. Pode-se perguntar: são todas as pessoas capazes de renunciar ao mundo? Certamente que não. Então a salvação que a religião promete é para uns poucos? Se for assim, por que deveria a maioria da humanidade ter interesse nela? Sri Ramakrishna responde: “Não é possível adquirir a renúncia de forma repentina. O fator tempo deve ser levado em consideração. Mas também é verdade que um homem deveria escutar sobre ela. Quando a hora certa chegar, ele dirá a si mesmo: ‘Ó, sim, eu escutei sobre isto.’ Você deve também se lembrar de outra coisa. Constantemente ouvindo sobre a renúncia, o desejo pelos objetos do mundo gradualmente se desvanece”. Sri Ramakrishna aconselha aos chefes de família a cultivarem a renúncia interna e amor por Deus, a serem desapegados as coisas do mundo e a buscarem a companhia de pessoas santas. Mas ele categoricamente diz que sem a renúncia, pelo menos a interna, não se pode atingir a Meta.

#Budismo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-dharma-e-a-base-da-vida-humana

Anatomia Oculta e os Chakras

Texto de Prophecy, traduzido por Bardonista

No vocabulário esotérico, a “anatomia oculta” se refere à constituição psíquica e à constituição astral, como elas interagem, e como cada uma delas interage com o corpo material. É importante para a espiritualidade do estudante, se ele quiser ser bem-sucedido, entender o que acontece dentro dele. Em particular, ele deveria saber como essas coisas influenciam a evolução espiritual, ou qual papel elas têm. Ao mago essas coisas são de singular importância, porque a tradição mágica tem práticas que fortalecem as partes básicas dos veículos espirituais. O que é dado aqui é a primeira de três lições sobre a anatomia oculta que são dadas a tempos diferentes, na medida em que se avança a níveis posteriores do sistema de treinamento. Esta é a mais simples delas.

Os Três Corpos

A alma é inserida envolvida por três “capas” ou corpos. Eles são os corpos mental, astral e físico. Destes, o corpo mental é o mais sutil e o mais refinado. É o corpo mais evoluído da alma, e o que possui menos restrições. É, porém, ainda ahamkara [ego – N.T.]; é ainda maya [ilusão – N.T.], porque até o corpo mental ainda precisa de uma ideia de separação de Deus, tal ideia que na realidade é incorreta.

O corpo mental é composto de chitta, substância mental. A substância do corpo mental fica em constante atividade, constantemente sendo movimentada e formando redemoinhos por causa dos vrittis [perturbações – N.T.] da mente. É no corpo mental que a nossa mente e nosso senso de consciência são enraizados, embora esse senso de consciência ainda seja influenciado pelos corpos astral e físico. Contudo, não cometa o erro comum de que a mente é o corpo mental. A palavra “mental” como terminologia esotérica não se refere necessariamente à mente, mas em vez disso se refere à natureza da substância sendo discutida. A mente é, na verdade, inserida no aspecto do Akasha que se move sem esforço através de todos os corpos, e de fato é todos os corpos. Os ornamentos da mente e a ilusão do corpo mental mantêm a consciência contida num “local” em particular do Akasha, ancorado ao seu veículo atual. Em Samadhi, a mente é destruída, e portanto a consciência é permitida a se tornar o Akasha. Então, na medida em que a Samadhi se aprofunda, a mente vai até além do Akasha, porque o Akasha ainda é uma sustância e portanto não é totalmente consciência.

O corpo mental se prende aos corpos físico e astral via do que é chamada a matriz mental. A matriz mental é um “denominador comum” onde as emoções interagem com os pensamentos. Isso permite que os pensamentos emirjam de emoções, e que a mente seja capaz de identificar a fonte da emoção. Se não fosse pelas funções da matriz mental, experimentaríamos a emoção sem nenhum tipo de supressão de raciocínio lógico. Assim, nunca saberíamos a origem da emoção, porque não haveria pensamentos arraigados a ela. Nós poderíamos ficar zangados, por exemplo, mas seríamos incapazes de associar essa emoção a qualquer tipo de ação que possa ter feito com que ficássemos zangados. Por causa disso, a emoção seria instintiva. Dessa forma, a matriz mental é muito importante em proteger a parte bruta do homem e a parte humana do homem. Ela protege nosso raciocínio superior, e garante que, pelo menos na maioria dos casos, nosso raciocínio seja capaz de acalmar a besta que são nossas emoções.

Na medida em que se treina a mente e se ganha controle sobre as emoções, a matriz mental se fortalece. Do mesmo modo, fazer exercícios que fortalecem a matriz mental faz com que se tenha controle maior sobre as emoções. Portanto, é um relacionamento duplo. Japa é um bom exercício para o fortalecimento da matriz mental. A respiração consciente também é muito boa para isso.

O corpo astral tem uma qualidade chamada elasticidade. A elasticidade é a habilidade de se agüentar diferentes energias que “alongarão” o corpo astral em várias direções. Você pode imaginar essa elasticidade como um balão. Se o balão for muito elástico, então pode ser preenchido por muito ar antes de sua pressão aumentar. Se não for elástico, então você ou não será capaz de enchê-lo com muito ar, ou ao tentar fazê-lo ele estourará. Agora, o corpo astral nunca “estourará”, mas ele se desgastará, justo como o corpo físico. Quando isso acontece, a grande parte do trabalho baseado em energia é fútil por algumas horas depois. O processo inteiro é similar ao corpo físico. Se você malhar demais, você chegará a um ponto no qual é muito difícil levantar até pequenos pesos, e será quase impossível levantar o peso aos quais você está acostumado. Uma vez que você tenha alcançado esse desgaste, o corpo precisará de algum tempo para se restaurar e se reparar, e aumentar a porção de estresse que os músculos podem agüentar. Se você se exercitar demais muito frequentemente, você estará estirando os músculos e não permitirá que eles cresçam ou se fortaleçam, e pode fazê-los até se tornarem mais fracos, em vez de mais fortes. É parecido com o corpo astral. Os exercícios, as “malhações” astrais são as acumulações de energia, como o trabalho com a força vital, ou com as forças dos quatro elementos. O “peso” são quantas acumulações você faz. Se o seu corpo astral pode apenas agüentar quatro ou cinco acumulações (o que é comum para a maioria das pessoas quando elas começam esse treinamento), então até se você fizer vinte acumulações, seu corpo astral terá feito na verdade apenas cinco, e portanto você alcançou os benefícios de apenas cinco acumulações. Muitas vezes, o corpo astral do iniciante é “rígido” demais para agüentar até mesmo somente uma acumulação de energia, e portanto o estudante gradualmente o suaviza na primeira semana ou na segunda de prática, até que comece a poder conter energia.

A pureza do corpo mental é determinada pelo estado mental, e sua força é determinada pela disciplina da mente. A pureza do corpo astral é determinada pelo equilíbrio dos elementos, significando o estado de equilíbrio entre os quatro elementos no corpo astral, e quão puros cada atividade desses elementos são. Por causa da natureza da matriz mental, um corpo astral equilibrado permitirá uma mente em paz, e uma mente em paz fará com que a realização de um corpo astral balanceado seja muito mais fácil.

A matriz astral conecta o corpo astral ao corpo físico, e se liga ao corpo físico em dois lugares: o coração e o fígado. Se a ligação, em qualquer dos dois locais, for destruída, não filtrará energia suficiente no corpo humano para mantê-lo vivo. Essa matriz é chamada de “corpo vital” em alguns círculos. É o local mais denso dos chakras como orbes individuais de energia dentro do ser, bem como é a localização inicial da Kundalini. Ela segura essas forças em sua potência mais condensada, antes de ser ancorada em diferentes pontos do corpo. A conexão imediata da matriz astral ao corpo astral, que é emocional em sua natureza, é a explicação para a grande onda de emoções que surge com o primeiro despertar da Kundalini. Então, na medida em que o despertar se torna mais controlado, seus impactos sobre a mente são mais grandemente enfatizados. É também no corpo vital que todas as nossas nadis se localizam, embora elas possuam paralelos físicos nos nervos do corpo físico. Assim, Nadi Shodhan pode ser vista como um tipo de limpeza dos canais energéticos do corpo vital, permitindo que a energia seja mais perfeitamente transmitida entre o corpo astral e o corpo vital. Quando não existem tais impedimentos, o corpo físico só adoecerá quando existir um desequilíbrio astral. Se o equilíbrio mágico foi alcançado no corpo astral, então este só se tornará doente quando existir uma implicação kármica do corpo mental. Se o corpo mental se tornou limpo de todos os karmas durante o ato de profunda Samadhi, então a doença é impossível, a não ser se for conscientemente tomada pelo mago para ajudar alguém.

É por isso que alguns mestres ficam muito doentes quando eles morrem. Eles já escolheram o exato segundo de sua morte há muito tempo, mas quando o momento de deixar os seus corpos se aproxima, eles se desfazem de uma grande quantidade de karma presente nesses corpos, de modo que, quando entrarem na Samadhi final daquele corpo, todo o karma seja destruído. Eles fazem isso por seus estudantes. Alguns mestres, que estão contentes com seu nível atual de evolução naquela encarnação, se carregam com muito do karma de seus estudantes, e, portanto, eles aparecem estar doentes muito frequentemente. Eles fazem isso porque eles praticamente não ligam para seus corpos físicos. Outros mestres podem ainda desejar evoluir até a um nível superior em uma encarnação, e portanto só podem se carregar até um certo grau com os karmas de seus estudantes. Nesse caso, eles só tomarão o karma de outra pessoa quando é de grande importância ou quando ele causa uma conseqüência terrível.

O corpo físico deveria também ser considerado, porque seus detalhes são de grande importância também. Muitos estudantes dos caminhos espirituais cometem um grande erro ao ignorar a informação relevante sobre este corpo, desmerecendo-o como ilusão, e focando apenas em sua consciência. Eles não compreendem que o quão distante a sua consciência é permitida a decolar pode depender diretamente de coisas físicas, ou que, se eles soubessem a, energeticamente, ajudar seus corpos físicos, então o voo da consciência seria grandemente acelerado e mais totalmente expressado. Para um mago, tal conhecimento é imperativo. Agora, isso que falarei é algo um pouco avançado, mas como eu não os verei por alguns anos, eu quero me assegurar de que vocês saibam essas coisas.

Cada um dos cinco chakras inferiores tem seu paralelo físico em um dos cinco plexos nervosos do corpo físico. Quando um chakra fica carregado e vibrante, existe uma grande quantidade de atividade neuroelétrica positiva resultante no plexo correspondente. Isso ajuda na saúde física do corpo inteiro. A prática de várias asanas físicas, chamadas gratashta yoga, utiliza certas posturas de modo a alongar os tendões que sustentam esses centros nervosos, a massagear os músculos que os cercam, e a redirecionar o fluxo sanguíneo aos centros nervosos para oxigená-los e, portanto, permite que a energia nervosa viaje melhor através deles. Para esse fim, a adoção da prática das yogasanas físicas pode ser muito benéfica e produtiva à meditação. Estudantes que começam sua sadhana com quinze minutos ou mais de yogasanas verão resultados agradáveis em suas meditações seguintes. Por haver energia astral carregada nos músculos, oxigênio e sangue, o efeito das yogasanas sobre os chakras astrais é positivo, e ajuda a abri-los aos fluxos de energia astral criados durante pranayama.

Os cinco plexos nervosos e seus cinco chakras correspondentes seguem:

Plexo Coccígeo – Muladhara

Plexo Sacro – Swadisthana

Plexo Lombar – Manipura

Plexo Solar – Anahata

Plexo Cervical – Visudha

O Agya Chakra não é ancorado ao corpo físico por um dos plexos nervosos, por ser localizado no cérebro. Em vez disso, o agya chakra tem seu centro na glândula pineal no centro do cérebro. Se você colocar um dedo de cada mão no ponto onde o topo da orelha se conecta ao resto da face, então entre esses dois dedos no centro do cérebro é aproximadamente onde o chakra agya deveria ser visualizado. O agya chakra possui dois pólos, dois lados diferentes que criam uma tensão eletromagnética no cérebro. A parte frontal do agya chakra, o pólo positivo, fica no lobo temporal no raiz do nariz entre as sobrancelhas. O pólo negativo fica atrás da cabeça, no bulbo raquidiano, logo abaixo do cerebelo. O cerebelo, assim, pode ser visto como o assento do ser inferior e das emoções animais, e a glândula pineal é o portal entre a sua consciência e o ser superior. O bulbo raquidiano é um importante centro de energia para trabalhos energéticos mais avançados, mas é suficiente dizer que ele serve como um ponto significante no corpo, onde a energia pode ser movida. Você não deveria tentar tal trabalho energético como iniciante, contudo. No vocabulário esotérico tradicional, é o Brahma Guha, a “Caverna de Brahma”. É chamada de “caverna” porque é escondida logo abaixo do cerebelo numa depressão do crânio que pode ser sentida atrás da cabeça onde o crânio se conecta novamente à medula espinhal.

Quando uma pessoa entra em Samadhi, a Kundalini ascende através da caverna de Brahma e arqueia adiante à glândula pineal, radiando ao pólo positivo no lobo temporal. Isso carrega energia através do terceiro ventrículo do cérebro, o qual se ilumina quando isso ocorre. O terceiro ventrículo é da forma do hamsa, do cisne, com sua cabeça apontando para trás à medua e suas asas estendidas à esquerda e à direita sobre o cérebro. É por isso que o cisne é associado ao moksha, liberação, na Índia. A impressão de luz que ocorre quando a energia elétrica passa através do terceiro ventrículo é refletida no fundo dos olhos como um cisne. Nos níveis posteriores e mais elevados de Samadhi, a Kundalini ascende até as suturas occipital e parietal do crânio no topo da cabeça, o brahmarandra. Quando isso acontece, toda a respiração no corpo cessa, o corpo se torna pálido e frio, e fica essencialmente morto. O topo da cabeça se torna muito quente ao toque. É através dessas duas suturas que a alma entra no cérebro e descende para a espinha. Quando uma pessoa comum morre, ela se “derrama” através de seus poros e, em particular, através de seu plexo solar. Quando uma pessoa iluminada morre, seus espíritos levantam voo através dessas suturas no Sahaswara Chakra no topo da cabeça, onde eles se expandem em consciência, ou vão para onde quiserem.

Os Sete Chakras

Os chakras são tradicionalmente representados como várias formas simbólicas dentro de esferas localizadas ao longo da medula espinhal. Eles existem no Sushumna, a sutil nadi correndo através da parte posterior da medulha espinha, dentro da coluna vertebral da espinha. No corpo, eles correspondem a vários plexos, como enfatizado acima, mas os chakras verdadeiros são astrais e mentais em sua natureza. Quando eles são trabalhados, você trabalha nos corpos astral e mental ao mesmo tempo. Isso é algo que eu ainda não li num livro, mas todo mundo deveria saber disso. Até o prana e a Kundalini existem no corpo mental, além de estarem presentes no corpo astral. À medida que a mente entra em níveis mais profundos de consciência, todo o fluxo de prana no corpo para e passa a acontecer no nível astral, e então o prana no corpo astral para e o movimento ocorre apenas no corpo mental. Quando tudo para, você experimenta um elevado nível de Samadhi.

Outras imagens dentro das representações dos chakras representam os deuses ou deusas que inspecionam as funções desses chakras, as associações elementais e quais raios de atividade cósmica estão ativos através deles. Estes não são importantes num senso prático, mas qualquer um que desejar pode investigá-los mais profundamente.

Sistemas diferentes têm números diferentes de chakras. Existem 144 chakras no total no corpo, mas existem sete chakras primários. A tradição Nath, da qual eu venho, presta atenção aos nove chakras em vez dos sete tradicionais. Os dois extras são localizados sob o Anahata Chakra e no topo da boca. Eles são importantes para práticas Nath em particular, mas não diretamente envolvidos na passagem da Kundalini.

Muladhara

Inicialmente, esta é a casa da Kundalini Shakti, a energia psicossexual que controla qual nível de consciência somos capazes de manter. Ela enraíza a mente ao nível inferior, o nível mais animal, que se preocupa grandemente com coisas como território. No estágio de evolução que o Muladhara representa, o homem estava preocupado apenas consigo mesmo e seu corpo físico, e com a sobrevivência resultante. Quando a mente de alguém está lá, não significa que ele é um bárbaro, mas ele naturalmente terá algumas qualidades daquele tipo de pensamento. No começo, a não ser que fosse uma encarnação em especial, a Kundalini de todos está presa nesse chakra. Quando a Kundalini desperta, algumas pessoas experimentam Darduri Siddhi, que é a levitação do chão. Ela normalmente ocorre na forma de um “saltitar” espontâneo enquanto sentado, mas pode também resultar em literal levitação para cima do chão. Dois de meus estudantes experimentaram Darduri Siddhi total, e nós capturamos os últimos segundos de um desses momentos em câmera. Infelizmente, o camera man improvisado, que era um estudante, amigo nosso, muito excitado, não era um camera man muito bom.

Swadistana

No processo de evolução, este chakra representa o desejo do homem de procriar e criar um tipo de imortalidade de sua estrutura física ao perpetuá-la entre suas crianças. Isso ocorre quando o indivíduo parou de se preocupar inteiramente sobre seu ser pessoal, e agora deseja permitir o seu ser a durar mais através das vidas de suas crianças. É também o início do desejo por um parceiro, por um relacionamento. Uma pessoa cuja Kundalini se elevou a esse nível tem controle sobre essa parte de sua evolução animal.

Manipura

Agora, a associação elemental desse chakra é o fogo, e sua localização em uma região “aquosa” [N.T.: região do elemento água] confunde alguns estudantes que não tiveram experiência direta dessas energias. Essa é uma associação simbólica, mais do que uma associaçãoenergética. Quando o prana flui para baixo e o apana é puxado para cima, o que acontece durante Pranayama (Sukha Purvaka e Bhastrika fazem isso), as duas energias se encontram no estômago. Isso cria tapas, calor, na boca do estômago. Ela pode ser sentida fisicamente se a prática for consistente, mas ela não é sentida por todos os tipos de estudantes. Esse calor é produto da “fricção” criada pelas duas energias se esfregando uma contra a outra nessa área. O encontro ocorre num chakra menor localizado internamente, mais ou menos 7,5 cm do umbigo. É por causa disso, e não por causa da energia elemental prevalecente nessa parte do corpo, que esse chakra tem a associação do fogo.

Quando alguém elevou sua Kundalini a esse nível, ele a uniu ao que é chamado a Madhya Shakti. Essa é uma vibração mais purificada da Shakti, a energia psicossexual, da Kundalini. Ela ajuda a sustentar a consciência a esse nível, e alivia da contenção do aspecto inferior da Shakti enraizado no Muladhara. Quando isso acontece, o desejo por comida é conquistado em grande parte. A conexão à Madhya Shakti ajuda a mente a vencer muito de seus desejos inferiores, e assim a mente se torna um terreno fértil para que a evolução espiritual genuína ocorra. Na história evolucionária da humanidade, o Manipura Chakra representa o desejo do homem de se associar com o cultivo, cultivando a terra e produzindo comida, e de se sustentar. É o instinto de se criar um “ninho”, ou seja, o cuidado e o sustento que resultam do desejo de procriar.

Anahata

A associação em particular de se elevar a Kundalini a esse nível é a realização do amor cósmico. Uma vez que o centro do coração é ativado, torna-se possível para o mago amar todos como a sua própria família, até como parentes de sangue. Ele se torna humilde, e compreende que todos são a sua mãe, pai, e filhos, tudo ao mesmo tempo. Ele não mais confunde amor passional com amor espiritual genuíno, e pela primeira vez até agora, ele aprende o que a devoção é. Quando o coração foi abrandado pela elevação da Kundalini e a prática da Japa em Deus, a mente experimenta Bhava genuíno, absorção devocional em Deus. Ele percebe que, até aquele momento, ele apenas pensava que amava Deus, mas não o amava realmente. Esse é o centro do Ishwar Pranidhan, a submissão a Deus.

Vissudha

Uma vez que a Kundalini tenha se elevado a esse ponto, ganha-se discernimento sobre o Karma. Ele compreende o passado, o presente e o futuro, e consegue identificar as razões secretas para tudo que ele vê e experimenta. Essa habilidade também dá uma compreensão fenomenal de todas as escrituras espirituais, porque agora se consegue ver além das palavras e entrar em seus significados verdadeiros. Por causa disso, esse centro é também associado com o poder da telepatia e da leitura mental. É o aperfeiçoamento da habilidade de comunicação. Existem dezesseis nadis maiores se ramificando daqui, que conectam esse chakra a muitos lugares do corpo inteiro. Em particular, elas o conectam à língua, as pregas vocais na garganta, a glote e o nervo vago.

Agya

Por uma razão qualquer, esse chakra é normalmente escrito como “Ajna”. Porém, isso não faz sentido, se baseado na fonética do inglês. Ele soa como “Agya”, com um som de “G” sólido como em “gato” ou “grande”. Esse chakra tem duas pétalas, as Nadis Ida e Pingala. Isso foi discutido extensivamente numa parte anterior desta aula, e portanto não há necessidade de considerá-lo mais profundamente. É quando a Kundalini se eleva a esse ponto que Savikalpa Samadhi ocorre.

Sahaswara

Os Granthis

Ao longo da Sushumna Nadi na espinha, existem três Granthis, ou “nós”. Esses são formados por certas nadis se unindo ao redor das nadis Sushumna, Ida e Pingala. O primeiro Granthi se encontra mais ou menos 5 centímetros acima do Muladhara Chakra, logo abaixo do Swadhistana. É chamado o Brahmagranthi, e impede que a Kundalini se eleve prematura ou automaticamente de certas experiências. É representado por uma cobra, cuja cabeça é alongada sobre o topo de um Shivalinga. É necessária muita energia sexual para penetrar nesse granthi, e é por isso que é melhor que as pessoas cuja Kundalini ainda reside no Muladhara deveriam abster-se grandemente de atividade sexual.

Daqui, o fluxo é grandemente desimpedido através do Swadisthana e Manipura Chakras. Logo abaixo do Anahata Chakra, porém, está o segundo granthi: o Visnugranthi. Isso impede que uma pessoa compreenda o amor cósmico, e portanto segura sua Kundalini, até que a mente esteja fértil para tal compreensão. Do contrário, uma pessoa poderia só forçar sua Kundalini para o chakra do coração com vários métodos rígidos, e sua mente se despedaçaria porque não estaria pronta para o influxo do amor divino. Quando o granthi é quebrado, o amor é verdadeiramente experimentado e o prana flui dentro do Anahata Chakra.

O terceiro e final granthi é o Rudragranthi, localizado no Agya Chakra. Ele impede a experiência de Samadhi até que a mente esteja pronta, e para a Kundalini de se elevar mais do que o bulbo raquidiano na base do crânio. Não é quebrado até o momento de Samadhi.

PS: Abaixo segue a diferenciação entre Chakras (centros de energia etérico) e Centros Psíquicos (centros de energia/força localizados no corpo astral). Para os curiosos de plantão, é interessante pesquisar qual a funcionalidade e diferença entre a glândula (corpo físico), o chakra (corpo etérico) e o centro psíquico (corpo astral) correspondente.

#Chakras #hermetismo #oalvorecer

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/anatomia-oculta-e-os-chakras

Kether

Trecho extraído de “A Cabala Mística”, de Dion Fortune

1. Kether, a Coroa, localiza-se na cabeça do Pilar Medial do Equilíbrio, e nele estão suspensos os Véus Negativos da Existência. Já comentei a utilização desses Véus Negativos como estrutura para o pensamento, de modo que não repetirei esse ponto, mas lembro ao leitor qúe Kether, a Primeira Manifestação, representa a cristalização primordial na manifestação do que era até então imanifesto e, por conseguinte, incognoscível. Nada podemos saber a respeito da raiz da qual brota Kether; mas, quanto à própria Kether, podemos adiantar alguma coisa. Ela pode representar para nós, em nosso estágio de desenvolvimento, o Grande Desconhecido, mas não é o Grande Incognoscível. A mente do mago pode abarcá-la em suas visões mais elevadas. Em minhas próprias experiências com a operação conhecida como Elevação nos Planos, que consiste em elevar a consciência pelo Pilar Médio, por meio da concentração nos sucessivos símbolos a nos Caminhos, Kether, numa ocasião em que lhe toquei as fímbrias, surgiu como uma cegante luz branca, anulando por completo o pensamento.

2. Não existe forma em Kether, apenas puro ser, qualquer que seja ele. Poderíamos dizer que se trata de uma latência que se encontra a apenas um grau da não-existência. Tais conceitos são necessariamente vagos a não estou capacitada para dar-lhes a precisão que devem ter, mas ficarei satisfeita se pudermos reconhecer os graus do devir, compreendendo que a rude diferenciação entre Ser a Não-Ser não representa os fatos. Quando a existência se toma manifesta, os pares de opostos penetram o ser; mas em Kether não existe divisáo nos pares de opostos, pois estes, para se manifestarem, precisam esperar a emanação de Chokmah a Binah.

3. Kether, portanto, é o Um, que existia antes mesmo de dispor de um reflexo de si mesmo, para apresentar-se como imagem na consciência e aí estabelecer a polaridade. Devemos acreditar que ela transcende todas as leis conhecidas da manifestação – apenas existe, sem reação. Cabe lembrar, contudo, que, quando falamos de Kether, não significa uma pessoa, mas um estado de existência, a tal estado de substância existente deve ter sido completamente inerte, puro ser, sem atividade, até iniciar-se a atividade, que emana Chokmah.

4. A mente humana, não conhecendo outro modo de existência além do da forma a da atividade, tem muita dificuldade para conceber um estado inteiramente informe de passividade, o qual é, não obstante, muito distinto do não-ser. Mas precisamos realizar esse esforço, se quisermos compreender os fundamentos da filosofia cósmica. Não devemos lançar os Véus da Existência Negativa à frente de Kether ou nos condenar a uma perpétua dualidade insolúvel; Deus e o demônio lutarão para sempre em nosso cosmo, e não há finalidade em seu conflito. Devemos treinar a mente para conceber o estado de puro ser sem atributos ou atividades; podemos pensar nele como a luz branca cegante, não diferenciada em raios pelo prisma da forma; ou como a escuridão do espaço interestelar, que é nada, embora contenha as potencialidades de todas as coisas. Esses símbolos, sobre os quais repousa o olho interior, constituem um auxilio mais proveitoso para a compreensão de Kether do que todas as definições da filosofia exata. Não podemos definir a Sephirah Kether; só podemos indicá-la.

5. Constitui sempre uma experiência iluminadora descobrir o extraordinário significado das pistas contidas nas tabelas de correspondências, e o modo pelo qual elas conduzem a mente de um conceito a outro. A Primeira Sephirah chama-se Coroa, não cabeça, note-se. A Coroa é um objeto que se põe sobre a cabeça, a esse fato nos dá uma clara indicação de que Kether pertence ao nosso Cosmo, embora não esteja nele.

Descobrimos também a sua correspondência microscómica no Lótus das Mil Pétalas, o chakra Sahamsara, que se localiza na aura, imediatamente acima da cabeça. Penso que isso nos ensina claramente que a essência espiritual mais íntima de alguma coisa, seja no homem ou no mundo, nunca está na manifestação real, sendo antes a base ou raiz subjacente de onde tudo brota a pertencendo, na verdade, a uma dimensão diferente – a uma ordem diferente de ser. Esse conceito dos diferentes tipos de existência é fundamental para a filosofia esotérica a devemos tê-to sempre presente quando consideramos os reinos invisíveis do mago ou do ocultista prático.

6. Na filosofia vedanta, Kether equivaleria sem dúvida a Parabrahmâ; Chokmah, a Brahman; a Binah, a Mulaprakriti. Nos outros grandes sistemas do pensamento humano, Kether equivale ao seu conceito primário, correspondendo ao Pai dos Deuses. Se foram estes que criaram o universo no espaço, então Kether é o Deus do céu. Se o universo se originou na água, Kether é o oceano primordial. Kether relaciona-se sempre com o sentido do informe a do eterno. Os deuses de Kether são deuses terríveis que devoram suas crianças, pois Kether, embora seja o pai de todos, reabsorve o universo ao final de uma época de evolução.

7. Kether é o abismo donde se originam todas as coisas, a para onde estas voltarão ao final de sua era. Nos caminhos exotéricos associados a Kether,descobrimos, por conseguinte, a implicação da não-existência. Nos conceitos esotéricos, contudo, aprendemos que esse conceito é errôneo. Kether é a forma mais intensa de existência, ser puro, não-limitado por forma ou reação; mas essa existência pertence a um tipo diverso daquele a que estamos acostumados, aparecendo-nos, portanto, como não-existência, porque não combina com nenhum dos requisitos que a nosso ver determinam a existência. A idéia da existência de outros modos de ser está implícita em nossa filosofia a devemos tê-la sempre em mente, porquanto é a chave de Kether, a Kether é a chave da Árvore da Vida.

8. O texto yetzirático descritivo de Kether, como todos os dizeres da Sepher Yetzirah, é uma sentença oculta. Afirma ele que Kether se chama Inteligência Oculta, a os diversos títulos conferidos a Kether na literatura cabalística confirmam essa denominação. Kether é o Segredo dos Segredos, a Altura Inescrutável, a Cabeça Que Não É. Temos aqui novamente a confirmaçáo da idéia de que a coroa está acima da cabeça do Homem Celestial, o Adão Cadmo; o ser puro está atrás de toda manifestação, a não é por ela absorvido, sendo antes a causa de sua emanação ou manifestação. Tal como nos expressamos em nossas obras, assim se expressa Kether na manifestação. Mas as obras de um homem não constituem a sua personalidade, sendo, ao contrário, a expressão de sua atividade natural. Ocorre o mesmo com Kether; seu modo de existência não é manifesto, mas constitui a causa da manifestação.

9. Temos até agora considerado Kether em Atziluth, isto é, em sua natureza essencial a primordial. Devemos considerá-la agora tal como aparece nos outros três Reinos distinguidos pelos cabalistas.

10. Cada Reino, ou plano de manifestação, tem sua forma primária: a matéria, por exemplo, é, com toda probabilidade, primariamente elétrica, a essa forma primordial, segundo os esoteristas, consiste no subplano etérico que subjaz aos quatro planos elementais: Terra, Ar, Fogo a Água; ou, em outras palavras, os quatro estados da matéria densa: sólido, líquido, gasoso a etéreo.

11. Os cabalistas concebem a Árvore em cada um dos quatro Reinos, a saber: Atziluth, espírito puro; Briah, mente arquetípica; Yetzirah, consciência imagética astral; a Assiah, o mundo material em seus aspectos densos e mais sutis. As operaçáes das forças de cada Sephirah são representadas em cada mundo sob a presidência de um Nome Divino, ou Mundo do Poder, e esses mundos dão as chaves das operações do ocultismo prático nos diversos planos. O Nome de Deus representa a ação da Sephirah no Mundo de Atziluth, espírito puro; quando o ocultista invoca as forças de uma Sephirah pelo Nome de Deus, isso significa que ele deseja entrar em contato com sua essência mais abstrata, pois está buscando o princípio espiritual que sustenta a condiciona esse modo particular da manifestação. Reza uma máxima do Ocultismo Branco que toda operação deve começar pela invocação do Nome Divino na Esfera em que ocorrerá a operação. Isso assegura que a operação estará em harmonia com a lei cósmica. Nunca se deve descurar o equilíbrio da força natural, pois o equilíbrio é essencial para que o mago conduza em segurança as operações de acordo com a lei cósmica; por conseguinte, o mago deve procurar compreender o princípio espiritual envolvido em cada problema a operá-to convenientemente. Toda operação, por conseguinte, precisa ter sua unificaçâo ou resolução final em Eheieh, o nome de Deus de Kether em Atziluth.

12. A invocação da divindade sob o nome de Eheieh, isto é, a afirmação do ser puro, eterno, imutável, sem atributos ou atividades, que tudo sustém, mantém a condiciona, é a fórmula primária de toda operação mágica. Somente ao ser penetrada pela compreensão desse ser imutável a sem fim, de extraordinária concentração a intensidade, pode a mente ter qualquer compreensão do poder ilimitado. A energia derivada de qualquer outra fonte é uma energia limitada a parcial. A fonte pura de toda energia localiza-se tão-somente em Kether. As operações do mago visando à concentração da energia (e que operação não o faz?) devem sempre começar por Kether, porquanto deparamos nessa Sephirah com a força emergente que brota do Grande Imanifesto, o reservatório do poder ilimitado. É graças a Kether, o Grande Imanifesto oculto atrás dos Véus da Existência Negativa, que o poder tem origem. Se extrairmos poder de qualquer esfera especializada da natureza, estaremos, por assim dizer, tirando de Pedro para dar a Paulo. O poder vem de alguma parte a vai para algum lugar, a deve ser responsável no ajuste de contas final. É por essa razão que se diz que o mago paga com sofrimento o que obtém por meios mágicos. Isso é verdade se sua operação é realizada em qualquer uma das esferas inferiores da natureza; mas se tal operação tem início com Kether em Atziluth, o mago estará extraindo força imanifesta para colocá-la na manifestação; ele aumenta as fontes do universo e, desde que as forças se mantenham em equilíbrio, nenhuma reação rebelde ocorrerá, bem como nenhum pagamento em sofrimento pelo use dos poderes mágicos.

13. Esse é um ponto de extraordinária importância prática. Os estudantes aprenderam que as Três Sephiroth – Kether, Chokmah e Binah estão fora do alcance de qualquer obra prática enquanto estamos encarnados. Na verdade, elas estáo fora do alcance da consciência cerebral, a constituem a base essencial de todos os cálculos mágicos. Se não operamos a partir dessa base, não temos nenhum fundamento cósmico, colocando-nos entre céu e a terra a não encontrando nenhum lugar de repouso seguro. Devemos, ao contrário, manter a tensão mágica que mantém vivas as formas astrais.

14. A grande diferença entre a ciência cristã a as formas mais rudes do novo pensamento e da auto-sugestâo consiste no fato de que a primeira inicia todas as suas operações pela vida divina; e, por mais irracionais que sejam suas tentativas para filosofar o seu sistema, seus métodos são empiricamente sãos. O ocultismo, e especialmente o praticante da Magia Cerimonial, se não foi instruído nessa disciplina, tende a começar sua operação sem qualquer referência à lei cósmica ou ao princípio espiritual; conseqüentemente, as imagens mentais que ele forma são como corpos estranhos no organismo do Homem Celestial, ou Macrocosmo, a todas as forças da natureza se dirigem espontaneamente para a eliminação dá substância estranha e para a restauração do equilíbrio normal das tensões. A natureza luta contra o mago com unhas a dentes; conseqüentemente, todo aquele que recorre à Magia não-consagrada jamais pode descansar sua espada, pois precisa estar sempre na defensiva a fim de manter o que conquistou. Mas o adepto que inicia sua obra com Kether em Atziluth, isto é, no princípio espiritual, e opera esse princípio de cima para baixo a fim de expressá-to nos planos da forma, empregando para esse propósito o poder extraído do Imanifesto, integra sua operação no processo cósmico, e a natureza se coloca a seu lado, em vez de hostilizá-lo.

15. Não podemos esperar entender a natureza de Kether em Atziluth, mas podemos abrir nossa consciência à sua influência, a esta é muito poderosa, conferindo-nos uma estranha sensação de eternidade e imortalidade. Podemos saber quando a invocação de Eheieh em seu puro esplendor branco é efetiva, pois compreendemos, com completa convicção, a impermanência a insignificáncia superior dos planos da forma e a supremá importância da Vida única, que condiciona todas as formas, tal como as mãos do oleiro moldam a argila.

16. A meditação sobre Kether confere-nos a compreensão intuitiva de que o resultado de uma operação tem pouco valor. “Que o sujo brinque com o sujo, se este lhe agrada.” Uma vez obtida essa compreensão, temos domínio sobre as imagens astrais e podemos operá-las à vontade. É apenas quando o operador não tem qualquer interesse pela operapão no plano físico que ele atinge esse completo domínio sobre as imagens astrais. Só a manipulação das forças lhe diz respeito, assim como a sua condução por meio da manifestação na forma; mas ele não cuida da forma que as forças podem finalmente assumir, a as deixa por si mesmas, visto que assumirão a forma mais afim a suas naturezas, sendo assim mais fiéis à lei cósmica do que a qualquer desígnio que seu limitado conhecimento poderia conferir-lhes. Essa é a chave real de todas as operações mágicas, a sua única justificativa, pois não podemos alterar o Universo para adaptá-to ao nosso capricho a conveniência, mas só nos justificamos na operação deliberada da Magia quando operamos com a grande maré da vida evolutiva a fim de chegarmos à plenitude da vida, seja qual for a forma que a experiência ou manifestação possa assumir. “Vim para que eles pudessem ter vida, a para que a tivessem em abundáncia”, disse o Senhor, a essas poderiam ser as palavras do mago.
Vida, a somente a vida, deveria ser a sua divisa, a não qualquer manifestação especializada dela como Sabedoria, Poder ou mesmo Amor.

17. Aqueles que seguiram atentamente a exposição precedente estarão em condições de descobrir algum significado nas palavras criptográficas do Texto Yetzirático atribuído a Kether. As palavras “Inteligência Oculta” dão uma pista da natureza imanifesta da existência de Kether, que é confirmada pela afirmação de que “Nenhum ser criado pode alcançar-lhe à essência”, ou seja, nenhum ser que utiliza, como veículo de consciência, um organismo dos planos da forma. Quando, contudo, a consciência foi exaltada ao ponto de transcender o pensamento, ela recebe da “Glória Primordial” o “poder de compreensão do Primeiro Princípio”; ou, em outras palavras, “Compreenderemos da mesma maneira pela qual somos compreendidos”.

18. Eheieh, Eu Sou O Que Sou, ser puro, é o Nome divino de Kether, e sua imagem mágica é um velho rei barbado visto de pèrfil. O Zohar afirma que o velho rei barbado só tem o lado direito; não vemos a imagem mágica de Kether em sua face plena, isto é, completa, mas apenas uma parte dela. Há um aspecto que deve sempre permanecer oculto para nós, como o lado escuro da lua. Esse lado de Kether é o lado que está voltado para o Imanifesto, que a natureza de nossa consciência manifesta nos impede de compreender, a que constitui um livro selado para nós. Mas, aceitando essa limitação, podemos contemplar o aspecto de Kether, o perfil do velho rei barbado, que se reflete para baixo na forma.

19. Velho é esse rei, o Antigo dos Antigos, o Velho dos Dias, que existe desde o início, quando o rosto não contemplava rosto algum. Ele é um rei, porque governa todas as coisas de acordo com sua suprema e inquestionável verdade. Em outras palavras, é a natureza de Kether que condiciona todas as coisas, porque todas as coisas surgiram dela. Ele é barbado porque, no curioso simbolismo dos rabinos, todo pêlo de sua barba tem um significado.

20. A manifestação das forças de Kether em Briah, o mundo da mente arquetípica, efetua-se por meio do arcanjo Metatron, o Príncipe das Faces, a quem a tradição atribui o papel de mestre de Moisés. A Sepher Yetzirah afirma a respeito do Décimo Caminho, Malkuth, que ele “emana uma influéncia do Príncipe dos Rostos, o arcanjo de Kether, e é a fonte de iluminação de todas as luzes do universo”. Aprendemos, assim, claramente, que não apenas o espírito flui para a manifestação na matéria, mas a matéria, por sua própria energia, lança o espírito na manifestação. Esse é um importante ponto para o praticante da Magia, pois afirma que este tem justificativas para as suas operações a que o homem não precisa esperar a palavra do Senhor, podendo invocar a Deus para ouvi-Lo.

21. Os anjos de Kether, operando no Mundo Yetziático, são os Chaioth ha Qadesh, as Criaturas Vivas a Sagradas, a esse Nome traz à mente a visão do Carro de Fogo de Ezequiel a as Quatro Santas Criaturas diante do Trono. O fato de que os quatro ases do Tarô, atribuídos a Kether, representam as raízes dos quatro elementos, Terra, Ar, Fogo a Água, confirma igualmente essa associação. Podemos, pois, considerar Kether como a fonte primordial dos elementos. Esse conceito esclarece muitas das dificuldades ocultas a metafísicas com que nos deparamos se limitamos sua operação ao plano astral a encaramos os elementais como seres pouco melhores do que os demônios, como parecem fazer algumas escolas de pensamento transcendental.

22. A questão dos anjos, archons a elementais é um tema muito discutido e muito importante no ocultismo, porque a sua aplicação prática à Magia é imediata. O pensamento cristáo pode tolerar com algum esforço a idéia dos arcanjos, mas os espíritos auxiliares, os mensageiros que são as chamas do fogo a os construtores celestes são estranhos à sua Teologia; Deus, sem ajuda a num átimo, fez os céus e a Terra. O Grande Arquiteto do Universo é também o pedreiro. A ciencia esotérica pensa de modo diferente. O iniciado conhece as legiôes de seres espirituais que são agentes da vontade de Deus e os veículos da atividade criativa. É por meio desses que ele opera, pela graça de seu arcanjo dirigente. Mas um arcanjo não pode ser conjurado por nenhum encantamento, por mais potente que este seja. Deveríamos mesmo dizer que, quando efetuamos uma operação da Esfera de uma Sephirah particular, o arcanjo opera por meio de nós para o cumprimento de sua missão. A arte do mago repousa, por conseguinte, em alinhar-se à força cósmica, a fim de que a operação que ele deseja realizar possa produzir-se como parte da operação de atividades cósmicas. Se ele for verdadeiramente puro a devoto, esse será o caso de todos os seus desejos; mas, se ele não for verdadeiramente puro a devoto, não será então um adepto, a sua palavra não será uma Palavra de Poder.

23. É interessante notar que, no Mundo de Assiah, o título da Esfera de Kether é Rashith ha Gilgalim, ou Primeiros Remoinhos, indicando, assim, que os rabinos estavam familiarizados com a teoria das nebulosas antes que a ciência tivesse conhecimento do telescópio. A maneira pela qual os amigos deduziram os fatos básicos da cosmogonia graças a meios puramente intuitivos a mercé da utilização do método de correspondências, séculos antes da invenção a aperfeiçoamento dos instrumentos de precisão que permitiram ao homem moderno realizar as mesmas descobertas de outro ângulo, será sempre um assunto de perpétua perplexidade para todo aquele que estuda a filosofia tradicional sem fanatismo.

24. Como em cima, tal é embaixo. O microcosmo corresponde ao macrocosmo, a precisamos, por conseguinte, buscar no homem a Sephirah Kether que está acima da cabeça que brilha com um puro esplendor branco em Adão Cadmo, o Homem Celeste. Os rabinos a chamam Yechidah, a Centelha Divina; os egípcios a chamam Sah; os hindus a chamam Lótus de Mil Pétalas – o núcleo do espírito puro que emana as múltiplas manifestações nos planos da forma, mas nelas não habita.

25. Enquanto estivermos encarnados, jamais poderemos nos elevar à consciência de Kether em Atziluth e reter o veículo físico intato antes de nosso regresso. Tal como Enoch caminhou com Deus e desapareceu, assim também o homem que tem a visão de Kether se desvanece no que respeita ao veículo da encarnação. Isso se explica facilmente se nos lembrarmos que não podemos entrar num modo de consciência a não ser reproduzindo-o em nós mesmos, assim como uma música nada significa para nós a menos que o coração cante com ela. Se, por conseguinte, reproduzimos em nós mesmos o modo de ser daquilo que não tem forma nem atividade, segue-se que devemos nos livrar da forma a da atividade. Se conseguirmos fazé-lo, o que foi reunido pelo modo de forma da consciencia desaparecerá a voltará aos seus elementos. Assim dissolvido, ele não pode ser reunido ao retornar à consciência. Por conseguinte, quando aspiramos à visão de Kether em Atziluth, devemos estar preparados para penetrar na Luz a nunca mais sair dela.

26. Isso não implica ser o Nirvana aniquilação, tal como uma tradução ignorante da filosofia oriental ensinou ao pensamento europeu; mas também náo implica uma completa mudança de modo ou dimensão. O que seremos, quando nos descobrirmos no mesmo nível das Criaturas Vivas a Sagradas, não o sabemos, a ninguém que alcançou a visão de Kether em Atziluth retomou para contar-nos; mas a tradição afirma que existem aqueles que o fizeram, a que eles estáo intimamente relacionados com a evolução da humanidade a são os protótipos dos super-homens, a respeito dos quais todas as raças têm uma tradição – uma tradição que, infelizmente, tem sido envilecida a degradada nos últimos anos pelos ensinamentos pseudo-ocultistas. O que quer que seja que esses seres possam ser ou não, é seguro dizer que eles não têm nem forma astral nem personalidade humana, mas são como chamas no fogo que é Deus. O estado da alma que atingiu o Nirvana pode ser comparado a uma roda que perdeu seu aro a cujos raios penetram e interpenetram toda a criação; um centro de radiação, a cuja influência não se pode determinar um limite, exceto o de seu próprio dinamismo, a que mantém a sua identidade como um núcleo de energia:

27. A experiência espiritual atribuída a Kether é a união com Deus. Esse é o fim e o objetivo de toda a experiência mística e, se procurarmos qualquer objetivo, seremos como aqueles que edificam uma casa no mundo da ilusão. Tudo o que pode reter o místico em seu caminho direto para esse objetivo produz-lhe a impressão de um grilhão, que o prende, e, que, como tal, deve ser quebrado. Tudo aquilo que sujeita a consciência à forma, todos os desejos que não sejam o da união com Deus são males para ele e, desse ponto de vista, ele está certo; agir de outra maneira invalidaria sua técnica.

28. Mas essa não é a única prova que o místico deve enfrentar; exigese-lhe que satisfaça os requisitos dos planos da forma antes de estar livre para começar sua retirada a escapar da forma. Há o Caminho da Mão Esquerda que conduz a Kether, a Kether das Qliphoth, que é o Reino do Caos. Se o adepto aspirante se aventura pelo Caminho Místico prematuramente, é para lá que ele vai, a não ao Reino da Luz. Para o homem que é naturalmente do Caminho Místico, a disciplina da forma é incompatível. E uma das mais sutis tentações é abandonar a batalha da existência na forma, a qual resiste ao seu domínio, a retirar-se pelos planos antes que o nadir tenha sido atravessado a as lições da forma tenham sido aprendidas. A forma é a matriz na qual a consciência fluídica é mantida até adquirir uma organização à prova de dispersão; até tomar-se um núcleo de individualidade diferenciada do mar amorfo do puro ser. Se a matriz for quebrada muito cedo, antes que a consciência fluídica se tenha formado como um sistema organizado de tensões estereotipadas pela repetição, a consciência se retrairá para o amorfo, assim como a argila retomará à lama se libertada do amparo do molde antes de ser queimada. Se há um místico cujo misticismo produz incapacidade mundana ou qualquer tipo de disposição da consciência, sabemos que o molde se quebrou muito cedo para ele, a ele deve retomar à disciplina da forma até que a sua lição tenha sido aprendida a sua consciência tenha alcançado uma organização coerente a coesa que nenhum Nirvana possa destruir. Que ele corte lenha a carregue água a serviço do Templo, se desejar, mas que não profane o local sagrado com suas patologias a imaturidades.

29. A virtude atribuída a Kether é a da consecução; a realização da Grande Obra, para utilizar um termo pedido de empréstimo aos alquimistas. Sem a realização não há consecução a sem consecução não há realização. Boas intenções pesam pouco na escala da justiça cósmica; é por nossa obra completada que somos conhecidos. Temos, é verdade, toda a eternidade para completá-la, mas devemos fazê-to até o Yod final. Não há misericórdia na justiça perfeita, a não ser a que nos permite tentar novamente.

30. Kether, contemplada do ponto de vista da forma, é a coroa do Reino do Esquecimento. A não ser que compreendamos a natureza vital da Pura Luz Branca, sentiremos pouca tentação de lutar por essa Coroa que não é dessa ordem de ser; e, se tivermos essa compreensão, entáo estaremos livres da limitação da manifestação a poderemos falar a todas as formas como quem realmente tem a autoridade para fazê-lo.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/kether

A Mística dos Sons

Os sons sempre foram tomados em consideração pelos místicos de todos os tempos, por se tratarem de manifestações vibratórias que envolvem princípios altamente efetivos para determinadas práticas. Nas línguas antigas as palavras, além de um sentido comum, tinham também um sentido esotérico, isto é, eles tinham um sentido oculto. Uma palavra não era uma aglomeração casual de sons.

Diz a ciência que nos primeiros agrupamentos da raça humana os homens primitivos pronunciavam sons que atribuíram a determinados objetos, nascendo assim uma forma de linguagem falada. Com o passar dos séculos e com a evolução biológica, os seres humanos tornaram-se muito mais inteligentes e então desenvolveram uma forma de linguagem mais complexa, não mais um simples aglomerado de sons, formando-se então as palavras. Numa segunda etapa descobriram que as palavras podiam envolver poderes. Tomemos um exemplo para ilustrar o que está sendo afirmado. Por exemplo, para dar nome à “guerra” os usaram um aglomerado qualquer de sons. Posteriormente, nas civilizações mais evoluídas, a palavra “guerra” passou a ser uma outra que já não era apenas um simples grupo de sons quaisquer, mas sons especiais que ao serem devidamente emitidos produziam vibrações capazes de irritar as pessoas e incitá-las à luta. Por outro lado, para a palavra “amor” havia um outro grupo de sons capaz de induzir vibrações de dedicação de dedicação e carinho, originando um estado psicológico adequado ao amor. Assim, grande número de palavras tinha também um sentido esotérico além do dar nome às coisas.

Agora vale fazer alguns comentários a respeito do alfabeto hebraico. Aquele alfabeto admitido como sagrado, segundo o mito foi doado a Abraão por Deus. Nele há sons que ao se unirem formando palavras podem provocar estados físicos e psíquicos especiais. Existiram muitas outras línguas que também tinham essa propriedade – o “Alfabeto Sagrado, o Vaitã, o Malachin e vários outros – mas já totalmente caídos no esquecimento. O único que perdurou em uso até o presente foi exatamente o hebraico, contudo, através dos anos, ele já sofreu algumas transformações que, em parte, alteraram o seu significado esotérico”.

A perda do sentido esotérico das letras vem fazendo com que atualmente as palavras de todas as línguas estejam voltando a ser como no início, apenas um aglomerado de sons para dar nome às coisas. Apenas resta o conhecimento esotérico sobre aqueles alfabetos guardados pelas Sociedades Iniciáticas.

A história de vários povos, incluindo a dos hebreus, atribui que cada linguagem era sagrada porque lhes foi ensinada por Deus. Para os que admitem que a terra já sofreu a interferência de seres vindos de outros sistemas, então, para eles há a possibilidade de que tais seres hajam deixado uma forma de linguagem que os terráqueos consideraram desde então como sendo uma linguagem sagrada.

O próprio Deus dos Hebreus tinha uma palavra sagrada composta pelas letras Iod He Vau He e que nunca deveria ser pronunciada, a não ser pelo Sumo Sacerdote, no Templo uma vez por ano.

Esotericamente as letras, e com elas as palavras, têm poderes, porém não é somente o “som” da letra que traz o poder, também a maneira como ela é pronunciada, considerando-se a sua duração, intensidade, timbre e altura.

Por encerrar poder resulta a recomendação evangélica de “não usar o nome de Deus…” Posteriormente foi acrescido das palavras “em vão”.

A energia vibratória gerada pelas palavras não tem a mesma intensidade, ela varia de acordo com as letras, timbre, altura, etc. Há palavras de maior, assim como palavras de menor poder. Daí havia palavras de excepcionais poderes, e uma dela em especial que era denominada de “A Palavra Sagrada”. Trata-se de uma palavra capaz de realizar coisas magníficas, tanto ou quanto fenomenais. Trata-se de uma palavra dotada de uma imensa capacidade de creação. Dentro de certos limites, ela é totipotente. Mas, por ser de uso extremamente restrita tornou-se acabou por se tornar desconhecida, e é por isto hoje é denominada de A PALAVRA PERDIDA. Trata-se de uma palavra que já era conhecida no tempo da Atlântida e de outros ciclos de civilizações. Quase todas as chamadas doutrinas secretas procuraram redescobrir a Palavra Perdida, e muitas delas dizem havê-la conseguida. É possível que isto seja verdade, mas afirmamos que, mesmo na hipótese dela haver sido redescoberta os sons precisos inerentes às suas letras não o foram.

Um outro ponto que vale salientar é o poder da visão. Muito poder está ligado à visão, em especial aos olhos. Em época recente muito foi comentado sobre o assassinato de um grupo de pessoas em Los Angeles por seguidos de Charles Manson. Este, durante o período que esteve preso teve acesso a uma obra esotérica, uma obra ocultista que versava sobre o poder da visão. Na cela ele começou a treinar e a desenvolver o poder da visão. Quando saiu do presídio ingressou num movimento Hippie e fundou uma comunidade com vários jovens que foram induzidos a cometer os assassinatos de 18 pessoas, inclusive a atriz Sharon Tate. Aqueles jovens foram induzidos, não somente pelo uso de drogas, como a imprensa quis fazer acreditar, mas especialmente pelo poder terrível que Manson desencadeou neles. Eles estavam plenamente dominados e fascinados num nível muito além da hipnose pelo poder dos olhos de Manson.

Na realidade é difícil se dizer quem teve maior parcela de culpa no referido massacre; se foram os jovens dominados psiquicamente pelo poder esotérico visual de Charles Manson, se o próprio Charles, ou se alguém que haja traído, ou mesmo negligenciado, os juramentos secretos, descuidando-se de um livro que sob forma alguma deveria cair em mãos profanas e, muito menos, criminosas. Não é que muitos profanos não sejam dignos de terem conhecimentos de tal natureza, mas é porque se faz preciso certo nível de preparação para que uma pessoa possa tentar certos processos mágicos. Antes ela deve se submeter a uma certa disciplina ter conhecimento sobre aquilo que irá usar, especialmente sobre os perigos intrínsecos das coisas secretas.

Para alguns, todo e qualquer conhecimento pode ser dado sem necessidade de “provas”, exatamente para as pessoas equilibradas, mas para outros é necessário alguma espécie de teste que possa provar que eles estão à altura daquele tipo de conhecimento.

Algumas Sociedades Secretas e algumas Religiões conservaram alguma coisa daquele conhecimento sublime referente aos sons. Algumas, sob a forma de vocalizações musicadas – hinos sacros – como, por exemplo, na Igreja Católica onde podemos encontrar o Canto Gregoriano e o Cantochão; outras, sob a forma de Mantras ou de entoação de vogais, que despertam nas pessoas condições místicas especiais.

NO PRÍNCIPIO ERA O VERBO

A própria criação se originou da “palavra”. Isto significa que a própria criação foi a conseqüência de uma emissão vibratória do Princípio Incriado. Não é correto pensar que Deus construiu o mundo com as mãos ou com o emprego de quaisquer instrumentos. Não, simplesmente Ele fez vibrar a Sua Essência, o princípio básico passivo e tudo começou a existir, pois tudo é vibração e som é vibração. (Vide o tema ATRIBUTOS DA DIVINDADE).

Outro ponto que merece ser mencionado diz respeito ao nome individual. O nome tem grande significação oculta para a pessoa, pois qualquer nome tem a capacidade de interferir energicamente e se é assim por que então não está sujeito a advirem influências relacionadas? – Certamente, o nome é algo que merece muita atenção por ter um sentido esotérico decisivo.

O nome que uma pessoa recebia no batismo, no passado, era um nome esotérico e conseqüentemente tinha uma função além daquela de denominar a criança. Então era um nome estudado de acordo com o caráter da criança. Pelo nome muita coisa pode ser feita, por isto os egípcios do período faraônico tinham dois nomes, um secreto que ninguém sabia a não ser ele próprio, o pai, e a mãe; e um outro pelo qual era conhecido.

Evidentemente, neste sentido há um manancial enorme de superstições, mas superstições geralmente resultam das interpretações deformadas ou limitadas de algum princípio real ou de uma lei verdadeira, ou de algum fenômeno mal estudado ou mal compreendido. Assim todo o “tabu” relativo aos nomes se baseia em algo real.

Na China antiga havia um nome habitual e um secreto. Na Índia, a cerimônia de denominação, o Nakarama, que ocorre no l0º ou 12º dia de vida, a criança recebe dois nomes. O verdadeiro nome é secreto, assim a sua identidade esotérica permanece oculta e não podendo ser usada pela magia negra, segundo eles.

Até mesmo as cidades antigas como Atenas e Roma, por exemplo, possuíam nomes secretos, o de Roma, por exemplo, era Fora. O poder da palavra também está refletido no mito de inúmeros povos. Embora se trate de mito, mesmo assim, merece certa atenção porque muitos mitos se baseiam em fatos admitidos.

Nos Contos árabes “As Mil e Uma Noites”, Ali Babá abria a gruta dos ladrões com as palavras; “Abre-te Sésamo”. Não estamos afirmando que aquele conto retrate algo que realmente haja acontecido, mas sim fazendo ver que aquela estória, em muitos pontos, se baseia em conhecimentos conhecidos em outras épocas. Evidentemente com o poder dos sons é possível se abrir algo, ou melhor, produzir efeitos materiais somente com os sons das palavras. Em breve surgirão computadores com capacidade de abrir, ou fechar coisas apenas por comando da voz.

Os cultores da Cabala têm muito cuidado com os nomes próprios e dizem mesmo que uma pequena modificação no nome de uma pessoa pode modificar-lhe completamente a vida.

A própria Igreja Católica até bem pouco tempo não via com “bons olhos” o uso no batismo de nomes formados aleatoriamente, dando preferência àqueles já consagrados pelo uso. Para alguns sacerdotes isto se devia apenas à uma merecida preferência pelo nome tradicional para se homenagear um determinado “santo”, mas na realidade a razão é outra. Trata-se de um conhecimento, que por vir de muito distante no tempo já ficou completamente esquecido por muitos ministros de religiões. Isto data da época em que os cristãos ainda não haviam esquecido e abandonado o lado esotérico do Cristianismo.

Não são apenas os humanos que são sensíveis aos sons e que apresentam modificações de comportamento diante da música. Evidentemente certos animais também são sensíveis, não apenas os animais domésticos, mas também os selvagens. Consideremos, como exemplo as ser-pentes. Quem não tem conhecimento a respeito dos “encantadores de serpentes” tão comuns no oriente! As serpentes[1] ficam como que hipnotizadas pelos sons produzidos por uma flauta, e nisto muitas vezes não está ligado a qualquer tipo de trapaça.

Muitos Livros Sagrados trazem citações sobre o efeito dons sons. Na Bíblia está descrito o episódio em que Josué fez ruir as muralhas de Jericó com o toque de trombetas.

Autor: José Laércio do Egito – F.R.C.

#MagiaPrática #Mantras

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/a-m%C3%ADstica-dos-sons

Instituto Infância Azul

IIA

O Instituto Infância Azul é um projeto da Hospitalaria da ARLS Arcanum Arcanorum, 4269 (GOSP-GOB) idealizado pelo irmão Márcio Amaro e localizada no Templo AyaSofia, cujo objetivo é oferecer para as crianças menos favorecidas a oportunidade de, desde pequenos, receberem a estimulação necessária para vencer as dificuldades que sua situação lhes impõe.

Publico alvo

Crianças com déficits nas áreas sensório-perceptiva, motora, cognitiva, emocional, de comunicação e de adaptação social, objetivando reduzir ou eliminar desvios de padrões de desenvolvimento.

Pacientes vinculados a programas de saúde e residentes dos bairros próximos a associação. A principio será realizado atendimentos nos setores de Fonoaudiologia, Psicologia e futuramente Terapia Ocupacional.

Procedimento

Os serviços prestados pela Associação vão caracterizar-se como serviço de proteção social especial para crianças com deficiência, (Serão atendidas crianças com diagnóstico de Deficiência Intelectual (DI) associada ou não a outras patologias (Síndromes, Encefalopatia Crônica Não Progressiva, Mielomeningocele entre outras) Proporcionando condições favoráveis e recursos necessários para o atendimento de diversos tipos de deficiência, A maioria dos usuários deste Projeto deve ser encaminhada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), Policlínica, médicos e outros. Este processo inicia-se através de uma triagem com toda Equipe Multidisciplinar (Fonoaudióloga, Psicóloga e Terapeuta Ocupacional) para definição e conduta de tratamento.

FONOAUDIOLOGIA – O Trabalho de Fonoaudiologia tem por finalidade contribuir para o desenvolvimento da fala e da linguagem para melhoria de suas funções e processos de aprendizagem nos diferentes contextos de comunicação.
PSICOLOGIA – O Trabalho de Psicologia tem por função contribuir no processo de avaliação de forma interdisciplinar, fornecendo dados básicos para a organização dos atendimentos, orientação ao paciente, as famílias e aos professores, contribuindo para o equilíbrio e ajustamento nas relações entre paciente, professor, família, e comunidade.
TERAPIA OCUPACIONAL – Trabalha a independência da criança em suas atividades de vida prática e vida diária, promovendo maior autonomia como cidadão comum. Trabalha também a coordenação motora fina, coordenação viso motora integrada ao processo de alfabetização.

Conclusão

A idéia e ter uma instituição que trabalhasse estimulação essencial em crianças com algum comprometimento mental e neurológico, desde pequeno, para que o atraso no seu desenvolvimento fosse o menor e menos significativo possível.

Nosso Objetivo é ser uma entidade beneficente sem fins lucrativos, reconhecida como de utilidade Pública.

Juntaremos voluntários que acreditem na proposta e com dedicação, amor e comprometimento irão contribuir de forma decisiva para que o projeto seja uma referência no acolhimento, assistência e competência profissional dentro da área.

#Hospitalaria

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/instituto-inf%C3%A2ncia-azul

A Metamorfose, de Kafka

As Edições Textos para Reflexão trazem até vocês mais um clássico eterno da literatura mundial, pelo preço de um café!

Desta vez o autor escolhido foi Franz Kafka, e a obra, o seu conto mais lido e comentado, A Metamorfose, uma das histórias mais bizarras do século passado. Você já pode começar a ler em poucos minutos:

Comprar eBook (Kindle)
Comprar eBook (Kobo)
Comprar eBook (Saraiva Digital)

***

À seguir, trazemos o Epílogo da edição (cuidado, pode conter alguns spoilers):

Um clássico da literatura mundial ou uma espécie de “pegadinha literária”, com o perdão do termo? De fato, Kafka foi genial por conseguir evitar, a todo momento, que o seu leitor conseguisse responder definitivamente a tal pergunta.

É perfeitamente compreensível que muita gente não o tenha compreendido, e que alguns tenham até mesmo se sentido enojados pela temática da sua Metamorfose, mas quem poderá dizer que este também não era o seu objetivo? Quem poderá dar por certo que esta grande brincadeira literária, por vezes doce, por vezes irritante, mas sempre primorosamente elaborada em palavras, não era justamente o que tinha em mente quando se sentava para escrever?

No entanto, há acadêmicos que se negam a admitir qualquer espécie de humor, seja oculto ou não, no texto kafkiano. Para muita gente a metáfora do trabalhador disciplinado, que faz de tudo para cuidar das finanças da família, mas que não tem de fato um sentido na vida, e termina por cair em profunda depressão, é perfeitamente compatível com o inseto estranho em que resulta a metamorfose, trancado em seu quarto escuro, sujo, e incapaz de alcançar sequer a sala da própria casa.

Mas me parece inegável haver alguma espécie de humor, seja ele doentio ou como queiram chamar, no simples fato de que, apesar do absurdo da sua situação, Gregor Samsa esteja quase sempre a pensar no cotidiano e em assuntos triviais, como quando se lamenta em ter de faltar ao trabalho, ou quando está tentando a todo custo se manter inteirado das fofocas do jantar. Gregor se encontra “perfeitamente feliz”, afinal, quando consegue se manter numa posição quase que de meditação, grudado no teto do seu próprio quarto… Ora, se isso não era para ser engraçado, mesmo que de alguma forma bizarra, definitivamente o senhor Kafka é um escritor indecifrável.

Seja como for, fato é que este pequeno conto, a sua obra mais lida, ainda será lida por muito tempo, em muitos cantos diversos e épocas futuras. Esperemos que até lá, mais gente se identifique com o Gregor que corre alegremente pelas paredes do que com o inseto esmagado pelo peso do mundo, incapaz de se arrastar sequer para baixo do sofá.

O editor.

#eBooks #Literatura

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/a-metamorfose-de-kafka

Energia Telúrica, Linha de Ley, Pirâmides e Círculos

Na semana passada falamos sobre as LINHAS DE LEY. Hoje vamos complementar este texto combinando as energias do planeta com as construções de civilizações muito antigas e sábias. Espero que tenha ficado bem claro o conceito de linhas de energia.

Além dos nodos, existe uma segunda classe de linhas energéticas que correm pelo planeta, chamadas “Linhas Telúricas”. ENERGIA TELÚRICA é uma corrente elétrica de baixa freqüência e que percorre grandes áreas do planeta, que se movimenta debaixo da terra e nos oceanos, já fartamente comprovada pelos cientistas (você pode ver o vídeo de uma demonstração de uma BATERIA DE TERRA simples AQUI) mas quase totalmente inexplorada por falta de interesse das otoridades. Afinal de contas, para quê investir em energia gratuita para a população quando se pode cobrar por ela? Nicolai Tesla, um dos maiores gênios que já pisou este planeta, que o diga.

A junção dos centros energéticos das Linhas de Ley com o fluxo das linhas telúricas produz enormes quantidades de energia, que podem ser manipuladas e controladas através de determinados monumentos. A geometria sagrada das pirâmides e dos círculos de pedra é capaz de canalizar e focar todas estas energias para usos específicos, da mesma maneira como as agulhas de acupuntura são utilizadas nos centros energéticos em um ser humano para acionar determinados tipos de energia em nossos corpos.

Estas energias são captadas e projetadas dentro dos círculos, nas câmaras das pirâmides ou dentro de certas cavernas, através de ajustes “fechando” determinados circuitos (lembram-se quando eu expliquei que a Câmara dos Reis podia ser REGULADA?) para gerar campos eletromagnéticos muito fortes e harmônicos, que vibram em ressonância com determinados chakras nos seres humanos, abrindo-os totalmente e desenvolvendo certas faculdades.

O tipo de ressonância era escolhido de acordo com a necessidade ou ritual – no caso das pirâmides e do ritual de iniciação de um faraó ou sacerdote, as forças envolvidas naquele “mergulho” nas águas primordiais em ressonância com a pirâmide em determinadas datas abria totalmente os chakras Anja e Sahashara, despertando no iniciado poderes de clarividência, telepatia, intuição, projeção astral e muitos, muitos outros.

Nós dizemos que os círculos e pirâmides eram observatórios espaciais, mas a verdade é que, dentro de certos campos energéticos gerados nestes locais, os sacerdotes possuíam uma visão astral tão desenvolvida que as visões e cálculos que faziam em transe eram tão avançadas e precisas quanto os melhores observatórios astronômicos do século XX. Isto permitiu a eles construírem tabelas de relações entre planetas, períodos e signos precisas o suficiente para fundamentar a ciência da Astrologia, conforme eu já expliquei em matérias antigas.

Claro que os círculos, pirâmides e cavernas também possuíam funções ritualísticas e de celebrações. Faziam às vezes das igrejas e templos de encontro nas vilas.

Graças ao estudo e conhecimento do O Grande Computador Celeste, das projeções astrais e das rodas astrológicas, os antigos conseguiam prever com exatidão as reencarnações de seus reis, líderes espirituais e Avatares. Preste atenção no que eu disse neste parágrafo e anote com cuidado estas palavras, pois serão muito importantes algumas colunas mais para frente!

Aqui eu preciso fazer um parêntesis. Quando eu digo que os antigos possuíam uma tecnologia sensacional, com VIMANAS, engenharia genética, supercomputadores e tudo mais, você pode se perguntar “mas e os homens das cavernas? E os primitivos?” e a resposta é: a Terra sempre está povoada por regiões de evolução mental, espiritual e cultural MUITO distintas… enquanto os atlantes e lemurianos tinham toda esta tecnologia ao seu dispor, em outras regiões do planeta estavam quase-macacos venerando o sol e a lua como se fossem deuses. Se você achar tão difícil assim compreender este cenário, compare a Noruega com a Serra Leoa nos dias de hoje, século XXI.

Dizem que estes cristais ainda estão por aí, a maioria submersos, mas alguns chegaram até a gente através dos incas, maias, astecas e um ou outro tesouro templário, mas nos falta tecnologia para ativá-los, pois estes cristais não são ativados por aparelhos, mas por ondas mentais específicas que ainda temos de evoluir um tanto para atingir estes patamares…

Hoje em dia, cristais podem ser usados para regular nossa energia. Colocando-os sobre os nossos chakras e fazendo certas respirações e meditações, conseguimos ativar (através das freqüências de nossos pensamentos pela meditação) algumas das características destes cristais. O grande problema é que a imensa maioria das pessoas não tem a disciplina mental necessária para ativar corretamente estes cristais através da visualização (que é uma técnica que existe em praticamente TODAS as ordens iniciáticas – é o be-a-bá da magia) então os resultados são algo muitas vezes falhos e imprevisíveis, o que dá margem pra charlatanismo e especulações, colocando em total descrédito estas técnicas (como trocentas outras coisas sérias que foram estragadas pelos humanos estúpidos).

Mas o que diabos são chakras?

Eu pensei que fosse gastar umas dez páginas para explicar o que é um chakra, mas esta explicação da wikipedia está ótima para que é totalmente iniciante no assunto:

A palavra chakra vem do sânscrito e significa roda, disco, centro, plexo. Nesta forma eles são percebidos por videntes como vórtices (redemoinhos) de energia vital, espirais girando em alta velocidade, vibrando em pontos vitais de nosso corpo. Os chakras são pontos de interseção entre vários planos e através deles nosso corpo etérico se manifesta mais intensamente no corpo físico.

Bom… expliquei sobre os cristais, linhas energéticas, pirâmides e suas relações com os chakras do Planeta Terra (as Linhas de Ley) e os monumentos ressonando com os chakras dos seres humanos (mais uma vez: “tudo o que está em cima é igual ao que está embaixo”). Somente quando os cientistas perceberem que TUDO está em sincronicidade e passarem a estudar o planeta como um único e gigantesco mecanismo perfeito é que podemos pensar em “evolução”. Até lá, acupuntura, feng-shui, cristais e astrologia são “pseudo-ciências”, linhas de ley, energias telúricas, triângulo das bermudas e círculos de pedra são “coisas inexplicáveis”, pirâmides são “tumbas do faraó”… e nada disso está relacionado!

Neste ponto eu imagino que vocês já descobriram que a “Arca da Aliança” nada mais é do que algum tipo de fonte de energia altamente poderosa, a ponto de derrubar cidades apenas com “o som de trombetas”. Isto explica porque tantas pessoas, incluindo o tio Adolf Hitler e Cia, tentaram (e tentam) colocar as mãos nela.

Semana que vem eu falo mais detalhadamente sobre os Chakras e começo Árvore da Vida, Arca da Aliança e Templo de Salomão… e porque todas estas coisas estão ligadas com tudo o que eu disse até agora.

Como curiosidade, segue um link com o Mapa da Inglaterra e a maioria dos Círculos de Pedra cadastrados.

Até a semana que vem.

93,93/93

Marcelo Del Debbio

#Astrologia #LinhasdeLey #Pirâmides

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/energia-tel%C3%BArica-linha-de-ley-pir%C3%A2mides-e-c%C3%ADrculos

Branca de Neve e os sete pecados capitais

“Uma vez, no auge do inverno, quando flocos de neve caem como plumas das nuvens, uma rainha estava sentada à janela de seu palácio, costurando as camisas de seu marido. Nisto, levantou os olhos, espetou um dedo e caíram gotas de sangue na neve. E vendo o vermelho tão bonito sobre o branco, a rainha pensou:– Queria ter uma filha tão alva quanto a neve, tão vermelha como este sangue e tão negra como o ébano desta janela. Pouco tempo depois lhe nasceu uma filha que era branca como a neve, vermelha como o sangue e com uns cabelos negros como ébano. Por isso lhe puseram o nome de Branca de Neve. Mas, quando ela nasceu, a mãe morreu…”

Assim começa um dos mais famosos contos de fadas para crianças… mas será mesmo que a Branca de Neve foi escrito originalmente como uma inocente conto para colocar pequerruchos insones na cama?

Acompanhe a versão original e o simbolismo profundo por trás de um dos contos favoritos do tio Marcelo, e também do tio Walt Disney.

Logo de saída, a história de Branca de Neve nos indica que o ponto de vista a ser tomado para entendê-la mais profundamente é, sem dúvida, o iniciático. Chama atenção que o personagem central, Branca de Neve, sintetize em si as três cores que simbolizam, no Hermetismo, as três etapas da prática espiritual estabelecida por aquela doutrina: o negro, o branco e o vermelho, que correspondem respectivamente, ao Nigredo, Albedo e Rubedo dos alquimistas. Além disso, os sete anões, que trabalham numa mina buscando ouro, são uma clara alusão a outro aspecto do simbolismo alquímico, que nos informa ser a meta do alquimista a transformação dos metais impuros em ouro.

Não é também por acaso que a história se divide claramente em três partes. Na primeira, Branca de Neve vive no castelo comandado pela rainha má desde o nascimento (Malkuth) até quando foge do caçador pela floresta; na segunda, vive na casa dos sete anões até se engasgar com a maçã envenenada; na terceira, vive no castelo do príncipe unida com ele, “felizes para sempre”. É evidente aqui a aplicação do simbolismo do número três aos graus do conhecimento e, por extensão, às três fases da realização na via espiritual.

A essência e o objetivo da via espiritual iniciática é a união com Deus. Essa união só é possível porque ser homem é sê-lo à imagem e semelhança de Deus. O mito de Adão (Hochma) e Eva (Binah) nos ensina que, depois da queda, este aspecto essencial do humano tornou-se ineficiente. Por isso, toda e qualquer tentativa de reintegração da forma humana no seu Arquétipo infinito e divino, (a tal da volta ao Paraíso), só é possível se antes for regenerada à pureza do estado original humano. Por conta disso, chegamos à máxima alquímica da “transmutação do chumbo em ouro”, que nada mais é do que a reintegração da natureza humana na sua nobreza original.

Comparando a história da Branca de Neve com a mitologia Bíblica, de modo análogo ao relato do Gênesis, o conto diz que, no princípio, viviam em harmonia complementar um par de opostos, o Rei e a Rainha-Mãe boa. (novamente: Adão e Eva primordiais, ou Hochma e Binah, além do Abismo).

Com a morte da Rainha-Mãe e após o nascimento de Branca de Neve instaura-se um desequilíbrio, uma espécie de afastamento da unidade, que é representado pela chegada da rainha má (o Demiurgo). Assim, depois da morte da mãe, Branca de Neve perde sua dignidade de princesa no castelo do pai e se torna uma serva da madrasta má. Branca de Neve, apesar de ter a marca das três cores, que a qualifica como um ser especial, cai numa função subalterna dentro do mundo profano, marcado pela dualidade, pela dispersão, pelas paixões e dominado pela rainha má (que simboliza ao mesmo tempo as paixões vis e a Igreja dogmática). O conto nos mostra que é necessário reunir em si o disperso, reintegrar-se em retiro além da floresta e nas montanhas, para depois se unir ao Espírito, que aqui é sem dúvida figurado pelo Príncipe (Tiferet, ou o espírito Crístico).

A rainha madrasta descobre que Branca de Neve é a mais bela quando esta última faz sete anos. A rainha má é obcecada com a comparação quantitativa do aspecto estético (beleza física) e, portanto, apenas sensorial da realidade (Malkuth, a Matrix… vocês entenderam…). Ela é incapaz de perceber qualquer beleza interior. A unidade do belo, do bem e da verdade que todas as tradições religiosas e filosóficas sérias proclamam não existe na rainha má, por causa de uma concentração exagerada da inteligência dela no aspecto mais externo da realidade material (a ciência).

No íntimo do ser humano, o bem é bonito e o belo é verdadeiro. Significativamente, e por compensação, a rainha má manda um caçador matar Branca de Neve e trazer-lhe o coração, para que ela o coma. O coração, que no simbolismo astrológico e cabalístico é representado pelo Sol, e no alquímico pelo ouro, é considerado, nas mais diversas tradições, a morada do espírito, o centro (anatômico e simbólico) do ser onde habita o divino. No entanto, o coração que a rainha come (ou que ela pode comer) é o de um animal, que o caçador compadecido sacrifica no lugar de Branca de Neve. Consciente, daí por diante da enorme ameaça de destruição existente no mundo da rainha, e insatisfeita com ele, a alma qualificada (Yesod) foge correndo pela floresta. Sua vida acaba num mundo e se inicia em outro. Mas, essa iniciação não acontece antes que ela passe por uma provação que se revela, no fundo, uma purificação.

A floresta e as provas antes da iniciação

“A pobre Branca de Neve ficou sozinha, e transida de dor se pôs a caminhar, no escuro da floresta, por entre as árvores sem saber que rumo tomar. De repente começou a correr assustada com o barulho dos trovões, com o clarão dos relâmpagos e com a chuva que começava a cair. Correu saltando pedras e atravessando sarças; e os animais selvagens pulavam quando ela passava, mas não lhe faziam mal Ela correu até seus pés se recusarem a continuar, e como já era noite e viu uma choupana ali perto, entrou nela para descansar. Na choupana era tudo muito pequeno, porém nada podia ser mais limpo ou mais gracioso. No centro, via-se uma mesa coberta com uma toalha branca, e nela estavam sete pratinhos, cada um com sua colher, sua faca e seu garfo; havia também sete copinhos do tamanho de dedais. De encontro à parede se viam sete pequenos leitos, numa só fileira cobertos, cada um deles, com lençóis brancos como a neve.”

O texto parece sugerir que as provações iniciáticas são ritos preparatórios da iniciação propriamente dita. Elas representam uma preparação necessária, de tal forma que a iniciação mesma é como se fosse sua conclusão ou seu fim imediato. É bom lembrar que elas tomam a forma de viagens simbólicas em certas tradições (maçonaria, rosacruz, druidismo, wicca) e podem mesmo se apresentar como uma busca ou procura, que conduz o indivíduo das trevas do mundo profano para a luz da iniciação.

No fundo, as provações são essencialmente ritos de purificação; e essa é a explicação verdadeira para essa palavra num sentido claramente alquímico. A corrida de Branca de Neve pela floresta representa de modo muito preciso exatamente isso: uma viagem do mundo profano – figurado pelo castelo da rainha má, que é um mundo de maldade e mentira, o reflexo da mentalidade dela mesma – até o local claro, limpo e protegido, nas montanhas, onde se localiza a casa dos sete anões. É uma viagem do mundo exterior para um outro interior, onde ela vai encontrar e aprender a lidar com as sete faculdades de conhecimento corporal que estão esquecidas no mais íntimo dela mesma (os tais sete pecados capitais).

A chuva que aparece na nossa história mostra que o essencial nos ritos de purificação é que eles operam pelos “elementos”, entendidos no sentido cosmológico do termo, pois que elemento implica em ser simples; e dizer simples é o mesmo que dizer incorruptível. A água é um dos elementos mais usados nos ritos de purificação de quase todas as tradições (ver batismo egípcio, pela qual até mesmo Yeshua passou, e o batismo copiado em todas as tradições católicas/cristãs/essênias).

Talvez porque ela simbolize a substância universal. Notem a presença da limpeza e da cor branca na casa dos anões, indicadoras de que, depois da corrida pela floresta, a purificação se completou.

A casa dos anões é o Plano Mental, na qual todas as batalhas pela evolução do ser serão travadas até a conclusão do conto.

“Depois, estava tão cansada que se deitou numa das camas, mas não se sentiu à vontade. Experimentou outra e era muito comprida; a quarta era muito curta; a quinta dura demais; porém, a sétima era exatamente a que lhe convinha, e metendo-se nela se dispôs a dormir, não sem antes ter-se encomendado a Deus. Quando era noite regressaram os donos da choupana. Eram os sete anões que sondavam e perfuravam as montanhas em busca de ouro. A primeira coisa que fizeram foi acender sete pequenos lampiões, e imediatamente se deram conta – depois de iluminada toda a habitação – de que alguém havia entrado ali, já que não estava tudo na mesma ordem em que haviam deixado. (…) observando seus leitos gritaram: – Alguém deitou nas nossas camas! Mas, o sétimo anão correu à dele, e vendo Branca de Neve dormindo nela, chamou os companheiros que se puseram a gritar de assombro e levantaram seus sete lampiões iluminando a menina.”

Depreende-se desse trecho da história que, desde o ponto de vista das iniciações, a purificação tem como fim conduzir o ser a um estado de simplicidade indiferenciada comparável com o da matéria prima (ou pedra bruta), para usar uma expressão da alquimia, afim de que ele se torne apto a receber o Fiat Lux iniciático; é preciso que a influência espiritual, cuja transmissão vai dar a ele essa iluminação primeira, não encontre nenhum obstáculo devido a pré-formações desarmônicas provenientes do mundo profano (ou, em palavras mais claras, é necessário passar pelas provações dos sete planetas, por isso Branca de Neve deita-se em todas as camas). Relaxada e entregue, Branca de Neve não oferece nenhuma resistência à luz dos sete lampiões dos anões.

Os anões

Abandonar o mundo escuro e encontrar a luz tem suas conseqüências. Existem algumas indicações, sobre quais são essas conseqüências da “saída da floresta escura”. Nos primeiros versos do Inferno, na Divina Comédia de Dante Alighieri (outro grande iniciado: um dia vou explicar para vocês o real significado deste maravilhoso texto medieval), ele mesmo informa que a floresta representa o estado de vício e ignorância do homem. Estar perdido na floresta é o mesmo que estar perdido no labirinto da multiplicidade da manifestação (“Labirinto do Fauno”, anyone?).

Ora, a saída da floresta escura, ou, o que dá no mesmo, a morte ao mundo profano, implica logicamente numa mudança de mentalidade que surge como a primeira parte da fase inicial de mudança no direcionamento geral do ser, que é necessária para alcançar um grau mais elevado de clareza e iluminação. É evidente que a primeira providência prática, para alcançar essa mudança mental, está na revisão dos pontos de vista e das convicções pessoais, dos hábitos mentais, dos coágulos das emoções negativas, etc, etc. etc… ou seja, lapidar a pedra bruta até chegar ao elixir da longa vida.

Por isso mesmo, Branca de Neve deve se submeter a certas condições para poder ficar na casinha dos anões. As condições para ela ficar na casa eram: primeiro, seguir os conselhos deles para não abrir a porta para ninguém, porque a rainha má com o poder de se disfarçar e enganar, poderia atacá-la e matá-la; e segundo, manter a casinha sempre limpa e arrumada. Essa disciplina (em Branca de Neve) e essa limpeza interior (na casa dos anões, que representa nossa mente) são um espécie de treino para dominar todas as tendências obscuras e irracionais da alma, ambas necessárias para a realização do ouro interno, na sua pureza e luminosidade imutáveis. Isto corresponde ao que a alquimia chama de “extração dos metais nobres a partir dos metais impuros por meio da intervenção dos elementos solventes e purificadores, como o mercúrio e o antimônio, em conjunção com o fogo, e que se efetua inevitavelmente contra a resistência e a revolta das forças caóticas e tenebrosas da natureza” (bonito este texto, não?),

Ora, crianças… os anões são os conhecedores da técnica que permite a realização desse trabalho, porque eles sabem extrair ouro da montanha (aliás, a “montanha” será outro objeto de análise assim que eu voltar da Bienal do Livro). Na alma do homem são como que lampejos primitivos de consciência, de iluminação e de revelação. Anões são os gênios da terra, os famosos gnomos (e sim, eles existem mesmo… não como essas baboseiras pseudo-new-ages os retratam, mas um dia falo mais sobre eles).

Como o texto nos diz que são sete, eles correspondem exatamente aos sete metais/planetas que os alquimistas designavam pelos mesmos símbolos usados na astrologia para os sete planetas. Sol – ouro, Lua – prata, Mercúrio – mercúrio, Vênus – cobre, Marte – ferro, Júpiter – estanho e Saturno – chumbo. Essas correspondências colocam em evidência a relação que existe entre a alquimia e a astrologia e que se fundamenta no princípio que a Tábua de Esmeralda exprime assim: “O que está embaixo é semelhante ao que está em cima“. Por isso, Saturno, que é o planeta mais alto para Astrologia pois corresponde ao sétimo céu, eqüivale, na alquimia, ao chumbo, que está no ponto mais baixo da hierarquia. A hierarquia dos planetas é ativa, enquanto a dos metais é passiva.

No próprio filme da Disney, alguns dos anões representam estas características dos metais e dos planetas, como por exemplo, Mestre/Doc – O mais velho dos anões, representa o Sol, o líder. Feliz/Happy – representa a bonança e a fartura de Júpiter, gordinho e feliz. Juntos são os dois anões mais gordinhos na concepção de Disney. Em seguida temos Zangado/Grumpy representando a Ira de Marte, Dengoso/Bashful representando a beleza de Vênus, Soneca/Sleepy representando a Lua e seu pecado capital Preguiça, Atchim/Sneezy representando as atormentações de Saturno e Dunga/Dopey – Mercúrio, o mais rápido dos planetas, e também o menorzinho deles.

Mas, voltemos à parte do texto que descreve na linguagem simbólica e, portanto, mais rica do conto original:

“Quer ser encarregada de nossa casa? Será nossa cozinheira, fará as camas, lavará a roupa, coserá, fará meias para nós e conservará tudo limpinho e arrumado. Se trabalhar bem ficaremos com você, não terá falta de nada e será nossa Rainha. Branca de Neve respondeu: – Aceito, de todo meu coração! E foi assim que ela ficou com os anõezinhos e tomou conta da casa deles. De manhã os anões saiam pelas montanhas para procurar ouro, e quando regressavam, à noite, encontravam a comida preparada. Durante o dia a menina ficava sozinha, e por isto os anões nunca deixavam de lhe dizer quando saiam: – Tome cuidado com sua madrasta, que mais cedo ou tarde acabará sabendo que você está aqui, e não deixe entrar ninguém.”

O tempo que Branca de Neve fica na casa dos anões é um tempo de treinamento, disciplina interior e aprendizado. É nesse período, durante o qual acontecem seus três perigosos encontros com a madrasta disfarçada, que ela aprende a usar a sabedoria representada pelos anões (que no fundo está nela mesma) para lidar com os elementos ainda não ordenados que tem dentro de si.

As práticas ou rituais – implícitas no processo iniciático – preparam para o contato com o poder unificador do Espírito (Tiferet, a iluminação), cuja presença exige que a substância psíquica tenha se tornado um todo unificado. Os elementos mais ou menos dispersos de nossa personalidade mundana são, desse modo, compelidos a juntar-se. E, alguns deles chegam enraivecidos, vindos de lugares ocultos, remotos ou obscuros com os poderes inferiores ainda agarrados a eles. É mais correto dizer, neste caso, que é o inferno que ascende do que afirmar que é o praticante que desce nele.

Quem sai do seu castelo enraivecida pela inveja e vai procurar Branca de Neve é a Madrasta, e não o contrário! Essa guerra das forças inferiores conduz a uma verdadeira batalha que tem a alma como campo de luta (a tal simbologia da luta entre o “céu” e o “inferno” pelas nossas almas.

As três tentativas da rainha má para matar Branca de Neve mostram, que no começo do caminho os elementos psíquicos pervertidos estão de certo modo adormecidos e afastados do centro da consciência, do mesmo modo que a madrasta está no castelo, longe da casa dos anões. Eles devem ser primeiramente acordados, pois não podem ser redimidos e transformados dentro do seu sono. E é no momento em que despertam, num estado de ódio enfurecido contra a nova ordem, que existe sempre o risco de que eles se apossem de toda a alma. O que não acontece no conto porque os anões, que são as partes de conhecimento da alma, não são atingidos pela rainha e por isso salvam a princesa nas duas ocasiões em que a madrasta disfarçada tenta matá-la. A primeira através de sufocação com um espartilho apertado e a segunda com um pente envenenado na cabeça (estas partes acabaram ficando de fora da versão de desenho animado, mas constam da versão original do conto).

Esses episódios são descrições simbólicas da transformação do metal vil em metal nobre. As faculdades corporais de conhecimento, representadas pelos anões, começam a atuar de modo consciente e é através de seu uso que Branca de Neve se salva por duas vezes.

A morte de Branca de Neve

A palavra morte deve ser compreendida neste caso no seu sentido mais geral, segundo o qual pode-se dizer que toda a mudança de estado, qualquer que seja, é ao mesmo tempo uma morte em relação a um estado antecedente e um nascimento em relação ao estado seguinte (como no mito da Fênix).

A iniciação é geralmente descrita como um segundo nascimento que implica, logicamente, na morte para o mundo profano. É bom lembrar que toda mudança de estado deve se passar nas trevas, no escuro, o que explica o simbolismo da cor negra quando relacionada a esse assunto. O candidato à iniciação deve passar pela obscuridade completa antes de alcançar a verdadeira luz. É nesta fase de obscuridade que se dá a chamada “descida aos infernos”, que é uma espécie de recapitulação dos estados antecedentes, através da qual as possibilidades relacionadas ao estado profano serão definitivamente esgotadas, afim de que o ser possa, daí por diante, desenvolver livremente as possibilidades de ordem superior que ele carrega consigo e cuja realização pertence propriamente ao domínio iniciático.

No nosso conto, Branca da Neve “morre” ou muda de estado, depois que come uma maçã. Come? Não. Ela se engasga. Os anões conseguem ressuscitar Branca de Neve por duas vezes, mas não são competentes para fazê-lo quando se trata da maçã porque, como explicaremos em seguida, a maçã representa, não uma provação de ordem corporal, e sim uma do domínio da inteligência, pois que a maçã é o fruto símbolo do conhecimento.

A maçã

Desde a maçã de Adão e Eva até o pomo da Discórdia, passando pelo pomo de ouro do jardim das Hespérides, encontramos, em todas as circunstâncias, a maçã como um meio de conhecimento. Ela está carregada de duplicidade pois, ora é o fruto da Árvore da Vida que está no meio do Paraíso e ora é o fruto da Árvore da Ciência do bem e do mal que, paradoxalmente, lá também se encontra. Pode ser, portanto, conhecimento unificador que confere a imortalidade ou conhecimento desagregador que provoca a queda.

Se examinamos seu simbolismo, também, desde o ponto de vista de sua estrutura física, podemos constatar novamente essa duplicidade característica dos meios de conhecimento. Assim, ela é símbolo do conhecimento, pois um corte feito perpendicularmente ao eixo revela que, no seu íntimo, está um pentagrama, símbolo tradicional do saber, desenhado pela própria disposição das sementes (faça o teste em casa, crianças!). Por outro lado, o pentagrama é também um símbolo do homem-espírito e desde esse ponto de vista ela indica, ao mesmo tempo, a involução do espírito dentro da matéria.

“A Rainha disfarçada bateu à porta, e Branca de Neve enfiou a cabeça e disse:

– Não posso deixar ninguém entrar. Os sete anões me proibiram isso.
– Pior para mim, disse a velha, pois terei de voltar para casa com minhas maçãs. Mas, olhe, eu lhe dou esta de presente.
– Não tenho coragem de comer, respondeu Branca de Neve.
– Será que está com medo? gritou a velha.
– Olhe vou parti-la em duas metades; você come a parte de fora e eu comerei a de dentro. ( A maçã estava preparada com tanta habilidade que só as partes vermelhas estavam envenenadas).”

Os anões não enterraram Branca de Neve, mesmo depois que a encontraram envenenada pela maçã e não conseguiram ressuscitá-la, porque depois de passar por essa fase, Albedo, não se volta mais ao Nigredo, pois o processo segue em frente para o Rubedo, que é a união com o Espírito representado pelo príncipe. As cores alquímicas e seu simbolismo (indicadas também pelas aves que lamentam Branca de Neve) são claramente mostradas no texto abaixo:

“Quando os anõezinhos regressaram à noite encontraram Branca de Neve estendida no chão e aparentemente morta. Levantaram-na e procuraram nela alguma coisa venenosa, desapertaram-lhe o vestido e até lhe despentearam os cabelos e a lavaram com água e vinho. Mas, de nada serviu. A querida menina parecia realmente morta. Estenderam-na então num ataúde e os sete anões colocaram-se à sua volta e choraram sem cessar durante três dias e três noites. Depois quiseram enterrá-la, mas vendo-a tão fresca e com as faces tão coradas disseram uns para os outros:

– Não podemos enterrá-la na terra negra.

E encomendaram uma caixa de cristal transparente. Através dela se via o corpo de Branca de Neve por todos os lados e os anões escreveram seu nome em letras douradas no vidro, dizendo que ela era filha de um rei. Depois colocaram a caixa de cristal no alto de uma rocha e sempre ficava ali um deles vigiando. Até os animais selvagens lamentaram a perda de Branca de Neve: primeiro chegou um bufo, depois um corvo e por último uma pomba. Durante muito tempo Branca de Neve permaneceu placidamente estendida em seu féretro. Nada mudou em seu rosto e parecia que estava adormecida, pois continuava negra como ébano, branca como a neve, vermelha como o sangue.”

Como dissemos acima, a maçã é um símbolo do Mundo. Mas, o que a rainha má oferece a Branca de Neve é APENAS o aspecto mais externo, mais atraente e venenoso deste Mundo com o qual ela tem que entrar em contato para dominá-lo (novamente, temos um paralelo com Matrix). A história nos conta que, apesar de aparentemente morta, Branca de Neve mantinha o mesmo frescor de pele e a beleza luminosa do tempo em que estava viva. Isso nos indica que a alma, com o corpo transfigurado e dissolvido nela, está pronta para que o Espírito aja sobre ela e a torne indestrutível.

“Passaram-se meses, e aconteceu que o filho do rei viajava pelo bosque, e entrou na casa dos anões para passar a noite. Não tardou a dar-se conta do ataúde de cristal no alto da rocha, contemplou nele a bela jovem que repousava, e leu a inscrição dourada. Depois que leu, disse, dirigindo-se aos anões:

– Dêem-me esta caixa, e pagarei o quanto quiserem por ela.
Mas os anões responderam:
– Não venderemos nem por todo o ouro do mundo.
– Então quero-a de presente, disse o príncipe, porque não poderei viver sem Branca de Neve.

Os anões vendo a ansiedade com que ele fazia o pedido, ficaram compadecidos, e acabaram entregando a caixa, e o príncipe ordenou a um dos seus servos que a carregasse nos ombros. Mas, aconteceu que este tropeçou numa raiz, e com o baque, saltou no chão o pedaço da maçã envenenada que estava na boca de Branca de Neve. Imediatamente esta abriu os olhos e levantando a tampa da caixa de cristal, voltou a si, e perguntou:
– Onde estou eu ?
– Está salva e a o meu lado! respondeu o príncipe cheio de alegria. E lhe contou o que havia sucedido, terminando por lhe suplicar que o acompanhasse ao castelo do rei seu pai, pois ele a queria para esposa. Branca de Neve aceitou, e quando chegaram ao palácio celebraram-se as bodas o mais rapidamente possível, com o esplendor e magnificência adequados a tão feliz sucesso.”

O pedaço da maçã, que Branca de Neve não engoliu e, portanto, não se tornou parte dela é um último vestígio do mundo que nela se mantinha, de certo modo, sobreposto. Ele é retirado com a presença do príncipe. O Espírito, então, dá a forma final à alma.

Existe uma versão do conto, bem antiga, na qual o Príncipe mantém relações sexuais com a Branca de Neve e o movimento da transa é que faz o pedaço de maçã escapar da garganta da princesa. Esta versão é mais interessante do ponto de vista do Hieros Gamos, mas certamente daria alguns problemas com a censura se estivesse no desenho da Disney.

E a Rainha má?

“A rainha má a princípio resolveu não ir às bodas, mas depois não pode resistir ao desejo de ver a jovem Rainha, e, quando entrou e reconheceu Branca de Neve, de tanta raiva, e de tanto assombro, ficou como pregada no chão. Levaram-lhe então, seguros por uma tenazes, uns sapatos de ferro, aquecidos em brasa, e com eles a rainha teve que bailar até cair morta.”

O mundo manifestado, feito de agitação e desejo, esgota-se em seu próprio movimento, quando posto em frente da unidade do Espírito. O casamento, símbolo da unidade e do encontro dos opostos toma aqui uma acepção específica: é a união da alma com Espírito. União, impossível de acabar porque é feita de uma felicidade absoluta que está além e acima da matrix. Por isso todos os contos iniciáticos acabam com a expressão “e viveram felizes para sempre.”

É bom lembrar que o sapato tem entre suas acepções simbólicas duas principais: é, primeiramente, representação do viajante e, portanto, do movimento. Simboliza não só a viagem para o outro mundo, mas a caminhada em todas as direções, neste mundo mesmo. Em segundo lugar, é uma prova da identidade da pessoa, como em Cinderela, que é reconhecida pelo príncipe porque seu pé cabe num sapatinho de cristal.

Na história de Branca de Neve, o pé da rainha má cabe num sapato de ferro em brasa. Enquanto a delicadeza do cristal é a marca da identidade de Cinderela (outro dia eu falo sobre Cinderela), a rainha má é reconhecida pelo peso, dureza e densidade do ferro.

O símbolo deve pertencer sempre de uma ordem inferior à daquilo que é simbolizado; assim as realidades do domínio corporal, que são as de ordem mais baixa e mais estreitamente limitadas, não são simbolizadas por coisa alguma porque tal símbolo é completamente desnecessário, já que elas podem ser apreendidas diretamente por qualquer um. Por outro lado, qualquer fenômeno ou acontecimento, (por mais insignificante que seja), devido à correspondência que existe entre todas as ordens de realidade, pode ser tomado como símbolo de algo de ordem superior, da qual ele é de certo modo uma expressão sensível, pois que deriva dela do mesmo modo como uma conseqüência deriva de seu princípio.

Agradecimentos ao irmão astrólogo Cid de Oliveira pelo texto original que eu expandi e adicionei comentários meus.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/branca-de-neve-e-os-sete-pecados-capitais

Meditação e Neurociência

Meditação é muito mais que um exercício de relaxamento. Neurocientistas constatam que exercícios mentais regulares modificam nossas células cinzentas – e, portanto, também nosso modo de pensar e sentir.

Por Ulrich Kraft

Vermelho, amarelo, verde. Diante das diferentes cores nas imagens de ressonância magnética funcional, Richard Davidson identifica as regiões do cérebro de seu voluntário que apresentam atividade significativa enquanto este tenta conduzir a própria mente ao estado conhecido como “compaixão incondicional”. O tubo estreito do barulhento tomógrafo de ressonância magnética está, com certeza, entre os locais mais estranhos nos quais Matthieu Ricard já praticou essa forma de meditação, central na doutrina budista, nos seus mais de 30 anos de experiência.

Para o francês, o papel de cobaia no laboratório de Davidson, na Universidade de Wisconsin, em Madison, é também uma viagem ao passado – a seu passado como cientista. Em 1972, aos 26 anos, Ricard obteve seu doutorado em biologia molecular no renomado Instituto Pasteur, de Paris. Pesquisador iniciante, com futuro promissor pela frente, decidiu-se pela “ciência contemplativa”. Viajou, então, para o Himalaia e passou a dedicar a vida ao budismo tibetano. Hoje, é monge do mosteiro Schechen, em Katmandu, escritor, fotógrafo e, na condição de tradutor, integrante do círculo mais próximo ao Dalai Lama. Ricard, no entanto, retornou à “ciência racional” porque Davidson queria saber que vestígios a meditação deixa no cérebro.

Sem o Dalai Lama, é provável que a insólita colaboração entre o neuropsicólogo e o monge jamais tivesse acontecido. Há cinco anos, ao lado de outros pesquisadores, Davidson visitou o chefe espiritual do budismo tibetano em Dharmsala, local de seu exílio na Índia. Lá, discutiram animadamente as descobertas neurocientíficas mais recentes e, em particular, como surgem as emoções negativas no cérebro. Raiva, irritação, ódio, inveja, ciúme – para muitos budistas praticantes, essas são palavras desconhecidas. Eles enfrentam com serenidade e satisfação até mesmo o lado ruim da vida. “A meta suprema da meditação consiste em cultivar as qualidades humanas positivas. Então, vimos isso como algo que precisaríamos investigar com o auxílio das ferramentas modernas da ciência”, conta Davidson.

Ele foi pioneiro nessa área, mas nomes importantes da pesquisa cerebral seguiram seus passos. Com auxílio da medição das ondas cerebrais e dos procedimentos de diagnóstico por imagem, os cientistas buscam descobrir o que nosso órgão do pensamento faz enquanto mergulhamos em contemplação interior. E os esforços já deram frutos. Os resultados dessa pesquisa high-tech, no entanto, dificilmente surpreenderiam o Dalai Lama, uma vez que não fazem senão comprovar o que os budistas praticantes vêm dizendo há 2.500 anos: a meditação e a disciplina mental conduzem a modificações fundamentais na sede do nosso espírito.

No início da década de 90, seria muito difícil que algum pesquisador sério ousasse fazer tal afirmação publicamente. Afinal, uma das leis fundamentais das neurociências dizia que as conexões entre as células nervosas do cérebro estabelecem-se na infância e mantêm-se inalteradas até o fim da vida. Hoje se sabe que tanto a estrutura quanto o funcionamento de nossa massa cinzenta podem se modificar até a idade avançada. Quando alguém se exercita ao piano, além do fortalecimento dos circuitos neuronais envolvidos, novas conexões são criadas, aumentando a destreza dos dedos. O efeito produzido pelo treinamento é algo que devemos à chamada plasticidade cerebral. Em sua curta história, essa plasticidade já foi examinada sobretudo no contexto dos exercícios físicos e dos sinais provenientes do exterior, como os ruídos, por exemplo.

Campeões da mente

Pesquisador das emoções, porém, Davidson queria saber se atividades puramente mentais também poderiam modificar o cérebro e, em caso afirmativo, de que forma isso atuaria sobre o estado de espírito e a vida emocional de uma pessoa. Os budistas vêem sua doutrina como uma “ciência da mente”, e a meditação, como meio de treinar a mente. Para Davidson, era natural buscar respostas com esses “campeões olímpicos do trabalho mental”.

Seu primeiro voluntário, um abade de um mosteiro indiano, trazia na bagagem mais de 10 mil horas de meditação e, uma vez no laboratório, logo causou surpresa. Seu córtex frontal esquerdo – porção do córtex cerebral localizada atrás da testa – revelou-se muito mais ativo que o de outras 150 pessoas sem experiência de meditação, estudadas a título de comparação. Como já havia constatado, tal padrão de excitabilidade sinaliza bom estado de espírito – um “estilo emocional positivo”, nas palavras de Davidson. Decisiva é aí a relação entre a atividade nos lobos frontais esquerdo e direito.

Nas pessoas mais infelizes e pessimistas, o predomínio é do lado direito – em casos extremos, elas sofrem de depressão. Tipos otimistas, ao contrário, que atravessam a vida com um sorriso nos lábios, têm o córtex frontal esquerdo mais ativo. Experimentos mostraram que essas pessoas superam com mais rapidez emoções negativas, como as que necessariamente resultam, por exemplo, da contemplação das fotos de uma catástrofe. Fica evidente que essa região cerebral mantém sob controle os sentimentos “ruins” e, dessa forma, talvez responda também pelo equilíbrio mais feliz e pela paz de espírito que caracteriza tantos budistas.

A fim de comprovar essa suposição, Davidson continuou testando mais monges e, dentre eles, Matthieu Ricard. Com todos, o resultado foi o mesmo. “A felicidade é uma habilidade que se pode aprender, tanto quanto um esporte ou um instrumento musical”, concluiu o pesquisador. “Quem pratica fica cada vez melhor”.

De imediato, choveram críticas: como podia ele saber, afinal, se aqueles mestres da meditação já não possuíam cérebro “feliz” antes mesmo de pisar num mosteiro? A objeção não poderia ser descartada assim, sem mais. Por isso mesmo, seu grupo lançou-se a novos estudos. Os pesquisadores recrutaram voluntários entre funcionários de uma empresa de biotecnologia, dividindo-os em dois grupos aleatórios. Metade formou um grupo de controle, enquanto os 23 restantes receberam treinamento em meditação ministrado por Jon Kabat-Zinn, um dos mais conhecidos mestres americanos da chamada mindfulness meditation. Nesse exercício mental, trata-se de contemplar de forma imparcial e isenta de juízo os pensamentos que passam pela cabeça, como se assumíssemos o ponto de vista de outra pessoa. As aulas ocuparam de duas a três horas semanais, complementadas por uma hora diária de treino em casa.

Como se supunha, o treinamento mental deixou vestígios. De acordo com as medições efetuadas por eletroen-cefalograma (EEG), a atividade no lobo frontal daqueles que participaram do curso de meditação deslocou-se da direita para a esquerda. Isso refletiu em seu bem-estar: os voluntários relataram diminuição dos medos e um estado de espírito mais positivo.

Entre os que não meditaram, nenhum deslocamento se verificou no padrão das ondas cerebrais. Dessa vez, porém, Davidson conteve-se na avaliação de seu estudo, que não autorizaria conclusões definitivas. Mas é provável que, em segredo, tenha se alegrado com a perfeição com que os novos resultados corroboravam sua hipótese inicial: a meditação é capaz de modificar de forma duradoura a atividade cerebral. E, ao que parece, isso funciona não apenas para os mestres da reflexão espiritual, mas também para leigos.

Emoções básicas

Nesse meio tempo, Paul Ekman, uma das estrelas da cena neurocientífica, interessou-se também pela figura do monge. Na verdade, o psicólogo da Universidade da Califórnia, em São Francisco, ocupa-se das emoções básicas, ou seja, daquelas reações emocionais fundamentais que nos são inatas – o susto que nos faz tremer as pernas, por exemplo, quando um rojão explode inesperadamente perto de nós. Respondemos de forma automática a esses ruídos súbitos, graças ao startle reflex, o reflexo de susto. Dois décimos de segundo após a explosão, sempre os mesmos cinco músculos da face se contraem e, passados outros três décimos de segundo, nossa expressão facial se descontrai. Essa reação de susto é sempre idêntica em todas as pessoas, e isso porque, simplificando, assim é o “cabeamento” do cérebro. Como todos os reflexos comandados pelo tronco encefálico, também essa reação escapa ao controle da consciência, isto é, não se deixa reprimir intencionalmente. É, pelo menos, o que reza o estágio atual do nosso conhecimento.

Que, no entanto, nem todos se assustem com a mesma intensidade era uma questão que interessava Ekman havia algum tempo. O motivo é que a intensidade individual da contração muscular permite inferir o estado de espírito de uma pessoa. Quem sente emoções negativas com freqüência – em especial, medo, raiva, pesar e nojo – apresenta um startle reflex bem mais pronunciado que pessoas tranqüilas.

Por essa razão, Ekman estava autorizado a esperar uma reação de susto abaixo da média ao testar um lama budista e solicitar-lhe que buscasse ocultar ao máximo a inevitável contração muscular. Ainda assim, o resultado o deixou perplexo, uma vez que praticamente nada se moveu no rosto do monge. “Quando ele tentou reprimir o susto, a reação quase desapareceu”, relatou Ekman, incrédulo. “Nenhum pesquisador jamais encontrou alguém capaz de fazer isso.” Nem mesmo um som tão alto como um tiro de revólver assustou o lama. O motivo, na explicação do próprio monge: meditação. “Enquanto eu rumava para o estado aberto, a explosão me pareceu mais suave, como se eu estivesse bem longe.” Bastante espantoso, do ponto de vista neurocientífico, é que o monge obviamente conseguiu, por força da vontade, modificar uma reação do cérebro que, na verdade, é automática.

Ao que parece, o órgão do pensamento dos budistas em meditação funciona de modo diferente da massa cinzenta do homem comum – mas como? Em busca de respostas, Olivia Carter e Jack Pettigrew acabaram indo parar na parte indiana do Himalaia, em direção a Zanskar, onde se encontram mosteiros budistas muito antigos. Lá, os pesquisadores da Universidade de Queensland, Austrália, investigaram um fenômeno de que a ciência vem se ocupando desde o século XVI: a chamada rivalidade binocular ou perceptiva.

Em geral, não constitui problema para o cérebro fundir numa única imagem a informação visual recebida pelos olhos. Os “instantâneos” percebidos pelos olhos direito e esquerdo encaixam-se à perfeição, porque ambos os lados contemplam a mesma cena. Mas o que acontece quando, por meio de um aparelho apropriado, cada olho vê uma imagem diferente – digamos, o esquerdo, listras azuis horizontais, e o direito, listras azuis verticais? Não podemos ver as duas coisas ao mesmo tempo, razão pela qual o cérebro resolve a disputa de forma diplomática: primeiro, decide-se por uma das imagens para, então, passados alguns poucos segundos, mudar para a outra. E sai pulando daqui para lá e de lá para cá: nossa percepção consciente alterna sem cessar as imagens percebidas por um olho e pelo outro.

Decerto, se concentrarmos toda a nossa atenção numa das imagens, ela se manterá por mais tempo diante do nosso olho interior, mas essa forma de balizamento é bastante limitada. Algumas características das imagens modulam a rivalidade binocular. Se confrontados a um só tempo com um estímulo visual fraco (finas linhas verticais, por exemplo) e outro forte (um grosso traço horizontal), voluntários vêem o último por mais tempo. Em virtude desses dois efeitos, o fenômeno suscita muita discussão neurocientífica, já que, no fundo, trata-se de como o cérebro regula a percepção visual. A modalidade do estímulo, ou seja, as imagens apresentadas aos olhos, determina para que lado penderá a disputa – ou seria isso algo controlável de forma deliberada?

O controle deliberado é a resposta certa – é o que afirma a descoberta, surpreendente até para especialistas – que o grupo de Olivia Carter trouxe de sua expedição investigativa ao Himalaia. Ao menos, essa é a conclusão que se aplica ao objeto específico de estudo da pesquisadora: 76 monges budistas com intensa prática de meditação, com idade entre 5 e 54 anos. “Na meditação, pessoas experimentadas são capazes de alterar de forma mensurável as flutuações normais do estado de consciência a que a rivalidade binocular induz.” Assim resumem os cientistas os resultados obtidos, publicados em junho na revista Current Biology.

Carter solicitou a seus voluntários que praticassem a chamada meditação focada em um só ponto. Eles concentraram-se por inteiro num único objeto ou pensamento. Durante essa prática, ou pouco depois dela, os monges, dotados de óculos especiais, foram obrigados a contemplar ao mesmo tempo dois padrões diferentes – um para cada olho. Com o auxílio do mergulho meditativo, mais da metade conseguiu prolongar nitidamente cada fase das comutações típicas da rivalidade binocular. Alguns foram capazes até mesmo de reter uma imagem por mais de cinco minutos – façanha impensável para os voluntários sem experiência meditativa empregados para comparação, que, em média, limitaram-se a reter cada imagem por 2,6 segundos. O feito, no entanto, revelou-se dependente da técnica de meditação utilizada. Quando, em vez da meditação focada em um só ponto, os monges empregaram outro método – voltado antes a um mergulho interior mais genérico que a um objeto concreto -, a alternância constante das imagens manteve-se a habitual. Decisivo, pois, para a estabilização da percepção visual é não apenas a meditação em si, mas o modo como ela é praticada.

Concentração é tudo

Além da rivalidade binocular, outro fenômeno interessava aos pesquisadores australianos: a “cegueira induzida por movimento”. Também ela escapa ao controle consciente – ou, pelo menos, assim se pensava. Nesse tipo de experimento, o voluntário contempla uma grande quantidade de pontos que disparam por uma tela. Entre eles, porém, vêem-se alguns pontos fixos, em geral de outra cor. A requerida concentração nos exemplares em ágil movimento faz com que os imóveis pareçam sumir, como se o cérebro os apagasse. Mas não por muito tempo: volta e meia, eles tornam a se imiscuir por um instante na percepção, e o participante não tem como impedir que o façam.

Um dos monges, no entanto, não teve dificuldade alguma com isso. O eremita, que se dedicava havia décadas e em total solidão ao mergulho interior, pôde perfeitamente eliminar os pontos fixos que em geral afloram cintilantes à consciência. Mais de 12 minutos se passaram até que ele anunciasse o reaparecimento de um deles. A partir das alterações nas funções visuais observadas, a equipe deduziu que, na mente desses mestres da meditação, algumas coisas transcorrem de modo não usual. “Diferentes modalidades de meditação e tempos de treinamento diversos conduzem a modificações de curto e longo prazo no plano neuronal”, concluíram os pesquisadores.

Seu colega Richard Davidson vai gostar de ouvir isso, sobretudo porque, em 2004, também ele encontrou outras comprovações dessa tese, graças à ajuda de Matthieu Ricard e de mais sete monges enviados pelo Dalai Lama ao laboratório em Madison. Eram todos mestres da contemplação mental, trazendo na biografia algo entre 10 mil e 50 mil horas de meditação – objetos de estudo ideais para as neurociências, como crê o ex-cientista Ricard: “A fim de verificar que porções do cérebro se ativam em diversos estados emocionais e mentais, são necessárias pessoas capazes de atingir esses estados e permanecer neles com lucidez e intensidade”.

No caso dos monges de Davidson, a forma de meditação solicitada foi aquela conhecida como compaixão incondicional: amor e compaixão penetram na mente, fazendo com que o praticante se disponha a ajudar os outros sem qualquer reserva. Os monges deveriam se manter nesse estado por um curto período de tempo e, em seguida, deixá-lo. Enquanto isso, Davidson registraria suas ondas cerebrais com auxílio de 256 sensores distribuídos por toda a cabeça. A comparação com um grupo de novatos na prática da meditação revelou diferenças gritantes. Durante a meditação, a chamada atividade gama sofreu forte aumento no cérebro dos monges, ao passo que mal se alterou nos voluntários inexperientes.

Além disso, essas ondas cerebrais velozes e de alta freqüência esparramaram-se por todo o cérebro dos lamas. Trata-se de um resultado bastante interessante. Em geral, ondas gama só aparecem no cérebro por um breve período de tempo, limitadas não apenas do ponto de vista temporal, mas também em termos espaciais.

Que significado elas têm, os neurocientistas ainda não sabem dizer. Essas ondas cerebrais ritmadas, com freqüências em torno de 40 hz, parecem acompanhar grandes desempenhos cognitivos – momentos de concentração mais intensa, por exemplo. Talvez representem o estado de alerta extremo, descrito por tantos praticantes da meditação, especulam alguns. Portanto, por mais relaxado que um monge budista possa parecer, seu cérebro não se desliga de modo algum enquanto ele medita. Ao contrário: durante o mergulho espiritual, fica evidente que está, na verdade, a toda. “Os valores medidos em Ricard estão de fato acima do bem e do mal”, relata o psicobiólogo Ulrich Ott com audível espanto. Mas o que fascina ainda mais o pesquisador é o fato de as estimulações terem atravessado de forma tão coordenada todo o cérebro dos lamas. E a razão do fascínio é que há ainda uma segunda hipótese a respeito do significado e do propósito das ondas gama, hipótese que, aliás, envolve um dos maiores mistérios da pesquisa cerebral: a questão de como surgem os conteúdos da consciência.

Quando tomamos um cafezinho, o que percebemos conscientemente é a impressão geral – os componentes isolados são processados pelo cérebro em diversas regiões. Uma reconhece a cor preta, outra identifica o aroma típico, uma terceira, a forma da xícara e assim por diante. Mas não se descobriu até hoje que área cerebral junta todas as peças desse quebra-cabeça. Por isso, os estudiosos da consciência supõem que os neurônios envolvidos se comuniquem por intermédio de uma espécie de código identificador – a freqüência gama. Quando as células nervosas para “preto”, “aroma” e “xícara” vibram juntas a uma freqüência de 40 hz, o cafezinho surge diante do nosso olho interior. De acordo com essa tese – e diversos experimentos parecem confirmá-la -, as ondas gama constituiriam, portanto, um tipo de freqüência superior de controle que sincronizaria e reuniria regiões diversas, espalhadas por diferentes partes do cérebro.

Isso explicaria por que a meditação é tida como um caminho para alcançar outros estados de consciência. Em condições normais, as oscilações gama extremamente coordenadas que Davidson observou nos monges jamais ocorreriam, acredita Ott. “Se todos os neurônios vibram em sincronia, tudo se unifica, já não se distingue nem sujeito nem objeto. E essa é precisamente a característica central da experiência espiritual.”

Mesmo antes da meditação, a atividade gama no cérebro dos monges era visivelmente mais intensa que no restante dos voluntários, em especial sobre o córtex frontal esquerdo, tão decisivo para o equilíbrio emocional.

Na opinião de Davidson, essa é mais uma prova de que, pela via da meditação – ou seja, do trabalho puramente mental -, é possível modificar aspectos específicos da consciência e, portanto, da personalidade como um todo. “As conexões no cérebro não são fixas. Isso quer dizer que ninguém precisa ser para sempre o que é hoje.” Disso, Ricard não tinha dúvida nenhuma, mesmo antes de sua visita a Madison: “Meditação não significa sentar-se embaixo de uma mangueira e curtir o momento. Ela envolve profundas modificações no ser. A longo prazo, nos tornamos outra pessoa”.

Para conhecer mais:
O monge e o filósofo: o budismo hoje. Jean-François Revel e Matthieu Ricard. Mandarim, 1998.
Studying the well-trained mind. M. Barinaga, em Science, 302 (5642), págs. 44-46, 2003.
Meditation alters perceptual rivalry in tibetan buddhist monks. O. Carter et al., em Current Biology, 15 (11), págs. R412-413, 2005.
Alterations in brain and immune function produced by mindful meditation. R. Davidson et al., em Psychosomatic Medicine, 65, págs. 564-570, 2003.
Long-term meditators selfinduce high-amplitude gamma synchronity during mental practice. A. Lutz et al., em Proceedings of the National Academy of Sciences, 101 (46), págs. 16369-16373, 2004.

#meditação

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/medita%C3%A7%C3%A3o-e-neuroci%C3%AAncia

Pitágoras e os Feijões

Para quem acha que isto é apenas uma fábula:

“Perhaps the most famous of the Pythagorean dietary restrictions is the prohibition on eating beans, which is first attested by Aristotle and assigned to Pythagoras himself (Diogenes Laertius VIII. 34). Aristotle suggests a number of explanations including one that connects beans with Hades, hence suggesting a possible connection with the doctrine of metempsychosis. A number of later sources suggest that it was believed that souls returned to earth to be reincarnated through beans (Burkert 1972a, 183). There is also a physiological explanation. Beans, which are difficult to digest, disturb our abilities to concentrate. Moreover, the beans involved are a European vetch (Vicia faba) rather than the beans commonly eaten today. Certain people with an inherited blood abnormality develop a serious disorder called favism, if they eat these beans or even inhale their pollen. Aristoxenus interestingly denies that Pythagoras forbade the eating of beans and says that “he valued it most of all vegetables, since it was digestible and laxative” (Aulus Gellius IV. 11.5, Stanford University).

Muita gente me escreve nos comentários ou por email perguntando porque não escrevo textos mais profundos sobre determinados assuntos aqui no Blog, deixando apenas um conhecimento aparentemente para iniciantes ou para quem está no começo. A maioria dos meus alunos já sabe, porém, que após os cursos de hermetismo ou após alguns anos na Rosacruz, Maçonaria, Martinismo ou Ordens Herméticas, todos os textos do TdC revelam-se ao buscador com uma segunda camada de conhecimentos mais escondidos, que dificilmente eu vou explicar de maneira aberta.

Um dos exemplos mais óbvios são as imagens que coloco a cada passagem de signo solar. Cada ano, leitores comentam que entenderam mais e mais pedaços das imagens, inclusive percebendo objetos que nem repararam na primeira vez que observaram tais imagens.

Assim como nos tempos de Pitágoras, tudo no Ocultismo sério é aprendido na forma de espiral, ou labirinto. Primeiro se passa pelo texto de maneira exotérica (que, repetido sem o devido conhecimento, pode acabar nos sites esquisotéricos do famoso copia-e-cola-do-site-do-deldebbio-sem-dar-crédito). Ao buscador, que chegou ao texto porque já estava procurando por alguma palavra chave por conta dos trabalhos das ordens Herméticas (e eu coloco as palavras certas nos locais certos pois o deus Google é generoso com quem trabalha junto a ele), já compreende o texto de uma maneira mais profunda, porque vai encontrar a informação que precisava ali.

Infelizmente, no Reino da fast-food intelectual, as pessoas querem respostas rápidas e sem entender a profundidade do que necessitam aprender para compreendê-la totalmente (“O que significa aquela rosa branca na mão daquele personagem do tarot?” uma resposta XYZ e a pessoa diz “Ah tá” mas não aprendeu porra nenhuma, nem interiorizou o que aquela imagem realmente passa em uma meditação mais profunda).

Percebemos hoje que, de 4000 pessoas que começam estudos sérios no hermetismo, 3.400 sequer consegue passar do primeiro degrau da pirâmide… e menos de 2% chegam até as portas do Templo.

Paralelamente, vemos crescer o número de gente mandando emails porque se ferraram em rituais qliphoticos, caíram em pactos pactorums, roubadas tantricas, entraram em grupinhos de estudo picaretas, maçonarias espúrias galácticas, Illuminatis da silva, grupos de eguns canhotos, ordens de facebook ou compraram livrinhos de R$ 9,90 em Escolinhas de Magia sem caminho nem tradição nenhuma. Nesse momento, sempre me lembro das sábias palavras “Não existem atalhos para nada que valha a pena”.

O conhecimento está disponível? Sim. Crowley mesmo escreveu “não há mais segredos”, mas o conhecimento esotérico decente continua ESOTÉRICO, velado em camadas que exigem preparação, disciplina, entendimento e estudo. Como Pitágoras percebeu, pouco conhecimento é muito pior do que nenhum. Para ensinar alguma coisa, é necessário ter aprendido primeiro, e é o que menos observamos por aí.

Querer, Saber, Ousar e Calar.

E comam mais feijões…

#Pitágoras

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/pit%C3%A1goras-e-os-feij%C3%B5es