A submissão de Indra, o rei dos semideuses hindus

(Texto extraído em espanhol do livro Mitos de la luz: Metáforas orientales de lo eterno, de Joseph Campbell, o qual extraiu o texto de uma passagem do Brahmavaivarta Purana).

Permita-me contar uma história hindu.

Uma vez, um monstro chamado Vrtra tentou reter (seu nome significa “abrangendo”) todas as águas do universo para que houvesse uma enorme seca que durasse mil anos. Bem, Indra, o Zeus do panteão hindu, finalmente teve uma ideia. Por que não atirar um raio nesse cara e transformá-lo em pó? Então Indra pegou um raio, disparou em direção ao centro de Vrtra, e bang! Vrtra explode, as águas fluem e a Terra e o universo esfriam.

Bem, então Indra pensa: “Como sou grandioso”, então ele sobe a montanha cósmica, o Monte Meru, que é o Olimpo dos deuses hindus, e percebe que todos os palácios têm sinais de decadência. “Bem, agora vou construir uma cidade totalmente nova aqui, que faz jus à minha dignidade”, diz ele. Ele convoca Visvakarman, o artesão dos deuses, e conta a ele sobre seus planos.

Ele diz: “Olha, vamos trabalhar aqui e construir esta cidade. Acho que poderíamos ter palácios aqui e torres ali, plantas de lótus neste setor, etc.”

Então Visvakarman vai trabalhar, mas, toda vez que Indra volta, ele vem com ideias maiores e melhores sobre o palácio, de modo que Visvakarman começa a pensar: “Meu Deus, nós dois somos imortais, então o que posso fazer?”

Visvakarman decide ir reclamar perante Brahma, ou o assim chamado criador do mundo dos fenômenos. Brahma senta-se em um lótus (assim é seu trono), e Brahma e o lótus crescem do umbigo de Vishnu. Por sua vez, Vishnu está pairando sobre o oceano cósmico, reclinado sobre uma grande serpente cujo nome é Ananta (que significa “sem fim”).

Aqui está a cena. Nas águas, Vishnu dorme e Brahma está sentado no lótus. Visvakarman aparece e depois de muitas reverências diz: “Estou com problemas”. Ele então conta a história para Brahma, que responde: “Tudo bem. Vou consertar tudo”.

Na manhã seguinte, o porteiro da entrada de um dos palácios de Indra que estava em construção nota a presença de um jovem brâmane de pele azul e negra, cuja beleza surpreende muitas crianças. O porteiro procura Indra e diz: “Acho que seria auspicioso convidar este belo jovem brâmane para o palácio e dar-lhe hospitalidade.” Indra concorda que isso certamente será auspicioso, então o menino é convidado. Indra está sentado em seu trono e, após as cerimônias de hospitalidade, ele diz: “Bem, jovem, o que o traz ao palácio?”

Com uma voz como um trovão no horizonte, o menino diz: “Ouvi dizer que você está construindo o maior palácio que qualquer Indra já construiu, e agora que o verifiquei, posso lhe dizer que nenhum Indra jamais construiu tal palácio antes.”

Aturdido, Indra exclama: “Indras diante de mim? Do que você está falando?”

“Sim, Indras antes de você”, responde o menino. “Apenas pense, o lótus cresce do umbigo de Vishnu, o lótus se abre, e Brahma se senta nele. Brahma abre os olhos e o universo se manifesta, governado por um Indra. Fecha os seus olhos. Abre os seus olhos: outro universo. Fecha os seus olhos. .. e por trezentos e sessenta anos de Brahma, é isso que ele faz. Depois o lótus é removido, e após um tempo insondável outro lótus se abre, Brahma aparece, abre seus olhos, fecha seus olhos… Indras, Indras, Indras.”

“Considera agora todas as galáxias no espaço e no espaço exterior, cada um com um lótus, cada lótus com seu Brahma. Podem haver sábios em sua corte que se voluntariam para contar as gotas do oceano e os grãos de areia nas praias do mundo, mas quem contaria aqueles Brahmas, sem falar sequer dos Indras?

Enquanto ele fala, um desfile de formigas em fileiras perfeitas aparece no chão do palácio, e o menino olha para elas e ri. A barba de Indra se eriça, seus bigodes ficam tensos; ele pergunta: “E agora? Do que você está rindo?”

O menino responde: “Não me pergunte a menos que esteja preparado para ser ferido”.

Indra diz: “Eu pergunto”.

O menino aponta a sua mão para as filas de formigas e diz: “Aqui estão todos os Indras anteriores. Passarão por inúmeras encarnações e se elevam ao nível dos céus, chegam ao alto trono de Indra e matam o dragão Vrtra. Todos eles proclamam: ‘Como sou grandioso’, e então caem.

A esta altura, aparece um iogue velho e excêntrico vestido somente com um cinto, e que carrega sobre a sua cabeça um guarda-sol feito
com folhas de bananeira. Sobre seu peito tem um pequeno círculo de
cabelos, e o jovem olha para ele e faz as perguntas que fervilham na mente de Indra. ” Quem é? Qual é o seu nome? Onde vive? Onde é sua casa?

“Não tenho família, não tenho casa. A vida é curta. Este guarda-sol é suficiente para mim. Apenas adoro Vishnu. Quanto a esses pêlos, é uma coisa curiosa; cada vez que um Indra morre, um fio de cabelo cai. Metade deles já foi embora. Muito em breve todos eles irão embora. Por que construir uma casa?”

Bem, esses dois personagens eram na verdade Vishnu e Shiva. Tinham vindo para dar uma lição a Indra, e uma vez que ele os escutou, partiram. Agora Indra está destroçado, e quando entra Brhaspati, o sacerdote dos deuses, Indra diz: “Eu sairei para me tornar um iogue. Eu adorarei os pés de Vishnu.”

Então ele vai ao encontro de sua esposa, a grande rainha Indrani, e diz a ela: “Minha querida, vou deixá-la. Eu irei para a floresta para me tornar um iogue. Vou jogar fora toda essa bobagem sobre governar o mundo e vou adorar os pés de Vishnu.”

Bem, ela olha para ele por um tempo, então ela procura por Brhaspati e
conta a ele o que aconteceu. “Ele colocou essa ideia na cabeça e vai
partir para se tornar um iogue.”

Então o sacerdote a pega pela mão e eles vão se sentar juntos, diante do trono de Indra, a quem ele diz: “Você está no trono do universo. Você representa virtude e dever -dharma- e incorpora o espírito divino neste papel terreno. Já escrevi um ótimo livro para você sobre sobre a arte da política, como manter o Estado, vencer guerras, e assim por diante. Agora vou escrever para você um livro sobre a arte de amar, para que o outro aspecto de sua vida, que você compartilha com Indrani, também
também tornar-se uma revelação do espírito divino que habita em todos nós. Qualquer um pode se tornar um iogue, mas, quem pode representar na vida do mundo a imanência desse mistério da eternidade?”

Assim Indra foi salvo do problema de abandonar tudo e tornar-se um iogue. Agora ele tinha tudo dentro dele, assim como todos nós. Tudo que você tem a fazer é acordar para o fato
que você é uma manifestação do eterno.

Este conto, conhecido como “Submissão de Indra”, aparece no Brahmavaivarta Purana. Os Puranas são textos sagrados do Índia, por volta do ano 400 desta era.

O surpreendente sobre a mitologia hindu é que ela abrange o universo em que estamos falando, com os grandes ciclos de vidas estelares, as galáxias, as galáxias além das galáxias, e o aparecimento e desaparecimento da universos. Isso dilui a força do momento presente.

Quanto a todos os nossos medos sobre bombas atômicas que pulverizam o universo, o que há com isso? Antes já houveram universos
e mais universos, cada um deles explodido por uma bomba atômica. Então identifique-se agora com o eterno que está dentro de você
e dentro de todas as coisas. Isso não significa que você quer ver cair
uma bomba atômica, e sim que você não deve parar de perder seu tempo se preocupando com ela.

Uma das grandes tentações do Buda foi a tentação de luxúria. A outra tentação era o medo da morte. Este é um tema interessante para meditar, o medo da morte. A vida nos joga essas tentações, essas distrações, e o problema é encontrar dentro de nós o centro inabalável. Então você pode sobreviver a qualquer coisa. O mito irá ajudá-lo a fazê-lo. Isso não significa que você não deve sair e protestar contra as pesquisas atômicas. Faça-o, mas faça-o brincando. Lembre-se que o universo é o jogo de Deus.

***

Tradução e adaptação do espanhol para o português por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/yoga-fire/a-submissao-de-indra-o-rei-dos-semideuses-hindus/

A Pedra de Sangue

Shirlei Massapust

Segundo o geólogo Walter Schumann, heliotrópio é uma calcedônia opaca verde escura pontilhada de machas vermelhas: “Foram-lhe atribuídos, durante a Idade Média, poderes mágicos, porque as pequeninas manchas vermelhas eram consideradas gotas de sangue de Cristo”.[1]

Uma edição do Les Admirables Secrets D’Albert Le Grand (1703), livro mais conhecido como Grande Alberto, diz-nos que os padres se serviam do heliotrópio, importado de jazidas “na Etiópia, em Chipre e nas Índias”, para adivinhar e interpretar os oráculos e as respostas dos ídolos.[2] A homonímia da planta e da pedra conduziu à ideia do uso conjunto como ingrediente de fórmulas milagrosas:

Os caldeus chamam a primeira erva Ireos, os Gregos Mutichiol e os Latinos Eliotropium. Esta interpretação vem de Hélios, que significa o Sol, e de Tropos, que quer dizer “mudança”, porque esta erva vira-se para o Sol. Tem ela uma virtude admirável, se a colhermos no mês de agosto, quando o Sol está no signo do Leão, porque ninguém poderá falar mal, nem prejudicar com más palavras quem a trouxer consigo, envolvida numa folha de loureiro com um dente de lobo, pelo contrário, não se dirá dele senão bem. Além disso, quem a puser sob a cabeça, durante a noite, verá e conhecerá aqueles que poderiam vir roubá-lo. Mais ainda, se se puser esta erva, da maneira que acima se disse, numa igreja onde estejam mulheres, aquelas que tiverem violado a fidelidade prometida aos seus maridos não conseguirão sair se não a tirarem da igreja.[3]

A versão do personagem Rabino Hebognazar no manuscrito da Chave de Salomão (1890), compilado por Stanislas de Guaïta e François Ribadeau Dumas, ensina a produzir um anel astronômico com aro forjado numa liga de ferro e ouro e adorno superior contendo “um retalho de folha de Heliotropium europaeum, outro de Aconitum napellus, um pedacinho de pele de leão, outro de pele de lobo, um pouco de pluma de cisne e de abutre e, acima de tudo, um rubi lapidado”.[4]

O Grande Alberto atribui aos “antigos filósofos” a afirmação de que a pedra possui grandes virtudes quando associada com a planta homônima. A tradição sugere que a união do heliotrópio mineral com o vegetal produz “outra virtude muito maravilhosa sobre os olhos dos homens, que é a de suspender sua capacidade, vivacidade e penetração, e de cegá-los de forma a não poderem ver a quem os levam”.[5] Ou seja, a gema untada adquire a propriedade prodigiosa “de confundir os olhos das pessoas a ponto de tornar o usuário invisível”.[6]

Tal ideia deriva da mitologia grega, onde os artefatos de invisibilidade são propriedade dos deuses e titãs. Platão narra uma história fantástica sobre Giges, rei do Hindustão (c. 687-651 a.C.), que usou um anel de invisibilidade encontrado junto ao corpo de um gigante para assassinar o monarca anterior, Candaules, e desposar a viúva deste:

Era ele um pastor que servia em casa do que era então soberano da Lídia. Devido a uma grande tempestade e tremor de terra, rasgou-se o solo e abriu-se uma fenda no local onde ele apascentava o rebanho. Admirado ao ver tal coisa, desceu por lá e contemplou, entre outras maravilhas que para aí fantasiam, um cavalo de bronze, oco, com umas aberturas, espreitando através das quais viu lá dentro um cadáver, aparentemente maior do que um homem, e que não tinha mais nada senão um anel de ouro na mão. Arrancou-lhe e saiu. Ora, como os pastores se tivessem reunido, da maneira habitual, a fim de comunicarem ao rei, todos os meses, o que se dizia respeito aos rebanhos, Giges foi lá também, com o seu anel. Estando ele, pois, sentado no meio dos outros, deu por acaso uma volta ao engaste do anel para dentro, em direção à parte interna da mão, e, ao fazer isso, tornou-se invisível para os que estavam ao lado, os quais falavam dele como se se tivesse ido embora. Admirado, passou de novo a mão pelo anel e virou para fora o engaste. Assim que o fez, tornou-se visível. Tendo observado estes fatos, experimentou, a ver se o anel tinha aquele poder, e verificou que, se voltasse o engaste para dentro, se tornava invisível; se o voltasse para fora, ficava visível. Assim senhor de si, logo fez com que fosse um dos delegados que iam junto do rei. Uma vez lá chegado, seduziu a mulher do soberano, e com o auxílio dela, atacou-o e matou-o, e assim se assenhoreou do poder.[7]

O homem invisível pode agir livremente, conforme sua vontade, pois está protegido das reprimendas e comentários maldosos do vulgo. Henri Cornélio Agrippa (1486-1535) atribuiu a Alberto Magno e Willian de Paris o registro de crenças medievais, segundo as quais o Heliotropium europæum confere glória constante e boa reputação a quem o carrega. Francis Barret interpreta a afirmativa de que “quem a usar terá uma boa reputação, boa saúde e viverá muito tempo[8]”, concluindo que o porte da planta e/ou da pedra “faz do usuário uma pessoa segura, respeitável e famosa, e contribui para uma vida longa”.[9]

O mago envolto em brumas

O anel de heliotrópio não deveria funcionar exatamente como o hipotético anel de Giges. Aparentemente, ele deveria envolver seu possuidor em névoa… Na versão do Magus (1801), Francis Barret omitiu um efeito citado por Cornélio Agrippa (1486-1535), segundo o qual o heliotrópio “tem admirável virtude sobre os raios do sol, pois diz-se que os converte em sangue. Quer dizer, faz o sol aparecer como em um eclipse, se lhe unta com uma erva que leva o mesmo nome e o coloca em vaso cheio d’água”.[10]

Presumo que a pedra deveria ser fervida com suco de heliotrópio até que a água em ebulição produzisse uma nuvem de vapor suficientemente densa para filtrar os raios solares. Apesar de incompleta, a descrição mais extensa deste rito aparece no Grande Alberto:

Para fazer com que o Sol pareça cor de sangue deve-se usar a pedra que se chama Heliotrópio, que tem a cor verde e que se parece com a Esmeralda e é toda pintalgada como que de gotas de sangue. Todos os necromantes lhe chamam comumente a pedra preciosa de Babilônia; esta pedra, esfregada no suco de uma erva do mesmo nome, faz ver o Sol vermelho como sangue, da mesma maneira que num eclipse. A razão disto é que fazendo ferver água em grandes borbotões em forma de nuvens, ela espessa o ar que impede o Sol de ser visto como de costume. Contudo, isto não pode fazer-se sem dizer algumas palavras com certos caracteres de magia.[11]

Se as palavras e caracteres de magia forem padronizados com aquela outra tradição da Chave de Salomão, onde se utiliza a erva, as palavras consistem na invocação voltada para o ocidente “no dia e hora de marte” dos anjos “Michael, Cherub, Gargatel, Turiel, Tubiel, Bael, os Silfos Camael, Phaleg, Samael, Och, Anael”.[12] Estes caracteres de magia são gravados no halo do anel:

O que se publicou em todos os manuais de magia editados desde o fim do séc. XIX até meados do séc. XX, que tive a oportunidade de consultar, foram apenas cópias, muitas vezes incompletas, dos textos supracitados.

Por exemplo, Gérard Encausse (1865-1916) reproduz “um tratado muito curioso sobre pedras extraído de um livro sob os nomes de Evax e de Aaron”, igual aos tratados de Agripa e Kircher, adicionando-lhe a classificação das pedras “conforme as relações planetárias”.[13] A “pedra heliotrópio” foi relacionada com o Sol.[14]

Embora N.A. Molina conhecesse e recomendasse uma versão integral do Grande Alberto publicada “por um ocultista muito conhecido na Espanha e na América sob o nome de Mago Bruno[15]”, ele preferiu copiar a cópia imperfeita de Gérard Encausse com todos os seus rearranjos e omissões, conforme a tradução para português pré-existente, em seu Antigo Livro de São Cipriano.[16]

Anel de pedra heliotrópio em aro de prata forjado pelo meu finado amigo Afrânio, fazedor de joias e artigos de umbanda. Foi untado com extrato de heliotrópio.

O anel do vampiro

Waldo Vieira, fundador do Instituto Internacional de Projeciologia, autor de obras psicografadas junto com Chico Xavier, foi também um dos maiores colecionadores de gibis do Brasil. Em 1978 ele selecionou e forneceu a maioria das “histórias antológicas” publicadas pelo editor Otacílio D’Assunção Barros no número especial sobre vampiros da revista Spektro. É claro que o nível de informação nas entrelinhas subiu à estratosfera!

Um dos romances gráficos cuidadosamente seletos entre dez mil exemplares foi publicado pela primeira vez no Brasil em julho de 1954, no n º 44 de O Terror Negro. No enredo um personagem acerta uma lança no coração de um vampiro possuidor de um “anel com um morcego”.[17] Ataíde Brás incrementou o motivo num novo roteiro onde o vampiro Paolo coloca “um anel, com um morcego como enfeite” no dedo de sua amada e, imediatamente, “os caninos dela começam a crescer”.[18]

Parece que esta variante do mito surgiu de um equivoco. Todos os filmes da Hammer em que Christopher Lee interpretou Drácula terminaram com a morte do conde. O corpo, as roupas e até mesmo o castelo do nobre vampiro dissolviam-se, restando apenas um anel.  Ninguém sabia por que a joia escapava intacta nem qual era o seu significado. Todos os fãs queriam ter aquilo. Os mais crédulos desejavam que o suposto amuleto existisse e tivesse poderes mágicos.

Poucos conheciam a explicação de Christopher Lee sobre o valor emocional do apetrecho: O anel com aro de prata e pedra vermelha gravada com as iniciais B•L era mera réplica de outra joia enterrada no dedo do finado ator Bela Lugosi, que também interpretou Drácula, sendo usada pelo sucessor em sua memória.[19]

Enquanto durou a polêmica, Robert Amberlain afirmou ter encontrado manuais de feiticeiros alemães descrevendo a confecção de um anel especial:

Um Vampiro gravado na pedra heliotrópio transforma-a numa pedra de sangue. Ela dará a quem a transportar, segundo os ritos convenientes, o poder de comandar os demônios íncubos e súcubos. Ela assisti-lo-á nas suas conjurações e nas suas evocações.[20]

Juro pela alma de Nicolae Paduraru que não existe um manual de feitiçaria contendo semelhante rito ou que, se existe, é um livro particular que nunca foi editado, certamente escrito entre 1958 e 1978 por um feiticeiro fã de vampiros cinematográficos que achou que a descrição do mago envolto em brumas, no Grande Alberto, parecida com a do Conde Drácula virando névoa.

O jornalista fantástico Jean-Paul Bourre também procurou o tal livro e ouviu o seguinte quando entrevistou Vladimir S, membro da seita veneziana Ordem Verde:

Casanova foi encarcerado em Veneza, nas celas do palácio ducal. E sabem os motivos? Foi preso pela Santíssima Inquisição a seguir a uma denúncia em que foi acusado de magia negra. Manuzzi, espião dos inquisidores de Veneza, mandou apreender em sua casa os livros e manuscritos ocultos, entre os quais se contavam os seguintes: Clavículas de Salomão, as obras de Agrippa e o Livro de Abramelin o Mágico. Quais eram então as atividades ocultas do jovem veneziano? Ele afirmava, na sua correspondência, que não praticava a Cabala, mas a arte do Kab-Eli, isto é, a arte da “pedra do sol”. Esta pedra é nossa conhecida. É o heliotrópio (…), os nossos adeptos chamam-lhe “pedra de sangue”, uma vez que permite evocar os defuntos e originar o aparecimento dos vampiros. Outrora tinha também uma função medicinal ligada ao sangue: Ajudava a neutralizar as hemorragias.[21]

Essa estória vingou e se desenvolveu. De acordo com Robert Amberlain e Jean-Paul Bourre, usando isto se podia distinguir “os espectros, os manes e os Vampiros” quando o Sol aparecia vermelho por traz dos vapores. O anel mágico destinado às operações de vampirismo devia ter a pedra montada sobre prata (metal lunar, noturno), enquanto o anel de proteção seria forjado em ouro vermelho (símbolo solar, diurno).

Pela razão de que é verde (cor do astral ou do ‘mundo’ imediato dos mortos) e verde escura (os mortos maléficos), raiada de traços vermelhos (o sangue), esta pedra liga-se aos mistérios da morte, do vampirismo e do sangue. (…) Outrora era tida como capaz de parar as perdas de sangue, as hemorragias, e como proteção contra os venenos e mordeduras dos Vampiros.[22]

Robert Amberlain reconhece que quando se penetra no domínio da magia, penetra-se igualmente no da superstição. Então, “no caso de se tratar de uma seita votada ao vampirismo” os nobres afligidos pela seita poderiam ser enterrados com o anel contendo a “pedra do sangue” na crença de que ele protegeria o túmulo, os despojos e o “duplo” durante as saídas e materializações. “Imaginavam que o uso do anel maléfico lhes evitaria uma acidental e desastrosa exposição aos raios do Sol”.[23]

Jean-Paul Bourre incluiu a proteção contra “o aparecimento de caçadores de vampiros, a estaca aguçada e o fogo que podia destruir em poucos segundos o corpo do não morto”.[24] Como isso? O amuleto protege o vampiro causando a morte de quem quer que pise “dentro do perímetro mágico”. A sorte do homem que penetra na zona sagrada se assemelha a dum inseto caído numa teia de aranha. “Uma pequena e subtil vibração basta para que toda essa teia seja sacudida”. A aranha desperta e abocanha o intruso. “Sua lei é inexorável”.[25]

Fada do Heliotrópio, ilustração de Cicely Mary Barker (1895-1973), parte duma coleção de 168 fadas com plantas botanicamente corretas, no livro Flower Fairies of the Garden (1944).

Sangue de dragão

Existem lendas sobre uma pedra impossível cuja descrição parece remeter ao jaspe sanguíneo, chamado “sangue de dragão”, que só um exímio caçador de dragões consegue obter. O frade Rogério Bacon (1214-1292) escreveu o seguinte:

 

Sábios etíopes vieram à Itália, à Espanha, à França, à Grã Bretanha e essas terras cristãs onde existem bons dragões voadores. E, por uma arte oculta, que possuem, excitam os dragões a saírem das suas cavernas. E tem selas e freios já prontos, e montam esses dragões e fazem-nos voar a toda a velocidade pelos ares a fim de amolecerem a rigidez da sua carne (…) e quando desse modo amaciam esses dragões, tem a arte de preparar a sua carne (…) que utilizam contra os acidentes da velhice, para prolongarem a sua vida e subutilizarem a sua inteligência de maneira inconcebível. Porque nenhuma doutrina humana pode fornecer tanta sabedoria como o consumo da sua carne.[26]

Esse é o tipo de estória mirabolante na qual ninguém acredita, mas que todos gostam de ouvir. A temática faz boa parelha com uma instrução obscura do talvez contemporâneo livro do Grande Alberto:

Para vencer os inimigos deve usar-se a pedra Draconite, que se tira da cabeça do dragão; é boa e maravilhosa contra o veneno e a peçonha, e quem a usar no braço esquerdo sairá sempre vitorioso dos seus adversários.[27]

Estas são estórias para divertir crianças, embasadas na interpretação literal da lenda cristã onde São Jorge ou o arcanjo Miguel mata um dragão.

Em 1222, o National Council of Oxford decidiu organizar um grande festival em honra ao santo, no qual o dragão foi apresentado, à guisa de satânico adversário da verdadeira fé, para ser dominado e vencido pelo herói do dia. Por todos esses motivos foram inúmeras as histórias ligando São Jorge ao dragão, naqueles tempos. A mais popular entre todas foi, talvez, a que contou Jacques de Voragine, arcebispo de Gênova (de 1236-1898), em sua Lenda Dourada (…) Segundo essa lenda, houve uma vez, na Líbia, uma cidade chamada Selene. Todos os campos em seu redor tinham sido devastados por um monstro terrível, que somente era impedido de atacar e devastar a cidade pela oferta diária de dois gordos carneiros. Mas chegou um tempo em que não havia mais nem um só carneiro para apaziguar a fome do monstro, que imediatamente começou a aumentar sua devastação em torno da cidade. Por isso, diariamente, eram sorteadas duas crianças até a idade de quinze anos e as indicadas pela sorte eram oferecidas em sacrifício ao monstro. Um dia a sorte apontou a própria filha do rei, Cleodolinda. Imediatamente o soberano ofereceu tudo o que possuía ao cidadão que se apresentasse para substituir a infeliz. Porém todos recusaram e Cleodolinda foi abandonada, só, fora das muralhas de Selene, a fim de seguir o seu triste destino. Um tribuno do exército romano, Jorge da Capadócia, surgiu cavalgando um cavalo branco e, ao saber da triste história da jovem princesa, decidiu, imediatamente, sair ao encontro do dragão, em nome de Jesus Cristo, a fim de matar a fera ou morrer nessa empresa.

 

O monstro se atirou contra o cavalheiro e tremenda luta se seguiu, até que Jorge, com ousadia e perícia sem par, varou o dragão com sua espada. Porém a fera não morreu imediatamente e Jorge disse a Cleodolinda que passasse seu próprio cinto em redor do pescoço do monstro, a fim de o conduzir em triunfo até a cidade. Ela assim fez e o monstro seguiu-a submisso. À chegada do estranho grupo, o povo, cheio de terror, tratou de fugir. Porém, Jorge a todos serenou e, depois de os ter reunido na praça principal, degolou o dragão. Foram necessários quatro juntas de bois para arrastar para fora da cidade a imensa carcaça.

 

O rei, a rainha, Cleodolinda e vinte mil cidadãos abraçaram o cristianismo. O rei ofereceu a Jorge a mão de sua filha em casamento. Porém o santo herói, cortesmente, declinou essa proposta e, após recomendar ao rei que honrasse a religião e amasse aos pobres, beijou-o nas duas faces e continuou viagem.[28]

Quanta imaginação para dizer que nem uma princesa virgem, nem um reino inteiro valem a quebra de um voto de castidade de um santo católico!

Pedrarias genéricas

A cultura da desinformação aconselha os brasileiros a nacionalizar toda e qualquer coisa pela substituição do antigo pelo novo, do raro pelo disponível, da economia pela ostentação. Em meados do século XX um famoso autor brasileiro – que eu me absterei de identificar pelo nome – aconselhou seu público alvo, os mandingueiros, a empapar seus objetos de uso pessoal com Helianthus annuus, óleo de girassol, ao invés de extrato perfumado de Heliotropium europaeum, de fragrância agradável e duradoura, que custava seis reais o frasco.

Na virada do milênio um quilo de pedra heliotrópio custava cinco centavos de dólar no atacado, no Rio de Janeiro. Mesmo assim faltava no estoque das lojas revendedoras onde pseudo-especialistas nos ofereciam o conteúdo da caixa etiquetada “bloodstone” que poderia conter jaspe sanguíneo, hematita e até mesmo pedra imã.

Eu tive de insistir e pagar adiantado pela lapidação de um heliotrópio, pois o especialista em produção de artigos para terapeutas alternativos relutou a crer que uma mulher pudesse preferir uma pedra barata a um rubi-zoisita. Algo parecido ocorreu algumas vezes no passado. Hebognazar intercambia heliotrópio e rubi em sua Chave de Salomão. Por que trocar um pelo outro? Naquela época o herói da mineralogia George Frederick Kunz (1856-1932) ainda não havia nascido nem catalogado um batalhão de pedras mágicas de baixo custo para a alegria do povo e felicidade geral da nação.

Sem ninguém para explicar aos soberbos que gosto não se discute pareceria um desperdício gastar um aro de ouro ou prata para equipar uma pedra adquirida ao custo de poucas moedas numa barraquinha de camelô. Uns e outros pensariam ser mais adequado portar uma gema digna de ser comercializada numa joalheria que fornece certificado de origem. O problema é que a troca prejudica a lógica ritualística pondo a perder a relação de homonímia entre erva e pedra, onde o semelhante reage com o semelhante.

Notas:

[1] SCHUMANN, Walter. Gemas do Mundo. Trad. Rui Ribeiro Franco e Mario Del Rey. Rio de Janeiro, Ao Livro Técnico, p 128.

[2] HUSSON, Bernard (org). O Grande e o Pequeno Alberto. Trad. Raquel Silva. Lisboa, Edições 70, 1970, p 163.

[3] HUSSON, Bernard (org). Obra citada, p 149-150.

[4] CLAVÍCVLAS DE SALOMON: Libro de Conjuros y Fórmulas Mágicas. Trad. Jorge Guerra. Barcelona, Editorial Humanitas, 1992, p 93 do fac simile.

[5] AGRIPPA, Cornélio. La Filosofia Oculta: Tratado de magia y ocultismo. Trad. Hector V. Morel. Buenos Aires, Kier, 1998, p 42.

[6] BARRET, Francis. Magus: Tratado completo de alquimia e filosofia oculta. Trad. Júlia Bárány. São Paulo, Mercuryo, 1994, p 60.

[7] PLATÃO. A República. Trad. Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1996, p 56-57.

[8] HUSSON, Bernard (org). O Grande e o Pequeno Alberto. Trad. Raquel Silva. Lisboa, Edições 70, 1970, p 163.

[9] BARRET, Francis. Obra citada, p 60-61.

[10] AGRIPPA, Cornélio. Obra citada, p 42.

[11] HUSSON, Bernard (org). O Grande e o Pequeno Alberto. Trad. Raquel Silva. Lisboa, Edições 70, 1970, p 163.

[12] CLAVICULAS DE SALOMON (1641). Barcelona, Humanitas, 1997, p 93 do fac simile.

[13] PAPUS. Tratado Elementar de Magia Prática. Trad. E. P. São Paulo, Pensamento, 1978, p 232-233.

[14] PAPUS. Obra citada, p 235.

[15] MOLINA, N. A. Nostradamus – A Magia Branca e a Magia Negra. Rio de Janeiro, Espiritualista, p 63 e 76.

[16] MOLINA, N. A. Antigo Livro de São Cipriano: O gigante e verdadeiro capa de aço. Rio de Janeiro, Espiritualista, p 131-135.

[17] A VILA DO VAMPIRO. Em: SPEKTRO: Especial dos vampiros. Rio de Janeiro, Vecchi, março de 1978, nº 5, p 82.

[18] BRAZ, Ataíde (roteiro) e KUSSUMOTO, Roberto (desenho).  A Noite da Vingança. Em: SPEKTRO: Especial dos vampiros. Rio de Janeiro, Vecchi, março de 1978, nº 5, p 68.

[19] AS VÁRIAS FACES DE CHRISTOPHER LEE. Brasil, Dark Side, 1996, DVD.

[20] AMBERLAIN, Robert. O Vampirismo. Trad. Ana Silva e Brito. Lisboa, Livraria Bertrand, 1978, p 213.

[21] BOURRE, Jean-Paul. O Culto do Vampiro. Trad. Cristina Neves. Portugal, Europa-América, p 137.

[22] AMBERLAIN, Robert. Obra citada, p 213.

[23] AMBERLAIN, Robert. Obra citada, p 214.

[24] BOURRE, Jean-Paul. Os Vampiros. Trad. Margarida Horta. Portugal, Europa-América, 1986, p 133.

[25] BOURRE, Jean-Paul. Idem, p 133-134.

[26] BACON, Rogério. Opus Majus: Vol. II. Oxford, J. H. Bridges, 1873, p 211. Em: HUSSON, Bernard (org). O Grande e o Pequeno Alberto. Trd. Raquel Silva. Lisboa, Edições 70, 1970, p 75.

[27] HUSSON, Bernard (org). O Grande e o Pequeno Alberto. Trd. Raquel Silva. Lisboa, Edições 70, 1970, p 167.

[28] SÃO JORGE: HISTÓRIA, TRADIÇÃO E LENDA. Em: EU SEI TUDO, nº 11. Abril de 1954, p 16-18.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/vampirismo-e-licantropia/a-pedra-de-sangue/

Chupacabra

Tudo teve início no começo dos anos 90, onde na América central dezenas de galinhas, ovelhas e alguns mamíferos de fazendas e chácaras foram encontrados todos mortos e com a mesma características, em Porto Rico centenas de casos foram constatados e várias fazendas as mesmas mortes estranhas aconteciam, então que diabos houve?

O pior é que os fatores e a descrição era os mesmos: Animal com perfurações semelhantes a mordidas feitas por caninos afiados. Os órgãos dos animais e sangue eram completamente sugados, deixando o animal seco. Esse caso se repetiu por toda a América Central, inclusive no México.

A chegada no Brasil

Em 1996 em Sorocaba foram 3 galinhas “sugadas” por algo, 4 cabras no mês de fevereiro, até o o mês de julho foram sugadas 30 galinhas e outros animais, e para piorar todo o interior de São Paulo foi tomado por esse suposto chupacabra. Virou realmente mania, até que o programa Domingo Legal foi ao ar com essa matéria na mesma época, e um homem todo disfarçado mostrou um cadáver de um animal que ele dizia ser um chupacabra.

Durante a semana um biólogo viu o cadáver e relatou que não se passava de uma armação, era apenas uma raia morta que foi banhada com algumas substâncias químicas, mostrando ao Brasil essa fraude.

Mas durante a semana mandaram um e-mail falando que capturaram um chupacabra e ele estava vivo! Mas essa reportagem não teve procedimento, o motivo não sei até hoje.

O Brasil verdade mostrou também fatos estranhos sobre o chupacabra, um curioso foi sobre o paranormal Urandir Fernandes Oliveira (Repare as iniciais: UFO), ele diz ter contato com seres alienígena, e tem poderes paranormais por causa deles, ele afirmou que na Índia foram criados monstros, seriam esses os chupacabras?

Ele disse também que existe tipos de onças que atacam dessa maneira, o Brasil Verdade relatou essa entrevista e viu algo fora do comum, mostrou ao vivo que uma nave alienígena raptou o Urandir, isso deu uma polêmica fantástica.

O Chupa-chupa

Aconteceu também, em meados do anos 70 e 80, um estranho fenômeno: o Chupa-chupa. O Chupa-chupa era (ou melhor, é) quando os alienígenas, de alguma forma, chupam o sangue de seres vivos da Terra.

Esse fenômeno já ocorreu e ocorre no Brasil. Muitas pessoas ficavam com medo do fenômeno Chupa-chupa.

Será que o Chupacabra não é uma das manifestações do Chupa-chupa?

Mas vamos prosseguir. O fenômeno se repetiu novamente em 16 de julho, no Ceará. O fato foi relatado pelo jornal Diário do Nordeste. Um homem estava pescando no Rio Acaraú, quando foi envolvido por uma luz.

Ele então se escondeu entre um matagal e próximo a uma carnaubeira, quando foi atingido por uma sonda e caiu desacordado. Ao acordar, estava com uma cicatriz no braço. O diagnóstico constatava a formação de três lesões, com incisões, supostamente feitas pela mordida de um bicho.

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/criptozoologia/chupacabra/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/criptozoologia/chupacabra/

A Grande Fraternidade Branca

Em termos de Sociedade Secreta não há registro de nada mais antigo nem mais secreto-secretíssimo do que a Grande Fraternidade Branca ─ ou Grande Loja Branca: seus integrantes, afinal, são invisíveis e atemporais. Dela se diz que sua regência sobre a evolução das criaturas humanas terrenas remonta à Terceira Raça Raiz ─ ou seja, a Fraternidade Branca atua neste globo desde as extintas civilizações Lemuriana [a Terceira] passando pela civilização Atlante e chegando à atual, a civilização do auto-denominado homo sapiens, Quinta Raça Raça Humana, ponto extremo inferior da curva evolutiva.

18 milhões de anos! Considerando tal longevidade e analisando a cronologia dos Brâmanes [veja box abaixo] conforme da Doutrina Secreta, essa Grande Fraternidade Branca deve estar atuando nos destinos humanos há pelo menos 18 milhões de anos! quando, segundo os teósofos,  a Humanidade atual, a Quinta Raça Humana, começou a se manifestar.

Cronologia dos Brâmanes

Idade deste Sistema Planetário-Solar [em 2009]
Idade do Surgimento da Primeira Raça Humana [etérea]
Idade da Humanidade Atual ─ Quinta Raça Humana
Duração do Kali-Yuga, Era atual
Tempo de KaliYuga já transcorrido [em 2009]

1 bilhão 995 milhões 884 mil 809 anos
1 bilhão 644 milhões 501 mil 109 anos
18 milhões 618 mil 728 anos
432 mil anos
5 mil 111 anos

Fonte: BLAVATSKY, 2001

Para muitas Sociedades Secretas, a Grande Fraternidade Branca é uma espécie de modelo hierárquico, doutrinário e ideológico invisível. Muitas dessas sociedades, mais ou menos antigas, reivindicam o posto de representantes fiéis dos Mestres Espirituais neste mundo material:

Segundo abalizados autores, a Loja Branca é uma poderosa Fraternidade ou Hierarquia de Adeptos cujas colunas mestras são o Amor e a Sabedoria [estrutura da qual] uma Loja maçônica é uma miniatura simbólica. …Essa Fraternidade vela pela humanidade e através dos séculos vem guiando sua evolução e governando internamente [secretamente] os negócios do nosso globo. [FIGUEIREDO, 1899 ─ p 225]

Durante os séculos XVIII, XIX, XX e mesmo hoje, no século XXI, quando o interesse nas tradições ocultistas era [e ainda é] tão intenso quanto o entusiasmo pela ciência objetiva, Teósofos e outros esotéricos revelaram a Grande Loja Branca como um Colégio, um Conselho de Mestres responsáveis pela preservação da Sabedoria e pela orientação da evolução da Humanidade deste planeta. De acordo com essa revelação, os Mestres da Grande Loja Branca são os verdadeiros governantes deste mundo; são guias dos Homens ao longo do processo de desenvolvimento espiritual.

Estudos e ensaios teosóficos descrevem com detalhes a organização interna dessa Fraternidade transcendental. Seu líder e considerado o Senhor do Mundochama-se Sanat Kumara. Na hierarquia da Fraternidade, o segundo mestre é Gautama [príncipe Sidarta Gautama, o Buddha Sakyamuni ─  [vida terrena situada entre 563-483 a.C.] ─ o Buda da Raça Humana atual, [a Quinta]. A estes Mestres seguem-se muitos outros, menos graduados, entre manus, bodhisatvas [corpos de Sabedoria], Cohans, Maha-cohans, mestres de Raios!  e toda uma corte de seres supra-humanos, metafísicos e sobretudo, ocultos, inacessíveis aos sentidos e meios físicos, misteriosos.

Quanto à fonte de Todo esse conhecimento, sobre esta suposta Irmandade que interage com o mundo humano-terreno a partir de uma outra dimensão existencial, essas informações foram obtidas, segundo os ocultistas informantes, por meio da paranormal faculdade da clarividência [portanto é um conhecimento que pertence á categoria Acredite se quiser] ─ [GREER, 2003 ─ p 209]. Todavia, não é bem assim; o fato é que a Grande Fraternidade Branca é uma idéia que tem um precursor histórico.

Origem da Idéia

A idéia de uma organização secreta de místicos iluminados, guias do desenvolvimento espiritual da raça humana, foi apresentada pela primeira vez no século XVIII [anos 1700] por Karl von Ekartshausen [1752-1803], escritor, filósofo, místico alemão, no livro The Cloud Upon the Sanctuary [A Nuvem Sobre o Santuário] publicado depois da morte do autor, em 1802.

Na concepção de Ekartshausen estes místicos, que formam um Conselho da Luz, eram [ou são] Espíritos que permanecem ativos em relação à Terra mesmo depois depois da morte física neste planeta. O autor propõe, então, que se promova uma comunhão entre vivos e mortos, unindo a idéia cristã da Comunhão dos Santos com as Sociedades Secretas Ocultistas, místicas ou mágicas, como os Rosa-cruzes e os Illuminatti.

Durante o século XIX ocultistas de diferentes linhas de pensamento se encarregaram de enriquecer, alimentar e difundir a crença nessa Irmandade. Entre esses difusores, destacam-se: os Teósofos, como Alfred Percy Sinnet [1840-1921, autor de Mahatma Letters, ou cartas de Mahatmas, mestres espirituais], Helena Petrovna Blavatsky [1831-1891], C. W. Leadbeater [1854-1934], Alice Bailey [1880-1949], Helena Roerich [1879-1955]; Guy Balard, [1878-1939], pseudônimo de Godfré Ray King, fundador do movimento Eu Sou, transmissor na Terra dos ensinamentos transcendentais do Conde de Saint-Germain, personagem misterioso do ocultismo ocidental, um dos Iluminados da Fraternidade Branca ou, como também são chamados esses mestres invisíveis, um mestre ascencionado [CABUS, 2008].

Os teósofos foram um dos primeiros a atribuir sua doutrina, seus ensinamentos a esse Colegiado de Adeptos. Em Isis Unveiled [Isis Sem Véu] H.P. Blavatsky refere-se a estes Guias como Mestres da Irmandade Oculta ou Mahâtmas [Grande Espírito] e afirma que não somente encontrou pessoalmente esses Adeptos com também, durante toda a sua vida, manteve com eles comunicações regulares através de poderes telepáticos, incorporações, como os mediuns espíritas fazem com espíritos desencarnados ou, ainda, por deslocamentos do corpo astral.

A expressão Grande Irmandade Branca [white brotherhood] começou a ser usada depois da publicação de The Masters and The Path [Os Mestres e O Caminho] de C. W. Leadbeater, 1925. Desde então o título Grande Irmandade Branca tornou-se o preferido nas referências a essa comunidade de Adeptos Iluminados.

Os ocultistas ocidentais também costumem se referir à Irmandade com Grande Loja Branca, denominação que parece indicar que esses ocultistas idealizam esse Colégio de Sábios, como uma sociedade hierárquica, com estrutura semelhante às sociedades secretas iniciáticas terrenas.

Inúmeras Sociedades ocultistas reclamam para si a condição de verdadeiras representantes da Grande e invisível Irmandade Branca. Até Aleister Crowley [1875-1947], com sua fama auto-proclamada de perversa besta, chegou a insinuar que sua Astrum Argentum era diretamente ligada aos bondosos Mestres Ascensos.

Mestres Ascensos e Doutrina do EU SOU

Em 1934, Guy Ballard [1878-1939], um engenheiro norte-americano, que alegava ter tido uma revelação em 1930, no Mt. Shasta ─ Califórnia, publicou Unveiled Mysteries onde refere-se à Irmandade Branca como um Conselho ou Colegiado de Mestres Ascensos.

Ballard afirma que esteve frente a frente com o lendário Conde de Saint-Germain. O Conde seria um desses Mestres Ascensos que encarnou voluntariamente na Terra em diferentes períodos da História sempre usando, ostensivamente, a mesma identidade, de Conde de Saint-Germain, intrigando gerações que envelheceram enquanto o misterioso personagem permanecia jovem.

Mestre Saint-Germain transmitiu a Ballard os ensinamentos da Doutrina EU SOU, muito difundida através de um livrinho precioso chamado O Livro de Ouro de Saint-Germain. Precioso porque, com certeza, a pequena obra é origem e fundamento de praticamente todas as técnicas de auto-ajuda, em cujo cerne repousa a velha e boa reprogramação comportamental com base na neuro-lingüística, tão em moda nas últimas cinco décadas [desde os anos de 1960, no mínimo ─ CABUS, 2008].

Sincretismo & Mestres Ascensos

Depois de tantas revelações e tantos reveladores, a Grande Fraternidade Branca chegou à segunda metade do século XX [a partir dos anos de 1950] envolta em doutrinas sincréticas, que misturavam ensinamentos de várias vertentes místico-religiosas: cristianismo esotérico, gnose, teosofia, budismo e doutrinas outras entre exóticas e fantasiosas. Essas Irmandades terrenas que se dizem representantes da verdadeira White Brotherhood proliferam em todo o mundo adotando diferentes denominações.

O conceito do Colegiado de Mestres Ascensos enfatizado por Guy Ballard obteve enorme aceitação entre esotéricos da Nova Era [New Age] resultando na formação de numerosas irmandades, fraternidades, sociedades, muitas delas fazendo absoluta questão de serem legítimos rosa-cruzes, outras, proclamando-se profetas contemporâneos guiados pelos Ascencionados.

O elenco ou lista desses Ascencionados, não é um consenso e cada organização tem lá suas preferências embora alguns personagens de elite, conhecidos do grande público, sejam comuns a todas elas: Jesus, Maria mãe de Jesus, Buda Sakyamuni, qchamam familiarmente Gautama quando o próprio Buda Sakyamuni renunciou ao seu nome de família nobre e, mais recentemente, até o desencarnado papa João Paulo II foi admitido na equipe dos Mestres Ascencionados!

Oh! Raios!

Outros destacados Mestres Ascensos, mais ou menos famosos, fazem são nomeados e até suas imagens, desenhadas, aparecem em suas fichas. São alguns deles:  El Morya, Hilarion, classificados como cohans ou seja, Mestres do Raio: Kuthumi [que foi popularizado pela Teosofia], Mestra Nada [que tem sido identificada com Maria de Nazaré], Maytreya, Palas Atena [aquela mesma, da mitologia grega] entre outros menos famosos.

O Raio, na verdade, ao menos sete deles, são emanações energéticas diferentes, cada uma sob o domínio de um Mestre do Raio. Esses raios têm uma cor terapêutica própria e comunicam aos que os recebem ou invocam diferentes virtudes. Esses mestres atuam sob a liderança de um superior, o Maha-Cohan.

O cargo não é eterno e, no momento, segundo os teóricos da Summit Lighthouse, [Cúpula da Casa da Luz], uma das incontáveis organizações que se apresentam como verdadeiros representantes da White Brotherhood, o lugar é ocupado por um conhecido personagem histórico: Aquele que atualmente ocupa o cargo de Maha-Chohan esteve encarnado como o poeta cego Homero! ─ cujos poemas épicos, a Ilíada e a Odisséia, incluem sua chama gêmea, Palas Atena!, como personagem central. A Summit Lighthouse define a Irmandade:

A Grande Fraternidade Branca é uma ordem espiritual de santos do Ocidente e de adeptos do Oriente, que se reuniram ao Espírito do Deus vivente, e da qual fazem parte as hostes celestiais. Eles transcenderam os ciclos de carma e renascimento e ascenderam para essa realidade superior, que é a eterna morada da alma… A palavra “branca” não se refere à raça, mas à aura de luz branca que circunda esses seres. [SUMMIT LIGHT HOUSE]

Endereço! ─ Onde Fica a Sede da Grande Fraternidade Branca

Para chegar à sede da Grande Fraternidade Branca é necessário: 1. ou morrer em santidade; 2. ou aprender a sair do corpo e visitar pessoalmente os Mestres, se os Mestres quiserem receber você. Isso porque, como já foi esclarecido, a Grande Fraternidade Branca é invisível e sua sede está situada em um não-lugar terreno; em um plano outro de existência [outro plano ontológico, de Ser], em outra dimensão, em alguma dobra das curvas do Universo.

Todavia, essa mansão sem endereço topográfico tem sua localização etérica que, eventualmente, tem seus pontos de referência geográficos. Mas não há consenso entre os ocultistas: para alguns, a morada dos Mestres fica em uma dimensão transcendental situada no Deserto de Gobi.

O Deserto de Gobi, que ocupa territórios da Mongólia e da China, em tempos arcaicos, teria sido um mar e a cidade dos Ascensos ficava às margens deste mar. O mar foi engolido pelas convulsões geológicas do planeta porém, no mesmo lugar, existiria, ainda, a ilha sagrada dos Mestres, que os sentidos meramente físicos dos humanos não podem perceber. Diz a lenda que o local permanece oculto graças aos poderes sobrenaturais de seus habitantes; e protegido pela vigilância de seres encantados.

Outra possível localização dessa Morada dos Mestres seriam os subterrâneos da cordilheira dos Himalaias, entre o Tibete e o Nepal. Nesse caso, não é uma cidade invisível; antes, é uma sede oculta. Uma terceira hipótese, supõe que os Iluminados estão onde sempre estiveram desde o início dos tempos: no único ponto imutável do planeta [segundo os teósofos], o Pólo Norte, na região diretamente alinhada com a estrela chamada Ursa Polar. Ali habitariam seres remanescentes da Primeira Raça Humana, os Sombras, os Arûpa, os Sem-Corpos [materiais densos]; e também os sábios de todas as outras quatros Raças que vieram depois. Entre estes, destacam-se os magos brancos da Atlântida.

Finalmente, existe a versão dos Mestres Invisíveis que vivem não nos subterrâneos mais superficiais, mas nas entranhas do mundo, em uma cidade mítica sobre a qual há controvérsias. A idéia mais aceita implica na admissão não de um, mas de dois Colegiados de seres superiores e rivais. Os mestres da mão direita, magos brancos, teriam se instalado no reino de Agharta, ao norte, no interior deste planeta. Estes trabalham pela evolução da Humanidade.

Os mestres da mão esquerda, magos negros, seriam os fundadores moradores de Shambala, que ou são indiferentes ao destino dos Homens ou não se importam em, eventualmente, promover a desgraça desta Quinta Raça Humana. Nesta hipótese, tanto os Magos brancos quanto negros seriam os últimos descendentes/sobreviventes da civilização Atlante e, somente escaparam das enchentes e terremotos porque souberam previamente da iminência da tragédia graças aos seus poderes de clarividência.

Fraternidade Branca: O que Dizem os Místicos

Muitos ocultistas escreveram sobre essas Entidades, Seres, Mestres que governam o mundo por meios insidiosos e agentes secretos, pelo bem ou pelo mal da Humanidade. Eis alguns comentários e revelações sobre aquela que deve ser a mais antiga das Sociedades Secretas da História desta e de todas as Humanidades que já existiram na Terra:

H. P. Blavatsky [1831-1891] ─  Quando a Quinta Raça [atual] estava ainda em sua infância, o Dilúvio alcançou a Quarta Raça, Atlante [que eram gigantes comparados ao homo sapiens]… Somente [um] punhado de eleitos, cujos instrutores divinos tinham ido habitar a Ilha Sagrada [no deserto de Gobi] – de onde virá o último Salvador – impediu que metade da Humanidade se convertesse em exterminadora da outra metade. …Os Adeptos e Sábios moram em habitações subterrâneas, geralmente sob construções piramidais existentes nos quatro cantos do mundo. …Os Senhores da Sabedoria trouxeram frutas, grãos de outras esferas, para benefício da Raça que eles governavam. O primeiro uso do fogo, a domesticação de animais, o plantio dos cereais e das ervas foram conhecimentos transmitidos pela Hoste Santa. [BLAVATSKY, 1899]

O Colégio dos Sábios Segundo Gurdjieff [1860/1872?-1949] ─ Setenta gerações antes do último dilúvio [e cada geração valia por cem anos]… no tempo em que o mar estava onde hoje está a terra e a terra, onde hoje está o mar – existia uma grande civilização, cujo centro era a ilha Hannin. Os únicos sobreviventes desse dilúvio [o dilúvio ao qual o autor se refere é o que aparece no relato sumério-mesopotâmica de Gilgamesh] tinham sido alguns membros de uma confraria [irmandade] denominada Imastun que representava, por si só, toda uma casta.

Esses Irmãos Imastun estavam, antigamente, espalhados por toda a Terra, mas o centro de sua confraria permanecia nessa ilha. Esses homens eram sábios. Estudavam, entre outras coisas, a astrologia e foi para poder observar os fenômenos celestes sob ângulos diferentes que, pouco antes do dilúvio tinham se dispersado por todo o globo. Mas qualquer que fosse a distância, às vezes considerável, que os separasse, permaneciam em comunicação entre si, bem como com o centro de sua comunidade, que mantinham ao corrente de suas pesquisas por meios telepáticos. [GURDJIEFF, 2003- ─ p 44]

Peter Deunov ─  [1864-1944] Gnóstico búlgaro, mestre espiritual fundador da School of Esoteric Christianism, [chamado por seus discípulos de Master Beinsa Douno] refere-se a essa organização como Universal Brotherhood [Irmandade Universal]. Ao ser excomungado em julho de 1922, defendeu a Irmandade: Existe apenas uma Igreja no mundo mas a Universal Brotherhood está além das Igrejas, é mais que Igrejas. Mais elevado que a Universal Brotherhood, somente o reino do Céus [o Paraíso].

C. W. Leadbeater [1854-1934, teósofo] ─ Desde sempre existe uma Irmandade de Adeptos [Brotherhood of Adepts], The Great White Brotherhood [Grande Irmandade Branca]; desde sempre existiram Aqueles que sabiam, Aqueles que possuíam [essa] sabedoria secreta, e nossos Mestres estão entre os atuais representantes dessa poderosa linhagem de Profetas e Sábios. Durante incontáveis Eons Eles têm preservado O Conhecimento.

Atualmente, parte desse Conhecimento está ao alcance de qualquer um, aqui, no plano físico, [no corpo da chamada Doutrina Secreta revelada pela Teosofia]. O próprio Mestre Kuthumi disse uma vez, sorrindo, que quando alguém fala da grande mudança que o conhecimento teosófico trouxe à sua vida, Ele reflete: Sim, mas nós somente levantamos uma pequena ponta do véu [LEADBEATER, 1925].

A Grande Fraternidade Branca é uma organização diferente de qualquer outra no mundo. Alguns a descrevem, ou imaginam, como uma irmandade Himalaica ou tibetana que reúne ascéticos indianos em algum tipo de monastério situado em algum ponto inacessível de uma montanha. [Mas não é assim, os Irmãos pertencem, muitas vezes, a outras esferas, outros globos; outros são desencarnados terrenos e não habitam, necessariamente, um lugar físico]. Esse Grandes Espíritos pertencem a duas categorias: aqueles que mantêm um corpo físico e os que não mantêm. Esses últimos são chamados Nirmanakayas. Os Nirmanakayas mantêm a si mesmos em um estado de ser intermediário entre o mundo-terreno e o Nirvana. Dedicam todo o seu tempo e energia para a geração de força espiritual benéfica para Humanidade [LEADBEATER, 1996]

Koot’ Hoomi Lal Sing [1880, mestre ascenso] ─ A verdade sobre nossas Lojas e sobre nós mesmos… os Irmãos, sobre os quais todos ouvem falar e poucos vêem, são entidades reais, e não ficções criadas como alucinações por um cérebro em desordem. [Apud SINNETT, 1926]

Trevor Barker [teósofo] ─ Entre os estudiosos da Teosofia e Ocultismo é bem conhecido o fato de que a doutrina e a ética apresentadas ao mundo pela Sociedade Teosófica, durante os 16 anos depois de de sua fundação, em 1875, são conhecimentos ministrados por Mestres do Oriente pertencentes a uma Irmandade Oculta que vive no Trans-Himalaia Tibetano. Blavatsky, que tinha esses sábios como mestres, afirmava não somente a existência da Irmandade, mas dizia que, durante sua estada no Tibete, tinha recebido pessoalmente, destes mestres, treinamento, ensinamentos e instruções [BARKER, 1926]

Wouter J. Hanegraaff[Grande Fraternidade Branca & Jesus] ─ Segundo o clarividente Edgar Cayce [1877-1945], os Essênios foram representantes da Grande Fraternidade Branca, ativos na Palestina no tempo de Jesus. Seu principal centro não era em Quram, mas no Monte Carmelo, lugar associado ao profeta Elias, outro iniciado, membro da Fraternidade. …Antes do nascimento de Jesus, os essênios souberam e prepararam seu advento. Chamavam-no o Velho Irmão. Acreditava-se que Ele foi o primeiro ser humano a completar o desenvolvimento espiritual. Aquele mesmo Jesus que viria como Messias tinha vivido muitas vidas neste planeta: Adão, Enoch, Melchizedek, José do Egito.

Preparando a chegada ou encarnação do mestre, os essênios selecionaram várias jovens; uma delas seria a mãe do Messias. Essas candidatas a Mãe do Salvador eram educadas no Monte Carmelo. Maria foi escolhida por um anjo. No episódio da Fuga Para o Egitoos essênios providenciaram que a Sagrada Família chegasse ao seu destino em segurança. Ao longo de toda sua vida até o momento em que começou seu ministério público, Jesus foi treinado por mestres da Grande Fraternidade Branca. Depois dos sete anos passados no Egito, o menino foi levado à Índia, onde ficou por três anos; depois, Pérsia voltando à Judéia na ocasião da morte de seu tutor terreno, José. [HANEGRAAFF, 1996]

George D. Chryssides─ A Grande Fraternidade Branca é um grupo de seres espirituais que vivem, existem em um espaço paralelo ao mundo físico humano. Essa Fraternidade é liderada por um Senhor do Mundo que preside uma hierarquia de mestres que inclui o Buda Sakyamuni, o mestre Maiterya, o mestre Morya e Mestre Koot Hoomi. Alguns desses mestres são pessoas desencarnadas, outros, pertencem a uma mitologia religiosa e alguns não se encaixam em nenhuma dessas categorias.

A Fraternidade abriga, ainda, históricas personalidades religiosas, ocultistas e filosóficas:

  • o patriarca Abraão
  • o rei Salomão
  • Confúcio [551-479 a.C.]
  • Lao Tzu [filósofo e alquimista chinês,autor do Tao Te Ching]
  • Platão [428-347 a.C., grego], Jacob Boehme [1575-1624, filósofo e místico alemão]
  • Roger Bacon [1214-1294, inglês]
  • Francis Bacon []1561-1626, inglês]
  • Cagliostro [1743-1795 Alexandro, conde de Cagliostro, ocultista, alquimista, maçom]
  • e até Franz Anton Mesmer [1734-1815, alemão], o famoso médico e hipnotizador. [CHRYSSIDES, 2001]

Glossário Mínimo da Grande Fraternidade Branca

Fonte: BLAVATSKY, H. P.. Glossário Teosófico. [Trad. Silvia Branco Sarzana] ─ São Paulo: Pensamento, 1995.

Adepto  ─ latim. Adeptus  ─  aquele que obteve. Em Ocultismo, aquele que pelo desenvolvimento espiritual alcançou o grau de Iniciação ou seja, alcançou conhecimentos e poderes transcendentais e chegou à condição de Mestre esotérico [dos segredos] [BLAVASTKY, 1995].

Cohan ─ Na Doutrina Secreta a tradução é Senhor. Na literatura teosófica atual é o mesmo que Dhyân-Cohan ou seja, Luzes Celestiais, Arcanjos.[BLAVASTKY, 2001]

Dhyânis ─ sânscrito. Anjos ou espíritos angélicos. Nome genérico aplicado a alguns Seres espirituais ordenados [hierarquizados] ─  [HOUDT Apud BLAVASTKY, 1995]

Doutrina Secreta ─ [Gupta Vidyâ ─ ciência oculta ou esotérica] denominação usada para designar os ensinamentos secretos da Antiguidade. [BLAVASTKY, 1995]

Gnôsis [do grego] ─  Gnose. Conhecimento. Termo empregado pelas escolas de filosofia religiosa, antes e durante os primeiros séculos do Cristianismo a Gupta Vidyâ [veja acima], o conhecimento supremo ou divino através do  estudo e prática das ciências ocultas ou esotéricas a fim de alcançar a posição de Iniciado nos Mistérios Espirituais [realidade metafísica, BLAVASTKY, 1995]

Gnósticos ─ Filósofos que formularam e ensinaram a Gnôsis. Viveram nos três primeiros séculos da Era Cristã. entre estes precursore, destacam-se: Valentino, Basilides, Marcion, Simão, o Mago ─ entre outros.

Loja ─ etimologicamente, do sânscrito loka, mundo, lugar próprio, podendo se referir a um templo, um prédio, uma casa, este mundo, outros mundos ou o Universo. [BLAVASTKY, 1995]

Maha-Cohan ─ sânscrito. Chefe de uma hierarquia espiritual ou de uma escola de ocultismo; o chefe dos místicos da região situada além do Himalaia. [BLAVASTKY, 1995]

Mahâtma ou Mahâtman ─ sânscrito. Em pali, Arhats ou Rahats. Adepto de ordem mais elevada. Sres que, tendo obtido o domínio de seus princípios inferiores [físicos orgânicos-astrais] vivem livres das limitações do homem carnal. Possuem conhecimento e poderes [faculdades, habilidades, sentidos, percepção] que o homem comum considera sobrenaturais mas que decorrem de evolução espiritual.

Também são chamados Sidhas, na condição de seres perfeitos que, por sua poderosa inteligência e santidade chegaram a uma condição semi-divina; ou, ainda, Jivan-muktas, almas libertadas; mas concedem em se ligar a corpos mais ou menos físicos sempre que necessário em sua missão de auxílio ao progresso da Humanidade.Como primeiros espíritos que um dia encarnaram em Humanidades arcanas, ao longo de Eons! alcançaram a consciência atmica [de Atman, o Todo incognoscível, consciência divina] ou nirvânica; completaram o ciclo de evolução como humanos. [BLAVASTKY, 1995]

Páli ─ Língua arcaica que precedeu o sânscrito mais refinado. As escrituras budistas mais antigas são todas escritas nessa língua. [BLAVASTKY, 1995]

texto, organização & pesquisa: Ligia Cabus

O Ser Humano tem uma necessidade enorme de complicar as coisas e uma imaginação que não cabe no planeta.

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Postagem original feita no https://mortesubita.net/alta-magia/a-grande-fraternidade-branca/

A Ordem de Aset Ka e a Popularização do Vampirismo Moderno

Em Hotep,

Tomei conhecimento da Ordem de Aset Ka em 2007 quando a Bíblia Asetiana foi liberada para deleite do publico em geral, em especial os europeus que já tinham alguma noção dos trabalhos vinculados a misteriosa sociedade cuja sede, sabe-se através do autor Luís Marques, se encontra na cidade de Porto, Portugal. É provavel que hajam outros capitulos da mesma espalhados ao redor do globo terrestre, todos estes interligando os adeptos as suas origens vampíricas presentes no Egito Antigo, onde a matriarca divina, Ísis, compartilhou não somente sua sabedoria entre sua descendencia, como sua própria imortalidade.
Por séculos a Ordem tomou a si a regencia do Antigo império egipcio, em um glamoroso reinado de Beleza e Poder, meramente esquecido pelos historiadores de nossa época, sequer reconhecido pelos mesmos.

“Para o seu grupo secreto e silencioso, Aset (Ísis) atribuiu-lhes o nome de Aset Ka, um símbolo direto de suas verdadeiras origens – a essência de Ísis, o Ka de Aset. E assim ela disse te-los vinculados através do sangue, e os fiéis a ela seriam para sempre fiéis para eles próprios, porque eles eram um só. Em seu “Beijo Negro”, ela gravou o sigilo santo no fundo de suas almas, que seria para sempre sua Marca Asetiana, e eles fariam o mesmo com seus seguidores” A Bíblia Asetiana.

A Aset Ka, enquanto ordem iniciática, existia muito antes de qualquer ordem vampírica, tal como Crimson Tongue, Dreaming, House Kheperu, ou até mesmo a notória Black veil, famosa pelos seus roles playing games e fãs de Nox Arcana. É certo que, em contexto de exposição muito diferente e com recursos completamente distantes dos que utiliza hoje em dia, vide o site oficial circulando na Web, mas já à 20 anos atrás haviam serões de palestras sobre manipulação de energia organizadas pela Aset Ka em Londres e Paris. Fatos tais são dificilmente encontrados em textos liberados, mas correm aos sussurros pelos círculos ocultistas, da onde a autora que os expõe aqui, sugou deliberadamente as informações.

Pois bem, antes que tomem notas através do trabalho que aqui se segue, é importante fazer um parecer sobre a pratica do Vampirismo, já muito propagada fora dos círculos ocultos, em especial pelos sujeitos mais problemáticos que são os adolescentes deslumbrados e fãs de qualquer alegoria sombria/sensual. Tais ordens como Aset Ka jamais registraram qualquer indicio de prática canibalista em seus meios como uma questão de obrigatoriedade de sua natureza divina, senão uma alusão ao que seria “sugadores da essência divina”, energia psiquica ou sexual. Fora isto, moldar em mente sujeitos de preto, cabelos longos, pele pálida e feições aquilinas voando entre árvores de um bosque a caçar mocinhas, é apenas uma visão romanceada, figurativa, do que o Vampiro de fato representa. A questão da alimentação sanguinea não é uma condição inerente ao Asetiano, que privado desta dieta, padecerá em uma funesta não-existencia cá entre os vivos. Sobre esta questão, busquei referencias na fonte mais correta da Ordem, sua Bíblia, que nos trás a questão de maneira bem direta:

“O que um vampiro real realmente anseia em seu núcleo é o Ka, a essência da vida, se liberada por um intenso orgasmo sexual, desde o sangue pingando da veia do doador, ou simplesmente pelo toque da carne”

Procede-se então que o Vampiro se comporta de maneira similar a um daemon invocado cujo sigilo necessita ser alimentado pela energia do seu conjurador, seja numa gota de sangue, seja através do fluído sexual. O Vampiro todavia, não é uma condição sobrenatural inalcançavel. Tomando o presuposto que o Vampiro se alimenta da energia exterior, o vampirismo psiquico fora abordado de maneira bastante elucidatoria por autores como Dion Fortune e Anton Lavey.O “Psyvamp” sendo uma condição repassada seja geneticamente ou através de ataques exteriores, PORÉM, não resulta no recrutamento do mesmo para uma Ordem como Aset Ka. Simplesmente porque ser asetiano não é somente ser um vampiro. A questão é mais profunda e essencialmente vinculada a hereditariedade.

Não adianta donativos, puxa-saquismo, sequer seu sangue é interessante a Ordem. Sendo um círcuo estritamente fechado, entende-se bem o porque de poucos conhecerem Aset ka. Esta casa ocultista não é como as casas por ai que dizem serem secretas, e fazem entrevistas até para o Jô Soares se puderem. Não deve-se confundir Ordem restrista com Ordem Secreta, pois nem todas as ordem restritas sobrevivem na obscuridade, por exemplo a famosa Maçonaria. Mas então porque diabos lançar um livro, um site, até uma pagina na Wikipedia, se a palavra de ordem da Aset Ka é Sigilo?

Em dialogos com um possivel conhecedor dos trabalhos asetianos nas terras lusitanas, este me deu a entender que alguns descendentes da Ordem vagavam por ai sem conhecimento de suas origens. As publicações rescentes, por tanto, pretendiam, e pretendem, despertar esses irmãos e levá-los de encontro a suas origens. O reconhecimento se daria de uma maneira profundamente íntima, é deduzível, já que não consta um manual de comportamentos asetianos, senão poucas caracteristicas referentes as linhagens. Obviamente, as publicações atraíram muitos tipos de fanboys e fangirls de RPG, Anne Rice, Saga Crepúsculo e até membros de outras ordens, curiosos acerca desta identidade otherkind presente no asetiano. Mas é provavel que os curiosos não obtiveram sucesso em suas pesquisas, tal como eu que apenas pude me satisfazer com informações minguadas espalhadas entre os círculos.

 

Aset Ka e as Três Linhagens Vampíricas

“Vivemos em segredo. Vivemos em silêncio. E nós vivemos sempre …Que a Serpente beije o infinito de sua beleza fria”

A palavra Asetiana refere-se à linhagem imortal criada por Ísis no Antigo Egito. Em seu ato de criação divina, ela deu sozinha à luz a três crianças para fora de sua essência. Esses são os Asetianos Primordiais, os primeiros de seus parentes, representações perfeitas das Linhagens encontrados em Asetianismo. Isso explica a natureza tríplice da linhagem que é representada por três linhagens distintas: Serpente, a Linhagem dos Viperines, Escorpião, a linhagem dos Guardiões, Escaravelho, a Linhagem dos Concubines.

1 – Linhagem das Serpentes (tambem conhecida como a linhagem de Hórus): Esta linhagem assenta as suas bases na honra, no poder e na força da liderança. Os seres desta linhagem destacam-se por possuir elevados poderes metafisicos, e uma criatividade extraordionária. São habitualmente temidos por aqueles que conhecem os seus poderes. Fisicamente, tem uma aparência frágil (apesar de serem de todas as linhagens os mais poderosos) devido a possuirem um grande desprendimento da Terra em si. São na maioria das vezes pessoas palidas, magras, e tem um olhar profundo que lhes é caracteristico.

2 – Linhagem dos Escorpiões (Guardiões) :os seres desta linhagem denotam-se por uma grande ligação ao amor, e busca do mesmo. Para eles, o amor é a propria razão da vida. São desligados das pessoas em geral, apresentando por diversas vezes pontos de vista divergente da maioria das opinioes da sociedade. São muito ligados á Terra, o que resulta no desenvolvimento de um grande escudo de protecção á sua volta quase constante. São seres notoriamente protetores, contudo só permitem a alguns aproximarem-se de si intimamente. Nao interagem muito facilmente com a energia, devido precisamente ao seu “escudo” quase constante. São donos de uma saude excelente assim como de um ótimo sistema imunologico. São poucos sensiveis á luz solar, e podem ainda ser menos palidos que os asetianos das outras duas linhagens. Tem um metabolismo energetico lento, logo sao raras as vezes em que necessitam de retirar energia dos outros. São avançados na alimentação tantrica. Alimentam-se de energia sexual.

3 – Linhagem dos Escaravelhos (Concubines): Tem uma natureza caótica, e ao mesmo tempo adaptativa. Tem a habilidade de partilhar grandes quantidades de energia, tornando-os excelentes doadores , sobretudo para a linhagem das serpentes. Sao submissos e controlados, mas apenas por aqueles que lhe são bastante proximos. Tem uma grande necessidade de contacto humano social, e por isso mesmo sao das 3 linhagens a que possui uma alma mais humanizada, sendo que o facto de se misturarem com os humanos e agirem muitas vezes como eles emotivamente é um dos seus maiores fardos, uma vez que assim se torna mais dificil de atingir o seu eu interior divino. Umas das suas capacidades mais marcantes é a de conseguirem transformar a dor fisica em prazer, alimentando-se muitas vezes de energia sexualmente liberada. Não tem uma aparencia fisica esteriotipamente definida, a mesma costuma variar imensamente.

Keepers – Crianças de Anubis

São os protetores dos Asetianos, estão a eles ligados através de lealdade, respeito, honra e dedicação. Tal como os Asetianos, tem uma alma imortal nao humana, logo sao conhecidos como otherkins. Alguns possuem uma alma vampirica, outros tem uma alma humanizada. Discípulos de Anubis, sao extremamente avançados no que toca a praticas e ritos de magia e feitiçaria. A sua maior ambiçao é proteger os Asetianos.

“Desenvolvimento e iluminação são processos lentos e persistentes da viagem Asetiana através da vida. Esta iniciação metafísica é um sistema de transmutação. Com esta mudança pura e profunda, significa que o Asetiano consegue alterar de forma,aparência e natureza, que é uma manifestação da força da Chama Violeta em si. Esta transmutação, profundamente conectada com o nascimento vampírico, representa a natureza da alquimia da alma Asetiana, sempre mudando eternamente. De acordo com isto, podemos estabelecer o Asetianos como os alquimistas do alma, criadores e destruidores,catalisadores de mudança e evolução, com o poder de transformar chumbo em ouro. Asetianos são os doadores de vida, os pilares da existência sutil, os proprietários darespiração da imortalidade. ”

Mas então, qual seria o sistema asetiano? Como vivem e o que fazem?

Existem trechos deveras notáveis nas obras de Luis Marques que calam a boca dos insistentes, porém nao conseguem fazer morrer o interesse. Tal como o autor é uma pessoa física E conhecida, os asetianos assim são, habitando entre nós, podendo ser nossos vizinhos ou um apresentador de um talk show na TV.
“Para aqueles fora da Ordem, nós jamais existiremos” (A Biblia Asetiana).

No entando, sabemos que eles sim existem, mas não da maneira extravagante que Hollywood demonstrou.

“Os vampiros e criaturas similares podem ser encontradas em quase todas as culturas ao redor do mundo. Nos contos do Vetalas da Índia encontram-se no folclore sânscrito, chamados demonios vampiricos, tanto que os Lilu são conhecidos desde os mistérios da Babilônia, e mesmo antes, os sanguessugas de Akhkharu foram vistos na mitologia suméria. De fato,um desses demônios do sexo feminino, chamado Lilitu, foi adotado mais tarde pelademonologia judaica, Lilith, sendo um arquétipo ainda atualmente utilizado em algumas tradições ritualísticas do Caminho da Mão Esquerda. Mas a maioria do que é reconhecido do vampiro vem da Romênia e contos eslavos, os Strigoi chamados Nosferatu e Varcolaci, entre outros. No entanto, o Vampiro verdadeiro, como um ser real e não o conceito encontrado em todo o mundo e na história como puro mito criado pelo homem, tem suas raízes no Antigo Egito, sendo ele o Asetiano”. (A Bíblia Asetiana)

Nathalia Claro.

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/vampirismo-e-licantropia/a-ordem-de-aset-ka-e-a-popularizacao-do-vampirismo-… […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/vampirismo-e-licantropia/a-ordem-de-aset-ka-e-a-popularizacao-do-vampirismo-moderno/

A Peste Negra

A chamada peste negra foi talvez a pandemia que mais marcou a história a história universal. Seja por sua extensão territórial, seja por ter permanecido inexplicáel por muito tempo, ou mesmo pelo número assombroso de pessoas que matou, sua lembrança persiste até hoje no imaginário ocidental como uma genuina expressão da face da morte, comparável às das  grandes guerras mundiais.

No início de 1330 o primeiro foco da peste bubônica aconteceu na China. A peste afeta principalmente roedores, mas suas pulgas podem transmitir a doença para as pessoas. Uma vez infectada, o contagio a outras pessoas ocorre de maneira extremamente rápida. A peste causa febre e um inchaço doloroso das glândulas linfáticas chamadas de bulbos, daí o seu nome. A doença pode também causar manchas na pele que apresentam primeiramente uma cor avermelhada e então se torna negra.

Como a China era um das maiores nações comerciais, foi só uma questão de tempo até que a epidemia da peste se espalhasse pela Ásia oriental e pela Europa. Em outubro de 1347, vários navios mercantes Italianos retornaram de uma viagem ao mar negro, um dos elos no comércio com a China. Quando os navios aportaram Sicília muitos dos que estavam a bordo já estavam morrendo por causa da peste. Após alguns dias a doença se espalhava pela cidade e pelos arredores. Uma testemunha ocular conta o que aconteceu:

“Percebendo que um desastre mortal havia chegado a eles, as pessoas rapidamente expulsaram os italianos de sua cidade. Mas a doença permaneceu, e logo a morte estava por toda parte. Pais abandonavam seus filhos doentes. Advogados se recusavam a sair de casa e fazer testamento para os moribundos. Frades e freiras foram deixados para trás para tomar conta dos doentes e monastérios e conventos logo estavam desertos, pois eles também foram afetados. Corpos foram deixados em casa abandonadas, e não havia ninguém para lhes dar um funeral Cristão.”

A doença atacava e matava com terrível rapidez. O escritor italiano Boccaccio disse que as vítimas normalmente,

“almoçavam com seus amigos e jantavam com seus ancestrais no paraíso.”

Em agosto no ano seguinte, a peste havia se espalhado ao norte até a Inglaterra, onde as pessoas a chamavam de “A Morte Negra” por causa das manchas negras que ela causava na pele. Um terrível assassino estava solto na Europa, e a medicina medieval não tinha nada para combatê-lo.

No inverno a doença parecia desaparecer, mas somente porque as pulgas, grandes responsáveis pelo transporte da peste de pessoa para pessoa, estavam dormentes. A cada primavera a peste atacava novamente, fazendo novas vítimas. Após cinco anos 25 milhões de pessoas estavam mortas, um terço da população da Europa.

Mesmo quando o pior havia passado epidemias menores continuaram a acontecer, não só por anos mas por séculos. Os sobreviventes viviam em medo constante do retorno da peste, e a doença não desapareceu até o século XVII.

A sociedade medieval nunca se recobrou dos resultados da praga. Tantas pessoas haviam morrido que houveram sérios problemas de mão de obra em toda a Europa. Isso fez com que trabalhadores pedissem maiores salários. No fim do século XIV revoltas de camponeses aconteceram na Inglaterra, França, Bélgica e Itália.

A doença também cobrou sua dívida na igreja. Pessoas durante a era cristã rezaram com devoção para serem liberados da praga. Por que essas preces não foram atendidas? Um novo período de distúrbio político e questionamento filosófico surgiam à vista.

O Desastre Acontece

População estimada na Europa entre os anos 1000 e 1352

1000 38 milhões
1100 48 milhões
1200 59 milhões
1300 70 milhões
1347 75 milhões
1352 50 milhões

Calcula-se que a peste negra tenha matado mais de 25 milhões de pessoas entre 1347 e 1352. Ou seja, a peste bubônica sozinha dizimou cerca de 1/3 da população na Europa em apenas cinco anos. Isso sem contar a imensidão de orfãos e viúvas deixados no rastro da epidemia.

Um Relato Sobre o Início da Peste

“No começo de Outubro, no ano 1347 da encarnação do Filho de Deus, doze galeões Genoveses que estavam fugindo da vingança de nosso Nosso Senhor, vingança essa lançada contra seus feitos nefastos, entraram no porto de Messina. Em seus ossos traziam tão virulenta doença que qualquer um que tão somente falasse com eles enfrentaria seus sintomas mortais e logo sucumbiria sem esperanças de evitar a morte. A infecção se espalhou para todos que tiveram intercurso com os doentes. Os infectados se sentiam penetrados por uma dor que se fazia sentir por todo o corpo e, por assim dizer, indeterminada. Então desenvolviam em suas virilhas e em seus braços bolhas pustulentas. Estas infectavam o corpo inteiro e penetravam tão profundamente que o paciente ficava vomitando sangue violentamente. Esses vômitos de sangue se seguiam sem pausa por um período de três dias, sem haver como curá-lo, e então o paciente expirava. Mas não só aqueles que tinham intercurso com eles morriam, mas também aqueles que haviam tocado neles ou em qualquer uma de suas coisas.

“Em breve os homens se odiavam tanto que se um filho fosse atacado pela doença seu pai não cuidaria dele. Se, apesar de tudo, ele ousasse se aproximar também se contaminaria e estaria marcado para morrer em três dias. E isso não era tudo, todos aqueles habitando a mesma casa que ele o seguiriam à morte. Conforme o número de mortes crescia em Messina muitos desejavam confessar seus pecados aos padres e expressar seus últimos desejos colocando-os em seus testamentos. Mas eclesiásticos, advogados se recusavam a entrar nas casas dos doentes. Mas se algum deles colocasse um pé dentro da casa do doente ele era imediatamente abandonado para a morte súbita. Freiras, Dominicanos e membros de outras ordens que ouviam as confissões dos moribundos eram logo subjulgados pela morte tão rapidamente que alguns nem chegavam a abandonar o quarto do doente. Logo os corpos estavam largados pelas casas. Nenhum eclesiástico, nenhum filho, nenhum pai e nenhum parente ousava entrar, mas pagavam serventes altas taxas para enterrar os mortos. Mas as casas dos mortos permaneciam abertas, com todos os seus pertences, jóias e ouro e todo aquele que decidisse entrar para reclamá-las o fazia sem encontrar obstáculos, pois a praga atacava com tanta veemência que em pouco tempo havia uma falta de serventes e finalmente não havia nenhum.

“Quando a catástrofe alcançou seu clímax os Messienses se decidiram emigrar. Uma parte deles achou abrigo nos vinhedos e nos campos, mas uma parte maior procurou refúgio na cidade da Catânia, na esperança que a Santa Virgem Agatha de Catânia lhes pouparia de seu mal. Para esta cidade se dirigiu a Rainha da Sicília e de lá convocou seu filho Don Federigo. Em novembro os Messienses persuadiram o Patriarca, Arquebispo de Catânia, a permitir que as relíquias de santos fossem trazidas para sua cidade. Mas a população de Catânia não permitiriam que os ossos sagrados fossem removidos de seu lugar. Agora processões e pelegrinagens se dirigiam a Catânia para se apresentar a Deus, mas a praga atacava com mais veemência que antes. A fuga não era mais uma opção. A doença se escondia entre os fugitivos e os acompanhava por todo lugar onde fossem buscar ajuda. Muitos dos fugitivos caiam nas beiras de estradas e eram arrastados para o campo ou escondidos entre os arbustos para morrerem lá. Aqueles que alcançaram a Catânia tiverem seu último suspiro nos hospitais que haviam lá. Os cidadãos horrorizados demandavam que o Patriarca proibisse que os doentes recebessem uma banição eclesiástica e que fossem enterrados nos arredores da cidade, e então eles eram atirados em valas cavadas do lado de fora dos muros da cidade.

“A população de Catânia era tão tímida e atéia que ninguém dentre eles ofereceu (aos fugitivos) abrigo. Se alguns grupos em segredo não houvessem ajudado um pequeno número de pessoas de Messina, elas teriam sido abandonadas sem auxilio algum. Mesmo se espalhando por toda a ilha da Sicília, e junto com eles a peste, inúmeras pessoas morreram. Sempre que alguém em Catânia sofria de dores de cabeça e calafrios essa pessoa sabia que estava destinada a morrer dentro do prazo, então saia para se confessar com os padres e para fazer seus testamentos com os advogados. Quando a praga ganhou peso em Catânia o Patriarca delegou a todos os eclesiásticos, até os mais jovens, com todos os poderes sagrados para a absolsão dos pecados que ele como bispo e patriarca possuía. Mas a pestilência continuou atacando de outubro de 1347 a abril de 1348. O próprio patriarca foi um dos últimos a morrer. Ele morreu realizando seu trabalho. Ao mesmo tempo o Duque Giovanni, que havia evitado cuidadosamente cada casa infectada e pessoa doente morreu.”

Analisando a Peste

A variedade de respostas à praga talvez seja o que melhor nos mostre a natureza da sociedade medieval Européia na Idade Média.. Mas quando investigamos as respostas humanas à peste devemos considerar o seguinte:

É a natureza humana reagir e responder a diferentes eventos e circunstâncias. Uma boa técnica de entender os complexos eventos é analisar o comportamento humano separando-o em categorias distintas. Essas podem incluir respostas científicas e médicas, políticas, sociais ou religiosas. Essas categorias não são exclusivas e uma coisa pode cair em várias categorias, mas geralmente esse método faz que vários dados sejam organizados de maneira compreensiva.

Todas as civilizações sempre se preocuparam com a saúde e doenças. Todas tiveram curandeiros de um modo ou outro e forneceram explicações para a ocorrência de doenças. Veja agora os elementos da teoria e prática médica prevalecente na Europa e no Oriente Médio na época da praga.

Rumores do Anti-Cristo

Com tantas mortes ao seu redor, os europeus começaram a enxergar o fim do mundo, como a Bíblia Cristã previa. Uma das professias do Livro do Apocalipse dizia que o Anti-Cristo apareceria.

“Os rumores citados abaixo foram escritos em 1349, pelo Irmão William de Blofield na Inglaterra para um irmão Frade Dominicano em Norwich. Existem inúmeros profetas nos arredores de Roma, cujas identidades permanecem um segredo, que inventaram estórias como esta por anos. Eles dizem que neste mesmo ano, 1349, o Anti-Cristo vive com 10 anos de idade e é uma criança encantadora, tão bem educada em todas as áreas de conhecimento que nenhum ser vivo pode se igualar a ele. E eles também dizem que existe outro garoto, agora com 12 anos, e vivendo além das terras dos tártaros, que foi criada como um cristão e será ele que destruirá os saracenos e se tornará o maior homem no reinado cristão, mas seu poder logo será trazido para um fim pela chegada do Anti-Cristo.”

Teorias Médicas Medievais

A teoria médica medieval esteve em grande dívida com os antigos filósofos Gregos e Greco-Romanos. A medicina islâmica não somente se utilizava de práticas antigas, mas os filósofos islâmicos também desenvolveram um sofisticada teoria médica. A medicina européia do século XIV aplicava as tradições antigas assim como as islâmicas. Para a maioria dos europeus existiam três grandes autoridades que representavam essas tradições médicas, Hipócrates, Galen e Avicena.

Os documentos revelam as teorias médicas envolvendo as causas da peste e seus métodos de tratamento.

Naquele tempo a peste não se encaixava no conhecimento médico contemporâneo que em sua maioria afirmavam que doenças eram transmitidas através do “ar ruim”, que geralmente possuía um cheiro nauseabundo. Para prevenir que as doenças se espalhassem era comum a terapia de aromas. Isso podia incluir a queima de incensos ou a inalação de fragrâncias, como perfumes ou flores. Isso não afetou o avanço da peste e muitos curandeiros  fugiam ao primeiro sinal da doença.

Biologia da Peste Negra

Nós devemos nos lembrar que no século XIV, as idéias modernas de medicina ainda não haviam se desenvolvido. Não foi até o século XIX que os fisiologistas foram capazes de isolar a causa precisa da peste.

A causa da peste foi finalmente descoberta pela comunidade médica na última década do século. Como resultado da então nova teoria de germes causadores de doenças, pesquisadores acharam que a peste bubônica era de fato causada por uma infecção massiva da bactéria Yersinia Pestis. Somente com esta descoberta é que se tornou possível sintetizar os antibióticos necessários para combater esta doença.

O bacilo, Yersinia Pestis, é normalmente encontrado vivendo como um parasita dentro de ratos. Lá a bactéria pode se multiplicar, infectar a corrente sangüínea, órgãos e outros sistemas dos roedores hospedeiros. Pulgas vivendo nesses ratos ingerem o sangue infectado quando se alimentam, e assim se tornam infectadas pela bactéria. Normalmente essas pulgas vivem somente nos ratos, mas a peste também os afetou assim como aos humanos, e logo os ratos hospedeiros acabam morrendo. As pulgas devem então encontrar um novo hospedeiro e, por causa da proximidade entre as duas espécies devido principalmente às condições de vida da época, logo elas migraram para seus novos hospedeiros, os humanos. A infecção acontece quando a pulga começa a se alimentar de sangue humano e acaba passando a bactéria através de fluídos para o hospedeiro humano.

Este tipo de infecção acaba causando o tipo de peste denominada “bubônica”. A bactéria começa a se multiplicar na corrente sangüínea da pessoa infectada, chegando à veias e artérias e ao tecido dos pulmões. Como resultado, uma pessoa infectada normalmente exibirá uma descoloração na pele causada pela hemorragia nos capilares. Como resultados sua pele apresenta uma aparência pálida marcada por vários hematomas. A bactéria também ataca o sistema linfático. A infecção dos nódulos linfáticos é que dá a este tipo de peste o seu nome. Os nódulos linfáticos tentam criar anticorpos para combater a infecção, o que acaba resultando num inchaço do tamanho que varia de uma noz até o tamanho de uma maçã. Os inchaços resultantes, localizados nas axilas, pescoço ou virilha eram chamados de “bulbos” ou “bubões” pelos europeus medievais. Era geralmente este sintoma em particular que permitia com que os doutores contemporâneos detectassem a presença desta doença. A forma bubônica desta doença na maioria dos casos se mostrava fatal, mas existem registros de pessoas que se recuperaram completamente após ficarem seriamente doentes.

Existem outras duas formas desta doença, pneumônica e infecciosa. A primeira envolve uma infecção no tecido pulmonar que causa o acúmulo de fluído que acaba acarretando na morte do infectado. Evidência sugere que um pessoa pode contrair esta forma da doença ao inalar gotículas de saliva ou outro fluído corporal de uma pessoa infectada. A forma pneumônica parece causar uma taxa de morte que se aproxima a 100%. A Segunda forma da doença, infecciosa, envolve uma forma de infecção tão rápida e massiva que a morte acontece antes mesmo que os sintomas principais tenham tempo de aparecer. Esse tipo relativamente raro da peste pode ser encontrado em registros médicos indicando que a pessoa simplesmente morreu durante as epidemias de peste por nenhuma razão aparente.

Ambos os tipos desta doença afetaram a sociedade européia entre os anos de 1347-1348 e em epidemias que ocorreram nos anos seguintes. Infelizmente ainda é muito difícil se dizer qual das formas da doença estava presente em algumas das localidades e em alguns casos da peste. De fato ao que tudo indica alguns casos de epidemias da peste não passavam de casos de disinteria, por exemplo, e muitas outras doenças acabaram ganhando o rótulo da peste em epidemias que ocorreram mais tarde. Uma pista para se identificar a forma da doença depende da época do ano no qual determinada epidemia aconteceu. Por causa da temperatura e umidade do ar que permitem a população de pulgas a prosperar, a peste bubônica tendia a surgir nos meses de verão enquanto a pneumônica durante o inverno. A relação entre a forma da peste, o clima e a localização geográfica da epidemia entretanto é algo complexo, e um conhecimento biológico definitivo destes eventos históricos é difícil de se estabelecer.

Durante os períodos medievais e no início do período moderno somente o rato negro, ou rato de telhado, parece ter vivido na maior parte da Europa. O rato negro (Rattus rattus) vivia próximo de humanos preferindo, por exemplo, viver em sótãos ou telhados. O rato negro não encontrou dificuldades para se adaptar aos humanos já que pesavam 315 gr e chegavam a 17,5 cm. O rato marrom, ou rato de esgoto, tomou o lugar do rato negro em algum ponto do século XVIII. As pulgas do rato marrom (Rattus nirvegicus) são menos efetivas como transmissoras da bactéria e alguns historiadores alegam que essa mudança foi a responsável pelo, de outra maneira difícil de se explicar, desaparecimento das grandes epidemias na Europa nessa época.

A Peste na Europa

No fim de 1347 a “Peste Negra” havia chegado no centro oeste e estava começando a se dirigir para a parte sul da Europa. Em seis meses, no início do verão, a doença havia se espalhado pela Itália, Europa Central e atingido a parte norte da Espanha. No Natal de 1348 o seu alcance atravessou o Canal da Mancha e os Alpes. Outros seis meses foram testemunhas do seu avanço para a Irlanda, interior da Inglaterra e para o norte da Europa. O inverno de 1349 trouxe a peste para a Escócia, partes da Escandinávia e aos Países Baixos. No ano seguinte a doença havia chegado na Suécia, norte da Alemanha e norte da Polônia. Nenhuma parte da Europa foi tão afetada como as cidades de Liege e Nuremberg, assim como algumas cidades do sul da França e da Alemanha central parecem ter sido ignoradas pela praga.

Durante a Era Medieval as rotas de comércio na Europa passavam pelo eixo norte-sul. Mercadorias dos mercados do Oriente Médio inundavam o sul da Europa chegando pelas cidades estados da Itália. De lá as rotas de comércio se ramificavam em direção ao norte seguindo os rios as passagens naturais nos Alpes. Como a tecnologia marítima ainda era muito precária as principais rotas eram terrestres.

A Peste Bubônica pode voltar?

como visto anteriormente, a peste bubônica é provocada por uma bactéria, a Yersinia Pestis, geralmente transportada por pequenos roedores (ratos) e transmitida ao homem pelas pulgas. Como facilmente se compreende, são os países das regiões mais pobres, com condições sanitárias e higiénicas mais desfavoráveis, os que estão à mercê deste tipo de doença.

Esta lógica tem elevado com frequência a preocupação da própria Organização Mundial de Saúde (OMS), quanto ao problema, especialmente depois dos anos 90 quando os relatados  de algumas dezenas de casos acoteceram na Índia. Neste mesmo país, entre os anos de 1889 e 1950 a Peste Bubonica já foi responsável por mais de 12,5 milhões de mortos.

As formas conhecidas como peste bubônica e peste pneumônica ainda existem no Brasil, especialmente na região nordeste. Apesar de dispormos de tratamento com antibiótico, este é eficaz quando o diagnóstico é feito precocemente. O diagnóstico precoce também é importante pelo caráter contagioso da forma pneumônica, que necessita isolamento respiratório do doente. Se tratado a tempo, este se recupera sem sequelas.

 

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/realismo-fantastico/a-peste-negra/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/realismo-fantastico/a-peste-negra/

A Lenda dos Nove Desconhecidos

A tradição dos Nove Desconhecidos remonta à época do Imperador Açoca que governou as Indias a partir do ano 273 a.C. Era neto da Chandragupta, primeiro unificador da India. Cheio de ambição como o seu antepassado, cuja tarefa quis completar, emprendeu a conquista de Calinga, que se estendia desde a atual Calcutá até Madrasta. Os calinganeses resistiram e perderam cem mil homens na batalha. O espetáculo dessa multidão massacrada transtornou Açoca. Ficou, para todo o sempre , com horror à guerra. Renunciou a prosseguir na integração dos países insubmissos, declarando que a verdadeira conquista consiste em captar a estima dos homens pela lei do dever e da piedade, pois a Majestade Sagrada deseja que todos os séres animados usufruam de segurança, liberdade, paz e felicidade.

Convertido ao Budismo e devido à sua maneira de agir, Açoca espalhou esta religião através das Índias e do seu império, que ia até à Malásia, Ceilão c Indonésia. Depois o Budismo chegou ao Nepal, Tibete, China e Mongólia. No entanto, Açoca respeitava todas as seitas religiosas. Aconselhava os homens a serem vegetarianos, aboliu o álcool e o sacrifício de animais. H..G Wells, no seu sumário da história universal, escreve: “Entre as dezenas de milhares de nomes de monarcas que se amontoam nos pilares da história, o de Açoca brilha quase isolado, como uma estréia”.

Diz-se que, consciente dos horrores da guerra, o Imperador Açoca quis proibir para sempre aos homens que utilizassem a inteligência de uma forma prejudicial. Sob o seu reinado, a ciência da natureza passou a ser secreta, tanto passada como futura. As pesquisas, indo da estrutura da matéria às técnicas de psicologia coletiva, esconder-se-ão, daí em diante e durante vinte e dois séculos, atrás do rosto místico de um povo que o mundo julga apenas preocupado com o êxtase e o sobrenatural. Açora fundou a mais poderosa sociedade secreta do Universo: a dos Nove Desconhecidos.

Continua a dizer-se que os grandes responsáveis pelo atual destino da indica — e cientistas como Bose e Ram acreditam na existência dos Nove Desconhecidos — dêles receberiam conselhos e mensagens. Com alguma imaginação, é possível avaliar a importância dos segredos que poderiam guardar nove homens beneficiando-se diretamente das experiências, dos trabalhos, dos documentos acumulados durante mais de duas dezenas de séculos. Quais os objetivos que êsses homens têm em vista? Não deixar cair em mãos profanas os meios de destruição. Prosseguir as investigações benéficas para a humanidade. Êsses homens seriam renovados por cooptação fim de defender os segredos técnicos de um passado longínquo.

São raras as manifestações exteriores dos Nove Desconhecidos. Uma delas está ligada ao prodigioso destino de um dos homens mais misteriosos do Ocidente: o Papa Silvestre II, conhecido sob o nome de Gerbert d’Aurillac. Nascido em Auvergne no ano 920, falecido em 1003, Gcrhert foi monge beneditino, professor da Universidade de Rcims, arcebispo de Ravena e papa por mercê do Imperador Otão III.

Teria passado algum tempo na Espanha, depois, uma misteriosa viagem tê-lo-ia levado até às índias, onde obtivera diversos conhecimentos que causaram assombro ao seu círculo. Também possuía, cm seu palácio, uma cabeça de bronze que respondia SIM ou NÃO às perguntas que êle lhe fazia sôbre a política e a situação geral da cristandade. Na opinião de Silvestre II (volume CXXXIX da Patrologia Latina, de Migne), êsse processo era muito simples e correspondia ao cálculo feito com dois números. Tratar-se-ia de um autômato análogo às nossas modernas máquinas binárias. Essa ca-beça “mágica” foi destruída quando da sua morte, e os conheci. mentos trazidos por êle cuidadosamente escondidos. A biblioteca do Vaticano proporcionaria sem dúvida algumas surprêsas ao investigador autorizado. O número de outubro de 1954 de Computers and Automation, revista de cibernética, declara: “Temos de imaginar um homem de um saber extraordinário, de uma destreza e de uma habilidade mecânica fora do comum. Essa cabeça falante teria sido feita “sob determinada conjunção das estrêlas que se dá exatamente no momento em que todos os planetas estão iniciando o seu percurso”. Não se tratava nem de passado, nem de presente, nem de futuro, pois aparentemente essa invenção ultrapassava de longe a importância da sua rival: o perverso “espelho sôbre a parede” da rainha, precursor dos nossos modernos cérebros automáticos. Houve quem dissesse, evidentemente, que Gerbert apenas foi capaz de construir semelhante máquina porque mantinha relações com o Diabo e lhe jurara eterna fidelidade.

Teriam outros europeus estado em contato com essa sociedade dos Nove Desconhecidos? Foi preciso esperar pelo século XIX para que reaparecesse êste mistério, através dos livros do escritor francês Jacolliot.

Jacolliot era cônsul da França em Calcutá na época do Segundo Império Escreveu uma obra de antecipação considerável, comparável, se não superior, à de Júlio Verne. Deixou, além disso, vinte obras consagradas aos grandes segredos da humanidade. Essa obra extraordinária foi roubada pela maior parte dos ocultistas, profetas e taumaturgos. Completamente esquecida na França, é célebre na Rússia.

Jacolliot é formal: a sociedade dos Nove Desconhecidos é uma realidade. E o mais estranho é que cita a êste respeito técnicas absolutamente inimagináveis em 1860, como seja, por exemplo, a libertação da energia, a esterilização por meio de radiações e a guerra psicológica.

Yersin, um dos mais próximos colaboradores de Pasteur e de Roux, teria sido informado de segredos biológicos por ocasião da sua viagem a Madrasta, em 1890, e, segundo as indicações que lhe teriam sido dadas, preparou o sôro contra a peste e a cólera.

A primeira divulgação da história dos Nove Desconhecidos deu-se em 1927, com a publicação do livro de Talbot Mundy, que pertenceu, durante vinte e cinco anos, à polícia inglesa das Índias. Esse livro está a meio caminho entre o romance e o inquérito. Os Nove Desconhecidos utilizariam uma linguagem sintética. Cada um dêles estaria de posse de um livro constantemente renovado e contendo o relatório pormenorizado de uma ciência.

O primeiro dêstes livros seria consagrado às técnicas da propaganda e da guerra psicológica. “De tôdas as ciências, diz Mundy, a mais perigosa seria a do contrôle do pensamento dos povos, pois permitiria governar o mundo inteiro.” É de notar que a Semântica Geral, de Korzybski, data apenas de 1937 e que necessário aguardar a experiência da última guerra mundial para que principassem a cristalizar-se no Ocidente as técnicas da psicologia da linguagem, quer dizer, da propaganda. O primeiro colégio de semântica americano só foi criado em 1950. Na França, apenas conhecemos A Violação das Multidões, de Serge Tchakhotine, cuja influência nos meios intelectuais e políticos foi importante, embora apenas mencione a questão.

O segundo livro seria consagrado à fisiologia. Falaria especialmente na maneira de matar um homem ao tocar-lhe, provocando a morte pela inversão do influxo nervoso. Diz-se que o judô deriva das “fugas” dessa obra.

O terceiro estudaria a microbiologia e especialmente os colóides de proteção.

O quarto trataria da transmutação dos metais. Diz uma lenda que, nas épocas de fome, os templos e os organismos religiosos de assistência recebem de uma fonte secreta enormes quantidades de ouro muito fino.

O quinto incluía o estudo de todos os meios de comunicação, terrenos e extraterrenos.

O sexto continha os segredos da gravitação.

O sétimo seria a mais vasta cosmogonia concebida pela nossa humanidade.

O oitavo trataria da luz,

O nono seria consagrado à sociologia, indicaria as leis da evolução das sociedades e permitiria a previsão da sua queda.
À lenda dos Nove Desconhecidos está ligado o mistério das águas do Ganges. Multidões de peregrinos. portadores das mais pavorosas e diversas doenças, ali se banham sem prejuízo para os de boa saúde. As águas sagradas tudo purificam. Pretenderam atribuir essa estranha propriedade do rio à formação de bacteriófagos. Mas por que motivo não se formariam êles igualmente no Bramaputra, no Amazonas ou no Sena? A hipótese de uma esterilização por meio de radiações aparece na obra de Jacolliot, cem anos antes de se saber possivelel um tal fenômeno. Essas radiações, segundo Jacolliot, seriam originárias de um templo secreto cavado sob o leito do Ganges.

Afastados das agitações religiosas, sociais e políticas, resoluta e perfeitamente dissimulados, os Nove Desconhecidos encarnam a imagem da ciência calma, da ciência com consciência. Senhora dos destinos da humanidade, mas abstendo-se de utilizar o seu próprio poder, essa sociedade secreta é a mais bela homenagem possível à liberdade em plena elevação. Vigilantes no âmago da sua glória escondida, êsses nove homens vem fazer-se, desfazer–se e tornar a fazer-se as civilizações, menos indiferentes que tolerantes, prontos a auxiliar, mas sempre sob essa imposição de silêncio que é a base da grandeza humana.

Mito ou realidade? Mito soberbo em todo o caso, vindo das profundezas dos séculos — e ressaca do futuro.

Extraido do livro Le Matin des Magiciens de Louis Pauwels e Jacques Bergier – Ed. Bertrand – 1959

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/yoga-fire/a-lenda-dos-nove-desconhecidos/ […]

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A lenda original do vampiro

Existem lendas de vampiros desde 125aC, quando ocorreu uma das principais histórias conhecidas de vampiros. Foi uma lenda grega. Na verdade pode-se afirmar que esse tenha sido o primeiro registro por escrito, pois as origens do mito se perdem séculos e séculos atrás quando a tradição oral prevalecia. Lendas sobre vampiros se originaram no oriente e viajaram para o ocidente através da Rota da Seda para o Mediterrâneo. De lá, elas se espalharam por terras eslavas e pelas montanhas dos Carpathos. Os eslavos têm as lendas mais ricas sobre vampiros. Elas estavam originariamente mais associadas aos iranianos e à partir do século VIII é que se espalharam por terras eslavas. Quase na mesma época em que essas histórias começaram a se difundir, iniciou-se o processo de cristianização da região, e as lendas de vampiros sobreviveram como mitos muitas vezes associados ao cristianismo.

Mais tarde, os ciganos migraram para o oeste pelo norte da Índia (onde também existem um certo número de lendas sobre vampiros), e seus mitos se confundiram com os mitos dos eslavos. Os ciganos chegaram na Transilvânia pouco tempo depois de Vlad Dracula nascer em 1431. O vampiro aqui era um fantasma de uma pessoa morta, que na maioria dos casos fora uma bruxa, um mago, ou um suicida.

Vampiros eram criaturas temidas, porque matavam pessoas ao mesmo tempo em que se pareciam com elas. A única diferença era que eles não possuíam sombra, nem se refletiam em espelhos. Além disso podiam mudar sua forma para a de um morcego, os tornavam difíceis de capturar e bastante perigosos. Durante a luz do dia dormiam em seus caixões, para à noite beber sangue humano, já que os raios eram letais para eles. O método mais comum era, pela meia noite, voar por uma janela na forma de um morcego e morder a vítima no pescoço de forma que seu sangue fosse totalmente sugado. Os vampiros não podiam entrar numa casa se não fossem convidados. Mas uma vez que eram poderiam retornar quando bem entendessem. Os vampiros eslavos não eram perigosos somente porque matavam pessoas, (muitos seres humanos também faziam isso) mas também porque suas vítimas, depois de morrerem, também se transformavam em vampiros. A característica mais temida dos vampiros era o fato deles serem praticamente imortais. Apenas alguns ritos podiam matar um vampiro como por exemplo: transpassar seu coração com uma estaca, decaptá-lo ou queimar seu sangue. Esse tipo de vampiro também é o mais conhecido, por ter sido imortalizado na figura do mais famoso vampiro de todos os tempos, o Conde Drácula, de Bram Stoker.

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A Revolução da Alma

» Parte final da série “Todas as guerras do mundo” ver parte 1 | ver parte 2 | ver parte 3

Até que a filosofia que sustenta uma raça superior e outra inferior seja finalmente e permanentemente desacreditada e abandonada, haverá guerra, eu digo: guerra…
Guerra no leste, guerra no oeste, guerra no norte, guerra no sul, guerra, guerra, rumores de guerra…
(War, Bob Marley – composição de Allen Cole e Carlie Barrett)

Em 3 de junho de 1989, tanques e soldados do exército chinês invadiram a Praça da Paz Celestial, na capital, Pequim. Lá estavam cerca de 100 mil manifestantes que protestavam pacificamente há quase 2 meses, criticando a corrupção e a repressão da liberdade individual vindas de um governo que se dizia comunista [1]. Haviam entre eles muitos intelectuais, professores, estudantes e trabalhadores insatisfeitos com o rumo geral da política chinesa. Mas o Partido Comunista já havia perdido a paciência com eles; Como haviam ignorado as ordens para que as manifestações fossem encerradas, a ala do Partido mais propensa à violência aprovou a ordem para que fosse iniciado o massacre. Na Praça da Paz Celestial, na noite de 3 de junho de 1989, o exército chinês matou 2.600 manifestantes e feriu outros 10 mil [2].

No dia 4 os protestos se intensificaram muito, principalmente por parte dos jovens estudantes. Há essa altura os jornalistas de todo o mundo já estavam se hospedando nos hotéis próximos a Praça, visto que era uma área nobre da capital, e preparavam os flashes para o próximo massacre… Talvez por conta dessa exposição indesejada na mídia mundial, a ala violenta do Partido Comunista recuou, e o que se viu naquele dia foram tanques passeando em torno da Praça, enquanto os jovens prosseguiam com seu protesto ainda pacífico.

No dia 5, ante as manobras de dezenas de tanques pela avenida em torno da Praça, um homem solitário surgiu no meio da rua, impávido ante o avanço de uma coluna de vários tanques enfileirados, enquanto outros civis mais precavidos fugiam desesperadamente do avanço militar… Quando o primeiro tanque da fileira chegou próximo dele, foi obrigado a desviar para não o atropelar. Mas o homem se moveu de lado, brecando o tanque. Ele parecia querer conversar…

Subiu na máquina e trocou algumas palavras com seu piloto, até que duas pessoas (que todos esperam que fossem seus amigos) surgiram na cena e convenceram o homem a desistir de papear com aqueles soldados, que os haviam massacrado dois dias antes. Esta cena foi filmada e fotografada por jornalistas de todo o mundo, e o homem, até hoje um desconhecido, se tornou um mito: o Rebelde Desconhecido… Até hoje tampouco se sabe se ele teria ou não sobrevivido. Especula-se que, mesmo um ano após o incidente, quando às manifestações já havia terminado há meses, o próprio governo chinês ainda procurava pelo homem desconhecido. Aquela altura, seria um grande benefício para o Partido Comunista mostrar aquele mito vivo e intacto, provando para o mundo que ele não havia sido preso, torturado, ou morto (como tantos milhares de civis).

Hoje, entretanto, a China é um outro país, e embora esteja evoluindo lentamente para uma sociedade mais aberta e um governo menos repressor, o mito do Rebelde Desconhecido perdura. Assim se dá com os mitos: eles existem sempre, e sobrevivem ao nascer e ao findar dos impérios. Quem seria aquele chinês corajoso? Um jovem estudante, ou um professor? O que ele teria tentado dizer ao piloto do tanque? “Parem, vocês estão dizimando nosso futuro, nossa liberdade, nossa dignidade” – teria sido algo assim?

Talvez a única coisa que possamos afirmar em relação ao Rebelde Desconhecido é que ele era alguém que havia descoberto como pensar por si mesmo. Um real revolucionário: aquele que travou todas as guerras do mundo no interior, e realizou a revolução na própria alma.

Falávamos a pouco do Deus Bom e do Deus Mal do zoroastrismo. Estes são também mitos, propostos pelo profeta Zoroastro. Dissemos também que se tratava de um conceito infantil e superficial… Mas, será que isso foi mesmo culpa de Zoroastro, ou daqueles que vieram muito depois e, não sabendo interpretar sua mitologia, tomaram-na de forma literal, e a adaptaram para seus próprios interesses?

Ora, será mesmo que uma religião sobreviveu por tantos séculos baseada num conceito superficial, ou são os seus detratores que jamais se interessaram em compreender o que diabos é exatamente um mito, uma interpretação simbólica, uma metáfora? Não quero transformar esta série num tratado sobre mitologia [3], mas vamos considerar aqui, de forma bastante breve, uma outra visão para os deuses do zoroastrismo:

Aúra-Masda, o Deus Bom, não era invenção de Zoroastro, mas uma divindade já existente na cultura indo-iraniana, com muitas semelhanças a deuses ainda bem mais antigos da Índia Védica. Aúra-Masda, ou o Senhor Sábio, era um mito associado ao sol e ao fogo. Através de sua luminosidade, as trevas da ignorância poderiam ser vencidas. Era precisamente através do fogo e suas chamas mensageiras que os homens poderiam se comunicar com o Senhor Sábio.

Já seu irmão, Arimã, o Deus Mal, era o senhor da devassidão e da corrupção, o lado negro da alma de todos os homens, que os atraia para o mau pensamento e o mau governo de sua própria existência. Ora, é precisamente este que foi associado a Lúcifer. Porém, há uma característica essencial do mito que não foi transferida para o cristianismo: Arimã não está no mundo lá fora, mas dentro da alma de cada um de nós. Arimã não nos “seduz” para o mal, mas é antes a própria presença das trevas da ignorância que ainda pairam dentro de nosso coração, impedindo que vejamos a luminosidade do bem.

Percebem a enormidade da diferença? Não se trata mais de deuses criadores do mundo ou do Cosmos, mas de aspectos da própria alma, da mente humana, e de sua longa caminhada em direção à luminosidade, a extinção das trevas da ignorância; Enfim: a evolução da consciência. Zoroastro não estava preocupado com a origem das coisas, do porque existe algo e não nada, mas sim com a origem da ignorância humana, e de como proceder para que os homens reformem a si mesmos, e se tornem melhores e mais sábios. Mas a luz de Zoroastro, quando chegou aos homens da Igreja, foi corrompida em algo menor. Tal qual Lúcifer caiu dos céus, os eclesiásticos também caíram nas trevas da ignorância, e houve mesmo aqueles demônios que um dia acreditaram que Deus pediu guerras santas e conversões sob as torturas mais bárbaras – e os demônios da Igreja diziam falar em nome de Deus.

Mas como falar em nome de um aspecto apenas nosso, uma luz que habita dentro de cada alma, e que em cada uma delas é uma luz distinta, como a íris dos olhos? Somente Deus pode falar por si, mas quando o faz, fala direto a alma daqueles que souberam lhe escutar… Os outros todos que acreditam falar em nome dele devem tomar muito cuidado, pois estes sim terão muito a explicar no Juízo Final. Este sim, terão dificuldades em espantar Lúcifer.

O rabi da Galileia disse que veio trazer a espada, e não a paz. E ele tinha razão: necessitamos de uma espada para batalhar na guerra da alma, para nos livrar dos preconceitos, dos apegos, das zonas de conforto, da estagnação. Como é possível estar em paz com tanta violência, tantas guerras e sofrimento pelo mundo afora? Com a luz do amor voltada para o sistema inteiro, e não para um pequeno grupo, uma pequena região, uma pequena parte do tempo. Quem com ferro fere, com ferro será ferido – disse ele também: a solução não é o olho por olho nem o dente por dente, a solução não é guerrear no mundo lá fora, nem propriamente enfrentar exército com exército, e bomba com bomba. Bastam algumas bombas atômicas explodirem a mais, e todos estarão cegos e desdentados: hoje ao menos sabemos disso.

A solução é a revolução da alma, para que possamos oferecer a outra face ante toda a violência: a face da tolerância, da sobriedade, da espiritualidade. Nenhum soldado jamais será, afinal, tão corajoso, tão heroico, tão mítico, quanto o Rebelde Desconhecido, que não estava mais preocupado consigo mesmo, mas com o rumo que sua pátria iria tomar, continuassem os tanques e os outros soldados dizimando aqueles que lutavam, sem armas que não o próprio pensamento, na guerra pela paz.

E a paz só virá, efetivamente, após a espada, após a guerra que se dá internamente, após a revolução da alma. Só mudando a si mesmo que o homem pode mudar o que está a sua volta. Se o pensamento não muda, o que vemos é o que temos visto pelo mundo afora: um Império substituindo ao outro, e um opressor sentando no trono sangrento de outro opressor. Enquanto o homem não muda a si mesmo, o que vemos é apenas escuridão e ranger de dentes.

Até este precoce despertar da consciência humana, a Natureza nos guiou, através da “guerra da fome e da morte”, por seus caminhos multimilenares: ora presa, ora predador. Lutamos em muitas guerras, e muitas foram com unhas e dentes, e paus e pedras. Fomos alvejados e esquartejados, transpassados e devorados, e decerto por muito tempo pagamos ao olho por um outro olho, e ao dente por um outro dente. Um dia, porém, alguns de nos se cansam deste jogo, e decidem se voltar para a luz, e não mais para a escuridão… Agradecem ao sistema por tê-los feito chegar aonde chegaram, mas agora tratam de viver, não mais sobreviver. E amar, não mais assassinar.

Eis que todo incêndio um dia começou pequeno. Eis que os ventos das asas do Grande Dragão, Arimã, se antes conseguiam extinguir a chama de uma vela, hoje mal conseguem abalar a fogueira que arde no coração daquele que deu os primeiros passos no caminho em direção à luz. Agora, as pedras não mais se chocam para se destruírem e arrancarem lascas umas das outras, mas para produzir ainda mais faíscas de luz, para que o fogo aumente, e aumente, sempre adiante… A ignorância alheia não mais ameaça a nossa convicção. Não há ninguém para ser convertido, há apenas seres para serem amados – e por todos os cantos.

Há seres no leste e no oeste, ao norte e ao sul, acima e abaixo, há vida e beleza, há pensamentos de luz por toda a parte. Há amor por toda a parte. Não há mais nada a temer, nem a duvidar. Então, quando todas as guerras do mundo ficam para trás, nos recônditos da alma que deixou de ser pequena, apenas se é. A paz foi finalmente alcançada, a fera foi domesticada: Arimã, quem diria, também é nosso amigo.

Neste céu de liberdade, Pai, deixe meu país acordar (Tagore)

***

[1] O comunismo de Marx, descrito em sua filosofia, foi algo um tanto distante do comunismo do mundo real. Como alguém já disse: “amo Marx, mas odeio os marxistas”.

[2] Segundo a Cruz Vermelha chinesa.

[3] Para tal, recomendo consultaram a série Os corvos de Wotan.

Crédito das imagens: [topo] Alguns fotógrafos corajosos; [ao longo] Anônimo (encontradas no Facebook, sem crédito dos autores)

O Textos para Reflexão é um blog que fala sobre espiritualidade, filosofia, ciência e religião. Da autoria de Rafael Arrais (raph.com.br). Também faz parte do Projeto Mayhem.

Ad infinitum

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A Boca do Abutre

Por Kenneth Grant, O Lado Noturno do Éden, Capítulo Onze.

A PALAVRA do Aeon de Maat que os iniciados afirmam ter sido recebida enquanto em comunicação com inteligências extraterrestres,392 é IPSOS, significando ‘a mesma boca’. No segundo capítulo de AL (verso 76) surge uma cifra críptica que contém um grupo de letras possuindo o valor de IPSOS. De fato, duas grafias diferentes de Ipsos resultam em números equivalentes a um grupo de letras em AL. O criptograma em AL é RPSTOVAL, que tem o valor cabalístico de 696 ou 456 conforme ou a letra ‘S’ é lida como um shin ou como um samekh. Similarmente, IPSOS = 696 ou 456 conforme se o primeiro ‘s’ é tomado como um shin ou um samekh. IPSOS é portanto o equivalente cabalístico de RPSTOVAL. O significado deste grupo de letras não é conhecido, mas Ipsos a boca, o órgão da Palavra de Expressão (saída_?), de Alimentação, Sucção, Beberagem, etc., é o órgão não apenas de expressão mas também de recepção da Palavra.

A fórmula RPSTOVAL compartilha com IPSOS, pois a fórmula da Torre393 é aquela do Falo em erupção, e a ejaculação394 da Palavra do Aeon de Maat, a Palavra que se estende até ‘o fim da terra’.395 A terra está sob o domínio do Príncipe do Ar (i.e. Shaitan), mas os espaços além estão sob o domínio do Senhor do Aethyr, cujo símbolo é o abutre.

Nenhuma fórmula pode ser cósmica que não seja essencialmente microcósmica, pois uma contém a outra. É portanto sugerido que a fórmula de RPSTOVAL é aquela de um processo especificamente fisiológico que envolve a boca (útero) em sua fase mais recôndita.

A boca enquanto Maat, a Verdade, a Palavra; Mat, a Mãe; Maut, o Abutre; e Mort, o Morto,396 está implícita no simbolismo da Torre. A erupção ou expressão da Torre (falo) é a saída (?) da Palavra para dentro dos espaços além da terra que são um com os aethyrs397 representada por el Mato, o Louco, o Mat ou O Louco, e Le Mort, o Morto.

O Caminho do Louco (décimo primeiro caminho) é a extensão secreta do Caminho da Torre (Atu XVI) e uma compreensão iniciática deste simbolismo apresenta uma chave para a fórmula do Aeon de Maat que está resumido pelo número 27 (11 + 16), o número do Caminho do Morto e do Atu XVI, A Torre.398 É significativo que o Caminho da Torre seja de fato o 27o Caminho. Este número é atribuído ao Liber Trigrammaton, um Livro Santo, embora ainda não compreendido, recebido por Crowley de Aiwass. Crowley suspeitava que ele continha o segredo da cabala ‘Inglesa’, e em seus Comentários sobre o AL ele tentou equacionar os trigramas com as letras do alfabeto Inglês de modo a descobrir a cabala Inglesa tal como ele estava ordenado a cumprir no AL.399 Mas as equações estavam longe de serem convincentes, mesmo para ele mesmo. O que ele parecia não compreender era que a cabala que ele buscava pertencia a uma dimensão completamente diferente, e que a boca que iria comunicar esta cabala era a boca cujas emanações são os próprios kalas. Portanto, como eu sugeri em Cultos da Sombra (capítulo 7) com relação à palavra RPSTOVAL, com igual probabilidade pode a palavra IPSOS ocultar uma fórmula de kalas psicossexuais que podem ser compreendidos com relação a uma interpretação tantrica da polaridade sexual.

A interação da vagina e do falo (i.e. a boca e a torre) está resumida sob a fórmula eroto-oral conhecida na linguagem popular como o soixante-neuf (69). Mas o assunto é um pouco mais recôndito do que aquele geralmente implicado por esta prática. Os números 6 e 9 denotam o sol e a lua, Tiphareth e Yesod, e, em termos dos 32 kalas o 6 e o 9 se referem àqueles de Leo400 e Pisces401 A enumeração total resulta 109, o número de NDNH, uma palavra Hebraica significando ‘vagina’402. Deduzindo a cifra, 109 se torna 19, que é o ‘glifo feminino’.403 109 mostra portanto o ovo ou esfera – 0 – do Vazio, o ain do infinito em sua forma feminina. O significado mágico deste simbolismo está colocado numa categoria mais ampla sob o número 69: a radiante energia (relâmpago) solar-fálica do Anjo404 correndo veloz para dentro da boca, cálice ou útero da Lua para misturar-se com o qoph kala.405 A bebida resultante é o vinum sabbati, o Vinho do Sabá das Feiticeiras que pode ser destilado, segundo os antigos grimórios, ‘quando o finial(???) da Torre está oscurecido (ou velado) pela asa do abutre’.

Diz-se que um grito peculiar é emitido da boca do abutre. Em O Coração do Mestre,406 Crowley observa que este grito ou palavra é Mu. Seu número, 46, é a ‘chave dos mistérios’, pois ele é o número de Adam / Adão (Man / Homem). Mu é a semente masculina,407 mas ela é também a água (i.e. sangue) da qual o homem foi moldado. 408 O abutre é um pássaro de sangue e seu grito penetrante é expressado no momento de retalhar(?)409 que acompanha o ato de manifestação: ‘Pois estou dividida por causa do amor, para a chance de união’. (AL. I. 29).

O número 46 também implica o véu divisor (Paroketh), previamente explicado. MAH, 46, é o hebraico para 100, o número de qoph e portanto da ‘parte de trás da cabeça’, o assento das energias sexuais no homem. O cem implica na totalização ou realização de um ciclo de tempo.410 O pleno significado do simbolismo é portanto que quando o abutre abre suas asas para receber o golpe fálico no silêncio e discrição da nuvem,411 seu grito penetrante de êxtase, hriliu412, é MU (46).413

Neste estágio é necessário fazer uma digressão aparentemente irrelevante caso a total importância do simbolismo da Torre deva ser entendida.

Numa construção dilapidada anteriormente situada no local atualmente ocupado pelo Centre Point414 ocorreu, em 1949 um rito mágico curioso. Ele aconteceu por instigação de Gerald Gardner.415 O aposento no qual o rito ocorreu estava alugado naquela ocasião por uma ‘bruxa’ a qual eu chamarei de Sra. South. Ela era realmente uma cafetina(?) e prostituta que temperava suas atividades com um sabor ‘oculto’ calculado para apelar à um certo tipo de clientela. Acompanhado por minha esposa e Gerald Gardner, nós três nos dirigimos ao apartamento da Sra. South após passarmos uma tarde com Gardner em seu apartamento em Ridgemount Terrace afastado da Tottenham Court Road. O rito exigia cinco pessoas e só poderia começar após a chegada de uma jovem senhora a quem a Sra. South estava aguardando para aquele propósito. Supunha-se que a jovem senhora era – como a própria Sra.South – bem versada nos aspectos mais profundos da feitiçaria. Eu não vou negar o fato de que sua feitiçaria provou ser genuína, mas que ela sabia menos ainda sobre a arte do que a Sra.South eu também não vou negar.

Gardner explicou que o propósito do rito era demonstrar sua habilidade em ‘trazer para baixo o poder’. Ele pretendia elevar uma corrente de energia mágica com o propósito de contatar certas inteligências extraterrestres com as quais eu estava, naquela ocasião,416 em rapport quase constante. O rito deveria consistir na circunvolução de nós cinco ao redor de um grande sigilo gravado em papel pergaminho que foi especialmente consagrado. O sigilo foi desenhado para meu uso por Austin Osman Spare que também estava, naquele tempo, ocupado em contatar extraterrestres. O sigilo seria mais tarde consumido na chama de uma vela disposta sobre um altar no quadrante norte do apartamento. À parte deste equipamento mágico, o aposento da Sra.South continha apenas duas ou três estantes de livros sobre feitiçaria e o ‘oculto’ em geral; eles foram sem dúvida importados por ela para emprestar um ar de autenticidade à suas buscas mais usuais.

Se o rito teria sido eficaz ou não fica aberto para questionamento. Ele foi interrompido antes da invocação inicial ter sido concluída. Esta consistia de uma circunvolução horária ao redor do altar com rapidez crescente em círculos que iam diminuindo. A campainha da porta da frente tocou subitamente nas profundezas da construção no restante deserta, primeiramente fraca, então de forma penetrante e insistentemente. O determinado visitante provou ser o proprietário de uma livraria ‘oculta’ situada numa distância não muito grande do apartamento da Sra.South. Contudo ao saber que eu estava no alto da escadaria o visitante decidiu não subir.417 Ele saiu e então meteu-se na vaga névoa de Novembro que mais tarde naquela noite se desenvolveu em um bom fog (nevoeiro) Londrino à moda antiga.

O objetivo deste relato é ilustrar um fato curioso característico da estranha maneira na qual a magia(k) freqüentemente funciona. O sigilo que deveria ter formado o foco da Operação aquela noite era o de um espírito particularmente potente, que teria sido indubitavelmente descrito por Gardner e a Sra. South como essencialmente ‘fálico’. Este fato é importante, pois logo após a cerimônia abortada a Sra. South morreu sob circunstâncias misteriosas; o casamento do dono da livraria se desintegrou violentamente e ele também morreu logo após. O próprio Gerald Gardner não demorou em seguir o exemplo(?). Mas o alto edifício mais tarde erguido sobre o local que estes magos frequentavam é no meu entender um monumento adequado à futilidade daquela Operação noturna.

Fui induzido à lembrar de fazer este relato sobre um rito mágico que deu errado devido à uma declaração feita por Ithell Colquhoun que reconhece na Torre do Correio um monumento à magia de MacGregor Mathers, algumas de cujas atividades foram concentradas naquela região de Londres.418 A premissa pode ser absurda, mas deve ser lembrado que os surrealistas, dos quais Ithell Colqhoun era um, penetraram muitos mistérios mágicos que escaparam aos praticantes e investigadores mais prosaicos. Os casos de Centre Point e a Torre do Correio (ambas formas da Torre Mágica discutida no presente capítulo) conduzem logicamente ao simbolismo da Torre que penetra os Trabalhos de vários ocultistas contemporâneos que operam independentemente uns dos outros.

Durante os últimos anos recentes o presente escritor tem recebido cartas de pessoas e grupos mágicos de todo o mundo, e talvez não seja surpreendente – em vista da natureza comum de nossas pesquisas – que certos símbolos dominantes devam recorrer. Por exemplo, o Liber Pennae Praenumbra que foi recentemente recebido por Adeptos em Ohio, EUA, está permeado com os símbolos mostrados no vívido delinear de Allen Holub de O Abutre na Torre do Silêncio (vide ilustração 8): O Abutre de Maat, a Abelha de Sekhet, a Torre do Silêncio, e a Serpente cujas espirais formam a palavra IPSOS.

Um outro grupo independente de Adeptos em Nova Iorque, conduzido por Soror Tanith da O.T.O., também recebeu símbolos idênticos, dos quais a Torre do Silêncio e a Abelha de Sekhet são os predominantes. A transmissão à Soror Tanith foi emitida por uma entidade extraterrestre conhecida como LAM que foi anteriormente contatada por Crowley em 1919.419

O líder do Culto da Serpente Negra, Michael Bertiaux, também contatou LAM enquanto operava com a Corrente Bön-Pa Tibetana nos anos sessenta.420 Em todas estas invocações e operações mágicas, o simbolismo acima descrito tem sido predominante, o que sugere que em todos os três locais (i.e. Ohio, Nova Iorque e Chicago) uma idêntica energia oculta, entidade ou raio, está irradiando vibrações em conformidade com os símbolos de Mu ou Maat e podem portanto proceder daquele aeon futuro. Isso tende à confirmar a teoria de Frater Achad de que existe uma sobreposição provocada por uma ‘curvatura no tempo’ que está manifestando seu enrolar espiral conforme a antiga sabedoria,421 onde era simbolizada pelo abutre com o pescoço em espiral e pelo pescoço torto cujas peculiaridades físicas fizeram dele um totem ou símbolo senciente similarmente apto.

Outro totem, menos facilmente explicável, é a hiena. Como o abutre, a hiena é uma ‘besta de sangue’, mas apenas isso não responde por seu uso como um glifo zoomórfico na Tradição Draconiana. Segundo a antiga sabedoria a hiena só pode enxergar à direita ou à esquerda girando(?) ao redor de todo o seu corpo; i.e. ele não consegue virar sua cabeça. Ele é portanto de igual valência, simbolicamente, como o pescoço torto. Como um totem do abismo, a atribuição da hiena é por si evidente à respeito de esta povoar as criptas e tumbas do antigo Egito e se alimentar dos mortos. O simbolismo do deserto também se aplica. Na Índia o abutre e a hiena estão entre as bestas associadas com os ritos de Kali. O elemento tântrico do rito está então implícito.

Existem similaridades próximas entre os ritos Afro-Egípcios de Shaitan celebrados na Suméria e Acádia, e os posteriores ritos tântricos Indianos de Kali. O sabor distintamente mongol desses ritos observados por estudiosos422 é evidente no ethos(?) peculiar que permeia muito da literatura conectada aos Kaulas, que usam o bode, o porco, o abutre, a serpente, a aranha, o morcego, e outras bestas tipicamente Tifonianas em suas cerimônias sacrificiais. Existem também uma confraternidade secreta na América do Sul atualmente que mantém entre os devotos de seu círculo interno aqueles que atravessaram os Portais Intermediários(?) na forma-deus do morcego. Este é o zoótipo da besta de sangue vampira que está ligada ao simbolismo do abutre e da hiena. O morcego se pendura de ponta cabeça para dormir após se alimentar; a hiena é retromingent423; e o abutre, cujo pescoço torto sugere uma forma de ‘visão’ para trás, são determinativos ocultos daquela retroversão dos sentidos que torna possível o salto por cima do abismo. Este salto é um mergulho para trás através do vazio tempo-espaço de Daäth com o resultado de que o fundo salta fora do mundo do Adepto que o ensaia. Sax Rohmer, que foi uma vez um membro da Golden Dawn,424 faz uma alusão de passagem à este culto em seu romance Asa de Morcego (Batwing), e embora ele prejudique o efeito de sua estória ao recorrer ao truque literário vulgar de uma solução mecanicista, ele não obstante se refere à um culto real quando ele diz:

Enquanto que serpentes e escorpiões tem sido sempre reconhecidos como sagrados por cultuadores do Voodoo, o real emblema de sua religião impura é o morcego, especialmente o morcego vampiro da América do Sul.425

Rohmer, como H.P.Lovecraft, tinha experiência direta e contínua dos planos internos, e ambos estabeleceram contato com entidades não-espaciais. Além do mais, estes dois escritores recuaram – em seus romances e em suas correspondências privadas respectivamente – do atual confronto com entidades que são facilmente reconhecíveis como os enviados de Choronzon-Shugal. As máscaras destas entidades adquiriram uma qualidade de tal clareza forçada que nem Rohmer nem Lovecraft eram capazes de encarar o que jaz abaixo. Ainda assim o repúdio insuperável inspirado por tais contatos ocultavam potencial mágico, comprimido e explosivo, o que tornou estes dois escritores mestres em seus respectivos ramos de ocultismo criativo.

Não há dúvidas que escritores como Sax Rohmer, H.P.Lovecraft, Arthur Machen, Algernon Blackwood, Charles Williams, Dion Fortune, etc., trouxeram influências poderosas para serem ostentadas sobre o cenário ocultista através de seus vários esboços das Qliphoth. A fórmula do abismo, por exemplo, tem sido incomparavelmente expressa em alegoria pelo simbolismo do salto mortal psicológico descrito por Charles Williams (em Descida ao Inferno) que usa as linhas assombrosas:

O Mago Zoroastro, meu filho morto,
Encontrou sua própria imagem caminhando no jardim.

como um tema para sua estória.

O ato de girar ou virar para trás é a fórmula implícita na antiga simbologia da bruxaria.426

Os familiares das bruxas, não menos que as formas-deuses assumidas pelos sacerdotes egípcios, foram adotadas de modo à transformar os praticantes, não nos animais em questão, mas em um estado de consciência que eles representavam no bestiário psicológico de poderes atávicos latentes no subconsciente. A fórmula é resumida por Austin Spare em seu sistema de feitiçaria sexual e ressurgência atávica que são os temas do Zoz Kia Cultus.427 Ithell Colquhoun situa corretamente este culto em seu arranjo contemporâneo como um ramo da O.T.O. e da ‘Feitiçaria Tradicional’,428 mas o Zoz Kia Cultus comporta um outro fio que se origina de influências mais antigas que qualquer uma que possa ser atribuída meramente à ‘feitiçaria tradicional’, o que quer que aquele termo possa significar. Estas influências emanam de cultos tais como aqueles que Lovecraft contatou na Nova Inglaterra via Feitiçaria de Salem que – por sua vez – tinha contato com correntes vastamente antigas que se manifestaram no complexo astral Ameríndio como as entidades ‘eldritch’(?) descritas por Lovecraft em seus contos de horror.

Tais também eram as entidades que Spare contatou através de ‘Black Eagle’.429 Black Eagle induziu em Spare a extrema vertigem que iniciou um pouco de sua mais fina obra. Spare ‘visualizou’ esta sensação de vertigem criativa num quadro entitulado Tragédia do Trapézio (ilustração 15) cujo tema ele repetiu em várias pinturas. A fórmula é essencial à sua feitiçaria.

O trapézio ou balanço era o vahana430 de Radha e Krishna, cujo jogo amoroso está associado à vertigem induzida pelo balançar das emoções e do cair (loucamente) em amor. Com Spare, contudo, o êxtase alcança sua apoteose através de uma sensação catastrófica de opressão esmagadora, de ser empurrado para baixo e mergulhar no abismo.

O balanço é idêntico ao berço que desempenha papel tão proeminente nos mistérios do Culto de Krishna Gopal.431 Porém muito antes de pré datar os ritos da criança negra, Krishna, haviam os ritos da criança negra Set, ou Harpocrates, o bebê dentro do ovo negro do Akasha.432 O Aeon da Criança433 é o Aeon do Bebê do Abismo, sendo que um de seus símbolos é o berço que simboliza o balanço ou travessia para o Aeon de Maat (Mu). Mu, 46, a Chave dos Mistérios, é também o número de MV (água, i.e. sangue) que é tipificado pelo abutre, a hiena, e outras ‘bestas de sangue’. Em termos mágicos, a sensação induzida no trapezista mergulhador é resumida por Spare numa fórmula pictórica à qual ele não deu nenhum nome particular, mas que pode ser descrita como a Fórmula da Vertigem Criativa. No seu quadro do trapezista a executante é feminina pois ela representa a personificação humana da Serpente de Fogo despertada. É o pé,434 e não a mão que é escolhido para instigar os meios da queda.

No Zoz Kia Cultus Spare exaltou a Mão e o Olho como os principais instrumentos de reificação. Isto quer dizer que ele exaltava uma fórmula mágica similar àquela que caracteriza o oitavo grau da O.T.O.435 Ainda assim ele percebeu que a suprema fórmula eficaz na transição do abismo é aquela que envolve não a mão, mas o ‘pé’. O pé está sob ou embaixo da mão e assim, simbolicamente, a mão ‘esquerda’ tipificada pela Mulher Escarlate, de cujos pés a poeira é o pó vermelho celebrado pelos Siddhas Tamil.436 A poeira vermelha, ou poeira do fogo, é a emanação nuclear da Serpente de Fogo em seu veloz deslocamento para cima, e ela conduz à iluminação em um sentido cósmico. Mas é necessário um processo adicional para admitir o Adepto às zonas do Não-Ser representadas pelo outro lado da Árvore da Vida que aterroriza o não-iniciado como sendo a Árvore da Morte.

Além do Abismo, sexualidade ou polaridade perdem todo o sentido. Isto explica porque, segundo a doutrina da Golden Dawn, os Adeptos além do Grau de 7o=4437 não eram mais encarnados. Por não existir nenhuma terminologia adequada (na Tradição Ocidental) para este estado de ocorrência podemos não mais do que nos referirmos, por meio de analogia, aos Mahapurusas da Tradição Hindu. Mahapurusas são seres não humanos que aparecem para os Adeptos no caminho espiritual. Um exemplo recente bem documentado de tal manifestação ocorreu na vida de Pagal Haranath.438 Ele era considerado como sendo uma encarnação de Krishna e uma reencarnação de Sri Caitanya, o bhakta439 do século 15 que inspirou os habitantes de Bengala pela intensidade e fervor de sua devoção à Krishna (Deus). À Pagal Haranath um Mahapurusa apareceu como uma forma radiante com luz gigantesca. O único paralelo ocidental (de anos recentes) que vem à mente é o relato muito citado do encontro de MacGregor Mathers com os ‘Chefes Secretos’ que ocorreu no Bois de Boulogne.440

Aleister Crowley em contradição à MacGregor Mathers, sustentava que os Adeptos de suprema realização algumas vezes permanecem de fato na carne; quer dizer, a experiência conhecida como ‘cruzar o abismo’ não comporta necessariamente a morte física. Isto é, naturalmente, bem conhecido no oriente, onde, em nosso próprio tempo, tem havido exemplos excepcionais tais como Sri Ramakrishna Paramahamsa, Sri Ramana Maharshi, Sri Sai Baba (de Shirdi), Sri Anandamayi Ma e Sri Anusaya Devi,441 para mencionar apenas uns poucos.

Tem sido refutado [o fato de] que Crowley não cruzou o Abismo com sucesso.442 Seja como for, certos iniciados ocidentais indubitavelmente conseguiram fazer esta travessia e isso está evidente em seus escritos. Embora um caso de opinião – e isto é aqui declarado como tal, e não mais – o mais importante dos Adeptos Ocidentais nesta categoria é aquele que escreve sob o pseudônimo de Wei Wu Wei. Seus livros devem ser elogiados como as excursões mais ricas, mais sutis e mais vivamente potentes para dentro do Vazio da Consciência Sem Forma, ainda assim reduzidas em palavras.

Notas:

392 Vide Página 116, nota 36.

393 Associada com a fórmula de IPSOS; vide Figura 8.

394 Via o meatus, uma boca inferior.

395 Maat = 442 = APMI ARTz = ‘o fim da terra’.

396 i.e. o subconsciente (Amenta).

397 IPSOS grafado como 760 é equivalente à ‘Empyreum’, o empíreo.

398 Em alguns maços de Taro este atu é conhecido como A Torre Destruída.

399 Tu obterás a ordem & valor do alfabeto Inglês; tu encontrarás novos símbolos aos quais as atribuirá’. (AL. II. 55).

400 O kala do Sol, atribuído à letra Teth, significando um ‘leão-serpente’.

401 O kala da Lua, atribuído à letra Qoph, significando ‘a parte de trás da cabeça’.

402 O número 109 é também aquele de OGVL, ‘círculo’, ‘esfera’; BQZ, ‘relâmpago’; e AHP, ‘Ar’.

403 Vide 777 Revisado: Significado dos [Números] Primos de 11 a 97.

404 Tiphareth; a Esfera do Santo Anjo Guardião.

405 Vide Diagrama 1, Cultos da Sombra.

406 Reeditado em 1974 pela 93 Publishing, Montreal.

407 Compare a palavra egípcia mai.

408 A-DM ou Adam foi feito da ‘terra vermelha’ (i.e. DM, sangue).

409 HBDLH (retalhando_?) = 46.

410 Compare com a palavra egípcia meh, ‘encher’, ‘cheio’, ‘completar’.

411 Paroketh também significa ‘uma nuvem’; uma referência à invisibilidade tradicionalmente assumida pelo deus masculino ao impregnar a virgem.

412 Em sua cópia pessoal do Liber XV (A Missa Gnóstica), Crowley explica hriliu como o ‘êxtase metafísico’ que acompanha o orgasmo sexual.

413 É interessante observar juntamente com o significado da palavra IPSOS, que Frater Achad chegou muito próximo à uma interpretação similar de sua própria fórmula do Aeon de Maat, a saber: Ma-Ion. Numa carta datada de 7 de Junho de 1948, ele escreve: ‘Por gentileza observe que em Sânscrito Ma = Not (Não). Na mesma linguagem ela também significa: ‘Mouth’ (‘Boca’).

414 Londres WC1.

415 O autor de dois livros sobre Feitiçaria que atraiu alguma atenção no tempo de sua publicação nos anos 50.

416 O incidente ocorreu durante o estágio formativo de uma loja da O.T.O. que eu havia fundado para o propósito de canalizar influências mágicas específicas desde uma fonte transplutoniana simbolizada por Nu-Isis.

417 Minha associação com Aleister Crowley não era desconhecida à ele.

418 Vide a Espada da Sabedoria: MacGregor Mathers e a Golden Dawn, por Ithell Colquhoun, Nevile Spearman, 1975. A Srta.Colqhoun observa que W.B.Yeats e outros foram iniciados na Rua Fitzroy, e comenta: ‘Hoje a Torre do Correio ofuscando a rua poderia, eu suponho, ser vista como uma projeção do poder de Hermes, aqui substituindo o de Isis- Urania’.(p.50).

419 Crowley também estava em Nova Iorque na ocasião em que ele estabeleceu contato com esta entidade. Uma gravura de LAM desenhada por Crowley aparece em O Renascer da Magia, ilustração 5. O desenho foi exibido originalmente em Greenwich Village em 1919 e publicada em O Equinócio Azul.

420 Vide Cultos da Sombra, capítulo 10.

421 Zoroastro (circa 1100 A.C.) estava bem consciente da misteriosa dobra do tempo que exercitou o talento de alguns dos mais perspicazes pensadores modernos. Ele descreveu Deus como tendo uma ‘força espiral’ e associou o hiato de tempo com a progressão dos aeons que retornavam à sua fonte de origem, assim reativando os atavismos primais da consciência primeva.

422 Vide Estudos sobre os Tantras , de Prabodh Chandra Bagchi.

423 Nota do Tradutor: Micção realizada ao contrário.

424 Segundo Cay Van Ash & Elizabeth Sax Rohmer. Vide Mestre da Vileza , capítulo 4. Ohio Popular Press, 1972.

425 Asa de Morcego, p.92.

426 Esta fórmula é equivalente ao nivritti marga hindu ou ‘caminho do retorno’, ou inversão dos sentidos à sua fonte em pura consciência. Ela é tipificada nos tantras como viparita maithuna, simbolizada pela união sexual de ponta cabeça.

427 Vide Imagens & Oráculos de Austin Osman Spare, Parte II.

428 Espada da Sabedoria (Colquhoun), capítulo 16.

429 Para uma imagem desta entidade, vide O Renascer da Magia, ilustração 12.

430 Este termo em Sanscrito denota um ‘veículo’ ou foco de força.

431 Culto da Criança Krishna.

432 Akasha, significando ‘Espírito’ou ‘Aethyr’(Éter), é o quinto elemento.

433 i.e. o Aeon de Hórus. Hórus ou Har significa a ‘criança’.

434 O simbolismo dos pés da deusa é explicado em Aleister Crowley & o Deus Oculto , capítulo 10.

435 A fórmula é aplicada por meio de auto-erotismo manual.

436 Vide A Religião e Filosofia de Tevaram, de D.Rangaswamy.

437 O Grau imediatamente precedente ao Abismo.

438 Sri Pagal Haranath, o ‘Louco’ ou ‘Doido’, viveu na Bengala Ocidental de 1865 a 19 27. Um relato da visita está contido em Shri Haranath: Seu Papel & Preceitos, de Vithaldas Nathabhai Mehta. Bombay, 1954. Tais manifestações ocorrendo nos tempos primitivos poderiam ter dado início ao conceito dos NPhLIM ou Gigantes. Vide capítulo 9, supra.

439 Devoto de Deus.

440 Citado em Aleister Crowley & o Deus Oculto, capítulo 1.

441 Os dois últimos Sábios estão, felizmente, ainda encarnados e na extensão do que sei, estão disponíveis para
darshan.

442 Frater Achad. Vide Cultos da Sombra, capítulo 8.

Revisão final: Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/thelema/a-boca-do-abutre/