Os Mistérios Eleusis e a Grande Deusa Demeter

Acredita-se que o culto à Deméter tenha sido trazido à Grécia vindo de Creta durante o período micênico, carregando consigo o seu nome.. Sendo assim, ela é descendente direta da Deusa-Mãe cretense, que com suas virgens e sacerdotisas, empunhavam serpentes e prestavam culto ao touro. Neste caso, podemos afirmar que Deméter representaria a sobrevivência da religião e dos valores matriarcais durante a cultura patriarcal guerreira dos gregos clássicos.

O hino homérico relata que ela teria chegado a Eleusis disfarçada de anciã, na época em que as pessoas vinham do outro lado do mar, de Creta.

A filha de Deméter, Perséfone, também nasceu em Creta, e a lenda arcaica da união de Zeus, em forma de serpente, com sua filha também teve lugar em Creta. O filho que nasceu dessa união foi Dionísio. As coincidências demonstram que existe uma conexão entre a Deméter documentada em Creta e a que é conhecida na Grécia.

Na Grécia antiga, Deméter era responsável por todas as formas de reprodução da vida, mas principalmente da vida vegetal, o que lhe rendeu o título de “Senhora das Plantas”, “A Verde”, “A que atrai o fruto” e “A que atri as estações”. As pessoas a honravam ao usar guirlandas de flores enquanto marchavam pelas ruas, geralmente descalças. Acreditava-se que pisar na terra descalço aumentava a comunicação entre os humanos e a Deusa.

Para os gregos, Deméter era a criadora do tempo e a responsável por sua medição em todas as formas. Seus sacerdotes eram conhecidos como Filhos da Lua.

Outro vestígio da antiga consciência matriarcal da Deusa-Mãe, foi transmitido na devoção católica popular da Virgem Maria entre os povos do Mediterrâneo. Quase certamente há uma continuidade psíquica entre Maria, a Mãe de Deus, as antigas deusas da Grande Mãe no Mediterrâneo e no Oriente Próximo e a deusa Deméter. Mas embora se conheça muitas representações medievais de Maria com cereais e flores, ela não possui o poder emocional das antigas Mães da Terra e suas filhas.

Deméter era a protetora das mulheres e uma divindade do casamento, maternidade, amor materno e fidelidade. Ela regia as colheitas, o milho, o arado, iniciações, renovação, renascimento, vegetação, frutificação, agricultura, civilização, lei, filosofia da magia, expansão, alta magia e o solo.

O RAPTO DE PERSÉFONE

Quando falamos de Deméter, devemos falar de duas Deusas. O cerne do mito e do culto a Deméter, era o fato dela ter perdido sua adorada filha Coré (donzela, em grego). A intimidade entre mãe e filha ressalta o caráter profundamente feminino dessa religião e constelação mitológica. Coré mais tarde passa a ser conhecida como Perséfone.

O mais antigo documento que narra este mito é o belo “Hino à Deméter” homérico, que nos fala tanto da Deusa Deméter como de sua filha Coré. O objetivo deste poema é explicar a origem dos mistérios de Elêusis.

A jovem Coré, diz a narrativa, encontrava-se colhendo flores, quando foi atraída por um narciso muito belo, mas ao estender a mão para pegá-lo, a terra se abriu e Plutão (Hades), Senhor dos Mortos, em sua carruagem de ouro puxada por dois cavalos negros, arrebatou-a e levou-a para ser sua noiva e Rainha do Subterrâneo. Coré lutou e gritos, mas nem os deuses imortais como os homens mortais, ouviram seus clamores. Deméter só pode ouvir o eco do apelo de sua filha e então apressou-se para encontrá-la. Procurou sua filha por nove dias e nove noites, não parando para comer, dormir ou banhar-se, só andando errante pela terra, carregando em suas mãos tochas acesas. Porém quando se apresentou pela décima vez a Aurora, encontrou-se com Hécate, Deusa da Lua Escura, que lhe diz:

–“Soberana Deméter, dispensadora das estações, de esplendidos dons, quem dos deuses celestes ou dos homens mortais raptou Perséfone e afligiu teu animo? Ouvi a sua voz, porém não vi com meus olhos quem era. Em breve vamos desfazer esse engano”.

Assim falou Hécate que partiu com Deméter, levando em suas mãos as tochas acesas. As duas então chegaram até Hélio, o deus do sol, que compartilha esse título com Apolo e a mãe aflita perguntou:

-“Sol, respeita-me tu ao menos, como Deusa que sou…A filha que pari, encantadora por sua figura…ouvi sua vibrante voz através do límpido éter, como a de quem se vê violentada, mas não a vi com meus olhos. Porém tu que sobre toda a terra e por todo o mar diriges desde o éter divino a olhar de teus raios, diga-me sem enganos se teria visto a minha filha querida em alguma parte; quem dos deuses ou dos homens mortais ousou capturá-la para longe de mim, contra sua vontade, pela força”.

Hélio então respondeu:

-“Filha de Rea, ..pois é grande o meu respeito e compaixão que sinto por ti, aflita como estás por tua filha de esbeltos tornozelos. Nenhum outro dos imortais é mais culpado que Zeus fazedor de nuvens, que a entregou à Hades para que se torne sua esposa…Assim que tu, Deusa, dá fim a teu copioso pranto. Nenhuma necessidade há de que tu, sem razão, guarde então um insaciável rancor.”

Deu a entender para a Deméter que ela deveria aceitar a violação de Perséfone, pois Hades, não era um genro tão sem valor, mas a Deusa não aceitou seu conselho e agora sentia-se traída por Zeus. Retirou-se do monte Olimpo, disfarçou-se de uma mulher anciã e vagou sem ser reconhecida entre as cidades dos homens e os campos. Um certo dia, ela se aproximou de Elêusis, sentou-se perto do poço Partenio e foi encontrada pelas filhas de Céleo, o governador de Elêusis. Quando Deméter disfarçada lhes revelou que procura um emprego de babá, ela a levaram para casa, à sua mãe Metanira, para cuidar do um irmãozinho chamado de Demofonte.

Sob os cuidados da Deusa, Demofonte criou-se como um deus. Ela o alimentou com ambrosia e secretamente o colocou em um fogo que o teria tornado imortal não tivesse Metanira entrado no local e gritado por medo do filho. Deméter reagiu com fúria, reclamou à Metanira por sua estupidez, e revelou sua verdadeira identidade. Ao mencionar seu nome mudou completamente seu visual revelando sua beleza divina. Seu cabelo dourado caiu pelas costas, e seu perfume e esplendor encheram a casa de luz.

Imediatamente Deméter ordenou que fosse construído um templo só seu e lá permaneceu envolta em sua dor e não permitindo que nada germinasse na terra.

Zeus, tendo conhecimento da situação enviou sua mensageira Íris até Deméter, pedindo que Deméter retornasse ao Olimpo. Como não concordou, um a um dos deuses olímpicos vieram até ela, trazendo dádivas e honras. Mas a cada um Deméter fez saber que de modo algum retornaria ao monte Olimpo, até que sua filha lhe fosse devolvida.

Finalmente Zeus resolve enviar seu mensageiro Hermes até Hades, ordenado-lhe que trouxesse Perséfone de volta para que “quando sua mãe a visse com seus próprios olhos, abandonasse a sua raiva”. Hermes ao chegar ao mundo de Hades, encontrou-o sentado próximo à Perséfone que se encontrava muito deprimida.

O Senhor dos Mortos, antes de libertar Perséfone, deu-lhe uma semente de romã para comer, o que faria com que ela voltasse para ele. Assim, foi-lhe permitido voltar para Deméter dois terços do ano e o restante do ano no mundo das trevas com Hades.

Com a satisfação de recuperar a filha perdida, Deméter fez com que os cereais brotassem novamente e com que toda a Terra se enchesse de frutos e flores. Imediatamente mostrou esta feliz visão aos princípios de Elêusis, Triptolemo, Diocles e ao próprio rei Celeo e, além disso, revelou-lhes seus sagrados ritos e mistérios.

O amor entre Deméter e Coré é um sentimento que somente uma mãe e uma filha podem realmente compartilhar. Não importa o quanto um pai ame e adore sua filha, jamais chegará perto do estreito vínculo que existe entre mãe e filha. Ao dar á luz, a mãe, vê a si mesma em pura inocência naquela pequena pessoinha. Jung nos diria que uma mãe vê em sua filha é a percepção de seu próprio “self” feminino transcendente, a perfeição do ser feminino.

Podemos afirmar, com convicção, segundo Carl Jung, que “em toda mãe já existiu uma filha e toda a filha contêm sua mãe” e que toda mulher se estende para trás em sua mãe e para frente em sua filha. A conscientização destes laços gera o sentimento de que a vida se estende ao longo de gerações e provocam a sensação de imortalidade.

ARQUÉTIPO MATERNAL

No momento que a mulher recebe em seus braços o seu bebê, o poder arquetípico de Deméter é plenamente despertado. As dores do parto, consideradas como uma transição iniciática, desaparecem e uma irradiação de amor demétrico tudo abrange. Estará aqui e agora desperta para uma nova fase de sua vida: ser mãe. Uma vez mãe, permanecerá sempre mãe, pois nada apaga a emoção de carregar um filho sob o coração.

O arquétipo da Mãe era representado no Olimpo por Deméter. Embora muitas Deusas tenham sido mães, nenhuma se compara à esta Deusa, pois ela deseja ser mãe. Quando está grávida ou criando seus filhos, Deméter atinge o ápice de sua plenitude enquanto mãe. Ela orgulhosamente proporcionou vida nova e novas esperanças à sua comunidade. No antigo simbolismo de seu ciclo, ela corporifica agora a lua cheia, e também o verão abundante com frutos da terra. O cálice da força vital dentro de si está transbordante.

Este arquétipo não está restrito à mãe biológica. Ser mãe de criação ou ama seca, permite que outras mulheres expressem seu amor maternal. A própria Deméter representou este papel com Demofonte.

MÃE-NATUREZA

O povo grego. ano após ano, via, com natural pesar, os dias brilhantes do verão desvanecer-se com a tristeza da estagnação do inverno. Ano após ano, saudava a explosão de vida e cores da primavera. Habituado a personificar as forças da natureza e a vestir suas realidades com roupagem de fantasia mítica, ele criou para si um panteão de deuses e deusas, de espíritos e duendes, que oscilavam com as estações e seguiam as flutuações anuais de seus fados com emoções alternadas de alegria e tristeza, que expressava na forma de ritual e de mito. Um destes mitos é o da Deusa Deméter. Os romanos a conheciam como Ceres.

O símbolo principal de Deméter era um feixe de trigo e, em seus mistérios em, Elêusis, uma única espiga de milho. É retratada como uma mulher bonita de cabelo dourado e vestida com roupão azul, considerada a Senhora das Plantas. Seu animal sagrado é o porco, que representava um sacrifício de fertilidade em todo o mundo por causa de seus múltiplos úteros. Seu animal sagrado marinho era o golfinho.

AS TESMOFORIAS

O festival grego da “Tesmoforias” era celebrado anualmente em outubro, em honra a Deméter e era exclusivo para mulheres. Se constituía de três dias de celebrações pelo retorno de Core ao Submundo.

Neste festival, os iniciados compartilhavam uma beberagem sagrada, feita de cevada e bolos.

Uma das características da Tesmoforia era uma punição aos criminosos, que agiam contra as leis sagradas e contra as mulheres. Sacerdotisas liam a lista com os nomes dos criminosos diante das portas dos templos das Deusas, especialmente Deméter e Ártemis. Acreditava-se que aqueles desta forma amaldiçoados morreriam antes do término de um ano.

O primeiro dia da Tesmoforia era celebrado o “kathodos”(baixada) e o “ánodos”(subida), um ritual em que as sacerdotisas castas levavam leitões para serem soltos dentro de grutas profundas cheias de serpentes e os restos decompostos dos porcos do ano anterior eram recolhidos.

O segundo dia era chamado de “Nestía”, nele as mulheres jejuavam, sentadas no chão, imitando a forma ritual dos processos da natureza e, de acordo com uma perspectiva mitológica, representando a dor de Deméter pela perda da filha, quando, inconsolada, se sentou ao lado do poço. O ambiente era triste e, portanto, não se usavam guirlandas.

No terceiro dia, se celebrava um banquete com carne e os leitões recolhidos (do ano anterior) eram espalhados na terra arada, e se invocava a Deusa de belo nascimento, “kalligeneia”.

MISTÉRIOS ELEUSIANOS

O propósito e o significado dos Mistérios Eleusianos era a iniciação à uma visão. “Eleusis”, significa “o lugar da feliz chegada”, de onde os campos Elíseos tomam seu nome. O termo “Mistérios” provêm da palavra “muein”, que significa “fechar” tanto os olhos como a boca. Faz referência ao segredo que rodeia as cerimônias e a conformidade requerida do iniciado, ou seja, se exige de ele ou ela permita que se faça algo: daí se deduz o significado de “iniciar”. A culminação da cerimônia consistia na exposição de objetos sagrados no santuário interno à mãos do sumo sacerdote ou hierofante (hiera phainon), “o que faz que os objetos sagrados apareçam”. Era somente permitido fazer alusões indiretas sobre o que ocorria. Entre elas, a fundamental era que Deméter falava à sua filha e se reunia com ela em Eleusis. Mas, alguns escritores cristãos violaram essa regra e um assinalou que o ponto culminante da cerimônia consistia em cortar uma espiga de trigo em silêncio.

Qualquer pessoa podia assistir os Mistérios, desde que falasse grego, mulheres e escravos inclusive, desde que não tivessem as mãos sujas de sangue por nenhum crime. Os Mistérios eram realizados uma vez ao ano para mais ou menos três mil pessoas. Se sabe que esses iniciados não formavam nenhuma sociedade secreta, eles vinham de todos os pontos da Hélade, participavam da experiência e logo se separavam.

Os Mistérios menores, que se celebravam até o final de inverno no mês das flores, o Antesterion (nosso fevereiro) e era pré-requisito para a participação nos Mistérios maiores, que se celebravam no outono. Esses Mistérios exploravam o que havia acontecido à Perséfone, Deusa do Mundo Subterrâneo, quando estava colhendo flores em Nisa. Se diz que ela foi raptada por Hades enquanto colhia um narciso de cem cabeças. Os gregos chamavam de narciso toda a planta que tinha propriedades narcóticas.

Esse rapto representa várias idéias, uma é o processo que experimenta a semente ao cair na terra e decompõem-se para voltar de novo à vida. Que se representava simbolicamente como as primeiras núpcias entre os reinos da vida e da morte.

Porém, também representa o rapto extático que proporcionavam certas substâncias que estavam relacionadas com Dionísio, deus da embriaguez, que por sua vez era Senhor de Hades por sua relação com tudo que apodrecia, fermentava e se transformava em outra coisa.

O primeiro estágio da iniciação no Mistérios menores era o sacrifício de um porco jovem, o animal consagrado à Deméter, que substituía simbolicamente a morte do próprio iniciado. Como nas Tesmoforias esse rito se ajusta à variante órfica do mito, que associava a morte do leitão com o rapto de Perséfone.

O segundo estágio da iniciação era uma cerimônia de purificação na qual o iniciado era vendado. As sucessivas etapas dos ritos de iniciação são descritas, através de alusões, inteligíveis para os já iniciados, porém não para os profanos. O acontecimento central dos Mitos Eleusinos era a noite em que se consumia a poção sagrada Kykeon. Os ingredientes dessa poção se constituiu um segredo durante esses 4 mil anos.

Os Mistérios maiores se celebravam a princípio à cada cinco anos. Mais tarde passaram a celebrar anualmente, no outono: começava no dia 15 do mês Boedromión (nosso mês de setembro) e duravam nove dias. Se reuniam iniciados de todos os lugares do mundo helênico e romano, e se declarava uma trégua entre as cidades estado gregas durante quarenta e cinco dias, desde o mês anterior até o mês seguinte.

Na véspera do início, se levavam os objetos sagrados, o “hierá”, de Deméter em procissão desde Eleusis até Atenas.

1- dia 15 do boedromion: Agyrmos, reunião. Proclamação:

Nesse dia tinha lugar a convocação e preparação dos iniciados. Os hierofontes declaravam o “prorrhesis”, o início dos ritos.

2 dia- 16: Elasis ou Helade Mistay: “Ao mar, ó iniciados!”

No segundo dia os iniciados se purificavam no mar (Falero), num rito chamado de “expulsão”. Durante nove dias fariam estas abluções na água do mar, nove dias como Deméter peregrinou pela terra em busca da verdade sobre o rapto de Perséfone. Nesse mesmo dia, os iniciados sacrificavam um leitão enquanto o hierofante os instava: Helade, Mysthai!

3 dia- 17: Hiereia Deuro: Sacrifício

Parece que nesse dia se celebravam o sacrifício oficial em nome da cidade de Atenas.

4 dia- 18: Asclepia

Esse dia era chamado de Asclepia em honra de Asclepio, deus da cura, era outro dia de purificação.

5 dia- 19: Yacós ou Pampa, procissão

Esse era um dia de celebração onde se realizava um grande procissão que inciava em Ceramico (Cemitério de Atenas) até Eleusis, seguindo o itinerário sagrado. Percorriam uns 32 Km. Algumas sacerdotisas levavam as “hierás” em “kistas”fechadas, ou cestas, rodeadas por uma multidão que dançava e gritava o nome de Yaco, cuja estátua, coroada de myrto e carregando uma tocha.

Yaco era o outro nome de Dionísio que, segundo a lenda órfica, era filho de Perséfone e Zeus, pai da mesma. Fui concebido em uma noite em que o deus se aproximou de uma caverna subterrânea transformado em serpente. Não se tratava de Dionísio, deus do vinho e do touro (cujo equivalente é o cretense Zagreo), deus que é desmembrado, porém vive de novo. Era Dionísio como criança de peito místico, o deus que morre e vive eternamente, imagem da renovação perpétua.

Na fronteira entre Eleusis (era uma cidade pequena à 30km noroeste de Atenas) e Atenas, pessoas mascaradas parodiavam a procissão. Encenavam o mito que relatava como Yambe ou Baubo animou Deméter. Como em tantas festas de renovação, preparavam o nascimento do novo para substituir o velho. Quando as estrelas apareciam, os “mystai” (iniciados) rompiam seu jejum, pois o dia vigésimo do mês havia chegado e segundo as “Ranas” de Aristófanes, o resto da noite passavam entre cantos e bailes. Os templos de Poseidón e Ártemis se abriam para todos, porém atrás deles estava a porta que dava ao santuário, e nada, exceto os iniciados, poderiam passar sob pena de morte.

6 dia – 20: Telete (mysteriodites Nychtes)

Esse era um dia de descanso, jejum, purificação e sacrifícios, de acordo com o mito de jejum de Deméter, representando o ritual de esterilidade do inverno. O jejum se rompia com a bebida de cevada, mel e polén (Kykeon) que preparavam e então se permitia que os iniciados entrassem no santuário sagrado. Essa celebração acontecia em um lugar chamado de Telesterion, chamado assim porque aqui se alcançava “o objetivo” ou “telos”. Era um local enorme, que podia albergar milhares de pessoas e onde se exibiam os objetos sagrados de Deméter. No centro estava o Anactoron, uma construção retangular de pedra com uma porta em um de seus extremos, que só o hierofonte podia passar. Essa era a parte mais reservada dos Mistérios eleusianos.

Mas o que exatamente ocorria neste momento?Seria o começo da própria iniciação? Parece que se desenvolvia em três etapas: “drómena, o feito (Ação); legómena, o dito (texto falado); deiknýmena, o mostrado (visão). Depois tinha lugar uma cerimônia especial conhecida como “epoptía”, o estado de “haver visto”, se celebrava para os iniciados do ano anterior.

Em drómena os iniciados participavam de um desfile sagrado pelo qual se representava o relato de Deméter e Perséfone. Os legómena consistiam em invocações ritualísticas curtas, pequenos comentários que acompanhavam o desfile e explicavam o significado do drama. Os deiknýmena, a exibição dos objetos sagrados, culminava na revelação proferida pelo hierofante, cuja difusão era proibida. Os epoptía também incluiam a exibição de “hierá”, não se sabe ao certo o que eram esses objetos sagrados. Segundo as fontes arqueológicas de A. Kórte (Zu den Eleusinischen Mysterien, «Archiv für Religions Wissenschaft» 15, 1915, 116) supõe-se que a enigmática cesta que tomavam os iniciados, entre outros objetos, havia um que representava o órgão sexual feminino, o qual, em contato com o corpo dos mystai, contribuía com a sua regeneração e passavam a ser considerados filhos de Deméter.

M. Picard (L’épisode de Baubó dans les mystéres d’pleusis, «Revue d’histoire des religions» 1927, 220-255) adiciona o órgão masculino. O iniciado tocaria sucessivamente os dois objetos, simbolizando assim a verdadeira união sexual.

7 dia- 21: Epopteia

Somente à tarde tinha início os ritos secretos. Em determinado momentos deviam pronunciar uma contra-senha sagrada:”Jejuei, bebi o kykeon, o tomei do canasto (calathus) e, depois de prová-lo o coloquei de novo no canasto e dali, ao cesto”. Misteriosas palavras, que sem sombra de dúvida, tinham grande significado para os iniciados. Todo o resto do dia era passado em compasso de espera e somente à noite os iniciados entravam no santuário. Um muro à sua direita impedia que vissem o local da “Rocha sem alegria” (local em que se supõe que a Deusa Deméter esteve sentada). Ouviam lamentos procedentes dali. Chegavam ao Telesterion e depositavam os leitões nas “mégara”, uma espécie de sótão do templo. Em seguida peregrinavam fora do Telesterion em busca de Core (Perséfone), na escuridão e com a cabeça coberta com uma carapuça que não lhes permitia ver nada, cada iniciado era guiado por um mystagogo. Imagine andar na escuridão, totalmente desorientado, esperando em silêncio, até que um gongo soa como um trovão e o hierofonte clamando por Core, até que o mundo inferior se abre e das profundezas da terra aparece a Deusa. Daí um clarão de luz enche a câmara, crescem as chamas da fogueira e o hierofonte canta:

-“A Grande Deusa deu à luz a um filho sagrado: Brimo pariu à Brimós”. Então, em silêncio profundo, levanta com a mão uma espiga de trigo.

Para que entendam, Brimo era uma Deusa do Mundo Inferior em Tesália, ao norte. Os nomes Brimo e Brimós sugerem à introdução da agricultura e de que nos Mistérios da Grécia houve influência tesalia.

Mas que estão fazendo Brimo e Brimós em Eleusis?

Kerényi diz que Brimo é “fundamentalmente um nome que designa a rainha do reino dos mortos, atribuído à Demeter, Core e Hécate em sua qualidade de Deusas do Mundo Inferior”. Nesse caso, o filho é o espírito da renovação concebido no Mundo Inferior como testemunho vivo de que na morte há vida, já que está na “riqueza” da colheita, o “tesouro” do conhecimento intuitivo espiritual.

Brimo, portanto, foi o nome dado ao filho de Perséfone, ao qual ela deu à luz no inferno em meio as chamas. Esse nome parece referir-se à Dionísio, o deus de vida indestrutível.

8 dia – 22: Plemochoai

Era dia de sacrifício e festa. Sacrificavam-se touros à Deméter e Perséfone (Core) e outros animais, especialmente leitões. Este festival era chamado Plemochoai, porque esse era o nome dado aos vasos (ou taças) que o sacerdote enchia com um certo líquido e, virando-se para oeste e depois para leste, derrama ao solo o que continham. O povo, olhando para o céu, grita “chuva!” e, olhando para a terra, grita “concebe!”, hýe, kýe.

Harrison escreve que “o rito do matrimônio sagrado e o nascimento da criança sagrada….era o mistério central”. Entretanto, a cerimônia final nos mostra o matrimônio simbólico da chuva celestial com à terra, que havia de conceber o filho do grão (da semente), porém existia a possibilidade se ser celebrado esse casamento simbólica ou literalmente, entre o hierofante e uma sacerdotisa antes do regresso de Core.

9 dia – 23: Epistrofe

Neste dia os iniciados voltavam à Atenas. Eleusis voltava a velar-se em seus mistérios, enquanto se despedia dos visitantes, agora renascidos, levando consigo as experiências de vinculação com as divindades. Assim acabam os Mistérios de Eleusis.

A gestão desse culto era exclusiva das famílias aristocráticas, com funções definidas para cada uma delas. O sumo sacerdote, o chamado hierofante, devia pertencer a família dos Eumólpidas, enquanto a família dos Cérices procediam dos sacerdotes de traço imediatamente inferior, o portador da tocha. A sacerdotisa vivia sempre no santuário. O hierofante ostentava o privilégio de escolher seus iniciados. Sobre todos eles se sobrepunha uma outra figura, o chamado arconte rei (archon basileus) no eleusino, que era ateniense (era os atenienses que controlavam o culto), ao qual assiste uma equipe de colaboradores (epistatai), encarregados das finanças.

MORRER PARA RENASCER

Morrer para renascer, esse é o sentido da iniciação. O sangue dos animais sacrificados simbolizavam a própria morte do iniciado. É Plutarco que nos diz que “morrer é ser iniciado”. Só através da morte se regressa à luz. Clemente e Foucart realmente estão de acordo com essa idéia: representar a busca de Deméter e identificar-se com Perséfone é precisamente vagar no mundo subterrâneo da morte, do mesmo modo que encontrar Core é retornar à vida depois da morte.

Esse mito grego recupera um mito bem mais antigo conhecido como a “Descida de Inanna”, que vai e vem entre ambos os mundos. Perséfone aqui é a faceta da mãe que desce e regressa de novo à mãe, configurando uma totalidade nova. Se percebe claramente uma continuidade nessa relação: vida em morte e morte em vida. Se “vê através” de uma a outra, e isso liberta a humanidade de sua natureza de entidades antagônicas. Quando mãe e filha se percebem como uma única realidade, nascimento e renascimento se convertem em fases que provêm de uma fonte em comum: através da dita percepção se transcende a dualidade.

A DEUSA TRÍPLICE

A triplicidade pode ser vista na lua, que é: crescente, cheia e minguante. E, no fato da Deusa reger o mundo superior, a terra e o mundo inferior. Ela era também a Donzela ou Virgem, a Mãe e a Anciã, as três principais fases da vida de toda a mulher. Pois Deméter se vê “Donzela” em sua filha Coré. É “Mãe” desta filha e de tudo que brota e cresce. Mas, ao perder sua filha Coré para Hades, torna-se “Anciã” associada diretamente com a morte.

Para cada fase ou ciclo há perdas que devem ser vivenciadas por todas as mulheres. No primeiro ciclo, visualiza-se a “morte da donzela”, que torna-se uma jovem nubente e é uma iniciação para fase seguinte, que se tornará mãe, abençoada com seus próprios filhos. Quando a Mãe não pode mais conceber (menopausa), passa a tocha da maternidade para filha, transferindo para ela todos os poderes da fecundidade. A morte da mãe, constitui a mulher idosa que tem agora o potencial para ingressar na esfera espiritual das anciãs, guardiãs dos mistérios da morte.

Hoje estes ciclos raramente são reconhecidos e vividos plenamente pelas mulheres, pelo fato de habitarem um mundo predominantemente masculino. A realidade moderna e científica tornou a “Mãe” uma máquina biológica de produção de bebês, que favorece ou prejudica a política financeira de uma determinada sociedade.

DEMÉTER HOJE

Por mais belo que se pinte um quadro de uma mãe com o filho nos braços, ele estará longe de ser a realidade para a maioria das mães das sociedades industrializadas e urbanas do Ocidente. As pressões financeiras, privam a mulher de permanecer no seio da família, cuidando de seus amados filhos. Até a licença-maternidade, através de duras penas conseguida, possui um tempo vergonhosamente limitado, pois a volta ao trabalho quase de imediato, não permitem que a mãe acompanhe o desenvolvimento de seu bebê. Além de ser estigmatizada por tal feito, pois ter um filho em nossos dias, significa estar fora de ação, inativa e lhes é somente permitido olhar saudosamente para o mundo que caminha sem elas.

Deméter sofre com o eclipse em nossa civilização. As mulheres que representam seu modo de ser, não têm condições de competir com as mulheres mais instruídas, pois a Deméter natural não é tão intelectualizada. Ela adora apenas criar seus filhos e acaba ficando muito sentimentalizada, tratada com condescendência e destituída do poder por suas irmãs feministas.

Deméter nas antigas comunidades agrárias, tinha dignidade, autoridade e uma vida bastante gratificante. Tudo se perdeu numa sociedade onde tudo é subserviente às exigências econômicas do monopólio do consumo.

Por Rosane Volpatto.

#Magia #Mitologia #Ocultismo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/os-mist%C3%A9rios-eleusis-e-a-grande-deusa-demeter

A Evolução Enoquiana

Morbitvs Vividvs

Muitas pessoas encaram de maneira equivocada as artes ocultas. Elas querem descobrir receitas de bolo, coisas prontas para o uso e imaginam que os grimórios são como livros sagrados que contém tudo o que elas precisam saber. Nada contra querer usar aquilo que comprovadamente funciona, mas muitas vezes com esta postura se perde o experimentalismo original que foi o que permitiu a magia florescer em primeiro lugar. O sistema enoquiano é um caso típico. Trata-se de um sistema tão coeso e forte que muitas magistas esquecem que um dia, há alguns séculos, ele foi apenas dois caras que não sabiam oque esperar olhando para dentro de uma bola negra de cristal. O objetivo deste artigo é mostrar como o enoquiano cresceu e se desenvolveu baseado na exploração e como ele pode vir a morrer se permanecer estagnado.

Os Experimentos de John Dee

O sistema enoquiano foi usado pela primeira vez por John Dee, astrólogo oficial da corte da rainha Elizabeth I. Dee nasceu em 1527 na Inglaterra e foi educado na universidade e Cambridge tornando-se uma autoridade nos campos da matemática, astronomia e filosofia natual. Ele era amigo pessoal da rainha e trabalho diversas vezes para ela como espião do  Império. Sua biografia pode ser encontrado na seção própria para isso do portal da iniciativa Morte Súbita inc. O importante é saber que numa certa altura de sua vida John Dee tornou-se interessado em cristalomancia, que é a visão sobrenatural por meio de cristais. Dois dentre os muitos cristais que ele utilizou podem ser vistos hoje no museu britânico. De fato é creditado a Dee o primeiro uso registrado de um cristal polido para este fim, as famosas bolas de cristal.

Entretanto ele não se considerava um bom observador de cristais contratava outras pessoas para realizar as operações enquanto acompanhava. Este fato pode parecer trivial, mas é talvez a maior idéia que Dee teve em sua vida. O que acontece é que o processo psiquico da leitura dos cristais, também chamado de skrying envolve um certo transe muito semelhante por exemplo ao que Nostradamus usava para escrever suas centúrias. Neste estado o vidente não está com todas as suas ferramentas lógicas e abstratas ligadas de forma que muito se perde. Esta limitação se explica pois transceder a mente racional é essencial para a boa vidência, mas quanto menos racional se for por outro lado menos se aproveita aquilo que se atingiu. Dee resolveu este problema dividindo o trabalho entre duas pessoas. Uma delas (Kelly) pode se entregar totalmente ao processo psiquico transcedental e descreve tudo em voz alta enquanto que outra mantêm a lucidez normal e consegue fazer anotações, comparar resultados e documentar tudo de maneita organizada.

Com este processo Dee registrou uma série de tábuas divididas em grades formando quadrados. Cada um destes quadrados possuia uma letra em seu interior. Estas letras formavam o alfabeto de uma linguagem nunca antes vista. Essa linguagem era a chave para se entrar em contato com seres de regiões mais sutis da existência. Estas regiões estavam também representadas pelas tábuas, que continham ainda nas suas letras os nomes das entidades que as dominavam e habitavam. Em outras palavras estas tábuas seriam mapas dos mundos invisiveis que rodeiam o mundo cotidiano, com elas Kelly explorava um mundo completamente novo.  A linguagem e o sistema receberam o nome Enoquiano pois segundo as entidades contatadas tratavasse do mesmo conhecimento que o Enoch bíblico (também identificado com Hermes) recebeu em sua época antes de ser elevado aos céus em vida.

A expansão da Golden Dawn

O sistema enoquiano foi desde então usado por diversos ocultistas, com destaque para os adeptos da Hermetic Order of the Golden Dawn , a Ordem Hermética da Aurora Dourada, que floresceu no século XIX também na Inglaterra. A estes ocultistas devemos uma grande expansão do sistema enoquiano, pois náo apenas invocavam as entidades cujos nomes estão escritos nas tábuas como também viajaram no que chavam de Corpo de Luz pelas regiões mapeadas pelos quadrados e registraram suas experiências de uma maneira bastante precisa. Numa certa altura da existência da ordem estas viagens tornaram-se um problema entre os membros que literalmente se viciaram nelas como quem se vicia a alguma espécie de droga.

Sob a direção de MacGregor Mathers a Golden Dawn refinou o sistema descoberto por John Dee explorando campos que seu descobridor original não tinha imaginado. Provavelmente a maior conquista de MacGregor e cia foi encontrar uma organização  por trás dos quadrados. Ele ensinava um sistema no qual elementos eram designados aos quadrados (Terra, Água, Ar, Fogo e Espírito) e isso permitiu conectar o sistema enoquiano com correspondências cabalisticas e astrológicas. Cada letra enoquiana possui por exemplo uma letra hebraica equivalente, e portanto uma carta do Tarot:

Fonema   Zodiaco/Elemento               Tarot

A             Touro                                   Herofante
B             Aries                                     Estrela
C,K          Fogo                                     Julgamento
D             Espírito                                 Imperatriz
E             Virgem                                  Hermitão
F             Cauda Draconis                    Mago
G             Cancer                                 Carro
H             Ar                                         Louco
I,J,Y         Sagitário                              Temperança
L              Cancer                                 Carro
M            Aquário                                 Imperador
N            Escorpião                              Morte
O            Libra                                     Justiça
P             Leão                                     Força
Q             Água                                     Enforcado
R             Peixes                                   Lua
S             Gêmeos                                Amantes

Uma vez enxergados um padrão emana das tábuas revelando que uma ordem maior prevalece na estrutura de todos os planos de existência.

A exploração Crowleyana

Posteriormente outro avanço no sistema enoquiano ocorreu com Aleister Crowley, ex-membro da Golden Dawn e líder da Ordo Templi Orientis. Durante suas viagens pelo México e Argélia Crowley se dedicou a uma séria intensa de invocações e registrou suas viagens pelos 30 Aethrys e cuidadosamente documentou suas experiências em seu livro “The Vision and the Voice.” Este livro de caráter profético explica diversos pontos da magia ritual e da formação do mago.

A descrição feita por Crowley é impressionante pela beleza com que descreve estes planos paralelos. Apesar de sua leitura difícil nele encontramos não apenas um guia de viagens pelos mundos enoquianos, mas também detalhes da iniciação mágica, incluindo uma versão diferente do famoso ritual de Abramelim e uma explanação da estrutura aeonica thelemita.

Enoquiano Pós-Moderno

Diversos autores tem explorado o sistema enoquiano desde Crowley. Anton LaVey causou polêmica nos anos 1960 ao publicar uma versão satanicamente inspirada das chaves enoquianas e assumindo de vez que as entidades invocadas deviam ser vistas sob um ponto de vista sinistro. Nas décadas seguintes houve uma certa popularização do sistema no meio ocultista e o tema foi abordado por diversos autores. Dentre estes podemos recomendar a leitura das obras de Lon Milo DuQuette e Donald Tyson, ambos interessados em tornar o uso do sistema mais acessível aos praticantes de primeira viagem.

No campo da inovação o destaque deste período fica sem dúvida para o casal Gerald Schueler e Betty Schueler que dominaram as ferramentas tradicionais e exploraram campos novos como um tarot genuinamente enoquiano e uma série de posturas corporais enoquianas semelhantes a yoga.  Mais recentemente já no século XXI tivemos o Projeto EnoquiONA, trabalho ousado de Alektryon Christophoros relacionando as letras do alfabeto enoquiano com os deuses sombrios e os arcanos sinistros da organização satanista tradicional Order of Nine Angles.

Esta nova geração busca o desapego do sistema iniciado pela Golden Dawn que chegou ao seu apice com crowley e defendem o desenvolvimento da técnica enoquiana pura sem a “poeira qabalistica/astrologica”. Dentre estes outro pesquisador que merece destaque pelo seu trabalho é Benjamin Rowe, que produziu uma série de experimentos avançados com magia enochiana. Rowe estabeleceu alguns experimentos importantes, como o Comselha e a construção de templos enochianos baseada na visão espiritual.

Aqui no Brasil, o destaque fica para o Círculo Iniciático de Hermes e o Enoquiano.com.br como únicos grupos que colocam oficialmente o enoquiano como prática principal  incluindo uma série de rituais próprios, técnicas de scrying, iniciações, armas e rituais de proteção além dos tradicional ritual do pentagrama. Não apenas isso mas o

Conclusão

 As contribuições de todos estes ocultistas são importantes de se destacar. Num primeiro relance o estudante pode achar que o sistema enoquiano é algo pronto simplesmente para se usado. Mas a verdade é que o sistema está tão pronto quanto estão prontas a música e a medicina. Ele pode e deve ser expandido e suas fronteiras alargadas. As técnicas usadas por todos os ocultistas citados neste artigo para conseguir seus materiais inéditos foram muitas, mas em geral envolvem o uso do cristalomancia, da projeção do corpo de luz e da invocação das entidades para recebimento de conhecimento oculto. Todos estas são ótimas ferramentas de exploração para quem quiser ir além e ver com os próprios olhos até onde voam os anjos.  O sistema enoquiano é uma forma de exploração das realidade sutis e é portanto um universo em expansão com muito para ser explorado. Muitos caminhos realmente já foram descobertos pelos que vieram antes, mas muitos ainda aguardam seus descobridores. Quem sabe o próximo não pode ser você?


Saiba mais sobre Magia Enochiana em Enoquiano.com.brInstagram , Telegram

Gostei do conteúdo do texto, mas tive a sensação de que não houve revisão do autor ou de quem ia fazer a postagem. Alguns erros pequenos na digitação, única parte que faltou. O conteúdo é muito bom.

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/enoquiano/a-evolucao-enoquiana/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/enoquiano/a-evolucao-enoquiana/

‘O Manual Vodu

Segue para enriquecimento dos cautelosos e desventura dos incautos o Manual da doutrina e prática do Vodu Esotérico (HooDoo) segundo Logia Zariguin, baseado na antiga tradição Haitian

Postagem original feita no https://mortesubita.net/cultos-afros/o-manual-vodu/

‘Psiconomicon: Ocultismo e H. P. Lovecraft

A Obra literária de Howard Phillips Lovecraft não se tornou um sucesso literário como muitas outras, com seus seguidores e fãs, mas ultrapassou o simples véu da literatura de horror gótica para se tornar um estilo ocultista real e funcional. O Mito de Cthulhu, com seus deuses Antigos e seus nomes Impronunciáveis, é evocado e adorado por praticantes e estudiosos, conhecidos e respeitados das artes mágicas, que fazem uso de seu simbolismo e a sua mitologia, utilizando-os como uma base sólida e um solo fértil para muitos de seus sistemas mágicos.

O objetivo deste livreto é examinar alguns dos indivíduos, ordens e peregrinos mágicos que já se aderiram ao Culto de Cthulhu, e é, antes disso, uma tentativa de expor como cada um deles foi tocado pelas tentaculares forças abissais evocadas e presas no papel pelo escritor nativo de Providência,  Rhode Island, nos primeiros anos do século XX.

Se havia alguma dúvida que uma obra de ficção pode ser usada na prática ocultista, ao final do livro a dúvida será se estamos realmente falando de ficção.

Índice

 

Últimas atualizações

Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/psiconomicon-ocultismo-e-h-p-lovecraft/

Cria em mim, ó Deus, um coração puro – Parte 2 de 2

Esperamos que durante esta pausa de dois meses todos tenham aproveitado para ler as demais colunas deste portal, apanhar um ou mais livros que estavam aguardando na fila de leitura ou simplesmente caminhar por aí e conhecer novas pessoas e novos eventos. Todos os homens devem morrer, mas antes, deve-se viver.

Em novembro do ano passado, apresentamos a primeira parte deste artigo sobre a Sexta Virtude, a Pureza, tão importante para os jovens em formação. Depois de um certo ponto, é muito complicado retificar e limpar aquilo que foi poluído por anos e, infelizmente, como não se deve colocar vinho novo em odres velhos, com o risco de perder tanto o vinho quanto os odres, a atitude pura já não pode mais se manifestar em quem não só vive neste mundo, mas tornou-se parte dele.

Foi com propósito que o autor da nossa ritualística, o Dad Frank Marshall, jamais escreveu um guia oficial explicando todas as palavras dos nossos trabalhos – desta forma, cada DeMolay poderia refletir e discutir com seus Irmãos, aplicando aquelas lições em sua vida diária e conhecendo-as pela prática reiterada nas Reuniões e fora delas.

Seria, de qualquer forma, completamente irreal um “manual de como ser um DeMolay”. A sociedade muda com o passar das décadas e cada país e estado é completamente diverso do próprio vizinho. Se um DeMolay conhecer de verdade seu juramento e suas Virtudes através do Ritual, deverá ser capaz de agir como se espera dele.

Isto não quer dizer que os DeMolays não devam escrever materiais sobre os ensinamentos da Ordem. Apenas que não devem colocar suas ideias como absolutas e incontestáveis. Este, contudo, é o assunto de um artigo posterior, sendo mencionado para que todos compreendam que definir a “atitude pura” que todo Iniciado deve ter não pode ser feito em dois ou três parágrafos, mas que as diretrizes gerais podem ser lançadas.

Ser puro, então, é agir livre de malícia e de segundas e terceiras intenções. Como explicitado na primeira parte, pureza é diferente de ingenuidade e de inocência. É uma atitude consciente, uma escolha resoluta de ser verdadeiro nas palavras, nos gestos e nos pensamentos.

Com o estímulo contínuo à busca do poder e do prazer, é difícil encontrar candidatos à Iniciação que já não se vejam lutando justamente para se manter no caminho desse ideal. Esmagado entre o clamor hipócrita pela “moral da família e dos bons costumes” e o incentivo ao orgulho de ser dissoluto, o jovem deve tomar cuidado para não justificar seus desvios com argumentos falaciosos.

É esta Virtude, aliás, que deve nortear os relacionamentos dos DeMolays. Com sua família, deve ser um bom filho, vendo em seus pais e irmãos zeladores e companheiros de jornada. Com seus amigos, deve forjar laços de intimidade reforçados não por hábitos em comum ou frequência nas mesmas mesas de bar, mas por pensamentos e desejos igualmente bem direcionados. Por fim, o amor nunca se desenvolverá sobre solo traiçoeiro e fantasioso – aliás, quem não for puro com aquele que ama jamais descobrirá que o amor evolui e se transforma continuamente.

Uma última observação é que a Pureza, por si só, não é atributo unicamente do justo. Todas as ações sob seu prisma são genuínas, mas como muito bem ensinado pelo Príncipe Vegeta, um coração pode ser puro de maldade.

O Rei Davi, ao cantar seus Salmos pelos ares, suplicou muitas coisas a YHWH. Ele pediu justiça e consolo, amor e confiança, fidelidade e realização. Rogou também por um coração puro e o espírito de firmeza para mantê-lo no Salmo L.

Este Salmo que corresponde à quarta-feira, o dia de Mercúrio, no Enchiridion do Papa Leão III, é chamado de “Prece de um Coração Contrito”. Nele, Davi diz que não pode se apresentar diante de Deus como um homem sem faltas e sem iniquidade. Mais importante do que isso, ele reconhece que toda vez que pecou ou fez algo ruim, foi contra Deus que agiu. Mais tarde, essas palavras serão ecoadas por Jesus: “cada vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o fizestes”.

A Pureza, portanto, se relaciona à Reverência pelas Coisas Sagradas, a Segunda Virtude, muito diretamente, embora esta ligação não seja óbvia. Ao ser maldoso ou cruel com qualquer outra pessoa, mesmo em pensamento, a falta é cometida contra a fagulha divina presente em todos os seres.

O Rei Davi ainda lembra que a Deus não interessa sacrifícios rituais – palavras da boca pra fora, ofertas de dinheiro por obrigação ou com intenções ocultas, fazer o que deve ser feito com a mente e o coração em outro lugar. O verdadeiro sacrifício é o coração contrito, a percepção do erro e o desejo de fazer melhor com o auxílio divino.

Para manter essa decisão, é necessário o espírito de firmeza. Apenas chegar no final do dia e pedir desculpas por todos os erros e acreditar que magicamente amanhã você será melhor é tolice. Ao fim dos trabalhos, ao revisar suas ações, você deve identificar claramente onde errou e se resolver a não falhar novamente naquilo.

Por conta desses atributos a forma como o DeMolay se porta durante as reuniões do Capítulo é tão importante. Como se fosse um microcosmo, cada palavra dita ali se verá refletida no macrocosmo do dia-a-dia… mas este também é assunto de uma próxima coluna.

Hugo Lima é Sênior DeMolay do Capítulo Imperial de Petrópolis, nº 470.

Virtude Cardeal é uma coluna com o propósito de desenvolver a reflexão sobre características fundamentais de todo DeMolay, bem como apresentar a Ordem aos olhos dos forasteiros.

#Demolay #VirtudeCardeal

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/cria-em-mim-%C3%B3-deus-um-cora%C3%A7%C3%A3o-puro-parte-2-de-2

‘Louis Claude de Saint-Martin

Louis Claude de Saint-Martin, o “Filósofo Desconhecido”, pensador profundo e grande iniciado, nasceu a 18 de janeiro de 1743 em Amboise, Tourraine, no centro da França, no seio de uma família nobre, mas pouco abastada e desconhecida. Logo depois do nascimento de Saint-Martin, sua mãe faleceu, e ele foi criado pelo pai e por uma madrasta, pessoa amável e de bom coração, que o iniciou na leitura de Jacques Abbadie, ministro protestante de Genebra. Com esse autor, apreendeu a conhecer a si mesmo, relegando a um plano secundário a análise decepcionante e estéril dos filósofos em voga na época.

“É à obra de Abbadie, A Arte de Conhecer a Si Mesmo, que devo meu afastamento das coisas mundanas; é a Burlamaqui que devo minha inclinação pelas bases naturais da razão; é a Martinez de Pasqually que devo meu ingresso nas verdades superiores; é a Jacob Böehme que devo meus passos mais importantes nos caminhos da Verdade.”(1)

Outro autor que influenciou o Filósofo Desconhecido desde sua juventude foi Pascal. Aos 18 anos, em meio às discussões filosóficas dos livros que lia, deu-se conta de que, existindo o Criador do Universo e uma alma, nada mais seria necessário para ser sábio. (2) Foi com base nessas concepções que fundou sua doutrina posterior. Na época de seus estudos no Colégio de Pontlevoi, o Ocultismo já fazia parte de suas meditações. Na Faculdade, igualmente, eram os estudos metafísicos que o atraíam. Estudou Direito conforme a vontade de seu pai, e esse ambiente proporcionou-lhe maior contato com o mundo filosófico e literário da época. Conheceu as obras de Voltaire, Rousseau, Montesquieu e outros autores não iniciados, mas sem ceder à inclinação dos enciclopedistas. “Li, vi e escutei os filósofos da matéria e os doutores que devastam o mundo com suas instruções; nenhuma gota de seus venenos penetrou-me; nem as mordidas de uma só dessas serpentes prejudicaram-me.”(3)

O jovem estudante procurava tudo o que pudesse conduzi-lo ao conhecimento da Verdade, particularmente as ciências e princípios exatos. Dedicou-se assim ao estudo filosófico dos números e, por algum tempo, esteve ligado a Lalande e sua escola filosófica, sintetizada em Ciência dos Números. Esse convívio, entretanto, não foi longo, pois seus pontos de vista eram divergentes e nosso Filósofo passou a estudar Jean Jacques Rousseau. Como ele, pensava ser o homem naturalmente bom; mas entendia que as virtudes perdidas originalmente, em razão da Queda, poderiam ser reconquistadas desde que o homem o desejasse ardentemente. Acreditava que o naufrágio no materialismo era conseqüência mais das associações viciosas e desvirtuadas do que do pecado original. E, nisso, afirma-nos seu discípulo Gence(4), ele se diferenciava de Rousseau, a quem considerava um misantropo por sua excessiva sensibilidade, ao olhar os homens, não como eram, mas como gostaria que fossem.

Saint-Martin amava a humanidade e considerava-a melhor do que parecia ser; e o encanto da sociedade da época levou nosso Filósofo a pensar que a vivência nas rodas sociais poderia levá-lo ao melhor conhecimento do homem e conduzi-lo à intimidade mais perfeita com os seus princípios. Assim, agiu conforme seu pensamento: freqüentou os saraus musicais e toda sorte de recreações da alta nobreza, desde os passeios ao campo até as conversas com amigos; os atos de gentileza eram a manifestação de sua própria alma.

“Foram de sua intimidade as pessoas da mais alta classe, dentre as quais podemos citar o Marquês de Lusignan, o Marechal de Richelieu, o Duque de Orléans, a Duquesa de Bourbon, o Cavaleiro de Fouflers e tantos outros que seria longo enumerar. Devotou-se inteiramente à busca da Verdade e à prática das Virtudes, que foram o objeto constante de seus estudos, dos seus trabalhos e das suas realizações.”(5)

Iniciado, pois no estudo das leis e da jurisprudência, aplicou-se mais à pesquisa das bases naturais da Justiça, relegando a um plano secundário as regras da jurisprudência. Paralelamente, desenvolvia seus estudos sobre os mistérios ocultos e logo descobriu que não poderia dedicar-se inteiramente à magistratura, como desejava sua família. Não encontrando sua vocação no Direito, abandonou a magistratura que exerceu em Tours durante seis meses. Alistou-se aos 22 anos de idade no Regimento de Foix, então aquartelado em Boudeaux, onde pode encontrar mais tempo para dedicar-se ao estudo do Ocultismo, que era sua verdadeira vocação. Após ter lido os autores mais em evidência no gênero, procurou a iniciação de uma maneira mais efetiva.

Foi graças a um colega do Regimento, Grainville, que bateu às portas do Templo. Grainville era iniciado em uma sociedade oculta muito importante, cujo chefe era Martinez de Pasqually. Este era casado com uma sobrinha do maior, comandante do Regimento, que se encontrava na mesma cidade de residência de Martinez. A Escola de Pasqually, seu iniciador nas práticas teúrgicas, era a Ordem dos Elus Cohens do Universo (Sacerdotes Eleitos), revigorada mais tarde pela ação de Saint-Martin e Jean Baptiste Willermoz, sob a inspiração das obras de M. Pasqually e de J. Böehme e a partir de suas próprias pesquisas.

Em fins de 1768, Saint-Martin foi iniciado nos três primeiros graus simbólicos da referida Ordem pela espada de Balzac, avô de Honoré de Balzac, o famoso romancista francês das primeiras décadas do século XIX. Com efeito, em carta de 12 de agosto de 1771, dirigida a seu colega Willermoz, de Lyon, confirmou ter sido iniciado por Balzac e que recebera de uma só vez os três graus simbólicos. “Não é comum darem-se os três graus simbólicos ao mesmo tempo; deixam-se, ao contrário”, prosseguiu Saint-Martin na referida carta, “grandes intervalos de tempo entre um grau e outro, segundo o progresso de cada um.”(6)

Assim, Saint-Martin submeteu-se em seguida ao método iniciático de Pasqually, de quem se tornou secretário particular e discípulo zeloso. Mas não deixou, logo depois, de criticar seu primeiro Mestre, por não concordar com tudo o que era feito em tal sistema. Considerava supérfluas todas as manifestações físicas exteriores e todos os detalhes do cerimonial Cohen: “São necessárias todas essas coisas para orar a Deus?”, perguntou Saint-Martin a seu mestre Martinez. “É preciso que nos contentemos com o que temos”(7), respondeu o Grão-Mestre.

Na realidade, era necessário trabalhar mais profundamente no sentido interior para produzir a luz. Isso certamente Martinez teria feito dentro de seu próprio sistema, se não tivesse partido da França e falecido em seguida. Sua semente ficou, no entanto, e coube a Saint-Martin e a Willermoz cuidar da planta que deveria nascer. A Providência Divina não os deixou abandonados; inspirou-os constantemente, colocando em seu caminho homens que os ajudaram, direta ou indiretamente, e proporcionando-lhes o conhecimento do sistema de Jacob Böehme. Esse sistema confirmou as descobertas que tinham feito e abriu as portas para a obtenção das chaves ainda não encontradas.

Na época em que conheceu Pasqually, tinha pouco mais de vinte e cinco anos e acabava de debutar no Ocultismo, de sorte que nem todas verdades da Iniciação pode receber de seu primeiro mestre, com o qual permaneceu cinco anos. Soube reconhecer mais tarde sua grandeza (porque é bom que se afirme que Martinez de Pasqually foi um adepto de grande iluminação).

“Havia coisas preciosas em nossa primeira Escola”, relata Saint-Martin a seu discípulo Kircheberger. “Sou mesmo induzido a pensar que o Sr. Martinez de Pasqually, que era nosso mestre, possuía a chave ativa referente a tudo o que nosso prezado Jacob Böehme expõe em suas teorias, mas não julgava que fôssemos capazes de entender tão altas verdades, naquela época. Ele era sabedor de alguns pontos que nosso amigo Böehme não conhecia, ou pelo menos não revelou, como a resipiscência do ser perverso, contra o qual o primeiro homem teria tido a missão de trabalhar… Quanto à Sofia e ao Rei do Mundo, ele nada nos revelou, deixando-nos com as noções comuns de Maria e do Demônio. Mas não afirmarei que ele não teve conhecimento delas e estou convicto de que chegaríamos a esse conhecimento, se o tivéssemos conosco por mais tempo…”(8)

Saint-Martin nunca concordou com a iniciação realizada fora do silêncio e da realidade invisível, que chamava de centro ou via interior. Para ele, o interior deve ser o termômetro, a verdadeira pedra de toque do que passa fora…; e o estudo da Natureza exterior só teria sentido se conduzisse à senda interior, ativa. Esse estudo poderia, pois, ser útil na medida em que conduzisse à Verdade, mas a Iniciação, explicava ele a Kircheberger, deve agir no ser central.

“Não lhe ocultarei que anteriormente entrei nesse caminho externo, e através dele me foi aberta a porta de minha carreira. Meu condutor era um homem de muitas virtudes ativas, e a maioria daqueles que o seguiram, inclusive eu, receberam confirmações que talvez tenham sido úteis para nossa instrução e desenvolvimento. Todavia, em todos os instantes, eu sentia forte inclinação para o caminho intimamente secreto, o externo nunca me seduziu, nem em minha juventude.”(9)

Entendia Saint-Martin que todo o aparato exterior não era necessário para encontrar Deus e que, ao contrário, em muitas ocasiões dificultava essa busca. Discordava das numerosas e freqüentes comunicações sensíveis de todos os tipos, manifestadas nos trabalhos de que tomava parte na sua primeira Escola, embora o signo do Reparador sempre estivesse presente, manifestando a ação da Causa Ativa e Inteligente no mundo objetivo. Afirmava, no entanto, que sua senda interior, desenvolvida depois, proporcionava-lhe resultados mil vezes superiores aos produzidos pela senda que denominava exterior e que era preconizada por Pasqually.

Afirmava, no entanto, e é bom repetir, que deveria haver trabalhos internos da Ordem que não lhes foram transmitidos por causa de sua curta passagem pelo sistema e por não terem ainda passado pelos estágios iniciais. O Mestre não poderia ter agido de modo diferente, revelam-lhes os mistérios de ordem mais elevada. Acreditava, ademais, que os Princípios Divinos poderiam mesmo nascer naquele sistema, mas os trabalhos para esse efeito deveriam ser mais alguns anos com Pasqually.

Não apenas Saint-Martin discordava do sistema de Martinez, uma vez que os resultados não se produziam de imediato; todos os discípulos reclamavam resultados espirituais que, em verdade, dependiam deles próprios. Willermoz parece ter sido o primeiro a manifestar a Saint-Martin seu descontentamento no que dizia respeito ao desenvolvimento das faculdades adormecidas do ser humano; é o que constatamos através da leitura de uma carta endereçada por Saint-Martin, do Oriente de Bordeaux, com data de 25 de março de 1771.

“Quanto à confiança que vos dignais a testemunhar-me, abrindo-me sem escrúpulos vosso pensamento sobre nossas cerimônias, não me compete, tendo em vista nossa dignidade, fazer qualquer observação a respeito; e, diante de meu juiz, eu só deveria escutar e calar. Entretanto, as disposições puras que trazeis à Sabedoria fazem-me supor que poderíeis perdoar-me antecipadamente se ouso acrescentar, às vossas, algumas idéias próprias. Procuro, como vós, esclarecer-me… Confesso que o objetivo que buscamos na iniciação parece-me muito difícil de ser atingido.

Acredito que, mesmo nos encontrando nas melhores condições, quando todas as cerimônias são empregadas com a maior regularidade, a Coisa pode ainda guardar seu véu para nós tanto quanto quiser; ela está tão pouco à disposição do homem que ele não pode, jamais, apesar de seus esforços, estar certo de obtê-la. Ele deve esperar e orar sempre, eis nossa condição. O espírito conduz seu sopro onde quer, quando quer, sem que saibamos de onde vem e para onde vai… Se o poder não se manifesta agora, ele poderá ocorrer mais tarde; se não se opera pela visão, ele prepara a forma daquele que se mantém puro para receber as impressões salutares, quando o espírito assim quiser. Não atribuais, então, o estado em que vos encontrais a algum problema de vossa parte ou à invalidade das cerimônias.”(10)

Willermoz procurava obter por carta maiores esclarecimentos acerca dos problemas que iam surgindo no transcorrer de sua jornada iniciática. Pelo que constatamos, os resultados práticos da iniciação não apareciam tão rapidamente como os discípulos desejavam. Era necessário muito trabalho, como em qualquer sistema de iniciação, para que surgisse alguma manifestação de aprimoramento espiritual.

A correspondência entre Saint-Martin e Willermoz, iniciada em 1768, estendeu-se até 1773. Em 1771, Saint-Martin abandonou a carreira militar para dedicar-se exclusivamente ao Ocultismo. Durante dois anos empregou todo o tempo disponível para trabalhar ao lado do mestre; foi durante esse período que se familiarizou com a ritualística dos Cohens e com a doutrina de Martinez, bem como com todas as suas práticas iniciáticas.

Partiu de Bordeaux em maio de 1773, na ocasião em que Martinez preparava-se para viajar para as Antilhas. Antes de se despedir, entretanto, Saint-Martin foi recebido no último grau dos Cohens, aquele de Réaux-Croix, como atesta uma carta de Martinez, datada de 17 de abril de 1772: “Após ter examinado e reexaminado os candidatos Saint-Martin e Seres, por nossa votação ordinária e em conseqüência das ordens que recebemos, nós os ordenamos Réaux-Croix…”(11)

Em 1773, finalmente, Saint-Martin conheceu Willermoz, em Lyon, após terem trocado correspondência durante cinco anos. Seu círculo de amizade limitava-se aos irmãos da Ordem: Grainville, Balzac, Hauterive, Bacon de la Chevalerie, o Abade Fournier e Willermoz. Permaneceu um ano em Lyon, seguindo para sua cidade natal e, posteriormente, para Paris. Em abril de 1785, Willermoz obteve sucesso com suas operações: a “Coisa ativa e inteligente” finalmente mostrou-se aos homens.

Saint-Martin, sabendo da notícia, partiu de Paris em junho do mesmo ano, com destino a Lyon, levando consigo uma bíblia em hebraico e um dicionário, para entreter-se na viagem. Ficou seis meses em Lyon, partindo mais tarde para Nápoles e Londres, onde tomou conhecimento das publicações de Willian Law, morto em 1761, e que pertencia à tradição de Jacob Böehme.

“Seríamos excessivamente prolixos se procurássemos seguir as pegadas do nosso Filósofo Desconhecido, ao longo de sua jornada terrena, onde a cada passo, não obstante, encontraríamos o exemplo dignificante e o traço indelével da imensa esteira de luz que marcou sua trajetória neste mundo. Difícil ainda seria penetrarmos na profundeza do seu pensamento, da sua filosofia, da sua doutrina de elevação e regeneração do homem na busca da iluminação e da paz…”(12)

Foi inicialmente de Lyon que o Filósofo Desconhecido procurou irradiar a luz, após a partida de Martinez para o Oriente Eterno. A direção da Ordem dos Elus Cohen não ficou com Saint-Martin nem com Willermoz, mas nas mãos de pessoas menos preparadas para levar adiante um sistema que ainda necessitava de aperfeiçoamento. Coube a Saint-Martin e a Willermoz a resignação de continuarem ocultamente a pesquisa da Verdade por suas próprias forças. O “Agente Incógnito” teria ditado inúmeras instruções e partes de um livro que Louis Claude de Saint-Martin publicou, destinado a lutar contra o materialismo vigente na época. (13)

Talvez por esse motivo Saint-Martin tenha iniciado uma série de viagens, verdadeiros apostolados, para realizar propaganda das idéias espiritualistas, recolher dados e informações iniciáticas e entrar em contato com discípulos e homens de ciência. Em todos esses contatos sempre conquistava novas amizades e discípulos para continuarem sua obra. Saint-Martin tinha uma conversa muito agradável, uma vez que seu verbo não fazia senão expressar sua paz interior, seus conhecimentos e a nobreza de sua alma.

Os salões mais aristocráticos de Paris disputavam sua presença. Essas qualidades eram agradáveis às mulheres, que não hesitavam em convidá-lo para as festas, pensando em casar suas filhas. Mas o Filósofo Desconhecido quis dedicar-se integralmente à sua obra de divulgação do Espírito. Em 1778, em Toulouse, esteve prestes a se casar; contudo, esse projeto desvaneceu-se como todos os demais a esse respeito. Afirmava sentir uma voz no seu interior que lhe dizia ser ele originário de um lugar onde não existem mulheres.

Agente Incógnito desapareceu de cena em 1788, época em que Saint-Martin retornou à Lyon, mas reapareceu em 1790 para destruir uma série de cadernos de instruções por ele próprio ditados: “Eu devolvi ao Agente“, conta-nos Willermoz, “a seu pedido, mais de 80 cadernos manuscritos inéditos, que destruiu.”

Com a morte de Pasqually, ocorrida em 1774 em São Domingos, o centro oculto da iniciação Cohen passou a Lyon e foi lá, como contam seus biógrafos, “que o Filósofo Desconhecido, armado com a Sabedoria Divina, passou a fazer oposição à doutrina materialista dos Enciclopedistas. Combatendo o materialismo revolucionário e sua doutrina errônea inserida em uma pretensa filosofia da natureza e da história, Saint-Martin chamou o homem de volta à Verdade, fundamentando-se no princípio do conhecimento de si mesmo e na natureza do ser inteligente”.(14)

Saint-Martin, entretanto, nunca ficou muito ligado ao rigor das instituições iniciáticas, mas, em razão da problemática da época, em pleno desenvolvimento da Revolução Francesa, procurou, para a salvaguarda das suas próprias doutrinas e das tradições de que então já era depositário, unir-se a grupos ou formar grupos cujos membros desejassem, sinceramente, dedicar-se ao culto da Verdade e à prática das Virtudes. Estudava, paralelamente, as doutrinas de Pasqually e de Swedenborg, as primeiras mostrando-lhe a ciência do Espírito e as segundas a ciência da Alma.

“A Revolução, em todas as suas fases, encontrou Saint-Martin sempre o mesmo, dedicado a seu objetivo. Por princípio, esteve acima das considerações de nascimento e opiniões, por isso não emigrou; enquanto se mantinha ao seu redor todo o horror das desordens e dos excessos, acreditou sempre que o bem podia surgir do terrível advento da Revolução Francesa, pela intermediação da Divina Providência; pensou ver um grande instrumento temporal no homem que se levantou para suprimir seus excessos.

“Foi em 1793, quando a família e a sociedade dissolviam-se, que vendeu as suas últimas posses para manter e cuidar de seu pai, velho e paralítico. Na mesma época, não obstante os estreitos limites a que ficou reduzida a sua fortuna, contribuiu para as necessidades públicas de sua comunidade. Retornando à capital, foi atingido pelo decreto de expulsão dos nobres. Saint-Martin submeteu-se e deixou Paris.(15)

Durante o terror revolucionário, era necessária muita prudência, mesmo para os assuntos iniciáticos. Saint-Martin recebeu um mandado de prisão, embora vivesse mergulhado nos estudos e na meditação, sem nunca ter feito política. Não subiu ao cadafalso porque Robespierre caiu em seguida. Havia a proteção do Alto, que o guiava na terra, obscurecida pela agitação dos homens.

“Uma corrente de prestígios inundou a inteligência humana em geral, e a dos parisienses em particular, porque a cidade, que comporta sábios e doutores de toda espécie, possui poucos que orientam seu pensamento na direção dos conhecimentos verdadeiros, e há menos ainda que buscam esses conhecimentos com um espírito reto. A maior parte deles não fazem mais que dissecar as cascas da Natureza, medir, pesar e enumerar todas as suas moléculas. Eles tentam, insensatos, a conquista de tudo que se encontra em composição no Universo, como se isso lhes fosse possível. Esses sábios, tão célebres e tão ruidosos, não sabem que o Universo (ou o Templo) é a imagem reduzida da indivisível e universal eternidade; eles podem contemplar e admirar, pelo espetáculo de suas propriedades e de suas maravilhas, … mas jamais poderão conquistar o segredo de sua existência.”(16)

Saint-Martin, para cumprir seu dever cívico, serviu na Guarda Nacional e, em Amboise, foi escolhido para ser um dos instrutores da Escola Normal Superior, que formava jovens professores; tomou parte em 1795 da primeira Assembléia Eleitoral, sem contudo tornar-se membro efetivo de qualquer corpo legislativo. O que buscava era o Conhecimento e a difusão de suas doutrinas. Jamais fez proselitismo e procurava ter por discípulos amigos fiéis da Verdade. Quem visse seu jeito humilde jamais poderia suspeitar de sua elevada espiritualidade. Sua docilidade para com o tratamento, sua serenidade, manifestava no entanto o sábio, O Novo Homem formado pela filosofia profunda do aperfeiçoamento moral e espiritual. A luz que irradiava de seu centro fazia justiça à sua condição de Homem-Espírito, o grande sol da transição ao século XIX.

Foi em 1788, em Estrasburgo, que Saint-Martin tomou conhecimento das obras de Jacob Böehme, o Teósofo Teutônico, através de Rodolphe de Salzmann. Surpreso, constatou que essa doutrina combinava com a de seu antigo mestre Martinez de Pasqually, sendo idênticas em essência.. Coube a ele a tarefa de fazer o feliz casamento das duas correntes doutrinárias, elaborando um sistema sintático, capaz de satisfazer seus anseios e colocar à disposição de todos os Homens de Desejo um caminho seguro para chegar à Iluminação.

A síntese iniciática foi obtida em poucos anos de trabalho pelo nosso Filósofo Desconhecido, secundado que foi por seu colega Jean Baptiste Willermoz. Necessitava, entretanto, de uma transmissão iniciática da corrente de Böehme para associar à sua, advinha de Pasqually. Essa corrente alemã de Jacob Böehme foi obtida ao ser iniciada pelo Barão de Salzmann, em Estrasburgo, e confirmada na linha mais antiga dos Templários, ao associar-se com a Estrita Observância Templária, do Barão de Hund.

Willermoz foi o encarregado, em Lyon, de organizar o sistema maçônico do Rito Escocês Retificado, fruto do Convento de Wilhelmsbad de 1782. Coube a Saint-Martin a chefia e a realização de iniciações individuais da Ordem Interior dos Filósofos Desconhecidos. Vários alemães foram iniciados no novo sistema (muitos dos quais já eram discípulos de Martinez de Pasqually), ingressando na iniciação real que conduz à Iluminação e à Reintegração a partir deste mundo na Unidade Divina.

Saint-Martin considerava as obras de Jacob Böehme de uma profundidade e de um valor inestimáveis e não se achava digno nem de desatar as sandálias de Jacob Böehme; entendia que seria necessário que o homem se tivesse tornado pedra ou demônio para não tirar proveito de tais obras. (17)

Foi assim que passou a estudar o alemão, com quase 50 anos de idade, para melhor penetrar no sentido oculto e no pensamento do autor. Procurou traduzir para o francês as principais obras do Mestre. A partir de então, sempre que se referia a Jacob Böehme dizia que o Iluminado teutônico foi a maior luz que veio a este mundo depois daquele que era a própria Luz, isto é, o Cristo.

Após ter percorrido parte da Europa, estabeleceu seu apostolado em Toulouse, Versailles e Lyon, sempre lançando a semente espiritual em uma terra que se tornou fecunda, recolhendo ele próprio as doutrinas mais apropriadas para o seu espírito e seu sistema. Mais tarde, centralizou sua ação em três cidades: Estrasburgo, Amboise e Paris, que eram, como confessou, seu paraíso, seu inferno e seu purgatório. Fora dessas cidades possuía membros correspondentes de sua sociedade, como o Barão de Kircheberger, que não chegou a conhecer, mas a quem enviou um emissário, o Conde Divonne, para certamente lhe transmitir a iniciação. Kircheberger era grande admirador das obras de Saint-Martin; pertencia à Escola de Böehme, da qual tomaram parte igualmente Khunrath e Gichtel.

Kircheberger escreveu a Saint-Martin que, segundo uma lenda corrente em sua Escola, a Virgem Celeste, a Divina Sofia, nos dias das núpcias compareceu com seu corpo celeste de Glória e escolheu Gichtel, vindo à sua casa, colocando em ordem seus papéis e completando com seu próprio punho os manuscritos por ele deixados inacabados. Em vida teria igualmente recebido favores de sua esposa celeste, pois como general venceu o exército de Luiz XIV, que pretendia conquistar Amsterdã, cidade onde o adepto residia. Durante toda a batalha, o general não teria saído do quarto.(18)

Não somente Saint-Martin acreditava no relato de Kircheberger, como lhe pedia maiores detalhes sobre Gichtel. “Se estivéssemos um perto do outro, escreveu-lhe Saint-Martin, eu também teria uma história de casamento para vos contar. Os mesmos passos foram dados por mim, mas de um modo um pouco diferente, embora chegando aos mesmos resultados. Creio, com efeito, ter conhecido a esposa de Gichtel…, mas não de modo tão particular como ele. Eis o que me aconteceu por ocasião do casamento de que falei: eu estava orando… e me foi dito intelectualmente, mas de modo muito claro, o seguinte: Depois que o Verbo é feito carne, nenhuma carne deve dispor dela própria sem que Ele o permita. Essas palavras penetram profundamente em meu ser; ainda que não tenham significado uma proibição formal, recusei-me a toda negociação posterior.”(19)

Acredita-se que a chave da iniciação está no desejo do homem de purificar-se, de evoluir e de atingir a iluminação. Essa evolução é necessária para remediar a degradação a que o homem se submeteu após a Queda Original. Antes, o homem podia obrar em conformidade com a Vontade do Pai, sendo dessa maneira poderoso, mas após ter se revestido de um envoltório material, suas capacidades espirituais atrofiaram-se e a Vontade e a pureza de outrora aniquilaram-se. Foi na cidade de Estrasburgo que Saint-Martin deu a um discípulo a chave de O Homem de desejo, que, por extensão, serve para a própria Iniciação:

A Chave do Homem de Desejo.

Avant qu’Adam mangeât la pomme,
Sans effort nous pouviouns oeuvrer.
Depouis, L’oeuvre ne se consomme.
Qu’au edu pur d’un ardent supir;
La Clef de l’Homme de Désir
Doit naître du désir de l’homme.

Isto é, antes de Adão ter comido a maçã, o homem podia realizar sua obra sem esforço; depois, a obra não se concretiza a não ser com a ajuda do fogo puro, emanado de um ardente suspiro, advindo do grande esforço individual. Assim, a chave do Homem de Desejo deve nascer do desejo do homem.

Seu livro O Homem de Desejo, publicado pela primeira vez em 1790, são litânias no estilo do salmista, nas quais a alma humana evolui para o seu primeiro estágio, num caminho que o Espírito pode ajudá-la a percorrer.

Saint-Martin escreveu este livro por sugestão do filósofo religioso Thiaman, durante suas viagens a Estrasburgo e a Londres. Lavater, então clérico em Zurique, elogiou essa obra como um dos livros que mais tinha gostado, embora reconhecesse não ter tido condições de penetrar nas bases da doutrina exposta. Kircheberger, mais familiar aos princípios do livro, considerou-o como o mais rico em pensamentos iluminados. O próprio Saint-Martin concordou que nesse livro encontram-se os germes do conhecimento que ignorava até a leitura das obras de Jacob Böehme.

O objetivo de seu livro O Homem de Desejo é mostrar que o homem deve confiar na Regeneração, chamando sua atenção para a necessidade de retorno ao Mundo Divino de onde saiu e ao trabalho que deverá realizar para alcançar esse objetivo, isto é, concentrando suas forças pelo desejo ardente de aperfeiçoar-se e tornar-se um homem de vontade forte.

“Não há nenhum outro mistério para se chegar a essa sagrada iniciação, senão penetrando cada vez mais no fundo de nosso ser e não esmorecendo até que possamos produzir a viva e edificante raiz; porque, então, todos os frutos que haveremos de gerar, conforme nossa espécie, serão produzidos dentro de nós e sem nós, naturalmente; é o que ocorre com nossas árvores terrestres, porque elas aderem às próprias raízes e, incessantemente, retiram sua seiva.”(20)

Compreende-se, assim, que o ensinamento deixado por Saint-Martin, e que veio de Martinez de Pasqually e de Jacob Böehme, era muito profundo e de natureza divina. Constitui-se uma Escola de Homens de Desejo, ávidos por adquirirem conhecimentos, uma elite do pensamento, embaçada em um sistema filosófico iniciático, tendo como objetivo o desenvolvimento moral e espiritual do homem. Não é uma Escola de especulação abstrata, mas um centro onde os membros procuram conhecer a doutrina e a experiência dos mestres e onde procuram vivê-la na vida diária, para atingir a perfeição interior, através de um processo de autotransformação.

Os grupos de homens livres eram formados por um pequeno número de pessoas inteligentes e de mente sã, escrupulosamente examinadas, Saint-Martin dizia que as grandes verdades só podem ser bem ensinadas no silêncio. Todos aqueles que não sabem calar, que falam mais do que observam, não podem ser recebidos na senda interior. Saber guardar o silêncio é condição indispensável para que o homem se torne digno de receber outros ensinamentos cada vez mais profundos, emanados não apenas de seu iniciador, como do próprio Mundo Invisível. Para isso, necessitamos de treinamento, que se efetua guardando-se o silêncio em relação às pequenas coisas, mesmo profanas. Qualquer sociedade iniciática não pode ser aberta, pois assim perderia a força que porventura tivesse recebido do Alto. Guardar o silêncio significa fechar-se às influências exteriores, às opiniões contrárias que só trazem ações conflitantes. Fechar-se em torno de si mesmo é magnetizar-se; é evitar que as próprias forças divinas se dispersem na Natureza, passando por nós. É criar um pólo de atração; é tornar-se um receptáculo das influências celestes; é tornar-se a taça que recebe o influxo divino.

A Iniciação é um processo interior de aperfeiçoamento do homem, tornando-o apto a receber as forças divinas. O homem é a soma de todos os problemas da existência; é a síntese, o enigma dos enigmas, a pedra bruta que deve ser talhada e aperfeiçoada. Esse desenvolvimento deve ocorrer de tal modo que o ser criado se religue ao Criador, através da aproximação da natureza impura com a natureza pura. Por isso, a primeira deve ser trabalhada até ficar quase no mesmo estado da segunda; somente depois haverá uma atração tal, que a Natureza Superior descerá até a inferior, purificando-a em definitivo e deixando-a conforme ela mesma: é a Iluminação do Iniciado.

Aquele que possuir o conhecimento de si mesmo terá acesso à ciência do mundo, dos demais seres. O conhecimento de si próprio é somente em si que deve buscar. É no espírito do homem que se devem encontrar as leis que dirigem sua origem. É preciso, pois, que o iniciado encontre seu centro iniciático, a divindade em si, para adquirir o pleno conhecimento de si mesmo. É necessário conhecer suas fraquezas para melhor dominá-las e não voltar a praticar os mesmos erros. Jesus Cristo dizia aos homens para não pecarem mais menos, até o dia em que, tendo encontrado seu equilíbrio iniciático, possam chegar a não pecar mais. Sua luta deve ser constante, contra as paixões, suas contrariedades internas e a ira. A docilidade representa a presença de Deus no centro iniciático; a ira representa a sua ausência.

“O homem não pode ser integralmente livre da ira e do pecado porque os movimentos do abismo deste mundo tampouco são totalmente puros ante o coração de Deus; o amor e a ira sempre lutam entre si.”(21)

A doutrina de Saint-Martin difundiu-se na Alemanha e na Rússia, através de seus discípulos. Na Rússia, a doutrina martinista encontrou um grande divulgador em Joseph de Maistre, que afirmava a existência de Deus no interior de cada indivíduo e, por conseguinte, que o segredo de toda a iniciação consistia em descobrir o centro iniciático próprio, a senda interior, a fim de proceder ao próprio desenvolvimento espiritual. Assim, a iniciação é uma senda real, interior, individual, e não se encontra no exterior, nas sociedades ou no Enciclopedismo.

Em 1803, o Filósofo Desconhecido dava seus últimos passos em direção à Eternidade, pois sua saúde mostrava-se débil. Mas não se afligiu com essa perspectiva; ao contrário, dizia que a Providência sempre lhe havia dispensado muito cuidado, de modo que só poderia render-lhe graças.

Conta-nos Gence que certa vez, visitando um amigo comum, Saint-Martin confessou-lhe que estava partindo para o Oriente Eterno e no dia seguinte, visitando seu amigo o Conde Lenoir la Roche, em Aulnay, após leve refeição, retirou-se para o quarto; sofreu um ataque de apoplexia e partiu. Era o dia 13 de outubro de 1803. Foi então que seus discípulos e amigos perderam a convivência física com o Mestre, mas ganharam a eterna e permanente proteção espiritual que nos envia do Reino da Glória, através dos Mundos Invisíveis.

Hoje, a obra de Louis Claude de Saint-Martin continua através dos Grupos de Iniciados que seguem sua doutrina. A Conquista da Iluminação é o objetivo último de todos os Homens de Desejo, que encontram nas obras do Mestre e no seu exemplo, como Homem e como Iniciado, o respaldo necessário para prosseguir na senda sem desânimo.

Que cada um possa transformar-se em um Novo Homem, renascido pela Luz, que resplandece na alma de todos, e que engendrará, no futuro, o Homem-Espírito, o novo Sol que acalentará os corações de todos com seu procedimento e com sua serenidade.

OBRAS DE LOUIS CLAUDE DE SAINT-MARTIN

1-) Des Erreurs et de la Vérité, ou les Hommes Rappelés au Principe Universel de la Science. Edimbourg, 1775, 2 vol.

2-) Suite des Erreurs et de la Vérité. A Salomonopolis, Androphile, 1784.

3-) Tableau Naturel des Rapports qui Existent entre Dieu, l’Homme et l’Univers. Édimbourg. 1782.

4-) L’Homme de Désir. Lyon, 1790.

5-) Ecce Homo. Paris, Cercle Social, 1792.

6-) Le Nouvel Homme. Paris, Cercle Social, 1792.

7-) Letre à un Ami, ou Considérations Philosophiques et Religieuses sur la Révolution Française. Paris, Louvet, Palais, Égalité, 1796.

😎 Éclair sur l’Association Humaine. Paris, Marais, 1797.

9-) Le Crocodille ou la Guerre du Bien et du Mal, Arrivée sous le Règne de Louis XV. Paris, Cercle Social, 1798.

10-) Réflexiones d’un Observateur sur la Question Proposée por l’Institut: “Quelles sont les Institutions les plus Propres à Fonder la Morale d’un Peuple?. Paris, 1798.

11-) De l’Influence des Signes sur la Pensée (inserido incialmente no Crocodile). Paris, 1799.

12-) L’Esprit des Choses ou Coup d’Deil Philosophique sur la Nature des Étres et sur l’Objet de leur Existence. Paris, 1800, 2 vol.

13-) Le Ministère de l’Homme-Esprit. Paris, 1802.

14-) Oeuvres Posthumes de Saint-Martin. Tours, 1807, 2vol.

15-) Traité des Nombres. S/1, M. Léon, 1844.

16-) Correspondence de Saint-Martin avec Kircheberger, Baron de Liebisdorf, des annèes 1792 a 1799, S. n. t.

TRADUÇÕES DAS OBRAS DE JACOB BÖEHME

17-) L’Aurore Naissante ou la Racine de la Philosophie, de l’Astrologie et de la Théologie. Paris, 1800.

18-)Des Trois Principes de l’Essence Divine ou de l’Eternel Engendrement sans Origine de l’Homme, d’où il a été Crée et pour quelle Fin. Paris, 1802, 2 vol.

19-)Quarente Questions sur l’Origine, l’Essence, l’Etre, la Nature et la Propriété de l’Âme, suivies des “Six Poit”. Paris, 1807.

20-) De la Triple Vie de l’Homme selon de Mystère des Trois Principes de la Manifestation Divine. Paris, 1809.

NOTAS

1- SAINT-MARTIN, L. C. Oeuvres Posthumes; Portrait Historique et Phisosophique de Saint-Martin fait par lui-même, p. 58-59.

2- Id., t.1, p.5.

3- Id., t.1, p.78-9.

4- J. B. M. Gence foi discípulo de Saint-Martin e com ele conviveu longos anos: seu relato encontra-se no prefácio de Teosophic Correspondence between L. C. de Saint-Martin and Kircheberger, Baron de Liebistorf, P. V.

5- Id., p. VI.

6- PAPUS. L’Illuminismo en France, 1771-1803: Louis-Claude de Saint-Martin, as Vie, as Voie Theurgique, ses Oeuvrages, son Oeuvre, ses Disciples, suivi de la Publicatino de 50 Letters Inédites, p. 109.

7- MATER, M. Saint-Martin, le Philosophe Inconnu. Ed. d’Aujourd’hui, p. 20.

8- SAINT-MARTIN, L. C. Theosophic Correspondense, op. Cit. Carta XCII.

9- Id. Carta IV.

10- PAPUS. Louis Claude de S. Martin. 1902.

11- Id., p. 12.

12- Comentário deixado por Ary Ilha Xavier, profundo conhecedor das obras de Saint-Martin.

13- Des Erreurs et de la Vérité. Edimbourg, 1775, 2v.

14- Gence. Op. Cit., p. IV.

15- Id., p. VII.

16- SAINT-MARTIN, L.C. Le Crocodile, Canto XV, p.53.

17- SAINT-MARTIN, L.C. Mont Portrait. Op. Cit., p. 42.

18- SAINT-MARTIN, L.C. Theosophic Correspondence. Op. Cit. Carta LVIII.

19- SAINT-MARTIN, L.C. Theosophic Correspondence Op. Cit. Carta LXII.

20- SAINT-MARTIN, L.C. Theosophic Correspondence. Carta número CX.

21- BÖEHME, J. Confesiones, p. 44.

Original foi retirado do site da Sociedade das Ciências Antigas.

1743 – 1803

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/biografias/louis-claude-de-saint-martin/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/biografias/louis-claude-de-saint-martin/

‘A Prática da Evocação Mágica

Franz Bardon

Este é o segundo livro escrito por Franz Bardon. Em termos mágicos aqui ele oferece um guia prático para a comunicação com entidades elementais, espirituais e divinas. É possivelmente um dos mais completos estudos sobre evocação jamais escrito e uma das poucas maneiras de se contatar o que Bardon chamou de mestres universais.

Não apenas isso, mas o Guia de Evocação Mágica abre a porta para um fascinante universo espiritual e tudo aquilo que o adepto se preparou em sua jornada anterior na  Iniciação ao Hermetismo.

Índice

Preparações para a Evocação

O Processo da Evocação

As Entidades

Postagem original feita no https://mortesubita.net/alta-magia/pratica-da-evocacao-magica/

’23 Livros Essenciais sobre Magia

 

Imagine uma universidade de magia. Não um curso de uma ou duas semanas, nem uma ordem iniciática com segredos ocultos, mas um estudo profundo de introdução, guia, iniciação e aprofundamento para os interessados em todo e qualquer aspectos importantes da antiga arte. Esta universidade faria os fãs de Harry Potter ficarem com inveja, infelizmente tal instituição não existe. Mas se você estava procurando um caminho para as artes arcanas, não poderia ter tido um sorte maior. Nesta série de artigos, caso você seja diligente, encontrará todas as indicações que precisa para o estudo sem igual da prática mágica.

Conta a tradição que para salvar o conhecimento oculto do colapso de sua civilização os magos do Antigo Egito guardaram toda sua sabedoria nas cartas do Tarot. Seu império terminou mas seu ensinamentos continuaram e se desenvolveram numa vasta gama de práticas e teorias chamada hoje, pelos adeptos, de Magia.

Agora, imagine que você se encontra na mesma situação que os sacerdotes egípcios: você recebeu a notícia de que a civilização como a conhecemos será extinta e tem a tarefa de salvar todo o conhecimento mágico que foi acumulado até hoje. Mas para isso você terá que escolher apenas 10 livros. Esse é o desafio que foi proposto pela iniciativa Morte Súbita Inc. a 150 ocultistas brasileiros e estrangeiros, todos eles magistas praticantes de notório saber. Cada um poderia recomendar apenas uma lista com 10 livros que considerassem essenciais. Além disso foram reconstruídas as listas de recomendação de grandes ocultistas históricos como Papus, Eliphas Levi, Aleister Crowley afim de identificar em suas obras e cartas quais livros eles sugeriam aos seus iniciados.

Como foi criada a lista

Os livros foram então colocados em uma lista e organizados em ordem de mais recomendados. Assim conseguimos uma lista preciosa de aproximadamente 120 livros, já que vários apareceram em mais de uma lista. Destes apenas os 23 mais votados foram selecionados, conforme os filtros que relataremos a seguir. É importante notar que nenhum dos entrevistados teve qualquer tipo de contato uns com os outros.

A navalha foi dolorosa, muitos livros extremamente bons ficaram de fora, de modo que o estudante acima da média deve lembrar que esta lista é apenas o início de sua jornada e não o fim do conhecimento. Para tornar esta uma lista definitiva, ela foi submetida a um processo quase alquímico de purificação.

Em primeiro lugar, foram retiradas da lista todas as obras de cunho estritamente religioso. Sabemos que, historicamente, religião e magia são inseparáveis e que, em sua maioria, os livros sagrados trazem embutidas as principais chaves mágicas. Entretanto nosso objetivo é conseguir obras práticas, que tratem de magia de forma direta ao invés de reunir sabedoria desta ou daquela tradição. Assim ficaram de fora o I-Ching, Aforismos de Patañjali, O Livro Tibetano dos Mortos, os Vedas, os Upanishad, o  Tao Te King, O Torah, os Evangelhos, o Principia Discordia e o Liber al vel legis, apenas para citar alguns, embora todos eles tenham tido uma votação expressiva. Quando uma excessão é feita a essa regra, ela é claramente justificada na resenha.

A segunda navalha eliminou, da mesma forma, obras da literatura mundial que não fossem explicitamente sobre magia prática. Ou seja, embora possamos encontrar as principais chaves da magia em ‘O Coelho de Pelúcia’ de Margery Williams, significados cabalísticos em Alice no País das Maravilhas, os princípios do caos na trilogia Illuminatus, o paganismo xamânico nas obras de Castañeda e assuntos esotéricos no romance Zanoni, estes foram eliminados por serem muito simbólicos ou muito barrocos para nossos propósitos práticos. Ficaram de fora portanto livros importantes como O Asno de Ouro, Drácula, As Mil e uma Noites, entre outros.

O terceiro refinamento foi a retirada de obras que não lidam diretamente com magia, mas que abordam temas que todo ocultista deveria dominar. Muitos entrevistados foram enfáticos em afirmar que o magista deve ser um profundo conhecedor de filosofia, mitologia, psicologia, simbologia, história, química, física e biologia. Ficaram de fora assim manuais técnicos destas áreas assim como obras primas de Carl Gustav Jung, Joseph Campbell, Maquiavel, Sun Tzu e outros autores.

Por fim a lista passou por um processo de condensação. Isso quer dizer que se um livro pode ser encontrado em outro livro maior o voto de ambos é acumulado no segundo. Por exemplo, os votos para Anathema of Zos e The Book of Pleasure foram acumulados com os votos para uma coletânea bastante completa das obras de Austin Osman Spare. Isso foi feito para que o resultado final fosse sólido e consistente e para que essa reduzida lista de livros fosse o mais rica possível.

É claro que nenhuma dessas restrições foi feita aos participantes consultados, vários livros destes surgiram em mais de uma lista, não queríamos que ninguém fosse limitado ou manipulado por regras na hora de formar a própria lista. Entretanto esses cortes foram necessários para o bem de uma lista precisa e específica sobre a prática mágica.  Em um mundo onde a alienação é causada pelo excesso de informação um filtro desses é valiosíssimo para separarmos as bobagens dos estudos sérios e assim extrairmos ouro do chumbo.

Como usar esta lista

 

Os responsáveis pela construção da lista de 23 livros essenciais de magia foram, por mais de uma vez, tentados a  propor uma ordem didática para os interessados em estudarem estas obras, ou ao menos um guia para que cada um siga, se decidir começar a investir na compra destes livros. Este trabalho, por mais bem intencionado que fosse acabaria se tornando em si só uma obra provavelmente maior do que todas estas combinadas e terminaria por não ajudar em nada, mas ao contrário, apenas causaria mais confusão na mente do buscador.

Por isso acontece?

Nosso objetivo ao criar esta lista foi o de agrupar as obras essenciais da magia, e não desenvolver um curso, propriamente dito. Com os livros desta lista você com certeza encontrará todo o conhecimento e toda a prática necessária para se tornar um mago ou ocultista de respeito e muito poder, mas isso não significa que as obras se complementem ou ofereçam um grau de desenvolvimento que possa ser suprido pela leitura e estudo de outra.

Os 23 livros desta lista lidam com Thelema, Magia do Caos, Cabala, Hermeticismo, etc. Uma hora falamos de Satanismo e em seguida falamos de magia judaico-cristã. Algumas obras trazem em si um guia de estudos próprio com começo, meio e fim, enquanto outras servem de catalizador para o melhor aproveitamento das experimentações práticas. Alguns são grimórios antigos consagrados pela tradição, outros são anotações pessoais mal organizadas mas de profunda importância histórica.

Outro motivo de nos recursarmos a oferecer uma ordem de leitura é que a Magia, assim como a Ciência e a Arte, tende a ficar mais poderosa na proporção do conhecimento de quem a pratica. Um físico só tem a ganhar ao se estudar matemática e química, mas não é necessário que estude matemática antes da química ou que a química venha em primeiro lugar.

Desta forma cada estudante acaba seguindo os caminhos com os quais tem maior empatia, num primeiro momento, e depois é que se enveredam por aqueles que despertam sua curiosidade. O leitor que deseje ultrapassar a simples curiosidade também irá notar que algumas obras trazem em si um sistema de estudo completo que deve ser praticado por pelo menos um ano. Outros livros trazem uma arte que leva uma ou duas décadas para ser aperfeiçoada e praticada com maestria. Assim o estudo de cada obra vai depender do compromisso do estudante com o material.

A ordem em que as obras serão expostas aqui é a ordem em que foram votadas pelos participantes da pesquisa. Em contagem regressiva iremos expor as que receberam menos votos e rumar à mais votada. Agora tenha em mente que isso diz respeito à importância que nossos magos deram aos livros, não à ordem que devem ser lidos. Uma obra que recebeu 125 votos não é mais importante ou mais poderosa do que uma que recebeu apenas 76 e por isso deva ser estudada em primeiro lugar, uma melhor posição na lista simplesmente mostra que mais magos que estudaram este livro acreditam que ele é tão importante quanto ao outros 9 que escolheram para a sua lista final, que foi feita sem apresentar qualquer ordem de importância.

Assim o que recomendamos é: compre todos os livros assim que puder, mas saiba que alguns deles estão atualmente esgotados na livrarias e precisam ser negociados de segundas mãos, outros só existem em sua língua original, mas sempre que possível indicamos aqui a versão lançada no Brasil. Leia o resumo que oferecemos de todas as obras vendo qual caminho te agrada mais e comece por ele a se desenvolver. Use também esta lista para completar sua biblioteca. Caso você já seja um estudante sério é bem provável que já tenha algumas dessas obras mas não todas. Como vivemos em uma realidade onde dinheiro não nasce em árvores a melhor dica é ler as resenhas que disponilibilizaremos a seguir e ir procurando as obras com que você se sinta mais à vontade ou aquelas que despertem mais a sua curiosidade.

Muitas delas estão disponíveis na internet em formato digital, algumas delas aqui mesmo no portal público Morte Súbita Inc. Sempre que este for o caso junto da resenha teremos um link para o livro digitalizado. A leitura digital é ótima para que você se familiarize com o texto, mas nada é mais valioso do que um livro impresso que você possa carregar com você para rituais ou momentos de estudo, que geralmente ocorrem em locais sem eletricidade ou que pedem uma concentração dificilmente conseguida na frente de um computador ligado.  Além disso, nunca se sabe quando pode explodir uma nova onda de censuras e inquisição ou quando a atual  civilização vai entrar em colapso e a única fonte de acesso a este material for o bom e velho papel. Isso já aconteceu antes. Mais de uma vez.

Essa preciosidade de conhecimento você confere aqui nessa listagem dos 23 livros essenciais para qualquer pessoa que deseja entender e praticar seriamente a Grande Arte. Esta portanto não é uma lista qualquer, mas um guia certeiro e hierarquizado do que você, caso tenha algum interesse real em mergulhar na forma mais pura de magia, precisa ler.

23 Livros Essenciais sobre Magia

23º lugar – 76 votos – Tratado Elementar de Magia Prática

22º lugar – 77 votos – Modern Magick

21º lugar – 79 votos – A Chave para a Verdadeira Cabala

20º lugar – 80 votos – A Golden Dawn

19º lugar – 84 votos – Autodefesa Psíquica

18º lugar – 85 votos – Liber Kaos

17º lugar – 86 votos – A Prática da Evocação Mágica

16º lugar – 87 votos – Livro de Thoth

15º lugar – 89 votos – A Cabala Mística

14º lugar – 94 votos – Renascer da Magia, as Bases Metafísicas da Magia Sexual

13º lugar – 97 votos – A Árvore da Vida

12º lugar – 98 votos – Magick Without Tears

11º lugar – 101 votos – A Magia Sagrada de Abramelim

10º lugar – 102 votos –  Sistemagia

9º lugar – 104 votos – A Bíblia Satânica

8º lugar – 105 votos  – Doutrina Secreta

7º lugar – 108 votos  – Dogma e Ritual da Alta Magia

6º lugar – 110 votos – Ethos (Essays on Magic), Austin Othsman Spare

5º lugar – 117 votos – Magia Prática: o caminho do Adepto

4º lugar – 119 votos – Liber Null & Psychonaut

3º lugar – 120 votos – Magick – Liber Aba

2º lugar – 123 votos – Filosofia Oculta

1º lugar – 125 votos –  As Clavículas de Salomão

Mas Ainda Não Acabou!!!

Durante os meses em que publicamos semanalmente os livros escolhidos, muitas pessoas ficaram curiosas sobre os livros deixados de fora. Alguns comentários perguntando quais seriam os outros e uma assombrosa avalanche de 220 mails perguntando, pedindo, implorando, um deles inclusive oferecendo sexo, para que nós publicássemos ou enviássemos em particular a listagem completa de todo o material que recebemos.

Em respeito a todos os psiconautas, webmagos, evangélicos entediados e amigos termos semana que vem, a FESTA DE ENCERRAMENTO da Corrida Maluca Morte Súbita Inc. com a publicação da lista completa de todos os livros que nos foram considerados na empreitada de tentar oferecer a todos vocês os livros essenciais da magia.

E, para a pessoas que ofereceu o próprio corpo para conseguir trapacear nossa corrida, tenham em mente que todo tipo de suborno é bem-vindo aqui na casa negra virtual, mesmo que não sejam aceitos. Mas para ficar mais interessante, futuramente envie fotos junto com a oferta.

E aos vencedores, as batatas: Todos os Outros Livros

 

 

 

[…] Sendo uma das personalidades mais importantes do ocultismo do século XIX, Helena Petrovna  Blavatsky foi fundamental na formação do movimento teosófico e na fundação da Sociedade Teosófica. Aqui no Morte Súbita sua obra ficou muito bem posicionada no nosso estudo dos 23 Livros Essenciais sobre Magia. […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/alta-magia/23-livros-essenciais-sobre-magia/