A Conspiração do Silêncio

Houston, Texas, USA, um jovem presidente é assassinado. Seu nome, JOHN F. KENNEDY. Até hoje os motivos verdadeiros deste crime não foram descobertos, mas segundo “A Fonte” a morte de Kennedy estaria intimamente relacionada à divulgação de um relatório secreto de codinome “Octopode”, no qual relata a existência de um governo oculto que governa o mundo, que dita a economia, controlando as bolsas de valores, dizendo quando vai ocorrer uma “alta” ou uma “baixa”, beneficiando um grupo econômico e derrubando outro.

Eles controlariam as notícias, como, por exemplo, no caso Rosewell, em 1947, sobre a queda de um OVNI nos Estados Unidos, e no caso do ET de Varginha. Neste último, “A Fonte” afirma que o que foi noticiado não passou de uma cortina de fumaça para ocultar um evento de maior proporção que ocorreu, e que era necessário tempo para descaracterizar o local, ocultar provas e desanimar pessoas a testemunhar sobre o fato, desviando a atenção de alguns curiosos, que se autodenominam ufólogos, da área real de evento. Afirma-se que onde realmente ocorreu um acidente em uma área próxima a um centro populacional foi na cidade de Neola, no estado do Kansas, EUA, em 1º Abril de 1948, onde a queda de uma nave alielígena foi vista por um grande número de testemunhas, mas o “governo” negou o ocorrido e “abafou” a notícia. Após ridicularizar e desacreditar o fato e aqueles que o pesquisam; é mais fácil trabalhar sem perigo de exposição. Quer uma prova? Qual foi a emissora que noticiou o evento de Varginha com exclusividade?

Atualmente, esta Agência não-oficial estaria envolvida em um projeto conhecido como PROMETEU, em alusão à mitologia grega onde o Fogo Do Conhecimento é roubado do céu e levado à humanidade, que teria como finalidade pesquisar e extrair o máximo de informações de qualquer evento alienígena.

Esta Agência Secreta não só controla os eventos relacionados aos OVNIS, mas também a todo tipo de pessoas que se interessam por um conhecimento que escapa ao “normal”, como o saber transmitido pelos chamados Livros Proibidos. A estas pessoas é feito o possível para desestimular a sua busca pela Verdade, desde que é uma estudante, quando o seu tipo de compreensão do mundo não se encaixa no contexto das crianças de sua idade. A televisão rádio, jornais, revistas e inclusive internet, são controladas, e são ingênuos os que pensam que os provedores manterão o sigilo de seus clientes, segundo a “A Fonte”.

E há o Projeto MAJESTIC-12, uma das prioridades dos Homens de Negro. Teoricamente, o nome deste projeto não é real, mas apenas uma pista falsa para acobertar a Operação PROMETEU. No entanto, vamos especular sobre o Magistic-12. O número doze seria o do número de membros que dirigem o projeto, mas sabe-se que existe um décimo-terceiro, conhecido na comunidade de inteligência como O AVALIADOR, que seria quem realmente dita as decisões – este, na denúncia apresentada na série de televisão Arquivo X, seria o personagem chamado O Canceroso. A missão principal do grupo seria esconder e destruir qualquer prova da existência de vida alielígena e da visita destes seres no passado da humanidade. Teoricamente, este grupo foi criado a partir de 1947, com uma prioridade e agenda de eventos acima e sem conhecimento do presidente dos Estados Unidos. Eles controlam a Área 51, uma base secreta dos Estados Unidos do tamanho do estado de Sergipe, que oficialmente não existe, e que provavelmente contém o Hangar 18, onde supõe-se está uma ou várias naves alielígenas. Segundo “A Fonte” existem três hipóteses sobre este Grupo de Trabalho Paralelo, que são as seguintes:

Primeira: Este grupo trabalha sem conhecimento e verba oficial, e com a intenção de cooperar com a integração destes seres em nosso mundo em troca de tecnologia e poder, no momento da chamada “Revelação”, que seria o momento de divulgar a presença “deles” em nossa sociedade há muito tempo. Os membros do grupo seriam os futuros representantes de nossa raça no intercâmbio de informações, sem necessidade de voto popular, sendo a indicação indireta a única escolha.

Segunda: Este grupo não possui apoio oficial, e a identidade e número de seus membros é ignorada, e “eles” na realidade não têm conhecimento da origem e intenções destes “visitantes”. Por essa razão seu trabalho é secreto, e tão logo consigam responder a estas questões o Líder do Grupo, entrará pela Sala Oval, da Casa Branca, se apresentará ao presidente e revelará todo o contexto de existência do Grupo.

Terceira : Este grupo trabalha com conhecimento e verba não oficial, sem o conhecimento do presidente dos EUA, e com a intenção de cooperar com a integração destes seres em nosso mundo em troca de tecnologia e poder, no momento da chamada “Revelação”, que seria o momento de divulgar a presença “deles” em nossa sociedade há muito tempo.

O que parece que ninguém sabe é que a Alemanha Nazista já possuia uma nave alielígena capturada antes dos americanos, pelas tropas SS, no Tibet em 1935. Por isso que os nazistas foram os primeiros ocidentais a documentar este “protetorado” da China, na época invadida pelo Japão, que viria a ser membro do Eixo Alemanha-Itália-Japão. Contam que esta foi uma das fontes de conhecimento superior que ajudaram, nas origens secretas do nazismo, a ter tanta tecnologia superior aos futuros aliados.

Ao contrário do que muitos pensam, muitas mensagens na Internet são falsas, principalmente as relacionadas ao Druidismo, Wicca e Ordens Secretas, e muitas são manipuladas por este Grupo de Trabalho. O conhecimento real é como ouro, não é encontrado na rua ou nas livrarias como best-sellers, mas sim no submundo das informações. Até hoje a verdade é maldita, é proibida, mas vale a pena arriscar. Vale porque sempre existirão aqueles que buscam a Verdade, são os que não apenas ouvem, mas escutam, não só vêem, mas enxergam. São por esses que os sinos dobram e a Liberdade é uma realidade concreta.

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/ufologia/a-conspiracao-do-silencio/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/ufologia/a-conspiracao-do-silencio/

A História Da Atlântida

Um Esboço Geográfico, Histórico e Etnológico

A amplitude do assunto que se nos apresenta será mais bem compreendida considerando-se a quantidade de informações que podem ser obtidas a respeito das várias nações que constituem nossa grande quinta raça ou raça árica.

Desde a época dos gregos e dos romanos tem-se escrito continuas obras* sobre os povos que, sucessivamente, ocuparam o palco da História. As instituições políticas, as crenças religiosas, os hábitos e costumes domésticos e sociais, tudo tem sido analisado e catalogado em inúmeras obras que, em muitas línguas, registram, para nosso benefício, a marcha do progresso.

Além do mais, é preciso lembrar que, da história dessa quinta raça, possuímos apenas um fragmento – o registro dos últimos descendentes da sub-raça céltica e das primeiras linhagens do nosso tronco teutônico.

Porém, as centenas de milhares de anos que decorreram desde a época em que os primeiros áricos deixaram sua terra natal, nas costas do mar asiático central, até a época dos gregos e dos romanos testemunharam a ascensão e queda de inúmeras civilizações. Da primeira sub-raça da nossa raça árica, que habitou a índia e colonizou o Egito em épocas pré-históricas, não sabemos praticamente nada, e o mesmo pode-se dizer dos povos caldeu, babilônico e assírio, que constituíram a segunda sub-raça – pois os fragmentos à nossa disposição, obtidos a partir de hieróglifos ou de inscrições cuneiformes, encontrados em tumbas egípcias e em placas babilônicas, decifrados recentemente, por certo não podem ser considerados como formadores da História. Os persas, que pertenceram à terceira sub-raça ou sub-raça iraniana, deixaram, é verdade, alguns poucos traços mais, mas das civilizações mais primitivas da quarta sub-raça, ou sub-raça céltica, não temos absolutamente nenhum registro. Somente com o surgimento dos últimos ramos deste tronco céltico, a saber, os povos grego e romano, é que chegamos aos períodos históricos.

A um período em branco do passado soma-se também um do futuro, pois das sete sub-raças necessárias para completar a história de uma grande raça-raiz, somente cinco, até agora, chegaram a existir. A nossa própria quinta sub-raça, ou sub-raça teutônica, já se desdobrou em muitas nações, mas ainda não completou seu curso, enquanto as sexta e sétima sub-raças, que se desenvolverão nos continentes da América do Norte e do Sul, terão milhares de anos de história a dar ao mundo.

Sintetizar, em poucas páginas, informações a respeito do progresso do mundo durante um período que, no mínimo, deve ter sido tão extenso quanto o acima referido é, por esse motivo, uma tentativa que, necessariamente, não pode ultrapassar os limites de um ligeiro esboço.

Um registro do progresso da Humanidade durante o período da quarta raça ou raça atlante deve abarcar a história de muitas nações, bem como registrar a ascensão e queda de muitas civilizações.

Além disso, durante o desenvolvimento da quarta raça, em mais de uma ocasião ocorreram catástrofes, numa escala que ainda não foi experimentada durante a existência da nossa atual quinta raça. A destruição da Atlântida foi motivada por uma série de catástrofés das mais variadas espécies, desde grandes cataclismos, onde territórios e populações inteiras pereceram, até os comparativamente insignificantes deslizamentos de terra, tais como os que ocorrem hoje em dia em nossas costas. Uma vez iniciada a destruição, pela primeira grande catástrofe, não houve mais intervalos entre os deslizamentos menores que, lenta porém incessantemente, continuaram a destruir o continente. Quatro grandes catástrofes sobressaem, em magnitude, a todas as outras. A primeira ocorreu durante o mioceno, cerca de 800.000 anos atrás. A segunda, de menor consequência, ocorreu há, aproximadamente, 200.000 anos. A terceira, há cerca de 80.000 anos, foi a mais descomunal e destruiu tudo o que restava do continente atlante, com exceção da ilha à qual Platão deu o nome de Posseidones e que, por sua vez, submergiu na quarta e última grande catástrofe, no ano de 9564 a.C.

As declarações dos mais antigos escritores e da pesquisa científica moderna igualmente confirmam a existência de um antigo continente, ocupando o local da Atlântida desaparecida.

Antes de passar ao exame do assunto em si, convém analisar rapidamente as fontes em geral reconhecidas por fornecerem dados corroborativos. Elas podem ser agrupadas nas cinco categorias seguintes:

Primeira Categoria

As provas das sondagens do fundo do mar. Segunda, a distribuição da fauna e da flora. Terceira, a similaridade de língua e do tipo etnológico. Quarta, a similaridade de crença, ritual e arquitetura religiosas. Quinta, os depoimentos dos antigos escritores, as tradições de raças primitivas e as antigas lendas a respeito do dilúvio.

Portanto, em primeiro lugar, temos as provas das sondagens do fundo do mar, que podem ser resumidas em poucas palavras. Graças principalmente às expedições das canhoneiras britânica e americana, a Challenger e a Dolphin (embora a Alemanha também tenha participado desta exploração científica), o fundo do Oceano Atlântico está agora totalmente mapeado, tendo-se constatado a existência de uma imensa cordilheira de grande altitude no médio Atlântico. Esta cordilheira estende-se para o sudoeste, mais ou menos a partir de 50°, latitude norte, em direção à costa da América do Sul; em seguida, para o sudeste, em direção à costa da África, mudando outra vez de direção, perto da ilha da Ascensão, seguindo então diretamente para o sul, rumo a Tristão da Cunha. A cordilheira ergue-se, de forma quase perpendicular, cerca de 2.743 m acima das profundezas do oceano, enquanto Açores, São Paulo, Ascensão e Tristão da Cunha formam os picos dessa terra que ainda continuam acima das águas. Para sondar as mais profundas regiões do Atlântico, foi necessário um prumo de 3.500 braças, ou seja, 6.400 m, mas as partes mais altas da cordilheira estão apenas a uns 200 m, ou pouco mais, abaixo da superfície.

As sondagens também demonstraram que a cordilheira está coberta de detritos vulcânicos, cujos vestígios foram encontrados de um lado a outro do oceano, até as costas americanas. Na verdade, o fato de que o fundo do oceano, particularmente perto dos Açores, foi palco de distúrbios vulcânicos numa escala gigantesca, e isso dentro de um período perfeitamente mensurável da era geológica, está conclusivamente provado pelas investigações realizadas durante as expedições acima citadas.

O sr. Starkie Gardner é da opinião que, durante o eoceno, as ilhas Britânicas faziam parte de uma imensa ilha ou continente, que estendia-se na direção do Atlântico, e “que uma grande extensão de terra existiu outrora onde hoje existe o mar, e que a Cornualha, as ilhas Scilly e Anglo-Normanda, a Irlanda e a Bretanha formam o que restou de seus cumes mais altos” (Pop. Sc. Review, julho de 1878).

Segunda Categoria

A comprovada existência, em continentes separados por vastos oceanos, de espécies idênticas ou similares de fauna e flora constitui o constante enigma dos biólogos e botânicos. Contudo, se existiu no passado uma ligação entre esses continentes, permitindo a natural migração desses animais e plantas, o enigma está decifrado. Atualmente, os fósseis de camelos são encontrados na índia, África, América do Sul e Kansas; no entanto, uma das hipóteses dos naturalistas, geralmente aceita, é a de que todas as espécies de animais e plantas originaram-se em apenas uma parte do globo e, deste centro, gradualmente invadiram as outras regiões. Sendo assim, como explicar a ocorrência desses fósseis, sem a existência de uma passagem por terra em alguma época remota? As descobertas nas camadas fósseis do Nebraska parecem também provar que o cavalo originou-se no hemisfério ocidental, pois essa é a única parte do mundo onde se tem descoberto fósseis demonstrativos das várias formas intermediárias, identificadas como precursoras do cavalo atual. Portanto, seria difícil explicar a presença do cavalo na Europa, exceto pela hipótese da existência de uma passagem por terra entre os dois continentes, já que não resta dúvida quanto à presença do cavalo, em estado selvagem, na Europa e na Ásia, antes de sua domesticação pelo homem, a qual poderia remontar praticamente à Idade da Pedra. O gado e o carneiro, como agora sabemos, possuem ancestrais igualmente remotos. Darwin descobre gado domesticado na Europa, pertencente à mais remota era da Idade da Pedra, e que, num período muito anterior, teria evoluído de formas selvagens, semelhantes ao búfalo da América. Fósseis do leão descobertos nas cavernas da Europa também foram encontrados na América do Norte.

Passando agora do reino animal ao vegetal, parece que a maior parte da flora européia, da época miocena – encontrada, principalmente, nas camadas fósseis da Suíça -, existe até hoje na América e, algumas espécies, na África. Contudo, deve-se ressaltar que, enquanto a maior incidência dessas espécies ocorra no leste americano, muitas delas não são encontradas na costa do Pacífico. Isso parece demonstrar que essas espécies penetraram no continente americano pelo lado do Atlântico. O professor Asa Gray afirma que dos 66 gêneros e das 155 espécies existentes na floresta a leste das Montanhas Rochosas, somente 31 gêneros e 78 espécies são encontradas a oeste dessas elevações.

Todavia, o maior de todos os problemas é a bananeira. O professor Kuntze, eminente botânico alemão, pergunta: “De que maneira esta planta” (nativa da Ásia tropical e da África), “que não poderia resistir a uma viagem através da zona temperada, foi transportada para a América?” Como ele assinala, a planta não tem sementes, não pode ser propagada através de chantões e tampouco possui um tubérculo que pudesse ser transportado facilmente. Sua raiz é semelhante a uma árvore. Para transportá-la, seria necessário um cuidado especial, e ela não resistiria a uma viagem longa. A única maneira pela qual ele pode explicar o aparecimento desta planta na América é supondo que ela deve ter sido transportada pelo homem civilizado, numa época em que as regiões polares possuíam um clima tropical! Ele acrescenta: “Uma planta cultivada que não possui sementes deve ter sido submetida a um processo de cultivo durante um período muito longo . . . talvez seja correio inferir que essas plantas foram cultivadas já no início do período diluviano.” Por que – pode-se perguntar – esta inferência não nos deveria remeter a tempos ainda mais remotos, e quando existia a necessária civilização para o cultivo da planta, ou condições climáticas e materiais para o seu transporte, a menos que houvesse, em alguma época, uma ligação entre o Velho Mundo e o Novo?

O professor Wallace, em sua deleitável obra Island Life, assim como outros autores, em obras muito importantes, formulou engenhosas hipóteses para explicar a identidade da flora e da fauna em terras bastante distantes entre si, e para o seu transporte através do oceano, mas nenhuma é convincente e todas apresentam diversas lacunas.

Sabe-se muito bem que o trigo, tal como o conhecemos, nunca existiu num estado verdadeiramente selvagem, e não há nenhuma evidência de que tenha se originado de espécies fósseis. Cinco variedades de trigo já foram cultivadas na Europa, na Idade da Pedra -uma delas, descoberta nos “povoados lacustres”, conhecida como trigo egípcio, fez Darwin argumentar que os lacustres “ou ainda mantinham relações comerciais com algum povo do sul, ou tinham originalmente vindos do sul como colonos”. Ele conclui que o trigo, a cevada, a aveia, etc. são provenientes de várias espécies hoje extintas, ou de tal modo alteradas que escapam à identificação; neste caso, afirma ele: “O homem deve ter cultivado cereais desde um período consideravelmente remoto.” Tanto as regiões em que essas espécies extintas floresceram, como a civilização que as cultivou por meio de inteligente seleção, foram ambas supridas pelo continente perdido, cujos colonizadores transportavam-nas para o leste e para o oeste.

Terceira Categoria

Da flora e da fauna, voltamo-nos agora para o homem:

Língua

O idioma basco mantém-se isolado entre as línguas européias, não tendo afinidade com nenhuma delas. De acordo com Farrar, “nunca houve alguma dúvida de que esta língua diferente, preservando sua identidade num recanto ocidental da Europa, entre dois poderosos reinos, assemelha-se, em sua estrutura, às línguas aborígines do vasto continente oposto (América), e apenas a estas” (Families of Speech, p. 132).

Ao que parece, os fenícios foram o primeiro povo do hemisfério oriental a usar o alfabeto fonético, sendo seus caracteres considerados simples sinais para os sons. É um fato curioso que, em data igualmente remota, encontremos um alfabeto fonético na América Central, entre os maias do Yucatán, cujas tradições atribuem a origem de sua civilização a uma terra situada do outro lado do mar, para leste. Lê Plongeon, a maior autoridade neste assunto, escreve: “Um terço desta língua (o maia) é puro grego. Quem levou o dialeto de Homero para a América? Ou quem levou para a Grécia o dos maias? O grego descende do sânscrito. O maia também? Ou seriam eles contemporâneos?” Mais surpreendente ainda é encontrar treze letras do alfabeto maia apresentando uma nítida relação com os sinais hieroglíficos egípcios, referentes às mesmas letras. E provável que a forma mais primitiva do alfabeto fosse hieroglífica, “a escrita dos deuses”, como os egípcios a chamavam, que, mais tarde, na Atlântida, desenvolveu-se em fonética. Seria natural admitir que os egípcios foram uma antiga colônia da Atlântida (como realmente foram) e que levaram consigo o tipo primitivo de escrita, que assim deixou seus traços em ambos os hemisférios, ao passo que os fenícios, que eram navegadores, obtiveram e assimilaram a forma posterior do alfabeto durante suas viagens comerciais aos povos do oeste. Há mais um detalhe que deve ser mencionado, a saber, a extraordinária semelhança entre muitas palavras da língua hebraica e palavras, que mantêm exatamente o mesmo significado, do idioma dos Chiapenecs – um ramo da raça maia, entre os mais antigos da América Central. A lista dessas palavras encontra-se em North Americans of Antiquity, p. 475.

A similaridade de língua entre os diversos povos selvagens das ilhas do Pacífico foi utilizada como argumento por escritores que tratam desta matéria. A existência de línguas semelhantes entre raças separadas por léguas de oceano, que, no período histórico, não possuíam nenhum meio de transporte para atravessá-las, é certamente um argumento a favor da descendência de uma única raça, que ocupava um único continente. Contudo, este argumento não pode ser utilizado aqui, pois o continente em questão não era a Atlântida, mas a ainda mais remota Lemúria.

Tipos Etnológicos

Dizem que a Atlântida, como veremos, foi habitada pelas raças vermelha, amarela, branca e negra. Está agora provado, pelas pesquisas de Lê Plongeon, de De Quatrefages, de Bancroft e outros, que populações negras do tipo negróide existiram, até mesmo em épocas recentes, na América. Muitos dos monumentos da América Central são decorados com rostos negros, e alguns dos ídolos encontrados destinaram-se, nitidamente, a representar negros, com crânios pequenos, cabelos curtos e crespos e lábios grossos. O Popul Vuh, discorrendo sobre a primeira pátria do povo guatemalteco, diz que “homens negros e brancos” viviam juntos nessa terra feliz, “em grande paz”, falando “uma só língua”. (Ver Bancroft, Native Roces, p. 547.) O Popul Vuh prossegue, relatando como o povo emigrou de sua pátria ancestral, como sua língua se alterou e como alguns se dirigiram para o leste, enquanto outros viajaram para o oeste (para a América Central).

O professor Retzius, em seu Smithsonian Report, considera que os primitivos dolicocéfalos da América são quase parentes dos guanchos das ilhas Canárias e dos habitantes do litoral atlântico da África, aos quais Latham chama de atlantidae-egípcios. O mesmo formato de crânio é encontrado nas ilhas Canárias, distantes da costa africana, e nas Pequenas Antilhas, afastadas da costa americana, embora, em ambas, a cor da pele seja pardo-avermelhada.

Os antigos egípcios descreviam a si mesmos como homens vermelhos, com um aspecto muito semelhante ao encontrado atualmente entre algumas tribos de índios americanos.

“Os antigos peruanos”, diz Short, “pelos numerosos exemplares de cabelos encontrados em suas tumbas, parecem ter sido uma raça ruiva.”

Um fato notável a respeito dos índios americanos, que constitui um enigma constante para os etnólogos, é a grande variação de cor e de compleição verificada entre eles. Da cor branca das tribos Me-nominee, Dacota, Mandan e Zuni, muitas das quais possuem cabelos ruivos e olhos azuis, até quase a negrura da raça negra dos Karos do Kansas e das já extintas tribos da Califórnia, as raças índias passam por todas as variações de vermelho-acastanhado, cobre, verde-oliva, canela e bronze. (Ver Short, North Amerícans of Antiquity, Win-chell, Pre-Adamites e, Catlin, Indians of North America’, ver também Atlantis, de Ignatius Donnelly, que coletou grande número de dados sobre este e outros assuntos.) Veremos dentro em pouco como a diversidade de compleição no continente americano é explicada pelos originais matizes da raça da Atlântida, o continente materno.

Quarta Categoria

No México e no Peru, nada parece ter surpreendido mais os primeiros aventureiros espanhóis do que a extraordinária similaridade entre as crenças religiosas, os rituais e os emblemas, estabelecidos no Novo Mundo, e aqueles do Velho Mundo. Os padres espanhóis viam essa similaridade como uma obra do demônio. O culto da cruz pelos nativos, bem como sua presença constante em todas as edificações e cerimônias religiosas, era a causa principal do seu assombro; na verdade, em parte alguma – nem mesmo na índia e no Egito – este símbolo era motivo de tanta veneração do que entre as tribos primitivas dos continentes americanos, embora o significado básico de seu culto fosse idêntico. No Ocidente, como no Oriente, a cruz era o símbolo da vida – às vezes, da vida física, mais amiúde, da vida eterna.

Do mesmo modo, em ambos os hemisférios os cultos do disco ou círculo solar e da serpente eram universais. Mais surpreendente ainda é a similaridade do significado da palavra “Deus” nas principais línguas do Oriente e do Ocidente. Compare o sânscrito “Dy-aus” ou “Dyauspitar”, o grego “Theos” e Zeus, o latino “Deus” e Júpiter, o celta “Dia” e “Ta”, pronunciado “Thyah” (aparentando afinidade com o egípcio Tau), o hebraico “Jah” ou “Yah” e, por fim, o mexicano “Teo” ou “Zeo”.

Os rituais de batismo foram praticados por todas as nações. Na Babilônia e no Egito, os candidatos à iniciação nos Mistérios eram, antes de tudo, balizados. Tertuliano, em seu De Baptismo, afirma que, aos balizados era prometido “a regeneração e o perdão de todos os perjúrios”. As nações escandinavas praticavam o batismo de crianças recém-nascidas; e se nos voltarmos para o México e o Peru, encontraremos o batismo de crianças como um cerimonial solene, consistindo de aspersão de água, do sinal da cruz e de orações para que o pecado fosse levado (lavado) pela água (ver Humboldt, Mexican Researches, e Prescott, México).

Além do batismo, as tribos do México, da América Central e do Peru assemelhavam-se às nações do Velho Mundo em seus rituais de confissão, absolvição, jejum e casamento, realizados por sacerdotes através da união das mãos. Elas praticavam até mesmo uma cerimônia semelhante à Eucaristia, na qual comiam bolos com a marca do Tau (uma forma egípcia de cruz). O povo chamava esses bolos de carne de seu Deus, o que os assemelha aos bolos sagrados do Egito e de outras nações orientais. Do mesmo modo que essas nações, os povos do Novo Mundo também possuíam ordens monásticas, masculinas e femininas, nas quais a quebra dos votos era punida com a morte. Tal como os egípcios, eles embalsamavam seus mortos, cultuavam o sol, a lua e os planetas, mas, além disso, adoravam uma Divindade “onipresente, conhecedora de todas as coisas… invisível, incorpórea, um Deus de completa perfeição” (ver Sa-hagun, Historia de Nueva Espana, livro VI).

Também tinham sua deusa virgem-mãe, a “Nossa Senhora”, cujo filho, o “Senhor da Luz”, era chamado “Salvador”, o que vem estabelecer uma correspondência exata com Isis, Béltis e muitas outras deusas-virgens do Oriente, com seus filhos divinos.

Seus rituais do sol e culto do fogo assemelhavam-se aos dos antigos celtas da Grã-Bretanha e da Irlanda – e, tal como estes últimos, denominavam-se “filhos do sol”. Uma arca, ou argha, era um dos símbolos sagrados universais, que encontramos tanto na índia, na Caldéia, na Assíria, no Egito e na Grécia, como entre os povos celtas. Lord Kingsborough, em sua obra Mexican Antiquities (vol. VIU, p. 250), afirma: “Assim como entre os hebreus a arca era uma espécie de templo portátil, onde, acreditava-se, a divindade estava continuamente presente, também entre os mexicanos, cheroquis e índios de Michoacán e Honduras, a arca era objeto da mais profunda veneração, considerada tão sagrada que só os sacerdotes podiam tocá-la.”

Quanto à arquitetura religiosa, descobrimos que, em ambas as margens do Atlântico, uma das mais antigas edificações sagradas é a pirâmide. Por mais obscuros que sejam os usos para os quais essas construções foram originalmente projetadas, uma coisa é certa: estavam estreitamente vinculadas a alguma idéia ou conjunto de idéias religiosas. A identidade do traçado entre as pirâmides do Egito e as do México e da América Central é por demais surpreendente para ser uma simples coincidência. De fato, algumas das pirâmides americanas – a maioria – terminam abruptamente, com um topo achatado; contudo, segundo Bancroft e outros, muitas das pirâmides encontradas em Yucatán, particularmente aquelas próximas a Palenque, possuem um topo pontiagudo, no mais genuíno estilo egípcio, ao passo que, por outro lado, temos algumas pirâmides egípcias em forma de escada e com o topo achatado. Cholula foi comparada aos grupos de Dachour, de Sakkara e à pirâmide escalonada de Mé-dourn. Semelhantes em orientação, em estrutura e mesmo nas galerias e câmaras internas, esses misteriosos monumentos do Oriente e do Ocidente atestam uma origem comum, a partir da qual seus construtores traçaram seus projetos.

As imensas ruínas de cidades e templos no México e Yucatán estranhamente também se assemelham às do Egito, sendo as ruínas de Teotihuacán freqüentemente comparadas às de Karnak. O “arco falso” – fiadas de pedras, levemente sobrepostas umas às outras – é encontrado, com a mesma forma, na América Central, nas mais antigas construções da Grécia e nas ruínas etruscas. Os maund builders, tanto dos continentes orientais como ocidentais, ergueram túmulos semelhantes para seus mortos, os quais foram depositados em esquifes de pedra também semelhantes. Ambos os continentes possuem seus enormes mounds da serpente; compare-se o do condado de Adams, em Ohio, com o primoroso mound da serpente descoberto em Argyllshire, ou com o exemplar menos perfeito de Avebury, em Wilts. Até mesmo a escultura e a decoração dos templos da América, do Egito e da índia têm muito em comum, enquanto algumas das decorações murais são absolutamente idênticas.

Quinta Categoria

Só resta agora resumir alguns depoimentos prestados pelos antigos e alguns dados extraídos das tradições de povos primitivos e das antigas lendas diluvianas.

Aelian, em sua Varia Historia (vol. Hl, cap. XVm) afirma que Teopompo (400 a.C.) registrou um encontro entre o rei da Frigia e Sileno, no qual este último referiu-se à existência de um grande continente do outro lado do Atlântico, maior que a Ásia, a Europa e a Líbia juntas.

Proclo cita um trecho de um antigo escritor que se refere às ilhas existentes no mar que ficava do outro lado das Colunas de Hércules (Estreito de Gibraltar), afirmando que os habitantes de uma dessas ilhas possuíam uma crença, que lhes fora legada por seus antepassados, a respeito de uma enorme ilha, chamada Atlântida, que, por um longo tempo, governou todas as ilhas do oceano Atlântico.

Marcelo menciona sete ilhas no Atlântico e afirma que seus habitantes conservam a lembrança de uma ilha muito maior, a Atlântida, “a qual, por longo tempo, exerceu domínio sobre as ilhas menores”.

Diodoro de Sicília relata que os fenícios descobriram “uma grande ilha no oceano Atlântico, além das Colunas de Hércules, a vários dias de viagem da costa africana”.

Contudo, a maior autoridade nesse assunto é Platão. No Timeu ele alude ao continente insulano, enquanto o Crítias ou Atlântico é nada menos que um relato detalhado da história, artes, usos e costumes do povo. No Timeu ele menciona “uma poderosa força bélica, partindo do mar Atlântico e alastrando-se com fúria hostil por toda a Europa e Ásia. Por esse tempo, o mar Atlântico era navegável e havia uma ilha antes da desembocadura que é chamada por vocês de Colunas de Hércules. Mas essa ilha era muito maior do que a Líbia e toda a Ásia juntas, e proporcionava fácil acesso às outras ilhas vizinhas. Além disso, era igualmente fácil passar daquelas ilhas para todos os continentes que se limitavam com o mar Atlântico”.

O Crítias fornece tantos dados valiosos que se torna difícil selecioná-los; o trecho abaixo, por exemplo, menciona as riquezas materiais do país: “Eles também tinham todas as coisas necessárias à subsistência, as quais, tanto numa cidade como em qualquer outro lugar, são tidas como benéficas aos propósitos da vida. Na verdade, em virtude de seu extenso império, supriam-se de muitas coisas provenientes dos países estrangeiros; mas a ilha fornecia-lhes a maior parte de tudo o que necessitavam. Em primeiro lugar, a ilha provia-os de minerais extraídos do solo em estado sólido, dos quais alguns eram fundidos; o oricalco, que hoje em dia raramente é mencionado, mas que outrora era muito conhecido, também era extraído do solo em muitas partes da ilha, sendo considerado o mais nobre dos metais, à exceção do ouro. Além disso, tudo quanto as florestas forneciam para os construtores, a ilha produzia em abundância. Havia, outrossim, suficientes pastagens para animais selvagens e domésticos, bem como um número prodigioso de elefantes. Havia pastagens para todos esses animais, que se alimentavam nos lagos, rios, montanhas e planícies. Do mesmo modo, havia alimento suficiente para as espécies maiores e mais vorazes de animais. Além disso, todos os tipos de odoríferos que a terra, atualmente, nutre, sejam raízes, gramíneas, bosques, sucos, resinas, flores ou frutos – isso tudo a ilha produzia, e fartamente.”

Os gauleses possuíam costumes da Atlântida, os quais foram compilados pelo historiador romano Timagenes, que viveu no século I a.C. Parece que três povos distintos habitaram a Gália. A princípio, populações indígenas (provavelmente os remanescentes de alguma raça lemuriana); em segundo lugar, os invasores provenientes da longínqua ilha de Atlântida e, em terceiro, os gauleses áricos (ver Pre-Adamites, p. 380).

Os toltecas do México reconstituíram seu próprio passado a partir de um marco inicial chamado Atlan ou Aztlan; os astecas também sustentaram ter se originado de Aztlan (ver Bancroft, Native Roces, vol. 5, pp. 221 e 321).

O Popul Vuh (p. 294) menciona uma visita que os três filhos do rei dos Quichés fizeram a uma terra “no leste, situada nas costas do mar de onde tinham vindo seus pais”, da qual trouxeram, entre outras coisas, “um sistema de escrita” (ver também Bancroft, vol. V, p. 553).

Entre os índios da América do Norte, há uma lenda muito popular, segundo a qual seus antepassados vieram de uma terra situada “na direção do nascer do sol”. Segundo o Major J. Lind, os índios de lowa e Dacota acreditavam que “todas as tribos de índios tinham sido, outrora, uma só tribo e que, juntas, haviam habitado uma ilha . situada na direção do nascer do sol”. Dali, elas atravessaram o mar “em enormes esquifes, nos quais os dacotas do passado flutuaram durante semanas, para finalmente alcançarem a terra firme”.

Os livros centro-americanos afirmam que uma parte do continente americano estendia-se para bem distante, oceano Atlântico adentro, e que essa região foi destruída por uma série de terríveis cataclismos, separados por longos intervalos. Três deles são freqüentemente mencionados (ver Baldwin, Anciení America, p. 176). Uma curiosa confirmação disso encontra-se numa lenda dos celtas da Grã-Bretanha, segundo a qual uma parte de seu país, que outrora estendia-se Atlântico adentro, foi destruída. Três catástrofes são mencionadas nas tradições galesas.

Diz-se que Quetzalcóatl, a divindade mexicana, veio do “oriente distante”. Ele é descrito como um homem branco, com uma enorme barba (os indígenas da América do Norte e do Sul são imberbes). Ele criou as letras e organizou o calendário mexicano. Depois de ensinar-lhes muitas artes e lições pacíficas, ele partiu para o leste, numa canoa feita de couro de serpente (ver Short, North Americans of Antiquity, pp. 268-271). A mesma história é contada a respeito de Zamna, o criador da civilização em Yucatán.

Resta apenas tratar da admirável uniformidade das lendas diluvianas em todas as partes do globo. Quer sejam antigas versões da história da Atlântida desaparecida e de sua submersão, ou eco de uma importante parábola cósmica outrora ensinada e mantida em reverência em algum centro comum, de onde se difundiram por todo o mundo, isso não nos diz respeito no momento. Por enquanto, basta-nos demonstrar a aceitação universal dessas lendas. Seria um desperdício inútil de tempo e espaço examinar, minuciosamente e uma a uma, essas lendas diluvianas. Basta dizer que na índia, na Caldéia, na Babilônia, na Média, na Grécia, na Escandinávia, na China, entre os hebreus e entre as tribos celtas da Grã-Bretanha, a lenda é absolutamente idêntica em seus pontos essenciais. E o que encontraremos, se nos voltarmos para o Ocidente? A mesma história, preservada em todos os detalhes pelos mexicanos (cada tribo tendo a sua versão), pelos povos da Guatemala, Honduras, Peru e por quase todas as tribos de índios norte-americanos. Seria ingênuo sugerir que a mera coincidência explicaria essa identidade fundamental.

O trecho abaixo transcrito, extraído da tradução de Lê Plongeon do célebre Manuscrito Troano, que pode ser visto no Museu Britânico, certamente proporcionará uma conclusão adequada a esta questão. O Manuscrito Troano parece ter sido escrito há cerca de 3.500 anos, entre os maias do Yucatán, e sua descrição da catástrofe que submergiu a ilha de Posseidones é a seguinte: “No ano 6 Kan, no II9 Muluc do mês Zac, ocorreram terríveis terremotos, que con- tinuaram, sem interrupção, até o 13- Chuen. A região das colinas de lodo, a terra de Mu, foi sacrificada: sendo erguida por duas vezes, desapareceu de súbito durante a noite, enquanto a bacia era continuamente sacudida por forças vulcânicas. Estas, confinadas, fizeram a terra afundar e erguer-se diversas vezes e em vários lugares. Por fim, a superfície cedeu e dez regiões foram violentamente separadas e dizimadas. Incapazes de resistir à força das convulsões, afundaram, com seus 64.000.000 de habitantes, 8.060 anos antes de este livro ser escrito.”

Hoje, porém, tem sido devotado espaço suficiente aos fragmentos de depoimentos – todos mais ou menos convincentes – que estão, até agora, em poder da Humanidade. Aos interessados em se dedicar a uma Unha especial de investigação, as várias obras acima mencionadas ou citadas poderão ser consultadas.

O assunto em questão agora poderá ser abordado. Os fatos aqui coletados, extraídos, como foram, de registros contemporâneos que, por sua vez, foram compilados e transmitidos através das épocas que teremos de abordar, não se baseiam em hipóteses ou conjecturas. O autor pode não ter alcançado uma compreensão exata dos fatos e, portanto, pode tê-los desfigurado parcialmente. Contudo, os registros originais poderão ser examinados por aqueles que se encontram devidamente qualificados, e os que estão dispostos a empreender o treinamento necessário poderão conseguir licença para examinar e conferir.

Todavia, ainda que todos os registros ocultos fossem acessíveis à nossa inspeção, é preciso compreender que um esboço que tenta resumir numas poucas páginas a história de raças e nações, cujo desenvolvimento se estende, pelo menos, durante centenas de milhares de anos, não poderia deixar de ser fragmentário. Entretanto, qualquer relato acerca desse assunto – ainda que desconexo – não deixa de ser algo inédito e, portanto, de amplo interesse para a Humanida- de em geral.

Entre os documentos acima mencionados, há mapas referentes a vários períodos da história da Humanidade, e a permissão de obter cópias – mais ou menos completas – de quatro desses mapas foi o grande privilégio do autor. Todos os quatro retraíam a Atlântida e as terras adjacentes em diferentes épocas da sua história. Essas épocas correspondem, aproximadamente, aos períodos que medeiam as catástrofes acima mencionadas e, a esses períodos assim representados pelos quatro mapas associar-se-ão, naturalmente, os registros da raça atlante.

Entretanto, antes de iniciar a história da raça, seriam úteis algumas observações a respeito da geografia das quatro diferentes épocas:


O primeiro mapa representa a superfície terrestre do globo há cerca de um milhão de anos, quando a raça atlante estava em seu apogeu e antes da ocorrência da primeira grande submersão, cerca de 800.000 anos atrás. O próprio continente da Atlântida, como se pode observar, estendia-se desde um ponto situado alguns graus a leste da Islândia até mais ou menos o local onde hoje fica o Rio de Janeiro, na América do Sul. Abrangendo o Texas e o golfo do México, os estados do sul e do leste da América, inclusive o Labrador, ele estendia-se através do oceano até as ilhas européias – Escócia e Irlanda e uma pequena porção do norte da Inglaterra, formando um de seus promontórios -, enquanto suas regiões equatoriais abrangiam o Brasil e toda a extensão do oceano, até a Costa do Ouro, na África. Os fragmentos dispersos de que, finalmente, se formaram os continentes da Europa, da África e da América, bem como os vestígios do ainda mais antigo e outrora extenso continente da Lemúria, também podem ser vistos nesse mapa. Os vestígios do ainda mais remoto continente hiperbóreo, que foi habitado pela segunda raça-raiz, também são visíveis e, tal como a Lemúria, em cor azul.

Como se pode observar pelo segundo mapa, a catástrofe de 800.000 anos atrás provocou grandes alterações na configuração terrestre do globo. O grande continente está agora despojado de suas regiões setentrionais, e sua porção remanescente encontra-se mais dilacerada ainda. O continente americano, agora em fase de crescimento, está separado de seu continente materno, por uma falha, a Atlântida, e esta já não abrange as terras ora existentes, mas ocupa a maior parte da depressão atlântica, desde mais ou menos 50° de latitude norte até uns poucos graus ao sul do equador. Os assentamentos e elevações da superfície terrestre em outras partes do globo também foram consideráveis – as ilhas Britânicas, por exemplo, agora fazem parte de uma imensa ilha, que também abrange a península escandinava, o norte da França, todos os mares intermediários e alguns mares circundantes. Pode-se constatar que as extensões dos vestígios da Lemúria sofreram mutilações ainda maiores, enquanto a Europa, a África e a América tiveram seus territórios acrescidos.

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O terceiro mapa mostra os efeitos da catástrofe ocorrida há mais ou menos 200.000 anos. Com exceção das fendas nos continentes atlante e americano e a submersão do Egito, pode-se observar como os assentamentos e as elevações da superfície terrestre nessa época foram relativamente insignificantes; na verdade, o fato de esta catástrofe nunca ter sido considerada como uma das maiores transparece no trecho acima transcrito do livro sagrado dos guatemaltecos -onde apenas três grandes catástrofes são mencionadas. Contudo, a ilha escandinava aparece, agora, unida ao continente. A Atlântida encontra-se agora dividida, formando duas ilhas, conhecidas pelos nomes de Ruta e Daitya.

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O caráter extraordinário da convulsão natural que ocorreu há cerca de 80.000 anos fica evidenciado pelo quarto mapa. Daitya, a menor e mais meridional das ilhas, já desapareceu quase totalmente, ao passo que, de Ruta, apenas resta uma ilha relativamente pequena, Posseidones. Este mapa foi compilado há cerca de 75.000 anos e, sem dúvida, representa razoavelmente a superfície terrestre do globo, desde esse período até a submersão definitiva de Posseidones, em 9564 a.C., embora, durante esse período, devam ter ocorrido pequenas alterações. Notar-se-á que os contornos da superfície terrestre começaram, então, a assumir, aproximadamente, a mesma aparência que possuem hoje, embora as ilhas Britânicas ainda estivessem unidas ao continente europeu, o mar Báltico não existisse e o deserto do Saara formasse uma parte do fundo do oceano.

Quando se aborda a formação de uma raça-raiz é indispensável alguma referência à temática bastante mística acerca dos Manus. No Relatório nº 26 da Loja Maçônica de Londres, fez-se uma referência ao trabalho realizado por esses Seres sublimes, que abrange não só o planejamento dos tipos de todo o Manvantara como também supervisiona a formação e educação de cada raça-raiz, sucessivamente. O seguinte trecho refere-se a esse plano: “Também há os Manus, cujo dever consiste em atuar de modo semelhante em cada raça-raiz de cada Planeta do Círculo, o Manu-Semente, planejando o aperfeiçoamento do tipo que cada sucessiva raça-raiz inaugura, e o Manu-Raiz, realmente encarnando entre a nova raça na qualidade de guia e mestre, a fim de dirigir o desenvolvimento e garantir o aperfeiçoamento.”

A maneira pela qual a necessária segregação das espécimes selecionadas é efetuada pelo Manu encarregado, bem como seu subsequente cuidado com a comunidade em desenvolvimento, pode ser abordada num futuro relatório. Uma informação bastante simples quanto ao modo de proceder será suficiente aos nossos propósitos.

Foi, naturalmente, de uma das sub-raças da terceira raça-raiz, que habitava o continente conhecido pelo nome de Lemúria, que se efetuou a segregação destinada a produzir a quarta raça-raiz.

A fim de acompanhar as principais etapas do processo histórico dessa raça, através dos quatro períodos representados pelos quatro mapas, convém dividir o assunto nos seguintes tópicos:

1. Origem e localização territorial das diferentes sub-raças.
2. As instituições políticas que, respectivamente, elas desenvolveram.
3. Suas migrações para outras partes do mundo.
4. As artes e ciências desenvolvidas.
5. Os usos e costumes adotados.
6. O desenvolvimento e o declínio de idéias religiosas.

Em primeiro lugar, portanto, uma lista dos nomes das diferentes sub-raças:

1. Rmoahal
2. Tlavatli
3. Tolteca
4. Turaniana primitiva
5. Semita original
6. Acadiana
7. Mongólica

Faz-se necessária uma explicação acerca do princípio pelo qual esses nomes são escolhidos. Nos casos em que os etnólogos atuais descobriram vestígios de uma dessas sub-raças, ou mesmo identificado pequena parte de uma delas, o nome que lhes deram é utilizado a bem da clareza; contudo, no caso das duas primeiras sub-raças, dificilmente foram deixados quaisquer vestígios para que a ciência deles se apoderasse e, desse modo, foram adotados os nomes pelos quais elas mesmas se designavam.

O período representado pelo Mapa nº l mostra como era a superfície terrestre do globo há cerca de um milhão de anos, mas a raça rmoahal surgiu há quatro ou cinco milhões de anos, no período em que grandes porções do vasto continente meridional da Lemúria ainda existiam, enquanto o continente da Atlântida não havia assumido as dimensões que, finalmente, atingiria. Foi num contraforte desta terra lemuriana que a raça rmoahal nasceu. Pode-se localizá-lo, aproximadamente, a 7° de latitude norte e 5° de longitude oeste, e uma consulta a qualquer atlas moderno revelará que sua localização coincide com a atual costa de Achanti. Era uma região quente e chuvosa, habitada por enormes animais antediluvianos, que viviam em pântanos juncosos e florestas tímidas. Os fósseis dessas plantas atualmente são encontrados nas jazidas de carvão. Os nnoahals eram uma raça morena – sendo sua pele da cor do mogno. Sua altura, naqueles tempos remotos, era de, aproximadamente, 3 a 3,5 m – na verdade, uma raça de gigantes – mas, ao longo dos séculos, sua estatura foi gradualmente diminuindo, tal como se deu com todas as outras raças, e, mais tarde, vamos encontrá-los reduzidos à estatura do “homem de Furfooz”. Por fim, migraram para as costas meridionais da Atlântida, onde travaram contínuos combates com as sexta e sétima sub-raças dos lemurianos, que então habitavam essa região. Em seguida, uma grande parte da tribo mudou-se para o norte, enquanto o restante estabeleceu-se no local e uniu-se aos aborígines lemurianos negros. Como consequência, não restou, neste período – o período do primeiro mapa -, nenhuma linhagem pura no sul e, como veremos, foi dessas raças morenas, que habitavam as regiões equatoriais e o extremo sul do continente, que os conquistadores toltecas subseqüentemente se abasteciam de escravos. Contudo, o restante da raça alcançou os promontórios do extremo nordeste, contíguos à Islândia, e, vivendo nessa região por incontáveis gerações, foi aos poucos assumindo uma coloração mais clara, até que, no final do período do primeiro mapa, deparamo-nos com um povo razoavelmente louro. Posteriormente, seus descendentes tornaram-se súditos, ao menos nominalmente, dos reis semitas.

O fato de terem habitado nessa região por inúmeras gerações não implica que aí se tenham estabelecido ininterruptamente, pois certos fatores os obrigavam, de tempos em tempos, a se dirigirem para o sul. Sem dúvida, o frio das épocas glaciais influiu de modo semelhante sobre as outras raças; contudo, a fim de evitar digressões, apenas algumas informações devem ser aqui incluídas.

Sem entrar na questão das diferentes rotações que a Terra executa, ou da variação de graus da deslocação de sua órbita, cuja combinação é, às vezes, considerada a causa das épocas glaciais, o fato é que – como já foi admitido por alguns astrônomos – uma curta época glacial ocorre, aproximadamente, a cada 30.000 anos. Além dessas, porém, houve duas ocasiões na história da Atlântida em que a grande extensão de gelo despovoou, não só as regiões setentrionais, como também, ao invadir a maior parte do continente, forçou todos os seres vivos a migrar para as terras equatoriais. A primeira delas ocorreu durante a época dos rmoahals, há cerca de 3.000.000 de anos, e a segunda, durante o domínio dos toltecas, cerca de 850.000 anos atrás.

No que se refere a todas as épocas glaciais, deve-se dizer que, embora os habitantes das terras setentrionais tenham sido forçados a migrar, durante o inverno, para o sul, afastando-se da zona de gelo, era nessa zona que ficavam os grandes povoados, para os quais podiam retomar no verão e onde, devido à caça, acampavam até que o frio do inverno os forçasse a se dirigir novamente para o sul.

O lugar de origem dos tlavatli, ou segunda sub-raça, foi uma ilha ao largo da costa ocidental da Atlântida. O local está assinalado no primeiro mapa com o algarismo 2. Dali eles se espalharam pela Atlântida propriamente dita, sobretudo através do centro do continente, deslocando-se, contudo, gradualmente para o norte, em direção à faixa litorânea voltada para o promontório da Groenlândia. Fisicamente, constituíam uma raça robusta e resistente, de cor vermelho- acastanhada, mas não tão altos quanto aos rmoahals, a quem impeliram mais ainda para o norte. Sempre foram um povo amante das montanhas, e seus principais povoados situavam-se nas regiões montanhosas do interior. Comparando-se os Mapas l e 4, verificar-se-á que sua localização era mais ou menos contínua à região que, mais tarde, tornou-se a ilha de Posseidones. Neste período do primeiro mapa, eles também ocuparam – como já foi mencionado – as costas setentrionais, enquanto uma mistura de raça tlavatli com a tolteca habitava as ilhas ocidentais, que, mais tarde, participaram da formação do continente americano.

A seguir, temos a raça tolteca, ou terceira sub-raça, que constituiu um desenvolvimento esplêndido. Governou todo o continente da Atlântida por milhares de anos, com grandes recursos materiais e muito brilho. Na verdade, esta raça era de tal modo dominante e dotada de vitalidade, que as uniões com as sub-raças vizinhas não conseguiram alterar-lhe o tipo, que ainda permaneceu essencialmente tolteca; e, centenas de milhares de anos mais tarde, encontramos uma de suas remotas linhagens governando, magnificamente, no México e Peru, muito., anos antes que seus degenerados descendentes fossem conquistados pelas mais ferozes tribos astecas do norte.

Essa raça também tinha uma pele vermelho-acastanhada, embora fosse mais vermelha, ou mais acobreada, que a dos tlavatli. Sua estatura também era elevada, medindo em torno de 2,5 m durante o período de seu domínio absoluto; contudo, assim como ocorreu com todas as raças, foi sofrendo uma redução, até atingir o tamanho médio de hoje em dia. O tipo foi um aperfeiçoamento das duas sub-raças anteriores, possuindo uma feição séria, bastante acentuada, bem parecida com a dos antigos gregos. O lugar aproximado de origem dessa raça pode ser observado no primeiro mapa, assinalado com o algarismo 3. Sua localização ficava perto da costa ocidental da Atlântida, a cerca de 30° de latitude norte, e, toda a região circunvizinha, incluindo a maior parte da costa ocidental do continente, foi habitada por uma raça tolteca pura. Contudo, como veremos ao tratarmos da organização política, seu território finalmente ampliou-se por todo o continente, e foi de sua grande capital, situada na costa oriental, que os imperadores toltecas estenderam seu domínio a quase todas as nações.

Essas três primeiras sub-raças são conhecidas como as “raças vermelhas” e, entre elas e as quatro seguintes, não houve, a princípio, muita mistura de sangue. Essas quatro, embora diferindo consideravelmente entre si, foram chamadas de “amarelas”, e esta cor pode caracterizar de maneira apropriada a tez dos turanianos e mongólicos, mas os semitas e acadianos eram brancos.

A turaniana, ou quarta sub-raça, originou-se no lado oriental do continente, ao sul da região montanhosa habitada pelo povo tlavatli. Esse local está assinalado, no Mapa n2 l, com o algarismo 4. Desde sua origem, os turanianos eram colonizadores e muitos deles migraram para as terras situadas a leste da Atlântida. Nunca foram uma raça completamente dominante no seu continente de origem, embora algumas de suas tribos e linhagens tenham se tornado razoa- velmente poderosas. As grandes regiões centrais do continente, situadas a oeste e ao sul da região montanhosa dos tlavatlis, constituíam seu habitat especial, embora não exclusivo, pois repartiam essas terras com os toltecas. As curiosas experiências políticas e sociais realizadas por essa sub-raça serão abordadas mais adiante.

Quanto à semita original, ou quinta sub-raça, os etnólogos têm estado um tanto confusos, como de fato é extremamente natural que estejam, considerando os dados por demais insuficientes que possuem para se orientar. Essa sub-raça surgiu na região montanhosa que formava a mais meridional das duas penínsulas nordésteas, as quais, como vimos, correspondem, atualmente, à Escócia, à Irlanda e a alguns dos mares adjacentes. No Mapa n- l, o local está assinalado com o algarismo 5. Nesta menos atraente porção do grande continente a raça se desenvolveu e floresceu, mantendo-se durante séculos independente dos agressivos reis sulistas, até que, aos poucos e em grupos, começaram a se espalhar em várias direções e a colonizar outras regiões. É preciso lembrar que, na época em que os semitas subiram ao poder, centenas de milhares de anos haviam transcorrido e o período do segundo mapa já havia sido atingido. Eram uma raça turbulenta e descontente, sempre em guerra com seus vizinhos, sobretudo com o império cada vez mais amplo dos acadianos.

O lugar de origem da sub-raça acadiana, ou sexta sub-raça, será encontrado no Mapa nº 2 (assinalado com o algarismo 6), pois foi após a grande catástrofe de 800.000 anos atrás que esta raça surgiu. O local ficava na região oriental da Atlântida, mais ou menos no centro da grande península, cuja extremidade sudeste estendia-se em direção ao velho continente. Pode-se localizá-lo aproximadamente a 42° de latitude norte e a 10° de longitude leste. Contudo, os acadianos não permaneceram por muito tempo em sua terra de origem, invadindo o continente da Atlântida, que, nessa época, já sofrera uma redução de suas dimensões. Eles travaram inúmeras batalhas terrestres e navais com os semitas, onde foi utilizado um grande número de frotas pelos dois combatentes. Por fim, há cerca de 100.000 anos, derrotaram definitivamente os semitas e, a partir de então, estabeleceram uma dinastia acadiana na antiga capital semita e, durante séculos, governaram o país com sabedoria. Tornaram-se grandes comerciantes, navegadores e colonizadores, estabelecendo muitos núcleos que serviam de pontos de ligação com terras distantes.

A sub-raça mongólica, ou sétima sub-raça, parece ter sido a única que não teve absolutamente nenhum contato com seu continente de origem. Originária das planícies da Tartária (local assinalado com o algarismo 7, no segundo mapa), a cerca de 63° de latitude norte e 140° de longitude leste, desenvolveu-se diretamente dos descendentes da raça turaniana, a quem suplantou paulatinamente por quase toda a Ásia. Essa sub-raça multiplicou-se de tal modo que, hoje em dia, a maior parte dos habitantes da Terra pertencem, tecnicamente, a ela, embora muitas de suas subdivisões estejam tão profundamente alteradas com o sangue de raças mais primitivas que mal se distinguem delas.

Instituições Políticas

Num resumo como este seria impossível descrever como cada sub-raça se subdividiu, posteriormente, em nações, cada qual com seu tipo e características distintos.

Tudo o que se pode tentar aqui é esboçar, em linhas gerais, a variedade de instituições políticas que se sucederam ao longo das grandes épocas da raça.

Embora reconhecendo que cada sub-raça, bem como cada raça-raiz, está destinada a permanecer, em alguns aspectos, num nível mais elevado do que aquela que a antecedeu, a natureza cíclica do desenvolvimento deve ser compreendida como um condutor da raça à semelhança do homem que, passando pela infância, juventude e atingindo a maturidade, retorna de novo à infância da velhice. Evolução significa, necessariamente, máximo progresso, ainda que o retrocesso de sua espiral ascendente pareça fazer da história da política ou da religião um relato não só do desenvolvimento e do progresso, mas também da degradação e da decadência.

Portanto, quando se afirma que a primeira sub-raça iniciou-se sob a mais perfeita forma de governo concebível, deve-se compreender que isso se deu antes em virtude das necessidades de sua infância do que dos méritos de sua maturidade. Os rmoahals eram incapazes de desenvolver um programa de governo fixo, e tampouco atingiram um nível de civilização tão elevado quanto o alcançado pelas sexta e sétima sub-raças lemurianas. Contudo, o Manu que efetuou a segregação encarnou, de fato, na raça e governou-a como rei. Até mesmo quando deixava de ter uma participação efetiva no governo da raça, governantes Adeptos ou Divinos, quando os tempos assim o exigiam, ainda garantiam o futuro da comunidade em sua tenra idade. Como é do conhecimento dos estudantes de Teosofia, nossa humanidade ainda não atingira o necessário estágio de desenvolvimento que lhe permitisse gerar Adeptos inteiramente iniciados. Portanto, os governantes acima mencionados, inclusive o próprio Manu, eram, necessariamente, fruto da evolução em outros sistemas de mundos.

O povo tlavatli mostrou alguns sinais de avanço na arte de governar. Suas várias tribos ou nações eram governadas por chefes ou reis que, geralmente, eram investidos de sua autoridade através da aclamação do povo. Naturalmente, os indivíduos mais vigorosos e os guerreiros mais destemidos eram, então, os escolhidos. Um império considerável finalmente se estabeleceu entre eles, onde um rei tornou-se o chefe nominal, embora sua suserania consistisse mais num título honorário do que numa autoridade real.

Foi a raça tolteca que desenvolveu o mais alto grau de civilização e organizou o mais poderoso império de todos os povos atlantes, estabelecendo pela primeira vez o princípio da sucessão hereditária. A princípio, a raça dividiu-se em vários e pequenos reinos independentes, que lutavam constantemente entre si, e todos em guerra com os rmoahals-lemurianos do sul. Estes últimos foram gradualmente conquistados e dominados – muitas de suas tribos foram escravizadas. Entretanto, cerca de um milhão de anos atrás, esses reinos independentes uniram- se numa grande federação e reconheceram um imperador como chefe. Naturalmente, isso se deu através de grandes guerras, mas resultou em paz e prosperidade para a raça.

Deve ser lembrado que a Humanidade sempre foi dotada, em sua grande maioria, de atributos psíquicos e, nessa época, os indivíduos mais desenvolvidos tinham se submetido ao aprendizado necessário nas escolas de ocultismo, tendo obtido vários estágios de iniciação – alguns, inclusive, haviam alcançado o grau de Adeptos. O segundo desses imperadores era um Adepto e, por milhares de anos, a dinastia Divina governou não só todos os reinos nos quais a Atlântida estava dividida, mas também as ilhas ocidentais e a porção meridional do território adjacente, situado a leste. Quando necessário, essa dinastia era fornecida pela Casa de Iniciados mas, por via de regra, o poder era legado de pai para filho, sendo todos mais ou menos qualificados; em alguns casos, o filho recebia um grau adicional das mãos do pai. Durante todo esse período, os governantes Iniciados mantiveram-se vinculados à Hierarquia Oculta que governa o mundo, submetendo-se às suas leis e atuando em harmonia com seus desígnios. Essa foi a idade de ouro da raça tolteca. O governo era justo e generoso; as artes e ciências eram cultivadas – na verdade, aqueles que trabalhavam nesses setores, guiados como foram pela ciência oculta, alcançaram resultados extraordinários; as crenças e rituais religiosos ainda eram relativamente puros – na verdade, a civilização da Atlântida alcançara, nessa época, seu apogeu.

Mais ou menos 100.000 anos após esta idade de ouro, iniciou-se a degeneração e o declínio da raça. Muitos dos reis tributários, e um grande número de sacerdotes e súditos, deixaram de usar suas faculdades e poderes de acordo com as leis estipuladas por seus governantes Divinos, cujos preceitos e conselhos eram agora desrespeitados. Seus vínculos com a Hierarquia Oculta se romperam. O engrandecimento pessoal, a obtenção de riqueza e poder, a humilhação e ruína de seus inimigos tornaram-se, cada vez mais, o alvo para o qual seus poderes ocultos estavam dirigidos: desse modo, afastados de seu emprego lícito e utilizados para a obtenção de todos os tipos de propósitos egoístas e malévolos, inevitavelmente esses poderes conduziram ao que devemos chamar de bruxaria.

Envolta como esta palavra está pelo ódio, cuja associação foi gradualmente produzida, durante séculos de superstição e ignorância, pela credulidade, por um lado, e pela impostura, por outro, consideremos por um momento seu significado real e as terríveis consequências que sua prática sempre acaba trazendo ao mundo.

Em parte por suas faculdades psíquicas, que ainda não tinham se extinguido nas profundezas da materialidade, para a qual a raça em seguida decaiu, e em parte por seus conhecimentos científicos, obtidos durante esse apogeu da civilização atlante, os membros mais intelectuais e vigorosos da raça foram aos poucos alcançando uma compreensão cada vez maior acerca da atuação das leis da Natureza, bem como um controle cada vez maior de algumas de suas forças ocultas. A profanação desse saber e seu emprego para fins egoístas é o que constitui a bruxaria. As terríveis consequências de tal profanação também estão suficientemente exemplificadas pelas horríveis catástrofes que se desencadearam sobre a raça. A partir do momento em que a magia negra foi posta em prática, ela estava destinada a se propagar em círculos cada vez mais amplos. Assim, uma vez afastado o guia espiritual supremo, o princípio kâmico, que era o quarto, atingiu naturalmente seu zênite durante a quarta raça-raiz, afirmando-se cada vez mais na Humanidade. A luxúria, a brutalidade e a ferocidade foram aumentando, e a natureza animal do homem foi assumindo seu aspecto mais abjeto. Desde os primórdios, o que dividiu a raça atlante em duas facções inimigas foi uma questão moral, e o que já havia começado na época dos rmoahals acentuou-se terrivelmente na era tolteca. A batalha de Armagedon é travada repetidas vezes em cada idade da história do mundo.

Deixando de se submeter ao sábio governo dos imperadores Iniciados, os seguidores da “magia negra” sublevaram-se e elegeram um imperador rival que, depois de muitas lutas e conflitos, expulsou o imperador branco de sua capital, a “Cidade dos Portais Dourados”, e assumiu o trono.

O imperador branco, expulso para o norte, reinstalou-se numa cidade fundada originalmente pelos tlavatli, na extremidade meridional da região montanhosa que, nessa época, era a sede de um dos reis tributários toltecas. Esse rei recebeu com alegria o imperador branco e colocou a cidade à sua disposição. Havia outros reis tributários que também permaneceram leais a ele, mas a maioria transferiu sua vassalagem ao novo imperador, que reinava na antiga capital. Entretanto, essa lealdade não durou muito tempo. Os reis tributáveis constantemente reivindicavam sua independência, e contínuas batalhas eram travadas em diferentes pontos do império, recorrendo-se largamente à prática de bruxaria a fim de suplementar os poderes de destruição que os exércitos possuíam.

Esses eventos ocorreram cerca de 50.000 anos antes da primeira grande catástrofe.

Dessa época em diante as coisas foram de mal a pior. Os bruxos usavam seus poderes de um modo cada vez mais arrojado, e um grupo cada vez maior de pessoas adquiria e praticava essa terrível “magia negra”.

Veio então a horrível punição, onde pereceram milhões e milhões de pessoas. A grande “Cidade dos Portais Dourados” tornara-se, nessa época, um perfeito antro de iniquidade. As ondas precipitaram-se sobre ela e exterminaram seus habitantes, e o imperador “negro” e sua dinastia caíram para sempre. O imperador do norte e os sacerdotes iniciados, de todas as partes do continente, há muito tempo estavam conscientes dos funestos dias que se aproximavam, e as páginas seguintes falarão das muitas migrações, lideradas pelos sacerdotes, que precederam esta catástrofe, bem como das que se deram em épocas posteriores.

O continente estava, então, bastante dilacerado. Mas a porção atual de território submerso de modo algum representava o dano provocado, pois os vagalhões varreram grandes extensões de terra, transformando-as em pântanos abandonados. Regiões inteiras tornaram-se estéreis, permanecendo desertas e sem plantações por muitas gerações.

Além disso, a população restante recebera uma terrível advertência. Levaram-na a sério e, durante certo tempo, a bruxaria foi menos freqüente entre eles. Passou-se um longo período, antes que se estabelecesse um novo governo eficaz. Por fim, depararemos com uma dinastia semita de bruxos entronizada na “Cidade dos Portais Dourados”, mas nenhuma autoridade tolteca destacou-se durante o período do segundo mapa. Ainda havia um número considerável de populações toltecas, mas pouco restava de seu puro sangue no continente de origem.

Entrementes, na ilha de Ruta, no período do terceiro mapa, uma dinastia tolteca novamente ascendeu ao poder e governou, através de seus reis tributários, uma grande porção da ilha. Essa dinastia devotava-se à magia negra. E importante salientar que essa prática tomou-se, durante todos os quatro períodos, cada vez mais predominante, até culminar na inevitável catástrofe que, em grande medida, purificou a terra do mal monstruoso. Deve-se também ter em mente que, até a destruição final, quando Posseidones desapareceu, um imperador ou rei Iniciado – ou ao menos alguém que conhecia a “boa lei” -, governou em alguma parte do continente insular, atuando sob a orientação da Hierarquia Oculta, a fim de refrear, onde fosse possível, os bruxos malignos e orientar e instruir a pequena minoria que ainda estava disposta a levar uma vida pura e saudável. Nos últimos dias, esse rei “branco” era, via de regra, eleito pelos sacerdotes – ou seja, pelos poucos que ainda seguiam a “boa lei”.

Pouco resta a ser dito sobre os toltecas. Em Posseidones, a população de toda a ilha era mais ou menos mesclada. Dois reinos e uma pequena república, localizada a oeste, dividiam a ilha entre si. A região norte era governada por um rei Iniciado. No sul, o princípio hereditário também fora substituído pela eleição popular. As dinastias raciais aristocráticas estavam acabando, mas reis de linhagem tolteca ocasionalmente subiam ao poder, tanto no norte quanto no sul, embora o reino setentrional fosse constantemente invadido pelo seu rival sulista, que conquistava para si uma parte cada vez maior de seu território.

Esta abordagem, até certo ponto minuciosa, da situação política na época dos toltecas, exime-nos de uma análise pormenorizada das principais características políticas das quatro sub-raças seguintes, já que nenhuma delas atingiu o apogeu alcançado pelos toltecas – na verdade, a degeneração da raça já havia começado.

Ao que tudo indica, foi a tendência inata da raça turaniana que a levou a desenvolver uma espécie de sistema feudal. Cada chefe era supremo em seu próprio território e o rei era apenas o primas inter pares. Os chefes que compunham o conselho de estado ocasionalmente assassinavam o rei, substituindo-o por um deles. Eram uma raça violenta e bárbara, bem como brutal e cruel. O fato de que, em alguns períodos de sua história, uma grande quantidade de mulheres participassem de suas guerras é indicativo dessas características.

Contudo, o fato mais interessante de sua história está na estranha experiência que empreenderam em sua vida social, que, não fosse por sua origem política, melhor se enquadraria na seção destinada aos “usos e costumes”. Os turanianos sofriam constantes derrotas nas batalhas travadas com seus vizinhos toltecas, muito mais numerosos; assim, tinham como meta principal o aumento da população. Para tanto promulgaram leis que retiravam de cada homem a responsabilidade de sustentar a família. O Estado cuidava e provia a subsistência das crianças, que eram consideradas propriedade sua. Isso contribuiu, sem dúvida, para o aumento do coeficiente de natalidade entre os turanianos, e a cerimônia do casamento passou a ser desprezada. Os laços da vida familiar e o sentimento de amor entre pais e filhos logicamente foram destruídos, o que levou o sistema a um verdadeiro fracasso total, sendo finalmente abandonado. Outras tentativas de encontrar soluções socialistas para problemas econômicos, que até hoje nos afligem, foram experimentadas e abandonadas por essa raça.

Os semitas originais, que eram uma raça belicosa, saqueadora e enérgica, sempre teve uma inclinação pela forma patriarcal de governo. Seus colonizadores, que geralmente levavam uma vida nômade, adotaram essa forma de governo de modo quase exclusivo, mas, como vimos, desenvolveram um considerável império durante o período do segundo mapa e invadiram a grande “Cidade dos Portais Dourados”. Entretanto, acabaram sendo obrigados a recuar diante do crescente poder dos acadianos.

Foi no período do terceiro mapa, cerca de 100.000 anos atrás, que os acadianos afinal derrotaram o poderio semita. Essa sexta sub-raça era um povo muito mais obediente às leis do que seus predecessores. Mercadores e navegadores, viviam em comunidades sedentárias e, naturalmente, criaram uma forma oligárquica de governo. Uma de suas características, da qual Esparta é o único exemplo recente, era o sistema dual de governo, onde dois reis governam a mesma cidade. Talvez em consequência de sua aptidão naval, o estudo das estrelas tomou-se uma atividade característica, tendo essa raça realizado grandes progressos na astronomia e na astrologia.

O povo mongólico foi um aperfeiçoamento de seus vizinhos ancestrais, originários do selvagem tronco turaniano. Nascidos, como eram, nas vastas estepes da Sibéria Oriental, nunca tiveram qualquer contato com o continente-mãe e, sem dúvida por causa de seu ambiente, tornaram-se um povo nômade. Mais psíquicos e mais religiosos do que os turanianos, de quem descendiam, a forma de governo para a qual tenderam exigia um suserano que exercesse o poder supremo, não só como governante territorial mas também como sumo sacerdote.

Emigrações

Três causas contribuíram para provocar as emigrações. A raça turaniana, como vimos, estava, desde sua origem, imbuída do espírito de colonização, o que ela levou a cabo numa escala considerável. Também os semitas e acadianos eram, até certo ponto, raças colonizadoras.

Com o passar do tempo, a população também tendia cada vez mais a ultrapassar os limites de subsistência. Por conseguinte, a miséria se instalava, de modo semelhante, entre os menos prósperos de cada raça, que se viram obrigados a procurar um meio de vida em países menos populosos. Deve-se ter em mente que, quando os atlantes atingiram seu apogeu na era tolteca, a proporção de habitantes por quilômetro quadrado no continente da Atlântida provavelmente era comparável, embora não excedesse, à que se verifica atualmente na Inglaterra e Bélgica. De qualquer modo, é claro que os espaços vagos disponíveis para colonização eram mais abundantes naquela época do que na nossa, embora a população total do mundo – que no momento [1986], não deve ser superior a 1,2 ou 1,5 bilhão de habitantes – atingisse naqueles dias a grande cifra de aproximadamente 2 bilhões de habitantes.

Por fim, havia as emigrações lideradas por sacerdotes, que ocorreram antes de cada catástrofe – e as quatro grandes catástrofes, acima mencionadas, não foram as únicas. Os reis e sacerdotes Iniciados que observavam a “boa lei” estavam, de antemão, cientes das calamidades iminentes. Portanto, cada um deles tornou-se um centro de advertência profética, acabando por liderar grupos de colonizadores. Deve-se observar aqui que, nos últimos dias, os governantes do país indignaram-se profundamente com essas emigrações lideradas pelos sacerdotes, as quais tendiam a empobrecer e despovoar seus reinos, e os emigrantes eram obrigados a embarcar secretamente durante a noite.

Acompanhando, mais ou menos, as rotas de emigração que, sucessivamente, foram seguidas por cada sub-raça, inevitavelmente acabaremos chegando às terras que seus respectivos descendentes hoje ocupam.

Quanto às emigrações mais antigas, temos de recuar até a época dos rmoahals. É preciso lembrar que apenas a porção da raça que habitava as costas nordésteas conservava seu sangue puro. Atacados em suas fronteiras meridionais e expulsos mais para o norte pelos guerreiros tlavatlis, começaram a penetrar no território vizinho, situado a leste, e no promontório da Groenlândia, que ficava mais próximo ainda. No período do segundo mapa, não havia mais nenhum rmoahal de sangue puro no já então reduzido continente-mãe, mas o promontório setentrional do continente, que se erguia a oeste, bem como o já mencionado cabo da Groenlândia e o litoral ocidental da grande ilha escandinava estavam ocupados por eles. Havia também uma colônia, na região situada ao norte do mar asiático central.

Naquele tempo, a Grã-Bretanha e a Picardia faziam parte da ilha escandinava, embora a própria ilha se tornasse, no período do terceiro mapa, parte do crescente continente europeu. Atualmente, é na França que os restos mortais desta raça têm sido encontrados, nos estratos quaternários, e o espécime braquicéfalo, de cabeça arredondada, conhecido como o “homem de Furfooz”, pode ser considerado como uma degeneração do tipo da raça em seu declínio.

Muitas vezes obrigados, devido às inclemências de uma época glacial, a se dirigirem para o sul, muitas vezes impelidos para o norte pela ganância de seus vizinhos mais poderosos, os remanescentes dessa raça, dispersos e degradados, podem ser encontrados hoje entre os atuais lapões, embora mesmo neste caso tenha havido uma mistura de sangue. Contudo, estes enfraquecidos e atrofiados espécimes da Humanidade são descendentes diretos da raça negra de gigantes que surgiu nas terras equatoriais da Lemúria, há quase cinco milhões de anos.

Os colonizadores tlavatlis parecem ter se espalhado por todas as direções. No período do segundo mapa, seus descendentes estavam instalados nas costas ocidentais do então crescente continente americano (Califórnia), bem como nas costas do extremo sul (Rio de Janeiro). Também podemos encontrá-los nas regiões litorâneas orientais da ilha escandinava, embora muitos deles se tivessem aventurado pelo oceano, contornando a costa da África e alcançando a índia, onde, num processo de miscigenação com a população indígena lemuriana, formaram a raça dravídica. Mais tarde, essa raça misturou-se, por sua vez, com a raça árica, ou quinta raça, de onde a complexidade tipológica encontrada hoje na índia. De fato, temos aqui um claro exemplo da dificuldade extrema de decidir qualquer questão de raça pela evidência meramente física, pois seria perfeitamente possível que egos da quinta raça encarnassem entre os brâmanes, egos da quarta raça entre as castas inferiores, e alguns retardatários da terceira raça entre as tribos montesas.

No período do quarto mapa, encontramos uma nação tlavatli ocupando as regiões meridionais da América do Sul, de onde se pode deduzir que os patagônios provavelmente tiveram uma remota ascendência tlavatli.

Restos mortais dessa raça, assim como dos rmoahals, têm sido encontrados nos estratos quaternários da Europa central, e o doli-cocéfalo “homem de Cro-Magnon”* pode ser considerado um típico espécime da raça em sua decadência, ao passo que os “povos lacustres” da Suíça constituíam um ramo ainda mais primitivo e não totalmente puro. Atualmente, os únicos povos que podem ser citados como espécimes de sangue razoavelmente puro dessa raça são algumas tribos pardas de índios da América do Sul. Os birmaneses e siameses também possuem sangue tlavatli nas veias, embora tenham se misturado com a estirpe mais nobre de uma das sub-raças ancas, cujo sangue é, portanto, dominante.

Chegamos, assim, aos toltecas. Eles emigraram sobretudo para o oeste. As costas próximas do continente americano estavam, no período do segundo mapa, povoadas por uma raça tolteca pura, enquanto a maioria dos que permaneceram no continente-mãe tinha o sangue muito misturado. Foi nos continentes da América do Norte e do Sul que essa raça se disseminou e floresceu; aí, milhares de anos mais tarde, os impérios do México e do Peru seriam fundados. A grandeza desses impérios é um assunto da História, ou ao menos da tradição, que tem à sua disposição inúmeras evidências, entre as quais as magníficas ruínas arquitetônicas. Pode-se notar aqui que, embora o império mexicano tenha sido, durante séculos, vasto e poderoso em todos os aspectos que nossa civilização atual considera como tal, ele nunca atingiu o apogeu alcançado pelos peruanos há cerca de 14.000 anos, sob o governo dos soberanos inças. No que diz respeito ao bem-estar geral do povo, à justiça e beneficência do governo, à divisão igualitária da posse da terra e à vida simples e religiosa dos habitantes, o império peruano daquela época poderia ser considerado como um eco tradicional, porém débil, da idade de ouro dos toltecas no continente-mãe da Atlântida.

O índio pele-vermelha típico da América do Norte ou do Sul, é o melhor representante atual do povo tolteca, mas naturalmente não se compara ao indivíduo altamente civilizado da raça em seu apogeu.

O Egito deve ser agora mencionado, e o estudo dessa matéria deve fornecer um importante esclarecimento a respeito de sua primitiva história. Embora o primeiro povoamento desse país não tenha sido, no sentido estrito da palavra, uma colônia, foi da raça tolteca que, posteriormente, foi aliciado o primeiro grande contingente de emigrantes, destinados a se misturarem com o povo aborígine e a dominá-lo.

Em primeiro lugar, houve a transferência de uma grande Loja de Iniciação, cerca de 400.000 anos atrás. A idade de ouro dos toltecas há muito terminara. A primeira grande catástrofe já ocorrera. A degradação moral do povo e a conseqüente prática das “magias negras” estavam se tornando mais acentuadas e se disseminavam por toda parte. Fazia-se necessário um ambiente mais puro para a Loja Branca. O Egito estava isolado e sua população era escassa. Por isso, foi escolhido. A colonização servia, assim, ao seu propósito e, não perturbada por condições adversas, a Loja de Iniciados realizou seu trabalho por, aproximadamente, 200.000 anos.

Cerca de 210.000 anos atrás, no tempo propício, a Loja Oculta fundou um império – a primeira “Dinastia Divina” do Egito – e principiou a ensinar o povo. Foi então que o primeiro grande grupo de colonizadores foi trazido da Atlântida e, em alguma época, durante os 10.000 anos que precederam a segunda catástrofe, as duas grandes pirâmides de Giseh foram construídas, em parte para proporcionar Salas de Iniciação permanentes, mas também para atuar como casa do tesouro e santuário de algum grande talismã de poder durante a submersão, que os Iniciados sabiam ser iminente. O Mapa nº 3 retrata o Egito nessa época, submerso. E ele assim permaneceu por um considerável período, mas quando tornou a emergir foi outra vez povoado pelos descendentes de muitos de seus antigos habitantes, que tinham se refugiado nas montanhas abissínias (que no Mapa D- 3 aparecem como uma ilha), bem como por novos grupos de colonos atlantes, vindos de várias regiões do mundo. Uma considerável imigração de acadianos ajudou, então, a alterar o tipo egípcio. Esta é a era da segunda “Dinastia Divina” do Egito – na qual os Adeptos Iniciados foram, novamente, os governantes do país.

A catástrofe de 80.000 anos atrás deixou, uma vez mais, o país submerso, mas dessa vez foi apenas uma onda temporária. Quando esta refluiu, a terceira “Dinastia Divina” – mencionada por Maneio — começou seu governo, e foi durante o reinado dos primeiros reis dessa dinastia que o grande templo de Karnak, e uma grande parte das mais antigas construções que ainda podem ser vistas no Egito, foram erigidas. Na verdade, excetuando-se as duas pirâmides, nenhuma outra construção no Egito é anterior à catástrofe de 80.000 anos atrás.

A submersão definitiva de Posseidones fez com que um outro vagalhão atingisse o Egito. Essa calamidade também foi apenas temporária, mas pôs fim às “Dinastias Divinas”, pois a Loja de Iniciados transferira suas sedes para outras terras.

Vários aspectos não mencionados aqui já foram tratados em Transaction of the London Lodge, “The Pyramids and Stonehenge”.

Os turanianos, que no período do primeiro mapa colonizaram as regiões setentrionais do território situado logo a leste da Atlântida, ocuparam, no período do segundo mapa, suas regiões litorâneas meridionais (que incluíam o Marrocos e a Argélia atuais). Também vamos encontrá-los vagando em direção ao oriente, povoando tanto as costas ocidentais como orientais do mar asiático central. Finalmente, seus grupos deslocaram-se ainda mais para o leste e, nos dias de hoje, o chinês do interior é o tipo que mais se aproxima dessa raça. Um curioso capricho do destino, a respeito de uma das ramificações ocidentais desta raça, deve ser mencionado. Apesar de dominados durante séculos pelos seus vizinhos toltecas, mais poderosos, estava reservado a um pequeno ramo do tronco turaniano a conquista e a ocupação do último grande império construído pelos toltecas, pois os brutais e pouco civilizados astecas possuíam o puro sangue turaniano.

Houve dois tipos de emigrações semitas: primeiro, as motivadas pelo impulso natural da raça; segundo, aquela emigração especial, efetuada sob direta orientação do Manu; pois, por mais estranho que possa parecer, o núcleo destinado a ser desenvolvido na nossa grande raça árica, ou quinta raça, não foi escolhido dentre os toltecas, mas sim, entre os dessa sub-raça violenta e anárquica, embora vigorosa e energética. A razão, sem dúvida alguma, repousa na característica manásica, com a qual o número 5 é sempre associado. A sub-raça desse número foi inevitavelmente desenvolvendo o poder e a inteligência de seu cérebro físico, embora à custa das percepções psíquicas; contudo, esse desenvolvimento do intelecto, em níveis infinitamente mais elevados, é ao mesmo tempo a glória e a meta prefixada de nossa quinta raça-raiz.

Analisando, em primeiro lugar, as emigrações naturais, constatamos que, no período do segundo mapa, enquanto ainda restavam nações poderosas no continente-mãe, os semitas espalharam-se tanto para o oeste como para o leste – a oeste, para as terras que hoje formam os Estados Unidos, explicando o porquê de o tipo semítico ser encontrado em algumas das raças índias; e a leste, para as costas setentrionais do continente vizinho, que formava tudo o que então havia da Europa, da África e da Ásia. O tipo dos egípcios antigos, bem como de outras nações adjacentes, foi, até certo ponto, alterado por essa linhagem semita original; contudo, com exceção dos judeus, os cabilas menos escuros das montanhas argelinas são, no momento, os únicos representantes da raça relativamente pura.

As tribos resultantes da segregação efetuada pelo Manu para a formação da nova raça-raiz finalmente encontraram seu caminho para as regiões litorâneas meridionais do mar asiático central, onde foi fundado o primeiro grande reino árico. Quando o Relatório acerca da origem de uma raça-raiz for escrito, verificar-se-á que muitos dos povos aos quais costumeiramente chamamos semíticos, na verdade são, quanto ao sangue, áricos. O mundo também será esclarecido a respeito do que consiste a reivindicação dos hebreus de serem considerados um “povo escolhido”. Em poucas palavras, pode-se afirmar que eles representam um vínculo anormal e artificial entre as quarta e quinta raças-raízes.

Os acadianos, apesar de se tornarem, finalmente, os governantes supremos no continente-mãe da Atlântida, originaram-se, como vimos no período do segundo mapa, no continente vizinho – seu habitat específico ficava na região ocupada pela bacia do Mediterrâneo, mais ou menos onde atualmente fica a ilha da Sardenha. A partir deste centro, avançaram para o oriente, ocupando as regiões que, posteriormente, formaram as costas do Levante, e chegaram até a Pérsia e a Arábia. Como já vimos, eles também ajudaram a povoar o Egito. Os antigos etruscos, os fenícios, incluindo os cartagineses e os sumério-acadianos, eram ramificações desta raça, embora os bascos de hoje, provavelmente, tenham uma porcentagem bem maior de sangue acadiano correndo em suas veias.

Uma referência aos antigos habitantes de nossas ilhas pode ser oportuna aqui, pois foi na primitiva era acadiana, cerca de 100.000 anos atrás, que a colônia dos Iniciados, que fundaram Stonehenge, desembarcaram nessas praias – sendo “essas praias”, naturalmente, as praias da parte escandinava do continente da Europa, como demonstra o Mapa nº 3. Parece que os sacerdotes iniciados e seus discípulos pertenciam a uma linhagem bastante antiga da raça acadiana – eram mais altos, mais bonitos e mais espertos do que os aborígines da região, que eram uma raça muito miscigenada e, em sua grande maioria, remanescentes degenerados dos rmoahals. Como os leitores do Transaction of the London Lodge, em “Pyramids and Stonehenge”, devem saber, a rude simplicidade de Stonehenge foi planejada para servir de protesto contra os ornamentos extravagantes e a exagerada decoração dos templos existentes na Atlântida, onde os habitantes prosseguiam com o degradante culto de suas próprias imagens.

Os mongóis, como vimos, nunca tiveram nenhum contato com o continente-mãe. Nascidos nas vastas planícies da Tartána, durante muito tempo suas emigrações se limitaram às grandes extensões dessas regiões; por mais de uma vez, porém, tribos de origem mongólica atravessaram o estreito de Bering, passando, assim, do norte da Ásia para a América. A última dessas emigrações – a dos k’i-tans, há uns 1.300 anos – deixou rastos, que alguns cientistas ocidentais puderam seguir. A presença de sangue mongol em algumas tribos de índios norte-americanos também foi admitida por vários etnólogos. Sabe-se que tanto os húngaros como os malaios são ramificações dessa raça, enobrecida, no primeiro caso, por uma estirpe de sangue árico, degradada, no segundo, pela miscigenação com os exaustos lemurianos. Contudo, o fato interessante sobre os mongóis é que seus últimos descendentes ainda estão em pleno vigor – na verdade, ainda não atingiram seu apogeu – e a nação japonesa ainda tem muita história a oferecer ao mundo.

* Os estudiosos de geologia e paleontologia devem saber que essas ciências consideram o “homem de Cro-Magnon” anterior ao “homem de Furfooz”, e considerando-se que essas duas raças seguiram lado a lado, por vastos períodos de tempo, pode muito bem ser possível que o esqueleto do indivíduo de “Cro-Magnon”, embora representativo da segunda raça, tenha se sedimentado nos estratos quaternários milhares de anos antes que o “homem de Furfooz” vivesse na Terra.

Artes e Ciências

Deve-se, antes de tudo, reconhecer que nossa própria raça árica tem, naturalmente, conquistado resultados muito maiores, em quase todos os campos de atividade, do que os atlantes. No entanto, mesmo onde eles fracassaram em alcançar o nosso nível, o relato de seus feitos serve para demonstrar o alto grau de desenvolvimento atingido pela sua civilização. Por outro lado, a qualidade de suas conquistas científicas, nas quais nos excederam, são de uma natureza tão deslumbrante que não podemos deixar de nos surpreender diante desse desenvolvimento desproporcional.

As artes e ciências, tal como praticadas pelas duas primeiras raças, eram, naturalmente, bastante rudimentares, mas não é nosso propósito seguir o progresso alcançado por cada sub-raça em separado. A história da raça atlante, bem como da raça árica, foi entremeada com períodos de progresso e de decadência. Às épocas de cultura seguiram-se períodos anárquicos, durante os quais todo o desenvolvimento artístico e científico se perdia, e esses períodos eram, por sua vez, sucedidos por civilizações que atingiam níveis ainda mais elevados. Naturalmente, serão desses períodos de cultura que tratarão as observações seguintes, entre os quais se distingue, sobretudo, a grande era tolteca.

A arquitetura, a escultura, a pintura e a música eram praticadas na Atlântida. A música, mesmo nos períodos de maior brilho, era rudimentar e os instrumentos bastante primitivos. Todas as raças atlantes gostavam das cores, e matizes brilhantes decoravam o interior e o exterior de suas casas. Contudo, a pintura, enquanto arte pura, nunca se firmou realmente, embora se ensinasse, nos últimos dias, algum tipo de desenho e pintura nas escolas. Por outro lado, a escultura, que também era ensinada nas escolas, era muito praticada e sua qualidade foi excepcional. Como veremos mais adiante, na seção destinada à “Religião”, tornou-se uma prática comum, desde que se tivesse recursos para tanto, colocar num dos templos uma imagem de si próprio. Essas imagens eram, algumas vezes, esculpidas em madeira ou numa pedra resistente e escura, semelhante ao basalto; entre os ricos, porém, tornou-se moda esculpir suas estátuas em metais preciosos, tais como o oricalco, o ouro ou a prata. Geralmente, conseguia-se uma imagem razoável do indivíduo e, em alguns casos, alcançava-se uma semelhança notável.

Contudo, a arquitetura era, sem dúvida, uma das artes mais praticadas. Suas construções consistiam em estruturas maciças, de proporções gigantescas. As moradias nas cidades não eram como as nossas, compactamente aglomeradas nas ruas, uma ao lado da outra. Do mesmo modo que suas casas rurais, algumas erguiam-se cercadas por jardins, outras separadas por lotes de terrenos comuns, mas todas eram estruturas isoladas. No caso dos edifícios mais importantes, quatro blocos circundavam um pátio central, no meio do qual geralmente erguia-se uma das fontes, cuja quantidade na “Cidade dos Portais Dourados” fez com que esta recebesse uma segunda denominação, a de “Cidade das Águas”. Não havia, como hoje, mercadorias expostas nas ruas para venda. Todas as transações de compra e venda eram efetuadas de modo particular, exceto em datas estabelecidas, quando se realizavam grandes feiras públicas nos espaços livres das cidades. Todavia, a principal característica da habitação tolteca era a torre que se erguia em um dos cantos ou no centro de um dos blocos. Uma escada espiral, construída do lado externo, conduzia aos andares superiores, e uma cúpula pontiaguda encimava a torre – esta parte mais elevada geralmente era usada como observatório. Como já foi mencionado, as casas eram decoradas com cores brilhantes. Algumas eram ornamentadas com esculturas, outras com afrescos ou desenhos decorativos. Os espaços das janelas eram preenchidos com algum artigo Manufaturado, semelhante ao vidro, mas menos transparente. Os interiores não eram guarnecidos com os elaborados detalhes de nossas habitações modernas, mas a vida era altamente civilizada em seu gênero.

Os templos eram edifícios enormes, assemelhando-se, mais do que quaisquer outros, às gigantescas construções egípcias, porém construídos num estilo ainda mais prodigioso. As colunas que sustentavam o teto raramente eram circulares, sendo, em sua maioria, quadradas. Na época da decadência, os corredores estavam rodeados por inúmeras capelas, onde se encontravam as estátuas dos habitantes mais importantes. Essas capelas laterais eram às vezes de um tamanho considerável, a fim de comportar toda uma comitiva de sacerdotes, que alguns homens especialmente importantes tinham a seu serviço para o culto cerimonial de sua imagem. Tal como as residências particulares, os templos nunca estavam completos sem as torres encimadas por domos, que naturalmente guardavam suas respectivas proporções em tamanho e magnificência. Elas eram utilizadas como observatórios astronômicos e para o culto do sol.

Os metais preciosos eram muito usados na decoração dos templos, cujos interiores eram freqüentemente não apenas marchetados mas chapeados de ouro. Valorizava-se altamente o ouro e a prata mas, como veremos mais adiante, ao abordarmos o assunto da moeda corrente, a finalidade do uso desses metais era artística e nada tinha que ver com o sistema monetário, embora a enorme quantidade então fabricada pelos químicos – ou devíamos hoje em dia chamá-los alquimistas -, deva tê-los afastado da categoria de metais preciosos. Esse poder de transmutação de metais não era universal, mas era tão largamente conhecido que se fabricavam enormes quantidades. Na verdade, a fabricação dos metais almejados pode ser considerada como um dos empreendimentos industriais daquela época, através dos quais os alquimistas ganhavam a vida. O ouro era bem mais admirado do que a prata e, conseqüentemente, fabricado numa escala muito maior.

Educação

Algumas palavras acerca do idioma introduzirá adequadamente um comentário a respeito da instrução ministrada nas escolas e nas faculdades da Atlântida. Durante o período do primeiro mapa, o tolteca era a língua universal, não apenas em todo o continente, mas também nas ilhas ocidentais e naquela porção do continente oriental que reconhecia o governo do imperador. Vestígios dos idiomas rmoahal e tlavatli sobreviviam, é verdade, em regiões remotas, assim como os idiomas celta e galês sobrevivem hoje entre nós, na Irlanda e no País de Gales. A língua tlavatli foi a base usada pelos turanianos, que introduziram tantas modificações que, com o tempo, criaram uma língua inteiramente diversa; por sua vez, os semitas e acadianos, adotando uma base tolteca, modificaram-na, cada um a seu modo, e criaram, assim, duas variações divergentes. Desse modo, nos últimos dias de Posseidones, havia várias línguas inteiramente distintas – embora todas pertencessem a um tipo aglutinante -, pois só na época da quinta raça é que os descendentes dos semitas e acadianos desenvolveram uma língua flexiva. Entretanto, através de todas as épocas, a língua tolteca manteve razoavelmente sua pureza, e o mesmo idioma falado na Atlântida, na época de seu esplendor, foi usado, com ligeiras alterações, milhares de anos mais tarde, no México e no Peru.

As escolas e faculdades da Atlântida, na grande era tolteca, bem como nos posteriores períodos de cultura, eram mantidas pelo Estado. Embora se exigisse que todas as crianças passassem pelas escolas primárias, a educação subsequente diferia bastante. As escolas primárias constituíam uma espécie de processo de seleção. As crianças que demonstrassem verdadeira aptidão para o estudo, juntamente com as crianças das classes dominantes, que naturalmente possuíam maiores habilidades, eram escolhidas para as escolas superiores, mais ou menos com doze anos de idade. A leitura e a escrita, consideradas como simples preliminares, já lhes tinham sido ensinadas nas escolas primárias.

Mas a leitura e a escrita não eram consideradas necessárias à maioria dos habitantes, que tinham de passar a vida cultivando a terra, ou então nos ofícios Manuais, cuja prática era requerida pela comunidade. Por essa razão, a grande maioria das crianças era imediatamente conduzida às escolas técnicas que melhor conviessem às suas diversas aptidões. Entre as escolas técnicas, as principais eram as agrícolas. Alguns ramos da mecânica também faziam parte da educação, ao passo que nas regiões mais afastadas e próximas do litoral incluíam-se a caça e a pesca. Desse modo, todas as crianças recebiam a educação ou treinamento que lhes fosse mais apropriado.

As crianças com aptidões superiores que, como vimos, tinham aprendido a ler e a escrever, recebiam uma educação mais elaborada. As propriedades das plantas e suas qualidades de cura constituíam um importante ramo de estudo. Nessa época não havia médicos reconhecidos como tais – todo homem Instruído sabia alguma coisa de medicina, bem como de cura magnética. Também ensinavam-se química, matemática e astronomia. O treinamento nessas matérias en- contra sua analogia entre nós, mas o objetivo para o qual os esforços dos professores se dirigiam era o desenvolvimento das faculdades psíquicas dos alunos e sua instrução acerca das forças ocultas da Natureza. As propriedades ocultas das plantas, dos metais e das pedras preciosas, bem como os processos alquímicos de transmutação, estavam incluídos nessa categoria. Com o passar do tempo, porém, isso tornou-se cada vez mais o poder individual, ao qual Bulwer Lytton dá o nome de vril, descrevendo exatamente sua ação em The Corning Roce, que as faculdades destinadas ao ensino superior dos jovens da Atlântida ocupavam-se particularmente em desenvolver. A mudança marcante, ocorrida por ocasião da decadência da raça, consistiu em que, em vez de o mérito e a aptidão serem considerados decisivos para a promoção aos mais altos graus de instrução, as classes dominantes, que se tomavam cada vez mais exclusivistas, apenas permitiam que seus próprios filhos se graduassem no mais alto nível de ensino, o que lhes proporcionava um grande poder.

Num império como o dos toltecas, era natural que a agricultura recebesse especial atenção. Não só os trabalhadores aprendiam seu ofício nas escolas técnicas, como também havia faculdades onde se ministrava, aos estudantes habilitados, o conhecimento necessário para levar a cabo experiências de cruzamentos de animais e de plantas.

Como os leitores de literatura teosófica devem saber, o trigo não tem sua origem neste planeta. Foi uma dádiva do Manu, que o trouxe de outro planeta, situado além de nosso sistema solar. Mas a aveia e alguns de nossos outros cereais são resultados dos cruzamentos entre o trigo e as ervas nativas da terra. Ora, as experiências que produziram esses resultados foram realizadas nas escolas agrícolas da Atlântida. Essas experiências foram, sem dúvida, orientadas por um conhecimento superior. Contudo, a mais notável façanha dos agricultores atlantes foi o desenvolvimento da pacobeira ou bananeira. No seu estado selvagem original, ela era um melão alongado, com pouquíssima polpa, porém repleta de sementes, como é o caso do melão. Naturalmente, só após séculos (se não milhares de anos) de continua seleção e eliminação que a atual planta sem sementes foi desenvolvida.

Entre os animais domesticados da era tolteca, havia uma espécie semelhante a uma anta muito pequena. Naturalmente, alimentava-se de raízes ou ervas; mas, como os porcos de hoje, com os quais se assemelhavam em vários aspectos, não era lá muito limpo e comia tudo o que aparecesse em seu caminho. Animais maiores, semelhantes ao gato, e ancestrais do cachorro, parecidos com um lobo, também podiam ser encontrados ao redor das habitações humanas. Parece que os carros toltecas eram puxados por animais um pouco parecidos com pequenos camelos. Os atuais lhamas peruanos provavelmente são seus descendentes. Os ancestrais do alce irlandês também vagavam pelas encostas dos morros, do mesmo modo que nosso gado montanhês, demasiado selvagem para permitir uma aproximação fácil mas, mesmo assim, sob o controle do homem.

Constantes experiências eram feitas relativas à criação e ao cruzamento de diferentes espécies de animais e, por mais curioso que nos possa parecer, o calor artificial era muito utilizado para estimular seu desenvolvimento a fim de que os resultados do cruzamento de raças e da hibridação pudessem ser verificados num espaço de tempo mais curto. Também foi adotado o uso de diferentes luzes coloridas nos compartimentos onde se realizavam essas experiências, a fim de se obter resultados variados.

Esse controle e moldagem das formas animais, sujeitos à vontade humana, leva-nos a um tema bastante surpreendente e muito misterioso. Já mencionamos o trabalho realizado pelos Manus. Pois bem, é na mente do Manu que se originam todos os aperfeiçoamentos no tipo e as potencialidades latentes em cada forma de vida. A fim de desenvolver minuciosamente os aperfeiçoamentos nas formas de vida animal, a ajuda e a cooperação do homem foram requeridas. As espécies anfíbias e os répteis, que então existiam em abundância, tinham quase completado seu curso e estavam prontas para adotar a forma de um tipo mais desenvolvido, pássaro ou mamífero. Essas formas constituíam a matéria-prima rudimentar que se encontrava à disposição do homem, e a argila estava pronta para assumir qualquer formato que as mãos do oleiro conseguissem moldar. As experiências acima mencionadas foram empreendidas principalmente com os animais que se encontravam num estágio intermediário; e, sem dúvida, os animais domesticados, tal como o cavalo, que hoje prestam tanto serviço ao homem, são o resultado dessas experiências, nas quais os homens daquela época aluaram em cooperação com o Manu e seus ministros. Todavia, não demorou para que essa cooperação se desfizesse. O egoísmo acabou prevalecendo, e a guerra e a discórdia puseram fim à Idade de Ouro dos toltecas. No momento em que os homens, em vez de trabalharem lealmente, com o mesmo objetivo, sob a orientação de seus reis Iniciados, começaram a se atacar mutuamente, os animais que, sob os cuidados do homem, poderiam assumir aos poucos formas cada vez mais úteis e domesticadas, abandonados à orientação de seus próprios instintos, acabaram seguindo o exemplo de seus monarcas e começaram a se atacar. Na verdade, alguns já haviam sido treinados e utilizados pelos homens em suas expedições de caça; assim, os animais semidomesticados semelhantes ao gato, acima mencionados, tornaram-se naturalmente os ancestrais do leopardo e do jaguar.

Um exemplo daquilo que algumas pessoas podem se sentir tentadas a considerar uma teoria fantástica, que embora não venha talvez elucidar a questão, chamará pelo menos a atenção para a moral encerrada neste suplemento ao nosso conhecimento quanto ao modo misterioso pelo qual se deu nossa evolução. Parece que o leão poderia ter uma natureza mais dócil e um aspecto menos feroz se os homens dessa época tivessem concluído a tarefa que lhes fora dado executar. Se ele está ou não destinado a, finalmente, “deitar-se com o cordeiro e a comer palha como o boi”, o destino que lhe estava reservado, tal como foi imaginado por Manu, ainda não tinha sido realizado, pois a imagem era a de um animal possante, porém domesticado – um animal forte, com a espinha dorsal em linha horizontal, olhos grandes e inteligentes, projetado para atuar como um servo muito possante do homem em trabalhos de tração.

A “Cidade dos Portais Dourados” e seus arredores devem ser descritos antes de passarmos à apreciação do maravilhoso sistema pelo qual seus habitantes se supriam de água. Situava-se, como já vimos, na costa oriental do continente, próxima do mar, e cerca de 15° ao norte do equador. Um campo lindamente arborizado, semelhante a um parque, circundava a cidade. Espalhadas por uma ampla área dessa região ficavam as casas de campo das classes mais abastadas. A oeste, estendia-se uma cadeia de montanhas, de onde vinha a água que abastecia a cidade. A própria cidade foi construída nas encostas de uma colina que se erguia cerca de 152 m acima da planície. No topo dessa colina ficava o palácio e os jardins do imperador, de cujo centro jorrava da terra um fluxo incessante de água, que, depois de abastecer o palácio e as fontes dos jardins, fluía em todas as direções, despencando em forma de cachoeiras e formando um canal ou fosso que circundava as terras adjacentes ao palácio, separando-as, assim, da cidade, que se estendia mais abaixo, em cada face da colina. A partir desse canal, quatro regos conduziam a água, passando pelas quatro zonas da cidade, até as cachoeiras que, por sua vez, formavam outro canal circundante, situado num nível mais baixo. Havia três desses canais dispostos em círculos concêntricos, entre os quais o mais exterior e inferior ainda se encontrava acima do nível da planície. Um quarto canal situado nesse nível mais inferior, porém com um traçado retangular, recebia os constantes fluxos de água e, por seu turno, despejava-os no mar. A cidade alcançava uma parte da planície, estendendo-se até a margem desse enorme fosso mais exterior, que a circundava e a defendia através de uma linha de pequenos canais, cuja extensão abrangia uns 200 km2.

Veremos, assim, que a cidade se dividia em três grandes zonas, cada uma cercada por seus canais. A zona mais alta, abaixo dos jardins do palácio, caracterizava-se por uma pista circular de corridas e amplos jardins públicos. A maioria das casas dos funcionários da corte também ficava nessa zona, onde havia ainda uma instituição da qual não temos paralelo nos tempos modernos. O termo “Casa dos Estrangeiros”, entre nós, dá uma impressão de desprezo e sugere um ambiente sórdido; tratava-se, porém, de um palácio que hospedava todos os estrangeiros que porventura chegassem à cidade, onde eram tratados, pelo tempo que desejassem ficar, como hóspedes do Governo. As casas separadas dos habitantes e os diversos templos espalhados pela cidade ocupavam as outras duas zonas. No período áureo da civilização tolteca, parece não ter havido uma pobreza propriamente dita – até mesmo os escravos que, em grande número, estavam à disposição de quase todas as famílias, alimentavam-se e vestiam-se muito bem – mas havia algumas famílias relativamente pobres, que moravam ao norte da zona mais baixa, bem como além dos limites do canal mais exterior, perto do mar. Os habitantes dessa região dedicavam-se, em sua grande maioria, à navegação, e suas casas, embora separadas, eram construídas mais perto umas das outras do que nas demais regiões.

Pode-se deduzir, do que foi dito acima, que os habitantes dispunham de um abundante estoque de água pura e limpa, que circulava incessantemente por toda a cidade, enquanto as zonas mais altas e o palácio do imperador eram protegidos por uma série de fossos, cada um num nível mais alto que o outro à medida que se aproximavam do centro.

Assim sendo, não é necessário um conhecimento profundo de mecânica para perceber quão estupendas devem ter sido as obras necessárias para fornecer esse abastecimento, pois a “Cidade dos Portais Dourados”, em seu período áureo, abrigava, dentro do espaço compreendido por seus quatro fossos circulares, mais de dois milhões de habitantes. Nenhum sistema semelhante de abastecimento de água foi alguma vez empreendido, quer na Grécia, em Roma, ou mesmo nos tempos modernos – de fato, é bastante duvidoso que nossos mais hábeis engenheiros, mesmo às custas de imensas fortunas, conseguissem produzir tal resultado.

Será interessante descrever algumas de suas principais características. O abastecimento era extraído de um lago situado entre as montanhas a oeste da cidade, numa altitude acima de 792 m. O aqueduto principal, que era de seção oval e media 15 m por 9 m, levava a água, através do subsolo, a um enorme reservatório em forma de coração, situado bem abaixo do palácio – na verdade, na própria base da colina onde se erguiam a cidade e o palácio. A partir desse reservatório, um poço perpendicular, com cerca de 152 m de altura, atravessava a rocha maciça e dava passagem à água, que jorrava nos jardins do palácio, de onde era distribuída por toda a cidade. Do reservatório central, também partiam diversos canos, destinados a fornecer água potável e a suprir as fontes públicas de vários setores da cidade. Naturalmente, também havia sistemas de comportas para controlar ou interromper o abastecimento das diferentes regiões.

Pelo acima mencionado, qualquer pessoa com algum conhecimento de mecânica deduzirá que a pressão no aqueduto subterrâneo e no reservatório central, de onde a água naturalmente subia até o pequeno lago nos jardins do palácio, devia ser enorme e, por conseguinte, o poder de resistência do material utilizado na sua construção era extraordinário.

Se o sistema de abastecimento de água na “Cidade dos Portais Dourados” era maravilhoso, deve-se admitir que os métodos atlantes de locomoção eram muito mais magníficos, pois era utilizado uma espécie de veículo-voador, embora não fosse um meio de transporte público que pudesse ser usado a qualquer hora. Os escravos, os servos e as classes inferiores, cujo trabalho era Manual, tinham de percorrer a pé as rotas que levavam à zona rural, ou fazer esse percurso em carroças primitivas, de rodas grossas, puxadas por estranhos animais. Os barcos aéreos podem ser considerados como os transportes particulares dessa época, ou melhor, os iates particulares, levando-se em conta o número relativo dos que os possuíam, pois a produção desses veículos deve ter sido sempre difícil e dispendiosa. Por via de regra, não eram planejados para acomodar muitas pessoas. Muitos deles eram construídos com apenas dois lugares; outros tinham espaço para seis ou oito passageiros. Nos últimos dias, quando a guerra e a discórdia puseram fim à Idade de Ouro, navios de guerra aéreos substituíram em grande escala os navios de guerra normais – à medida que o potencial de destruição daqueles revelou-se muito mais eficaz. Esses navios eram planejados para transportar o equivalente a cinqüenta combatentes e, em alguns casos, comportavam até cem homens.

O material com que esses barcos aéreos eram construídos era madeira ou metal. Os primeiros foram construídos de madeira – as tábuas utilizadas eram muitíssimo finas, mas a injeção de alguma substância, que, embora não lhes aumentasse materialmente o peso, fornecia-lhes uma resistência análoga à do couro, proporcionava a necessária combinação de leveza e rijeza. Quando o metal foi utilizado, geralmente era uma liga – dois metais brancos e um vermelho entravam nessa mistura. O resultado era um metal branco, semelhante ao alumínio, e até mesmo mais leve no peso. Sobre a estrutura básica do barco aéreo estendia-se uma folha grande desse metal, que, em seguida, era ajustada à forma e, onde necessário, soldada eletricamente. Contudo, quer fossem construídos de metal ou de madeira, a superfície exterior era aparentemente inconsútil e perfeitamente lisa; além disso, brilhavam no escuro, como se tivessem sido revestidos por uma tinta fosforescente.

Quanto à forma, assemelhavam-se a um barco, mas eram invariavelmente cobertos, pois, quando no auge da velocidade, não seria nada cômodo, mesmo que fosse seguro, permanecer no convés superior. Seu mecanismo de propulsão e de direção podia ser acionado em ambas as extremidades.

Mais curioso ainda, porém, é a energia que os impulsionava. A princípio, parece que o vril pessoal supria a força motriz – se era usado em combinação com algum dispositivo mecânico, pouco importa -, sendo substituído, mais tarde, por uma força que, embora gerada de um modo que desconhecemos, operava, não obstante, através de dispositivos mecânicos. Na verdade, essa força era de uma natureza etérica. Sem dúvida, os dispositivos mecânicos não eram exatamente idênticos em cada uma das embarcações. A seguinte descrição refere-se a um barco aéreo, no qual, em certa ocasião, três embaixadores do rei que governava a região setentrional de Posseidones viajaram até o palácio do reino meridional. Uma forte e pesada arca de metal, situada no centro do barco, era o gerador. Dali a força fluía através de dois grandes tubos flexíveis até as duas extremidades da embarcação, bem como através de oito tubos suplementares que, fixados nas amuradas, iam da proa até a popa. Estes tinham aberturas duplas, uma voltada para cima e a outra para baixo. Quando a viagem estava prestes a se iniciar, abriam-se as válvulas dos oito tubos da amurada que estavam voltadas para baixo – as demais válvulas permaneciam fechadas. Precipitando-se através dessas válvulas, a corrente chocava-se tão violentamente contra a terra, que impelia o barco para cima, enquanto o próprio ar continuava a fornecer o suporte necessário. Quando se alcançava uma altitude suficiente, acionava-se o tubo flexível dessa extremidade da embarcação voltada para a direção oposta à desejada, ao mesmo tempo que, pelo fechamento parcial das válvulas, reduzia-se a corrente que se precipitava através dos oito tubos verticais, até se obter o mínimo de corrente necessário à Manutenção da altitude alcançada. A grande intensidade da corrente, sendo agora dirigida através do amplo tubo voltado na direção da popa, com uma inclinação de aproximadamente 45°, além de ajudar a manter a altitude, também fornecia a grande força motriz que impulsionava a embarcação através do ar. A pilotagem se efetuava pela descarga da corrente ao longo desse tubo, pois a menor alteração do sentido dessa corrente provocava uma alteração imediata no rumo da embarcação. Mas não era necessário uma inspeção constante. No caso de uma viagem longa, o tubo podia ser fixado, de modo que não era preciso manejá-lo até que o percurso estivesse quase concluído. A velocidade máxima alcançada era de mais ou menos 160 km por hora; o percurso nunca era feito em linha reta, mas sempre em forma de longas ondulações, ora aproximando-se, ora afastando-se do solo. A altitude em que as embarcações faziam seu percurso era de apenas poucas centenas de metros – na verdade, quando altas montanhas surgiam na Unha de rota, era necessário mudar o curso e contorná-las. O ar mais rarefeito não fornecia o suporte necessário por muito tempo. Os morros de cerca de 300 m eram os mais altos que conseguiam transpor. O modo pelo qual se detinha a embarcação, quando esta chegava ao seu destino -o que também podia ser feito em pleno voo -, era através da liberação de uma quantidade da corrente pelo tubo que ficava na extremidade do barco voltada para o local de chegada; a corrente, chocando-se com o solo ou com o ar frontal, atuava como um freio, enquanto a força propulsora de trás era gradualmente reduzida pelo fechamento da válvula. Resta ainda explicar a razão da existência dos oito tubos, fixados nas amuradas, voltados para cima. Estavam mais relacionados com os combates aéreos. Tendo uma força tão poderosa à sua disposição, os navios de guerra, naturalmente, dirigiam a corrente uns contra os outros. Entretanto, isso podia destruir o equilíbrio do navio atingido e virá-lo de borco – sem dúvida, uma situação que permitia à embarcação inimiga desferir ataques com seu esporão. Havia também o perigo de ser precipitado ao solo, a menos que se providenciasse, imediatamente, o fechamento e a abertura das válvulas necessárias. Em qualquer posição que a embarcação se encontrasse, os tubos voltados para o solo eram, naturalmente, aqueles pelos quais a corrente deveria se precipitar, ao passo que os tubos voltados para cima deviam permanecer fechados. O modo pelo qual a embarcação virada de cabeça para baixo podia ser endireitada, retomando à posição original; era através do uso dos quatro tubos num dos lados da embarcação apontados para baixo, enquanto os outros quatro, do lado oposto, eram mantidos fechados.

Os atlantes também tinham embarcações marítimas que eram impulsionadas por uma energia análoga à acima mencionada, mas a força da corrente que, neste caso, demonstrou ser mais eficaz era menos densa do que a utilizada nos barcos aéreos.

Usos e Costumes

Houve, sem dúvida, tanta variedade nos usos e costumes dos atlantes, em diferentes épocas de sua história, quanto tem havido entre as várias nações que compõem a nossa raça árica. Não vamos acompanhar aqui a variação dos padrões durante o passar dos séculos. Os comentários que seguem procurarão abordar apenas as características principais que diferenciam seus hábitos dos nossos, e estes serão selecionados, na medida do possível, entre a grande era tolteca.

Com respeito ao casamento e ao relacionamento entre os dois sexos, já mencionamos as experiências realizadas pelos turanianos. Os costumes polígamos prevaleceram, em diferentes períodos, entre todas as sub-raças; na época dos toltecas, porém, embora a lei permitisse duas esposas, um grande número de homens tinha apenas uma. Tampouco as mulheres – como ocorre nos países onde atualmente prevalece a poligamia – eram consideradas inferiores, e não eram nem um pouco oprimidas. Sua posição social era perfeitamente igual à dos homens, embora a aptidão que muitas delas manifestavam para adquirir a energia vril, elevassem-nas à mesma categoria, e até acima, do outro sexo. Na verdade, essa igualdade era reconhecida desde a infância, e nas escolas ou faculdades os dois sexos não eram separados. Meninos e meninas aprendiam juntos. Além disso, essa era a regra, e não a exceção, para que a completa harmonia imperasse nas famílias duplas, e as mães ensinavam seus filhos a procurar amor e proteção nas outras esposas do pai, sem discriminação. Tampouco as mulheres eram impedidas de participar do governo. Às vezes participavam das assembléias administrativas e, ocasionalmente, eram escolhidas pelo imperador Adepto para representá-lo nas diversas províncias, como soberanas regionais.

O material de escrita dos atlantes consistia em finas lâminas de metal, com uma superfície branca semelhante à porcelana, sobre a qual eram escritas as palavras. Também tinham recursos para reproduzir o texto, colocando sobre a lâmina escrita uma outra chapa fina de metal previamente mergulhada em algum Líquido. Desse modo, o texto impresso na segunda chapa podia ser reproduzido à vontade em outras lâminas, e um grande número delas, agrupadas, formava um livro.

Em seguida, devemos citar um costume que difere consideravelmente do nosso no que concerne à escolha do alimento. Trata-se de um assunto desagradável, mas que não pode ser omitido. Geralmente a carne dos animais era posta de lado, embora devorassem as partes que nós nos abstemos de comer. Também bebiam o sangue -muitas vezes ainda quente do animal -, bem como preparavam vários cozidos com ele.

Entrementes, não se deve pensar que eles não tivessem alimentos mais leves e mais saborosos ao nosso paladar. Os mares e rios forneciam-lhes peixes, cuja carne comiam, embora muitas vezes num grau tão adiantado de decomposição que nos causaria náusea. Cultivavam em larga escala os mais diversos cereais, com os quais faziam pães e bolos. Também bebiam leite e comiam frutas e vegetais.

É verdade que uma pequena minoria dos habitantes jamais adotou os repulsivos costumes acima mencionados. Tal era o caso, por todo o império, dos reis e imperadores Adeptos, bem como dos sacerdotes iniciados. Estes tinham hábitos inteiramente vegetarianos, muito embora um grande número de conselheiros do imperador e de funcionários da corte apenas fingissem preferir essa alimentação mais pura, pois freqüentemente satisfaziam às escondidas seus gostos mais grosseiros.

As bebidas fortes não eram desconhecidas nessa época. Durante algum tempo, uma bebida alcoólica fermentada e muito forte esteve em voga. Mas era capaz de provocar em quem a ingerisse uma excitação tão perigosa que se promulgou uma lei proibindo, em absoluto, o seu consumo.

As armas de guerra e a caça diferiram consideravelmente, de acordo com a época. Em geral, as espadas e lanças, arcos e flechas foram suficientes aos rmoahals e aos tlavatlis. Os animais que caçavam, nesse período bastante remoto, eram os mamutes de pelos longos e lanosos, os elefantes e os hipopótamos. Também havia muitos marsupiais, bem como sobreviventes de tipos intermediários – alguns semi-répteis e semimamíferos, outros semi-répteis e semipássaros.

O uso de explosivos foi adotado numa época antiga e, em épocas posteriores, foi sendo aperfeiçoado. Parece que alguns eram feitos para explodir através do choque e outros depois de um certo intervalo de tempo mas, nos dois casos, a destruição da vida resultava, provavelmente, da liberação de algum gás venenoso, e não do impacto de projéteis. De fato, esses explosivos devem ter se tornado tão poderosos nos últimos tempos da Atlântida que temos notícias de companhias inteiras de homens destruídas em combate pelo gás nocivo produzido pela explosão de uma dessas bombas acima de suas cabeças, lançadas por alguma espécie de alavanca.

Vamos considerar agora o sistema monetário. Durante as três primeiras sub-raças, pelo menos, não se conhecia um sistema monetário oficial. Havia, é verdade, pequenas peças de metal ou de couro, estampadas, com um determinado valor, que eram usadas como fichas. Eram perfuradas no centro, amarradas juntas, de modo a formarem um cinto e geralmente usadas ao redor da cintura. Mas cada homem era, por assim dizer, o seu próprio cunhador e a ficha de metal ou de couro por ele fabricada e trocada com outro homem, pela aquisição de alguma mercadoria, significava apenas um reconhecimento pessoal da dívida, tal como existe, entre nós, a nota promissória. Nenhum homem estava autorizado a fabricar essas fichas em quantidade maior do que fosse capaz de compensar através da transferência dos bens em seu poder. As fichas não circulavam como moedas, embora o portador da ficha tivesse meios de avaliar, com exatidão, os recursos de seu devedor através da faculdade de clarividência que, em maior ou menor grau, todos possuíam; em caso de dúvida, essa faculdade era utilizada na apuração da veracidade dos fatos.

Contudo, é preciso registrar que, nos últimos dias de Posseidones, foi adotado um sistema semelhante à nossa circulação monetária, e a montanha tríplice, que podia ser avistada da grande capital meridional, era a imagem favorita na cunhagem oficial.

No entanto, o sistema fundiário é o assunto mais importante desta Seção. Entre os rmoahals e os tlavatlis, que viviam sobretudo da caça e da pesca, a questão da terra praticamente não existia, embora houvesse um sistema de cultivo aldeão na época dos tlavatlis.

Foi com o aumento da população e com o desenvolvimento da civilização, nos primeiros anos da era tolteca, que a terra, pela primeira vez, tornou-se algo pelo qual valia a pena lutar. Não é nosso propósito reconstituir o sistema ou descrever a pobreza do sistema predominante nos períodos turbulentos anteriores ao advento da Idade de Ouro. Mas os registros dessa época proporcionam matéria de reflexão do maior interesse e importância, não só aos economistas políticos, mas a todos os que estimam o bem-estar da raça.

Deve-se ter em mente que a população vinha aumentando de modo constante e que, sob o governo dos imperadores Adeptos, chegara à enorme cifra já citada; naqueles dias, porém, a pobreza e a miséria eram coisas jamais imaginadas e esse bem-estar social devia-se, sem dúvida, em parte ao sistema fundiário.

Não só a terra e seus produtos eram considerados propriedades do imperador, mas também todos os rebanhos e animais. O país dividia-se em diversas províncias ou regiões, e cada província tinha, à sua frente, um dos reis auxiliares, ou vice-reis nomeados pelo imperador. Cada vice-rei era responsável pelo governo e bem-estar de todos os habitantes sob o seu domínio. O cultivo da terra, a colheita dos produtos e a pastagem dos rebanhos eram de sua alçada, bem como a administração daquelas experiências agrícolas anteriormente mencionadas.

Cada vice-rei tinha à sua volta um conselho de consultores e coadjutores agrícolas, que, entre outras coisas, deviam ser versados em astronomia, pois, nessa época, esta não era uma ciência improdutiva. Estudava-se e tirava-se o maior proveito possível das influências ocultas sobre a vida vegetal e animal. Também o poder de produzir chuva à vontade não era, então, algo incomum, e os efeitos de uma era glacial em mais de uma ocasião foram parcialmente neutralizados nas regiões setentrionais do continente, através da ciência oculta. O dia apropriado para o início de cada atividade agrícola era, é claro, devidamente calculado e o trabalho era realizado por funcionários, cuja função consistia em supervisionar cada detalhe.

Os produtos colhidos em cada região ou reino eram, em geral, ali consumidos, embora, às vezes, os governantes organizassem trocas de alguns produtos.

Depois que se separava uma pequena porção para o imperador e para o governo central da “Cidade de Portais Dourados”, os produtos de toda a região ou reino eram divididos entre os habitantes -o vice-rei local e sua comitiva de funcionários recebiam naturalmente as maiores porções, mas o mais inferior dos trabalhadores agrícolas recebia o bastante para assegurar-lhe a subsistência e o bem-estar. Qualquer aumento da capacidade produtiva da terra ou de suas riquezas minerais era proporcionalmente dividido entre todos os interessados – desse modo, era do interesse geral tomar o fruto do trabalho coletivo tão lucrativo quanto possível.

Esse sistema foi bastante eficaz durante muito tempo. Contudo, à medida que o tempo passava, a negligência e o egoísmo foram se insinuando. Os que tinham o dever de supervisionar foram transferindo cada vez mais suas responsabilidades para seus funcionários subalternos e, com o tempo, tornou-se raro os imperadores interferirem ou interessarem-se por alguma atividade. Esse foi o início dos maus tempos. Os membros da classe dominante, que a princípio dedicavam todo o seu tempo aos devedores públicos, começaram a imaginar um modo de tornar suas vidas particulares mais agradáveis. A intemperança estava a caminho.

Um motivo em particular causou grande descontentamento entre as classes mais baixas. Já mencionamos o método pelo qual os jovens da nação eram selecionados para as escolas técnicas. Ora, era sempre a alguém da classe superior, cujas faculdades psíquicas tinham sido devidamente desenvolvidas, que cabia a seleção das crianças, a fim de que cada uma recebesse a devida instrução e, finalmente, se dedicasse à ocupação para a qual fosse mais qualificada. Mas quando os que eram dotados de visão clarividente, a única que tornava possível essa seleção, transferiram suas funções para subalternos destituídos desses atributos psíquicos, resultou que as crianças eram muitas vezes forçadas a rotinas injustas, e aquelas cuja aptidão se inclinava em determinada direção viam-se, freqüentemente, destinadas a uma ocupação que as desgostava e na qual, por conseguinte, raramente obtinham sucesso.

Foram muitos e variados os sistemas fundiários que se seguiram, em diferentes partes do império, à dissolução da grande dinastia tolteca. Mas não é necessário descrevê-los. Nos últimos dias de Posseidones, quase todos haviam sido substituídos pelo sistema de propriedade particular, que tão bem conhecemos.

Já nos referimos, no tópico “Emigrações”, ao sistema fundiário prevalecente no glorioso período da história peruana durante o poderio Inça, cerca de 14.000 anos atrás. Um pequeno resumo desse assunto pode ser interessante para demonstrar a fonte de onde sem dúvida derivaram as bases desse sistema, bem como para citar as variações adotadas neste sistema um tanto mais complexo.

Todos os direitos sobre a terra eram, em primeiro lugar, conferidos ao Inça, mas metade dela era cedida aos agricultores, que logicamente constituíam a maioria da população. A outra metade era dividida entre o Inça e os sacerdotes, que observavam o culto do sol.

Com a renda de suas terras, especialmente divididas, o Inça tinha de sustentar o exército, conservar as estradas de todo o império e manter todo o mecanismo de governo. Este era administrado por uma classe dirigente especial, em sua maioria composta por parentes do próprio Inça, representantes de uma civilização e de uma cultura bem superiores às da maior parte da população.

A quarta parte restante – “as terras do sol” – não só provia a subsistência dos sacerdotes, que dirigiam o culto público em todo o império, como também se destinava à educação do povo nas escolas e colégios; além disso, garantia o futuro de todas as pessoas doentes e fracas e de cada habitante (afora, é claro, a classe dirigente, para quem não havia interrupção de trabalho) que atingia a idade de quarenta e cinco anos, idade estipulada para a suspensão do árduo trabalho da vida e para o início do lazer e do divertimento.

Religião

O único assunto que ainda nos resta tratar é a evolução das idéias religiosas. Entre a aspiração espiritual de uma raça simples porém rude e o ritual degenerado de um povo intelectualmente culto, mas espiritualmente morto, existe um abismo que só o termo religião, usado no seu sentido mais amplo, pode transpor. Todavia, é o processo consecutivo de geração e degeneração que tem de ser investigado na história do povo atlante.

Deve-se ter em mente que o governo sob o qual surgiram os rmoahals foi descrito como o mais perfeito dos governos concebíveis, pois o próprio Manu atuou como rei. A lembrança desse governante divino foi, naturalmente, preservada nos anais da raça e, no devido tempo ele chegou a ser considerado um deus entre um povo que era, por natureza, psíquico e tinha, portanto, vislumbres daqueles estados de consciência que transcendem nosso estado de vigília habitual. Conservando esses atributos superiores, era muito natural que esse povo primitivo adotasse uma religião que, embora de modo algum representasse uma filosofia elevada, nada tinha de ignóbil. Mais tarde, essa fase de crença religiosa tomou-se uma espécie de culto aos antepassados.

Os tlavatlis, embora herdeiros da reverência e do culto tradicionais a Manu, foram ensinados pelos instrutores Adeptos sobre a existência de um Ser Supremo, cujo símbolo era reconhecido como o sol. Assim, desenvolveram uma espécie de culto ao sol, cuja pratica era celebrada no alto dos morros. Nesses locais, eles construíram enormes círculos de monolitos aprumados, que se destinavam a simbolizar o curso anual do sol, embora também fossem utilizados para observar o curso dos astros, sendo dispostos de tal modo que, para quem estivesse no altar-mor, o sol nasceria, no solstício de inverno, atrás de um desses monolitos e, no equinócio da primavera, atras de outro, e assim por diante, durante o ano todo. Esses círculos de pedra também eram usados em observações astronômicas ainda mais complexas, relacionadas com as mais distantes constelações.

Já vimos, no tópico referente às emigrações, como uma sub-ra-ça posterior – os acadianos – retornou a essa primitiva construção de monolitos, na edificação do Stonehenge.

Embora os tlavatlis fossem dotados de uma capacidade de desenvolvimento intelectual um tanto maior do que a da sub-raça anterior, seu culto ainda era de um tipo muito primitivo.

Na época dos toltecas, com a difusão mais ampla de conhecimentos e, mais particularmente, com o posterior estabelecimento de um sacerdócio iniciado e de um imperador Adepto, crescentes oportunidades foram oferecidas ao povo para a obtenção de uma concepção mais verdadeira do divino. A minoria que estava disposta a tirar total proveito do ensino oferecido, após ser posta à prova e apreciada, sem dúvida era admitida nas ordens dos sacerdotes, que então constituíam uma grande confraria oculta. Contudo, não estamos interessados aqui nesses poucos que sobrepujaram a grande maioria da humanidade e estavam dispostos a enveredar pelos caminhos das ciências ocultas; o tema geral do nosso estudo é, antes, as religiões praticadas pelos habitantes da Atlântida.

As classes inferiores da sociedade daquela época não tinham, é claro, o poder de se alçar às alturas filosóficas do pensamento – como, aliás, não o tem a grande maioria dos habitantes do mundo atual. A abordagem mais aproximada que um professor, por talentoso que fosse, poderia fazer, ao tentar transmitir qualquer idéia a respeito da inominável essência do Cosmos, presente em todas as coisas, era necessariamente comunicada na forma de símbolos e, como era de se esperar, o sol foi o primeiro símbolo adotado. Como ocorre também em nossos dias, o indivíduo mais culto e com inclinações espiritualistas veria através do símbolo e poderia, às vezes, divisar, com as asas da devoção, o Pai de nossos espíritos,

A razão e o centro do anseio de nossas almas,
Objeto e refúgio do fim da nossa jornada —

enquanto os mais vulgares não veriam outra coisa senão o símbolo, e o cultuariam, assim como a Madona esculpida ou a imagem de madeira do crucificado são hoje veneradas em toda a Europa católica.

A adoração do sol e do fogo tornaram-se então o culto, e para sua celebração construíram-se templos magníficos nos quatro cantos do continente da Atlântida, mais particularmente, porém, na grande “Cidade dos Portais Dourados” – o ofício era executado pela comitiva de sacerdotes mantida pelo Estado para esse fim.

Nessa época remota não se permitia nenhuma imagem da Divindade. O disco solar era considerado o único emblema apropriado de Deus e, como tal, era usado em todos os templos, onde em geral colocava-se um disco dourado de modo a captar os primeiros raios do sol nascente durante o equinócio da primavera ou o solstício de verão.

Um exemplo interessante da sobrevivência quase intata desse culto ao disco solar pode ser visto nas cerimônias xintoístas do Japão. Segundo essa doutrina, qualquer outra representação da Divindade é considerada ímpia, e até mesmo o espelho circular de metal polido fica oculto ao olhar do público, salvo por ocasião das cerimônias. Contudo, ao contrário das suntuosas decorações dos templos da Atlântida, os templos xintoístas caracterizam-se por uma total ausência de decoração – a uniformidade do requintado acabamento da singela carpintaria não é quebrada por nenhum entalhe, pintura ou adorno.

No entanto, o disco solar não permaneceu como o único emblema admissível da Divindade. A imagem de um homem – um homem arquetípico – foi, em épocas posteriores, colocada nos templos e adorada como a mais sublime representação do divino. De certo modo, isso poderia ser considerado um retorno ao culto rmoahal de Manu. Até então, a religião era relativamente pura e a confraria oculta da “Boa Lei” naturalmente fazia o possível para conservar no coração do povo o ardor pela vida espiritual.

Contudo, estava se aproximando a época maligna na qual não restaria nenhuma idéia altruística para salvar a raça das profundezas do egoísmo, onde estava fadada a submergir. A deterioração do conceito ético foi o prelúdio inevitável da perversão do espírito. As mãos de cada homem lutavam unicamente por ele próprio e seus conhecimentos serviam apenas a fins egoístas, até tornar-se uma crença estabelecida a de que, no universo, não havia nada que fosse maior ou superior aos próprios homens. Cada um era a sua própria “Lei, Senhor e Deus”, e o próprio culto nos templos deixou de ser o culto a algum ideal para tornar-se a mera adoração do homem, tal como ele era conhecido e visto. Como está escrito no Livro de Dzyan, “Então a

Quarta cresceu em orgulho. Dizia: nós somos os reis; somos os Deuses. . . . Construíram enormes cidades. Construíram-nas de terras e metais raros, e dos fogos vomitados, da pedra branca das montanhas e da pedra preta modelaram suas próprias imagens em seu tamanho e semelhança, e adoraram-nas.” Capelas foram dispostas nos templos, nas quais a estátua de cada homem, feitas de ouro ou prata, ou esculpida em pedra ou madeira, era venerada por ele próprio. Os homens mais ricos dispunham de séquitos inteiros de sacerdotes para o culto e a Manutenção de suas capelas, e faziam-se oferendas a essas estátuas, como se fossem deuses. A apoteose do eu não poderia ir mais longe.

É preciso lembrar que toda idéia religiosa verdadeira que alguma vez penetrou na mente do homem foi-lhe conscientemente sugerida pelos instrutores divinos ou pelos iniciados das Lojas ocultistas, os quais, ao longo de todos os períodos históricos, têm sido os guardiões dos mistérios divinos e das ocorrências dos estados supra-sensíveis de consciência.

Geralmente, só de um modo muito lento é que a humanidade se torna capaz de assimilar algumas dessas idéias divinas, ao passo que os crescimentos monstruosos e as terríveis distorções, exemplificadas por cada religião existente, têm sua origem na própria natureza mais inferior do homem. Na verdade, tem-se a impressão de que nem sempre ele esteve em condições de receber o conhecimento acerca dos simples símbolos sob os quais se ocultava a compreensão da Divindade, pois na época da hegemonia turaniana parte desse conhecimento foi erroneamente divulgada.

Vimos como a vida e a luz, enquanto atributos do sol, foram, em tempos remotos, usados como símbolo para despertar na mente das pessoas tudo o que elas fossem capazes de conceber acerca do grande Criador. Contudo, outros símbolos de maior profundidade e significado mais real eram conhecidos e guardados pelos sacerdotes. O conceito de uma Trindade na Unidade era um desses símbolos. As Trindades de significação mais sagrada nunca foram reveladas ao povo, mas a Trindade que personificava os poderes cósmicos do universo como Criador, Preservador e Destruidor tornou-se publicamente conhecida na época dos turanianos de um modo um tanto irregular. Essa idéia foi ainda mais materializada e degenerada pelos semitas, que a transformaram numa Trindade estritamente antropomórfica, consistindo de pai, mãe e filho.

É preciso mencionar ainda um outro fato bastante terrível que ocorreu na época dos turanianos. Com a prática da bruxaria, muitos dos habitantes, é claro, tornaram-se conscientes da existência de elementais poderosos – criaturas que tinham sido criadas ou ao menos animadas pelas próprias e poderosas vontades dos habitantes, as quais, à medida que eram direcionadas para fins maléficos, produziram naturalmente os elementais de poder e malignidade. Os sentimentos humanos de reverência e culto tinham degenerado tanto que os homens realmente começaram a adorar essas criações semiconscientes de seu próprio pensamento maligno. O ritual pelo qual se cultuava esses seres foi, desde o início, manchado de sangue e, sem dúvida, cada sacrifício oferecido em seus altares conferia vitalidade e persistência a essas criações vampirescas – a tal ponto que, mesmo hoje em dia, em várias partes do mundo, os elementais formados pela vontade poderosa desses antigos bruxos atlantes ainda continuam a exigir seu tributo de inocentes comunidades aldeãs.

Embora iniciado e largamente praticado pelos brutais turanianos, parece que esse ritual manchado de sangue nunca se difundiu entre as outras sub-raças; todavia, os sacrifícios humanos parecem não ter sido raros entre alguns ramos semitas.

No grande império tolteca do México, o culto do sol – praticado por seus antepassados – ainda era a religião nacional, embora as oferendas incruentas à sua Divindade benéfica, Quetzalcóatl, consistissem simplesmente de flores e frutos. Só com o advento dos astecas selvagens é que se acrescentou, ao inocente ritual mexicano, o sangue de sacrifícios humanos, que banhava os altares de seu deus da guerra, Huitzilopochtli, e a extração do coração das vítimas no cume do Teocáli pode ser vista como uma sobrevivência direta do culto aos elementais de seus ancestrais turanianos da Atlântida.

Pode-se observar então que, tal como em nossos dias, a vida religiosa do povo abrangia as mais variadas formas de crença e culto. Desde a pequena minoria que aspirava à iniciação e tinha contato com a mais elevada vida espiritual – que sabia que a boa vontade para com todos os homens, o controle do pensamento e a pureza de vida e ações eram as preliminares necessárias à obtenção dos mais elevados estados de consciência e dos mais amplos campos de visão -, inumeráveis estágios de decadência conduziram desde o culto mais ou menos irracional das energias cósmicas, ou dos deuses antropomórficos, até os ritos sangrentos do culto aos elementais, passando pelo ritual degenerado, porém de grande aceitação, no qual cada homem adorava sua própria imagem.

Não se deve esquecer que estamos tratando apenas da raça atlante, de modo que seria inoportuna qualquer referência relativa ao culto ainda mais infame do fetiche que então existiu – como ainda existe – entre os degradados representantes dos povos lemurianos.

Ao longo dos séculos, portanto, os vários rituais constituídos para celebrar essas diversas formas de culto continuaram existindo, até a submersão derradeira de Posseidones, quando um grande número de emigrantes atlantes já haviam estabelecido, em terras estrangeiras, os vários cultos do continente-mãe.

Reconstituir a ascensão e acompanhar minuciosamente o progresso das religiões antigas, que no período histórico floresceram em formas tão diversas e antagônicas, seria uma tarefa bastante difícil, mas o esclarecimento que isso traria às questões de importância transcendente poderá, algum dia, induzir à tentativa.

Concluindo, seria inútil tentar resumir o que já está por demais resumido. Antes, vamos esperar que o precedente possa servir como texto, a partir do qual seja possível desenvolver histórias acerca dos diversos ramos das várias sub-raças – histórias que possam, analiticamente, abordar as evoluções políticas e sociais que, aqui, foram expostas de modo bastante fragmentário.

Todavia, uma palavra ainda pode ser dita sobre essa evolução da raça – esse progresso que toda criação, com a humanidade à frente, está sempre destinada a alcançar, século a século, milênio a milênio, manvantara a manvantara e kalpa a kalpa.

A descida do espírito à matéria – esses dois pólos da substância eterna una – é o processo que abrange a primeira metade de cada ciclo. Ora, o período estudado nas páginas anteriores – o período durante o qual a raça atlante estava percorrendo sua trajetória – foi exatamente o ponto médio ou crítico deste manvantara atual.

O processo de evolução que se tem estabelecido em nossa atual quinta raça – isto é, o retorno da matéria ao espírito – manifestou-se, nessa época, em apenas uns poucos casos individuais isolados -precursores da ressurreição do espírito.

Mas o problema, que todos os que têm se dedicado de algum modo a esta matéria devem ter constatado estar ainda à espera de uma solução, está no surpreendente contraste verificado nas características da raça atlante. Ao lado de suas paixões brutais, de suas inclinações animais degradadas, estavam suas faculdades psíquicas, sua intuição divina.

A solução deste enigma aparentemente insolúvel repousa no fato de que a construção da ponte fora então apenas iniciada – a ponte do manas, ou mente, destinada a ligar, no indivíduo aperfeiçoado, as forças do animal, que se dirigem para o alto, ao espírito do Deus, que, num movimento crítico dirige-se para baixo. O atual reino animal revela um campo da natureza onde a construção dessa ponte ainda não se iniciou e, mesmo entre a humanidade nos tempos da Atlântida, a conexão era tão frágil que os atributos espirituais tinham pouco poder de controle sobre a natureza animal mais inferior. O tipo de mente que possuíam era capaz de acrescentar prazer à satisfação dos sentidos, mas não tinha o poder de vitalizar as faculdades espirituais ainda adormecidas que, no indivíduo aperfeiçoado, precisarão tornar-se o monarca absoluto. Nossa metáfora da ponte pode levar-nos um pouco mais além, se a considerarmos atualmente em processo de construção, porém destinada a permanecer incompleta, para a humanidade em geral, durante incontáveis milênios – na verdade, até que a Humanidade tenha completado mais um ciclo dos sete planetas e o grande Quinto Curso esteja a meio caminho de sua trajetória.

Embora tenha sido durante a segunda metade da terceira raça-raiz e o início da quarta que o Manasaputra desceu para dotar de mente a maior parte da Humanidade, que ainda estava sem a centelha, foi tão fraco o fogo que ardeu durante toda a era atlante que se pode dizer que foram poucos os que atingiram os poderes do pensamento abstraio. Por outro lado, os atlantes conseguiram um ótimo desempenho mental no campo da realidade concreta e, como vimos, foi nas atividades práticas do seu cotidiano, especialmente quando suas faculdades psíquicas eram direcionadas para os mesmos objetos, que eles alcançaram resultados notáveis e estupendos.

É preciso também lembrar que o Kama, o quarto princípio, alcançou sem dúvida o ápice do seu desenvolvimento durante a quarta raça. Isso explicaria os níveis de vulgaridade animal em que mergulharam, enquanto o ciclo, aproximando-se de seu nadir, inevitavelmente acentuou esse movimento decadente, de modo que há pouco para se surpreender quanto à perda gradual das faculdades psíquicas da raça e sua degradação rumo ao egoísmo e ao materialismo.

Tudo isso deve ser visto como parte do grande processo cíclico, em obediência à lei eterna.

Nós todos atravessamos aqueles péssimos dias, e as experiências que então acumulamos contribuíram para formar as qualidades que ora possuímos.

Contudo, um sol mais radiante brilha agora sobre a raça anca, mais do que aquele que iluminava a vereda de seus antepassados atlantes. Menos dominados pelas paixões dos sentidos, mais abertos à influência da mente, os homens da nossa raça obtiveram, e estão obtendo, um controle mais firme do conhecimento, um alcance intelectual mais amplo. Este arco ascendente do grande ciclo manvantárico naturalmente conduzirá um número cada vez maior de pessoas rumo à entrada do Caminho Oculto e emprestará um encanto cada vez maior às oportunidades transcendentes que ela oferece ao contínuo fortalecimento e purificação do caráter – fortalecimento e purificação não mais dirigidos pelo mero esforço espasmódico e constantemente interrompidos por atrações enganosas, mas orientados e vigiados, a cada passo, pelos Mestres da Sabedoria, de modo que a escalada, uma vez iniciada, não será mais hesitante e incerta, mas conduzirá direto à meta gloriosa.

Também as faculdades psíquicas, bem como a intuição divina, perdidas por um tempo, mas ainda heranças legítimas da raça, aguardam apenas o esforço individual para serem readquiridas, o que fornecerá ao caráter da espécie uma compreensão ainda mais profunda e poderes mais transcendentes. Desse modo, as ordens dos instrutores Adeptos – os Mestres da Sabedoria – sempre devem ser fortalecidas e renovadas, e mesmo entre nós, hoje, certamente estão alguns deles, indistinguíveis, salvo pelo imortal entusiasmo que os impulsiona, e que, antes que se estabeleça a próxima raça-raiz neste planeta, erguer-se-ão como Mestres da Sabedoria para ajudar a raça em seu progresso ascendente.

William Scott-Elliot

Postagem original feita no https://mortesubita.net/realismo-fantastico/a-historia-da-atlantida/

10 Transtornos Mentais Bizarros

Os transtornos mentais afetam milhões de pessoas no mundo todo. Em geral, apenas algumas são conhecidas do grande público, como o transtorno bipolar, a esquizofrenia e o mal de Alzheimer.

Nesta lista estão compilados 10 tipos de transtornos mentais incomuns, que dificilmente se vê por aí. É muito difícil encontrar um conhecido ou até mesmo matérias na mídia falando de alguma destas doenças.

10. Síndrome de Estocolmo

A síndrome de Estocolmo ocorre em pessoas seqüestradas que, após o término da situação de risco pela qual passaram, começar a nutrir um certo tipo de simpatia pelos seus sequestradores. Também há casos registrados desta síndrome em mulheres que apanham dos maridos, estuprados e crianças abusadas.

Esta desordem ganhou seu nome após um assalto a banco em Estocolmo, na Suécia, onde os reféns, apesar de passarem sob domínio dos bandidos do dia 23 ao dia 28 de agosto de 1973, pediam que a polícia os libertasse e se recusavam a testemunhar contra.

9. Síndrome de Lima

O oposto da Síndrome de Estocolmo: neste caso, os bandidos têm extrema compaixão pelas vítimas.

Ganhou este nome após a crise na embaixada japonesa em Lima, no Peru, entre 26 de dezembro de 1996 e 22 de abril de 1997. Os membros do Tupac Amaru tomaram como reféns os convidados de uma festa promovida na casa do embaixador japonês no Peru. Entre os reféns encontravam-se diplomatas, membros do governo e militares.

Depois de meses de negociações infrutíferas, os reféns foram libertados por militares peruanos, embora um refém tenha sido morto.
8. Síndrome de Diógenes

Diógenes foi um filósofo grego que vivia em um barril pregando ideais de animalismo e niilismo.

Esta síndrome é caracterizada por extremo negligenciamento, tendências reclusivas e acumulação compulsiva, algumas vezes de animais. É encontrada principalmente em pessoas mais velhas e é associada à senilidade.

7. Síndrome de Paris

É uma síndrome exclusiva de japoneses, que piram ao chegar nesta cidade. Dos milhões que visitam Paris todo ano, aproximadamente uma dúzia sofre deste problema e precisa ser levado de volta ao Japão.

Isto ocorre basicamente devido a um grande choque cultural. Alguns turistas que chegam à cidade são incapazes de dissociar a visão utópica que tem de Paris, como aquela vista em filmes como Amélie Poulain, da realidade de uma grande metrópole.

Se um dos portadores da síndrome encontra um garçom mal-educado, por exemplo, ele se força a guardar a raiva para si e acaba sofrendo uma fadiga mental muito grande.

 

6. Síndrome de Stendhal

Esta doença psicossomática causa taquicardia, tonturas, confusão e até mesmo alucinações em quem a tem e é exposto a artes. Os ataques ocorrem especialmente se a arte é muito bonita ou se há muitas obras reunidas em um mesmo local.

Esta desordem tem este nome em homenagem ao escritor francês Stendhal, que descreveu estas sensações em um livro, após visitar Florença, na Itália.

5. Síndrome de Jerusalém

Síndrome de Jerusalém é o nome dado a um grupo de fenômenos mentais envolvendo idéias obsessivas com religião, delírios ou outras experiências psicóticas desencadeadas por (ou que levam a) uma visita a Jerusalém. Não é exclusiva de uma religião, podendo afetar tanto judeus quanto cristãos.

Esta perturbação surge enquanto a pessoa está em Jerusalém e causa delírios psicológicos que tendem a se dissipar após algumas semanas. Todas as pessoas que já sofreram disto têm histórico de doenças mentais.

 

4. Delírio de Capgras

O delírio de Capgras é uma desordem rara na qual uma pessoa acredita que um conhecido seu, muitas vezes o cônjuge ou um parente próximo, foi substituído por um sósia idêntico.

É mais comum em pacientes com esquizofrenia, embora ocorra em pessoas com demência ou que sofreram algum dano cerebral.

A paranóia induzida por esta doença foi utilizada em vários filmes de ficção científica, como Vampiros de Almas, O Vingador do Futuro e Mulheres Perfeitas.

 

3. Delírio de Fregoli

O oposto do delírio de Capgras. Uma pessoa pessoa com esta desordem acredita que um completo estranho é, na realidade, um conhecido próximo que mudou de aparência ou está disfarçado.

Ganhou este nome graças ao ator italiano Leopoldo Fregoli, conhecido por sua grande habilidade em mudar de aparência durante suas apresentações.

Foi reportado pela primeira vez em 1927, quando uma mulher de 27 anos que acreditava estar sendo perseguida por dois atores que ela freqüentemente assistia no teatro. Ela acreditava que estas pessoas perseguiam-na de perto, tomando a forma de pessoas que ela conhecia.

2. Delírio de Cotard

Esta é uma desordem rara na qual a pessoa acredita estar morta, não existir, estar apodrecendo ou ter perdido todo o sangue e órgãos vitais. Raramente pode incluir delírios de imortalidade.

Foi batizada assim devido a Jules Cotard, neurologista francês que primeiro descreveu a condição, chamando-a de le délirie de négation, em uma palestra em Paris, em 1880.

1. Paramnésia Reduplicativa

A paramnésia reduplicativa é a crença de que um local foi duplicado, existindo simultaneamente em dois ou mais lugares simultaneamente, ou que foi movido para algum outro lugar. Por exemplo, uma pessoa pode não acreditar que está no hospital no qual foi internada, mas sim em um outro hospital, idêntico ao primeiro, mas localizado em outro lugar do país.

O termo paramnésia reduplicatica foi utilizado pela primeira vez em 1903 pelo neurologista tcheco Arnold Pick, para descrever a condição em que se encontrava uma paciente com suspeita de mal de Alzheimer. Esta paciente insistia que havia sido transferida da clínica de pick para outra clínica idêntica à dele, mas localizada em um subúrbio familiar. Para explicar as discrepâncias, ela afirmava que Pick e sua equipe trabalhavam nos dois locais.

Tradução de http://listverse.com/health/top-10-bizarre-mental-disorders/

Grande Abobora

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/psico/10-transtornos-mentais-bizarros/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/psico/10-transtornos-mentais-bizarros/

Amatsu Norito (天つ祝詞) – Oração Shinto

A oração Amatsu-Norito remonta a uma época anterior à de Jinmu, o primeiro imperador do Japão. Foi escrita por um “deus” da linhagem de Amaterassu-Oomikami, adorado pelo clã Yamato. Por isso suas palavras possuem um espírito muito elevado e uma ação intensa, tendo o poder de purificar o Céu e a Terra.

Ouvir o Norito no trabalho pode ser uma experiência muito relaxante e espiritual para alguns. Algumas das maiores cidades do mundo, como Nova York ou Tóquio, contêm algumas indústrias de alto estresse, como profissionais de saúde, vendas, forças policiais e advocácia, nas quais os empregados podem se beneficiar das leituras de Norito.

Amatsu Norito

Japonês

高天原に 神づまります
神ろぎ、神ろみの命 以て
皇御祖(の)神、伊邪那岐命
筑紫の日向の
橘の小戸の仰ぐ原に
禊 払いたもう時になりませる
払いどの大神達
諸々の禍事、罪、汚れを
払いたまえ、清めたまえと申すことの由を
天つ神、国つ神、八百万の神達ともに
天の斑駒の 耳振り立てて聞こし召せと
畏み畏みも申す
弥勒大神
守り給え幸栄え給え
雄雄し 御祖主の神
守り給え幸栄え給え
随神の道栄えませ

Transliteração

Takaamahara Ni Kami Tsumari masu.
Kamurogi Kamuromi no Mikoto wo Mochite
Sumemioya Kamu Izanagi No Mikoto
Tsukushi No Himuka No Tachihana No Odo No
Ahagi Hara Ni Misogi Harai Tamau Toki Ni
Narimaseru Haraidono Ookami Tachi
Moromoro No Magagoto Tsumi Kegare Wo
Harai Tamae Kiyome Tamae To Mousu Koto No Yoshi Wo
Tamatsu Kami Kunitsu Kami Yaoyorozu No Kamitachi Tomomi
Ameno Huchikoma No Mimi Furitatete Kikoshimese To
Kashikomi Kashikomi Mo Maosu

Tradução

Ó deuses da purificação, criados por ordem do pái e da mãe
que habitam o Céu, justamente quando o Deus Izanagui no Mikoto
se banhou na foz estreita de um rio coberto por árvores permanentemente frondosas, na região Sul.
Com todo o respeito e do fundo do coração pedimos que nos ouçam,
tal como o equino que ouve atento, com ouvidos aguçados e,
juntamente com os demais deuses do Céu e da Terra, purifiquem todas as maldades, desgraças e pecados.

Miroku Oomikami.
Abençoai-nos e protejei-nos

Meishu Sama
Abençoai-nos e protejei-nos

Para expansão da nossa alma
Seja feita a Vossa vontade

Fonte: nihonkunka

Postagem original feita no https://mortesubita.net/asia-oculta/amatsu-norito-oracao-xinto/

A Deusa das Neves

Para os alpinistas ambiciosos , os altos picos da cordilheira dos Andes sempre se constituíram num desafio à coragem e perícia dos escaladores e um convite à aventura. Foram estes os motivos que levaram os japoneses Joshifuma Takeda e Iukishuga Hariuchi a virem para o Ocidente em busca das emoções da conquista de montanhas invioláveis até mesmo para o condor , a ave da cordilheira que mais alto voa.

Eles conheciam os relatos por outros andinistas sobre as dificuldades. Obstáculos que exigiriam uma técnica apurada para escalar montes que atingem 6 e 7 mil metros de altitude como os que existem na cordilheira Real que avança desde a Bolívia e estende-se por todo o oeste peruano . Aí estão os grandes monarcas do Peru, desafiadores e temíveis , como os vulcões Misti , Chacani, Pichu-Pichu e Coropuna, este tão alto quanto o Aconcágua — o Teto das Américas — que alcança 7.040 metros sobre o nível do mar . todos coroados por imensos mantos de neve eterna e geleiras que descem pelos seus flancos em direção aos estreitos vales e que tornam sua escalada ainda mais exigente e emocionante.

Antes de movimentar e seus acampamentos , os japoneses fizeram um vôo de reconhecimento. Enquanto sobrevoavam as cordilheiras , levantando em mapas os caminhos mais acessíveis para a escalada , iam fotografando os abismos , penedos , cornijas e encostas. Mais tarde , escolheram um dos dificeis picos ao lado do Coropuna para conquista-lo e registrar a façanha no livro de ouro dos alpinistas, pois essa culminância andina ainda não tinha sido palmilhada por pés humanos. Os japoneses conseguiram sucesso e regressaram para suas casas. Revelaram os filmes feitos e descobriram , surpresos, que sobre um dos cumes , a mais de 6 mil metros de altitude , haviam documentado a existência de uma cidadela de muralhas inexpugnáveis. As construções pareciam suspensas na beira do abismo , igual a cidadela de Machu Pichu, no vale do Urubambo , descoberta por Hiram Birgham no começo do século.

Levadas para o jornal Asahi , do Japão , este publicou as fotos dos dois alpinistas , junto com um texto que falava de uma nova cidade perdida dos incas encontrada por acaso. O periódico citava o inexplorado cume do Pichu-Pichu como o local da descoberta segundo descrição feita pelos fotografos. A noticia espalhou-se pelo mundo , fazendo com que uma onda de excitação percorresse arqueólogos , escaladores , aventureiros e, sobretudo, despertasse a cobiça dos huaqueiros como são conhecidos no Peru os que se dedicam à pilhagem de tesouros quase sempre existentes nestes achados espetaculares.

Os cientistas mostravam-se surpresos e incrédulos: Machu Pichu foi construída, depois de um trabalho que desafia toda a técnica arquitetônica conhecida , numa altura de 2.600 metros. As muralhas fotografadas pelos japoneses, no entanto , ao se aceitar sua localização no Pico Pichu-Pichu, deveria estar a mais de 5 mil metros de altitude . Simone Waisnbard, autora do livro Tiahuanaco, 10.000 anos de Enigmas Incas, que relata em sua obra como se processou esta descoberta , encontrava-se em Lima quando as fotos foram divulgadas . Como aconteceu com os cientistas do Peru, Waibard correu para verificar a documentação que havia chegado a uma instituição arqueológica peruana , mandada pelos dois alpinistas . Nuvens que cobriam o monte dificultavam a vegetação . Ao serem examinadas mais cuidadosamente , foi possível distinguir com clareza uma pirâmide megalítica comdegraus escalonados e voltados para os declives vertiginosos da cratera do vulcão em repouso.

Para constatar o achado , organizou-se uma expedição para tomar de assalto o Pichu-Pichu , apesar dos esforços sobre-humanos que essa tarefa exigia . Nada foi encontrado, porém , Simone Waisbard conta que o diretor do museu da cidade de Arequipa , próxima ao local indicado da descoberta , voou com o fotografo Carlos Zarate Sandoval , num velho Stinson Fawcett , por sobre a cratera e os flancos do vulcão adormecido , num dia de muito sol e pouca névoa em torno dos altos picos , retornando desconsolados : também nada tinham visto.

Soube-se depois que os japoneses enganaram-se de cume ; não era no Pichu-Pichu mas sim no Coropuna , local onde as tradições incaicas situam um magnifico templo do Sol que as fotos tinham sido feitas . Esta nova localização , contudo , também seria desmentida a seguir pelo acaso .

Em 1963 — Simone Waisbard quem relata o caso em seu livro — alguns andinistas subiram ao Coronado Grande , nas redondezas daqueles outros montes , para colocarem a efígie de San Martin de porras , santo peruano , no ponto mais alto da montanha . Durante a subida , os peregrinos começaram a avistar sinalizações estranhas , gravadas nas rochas que emergiam das duras capas de gelo. Cinco dos andinistas , ao cabo de algumas horas , deixaram num ponto abrigado das montanhas os companheiros de peregrinação que demonstravam não ter mais forças para completar a escalada e incumbiram-se de prosseguir a piedosa missão de conduzir a efígie do santo ao seu destino.

Enfrentando dificuldades sem conta e mal podendo respirar devio a extrema rarefação do ar nessa grande altitude , ao procurar o melhor caminho para conquistar o cume , eles observaram que haviam outras figuras geométricas , igualmente gravadas m pontas de rochas que se salientavam de uma compacta lamina de gelo e que pareciam ser indicações para se seguir adiante, pois este era , realmente, o melhor caminho. Intrigados , constataram que a vereda mais segura em direção ao alto era a que os sinais pareciam indicar.

Estes desenhos repetiram-se em outras pontas de rochas , na medida em que subiam , nas cotas de 4.790 metros e de vinte em vinte metros. Ao atingir os 5.350 metros , eles não puderam prosseguir pelo caminho assinalado e bem mais suave para a escalada: houve um desmoronamento que bloqueou a senda, evidentemente provocado pelos frequentes terremotos que abalam a região e sacodem estes gigantes da cordilheira.

Dando uma grande volta para transpor o obstáculo, os escaladores retomaram o mesmo caminho , um pouco acima . Repentinamente , encontraram-se defronte a uma escada de lajes trabalhadas na rocha viva, com largura de 2 metros . Compreenderam que estavam no limiar de uma grande descoberta, ou então , que uma surpresa os aguardava mais acima. Movidos por um súbito entusiasmo, prosseguiram e deram com uma pascana , denominação indígena dada a um lugar para repouso e abrigo nas montanhas . Havia , no mesmo lugar, uma pirka ou circulo de pedras empilhadas , erguidas pelos índios em louvor aos espíritos das montanhas . Carlos Zarate , o fotografo que voou com o diretor do museu de Arequipa e que participava desta outra expedição , teve a intuição de enfiar uma sonda no centro da pirka para ver qual a sua profundidade, pois suspeitava que ela emergia de uma cova muito profunda e subia acima da superfície . Poderia ser um túmulo. A sonda penetrou como ele esperava, mostrando não ter atingido o fundo . Os andinistas começaram a escavar o lugar , iniciando pela demolição da pirka e removendo suas pedras da superfície. Em pouco tempo encontraram um túmulo inca , repleto de cerâmicas , objetos de cobre e ouro , tecidos , fragmentos de conchas e madeira trabalhada com entalhes de baixo relevo.

Os jornais , mais tarde, encarregaram-se de divulgar os outros achados feitos pelos escaladores. Estes não tinham ainda se refeito da surpresa causada pela descoberta do túnel pré-colombiano naquelas alturas — o que fez com que se esquecessem das canseiras — quando , olhando para o alto , viram um mirante de sentinelas . Indo até ele , verificaram que o posto permitia controlar todas as passagens ou veredas que levavam ao lugar. Presumiram que se encontravam no umbral de uma nova descoberta ainda mais importante.

Um posto de sentinelas só podia significar que deveria existir uma cidade ou uma construção importante. Subindo , a expedição deu com um passadiço largo , com 7 metros de comprimento e cruzado por grandes portadas de pedra trabalhada . Estupefatos , olharam em redor e sentiram desolação. A cidadela em que penetravam estava recoberta de cinzas vulcânicas. Era uma pequena Pompéia dos Andes e eles compreenderam que sob suas botas seguramente estariam enterrados homens , mulheres e crianças que deviam estar naquelas alturas quando foram surpreendidos pelo súbito despertar do vulcão. Lembram-se que a região, ao longo dos anos , sempre foi sacudida por violentas erupções.

Os andinistas resolveram erguer acampamento no lugar para continuar fazendo escavações. Trabalhando com suas picaretas de escaladores , abriram grossas chapas de gelo e romperam as crostas de lava para para encontrar uma entrada. Foi assim que deram com o mausoléu da cidadela . Em seu interior, os compartimentos construídos com pedras alinhadas, segundo a tradicional engenharia incaica e que formavam as habitações para guardar múmias, tinham resistido à catástrofe. Eles avistaram em seu interior não só as múmias como uma infinidade de objetos preciosos que estavam com elas e que os focos de suas lanternas iam revelando. Durante um período relativamente longo eles se dedicaram a inventariar o achado.

A bagagem funerária das múmias era das mais variadas e em grande quantidade. Encontraram oferendas feitas aos mortos para satisfazer sua alma na vida além-túmulo, como folhas de coca e preparados de lipta — uma mistura de cal virgem e cinzas da raiz da quinoa que permitem separar a cocaína das folhas — vasos com alimentos secos e outros destinados a conter fumo e bebidas. A descoberta mais surpreendente ainda estava para ser feita.

Examinando as múmias , seguiram pelos vários compartimentos da necrópole até sair num local onde encontraram quarenta crânios humanos que se alinhavam em circulo ao redor de um ídolo de ouro puro da Deusa das Neves, para a qual tinham sido exigidos sacrifícios humanos , como vieram a saber mais tarde.

Os arqueólogos do museu de Arequipa estimam que a Deusa das Neves tenha mais de 3 mil anos de existência. Segundo eles, seu culto parece ter se originado nos rituais dos antigos povos kollas e puquinas, os quais antecederam aos incas no altiplano.

O encontro feito pelos expedicionários do Coronado Grande , porém, reavivou o interesse sobre a tradição da deusa e novas pesquisas começaram a ser feitas, principalmente devido ao fato de ter sido encontrada uma de suas mais antigas imagens, Essas pesquisas concentraram-se na coleta de informações através da tradição oral transmitida de geração em geração entre os yatiris ou chefes feiticeiros de clãs dos índios. Soube-se que naquele tempos remotos, todos os anos , em datas fixadas pelos sábios amautas que detinham vastos conhecimentos e sabiam ler os astros , organizavam-se sacrifícios humanos.

Nessas ocasiões , o povo ataviava-se com suas melhores vestes e jías e integrava uma longa procissão que partia do sopé daquela montanha dirigindo-se lentamente ao seu cume, a mais de 5 mil metros de altura. Como é de se supor , eles faziam a subida mascando a coca para aliviar a fadiga da ascensão e criar um clima de euforia que os hinos religiosos entoados pela multidão tornavam ainda mais estimulantes . Eles carregavam as suas oferendas para serem entregues ao vulcão e a Deusa das Neves , rogando aos grandes espíritos da montanha e a divindade branca para aceitarem os presentes e retribuir com os favores de melhores colheitas , proteção contra ataques de invasores e, sobretudo , dando-lhe felicidade.

Vasos de cerâmica foram examinados e neles os pesquisadores encontraram pinturas revelando detalhes dessa procissão. Nessa fila dos crentes, logo após os sacerdotes e outros altos dignitários que iam na frente , seguia a liteira carregada nos ombros pelo povo e que conduzia adolescentes que seriam sacrificados à deusa. Outro exame no local da descoberta do altar do espirito das neves e ainda por desenhos em cerâmica , encontrados em vasos religiosos, verificou-se que os adolescentes que eram sacrificados com freqüência eram colocados numa espécie de arca cavada numa pedra ou, então, encontrados numa das paredes do rochedo. Esses jovens, ao que tuo indicava , eram previamente drogados com infusões de folhas de coca e de outras ervas alucinógenas que os índios conhecem tão bem desde a mais remota antigüidade , com o propósito evidente de nada sofrerem durante o ato do sacrifício . Aos és dos que seriam sacrificados , os seguidores do culto da deusa colocavam suas mais preciosas oferendas , bem como os alimentos e as bebidas necessárias para a derradeira viagem que seria empreendida pelos jovens escolhidos para agradar a divindade.

Ao redor deles eram colocados , também , os incensórios e as pequenas vasilhas com defumadores. A vitima, dopada e adormecida, encostada num penedo ou sentada na urna megalítica , após as cerimonias religiosas das oferendas , das preces e dos rituais propiciatórios, era aí deixada sob o frio da altitude, para que a deusa a congelasse e recolhesse seu espirito para servi-la em seus domínios , como os adolescentes e as virgens eram empregados nos templos dos homens.

Em outros vulcões onde ocorreram atos de sacrifício semelhantes , encontraram-se cadáveres congelados e conservados sob duras placas de gelo. Eles foram desenterrados de suas sepulturas congeladas e levados para museus , para exames. Não demonstravam na face quaisquer rictos ou sinais de sofrimento causados pela morte pelo frio. Ao contrário; esses rostos mantém ainda com perfeição uma fisionomia serena , às vezes parecendo sorrir. Evidentemente por efeito das drogas ingeridas que os dopavam e tornavam insensíveis a qualquer dor.

De qualquer maneira, isso não descarta a possibilidade de algumas outras vitimas humanas sacrificadas à Deusa das Neves não terem sido mortas por congelamento e depois atiradas para dentro do vulcão ou até — quem sabe? — ainda vivas mas adormecidas, terem sido lançadas para a eternidade no fundo das crateras.

O culto da Deusa das Neves e os sacrifícios extremos que exigia difundiram-se entre todos os povos do altiplano andino. Na maioria dessas cerimonias , contudo , são poucos os casos de morte violenta ou de que as pequenas vitimas tenham acordado subitamente, despertadas pelo instinto de conservação e tentado escapar do terrível sacrifício, debatendo-se ou morrendo com a face crispada pelo terror . Algumas múmias das regiões de Cuzco e de Arequipa, contudo, foram achadas com sinais de violência no alto de cumes nevados.

Entre estas, relaciona-se a que foi encontrada pela missão arqueológica do alemão Dietrich Disselhof ao Pichu-Pichu. Este monte fica próximo do Coronado Grande, portanto , perto do local onde foi encontrado o primitivo ídolo da Deusa das Neves. Além de um cadáver , o arqueólogo encontrou um crânio e duas vértebras cervicais pertencentes a uma jovem de quinze anos presumíveis . Havia uma ampla perfuração no lado direito do osso parietal e, também , vestígios de glóbulos vermelhos intactos , evidencias bastante seguras de que houve um sacrifício por morte súbita e violenta.

Quando as antigas culturas do altiplano foram subjugadas pelo Império inca, no inicio deste nosso milênio, seus novos senhores impuseram sua civilização e o tipo de sociedade comunitária que utilizavam em todos os seus domínios , bem como a religião incaica que venerava o Deus Sol. Eles não conseguiram , porém, fazer com que o culto da Deusa das Neves e de outros espíritos que se encarnam nos montes, lagos , rios , arvores ou pedras e que eram seguidos por aqueles povos cessasse.

O culto, por sinal, não só sobreviveu ao Império Inca quando ele foi desmantelado por Francisco Pizarro como teria influenciado aos próprios povos incaicos , os quais viviam nos sopés de vulcões que também esculpiram ídolos da divindade, oferecendo-lhes as mesmas honrarias dos sacrificios exigidos pelos amautas. A verdade é que a tradição ainda vive entre os índios aimarás e quíchuas de hoje, embora não se tenha noticia de nenhuma oferenda humana.

O sacrifício de animais caseiros como o lhama , alpaca , vicunha ou cordeiro tomaram o lugar do homem nas aras erguidas nas altitudes nevadas. Igualmente hoje segue-se a tradição das cerimonias religiosas em honra da deusa , como a procissão que sobe aos elevados vulcões entoando cânticos sagrados acompanhados por músicos que sopram as zamponhas ou a flauta quena , dedilham as cordas de suas arpas indígenas e tocam seus tambores.

No século 20 , não há índio boliviano ou peruano que não tema e não renda homenagem ritualisticas a Pachama-ma , a deusa das alturas , que parece ser uma derivação , nos tempos atuais da Deusa das Neves.

Extraído de um texto de Durval Ferreira – 1976

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/realismo-fantastico/a-deusa-das-neves/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/realismo-fantastico/a-deusa-das-neves/

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Shirlei Massapust

Em mandarim yāo (妖) significa um monstro, geralmente de origem exógena, com corpo formado de ectoplasma modelável, como o ātman (आत्म) do hinduísmo. Este termo passou para o nihongo como prefixo de palavras tais como yōkai (妖怪) ou monstro misterioso, yōma (妖魔) ou monstro mágico, yōtō (妖刀) ou kataná monstruosa, etc. Menos frequentemente yāo pode designar um humano que se tornou feiticeiro ou até um fantasma. Geralmente os imaginamos com má aparência, embora a partícula ocorra também em termos venturosos como yōen (妖艶), que designa uma personagem encantadora, sensual. A palavra utilizada para traduzir o inglês faery (fada) é geralmente yāojing (妖精), em mandarim, yojeong (요정) em hangul e yōsei (妖精) em nihongo.

Um ponto leva a outro. Pelas sílabas de yōkai (妖怪) obtemos os sinônimos yōbutsu (妖物) e kaibutsu (怪物), designando poder de mutação; algo que nos leva em trilha semântica ao bakemono (化け物), um ser com poder de metamorfose, apto a assumir ao menos duas formas distintas. Outras combinações do superlativo honorífico o (お) com bake (化け, mudando, corrompendo)[1] e o substantivo mono (物, objeto) dão-nos as variantes sinônimas obake (お化け) e obakemono (お化け物).[2]

No Japão uma casa mal assombrada é uma bakemono-yashiki (化物屋敷). No folclore oriental o ser humano tem ki (氣), uma força vital que nos sustenta e se espalha pelo meio-ambiente do mesmo modo que deixamos fios de cabelo, células mortas, fragmentos de unhas, suor, etc., para traz. Enquanto nossos restos matérias atraem ácaros que produzem fezes, nossos restos de carga atraem yōkai que, por sua vez, recarregam o ambiente com rastros de sua potência mutagênica e vivificante.

Casas repletas de mobília antiga e objetos que nunca são renovados acumulam carga até as coisas entrarem num estado de existência animista[3] indicativo da corrupção ou mudança, chamado de tamashī (魂), reikon (靈魂), konpaku (魂魄) e hakurei (魄霊)[4] em diferentes épocas. Isto que hoje conhecemos por bakemono é um corpo material (objeto, animal ou pessoa) que prodigiosamente muda daquilo que era antes para algo que vem a ser. Um exemplo: No templo budista Mannenji, localizado em Iwamizawa, Hokkaido, existe uma boneca chamada Okiku (お菊人形), antiga e já bastante erodida.

A tradição oral revela que este item foi comprado por Eikichi Suzuki, um rapaz de dezessete anos, no ano 1918, em Tanuki-Koji, na ilha Sapporo. Eikichi Suzuki deu Okiku à sua irmã de três anos, chamada Kikuko ou Kiyoko. A menina amou o presente e não se separou da boneca até morrer de virose no ano seguinte. Após a cremação do corpo da menina, Okiku foi posta no oratório da família bem ao lado da urna funerária. Com o passar do tempo o corte de cabelo em estilo okappa, antes nos ombros, alongou visivelmente. A família interpretou a mudança como sinal de que a sombra da morta penetrou naquele objeto por osmose, vivificando-o.

Em 1938 a família Suzuki se mudou para Sakhalin e doou Okiku ao templo, onde permanece exposta até hoje, junto à urna contendo as cinzas da falecida. Todos os anos romeiros participam duma cerimônia em memória de Okiku. Dizem que os olhos da boneca causam sensação de vigilância real. Dizem que sua boca abriu e que cabelos continuam a crescer. Graças à boneca, este templo acabou virando atração turística.[5]

É triste quando o bonequeiro, ningyōshi (kanji 人形師, kana にんぎょうし), fabrica o boneco, ningyō (kanji 人形, kanaにんぎょう), com propósitos artísticos e o item acaba na fogueira porque alguém julgou aquele objeto como algo capaz de absorver a moléstia e curar uma criança adoentada quando posto no leito onde ela dorme.

No Japão as bonecas não são apenas brinquedos infantis e muitas vezes representam símbolo da história dos costumes do país. Elas são chamadas de ningyō e ao longo de toda a história do Japão foram sofrendo pequenas modificações. As primeiras referências de bonecos são os haniwa, estatuetas de barro encontradas em tumbas pré-históricas, onde o que menos contava era o apelo decorativo. No período Heian (794-1185) eram usados para afastar demônios.

Inicialmente as bonecas eram muito simples, moldadas em palha ou papel sendo que as primeiras serviam para afastar epidemias e eram colocadas nas fronteiras das antigas aldeias. E para purificar corpo e alma, se usavam bonecas feitas de papel que depois eram jogadas no rio para levar embora os maus fluídos. (…) Durante o fechamento do país para o mundo, no período Edo (1603-1868), o país desenvolveu uma cultura própria. Neste período as bonecas ainda carregavam uma forte superstição pois muitas pessoas as tinham como amuleto para afastar pragas de plantações ou para garantir um bom parto. Mas foi em meio a esta mentalidade que surgiram as karakuri, bonecas que tocavam instrumentos e dançavam através de um sistema simples de cordas retorcidas, roldanas e fios.[6]

Noutro artigo já mencionamos a lenda da yōtō (妖刀), espada de uso bélico que se apega à sua função social, tem sede de sangue e induz qualquer usuário a continuar matando mesmo em tempos de paz. Outros artefatos de uso militar também podem ganhar vida, conforme narrativas folclóricas e artísticas. O abumi-guchi (鐙口) é o estribo de hipismo, utilizado por um comandante militar, que com o tempo se transforma numa criatura peluda.[7] Certa vez Ozamu Tezuka preencheu uma página do gibi Dororo (どろろ) com um único quadro onde equinos sem cabeça, de pescoços flamejantes, galopam assustando o protagonista. Parecem com a mula-sem-cabeça do folclore brasileiro.

Não é normal num gibi que o desenhista gaste uma página inteira com apenas um quadro, especialmente contendo uma cena desprovida de pertinência temática com o roteiro. Na página seguinte o menino sonha com o passado, lembrando de como ele se tornou um órfão predestinado à vida de ladrão.[8] Seriam aqueles cavalos de guerra decapitados anunciadores de pesadelos?[9] Na esperança de obter mais informações procurei pela primeira versão animada de Dororo (どろろ; 1969) cuja música da abertura e encerramento é pausada pela recitação de poemas por uma voz feminina. Na primeira interrupção ela fala sobre as posses do samurai moeru yoroini (燃えるよろいに) ou “armadura flamejante” e moeru uma (燃える馬) ou “cavalo flamejante”:

赤い夕日に照り映えて

燃えるよろいに燃える馬

天下めざしてつきすすむ

 

No crepúsculo vermelho

Armadura em chamas, cavalo em chamas

Correndo veloz, galopando pelo mundo[10]

Na abertura do remake de Dororo (どろろ; 2019) vemos a cena do quadrinho onde vários cavalos sem cabeça galopam numa fração de segundo e não tornam a aparecer no seriado em si, assim como nunca vemos a cena da putrefação do cadáver do protagonista igualmente presente naquela amostragem.

Nossa energia impregna num animal doméstico mimado em excesso do mesmo modo que entra em objetos estimados. Por isso a forma primária dum bakemono pode ser um ser vivo, como o bakeneko (化け猫, gato metamorfo). Um animal selvagem que atinge idade avançada para muito além do normal também se transforma, como o bake-danuki (化け狸, tanuki metamorfo). Isso é o contrário das lendas ocidentais de homens que viram animais (lobisomem, capelobo, etc.) pois no caso nipônico é o gato, o tanuki, a raposa, etc., que vira gente temporariamente ou reencarna como gente.

Quando itens domésticos ganham vida e senciência eles ainda estão apegados aos velhos usos e atuam de modo obsessivo compulsivo. Sendo assim, na China uma zhǒu shén (箒 神), chamada no Japão de wawakigami (ははきがみ), é uma vassoura que, descontroladamente, varre sozinha as folhas que caem em dias de vento frio.[11]

Objetos domésticos de uso regular só se tornam agressivos quando passionais, podendo buscar vingança contra pessoas que os inutilizaram ou os jogaram no lixo. Por conta disso, alguns santuários oferecem o serviço de “consolar” objetos quebrados ou que não são mais usados.[12] Muitos países como a Tailândia, por exemplo, constroem templos para alguns objetos com fama ou origem sobrenatural.[13] No Japão cerimônias de consolação são realizadas em templos budistas e xintoístas. Por exemplo, existe o festival hari kuyō (針供養), celebrado em 8 de fevereiro na região de Kanto, mas em 8 de dezembro nas regiões de Kyoto e Kansai, onde as costureiras levam suas agulhas quebradas para agradecer os préstimos antes do descarte.[14] Assim elas não as furam.

Ningyō kuyō (人形供養) é um serviço de memorial para bonecas antigas, com presença de gueixas e monges, onde as famílias agradecem os préstimos dos objetos que cumpriram sua função social fazendo companhia e protegendo suas crianças, mas que perderam a utilidade e foram entregues à cremação. Isto ocorre desde sempre no templo zen-budista Hōkyō-ji (宝慶寺), em Kyoto, conhecido como Templo dos Bonecos devido ao seu acervo de peças imperiais coletadas e acumuladas durante séculos.[15] Posteriormente o mesmo costume foi introduzido no templo Kiyomizu Kannon-dō (清水観音堂), em Tokyo, e virou matéria da revista Superinteressante (agosto de 1992).

No Japão, até hoje as duas definições (boneca e ídolo) se misturam tanto quanto se misturavam entre romanos e gregos. Há pelo menos 900 anos, todo dia 3 de março, as meninas reverenciam a casa imperial reunindo suas bonecas prediletas numa grande festa. Uma a uma, todas as bonequinhas são visitadas, apresentadas às amigas e, durante o chá, têm o privilégio de serem servidas em primeiro lugar. (…) Para os japoneses, bonecas têm espírito. (…) Ainda hoje, muitos japoneses acreditam que, colocada no leito de uma criança doente, a boneca pode levar a moléstia embora. Se presenteadas no dia do casamento, são consideradas símbolo de prosperidade e felicidade conjugal para o jovem casal. Há pouco mais de vinte anos, o sindicato dos fabricantes e comerciantes de Tóquio aproveitou a deixa dessa crença para promover um grande lance comercial chamado ningyō kuyō. Tradução: “consolo da alma das bonecas”, ritual de cremação que se tornou tradicional na capital japonesa. Todo dia 25 de setembro, as mulheres estéreis que obtiveram a graça de ter um filho levam uma boneca para ser cremada no templo Kiyomizu-Kannon-dō. A ideia é que, queimando a boneca, seu espírito carregado do desejo de maternidade vai embora com a fumaça e a criança pode crescer em paz. Vai-se o espírito infantil, fica o comercial.[16]

Na antologia de poemas Ise monogatari (伊勢物語), seção 63, datada do século IX, lemos a palavra tsukumogami (つくも髪) referente aos cabelos brancos, kami (髪), duma idosa. Setecentos anos depois o autor-ilustrador do pergaminho Tsukumogami emaki (付喪神絵巻) explicou que o intraduzível prefixo tsukumo na palavra tsukumogami (desta vez 付喪神) também poderia ser escrito com o kanji 九十九, que significa um período de noventa e nove anos. Sendo assim uma ferramenta ou utensílio doméstico desenvolveria um espírito evoluído após a passagem de noventa e nove anos. Mas há um problema: A truncagem de kami (髪, cabelo) por kami (神, divindade) sugere que ele não entendia o sentido original de tsukumogami ou formulou um homônimo homófono.            Segundo o pergaminho do século XVI, à época as pessoas descartavam objetos antes de completarem o período chamado de susu-harai (煤払い). Conforme exposto, se demorassem mais a ferramenta “mudaria e adquiriria um espírito, e enganaria o coração das pessoas”. Tal ensinamento constaria no livro Onmyō Zakki (陰陽雑記), livro que também informaria sobre a coisa vivificada que assume aparência humana, tanto masculina quanto feminina, tanto idosa quanto jovem; bem como “a semelhança de chimi akki” (aparência de oni) e “a forma de korō yakan” (forma de animais), entre outras. Seu aspecto após a mutação é referido com palavras como youbutsu (妖物).[17]

Há dúvidas sobre se o susu-harai é, de fato, um período de exatos noventa e nove anos porque tsukumo (九十九) pode se referir literalmente a um número ou, menos precisamente, a uma hipérbole no sentido de muito tempo. A boneca Okiku só precisou de um ano para adquirir uma natureza espiritual pois isso representou um terço da vida de sua dona, que a amou com intensidade, agonizou e morreu com ela. No primeiro volume do romance gráfico Tokyo Babylon (東京BABYLON), do grupo CLAMP, editado pela Shinshokan, em 1990, uma personagem adoece e apresenta comportamentos estranhos após comprar uma jaqueta numa liquidação de roupas. Subaru descobre que a jaqueta ficou carregada de energia negativa por conta da competição da clientela por aquele objeto, ao ponto de aquilo necessitar de exorcismo.[18]

Papéis encantados

No Japão, em templos da religião xintó, são vendidos ofuda (御札), que são amuletos de papel produzidos por monges para atrair o amor, a saúde, a prosperidade financeira e até proteger contra mal olhado e fantasmagorias. Do mesmo modo, no taoísmo e noutras religiões chinesas, existe o jufu (呪符) ou gofu (護符), amuleto de papel ou madeira produzido para finalidades que mudam conforma a inscrição.

Os ofuda tem efeito imediato porque o monge xintó é competente para canalizar a energia dos kami (神) aos quais ele presta culto. Porém existem métodos para o leigo carregar papel com os eflúvios energéticos de origem humana, de modo voluntário ou involuntário. Hoje há todo um ritual construído em torno da tradição de confeccionar, expor e descartar o washi ningyō (和紙人形); um ningyō (人形) ou boneco feito de washi (和紙), tipo de papel artesanal feito a partir das cascas das árvores das amoreiras.

Livro de arte com fotografias de washi ningyō produzidos pela artesã japonesa Eika Ito.[19]

Dizem que o washi ningyō teria o poder de remover a dor quando posto no leito dum enfermo que dorme. Logo depois, o boneco descartável carregado pela energia da enfermidade deve ser cremado ou levado para longe e dissolvido em água.

Fotos: 1) washi ningyō produzidos pela fábrica Kyugetsu representando Shinzo Abe, o Primeiro Ministro do Japão, e Caroline Kennedy, Embaixatriz dos Estados Unidos no Japão. (Foto © 2014, The Japan Times). 2) Monges levando um barco cheio de bonecos para o rio.

Com o passar dos séculos este rito individual originou uma festa coletiva. Hina-ningyō (雛人形) é um washi ningyō introduzido no festival Hinamatsuri (雛祭り), o “Dia das Meninas”, realizado anualmente por japoneses e italianos descendentes de japoneses. Neste festival inúmeros bonecos são expostos sobre carpete vermelho.

Bonecos de papel ou palha representando a corte imperial, com roupinhas em estilo antigo, são levados para templos onde ficam expostos ao público desde meados de fevereiro até o dia três de março. Depois o excesso é cremado pelos monges. Contudo, muitos ainda chegam ao fim do procedimento onde as pequenas figuras humanas são postas para navegar à deriva em barquinhos de madeira, empurrados pela correnteza dos rios ou pelo movimento das ondas.  Estes se tornam hina-nagashi (雛流し), bonecos flutuantes, que levam as doenças e problemas com eles para longe.

No Brasil existe um costume parecido onde, no dia do Réveillon, os umbandistas pulam sete ondas na Praia de Copacabana e enviam oferendas para Iemanjá dentro de réplicas de barcos em miniatura que podem ou não conter uma imagem da santa.

No Japão até um maço de papel pode ser imbuído de poder mágico. Kyōrinrin ( 経凛々) é um bakemono resultado da transmutação de pergaminhos, livros, etc., que foram negligenciados e deixados sem leitura[20] por bastante tempo. Antigamente o papel branco era produzido com fibras da planta chamada asa (麻) ou o (苧), conhecida em botânica como Cannabis sativa. Havia grandes campos de plantações destinadas a este fim. Na ausência de nanquim a tinta era obtida de materiais biológicos, como gema de ovo e sangue animal. Segundo Aline Ribeiro, durante o shogunato de Tokugawa (1853-1867) os samurais eram submetidos a um rito de passagem:

A lealdade tinha certos rituais muito profundos, como um “contrato” firmado entre o guerreiro e seu daimyō. O documento era escrito com o sangue do próprio samurai, assinado e, logo em seguida, queimado. As cinzas eram dissolvidas em água e bebidas, fazendo com que se criasse um laço eterno entre a linhagem do samurai e a do senhor.[21]

Coisas estranhas acontecem quando um papel impregnado de energia aleatória não é cremado nem exposto aos elementos. Muitos acreditam que o shōji – tipo de porta deslizante feita de papel de arroz, – assim como as fechaduras e outras benfeitorias necessárias do lar, se transmutam em mokumokuren (目目連) e tendem a criar muitos olhos quando deteriorados e esburacados pelo tempo ou pela má conservação.[22]

A lanterna chōchin (提灯お), feita de bambu ou papel de seda, é um objeto de grande beleza, onipresente na decoração nipônica. O yóuzhǐ sǎn (油纸伞), um guarda chuva de papel em estilo chinês, é estruturalmente semelhante ao kasa (傘), o guarda-chuva comum, porém se trata dum item decorativo que os noivos carregam na cerimônia de casamento. Se alguém decidir guardar estes apetrechos perecíveis e descartáveis, em algumas décadas eles se tornarão os monstros folclóricos chōchin-obake (提灯お化け) e kasa-obake (傘おばけ)[23]. Assim como um gato doméstico muito mimado pode se tornar um bakeneko (化け猫), um tanuki eventualmente evolui para bake-danuki (化け狸) e outros animais da fauna local se convertem nas mais variadas fantasmagorias.

Um kasa-obake não precisa necessariamente evoluir de um yóuzhǐ sǎn, mas suponhamos que assim seja. Como todo bakemono ele é um objeto imbuído da força vital projetada por alguém que congelou sentimentos experimentados à época de sua posse. Quem não deseja mudar de atitude ou de opinião faria bem em ter um bakemono amigo. As emoções impregnadas na memorabilia nupcial carregariam e vivificariam o objeto de estimação que transmuta a haste de sua alma artificial num corpo sutil e abre as asas na forma do animal que lhe é mais semelhante: Um elegante morcego.

Este quiróptero etéreo promoveria a união do casal evocando a lembrança daqueles momentos felizes. Enquanto o objeto existisse, ele faria tudo para não deixar seus proprietários se separarem, brigarem ou pararem de desejar um ao outro. Contudo, se fosse jogado fora ou acabasse nas mãos de outrem, por herança ou mero acaso, tumultuaria a vida alheia tentando controlar sua vontade para realizar sua função social. Enfim, o novo dono viraria um mulherengo, um libertino, ou se apressaria a casar.

Ilustração de Hokusai representando um chōchin-obake (1826/1837) e detalhe de uma ilustração de Yoshitoshi (1839-1892) figurando um provável kasa-obake ou morcego associado ao guarda-chuva. Ele pode ser a alma do objeto porque, em nihongo, uma das palavras sinônimas tanto de quirópteros quanto de guarda-chuvas é kōmori (コウモリ ou こうもり), por causa dos dedos e estruturas que suportam tecidos esticados. Cesar Gordon observou que em mebêngôkre, o idioma dos indígenas Kayapó, os guarda-chuvas também são chamados de morcegos (njêp).[24]

No início não havia nenhuma padronização da aparência de objetos mutantes na arte nipônica. E nem seria lógico se houvesse; afinal, eles têm poder de mutação. Hoje, contudo, a variação na aparência depende do tipo de item que os originou, assim como as condições de como o objeto estava. [25] Imagens da lanterna chōchin-obake (提灯お化け), do guarda-chuva kasa-obake (傘おばけ), do chinelo de palha bakezōri (化け草履) e doutros objetos que viram obake muitas vezes os mostram fazendo careta, com língua de fora, certamente por influência do padrão iconográfico estabelecido na era Kanei (1848-1853) pelo bonequeiro Hikoshichi Nishijinya (西陣屋彦七), natural da cidade Kumamoto, criador do boneco mecânico obake no Kinta (おばけの金太).

Arte em de papel machê: 1) Cabeças vermelhas e outros brinquedos obake no Kinta que exibem as línguas na Loja de Bonecos Atsuga (厚賀人形店), em Kumamoto, Japão.[26] 2) Máscara “O Linguarudo” representando o diabo, produzia por Dionísio (1909-2007), em Niterói, RJ, Brasil.

Este brinquedo folclórico tem aspecto duma cabeça humana ou animal de papel machê, fixada sobre haste de bambu, com engrenagens internas que permitem mover os globos oculares, abrir a boca e mostrar a língua quando puxamos uma corda.[27] Os descendentes de Hikoshichi Nishijinya ainda fabricam o brinquedo e explicam que seu nome era Kinta, porém alguém se assustou com o movimento e supôs ser um obake.

Oposição entre valores morais e pecuniários

Uma antiga lenda diz que Bodhidharma () atingiu o nirvana meditando durante nove anos numa caverna. Durante esse exercício meditativo ele permanecia imóvel, observando fixamente o vazio numa posição chamada bìguān (壁觀) ou “olhar perene” até suas pupilas ficarem reduzidas ao tamanho mínimo. Depois que o fundador do zen-budismo na China se mumificou em vida, os chineses começaram a esculpir santos e brinquedos verdadeiros sem pupilas em sua homenagem, transmitindo a tradição aos japoneses que hoje fabricam o boneco-amuleto Darumá (だるま).

Diz a lenda que Bodhidharma meditou em uma caverna por 9 anos sem nem ao menos piscar. Sua persistência foi tão forte, que ele continuou sem parar mesmo depois de seus braços, pernas e pálpebras caírem. Essa lenda (…) é a origem do formato redondo do Darumá. Os Darumás possuem mais peso na parte inferior para que fiquem de pé, não importa quantas vezes sejam derrubados.[28]

Na tradição zen-budista japonesa o devoto compra o Darumá cego, pinta uma pupila no olho esquerdo e faz um desejo. Quando o Bodhidharma atende este desejo o devoto retribui concedendo a visão do olho direito, desenhando a pupila que falta. Esses são bonecos inarticulados, humildes, feitos de materiais baratos, geralmente vendidos em feiras e festivais religiosos, mas também em lojas de souvenir. Ao fim de um ano é preciso devolver o Darumá para qualquer templo, onde ele será queimado num ritual, liberando o seu espírito. Esse ritual pode ser individual ou coletivo. Em razão da enorme demanda, desde 1954 o templo budista Nishiarai Daishi (西新井大師) promove o festival Darumá kuyō (だるま供養) onde milhares de exemplares são queimados juntos.

No Japão, China e Coréia do Sul é comum encontrar bonequeiros e vidraceiros produtores de olhos para bonecos de Resina PU com opções de íris monocromática, sem pupilas, disponíveis inclusive em cores fantasia como salmão e vermelho vivo. A artesã chinesa Heise Jin Yao (黑色禁药) é uma entre os muitos comerciantes de olhos para BJD que parodiam a iconografia do Darumá. Porém seus bonecos não são santos conservadores e ninguém os queimaria em sã consciência, pois hoje cada um chega a valer mil dólares americanos. Eles são personagens fantásticos de novelas de temática BDSM. Um deles, Huika (毁卡), teve o nome inspirado por Huìkě (慧可), discípulo de Bodhidharma, segundo patriarca da escola de zen-budismo na China, historicamente conhecido por haver sido um nobre de pouca virtude, pouca sabedoria, coração raso e mente arrogante, descendente direto de Sidarta Gautama.

O filme de horror coreano The Doll Master (인형사; 2004), dirigido por Yong-ki Jeong, foi patrocinado pela Ai Dolls, atual Custom House. Imagine como seria se a indústria estadunidense Mattel, produtora da boneca Barbie, patrocinasse um filme protagonizado por uma Bárbie assassina. Foi exatamente isto que a Custom House fez com seus preciosos produtos! Estariam decretando a obsolescência e recomendando aos proprietários que cremem todos os modelos antigos, a serem substituídos pela nova coleção? No Brasil juristas formulariam hipóteses de crime contra a economia popular; pois, se não destruir, papões com mãos geladas puxarão seus pés para baixo da cama!

Verificamos que o filme The Doll Master retrata fielmente a antiquíssima crença oriental de que certos objetos inanimados podem prejudicar seus donos quando tratados de modo irregular. Ou seja, que “se você se apegar a um objeto e andar sempre com ele a coisa pode formar uma alma”, e que objetos inanimados “como uma rocha, uma boneca ou uma casa” pela qual alguém se apega desmesuradamente, obsessivamente, acabam carregados de sentimentos deletérios que eles reproduzem e irradiam.

Esta obra de ficção apresenta vários resultados para o que acontece quando objetos feitos de Resina PU desenvolvem alma por culpa de seus donos: Damian, um boneco articulado por elásticos internos (BJD), foi adotado e transportado pela mesma pessoa durante dezenove anos, sete meses e vinte e oito dias. Esta mulher tímida se tornou ouvidora de vozes e dialogava com a coisa. Virou uma excluída social. No mesmo filme uma designer de bonecos encontrou um manequim sentado sobre um túmulo. O espírito vingativo do manequim passou para o corpo da mulher e começou a perseguir todos os descendentes do assassino do seu criador. A artesã possessa disse:

Eu acredito que meu trabalho da vida aos objetos inanimados. (…) Você nunca possuiu coisas às quais era apegado? Você já ficou triste após perder aquelas coisas? Eu penso que quando os objetos perdem seus donos, eles ficam tristes também. Você sabia que quando algo está perdido, há algumas ocasiões em que parece que ele nunca desapareceu do seu local de origem? Eles retornam para os seus antigos donos.

Mina, outra BJD, ganhou alma quando sua dona sofreu um acidente. Com o tempo a menina enjoou da boneca e jogou fora, mas a boneca não enjoou da menina. Mina passou a perseguir sua dona, inconformada com o descarte e esquecimento. A boneca era capaz de projetar seu espírito em forma humana diante da antiga proprietária, fazendo-a acreditar que dialogava com uma menina de verdade enquanto os outros a viam falar sozinha. Por isso aquela mulher deixou de ser uma modelo desinibida e bem sucedida. Ela acabou igualmente rotulada como louca.

O exemplo da BJD Mina, de The Doll Master, é idêntico ao da pequena boneca de porcelana Mary, que aparece no episódio 11 do anime Histórias de Fantasmas (学校の怪談; Japão, 2000), Mary reencontrou o caminho de casa e voltou, querendo brincar, mas só achou a filha órfã da sua falecida dona, que era bastante madura e não gostava de bonecas. O brinquedo problemático assombrou a adolescente até ser entregue a um templo budista onde um monge explicou que o certo teria sido cremar os pertences da falecida junto ao corpo na data do óbito. Enfim, nestas obras de ficção as almas dos brinquedos amados sempre requerem mais amor e as dos brinquedos maltratados devolvem a violência às pessoas. Assim todos continuam absorvendo energia alheia.

Propaganda da microempresa sul-coreana HyperManiac, onde são comercializados personagens da designer de bonecos Ka-Hyun.

No sexto episódio da série Witch Hunter Robin (2002), criada por Sunrise e pelo diretor de animação Shūkō Murase, uma jovem bruxa diagnosticada com transtorno de personalidade múltipla transfere suas personalidades para várias bonecas até restar só uma delas em sua mente.  No seriado Another (アナザー; 2012) a filha duma bonequeira extrai um olho tomado pelo câncer e equipa um olho de vidro, um olho de boneca, que transmuta e lhe dá capacidade de ver o mundo sob a perspectiva de um bakemono.

No segundo episódio da primeira versão do seriado Vampire Princess Miyu (吸血姫美夕; 1988), de Narumi Kakinouchi e Toshiki Hirano, algumas pessoas foram transformadas em bonecos articulados por uma criatura de mesma espécie que lhes prometeu beleza eterna. A energia emitida pelos embonecados sustentava o bakemono, porém a Princesa Miyu nada obteve ao mordiscar um aparentemente saboroso menino de plástico. No meio de tudo um personagem coadjuvante se recusou a comprar um brinquedo para sua filha: “Você não acha que as bonecas japonesas são assombradas? O folclore diz que o cabelo das bonecas cresce, e outras coisas deste tipo”.

No desenho animado Dantalian no Shoka (ダンタリアンの書架), sexto capítulo Funsho kan (焚書官), que foi ao ar no Japão pelo canal TV Tokyo, em 19/08/2011, os personagens protagonistas descobrem que todos os coadjuvantes moradores duma cidade misteriosa são bonecos articulados transformados por meios mágicos em shikigami (式神) para servirem de receptáculo das almas dos mortos.[29]

Isto parece uma versão em roteiro de horror da história real da aldeia Nagoro, situada na ilha de Shikoku, Japão, onde a artesã Tsukimi Ayano (月見綾乃) enfeitou áreas públicas e prédios vazios com centenas de bonecos de pano forrados com palha, jornal, etc., para combater a solidão, de modo que sua arte ocupa hoje os lugares dos mortos e dos moradores abduzidos pelo êxodo rural. Esses bonecos são mantidos limpos e substituídos quando se deterioram. Quando a quantidade de falsas pessoas superou a população humana na proporção de dez para um, agências de turismo passaram a chamar Nagoro de Kakashi No Sato (かかしの里), a Vila dos Espantalhos.[30]

Bonecos para um vampiro

Na primeira vez em que assisti ao filme Higanjima (彼岸島; Japão, 2010) pensei que Miyabi (雅) fosse um baquemono tsukumogami pois este personagem, interpretado pelo ator e modelo fashion Louis Kurihara (栗原 類), têm uma presença estética bastante diferenciada da dos demais vampiros. O seu nome significa elegância, refinamento ou cortesania, podendo designar um metrossexual, um destruidor de corações. Enfim, ele parece um boneco e foi achado num templo repleto de bonecos. Além do mais, o jogo Ragnarök Online apresenta uma versão da futa-kuchi-onna (二口女) chamada Miyabi Ningyō (雅人形) vivendo num mapa que obviamente inspirou a criação do labirinto que aparece no capítulo 295 do primeiro romance gráfico da outra franquia.

Miyabi (Louis Kurihara) em Higanjima (彼岸島; Japão, 2010).

Porém tudo se explica no capítulo 39 do romance gráfico, com roteiro e desenho de Kōji Matsumoto (松本 光司).[31] Uma mutação genética ocorrida numa família nobre criou os vampiros. Miyabi foi aprisionado num frigorífico. Durante os cinquenta e sete anos em que esteve preso os ilhéus oraram e construíram ao seu redor. Fizeram um altar para oferendas de alimentos e prosseguiram com as benfeitorias até o local virar um templo ornamentado com estantes de bonecos representando vampiros. No exterior erigiram um torii[32], uma escadaria e tudo que um templo tem direito. Enfim, tentou-se de tudo para apaziguar o vampiro exceto deixa-lo escapar do confinamento.  Foi assim até que um turista desinformado e curioso cometeu o erro de abrir a prisão.

Às vezes os seres humanos imaginam que deuses abstratos precisam de olhos e corpos para representação. O mesmo acontece com fantasmas. Em Chihuahua, México, uma loja de roupas chamada La Popular se transformou em atração turística por ostentar a mesma manequim na vitrine desde 25 de março de 1930. Esta manequim com olhos de vidro está sempre vestida de noiva e foi chamada de Pascualita por parecer com Pascuala Esparza, filha da primeira proprietária da loja, que morreu envenenada pela picada duma aranha viúva negra bem no dia do seu casamento.

Desde o início as pessoas espalharam a lenda urbana de que Pascualita observa os clientes da loja e muda de posição à noite. No Japão, a desenhista Naoko Takeucki parodiou uma lenda urbana semelhante: Até 1992 existia uma loja de vestidos de noiva num shopping de Minami Aoyama, que, para chamar atenção, posava uma manequim prestes a pular da janela do terceiro andar. Muitos transeuntes se assustaram pensando ser uma suicida e contaram estórias. Na versão fictícia do quinto ato do romance gráfico Sailor Moon esta noiva manequim[33] foi animada pela yōma (妖魔) do corpo redivivo do avatar dum shitenōu (四天王) controlado por poderes das trevas e pulava da sacada à noite procurando noivos para extrair energia (精力) e, com isso, nutrir o Dark Kingdom[34].

O sepultamento da cultura

Na vida real enquanto milhares de pessoas comparecem ao Darumá kuyō, dispondo peças para consolação e cremação, e bastante gente leva washi ningyō ao festival Hinamatsuri, como deve ser, somente poucas dezenas participam do ningyō kuyō. E mesmo assim a maioria leva washi ningyō, evitando o desapego de bens duráveis e dispendiosos que são o verdadeiro foco desta bonita cerimônia religiosa.

Fica óbvio que japoneses têm dó de entregar qualquer item superior a bichos de pelúcia. Coisas boas são revendidas, pois a maioria entende que o ideal é cremar no templo aquilo que se faz pelo templo e para o templo. Ou então os próprios monges preservam brinquedos seletos para a não-cremação conforme critérios misteriosos.

Se o problema ainda não ficou claro observem o polêmico artesão chinês Ryo Yoshida (吉田 凌) cremando duas bonecas de terracota que ele mesmo esculpiu, numa ilustração da monografia Articulated Doll, Anatomy of the Ball-Jointed Maiden (2007). Tenha em mente que seis bonecas articuladas, em tamanho humano, esculpidas por Ryo Yoshida entre os anos 1986 e 1999 constam na exposição permanente 球体関節人形展・Dolls of Innocence, do Museu Nacional do Japão.[35] Estando o artista vivo e atuante, o valor mínimo para essa categoria de arte gira em torno do equivalente a quatro mil dólares americanos. Então são pelo menos oito mil dólares em obras de arte com qualidade de museu crepitando no fogo. (Pense no Coringa queimando dinheiro).

O que acontece quando monges pedem para cremar uma categoria de bonecos que custa vários salários mínimos? O homem médio obedece ou questiona? Um artista consagrado como Ryo Yoshida pode se dar ao luxo de capitalizar a religião vendendo livro e postais com foto do rito secular, porém os colecionadores guardam itens valiosos mesmo que sejam objetos agourentos. Geralmente, quando solicitado, o colecionador leva qualquer treco dizendo “este é meu boneco”, os monges educadamente fingem que foram enganados e os bonequeiros se divertem desconstruindo o dogma.

A ideia duma dimensão espiritual intrinsecamente relacionada à produção de bonecos aparece ludicamente sugerida nos nomes-fantasia de microempresas sul-coreanas e chinesas, surgidas no século XXI, fabricantes de peças em Resina PU, a exemplo da Loong Soul (龙魂人形社; alma de dragão), Immortality of Soul (imortalidade da alma), Resin Soul (alma de resina), Souldoll (boneca com alma), Angel Studio (fábrica de anjos), Illusion Spirit (espírito ilusório), etc. No catálogo da Souldoll o nome do modelo Kagel vem de kage (影, sombra) e ele existe nas versões humano e vampiro.

O ateliê chinês ★ANother Secret★ produz cabeças para montagem de bonecos e possui uma coleção chamada Hyakki Yakō (百鬼夜行) que leva o nome duma folclórica parada onde uma centena de yōkai percorre as ruas à noite, aterrorizando os humanos.

Esses bonecos orientais de Resina PU destinados ao nicho do hobby específico já não são tão enormes e dispendiosos quanto as peças de terracota e porcelana fria em escala 1/1, mas ainda são maiores que a escala 1/6 adotada perlo padrão ocidental, custando em média de trezentos a setecentos dólares, salvo casos excepcionais.

Por que os bonequeiros do século XXI descontroem e subvertem a religiosidade popular? Quem fabrica peças para consumo em território nacional e internacional são predominantemente mulheres vivendo em países onde a lei e os costumes estabelecem salário diferenciado para o sexo masculino, a fim de assegurar a posição hierárquica do homem como arrimo de família. A existência de artistas de sexo feminino ganhando mais do que o homem médio nas indústrias de publicação de mangás shoujo e josei, nas fábricas de bonecos, etc., quebra todos os tabus. Elas chefiam os seus negócios.

A classe conservadora se mostra hostil às mulheres trabalhadoras e seus iguais, que retribuem com deboche e – no caso das bonequeiras – chegam a utilizar o ônus do folclore como propaganda indireta ao promover produções de horror, como The Doll Master (2004) e Rozen Maiden – Träumend (2005). Afinal, já dizia o velho bordão: “falem mal, mas falem de mim”. Entretanto, não podemos descartar a possibilidade de às vezes estarmos importando objetos feitos por algumas pessoas que sinceramente acreditam na tradição local e tiveram a intenção de nos vender seus receptáculos de programação energética sujeitos ao ganho de vida artificial.

Resumo geral: fluxo e refluxo energético

A queima de artefatos não é uma realidade apagada no ocidente. No Brasil, nos Estados Unidos e noutros lugares onde organizações religiosas cristãs possuem grande influência no ambiente cultural, existe uma ostensiva propaganda de “batalha espiritual” ordenando o exorcismo de pessoas e a queima de determinados objetos passíveis de canalizar a possessão demoníaca (normalmente brinquedos, revistas em quadrinhos, filmes, discos de vinil, camisetas com estampa de banda musical, livros de biologia lecionando sobre os princípios da seleção natural e da ancestralidade comum, etc.).

Isso é diferente do que acontece no oriente porque o cristão queima os objetos proscritos com desdém, em nome Jesus, lutando contra o Diabo, enquanto o zen-budista crema com respeito. O bakemono do folclore nipônico não é um objeto possuído por anjo rebelde. Ele ficou impregnado de energia desprendida por um ou mais humanos e fixou-a como uma espécie de programação, passando então a reproduzi-la e irradiá-la. Ou seja, qualquer objeto pode adquirir o poder de congelar sentimentos havidos à época de seu uso. Por isso quando qualquer coisa absorve um malefício o prejuízo se torna parte da coisa e ela precisa ser destruída, mesmo que seja uma estátua de santo.

A sabedoria oriental aconselha a consolar e cremar, como se morto fosse, quase tudo que vira bakemono porque não é possível transformar tantas coisas em artigos de devoção. Se uma coisa dessas for doada para caridade ou jogada no lixo ela continuará amando e sofrendo, ficará ressentida e retornará ao usuário, podendo expressar desejo de vingança. Depois, em caso de morte do usuário, a herança buscará os herdeiros.

O ser humano exala grandes quantidades de energia durante momentos de angústia, stress, paixão, etc. A energia exalada por um estressado, por exemplo, ficaria impregnada na casa como a poeira que se acumula atrás dos móveis. Isso faria com que os objetos inanimados se transformassem em verdadeiros depósitos de stress. Visitas que sentassem num sofá estressado perderiam a alegria e ficariam estressadas em decorrência da contaminação. Nem o proprietário da coisa conseguiria melhorar e mudar de humor, pois ele continuaria a absorver e exalar o seu próprio baixo astral.

Todos nós conhecemos contos folclóricos sobre imóveis que influenciam novos habitantes porque, no passado, houve ali algum crime violento ou alguém morreu de doença grave, em intensa agonia. Antigos hospícios enlouquecem visitantes. Antigas prisões e cemitérios geralmente são mal assombrados. Museus também. Todavia nem todos as coisas são tão grandes ou carregam experiências tão intensas. A diferença entre uma boneca carregada, uma memorabilia nupcial e uma espada de guerra é que a boneca quer brincar, a memorabilia quer presenciar o amor e a espada quer matar.

Várias narrativas descrevem coisas dotadas de pouca inteligência, emotividade excessiva e inclinação ao cometimento de crimes passionais. Quem descarta algo que foi um dia muito amado deixa a coisa saudosa, indignada, ciumenta e enraivecida.  Um bakemono criado a partir dum objeto superestimado será intensamente passional. Quando um homem vive intensamente a paixão por uma companheira ele está feliz, mas quando o sentimento acaba e a mulher rejeitada demonstra um ciúme doentio, ela o persegue e o faz infeliz. Com bakemono é a mesma situação.

Um objeto dotado de espírito precisa ser consolado em sinal de agradecimento e, depois, diluído em água corrente ou cremado para que descanse em paz após a prestação de serviços. Depois que um item não descartável promove uma cura absorvendo um malefício por osmose, a energia negativa absorvida se torna parte da coisa e o objeto precisa receber limpeza espiritual para não causar um refluxo, um efeito reverso, contaminando o ambiente.

Quem não deseja mudar de atitude ou opinião não precisa cremar o bakemono. Ele é literalmente sua alma gêmea (a menos que esteja possuído por um yōkai). Tem gente que programa cristais para catalisar a energia canalizada pelo Eu superior na intenção de auxiliar a si mesmo a manter o foco no serviço ou num objetivo a ser alcançado. Tudo bem se você se apaixonar por um brinquedo, permanecer com ele durante setenta anos e alguém depositar isto no seu túmulo. Provavelmente vocês serão felizes para sempre. O problema não existirá até que você deixe de ter prazer na interação com algo que passou a lhe causar vergonha e incômodo, que te deixa infeliz e escraviza como um vício. Desse jeito este velho amigo pode paralisar a vida do dono.

Não importa se o folclore alerta sobre a possibilidade de o espírito do vampiro de brinquedo sair do baú à noite para penetrar nos seus sonhos e mordiscar seu pescoço. As vezes a carga mitológica só agrega valor ao item de estimação, assim como histórias de fantasmas incitam a curiosidade sobre prédios históricos. Certa vez, no programa Trato Feito, o proprietário duma estátua de cavalo forjada no velho oeste estadunidense ficou feliz por encontrar nela um furo porque no que diz respeito às antiguidades do velho oeste “buracos de bala sempre deixam a coisa interessante”.

Bibliografia recomendada:

AMBROSIUS, Mario. 球体関節人形展・Dolls of Innocence. Tokyo, Nippon Television Network Corporation, 2004. 152p.

ITO, Eika (伊藤 叡香). Washi ningyō o tsukuru和紙人形を創る」. Japão, MPC (エムピーシー), 01/06/2002. 140p

YOSHIDA, Ryo. Articulated Doll, Anatomy of the Ball-Jointed Maiden.解体人形 吉田良人形作品集」. Japão, Editions Treville, 2007. 152p.

Notas:

[1] O termo bake (化け), “transformando”, é a forma ren’yōkei (連用形), correspondente ao nosso gerúndio, do verbo bakeru (化ける), “transformar” ou “mudar”.

[2] Todos os catálogos virtuais de folclore escritos em idiomas ocidentais classificam o bakemono dentro da categoria ontológica yōkai (妖怪). Porém na série Natsume Yūjinchō (夏目友人) o protagonista explica que existem diferenças entre bakemono e yōkai. “Se você conseguir beber sem se embebedar, você deve ser um bakemono…”.

[3] O animismo é a cosmovisão em que entidades não humanas possuem uma essência espiritual.

[4] WIKTIONARY, verbete 「霊魂」. URL: <https://en.wiktionary.org/wiki/%E9%9C%8A%E9%AD%82>. Acessado em 19/04/2022 14h16.

[5] TRAVI, Mauricio. A misteriosa lenda da boneca japonesa Okiku. Em: DANJOU, publicado em 08/06/2018. URL: <https://www.danjou.com.br/post/2018/06/08/a-misteriosa-lenda-da-boneca-japonesa-okiku>.

[6] NINGYOO – BONECAS. © 2003 Aliança Cultural Brasil Japão de Joinville. Texto salvo do Geocities em outubro de 2009. Acessado em 28/04/2022 às 19h. <URL: http://www.oocities.org/br/japaojoinville/ningyoo.htm>.

[7] ABUMI-GUCHI. Em: Yōkai Wiki. Acessado em 14/05/2022. URL: <https://yokai.fandom.com/wiki/Abumi-Guchi>.

[8] TEZUKA, Osamu. 無残帖Cruel. Em: TEZUKA, Osamu. Dororo: Volume 2. São Paulo, New Pop, 2011, p 07.

[9] Talvez não seja inútil mencionar o MMORPG coreano Ragnarök Online onde os avatares do jogador combatem cavalos pegando fogo chamados “pesadelos sombrios”.

[10] DORORO WIKI, verbete Dororo no Uta. URL: <https://dororo.fandom.com/wiki/Dororo_no_Uta#English>. Acessado em 18/04/2022 16h02.

[11] TUZI. Tsukumogami: yōkai de objetos antigos. Publicado na Radio Hero em 18/03/2021, 01h23. URL: <https://radiojhero.com/tsukinousagi/2021/03/tsukumogami-yokai-de-objetos-antigos/>.

[12] PAN. O que são os Tsukumogami: Os Objetos Possuídos. Publicado no blog Suco de Manga em 31/10/2021. URL: <https://sucodemanga.com.br/saiba-o-que-sao-os-tsukumogami-os-objetos-possuidos/>.

[13] TUZI. Tsukumogami: yōkai de objetos antigos. Publicado na Radio Hero em 18/03/2021, 01h23. URL: <https://radiojhero.com/tsukinousagi/2021/03/tsukumogami-yokai-de-objetos-antigos/>.

[14] TSUKUMO-GAMI: OS ESPÍRITOS ZOMBETEIROS DE ANTIGOS ARTEFATOS JAPONESES. Publicado em Caçadores De Lendas, 06/2013. URL: <https://cacadoresdelendas.com.br/japao/tsukumo-gami-espirito-de-artefato/>.

[15] DAVE, Ronin. Japanese Doll Memorial with Geisha in Kyoto – Ningyo Kuyo 人形供養. Publicado no canal do autor no Youtube em 16/10/2015. URL: <https://www.youtube.com/watch?v=JwiDg7mMU5Q>.

[16] A MAGIA DAS BONECAS. Em: Super Interessante. Publicado em 31/07/1992, 22h00. Atualizado em 31/10/2016. URL: <Leia mais em: https://super.abril.com.br/historia/a-magia-das-bonecas/>.

[17] WIKIPEDIA, verbete Tsukumogami. URL: <https://en.wikipedia.org/wiki/Tsukumogami>. Acessado em 27/04/2022 17h06.

[18] PAN. O que são os Tsukumogami: Os Objetos Possuídos. Publicado no blog Suco de Manga em 31/10/2021. URL: <https://sucodemanga.com.br/saiba-o-que-sao-os-tsukumogami-os-objetos-possuidos/>.

[19] ITO, Eika (伊藤 叡香). Washi ningyō o tsukuru和紙人形を創る」. Japão, MPC (エムピーシー), 01/06/2002, p 30-31.

[20] Tsundoku (積ん読) é o hábito de comprar livros e deixá-los de lado sem ler.

[21] RIBEIRO, Aline. Guia Conhecer Fantástico Extra: Samurai & Ninja. São Paulo, OnLine, 2015, p 31.

[22] TUZI. Tsukumogami: yōkai de objetos antigos. Publicado em Rádio Hero, em 18/03/2021, 01h23. URL: <https://radiojhero.com/tsukinousagi/2021/03/tsukumogami-yokai-de-objetos-antigos/>.

[23] Um Kasa Obake (傘お化け) é também chamado Karakasa Obake (唐傘お化け) ou Karakasa Kozo (唐傘小僧).

[24] GORDON, Cesar. Economia selvagem: Ritual e mercadoria entre os índios Xikrin – Mebêngôkre. São Paulo SciELO – Editora UNESP, 2006, p 356-357.

[25] TSUKUMO-GAMI: OS ESPÍRITOS ZOMBETEIROS DE ANTIGOS ARTEFATOS JAPONESES. Publicado em Caçadores De Lendas, 06/2013. URL: <https://cacadoresdelendas.com.br/japao/tsukumo-gami-espirito-de-artefato/>.

[26] SHIRAISHI, Yuta (白石雄太). Kumamoto no kyōdo omocha “obakenokinta” (熊本の郷土玩具「おばけの金太」). Publicado em Story Nakagawa, 27/08/2019. URL: <https://story.nakagawa-masashichi.jp/104515>.

[27] OBAKE NO KINTA お化けの金太 KINTA THE GHOST. Publicado na Daruma Pedia, em 26/05/2015. URL: <https://darumapedianews.blogspot.com/2015/05/mingei-kyushu-obake-no-kinta.html>.

[28] NISISHIMA, Leandro. A surpreendente história do boneco Daruma. Em: GO! GO! NIHON, 12/01/2022. URL: <https://gogonihon.com/pt/blog/boneco-daruma/>

[29] ANIME REVIEW: DANTALIAN NO SHOKA – 6. Publicado no blog Population GO, no Tumblr, em 24/08/2011. URL: <https://populationgo.tumblr.com/post/9338032459/anime-review-dantalian-no-shoka-6>.

[30] CONHEÇA NAGORO, A VILA JAPONESA ONDE BONECOS SUBSTITUEM OS MORTOS. Publicado no portal de notícias Mega Curioso. Acessado em 18/05/2022. URL: <https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/114824-conheca-nagoro-a-vila-japonesa-onde-bonecos-substituem-os-mortos.htm>.

[31] Higanjima (彼岸島) foi originalmente publicada na antologia de quadrinhos Shukkan Young Magazine (週刊ヤングマガジン), pela editora Kōdansha (講談社), desde 04/04/2003 até 06/12/2010.

[32] Um torii (鳥居) é um portão tradicional japonês encontrado na entrada ou dentro de um santuário xintoísta, onde simbolicamente marca a transição do mundano para o sagrado.

[33] NAVOK, Jay e RUDRANATH, Sushil K. Warriors of Legend: Reflections of Japan in Sailor Moon. South Carolina, BookSurge, 2006, p 51

[34] TAKEUCHI, Naoko. コードネームはセーラーV— 1. Japão, Kodansha Comics, 1993, ato 5, p 172-173.

[35] AMBROSIUS, Mario. 球体関節人形展・Dolls of Innocence. Tokyo, Nippon Television Network Corporation, 2004, p 66-71.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/asia-oculta/almas-vintage/

10 Vampiros que você talvez não conheça

Vampiros Existem? Depende para quem você pergunta. Se for para um cético ele vai citar o famoso livro de Bram Stoker e talvez alguns menos famosos, mas não menos importantes para a construção do mito como por exemplo “Não desperte o morto !” de Ludwig Tieck e vai tentar te convencer que tudo não passa de besteira.

Mas se você perguntar para alguém que ainda acha que velho e surrado planeta ainda guarda alguns mistérios você pode ser soterrado por uma avalanche de informações sobre tipos de vampiros – a saber, os mortos-vivos, os vivos e os psíquicos – e vai ficar sabendo de algo intrigante: há relatos sobre vampiros em várias culturas ao redor do globo terrestre, das Américas ao Japão.

Aí, se você colocar o cético e o crédulo frente a frente o cético vai rebater que isso não prova nada, só que o sangue tem grande importância no inconsciente humano e que até hoje esse vínculo permanece, por exemplo, na importância do sangue de Cristo para a remissão dos pecados entre os cristãos.

Já meio enfurecido, o crédulo poderia rebater que existem histórias reais de vampiros, como a da condessa Elisabeth Batory – sobre quem pretendo escrever um post detalhado qualquer dia desses – ao que o cético com certeza vai responder que a nobre húngara nada mais era do que uma sádica lésbica. Desse ponto em diante, os argumentos dos dois lados podem ficar confusos e, dependendo do temperamento de ambos, eles podem sair no tapa. Ou as duas coisas simultaneamente. E aí você vai ficar mais confuso ainda do que estava quando fez a pergunta.

Para resolver esse problema Depokafé, num esforço de reportagem que incluiu ler o maçante (mas rico em informações) livro Lendas de Sangue – O vampiro na história e no mito e navegar por incontáveis websites sobre vampiros compilou uma lista com os dez tipos (ou espécies, se você preferir) mais interessante de vampiros ao redor do mundo. Assim você poderá destilar toda a sua cultura inútil para seus amigos. Ou ainda ficar prevenido caso goste de viagens internacionais. Nunca se sabe, não é mesmo ?

1 – Pijavica

País de origem: Croácia.

O que causa o vampirismo: Incesto.

Como se livrar dele: Decapitação (mas cabeça tem que ser colocada entre as pernas antes de enterra-lo novamente).

2 – Vlkoslak, Mulo ou Dhampir

País de origem: Sérvia.

O que causa o vampirismo: Incesto (é, esse assunto é tabu).

Como se livrar dele: Cravar um prego na cabeça, pescoço ou umbigo (eu ouvi alguém aí falar em chacras ?).

3 – Strigoiul ou Moroiul

País de origem: Romênia.

O que causa o vampirismo: ser um filho ilegítimo de pais também nascidos fora do casamento (naquela época devia ser raro, se fosse hoje em dia…).

Como se livrar dele: Golpear o coração com uma estaca de madeira ou cravar um prego na cabeça, pescoço ou umbigo.

Na Romênia existe ainda a distinção entre os vampiros mortos, chamados de Strigoiul Morti, e os vampiros vivos, os Strigoiul Vii, que eram bruxos que abandonam os seus corpos para vampirizar psiquicamente as suas vitimas.

4 – Vrykolaka

País de origem: Macedônia

O que causa o vampirismo: Ritos fúnebres não eram seguidos corretamente ou quando uma criança não batizada morria.

Como se livrar dele: Cravar um prego na cabeça, pescoço ou umbigo.

5 – Upior ou Upyr

Países de origem: Rússia e Polônia

O que causa o vampirismo: Ser filho de uma bruxa ou lobisomem ou nascer com dentes. Ou ambos, suponho.

Como se livrar dele: Golpear o coração com uma estaca de madeira, mas somente uma vez. Se fosse golpeado mais de uma não faria efeito.

Métodos de prevenção: Enterrar o suspeito de ser vampiro de bruços, para que ele ficasse cavando eternamente para o lado errado (engenhoso, não ?) ou pegar o sangue do suposto vampiro, misturar na massa do pão e comer (blergh !).

6 – Langsuir

País de origem: Malásia.

O que causa o vampirismo: mulheres que morriam de parto após darem a luz a um nati-morto.

Como se livrar dele: Cortar os cabelos e as unhas e os enfiar num buraco que elas tem atrás do pescoço.

7 – Adze

País de origem: Gana.

Particularidades: Assume a forma de um vaga-lume (!!!). Se alimenta de sangue de crianças, azeite de dendê e água de coco. Ele se daria bem na Bahia, como vocês podem perceber. Outro tipo de vampiro ganês é o obayifo que tem o poder de estragar as colheitas.

8 – Brahmaparush

País de origem: Índia.

Particularidades: Na Índia há tipos de vampiros para todos os gostos. Existem inclusive deuses vampiros. O Brahmaparush entrou para a lista porque é particularmente aterrador pois bebe o sangue das vítimas pelo crânio e depois come seus cérebros, sendo assim uma espécie de vampiro e zumbi.

9 – Danag

País de Origem: Filipinas

Particularidades: O Danag tem uma lenda interessante a seu respeito. Conta-se que foi aliado do homem até o dia em que uma mulher (sempre elas) cortou o dedo perto de um deles e ao provar o sangue humano ele se tornou obcecado por sangue. Nas Filipinas há ainda o Aswang, que se alimenta exclusivamente do sangue de crianças.

10 – Talamaur

País de origem: Austrália

Particularidades: Caso raro de vampiro vivo, semelhante a um sapo que extrai qualquer força vital residual ainda existente em um cadáver recente. Na Austrália há também o Yara-mara-yha-who, uma criatura pequena que saltava sobre as suas vítimas e sugava seu sangue através de ventosas nas pontas dos dedos.

Depokafé

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/vampirismo-e-licantropia/10-vampiros-que-voce-talvez-nao-conheca/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/vampirismo-e-licantropia/10-vampiros-que-voce-talvez-nao-conheca/

O sincretismo japonês

Aisatsu! Recebi a pergunta abaixo por e-mail, e achei interessante compartilhar a resposta com os demais. Como o objetivo é abordar o ponto sobre o sincretismo japonês, outros trechos da pergunta original foram omitidos, bem como da resposta enviada.

P.: Me interesso muito pela mitologia oriental (China/Japão), porém nunca achei uma fonte esclarecedora que explicasse realmente como é a religião deles.
Algumas perguntas que ficam sem resposta para mim, por exemplo:
Toda essa mitologia japonesa, essa que aparece em animes, mangás, festivais temáticos, faz parte de alguma religião? Já ouvi falar que é do Xintoísmo, mas então todos lá são xintoístas? Ou são apenas elementos culturais, não ligados à religião?
A mesma coisa com a mitologia chinesa, faz parte de alguma religião? Ou são apenas elementos culturais?

 R.: Bem, vou começar respondendo a tua pergunta com um pouco de história: o Japão é um país formado por uma grande mistura étnica. O povo predominante que deu origem à formação do Japão tal qual o conhecemos hoje foi o Yamato, mas os japoneses também possuem heranças de grupos étnicos minoritários, como os coreanos, chineses, e o povo Ainu, dentre outros. Todos estes povos tinham as suas práticas xamânicas e religiosas, sua linguagem e seus mitos e seu folclore.

Especificamente no que se refere aos Ainu, eles eram um povo localizado nas ilhas ao norte do Japão, especialmente na ilha de Hokkaido. As práticas xamânicas do povo Ainu hoje são conhecidas através do ofício das Itako, como são chamadas certas médiuns japoneses. Havia também o culto às montanhas e aos antepassados, comum à grande maioria desses povos, e uma vasta variedade de lendas e de histórias folclóricas na região.

Com a configuração do povo japonês, surgiu o xintoísmo, baseado em todas essas práticas xamânicas, animistas e pré-religiosas. O xintoísmo é uma “religião” eminentemente japonesa, surgida com a formação do seu povo. Os mitos do xintoísmo, por sinal, retratam bem essa questão.

 No entanto, por causa dessa grande diversidade étnica, foram sendo introduzidas no Japão outras seitas e religiões do continente. Com o ingresso do budismo, o culto às montanhas deu origem ao Shugendou, uma seita que mistura elementos budistas, xamânicos e xintoístas. Foram fundadas escolas budistas japonesas, como a escola Shingon, a Tendai, a Nichiren e a Zen. O monge Kukai, o fundador do budismo Shingon, foi estudar na China antes de retornar ao Japão e lá fundar a sua escola, trazendo de lá vários elementos incorporados ao Shingon. O taoísmo chinês deu origem ao onmyoudou japonês, no qual se encontra também elementos semelhantes do xintoísmo, do budismo Shingon e do Shugendou.

Todas as seitas, escolas e práticas magístico-religiosas passaram a co-existir harmonicamente, e, assim como toda instituição, elas evoluíram, se desenvolveram e se adaptaram. À medida que o tempo passava, algumas foram utilizando, inclusive, elementos umas das outras. Cada uma apresenta características que lhe são peculiares, entretanto, por terem bebido das mesmas fontes, é possível observar muitos pontos em comum entre elas.

Assim, respondendo à tua pergunta, toda essa mitologia japonesa que aparece em animes, mangás, festivais, fazem sim parte de várias tradições, não apenas religiosas, e não apenas do xintoísmo, mas também culturais do povo japonês.

E não, nem todos os japoneses são xintoístas. Historicamente falando, em uma certa época, apenas os nobres japoneses podiam ser xintoístas. Atualmente, há xintoístas, budistas, cristãos, e membros de várias outras religiões por lá. Até mesmo por causa desse sincretismo histórico e cultural, o Japão é um dos países que mais reúne religiões “neo-cristãs”, ou seja, religiões e seitas que procuram conciliar princípios cristãos com princípios tradicionais do budismo e do xintoísmo, como, por exemplo, a Seicho-no-ie e a Oomoto.

Na China, a mesma coisa acontece. Seus mitos fazem parte do taoísmo, do budismo, das escolas de ciências tradicionais, e das diversas práticas xamânicas de seu território, que também foram inseridas e perpetuadas na cultura do povo chinês.

#MagiaOriental

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-sincretismo-japon%C3%AAs

A Casa de d.’.E.’.U.’.s.’.

Estive certa vez no mausoléu sem paredes que eles ergueram em homenagem ao Deus difuso. Como um cão faminto, percorri seus labirintos empoeirados, e como um insano, gastei inconcebíveis horas observando os complexos quadros pendurados em suas paredes inexistentes – todos iguais.

Não sei ao certo como cheguei ao mausoléu: lembro-me apenas de, alguns momentos antes, estar passando perto da velha ferroviária de Piranguinho. Já algumas vezes ouvira alguém comentar que naquela barraca vermelha se escondia a entrada do mausoléu. Mais curioso que incrédulo, desde aquele dia, sempre tive vontade de averiguar por mim mesmo a verossimilidade do boato.

Não me recordo, entretanto, de haver sequer comprado uma única unidade do afamado pé-de-moleque. Um segundo depois de caminhar na suja calçada, me vi observando as abóbadas celestiais do castelo viciante. demorei um pouco a perceber que estava parado à porta gigante do hall de entrada. Ali, havia uma placa de ouro diminuta, cujas letras mal pude ler. Demorei alguns segundos, mas finalmente reconheci aqueles versos, aliás, inesquecíveis – Os Lusíadas, intercalados com trechos de A Divina Comédia.

Sabia ser um intruso na casa do Deus disperso, de quem sempre tive medo. Todos os aposentos eram absurdamente iguais e diferentes, ensangüentados, feitos de ossos ou às vezes de legumes cozidos, não raro com pedaços de cortiça espalhados pelo chão. Desesperei-me; a idéia de vaguear assustado pelos antigos corredores que me eram totalmente esquerdos fazia com que eu me sentisse inferior a um racoon ladrão. A princípio, pensei estar andando pela casa de Asterion, mas não podia afirmar com certeza, uma vez que nunca conheci nenhum de seus pátios e cisternas.

Várias vezes, em vários cantos da casa, encontrei mulheres que diziam ser Marple. Uma delas, entretanto, me pareceu ser a verdadeira: estava sentada embaixo do batente de uma porta, e dizia aquilo que queria, sempre.

Continuei minha ronda, e vi as coisas mais estranhas que já havia pensado. Numa das salas, vi crianças, naquela idade em que tornam-se horrorosas, com os joelhos inchados e os nódulos dos dedos sobressalentes, a gritar por pessoas desconhecidas, residentes no Japão, na Indonésia, na Tanzânia e na Noruega.

Havia um corredor principal. Parecia infinitamente maior do que qualquer corredor que eu já havia visto. Os olhos das estátuas em mármore carrara me seguiam e vez ou outra eu sentia rirem de minha curiosa feição. Ao lado destas estátuas, pude ver muitas pedras, que enquanto me perseguiam, pulavam gritando, todas elas, em uníssono:

– Pilhas! Quero pilhas!

Cheguei então a uma ala que me trouxe uma sensação estranha, conhecida, da qual eu já não me lembrava. Após alguns minutos, dormi ali mesmo, e sonhei que estava vendendo vasos numa feira qualquer, em algum canto da Arábia. Quando acordei, vi que ali estava localizada a feira. Acabei acordando de novo e vi que meus sonhos se encaixavam, como se minha mente fosse um arquivo antigo e eu estivesse procurando alguma coisa útil dentro de suas numerosas e intermináveis gavetas. Finalmente, sonhei que era novamente um mercador, novamente vendendo vasos numa feira qualquer, em algum canto da Arábia. Acordei, e pude perceber, não sem uma pequena vergonha, que a feira estava localizada ali mesmo, naquele aposento, onde eu dormia. Foi o que me disse um outro vendedor de vasos – mas não pude entender, uma vez que não domino a língua árabe.

Com alguma polidez e um tanto de desculpas destinadas a todos – mas que ninguém ouviu -, larguei a barraca de vasos e resolvi continuar a conhecer o lugar. Assim que saí, outro jovem foi colocado em meu lugar, e não parecia fazer a menor diferença a nenhum de nós. Me dirigi à varanda da sacada que enxerguei ali mesmo do corredor onde me encontrava, e, chegando lá, pude ver que não havia sacada alguma. Me deparei com um salão, cujo teto, chão e paredes eram feitos de espelhos que não refletiam nada, a não ser o reflexo do espelho à sua frente. Casais maltrapilhos dançavam ao som de uma música inexistente que há muito parou de ser tocada pelo que era antes uma orquestra – agora, eram nada mais que alguns esqueletos já não tão bem vestidos, segurando violino, harpa, flauta e enfim, toda a pompa que o tempo nos tomou. Passei algum tempo ali e agora, somente agora, entendo: não mais precisavam de música – o silêncio das eras já tinha se tornado valsa para sua ébria eternidade.

Uma das mulheres largou o seu par na dança e se dirigiu a mim, com os olhos vermelhos, como se estivesse chorando desde o começo da dança. Perguntei o motivo de sua tristeza e ela nada me disse; apenas me levou a um lugar, onde vi a coisa mais absurda com a qual já havia me deparado: numa sala, humanos com caudas, desenhados primitivamente, cujos corpos eram coroados com um único e imenso olho, em vez de crânios recheados de idéias. Andavam apressados pelo corredor, até que me perceberam. Largaram de seus afazeres e se agruparam ao meu redor, ferindo-me com seu corpo-olhar maldito.

Ao fim de outro um longo corredor, havia uma janela que se abria de quatorze em quatorze minutos. Dava para uma espécie de cozinha na qual pude ver uma imensa fornalha, onde homens vestidos de operários carregavam, de um lado para o outro, barras e mais barras de açucarados. Vez por outra, um deles parava e comia um pedaço do doce proibido. Mas a audácia lhe era premiada com açoites venosos de formigas gigantes. Logo, desfaziam-se em pó, para no átimo seguinte, nascerem de novo do teto – sim, do teto choviam crianças, que aterrissavam adultas.

Parei defronte a uma janela encardida de poeira e gordura. Do lado de fora, pude observar um desfiladeiro cheio de varandas de cristal. Em algumas delas, generais reformados em seus trajes de gala atiçavam a curiosidade de gatos vagabundos e leprosos das varandas vizinhas e então escarravam sangue tuberculoso sobre os animais. Cada tiro certo era uma gargalhada rouca que ecoava na infinita profundeza do desfiladeiro, que devia ter 14 metros de profundidade.

Tive nojo desta atitude e resolvi caminhar mais um pouco, rumo à biblioteca. Chegando lá, vi que não se tratava de um depósito de livros, mas de um enorme freezer onde, a muitos graus abaixo de zero, estavam congelados demônios, deuses e fiéis, talvez aguardando sua vez de vir ao mundo. Quando chegava a hora de um deles, retiravam-no das gavetas e o jogavam numa tina com água fervente, fazedo com que sofressem um ligeiro choque mental que abalava suas mentes – o que fazia com que se imaginassem imortais.

Já disse que os quadros eram todos iguais, mas me recordo apenas de um deles. Talvez me recorde pelo fato de diante dele, ter chorado sem saber por quê. Me lembro inclusive que embaixo deste quadro, encostado na parede, estava um espantalho que, a despeito de todos os pedidos de silêncio, gritava, esbaforido, que haviam lhe roubado o coração.

Percebi então que aquela ala funcionava mais ou menos como um setor de reclamações. As placas em pedido de silêncio talvez fossem apenas mais uma ironia de 4d4d, sempre caprichoso. Também pudessem ser um blefe das atendentes (todas sardinhas saídas de uma lata enferrujada, ainda com os hematomas da apertada locomoção), que não agüentavam mais aqueles gritos desesperados.

Após um tempo, percebi que nem eu os agüentava, mas seria interessante prestar atenção em alguns deles: uma mulher segurava a barriga grávida de outra, insistindo que aquele filho era seu e havia sido roubado; um velho, corcunda e muito gordo, segurava um cardápio de lanchonete, gritando que sua coxinha havia vindo sem catupiry. Mais adiante, uma velha reclamava que sua revista de ponto-de-cruz havia vindo sem agulha. Pobres inocentes… Enquanto ali havia gente sem olhos, dentes e esôfagos! Pra não comentar do pobre, que só queria um coração.

Só neste minuto percebi que a torturante onda da excitação acenava ao longe, dando lugar ao pavor da incerteza. Duas damas maltrapilhas prenderam-me pelos braços e me conduziram a sala de jantar. “- Ponham a mesa!” – essas foram as palavras de ordens para que serviçais surgissem do nada trazendo em suas bandejas frangos dançarinos. Fui jogado contra uma cadeira, levando 14 segundos para me recompor perante meus 14 convidados – encaravam-me com ódio e de seus olhos cheios de cólera brotavam vermes famintos. Era uma visão dantesca: garrafas soluçavam, pratos deixavam a comida cair, talheres corriam pela mesa. E foi justamente tentado prender um deles, que fui parar embaixo da mesa… Mais uma faceta do masoléu se mostrava ao meu olhar mundano. No centro tinha um buraco por onde escoavam metros de água carregando porta-aviões e submarinos.

EPÍLOGO

Até hoje não entendi se fui empurrado ou nadei até lá, só me lembro de ter acordado dentro de uma privada, em um banheiro nauseante, tendo como testemunhas apenas viciados à espera da felicidade bandida. Mais tarde fui saber que estava no México, na antiga zona de meretrício de Tijuana, e, confesso, fui muito bem atendido por uma prostitua gorda com um lindo buço suado – a única que me demonstrou uma compaixão comprada.

Muitas vezes, acordo no meio da noite, medroso de que minhas roupas cheias de suor sejam uma ilusão, e minha cama, mais uma faceta daquele palácio peculiar. Já não sei mais se é sonho, se é verdade, se é ilusão. Pra ser sincero, depois que estive no mausoléu do deus difuso, já não sei mais o que significam estas três palavras, pois percebi que podem ser unidas, num mistério mais escancarado do que qualquer outro. Sei, apenas, que nunca esquecerei aquele lugar.

Texto achado num envelope laranja numa escada de acesso à estação do Metrô Carioca no Centro do Rio de Janeiro (Obs: A carta estava escrita à mão, em papel amarelo e com tinta dourada. Era datada do dia vinte e dois de agosto do ano dois mil, em São Paulo e ao final da epopéia, assinava-se A.C.J.F.N.).

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/realismo-fantastico/a-casa-de-d-e-u-s/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/realismo-fantastico/a-casa-de-d-e-u-s/

Abura Akago

Robson Belli

Abura Akago, que significa “bebê de óleo” é uma criatura mítica ou yokai da província de Omi do Japão. Eles geralmente aparecem como uma esfera de fogo, mas podem se transformar na forma de uma criança humana. Eles começam como uma bola de fogo, que flutua até chegar a uma casa, momento em que entram e mudam para sua forma humanóide. Eles então lambem o óleo de lâmpadas ou lanternas de papel, depois se transformam em bolas de fogo e seguem para a próxima casa. Acredita-se que sejam os fantasmas de pessoas que ficaram impunes depois de roubar óleo em vida e não conseguiram passar para a próxima vida. O óleo era muito caro no Japão na época em que se acreditava no Abura Akago, então poderia ser devastador perder para essa criatura.


Robson Belli, é tarólogo, praticante das artes ocultas com larga experiência em magia enochiana e salomônica, colaborador fixo do projeto Morte Súbita, cohost do Bate-Papo Mayhem e autor de diversos livros sobre ocultismo prático.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/criptozoologia/abura-akago/