‘Kama Sutra (texto completo)

Antes de ser uma livro de imagens, o kama sutra é um poema. Este poema divertido e instrutivo doi criado para a nobreza da Índia por um nobre Vatsyayana, em alguma época entre 100 e 400 d.C. Originalmente em sânscrito, está inserido na concepção de mundo da religião hindu. Seus ensinamentos, embora conduzam seus praticantes ao orgasmo intenso e ao prazer visam, antes disso, à elevação espiritual do casal.

Kama significa sexo, amor, prazer, satisfação. É um dos três sustentáculos da religião hindu. Os outros são Dharma e Artha. Dharma é o mérito religioso e Artha a aquisição de riquezas e bens materiais..

Os hindus acreditavam que aquele que praticar Dharma, Artha e Kama, sem se tornar escravo das paixões, conseguirá êxito em todos os seus empreendimentos. Em outras palavras, deve-se desfrutar as riquezas e os prazeres sexuais sem jamais perder a virtude religiosa.

Estas três metas possuem suas contrapartes modernas. Muitos de nós não somos tão voltados para a religião, mas buscamos desenvolvimento pessoal e realização; muitos de nós não aspiram grandes riquezas, mas sim ter o dinheiro suficiente para viver confortavelmente; e a maioria de nós quer um relacionamento sexual carinhoso.

Não é apenas um manual de posições sexuais. Além de trazer detalhadamente 64 formas de amar consideradas essenciais, pretende também desenvolver o erotismo e sensualidade de ambientes, situações e pessoas. Velas e óleos aromáticos, comidas afrodisíacas, perfumes e músicas, fazem parte de todo o ritual. Os amantes são encorajados a estarem sempre enfeitados com tecidos leves, coloridos e sensuais e cheios de adornos como colares e brincos. O sexo vai além do simples prazer genital e explodia em todas as direções dos cinco sentidos.

Segue a tradução do poema original para o português:

Os Beijos

Beijar, com unhas marcar,

as mordidas de amor,
sempre devem o acto do amor preceder,
enquanto os golpes e gritos de amor
são usados apenas para apressar o orgasmo.

Mas Vatsyayana diz: a paixão desperta,
pouco tempo resta para a etiqueta.
Faça o que bem quiser,
quando lhe aprouver,
pois Kama não respeita convenções.

Na primeira vez que se deitar com uma mulher,
não exagere nos beijos, unhas e dentes,
melhor sempre é uma coisa de cada vez.
A confiança dela aumentando, recorra a tudo,
que neste livro há, para alimentar o desejo.

Os Beijos

Dê os seus beijos na fronte,
olhos, cabelos, nas faces e lábios,
no pescoço e nos seios,
que sua língua peregrine
pelos sagrados recônditos da suave boca.

Um homem de Lat também beijaria
os tufos de macaco nas axilas, o umbigo,
as coxas, os lábios secretos.
Essa demonstração exuberante de paixão
reflecte a nacionalidade, não é para todos.

Três beijos têm encanto especial
quando dados pelas jovens em flor.
São o Quase-não-um-beijo,
o Beijo Trémulo,
e refinado Primeiro-toque-de-sua-língua.

O primeiro ocorre com a nervosa jovem,
importunada por um beijo,
um abraço relutante lhe permite,
aceita a homenagem de seus lábios,
mantendo os dela fechados firmemente.

Depois que ganha confiança,
ela pode permitir que os lábios se entreabram.
Se você então lhe mordiscar o lábio inferior,
sentir que treme, o prazer ao medo surpreende,
a vitória conquistou, pelo segundo beijo.

Um dia os olhos dela vão fechar,
aos seus olhos as mãos dela cobrirão
e uma língua furtiva indagará
se pode prosseguir por aventuras mais ousadas:
é o terceiro beijo, que o aprendizado encerra.

Mais quatro beijos há nos textos de amor,
Lábios se encontrando em cheio formam o Beijo
Recto, se inclinados, o Beijo de Viés.
Ao queixo dela levante para o Beijo Alteado;
qualquer deles, se ardente, é Beijo Esmagado.

Há quem chame Sorver o Vinho
quando, ao queixo dela se levanta,
a boca se comprime para um “O” formar,
cautela para com os dentes não feri-la
se dá um beijo sôfrego, com força.

Jogos de Beijar

Façam apostas sobre quem, os lábios só usando,
primeiro pode ao lábio inferior do outro
capturar. Se ela perder, há de gritar,
a mão lhe sacudindo, clamando que é injusto,
que você a enganou, outra chance vai querer.

Quando você por direito recusar,
seu nariz ela deve morder e magoar,
até levá-lo a concordar com suas exigências.
E se você ganhar outra vez,
um rebuliço maior ela deve criar.

Se desprevenido ela pegá-lo
o seu lábio captura entre os dentes,
entre os risos declarando
vitória maior ter conquistado,
morder ameaçando, se tentar escapar.

A vitória ela deve proclamar, exuberante,
provocando com gracejos refinados,
recorrendo às nuanças de expressão
que os lindos olhos e sobrancelhas forjam,
no desafio a seu orgulho lançar em nova prova.

Invente outros jogos de beijar,
competições de unhas, de dentes,
quem perder fazendo o que foi apostado.
Esses jogos o desejo aguçam,
por muitas horas o prazer do amor prolongam.

Se, ao beijar ela seu lábio superior,
você suga seu lábio inferior, é o Beijo Alto.
Se os dois lábios dela pelos seus são apanhados
(a esse beijo ela pode retribuir
apenas com você raspado), então é o Broche.

Se nesse beijo as duas línguas,
os dentes explorando, o céu da boca,
se encontrarem em feroz justa,
então se chama Torneio das Línguas.

Outras batalhas se travam com lábios e dentes.
Quatro beijos usam lábios, dentes, língua,
tudo junto. O Sama nos seios se dá,
nas sensíveis curvas de joelho e cotovelo,
onde as coxas ao corpo encontram:
mordisque delicado, a língua faça cócegas.

Pidita se reserva para as faces,
seios, quadris, barriga, a bunda,
seus dentes na carne afundando,
sem chegar a machucá-la,
lábios, língua, em massagem vigorosa.

Anchita é o beijo da língua,
as curvas sob os seios percorrendo,
sondando o umbigo, perdurando
no secreto lótus,
o desejo atiçando, sem propor alívio.

Mridu é usar os lábios no alívio
da comichão nas costas, seios, braços,
nos quadris, por dentro das coxas dela,
depois que suas unhas por lá roçaram, de leve,
levando os cabelos a se arrepiar, assim ficar.

Quando ela olha o seu rosto adormecido
e sua boca beija,
para despertá-lo, o desejo incendiar,
o beijo longo, tão ardente, tem o nome
Ragadipa, Amor-em-chama-se-tornando.

Se você ignora por estar absorvido
em música, pintura ou discussão,
porque os dois discutiram,
e ela o surpreende com um longo beijo,
será Chalita, o Beijo do Desvio.

Se tarde em casa chega, adormecida encontra,
você a beija com ternura,
é Pratibodlha, o Beijo que Desperta.
E ela deve fingir que está dormindo
quando a sua voz ouvir à porta.

Os Abraços

Homens e mulheres que pouco se conhecem
os sentimentos podem transmitir
usando o Toque ou Pontada.
A Carícia e o Aperto
são dos amantes que os desejos se conhecem.

Quando ela se aproxima,
como se você não existisse,
e sua mão ou corpo, na passagem,
deixa roçar contra, o seu, de leve,
é o abraço que se chama Toque.

Quando uma mulher avança, ao vê-lo
exclamando que algo deixou cair
e se abaixa para pegar,
os seios duros em seu corpo espetam
(furtivamente acaricie), é a Pontada.

Quando à noite saem juntos,
num bazar apinhado,
ou passeiam pelos campos,
os corpos se aninham em suas curvas,
a sensação que os percorre é a Carícia.

Quando a comprime contra uma coluna
ou de costas num portal,
o fôlego de seu corpo extraindo,
as mãos se pondo a explorar
os corpos mútuos, é o Aperto.

Babhravya mais quatro abraços dá
para amantes de experiência.
Trepadeira e Árvore de pé são feitos,
Sésamo e Arroz, Leite e Água,
muitas vezes se convertem no ato do amor.

Quando ela entrança os braços em seu pescoço,
como a trepadeira que a sal envolve,
o rosto erguendo para o beijo,
depois recua um pouco, respirando fundo,
seu rosto ansiosa olhando, é a Trepadeira.

Quando ela põe os pés entre os seus,
pelo seu corpo subindo, como liana,
sua cintura com as coxas agarrando,
seus ombros apertando, gemidos soltando,
sua cabeça aos beijos inclinando, é a Árvore.

Quando se deitam de frente um para outro,
as coxas entrelaçadas, os seios comprimidos
contra você, as mãos buscando lugares novos
para acariciar, cabeças em beijos se unindo,
o braço é como a mistura de Gergelim e Arroz.

Quando ela trança as pernas em sua cintura,
o peito contra o seu se comprimindo
em tão violento abraço que seus corpos,
à dor indiferentes, parecem quase
se penetrar, é chamado Leite e Água.

São esses os oito abraços de Babhravya.
Suvarnanabha dá mais quatro
em que partes do corpo diferentes
despertam para o amor: os abraços
das coxas, virilhas, seios e testa.

Deitados nos braços um do outro,
ela prende uma de suas coxas,
apertando com força entre as dela,
os músculos se encharcando de prazer:
os conhecedores chamam de Abraço de Coxa.

Quando ela ergue as lindas coxas
e sua virilha puxa contra a colina do amor,
as unhas lhe crava, belisca, em beijos suga
os seus lábios, os cabelos derramados
soltos por seu rosto, é o Abraço da Virilha.

Quando ela o monta,
o seu peito suportando todo o peso
dos seios cheios,
que trançam círculos em seu corpo,
quem conhece chama Abraço dos Seios.

Os três abraços também podem
pelo homem serem iniciados.
Quando as testas se unem, olho no olho,
nariz em nariz, lábio em lábio, os rostos
em carícias mútuas, é o Abraço de Testa.

Alguns mestres a massagem incluem nos abraços
pelo prazer físico que proporciona
mas Vatsyayana diz: a massagem visa
ao cansaço remover, não atiçar o desejo,
assim não pode entrar nas artes do amor.

Mesmo os que indagam, ouvem ou falam
de tais abraços
hão de sentir, na descrição correcta,
o desejo em seus corpos despertar.

Quem usar, maior prazer terá.
São muitas as carícias adoráveis
que os textos jamais mencionaram.
Descubra-as com quem ama,
use quando puder,
se aguçar o prazer e o desejo.

Os textos do amor podem se úteis
só quando o desejo está sereno,
mas com a roda do oleiro em movimento,
joguem fora até o Kama Sutra,
pois não há, nem ciência.

Dentes e Unhas

A paixão, se ateada,
que as unhas entrem em cena.
Electrizante é o efeito:
sob as unhas da mulher, o tímido amante
sente o corpo lentamente de desejo impregnar.

O jogo das unhas mais excita
a primeira vez em que juntos deitam,
nas noites antes e depois de longa separação,
depois de briga furiosa,
e quando ela bebeu além da conta.

Boas unhas são compridas, bem talhadas,
ao contacto bem suaves,
limpas, firmes, refulgentes,
os arranhões devem ser
tão rosados quanto as unhas.

Os ardorosos deixam as unhas
da mão esquerda crescer, longas, afiadas.
Há quem lixe em duas pontas, às vezes três,
como a lâmina da serra,
outros lixam em crescente, em bico de papagaio.

Textos de amor aconselham a se marcar
da amante apenas seios, axilas,
garganta, costas, coxas e virilha.
Mas no amor, lembra Suvarnanabha,
de tais coisas ninguém se recorda.

Marcas de Unhas

As oitos técnicas se aprendam:
Rasgar Seda, a Meia-Lua,
Círculo, Sulco, Garra do Tigre,
o Pé do Pavão,
Salto da Lebre, a Pétala do Lótus Azul.

Passe as unhas afiadas
pelas faces, seios, lábio inferior,
tão de leve que marca alguma fique,
mas ao contacto a pele se arrepie de prazer,
no som da seda que se rasga.

Esta carícia torturante use
quando ela pedir que lhe massageie o corpo,
o couro cabeludo, que lhe arranhe as costas,
que uma bolha impertinente fure, sempre
que quiser deixá-la ardente de desejo.

A Meia-Lua é suave crescente
com uma unha feito na garganta e seios.
Um par de crescentes fundo impressos,
na barriga, quadris, bunda ou virilha,
como marcas de um parêntesis, são o Círculo.

O Sulco é a linha vermelha
que unha afiada estende pela pele,
do corpo, em qualquer parte.

Se curvo, é uma Garra de Tigre,
quase sempre nos seios e pescoço.

Quando o mamilo se pega
entre as cinco unhas, comprimindo,
na explosão de suaves raios vermelhos,
é o famoso Pé de Pavão,
difícil de fazer, tão do gosto das mulheres.

Se ela roga, despudorada,
o Pé de Pavão, num dos seios,
e você usa as cinco unhas,
sobre um seio, depois no outro,
é o virtuoso Salto da Lebre.

A Pétala do Lótus Azul
se faz nos seios, na cintura, tão-somente,
moldada sempre na sugestão do nome.
Tal marca em elogio é,
equivalente a jóias de presente dadas.

É falta de cavalheirismo
sair de casa, em viagem longa,
sem marcar seios e coxas da esposa,
com três ou quatro pelo menos,
pequenas linhas, momentos do seu amor.

Novas marcas sempre invente
a praticar com quem ama.
Sejam de flores, passarinhos,
vasos, folhas, trepadeiras,
tudo é possível, não se pode enumerar.

Tentar sequer catalogar
o potencial infinito de marcas e técnicas,
para não falar dos sinais bizarros
que amantes ardentes improvisam,
é pura perda de tempo, dizem os sábios.

Há de se ressaltar, diz Vatsyayana,
a importância de variar no amor.
Qualquer tolo sabe: variar é o tempero
da vida, mas só cortesãs bem sucedidas
sabem, ao que parece, se a essência do amor.

Para acabar, jamais crave as suas unhas
na esposa de outro homem.
A discretos crescentes se limite,
ocultos onde ela apenas vai observar,
a se lembrar dos encontros secretos com você.

Mordidas de Amor

Cada parte do corpo, que se beija,
tirando a língua, olhos, lábio superior,
também aceitará mordidas de amor.
Até lugares que os Latas muito beijam
são alvos certos para dentes hábeis.

Bons dentes são limpos, brilhantes, iguais,
afiados, bem formados, com paan se colorindo.
Dentes lascados, rudes, sujos, gastos,
sobrepostos, salientes,
melhor ficam se ocultos, são insultos ao amor.

Prática é preciso par oito mordidas
bem famosas: a Secreta e a Inchada,
o Ponto e a Linha de Pontos,
o Coral e o Colar de Coral,
a Tempestade e o Javali.

Quando o lábio inferior morder,
avermelhando, mas sem marca, é a Secreta.
Se morder até o lábio machucar,
é a Inchada (só depois vem o Inchar),
e também se faz na face esquerda.

Quando a pele mordisca tão de leve
que marca é do tamanho da semente
de sésamo, fez um Ponto, incha de Pontos
bonita há de ficar na macia pele
do pescoço, seios, dentro das coxas.

A vermelha curva, irregular, do Coral,
se faz mordendo apenas com os incisivos
de cima. No seios começando, nas coxas,
Colares de Coral se vão fazendo,
as laçadas pelo corpo se espalhando.

Tempestade é um círculo de marcas
que no seio suave se imprime.
Se profundo, ardentes marcas,
no centro violeta, é Javali.
Que só agrada aos ardorosos.

Quando unha e dente marcas fazem
na folha de bhurja, flor de lótus azul,
que as mulheres nas orelhas usam,
são convites amorosos,
a se fazer com o esmero das cartas de amor.

Se um homem ignora os gritos da amada
de que unhas e dentes a machucam,
na mesma espécie ela deve revidar,
Garra de Tigre pelos Sulcos,
Javali à Tempestade confrontando.

Na paixão, que a mulher agarre
os cabelos do amado, lábio prenda
entre os dentes, qual a borda de uma xícara,
sorvendo sempre, de desejo se inebrie,
mordendo a esmo, de frenesi, em mil lugares.

Quando ele mostra, orgulhoso, manhã seguinte,
aos amigos tantas marcas
que unhas, dentes em seu corpo deixaram,
que ela o fite, impassível,
rindo apenas ao lhe virar as costas.

Censurá-lo ela pode, furiosa,
sendo amarrado exibindo mas próprias marcas.
Se um ao outro amam,
a censura é sempre afectuosa,
o amor nem em cem anos se esvai.

Golpes e Gritos

Como o amor, por natureza,
é quase uma batalha entre os sexos,
os vários golpes de amor,
que podem o prazer acentuar,
são analisados nos textos de amor.

Quando golpes, Apahasta (Costa da Mão),
Prasritaka (o Capuz), Mushti (o Punho)
e Samatal a(a Palma),
usados são na cabeça, ombros, costas,
flancos, no espaço entre os seios.

A amada, claro, há de sentir
dor quando você a golpear,
mas os gritos que à garganta lhe subirem,
se cada tipo você puder reconhecer,
vão dizer o quanto ela se encontra excitada.

Hinkara é o ar que se suga bruscamente,
como um sobressalto repentino.
Stanita é mais profundo, som ressonante,
que vem dos tímbales dos pulmões dela.
Kujita é suave arrulho, como a pomba.

Rudita é o soluço gutural da mulher
que o orgasmo alcança.
Sutrita é o ofego áspero.
Dutkrita é abafado chocalhar.
Phutrita é o morango que na água cai.

Sitkrita são palavras, sons,
que seus golpes dela arrancam,
exclamações de dor, lutando com prazer.
A sequência, que aprender se deve,
vai do prazer à dor ao prazer maior.

A princípio, soluçando, ela dirá:
“Mamãe”, “Pare!”, “Já chega!”,
“Deixe-me em paz!”, Estou morrendo!”,
mas os sons que em sua garganta adejam
logo se tornam gritos sem palavras.

Os tímidos gritos do início
podem ser como o choro de uma pomba,
o chamado do cuco entre as folhas,
o suspiro sonolento dos pardais,
o grito estridente do papagaio.

Mas logo a amada, gemendo como abelha,
gritando qual galinha assustada,
emitindo gritos baixos, que soam,
como gansos e patos no voo chamando,
acaba choramingando, como a perdiz .

Quando deitada ela está sob você,
com as costas da mão deve bater-lhe
entre os seios, gentilmente,
a paixão crescendo, deixe que os golpes
sejam mais fortes e rápidos: é Apahasta.

Se hábil aplicado, este golpe
há de arrancar uma raga
de arrulhos, gritos e soluços.
Se você a machucar, que ela fique furiosa,
revidando golpe a golpe.

Os gritos de amor não precisam
obedecer a qualquer ordem:
que ela tudo faça de improviso,
mas cada golpe desferido
deve arrancar um grito de prazer.

Se satisfação ela não tem
de Apahasta e outro lhe pedir,
na cabeça da amada bata
com os dedos encurvados:
é Prasritaka (o Capuz).

O alvo é excitá-la
tanto que os gritos “Hare Rama”
se prendam na garganta, virando
um trinado de vogais abertas e fechadas,
terminando em soluços estrangulados.

Você deve provocá-la
seus gritos imitando,
até que ela ria, e depois,
com unhas e dentes espicaçando,
lhe arranque efeitos mais extravagantes.

Quando sentir que o orgasmo se aproxima,
nas coxas dela bata e nos lados,
de mãos abertas, palmadas de Samatala.
Se o momento for exacto, há de ouvir
o ganso e a perdiz chamando o orgasmo dela.

Por natureza, os homens são mais duros,
mais cruéis e violentos que as mulheres,
sempre delicadas e tímidas,
daí porque o homem geralmente bate
e a mulher é quem grita.

Mas se a paixão a sufoca,
se uma postura especial a excita
ou se tal é o costume do país,
a mulher pode chover golpes no amado.
Mas tal coisa raramente acontece.

Quatro outros golpes são usados
às vezes: Kila (Cunha) no peito,
Kartai (Tesoura) na cabeça,
Vidram (Espeto) nas faces,
Samdanshikam (Tenaz) nos seios .

Tais golpes perigosos
são bem populares pelo sul.
Nos peitos dos sulistas e esposas
as marcas às vezes são visíveis
dos golpes desferidos no estilo Kila.

Mas os costumes do sul
não devem ser copiados por nortistas
curiosos. Vatsyayana diz: esses golpes
são antiarianos e impróprios ao homem de bem,
que deve encarar tal violência com desdém.

Nenhuma dúvida pode haver
que práticas que a membros quebrados levem,
à mutilação e à morte,
não podem ser justificadas, nem mesmo
aos que se recusam a vê-las como barbarismo.

Não é segredo que o Rei Chola
matou há pouco a cortesã Chitrasena,
ao golpeá-la no estilo Kila.
O Rei Shatkarni dos Kuntalas matou
sua rainha, Malyavati, com a Tesoura.

Naradeva, o supremo comandante
dos exércitos de Pandya,
de mão esquerda deformada,
um dia bateu à Vidvam numa dançarina,
errando o alvo, cegou-a de um olho.

Mas quando os homens a paixão inflama,
pouco se lembram de pensar
nos shastras ou nas consequências
de tão louca violência:
a paixão causa tais calamidades.

O sexo perturba o equilíbrio:
os anseios e loucas fantasias
que afloram à imaginação de um homem,
quando o amor faz, são mais estranhos
que os sonhos mais grotescos.

Como um cavalo, em pleno galope,
não percebe valas, muros e os poços
que margeiam seu caminho,
a fúria da paixão cega os amantes
aos males que unhas, dentes, punhos causam.

Procure sempre recordar
que a amada é bem mais fraca que você,
que paixão é bem mais forte.
E como nem todas gostam de apanhar,
duas vezes pense para usar golpes de amor.

Prazeres Orais

Os sábios condenam o prazer oral,
alegando que não é civilizado
e rigorosamente proibido pelos shastras.
Os homens doenças contraem, dizem eles,
ao beijar mulheres e eunucos após a felação.

Mas Vatsyayana diz que os shastras
não se aplicam no caso dos eunucos
(com o sexo oral a vida ganham)
nem em países de costumes diferentes.
Quanto às doenças, evitá-las é bem fácil.

Os shastras dizem ainda que são quatro
as bocas puras: do bezerro a mamar,
do cão de caça pegando a sua presa,
o bico do pássaro a fruta arrancando
e a boca da mulher enquanto faz amor.

Mas nesta questão tão delicada,
os shastras são contraditórios.
O conselho de Vatsyayana é agir
de acordo com os desejos, sua consciência,
os costumes da terra em que nasceu.

As oito técnicas da felação
normalmente se praticam na seguinte ordem:
Nimitta (Contacto),
Parshvatoddashta (Morder nos Lados),
Bahiha-samdansha (Pinça Externa).

Antha-samdansha (Pinça Interna),
Chumbitaka (Beijar),
Parimrshtaka (Golpear a Ponta),
Amrachushita (Chupar a Manga)
e Sangara (Engolir Tudo).

Quando a amada seu pénis captura
na mão dela, os lábios forma
num “O”, de leve os pousa na ponta,
a cabeça mexendo em círculos pequenos,
é o primeiro estágio, Nimita (Contacto).

Pegando a glande em sua mão,
ela comprime os lábios pela haste,
primeiro de um lado, depois no outro,
evitando que os dentes lhe machuquem:
é Parshvatoddashta (Morder nos Lados).

A ponta do pénis ela pega,
gentilmente, entre os lábios,
ora apertando, ora beijando ternamente,
a pele macia puxando:
é Bahiha-samdansha (Pinça Externa).

Ela deixa agora a cabeça deslizar
inteiramente para a sua boca,
a haste entre os lábios comprime firmemente,
por um momento parando, antes de puxar:
é Antaha-samdansha (Pinça Interna).

Quando ela pega o pénis em sua mão
e os lábios bem redondos
beijos dão por toda a extensão,
sugando qual faria com seu lábio inferior,
o nome que se dá é Chumbitaka (Beijar).

Se, ao beijar, ela deixa que a língua
por todo o pénis se esbata
e depois, em ponta, ataca insistente
a glande tão sensível,
vira Parimrshtaka (Golpear a Ponta).

Agora, pela paixão inflamada, o pénis
ela enfia bem fundo em sua boca,
puxando e sugando com vigor,
como se fosse da manga o caroço:
é Amrachushita (Chupar a Manga).

Quando ela sente que o seu orgasmo
é iminente e engole todo o pénis,
sugando, trabalhando, com os lábios,
com a língua, até o momento final,
é Sangara (Engolir Tudo).

Técnicas de Cunilíngua – Ratiratnapradipika
O santuário da amada venere
com as oito técnicas de cunilíngua:
Adhara-sphuritam (Beijo Trémulo),
Jihva-bhramanaka (Língua Circulando)
Jihva-mardita (Massagem da Língua).

Chushita (Sugar), Uchchushita (Sugar para
Cima), Kshobhaka (Remexer),
Bahuchushita (Sugar com Força) e Kakila
(o Corvo); improvisar com os dentes
produz infindáveis variações ao amor.

Com as pontas dos dedos, delicado,
aperte os lábios arqueados da casa do amor
e devagar, bem lentamente, os una,
beijando qual faria com o lábio inferior:
é Adhara-sphuritam (Beijo Trémulo).

Agora a arcada abra com o nariz,
deixe que a língua entre,
a yoni explore gentilmente,
o nariz girando, os lábios e o queixo:
é Jihva-bhramanaka (Língua Circulando).

Deixe a língua descansar por um momento
na arcada do templo o amor,
antes de entrar para o culto vigoroso,
fazendo a seiva dela escorrer:
é Jihva-mardita (Massagem da Língua).

Prenda agora os seus lábios
nos lábios da yoni da amada,
a beijos profundos se entregue,
mordiscando, ao clitóris sugando:
é Chushita (Sugar).

Com as mãos suspenda a bela bunda,
a língua o umbigo sonde, resvale
para girar suavemente na arcada
do templo do amor, e lamber a seiva:
é Uchchushita (Sugar para Cima).

Remexendo as lindas coxas,
que ela própria com as mãos segura
e abre o mais que pode,
sua língua adeja, a seiva sorve:
é Kshobhaka (Remexer).

Sua amada num divã estenda,
os pés dela em seus ombros, a cintura
pegue, sugue com força, deixe a língua
remexer o templo do amor a transbordar:
é Bachuchushita (Sugar com Força).

Se de lado deitados,
em direcções opostas,
as partes íntimas beijam mutuamente,
usando as 15 técnicas descritas,
é Kakila (o Corvo).

Comentários finais- Kama Sutra
Tão grande é o prazer que o corvo
às mulheres oferece que por sua causa
muitas cortesãs abandonaram
respeitáveis cidadãos e se ligaram
a escravos, machuts , a homens inferiores.

As mulheres encerradas em haréns
o Corvo acabam praticando.
Depravados praticam em segredo
com outros homens, íntimos seus,
deitados lado a lado, em mútua felação.

Jovens dândis que se exibem,
com brincos e outros ornamentos,
não são avessos a chuparem outros;
mas os mais hábeis nas artes orais
são eunucos, cortesãs ou as escravas.

O intercurso oral deve se evitado
por altos sacerdotes, brahmins, reais
ministros, reis, políticos, por quem tenha
posição e por sua reputação zele,
pois a ética é extremamente duvidosa.

Não é suficiente alegar que práticas
não são condenadas pelos shastras,
estes são conselhos para os casos todos
e inevitavelmente encerram ideias
que corrompidas ficam, se fora de contexto.

Nos textos médicos de Ayurvedic,
vai se encontrar a declaração
de que carne de cão é saborosa, nutritiva,
mas sinceramente isso implica
todos passarem a come-la?

Os shastras podem aconselhar com sensatez
em quase todas as questões sexuais,
mas se em dúvida estiver, respeite
as convenções de tempo, costume e lugar,
na própria consciência se apoie.

Como tais coisas na intimidade se fazem
e são mantidas em segredo absoluto,
como a paixão sobre a razão predomina,
quem pode saber o que alguém fará,
por quê, como, onde, quando, com quem?

Compatibilidade

Os textos sagrados divide
os homens em quatro classes,
mas Ama apenas três conhece,
a casta determinada pelo tamanho do pénis:
lebre, touro, cavalo.

Kama às mulheres classifica
como corça, égua ou elefanta,
a profundeza da yoni sendo a medida.
Corça com lebre, égua com touro,
elefanta com cavalo: são os pares ideais.

Com casais de dimensões
que bem não correspondam,
há seis graus de inadequação:
elefanta e lebre ou touro, égua
e lebre ou cavalo, corça e touro ou cavalo.

Uniões iguais são melhores:
conjunções extremas (elefanta com lebre,
corça ou cavalo) raramente satisfazem.
Com os pares restantes, o sucesso depende
em grande parte de temperamento e perícia.
Os temperamentos sexuais são três:
ardoroso, moderado e frio.

Um homem de fria natureza pouco desejo tem;
o sémen esguicha sem vigor;
sempre evita unhas e dentes da amada.
Homens ardentes o desejo não escondem,
os moderados sabem manter o controle.

Cada tipo tem o equivalente feminino,
às conjunções físicas acrescentando
nove possíveis relações de temperamento.
A perícia de amante, diga-se agora,
se avalia na medida
em que sabe prolongar o prazer do amor.

Amantes podem ser peritos, adequados e inábeis,
em mais nove aumentando as relações.

Falácia

No papel da mulher é que se concentra
a controvérsia pela necessidade de perícia.
Auddalaki diz: as mulheres
não encontram satisfação no amor,
apenas alegria de satisfazer os amantes.

A perícia no beijo e na carícia,
variação de posturas, o amor prolongado,
são coisas que aumentam o prazer de um homem;
mas as mulheres não precisam,
seu prazer é muito diferente.

Nenhum homem ou mulher saberá jamais
o que sente o outro exactamente no amor;
palavras jamais vão descrever,
mas o prazer do homem se encerra com o orgasmo
enquanto jamais termina o prazer da mulher.

Resposta

Por que então é um fato
que a mulher adora um homem que uma hora fica
e despreza aquele que se vai
em duas ligeiras investidas?
Não prova que o orgasmo ela também quer?

Falácia

Seria anormal, os cépticos dizem,
para uma mulher experimentar
prazer intenso, emocional, no amor,
mas não querer que continue.

E citam até os versos de Auddalaki:
“Na paixão do homem se abate
o desejo da mulher feliz,
não há beijo, carícia, arremetida
do falo que sua paixão sacie.
O prazer do homem é seu único prazer.”

Ao contrário do homem, diz Babhravya,
cujo sémen esguicha, ao final do prazer,
a seiva da mulher flui do início,
a toda fibra inundando de alegria;
não precisa assim de um longo amor.

Resposta

É Auddalaki em disfarce.
Se tal prazer ela sente, desde o início,
por que tão quieta fica no começo,
o corpo só aos poucos à paixão se entregando,
o que tanto a abala ao final?

A paixão da mulher não seria
como a roda do oleiro, a piorra da criança,
a princípio girando lentamente,
a velocidade aumentando, até explodir
na beleza indescritível do orgasmo?

O próprio Babhravya escreveu:
“O orgasmo dele é o final do seu prazer,
o ardor intenso dela não tem fim,
pois ambos devem se gastar na batalha do amor
e a seiva misturar, antes que a paz ela encontre.”

Como homem e mulher são humanos,
ambos absorvidos no mesmo ato,
por que o prazer seria diferente?
Vatsyayana conclui
que a mulher tem orgasmo, como o homem.

Falácia

Mas homem e mulher não são iguais!
Um homem é para a mulher
o que a mó para o moinho é:
são feitos de forma diferente,
naturezas opostas, papéis separados.

Não é absolutamente ridículo
dizer que homem e mulher,
divergindo um do outro,
tanto no corpo como no temperamento,
experimentam o prazer de formas diferentes.

Resposta

É mais que óbvio, até para Vatsyayana,
que homem e mulher são diferentes.
Ele também aceita que, por costume,
homens dominam, mulheres são dominadas,
o que há de se reflectir no ato do amor.

A natureza do homem é apregoar
“Estou fazendo o amor!”
A mulher arrulha: “Este homem me faz o amor!”
Mas o prazer, quando chega,
não sabe quem é a mulher, quem é o homem.

Quando os carneiros se chocam, de cabeça,
quando os galos se agridem,
quando lutadores se engalfinham,
o choque pelos dois se distribui;
assim também é, quando homem faz amor à mulher.

Não se alegue que carneiros são carneiros,
lutadores, lutadores, mas homens não são mulheres.
Homem e mulher o mesmo nervo são, mesmo sangue,
mesmo músculo, osso, tendão e alma:
não há diferença, por baixo da pele.

Linga e shaki feitos são um para o outro,
de que outro jeito vida nova nasceria?
O desejo junta homem e mulher num só amor,
numa ardente união,
criando um filho do choque partilhado do prazer.

Vatsyayana diz: toda mulher
a alegria do orgasmo deve conhecer.
Todo homem deve aprender as artes do amor,
o beijo, carícia, asanas, jogos de dentes
e das unhas, o prazer da amante antes do seu.

Como dois amantes jamais poderão
em tamanho, temperamento e arte se igualar,
não existem regras que governem o amor.
Só a experiência pode lhe dizer
que técnicas satisfarão que amantes.

O sábio também sabe que o prazer físico
não é o fim exclusivo do acto do amor.
Pode ser como música, atiçando emoções,
intensificando sentidos, dissolvendo
pensamento em ritmo, até que um só ritmo exista.

Vai fluindo, corações acelerando,
os lábios tremem na batida
de tambores na mais rápida marcha,
até que a própria música se dissolve
na sagrada e longa nota de silêncio.

O amor tem muitas yogas:
o contacto de dois corpos; virilhas presas;
a ruptura na separação;
o acalmar da respiração violenta;
a serenidade de corpo e mente.

Pessoas de inteligência e sensibilidade
vão achar tais comentários
suficientes para esclarecer o delicado assunto.
Para quem precisa de mais esclarecimento
as artes do amor agora são descritas.

Posições Sexuais

Se a amada é menor do que você,
posições de amor escolha
em que as coxas dela bem abertas fiquem.
Se ela puxa ao generoso,
use aquelas que as coxas se unem.

Se ela muito o sobrepuja,
o prazer lhe dê com um falo de ouro ou prata.
Mas se os dois à perfeição combinam,
cada postura conhecida se pode exaltar
nesta yoga deslumbrante de dois corpos.

Se a amada é menor do que você,
posições de amor escolha
em que as coxas dela bem abertas fiquem.
Se ela puxa ao generoso,
use aquelas que as coxas se unem.

Se ela muito o sobrepuja,
o prazer lhe dê com um falo de ouro ou prata.
Mas se os dois à perfeição combinam,
cada postura conhecida se pode exaltar
nesta yoga deslumbrante de dois corpos.

Posições Deitadas 

Grupo Utphullaka- Kama Sutra
A mulher corça mais prazer encontra
nas abertas posturas do grupo Utphullaka:
Utphullaka (Flor em Botão),
Vijrimbhitaka (Bocejo Largo)
e Indranika, da deusa Indrani a postura.

Em Utphullaka a mulher usa uma almofada,
quadris bem alto erguendo,
as coxas abre, o mais largo que puder.
Gentilmente a penetre,
sem ferir a ela, magoar a si mesmo.

Em Vijrimbhitaka as coxas são abertas,
as pernas se estendem para o alto,
os quadris na cama permanecem.
A yoni assim se expande, mas se inclina
para baixo, cuidado na entrada.

Indrani os joelhos ergue,
nas curvas dos seios se aninham,
os pés encontram as axilas do amado.
Quem é pequena esta postura adora,
mas uma deusa se faz com muita prática.

Grupo Utphullaka- Textos Medievais
Com as palmas ela pega e ergue a bunda,
as coxas abre, o mais possível,
põe ao lado dos quadris,
enquanto você os seios lhe acarinha:
assim é Utphullaka (a Flor em Botão).
(Ratirahasya)

Os tornozelos pegando
da mulher de quadris cheios, bunda
como abóboras maduras,
as lindas coxas erga
e bem estenda na abertura.

De desejo impregnado, em palavras doces,
dela se aproxime, seu corpo rígido,
arremeta direito para frente,
penetre o lótus, os corpos se unindo:
é Madandhvaja (a Bandeira de Cupido).
(Panchasayaka)

Os dois pés da amada agarre,
suspenda até os seios comprimirem,
as pernas dela um círculo formando.
Pelo pescoço a enlace e faça o amor:
é Ratisundara (Delícia de Afrodite).
(Smaradipika)

Os pés da amada erga até as solas
se encontrem paralelas
nos dois lados do pescoço esguio,
os seios pegue, o amor faça:
é técnica é Uthkana (Alto do Pescoço).
(Ratimanjari)

A linda esposa, na cama deitada,
os próprios pés segura
e levanta até os cabelos,
você lhe pega os seios e faz amor:
assim é Vyomapada (Pé no Céu).
(Ananga Ranga)

Seus próprios joelhos, segurando, sua esposa,
na cama estendida,
estica as pernas, os pés erguendo,
enquanto você comprime os seios juntos:
assim é Vyomapada (Pé no Céu).
(Panchasayaka)

A mulher de coxas roliças, na cama,
os tornozelos agarra, os pés bem alto ergue,
você crava até a raiz, beijando,
batendo com as palmas entre os seios:
assim se faz Markata (o Macaco).
(Srnararasaprabandhadipika)

De costas ela deita,
você senta entre os joelhos e suspende,
os pés dela engancha em suas coxas,
os seios pegue, faça o amor:
é Manmathpriya (Caro a Cupido).
(Smaradipika)

Entre as coxas da esposa sente,
as mãos na cama ponha, junto à cintura dela,
gire os quadris, ao fazer amor:
é Smarachakra (a Roda do Amor),
tão do grado de mulher mais ardentes.
(Ananga Ranga).

No leito do amor se estende,
braços, pernas estendidos, qual estrela-do-mar,
você se abate sobre ela, achatando
os seios, juntos os comprimindo:
é Ratimarga (Estrada do Amor).
(Srngararasaprabandhadipika)

Grupo Samputa- Kama Sutra
Se tem o pénis para uma mulher pequeno,
então use as posturas do grupo Samputa:
Samputa (a Caixa de Jóia),
Pidita (o Aperto), Veshtita (Entrelaçado)
e Vadavaka (o Truque da Égua).

Em Samputa suas pernas se estendem
junto às delas, em carícia de alto a baixo.
Sua amada põe por baixo,
ou os dois de lado estendidos,
mas neste caso que ela fique à sua esquerda.

Em Pidita as coxas dos amantes
se entrelaçam e se apertam, ritmadas.
Em Veshtita as coxas ela cruza
ou cada rola para dentro,
assim forçando o aperto da yoni.

Quando a amada como a égua
que , cruel, agarra o garanhão,
pretende e suga o seu pénis com vagina,
é Vadavaka (o Truque da Égua),
que só a longa prática aperfeiçoa.

Grupo Samputa – Textos Medievais
Quando amantes, as pernas estendidas,
rígidos, pés acarinhando,
fazem amor pelo desejo em seus corações,
sábios em Tantra chamam Samapada (Pés Iguais),
todos concordam se caminho para o êxtase.
(Ratikallolini)

Como estaca rígida, no meio da cama,
ela se estende no ato do amor,
arrulhando e gorjeando como a pomba,
a jóia do clitóris bem polida:
isto é Mausala (o Pilão).
(Srngararasaprabandhadipika).

Quando de costas ela deita,
as coxas juntas, comprimidas,
você lhe faz amor,
suas coxas além das coxas dela,
é Gramya (o Rústico).
(Ratirahasya)

Se envolvendo, aprisionando,
as coxas dela com as suas,
tão forte aperta que ela grita em dor,
é Ratipasha (o Nó do Amor),
que às mulheres sempre agrada.
(Smaradipika)

Os membros dela, nos seus entrelaçados,
como tentáculos de jasmim fragrante,
se contraem e relaxam lentamente,
no ritmo suave de linga e yoni:
é Lataveshta (Trepadeira Ardente).
(Ratimanjari/Ananga Ranga)

As pernas ela junta,
os joelhos contra os seios comprimindo,
a yoni, como o botão que desabrocha,
em oferenda ao prazer:
quem conhece chama de Mukula (o Botão).
(Srngararasaprabandhadipika)

Se ela ergue os joelhos
e os seus se prendem nas coxas levantadas,
um nó bem firme se formando,
enquanto a monta pela bunda sedutora,
ardente a beija, é Shankha (a Concha).
(Srngararasaprabandhadipika)

Grupo Bhugnaka – Kama Sutra
Suvarnanabha tem sequência de posturas
que derivam de Bhugnaka (Ascendente),
a mulher de costas se deitando,
as pernas alto levantando
e juntas, comprimidas.

Se ela cruza as pernas levantadas,
a postura vira Piditaka (o Aperto).
Se, alternativamente, os pés ela põe
sobre os seus ombros,
vira Jrimbhitaka (o Bocejo).

Se os pés em seu peito se apoiam e você comprime contra os seios
os joelhos dela, é Utpiditaka (Aperto Alto).
Se agora ela estende uma das pernas,
é Ardhapiditaka (Meio Aperto).

Se ela solta um pé, em Jrimbhitaka,
lentamente a perna estende até o fim,
torna a puxar, a outra perna estende
pela cama, até onde pode ir,
é Venudaritaka (Bambu Rachado).

Se o calcanhar ela põe em sua cabeça,
a outra perna estendida para fora,
alternando como acima,
é Shulachita (Assado no Espeto):
você o assado, ela o espeto.

Grupo Bhugnaka – Textos Medievais
Quando ela ergue os pés bem alto,
você ajoelha entre as coxas separadas
e faz amor, vigorosamente,
acariciando e comprimindo os seios,
é Ardhasamputa (Meia Caixa de Jóia).
(Ratimanjari)

Quando sua amada ergue as coxas cruzadas
e os calcanhares põe
num dos seus ombros, a bunda
ardentemente golpeada por seu pénis,
bem depressa, é Nagara (O Caminho da Cidade).
(Panchasyaka).

Quando, de costas estendida,
a bela amada os pés levanta aos seus ombros
e os mantém cruzados
ao ritmo de suas invertidas,
é Vanshadaraka (as Varas de Bambu).
(Smaradipika)

De costas ela deita,
as coxas se enganchando em sua cintura,
e você senta para entrar:
é Nagara (o Caminho da Cidade),
tão do agrado entre as chitrini.
(Ananga Ranga).

Se os pés você coloca
da amada no seu colo
e faz amor enquanto
a enlaça no pescoço,
é Ratilila (Jogo da Deusa).
(Ratikallolini).

Os pés dela junte,
contra o seu coração comprima,
a outra mão vagueando
por vales e picos do país dos seios:
assim é Priyatoshana (Delícia da Amada).
(Smaradipika).

Se agora ela balança, para a frente, para trás,
os pés contra o seu peito empurrando,
suas mãos entre as dela segurando,
enquanto a yoni se golpeia ardentemente,
então é Prenkha (o Balanço).
(Ratirahasya/Ratimanjari).

Se deitada de costas ela ergue
um pé para o seu ombro
e o outro você aninha em sua palma,
a mão livre lhe afagando os seios,
é Ekapada (Um Pé).
(Smaradipika).

A perna esquerda recta estendida,
ela ergue a direita e puxa para trás,
até que os dedos no colchão encostem, além
de sua cabeça. Faça amor, sem que o seu peso
a force: é Traivikrama (Passo Largo)
(Ananga Ranga)

Lado a lado estendidos, na cama,
um pé dela ao seu coração levante,
deixando a outra perna recta:
assim é Vinasana (o Alaúde),
postura que a mulher experimente adora.
(Ananga Ranga)

De lado deitados,
os corpos em carícia,
dos pés aos lábios,
levante um pé ao coração da amada,
assim penetre a sua yoni:
é Ratibana (Flecha do Amor)
(Ratikallolini).

Grupo Karkata – Yoga – Kama Sutra
Como um caranguejo, cruzando as pernas,
sobre a barriga, a sua amada
os pés levanta ao seu umbigo,
as solas se encontrando,
a postura é Karkata (o Caranguejo).

Grupo Karkata – Yoga- Textos Medievais
De costas ela deita,
membros estendidos, como o caranguejo,
braços e pernas se contraem, a puxá-lo,
com força apertando,
é Karkata (o Caranguejo).

Os pulsos dela agarre, estenda os membros,
sua língua acarinhando
os mamilos, a região entre as coxas,
abrace-a, os seios esmagando
contra seu peito: é Ghattita (Acariciando).
(Srngarasaprabandhadipika)

De costas ela deita,
você a abraça,
os braços passa sob os seus joelhos
para assediá-la, destemido:
é Nagapasha (o Nó de Cobra).
(Smaradipika)

Quando a amada os braços passa
sob as coxas levantadas
e os dedos se enlaçam por trás do seu pescoço,
seu rosto descendo para o beijo,
é Phanabhritpasha (o Nó do Encapuçado).
(Ratiratnapradipika)

Lábios sobre os lábios,
braços sobre os braços,
coxas sobre as coxas,
seu peito esmagando os seios dela:
é Kanakakshaya (Destruidor de Riqueza).
(Smaradipika).

Os dois com pernas e braços estendidos,
numa completa Kaurmasana,
ela por baixo, você por cima,
lábios, braços, coxas juntos, mãos unidas:
é Kaurma (a Tartaruga).
(Ratiratnapradipika)

De costas ela deita, os pés no alto
das coxas opostas;
pelo corpo dela passe as mãos, penetre
de repente, o prazer dê em golpes firmes:
é Padmasana (a Posição do Lótus).
(Ratimanjari).

Quando amantes de costas se deitam,
os membros adoráveis
em flor jungidos (pés cruzados em lótus),
no centro da cama,
se dá o nome de Vriksha (a Árvore).
(Srngararasaprabandhadipika).

De costas deitada, as pernas ela ergue,
os dedões agarra,
com força apertando,
você senta entre as coxas levantadas,
pelo pescoço a enlaça e faz amor.
É a famosa Sanyama
(a Controlada),

tão recomendada no Kama Sutra
de Mallanaga Vatsyayana
e por outros bem versados na arte do amor.
(Ratiratnapradipika)

De costas deitadas, a sua amada
os joelhos leva aos lados do rosto,
calcanhares na cama bem abertos,
expondo o cume triplo e orgulhoso da yoni:
é Shulanka (Trindente de Shiva).
(Ratiratnapradipika).

Posições Sentadas

Grupo Padmasana – Kama Sutra
Quando o pé esquerdo no alto se coloca
por cima da coxa direita,
o pé direito sobre a coxa esquerda sobe,
a postura do amor
é Padmasana (a Posição do Lótus) .

Grupo Padmasana -Textos Medievais
Se sua esposa põe o pé esquerdo
sobre a coxa direita
e vice-versa, as pernas cruzadas ergue
na direcção da barriga,
é Padmasana (Posição do Lótus).

Mas se apenas um dos pés
assim está cruzado,
na coxa oposta bem alta se prendendo,
enquanto a outra perna se estende,
é Ardhapadmasana (Meio Lótus).
(Ananga Ranga).

Quando você erecto senta, na pose do lótus,
as mãos aos pés pegando,
e sua amada os pés coloca em suas coxas,
os seios seu peito perfurando,
e faz amor assim, é Matsya (o Peixe).

Se firme e apertado neste abraço,
ela põe os pés na cama
e lentamente gira a lhe voltar o rosto,
sem romper a união,
é Jvalamukhi (o Rosto em Chama).
(Srngararasaprabandhadipika)

Sentada erecta, na cama,
se ela cruza os pés em prece no umbigo
e faz amor, apoiada
em suas coxas fortes lhe amparando a cintura,
é Kauliraka (Tantra-yoga Kauli).

Se durante Kauliraka
os pés você firma contra a cama,
a jovem amada balançando, gentilmente,
para a frente, para trás, é Prenkhi (o Balanço),
caminho pelo para a perfeita paz.
(Ratiratnapradipika).

Grupo Kaurma – Kama Sutra
Se vocês estão sentados em firme abraço
e ela se vira,
sem romper o ritmo do amor,
para abraça-lo por trás,
é o virtuoso Paravrittaka (Raviravolta).

Paravrittaka também é possível
em algumas posições de penetrar por trás,
mas tão difícil é
de dominar, tanta prática exige,
quanto a versão sentada.

Grupo Kaurma – Textos Medievais
Sentados, boca em boca,
braços coxas em coxas,
assim é o Kaurma (a Tartaruga).
Se as coxas dos amantes, juntas, se levantam,
é Paravartita (Virando).
( Ananga Ranga)

Se dentro da caverna das coxas dela
você senta, os quadris girando, qual abelha ,
é Markata (o Macaco).
Se, nesta pose, você se vira,
é Marditaka (Especiarias Moídas).
(Ratiratnapradika)

Ela senta com as coxas levantadas,
os pés se encaixam nos lados de sua cintura,
linga penetra yoni,
golpes fortes no corpo você lhe inflige:
é Kshudgara (Golpeando).
(Ratimanjari)

Quando sua esposa senta,
com os joelhos ao corpo comprimidos
e você esta postura espelha,
quem é versado na arte do amor chama
Yugmapada (o Jugo dos Pés).
(Ananga Ranga)

Sentada erecta, a bela dama
uma perna dobra contra o corpo,
a outra estende pela cama,
o mesmo você fazendo:
é Yugmapada (o Julgo dos Pés).
(Ratirahasya)

Com a perna esquerda estendida,
se ela lhe enlaça a cintura com a direita,
o tornozelo pondo sobre a coxa esquerda,
e tal postura também você assume,
é Svastika (a Suástica).
(Srngararasaprabandhadipika)

Na cama sentados, frente a frente,
os seios dela no seu peito comprimindo,
os calcanhares se engancham
por trás da cintura do outro,
e para trás se inclinam, pulsos segurando.

O balanço ponha em movimento,
a sua amada, em medo simulado,
a seu corpo aderindo com pernas impecáveis,
de amor arrulha, geme de prazer:
assim é Dolita (o Balanço).
(Srngararasaprabandhadipika)

Sentados frente a frente,
os dedos de seus pés os mamilos dela acariciam,
os pés dela em seu peito comprimidos
e fazem amor, as mãos se dando,
é Kaurma (a Tartaruga).
(Srngararasaprabandhadipika)

Sentada, a mulher ergue
um pé sobre a cabeça, na vertical aponta
e com as mãos o firma,
a yoni ao amor oferecendo:
é Mayura (o Pavão).
(Srngararasaprabandhadipika)

Sentado erecto, a cintura pegue da amada
e a puxe contra você,
as virilhas golpeando sem parar,
com o som do bater de orelhas de elefante:
assim é Kirtibandha (Nó de Fama)
(Panchasayaka)

Entre as coxas dela ajoelhado,
os seios coce, sob os braços,
de “meu querido amor” a chame,
marcas de unha lhe faça nos mamilos:
assim Jaya (Vitória) se consuma.
(Srngararasaprabandhadipika)

Grupo Bandha – Textos Medievais
Quando você senta com seus braços
e pescoço da amada enlaçando
e ela as palmas pressiona
contra o seu coração, batendo forte,
é Nagara (o Caminho da Cidade).
(Smaradipika)

Aos pescoços um do outro segurando,
sorvendo ternos beijos
do lábio inferior, como botão,
as coxas firmemente enredadas,
fazendo amor: é Pallava (a Folha Nova).
(Srngararasaprabandhadipika)

Quando sentado os braços você passa
sob as coxas levantadas da amada,
os dedos se cruzando por trás de seu pescoço
e assim lhe fazer amor,
é Sanyama (a Controlada).
(Ananga Ranga)

As mãos cruzando
sob os próprios joelhos,
os ombros um do outro segurando,
o duplo engate
se chama Bandhura (o Nó Curvo).

(Ratikallolini)

À sua frente sentada,
a amada passa os braços sob as próprias coxas
e dedos entrelaça por trás de seu pescoço,
o mesmo exactamente você faz,
é Bandhurita (o Nó Curvo)
(Ananga Ranga)

Se a amada seu pescoço enlaça
e seus braços entre os dela igual enlaçam,
assim fazem amor, bem juntos,
diz Kalyana Malla, Príncipe dos poetas,
é Phanipasha (Nó da Cobra).
(Ananga Ranga)

Posições de Pé

Do Kama Sutra

Vamos agora às posturas de amor
com que os escultores adoram nossos templos
Quando um casal faz amor de pé
ou se firmando em parede, numa coluna,
se dá o nome Sthita (Firmada)

Quando a mulher senta nas mãos do amado
aninhada, os braços ao pescoço enlaçam,
as coxas a cintura apertam,
os pés contra a parede em balanço,
é Avalambitaka (Suspensa).

Do Textos Medievais
Quando a amada pega e esmaga
na jaula dos seus braços,
os joelhos com os seus força a abrirem
e nela afunda lentamente,
é Dadhyayataka (Coalho Remexido).
(Panachasayaka).

Quando na parede ela se encosta,
os pés abertos, até onde possível,
e você entra na caverna
entre as coxas, ansioso pelo amor,
é Sammukha (Frente a frente).
(Ratiratnapradipika)

Se você numa parede encosta
e a amada as coxas trança pelas suas,
os pés em seus joelhos prende,
e seu pescoço agarra, fazendo amor
ardentemente, é Dola (o Balanço).
(Smaradipika)

Quando sua amada uma perna ergue,
o calcanhar deixando
aninhar-se logo atrás de seu joelho,
e você lhe faz amor, em braço vigoroso,
é Traivikrama (a Longa Passada).
(Ratiratnapradipika)

Se um joelho da amada você pega,
em sua mão, bem firme,
e de pé lhe faz amor,
as mãos por seu corpo acarinhando,
é Tripadam (o Tripé).
(Panchasayaka)

Se uma perna ela ergue
e o mimoso pé você pega,
os seios acarinhando,
dizendo o quanto a ama,
é Ekapada (Um Pé).
(Srngararasaprabandhadipika)

O seu coração o pé da amada pressiona,
seus braços a envolvem e sustentam,
as costas na parede se apoiam
e você desfruta a linda jovem:
assim é Veshta (o Envolvimento).
(Smaradipika)

Na parede ela se encosta,
as mãos em lótus nos quadris,
dedos longos ao umbigo se estendendo,
um pé você lhe pega em sua palma,
a outra mão seu anjo acarinhando.
Ao pescoço da amada passe o braço
e a desfrute, com ela à vontade.

Vatsyayana e muitos outros
que a arte do amor bem conheceram
à postura um nome davam: Tala (a Palma).
(Ratiratnapradipika)

Numa parede encostada,
a amada ao seu pescoço agarra
e os pés levanta,
em suas palmas, para o amor:
é Dvitala (Duas Palmas).
(Ratirahasya)

Se a amada você ergue,
seus cotovelos sob os joelhos dela,
a bunda lhe agarrando,
enquanto ela se pendura em seu pescoço,
é Janukurpara (O Joelho-Cotovelo).
(Ratiratnapradipika)

Sua esposa o pescoço lhe segura,
as pernas trança, na cintura sua:
assim é Kirti (Fama), uma postura
que não se encosta no Kama Sutra.
Jamais a tente se a amada muito pesa.
(Ananga Ranga).

Posições de Penetração por Trás
Do Kama Sutra
Se de quatro ela fica,
as palmas no tapete estendidas,
e você a monta como um touro,
acarinhando as costas, em vez dos seios,
é Dhenuka (a Vaca Leiteira).

Aos animais imitar divertido pode ser,
como cães, veados, bodes,
movimentos copiando, a seus gritos:
atacar abruptamente, como o asno,
as costas arquear, como gatos sensuais.

Como o tigre ataque; nas costas dela
lentamente suba, qual solene elefante;
pode grunhir, qual javali;
com orgulho a cubra, um garanhão:
são jogos que novas coisas ensinam.

Dos Textos Medievais

Para a frente ela se inclina e pega
a armação da cama, a bunda levantada;
suas mãos como serpentes se insinuam
e os seios junto apertam:
é Dhenuka (a Vaca Leiteira).
(Srngararasaprabandhadipika)

Se você a monta como um cão,
sua cintura agarrando,
ela se vira para seu rosto olhar,
quem conhece as artes do amor
chama Svanaka (o Cão).
(Srngararasaprabandhadipika)

Se a amada, pelo amor ansiosa,
de quatro fica, lombo erguido, como a corça,
e por trás você a desfruta,
como se a natureza humana perdesse,
é Harina (o Cervo).
(Panchasayaka)

Os pés em lótus,
no chão bem aparados, ela se inclina,
cada mão sobre uma coxa,
por trás você a toma:
é Gardabha (o Asno).
(Srngararasaprabandhadipika)

Se de barriga ela deita
e com as mãos você lhe agarra os tornozelos,
bem alto levantando e o amor fazendo,
o queixo para trás puxando com a outra mão,
é Marjara (o Gato).
(Srngararasaprabandhadipika)

De frente ela se deita,
com as mãos seus tornozelos pega,
para trás bem alto levantando:
a esta difícil postura quem conhece dá o nome
de Mallaka (o Lutador).
(Panchasayaka)

Quando sua amante deita,
seios, braços, testa no tapete,
a bunda bem alto elevando,
e você guia o pénis à yoni,
é Aibha (a Elefanta).
(Ratirahasya)

Bem alto você ergue os tornozelos dela,
ela se estica,
as pernas estendendo,
como pelo ar a rastejar:
é Hastika (o Elefante).
(Srngararasaprabandhadipika)

De quatro ela fica,
por trás você se põe,
um dos pés ao ombro leva,
a linda jovem desfruta:
é Traivikrama (a Passada).
(Panchasayaka)

Os pés dela alto erga
(como um carrinho de mão),
o pénis na yoni enfie
e a sacie com golpes vigorosos
é Kulisha (o Raio).
(Smaradipika)

De joelhos, como arqueiro,
em seu colo a pegue
e dobre para frente, até que os seios
nas coxas dela se comprimam:
é Ekabandha (Um Nó).
(Smaradipika)

De lado deitada, contra você virada,
a linda jovem, olhos de corça,
a bunda lhe oferece
e seu pénis entra na casa do amor:
é Nagabandha (o Elefante).
(Panchasyaka)

Amor Exótico – Kama Sutra
Suvarnanabha diz ser uma delícia
fazer amor em águas fundas:
os nós mais complexos, contorções,
posturas da yoga e do templo,
com prazer e fáceis se dominam.

Mas o conselho é sem valor,
diz Vatsyayana: contradiz ensinamentos
dos santos sábios, dos smritis,
por Gotama é proibido: “O casal
que na água copula será amaldiçoado.”

Quando você na cama faz um trio
com duas esposas que gostam,
é Sanghataka (o Par).
Se a muitas deleita a um só tempo,
é Goyuthika (a Manada).

Qual manada de elefantes
no calor do verão se refrescando,
uma incursão você faz com as esposas
a algum remanso de um rio, à sombra:
é Varikriditaka (o Jogo da Água).

O papel você assume
de carneiro, garanhão,
entre o rebanho das concubinas.
A mulher que aprecia dois ou mais
amantes desfrutar desse jogo vai gostar.

Nas montanhas em que vivem os Nagas,
em Balkh, Strirajya,
frustadas damas de casas reais
rapazes sempre atraem
e seus haréns, onde os escondem.

Uma rainha no colo de um homem senta,
enquanto outro a penetra
e mais um seu corpo cobre de beijos,
unhadas e mordidas de amor,
os três se revezando, até que ela se canse.

Em terras civilizadas, há que ressaltar,
essas sessões de orgia são prerrogativas
de cortesãs e prostitutas
só bem raro alguém ouve falar
de princesas se entregando aos sirdars.

Os povos das terras do sul
se afeiçoam à sodomia
e praticam livremente com homens e mulheres.
Sexo oral e inversão dos papéis
também aqui serão tratados.

Inversão de Papéis

Primeiro, os meios de excitar e saciar
uma difícil amante.
Comece por atraí-la para a cama
e a enleve com palavras doces,
antes de abrir furtivamente o nó da saia.

Se ela tentar impedi-lo, beije-a,
suplicante, até que o desejo prevaleça.
Quando seu pénis rígido subir,
faça-a senti-lo, gentilmente,
comprimindo e acarinhando as coxas.

Se for a primeira vez em que se deitam,
ela certamente há de protestar
quando a mão entre as coxas você estender
e prontamente as fechará:
acaricie até as coxas tornem a se abrir.

Embale agora as suspeitas
fingindo as mãos pelos seios atraídas,
a garganta, braços, os quadris.
Isto é muito importante com as virgens
que sempre exigem carícias infindáveis.

Se é mulher de experiência,
do recurso terá conhecimento,
pelos cabelos a pegue,
vire a boca para beijos,
nas faces plante mordidas de amor.

Se a amada é virgem,
fechados os olhos e tímida estará,
seu trabalho às cegas deve ser,
pois nos belos olhos das mulheres
quem sabe ler encontra segredos de amor.

Quando a carícia é vibrante,
os olhos dela para cima se reviram
em êxtase, ao que diz Suvarnanabha.
Deixe que os olhos dela a carícia escolham
e sua amada logo ardente há de ficar.

Quando para o amor ela estiver pronta,
as pernas pesadas há de sentir,
os movimentos lentos, langorosos,
os olhos ela fecha e comprime
o templo do amor contra você.

Você sente que o orgasmo dela é iminente
quando os braços começam a tremer,
o corpo de suor se torna lúbrico,
ela morde, arranha,
agita as pernas, incontrolável.

Se ao orgasmo você chega
enquanto ela à beira ronda,
o agarra, não o solta,
a amada em paixão desesperada
continua a arremeter, com frenesi.

Para que tal não aconteça
você deve prepará-la,
antes do amor, formando os dedos
em romba de elefante e acarinhando
a yoni dela, até molhada estar.

Durante o amor, dez golpes você pode
com o pénis desferir,
mas apenas Upasripta (Natural),
instintivo até para quem não conhece,
ao clitóris estimula plenamente.

É um golpe para cima bem suave
que se pode variar na profundidade,
rapidez, em ritmo subtil,
tão espontâneo,
que os outros nove jamais hão de alcançar.

Se o pénis você pega e move
em círculo na yoni,
é Manthana (Batedeira).
Se o pénis comprime, implacável, a yoni,
Quando golpeia bem fundo na yoni,
é Hula (a Faca de Duplo Gume).

Os quadris dela numa almofada erguidos,
se você desfere um golpe vigoroso
para cima, é Avamardana (Pontada).
Se o pénis comprime, implacável,
a yoni, é Piditaka (Pressão).
Se for completo você sai
e depois ataca, violento,
é Nirghata (o Tapa).

Pressão contínua num lado da yoni
é Varahaghata (Golpe do Javali).
Se por todos os lados você arremete,
como um touro os chifres enfiando,
é Vrishaghata (o Golpe do Touro).

Um tremor na yoni é Chatakavilasa
(Canto do Pardal), que o orgasmo anuncia.
À convulsão involuntária do orgasmo
se dá nome de Samputa (Caixa de Jóia).
Mas não há duas mulheres que o amor
igual façam e assim varie seus ritmos
pelos ânimos e cores da raga da amada.

Se o amor longo o esgota
antes que a amada o orgasmo alcance,
você deve permitir
que ela de costas o vire e monte,
a iniciativa tomando.

Se a postura a ela dá prazer
ou se você desfruta a novidade,
ela pode tornar a mudança em rotina,
embora cuidado extremo sempre tome
para a linga não sair do templo do amor.

Uma amante hábil os papéis
troca sem romper os ritmos do amor.
Se o amor você já fez,
ela pode bem fácil despertá-lo,
assumindo o papel de homem desde o início.

Pense um pouco: em você ela monta,
caindo flores dos cabelos desgrenhados,
os risinhos em ofegos se tornando,
a cada vez que se dobra para o beijo,
os mamilos seu peito perfuram.

Os quadris dela se remexem agora,
a cabeça, para trás jogada, mais depressa
se balança, ela arranha, com os punhos
o agride, os dentes lhe crava no pescoço,
em você fazendo o que tantas vezes fez a ela.

Ela grita, conquistadora inebriada:
“Você me doma, agora é humilhado!”
Mas o orgasmo a domina abruptamente,
os lindos olhos fechando,
ela a você se anima, outra vez mulher.

Quando o papel do homem assume,
sua amada escolher pode
três famosas técnicas de amor:
Samdmsha (a Pinça),
Bhramara (a Abelha), Prenkholita (o Balanço).

Se o Truque da Égua ela usa,
seu pénis com a yoni apertando,
comprimindo e afagando,
a mantê-lo por tempo infindável,
é Samdamsha (a Pinça).

Se ela ergue os pés
e os quadris gira, seu pénis
bem fundo na yoni circulando,
e você arqueia o corpo em sua ajuda,
é Bhramara (a Abelha).

Se agora os quadris ela balança
em largos círculos, fazendo oitos,
no seu corpo balançando,
como se andasse de gangorra,
é Prenkholita (o Balanço).

Quando a paixão se esvai,
ela deve repousar, à frente se inclinar,
a testa sobre a sua,
sem romper a união dos corpos:
o desejo logo há de renascer.

Dos Textos Medievais

O seu pénis segurando, a amada,
olhos revirados qual pétalas de lótus,
o guia para yoni,
a você se agarra, a bunda mexe:
é Charunariksshita (Bela Dama no Comando).
(Ratikallolini)

Em seu pénis entronizada,
as mãos na cama a amada põe
e faz amor, enquanto você
as mãos comprime no coração dela:
é Lilasana. (Assento do Amor).
(Smaradipika)

Sobre você ela senta, empertigada,
cabeça para trás, qual égua empinada,
os pés unindo,
na cama, ao lado de seu corpo:
é Hansabandha (o Cisne).
(Srngararasaprandhadipika)

A amada põe um pé
em seu coração, outro na cama.
Mulher ousada adora esta postura,
que no mundo se conhece
por Upavitika (Cordão Sagrado)
(Panchasayaka)

Se com um pé
preso em sua mão
e o outro em seu ombro,
a jovem dama o desfruta,
é Viparitaka (Invertida).

Se a amada, em você sentada,
os pés cruzados em lótus,
o corpo erecto, imóvel,
lhe faz amor,
é Yugmapada (Jugo dos Pés).
(Ratiratnapradipika)

Por cima de você sentada,
os pés cruzados, na pose do lótus,
ela cruza os braços por baixo
e as palmas no chão encosta:
é Kukkuta (o Frango).
(Srngararasapradhadipika).

A cavaleiro em você,
ela se vira e um pé em sua coxa põe,
o outro pé levantando
para um seu peito pôr:
é Viparitaka (Invertida).
(Ratimanjari)

Se em você ela senta,
de frente para os seus pés,
os pés dela às suas coxas conduzindo,
os quadris meneando em frenesi,
é Hansa-lila (o jogo do Cisne).
(Smaradipika).

Se a sua amada um pé coloca
em seu tornozelo, o outro aloja
logo acima de seu joelho,
e assim montada, os quadris mexe,
é Garuda (Garuda)
(Srngararasaprabandhadipika).

Se de costas você deita
com as pernas estendidas
e a amada o monta, ao outro lado
virada, os pés lhe segurando,
é Vrisha (o Touro).
(Srngararasaprabandhadipika).

Com os membros se enlaçando,
a beijar e a brincar,
em mil e um jogos de amor,
a amada seu papel usurpa:
é Valli (a Trepadeira).
(Srngararasaprabandhadipika)

Sobre você deitada, a amada
gira, como uma roda,
as mãos pela cama comprimindo,
seu corpo beijando, enquanto vira:
é Chakrabandha (a Roda).
(Srngararasaprabandhadipika)

Se, por meio de algum mecanismo,
a amada sobre você suspeita fica,
seu linga encaixa em sua yoni
e sobe e desce sem parar,
é Utkalita (Orissana).
(Ananga Ranga)

O Comentário Final

Mesmo a tímida, recatada,
que seus sentimentos oculta,
ao desejo simulando indiferença,
não pode evitar demonstrar sua paixão
quando sentada sobre um homem no amor.

Mas jamais assim brinque
com uma mulher menstruando
ou que acabou de ter um filho,
muito menos com mulher-corça,
grávida ou por demais pesada.

 

 

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-sexual/kama-sutra-texto-completo/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-sexual/kama-sutra-texto-completo/

‘A Experiência Psicodélica

Timothy Leary, Ph.D
Ralph Metzner, Ph.D
Richard Alpert, Ph.D.

Ligar-se, sintonizar-se, libertar-se.

Ligar-se significa voltar-se para dentro afim de ativar os equipamentos neurais e genéticos. Tornar-se sensível aos muitos e diferentes níveis de consciência e aos botões específicos que os acionam.

Sintonizar-se significa interagir harmoniosamente com o mundo exterior: exteriorizar, materializar, expressar as novas perspectivas internas.

Libertar-se sugere um processo ativo, seletivo e suave de separação de compromissos involuntários ou inconscientes. Libertar-se significa autoconfiança, descoberta da singularidade individual, compromisso com a mobilidade, escolha e mudança.”

Ligar-se, sintonizar-se e libertar-se! Chegou a hora de acionar a chave interna para força máxima! Ouçam, ou vocês vão passar o resto de suas vidas como figurantes mal pagos em algum documentário barato, preto-e-branco e amador, ou vão se tornar os produtores dos seus próprios filmes.

– Timothy Leary

Índice

I. Introdução Geral

II. O Livro Tibetano dos Mortos

Primeiro Bardo

Segundo Bardo

As Visões Pacíficas:

Terceiro Bardo

Conclusão e Instruções

Ótimo o livro, o achei no momento certo.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/psico/a-experiencia-psicodelica/

A Montanha de Ouro e o Quadrado Redondo

Alexius Meinong chocou o mundo no início do século XX afirmando alegremente a existência de objetos não existentes: em sua ontologia, coisas como montanhas de ouro, quadrados redondos e unicórnios são tidas como reais. Segundo Meinong, já que é possível falar a respeito de objetos não existentes, eles devem possuir alguma forma de existência, mesmo que seja em algum outro mundo possível. O repositório de tais objetos inusitados é comumente chamado de “selva de Meinong”.

A teoria do realismo modal de David Lewis ajuda a dar sustento a essa tão simpática ontologia. Lewis traduz a sentença: “unicórnios poderiam existir” por “existem unicórnios em outro mundo possível”. Como eu costumo dizer, Leibniz pode ter se equivocado ao afirmar que nós vivemos no melhor dos mundos possíveis, já que aparentemente não habitamos o mundo dos unicórnios.

Em seu livro “On the Plurality of Worlds” o autor defende a existência de seres como dragões e burros falantes. Trata-se de uma leitura bastante edificante, na qual o autor nos lembra que há mundos possíveis nos quais nós somos ovos cozidos. Infelizmente, o autor aponta a dificuldade ou impossibilidade de haver contato entre esses mundos e nos lembra que há um preço a pagar para entrar nesse paraíso filosófico.

Em suas palavras:

“Algumas de nossas opiniões são mais firmes e menos negociáveis do que outras. E algumas são mais ingênuas e menos teoréticas do que outras. E parece haver uma tendência para as mais teoréticas serem mais negociáveis”

O quadrado redondo é particularmente problemático, pois aparentemente trata-se de uma contradição lógica. A teoria de objetos de Meinong gerou debates no campo da filosofia da linguagem, mas o quadrado redondo parece violar a lei da contradição (a segunda das três leis clássicas do pensamento), a qual nos diz que afirmações contraditórias não podem ser ambas verdadeiras, no mesmo sentido e ao mesmo tempo. Mas é claro que uma definição como essa dá espaço para muitos malabarismos epistemológicos.

Há muitos outros sistemas de lógica em uso hoje em dia além da lógica clássica aristotélica, especialmente para complementá-la. A lógica modal, conforme foi previamente referida, acrescenta o princípio da possibilidade. Eu sou um ser humano nesse mundo possível, mas eu poderia ter sido um ovo cozido. E Lewis defende que, de fato, existe um mundo em que eu sou um ovo cozido e isso não contradiz o fato de eu ter forma humana nesse mundo.

Uma possível solução para o problema dos objetos não existentes é a “estratégia da cópula dual”. Na cópula do quadrado redondo é dito que o quadrado redondo possui a propriedade de ser redondo, a propriedade de ser quadrado, todas as propriedades sugeridas por essas duas e nenhuma outra. Ele não clama a propriedade de existência física, mas apenas de existência. Eu não posso ter ao mesmo tempo uma maçã que é uma banana, ou duas maçãs que são quatro maçãs, mas eu posso construir um sistema axiomático em que dado número tenha a propriedade de ser 2 e também de ser 4 (se certas condições forem estabelecidas) se isso for interessante e divertido. Para mais detalhes a respeito dos jogos axiomáticos, leia o post “Mudança de Paradigmas na Ciência“.

É claro que se eu mudo as regras do jogo atual, isso resultará num jogo diferente. Por isso David Lewis nos alerta que, embora possamos negociar especialmente a parte teórica, há um preço a pagar. Você quer tanto assim um quadrado redondo? O que está disposto a sacrificar por ele? Até mesmo axiomas clássicos da matemática? Só porque os teoremas da incompletude de Gödel estabelecem limitações a variados sistemas axiomáticos, você acha que pode criar triângulos retangulares apenas para jogá-los numa selva bastante exótica e encontrar dificuldades sérias para visitá-los?

Talvez você queira me dizer: “Eu prefiro uma montanha de ouro do que um quadrado redondo!” mas eu garanto que incontáveis filósofos sacrificariam essa tentação para em vez disso conquistar o lendário quadrado redondo (cuja existência é bem mais difícil de provar!), que, assim como a quadratura do círculo, tem atormentado mentes desde a Antiguidade. Segundo Emanuel Swedenborg, a quadratura do círculo, por exigir um número infinito de etapas, só poderia ser feita por Deus, que é infinito.

E já que falamos de Deus, o termo “quadrado redondo” já foi bastante usado exatamente para referir-se a algo que Deus não pode fazer. Tomás de Aquino diz que até mesmo um Deus onipotente não pode realizar atos logicamente impossíveis, como criar um triângulo quadrado ou uma pedra que nem mesmo Deus pode erguer (paradoxo da força irresistível). Contudo, devemos lembrar que a filosofia escolástica, e particularmente São Tomás, se basearam fortemente na lógica aristotélica.

Através da lógica modal podemos simplesmente colocar o quadrado redondo na selva de Meinong ou num dos mundos possíveis de Lewis. Alguns ainda se aborrecem com essa solução, já que não acreditam em mundos como esses, uma vez que nunca houve nenhum relato de alguém que tenha pisado nesses lugares e retornado são a nosso mundo. Também nunca ouvimos relatos de alguém que tenha visitado o mundo das ideias de Platão, com seus círculos perfeitos e entidades numéricas, mas as pessoas usam os números mesmo assim porque, independente de existirem ou não, eles são práticos.

Quem sabe, se alguém encontrar uma utilidade para o quadrado redondo, ele seja promovido ao respeitável reino dos objetos existentes. Uma solução elegante seria utilizar o quadrado redondo para resolver o problema da quadratura do círculo e matar dois coelhos com uma só cajadada. Possivelmente isso exigiria um ato de magia negra tão grandioso do qual somente demônios poderiam se ocupar.

Existem incontáveis teorias ontológicas bizarras (e perdidamente adoráveis!) pairando por aí. Uma das minhas favoritas é a de Berkeley, apresentada em “Três Diálogos entre Hylas e Philonous”. Berkeley defende que o mundo material não existe. Segundo ele, acreditar que a matéria possui existência absoluta é uma visão mais cética do que acreditar que a matéria depende da mente, pois dar uma existência absoluta à matéria seria considerá-la eterna e segundo Berkeley é eterno somente Deus e as almas. Os objetos só não desaparecem instantaneamente quando paramos de olhá-los porque Deus está sempre olhando para tudo.

Por que teorias que defendem a existência de objetos inexistentes e questionam a existência dos objetos existentes são tão importantes? Por uma simples razão fundamental: devido à crença atual quase irrestrita no materialismo.

Na época em que vivemos é comum acreditarmos que o mundo material é real e não questionamos isso. Não nos perguntamos seriamente se isso é realmente verdade. Simultaneamente a essa crença está a descrença em realidades espirituais como Deus e espíritos. Normalmente, partimos do pressuposto de que o transcendente não existe e de que a mente é uma mera extensão do cérebro.

Ao longo da nossa história, o materialismo foi bastante raro. Houve os charvakas na Índia, que perderam a continuidade de sua tradição por volta do século XII. Houve também tradições chinesas, mas no que diz respeito à filosofia ocidental, além de alguns pré-socráticos só se ouviu falar disso novamente de forma consistente por volta do século XVIII.

Ainda assim, muita gente toma como óbvio que o materialismo é evidente. E muitos que afirmam não crer no materialismo, agem como se ele fosse a verdade.

Muitas pessoas religiosas ao nosso redor, ou que simpatizam com religiões como cristianismo, budismo, hinduísmo ou qualquer outra, embora aceitem os princípios de sua religião, não compreendem de verdade no que isso implica. Ou aceitam esses princípios apenas superficialmente, sem se preocupar em aplicá-los na vida diária.

Os budistas afirmam que esse mundo é uma ilusão. Então por que tantos budistas se comportam como se não fosse, se apegando a tantas coisas? Os cristãos acreditam que existe Deus e vida após a morte, então por que ficam sempre tão ansiosos com as coisas desse mundo, com medo de adoecer e com medo de ficar sem dinheiro? A crença em Deus deveria bastar para se ficar em paz. Por que é tão difícil encarnar esses ensinamentos?

Eu acredito que a razão principal disso é que o materialismo está tão impregnado em nossa mente, a ponto de atingir os ossos, que não nos permite viver de outra maneira. Creio que o estudo aprofundado de metafísica é um bom começo para passarmos a exorcizar o materialismo de nossas mentes, tendo em vista encará-lo como apenas uma possibilidade dentre um universo de outras teorias.

Infelizmente, muitos daqueles que acreditam em Deus e alma geralmente encaram isso de forma subjetiva. Veem Deus como apenas algo dentro deles e não fora. Acham que céu e inferno são metáforas. É verdade que para religiões como budismo e hinduísmo é preciso quebrar a nossa noção de identidade (destruindo a separação entre aquilo que há dentro de mim e fora de mim), mas religiões como as abraâmicas exigem a crença nessa separação objetiva. Posteriormente devemos nos esvaziar de nós mesmos pela humildade para que reste apenas a presença de Deus em nós, mas antes disso é preciso respeitar a metafísica da religião, para que tal etapa seja possível.

Para que o budista possa avançar em sua espiritualidade, ele deve acreditar que a existência do mundo constitui apenas agregados mentais. Ele não deve apenas aceitar isso superficialmente. Deve acreditar com todas as suas forças. As experiências meditativas irão dar-lhe uma noção mais forte dessa realidade, mas em todo o tempo em que não estiver meditando o budista deverá estudar sua religião seriamente para se munir de argumentos lógicos fortes que provem que é racionalmente aceitável que as coisas materiais não tenham uma “coisa em si”, tal como defendido por Berkeley.

O judeu, cristão ou muçulmano deverá crer profundamente, “de todo seu coração, de toda sua alma, de todas as suas forças e de todo seu entendimento” (como diz Lucas) que Deus existe como realidade objetiva e transcendente fora da mente, e não somente como alma dentro de nós. Deus também deve ser entendido como estando dentro de nós, mas essa é sua parte imanente. A religião só faz sentido quando se crê na realidade espiritual (nem material e nem conceitual) de Deus.

Isso tudo também tem relação com o velho problema dos universais, que remonta a Platão, e tem como possíveis soluções posições como realismo, idealismo e nominalismo. A posição de muitas religiões sobre realidades espirituais é o realismo: a “ideia Deus” como realidade no mundo das ideias platônico, ou mundo espiritual, que contraria a visão de Deus como ideia na mente (idealismo) ou nome, mera definição (nominalismo). Por isso, querer usar a definição de “quadrado redondo” para promovê-lo ao mundo dos objetos existentes é um salto ousado, mas possível.

Tentar entender uma religião não materialista adotando um paradigma materialista só poderá resultar em fracasso. Será como tentar beber uma sopa com um garfo. Por mais que você se esforce, enquanto não estiver determinado a realmente abandonar as suas crenças as quais sempre foi tão apegado, não obterá um real progresso. E começará a chamar essas religiões de supersticiosas e ilógicas, incapaz de identificar as próprias superstições dentro de você.

A maior parte das religiões ou sistemas de crenças espirituais não têm o objetivo de dizer que o mundo material é sujo e cruel. No cristianismo é dito que o nosso mundo é bom, Deus o criou e viu que era bom. Nós podemos ter prazeres nesse mundo, mas o prazer não é tudo que existe e tampouco é o objetivo da vida. Há outro mundo além desse e ele não existe apenas dentro de sua mente. Você possui uma alma imortal, que não deve ser entendida de forma metafórica. Já o budismo diz que a vida é sofrimento, mas também diz que o nascimento humano é o ideal para alcançar o objetivo da vida (a Iluminação) já que nós não sentimos tantas dores como os demônios e nem tanta paz como os anjos, podemos nos focar no nirvana.

No momento em que você opta por certo sistema de crença, não deve tentar interpretá-lo como um curioso desapaixonado. Deve ser como um antropólogo, que tentará pensar como eles, viver como eles, comer como eles. E não praticá-lo pela metade, doando apenas uma parte de você. A entrega mental deve ser total.

É claro, você não tem tempo para isso, precisa estudar, trabalhar e ter lazeres, mas você pode fazer tudo isso e ainda realizar a entrega mental, que exige sacrificar apenas uma coisa muito preciosa para nós: o orgulho de pensar que já sabemos o que é o mundo.

Os magistas do caos geralmente conseguem se adaptar a um grande número de sistemas de crença, porque embora não interpretem literalmente o “Nada é verdadeiro, tudo é permitido”, eles investigam seriamente suas possibilidades. Eles sabem que o materialismo não é o único paradigma existente e nem o melhor. Sabem que até mesmo a lógica e a matemática estão sujeitas a falhas e nossos sentidos físicos podem nos enganar. Como nos lembra a Teoria do Caos, uma montanha não é um cone perfeito. Não existem círculos perfeitos na natureza. Tomar a matemática como “verdade” e o mundo material como “real” sem maiores investigações, não é muito diferente de uma crença cega.

Em que mundo você prefere viver? Um mundo de unicórnios, montanhas de ouro e quadrados redondos? Ou um mundo de prazer material que termina com a morte? Para a pergunta “Céu é escapismo?” responde C.S. Lewis: “Quem fala mais contra ‘escapismo’? Carcereiros”. Enquanto uma pessoa tenta escapar para o céu, a outra tenta escapar com os prazeres dos sentidos. Mas enquanto tentarmos meramente escapar de alguma coisa, nós estaremos nos aprisionando ainda mais.

No momento em que nos propusermos a uma busca honesta pela verdade, aliando razão, emoção, experiências dos sentidos e uma mente aberta, não haverá o que temer: nem burros falantes e nem ovos cozidos. É claro que pode ser assustador desafiar nossas concepções de mundo. David Lewis não disse que o processo seria de graça. Pode ser bastante doloroso agora, mas lá no horizonte há uma montanha de ouro. E, se você tiver sorte, unicórnios.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/a-montanha-de-ouro-e-o-quadrado-redondo

A lenda de yōtō, as lâminas vampiras

Shirlei Massapust

Num belo dia de azar o xogum Tokugawa Ieyasu (1543-1616) conheceu um ferreiro lendário, chamado Sengo Muramasa, cuja oficina estava situada em Kuwana, na província de Ise, Japão. As pessoas falavam coisas estranhas sobre ele, que nasceu em 1341 e que foi aluno do grande Masamune[1], embora o homem estivesse ali vivo e atuante uns bons duzentos anos depois e, mais tarde, haja sumido sem registro de óbito.

O xogum ficou encantado pela qualidade das lâminas de Muramasa e comprou dele um daishō; conjunto geralmente composto por uma espada curta wakizashi e uma espada longa kataná. O ato de vestir o daishō foi um símbolo do poder da classe samurai de 1588 a 1876, quando o Ato de Abolição da Espada foi instaurado pelo regime Meiji. Mas esse ficou exposto no castelo e participou de todos os piores infortúnios recaídos sobre o clã Tokugawa. Em 29 de dezembro de 1535 um funcionário do castelo, Abe Masatoyo, usou a kataná para matar por engano Matsudaira Kiyoyasu, avô de Ieyasu.

Em 1548 um aliado e amigo da família, Iwamatsu Hachiya, totalmente bêbado, perfurou Matsudaira Hirotada, pai de Ieyasu, que sobreviveu ao atentado. Em 5 de outubro de 1579 outro aliado, Amagata Michitsuna, em sã consciência, por uma questão de tradição e respeito, usou a kataná para decapitar Matsudaira Nobuyasu, o filho primogênito de Ieyasu, na ocasião em que este foi forçado a cometer seppuku.

Arai Hakuseki, historiador oficial do xogunato, não pôde deixar de mencionar em documentos oficiais que “Muramasa está associado a muitos eventos aterrorizantes”.[2]  O próprio Ieyasu tinha dificuldade de manejar aquelas lâminas e feriu a si mesmo, acidentalmente, duas vezes. Então sua admiração se transformou em medo. Na Batalha de Sekigahara, Nagatake cortou a crista do elmo de Toda Shigemasa, e Ieyasu pediu para ver a arma que ele havia usado. Ao examinar a inscrição do nome do ferreiro na espiga oculta constatou que também aquela era um produto da oficina de Muramasa.

Mesmo sabendo que lâminas perfeitamente afiadas podem cortar seus usuários em momentos de descuido, imprudência ou imperícia, em 1787 o autor do romance histórico Kashiwazaki Monogatari (  物語) relatou uma lenda onde Ieyasu teria descoberto que, na verdade, Muramasa iniciou uma linha de produção de yōtō (妖刀); termo originário do idioma nihongo composto por kanjis que indicam uma kataná (刀) imbuída de energia yōkai (妖). Ou seja, a yōtō seria de certo modo um objeto senciente, funesto, imbuído de poderes sobrenaturais… Portanto Ieyasu finalmente teria proibido seu uso para a parcela restante de sua família.[3] Segundo Markus Sesko[4], alguns estudos históricos locais da antiga província de Ise narram outra lenda onde Masamune teria visitado o Santuário de Ise e aceito o jovem Muramasa (村正), como seu aluno.

A propósito, a lenda frequentemente citada sobre Masamune e seu suposto aluno Muramasa tendo uma competição sobre a potência de corte de suas espadas não deve passar despercebida aqui. A competição era para que cada um suspendesse suas lâminas em um pequeno riacho com a ponta virada para a corrente. A espada de Muramasa cortava tudo que passava; peixes, folhas flutuando rio abaixo. Muito impressionado com o trabalho de seu pupilo, Masamune baixou sua espada na corrente e esperou pacientemente. Nem uma folha foi cortada, o peixe nadou até ela, e o ar assobiou enquanto soprava suavemente pela lâmina. Depois de um tempo, Muramasa começou a zombar do mestre por sua aparente falta de habilidade na fabricação daquela espada. Sorrindo para si mesmo, Masamune puxou sua espada, secou-a e embainhou-a. O tempo todo, Muramasa o estava importunando pela incapacidade da lâmina de cortar qualquer coisa. Um monge, que estava assistindo a toda a provação, aproximou-se e curvou-se para os dois mestres de forja. Ele então começou a explicar o que tinha visto. “A primeira das espadas, por opinião unânime, é uma espada fina, no entanto, é sedenta de sangue, lâmina maligna (yōtō, 妖刀), pois não discrimina entre quem ou o que cortará. Pode tanto estar cortando borboletas quanto decepando cabeças. A segunda espada foi de longe a mais fina dos duas, pois não corta desnecessariamente o que é inocente e não merecedor”. Ao cortar tudo o que a tocava, a espada de Muramasa mostrava sua natureza sanguinária e maligna. Como tal, isso levou a uma tradição de que uma lâmina de Muramasa deve provar sangue antes de ser embainhada.[5]

Era esperado das armas e armaduras samurai que não fossem meros objetos inanimados, mas sim artefatos moralmente dignos. Essa atitude em relação às lâminas estava impregnada de religiosidade popular. Segundo Gilbertson, “havia as nefastas; outras que traziam felicidade e longevidade, e hinken, espadas que davam riqueza e poder”.[6] Sempre que a jovem Gō caia enferma duma febre misteriosa o seu pai, xogum Toyotomi Hideyoshi, pedia emprestada a espada mágica Ōtenta-Mitsuyo que era posta próxima à cama da moça adoentada para cortar energias negativas.[7]

Um menuki[8] japonês desmontado, em formato de morcego, animal que traz sorte.[9]

Quanto aos produtos da forja de Muramasa, todas as lâminas acabaram sendo julgadas indignas por especialistas oficiais, como Honami Kotobu, e foram removidas dos registros da guilda especializada.[10] Segundo George Cameron Stone, embora o trabalho de Muramasa seja da mais alta qualidade, seu nome é frequentemente deixado de fora das listas de fabricantes célebres por causa da reputação de produtos aziagos que desgraçam seus portadores – especialmente quando empunhadas por membros da família Tokugawa, ao ponto de seu uso ser uma vez proibido na corte do xogum. – “Há uma superstição de que suas lâminas tinham sede de sangue e não davam descanso aos seus donos, impelindo-os a matar outrem ou a cometer suicídio”.[11]

Até hoje, embora a escola Muramasa seja muito conhecida na cultura popular, nenhuma de suas espadas foi tombada ou designada como Tesouro Nacional. Porém, há quem as deseje justamente pela força da lenda. No período Bakumatsu (1853-1868), tais armas foram buscadas pela oposição política, os ativistas anti-Tokugawa, devido ao temor reverencial que inspiravam a toda a gente em favor da causa shishi.

Lâmina de espada Myōhō Muramasa (勢州桑名住村正) exposta no Museu Nacional de Tóquio.

Embora lâminas da escola Muramasa não fossem ostentadas pela família imperial em tempos de paz, uma daquelas espadas terríveis foi empunhada pelo príncipe Arisugawa Putito, comandante-chefe do Exército Imperial contra o Xogunato Tokugawa durante a Guerra Boshin (1868-1869). Para atender à demanda perene e crescente, as falsificações se tornaram comuns durante esse período histórico.[12] Ao menos, é claro, que o lendário ferreiro imortal continuasse assinando profusamente sua inigualável arte bélica aos quinhentos e vinte e sete anos de idade.

A arte imita a vida

O heroísmo samurai vem impulsionando as peças do teatro kabuki desde que essa forma teatral surgiu no século XVII como entretenimento para as classes plebeias. Contudo a própria classe militar era proibida de assistir kabuki, por questões de honra. Eles assistiam somente aos espetáculos privados do teatro . Isso criou um espaço ideal para veiculação ideológica da oposição política nos roteiros sensacionalistas do kabuki. Afinal, como diz um velho bordão, quando o gato sai os ratos fazem a festa.

Histórias estranhas e extraordinárias comumente viravam folhetos ilustrados e peças do teatro popular; cujas arquibancadas eram vistas muito mais cheias antes da invenção da televisão. Suiken Fukunaga localizou representações de lâminas yōtō saídas da forja de Muramasa em vários dramas dos séculos XVIII e XIX, especialmente Katakiuchi Tenga Jaya Mura ( 天下 茶屋 ) (1781), Hachiman Matsuri Yomiyano Nigiwai (八幡祭小望月賑) (1860), Konoma no Hoshi Hakone no Shikabue (木間星箱根鹿笛) (1880) e Kago-tsurube Sato-no-Eizame (籠釣瓶花街酔醒) (1888).[13]

A peça Hachiman Matsuri Yomiyano Nigiwai, escrita por Kawatake Mokuami, foi representada pela primeira vez no teatro Ichimura, em agosto de 1860, em Edo. Originalmente foi dividida em seis atos com temas baseados na queda duma ponte durante um festival xintoísta em 1807, no incidente do assassinato de uma gueixa em 1820, e também no episódio fictício onde o cotidiano do protagonista Kirare Yosa acaba permeado por problemas familiares causado por uma yōtōmuramasa (妖刀村正).[14]

Atores Ôtani Tomoemon IV, Arashi Rikan III, e Ichikawa Kodanii IV interpretando os papéis de Adachi Motoemon, Hayase Iori e Tôma Saburôemon no terceiro ato do drama Katakiuchi Tenga Jaya Mura (敵 討 天下 茶屋 聚), que foi encenado no 5º mês lunar de 1854 no Kawarasakiza (gravura impressa por Utagawa Kuniyoshi).

Quando, na vida real, Sano Jirōzaemon foi à zona de prostituição e matou sua amasia Yatsuhashi, as pessoas disseram que ele também portava uma yōtō. Este caso foi biografado com viés sensacionalista no drama kabuki Kago-tsurube Sato-no-Eizame, escrito por Kawatake Shinshichi III, que identificou a espada como uma das lendárias lâminas forjadas por Muramasa. No fim da peça Sano Jirōzaemon, interpretado por Ichikawa Sadanji I, surge curado duma doença de pele, usa a mulher para testar o fio de corte da sua nova arma e afirma satisfeito: “A kago-tsurube (籠釣瓶) é muito afiada”.[16]

Na vida real, quando Matsudaira Geki foi levado à loucura pelo assédio moral de seus superiores e os matou no Castelo de Edo no 6º ano de Bunsei (1823), os habitantes da localidade espalharam o boato de que o homicida usou uma espada de Muramasa, embora a perícia não haja localizado nenhuma assinatura oculta na espiga daquela lâmina em particular. Segundo Suiken Fukunaga, este incidente mostra quão grande foi a influência dos dramas kabuki sobre as pessoas comuns. [17]

Ilustração pintada por Chikashige Morikawa (守川周重), retratando uma cena de Konoma no Hoshi Hakone no Shikabue (木間星箱根鹿笛) (1880), publicada por Fukuda Kumajiro, em 1880.

Como forjar uma yōtō?

O colecionador britânico Edward Gilbertson (1813-1904) consultou documentos de fabricação de espadas japonesas que apresentavam Muramasa como “um ferreiro muito habilidoso, mas uma mente violenta e desequilibrada à beira da loucura, que supostamente havia passado para às suas lâminas”.[18] Daí a sede de sangue.

A manufatura começava com a composição de um lingote de aço de damasco chamado kawagane (皮鉄), o “coração de aço”, preparado em uma fornalha aberta chamada tatara (鑪). Depois o lingote era enrolado em torno do segundo aço, mais leve, chamado shingane (心鉄), a “pele de aço”, e ambos eram malhados juntos até adquirir o formato da kataná. Finalmente, a lâmina era aquecida ao rubro e recebia têmpera em água, para endurecer. Numa variante da lenda – provavelmente um posicionamento minoritário – este é o momento em que a forja duma yōtō difere da criação regular.

Louis Wertheimber, no romance histórico A Muramasa Blade: A Story of Feudalism in Old Japan (1887), descreveu os arredores do lar do ferreiro repleto de cadáveres dessangrados. O falatório na vizinhança teria levantado a suspeita de que Muramasa realizava a tempera do aço numa solução de sangue humano recém-derramado. “A época era supersticiosa o suficiente para acreditar que tal procedimento realizado corretamente traria resultados maravilhosos; e a maravilhosa excelência das produções de Muramasa favoreceu esse raciocínio”.[19]

Falando sobre a vida real e o quotidiano de todos os ferreiros laminadores do tempo dos samurais, Aline Ribeiro nos instrui: “A lâmina é o mais importante e, antigamente, o teste de qualidade chegava a ser feito em corpos de criminosos mortos e, eventualmente, vivos. Para checar se a lâmina era mesmo confiável, samurais costumavam emboscar cidadãos comuns nas vielas”.[20] Sendo assim se justifica o argumento de Louis Wertheimber, segundo quem “A vida humana era considerada barata o suficiente, enquanto boas espadas eram raras; e se fosse necessário sangue humano para fazer uma, alguns mercadores e vagabundos poderiam ser supridos”.[21]

O próprio Muramasa estaria, sem dúvida, ciente da lenda urbana criada em torno de sua pessoa e nunca a contradisse, seja por palavra ou sinal. Ele provavelmente tinha sabedoria mundana suficiente para supor que a atmosfera de mistério em que, por relato comum, ele vivia, gerava um marketing que aumentava o valor de seus produtos.

Em seu romance histórico Louis Wertheimber fantasia o encontro do famoso ferreiro com um jovem samurai avido pela obtenção duma boa espada. Muramasa fala:

“Os deuses foram gentis comigo e me recompensaram por minhas orações, concedendo-me técnica e habilidade; responderam ao meu jejum e minha devoção, meus dias e noites de labuta incansável, permitindo-me descobrir muitos segredos que são desconhecidos para os outros. Oh, os tolos, os tolos! pensam que o aço está morto porque é frio e imóvel e sem vida aparente! Três vezes dito tolos e idiotas! Eles matam a vida que existe no ferro como vem da natureza, e não dão outra em troca; e ainda assim eles sabem por seus antepassados, e aprenderam a tagarelar, que a espada é a alma viva do samurai.

“Há vida nesta lâmina que lhe dou hoje, meu rapaz, – vida melhor, mais fina e mais rica do que na maioria dos rudes que tentam fabricar uma espada. Mas lembre-se que, a menos que você a use com sabedoria e cuidado, esta espada é um presente perigoso. Nunca a desembainhe ao menos que você precise de sua ajuda; nunca a devolva à bainha sem usá-la; e nunca a deixe embainhada por mais do que um ciclo de doze anos. Se você por alguma fatalidade imprevista a tiver puxado e exposto à luz do sol, da lua ou das estrelas sem poder usá-la no inimigo que o provocou, antes de devolvê-la à sua bainha, use-a em algum animal inferior; mas nunca pense em embainhar sem que a lâmina tenha entrado em contato com o sangue de algo ainda vivo. Se você agir assim, achará nesta lâmina uma amiga devotada; ela obedecerá e até mesmo antecipará seus pensamentos e desejos; com a menor orientação, atingirá seus inimigos e oponentes em seus pontos mais fracos até a morte, independentemente da quantidade e da corarem destes, apesar da armadura e do elmo. Mas se você falhar em obedecer às instruções que lhe dei, a lâmina se voltará contra ti e o vitimará com igual certeza; e mesmo que você a enterre no oceano profundo ela não deixará de se vingar de ti.”[22]

Acreditava-se que a personalidade, muitas vezes impressionante, do ferreiro individual era refletida ou incorporada de forma animista nas lâminas que ele forjava.  Porém, noutras mídias, as espadas não precisavam ser batizadas em sangue para se tornarem yōtō. Aliás, em Dororo (どろろ; 1969) nós vemos a cena da forja de yōtōnihiru em água pura. O narrador do episódio explica a lenda corrente no modo como a tradição oral se adaptou, revelando que qualquer uso abusivo, excessivo e imoral por parte de qualquer um dos portadores de armas brancas encarnava uma sombra viva.[23]

Persistência da lenda na cultura popular japonesa do pós-guerra

Osamu Tezuka, no capítulo Yōtō no Maki (妖刀の巻) do romance gráfico Dororo (どろろ), publicado em 1967, apresentou o personagem Tanosuke (田之介), um samurai que recebeu de seu perverso daimyō a ordem de matar todos os construtores dum prédio fortificado, por medida preventiva, a fim de que nenhum deles revelasse métodos secretos de burlar a segurança daquele prédio aos inimigos do feudo.

Tanosuke titubeou, argumentando que é moralmente incorreto executar gente sem culpa, apenas por eles saberem demais. Então o daimyō lhe entregou uma kataná e insistiu que assassinasse uma dezena de inocentes. Uma vez cumprida a ordem, Tanosuke enlouqueceu, desgarrou-se e começou a vagar pelo Japão matando qualquer um que cruzasse seu caminho. Essa incessante busca por sangue tinha por objetivo alimentar o objeto. Sua espada foi chamada yōtōnihiru (妖刀似蛭) porque tal kataná era ou tornou-se o corpo verdadeiro do yōkai chamado Nihiru (似 蛭), cujo nome é composto por kanjis que o descrevem como semelhante (似, ni) à sanguessuga (蛭, hiru).

Uma yōtō influencia o usuário humano ao ponto de supressão da consciência. Por isso, no importante momento em que se apresenta para lutar contra Hyakkimaru, ele diz: “Não sou tão importante a ponto de ser nomeado. Esta espada se chama Nihiru. É uma espada que até hoje já fez jorrar o sangue de dezenas de inimigos. A guerra acabou, mas ela se acostumou com o gosto do sangue e não consegue se segurar”.[24]

Na versão televisiva, veiculada em 1969, à época em que Osamu Tezuka era vivo, Tanosuke lamenta: “Eu me tornei um escravo da espada”.[25] Guts, blogueiro geek, traduziu a cena à sua perspectiva onde Hyakkimaru enfrenta o objeto e seu usuário possesso: “Tanosuke era um bom soldado que foi corrompido pela lâmina e se transformou em uma casca sedenta de sangue de seu antigo eu. Ele é compelido pela espada a matar pessoas inocentes, algo impensável para o verdadeiro Tanosuke”.[26]

O antagonista fala aos escolhidos: “Embora eu não queira me precipitar nesta batalha, ele (Nihiru) não me dá ouvidos. Depois de sentir seu cheiro esta espada está sedenta para beber seu sangue. Sinto muito, mas estejam preparados para morrer”.

Quando Dororo furta a yōtōnihiru ele passa a ouvir uma hipnótica voz masculina repetindo: “Eu quero sangue”. Afetado, mas não totalmente fora de si, ele mata cães de rua. A voz então especifica que anseia por derramamento de sangue humano. Alguma ação acontece até que a lâmina volte às mãos de Tanosuke.[27] Este não consegue sangrar Hyakkimaru por mais que tente, pois ele não é apenas um espadachim excepcional; Hyakkimaru é praticamente um boneco com quase nada de humano. Num ato final, Tanosuke fala à yōtōnihiru: “Experimente o meu sangue! Aproveite… Esta é a sua última refeição!” Então crava a lâmina em seu próprio pescoço.[28]

Ilustração pintada por Chikashige Morikawa (守川周重), retratando uma cena de Koizumo Yawaragi Soga (1880), publicada por Fukuda Kumajiro, em 1882.

Cenas de rejuvenescimento

Na peça Kago-tsurube Sato-no-Eizame (1888) a pose da espada kago-tsurube fez com que um portador de boa índole e má aparência se transformasse num homicida de boa aparência, curado da doença de pele hereditária que o desfigurou ainda no útero. No romance gráfico Dororo (1967) e na série animada homônima (1969) a posse da espada yōtōnihiru fez com que o antagonista calvo voltasse a ter cabelo em abundância; algo que só o fez parecer ainda mais louco por perambular despenteado e esfarrapado.

Na versão de 2019 do seriado há uma inovação: a espada aparece com pontos de ferrugem quando entregue a Tanosuke e assume aparência de lâmina nova após ser molhada em sangue humano. Quando destruída, retorna à aparência de lâmina velha e enferrujada. Assim se comporta como um vampiro que rejuvenesce ao beber sangue.

Certa vez, conversando com a socióloga Daniele Aguiar a respeito do processo de envelhecimento duma espada japonesa, ela opinou que o enferrujamento de lâminas aumenta o risco de causar tétano[29] àqueles que forem feridos por elas. Antes que a erosão por ferrugem se agrave ao ponto de destruir o metal, haveria um lapso de tempo onde a presença de bacilos tetânicos potencializaria a letalidade da arma branca. Sendo assim, pode haver fundamento na lenda onde armas antigas adquirem uma capacidade de ferir para além do normal, observável por meio da relação de causa e efeito.

Espadas vivas e cura de sangue em Castlevania

Sessenta e nove espadas diferentes podem ser equipadas pelo vampiro Alucard no jogo Akumajō Dracula X: Gekka no Yasōkyoku (悪魔城ドラキュラX 月下の夜想), e em sua versão estadunidense Castlevania: Symphony of the Night, ambos produzidos pela Konami, em 1997. Quem teve a ideia de eliminar o sistema de fases presente nos treze jogos anteriores da franquia e introduzir um amplo arsenal, itens de vestuário, etc., foi o diretor Kōji Igarashi, que, por meio deste trabalho, se tornou o fundador informal dum subgênero dos jogos de ação chamado metroidvania.

A maioria das espadas imaginadas por Kōji Igarashi são relativamente comuns, porém algumas tem vida própria e sede de sangue. Após localizar e ativar a relíquia kenma no moto (剣魔の素) nosso avatar, o vampiro Alucard, começa a ser seguido por tsukaimanoken (つかい魔の剣)[30], uma espada mágica voadora que toma iniciativas para protege-lo. Inicialmente a tsukaimanoken golpeia o entorno de modo circular. O item sobe de nível conforme o número de oponentes vencidos.  Quando seu nível ultrapassa os cinquenta pontos a tsukaimanoken se torna equipável[31], com poder de ataque igual ao nível atingido, sendo uma das armas brancas mais fortes do jogo.[32] Foi essa espada que libertou Alucard das amarras da traiçoeira dupla Taka e Sumi no oitavo episódio da terceira temporada de Castlevania, o qual estreou na Netflix em 05/03/2020.

No jogo desenvolvido para o console PlayStation, o diretor Kōji Igarashi também introduziu a poderosa Crissaegrim (クリセグリム), derrubada por Schmoo[33] no mesmo mapa onde empalados utilizados como espantalhos deixam cair yōtōmuramasa (ようとうむらまさ).[34] Basta seu avatar equipar uma Crissaegrim que o jogo acaba para ele, pois tudo é destruído com facilidade e nada mais pode vencê-lo. Os cenários são atravessados com pressa, antes mesmo da conclusão de sua aclamada trilha sonora. Ao toque de um botão de ataque até os chefes de fase estouram indefesos como bolhas de sabão, sem oportunidade de exibir movimentos ou golpes especiais.

Por tudo isso houve quem se queixasse de prejuízo à jogabilidade. Ninguém vence uma guerra com honra jogando duas bombas atômicas sobre a população civil. Ninguém aprecia a sinfonia da noite correndo em enxurrada como as águas bravias dum rio durante a tempestade. Transformar a pior dentre as espadas do inventário no melhor equipamento possível foi o objetivo da parcela minoritária de jogadores que desejava tirar o máximo de proveito do jogo, passando muitas horas entretidos pela emoção da dificuldade, evoluindo Alucard por mérito, fazendo malabarismo no console para ativar seus golpes especiais e vendo tudo que os oponentes são capazes de fazer.

No início a yōtōmuramasa é uma espada de duas mãos de baixo dano, que reduz cinco pontos de ataque e quatro de defesa quando equipada. Ela rejeita um portador fraco, travando durante a luta se o ataque de Alucard for inferior a onze pontes. Ela temporariamente amaldiçoa o vampiro e foge de suas mãos até que ele encontre e ative o poder da relíquia shinzō (心臓), o coração de Vlad Ţepeş.

O jogador inexperiente prontamente rechaçará uma kataná que o atrapalha mais do que ajuda. Porém, não sem motivo, a maioria dos monstros que dropam tal item habitam o cenário da biblioteca do castelo. O jogador instruído intuirá que uma espada que leva o nome do ferreiro Muramasa não pode ser verdadeiramente fraca, por pior que pareça à primeira vista. Acontece que yōtōmuramasa possui uma habilidade oculta, que ativa o efeito estético de resplandescência duma aura vermelho-sangue em seu portador. (Assim o jogador desinformado percebe que algo de diferente aconteceu).

A espada é fortalecida sempre que Alucard, estando ferido, usa-a para sangrar um oponente e os respingos de sangue alheio caem sobre ele, curando-o. Curiosamente tal propriedade vampírica dobra quando o porte da yōtōmuramasa é combinado com uso do pingente buraddosutōn (ブラッドストーン), a “pedra de sangue”.[35]

Com o contínuo progresso do personagem sua velocidade de manejo da espada é otimizada e o tempo do efeito da maldição diminuído. Após atingir trezentos e quinze pontos seu ataque passa a subir de dois em dois pontos, ao invés de um em um. Neste jogo a yōtōmuramasa potencialmente pode evoluir até o limite de novecentos e noventa e nove pontos de ataque caso alguém tenha a infinita paciência de usá-la até Alucard receber mais de um milhão de curas de sangue.[36] Deve haver algum comando oculto de ativação da potência máxima da yōtōmuramasa, pois embora tamanho trabalho seja humanamente impraticável, na internet tem gente matando a cobra e mostrando pau.[37]

 Tanosuke portando a espada yōtōnihiru numa cena do sétimo episódio de Dororo (どろろ; 1969) e yōtōmuramasa no jogo Akumajō Dracula: Yami no Juin (悪魔城ドラキュラ 闇の呪印; 2005).

Na ocasião de lançamentos de novos jogos da franquia alguns poderiam lastimar o desperdício do trabalho após uma canseira hercúlea. Então os projetistas da Konami deram um subterfúgio aos jogadores. Na versão original de Castlevania: Symphony of the Night para PlayStation, apertar todos os quatro botões do joystick mais SELECT e START faz com que o console retenha o nível atual da yōtōmuramasa em sua memória RAM. Depois, se for carregado outro arquivo de jogo no qual o avatar do jogador também tenha uma yōtōmuramasa, o nível será passado para o item daquele jogo. Salvar o jogo definirá permanentemente o novo valor de ataque para a espada.[38]

Para não se prender somente ao folclore nipônico ao dirigir a produção de um importante item de exportação, Kōji Igarashi introduziu mais duas espadas que ativam a cura de sangue em avatares vampiros nos jogos da saga. São a nórdica Dáinsleif (ダインスレイフ)[39] e a genérica Mōnburēdo (モーンブレード), a lâmina do gemido, uma “devoradora de almas”. Porém ambas são notoriamente inferiores à yōtōmuramasa.

Espada Muramasa em Ragnarök Online

Seu avatar é atacado por hordas de mortos vivos e demônios funestos ao entrar em determinados mapas do MMORPG Ragnarök Online (라그나로크 온라인)[40], o qual é desenvolvido pela empresa sul-coreana Gravity Corp. À época do lançamento, em 2002, os melhores locais para encontra-los eram a caverna de Payon, o Navio Fantasma e as ruínas de Glast Heim. Num desses cenários (gl_cas02) brota um looping infinito de monstros “andarilhos” de modo que o mapa está sempre repleto de quarenta e um deles, não importa quantos você derrote. São mortos-vivos semidecompostos vestidos com roupas típicas nipônicas e portando espada kataná. Parecem corpos de samurais ronin.

Existe 0,10% de chance de cada andarilho derrotado deixar cair a espada de duas mãos Muramasa, equipável por avatares da classe espadachins e evoluções a partir do nível 48 da evolução do avatar. A Muramasa é uma arma de nível quatro[41] que aumenta o ataque crítico em trinta pontos e a velocidade de ataque em 8%. Sem dúvida um excelente item de jogo. Sua descrição informa ser uma “espada oriental, batizada com o nome do famoso artesão do antigo Japão”.

Segundo a descrição, ao realizar ataques físicos com a Muramasa deveria haver uma “pequena chance de infligir maldição[42] no usuário”; porém essa pequena chance é eufemista para o tempo inteiro. O que ocorre de fato? Você mira em qualquer coisa e seu avatar fica vermelho, andando lentamente na companhia da Morte, com manto e foice. Os jogadores ficam maravilhados pela estética do efeito. É impossível enjoar. Antes de causar aborrecimento ou atrapalhar a jogabilidade, a maldição da Muramasa é diversão garantida. O único problema é ter de andar com estoque de água benta produzida por noviços e evoluções para destravar a corrida em caso de urgência.

Um personagem do jogo, antigo membro da guilda dos espadachins, evoluído para a classe dos cavaleiros, um destacado guerreiro de nome Seyren Windsor, foi tão afetado pela maldição do equipamento coletado em Glast Heim que ele efetivamente se tornou um possesso chefe de mapa. Ao derrotar uma das versões de Seyren há 0,05% de dropar a Muramasa que ele presumivelmente espoliou do ronin andarilho.

Em 09/11/2005 o jogo Ragnarök Online recebeu a importante atualização que adicionou os mapas Amatsu e Kunlun, com novas missões, monstros e equipamentos. Em Amatsu o chefe de mapa Samurai Encarnado é uma criança controlada pelo espírito dum samurai adulto que, pelas vestes, parece o cadáver de um daimyō ou pelo menos alguém bem mais rico que o andarilho. Este monstro deixa cair, a 0,03% de chance, a espada de duas mãos Masamune descrita como “a grande obra-prima do maior artesão japonês”. Equipável por espadachins transclasse e evoluções a partir do nível 48, essa arma de nível quatro reduz cinco pontos de força, reduz 75% da defesa, aumenta a esquiva em trinta pontos e a velocidade de ataque em dois.

A carta do monstro Samurai Encarnado é considerada muito boa. Ela é gerada no inventário do MVP (most valuable player) a 0.01% de chance. Equipa em slot de arma. Ignora toda a defesa dos personagens e monstros, com exceção dos chefes de mapa. Impede a regeneração natural de HP. Drena 666 de HP do usuário a cada 10 segundos. Drena 999 de HP ao desequipar. Seu prefixo é Bloodlust. Isso significa que se equipada numa rara Muramasa [2] a arma se transforma em Bloodlust Muramasa.

Referências:

DORORO どろろ: Yōtō Nihiru No Maki Sono ichi (妖刀似蛭の巻 ・その一). Sétimo episódio da série produzida pelo estúdio Mushi Production (虫プロダクション), exibido pela TV Fuji (フジテレビ) em 18/05/1969. (Cópia e legenda de fansub).

DORORO どろろ: Yōtō Nihiru No Maki Sono ni (妖刀似蛭の巻 ・その二). Oitavo episódio da série produzida pelo estúdio Mushi Production (虫プロダクション), exibido pela TV Fuji (フジテレビ) em 25/05/1969. (Cópia e legenda de fansub).

FUKUNAGA, Suiken. Nihontō Daihyakka Jiten (日本刀大百科事典). Japão, Yūzankaku, 1993. ISBN 4-639-01202-0.

GILBERTSON, Edward. Japanese Sword Blades: A Paper Read Before the Japan Society of London, Nov. 24, 1897. Reino Unido, Uitgever Niet Vastgesteld, 1898. 29p.

RATTI, Oscar & WESTBROOK, Adele. Secretos de los Samurai: Estudio de las artes marciales del Japón feudal. Traducción: Josep Padró Umbert. Espanha, Paidotribo, 2006. 578p. ISBN:9788480194921, 8480194928

RIBEIRO, Aline. Guia Conhecer Fantástico Extra: Samurai & Ninja. São Paulo, OnLine, 2015. 98p. ISBN 978-85-432-0997-5.

SESKO, Markus. Legends and Stories Around the Japanese Sword. Alemanha, Books on Demand, 2011. 184p.

SESKO, Markus. Masamune – His Work, His Fame and His Legacy. Morrisville, Lulu Press, 2015. 182p. ISBN:9781329004139, 1329004132

SIMAN, Leandro Gusmão; SOUZA, Fabio Santana de; LIVRAMENTO, Gilson P.; PAULA, Donizete de; LETONAI, Homero & ARAKI, Eric. Castlevania: Symphony of the Night: Estratégia completa, mapas inteiros para o castelo normal e invertido e lista de itens. Em: ALMANAQUE WORLD GAMES. Ano I, nº 1. São Paulo, Editora Canaã, p 45-82.

STONE, George Cameron. A Glossary of the Construction, Decoration, and Use of Arms and Armor in All Countries and in All Times. New York, Dover Publications, 1999. 460p. ISBN 978-0-486-40726-5.

TEZUKA, Osamu. 妖刀の巻 Espada Demoniaca. Em: TEZUKA, Osamu. Dororo: Volume 2. São Paulo, New Pop, 2011, p 55-114.

WERTHEIMBER, Louis. A Muramasa Blade: A Story of Feudalism in Old Japan. Boston, Ticknor, 1887. 188p. Digitalizado e disponibilizado para download gratuito em: <https://www.google.com.br/books/edition/A_Muramasa_Blade/iz4WAAAAYAAJ?hl=pt-BR&gbpv=0>.

[1] RATTI, Oscar & WESTBROOK, Adele. Secretos de los Samurai: Estudio de las artes marciales del Japón feudal. Traducción: Josep Padró Umbert. Espanha, Paidotribo, 2006, p 323.

[2] DECHI, Bird. Review Muramasa. Em: DECHI, Bird. Hanya Seorang Penggemar Nasuverse. Indonésia, 03/01/2021. URL: <https://sehai-kun.blogspot.com/2021/01/review-muramasa.html>.

[3] Em 1849 oTokugawa Jikki (徳 川 實 記), um livro de História, endossou a obra anterior.

[4] O tradutor profissional de nihongo Markus Sesko é um colecionador de espadas japonesas, membro da Associação para a Pesquisa e Preservação dos Elmos e Armaduras Japonesas.

[5] SESKO, Markus. Masamune – His Work, His Fame and His Legacy. Morrisville, Lulu Press, 2015, p 73-74.

[6] RATTI, Oscar & WESTBROOK, Adele. Secretos de los Samurai: Estudio de las artes marciales del Japón feudal. Traducción: Josep Padró Umbert. Espanha, Paidotribo, 2006, p 323.

[7] SESKO, Markus. Legends and Stories Around the Japanese Sword. Alemanha, Books on Demand, 2011, p 34-35.

[8] Menuki (目貫) é um ornamento que fica localizado em ambos os lados da empunhadura da espada (tsuka) parcialmente coberto pela corda (ito). Originalmente o menuki foi adicionado com o propósito de esconder o mekugi (pino de bambu), mas que posteriormente foi mudado de posição para facilitar a montagem de desmontagem da espada.

[9] ALAMEDDINE, Rabih. Japanese Menuki (目貫) (sword mountings) in the shape of bats. Postado no Twitter em 13/09/2020. URL: <https://twitter.com/rabihalameddine/status/1305292304551350273?lang=cs>.

[10] RATTI, Oscar & WESTBROOK, Adele. Secretos de los Samurai: Estudio de las artes marciales del Japón feudal. Traducción: Josep Padró Umbert. Espanha, Paidotribo, 2006, p 323.

[11] STONE, George Cameron. A Glossary of the Construction, Decoration, and Use of Arms and Armor in All Countries and in All Times. New York, Dover Publications, 1999, p 460.

[12] DECHI, Bird. Review Muramasa. Em: DECHI, Bird. Hanya Seorang Penggemar Nasuverse. Indonésia, 03/01/2021. URL: <https://sehai-kun.blogspot.com/2021/01/review-muramasa.html>.

[13] FUKUNAGA, Suiken. Nihontō Daihyakka Jiten (日本刀大百科事典). Japão, Yūzankaku, 1993. Citado no verbete MURAMASSA, na WIKIPEDIA. <https://en.wikipedia.org/wiki/Muramasa>. Acessado em 23/03/2022 17h02.

[14] HACHIMAN MATSURI YOMIYANO NIGIWAI (A KABUKI PLAY) (八幡祭小望月賑). Em: JAPANESE WIKI CORPUS. URL: <https://www.japanese-wiki-corpus.org/person/Mokuami%20KAWATAKE.html>.  Acessado em 23/03/2022 20h38.

[15] TENGAJAYA. Ultima atualização em 31/10/2018. URL: <https://www.kabuki21.com/tengajaya.php>.

[16] THE HAUTED SWORD. Em: KABUKI PLAY GUIDE. Acessado em 25/03/2022 09h28. URL: < http://enmokudb.kabuki.ne.jp/repertoire_en/%E7%B1%A0%E9%87%A3%E7%93%B6%E8%8A%B1%E8%A1%97%E9%85%94%E9%86%92%EF%BC%88the-haunted-sword%EF%BC%89 >.

[17] MURAMASSA. EM: WIKIPEDIA. <https://en.wikipedia.org/wiki/Muramasa>. Acessado em 23/03/2022 17h02.

[18] RATTI, Oscar & WESTBROOK, Adele. Secretos de los Samurai: Estudio de las artes marciales del Japón feudal. Traducción: Josep Padró Umbert. Espanha, Paidotribo, 2006, p 323.

[19] WERTHEIMBER, Louis. A Muramasa Blade: A Story of Feudalism in Old Japan. Boston, Ticknor, 1887, p 53-54.

[20] RIBEIRO, Aline. Guia Conhecer Fantástico Extra: Samurai & Ninja. São Paulo, OnLine, 2015, p 44.

[21] WERTHEIMBER, Louis. A Muramasa Blade: A Story of Feudalism in Old Japan. Boston, Ticknor, 1887, p 55.

[22] WERTHEIMBER, Louis. A Muramasa Blade: A Story of Feudalism in Old Japan. Boston, Ticknor, 1887, p 85-86.

[23] O narrador fala na abertura de DORORO どろろ: Yōtō Nihiru No Maki Sono ni (妖刀似蛭の巻 ・その二): “A espada não é algo para matar as pessoas, mas sim para autodefesa. Mas quando essa convicção desaparece, e também os donos das espadas, elas se tornam obcecadas como animais. Algumas espadas são espontaneamente retiradas de suas bainhas por homens com sede de sangue. Outras espadas, com desejo pela morte, matam pessoas. Outras, embora não sejam manchadas com o sangue de centenas de pessoas, brilham no campo de batalha, liderando outros. A obsessão dessas espadas só traz tristeza ao seu portador. As pessoas chamam-lhes de yōtō”.

[24] TEZUKA, Osamu. 妖刀の巻 Espada Demoníaca. Em: TEZUKA, Osamu. Dororo: Volume 2. SP, New Pop, 2011, p 57.

[25] DORORO (どろろ): Yōtō Nihiru No Maki Sono ni (妖刀似蛭の巻 ・その二). Oitavo episódio da série produzida pelo estúdio Mushi Production (虫プロダクション), exibido pela TV Fuji (フジテレビ) em 25/05/1969. (Tradução de fansub).

[26] GUTS. 10 Objetos em anime que corromperam seus usuários. Publicado em GEEKS IN ACTION, 06/08/2021. URL: <https://geeksinaction.com.br/index.php/2021/08/06/10-objetos-em-animea-que-corromperam-seus-usuarios/>.

[27] DORORO (どろろ): Yōtō Nihiru No Maki Sono ichi (妖刀似蛭の巻 ・その一). Sétimo episódio da série produzida pelo estúdio Mushi Production (虫プロダクション), exibido pela TV Fuji (フジテレビ) em 18/05/1969. (Tradução de fansub).

[28] DORORO (どろろ): Yōtō Nihiru No Maki Sono ni (妖刀似蛭の巻 ・その二). Oitavo episódio da série produzida pelo estúdio Mushi Production (虫プロダクション), exibido pela TV Fuji (フジテレビ) em 25/05/1969. (Tradução de fansub).

[29] O tétano é uma infecção aguda e grave, causada pela toxina do bacilo tetânico (Clostridium tetani), que entra no organismo através de ferimentos ou lesões de pele.

[30] DRACULA X: NOCTURNE IN THE MOONLIGHT: INVENTORY TRANSLATION GUIDE. Em: GAME FAQs, 27/10/2002: <https://gamefaqs.gamespot.com/saturn/197146-akumajou-dracula-x-gekka-no-yasoukyoku/faqs/18248>.

[31] SIMAN, Leandro Gusmão; SOUZA, Fabio Santana de; LIVRAMENTO, Gilson P.; PAULA, Donizete de; LETONAI, Homero & ARAKI, Eric. Castlevania: Symphony of the Night: Estratégia completa, mapas inteiros para o castelo normal e invertido e lista de itens. Em: ALMANAQUE WORLD GAMES. Ano I, nº 1. São Paulo, Editora Canaã, p 56.

[32] BORTOLAÇO, Denis & MARQUES, Rafael. Castlevania: Warpzone Clássicos n

 º 9. São paulo, 2017, p 66.

[33] Shmoo é um personagem criado por Al Capp para as tiras de jornal de Ferdinando Buscapé. Sua primeira aparição ocorreu em 31/08/1948. Era um animal exótico, extremamente amoroso e ingênuo. Sua espécie era muito nutritiva e foi exterminada pelos capitalistas americanos a fim de evitar a falência do negócio agropecuário. Em 1979, os estúdios Hanna-Barbera relançaram o personagem em forma de desenho animado. Nesta revisão Shmoo era apenas um bichinho branco, parecido com um fantasma com aspecto de foca, porém muito carinhoso com todos seus amigos. Serviu de inspiração também para outros dois personagens do estúdio: Gloop e Gleep de Os Herculóides. Podia se transformar em qualquer coisa para ajudar seu dono e amigos, livrando-os dos perigos e facilitando trabalhos dos mesmos. Mas Hanna-Barbera abandonou a ideia dele ser nutritivo e atrair o apetite humano.

[34] As descrições da yōtōmuramasa nos jogos da franquia Castlevania informam ser “uma lâmina com vida própria, criada por um lendário espadachim ferreiro” (Order of Shadows). É também “uma espada sedenta de sangue” (Symphony of the Night), “embebida no sangue de inimigos caídos” (Encore of the Night:), “com reputação macabra” (Dawn of Sorrow). “Uma lâmina oriental mortalmente afiada; requer clareza de vontade para mantê-la sob controle” (Curse of Darkness).

[35] Sozinha a cura de sangue da yōtōmuramasa soma oito pontos à barra de vida de Alucard, mas se ele também usar buraddosutōn a cura de sangue somará dezesseis pontos todas as vezes. Este é o mesmo poder temporariamente ativado pelo feitiço do pergaminho Dark Metamorphose (ダークメタモルフォーゼ) cujo nome foi transliterado do inglês.

[36] Chegar aos 999 pontos de ataque por mérito próprio não é humanamente possível, mas jogadores dão dicas sobre como bugar um controle turbo e deixar Alucard lutando sozinho a noite inteira. A kataná Muramasa ganha um ponto de ataque conforme a equação [(ataque atual × 2) +11] curas de sangue. Por exemplo, para aumentar o atributo inicial -5 para -4 basta uma cura de sangue. Para aumentar -4 para -3 requer três curas de sangue e assim por diante.

[37] 月下の夜想曲」 999まで強化した妖刀村正で全ボス倒したい 「ゆっくり実況」. Publicado no canal T先輩, no Youtube em 03/03/2020. URL: <https://www.youtube.com/watch?v=Tk9F3Fudd9M>.

[38] CASTLEVANIA WIKI. Acessado em 30/03/2022. URL: <https://castlevania.fandom.com/wiki/Muramasa>.

[39] Na mitologia nórdica a espada Dáinsleif pertencia ao rei Hǫgni. Forjada por um anão, ela produzia feridas que nunca cicatrizavam e matava um homem sempre que desembainhada. Sua lenda é semelhante à da espada Tyrfing.

[40] Ragnarök Online foi o primeiro jogo online coreano a ser exportado com sucesso a outros países. No Brasil, foi o primeiro MMORPG traduzido oficialmente para a língua portuguesa, rodado em servidores nacionais, de 2004 a 2021.

[41] O quarto nível é o mais alto e o mais difícil dos ferreiros aprimorarem com minério oridecon para aumentar o ataque.

[42] Maldição é um efeito negativo que passa em poucos segundos. Maldição reduz o ataque do avatar em 25%, zera os pontos de sorte e reduz sua velocidade de movimento. Porém a impossibilidade de correr não atrapalha a quem não quer fugir da luta, a construção de espadachins não exige nenhum gasto de ponto em sorte e o aumento significativo na velocidade de ataque proporcionado pela espada compensa a redução do dano.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/asia-oculta/a-lenda-de-yoto-as-laminas-vampiras/

‘Chamando os Filhos do Sol

DA PARTE DA ORDEM RUBI E OURO – M. RIO DE JANEIRO, ABRIL DE 1962, A.·.A.·.

Publicação em Classe b – Imprimatur: N. Fra. A. · . A. · .
O. M. 7 º = 4 º R.R. et A.C. – F. 6 º = 5 º Imperator

Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.

1 – O toque da trombeta

Este livro é da natureza de um arauto. É um chamado às armas. Bastante tempo dormistes, ó guerreiros do Rubi e Ouro! Levantai-vos. Deixai-me explicar a natureza da trombeta que vos chama. O ser humano, quando nasce, esquece as suas vidas anteriores e sua existência nos mundos celestes que acaba de deixar. Porém, tal esquecimento não é completo. Nas regiões subterrâneas da mente, no inconsciente da alma, uma lembrança fica. E é assim que alguns tem uma certeza intuitiva da existência de Deus e do além, é assim que outros sentem despertar neles simpatias ou antipatias inexplicáveis para com outros seres humanos que encontram em sua rota. É ainda assim que alguns – e entre estes se contam freqüentemente almas muito evoluídas – sentem, através de sua vida terrena inteira, uma saudade, uma solidão, um anseio indefinido, e sentem-se como viajantes, longe, muito longe, de algum fantástico, maravilhoso, imaginário lar.

Existem raças espirituais como existem raças físicas. Existem nações no mundo invisível como existem nações no mundo visível. Cada uma de tais raças e nações é simbolizada por um sinal, um símbolo, e as vezes, por vários símbolos. Tais símbolos são, por assim dizer, côtas de armas do astral. Os antigos heraldos eram videntes que examinavam nos planos internos os símbolos correspondentes a natureza anímica de certos indivíduos e desenhavam uma côta de armas que simbolizasse as qualidades de seu dono. O brasão era transmitido de pai a filho porque era reconhecido que a semente espiritual do pai se transmitia magicamente de geração a geração, contanto que influências externas não se manifestassem. Às vezes era necessário incluir alguma influência nova, combinar duas côtas, se por casamento, adoção ou outros meios, a natureza anímica de uma família nobre mudava. Esta ciência heráltica clarividente está hoje quase que completamente perdida.

É por causa dessa simbologia astral que, muita vez, certos símbolos são apresentados à consciência de um indivíduo que nunca teve contato com o que é chamado “ocultismo” ou “espiritualismo”, e no entanto o indivíduo reconhece os símbolos, sente um despertar de atividade em sua consciência, e percebe intuitivamente que ele pertence aos símbolos ou os símbolos pertencem a ele. Os símbolos, tanto em desenhos quanto em imagens escritas, e as chaves apresentadas neste livro, representam outras tantas côtas de armas e pertencem a legião dos Filhos do Sol.

2 – A Nova Era

Já vos falaram muito da Nova Era, de Aquário-Leo. Ela começou em abril de 1904, quando a terra foi ocultamente, regenerada pelo fogo. Todas as crianças nascidas após esta data trazem no inconsciente o selo das energias e tendências espirituais da Nova Era. Chamamos o grupo dos Filhos do Sol encarnados no Brasil à execução de suas vontades. Chamamo-los à consciência do fito da encarnação. Chamamo-los à realização da Grande Obra. Faze o que tu queres há de ser tudo da lei.

3 – O Fim das dores

Muito vos tem sido dito a respeito das razões para a encarnação do mundo. Muito vos tem falado da “divina redenção da Dor”. Tem-vos sido dito que este mundo é um vale de lágrimas, um antro de demônios que se encarnam para expiar os seus pecados. Somente o sofrimento, dizem-vos, traz a luz e a libertação. Eu vos digo que tudo isso está acabado.

Faze o que tu queres há de ser tudo da lei.

4 – A Alegria do mundo

Não procures luz nas Igrejas e nos Templos; a Luz está em Ti. O sofrimento, é o fruto da ignorância, e sua presença é sintoma de erro, e não sinal de espiritualização. Todo ser humano que sofre, sofre por sua própria culpa, e no momento em que sofre. Os vossos erros passados determinam as vossas condições de manifestação; mas a essências do vosso íntimo, o fogo interno que queima no coração da estrela caída, está sempre presente em vós; está sempre presente em vós a possibilidade da Pedra Filosofal, que transmuta o pesado, penoso chumbo de Saturno no belo, luminoso Rubi e Ouro do Sol. Todo homem e toda mulher é uma estrela.

5 – Estrelas no mundo

A encarnação é uma batismo, uma queda, a finalidade da qual só é revelada nos transes da mais alta iniciação; mas pode ser-vos dito desde já que a finalidade da Encarnação não é a expiação de “culpas” da alma. Todas as culpas e todas as virtudes da alma são igualmente ilusões de Maya; e o Fogo Interno que queima no coração da Estrela Humana consome totalmente a teia ilusória do Karma desde o momento em que desperta para a consciência da sua verdadeira identidade. É este fogo interno que era simbolizado entre os Egípcios pela Cobra Capêlo levantada sobre a fronte de Faraó, o Sacerdote – Rei. É este fogo interno a mais alta manifestação daquilo que é, em parte, chamado Kundalini nos Tantras, e cuidadosamente cultivados pelos Agni-Yogis. A marca deste Fogo Interno está na testa do Buddha e de todas divindades Brahmânicas e Tibetanas. É uma das possíveis marcas da Bêsta, o Leão Solar. Que ouça aquele que tiver ouvidos de ouvir. No folclore tradicional europeu, os filhos das fadas e as crianças protegidas ou vítimas de encantamentos traziam a marca de uma estrela na testa. Quando vítimas, elas estavam sempre sendo provadas.

6 – Quebra das correntes

Somente aquela influência que se torna mais poderoso sobre o teu destino realmente expressa o Teu Destino, ó Estrela Caída! Foge portanto daqueles que querem “salvar” por procuração. Não adores a Deus, pois quando o fazes, tentas obrigar a Deus que adore a si próprio em ti, e isso é masturbação. Adora antes o teu próximo, ou aquela pedra, ou o astro mais longínquo; “Pois Eu estou dividida por amor ao amor, pela chance de união”. Que ouça aquele que tem ouvidos de ouvir. Todo profeta, todo livro, todo deus que quer despertar em ti uma tendência a dobrar o joelho a alguma coisa ou sêr com exclusão do resto, é um profeta falso, é um livro tolo, é um deus negro.

Todo homem e toda mulher é uma estrela. Todo número é infinito; não há diferença.

Foge portanto daqueles que te querem convencer que o sofrimento voluntário, cego ou passivo, que a subjugação da liberdade da tua consciência a outra, que a negativização da tua aura, é O Caminho.

Tu és o Teu Próprio Caminho.

Por isto está escrito: Conhecereis a Verdade, e a Verdade vos fará livres. Este mundo não é um antro de demônios expiando seus pecados; este mundo é um dossel de Deuses que dormem, e dormindo, sonham.

7 – A ressureição dos mortos

Tem-vos sido dito: Tende piedade dos pobres, dos humildes e dos fracos. Mas eu vos digo, que direito tendes de sentir piedade dos mortos, vós que estais mortos? Pois se estivésseis vivos, saberíeis que o espírito é eterno, indestrutível e divino; que a terra não pode enterrá-lo; que a água não pode afogá-lo; que o ar não pode soprá-lo; que o fogo não pode queimá-lo; que o éter mesmo, e os outros Dois, não são mais que envolturas tomada pela eterna chama quando repousa e sonha no regaço da Natureza. Portanto os Mestres são sem piedade e egoístas; calcam aos pés os que caem e pensam somente em Si Próprios; portanto está escrito que para fazer ouro é preciso ter ouro para começar; portanto está escrito que àquele que tem, mais lhe será acrescentado, mas aquele que não tem, até o que tem lhe será tirado; e portanto, também está escrito, na palavra de algum santo rabino da velha Judéia: Deixa que os mortos enterrem seus mortos.

8 – Lei da Liberdade

Aqueles que tem em mente a Libertação do Homem não podem aceitar se não a atividade individual e espontânea dos outros. Portanto, os Mestres limitam-se a apontar todos os detalhes úteis de uma situação, para fazê-la clara ao julgamento, e nunca salvam os homens de seus erros nem manifestam piedade pelos que caem. A compaixão é um sentimento ilusório e ofensivo à natureza real do homem. Acaso tendes piedade de Deus? A verdadeira caridade consiste em um transe espiritual pelo qual o discípulo chega à consciência da divindade contida em tudo que existe. Aos olhos de um vidente, a alma de um tal homem desabrocha como um Sol. Desse momento em diante, uma nova luz ilumina o mundo, um novo farol aponta o Caminho, a Ressurreição e a Vida. Tais são os Pelicanos, tais são os verdadeiros Sacrifícios (isto é, aquilo que é feito sagrado), tais são os Filhos da Luz, e é esta Luz que é a verdadeira caridade. Não dês esmolas aos mendigos; anula a mendicância no teu íntimo, e dá Vida, Amor, Liberdade e Luz à humanidade em peso. Que ouça aquele que tem ouvido de ouvir. Por isto a verdadeira fraternidade apresenta sempre os verdadeiros símbolos, mas sem explicá-los; a intuição das coisas divinas desperta certa atividade nos corações; movido por uma força dentro de si mesmo, o indivíduo une-se à corrente que harmoniza com sua capacidade de vibração. A verdadeira fraternidade não prega nem insiste. Limita-se a expor os fatos e deixa que cada qual os verifique por si mesmo e tire as suas próprias conclusões.

Não há nenhuma lei além de faze o que tu queres.

9 – A Verdadeira Vontade

Quereis fazer bem ao vosso próximo? Aumentai então a vossa sabedoria, a vossa saúde, a vossa riqueza; despertai a vossa atividade espiritual, e deixai que vosso próximo faça o mesmo quando quiser. Ficai certos que quanto mais felizes, saudáveis e ricos fordes, mais aumentareis a possibilidade da felicidade, saúde e riqueza alheias; pois aquele que se liberta da carga alivia a tarefa dos que ainda estão ligados a ela. Esta é a única maneira de aliviar eficazmente o Karma da Humanidade. Vedes em volta vossa miséria, sofrimento, paixões indisciplinadas e desejos artificiais e doentios. Quereis aliviar estas condições? Disciplinai o vosso íntimo, submetei a vossa entidade humana à Real Vontade de vossa essência divina; e quando o fizerdes, a vossa passagem na terra será um sopro de ar fresco através de um quarto fechado há muitos séculos. Por isto está escrito: Se queres tirar o arqueiro do olho de teu irmão, tira antes a trave que tens no teu.

Tu não tens direito a não ser fazer a tua vontade. Faze isto, e nenhum outro dirá não.

10 – Deus Encarnado

Dizem-vos que Deus veio ao mundo, foi crucificado pelos nossos pecados, ressuscitou e subiu aos céus, mas por divina caridade morre novamente e se ergue novamente todo dia na cerimônia da missa. Ouvis isto, e dobrais o joelho? Cegos, não compreendeis que vós sois Aquele crucificado sobre a cruz da carne, e que a Crucifixão Vossa é o Batismo da Encarnação? Vós sois o Caminho, a Verdade e a Vida! Erguei-vos, como Ele se ergue diariamente, no Batismo da Ressurreição!

ROSA-CRUZ. Aumgn!

11 – Deus Falcão

Dizem-vos que o Sol Espiritual mergulhou sob a terra, e fazeis penitência e orais pela vossa salvação, tanto quanto o povo gemeu nas cerimônias da Morte de Asar-Osiris, lamentou-se durante a noite, e soltou gritos de alegria à ressurreição da manhã. Cegos, pois não vos ensinam já a todos nas escolas que o Sol não se põe nem se levanta, mas que em torno dele a Terra dança a dança das estações? Por isto havia no Egito um Deus misterioso que só adoravam aqueles que na cripta haviam tido murmurada ao seu ouvido a terrível revelação de que Osiris é um deus negro. Esse Deus era chamado Ha-Hoor-Khuit, o que significa Sol dos Dois Horizontes. Isto demonstra que os Iniciados Egípcios sabiam que a Terra gira em torno do Sol, coisa que a Igreja Cristã sempre negou e, em seu tempo, mandou iniciados à fogueira por querer revelá-lo ao mundo. E no entanto, Eppur si muove! (Ela assim se move)

Sê conosco, Deus-Falcão!

12 – A Política do Êxtase

Tem-vos sido dito: reprimi o vosso sexo! É a voz da Bêsta em vós. Mas eu vos digo: Sede tanto mais abençoados quanto mais fordes potentes, quanto mais ansiardes pela beleza e refrigério da Mulher! Porque, é verdade, a voz do sexo é a voz da Besta em vós; é a voz do Cordeiro de Deus e a voz do Leão Solar!

666. Aumgn!

13 – Abertura da porta do Templo

As macerações e o masoquismo psico-fisiológico são o defeito necessário de todos os sistemas religiosos desenvolvidos durante a Era de Virgo-Pisces. Por isto tem-vos sido dito que ir à igreja aos domingos, ou à sessão espírita uma vez por semana, ou ao candomblé na Sexta-feira ou Sábado, e abandonar-vos a uma receptividade passiva de diversas influências que são derramadas sobre vós, é adorar o verdadeiro Deus. Dizem-vos que a espiritualidade consiste em dobrar o joelho humildemente e confessar-se indigno e pecador, e oferecer meigamente o pescoço à espada temível do Juiz Supremo. Eu vos digo que tudo isso está acabado. Eu vos digo que só é verdadeiro o culto e só é santo o sacerdote cuja atividade desperta em vós a consciência, mesmo se temporária, da divindade de vós mesmos. Eu vos digo que na idade de Aquário-Léo, os homens devem orar pelos seus atos. Eu vos digo que os homens não mais se conhecerão pelas intenções, pelos pensamentos, ou mesmo pelas palavras; digo-vos que não há graça espiritual que vos salve da conseqüência de vossos atos, nem Juiz Espiritual que vos condene; digo-vos que a Lei do karma é a Lei de Causa e Efeito da Ciência; digo-vos que o Deus que recompensa ao que dobra o joelho e se confessa cheio de faltas e pede perdão é um vampiro, é um deus falso, é um deus negro; digo-vos que o Verdadeiro Deus está dentro de vós; digo-vos que nenhum dos vossos atos vos condena a não ser na medida que vos vela da consciência do Olho que se abre sobre vós; digo-vos que sois chamados à Grande Obra, e não a esperar que Algum ou Algo vos auxilie ou vos conduza; e digo-vos, enfim, que o maior crime que podeis cometer contra a Chama que queima em vosso coração é dobrar o joelho diante de qualquer relicário que não seja esse relicário interno.

Não sabeis que sois o Templo de Deus Vivo?

Eu sou só: não há nenhum Deus onde Eu Sou.

14 – Abundância de frutos

Não vos masturbeis psiquicamente em momentos de inspiração provocada por circunstâncias exteriores à vossa vontade, pensando que estais adorando a Deus quando apenas vos estais abandonando à expansão de um turbilhão astral. Se quereis orar ao Verdadeiro Deus, trabalhai; não importa em que, mas trabalheis com capricho, com devoção, fazendo do vosso trabalho vosso culto; pois quando trabalhais ativamente e com concentração, fazeis germinar as sementes de individualidade e iniciativa que existem latentes dentro de vós. Por isso está escrito: O que quer que tua mão faça, faze-o com todo o teu poder. E por isto, também, está escrito: Conhecê-los-eis pelos seus frutos.

15 – O lado escuro da lua

Há entre vós muitos que vos professais seguidores de Jesus, e que no entanto pretendeis como vosso Chefe Espiritual o Príncipe Conde St. Germain. Sabei então o que esse Mestre disse certa vez a um assustado discípulo: “Sim, meu amigo, Jesus não é nada: mas afligir-vos é sempre alguma coisa, e portanto, não mais falarei”. Osiris é um deus negro. Apo pantos kakodaimonos!

16 – A criança celeste

Somente a Criança Divina é o Deus de Luz para os próximos dois mil anos. Por isso está escrito que ninguém que não se torne como uma criancinha entrará no reino dos céus; e por isto está também escrito que o Leão e o Cordeiro se deitarão lado a lado, e uma criancinha os conduzirá.

Sê conosco, Deus Menino! Sê conosco, Deus Falcão!

17 – A Lei Única

Tem-vos sido dito: A lei natural é uma, a Lei Divina é outra. Mas eu vos digo que as leis naturais são as únicas leis divinas. Por isto o verdadeiro cientista, e principalmente o astrônomo, é o mais profundo sacerdote de Deus. A natureza é o corpo de Deus. Glória a Nossa Senhora das Estrelas, ó homens! Isis-Urânia, Mãe de Nós Todos, Aum!

18 – O elogio da lagarta

Escreveu um Grande Iniciado: “O fito daquele que queria ser Mestre é único; os homens chamam-no de Ambição Pessoal. Isto é, ele quer que seu Universo seja tão vasto, e seu controle de seu Universo tão perfeito, quanto for possível”. Leu um verme em forma humana estas palavras, e gritou: “Esse homem é egoísta e maligno! Ele quer dominar-me!” Leu um Aspirante estas palavras, e pensou alegremente: “Eis o meu fito”.

Os escravos servirão. Ouça aquele que tiver ouvidos de ouvir.

19 – Sobre Caridade

Vede em torno vosso muitos indivíduos que se professam verdadeiros seguidores do verdadeiro Deus, porque praticam a caridade, isto é, dão esmolas aos mendigos, socorrem os famintos, montam orfanatos e promovem auxílio aos desempregados. Em verdade vos digo que esses são cegos conduzindo os cegos; tanto os que conduzem como os que são conduzidos reagiram sempre ao círculo vicioso do Karma instintivo do homem lunar. Pois aquele que dá esmolas aos mendigos incita seu próximo à mendicância; aquele que socorre os famintos afasta muita vez o aguilhão que desperta uma consciência animal à atividade humana; aquele que monta orfanatos deveria antes ensinar aos ignorantes a controlar os seus instintos; e aquele que oferece emprego indiscriminadamente a um desempregado o mais das vezes interrompe uma fase de deslocamento que leva um homem a descobrir sua verdadeira vocação e vontade. Pôr isto os Mestres não auxiliam os homens, mas fazem com que eles aprendam a se auxiliarem a si próprios.

20 – Sobre Espiritismo

Uma palavra a dizer-vos sobre o espiritismo. Quer sejam os seus chefes espíritos descarnados, quer sejam cascarões astrais em processo de decomposição, quer sejam egrégoras de correntes das mentes instintivas associadas, existe em sua prática um defeito técnico e um defeito espiritual, a saber, que os médiuns desenvolvem a tendência a Ob no abandonamento passivo aos turbilhões astrais, o que é contrário aos deveres da evolução humana; e o inspirador espiritual dessas cohortes e desse movimento é dito ser “Jesus”, isto é, uma entidade que jamais existiu como tal, e que não foi mais que a máscara com que Osiris foi oferecido aos gregos e romanos. No passado, tudo isto seria talvez de pouca importância; mas lembrai-vos que a espiral tem dado mais uma volta, e que Osiris é um deus negro. Ouça aquele que tem ouvidos de ouvir.

21 – Sobre os cultos Afros

Uma palavra a dizer-vos sobre a macumba. Quer sejam os seus chefes espíritos africanos desencarnados, quer sejam demônios do baixo astral em disfarce, existe nas práticas deste movimento o mesmo defeito técnico que existe no espiritismo, isto é, o uso da força de Ob. Mas existe também uma diferença fundamental, que a macumba adora, sob diversos nomes os mesmos deuses do Pantheon greco-romano, os quais eram também adorados sob outros nomes por toda a Antigüidade, e que são personificações de grandes Forças através de cuja existência nos mundo sutis certas correntes espirituais são formadas para inspirar a vida dos homens. Por tanto a macumba é mesmos prejudicial à individualidade interna que o espiritismo, por isto que não ofende os fatos da Natureza: No passado tudo isto teria pouca importância; mas lembrai-vos que a espiral tem dado mais uma volta, e que despertou de seu sono de dois mil anos o mais misterioso Deus dos pagãos, o grande Deus Pan. Ouça aquele que tem ouvidos de ouvir.

22 – Sobre o comunismo

Uma palavra a dizer-vos sobre o comunismo. Quer se disfarce como primitivo cristianismo, quer se chame a si próprio materialismo científico, não é nem uma coisa nem outra, pois os primitivos cristãos adoravam a Deus n’Eles mesmos; refiro-me aos Gnósticos, que a Igreja Católica ferozmente perseguiu e dizimou, porque os sabia conhecedores da natureza da grande feitiçaria. Quanto a materialismo científico, isto é coisa que o comunismo nunca foi, sendo baseado num certo número de axiomas romanescos e idealísticos que nada tem a ver com os fatos da ciência; como, por exemplo, que os homens são todos iguais, quando a evidência é farta de que a lei natural a este respeito é variação da norma; e como, por exemplo, que possessões pessoais ofendem a comunidade humana, o que é fundamentalmente falso e até tolo, pois se a propriedade pessoal fosse o roubo, como querem os socialistas, os homens teríamos todos um só corpo, um só cérebro, uma só língua, um só pênis e um só anus. Ainda mais, a organização social pregada por este “materialismo científico” está em fragrante contraste com a lei natural de evolução por mutação e seleção das espécies; pois a genética nos ensina, e a observação da conduta das espécies o demonstra, que variações da norma produzem evoluções, e que a sobrevivência sempre tem que ser dos mais aptos. Toda sociedade humana, portanto, que não permite o máximo de liberdade para cada indivíduo de desenvolver livremente e por escolha própria as suas tendências naturais, e de competir livremente e igualmente com outros sobre o campo de batalha da vida, é uma sociedade idealística, que nada tem a ver com materialismo ou com a ciência. Portanto, o comunismo, como qualquer outra tendência à uniformidade e sujeição do indivíduo aos interesses de um rabanho ou de uma entidade fictícia (o “Estado”), é uma tendência malsã, idealística e viciosa; combatei-o com todas as forças de vossa individualidade, vós que sois verdadeiros homens!

Tu não tens o direito a não ser fazer tua vontade. Faze aquilo e nenhum outro dirá não.

Ouça aquele que tem ouvidos para ouvir.

23 – Sobre a Igreja Romana

Uma palavra a dizer-vos sobre a Igreja Católica. Está morta, como todos os que lhe pertencem, e sua aparente grande atividade presente não é mais que a turbulência inconsciente de decomposição de um cadáver gigantesco. Os cristãos aos Leões! Que ouça aquele que tem ouvidos de ouvir.

24 – Sobre a Maçonaria

Uma palavra a dizer-vos sobre a Maçonaria. Aquela que foi baseada na lenda de Hiram, lenda que, qual a de Jesus, não é mais que uma versão dramática adaptada à mentalidade ocidental do Ritual do Deus Sacrificado, isto é, Osiris, está tão morta quanto a Igreja Católica. Há porém esta diferença fundamental: que a Maçonaria tendo sido iniciada por Adeptos da Fraternidade da Luz para combater a grande feitiçaria da Loja Negra, neste momento mesmo novos brotos maçônicos estão sendo cuidadosamente regados pelos mestres encarregados da disseminação da Boa Nova, isto é, dos princípios sociais e espirituais da Nova Era; e esses mestres são, como disse uma inspirada das Lojas do Tibet, “um dos mestres ingleses e o Conde de Saint Germain”. O nome do Mestre inglês pode agora ser revelado: Ele era Sir Aleister Crowley, M. 33º e Rei da Ordem do Templo para a Inglaterra; e papel mais importante ainda ele desempenhou como encarnação da Besta 666. Que ouça aquele que tiver ouvidos de ouvir. Quanto ao Conde de St. Germain, também chamado por alguns de Mestre Racoczy (e que sorri dessas tolices), ele segue os passos do Mestre Inglês com o mesmo assombro e admiração com que no passado seguiu os passos do Conde de Cagliostro. Que ouça aquele que tiver ouvidos de ouvir. A Maçonaria está morta, ela vive. O Rei está morto, viva o Rei!

25 – Sobre a Educação

Uma palavra a dizer-vos sobre a educação das crianças. Vossos filhos não vos pertencem, e pais que não dão aos seus rebentos o nome deles próprios, seguindo de Filho, estão satisfazendo uma triste vaidade. Se vos conhecêsseis tal quais sois, e se realmente amasseis os vossos filhos, a última coisa que quereríeis no mundo é que eles se parecessem convosco. Na Nova Era, mais e mais crianças nascerão em cada família que não pertencem à gama vibratória dos pais. Isto é porque, de acordo com as predições de todos os videntes dos últimos duzentos anos, a família já não é mais a unidade do organismo social. Gamas vibratórias que se conservam coesas durante séculos, membros da mesma estirpe reincarnando-se constantemente na mesma corrente genética, estão para sempre partidas. O indivíduo, homem ou mulher, é a unidade do organismo social. A família agora não é mais que o primeiro conjunto de indivíduos a cuja presença a alma nova é submetida. Portanto, ó pais, se quereis o respeito de vossos filhos, não o exijais como um direito; provai pelo exemplo dos vossos atos que o mereceis, e vossos filhos galardoar-vos-ão o respeito com um prêmio que haveis conquistado. É esta sempre a Lei: desperta a virtude no teu íntimo, e verás com surpresa como a virtude se acende no coração dos outros. Ida está a idéia de laços familiares. Custa a morrer por causa da inércia do pensamento humano, imantado pelos hábitos de quatro mil anos (pois a família já estava formada no Aeon de Isis, que precedeu o de Osiris; somente, então era a mãe o chefe da família). Mas as suas convulsões, tal qual as da Igreja Católica e, de um modo geral, do Cristianismo, são as convulsões de um moribundo. Quanto mais os pais reforçam sua autoridade, mais os filhos se rebelam, e fazem bem. A pátria do homem é o mundo, o seu mundo é o universo, e a sua família é a humanidade inteira. Há um Deus de viver em um cão? Não! E se por acaso um Deus nasce no seio de uma alcatéia, e pedem-lhe que roa ossos como o resto, que esperais, senão que o Deus ultrajado se retire para o meio de seus semelhantes ou, num acesso de cólera, dizime os cães insolentes até que, assustados, param de importuná-lo e começam a obedecê-lo como é próprio? Os escravos servirão. Quereis educar bem os vossos filhos? Tratai-os como frescas incarnações da divindade, deuses recém-descidos ao mundo, verdes mensageiros das alturas, emissários do mundo misterioso do além-túmulo a que ireis dar um dia. Proporcionai-lhes todas as oportunidades de adquirir conhecimento e experiência, e deixai que eles escolham livremente entre todas as oportunidades que lhes proporcionais. Não os limiteis nunca a não ser nas coisas que o bom senso manda, isto é, na conservação da saúde e na disciplina da inteligência. Está bem comandar a uma criança que não ponha a mão no fogo, mas é melhor ainda explicar-lhe que o fogo queima os descuidados, e dar-lhe uma demonstração. Quando vosso filho ou vossa filha atinge a idade de responsabilidade, isto é, a puberdade, momento em que o Fogo se manifesta pela primeira vez através da inteira carne, ou a Água jorra pelos portais da vida com sua doçura e alegria, não tenteis apagar o fogo, nem tenteis represar a água. Ensinai antes ao menino e à menina tudo que sabeis a respeito da reprodução dos sexos, o que não é muito; ensinai-lhes como evitar a concepção involuntária, tendência natural do ser instintivo; ensinai-lhes as regras de higiene que conservam o aparelho criador livre das chamadas doenças venéreas: e assim, cumprido o vosso dever, deixai que corram os vossos filhos livremente o largo mundo. Se tivestes o cuidado de respeitar o julgamento de vossos filhos desde o berço, se cultivastes com desvelo a vossa essência interna, ressoando assim na virtude interna de vossos filhos, se, enfim, habituaste os vossos filhos ao destemor e à liberdade, eles amarão sem prejudicar e sem serem prejudicados, e voarão mais alto e mais longe do que jamais alcançastes. Que maior fonte de orgulho podem Ter os pais, que ver como os seus filhos os surpassam em tudo? E há nisto simples e saudável egoísmo, que se fazeis de vossos filhos homens e mulheres mais livres e mais fortes do que sois, eles, por sua vez, farão de vós homens e mulheres mais livres e mais fortes ainda, quando reincarnardes no meio deles. Cada criança que nasce e cresce saudável e livre é a esperança da humanidade. Regai portanto as flores, ó homens, se quereis um dia colher os frutos! Isto regenerará o mundo, o mundozinho minha irmã, meu coração & minha língua, a quem eu mando este beijo.

26 – Sobre a Sociedade

Existem analogias entre a sociedade humana e o corpo vivo que fareis bem em observar e imitar. Pois no corpo existem estruturas que mudam lentamente, que se desgastam e se renovam relativamente tão devagar que quase se poderia dizer que são imóveis. E no entanto estas estruturas são a base sobre a qual são construídas as estruturas mais fluidas. No corpo humano estas estruturas são os ossos, e na sociedade são as leis que regem o metabolismo das células chamadas homens. Pensai por um momento quão terrível seria se o esqueleto humano, ao invés de ser parcialmente flexível, e constituído de modo a permitir aos órgãos que se suportem uns aos outros suportando-se nele, fosse rígido e separasse os órgãos uns dos outros, ou os comprimisse de maneira a impedir a sua livre função! Tal se dá em casos kármicos de má conformação óssea, e muita vez observais e rides do resultado, em vez de vos lembrardes que o mesmo vos pode Ter acontecido em outra vida, ou pode acontecer-vos no futuro. E no entanto, rindo como rides dos corcundas e capengas, viveis vós mesmos numa sociedade horrenda pelas suas leis e seus hábitos, e nada fazeis para modificar sua pesada e antinatural constituição. Sabei portanto que as leis, tal como os ossos, devem ser organizadas para a máxima flexibilidade combinada com o máximo de força e permanência, e devem, pela sua estrutura mesma, permitir o máximo de iniciativa aos indivíduos e de intercâmbio às instituições. No aparente e imortal paradoxo do Conde de Fênix: A autoridade absoluta do Estado deve ser a função da liberdade absoluta de cada vontade individual.

TU NÃO TENS DIREITO A NÃO SER FAZER A TUA VONTADE. FAZE AQUILO, E NENHUM OUTRO DIRÁ NÃO. POIS VONTADE PURA, DESEMBARAÇADA DE PROPÓSITO, LIVRE DA ÂNSIA DE RESULTADO, É TODA VIA PERFEITA.

Ouça aquele que tem ouvidos de ouvir.

27 – Sobre a morte

Eu me assombro cada dia em meio vosso, de ver como pagais serviço com vossos lábios a certas crenças, mas sempre desmentis vossas palavras com vossos atos. Dizeis acreditar em outra vida para a alma, onde ela será mais feliz do que foi aqui na terra, e chorais desabaladamente quando os vossos entes queridos (e até os vossos entes não-queridos) morrem. Dizeis acreditar que aquilo que Deus ligou o homem não pode desligar, e as vossas igrejas hediondas conspiram para que todas as leis sociais impeçam o mais possível aos homens que tentem desligar os laços matrimoniais.

Dizeis acreditar que a alma é salva pelo batismo na infância, e no entanto vossas igrejas e sacerdotes vis passam a vida inteira do batizado a espreitar, boquejar, e freqüentemente a condenar. Ó geração covarde e hipócrita! Dai um festim quando alguém morre, daí o cadáver de comer às bestas (ou ofertai-o ao hospital mais próximo), e confiai a alma às mãos de sacerdotes iniciados para que a acompanhem e aconselhem na viagem às plagas divinas, tal qual fazem ainda os simples povos do Tibet! Ó degenerados, ó devassos, ó impotentes! Não vos intrometais com as leis do Amor, que é o instrumento e modo de operação da vontade espiritual dos homens! Ó fariseus imundos, descrentes e malfazejos! Não compreendes que o Primeiro Batismo é a passagem através das Portas, que a água batismal é o fluido âmnico, e que no Aeon de Hórus o batismo sacerdotal há que ser de fogo, o fogo do Espírito Santo, tomado na Missa de Confirmação! Por isto está escrito: Eu vos batizo com água; mas Um virá após mim, maior que eu e ele vos batizará com Fogo.

Ra-Hoor-Khuit! Hoor-Paar-Kraat! HERU-RA-HÁ!

Sê conosco, Deus Menino! Sê conosco, Deus Falcão! Kyrie, Christe! IAO SABAO! AGIOS, AGIOS, AGIOS, IO PAN!

28 – Sobre falsas ordens

Muito pouco é conhecido da Rosa-Cruz, e no entanto pululam em vosso meio “ordens” e “fraternidades” fazendo uso desse NOME. Transcrevo aqui, para vossa edificação, as palavras simples de um homem que tinha algum conhecimento do que estava falando: (1) “É curioso mas é assim: para poder falar da mais elevada das entidades iniciáticas conhecidas no Ocidente devo usar tal nome sem antepor os termos: ‘Ordem,’ ‘Fraternidade,’ ou algo semelhante, para que o leitor ou o Discípulo não confundam com algumas das inumeráveis sociedades que, qual cogumelos surgiram com nomes imitativos da : “ROSA-CRUZ”. “É também necessário declarar aqui, algo que o não foi bastante claramente pelos que me precederam, que a ROSA-CRUZ, isto é, a misteriosa Fraternidade suprema, que atua com tal nome há uns três séculos somente no Ocidente, sempre existiu sob outras denominações. “Não tem sede que alguém possa situar em nenhuma cidade, nem seus Membros se declaram como tais. Isto é tudo que se pode dizer do ponto de vista da sua organização. Ao que se refere à sua atuação, parece muito simples explicá-la: cada vez que um ambiente determinado: sociedade, centro iniciático ou o que seja, NECESSITA E MERECE a atenção da ROSA-CRUZ, se envia algum Missionário relacionado pelo menos com os Círculos Externos d’Ela: ou, em outros casos, algum dos membros de dita sociedade ou fraternidade é inspirado, sendo também possível que ele mesmo não se dê conta cabal por muito tempo às vezes de como está sendo “inspirado, dirigido…e observado.” Quando finalmente se dá conta, é porque já está ‘MADURO’ em seriedade. Discrição, dedicação e capacidade. Isto é, pelo menos, o que sei de fonte que, como se diz em linguagem diplomática, ‘deve ser considerada como habitualmente bem informada…’ “

Mais tarde ainda, esse escritor acrescenta: TODA SOCIEDADE QUE SE DIGA OU SE TENHA PELA AUTÊNTICA E ÚNICA ROSA-CRUZ, OU BEM ESTÁ ENGANADA, OU ESTÁ ENGANANDO.

Ao bom entendedor, meia palavra basta.

29 – Sobre a Rosa e a Cruz

Do pouco que é conhecido da verdadeira ROSA-CRUZ, podemos concluir o seguinte: Primeiro, os ROSA-CRUZ adotam as vestimentas da época e país em que viajam ou atuam. Segundo, eles se conhecem imediatamente entre si por certas características que passam desapercebidas dos profanos. Terceiro, a influência ROSA-CRUZ está tão mais longe de organizações “rosacrucianas” quanto mais estas protestarem que está perto. Quarto, os ROSA-CRUZ adoram periodicamente em um Templo do Espírito Santo, onde aprendem a curar os doentes, transmutar os metais e onde comungam uns com os outros. Esse Templo está ao mesmo tempo em toda parte e em parte alguma; é a coisa mais fácil de achar pelo iniciado e a coisa jamais sonhada pelo profano. Quinto, a característica fundamental dos ROSA-CRUZ é que eles possuem o Elixir da Vida, a Pedra Filosofal, o Summum Bonum e a Felicidade Perfeita. Sexto, não se segue, de que os ROSA-CRUZ se dedicam a curar os doentes, que eles sejam médicos por profissão; nem se segue, de que eles possuem o Elixir da Vida, que eles prolonguem sua existência terrena. Aquele que escreve estas palavras não é Rosa-Cruz.

30 – Sobre a organização o Brasil

Para instrução e aviso dos Filhos do Sol: Três “fraternidades” principais se manifestam neste país, chamando-se a si mesmas rosacruz. A Ancient and Mystical Order Rosae Crucis (AMORC) foi fundada para um H. Spencer Lewis, iniciado nos círculos esternos da Ordem do Templo do Oriente (O.T.O.).

Desobedeceu ele as ordens dos seus superiores, dando a sua organização o Nome que absolutamente não merecia; traiu ele o seu mestre, ao qual, rico como se tornara pelas suas intrujices, deixou praticamente morrer de fome (pois assim era a Sua vontade); e foi por sua vez traído pelos seus comparsas em profanação. Esta “ordem” desobedece ao mais sério preceito de toda Ordem Iniciática real, em que recebe dinheiro para conferir iniciações. The Rosicrucian Fraternity in América, inicialmente de origem maçônica superior, degenerou progressivamente e, sob a gestão de R. Swimburne Clymer, traidor e infame membro da Loja Negra, foi corrompida pelos mesmos métodos da grande feitiçaria. É agora, com justiça, desprezada e encarnecida pelas Ordens que tentou usurpar.

A Fraternitas Rosicruciana Antiqua foi iniciada por um membro de alto grau da O.T.O., com permissão de seus superiores; mas a resolução do fundador (Dr. Arnold Krumm-Heller, “Huiracocha”) de usar o nome ROSA-CRUZ foi deplorada por todos os Irmãos, os quais por conseqüência se afastaram do fundador e da Ordem. Ela está agora em vias ou de dissolução ou de transmutação; que a responsabilidade de uma ou da outra recaia sobre seus dirigentes, como já recaiu sobre o seu fundador!

31 Sobre a Grande Fraternidade dos Irmãos da Luz

A Grande Fraternidade dos Irmãos da Luz tem várias subdivisões, das quais as principais para este planeta são a Fraternidade Negra (que não deve ser confundida com a Loja Negra), a Fraternidade Amarela e a Fraternidade Branca. Elas são simbolizadas na Cabala pelos três filhos de Noé.

A Fraternidade Negra mantém que toda manifestação tem forçosamente que ser da natureza de sofrimento; que o fito do homem deve portanto ser esgotamento do Karma pessoal e absorção no Nirvana. Nessa Fraternidade foi o Buddha Sidharte Galtama o maior expoente; seu livro canônico foi o Dhammapada.

A Fraternidade Amarela mantém que toda manifestação, sendo forçosamente resolvida de cima, deve Ter razão de ser; e que portanto o fito do homem deve ser adaptar-se plasticamente às condições de manifestação, eliminando fricção, e jamais presumindo de modificar, de uma maneira ou de outra, os processos da Natureza. O maior expoente dessa Fraternidade foi Lao-Tse, e seu livro canônico o Livro do Tao.

A Fraternidade Branca mantém que o fito do homem é tornar-se aquilo que Madame Blavatsky chamava um Nirmanakaya; que a Grande Obra é a transmutação progressiva, primeiro dos metais pessoais em ouro, depois dos metais planetários em ouro, e finalmente dos metais universais em ouro; e que o propósito e divertimento do adepto deve ser fazer com que o deserto floresça de beleza e perfume. O maior expoente dessa fraternidade foi e é a Grande Besta do Apocalipse e seu livro Canônico, que não é seu, mas pertence a Nossa Senhora das Estrelas, ao Fogo Divino e à Criança Solar, é o Livro da Lei.

E porque tu não possuis Sabedoria, não saberás se essas três Fraternidades, que sempre se antagonizam e completam umas as outras, fazem uma ou fazem três. Ouça aquele que tem ouvidos de ouvir.

32 – Sobre os sábios do Oriente

Lao-Tse veio ao mundo e disse, entre outras coisas, que o Tao que pode ser concedido não é o verdadeiro Tao. Portanto os homens se reuniram e, depois de sua morte, fizeram um Salvador de Lao-Tse; e hoje seu livro é um joguete dos tolos e pedantes. Thoth (mas realmente Tahuti) veio ao mundo e disse, entre outras coisas, que a sabedoria consiste em estruturalizar a mente de uma forma tão orgânica, tão flexível e tão fluída, que a mente se torna um veículo adequado para o Verbo Criador. Portanto os homens se reuniram e, depois de sua morte, fizeram um Salvador de Thoth; e hoje Seu Livro é em parte usado como base de jogos de salão.

Buddha veio ao mundo e disse que não havia nem salvador nem salvação, que dores e macerações não conduzem o homem à paz divina; que toda manifestação era necessariamente da natureza de um sofrimento, e que a essência da sabedoria consiste na extinção. Portanto os homens se reuniram e, depois de sua morte, fizeram um Salvador de Buddha, rezaram penitência em seu nome, e imploraram a ele que os conduzisse à libertação.

Dionísio veio ao mundo, ele, Osiris Ressurrecto, e ensinou aos homens que no processo de geração, com sua morte e ressurreição, está contido o supremo mistério da construção do templo do Espírito Santo, do Verbo manifestado em carne, do Reino na Terra. E portanto os homens adoram-NO sob muitos nomes, inclusive o de Jesus, e rogam-lhe que os conduza à salvação. E no entanto, Ajuda-te, que Deus te ajudará, diz a sabedoria do povo. Mohammed veio ao mundo e destruiu parcialmente a grande feitiçaria da Loja Negra, engendrada após a extinção metódica da Igreja Gnóstica Exotérica, e perseguição que durou vinte séculos da Igreja Gnóstica Esotérica. Glória a Mohammed, Espada de Deus! Profeta parcial, mas profeta contudo, da Unidade de Deus e da Virilidade do homem! E agora, vos é dito: Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.

Ouça aquele que tiver ouvidos de ouvir a Voz da Besta 666.

33 – Chamando os Filhos do Sol

A nossa Fraternidade é a Fraternidade dos Filhos da Luz. A nossa Habitação é o Lago de Fogo Eterno, o Sol. O nosso Pai é Satã, o Senhor do Fogo Eterno, o Senhor do Sol, o Logos Solar. Os nossos chefes são a Besta 666, o Leão Solar, e a sua Concubina BABALON. Quando encarnados sobre a Terra eles são sempre um homem e uma mulher, cuja atividade superior desperta o fogo estelar no coração dos homens.

Acima de nosso Pai Satã, que também foi através dos tempos chamado Abrasax, Mitras, Ra, Bal, Al, Allah, Cristo e incontáveis nomes, há Nossa Senhora das Estrelas, em cujo seio nosso Pai repousa, e Hadit Seu Esposo, dos quais nada é permitido revelar, e dos quais nosso Pai é um dos filhos, cujo corpo é a Estrela Sol.

Os homens sempre tem adorado o Sol Espiritual, do qual somos chispas cristalizadas sobre a Terra, e nossos sonhos e anseios divinos são memórias de nossa Casa, o Imenso Lago de Luz. Falamos aqui dos Filhos do Sol, pois há outros encarnados sobre a Terra que são filhos de outras estrelas; pois, como está escrito, a casa de meu Pai tem muitas moradas. Mas estas coisas são de interesse apenas para os mais altos iniciados, porque só eles podem realmente compreende-las e utilizá-las.

Na era de Aquário-Léo, o mundo já foi regenerado pelo Fogo; a Estrela caiu sobre a Terra, e a escuridão do mundo já se enverdece e galardoa de Aurora. Hoje Ele não é nosso Pai, apenas; é nosso Mestre e nosso Esposo; é Nós Mesmos, a Criança Coroada e Conquistadora, Horus, o Filho de Isis e Osiris, em seu nome Heru-Ra-Há; o Deus Menino, o Verbo feito Carne em cada um de nós!

Tu que és eu mesmo, além de tudo meu;

Sem natureza, inominado, ateu;

Que quando o mais se esfuma, ficas no crisol;

Tu que és o segredo e o coração do Sol;

Tu que és a escondida fonte do universo;

Tu solitário, real fogo no bastão imerso;

Sempre abrasando; tu que és a só semente

De liberdade, vida, amor e luz eternamente;

Tu, além da visão e da palavra;

Tu eu invoco; e assim meu fogo lavra!

Tu eu invoco, minha vida, meu farol,

Tu que és o segredo e o coração do Sol

E aquele arcano dos arcanos santo

Do qual eu sou veículo e sou manto

Demonstra teu terrível, doce brilho:

Aparece, como é lei, neste teu filho!

Amor é a lei, amor sob vontade

Esta foi a primeira publicação thelêmica no Brasil, resultado de uma ordália passada por Frater Saturnus à Frater Aleph. Pouco depois de lança-lo, Marcelo Motta o recolhe logo em seguida por discordar de algumas conclusões a que chegou na obra. Poucos compraram na época, sendo um deles Frater Thor.

Marcelo Motta

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/thelema/chamando-os-filhos-do-sol/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/thelema/chamando-os-filhos-do-sol/

As Origens da Mitologia Grega

O mito era o coração da sociedade grega antiga, como forma de entender os fenômenos naturais e os acontecimentos sem a ação dos humanos. Os gregos, crentes nas histórias e nas narrativas dos poetas, estabeleceram rituais e cultos fundamentados nessas lendas heróicas, divinas e humanas. Desde aquele tempo, o ser humano precisou criar concepções lógicas acerca das histórias contadas apenas pelos poetas. O filósofo Homero fazia a educação da Grécia e, para os gregos, os mitos eram a mais pura verdade.

Os deuses eram divindades com atribuições próprias e com inúmeros poderes. Eram imortais, podiam salvar ou destruir. Tinham o poder de transformar-se em objetos e animais ou adquirir outras personalidades. A mitologia, embora seja repleta de narrações sobre batalhas, traições, intrigas e maldades, servem para interpretação subjetiva dos diversos arquétipos que ainda hoje são muito atuais e que encontramos em nossos dias.

Localizada na junção da Europa, Ásia e África, a Grécia é o berço de nascimento da democracia, da filosofia e literatura, da historiografia e ciência política e dos mais importantes princípios matemáticos. É o berço de nascimento do teatro ocidental, incluindo os gêneros do drama, tragédia e o da comédia e dos jogos olímpicos.

Apaixonados pelo debate e pela controvérsia, os gregos criaram os primeiros ordenamentos políticos com cunho democrático, onde compartilhavam e defendiam argumentações. Esses princípios fundamentais definiram o curso do mundo ocidental e também divulgaram a mitologia grega, que ainda se torna eficiente, segundo muitos autores, para a educação acadêmica como também para um entendimento profundo e filosófico do ser humano.

Segundo estudiosos, diversas teorias buscam explicar as origens da mitologia grega:

* Teoria Escritural, as lendas mitológicas procedem de relatos dos textos sagrados, no qual os feitos reais foram disfarçados e, posteriormente, alterados.

* Teoria Alegórica: os mitos antigos eram alegóricos e simbólicos, porém com verdade moral, religiosa ou filosófica ou um fato histórico que, com o passar do tempo, passou a ser aceito como verdade.

* Teoria Histórica: todas as personas mencionadas na mitologia foram seres humanos reais, e as lendas sobre elas são meras adições de épocas posteriores.

* Teoria Física: os elementos ar, fogo e água foram objetos de adoração religiosa, e passaram a ser personificações desses poderes da natureza.

Os historiadores acreditam que os gregos começaram a dar novas interpretações acerca das coisas e a desacreditar dos poetas e dos dramaturgos, insistentes em inventar narrativas e lendas sobre a origem e os motivos das coisas. Ao tentar aprofundar sua compreensão sobre os mitos gregos, o homem da Grécia antiga encontrou certas limitações e contradições nessas histórias, o que desencadeou em uma série de processos filosóficos.

A filosofia surgiu justamente para compreender a verdade, mas de outra forma. Uma das contradições, defendidas por historiadores, foram as viagens marítimas empreendidas pelos gregos e a exploração de algumas regiões nas quais acreditavam serem habitadas por deuses. Porém, ao visitá-las, puderam constatar que era povoada por seres humanos.

As explorações marítimas dos gregos – uma das primeiras do homem antigo – contribuíram para a decadência do mito. Os estudiosos acreditam que os gregos, ao inventarem o calendário, conseguiram calcular o tempo como forma de prever e entender os estados térmicos, o sol e a chuva e outros fatores climáticos, antes vistos como feitos divinos e incompreensíveis. Isso proporcionou uma grande mudança na crença dos mitos.

De forma semelhante, a invenção da moeda como forma de trocas abstratas e a escrita alfabética, como forma de materialização de textos antes propagados somente pela oratória, além da invenção da política para a exposição das opiniões sociais, foram marcos da sociedade grega que, com o início dessa vida urbana e mais moderna, começou a tecer bases para o artesanato, o comércio e outras criações, que propiciaram a depreciação dos mitos.

Com essas mudanças, o homem viu a necessidade de entender e desenvolver, criando a filosofia para suprir essa incompreensão. Os filósofos e estudiosos creem que as habilidades poderosas de mudança saíram das mãos dos deuses imaginários, foram assumidas pelos homens antigos e se estendem até nossos dias atuais, onde acreditamos que uma administração política adequada — realizada e levada avante pelos homens e não pelos deuses — pode resultar numa influência positiva nas sociedades, assim como uma administração inadequada resulta em influências negativas.

OS ARQUÉTIPOS

Arquétipo é um termo usado por filósofos neoplatônicos, como Plotino, para designar as ideias como modelos de todas as coisas existentes, segundo a concepção de Platão. Nas filosofias teístas o termo indica as idéias presentes na mente de Deus. Pela confluência entre neoplatonismo e cristianismo, termo arquétipo chegou à filosofia cristã, sendo difundido por Agostinho, provavelmente por influência dos escritos de Porfírio, discípulo de Plotino.

Arquétipo, na psicologia analítica, significa a forma imaterial à qual os fenômenos psíquicos tendem a se moldar. C. G. Jung usou o termo para se referir aos modelos inatos que servem de matriz para o desenvolvimento da psique. Eles são as tendências estruturais invisíveis dos símbolos. Os arquétipos criam imagens ou visões que correspondem a alguns aspectos da situação consciente.

Jung deduz que as imagens primordiais, um outro nome para arquétipos, se originam de uma constante repetição de uma mesma experiência, durante muitas gerações. Funcionam como centros autônomos que tendem a produzir, em cada geração, a repetição e a elaboração dessas mesmas experiências. Eles se encontram isolados uns dos outros, embora possam se interpenetrar e se misturar.

O núcleo de um complexo é um arquétipo que atrai experiências relacionadas ao seu tema. Ele poderá, então, tornar-se consciente por meio destas experiências associadas. Os arquétipos da Morte, do Herói, do Si-mesmo, da Grande Mãe e do Velho Sábio são exemplos de algumas das numerosas imagens primordiais existentes no inconsciente coletivo. Embora todos os arquétipos possam ser considerados como sistemas dinâmicos autônomos, alguns deles evoluíram tão profundamente que se pode justificar seu tratamento como sistemas separados da personalidade. São eles: a persona, a ânima, o animus e a sombra.

Chamamos de instinto aos impulsos fisiológicos percebidos pelos sentidos. Mas, ao mesmo tempo, estes instintos podem também manifestar-se como fantasias e revelar, muitas vezes, a sua presença apenas através de imagens simbólicas. São estas manifestações que revelam a presença dos arquétipos, que as dirigem. A sua origem não é conhecida e eles se repetem em qualquer época e em qualquer lugar do mundo – mesmo onde não é possível explicar a sua transmissão por descendência direta ou por fecundações cruzadas, resultantes da migração.

Os arquétipos são a principal origem da ligação entre a Física e a Psicologia, pois é por meio deles que os fenômenos psíquicos estudados pela psicologia analítica se manifestam, frequentemente violando as leis físicas da ordem temporal e espacial. O estudo interdisciplinar destas estruturas imateriais e seus fenômenos teve origem com Jung e Pauli, na primeira metade do século 20, estendendo-se até hoje com a linha de pesquisa da Física e Psicologia.

Por Lúcia de Belo Horizonte.

#Mitologia #MitologiaGrega

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/as-origens-da-mitologia-grega

A Cotação do Ouro de Hoje

A cada quatro anos, atletas de centenas de países se reúnem em um país pré escolhido com o objetivo de competirem e ver quem é o mais foda dentre os fodões. Para evitar mais desgraças do que as que os telejornais nos transmitem todos os dias, essas competições se restringem apenas a modalidades esportivas. Diz a lenda que o objetivo dessa disputa acerrada entre os atletas é a união de povos e raças, a paz a amizade e o bom relacionamento.

Esse período de 4 anos entre os jogos recebe o nome de olimpíada, mas curiosamente os jogos que marcam o fim e o início de uma olimpíada receberam o nome de olimpíada também. É como pegar uma forma de assar, colocar massa dentro, rechear a massa de maçãs, assar e depois de 40 minutos tirar do forno e gritar: PESSOAL A FORMA DE ASSAR ESTÁ PRONTA! Bem assim somos nós.

Outra lenda afirma que os jogos olímpicos tiveram inícia na Grécia antiga, na cidade de Olímpia, e os jogos além de não contarem com a participação feminia – afinal estamos falando de gregos – eram dedicados a Zeus, que tinha sua casa de veraneio favorita no monte Olimpo. Mas na verdade esses jogos que praticamos hoje começaram mesmo no ano de 1896. Nos primeiros jogos lendários os vencedores ganhavam ramos de oliveiras como prêmio, mas com o passar do tempo as pessoas julgaram que ninguém competiria para ganhar um galho morto de árvore e assim mas olimpíadas de 1896 o vencedor receberia uma medalha de prata e o segundo colocado levaria para casa o galho morto de árvore – talvez para lembrar a ele que o segundo colocado é o primeiro perdedor. Foi apenas nos Estados Unidos, no verão de 1904, que teve início a moda de entregar medalhas para o primero, segundo e terceiro colocados. Curiosamente a medalha de ouro na época era de ouro maciço, mas em algum momento perceberam que precisavam usar muito ouro para isso e dois jogos depois, em 1912, a medalha do primeiro lugar foi substituida por uma medalha de prata banhada a ouro, com pelo menos 6 gramas de ouro puro nessa cobertura; se quiser saber quem foram os pão-duros que tiveram essa idéia lembre-se que os jogos de 1912 foram na Suécia, o lar de grandes invenções como ABBA, Roxette e Cardigans.

 

Bem, e por que você está perdendo seu tempo com isso?

Além de servir como ótima tática de xaveco em baladas nas épocas de olimpíadas, esse costume de premiar os três melhores competidores mundiais nos mostram coisas interessantes sobre seres humanos.

Nestes jogos de 2012, que talvez sejam os últimos jogos olímpicos antes do fim do mundo da Profecia Maia, um momento me chamou a atenção. Estava eu de pé na sala, fumando um cigarro com a televisão ligada, enquanto passava minhas calças, e um frênezi insano, recheado de gritos e berros tomou conta da transmissão. Eu sabia que era uma competição de natação, porque conseguia perceber a piscina com o canto do olho, e resolvi dar uma olhada para ver se tinha sorte de conseguir captar alguma atleta de maiô pulando para cima e para baixo comemorando sua vitória. O que vi foi mais interessante – não sexualmente mas psicologicamente.

Um marmanjo peludo todo entusiasmado gritava e pulava, infelizmente com seu shorts sunga, segurando sua medalha. Um olhar mais atento revelou que a medalha que ele segurava não era a de ouro – afinal, ninguém pularia daquele jeito por “no mínimo 6 gramas de ouro” – e sim de bronze. O nome do nadador era Brendan Hansen e ele havia ganho os 100 metros de nado peito, um nome curioso para uma modalidade que se permite o uso dos braços e pernas do nadador. Bem, Brendan tinha e ainda tem inúmeras razões para comemorar daquele jeito: ele era o competidor mais velho naquela modalidade com 31 anos, ele estava voltando de uma aposentadoria, estatisticamente nadadores com mais de 30 anos não ganham muitas medalhas, ele foi o 13o a conseguir uma, e ele não era o favorito. Claro que existe mais uma razão para ele estar feliz daquele jeito, a medalha que ele ganhou foi a de bronze e não a de prata.

Se você parar para pensar agora, numa competição entre centenas de pessoas, incluindo você, se tivesse a chance de estar entre os três melhores, mas não como o melhor, preferiria chegar em segundo ou em terceiro lugar?

Em 1995 três pessoas pararam para pensar nisso. Bem não exatamente nisso, mas em algo que levou a esta pergunta. Vicki Medvec, Scott Madey e Tom Gilovich pegaram vídeos dos jogos olímpicos de Barcelona e esturam incessantemente apenas o fim das disputas, o momento exato em que os competidores de determinada competição descobriam como haviam se saído – viam as notas dos juízes ou em que posição haviam terminado. Então eles analizaram as emoções de cada um deles novamente quando subiam ao pódio para receber suas medalhas. Sabe o que eles notaram? Duas coisas:

– Medalhistas de ouro mostravam as emoções positivas mais intensas;

– Medalhistas de bronze tinham emoções positivas muito mais intensas do que medalhistas de prata.

Bem, eles pensaram, que bizarro esses competidores olímpicos. E então repetiram o estudo no Empire State Games – uma espécie de jogos olímpicos anuais para atletas amadores do estado de Nova Iorque. E então em outras competições. E eles repararam que o quadro se repetia:

– Vencedor do ouro: feliz pra caralho;

– Vencedor da prata: putz que legal que eu tou aqui;

– Vencedor do bronze: feliz pacas;

O que os pesquisadores deduziram disso?

Antes de prosseguirmos façamos uma pequena pausa para descansar, olhar ao redor e parecer que não está lendo textos da internet no horário de trabalho. Ou para ir dar aquela mijadinha. Aproveite e veja se tem mais gente por perto e proponha o seguinte jogo:

Cada pessoa coloca R$10 reais num bolo em uma mesa. Todos ficam em volta do bolo de dinheiro. Pegue um maço de baralhos e embaralhe bem. Então decidam que carta vai ser a carta da sorte. Cada pessoa vai tirando uma carta do topo do maço, que deve estar virado para baixo, e a mostra a todos. Se a carta que a pessoa tirar a carta escolhida (um oito de paus por exemplo), ela leva a bolada. Para melhorar discutam para decidir quem começa tirando a primeira carta. Para melhorar ainda mais lembre a todos que como as cartas foram embaralhadas, estão ordenadas aleatoriamente e que a ordem de virar a carta influenciará no resultado.

Normalmente num jogo desses uma pessoa ganha, outras perdem. A que ganha leva a grana para casa, as que perdem costumam ficar pensando no que seria diferente se elas tivessem escolhido ser a segunda ou terceira ou primeira a tirar a carta. Esse tipo de pensamento acerca do que poderia ter sido diferente numa sequência aleatória de acontecimentos, quando esses acontecimentos são influenciados pela ordem em que ocorrem – parecendo assim possuir um efeito de ordem temporal (e se eu tivesse tirado antes ou depois?) – e consequentemente começam a atribuir emoções de culpa ao jogador que jogou antes delas. Ou seja, se o cara que tira a carta antes de você ganha, você olha pra ele e pensa: filho da puta!

A isso damos o nome de pensamento contrafactual.

Descansados? Voltemos ao texto.

Como dizia, os pesquisadores atribuiram as respostas emocionais dos medalhistas de prata e bronze a algo chamado “Pensamento Contrafactual”. Uau! Onde já ouvimos esse nome antes? Bem o pensamento contrafactual são os pensamentos de o que poderia ter acontecido se as coisas tivessem sido diferentes ou se algo diferente tivesse acontecido no meio das coisas.

Ou seja, para os pesquisadores o medalhista de prata fica puto porque ele não venceu. Ele foi o segundo colocado, mais um pouco e ele seria ouro. O MELHOR DE TODOS! O sr. Prata não fica pulando de alegria porque ele acaba se comparando com o sr. Ouro e a comparação não é positiva para o lado dele da balança. Já o sr. Bronze não se preocupa com a prata ou o ouro, ele olha para trás e vê quanta gente atrás dele não ganhou uma medalha, assim ele acaba fazendo uma comparação onde o lado dele tem saldo positivo.

Ou seja, quando você ganha a medalha de prata é muito difícil não pensar: “Cara, que merda, se eu tivesse ido um pouquinho de nada mais rápido, um segundinho… se no final eu desse um pouquinho mais de mim…”. Já quando ganha a de bronze naturalmente pode pensar “eu poderia ganhar ouro se tivesse me saído melhor”, mas é muito mais fácil cerebralmente pensar “Cara… eu quase fico sem medalha… SE FODEU POVÃO… UHUUUUU BEIJEM O MEU BRONZE HAHAHAHAHAHAHA”.

Isso combina com outro aspecto curioso de nosso cérebro, o enquadramento. Veja você se considera uma boa pessoa? Você se considera uma pessoa bonita, ou gorda? Repare na sua resposta a essa pergunta e se questione, por que acha isso? Nosso cérebro não é muito bom em julgar coisas de forma objetiva, para criar um julgamento ele tem que usar uma base de comparação. Assim você pode não se achar uma musa ou um Deus Grego da Beleza, mas com certeza sabe que tem muita, mas MUITA, gente mais feia do que você por ai. Sabendo disso seu cérebro cria uma tabela comparativa e responde para você onde ele se coloca nessa lista. Você é a melhor pessoa naquilo que faz, profissionalmente ou por hobbie? Existem melhores? Existem piores? Esse é um dos motivos que faz com que pessoas tenham inveja de colegas e vizinhos, já que para se classificarem elas precisam de um comparativo, seu apartamento é legal? Seus filhos são inteligentes? Seu pau é grande? Seu carro é foda? Sua bunda é um pedaço de mau caminho? Para responder isso você vai ter que procurar os apartamentos dos amigos, os filhos dos outros, os paus dos atores pornôs, aquelas vagabundas de fio dental na praia. Nós somos incapazes de julgar nossas qualidades e defeitos em um sentido absoluto. E isso inclui nossas performances.

E assim, da mesma forma que com o pensamento contrafactual, o medalhista de prata se compara com o medalhista de ouro, já o medalhista de bronze se compara com todos os que não receberam medalhas.

Curiosamente essa resposta dos medalhistas pode explicar muita coisa da sua vida. Por exemplo, por que existe tanta insegurança sobre o que estamos fazendo? Estou tratando tal pessoa da forma certa? Será que fiz direito naquela reunião de emprego? Digo ou não digo isso pro meu chefe? Tento criar um projeto novo ou simplesmente continuou no arroz com feijão? Dependendo do seu enquadramento, se for positivo ou negativo, você pode evoluir tanto afetivamente quanto profissionalmente quanto mentalmente ou seguir o caminho oposto e apenas adotar o que todos ao redor julgam ser o correto para poder criar uma imagem positiva de si mesmo/mesma.

Se você for um freelancer, pense: porque é tão difícil fazer orçamentos que condizam com o quanto você acha que seu trabalho vale? Melhor cobrar pouco e levar bronze do que chutar alto e não ser o primeiro colocado?

É o velho conselho do sábio zen, ou ele podia ser apenas uma pessoa estúpida também nunca saberemos, comprovado psicologicamente: Basear sua felicidade na expectativa dos outros é o caminho para a infelicidade.

Desta forma a celebração de Brendan não apenas faz sentido, mas era também esperada.

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Mas claro, apenas como forma de manter a competição animada, não podemos deixar de lado o sensação que um medalhista deve sentir não apenas por ganhar, mas de participar nos jogos olímpicos, afinal o objetivo dos jogos é a união de povos e raças, a paz, a amizade, o bom relacionamento e a carteira cheia. Afinal, você não acha que os medalhistas levam para casa apenas um souvenir dos jogos, acha?

Nessas olimpíadas de 2012:

– A Rússia paga R$ 270 mil para cada medalhista de ouro.

– A França paga R$ 130 mil para cada medalhista de ouro.

– O Japão paga R$ 72 mil para cada medalhista de ouro.

– A China paga R$ 63 mil para cada medalhista de ouro.

– A Coreia do Sul paga R$ 600 mil para cada medalhista de ouro.

– Cingapura nunca conquistou uma medalha de ouro. Porém, quem vencer ganhará um bônus de R$ 1,6 milhão.

– O Canadá paga R$ 40 mil para cada medalhista de ouro.

– A Estônia paga R$ 300 mil para cada medalhista de ouro.

– A Alemanha paga R$ 39 mil para cada medalhista de ouro.

– A Itália paga R$ 370 mil para cada medalhista de ouro.

– O Azerbaijão dará um bônus de R$ 1,5 milhão para cada medalhista de ouro.

– Os Estados Unidos paga R$ 50 mil aos medalhistas de ouro, R$ 30 mil aos medalhistas de prata e R$ 20 mil aos medalhistas de bronze. O pagamento é feito pelo Comitê Olímpico dos EUA.

– No Brasil, a premiação não é feita pelo governo, e sim por cada confederação. Na natação e nos saltos ornamentais, cada medalha de ouro vale R$ 100 mil. A prata de Thiago Pereira rendeu R$ 50 mil ao nadador. No judô, o ouro vale R$ 50 mil (foi o que venceu Sarah Menezes). No atletismo, a medalha de ouro vale R$ 30 mil, a prata, R$ 20 mil, e o bronze, R$ 15 mil.

Talvez os únicos atletas reais ainda nos dias de hoje sejam os ingleses, que ganham apenas um “obrigado” de seu pais. Os valores estão em reais.

por LöN Plo

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/mindfuckmatica/a-cotacao-do-ouro-de-hoje/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/mindfuckmatica/a-cotacao-do-ouro-de-hoje/

‘Árvore Qliphotica: Seu mapa de fuga da prisão

Tamosauskas

Este material é um acompanhamento do curso de Qlipoth: A Árvore da Morte, oferecido por Marcelo del Debbio adicionado de alguns insights pessoais do autor e apresenta uma introdução ao estudo da árvore da morte da cabala qliphótica. Esse estudo pode trazer medo quem só está acostumado com o lado luminoso da cabala e ilusões quem não está acostumado com cabala nenhuma. Ele fornece entretanto conceitos importantes tanto para quem quer evitar os erros do caminho com para quem quer se proteger da malícia dos demais.

Lida de cima para baixo a árvore da morte é um manual de como a opressão é criada e mantida,  Lido de baixo para cima entretanto pode ser vista como uma rota de fuga. Um mapa capaz de denunciar os mecanismos usados para nos escravizar. Este resumo trará a segunda opção com os nomes e características de cada Qlipha, bem como dos túneis que as ligam. Também foi incluído um pequeno questionamento meditativo em cada qlipha sobre os obstáculos que a árvore da morte impõe.Também será fornecida uma referência de ficção da literatura ou do cinema de uma distopia .

Entretanto a forma mais de compreender a árvore da morte é comparar cada um de seus elementos com seu correspondente na árvore da vida. Trata-se sempre de uma versão corrompida, prostituída e degenerada de sua contraparte. Por essa razão a cada elemento estudado será sempre mencionada a sephira ou caminho da qual é a sombra. Se estes nomes forem novidades para você, interrompa a leitura e faça um estudo da cabala pela via luminosa antes de continuar.

Conceitos chave:

  •  Árvore da morte: É o oposto da árvore da vida. Composta por qliphoth e túneis.Algumas pessoas tratam a árvore da morte como como as raízes subterrâneas, a sombra ou ainda o reflexo invertido da árvore da vida.
  • Qlipha: Qlipha (plural Qliphoth) é para a árvore da morte o que uma sephiras é para a árvore da vida. Cada uma possui sua correspondente em uma das duas árvores. Qlipha significa literalmente casca no mesmo sentido da casca de uma fruta, que depois de separada de sua polpa doce e nutritiva e só que só serve para ser jogada fora para servir de adubo.
  • Túneis: Os túneis ligam duas qliphoth na árvore da morte da mesma maneira que os caminhos ligam duas sephiroth na árvore da vida. São pontos em que duas forças se influenciam mutuamente gerando um resultado específico e que engana e prende a luz como uma teia.

Vejamos agora as Qliphoth e seus túneis separadamente:

X – Nahema (Os sussuradores)

Sombra de Malkuth

Conceito chave: escravidão

Ficção distópica: Matrix

Também chamada de Lilith. Esta é a masmorra, o porão da árvore da morte. É o resultado concreto em um reino de escravidão, ignorância e servidão onde em vez de perseguirem sua verdadeira vontade as pessoas aceitam, servem e obedecem completamente um sistema criado para aprisioná-las. É uma jaula fácil de ver por fora mais difícil de enxergar por dentro. Por essa razão é trivial detectar as ideologias, sistemas e religiões que manipulam outras pessoas mas é muito difícil detectar os sistemas que manipulam a nós mesmos. A primeira atitude para quem quer liberdade é se tornar consciente da falta dela.

Questionamento meditativo:

“Consigo enxergar os mecanismos de escravidão em que estamos imersos?”

 

IX –  Gamaliel (Os obscenos)

Sombra de Yesod
Conceito chave: Ilusão
Ficção distópica: Jogos Vorazes, a Ilha

Gamaliel é a terra das ilusões. Enquanto a imaginação consciente pode ser libertadora a mera fantasia é um grande obstáculo para o desenvolvimento. Em Gamaliel são produzidas as aspirações e ideias de que que um dia, de alguma forma a verdadeira realização virá e justificará toda escravidão dando então ao oprimido os mesmos benefícios que os opressores já tem.  Essa mitologia artificial deve de preferência durar toda a vida, por isso tradicionalmente nos sistemas religiosos a justificação só ocorre depois da morte. Enquanto isso, em termos de política, o socialismo convence as massas que a elite do partido é um mal temporário é necessário e o capitalismo convence os pobres que um dia, se tiverem sorte ou trabalharem muito poderão se tornar ricos. Tudo isso faz os prisioneiro serem os primeiros a defender suas prisões e a defender o mesmo sistema que os vampiriza. Na escala pessoal se trata da preguiça e da auto-ilusão que tudo consome e nada produz.

Questionamento meditativo:

“Quanto da minha criatividade é limitada pelas fantasias que consumo?”

 

Túneis:

32 (IX – X)

Thantifarax (Intolerância)

Sombra do Mundo

Afim de vender as ilusões de Gamaliel dominar os escravos de Nahema, Thantifarax, o carcereiro do jardim do éden, é a intolerância que garante exclusividade dos sonhos. Individualmente é a incapacidade de imaginar. Na sociedade  é o consumo apenas dos mitos enlatados e autorizados rechaçando qualquer sonho que saia da norma como ridículo, insano ou perverso.

 

VIII – Samael (O veneno de Deus)

Sombra de Hod

Conceito chave: Mentira

Ficção distópica: 1984

Esta qlipha é a ninho da mentira e da desonestidade intelectual e da auto-ilusão. Aqui os interesses são mais importantes do que a verdade e a própria linguagem é manipulada para não mais expressar a realidade mas sim favorecer nossos planos. No indivíduo essa sombra se manifesta sempre que pronunciamos inverdades e distorcemos os fatos por interesse próprio. Em uma escala maior ela faz nascer o controle da mídia para atender interesses políticos. Por essa razão quem tem o poder político sempre tentará controlar o poder midiático. Além disso o próprio controle de quais palavras e rótulos são usados para descrever uma situação já é uma expressão de poder. Usualmente em um sistema opressor bem estabelecido a liberdade de expressão é cerceada e toda produção intelectual precisa de aprovação.

 

Questionamento meditativo:

“Fui convencido de que algo é tão complicado que não possa entender?”

“Minto para mim mesmo por conforto ou comodismo?”

 

Túneis:

 

31(VIII-X) Shalicu  (preconceito)

Sombra do Julgamento
As mentiras fabricadas em Samael são perpetuadas no reino de Nahema através do preconceito. A cultura de escravidão e das falsas idéias são disseminada aqui por meio do uso de imagens, símbolos, piadas, histórias e linguagem viciadas que sustentam algumas mentiras essenciais.

 

30 (VIII-IX) Raflifu (falsos ídolos)

Sombra do Sol

Para assegurar que as mentiras se integrem a sociedade são construídos ídolos que representam o sucesso dentro de um sistema particular.  Estes falsos ídolos, são castas ou heróis que representam os sonhos encarnados dos escravos, mostrando que é possível chegar lá. Para serem como eles as massas o imitarão e farão tudo o que ele disser.

 

VII – A’arab’zarak (Os corvos da dispersão)

Sombra de Netzach

Conceito chave: Distração

Ficção distópica: Admirável Mundo Novo

Aqui gralham os corvos da dispersão cujo grande objetivo é tirar o nosso foco. Na esfera pessoal a influência dessa qlipha é sentida no escapismo de distrações usadas como válvula de escape para os problemas reais. Na esfera coletiva essas distrações reafirmam as ilusões criadas em Gamaiel e as mentiras criadas em Samael quando as autoridades desviam a atenção das massas mantendo-as ocupadas e longe das questões importantes e dos problemas reais. É o famoso Pão e Circo de Roma que se desenvolveu hoje para se transformar na indústria do entretenimento vazio onde o burlesco e o grotesco impede as pessoas de pensarem.

 

Questionamento meditativo:
“As distrações que me ocupam me afastam de meus problemas reais?”

 

Túneis:

 

29 (VII-X) Quliefi (Medo)

Sombra da Lua

Por outro lado quando os corvos da distrações falam diretamente com os escravos é sempre em um contexto de restrição no intuito de gerar um medo institucionalizado. Enquanto Tzuflifu diz que tudo vale, Quliefi brada que tudo é proibido. Isso torna os escravos confusos, sem saber como agir, para onde seguir e prontos para obedecer.

 

28 (VII-IX) Tzuflifu (Desejos)

Sombra do Imperador

As distrações de  A’arab’zmak quando conversam com as ilusões de Gamaliel criam um espaço onde finalmente os oprimidos podem dar vazão aos seus desejos. Numa escala pessoal aqui estão os vícios m geral Seguindo uma receita aprovada todos os desejos e paixões podem ser satisfeitos. Estes desejos não são apenas permitidos, mas compulsórios e quem quer que não os alimente é um proscrito.

 

27 (VII-VIII) – Paraxitas (Ódio ao diferente)

Sombra da Torre

As distrações de  A’arab’zmak somadas as mentiras de Samael se unem para formar uma casca mental de o ódio a tudo o que for diferente.  Assim esse túnel é a origem de toda cultura do “nós contra eles” e faz uma eficiente separação de seres humanos em grupos opostos. Se você identifica um certo ódio irracional a um tipo específico de ser humano, provavelmente já está respirando o ar deste túnel.

 

VI – Thagirion (O Sol Negro)

Sombra de Tipheret

Conceito chave: Egoísmo

Ficção distópica: V de Vingança

Thagirion é o agente centralizador das ações de todas as esferas vistas anteriormente. Ela queima com a  obsessão de fazer valer seus desejos acima de todas as outras  vontades e arde ao extremo de não emitir mais qualquer luz de cima. Isso faz  a estrela da vontade entrar em colapso gravitacional tornando-se um grande buraco negro no centro da árvore da morte. Em uma escala pessoal é o egoísmo autoritário, na história tem se traduzido na ascensão de imperadores na antiguidade e dos grandes ditadores industriais como Stalin, Hitler e Mao.

 

Questionamento meditativo:

“Abro mão de minha verdadeira vontade por medo e insegurança? Sou autoritário com alguém?”

 

Túneis:

 

26 (VI-VIII) A’ano’nin (Propaganda)

Sombra do Diabo

O imperativo egolatria de Thagirion é reforçado por meio da máquina da propaganda. Ou seja, um esforço ativo e oficial de promulgar sua ideologia e, muitas vezes, um culto a sua imagem divina. Na política pode surgir como um monopólio declarado dos meios de comunicação ou como criptocracia das mídias por parte

dos poderosos.

 

25 (VI-IX) SakSakSalin (Status Quo)

Sombra da Temperança

A normalização da realidade para atender os designeos de Thagirion é o que dá origem ao status quo. A idéia aqui é que a opressão não é apenas uma configuração arquitetada com malícia mas sim o estado natural e original das coisas. Qualquer tentativa de mudança é portanto não natural e fadada ao fracasso.

 

24 (VI-VII) Niantiel (Culto a juventude)

Sombra da Morte

Uma das maneiras de tornar seu controle certo é criar nos escravos um culto a juventude no qual qualquer acúmulo de sabedoria ou vivência é visto como não desejável. A indústria da moda, os padrões de beleza são alguns de seus efeitos físicos na coletividade. Mas o culto a ignorância e a infantilização são também sinais mais sutis deste túnel.

 

V – Golachab (Os incendiários)

 

Sombra de Geburah

Conceito chave: Violência

Ficção distópica: MadMax

Esta é a esfera da violência e da subjugação por meio do uso da força. Sua diretriz é reinar pelo terror causando danos, sofrimento ou morte em qualquer oposição. No mundo particular se traduz em ira ou mesmo violência doméstica e em termos de geopolítica na indústria bélica. O monopólio das armas e o constante pensamento belicoso é um dos mais antigos artifícios de tomada e concentração da autoridade. Se a concentração de força for desproporcional a opressão está garantida, permitindo como disse Sun Tzu, em A Arte da Guerra, subjugar o inimigo sem lutar. Quem controla as armas coloca-se ainda acima de todos os conflitos menores e geralmente prospera vendendo munição para os dois lados.

 

Questionamento meditativo:

“De quem ou do que tenho medo? Do que esse medo me afasta?”

 

Túneis:

 

23 (V-VIII) Malkunofat (Burocracia)

Sombra do Enforcado

A força de Gloachab se expressa no mundo das mentiras de Samael por meio da regularização extrema e imposição de regras e procedimentos explícitos. Aqui nascem os impostos dos governos,  as regras inúteis capazes de validar ou invalidar rituais e em particular a hierarquia das castas que colocam cada pessoa em seu devido lugar.

 

22 (V-VI) Lafoursian (Injustiça)

Sombra da Justiça

Enquanto as regras de  Malkunofat algemam toda intelectualidade, Lafousian estabelece a injustiça por meio de uma política de exceção. Por um lado isso significa que algumas pessoas terão tratamento especial enquanto outras pessoas enfrentarão todo o rigor da lei. A decisão de quem é quem cabe a quem possui o monopólio da violência.

 

IV – Gma’Asheklah (Os perturbadores)

Sombra de Chesed
Conceito chave: Ganância
Ficção distópica: Elysium

A influência dessa qlipha se revela quando a prosperidade e riqueza serve apenas a si mesma.  Quando isso acontece o comércio e a indústria não prosperaram mais provendo soluções, mas sim perpetuando problemas. Aqui nascem as atuais indústrias químico-farmacêutica-alimentar onde as sementes só podem ser plantadas uma vez para serem compradas e remédios de uso prolongado recebem mais pesquisas do que a cura das doenças propriamente ditas. É também a casa da indústria financeira onde riqueza não tem mais origem no trabalho e sim na especulação e nos juros sobre juros. Em uma escala microcósmica a influência dessa qlipha pode ser vista quando o dinheiro torna-se um fim em si mesmo.

 

Questionamento meditativo

“Quais são as coisas que cobiço? Do que essa cobiça me afasta?”

 

Túneis

 

21 (IV-VIII) Kurgasiax (Poluição)

Sombra da Roda da Fortuna

A fim de vender e enriquecer cada vez mais Gma’Asheklah produz neste túnel toda sorte de poluição. De um lado do túnel o vendedores vendem qualquer coisa que gere lucro, do outro lado o comprador compra qualquer coisa que lhe sirva de distração. Isso significa total negligência com as consequências de longo prazo, o meio ambiente e as outras pessoas.

 

20 (IV-VI) Yamalu (Suborno)

Sombra do Heremita

O poder do ego aliado ao desejo da riqueza por si só faz nascer o corrupto e o corruptor. Sabendo disso Gma’Asheklah e Thagirion se manipulam mutuamente o tempo todo, um para acumular ainda mais recursos e o outro para impor mais facilmente seus planos

 

19 (IV-V) Temphioty (Desumanização)

Sombra da Força

O acúmulo de poder como meta e a violência extrema como método nos levam ao último limiar da árvore da morte que ainda pode ser considerado humano. Aqui ocorre a completa desumanização e não existe mais nenhuma barreira. O “Nós contra eles” se degenera ainda mais e dá origem ao “Eu contra todos”.

 

III – Satariel (Os ocultadores)

Sombra de Binah

Conceito chave: Negação

Ficção distópica: Fahrenheit 451

Ocultar recursos, informações e possibilidades é o que rege esta qlipha. A idéia é que as pessoas não podem lutar contra um inimigo que você nem sabem que existe e não podem buscar por tesouros dos quais você nunca ouviram falar. Daí vem o impulso imediato de todo criminoso de ocultar o próprio crime e de todo ser humano de negar as próprias falhas. Além disso, quanto mais subimos na hierarquia de uma corporação, mais avessa ela será a transparência. Existem câmeras de vídeo apontando para a cabeça de todo caixa, mas nenhuma janela nas salas de reunião de cúpula. O governo nega ter conhecimento.

 

Questionamento meditativo:

“Sou um agente de luz e libertação ou um agente da restrição e ocultamento?”

 

Túneis:

18 (III – V) – Characith (Censura)

Sombra da Carruagem

A ocultação violenta se traduz em censura.  Ou seja, no uso sistemático de uma força superior para suprimir idéias, recursos e pessoas. Queimar livros, controlar acesso, proibir manifestações e calar pessoas são os primeiros degraus deste túnel, o último deles é a execução  de qualquer pessoa que pense ou fale demais.

 

17 (III-VI) – Zanradiel (Difamação)

Sombra dos Amantes

Difamação é outra arma usada para ocultar esforços da oposição. Numa escala pessoal este túnel se traduz na fofoca e na inveja, mas na humanidade não faltaram exemplos históricos do uso sistemático da difamação como no macartismo e na inquisição espanhola.

 

II – Ghogiel (Os estorvadores)

Sombra de Chokmah

Conceito chave: Confusão

Ficção distópica: Arquivo X

Enquanto Satariel preocupa-se em ocultar a realidade por meio da restrição e da falta de acesso, Gkogiel faz a mesma coisa por meio de um lamaçal de lixos inúteis, vomitando infinitas versões deturpadas da verdade. A idéia aqui é que a razão se não pode ser completamente eliminada ela será então ocultada em uma multidão de irracionalidade. A verdade desaparece assim em meio a um mar de mentiras. Um governo por exemplo pode criar e soltar as mais bizarras teorias da conspiração para ocultar a conspiração verdadeira tornando-se impossível distinguir o certo do errado. Os estorvadores causam a alienação pelo excesso de informação.

 

Questionamento meditativo:

“As coisas que consum, defendo, e acredito colaboram com minha verdadeira vontade?”

 

Túneis:

 

16 (II-IV) Uriens (Sectarismo)

Sombra do Hierofante

O enxame de lixo de Gkogiel  encontra a ganância de  Gma’Asheklah e dá origem ao túnel do sectarismo.  Em pequena escala aqui nascem as panelinhas, mas nas grandes corporações gera círculos internos dentro de círculos internos e eventualmente no surgimento de dissidências concorrentes.

 

15 (II-VI) Hemetherith (Loucura)

Sombra da Estrela

O ego inflado em Thagirion dá a luz a todo tipo de extravagância que reforça seu poder e caráter único distanciando-o das demais pessoas. Desvirtuada da verdadeira vontade quando mais poder, mais loucura ao ponto de não haver diferença entre o poder supremo e a loucura completa.

 

14 (II-III) Dagdagiel (Corrupção)

Sombra da Imperatriz

Ação dos ocultadores e dos estorvadores dão origem a corrupção em seu sentido mais abstrato, de essência estragada, ou core (núcleo), rupto (rompido). Se estabelece uma versão invertida do lema caoista e então “Nada é permitido e tudo é verdadeiro”. Daqui o erro se multiplica de forma virulenta para todos os outros túneis abaixo como uma herança maldita, um pecado original e um câncer fora de controle que cresce até consumir tudo, incluindo a si mesmo.

 

I – Thaumiel (O Gêmeo de Deus)

Sombra de Kether.

Conceito chave: Destruição

Ficção distópica: H.P. Lovecraft

Toda perversão vista nas outras sombras e que causam a escravidão ao desembocar em Nahema podem ser rastreadas até essa qlipha que essencialmente fala da essência do mal sendo causada por um ato de vontade externo ao sistema em uma intenção de destruí-lo. Essa é a única explicação possível para a existência da arte da morte, pois ela existe em uma constante situação de auto-destruição com diversos sistemas de opressão concorrendo uns com os outros e  se destruindo mutuamente. Segundo a tradição da cabala sepharadita, por exemplo, entidades de fora do nosso sistema solar, não podendo participar da criação de nosso mundo lançaram no coração humano suas sementes de corrupção e essas sementes por sua vez destroem toda a árvore da vida, de dentro para fora. Esses seres anti-cósmicos são retratados também nos mitos de H.P Lovecraft que fala de deuses extraterrenos completamente fora de nossa realidade, sem qualquer interesse humano e capazes de destruir tudo o que existe.

 

Questionamento meditativo:

 

“Eu mesmo colaboro com a escravidão e opressão de outras pessoas?”

 

Túneis

 

13 (I-IV) Gargoprias (Traição)

Sombra do Sacerdotiza

O agente externo é o verdadeiro manipulador que puxa os cordões de quem puxa o cordão. Ele promete o domínio completo da árvore ao mesmo tempo que estimula sua destruição, o resultado não poderia ser outro senão a traição. O ego pensa estar traindo o mundo quando na verdade está sendo traído e colaborando com sua aniquilação final.

 

12 (I-III) Barachial (Feitiçaria)

Sombra do Mago

As sementes do mal de Thaumiel podem corromper mais facilmente o sistema quando existe dentro dele um agente colaborador. A figura do mago negro como alguém que usa a feitiçaria de um poder sombrio superior é fácil de visualizar e representa bem este túnel, mas em outras escalas a feitiçaria está presente em qualquer ato intencional e consciente de maldade. Esse agente entende que a árvore da morte não pode ser mantida por muito tempo e, decidido a tirar o maior proveito possível antes da destruição final, opta pelo mal.

 

11 (I-II) Amprodias (Suicídio)

Sombra do Louco

O terceiro túnel que liga a Thaumiel é o daquelas pessoas que, entendendo que a árvore da morte é por si só decadente e que esconde em sua própria estrutura a essência de sua destruição, não vê outra solução senão destruir a si mesmo em antecipação da destruição do todo. Essas pessoas também optam pelo mal, mas levam seu ódio ao cosmos a última consequência acabando com sua própria vida numa tentativa de escapar do sistema.

 

Considerações finais

 

Embora essas explicações possam dar a entender que a Árvore da Morte só existe em grandes instituições, seitas e organizações, devemos considerar que o aspecto sombrio pode estar presente em qualquer manifestação. Mesmo uma relação a dois pode ser qliphotica. Ainda mais, é possível e bastante comum sabotarmos nós mesmos e assim fazemos sempre que nos desvirtuamos do caminho de nossa verdadeira vontade.

 

Rápidas Análises Qliphotica

Com base no que foi passado tentamos estruturar duas árvores da morte para servirem de comparação.

Este primeiro exemplo foi escolhido para mostrar como é muito fácil ver os mecanismos de escravização dos outros, particularmente um tão reforçado atualmente como a alemanha nazista. Por outro lado o atual sistema ocidental também tem um viés escravizador que muitas vezes passa despercebido.

Qlipha Terceiro Reich Ocidente
I. Thaumiel Mönch mit dem grünen Handschuh
(O monge da luva verde)
Elite Oculta (?)
(“Illuminati”, “sionistas”, “reptilianos”, etc..)
II. Ghogiel Contrainformação e Naziesoterismo
(Heinrich Himmler, Der Stürmer, Julios Evola, Savitri Devi Mukherji,
Karl Maria Wiligut)
Grande Mídia
(Thomson-Reuters, Time-Warner, News Corporation)
III. Satariel Gestapo
(Walter Schellenberg, Espionagem, Bücherverbrennung)
G8
(NSA, CIA, MI6, GCHQ, etc…)
IV. Gma’Asheklah Fascismo

(Lebensraum, Dr. Hjalmar Schacht )

Indústria Petroquímica
(Exxon Mobil, Chevron, Bayer, Basf, etc…)
V. Golachab Militarismo
(Invasões, Präventivkrieg, Holocausto, Einsatzgruppen)
Indústria Bélica
(Lockheed Martin, Constellis Holdings, Boeing, etc…)
VI. Thagirion Adolf Hitler

(Führerprinzip, Gleichschaltung)

Elite Financeira
Bilderberg Group, Fórum Econômico Mundial, etc…)
VII. A’arab’zmak Propaganda e Totalitarismo

(Lebensorn, Joseph Goebbels)

Show business e Politicamente correto
(Comcast, Disney, Sony, Viacom, etc..)
VIII. Samael Filosofia e Ciência Nazista
(Nietzschismo, Darwinismo Social, Eugenia,  Racismo, Joseph Mengele)
Controle da Informação
(Silicon valley: Google, Facebook, Amazon, Apple, Microsoft, etc..)
IX. Gamaliel Ideal Nazista

(Volksgemeinschaft, Herrenvolk, Richard Wagner, Leni Riefenstahl, Albert Speer)

American Way of Life
X. Nahema Povo Alemão Consumismo Global

A segunda análise traz duas aproximações genérica para facilitar o reconhecimento de uma natureza Qliphotica em cultos e organizações políticas. O primeiro caso é um bom exemplo de árvore da morte de ação particular, e o segundo de ação coletiva, embora é claro uma coisa afete a outra. Note que em ambos os casos em Thaumiel temos alguém que sobrevive ao desmoronamento de toda estrutura e que pode facilmente fundar outro grupo para reiniciar o processo de vampirização. Outro ponto interessante é que nestes exemplos fica clara a natureza fractal destas estruturas. Assim com a árvore da vida cada qlipha tem dentro de si uma mini árvore da morte. Dentro da Gestapo certamente os membros e subdivisões se organizam de modo semelhante, assim como o Politicamente Correto que rege o que é ou não pecado no mundo moderno tem expressões em todas as outras Qliphas.

Qlipha Grupos Religiosos Grupos Políticos
I. Thaumiel Alta hierarquia Alta Cúpula
II. Ghogiel Boataria Desinformação
III. Satariel Tabus Censura
IV. Gma’Asheklah Lavagem de Dinheiro Lobismo
V. Golachab Repressão Militancia agressiva
VI. Thagirion Líder do Culto Caudilhismo
VII. A’arab’zarak Monopólio Social Pão e Circo
VIII. Samael Doutrinação Propaganda
IX. Gamaliel Promessas da fé Ideologia
X. Nahema Cultistas Eleitores

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/cabala/arvore-qliphotica-seu-mapa-de-fuga-da-prisao/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/cabala/arvore-qliphotica-seu-mapa-de-fuga-da-prisao/

‘Os Jogos da Vida

Eric Berne

Jogos da Vida é o livro best seller do psiquiatra Eric Berne. Aqui ele apresenta de maneira bem didática os princípios e aplicações práticas da Análise Transacional, uma teoria psico-analitica e um método terapêutico que ele ajudou a desenvolver durante sua carreira. Trata-se de um guia universal para interpretar as interações sociais.

Ele descreve os três papéis ou estados do ego conhecidos como o Pai, o Adulto e a Criança e postula que muitos dos comportamentos disfuncionais que podem ser entendidos pela confusão entre estes três papéis em uma série de jogos mentais desonestos que costumamos jogar.

O livro trás um verdadeiro catálogo destes jogos da vida. É uma coleção de transações pelas quais as pessoas interagem que devido sua descrição e suas consequências muitas vezes são prejudiciais às partes envolvidas. O livro usa uma série de casos ilustrativos e frases com as quais se pode facilmente identificar quando um jogo em particular está sendo jogado e qual a melhor forma de solucionar a situação.

Por exemplo, no jogo intitulado “Agora eu te peguei filho da mãe.” alguém descobre que outra pessoa cometeu um pequeno erro. Em vez de resolver o problema o indivíduo então usa esse erro para alimentar uma série de animosidades. Todos nós em algum momento da vida vamos jogar estes jogos. Este livro pode ser um poderoso mapa para nos tornarmos conscientes deles de maneira a poder substituí-los por relações humanas menos prejudiciais, mais verdadeiras e sadias

A fome por transações

Crianças privadas por tempo prolongado do contato físico de suas mães ou equivalentes tendem a enfraquecer. Elas podem até mesmo morrer em consequência desse isolamento. Um fenômeno correlato é observado em adultos submetidos a privação sensorial em que ficam sem nenhum contato com outros seres humanos ou estímulos externos. Tal provação pode dar origem a psicoses passageiras semelhante a encontrada em indivíduos condenados a prisão em solitária. Além disso a privação emocional e sensorial pode produzir modificações degenerativas nas células nervosas que podem comprometer de maneira relativa ou definitiva todo o sistema nervoso.

Essa dependência do contato humano começa durante a gestação e se prolonga o resto da vida. Após um período de intensa intimidade com a mãe inicia-se a luta constante para conseguir esse sentimento de volta. A maioria das pessoas aprende a se satisfazer com formas de contato físico mais sutis e mesmo simbólicas. Até um simples aceno de reconhecimento pode servir a este propósito.  Mas por toda vida a fome por estímulos de relacionamento se mantém comparada a nossa fome por comida. Não é a toa que termos como desnutrição, saciedade, apetite, gourmet, jejum, entre outros são facilmente usados tanto no campo na nutrição como na psicologia. De forma semelhante, relacionamentos doentios são para o ser humano melhor do que a total ausência de relacionamentos. Preferimos o sofrimento ao não-reconhecimento, da mesma maneira que preferimos uma comida ruim a morrer de fome. Neste livro chamamos de transação a unidade básica de interação social que alimenta os relacionamentos humanos.

A Estruturação do Tempo

 

O objetivo de todo membro de um conjunto social é conseguir satisfazer-se tanto quanto possível de suas transações com os demais. Quanto mais sociável ele for, maior o número de transações que poderá obter. Por essa razão, as transações geralmente ocorrem em séries planejadas e não por mero acaso. Os seres humanos estruturam o tempo disponível no dia para saciar sua fome por transações assim como faz com os demais imperativos biológicos.

 

Existem basicamente quatro formas de se organizar o tempo em busca de transações: o trabalho, os rituais, os passatempos e os jogos. O trabalho é o método mais comum, mais conveniente. Uma tarefa útil, emprego ou projeto precisam de uma longa série de transações para serem realizadas e possuem naturalmente um reconhecimento final a ser obtido.

Os rituais por sua vez são os roteiros sociais que seguimos para adquirir transações previamente aceitas pela sociedade. Esportes, cultos religiosos e cerimônias como casamentos e aniversários podem ser rituais, mas o ritual mais conhecido são as boas maneiras. As boas maneiras variam de sociedade para sociedade mas em todas elas apresentam roteiros adequados e conhecidos por todos para cumprimentar, comer, ir ao banheiro, namorar, chorar  ou conduzir uma conversação. Alguém espirra, outra pessoa diz “Saúde” e ambas saem um pouco mais satisfeitas.

Já os passatempos são transações simples e complementares montadas em torno do objetivo básico em comum aos participantes. Passatempos são usados tipicamente em festas e reuniões sociais. Uma mesma festa pode haver um grupo se divertindo com “Fofocas” outro com “Educação dos Filhos” enquanto outro se entretém com Automóveis ou Receitas. O início e o fim dos passatempos são geralmente marcados por algum tipo de ritual.

Os Jogos

 

Apesar da importância do trabalho, dos rituais e dos passatempos, a maior parte da atividade social consiste em uma quarta categoria que chamaremos de jogos. Um jogo é um  pobre substituto para a verdadeira intimidade e se compõe de uma série de transações encadeadas e enfadonhas que se desenrolam com uma motivação oculta. A natureza desonesta dos jogos e seu desfecho previsível e geralmente dramático são o que os diferenciam dos passatempos.

Vale dizer que os jogos que formam a maior parte da vida social em todo o mundo são jogos inconscientes e os jogadores geralmente não percebem totalmente o que estão fazendo. Como veremos a própria percepção lúcida de seus mecanismos faz parte do processo para se vencer e abandonar estes jogos.

Uma boa forma de entender isso são os jogos de galanteio. Um amante diz para o outro: “Vamos na minha casa ouvir música” e a outra responde “Claro, desde criança que eu gosto de música.”. No nível social essa é uma conversa sobre música, no nível psicológico uma conversa sobre sexo. Outro exemplo fácil de entender é o do bullying, onde o perseguidor é na verdade uma pessoa carente em busca de aprovação. Existem várias outras possíveis abordagens e motivações ocultas para os jogos psicológicos. Para entendê-los melhor teremos que entender um pouco sobre os estados do ego.

Os Estados do Ego

Na Análise Transacional entendemos que a mente se manifesta por meio dos três estados de Ego correspondentes, que são eles o Pai, o Adulto e a Criança. Uma mudança de estado se reflete em mudanças na postura,pontos de vista, vocabulário e outros aspectos do comportamento.

O estado de ego Criança surge durante a primeira infância e perdura por toda vida como resíduos arcaicos. Quando a pessoa está neste modo suas reações e objetivos são os mesmos que teria se ainda fosse criança.

O estado de ego Pai é formada a partir da influência de pais e outras figuras de autoridade e é o reservatório de normas e valores, de conceitos e modelos de conduta, surge no indivíduo por volta dos 3 anos de idade. Neste modo a pessoa tem as mesmas reações, posturas, gestos e sentimentos da imagem que fez de seus pais.

O estado de ego Adulto é a parte da personalidade que são autonomamente dirigidos para uma avaliação objetiva da realidade. É a parte racional do ser humano, que pensa de forma independente desprovidos de preconceitos e influências sentimentais.

Estes são fenômenos normais e todo mundo carrega uma criança, um pai e um adulto dentro de si. Na Criança reside a intuição, a criatividade, o impulso espontâneo e o prazer. O Adulto é necessário para a sobrevivência. Atravessar a rua, por exemplo, exige uma série complexa de análises. O Pai por sua vez torna muitas das reações automáticas e isso poupa muito do tempo e energia do Adulto que pode se dedicar a situações não previsíveis.

É apenas quando um destes modos perturba o equilíbrio saudável do conjunto que uma reorganização da personalidade é necessária. Por exemplo, um chefe que porta com sua equipe como um pai controlador irá geralmente engendrar comportamentos infantis em sua equipe com birra e crises de ciúmes. Estas confusões acontecem em uma série de jogos psicológicos que veremos a seguir. Os verdadeiros vencedores destes jogos são as pessoas que conseguem reassumir seu papel de Adulto.

Estágios do Jogo

Uma característica essencial dos jogos é que eles seguem rumo a um desfecho, em geral prejudicial a um parcela ou todos os envolvidos.  Um jogo no primeiro estágio é aquele que é socialmente aceitável no círculo do jogador, podem causar algum embaraço mas nenhum dano sério.Os jogos de segundo estágio são aqueles que ainda não chegam a causar danos irremediáveis ou permanentes mas machucam emocionalmente e os jogadores já o preferem ocultá-los. Por fim no terceiro estágio estão os jogos que chegam ao seu caráter  definitivo e termina numa sala de operações, num tribunal ou no necrotério.

No primeiro estágio estão muitos jogos que não são prejudiciais. O trabalho voluntário, as boas ações e os cortejos podem todos ter razões ocultas muitas egoístas, mas não necessariamente efeitos danosos aos seus jogadores. Neste livro daremos ênfase aos jogos que tendem ao estágio dois e três.

A seguir veremos os principais jogos detalhados no livro:

O Alcoólatra

Tese: “Tenho me comportado mal: veja se pode fazer algo a respeito.”

Papéis: Alcoólatra, Perseguidor, Otário, Salvador, Conexão

Este é um jogo que pode envolver muitas pessoas. Essencialmente a pessoa se comporta mal para se tornar alvo de censura, preocupação ou generosidade. Como Criança espera que alguém tome a posição de Pai. Pode ser como Perseguidor que condena e pune, como Salvador, que suplica para que se comporte ou como Otário que se deixa agredir e o protege das consequências.

O jogo não é jogado apenas por viciados em álcool, jogo ou brigas de rua podem seguir o mesmo padrão. Mesmo crianças, em especial filhas de alcoólatras se entregam a este jogo sem beber comportando-se mal para conseguir a atenção que desejam.

Antítese: ser franco e tomar uma posição contratual Adulta se recusando a interpretar qualquer papel. Deve-se combinar que a pessoa também seja capaz de tolerar a abstinência tanto de beber como de jogar. Se não se mostrar capaz é melhor ser mandada a um Salvador profissional como os Alcoólicos Anônimos.

Agora eu te peguei seu filho de mãe.

Tese: Agora eu te peguei, seu filho da mãe.

Papéis: Vítima, Agressor

Este jogo envolve alguém dando a si mesmo a posição de Pai na tentativa de despertar a Criança ou um pai antagonista em outra pessoa. Ele pode ser visto nas mesas de poker. Um jogador recebe uma mão imbatível e em vez de se interessar na partida se interessa em ter algum outro jogador a sua mercê. Um marido pode usar uma conversa que lhe despertou ciúmes para repreender sua mulher a fim de libertar uma raiva  antiga, com sua mãe teria feito em uma situação análoga. Outro exemplo é um encanador que apresenta uma nota de pagamento levemente superior a combinada e em vez de negociar uma solução de modo digno e encontrar uma maneira adequada ambos aproveitam para criticar a qualidade do trabalho e mesmo o estilo de vida e caráter da cada um.

Antítese: A solução desse jogo é o comportamento correto.  Deve ser explicitado um contrato detalhado na primeira oportunidade e as regras devem ser estritamente seguidas.

Veja só o que você me fez fazer

Tese: Foi você que me colocou nessa situação. Eu não tenho culpa.

Papéis: Inocente, Culpado.

O objetivo deste jogo é a justificação do jogador como uma criança que se revolta contra os pais em vez de assumir responsabilidades. Na sua forma clássica é um jogo conjugal que em termos sexuais pode ser relacionada a reações como quando a ejaculação é prematura ou existe ansiedade de castração. Contudo também é jogado por pais e filhos  e no ambiente de trabalho

Antítese: Deixar o jogador em paz, sozinho se for um caso isolado ou delegar a ele todas as decisões caso tente fazer do jogo um modo de vida. Em alguns casos graves pode ser necessário buscar os benefícios da psicoterapia.

Mulher Fria

Tese: “Eu tentarei se você não deixar.”

Papéis: Esposa Decorosa, Marido sem consideração.

O marido procura a esposa e é repelido. Depois de várias tentativas ela diz que não é amada e todos os homens são animais que só querem sexo. O marido desiste por um tempo e tenta de novo com o mesmo resultado até que finalmente acaba por desistir. A mulher percebendo se faz provocante colocando uma camisola transparente por exemplo, ou se beber pode buscar flertar com outros homens. O marido reage e tenta de novo e é novamente repelido. O padrão escala e se repete até resultar na briga do casal. O ponto a ser ressaltado é que o marido também receia a intimidade e escolheu exatamente como companheira alguém que minimiza o perigo. Ambos reproduzem o padrão Criança-Pai/Mãe da sua primeira infância.

Antítese: Este é um jogo perigoso. Se um dos dois arranjar um amante o outro ganhará munição para jogar o “Agora eu te peguei seu filho da mãe.”. Os jogadores devem buscar psicoterapia individual ou , ainda melhor, um grupo de tratamento para casais.

Tribunal

Tese: Você precisa dizer que eu estou com a razão.

Papéis: Acusador, Acusado, Juiz

Este jogo pode se desenrolar em família, grupos de terapia, consultórios e mesmo em programas de televisão. Neste jogo duas Crianças procuram a intervenção de um Pai que seja o juiz e que diga que um dos dois tem razão.

Antítese: Recusar-se a assumir o papel de juiz e expor a verdade da situação apresentada.

Veja como eu me Esforcei

Tese: “Vejam só quanto me esforcei.”

Papéis: Obstinado, Perseguidor, Autoridade

Este outro jogo conjugal pede também três jogadores que em seu modo clássico são o marido, a esposa e o terapeuta. O marido quer se separar mas declara enfaticamente o contrário. A esposa  é sincera em seu desejo de conservar o casamento.  Ele vai contrariado ao consultório mas com o passar do tempo exibe ressentimento crescente contra o terapeuta. Seu comportamento piora até que ele se recusa a continuar. A esposa é levada a considerar a possibilidade da separação e o marido não precisa mais se sentir culpado pois foi ela que tomou a iniciativa e ele inclusive demonstrou boa fé indo ao terapeuta.  Este jogo é também observado em crianças que ao realizar uma de suas obrigações ou deveres e não os faz alegando desconhecimento ou os faz tão mal que necessita ser chamada atenção. Quando isso acontece se sente livre da culpa de não fazer o combinado.

Antítese: O marido deve ser mandado para casa com a explicação de que está menos preparado para a terapia, que continua com a esposa. Ele ainda poderá conseguir o divórcio mas às custas de abandonar o jogo. No caso dos pais devem mostrar a criança que seu esquema foi descoberto e não pode mais ser usado.

Desastrado

Tese: “Você tem que desculpar coisas que parecem acidentais”

Papéis: Agressor, Vítima

Um convidado em uma festa derruba coquetel no vestido da anfitriã que sente raiva mas se controla. O convidado pede desculpas e a anfitriã ou resmunga ou deixa claro seu perdão. O problema é que neste jogo o jogador continua quebrando as coisas e a anfitriã continua perdoando. O objetivo do jogo não é destruir mas obter o perdão ou a raiva da pessoa e transições entre o desastrado que se coloca como uma Criança e um Pai que tem que lidar com ela.

Antítese: No caso de repetição incômoda do jogo a solução é não oferecer a absolvição pedida, mas tornar o jogo as claras com algo do tipo “Você pode derrubar os copos e molhar o tapete, mas, por favor, não fique pedindo desculpas.”

Só estou querendo ajudar

Tese: “Ninguém faz o que eu digo.”

Papéis: Pessoa que ajuda, Pessoa que é ajudada.

Este jogo pode ser jogado em qualquer situação profissional. O jogador dá um conselho vago ou difícil de ser executado a alguém que mais tarde retorna dizendo que não obteve o efeito desejado. O jogador tenta de novo e o ciclo se repete. Se o outro jogador for hostil pode tentar jogar um “Olha o que você me fez fazer” e é nesse ponto que o profissional assume que a pessoa não seguiu suas exatas instruções e perplexo com a ingratidão explode em “Eu só estava tentando ajudar”. Note que para o jogo ocorrer a pessoa que ajuda precisa ter certeza que seu auxílio não será aceito ou que levem muito tempo para fazê-lo. Isso porque o jogador se frustraria com resultados rápidos e prefere saborear  aos poucos a vitória psicológica de ser a pessoa que ajuda. A pessoa se coloca como um Pai que precisa ser sempre consultado mas nunca é escutado.

Antítese: A pessoa que realmente quer ajudar em vez de desconfiar e se revoltar que seus conselhos não sao seguidos procura saber o que realmente está acontecendo em vez de escolher a saída fácil e a dependência infrutífera.

Sim, mas..

Tese: Veja se consegue achar uma solução em que eu não consiga descobrir um defeito.

Papéis: Pessoa com problema, Conselheiros

Este jogo pode ser jogado por várias pessoas ao mesmo tempo e consiste em um jogador que apresenta um problema para então encontrar um defeito em cada solução apresentada. Existe ganho em cada resposta mas seu objetivo é o silêncio que tem lugar quando todos se cansam de quebrar a cabeça tentando imaginar soluções. Este silêncio significa que o jogador ganhou demonstrando que todos são incompetentes. Às vezes o silêncio é disfarçado por uma mudança de assunto. É como uma criança que se recusa a aceitar as instruções do Pai para que ele continue lhe dando orientações e atenção.

Antítese: Este jogo é o exato oposto do “Só estou querendo ajudar”, sua antítese é assim se recusar a fazer o papel de conselheiro. Contudo em situações sociais  se o jogo é amistoso e inofensivo não há razão para não participar.

Bandido e Mocinho

Tese: “Pegue-me se for capaz!”

Papéis: Bandido e Mocinho.

Existem dois tipos de criminosos: os que visam o lucro e os que querem viver este jogo. Muitos criminosos são indivíduos que odeiam a polícia a tal ponto de obter tanta ou maior satisfação superando sua inteligência e esforços quanto o que obtêm materialmente com seus crimes. Curiosamente este é um jogo que as crianças aprendem bem cedo a jogar. O brincadeira de “Esconde-Esconde” oferece as mesmas transações da emoção de ser achado. Se são encontradas muito facilmente não há a mesma satisfação.

Antítese: A antítese deste jogo cabe mais aos criminologistas que aos psicólogos. Infelizmente este aspecto é raramente levado em conta na pesquisa criminal. Nos casos puramente sociais a recusa, a procura ou caçada pode mostrar que você não está disposta a entrar neste jogo.

Além dos Jogos

Existem vários jogos além dos que foram mencionados aqui. Para muitas pessoas a vida não passa de um processo de encher o tempo disponível com jogos destinados a saciar essa necessidade por transições. Entretanto para algumas pessoas afortunadas existe algo além: a Consciência, a Espontaneidade e a Intimidade.

Consciência significa viver a vida no aqui e agora e não em qualquer outra parte no passado ou no futuro. Uma pessoa consciente consegue ouvir o canto dos pássaros ou um bulé de café  de sua própria maneira e não do modo como foi obrigado.

Espontaneidade significa liberdade de escolher e de exprimir sentimentos existentes na coleção que cada indivíduo tem, seja ela do Pai, do Adulto ou da Criança. Significa portanto estar liberto da compulsão de ter apenas os sentimentos que aprendeu a ter.

Intimidade, por fim, é mais gratificante do que todos os jogos. É a sinceridade e liberação da Criança perceptiva e incorrupta em toda sua ingenuidade vivendo no aqui e agora.

Estes podem parecer objetivos perigosos para os despreparados, mas não são inatingíveis. É uma meta para os que acreditam que mesmo que não existe esperança para a raça humana, ela existe para os indivíduos que a compõem.

Conclusões

  • Uma transação é a unidade básica de interação social. Sem elas o ser humano pode-se  degenerar física e psicologicamente. Desta forma temos todos uma fome natural pelos relacionamentos sociais.
  • A mente se manifesta em três estados do ego: a criança, o pai e o adulto.
  • Um jogo é uma tentativa de estabelecer uma série de transações desonestas onde aparentemente um adulto fala, mas onde a motivação oculta alimenta os estados de criança e pai dos jogadores.
  • Jogos são um conjunto de transações desonestas que as pessoas usam para estimular outras pessoas a se relacionarem.
  • A única forma de vencer estes jogos é recusar os papéis que são impostos e  reassumir o ego Adulto com uma visão clara e objetiva da situação para restabelecer um relacionamento honesto e sadio.
  • Jogos são pobres substitutos para a intimidade. Por mais difícil que pareça é possível construir relacionamentos livres do vício de jogar com a vida.

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/psico/os-jogos-da-vida-games-people-play/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/psico/os-jogos-da-vida-games-people-play/

‘Baixa Magia: um estudo introdutório

Morbitvs Vividvs

Todo magista que considerar com atenção a definição de magia como “a arte de mudar a realidade conforme sua vontade” será obrigado a expandir o seu campo de atuação para além do traçar dos pentagramas.

Crowley deixou isso muito claro em Magick Without Tears e Anton Szandor LaVey também compreendia isso ao ponto de em sua Bíblia Satânica definir a prática mágica em duas categorias: A Alta Magia, de caráter ritual e natureza cerimonial e a Baixa Magia de caráter não ritual e natureza social. Segundo ele: “Magia não ritual ou manipulativa consiste de um ardil ou fraude obtida através de vários artifícios ou situações planejadas, que, quando utilizados, podem criar “mudança, de acordo com a própria vontade.”

Ele continua: “Muitas vitimas dos julgamentos das bruxas não eram bruxas. As bruxas reais raramente foram executadas, ou mesmo trazidas a julgamento, pois elas foram proficientes na arte do encantamento e podiam enfeitiçar os homens e salvar suas próprias vidas. Muitas das bruxas verdadeiras estavam dormindo com os inquisidores. Esta e a origem da palavra “glamour”. O significado antigo para “glamour” era feitiçaria. A qualidade mais importante para a bruxa moderna e a sua habilidade de ser atraente ou utilizar “glamour”. A palavra “fascinação” tem uma origem oculta similar. Fascinação foi o termo aplicado para o olho do demônio. Manter a atenção fixa da pessoa, em outras palavras, fascinar, era sua maldição com o olho do demônio.”

Em The Crystal Tablet of Set, o livro inicial que todo novo membro do Temple of Set recebe, Michael Aquino define a Baixa Magia como a arte de controlar a atenção e o comportamento das pessoas sem elas perceberem que são controladas. Em primeiro lugar isso envolve o conhecimento das motivações e leis gerais por trás das decisões das pessoas. Em seguida se aplica este conhecimento de forma a guiar as ações das pessoas de forma discreta para não ser flagrado. É em outras palavras Baixa Magia é a arte da trapaça.

Individualmente este tipo de bruxaria se traduz na maestria no traquejo social, na psicologia aplicada e em algumas leis ocultas do ser humano. Já fora do campo individual a Baixa Magia é usada para a manipulação das massas da qual o mago deve também estar atendo para se precaver – cultivando o pensamento crítico – para não cair nestas armadilhas tão comuns e indissociáveis da religião, da propaganda e da política.

Existem vários campos de estudos que podem ser explorados por quem busca a maestria nesse tipo de manipulação da realidade. Vejamos alguns deles:

Leitura das Pessoas

Significa literalmente aprender a ler o ser humano.  Consiste em um conjunto de técnicas que nos permite dizer coisas sobre a vida de uma pessoa, para impressionar, ganhar confiança ou até mesmo criar empatia. Inclui os campos de leitura fria, da leitura corporal, das leis básicas do comportamento humano e principalmente da atenção aos detalhes.

Alguns livros para quem quiser se aperfeiçoar nessa área:

Ilusionismo

Ainda em The Crystal Tablet of Set, Aquino diz que “O ilusionismo deveria ser considerado como hobby por qualquer pessoa interessada na magia de verdade. Em primeiro lugar permite placar a curiosidade daqueles que querem que você “mostre seu poder” e dá a habilidade de  maravilhar e deleitar seus amigos e quebrar o gelo com desconhecidos.

Na Bíblia Satânica LaVey diz que a quantidade de energia necessária para levitar uma xícara de chá (de fato) seria a mesma de se colocar uma ideia em um grupo de líderes mundiais motivando-os a concordar em algo. E mesmo se você tiver sucesso na levitação da xícara deveria admitir que algum tipo de truque foi usado de qualquer modo. Se deseja flutuar objetos no ar, use cordas, espelhos ou outros artifícios e guarde sua energia para coisas importantes. Diz ainda que todos os médiuns e místicos “divinos” praticam sempre a pura e aplicada mágica de palco, com seus olhos vendados e envelopes lacrados, e qualquer ilusionista competente pode duplicar o mesmo efeito.

Assim o ilusionismo é uma excelente maneira de ganhar experiência na chamada Baixa Magia de uma forma prazerosa e com um mínimo risco de ofender suas cobaias. Oferece ainda um ótimo treinamento nas técnicas básicas de controle da atenção e do comportamento humano. O mágico deve aprender a avaliar seu público e guiar sua atenção sem levantar suspeitas de modo a aparentemente realizar coisas impossíveis bem diante de seus olhos.

Embora as ilusões baseadas em prestigiação equipamentos também ajudem no desenvolvimento da habilidade do mago em manipular a plateia nenhum tipo de magia é tão adequado quando o chamado mentalismo. As técnicas do mentalismo são as mais adaptáveis às necessidades do cotidiano humano e as mais facilmente usadas foram do contexto do palco. Nelas se cria ilusão de poder ler a mente, predizer o futuro e determinar as escolhas das pessoas. Além disso as mais impressionantes rotinas de mentalismo requerem rigoroso treino de memória e outras ginásticas mentais por parte do mago que lhe trarão vantagens em várias outras esferas da vida. Ser um bom mágico é um bom começo para ser um bom mago.

Alguns livros clássicos sobre mentalismo:

Sedução

Sedução não inclui apenas o flerte bem sucedido, mas todo uso útil da sua atração pessoal. O termo latim seductione, significa literalmente “levar por outro caminho”. Da mesma forma a palavra “charme” tem origem francesa e significa “fórmula mágica”. Consiste em criar uma personalidade encantadora em todos os sentidos, em fortalecer o próprio carisma e dominar as sutilezas da comunicação não verbal, do poder dos símbolos e da estética pessoal.

Alguns bons livros sobre o tema:

Manipulação Social

Mais poderoso do que escutar espíritos e falar com demônios é saber ouvir e falar com outros seres humanos. Convencer um juiz, um chefe, um cliente ou uma multidão é tão ou mais poderoso do que convencer um espírito dentro de um triângulo.

Este talvez seja o campo mais amplo justamente por ser o próprio coração da Baixa Magia. Trata-se da percepção dos jogos sociais de um nível mais elevado, capaz de antecipar e orquestrar seus movimentos. Inclui o domínio de estratégias políticas, da oratória, da retórica, assim como técnicas de venda, negociação, liderança e propaganda.

Existem vários bons livros que podem ajudar nesse campo:

Auto-aperfeiçoamento

Por fim a Baixa Magia inclui tudo aquilo que pode ajudar a desenvolver o poder pessoal e a prevenir o praticante em não cair nas armadilhas de manipulação – em especial por aquelas praticadas a séculos pelas religiões, pelo estado e pelas grandes corporações.

Auto-Aperfeiçoamento inclui também tudo aquilo que tornará mais provável a transformação da realidade segundo a sua vontade. Fuja de cursos e grupos que simplesmente defendam o pensamento positivo ou sirvam de substituto para uma espiritualidade esvaziada. Os melhores “livros de auto-ajuda” quase nunca estarão nas prateleiras de auto ajuda.  Procure aqueles que o ajudem a desenvolver senso crítico e habilidades reais. Alguns exemplos:

Além de todas as obras indicadas neste artigo estude a biografia de grandes homens e mulheres como Mohammad, Cleópatra, Napoleão, Rainha Vitória. Existem muitos livros e filmes sobre estas e muitas outras personalidades que foram verdadeiros magos transformadores da realidade. Muitos deles como LaVey, Crowley, Rasputin e Cagliostro eram também praticantes da Alta Magia, o que pode dar a você uma compreensão maior de como estas duas modalidades da arte mágica interagem.

No fim das contas a Baixa Magia é simplesmente Magia. Consiste então em desenvolver uma inteligência aguda capaz de ver as coisas como elas realmente são e uma habilidade obstinada em transformá-las para como gostaria que fossem.

Morbitvs Vividvs é autor de Lex Satanicus: O Manual do Satanista e outros livros sobre satanismo.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/baixa-magia/a-baixa-magia-um-estudo-introdutorio/