Mapa Astral de Claude Debussy

Claude-Achille Debussy (Saint-Germain-en-Laye, 22 de Agosto de 1862 — Paris, 25 de Março de 1918) foi um músico e compositor francês. A música inovadora de Debussy agiu como um fenômeno catalisador de diversos movimentos musicais em outros países. Na França, só se aponta Ravel como influenciado, mas só na juventude, não sendo propriamente discípulo. Influenciados foram também Béla Bartók, Manuel de Falla, Heitor Villa-Lobos e outros. Do Prélude à l’après-midi d’un Faune (“Prelúdio ao entardecer de um Fauno”), com que, para Pierre Boulez, começou a Música moderna, até Jeux (“Jogos”), toda a arte de Debussy foi uma lição de inconformismo.

Mapa Astral

O Mapa de Debussy possui Sol, Mercúrio e Ascendente em Leão-Virgem (Rei de Ouros); Lua em Câncer; Vênus em Câncer-Leão (Cavaleiro de Bastões); Marte em Áries; Júpiter em Virgem-Libra (Rainha de Espadas) e Saturno em Virgem. Seu Planeta mais forte é o Sol.

Muito de sua obra Impressionista reflete a influência forte do contraste de sua Lua canceriana com Saturno virginiano (sextil de 1,22 graus), chegando a um equilíbrio entre o emocional e o ritmo metódico. Este contraste harmônico ainda é ampliado pela relação entre Vênus em Câncer-Leão e Júpiter em Virgem-Libra, formando um sextil fortíssimo de 1,13 graus.

A Enciclopédia de Colúmbia descreve o impressionismo como: “Origina-se na França, caracterizada por sugestão e atmosfera, abstêm-se dos excessos emocionais da era Romântica. Compositores impressionistas preferiam composições com formas curtas como o nocturne, arabesque, e o prelúdio. Talvez a inovação mais notável usada pelos compositores impressionistas foram: o uso da escala de acordes de 7ª maior e a extensão de estruturas nos acordes com intervalos de 3ª à harmonias de cinco e seis partes. Um estilo musical, distinto e marcante, do período da música impressionista foi o efeito de planar sobre uma frase melódica. Claude Debussy, especialmente, foi mestre deste efeito”.

#Astrologia #Biografias

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/mapa-astral-de-claude-debussy

Presentes do Dia dos Namorados por Signo

Por Olivia.

É o sonho de todo amante que o romance do Dia dos Namorados dure para sempre. Claro, ter um dia dos namorados ao lado do seu amante à luz de uma vela enquanto recebe beijos suaves na nuca, ajuda a criar a ilusão de uma eternidade. Mas para fazer essa magia realmente acontecer, você tem que tecer sua própria magia.

Em meu livro Love After Sex (O Amor Depois do Sexo), falo para aqueles que já foram seduzidos com alegria e estão prontos para embarcar em sua próxima aventura de parar o coração: morarem juntos. Se você está apenas imaginando acordar para o amor da sua vida diariamente, ou se você já é um veterano de um relacionamento comprometido, neste Dia dos Namorados, não dê simplesmente um presente de apenas uma caixa em forma de coração, isso é muito fácil. Em vez disso, faça uma pequena compra em seu próprio coração e veja o quão cheio de amor ele é. Você vê, cada signo do zodíaco tem necessidades emocionais específicas que você simplesmente não encontrará em um catálogo da Neiman Marcus ou de uma Renner. Então, se você tem um rico suprimento de amor e compromisso, dê ao seu amante um presente que realmente continuará dando.

ÁRIES:

Você vai precisar de uma caixa de presente para Áries grande o suficiente para conter muita emoção. A espontaneidade faz com que esse amante se sinta vivo e desejado. Então, quando você sentir o desejo selvagem de fazer amor, emocione seu parceiro quebrando esses mesmos velhos padrões. Por que esperar para fazer amor na mesma velha hora, na mesma velha posição na mesma velha cama? Não é hora de você fazer amor sem David Letterman ou Danilo Gentili olhando de soslaio do aparelho de televisão? Faça isso agora! Onde? Use sua imaginação. É um presente de Dia dos Namorados que seu Áries pedirá ano após ano.

TOURO:

Quando você dá de coração a Touro, faça-o sensual. Se você acha que só ir a um restaurante caro é romântico, pense novamente. Os taurinos também amam sua casa e se você bancar o chef, ele ou ela ficará ainda mais feliz em ficar lá. Lembre-se, você escolheu um amante muito tátil e sensível, então que tal ativar seus sentidos jogando uma manta de pele de vison falsa sobre aquela colcha sem graça? Ou lençóis de cetim? Delicie-se com os óleos quentes e prometo que a magia deve durar até à Páscoa!

GÊMEOS:

O melhor presente para Gêmeos vem em um emocionante pacote de variedades. O limite do tédio do seu amante está a cerca de meio metro do chão, e ele adora ser estimulado. Sim, claro que assim, mas Gêmeos também gosta de ser estimulado de forma intelectual. Fale, provoque e seduza com o pensamento. Brincar com a mente do seu amante significa jogar jogos mentais? Não! Significa simplesmente estimular a mente de Gêmeos antes de estimular qualquer outra coisa. Um fato de amor de Olivia: a mente é a zona mais erógena de todas.

CÂNCER:

Certifique-se de que seu presente para o Filho da Lua esteja bem embrulhado. Sim, seu amante de Câncer anseia por uma sensação de segurança e é algo que todo o dinheiro do mundo não pode comprar. Quando você faz esse amante se sentir seguro com expressões de amor total incondicional, isso evita que ele se torne muito apegado (você sabe, quando ele fica realmente carente e ameaça cortar seu suprimento de oxigênio!) realmente precisa: beijos e carinhos e votos de amor que vêm direto do coração.

LEÃO:

Seja qual for o presente para Leão, envolva-o em camadas de estima. Embora seu amante aja como o ser humano mais confiante do mundo, lembre-se de que um grande ato precisa de um grande público. Leão quer sentir um senso de importância e ele ou ela procura essa validação de você. Se você quer ver a mágica acontecer diante de seus olhos, acaricie o ego do seu amante de uma forma totalmente sem vergonha e pronto! Leo se transforma no amante ideal: romântico, divertido e generoso, criativo, dinâmico, brincalhão. . .e você pode preencher seus próprios adjetivos mais tarde.

VIRGEM:

O presente perfeito para Virgem permite que seu amante desfrute da cura. Virgem é muitas vezes analítico a uma falha, mas eles só procuram problemas simplesmente para poder corrigi-los! Então, ofereça ao seu amante a história uma velha ferida que ainda não cicatrizou (lembra daquele coração partido?) Ou peça conselhos sobre uma promessa quebrada (você saiu daquela dieta de novo, certo?) Seja qual for o problema, o remédio do amor de Virgem é garantido para curar. Lembre-se em um caso de amor com Virgem, que precisa ser necessário, seria apenas um erro não cometer nenhum!

LIBRA:

Obtenha uma caixa de presente de grife para Libra e encha-a até o topo com harmonia. Este signo precisa de um senso de harmonia em suas vidas, e eles o encontram na beleza da arte e da natureza. No entanto, eles também precisam de harmonia em seus relacionamentos. Para conseguir isso, Libra é habilidoso em ser cooperativo e disposto a se comprometer. Por esses traços magníficos, ele ou ela merece uma viagem de dia dos namorados para recordar. Apenas coloque os dois em uma bolha mágica cheia de beleza, harmonia e amor. . .decole e deixe o mundo para trás.

ESCORPIÃO:

Não há melhor presente para Escorpião do que uma paixão. Não que Escorpião precise de mais paixão, mas ele ou ela precisa liberá-la, compartilhá-la e fundir-se com sua amada. Se você pode explorar as profundezas da intimidade com seu amante e dar-lhe um presente de liberação apaixonada, então você tem uma união que pode transcender a realidade. Claro que, para atingir essa intensidade, você precisa de total confiança e isso leva tempo. Se este é o seu primeiro Dia dos Namorados juntos, seja paciente. Basta pensar o que você tem que olhar para a frente!

SAGITÁRIO:

Um presente do seu coração para Sagitário é um presente de fé. Você vê, seu amante é um buscador espiritual e a jornada é sempre mais emocionante do que o destino. Claro, ele ou ela fantasia sobre fazer amor com você em um acampamento base no fundo do Himalaia, mas sua jornada também pode se voltar para dentro e então seu Sagitário estará em uma longa aventura do espírito: explorando religiões, filosofias, e o fascínio da própria vida. Tudo o que Sagitário precisa é do seu otimismo para fazer companhia a eles e sua fé na visão deles para manter o amor vivo.

CAPRICÓRNIO:

Como você nunca pode dar a Capricórnio o presente da perfeição que eles desejam (é como comprar o sonho impossível!), você ainda pode dar-lhes incentivo amoroso enquanto buscam a carreira perfeita, o sucesso perfeito e o status perfeito. Lembre-se, seu capricorniano está com você porque você também é a ideia dele de perfeição. Portanto, é importante manter-se a criatura sexy e inteligente pela qual Capricórnio se apaixonou em primeiro lugar. Mantenha sua cintura fina e seu intelecto em expansão. Como você consegue isso? Perfeitamente, claro.

AQUÁRIO:

Seu amante de Aquário precisa de liberdade psíquica como outros humanos precisam de ar. Este signo é inovador, radical, prospera na mudança e adora experimentar. Como eu disse em Love After Sex (O Amor Depois do Sexo), quando um amante de Aquário pergunta se você está com vontade de experimentar algo diferente, tenha certeza de que não será molho de creme azedo Wasabi. Bem, pensando bem, pode ser, mas não será no seu peixe-espada! O dom da liberdade que você traz para o seu relacionamento é simplesmente deixar seu amante ser a pessoa que ele é. É o único presente que não tem preço.

PEIXES:

Uma vez que você der a Peixes o amor místico que eles desejam, eles o valorizarão pelo presente raro que é. Seu amante é um verdadeiro romântico, que pode transportá-lo para reinos místicos onde o amor é uma verdadeira felicidade. Peixes realmente tem a criatividade e a imaginação para tornar realidade o que sonham. Mas quando é o contrário – e a realidade ameaça seus sonhos – o que você faz? Incentive-os com uma de suas mãos segurando a deles, e a outra colocada firme e amorosamente na parte inferior das costas.

Fonte: Valentine’s Day Gifts by Sun Sign, by Olivia.

Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/popmagic/presentes-do-dia-dos-namorados-por-signo/

Afinal de contas, o que torna o TdC Especial?

Por Frater Dybbuk,, Zelator do AA

Nos dias de hoje, onde qualquer estudante de primeiro ano de filosofia pode inventar para si um titulo pomposo e criar um blog esotérico para tentar impor suas verdades, e dezenas de blogs de magias e pactos e ordens e curiosos de todos os calibres esquisotéricos surgem a cada dia na internet, como podemos saber se determinado autor é confiável?

Eu me fiz essa pergunta oito anos atrás, quando encontrei com o Del Debbio pela primeira vez em uma loja Maçônica, em uma palestra sobre “Kabbalah Hermética” (que vocês ja devem ter assistido pelo menos alguma versão dela. São todas iguais, mas todas diferentes. Só assistindo duas para ver. Para quem não viu, tem um link de uma delas no youtube Aqui). Adoro essa palestra porque sempre os judeus tradicionais se arrepiam todo quando ele faz as correlações da árvore das vidas com outras religiões. E este, talvez, seja o maior legado que ele deixará na história do Hermetismo.

Mas o que o gabarita para fazer estas afirmações?

Talvez porque a história do MDD dentro das Ordens iniciáticas seja única. A maioria de nós, estudiosos do ocultismo pré-internet, começávamos pela revista Planeta, depois comprávamos os livros da editora Pensamento, entrávamos na Maçonaria, em alguma ordem rosacruz e seguíamos pela senda sem nunca travarmos contato com outras vertentes. Quem é da macumba, caia em um terreiro escondido no fundo de algum quintal e ficava por lá décadas, isolado. Cada um com suas verdades…

O DD começou em 1989 lá na Inglaterra. E ainda teve sorte (se é que alguém aqui ainda acredita que existam coincidências) de cair em um craft tradicional de bruxaria, com a parte magística da coisa (que inclui incorporações) e contato com o pessoal da SRIA, do AA e de outros grupos rosacruzes. Quando voltou para o Brasil, talvez tivesse ficado trancado em seu quarto estudando e nunca teríamos este blog… mas ele também foi um dos primeiros Jogadores de RPG aqui no Brasil. (RPG é a sigla de um jogo que significa “role playing games” ou jogos de teatro). Em 1995 publicou um livro que utilizava o cenário medieval de mitologias reais em um jogo que foi um dos mais vendidos da história do RPG no Brasil (Arkanun). Por que isso é importante?

Porque ele se tornou uma espécie de celebridade pop. E isso, como veremos, foi de importância vital para chegarmos onde estamos hoje (vai anotando as coincidências ai…).

Bem, o DD se graduou em arquitetura e fez especializações em história da arte, semiótica e história das religiões comparadas. De um trabalho de mais de dez anos de pesquisas, publicou a Enciclopédia de Mitologia, um dos maiores trampos sobre o assunto no Brasil.

Com a faculdade veio a maçonaria e aqui as coisas começam a ficar interessantes. Por ser um escritor famoso, ele conheceu o Grande Secretário de Planejamentos do GOB, Wagner Veneziani Costa, um dos caras mais importantes e influentes dentro da maçonaria, editor da Madras, uma das pessoas mais inteligentes que eu conheço e fundador da loja maçônica Madras, que foi padrinho do Del Debbio. E aqui entra o ponto que seria crucial para a história do hermetismo no Brasil, a LOJA MADRAS.

No período de 2004 a 2008, a ARLS Madras contou entre seus membros com pessoas como Alexandre Cumino (Umbanda), Rubens Saraceni (Umbanda Sagrada), Johhny de Carli (Reiki), Cláudio Roque Buono Ferreira (Grão Mestre do GOB), Sérgio Pacca (OTO, Thelemita e fundador da ARLS Aleister Crowley), Mario Sérgio Nunes da Costa (Grão Mestre Templário), Adriano Camargo Monteiro (LHP, Dragon Rouge), José Aleixo Vieira (Grande Secretário de Ritualística), Severino Sena (Ogan), Waldir Persona (Umbanda e Candomblé), Carlos Brasilio Conte (Teosofia), Alfonso Odrizola (Umbanda, diretor da Tv espiritualista), Ari Barbosa e Cláudio Yokoyama (Magia Divina), Marco Antônio “Xuxa” (Martinismo), Atila Fayão (Cabalá Judaica), César Mingardi (Rito de York), Diamantino Trindade (Umbanda), Carlos Guardado (Ordem da Marca), Sérgio Grosso (CBCS), entre diversos outros experts em áreas de hermetismo e ocultismo. Agora junte todos estes caras em reuniões quinzenais onde alguém apresentava uma palestra sobre um tema ocultista e os outros podiam questionar e debater sobre o assunto proposto com seus pontos de vista e você começará a ter uma idéia do que isso representou em termos de avanço do conhecimento.

Entre diversas contribuições para a maçonaria brasileira, trouxeram o RER (Rito Escocês Retificado), O Rito Maçônico-Martinista, para o Brasil, fundando a primeira loja do rito, ARLS Jerusalem Celeste, em SP, e organizaram as Ordens de Aperfeiçoamento (Marca, Nauta, Arco Real, Templários e Malta). O Del Debbio chegou a ser Grande Marechal Adjunto da Ordem Templária em 2011/2012.

Em paralelo, tínhamos a ARLS Aleister Crowley e a ARLS Thelema, onde naquela época se estudava magia prática e trocávamos conhecimento com a OTO no RJ (Loja Quetzocoatl, com minha querida soror Babalon) e a Ordem dos Cavaleiros de Thelema (que, dentre outros, tivemos a honra de poder conversar algumas vezes com Frater Áster – Euclydes Lacerda – antes de seu falecimento em 2010). Além disso, tínhamos acesso a alguns dos fundadores do movimento Satanista em São Paulo e Quimbandeiros (cujos nomes manterei em segredo para minha própria segurança ).

Palestra no evento de RPG “SANA”, em 2006. Eu avisei que ele era subcelebridade, não avisei? Bem… nesse meio tempo, o MDD já estava bem conhecido dentro das ordens Iniciáticas, dando diversas palestras e cursos fechados apenas para maçons e rosacruzes. De dia, popstar; de noite, frequentando cemitérios para desfazer trabalhos de magia negra com a galera do terreiro. Fun times!

Ok, mas e a Kabbalah Hermética?

O lance de toda aquela pesquisa sobre Mitologia e suas correlações com a Cabalá judaica o levou a estudar a Torah e a Cabalá com rabinos e maçons do rito Adonhiramita por 5 anos, tendo sido iniciado na Cabalá Sefardita em um grupo de estudos iniciáticos coordenado pelo prof. Edmundo Pellizari (Ras Adeagbo). Apesar da paixão e conhecimento pela cultura judaica, ele escolheu não se converter (segundo palavras do próprio “Não tem como me converter ao judaísmo; como vou ficar sem filé à Parmigiana?“). Seus estudos se intensificaram entre os textos de Charles “Chic” Cicero via suas publicações na Ars Quatuor Coronatorum, nas Lojas Inglesas e os textos de Tabatha Cicero via Golden Dawn.

A idéia da Kabbalah associada aos princípios alquímicos, unificando tarot, alquimia e astrologia sempre levantou uma guerra com os judeus ortodoxos, que consideram a Cabalá algo profundamente vinculado à sua religião (por isso costumamos grafar estas duas palavras de maneira diferente: Kabbalah e Cabalá.

Em 2006, Adriano Camargo publica o “Sistemagia”, um dos melhores guias de referência de Kabbalah Hermetica, onde muitas das correlações debatidas em loja foram aproveitadas e organizadas.

No meio de todos estes processos de estudos, chegamos em 2007 em uma palestra na qual estava presente o Regis Freitas, mais conhecido como Oitobits, do site “Sedentário e Hiperativo”, que perguntou a ele se gostaria de ter um blog para falar de ocultismo. O nome “Teoria da Conspiração” foi escolhido pelo pessoal do S&H e em poucas semanas atingiu 40.000 leitores por post.

Del Debbio se torna a primeira figura “pública” dentro do ocultismo brasileiro a defender uma correlação direta entre os orixás e suas entidades com as Esferas da Árvore das Vidas e as entidades helênicas evocadas nos rituais da Golden Dawn “Apenas uma questão de máscaras que a entidade espiritual escolherá de acordo com a egrégora em que estiver trabalhando” disse uma vez em uma entrevista.

Estes trabalhos em magia prática puderam ser feitos graças ao intercâmbio de conhecimentos na ARLS Madras, pois foi possível que médiuns umbandistas estudassem hermetismo, kabbalah e cabalá em profundidade e, consequentemente, as entidades que trabalham com eles pudessem se livrar das “máscaras” africanas e trabalharem com formas mais adequadas, como alquimistas, templários e hermetistas. Com a ajuda dos terreiros de Umbanda Sagrada, conseguimos trabalhar até com judeus estudiosos da cabalá que eram médiuns, cujas entidades passaram grandes conhecimentos sobre correspondências dos sistemas judaico e africano, bem como de sua raiz comum, o Egito. A maioria deste conhecimento ainda está restrito ao AA, ao Colégio dos Magos e a outros grupos fechados mas, aos poucos, conforme instruções “do lado de lá”, estão sendo gradativamente abertos.

Em 2010, conhece Fernando Maiorino, diretor da Sirius-Gaia e ajuda a divulgar o I Simpósio de Hermetismo, onde participam também o Frater Goya (C.I.H.), Acid (Saindo da Matrix), Carlos Conte (Teosofia), Renan Romão (Thelema) e Ione Cirilo (Xamanismo). Na segunda edição, em 2011, participam além dos acima o monge Márcio Lupion (Budismo Tibetano), Mário Filho (Islamismo), Alexandre Cumino (Umbanda), Adriano Camargo (LHP), Gilberto Antônio (Taoísmo) e Lázaro Freire (projeção Astral).

A terceira edição ampliou ainda os laços entre os pesquisadores, chamando Felipe Cazelli (Magia do Caos), Wagner Borges (Espiritualista), Claudio Crow (Magia Celta) e Giordano Cimadon (Gnose).

O Blog do “Teoria da Conspiração” também cresce, agregando pensadores semelhantes. Além de textos de todos os citados neste post, também colaboram estudiosos como Jayr Miranda (Panyatara, FRA), Kennyo Ismail (autor do blog “No Esquadro” e um dos maiores pesquisadores contemporâneos sobre maçonaria), Aoi Kwan (Magia Oriental), Raph Arrais (responsável pelas belíssimas traduções da obra de Rumi), o Autor do blog “Maçonaria e Satanismo” (cujo nome continua em segredo comigo!), Tiago Mazzon (labirinto da Mente), Fabio Almeida (Música e Hermetismo), Danilo Pestana (Satanismo), Bruno Cobbi (Ciganos), PH Alves e Roe Mesquita (Adeptus), Frater Alef (Aya Sofia), Jeff Alves (ocultismo BR), Yuri Motta (HQs e Ocultismo), Djaysel Pessoa (Zzzurto), Leonardo lacerda e Hugo Ramirez (Ordem Demolay).

A ARLS Arcanum Arcanorum, braço maçônico da Ordem de Estudos Arcanum Arcanorum, que trabalha em conjunto com a SOL (Sociedade dos Ocultistas Livres), o Templo Aya Sofia, o Colégio dos Magos e o Teoria da Conspiração.

E os frutos desse trabalho se multiplicaram. Com o designer Rodrigo Grola, organizou o Tarot da Kabbalah Hermética, possivelmente um dos melhores e mais completos tarots que existem, além dos pôsteres de estudo. Hoje seus alunos estão desenvolvendo HQs, Livros, Músicas, dando aulas e até mesmo produzindo um Filme baseado nos estudos da Kabbalah Hermética (“Supernova”).

E o estudo de mitologias comparadas, kabbalah e astrologia hermética nunca mais será o mesmo. Isso se chama LEGADO.

E ai temos a resposta que tive para a pergunta do início do texto: Como saber se um autor é confiável? Oras, avaliando toda a história dele e quais são suas bases de estudo, quem são seus professores, quais as pessoas que o ajudam e quem são seus inimigos. Quais são os caras que ele pode perguntar alguma coisa quando tem dúvida? e quais são os caras que tentam atrapalhar o seu trabalho?

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Pronto. Aqui está o texto que eu tinha prometido sobre os doze anos de Blog. Parabéns, Frater Thoth, já passou da hora de alguém começar a organizar uma biografia decente sobre os seus trabalhos.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/afinal-de-contas-o-que-torna-o-tdc-especial

O Mapa Astral de Aleister Crowley

Aleister Crowley (12 de Outubro de 1875 – 1 de Dezembro de 1947), nascido Edward Alexander Crowley, foi um influente ocultista inglês, responsável pela fundação da doutrina Thelema. Ele é conhecido hoje em dia por seus escritos sobre magia, especialmente o Livro da Lei, o texto sagrado e central da Thelema, apesar de ter escrito sobre outros assuntos esotéricos como magia cerimonial e a cabala.

Libriano com Lua em Peixes, Ascendente em Leão e Caput Draconis em Áries. Uma pessoa que possui uma percepção dos outros e o íntimo em estreito contato com o Plano astral, que gosta de aparecer e de se mostrar e ao final de sua vida, terá se tornado um líder.

O gosto de Crowley pelo oculto vem da combinação forte de Júpiter em conjunção a Mercúrio (em Escorpião), que indica não apenas que a mente de Crowley procurava buscar o que há de mais profundo nos mistérios como seu facilitador natural também o impulsionava para tal. Mercúrio em Escorpião é a mente daqueles que desejam desvendar mistérios, encontrada tanto em céticos quanto em ocultistas.

O Planeta mais forte do Mapa de Crowley é Plutão (em Touro), que indica uma pessoa voltada para experimentar tudo o que a vida pode oferecer. Sua combinação com a Lua em Peixes (em sextil de 0,2 graus) faz com que ele canalize estas experiências para o Plano Astral e escapismo da realidade. Esta combinação é comum em viciados em jogos ou drogas (o caso do Crowley). Some-se esta energia com sua curiosidade e facilidade para buscar o que há de experiências mais profundas (Mercúrio e Júpiter em escorpião) e você tem um mapa de alguém que está disposto a testar todos os limites da experimentação.

Marte é o Planeta que mostra como a pessoa briga, planeja e executa suas ações. Marte em Capricórnio é o guerreiro-planejador-estratégico, muito encontrado em militares de carreira e também em jogadores de xadrez ou outros esportes que exijam calma, planejamento e disciplina (alpinismo, por exemplo).

Uma Aspectação interessante no Mapa de Crowley é a Oposição Urano em Leão (facilidade em exibir-se para os outros) e Saturno em Aquário (facilidade para organizar/controlar/estar responsável por grupos de pessoas). Com Sol e Vênus em Libra (diplomacia), fica fácil entendermos como Aleister conseguiu mesclar e utilizar todos estes recursos e se tornar “o homem mais perverso do mundo” segundo os jornais sensacionalistas…

Engraçado notar que, ao contrário de outros ocultistas como Arthur Waite (que tinha Marte/Vênus em Virgem) ou este que vos escreve (Marte/vênus em Virgem) que abordam o ocultismo de uma maneira mais enciclopédica (pesquisar, anotar, comparar, catalogar…) Crowley era um verdadeiro porra-louca, que precisava experimentar e testar tudo em sua própria pessoa para obter o conhecimento direto em primeira mão.

Acabou quebrado e falido, mas deixou seu legado para toda a posteridade.

#Astrologia #Biografias

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-mapa-astral-de-aleister-crowley

Copulações Lovecraftianas

Quando criança, eu era atormentado por pesadelos – alimentados, em parte pela minha imaginação fértil, meu fascínio por “monstros”, e por estar exposto à violência pessoal na escola (assim como a violência indireta via tv notícias e fofocas da vizinhança). Quando eu tinha 8 anos, o tio de minha mãe, Henry ensinou-me a acordar dentro do sonho e como usar os meus sonhos como um instrumento para examinar e ajustar a minha relação pessoal com o multiverso em geral. Eu aprendi a fazer valer a minha vontade dentro do meu microcosmo pessoal. Ao enfrentar meus medos personificados pelas vários bichos-papões dos meus sonhos, eu comecei a dançar criativamente dentro de Maya, em vez de simplesmente reagir ao que os outros criaram como se eu fosse um consumidor ou uma vítima do destino. Com a minha nova perspectiva tornando-se mais enraizada, os monstros se tornaram meus amigos ou guias, em vez de predadores ou algozes. As Estranhas interpenetrações do meu corpo pelas geometrias alienígenas se tornaram agradáveis, ao invés de invasivas ou ego-ameaçadoras.

 

Cerca de 2 décadas atrás, eu comecei a trabalhar conscientemente com as energias / entidades dos mitos de Lovecraft. No começo eu me senti como um rato do campo, em um mundo povoado por corujas, gaviões e cascavéis. Mas quanto mais eu insisto em minhas explorações, mais eu venho a perceber que a minha relação pessoal com qualquer energia ou entidade é aquela que é determinado unicamente por mim e pela energia / entidade em questão – independentemente de estereótipos raciais ou ecológicos.

 

Esta reviravolta tornou-se plenamente atualizada para mim durante uma sequência de iniciação do sonho que teve lugar (se a memória não me falha) cerca de 10 anos atrás (conforme o tempo é medido no plano em que escrevo esta nota).

 

Eu fazia parte de uma equipe exploratória a bordo do submarino de pesquisa da Universidade de Miskatonic Grendal no largo da costa submersa de R’Lyeh. Eu estava nu, exceto por tanques de mergulho e cintos de utilidade. Assim como Como eu, todo o resto da minha equipe desfilara, o contramestre entregou a cada um de nós uma bolsa de ombro cheio de preservativos. Naquele momento eu sabia (sem saber como) que Cthulhu estava esperando por nós logo após a câmara de compressão. Eu sabia que, a fim de evitar a impregnação por Cthulhu, eu precisaria colocar um preservativo sobre cada ponta de seus tentáculos, fibras cílios, e todas as outras protuberâncias do Grande Cthulhu que poderiam se estender em meu caminho numa carícia comunicativa ou tentativa de exploração.

 

Para ser honesto, eu estava apavorado. Eu também estava expectante. Eu vinha me preparando para este momento há quase uma década. Mas quando a câmara terminou seu ciclo, & fui expulso, no mar quente iluminado pela lua, eu estava totalmente despreparado para o início de êxtase que se seguiu. Por um lado, eu podia sentir o cheiro. O olfato é o sentido em que eu mais confio para checar o fluxo de energia entre mim e aos outros durante a consciência desperta (o que explica, pelo menos em parte, a minha forte aversão aos fumantes). Até então, na hora do sonho, eu tinha sido privado de meu olfato. Mas agora eu fui inundado com odores que chegavam por todos os lados. Todos eróticos. Todos em êxtase. Todos convidativos. Eu queria mais!

 

A geometria desta gruta submarina me deu vertigem grave – mas não foi totalmente desagradável. (O poder bruto raramente é!) Eu senti como se qualquer desequilíbrio pudesse precipitar minha morte – ou pior. Era como estar em queda livre ao tentar navegar através de uma rotação / ondulando / respiração de casa de espelhos. Tempo dobrando e desdobrando em volta de mim. Cada gesto, cada escolha que fiz abriu novas linhas de tempo / fechando universos inteiros. Cada pensamento meu se realizava instantaneamente. Vontade consciente manifestava-se ainda mais rapidamente. [Ou foi apenas o meu sentido de tempo que se acelerou tanto que eras pareceram-me ser instantes?] Eu abandonar meus tanques de mergulho e descartado o meu saco de preservativos.

 

Eu não aceitaria nada menos do que a união total! Visões de impregnações parasitárias e infestações passaram pela minha mente. Desliguei minha mente momentaneamente para banir a imagem de embriões com tentáculos corroendo minhas entranhas. Enquanto em um estado de não-mente, eu me abria. O cheiro era delicioso. Assim foi a sensação. Eu abandonei meu estado de não-mente, a fim de raciocinar comigo mesmo. Se eu não estava disposto a confiar em meus próprios sentidos altamente desenvolvidos, em quem ou ao que eu poderia confiar meu futuro? Jogando a precaução ao vento Eu nadei em direção ao meu amante alienígena.

 

Cthulhu me acariciava e me penetrou em todos os orifícios possíveis – desde a minha bunda aos olhos, até as orelhas, os poros sobre as plantas dos meus pés. Cada penetração em êxtase / orgasmo / informação. Eu tirei prana diretamente da água do mar carregado erógenamente. Eu não tinha necessidade de ar para respirar. Tornei-me preenchido com a essência e substância de Cthulhu. Por minha vez, eu ejaculei em Cthulhu em um fluxo contínuo durante horas. Dentro de nós cresceram inteligências embrionárias de dimensões híbridas. Da perspectiva de Bill Seibert, ele / Eu / sentimos chegar à maturidade dentro de seu cérebro e dentro de sua coluna vertebral. I [isto é, o ego do Bill] tornou-se consciente da totalidade da consciência dentro de mim / nós. Eu / nós nos tornamos a cria / nossa união com Cthulhu – Ouroboros chupando ovos para fora de minha própria cauda. Auranos é tanto abelhas como pólen.

 

Pelo o que eu sou capaz de perceber, o tempo flui de forma diferente nesse plano em que Cthulhu está acordado e orgasticamente ativo do que o faz no aqui-e-agora. Pela manhã [quando acordei de volta para ao meu corpo humano] eu estava séculos mais maduro do que na noite anterior. No entanto, também mais jovem. No plano físico, eu já não sou muito humano. Meu médico uma vez, brincando, me disse que eu tinha o ECG de um cadáver. Ou de um zumbi. Ele refez meu eletrocardiograma & E o teste foi normal. Meus pensamentos dispersos podem atrapalhar as leituras de ECG e EEG. Meus níveis de açúcar no sangue, níveis hormonais, etc, são mais uma consequência dos meus padrões de pensamento conscientes do que da minha dieta ou quaisquer outros fatores ambientais externos. Os organismos que são parasitas em outros seres humanos vivem de forma benigna na minha corrente sanguínea e sob a minha pele, a não ser quando estou entregando-me a uma noite escura da alma.

 

Se eu parto da ideia de que eu estou afirmando minha vontade no universo, eu vou com toda a certeza encontrar energias / entidades que irão [assertivamente!] Trabalhar comigo para aprimorar a minha vontade. Se eu procurar controlar ou dominar, então vou atender aqueles que procuram dominar-me. Pessoalmente, eu prefiro a interagir simbioticamente com cada ser e cada entidade / energia que encontro. Para mim, a sinergia brincalhona parece muito mais eficaz do que hierárquicas lutas pelo poder emprestadas dos antigos aeons de ignorância dos nossos antepassados e de sua compreensão subdesenvolvida de seus próprios sistemas nervosos.

 

No trato com os Grandes Antigos, Deuses anciãos, tais como com outras energias / entidades, eu nem invoco, nem sou convocado. Pelo contrário, eu me abro para uma experiência consciente de que ele / ela / eles / é o que eu procuro. Às vezes eu estou visitando-os, enquanto em outras eu apenas deixo fluir. Para a maior parte das pessoas, tais distinções são bastante sem sentido, pois existem aspectos de mim que se identificam fortemente com o humano Bill Seibert e outros aspectos de mim que se identificam com essas inteligências – Eroto exóticas que comungam com o humano Bill Seibert. Em um sentido muito real, a minha comunhão / comunicação com essas entidades / energias é contínuo. Invocações rituais trabalham para acentuar minha consciência do que já está em andamento. Meu relacionamento com entidades / energias neste reino é principalmente sexual – ou seja, interpenetração. Eu / nós / eles trocam análogos não-físicos de material genético. Esse intercâmbio não pode [na minha experiência] Ocorrer sem confiança total, cooperação, abertura e êxtase. Neste reino, força [estupro, duplicidade, etc] e outros jogos de poder não só não são produtivos, como parecem ser impossíveis, [para mim, de qualquer forma.

 

A principal ferramenta que eu uso para me abrir para as energias das dimensões Lovecraftianas é o Vève circular trilateral mostrado abaixo. Eu moldei o original de memória após um rápido tour por seu análogo macrocósmico nas costas de Ithaqa, ao sabor do vento, á cerca de 15 anos atrás. Eu adicionei então os rótulos apropriados [nomes] através de meios acadêmicos normais, após a tradução para o Enochiano.

 

Ao longo dos anos, eu vim a perceber que o meu cérebro humano é apenas um apêndice minúsculo da minha mente. Meu cérebro humano é [de fato] incapaz de conter as energias materiais do cosmos. No entanto, a minha mente humana é capaz de interação igualitária ativa com as mais impressionantes entidades / energias que eu conheci até agora. Não para contê-las. Não para controlá-las. Mas, para fundir-se com elas e compartilhar [artisticamente / sexualmente / matematicamente] com elas.

 

A humanidade pode realmente ser muito frágil. No entanto, eu opto por não esconder a minha humanidade. Da minha perspectiva a fragilidade é um dos traços de sobrevivência mais delicados da humanidade! A abertura e curiosidade juntamente com a fragilidade parece engendrar ternura e paciência naqueles que foram alimentando instintos / predileções conscientemente cultivadas. Quando estou no modo exploratório aberto, saúdo e interajo com o desconhecido no decurso de minha exuberância. [Quando eu me sinto incapaz de ser aberto ou exuberante, eu sou um eremita que evita todo o contato consciente com o desconhecido.] Eu não tenho nenhum interesse em jogar jogos de poder com gigantes – Eu nos prefiro transando ou mesmo sendo bobos em vez disso! Se eu ocultar minhas fraquezas, sinto que poderia ser [inadvertidamente] triturada ou consumida durante a brincadeira de amor estridente.

Por Frater AshT-Chozar-Ssaratu, Miskatonic Alchemical Expedition – Trad, Giuliana

Qual o Vevè utilizado para a comunhão com a energias Lovecrafitianas?

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/copulacoes-lovecraftianas/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/copulacoes-lovecraftianas/

RPG na Câmara dos Vereadores de São Paulo

Pela primeira vez na história, a Câmara Municipal de São Paulo, representada pelo Vereador Adolfo Quintas e em parceria com a Oscip O Caminho, abriu as portas para abordar o tema a respeito do fanatismo religioso e os preconceitos com o trabalhador esotérico. Temas relacionados : intolerância religiosa e o desenvolvimento do

Fanatismo religioso, Terapias alternativas, Tarot, Vampirismo, perseguição a cosplayers e RPGistas, ataques a obras literárias, arte e religião foram abordados. Participaram do Debate o Prof. Roberto Caldeira, o Engenheiro Serg Rios, o escritor Lord A, a terapeuta Silvana Martins e o arquiteto Marcelo Del Debbio. O vereador Adolfo Quintas abraçou o conteúdo do Debate, deixando sua agenda aberta para os participantes na elaboração dos projetos que contribuem para melhorar a qualidade de vida.

Pela primeira vez tivemos a oportunidade de relatar as perseguições que os jogos de Role-Playing Games sofrem nas mãos dos fanáticos religiosos, esclarecer os ataques estereotipados da mídia e relatar os diversos problemas que jogos como Dungeons & Dragons, Vampiro, Arkanun e outros tiveram em conflitos com o fanatismo religioso.

#RPG

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/rpg-na-c%C3%A2mara-dos-vereadores-de-s%C3%A3o-paulo

O Simbolismo Queer em Matrix Ressurrections

Por Reuben Baron

Até Ressurrections, a série Matrix não reconhecia diretamente as pessoas LGBTQ. A personagem Switch foi escrita como trans no roteiro original de Matrix, mas a personagem foi alterada para o filme finalizado, pois os executivos do estúdio estavam confusos. Isso não impediu as leituras queer da obra, é claro, que se intensificaram depois que as diretoras Lana e Lilly Wachowski se assumiram como mulheres trans.

Até mesmo Lilly Wachowski incentivou essas leituras no documentário Disclosure, de 2020: “Matrix era todo sobre o desejo de transformação, mas tudo vinha de um ponto de vista de dentro do armário”. The Matrix Ressurrections é o primeiro filme da série feito desde que as Wachowskis foram lançadas. Questões queer e trans não são intercambiáveis, mas a última sequência ofereceu uma oportunidade de reconhecer essas leituras. Lana Wachowski (dirigindo sem Lilly, que gravitou longe da ficção científica em favor de histórias queer mais realistas) e a equipe aceitou.

ALERTA DE SPOILERS!

Na última parte da saga, Neo está vivo (surpresa) e preso em uma nova Matrix, vivendo como o desenvolvedor de videogames Thomas Anderson. Enquanto trabalhava em um novo projeto ambicioso intitulado Binary (Binário, muito sutil…), seu chefe Smith o força a desenvolver uma sequência de sua série de videogames de sucesso The Matrix, que é semelhante à trilogia de filmes que todos vimos e que Neo não consegue lembrar que ele realmente viveu.

Este meta primeiro ato permite que Ressurrections comente diretamente as interpretações alegóricas de Matrix. Em uma reunião em que a equipe de desenvolvimento de Anderson discute sobre o que eram os jogos The Matrix, um desenvolvedor comenta que a história original era sobre “política trans”, a primeira referência direta LGBTQ na série. Essa troca é irônica, mas também não é uma rejeição completa dessa leitura. A série obviamente contém muitas das coisas que esses desenvolvedores trazem – “bullet time!” “WTF!” – e a cena está apenas ridicularizando levemente aqueles que dizem que Matrix é sobre qualquer coisa.

A maior parte do conteúdo queer em Ressurrections segue as mesmas linhas alegóricas do original, repetindo antigos cenários de Neo e Trinity despertos rejeitando seus “nomes mortos” e adicionando novas e copiosas referências a “binários” que inevitavelmente foram lidos como um comentário sobre os gêneros binários. Embora ainda não haja nenhum personagem diretamente declarado queer, Ressurrections torna os headcanons LGBTQ muito mais fáceis do que os filmes anteriores, dando a Niobe e Freya, bem como a Bugs e Lexi, demonstrações de afeto suficientes na tela para lê-las como casais.

O que pode ser o aspecto mais fascinante do subtexto queer de Matrix Resurrections, no entanto, é em relação a seus vilões. Vilões com códigos queer têm uma história longa e problemática em Hollywood, mas apesar ou mesmo por causa dessa história, eles costumam ser uma fonte de fascínio para artistas e públicos queer. Então, quando Lana Wachowski decidiu escalar dois atores abertamente gays, Jonathan Groff e Neil Patrick Harris, nos papéis dos dois principais antagonistas de Ressurrections, Agente Smith e o Analista, tenho certeza que ela sabia exatamente o que estava fazendo.

O Agente Smith é o personagem mais rico em relação ao subtexto queer, já que algum grau de subtexto já fazia parte da interpretação de Hugo Weaving de seu personagem na trilogia original. Nas leituras queer de The Matrix, Smith foi comparado aos pregadores homofóbicos enrustidos, mulheres trans que se forçam a viver como homens e defensores da “terapia de conversão”. Quando Smith diz a Morpheus no primeiro filme: “Eu odeio esse lugar, esse zoológico, essa prisão, essa realidade, como você quiser chamar”, sua auto-aversão vem em alto e bom som.

Se o Smith da Weaving está dentro do armário, então o Smith do Groff basicamente saiu dele. Não como trans (Lana já deixou claro que Matrix não é uma alegoria cara a cara para o ser trans), mas como gay. A codificação queer no Smith reiniciado é tão pesada que quase vai além da codificação; é tão óbvio quanto poderia ser sem se tornar um estereótipo ofensivo ou explícito o suficiente para justificar o tipo de censura comum com material LGBTQ+ em filmes de sucesso em todo o mundo. Embora Groff não tenha falado sobre interpretar Smith como gay, ele descreveu o filme como um todo como “mais queer”, e é fácil ler esse sangramento em sua performance.

Apenas na atitude, é evidente que o Smith de Groff é mais relaxado e confortável em sua própria pele do que o Smith de Weaving. Quando Smith faz seu apelo a Neo por volta de uma hora e 22 minutos de Ressurrections, fica claro que ele também se sente muito mais à vontade para expressar afeição por seu lendário oponente. “Há tantas teorias sobre os dois”, Berg, o estudioso de Neo e residente da tripulação, brinca timidamente, talvez aludindo aos shippers Smith/Neo. Smith diz a Neo: “Você nunca apreciou nosso relacionamento”, e diz que o Analista usou seu “vínculo” e o transformou em uma “corrente”. Smith pergunta a Neo sua opinião sobre seus “penetrantes olhos azuis” e faz muitas pausas para fazer expressões faciais sedutoras. É uma isca total para o remetente.

Quando eles finalmente estão prestes a lutar, Smith diz que “Anderson e Smith” são um dos “binários que formam a natureza das coisas”. Dado o subtexto de gênero das críticas de Resurrections aos binários, sinta-se à vontade para fazer uma piada sobre “os dois gêneros” aqui. Com o quão pesadas as imagens do BDSM são ao longo da série Matrix, também não é difícil ver algum erotismo sadomasoquista no desejo apaixonado de Smith de lutar contra Neo e o Analista, o último de quem ele sugestivamente afirma ter “sua coleira no meu pescoço”. Mais tarde no filme, quando Smith finalmente salva Neo e Trinity do Analista, ele diz que quando Neo saiu da Matrix e o despertou, “eu estava livre para ser eu”. (Além disso, Smith e Morpheus tecnicamente têm um filho juntos na forma do novo personagem do programa Morpheus de Yahya Abdul-Mateen II.)

Além dos comentários sadomasoquistas de Smith e da escalação de Harris, o Analista não é tão fortemente codificado como queer quanto Smith. Ele é codificado mais como um daqueles fãs “da direita alternativa” de Matrix que se apropriaram das imagens do original do que qualquer coisa, monólogo sobre “fatos alternativos” e desprezando os outros como “ovelhas”. Enquanto a maioria dos espectadores sabe que Harris é um homem gay, eles também sabem que seus personagens mais icônicos, de Barney Stinson à sua própria caricatura nos filmes Harold & Kumar, foram extremamente heterossexuais.

No entanto, mesmo interpretando um personagem tão diferente de si mesmo na página, Harris diz que interpretou o personagem como uma “versão de mim mesmo”. Dada a relação complicada do Analista com a verdade e a natureza hiper-estilizada da trilogia Matrix original, foi fácil para ele se inclinar para uma estilização semelhante, mas o estilo de Lana Wachowski evoluiu em uma direção mais naturalista, deixando Harris um pouco confuso sobre o quão “verdadeiro” seu desempenho precisava ser. O Analista obviamente não é o “verdadeiro” Neil Patrick Harris, mas mesmo assim qualquer pessoa que conheça o ator vai trazer seu conhecimento de sua identidade pública para o Analista. Em combinação com a pesada codificação queer de Smith, isso cria um fenômeno estranho no qual os dois agentes mais significativos de um sistema geralmente são lidos como uma metáfora para conformidade e opressão anti-LGBTQ emitem pelo menos algumas vibrações gays.

Em 1999, ser abertamente queer automaticamente tornava alguém um inimigo do sistema. Em 2021, isso não é necessariamente o caso. Direitos como casamento e proteção contra discriminação no emprego pelo menos foram escritos em lei, e o suficiente mudou para que algumas pessoas queer (principalmente cis, principalmente brancas, principalmente do sexo masculino) sejam capazes de manter o poder dentro do sistema. Só porque nossos governos e corporações são mais amigáveis ​​​​aos gays do que antes, no entanto, não os torna necessariamente mais amigáveis ​​​​em geral. O “capitalismo arco-íris” é muitas vezes performático, na melhor das hipóteses, para as necessidades da comunidade LGBTQ, e o “pinkwashing (igualdade queer corporativa e política)” usa progressividade nominal em questões queer para desviar a atenção de ações prejudiciais em outras áreas.

Um dos principais temas de Matrix Ressurrections é que os sistemas de poder se apropriam e assimilam forças que originalmente desafiavam esses sistemas. Isso é mais óbvio em como a história de rebelião de Neo contra a Matrix foi transformada em uma franquia de videogame dentro da própria Matrix. A Subversão é reduzida a um produto corporativo que a maioria do público nem entende a mensagem pretendida. Como Bugs diz: “Eles pegaram sua história, algo que significava muito para pessoas como eu, e a transformaram em algo trivial”. Quando o Analista usa o bullet time, a imagem mais icônica de Matrix, como uma arma para congelar Neo e Trinity no lugar, é perfeitamente simbólico de como a estética da revolução é distorcida contra seu significado original.

Os vilões com código queer de Ressurrections são mais um exemplo dessa assimilação no sistema, ao mesmo tempo em que fornecem duas respostas muito diferentes a ele. O Analista abraça seu poder dentro desse sistema, enquanto Smith é finalmente capaz de se redimir rompendo com ele. Sempre houve debates acalorados sobre se os objetivos do movimento LGBTQ devem ser focados em mostrar ao mundo cishétero que as pessoas queer podem ser “como todo mundo” ou se é melhor rejeitar a política de normalidade e respeitabilidade. Lana Wachowski pode se opor a qualquer um dizendo sobre o que Matrix Resurrections é “sobre”, mas é justo dizer que pelo menos parte disso é uma mensagem antiassimilacionista: não gay como em feliz, mas queer como em foda-se.

***

Fonte: The Matrix’s Queer Subtext Is Plain Text in Resurrections, by Reuben Baron.

Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/popmagic/o-simbolismo-queer-em-matrix-ressurrections/

O Caso de Ouro Preto – Vinte anos de Incompetência

Em outubro de 2001, a jovem Aline Silveira Soares saiu de Guarapari, no interior do Espírito Santo para a cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais. Com apenas a roupa do corpo e alguns trocados no bolso, seu objetivo não era visitar as esculturas de Aleijadinho ou passear pela arquitetura colonial considerada pela UNESCO como um dos patrimônios da humanidade. Além de ser o mais belo monumento ao ciclo do ouro colonial, Ouro Preto também é uma cidade universitária, sede da Universidade Federal de Ouro Preto e coalhada de repúblicas estudantis, muitas delas com décadas de existência e tradições. Uma dessas tradições é a Festa Do Doze, que em todo 12 de outubro reúne alunos e ex-alunos da UFOP para beber e curtir nas repúblicas e ruas da cidade. Era para essa festa que Aline seguia, acompanhada apenas de uma amiga, Liliane, e sua prima Camila Dolabella.

8 anos depois, em 3 de julho de 2009, Camila Dolabella entrou na sala do júri do Fórum de Ouro Preto para ser interrogada. Após ter amargado quase um ano na prisão, em 2005, e ter visto dois habeas corpus serem negados, Camila finalmente estava sendo julgada pela acusação de homicídio qualificado. A vítima seria sua prima Aline, que segundo a promotoria, teria sido assassinada por Camila, Edson Poloni Aguiar, Cassiano Inácio Garcia e Maicon Fernandes, todos os moradores da república Sonata, onde as jovens se hospedaram para a Festa. A causa do crime seria um jogo de RPG, que Aline teria perdido, sendo punida com a morte… mais especificamente uma morte ritual, de acordo com preceitos satânicos.

O Caso de Ouro Preto está fadado a fazer parte dos anais do direito no Brasil. Não só pela violência do assassinato: Aline Silveira foi descoberta na manhã de 14 de outubro morta, nua, sobre um túmulo no cemitério Nossa Senhora das Mercês, com 17 facadas no corpo. A causa da morte seria engorjamento, uma facada fatal no pescoço. Mas o que se destaca é a completa incompetência, ignorância, má fé e os abusos perpetrados por aqueles que deveriam ser os fiadores da justiça no caso: o Ministério Público e a polícia de Ouro Preto.

Desde o começo a marca da investigação em Ouro Preto foi a combinação de inépcia e sensacionalismo. O caso caiu nas mãos do delegado Adauto Corrêa, na época sendo investigado por atentado violento ao pudor e coerção no curso de processo. Corrêa, este exemplar da probidade administrativa, não demorou para arranjar suspeitos para o crime. Logo arrolou como acusados em seu inquérito a prima de Aline e três jovens estudantes da república onde ela tinha ficado temporariamente hospedada. Em uma inovação do procedimento policial normal, o principal elemento incriminatório apontado pelo delegado não era a arma do crime, mas sim livros e postêres encontrados na república Sonata. Incluindo aí livros de RPG.

O RPG, ou role-playing game, foi inventado em 1974, nos Estados Unidos. Uma evolução dos então populares jogos de estratégia de tabuleiro, o RPG basicamente consiste de um grupo de jogadores que, trabalhando em conjunto e usando regras de jogo pré-definidas, tenta superar desafios propostos por um Mestre, responsável por narrar a história e organizar cada sessão de jogo. Com sua popularização, o jogo passou dar cada vez maior ênfase a interpretação, diminuindo o foco na estratégia e privilegiando o desenvolvimento de personagens. Uma das características principais do RPG é seu caráter cooperativo: os jogadores e o Mestre devem trabalhar em conjunto para criar uma boa história e garantir a diversão de todos. RPG não é competitivo, o que o tornou um jogo ideal para ser aplicado em processos educacionais em todo mundo. RPG também não é um jogo possível de se “perder” (uma vez que não há competição) e tampouco possui laços com satanismo.

Nenhum desses fatos importou para o delegado Adauto Corrêa. Desconhecendo os fundamentos do jogo de RPG, movido por intolerância cega e, talvez pressionado para apresentar resultados o mais rápido e espalhafotosamente possível (afinal de contas, até outro dia o principal réu nas páginas policiais era ele próprio) Corrêa decidiu que Camila, Edson, Cassiano e Maicon eram os responsáveis pelo crime. Corrêa estava suficientemente seguro de sua conclusão para poder se dar ao luxo de passar por cima e deixar de lado toda uma série de evidências, investigações e exames que seriam necessários para propriamente determinar o responsável pelo assassinato de Aline.

Corrêa, por exemplo, não levou em consideração o fato de que Aline mal tinha tido contato com Edson, Maicon e Cassiano. Apesar de estar hospedada na república deles, todos testemunhos concordavam que ela só dormia por ali, passando a maior parte do tempo pela cidade ou em festas em outra república, a Necrotério. Lá, testemunhas afirmaram que Aline passou tempo, isso sim, aos beijos com Fabrício Gomes, na época mal-afamado na cidade por um suposto envolvimento com o tráfico de drogas. Mais ainda, Fabrício Gomes e Aline Silveira teriam sido vistos em frente ao cemitério onde a jovem seria encontrada assassinada na manhã seguinte. Quando Camila Dolabella alertou o delegado Adauto Corrêa sobre o ocorrido, adicionando que Fabrício teria sido visto no dia seguinte à morte de Aline vestindo uma camiseta manchada de sangue, a resposta não foi promissora. Corrêa simplesmente anunciou que não queria saber de mais detalhes, pois ele já sabia quem eram os culpados.

Aline Silveira Soares foi localizada nua, com os braços abertos e pernas cruzadas, ao lado de roupas cuidadosamente arrumadas no chão, entre elas uma blusa coberta de esperma. O corpo tinha sido propositadamente arranjado dessa forma, fato evidenciado por uma trilha de sangue no local. Analíses toxicológicas revelavam traços de maconha no sangue da vítima. A investigação sob o comando de Adauto Corrêa não encontrou digitais dos suspeitos no local ou na arma do crime, econtrada próxima ao corpo. Também não comparou o esperma encontrado em Aline com o dos acusados. Na verdade isso seria impossível, uma vez que os policiais negligenciaram a coleta de material genético antes que ele fosse contaminado ou se deteriorasse. Tampouco foram localizadas drogas na posse dos acusados ou na república Sonata. Mas nada disso importava ao delegado Adauto Corrêa. Ele podia se dar ao luxo de desprezar evidências materiais e os testemunhos que contradiziam sua teoria. Afinal de contas, seu faro investigativo encontrava provas contra os quatro acusados em vários elementos considerados corriqueiros por um olhar não treinado. O fato de que Maicon Cassiano chegara a república Sonata naquela noite sem camisa, era evidência clara de que ele estaria fantasiado como um personagem de RPG. E, logo, era assassino. Embora não houvesse nada que indicasse que os acusados tinham passado pelo cemitério das mercês naquela noite, objetos tinham sido encontrados no local que poderiam ter servido num ritual. E se tinha havido ritual, os acusados tinham participado, afinal, para o delegado, eram todos obviamente satanistas. Outro elemento contundente contra os réus foi o fato de que eles terem limpado a república durante o curso investigação. Ignore-se que isso ocorreu quase uma semana após o crime, e que a polícia não tinha dado nenhuma instrução para que nada fosse alterado no local, apesar dos réus terem perguntado já nas primeiras horas do desaparecimento de Aline se deveriam preservar tudo intocado na república. Mas esse era justamente um exemplo do elemento mais incriminador de todos: o interesse dos jovens em desvendar o assassinato e ajudar a polícia só podia ser outra prova gritante de sua culpa. Como o delegado Adauto Corrêa sabia, criminosos sempre tentam agir como inocentes para despistar a polícia. Como o comportamento de Camila, Edson, Maicon e Cassiano denunciava a mais completa inocência, eles só poderiam ser culpados. Todos os quatro, apesar de que o laudo técnico deixava claro que as facadas em Aline tinham sido feitas por uma única pessoa.

A lógica tortuosa, irresponsável e perversa de Adauto Corrêa não avançou sem problemas. Após concluída a investigação, que indiciava os quatro jovens pelo assassinato, o caso chegou às mãos do promotor Edvaldo Pereira Júnior, que reconheceu prontamente a impossibilidade de dar seguimento aquele processo. Baseado em suposições, preconceitos e tentativas descabidas de fazer os fatos se conformarem à teoria (das mais mirabolantes), Pereira Júnior condicionou o seguimento do caso à realização de 17 diligências, que providenciassem alguma prova cabal, ou ao menos aceitável, sobre a culpa dos réus ou a identidade do assassino de Aline. Adauto Corrêa não realizou nenhuma dessas diligências, dando o caso por encerrado. Pereira Júnior tentou recorrer à Secretaria de Segurança Pública para afastar o delegado de seu cargo. Enquanto isso políticos oportunistas aproveitavam o caso para se promover, agitando a opinião pública e alimentando a indignação com boas doses de desinformação e mentiras. Um vereador chamado Bentinho Duarte passou uma lei proibindo o RPG em Ouro Preto. O promotor Fernando Martins iniciou processo contra as editoras Devir Livraria e Daemon tentando proibir a publicação de livros citados na investigação do caso. A mídia convencional se absteve de realizar qualquer trabalho jornalístico digno do nome e, seguindo a linha Fordiana de que se o factoide é melhor que o fato publica-se o factoide, deu ampla publicidade à teoria barroca de Corrêa, ao mesmo tempo que desprezava as hipóteses contraditórias. Apesar de se referirem aos réus como “suspeitos” ao invés de “assassinos”, o esforço de “imparcialidade” dos jornalões nunca atacou diretamente as óbvias irregularidades da investigação do caso nem contestou o caráter delirante da acusação. Enquanto isso, os quatro réus tentavam levar suas vidas, marcados pelo estigma de serem suspeitos de homicídio. Edson foi ameaçado de morte e trancou a faculdade. Maicon e Cassiano permanecerem em Ouro Preto, apesar da constante antagonização e assédio por parte de moradores da cidade. Camila retornou para Guarapari, onde passou a ser hostilizada pela família. Órfã de mãe, ela contou apenas com o apoio do pai durante todo o processo.

Em 2004, após três anos em que o caso esteve parado, ele saiu das mãos de Edvaldo Pereira Júnior e passou para a promotora Luíza Helena Trócilo Fonseca. Diferente de Pereira Júnior, que tinha se recusado a denunciar um processo tão eivado de inconsistências e sandices, Trócilo da Fonseca decidiu dar continuidade ao caso. Em 2005, Camila Dolabella e Edson Poloni foram presos. Quatro anos tinham se passado desde a morte de Aline, e nenhum dos acusados tinha apresentado qualquer atitude desabonadora até então. Edson saiu da cadeia após seis dias, sob efeito de uma liminar, mas Camila passou a maior parte daquele ano na detenção. Foi só quando o caso chegou ao Superior Tribunal de Justiça que a pena de prisão dos réus foi considerada descabida e lhes foi dado o direito de aguardarem o julgamento me liberdade, apesar das alegações do Ministério Público mineiro de que se tratavam de “contumazes jogadores de RPG, em todas suas modalidades“. Note que, até então, continuavam inexistentes qualquer evidência concreta de responsabilidade dos réus no assassinato de Aline Silveira. Eles estavam sendo presos e acusados por que tinham lido livros.

O caso permaneceu fora da mídia por alguns anos. Enquanto os réus tocavam a vida, a promotoria construía o caso e se preparava para o julgamento. Em 2006 a promotora Luíza Helena Trócilo Fonseca encontrou tempo para mandar apreender todas as edições de número 09 da revista Observatório Social, que denunciava na capa o uso de trabalho infantil nas mineradoras de Ouro Preto. A promotora se preocupava que as fotos expunham as pobres crianças, e afetavam negativamente a boa imagem da região… Mas, enfim. Em 2008 foi decidido que o caso de Aline Silveira seria levado à júri popular. Em 3 de julho de 2009, Camila Dolabella, Edson Poloni Lobo de Aguiar, Cassiano Inácio Gracia e Maicon Fernandes foram finalmente julgados pela acusação de homicídio qualificado. Na falta de prova contundente contra eles, a acusação optou por lançar novo ineditismo jurídico no direito brasileiro, ao sustentar que “o álibi dos réus era fraco”. Ou seja, não cabia à promotoria provar que eles tinham matado Aline Silveira. Eram os quatro estudantes que deveriam mostrar que não tinham cometido assassinato, ou serem presos. Contra eles pesavam diversas evidências “incriminadoras”: seus gostos musicais, cinematográficos, o jeito como se vestiam e seus hobbies. Em 5 de julho de 2009, o júri os declarou inocentes.

Não se tratou aqui apenas da óbvia falta de qualquer prova contra eles. O decisão final dos sete jurados foi de que, efetivamente, os quatro réus “não concorreram, de qualquer forma, para prática do crime”. Os jovens que tinham passado quase uma década sendo coagidos, assediados, ameaçados, difamados e perseguidos não eram os assassinos de Aline Silveira Soares.

Teorias sobre o que realmente aconteceu não faltam, e já circulavam desde os primeiros dias do caso. A mais verossímel é de que Aline teria se envolvido com uma negociação de drogas, durante a Festa dos Doze, e, sem dinheiro, teria concordado em manter relações sexuais como pagamento. Não há indícios de violência sexual em seu corpo, o que demonstra a consensualidade do ato, comprovado pela perícia necrológica. Como a primeira facada em Aline foi em suas costas, tudo indica de que ela foi atraiçoada pelo seu parceiro de negócios. Este permanece solto e impune.

Os interesses escusos, a ignorância e o preconceito é que são os verdadeiros criminosos no caso de Ouro Preto. Foram eles que permitiram que por uma década quatro jovens inocentes fossem perseguidos injustamente, sendo até mesmo privados de liberdade e forçados a fazer inúmeros e pesados sacrifícios pessoais. Foram eles que deram ao verdadeiro assassino de Aline Silveira, um homem brutal e cruel, um passe livre para permanecer à solta. Em uma sanha cega e irresponsável de achar um culpado a justiça de Ouro Preto falhou miseravelmente, e duas vezes: não puniu o culpado e vitimou mais inocentes. Esse tipo de atitude, ignorando procedimentos básicos do processo legal, atropelando direitos civis e apelando para o ódio e a intolerância como elementos de incriminação, não é compatível com o Estado de Direito. Eu não contei essa história aqui hoje para inocentar Camila, Edson, Cassiano e Máicon. Coube ao tribunal do júri fazer isso. Mas para tomar a atitude digna e necessária de todo cidadão: exigir a imediata investigação e punição dos responsáveis pelo caso do assassinato de Aline Silveira Soares. Sua irresponsabilidade e malícia, sua truculência e abuso de poder não podem, nem devem ser perdoadas, nem as sérias acusações de acobertamento dos verdadeiros responsáveis devem ser relevadas. Isso não pode ser permitido.

Os inocentes estão, enfim, livres. É mais que hora de punir os culpados.

Por Felipe de Amorim

#RPG

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A Dinâmica da Estupidez

Robert Anton Wilson

A perspectiva evolucionária sugere que as seguintes proposições possam ser verdadeiras, ou possam servir de princípios de trabalho plausíveis, até que compreendamos melhor o nosso cérebro: A estupidez é parcialmente genética e parcialmente adquirida  A porção genética da estupidez está programada em todos nós e consiste no “comportamento mamífero típico”, o que quer dizer: uma boa porção do sistema nervoso humano está numa espécie de “piloto automático”, tal como no sistema nervoso do chimpanzé‚ que se assemelha ao nosso, ou então para com o sistema nervoso mais distantemente relacionado, da vaca.

Os programas de territorialidade, hierarquia no bando e outros, representam estratégias evolucionárias estáveis e, portanto, funcionam de maneira mecânica, sem a interferência do pensamento racional. Esses sucessos evolucionários relativos se tornaram programas genéticos devido ao fato deles funcionarem suficientemente bem para o mamífero ordinário nos assuntos ordinários dos mamíferos. Eles se transformam em estupidez nos seres humanos, onde os centros-corticais superiores foram desenvolvidos como um sistema de monitoração para injetar técnicas de sobrevivência mais sofisticadas, e para corrigirem os programas estereotipados com outros mais flexíveis.

Em resumo, enquanto um ser humano obedecer aos programas genéticos e do bando primata, sem respeitar ou receber qualquer retorno da córtex, aquele humano está agindo como um macaco, e ainda não encontrou meios de utilizar o novo cérebro.

A porção adquirida da estupidez é o resultado da enculturação, que é o processo pelo qual o sistema nervoso humano, flexível, polivalente, sofre um processo de lavagem cerebral para abandonar a sua flexibilidade, e convencido a imitar (mímica comportamentos estereotipados, crenças, valores, etc…, da tribo a qual ele pertence.

O comportamento primata somente se modifica sob o impacto de uma nova tecnologia.

Um bando de chimpanzés irá repetir roboticamente os mesmos comportamentos por milênios ou mais; se alguém os ensinar como usar paus para obteralimento ou então uma linguagem de sinais simples, eles irão imediatamente modificar o seu comportamento sob o “choque” dessa nova tecnologia. As sociedades humanas (por exemplo: China, Bizâncio) podem também permanecer estáticas e repetitivas por longos períodos de tempo, até que novas tecnologias desencadeiem novos comportamentos.

Primatas domesticados (humanos) mudaram mais nos últimos cem anos do que em toda a história anteriormente, debaixo do impacto de uma “acelerada aceleração de tecnologias”. Os irmãos Wright, Edison, Einstein, Ford, etc…, desencadearam mais modificações de comportamentos do que todos os outros revolucionários políticos deste século, sejam da direita ou esquerda.

Dos pontos anteriores segue-se que a forma mais rápida de modificar o comportamento primata‚ é introduzindo uma nova tecnologia, e que a tecnologia‚ é o remédio mais forte que pode ser administrado para curar a estupidez, ou pelo menos no sentido de aliviá-la um pouco.

O comportamento genético se modifica com muito maior velocidade do que o comportamento adquirido quando uma tecnologia nova é introduzida, porque o código genético contém aquilo que Lorenz denomina de “buracos”, ou pontos de vulnerabilidade de Imprint, onde novos imprints (redes de novos circuitosneuro-genéticos) podem ser formados. O choque e a confusão, que são dois subprodutosde uma nova tecnologia, podem disparar este tipo de vulnerabilidade de imprint (vide ‘Exo-ps Cholog’ de Thimothy Leary e ‘How real is real’ de Paul Watzlawick. A inteligência superior é a habilidade de receber integrar e transmitir novos sinais rapidamente. Isto segue a definição de Wiener em ‘Cibernetics’, onde para “viver deforma eficiente temos de viver com a informação adequada”, e também da ‘Teoria Matemática da Comunicação’ de Shannon.

A estupidez é um bloqueio na habilidade de receber, integrar e transmitir novos sinais rapidamente. Programas genéticos, se não forem corrigidos por novos imprints podem gerar este tipo de “cegueira aos sinais de informação”: o comportamento genético‚ mecânico, inconsciente, não é passível de ser corrigido pelos circuitos de retro-alimentação dos centros nervosos superiores. A enculturação (se identificar osmapas de realidade tribais com a realidade) pode também gerar esta cegueira aos sinais: os sinais não consistentes com a mitologia tribal são reprimidos, ignorados,recobertos com projeções ou distorções, até que se amoldem aos mitos locais, ou simplesmente são esquecidos muito rapidamente.

Os primatas domesticados, como os selvagens, desejam principalmente que um MACHO ALFA os liderem. Quanto mais esta figura vier a se aproximar do arquétipo primordial, isto é: o babuíno mais mal encarado e mais temperamental do bando – mais fervorosamente os outros primatas o seguirão. Isto explica a aparentemente inexplicável ascensão ao poder dos tipos evidentemente sub-humanos de Mussolini, Nixon, Stalin, Hitler. A lógica primata é: “se ele é assim tão ruim” no sentido em que a palavra “ruim” significa poderoso como em alguns bairros pobres ou favelas, “ele irá fazer os bandos de primatas competidores fugirem com os rabos entre as pernas.

Depois de encontrarem um macho alfa para liderá-los, os primatas domesticados então buscam um bode expiatório a quem culpar pelos seus problemas. Eles agem desta maneira porque a resolução de problemas exige inteligência, e existe muito mais estupidez do que inteligência neste planeta. Os primatas domesticados não são otimistas no que se refere a resolverem os seus problemas, que lhes parecem insolúveis no seu estado confuso atual, situados como estão entre os reflexos mamíferos e a consciência objetiva. É mais fácil para uma mente estúpida culpar alguém pelos seus problemas.

A função principal do macho alfa num bando de primatas domesticados é a de encontrar denunciar e liderar a perseguição de tais bodes expiatórios, sejam eles internos ou externos.

Para os primatas selvagens, assim como para os outros mamíferos, as emoções funcionam como sinais de emergência, mobilizando a energia para as situações de “ameaça”, ou seja, aquelas que desafiam a territorialidade ou o “status” na hierarquia do bando.

Para os primatas domesticados, as emoções servem tanto para desempenharem as funções acima, como também para as duas novas funções tornadas possíveis pela existência do novo cérebro, e pelas suas capacidades de simbolização. Estas duas novas funções, são:

1. Combater o Tédio;

2. Ganhar Status ou Poder;

Primatas selvagens, assim como os outros mamíferos não possuem defesas contra o tédio. Eles simplesmente vão dormir quando nada estimulante está acontecendo. Isso também funciona como uma estratégia evolucionária interessante na medida em quem impede que o animal se meta em complicações: você se torna muito menos visível a um predador quando está imóvel do que quando em movimento; você tem menor probabilidade de enfiar as suas patas ou focinho num vespeiro, etc. Os primatas domesticados aprendem a imitar os seus parentes, uma habilidade que foi transmitida pelos hominídeos ao longo de milênios, como usar as emoções para fugirem ao tédio.

A única outra maneira de espantar o tédio num complexo primata tal como a humanidade é a de aumentar a consciência e a inteligência. Isto parece não entusiasmar muito o primata ordinário, que prefere inventar jogos emocionais (novelas, grandes espetáculos dramáticos), para manter a vida estimulante. Os escritos de Eric Berne e os dos Analistas Transacionais estão dedicados principalmente ao estudo e catalogação destes jogos emocionais ou “chupetas”.

Entre os primatas domesticados, as emoções também conferem status e poder. Isto quer dizer que a pessoa mais emocional num bando “domina” todas as demais: os outros devem reagir de acordo com as emoções dele ou dela ou então fugir, retirando-se completamente do local.

Quase todas as crianças começam a aprender esses jogos emocionais estereotipados ou “chupetas” de parentes ou irmãos mais velhos, a partir da idade de dois anos. Elas então experimentam com estas táticas de poder (política mamífera), até que tenham aprendido como ganhar vantagens (vitórias simbólicas) pelo método da chantagem emocional. Muito poucas crianças aprendem, dos parentes, professores ou de alguém mais, as técnicas da solução racional dos problemas.

Dos itens 18 e 19 se conclui que neste planeta primitivo a maioria das pessoas irá tentar lidar com os seus problemas de forma simbólica, pelo jogo das emoções, e relativamente poucas pessoas irão saber como resolver os seus problemas de modo racional.

A estupidez sendo parcialmente genética e parcialmente adquirida pela enculturação parcialmente pela imitação de jogos emocionais para a aquisição de status, é altamente contagiosa. O elemento mais estúpido de um grupo inevitavelmente arrasta todos os demais para o seu nível. Tentar discutir com uma pessoa emocional é frustrante porque é inútil; a única maneira de “negociar” com elas, além de escapar da situação, é desafiar o seu jogo emocional com um contra-jogo ainda mais forte. Normalmente este novo jogo é denominado de “culpa”.

Uma vez que o comportamento primata pode ser modificado por nova tecnologia, a única cura para a espécie humana deve ser uma tecnologia que em si mesma aumente a inteligência de maneira imediata e permanente.

Tal tecnologia de aumento da inteligência deve ser hedônica, isto é, deve oferecer um maior prazer aos seus fregueses do que as demais do mercado senão corre o risco de não se espalhar de forma rápida. Quando um tal aparelho de elevação hedônica da inteligência for inventado, os mandantes da sociedade tentarão suprimi-lo, como uma ameaça à estabilidade.

Se um tal aparelho elevador hedônico da inteligência já foi inventado, ele deve ter sido reprimido. Os pesquisadores devem ter sido aprisionados ou intimidados; os seus distribuidores devem ter sido perseguidos com maior vigor do que o seriam assassinos ou ladrões; o próprio aparelho seria denunciado como algo terrível e perigoso em todos os meios de comunicação da massa.

Até que a existência de um aparelho hedônico de aumento da inteligência seja provada deforma totalmente não-ambígua, certas medidas podem ser tomadas para tentarmos minar a estupidez pelo menos um pouco.

A estupidez da biosobrevivência está “imprintada” quase que imediatamente após o nascimento, e é gerada pelo pavor traumático (devido às nossas práticas primitivas de cuidados ao recém-nascido) e assume a forma de uma ansiedade crônica. Esta é epidêmica na nossa sociedade: uma pesquisa feita pelos Serviços de Saúde Pública dos Estados Unidos em 1986 mostrou que 85% da população apresenta algum sintoma de ansiedade crônica, sejam palpitações cardíacas, pesadelos freqüentes ao dormir, tonturas cansaço fácil, etc. Isto geralmente acompanhado por uma depressão crônica. Nas suas formas mais extremas podemos encontrar o autismo ou a catatonia, que são “decisões biopsíquicas ou celulares de que os seres humano são demasiadamente desagradáveis para que valha a pena se relacionar com eles, ou então, podemos encontrar a paranóia, aarte sutil de encontrar inimigos em todos os lugares, principalmente entre os nossos melhores amigos.

A estupidez da biosobrevivência causa tanto stress no organismo e tanta alienação dos demais seres humanos, que ela cria a estupidez em todos os outros circuitos igualmente e portanto, previne o desenvolvimento de um alto nível de inteligência em qualquer circuito.

A estupidez da biosobrevivência pode ser aliviada pela prática de vários tipos de artes marciais (aikidô, karate, kung-fu, etc.), pela prática de “asanas”, a técnica iogue de manutenção postural por longos períodos de tempo todos os dias; pelos “movimentos Gurdjeffianos” ou então por alguma psicoterapia eficiente. A prática do “asana” e as psicoterapias demoram mais tempo para surtirem efeitos, porém podem ser necessárias nos casos mais agudos.

A Estupidez Emocional‚ “imprintada” quando a criança está aprendendo as “políticas familiares” pela primeira vez (jogos de hierarquia mamífera). Tipicamente, a vítima é confrontada com todas as situações problemáticas possíveis de serem resolvidos nas relações inter-pessoais com algum jogo emocional estereotipado, por exemplo: um mau humor prolongado, uma explosão emocional, “depressões”, uma tendência ao alcoolismo ameaças de suicídio, gritos, berros, quebrar coisas na tradicional coreografia de um primata frustrado, e muito mais. Um ou outro desses reflexos emocionais robóticos podem ser reconhecidos em cerca de 99% da população.

A estupidez emocional pode ser aliviada pela respiração iogue, conhecida como “pranayama” ou pelas técnicas de Gurdjieff de estabelecimento de um “Observador” que monitora os reflexos emocionais, isto é: os torna “conscientes” ao invés de “mecânico”. As técnicas de “pranayama” produzem resultados mais rápidos, enquanto que as técnicas Gurjeffianas produzem resultados mais permanentes.

A Estupidez Semântica‚ “imprintada” quando a criança mais velha começa a lidar com palavras e (artefatos abstratos produzidos pelos centros cerebrais superiores depois que a linhagem se separou da espécie dos primatas). A forma mais persistente de estupidez semântica consiste na confusão do mapa de realidade local (tribal) com o todo da Realidade. O Dogmatismo, sistemas ideológicos rígidos e mapas bizarros da realidade(esquizofrenias ideacionais) também abundam. A cegueira simbólica, que vai desde o analfabetismo até ao analfabetismo matemático ou artístico, é também muito comum e frequentemente encontrada naqueles que são extremamente habilidosos em algum campo estreito de símbolos (especialista), por exemplo: o pintor que não sabe sequer o que é uma equação quadrática ou o cientista que não consegue ou não se motiva a ler poesia, etc.

A Estupidez Semântica pode ser aliviada por uma dieta rica em lecitina e proteína, por cursos de atualização e reciclagem em leituras, e no método científico e pela prática da Semântica Geral.

A Estupidez Sócio-sexual‚ imprintada quando o DNA desencadeia a mutação em direção à puberdade. Ela consiste na repetição robótica de um papel sexual estereotipado, geralmente acompanhado por uma firme e profundamente enraizada convicção de que todos os outros demais papéis sexuais são anormais (“loucos” ou”maus) O único alívio para a estupidez sócio- sexual que temos atualmente à disposição são as várias formas de psicoterapia, sendo que as formas de psicoterapia de grupo ou dos Encontros são as mais eficientes.

O alívio ou a cura total destes quatro tipos de estupidez produziria seres humanos que se aproximariam da definição idealística dada por Robert Heinlein no seu “Tempo Suficiente para o Amor”:

“Um ser humano deve ser capaz de trocar uma fralda, de planejar uma invasão esquartejar um porco, projetar um edifício, manobrar um navio, escrever um soneto equilibrar orçamentos, construir um muro, reduzir uma fratura, confortar os agonizantes, cumprir ordens, dar ordens, cooperar, agir sozinho, resolver equações analisar um novo problema, revolver estrume, programar um computador, preparar uma refeição saborosa, lutar eficientemente e morrer galantemente”.

Grosseiramente falando, se você puder desempenhar 14 dos 21 programas de Heinlein você liberou 2/3 da sua inteligência potencial e, portanto é 2/3 de um ser humano. Se você pode apenas lidar com sete delas, você é apenas 1/3 do ser humano. Resultados acima de14 significam que você provalvemente é um gênio e certamente sabe disso, enquanto que resultados abaixo de 7 significam que você provavelmente é um imbecil e que certamente não sabe disso (isto é, que você está convencido de que não é um imbecil, que o mundo na realidade é um lugar terrível para se viver e a sua inabilidade em lidar com a realidade é fruto mais da malignidade do mundo do que devido … sua própria estupidez

Uma forma rápida de testar a inteligência, e que também indica a trajetória do seu desenvolvimento, é “Se o mundo lhe parece estar cada vez maior e mais divertido a cada momento que passa, então o seu quociente de inteligência está aumentando sistematicamente”se o mundo lhe parece estar cada vez menor e cada vez mais ameaçador, a sua estupidez está aumentando sistematicamente.

Lembre-se do provérbio Sufi “Existe Conforto Na Estupidez”.

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/psico/a-dinamica-da-estupidez/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/psico/a-dinamica-da-estupidez/

Os Gêmeos

Quando conheci os gêmeos, John e Michael, em 1966, em um hospital psiquiátrico, eles já eram célebres. Haviam se apresentado no rádio e na televisão e haviam sido tema de minuciosos informes científicos e populares. Eu desconfiava que eles tinham inclusive penetrado na ficção científica, um tanto ”ficcionalizados” mas essencialmente conforme haviam sido retratados nas descrições publicadas.

 

Os gêmeos, que na época estavam com 26 anos, viviam em asilos desde os sete anos de idade, sob diagnósticos variados, como autistas, psicóticos ou gravemente retardados. A maioria dos informes concluía que, em se tratando de ”idiotas sábios”, nada havia de ”muito especial” neles — exceto por sua notável memória ”documental” para os mínimos detalhes de sua própria experiência e seu uso de um algoritmo inconsciente de calendário que lhes permitia dizer de imediato em que dia da semana cairia uma data no futuro ou passado distante. Essa é a opinião de Steven Smith em seu livro abrangente e imaginativo, The great mental calculators (1983). Pelo que eu saiba, não houve outros estudos sobre os gêmeos depois de meados dos anos 60, sendo o breve interesse que despertaram dissipado pela aparente ”solução” dos problemas que apresentavam.

 

Mas isso, a meu ver, é um equívoco, talvez natural considerando a abordagem estereotipada, o formato fixo das questões, a concentração em uma ou outra ”tarefa” presentes nas primeiras investigações sobre os gêmeos, que os reduziam — sua psicologia, seus métodos, sua vida — a quase nada.

 

A realidade é muito mais estranha, muito mais complexa, muito menos explicável do que sugere qualquer um desses estudos, porém é impossível até mesmo vislumbrá-la por meio de ”testes” formais dinâmicos ou pela usual entrevista dos gêmeos no estilo 60 Minutes.

 

Não que qualquer um desses estudos, ou apresentações na tevê, esteja ”errado”. Eles são muito aceitáveis, com freqüência informativos, no que se propõem a fazer, porém restringem-se à ”superfície” óbvia e passível de ser testada, não se aprofundando — e nem mesmo dando a entender, ou talvez supondo, que existe algo além.

 

De fato, não obtemos indício algum de haver algo mais profundo, a menos que deixemos de testar os gêmeos, de considerá-los “sujeitos de experiência”. É preciso pôr de lado o impulso de limitar e testar e gradualmente travar conhecimento com os gêmeos — observá-los, abertamente, com serenidade, sem pressuposições, porém com uma total e compreensiva receptividade fenomenológica, enquanto eles vivem, pensam e interagem tranqüilamente, tratando da própria vida, com espontaneidade, em sua maneira singular. Descobrimos então que existe algo extraordinariamente misterioso em ação, poderes e intensidades de um tipo talvez fundamental, os quais não fui capaz de ”desvendar” ao longo desses dezoito anos em que os conheço.

 

De fato, eles nada têm de extraordinário à primeira vista — são uma espécie de Tweedledum e Tweedledee (os gêmeos de Alice no país das maravilhas), grotescos, impossíveis de distinguir, reflexos no espelho, idênticos no rosto, nos movimentos corporais, na personalidade, na mente, idênticos também em seu estigma de dano cerebral e tecidual. Têm estatura muito baixa, cabeça e mãos tremendamente desproporcionais, palato e pés muito arqueados, voz esganiçada e monótona, uma profusão de tiques e maneirismos muito peculiares e uma fortíssima miopia degenerativa, requerendo óculos tão grossos que faz seus olhos parecerem distorcidos e lhes dá a aparência de absurdos professorzinhos, examinando de perto e apontando, com uma concentração mal dirigida, obsessiva e absurda. E essa impressão é fortalecida assim que os questionamos — ou lhes permitimos começar espontaneamente, o que tendem a fazer, como marionetes de pantomima, uma de suas ”rotinas”.

 

Esse é o quadro que tem sido apresentado nos artigos publicados e no palco—eles tendem a ser ”apresentados” no show anual do hospital em que trabalho — e em suas não raras, e muito embaraçosas, aparições na tevê.

 

Os ”fatos”, nessas circunstâncias, são demonstrados até se tornarem monótonos. Os gêmeos pedem: ”Digam-nos uma data — qualquer data nos últimos ou próximos 40 mil anos”. Uma data é mencionada e, quase instantaneamente, eles informam em que dia da semana ela cairá. ”Outra data!”, bradam eles, e a proeza se repete. Eles também dizem a data da Páscoa durante o mesmo período de 80 mil anos. Podemos observar, embora isso não seja normalmente mencionado nos relatórios, que seus olhos movem-se e se fixam de maneira singular quando se dedicam a essa operação — como se estivessem desenrolando, ou examinando minuciosamente, uma paisagem interior, um calendário mental. Parecem estar ”vendo”, visualizando intensamente, apesar de ter sido concluído que se tratava de puro cálculo.

 

Sua memória para algarismos é notável — e possivelmente ilimitada. Eles repetem um número de três dígitos, de trinta dígitos, de trezentos dígitos com a mesma facilidade. Também isso foi atribuído a um ”método”.

 

Mas quando alguém testa sua habilidade para calcular—a típica especialidade de prodígios em aritmética e ”calculadores mentais” — seus resultados são espantosamente ruins, tão ruins quanto seu QI de sessenta nos faria imaginar. Eles são incapazes de fazer corretamente adições ou subtrações simples, e nem sequer conseguem compreender o que significa multiplicação ou divisão. O que é isto: ”calculadores” que não sabem calcular e não têm nem mesmo as mais rudimentares habilidades aritméticas?

 

E, no entanto eles são chamados de ”calculadores de calendário” — e tem sido inferido ou aceito, praticamente sem fundamentos, que não se trata absolutamente da memória em ação, mas do uso de um algoritmo inconsciente para cálculos de calendário. Quando lembramos que até Carl Friedrich Gauss, ao mesmo tempo um dos maiores matemáticos e peritos em cálculo, teve enorme dificuldade para descobrir um algoritmo para a data da Páscoa, torna-se impossível acreditar que esses gêmeos, incapazes até mesmo dos mais simples métodos aritméticos, poderiam ter inferido, descoberto e empregado um algoritmo desses. E verdade que muitos ”calculadores” possuem um repertório mais amplo de métodos e algoritmos que descobriram para uso próprio, e talvez isso tenha predisposto W. A. Horwitz et al. a concluir que isso valia também para os gêmeos. Steven Smith, interpretando ao pé da letra esses estudos iniciais, comentou:

 

Algo misterioso, embora banal, está em ação aqui — a misteriosa habilidade humana para formar algoritmos inconscientes com base em exemplos.

 

Se isso fosse tudo, eles de fato poderiam ser vistos como banais, e não como um mistério — pois o cálculo de algoritmos, que uma máquina pode fazer com precisão, é essencialmente mecânico e pertence à esfera dos ”problemas”, mas não dos ”mistérios”.

 

Contudo, mesmo em algumas das ”apresentações” dos gêmeos, em seus ”truques” há uma qualidade que espanta. Eles são capazes de dizer como estava o tempo e quais foram os eventos de qualquer dia de suas vidas — qualquer dia a partir de seus quatro anos de idade. Sua maneira de falar — bem descrita por Robert Silverberg em seu retrato do personagem Melangio — é ao mesmo tempo infantil, detalhada e desprovida de emoção. Ao lhes ser dita uma data, eles reviram os olhos por um momento, depois os fixam, e com uma voz apática e monótona informam o tempo, enunciam superficialmente os eventos políticos de que ouviram falar e os eventos de suas próprias vidas — estes últimos incluindo, com freqüência, as dolorosas e comoventes angústias da infância, o desprezo, a zombaria, as mortificações que sofreram, mas tudo recitado em um tom uniforme, invariável, sem o menor indício de inflexão pessoal ou emoção. Aqui, claramente, trata-se de lembranças que parecem ser de um tipo ”documental”, nas quais não existem referências pessoais, relações pessoais, absolutamente nenhum centro vivo.

 

Poderíamos afirmar que o envolvimento pessoal, a emoção, foram apagados dessas lembranças, no modo defensivo que podemos observar em tipos obsessivos ou esquizóides (e os gêmeos sem dúvida devem ser considerados obsessivos e esquizóides). Mas poderíamos afirmar, igualmente, e na verdade com mais plausibilidade, que lembranças desse tipo nunca tiveram um caráter pessoal, pois isso é, de fato, uma característica fundamental de uma memória eidética como a deles.

 

Mas o que precisa ser ressaltado — e que é insuficientemente salientado por quem os estudou, embora perfeitamente óbvio para um ouvinte ingênuo disposto a se maravilhar — é a magnitude da memória dos gêmeos, sua extensão aparentemente ilimitada (ainda que infantil e banal) e, com ela, o modo como as lembranças são recuperadas. E se lhes perguntamos como é que conseguem reter tanto na mente — um número com trezentos dígitos ou os trilhões de eventos de quatro décadas—eles dizem, simplesmente: ”Nós vemos tudo isso”. E ”ver” — ”visualizar” — com extraordinária intensidade, alcance ilimitado e perfeita fidelidade, parece ser a chave de tudo. Parece ser uma capacidade fisiológica inata de suas mentes, de um modo que guarda certas analogias com a maneira como o famoso paciente de A. R. Luria, descrito em The mindofa mnemonist, ”via”, embora talvez aos gêmeos falte a rica sinestesia e organização consciente das lembranças do mnemonista. Mas não resta dúvida, pelo menos a meu ver, de que os gêmeos têm à sua disposição um prodigioso panorama, uma espécie de paisagem ou fisionomia, de tudo o que já ouviram, viram, pensaram ou fizeram, e que, num piscar de olhos, externamente óbvio quando eles os reviram brevemente e depois os fixam, eles são capazes (com os ”olhos da mente”) de recuperar e ”ver” quase qualquer coisa que esteja nessa vasta paisagem.

 

Tais poderes de memória são raríssimos, porém não únicos. Pouco ou nada sabemos das razões por que os gêmeos ou qualquer outra pessoa os têm. Haverá, então, alguma coisa nos gêmeos que seja de um interesse mais profundo, como vim insinuando? Acredito que sim.

 

Conta-se que sir Herbert Oakley, o professor oitocentista de música em Edimburgo, ao ser levado a uma fazenda e ouvir um porco guinchar, bradou no mesmo instante: ”Sol sustenido!”. Alguém correu para o piano, e era sol sustenido mesmo. Minha primeira impressão das capacidades ”naturais” e do modo ”natural” dos gêmeos veio de maneira semelhante, espontânea e (não pude deixar de sentir) bastante cômica.

 

Uma caixa de fósforos que estava em cima da mesa caiu e o conteúdo espalhou-se no chão: ”111”, gritaram os gêmeos simultaneamente; a seguir, John disse baixinho: ”37”. Michael repetiu esse número, John disse-o pela terceira vez e parou. Contei os fósforos — demorei um pouco — e havia 111.

 

”Como conseguiram contar os fósforos tão depressa?”, perguntei. ”Não contamos”, eles responderam. ”Nós vimos os 111”.

 

Histórias semelhantes contam-se a respeito de Zacharias Dase, o prodígio dos números, que declarava instantaneamente ”183” ou ”79” quando se derramava um punhado de ervilhas e indicava do melhor modo possível — ele também era deficiente mental — que não tinha contado as ervilhas, mas apenas ”visto” o número delas, num todo, de relance.

 

”E por que vocês murmuraram ’37’ e repetiram isso três vezes?”, perguntei aos gêmeos. Eles responderam em uníssono ”37,37,37,111”.

 

E isso eu achei ainda mais intrigante, se possível. O fato de eles verem 111 — a ”condição de 111” — em um lampejo era extraordinário, mas talvez não mais extraordinário que o ”sol sustenido” de Oakley — uma espécie de ”tom absoluto” para números, por assim dizer. Mas eles em seguida ”fatoraram” o número 111 — sem contar com nenhum método, sem mesmo ”conhecer” (da maneira usual) o que significavam fatores. Pois eu já não observara que eles eram incapazes de fazer os mais simples cálculos e não ”entendiam” (ou não pareciam entender) o que era multiplicação ou divisão? E no entanto, ali, espontaneamente, eles haviam dividido um número composto em três partes iguais.

 

”Como foi que vocês calcularam isso?”, perguntei, ardendo de curiosidade. Eles indicaram, do melhor modo que puderam, em termos pobres, insuficientes — mas talvez não haja palavras que correspondam a coisas assim — que não tinham ”calculado”, apenas ”visto” aquilo, num lampejo. John fez um gesto com dois dedos esticados e o polegar, o que parecia sugerir que eles haviam espontaneamente dividido o número em três partes ou que o número ”dividira-se” por conta própria nessas três partes iguais, por uma espécie de ”fissão” numérica espontânea. Eles pareciam surpresos diante de minha surpresa — como se eu fosse cego de alguma forma; e o gesto de John transmitiu um extraordinário senso de realidade imediata, sentida. Será possível, pensei comigo, que eles possam de algum modo ”ver” as propriedades, não da maneira conceitual, abstrata, mas como qualidades sentidas, sensíveis, de algum modo imediato, concreto? E não simplesmente qualidades isoladas — como a ”qualidade de 111” — mas qualidades de relações? Talvez mais ou menos do mesmo modo como sir Herbert Oakley teria dito ”uma terça” ou ”uma quinta”

 

Eu já chegara à idéia, com base na ”visão” de eventos e datas pelos gêmeos, de que eles podiam reter na mente, que haviam retido, uma imensa tapeçaria mnemónica, uma vasta (ou possivelmente infinita) paisagem na qual tudo podia ser visto, isoladamente ou em relação. Era o isolamento, em vez de um senso de relação, que era primordialmente exibido quando eles despejavam seu implacável ”documentário” desordenado. Mas não poderiam esses prodigiosos poderes de visualização — poderes essencialmente concretos e muito distintos da capacidade de conceituar — dar-lhes o potencial de ver relações, relações formais, relações de forma, arbitrárias ou significativas? Se eles podiam ”ver” a ”qualidade de 111” em um lampejo (se podiam ver toda uma ”constelação” de números), não poderiam também ”ver”, num lampejo—ver, reconhecer, relacionar e comparar, de um modo inteiramente sensitivo e não intelectual —, formações e constelações de números enormemente complexas? Uma habilidade ridícula, até mesmo incapacitante Pensei no ”Funes” de Borges

 

Nós, de relance, podemos perceber três copos em uma mesa, Funes, todas as folhas, gavinhas e frutos que compõem uma videira [ ] Um circulo desenhado no quadro-negro, um ângulo reto, um losango — todas estas são formas que podemos entender intuitivamente e por completo, Ireneo podia fazer o mesmo com a emaranhada erma de um pônei, com uma manada de gado na colma [ ] não sei quantas estrelas ele era capaz de enxergar no céu

 

Poderiam os gêmeos, que pareciam ter uma singular paixão pelos números e ”domínio” dos mesmos — poderiam eles, que tinham visto a ”qualidade de 111” num relance, talvez ver em suas mentes uma ”videira” numérica, com todas as folhas-números, gavinhas-números, frutas-números que a compunham? Uma idéia estranha, talvez absurda, quase impossível — mas o que eles já me haviam mostrado era tão estranho que quase não se prestava à compreensão E, pelo que eu soubesse, aquilo era tão-somente um indicio mínimo do que eles podiam fazer

 

Refleti sobre o assunto, mas ele quase não permitia reflexão. Depois, deixei-o de lado. Esqueci-o até que deparei, totalmente por acaso, com uma segunda cena espontânea, uma cena mágica.

 

Nessa segunda vez, eles estavam sentados juntos em um canto, com um sorriso misterioso, secreto, um sorriso que eu nunca tinha visto antes, desfrutando o estranho prazer e paz que agora pareciam ter. Furtivamente, para não os perturbar, eu me aproximei. Pareciam absortos em uma conversa singular, puramente numérica. John dizia um número — um número de seis dígitos. Michael ouvia, assentia com a cabeça, sorria e parecia saborear o número. Em seguida, ele próprio dizia um número de seis dígitos, e dessa vez era John quem o recebia e apreciava com prazer. À primeira vista, lembravam dois connoisseurs provando vinho, compartilhando gostos raros, raras apreciações. Sentei-me quieto, sem que eles me vissem, hipnotizado, perplexo.

 

O que eles estavam fazendo? Que diabos estava acontecendo? Eu não conseguia entender. Talvez se tratasse de algum tipo de jogo, mas tinha uma gravidade e intensidade, uma espécie de intensidade serena, meditativa e quase sagrada, que eu nunca vira em nenhum jogo comum e que certamente nunca vira antes nos gêmeos, normalmente tão agitados e distraídos. Contentei-me com anotar os números que eles diziam — números que manifestamente lhes proporcionavam tanto prazer e que eles ”contemplavam”, saboreavam, compartilhavam em comunhão.

 

Teriam aqueles números algum significado, perguntei-me a caminho de casa, teriam algum sentido ”real” ou universal, ou (se é que tinham algum) apenas um sentido estapafúrdio ou particular, como as ”línguas” secretas e tolas que irmãos e irmãs às vezes inventam para si mesmos? E, dirigindo na volta para casa, pensei nas gêmeas de Luria — Liosha e Yura, gêmeas idênticas com dano no cérebro e na fala—e em como elas brincavam e tagarelavam entre si em uma língua própria, primitiva, balbuciante (Luria e Yudovich, 1959). John e Michael nem sequer estavam usando palavras ou meias palavras — simplesmente jogavam números um para o outro. Seriam números ”borgenses” ou ”funesianos”, meras videiras numéricas, crinas de pônei ou constelações, formas numéricas privadas — uma espécie de jargão numérica, conhecida apenas pelos gêmeos?

 

Assim que cheguei, fui buscar tabelas de potências, fatores, logaritmos e números primos—lembranças e relíquias de um período singular e isolado de minha infância, quando eu também fora uma espécie de ruminante de números, um ”vidente” de números, nutrindo por estes uma paixão peculiar. Eu já tinha um palpite — e então o confirmei. Todos os números, os números de seis dígitos que os gêmeos tinham compartilhado, eram primos — ou seja, números que só podem ser divididos em partes iguais por eles mesmos ou por um. Teriam os gêmeos, de algum modo, visto ou possuído algum livro como o meu — ou estariam, de algum modo inimaginável, ”vendo” números primos, mais ou menos da mesma forma que tinham ”visto” a qualidade de 111 ou a triplicidade de 37? Sem dúvida não poderiam tê-los calculado — não eram capazes de fazer cálculo algum.

 

Voltei à enfermaria no dia seguinte, levando comigo o precioso livro dos números primos. Novamente os encontrei encerrados em sua comunhão numérica, mas dessa vez, sem nada dizer, juntei-me a eles de mansinho. De início ficaram surpresos, mas, vendo que eu não os interrompia, retomaram seu ”jogo” de números primos de seis dígitos. Após alguns minutos, decidi tomar parte e arrisquei dizer um número, um número primo de oito dígitos. Ambos se voltaram para mim, e subitamente ficaram quietos, com uma expressão de concentração intensa e talvez espanto. Houve uma longa pausa—a mais longa que eu já os vira fazer, deve ter durado meio minuto ou mais — e então, de súbito, simultaneamente, os dois abriram um sorriso.

 

Depois de algum inimaginável processo de teste, eles de repente haviam visto meu número de oito dígitos como um número primo — e isso manifestamente era para eles um grande prazer, um duplo prazer; primeiro, porque eu introduzira um delicioso brinquedo novo, um número primo de uma ordem que eles nunca haviam encontrado antes, e segundo porque era evidente que eu tinha visto o que eles estavam fazendo, que tinha gostado, que admirava e era capaz de participar também.

 

Os dois se afastaram ligeiramente um do outro, dando lugar para mim, um novo colega de brincadeiras numéricas, um terceiro em seu mundo. Em seguida, John, que sempre saía na frente, pensou por um tempo muito longo — deve ter sido pelo menos cinco minutos, embora eu não ousasse me mexer e mal respirasse — e enunciou um número de nove dígitos; depois de um tempo semelhante, seu irmão gêmeo, Michael, respondeu com um número do mesmo tipo.

 

E então, eu, na minha vez, depois de olhar furtivamente o livro, acrescentei minha própria e desonesta contribuição, um número primo de dez dígitos.

 

Fez-se novamente, e por um tempo ainda mais longo, um silêncio repleto de fascinação e quietude; em seguida, John, depois de uma prodigiosa contemplação interna, saiu-se com um número de doze dígitos. Esse eu não tinha como verificar, e assim não pude responder à altura, pois meu livro — que, pelo que eu sabia, era o único de seu gênero — não ia além dos números primos de dez dígitos. Mas Michael mostrou-se apto para o desafio, embora demorasse cinco minutos — e uma hora mais tarde os gêmeos estavam trocando números primos de vinte dígitos, ou pelo menos supus que fosse isso, pois não havia meio de comprovar. Também não existia uma maneira fácil, em 1966, sem ter à disposição um computador sofisticado. E, mesmo então, teria sido difícil, pois quer usemos o crivo de Erastótenes ou qualquer outro algoritmo, não existe um método simples de calcular números primos. Não existe um método simples para os números primos dessa ordem — e, no entanto os gêmeos os estavam descobrindo. (Ver, porém, o pós-escrito.)

 

Novamente pensei em Dase, sobre quem eu tinha lido anos antes, no fascinante livro Human personality, de F. W. H. Myers (l 903).

 

Sabemos que Dase (talvez o mais bem-sucedido desses prodígios) era singularmente desprovido de compreensão matemática […] Apesar disso, em doze anos ele produziu tabelas de fatores e números primos para o sétimo e quase todo o oitavo milhão — uma tarefa que poucos homens poderiam ter realizado, sem auxílio mecânico, ao longo de todo um período normal de vida.

 

Portanto, concluiu Myers, ele pode ser considerado o único homem a ter prestado um valioso serviço à matemática sem ser capaz de entender os conceitos matemáticos mais simples.

 

O que Myers não esclarece, e que talvez não estivesse claro, era se Dase possuía algum método para produzir as tabelas ou se, como sugerido por seus simples experimentos de ”ver números”, ele de algum modo ”via” aqueles grandes números primos, como aparentemente os gêmeos viam.

 

Observando-os discretamente — isso era fácil de fazer, pois eu tinha uma sala na enfermaria onde os gêmeos estavam alojados —, vi-os em inúmeros outros tipos de jogos numéricos ou comunhão numérica, cuja natureza não pude apurar ou mesmo supor.

 

Mas parece provável, ou certo, que eles estejam lidando com propriedades ou qualidades ”reais” — pois o arbitrário, como os números aleatórios, não lhes dá prazer, ou lhes dá muito pouco. Está claro que eles precisam ter ”sentido” em seus números — do mesmo modo, talvez, como um músico precisa ter harmonia. De fato, eu me surpreendi comparando-os a músicos — ou a Martin, também retardado, que encontrava na serena e magnífica arquitetônica de Bach uma manifestação sensível da suprema harmonia e ordem do inundo, inacessível para ele conceitualmente devido às suas limitações intelectuais.

 

”Todo aquele que é composto harmonicamente”, escreve sir Thomas Browne, ”deleita-se com a harmonia [ ] e uma profunda contemplação do primeiro compositor. Há nela algo da divindade mais do que descobre o ouvido, é uma hieroglífica e obscurecida lição sobre todo o mundo [ ] uma pequenina seção da harmonia que soa intelectualmente nos ouvidos de Deus […] A alma […] é harmônica e tem sua afinidade mais estreita com a música ”

 

Richard Wollheim, em The thread ofhfe (1984), faz uma distinção absoluta entre cálculos e o que ele denomina estados mentais ”icônicos”, e antevê uma possível objeção a tal distinção

 

Alguém poderia contestar o fato de que todos os cálculos são não icônicos alegando que, quando a pessoa calcula, as vezes o faz visualizando o calculo em uma pagina. Mas isso não constitui um contra exemplo. Pois o que esta representado em tais casos não é o cálculo em si, mas uma representação do mesmo, os números e que são calculados, mas o que se visualiza são os numerais, que representam números

 

Leibmz, por outro lado, apresentou uma instigante analogia entre números e música ”O prazer que obtemos da música vem de contar, mas contar inconscientemente A música nada mais é do que aritmética inconsciente”

 

Até onde podemos apurar, qual é a situação dos gêmeos, e talvez de outros? O compositor Ernst Toch — contou-me seu neto, Lawrence Weschler — conseguia prontamente reter na memória, depois de ouvir uma única vez, uma série muito longa de números, mas fazia isso ”convertendo” a série de números em uma melodia (que ele próprio criava, ”correspondendo” aos números). Jedediah Buxton, calculador dos menos elegantes, mas dos mais tenazes de todos os tempos, que tinha uma grande, até mesmo patológica, paixão por cálculos e cômputos (ele ficava, em suas próprias palavras, ”bêbado de contar”), ”convertia” música e drama em números. Segundo um relato contemporâneo sobre ele, escrito em 1754: ”Durante a dança, ele fixava a atenção no número de passos; depois de um belo trecho musical, declarava que os inúmeros sons produzidos pela música o haviam deixado imensamente perplexo, e ia até mesmo assistir às peças do sr. Garrick só para contar as palavras que este proferia, no que afirmava ter pleno êxito”.

 

Eis um belo, ainda que extremo, par de exemplos — o músico que transforma números em música e o perito em contar que transforma a música em números. Fica-se com a impressão de que é impossível encontrar tipos de mentes mais opostos ou, pelo menos, estilos mentais mais opostos.

 

A meu ver, os gêmeos, que têm uma ”sensibilidade” extraordinária para números, sem serem capazes de calcular coisa alguma, têm nesse aspecto uma afinidade não com Buxton, mas com Toch. Exceto — e isto nós, pessoas comuns, achamos dificílimo imaginar — pelo fato de que eles não ”convertem” números em música, mas realmente sentem os números, em si mesmos, como ”formas”, como ”tons”, como as numerosíssimas formas que compõem a própria natureza. Eles não são calculadores, e sua habilidade numérica é ”icônica”. Eles convocam, habitam estranhos cenários numéricos; perambulam livremente por vastas paisagens de números, criam dramaturgicamente todo um mundo feito de números. Eles têm, creio, uma imaginação extremamente singular — da qual a singularidade maior é o fato de que ela só pode imaginar números. Não parecem ”operar” com números, de um modo ”não icônico”, como um calculador; eles os ”vêem”, diretamente, como um vasto cenário natural.

 

E se nos perguntarmos ”existem analogias, pelo menos, com uma iconicidade assim?”, nós as descobriremos, acredito, em certas mentes científicas. Dmitri Mendeleev, por exemplo, carregou consigo, escritas em cartões, as propriedades numéricas dos elementos até que elas se tornaram totalmente ”familiares” para ele — tão familiares que ele não mais pensava nelas como agregados de propriedades, mas (segundo ele próprio afirmou) ”como rostos conhecidos”. Ele passou a ver os elementos, iconicamente, fisionomicamente, como ”rostos” — rostos que se relacionavam, como membros de uma família, e que compunham, in totó, periodicamente organizados, todo o rosto formal do universo. Uma mente científica assim é essencialmente ”icônica” e ”vê” toda a natureza como rostos e cenas, talvez também como música. Essa ”visão”, essa visão interna, envolta pelo fenomênico, tem ainda assim uma relação integral como físico, e devolvê-la do psíquico para o físico constitui o trabalho secundário, ou externo, dessa ciência. (”O filósofo procura ouvir dentro de si os ecos da sinfonia do mundo”, escreveu Nietzsche, ”e volta a projetá-los na forma de conceitos.”) Os gêmeos, embora deficientes mentais, ouvem a sinfonia do mundo, imagino, mas a ouvem inteiramente em forma numérica.

 

A alma é ”harmônica” seja qual for o Qi da pessoa, e para alguns, como os cientistas físicos e os matemáticos, o senso de harmonia, talvez, é primordialmente intelectual. No entanto, não consigo pensar em algo intelectual que não seja, de algum modo, também sensível — de fato, a própria palavra ”senso” tem sempre essa dupla conotação. Sensível e, de certo modo, também ”pessoal”, pois é impossível alguém sentir alguma coisa, julgar uma coisa ”sensível” sem que ela seja, de algum modo, relacionada ou passível de relacionar-se com a pessoa. Assim, a imponente arquitetônica de Bach proporciona, como fazia para Martin A., ”uma hieroglífica e obscurecida lição sobre todo o mundo”, mas ela também é, reconhecível, única e afetuosamente Bach; e isso também era sentido, comoventemente, por Martin A., e por ele relacionado ao amor que sentia pelo pai.

 

Os gêmeos, a meu ver, não possuem apenas uma estranha ”faculdade” — mas uma sensibilidade, uma sensibilidade harmônica, talvez afim à musical. Poderíamos chamá-la, com muita propriedade, de sensibilidade ”pitagórica” — e o singular não é sua existência, mas sua evidente raridade. A alma da pessoa é ”harmônica” seja qual for o seu QI, e talvez a necessidade de encontrar ou sentir alguma harmonia ou ordem suprema seja um universal da mente, independentemente das capacidades desta ou da forma que ela assuma. A matemática sempre foi considerada a ”rainha das ciências”, e os matemáticos sempre viram o número como o grande mistério e o mundo como sendo organizado, misteriosamente, pelo poder do número. Isso é expresso com primor no prólogo à autobiografia de Bertrand Russell:

 

Com igual paixão tenho buscado o conhecimento. Desejo compreender o coração dos homens. Desejo saber por que as estrelas brilham. E tento entender o poder pitagóríco pelo qual os números têm influência sobre o fluxo.

 

É estranho comparar esses gêmeos deficientes mentais a um intelecto, um espírito como o de Bertrand Russell. E, no entanto, em minha opinião, não é tão absurdo. Os gêmeos vivem exclusivamente em um mundo de pensamentos numéricos. Não têm interesse pelas estrelas que brilham nem pelos corações dos homens. Mas acredito que para eles os números não são ”apenas” números, mas significâncias, significantes cujo ”significando” é o mundo.

 

Eles não lidam com os números levianamente, como faz a maioria dos calculadores. Não estão interessados em cálculos, não têm capacidade para os mesmos e não são capazes de compreendê-los. São, antes, serenos contempladores do número — e lidam com os números com um senso de reverência e pasmo. Os números, para eles, são sagrados, repletos de significação. Essa é a sua maneira — como a música é a maneira de Martin — de entender o primeiro compositor.

 

Mas os números não são apenas impressionantes para eles, são também amigos — talvez os únicos amigos que eles já tiveram em sua vida isolada de autistas. Esse é um sentimento muito comum nas pessoas que têm um dom para os números — e Steven Smith, embora considerasse o ”método” o mais importante, fornece muitos exemplos fascinantes disso: George Parker Bidder, que escreveu sobre sua primeira infância numérica: ”Adquiri total familiaridade com os números até cem; eles se tornaram, por assim dizer, meus amigos, e eu conhecia todos os parentes e conhecidos”; ou o contemporâneo Shyam Marathe, da índia: ”Quando digo que os números são meus amigos, quero dizer que em alguma época passada lidei com aquele número específico de várias maneiras e, em muitas ocasiões, descobri novas e fascinantes qualidades nele ocultas […] Assim, se em um cálculo deparo com um número conhecido, imediatamente o vejo como um amigo”.

 

Hermann von Helmholtz, discorrendo sobre a percepção musical, afirma que, embora tons compostos possam ser analisados e divididos em seus componentes, eles são normalmente ouvidos como qualidades, qualidades únicas de tom, todos indivisíveis. Ele fala, nesse sentido, de uma ”percepção sintética” que transcende a análise e é a essência, impossível de analisar, de todo senso musical. Compara esses tons a rostos, e reflete que podemos reconhecê-los mais ou menos da mesma maneira pessoal. Em suma, parece sugerir que os tons musicais, e certamente as melodias, são de fato ”rostos” para os ouvidos e são reconhecidos, sentidos, imediatamente como ”pessoas” (ou como tendo ”qualidade de pessoa”), um reconhecimento que implica afeto, emoção, relação pessoal.

 

Isso parece ocorrer com os que amam os números. Estes também se tornam reconhecíveis como tais — em um único, intuitivo, pessoal: ”Eu conheço você!”.20 O matemático Wim Klein expressou isso muito bem: ”Os números são amigos para mim, mais ou menos. Para você, 3844 não significa o mesmo, não é? Para você, é apenas um três, um oito, um quatro e outro quatro. Mas eu digo: ’Olá, 62 ao quadrado!’”.

 

Acredito que os gêmeos, aparentemente tão isolados, vivem num mundo cheio de amigos, tendo milhões, bilhões de números aos quais dizem ”Olá!” e que, tenho certeza, respondem ”Olá!” para eles. Mas nenhum dos números é arbitrário — como 62 ao quadrado — nem (e este é o mistério) se chega a ele por algum dos métodos usuais, ou por qualquer método que eu consiga discernir. Os gêmeos parecem empregar uma cognição direta — como anjos. Eles vêem, diretamente, um universo e um céu de números. E isso, embora singular, embora bizarro — mas que direito temos de chamá-lo ”patológico”? —, proporciona uma singular auto-suficiência e serenidade às suas vidas, e poderia ser trágico interferir nelas ou destruí-las.

 

Essa serenidade foi, de fato, interrompida e destruída dez anos mais tarde, quando se julgou que os gêmeos deviam ser separados – ”para seu próprio bem”, a fim de prevenir sua ”prejudicial comunicação entre si” e que pudessem ”sair e enfrentar o mundo […] de um modo adequado, socialmente aceitável” (segundo explicado pelo jargão médico e sociológico). Assim, foram separados em 1977, com resultados que podem ser considerados tanto gratificantes como calamitosos. Ambos foram transferidos para ”semiinternatos” e executam trabalhos simples e subalternos em troca de um pagamento mínimo, sob estrita supervisão. Eles são capazes de tomar ônibus, se forem cuidadosamente orientados e receberem um passe para pagar a condução, e de se manterem moderadamente apresentáveis e limpos, embora seu caráter de retardados mentais e psicóticos ainda seja reconhecível à primeira vista.

 

Esse é o lado positivo — mas também há um lado negativo (não mencionado em suas fichas, pois antes de mais nada nunca foi reconhecido). Privados da ”comunhão” numérica entre si e de tempo e oportunidade para qualquer ”contemplação” ou ”comunhão” — sempre sendo apressados e empurrados de uma tarefa para outra — , eles parecem ter perdido sua estranha capacidade numérica e, com ela, o principal prazer e sentido de suas vidas. Mas isso é considerado um pequeno preço a ser pago, sem dúvida, por se terem tornado semi-independentes e ”socialmente aceitáveis”.

 

Isso nos lembra um pouco o tratamento dado a Nadia—criança autista com um dom fenomenal para o desenho. Nadia também foi submetida a um regime terapêutico ”para encontrar maneiras nas quais suas potencialidades em outras direções poderiam ser maximizadas”. O efeito líquido foi que ela começou a falar — e parou de desenhar. Nigel Dennis comenta: ”Ficamos com um gênio que teve seu gênio removido, nada restando além de uma deficiência generalizada. O que devemos pensar de uma cura assim tão curiosa?”.

 

Cabe acrescentar — este é um aspecto ressaltado por F. W. H. Myers, cuja reflexão sobre os prodígios numéricos abre seu capítulo sobre ”Gênios” — que essa faculdade é ”estranha” e pode desaparecer espontaneamente, embora com a mesma freqüência seja vitalícia. No caso dos gêmeos, obviamente, não se tratava apenas de uma ”faculdade”, mas do centro pessoal e emocional de suas vidas. E agora que eles estão separados, agora que ela desapareceu, já não há mais um sentido ou um centro em suas vidas

 

PÓS-ESCRITO

 

Quando Israel Rosenfield leu o original deste texto, salientou que existem outras aritméticas, superiores e mais simples do que a aritmética ”convencional” das operações, e aventou a possibilidade de as singulares capacidades (e limitações) dos gêmeos refletirem o uso, por eles, de uma aritmética ”modular” desse tipo. Em um bilhete que me escreveu, ele sugeriu que os algoritmos modulares, do tipo descrito por lan Stewart em Concepts of Modern mathematics (1975), poderiam explicar as habilidades dos gêmeos como calendário:

 

Sua habilidade para determinar os dias da semana ao longo de um período de 80 mil anos sugere um algoritmo bastante simples. Divide-se o número total de dias entre o ”agora” e o ”então” por sete Se não houver resto, a data cai no mesmo dia que ”agora”, se o resto for um, a data cairá um dia mais tarde e assim por diante Observe que a aritmética modular é cíclica- ela consiste em padrões repetitivos. Talvez os gêmeos estivessem visualizando esses padrões, seja na forma de tabelas fáceis de construir, seja na de algum tipo de ”paisagem” como a espiral de inteiros mostrada na página 30 do livro de Stewart

 

Isso não responde por que os gêmeos comunicavam-se com números primos. Mas a aritmética do calendário requer o sete, que é primo E quando se pensa em aritmética modular em geral, a divisão modular produzirá padrões cíclicos distintos apenas se forem usados números primos. Como o número primo sete ajuda os gêmeos a identificar datas e, conseqüentemente, os eventos de dias específicos de suas vidas, eles podem ter descoberto que outros números primos produzem padrões semelhantes àqueles que são tão importantes para seus atos de recordação. (Observemos que, quando a caixa de fósforos caiu e eles disseram ”111 — 37 três vezes”, eles estavam tomando o número primo 37 e multiplicando por três.) De fato, apenas os padrões de números primos podiam ser ”visualizados”. Os diferentes padrões produzidos pelos diferentes números primos (por exemplo, tabelas de multiplicação) podem ser os elementos de informação visual que eles estão comunicando um ao outro quando repetem um dado número primo. Em suma, a aritmética modular pode ajudá-los a recuperar seu passado e, em conseqüência, os padrões criados para usar esses cálculos (que só ocorrem com números primos) podem assumir uma importância particular para os gêmeos.

 

Com o uso de uma aritmética modular como essa, ressalta Stewart, pode-se chegar com rapidez a uma solução única que não se presta a nenhuma aritmética ”ordinária” — em especial visando exatamente (pelo chamado pigeon-hole principie, o princípio da classificação sistemática) números primos extremamente grandes e incomputáveis (por métodos convencionais).

 

Se tais métodos, tais visualizações, são vistos como algoritmos, eles são algoritmos de um tipo muito singular — organizados não algebricamente, mas espacialmente, como árvores, espirais, arquiteturas, ”paisagens de pensamentos”—, configurações em um espaço mental formal e contudo quase sensorial. Os comentários de Israel Rosenfíeld e as exposições de lan Stewart sobre aritmética ”superior” (e especialmente modular) empolgaram-me, pois parecem prometer, se não uma ”solução”, pelo menos uma grande chance de se chegar à compreensão de capacidades de outra forma inexplicáveis como as dos gêmeos.

 

Essas aritméticas superiores ou mais profundas foram concebidas, em princípio, por Gauss em Disquisitiones arithmeticae, em 1801, mas só receberam aplicações práticas em anos recentes. Não se pode deixar de pensar que talvez exista uma aritmética ”convencional” (ou seja, uma aritmética de operações) — muitas vezes irritante para o professor e para o aluno, ”antinatural” e difícil de aprender—e também uma aritmética íntima do tipo descrito por Gauss, que pode ser verdadeiramente inata ao cérebro, tão inata quanto a gramática sintática e gerativa ”íntima” de Chomsky. Uma aritmética dessas, em mentes como as dos gêmeos, poderia ser dinâmica e quase viva — aglomerados globulares e nebulosas de números turbilhonando e evoluindo em um céu mental sempre em expansão.

 

Como já mencionei, depois da publicação de ”Os gêmeos” recebi uma vasta correspondência, tanto pessoal como científica. Algumas cartas tratavam dos temas específicos de ”ver” ou apreender números, outras do sentido ou importância que pode haver nesse fenômeno, outras ainda do caráter geral de inclinações e sensibilidades autistas e como elas podem ser incentivadas ou inibidas, e finalmente outras da questão dos gêmeos idênticos. Especialmente interessantes foram as cartas de pais de crianças desse tipo, as mais raras e notáveis provenientes de pais que tinham sido, eles próprios, forçados a refletir e pesquisar e que haviam conseguido combinar o mais profundo sentimento e envolvimento com uma acentuada objetividade. Nessa categoria estavam os Park, pais muito inteligentes de uma criança muito talentosa, porém autista (ver C. C. Park, 1967, e D. Park, 1974, pp. 313-23). A filha dos Park, ”Ella”, era uma exímia desenhista e também muito habilidosa com números, especialmente quando bem pequena. Ella fascinava-se com a ”ordem” dos números, especialmente os primos. Esse sentimento singular pelos números primos evidentemente não é raro. C. C. Park escreveu-me sobre uma outra criança autista que ela conhecia, a qual enchia folhas de papel com números escritos ”compulsivamente”. Todos eram primos, observou ela, e acrescentou: ”São janelas para um outro mundo”. Posteriormente, ela mencionou uma experiência recente com um jovem autista que também sentia fascinação por fatores e números primos e que os percebia instantaneamente como ”especiais”. De fato, a palavra ”especial” precisava ser usada para provocar uma reação:

 

”Há alguma coisa de especial, Joe, nesse número (4875)?”

 

Joe: ”Só é divisível por 13 e 25”.

 

Sobre outro (7241): ”É divisível por 13 e 557”.

 

E sobre 8741: ”É um número primo”.

 

Park comenta: ”Ninguém na família dele incentiva seus números primos; eles são um prazer solitário”.

 

Não está claro, nesses casos, o modo como se chega às respostas quase instantaneamente: se elas são ”pensadas”, ”conhecidas” (lembradas) ou — de alguma forma — apenas ”vistas”. O que está claro é o singular senso de prazer e significação ligado aos números primos. Parte disso parece dever-se a um senso de beleza formal e simetria, mas uma outra parte, também, a um singular ”significado” ou ”potencial” associativo. Isso com freqüência foi considerado ”mágico” no caso de Ella: números, especialmente os primos, evocavam pensamentos, imagens, sentimentos, relações especiais — alguns quase ”especiais” ou ”mágicos” demais para serem mencionados. Isso é bem descrito no artigo de David Park (op. cit).

 

Kurt Gõdel, de uma maneira muito abrangente, expôs como os números, em especial os primos, podem servir como ”marcadores” — para idéias, pessoas, lugares, qualquer coisa; e esse marcador gõdeliano abriria caminho para uma ”aritmetização” ou ”numeralização” do mundo (ver E. Nagel e J. R. Newman, 1958). Se isso realmente ocorre, é possível que os gêmeos, e outros como eles, não meramente vivam em um mundo de números, mas em um mundo, no mundo, como números, sendo sua meditação ou brincadeira numérica uma espécie de meditação existencial e, se for possível alguém entendê-la, ou encontrar a chave (como David Park às vezes consegue), também uma estranha e precisa comunicação.

por Oliver Sacks

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/mindfuckmatica/os-gemeos/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/mindfuckmatica/os-gemeos/