O papel do Thelemita na divulgação da Lei de Thelema

Por Jonatas Lacerda

Faze o que tu queres deverá ser o todo da Lei.

Os eventos mundiais que presenciamos e a clareza de um colapso social eminente expõem a necessidade de uma revisão completa das bases de conduta moral. É necessário rever os papéis desempenhados por cada integrante da sociedade e do governo, avaliando cada ação sob diversos pontos de vista e procurando sempre desenvolver trabalhos para o crescimento do ser humano como um todo. A Lei de Thelema traz a fórmula para esta revisão, com base em seus preceitos é possível atualizar os paradigmas da convivência em comunidade e da convivência com a natureza. Não há como garantir que este colapso possa ser evitado, assim como é impossível acreditar em mudanças drásticas ou ainda pensar que o estabelecimento do Novo Æon trará a perfeição à Terra. A globalização dos preceitos Thelêmicos, no entanto, podem gerar uma mudança de perspectiva, a consciência desse Æon e dessa Lei pode fazer com que o próprio ser humano defina outros modelos de curso, procurando viver mais harmonicamente consigo, com o próximo e com a natureza, zelando pelo respeito e pela completa liberdade.

Divulgar a Lei de Thelema é a única forma de garantir que seu conceito e seus preceitos sejam difundidos. Essa difusão culminará em resultados práticos de grande valor ao ser humano, tanto no que se refere ao indivíduo, quanto ao que se refere à comunidade. Não há como manifestar completamente uma ideia sem divulgá-la, uma grande ideia ou conceito não deve ser segregado, ainda mais quando estamos falando de algo tão crucial para o Æon, fazê-lo é ir contra os preceitos da própria Lei. Não vejo razão para se manter em silêncio diante do horror das máquinas do velho Æon. Thelemitas são homens e mulheres de guerra, que visam um futuro melhor para si, para o outro, para a Nação e para a Terra. O Thelemita que se omite, o faz em detrimento da mesma Lei que ele diz seguir, a omissão é o mais maligno dos males, ela é capaz de matar, sem exprimir sequer uma palavra. A Lei do Forte: esta é a nossa Lei e a alegria do mundo.

Ao procurar avaliar as ações do indivíduo de acordo com os padrões éticos da Lei de Thelema, notamos que cada ato acaba sendo medido de acordo com esta Lei universal e infalível, aqueles atos corretos se provam corretos e aqueles dúbios ou certamente incorretos, são punidos pelo efeito natural daquele ato, sem qualquer intervenção direta. A avaliação do efeito de uma determinada ação é capaz de provar a realidade do Novo Æon e a influência direta de uma Lei no indivíduo e no meio. Desta mesma forma, a aplicação desses conceitos nas diversas camadas da sociedade, certamente nos levará a um avanço considerável em nossa conduta, ética e valores.

A divulgação da Lei de Thelema é certamente o primeiro passo para alcançar todo o avanço que abordamos. No entanto, é necessário entender que divulgação não deve ser entendida como conversão, aliás, o conceito de conversão deve ser completamente afastado de nosso meio e a divulgação em si deve, de alguma forma, expor explicitamente que a intenção está em divulgar um conceito e não em converter ou empurrar esse conceito como verdade fundamental. Portanto, é essencial divulgar com zelo e com responsabilidade, levando-a ao maior número de pessoas possível, mas sem ferir os direitos fundamentais delas.

Há muitas formas de se divulgar a Lei de Thelema e cada Thelemita pode ainda apresentar novos modelos a cada dia. A intenção deste texto é abordar itens importantes que estão diretamente ligados ao papel do Thelemita e ao formato mais efetivo que pode ser adotado na divulgação da nossa Lei.

É obrigação do Thelemita divulgar a Lei de Thelema?

Como aceitar uma tão perfeita Lei e não querer instantaneamente divulgá-la e trabalhar para estabelecê-la? Por mais que seja uma obrigação, esta é uma obrigação gratificante, já que essa divulgação possibilita o aumento gradativo de nossos horizontes.

É certo que a divulgação não é, por si só fácil e também não é recompensadora, já que seus resultados são quase imperceptíveis, mas devemos manter sempre em mente aquilo que está escrito no Livro da Lei I:44 “Pois a vontade pura, aliviada de objetivo, livre do desejo de resultado, é em todos os modos perfeita.”. Precisamos manter o desejo de resultado distante também da divulgação da Lei de Thelema.

Mesmo sendo uma obrigação implícita, não é possível ditar como cada Thelemita irá optar por divulgar a Lei e também não cabe a nenhum outro Thelemita dizer que o trabalho de A está certo ou errado, ou ainda se B divulga ou não a Lei. A estrita observância é interna, cada um deve ter a consciência do que faz e cada um deve julgar a si mesmo, procurando sempre evoluir e caminhar mais e mais em direção do Novo Æon.

O que deve ser divulgado?

Uma resposta clara e direta seria o Livro da Lei, haja visto que ele concebe a Lei e tem as bases (e chaves) do Novo Æon. Todavia, o conteúdo do Livro concebe a Lei, cabe a nós estudá-la e difundi-la (“A Lei foi proclamada. É para nós interpretá-la e estabelecê-la.” Aleister Crowley em O Método de Thelema), assim como repassar o produto desses estudos aos que encontram essa Lei. Também em O Método de Thelema encontramos “Quanto mais se examina mais profundas são as implicações da Lei de Thelema, mais se entende que ela constitui uma síntese sublime, e a única possível, dos ensinamentos de cada ciência, da embriologia à história.” e com base nisto percebemos que o estudo da Lei está intimamente ligado a cada área do pensamento humano e que este estudo ainda está começando e com certeza passará por diversos modelos com o passar do tempo. A questão principal neste contexto é, há muito a ser estudado sobre o real efeito da aplicação da Lei de Thelema e sobre o resultado a curto, médio e longo prazo. Portanto, no que cabe à divulgação, um embasamento estritamente filosófico é crucial para deixar claro qual é o nosso objetivo, método e modelo.

Existe mais um ponto importante, de que forma uma pessoa que não teve contato com nenhuma informação mística ou mágica terá condições de assimilar ao menos a parte bruta da mensagem? Mesmo que o conteúdo gere uma atração inicial no leitor, será ele capaz de chegar a alguma conclusão sem um embasamento filosófico mais claro e pertinente? Uma introdução foi adicionada ao Livro da Lei, isto sugere que realmente é necessário contextualizar o indivíduo que está, pela primeira vez, em contato com este universo.

O exposto não é extremamente conclusivo e deixa em aberto algumas questões que precisam ser consideradas quando iniciamos qualquer trabalho que tenha ligação direta ou indireta com a Lei de Thelema. De forma muito genérica é possível dizer que cada modelo de divulgação pode adotar um formato específico de abordagem, porém deve sempre estar conectado ao Livro da Lei, haja visto que ele é a base de tudo.

De forma geral é possível considerar que a divulgação da Lei de Thelema deve utilizar o Livro da Lei como base e outras instruções (um exemplo é nossa Carta de Liberdade, Liber OZ) que sejam capazes de prover mais luz e entendimento àqueles que desejam e precisam. Como ressalva, é importante frisar o que está escrito no Livro da Lei III:42 “O sucesso é a tua prova: não argumentes, não convertas; não fales demasiado!“.

Saindo do modelo comum e mais utilizado de divulgação podemos ainda abranger qualquer outro método, isto é, tudo pode se tornar um veículo direto ou indireto utilizado para levar, de alguma forma, a Lei de Thelema ao mundo. Hoje, temos sites, blogs, livros, revistas, canções, poesias e muitos outros modelos que podem ser utilizados com objetivo de expandir a consciência do Æon da Criança Coroada e Conquistadora. Muitas coisas podem ser feitas, neste ponto entra a criatividade de cada Thelemita e esta criatividade pode sim fazer a diferença, pois ela pode levar a outras pessoas essa Lei de Liberdade e talvez, essa é a Lei que esta pessoa esperava. Existem muitas estrelas por aí…

De que forma a Lei de Thelema deve ser divulgada?

Esta é uma questão cuja resposta é muito simples, a Lei de Thelema deve ser divulgada com responsabilidade e o material disponibilizado deve ser sempre da mais alta qualidade, exigindo sempre uma estrita observância da verdade e da coerência do exposto. Quanto ao Livro da Lei, está claro em III:47 “Este livro deverá ser traduzido para todas as línguas; mas sempre com o original na escrita da Besta; pois na forma casual das letras e suas posições de uma para outra: nisso estão mistérios que nenhuma Besta adivinhará . Que ele não procure tentar; mas um virá após ele, de que lugar eu não digo, que descobrirá a Chave de tudo. Então esta linha traçada é uma chave: então este círculo enquadrado em sua falha é uma chave também. E Abrahadabra. Será a criança dele & isso estranhamente. Que ele não vá atrás disso; pois desse modo ele pode cair sozinho.“. Tudo que está ligado a Lei de Thelema deve ser tratado com a mais alta dedicação e deve ser propagado com cuidado e sempre mantendo a essência da origem.

É assegurado a todo Thelemita o sagrado direito de manter uma visão estritamente pessoal das bases místicas e mágicas do Novo Æon e eu acredito, sinceramente, que o ato de compartilhar seu pensamento é o mais importante ato para o crescimento e evolução da humanidade sob este Æon. O único ponto importante sobre isso é a necessidade de se lembrar que os olhos do escritor enxergam de forma diferente dos olhos de seus leitores, cada um vê de uma forma, mesmo que em alguns casos uma forma única é encontrada. Na verdade, o mais importante é não continuar cegos e perdidos, procurando eternamente por um deus morto.

Existe um público alvo?

A resposta desta questão pode ser encontrada no próprio Livro da Lei, I:34 “Mas ela disse: os ordálios eu não escrevo: os rituais deverão ser metade conhecidos e metade ocultos: a Lei é para todos.” e em III:39 encontramos a afirmação “Tudo isso e um livro para dizer como tu fizeste para chegar até aqui e uma reprodução deste manuscrito para sempre — pois nele está a palavra secreta & não somente em Inglês — e teu comento a respeito do Livro da Lei deverá ser graciosamente impresso em tinta vermelha e preta sobre um belo papel feito à mão; e para cada homem e cada mulher que encontres, seja para jantar ou para beber com eles, esta é a Lei a dar. Então, isso é sem importância. Então eles se arriscarão a permanecer ou não nessa bem-aventurança. Faz isso rapidamente!“. Podemos notar claramente que A Lei é para todos e que o Livro da Lei é o livro que deve ser entregue para cada homem e cada mulher que encontrarmos.

Neste ponto, é necessário abrir um parênteses direcionado à visão de Aleister Crowley e de Marcelo Motta sobre a interpretação de AL III:39:

“…”a eles” pode significar “em casa deles”, isto é, nós devemos saudar com a Lei, quando reconhecemos qualquer pessoa com um rei em potencial, como aceitação de sua hospitalidade. Um significado alternativo é em honra deles.”

Aleister Crowley, no livro Os Comentários Mágickos e Filosóficos do Livro da Lei

“O significado é: a Lei deve ser dada a todo casal de homem e mulher de quem aceitamos um convite para beber ou comer. Não é necessário que sejam casados.”

Marcelo Ramos Motta, em nota no livro Os Comentários Mágickos e Filosóficos do Livro da Lei

Todo homem e toda mulher tem o sagrado direito de ter acesso e de ler o Livro da Lei, aceitá-lo é uma questão interna a cada um e a aceitação deve partir exclusivamente do indivíduo e este não deve se sentir de forma alguma forçado ou induzido a aceitá-lo.

O problema: minha maior questão é sobre como executar esta tarefa de forma tão explícita, a tarefa é clara, mas mesmo assim eu não consigo simplesmente entregar o Livro a qualquer pessoa, uma força (que considero opositora ao Æon de Hórus) me faz avaliar se a pessoa está ou não apta a ler o Livro. Ora, se a Lei é para todos, como posso simplesmente privar uma pessoa do conhecimento desta fonte de boas novas e de alegria? Como posso me achar superior ao ponto de poder tomar uma decisão que cabe apenas ao indivíduo? Estas perguntas eu realmente não tenho como responder, porque são perguntas que eu me faço sempre e minha resposta vai de encontro ao fato de que, por bem ou por mal, posso me prejudicar quando não faço esta distinção, porém não me sinto nada bem quando me pego fazendo. Mais uma vez, quem sou eu para dizer que este pode e aquele não pode ler o Livro da Lei?

É muito claro que numa sociedade claramente de maioria Cristã é extremamente difícil executar o trabalho de divulgação da Lei de Thelema sem enfrentar a intolerância e a falta de visão normalmente encontradas nesses meios. Por este motivo ainda não sei como tratar diretamente este ponto.

O preconceito que podemos enfrentar é muito grande e com o advento da internet isso pode rapidamente afetar até o ambiente de trabalho. Eu mesmo já tive que ouvir piadas infames no meu trabalho oriundas de pesquisas pelo meu nome em ferramentas de busca como o Google. Eu não nego o que sou, sou Thelemita e ponto, mas não posso negar que fui vítima apenas de piadas e pelo menos até hoje não tive que enfrentar o preconceito de frente. Negar a existência deste preconceito, é negar que o Brasil é de maioria Cristã / Católica. Por isto, ainda tenho receio de entregar abertamente o Livro da Lei a todo homem e toda mulher que eu tenha contato. Meu receio pode ser uma falha, já que minha vontade é entregar.

O Thelemita deve passar sua visão pessoal como forma de introdução?

Tudo que está escrito sobre a Lei de Thelema que não está no Livro da Lei é fruto de uma visão pessoal, não acredito que seja um problema passar uma visão pessoal sobre esta Lei e sobre sua filosofia, mas acredito que o exagero pode levar à uma tentativa errada de conversão. Mais uma vez, é importante que o indivíduo queira estar sob esta Lei, é importante que ele aceite por si só, sem que haja interferência no fluxo dos eventos.

A leitura do Livro é e deve ser muito particular, assim como a aceitação e posteriormente o trabalho para se livrar das correntes da escravidão e livrar-se das correntes é algo que é muito mais do que difícil, estamos tão enraizados nestes conceitos escravagistas que a possibilidade de liberdade causa, em alguns casos, um certo terror. A consciência da não existência de um deus que o castigará torna o indivíduo livre, mas em consequência o indivíduo torna-se seu próprio deus, e ele é o responsável por seus atos e não há a quem culpar, ou alguém que possa redimí-lo. Não há redenção, não há pecado, mas há uma Lei inefável que rege o universo e respeitá-la é seu dever como indivíduo e como Thelemita. “Não há lei além de Faze o que tu queres” AL III:60.

Divulgar e Converter – como fazer um sem fazer o outro?

A solução para este dilema está no Livro da Lei III:42 “O sucesso é a tua prova: não argumentes, não convertas; não fales demasiado!“. São três ordens diretas e claras, quando argumentamos muito ou falamos muito sobre algo, há uma tendência normal de conversão, tentamos passar para o outro a nossa experiência, a nossa visão e tentamos automaticamente mostrar a ele o quanto é maravilhoso e bom viver sob esta Lei, o que não é mentira, mas tende à conversão.

Devemos divulgar sim, converter nunca. Nós podemos prover o acesso ao Livro da Lei, facilitar o acesso ao material de cunho Thelemico, trocar experiências e sem sombra de dúvida unir para somar, no entanto, é preciso se manter sempre alerta para que pequenos deslizes que tendenciem à conversão não existam.

Continuidade – como prover material essencial àqueles que aceitaram o Livro da Lei?

Pessoalmente, eu acho extremamente difícil divulgar a Lei de Thelema sem, em contrapartida, oferecer informações que possam dar continuidade ao processo de desenvolvimento do indivíduo que se identificou com o a Lei do Novo Æon. Sem dúvida, este problema é bem menor em países cujo idioma nativo é o inglês, o que não é o caso. Muito material já foi disponibilizado em português, mas ainda falta muita coisa a ser traduzida. Sem um conteúdo sério e razoavelmente organizado é impossível dar continuidade ao processo pessoal, já que a evolução fica obstruída pela falta de continuidade.

Além disso, é importante que estudos filosóficos, análises da sociedade e do governo, e avanços nas teorias de aplicabilidade da Lei de Thelema no mundo sejam realizados constantemente por todos os Thelemitas, cada um em sua área. Com estes avanços será possível atingir outras camadas da sociedade, podendo assim elevar os resultados concretos da aplicação da Lei de Thelema no indivíduo, no cotidiano, na sociedade e no governo, visando o desenvolvimento humano sob as bases do Æon de Hórus.

Considerações finais

A Lei de Thelema provê uma fórmula perfeita para o crescimento e evolução da humanidade. Os tempos atuais demonstram que apenas com o estabelecimento dessa Lei e com a conscientização da humanidade de que não há deus senão o homem e de que o homem deve respeitar a si mesmo e também ao meio, será possível sobreviver a um colapso. O planeta começa a reagir contra aquele que está o destruindo e é chegado um tempo de mudança e esta mudança precisa ser realizada rapidamente, cabe a nós, definir como essa mudança acontecerá.

Amor é a lei, amor sob vontade.

Publicado originalmente em

http://www.thelema.com.br/espaco-novo-aeon/ensaios/o-papel-do-thelemita-na-divulgacao-da-lei-de-thelema/

#Thelema #Crowley #AleisterCrowley #Thelemita #Aeon

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-papel-do-thelemita-na-divulga%C3%A7%C3%A3o-da-lei-de-thelema

Seria Thelema a Religião do Novo Æon?

Por Jonatas Lacerda

Faze o que tu queres deverá ser o todo da Lei.

Seria Thelema a Religião do Novo Æon? Esta é uma questão extremamente complexa e sua resposta, por mais que seja realmente muito simples não pode ser dada sem ir um pouco além.

A resposta é não, Thelema não é a Religião do Novo Æon, assim como Thelema também não é uma filosofia, um sistema místico, mágico ou ainda um sistema político. Thelema é puramente a palavra de Lei que foi proferida pelo Magus do Æon (Aleister Crowley) e ela não pode ser qualquer outra coisa senão a palavra que rege as questões da Lei.

Muito do que é coberto pelo assunto utiliza citações de textos do próprio Crowley para validar ou invalidar a tese de que Thelema é uma Religião. A questão básica neste aspecto é que a cronologia das citações não é respeitada e com isso nada pode ser realmente validado, já que Crowley evoluiu juntamente com sua descoberta e sua maior tarefa foi tentar interpretar o significado todo desse novo processo que foi iniciado em 1904 e.v..

Declarar Thelema como algo específico (e não como algo aplicável) é simplesmente, limitar o campo de atuação retraindo sua abrangência e dificultando a expansão da ideia de forma global.

Um Æon é um espaço de tempo e esse espaço de tempo é regido por alguns conceitos em particular. Thelema (Vontade) pode ser colocada, para simplificar como um desses conceitos. O ponto é que existem diversos fatores que coexistem independentemente das eras e o que difere esses fatores (de uma era para outra), é a fórmula de aplicação e é aí que mora o segredo, não há como esperar mudanças extremas, já que o próprio processo evolutivo é vivenciado paulatinamente. Sim! não acrediteis em mudanças; vós sereis como sois e não outro. Portanto os reis da terra serão Reis para sempre: os escravos servirão. Não existe ninguém que deverá ser rebaixado ou elevado: tudo é sempre como foi. – AL II:58.

A Lei de Thelema provê fórmulas consistentes e funcionais que podem ser aplicadas em todos os campos que conhecemos desde a vida pessoal, ao trabalho, à política, à religião, ao misticismo, à magia; enfim, sendo a palavra de Lei, ela rege a Lei de todos os campos conhecidos pela mente humana e sua aplicabilidade é tão extensa que seria impossível citar tudo em um texto tão curto. A palavra de Lei não é o fim e sim o meio para se alcançar novos horizontes e com a análise correta, tudo o que conhecemos pode passar pela fórmula dessa palavra de Lei e pela Lei em si, tornando-se assim, Thelêmico.

Falando explicitamente sobre religião, o que podemos perceber é que ainda há muito preconceito dentro dos próprios meios Thelêmicos. E esse preconceito talvez seja um pouco prematuro, já que na verdade nós devemos nos opor às religiões que castram e escravizam seus adeptos e não ao conceito como um todo. A religião em si, não é danosa quando vista a partir do ponto de vista da Lei da Vontade. “O MUNDO PRECISA DE RELIGIÃO. Religião deve representar a Verdade e, celebrá-la. Essa verdade é de duas ordens: a primeira, relativa à Natureza externa do Homem; a segunda, relativa à natureza interna do Homem. Existem religiões, especialmente o Cristianismo, que são baseadas na primitiva ignorância dos fatos, particularmente de natureza externa. Celebrações devem ser conforme o costume e a natureza do povo. O Cristianismo destruiu as alegres festividades, caracterizadas pela música, dança, festas e o ato de fazer amor, e apenas manteve a melancolia.” – Editorial do The Equinox, vol. III nº I (The Blue Equinox). A maior questão é que, é possível sim explorar a religião de forma que ela ainda dê bons frutos aos seus adeptos, não deixando de ser um processo Místico, onde rituais são utilizados de forma a conectar o indivíduo com Deus. Perceba que essa conexão não é com um ente celestial todo poderoso, mas sim com o Deus interno, a própria divindade de cada ser, que pode ser encontrada de diversas formas, por diversos meios.

Um ponto importante a frisar é que ao aplicar as fórmulas da Lei de Thelema no contexto “religioso” todos os processos que são conflitantes devem ser eliminados, de forma que o adepto consiga vivenciar o processo sem ferir a sua natureza. Vêde! os rituais do tempo antigo são negros. Que os maus sejam atirados longe; que os bons sejam purgados pelo profeta! Então este Conhecimento seguirá corretamente. – AL II:5.

Religião do latim religare, significa se religar com o divino e este é o ponto mais sensível e que causa mais repulsa entre aqueles que são de nós, já que em teoria não haveria ao que se religar, já que não existe deus senão o homem. Porém, o processo não funciona bem assim, na verdade nossa Grande Obra é o trabalho de se religar com a nossa própria divindade, isto é, com o nosso Santo Anjo Guardião e depois disso trabalhar no processo da nossa Verdadeira Vontade, onde o ponto de vista é alterado e a cada passo se olha mais pela humanidade, se religando assim ao corpo dos corpos, o todo. Com isso, percebemos a sutileza do mote da A? A?: o método da Ciência; o objetivo da Religião.

O mais importante neste Novo Æon de Hórus é perceber o nível de liberdade que alcançamos: quem quer ficar preso à era passada, que fique; quem quer seguir nesta luz, que siga; todos nós temos o direito de acreditar ou não em qualquer divindade ou força, já que o poder criador infinito e supremo está em cada um de nós. Não existe mais diferença entre o profano, o santo ou o santíssimo, todo homem e toda mulher é uma estrela, integrados ao corpo celestial de forma única e infinita.

O mais importante é sempre trabalhar para não restringir os campos de atuação da Lei de Thelema e do Novo Æon, já que a resultante dessa restrição é a regressão no processo de emancipação da mente humana que foi iniciado em 1904 e.v.. A aplicabilidade das fórmulas encontradas em Liber Legis é extensa e abrangente e essa premissa, todos nós temos que manter sempre em mente.

Por fim, é importante ressaltar as palavras de Mestre Therion (Aleister Crowley) no Magick Without Tears: “Chame isso de uma nova religião, então, se isso tanto agrada a vossa Graciosa Majestade; mas confesso que não vejo o que você ganhará ao fazer isso, e sinto-me obrigado a acrescentar que você pode facilmente causar um grande mal-entendido, e causar um tipo estúpido de injúria em particular.”.[1] Amor é a lei, amor sob vontade.

Publicado originalmente em Thelema.com.br

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/seria-thelema-a-religi%C3%A3o-do-novo-%C3%A6on

Quem pode ser e o que deve ser feito para se tornar um Thelemita?

Por Jonatas Lacerda

Faze o que tu queres deverá ser o todo da Lei.

Muitas vezes sou questionado a respeito de como uma pessoa pode se tornar Thelemita, assim como de quais são os requisitos para ser um. A partir disso fica a questão: Quem pode e o que deve ser feito para se tornar um Thelemita?

Não existem escolas que trabalhem na formação de Thelemitas, já que não se forma um Thelemita, todo homem e toda mulher nascido após o Equinócio dos Deuses[1], está preparado para esta era e está em suas mãos aceita-la ou não. Não são necessárias quaisquer certificações e nem mesmo patentes que atestem seu conhecimento ou o status, assim como, não são necessários mestres ou instrutores[2]. Enfim, ser Thelemita é uma questão pessoal e somente o indivíduo tem capacidade para se considerar um[3].

A verdade é que a resposta dessa pergunta é muito simples. Por definição, um Thelemita é aquele que aceita o Livro da Lei e que trabalha, de alguma forma, na divulgação e no estabelecimento da Lei do Novo Æon, Thelema. O Thelemita está cônscio de seu papel na sociedade e está disposto a avaliar seus atos sob a ótica da Lei e a trabalhar dia-a-dia na evolução de sua própria concepção: sobre si mesmo, sobre o próximo, sobre a humanidade e sobre o meio-ambiente. Ele é responsável por todos os seus atos e deve observar esses constantemente, para que dessa forma, jamais interfira na órbita de outras estrelas.

O Thelemita toma a consciência da não existência do pecado, e dessa forma se não existe pecador não existe redenção e, portanto não há como culpar a Deus ou ao Diabo por suas dádivas ou por suas tentações. Toda ação tem uma reação e toda mudança só é realizada com intenção, portanto, somos responsáveis por tudo de bom e tudo de ruim em nossas vidas e devemos sempre procurar melhorar cada aspecto dela, avaliando e corrigindo nossas falhas.

O Thelemita deve buscar por sua ascensão em Luz, Vida, Amor e em Liberdade e a Lei de Thelema tem a fórmula que é capaz de auxiliá-lo a compreender sua relação com cada ponto deste vasto espaço. O mais importante é que o Thelemita está consciente de sua realidade como uma estrela única e também da existência de muitas outras, que são, por direito, também únicas.

A Lei de Thelema é sim o encontro da liberdade incondicional, mas exatamente por ser a Lei de Liberdade, ela se mostra ao Thelemita como a mais restrita de todas as restrições, já que a liberdade não está ali somente para ele, ela está da mesma forma para todos.

Todo homem e toda mulher tem o sagrado direito de aceitar o Livro da Lei e de aplicar os preceitos da Lei de Thelema em sua vida. Não existe a obrigatoriedade de uma iniciação ou rito de passagem, nem de nomeação ou ainda de se filiar a uma organização[4]. Todo homem e toda mulher que aceita o Livro da Lei e caminha em direção da aplicação completa dos preceitos da Lei de Thelema em sua vida e trabalha de alguma forma, na divulgação e no estabelecimento do Æon da Criança Coroada e Conquistadora, é um Thelemita.

Amor é a lei, amor sob vontade.

Notas de Rodapé

1- O início do Æon de Hórus, em 1904.

2- É evidente que em muitos casos é necessário que um Thelemita auxilie outro em diversas questões relativas à Lei. O importante é ter em mente que mesmo que existam mestres ou instrutores, eles não são fundamentais para que uma pessoa se considere uma Thelemita.

3- Dizer que alguém é Thelemita, lhe forçando, de alguma forma a sê-lo é uma interferência danosa que jamais deve ser realizada. Um homem ou uma mulher só é Thelemita se ele ou ela assim o quiser. ? voltar

Muito embora realmente não haja a necessidade de se filiar a uma organização de cunho Thelêmico, é muito comum que se faça isso, já que essas organizações são extremamente importantes, em primeiro lugar para ajudar no crescimento individual da pessoa e em segundo lugar, para fornecer ferramentas que auxiliem na tarefa de divulgação da ideia do Novo Æon.

Publicado originalmente em Thelema.com.br

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/quem-pode-ser-e-o-que-deve-ser-feito-para-se-tornar-um-thelemita

Do what thou wilt shall be the whole of the Law

Por Jonatas Lacerda

Faze o que tu queres deverá ser o todo da Lei.

Sem sombra de dúvidas um dos maiores centros de controvérsia no cenário Thelêmico Brasileiro é o conjunto de onze palavras que formam o axioma que é a base central de toda a nossa Lei: “Do what thou wilt shall be the whole of the Law”. Em algumas situações é difícil dizer se a busca é pela forma mais correta de traduzí-lo para o português ou apenas para diferenciar um grupo do outro. É fato que a tradução deste axioma envolve diversos fatores individuais que por fim devem resultar em um único e exato sentido. Devemos notar que uma tradução exata é quase impossível de ser feita, já que este axioma está envolto em uma série de elementos antagônicos e duais. É de extrema importância ressaltar que a primeira iniciativa Thelêmica, declarada em terras brasileiras foi realizada por Marcelo Ramos Motta (1931-1987), com a publicação, em 1962 e.v., do livro Chamando os Filhos do Sol, por este motivo irei encarar a tradução de Marcelo como sendo a primeira.

A intenção deste texto é tentar levantar o máximo de fatores que possam levar a uma conclusão simples, clara e objetiva. De forma alguma quero atacar qualquer pessoa ou grupo, mas sim, avaliar a tradução deste axioma.

Continue lendo em Thelema.com.br

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/do-what-thou-wilt-shall-be-the-whole-of-the-law