Cursos de Hermetismo – Março/Abril 2010

Este é um post sobre um Curso de Hermetismo já ministrado!

Se você chegou até aqui procurando por Cursos de Ocultismo, Kabbalah, Astrologia ou Tarot, vá para nossa página de Cursos ou conheça nossos cursos básicos!

Março

06/03 (sab) – Astrologia Hermética I (básico)

07/03 (dom) – Kabbalah

20/03 (sab) – Astrologia Hermética II (Intermediário) [pré-requisito Astrologia I ]
21/03 (dom) – Magia Prática [pré-requisitos Kabbalah e Astrologia I ]

Abril

02/4 – Runas e Magia Rúnica

03/4 – Estudo Magístico da Umbanda (prof. Fernando Maiorino)

04/4 – Chakras, Kundalini e Magia Sexual

24 e 25 – Florais (Voltado para Médicos, Veterinários e Terapeutas)

Houve uma pequena mudança para Abril. Consegui uma data livre na agenda do Fernando Maiorino (Pai de Santo com mais de 10 anos de experiência e um dos maiores conhecedores da Umbanda, Candomblé e suas ligações com a Árvore da Vida aqui no Brasil) para dar um curso que envolva desde os básicos das religiões afro (o que são, como surgiram, sincretismo, orixás, exús, bombo-giras, ciganas, etc) até as correspondências entre a magia Afro e o Hermetismo. Na verdade, eu marquei este curso porque eu e alguns amigos vamos fazê-lo, mas acho que vários leitores vão se interessar pelo tema, então decidi postar aqui no TdC. Só que são poucas vagas, então quem estiver a fim, fica esperto.

(o Curso dos 72 Nomes de Deus vou deixar para Maio).

Informações no: marcelo@daemon.com.br

#Cursos

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/cursos-de-mar%C3%A7o-abril-2010

BDSM e Magia Sexual

Em um curto espaço de tempo, os flagelantes da Peste Negra, terrível epidemia que varreu a Europa entre os anos de 1347 e 1350, transformaram-se de exemplo de temor a Deus a pervertidos morais. Só os membros da realeza e do clero, encontravam abrigo em castelos, palácios ou residências nas montanhas.

Onde a epidemia raramente chegava; aqueles homens misteriosos, munidos apenas de túnicas e capuzes negros, e seus inseparáveis chicotes, despertavam admiração e respeito, mas também a imaginação libidinosa das recatadas senhoras nas cidades e vilarejos por onde passavam. Da noite para o dia, o clero ( principalmente o alemão ) começou a enxergar um significado paralelo, nas andanças daqueles homens e do tipo de reação que causavam naqueles que presenciavam suas auto-flagelações em praça pública.

“Não há nada de santo nesse ato, apenas uma cruel perversão sensual que choca e oprime a imaginação destes pobres desesperados com a Peste; que vêem nestes homens, exemplos inócuos a serem seguidos.” disse historicamente Helmut Schaff, um frade alemão responsável por monitorar e vigiar os deslocamentos dos flagelantes no norte e noroeste do país. Logo surgiriam as denúncias.

Como os flagelantes viviam da caridade daqueles que davam alimento e abrigo entre um canto e outro, não faltavam línguas venenosas, especialmente de vizinhas vingativas (algo que se repetiria na caçada às bruxas ) – nas paróquias, furtivamente estas senhoras de respeito, vinham confessar seus pecados antes de entregar a alma a Deus via Peste Negra, mas também aproveitavam a ocasião para denunciar as rivais.

Testemunhos como estes podem ser encontrados em atas religiosas da Idade Média: “Um flagelante passou a noite abrigado na casa de V… acordei de madrugada ouvindo gritos e barulho de chicotadas. Vi pela janela que o flagelante era chicoteado por V… e depois copulavam. Tudo acompanhado por preces, cânticos e incensos do Diabo ( o que quer que isso possa significar ).”

Friederich von Spee, autor de Cautio Criminalis, o livro que denunciava os crimes dos inquisidores alemães, deu seu depoimento sobre o caso:

“Pura covardia. Sem precedentes na história do cristianismo. Basta que apareça algo que coloque em risco a pretensa autoridade espiritual do alto clero, e logo surge algo para minar as legítimas demonstrações de fé dos homens não consagrados pela Igreja.”

A epidemia arrefeceu e com ela o número de flagelantes; mas a identidade sadomasoquista; semeava as origens que dariam os frutos proibidos nas palavras de Sade e Masoch. Von Spee poderia ter razão quanto as calúnias provocadas pelo clero contra a maioria dos flagelantes, mas não poderia ignorar jamais, a atmosfera sensual, alimentada por eles. Durante as procissões, as mulheres eram ampla maioria na “platéia”. Elas fantasiavam com aquelas cenas: num ambiente onde quase sempre eram dominadas, maltratadas, submissas e sofredoras – a relação fé, espiritualidade, sensualidade e blasfêmia, travavam uma batalha inglória nas mentes e nos corações que esperavam a chegada da morte a qualquer minuto.

Basta lembrar que durante o pico da epidemia, o clero perdeu qualquer autoridade espiritual sobre os fiéis, os mais diversos tabus sexuais eram quebrados sem nenhuma cerimônia. Portanto, castigá-los e depois consolá-los com carícias mais íntimas e acolhedoras era algo extremamente excitante para aquelas mulheres; como atesta este relato atribuído a esposa de um Barão de Marselha; que fazia parte da compilação de material erótico relacionado ao período da Peste na França, de propriedade de Rétif de la Bretonne, inimigo número um do Marquês de Sade, de quem fez uma bem sucedida paródia de Justine e os Infortúnios da Virtude:

Eis o relato:

“A noite escura, mais escura das noites. Esta noite é a noite deles. Quão adorável é este homem. Com sua face crua e lisa, protegida pelo negro capuz. Por que escondê-lo ? Protegê-la das minhas mãos ? Minhas carícias ? Talvez uma pequena punição. Para tu ou para mim (…) Confesse menino ! Venha confessar seus pecados para mim ! Te darei alimento, proteção e o que mais precisar (…)” O texto é atribuído a esposa de um rico barão francês da cidade de Marselha.

Lamentavelmente, Bretonne morreu enquanto preparava aquela que certamente seria mais uma das tacadas de mestre que ajudariam a pôr ainda mais lenha no forno do governo e do clero francês.  Da Idade Média e Renascimento para cá, pouca coisa mudou. Fingimos vivenciar a liberação sexual que se manifestou nas décadas de 20 e 30, principalmente na Europa e na década de 60 nos Estados Unidos. Nestes períodos, surgiram os Spankin’ Clubs. Um deles funcionava adjacente a Igreja de Satã na Califórnia.

Locais freqüentados por satanistas que também faziam uso das práticas sadomasoquistas mescladas a práticas de magia sexual, embora elas ainda não fizessem parte de termos litúrgicos. Foi em locais como este que gente como Zeena Galatea LaVey, que adotou o sobrenome do marido Nikolas Schreck após romper com o pai, ajudaram a desenvolver as práticas BDSM misturadas com rituais satanistas e ocultistas em geral.

ENTREVISTA COM ZEENA SCHRECK

COMO VOCÊ ENCAROU O BLOQUEIO DO SITE ?

(Antigo WWW.SADELICIOUS.ORG, voltado para práticas sadomasoquistas mescladas com magia sexual.)

Como mais um ato covarde do fundamentalismo cristão americano. Eles são piores que os muçulmanos. Se pudessem, e temo que um dia poderão, pois trabalham incessantemente para isso, vão decepar os clitóris das mulheres americanas para que não sintam prazer. Eu nunca estive tão horrorizada na minha vida.

O SITE NÃO ERA ABERTO AO PÚBLICO, SÓ SE TINHA ACESSO MEDIANTE A UMA SENHA. QUANTOS ASSOCIADOS VOCÊS TINHAM ? QUANTOS DELES ERAM MEMBROS DA WEREWOLF ORDER ?

Não era um site para curiosos. Era necessário um convite formal. Era para pessoas interessadas em desenvolver sua espiritualidade com o auxílio de atividades BDSM. Tínhamos 17 mil acessos diários onde as pessoas trocavam experiências, davam seus depoimentos. Eu nunca fui membro do site mas apresentava aos membros da Werewolf a idéia para aqueles interessados em integrarem-se ao que eu chamo de “Left Hand Path Sex.” Todos os vídeos alí eram reais, experiências sadomasoquistas mediadas por um sacerdote satanista do Templo de Set.

VOCÊ CONCORDA QUE A MULHER PODE TER MELHORES RESULTADOS VIA BDSM DO QUE O HOMEM ? DESENVOLVER EXPERIÊNCIAS MAIS ENRIQUECEDORES ?

Acho que a mulher consegue ver além da prática do sexo em relações sadomasoquistas. Não resta dúvida que o limiar entre prazer e dor, amor e espiritualidade caminham de mãos dadas. Para os homens, especialmente no início das práticas, eles têm enormes dificuldades em se concentrar em questões espirituais, desperdiçam força e energia. Mas quando superam essa barreira, tornam-se grandes mestres, como o sadomasoquismo exige. É imperiosa a necessidade de alertar que a prática de BDSM mesclada a rituais satanistas, despendem uma grande quantidade de energia que se não for bem aproveitada, pode acarretar sérios danos tanto a pessoa submissa quanto aquele que submete. É uma forma de magia como qualquer outra.

A ALGOLAGNIA É A PRÁTICA DE SE TRANSFORMAR DOR EM PRAZER SEXUAL. COMO SE DÁ A TRANSFORMAÇÃO DO PRAZER SEXUAL EM  ENERGIA ESPIRITUAL ?

Pegamos o exemplo dos flagelantes: não há como duvidar que a experiência deles difundia uma experiência transcendental mediante a punição do corpo. O que é o uso do cilício pela Opus Dei senão uma experiência mágico-sexual ? Uma forma de extrair energia e libertar e concentrar energia ? Eu já vi muitos depoimentos de ex-membros da Opus Dei que afirmam liberar energia sexual pelo uso do cilício. A diferença é que ela não era reaproveitada por eles, diferente de nós que reutilizamos essa energia na forma de ritos e feitiços.

DÊ NOS UM EXEMPLO INICIAL. PARA AQUELES QUE DESEJAM PRATICAR O BDSM MEDIANTE AS PRÁTICAS SATANISTAS.

Não é necessário ser um satanista para praticar. É simples. Para começar você deve escolher: você inicialmente quer desenvolver uma relação espiritual ou física ? Suas necessidades mais urgentes no momento concernem à alma ou ao seu corpo ? Se é uma questão espiritual ? Opte pela submissão. Comece pela sua presença numa Missa Negra com seu altar particular, só então tome parte em rituais adjuntos ao BDSM. Se a operação é voltada para o lado físico e material, assuma a posição dominante.


O BRANDING TÊM LUGAR NAS MISSAS NEGRAS BDSM ?

É tudo uma questão de escolha. Boa parte dos membros do Templo de Set passaram pela experiência do Branding em práticas de sodomia principalmente; mas creio que só seja indicado para pessoas já acostumadas com práticas sadomasoquistas. Mas não tenho nenhuma dúvida que seja das práticas mais corajosas e que se assemelham as Satanistas. Embora eu já tenha dito que a maioria dos praticantes de BDSM não sejam Satanistas. Temos Wiccans, Pagãos tradicionais, até mesmo Cristãos.


PARTICIPEI DE ALGUMAS MISSAS NEGRAS BDSM E FIQUEI IMPRESSIONADO COM A NATURALIDADE COM QUE ELAS FLUEM. PARECEM TER SIDO INVENTADAS HÁ MILÊNIOS. O QUÊ VOCÊ ACHA ?

Elas foram criadas com os flagelantes da peste negra. Mediante o medo da morte, as pessoas se libertavam por meio da sexualidade reprimida. Se ainda hoje somos reprimidos sexualmente, imagine naquela época. Eu acho maravilhosa a transformação do prazer sexual em força espiritual. É como se eu tivesse caminhado por dias debaixo de um sol impiedoso e subitamente encontrasse uma cachoeira de águas cristalinas na qual eu pudesse me refrescar. Não é uma boa analogia eu sei ( risos ) mas é o melhor que encontrei no momento ( gargalhadas gerais )


O KAMA SUTRA E O TANTRISMO TERIAM LUGAR NAS MISSAS BDSM ?

Sim sempre. Os caminhos do ocultismo são muito ecléticos.


QUANTAS PESSOAS EM MÉDIA PARTICIPAM DAS MISSAS NEGRAS BDSM ?

Isso depende do número de seguidores de um culto. A liturgia é basicamente a mesma, com a única diferença da inserção de práticas SM nos rituais. O mais comum é a prática restrita a casais. E também é mais indicado para os iniciantes. Dando início a dois, no próprio lar, até se acostumar com as práticas.

EXISTEM PESSOAS QUE BUSCAM SIMPLESMENTE A ORGIA PURA NAS PRÁTICAS ASSOCIADAS ENTRE BDSM E MISSAS NEGRAS ?

Sim e não vejo nada de errado nisso. É uma forma de se libertar. Mas se a pessoa passa a não se interessar pelo lado mágico da história, fica bastante complicado prosseguir. A idéia de juntar as práticas do sadomasoquismo com a magia negra sexual, têm por objetivo principal confrontar as forças do ser humano. Por exemplo: quando você se encontra numa posição submissa, você é capaz de identificar e reconhecer a energia que você está dispersando. É possível capturá-la, analisá-la, saber se ela serve ou não para algum propósito mágico. Nesse caso é importante ter um dominante que te ajude a pressurizar essa energia.

VOCÊ LEU OS CONTOS ERÓTICOS DO RÉTIF BRETONNE SOBRE OS FLAGELANTES DA PESTE NEGRA?

Muitas vezes. Excitação a todo vapor. Tive muitos orgasmos naquelas páginas abençoadas. (risos)

VOCÊ JÁ LANÇOU FEITIÇOS ENQUANTO PRATICAVA OS RITUAIS DE BDSM ?

Claro. Essa é a idéia. Faço isso o tempo todo. Você têm nestes momentos toda a concentração de energia mental necessária para criar e lançar feitiços, sejam eles de amor ou ódio. Também é possível capturar energia de seu parceiro e usá-la em seus feitiços. Isso deve ser feito de comum acordo. Mas pode-se roubar energia sexual por meio de um parceiro de quem você queira se vingar por exemplo. O sexo pode e deve ser usado como plataforma de lançamento de feitiços ou maldições, é quando sua energia está mais crua e forte, apta a ser capturada.


ÍNCUBOS E SÚCUBOS SEXUAIS EXISTEM OU SÃO APENAS METÁFORAS ? QUAL A APLICAÇÃO DELES NO BDSM ?

É muito subjetivo. Incubos e Sucubos são termos criados pela igreja católica como forma de categorizar a sexualidade humana. No BDSM, Incubos e Súcubos têm aplicações semelhantes ao do Dominate e do Subsmisso. O importante na prática sexual mesclada as missas negras ou rituais de magia, é entender que o uso do BDSM é altamente recomendado quando têm-se a intenção de fornecer ou receber a maior quantidade possível de energia sexual para ser empregada em rituais de magia. Pode-se facilmente resumir as práticas de BDSM e magia a isso: transformação de energia sexual em feitiços de magia, seja ela negra ou branca.

Texto Paulie Hollefeld

 

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-sexual/bdsm-e-magia-sexual/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-sexual/bdsm-e-magia-sexual/

Bases metafísicas da Magia Sexual

Fonte: Renascer da Magia, de Kenneth Grant

Existe um talismã de aplicação universal. No reino elemental ele é representado por pyramis, o fogo; em termos geométricos, pela pirâmide ou triângulo; e em termos biológicos, pelo falo. Como o sol irradia vida e luz através do sistema solar, assim também o falo irradia vida e luz sobre a terra e , similarmente, subordina; se a um poder maior do que ele mesmo. Pois assim como o sol é um reflexo de sírius, assim também o falo é o veículo da vontade do mago.

No não iniciado, o poder fálico opera independente mente de seu possuidor e , freqüentemente, em desarmonia com o mesmo. Ele funciona caprichosamente, sem relação como indivíduo. O poder fálico possui o indivíduo e não vice-versa.

No caso do iniciado, entretanto, a posição é inversa. A O.T.O. possui o conhecimento secreto da retificação e os meios de liberação do cativeiro do instinto degenerado. Ela instrui o operador no uso apropriado do fogo elemental, a correta construção da pirâmide, o empunhar bem-sucedido da baqueta mágica.

O controle do fogo elemental envolve a inibição dos resultados físicos habituais quando da união sexual. A libido não é “aterrada”, mas direcionada pela vontade para encarnar numa forma especialmente preparada para sua recepção.

Liber Agapé, o enquirídio do Soberano Santuário da Gnose da O.T.O., demonstra como a magia sexual está baseada na assunção de que nenhuma causa pode ser impedida de um efeito. Se o efeito natural for anulado , a descarga de energia não é perdida, e ela forma uma imagem sutil ou astral da idéia dominante na mente quando do clímax do coito. Habitualmente esta idéia é um pensamento de luxúria, e por causa disso uma tendência ou hábito se fixa na mente, que consequentemente se torna cada vez mais difícil de controlar. Esta tendência deve ser, portanto, destruída.

A exaltação mental gerada por um orgasmo magicamente controlado forma um portal de passagem reluzente semelhante a uma lente por onde flui o vívido imaginário astral da mente subconsciente. Imagens específicas são evocadas e “fixadas”; elas se tornam instantânea e vivamente vivas. Como a presença luminosa delas é obsessiva, salvaguardas mágicas são essenciais para compensar uma real obsessão. Esta imagens são elos dinâmicos com os centros mais profundos da consciência e atuam como chaves para experiência ou revelações que formam o objetivo da Operação. Encarnar tais experiências é o objetivo da magia sexual. É necessário, portanto , formular a vontade com grande cuidado e com estrita economia de meios. Não deve haver nada na mente no momento do orgasmo exceto a imagem da “criança” que se pretende dar a luz.

Condenações contra a masturbação, o onanismo, o coito interrompido, a karezza e outros métodos aparentemente estéreis de utilização da energia sexual baseiam-se logicamente no reconhecimento (ainda que este reconhecimento possa ser conscientemente irreconhecido) da natureza sacramental do ato procriativo.

Conclusões errôneas obtidas pela apreensão incompleta dos fatores envolvidos levaram, no passado, à admoestações do tipo “fogo e enxofre”, dirigidas contra os “abusos” que , neste tempo, acreditava-se levarem a degeneração do sistema nervoso, à cegueira, à paralisia e a insanidade.

Na verdade, nada da energia é perdida, embora ela não consiga encontrar um campo de operação na matriz que a natureza promoveu a ela.

Ela produz, ao invés de uma prole física, fantasmas compostos de matéria tênue. Através da prática deliberada e persistente de tais “abusos”, entidades qlifóticas são engendradas; elas vampirizam a mente e se alimentam de fluidos nervosos.

Crowley menciona que: “Os antigos rabinos judeus sabiam disso e ensinaram que, antes que VA fosse dada a Adão, o demônio Lilite foi concebido pêlos respingos de seus sonhos de modo que as raças híbridas de sátiros, elos e outros parecidos começaram a povoar aqueles lugares secretos da terra que não são sensíveis aos órgãos do Homem Comum”.

Muitas dissertações longas e tediosas sobre a possibilidade de uma “feiticeira” dando à luz a prole, após a união com o diabo na forma de um incubo, deveriam ser entendidas no sentido de que filhos nascem de tais uniões, embora não sejam filhos físicos.

Qualquer descarga de energia, de qualquer natureza, tem um efeito em todos os planos. Se os resultados em um plano são impedidos – como aconteceria no caso do íncubo – eles aparecem, então em outro [plano].

De acordo com antigas autoridades em Feitiçaria, íncubos e súcubos eram personificações do próprio diabo. O diabo é sinônimo do espírito criativo do homem. Crowley vai mais longe ao declarar que “o sátiro é a verdadeira natureza de cada homem e cada mulher”. O íncubo ou súcubo é a exteriorização, ou extrusão, do sátiro em cada indivíduo. Ele representa a vontade subliminar; Ele representa a Vontade subliminar; na verdade, [ele representa] o Ser Anão ou Sagrado Anjo Guardião.

Ele é o princípio no homem que é imortal e inextricavelmente ele possui estreita ligação com a sexualidade que , por sua vez, é a chave para sua natureza e os meios de sua encarnação.

No antigo Egito, tumba e útero eram termos intercambiáveis. O útero levava ao nascimento no mundo material, a tumba, no mundo espiritual.

As idéias de ressurreição e re-ereção era m também intercambiáveis. O falo ereto, ou erguendo-se, simbolizava a ressurreição para a nova vida no mundo espiritual; ele significava também a habilidade de viver e de trazer a vida novamente; dizia-se que ele “morria” no ato de transmitir o princípio vital, a sua Palavra, a sua Verdade.

Numa lenda egípcia da criação, gravada no papiro de Nesi Amsu, o deus do sol Atum é descrito como tendo pressionado seu membro com sua mão e realizado seu desejo, produzindo assim seus dois filhos Shu e Tefnut.

Estas crianças representam os princípios místicos do fogo e da água, calor e umidade, necessários para materializar o espectro; a matriz [representa] o útero úmido – ou “súcubo” – através do qual a energia é transmitida aos planos sutis.

O Deus Kefra também está gravado no mesmo papiro como tendo tido uma união com sua mão e tendo abraçado sua sombra num “abraço de amor”. A sombra é o súcubo.

Na tradição rabínica, seu nome é Lílite; ela foi a primeira mulher de Adão e foi criada da substância de sua imaginação. Em um manuscrito da Aurora Dourada [Ordem Goldem Dawn] intitulado “A Mercará”, ela é descrita como “uma mulher bonita por fora mas por dentro, corrupta e putrefata”.

Eva e Lílite não são duas criaturas diferentes, mais dois aspectos de uma única entidade. O aspecto brilhante, solar, criativo, angélico foi chamado Eva (uma forma da divindade criadora IHVH – Iavé [YOD – HEH – VAV – HEH];o aspecto lunar, corrupto, demoníaco foi chamado Lílite.

Ela estrangulava almas com seu abraço ou com o enlace de um único fio de cabelo. Ela era chamada de mulher-serpente por causa de sua conexão com a corrente lunar da periodicidade, simbolizada por sua capacidade de assassinar “crianças” tão logo eram concebidas; mais tarde ela se tornou a deusa da Feitiçaria, a magia da noite (ou seja, da escuridão: magia negra), em oposição à magia do dia (ou seja, magia solar ou branca).

Estes aspectos gêmeos do Sagrado Anjo Guardião – o bom e o mau dáimon – parecem fascinantes e terríveis por vezes, do mesmo modo que a deusa káli aparece aos seus devotos como a gentil Durga ou a terrível Bhavani.

Consideradas misticamente, eles são duas entidades subjetivas, aspectos da consciência que podem ser vitalizados por métodos mágicos apropriados. Eles são companheiros vagos e esfumaçados que respondem às mais tênues evocações do sistema nervoso.

Num sentido espiritual, eles podem ser considerados como guias da alma pelas trilhas luminosas e obscuras de Amenti.

A evocação do companheiro obscuro para fins pessoais é citada por J. Marques-Rivière (“Ioga Tântrica”): “Eu fui capas de conhecer pessoalmente o apetite sexual anormal e absolutamente depravado destes falsos iogis.

O método usado é chamado de Praioga, através do qual é possivel visualizar e animar certas entidades femininas que são chamadas de Súcubos. “Arthur Avalon também se refere a um processo análogo de magia negra sexual em “O poder da serpente”:

“Aqueles que praticam a magia do tipo mencionado, trabalham apenas com o centro mais baixo, recorrem à Praioga, que conduz à Mayika Siddhi, por meio da qual é efetuado o relacionamento com espíritos feminos e similares.”

Crowley dá um método de gerar tais companheiros que envolve o uso do Sistema Enoquiano de Dee (John) e Kelley. Tais elementais, ou espíritos familiares, devem, diz ele, ser tratados com gentileza e firmeza. [nota digitador: em outro texto, diz que deve ser tratado como se trata um cão fiel ].

Os melhores tipos de “espírito” são os espíritos das Tábuas Elementais de Dee e Kelley divisaram para a conjuração de servidores mágicos. Estes servidores são “fiéis e perfeitos em sua natureza, afeiçoando-se a raça humana. E se não são tão poderosos quanto , são menos perigosos que os Espíritos Planetários.” Crowley os conjurou através das Chaves ou Chamados de Enoque (Ver o Equinox , Vol. I. nos 7 e 8). Depois dos chamados, ele realizava um ato de magia sexual como descrito no papiro Nesi Amsu, deixando o sêmen cair sobre as pirâmides de letras, formando os nomes dos espíritos que ele estava conjurando e sendo preservado dentro delas.

Em 1945, o então chefe de uma loja da O.T.O. , na Califórnia, realizou com sucesso uma operação similar, mas com resultados desastrosos para ele mesmo (ver o capítulo 9).

Grande parte da magia de Crowley era realizada no plano astral e normalmente envolvia alguma forma de intercurso sexual:

“a única operação “física” realmente fácil que o corpo de luz pode realizar é o Congressus Subtilis. As emanações do “corpo de desejo” do ser material que se está visitando são, se a visita for agradável, que espontaneamente se ganha substância no enlace. Há muitos casos registrados de crianças que nasceram como o resultado de tais uniões.”

Estas “crianças” eram elementais ou companheiros. Se “crianças”, eles atuam como servidores, como o familiar de uma feiticeira; se companheiros, atuam como elos através dos quais ele era capas de se comunicar com habitantes dos reinos astrais consoantes com a natureza do súcubo. Desta forma, Crowley ganhou acesso direto a regiões escondidas dos ocultistas, utilizando as velhas técnicas

cerimoniais de evocação. Isto também possibilitou, em muitos casos, que ele dispensasse um médium entre ele próprio e as entidades contatadas, pois pela união sexual com uma entidade não terrestre, ele era capaz de entrar no fluxo de contatos não-humanos sobre os quais Dion Fortune faz menção freqüentemente.

O “corpo de luz” é assim chamado porque era sabido desde antigamente que o homem ressucitava, não em seu corpo físico (como acreditam os cristãos), mas num veículo mais tênue e etéreo que se erguia da escuridão da morte, o abismo, assim como as estrelas que se erguem resplandecentes acima do horizonte.

O corpo astral ou fantasma era o tipo mais antigo de ressurreição porque – de acordo com a doutrina egípcia – quando a múmia se transformava no submundo de Amenti, quando então ela se espiritualizava ou “obtinha uma alma entre as estrelas do céu”, ou indivíduo se erguia de novo no horizonte como a constelação de Órion – a estrela de Hórus – o Sahu, ou corpo glorificado ressurrecto eternamente nos campos de Sekhet Aarhu (espaço da eternidade).

Órion representava o Hórus reerguido (o defunto glorificado) há pelo menos 6 mil anos, quando a Estrela (corpo astral) erguia-se da morte escura no Oeste, o submundo de Amenti (Ver O livro dos Mortos, Capítulo LXXXIX, etc.).

O corpo estelar ou astral é também chamado de Corpo de Desejo, porque ele é o veículo da sensibilidade no organismo humano. Este corpo foi atribuído ao mais antigo deus estelar, Set, que era também um deus do fogo. A Hórus, seu irmão gêmeo, foi atribuído o corpo espiritual representado pelo Sol. A ligação entre deuses estelares – ou do fogo – e o sol é a corrente lunar tipificada por Tot, Senhor da Magia e Escriba dos deuses. Tot é sagrado para o jovem deus Khonsu, de quem Crowley, como um mago, afirmava ser um avatar, identificando-se assim como um elo entre a Besta (Set, Senhor as estrelas) e o Anjo(Hórus, Senhor do Sol).

Como o sexo é a mola mestra do corpo astral, foi através de seu uso que Crowley cumpria grande parte de sua magia nos planos sutis.

“Nenhuma causa pode ser impedida de seu efeito, e se o efeito for impedido de se manifestar em um plano, ele o fará em um outro. E em sua manifestação secundária que o perigo espreita o praticante não iniciado, porque nesta fase ele gera uma imagem corrompida da Vontade. Para evitar isto, a Vontade deve ser tão firme como uma chama num local sem vento. O menor tremor e a imagem oscila. Eis porque a prática intensa da concentração mental é essencial. A mente e a vontade devem estar unidas e funcionar unicentradamente. Quando a imagem é distorcida, ela produz uma cria alienígena e parasítica que sobrevive da energia vital da pessoa que a trouxe à existência. Com cada novo ato sexual a criatura ganha poder; ela se torna um vampiro, obsediando o indivíduo e levando-o a ações de crueldade ou luxúria das quais normalmente ele seria incapaz. Éliphas Lévi descreve bem a situação:

“Quando alguém cria fantasmas para si próprio, ele coloca vampiros no mundo e deve nutrir estes filhos de pesadelos voluntários com o seu sangue, sua vida, sua inteligência e sua razão, sem jamais satisfazê-los.” (A Chave dos Mistérios, tradução de Crowley).

Se corretamente utilizada, entretanto, não há limite para o que se pode conseguir através do controle mágico da corrente sexual. Crowley escreveu: “Eu não sabia, até junho de 1912, da tremenda importância do conhecimento detido pela O.T.O. e, mesmo quando soube, não me dei conta dele.”

Quando a Primeira Guerra Mundial eclodiu, Crowley suspeitou que o fim da civilização era iminente. Ele baseou suas suspeitas no texto do terceiro capítulo de O Livro da Lei. É interessante ver o que ele escreveu a Frater Achad (Charles Stansfeld Jones, de Vancouver). Achad estava para se tomar a prova viva de que O Livro da Lei havia sido comunicado a Crowley por uma Inteligência preter-humana, demonstrando assim que a consciência pode se manifestar, e realmente se manifesta, independentemente do homem (isto é, da estrutura cerebral e nervosa do homem):

“Em vista do iminente colapso (isto é, da ordem atual do mundo), não seria essencial selecionar um número de homens adequadamente treinados e confiar-lhes os segredos dos quais dispomos? Meu conhecimento da técnica aumentou grandemente desde que escrevi meu Comentário ao Nono Grau.

A suprema importância deste assunto jaz nas considerações seguintes. As descobertas da Ciência no século passado ou no atual têm sido semelhantes a este respeito, [ou seja] que todos estão afastados da Virtude.

Elas podem ser igualmente utilizadas por homens vulgares, freqüentemente por homens meramente brutais, sob o controle de mestres vis e ignóbeis. O resultado é o que vemos.

Mas através da O.T.O. nós possuímos uma forma de energia mais forte e mais sutil do que qualquer outra já conhecida; e sua virtude é que ela não pode ser empregada com sucesso por homens ignorantes das leis espirituais e não treinados pelos métodos espirituais. O ser mais maligno da humanidade é capaz de se concentrar, o que é um fato essencial no sucesso.

Mas, apesar de devermos fazer tudo o que pudermos para guardar o segredo das mentes incapazes, não podemos negar que ele já seja amplamente conhecido, pelo menos de formas grosseiras e errôneas. Devemos confiar no fato natural de que a técnica da Virtude deve necessariamente prevalecer.

Ainda que aconteça o pior, eu acho que seria melhor que o mundo fosse regido por Lojas Negras e Brancas do que, como agora, seu governo não passasse de mera confusão. Por conta disto eu não vou me eximir da responsabilidade de usar este grande Segredo para determinar a direção na qual a esfarrapada árvore da civilização deva cair. É prioritário em tais questões que eu solicite a Sabedoria dos Irmãos Anciãos.

Dada a aprovação Deles, deveríamos encontrar pouca dificuldade em selecionar e treinar número suficiente de homens para estudar, desenvolver e aplicar esta energia.”

O Comentário sobre Líber Ágape (mencionado na carta acima) refere-se ao conhecimento secreto sobre o qual o Soberano Santuário da Gnose, IXº O.T.O. está constituído. O que Crowley não explicou no Comentário foi o papel representado pela shakti, ou a parceira feminina, selecionada para ajudar no ritual.

Vinte anos de pesquisa independente com a fórmula do IXº me convenceram de que Crowley não estava plenamente ciente da parte representada pelos kalas místicos, ou vibrações vaginais, emanados das shaktis utilizadas no rito.

A natureza dos kalas forma uma parte altamente técnica da doutrina tântrica. E evidente pelos seus diários, cartas e ensaios que Crowley estava ciente da importância da parceira durante os ritos sexuais. Ele diz, por exemplo:

“Eu estou convencido que uma importante consideração é aquela da parceira, e isto … está além do controle da consciência. Ao realizar trabalhos cerimoniais comuns em tempos passados, eu costumava achar que algumas pessoas pareciam ter a faculdade de conseguir que as coisas acontecessem no plano material, e isto instantaneamente.

Normalmente, elas não podiam fazer nada por si próprias; elas não eram nem mesmo clarividentes, mas comigo a dirigi-las, os fenômenos começavam a ocorrer de imediato.”

Discutindo a adequabilidade da parceira numa carta datada de 1938, ele diz: “Eu não acho que os tipos finos (de mulheres) sejam muito bons; as grosseiras são as melhores. Pessoas cujos instintos procriadores são naturalmente excessivos, mas que se volveram por uma ou outra circunstância para canais de voluptuosidade e extrema libido; por libido eu pretendo usar a palavra realmente em seu sentido mais amplo — uma intensa e instintiva luxúria por objetos variados.”

E em certas instruções referentes à Operação do IXº, ele escreve: “A escolha de uma assistente parece ser tão importante que talvez isto deva ser deixado ao capricho; isto é, à atração subconsciente.”

Uma pista quanto ao tipo qualificado de assistente para o papel de Mulher Escarlate é fornecida em O Livro da Lei, capítulo dois:

“Magníficas bestas de mulheres com longos membros, e fogo e luz em seus olhos, e massas de cabelo flamejante à sua volta…”

Estes epítetos não são meros dispositivos literários. Eles são cifras dissimulando características definidas pelas quais o iniciado é capaz de reconhecer a atitude mágica em certos tipos de mulheres. Os floreados elogios do charme feminino encontrados em muitos tantras similarmente dissimulam as precisas características requeridas para uma operação mágica bem-sucedida.

Em termos tântricos, a Mulher Escarlate é Suvasini; literalmente “a mulher que emana um cheiro adocicado” do Círculo Místico (chacra) que é formado para o propósito de obter oráculos e tantras. Tantras são coleções de instruções em magia, comunicadas por inteligências para-terrestres de modo muito semelhante àquele em que O Livro da Lei foi comunicado a Crowley.

Nos tempos antigos, as sumo-sacerdotisas de Dodona, Delfos e Elêusis cumpriam funções oraculares similares; elas se tomavam o sagrado Uterus, o Emissor”‘, da Palavra.

A falta de informações precisas no que se refere às funções da parceira feminina e a descoberta por não-iniciados, após a morte de Crowley, de referências em seus Diários Mágicos a determinadas mulheres, algumas das quais preenchiam, e outras não, os requisitos necessários ao ofício de Mulher Escarlate, levaram a uma má interpretação generalizada de suas atividades e de seus motivos.

O Chacra Místico, ou Círculo Mágico dos Tantras, é uma forma simbólica e extemalizada dos centros sutis do corpo humano. A ioga está repleta de descrições destes chacras, sete dos quais são de grande importância. Eles foram descritos detalhadamente em numerosos livros de ioga e anatomia oculta, e ocultistas como Dion Fortune chamaram a atenção para suas correspondências no sistema endócrino. Vendo o assunto por este ângulo, muitos fatos interessantes emergem, alguns dos quais são descritos no Capítulo 4.

Os alquimistas preocupavam-se com o organismo vivo, e suas peculiares potencialidades, não menos do que os tântricos, sua contraparte oriental. Além disso, foi provado por experiências científicas que os chacras emanam um poder sutil. Em 1939, Wilhelm Reich descobriu uma energia radiante em bíons derivados da areia. Mais tarde, eles foram encontrados no solo, na atmosfera, na radiação solar e no organismo vivo.

Em Aspectos do Ocultismo, Fortune menciona as. vibrações detectadas na areia. Ela atribui a estranha influência do Egito à “eletricidade gerada pelas areias sempre em movimento do grande deserto do Saara, que, assim, muda o índice normal de vibrações, cujo resultado é uma expansão da consciência”. Descobriu-se que o chacra Ajna, comumente chamado de terceiro olho, consiste de partículas de uma substância muito fina semelhante à areia, ou a cristais num aparelho de rádio receptor.

A afinidade entre as secreções das glândulas endócrinas e as vibrações irradiando dos chacras sutis explorada pelos iogues forma a base da magia sexual que utiliza estas vibrações de um modo ainda desconhecido para a ciência. Todos os assim chamados cultos fálicos possuíam originalmente o verdadeiro conhecimento destas questões, antes que ele fosse perdido ou pervertido pelo uso impróprio. O que resta da sabedoria antiga é o vestígio somente de ritos corrompidos e fálicos; são estes, e não as verdadeiras doutrinas, que são hoje o alvo dos peritos que se auto-denominam “sofisticados” e “experts iluminados”, cuja sabedoria mundana é, de fato, nada comparável àquela dos antigos.

A Tradição Mágica, a qual incluía o sexo como um meio de consecução espiritual, existia muito antes dos tempos dinásticos do antigo Egito, e existem antigas referências a ela nos escritos sagrados da Índia e da China.

No Egito, esta tradição era conhecida como o Culto Draconiano ou Tifoniano. Ela foi a primeira forma sistematizada dos antigos mistérios africanos.

As doutrinas que os Egípcios elaboraram num culto altamente especializado floresceram mais tarde nos tantras da Índia, Mongólia, China e Tibete. “O quão paradoxal possa parecer”, escreve Crowley, “os Tântricos são na realidade os mais avançados entre os Hindus. A essência dos cultos tântricos é que pela realização de certos ritos de Magia, não apenas se escapa do desastre, mas obtêm-se bênçãos positivas.

O tântrico não é obcecado pela vontade de morrer. É difícil, não há dúvida, conseguir algum divertimento na existência, mas ainda assim não é impossível.

Em outras palavras, ele nega implicitamente a proposição fundamental de que a existência é sofrimento e formula o postulado essencial … que meios existem pelos quais o sofrimento universal (aparente na verdade a toda observação comum) pode ser desmascarado, assim como quando nos ritos iniciatórios de Ísis, nos antigos dias de Khem (Egito), um Neófito aproximando sua boca, sob compulsão, das espichadas nádegas do Bode de Mendes, via-se acariciado pelos lábios castos de uma sacerdotisa virgem desta Deusa, em cuja base do relicário estava escrito que Nenhum Homem levantou o Seu véu.”

Crowley sabia que o ponto crucial do ritual tântrico jaz em sua conexão com o êxtase magicamente induzido do orgasmo sexual. Orgasmo, no sentido reichiano de um fulminante paroxismo envolvendo o organismo inteiro, está algumas vezes em contradição com o conceito tântrico de (a) orgasmo total, ou (b) uma total ausência de orgasmo; ambas as interpretações foram lidas em textos tântricos.

Em ambos os casos, o orgasmo é comumente visto como fenômeno psicofísico. Mas isto é incorreto. Reich enfatizou a distinção entre ejaculação e orgasmo, um sendo físico e o outro, estritamente falando, metafísico.

Ejaculação sem orgasmo é uma ocorrência comum e, como Reich apontou, o orgasmo total é um fenômeno muito menos frequente. Ele é indubitavelmente bem menos frequente do que ele supunha. A concepção tântrica do orgasmo em seu sentido diretamente sexual (pois ele tem outros [sentidos]) é de uma natureza mais compreensível; ele pode, de fato, ser descrito como parassexual. Ele envolve a shakti Kundalini, da qual o aspecto sexual é sua forma mais material. A produção real do sêmen é o produto final, se não o produto-dejeto, que sobrou de uma corrente de consciência imprópria e incompletamente absorvida.

A Corrente da Consciência é dupla: mágica e mística. A primeira opera nos chacras mais baixos, a última, nos mais altos. Aquilo que é ejaculado como sêmen é a energia não absorvida (prana ou ojas), e ele sempre contribui para a criação de formas materiais, alojadas num útero ou não. Caso contrário, o transbordamento (como na masturbação, sodomia, felação, etc.) é tomado pelo astral e por entidades qlifóticas e transformado em organismos já existentes nos planos sutis.

Paracelso refere-se aos homúnculos (criaturas geradas artificialmente) feitas de esperma independentemente do organismo feminino e às larvas astrais e monstros parasíticos construídos da substância de imaginações voluptuosas.

O orgasmo pode ocorrer em qualquer dos seis principais centros do corpo ou em todos simultaneamente, em cujo caso um sétimo é trazido à existência como o supremo evento-ato. Ele é representado como existindo, ou vindo a existir, na coroa da cabeça. Este é o Sahasrarachacra, o lótus de mil pétalas que se diz estar situado na região da sutura craniana. No momento da morte de um Adepto, ou no princípio de um transe profundo, a consciência deixa o corpo por este centro.

Ela assim o faz acompanhada de uma indescritível felicidade. A felicidade é a verdadeira natureza da Consciência, que se manifesta como Luz.

Ela é o orgasmo ultima do qual todas as manifestações menores são senão sombras, pois este orgasmo é o Grande Ir, o andarilho sendo a designação especial dos deuses mais elevados, tanto na tradição do Egito quanto na da Índia. A cruz anca — ou a tira de sandália — é o seu símbolo, a semente secreta, o andarilho de vida em vida, o andarilho que transcende a morte completamente.

A tira de sandália, o símbolo do andar e, portanto, do orgasmo, é o glifo de Vênus, a deusa do amor; ela é o instrumento, no sentido sexual, da transcendência ultimal da consciência individual.

O orgasmo nos vários centros é o florescer de poderes específicos ocultos na anatomia sutil do corpo do homem. Os poderes (siddhis) pertencentes a cada lótus são descritos em qualquer manual de yoga. Quando a Serpente de Poder descarrega-se como sêmen, os resultados são físicos, em oposição aos [resultados] metafísicos.

Em O Livro da Lei, que pode ser descrito como um tantra moderno, o movimento deste Poder para baixo e para fora é descrito como resultando em peçonha, isto é, veneno (Hl.) em oposição ao néctar (^):

“Eu sou a secreta Serpente enroscada prestes a pular: em meu enroscar está o prazer. Se Eu ergo minha cabeça, Eu e minha Nuit somos um. Se Eu abaixo minha cabeça, e germino veneno, então é a raptura da terra, e Eu e a terra somos um.”

Seja qual for a meta do homem concebida por Reich e outros, para os tântricos a meta é atingida por uma reversão do processo que leva à substanciação do Poder gerado durante o orgasmo.

No Budismo Tântrico, por exemplo, ao bodicita (luz da consciência30) não é permitido formular-se como sêmen; o processo é inteiramente místico, e quando mulheres participam do ritual, elas são utilizadas para estimular a Kundalini, para despertá-la do sono no centro mais baixo, antes dela começar sua ascensão.

O notório Círculo Aula dos Vamacarins (tântricos do Caminho da Mão Esquerda), em algumas de suas divisões, utiliza a fêmea para propósitos similares, mas ela permanece virgem.

Criou-se alguma confusão devido à natureza curiosamente ambivalente do simbolismo adotado pelos iniciados orientais. Existem, sem dúvida, algumas divisões tântricas que de fato expressam a Corrente-Consciência como sêmen e, então, reabsorvem-no no sistema por um método no qual o pênis é usado como um sifão. Isto é perigoso, a menos que o praticante seja um adepto.

Crowley evitava, de certo modo, os perigos ao absorver a substância oralmente durante suas operações mágicas.

Para ser efetivamente utilizada desse modo, a Corrente-Consciência deve ser carregada pela Vontade do operador no momento de sua transformação em sêmen. É a fusão total dos princípios ativo e passivo numa explosão deslumbrante de êxtase que constitui a transubstanciação dos elementos grosseiros do Rito Sagrado nos sacramentos glorificados do verdadeiro casamento místico.

A palavra orgasmo implica um rito, ou operação, sagrado além também de seu significado indicatório do paroxismo e expansão emocionais. Os gnósticos chamavam este rito de Missa do Espírito Santo e as essências masculino-feminina — expressas em suas formas grosseiras — eram simbolizadas pelo pão e pelo vinho. A Missa Gnóstica é portanto um eidolon do êxtase, ou orgasmo, metafísico que está velado sob o símbolo do Espírito Santo, do qual a pomba (o pássaro de Vênus) é o veículo especial. A pomba é também um símbolo do Jardim do Éden (o Campo do intercurso de energias ódicas), tipificado e tomado real pela mulher. Jardim é um dos significados da conhecida palavra para a vulva (conforme Kent, “o jardim do sul”). Mas uma mulher não está necessariamente presente no ritual tântrico, não mais do que ela precisa estar presente quando ocorre o orgasmo sexual.

O sonho molhado é um exemplo disto. Há um despertar no momento crítico, exatamente quando a Corrente-Consciência começa a fluir para fora do corpo sob a forma de secreção. A Consciência fluindo para fora é a mente, ou mais precisamente, a mente em movimento, ou seja, o pensamento. Quando isto ocorre, o sonho (o estado subjetivo de criação de imagens) passa para o estado desperto (o estado objetivo de criação de imagens). E nessa junção que o adormecido desperta, e, por um rápido momento, fica convencido de que estava coabitando com uma mulher real. Um súcubo foi gerado, uma objetivação — pela luz da consciência dentro da mente — do desejo da mente, porque a mente sempre assume a forma de seu objetivo. A experiência é tão vívida quanto como se fosse real. Para o sonhador, a atividade do sonho é tão real quanto é a vida diária para a pessoa inteiramente acordada.

Quando a corrente é revertida, a Consciência assume a sua própria forma, que é em realidade Não-Forma, pois ela é vazia, isto é, além da forma. O vazio é o Atma do Hinduísmo que é igualado ao verdadeiro princípio imortal, o Verdadeiro Ser. No estado de vazio, a felicidade pura é experienciada, como no sono profundo e sem sonhos.

Não há nenhum conhecedor ali, nenhum objeto a ser conhecido, nenhum homem ou mulher, nenhum sujeito ou objeto. Conseqüentemente, a Consciência assume sua própria natureza que é auto-resplandescente. Quando esse estado é alcançado cognitivamente (não se pode dizer “conscientemente”, pois não há jamais um tempo em que a consciência não exista), então o sono profundo se toma não um esquecimento, mas imediata consciência de si, que é o Conhecimento Puro cuja natureza é a Felicidade.

Por este meio, o tântrico procura liberar-se da escravidão da matéria, da dualidade do universo fenomênico e numênico. Ele é um orgasmo da Consciência, um florescimento da Consciência além de toda dualidade.

Edward Carpenter (O Cimo de Adão para Elephanta, 1892) notou, a propósito de certas doutrinas hindus, que elas contêm “um vislumbre da profunda verdade subjacente de que o universo inteiro conspira no ato sexual e que o orgasmo em si é um flash da consciência universal…”

Isto é verdade, mas não é toda a verdade. A Corrente-Consciência é vista por clarividentes como um filete de brilho no interior do canal central (espinha) do corpo humano. Ela pode ser vista como uma trêmula teia de ramos cintilantes interpenetrando o corpo astral, o Corpo de Luz. A identificação da Consciência com a Luz é antiga e universal. A frase bíblica declara: “A luz do corpo é o olho; se, portanto, tiveres um único olho, teu corpo inteiro estará cheio de luz.”

O Olho é o símbolo do Vidente; ele é a consciência que ilumina objetos e toma a visão possível. Ele é também um símbolo da yoni, a fonte das imagens. Como tal, ele é idêntico à própria Consciência, sem a qual imagens ou formas não podem existir. A passagem bíblica refere-se à prática de reter a luz (Consciência) em seu estado imaculado ou pré-conceptual, impedindo seu fluxo ao exterior e a fabricação de imagens no mundo material.

No momento do orgasmo uma luz brilhante parece explodir interiormente. E difícil dizer precisamente aonde isto ocorre; diz-se que [a explosão] pode ser localizada, pelo observador alerta, em um ou outro dos centros sutis ao longo do canal espinhal. Dion Fortune chamou a atenção para o fato de que estes centros aproximam-se de regiões específicas do sistema endócrino e estão conectadas à produção de secreções endócrinas. Não se deve supor que os chacras respondam à investigação física, assim como a mente não pode ser descoberta por cirurgia cerebral. Os chacras existem como realidades em dimensões extra-físicas, e eles são tão reais em seu próprio plano quanto os sonhos o são no seu.

A polaridade sexual no seu sentido mais profundo e tântrico é uma forma natural de união (ioga) usada por Adeptos, Ocidentais e Orientais, para a consecução do Objetivo último. Paracelso, Lévi, Blavatsky, Hartmann, Fortune e outros pontilharam seus escritos com pistas, mas coube a Crowley falar plenamente, desenvolver o relato mais completo e mais sistemático deste caminho ambíguo.

A ignorância geral, os mal-entendidos e as interpretações malévolas de seus escritos fizeram o melhor que podiam para obscurecer seu propósito, mas agora, mais de vinte anos depois de sua morte, a situação afinal mostra sinais de mudança.

Nos tempos mais antigos, o fogo do processo criador era identificado com a Besta (conforme Bast, a deusa egípcia da luxúria e do calor sexual), simbolizada pelo hipopótamo, o crocodilo, a leoa, o gato, o porco ou a vaca. Quando este simbolismo foi interpretado antropo-morficamente, como mais tarde o foi, o próprio órgão gerador era escolhido para representar o processo criador inteiro. Com o decorrer do tempo, a besta transformou-se na forma humana31, mas a kteis, o órgão simbólico da mudança, ou transformação, permaneceu o mesmo.

Nos hieróglifos ela representava O Grande Poder Mágico32 que concentrava (simbólica e verdadeiramente) o poder da besta de recriar e transformar a si própria, de projetar sua imagem no futuro como se por magia e de continuar fazendo assim, para sempre. Uma santidade especial era então atribuída à genitália feminina, o portal da vida perpétua.

Num período bem mais tardio, os egípcios ocultaram a identidade humana de seus deuses sob máscaras de animais que representavam os tipos de energia que se desejava invocar e controlar. A acuidade visual do falcão, por exemplo, e sua habilidade de subir aos céus e de aproximar-se do sol fez com que ele se tomasse um glifo solar de deuses tais como Hórus e Rá.

Os sacerdotes assumiam a máscara ou a forma-deus de um falcão em operações envolvendo clarividência, descoberta de tesouros ocultos e assim por diante. A Cobra, com sua velocidade, sua sutileza e habilidade para trocar sua pele já usada, tomou-se o modelo de rejuvenescimento e mudança, e, portanto, de magia.

Assim também ocorreu com a Lua em uma fase de seu simbolismo. A Cobra era, originariamente, um glifo da fêmea devido a seus poderes de renovação periódica; ela unifica o dualismo do poder fálico, primeiramente em seu aspecto feminino e mutante (como a energia lunar) e, em segundo lugar, em seu aspecto criativo como energia solar tipificada pela súbita ereção e a fulminantemente e rápida ejaculação do veneno. O conceito finalmente mesclou-se com a Serpente de Poder, a Kundalini dos Tantras.

A antiga fórmula conhecida como Assunção de Forma-Deus foi revivida na Aurora Dourada e foi continuada na O.T.O, sob símbolos fálicos.

Esta fórmula evoca as shaktis (poderes) latentes nos elementos, nas bestas ou nos “deuses” que representavam aspectos da mente subconsciente do homem incorporados em formas simbólicas.

A transição do mortal para imortal é conseguida por um ato de vontade criativa, e a arma mágica (Baqueta ou Falo) é a erétil chama impetuosa comum na besta e no homem. O deus Mentu33 ou Min era a forma itifálica de Hórus; de Min é derivada a palavra Man (Homem).

Mentu tomou-se Mendes, o nome do antigo nomo egípcio consagrado à Cabra ou Bode, o Baphomet dos Templários retratado com o falo exaltado. O poder primai era também simbolizado pela Serpente Ureus que coroava os deuses egípcios ou pelos chifres que sobressaíam da fronte do Grande Deus Pã, o Todo-Criador dos gregos. É a Kundalini erguendo-se, idêntica à cadeia de símbolos de Set-Pã-Baphomet-Mendes-Fênix.

Nos primeiros estágios da carreira mágica de Crowley, o uso involuntário de magia sexual, mais as repetidas assunções de formas-deuses do antigo Egito — especialmente aquela de Hórus-Falcão —, resultaram no rapport com Aiwaz em 1904. Onze anos mais tarde (1915), ele reconheceu a si próprio como sendo A Besta 666, um Magus da A.’. A.’. e Senhor do Éon de Hórus, cuja Palavra é Abrahadabra e que oculta a fórmula de Shaitan e da magia sexual-34

Qualquer que seja a natureza específica desta “besta” (falcão, leão-serpente, dragão, fênix, etc.), isto implica na identificação com uma entidade não humana. Crowley identifica a si próprio com a Besta 666 porque este número é uma máscara de Hadit ou Set (Shaitan), representado celestialmente pela Estrela-Cão, e na terra, pelo falo.

O número do Sol é 6 (simbolizado pelo Selo de Salomão); o número da Estrela de Set é 6, como no Hexagrama Unicursal que é o Hexagrama de Invocação da Besta; o número do Filho (“criança”) é também 6 (Vau ^) — portanto, 666. Similarmente, a Mulher Escarlate, Babalon — o lar do Falo — representada astronomicamente por Nuit (Draco) e Suas “estrelas”, é, sobre a terra, a Vésica ou Kteis, e seu número é 7, que é o número de Vênus, seu representante planetário.

Originalmente, entretanto, o número 7 é derivado de sua identidade com as sete estrelas da Grande Ursa, ou Dragão do Espaço, cujo nome era Sephek ou Sevekh (Sete). “Hesitar entre o seis e o sete” é uma expressão baseada nesta vasta e antiga tradição oculta, derivada de um tempo em que a confusão reinava devido à mudança dos meios de cálculo Estelar (7) para o Solar (6). O assunto é muito complexo para ser tratado aqui.

O leitor deve consultar os capítulos de Gerald Massey sobre o “Tempo” em A Gênese Natural, Volume II, Seção XII. Os primeiros cálculos de tempo centravam-se na revolução da Serpente (Draco ou Nuit) em torno da Estrela-Cão (Hadit).

Sept ou Set, a Estrela de Sótis, é na realidade o nome do Número Sete, o número de Sevekh ou Vênus que, numa época mais tardia era a representante planetária dos conceitos estelares originais. Portanto, a Estrela de sete raios de Babalon ë um glifo do Espírito de Sótis; ela é a Estrela de Ísis-Sótis — a Mãe e a “Criança”. A Besta ou Dragão do Apocalipse tinha sete cabeças (as sete principais estrelas da Ursa Maior), e o manifestador destas Luzes ou Espíritos não era nem o sol nem a lua, mas “a Luz que ilumina a Cidade”.

Mas há uma outra interpretação do 6 e do 7, mais mágica ainda, que está oculta na união deles (13). Este número, além de sua implicação lunar é também 31 ao contrário e indica que a chave para a fórmula da Magia especialmente característica da Besta e da Mulher deve ser buscada no XIº O.T.O.

As “Estrelas”, magicamente falando, representam a consciência astral concentrada nas essências sutis (kalas, unidades de tempo) que foram descritas nos tantras secretos da Índia como vibrações vaginais. Em O Livro da Lei, Aiwaz revela sua identidade e concentra a fórmula de Shaitan nestas palavras misteriosas:

“Vê! Isto é revelado por Aiwass o ministro de Hoor-Paar-Kraat. O Khabs está no Khu, não o Khu no Khabs. Adore então o Khabs, e contemple minha (ou seja, de Nuit) luz derramada sobre vós!”

Khabs é uma palavra egípcia que significa “Estrela”, e o khu é a essência ou poder mágico feminino. A Estrela (isto é, Sótis, a Estrela de Shaitan) reside no poder mágico da essência geradora da fêmea, pois a Estrela-Cão é Sótis, que também é chamada a Alma de ísis. Pela adoração (isto é, utilizando deliberadamente ou ritualmente) desta “Estrela”, a Luz de Shaitan também é invocada. Estes versos compreendem a fórmula inteira da magia sexual e o seu modo de utilização.

Também, de acordo com o antigo saber mágico, a fórmula da encarnação de um deus era aquela da besta unida à mulher. Nos comentários sobre A Visão e a Voz, Crowley observa que “todas as mitologias contém o mistério da mulher e da besta como o coração do culto. Notadamente, certas tribos do Terai até os dias de hoje enviam suas mulheres anualmente para a selva, e todos os meio-macacos que daí resultam são adorados em seus templos.”

O ato sexual (nestes casos) pode ser elevado do nível de um ato animal pela influência humanizadora da Mãe, a qual, transmutando o fogo animal, produz uma criança que transcende ambas as qualidades bestiais e humanas de seus pais.

No Bhag-i-Muattar (1910) Crowley diz que “a Esfinge é a deificação do bestial e, portanto, um Hieróglifo apto da Grande Obra”.

A Besta, como a corporificação do Logos (que é Thelema, Vontade), encarna simbólica e verdadeiramente a Palavra deste cada vez que um ato sacramental de união sexual ocorre; ou seja, cada vez que o amor é feito sob vontade. Este é o sacramento que os Cristãos abominam como a suprema blasfêmia contra o Espírito Santo porque eles não podem admitir a operação da fórmula da besta unida à mulher como a condição necessária para a produção da divindade!

Esta fórmula remonta à antigüidade e, interpretada em seu próprio plano, é a sublime alegoria alquímica.

A tradição da tribo do Terai (vide acima) corresponde às lendas de Leda e o Cisne, Pasife e o Touro, Europa e a Serpente, Maria e a Pomba, e numerosas lendas cognatas. Em A Operação de Paris (1914), Crowley declara: “Esta é a grande idéia dos magistas em todos os tempos: obter um Messias por alguma adaptação do processo sexual.

Na Assíria, eles tentaram o incesto; também no Egito, os egípcios tentaram com irmãos e irmãs; os assírios, com mães e filhos.

Os fenícios tentaram com seus pais e filhas; os gregos e sírios, com as maiores bestialidades. Esta Idéia veio da Índia. Os judeus procuravam fazer isso por métodos de invocação, também por pae-dicatio feminarum.

Os maometanos tentaram com o homossexualismo; os filósofos medievais tentaram produzir homúnculos fazendo experimentos químicos com sêmen.

Mas a Idéia raiz é de que qualquer forma de procriação além da normal é a mais apta para produzir resultados de caráter mágico. Ou o pai da criança deveria ser um símbolo do sol ou a mãe deveria ser um símbolo da lua.”

No mesmo texto, Crowley menciona a adoração do touro Ápis num certo labirinto em Creta. Esta adoração é derivada do Egito. O touro era branco.

Na Festa do Equinócio da Primavera, doze virgens eram sacrificadas a ele, sendo doze o número simbólico das casas através das quais o sol passa durante o seu ciclo anual. Em cada caso, o touro usava as virgens conforme a lenda de Pasife. A cerimônia era realizada com a intenção de obter um Minotauro, uma encarnação do sol, um messias.

Uma variação deste sacrifício envolvia a imolação do touro. A virgem era colocada na carcaça quente e era violada pelo Sumo-sacerdote. Ela finalmente se sufocava no sangue do touro durante o orgasmo.

A fórmula da Besta unida à mulher está relacionada à undécima Chave do Tarô. Esta Chave intitula-se A Luxúria; ela mostra a Mulher Escarlate, Babalon, montando com as pernas abertas a besta de sete cabeças conforme descrito no Apocalipse. A letra sagrada Teth35, que significa uma serpente, é atribuída a esta Chave; seu número é Nove.

A Luxúria é especialmente importante no Culto de Thelema, e está relacionada à Vigésima Chave que exibe a Estela da Revelação36. A Estela é um talismã de grande poder no sistema de Crowley. Ela mostra a deusa Nuit arqueada sobre o Fogo fálico-solar de S? (Shin), o Espírito, a letra de Abrasax ou Abrahadabra, a Palavra do Éon do qual Aiwass é a atual expressão. Shin é também a letra de Shaitan ou Set, o Fogo do Desejo (Hadit) no Coração da Matéria (Nuit). A combinação dessas duas Chaves (Vinte e Onze) une, portanto, Shin e Teth. Na cabala Greco-Cóptica elas são fundidas em uma única letra que iguala-se a Kether, a Primeira Emanação da Luz Mágica.

Babalon e a Besta unidos, como na undécima Chave, realizam ao reverso a fórmula da vigésima Chave, que foi intitulada de O Juízo Final no baralho tradicional do Tarô. Agora, entretanto, tendo sido revisada de acordo com os ensinamentos do Novo Éon, a chave foi renomeada como O Éon.

Um Éon, conforme explicado anteriormente, designa não apenas um ciclo de tempo mas é também o nome que os gnósticos deram à sua Divindade Suprema, Abrasax, da qual Abrahadabra (a Palavra do atual Éon) é uma forma especial.

Na Chave intitulada Luxúria (Chave XI), Babalon é mostrada elevando o Graal; na Chave intitulada O Éon (Chave XX), o Graal — sob a forma do corpo arqueado de Nuit — está invertido, regando assim a terra com sua luz

35. Teth, Set ou Tot são termos sinônimos e todos associados ao Lúcifer Hermético, ou Luz de Hermes.

36. Outra prova cabalística do Sistema emerge aqui. O número da Estela é dado em u Livro da Lei como 718. 718 é duas vezes 359, o número de Shaitan. Isto identifica o Duplo Poder de Aiwaz (Ra-Hoor-Khuit e Hoor-Paar-Kraat) com o Éon — que é o nome da Chave que exibe a Estela estelar. A fusão dessas duas imagens formula o Divino Hexagrama:

o fogo fálico (A) ou triângulo ascendente intrelaçando-se com a Água do Espaço representada pela yoni de Nuit, Noite, Nox ou Nada apontando para baixo (V).

Mas a estrela de seis raios assim formada é sêxtupla apenas aparentemente, pois a semente secreta (Hadit) está oculta em seu centro, tornando-a na verdade o selo de sete raios de Babalon — a deusa das Estrelas, o Dragão de Luz no Coração de Nuit. Esta semente secreta, chamada hindu nos Tantras, é o Ponto potencialmente criador oculto dentro do Chacra Místico.

Os rituais da Ordem Rosa-Cruz (a Segunda Ordem da Aurora Dourada) estão amplamente impregnados com traços do Culto Sabeano ou Estelar Draconiano. Isto é particularmente evidente no simbolismo do Piso e do Teto da Cripta dos Adeptos.

Crowley usou a estrela sétupla como base para o Selo que ele formulou para a Grande Fraternidade Branca. O maior emblema da Estrela de Prata é, assim, o selo sétuplo sobre a Yoni da Deusa das Estrelas. Nas yonis, ou triângulos, aparecem as sete letras do Nome B.A.B.A.L.O.N.

No centro, uma Vésica é mostrada bloqueada ou barrada, indicando a presença da semente secreta; o ponto tomou-se a linha, o diâmetro tomou-se a circunferência. Esta semente é o “eremita”, a oculta, mascarada, anônima essência masculina no processo de gerar sua imagem como o filho-sol na deusa Mãe. Este é portanto o Selo de Set que abre o útero de sua mãe, assim como a estrela Sótis abre o Círculo do Ano. Sua luz infinita interrompe a Noite dela e faz com que ela apareça como a Escuridão infinita.

O simbolismo origina-se da fase mitológica da evolução humana, uma fase que data de muito antes dos sistemas patriarcais das sociedades mais tardias, tanto sociológica quanto religiosamente consideradas.

Ele se origina daquele período do tempo quando o papel do homem na procriação era ainda insuspeitado. O simbolismo, portanto, reflete um estágio na consciência humana quando os mecanismos da regeneração eram conduzidos por sacerdotes sob a máscara da besta, ensaiando assim o drama primitivo da fecundação, quando a Grande Deusa tinha a imagem de uma forma animal, acima de tudo. Nuit, arqueada sobre a terra, traduzia este simbolismo numa imagem antropomórfica.

A assunção ritualística de formas-deuses, conforme ensinada e praticada na Aurora Dourada tem, entretanto, um significado mais profundo do que o encenação de fases sociológicas primitivas do comportamento humano, e a assunção de Crowley da máscara da Besta não era um mero gesto de identificação com os processos primitivos.

Ele assumiu o papel com o intento mágico de afirmar sua identidade não apenas com os atavismos pré-civilizados, mas com aqueles poderes transcendentais que, quando adequadamente controlados e dirigidos, ele era capaz de encarnar à vontade. Isto forma as bases de sua magia.

John W. Parsons, chefe da Loja californiana da O.T.O., (de 1944 até sua morte prematura em 1952), resume esta magia:

“Para ir fundo, você precisa rejeitar cada fenômeno, cada iluminação, cada êxtase, indo sempre mais fundo, até que você alcance os últimos avatares dos símbolos que são também os arquétipos raciais.

Neste sacrifício aos deuses abissais está a apoteose que os transmuta na beleza e no poder que é a sua eternidade, e a redenção da humanidade.

Neurose e iniciação são a mesma coisa, exceto que a neurose pára logo após a apoteose e as forças tremendas que moldam a vida são enquistadas — colocadas em curto-circuito e tomadas venenosas. A Psicanálise transforma os símbolos do falso ego e os exterioriza em falsos símbolos sociais; ela é uma confusão entre conformidade e cura em termos de comportamento de grupo.

Mas a iniciação deve prosseguir até que a barreira seja ultrapassada, até que os bastiões nebulosos dos Trawenfells infantis se mudem em rochas e penhascos da eternidade; o jardim de Klingsor transforme-se na Cidade de Deus.”

Não importa, no fim, se a nova dimensão, o fator de redenção, o “Salvador” seja uma besta ou um deus, contanto que a fórmula da Matéria seja transcendida ou, mais precisamente, contanto que o Espírito (Shin) e a Matéria (Teth) sejam compreendidas como Um.

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-sexual/bases-metafisicas-da-magia-sexual/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-sexual/bases-metafisicas-da-magia-sexual/

Amodali

Amodali é um artista multidisciplinar, música e escritora do norte da Inglaterra. Essas atividades e disciplinas têm sido aplicadas à investigação da metafísica, fenomenologia e à prática da magia sexual desde os anos 1980. Seu trabalho se preocupa em explorar a fenomenologia dos estados alterados de consciência vivenciados pelas mulheres, a fim de resgatar aspectos psíquicos e físicos do “corpo mágico” e sua dinâmica oculta que foram rejeitados ou menos explorados na tradição mágica ocidental. Ela sugere que as narrativas simbólicas que definem a feminilidade dentro do esoterismo devem ser desafiadas e o status ontológico das mulheres reorientado de acordo com práticas “biognósticas” alquímicas incorporadas.

Amodali, Isis -Inside the Third Garment (Ísis – No Interior da Terceira Vestimenta). Colagem de mídia mista.

Sua pesquisa conduzida pela prática é focada principalmente na escavação do feminino erótico e divino na forma da deusa thelêmica Babalon – usando métodos vocais estendidos, performance ritual, estados de transe sexual e uma variedade auto-desenvolvida de tecnologias mágicas. A desestabilização dos modelos tradicionais de participação de gênero em práticas esotéricas também tem o efeito de trazer a teoria queer para esse discurso que se baseia nos conceitos de ‘imanência radical’ de Luce Irigaray e noções progressivas do feminino divino, bem como no discurso New Materialist (neomaterialist) sobre a interação pós-humana com a biosfera e cosmos — teorias que remodelam como percebemos nossas relações com a matéria, desde as partículas atômicas até o universo no macrocosmo. Sua pesquisa compartilha a especulação do filósofo Timothy Morton sobre as “reservas de zonas impensadas da materialidade” do misticismo e ela sugere que conceituações progressivas e esotéricas da sexualidade podem fornecer mecanismos físicos para que tais zonas impensadas se manifestem e quebrem as barreiras entre a vida humana e não humana.

Sua práxis tem sido amplamente apresentada desde a década de 1990 como parte de uma série de performances rituais ao vivo com o projeto ‘Mother Destruction (A Destruição da Mãe)’ e, mais recentemente, em apresentações solo na Europa e nos EUA.

Amodali -Mother Destruction (A Destruição da Mãe) – Sessão de fotos de Hagazussa. 1999. Foto por Robert Cook. 

A produção musical inicial na cena musical pós-punk, eletrônica experimental e underground inclui um álbum com seus vocais e teclados em discos de fábrica com o ‘Royal Family and the Poor’ (FACT140). Após esta colaboração, Amodali ficou fascinada com os aspectos mágicos da voz e o papel esotérico da cantora e desenvolveu um conjunto único de técnicas vocais estendidas como parte de seu trabalho com a corrente 156. Ela é mais frequentemente associada a ‘Mother Destruction‘, um projeto de música / performance ritual de dez anos criado com Patrick Leagas do 6 Comm. Mother Destruction gravou um grande catálogo de obras musicais e excursionou extensivamente por toda a Europa entre 1990-2000.

Amodali ao vivo no WGT/Leipzig Kuppelhalle. 2008. Com Psychic TV, Voxus Imp e Barditos. 

Após o término do projeto Mother Destruction, Amodali continuou desenvolvendo uma prática que integra voz, movimento e estados de transe em espaços de performance como meio de criar experiências imersivas da corrente 156. Ela se apresentou na Europa e nos EUA como artista solo. Desde 2000, Amodali também se estabeleceu como artista e escritor. Formada pela Liverpool School of Art, suas colagens complexas e eroticamente carregadas da anatomia sutil do corpo mágico feminino foram exibidas em Londres, Seattle e Dublin nos últimos anos.

‘Moon Moth Woman (A Mulher-Mariposa Lunar)‘ – Imagem usada como Capa para a Dreamflesh Magazine.

Amodali concluiu recentemente um mestrado em Belas Artes para explorar ainda mais os estados alterados de consciência e o feminino divino encarnado dentro da pesquisa artística conduzida pela prática. Ampliando seu repertório para escultura, instalação e realização de curtas-metragens.

Amodali 2020-21, Angels, Angles, Anarchy-installation and Geogamicas:Galvah-short film.  (Anjos, Ângulos, Instalação Anárquica e Geogâmicas: O curto-metragem Galvah). Documentação da exposição no laboratório da LJMU Exhibition  Research.

Os escritos de Amodali foram publicados em várias publicações de livros, como Schillerndes Dunkel: Geschichte, Entwicklung und Themen der Gothic-Szene (A Escuridão Iridescente: História, Desenvolvimento e Temas da Cena Gótica), ‘Spirit Builders’: A free Illuminist Approach to the Antient and primitive Rite of Memphis Misraim. (Os Construtores de Espíritos: Uma Abordagem Iluminista Livre do Rito Antigo e Primitivo de Memphis Misraim), e um ensaio foi apresentado no Three Hand Press Anthology, ‘A Rose veiled in Black’– Arcana and Art of Our Lady Babalon (‘Uma Rosa Velada de Preto’ – A Arcana e a Arte de Nossa Senhora Babalon).

Muitos projetos paralelos adicionais incluem material de trilha sonora escrito e gravado para ‘Claire Obscure’, um filme de Madmoiselle L/Limonadeart que foi exibido em festivais internacionais de curtas-metragens na França, Canadá, Cingapura e EUA

Amodali dá palestras sobre assuntos relacionados à magia de Babalon, e deu palestras sobre os aspectos mágicos e fenomenológicos da corrente 156 na série de palestras ‘Ecology, Cosmos and Consciousness (Ecologia, Cosmo e Consciência)’ na October Gallery, Londres. 2013 e na Esoteric Book Conference 2014, nas Magical Women Conferences 2019/21, na ASE Conference 2018 e a série de palestras Studium Generale KABK. Uma extensa síntese de sua prática mágica, THE MARKS OF TETH (Os Marcas de Teth), deve ser publicada pela THREE HANDS PRESS.

***

Fonte: Biography, by Amodali.

***

Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/biografias/amodali-uma-autobiografia/

As raízes judaicas da Magia Sexual

Excerto de “Modern Sex Magick” de Donald Michael Kraig

Para aqueles que não estão familiarizados, a história da magia sexual começa com os Cavaleiros Templários. Fundado em 1118 EC, o propósito declarado dos Templários era proteger os peregrinos que iam para o Oriente Médio durante a Segunda Cruzada. A história dos Templários é bastante fascinante, mas para nossos propósitos basta dizer que eles foram suprimidos em 1312 por autoridades religiosas e temporais que tinham inveja de seu poder e riqueza. Vários dos seus membros foram presos ou mortos. Seu líder, Jacques DeMolay, foi queimado vivo. Os Templários, como outros acusados ​​de heresia, feitiçaria e prática de magia, foram acusados ​​de uma litania de crimes. Essas acusações provavelmente foram apenas um ardil perpetuado pela igreja e pelo estado para obter a imensa riqueza e amplas propriedades que os Templários possuíam. A história aceita é que os templários aprenderam magia sexual com os sufis do Oriente Médio, que a aprenderam com os tântricos da Índia. Os alquimistas medievais receberam esta informação dos Templários e a codificaram em alguns ensinamentos em suas obras. Eventualmente, Aleister Crowley, que aprendeu sobre magia sexual em suas viagens à Índia e à África, começou a experimentar tanto as técnicas tradicionais quanto as suas próprias técnicas recém-criadas.

Enquanto isso, um homem chamado Pascal Beverly Randolph havia descoberto os segredos da magia sexual ou inventado algumas novas técnicas também. Nascido em 1815, era filho de um médico e de uma dançarina de salão. Tornou-se grumete e aprendeu o ofício de marinheiro, tornando-se em seguida mestre de embarcação. Ser marinheiro permitiu-lhe viajar muito. Aos vinte e cinco anos, foi iniciado na Irmandade Hermética de Luxor. Em 1868 (depois de várias viagens à França), fundou a Irmandade de Eulis, que acabou tendo muitos seguidores. Ele publicou um livro (Magia Sexual) que postulava um tipo de bissexualidade espiritual junto com a ideia de que o orgasmo era mágico e sagrado. Randolph influenciou as pessoas que recriaram os Cavaleiros Templários na forma da Ordo Templi Orientis (OTO). Crowley se juntou a esta Ordem e, eventualmente, após uma batalha divisória, tornou-se seu chefe. Hoje, assim como a maioria dos ensinamentos sobre magia cerimonial foi filtrada pelas lentes dos membros da Golden Dawn, também a maioria dos ensinamentos sobre magia sexual foi filtrada através da lente de Aleister Crowley e da OTO.

A história acima é precisa, mas representa apenas uma parte da corrente. É uma versão um tanto quanto limitada da história da magia sexual ocidental – uma visão de túnel que ignora a realidade mais ampla e falha em duas áreas:  Primeiro, não identifica onde e como a magia sexual se desenvolveu originalmente. Em segundo lugar, implica que a magia sexual permaneceu relativamente inalterada ao longo do tempo (especialmente no último século) e simplesmente transportada para o presente. De fato, há ampla evidência de que a magia sexual tem uma história muito mais ampla do que é comumente reconhecida. Para entender essa história mais profunda, no entanto, devemos primeiro examinar a natureza da Cabala.

Nos últimos anos, tive a sorte de dar palestras em todos os EUA, da Flórida a São Francisco e de San Diego a Nova York. Uma das coisas que faço agora perto do início de cada palestra, não importa o assunto, é escrever as seguintes letras no quadro-negro: T F Y Q A

As letras representam as palavras em inglês para “Pense por si mesmo. Questione a autoridade”. Continuo explicando que simplesmente porque eu ou qualquer outra “autoridade” ou autor escreve ou diz algo não o torna verdadeiro. Eu sempre peço aos meus alunos que ouçam o que eu tenho a dizer, mas depois que verifiquem. Encorajo as pessoas a confiar em si mesmas em vez de acreditar em um líder ou professor, mesmo quando esse professor seja eu.

Muitos de vocês, sem dúvida, estão familiarizados com a Cabala. São os fundamentos místicos do judaísmo, do cristianismo e até, até certo ponto, do islamismo. Aqueles de vocês familiarizados com a Cabala usada em grupos ocultistas conhecem suas teorias sobre a Árvore da Vida com suas correspondências, bem como os sistemas numerológicos como a gematria. Na minha biblioteca, tenho bem mais de 1.000 livros especificamente relacionados à Cabala ou associados a ela. A maioria deles são semelhantes em conteúdo, simplesmente expressando as mesmas coisas de maneiras diferentes. Todos eles alegam explicar as bases do que é a “A” Kabalah.

Todos eles estão errados.

Para aqueles de vocês que foram estudantes da Cabala, eu lhes peço que reflitam sobre estas questões: Não é possível que a Cabala seja muito mais do que gematria, notarikon, temurah e a Árvore da Vida e suas correspondências? Se sim, então por que tão pouco se sabe de outros aspectos da Cabala? Para responder isso temos que olhar um pouco de história.

Nos anos 1700, um grupo de judeus ortodoxos e piedosos se formou na Europa Oriental. A palavra para “piedoso” em hebraico é Hasid (pronuncia-se: “RASSID”). Assim, essas pessoas ficaram conhecidas como os “Piedosos” ou os Hasidim.

Anteriormente, o judaísmo místico incluía muitas maneiras de desenvolver poder sobre o ambiente: o que hoje chamaríamos de magia. Mas os hassidim não queriam nada disso. Eles buscavam a exaltação espiritual, não a capacidade de mudar o mundo. Eles queriam aumentar o poder de suas orações, não o poder sobre as coisas ao seu redor. Como resultado, eles se concentraram nos aspectos mentais da Cabala, incluindo correspondências sobre a Árvore da Vida, meditação sobre como Deus criou o mundo e as manipulações de letras e números, uma versão moderna (para a época) de formas místicas mais antigas do que é chamado de “magia das letras”.

Como essa informação era mística, era inevitável que ela chegasse ao mundo oculto local (alemão), onde se tornou parte da tradição maçônica daquele país. Esses ensinamentos foram posteriormente traduzidos para as línguas românicas e acabaram se tornando, para muitas pessoas, os ensinamentos centrais da Cabala.

Mesmo depois dessa história, muitas pessoas vão duvidar do que estou dizendo sobre a Cabala. Peço-lhe, então, que olhe para o único trabalho publicado que é aceito como talvez o texto cabalístico mais importante – o Zohar. Há muito pouco lá sobre tal numerologia. O mesmo ocorre no pequeno mas importante livro cabalístico primitivo, o Sepher Yetzirah.

Para resumir, a versão da Cabala que é mais amplamente aceita entre os ocultistas hoje é basicamente nada mais do que parte dos ensinamentos místicos dos hassidim alemães. Isso não torna tais estudos de forma alguma “ruins” ou “errados” ou mesmo incompletos. Em vez disso, simplesmente indica que tais estudos são apenas uma abordagem em um tipo ou escola da Cabala,  e não na coisa toda.

Quando comecei a estudar a Cabala, ou melhor, o que é comumente conhecido entre os ocultistas ocidentais por esse nome, eu era como um cachorro faminto na loja de um açougueiro de bom coração. Eu queria provar e experimentar tudo.

Para quem não conhece a gematria, sua ideia básica é simples. Cada letra hebraica está associada a um número. Soma-se os números das letras de uma palavra e, se forem iguais ou tiverem relação com os números de outra palavra, há uma relação entre as duas palavras. Em Magia Moderna dei o famoso exemplo que mostrava como, em hebraico, a enumeração da palavra “amor” era igual ao valor numérico da palavra “unidade” e como, quando suas numerações são somadas, o total é igual a o valor numérico de uma palavra hebraica para “Deus”. É um sistema numerológico simples que, neste caso, indica que Deus é uma unidade e que Deus é amor.

Muitas noites eu ficava acordado até as primeiras horas da manhã seguinte me debruçando sobre cálculos para tentar provar alguma coisa. Analisei meu nome mágico de três letras escolhido em um papel que tinha várias páginas. Da mesma forma, tenho visto pessoas analisando seções das obras de Aleister Crowley, rituais da famosa Ordem Hermética da Golden Dawn, seções da Bíblia, etc., por mais páginas do que gostaria de lembrar.

Mas um dia percebi que faltava algo. Fiquei com a pergunta atormentadora que Peggy Lee fez em sua música: “Isso é tudo o que existe?” Depois de anos de manipulação numerológica cabalística, cheguei à conclusão de que – para mim, pelo menos – uma exploração mais aprofundada já não provava nada de importante. Percebi que havia se tornado uma estrada falsa, como um falso vidente que parece dar muitas informações, mas na verdade fala pouco.

Claro, eu poderia passar horas provando que as palavras estavam relacionadas. Esse tipo de trabalho ainda é feito hoje (veja, por exemplo, os livros de Kenneth Grant) e pode ser de grande valia para pessoas que sentem que precisam desse tipo de prova. Para eles, esse trabalho é importante e valioso. Eu também precisei disso no passado e recebi isto muitas recompensas e insights espirituais.

Mas para mim, os ensinamentos comumente considerados o núcleo da Cabala agora pareciam nada mais do que uma forma de masturbação mental. Para o exemplo de “amor mais unidade é igual a Deus”, eu disse: “E daí? Isso já não é aceito por muitos (inclusive eu)?” Eu já sabia disso. Eu não precisava “provar” isso para mim ou para qualquer outra pessoa. Sei que a Declaração da Independência foi assinada em 1776. Não preciso passar horas tentando provar que esse evento aconteceu. Não preciso ler centenas de livros para saber que esse evento ocorreu em um determinado ano. Fazer tal estudo neste momento da minha vida seria chato e uma perda de tempo. Um dos tipos de pessoas que encontramos no caminho oculto é o “mago de poltrona” que fará alguma magia assim que “acabar com mais um livro” ou “construir mais uma ferramenta mágica”. Ele não consegue nada prático porque nunca faz mágica. Sim, ele ganha conhecimento, o que certamente é um objetivo digno em si. Mas o conhecimento por si só não é o objetivo de um mago praticante. Para todos os efeitos práticos, ele está fazendo o mesmo trabalho que os do místico hassídico do século XVIII. Isso não era o suficiente para mim. Um mágico de poltrona não era alguém que eu queria ser. Esta foi uma grande crise. Eu estava prestes a perder completamente meu interesse pela Cabala – algo que havia me transformado e tinha sido o maior interesse da minha vida por mais de vinte anos. Eu hibernei, fiz leituras de tarô para mim mesmo e meditava. Então, um dia, ficou claro.

Experiência! Era isso que faltava em todas as manipulações numerológicas. Cheguei à conclusão de que pensar em algo não era suficiente para mim. Eu sou ação. E embora muitas das técnicas cabalísticas que usam a numerologia cabalística para fazer talismãs bem-sucedidos, por exemplo, proporcionassem uma gratificação tardia quando o talismã atingia seu objetivo, eu queria algo mais imediato. Eu conhecia apenas uma técnica que forneceu a aventura, ação e experiência que eu desejava: Pathworking cabalístico.

Devido a muitos trabalhos publicados, o termo pathworking perdeu seu significado original. Hoje, pathworking significa qualquer tipo de meditação guiada em que se faz uma viagem mental ou astral visualizada ou algum tipo de viagem. Eu uso a expressão “pathwork cabalístico para representar o significado original da palavra pathworking: andar na Árvore da Vida cabalística enquanto estiver no plano astral. A chave aqui é ser capaz de separar a consciência do corpo e viajar no plano astral. Em outras palavras, esta técnica cabalística requer que você alcance um estado alterado de consciência. Exceto pelos métodos fornecidos em fontes como The Golden Dawn de Regardie e as várias versões dessas instruções que foram publicadas, pouca informação apareceu de um antigo ponto de vista cabalístico. Se o pathworking cabalístico requerer acesso ao plano astral através de um estado alterado de consciência, segue-se que deve haver métodos cabalísticos tradicionais para alcançar tal estado.

Um método que descobri nas obras de Aryeh Kapi era simplesmente colocar a cabeça entre os joelhos. Isso muda o fluxo de sangue para o cérebro, resultando em um estado alterado. No entanto, ao investigar mais, descobri outro método para alcançar um estado alterado, uma técnica que Marsha Schuchard chama de transe sexual. Este método faz parte da teoria cabalística, embora tenha sido ignorado pela maioria dos pesquisadores e praticantes, pois não era uma parte publicada do movimento hassídico alemão. E enquanto esta chave cabalística para o mistério tem estado no subsolo por mais de 2.500 anos, ela vazou ou foi redescoberta de tempos em tempos e formou a base da magia sexual ocidental, em todas as suas formas, como existe hoje. Eu precisava daquilo.

Se você ler a Bíblia como um tipo de história, verá que os profetas de todas as gerações criticaram os hebreus por não adorarem os deuses e deusas de outras culturas. A implicação disso é que os hebreus não eram monoteístas desde a época de Abraão, mas eram tão politeístas quanto suas culturas vizinhas. De fato, em The Hebrew Goddess, o respeitado antropólogo Raphael Patai mostra que os hebreus adoravam uma deusa tanto em suas casas quanto no templo sagrado em Jerusalém até a destruição do segundo templo em 70 EC, você encontrará frequentemente nos artigos sobre as práticas religiosas dos primeiros hebreus, práticas que incluíam a adoração tanto de um Deus quanto de uma Deusa.

Na maioria dos templos judaicos de hoje, o local onde reside a Torá – os primeiros cinco livros da Bíblia em forma de pergaminho – está localizado em uma plataforma elevada. Essa plataforma geralmente tem a forma de um tipo de palco onde o Rabino (o líder das orações) e o Cantor (o líder dos cantos ) também têm suas posições rituais. Esta área é conhecida como bimah (pronuncia-se: bee-mah). A palavra “bimah” significa uma plataforma ou palco. No entanto, a origem da palavra é bamah (bah-mah) que se refere à ideia de um “lugar alto”. No Oriente Médio, uma área elevada era comumente onde várias divindades, não apenas o Deus judeu, eram adoradas. Outros resquícios de tempos pagãos anteriores – incluindo a adoração da Lua como uma forma da Deusa Lunar Levanah (que agora é o próprio nome da Lua em hebraico) – também são encontrados em várias tradições folclóricas judaicas.

As primeiras formas de paganismo tinham vários propósitos, talvez o mais importante fosse a fertilidade. Os primeiros pagãos praticavam ritos para garantir a fertilidade das colheitas, rebanhos e pessoas. Freqüentemente, esses ritos incluíam comportamento sexual. Por exemplo, em algumas culturas, os pagãos teriam ritualizado a relação sexual em cima de colheitas recém-plantadas. Acreditava-se que a energia levantada durante seu rito, através da imitação de sua magia sexual elementar, ajudaria as plantações a crescer.

Existe alguma evidência de que os primeiros hebreus, como seus vizinhos politeístas, tinham ritos e mistérios sexuais? A resposta é sim. Na verdade, alguns desses ritos têm até versões modernas.

Um exemplo é a prática da circuncisão. Antes que essa prática fosse fixada no judaísmo para oito dias após o nascimento de um menino, provavelmente fazia parte dos ritos da puberdade. Em outras palavras, era realizada quando um menino atingia a maioridade como sinal de maturidade sexual. Os ritos de puberdade para meninos e meninas são comuns nas culturas pagãs. Em algumas culturas, os ritos de circuncisão masculina na puberdade ainda são praticados como parte dos “Mistérios Masculinos”. No judaísmo, os meninos ainda têm um tipo de tal rito (embora sem a circuncisão) quando passam pelo ritual de entrada na idade adulta conhecido como Bar Mitzvah. Mais recentemente, as meninas foram adicionadas a essa tradição quando passam por um Bat Mitzvah semelhante.

Na Torá, a circuncisão é um sinal de um pacto entre Deus e os judeus. Nisto se insinua a ligação entre sexualidade e espiritualidade. Outras vezes, você lerá sobre situações em que colocar a mão na “coxa” é sinal de acordo, geralmente entre um humano e o Divino. “Coxa” é um eufemismo para “pênis” (assim como a Bíblia usa o verbo “conhecer” para significar “coito”). Essa ideia foi adotada ou emprestada de outras culturas onde um homem juraria colocando a mão sobre os testículos do outro. De fato, nossa palavra “testemunhar” (derivada, é claro, da palavra “testes”) vem dessa prática.

Há mais evidências de ritos sexuais no antigo judaísmo. O livro de Raphael Patai, “The Hebrew Goddess “, mostra claramente que não havia apenas um forte componente sexual no misticismo judaico mais antigo, mas que era algo muito importante.

Desde a realização do filme Caçadores da Arca Perdida, muitas pessoas se familiarizaram com a forma da Arca da Aliança. Em cima dela estavam dois Querubins. De acordo com Patai, há uma tradição talmúdica de que “… enquanto Israel cumpriu a vontade de Deus, os rostos dos querubins estavam voltados um para o outro: no entanto, quando Israel pecou, ​​eles viraram os rostos um do outro. ” O que isso pode significar?

A Arca da Aliança foi mantida no “Santo dos Santos”, a parte mais privada e sagrada do templo em Jerusalém. Já o famoso historiador primitivo dos judeus, Flávio Josefo (37 D.C.–100 D.C.), escreveu que não havia nada no Santo dos Santos. Por quê? É bem aceito que ele queria representar o judaísmo como “anti-icônico”, uma religião livre da adoração de ídolos ou ícones. Mas haveria algo mais? Algo que Josefo poderia até ter vergonha de mencionar?

A resposta vem de um historiador ainda mais antigo, Filo (30 A.C-45 D.C ). Ele escreveu que na parte mais interna do templo, na parte mais sagrada do local judaico mais sagrado, havia as estátuas dos Querubins. E esses Querubins estavam “entrelaçados como marido e mulher”. Ou seja, eles foram mostrados tendo relações sexuais.

Isso foi verificado mais tarde pelo relato de um talmudista conhecido como Rabi Qetina, que afirmou que nos dias santos, quando as pessoas iam em peregrinação para ir ao templo, os sacerdotes realmente mostravam os Querubins a eles e diziam: “Vejam! o amor diante de Deus é como o amor do homem e da mulher”. Várias centenas de anos depois, o famoso Rashi escreveu: “Os Querubins estavam unidos, agarrados e abraçados, como um macho que abraça uma fêmea”.
Em outras palavras, o segredo final do Santo dos Santos não era que ele continha a Arca da Aliança, a Torá ou as tábuas dos Dez Mandamentos. Em vez disso, era a natureza espiritual do sexo. A tradição talmúdica mencionada anteriormente implicaria que os querubins estariam envolvidos em relações sexuais constantes enquanto Israel cumprisse a vontade de Deus, mas eles se separariam de seu abraço se Israel pecasse. Além disso, acreditava-se que Deus “falava” entre os Querubins.

Lembre-se, de acordo com a Torá e a Cabala, Deus cria através da fala: “E o Senhor disse: “Haja luz.” E eis que havia luz.” Esta, então, é a revelação do segredo cabalístico da magia sexual: profecia, adivinhação e invocação que podem resultar do sexo espiritualizado.  De fontes talmúdicas também sabemos que um dos maiores feriados para os antigos judeus ocorreu cerca de duas semanas após o Ano Novo Hebraico. Os peregrinos vinham ao templo em Jerusalém de todas as partes para este feriado que era considerado uma festa alegre. No entanto, ao final dos sete dias desta festa, que era celebrada tanto por homens como por mulheres, as festividades se tornariam tão intensas que homens e mulheres se misturariam e cometeriam atos que eufemisticamente chamavam de “vertigem”. Em termos modernos, a multidão corria sexualmente desenfreada. Este comportamento terminou algo entre cerca de 100 AEC. e 70 d.C.

Outra fonte que indica que o judaísmo primitivo tinha ritos sexuais é encontrada no livro O Cântico dos Cânticos, de Carlo Suares, que é sua interpretação desse pequeno texto bíblico (conhecido também por seu título mal traduzido, Cantares de Salomão). Na introdução, Suares descreve brevemente o honrado Rabi Akivah (também conhecido como Akiba), que nasceu em 40 D.C e foi executado no ano 135.
D.C. depois de passar muitos anos na prisão por ser um apoiador da guerra judaica contra Roma. Hoje, Rabi Akivah é homenageado por judeus em todo o mundo. Poemas e orações atribuídos a ele são recitados por judeus fiéis. Ainda me lembro da bela e ritmada oração cantada que começa com “Amar Rabi Akivah…” (assim falou Rabi Akiba…). Ele é considerado o pai da versão escrita das leis orais judaicas conhecidas como Mishná. Ele também é considerado por muitos como o pai da Cabala.

Assim como as principais seitas cristãs têm divisões entre si, também houve divisões no judaísmo. No primeiro século EC, o rabino Ismael assumiu uma posição semelhante à de alguns cristãos fundamentalistas modernos de hoje. Ele e seus apoiadores sustentavam que os escritos sagrados judaicos foram escritos em uma linguagem que falava diretamente aos homens e deveriam ser aceitos literalmente. Rabi Akivah discordou e sustentou que as palavras eram apenas a forma da mensagem. O verdadeiro significado da Torá deveria ser encontrado em sua interpretação mística, sua essência interior. Assim, quando uma discussão sobre quais livros deveriam ser considerados parte da Bíblia judaica estava ocorrendo entre os principais Rabinos, a maioria deles queria excluir o aparentemente profano poema de amor que é o Cântico dos Cânticos. Afinal, como poderia um judeu hoje em dia ter frases como “beije-me com os beijos de sua boca” e “seus seios são como dois filhotes” em seu livro sagrado?

Rabi Akivah foi um dos rabinos mais honrados de seu tempo e assim permanece até os dias atuais. Em seu tempo, ele foi mantido em grande respeito e era considerado uma autoridade poderosa no judaísmo. Akivah exerceu sua reputação e autoridade para mudar a atitude dos outros rabinos. “O universo inteiro não vale o dia em que aquele livro… [foi] dado a Israel”, disse ele, “porque todas as escrituras são sagradas, mas o Cântico dos Cânticos é o mais sagrado”.

Quando li pela primeira vez esta citação, fiquei fascinado e intrigado. Não é estranho que um dos rabinos mais importantes da história judaica tenha defendido a canção de amor não apenas como um bom livro, não (como alguns diriam) porque é Deus dizendo como Ele ama Israel (ou vice-versa), mas porque é a “santíssima” de todas as escrituras?

Lembre-se, Akivah é considerado o pai da Cabala. Não poderia a razão para a defesa do livro de Akivah ser que ele retinha o segredo sagrado do judaísmo, o segredo da magia sexual? Este segredo teria então sido passado para seus seguidores e de lá para muitas das escolas da Cabala.

Mesmo o bastante enfadonho e pedante AE Waite, em The Holy Kabbalah, refere-se ao fato de que os judeus místicos consideravam o casamento um sacramento e que praticavam um “ensino em caminhos pouco freqüentados, algo herdado do passado … [dos quais ] há algum vestígio de ensino no Oriente.” Isso aparece na seção do livro de Waite intitulada “O Mistério do Sexo”, e indica que entre os cabalistas havia um ensinamento de magia sexual que era de certa forma semelhante aos ensinamentos sexuais dos taoístas e tântricos. Em uma nota de rodapé ele diz que os magos sexuais cabalísticos:

… tinham um ideal interior, espiritual e divino, no qual eles habitavam, e pelo qual eles parecem ter realizado transmutações abaixo. Isto é, sua magia sexual (que era tanto um ato físico quanto espiritual) e produzia mudanças – magia – no plano físico.

Como nota final para esta seção, eu acrescentaria que entre os judeus devotos de hoje é uma mitsvá (uma palavra que significa tanto um mandamento de Deus quanto uma bênção) fazer sexo com seu cônjuge no sábado. Isso porque Deus é considerado um andrógino Divino e ao fazer sexo, unindo homem e mulher, eles estão simulando Deus. Uma interpretação alternativa é que eles estão imitando Deus em união com sua consorte, a Shekhina (semelhante à noção pagã ocidental do Deus unido à Deusa ou à noção hindu de Shiva unida a Shakti).

A Disseminação da Cabala Após a destruição do Segundo Templo no ano 70 d.C., os judeus foram dispersos por toda a Ásia e Europa. Muitos judeus consideravam isso um castigo de Deus sobre eles por não seguirem as tradições do judaísmo. Especificamente, eles não estavam seguindo as muitas leis judaicas e estavam adorando outros deuses e deusas. Mas os cabalistas alegaram que, ao dispersar os judeus, a sabedoria da Cabala se espalhou por todo o mundo. Deste ponto de vista, a diáspora não era uma maldição para os judeus, mas uma bênção para o resto do mundo. E essa bênção, a Cabala, consistia, pelo menos em parte, nos segredos da magia sexual. À medida que os judeus se moviam pela Europa, formavam pequenas comunidades. Em alguns deles havia escolas de cabalistas. A separação entre as comunidades acrescentou diversidade, e muitos dos ensinamentos cabalísticos, incluindo aqueles relativos à magia sexual, devem ter mudado e evoluído. Mas como os ensinamentos foram além das escolas do judaísmo místico? A resposta, acredito, vem da própria natureza do judaísmo e sua longa tradição de judeus sendo o povo do livro. À medida que a Igreja Católica se fortaleceu, a educação secular (incluindo leitura, escrita e matemática) dos fiéis foi desaprovada e limitada à realeza, aos ricos, escribas da Igreja e certos membros das forças armadas. Mas porque muitos judeus sabiam ler, escrever e sabiam matemática, agiam como mensageiros viajantes ou como cobradores de impostos para os ricos. Com alguns deles veio junto Cabala e a magia sexual.

Eles se comunicavam com outros que viajavam, incluindo os músicos errantes conhecidos por nomes como trovadores, menestreis, bardose os posteriores minicantores e meistersingers que vagavam por partes da Europa ocidental nos séculos XII e XIII d.C.  Não eram apenas homens como como registrado por historiadores do sexo masculino que, durante séculos, subestimaram a importância das mulheres na história, algumas mulheres também atuavam assim.

No século XIII, um livro pouco conhecido chamado Iggeret Ha Kodesh (A Carta Sagrada) foi difundido entre os judeus na Espanha. Foi por muitos anos atribuído ao famoso rabino chamado Nachmanides, mas os estudiosos hoje concordam que o rabino provavelmente não foi o autor. O livro era tão popular que três manuscritos variados deste livro são conhecidos. Foi dito que todos os livros verdadeiramente sagrados podem ser lidos em três níveis: físico, espiritual e místico. No nível físico, este livro parece ser um manual de casamento judaico. Em um nível espiritual, este livro é visto como uma “obra cabalística que descreve o relacionamento de Deus” com os judeus. Mas em um nível místico revela virtualmente todos os mistérios e técnicas de magia sexual que estão em uso até hoje. É minha opinião que os menestréis errantes medievais tinham alguma familiaridade com este livro ou com aqueles que usaram suas técnicas e ajudaram a difundir o conhecimento.

Até então, os casamentos não eram muito conhecidos. As pessoas viveriam juntas e se chamariam de marido e mulher. Eles eram considerados casados ​​mesmo sem um ritual de casamento. Nas Ilhas Britânicas, as regras para proteger as mulheres tornaram-se parte do que era conhecido como “lei comum [principalmente não escrita]”. Assim, após um certo período de tempo de convivência e alegando ser marido e mulher (e aceito como tal pela comunidade), uma mulher seria legalmente reconhecida como esposa de direito comum de um homem. Daquele ponto em diante, ele não poderia simplesmente jogá-la na rua quando estivesse cansado dela. Ela tinha direitos sob as leis do divórcio, embora eles não tivessem passado por uma cerimônia formal de casamento. O direito comum é inda hoje uma das bases do sistema jurídico americano.

Geralmente, na sociedade ocidental, controlada pelos cristãos, eram apenas os ricos e a realeza que se casavam. O objetivo dessa exibição pública era mostrar a todos que apenas os filhos dessa mulher seriam os herdeiros legítimos de um determinado homem. Na verdade, o casamento era mais um contrato legal do que um desejo de se unir por amor. Às vezes, pinturas eram feitas para mostrar a cena do casamento para provar que um casamento havia sido realizado.

Governantes e homens ricos queriam saber que seus filhos, na verdade, eram seus filhos de sangue. Acreditava-se que o sangue tinha qualidades mágicas inatas. Existe até uma crença hoje entre alguns bretões no “Toque do Rei” – que o próprio toque de um rei (que também foi aprovado pelo Deus cristão, ou então como ele poderia ser rei?) poderia curar várias doenças. Para garantir uma linhagem contínua, a monogamia tornou-se a regra para as esposas dos ricos e da realeza. Mesmo assim, há ampla evidência de que tanto as esposas quanto os maridos costumavam fazer sexo fora do casamento.

Eventualmente, a ideia de amor tornou-se um acessório do casamento. Foi uma conseqüência da noção de “amor cortês” que foi difundida pelos bardos viajantes. Eles até tinham regras para o amor cortês, algumas das quais escondiam os segredos da magia sexual. Por exemplo, a regra 30, de acordo com Andreas Capellanus cerca de 1.500 anos atrás, diz: “Um verdadeiro amante é continuamente é ininterruptamente obcecado pela imagem de sua amada”.

Dentro dessas palavras está um segredo de magia sexual que alguns dizem ter sido “descoberto” por A. O. Spare neste século. Como pode ser visto, este aspecto da magia sexual antecedeu Spare em mais de um milênio!

Outro grupo de viajantes eram os comerciantes, artesãos capazes de muitas habilidades valiosas. Eles vieram desde os primeiros tempos (quando cada ofício também estava associado a uma divindade) e continuaram no Renascimento. Na Roma antiga, essas guildas eram conhecidas como collegia (a fonte de nossa palavra “faculdade”). Eles tinham seus próprios edifícios onde eles compartilhariam os segredos de sua guilda. Os membros realizavam festas conhecidas como ágape, provavelmente a fonte das festas ágape cristãs do primeiro século. Para identificar outros membros ou permitir entrada nos limites das casas de guildas, eles tinham sinais de mão, gestos e toques especiais, incluindo beijos especiais e ritualísticos. Dessa forma, eles eram os elos entre as antigas escolas de mistérios e as modernas lojas ocultistas. De fato, os collegia foram influenciados pelos gregos, que, por sua vez, foram influenciados por uma variedade de culturas do Oriente Médio, incluindo os ensinamentos dos egípcios, dos sírios e dos antigos Hebreus.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-sexual/as-raizes-judaicas-da-magia-sexual/

Bruce Dickinson e Aleister Crowley

Por Adriano Camargo.

Todos sabem que o mago inglês Aleister Crowley (1875-1947) tem influenciado o mundo do rock (e as artes em geral). E todos sabem também que o cantor inglês Bruce Dickinson é um cara multitalentoso e uma das personalidades mais inteligentes do heavy metal. Mas é possível que nem todos saibam que Bruce Dickinson sempre teve um grande interesse por história da magia, ocultismo e… Aleister Crowley!

E, ao contrário do que a maioria pensa, Crowley não era satanista, mas sim um filósofo e ocultista praticante assíduo envolvido em diversos ramos da magia (magick) e da filosofia oculta, desde a bruxaria europeia e o paganismo até a cabala, alquimia, magia sexual, hinduísmo, budismo, etc. Contudo, Crowley ficou muito conhecido e mal-afamado devido ao seu comportamento “inadequado” e “chocante” para a época (a Era Vitoriana) e às difamações de fundamentalistas religiosos; nos dias de hoje provavelmente ele não chamaria tanta atenção…

Por outro lado, nos dias de hoje, certamente que Bruce Dickinson chama muita atenção devido ao seu trabalho artístico e suas outras habilidades, interesses e inteligência. Como músico e letrista, o trabalho de Bruce é repleto de referências ao mago inglês e a diversas áreas da filosofia oculta, desde as letras de sua carreira solo e do Iron Maiden até o seu filme Chemical Wedding (2008).

Do álbum solo de Bruce Dickinson Accident of Birth, a música Man of Sorrows fala do próprio Crowley quando menino, profetizando o seu futuro quando iria então estabelecer a vinda de um Novo Mundo, de uma Nova Era. Em Man of Sorrows, podemos encontrar também a frase “do what thou wilt”, que significa “faze o que tu queres”, uma referência mais direta e explícita a Crowley e à sua Lei de Thelema. Entretanto, tal lema thelêmico tem uma origem anterior a Crowley, remontando à obra Gargântua e Pantagruel, do escritor francês François Rabelais (1494-1553), na qual uma abadia fictícia chamada Abadia de Thelema apresenta esse lema como uma de suas “leis”. Esse famoso lema posteriormente também foi adotado por um dos clubes ingleses pseudo-satanistas do século XVIII chamados de Hellfire Club (“Clube do Fogo do Inferno”), no qual se reuniam os aristocratas para praticar orgias, bebedeiras, comilanças, jogatinas e discutir arte e literatura. Porém, na filosofia de Crowley, e de acordo com a letra de Man of Sorrows, “faze o que tu queres” se refere à Vontade do Eu Superior de cada indivíduo e não a meros desejos descontrolados. Esse Eu (ou a Individualidade, o Logos individual, o SAG, o Daimon socrático, etc.), de acordo com a letra da música, supostamente sofre por estar preso em um corpo carnal e por não se fazer conhecido pelo indivíduo que também sofre perdido, desorientado na vida, sem conhecer a Si mesmo e seu verdadeiro destino.

The Chemical Wedding, seguinte álbum de Bruce, é em parte baseado na obra literária e artística do poeta inglês William Blake (1757- 1827), que por sua vez também influenciou a filosofia de Crowley a ponto deste acreditar ser uma reencarnação daquele. Contudo, o título do álbum se refere à outra obra, um manifesto rosacruz intitulado The Chemical Wedding of Christian Rosenkreutz (“O Casamento Alquímico de Christian Rosenkreutz”) publicado em 1616 e que narra o casamento alquímico de um rei e uma rainha. Esse “casamento” é basicamente uma alegoria para a união sexual do masculino com o feminino (Sol e Lua; Fogo e Água; Espada e Cálice) por meio da magia sexual devidamente ritualizada a fim de expandir a consciência, assim como a união das duas partes da alma (psique) conhecidas na psicologia junguiana como animus (masculino) e anima (feminino); a magia sexual era uma prática central na filosofia thelêmica de Aleister Crowley.

Na letra de The Chemical Wedding encontramos no refrão:

“We lay in the same grave/ Our chemical wedding day”

(Nós nos deitamos no mesmo túmulo/Nosso dia do casamento alquímico”).

O túmulo é uma representação para o caldeirão na alquimia, no qual a matéria-prima densa é putrefata, desintegrada, ou seja, transformada, para em seguida dar surgimento a algo novo; ou seja, o casamento do homem e da mulher (os alquimistas) que “morrem” no êxtase alquímico-sexual para dar surgimento a uma nova consciência, expandida, cheia de alegria e livre no infinito.

The Tower, também do álbum The Chemical Wedding, é uma das letras do álbum mais ricas em referências alquímico-sexuais e relativamente crowleyanas. Sendo assim, vamos analisar alguns pontos. A música fala especialmente sobre as imagens alquímicas do tarô e do zodíaco (ambos de suma importância no sistema de Crowley). O próprio título da música se refere a uma das cartas mais “sinistras” do tarô: A Torre, que é referida no Livro da Lei (Liber AL), de Crowley. Na letra da música os versos “There are twelve commandments/ There are twelve divisions” (“Há doze mandamentos/ Há doze divisões”) aludem aos doze signos astrológicos dispostos divididos em casas de 30º no cinturão (imaginário) do zodíaco com seus “mandamentos”. A frase “The pilgrim is searching for blood” (“O peregrino está à procura de sangue”) diz que o alquimista buscador, em sua senda solitária está buscando sua iluminação; o sangue é uma referência à fase “vermelha” da alquimia chamada rubedo. Nessa última fase alquímica a Pedra Filosofal é “encontrada” e o alquimista (ou qualquer iniciado) se torna um sábio “imortal” autoconsciente, realizando sua própria Vontade livre, uma referência direta à Lei de Thelema e que está presente no seguinte verso da letra: “To look for his own free Will” (“Buscar por sua própria Vontade livre”).

E no refrão temos os versos:

“Lovers in the tower/ The moon and sun divided/ the hanged man smiles/ Let the fool decide/the priestess kneels/ the magician laughs”

(“Amantes na Torre/ A Lua e o Sol divididos/ o Enforcado sorri/ Deixe o Louco decidir/ a Sacerdotisa se ajoelha/ o Mago dá risada”),

nos quais podemos encontrar referências diretas a várias cartas do tarô: The Lovers (Os Amantes), The Tower (A Torre), The Moon (A Lua), The Sun (O Sol), The Hanged Man (O Enforcado), The Fool (O Louco), The Priestess (A Sacerdotisa) e The Magician (O Mago). Para não nos alongarmos demais na letra de The Tower, podemos dizer que ela contém alguns segredos alquímico-ritualísticos de magia sexual.

Há outras músicas interessantes em The Chemical Wedding, incluindo aquelas inspiradas diretamente por William Blake: Book of Thel, Gates of Urizen e Jerusalem. Do álbum Tyranny of Souls, podemos destacar alguns versos. O título da música Navigate the Seas of the Sun significa a libertação de restrições e a expansão da consciência, já que o Sol é um símbolo da cabeça humana, da inteligência e da consciência. Nessa letra, encontramos “Our children will GO on and on to navigate the seas of the sun” (“Nossas crianças continuarão a navegar os mares do sol”), que na filosofia thelêmica diz respeito ao arcano d’O Sol no qual duas crianças gêmeas, inocentes e livres “navegam” os raios solares, representando a humanidade em mais uma fase evolutiva, com seus aspectos masculinos e femininos assimilados e harmonizados pelo Eu.

Na música-título A Tyranny of Souls, encontramos os versos

“Who rips the child out from the womb?/ Who raise the dagger, who plays the tune?/At the crack of doom on judgment day”

(Quem arranca a criança do útero?/ Quem ergue a adaga, quem toca a música?/ À beira da condenação no dia do julgamento”).

É uma descrição do Aeon (Era, Idade, Tempo) de Crowley, retratado no arcano O Aeon (no tarô comum é conhecido como O Julgamento). Esse Aeon é marcado pela destruição do velho Aeon de Osíris e pelo nascimento do novo Aeon de Hórus. A criança arrancada do útero, conforme a letra da música, é Hórus, filho de Osíris e Ísis; a adaga erguida significa a morte do Aeon passado, o Aeon de Osíris ou Era de Peixes, considerado tirano, repressor, restritivo e opressor; a música referida nos versos é tocada por meio de uma trombeta tradicionalmente por um ser angélico que anuncia a Nova Era, o Novo Aeon, com o julgamento e condenação do velho. Mas no Novo Aeon, Hórus mantém silêncio para representar a “perfeição” do Novo Tempo. Com relação ao Iron Maiden, Bruce Dickinson tem colaborado razoavelmente nos processos de composição. Do álbum Piece of Mind, a letra de Revelations apresenta alguns “mistérios”. O verso “Just a babe in a Black abyss” (“Apenas um bebê em um abismo negro”) é um referência ao conceito crowleyano de “bebê do abismo”, um termo para designar aquele que mergulha e atravessa o Vazio. Trata-se de um abismo metafísico e psíquico entre o universo real e o universo ilusório, entre a “insana” dimensão do espírito e a igualmente insana (e aparentemente segura) dimensão da matéria; o magista ou iniciado que fracassa em cruzar o Abismo (e em assimilar o conhecimento nele contido) geralmente enlouquece. O verso

“No reason for a place like this”

(“Nenhuma razão para um lugar como este”)

mostra que, uma vez no Abismo, a razão humana como se conhece é completamente abolida.

Do álbum Powerslave a música-título fala sobre um faraó, tido como um deus, que não quer morrer, mas continuar governando no mundo material. Na filosofia thelêmica de Crowley, Osíris representa a Era decadente que insiste em continuar, mas que deve ser destruída para dar lugar ao Aeon de Hórus (filho de Osíris). Por outro lado, o faraó é uma representação de todo mago que fracassa em cruzar o Abismo, tornando-se assim um “escravo do poder da morte” (como diz a letra), psicoespiritualmente. Isso pode ser visto especialmente nos versos

“Into the abyss I’ll fall – the eye of Horus/ Into the eyes of the night – watching me go”

(“no abismo eu cairei – o olho de Hórus/ Nos olhos da noite – olhando-me ir”).

E no verso

“Shell of a man god preserved”

(“A casca de um homem-deus preservado”)

o faraó/deus/magoestá morto fisicamente, com seu cadáver mumificado ou não, ao mesmo tempo em que ele se torna um ser vazio e insano, sem conexão com o seu Eu, ou seja, uma “casca” no mundo qliphótico (do hebraico “qlipha”, que significa “casca”, “concha”) cujos portais estão no próprio Abismo, segundo outro verso: “But open the gates of my hell” (“Mas abra os portais de meu inferno”).

Moonchild, do álbum Seventh Son of a Seventh Son, é uma referência direta a uma das obras de Crowley de mesmo nome. A letra da música fala sobre a união de dois magistas (homem e mulher) e o nascimento de um ser supra-humano (entendido também como uma supraconsciência). Na letra, o homem é representado por Lúcifer, o Portador da Luz, o não-nascido, e a mulher é a Prostituta Escarlate, Babalon (nome derivado de Babylon), como aparece nos versos “The fallen angel watching you/ Babylon, the Scarlet whore” (“O anjo caído observando você/ Babilônia, a prostituta escarlate”).

Os nomes Babalon e Mulher Escarlate, apesar de derivados da Bíblia, são próprios do sistema mágico thelêmico de Crowley e equivalentes à deusa Lilith (mesopotâmica), Hécate (grega), Kali (hindu), entre outras, representando ainda os aspectos femininos da Natureza e a Grande Mãe do universo, livre dos dogmáticos conceitos morais sobre bem e mal. O álbum Seventh Son of a Seventh Son é todo “profético”, com colaborações de outros membros da banda em torno de temas como magia, alquimia, ocultismo, bem e mal, etc.

Por fim, vamos falar sobre alguns trechos do último álbum do Iron Maiden, The Final Frontier, que novamente traz alguns temas sobre alquimia, magia crowleyana e expansão da consciência. Na música Starblind, podemos ler o verso “Let the elders to their parley meant to satisfy our lust” (“deixar os anciãos às suas barganhas significa satisfazer nosso desejo”). Lust é o título de uma das cartas do tarô de Crowley, que se refere, entre outras coisas, a tudo o que é dos sentidos e que provoca êxtase, pois, nas palavras de Crowley, “não tema que deus algum lhe negue isso.” Os anciãos representam a religião dogmática e repressora do Aeon passado, que oferecem “liberdades de carcereiros” e que “parlamentam” aquilo que lhes traz vantagens ilícitas.

Enquanto eles falam e negociam e ficam no passado, os desejos (lust) do novo Aeon, ou seja, a Vontade livre e o desejo pela vida são satisfeitos naqueles que se libertaram do dogmatismo e que estão sem “o dispositivo cruel da religião”, conforme o verso “Religion’s cruel device is gone”. A frase “You are free to choose a life to live” (“Você é livre para escolher uma vida para viver”) é outra referência à Lei de Thelema, ao cumprimento da Vontade. Ainda do álbum The Final Frontier, a letra da música The Alchemist pode parecer óbvia, mas ela fala sobre algo mais do que um mero alquimista. O trecho “My dreams of empire from my frozen queen will come to pass” (“Os sonhos de império da minha rainha congelada irão passar”) refere-se à rainha inglesa Elizabeth, que protegia o também multitalentoso, suposto espião e mago John Dee (1527-1608), citado no verso “Know me, the Magus I am Dr. Dee” (“Conheça-me, o Mago Dr. Dee sou eu”). John Dee é conhecido especialmente por seu trabalho sobre magia enochiana e por sua associação com o alquimista e clarividente Edward Kelley (1555-1597), com quem “criou” esse poderoso sistema de magia, posteriormente praticado por Crowley (que acreditava ser também a reencarnação de Edward Kelley).

A letra da música de modo geral descreve as práticas de John Dee e Edward Kelley com a magia enochiana, considerada um sistema angélico, descrevendo também os contatos com os anjos, isto é, os “demônios”. Enquanto Edward Kelley se comunicava com os seres enochianos, conforme o verso da letra “Know you speak with demons” (“Sei que você fala com demônios”), John Dee ia anotando todo o sistema. O termo “angélico” aqui, entretanto, não diz respeito às imagens populares de anjinhos rechonchudos ou anjos esbeltos e delicados, mas a seres considerados alienígenas terríveis e demoníacos (no sentido original da palavra grega “daimonos”, quer dizer, “espírito”, “gênio”), conhecidos popularmente como “anjos caídos”, os supostos instrutores e doadores do conhecimento nos primórdios da espécie humana. Tais anjos enochianos foram contactados por Crowley, que fez as invocações pelas chaves enochianas, resultando em sua obra chamada Liber 418 – A Visão e a Voz. As invocações enochianas de Dee/Kelley e Crowley são referidas no seguinte verso de Bruce: “Hear the master summon up the spirits by their names” (“Ouça o mestre chamar os espíritos por seus nomes”)…

O Iron Maiden sempre carregou uma forte aura de intelectualismo, profetismo e mistério, contando muitas vezes com as inteligentes e valiosas contribuições de Bruce Dickinson. Por afinidades intelectuais e de interesses, independentemente do tempo cronológico, Crowley sempre esteve presente, ou apenas “pairando”, no trabalho de Bruce. E diferentemente do trabalho de Ozzy Osbourne, cuja letra da música Mr.Crowley é um tanto sarcástica e superficial, Bruce Dickinson tem se interessado muito mais seriamente pelas questões que envolvem a magia de Aleister Crowley. Ambos, Bruce e Crowley, sempre buscaram ir mais além, demonstrando que é possível chegar à “última fronteira” entre a consciência e a supraconsciência…

#LHP

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/bruce-dickinson-e-aleister-crowley

A Alquimia da Magia

Magia não é um objeto de estudo acadêmico – é essencialmente prático. Também requer auto-disciplina e treino – adquirir habilidades. Nenhum livro ou professor pode lhe ensinar magia, ela só pode ser aprendida na prática, pela tentativa e erro vindo da experiencia. O máximo que todos os livros e professores podem fazer é guiar rumo a experiencia relevantes e oferecer algumas explicações para a causa, efeito e o que está além do causal.

Similarmente, a auto-expressão intencional será na maioria das vezes contra-produtiva. O que é requerido do noviço e Iniciado é uma auto-disciplina e o insight que surge da conquista e adversidade. Entretanto, a vida moderna, fez essas coisas difíceis. É fácil ser presunçoso, aceitar os confortos da vida moderna e a falta de auto-disciplina, tal como os “métodos” modernos e “idéias” sobre “magia” fazem parecer que a compreensão e a realização em magia são fáceis: tudo que é necessário são livros/manuais de graus/informações relevantes e uma mente/atitude/abordagem caótica

Não há e nunca irá haver um substituto para o auto-aprendizado através da experiencia. O verdadeiro aprendizado em magia, ocorre somente pelo noviço individual: trabalho em grupo e experiencia em grupo meramente confirma o aprendizado e ampliam as técnicas, as formas que são usadas. Isso é porque a verdadeira magia é interna – uma alquimia de mudança psíquica. As técnicas são externas. Por exemplo, magia sexual é uma técnica de magia – não é magia ou “mágico” por si só – da mesma maneira que um ritual cerimonial é uma técnica. Todas as técnicas são formas que estão dormentes – elas precisar ser animadas, trazidas a vida: elas necessitam serem inspiradas com o ‘sopro da vida’. Essa vivificação da magia e sua realização é individual, ou seja, não se baseia na forma – nos mínimos detalhes da performance ou técnica. Algumas vezes essa vivificação é compartilhada – ex: entre dois indivíduos realizando um rito sexual ou um grupo se reunindo para uma cerimonia.

Por um longo período as técnicas foram consideras mágicas por si só, guiando a um desentendimento completo da magia – como, por exemplo, por Crowley e seus seguidores e por adeptos das técnicas de “caos” recentes. Magia está além da técnica – técnicas e formas meramente presenciam a magia no causal, e para acessar as energias mágicas, certas habilidades são necessárias. Algumas vezes, essa habilidade é interna e pode ser como uma atitude mental. É “mover com” as energias mágicas como essas energias são, em si – não é uma abordagem indireta e frouxa, uma aceitação caótica, mas uma direção equilibrada e fina: não uma perda de percepção consciente/entendimento, mas um novo tipo de percepção. É como correr longas distancias: a habilidade inata pode ajudar, mas requer treino, uma percepção das limitações nascidas das experiencias prévias, uma auto-disciplina para alcançar a distancia no tempo delimitado – e então o correr, que quando bem sucedido é um ‘fluir’ com o corpo e a mente…

Na magia, o desejo faz a energia – uma vez acessada pelo individuo – presenciada na forma/técnica escolhida. Esse desejo é geralmente intencionado – ou seja, tem um certo objetivo causal (como por exemplo uma magia externa). A forma ou técnica escolhida pode estimular em algum alcance a produção de energias mágicas – mas é o individuo que deve abrir o portal (ou nexion) e dirigir as energias que residem além dele. O que as formas e as técnicas geralmente fazem é parecer o nexion real e acessível – geralmente ‘provocando’ dentro do individuo a consciência necessária para abrir o nexion e presenciar as energias.

Por causa disso, os rituais cerimoniais (ou qualquer ritual onde dois ou mais estão presentes e envolvidos) precisam de direção ou controle – das imagens/formas/padrões invocados e o presenciar de tal no causal. Essa direção é sempre para o causal (isso é, para um objetivo especifico ou na psique de um individuo ou indivíduos) por causa da natureza das energias – sempre há um ‘fluxo’. Se nenhum controle é realizado (ou a direção está confusa por que mais que uma tentativa para controlar o fluxo – talvez inconscientemente) então uma mudança causal irá ocorrer (e deve ocorrer) através de vias provavelmente desapercebidas pelos envolvidos – isso é o que geralmente acontece quando alguns indivíduos reúnem e tentam um ato de magia – e geralmente resulta no rompimento psíquico de um ou mais desses indivíduos.

A alquimia da magia é um aprendizado em controlar o acesso as energias, e sendo capaz de produzir mudanças através de presenciar o que é acessado: internamente (dentro de da própria psique), externamente (em outros e nas coisas do dia-a-dia) e aeonicamente (dentro e além dos confins de aeonica). Há portanto um aprendizado sobre os vários tipos de energias mágicas (que podem ser ditas ou diferenciadas por como eles presenciam o causal) – e seus usos. Em resumo, a obtenção de habilidades individuais e compreensão. Para alcançar isso, certas maneiras – certas guias devem ser seguidas. Há um compromisso sério – não um hobby, não uma reunião de algumas pessoas de mesma mentalidade como e quando em um agradável gratificação do ego pesquisando ‘o oculto’, e certamente não para ‘rizadas’ ou entretenimento. Há uma intensidade, uma auto-disciplina, algumas vez até mesmo dificuldade – e esses prazeres que estão além dos meros mortais. Em resumo, novas maneiras de viver.

Por mais que a alquimia da magia esteja agora acessível a todos (devido a obras como “Naos”), é improvável que muitos irão renunciar as suas fáceis formas de viver atuais por um desafio.

Tradução de AShTarot Cognatus

Fonte: PanDaemonAeon

– Ordem dos Nove Ângulos –

ONA (Retirado do Hostia I, 1991eh)


Quer aprender alquimia do zero? Conheça o Principia Alchimica: o manual prático da alquimia.


 

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/satanismo/a-alquimia-da-magia/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/satanismo/a-alquimia-da-magia/

A Iniciação no Velho e no Novo Aeon: Antagonismos

Dentro de corpos iniciáticos, é muito comum que um dos pontos críticos mais importantes justamente aborde os segredos iniciáticos, assim como os mistérios que sustentam estes segredos, e bem como as estruturas que são usadas para unir o praticante ao mistério, tal e qual a descrição costumeira do casamento alquímico nos demonstra.

No entanto, os rituais e fórmulas do chamado Velho Aeon estão muito longe de terem tais aplicações básicas no presente momento, e isto porque além da própria mudança de eixo ligada a este Aeon, também há a constante presença da ciência e da história, que unidas provaram ser um poderoso instrumento de dissolução de enigmas, ou mesmo de inverdades.

 

No entanto para poder abordar os elementos qualquer sistema de iniciação, precisamos citar suas fontes históricas, o que se pretende desencadear com o drama ligado ao rito, conforme o sistema religioso originalmente o fazia, e se há diferenças em relação à tradição original.

Desta forma, vejamos o que a ciência e a história nos podem dizer sobre o que se determinou chamar de “Velho Aeon”.

Ao contrário do que se tem afirmado por muitos hermetistas, ocultistas, e por vezes por várias vertentes ditas como sendo científicas, ligadas normalmente a correntes criacionistas, a tradição determinada como sendo o cabalismo, não tem a história antiga que lhe é imputada, e na verdade, a história do povo a qual ela estaria coligada não é tão velha como tem sido defendido por tantas pessoas, muitas delas nunca agindo por inocência, ou apenas por ignorância, e sim por motivos totalmente escusos.

Se pudéssemos retornar nos tempos históricos, veríamos então que em dado momento no império egípcio, houve uma quebra interna de suas instituições, em que o modelo de administração que sustentava todo o reino, foi agredido por um golpe sócio, econômico, religioso que foi promovido por Amen-hotep IV, que reinou no Egito em 1345 antes da era vulgar, e que esvaziou os cofres reais, para construir e sustentar uma cidade no meio do deserto, para onde transferiu a capital do reino, durante seu reinado.

Seu reinado durou apenas 15 anos, e durante o mesmo o faraó que declarou a todos ser o filho e representante do “deus único” Aton, na Terra, sob alegação de que estava levando o povo para a “Terra Prometida por Aton”, fundou ali justamente a cidade conhecida como Akhetaton (como é dito que Abraão teria procedido).

A todos que o seguiram, prometeu Akhenaton (nome assumido por Amen-hotep IV quando assumiu o culto a Aton), a “Vida Eterna no Paraíso de Aton”, e bem como a permissão para ser enterrado na necrópole de Akhetaton.

Curiosamente, ao atingir o local dito como sendo sagrado, Akhenaton ofereceu um sacrifício a Aton, e depois edificou no local um templo, demarcando assim por seus atos o abandono da Terra Sagrada de Karnac ( tal e qual o Abraão da bíblia teria feito).

Cada residência possuía um altar de pedra com inscrições em dois lados. “Todas as casas do reino tinham uma feição similar. Elas tinham um santuário colocado em seu aposento principal. Ele possuía apenas um portal pintado em vermelho e um nicho para receber uma pedra que continha o retrato da família real engajada numa no culto de adoração”, assim descrito por Cyril Aldred.

Como conexão aos relatos da história do êxodo bíblico, os portais vermelhos são uma lembrança ao sangue dos hebreus pintados nos portais das portas de suas casas. “Javé passará para matar os egípcios. E quando ele olhar o sangue nos postes dos portais e na parte superior, Javé atravessará a porta e não permitirá que a destruição entre em suas casas e mate vocês”. Êxodo 12:23.

Por conta do culto monoteísta, Akhenaton apagou o nome de Amon dos templos e obeliscos. Levando sua heresia adiante, ele profanou o nome de Amon no interior do cartucho de seu pai Amenhotep III. A supressão do nome do deus foi considerada como um verdadeiro sacrilégio pelos habitantes do antigo Egito. A bíblia monoteísta ecoa estas palavras no seu Deus Único: “Eu apagarei totalmente o nome de Amalek dos céus”.

Da mesma forma como Moisés fez, ele se apresentava diante do povo com duas tábuas de pedra onde estava inscrito o nome de Aton nos dois cartouches. O povo prostrava-se diante do nome de Aton. Essas tábuas com inscrições, podiam ser lidas em ambos os lados. A similaridade com as tábuas de lei de Moisés é notável. Ambas eram ovais nas extremidades e podiam ser lidas de ambos os lados: “E virou-se Moisés e desceu a montanha com duas tábuas da lei em suas mãos, tábuas que eram escritas em ambos os lados.” [Êxodo 32:15].

Na tumba de seu sucessor, seu irmão menor que foi entronizado somente quando se tornou adulto, Tutankhamon, muitos outros detalhes extremamente esclarecedores foram encontrados.

 

Na escavação de Howard Carter e Phlinders Petrie, em 1923 da era vulgar, a tumba do sucessor de Akhenaton foi encontrada intacta – uma vez que seu nome foi apagado em maldição, a mando dos sacerdotes que fizeram oposição a Akhenaton, e sua tumba foi ocultada, o que acabou servindo em muito aos pesquisadores do mundo todo.

 

Estudos na tumba revelaram que na parede leste da câmara funerária, acima das figuras de doze sacerdotes carregando uma urna mortuária, haviam oito colunas pintadas com inscrições religiosas. Essas figuras lançaram uma nova luz sobre momento da história da humanidade onde monoteísmo foi estabelecido. Na parede norte da tumba contém uma figura enigmática, usando a coroa do Egito com a serpente, um antigo símbolo de realeza. O nome deste misterioso personagem aparece nos dois cartouches[1][6] colocados à frente de sua face. Ele era chamado de “O Pai Divino” – Faraó Ay. Seu nome está escrito por um símbolo hieróglifo duplo, (Yod Yod), que é o nome de Deus na Bíblia Aramaica, o qual é a nossa fonte mais antiga do velho testamento.

Este “Ay” sucedeu a Akhenaton, quando sua derrocada ocorreu – apenas 15 anos após ter começado, dado o ódio que sua profanação provocou em meio aos egípcios – e após alguns anos, entronizou Tutankhamon, que reinou apenas por Dois anos, sendo depois execrado e caindo em ostracismo, sob todas as maldições póstumas naturais no Egito de sucederem a blasfemadores ou criminosos.

A câmara funerária possuía quatro caixotes sobrepostos, um dentro do outro. Esses caixotes estavam cobertos por um tecido de linho, sustentado por uma moldura de madeira, apresentando-se com aparência de uma tenda. Essa moldura foi comparada no momento da descoberta, com os tabernáculos do Antigo Testamento, o sagrado dentre os mais sagrados, construído de madeira e sustentando a “Arca da Aliança”.

Ao abrir o terceiro caixote, Carter observou que em uma de suas laterais havia um painel com duas figuras aladas, onde suas asas abriam-se bem ao alto, evocando os anjos descritos do objeto citado na bíblia como sendo a “arca da aliança”, estavam reproduzidos nas duas portas seladas do quarto e último caixote. Esses e outros achados arqueológicos nos levam a considerar, que as descobertas da arqueologia egípcia possuem grande correlação com a escritura hebraica, sendo a fonte para a mesma.

O “Ay” acima mencionado, determinou a evacuação de Akhetaton denominando a cidade como terra impura e amaldiçoada, e os povos de mercadores que se mesclaram na cidade sob Akhenaton, se dividiram em dois grupos, sendo que um deles retornou para as terras egípcias, e outro seguiu a grande expansão egípcia que teve início a partir deste período, e aproximadamente 300 anos depois, em um dos pontos onde ocorreu a fixação por mais tempo do exército egípcio, veio a ser fundado o Reino de Judá.

Agora que conseguimos estabelecer estes pontos, vamos nos aproximar de outro grande eixo de sustentação do estilo de iniciação do Antigo Aeon.

Falemos agora de Constantino e de “Iaseus Christus”, de origem essênica.

Como sabemos, a seita Hassidim cresceu durante a dominação dos gregos sobre os judeus, e efetuou a ponte de dominação helênica traduzindo para o grego o ponto de vista hebraico, mas principalmente gerando a dominação do ponto de vista dos gregos sobre o povo dominado.

Destes Hassidim vieram os Essênios, que são os chamados pré-gnósticos, e que mantinham em Nag-Hamad uma sociedade a parte, com textos próprios que sofreram enorme influência de gregos, sumérios, egípcios e hindus.

Desta forma foram lançadas as bases para que por meio dos Essênios os textos chamados de apócrifos, e os textos chamados de aceitos, pelos concílios da posterior Igreja Católica.

Ocorre que os Essênios conceberam uma fusão de costumes religiosos, normalmente vinculados a adoração do Sol ou da Estrela que o anuncia em todas as manhãs, e atribuíram a divindade que nasceu desta fusão o termo “Iaseus Christus”, que foi absorvido posteriormente como “Jmmanuel”, dentro da bíblia.

Nascido de um “notaricom” que implica em sua origem em provável saudação a Zeus, muitas eram as diferenças do golpe religioso e político que Constantino veio a praticar depois.

Um dado interessante entre os essênios, é que adoravam Hermes Trimegistus, e o viam como o Enoch da torah e bíblia, principalmente no que tange a um texto apócrifo sobre Enoch, que cita os “nephelim”.

Fato é que o Pistis Sophia dos essênios, contém enormes similaridades com um texto anterior ao ano Zero da era vulgar, que tem por nome “saberia de jesus”.

Agora, abordemos outros dados.

Sob Constantino, que objetivava unificar todas as vertentes religiosas em guerra na época, e que estavam por desestabilizar e exterminar seu reinado por completo.

Desta forma, a vertente do sacerdócio politeísta romano, em eterna guerra com os mitraicos persas, que jamais cederia a língua ou costumes dos persas, e bem como a vertente persa, que pensava o mesmo da vertente romana, foram fundidos sob outra língua, e outros costumes, que fundiram a ambos, com enorme miscelânea de cultos fálico solares.

Assim, Mitra que escondeu as chaves do paraíso em Petrus, e que era nascido de uma virgem no dia 25 de dezembro, teve seus símbolos fundidos a Horus que combateu Set por 40 dias no deserto, juntamente com o deus de Belém, Tammuz, que ressuscita 3 dias após morrer, pelas artes de Inanna após a mesma verter muitas lágrimas por seu esposo, e descer a mansão dos mortos para resgatá-lo.

Tendo então a vida de conhecido filósofo da época, Apolônio de Tiana, dado o pano de fundo, para um “…christus…” físico, que jamais existiu.

Tendo sido então estudados a luz da ciência, história e antropologia, todos estes dados que são a base e sustentação dos cultos do Velho Aeon – pois em nenhum momento nos esquecemos que os Islâmicos alegam serem os verdadeiros descendentes de Abraão, e que Allah provém de Al Iliah que é uma saudação a Sin ou Nanna, o deus Lunar dos Antigos Sumérios. Podemos então começar a destilar informações preciosas sobre a Iniciação Mágica dentro do Velho Aeon.

Dentro do contexto das Ordens Iniciáticas chamadas de “osirianas”, o postulante a iniciação é visto como “cristo”, que deve perambular pelas mortificações, e depois adentrar em glória pelas dores da iniciação, para então renascer dos mortos como filho unigênito, e por fim exaltado as alturas.

Alega-se que a linguagem é universal, e que todas as religiões do passado procuravam desencadear o mesmo processo, sendo que na verdade todas as religiões, cultos e povos vieram a abraçar o monoteísmo como sua verdade.

Aqui já temos percebido o grande erro do Velho Aeon, pois como foi visto acima nada além de golpes de estado, maquinações políticas, e isso sem mencionar as torturas e assassinatos praticados por protestantes – como por exemplo os 100.000 pagãos que Lutero ordenou o massacre na Alemanha em seu tempo – os crimes da inquisição católica, os crimes da opressão muçulmana contra os infiéis – como pode nos mostrar o comportamento Taleban, por exemplo.

Assim sendo podemos logo de início perceber que as Iniciações do Velho Aeon, procuravam escravizar a mente, corpo e emoções do postulante a iniciação, a uma forma de ser que em todos os sentidos, defende uma mentira histórica, sendo então não sua Verdadeira Vontade, mas sim a Vontade de outro entronizado em lugar de sua individualidade.

Nisto repousa aquilo que é visto como a “fazer a vontade do pai”, que é tão comum em todos os sistemas monoteístas, como facilmente pode ser observado tanto em seus livros dogmáticos, como no comportamento de seus fiéis e de seus sacerdotes.

Outro fator preocupante aqui presente, é visto como algo natural e inclusive incentivado dentro destas organizações iniciáticas.

Tendo a temática tão conhecida e usada por Akhenaton como base, e levando-se em consideração o ciclo do ano com suas estações, é dito que sendo o sol o centro do sistema solar, o postulante a iniciação deve procurar ser um espelho do próprio sol, e a ele se unificar.

A este ponto, outro tópico iniciático problemático se junta, para causar uma “catástrofe oculta” para aquele que busca a iniciação.

Este tópico vive nas palavras de Dion Fortune, que inclusive nos define a forma de pensar do antigo aeon, dentro do ponto de vista a cerca da iniciação como era entendida até então:

…O máximo que alguém pode atingir em vida é a iniciação até Tiphareth – a Sephiroth do Sol – ou no máximo e apenas para alguns Geburah – a Sephiroth Marcial . Tendo então todos os seus passos regulados pelas ordens dos adeptos isentos de carma de Chesed – Sephiroth de Júpiter – que recebem as influência divinas diretamente da tríade suprema, que nenhum ser vivo pode alcançar em vida, salvo gênios como Moisés – Moshé…” .

Bem sabemos pelas úteis informações acima citadas, que Moshé e Abraão foram nomes posteriores gerados para representar a lembrança dos atos de Akhenaton, sobrevivente em meio aos descendentes dos que viveram em Akhetaton, e que seguiram a expansão egípcia, fundando depois o Reino de Juda.

Mas isto seria apenas um detalhe simbólico, tomado com base para apenas por seu uso para coisas maiores, se não existissem mais coisas a serem mencionadas nas entrelinhas.

Em primeiro lugar, não é o Sol o centro do universo daquele que observa o universo.

O observador do universo é o centro do universo que ele mesmo observa, e em outras palavras, deve ele ir em direção a si mesmo e não em direção ao ponto de vista de outro, mesmo que simbolicamente.

Em seguida, devemos ressaltar que os adeptos chamados de “isentos de carma”, são citados pelas tradições como sendo, por exemplo: “Cristo, Saint Germain, Maomé, Moisés, Akhenaton, etc…”

Deduzimos então, que em nenhum momento houve a isenção de carma de qualquer um dos que acima forma citados, pois o único que não foi abordado anteriormente de alguma forma, foi Saint Germain, que foi muito conhecido na Europa por suas enormes dívidas de jogo, todas elas no geral pagas pelas artes de sua bela e sensual esposa.

Desta forma, se observarmos bem o que Dion Fortune nos transmite, e que inclusive é opinião geral das formas inciáticas e religiosas do Velho Aeon, os Adéptos Menores – uma representação esquematizada dos vetores solares, incluindo aqui das religiões monoteístas, que no geral são todas elas fálico solares – são dominados e direcionados pelos Adeptos Maiores – que são representações dos líderes e criadores de religiões dogmáticas, ou seja, monoteístas.

Esta é a escala de dominação que subsiste no dogma fálico solar!

E há ainda mais oculto dentro disto.

Por mais penoso que o seja, devemos abordar este tema de forma clara.

Em meio aos cultos gnósticos, dos quais o foco gerador são os Essênios, gerados pelos Hassidim, a idéia difundida ali presente era de que havia um deus bom e um deus mal, ou no caso do monoteísmo com hoje o conhecemos, um “deus versus um de seus anjos”!

Estes cultos percebem o mundo físico como dominado pelo deus mal, no caso “Saklas” o demiurgo, e o mundo dos céus ou celeste como reino do deus bom.

Isto advém do pensamento de grupos humanos como os Maniqueus, por exemplo, que eram dualistas e apresentavam este ponto de vista, que na verdade nasceu das representações Fálico Solares da eterna oposição do Deus Sol contra um Ser Serpentiforme – como é o caso da oposição de Apolo contra Piton; de Rá contra Apophis, de Baal contra Lotan; e até mesmo da oposição de Marduk contra Tiamat, também vista na representação grega deste mito onde Zeus enfrente Typhon, que não é Solar mas guarda muitos dos elementos usados como base pelo monoteísmo.

Disto floresceu a idéia de que o espírito, sendo visto da mesma forma que os egípcios adoradores do sol o viam, seria uma representação solar, e portanto pertinente ao céu, e como o espírito somente estava presente no corpo da mulher quando esta estava grávida – segundo a visão fálico solar aqui apresentada.

Logo a mulher veio a ser uma expressão da matéria e da Terra, e portanto algo visto como pertencente ao demiurgo, ou mesmo uma expressão do demiurgo – como na lenda monoteísta de Lilith, que nada possuía em comum com a Lilith suméria.

O veículo para o espírito passou a ser então o falo, e o espírito é visto nesta temática como estando concentrado no sêmen.

Um detalhe muito importante neste momento para o nosso devido entendimento, das fontes e bases desta forma de pensar, foi o modelo Védico, que via os essênios e bem como o culto de Krishna, foi usado como modelo a este respeito – ou mesmo antes disto, já que o Demiurgo originalmente pensado por Sócrates e Platão, não tinha nada haver com o Demiurgo dos gnósticos, mas teve sua origem no Purusha do Vedanta.

Os atos sexuais levam ao contato com uma mulher, ou com alguém que fará as vezes de passivo – e portanto de quase feminino – e desta forma, estes atos foram vistos como vias malignas, que afastam o adorador ou o pleiteante de iniciação dos benefícios do céu, do sol e da fé.

Perder o sêmen foi visto como uma forma de adentrar nos reinos da desgraça do demiurgo e do que veio a ser entendido como “inferno” – embora saibamos que o Hell, tal e qual o Tártaro, nada tem haver como ponto de vista monoteísta, mas foram absorvidos e plagiados, e depois adulterados para servirem aos propósitos do dogmatismo.

Assim sendo a magia sexual deste tipo foi desenvolvida com o pensamento ligado a esta via que é solar e masculina, e é justamente nisto que muitas das estruturas básicas da iniciação do Velho Aeon se baseiam, e é também por isto que não se aceitam mulheres naquilo que se determinou por “maçonaria oziriana”.

No Velho Aeon, o iniciando na maioria das organizações de cunho “Iluminati”, é visto como o próprio “jesus cristo”, que sofre inicialmente os martírios, para então após a crucificação se erguer em glória, em retorno ao pai.

Desta forma, podemos observar que em muitos casos, é pleiteado que as fases da dita vida do assim dito “cristo”, são subdivididas como as sephiroth da Árvore da Vida, sendo que o assim chamado “mistério da crucificação” seria então a passagem pelo abismo, que no cabalismo e hermetismo é chamado de Daath, sendo então sua descida a mansão dos mortos Binah, e sua ascensão ao s céus, Chokimah, estando a experiência que se atribui a Kether, como algo jamais mencionado, e taxado como inatingível, e além de qualquer descrição para os que não passaram pela mesmo, sendo que é dito que os que “viram yaveh face a face”, jamais relataram o que viram, dentro da concepção do Velho Aeon.

Se somente houvesse o monoteísmo desde o início dos tempos, e se somente fosse um culto masculino, desde o começo dos tempos, ou pelo menos que o mais antigo culto fosse monoteísta e fálico solar, então estaríamos lidando com alguma possibilidade de veracidade a cerca do desenvolvimento dos praticantes, dentro desta temática.

Mas não é assim!

Em primeiro lugar, devemos entender que o ponto de vista que aborda este princípio, tem por base a idéia fálico solar, que como já foi exposto acima, tende a mencionar a Terra como domínio e reduto do mal, e o céu como domínio e reduto do bem, e ao homem como exemplo do Céu e do Sol, e a mulher como exemplo da Terra e da Lua, esta temática leva a concepção de que somente o homem possuí espírito e é passível de evolução, aliás este pensamento era muito presente dentro do gnosticismo, pois era dito que uma mulher deveria renascer como um homem, para poder evoluir para além do mundo físico, em direção aos reinos espirituais.

Em segundo lugar, também como já foi mencionado acima, os ritos fálicos solares que são a base para estas formulas iniciáticas, são todos eles de origem de cultos politeístas e que não são obrigatoriamente solares, em verdade muitos cultos solares do passado eram vinculados a deusas e não a deuses, como é o caso da Deusa Sowelo dos Nórdicos, da Suria dos Hindus, Sekhemet dos Egípcios.

E uma enorme quantidade símbolos de cultos mais antigos, foi usada para dar base para os cultos monoteístas e fálico solares, como é o caso de Horus, Mitra, Krishna e Tamuz, que deram corpo ao monoteísmo cristão.

No monoteísmo encontramos a necessidade implícita de eliminar o diferente e o discordante, com um fundo absolutista, claramente coerente com a proposta de centralização a qualquer preço, mesmo que seja aquele que a sociedade humana tem pago a dois mil anos.

Se observamos com cuidado, o corpo de experiências descrito dentro do monoteísmo, contém os mesmos elementos (até um certo ponto), que poderíamos encontrar dentro do politeísmo como era citado pelos gregos, por exemplo, e isso tem sido muito usado como base para causar adulteração do conhecimento, por muitos movimentos de pseudo iniciação.

Estes movimentos afirmam o mesmo que os movimentos dogmáticos afirmam, que a fonte da tradição e do ser humano é aquela que está descrita tal e qual a torah, bíblia e Corão, o apregoam, e que as multiplicidades de idiomas partem do episódio de babel, e que os povos impuros adoraram na verdade anjos caídos, e que somente o povo eleito (quer seja ele o judeu, islâmico ou cristão), é o único que está em afinidade com o deus único do absolutismo dogmático.

Duas de suas maiores bases residem na história de Moshé (Moisés), e antes dela, na história de Abraão (doze gerações posterior a Enoche pelo torah), sendo que a cabala teria sido transmitida por Enoche a seus descendentes.

Sobre Enoche é dito:

“E andou Enoche com Deus, depois que gerou a Matusalém, trezentos anos, e gerou filhos e filhas. E foram todos os dias de Enoche trezentos e sessenta e cinco anos. E ando Enoche com Deus; e não apareceu mais, porquanto Deus para si o tomou.

Este Enoche os Essênios e os pós essênios chamaram também de Hermes Trimegistus, figura presente mesmo nos testos sabeanos traduzidos por Miguel Psellus e Ulf Ospaksson em Bizâncio, como é o caso de um documento chamado Corpore Hermeticum, que os cidadãos de Harram – os sabeanos – teriam escrito, sob influência dos já citados movimentos gnósticos.

Desta figura mítica teve origem o movimento hermético, e o cabalismo em voga na idade média e moderna, usado até estes dias.

No entanto, como vimos na apresentação dos fatos históricos, acima, tanto Moisés quanto Abraão, são formas geradas para dar substância a sobrevivência da lembrança de Akhenaton, em meio aos cultos gerados na terra de Judah, praticados pelos rabinos, que ampliaram sua história e adicionaram os problemas que tiveram com outros povos, para dar mais corpo a mesma, sendo também usados símbolos, palavras, deuses e formas adorativas de povos a sua volta para tanto.

Um exemplo disto é o deus Shemesh, cujo nome foi por eles empregado como atribuição do sol, ou mesmo o uso das 22 letras fenícias para dar base ao hebraico, posteriormente reforçado pela dominação dos gregos sobre os judeus, com o advento do uso dos costumes dos gregos em empregar suas letras como vetores numéricos, sem mencionar o nascimento da gematria, notaricom e temurah tanto disto, quanto dos costumes dos seguidores de Pitágoras e Platão, absorvidos via os judeus hassídicos, antecessores dos essênios. Ou mesmo o nome de Zeus, “Joveh”, que foi absorvido pelos rabinos para ser a base etimológica de onde surgiu o nome “Yaveh”, que é o nome o dito “nome de deus” na Torah.

Desta forma, toda a atribuição dada a cabala e ao hermetismo, de fontes únicas da tradição da humanidade, reverte-se com as mesmas expressando-se como um composto de várias tradições matemáticas, simbólicas e politeístas, sob orientação monoteísta e dogmática, cujas experiência místicas e mágicas, podem gerar uma catarse que leve ao ser humano a desenvolver-se além dos limites impostos pelo dogmatismo, que naturalmente é um elemento de escravização da mente humana.

Os terrores do abismo, nada mais são do que expressões dos medos que são tão comuns em Zeus, Apolo, Rá, Omuz Mazda e Baal a cerca de Typhon, Píton, Apophis, Ariman e Lotan.

Estes medos são claramente uma forma representativa dos temores do ego, que está envergando uma série de medos e receios de perder a plena dominação da psique, que está em vias de tomar contato com o inconsciente superior, e portanto estando as portas de sua verdadeira vontade.

Como explicado acima, os meios e modos iniciáticos ligados ao sistemas fálico solar, contém esta armadilha interna, e na vazão exata da forma de pensar presente no hermetismo, tal e qual Dion Fortune expressou, ao atingir o ponto imediatamente anterior experiência ctônica do abismo, a manifestação máxima presente dentro dos cultos dogmáticos, plenamente visível nos vultos como o de Zeus e Marduk por exemplo, gera uma cisão na psique do praticante, que contempla nesta modalidade iniciática aquilo que se determina como sendo “…El…”, vivendo na sephiroth de Chesed. El por sua vez, é entendido como sendo o termo singular para Helohim (Deuses), que aparece em descrição acima.

Deus-El vive em Chesed, que é dita como sendo a serphiroth da misericórdia, e desta forma contemplamos os vínculos herméticos forjados das origens etimológicas politeístas, pois Chesed é atribuída a Zeus-Joveh, e assim passamos a compreender quais são os verdadeiros temores citados sobre o abismo, e o que realmente representa transcender o abismo, em termos realmente práticos.

Quando nos erguemos além do chamado abismo, o que viremos a contemplar além das muralhas tecidas pelo dogma é justamente o oposto do que é pretendido, dentro dos mecanismos de manipulação fálicos solares, pois percebemos que a experiência do dito deus uno, como apresentada pelo dogma presente nas Iniciações do Velho Aeon, são fatores naturais e presentes apenas e tão somente até aquilo que se determina chamar de chesed, e apenas e tão somente se os meios e modos iniciáticos usados para se chegar até este ponto, forem os que estão presentes no tradicionalismo hermético, sendo que outras formas de desenvolvimento que não se utilizem da metodologia apresentada dentro da Ortz Chaim, excluem de si esta situação.

Basicamente falando, os elementos acima são em muitos casos a base para os modelos iniciáticos conhecidos pelo termo “illuminati”, pois as chamadas irmandades da luz, dedicam-se a estes modelos de iniciação universal, desprezando a possibilidade de se ir além dos modelos concebidos previamente sem conhecimento das fontes, origens ou outras formas de pensamento, mas supostos como universais – e portanto católicos – para todos os povos, coisa que em si mesmo é um erro, já que como vimos, as coisas não correm desta forma.

Estes movimentos que oficialmente foram iniciados por Adam Weishaupt, na Baviera em 1776 da era vulgar, e aos quais se procuram estudar a origem extra-oficial em Hassam Ibn Sabbah o “velho da montanha”, ou posteriormente em Saladino, que combateu eficientemente os cruzados, e desencadeou o nascimento da Ordem dos Templários, indiretamente, que veio a dar nascimento a Maçonaria.

O fato é que a disposição criada por Sabbah dentro da Ordem dos Nizarins – termo que implica nos fundamentos do Corão – levou em consideração o batanya, que é a forma como se pode referir as ciências secretas, ligadas a iniciações e costumes Gnósticos, que foram introduzidos dentro desta Ordem assim como o costumeiro uso do Hashishiyun – usado de forma similar a algumas descrições modernas dadas por Crowley sobre Eleusis – e que alguns afirmam ser a fonte para muitas organizações extremistas árabes, nos dias atuais, tem vínculos em larga escala com a história de Saladino.

Para começar, o líder da Ordem dos Nizarins Hassam Ibn Sabbah, viveu entre 1034 e 1124 da era vulgar, e Saladino – aliás Rei Curdo do Egito – viveu entre 1.138 e 1.193 da era vulgar, tendo justamente o ápice administrativo de sua vida existido no momento de maior fervor religioso da Ordem dos Nizarins, pouco tempo após a morte de seu fundador.

Como foi logo em seguida a mais proeminente figura islâmica – por assim dizer, pois sua ascendência Curda, fazia dele muito provavelmente um herdeiro Yezidi, ou seja, um adorador de Malak Thaus ou Shaitan – reuniu a sua volta guerreiros mulçumanos em grande quantidade, para enfrentar a ameaça dos cruzados, que sob ordens do Vaticano estavam invadindo a região da terra, que para os árabes também era considerada sagrada, se bem que por outros motivos.

A força e estratégia de Saladino, causaram tamanhos entraves ao avanço dos templários, que o engendrar de uma companhia militar mercenária se fazia necessária em todos os sentidos para aquele período, tanto para salvaguardas as caravanas, quanto para servir de oposição aos islâmicos e seus Nizarins.

Desta forma foram criados os assim chamados “…pobres cavaleiros de Cristo…”, que em verdade após anos combatendo Saladino, tomando contato com a administração e trato usados pelo mesmo e bem como pelo que era visto, ou sabido por terceiros, a cerca dos Nizarins. Sem mencionar que alguns dentre os templários, ao serem capturados não foram mortos, como uma forma de estratégia para introduzir-se dentro da Europa sob várias frontes de batalha ao mesmo tempo, alguns dos templários foram introduzidos dentro dos círculos mais externos da Ordem dos Nizarins, sob a administração e ponto de vista de Saladino – que como foi acima mencionado, parece ter muito em comum com o culto de Shaitan – e enviados de volta para a Europa.

Estes ao entrarem em contato com seus superiores, aliados ao que se sabia e se ouvia dizer sobre a mesma, geraram um diferencial dentro da Ordem dos Templários, combinando-a com elementos gnósticos – assim como Ibn Sabbah o fez com os Nizarins – e fundindo a esta, elementos naturalmente encontrados em solo espanhol, como por exemplo mapas de rotas antigas, elementos ligados ao culto Herético do padre Ário, e em suma, muito do que foi a administração dos Godos sobre quase toda a Espanha e toda a parte norte de Portugal, desencadeando assim entre outras coisas, o surgimento da arquitetura gótica, e dos movimentos góticos, no decorrer do tempo.

Os templários acumularam tal capital em seus castelos, que o protótipo da ordem de pagamento, ou do “cheque”, foi engendrado por eles, pois qualquer um que chegasse a um castelo templário, poderia trocar seus bens por um determinado peso em ouro, e excetuando-se um valor cobrado pelo castelo para fazer tal coisa, poderia trocar o documento por ouro, em qualquer outro castelo templário.

Seus hábitos e costumes mesclados, imbuídos tanto de elementos cristãos, quanto de elementos mitraicos e gnósticos, levou-os a adotarem o culto a Baphomet, que pode ter as seguintes correlações: Baph somado a Metis do grego “Batismo de Sabedoria”; ou da composição do nome de três deuses: Baph – que seria ligado ao deus Baal – Pho – que derivaria do deus Moloc – e Met – advindo de um deus dos egípcios, Set – e há ainda “Baph Mitra”, que significaria “Pai Mitra”; ou o mais usado “TEM OHP AB” que é a abreviação de “Templi Omnivm Hominum Pacis Abbas“, ou em português, “O Pai do Templo da Paz de Todos os Homens”.

O fato é que Felipi VI, falido Rei da Espanha, pensou em se apoderar de seus muitos bens, e para tanto mandou assassinar um Papa, e colocou outro em seu lugar para dar prosseguimento a seus planos.

No entanto o poder e terror inspirados pelos templários era tamanho, que o papa Clemente V temia fazê-lo, e somente o fez com uma adaga encostada em sua garganta, quando assinou o documento que deu origem ao mais nefasto período da história da humanidade, a Inquisição.

Com este documento em mãos Felipi VI, mandou prender Jaques de Molay, líder da Ordem dos Templários, assim como muitos outros da mesma, se apropriou de todos os bens desta ordem que pode encontrar, e provocou uma fuga em massa dos Templários para região da França, onde tempos depois foi fundada a Franco Maçonaria.

A Maçonaria por sua vez, contando com elementos já vinculados ao cabalismo e hermetismo, tornou-se responsável com o crescimento de sua influência, de uma série de marcantes movimentos políticos, como a ascensão de Napoleão e bem como sua queda, ou a queda da bastilha e a revolução francesa, que foi toda ela galgada sobre os três pilares maçônicos “Liberdade, Fraternidade e Igualdade”.

No entanto, desejosa de obter controle sobre este tremendo instrumento de poder, a Coroa Britânica ordenou o assassinato do Grão Mestre da Maçonaria daquela época, e colocou no poder um Grão Mestre Inglês, que instituiu dentro da Ordem Maçônica, um voto de juramento a Coroa da Inglaterra.

Daí em diante nobres, comerciantes, militares e pessoas do povo, que fizessem parte da maçonaria, passaram a trabalhar em prol da Inglaterra.

Isto explica o fato dos piratas que atacavam os barcos Portugueses e Espanhóis, serem chamados de Corsários pelos Ingleses, e serem todos eles nobres da corte britânica, ou mesmo participantes da Câmara dos Lordes. E bem como, isto explica por que o Brasil assumiu a dívida de Portugal, favorecendo a Coroa da Inglaterra em muito com tal ato.

Mas a muito mais dentro do conceito das organizações secretas a ser discutido, no tocante a maçonaria e aos que a ela se ligaram.

Voltemos nossa atenção brevemente para aquilo que se conhece como Ordem Rosacruz.

Ali encontraremos o Confessio Fraternitatis escrito em 1615, onde é feita a defesa da Fraternidade, exposta no primeiro manifesto em 1614, contra vozes que se levantavam na sociedade colocando em pauta a autenticidade e os reais motivos da Ordem Rosacruz. Neste manifesto se pode encontrar as seguintes passagens que nos mostram a natureza “illuminati e portanto cristã” dos Rosacruzes:

“…O requisito fundamental para alcançar o conhecimento secreto, de que a Ordem se faz conhecer possuidora, é que sejamos honestos para obter a compreensão e conhecimento da filosofia descrevendo-nos simultaneamente como Cristãos! Que pensam vocês, queridas pessoas, e como parecem afetados, vendo que agora compreendem e sabem, que nós nos reconhecemos como professando verdadeira e sinceramente Cristo, não de um modo exotérico e sim no verdadeiro sentido esotérico do Cristianismo! Viciamo-nos na verdadeira Filosofia, levamos uma vida Cristã! Condenamos o Papa como a verdadeira Besta…”

E por notarmos que o Brasão de Armas de Lutero é o mesmo usado pelos Rosacruzes, para dar nome a seu símbolo máximo – justamente a Rosa e a Cruz – e a isto aliarmos o fato de que este movimento nasceu para dar apoio a administração dos Estados Protestantes da Boêmia, sob Frederico V, saberemos então porque foram apoiados pelo mesmo naquele território, e bem como qual a natureza de sua força motriz.

E quanto pensamos na história da organização que veio a dar origem a Maçonaria, ou seja a Ordem dos Templários, e bem como nos atemos ao que sobreveio a mesma sob os atos do papa Clemente V, entenderemos então os atos entrelaçados da Maçonaria e bem como os usos que a mesma deu as contribuições dos protestantes, a cerca tanto da movimentação política de então, quanto ao direcionamento simbólico que pretendeu posteriormente, principalmente quando ela veio a estar sob total influência da Coroa Britânica, já totalmente desvinculada do Vaticano.

Com tudo isto veremos que na verdade, Adam Weishaupt foi influenciado em sua reformulação do movimento dos Illuminati da Baviera, por ação do protestantismo rosacruciano, contido por exemplo no Confessio Fraternitatis acima descrito, e no entanto todos este movimentos contém sementes do gnosticismo quer seja pela via indireta dos Templários e de seus descendentes os Maçons, quer seja pela via da Ordem dos Nizarins de Hassam Ibn Sabbah, também usada por Saladino o Curdo, e quer seja pela influência que Saladino deu a todos que passaram por sua autoridade, uma vez que o mesmo era Curdo e que muito provavelmente possuía fortes influências Yezidis, em sua conduta.

No entanto observamos em todos os movimentos acima, Duas Coisas muito proeminentes.

A primeira delas é a constante batalha destes movimentos uns contra os outros.

A segunda, é o fato de que todos eles ou são descendentes de uma mesma fonte, ou detém os mesmos símbolos, ou afirmam as mesmas verdades, e ao final das contas são todos movimentos ligados a “iluminação do ser pelo sol da sabedoria secreta monoteísta”, que incansavelmente luta contra as trevas do grande inimigo infiel, que vive apartado da dita graça de “cristo-allah-yaveh-aton”!

E por tudo que já foi anteriormente descrito, saberemos que trata-se por um lado de corpos religiosos baseados em dogma, que em si mesmo sempre é vazio, e por outro em processos de catarse psicológica, que estão incompletos pelo uso apenas do que afirma a base escravagista da fórmula fálico solar, sendo sempre deixadas de lado toda e qualquer forma simbólica, por mais rica que seja, que aborde formas de pensamento diversos do dogma corânico, bíblico ou talmúdico, mas que mantém de forma adulterada, os simbolismos dos quais o dogma veio a se apropriar indevidamente, para dar sustentação a si mesmo – como foi largamente discutido acima.

Agora surgirá a seguinte pergunta:

Há possibilidade iniciática nos tempos modernos, dissociada dos melindres e tolices seculares – milenares na verdade – que possa nestes dias levar alguém a se erguer para além dos limites do ego, da falsidade social, da falsidade pessoal ou do rastejar contido na lastimável misericórdia, que tanto é citada como grande e respeitável virtude?

Certamente que sim!

Observemos que os reflexos deste Aeon, já eram notados em 1848 e.v. – com a obra de Orestes Brownson – e em 1888 da vulgar era cristã, quando uma das mais celebradas obras de Friedrich Nietzsche “O Anticristo” foi escrito – embora tenha sido somente publicada em 1895 e.v. – e desde aquele momento, começaram a tomar sena em meio ao mundo com cada vez mais ênfase, pois pouquíssimo tempo depois movimentos de renascimento de cultos, tradições e formas de conhecimento que historicamente se opuseram ao cristianismo e a outras formas de expressão fálico solar, ou dogmáticas conhecidas, começaram tanto a ganhar contornos quanto a se fazerem cada vez mais presentes na sociedade moderna.

Pois justamente em 1895 e.v. Carl Kellner, Franz Hartmann e Theodor Reuss engendraram os moldes do que então viria a ser conhecido como Ordo Templi Orientis, que veio a ser fundada concretamente em 1902 e.v., justamente o mesmo ano em que Karl Anton List desenvolveu um sistema de resgate das tradições setentrionais, que impulsionou uma gigantesca quantidade de trabalhos seus e de outros que vieram posteriormente.

Apesar da O.T.O., fundada por Carl Kellner, ter sido pensada nos mesmos moldes dos sistemas “illuminati” que acima foram mencionados, a mesma tanto já nasceu com alguns elementos diferentes em sua forma de expressão, como também veio a passar por alterações imensas poucos anos depois.

Esta academia de treinamento para maçons, como era o intento dos fundadores no início, contava com rituais sexuais ligados ao ponto de vista de Franz Hartimann e bem como a filosofia dos movimentos Samkhya e Addvaista, e contava com métodos de preparação do chamado elixir alquímico, que se usa de uma abordagem ligada a um ponto de vista acima citado, referente ao espírito estar presente no sêmen, e se fixar para o consumo via a emanação lunar do sangue menstrual.

Em 1904 e.v., na cidade egípcia do Cairo, Rose Kelly veio a ser o veículo pelo qual Aleister Crolwey recebeu o Liber Al vel Legis como a lei máxima do novo Aeon.

Este livro possuía uma tal natureza, que o comentário de Crowley ao seu término era caracterizado pelo terror, dado o choque cultural, social, religioso e político proposto no mesmo, que em muito já se alinhava com as disposições traçadas por Nietzsche em seu Anticristo, com o trabalho de Raleais “Gargântua e Pantagruel” e com o enfoque de Karl Anton List, perante a ética e o caminho de oposição a ser tomado.

Em 1912 e.v. Theodor Reuss convidou Aleister Crowley para encabeçar o ramo inglês da O.T.O., após ter testemunhado em um de seus trabalhos a chave do Santuário Supremo da Gnose.

Crowley que já havia engendrado a A.A. dentro de pontos de vista similares aos da O.T.O., mas já embasada no Liber Al vel Legis, não viu nenhum obstáculo em polarizar a O.T.O. com o Liber AL, tornando-a desta maneira uma forma de expressão do Thelemismo.

Paralelo a isso, os movimentos engendrados por K.A. List desdobraram-se de tal forma, que um trabalho de Orestes Brownson de nome “O Renascer do Odinismo” escrito em 1848 e.v., foi usado como base para engendrar um movimento com este nome em 1930 e.v., e que se estendeu em vários países, incluindo a Islândia, chegando a engendrar ali em 1972 e.v., a aceitação de uma derivação de seus conceitos sob o nome Asatru, com religião oficialmente aceita naquele país, e em 1973 e.v. foi criado o Odinic Rite na Inglaterra, e uma série de outros sistemas setentrionais entrou em curso desde então.

Em meados de 1900 e.v., em solo eslavo o mesmo começou a ocorrer, pois a Romuva – tradição natural dos povos Eslavos e Bálticos – que havia sido suprimida pelas artimanhas, perseguições e engodos dos jesuítas, voltou a tomar corpo no leste asiático.

No entanto em meados de 1940 e.v., o avanço soviético usando-se dos meios mais violentos a sua disposição, procurou exterminar todos os praticantes de Romuva que pôde encontrar, sendo que a mesma veio a se manter oculta no seio das famílias que ainda sustentavam seus ideais, até que 52 anos depois, por puro esforço de vontade e insistência veio ela a ser reconhecida em meio a muitos estados eslavos.

Em tempos muito recentes, os templos gregos voltaram a ser usados pelos “Hellenistas”, que procuram o resgate dos cultos antigos da região grega, e ali puderam reunir 50.000 pessoas, para adoração dentro dos templos helênicos.

Todos estes movimentos polarizados em seu início basicamente no mesmo momento histórico, não foram outra coisa senão o efeito indireto do despertar de melhores e mais precisas formas de iniciação, ligadas a fórmulas verídicas do desenvolvimento humano e que no geral contém veracidade histórica, tanto como um de seus sustentáculos, quanto expressão esta veracidade via seus símbolos e mistérios falando diretamente aos povos que participam da ancestralidade dos mesmos, ou falando aqueles que ligam-se a esta ancestralidade por identificação.

Se analisarmos o texto básico do thelemismo, notaremos que seu desenrolar nada tem em comum com as fórmulas de miserabilidade humana que Nietzsche sempre atacou, uma vez que neste mesmo texto não há espaço para o fraquejar ou para a misericórdia, que em si é vista como um vício.

Se notarmos os elementos acima reunidos, lembraremo-nos que a esfera de chesed citada dentro do cabalismo e hermetismo, lar da fórmula de “…Yaveh-Joveh-Zeus-Deus…” expressa pelo nome do deus supremo dos fenícios “..El…” ou “…Al…”, que foi absorvido para uso pelo hebraico como termo que define o deus do monoteísmo “…El…”, cujo plural ou coletivo é “…Helohim…” – como acima descrito.

Veremos que misericórdia é atribuída diretamente a esta sephiroth, que aliás é a antecessora da citada experiência do abismo, que abriga em si todos os temores de Zeus a cerca do despertar e liberdade dos Titãs.

Sobre isto o Liber Al vel Legis, deixa bem claro em suas estrofes a orientação pretendida para este Aeon:

21. Nós não temos nada com o proscrito e o incapaz: deixai-os morrer em sua miséria. Pois eles não sentem. Compaixão é vício de reis: pisa o infeliz & o fraco: esta é a lei do forte: esta é a nossa lei e a alegria do mundo. (Livro II – Hadit);

18. Que a piedade esteja fora: malditos aqueles que se apiedam! Matai e torturai; não vos modereis; sede sobre eles! (Livro III – Rá Hoor Khuit)

;

Que muito guardam em comum com esta estrofe da tradição setentrional:

127.Se estás consciente que o outro é perverso, diga: não tenho trégua ou acordo com inimigos! (Havamal)

E bem como com estas importantes passagens do Anticristo de Nietzsche:

O que é bom? – Tudo que aumenta, no homem, a sensação de poder, a vontade de poder, o próprio poder.

O que é mau? – Tudo que se origina da fraqueza.

O que é felicidade? – A sensação de que o poder aumenta – de que uma resistência foi superada.

Não o contentamento, mas mais poder; não a paz a qualquer custo, mas a guerra; não a virtude, mas a eficiência (virtude no sentido da Renascença, virtu(1), virtude desvinculada de moralismos).

 

Os fracos e os malogrados devem perecer: primeiro princípio de nossa caridade. E realmente deve-se ajudá-los nisso.

 

O que é mais nocivo que qualquer vício? – A compaixão posta em prática em nome dos malogrados e dos fracos – o cristianismo…

 

Como pudemos então observar acima, o alinhamento que culminou com o nascimento do Liber Al vel Legis, tem características muito bem definidas que tendem a extirpar de si as formas mendicantes e sofríveis, que marcaram os tempos antigos, e procuram livrar-se das adulterações históricas e bem como dos dogmas e vícios que são tão comuns em meio ambiente fálico solar secular, que tem acompanhado a humanidade de forma tirânica tolhendo-lhe o livre pensamento.

O advento do thelemismo serviu como uma cabeça de aríete para dar passagem a uma série de estilos de expressão religiosa, artística, filosófica e científica em total oposição ao Aeon do Culto dos Escravos, buscando a divindade que subsiste na humanidade e pela humanidade, e bem como as formas de enaltecimento da nobreza de ser, da disciplina, da força, da vontade e da coragem do espírito do ser humano, não mais visto agora como um pecador a ser salvo, e sim como um deus a ser despertado, pois se o thelemismo afirma que “cada homem e cada mulher, são uma estrela”, também isto pode ser encontrado dentro das formas setentrionais, eslavas e célticas – entre outras – renascidas dentro deste pulso crescente, onde podemos encontrar citações tais como “quando os deuses criaram a humanidade, eles criaram uma arma”!

Neste Aeon aquele que pleiteia a iniciação deve buscar encontrar a si mesmo como o Centro do Universo, e não mais o Sol como tão freqüentemente ocorreu no Aeon passado, sob o dogma e as adulterações, e entender a si como uma estrela com um propósito, uma órbita, uma lei especificamente sua.

Ele não mais deve buscar virar a outra face, antes deve ele atingir o inimigo e extirpar-lhe a existência de forma fria e dura, pois a lei é a lei do forte e do mais capacitado.

Desta maneira vem a ser uma obrigação de todos os sistemas nascidos nesta maré de renovação, de eliminar todo e qualquer vestígio de maculo dos antigos tempos do dogma, pois tanto dão margem para suposições e aplicações baseadas em falsidade e mentira histórica ardilosamente manipulada, quanto são instrumentos de plágio e de experiências vividas pela metade, para dar alguma consistência ao “monotonoteísmo” – parafraseando Nietzsche.

Não é mais cristo quem está visível no altar!

Ali devem estar as imagens bélicas, belas e orgulhosas de Hoor, Baldhur, Dazbog, Belennos, Heracles ou Utu Absu.

Não é mais o manto recatado de uma Maria inviolada que deve instigar o coração das mulheres, e sim o brilho da estrela da manhã, sob a graça de Inanna, Astaroth, Freija, Lada, Afrodite e Isis.

Não mais deve ser celebrado um matador de dragões, antes disto Hadit, Svarog, Neit, Lock, Ophion, Dagon, Zalts serão celebrados como a fonte do saber humano, e origem da divindade humana.

Não mais as fórmulas que relegaram diferenças baseadas na simbologia do falo solar, podem ser empregadas nestes tempos sem que se pague o preço do ridículo, do escárnio ou do manto da tolice ou do engodo. Pois a história e a ciência juntas comprovam, que tem sido sempre assim em meio ao dogma e seu bastião.

No entanto tristemente podemos notar como, apesar dos sinais diretos e indiretos, sutis ou grosseiros, violentos ou suaves, constantemente baterem a porta de todos os ditos iniciadores. Estes em sua maioria prosseguem nos usos e costumes das falhas do Antigo Aeon, e em nenhum momento pautam-se em meios e modos de alterar sua conduta, ou sequer supõe-se errados em usá-la.

Esta conduta contumaz é fruto da relutância em perceber os próprios erros, ou na necessidade do ganho fácil proveniente do uso dos modelos antigos, ou do tráfico de influência que se possa fazer ao mantê-lo em voga, mesmo que se saiba o quão errado tal ato está.

Assim sendo, e tendo como base de análise o caso thelemico, veremos que em dado momento é afirmado no tema básico dos thelemitas, o Liber Al vel Legis, a cerca de Crowley que:

…49. Abrogados estão todos os rituais, todas as ordálias, todas as palavras e sinais. Ra-Hoor-Khuit tomou seu assento no Equinócio dos Deuses; e que Asar fique com Isa, que também são um. Mas eles não são meus. Que Asar seja o Adorador, Isa a sofredora; Hoor em seu nome secreto e esplendor é o Senhor iniciante. (Livro I – Nuit)…

 

…5. Vide! os rituais da velha era são negros. Que os maus sejam abandonados; que os bons sejam expurgados pelo profeta! Então este Conhecimento seguirá de forma correta. (Livro II – Hadit)…

E considerando-se estas passagens do Livro III de Rá Hoor Khuit, do Liber Al vel Legis:

51. Com minha cabeça de Falcão eu bico os olhos de Jesus enquanto ele se dependura da cruz.

52. Eu bato minhas asas na face de Mohammed & o cego.

53. Com minhas garras Eu rasgo a carne do Indiano e do Budista, Mongol e Din. 

54. Bahlasti! Ompedha! Eu cuspo em seus credos crapulosos.

55. Que Maria inviolada seja despedaçada sobre rodas: por sua causa que todas as mulheres castas sejam totalmente desprezadas entre vós!

56. Também por causa da beleza e amor.

57. Desprezai também todos os covardes; soldados profissionais que não ousam lutar, mas brincam; todos os tolos desprezai!

58. Mas o perspicaz e o orgulhoso, o real e o altivo; vós sois irmãos! 

59. Como irmãos, lutai!

 

Entenderemos que a lei de thelema é irmanada a todas as formas de expressão que veiculam o forte e o orgulhoso, o disciplinado e o capaz, em total oposição a misericórdia, compaixão, hipocrisia religiosa, falsidade moral e mentiras históricas que são legítimas representantes do movimento religioso fálico solar, desde Akhenaton dos golpes políticos, religiosos, militares e econômicos descendentes de sua atitude néscia.

E, no entanto, o próprio Crowley manteve alguns destes erros, que foram continuados por seus discípulos diretos e indiretos, tanto por descuido quanto por descaso.

Seus atos abriram portas a muito fechadas, mas muitas de suas atitudes e posicionamentos mantiveram-se seguramente mantidos dentro das muralhas do que o thelemismo afirma ser o Velho Aeon.

Uma prova disto, é uma análise sua a cerca de “Yod”:

Aleister Crowley, em sua obra O Livro de Thoth – O Tarot, explica: “Yod é a primeira letra do nome Tetragramaton e este simboliza o Pai, que é Sabedoria; ele é a forma mais elevada de Mercúrio, o Logos, o Criador de todos os mundos. Conseqüentemente, seu representante na vida física é o espermatozóide e esta é a razão da carta ser chamada O Eremita…

Em primeiro lugar, os movimentos gnósticos foram galgados sobre as fórmulas que foram acima descritas, e que pela observação adequada, se mostram incapazes de sobreviver neste Aeon, pois nem são históricas e nem são verdadeiramente tradicionais, e no geral apenas sustentam a atuação das bases do Aeon, que insidiosamente mentem-se presente até estes dias, por meio de seus sustentáculos do passado, tipificados como conhecimento, mesmo não o sendo sob a luz da ciência e da história.

Em segundo lugar, esta fórmula gnóstica que relega a mulher ao segundo plano, vista como “…He-Vau-He…”, ou “…Eva…”, enquanto Therion é visto como “…Yod…” e “…Adão…”, questionada inclusive por outro thelemita de nome Kenneth Grant, entra em um beco sem saída quando se observam as seguintes passagens do Liber Al vel Legis, Livro I de Nuit:

…52. Se isto não estiver correto, se vós confundirdes as demarcações dizendo: Elas são uma; ou dizendo, Elas são muitas; se o ritual não for sempre a mim: então aguardai os terríveis julgamentos de Ra Hoor Khuit!…

…16. Pois ele é sempre um sol, e ela uma lua. Mas para ele é a secreta chama alada, e para ela a descendente luz estrelar…

Se a mulher é somente um corpo sem alma, como gosta de afirmar toda versão antiga da bíblia, e muitas formas de entendimento tanto gnósticas como dogmáticas, então como pode ela tomar contato diretamente com a Luz Estelar de Nuit?

E se Hadit claramente afirmado ali como a Kundalini, no Homem, e deve ser erguer até Nuit, portanto as alturas do Sahashara Chacra, com pode ele ser o espírito se o mesmo procede do Nada Primordial que é Nuit/Tiamat por excelência, e tem nela sua verdadeira morada?

E sabendo-se da verdadeira história de Akhenaton, dos desdobramentos reais ligados a ele, do fato de que não houve envolvimento algum de uma língua sagrada ou sistema sagrado – ou de qualquer divindade real patronal – ligado aos usos e costumes do idioma, usado como base para estudos e aplicações. E entendendo-se pelo estudo adequado, que seus símbolos mais fortes, são de origem de povos mais velhos e mais sábios, e que estes símbolos perderam muito de si ao serem anexados indevidamente para uso do dogmatismo fálico solar dos herdeiros de Akhenaton, e mesmo para representação de fórmulas filosóficas destes, uma vez que em verdade o drama do fiasco que a cidade de Akhetaton foi, é o tema central destes símbolos base que sustentam sua tese de existência, contudo modificados para terem algum sustento histórico, mesmo que extremamente ficcional.

Não se admite mais em momento algum, que se possa supor qualquer uso real ou valor dentro da iniciação, para os códigos e meios e modos, tais e quais acima foram descritos.

Assim sendo, é chegado o momento de dar um basta no medíocre comportamento que tem abundado em meio aos ocultistas e ditos praticantes de outros estilos, onde coisas velhas e já sem uso algum são vendidas com novas roupagens, para não causar náusea aos clientes.

Outros sistemas e símbolos melhores, e outras línguas em total afinidade com o despertar do thelemismo se fazem necessárias para alavancá-lo adiante, como um baluarte da verdadeira e pura vontade humana.

É necessário que a ordem e o valor do alfabeto inglês sejam veridicamente empregado para tanto, com o estudo de suas origens e com o estudo de seus símbolos, que se adéquam em todos os sentidos a lei de thelema, e dos quais tanto necessitam os humanos para poderem dar seu passo além, e finalmente virarem esta página da história onde os grilhões do dogma foram pintados de ouro, e chamados de honraria.

Pois nesta ordem e valor das tradições do alfabeto da língua inglesa, “tzaddi” finalmente poderá ser descartado como “A Estrela”, e o caractere que demarca a “humanidade”, assumira ali seu lugar devido, e “Isa” estará com “Asar”, o qual é “Har” para os anglo-saxões antigos, que em verdade conheceram “Vontade” como seu irmão, e bem como um de seus principais deuses.

Por Grimm Wotan, o Berserker

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/thelema/a-iniciacao-no-velho-e-no-novo-aeon-antagonismos/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/thelema/a-iniciacao-no-velho-e-no-novo-aeon-antagonismos/

A Transcendência do Amor

Magia Sexual

Por Serge Hutin Quer

Este é o título de um livro escrito nos Estados Unidos, em meados do século XIX, por um homem curioso: o mago rosacruz Randolph.

Originalmente não era uma obra destinada à publicação, mas apenas apontamentos confidenciais que ele reservou para uns poucos discípulos e que só foram levados ao grande público após sua morte.

Seu conteúdo centra-se na magia que envolve o ato sexual resultante de uma união harmoniosa e os poderes regeneradores dele originários.

PRIMEIRA PARTE:
PASCHOAL BEVERLY RANDOLPH

Paschoal Beverly Randolph nasceu em Nova York, a 3 de outubro de 1825. Era filho de um homem pertencente a uma família economicamente bem situada na região e de uma mulher, Flora Beverly, que descendia de ingleses, franceses e malgaxes.

Esta mulher – segundo se dizia, descendente da família real de Madagascar – morreu quando Randolph tinha apenas 5 anos, e seu desaparecimento marcou a vida do jovem para sempre.

O pai deixou-o aos cuidados de uma descuidada meia-irmã, que o largou praticamente abandonado: durante anos Randolph não foi à escola, e sua educação foi inteiramente feita nas ruas. Mais tarde, Randolph chegou a se formar em medicina – mas seus estudos foram quase inteiramente dirigidos por ele mesmo.

Durante toda sua vida Randolph guardou a lembrança do amor maternal perdido tão cedo. Na sua autobiografia, ele escreveu: “Nasci no amor de uma mãe amorosa. Sou exatamente a contrapartida de seus sentimentos, de suas paixões vulcânicas, ardentes, de seu amor que parecia o céu, mais profundo que a morte. De sua agonia, terrível como mil instrumentos de tortura. De sua esperança e confiança. Por sua solidão fui um eremita toda minha vida, mesmo entre os homens. Em uma palavra: sou a expressão exata do estado do corpo do espírito, da emoção, da alma, das tendências, das aspirações desta mulher, quando ela tomou para si a encarnação daquele que agora escreve essas linhas.”

Randolph estendeu essa admi-ração a toda mulher, como poderemos ver. Mas esse lado malgaxe que tinha em si foi a origem, também, de uma série de problemas raciais. Desde cedo, foi maltratado por esse motivo. Aos 15 anos tornou-se grumete e, mais tarde, marinheiro. Tal fato levou Randolph a viajar por todo o mundo e conhecer países distantes.

Aos 20 anos, um grave acidente ocorrido quando ele cortava madeira obrigou-o a abandonar a carreira marítima. Passou então a exercer profissões diferentes, como tintureiro, cabeleireiro. Mas continuava a viajar, com os poucos recursos que conseguia reunir.

SEGUNDA PARTE: 
VIAGENS AO ORIENTE E A  AMÉRICA
Apaixonado desde a infância por ilusionismo e magia, ele foi, numa das suas viagens à Síria, um dos primeiros ocidentais a serem iniciados nos ritos secretos dos ansariehs. No seu retorno aos Estados Unidos, Randolph iria organizar uma seita ligada aos degraus superiores da rosacruz: os Sacerdotes de Aeth.

Na Europa, Randolph recebeu também os mais altos graus de um dos ramos mais ativos da comunidade rosacruz. Eliphas Levi, em pessoa, conferiu a Randolph o grau supremo da Fraternidade Rosacruz e também da Ordem do Lírio. Na Espanha, recebeu a iniciação secreta dos alumbrados, adeptos do Amor Puro.

Mas as viagens não pararam aí: ele visitou a América Latina, Inglaterra, novamente a França onde se tornaria amigo de Alexandre Dumas -, Grécia, Turquia, mais uma vez a Síria e Arábia.

De volta aos Estados Unidos, ele fez amizade com pessoas de posição na comunidade e adquiriu uma reputação sedutora e invejada nos meios maçônicos e rosacruzes da região. Entre os amigos maçônicos de Randolph estavam George Lippard, o general Ethan Ritchcock – autor de uma célebre pequena obra sobre os aspectos espirituais e psíquicos da alquimia, publicada em 1854 em Boston – e John Brown, autor da “cruzada antiescravagista”, surgida na década de 1850 na Virgínia e que antecedeu a Guerra de Secessão.
Randolph foi, também, uma espécie de consultor espiritual de Abraham Lincoln, e isso não é tão surpreendente: ambos eram maçons e rosacruzes, ambos verdadeiros self-made-men, oriundos de uma classe social humilde, até chegarem a uma condição social superior.
Ambos eram ardentes patriotas americanos, queriam abolir a escravatura e libertar os negros. No fim da Guerra de Secessão, Lincoln encarregou Randolph de supervisionar, em seu nome, obras educativas destinadas aos escravos emancipados.

Randolph se tornara Supremo Grão-Mestre da sociedade rosacruz segundo duas patentes: uma liberada em 1858, após uma reunião realizada em Paris e presidida por Eliphas Levi, e uma outra, interior, oriunda da Fraternidade Hermética de Luxor.

Mais ou menos em 1870, Randolph participava de um círculo chamado Fraternidade de Eulis. Essa fraternidade rosacruz, atualmente com sede em Beverly Hall, Pensilvânia (EUA), é atualmente uma das organizações rosacruzes mais atuantes nos Estados Unidos.

TERCEIRA PARTE:
MAGIA: O CONTATO COM OUTROS PLANOS

Apesar de seu grande sucesso nos meios ocultos, Randolph não teve jamais uma vida simples e feliz. Ele diria dele mesmo: “Cada gênio está destinado à miséria nessa vida, porque a sua vida nada mais é do que um desenvolvimento angular, unilateral.”

Randolph morreu bastante jovem, depois de ter passado por vários problemas bastante difíceis: surgiram ataques de todo lado, resultado da total confiança que ele depositava nas pessoas, na sua generosidade. De fato, Randolph era de uma ingenuidade quase infantil com todos aqueles que se relacionavam com ele.

Mas, ainda assim, Randolph teve tempo para deixar alguns outros tratados ocultos, além da Magia Sexual: por exemplo, o Relacionamento com os Mortos, Os Mistérios Secretos de Eulis, além de uma série de romances iniciatórios, como Asrotis, Dhoula-Bell, Magh-Theson.
Madame Blavatsky não tinha Randolph em boa consideração: para ela, o americano era uma espécie de mágico, suspeito, ávido de fama e poderes nefastos. Mas este é um julgamento apressado: seria um erro crer que o autor de Magia Sexual era um homem obcecado egoisticamente com o poder às custas dos outros.

Randolph, na verdade, queria conhecer as leis supremas do universo e da vida, adquirir conhecimentos. Ele mesmo explicou: “Acreditamos na natureza, que é para nós a manifestação da inteligência suprema, e proclamamos que Deus reside em tudo e em cada um de nós. O mundo das aparências físicas não é nem de longe o único a ter uma realidade palpável. Pela magia será possível obter o contato com as outras regiões da existência.”

Em “A Fraternidade de Eulis”, Randolph escreveu que crê nos mundos elétricos, etéreos e fluídicos, situados além das fronteiras do mundo material. Esses mundos, lembra ele, se estendem para o infinito, “povoados de belezas ofuscantes, ornados de nuvens e constelações insensatas, de paisagens sem limite.” Esses mundos são, para nosso universo, o que este último seria para uma cidade de formigas.


QUARTA PARTE:
A MAIOR FORÇA MAGICA DA NATUREZA

Mas, para Randolph, a revelação fundamental é uma só: o sexo é a maior força mágica da natureza. Mais ainda: do amor nascem, segundo as circunstâncias, as paixões, os arrebatamentos, os estímulos para a criação divina ou humana, o surgimento de deuses ou diabos.

Daí a possibilidade dessa magia simples e eficaz, que não precisa ser temida pelos não-iniciados, pelos que não foram predestinados. Esta força, quando desencadeada, pode ser comparada àquela que, na natureza exterior, origina a tempestade.

Apesar dessa aparente simplicidade da energia sexual, Randolph acredita que somente um iniciado será capaz de dominar essa força inteiramente. Diz ele: “Este caminho está destinado e é reservado aos homens de coragem e algumas poucas mulheres, que sabem utilizar a energia sexual de uma forma útil.”

Ele observa ainda que “as forças mágicas não repousam jamais nos grandes vazios das almas fracas, e elas não se revelam ao homem a não ser que as diferentes correntes de influências exteriores se acalmem, graças a uma vontade fria e paciente, comprovadas ritualmente”.

Para Randolph, sua Magia Sexual seria apenas um caminho, traçado sobre um plano: o interessado deve erigir ele mesmo a vela do seu barco e orientá-lo com sua própria mão, “na direção onde brilha o Sol”.

Longe de ser um libertino cínico, Randolph mais parece, aos olhos modernos, um homem rígido, se comparado às atuais lutas pela chamada liberação sexual. Exemplo disso é que ele concebia sua magia sexual praticada apenas por um casal carinhosamente unido e amantíssimo. 
São do próprio Randolph as palavras: “Não tome, para essa operação mágica, a prostituta, a virgem ignorante, nem a menor de 18 anos, nem a mulher de um outro, mas cumpra o ato solene com sua própria amada, esposa ou amante.”

Ele exalta o casal a observar um sábio equilíbrio higiênico: alimentar-se com simplicidade e, de preferência, com alimentos naturais, dormir num leito duro, com a cabeça para o norte, usando travesseiros baixos, num quarto fresco e bem arejado.

Isto não quer dizer que Randolph queira tirar toda a alegria e prazer do ato sexual: “O homem não deve, jamais, tocar uma mulher que não esteja emocionada, e ele não deve deixá-la antes que os dois frissons não tenham acabado.”

Ainda assim, seria falso acreditar que a multiplicação frenética das relações sexuais aumentaria os efeitos. Para Randolph, o contrário estaria mais perto da verdade. Escreve ele: “Não veja tão freqüentemente sua mulher e somente quando os dois estejam bem precisados. Durmam em quartos separados e uni-vos não mais que duas ou três vezes por semana.”

Mas é interessante reforçar o fato de que a união do casal não se reduz somente ao ato sexual: “Além do prazer carnal, esteja atento à união das almas, se quereis que vossa prece seja atendida.” Quando essa união atinge sua forma perfeita, ela é sagrada: “Que vosso amor vos una a Deus”, espera Randolph.

 

QUINTA PARTE:
SEXO: CAMINHO PARA O DIVINO

Aos olhos de Randolph, seria inteiramente inconcebível acreditar que um amor verdadeiramente sincero e total possa fechar o caminho dos parceiros ao Divino.

Para ele, existem certas posições sexuais que têm efeitos mágicos, mas seria mutilar singularmente seus ensinamentos acreditar que tudo se resume a uma série de posturas fisiológicas sexuais mais eficazes. Ao contrário: Randolph crê que o ato sexual é um verdadeiro ritual mágico onde intervêm, ao mesmo tempo, os gestos, os perfumes, as cores, os sons, Randolph precisa: “O ritual do amor mágico pode ser completado por objetivos tão variados como a vida mesma o é, mas não se pode esquecer jamais que a lei da polarização e reflexo devolve ao operador o bem e o mal que ele causa ao outro”.

Essa é a idéia clássica do choque do retorno sofrido pelo enfeitiçador. Segundo Randolph, seria possível utilizar a energia sexual para a realização de toda sorte de operações mágicas: “Se um homem deseja ardentemente um certo poder e guarda este desejo do instante que penetra a mulher até o instante que a deixa, seus votos necessariamente serão satisfeitos.”

Randolph desenvolveu um princípio, no qual afirma que se o ato sexual é perfeito, se a união entre o homem e a mulher se cumpre dentro de todas as esferas de seus respectivos seres, suas forças aumentam tanto mental quanto fisicamente. “E a prece, esta prece, é sempre satisfeita.”

E quais seriam os resultados práticos obtidos pela magia sexual? Randolph enumera os seguintes:

1) A regenerescência da força e da energia vital e o reforço do poder magnético;

2) A produção da influência magnética, em vista da submissão do homem à mulher, ou da mulher ao homem;

3) O refinamento do poder ou dos sentidos em geral;

4) A determinação, à vontade, do sexo da criança a conceber e o reforço de suas capacidades cerebrais ou corporais;

5) A criação de visões sobre-humanas, espirituais e sublimes;

6) A realização de um projeto ou de um desejo extremo, não importa em que ordem de idéias.

SEXTA PARTE:
AS PROJEÇÕES MÁGICAS

O livro consagra os capítulos XIX e XXII à confecção minuciosa de espelhos mágicos, magneticamente carregados pelo casal. Outra proposta de Randolph seria a de quadros magicamente animados pela projeção da energia psíquica.

Para ele, seria possível realizar a magia dos quadros animados, não somente de pessoas vivas, mas de seres do passado e do futuro – e para isso bastaria que o casal soubesse realmente usar a energia sexual. Ele descreve suas próprias experiências, coroadas de êxito, e garante que os resultados podem ser alcançados por todos os seus seguidores.

Randolph explica: “Você verá, enquanto estiver confortavelmente instalado ao lado da pessoa amada, o ar do quarto escurecer gradualmente até o negro profundo. A imagem surgirá na sombra e o corpo pintado na tela estremecerá de repente. Os braços e as pernas do retrato farão movimentos incertos, como se eles se assegurassem da realidade da sua vida, e depois, lentamente, a silhueta inteira se destacará do quadro até vocês.”

Uma operação como essa pode ser altamente perigosa, já que será muitas vezes suscetível de levar à materialização de entidades demoníacas, as quais tentarão seduzir a um ou outro dos operadores. Randolph, então, adverte: “Um minuto de prazer nos braços de um súcubo (o demônio feminino materializado) é um pacto assinado com o Diabo: toda sua vida pode ser sugada em um ano.”

Uma curiosidade: Claude d’Ygé, autor da Nouvelle Assemblée des Philosophes, publicada em 1954, na França, afirmou ter visto vários desses quadros animados descritos por Randolph durante as reuniões de uma seita mágica em um castelo da Tchecoslováquia, nos anos 20. Essa seita, criada a partir da Fraternidade de Randolph, foi fundada pela tradutora do livro, naFrança: a estranha, misteriosa Maria de Naelowska.

Publicado em: O Melhor de Planeta Vol. 3
Tradução e adaptação de Marco Antonio de Carvalho

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-sexual/a-transcendencia-do-amor/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-sexual/a-transcendencia-do-amor/

23 Perguntas para Robert Anton Wilson

Robert Anton Wilson “é” aquele que não é “é”. Talvez possamos descrevê-lo como um filósofo psicodélico, um trapaceiro pós-moderno, um comediante intelectual, um tornado que atravessa a psique. Ele ganhou destaque como editor da Playboy na década de 1960. Durante esse tempo de magia ele se envolveu com os Discordianos, uma “nova religião disfarçada de uma piada complicada”, ou “uma piada complicada disfarçada de uma nova religião”. Junto com Robert Shea, ele é co-autor do Illuminatus! trilogia de romances, um trabalho alucinante (de ficção?) que teceu várias teorias da conspiração e elevou o Discordianismo a um verdadeiro status de culto. Amigo próximo de Timothy Leary, ele compartilhava as paixões do Dr. Leary pela psicologia radical e pelo futurismo. Seu livro Prometheus Rising fundiu o agnosticismo ao modelo ao modelo de 8 circuitos do cérebro de Leary para criar um sistema que ensinou as pessoas a desconstruir sistemas dogmáticos de crenças pessoais. Seus inúmeros outros livros exploraram tópicos como mecânica quântica, universos alternativos, sistemas lógicos não aristotélicos, magia sexual, Wilhelm Reich, James Joyce e Orson Welles. Sua abordagem do modelo agnóstico para a investigação o torna um escritor único, um dos poucos que podem escorregar perfeitamente do pensamento científico racionalista para a especulação metafísica não materialista.

Embora tenha lutado contra a síndrome pós-pólio nos últimos anos, ele continua ativo na propagação de suas várias paixões (N.T RAW morreu em 2007) O filme de 2003 Maybe Logic de Lance Bauscher, Cody McClintock e Robert Dofflemyer, explorou e apresentou conceitos wilsonianos envoltos em cores e ritmos sutis, mas explosivos, um tributo adequado às suas ideias. Este projeto deu origem à Maybe Logic Academy, um instituto de aprendizagem que é
“baseada na filosofia e na perspectiva da lógica do talvez, uma abordagem que enfatiza a falibilidade e a relatividade da percepção e tende a abordar informações e observações com perguntas, probabilidades e múltiplas perspectivas em vez de verdades absolutas.” A New Falcon Publications pretende publicar em breve seu novo livro Email To The Universe (N.T: Publicado em 2005).

A entrevista que segue foi concedida a revista MungBeih entre 2004-2005.

Você tem um novo livro saindo chamado “Tale of the Tribe”. Sobre o que será?

Mudei o título para EMAIL TO THE UNIVERSE. É sobre James Joyce, taoísmo, internet e Aleister Crowley, além da minha loucura de sempre.

Parece que muitos de seus escritos se conectaram com as pessoas e talvez até influenciaram seus pensamentos e atividades. Por causa desse efeito em sua base de fãs, alguns sugeriram que você se tornou uma “figura cult”. Isso parece apropriado, dada sua participação inicial na Sociedade Discordiana e seus muitos escritos sobre os Illuminati (um culto secreto que pode ou não existir), referências a Eris, maçãs douradas, a Lei dos Cincos, o número 23, bem como outras ideias relacionadas. Os memes que você enviou ao mundo vinte, trinta anos atrás continuam a prosperar e florescer. Como você se sente sobre esse legado de ter semeado uma diversidade de memes ecléticos?

É ao mesmo tempo agradável e lisonjeiro, é claro, mas me sentirei muito mais feliz quando a Lógica do Talvez, a Lei Snafu e a Lei do Babaca Cósmico forem semeadas tão amplamente, ou até mais amplamente.

Vamos semeá-los mais amplamente aqui! Você pode explicar aos nossos leitores o que (Lógica do Talvez, a Lei Snafu e a Lei do Babaca Cósmico) são?

A Lógica do Talvez é um rótulo que ficou preso entre minhas ideias pelo cineasta Lance Bauscher. Eu decidi que se encaixa. Eu certamente reconheço sua importância central em meu pensamento – ou em meus esforços vacilantes e desajeitados para pensar em sistemas não-aristotélicos. Isso inclui a lógica de três valores de von Neumann [verdadeiro, falso, talvez], a lógica de quatro valores de Rappoport [verdadeiro, falso, indeterminado, sem sentido], a lógica multivalorada de Korzybski [graus de probabilidade.] e também o paradoxo lógico do Budismo Mahayana [É A, não é A, é A e Não-A, Não é A nem Não-A]. Mas, como um sujeito extraordinariamente estúpido, não posso usar tais sistemas até reduzi-los a termos que uma mente simples como a minha possa lidar, então apenas prego que todos nós pensaríamos e agiríamos com mais sensatez se usássemos o “talvez “com muito mais frequência. Você pode imaginar um mundo com Jerry Falwell gritando “Talvez Jesus seja o filho de Deus e talvez ele odeie os gays tanto quanto eu” – ou os minaretes do Islã ressoando com “Talvez Não exista Deus exceto talvez Alá e talvez Maomé seja seu profeta”?

A lei Snafu (NT: S.N.A.F.U: “Status Nominal: All Fucked Up”) afirma que, quanto maior o seu poder de punir, menos feedback factual você receberá. Se você pode demitir pessoas por dizerem o que você não quer ouvir, você só vai ouvir o que você quer. Esta lei parece se aplicar a todas as engenhocas autoritárias, especialmente governos e corporações. Concretamente, suspeito que Bozo (NT. Robert chamava George Bush de Bozo) saiba menos sobre o mundo do que qualquer caçador de cães em Biloxi (Mississipi).

A lei do Babaca Cósmico (N.T: Cosmic Schmuck) afirma que [1] quanto mais frequentemente você suspeitar que pode estar pensando ou agindo como um Babaca, menos Babaca Cósmico você se tornará, ano após ano, e [2] enquanto você nunca suspeitar que pode pensar ou agir como um Babaca, você permanecerá sendo um Babaca Cósmico por toda a vida.

O E-prime pode revolucionar a língua inglesa?

Espero que sim, mas precisa de ajuda, como mais computadores online e mais maconha. MUITO mais maconha. (N.T: E-prime é a versão revisada da língua inglesa que exclui todas as formas do verbo to be, incluindo todas as conjugações, contrações e formas arcaicas.)

Qual é o propósito da sua Maybe Logic Academy e quem mais está envolvido? E o que diabos está acontecendo lá?

Quero usar a Internet para acelerar a evolução humana substituindo decisões baseadas na fé por decisões baseadas em pesquisa. Os demais têm objetivos semelhantes ou compatíveis. Nossos líderes de classe incluem R.U. Sirius, ciberfilósofo; Patricia Monaghan, pesquisadora da deusa; Alan Clements, monge budista e ativista; Peter Caroll, matemático e inventor da magia do Caos; Douglas Rushkoff, especialista em mídia; e outros se juntarão em breve.

Você escreveu extensivamente (e encontrou novas aplicações para) várias teorias científicas, particularmente no campo da mecânica quântica. No entanto, você manteve uma distância crítica do establishment científico, uma espécie de voz herética e um cético em relação ao ceticismo. Você costuma citar a história do Dr. Wilhelm Reich como um exemplo de autoridade enlouquecida. O governo dos Estados Unidos destruiu grande parte do trabalho controverso do Dr. Reich, e ninguém, especialmente colegas cientistas, deu um passo à frente em protesto ou defesa. A ciência deveria ser sobre inovação, mas poucos cientistas parecem capazes de revisar suas teorias favoritas uma vez que tenham sido aceitas. Acho que é por isso que muitos acharam chocante quando Stephen Hawking recentemente saiu e disse: “Eu estava errado sobre os buracos negros”. Ninguém está acostumado a ver figuras respeitadas revisando ou descartando suas crenças arraigadas. Qual é a importância da heresia, ceticismo e ideação heterodoxa para o avanço da ciência?

Deixe-me fazer uma diferença entre o método científico e a neurologia do cientista individual. O método científico sempre dependeu do feedback [ou flip-flop, como os czaristas chamam]; Portanto, considero-a a forma mais elevada de inteligência de grupo até agora desenvolvida neste planeta atrasado. Já o cientista individual parece ser um animal completamente diferente. Os que conheci parecem tão apaixonados e, portanto, tão egoístas e preconceituosos quanto pintores, bailarinas ou mesmo, Deus salve a classe, escritores. Minha esperança está no próprio sistema de feedback, não em qualquer suposta santidade dos indivíduos no sistema.

Com seu auto-entitulado modelo agnóstico você desconstruiu todos os tipos de sistemas de crenças (BS) em seus livros. Em Prometheus Rising você encorajou as pessoas a entrar conscientemente em tantos túneis de realidade diferentes quanto possível, para examinar suas crenças de múltiplos pontos de vista. A cultura humana está repleta de pessoas zelosamente apegadas a várias ortodoxias e ideologias. O choque de sistemas de crenças fundamentais muitas vezes provou ser destrutivo para a humanidade. O que será necessário para sacudir as pessoas de seus dogmas?

Em uma palavra, Internet. Desde que li Cybernetics: Control and Communication in the Animal and the Machine, de Wiener, em 1948, pensei em “inteligência” como uma função de feedback. Quanto mais feedback, maior a “inteligência” mensurável, e quanto menos feedback, menos “inteligência”. À medida que o computador deu origem à Net e à Web, o feedback aumentou exponencialmente. Como R. U. Sirius escreveu recentemente: “A ascensão da Net e da Web representa uma vitória para a contracultura e a subcultura. A próxima geração, criada na Net como seu principal meio, nem mesmo saberá o que é a realidade consensual.” Em outras palavras, feedback e Lógica do Talvez formam um círculo que gira cada vez mais rápido. Os czaristas temem e odeiam – eles chamam de “flip-flopping” – mas caracteriza todos os sistemas de alta inteligência, eletrônicos ou protoplasmáticos.

Concordo que a internet parece ser um produto de um sistema de feedback tão acelerado. Isso é algo que podemos testemunhar em cada interação online. Mas, tem havido muita conversa após o 11 de setembro de um sinistro espectro totalitário pairando sobre nós, que o Grande Irmão de Orwell está finalmente aqui. Existem conspirologistas que acreditam que a internet, tendo surgido do Pentágono, nunca foi nada mais do que uma trama do Big Brotherista, e que pessoas como RU Sirius, John Perry Barlow e outros filósofos da Era da Informação são tolos (in)conscientemente fornecendo uma fachada libertária para esta vasta conspiração. E se a internet não for nada mais do que o mais recente método czarista de controle e coleta de informações?

Bem, então estamos afundados, não é? Felizmente, não existe nenhuma razão lógica ou factual para acreditar nessa fantasia paranóica, e ela é diretamente contrariada pela matemática difícil de Wiener e Shannon sobre “redundância de controle” em sistemas de feedback. O que Juang Jou disse sobre o universo há 2.400 anos é ainda mais verdadeiro nas 4.285.199.774 URLs de computador online hoje – [21 de agosto de 2004] – “não há governador em lugar nenhum”.

Falando em 11 de setembro e no Pentágono, um dia depois que o avião abriu um buraco na lateral do prédio, imediatamente pensei no livro Illuminatus que você escreveu com Robert Shea. Nele, o Pentágono de cinco lados aprisiona uma besta sobrenatural chamada Yog Sothoth. Se esse ghoul escapasse, a humanidade testemunharia a imanentização escatológica. Esta parece ser a metáfora mais adequada para o atual clima cultural milenar que eu já vi. Então, de certa forma, Yog Sothoth foi eliminado naquele dia?

Não tomemos metáforas muito literalmente. Admito que Bozo tem muito em comum com Yog Sothoth, e que ele até tem as mesmas iniciais de GWB666 em Schrödinger’s Cat, mas considero isso como acertos acidentais. Não me considero um profeta adormecido.

Quão perto estamos da imanentização escatológica?

O escaton foi imanentizado há 5 anos, quando os Supremos cancelaram a eleição e nomearam GWB – a Grande Besta Selvagem – para a Casa Branca.

Você escreveu um artigo convincente após a eleição presidencial de 2000 nos EUA, no qual apontou uma daquelas coisas óbvias que a maioria das pessoas não percebeu: enquanto 50% dos eleitores elegíveis dividem seus votos entre Bush e Gore, os outros 50% conscientemente escolheram votar em Ninguém. (Na verdade, tenho argumentado que, como crianças, prisioneiros, estrangeiros e outras pessoas desprivilegiadas não podiam votar, Bush só conseguiu um mandato de cerca de 14% do povo americano. Chega de “metade do país” apoiando-o, Você também teorizou que um nefasto e neo-autocrático “Governo de Ocupação Czarista” (TSOG) controla o aparelho do Estado. Foda-se o velho debate democrata versus republicano. Diga-me, como você acha que o Ninguém e o TSOG se sairão nas próximas eleições presidenciais?

Presumo que as pessoas mais inteligentes continuarão a votar em Ninguém, e a maioria idiota dividirá seus votos igualmente, dependendo de qual dos dois multimilionários Skull-and-bones tem mais sex appeal. Isso realmente não parece importar: se as pessoas preferem marginalmente o candidato “errado”, a Suprema Corte certamente os “corrige” novamente. O TSOG parece uma doença confortável, como a morte por doença do sono. Após 7000 anos de ‘Authoritaria’.

No patriarcado, a maioria das pessoas aceita o czarismo e, na América aquela constituição incômoda imposta a eles por alguns maçons intelectuais.

Esta declaração lembra a Psicologia de Massa do Fascismo de Reich. Parece que há uma desconfiança pública massiva e generalizada e desgosto na política e no governo, não apenas nos EUA, mas em muitas partes do mundo. Por que os cidadãos são tão leais a sistemas e líderes pelos quais reconhecidamente não têm respeito?

Raymond Chandler, que serviu como tenente de infantaria na Primeira Guerra Mundial, apontou o mesmo paradoxo em menor escala: ao atacar um inimigo, as tropas são estatisticamente mais seguras se espalhadas amplamente, mas todas mostram uma tendência a se agrupar perto do tenente, aumentando assim o risco. Isso parece um programa de vertebrados [mesmo pré-mamífero] programado. Além disso, temos mais de 7.000 anos de condicionamento autoritário documentado por Reich. Parece bastante sombrio, não é? Meu otimismo se baseia no fato de que, historicamente, em situações de emergência, as pessoas muitas vezes sofrem mutações de maneiras imprevisíveis e criativas. Como disse John Adams, a Revolução Americana ocorreu “nas mentes das pessoas nos 15 anos antes do primeiro tiro ser disparado”. Suspeito que uma revolução semelhante esteja ocorrendo nas mentes de pessoas educadas em todo o mundo.

Em todo o cenário pós-eleitoral, tem-se falado muito de uma “América dividida”, com especialistas traçando uma linha dura entre “estados azuis” e “estados vermelhos”. Esta linha é ilusória?

Suspeito que todas as linhas existam apenas em nossas mentes – especialmente linhas políticas. O universo parece mais um caos dançante do que um caderno pautado.

Estamos vivendo na Roma de Phillip K. Dick?

Bem, Phil certamente morava lá. Sinto-me mais como se vivesse na Rússia czarista. Às vezes penso em mim como o último dezembrista – e se isso parece obscuro ou muito esquisito, basta definir seu mecanismo de busca para “dezembristas + Illuminati” e grok em sua plenitude as URLs que aparecem. De qualquer forma, certamente não vivemos em uma democracia constitucional. Tenho quase 99.999999999999999999999999999999% de certeza disso.

Quando estou severamente deprimido, ou severamente chapado, sou capaz de realmente *sentir* a Roma de Dick, não apenas grocá-la como um conceito intelectual. Para mim, este túnel da realidade está cheio de emoção, paranóia, ilusão, sincronicidade, simbologia, metáfora, consciência aumentada. Alguma vez vai além da teoria para você? Você *sente* a Rússia czarista?

Freqüentemente — especialmente quando testo meu desapego budista tentando ouvir “nossos” líderes sem rosnar ou xingar baixinho. Sinto-me como os dezembristas, de forma muito pungente. Mas também identifico muito os fundadores desta República moribunda. Eles sabiam que a Constituição sozinha não poderia conter os desejos de poder de Certos Tipos e avisaram que precisávamos de vigilância eterna – – mas eles só poderiam nos dar a Constituição, não a vigilância. Infelizmente!

Parece, então, que a democracia é uma capa para a autocracia. Foi sempre assim? Ou a história está retrocedendo, traímos coletivamente o Iluminismo?

Primeiro, minha paixão se volta para a democracia CONSTITUCIONAL, não apenas a “democracia” em geral, que temo tanto quanto nossos fundadores. Eu quero LIMITES no governo, claramente definidos e virtualmente “gravados em pedra”. Como John Adams escreveu: “Meu credo é que despotismo ou poder absoluto é o mesmo na maioria de uma assembléia popular, em um conselho aristocrático, em uma junta oligárquica ou em um único imperador – igualmente arbitrário, sangrento e em todos os aspectos diabólico”. Eu concordo totalmente. Sim, acho que perdemos muita luz ultimamente – e por “nós” quero dizer tanto os políticos quanto as massas.

Você teve que lutar pelo seu direito de usar maconha medicinalmente. Como você se tornou ativista?

Desde 1959 eu “ativo” por várias causas, porque tenho esse tipo de temperamento. Eu me envolvi ativamente na causa da maconha medicinal muito antes de meus sintomas pós-pólio tornarem a maconha necessária no meu próprio caso. Agora, preso em uma cadeira de rodas a maior parte do dia, me sinto não apenas ativado, mas superativado. Sustentei uma esposa e quatro filhos a maior parte da minha vida. Tenho 35 livros impressos. NEW SCIENTIST chamou minha trilogia CAT de “o mais científico de todos os romances de ficção científica”. Agora, aos 73 anos, sou tratado como uma criança pelo TSOG – assim como meu médico, um médico totalmente qualificado.  Se consultando algumas organizações baseadas na fé que para citar George Carlin são “incrivelmente cheios de merda.” Se você quiser a visão de organizações baseadas em pesquisa terá que se esforçar.

Você fundou recentemente o Guns & Dope Party para combater os excessos do czarismo. Quais são alguns dos princípios centrais da plataforma do seu partido?

– Armas para quem as quer; sem armas impostas a quem não as quer [Quakers, Amish, pacifistas em geral etc.]
– Drogas para quem as quer; sem drogas impostas a quem não as quer [Cientistas Cristãos, herbalistas, homeopatas etc]
– União Bípede – direitos iguais para avestruzes
– Tributação voluntária: você paga pelos programas governamentais que deseja; você não paga um centavo por nenhum programa que não queira.

Você acha que as Zonas Autônomas Temporárias ou Utopias Piratas têm potencial para serem paraísos livres do TSOG?

Temporariamente. Somente a Internet cria a possibilidade real de uma Zona Autônoma Global. Acho que todos os problemas foram resolvidos e serão resolvidos por [a] mais informações e [b] transmissão de informações mais rápida e onipresente.

O conceito de conspiração tem se destacado em seus escritos por décadas. O que mais te fascina no conceito de teoria da conspiração?

Meu maior interesse permanece, como eu disse, na área de lógica não-aristotélica, e por volta de 1969 Bob Shea e eu tivemos a ideia de escrever um romance engraçado aplicando A Lógica do Talvez à arena da conspiração. O resultado, ILLUMINATUS foi tão longe fora dos túneis de realidade de consenso que levamos cinco anos para publicá-lo, e agora, há 30 anos, continuo recebendo feedback de dois grupos que não conseguem lidar com o conceito de “talvez”, de forma alguma. O primeiro grupo acredita fervorosamente, sem sombra de dúvida, que endossei as ideias mais loucas que discuti e, portanto, me considera um maluco perigoso. O segundo grupo tem uma crença igualmente ardente de que eu trabalho para o departamento de desinformação da CIA e quero fazer todas as teorias da conspiração parecerem igualmente malucas. Já escrevi dezenas de livros sobre outros assuntos, mas essas duas gangues provocam continuamente meu senso de humor chapado, então sempre me rendo à tentação de me divertir um pouco mais com eles…

A Conspiriologia está muito grande nos dias de hoje. Por que você acha que as pessoas são tão atraídas por ideias especulativas?

Como um Baba Cósmico confesso, não afirmo “saber” a resposta para isso – ou qualquer outra coisa – mas tenho certas suspeitas persistentes. Suspeito, por exemplo, que “o establishment” – ou seja, o TSOG e a mídia corporativa – contaram tantas mentiras ultrajantes que ninguém realmente confia mais neles. As armas de destruição em massa no Iraque ainda permanecem escondidas da percepção humana. Depois que essa mentira desmoronou, o TSOG não apareceu apenas cheio de merda; parecia, para citar Carlin novamente, que parece incrivelmente cheio de merda. Então, naturalmente, cresceu um mercado para explicações sobre o que diabos realmente motiva Bozo e sua gangue. Considero meu trabalho como aplicar a mesma crítica mordaz a todos os modelos que tentam insinuar que o modelista realmente sabe mais do que eu e não apenas adivinha, especula e tateia no escuro, como admito que faço.

Você é bem conhecido por seu trabalho explorando teorias especulativas e esotéricas. Em livros como Sex and Drugs e na série Cosmic Trigger, você escreveu sobre experimentação com magia oculta. Refletindo sobre suas inúmeras incursões nesses mundos estranhos onde a Ciência teme pisar, quais são os “segredos” mais interessantes que você descobriu?

O mesmo que descobri simultaneamente no budismo e na física quântica: ou seja, a suposta “muralha” entre “eu” e “o mundo” não existe. Limpar o pensamento e a linguagem dessa divisão fictícia aumenta imensamente a clareza. Ah, sim, e melhora seu senso de humor também!

Vamos encerrar com um pouco de humor. Você pode me contar uma boa piada?

Três caras estão bebendo e discutindo em um bar. “Eu lhe digo que deve ser escrito W-O-O-O-M”, diz o primeiro dogmaticamente.
“E eu ainda digo que W-H-O-O-M soa melhor”, o segundo conta.
“Não, não, não”, diz o terceiro. “É definitivamente W-H-O-M-B-B.”
“Vocês todos entenderam errado”, diz a ginecologista na mesa ao lado. “É W-O-M-B.” (NT: Útero) Eles a encaram friamente. “Senhora”, diz o primeiro, “é óbvio que você nunca ouviu um elefante peidar.”

Bônus: Maybe Logic (documentário completo)

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-do-caos/23-perguntas-para-robert-anton-wilson/