Luiz Gonzaga, Acácia Amarela e a Maçonaria

Pelo ir.’. Abílio Neto, Recife PE.

Algumas pessoas já me perguntaram se era verdade que “Seu Luiz Gonzaga” fosse maçon. Sim, não há por que ocultar isso. Desde 1971 que ele ingressou nessa organização. Nada melhor do que um maçon para descrever o histórico do membro Luiz Gonzaga do Nascimento na entidade e outro maçon para mostrar em vídeo a música que ele fez para a maçonaria, em parceria com outro músico maçon: o maestro Orlando Silveira. Leiam o texto abaixo e depois vejam o vídeo contendo a música “Acácia Amarela”.

“Luiz Gonzaga é Iniciado, na Maçonaria, na ARLS.’. “Paranapuan” Nº: 1477, do Grande Oriente do Brasil, Or.’. da Ilha do Governador/RJ, do Rito Moderno” ou “Francês”. Aprendiz Maçom: em 03 de abril de 1971

Tendo como seu “padrinho” o Irmão Florentino Guimarães, membro do quadro da Loja Paranapuan.

Grau de Companheiro Maçom: Elevado em 14 de dezembro de 1972

Grau de Mestre Maçom: Exaltado em 05 de dezembro de 1973.

Na Maçonaria dos Altos Graus ou Filosóficas, foi iniciado no Grau 4, em 29 de agosto de 1984. No Subli .’. Cap.’. “Paranapuan”, jurisdicionado ao Supremo Conselho do Brasil para o RFAA.

O G.’. A.’. D.’. U.’., nos seus desígnios, requisitou o irmão Luiz Gonzaga para uma outra missão.

Sofrendo de câncer na próstata e osteoporose, passou 42 dias internado no “Hospital Santa Joana”, na cidade de Recife. Agravados seus males físicos, viajou para o Oriente Eterno na madrugada de 02 de agosto de 1989, com 76 anos de idade, em conseqüência de parada cardíaca por pneumonia.

Sob comovente manifestação popular, seu corpo foi velado na cidade do Recife, e transportado inicialmente para a cidade de Juazeiro do Norte, CE, onde recebeu as bênçãos do Padre Cícero de quem era muito devoto, e daí para sua cidade natal, em Exu, onde foi sepultado.

Acácia Amarela é uma composição maçônica. A música “Acácia Amarela” nasceu em 1981. Além de cantar o Nordeste, Luiz Gonzaga homenageia com esta música a grande família justa e perfeita na qual admiro muito! Para os leigos, Luiz Gonzaga era maçom, e fez essa melodia para a Maçonaria!

O Irmão Luiz Gonzaga, achando oportuna uma homenagem musical à Maçonaria, elaborou a letra e o tema musical. O Irmão Orlando Silveira deu algumas sugestões e harmonizou a melodia. Concluído o trabalho, a gravação foi feita em 1982, e incluída no elenco do CD (na verdade, LP) “Eterno Cantador”, da etiqueta RCA-Victor. E regravado em CD em 1998, com arranjo de Orlando Silveira e execução vocal de Luiz Gonzaga.

Em 1997 o Grande Oriente do Brasil através do Projeto Classes Musicais, por ocasião do encontro Compasso para o Futuro, gravou a mesma com a Orquestra Sinfônica e Coral Baccarelli e a regência e arranjos do Maestro Sérgio Kuhlmann.

ACÁCIA AMARELA

“Ela é tão linda é tão bela

Aquela acácia amarela

Que a minha casa tem

Aquela casa direita

Que é tão justa e perfeita

Onde eu me sinto tão bem

Sou um feliz operário

Onde aumento de salário

Não tem luta nem discórdia

Ali o mal é submerso

E o Grande Arquiteto do Universo

É harmonia, é concórdia

É harmonia, é concórdia”.

De acordo com o Irmão José Castellani em seu livro Dicionário Etimológico Maçônico, no Egito, as acácias eram árvores sagradas e tinham o nome hieroglífico de shen; na Fraternidade Rosa-Cruz, ensina-se que a acácia foi a madeira usada na confecção da cruz em que Jesus foi executado; segundo o Tabernáculo hebraico, eram feitos de madeira de acácia: A Arca da Aliança (Êxodos, 25 – 10), a mesa dos pães propiciais (Êxodo, 25 – 23) e o altar dos holocaustos (Êxodo, 27 – 1).

Na maçonaria, além de ser o símbolo da Grande Iniciação, representa, também, a pureza e a imortalidade, além de ser o símbolo da ressurreição, por influência da tradição mística dos árabes e dos hebreus.

#Maçonaria

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/luiz-gonzaga-ac%C3%A1cia-amarela-e-a-ma%C3%A7onaria

Mentindo Com Pixels

A imagem que você vê no noticiário da tv pode ser uma falsificação – uma montagem fabricada pelas novas tecnologias de manipulação de vídeo

No ano passado, Steven Livingston, professor de Comunicação Política na George Washington University, deixou atônitos os participantes de uma conferência sobre Geopolítica. Discutia-se o papel dos satélites nas transmissões de imagens. Ele não produziu provas de novas mobilizações militares ou pandemias globais. Em vez disso, mostrou um vídeo da patinadora Katarina Witt durante uma competição de patinação em 1998.

No clipe, Katarina desliza no gelo graciosamente por cerca de 20 segundos. Então vem o que talvez seja uma das mais inusitadas repetições de imagens jamais vistas. O fundo era o mesmo e os movimentos da câmera eram os mesmos. Na realidade, a imagem era idêntica ao original em todas as formas, exceto talvez na mais importante: Katarina tinha desaparecido, junto com todos os sinais dela. Em seu lugar estava exatamente aquilo que você esperaria se Katarina nunca tivesse estado ali – o gelo, as paredes do ringue e a multidão.

Grande coisa, você dirá. Afinal, há mais de meio século a equipe de Stálin, o ditador soviético, já eliminava das fotos personalidades malvistas pelo governo. E, dezessete anos atrás Woody Allen realizou um grande número de deformações da realidade no filme Zelig, onde ele aparece junto a figuras do passado como Adolf Hitler e os presidentes americanos Calvin Coolidge e Herbert Hoover. Também em filmes como Forrest Gump e Mera Coincidência, a distorção da realidade tornou-se lugar-comum.

O que diferencia a demonstração com Katarina Witt – e muito – é que a tecnologia usada para “excluir virtualmente” a patinadora pode agora ser aplicada em tempo real, ao vivo, mesmo enquanto a câmera grava a cena e no mesmo instante em que a transmite aos espectadores. Na fração de segundo entre os quadros de vídeo, qualquer pessoa ou objeto que se mova em primeiro plano pode ser retirado, e objetos que não se encontram ali podem ser inseridos e parecer reais. “Plasticidade de pixel”, eis o nome que Livingston deu a essa técnica. As implicações para as pessoas que compareceram à conferência sobre Geopolítica e imagens de satélite deram o que pensar: as fotos exibidas podem não ser necessariamente aquelas que a câmera eletrônica do satélite efetivamente gravou.
Mas a ramificação dessa nova tecnologia vai além das imagens de satélite. À medida que a manipulação ao vivo se torna mas prática, a credibilidade de todos os vídeos se tornará tão suspeita quanto fotos soviéticas da Guerra Fria. O problema tem sua origem na natureza do vídeo moderno. Ao vivo ou não, ele é composto de pixels e, como diz Liningsotn, pixels podem ser alterados.

Os exemplos mais conhecidos de manipulação de vídeo em tempo real até agora são as “inserções virtuais” em transmissões de esportes profissionais. Em 30 de janeiro deste ano, quase um sexto da humanidade em mais de 180 países assistiu a uma linha laranja repetidamente traçada sobre o campo de futebol americano, durante a transmissão do Super Bowl. A Princeton Video Imaging (PVI), em Lawerenceville, Nova Jersey, criou aquela linha, gravou-a num computador e a inseriu na transmissão ao vivo. Para ajudar a determinar onde inserir os pixels de cor laranja, diversas câmeras do jogo foram equipadas com sensores que rastreavam as posições espaciais das câmaras e os níveis de ampliação. Adicionada à ilusão de realidade estava a capacidade do sistema da PVI garantindo que os jogadores e os juízes ocultassem a linha virtual quando seus corpos a atravessassem.

Mesmo as transmissões de TV ao vivo já podem ser manipuladas com “inserção virtuais”

Nos Estados Unidos, durante a primavera e o verão passados, enquanto a PVI e rivais como a Sport-vision de New York colocavam no ar produtos de inserção virtual, incluindo anúncios simulados em paredes atrás dos batedores da liga principal de beisebol, uma equipe de engenheiros da Sarnoff Corporation, de Princeton, Nova Jersey, voou até o Centro Operacional da Coalizão Aliada, da OTAN, Vicenza, Itália. Sua missão: transformar sua tecnologia experimental de processamento de vídeo numa ferramenta experimental de processamento de vídeo numa ferramenta operacional para localizar rapidamente e converter em alvos os veículos militares sérvios em Kosovo. O projeto foi batizado de Tiger, sigla em inglês que corresponde a “fixação de alvos por georregistro de imagem”. “Nosso objetivo era poder disparar munição guiada com precisão através de veículos militares sérvios – basta marcar as coordenadas e a coisa vai:, explica Michaels Hansen, um jovem e agitado aficionado por equipamentos da Sarnoff que acha difícil acreditar que estava ajudando a fazer uma guerra no ano passado.

Se comparada ao trabalho da PVI, a tarefa técnica dos militares era mais difícil – e o que estava em jogo era muito maior. Em vez de alterar transmissões de futebol, a equipe Tiger manipulou a transmissão de vídeo ao vivo de um Predator, uma aeronave de reconhecimento não-tripulada voando a 450 metros de altura sobre os campos de batalha de Kosovo. Em lugar de sobrepor linhas virtuais ou anúncios em cenários esportivos, a tarefa era colocar em tempo real as imagens “georregistradas” de Kosovo sobre as cenas correspondentes transmitidas ao vivo da câmera de vídeo do Predator. As imagens do terreno tinham sido capturadas antes com fotografia aérea e armazenadas digitalmente. O sistema Tiger, que detectava automaticamente objetos em movimento contra o fundo, podia, quase de forma instantânea, fornecer aos oficiais encarregados da artilharia as coordenadas de qualquer equipamento sérvio no campo de visão do Predator. Esse foi um feito bastante técnico, uma vez que o Predator estava se movendo e seu ângulo de visão apresentava constante mudança. Mesmo assim, aquelas visões tinham que ser eletronicamente alinhadas e registradas com a imagem armazenada em menos de um trinta avos de segundo (para corresponder à taxa de quadros da gravação em vídeo).

Em princípio, a definição de alvos poderia ter sido direcionada diretamente às armas guiadas com precisão. “Não estávamos realmente fazendo aquilo na Força Aliada”, observa Hansen. “Estávamos apenas informando aos oficiais encarregados da pontaria exatamente onde estavam os alvos sérvios e eles, então, dirigiam aviões para atingir os alvos”. Dessa forma, os tomadores de decisão humanos poderiam evitar decisões errôneas tomadas por máquinas com defeitos. De acordo com a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada para a Defesa, a tecnologia Tiger foi usada de forma extensa nas últimas três semanas da operação Kosovo, durante as quais “80% a 90% dos alvos móveis foram atingidos”.

Até então, a manipulação de vídeo em tempo real estava ao alcance somente de organizações tecnologicamente sofisticadas como, por exemplo, redes de televisão e os militares. Mas os desenvolvedores da tecnologia dizem que ela está se tornando simples e barata o suficiente para se espalhar para todos os lados. E isto tem levado alguns observadores a pensar se a manipulação de vídeo em tempo real vai corroer a confiança do público nas imagens de televisão, mesmo quando transmitidas em telejornais. “A idéia de ver para crer pode perder a validade”, diz Norman Winarsky, vice-presidente corporativo para tecnologia de informação da Sarnoff. “Você pode não saber em que confiar.”

Uma forma grosseira de manipulação de vídeo já está acontecendo na comunidade de imagens por satélite. A publicação semanal Space News informou no início do ano que o governo da Índia libera imagens de seus satélites de sensoriamento remoto somente após as instalações de defesa terem sido “removidas”. Neste caso, não há manipulação em tempo real e é aberta, como um marcador de tinta de censor. Mas os pixels são flexíveis. É perfeitamente possível agora inserir conjuntos de pixels em imagens de satálite que os interpretadores de dados poderiam identificar como batalhões de tanques, ou aviões de guerra, ou locais de sepultamento, ou linhas de refugiados, ou vacas mortas que ativistas aleguem ser vítimas de um acidente biotécnico.

Uma fita de demonstração fornecida pela PVI reforça esse aspecto no prosaico cenário de um estacionamento num subúrbio. A cena parece comum, exceto por uma característica perturbadora: entre camionetas e minivans estão diversos tanques estacionados e um monstro armado rodando de maneira desconcertante. Imagine uma fita de tanques paquistaneses virtuais rodando pela fronteira da Índia entregue aos telejornais como autêntica, e você pode sentir o tipo de problema que imagens falsificadas podem provocar.
Fornecedores comerciais de serviços de inserção virtual estão concentrados demais em novas oportunidades de marketing para se preocupar muito com geopolítica. Eles têm os olhos voltados para mercados muito mais lucrativos. De repente, esses grandes espaços de programação entre comerciais – ou seja, o verdadeiro show – tornam-se disponíveis para bilhões de dólares de anúncios em horário nobre. A fita de demonstração da PVI, por exemplo, inclui uma cena em que uma caixa do Microsoft Windows aparece – virtualmente, é claro – na estante do estúdio de Frasier Crane. Esse tipo de colocação de produto poderia tornar-se mais e mais importante à medida que novas tecnologias de gravação em vídeo como, por exemplo, TiVo e RePlayTV, oferecerem aos espectadores mais poder para editar comerciais.

Dennis Wilkinson, especialista em marketing que adora esportes e se tornou CEO da PVI há cerca de um ano, não podia estar mais feliz com isso. Os olhos de Wilkinson brilham quando ele descreve o futuro (próximo) em que a tecnologia de inserção virtual levará os anúncios a extremos de personalização. Combinado com serviços de datamining (através dos quais gostos individuais e padrões de consumo dos navegadores podem ser rastreados e analisados), a inserção virtual abre a possibilidade de enviar anúncios personalizados de acordo com o alvo por linhas ou cabos telefônicos a usuários da Web ou espectadores da TV a cabo. Digamos que você gosta de Pepsi, mas seu vizinho ao lado gosta de Coca e seu vizinho do outro lado da rua gosta de Seven Up – o tipo de dados de fácil coleta por meio de registros de caixas de supermercado. Será possível ajustar a imagem de refrigerante no sinal da transmissão para atingir cada um de vocês com sua marca preferida.

A apenas 15 minutos de distância da PVI, Winarsky, da Sarnoff, também está radiante – não tanto com ganhar fatia de mercado, mas quanto ao poder transformador da tecnologia. A Sarnoff tem uma história distinta nesse campo: a empresa descende dos Laboratórios RCA, que iniciaram a inovação em tecnologia de televisão no início da década de 40 e trouxeram à luz grande quantidade de tecnologias de mídia. O tubo de TV em cores, as telas de cristal líquido e a televisão de alta definição vieram todos, pelo menos em parte, da RCA. A Sarnoff exibe cinco prêmios Emmy técnicos em sua recepção.

A capacidade de manipular dados de vídeo em tempo real, diz Winarsky, tem tanto potencial quanto alguns desses predecessores. “Agora que você pode alterar o vídeo em tempo real, você mudou o mundo”, diz. Isso pode soar pomposo, mas, após ver o vídeo de Katarina Witt, a conversa de Winarsky sobre “mudar o mundo” perde um pouco do tom de exagero.

Apagar pessoas ou abjetos no vídeo ao vivo, ou inserir pessoas previamente gravadas ou objetos em cenas ao vivo é somente o início de todos os truques que estão tornando possíveis. Muito de qualquer vídeo que tenha sido gravado está se tornando clipart que os produtores podem esculpir digitalmente na história que quiserem contar, diz Eric Haseltine, vice-presidente sênior de P&D da Walt Disney Imagineering em Glendale, Califórnia. Com tecnologias adicionais de manipulação de vídeo, os atores anteriormente gravados podem dizer e fazer coisas que eles efetivamente nunca fizeram ou disseram. “Você pode fazer com que atores mortos estrelem novos filmes inteiros”, diz Haseltine.

Filmagens contemporâneas, incluindo gravações de atores mortos, têm estado por aí por muitos anos. Mas o ilusionismo de Hollywood – que, por exemplo, inseriu John Wayne num comercial de TV – exigia um trabalho difícil de pós-produção quadro-a-quadro, feito por técnicos especializados. Existe agora uma grande diferença, diz Haseltine. “O que costumava levar 1 hora (por quadro de vídeo) agora pode ser feito em um sessenta avos de segundo”. Essa aceleração dramática significa que a manipulação pode ser feita em tempo real, instantaneamente, à medida que a câmera grava ou transmite. Não somente podem John Wayne, Fred Astaire ou Saddam Hussein ser virtualmente inseridos em anúncios pré-produzidos, como eles poderiam ser inseridos em, digamos, uma transmissão ao vivo de um show de TV.

A combinação de tempo real, inserção virtual com técnicas de pós-produção existentes e emergentes abre um mundo de oportunidades de manipulação. Consideremos a tecnologia Video Rewrite (regravação de vídeo), desenvolvida pela Interval Corporation e pela Universidade de Berkeley, e demonstrada pela primeira vês três anos atrás. Com apenas alguns minutos de vídeo de alguém falando, seu sistema captura e armazena um conjunto de fotos em vídeo, de modo que a área da boca da pessoa parece mover-se ao dizer diferentes conjuntos de sons. A partir da biblioteca resultante de “visemas” é possível retratar a pessoa como se ela dissesse qualquer coisa que os produtores sonhassem – incluindo expressões que o indivíduo nunca usaria, nem morto.

Num teste de aplicação, o cientista de computação Tim Bregler, agora na Universidade Stanford, e colegas digitalizaram 2 minutos de gravação de domínio público do presidente americano John F. Kennedy falando durante a crise dos mísseis cubanos, em 1962. Usando a biblioteca de “visemas”, os pesquisadores criaram “animações” da boca de Kennedy dizendo coisas que ele nunca disse, entre elas, “Eu nunca me encontrei com Forrest Gump”. Com tecnologia desse tipo, em princípios os ativistas poderão em futuro próximo ser capazes de orquestrar via Internet transmissões de seus adversários dizendo coisas que poderiam fazer a pessoa mais íntegra e honrada soar como o mais rematado dos cafajestes.

Haseltine acredita que as técnicas de manipulação de vídeo serão rapidamente levadas a seu extremo lógico: “Posso prever, com absoluta certeza”, diz ele, “que uma pessoa sentada diante de um computador poderá escrever o roteiro de um vídeo, desenhar as personagens, fazer a iluminação, o guarda-roupa, toda a atuação, diálogo e pós-produção, distribuir esse vídeo numa rede de banda larga, tudo isso num laptop – e os espectadores não notarão a diferença”.

Truques que hoje exigem um sistema de 80.000 dólares poderão em breve estar nas lojas, numa câmera de vídeo comercial
Até agora, as aplicações amplamente encontradas de manipulação de vídeo em tempo real ocorreram em áreas benignas como esportes e entretenimento. Já no ano passado, entretanto, a tecnologia começou a se difundir além desses locais, para aplicações que já provocaram uma certa preocupação. No outono passado, por exemplo, a CBS contratou a PVI para inserir virtualmente o logotipo familiar da rede em toda a cidade de New York, em edifícios, outdoors, fontes e outros locais – durante a transmissão do programa The Early Show da rede. O New York Times publicou uma reportagem de primeira página em janeiro questionando a ética jornalística existente em alterar a aparência de algo que está realmente ali.

A combinação de inserção virtual em tempo real, cibermarionetes, regravação de vídeo e outras tecnologias de manipulação de vídeo com uma infra-estrutura de mídia de massa que transmite instantaneamente vídeo de noticiário para o mundo inteiro tem preocupado alguns analistas. “Imagine se você é o governo de um país hipotético que deseja mais assistência financeira internacional”, diz Livingston, da George Washington University. “Você poderia enviar vídeos de uma área remota com pessoas morrendo de fome, e isto poderia nunca ter acontecido”, diz ele.

Haseltine concorda. “Estou surpreso que ainda não tenhamos visto vídeos falsos”, diz ele antes de voltar atrás um pouco: “Talvez tenhamos visto. Quem poderia saber?”

É exatamente o tipo de cenário exibido no filme Mera Coincidência, de 1988, no qual um assessor presidencial de primeiro nível conspira com um produtor de Hollywood para transmitir uma guerra montada virtualmente entre os Estados Unidos e a Albânia para desviar a atenção de um escândalo de corrupção presidencial. Haseltine e outros ficam imaginando quando a realidade imitará a arte imitando a realidade.

A importância da questão somente se intensificará à medida que a tecnologia se tornar mais acessível. O que agora exige uma máquina de 80.000 dólares do tamanho de um pequeno refrigerador logo será encontrado em placas do tamanho da palma da mão (e no limite, num único chip) que caberão num gravador de vídeo comercial, segundo Winarsky. “Isso estará disponível nas lojas de componentes eletrônicos”, diz ele. Um equipamento de consumo para inserção virtual provavelmente exigirá uma câmera de vídeo com uma placa ou chip especial para processamento de imagem. Esse hardware receberá sinais dos sensores de imagem eletrônica da câmera e os converterá numa forma que poderá ser analisada e manipulada num computador com software adequado – algo idêntico ao que se faz com o Adobe Photoshop e outros programas para “limpar” arquivos de imagem digital. Um usuário doméstico poderia, por exemplo, inserir parentes ausentes numa filmagem da última reunião de família, ou remover estranhos que prefiram não aparecer na cena – trazendo as revisões históricas no estilo soviético direto para o ambiente doméstico.

Nos EUA, especialistas já discutem os riscos do uso político das novas técnicas de vídeo

Combine-se a erosão potencial da confiança na autenticidade de reportagens ao vivo com o chamado “efeito CNN” e o cenário está montado para a falsificação mover o mundo de diferentes maneiras. Livingston descreve o efeito CNN como a capacidade da mídia de massa de ir além da mera reportagem sobre o que acontece, para influenciar verdadeiramente os tomadores de decisões quando examinarem questões militares, de assistência internacional e outros assuntos nacionais e internacionais. “O efeito CNN é real”, diz James Currie, professor de Ciência Política na National Defense University, em Fort McNair, Washington. “Todos os escritórios aonde você vai no Pentágono estão com uma TV ligada na CNN”. E isso significa, diz ele, que um governo, um grupo terrorista ou uma ONG poderia colocar eventos geopolíticos em movimento dentro de poucas horas, partindo de uma credibilidade conseguida graças à distribuição de um pedaço de vídeo bem trabalhado.

Com experiência como reservista do Exército, membro de uma equipe com privilégios de alta confidencialidade no Comitê de Inteligência do Senado, e como oficial de ligação legislativa para a Secretaria do Exército, Currie viu de perto as tomadas de decisões governamentais e políticas. Ele está convencido de que a manipulação de vídeo em tempo real estará, ou já está, nas mãos das comunidades militares e de inteligência. E, embora ainda não tenha evidências de que alguma organização tenha empregado técnicas de manipulação de vídeo, em tempo real ou não, para finalidade política ou militar, ele é capaz de divisar cenários de desinformação. Por exemplo, diz ele, pensa só no impacto de um vídeo fabricado que pareça amostrar Saddam Hussein “derramando uísque escocês num copo e bebendo um grande gole. Você poderia transmiti-lo na televisão do Oriente Médio e isso minaria totalmente a credibilidade dele junto a audiências islâmicas”.

Apesar de todas as reações emocionais, entretanto, alguns especialistas ainda não estão convencidos de que a manipulação de vídeo em tempo real representa uma verdadeira ameaça, não importando quão boa a tecnologia venha a se tornar. John Pike, analista da comunidade de inteligência da Federação de Cientistas Americanos, em Washington, D.C., diz que os riscos são simplesmente grandes demais para que governos ou organizações sérias sejam surpreendidas tentando enganar o público. E, para as organizações que estivessem dispostas a correr o risco de faze-lo, diz Pike, o pessoal que trabalha com notícias – sabendo aquilo que a tecnologia pode fazer – vai se tornar cada vez mais vigilante.

“Se alguma organização de direitos humanos aparecesse na CNN com um vídeo, particularmente uma organização com a qual eles não estejam familiarizados, acho que (a CNN) consideraria aquilo radioativo”, diz Pike. O mesmo vale para as organizações não-governamentais (ONGs). “Nenhum diretor responsável de uma organização séria autorizaria esse tipo de coisa. E eles demitiriam, no ato, qualquer pessoa surpreendida fazendo isso. A moeda corrente de ONGs políticas é “nós falamos a verdade”.

Mesmo pessoas mais ponderadas como Pike, entretanto, admitem que a mídia tem um calcanhar-de-aquiles: a Internet. “A questão não é tanto a capacidade de falsificar vídeos na CNN, mas conseguir coloca-los online”, diz ele. Isso ocorre porque a maior parte do conteúdo da Internet não é filtrado. “Isso poderia interferir no processo de produção de notícias, onde você não reproduziria o relatório original, mas relataria o que foi relatado”, diz Pike. Tal procedimento poderia resultar, em cascata, num efeito CNN. “Sem dúvida, esse tipo de experiência acabará acontecendo”, diz Pike.

O problema, afirma Livingston, é que apenas algumas experiências podem ser suficientes para levar as pessoas a questionar para sempre a autenticidade do vídeo. Isso poderia ter repercussões enormes sobre operações militares, de inteligência e de notícias. Uma conseqüência sociológica irônica poderia surgir: o retorno a uma dependência mais pesada de comunicação cara-a-cara, sem intermediários. Neste meio tempo, entretanto, haverá algumas interessantes torções e reviravoltas, à medida que os pixels se tornarem ainda mais flexíveis.

por Ivan Amato – Publicada originalmente na revista Info Exame No. 175 – Outubro/2000

Postagem original feita no https://mortesubita.net/baixa-magia/mentindo-com-pixels/

V de Vingança, Guia de Referências

Estas anotações sobre a série  V for Vendetta de Alan Moore foram preparadas por uma classe de graduação em Pesquisa Literária, sob a direção do Dr. James Means, da Universidade Estadual do Noroeste da Louisiana, durante a primavera de 1994. Na realização destas anotações, adotou-se um sistema que permite ao leitor seguir cada entrada facilmente.

O primeiro número indica a página na qual a entrada original pode ser achada. O segundo número indica a linha de arte, numerada de cima para baixo; a maioria das páginas tem três linhas de arte, enquanto algumas tem menos. Finalmente, o último número indica a coluna, numerada da esquerda para a direita.

PARTE 1

-, -, – Europa Depois do Reino (título – Na versão da Ed. Globo: O Vilão)

O título do primeiro livro refere-se à pintura Europa Depois da Chuva de Max Ernst, e retém dentro dela implicações de reviravoltas climáticas de um ataque nuclear próximo. Depois do Reino certamente se refere à dissolução da realeza com um certo anel ominoso, da mesma maneira que o título da pintura implica um grande peso em cima de todo continente. A imagem da página do título, de uma única mão enluvada (que com certeza indica tempo frio) colocando algo pesado e sombrio sob a superfície, contribui para a natureza ominosa. A pintura, intitulada L’Europe Apres la Pluie, foi criada entre 1940 e 1942. É descrita como uma cena fúnebre cheia de ruína e putrefação, povoada apenas por criaturas bestiais que vagam solitárias ao redor, (pg. 44-45). Ernst tinha criado trabalhos semelhantes que implicavam os arruinados, os fossilizados, os inanimados; superfícies parecem estar decadentes, corroídas por ácido e perfuradas com inúmeros buracos como a superfície de uma esponja, (pg. 44).
Durante algum tempo antes da Segunda Guerra (trabalhando na técnica chamada de decalcomania, datando de 1936, 37, 40 – será que foi realmente antes da guerra? Onde ele estava neste momento? Estava sendo posto em vários acampamentos, sendo reposto em outros, fugindo e finalmente voando para a América (pg. 94). Mas foi depois da sua “premonição de guerra traduzida em realidade” que ele fugido para a América. Lá, assombrado pelas recordações de uma Europa feita em pedaços, ele criou a composição também chamada Europa Nach dem Regen que se traduz como A Europa depois da Chuva ou A Europa depois da Inundação (pg. 44).
Ernst nasceu em 1891 em Bruhl, sul de Colônia, às margens do Reno (pg. 29). As suas pinturas descrevem freqüentemente um mundo no qual a história de gênero humano foi apagada completamente por um evento cataclísmico no Universo … ou pelo ato consciente de revolução que destruiu tudo (pg. 8). Em 1925, o melhor amigo dele, Paul Eluard escreveu sobre a atitude mental de Ernst, que buscou destruir toda a cultura que foi herdada ou não como resultado de experiência pessoal, como se fosse um tipo de esclerose na sociedade Ocidental: ‘Não pode haver nenhuma revolução total mas somente revolução permanente. Como o amor, é a fundamental alegria de viver’ (nota de rodapé, pg. 8).
Ernst participou de exibições dadaístas onde os observadores destruíram a sua arte e observaram seus pedaços pregados na paredes e espalhados no chão. Para alcançar a galeria onde se desenrolou o evento, espectadores atravessaram o lavatório de uma cervejaria onde uma menina vestida como uma beata que acabou de receber a comunhão recitava versos lascivos. A exibição foi fechada sob a acusação de fraude e obscenidade (baseado na estampa de Adão e Eva de D’rer, que tinham sido incorporada em um das esculturas de Ernst). Subseqüentemente, ela foi reaberta.
De acordo com Hamlyn, o evento foi realizado para embaraçar e provocar o público (nota, página 8). Este elemento de drama e provocação também é uma linha seguida em V de Vingança.

1, 1, 1, O 5 de Novembro…

Esta é a primeira referência ao dia de Guy Fawkes, o aniversário do dia em que Guy Fawkes foi pego no porão de Parlamento com uma grande quantidade de explosivos. Fawkes era um extremista católico e um herói militar que se distinguiu como um soldado corajoso e de fria determinação, através de suas façanhas lutando com o exército espanhol nos Países Baixos (Encyclopaedia Britannica 705). Ele foi recrutado por católicos insatisfeitos que conspiraram para explodir o Parlamento e matar o rei James I. James tinha trabalhado para instituir uma multa à pessoas que se recusassem a comparecer as missas anglicanas (Encyclopaedia Britannica 571), somando isso à opressão que os católicos já sofriam na Inglaterra. Um do conspiradores alugou uma casa que compartilhava parte de seu porão com o Parlamento, e o grupo encheu esse porão de pólvora. Fawkes foi escolhido para iniciar o fogo, e foi determinado que ele devia escapar em quinze minutos antes da explosão; se ele não pudesse fugir, ele estaria totalmente pronto para morrer por tão sagrada causa, (Williams 479). Um dos conspiradores tinha um amigo no Parlamento; ele advertiu o amigo para não estar presente na abertura durante o dia escolhido para o atentado, e o paranóico rei James imediatamente descobriu o complô. Fawkes foi pego no porão e foi torturado. Ele foi executado exatamente em frente ao Parlamento no dia 31 de janeiro de 1606.

2, 3, 2, Utopia (livro na estante)

Este foi o mais famoso trabalho de Sir Thomas em 1516 (Sargent 844) no qual ele esboçou as características humanitárias de um sociedade decente e planejada, (Greer 307) uma sociedade de comum propriedade de terra, liberalidade, igualdade, e tolerância (Greer 456).

2, 3, 2, Uncle Tom’s Cabin (livro na estante)

Escrito por Harriet Beecher Stowe e publicado em 1852, este romance fala sobre os deprimentes estilos de vida dos negros escravos no Sul dos EUA, contribuindo enormemente com o sentimento popular de anti-escravidão (Foster 756-66).

2, 3, 2, O Capital (livro na estante)

Este foi a obra máxima de Karl Marx, publicada em 1867. Foi seu maior tratado sobre política, economia, humanidade, sociedade, e governo; Tucker o descreve como a mais completa expressão (de Marx) de visão global.

2, 3, 2, Mein Kampf (livro na estante)

A biográfica proclamação das convicções do líder nazista Adolf Hitler, Mein Kampf (Minha Luta), foi escrita durante o seu encarceramento após a sua primeira tentativa de golpe contra o governo bávaro, em 1923 (Greer 512). Sem nenhuma dúvida, Moore quis ironizar ao colocar este trabalho próximo ao de Marx, Já que a extrema-direita nazista era forte oponente do comunismo.

2, 3, 2, Murder in the Rue Morgue (cartaz de filme)

Os Assassinatos da Rua Morgue. Este foi um filme de horror de 1932, produzido pela Universal. Foi uma importante adaptação da história de Edgar Allen Poe, estrelada por Bela Lugosi, um famoso ator do gênero. É sobre uma série de terríveis assassinatos que se supõe ser o trabalho de um macaco treinado (Halliwell 678). Esta referência pode conter alguns sinais sobre os métodos de investigação de V para os seus ataques contra o sistema, e suas características de serial killer.

2, 3, 2, Road to Morocco (cartaz de filme)

Este filme de 1942 da Paramount foi um de uma série de leves comédias românticas estreladas por Bing Crosby e Bob Hope como dois ricos playboys que viajam ao redor do mundo tendo tolas aventuras (Halliwell 825).

2, 3, 2, Son of Frankenstein (cartaz de filme)

O Filho de Frankenstein. Filme de horror de 1939 da Universal, Son of Frankenstein foi o último de uma trilogia clássica. Foi estrelado por Boris Karloff, um famoso ator de filmes de terror, e envolveu o retorno do filho do barão e seu subseqüente interesse por ele (Halliwell 906).

2, 3, 2, White Heat (cartaz de filme)

White Heat, feito em 1949 pela Warner, estrelado por James Cagney. O enredo envolvia um gângster violento com fixação por sua mãe que finalmente cai após a infiltração de um agente do governo em sua gangue (Halliwell 1073). Esta pode ser outra importante indicação, de como V também derruba o violento e disfuncional líder do partido se infiltrando através de suas fileiras.

3, 1, 3, …E novamente tornar a Bretanha grande!

Este é um sentimento tipicamente “nacionalista”. O nacionalismo europeu, que tem suas raízes na Guerra dos Cem Anos (Greer 269-275), é o conceito de que cada nação tem que manter em comum uma única cultura e uma única história e no qual se considera, inevitavelmente, que uma nação é melhor que as outras. Foi este sentimento, levado a seus extremos, que levou o partido nacional-socialista trabalhista de Hitler (o nazismo) a tentar livrar a Alemanha dos “não-alemães”. (Wolfgang 246-249).


4, 3, 3, The Multiplying vilanies of nature do swarm upon him… (de vilanias tão cumulado pela natureza…).

Esta é uma fala do Sargento no Ato I, cena II, de MacBeth, de Shakespeare (766).

7, 1, 1-2 Lembrai, lembrai do 5 de novembro, a pólvora, a traição, o ardil. Por isso, não vejo por que esquecer uma traição de pólvora tão vil.

Esta é uma versão de uma rima infantil inglesa. Em busca por um poema confirmatório, eu procurei no The Subject Index to Poetry for Children and Young People (1957-1975) que apresenta cinco coleções de poemas onde se incluiam versos sobre Guy Fawkes (Smith e Andrew 267). Um destes, Lavender’s Blue, incluiu a seguinte versão feita em, pelo menos, 1956:
Please to remember the fifth of November
Gunpowder, treason and plot
I see no reason why gunpowder treason
Should ever be forgot (Lines 161)
Cuja tradução é:

Agradeça por lembrar do 5 de novembro
A pólvora, a traição e o complô
Eu não vejo nenhuma razão por que tal traição de pólvora
Deveria para sempre ser esquecida (linha 161)
O Oxford Dictionary of Quotations atribui esta versão a uma canção de ninar infantil anônima de 1826 (Cubberlege 368), e as primeiras duas linhas como sendo tradicionais desde o século 17, (Cubberlege 9).

7, 1, 2, A explosão do Parlamento…

Nesta cena, V teve sucesso onde Fawkes falhou; a posição dele e de Evey em oposição ao Parlamento é, provavelmente, significativa, como se fosse a posição oposta ao Parlamento em que Fawkes foi enforcado (Encyclopaedia Britannica 705).

7, 2, 2, Os fogos de artifício em forma de V

Isto se refere à prática comum de explodir fogos de artifício no dia de Guy Fawkes como parte da celebração (Encyclopaedia Britannica, p.705). Também é provavelmente uma referência a ‘Arrependa-se, Arlequim!’ Disse o Ticktockman (algo como homem Tique-taque) por Harlan Ellison.
9, 3, 1, Inglaterra triunfa
Este sentimento parece muito com o impulso em um verso da peça Alfred: Uma Máscara, de James Thomson, de 1740 (Ato III, última cena):

When Britain first, at heaven’s command, Arose from
out the azure main,
This was the charter of the land, And guardian angels
sung this strain:
Rule Britannia, rule the waves; Britons never will be
slaves. (Cubberlege 545)
Cuja tradução é:

Quando a Inglaterra primeiro, ao comando do céu, Surgiu do
mar azul-celeste,
Esta foi a escritura da terra, E anjos guardiões
cantaram esta melodia:
Comande Britannia, comande as ondas; Bretões nunca serão
escravos. (Cubberlege 545).

12, 2, 3, Frankenstein (livro na estante)

Este é uma famosa explanação de ficção ciêntífica/social de 1818, por Mary Wollstonecraft Shelley. De acordo com Inga-Stina Ewbanks, é sobre o eterno tema da criação do homem que fica além de seu poder de controle, (5).

12, 2, 3, Gulliver’s Travels (livro na estante)

As viagens de Gulliver. Este foi um romance utópico escrito em 1726 por Jonathon Swift, um satírico escritor social inglês que passou a maior parte de sua vida na Irlanda (Adler ix-x).

12, 2, 3, Decline and Fall of…? (livro na estante)

Este, provavelmente, deve ser o trabalho de Edward Gibbs, The History of the Decline and Fall of the Roman Empire (A História do Declínio e Queda do Império Romano), mais comumente conhecido como The Decline and Fall of the Roman Empire (O Declínio e Queda do Império Romano). A coleção de seis volumes foi escrita entre 1776 e 1788, e é considerada como uma das melhores histórias já escritas (Rexroth 596).

12, 2, 3, Essays of Elia Lamb (livro na estante)

Elia, ou Charles Lamb, primeiro publicou seus famosos ensaios nas páginas da London Magazine, de 1820 a 1825, posteriormente encadernados em dois volumes, publicados em 1923 e 1833. Seus ensaios são considerados como pessoais, sensíveis e profundos (Altick 686-87).

12, 2, 3, Don Quixote (livro na estante)

Este foi um romance satírico sobre cavalaria, escrito por volta de 1600 (Adler) pelo autor espanhol Miguel de Cervantes. Seu herói é um caricatural cavaleiro romântico que é desesperadamente idealista (Greer 307).

12, 2, 3, Hard Times (livro na estante)

Charles Dickens escreveu este quase solitário ataque à… industrialização em 1854. Ele se justapõe aos sérios e aplicados industriais com um circo criativo e divertido que vem à cidade na qual o romance se desenrola (Ewbanks 786). Provavelmente pode ter servido de apelo ao senso de drama de V e sua vitória sobre as mazelas.

12, 2, 3, French Revolution (livro na estante)

Este volume pode ser sobre qualquer história passada durante a Revolução Francesa, ou sobre a própria Revolução Francesa, que ocorreu entre 1787 e 1792.

18, 2, 3, Faust (livro em estante)

O famoso poema de Goethe, Fausto, foi publicado no início de 1808. Ele reconta uma lenda renascentista sobre um doutor que barganha com o diabo por juventude e poder. A segunda parte, postumamente publicada, foi um tratado filosófico no qual a alma de Fausto é salva porque ele ama e serve tanto a Deus quanto a humanidade, apesar dos seus erros. Este Fausto é considerado como a encarnação do “moderno” ser humano (Greer 426).

12, 2, 3, Arabian Nights Entertainment (livro na estante)

As Mil e Uma Noites. Este livro é uma coleção de histórias folclóricas originárias da Índia, mas que foi levada para a Persia e para a Arábia. Embora iniciadas na Bagdá do século 8 ou 9, elas retêm muitos mais características do Egito do século 15, onde foram formalmente traduzidas (Wickens 164).

12, 2, 3, The Odessey (livro em estante)

A Odisséia. Um dos dois históricos poemas épicos gregos, feitos por volta de 800 A.C. e escritos por Homéro. Embora a identidade de Homéro seja incerta, e ele pode ter sido até mesmo um arquetípico personagem de si próprio, A Odisséia é uma aventureira história sobre o retorno de gregos que viram heróis que atravessam mares bravios (Greer 66).

12, 2, 3, V (livro em estante)

O romance V, escrito em 1963 por Thomas Pynchon, é considerado um dos primeiros importantes trabalhos pós-modernos. Ele combina pedaços de história, ciência, filosofia, e psicologia pop com personagens paranóicos e metáforas científicas. O trabalho de Pynchon é descrito como uma variação entre a ‘cultura intelectual’ e o meio termo da cultura pop underground das drogas, (Kadrey e McCaffery 19). Isto também pode ser dito tanto sobre a Galeria Sombria como sobre o próprio livro de V de Vingança.

12, 2, 3, Doctor No (livro na estante)

Ian Fleming, um ex-agente de inteligência britânica, escreveu este romance de espionagem em 1958. Os romances de Fleming eram supostamente baseados na vida que teve como um espião (Reilly 320).

12, 2, 3, To Russia With Love (livro na estante)

Outros dos romances de Fleming, este aqui foi escrito em 1957 (Reilly 320).

12, 2, 3, Illiad (livro na estante)

Outro poema de Homéro, A Ilíada fala sobre a violenta e sangrenta guerra de Tróia.

12, 2, 3, Shakespeare (2 volumes na estante)

Shakespeare foi um escritor elizabetano de peças de teatro cujos dramas e sonetos são considerados trabalhos clássicos do renascimento humanista (Greer 307).

12, 2, 3, Ivanhoe (livro na estante)

Um dos dramáticos romances históricos de Sir Walter Scott, Ivanhoe, foi escrito em 1820 (Greer 425).

12, 2, 3, The Golden Bough (livro na estante)

O exaustivo décimo terceiro volume do trabalho de James G. Frazer sobre superstições primitivas foi publicado primeiro em 1890. A estante de livros de V contém um único volume do trabalho.

12, 2, 3, Divine Comedy (livro em estante)

A Divina Comédia. Esta é uma obra-prima da literatura italiana, escrita por Dante Alighieri. Começada por volta de 1306 e terminada com a morte de Dante em 1321, ela trata da viagem do autor através da vida após a morte.

12, 3, 3, Martha and the Vandellas

Um grupo musical de Rhythm-and-Blues, produzido e distribuído pelo selo Motown Record entre 1963 e 1972. Eles tiveram seu começo como cantores de apoio de Marvin Gaye, outra estrela da Motown, e então se lançaram para uma carreira de sucesso como artistas agressivos e extravagantes. A canção Dancing in the Streets foi lançada em 1964. (Sadie 178).

12, 3, 3, Motown

Motown foi uma gravadora independente, de propriedade de afro-americanos, fundada em Detroit (também conhecida como Motortown, ou a Cidade dos Motores), Michigan. A palavra também descreve o distinto estilo de música pop-soul que trouxe sucesso à gravadora. Este Motown sound foi extraído do blues, do rhythm-and-blues, do gospel e do rock, mas diferente destes outros estilos musicais afro-americanos, também contou com algumas das práticas de música popular anglo-americana socialmente aceitas, e isto obscureceu algumas das mais vigorosas características da música afro-americana (Sadie 283).

13, 1, 2, Tamla e Trojan

Não consegui determinar nenhuma referencia para Tamla e Trojan. Como Motown se refere tanto a gravadora quanto para o estilo de música que ajudou a popularizar, eu não sei que relação Tamla teve com os outros grupos mencionados. Como os outros indivíduos mencionados são reais, eu acredito que Tamla e Trojan tenham existidos, mas não pude achar nenhum registro sobre eles.

13, 1, 2, Billie Holiday

Famosa Cantora de jazz, Billy Holiday foi extremamente popular entre os intelectuais brancos de esquerda de Nova Iorque. Ela gravou com alguns dos melhores do jazz, incluindo Benny Goodman e Count Basie. Ela acabou em um mundo de drogas, álcool e abusos, e morreu em 1959, com a idade de 44 anos (Sadie 409-410).

13, 1, 2, Black Uhuru

Este grupo foi uma das mais famosas bandas de reggae da Jamaica. Foi formada no ano de 1974 em Kingston (Sadie 46-47). Reggae é um típico estilo de dance music jamaicano, influenciado tanto pela música afro-caribenha quanto pelo Rhythm-and-Blues americano (Sadie 464).

13, 1, 2, A Voz do Dono…

O logo da RCA trazia um cachorro fitando o cone de um gramofone (um dos primeiro toca-discos), simbolizando o reconhecimento do animal pela voz de seu dono.

13, 3, 3, Aden

Aden tanto foi o outro nome para os habitantes da República democrática de Iêmen (o Iêmen do Sul) como a cidade da capital do país. O país que agora é fundido com o Iêmen do Norte, ocupou a extremidade Meridional da Península árabe, no sul de Arábia Saudita. Os britânicos o colonizaram, e mantiveram controle parcial ali até que o país se tornou uma república marxista em 1967 (Encyclopaedia Britannica 835). Embora a idade de Prothero não seja mencionada, ele parece ter cerca de 50 anos; é provável que ele tenha servido como soldado imediatamente antes da revolução de Iêmen. Assim, ele seria um jovem durante a revolução de 1967, e cerca de 40 durante os seus anos como chefe no Campo de Readaptação de Larkhill.

18, 3, 1, V num círculo

Este símbolo apresenta semelhanças com o sinal de anarquia de um A num círculo, e também com a dramática inicial de Zorro (Stolz 60).

19, 1, 2, Rosas “Violet Carson”

A Violet Carson é uma rosa híbrida introduzida em 1963 (Coon 201) ou 1964 (Rosas Modernas 7 432) por S. McGredy. É uma criada pelo cruzamento de uma Madame Leon Cuny com uma Spartan. É descrita como uma flor colorida, com creme (Coon 201) ou prata (Rosas Modernas 7 432) por sob as pétalas, e tem um arbusto robusto e espalhado. Não parece ser de uma variedade muito comum, e é listada em publicações de sociedades idôneas de rosas mas não em livros dirigidos a um leitor casual, assim é incerto como Finch pode tê-la reconhecido imediatamente.

20, 1, 3, The Cat (cartaz de filme)

O cartaz para um filme chamado The Cat pendurado na parede parece descrever um homem que segura uma arma. O único filme que pude achar com este título, porém, foi um drama francês de 1973 sobre a relação pouco comunicativa entre uma amarga estrela de trapézio e seu marido (Halliwell 168).

20, 1, 3, Klondike Annie (cartaz de filme)

Um filme de 1936 da Paramount, Klondike Annie foi estrelado por Mae West, como uma ardente cantora em fuga que, disfarçada como uma missionária, revitaliza uma missão no Klondike (Halliwell 542). Alguns dos filmes descritos nos cartazes parecem ter atraído V apenas por propósitos de entretenimento. Porém, este aqui pode dar o leitor uma pista sobre o caráter de V. Ele tanto está em fuga, disfarçado, quanto tenta revitalizar toda uma nação.

20, 1, 3, Monkey Business (cartaz de filme)

Este filme de 1931 dos irmãos Marx, feito pela Paramount, narra as artimanhas de quatro passageiros clandestinos em um navio que bagunçam uma festa social a bordo, onde eles capturam alguns escroques (Halliwell 666). Esta é outra pista, pois V é um clandestino num sistema social que bagunça o sistema e capturas vários inimigos.

20, 1, 3, Waikiki Wedding (cartaz de filme)

Waikiki Wedding foi produzido em 1937 pela Paramount. Seu enredo envolve um agente de imprensa que está no Havaí para promover uma competição de A Rainha do Abacaxi (Halliwell 1050).

21, 3, 2, Salve uma Baleia (camiseta)

Por causa da ameaça de extinção das baleias, muitas pessoas nos anos 70 começaram a usar camisetas e bottons proclamando que alguém deveria Salvar uma Baleia. Este sentimento veio a ser associado com política e ambientalismo “liberais”.

22, 1, 1, …Quando os Trabalhistas subiram ao poder…

De acordo com a Encyclopaedia Britannica, o Partido Britânico dos Trabalhistas é um partido reformista socialista com fortes laços institucionais e financeiros com os sindicatos. Em janeiro de 1981, devido a vastas mudanças internas, o Líder do partido trabalhista eleito foi Michael Foot, um militante socialista cuja política incluia o desarmamento nuclear unilateral, a nacionalização das indústrias-chaves, união de poder e pesados impostos (82), da mesma maneira que Moore descreve em Por Trás do Sorriso Pintado (271).

22, 1, 1, …Presidente Kennedy…

A implicação é que o presidente dos Estados Unidos ou é Ted Kennedy, senador democrata ou John Kennedy Jr, respectivamente, o sobrinho e o filho do ex-presidente John F. Kennedy.

23, 2, 1, Nórdica chama

Este provavelmente é o nome de um partido estadual, com todas as bandeiras e uniformes exibindo grandes N’s. Nórdica deriva dos nórdicos ou Vikings dos países escandinavos que invadiram a Europa nos séculos V e VI (Greer 183). Eles eram ferozes, fortes, e “arianos” – a população “idealizada” pelo partido nazista de Hitler: loira e de olhos azuis (Greer 513-514). A escolha desta imagem ajuda a identificar a política do governo.

27, 2, 3, O mundo é um palco!

Esta é uma citação da peça As You Like It, de Shakespeare, Ato II, cena VII. (Bartlett 211).
40, 2, 3, …voltamos às cinco.

Uma expressão popular para dar um intervalo vem de uma frase do show business, embora leis de sindicatos agora requeiram dez minutos de intervalo (Sergal 219).

46, 3, 2, Mea Culpa

Do latin eu confesso ou a culpa é minha (Jonas 69).

47, 1, 3 – Bring me my bow of burning gold, Bring me my arrows/ of desire, Bring me My spear, O clouds unfold, Bring/ me my chariot of fire…I will not cease from mental/ flight Nor shall my sword sleep in my hand ‘Till we/ have built Jerusalem In England’s green and pleasant/ land.


Este é parte do poema de William Blake, And Did Those Feet (E Fez Esses Pés), do prefácio à sua coleção Milton. O prefácio de Blake para este trabalho foi um chamado aos cristãos para condenassem os clássicos escritos de Homéro, Ovídio, Platão, e Cícero, venerados no lugar da Bíblia. Ele declarou: Nós não queremos modelos gregos ou romanos na Inglaterra; de preferencia, ele disse, seus companheiros Cristãos deveriam se esforçar para criar esses mundos de eternidade nos quais nós viveremos para sempre, (MacLagan e Russell xix). V está, a seu modo, tentando criar a sua idéia de Jerusalém, um mundo livre, na Inglaterra. A tradução é a seguinte:
Tragam meu arco de ouro candente,
Traga minhas flechas de desejo,
Tragam minha espada, ó nuvens que se desfraldam,
Tragam minha carruagem de fogo…
Eu não cessarei minha luta espiritual…
Nem descansarei a espada em minha mão…
Até termos erguido Jerusalém…
Nas terras verdes e aprazíveis da Inglaterra.

54, 2, 2, Por favor, deixe que eu me apresente. Eu sou um homem de posses… e bom-gosto!

Esta é a abertura da canção Sympathy for the Devil, dos Rolling Stones, lançada em 1968.
56, 3, 3, Eu sou o Demônio e vim realizar a obra demoniaca!
Finch descreve esta citação como vindo de um famoso caso de assassinato, quase vinte anos antes de 1997. Uma busca em almanaques dos anos 1974 a 1979 revela que o único caso famoso de assassinato naquele tempo foi o do Filho de Sam/David Berkowitz. Berkowitz foi condenado por matar seis pessoas e ferir outras sete em ataques aleatórios nas ruas de Nova Iorque entre 29 de julho de 1976 e 31 de julho de 1977. Não havia nenhum motivo aparente por trás dos assassinatos; Berkowitz os explicou dizendo que foi um comando. Eu tive um sinal e o segui (Delury, 1978, 942). Considerando esta citação, e a aparente insanidade de Berkowitz, na qual o fez interromper seu julgamento com violentos ataques, é provável que esta citação venha desse caso.

57, 2, 1-2: O Senhor é meu pastor: e nada me faltará; Em um lugar de pastos, ali me colocou. Ele me conduziu junto a uma água de refeição. Converteu minha alma, me levou pelas veredas da justiça, por amor de seu nome!

Esta é a tradução feita da seguinte versão inglesa do 23º Salmo do livro bíblico dos Salmos, usada originalmente na versão em inglês de V de Vingança:
The Lord is my shepherd: therefore I can lack
nothing; He shall feed me in green pasture and lead
me forth beside the waters of comfort. He shall
convert my soul and bring me forth in the paths of
righteousness, for His name’s sake…
Esta parece ser uma estranha versão deste salmo. Não é nada parecida com a versão padronizada pelo Rei James:

The Lord is my shepherd, I shall not want. He maketh
me lie down in green pastures; He leadeth me
beside the still waters. He restoreth my soul: he
leadeth me in the paths of righteousness for his
name’s sake. (Bartlett 18)
Procurei em várias bíblias e descobri que cada uma tinha uma versão diferente. Em uma versão bastante comum, da Holy Bible (versão católica padrão da Bíblia), lê-se:

The Lord is my shepherd, I shall not be in want. He
makes me lie down in green pastures, he leads me
beside quiet waters, he restores my soul. He guides
me in paths of righteousness for his name’s sake. (310)

PARTE 2

9, 3, 1, The Magic Faraway Tree, por Enid Bla?? (na tradução da Ed. Globo – A Árvore distante)

Embora muitos dos livros em V de Vingança sejam reais, este aqui parece ser uma das invenções de Moore. Nem o Oxdford Companion to Children’s Literature, nem a Science Fiction Encyclopedia incluem o seu título.

15, 1, 3, Ouvi falar de um experimento…

A experiência, que não foi tão dramática quanto descrita em V de Vingança, foi administrada na Universidade de Yale em 1963 por Stanley Milgram. Os voluntários não estavam realmente acreditando que estavam matando as vítimas, e 65% (26 de 40 voluntários) continuaram administrando o que eles acreditavam ser perigosos e severos choques em suas vítimas (Milgram 376).

23, 2, 3, … uma mistura de extrato de Hipófise e Pineal.

Moore se refere-se a uma mistura de substâncias extraidas das glândulas Pituitária e Pineal, embora eu duvide que tal mistura apresente os efeitos que Moore descreve na série. Deve ser apenas uma criação de Moore.

24, 3, 3, fertilizante de amônia

Alguns fertilizantes contêm amônia que, na presença de certas bactérias, pode ser transformada em nitrato, que é usada pelas plantas (Chittenden 99).

24, 2, 2, gás mostarda

Este gás foi criado para ser usado como arma química durante a Segunda Guerra Mundial. Causa severas vesículas na pele e irritação nos olhos. Sua estrutura química é (Cl2CH2CH2)2S (sulfeto de 1,1-dicloro-etil) (Enciclopédia Americana 679).

24, 2, 3, napalm

Napalm é um explosivo derivado da gasolina, também usado durante a Segunda Guerra Mundial (Enciclopédia Americana 724). Não acho que uma pessoa possa fazer Napalm ou gás mostarda a partir de ingredientes de jardinagem. (N. do T.: Como foi apontado por outras pessoas, há a possibilidade de produzir tais substâncias com produtos de jardinagem, dependendo, é claro, das condições de produção. Mas como estamos falando de uma obra de ficção, o autor deve ter admitido que, devido a sua impressionante natureza mental, o personagem V seria capaz de tais façanhas científicas).

53, 3, 2, As Dunas de Sal

Este não é um filme real. Halliwell não dá nenhuma referência desse filme, e parece servir apenas como um ponto secundário do enredo, como um popular filme de Valerie Page.

57, 2, 3, Storm Saxon

Este programa de televisão é (felizmente) outra invenção. The Complete Encyclopedia of Television Programs de 1947-1979, não inclui nenhum programa parecido. A escolha do nome Saxon (saxão) é importante; o Saxões foram os descendentes dos conquistadores escandinavos que povoaram a França e a Inglaterra no século V (Greer 178-179). Note que a companheira de Storm é uma mulher branca de cabelos loiros chamada Heidi – o modelo de perfeição da Pureza ariana!

58, 2, 2, …na N.T.V um!

Aparentemente, N.T.V. significa Norse Fire Television (Televisão da Nórdica Chama), e é a substituição para a BBC – TV, a corporação estatal de televisão e radiodifusão britânica (Greene 566). O um se refere ao número do canal. A B.B.C. atualmente vai ao ar pelos canais Um e Dois (Greene 566).

62, 1, 3, …A gente paga, e pra quê?!

A BBC não é um canal comercial; é mantida pela venda das licenças de transmissão, pagas por donos de aparelhos de televisão e de rádio.

PARTE 3

4, 1, 2, Imagem espacial

Este é Neil Armstrong, caminhando na superfície da lua. Armstrong, a primeira pessoa a caminhar na lua, deu seu histórico passo em 1968.

6, 3, 1, Hitler

Um das imagens na colagem ao fundo é de Adolf Hitler, líder do Partido Nazista alemão, a linha de extrema-direita do governo que comandou a Alemanha de 1933 a 1945 e executou aproximadamente 6 milhões pessoas, entre judeus, ciganos, homossexuais e outros prisioneiros políticos (Sauer 248).

6, 3, 1, Stalin

O quadro de Josef Stalin está incluído porque, como Hitler e Mussolini, ele está associado com a tirania violenta. Ele controlou a antiga União Soviética de 1929 a 1953; durante os anos entre 1934 e 1939, ele prendeu e matou seus inimigos políticos, que eram quase todos membros das camadas militar, política e intelectual do país (Simmonds 571-74)

6, 3, 1, Mussolini

Benito Mussolini, outro líder apresentado na colagem, foi um líder italiano que era quase igual à Hitler em despotismo. Embora ele tenha começado como um socialista pacifista, durante a primeira grande guerra, ele formou o seu partido fascista de direita. Ele foi o ditador da Itália de 1922 a 1943, e controlou o norte da Itália de 1943 a 1945, antes de ser executado (Smith 677-78).

7, 2, 1, Imagem de tropas marchando (ao fundo)

Estas são as tropas nazistas do exército de Hitler.

A partir de agora, vamos acompanhar, por conveniência, a numeração das páginas do livro dois de V de Vingança, publicado pela Via Lettera.

17, 2, 1, … alguém que se espelha numa bandeira vermelha…

Historicamente, bandeiras vermelhas simbolizaram o movimento anarquista ou o comunista, ou ambos.

17, 3, 1, …Quero a emoção… da vontade triunfante…

 

Esta linha da canção no caberé se refere o famoso filme-documentário de propaganda nazista, The Triumph of the Will (O triunfo da Vontade, produzido por Leni Riefenstahl em 1934. O filme descreve um comício ao ar livre do partido nazista em Nuremburg como uma experiência mística, quase religiosa, da mesma maneira que a cantora está encenando (Cook 366).

18, 1, 2, …se um gato loiro…
Outra referência ao ideal da raça ariana.

18, 1, 2, O Kitty-Kat Keller

O nome da boate é uma referência ao clube burlesco Kit Kat Klub, do filme Caberet durante a subida de Hitler ao poder numa Alemanha pré II Guerra mundial. Ambos apresentam as iniciais KKK, que leva a uma inevitável associação com a infame organização racista Ku Klux Klan.

18, 3, 1, Faz ‘heil’ pra mim…

Mais uma referência ao nazismo; heil era a saudação verbal dada à Hitler com o braço direito levantado e a palma da mão virada para baixo.

43, 3, 2, …um show de marionetes muito especial…

O show que o pai de Evey menciona, e que vemos representado na página 34 é um tipo de show de marionetes conhecido como Punch & Judy, que se originou na Itália antes do século XVII. É um espetáculo extremamente violento; o boneco Punch geralmente bate nos outros personagens até a morte. Como V, Punch sempre destrói seus inimigos (Encyclopedia Americana 6).

PARTE 4

15, 2, 1, Arthur Koestler, As Raízes da Coincidência

Koestler foi um jornalista humanista e intelectual do início do século XX. Este trabalho trata de fenômenos paranormais [Enciclopédia Americana (530-31)].

34, 3, 1, 1812 Overtune Solennelle

Este peça musical, escrita em 1880 por Peter Ilich Tchaikovsky, foi a consagração da Catedral de Cristo de Moscou. A catedral foi construída em agradecimento à derrota de Napoleão em 1812. O trabalho incorporou um velho hino russo, e incluiu tanto o hino nacional francês, a Marseillaise, para representar a invasão de Napoleão e God Save The Czar (Deus Salve o Czar) para simbolizar a vitória de Rússia. Moore provavelmente escolheu este trabalho tanto pelo seu som revolucionário, quanto por um motivo incomum: a orquestração original incluía sons de tiros de um campo de batalha que o maestro produzia ao acionar interruptores elétricos (Adventures in Light Classical Music 34), uma ação que V imita com suas bombas.

48, 3, 1, Ordnung

Palavra alemã que significa, nesse caso, ordem, disciplina (Betteridge 452).
Aparentemente, na edição da Via Lettera, a grafia está errada: a palavra está escrita como Ordung.

48, 3, 2, Verwirrung

Palavra alemã que significa confusão, perplexidade, desordem (Betteridge 686).

49, 1, 1, Rodando em giro cada vez mais largo,/ O falcão não escuta o falcoeiro;/ Tudo esboroa…/… o centro não segura.

Estas palavras são do poema de William Butler Yeats, The Second Coming (A Segunda Vinda), que fala sobre uma figura que representa Cristo/anti-Cristo que sustenta a caótica história da humanidade (Donoghue 95-96). Isso ilustra visão de V de um mundo caótico, mas V acredita que como resultado do caos virá a ordem. Isto também está prenunciado, pois V representa um Cristo/anti-Cristo e Evey é a segunda vinda. O trecho em inglês do poema original é o seguinte:
Turning and turning in the widening gyre the
Falcon cannot hear the falconer.
Things fall apart…
the centre cannot hold.

54, -, – Todavia, como se diz, vale tudo no amor e na guerra. Como, no caso, trata-se de ambos, maior a validade./ Embora ostente os cornos de um traído, não serão/ eles uma coroa que usarei sozinho./ Como vê, meu rival, embora inclinado a pernoitar fora,/ Amava a mulher que tinha em casa./ Há de se arrepender/ O vilão que roubou meu único amor,/ Quando souber que, há muitos anos…/ Eu me deito com o seu.

V fala freqüentemente, como ele faz aqui, em pentâmetro iambico, que é um esquema rítmico. Cada linha consiste em cinco pés métricos, cada um dos quais contêm duas sílabas, uma breve (átona) e uma longa (acentuada), (Encyclopedia Americana 688). Simplificando, um pentâmetro iambico é uma coluna de cinco estrofes, cada uma formada por um iambo, que é uma medida – um pé de verso – constituído de uma sílaba breve e outra longa. Falando em versos brancos, característicos de peças Jacobeanas, V presta uma homenagem. Era comum que os dramas Jacobeanos fossem uma peça de vingança, que V imita em mortal adaptação ao longo da história. O texto original em inglês é o seguinte:
Still all in love and war is fair, they say,
this being both and turn-about’s fair play.
Though I must bear a cuckold’s horns, they’re not a crown that I shall bear alone. You see,
my rival, though inclined to roam, possessed
at home a wife that he adored. He’ll rue
his promiscuity, the rogue who stole
my only love, when he’s informed how
many years it is since first I bedded his.


56, -, – A Queda dos Dominós (imagem)

Os dominós, que V tem colocado em pé desde o começo, estão prontos para cair. Na pequena história de Harlan Ellison ‘Repent, Harlequin!’ said the Ticktockman ( Arrependa-se, Arlequim! disse o Homem-Tick-Tack), o primeiro ato de terrorismo do Arlequim é descrito dessa forma:
Ele tinha tocado o primeiro dominó na linha, e um após o outro, em um ‘chik, chik, chik’, tinham caído.
‘Repent, Harlequin!’ said the Ticktockman demostra uma ridícula distopia onde o tempo é tanto os meios quanto os fins para o facismo; nisto, o atraso é erradicado pela constante exigência da vingança bíblica: se um indivíduo está dez minutos atrasado, dez minutos são tomados do fim de sua vida. Neste mundo, o Arlequim, disfarçado com uma fantasia de palhaço, consegue perturbar o tempo derramando 150.000 dólares em balas de mascar em uma multidão de transeuntes que esperam em uma calçada móvel. As balas de mascar, que são um mistério já que foram deixadas de ser fabricadas há mais de cem anos (como os fogos de artifício de V e o badalar do Big Ben na página 145 de V de Vingança), literalmente impede o funcionamento da calçada e anula todo o sistema desse mundo por sete minutos. Este ato faz do Arlequim um terrorista contra o estado, e o Mestre Controlador do Tempo (o Homem-Tick-Tack do título) tem que descobrir a identidade do encrenqueiro antes do sistema ser totalmente destruído. Muitos dos truques de V são semelhantes aos do Arlequim: ambos usam fogos de artifício para se comunicar com as massas, e ambos aparecem sobre edifícios para zombar das massas com canções ou poemas. O Ticktockman sabe, como Finch, que a identidade do Arlequimé menos importante que o entendimento de o que ele é. O Arlequim e V fundamentalmente representam idéias opostas àqueles que dirigem seus mundos, e ambos, embora usem de destruição, semeiam os que detém o poder para demolir as realidades que os consomem. Ambos são, de certa forma, celebridades, e ambos são inimigos do estado porque eles querem ser reformadores deste [uma referência à Civil Disobedience (Desobediência Civil) de Henry David Thoreau].

PARTE 5

1, 2, 2, Dietilamida de Ácido Lisérgico

Também conhecido como LSD ou LSD-25, esta droga é um psicotrópico que induz a um estado de psicose. Foi isolada pela primeira vez em Basle, Suíça, em 1938 por Albert Hoffman, que a sintetizou a partir de um fungo que ataca cereais, causando uma moléstia conhecida como ferrugem de gramíneas (Stevens 3-4).

2, 1, 1, Quatro tabletes

Hoffman também foi a primeira pessoa a experimentar a LSD-25. No seu primeiro experimento, ele usou 250 miligramas (Stevens 4). Ele experimentou uma violenta viagem e as doses subseqüentes foram reduzidas para menos de dois terços da quantidade inicial (Stevens 10). Assim, os quatro tabletes de Finch, cada um com 200 miligramas, era uma quantidade muito, mas muito excessiva.

5, 3, 1, …in nomini patri, et filii, et spiritus sancti…

Latim, da missa Cristã: Em nome do Pai, e do Filho, e do espírito santo.

7, 2, -, La Voie… La Verite… La Vie.

Estas palavras são francesas, e significam, respectivamente, o caminho (ou a estrada), a verdade, a vida.

7, 3,1, Stonehenge

Um dos maiores e mais completos monumentos de pedra dispostas da Inglaterra. Sua origem e propósito são desconhecidos, mas se acredita que tenha sido ou um tipo de local de observação astrológica, ou um lugar para cerimônias religiosas, ou ambos.

9, 1, 3, Everytime we say goodbye…I die a little./ Everytime we say goodbye, I wonder/ why a little. Do the gods above me, who must/ be in the know think so little of me they’d/ allow you to go?

A citação é de uma canção de Cole Porter intitulada Ev’ry time we say goodbye (Toda Vez Que Dizemos Adeus), do espetáculo de Porter, Seven Lively Arts, de 1944. Porter (1891-1964) foi um compositor americano que escreveu trabalhos sinfônicos de jazz e musicais. Ele é mais lembrado por sua adaptação da peça de Shakespeare, The Taming of the Shrew (A Megera Domada), no musical Kiss me, Kate (Lax and Smith 611; Havelince 200).
Uma tradução livre para esse trecho da canção é a seguinte:
Toda vez que dizemos adeus… Eu morro um pouco. Toda vez que dizemos adeus, eu desejo saber um pouco porquê.
Será que os deuses acima de mim,
que sabem tanto de tudo, pensam tão pouco em mim,
a ponto de permitir que você se vá?

9, 2, 2, Faze o que quiseres, Eve. Essa será a única lei!

Esta é a Lei de Thelema, de Aleister Crowley, em sua publicação de 1904, The Book of the Law (O Livro da Lei). Crowley foi um controverso e mal-compreeendido mago e ocultista dos meados do século XIX e início do século XX. Ele declarou que esse livro foi ditado a ele por seu espírito guardião, um deus-demônio, a encarnação de Set, um deus egípcio, a quem Crowley chamava de Aiwas. Embora alguns interpretem a lei como permissão para fazer pura anarquia, pode na verdade significar que alguém tem que fazer o que deve fazer e nada mais (Guiley, 76).

13, 1, 1, … uma história de Ray Bradbury que você me leu, sobre um trigal…

A história é A Foice, do livro The October Country. O livro contém outros nove contos, e aqui no Brasil foi publicado com o nome de Outros Contos do País de Outubro.

15, 2, 1, Eu estou esperando o homem.

Esta é uma citação da canção de Velvet Underground Heroin (Heroína) sobre um viciado que espera por sua conexão que vai trazer mais de sua droga para lhe vender.

15, 3, 3, Adeus, Minha Adorada (Cartaz)

Este filme de 1945, cujo título em inglês é Farewell, My Lovely, foi produzido pela RKO. Foi um dos primeiros filmes noir, um estilo caracterizado pelo violência e depravação de suas personagens, seu enredos complexos e sua fotografia sombria e de alto-contraste. Este filme foi adaptado de um romance de Raymond Chandler, e trata da procura de um detetive particular pela namorada de um ex-condenado (Halliwell 314).

21, 2, 2, Eva Perón…, Evita…e Não Chores por mim, Argentina…
Eva Perón foi a esposa de Juan Perón, antigo presidente da Argentina,de 1946 a 1952. Eva Perón, também conhecida como Evita, controlou o sindicato trabalhista, e os purgou de seus líderes, fazendo-os assim completamente dependente do governo. Ela também suprimiu grupos que a insultavam. Porém, ela era bastante querida por muitos de Argentina. Eva Perón inspirou um musical, Evita, escrito por Andrew Lloyd Webber, e encenado pela primeira vez em Londres em 1978.

23, 1, 1, …e deu estes passos em tempos antigos…

As primeiras linhas do poema And Did Those Feets, de William Blake.

27, 2, – …então, como podes me dizer que estas sozinho…/ … e afirmar que o sol não brilha para ti?/ Dá-me tuas mãos e vem comigo pelas ruas de Londres./ Eu lhe mostrarei algumas coisas…/ … que te farão mudar de idéia.

Esta pode ser uma canção real; porém, Fui incapaz de determinar sua origem ou qualquer outra informação sobre ela.

41, 3, 1, … um funeral viking.

Os vikings enterravam seus mortos primeiro colocando o cadáver em um navio e, depois de atear fogo na embarcação, empurravam-na para dentro do mar.

41, 3, 1, Ave atque vale

Latim, que significa, Olá e adeus (Simpson 63, 70, 629).

52, 1, 2, Les Miserables (cartaz)

Este cartaz pertence a Les Miserables (Os Miseráveis), uma moderna peça de ópera de Claude-Michel Schonberg, baseada no romance de Victor Hugo e encenada pela primeira vez em Londres em 1980. Fala sobre um insignificante ex-criminoso que, saído da prisão, se torna um líder revolucionário (Behr 391).

55, 2, 2, As notícias de minha morte foram… exageradas.

Esta citação é de um telegrama enviado de Londres à Associated Press por Mark Twain, escritor americano, em 1897 (Bartletts 625).

Por Madelyn Boudreaux – 27 de abril de 1994.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/popmagic/v-de-vinganca-guia-de-referencias/

As Sete Consonâncias

Excelente texto enviado pelo músico Alvaro Coutinho

Astrologia e música são dois estudos que aparentam ser bem diferentes, afinal de contas, que relação há entre os astros celestiais e uma orquestra? Estranhamente, a correlação entre essas duas matérias sempre existiu, o que é de certa forma bem conveniente, ambas tratam de assuntos que sempre influenciaram o subconsciente do homem. A fascinação de uma pessoa ao olhar o céu estrelado pode se comparar a alguém escutando a Nona Sinfonia pela primeira vez.

Pitágoras, e a Musica Universalis

Esta associação vem de muito tempo, talvez o primeiro, ou mais notório filósofo a estudar isso viveu na Grécia cerca de 2.500 anos atrás, chamava-se Pitágoras de Samos, filósofo, matemático e místico que proporcionou grandes avanços para a humanidade em inúmeras ciências, matemática, astrologia, política, ética, geometria, metafísica… enfim, a lista segue. Todo mundo conhece por exemplo o seu teorema mais famoso (a² + b² = c²), mas essa equação é completamente eclipsada quando comparamos a importância dos estudos sobre música e sua magnum opus, a Musica Universalis.

Para Pitágoras era simples, matemática e música existem em tudo, afinal de contas “tudo é feito de números”, e como a música funciona por meio de funções, então logo, toda a matéria tem a sua música. Sabemos que a matéria reage a vibrações, ou a frequências diferentes, alguns ainda sugerem que matéria é energia condensada em vibrações fracas, logo, como toda vibração tem a sua “nota” específica, tudo o que existe emite um som e reage a sons diferentes. Na música sabemos que relações entre intervalos formam uma harmonia ou uma consonância.

Na época helênica clássica, não existia o conceito atual de notas, mas sim funções numéricas para cada relação de nota. Então, o que hoje seria, por exemplo, um intervalo de oitava (Dó a Dó) era antes uma função de 2:1, ou seja, a vibração emitida por uma corda é o dobro da frequência (Hz) emitida por uma outra coda afinada a uma oitava mais baixa, um intervalo de quinta (Dó a Sol) é 3:2, e por aí vai. Para fazer os seus estudos Pitágoras usava um instrumento chamado monocórdio, que era basicamente uma corda presa sobre uma caixa acústica e com uma ponte móvel, para assim formar notas diferentes.

Pitágoras percebeu então, que se ele dividisse a corda em diferentes regiões e tocasse ambas simultâneamente, ele teria uma combinação de notas que formaria a tal da consonância (do latim, soar junto, bem auto explicativo).

Mudando para a segunda área do assunto, os estudiosos da escola Pitagórica, tinham desenvolvido um conceito ancestral do héliocentrismo, ou seja, já sabiam que cada planeta possuia uma órbita padrão em relação ao sol que poderia ser expressada como uma razão numérica. Então, se ligarmos os pontos, podemos entender que cada planeta formaria uma consonância que influenciaria o comportamento humano e suas emoções. Para nós estudantes de astrologia isso soa bem familiar não?

Surgia assim a teoria da Música das Esferas. Seria Platão posteriormente que afirmaria, astronomia e música são estudos gêmeos em relação aos nosso sentidos: Astronomia para os olhos e Música para aos ouvidos. Claudius Ptolomeu seria o próximo a estudar e desenvolver novas ideias em cima da teoria de Pitágoras. E por fim, talvez o mais genial astrólogo e astrônomo de todos os tempos, Johannes Kepler [1].

Kepler, e a Harmonices Mundi

Kepler, com a sua incessante busca de tentar encontrar a linguagem de Deus no universo, estudou diversas áreas. Sua obra mais memorável, Mysterium Cosmographicum, constava a utilização de geometria, os Sólidos Platônicos para ser mais exato, para criar um modelo do sistema solar. Ele acreditava que estes cinco poliédros seriam sagrados e perfeitos por natureza, e que o criador teria utilizado-os para desenvolver o plano do universo.

Porém, suas pesquisas não se limitaram somente a geometria, ele logo se deparou com a antiga ideia da Música das Esferas. Enquanto os pensadores da sua época utilizavam esta teoria de forma metafórica, Kepler descobriu a harmonia presente dentro do movimento dos planetas analisando sua velocidade angular (este estudo está presente dentro do seu Harmonices Mundi), criando assim a forma final e mais aceita da música das esferas.

Após analisar as proporções musicais e os padrões orbitais, Kepler atribui aos planetas tais intervalos:

(Tradução: Divisões Harmônicas de uma corda, Estas são razões matemáticas para se criar intervalos que Kepler encontrou experimentando ambas consonâncias a respeito de uma corda inteira e a cada outra.) (Notem que não há os intervalos de 2ª, 7ª e 5ª dimunuta, o motivo disso é que estes intervalos não eram considerados harmônicos dentro da divisão) (Na imagem acima a razão de 6ªm está incorreto, na verdade ela é 3:5, não 4:5)

Intervalo (razão) – Planeta, aspecto/função harmônica.

Terça Menor (5:6) – Saturno, aspecto negativo/mediante.

Terça Maior (4:5) – Júpiter, aspecto positivo/mediante.

Quarta Justa (3:4) – Marte, aspecto neutro/sub-dominante.

Quinta Justa (2:3) – Terra, aspecto neutro/dominante. [2]

Sexta Menor (5:8) – Vênus, aspecto negativo/super dominante.

Sexta Maior (3:5) – Mercúrio, aspecto positivo/super dominante.

Oitava (2:1) – Sol, aspecto neutro/tônica. [3]

Esta classificação pode variar de autor para autor, Kepler não foi o único que realizou este estudo, porém, por ter sido um astrólogo extremamente genial, eu considero esta como a mais aceita, devemos levar em consideração também, que ele foi mais fiel as ideias de Pitágoras.

Outra questão a ser levada em conta é o fato de que a afinação padrão atual (A=440hz) é diferente da utilizada nos tempos de Pitágoras e até mesmo de Kepler, antigamente era utilizada a afinação de A=432hz (que por sinal se chama afinação pitagórica), então sim, nem sempre a música feita pelo homem soou da mesma forma, mas esse é assunto para um outro dia…

Considerações Finais

A beleza do nosso universo não se limita somente em leis de física e equações, nem mesmo a luzes brilhantes no céu, planetas girando e estrelas queimando, há muito mais para se sentir no cosmo. O universo por sua totalidade canta uma ópera que nossos limitados ouvidos não podem ouvir, mas que agem sobre todos nós de uma forma misteriosa e silenciosa.

Procuramos na música feita pelo homem uma beleza que não se pode expressar por imagens ou toques, a música é a arte mais abstrata que existe, e talvez por esta razão, a que mais toca a alma das pessoas. Tentamos alcançar a perfeição feita pelo universo (ou criador, ou natureza, quem ou o que fez não importa) porque assim nos sentiremos mais reconfortados, nos sentiremos como uma parte mais expressiva desta imensidão.

Cada um de nós é, afinal, um amontoado de notas mudas tentando se encaixar na grande sinfonia cósmica.

[2] Em algumas fontes o intervalo de quinta justa é associado ao Sol, enquanto a Terra em si não possui um intervalo definido.

[3] Também é comum associar a Lua ao intervalo de oitava.

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#Espiritualidade #Astronomia #Arte #Música #Astrologia #Ciência

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/as-sete-conson%C3%A2ncias

Antonin Artaud

1896 -1948

Rodrigo Emanoel Fernandes com Liege Seraphin e Maíra Silvestre

Artigo originalmente escrito para a disciplina “Interpretação II” do curso de Graduação em Artes Cênicas da Universidade Estadual de Londrina – UEL, sob orientação da Prof. Thaís D’Abronzo.

Onde outros propõem obras eu não pretendo senão mostrar o meu espírito.

A vida é queimar perguntas.

Não concebo uma obra isolada da vida. Não amo a criação isolada. Também não concebo o espírito isolado de si mesmo. Cada uma de minhas obras, cada um dos planos de mim próprio, cada uma das florações glaciares da minha alma interior goteja sobre mim.

Reconheço-me tanto numa carta escrita para explicar o estreitamento íntimo do meu ser e a castração insensata da minha vida, como num ensaio exterior a mim próprio, que me surja como uma gestação indiferente do meu espírito.

Sofro por o espírito não estar na vida e por a vida não ser o espírito, sofro por causa do espírito-órgão, do espírito-tradução ou do espírito-intimidação das coisas para as fazer entrar no espírito.

Este livro, suspendo-o na vida, quero que seja mordido pelas coisas exteriores, e em primeiro lugar por todos os sobressaltos cortantes, todas as cintilações do meu eu por vir.

Todas estas páginas se arrastam como pedaços de gelo no espírito. Perdoe-se-me a minha liberdade absoluta. Recuso-me a estabelecer diferenças entre qualquer um dos momentos de mim mesmo. Não reconheço no espírito nenhum plano.

É preciso acabar com o espírito, tal como com a literatura. Afirmo que o espírito e a vida comunicam a todos os níveis. Gostaria de fazer um livro que perturbasse os homens, que fosse como uma porta aberta e os conduzisse onde nunca teriam consentido ir, uma porta simplesmente conectada com a realidade.

E isso é tão pouco um prefácio a um livro, quanto, por exemplo, os poemas que o balizam ou a enumeração de todas as raivas do mal-estar.

Isto não é senão um pedaço de gelo mal digerido.

(Artaud: O Umbigo dos Limbos, in: O Pesa-Nervos; 1991, pg.13-14)

1. DOR… TEATRO… SOLIDÃO…

Antonin Maria Joseph Artaud (um nome completo raramente mencionado e surpreendentemente sugestivo), nasceu em 4 de setembro de 1896 na cidade de Marselha. Primogênito de uma família de nove irmãos, dos quais apenas três chegaram a idade adulta, em 1901 é acometido de uma grave meningite, da qual não se salvará sem seqüelas. Apenas o início de uma vida de constantes sofrimentos físicos e psíquicos originados de distúrbios no sistema nervoso central. Esse sofrimento, que Artaud nunca desistiu de tentar descrever das mais variadas formas, é de fundamental importância para a compreensão de seu teatro e suas idéias. Constantemente afligido por dores e uma sensação de opressão na cabeça, ombros e pescoço, Artaud afirmava ter sérias dificuldades em ordenar seus pensamentos e dar-lhes uma forma exterior.

A horrível compressão da cabeça e do alto da coluna vertebral, o peito opresso, as visões de sangue e de morte, os torpores, as fraquezas sem nome, o horror geral em que me encontro mergulhado com um espírito no fundo intacto, tornam inútil esse espírito.

(Artaud citado por Virmaux: Artaud e o Teatro;1978, pg10)

Esse “espírito intacto” era o que lhe garantia a lucidez necessária para a criação e para a capacidade de expor seu mal sem, entretanto, conseguir alivia-lo. Com o passar dos anos, Artaud torna-se obcecado com a idéia de que sua agonia (que não deixou de ser um estímulo cruel à sua necessidade imperativa de expressão que acabaria por leva-lo à arte e ao teatro) tinha uma origem metafísica:

Eu não tenho vida!!! Minha efervescência interna está morta! (…) Asseguro-te que não há nada em mim, nada naquilo que constitui a minha pessoa, que não seja produzido pela existência de um mal anterior a mim mesmo, anterior à minha vontade, nada em nenhuma das minhas mais hediondas reações, que não venha unicamente da doença e não lhe seja, em qualquer dos casos, imputável.

(Artaud citado em: Artaud e o Teatro;1978, pg.11)

Essa deterioração corporal e psíquica tornava extremamente difícil seu convívio social e a criação de elos verdadeiros com seus semelhantes. Artaud usa o teatro e sua capacidade única de expressão física, intelectual e – como não cansa de reiterar – metafísica, como seu meio privilegiado de comunicação, de grito. Sua prática teatral é permanentemente voltada para a idéia de uma “cura cruel”, para si mesmo e para a raça humana. Seu “corpo sem órgãos”, seu corpo novo, reconstruído, imortal, finalmente senhor de seu próprio destino e de sua própria anatomia.

Os primeiros passos no teatro dão-se a partir de 1920, quando muda-se para Paris, depois de passar por constantes internamentos em sanatórios, particularmente para desintoxicações, necessárias para manter em níveis aceitáveis a dependência do ópio, adquirida por ocasião dos primeiros tratamentos.

Preciso encontrar uma certa quantidade cotidiana de ópio. (…) pois tenho o corpo ferido nos nervos das medulas e isto é irremediável, incurável, absolutamente irremissível, não existe operação cirurgical que possa restituir ao organismo os nervos que ele perdeu.

(Artaud citado em: O Artesão do Corpo Sem Órgãos; 1999, pg.79)

Apesar de seu estado de quase miséria, sobrevivendo muitas vezes graças à cortesia de amigos que lhe ofereciam abrigo e comida, Artaud mantém uma atividade intelectual e profissional frenética, atuando em diversos espetáculos, publicando artigos e poesias e obtendo uma posição de destaque no movimento surrealista (que, posteriormente, criticaria por seu posicionamento político, de forma lúcida, porém cortante). O período de 1920 até 1932 viu o nome da Artaud crescer como uma figura ímpar e polêmica do teatro e da poesia francesas. Trabalhou em todas as frentes da atividade teatral: ator, encenador, cenógrafo, iluminador, escritor, sonoplasta e produtor, participando de inúmeras companhias sem pertencer realmente a nenhuma, exceto – em termos – o conhecido experimento do “Teatro Alfred Jarry”, cujos frutos foram quatro espetáculos e oito representações, entre 1926 e 1930. Além disso, não lhe faltaram oportunidades para trabalhar no cinema, em filmes notórios e raros como “A Paixão de Joana d’Arc”, de Dreyer (1928) e “Napoleão”, de Gance (1925-1927), interpretando Marat. Sem contar o desenvolvimento de roteiros de sua própria autoria, como “A Concha e o Clérigo”, mas suas relações com cinema serão sempre tumultuadas e frustrantes.

Em meros doze anos, Artaud notabilizou-se como um artista enérgico ao defender suas idéias. Suas críticas ao teatro de cunho psicológico, centrado no texto, deixando a encenação em último plano, eram correntemente reiteradas em seus artigos e manifestos, publicados nos periódicos artísticos da época.

(…) apresso-me em dize-lo desde já, um teatro que submete ao texto a encenação e a realização, isto é, tudo o que é especificamente teatral, é um teatro de idiota, louco, invertido, gramático, merceeiro, antipoeta e positivista (…)

(Artaud: O Teatro e Seu Duplo; 1993, pg.35)

Evidentemente, idéias defendidas de forma tão apaixonada e agressiva raramente passavam despercebidas, mesmo quando rechaçadas por críticos tão veementes quanto antiquados. Apesar das polêmicas, Artaud era um artista respeitado, muito embora esse reconhecimento não tornasse as coisas mais fáceis para um homem eminentemente solitário, morando em quartos alugados e tendo pouquíssimos amigos e, muito menos, amores (seu relacionamento com a atriz Génica Athanasiou teria sido sua paixão mais intensa e, em muitos aspectos, a mais frustrante).

Evocando o comportamento quotidiano de Artaud durante a época de sua participação no grupo surrealista, André Masson enfatizou “seu lado dandy, seu lado não gregário que o fazia chegar após os outros, partir antes de todo mundo, sempre só” (…). É também o testemunho de Anaïs Nin: “Irritável. Gagueja em alguns momentos. Sempre sentado em algum canto isolado, ele se afunda em uma poltrona como em uma caverna, como se estivesse na defensiva”(…)

(Virmaux: Artaud e o Teatro; 1978, pg. 161)

Esses fatores contribuíram para que, até o fim de sua vida, as cartas fossem uma de suas formas favoritas de expressão e onde sutilezas de sua obra podem ganhar aspectos esclarecedores.

2. CRUELDADE… ORIENTE… PESTE… TEATRO… E SEUS DUPLOS…

Mas foi a partir de 1931 que a crescente carreira de Antonin Artaud começou a tomar o rumo que o tornaria uma figura única na História do Teatro. Durante a Exposição Colonial, em Paris, assiste a uma apresentação de um grupo teatral de Bali. Esse contato com o Teatro Oriental marcará profundamente seu pensamento, quase como uma revelação. Nas evoluções dos “atores/bailarinos”, nos gestos perfeitamente codificados e nas temáticas de caráter metafísico e arquetípico, Artaud encontra os elos que faltam na formulação de suas próprias idéias sobre o Teatro e seu papel na Arte. Para Artaud, um teatro eficaz é aquele capaz de refazer a vida, o que não seria possível sem refazer profundamente a cultura no Ocidente. Toda a sua obra é guiada pelo desejo incessante de reencontrar um ponto de utilização mágica das coisas, recusando uma consciência estética fundada em simulacros e aparências face à realidade empírica das coisas. Ele coloca a questão da linguagem e da manipulação de signos em termos de forças mágicas e da relação mantida, através deles, com o cosmos e com o divino. Para Artaud, o Ocidente europeu é doente pois perdeu sua ligação com o divino, com a consciência cósmica.

Entre 1932 e 1935 publica em diversas revistas os textos que seriam futuramente organizados na forma do livro “O Teatro e Seu Duplo”, editado em 1938. Neles Artaud desenvolve seu projeto maior de refazer o Teatro Ocidental, apontando de maneira contundente os seus vícios, camisas de força e denunciando o abandono dos espetáculos por um público ansioso por emoções verdadeiras que não mais consegue encontrar num teatro que não representa verdadeiramente sua época.

O teatro de Bali revelou-nos uma noção de teatro física, não verbal, na qual o teatro está contido nos limites de tudo o que pode acontecer num palco, independentemente do texto escrito, enquanto que, tal como nós o concebemos no Ocidente, o teatro se aliou ao texto e por ele se encontra limitado. Para o teatro ocidental a Palavra é tudo e não há, sem ela, possibilidade de expressão; o teatro é um dos ramos da literatura, uma espécie sonora da linguagem e mesmo que admitamos uma diferença entre o texto falado no palco e o texto lido pelos olhos, se restringirmos o teatro ao que acontece entre as deixas, não conseguimos, mesmo assim aparta-lo da noção de um texto representado.

(Artaud: O Teatro e Seu Duplo; 1999, pg. 75)

Diante dessa “ditadura do texto”, Artaud responde com uma proposta ampla de reestruturação da linguagem teatral, devolvendo ao teatro os elementos que considera “naturais” (no sentido de “primordiais”) na encenação e que foram, pouco a pouco, abandonados por um ocidente por demais atado às limitações do racionalismo.

Para mim, a questão que se impõe é de se permitir ao teatro reencontrar sua verdadeira linguagem, linguagem espacial, linguagem de gestos, de atitudes, de expressões e de mímicas, linguagem de gritos e onomatopéias, linguagem sonora, mas que terá a mesma importância intelectual e significação sensível que a linguagem das palavras. As palavras serão apenas empregadas em momentos determinados e discursivos da vida como uma luz mais preciosa e objetiva aparecendo na extremidade de uma idéia”

(Artaud:Linguagem e Vida; 2004, pg. 80)

Refazer a linguagem teatral para trazer o teatro de volta as suas origens ritualísticas. Nada de espetáculos de entretenimento, nada de psicologismos e narrativas sobre indivíduos. Artaud concebe um teatro para além do imediatismo político, social, psicológico ou moral, um teatro que expresse questões metafísicas (termo constantemente empregado em “O Teatro e Seu Duplo”).

Enquanto a alquimia, através de seus símbolos, é como um duplo espiritual de uma operação que só tem eficácia no plano da matéria real, também o teatro deve ser considerado como o duplo não dessa realidade cotidiana e direta da qual ele aos poucos se reduziu a ser apenas uma cópia inerte, tão inútil quanto edulcorada, mas de uma outra realidade perigosa e típica, onde os Princípios, como os golfinhos, assim que mostram a cabeça apressam-se a voltar à escuridão das águas.

(Artaud: O Teatro e Seu Duplo; 1999, pg 49)

No “Manifesto do Teatro da Crueldade”, Artaud propõe a sua visão à comunidade teatral. De forma compacta e desconcertantemente direta, oferece os enunciados básicos de uma prática teatral que sempre se apressou a considerar “mais fácil de fazer do que de dizer”. Um teatro que utilizaria de uma linguagem de imagens e signos para oferecer uma “cura cruel” ao público, numa experiência mágica coletiva, na qual cada elemento da encenação – voz, corpo, iluminação, som, figurino, cor – seria meticulosamente planejado para levar o espectador a um estado de transe, uma transformação. Artaud concebe um espetáculo circular, através de um palco giratório, onde os espectadores ficam no centro e toda ação se dá ao redor, não havendo espaços vazios, integrando o espectador à própria encenação. Temas de caráter universal, uso de textos clássicos (como tragédias) como uma simples base para uma total re-criação em cena, personagens ampliadas à dimensão de deuses, de heróis, monstros, presença no palco de manequins gigantes, máscaras e objetos desproporcionais representando os duplos de ações, eventos e personagens acentuando o caráter metafísico da encenação, um jogo cuidadosamente planejado aonde nada pode ser deixado ao acaso, sob pena de sacrificar os efeitos mágicos específicos que o espetáculo deve provocar. Artaud, portanto, defende veementemente o domínio do encenador para orquestrar cada pequeno aspecto de uma montagem, numa época em que aquilo que se refere como parte da encenação, em contrapartida ao texto, costumava ser alvo de desprezo pela comunidade teatral. Para além dos temas e objetivos, o teatro de Artaud é um teatro que começa e se realiza no palco, com uma linguagem que se dá exclusivamente no palco, sendo o encenador (e não o autor de um texto pré-escrito) o responsável pela “escrita” dessa linguagem.

Nesse contexto, o ator é um elemento essencial mas passivo, já que sua iniciativa pessoal deve estar submetida às exigências da encenação.

O ator é, ao mesmo tempo um elemento de primeira importância, pois é da eficácia de sua interpretação que depende o sucesso do espetáculo, e uma espécie de elemento passivo e neutro, pois toda iniciativa pessoal lhe é rigorosamente recusada. Este é, aliás, um domínio em que não há regras precisas; e, entre o ator a quem se pede uma simples qualidade de soluço e aquele que deve pronunciar um discurso com suas qualidades de persuasão pessoais, há toda a distância que separa um homem de um instrumento.

(Artaud: O Teatro e Seu Duplo; 1995, pg. 95)

Nos capítulos “Um atletismo afetivo” e “O Teatro de Seraphin”, Artaud procura esboçar as técnicas e qualidades que o ator do Teatro da Crueldade deve buscar. No ator existe uma musculatura de atleta físico e uma outra musculatura que corresponde a localizações físicas dos sentimentos. Essa musculatura afetiva funciona como um duplo da outra, embora não atue no mesmo plano, e deve ser exercitada através da respiração. Para cada alteração dos sentimentos, existe uma respiração apropriada.

O ator, ao mostrar um sentimento, um estado de espírito, fisicamente pode parecer estar delirando, mas na verdade está consciente de tudo o que está fazendo, mantendo o controle através da respiração. O uso da memória emotiva ocorre apenas num primeiro momento, guardando as imagem das reações físicas e da respiração provocadas no corpo para usa-las num segundo, num terceiro, e em vários momentos, constituindo um repertório para o ator. Os sentimentos não devem ser interpretados como abstrações, mas como elementos “materiais”, palpáveis, sob as quais ele pode ter um domínio. “Através da respiração o ator pode representar um sentimento que ele não tem”, ou seja, ele pode chegar num sentimento através da respiração, e a respiração pode nascer de um sentimento.

Saber que a paixão é matéria, que ela está sujeita às flutuações plásticas da matéria (…) Alcançar as paixões através de suas forças ao invés de considerá-las como puras abstrações, confere ao ator um domínio que o iguala a um verdadeiro curandeiro. Saber que existe uma saída corporal para a alma permite alcançar essa alma num sentido inverso e reencontrar o seu ser através de uma espécie de analogia matemática.

(Artaud: O Teatro e Seu Duplo; 1995, pg. 131)

Saber reconhecer o tempo do sentimento é saber reconhecer o tempo da respiração, e essa respiração pode ser dividida em três tempos, que Artaud denominou NEUTRO, MASCULINO e FEMININO.

A respiração FEMININA é uma respiração mais prolongada, interiorizada, baseada no diafragma, que se localiza na região do plexo solar, tendo várias características que essa região contém, como abandono, angústia, apelo, invocação, súplica. A respiração MASCULINA ou melhor, de tempo masculino, é uma respiração mais pesada, rápida, torácica, focada na localização dos rins, que é fisicamente, onde o homem joga a força multiplicada de seus braços. As características que correspondem aos rins, no físico afetivo são: culpa, depressão, humor, impaciência, indecisão, isolamento, obsessão, paranóia, solidão, vitimização e heroísmo.

Esse treinamento baseado na respiração, que Artaud formulou tanto a partir de suas experimentações pessoais quanto de seus estudos da cabala, alquimia e disciplinas orientais, foi constantemente praticado por Artaud até o fim de sua vida e através dele o ator seria capaz de reconstruir não apenas sua arte mas sua própria constituição física e espiritual, tornando possível as visões de Artaud para seu Teatro.

Como Craig, Artaud baseia a sua teoria do ator no princípio da despersonalização. Não só o personagem, no sentido tradicional da palavra, é expulso desse teatro, mas também a personalidade do ator é ocultada pelo tipo de intervenção (não se ousa mais falar em desempenho) que ele exige. Em última instância, o ator artaudiano não é mais um indivíduo de carne e emoções, mas suporte e veículo de um complexo sistema semiótico articulado em torno de uma convenção hieroglífica – a expressão é freqüentemente repetida nos escritos de Artaud – do figurino, do gesto, da voz, etc.

(Roubine: A Linguagem da Encenação Teatral;1998, pg189)

Paralelamente à escrita e organização desses textos, Artaud dedica-se de maneira apaixonada a pôr em prática seu projeto, mas esbarra constantemente nas crescentes dificuldades. Primeiramente as de cunho filológico, os mal-entendidos e acusações a respeito do uso do termo “crueldade”, que Artaud responde de maneira clara na primeira das “Cartas sobre a Crueldade” em “O Teatro e Seu Duplo”. Mas o pior e mais incisivo são as dificuldades técnicas e financeiras de uma proposta teatral de tamanha complexidade. Desde as montagens do Teatro Alfred Jarry até as tentativas frustradas de tirar do papel sua encenação de “A Conquista do México”, mencionada no “Segundo Manifesto do Teatro da Crueldade”, suas tentativas de convencer o público (e, particularmente, os investidores) eram constantemente mal-entendidas embora representassem experimentos “performáticos” notáveis numa visão retroativa, particularmente a conferência que resultaria no texto de “O Teatro e a Peste” que foi relatada por Anaïs Nin, em seus diários:

De forma quase imperceptível Artaud largava o fio que seguíamos e começava a interpretar o papel de um homem a morrer de peste. Ninguém viu em que momento começou a faze-lo. Para ilustrar a conferência, representava uma agonia. (…) Tinha o rosto em convulsões e os cabelos ensopados de suor. (…) Estava em plena tortura. Berrava. Delirava. Representava a sua própria morte, a sua própria crucificação. As pessoas começaram a ficar com a respiração cortada. Depois desataram a rir. Toda a gente ria! Assobiava. Por fim as pessoas foram saindo uma a uma em meio a um grande ruído, a falar alto, a protestar. Ao saírem batiam com a porta. (…) Mais protestos. E vaias também. Mas Artaud continuava até o último suspiro. E lá ficou, no chão.

(Nin citada por Virmaux em sua introdução para: História Vivida de Artaud-Momo; 1995, pg.17)

Tudo isso para fazer a platéia compreender – fisicamente, portanto efetivamente – o que linhas como essas pretendem expressar:

Tal como a peste, o teatro é uma crise, que tem o desenlace na morte ou na cura. E a peste é um mal superior porque é crise completa e depois da qual não resta mais nada do que a morte ou uma extrema purificação. De igual forma, o teatro é um mal porque equilíbrio supremo só alcançável com destruição. Convida o espírito a um delírio que lhe exalta as energias; e, para terminar, podemos ver que a ação do teatro, como a da peste, sob o ponto de vista humano é benéfica porque levando os homens a verem-se como são faz cair a máscara, põe a mentira à mostra, e a baixeza, a hipocrisia; sacode a inércia asfixiante da matéria que tudo ganha até às mais claras certezas dos sentidos; e revelando às coletividades o seu poder sombrio, a sua força oculta, convida-as a assumir perante o destino uma atitude heróica e superior que, sem isso, nunca teriam tido.

(Artaud: O Teatro e Seu Duplo; 1999, pg 28-29)

O ápice dessas tentativas de materialização do “Teatro da Crueldade” foi a montagem de “Os Cenci” (1935), projeto ambicioso de uma tragédia na qual os preceitos da visão artaudiana de um teatro que constituísse uma “cura cruel” revelou-se uma grande decepção, para o público, para os envolvidos e, acima de tudo, para o próprio Artaud, que viu-se incapaz de enfrentar os inúmeros percalços financeiros, materiais e humanos que se interpuseram à realização de seus ideais numa montagem real.

3. PEYOTE… MAGIA… ELETRICIDADE… TEATRO… JULGAMENTO DE DEUS…

Essa frustração acabou servindo de combustível para a concretização de um antigo sonho: uma viagem ao México em busca de contato com o culto do Peyote com os índios Tarahumaras, que resultaria na publicação do apaixonado livro “Viagem ao País do Tarahumaras”, editado em 1945. Artaud desde cedo dedicara-se ao estudo de disciplinas esotéricas, cabala, alquimia, magia (estudos que sempre apareceram de maneira clara e sem disfarces nas suas atividades teatrais, sendo largamente citados em “O Teatro e Seu Duplo”) e sua estadia entre os Tarahumaras foi quase uma conseqüência natural desse pensamento, bem como uma tentativa violenta de encontrar respostas para seus tormentos existenciais indizivelmente vivenciados no plano físico.

E foi no México, no alto da montanha, entre Agosto e Setembro de 1936, que eu comecei a me encontrar completamente…Eu procurava o peyote não como um curioso mas, ao contrário, como um desesperado…, contrariamente ao que se podia pensar, eu nunca busquei o supra-normal. Ora, eu não ia ao peyote para entrar, mas para sair… sair de um mundo falso. Vivemos num odioso atavismo fisiológico que faz com que mesmo no nosso corpo, e sozinhos, nós não somos mais livres, pois, cem pai-mãe pensaram e viveram por nós, antes de nós, o que poderíamos em um dado momento, na idade da razão, encontrar por nós mesmos, a religião, o batismo, os sacramentos, os rituais, a educação, o ensino, a medicina, a ciência se apressam em nos tirar. Eu ia, pois, ao peiote para me lavar.

(Artaud citado em: O Artesão do Corpo Sem Órgãos; 1999, pg.96-97)

Recebido com simpatia pelos escritores mexicanos, Artaud faz conferências em universidades e, após vários percalços consegue participar das cerimônias sagradas com os índios. A experiência leva-o a um processo que os místicos chamariam de transfiguração, uma iniciação nos mistérios sagrados, um retorno a um vazio primordial do qual ele retorna permanentemente transformado.

Enquanto isso, na França, amigos dão prosseguimento à editoração de “O Teatro e Seu Duplo”, livro que, mesmo em meio às suas viagens místicas, Artaud nunca relega ao abandono, tendo oportunidade, inclusive, de corrigir os originais quando de seu retorno à Paris. A obra, uma vez publicada, torna-se uma referência importante para os realizadores de teatro, para o bem ou para o mal, alimentando de maneira incontrolável o chamado “mito-artaud” que começara a crescer desde o momento em que partiu da França até muito além de sua morte. Artaud, o “homem-teatro”, Artaud, o bruxo, Artaud, o louco, Artaud que ganhou uma espada mágica de um feiticeiro em Cuba, Artaud que vagou entre os índios e viu a face de Deus, Artaud, o profeta da fecalidade, Artaud que empunhou o cajado mágico de São Patrick, patrono dos irlandeses, na cidade de Dublin.

Anaïs Nin fala, no seu Diário, de uma visão que Artaud teve, nessa época, em Paris,no restaurante Dôme: “Ele levanta, vociferando, brandindo sua bengala mágica mexicana, como um bruxo”.

(Lins: O Artesão do Corpo Sem Órgãos; 1999, pg.98)

Entre o mito e a realidade, sabe-se que Artaud retornou à França, uma figura ainda mais excêntrica e imprevisível do que era então. Suas dores físicas e o consumo de ópio continuam a crescer, obrigando-o a submeter-se a desintoxicações sempre que tem condições de pagar. Seu interesse em astrologia e tarô acentua-se, chegando a fazer consultas para figuras ilustres da intelectualidade parisiense. Em 1937, Artaud parte para a Irlanda “guiado” pelo cajado de São Patrick, afim de devolvê-lo ao seu lugar de origem e de encontrar traços da cultura celta. Vivendo em condições precárias, em um país onde ele mal domina o idioma, Artaud vive pregando nas ruas com seu bastão, em condições de quase indigência.

Passeava eu tranqüilamente ao pé do jardim público de Dublin, quando um polícia provocador à civil me agrediu de repente e esmagou a coluna vertebral e a dividiu em duas com uma terrível pancada de barra de ferro.

Cambaleei mas não caí.

Houve qualquer coisa que deve ter parecido um milagre porque ainda agora pode ver-se em mim a fractura, mas nem sequer caí no chão, e os dois pedaços soltos voltaram instantaneamente a ficar colados.

Voltei-me para trás, com uma bengalada deitei o polícia provocador ao chão e a batalha ficou acesa. Apareceram polícias fardados que tomaram o meu partido contra os polícias à civil e às ordens do Intelligence Service.

(Artaud: História Vivida de Artaud-Momo; 1995, pg.50-51)

Acusado de ser um agitador e vadio, é preso e extraditado para a França. Um incidente ocorrido durante a viagem de barco faz com que seja internado como louco em estabelecimentos psiquiátricos. Do sofrimento pelo isolamento, brutalidades e privações da vida em um manicômio, adicionou-se com a Ocupação alemã em maio de 1940, as carências alimentares. Assim, em Ville-Évrard, além de sua dignidade e de sua liberdade, Artaud começou a ser privado de seu corpo. Subnutrido, ele se torna um esqueleto vivo, uma sombra dolorosa que tenta manter a vida.

Passei nove anos num asilo de alienados.

Fizeram-me ali uma medicina que nunca deixou de me revoltar.

Essa medicina chama-se eletro-choque, consiste em meter o paciente num banho de eletricidade, fulmina-lo

e pô-lo bem esfolado a nu

e expor-lhe o corpo tão externo como interno à passagem de uma corrente

que vem do lugar onde se não está nem deveria estar para lá estar.

O eletro-choque é uma corrente que eles arranjam sei lá como,

Que deixa o corpo, o corpo sonâmbulo interno, estacionário

para ficar sob a alçada da lei

arbitrária do ser,

em estado de morte

por paragem do coração.

(Artaud: Eu, Antonin Artaud; 1988, pg.76)

Artaud passou por diversos asilos até ser transferido para Rodez, em 1943 de onde só foi libertado três anos depois. Durante esse período escreveu as célebres “Cartas de Rodez”, na maioria endereçadas ao seu médico e diretor do asilo, Dr. Gaston Ferdière.

No Hospital Psiquiátrico de Rodez, quando esteve internado por três anos, depois de passar por vários manicômios franceses, Artaud escreve cartas a seu médico, dr. Ferdière. Aprisionado e maltratado por eletrochoques que prejudicaram sua memória, seu corpo e seu pensamento, “as cartas escritas de Rodez são, para Artaud, um recurso para não perder a lucidez. São o diálogo de um desesperado com seu médico e, através dele, com toda sociedade”.

(Programa da peça “Cartas de Rodez”, dirigida por Ana Teixeira, com atuação de Stephane Brodt. Prêmio Shell, direção e ator, e Mambembe, melhor espetáculo 98.)

Até sua chegada em Rodez o paradeiro de Artaud era desconhecido na França. Sua mãe visitou a maioria dos sanatórios do país em busca do filho desaparecido, os amigos escreveram cartas às autoridades buscando notícias. A guerra assolava a Europa e Antonin Artaud (cujo “Teatro da Crueldade” espalhava-se pelas ruínas, quartéis e campos de concentração) jazia isolado entre loucos e tratamentos desumanos que mais torturavam do que curavam. Até mesmo o psiquiatra Jacques Lacan estudou o “caso Artaud” e seu veredicto não poderia ser mais catedrático: “Viverá até oitenta anos, não escreverá mais uma linha”. Futuramente, o autor de “Para Acabar de Vez com o Juízo de Deus” fez cair por terra as previsões lacanianas.

Apesar das condições em Rodez serem um tanto quanto mais toleráveis (principalmente por Ferdière ser um admirador da obra de seu paciente e procurar encoraja-lo a produzir – embora isso não o tenha impedido de também aplicar-lhe sessões de eletrochoque), foi com horror que os amigos reencontraram um Artaud completamente distinto da figura insolente e carismática de outrora.

Marthe e eu decidimos ir visitar Antonin Artaud, esquecido por todos, isolado no hospício de Rodez desde o começo da guerra. Encontramos Artaud muito fraco, aterrado. A certa altura caem à nossa frente alguns livros que pertencem ao Dr. Ferdière (…), Artaud quer apanhar os livros mas não consegue, todo seu corpo treme, temos que ajuda-lo. Conta-nos seu cotidiano em Rodez, acusa o Dr. Ferdière de o aterrorizar: – “Se não se porta bem, Sr. Artaud, temos de voltar a dar-lhe eletrochoques”. No trem de regresso Marthe chora e juramos tirar Artaud de Rodez.

(Arthur Adamov citado por Lins: O Artesão do Corpo Sem Órgãos; 1999, pg. 108)

Finalmente, em 28 de maio de 1946, Artaud foi libertado e retornou a Paris onde procurou dar continuidade aos escritos e práticas já iniciados em Rodez. Seu projeto de um “Teatro da Cura Cruel”, evolução natural de seu “Teatro da Crueldade” crescia e assumia novas formas em meio à uma prática vocal intensa e quotidiana, na qual Artaud exercitava sua respiração e seu corpo, praticando cantos e giros conjuratórios (que também lhe serviam como proteção contra as “bruxarias” de que sentia-se vítima). A energia que ele produzia, as forças que emanavam de seu corpo enfraquecido, as incríveis variações de altura que obtinha de sua voz, a intensidade e a duração dos gritos aconteciam como um fenômeno de operação mágica. Uma prática teatral que dispensava tanto o palco quanto os recursos técnicos que Artaud sempre quis utilizar de maneira plena e constituir como parte de uma legítima linguagem para o Teatro, mas cujo controle escapou de suas mãos nos tempos do Teatro Alfred Jarry e “Os Cenci”. Cantos, gritos, gestos que pareciam absolutamente insanos para os médicos dos hospitais psiquiátricos, ignorantes das teorias que o próprio Artaud já tentara esboçar nos anos 30 nos textos “Um Atletismo Afetivo” e “O Teatro de Seraphin”, avidamente lidos por uma classe teatral que, pouco a pouco, transformava “O Teatro e Seu Duplo” em objeto de culto enquanto seu autor permanecia isolado do mundo. Não foram poucas as ocasiões em que essas práticas serviram de justificativa para as alegações de insanidade de médicos, autoridades e mesmo de leigos, fato que enfurecia Artaud, mas que, após sua libertação, levou-o a assumir tal “carapuça”. De fato, Artaud não deixou de divertir-se fazendo-se de louco e usando do choque e do horror (que ele sempre apreciou utilizar para tirar seu público da apatia, sendo num palco, num restaurante ou na rua) para dizer as verdades que acreditava.

Afirmaria que o próprio corpo do Homem, “desconectado” de suas origens, é o resultado de uma manipulação perpétua e perversa de forças malignas que oprimem a espécie humana (tais forças podem ser entendidas de várias maneiras, podem ser interpretadas como políticas, sociais, culturais, morais, enfim, mas fica claro em seus escritos que Artaud as entendia de maneira mais absoluta e cósmica, num sentido metafísico), em conseqüência a anatomia humana, ao deixar de corresponder à sua natureza, deve ser refeita. No fim de sua vida, Artaud amplia suas concepções do “Teatro da Crueldade” para um grandioso projeto ético-político de insurreição física: trata-se de transformar não apenas o Teatro, mas o Homem. A revolução não é apenas social ou cultural, mas física. O ator (e o Homem) torna-se senhor de seu destino, capaz de refazer sua própria anatomia, juntamente com seu espírito, erigir o “corpo sem órgãos”, invulnerável aos miasmas e “feitiços” do mundo contra a essência individual do ator. Decomposição e recomposição do corpo, desarticulação dos automatismos que condicionam e bloqueiam o indivíduo e o impedem de agir realmente, de modo consciente e voluntário, em cena ou na vida.

A necessidade de afirmar seu pensamento foi o combustível que moveu Artaud nesses últimos anos. Por sua própria natureza, esse pensamento não pode ser expresso meramente com palavras, verdade que Artaud sempre repetiu desde a juventude ao denunciar a limitação do texto como centro da encenação e do discurso. Suas pesquisas de linguagem ganham um ímpeto novo, a busca de uma expressão vocal primitiva, anterior à linguagem articulada, sons que remetem a sentimentos, idéias e forças metafísicas. São inúmeros os exemplos registrados dessa pré-linguagem:

ratara ratara ratara

atara tatara rana

otara otara katara

otara retara kana

ortura ortura konara

kokona kokona koma

kurbura kurbura kurbura

kurbata kurbata keyna

pesti anti pestantum putara

pest anti pestantum putra

São poemas que vão além da significação, apelando para a força dos sons e vocábulos por si mesmos, constituindo verdadeiros “encantamentos” que Artaud utilizava de maneira mística e causava um efeito profundo nas testemunhas. Durante a gravação de sua novela radiofônica “Para Acabar de Vez com o Juízo de Deus”, em 1948, Artaud deu grandes mostras de seu “humor louco”, um humor que provocava medo. Maria Casarès, testemunha da gravação, deixou o seguinte depoimento:

Artaud começou a gritar. Começou a falar como “um cachorro” ou como um “galo” e Roger Blin respondia-lhe, imperturbavelmente, na mesma linguagem. Tudo isso deveria fazer rir a platéia. Ora, nem mesmo um só técnico ria. Estavam paralisados. Num canto da sala, uma mulher chorava.

(Casarès citada por Lins: O Artesão do Corpo sem Órgãos; 1999, pg.120)

A emissão da novela radiofônica foi proibida pela censura pouco antes de ir ao ar. Mais um dos inúmeros fracassos das tentativas de Artaud de tornar real o seu pensamento e seu Teatro. Mas, como Alain Virmaux continuamente repete em seu livro “Artaud e o Teatro”, o fracasso, em Artaud, é tão revelador quanto o sucesso poderia ser. Mesmo interditada, a novela constitui um elemento importantíssimo no “mito-Artaud”, tanto quanto foi “Os Cenci” ao ser visto retroativamente e guardando as limitações impostas pelas circunstâncias. Depois dos internamentos, Artaud tornou-se uma quase vedete da intelectualidade francesa. Mostras foram realizadas em sua homenagem, o “Teatro e Seu Duplo” era reeditado e ganhava cada vez mais atenção, nunca antes Artaud foi tão ouvido, embora o estado doentio em que se encontrava tenha causado o afastamento de velhos amigos que não suportavam lidar com sua presença e o efeito que provocava. Ainda assim, como a solidão já era parte integrante de sua existência desde jovem, Artaud trabalhava freneticamente, escrevendo, compondo, ciente de que a morte rondava, aos 50 anos de idade, com um estado de saúde cada vez mais precário. “Para Acabar de Vez com o Juízo de Deus” foi seu projeto concreto mais ambicioso no período. Na gravação é possível identificar, de maneira subjetiva e indistinta (como não poderia deixar de ser) o essencial de seu pensamento: o trabalho do ator, a visão do encenador, o feiticeiro, o peregrino regresso das terras do tarahumaras. No “Rito do Sol Negro”, na “Procura da Fecalidade”, Artaud expressa seu ideal de reconstrução do homem e do corpo.

Onde cheirar a merda

cheira a ser.

O homem poderia muito bem deixar de cagar,

deixar de abrir a bolsa anal,

mas preferiu cagar

como poderia ter preferido viver

em vez de consentir em viver morto.

É que para não fazer cocô

teria que aceder

a não ser,

mas ele é que não foi capaz de se resolver a perder o ser,

isto é a morrer vivo.

(Artaud: Para Acabar de Vez com o Juízo de Deus; 1975, pg 29)

Idéias indigestas, expressas de modo ainda mais indigesto, que Artaud já havia desistido de, tentar explicar verbalmente desde a histórica conferência no Vieux-Colombier, um ano antes, quando um recém libertado Antonin Artaud surgiu diante de um público parisiense de artistas, intelectuais e curiosos (entre os quais, Sartre, Picasso, Camus, além dos amigos Blin, Adamov e Gide) num evento preparado para reintroduzi-lo no universo das letras francesas. O texto dessa conferência sobreviveu e foi editado como “A História Vivida de Artaud-Momo”, narrando desde as experiências com o peyote até a violência dos tratamentos nos sanatórios e suas idéias metafísicas. Mas Artaud jamais terminou a conferência, abandonando-a quando os papéis caíram de suas mãos e ele não quis (ou não pôde) reorganiza-los, partindo para um aparente improviso recheado de silêncios, ofensas, gritos e feitiços. O que ocorreu nessa conferência é assunto controverso. Fala-se tanto de um fracasso deprimente quanto de um êxito soberbo. Virmaux (que assina o texto introdutório de “A História Vivida de Artaud-Momo”) defende que foi no Vieux-Colombier que Artaud, pela primeira e única vez, encenou o “Teatro da Crueldade”, vivido por um único homem, o personagem Antonin Artaud, e todas as testemunhas concordam que, entre vaias e ovações, ninguém saiu indiferente do teatro. Em um testemunho célebre, Gide descreve o evento com as seguintes palavras:

A razão batia em retirada; não unicamente a sua mas a razão de toda a assistência, de todos nós, espectadores desse drama atroz, reduzidos ao papel de comparsas malévolos, debochados e grosseiros. Oh! não, mais ninguém na platéia, tinha vontade de rir (…) Artaud nos havia atraído para seu jogo trágico de revolta contra tudo aquilo que, admitido por nós, para ele permanecia mais puro e inadmissível:

Nós ainda não nascemos.

Ainda não estamos no mundo.

Ainda não existe mundo.

As coisas ainda não se fizeram.

A razão de ser não foi achada…”

Ao sair dessa memorável sessão o público se calava. Que se poderia dizer? Acabávamos de ver um homem miserável, atrozmente sacudido por um deus, como que no liminar de uma gruta profunda, antro secreto da sibila, onde nada de profano é tolerado, onde, como em um Carmelo poético, um vate é exposto, oferecido aos raios, aos abutres vorazes, ao mesmo tempo sacerdote e vítima… Todos se sentiam envergonhados de retomar lugar em um mundo no qual o conforto é formado de compromissos.

(Gide in Virmaux: Artaud e o Teatro; 1978, pg 366)

Embora talvez supervalorizando os fatos através de uma veia poética, o testemunho passa uma noção do impacto da sessão, que o próprio Artaud em parte teria explicado numa carta ao amigo André Breton:

Não creio que o palco do Vieux-Colombier ou outro palco de teatro já tivesse visto o que mostrei e dei a ouvir naquela noite; tanto mais que acresce o facto de toda a gente ter podido verificar, de se ter podido ver como o suposto conferencista que eu realmente não era, de qualquer forma o suposto homem de teatro, renunciava ao seu espetáculo, fazia as malas e ia-se embora; porque, na verdade, eu tinha reparado que já bastava de palavras e até mesmo de rugidos, e o necessário eram bombas; ora, eu não as tinha nas mãos nem nos bolsos.

(Artaud: A História Vivida de Artaud-Momo; 1995, pg 26)

Um basta às palavras, portanto, um último ato em “Para Acabar com o Juízo de Deus”, um recolhimento para aguardar o fim. Diagnosticado um câncer inoperável no reto, Artaud sabia que tinha seus dias contados. Ainda assim não deixava de trabalhar e fomentar projetos, mesmo sofrendo cada vez mais agudamente com as dores. A morte, que Artaud nunca deixou de afirmar ser um estado inventado, apenas mais uma máscara a que o homem se submete por renunciar a ser o senhor de seu destino, chegou num quarto da clínica de Ivry, em 14 de março de 1948, poucos meses após a proibição da peça radiofônica. O fim através de um câncer – uma falência do organismo que muitos médicos e místicos afirmam ter uma origem psicossomática – ou, talvez por um suposto suicídio, parece fazer um estranho sentido para um homem que afirmava ter tido a espinha partida e depois recomposta na Irlanda e ter morrido e voltado numa mesa de eletro-choque em Rodez:

(…) Simplesmente te disse e repito que eu, Antonin Artaud, com os cinqüenta que já cá cantam, me lembro do Gólgota. Lembro-me dele como me lembro de estar no asilo de Rodez no mês de Fevereiro de 1943, morto por um eletrochoque que me foi imposto contra vontade.

– Se estivesse morto, não continuaria lá.

– Estou morto, realmente morto, e a minha morte foi clinicamente verificada

E voltei depois, como um homem que regressa do além.

Eu também me lembro desse além.

(Artaud: A História Vivida de Artaud-Momo; 1995, pg 53)

De qualquer forma, Artaud faleceu deixando um legado praticamente mítico. Suas idéias, seus textos, especialmente “O Teatro e Seu Duplo” se tornaram uma referência obrigatória para encenadores do mundo inteiro, sendo aceitas ou não. Os anos 60 e 70 testemunharam o surgimento de um verdadeiro culto à imagem do criador do “Teatro da Crueldade”, um culto muitas vezes exagerado e desprovido de bases sólidas, movido muito mais pela paixão e o pseudo-misticismo ligado ao pensamento artaudiano do que a uma real compreensão de suas idéias. As últimas décadas testemunharam uma releitura mais atenta e menos delirante de sua obra, devolvendo as contribuições de Artaud, tanto para o Teatro quanto para os estudos de linguagem, de volta à sua real proporção.

São inúmeros os grupos, atores e teóricos que deram continuidade aos trabalhos de Artaud, de forma direta ou indireta. Autores como Ionesco e Beckett mostram uma clara influência, bem como às origens do conceito de happening. Peter Brook e o Living Theatre desenvolveram grandes espetáculos assumidamente dentro de uma estética artaudiana, bem como o teatro-laboratório de Jerzy Grotowski, que de forma hábil e lúcida, ajudou a criticar e esclarecer muitas das propostas teatrais de Artaud e lhe dedicou um dos capítulos de “Em Busca de Um Teatro Pobre”: “Ele não era inteiramente ele”.

Deve-se repetir mais uma vez: se Artaud tivesse tido à sua disposição o material necessário, suas visões teriam se desenvolvido do indefinido para o definido. Ele poderia tê-las convertido numa forma, ou, melhor ainda, inclusive numa técnica. Estaria então em condições de antecipar todos os reformadores, pois teve a coragem e o poder de ir além da corrente lógico-discursiva. Tudo isso poderia ter acontecido, mas não aconteceu.

(Grotowski: Em Busca de um Teatro Pobre; 1976, pg.71-72)

Mas aconteceu nos anos que seguiram a morte do “homem-teatro”. É fascinante notar que hoje muito do que era polêmico e alvo de estranhamento nas propostas de Artaud é prática corrente e “comum” nas atividades teatrais: o uso de espaços alternativos, o cuidado especial na composição da iluminação e sonoplastia, o domínio do encenador como regente máximo do espetáculo, o fim do domínio absoluto do texto, o uso de signos, a integração do público à cena, enfim, se o Teatro da Crueldade” só pôde se tornar real em raríssimas e pontuais ocasiões (se é que realmente o foi, ao menos na forma pura que Artaud pregava) ao menos seus diversos elementos integraram-se de maneira efetiva no fazer teatral.

Assim, as palavras finais de Artaud a respeito do Teatro, escritas na “Última Carta Sobre o Teatro”, endereçada à Paule Thévenin em 25 de fevereiro de 1948 (tendo Artaud morrido em 4 de março), definitivamente não ficaram sem um eco:

Paule, estou muito triste e desesperado

meu corpo dói de todos os lados

mas sobretudo tenho a impressão de que todos se decepcionaram

com a minha emissão radiofônica.

Lá onde está a máquina

é sempre o abismo e o nada

há uma interposição técnica que deforma e aniquila aquilo que se faz.

As críticas de M. e A. são injustas mas devem ter tido sua base em um defeito de transmissão

é por isso que eu jamais voltarei ao Rádio

e consagrarei doravante exclusivamente ao teatro

como o concebo

um teatro de sangue

um teatro que a cada representação proporcionará

corporalmente

alguma coisa a quem representa

como a quem vem assistir a representação

aliás,

não se representa,

age-se

o teatro é na realidade a gênese da criação.

Isto se fará.

Tive uma visão hoje à tarde

vi aqueles que me seguirão e aqueles que ainda não tem um corpo

porque os porcos como aqueles dos restaurante de ontem a noite comem demais.

Existe quem como demais

e outros como eu que não podem mais comer sem escarrar

em vocês.

(Artaud citado em Virmaux: Artaud e o Teatro, 1978, pg 334-335)

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

ARANTES, Urias Corrêa. Artaud: Teatro e Cultura. Campinas: Editora da UNICAMP. 1988. 212 p.

ARTAUD, Antonin (1896-1948). Linguagem e Vida. Org. J. Guinsburg, Sílvia Fernandes Telesi, Antonio Mercado Neto. São Paulo: Perspectiva. 2004

ARTAUD, Antonin (1896-1948). O Pesa-Nervos. Trad. Joaquim Afonso. Lisboa: Hiena Editora. 1991. 91p.

ARTAUD, Antonin (1896-1948). O Teatro e Seu Duplo. Trad. Teixeira Coelho. 2.ªed. São Paulo: Martins Fontes. 1999.

ARTAUD, Antonin (1896-1948). Para Acabar de Vez com o Juízo de Deus – seguido de O Teatro da Crueldade. Trad. Luiza Neto Jorge e Manuel João Gomes. Lisboa: Publicações Culturais. 1975.

ARTAUD, Antonin (1986-1948). Eu, Antonin Artaud. Trad. Aníbal Fernandes. Lisboa: Hiena Editora. 1988. 111 p.

ARTAUD, Antonin (1986-1948). História Vivida de Artaud-Momo. Lisboa: Hiena Editora. 1995. 73 p.

ARTAUD, Antonin (1986-1948). Os Sentimentos Atrasam. Trad. Ernesto Sampaio. Lisboa: Hiena Editora. 1993. 73 p.

ASLAN, Odette. O Ator no Século XX. São Paulo: Perspectiva, 1994

COELHO, Teixeira. Antonin Artaud – Posição da Carne. São Paulo: Brasiliense. 1982, 120p. (Coleção Encanto Radical; 16)

FELÍCIO, Vera Lúcia. A Procura da Lucidez em Artaud. São Paulo: Perspectiva, FAPESP. 1996, 202p. (Coleção Estudos; 148)

GROTOWSKI, Jerzy. Ele não era inteiramente ele, in: Em Busca de um Teatro Pobre. Trad. Aldomar Conrado. 2.ªed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 1976. (Coleção Teatro Hoje, Série: Autores Estrangeiros/Vol.19)

LINS, Daniel. Antonin Artaud: O Artesão do Corpo Sem Órgãos. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1999. (Coneções/2)

ROUBINE, Jean-Jacques. As Metamorfoses do Ator, in: A Linguagem da Encenação Teatral. Trad. Yan Michalski. 2.ªed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 1998.

SONTAG, Susan. Abordando Artaud, in: Sob o Signo de Saturno. São Paulo: L&PM. 2.ªed. 1973.

VIRMAUX, Alain. Artaud e o Teatro. Trad. Carlos Eugênio Marcondes de Moura. São Paulo: Perspectiva, FAPESP. 1978, 388p. (Coleção Estudos; 58)

“Quem sou eu?

De onde venho?

Sou Antonin Artaud

e basta que eu o diga

Como só eu o sei dizer

e imediatamente

hão de ver meu corpo

atual,

voar em pedaços

e se juntar

sob dez mil aspectos

diversos.

Um novo corpo

no qual nunca mais

poderão esquecer.

Eu, Antonin Artaud, sou meu filho,

meu pai,

minha mãe,

e eu mesmo.

Eu represento Antonin Artaud!

Estou sempre morto.

Mas um vivo morto,

Um morto vivo.

Sou um morto

Sempre vivo.

A tragédia em cena já não me basta.

Quero transportá-la para minha vida.

Eu represento totalmente a minha vida.

Onde as pessoas procuram criar obras

de arte, eu pretendo mostrar o meu

espírito.

Não concebo uma obra de arte

dissociada da vida.

Eu, o senhor Antonin Artaud,

nascido em Marseille

no dia 4 de setembro de 1896,

eu sou Satã e eu sou Deus,

e pouco me importa a Virgem Maria.”

 

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/biografias/antonin-artaud/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/biografias/antonin-artaud/

Anton Szandor LaVey

1930 – 1997

Pouco depois do seu nascimento, a família de Anton decide deixar Chicago e mudar-se para a baía de S. Francisco. Em criança, o jovem Anton adorava ler tudo o que tivesse a ver com o sobrenatural e o oculto – incluindo “Frankenstein” de Mary Shelly, “Dracula” de Bram Stoker, e a popular revista “Weird Tales”.

O interesse de Anton pelo lado obscuro da vida foi ainda mais alimentado pela sua avó Cigana, Luba Koltan, que lhe contou histórias e superstições sobre vampiros e magia negra que aprendeu na sua terra natal, Transilvânia.

Depois do começo da 2.ª Guerra Mundial, Anton fascinou-se com os manuais militares e os catálogos de armas. Rapidamente descobriu que se alguém assim o quisesse poderia comprar armas e munições suficientes para criar o seu próprio exército. Isto levou a que Anton percebesse que os fracos nunca podiam herdar a Terra, só os fortes sobreviveriam.

Anos mais tarde, em 1945, um dos tios de LaVey foi contratado para ser Engenheiro Civil no Exército, na Alemanha. Devido ao seu tio ter um visa extra Anton pôde viajar para a Alemanha com ele. Lá, pôde ver filmes de terror Nazis confiscados, dos quais tinha recebido a informação de que continham partes de rituais da Black Order of Satan, que fazia parte do Terceiro Reich (?).

Por esta altura, Anton já tinha descoberto outro dos seus muitos talentos: a música. Na prematura idade de cinco anos, os pais de Anton descobriram o seu talento quando ele numa loja de música tocou uma harmonia numa harpa. Mais tarde, aprendeu a tocar muitos instrumentos, incluindo o violino. Aos 10 anos aprendeu auto-didacticamente a tocar piano, e aos 15 já era o segundo oboísta na Orquestra Sinfónica de Ballet de San Francisco.

Em 1947, LaVey decidiu deixar a escola e juntar-se ao Circo Clyde Beatty. Lá, foi empregue como estivador e guarda de jaulas; a pessoa responsável por alimentar os grandes felinos. Anton rapidamente desenvolveu uma relação com os animais e começou a aprender todos os truques da matéria, como o uso do chicote, stick, revolver e cadeira. Não muito tempo depois, Anton tornou-se domador de oito Leões Nubianos e quatro Tigres de Benguela, numa jaula, todos juntos.

Uma noite, enquanto trabalhava no circo, o tocador de calliope habitual embebedou-se e não podia actuar. LaVey voluntariou-se para o seu lugar e foi um sucesso tão grande que se tornou no tocador de calliope oficial do Circo Beatty.

Quando a temporada do circo acabou em Outubro de 1947, LaVey viu-se desempregado. Seguindo o conselho de alguns dos seus colegas de circo, Anton decidiu procurar trabalho numa feira. Devido aos seus talentos musicais, rapidamente conseguiu emprego tanto a tocar calliope, como órgão Wurlitzer e até mesmo Hammond. Entretanto LaVey passou a tocar em shows de strip femininos nas noites de sábado e aos domingos de manhã, em tendas, para espectáculos religiosos. Foi aqui que ele descobriu em primeira mão a hipocrisia presente na Igreja Cristã. Anton foi citado muitas vezes dizendo que ao sábado à noite via os homens desejando as mulheres semi-nuas na feira, e na manhã seguinte via os mesmos homens na missa, com as suas famílias, pedindo a Deus que perdoassem os seus pecados libidinosos, vendo de novo no fim de semana seguinte as mesmas pessoas no show de strip.

Enquanto trabalhava na feira, Anton também aprendeu os segredos das videntes místicas, das leituras da palma da mão ciganas, das astrólogas, mágicos de palco, e hipnotizadores.

A temporada da feira rapidamente acabou, e LaVey, mais uma vez, viu-se desempregado. Encontrou depois, trabalho em casas burlescas e clubes nocturnos, como tocador de órgão, dentro e na periferia de Los Angeles. Uma noite, enquanto trabalhava no Clube Mayan, conheceu uma actriz que tinha conseguido trabalho como bailarina. Essa actriz era Marilyn Monroe, e ela e Anton vieram a viver um caso amoroso cheio de paixão. Apesar da relação apenas ter durado algumas semanas, deixou no LaVey de 18 anos uma marca muito forte. Anos mais tarde, uma das posses de Anton mais orgulhosas era um calendário de Marilyn nua, onde ela tinha assinado: “Caro Tony, Quantas vezes tu viste isto! Com amor, Marilyn”.

Após o fim da sua relação com Marilyn, Anton decidiu mudar-se para São Francisco. Lá, continuou a tocar orgão para vários shows de strip e reuniões só para homens. Também conseguiu trabalho como fotógrafo na Paramount Photo Sales, onde tirou fotografias a mulheres em várias fases de stripping.

Quando a Guerra Coreana começou, Anton reparou na possibilidade de ser arrastado para o exército. Por isso, em 1949, de modo a poder evitar este possível dilema, LaVey inscreveu-se na Faculdade de São Francisco, no curso de Criminologia, mesmo sem nunca sequer ter acabado o secundário.

Algum tempo depois LaVey conheceu Carole Lansing num parque de diversões na praia de San Francisco. Os pais de Carole de início estavam desconfiados das intensões de Anton, mas rapidamente se habituaram a ele e deram permissão para os dois se casarem.

Anton e Carole casam em 1951 e um ano depois nasce a primeira filha de LaVey, Karla Maritza LaVey.

De modo a poder sustentar a sua família, LaVey decidiu usar os seus talentos de fotografia e a sua educação em Criminologia para conseguir trabalho como fotógrafo na Polícia de São Francisco. Aqui, Anton está de novo exposto ao pior lado da natureza humana, tirando fotografias de assassinatos brutais, acidentes de automóveis, suicídios macabros, incendios, explosões, e outras coisas mais. Depois de um par de anos no terreno, foi dada a LaVey a responsabilidade adicional de tomar conta das “chamadas 800”, que era o código para as chamadas estranhas. Ele investigava de tudo, desde visões de OVNIs a relatos de fantasmas, casas assombradas, e tudo o resto que pertencesse ao sobrenatural. Nos anos seguintes Anton ganhou uma grande reputação como um dos primeiros “caça-fantasmas” da nação.

Em 1955, LaVey cansou-se da Polícia e decidiu deixá-la de modo a ter mais tempo para se concentrar nas Arte Negras. Tornou-se exorcista e hipnotizador, fortalecendo os seus ganhos tocando órgão. Mudou-se também com a sua família para um apartamento perto da praia. Foi nessa altura que Anton recebeu o seu primeiro animal de estimação – um leopardo negro de dez semanas, chamado Zoltan. LaVey costumava levar Zoltan a passear na praia, onde era certo o par excêntrico assustar os pedestres que ali passeavam.

LaVey começou também a receber a imprensa devido às suas práticas singulares e estranho animal de estimação. Ele atraiu muitas personalidades invulgares, juntamente com os seus amigos únicos que fez durante os seus anos de circo e feiras. Quando os rumores sobre o que estava exactamente a acontecer dentro das paredes da sua casa se começaram a espalhar, Anton decidiu mais uma vez que precisava de mudar-se. Na altura desejava uma casa grande longe dos seus vizinhos curiosos, que pudesse decorar e fazer à sua imagem. Anton conseguiu tal lugar na Rua California 6114, o lugar da infame “Black House”, onde LaVey morou até à sua morte em 1997.

Depois de se mudar para a sua nova casa, LaVey rapidamente encontrou um novo emprego tocando órgão Wurlitzer no clube Lost Weekend. Também foi contratado para tocar o maior órgão do mundo no Auditório Cívico de San Francisco. Devido à sua extrema perícia com o instrumento, Anton foi nomeado para organista oficial da cidade de São Francisco, tocando em várias convenções e muitos eventos culturais e desportivos.

Foi também por volta desta altura que LaVey começou a ganhar a reputação de ser o Mágico de Artes Negras de São Francisco. Juntamente com as quatro festas que LaVey fazia todos os anos (Ano Novo, Walpurgisnacht, Solstício de Verão, e Halloween), a Black House era também o lugar de encontro para as reuniões sociais informais que Anton criou. Formado por colegas do circo, amigos das feiras, antigos colegas da Polícia, excêntricos ricos, e iconoclastas literários, o “Círculo Mágico” (Magic Circle) de LaVey, como ele lhe chamava, levava a cabo debates e palestras sobre o Oculto, Magia, encantamentos, rituais, feitiçaria, lobisomens, vampiros, zombies, homúnculos, casas assombradas, PES (Percepção Extra Sensorial), teorias sexuais, e métodos de tortura. Anos mais tarde, LaVey abriu estas reuniões ao público, cobrando $2,50 por pessoa, a quem quisesse ouvir as suas palestras e tomar parte dos seus rituais formais. O Círculo Mágico foi o primeiro passo para o que hoje é a Church of Satan (Igreja de Satan).

Anton ainda tocava órgão várias noites por semana de modo a ganhar algum dinheiro extra. Numa noite de domingo, em 1959, enquanto LaVey tocava na Mori’s Point, uma jovem, linda, loura, de nome Diane Hegarty entrou no clube. Houve uma ligação imediata entre Diane e Anton, e durante os meses seguintes eles começaram a ver-se o maior número de vezes possíveis. No ano seguinte, 1960, Anton e Carole divorciaram-se; e em 1961 Diane não só se tornou na nova esposa de LaVey como também se tornou na anfitriã do Círculo Mágico. Em 1963 Diane deu à luz a segunda filha de Anton: Zeena Galatea LaVey.

Infelizmente, nessa altura, o seu companheiro de longa data Zoltan morreu atropelado por um carro. No entanto, pouco tempo depois Anton recebeu um novo animal de estimação: um leão nubiano que ele chamou de Togare. O Togare viveu na Casa Negra (Black House) por muitos anos com o resto da família LaVey. Foi durante essa altura que ele foi a atracção de um programa de televisão local chamado “The Brother Buzz Show”. Mas depois de muitas queixas e até petições de vizinhos, Anton foi forçado a doar Togare ao Zoo de S. Francisco.

Além do Círculo Mágico, LaVey também criou “Witches Workshops”, para ensinar às mulheres todos os métodos de feitiçaria, e a “The Order of the Trapezoid” (A Ordem do Trapezóide) que era um grupo de magos que, juntamente com o “Council of Nine” (Conselho dos Nove), veio a formar a administração da Church of Satan.

Na noite de Walpurgisnacht, 30 de Abril de 1966, Anton Szandor LaVey cerimoniosamente rapou a sua cabeça, na tradição dos Yezidi, como parte de um ritual que estabeleceu a primeira organização da religião satânica: a Church of Satan. LaVey também declarou o ano 1966 como sendo o I Ano Satanas – o primeiro ano do reino de Satan.

Apesar de terem existido muitos grupos “underground”, como o Hell Fire Club e o Abbey of Thelema, que praticavam os mesmos princípios de LaVey, o nascimento da Church of Satan, que foi a primeira religião organizada, dedicada às filosofias satânicas, foi pública e publicitada.

No espaço de um ano, a Church of Satan recebeu um reconhecimento a nível mundial, devido à cobertura mundial de muitos dos seus eventos. Muitos dos primeiros artigos sobre as “Missas Negras” semanais, apareciam em várias revistas dedicadas ao leitor masculino, devido à Church of Satan usar constantemente uma mulher nua como altar, nos seus rituais. No entanto, no dia 1 de Fevereiro de 1967 a Church of Satan apanhou o mundo de surpresa quando repórteres de todo o mundo juntaram-se em San Francisco para cobrirem o casamento satânico de John Raymond, um jornalista político, com Judith Case, a filha de um conhecido advogado de Nova York. Apesar de este não ser o primeiro casamento satânico a ser feito por Anton LaVey, a fama de John e Judith virem de uma boa família despertou interesse suficiente para o casamento se tornar no evento de San Francisco mais famoso de sempre, maior ainda que a inauguração da Golden Gate Bridge. Os artigos seguintes tornaram LaVey no “Papa Negro”.

Uns meses mais tarde, no dia 23 de Maio de 1967, LaVey achou que era tempo de mostrar ao mundo que o Satanismo não tinha nada a ver com sacrifícios de crianças, conduzindo o primeiro baptismo satânico da sua filha Zeena. Os jornalistas e fotógrafos começaram a fazer fila à porta da Black House tão cedo como 15 horas antes da cerimónia, de modo a conseguirem boas fotografias da menina de 3 anos que estava vestida num robe vermelho vivo completado com o seu medalhão com um Baphomet. Quando o ritual começou a jovem Zeena sentava-se sorridente enquanto o seu pai começava a recitar uma invocação poderosa que veio mais tarde a ser incluída no livro “Satanic Rituals”. Ela adorou toda a atenção que recebeu dos fotógrafos que estavam cativados pela ideia de tanta inocência ser dedicada a Satan.

Em Dezembro de 1967, a Sra. Edward Olsen abordou LaVey com o intuito de lhe perguntar se ele conduziria um funeral para o seu marido, um oficial Naval que tinha sido recentemente vítima de um acidente de automóvel. Apesar dos oficiais Navais terem algumas dúvidas sobre a ideia, acabaram por aceder ao pedido da Sra. Olsen. No funeral, soldados fardados alinharam com Satanistas de túnica negra; e quando o ritual acabou, os guardas Navais dispararam três salvas seguidos de gritos de “Hail Satan! Hail Edward!”. Depois deste evento, o Satanismo foi incluido no Chaplain’s Handbook das Forças Armadas, passando a ser uma religião reconhecida.

No Outono de 1966, a bomba loura de Hollywood, Jayne Mansfield ouviu reportagens desta nova Igreja dedicada a Satan e conheceu o Papa Negro em pessoa. Anton e Jayne entenderam-se imediatamente, e ela rapidamente tornou-se num membro activo e mais tarde numa Sacerdotisa da Church of Satan. No entanto, o namorado/advogado de Jayne, Sam Brody, apercebeu-se que ela estava a apaixonar-se por Anton LaVey. Brody passou então a causar o máximo de problemas possíveis a Jayne e Anton, o que levou LaVey a pôr uma poderosa maldição nele. LaVey avisou Jayne que ela estava em perigo constante sempre que estava com Brody.

Infelizmente Jayne não deu ouvidos a Anton, e a 19 de Junho de 1967, enquanto viajava para Nova Orleans com Sam Brody, o carro que conduziam acidentou-se contra um camião tanque, vitimando ambos. LaVey estava na altura em casa, em San Francisco, a recortar fotografias de uma revista quando reparou que no lado oposto de um recorte tinha cortado uma fotografia de Jayne ao longo do pescoço. Uns minutos depois recebeu uma chamada informando-o que Jayne tinha falecido quase completamente decapitada, num acidente de automóvel.

Esta não foi a única envolvência da Igreja com Hollywood. Em 1968 LaVey fez o papel de Demónio na obra-prima de Roman Polanski: “A Semente do Diabo” (Rosemary’s Baby). Além de actuar, LaVey foi conselheiro técnico e participou em eventos promocionais para o filme. Ao longo dos anos houve um número de membros ligados a Hollywood, como Sammy Davis Jr. e Marilyn Manson.

Em 1969 o número de membros já tinha crescido para 10 mil membros no mundo todo, e LaVey decidiu que estava na altura de publicar o seu maior, mais diabólico, e mais blasfemo trabalho de sempre: “The Satanic Bible” (A Bíblia Satânica). Este livro tornou-se no pilar da Church of Satan daí para a frente. Seguiram-se “The Compleat Witch” em 1970 (mais tarde revisto e re-editado sob o nome “The Satanic Witch”) e em 1972: “The Satanic Rituals”.

Nesta altura a Church of Satan já tinha estabelecido Grottos por todo o mundo e LaVey tentou fazer visitas papais a todos eles, conforme podia. Mas devido às constantes ameaças e agressões que recebia de terceiros, e problemas de segurança para si e para a sua família, LaVey achou que devia cortar com as relações públicas e por volta de 1970 todas as palestras e rituais públicos conduzidos por LaVey deixaram de existir. Depois, em 1972, todas as cerimónias semanais realizadas na Black House cessaram também. A organização e realização de actividades satânicas passou a ser responsabilidade dos Grottos, enquanto que o Grotto Central passou apenas a visionar, aprovar e guiar os membros activos da Church of Satan.

A Church of Satan passou por uma vasta reorganização. LaVey queria que a sua organização se tornasse num cabal “underground” em vez de um Clube de Pen Pal satânico. Mas ao por um alto nas actividades públicas, LaVey levou à alienação de pequeno número de apoiantes. Isto levou a um pequeno cismar em 1975, quando o nº 1 do Grotto de Louisville, KY, Michael Aquino, juntamente com os seus devotos, separaram-se da Church of Satan e formaram uma nova religião e organização chamada Temple of Set.

Enquanto o número de membros da Church of Satan continou a crescer durante os anos 70 e 80, LaVey continou um recluso virtual, raramente dando entrevistas ou aparecendo em público. Ele praticamente contactava com os amigos através do Boletim Informativo oficial da Church of Satan: “The Cloven Hoof”. Quando a “Cloven Hoof” deixou de ser publicada em 1988, outras revistas satânicas como “The Black Flame” pegaram no que a Cloven Hoof deixou.

Diane Hegarty administrou a Church of Satan, como Suma Sacerdotisa (High Priestess) desde 1966 até a sua separação de Anton em 1984. De 1985 a 1990, a filha mais nova de LaVey, Zeena, tomou o lugar da sua mãe como Suma Sacerdotisa. Quando Zeena deixou a sua posição e a Church of Satan em 1990, LaVey apontou Blanche Barton, a sua nova companheira e secretária, para a posição vaga.

Blanche subsequentemente escreveu e publicou dois livros em 1990. Um foi “The Church of Satan”, que detalhava a história da Church of Satan e o segundo foi “The Secret Life of a Satanist”, a biografia autorizada de Anton LaVey. Após a publicação dos livros de Blanche Barton, LaVey publicou então o seu primeiro livro no espaço de 20 anos: “The Devil’s Notebook”, uma colecção de textos e dissertações que tinha vindo a escrever desde os anos 70. No ano seguinte, em 1993, nasceu Satan Xerxes Carnacki LaVey, o primeiro filho varão de LaVey e de Blanche Barton.

Infelizmente, a 29 de Outubro de 1997, o grande líder da Church of Satan e Papa Negro, Anton Szandor LaVey perece devido a um edema pulmonar no Hospital de St. Mary, depois de anos de problemas cardíacos. Dias antes do seu falecimento, LaVey tinha acabado o seu trabalho para o livro “Satan Speaks!”. Foi publicado no ano seguinte, prefaciado por Marilyn Manson e com uma introdução por Blanche Barton.

Apesar de documentos perfeitamente legíveis e assinados à mão por Anton LaVey, indicando o seu filho Xerxes como sendo o seu herdeiro e Blanche Barton como sendo a High Priestess, Blanche acordou trabalhar em parceria com a filha mais velha de Anton, Karla, de modo a preservar o seu legado. Barton até chegou ao ponto de oferecer a Karla a posição de Co-High Priestess. Karla de início aceitou mas mais tarde proclamou ser a única líder da Church of Satan.

Este conflito tornou-se num processo jurídico que resultou num acordo entre Blanche Barton, Karla LaVey e Zeena (LaVey) Schreck, onde Blanche aceitou abdicar dos direitos únicos que Xerxes tinha sobre a herança de LaVey em troca da posição única na liderança da Church of Satan.

Fonte: Associação Portuguesa de Satanismo

 

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Postagem original feita no https://mortesubita.net/satanismo/anton-szandor-lavey/

Uma Sinfonia para a Divina Comédia

Dante

No entanto, Richard Wagner o alertara que descrever o Paraíso não era tarefa para simples mortais. Convencido disso, Liszt decidiu não compor esta última parte, produzindo apenas uma “visão longínqua do Paraíso” a que ele chamou de “Magnificat”, o último trecho da obra. É como se nós, após enfrentarmos a dolorosa jornada do monte purgatório, tivéssemos um pequeno vislumbre do coro angélico.

A “Sinfonia para a Divina Comédia de Dante”, popularmente conhecida como “Sinfonia Dante”, foi um trabalho inovador, com inúmeros avanços harmônicos e orquestrais: efeitos de vento, harmonia progressiva, experimentos em atonalidade, tonalidades e tempos incomuns, interlúdios de música de câmara, uso de formas musicais incomuns. Foi também, uma das primeiras sinfonias a fazer uso de tonalidade progressiva, começando e terminando em tonalidades radicalmente diferentes.

Inferno: “Deixai toda esperança, ó vós que entrais!”

O movimento de abertura retrata Dante e Virgílio iniciando sua jornada através dos nove círculos infernais. Nos primeiros temas que se prosseguem, Liszt utiliza-se de uma afinação em Ré menor, tonalidade frequentemente utilizada por outros compositores em obras associadas à morte. O tema termina em Sol sustenido, formando então o famoso trítono, intervalo associado ao diabo e conhecido na Idade Média como Diabolus in Musica.

É interessante notar, que mais à frente, na medida em que música vai mudando seu andamento (accelerando poco a poco), um motivo derivado dos primeiros temas é introduzido pelas cordas (naipe normalmente associado ao elemento fogo). Este motivo, que é praticamente uma escala cromática descendente, retrata Dante e Virgílio em sua descida ao Inferno.

Vale a pena destacar também, o momento em que Dante e Virgílio adentram no segundo círculo do Inferno, o Vale dos Ventos. É perceptível o subir e o descer de escalas cromáticas executadas pelas cordas e flautas (fogo+ar), evocando então o Vento Negro Infernal, o furacão que não para nunca, atormentando eternamente os espíritos luxuriosos.

Purgatório

O segundo movimento, intitulado Purgatório, retrata a subida de Dante e Virgílio ao Monte Purgatório. Monte este que é composto por sete círculos ascendentes, cada um correspondente a um dos sete “pecados” capitais: Orgulho, Inveja, Ira, Acídia, Avareza, Gula e Luxúria. É reservado àqueles que estão em processo de libertação dos mesmos.

Na segunda seção deste movimento, notamos a indicação Lamentoso na partitura. Suas figurações agonizantes refletem a súplica e o sofrimento dos penitentes, o quão difícil é libertar-se completamente destes defeitos.

O Vislumbre do Paraíso

“Os tesouros, porém, do reino santo,
Que arrecadar-me pôde o entendimento,
Serão matéria agora de meu canto”

Uma melodia celeste, acompanhada pelo arpejo das harpas, é entoada pelo coral feminino. Há um forte desejo para que esta melodia se prolongue ou evolua, mas Liszt encerra sua sinfonia por aqui, com com uma tranquila cadência plagal em Si maior,  três repetições de uma única palavra, Hallelujah, nos deixando com aquela vontade secreta de adentrar o Paraíso, apenas para ouvir um pouco mais este magnífico coral angélico.

Magnificat anima mea Dominum,
Et exsultavit spiritus meus in Deo salutari meo.
Hosanna!
Hallelujah!

Link da Obra

Faça um passeio musical inesquecível  pelos círculos infernais, monte purgatório, mas não se anime, o paraíso só verás ao longe. Esta versão foi gravada em 1991 pela filarmônica de Berlim sob a batuta do maestro Daniel Barenboim. O usuário que postou esse vídeo teve o trabalho de fazer uma sincronização com as belas ilustrações de Gustave Doré, exatamente como Liszt gostaria que sua sinfonia fosse apresentada. Vale a pena pela música, pelas imagens e pela viagem. Assista >> AQUI

Franz Liszt

Fabio Almeida
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#Música #Ocultismo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/uma-sinfonia-para-a-divina-com%C3%A9dia

Astronomia, Matemática e Música

A Metafísica Ocidental, não seria a mesma se Pitágoras não descobrisse a íntima ligação existente entre os números e a música.  Isto fez com que a Astronomia, a Música, a Matemática e a Geometria fossem disciplinas básicas de uma Cosmologia que perdurou por toda Idade Média.

Os quatro caminhos, também denominado quadrivium, era o conjunto destas quatro matérias ensinadas nas universidades medievais, uma ressonância da Fraternidade de Pitágoras que procurava unir a ciência e a religião, a matemática e a música, a cura e a cosmologia.

Depois do trivium (gramática, lógica e retórica), o quadrivium era a parte secundária do currículo descrito por Platão em “A República“. Destas disciplinas originou-se a idéia da Música das Esferas, onde a disposição dos astros correspondiam à escala musical, e que a música tocada pelo Cosmos, mesmo que além dos limites da nossa audição, seria inteligível.

A partir das suas descobertas em relação aos fundamentos matemáticos das consonâncias musicais, Pitágoras visualizou uma relação mística entre a matemática a música e a astronomia. Para ele a música era o elo de união entre o homem e o cosmos. Em sua cosmologia cada planeta produzia uma nota musical, e esta orquestra celeste executa uma harmonia cósmica tão perfeita, que nós humanos não seríamos capazes e talvez nem merecedores de ouvi-la.

Em 1766 Johann Titias, acreditando que os planetas formavam naturalmente uma cadeia de oitavas, observou que todos os planetas conhecidos na época tinham distâncias que se tornavam progressivamente maiores na razão 2:1, a razão da própria oitava. Apesar das distâncias não serem exatamente na razão 2:1, outras leis harmônicas, como a velocidade dos movimentos dos planetas na descrição das suas órbitas, podem ter passado de maneira despercebida pelos astrônomos.

Fabio Almeida é membro do Projeto Mayhem e foi autor do blog Sinfonia Cósmica (desativado)

#Astronomia #Matemática #Música #Pitágoras

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Black Aria, Danzig

Como soaria se Jim Morison estivesse vivo fosse um satanista praticante e se voltasse para o Metal? A resposta pode ser  ouvida em cada uma das músicas que tenha Glenn Danzig nos vocais. Após uma carreira de sucesso com os “Misfits”que lhe rendeu clássicos como Last Caress e Earth AD e depois de uma bombástica carreira solo que resultou entre outras coisas em covers seus gravados por bandas como Metallica e Guns n`s Roses ( respectivamente “Die, Die My Darlign” e “Attitude” entrou em turnê com sua banda Danzig e desde 1987 não parou mais.

Danzig consegue fazer a ponte perfeita entre a música extrema do black metal e as raízes demoníacas do blues enquanto ao mesmo tempo se recusa em atender as expectativas dos puristas e dos sensacionalistas. Ainda com os Misfits, seu segundo algum trazia uma música chamada “Holltwood Babylon”inspirada na obra do mago e cineasta Kenneth Anger e enquanto outra faixa trazia encantamentos em latim autênticos, retirados de um rito de licantropia.

Em entrevista publicada em Lucifer Rising, no ano de 1999 Danzig foi provocado:

Há muito de Satanismo em seu trabalho – especialmente se referindo ao  Satã Miltoniano?

Sim, foi a resposta dele para surpresa do entrevistador, e continuou: Uma das melhores coisas que já escreveram sobre mim é que quando outras pessoas cantam sobre Satã é como um uma caricatura. Quando eu canto sobre Ele eu dou a ele uma alma e uma personalidade. Ele não é apenas essa entidade fútil mas alguém que pode ser encarado numa infinidade de aspectos. Eu sempre me senti assim. Algumas pessoas não enxergam Satã como este cara malvado de chifres, eles o enxergam como o primeiro dos rebeldes. Dai você entende porque ele é tão atraente entre os jovens. Ele é alguém que se posiciona na frente do maior poder de todo o universo e diz: “Foda-se”. Se o “mal” é a rebeldia então usando termos cristãos podemos dizer que existe “mal” dentro de todos nós. Eu não compro essa idéia. Eu acredito honestamente em defender minhas idéias. Isso é o “bem” para mim.

Para representar toda imensa trajetória musical de Danzig, escolhemos o  álbum “Black Aria’. Embora neste álbum especificamente a voz de Danzig seja deixado de lado, por ser um trabalho instrumental e orquestrado, aqui pode-se ver toda a genialidade musical dele como compositor e instrumentista. A obra possui fortes influências da música clássica, uma atmosfera notavelmente sombria e já apontava na direção que o metal gótico tomaria daquele ano para frente. A proposta aqui foi criar uma trilha sonora para o poema épico Paraíso Perdido de John Milton, que conta a trajetória de Lúcifer e sua rebelião contra deus.

Nº 6 – Os 100 álbuns satânicos mais importantes da história

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A Ciência do Sonho Lúcido: Entrevista com Dr. Keith Hearne

Dr Keith Hearne é um psicólogo britânico conhecido como a primeira pessoa a conseguir provar cientificamente a existência de sonhos lúcidos. Nesta entrevista exclusiva, ele fala sobre como fez para conseguir sua prova, bem como as descobertas fisiológicas e psicológicas que o seguiram até a conquista do seu PhD sobre sonhos lúcido

Pergunta: Como foi que você conseguiu captar sinais vindos de uma mente desperta dentro de um corpo que dorme?

Ninguém antes tinha testemunhado o que vi naquele laboratório de pesquisas do sono da Universidade de Hull, Inglaterra. Era por volta de 08:00 da manhã do dia 12 de abril de 1975.

Na noite anterior, eu havia conversado o voluntário, um indivíduo chamado Alan Worsley que relatara ter com muita frequência os chamados sonhos lúcidos (nos quais o sonhador se torna plenamente consciente e tem faculdades cognitivas completas). Esse indivíduo foi instruído para que fizesse sete movimentos com os olhos no sentido esquerda-direita, no momento em que despertasse dentro do sonho.

Entenda, ao dormir nosso sistema nervoso desliga certas funções motoras para que não saiamos andando ou nos mexendo demais. Esse estado é conhecido como atonia do sono, mas não afeta nosso controle do diafragma nem dos olhos. Além disso, tenha em mente que o período do sono em que os sonhos ocorrem é conhecido como REM (Rapid Eye Movement) e se caracteriza justamente pelo movimento errático dos globos oculares.

Disso eu inventei o método de sinalização em uma tentativa de contornar a profunda paralisia corporal e assim criar um meio de comunicação entre o mundo dos sonhos e o mundo real. O indivíduo foi também equipado com registradores encefálicos gráficos sensíveis que garantiram que ele estava dormindo e registradores capazes de captar e registrar o movimentos dos olhos.

Com grande expectativa, eu observei cada um dos  vários períodos REM que ele teve durante a noite. E então pouco antes das 8:00 o indivíduo já tinha entrado em vários REM ‘s e sonhado por cerca de meia hora.

Houve então uma explosão de um longo período de REM, quando, de repente, fora da aleatoriedade esperada deste estado, houve uma seqüência deliberada de sete grandes movimentos de zig zag dos olhos da direita para a esquerda, exatamente como combinado. O movimento foi registrado graficamente por nossos equipamentos:

 

A sequencia dos sinais oculares no sentido direita e esquerda está em exposição na Liverpool University.
EEG – Eletroencefalograma
EOG – Eletroftalmograma (movimento dos olhos)
EMG – Eletromiograma (atividade muscular)

 

Ao acordar, o indivíduo confirmou o fato e descreveu como ele, de repente, percebeu que estava sonhando e então conscientemente fez os sinais esperados. E assim foi que temos hoje a prova, já repetida em laboratório de que é realmente possível tornar-se plenamente consciente enquanto se está sonhando.

Para mim foi como receber sinais do SETI de inteligências de outro sistema solar. Eu estava em êxtase, mas tive que manter a calma para não acordar o sujeito! Foi uma situação incrível. Eu estava testemunhando a primeira comunicação de uma pessoa que estava dormindo em outro quarto, sonhando, em seu próprio mundo mas perfeitamente consciente e capaz de interagir. Ele estava em sua realidade e eu estava em minha realidade. Mas fizemos um canal de comunicação entre estas duas realidades.

O registro gráfico original, assim como minha Máquina dos Sonhos2 estão agora em exposição permanente no Museu de Ciência de Londres. A propósito , toda a tese de PhD e meu livro The Dream Machine pode ser baixado gratuitamente no meu site KeithHearne.com.

 

 

Dr Keith e seu protótipo da Máquina do Sonho

 

A técnica abriu uma porta para toda uma nova área na pesquisa. Um sonhador foi capaz de enviar informações em tempo real e portanto podia agora realizar experimentos conduzidos no estranho ambiente do seu universo particular.

Poucos meses depois, ganhei meu próprio laboratório de pesquisas do sono na Universidade de Liverpool, com o qual três anos depois descobrimos vários fenômenos fisiológicos e psicológicos básicos por trás dos sonhos lúcido que culminou em meu PhD1.

Entre estas descobertas estão:

  • Os sonhos lúcidos são reais.
  • Os sonhos lúcidos ocorrem durante o a fase REM (até então essa era apenas uma hipótese).
  • Os eventos do sonhos lúcidos acontecem em tempo real (descobrimos isso comparando o testemunho dos indivíduos pesquisados com os registros gráficos do maquinário)
  • A lucidez  nos sonhos é geralmente precedido por uma explosão REM.
  • Experimentos podem ser realizados dentro dos sonhos e os resultados enviados para fora do sonho. (Inclusive realizei o primeiro experimento em telepatia no laboratório do sono em minha pesquisa de doutorado).
  • Muitos fenômenos físicos estão correlacionados com o sonho lúcido e foram revelados a partir dos dados fisiológicos coletados e questionários.
  •  A criação da “máquina dos sonhos”, capaz de produzir estímulos artificiais nos sonhos e induzir a lucidez onírica
  • A descoberta do ‘efeito interruptor de luz “(abordado no filme seminal de Richard Link, Waking life3).

Enviei o resumo da minha descoberta a dois bem conceituados pesquisadores do sono: Professor Allan Rechtschaffen da Universidade de Chicago, e Professor William Dement na Universidade de Stanford. Rechtschaffen enviou uma resposta bastante encorajadora. Em 1978 uma outra pesquisa realizada em Standford confirmou minhas conclusões. Estou muito honrado aquele 12 de abril está agora está sendo reconhecido por algumas pessoas como o Dia do Sonho Lúcido como uma forma de marcar esta pesquisa sem precedentes.  Curiosamente assim como Alan Worsley mandou seu sinal em 1975, em outro 12 de abril, em 1961, Yuri Gagarin foi o primeiro ser humano a se comunicar de fora do nosso planeta Terra.

P: Você pode nos contar um pouco sobre o seu trabalho paralelo sobre premonições?

Sou fascinado por premonições. Ao lado de meu trabalho principal com sonhos lúcidos eu já havia realizado alguns experimentos em parapsicologia com equipamentos bem avançados aos quais tive acesso com o laboratório. Estes porém sempre no muito artificial ambiente do laboratório – e mesmo assim já tinha alguns resultados interessantes – até que um dia tive uma experiência na “vida real”.

Eu estava prestes a fazer uma viagem de rotina bastante familiar pela Humber quando eu “soube” com toda a certeza que algo desagradável ia acontecer naquele navio. Eu nunca tinha tido essa sensação antes. Parei e pensei, mas decidiu ir a bordo. Na viagem ficou escuro, e depois houve um grito de ‘Homem ao mar! ” Alguém tinha realmente caído na água. Depois de um longo tempo de busca, o passageiro foi arrastado a bordo. Eu assisti reanimação sendo realizada. O evento me estimulou a investigar premonições da vida real. Mais tarde, eu escrevi um livro sobre minha pesquisa bastante extensa chamado Visions of the Future4.

Na análise dos casos identificamos um sub-grupo de premonições que parecem ser muito preciso, que eu denominei ‘Tipo de Anúncio de Mídia’ – ou seja anúncios feitos pela TV, rádio, jornal que são vistos ou ouvidos antes do evento inesperado. Um desses casos dizia respeito à Flixborough o desastre fábrica de produtos químicos no Reino Unido. Estes tipos são bastante interessantes pois por sua natureza são sempre documentados e registrados.

Essas anomalias devem ser considerados em nossas tentativas de dar sentido a esse incrível mundo em que nos encontramos. Explicações simples não são mais suficientes.

P: O que sua investigação lhe disse sobre a interpretação dos sonhos não-lúcidos?

Eu acho que os sonhos comuns pode ser efetivamente entendidos como “metáforas em movimento” (5,6,7) uma maneira pela qual inconsciente fornecer informações úteis para o sonhador.

Eu recomendaria os leitores o livro The Dream Oracle8 que escrevi com David Melbourne. David veio com essa técnica extraordinária, que é baseado nas letras do alfabeto, e fornece um método completamente novo – facilitando em muito a comunicação.

P: Como um compositor prolífico você encontra inspiração musical em seus sonhos?

Gosto de escrever música – e me diverti muito compondo a música para um ballet de longa-metragem chamado a Princesa do Povo, em conjunto com Dame Gillian Lynne (que coreografou fantasma de Andrew Lloyd Webber de The Opera e Cats). Algumas peças foram gravadas para um CD pela Orquestra Sinfônica de Moscou.

Outras composições incluem um Requiem completo, um musical, uma concerto de guitarra, uma peça Memorial do Holocausto, um hino para a Arménia, e várias músicas (incluindo peças religiosas separadas do Requiem – Ave Maria, Pie Jesu, Nunc Dimittis, Magnificat, Nosso Pai), e um concerto para ‘Cello’. Atualmente estou trabalhando em uma ópera bastante emocionante.

Algumas das minhas músicas originam-se da fonte maravilhosamente criativa que é o mundo dos sonhos. Ao acordar, eu corro para o sintetizador para gravar o fragmento que me veio!

P: O que fez você se interessar pela imaginação e sonhos?

Eu sei exatamente o gatilho que despertou o meu interesse por isso. Quando ainda uma criança de cerca de seis anos, minha professora me disse: “Você sabe quando sonha acordado, Keith e vê imagens …”. Fiquei intrigado com o que ela estava dizendo, porque eu nunca tinha isso e não tinha nenhuma imagem visual (em vigília) Outras crianças, porém, diziam “Sim senhorita!”. Percebi naquele idade precoce que existem grandes diferenças individuais nas pessoas.

A ideia ficou na minha mente. Mais tarde, quando uma irmã mais velha estava na faculdade, ela trouxe livros para casa de Freud, Jung, etc. Eu os li avidamente, de modo isso também cimentou meu interesse em sonhos.

Como estudante de graduação na Universidade de Reading, na Inglaterra, eu desenvolvi uma técnica de “rastreamento” que permita pessoas em hipnose, externalizar o que viam. Chamei o método de Hipno-Onirografia”

A pessoa se senta na frente de uma grande mesa de desenho em hipnose, e é instruída a ter um sonho hipnótico vívido (ou mesmo para explorar uma ‘vida passada’). As imagens dos sonho é interrompida por um comando e então o sujeito abre seus olhos, a imagem fica enquadrada-congelada na mesa e o desenho é feito. As cores são descritas, e depois as pintamos. Sequencias de imagens congeladas podem revelar cenas de toda uma experiência imagética.

A ‘Efeito Mudança de Cena” foi imediatamente descoberto assim. Parece que os ‘pixels’ da imagem anterior é quase sempre re-arranjada na formação de nova cena, como que seguindo uma “lei do mínimo esforço”. Este efeitos ocorrem em sonhos comuns também. Eu gostaria de ver o meu efeito em um filme de Hollywood!

 

Exemplo do Efeito Mudança de cena usando a Hipno-Onirografia

P: Existe alguma coisa que você gostaria de compartilhar com os interessados em sonhos lúcidos?

Quando alguém é pioneiro em um novo campo, alguns indivíduos muito entusiasmados vão tentar “pegar o bonde andando’, e fazer reivindicações de associação e até mesmo prioridade. Então, algumas pessoas (principalmente na América) têm uma ideia completamente errada sobre o início da pesquisa do sono em laboratório em sonhos lúcidos, e ignoram meu trabalho pioneiro. Jornalistas preguiçosos têm perpetuado sem querer esse tipo de desinformação.

As coisas estão mudando agora, tenho o prazer de dizer. A Internet tem sido boa para isso – toda a informação está lá, para que todos poderem ver. Esses novos escritores modernos que exigem mais precisão na história da ciência (como Daniel Amor) estão superando esse passado.

P: Com o que você está trabalhando agora?

Estou escrevendo um livro importante agora, que introduz novos conceitos. Ele vai perturbar algumas pessoas. Além disso, estou compondo uma ópera dramática baseado em uma pessoa real da história. Eu também estou contribuindo para a tradução em Inglês do livro marco Hervey St Denys ‘no sonho lúcido, um projeto chamado Traduzindo Sonhos, que está agora em fase de captação de recursos no Kickstarter. Eu tenho ainda algumas invenções que eu gostaria de trabalhar, também – mas preciso racionar o meu tempo!

Referências

1. Hearne, KMT (1978) Lucid-sonhos: um estudo eletrofisiológico e psicológica. Tese de doutorado da Universidade de Liverpool (Reino Unido). Submetido maio de 1978.
2. Hearne, K. (1990) The Dream Machine. Aquarian Press. Reino Unido
3. Hearne, KMT (1981) Um fenômeno Light-chave em sonhos lúcidos. Journal of Mental Imagery, 5 (2): 97-100.
4. Hearne, K. (1989) Visões do futuro. Aquarian Press. Reino Unido
5. Melbourne, D. & Hearne, K. (1997) Interpretação de Sonhos: The Secret. Blandford Press. Reino Unido
6. Melbourne, D. & Hearne, K. (1999) O significado dos seus sonhos. Blandford Press.
7. Hearne, K. & Melbourne, D. (2001) entendimento dos sonhos. New Holland Press.
8. Melbourne, D. & Hearne, K. (2002) The Dream Oracle. Foulsham Publishers. Reino Unido
9. Hearne, K. (1990) The Dream Machine. Aquarian Press. Reino Unido. Páginas 69-72.

Por Rebecca Turner. Tradução Tamosauskas

[…] aspectos do sonho, e até mesmo mover-se de lugar em lugar dentro dele. Hoje conhecemos isso como sonho lúcido, mas o termo não estava em uso quando Lovecraft sonhou com Cthulhu, Nyarlathotep, Yuggoth e o […]

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/psico/a-ciencia-do-sonho-lucido-entrevista-com-dr-keith-hearne/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/psico/a-ciencia-do-sonho-lucido-entrevista-com-dr-keith-hearne/