A Pedra dos Filósofos por Edward Kelly

Edward Kelly

PREFACIO

Este é o tratado que Edward Kelley escreveu em 1958 para Rodolfo II, Imperador do Sacro Império Romano-Germânico na esperança de ser solto da prisão. Na ocasião, Kelley estava preso no Castelo Křivoklát, acusado pelo assassinato de um oficial chamado Jiri Hunkler.

Vemos neste obra não o resultado de experimentos laboratoriais, bem a documentação de observações pessoais, mas uma vasta coleção erudita da literatura alquímica da época. Isso nos leva a pensar até que ponto Kelley realmente era dedicado a alquimia operativa.

O fato de ter sido contratado por Rodolfo II para produzir ouro factual é um indicio de que ele não estava sendo completamente honesto enquanto desfrutava das grandes somas de dinheiro que passou a receber. Quando foi incapaz de apresentar resultados que descem um retorno ao investimento, Kelley foi novamente preso, desta vez no Castelo de Hněvín onde por fim faleceu.

Seja como for, a coleção de citações que Kelley apresenta aqui é valiosa tanto historicamente como alquimicamente. Historicamente para os pesquisadores que desejam uma listagem abrangente dos livros mais relevantes e dos autores mais célebres da época. Alquimicamente para aqueles que já possuem a a chave do significado dos metais e sabem o que o Ouro, a Prata, e principalmente o Mercúrio significam.

~Tamosauskas


Embora eu já tenha sofrido duas vezes cadeias e prisões na Boêmia, uma indignidade que não me foi oferecida em nenhuma outra parte do mundo, ainda assim minha mente, permanecendo livre, tem se exercitado todo esse tempo no estudo dessa filosofia que é desprezada somente pelos ímpios e tolos, mas é louvada e admirada pelos sábios. Não, o ditado de que só os tolos e os advogados odeiam e desprezam a Alquimia passou a ser um provérbio. Além disso, como durante os três anos anteriores usei muito trabalho, despesas e cuidados para descobrir para Vossa Majestade o que poderia lhe proporcionar muito lucro e prazer, também durante minha prisão – uma calamidade que me sobreveio pela ação de Sua Majestade – sou totalmente incapaz de permanecer ocioso. Por isso escrevi um tratado, por meio do qual sua mente imperial pode ser guiada em toda a verdade da filosofia mais antiga, de onde, a partir de uma eminência elevada, pode contemplar e distinguir os terrenos férteis do deserto estéril e pedregoso. Mas se meus ensinamentos o desagradam, saiba que você ainda está se desviando completamente do verdadeiro escopo e objetivo deste assunto, e está desperdiçando totalmente seu dinheiro, tempo, trabalho e esperança. Uma familiaridade com os diferentes ramos do conhecimento me ensinou uma coisa, que nada é mais antigo, excelente ou mais desejável do que a verdade, e quem a negligencia deve passar toda a vida na sombra.

No entanto, sempre foi, e sempre será , a maneira da humanidade libertar Barrabás e crucificar Cristo. Isso eu experimentei – para meu bem, sem dúvida – no meu próprio caso. Atrevo-me a esperar, no entanto, que minha vida e meu caráter se tornem conhecidos da posteridade para que eu possa ser contado entre aqueles que sofreram muito por causa da verdade. A plena certeza do tempo presente do tratado é impotente para revogar. Se Vossa Majestade se dignar a examiná-lo à vontade, facilmente perceberá que minha mente está profundamente versada neste estudo.

(1) Todos os filósofos genuínos e judiciosos remontam as coisas aos seus primeiros princípios, isto é, aqueles compreendidos na tríplice divisão da Natureza. A geração de animais eles atribuíram a uma mistura do macho e da fêmea em união sexual; a dos vegetais à sua própria semente; enquanto como princípio dos minerais eles atribuíram terra e água viscosa.

(2) Todas as coisas específicas e individuais que se enquadram em uma certa classe obedecem às leis gerais e se referem aos primeiros princípios da classe a que pertencem.

(3) Assim, todo animal é produto da união sexual; cada planta, de sua própria semente; cada mineral, da mistura de sua terra e água genéricas.

(4) Portanto, uma lei imutável da Natureza regula a geração de tudo dentro dos limites de seu próprio gênero particular.

(5) Segue-se que, quanto à sua origem, os animais são genericamente distintos dos vegetais e minerais; a mesma diferença existe respectivamente entre vegetais e minerais e os outros dois reinos naturais.

(6) A matéria comum e universal desses três princípios é chamada de Caos.

(7) O caos contém em si os quatro elementos de tudo o que é, a saber , fogo, ar, água e terra, pela mistura e movimento dos quais as formas de todas as coisas terrenas são impressas em seus súditos.

(8) Esses elementos têm quatro qualidades: calor, frio, umidade, secura. A primeira é inerente ao fogo, a segunda à água, a terceira ao ar, a quarta à terra.

(9) Por meio dessas qualidades, os elementos agem uns sobre os outros e o movimento ocorre.

(10) Os elementos agem uns sobre os outros, ou sofrem ação, e são chamados ativos ou passivos.

( 11) Elementos ativos são aqueles que, em um composto, imprimem ao passivo um certo caráter específico, de acordo com a força e a extensão de seu movimento. Estes são a água e o fogo.

(12) Os elementos passivos – terra e ar – são aqueles que, por suas qualidades inativas, recebem prontamente as impressões dos mencionados elementos ativos.

(13) Os quatro elementos distinguem-se não só pela sua atividade e passividade, mas também pela prioridade e posterioridade dos seus movimentos.

(14) Prioridade e posterioridade são aqui predicadas ou referenciadas à posição de toda a esfera, ou a importância do resultado ou objetivo do movimento.

(15) No espaço, objetos pesados tendem para baixo e objetos leves para cima; os que não são nem leves nem pesados ocupam uma posição intermediária.

(16) Deste modo, mesmo entre os elementos passivos, a terra ocupa um lugar mais alto que o ar, porque se deleita mais no repouso; pois quanto menos movimento, mais passividade.

(17) A excelência do resultado refere-se à perfeição e à imperfeição, sendo o maduro mais perfeito que o imaturo. Agora, a maturidade é totalmente devida ao calor do fogo. Portanto, o fogo ocupa o lugar mais alto entre os elementos ativos.

(18) Entre os elementos passivos, o primeiro lugar é aquele que é mais passivo, ou seja, que é mais rápida e facilmente influenciável. Em um composto, a terra é primeiro afetada passivamente, depois o ar.

(19) Da mesma forma, em todo composto, o elemento aperfeiçoador atua por último; pois a perfeição é uma transição da imaturidade para a maturidade.

(20) Sendo a maturidade causada pelo calor, o frio é a causa da imaturidade.

(21) É claro, então, que os elementos, ou primeiros princípios remotos de animais, vegetais e minerais, no Caos, são suscetíveis de movimentos ativos no fogo e na água, e de movimentos passivos na terra e no ar. A água atua na terra e a transmuta em sua própria natureza; o fogo aquece o ar e também o transforma em sua própria semelhança.

(22) Os elementos ativos podem ser chamados masculinos, enquanto os elementos passivos representam o princípio feminino.

(23) Qualquer composto pertencente a qualquer um desses três reinos – animal, vegetal, mineral – é feminino na medida em que é terra e ar, e masculino na medida em que é fogo e água.

(24) Somente o que tem consistência é sensorialmente perceptível. Fogo e ar elementares, sendo naturalmente sutis, não podem ser vistos.

(25) Apenas dois elementos, água e terra, são visíveis, e a terra é chamada de esconderijo do fogo, a água a morada do ar.

(26) Nestes dois elementos temos a ampla lei de limitação que divide o macho da fêmea.

(27) A primeira matéria dos vegetais é a água e a terra escondidas em sua semente, sendo estas mais água do que terra.

(28) A primeira matéria dos animais é a mistura do esperma masculino e feminino, que incorpora mais umidade do que secura.

(29) A primeira matéria dos minerais é uma espécie de água viscosa, misturada com terra pura e impura.

(30) A terra impura é o enxofre combustível, que impede toda fusão, e amadurece superficialmente a água a ela unida, como vemos nos minerais menores, marcassita, magnésia, antimônio, etc.

(31) A terra pura é aquela que une de tal maneira as menores partes de sua água supracitada que não podem ser separadas pelo fogo mais feroz, de modo que ambas permanecem fixas ou são volatilizadas.

(32) Desta água viscosa e terra fusível, ou enxofre, é composto o que é chamado mercúrio, a primeira matéria dos metais.

(33) Os metais nada mais são do que Mercúrio digerido por diferentes graus de calor.

(34) Diferentes modificações de calor causam, no composto metálico, maturidade ou imaturidade.

(35) O maduro é aquele que atingiu exatamente todas as atividades e propriedades do fogo. Assim é o ouro.

(36) O imaturo é aquele que é dominado pelo elemento água e nunca sofre a ação do fogo. Tais são chumbo, estanho, cobre, ferro e prata.

(37) Apenas um metal, a saber , o ouro, é absolutamente perfeito e maduro. Por isso é chamado de corpo masculino perfeito.

(38) Os demais são imaturos e, portanto, imperfeitos.

(39) O limite de imaturidade é o início do vencimento; pois o fim do primeiro é o começo do último.

(40) A prata é menos limitada pela imaturidade aquosa do que o resto dos metais, embora possa de fato ser considerada até certo ponto impura, ainda assim sua água já está coberta com a vestimenta congelante de sua terra e, portanto, tende à perfeição .

(41) Esta condição é a razão pela qual a prata é em toda parte chamada pelos Sábios de corpo feminino perfeito.

(42) Todos os outros metais diferem apenas no grau de sua imperfeição, conforme sejam mais ou menos limitados pela dita imaturidade; no entanto, todos têm uma certa tendência para a perfeição, embora lhes falte a referida vestimenta congelante de sua terra.

(43) Esta força de congelamento é o efeito da frieza terrena, equilibrando sua própria umidade própria e causando fixação na matéria fluida.

(44) Os metais menores são fusíveis em um fogo feroz e, portanto, carecem dessa força de congelamento perfeita. Se se solidificam quando arrefecem, isto deve-se à disposição das suas referidas partículas terrosas.

(45) De acordo com as diferentes maneiras pelas quais esta água viscosa e a terra pura se unem, de modo a produzir mercúrio por coagulação, com a mediação do calor natural, temos diferentes metais, alguns dos quais são chamados de perfeitos, como ouro e prata, enquanto o resto é considerado imperfeito.

(46) Quem quiser imitar a Natureza em qualquer operação particular deve primeiro certificar-se de que possui a mesma matéria e, em segundo lugar, que essa substância atua de maneira semelhante à da Natureza. Pois a Natureza se alegra com o método natural, e semelhante purifica semelhante.

(47) Por isso estão enganados aqueles que se esforçam para obter o remédio para o tingimento de metais de animais ou vegetais. A tintura e o metal tingido devem pertencer à mesma raiz ou gênero; e como são os metais imperfeitos sobre os quais a Pedra Filosofal deve ser projetada, segue-se que o pó da Pedra deve ser essencialmente Mercúrio. A Pedra é a matéria metálica que transforma as formas dos metais imperfeitos em ouro, como podemos aprender no primeiro capítulo de ‘O Código da Verdade’: “A Pedra Filosófica é a matéria metálica convertendo as substâncias e formas dos metais imperfeitos”; e todos os Sábios concordam que só pode ter esse efeito sendo como eles.

(48) Que Mercúrio é a primeira matéria dos metais, tentarei provar com o dizer de alguns Sábios.

No Turba Philosophorum, capítulo 1 , encontramos as seguintes palavras: “Na avaliação de todos os Sábios, Mercúrio é o primeiro princípio de todos os metais.” E um pouco mais adiante: “Assim como a carne é gerada a partir do sangue coagulado, o ouro é gerado a partir do Mercúrio coagulado”. Novamente, no final do capítulo: “Todos os corpos metálicos puros e impuros são Mercúrio, porque são gerados a partir do mesmo. ”

Arnold escreve assim ao rei de Aragão: “Saiba que a matéria e o esperma de todos os metais são Mercúrio, digerido e engrossado no ventre da terra; eles são digeridos pelo calor sulfuroso e, de acordo com a qualidade e quantidade do enxofre, diferentes os metais são gerados. Sua matéria é essencialmente a mesma, embora possa haver algumas diferenças acidentais, como um maior ou menor grau de digestão, etc. Todas as coisas são feitas daquilo em que podem ser dissolvidas, por exemplo, gelo ou neve, que pode ser dissolvido em água; e assim todos os metais podem ser dissolvidos em mercúrio; portanto, eles são feitos de mercúrio ” .

A mesma opinião é apresentada por Bernard de Trevisa, em seu livro sobre a “Transmutação dos Metais”: , e recebe as virtudes daquelas coisas que aderem a ele em decocção.” Um pouco mais adiante, o mesmo Trevisan afirma que “o ouro nada mais é do que mercúrio congelado pelo seu enxofre ” .

E, em outro lugar, escreve o seguinte: “O solvente difere do solúvel apenas na proporção e no grau de digestão, mas não na matéria, pois a Natureza formou um do outro sem qualquer adição, como por um processo igualmente simples e maravilhosa, ela evolui ouro de mercúrio.”

Novamente: “Os Sábios afirmam que o ouro não é nada além de mercúrio perfeitamente digerido nas entranhas da terra, e eles significam que isso é causado pelo enxofre, que coagula o Mercúrio e o digere por seu próprio calor. disseram que o ouro nada mais é do que mercúrio maduro.”

Tal também é o consenso de outras autoridades. “O Soar da Trombeta” não dá nenhuma nota incerta: “Extraia mercúrio dos corpos, e você terá acima do solo mercúrio e enxofre da mesma substância de que ouro e prata são feitos na terra ” .

O “Caminho dos Caminhos” leva à mesma conclusão: “Reverendo Padre, incline os ouvidos veneráveis, e entenda que o mercúrio é o esperma de todos os metais, perfeitos e imperfeitos, digeridos nas entranhas da terra pelo calor do enxofre, o variedade de metais devido à diversidade deste seu enxofre ” .

Encontramos no mesmo tratado um cânone semelhante : “Todos os metais na terra são gerados em Mercúrio, e assim Mercúrio é a primeira matéria dos metais”.

A estas palavras, Avicena significa seu consentimento no capítulo iii .: “Assim como o gelo, que pelo calor é dissolvido em água, é claramente gerado a partir da água, todos os metais podem ser dissolvidos em Mercúrio, do qual é claro que eles são gerados a partir de isto.”

Este raciocínio é confirmado por “O Soar da Trombeta”: “Todo corpo passivo é reduzido à sua primeira matéria por operações contrárias à sua natureza; a primeira matéria é mercúrio, sendo ele próprio o óleo de todas as coisas líquidas e dúcteis ” .

Assim também o terceiro capítulo da “Correção dos Tolos”: “A natureza de todas as coisas fusíveis é a de Mercúrio coagulado de um vapor, ou o calor do enxofre incumbível vermelho ou branco “.

No capítulo i. da “Arte da Alquimia” lemos: “Todos os Sábios concordam que os metais são gerados a partir do vapor de enxofre e mercúrio.”

Mais uma vez, uma passagem no Turba Philosophorum é assim: “É certo que todo assunto deriva daquilo em que pode ser resolvido. Todos os metais podem ser dissolvidos em mercúrio, por isso já foram mercúrio. ”

Se valesse a pena, eu poderia acrescentar centenas de outras
passagens dos escritos dos Sábios, mas como elas não serviriam para nenhum bom propósito, deixarei que elas sejam suficientes.

Comete um grande erro aqueles que supõem que a água espessa do Antimônio, ou aquela substância viscosa que é extraída do Mercúrio sublimado, ou de Mercúrio e Júpiter dissolvidos juntos em uma mancha úmida, pode em qualquer caso ser a primeira substância dos metais.

O antimônio nunca pode assumir qualidades metálicas, porque sua água e umidade não são temperadas com terra seca, sutil, e carece, além disso, daquela untuosidade característica dos metais maleáveis. Mas, como Chambar bem diz no “Código da Verdade”: “É apenas por ciúmes que os Sábios chamaram a Pedra de Antimônio ” .

Da mesma forma, aqueles que destroem a composição natural de Mercúrio, para resolvê-la em uma água espessa ou límpida, que chamam de matéria primeira dos metais, lutam contra a Natureza no escuro, como gladiadores cegos.

Assim que Mercúrio perde sua forma específica, torna-se outra coisa, que não pode mais se misturar com os metais em suas menores partes, e é anulado para o trabalho dos Filósofos. Quem quer que se envolva com experiências tão infantis, deve ouvir o Sábio de Trevisa em sua “Transmutação de Metais”:

” Quem pode encontrar a verdade que destrói a natureza úmida de Mercúrio? Alguns tolos mudam seu arranjo metálico específico, corrompem sua umidade natural por dissolução, e mercúrio desproporcional de sua qualidade mineral original, que não queria nada além de purificação e digestão simples. Por meio de sais, vitríolo e alúmen, eles destroem a semente que a Natureza se esforçou para desenvolver. As coisas são formadas pela natureza e não pela arte, mas pela arte são unidas e misturadas. A semente não precisa de adição e não admite diminuição. foi formado pela Natureza. Todos os ensinamentos que alteram o Mercúrio são falsos e vãos, pois este é o esperma original dos metais, e sua umidade não deve secar, caso contrário não se dissolverá. Muito fogo causará uma morbidez id calor, como o de uma febre, e transformar os elementos passivos em ativos, assim o equilíbrio de forças é destruído, e todo o trabalho prejudicado. No entanto, esses tolos extraem dos minerais menores águas corrosivas, nas quais projetam as diferentes espécies de metais, e assim os corroem.

“A única solução natural é aquela pela qual do solvente e do solúvel, ou macho e fêmea, resulta uma nova espécie. Nenhuma água pode dissolver naturalmente os metais, exceto aquela que permanece com eles em substância e forma e que também onde metais dissolvidos podem congelar novamente; não é o caso da aqua fortis, visto que ela apenas destrói o arranjo específico. qualquer outra coisa que esses tolos tenham o prazer de chamar de Água Mercurial.” Até aqui cito Trevisan.

As pessoas que caíram neste erro fatal também podem se beneficiar do ensinamento de Avicena sobre este ponto: “O mercúrio é frio e úmido, e dele, ou com ele, Deus criou todos os metais. É aéreo e torna-se volátil por a ação do fogo, mas depois de resistir um pouco ao fogo, ele realiza grandes maravilhas e é ele mesmo apenas um espírito vivo de potência inigualável. Ele entra e penetra em todos os corpos, passa por eles e é seu fermento. então o Elixir Branco e Vermelho e é uma água eterna, a água da vida, o leite da Virgem, a fonte, e aquele Alum do qual quem bebe não pode morrer, etc. e que se produz no mesmo dia. Com seu veneno, destrói todas as coisas. É volátil, mas os sábios o fazem suportar o fogo, e então o transmuta como foi transmutado, tinge como foi tingido e coagula como foi coagulado. Portanto, é a geração da prata viva deve ser preferida antes de todos os minerais; encontra-se em todos os minérios, e tem seu assinatura em todos eles. O mercúrio é o que salva os metais da combustão e os torna fusíveis. É a Tintura Vermelha que entra na união mais íntima com os metais , porque é de sua própria natureza, mistura-se a eles indissoluvelmente em todas as suas partes menores e, sendo homogênea, naturalmente adere a eles. Mercúrio recebe todas as substâncias homogêneas, mas rejeita tudo o que é heterogêneo, porque se deleita em sua própria natureza, mas recua de tudo o que é estranho. Quão tolo, então, estragar e destruir aquilo que a Natureza fez a semente de todas as virtudes metálicas por elaboradas operações químicas! ”

O “Rosário” nos convida a ser particularmente cuidadosos, para que ao purificar o mercúrio não dissipemos sua virtude e prejudiquemos sua força ativa. Um grão de trigo, ou qualquer outra semente, não crescerá se sua virtude geradora for destruída pelo calor externo excessivo. Portanto, purifique seu mercúrio por destilação em fogo suave.

Diz o Sábio de Trevisa: ” Se o mercúrio é roubado de sua devida proporção metálica, como podem ser geradas outras substâncias do mesmo gênero metálico? É um erro supor que você pode fazer milagres com uma água límpida e límpida extraída de Mesmo se pudéssemos obter tal água, não seria útil, nem na forma nem na proporção, nem poderia restaurar ou construir uma espécie metálica perfeita. ele se torna impróprio para nossa operação, pois perde sua qualidade espermática e metálica. Eu, de fato, aprovo que o Mercúrio impuro e bruto seja sublimado e purificado uma ou duas vezes com sal simples, de acordo com o método apropriado dos Sábios, por tanto tempo. como a fluidez ou humor radical de tal Mercúrio permanece intacto, isto é, enquanto sua natureza mercurial específica não for destruída, e enquanto sua aparência externa não se tornar a de um pó seco”.

Na “Escada dos Sábios” nos é dito para tomar cuidado com a vitrificação na solução dos corpos, com odor e sabor de substâncias imperfeitas, e também com a virtude geradora de sua forma ser de alguma forma queimada e destruída por águas corrosivas .

Se você tem tentado fazer alguma dessas coisas, você pode ver o quão grave foi o seu erro. Pois a água dos Sábios não adere a nada, exceto a substâncias homogêneas. Ele não molha suas mãos se você tocá-lo, mas queima sua pele, irrita e corrói todas as substâncias com que entra em contato, exceto ouro e prata ( não os afetaria até que eles fossem dissipados e dissolvidos por espíritos e fortes águas), e com estes combina mais intimamente. Mas a outra mistura é muito infantil, condenada pelo concerto dos Sábios e por minha própria experiência.

Proponho agora mostrar que o mercúrio é a água com a qual, e na qual, a solução dos Sábios ocorre, colocando diante do leitor as opiniões de muitos Filósofos que vivem em diferentes países e épocas.

Menalates na Turba: “Quem une o mercúrio ao corpo de magnésia, e a mulher ao homem, extrai a natureza oculta pela qual os corpos são coloridos. Saiba que o mercúrio é um fogo consumidor que mortifica os corpos pelo seu contato “, na Turba, diz: “Divida os elementos pelo fogo, una-os pela mediação de Mercúrio, que é o arcano maior, e assim o magistério está completo, consistindo toda a dificuldade na solução e conjunção. A solução, ou separação , ocorre através da mediação de Mercúrio, que primeiro dissolve os corpos, e estes são novamente unidos pelo fermento e pelo Mercúrio”.

Rosinus faz Gold se dirigir a Mercúrio da seguinte forma: “Você disputa comigo, Mercúrio? Eu sou o Senhor, a Pedra que resiste ao fogo”. Diz Mercúrio: “Tu dizes a verdade; mas eu te gerei, e uma parte de mim vivifica muitos de ti, visto que tu és relutante em comparação comigo. Quem me unir a meu irmão ou irmã viverá e se alegrará, e me fará suficiente para ti.”

No capítulo 5 do “Livro das Três Palavras”, lemos: “Digo-te que em Mercúrio estão as obras dos planetas, e todas as suas imaginações em suas páginas ” .

Aristóteles diz que o primeiro modo de preparação é que a Pedra se torne Mercúrio; ele chama Mercúrio o primeiro corpo, que age sobre as substâncias grosseiras e as transforma em sua própria semelhança. ” Se Mercúrio não fizesse nada além de tornar os corpos sutis e semelhantes a si mesmo, isso nos bastaria.”

Sênior: “Nossa Pedra, então, é água congelada, ou seja, Mercúrio congelado em ouro e prata e, quando fixado, resistente ao fogo ” .

“O Soar da Trombeta”: “O mercúrio contém tudo o que os Sábios procuram e destrói todo o ouro escamoso. Ele dissolve , suaviza e extrai a alma do corpo.”

“O Livro da Arte da Alquimia”: “Os Sábios foram os primeiros a tentar revestir os corpos inferiores na glória e esplendor do corpo perfeito quando descobriram que os metais diferem apenas de acordo com o maior ou menor grau de sua digestão, e são todos gerados a partir de Mercúrio, com o qual extraíram o ouro e o reduziram à sua primeira natureza ” .

A “Correção dos Tolos”: “Observe que o Mercúrio bruto dissolve os corpos e os reduz à sua primeira matéria ou natureza. ., ouro e prata.” O mesmo livro observa: “Você pode fazer uso de Mercúrio bruto da seguinte forma – para selar e abrir naturezas, pois coisas semelhantes são úteis umas para as outras”. Mais uma vez: “O Mercúrio é a raiz na Arte da Alquimia, pois os Sábios dizem que todos os metais são dele, e através dele, e nele – segue-se que os metais devem primeiro ser reduzidos a Mercúrio, a matéria e o esperma de todos os metais.”

Novamente: “A razão pela qual todos os metais devem ser reduzidos à natureza de vapor é porque vemos que todos são gerados de mercúrio, através da mediação de que eles vieram a existir. ”

Graciano: “Purifique Laton, ou seja, cobre ( minério), com Mercúrio, pois Laton é de ouro e prata, um corpo composto, amarelo, imperfeito.”

“O Soar da Trombeta”: “Mercúrio Comum é chamado de espírito. Se você não resolver o corpo em Mercúrio, com Mercúrio, você não pode obter sua virtude oculta.”

“Arte da Alquimia”, capítulo vi .: “A segunda parte da Pedra que chamamos de Mercúrio vivo, que, sendo viva e bruta, diz-se que dissolve os corpos, porque adere a eles em seu ser mais íntimo. Esta é a Pedra sem que a Natureza nada faz.”

“Rosário”: “Mercúrio nunca morre, exceto com seu irmão e irmã. Quando Mercúrio mortifica a matéria do Sol e da Lua, fica uma matéria como cinzas. ”

O Sábio de Trevisa: “Não adicione nada acima do solo para digerir e engrossar Mercúrio na natureza do ouro ou dos metais.” Mais uma vez: “Esta solução é possível e natural, isto é, pela Arte como serva da Natureza, e é única e necessária na obra; mas só se consegue pelo mercúrio, nas proporções que se recomendam a um bom operário. que conhece as propriedades mais íntimas da Natureza.”

“Arte da Alquimia”: “Quem pode exaltar suficientemente Mercúrio, pois só Mercúrio tem o poder de reduzir o ouro à sua primeira natureza?”

Destas citações fica claro o que os Sábios queriam dizer com sua água, e o que eles pensavam deste maravilhoso líquido, a saber , Mercúrio, ao qual eles atribuíam todo poder no Magistério, pois nada pode ser aperfeiçoado fora de seu próprio gênero. Os homens digerem os vegetais, não no sangue dos animais, mas na água, que é seu primeiro princípio, nem os minerais são afetados pelo líquido vegetal. Nas palavras do “Soar da Trombeta”: “Todo o Magistério consiste em separar os elementos dos metais, e purificá-los, e em separar o enxofre da Natureza dos metais ” .

Além disso, como diz Hermes, só as substâncias homogêneas são coerentes, e só elas podem produzir descendentes segundo sua própria espécie, ou seja, se se quer um medicamento que é gerar metais, sua origem deve ser metálica, pois “as espécies são tingidas por seu gênero, ” como testemunha o filósofo.

Em suma, nosso Magistério consiste na união do masculino e feminino, ou ativo e passivos , elementos através da mediação de nossa água metálica e um grau adequado de calor. Agora, o macho e a fêmea são dois corpos metálicos, e isso vou provar novamente por citações irrefragáveis dos Sábios:

Dantius nos manda preparar os corpos e dissolvê-los .

Galienus: “Prepare os corpos e purifique-os da escuridão em que está a corrupção, até que o branco se torne branco e vermelho, então dissolva ambos, etc.”

Cálid (capítulo I): ” Se você não tornar os corpos sutis, para que sejam impalpáveis ao toque, você não alcançará seu fim. Se eles não foram moídos, repita sua operação e veja que eles são moídos e sutilizados. Se você fizer isso, você será direcionado ao seu objetivo desejado.”

Aristóteles: “Os corpos não podem ser mudanças, exceto pela redução em sua primeira matéria. ”

Calida (capítulo v.): “Da mesma forma, os sábios nos ordenaram dissolver os corpos para que o calor adere às suas partes mais íntimas; então procedemos à coagulação após uma segunda dissolução com uma substância que mais se aproxima deles.”

Menabadus: “Faça corpos, não-corpos, e corpos de coisas incorpóreas, pois este é todo o processo pelo qual a virtude oculta da Natureza é extraída ” .

Ascanius: “A conjunção dos dois é como a união de marido e mulher, de cujo abraço resulta água dourada. ”

“Antologia de Segredos”: “Case o homem vermelho com a mulher branca , e você terá todo o Magistério.”

“O Soar da Trombeta”: “Há outra tintura de mercúrio e permanente que é extraída de corpos perfeitos por dissolução, destilação, sublimação e subtilização ” .

Hermes: “Junte o macho à fêmea em sua própria umidade, porque não há nascimento sem união de macho e fêmea. ”

Platão: “A natureza segue uma natureza afim, a contém e a ensina a resistir ao fogo. Casa o homem com a mulher, e você tem todo o Magistério. ”

Avicena: “Purifica marido e mulher separadamente, para que se unam mais intimamente; porque se não os purificares, eles não podem amar-se. Pela conjunção das duas naturezas obtém-se uma natureza clara e lúcida, que, quando ascende, torna-se brilhante e útil.”

“Arte da Alquimia”: “Dois corpos nos fornecem tudo em nossa água. ”
Trevisanus: “Somente aquela água que é da mesma espécie, e pode ser engrossada por corpos, pode dissolver corpos.”

Hermes: “Que as pedras da mistura sejam tomadas no início do primeiro trabalho, e que sejam misturadas igualmente na terra.”

“Espelho”: “Nossa Pedra deve ser extraída da natureza de dois corpos, antes que possa se tornar um Elixir perfeito. ”

Demócrito: “Você deve primeiro dissolver os corpos sobre cinzas brancas quentes, e não moê-los, exceto apenas com água.”

“Rosário” de Arnold: “Extraia a Medicina dos corpos mais homogêneos da Natureza. ”

Provei assim o número dos corpos dos quais o Elixir é obtido. Mostrarei agora por citações o que são esses corpos .

“Exposição da Carta do Rei Alexandre”: “Nesta arte você deve se casar com o Sol e a Lua. ”

“O Soar da Trombeta”: “O Sol só aquece a Terra e lhe confere sua virtude por intermédio da Lua, que, de todas as estrelas, recebe sua luz e calor mais prontamente. ”

“A correção dos tolos”: “Semeie ouro e prata, e eles renderão mil vezes ao seu trabalho, pela mediação daquela única coisa que tem o que você procura. A Tintura de ouro e prata exibe as mesmas proporções metálicas que o imperfeito metais, porque eles têm uma primeira matéria comum em Mercúrio.”

Mais uma vez: “Tinja com ouro e prata, porque o ouro dá ao ouro e à prata a cor e a natureza prateadas. Rejeite todas as coisas que não têm natural ou virtualmente o poder de tingir, pois nelas não há fruto, mas apenas desperdício de dinheiro e rangidos. de dentes.”

Sênior: “Eu, o Sol, sou quente e seco, e tu, a Lua, és frio e úmido; quando nos casarmos em uma câmara fechada, eu gentilmente roubarei sua alma.”

Rosinus para Saratant: “Da água viva obtemos a terra, um corpo morto homogêneo, composto de duas naturezas, a do Sol e a da Lua ” .

Novamente: “Quando o Sol, meu irmão, por amor a mim (prata) derrama seu esperma (ou seja, sua gordura solar) na câmara (ou seja, meu corpo lunar), ou seja, quando nos tornamos um em uma tez forte e completa e união, o filho do nosso amor conjugal nascerá.”

Hermes : “Sua umidade é do império da Lua, e sua gordura do império do Sol, e esses dois são seu coágulo e semente pura do Sol e o Espírito da Lua.”

Turba Philosophorum: “Ambos os corpos em sua perfeição devem ser tomados para a composição do Elixir, seja laranja ou branco, pois nenhum se torna líquido sem o outro.”

Mais uma vez, Gold diz: “Ninguém me mata senão minha irmã. ”

Aristóteles: “Se eu não visse ouro e prata, certamente diria que a Alquimia não era verdadeira.”

O Sábio: “A base de nossa Arte é o ouro e sua sombra. ”

“Arte da Alquimia”: “Já dissemos que ouro e prata devem ser unidos.”

“Rosário”: “Há uma adição de cor alaranjada pela qual o Remédio é aperfeiçoado a partir da substância do enxofre fixo, ou seja, ambos os remédios são obtidos do ouro e da prata.”

O Sábio: “Quem sabe tingir enxofre e mercúrio atingiu o grande arcano. Ouro e prata devem estar na Tintura, e também o fermento do espírito. ”

“Rosário”: “O fermento do Sol é o esperma do homem, o fermento da Lua, o esperma da mulher. De ambos obtemos uma união casta e uma verdadeira geração. ”

“O Soar da Trombeta”: “Você quer que a prata subtilize seu ouro e torne-o volátil removendo sua impureza, pois a prata tem uma necessidade maior da luz do ouro.”

Portanto Hermes, como também Aristóteles em seu tratado sobre as plantas, diz que o ouro é seu pai, e a prata sua mãe; nada mais é necessário para a nossa Pedra. Prata é o campo em que a semente de ouro é semeada.” E um pouco mais adiante: “Em minha irmã, a Lua, cresce sua sabedoria, e não em nenhum outro de meus servos, diz o Senhor Sol. Sou como a semente lançada em terra boa e pura, que brota, cresce, se multiplica e dá grande lucro ao semeador . Eu, o Sol, dou a ti, a Lua, minha beleza, a luz do Sol, quando estamos unidos em nossas menores partes.” E a Lua diz ao Sol: “Tu precisas de mim, como o galo preciso da galinha, e eu preciso de tua operação, que és perfeito em moral, o pai das luzes, um grande e poderoso senhor, quente e seco, e eu sou a lua crescente, fria e úmida, mas recebo tua natureza por nossa União.”

Avicena: “Para obter o Elixir vermelho e o branco , os dois corpos devem ser unidos. Pois, embora o ouro seja o mais fixo e perfeito dos metais, se for dissolvido em suas partes menores, torna-se espiritual e volátil, como mercúrio, e isso por causa de seu calor. Esta tintura, que é incontável, é chamada de semente masculina quente. Mas se a prata for dissolvida em água morna, ela permanece fixa como antes, e tem pouca ou nenhuma tintura, mas prontamente recebe a tintura em um temperamento de quente e frio, e é chamada de semente feminina fria, seca. O ouro ou a prata por si só não são facilmente fundíveis, mas uma mistura dos dois derrete facilmente, como é bem conhecido pelos ourives. nossa Pedra não continha ouro e prata, não seria líquida, e não daria remédio por nenhum magistério, nem tintura, pois se ela rendesse tintura, ainda não teria poder de tingimento”.

E um pouco mais adiante: “Cuidado, então, e opere apenas com ouro, prata e mercúrio, pois todo o lucro de nossa arte deriva desses três ” .

Posso acrescentar que o Mercúrio bruto é a água que os Sábios usaram para fins de solução. Provei que dois corpos devem ser dissolvidos, e que não são mais que ouro e prata. Agora descreverei a conjunção desses dois corpos por meio do Mercúrio bruto dos Sábios.

“A Luz das Luzes”: “Saiba que é ouro, prata e Mercúrio que embranquecem e avermelham por dentro e por fora. O Dragão não morre, a menos que seja morto com seu irmão e irmã, e não deve ser por um, mas pelos dois juntos.”

“A Escada dos Sábios”: “Outros dizem que um corpo verdadeiro deve ser adicionado a esses dois, para fortalecer e encurtar a operação. ”

“Tesouro dos Sábios”: “Nossa Pedra tem corpo, alma e espírito, o corpo imperfeito é o corpo, o fermento a alma, e a água o espírito. ”

“Caminho dos Caminhos”: “A água chama-se espírito, porque dá vida ao corpo imperfeito e mortificado, e dá-lhe uma forma melhor; o fermento é a alma, porque dá vida ao corpo e muda em sua própria natureza. ”

Mais uma vez: “Todo o Magistério se realiza com nossa água e por ela. Pois ela dissolve os corpos, calcina-os e reduz-os à terra, transforma-os em cinzas, embranquece-os e purifica-os, como diz Morienus: “Azoth e fogo purificam Laton, isto é, lave-o e remova completamente sua obscuridade; Laton é o corpo impuro, Azoth é mercúrio.”

“O Soar da Trombeta”: “Como sem fermento não há tintura perfeita, como dizem os Sábios, sem fermento não há pão bom . Em nossa Pedra o fermento é como a alma, que dá vida ao corpo morto através da mediação do espírito, ou Mercúrio.”

“O Rosário” e Pedro de Zalentum dizem: ” Se o fermento, que é o meio da conjunção, for colocado no início, ou no meio, o trabalho é mais rapidamente aperfeiçoado”.

“O Soar da Trombeta”: “O Elixir dos Sábios é composto de três coisas, a saber , a Pedra Lunar, a Solar e a Pedra Mercurial. Na Pedra Lunar há enxofre branco, na Pedra Solar, enxofre vermelho, e a Pedra Mercurial abraça ambas, que é a força de todo o Magistério.”

Eximenus: “A água, com seus adjuntos, sendo colocada no vaso, preserva-os da combustão. As substâncias sendo moídas com água, segue-se a ascensão da Ethelia e a embebição de água é suficiente por si só para completar o trabalho. ”

Platão: “Tome corpos fixos, junte-os, lave o corpo na substância corporal e deixe-o ser fortalecido com o corpo incorpóreo, até que você o transforme em um corpo real ” .

Pandulphus: “A água fixa é água pura da vida, e nenhum veneno tingindo é gerado sem ouro e sua sombra. Quem tinge o veneno dos Sábios com o Sol e sua sombra, alcançou a mais alta sabedoria. ”

Novamente: “Separe os elementos com fogo, una-os por meio de Mercúrio, e o Magistério está completo. ”

Exercício, 14: “O espírito guarda o corpo e o preserva do fogo, o corpo clarificado impede que o espírito se evapore sobre o fogo, sendo o corpo fixo e o espírito incombustível. Portanto, o corpo não pode ser queimado, porque o corpo e o espírito são um através da alma. A alma os impede de serem separados pelo fogo. Portanto, os três juntos podem desafiar o fogo e qualquer outra coisa no mundo. ”

Rhasis ( “Livro das Luzes”): “Nossa Pedra tem o nome da criação do mundo, sendo três e ainda um. Em nenhum lugar nosso Mercúrio é encontrado mais puro do que em ouro, prata e Mercúrio comum.”

Quando corpos e espíritos são dissolvidos, eles se dissolvem nos quatro elementos, que se tornam uma substância firme e fixa. Mas quando não estão ambos dissolvidos, há uma mistura particular que o fogo ainda pode separar.”

Rosinus: “Em nosso Magistério há um espírito e corpos, de onde se diz: Regozija-se sendo semeado nas três substâncias associadas”.

Calid: “Prepare os corpos celestes com a umidade dissolvida, até que qualquer um seja reduzido à sua forma sutil. Se você não sutilizar e triturar os corpos até que se tornem impalpáveis, você não encontrará o que procura.”

Rosinus: “A Pedra consiste em corpo, alma e espírito, ou água, como dizem os Filósofos, e é digerida em um vaso. Todo o nosso Magistério é por nossa água, que dissolve os corpos, não em água, mas por uma verdadeira solução filosófica na água de onde os metais são extraídos, e é calcinada e reduzida à terra. Ela torna amarelos como cera aqueles corpos em cuja natureza ela é transformada; ela substancializa, branqueia e purifica o Latão, de acordo com a palavra de Morienus.”

Aristóteles: “Tome seu filho amado e case-o com sua irmã, sua irmã branca , em casamento igual, e dê-lhes o cálice do amor, pois é um alimento que os leva à união. coisas, ou terão filhos diferentes deles. Portanto, antes de tudo, como Avicena aconselha, sublima o Mercúrio e purifica nele os corpos impuros.

Ascanius: “Instigue a guerra entre o cobre e o Mercúrio até que eles se destruam e se devorem. Então o cobre coagula o mercúrio, o mercúrio congela o cobre, e ambos os corpos se tornam um pó por meio de embebição e digestão diligentes. homem vermelho e a mulher branca até se tornarem Ethelia, isto é, mercúrio. Quem os transforma em espírito por meio de mercúrio, e depois os torna vermelhos, pode tingir todos os corpos.

Quanto à natureza desse cobre, Graciano nos instrui com as seguintes palavras: “Faça Laton branco , ou seja, branqueie o cobre com Mercúrio, porque Laton é um corpo imperfeito laranja, composto de ouro e prata.”

Aconselho a todos que sigam meus ensinamentos, cuja exatidão minhas citações dos antigos não podem deixar dúvidas, o que também recebeu confirmação adicional de minhas próprias experiências. Qualquer desvio deste curso leva ao engano, exceto apenas o trabalho de Saturno, que deve ser realizado pela sutilização de princípios. Os Sábios dizem que as coisas homogêneas apenas combinam umas com as outras, tornam-se brancas e vermelhas e permitem a geração comum. O ponto importante é que Mercúrio deve agir sobre nossa terra. Esta é a união de macho e fêmea, da qual os Sábios tanto falam. Depois que a água, ou mercúrio, uma vez apareceu, ela cresce e aumenta, porque a terra fica branca, e isso é chamado de impregnação. Então o fermento é coagulado, isto é, unido ao corpo imperfeito preparado, até que eles se tornem um em cor e aparência: isso é denominado o nascimento de nossa Pedra, que os Sábios chamam de Rei. Desta substância é dito na “Arte da Alquimia” que se alguém queimar esta flor e separar os elementos, o germe gerador é destruído.

Concluo com as palavras de Avicena: “O verdadeiro princípio de nosso trabalho é a dissolução da Pedra, porque os corpos resolvidos assumiram a natureza dos espíritos, ou seja, porque sua qualidade é mais seca há a coagulação do espírito. Seja paciente, portanto, digere, bata , torne amarelo como cera, e nunca se canse de repetir esses processos até que eles sejam perfeitos. Pois as coisas saturadas com água são assim amolecidas. mais você o amolece e sutiliza suas partes grosseiras, até que sejam completamente penetradas com o espírito e assim dissolvidas. Pois batendo, assando e queimando, as partes duras e viscosas dos corpos são separadas.

Finalmente, quero dizer, filhos do conhecimento, que na obra dos Sábios há três soluções.

A primeira é a do corpo bruto.

A segunda é a da terra dos Sábios.

A terceira é aquela que ocorre durante o aumento da substância.

Se você considerar diligentemente tudo o que eu disse, este Magistério se tornará conhecido por você.

Quanto a mim, o quanto sofri por causa desta Arte, a história revelará às eras futuras.

Fonte: The Stone of the Philosophers

Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Edição final: Tamosauskas

Postagem original feita no https://mortesubita.net/alquimia/a-pedra-dos-filosofos-por-edward-kelly/

As Associações de Pedreiros da Antiguidade

Os construtores em pedra detinham o exclusivo conhecimento – ou quase – de técnicas de construção baseadas em princípios geométricos há muito descobertos, mas perdidos, na sua aplicação, no obscurantismo da Idade Média. A sua associação em núcleos profissionais, Lojas, que asseguravam a formação e treino de novos elementos e a transmissão dos conhecimentos e técnicas herdados de gerações e gerações de profissionais, buscava também garantir a manutenção do conhecimento dessas técnicas e conhecimentos no restrito círculo de profissionais.

As Associações de Pedreiros da Antiguidade :

Na procura das origens da Maçonaria, os historiadores têm analisado as associações que existem desde os mais tempos mais longínquos e encontrado que os pedreiros ou outros ofícios relacionados com a arte de construir tem-se destacado por serem eles os que mais tem criado este tipo de associações, em certa forma similares das conhecidas nos tempos da Idade Média.

Na antiga Caldéia existiriam confrarias de construtores 4.500 anos a.c. e têm-se encontrado certos monumentos acádicos em que aparece um triângulo como símbolo da letra Rou (construir).

No Egito a arquitetura foi ciência sacerdotal, iniciática, hermética, com segredos que eram mantidos fora do alcance da sociedade comum.

Na China, existiam livros sagrados que conheciam o simbolismo do esquadro e do compasso, que eram a insígnia do sábio diretor dos trabalhos.

Na Grécia encontramos a confraria de Dionísio, que era uma divindade originaria da Tracia e que construiu templos e palácios tanto na Grécia como na Síria e na Pérsia. Seus membros eram homens de ciência que não somente se distinguiam pelo seu saber como também porque se reconheciam por sinais e toques. Mantiveram um colégio em Theos, lugar que lhes fora designado como residência e onde eram iniciados os novos membros. Reconheciam-se por médio de toques e palavras; estavam divididos em lojas que eles denominavam colégios; cada colégio era dirigido por um Mestre secundado por inspetores que eram eleitos pelo período de um ano; celebravam assembléias e banquetes; os mais ricos ajudavam aos que se encontravam em má situação ou doentes e relacionavam a arte de construir com o estudo de mistérios.

Numa Pompilio, segundo rei de Roma (715–672 ac) fundou ou somente autorizou e consagrou os Collegia de artesãos. O povo foi dividido em ofícios agrupados em confrarias com culto. Plutarco menciona 9 collegias; eram mutualidades que as vezes adotavam caráter religioso recebendo o nome de Sodalitates. Entre os Collegia Fabrorum (de Faber = pessoa que trabalha um material), nos colégios funerários e as confrarias religiosas existia ritual iniciático, cerimônias, eleições, decisões pela maioria de votos, patronos honorários; estima-se que o mesmo ritual teria sido transmitido através de 6 séculos, os membros estavam divididos em 3 classes, compostos unicamente por homens, podiam ser de diferentes países, adotaram uma fórmula similar ao Grande Arquiteto do Universo para simbolizar a Deus, tem sido encontrados sarcófagos romanos com compassos, esquadros, prumos e níveis.

Nas escavações realizadas em 1878, foi encontrado o Collegia de Pompéia (79 dc) que tinha duas colunas na entrada e esquadros unidos nas paredes. Os Colllegia acompanharam as legiões romanas em todas as suas conquistas onde tiveram a oportunidade de difundir sua arte da construção, podendo ser a semente das fraternidades da Idade Média, mas não existe nenhum documento ou outro fato concreto que demonstre esta possibilidade. Os Collegia terminam quando começam a serem usados como instrumentos políticos sendo abolidos pela Lex Julia (64 ac), voltam mas César baniu-os; Augusto dissolve-os, preservando somente os de utilidade pública; Trajano insiste na proibição mas Aurélio tolera e ajuda-os. Com o fim do Império Romano desaparecem definitivamente deixando poucas lembranças em alguns países.

Durante as escavações do antigo porto de Roma foi descoberta uma inscrição do ano 152 dc com os nomes dos membros da corporação dos bateleiros de Ostia.

Em 286 dc, São Albano obteve autorização de Carausius, imperador britânico, que facultava aos maçons para efetuar um Conselho Geral denominado Assembléia. São Albano participou da Reunião iniciando a novos irmãos. (Relatado nas Constituições Góticas de 926)

O rei lombardo Rotaris (governou entre 636-652), confirma por édito aos Magistri Comacini, privilégios especiais. Os Mestres Comacinos são considerados o elo perdido da maçonaria, o laço de união que une os clássicos Collegia com as guildas de pedreiros da Idade Média, mas não existe nenhuma evidencia documental. A Ordem foi fundada nas ruínas do Colegio Romano de Arquitetos e, na queda do Imperio Romano (478), refugiaram-se na ilha fortificada de Comacino, no Lago Como. Os Comacinos eram arquitetos livres, celebravam contratos e não estavam submetidos a tutela nem da Igreja e nem dos senhores feudais. O nome de Mestres Comacinos nao derivaria do nome da cidade Como, porque seus habitantes são chamados Comensis ou Comanus; o nome de comacinos significaria Companheiro Maçom e também, existe o nome de comanachus (companheiro monge) sem referencia a cidade de Como.

Na inauguração em 674 dc da Igreja de Wearmouth, nas Ilhas Britânicas, construída pêlos Comacinos, foi emitido um documento de apresentação com palavras e frases do edito de 643 do rei lombardo Rotaris.

Por uma pedra gravada entre 712 e 817 dc, sabe-se que a Guilda Comacina estava constituída por Mestres e Discípulos, obedeciam um Grão Mestre ou Gastaldo, chamavam Loja os locais de reunião, tinham juramentos, toques e palavras de passe, usavam aventais brancos e luvas, seus emblemas tinham esquadro, compasso, nível, prumo, arco, nó de Salomão e corda sem fim e reverenciavam os Quatro Mártires Coroados.

Durante o reinado progressista e cultural de Alfredo O Grande na Inglaterra (849-899) a corporação maçônica se estabelece sob normas mais regulares. Divide-se em reuniões parciais denominadas lojas, dependendo todas de um poder central regulador, hoje conhecido como Grande Loja, com sede em York, sendo o objetivo principal a construção de edifícios públicos e catedrais.

Na Grécia encontramos uma Ordem Iniciática chamada Confraria de Dionísio, que era uma divindade originaria da Tracia e que construiu templos e palácios tanto na Grécia como na Síria e na Pérsia. Seus membros eram homens de ciência que não somente se distinguiam pelo seu saber como também porque se reconheciam por sinais e toques. Mantiveram um colégio em Theos, lugar que lhes fora designado como residência e onde eram iniciados os novos membros. Reconheciam-se por méio de toques e palavras; estavam divididos em lojas que eles denominavam colégios; cada colégio era dirigido por um Mestre secundado por inspetores que eram eleitos pelo período de um ano; celebravam assembléias e banquetes; os mais ricos ajudavam aos que se encontravam em má situação ou doentes e relacionavam a arte de construir com o estudo de mistérios.

Estas fraternidades estudavam não apenas técnicas de construção, mas também matemática, astrologia, música, poesia, retórica, gramática e oratória, formando verdadeiros centros filosóficos de saber e conhecimento.

Da Grécia, inúmeros membros da Ordem Pitagórica estiveram em contato com estas fraternidades; entre eles, Fídias (do Colégio de Argos, responsável pela reconstrução de Atenas), Platão, Aristóteles e Alexandre Magno (conhecido como “Alexandre, o Grande”, filho de uma sacerdotisa Dionísica, que levou os engenheiros e arquitetos gregos junto com suas tropas para adquirir conhecimentos em praticamente todos os territórios conquistados, trazendo para dentro da ordem um conhecimento vastíssimo).

#Maçonaria

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/as-associa%C3%A7%C3%B5es-de-pedreiros-da-antiguidade

Teologia Matemática: A Religião do Futuro

Tanto a Religião quanto o Governo podem ser compreendidos como partes integrantes de um complexo conjunto de Tecnologias desenvolvidas para assegurar ou manter o Controle Social efetivo sobre os indivíduos, por estabelecerem sistemas de regras ou normas para a convivência em sociedade. Este foi justamente o argumento elaborado por dois dos maiores pensadores da Renascença, Galileu Galilei e Nicolau Maquiavel, para oporem-se à interferência e à ingerência das doutrinas defendidas pela Igreja Católica em seus respectivos campos de atuação intelectual, a Ciência e a Política. Naquela época a Igreja Católica exercia uma autoridade incontestável sobre todos os aspectos da vida cotidiana; a Bíblia era tida como um Livro Sagrado que continha verdades reveladas diretamente por Deus, cabendo aos sacerdotes dessa instituição o exclusivo privilégio de interpretá-lo, ainda que sob os auspícios e direcionamento do Papa; regente vitalício de inúmeras congregações cristãs que é escolhido em assembléia dentre e pelos membros de um colegiado de cardeais.

As doutrinas Aristotélicas haviam sido incorporadas à visão de mundo cristã alguns séculos antes em decorrência da obra de São Tomás de Aquino, substituindo o Platonismo vigente até então, sendo consideradas como Dogmas absolutamente inquestionáveis principalmente nos campos da Física e da Ética. Consequentemente, qualquer tentativa deliberada de  confrontá-las era punível com a sentença de morte nas fogueiras da Inquisição; o que constituía um obstáculo intransponível para que os avanços sociais e culturais necessários pudessem transcorrer livremente, condenando todas as pessoas que viveram durante aquela época (conhecida como Idade Média) a experimentarem um dos períodos históricos de maior estagnação e recrudescimento de suas condições e qualidade de vida, higiene e costumes. Ainda que estivesse certo sobre muitas coisas, Aristóteles(4) não era perfeito; suas conclusões e até mesmo observações sobre fenômenos físicos chegavam a ser ridiculamente constrangedoras! Por exemplo, ele acreditava por convicção (e subseqüentemente também as autoridades eclesiásticas que sucederam a Tomás de Aquino, por força da tradição) que objetos de diferentes pesos caiam a velocidades diferentes, ou ainda que a realidade fosse dividida em “dois mundos”; o sub-lunar (o nosso imperfeito e transitório) e o sobrenatural (um paraíso perfeito e imutável), acimae além da Lua. Galileu foi o homem que ousou combater essas crenças com a força dos fatos. Para atingir esse objetivo ele realizou experimentos na torre inclinada de Pisa, sua cidade natal, derrubando ao mesmo tempo objetos de diferentes pesos, submetendo-os ao campo gravitacional terrestre, provando experimentalmente que caiam ao chão na mesma velocidade; desse modo refutando magistralmente o pensamento Aristotélico e, por tabela (ainda que não intencionalmente), a autoridade da Igreja Católica sobre assuntos terrenos.

Ele foi também o primeiro a apontar um telescópio para os céus, encontrando evidências objetivas de uma gama de fenômenos inexplicáveis segundo os paradigmas vigentes até então, ao observar fases em Vênus, manchas solares, montanhas na Lua, satélites em Júpiter, cometas, meteoritos.

Em um curto espaço de duas semanas, o cosmos se descortinou perante os olhos atentos daquele ser humano, que encontrou então dentro de si o estímulo para desconsiderar quaisquer preocupações  com a sua autopreservação; a ponto de se sentir compelido a tentar mudar a posição do Papa em relação à validade das doutrinas de Aristóteles. Seu argumento: que a Ciência experimental, então conhecida como “Filosofia Natural”, deveria ser o único método acatado para nos direcionar às verdades sobre o mundo e que o propósito da Bíblia fosse reconhecido como o de, apenas, ensinar um dos caminhos como alcançar, neste mundo, o acesso ao “próximo”; a salvação. Em suas próprias palavras:

“Não seria talvez senão mais sábio e útil parecer não acrescentar à Escritura outros artigos sem necessidade, além dos concernentes à salvação e ao fundamento da Fé, contra cuja firmeza não há perigo algum de que possa surgir jamais doutrina válida e eficaz?”

Por essa ousadia, quase foi condenado a perecer nas chamas da Inquisição, como inclusive chegou a ocorrer com seu genial conterrâneo, o monge Giordano Bruno que, diferentemente de Galileu, se recusou a abjurar sua doutrina da Infinitude dos Mundos quando teve oportunidade. Ele havia concluído que o Sol é uma estrela como qualquer outra e, pelo mesmo raciocínio, que haveria incontáveis planetas habitáveis além deste, o que colocava a Igreja em uma situação problemática; afinal, como as autoridades eclesiásticas poderiam garantir que cada um desses planetas teria sido também, ou seria ainda, visitado por Jesus?

Na base do argumento de Galileu estava a tese de que a Igreja, a teologia, as crenças religiosas, formavam uma espécie de Tecnologia para o Controle Social fundamentada em componentes metafísicos ou abstratos e que, portanto,a Ciência e seu método, concebidos como a Tecnologia para a descoberta de padrões de recorrência das Leis matemáticas e universais da Natureza, deveriam possuir completa autonomia para realizar o objetivo a que se propunham. Novamente, em suas próprias palavras:

“A filosofia encontra-se escrita neste grande livro que encontra- nossos continuamente se abre perante os nossos olhos (isto é, o Universo), que não se pode compreender antes de entender a conhecer língua e conhecer os caracteres com que está escrito. Ele está escrito em língua matemática, os caracteres são triângulos, circunferências, e outras figuras sem cujos meios é impossível entender humanamente as palavras; sem eles nós vagamos perdidos dentro de um obscuro labirinto.”

Considerando a importância desse pensador nas Revoluções cientificas, políticas, sociais e culturais, que se seguiram desde então, analisarei neste contexto a Tecnologia de Controle Social supracitada, a Religião, me focando mais precisamente no modo como a evolução de nosso conhecimento científico altera suas estruturas e instituições; e vou sugerir um novo modelo para a Religião do Futuro…

A RELIGIÃO DO FUTURO

A Religião do futuro deverá ser universal, no seguinte sentido, independentemente de como e onde, por quem ou se, uma pessoa tenha sido educada, o conteúdo desse sistema de crenças deverá ser significativo; podendo ser assimilado naturalmente por ela sem que seja necessário recorrer à intimidação para convencê-la.

Também deverá ser plenamente compatível com o método científico, o que implica que deva ser indistinguível de uma boa “obra de ficção científica”; coerente com os paradigmas atuais da comunidade científica internacional (ainda que os extrapole circunstancialmente), para evitar um confronto direto entre sistemas de crenças válidas em diferentes campos de discurso (o factual e o metafísico). E deverá ser de livre interpretação, além de moral e eticamente neutra, para não interferir no modo como as pessoas decidem, coletivamente, levar as suas vidas em uma sociedade onde se dissemina um laicismo cada vez mais radical. Como afirmava o célebre Albert Einstein, de forma memorável e sem qualquer cerimônia ou traço de proselitismo:

“O espírito científico, fortemente armado com seu método, não existe sem a religiosidade cósmica. Ela se distingue da crença das multidões ingênuas queconsideram Deus um Ser de quem Deus castigo, esperam benignidade e do qual temem o castigo, com uma espécie de sentimento exaltado da mesma natureza que os laços do filho com o pai, um ser com quem também estabelecem relações pessoais, por respeitosas que sejam. Mas o sábio, bem convencido, convencido, da lei de causalidade de qualquer acontecimento, decifra o futuro e o passado submetidos às mesmas regras de necessidade e determinismo. A moral não lhe suscita problemas com com os deuses, mas simplesmente com os homens. Sua religiosidade consiste em espantar-se, em extasiar-se diante da em espantar- siar- extasiar Natureza, harmonia das Leis da Natureza, revelando uma inteligência tão superior que todos os pensamentos humanos e todo seu engenho não podem desvendar, diante dela, a não ser seu nada irrisório. dela, Este sentimento desenvolve a regra dominante de sua vida, de sua coragem, na medida em que supera a servidão dos desejos egoístas. Indubitavelmente, este sentimento se compara àquele que animou os espíritos criadores religiosos em todos os tempos.”

Deverá, além disso, ser também ser uma fonte inesgotável de discernimento, ainda que possua certo fator alienante, constituindo um refúgio da rotina altamente estressante da atualidade, dando origem a uma sensação de temporalidade e causalidade transcendentais quando  nos dedicamos a sua prática; e o único sistema de crenças que se qualifica, dentre todos os disponíveis, adequando-se firmemente a cada um desses critérios e requisitos fundamentais, em uma análise pormenorizada de nosso passado recente, é a Matemática! Em primeiro lugar faz-se necessário ressaltar que a Matemática não constitui uma disciplina científica; é, portanto, um sistema de crenças.

Sim, muitas pessoas erroneamente atribuem a ela o título de “Ciência dos Números”, mas isso é um equívoco compreensível. Segundo o critério de demarcação de Karl Popper, que é embasado na noção de falseabilidade, só podemos distinguir as teorias científicas daquelas que não possuem qualquer poder de previsão se as submetermos a testes de validação embasados em sua refutabilidade. Ou seja, algum conceito ou conjunto de idéias só leva legitimamente a designação de “Ciência” se tivermos como formular experiências, em lugares ou circunstâncias controladas, que as puderem refutar; tudo o mais não passa de pressuposições metafísicas a princípio desqualificáveis. Não vemos, no entanto, matemáticos seguindo procedimentos análogos.

Uma teoria matemática é demonstrada (assim permanecendo indefinidamente) tão somente pelo raciocínio; e, embora o método científico dependa largamente de teorias matemáticas para organizar, refletir e tentar explicar a estrutura intrínseca aos dados colhidos em experimentos, ainda assim ela não deve serconsiderada uma Ciência. Logo, ainda que estes conjuntos de Axiomas, possam ser tomados como as Escrituras Sagradas de uma Religião, está garantida sua total compatibilidade com a metodologia aplicada pelos cientistas.

A Matemática é também universal, não há uma Matemática para cada cultura ou agrupamento étnico em nosso planeta, muito pelo contrário, grupos culturais e étnicos possuem rigorosamente o mesmo pensamento matemático, ainda que estivessem isolados uns dos outros por milênios; como a população nativa do Continente Americano e os europeus, o quê é comprovado pela descoberta de geoglifos na Amazônia indistinguíveis dos polígonos descritos pelos gregos antigos e arquivados em pergaminhos de ensino matemático. O que mais pode haver, então, tão próximo a um ideal de VERDADE ABSOLUTA, do que a Matemática?

Existem até mesmo casos em que pessoas tiveram, simultaneamente, os mesmos insights em relação a um problema sem que tivessem jamais se encontrado, como constatam os relatos sobe a criação do Cálculo, infinitesimal e integral, por Leibniz e Newton ou as descobertas de Abel e Galois, causando várias confusões.

Mas a Matemática é inventada ou desvendada, existindo antes de vir à cabeça de alguém, independentemente de seus pensamentos, de acordo com os princípios do Platonismo-Pitagórico(13)?

[[Pitágoras de Samos (supostamente entre 570 e 497  A.C., mas não há evidências de sua exitência): filósofo grego radicado na Itália. Era dedicado a estudos matemáticos, além de reconhecidamente ter sido um reformador religioso e fundador de uma comunidade iniciática onde era tido como profeta; a Escola Pitagórica, que santificava toda a vida. Eles também se interessavam por questões filosóficas e tinham profundo interesse intelectual sobre diversos temas, dentre estes se destacavam a Aritmética e a Geometria. Pitágoras criou um sistema global de doutrinas, cuja finalidade era descobrir a harmonia que preside à constituição do Universo e traçar, de acordo com ela, as regras da vida individual e do governo das cidades. Foi quem cunhou as palavras “Filósofo” e “Matemática”, acreditava na metempsicose, ou seja, a transmigração da alma de um corpo para o outro após a morte, e descobriu que se dividirmos uma corda esticada em variados tamanhos vamos obter vibrações proporcionais que vão formar a harmonia das notas musicais. Se essas notas forem divididas em determinadas frações e a combinadas com as notas simples, obtemos sonsmelódicos, já frações diferentes produzem sons que não podem ser considerados prazerosos. Sua cosmologia, estreitamente vinculada à esta religião astral, foi o ponto de partida das várias doutrinas que os gregos formulariam, pressupondo o universo harmonicamente constituído por astros que desenvolvem trajetórias imutáveis, presos à esferas concêntricas. A geometrização do cosmo estava aliada, no pitagorismo, às concepções musicais também desenvolvidas pela escola: essa “harmonia matemática das esferas”, permanentemente soante e que pode ser concebida como uma melodia. Acreditavam também que este som geralmente não é percebido pelas pessoas porque o escutamos desde que nascemos e nossos ouvidos, além de acostumados, não são próprios para percebê-lo; ou seja, seria a própria tessitura do que consideramos o “silêncio”.

Partindo dessas idéias, o pitagorismo pressupunha uma identidade fundamental, de natureza divina, entre todos os seres. Essa similaridade profunda entre os vários entes existentes era sentida pelo homem sob a forma de um “acordo com a Natureza”, que era qualificada como uma “harmonia”, garantida pela presença do divino em tudo. Natural que dentro de tal concepção o mal seja entendido sempre como desarmonia. A grande novidade introduzida certamente pelo próprio Pitágoras foi a transformação do processo de libertação da alma em um esforço puramente humano, porque basicamente intelectual. A purificação ou salvação resultaria do trabalho intelectual, que se esforça para descobrir a estrutura numérica das coisas e tornar, assim, a alma semelhante ao cosmo; entendido como unidade harmônica, sustentada pela ordem e pela proporção, e que se manifesta como beleza. A escola praticava rituais de purificação através do estudo da Matemática e da Astronomia. Eles propuseram também a relação da Matemática com assuntos abstratos como a Justiça, desenvolvendo assim um misticismo em torno dos números que foi adotado posteriormente por Platão como base de sua doutrina das formas. Consideravam  que os números constituíam a essência de todas as coisas, que o Universo era governado pelas mesmas estruturas matemáticas que governam os números e que estes simbolizavam a harmonia; essa harmonia ou ordem que percebiam analisando a Natureza. Assim, para eles o cosmos é organizado através de uma ordem matemática e a prova disso são os movimentos perfeitos das estrelas, as mudanças de estações e a alternância entre o dia e a noite. Assim como o dia e a noite, existem diversos opostos, que são conciliados pela diversidade entre si.

Este princípio matemático, de que a essência da harmonia é regida pelos números, é irrefutável mas, no entanto, não pode ser demonstrado, o que gerou grandes controvérsias no mundo antigo.

Apesar desses impasses – e talvez por causa deles – o pensamento pitagórico evoluiu e se expandiu, influenciando praticamente todos os aspectos o desenvolvimento da cultura grega e permanecendo conosco até hoje como aprópria base do método científico. Em seus estudos concluíram também que a Terra é redonda e que gira em torno de seu eixo.]]

Isso ninguém pode responder; o fato é que parece haver um ordenamento matemático em todas as coisas, e se Deus é um matemático, ou a Matemática é a própria essência da realidade em que estamos inseridos, isso ainda é uma questão em aberto… Aponto apenas um pronunciamento de Kepler cuja opinião, admiravelmente bem colocada, compartilho sem restrições:

“A Geometria existia antes da criação. É tão eterna como o Geometria Deus pensamento de Deus. A Geometria deu a Deus um modelo para a Geometria Deus! criação. A Geometria é o próprio Deus!”

Que a Matemática é moral e eticamente neutra é fácil perceber, não há qualquer menção à conduta humana, a crimes ou castigos em teorias matemáticas. Mas ela é, inegavelmente, uma fonte de discernimento; é na Matemática que surgiram noções como igualdade, proporção e harmonia, das quais se serve o Direito para garantir que a Justiça seja o resultado do estabelecimento de uma ordem social. Já imaginou uma sociedade onde o princípio da igualdade não vale (escravidão), onde a sentença não é proporcional ao crime (totalitarismo) ou onde o objetivo não é a paz e o bem comum (anomia)? Todos esses direitos existem por conta da Matemática!

Mas para se ter uma idéia verdadeira de como a Matemática corresponde a uma fonte de enobrecimento espiritual, um refúgio sagrado, devemos ter uma vivência em primeira mão dessa benção, devemos experimentar a sensação de ser um matemático; e para isso não basta aprender a Matemática, buscar conhecimento já formalizado, pois é isso que faz um simples estudante! Não, devemos aguçar a nossa intuição, ousando nos dedicar a encontrar a resposta para relevantes problemas matemáticos em aberto; deixando que a busca por essa solução nos encaminhe, motive e direcione a nossa pesquisa de novos conceitos e técnicas, só então perceberá a Matemática e a realidade com os olhos de um matemático. E assim compreenderá o Nada como a Origem de Tudo, o Espaço como a Fronteira Final, o Infinito como a Incógnita Suprema, a Harmonia como a Simetria da Forma e o Acaso, como a Aleatoriedade do Caos…

Todos esses termos mencionados anteriormente são conceitos abstratosaos quais os seres humanos, independentemente de seus costumes, credo ou nível educacional, tendem a atribuir significados místicos, transcendentais ou sobrenaturais; situando-os, portanto, no campo de discurso teológico. No entanto, é trivial perceber como cada um desses conceitos pertence legitimamente à Matemática, tendo sido incubados através de um longo processo intuitivo envolvendo matemáticos de diferentes tradições, que nada tinham a ver uns com os outros além da adoção de métodos investigativos similares, tendo sido posteriormente interpretados  por místicos como importantes componentes ontológicos integrantes de seu pensamento teológico. O último ponto que evidencia a similaridade da Matemática com os sistemas tradicionais de crenças religiosas, está, curiosamente, no fato de que a Matemática possui o poder de tornar efetivas as promessas dos sacerdotes das demais Religiões. Onde as Religiões prometem milagres e culpam-nos pela falta de Fé quando estes não ocorrem conforme programado, diariamente a Matemática nos oferece milagres (ou pelo menos aquilo que teria certamente sido considerado como tal pelos nossos antepassados) por meio da Tecnologia, que pode ser considerada como um aspecto concreto de abstrações matemáticas, um testemunho de sua aplicabilidade.

A mesma Tecnologia que cura enfermos, alimenta multidões, aproxima as pessoas, melhora a nossa qualidade de vida, aumenta a inteligência de nossas crianças, veste, abriga, diverte e nos permite ascender aos céus nas asas de nossa imaginação; não há limites para o que é tecnologicamente viável para a humanidade, se houvesse uma quantidade suficiente de matemáticos competentes em nosso meio, uma massa crítica de mentes pesquisando, idolatrando, a Matemática. E é exatamente isso que resultará de sua adoração, de sua adoção como a RELIGIÃO DO FUTURO!

A DESCOBERTA DA MATEMÁTICA COMO ALGO SAGRADO

Vou publicar aqui, sem a devida autorização, mas pleiteando a compreensão do autor por essa falta de cortesia, um texto do ex-professor de Matemática da USP Piotr Koszmider, que trata sobre  esse tema, e então compartilharei a minha perspectiva pessoal sobre esta que pode ser considerada a “Rainha das Ciências”: Matemática – uma missão de construções mentais “Sendo náufragos dos mares de culturas, abandonados  numa ilha da modernidade, somos destinados a formar a nossa espiritualidade com nossas próprias mãos. Os idiomas da Matemática contêm a substância da Arte, Religião e Ciência e ao mesmo tempo do esporte na forma de jogos mentais lúdicos.

“Seja L uma reta infinitamente comprida”, “Seja M um espaço onde alguns pontos diferentes são identificados”, “Seja f uma deformação infinitamente lisa” nos introduzem no mundo onde realiza-se um drama parecido com aquele das fugas de Bach ou telas de Kandinsky: uma metáfora do mundo esboçada através de meios simples, desafiando a humanidade, desafiando-nos para um confronto espiritual – construção matemática. “Os pontos do contínuo espacial não podem ser arranjados numa seqüência”, “todos inteiros positivos podem ser fatorados em números primos”, “existem curvas contínuas, não lisas em nenhum ponto” ressoam como “você vai nascer contra a sua vontade, você vai morrer contra a sua vontade e você vai ser responsável contra a sua vontade” e definem nosso mundo onde a liberdade é dada a nós, porém não estamos aqui para nos divertir, mas estamos aqui para desempenhar a nossa missão.

A missão, como fazer o bem ou descobrir a verdade,  aqui é demonstrar teoremas, definir os conceitos, participar na abertura do livro dos segredos divinos que trata dos tais marcos miliários como infinidade, espaço, ordem, caos, números, forma, mudança. Como Arte ou Religião, na forma do teatro de rua ou procissão da páscoa, Matemática também é um jogo ou esporte (até profissional) na forma de quebra cabeças e adivinhação. Ironicamente, os mais mágicos lados da Matemática podem ser vistos na relação dela com as Ciências e Tecnologia. Para chegar ao computador, avião ou tomógrafo foram necessários séculos de pensamento matemático. É mágico que precisamos imaginar algo infinito e abstrato para conquistar o mundo finito e concreto.”

Agora voltando a falar a meu respeito; desde pequeno a Matemática exerceu uma enorme fascinação sobre mim. Os números, sua seqüência interminável, as dízimas periódicas com seus adoráveis padrões repetitivos, formas geométricas com a divina proporção ou razão áurea que introduzem em nosso espírito um ideal de beleza, pureza e uniformidade, operações como a simplificação e a montagem de sistemas de equações com sua dinâmica própria que por vezes remetia a passes de mágica; tudo isso marcou muito a minhainfância causando uma impressão avassaladora que perdura até os dias de hoje.

Relativamente a esta divisão, temos o seguinte princípio: para que um todo dividido em duas partes desiguais pareça belo do ponto de vista da forma, deve apresentar a parte menor e a maior a mesma relação que entre esta e o todo. A escola pitagórica estudou e observou muitas relações e modelos numéricos que apareciam na natureza, beleza, estética, harmonia musical e outros, sendo esta a mais importante Se quiséssemos dividir um segmento AB em duas partes, teríamos uma infinidade de maneiras de fazê-lo. Existe uma, no entanto, que parece ser mais agradável à vista, como se traduzisse uma operação harmoniosa para os nossos sentidos. Corresponde ao número irracional Ф = ( 1 + sqrt 5 ) / 2.

Havia algo de inefável por trás daqueles gráficos, que pareciam adquirir vida própria, como se simbolizassem uma presença que emanasse a partir deles.. Mas outras coisas ocupavam a minha mente. Sempre fui muito ligado à metafísica e ao misticismo, não especificamente a qualquer Religião pré- estabelecida, porém buscando entender os mistérios do sobrenatural, conhecer as mitologias e as lendas dos diversos povos; as suas histórias, tradições e
superstições. Com a expansão da consciência, que resulta desse tipo de estudo, percebe-se que a criação que foi dada pela sua família, em sua escola, e reforçada pelas interações que você manteve durante a maior parte da sua vida, não lhe preparou completamente para um convívio harmonioso com pessoas que tenham nascido em outras localidades e que foram educadas de modo distinto.

Talvez o mesmo ocorra independentemente de onde nascemos e que seja assim em toda parte; nenhum sentimento de amor pela humanidade em geral está sendo incutido na mente das crianças, e por essa razão milhões de pessoas acabam sendo condenadas a mortes estúpidas e horrendas em áreas de conflito religioso, na defesa dos interesses particulares de líderes políticos dos variados grupos extremistas que mais se beneficiam disso. Um dia entendi que essas distinções étnicas e culturais realmente não possuem qualquer relevância em um contexto mais abrangente.

Existe algo na Matemática, ou melhor, na universalidade do conhecimento matemático que transborda além de qualquer fronteira física ou comportamental, relativizando esses traços superficiais que compõem nossaidentidade coletiva primária, e nos despertam para um vínculo global que é compartilhado por todo ser humano. Não, vou além, por qualquer inteligência, seja ela orgânica, sintética, alienígena ou imaterial.. a Matemática é a mesma para todos!

Na faculdade tive contato com pesquisadores que realmente vivem constantemente imersos em Matemática; e, por ter entrado relativamente tarde nesse curso, eu já tinha acumulado suficiente experiência de vida, inclusive sobre assuntos metafísicos e espirituais, para notar como a atitude daquelas pessoas perante a Matemática, e a pratica de pesquisas nessa área, é indistinguível da atitude de sacerdotes e místicos de tradições religiosas, tanto ocidentais quanto orientais, perante seus objetos de culto e adoração.

Matemáticos se preocupam com coisas que a maioria de nós nem se dá conta de que existam, com coisas que estão além da nossa percepção, mas aquilo que resulta de seu trabalho tem enormes conseqüências práticas palpáveis para todos nós, independentemente de crermos em suas palavras ou não…  A partir daí, me convenci de que a Matemática será inexoravelmente a única atividade tida como sagrada em algum ponto do futuro, e há anos venho trabalhando incessantemente na formulação de um movimento religioso de vanguarda, inovador em todos os aspectos, mas fundamentado nesta que considero a tradição espiritual mais antiga da humanidade. A única que realmente merece o título de verdadeira!

Queria dar uma real dimensão da importância da aquisição de conhecimento matemático para as pessoas e vocês sabem como isso funciona; a menos que seja considerado sagrado, a população em geral não tem o devido apreço ou respeito em relação a um conjunto de conhecimentos abstrato ou teórico. É muito comum, até como uma ferramenta didática, explorar a relação existente entre a Matemática e algum outro campo do conhecimento. Mas a maioria das pessoas geralmente escolhe a relação entre Matemática e as artes: os paralelos entre a composição musical e a estrutura de uma teoria matemática, ou entre a relação de espaços e formas em um estilo de pintura e os gráficos de funções complexas. Dificilmente fazem uma associação direta entre Matemática e os sistemas de crenças espirituais que foram sendo desenvolvidos pelas sociedades ao longo das eras.

Apesar disso, existem muitos pontos de intersecção entre a história das religiões e a Matemática, o que parece sustentar a viabilidade de um estudosistemático que classifico como Teologia Matemática. O mais fascinante dentre
eles talvez seja a origem da Teoria dos Conjuntos, relacionada à transição do conceito de “infinito potencial” ao de “infinito real”. Nos trabalhos de Bernard Bolzano e Georg Cantor, os pais da Teoria dos Conjuntos, encontramos inúmeras referências teológicas, cuja análise ainda desempenha um papel importante na compreensão dessa teoria. As perguntas essenciais a serem consideradas enquanto interpretamos teologicamente os conceitos matemáticos e a interação existente entre eles são:

“O que é a Matemática?”, “Quem sou eu?” e “Como minha vida pode ser transformada por esse complexo conhecimento sem fim?”. O autor pressupõe que o conhecimento matemático é por natureza teológico e que todo o apanhado de literatura Matemática deve ser lido e interpretado dentro deste enfoque.

Mais em http://www.wix.com/templodavida/online

Dr. Clandestino

Postagem original feita no https://mortesubita.net/mindfuckmatica/teologia-matematica-a-religiao-do-futuro/

Conhecimento Exotérico e Esotérico

Existem duas espécies de conhecimento: exotérico e esotérico.

Vejamos o que significam estes termos. Segundo os dicionários, “Exotérico” vem do grego exoterikós e refere-se ao ensinamento que em escolas da Antiguidade grega era transmitido ao público sem restrições, por tratar-se de ensinamento dialético, provável e verossímil.

“Esotérico” vem do grego esoterikós e refere-se ao ensinamento que era reservado aos discípulos completamente instruídos nas escolas filosóficas da Antiguidade.

Por extensão, todo ensinamento ministrado a círculo restrito e fechado de ouvintes.

Em filosofia, diz-se dos ensinamentos ligados ao ocultismo.

Como vemos, o conhecimento exotérico diz respeito basicamente ao mundo dos fenômenos. É o conhecimento aprendido e acumulado pela raça humana, no mundo físico em que habita. É o conhecimento deste mundo físico, do meio ambiente mais imediato, da adaptação física ao mundo; é o conhecimento das leis que parecem se manifestar, como o movimento dos objetos no espaço, as marés, as mudanças de estações, a gravidade e inúmeras outras.

Por outro lado, todo o conhecimento que não pode ser isolado, confinado, ou descrito em termos de fenômenos físicos, é classificado como conhecimento esotérico.

Para aqueles que aceitam uma filosofia idealística, o conhecimento esotérico é um fato e as verdadeiras realidades do universo estão compreendidas no âmbito deste conhecimento. No entanto, é impossível encontrar prova ou confirmação da existência de qualquer forma de conhecimento esotérico, no mundo físico. Uma tal prova ou confirmação deve, necessariamente, provir de uma condição que transcende o físico. A validade deste conhecimento, segundo o idealista, e segundo os princípios da filosofia templária, depende de sua concordância ou conformação com o Absoluto.

O conhecimento exotérico ou conhecimento do mundo exterior é aquele que percebemos através dos sentidos físicos. Podemos ver, tocar, ouvir, provar pelo paladar e cheirar as coisas que formam o mundo que nos cerca. No entanto, se fizéssemos uma analise técnica da epistemologia, que é a ciência da natureza e validade do conhecimento, poderíamos levantar sérias dúvidas sobre a percepção do mundo real pelo homem. Será que percebemos realmente o mundo material, ou percebemos apenas impressões dele?

O âmbito deste discurso não nos permite tocar, senão de leve, neste assunto. Sabemos, por exemplo, que ao cheirarmos uma rosa, recebemos uma certa impressão; mas será esta impressão proveniente da própria rosa ou será ela resultante de certas reações químicas que ocorrem quando a rosa é aproximada à nossa faculdade sensorial do olfato? Cheiramos a rosa ou cheiramos a alteração química do ar causada pela rosa?

Desenvolvemos nossas atividades no mundo físico e, por isso, acreditamos que percebemos de maneira essencialmente correta aquilo que realmente existe.

Percebemos os objetos substancialmente como são, e a razão de assim acreditarmos é o fato de podermos lidar com eles, até certo ponto. Por conseguinte, nosso mundo de atualidade está relacionado com o nosso mundo de pensamento, pelos canais dos sentidos físicos.

Como decorrência de nossas percepções sensoriais, capacitamo-nos a tirar conclusões, em nossa consciência, sobre a existência, uso e aplicação que fazemos das coisas exteriores. A faculdade da percepção sensorial física, portanto, é o canal que nos une ao conhecimento exotérico, na qualidade de entidades pensantes.

O conhecimento esotérico, por sua vez, não pode ser percebido ou apreendido por meio dos sentidos físicos. Além disso, sabemos que o homem não se apercebe do conhecimento esotérico exclusivamente pelos processos da razão; a associação de ideias, embora seja um processo, uma faculdade do homem, com existência potencial em sua mente, não é, em si mesma, uma função criadora suficiente para produzir conhecimento novo.

A razão consiste na ordenação de uma sequência correta, ou o arranjo, numa certa forma, de conhecimentos obtidos pelos sentidos físicos. Isso nos leva a buscar uma outra fonte, caso desejemos obter conhecimento esotérico.

Esta fonte é a intuição. Em geral, considera-se a intuição como um meio direto, imediato e seguro de obter o conhecimento que dispensa tanto o fator dedução lógica, que está presente na razão, como o fator observação sensorial, associado com as nossas experiências do dia-a-dia. O conhecimento intuitivo existe fora do mundo dos fenômenos, devendo ser obtido por um meio capaz de transcender qualquer limitação física.

Um garoto preferiu jogar futebol em vez de ir à Escola Dominical. Quando voltou para casa, ficou surpreso ao encontrar sua mãe preocupada por ele não ter comparecido à escola. Sua mãe tivera um pressentimento, uma ideia, de que o garoto não fora à Escola, sem que nenhum sentido físico estivesse envolvido nesse pressentimento. A partir daquele dia, o garoto passou a olhar com muito respeito a forma de conhecimento chamada intuição.

Parece-nos inútil negar a existência deste tipo de conhecimento. Ocorrem continuamente inúmeros exemplos que confirmam sua existência, incontáveis experiências em que as pessoas adquiriram um conhecimento não originado do funcionamento dos sentidos físicos.

Aprendemos muitas coisas pelo meio direto e imediato da intuição, por se tratar de uma forma de percepção, um processo no qual o conhecimento vem à consciência diretamente e, com certeza, é opinião de muitos que tal conhecimento existe e chega à nossa consciência através de um sexto sentido.

Muitos psicólogos concordarão com o fato de que muitas pessoas recebem a solução de um problema por inspiração. Mas eles tendem a negar que esta percepção constitui prova suficiente da existência de uma faculdade intuitiva especial, mesmo não podendo negar o fato de que o conhecimento inspirado veio realmente à consciência.

Há uma relação íntima entre intuição e misticismo. Visto que o misticismo é a base fundamental da filosofia templária, devemos sempre, em última análise, correlacionar qualquer princípio que consideramos como filosofia com o conceito básico do misticismo.

A intuição, que conforme sabemos, funciona em diferentes tipos de situações cognitivas, é, em seu significado geral, aquilo que diz respeito ao súbito sentimento que uma pessoa tem de um certo conhecimento, para o qual não há nenhuma prova aparente, além do poder que a convicção estabeleceu no interior da consciência.

Muitos exemplos da função da intuição ocorreram com notáveis figuras históricas, por meio de visões, iluminação interior, vozes interiores e outras experiências deste gênero. Comumente, essa intuição tem o efeito de transformar repentinamente os conceitos metafísicos, morais e religiosos da pessoa. Em muitos casos, esses incidentes provocaram uma completa reorganização de toda a vida. Em todas as épocas e lugares, incidentes desta natureza têm sido experimentados por muitas pessoas.

Em um famoso trecho de “O Simpósio”, afirma Platão que, após tentar laboriosamente ascender ao reino de ideias que existe no Absoluto, pela disciplina de várias formas terrenas de existência, tornou-se capaz de alcançar uma visão da beleza eterna que transcende toda a beleza física.

Sócrates e Joana D’Arc, muito diferentes em suas crenças, cultura, época e lugar onde viveram, ouviram vozes interiores em momentos críticos da vida, e encontraram um caminho para a realidade através do conhecimento assim revelado. São Paulo teve uma visão na estrada para Damasco que o transformou, de perseguidor da cristandade, em seu melhor defensor.

Estas formas de intuição caracterizam a maneira como o conhecimento está relacionado com a experiência mística.

Qualquer um de nós pode experimentar a intuição, e efetivamente nós a experimentamos, em muitas e diferentes situações da vida. Os exemplos históricos foram dados apenas como ilustração, pois a intuição é um fenômeno universal e nos permite resolver os mais variados problemas, além de nos dotar do conhecimento esotérico que nos eleva e refina.

O místico é a pessoa capaz de elevar sua consciência ao ponto em que transcende o mundo físico em que vive, a ilusão do mundo, e alcança a percepção de que existe uma realidade divina com a qual pode sentir-se uno. Para o místico, o conhecimento consiste na capacidade de perceber o Absoluto, de se relacionar com Deus, de se elevar acima das limitações do mundo dos fenômenos físicos e entrar em contato, individualmente, com o reino do conhecimento esotérico.

Entre o conhecimento exotérico e esotérico, qual o mais importante? Em certo ponto, é mais importante obtermos o conhecimento esotérico. Não podemos esquecer, entretanto, que estamos destinados a viver num mundo físico e alcançar a compreensão dos princípios que o regem. O universo não foi criado por Deus para divertimento e espanto de Suas criaturas. O agnóstico pode reconhecer que existe uma realidade e ao mesmo tempo afirmar que o homem nunca poderá conhecê-la.

Há um véu, entre o homem, em seu estado atual, e Deus; esse véu, porém, pode ser levantado, o santuário pode ser visitado, o incognoscível pode se tornar cognoscível. O caminho para o incognoscível desenvolve-se pelo conhecimento. É por meio da ilusão daquilo que parece ser a realidade que podem nos aproximar do conhecimento da verdadeira realidade, e apreendê-la. O homem não passa de um espelho do universo, um pequeno mundo no interior do grande mundo. Mas mesmo este pequeno mundo faz parte integrante da realidade e de tudo aquilo que a criou.

Se aceitarmos a existência do conhecimento esotérico e o ponto de vista da filosofia idealística proposta pelos templários, compreendemos que somos entidades existentes no interior de um mundo físico, lutando para nos libertar dele para alcançar a completa e final fusão com o Real. Para a pessoa comum, que não costuma pensar, pode parecer que tudo seja realidade e ilusão.Ou seja, ela tende a presumir que tudo que pode perceber é realidade e tudo mais é ilusão. Essa pessoa pode presumir que apoia um conceito religioso ou uma filosofia básica, mas na verdade acredita que tudo que não pode ser comprovado fisicamente pertence puramente ao mundo da ilusão.

Este conceito será invertido para a pessoa que verdadeiramente busque o conhecimento esotérico. Ela verificará que vivemos num mundo de ilusão (que todo o mundo físico existe apenas como instrumento incidental, um lugar incidental de ação). Em nossa vida, lembramos com prazer ou mágoa uma paisagem, uma cidade, uma ocasião, dependendo da impressão que nos tenham causado. Talvez nunca vejamos novamente aquele lugar, que foi um incidente isolado na experiência global de nossa vida. Do mesmo modo, cada vida terrena que experimentamos será como um incidente isolado na totalidade da nossa existência, quando alcançarmos o ponto em que poderemos olhar para trás e examinar o propósito de nosso ser individual. Graças às nossas experiências nessas vidas terrenas isoladas, teremos experimentado o que é real e o que é ilusório, e entrado em completa e final associação com o Real. Somos a essência da totalidade dessas vidas.

Portanto, a totalidade da existência inclui o bem e o mal, a luz e as trevas, o exotérico e o esotérico, o material e o espiritual. Todas estas coisas dizem respeito ao mundo dos fenômenos. Deus é a força que se infunde em tudo isso; Ele está em tudo e a tudo transcende. Se podemos chamar esta manifestação de substância da existência, natureza do Absoluto, então podemos compreender que Deus é a existência de todas as coisas. Ele é Luz Absoluta, e transcende o oceano de ilusão que constitui o mundo em que vivemos.

Com este ponto de vista em mente, parece impossível contestar a existência da alma, que é um conceito puramente esotérico. O fato de haver ou não uma vida após a morte, não é importante; existe prova da continuidade do Ser e por isso é lógico admitir a continuidade da vida. Quaisquer que sejam os imensos períodos de tempo a se estenderem diante da alma, em suas jornadas por muitas experiências físicas e seus muitos corpos físicos, existe ao mesmo tempo uma consciência a se ampliar constantemente, uma visão a se expandir infindavelmente, que tem por fim a final integração com o Absoluto.

A imortalidade é a única existência de que estamos conscientes. É um outro nome para a existência total e inclui o passado, o presente e o futuro. Toda a vida, tal como compreendida na imortalidade, pode verdadeiramente proporcionar maravilhosas experiências. Agora, ou no futuro, a verdade e os ideais podem ser apreendidos. Estes são os valores reais, que podem se tornar conhecidos para o homem através dos sentidos físicos e da intuição, ou seja, exotérica e esotericamente. Eles existem eternamente. Nada é destruído; a ideia de total destruição de uma consciência individual pode ser abandonada.

O universo, com tudo que contém, deverá ser finalmente reabsorvido por Deus, de onde emanou, mais enriquecido, de um modo misterioso, para sua existência em termos de tempo e espaço.

A gota que cai no oceano não se perde, apenas torna-se unificada com sua fonte. Podemos facilmente compreender que as possibilidades que se abrem ante a alma confinada neste universo de ilusão podem incluir muitas experiências de fantástica beleza. Podemos nos sentir seguros de que as experiências reservadas para a alma, quando a realidade tiver sido completamente compreendida, deverão ser indizivelmente mais gloriosas.

Por meio do conhecimento exotérico, compreendemos o mundo dos fenômenos. Por meio do conhecimento esotérico, intuitivo, espiritual, emocional e místico compreendemos, cada vez mais, os mistérios do reino da Realidade Absoluta, e dele nos aproximamos e nele mitigamos a nossa sede intrínseca de perfeição.

MENTES E CORAÇÕES ABERTOS

Há séculos, mentes inquiridoras têm demonstrado seu interesse sobre o significado da vida. O reconhecimento de que ela, a vida, não consiste apenas em comer, beber, dormir, em sexo e em posses. Mas o que é esse significado? Podemos algum dia encontrá-lo? As muitas perguntas sem respostas tornam o homem um ser que busca. Buscar significa “questionar”, abandonar todas as posturas rígidas, tornar-se flexível, fazer uma abertura interior para acolher, sem preconceitos, ideias novas e inusitadas.

É difícil satisfazer essa exigência de abertura mental, mais do que normalmente se pensa. Facilmente sucumbimos à tendência de fixação no conhecido e no habitual. Tudo o que é o novo desencadeia medo e mobiliza os mecanismos de defesa. Assim, muitos pensamentos e afirmações provocarão alguma resistência. Ninguém abandona com facilidade os seus queridos clichês e convicções para substituí-los por critérios novos. Contudo, é isso o que temos que fazer: abrir nossa mente, nosso espírito, colocar para baixo nossas defesas, se quisermos que a evolução e a expansão da consciência seja um objetivo a ser alcançado.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/conhecimento-exot%C3%A9rico-e-esot%C3%A9rico

V de Vingança, Guia de Referências

Estas anotações sobre a série  V for Vendetta de Alan Moore foram preparadas por uma classe de graduação em Pesquisa Literária, sob a direção do Dr. James Means, da Universidade Estadual do Noroeste da Louisiana, durante a primavera de 1994. Na realização destas anotações, adotou-se um sistema que permite ao leitor seguir cada entrada facilmente.

O primeiro número indica a página na qual a entrada original pode ser achada. O segundo número indica a linha de arte, numerada de cima para baixo; a maioria das páginas tem três linhas de arte, enquanto algumas tem menos. Finalmente, o último número indica a coluna, numerada da esquerda para a direita.

PARTE 1

-, -, – Europa Depois do Reino (título – Na versão da Ed. Globo: O Vilão)

O título do primeiro livro refere-se à pintura Europa Depois da Chuva de Max Ernst, e retém dentro dela implicações de reviravoltas climáticas de um ataque nuclear próximo. Depois do Reino certamente se refere à dissolução da realeza com um certo anel ominoso, da mesma maneira que o título da pintura implica um grande peso em cima de todo continente. A imagem da página do título, de uma única mão enluvada (que com certeza indica tempo frio) colocando algo pesado e sombrio sob a superfície, contribui para a natureza ominosa. A pintura, intitulada L’Europe Apres la Pluie, foi criada entre 1940 e 1942. É descrita como uma cena fúnebre cheia de ruína e putrefação, povoada apenas por criaturas bestiais que vagam solitárias ao redor, (pg. 44-45). Ernst tinha criado trabalhos semelhantes que implicavam os arruinados, os fossilizados, os inanimados; superfícies parecem estar decadentes, corroídas por ácido e perfuradas com inúmeros buracos como a superfície de uma esponja, (pg. 44).
Durante algum tempo antes da Segunda Guerra (trabalhando na técnica chamada de decalcomania, datando de 1936, 37, 40 – será que foi realmente antes da guerra? Onde ele estava neste momento? Estava sendo posto em vários acampamentos, sendo reposto em outros, fugindo e finalmente voando para a América (pg. 94). Mas foi depois da sua “premonição de guerra traduzida em realidade” que ele fugido para a América. Lá, assombrado pelas recordações de uma Europa feita em pedaços, ele criou a composição também chamada Europa Nach dem Regen que se traduz como A Europa depois da Chuva ou A Europa depois da Inundação (pg. 44).
Ernst nasceu em 1891 em Bruhl, sul de Colônia, às margens do Reno (pg. 29). As suas pinturas descrevem freqüentemente um mundo no qual a história de gênero humano foi apagada completamente por um evento cataclísmico no Universo … ou pelo ato consciente de revolução que destruiu tudo (pg. 8). Em 1925, o melhor amigo dele, Paul Eluard escreveu sobre a atitude mental de Ernst, que buscou destruir toda a cultura que foi herdada ou não como resultado de experiência pessoal, como se fosse um tipo de esclerose na sociedade Ocidental: ‘Não pode haver nenhuma revolução total mas somente revolução permanente. Como o amor, é a fundamental alegria de viver’ (nota de rodapé, pg. 8).
Ernst participou de exibições dadaístas onde os observadores destruíram a sua arte e observaram seus pedaços pregados na paredes e espalhados no chão. Para alcançar a galeria onde se desenrolou o evento, espectadores atravessaram o lavatório de uma cervejaria onde uma menina vestida como uma beata que acabou de receber a comunhão recitava versos lascivos. A exibição foi fechada sob a acusação de fraude e obscenidade (baseado na estampa de Adão e Eva de D’rer, que tinham sido incorporada em um das esculturas de Ernst). Subseqüentemente, ela foi reaberta.
De acordo com Hamlyn, o evento foi realizado para embaraçar e provocar o público (nota, página 8). Este elemento de drama e provocação também é uma linha seguida em V de Vingança.

1, 1, 1, O 5 de Novembro…

Esta é a primeira referência ao dia de Guy Fawkes, o aniversário do dia em que Guy Fawkes foi pego no porão de Parlamento com uma grande quantidade de explosivos. Fawkes era um extremista católico e um herói militar que se distinguiu como um soldado corajoso e de fria determinação, através de suas façanhas lutando com o exército espanhol nos Países Baixos (Encyclopaedia Britannica 705). Ele foi recrutado por católicos insatisfeitos que conspiraram para explodir o Parlamento e matar o rei James I. James tinha trabalhado para instituir uma multa à pessoas que se recusassem a comparecer as missas anglicanas (Encyclopaedia Britannica 571), somando isso à opressão que os católicos já sofriam na Inglaterra. Um do conspiradores alugou uma casa que compartilhava parte de seu porão com o Parlamento, e o grupo encheu esse porão de pólvora. Fawkes foi escolhido para iniciar o fogo, e foi determinado que ele devia escapar em quinze minutos antes da explosão; se ele não pudesse fugir, ele estaria totalmente pronto para morrer por tão sagrada causa, (Williams 479). Um dos conspiradores tinha um amigo no Parlamento; ele advertiu o amigo para não estar presente na abertura durante o dia escolhido para o atentado, e o paranóico rei James imediatamente descobriu o complô. Fawkes foi pego no porão e foi torturado. Ele foi executado exatamente em frente ao Parlamento no dia 31 de janeiro de 1606.

2, 3, 2, Utopia (livro na estante)

Este foi o mais famoso trabalho de Sir Thomas em 1516 (Sargent 844) no qual ele esboçou as características humanitárias de um sociedade decente e planejada, (Greer 307) uma sociedade de comum propriedade de terra, liberalidade, igualdade, e tolerância (Greer 456).

2, 3, 2, Uncle Tom’s Cabin (livro na estante)

Escrito por Harriet Beecher Stowe e publicado em 1852, este romance fala sobre os deprimentes estilos de vida dos negros escravos no Sul dos EUA, contribuindo enormemente com o sentimento popular de anti-escravidão (Foster 756-66).

2, 3, 2, O Capital (livro na estante)

Este foi a obra máxima de Karl Marx, publicada em 1867. Foi seu maior tratado sobre política, economia, humanidade, sociedade, e governo; Tucker o descreve como a mais completa expressão (de Marx) de visão global.

2, 3, 2, Mein Kampf (livro na estante)

A biográfica proclamação das convicções do líder nazista Adolf Hitler, Mein Kampf (Minha Luta), foi escrita durante o seu encarceramento após a sua primeira tentativa de golpe contra o governo bávaro, em 1923 (Greer 512). Sem nenhuma dúvida, Moore quis ironizar ao colocar este trabalho próximo ao de Marx, Já que a extrema-direita nazista era forte oponente do comunismo.

2, 3, 2, Murder in the Rue Morgue (cartaz de filme)

Os Assassinatos da Rua Morgue. Este foi um filme de horror de 1932, produzido pela Universal. Foi uma importante adaptação da história de Edgar Allen Poe, estrelada por Bela Lugosi, um famoso ator do gênero. É sobre uma série de terríveis assassinatos que se supõe ser o trabalho de um macaco treinado (Halliwell 678). Esta referência pode conter alguns sinais sobre os métodos de investigação de V para os seus ataques contra o sistema, e suas características de serial killer.

2, 3, 2, Road to Morocco (cartaz de filme)

Este filme de 1942 da Paramount foi um de uma série de leves comédias românticas estreladas por Bing Crosby e Bob Hope como dois ricos playboys que viajam ao redor do mundo tendo tolas aventuras (Halliwell 825).

2, 3, 2, Son of Frankenstein (cartaz de filme)

O Filho de Frankenstein. Filme de horror de 1939 da Universal, Son of Frankenstein foi o último de uma trilogia clássica. Foi estrelado por Boris Karloff, um famoso ator de filmes de terror, e envolveu o retorno do filho do barão e seu subseqüente interesse por ele (Halliwell 906).

2, 3, 2, White Heat (cartaz de filme)

White Heat, feito em 1949 pela Warner, estrelado por James Cagney. O enredo envolvia um gângster violento com fixação por sua mãe que finalmente cai após a infiltração de um agente do governo em sua gangue (Halliwell 1073). Esta pode ser outra importante indicação, de como V também derruba o violento e disfuncional líder do partido se infiltrando através de suas fileiras.

3, 1, 3, …E novamente tornar a Bretanha grande!

Este é um sentimento tipicamente “nacionalista”. O nacionalismo europeu, que tem suas raízes na Guerra dos Cem Anos (Greer 269-275), é o conceito de que cada nação tem que manter em comum uma única cultura e uma única história e no qual se considera, inevitavelmente, que uma nação é melhor que as outras. Foi este sentimento, levado a seus extremos, que levou o partido nacional-socialista trabalhista de Hitler (o nazismo) a tentar livrar a Alemanha dos “não-alemães”. (Wolfgang 246-249).


4, 3, 3, The Multiplying vilanies of nature do swarm upon him… (de vilanias tão cumulado pela natureza…).

Esta é uma fala do Sargento no Ato I, cena II, de MacBeth, de Shakespeare (766).

7, 1, 1-2 Lembrai, lembrai do 5 de novembro, a pólvora, a traição, o ardil. Por isso, não vejo por que esquecer uma traição de pólvora tão vil.

Esta é uma versão de uma rima infantil inglesa. Em busca por um poema confirmatório, eu procurei no The Subject Index to Poetry for Children and Young People (1957-1975) que apresenta cinco coleções de poemas onde se incluiam versos sobre Guy Fawkes (Smith e Andrew 267). Um destes, Lavender’s Blue, incluiu a seguinte versão feita em, pelo menos, 1956:
Please to remember the fifth of November
Gunpowder, treason and plot
I see no reason why gunpowder treason
Should ever be forgot (Lines 161)
Cuja tradução é:

Agradeça por lembrar do 5 de novembro
A pólvora, a traição e o complô
Eu não vejo nenhuma razão por que tal traição de pólvora
Deveria para sempre ser esquecida (linha 161)
O Oxford Dictionary of Quotations atribui esta versão a uma canção de ninar infantil anônima de 1826 (Cubberlege 368), e as primeiras duas linhas como sendo tradicionais desde o século 17, (Cubberlege 9).

7, 1, 2, A explosão do Parlamento…

Nesta cena, V teve sucesso onde Fawkes falhou; a posição dele e de Evey em oposição ao Parlamento é, provavelmente, significativa, como se fosse a posição oposta ao Parlamento em que Fawkes foi enforcado (Encyclopaedia Britannica 705).

7, 2, 2, Os fogos de artifício em forma de V

Isto se refere à prática comum de explodir fogos de artifício no dia de Guy Fawkes como parte da celebração (Encyclopaedia Britannica, p.705). Também é provavelmente uma referência a ‘Arrependa-se, Arlequim!’ Disse o Ticktockman (algo como homem Tique-taque) por Harlan Ellison.
9, 3, 1, Inglaterra triunfa
Este sentimento parece muito com o impulso em um verso da peça Alfred: Uma Máscara, de James Thomson, de 1740 (Ato III, última cena):

When Britain first, at heaven’s command, Arose from
out the azure main,
This was the charter of the land, And guardian angels
sung this strain:
Rule Britannia, rule the waves; Britons never will be
slaves. (Cubberlege 545)
Cuja tradução é:

Quando a Inglaterra primeiro, ao comando do céu, Surgiu do
mar azul-celeste,
Esta foi a escritura da terra, E anjos guardiões
cantaram esta melodia:
Comande Britannia, comande as ondas; Bretões nunca serão
escravos. (Cubberlege 545).

12, 2, 3, Frankenstein (livro na estante)

Este é uma famosa explanação de ficção ciêntífica/social de 1818, por Mary Wollstonecraft Shelley. De acordo com Inga-Stina Ewbanks, é sobre o eterno tema da criação do homem que fica além de seu poder de controle, (5).

12, 2, 3, Gulliver’s Travels (livro na estante)

As viagens de Gulliver. Este foi um romance utópico escrito em 1726 por Jonathon Swift, um satírico escritor social inglês que passou a maior parte de sua vida na Irlanda (Adler ix-x).

12, 2, 3, Decline and Fall of…? (livro na estante)

Este, provavelmente, deve ser o trabalho de Edward Gibbs, The History of the Decline and Fall of the Roman Empire (A História do Declínio e Queda do Império Romano), mais comumente conhecido como The Decline and Fall of the Roman Empire (O Declínio e Queda do Império Romano). A coleção de seis volumes foi escrita entre 1776 e 1788, e é considerada como uma das melhores histórias já escritas (Rexroth 596).

12, 2, 3, Essays of Elia Lamb (livro na estante)

Elia, ou Charles Lamb, primeiro publicou seus famosos ensaios nas páginas da London Magazine, de 1820 a 1825, posteriormente encadernados em dois volumes, publicados em 1923 e 1833. Seus ensaios são considerados como pessoais, sensíveis e profundos (Altick 686-87).

12, 2, 3, Don Quixote (livro na estante)

Este foi um romance satírico sobre cavalaria, escrito por volta de 1600 (Adler) pelo autor espanhol Miguel de Cervantes. Seu herói é um caricatural cavaleiro romântico que é desesperadamente idealista (Greer 307).

12, 2, 3, Hard Times (livro na estante)

Charles Dickens escreveu este quase solitário ataque à… industrialização em 1854. Ele se justapõe aos sérios e aplicados industriais com um circo criativo e divertido que vem à cidade na qual o romance se desenrola (Ewbanks 786). Provavelmente pode ter servido de apelo ao senso de drama de V e sua vitória sobre as mazelas.

12, 2, 3, French Revolution (livro na estante)

Este volume pode ser sobre qualquer história passada durante a Revolução Francesa, ou sobre a própria Revolução Francesa, que ocorreu entre 1787 e 1792.

18, 2, 3, Faust (livro em estante)

O famoso poema de Goethe, Fausto, foi publicado no início de 1808. Ele reconta uma lenda renascentista sobre um doutor que barganha com o diabo por juventude e poder. A segunda parte, postumamente publicada, foi um tratado filosófico no qual a alma de Fausto é salva porque ele ama e serve tanto a Deus quanto a humanidade, apesar dos seus erros. Este Fausto é considerado como a encarnação do “moderno” ser humano (Greer 426).

12, 2, 3, Arabian Nights Entertainment (livro na estante)

As Mil e Uma Noites. Este livro é uma coleção de histórias folclóricas originárias da Índia, mas que foi levada para a Persia e para a Arábia. Embora iniciadas na Bagdá do século 8 ou 9, elas retêm muitos mais características do Egito do século 15, onde foram formalmente traduzidas (Wickens 164).

12, 2, 3, The Odessey (livro em estante)

A Odisséia. Um dos dois históricos poemas épicos gregos, feitos por volta de 800 A.C. e escritos por Homéro. Embora a identidade de Homéro seja incerta, e ele pode ter sido até mesmo um arquetípico personagem de si próprio, A Odisséia é uma aventureira história sobre o retorno de gregos que viram heróis que atravessam mares bravios (Greer 66).

12, 2, 3, V (livro em estante)

O romance V, escrito em 1963 por Thomas Pynchon, é considerado um dos primeiros importantes trabalhos pós-modernos. Ele combina pedaços de história, ciência, filosofia, e psicologia pop com personagens paranóicos e metáforas científicas. O trabalho de Pynchon é descrito como uma variação entre a ‘cultura intelectual’ e o meio termo da cultura pop underground das drogas, (Kadrey e McCaffery 19). Isto também pode ser dito tanto sobre a Galeria Sombria como sobre o próprio livro de V de Vingança.

12, 2, 3, Doctor No (livro na estante)

Ian Fleming, um ex-agente de inteligência britânica, escreveu este romance de espionagem em 1958. Os romances de Fleming eram supostamente baseados na vida que teve como um espião (Reilly 320).

12, 2, 3, To Russia With Love (livro na estante)

Outros dos romances de Fleming, este aqui foi escrito em 1957 (Reilly 320).

12, 2, 3, Illiad (livro na estante)

Outro poema de Homéro, A Ilíada fala sobre a violenta e sangrenta guerra de Tróia.

12, 2, 3, Shakespeare (2 volumes na estante)

Shakespeare foi um escritor elizabetano de peças de teatro cujos dramas e sonetos são considerados trabalhos clássicos do renascimento humanista (Greer 307).

12, 2, 3, Ivanhoe (livro na estante)

Um dos dramáticos romances históricos de Sir Walter Scott, Ivanhoe, foi escrito em 1820 (Greer 425).

12, 2, 3, The Golden Bough (livro na estante)

O exaustivo décimo terceiro volume do trabalho de James G. Frazer sobre superstições primitivas foi publicado primeiro em 1890. A estante de livros de V contém um único volume do trabalho.

12, 2, 3, Divine Comedy (livro em estante)

A Divina Comédia. Esta é uma obra-prima da literatura italiana, escrita por Dante Alighieri. Começada por volta de 1306 e terminada com a morte de Dante em 1321, ela trata da viagem do autor através da vida após a morte.

12, 3, 3, Martha and the Vandellas

Um grupo musical de Rhythm-and-Blues, produzido e distribuído pelo selo Motown Record entre 1963 e 1972. Eles tiveram seu começo como cantores de apoio de Marvin Gaye, outra estrela da Motown, e então se lançaram para uma carreira de sucesso como artistas agressivos e extravagantes. A canção Dancing in the Streets foi lançada em 1964. (Sadie 178).

12, 3, 3, Motown

Motown foi uma gravadora independente, de propriedade de afro-americanos, fundada em Detroit (também conhecida como Motortown, ou a Cidade dos Motores), Michigan. A palavra também descreve o distinto estilo de música pop-soul que trouxe sucesso à gravadora. Este Motown sound foi extraído do blues, do rhythm-and-blues, do gospel e do rock, mas diferente destes outros estilos musicais afro-americanos, também contou com algumas das práticas de música popular anglo-americana socialmente aceitas, e isto obscureceu algumas das mais vigorosas características da música afro-americana (Sadie 283).

13, 1, 2, Tamla e Trojan

Não consegui determinar nenhuma referencia para Tamla e Trojan. Como Motown se refere tanto a gravadora quanto para o estilo de música que ajudou a popularizar, eu não sei que relação Tamla teve com os outros grupos mencionados. Como os outros indivíduos mencionados são reais, eu acredito que Tamla e Trojan tenham existidos, mas não pude achar nenhum registro sobre eles.

13, 1, 2, Billie Holiday

Famosa Cantora de jazz, Billy Holiday foi extremamente popular entre os intelectuais brancos de esquerda de Nova Iorque. Ela gravou com alguns dos melhores do jazz, incluindo Benny Goodman e Count Basie. Ela acabou em um mundo de drogas, álcool e abusos, e morreu em 1959, com a idade de 44 anos (Sadie 409-410).

13, 1, 2, Black Uhuru

Este grupo foi uma das mais famosas bandas de reggae da Jamaica. Foi formada no ano de 1974 em Kingston (Sadie 46-47). Reggae é um típico estilo de dance music jamaicano, influenciado tanto pela música afro-caribenha quanto pelo Rhythm-and-Blues americano (Sadie 464).

13, 1, 2, A Voz do Dono…

O logo da RCA trazia um cachorro fitando o cone de um gramofone (um dos primeiro toca-discos), simbolizando o reconhecimento do animal pela voz de seu dono.

13, 3, 3, Aden

Aden tanto foi o outro nome para os habitantes da República democrática de Iêmen (o Iêmen do Sul) como a cidade da capital do país. O país que agora é fundido com o Iêmen do Norte, ocupou a extremidade Meridional da Península árabe, no sul de Arábia Saudita. Os britânicos o colonizaram, e mantiveram controle parcial ali até que o país se tornou uma república marxista em 1967 (Encyclopaedia Britannica 835). Embora a idade de Prothero não seja mencionada, ele parece ter cerca de 50 anos; é provável que ele tenha servido como soldado imediatamente antes da revolução de Iêmen. Assim, ele seria um jovem durante a revolução de 1967, e cerca de 40 durante os seus anos como chefe no Campo de Readaptação de Larkhill.

18, 3, 1, V num círculo

Este símbolo apresenta semelhanças com o sinal de anarquia de um A num círculo, e também com a dramática inicial de Zorro (Stolz 60).

19, 1, 2, Rosas “Violet Carson”

A Violet Carson é uma rosa híbrida introduzida em 1963 (Coon 201) ou 1964 (Rosas Modernas 7 432) por S. McGredy. É uma criada pelo cruzamento de uma Madame Leon Cuny com uma Spartan. É descrita como uma flor colorida, com creme (Coon 201) ou prata (Rosas Modernas 7 432) por sob as pétalas, e tem um arbusto robusto e espalhado. Não parece ser de uma variedade muito comum, e é listada em publicações de sociedades idôneas de rosas mas não em livros dirigidos a um leitor casual, assim é incerto como Finch pode tê-la reconhecido imediatamente.

20, 1, 3, The Cat (cartaz de filme)

O cartaz para um filme chamado The Cat pendurado na parede parece descrever um homem que segura uma arma. O único filme que pude achar com este título, porém, foi um drama francês de 1973 sobre a relação pouco comunicativa entre uma amarga estrela de trapézio e seu marido (Halliwell 168).

20, 1, 3, Klondike Annie (cartaz de filme)

Um filme de 1936 da Paramount, Klondike Annie foi estrelado por Mae West, como uma ardente cantora em fuga que, disfarçada como uma missionária, revitaliza uma missão no Klondike (Halliwell 542). Alguns dos filmes descritos nos cartazes parecem ter atraído V apenas por propósitos de entretenimento. Porém, este aqui pode dar o leitor uma pista sobre o caráter de V. Ele tanto está em fuga, disfarçado, quanto tenta revitalizar toda uma nação.

20, 1, 3, Monkey Business (cartaz de filme)

Este filme de 1931 dos irmãos Marx, feito pela Paramount, narra as artimanhas de quatro passageiros clandestinos em um navio que bagunçam uma festa social a bordo, onde eles capturam alguns escroques (Halliwell 666). Esta é outra pista, pois V é um clandestino num sistema social que bagunça o sistema e capturas vários inimigos.

20, 1, 3, Waikiki Wedding (cartaz de filme)

Waikiki Wedding foi produzido em 1937 pela Paramount. Seu enredo envolve um agente de imprensa que está no Havaí para promover uma competição de A Rainha do Abacaxi (Halliwell 1050).

21, 3, 2, Salve uma Baleia (camiseta)

Por causa da ameaça de extinção das baleias, muitas pessoas nos anos 70 começaram a usar camisetas e bottons proclamando que alguém deveria Salvar uma Baleia. Este sentimento veio a ser associado com política e ambientalismo “liberais”.

22, 1, 1, …Quando os Trabalhistas subiram ao poder…

De acordo com a Encyclopaedia Britannica, o Partido Britânico dos Trabalhistas é um partido reformista socialista com fortes laços institucionais e financeiros com os sindicatos. Em janeiro de 1981, devido a vastas mudanças internas, o Líder do partido trabalhista eleito foi Michael Foot, um militante socialista cuja política incluia o desarmamento nuclear unilateral, a nacionalização das indústrias-chaves, união de poder e pesados impostos (82), da mesma maneira que Moore descreve em Por Trás do Sorriso Pintado (271).

22, 1, 1, …Presidente Kennedy…

A implicação é que o presidente dos Estados Unidos ou é Ted Kennedy, senador democrata ou John Kennedy Jr, respectivamente, o sobrinho e o filho do ex-presidente John F. Kennedy.

23, 2, 1, Nórdica chama

Este provavelmente é o nome de um partido estadual, com todas as bandeiras e uniformes exibindo grandes N’s. Nórdica deriva dos nórdicos ou Vikings dos países escandinavos que invadiram a Europa nos séculos V e VI (Greer 183). Eles eram ferozes, fortes, e “arianos” – a população “idealizada” pelo partido nazista de Hitler: loira e de olhos azuis (Greer 513-514). A escolha desta imagem ajuda a identificar a política do governo.

27, 2, 3, O mundo é um palco!

Esta é uma citação da peça As You Like It, de Shakespeare, Ato II, cena VII. (Bartlett 211).
40, 2, 3, …voltamos às cinco.

Uma expressão popular para dar um intervalo vem de uma frase do show business, embora leis de sindicatos agora requeiram dez minutos de intervalo (Sergal 219).

46, 3, 2, Mea Culpa

Do latin eu confesso ou a culpa é minha (Jonas 69).

47, 1, 3 – Bring me my bow of burning gold, Bring me my arrows/ of desire, Bring me My spear, O clouds unfold, Bring/ me my chariot of fire…I will not cease from mental/ flight Nor shall my sword sleep in my hand ‘Till we/ have built Jerusalem In England’s green and pleasant/ land.


Este é parte do poema de William Blake, And Did Those Feet (E Fez Esses Pés), do prefácio à sua coleção Milton. O prefácio de Blake para este trabalho foi um chamado aos cristãos para condenassem os clássicos escritos de Homéro, Ovídio, Platão, e Cícero, venerados no lugar da Bíblia. Ele declarou: Nós não queremos modelos gregos ou romanos na Inglaterra; de preferencia, ele disse, seus companheiros Cristãos deveriam se esforçar para criar esses mundos de eternidade nos quais nós viveremos para sempre, (MacLagan e Russell xix). V está, a seu modo, tentando criar a sua idéia de Jerusalém, um mundo livre, na Inglaterra. A tradução é a seguinte:
Tragam meu arco de ouro candente,
Traga minhas flechas de desejo,
Tragam minha espada, ó nuvens que se desfraldam,
Tragam minha carruagem de fogo…
Eu não cessarei minha luta espiritual…
Nem descansarei a espada em minha mão…
Até termos erguido Jerusalém…
Nas terras verdes e aprazíveis da Inglaterra.

54, 2, 2, Por favor, deixe que eu me apresente. Eu sou um homem de posses… e bom-gosto!

Esta é a abertura da canção Sympathy for the Devil, dos Rolling Stones, lançada em 1968.
56, 3, 3, Eu sou o Demônio e vim realizar a obra demoniaca!
Finch descreve esta citação como vindo de um famoso caso de assassinato, quase vinte anos antes de 1997. Uma busca em almanaques dos anos 1974 a 1979 revela que o único caso famoso de assassinato naquele tempo foi o do Filho de Sam/David Berkowitz. Berkowitz foi condenado por matar seis pessoas e ferir outras sete em ataques aleatórios nas ruas de Nova Iorque entre 29 de julho de 1976 e 31 de julho de 1977. Não havia nenhum motivo aparente por trás dos assassinatos; Berkowitz os explicou dizendo que foi um comando. Eu tive um sinal e o segui (Delury, 1978, 942). Considerando esta citação, e a aparente insanidade de Berkowitz, na qual o fez interromper seu julgamento com violentos ataques, é provável que esta citação venha desse caso.

57, 2, 1-2: O Senhor é meu pastor: e nada me faltará; Em um lugar de pastos, ali me colocou. Ele me conduziu junto a uma água de refeição. Converteu minha alma, me levou pelas veredas da justiça, por amor de seu nome!

Esta é a tradução feita da seguinte versão inglesa do 23º Salmo do livro bíblico dos Salmos, usada originalmente na versão em inglês de V de Vingança:
The Lord is my shepherd: therefore I can lack
nothing; He shall feed me in green pasture and lead
me forth beside the waters of comfort. He shall
convert my soul and bring me forth in the paths of
righteousness, for His name’s sake…
Esta parece ser uma estranha versão deste salmo. Não é nada parecida com a versão padronizada pelo Rei James:

The Lord is my shepherd, I shall not want. He maketh
me lie down in green pastures; He leadeth me
beside the still waters. He restoreth my soul: he
leadeth me in the paths of righteousness for his
name’s sake. (Bartlett 18)
Procurei em várias bíblias e descobri que cada uma tinha uma versão diferente. Em uma versão bastante comum, da Holy Bible (versão católica padrão da Bíblia), lê-se:

The Lord is my shepherd, I shall not be in want. He
makes me lie down in green pastures, he leads me
beside quiet waters, he restores my soul. He guides
me in paths of righteousness for his name’s sake. (310)

PARTE 2

9, 3, 1, The Magic Faraway Tree, por Enid Bla?? (na tradução da Ed. Globo – A Árvore distante)

Embora muitos dos livros em V de Vingança sejam reais, este aqui parece ser uma das invenções de Moore. Nem o Oxdford Companion to Children’s Literature, nem a Science Fiction Encyclopedia incluem o seu título.

15, 1, 3, Ouvi falar de um experimento…

A experiência, que não foi tão dramática quanto descrita em V de Vingança, foi administrada na Universidade de Yale em 1963 por Stanley Milgram. Os voluntários não estavam realmente acreditando que estavam matando as vítimas, e 65% (26 de 40 voluntários) continuaram administrando o que eles acreditavam ser perigosos e severos choques em suas vítimas (Milgram 376).

23, 2, 3, … uma mistura de extrato de Hipófise e Pineal.

Moore se refere-se a uma mistura de substâncias extraidas das glândulas Pituitária e Pineal, embora eu duvide que tal mistura apresente os efeitos que Moore descreve na série. Deve ser apenas uma criação de Moore.

24, 3, 3, fertilizante de amônia

Alguns fertilizantes contêm amônia que, na presença de certas bactérias, pode ser transformada em nitrato, que é usada pelas plantas (Chittenden 99).

24, 2, 2, gás mostarda

Este gás foi criado para ser usado como arma química durante a Segunda Guerra Mundial. Causa severas vesículas na pele e irritação nos olhos. Sua estrutura química é (Cl2CH2CH2)2S (sulfeto de 1,1-dicloro-etil) (Enciclopédia Americana 679).

24, 2, 3, napalm

Napalm é um explosivo derivado da gasolina, também usado durante a Segunda Guerra Mundial (Enciclopédia Americana 724). Não acho que uma pessoa possa fazer Napalm ou gás mostarda a partir de ingredientes de jardinagem. (N. do T.: Como foi apontado por outras pessoas, há a possibilidade de produzir tais substâncias com produtos de jardinagem, dependendo, é claro, das condições de produção. Mas como estamos falando de uma obra de ficção, o autor deve ter admitido que, devido a sua impressionante natureza mental, o personagem V seria capaz de tais façanhas científicas).

53, 3, 2, As Dunas de Sal

Este não é um filme real. Halliwell não dá nenhuma referência desse filme, e parece servir apenas como um ponto secundário do enredo, como um popular filme de Valerie Page.

57, 2, 3, Storm Saxon

Este programa de televisão é (felizmente) outra invenção. The Complete Encyclopedia of Television Programs de 1947-1979, não inclui nenhum programa parecido. A escolha do nome Saxon (saxão) é importante; o Saxões foram os descendentes dos conquistadores escandinavos que povoaram a França e a Inglaterra no século V (Greer 178-179). Note que a companheira de Storm é uma mulher branca de cabelos loiros chamada Heidi – o modelo de perfeição da Pureza ariana!

58, 2, 2, …na N.T.V um!

Aparentemente, N.T.V. significa Norse Fire Television (Televisão da Nórdica Chama), e é a substituição para a BBC – TV, a corporação estatal de televisão e radiodifusão britânica (Greene 566). O um se refere ao número do canal. A B.B.C. atualmente vai ao ar pelos canais Um e Dois (Greene 566).

62, 1, 3, …A gente paga, e pra quê?!

A BBC não é um canal comercial; é mantida pela venda das licenças de transmissão, pagas por donos de aparelhos de televisão e de rádio.

PARTE 3

4, 1, 2, Imagem espacial

Este é Neil Armstrong, caminhando na superfície da lua. Armstrong, a primeira pessoa a caminhar na lua, deu seu histórico passo em 1968.

6, 3, 1, Hitler

Um das imagens na colagem ao fundo é de Adolf Hitler, líder do Partido Nazista alemão, a linha de extrema-direita do governo que comandou a Alemanha de 1933 a 1945 e executou aproximadamente 6 milhões pessoas, entre judeus, ciganos, homossexuais e outros prisioneiros políticos (Sauer 248).

6, 3, 1, Stalin

O quadro de Josef Stalin está incluído porque, como Hitler e Mussolini, ele está associado com a tirania violenta. Ele controlou a antiga União Soviética de 1929 a 1953; durante os anos entre 1934 e 1939, ele prendeu e matou seus inimigos políticos, que eram quase todos membros das camadas militar, política e intelectual do país (Simmonds 571-74)

6, 3, 1, Mussolini

Benito Mussolini, outro líder apresentado na colagem, foi um líder italiano que era quase igual à Hitler em despotismo. Embora ele tenha começado como um socialista pacifista, durante a primeira grande guerra, ele formou o seu partido fascista de direita. Ele foi o ditador da Itália de 1922 a 1943, e controlou o norte da Itália de 1943 a 1945, antes de ser executado (Smith 677-78).

7, 2, 1, Imagem de tropas marchando (ao fundo)

Estas são as tropas nazistas do exército de Hitler.

A partir de agora, vamos acompanhar, por conveniência, a numeração das páginas do livro dois de V de Vingança, publicado pela Via Lettera.

17, 2, 1, … alguém que se espelha numa bandeira vermelha…

Historicamente, bandeiras vermelhas simbolizaram o movimento anarquista ou o comunista, ou ambos.

17, 3, 1, …Quero a emoção… da vontade triunfante…

 

Esta linha da canção no caberé se refere o famoso filme-documentário de propaganda nazista, The Triumph of the Will (O triunfo da Vontade, produzido por Leni Riefenstahl em 1934. O filme descreve um comício ao ar livre do partido nazista em Nuremburg como uma experiência mística, quase religiosa, da mesma maneira que a cantora está encenando (Cook 366).

18, 1, 2, …se um gato loiro…
Outra referência ao ideal da raça ariana.

18, 1, 2, O Kitty-Kat Keller

O nome da boate é uma referência ao clube burlesco Kit Kat Klub, do filme Caberet durante a subida de Hitler ao poder numa Alemanha pré II Guerra mundial. Ambos apresentam as iniciais KKK, que leva a uma inevitável associação com a infame organização racista Ku Klux Klan.

18, 3, 1, Faz ‘heil’ pra mim…

Mais uma referência ao nazismo; heil era a saudação verbal dada à Hitler com o braço direito levantado e a palma da mão virada para baixo.

43, 3, 2, …um show de marionetes muito especial…

O show que o pai de Evey menciona, e que vemos representado na página 34 é um tipo de show de marionetes conhecido como Punch & Judy, que se originou na Itália antes do século XVII. É um espetáculo extremamente violento; o boneco Punch geralmente bate nos outros personagens até a morte. Como V, Punch sempre destrói seus inimigos (Encyclopedia Americana 6).

PARTE 4

15, 2, 1, Arthur Koestler, As Raízes da Coincidência

Koestler foi um jornalista humanista e intelectual do início do século XX. Este trabalho trata de fenômenos paranormais [Enciclopédia Americana (530-31)].

34, 3, 1, 1812 Overtune Solennelle

Este peça musical, escrita em 1880 por Peter Ilich Tchaikovsky, foi a consagração da Catedral de Cristo de Moscou. A catedral foi construída em agradecimento à derrota de Napoleão em 1812. O trabalho incorporou um velho hino russo, e incluiu tanto o hino nacional francês, a Marseillaise, para representar a invasão de Napoleão e God Save The Czar (Deus Salve o Czar) para simbolizar a vitória de Rússia. Moore provavelmente escolheu este trabalho tanto pelo seu som revolucionário, quanto por um motivo incomum: a orquestração original incluía sons de tiros de um campo de batalha que o maestro produzia ao acionar interruptores elétricos (Adventures in Light Classical Music 34), uma ação que V imita com suas bombas.

48, 3, 1, Ordnung

Palavra alemã que significa, nesse caso, ordem, disciplina (Betteridge 452).
Aparentemente, na edição da Via Lettera, a grafia está errada: a palavra está escrita como Ordung.

48, 3, 2, Verwirrung

Palavra alemã que significa confusão, perplexidade, desordem (Betteridge 686).

49, 1, 1, Rodando em giro cada vez mais largo,/ O falcão não escuta o falcoeiro;/ Tudo esboroa…/… o centro não segura.

Estas palavras são do poema de William Butler Yeats, The Second Coming (A Segunda Vinda), que fala sobre uma figura que representa Cristo/anti-Cristo que sustenta a caótica história da humanidade (Donoghue 95-96). Isso ilustra visão de V de um mundo caótico, mas V acredita que como resultado do caos virá a ordem. Isto também está prenunciado, pois V representa um Cristo/anti-Cristo e Evey é a segunda vinda. O trecho em inglês do poema original é o seguinte:
Turning and turning in the widening gyre the
Falcon cannot hear the falconer.
Things fall apart…
the centre cannot hold.

54, -, – Todavia, como se diz, vale tudo no amor e na guerra. Como, no caso, trata-se de ambos, maior a validade./ Embora ostente os cornos de um traído, não serão/ eles uma coroa que usarei sozinho./ Como vê, meu rival, embora inclinado a pernoitar fora,/ Amava a mulher que tinha em casa./ Há de se arrepender/ O vilão que roubou meu único amor,/ Quando souber que, há muitos anos…/ Eu me deito com o seu.

V fala freqüentemente, como ele faz aqui, em pentâmetro iambico, que é um esquema rítmico. Cada linha consiste em cinco pés métricos, cada um dos quais contêm duas sílabas, uma breve (átona) e uma longa (acentuada), (Encyclopedia Americana 688). Simplificando, um pentâmetro iambico é uma coluna de cinco estrofes, cada uma formada por um iambo, que é uma medida – um pé de verso – constituído de uma sílaba breve e outra longa. Falando em versos brancos, característicos de peças Jacobeanas, V presta uma homenagem. Era comum que os dramas Jacobeanos fossem uma peça de vingança, que V imita em mortal adaptação ao longo da história. O texto original em inglês é o seguinte:
Still all in love and war is fair, they say,
this being both and turn-about’s fair play.
Though I must bear a cuckold’s horns, they’re not a crown that I shall bear alone. You see,
my rival, though inclined to roam, possessed
at home a wife that he adored. He’ll rue
his promiscuity, the rogue who stole
my only love, when he’s informed how
many years it is since first I bedded his.


56, -, – A Queda dos Dominós (imagem)

Os dominós, que V tem colocado em pé desde o começo, estão prontos para cair. Na pequena história de Harlan Ellison ‘Repent, Harlequin!’ said the Ticktockman ( Arrependa-se, Arlequim! disse o Homem-Tick-Tack), o primeiro ato de terrorismo do Arlequim é descrito dessa forma:
Ele tinha tocado o primeiro dominó na linha, e um após o outro, em um ‘chik, chik, chik’, tinham caído.
‘Repent, Harlequin!’ said the Ticktockman demostra uma ridícula distopia onde o tempo é tanto os meios quanto os fins para o facismo; nisto, o atraso é erradicado pela constante exigência da vingança bíblica: se um indivíduo está dez minutos atrasado, dez minutos são tomados do fim de sua vida. Neste mundo, o Arlequim, disfarçado com uma fantasia de palhaço, consegue perturbar o tempo derramando 150.000 dólares em balas de mascar em uma multidão de transeuntes que esperam em uma calçada móvel. As balas de mascar, que são um mistério já que foram deixadas de ser fabricadas há mais de cem anos (como os fogos de artifício de V e o badalar do Big Ben na página 145 de V de Vingança), literalmente impede o funcionamento da calçada e anula todo o sistema desse mundo por sete minutos. Este ato faz do Arlequim um terrorista contra o estado, e o Mestre Controlador do Tempo (o Homem-Tick-Tack do título) tem que descobrir a identidade do encrenqueiro antes do sistema ser totalmente destruído. Muitos dos truques de V são semelhantes aos do Arlequim: ambos usam fogos de artifício para se comunicar com as massas, e ambos aparecem sobre edifícios para zombar das massas com canções ou poemas. O Ticktockman sabe, como Finch, que a identidade do Arlequimé menos importante que o entendimento de o que ele é. O Arlequim e V fundamentalmente representam idéias opostas àqueles que dirigem seus mundos, e ambos, embora usem de destruição, semeiam os que detém o poder para demolir as realidades que os consomem. Ambos são, de certa forma, celebridades, e ambos são inimigos do estado porque eles querem ser reformadores deste [uma referência à Civil Disobedience (Desobediência Civil) de Henry David Thoreau].

PARTE 5

1, 2, 2, Dietilamida de Ácido Lisérgico

Também conhecido como LSD ou LSD-25, esta droga é um psicotrópico que induz a um estado de psicose. Foi isolada pela primeira vez em Basle, Suíça, em 1938 por Albert Hoffman, que a sintetizou a partir de um fungo que ataca cereais, causando uma moléstia conhecida como ferrugem de gramíneas (Stevens 3-4).

2, 1, 1, Quatro tabletes

Hoffman também foi a primeira pessoa a experimentar a LSD-25. No seu primeiro experimento, ele usou 250 miligramas (Stevens 4). Ele experimentou uma violenta viagem e as doses subseqüentes foram reduzidas para menos de dois terços da quantidade inicial (Stevens 10). Assim, os quatro tabletes de Finch, cada um com 200 miligramas, era uma quantidade muito, mas muito excessiva.

5, 3, 1, …in nomini patri, et filii, et spiritus sancti…

Latim, da missa Cristã: Em nome do Pai, e do Filho, e do espírito santo.

7, 2, -, La Voie… La Verite… La Vie.

Estas palavras são francesas, e significam, respectivamente, o caminho (ou a estrada), a verdade, a vida.

7, 3,1, Stonehenge

Um dos maiores e mais completos monumentos de pedra dispostas da Inglaterra. Sua origem e propósito são desconhecidos, mas se acredita que tenha sido ou um tipo de local de observação astrológica, ou um lugar para cerimônias religiosas, ou ambos.

9, 1, 3, Everytime we say goodbye…I die a little./ Everytime we say goodbye, I wonder/ why a little. Do the gods above me, who must/ be in the know think so little of me they’d/ allow you to go?

A citação é de uma canção de Cole Porter intitulada Ev’ry time we say goodbye (Toda Vez Que Dizemos Adeus), do espetáculo de Porter, Seven Lively Arts, de 1944. Porter (1891-1964) foi um compositor americano que escreveu trabalhos sinfônicos de jazz e musicais. Ele é mais lembrado por sua adaptação da peça de Shakespeare, The Taming of the Shrew (A Megera Domada), no musical Kiss me, Kate (Lax and Smith 611; Havelince 200).
Uma tradução livre para esse trecho da canção é a seguinte:
Toda vez que dizemos adeus… Eu morro um pouco. Toda vez que dizemos adeus, eu desejo saber um pouco porquê.
Será que os deuses acima de mim,
que sabem tanto de tudo, pensam tão pouco em mim,
a ponto de permitir que você se vá?

9, 2, 2, Faze o que quiseres, Eve. Essa será a única lei!

Esta é a Lei de Thelema, de Aleister Crowley, em sua publicação de 1904, The Book of the Law (O Livro da Lei). Crowley foi um controverso e mal-compreeendido mago e ocultista dos meados do século XIX e início do século XX. Ele declarou que esse livro foi ditado a ele por seu espírito guardião, um deus-demônio, a encarnação de Set, um deus egípcio, a quem Crowley chamava de Aiwas. Embora alguns interpretem a lei como permissão para fazer pura anarquia, pode na verdade significar que alguém tem que fazer o que deve fazer e nada mais (Guiley, 76).

13, 1, 1, … uma história de Ray Bradbury que você me leu, sobre um trigal…

A história é A Foice, do livro The October Country. O livro contém outros nove contos, e aqui no Brasil foi publicado com o nome de Outros Contos do País de Outubro.

15, 2, 1, Eu estou esperando o homem.

Esta é uma citação da canção de Velvet Underground Heroin (Heroína) sobre um viciado que espera por sua conexão que vai trazer mais de sua droga para lhe vender.

15, 3, 3, Adeus, Minha Adorada (Cartaz)

Este filme de 1945, cujo título em inglês é Farewell, My Lovely, foi produzido pela RKO. Foi um dos primeiros filmes noir, um estilo caracterizado pelo violência e depravação de suas personagens, seu enredos complexos e sua fotografia sombria e de alto-contraste. Este filme foi adaptado de um romance de Raymond Chandler, e trata da procura de um detetive particular pela namorada de um ex-condenado (Halliwell 314).

21, 2, 2, Eva Perón…, Evita…e Não Chores por mim, Argentina…
Eva Perón foi a esposa de Juan Perón, antigo presidente da Argentina,de 1946 a 1952. Eva Perón, também conhecida como Evita, controlou o sindicato trabalhista, e os purgou de seus líderes, fazendo-os assim completamente dependente do governo. Ela também suprimiu grupos que a insultavam. Porém, ela era bastante querida por muitos de Argentina. Eva Perón inspirou um musical, Evita, escrito por Andrew Lloyd Webber, e encenado pela primeira vez em Londres em 1978.

23, 1, 1, …e deu estes passos em tempos antigos…

As primeiras linhas do poema And Did Those Feets, de William Blake.

27, 2, – …então, como podes me dizer que estas sozinho…/ … e afirmar que o sol não brilha para ti?/ Dá-me tuas mãos e vem comigo pelas ruas de Londres./ Eu lhe mostrarei algumas coisas…/ … que te farão mudar de idéia.

Esta pode ser uma canção real; porém, Fui incapaz de determinar sua origem ou qualquer outra informação sobre ela.

41, 3, 1, … um funeral viking.

Os vikings enterravam seus mortos primeiro colocando o cadáver em um navio e, depois de atear fogo na embarcação, empurravam-na para dentro do mar.

41, 3, 1, Ave atque vale

Latim, que significa, Olá e adeus (Simpson 63, 70, 629).

52, 1, 2, Les Miserables (cartaz)

Este cartaz pertence a Les Miserables (Os Miseráveis), uma moderna peça de ópera de Claude-Michel Schonberg, baseada no romance de Victor Hugo e encenada pela primeira vez em Londres em 1980. Fala sobre um insignificante ex-criminoso que, saído da prisão, se torna um líder revolucionário (Behr 391).

55, 2, 2, As notícias de minha morte foram… exageradas.

Esta citação é de um telegrama enviado de Londres à Associated Press por Mark Twain, escritor americano, em 1897 (Bartletts 625).

Por Madelyn Boudreaux – 27 de abril de 1994.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/popmagic/v-de-vinganca-guia-de-referencias/

Arthur Schopenhauer


Por Ágatha Carcass (PandoraC – Morte Súbita Inc.)

Filho de Heinrich Floris Schopenhauer e Johanna Schopenhauer, na exata data de 22 de fevereiro de 1788, em Danzig, nasce um dos filósofos que posteriormente seria considerado, dentre todos os outros de sua época, o mais pessimista. E é fato inegável que, ainda hoje, quase 150 anos depois de sua morte, prevalece esse título.

 

Filosofia Schopenhauriana

 

Basicamente, em suma, uma filosofia romântica e irracionalista. Sem receio, podemos afirmar que a filosofia schopenhaueriana foi um grande progresso na disseminação do pensamento filosófico irracionalista no século XIX, se delongando em apogeu também no século XX. Essa afirmação é, certamente, indiscutível, pois sabemos que não há outro filósofo que tenha se destacado mais que Arthur Schopenhauer no irracionalismo até os dias contemporâneos.

Ateu que era, é bastante citado nas comunidades relacionadas ao ateísmo. Essa ligação schopenhaueriana perdura na atualidade, como se pode testemunhar, por exemplo, no site Ateus.Net.

Não é minha pretensão, como já ficou claro, mastigar aqui todo desenvolvimento ideológico do schopenhauerismo. Contudo, ressalvo que a leitura de O Mundo Como Vontade e Representação é altamente satisfatória e deve ser efetuada por qualquer indivíduo interessado por uma filosofia séria.

Vampirismo Filosófico

Entretanto, o que seria uma filosofia séria? Eis, pois, um bom contexto para se utilizar fielmente da concepção schopenhaueriana; O estudo de Parerga e Paralipomena nos fornece, então, uma noção para responder esse questionamento. Usaremos o termo genérico de vampirismo filosófico.

Certa busca vampiresca é enfatizada pelo autor com o seguinte ditame: Ler apenas os autores que dão seu próprio sangue por seus livros; Aqueles que escrevem com toda a sua dedicação. E Arthur Schopenhauer é, sem dúvida, um dos nomes mais indicados para a resolução desse verdadeiro vampirismo filosófico.

Faz-se válido de nota o fato de que o próprio Nietzsche, veio, mais tarde, a incorporar essa idéia claramente schopenhaueriana. E isso é, inclusive, citado por Morbitvs Vividvs em biografia nietzschiana disponibilizada aqui, no MorteSubita.Org.

 

Estrutura Literária

O Mundo Como Vontade e RepresentaçãoSua Opus Magna é O Mundo Como Vontade e Representação, de 1819 (Originalmente, Die Welt als Wille und Vorstelling); O pilar de todo o legado filosófico que o schopenhauerismo possui; Muito embora, seu livro Parerga e Paralipomena (Parerga und Paralipomena), de 1851, seja o mais popular. Juntamente com essas duas obras já citadas, outras três são consideradas principais e merecem constar como indicadas: Sobre a Raiz Quádrupla do Princípio da Razão Suficiente (1813), Sobre a Vontade da Natureza (1836) e Os Dois Problemas Fundamentais da Ética (1841).

Destinada a obra-prima mencionada, o site LivrariaCultura.com.br apresenta a seguinte sinopse para a mais recente edição nacional encontrada no mercado (Unesp): “A mais completa edição em língua portuguesa do grande clássico da filosofia alemã, ‘O mundo como vontade e como representação’, traduzido por Jair Barboza. É imprescindível para o vislumbre do horizonte em que se movem as chamadas filosofias do impulso com sua reflexão sobre o irracional e o inconsciente, bem como uma crítica a esse irracional que também passa por uma crítica da razão. A obra se subdivide em quatro livros. Dois elegem o tema da Representação e dois, o tema da Vontade, e cada livro assume um ponto de vista diferente da consideração”.

Do parágrafo acima, já se pode deduzir que é um estudo amplo e que depende de um perspectivismo versátil para sua resolução.

É digno de ser lembrado o tratado inicialmente intitulado Erística. Não foi concluído pelo autor, e, no entanto, a priori, pode ser visto como um recomendável suplemento aos estudantes schopenhauerianos, ou uma visão diferente para os aristotélicos, já que as dialéticas erísticas de Schopenhauer e de Aristóteles (384 a. C. – 322 a. C.) são o foco. De qualquer forma, não pode ser considerada obra estrutural, mesmo porque está inconclusa.

Influências Filosoficas

Uma grande marca que ficou no campo da filosofia alemã depois das contribuições de Schopenhauer, foi uma inédita visão aderente ao budismo e ao hinduísmo na metafísica. Não vou me estender expondo esses determinados tópicos nessa resumida biografia, cuja qual o leitor está tendo acesso, porém, no entanto, recomendar que eles sejam devidamente estudados é um acréscimo importante.

Platão (428/27 a. C. – 347 a. C.), Hobbes (1588 – 1679) e Goethe (1749 – 1832) influenciaram as idéias de Arthur Schopenhauer; Não obstante, nenhuma dessas influências se compara com a desempenhada por Kant (1724 – 1804), a qual se mostra visceral.

Houveram muitos influenciados pelo schopenhauerismo, mais tarde. Homens tais como Nietzsche (1844 – 1800) e Freud (1856 – 1839), atualmente, muito conhecidos.

Ora, se pudermos designar um antônimo relativo para “Schopenhauer”, esse antônimo é, sem sombra de dúvida, “Hegel (1770 – 1831)”. Como já trouxe à baila o humor ácido e perspicaz de meu amigo Thiago (Atonalismo.BlogSpot.Com), a idéia hegeliana se assemelha mais com a de um poeta dadaísta. Aliás, essa perspectiva é estreitamente schopenhaueriana.

Vida de Schopenhauer

Túmulo de SchopenhauerEnquanto vivo, Arthur foi, além de filósofo, professor universitário da Universidade de Berlim; Função na qual não obteve muito sucesso, visto que precisamente nesse período, o pensamento hegeliano estava em ascensão na cadeia filosófica da Alemanha.

Em 21 de setembro dos confins de 1860, aos 72 anos, vítima de pneumonia, morre um dos maiores filósofos germânicos. No entanto, sua existência foi eternizada pelo respectivo e rico espólio filosófico dele herdado por nós.

Emblema Arquétipo

Por uma assídua schopenhaueriana…

Sim, é verdade que existiu tal grande homem: Paradoxalmente, aquele que soube aceitar, sem ludibriar a si próprio, sua pequenez; A pequenez da humanidade que se julga transcender, estruturada em suas mentiras;

Sim, é verdade que existiu tal homem que abriu os olhos para uma realidade nua e crua, inflamada nas profundezas do saber humano. Bem como mencionava acertadamente Lord Byron (1788 – 1824), a árvore do conhecimento não é a mesma árvore que a da vida. Poucos são os que encaram os ramos dessa sentença;

Sim, é verdade que existiu tal exemplo e modelo personificado do Saber que subordina o estéril Crer;

Ele é chamado Arthur Schopenhauer.

t

 

1788 – 1860

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/biografias/arthur-schopenhauer/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/biografias/arthur-schopenhauer/

A Gnose de Schopenhauer

A xilogravura de Flammarion retrata um homem olhando fora do espaço-tempo:

O que está fora do Eu se encontra além do espaço e do tempo.

por Chrystian Revelles Gatti, do Lectorium Rosicrucianum

Meio século antes da Sociedade Teosófica de Blavatsky e Olcott, foi o filósofo alemão Arthur Schopenhauer quem ergueu a ponte entre a sabedoria do ocidente e a tradição oriental. Influenciado por Platão, Kant e pelo Misticismo Cristão, ele considerou a descoberta das literaturas sânscritas como a maior dádiva do século e anunciou que a filosofia e sabedoria dos Upanishads renovariam a fé ocidental. Para interpretarmos corretamente a Metafísica Schopenhauriana, será necessário situar sua obra no espaço e no tempo, em sua localização histórica e geográfica – compreender quais foram suas influências, seu contexto, e o paradigma do Pensamento Ocidental do XVIII, especialmente a situação da Filosofia Alemã da época.

A FILOSOFIA OCIDENTAL – EMPIRISTAS E RACIONALISTAS

Foi entre Platão e Aristóteles que se manifestou a primeira dialética do pensamento ocidental após a morte de Sócrates. Platão, inclinado à matemática, encarava o mundo material dos sentidos físicos como composto de manifestações imperfeitas, individuais e transitórias, e confiava no conhecimento obtido por meio da Razão, que lhe parecia a única ferramenta humana capaz de apreender as formas perfeitas da Geometria, as verdades eternas da Matemática e as ideias transcendentes de Justiça, Beleza e Virtude. Aristóteles, por sua vez inclinado às ciências naturais, era prático e queria entender o funcionamento das coisas, e, para isso, se dedicava à observação e categorização dos fenômenos naturais, apreensíveis pelos sentidos. Apesar de discípulo direto de Platão, Aristóteles divergia da tendência mística e abstrata da Metafísica Platônica, preferindo confiar nas imperfeitas faculdades sensoriais humanas para construir conhecimento objetivo, empírico, descobrindo os padrões tais como se manifestam no mundo físico, ao invés de voltar-se para a contemplação mental dos arquétipos eternos como faziam os platônicos, que herdaram tais crenças e práticas dos pitagóricos e cujo legado espiritual foi mantido pelos neoplatônicos que, por sua vez, influenciaram todo o misticismo pagão, gnóstico, judaico-cristão e islâmico.

A divergência essencial entre Platão e Aristóteles, isto é, na confiança na Razão ou nos Sentidos, é a raiz do debate dualista entre racionalistas e empiristas, entre os filósofos da lógica e os filósofos da experiência, e se perpetuou dentro do Pensamento Ocidental até ser transcendido por Immanuel Kant no Século XVIII, que daí em diante passa a ser considerado por muitos – inclusive pelo próprio Schopenhauer – como o filósofo mais importante de toda a História, atrás apenas dos próprios fundadores da Filosofia Ocidental – Sócrates, Platão e Aristóteles.

IMMANUEL KANT – O PONTO DE PARTIDA

O debate entre empiristas, como Locke, e racionalistas, como Descartes, foi transcendido por Immanuel Kant, que escreveu Crítica da Razão Pura (uma das obras mais influentes da história da filosofia). Enquanto eles defendiam a primazia da sensibilidade ou do entendimento, Kant declarou que a experiência necessariamente envolve ambos os elementos, não sendo possível a experiência de um objeto em si (fora de nossa mente), mas apenas a percepção possibilitada por nossa própria estrutura mental. Só podemos conceber a existência de um objeto, e situá-lo no espaço e no tempo, na medida em que ele se apresenta à nossa consciência. Disso decorre que as coisas “em si”, enquanto exteriores à mente, não só não podem ser conhecidas como também podem não ter nada a ver com espaço, tempo, ou qualquer outra categoria inerente à nossa estrutura mental. O que está fora do Eu não está apenas fora de você no espaço, mas também fora do espaço, do tempo, da mente e de todos os conceitos a priori por meio dos quais experimentamos o mundo. Opondo-se ao realismo – postura de que a realidade é independente da mente – a teoria de Kant, o idealismo, postula que o espírito tem papel ativo na construção do conhecimento. Por isso, é dito que ele uniu racionalismo e empirismo e que a História da Filosofia pode ser dividida em antes e depois de Kant.

IDEALISMO TRANSCENDENTAL – A METAFÍSICA

Schopenhauer desenvolve seu sistema de pensamento a partir de Kant, não sem dar um passo ousado além da metafísica kantiana, pois afirma ser possível rasgar o véu das aparências. Se a sua versão do mundo é limitada pelas observações e experiências permitidas pela sua consciência, então os limites do seu estado de consciência traçam o limite de sua própria realidade – o estado de consciência determina o estado de vida. O mundo de conceitos e objetos experimentados pela consciência do Eu não passa de uma representação que nós mesmos fazemos da realidade, um véu ilusório – o véu de Maya. Se pudermos reconhecer que nossa separação dO Todo é uma ilusão, fruto de uma Consciência Separada, e não uma realidade fundamental, deixaremos de ver os fenômenos como inumeráveis e separados, e reconheceremos todos os seres e todas as coisas como interdependentes e interligados em uma manifestação Una que Schopenhauer denomina de Vontade Universal. Como o homem é, ao mesmo tempo, parte do mundo e experimentador do mundo, fenômeno e mente, então ele pode experimentar a realidade, a natureza última das coisas. É pela destruição de suas ilusões e no silêncio da contemplação que o homem pode experimentar o Incognoscível em si, essa Unidade que é sua própria Natureza Original, encoberta pela ilusão da Multiplicidade projetada pela Consciência-Eu.

A TRADIÇÃO ORIENTAL

A Magnum Opus (grande obra) de Arthur Schopenhauer é seu livro “O Mundo como Vontade e Representação”, uma das obras mais importantes do século XIX, fortemente influenciada pelos conceitos orientais do Hinduísmo, Budismo e Taoísmo como “Maya” (ilusão), “YinYang” (dualidade), “Dukkha” (sofrimento), “Karuna” (compaixão) e “Nirvana” (iluminação). Amigo pessoal de Goethe, foi por meio deste que Schopenhauer frequentou círculos intelectuais pioneiros e esteve em contato direto com os primeiros tradutores e divulgadores da filosofia oriental na Europa. Arthur Schopenhauer leu a tradução latina dos antigos textos Hindus que o escritor francês Anquetil du Perron traduziu diretamente da versão persa do Príncipe Dara Shikoh entitulada Sirre-Akbar (“O Grande Segredo”). Após interpretar o Bhagavad Gita, Schopenhauer considerou estes textos a mais elevada leitura do mundo, portadora de conceitos sobrehumanos.

A OBRA DE SCHOPENHAUER

A Teologia da época soava como uma série de perplexidades organizadas de um reino puramente conceitual e abstrato, sem conexão alguma com o mundo e com a vida, enquanto a sabedoria universal preservada pelo oriente era, pelo contrário, uma filosofia Do Mundo e Da Vida, cujo objetivo não era enrodilhar o homem em uma teia de abstrações emaranhadas mas, ao invés disso, conduzir o homem para a saída deste labirinto, dissipando as ilusões e projeções do Ego e visando a libertação do sofrimento da vida e do mundo. Entre os paralelos especiais que sua filosofia guarda com os ensinamentos de Gautama está a ideia da Ignorância e do Desejo como origem de todo o sofrimento. A Ignorância Fundamental consiste em tomar as Representações (os conceitos, os objetos, os fenômenos) como Realidade e ver a si mesmo como separado do resto. Consequentemente, o ignorante interpreta a existência como uma luta incessante, uma guerra de todos contra todos. Para Schopenhauer, esta é a origem do egoísmo inato dos indivíduos que, incapazes de conceber a unidade dos seres e compreender que cada indivíduo é apenas a expressão de uma universalidade que o transcende e engloba, é impelido a lutar contra os outros e contra o mundo, sem saber que, com isso, volta-se contra si mesmo. É da piedade pela infelicidade e pelo sofrimento inerente à condição humana que desabrocha a rosa da compaixão impessoal, a compreensão de que todas as vozes são, essencialmente, a voz do Uno, da Vida.

MISTICISMO CRISTÃO

Jakob Böhme foi um místico cristão alemão que tratou intensamente do Problema do Mal e da Natureza da Divindade, e deixou um legado que posteriormente inspirou diversas manifestações culturais e artísticas no Ocidente, como a Teosofia, a Maçonaria, o Rosacrucianismo, o Martinismo, os quadros e poemas de William Blake, a psicologia de Jung, e especialmente o Idealismo Alemão de Baader, Schelling, Schopenhauer e Hegel – este último chega ao ponto de declará-lo “o primeiro filósofo alemão”. Böhme teve uma experiência mística da visão da Unidade do Cosmos, e escrevia para si mesmo no intuito de reter as impressões que chegavam diretamente à sua consciência. Para ele, Deus era a Onipresença Eterna situada além do Espaço e do Tempo e, para alcançá-la, o homem haveria de transpassar seus próprios portões do inferno, já que “a vontade e a imaginação do homem perverteram-se de seu estado original. O homem se rodeou pelo mundo de sua própria vontade e imaginação” e, com isso, perdeu Deus de vista. Louis-Claude de Saint-Martin, filósofo francês que dedicou a vida a traduzir, interpretar e divulgar a obra de Böhme, diz que “A verdade não pede mais que fazer aliança com o homem; mas quer que seja somente com o homem e sem nenhuma mistura com tudo o que não seja fixo e eterno como ela. Ela quer que esse homem se lave e se regenere perpetuamente e por inteiro na piscina do fogo e na sede da unidade”, ou seja, o homem não pode apreender o Infinito por meio dos sentidos, dos desejos ou da razão egoísta, mas por meio de “uma condição na qual a vontade do homem, despindo-se de tudo o que é terrestre, torna-se divina e absorvida na autoconsciência”. É dessa forma que, de acordo com Bohme, o homem e o Deus Incognoscível “se fundem em uma só força”. Eles “se despertam mutuamente e se conhecem entre si. Neste conhecimento consiste o verdadeiro entendimento, que segundo o caráter da eterna sabedoria, é imensurável e abismal, sendo do Um que é o Todo. Uma vontade única, iluminada pela luz divina, pode brotar deste manancial e manter a infinidade. Desta contemplação escreve esta pena.”. O psiquiatra Richard Maurice Bucke escreveu em 1901 o “Estudo da Evolução da Mente Humana” e, explorando o conceito de “consciência cósmica”, cita Jakob Böhme, entre outros, como exemplos da manifestação de uma forma superior de consciência.

A IDEIA DE INCONSCIENTE

Quando agimos e pensamos no cotidiano, acreditamos estarmos no controle de nossas ideias, ações e pensamentos, mas existe algo que nos move. A Filosofia de Schopenhauer dá um nome para esta força primária que nos influencia muito mais do que qualquer lógica, moral ou razão – a Vontade. De acordo com Schopenhauer “a Vontade é um cego robusto que carrega um aleijado que enxerga”, e nossa consciência objetiva é o aleijado. Por isso, Schopenhauer é um dos precursores da ideia de Inconsciente. É a partir da ideia de Schopenhauer sobre a “Vontade” que Eduard von Hartmann escreve Filosofia do Inconsciente em 1869, influenciando toda a psicologia posterior e especialmente os trabalhos de Freud e Jung.

Sobre a conexão entre vontade individual (microcósmica) e vontade em si (macrocósmica), Schopenhauer supõe que há:

“além da conexão externa entre as aparições, fundamentada pelo nexumphysicum, ainda uma outra, que atravessaria a essência em si de todas as coisas como uma espécie de conexão subterrânea, graças à qual seria possível, partindo de um ponto da aparição, agir imediatamente sobre todos os outros por meio de um nexum metaphysicum; que, portanto, deveria ser possível agir sobre as coisas a partir de dentro, ao invés do agir comum a partir de fora, um agir da aparição sobre a aparição graças à essência em si, a qual é uma e a mesma em todas as aparições; que, assim como agimos causalmente como natura naturata, nós poderíamos também ser capazes de uma ação como natura naturans, fazendo valer momentaneamente o microcosmo como macrocosmo; que as divisórias que separam os indivíduos, por mais firmes que sejam, poderiam permitir ocasionalmente uma comunicação como que por detrás dos bastidores, ou como um jogo secreto sob a mesa”.

(SCHOPENHAUER – ANIMAL MAGNETISM AND MAGIC)

PARA SABER MAIS, LEIA:

SCHOPENHAUER, Arthur. O Mundo como Vontade e Representação [Contraponto Editora] por Chrystian Revelles Gatti, do Lectorium Rosicrucianum.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

SCHOPENHAUER, Arthur. O Mundo como Vontade e Representação [Contraponto Editora] MANTOVANI, Harley Juliano. Heráclito e Schopenhauer. [Universidade Federal de Goiás] REDYSON, Deyve. Schopenhauer e o pensamento oriental. [Universidade Federal da Paraíba] SILVA, Luan Corrêa da. Schopenhauer e a magia. [Universidade Federal de Santa Catarina] videoaulas:

CURSO LIVRE DE HUMANIDADES. Arthur Schopenhauer – Crítico de kant, por Cacciola [https://www.youtube.com/watch?v=rdf0pRgsJuo] JOAO LUIZ MUZINATTI. Schopenhauer: só a arte nos livra da dor [https://www.youtube.com/watch?

v=WhGW6ULBZDQ]

SE LIGA NESSA HISTÓRIA. Schopenhauer | O Mundo Como Vontade e Representação [https://www.youtube.com/watch?v=65KrAfNUeWA] THE SCHOOL OF LIFE. PHILOSOPHY – Schopenhauer [https://www.youtube.com/watch?v=q0zmfNx7OM4]

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/a-gnose-de-schopenhauer

Mapa Astral de Gustav Klimt

O Mapa de Klimt possui Sol e Mercúrio em Câncer; Lua em Peixes-Aquário (Rei de Taças); Vênus e Urano em Gêmeos; Marte e Netuno em Áries; Júpiter e Saturno em conjunção em Virgem. Não temos o Ascendente por não conseguir localizar seu horário de nascimento.

O Mapa indica alguém que trabalha com facilidade com o emocional, ao mesmo tempo extremamente metódico e regrado (júpiter e saturno em conjunção no signo de Virgem). Os aspectos de originalidade e muito de sua maneira de pensar refletem as características de Rei de Taças.

“Em 1883, com a inauguração do novo edifício da Universidade de Viena, encomendou-se a Gustav Klimt uma série de painéis que descrevessem o triunfo da luz sobre as trevas. Os afrescos deveriam ser alusivos às quatro faculdades: Teologia, Filosofia, Medicina e Jurisprudência. O primeiro painel, representando a Filosofia, foi de certa forma um choque. Em vez da descrição da Escola de Atenas, Platão ou Aristóteles, Klimt, influenciado por Schopenhauer, representa o mundo como Vontade, em que os seres vagueiam“.

Outros exemplos de sua metodologia que ao mesmo tempo em que era composta de traços precisos e extrema beleza e elegância, causavam problemas por chocarem conceitos estabelecidos.
“A arte de Klimt não pretendia representar o papel racional e otimista da ciência universitária. Membros da faculdade colocaram-se contra os seus esquissos. A princípio, o ministro von Hartel ignorou a reação – protestos dos professores e ataques da imprensa conservadora – porém, a apresentação do projeto de Klimt para o segundo quadro (A Medicina) na “10ª Exposição da Secessão” (1901) reavivou a discussão. A ciência médica não estava ali representada segundo a corporação dos médicos. Nesta fase, Klimt revela a relação existente entre a cultura patriarcal e o elemento feminino, expõe a sua concepção do mundo como “…um protesto, uma contradição do passado, mas também como um projecto do futuro, de uma nova cultura feminina.”. Juntamente com a corporação dos médicos, os meios estéticos dirigiam aos quadros de Klimt maldosas críticas contra a representação do nu, chegando a provocar o confisco de um número do Ver Sacrum, onde um projeto de A Medicina tinha sido publicado. O Ministério Público não viu razão para perseguir judicialmente a representação do nu, mas a reação pública com a exposição de A Medicina incomodou o “conselho imperial”, que pretendia utilizar a arte como estratégia política”.

#Astrologia #Biografias

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/mapa-astral-de-gustav-klimt

Hipátia de Alexandria

Quando tive a idéia de escrever sobre a vida das Grandes Mulheres do Passado a primeira personagem real que me veio à cabeça foi Hipátia de Alexandria. Me lembro do dia que li sobre ela em um de meus livros relacionado ao Império Romano. Havia apenas um pequeno parágrafo… a sensação que passava era de que só estava ali para preencher espaço e dizia apenas: Hipátia de Alexandria, matemática e filósofa, foi diretora da Academia de Alexandria (Biblioteca de Alexandria) e morreu em 415. Nada mais, apenas essa curta frase, porém foi o suficiente para despertar em mim a curiosidade. Afinal, quem fora essa mulher que não só fora matemática e filósofa numa época impensável para as mulheres exercerem tais funções, como chegou a ser diretora de uma das maiores escolas da antiguidade?! Dali para frente procurei pesquisar tudo o que podia. Infelizmente não nos chegou muito sobre a vida dessa Grande Mulher, mas o que temos vale como lição para se carregar para sempre.

Hipátia nasceu em Alexandria por volta do ano 370 D.C. Para aqueles que não lembram, Alexandria é uma cidade do Egito e foi fundada por Alexandre da Macedônia, popularmente conhecido como Alexandre, O Grande.

Na antiguidade Alexandria foi um grande pólo de cultura e livre expressão, mas, na época em que Hipátia nasceu, a cidade encontrava-se em uma disputa entre a Igreja Católica, que crescia em poder rapidamente, e as correntes filosóficas que punham em cheque as doutrinas da nova religião.

Filha de Theon, filósofo, matemático e astrônomo, diretor do Museu de Alexandria; Hipátia creceu em um ambiente cercado de cultura sendo guiada por seu pai nos estudos da Matemática e Filosofia. Ele acreditava no ideal grego da “mente sã em um corpo sadio” (“men sana in corpore sano”) estimulando a filha a exercitar tanto a mente como o corpo, contam as lendas que ele desejava torna-la “um ser perfeito”.

Ainda jovem viajou a Atenas para complementar seus estudos. Era conhecida na Grécia como “A Filósofa”, já demonstrando cedo sua profunda sabedoria. Sócrates Escolástico relata:

“Havia em Alexandria uma mulher chamada Hipátia, filha do filósofo Theon, que fez tantas realizações em literatura e ciência que ultrapassou todos os filósofos de seu tempo. Tendo progredido na escola de Platão e Plotino, ela explicava os princípios da filosofia a quem a ouvisse, e muitos vinham de longe para receber seus ensinamentos.”

Ainda em Atenas tornou-se discípula na Escola de Plutarco e professava ensinamentos Neoplatônicos. Ao retornar a sua pátria, foi convidada para assumir uma cadeira na Academia de Alexandria como professora. Por volta dos 30 anos, tornou-se diretora da Academia. Seus conhecimentos abrangiam a Filosofia, a Matemática, Astronomia, Religião, poesia e artes. Era versada em oratória e retórica. Escreveu diversos livros e tratados sobre álgebra e aritmética. Seu interesse por mecânica e tecnologia a levaram a conceber instrumentos utilizados na Física e na Astronomia, como o astrolábio plano, o planisfério e um hidrômetro. Infelizmente suas obras foram perdidas durante o incêndio que destruiu a Biblioteca de Alexandria. Tudo o que chegou-nos vem através de suas correspondências.

Um de seus alunos Hesíquio o hebreu, escreveu:

“Vestida com o manto dos filósofos, abrindo caminho no meio da cidade, explicava publicamente os escritos de Platão e de Aristóteles, ou de qualquer filósofo a todos os que a quisessem ouvi-la… Os magistrados costumavam consulta-la em primeiro lugar para administração dos assuntos da cidade”.

Hipátia foi uma Grande Mulher que nasceu na época errada. Sua defesa fervorosa ao livre pensamento, seus ensinamentos Neoplatônicos, sua observação de que o universo era regido pela leis da matemática a caracterizaram como herege em um momento onde o Cristianismo triunfava sobre o Paganismo. Enquanto Orestes, um ex-aluno, fora prefeito da cidade, sua vida estivera protegida. Mas quando Cirilo tornou-se bispo de Alexandria, determinado a destruir todo o movimento pagão, sua morte foi anunciada.

Em uma tarde de 415 D.C. retornando a sua casa, Hipátia foi abordada por uma turba de cristãos furiosos que a arrancaram de sua carruagem, arrastaram-na para uma igreja e lá rasgaram-lhe as roupas deixando-a completamente nua e assim puseram-se a retalhar seu corpo esfolando-lhe a carne de seus ossos utilizando para isso cascas de ostras afiadas. Por fim desmembraram-lhe o corpo e os atiraram as chamas.

Morria com ela toda uma era de liberdade e florescimento filosófico e cultural em Alexandria e certamente para todos que viviam sobre a espada afiada da nova religião.

Carl Sagan escreveu em seu livro Cosmos:

“Há cerca de 2000 anos, emergiu uma civilização científica esplêndida na nossa história, e sua base era em Alexandria. Apesar das grandes chances de florescer, ela decaiu. Sua última cientista foi uma mulher, considerada pagã. Seu nome era Hipátia. Com uma sociedade conservadora a respeito do trabalho da mulher e do seu papel, com o aumento progressivo do poder da Igreja, formadora de opiniões e conservadora quanto à ciências, e devido a Alexandria estar sob o domínio romano, após o assassinato de Hipátia, em 415, essa biblioteca foi destruída. Milhares dos preciosos documentos dessa biblioteca foram em grande parte queimados e perdidos para sempre, e com ela todo o progresso científico e filosófico da época.”

Essa Grande Mulher nutriu toda uma época com a luz do conhecimento e do saber. Calaram-lhe a voz e empurraram sua lembrança para as profundezas do esquecimento. Mas, dois milênios não foram suficientes para apagá-la da memória de todos os famintos pela verdade. Hipátia retorna forte e vibrante ao alcance daqueles que buscam por seus ensinamentos. Ainda há pouco, enquanto terminava minha última pesquisa para esse artigo, me deparei com a notícia de que o diretor Alejandro Amenábar recentemente lançou no festival de Cannes o filme Ágora, que conta ao mundo a vida de Hipátia de Alexandria.

Texto da coluna Alma Mater, do Nerd Somos Nozes

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/hip%C3%A1tia-de-alexandria

As Sete Consonâncias

Excelente texto enviado pelo músico Alvaro Coutinho

Astrologia e música são dois estudos que aparentam ser bem diferentes, afinal de contas, que relação há entre os astros celestiais e uma orquestra? Estranhamente, a correlação entre essas duas matérias sempre existiu, o que é de certa forma bem conveniente, ambas tratam de assuntos que sempre influenciaram o subconsciente do homem. A fascinação de uma pessoa ao olhar o céu estrelado pode se comparar a alguém escutando a Nona Sinfonia pela primeira vez.

Pitágoras, e a Musica Universalis

Esta associação vem de muito tempo, talvez o primeiro, ou mais notório filósofo a estudar isso viveu na Grécia cerca de 2.500 anos atrás, chamava-se Pitágoras de Samos, filósofo, matemático e místico que proporcionou grandes avanços para a humanidade em inúmeras ciências, matemática, astrologia, política, ética, geometria, metafísica… enfim, a lista segue. Todo mundo conhece por exemplo o seu teorema mais famoso (a² + b² = c²), mas essa equação é completamente eclipsada quando comparamos a importância dos estudos sobre música e sua magnum opus, a Musica Universalis.

Para Pitágoras era simples, matemática e música existem em tudo, afinal de contas “tudo é feito de números”, e como a música funciona por meio de funções, então logo, toda a matéria tem a sua música. Sabemos que a matéria reage a vibrações, ou a frequências diferentes, alguns ainda sugerem que matéria é energia condensada em vibrações fracas, logo, como toda vibração tem a sua “nota” específica, tudo o que existe emite um som e reage a sons diferentes. Na música sabemos que relações entre intervalos formam uma harmonia ou uma consonância.

Na época helênica clássica, não existia o conceito atual de notas, mas sim funções numéricas para cada relação de nota. Então, o que hoje seria, por exemplo, um intervalo de oitava (Dó a Dó) era antes uma função de 2:1, ou seja, a vibração emitida por uma corda é o dobro da frequência (Hz) emitida por uma outra coda afinada a uma oitava mais baixa, um intervalo de quinta (Dó a Sol) é 3:2, e por aí vai. Para fazer os seus estudos Pitágoras usava um instrumento chamado monocórdio, que era basicamente uma corda presa sobre uma caixa acústica e com uma ponte móvel, para assim formar notas diferentes.

Pitágoras percebeu então, que se ele dividisse a corda em diferentes regiões e tocasse ambas simultâneamente, ele teria uma combinação de notas que formaria a tal da consonância (do latim, soar junto, bem auto explicativo).

Mudando para a segunda área do assunto, os estudiosos da escola Pitagórica, tinham desenvolvido um conceito ancestral do héliocentrismo, ou seja, já sabiam que cada planeta possuia uma órbita padrão em relação ao sol que poderia ser expressada como uma razão numérica. Então, se ligarmos os pontos, podemos entender que cada planeta formaria uma consonância que influenciaria o comportamento humano e suas emoções. Para nós estudantes de astrologia isso soa bem familiar não?

Surgia assim a teoria da Música das Esferas. Seria Platão posteriormente que afirmaria, astronomia e música são estudos gêmeos em relação aos nosso sentidos: Astronomia para os olhos e Música para aos ouvidos. Claudius Ptolomeu seria o próximo a estudar e desenvolver novas ideias em cima da teoria de Pitágoras. E por fim, talvez o mais genial astrólogo e astrônomo de todos os tempos, Johannes Kepler [1].

Kepler, e a Harmonices Mundi

Kepler, com a sua incessante busca de tentar encontrar a linguagem de Deus no universo, estudou diversas áreas. Sua obra mais memorável, Mysterium Cosmographicum, constava a utilização de geometria, os Sólidos Platônicos para ser mais exato, para criar um modelo do sistema solar. Ele acreditava que estes cinco poliédros seriam sagrados e perfeitos por natureza, e que o criador teria utilizado-os para desenvolver o plano do universo.

Porém, suas pesquisas não se limitaram somente a geometria, ele logo se deparou com a antiga ideia da Música das Esferas. Enquanto os pensadores da sua época utilizavam esta teoria de forma metafórica, Kepler descobriu a harmonia presente dentro do movimento dos planetas analisando sua velocidade angular (este estudo está presente dentro do seu Harmonices Mundi), criando assim a forma final e mais aceita da música das esferas.

Após analisar as proporções musicais e os padrões orbitais, Kepler atribui aos planetas tais intervalos:

(Tradução: Divisões Harmônicas de uma corda, Estas são razões matemáticas para se criar intervalos que Kepler encontrou experimentando ambas consonâncias a respeito de uma corda inteira e a cada outra.) (Notem que não há os intervalos de 2ª, 7ª e 5ª dimunuta, o motivo disso é que estes intervalos não eram considerados harmônicos dentro da divisão) (Na imagem acima a razão de 6ªm está incorreto, na verdade ela é 3:5, não 4:5)

Intervalo (razão) – Planeta, aspecto/função harmônica.

Terça Menor (5:6) – Saturno, aspecto negativo/mediante.

Terça Maior (4:5) – Júpiter, aspecto positivo/mediante.

Quarta Justa (3:4) – Marte, aspecto neutro/sub-dominante.

Quinta Justa (2:3) – Terra, aspecto neutro/dominante. [2]

Sexta Menor (5:8) – Vênus, aspecto negativo/super dominante.

Sexta Maior (3:5) – Mercúrio, aspecto positivo/super dominante.

Oitava (2:1) – Sol, aspecto neutro/tônica. [3]

Esta classificação pode variar de autor para autor, Kepler não foi o único que realizou este estudo, porém, por ter sido um astrólogo extremamente genial, eu considero esta como a mais aceita, devemos levar em consideração também, que ele foi mais fiel as ideias de Pitágoras.

Outra questão a ser levada em conta é o fato de que a afinação padrão atual (A=440hz) é diferente da utilizada nos tempos de Pitágoras e até mesmo de Kepler, antigamente era utilizada a afinação de A=432hz (que por sinal se chama afinação pitagórica), então sim, nem sempre a música feita pelo homem soou da mesma forma, mas esse é assunto para um outro dia…

Considerações Finais

A beleza do nosso universo não se limita somente em leis de física e equações, nem mesmo a luzes brilhantes no céu, planetas girando e estrelas queimando, há muito mais para se sentir no cosmo. O universo por sua totalidade canta uma ópera que nossos limitados ouvidos não podem ouvir, mas que agem sobre todos nós de uma forma misteriosa e silenciosa.

Procuramos na música feita pelo homem uma beleza que não se pode expressar por imagens ou toques, a música é a arte mais abstrata que existe, e talvez por esta razão, a que mais toca a alma das pessoas. Tentamos alcançar a perfeição feita pelo universo (ou criador, ou natureza, quem ou o que fez não importa) porque assim nos sentiremos mais reconfortados, nos sentiremos como uma parte mais expressiva desta imensidão.

Cada um de nós é, afinal, um amontoado de notas mudas tentando se encaixar na grande sinfonia cósmica.

[2] Em algumas fontes o intervalo de quinta justa é associado ao Sol, enquanto a Terra em si não possui um intervalo definido.

[3] Também é comum associar a Lua ao intervalo de oitava.

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#Espiritualidade #Astronomia #Arte #Música #Astrologia #Ciência

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/as-sete-conson%C3%A2ncias