Dossiê Beatles

 

Volta e meia o mundo é sacudido por algum fato, história ou boato a respeito do ‘fenômeno’ Beatles. Nenhuma banda ou grupo, em tempo algum, conseguiu influenciar tanto, tantas gerações seguidas como os Beatles. Mesmo após terem se passado três décadas da separação da banda ainda se percebe vez ou outra alguma influência, seja nos sons, ritmo ou letras que lembram algo deles. A verdade é que o rock estava em declínio nos Estados Unidos, quando os Beatles surgiram, no início dos anos 60. Os principais líderes da revolução rock haviam saído de circulação. Elvis Presley estava no exército e Chuck Berry na prisão. Buddy Holly e Eddy Cochran haviam morrido. Enfim, a música pop, que havia surgido na década anterior apresentava evidentes sinais de desgaste. A banda foi, portanto, um dos maiores canais de divulgação das seitas orientais, do uso indiscriminado das drogas, principalmente as alucinógenas e da rebeldia deflagrada contra a sociedade já desgastada e de certa forma conservadora. O ‘gosto’ pelas mensagens subliminares começou depois de uma visita do ex-beatle George Harrison à India em 1967, quando foi iniciado na seita hindu conhecida como Hare Krishna, pelo guru Maharishi, tornando-se adepto do movimento e seu maior divulgador no mundo ocidental. O movimento Hare Krishna (Hare=modo imperativo do verbo Hara, que significa ‘vibrar’, e Krishna é o nome de um deus na India) cresceria a partir de então de maneira assustadora, através da influencia causada pelos conteúdos do movimento contidos nos discos do grupo, como frases ou mantras (mantra=frases ou cânticos que são utilizados como invocatórios de entidades, semelhantes as utilizadas na Umbanda, Candomblé, Vodu, etc.) Estas influências podem ser destacadas principalmente nos discos: My Sweet Lord (Meu doce senhor), Living in the Material World (Vivendo no mundo material), Within You, without You (Dentro de você, sem você), The Hare Krishna Mantra (O mantra Hare Krishna). O excesso no uso indiscriminado de drogas, o orgulho exacerbado devido à fama, status e muito dinheiro, foram pouco a pouco minando e desagregando a união do grupo, até a dissolução total, quando cada um seguiu sua carreira solo. Não custa lembrar a infeliz e ‘maldita’ declaração de Lennon, que eles, Beatles, eram mais populares que Jesus Cristo. E aí, o sonho acabou…

VAMOS ÀS MENSAGENS

Consumo de drogas:

A canção “Lucy in the Sky with Diamonds” tem como iniciais as letras L.S.D (sigla do ‘Acido Alisérgico’) droga muito difundida na década de 60. Caetano Veloso, no movimento contemporâneo aos Beatles no Brasil, chamado tropicália, repetiria a dose com a canção “Alegria Alegria”, que também tem a mesma sigla – L.S.D. A canção “Day in the life” diz respeito a uma atemorizante viagem psicotrópica. “Yellow Submarine”, grande sucesso do grupo, era na verdade uma gíria para drogas. A canção “Magical mystery tour” faz o seguinte convite: ‘…Arregace sua manga, arregace sua manga, a tournée e misteriosa vem para lhe arrebatar…’ A canção “Hey Jude”, que pode ser traduzida também como ‘Hey viciado’ faz uma alusão clara às drogas, mais especificamente à uma agulha debaixo da pele: ‘…Lembre-se de deixá-la entrar debaixo de sua pele, e então começara a sentir-se melhor’. A revista Time depois de analisar o álbum “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” (A Banda do Clube dos desamparados do Sargento Pimenta, gravado em 1967), descreveu o trabalho como ‘ensopado’ nas drogas.

Necrofilia:

Estive analisando o ‘Álbum Branco’ e certamente a música (se é que pode classificá-la desta forma) “Revolucion 9” é a mais estranha e misteriosa de todas as músicas que o grupo produziu. O que mais nos chamou a atenção, é que ela lembra uma alucinante viagem de ácido, e, dentre os sons de sirenes, gemidos de crianças, grunhidos de porcos, metralhadoras, etc., a única frase inteligível é “Number Nine”. Ora, isso nos levou quase que instintivamente a ouvir esta frase, em rotação contrária, e qual foi a nossa surpresa, a frase em ‘backward masking’ diz: “Turn me on DIED man” – Excite-me homem morto !

Ocultismo:

Na canção “Revolucion 9”, este número é repetido várias vezes nesta música. O número 9 é um dos números mais usados no ocultismo. As canções “Helter-Skelter” (Grande Confusão), “Blackbird” (Pássaro Negro), “Piggies” (Porcos), “Revolucion 1” e “Revolucion 9”, contém mensagens declaradamente ocultistas, contidas nas entrelinhas, ou seja – subliminares, e o mais interessante, estas cinco, fazem parte do “Álbum Branco”

Violência:

Uma das músicas que incitam ao crime é “Piggies”. A parte final desta música, descreve casais de Piggies (porcos) comendo bacon de garfo e faca. Na canção “Revolucion 9” nós observamos sons de metralhadora disparando e pessoas chorando, gritando ou morrendo.

Nas Capas:

Sgt. Pepper’s (1967) – Título da 1ªfoto: “Sgt. Pepper’s se tornou o hino oficial da cultura hippie” (S.Lawhead, Rock Reconsidered) Afirma-se que o grupo gastou cerca de 400 horas com a gravação deste álbum, das quais 200 foram empregadas na inserção de mensagens subliminares (Youth Aflame-out/82). Este álbum é caracterizado pela policromia modal (entrelaçamento de ritmos, utilização de recursos técnicos e música erudita). Este trabalho marca também a transição do rock tradicional para o rock progressivo. Esta capa está recheada de mensagens subliminares. Na verdade, todo o conjunto de elementos desta capa estão retratando uma espécie de funeral. Observe o esquife (caixão) coberto de flores vermelhas. Abaixo dele há um arranjo de flores amarelas, com a forma de um contra baixo, de canhoto, que seria de Paul ! (veja os comentários em ‘Abbey Road’).Veja que estranhas estas declarações de Paulo Coelho (As Valkirias-pag.127):

“…E as pessoas sempre respeitam mais aquele que diz coisas que ninguém entende. Do resto – Hare Krishna, Meninos de Deus, Igreja de Satã, Maharishi -, do resto todo mundo participava. A Besta – a Besta só para os eleitos ! “A lei do forte”, dizia um texto dela. A Besta estava na capa do Sargent Pepper’s, um dos mais conhecidos discos dos Beatles – e quase ninguém sabia. Talvez nem os Beatles soubessem o que estavam fazendo quando colocaram aquela fotografia lá.”

Paulo Coelho, ex-parceiro de Raul Seixas na composição de dezenas de músicas, neste trecho estaria fazendo uma citação ou referência a foto de Aliester Crowley, que estaria colocada nesta capa. Crowley (falecido em 1947), de quem eram discípulos indiretos, pois nem Raul, nem Coelho chegaram a conhecê-lo pessoalmente, é considerado o maior satanista deste século, e até hoje é cultuado por seus seguidores, e que usava também este nome “A Besta”. Conta-se que certa vez, durante um ritual satânico, sado-masoquista, Crowley fizera com que uma mulher praticasse uma relação sexual com um bode (o animal mais cultuado dentro do satanismo) e no momento do orgasmo, este teria imolado o animal, cortando seu pescoço. (Se você tiver interesse, estaremos abrindo uma biografia completa de Crowley, neste site)

“Abbey Road” Lançado em 26/set/69, cinco anos depois da suposta morte de Paul

É sem dúvida a capa mais polêmica de todas pesquisadas. Recentemente (21/out/00) a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, apresentou “Paul is Dead”. O filme revive o boato da morte do ex-beatle Paul McCartney, em 1966, quando a banda estava no auge. Segundo esse boato, Paul teria sido decapitado em um desastre de carro na Inglaterra e para evitar o choque que a notícia causaria nos fãs, um sósia foi colocado em seu lugar, e assim a banda deu seqüência à sua dominação mundial. John Lennon, que nunca engoliu a farsa, passou a espalhar pistas subliminares da morte do parceiro pelas famosas capas dos álbuns da banda. O filme é autobiográfico já que seu produtor conta a história exatamente como a conheceu: quando tinha 12 anos e ouviu-a no rádio. O filme é um trabalho de mestrado do diretor Hendrik Handloegten, 32, alemão formado na German Film and Television Academy. A verdade sobre a morte de Paul, teria vazado nos Estados Unidos, e divulgada por um DJ de uma rádio de Detroit. A noticia correu o mundo, virou obsessão de fãs-detetives durante anos, se transformou em livros, especiais de TV, sites e agora filme. (Folha de S.Paulo-20/out/2000). Alguns estudiosos realmente constatam diferenças nas músicas compostas antes e depois de 66, por Paul. O material de pesquisa desta pagina é do autor do site. Somente as relacionadas a Abbey Road, fazemos citação de Hendrik, e Lúcio Ribeiro (reportagem local) da Folha de S.Paulo (20/10/00). Se você tiver algum material, que possa acrescentar mais informações, mande seu email e a fonte, que estaremos publicando.

O Funeral – Os 4 Beatles, andando em fila, simbolizam a procissão de um enterro. John , de branco, seria o padre; Ringo, de preto, o agente funerário; Paul é o morto, e Harrisson seria o coveiro.

O Carro Na rua, um carro parece vir em direção a Paul. Ou, como os ingleses dirigem na mão esquerda, parece que o carro já atingiu Paul e segue em frente

O Carro de Policia- Um carro de policia, entre John e Ringo, esta parado. Parece estar atendendo a alguma ocorrência, como um acidente.

A Mancada – A mancada maior, o cigarro na mão direita de Paul. Ele era canhoto. Erro do sósia?

Pés descalços Paul é o único beatle de pés descalços. Há um costume de ingleses ser enterrado de pés descalços. Detalhe: seus olhos também estão fechados.

A chapa de um fusca que aparece à esquerda traz a inscrição LMW 28IF. O LMW poderia significar a abreviação de “Linda McCartney Weeps” (Linda McCartney Chora) ou “Linda McCartney Widow” (Linda McCartney Viuva). O 28IF seria “28 years IF alive”, o mesmo que 28 anos SE vivo, se referindo à idade de Paul à época do disco, se não tivesse morrido. Paul, na verdade, tinha 27. Mas, era o dito, em religiões indígenas a idade de uma pessoa é contada a partir da gestação. Então ela já tem 9 meses quando nasce. Logo, Paul teria 28 anos, na época.

Charles Manson

A prova mais concreta dos efeitos das mensagens subliminares dos Beatles. Ninguém interpretou mais realisticamente e encarnou tão enlouquecidamente as mensagens contidas nas entrelinhas dos trabalhos dos Beatles, como Charles Manson, ou Charles The “Man’s Son” (Charles, o filho do Homem, maneira pela qual era chamado Jesus Cristo, no evangelho). Não assinava mais Charles Milles Manson, mas “Charles Will is Man’s Son” Charles era o líder e uma espécie de guru de um pequeno grupo de hippies chamado ‘A Família’, que viviam na periferia das cidades, vendendo drogas, praticando sexo grupal, roubando e realizando cerimônias ritualisticas. Ficavam ouvindo durante horas seguidas suas canções em busca de pistas e símbolos ocultos. Eram na verdade uma espécie de seita, destas apocalípticas de alucinados fanáticos que volta e meia aparecem na mídia atual. Quando os Beatles lançaram o ‘Álbum Branco’, ele gastou muito dinheiro (em cartões de crédito roubados, claro!) ligando para Londres e deixando recados como “Diga ao Paul e ao John que eu entendi tudo !”, como se as mensagens do disco fossem realmente dirigidas a ele. Em 9 de agosto de 1969, Manson começaria a ter notoriedade internacional como um dos ícones mais idolatrados deste século. Ex-presidiário, carismático e desesperadamente apaixonado pelos Beatles, Manson e a ‘família’ cometeriam um dos crimes mais hediondos da história. Cinco pessoas pagaram com a vida, as loucas interpretações das letras das músicas inspiradoras dos homicídios. Eles entraram na mansão em Beverly Hills, alugada pelo cineasta Roman Polanski (diretor de ‘O bebê de Rosemary’). Curiosamente uma das vítimas era sua esposa, a bela Sharon Tate, atriz promissora, com 26 anos de idade e que estava grávida de oito meses. Mesmo assim, ela não foi poupada, seu corpo foi perfurado 16 vezes pela longa lâmina de uma baioneta, e depois, enforcada. Os assassinos confessaram depois que gostariam de ter arrancado o bebe de sua barriga. Na noite seguinte, o grupo entraria em outra mansão e repetiria a tragédia com o casal Leno e Rosemary La Bianca, proprietários de uma rede de supermercados, considerados “piggies”, porcos, para Manson. Vicente Bugliosi, que foi designado pela justiça norte-americana como promotor para atuar nos casos Sharon e La Bianca, no final do processo escreveu um livro sobre o caso com a colaboração de Curty Gentry (Manson: Retrato de um crime repugnante. Tradução de A.B.Pinheiro Lemos. Editora Record-1978. R.Janeiro. 705 páginas). Vicente constatou a incrível semelhança da cena que viu, o casal morto com dezenas de golpes de garfos e facas e na parede, escrita com o próprio sangue, a frase “Death to Piggies” (morte aos porcos) com a música dos Beatles – “Piggies”. Segundo Manson, os brancos ricos eram os ‘piggies’ e a revolução negra era descrita em ‘Blackbird’ e ‘Revolucion 9’ virou ‘Revelacion 9’ como sinal de sua confusa ideologia, fazendo analogia ao Novo Testamento. Outra música que o levou a prática de crimes foi “Helter-Skelter”, onde se ouve grunhido de porcos e metralhadora disparando. Cria também que os Beatles eram os 4 anjos mencionados no livro do Apocalipse, último livro da Bíblia, e que ele, Charles era o quinto anjo do mesmo livro, ou o quinto beatle, Stuart Sutcliff, que em 1962, morrera na Alemanha. Se as teses de Vicente Bugliosi são infundadas, por que G.Harrison não permitiu as citações das letras do grupo em seu livro?

Mesmo cumprindo prisão perpétua numa penitenciária, Manson continua fazendo discípulos na música pop. Um dos casos mais recentes foi o de Axl Rose, da banda Guns N’Roses. “The Spaghetti Incident” seria apenas mais um disco da banda, se entre as músicas não houvesse a “Look at your game, girl” de ninguém menos que Charles Manson. Axl que durante muitos shows da banda também desfilou com a imagem de Manson estampada numa camiseta, tentou justificar a escolha da canção de Manson, um dos assassinos mais frios que o mundo conheceu, porque a música tinha uma letra ‘interessante’. O mais novo fã usa o nome de Manson junto com o de Marilyn Monroe, no seu nome artístico. Trata-se de Marilyn Manson, andrógino, bissexual, satanista assumido que chega a assustar até mesmo metaleiros pesados, fãs de Iron Maiden, Ozzy e companhia. Anton La Vey, autor da Bíblia satânica e fundador da Igreja de Satã, nos Estados Unidos (já falecido), consagrou Marilyn sacerdote satanista antes de falecer.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/musica-e-ocultismo/dossie-beatles/

Além da Zona Malva

Por Peter Smith.

Do negro para o malva…

Uma revisão do livro Além da Zona Malva, de Kenneth Grant.

Durante os últimos quinze anos do século XX, a publicação em série da enciclopédia oculta conhecida como as Trilogias Tifonianas mapeou efetivamente a evolução das correntes fundamentais e principais da teoria e da prática mágica no Ocidente. Nenhum outro autor deste período se aproximou da explicação sistemática e aguda do núcleo da experiência ocultista, e a influência de seus escritos inspirados e inspiradores é evidente entre muitos indivíduos e organizações em todo o mundo.

Com a publicação do oitavo volume das Trilogias, Grant nos fornece tanto uma extensa declaração adicional dos elementos fundamentais da Gnose Thelêmica como exemplos concretos do mundo em que outros ocultistas e artistas, alinhados com a Corrente 93, utilizaram conceitos e técnicas especificamente derivadas ou relacionadas à exegese de Grant, em seus próprios escritos.

Com relação ao primeiro destes aspectos pareados do livro, os capítulos sobre a ‘Máscara Maçônica’, a aplicação da Árvore da Vida, a análise cabalística do Ritual Kaula da Serpente de Fogo e o Orgasmo Parasexual, servem para re-expor, e muitas vezes positivamente redefinir, muito do material contido nos livros anteriores de Grant. Isto não quer dizer que a repetição seja redundante – pelo contrário. De fato, Além da Zona Malva consegue reunir as várias doutrinas de Thelema, Vodu Esotérico, Gnose Lovecraftiana, e os ensinamentos sexuais do Tantra Vama Marga para formar um edifício sem costura e autorreferenciado da magia e alquimia sexual do mundo de hoje que transcende totalmente o trabalho de qualquer outro comentarista – incluindo até mesmo o próprio mentor pessoal de Grant, To Mega Therion.

Que a origem de todo este sistema de conhecimento oculto teve sua origem nas Operações da Loja Nu-Isis de de Grant (um grupo derivado da O.T.O. de Crowley nos anos 50) está agora bem documentada, especialmente nos dois volumes anteriores, A Fonte de Hécate e Portais Exteriores. Uma das principais ‘transmissões’ recebidas pela Loja Nu-Isis, uma curiosa E condensada mensagem cifrada conhecida como ‘A Sabedoria de S’lba’, está incluída no texto de Portais Exteriores, e outra ‘O Livro da Aranha’ (OKBISh) será apresentada no volume final, O Nono Arco. E é sobre textos tão recônditos e provocativos que o monumental sistema de magia de Grant foi desenvolvido, e do qual ele deriva seu efeito inusitado de literalmente hipnotizar os leitores, conduzindo-os através de um labirinto de análise reveladora e gematria – de modo que o ato real de ler em si se torna uma forma de iniciação.

E esta é a chave para entender a estrutura da apresentação destes Mistérios por Grant. Eles não podem ser compreendidos somente através da capacidade do intelecto, através da atenção da mente consciente. Somente abrindo canais de comunicação diretamente à mente subconsciente é que a mensagem intrínseca pode ser transmitida – e este Grant alcança de forma extraordinária através do uso de uma re-apresentação simbólica e arquetípica de certos elementos e temas-chave. Quer apareçam na terminologia e mistérios da Cabala, Tantra, Thelema ou religião egípcia – os interesses fundamentais e subjacentes são os mesmos, e se relacionam com fórmulas psicossexuais verificáveis, e sistemas empíricos de alinhamento e associação astrológica.

O segundo aspecto de Além da Zona Malva toma a forma de exposição de Grant das obras de três indivíduos contemporâneos que, cada um à sua maneira, transportam a metafísica das Trilogias Tifonianas para o século XXI.

O primeiro, e talvez o mais interessante, é Jeffrey D. Evans, que em conjunto com sua sócia Ruth Keenan, operou uma inovadora célula OTO em Miami, Flórida, durante os anos 80. A natureza experimental das ‘K’rla Cell Operations’ é evidente a partir da apresentação de Grant das técnicas fundamentais utilizadas nestes rituais. Por outro lado, a estrutura desenvolvida por Evans Evans e Keenan mostra grande promessa, e está aberta à reinterpretação e desenvolvimento posterior por indivíduos dedicados ao retorno dos “Filhos de Ísis” à Terra. (Neste sentido, é uma grande pena que o comentário pessoal de Jeffrey Evans sobre a célula K’rlal, ‘Cthulhu Cultus’, nunca tenha sido disponibilizado. Talvez este manuscrito possa ser considerado para publicação pela Starfire Publishing em sua agenda futura)?

A segunda pessoa considerada é Maggie Ingalls (também conhecida como Sóror Andahadna/Sóror  Nema), cujas operações são anteriores às da Célula K’rla em cerca de quinze anos. O foco do interesse de Grant aqui é o texto do Liber Pennae Praenumbra, um livro ‘recebido’ que Ingalls recebeu de uma entidade pré-humana (ou ‘super-pessoa’) ‘N’Aton’ em dezembro de 1975. Nos capítulos, “A Base Tifoniana dos Mistérios de Maat I-III”, este documento submete a uma interpretação abrangente em termos da Tradição Draconiana, e encontra muitas evidências para apoiar a natureza verdadeira do texto, e sua proveniência transmundana. (O manuscrito holográfico completo do Liber Pennae Praenumbra está incluído como um apêndice).

Mais recentemente, uma efusão da Corrente Tifoniana surgiu de um lugar bastante inesperado – nominalmente, a “Igreja Gnóstica Branca” (Ecclesia Gnostica Alba) do Patriarca Zivorad Mihajlovic-Slavinski, que tem sua sede em Belgrado, na Iugoslávia. Como no caso de Maggie Ingalls, a base das comunicações recebidas pelos grupos de Zivorad era de natureza mediúnica (principalmente através de membros femininos da Igreja) e o material recebido mostra muitas palavras-chave e imagens referentes à corrente thelêmica. (Muitas dessas mensagens foram transmitidas em outra língua ultraterrestre conhecida como ‘Algoliano’). No entanto, a operação fundamental da EGA, na forma de Intensivas Gnósticas de um dia inteiro, parece dever-se mais à estrutura do treinamento passado de Zivorad como psicoterapeuta do que a operações mais estritamente tifonianas como a Célula K’rla de Evans. Dado que o registro das operações contínuas da EGA termina de forma bastante abrupta em 1991, com o início da guerra civil na Iugoslávia e a correspondente falta de contato com o mundo exterior, é difícil estimar o significado total das “transmissões” recebidas sob os auspícios dos avatares “Aivaz” e LAM.

Após a publicação dramática de um texto autêntico de origem não humana, incluído em seu livro anterior (“A Sabedoria de S’lba”), Além da Zona Mauva pode parecer uma recapitulação dos temas e obsessões dos títulos tifonianos que antecederam os Portais Exteriores. Por outro lado, Grant teve bastante sucesso em transcender seu trabalho anterior – uma síntese dinâmica das muitas e variadas voltas e reviravoltas de sua filosofia mágica única. Além disso, a inclusão da análise detalhada do trabalho destes iniciados que se seguiram acrescenta uma outra dimensão ao livro, um elemento prospectivo que fornece amplas evidências da saúde e do crescimento futuro da Corrente 93. E agora que Grant dirige sua atenção para o volume final de suas trilogias, só podemos esperar o desdobramento do Nono Arco com a devida antecipação – e temor.

Peter Smith.

Além da Zona Mauve. Kenneth Grant, Starfire Publishing, Londres 1999.

(ISDN: 0 9527824 5 6).

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Fonte:

Beyond the Mauve Zone.

https://www.labirintostellare.org/beyond-the-mauve-zone/

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/thelema/alem-da-zona-malva/

Krampus

a parte no natal que preferimos esquecer

Todo dia 25 de dezembro ele viaja pelo mundo, entrando em todas as casas. Ele sabem quem foi bonzinho e quem foi malvado – ele perde tempo para checar a lista duas vezes – e não liga a mínima para os bonzinhos.

A figura do Papai Noel hoje é talvez uma das mais conhecidas no ocidente, para as crianças é ele que traz os presentes, para os adultos é o garoto propaganda da Coca-Cola ou uma opção de fantasia em uma sex shop, para os Xamãs ele é o Grande Espírito Rena que viaja em transe pelos céus em um trenó, usando um gorro vermelho pontudo, sendo puxado por renas voadoras; independente de sua cultura ele se tornou um fenômeno popular que tem um papel a cumprir. E é um papel estranho.

Pense. Papai Noel passa a ano fabricando presentes e investigando a vida de todos. Ele precisa saber quem foi bom para ser recompensado. Mas e se você não foi bom? E se foi uma pessoa com altos e muitos baixos. Foi desagradável, mesquinho e egoísta?

De fato, parece que uma figura que só recompensa e não pune não tem muito propósito. Claro, as crianças acostumadas a ganhar presentes podem se sentir mal, ficar tristes, dar chilique se não ganham nada, mas isso não é exatamente uma punição certo? Papai Noel não deveria sujar as mãos e de fato punir quem não entrou na lista dos bonzinhos?

Claro que não! Ele não precisa sujar as mãos porque já existe quem faça isso. Uma figura tão horrível e nefasta que assustou a própria Igreja Católica, e fez com que ela tentasse a todo custo sumir com esse “policial mal” do natal.

Imagine a cena: é noite, você está na cama tem 12 anos de idade. Ouve estalos, alguém anda pela casa. Você se levanta – é véspera de natal – e, pé ante pé, vai até a sala, para tentar pegar o bom velhinho com a mão na massa. Quando chega na porta e olha para a árvore vê uma criatura com mais de dois metros de altura, com chifres, andando nua. O som de passos eram de seus cascos raspando a madeira, seu corpo, coberto de pêlos escuros e sujos fede, ele carrega correntes enferrujadas enroladas no corpo e assim que te vê põe a língua pontuda para fora. Em uma das mãos ele carrega uma vara e começa a vir na sua direção. Neste momento você percebe, apesar da tenra idade, que não devia ter cortado os cabelos da Barbie da sua irmã e que você nunca mais vai ver seus pais.

Se sua imaginação é vívida, parabéns, você acabou de conhecer o Krampus.

O nome Krampus, também escrito Grampus as vezes, se deriva da antiga palavra germânica “garra”. Na Austria ele é chamado de Klaubauf, em outros países e áreas rurais da europa o conhecem como Bartl, Bartel, Niglobartl, e Wubartl.

O Krampus é uma figura antiga na europa, as menções mais antigas precatam o cristianismo na Alemanha. Suas características físicas são semelhantes às dos sátiros da mitologia grega. Na noite conhecida como Krampusnacht, celebrada no dia 5 de dezembro, na Áustria, Itália e outras paisagens européias, hordas de demônios corriam pela noite, intoxicados, carregando tochas, terrificando crianças e adultos, era a Krampuslauf.

Com a chegada do Cristianismo a Igreja começou seu combate a essa criatura, proibindo qualquer menção a ela, a Krampusnacht ou a Krampuslauf. E até o início do século XX, o Krampus foi sufocado, quase foi esquecido; mas todos aqueles que vivem ou viveram no inferno aprendem a ser pacientes, e depois de décadas o Krampus começa a aparecer novamente e mais forte do que nunca.

Para muitos tanto o Krampus, quanto São Nicolau ou mesmo o Papai Noel podem ser mitos, ou apenas figuras comerciais que perderam mesmo seu status de arquétipo cultural, mas nem todos pensam assim.

Nos últimos 3 anos, o projeto Morte Súbita Inc. desejou trazer mais do que um mero artigo sobre mais uma mitologia européia para você e, por isso, enviamos o Prof. Alberto Grosheniark, nosso especialista em deontologia européia freelancer, para vários países nos meses de novembro e dezembro para nos trazer essa criatura, ou ao menos um relatório mais atual de sua existência.

“Para entender o que é, e principalmente o que se tornou, o Krampus, é mister compreender esta celebração a que chamamos Natal”, começa explicando o professor, passemos a ele então as rédeas do texto.

O Nascimento do Natal

É patente que nos dias moderno as celebrações natalinas não passam de um marketing capitalista, uma forma de se conseguir mais lucros do que em qualquer outro mês do ano. Mas essa realidade está presente, obviamente, nas grandes capitais, cidades infladas pelo comercio e que vivem do dinheiro gerado. Longe desses centros urbanos e comerciais o Natal volta a assumir suas características mais religiosas e sociais, famílias se reúnem, freqüentam igrejas, etc.

Este é um exemplo claro e muito interessante de um mecanismo de transição cultural de festividades. Por um lado pessoas desesperadas para gastar seus salários em produtos que elas sabem, serão liquidados por valores mais baixos nos dias que se seguem ao natal. Por outro pessoas menos urbanizadas que ainda vivenciam o espírito natalino. Perceber como uma celebração se transmuda em outra nos mostra como o Natal se formou em seus primórdios.

O Natal foi criado, sim, criado, pela Igreja Católica para celebrar o nascimento de Cristo. A própria palavra Natal se deriva de Natalis, do latim, que se origina do verbo nascor – nasceria, nasci, natus sum – que tem o sentido de nascer. É a mesma origem do Natale italiano, do Noel francês, o Nadal catalão e do natal castelhano, que acabou evoluindo para navidad – com o sentido do nome de um dia religioso.

Quando enfatizei a criação da festividade, não desejava implicar que muitos acreditavam que ela existisse desde os primórdios da humanidade e sim que ela foi desenvolvida de forma anacrônica com uma finalidade bem determinada. Natal seria o nascimento de Cristo, mas foi instituído apenas no século IV. A primeira celebração natalina que se tem notícia hoje ocorreu em Roma no ano 336 d.C – apesar de algumas evidências que apontem para a Turquia pelo menos 2 séculos antes. O ponto é que o Natal só passou a ser atribuído a Cristo ao menos 300 anos depois de sua suposta existência.

Não há evidências hoje que Cristo tenha sido mais real do que o Dr. Griffin ou Roderick Usher. Duramente perseguidos por onde quer que passassem, os cristãos começaram a ser tolerados no decurso do século IV e em breve se tornariam a religião oficial do estado. Teodósio, o imperador romano, por esta época, já ajudava a organizar as estruturas territoriais da nova igreja. Por que criar uma festividade que exaltasse um homem que era praticamente um agitador comunista quando a instituição passava a ganhar poder político que bateria de frente com os supostos ensinamentos de Cristo?

Devemos nos atentar que os primeiros concílios religiosos visavam eliminar aquilo que consideravam heresias entre os cristãos; foi formulada a doutrina da trindade, colocou-se a questão da relação entre as naturezas humana e divina de Cristo definindo-se que era “perfeito Deus e perfeito homem” e que Maria era Theotokos – Aquela que portou Deus – e não Christotokos – Aquela que portou Cristo. As maiores discussões teológicas, em contrapartida à de cunho administrativo, tinham a ver com a divindade de Cristo, tentando limpar de sua figura qualquer aspecto humano. Por que perder tempo então festejando algo tão mundano quanto seu nascimento “na carne”? Sua vida teve inúmeros pontos que logicamente teriam mais força popular como o início de seu ministério, seus milagres, sua ressurreição, sua subida aos céus. O nascimento é justamente o aspecto mais humano de sua vida. Por que haveria de se tornar então a festa mais conhecida e celebrada de todas?

A existência de Cristo sempre foi um assunto que, inclusive, poderia complicar a Igreja Cristã. Seus ensinamentos eram anti-autoridade, anti-institucionais. Se não fossem as cartas de Paulo de Tarso, não haveriam sequer bases para a fundação de uma igreja, e nessas cartas Paulo deixa claro que aquilo que escreve são opiniões suas e não inspirações procedentes de Deus. Além disso os primeiros cristãos não celebravam o nascimento do Nazareno pois consideravam a comemoração de aniversário um costume pagão.

Para entender o Natal devemos recuar no tempo e nas culturas humanas.

Dia 25 dezembro

Não há como como discutir celebrações de Dezembro sem nos atentarmos ao solstício. Praticamente todo texto sobre o assunto o reduz a celebrações solares de povos primitivos.

O Solstício de inverno é um fenômeno astronômico usado para marcar o início do inverno. Como todo fenômeno astronômico ele não tem um dia fixo para ocorrer – geralmente por volta do dia 21 de Junho no hemisfério sul e 22 de Dezembro no hemisfério norte. No dia do solstício, uma derivação latina das palavras sol e sistere – “que não se move” – o Sol atinge a maior distância angular em relação ao plano que passa pela linha do equador. Hoje acredita-se que povos primitivos, ao notarem que o Sol não se movia no céu e que aquele era o dia mais curto do ano, lhe atribuíam grande importância, o associando, de modo geral, simbolicamente a aspectos como o nascimento ou renascimento.

Bem, por mais que abusemos de nossa fé em relação aa inocência dos povos antigos, não faz sentido acreditar que culturas capazes de, em uma época sem dispositivos digitais, anotar com tanta precisão as posições de corpos celestes e a duração da claridade do dia, se degenerariam em culturas que simplesmente acreditavam que o solstício era o renascimento e morte de algo e então voltariam a evoluir para atribuir esse nascimento e morte a algum Deus.

A crença que temos hoje é a de que em certas regiões, bem próximas do pólo norte, no solstício de inverno o sol desaparece da linha do horizonte, justamente por causa da sua inclinação aparente para o sul. Para quem vive nessa região, o sol fica dias sem nascer, trazendo, portanto, uma noite longa. Conhecendo, então, o “sumiço” aparente do sol em certas regiões, fica fácil entender como surgiu o culto ao sol. Dai basta ver qual a representação arquetípica do sol em diferentes culturas – o deus greco-romano Apolo, considerado como “Sol invicto” e seus equivalentes entre outros povos, Ra o deus egípcio; Utu dos babilônicos; Surya da Índia; assim como também Baal e Mitra. Todos estes e as Saturnálias, deram origem ao dia 25 de dezembro, como o dia do sol.

O único problema com essa teoria preconceituosa é que nem o solstício nem as Saturnálias ocorriam no dia 25 de dezembro.

Então o que teria de interessante este dia específico do ano?

Bem, para início de conversa, este dia só passou a existir, como o conhecemos hoje em 1582, com a criação e instituição do Calendário Gregoriano, o calendário atribuído ao Papa Gregório XIII que visava corrigir o antigo Calendário Juliano que tinha uma contagem imprecisa dos dias do ano – quando foi instituído o calendário gregoriano, seu antecessor já apresentava uma discrepância de 10 dias que “não existiam”.

Como segundo ponto veja a seguinte lista e veja se nota algo em comum:

  •  Prometeu, aproximadamente no alvorecer da humanidade
  •  Osiris, aproximadamente 3000 anos antes de Cristo;
  •  Hórus, aproximadamente 3000 anos antes de Cristo;
  •  Átis de Frígia, aproximadamente 1400 anos antes de Cristo;
  •  Krishna, aproximadamente 1400 anos antes de Cristo;
  •  Zoroastro, aproximadamente 1000 anos antes de Cristo;
  •  Héracles, aproximadamente 800 anos antes de Cristo;
  •  Mitra, aproximadamente 600 anos antes de Cristo;
  •  Tammuz, aproximadamente 400 anos antes de Cristo;
  •  Hermes, aproximadamente 400 anos antes de Cristo;
  •  Adonis, aproximadamente 200 anos antes de Cristo;
  •  Dionísio, aproximadamente 186 anos antes de Cristo;

Todas essas figuras se mostraram seres excepcionais, tiveram tamanho impacto sobre a cultura onde viveram que se tornaram precursores de cultos. Eram seres de magia e ciência. Avatares. Todos eles nasceram dia 25 de dezembro. Todos eles enfrentaram as trevas e, mais importante, todos são portas.

Prometeu é um titã, filho de Jápeto e irmão de Atlas, Epimeteu e Menoécio. Foi um defensor da humanidade, conhecido por sua astuta inteligência, responsável por roubar o fogo de Zeus e dá-lo aos mortais, assegurando a superioridade dos homens sobre os outros animais. Por causa disso foi acorrentado pelos deuses no cume do monte Cáucaso, onde todos os dias um pássaro dilacerava o seu fígado que, todos os dias, se regenerava. Esse castigo devia durar 30.000 anos.

Osiris era um deus da mitologia egípcia. Oriundo de Busíris foi um dos deuses mais populares do Antigo Egito, cujo culto remontava às épocas remotas da história egípcia e que continuou até à era Greco-Romana, quando o Egito perdeu a sua independência política. Osíris governou a terra (o Egito), tendo ensinado aos seres humanos as técnicas necessárias à civilização, como a agricultura e a domesticação de animais. É morto e então esquartejado por seu irmão. Seu corpo é reconstruído e ressuscitado, ele então tem um filho com sua irmã/esposa e passa a governar apenas o mundo dos mortos.

Horus é o filho póstumo de Osiris e Isis. Recebeu a missão de sua mãe de proteger o povo do egito de Set, o Deus do deserto, o assassino de seu pai. Após derrotar Seth se tornou o primeiro Deus nacional do Egito e patrono dos Faraós, conhecido como o filho da Verdade. Era visto como um falcão cujo olho direito era o sol e o esquerdo a lua e nesta forma era conhecido como Kemwer, o Negro.

Átis era o consort humano de Cibele, considerado por muitos um semi-Deus. No dia de seu casamento ele enlouquece e se castra. Depois de morto ressuscita e se torna um Deus da vegetação e fertilidade.

Krishna é retratado em várias perspectivas: como um deus do panteão hindu, como uma encarnação de Vishnu ou ainda como a forma original e suprema de Deus. Krishna é o oitavo avatar de Vishnu. Teve um nascimento milagroso, uma infância e juventude pastoris, e a vida como príncipe, amante, guerreiro e mestre espiritual. Ao ser ferido mortalmente por uma flecha diz ao caçador que “tudo isso fazia parte do meu plano”. Dizendo isso, Krishna partiu para Goloka, sua morada celestial.

Zoroastro foi um profeta nascido na Pérsia (atual Irã), fundador do Masdeísmo ou Zoroastrismo após receber a visita de um ser indescritível que se identificou como Vohu Mano, a Boa Mente. Foi abduzido por este ser e teve acesso ao conhecimento e à sabedoria.

Hermes era o Deus das fronteiras, transitando entre o mundo dos mortais e dos deuses.

Tamuz um deus da fertilidade e da vegetação, viajou ao submundo em busca de sua amada.

A lista prossegue. Hoje se sabe que o nascimento de muitas dessas figuras não ocorreu em dezembro, mas passaram a ser comemorado neste mês. Por quê?

 

Os Espancadores

Existem inúmeras criaturas correndo pelo planeta que, apesar de não possuírem relação entre si, podem ser agrupadas graças a sua natureza. São criaturas violentas cujo maior prazer parecer residir em assustar, punir ou simplesmente espancar os infelizes que cruzam seu caminho. O Barrete Vermelho que vive na Escócia e Inglaterra, que espanca até a morte suas vítimas. O Nain Rouge francês. Jack Calcanhar de molas na Inglaterra. O saci e o curupira na américa do sul, etc.

Algumas dessas criaturas são conhecidas por sua sazonalidade, algumas delas agindo no período que se encontra entre o início de dezembro e do final de janeiro.

  • O Belsnickel, um ser que se aparece envolto em trapos imundos e batidos, invade casas nas primeiras semanas de Janeiro para espancar crianças.
  • No dia 6 de dezembro, casas são visitadas pelo Knecht Ruprecht, que espanca crianças que não sabem rezar com um saco de cinzas.
  • A Grýla, uma gigante que visita casas na Groenlândia, durante a última semana de dezembro para seqüestrar e então cozinhar crianças.
  • No Japão, durance as últimas semanas de Janeiro o Namahage, armado de facas e palmatórias caminha pela rua em busca de crianças.
  • O Pai Espancador, caminha no dia 6 de dezembro espancando crianças na França e Bélgica.
  • Na Austria é Bertha que visitas as casas na última semana de Dezembro e primeira de Janeiro procurando crianças mal comportadas para lhes abrir o estômago, remover o intestino e o substituir com palha e pedras.

E dentre essas criaturas temos figuras como o Homem do Saco aqui no Brasil, ou o Krampus no Velho Continente. Hoje muitos o consideram apenas mais uma figura do enorme universo de criaturas que compõe a angústia Infantil, criaturas como a Cuca e o Boi da Cara Preta, que são evocados pelos pais para que as crianças se comportem. Apenas um mito que serve para manter os pequenos na linha. Mas isso não é verdade.

A figura do Krampus, como já foi discutida, é a de um ser bestial que vive nas áreas não civilizadas. Antes da chegada do moralismo Cristão o Krampus possuía um papel de iniciador. Em diferentes regiões da Alemanha, jovens eram enviados munidos apenas de um pequeno saco de provisões, para as áreas selvagens e desabitadas. Depois de um período que variava de jovem para jovem, ele retornava para sua vila ou aldeia, vestido como o Krampus, mostrando que havia encorporado este espírito na época em que viveu como um animal selvagem.

Quando a bravura e a resistência eram qualidades fundamentais para uma pessoa enfrentar as adversidade do meio, Krampus era um espírito temido, mas desejado pelas pessoas. Uma tradição não muito diferente dos Berserkes saxões, que matavam, se alimentavam e depois vestiam a pele de um animal – lobo ou urso – para se tornarem o animal e assim se tornarem adultos – os engraçados chapéus da guarda inglesa são um remanescente deste ritual de passagem.

O Krampus então, era uma presença real, uma presença que deixava a humanidade, o aspecto civilizado ou mesmo “domesticado” se preferir, do indivíduo para que se tornasse algo novo, mais selvagem, mais resistente. Claro que muitos não sobreviviam e muitos não conseguiam se tornar o Krampus, a garra, e simplesmente retornavam para a aldeia como meros humanos, em alguns casos em condição de vergonha.

Com o Cristianismo não veio apenas a crença em um único Deus, mas também uma série de rituais de iniciação, como o batismo, a crisma, etc. Os primeiros embates da Igreja com as crenças locais eram reencenações dos primeiros conflitos do Jeovah Judeu: Não haverão outros Deuses! E assim a Igreja Católica se valia de sua magia para liquidar outros Deuses.

Falar em Magia Católica não é exagero também. Ela foi uma das grandes responsáveis pelo surgimento dos protestantes, que não suportavam ver os ensinamentos de Cristo sendo proferido por “magos pagãos vestidos de padre”.

A Igreja passou a combater essas criaturas iniciáticas não apenas catequizando aqueles que as buscavam, mas criando uma magia mais poderosa. Isso chegou ao ponto de que em muitos lugares as pessoas acreditavam que um simples pedaço do pão usado no ritual de comunhão era o suficiente para curar doenças, espantar maus espíritos e curar o gado de qualquer mal que o afligisse.

Assim, a igreja passou a atacar não apenas a iniciação com o Krampus, mas todo e qualquer ato relacionado a ele como a Krampusnacht e a Krampuslauf.

Paralelo a isso a Igreja também buscou colocar seu próprio porteiro na porta que ligava mundos: Jesus Cristo. Mudando a data de seu nascimento para a última semana de Dezembro.

Claro que quando afirmo que o Krampus era uma figura real, uma presença real, não me refiro a um folclore ou a uma crença compartilhada, mas a uma entidade como eu e você. Krampus é algo físico, uma figura que poderia ser hoje descrita em termos de um elementar ou um semi-deus, como sátiros ou tantas outras figuras associadas com as crenças grego-romanas.

Para começar a acabar com essas figuras, a igreja começou primeiro a designar santos para as acompanharem, assim grande parte delas acabou tendo sua época de comunhão compartilhada com os festejos de São Nicolau e em pouco tempo passou a ser o “acompanhante” do santo. As pessoas não buscavam mais ao Krampus ou a outras figuras, e desta forma o “acordo” cultural que existia foi quebrado. O próprio Krampus passa a ser retratado e descrito como uma entidade presa a correntes.

Isso explica a atitude da grande maioria dessas figuras, buscar atacar especialmente crianças. Como o flautista que se viu logrado de seu pagamento, os antigos iniciadores partem em busca da maior riqueza dos povos, suas crianças. Mas esses ataques não seriam também gratuitos: o medo gera respeito, ainda mais se infligido durante a infância. Antes de cair nas garras intelectuais do cristianismo, os iniciadores buscariam comprovar sua existência às pessoas em uma época em que elas soubessem distinguir que as criaturas são reais.

Claro que mesmo assim, não havia como conseguir novamente pessoas buscando a iniciação, e tais entes ganharam um tatus de meros bichos-papões, sendo relegados à categoria de lendas.

 

A Volta do Krampus

Curiosamente justamente aquilo que o prendeu em correntes de lenda foi o que o trouxe de volta. Com o crescimento do Cristianismo, logo surgiram aqueles fiéis contrários à magia da Igreja. Julgavam que todo e qualquer ritual ou costume mágico era uma afronta a Deus e passaram a combater qualquer coisa que não a fé e a leitura da Bíblia. Nascia assim o protestantismo.

Os primeiros protestantes buscaram acabar com a Missa Católica, com o ritual de comunhão, com o Batizado, fizeram questão de mostrar que os padres eram pessoas comuns sem poderes e o Papa um mero enganador de todos. Eles proibiram o ritual de exorcismo, de crisma, de extrema-unção. Proibiam atos como abençoar o vinho e o pão, abençoar objetos, fossem sagrados ou não, a consagração de terrenos, construções ou qualquer coisa. Os feriados e comemorações católicas foram sendo combatidos, acusados de não passarem de costumes pagãos transvestidos de cristianismo. E assim o poder da Igreja começou a ser minado.

Não é surpresa ver que nos dias de hoje as comemorações dedicadas ao Krampus voltaram e não apenas na Europa. O Krampus hoje corre solto novamente, livre das amarras cristãs.

Visitei algumas dessas comemorações na Finlândia e na França e de fato rodas de demônios correm pelas cidades, embriagados por Krampus schnapps – um licor muito forte -, intimidando crianças e adultos. O aspecto iniciático se foi, hoje nossos rituais de maturidade estão mais ligados a possuir cartões de crédito e poder ter uma conta bancária do que provarmos sermos capazes de sobreviver à vida.

A Noite de Krampus tem início com algumas pessoas se vestindo com peles, botas pesadas e máscaras com chifres, armados de chicotes e varas. Eles visitam as casas, especialmente as que tem crianças, invadindo-as e correndo, assustando a todos. Então recebem o convite para beber, e o fazem. No fim da noite essas pessoas estão embriagadas e por vezes o número de feras “fantasiadas” ligeiramente maior, é então que a corrida de Krampus se torna mais violenta e fora de controle.

Seria muita inocência acreditarmos, quando observamos a balbúrdia causada por aquelas criaturas barulhentas, que todas elas são apenas pessoas com fantasias. Da mesma forma que as virgens da antigüidade recebiam os oráculos, ou que os praticantes do vodu haitiano se tornam cavalos para os deuses, muitas daquelas criaturas deixam de ser humanas, se é que já o foram. Mesmo nesta “Era de Razão” a figura do Krampus é temida como um folclore jamais seria. O governo Austríco chegou a proibir a tradição da Krampusnacht, na década de 1950 panfletos entitulados “Krampus é um Homem Mau” circulavam pelas cidades.

Hoje existem as Krampusfest, também chamada Kränchen, atendidas por mais de 300 pessoas, bêbadas, lascivas e fora de controle.

Os Krampuskarten

Apesar das proibições, no século XIX surgiram os cartões Krampus, eram como cartões postais que mostravam a criatura, geralmente acompanhados da mensagem: Gruß vom Krampus! (Saudações do Krampus)

Com o tempo a imagem do Krampus mudou, seu aspecto bestial foi lentamente mudando. As cenas onde ele ameaçava crianças começaram a ser subtituídas por imagens com um apelo mais sensual, onde o Krampus aparecia à volta com mulheres de curvas voluptuosas. Hoje em muitos cartões o Krampus surge como uma figura fofa e amável, como um pequeno cupido.

 

   

 

Com o fim de suas amarras o Krampus se viu livre para “expandir sua empreitada”, não apenas para o norte da Itália e o sul da França. Hoje o Krampus é celebrado na Inglaterra, Escócia, Estados Unidos. No México é conhecido como Pedro Preto. Logo as Krampusfest e a Krampusnatch serão celebradas como a noite de Halloween, e o Krampus voltará a correr não apenas por cidades, mas por todo o mundo.

por Albertus Grosheniark

Postagem original feita no https://mortesubita.net/criptozoologia/krampus-a-parte-no-natal-que-preferimos-esquecer/

Vodu, Voodoo e Hoodoo – Diamantino Trindade

Bate-Papo Mayhem 216 – 05/08/2021 (Quinta) 21h Com Diamantino Trindade – Vodu, Voodoo e Hoodoo

Os bate-Papos são gravados ao vivo todas as 3as, 5as e sábados com a participação dos membros do Projeto Mayhem, que assistem ao vivo e fazem perguntas aos entrevistados. Além disto, temos grupos fechados no Facebook e Telegram para debater os assuntos tratados aqui.

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#Batepapo #vodu

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/vodu-voodoo-e-hoodoo-diamantino-trindade

Feitiços de Envultamento

Shirlei Massapust

Tomei a liberdade de compilar alguns rituais bizarros somente para estudo folclórico-antropológico. Além de antiéticos, os crimes de perturbação de cerimônia funerária, violação de sepulturas, destruição e vilipêndio a cadáver estão todos tipificados do artigo 209 ao 212 do Código Penal Brasileiro.

Agulha Encantada

Fonte: Livro Vermelho e Negro de São Cipriano (versão de Murzin G Gemwy).

São Cipriano, propositalmente, tornava suas mágicas bem difíceis de preparar, a fim de evitar que caísse na mão de pessoas ignorantes ou mal intencionadas. Hoje, que o povo está mais evoluído, há mais instrução, pode-se publicar as fórmulas mágicas sem aqueles obstáculos propositais.

A mágica da agulha falava em passar uma agulha com um fio de linho galego por três vezes, pela pele da barriga de um defunto. No original grego São Cipriano fala “epiderme” (επιδερμίδα) significando “em cima da pele”. (…) Referia-se pois, São Cipriano à mortalha do defunto e não ao seu corpo. (…) Para fazer esta mágica deve-se oferecer para ajudar a costurar a mortalha ou a roupa de um defunto. Leve uma agulha virgem e use-a para isso. Enquanto costura a peça concentre-se nas seguintes palavras: “Fulano (o nome do morto) esta agulha na tua pele vou passar, para que fique com força de encantar”. Terminado leve a agulha para casa e guarde-a muito bem, pois servirá para muitas mágicas.[1]

Para que um morto nos livre de uma doença

Fonte: Livro do Touro Negro.

Aproximai-vos de um defunto que esteja para ser enterrado, e dizei: “Fulano (dizei o nome do morto), já que estás indo embora, leva contigo esta minha doença (dizei o nome da doença), para que eu dela fique livre, e nunca mais volte a sofrer dela nem de coisa parecida[2].

Trabalho aos pés de um morto para matar alguém

Fonte: O Livro de São Cipriano.

Deve-se dirigir a um cemitério em que esteja acontecendo um velório (…) sendo que de preferência o defunto seja amigo ou conhecido, mas se não o for que saiba-se o nome do mesmo. (…) Aproximando-se do defunto, o que deverá ser feito pelos pés do defunto, finge-se que se está arrumando as flores que por certo estarão cobrindo o cadáver, e com muito cuidado e concentração, mentaliza-se o nome da pessoa que se quer despachar para o “outro mundo” e, com um pedaço de papel branco em que já deverá ter sido escrito o nome completo dessa pessoa, enterra-se no meio das flores. Ao fazê-lo, como se falasse a si próprio, pede-se ao defunto que, ao partir para a eternidade leve com ele a tal pessoa. A seguir dever-se-á dirigir para o lado em que se encontra a cabeça do defunto e, curvando-se como se ao seu ouvido algo fosse dizer, pronuncia-se novamente o nome da pessoa que se quer despachar e pedir, mais uma vez, ao morto, que a leve desta para outra vida. (…) Ao sair dirigi-se imediatamente ao Cruzeiro das Almas e acende-se uma vela preta em homenagem a seu Omulu e pede-se ao mesmo que tome conta da pessoa que se quer despachar.[3]

Circunstância Despenalizadora (Consentimento do Ofendido)

Em 13/10/2012, o Programa do Pedro Augusto, na Rádio Tupi, noticiou uma ocorrência policial inusitada. Logo depois que a mãe de uma mulher chamada Jussara faleceu, a filha escreveu dezessete nomes de desafetos num papel, abriu a boca do cadáver e colocou a lista dentro. As pessoas cujos nomes estavam escritos no feitiço ficaram sabendo e tentaram roubar o cadáver durante o velório para retirar o papel. A polícia impediu e a falecida foi enterrada enquanto as pessoas medrosas tentavam inutilmente explicar para a polícia que colocar o nome de alguém na boca de um cadáver faz com que o inimigo morra… Isso é interessante porque se a mãe, sabendo que ia morrer, deu permissão para a filha fazer isso, não existe crime de vilipêndio a cadáver. É o mesmo caso da pessoa que doa o corpo para autópsia educativa em faculdades de medicina ou para finalidade artística (ao exemplo de certo amante das artes cênicas que só conseguiu realizar o sonho de ser artista de teatro depois da morte, doando o próprio crânio em testamento para fazer o papel do pai de Hamlet).

Diferentemente dos maus tratos a animais, inclusive sapos, que ganharam penalidades severas com o artigo 32 da Lei Federal nº. 9.605/98, o consentimento do moribundo por codicilo ou testamento pode fazer com que não haja crimes de perturbação de cerimônia funerária, violação de sepultura, destruição e vilipêndio a cadáver, todos tipificados do artigo 209 ao 212 do Código Penal Brasileiro. E como o crime de “tentativa de homicídio” não prevê pena para feitiço, logo não existe ato ilícito quando se enterra pessoa que deixa testamento ou codicilo autorizando rituais exóticos.

Outro trabalho ao pé de um morto

Fonte: Mandinga ensinada por Márcia Cristina Neves.

Pegue um boneco de pano ou de cera e o batize em uma cachoeira com o nome da pessoa a ser atingida. Vá ao cemitério, segure o boneco com a mão esquerda e vá espetando alfinetes e agulhas virgens no boneco. A cada parte do boneco que for espetada, deve-se dizer: Com este alfinete estou atingindo fulano na perna, na cabeça e assim por diante. Depois de espetar todas as partes do corpo, enfie uma agulha no coração do boneco e diga as mesmas palavras. A seguir, enterre o boneco aos pés de um defunto fresco e peça a este que o leve com ele.[4]

Trabalho para que todos os mortos persigam alguém

Fonte: Mandinga ensinada por Márcia Cristina Neves.

Obtenha uma amostra do cabelo da vítima, e coloque-a num pequeno caixão. Enterre-o num cemitério. Em três dias a pessoa morrerá.[5]

Exemplos de Casos Concretos

Fonte: Pesquisa de campo de Clarival do Prado Valladares.

O achado mais estranho nessas pesquisas ocorreu no velho cemitério, de cripta, no antigo Convento de São Francisco, de Vila Velha de Alagoas, hoje Deodoro. O cemitério em desuso, com entrada de alçapão pela Capela do Sacramento, consta de uma cripta de cerca de 4 X 6 m em correspondência às dimensões da capela, com carneiros construídos nas paredes laterais e lajes de campas. Sua coberta tem a altura máxima de 2,5 m. Fizemos a documentação fotográfica com um refletor que providencialmente nos serviu para o exame detalhado das inumeráveis inscrições de nomes de pessoas e datas recentes, até de 1965, em letras de imprensa e de uma mesma caligrafia, enchendo totalmente o forro abobadal da cripta. De maneira alguma aquelas inscrições, feitas a fumo de velas, contra o reboco, poderiam corresponder aos nomes dos sepultados. Praticamente todas as datas já estavam fora do seu uso, e nem há sinais nem notícias de sepultamento nestes últimos decênios. Encontramos urnas de restos mortais trasladados, violadas, com os ossos, cabelos e fragmentos de vestes, espalhados sobre um batente.

As freiras que dirigem o educandário instalado no antigo convento franciscano de Deodoro nada sabem informar porque é uma ocorrência antes da presença delas. Em nossa interpretação trata-se de prática de feitiçaria, com uma caligrafia idêntica para várias inscrições, cujos nomes não parecem ser de mortos, mas de indiciados do fetichismo. Nada mais podemos indicar sobre esses achados, ignorados pelas pessoas locais, senão a evidência das fotografias.

No velho Cemitério de N. S. do Rosário (1875), das ruínas de Iguaçu Velha, além da prática de macumba em torno do Cruzeiro, que tem ação votiva e de apelo nas viscitudes dos crentes, há os restos de um luxuoso e impotente jazigo de cerca de cinco metros de altura construído em base de alvenaria revestida de laje de mármore, pedestal e nicho em colunatas de mármore. Próximo deste jazigo encontram-se os restos da base de uma capela-jazigo cuja entrada foi fechada por parede de alvenaria e na qual, posteriormente, se fez uma abertura de 40 X 50 cm. Examinando o interior desta capela-jazigo, com o foco de uma lanterna, encontramos uma quantidade espantosa de objetos de uso pessoal (roupas, cartas, retratos, vidros, terços, etc.) e todas as paredes preenchidas com nomes e datas de pessoas riscadas a carvão, grafite, tinta, e também a fumo de vela. Há uma certa semelhança entre esta observação e aquela outra de Deodoro, de Alagoas. Nossa cautela está em diferenciar a prática ingênua da macumba, em termos de ação votiva e de apelo, com esta outra de caráter de feitiçaria demonológica capaz de atingir a criminalidade do vandalismo, do sacrifício e do infanticídio que não é tão desconhecido do próprio noticiário dos jornais brasileiros.[6]

Trabalho para matar alguém

Fonte: Mandinga compilada pela revista Homem Mito e Magia.

Em 1939, teria chegado mais uma receita, procedente de Illinois, Estados Unidos: “Uma maneira segura de matar um homem é colocar sua imagem sob uma cantoneira do telhado da casa de quem executa o feitiço, durante tempo chuvoso, e deixar que a água pingue sobre ela”.[7]

O Maléfico da Figura de Cera

Fonte: Mandinga ensinada por N. A. Monina.

Pegue um pedaço de cera virgem, amolece-o em água quente, modela então com ele uma figurinha, pensando intensamente nas pessoas que queres enfeitiçar: “Fulano de Tal, à tua semelhança faço esta efígie para que tu fiques amarrado a ela de tal maneira que teu corpo seja seu corpo e o seu seja lugar de todas as sensações”.

Se tens cabelos, algum dente ou aparas de unhas provenientes da pessoa que estás enfeitiçando, põe na figura e, se possuis roupas ou peças interiores usadas pela vítima, faze com elas um vestuário que o relembre quanto seja possível.

Disposta assim a figura, uma noite à hora de Saturno atravessa-a em todos os sentidos, com agulhas ou espinhos envenenados, cobre-a de injúrias e maldições em nome de Guland, imaginando firmemente que tens à tua frente a mesma pessoa de corpo e alma; joga por fim o boneco no fogo.

Se tudo isto fizeres como digo, pondo toda tua fé e força de vontade, não duvides de que, como a cera se derreterá e consumirá, assim se consumirá a pessoa sofrendo dores agudas em todas as partes correspondentes às feridas feitas na figura.

Eis a descrição do enfeitiçamento clássico, que se encontra com ligeiras variações na maioria dos antigos grimórios. Em alguns, à descrição copiada, acrescenta-se: “A figurinha de cera pode ser substituída por um sapo vivo” mas as imprecações são as mesmas. Outra prática requer que o sapo seja amarrado com cabelos da vítima e, depois de ter cuspido sobre ele, enterra-se sob a entrada da casa da pessoa enfeitiçada ou em outro sítio sobre o qual a pessoa tenha que passar com freqüência.[8]

Castigo de Amor

Fonte: Livro Vermelho e Negro de São Cipriano (versão de Murzin G Gemwy).

Para se castigar alguém que não cede às nossas solicitações amorosas, se for mulher, consiga um sapo e, segurando-o com a mão direita, estando inteiramente nua, passe-o pela barriga, até o sexo, por sete vezes, dizendo: “Sapo, sapinho, assim como eu te passo na minha vagina, assim também (fulano) não tenha sossego nem descanso, enquanto não me procurar para praticar aquilo que desejo, ficando sob meu poder, de corpo e alma”.

Pega-se linha de retroz verde, com uma agulha bem fina, e costura-se as pálpebras do sapo, com o máximo cuidado para não cegá-lo (se isso acontecer poderá cegar a pessoa a quem se destina a magia) dizendo: “Assim como este sapo deixará de ver, (fulano) também deixará de ver outras mulheres, tendo olhos só para mim”.

Guarda-se o sapo em uma gaiola onde se deverá alimentá-lo até ter conseguido tudo. Depois disso, com uma tesourinha de unha, corta-se a linha e solta-se o sapo em alguma lagoa.[9]

Como fazer uma mulher apaixonar-se por um homem

Fonte: Picatrix.

Faz-se a imagem de cada um deles com pó de pedra, misturado com goma e, depois, colocam-se as imagens, frente a frente, em um vaso com sete brotos; queima-se o vaso no forno, a seguir acende-se o fogo na lareira e põe-se um pedaço de gelo no fogo; quando o gelo derrete, tira-se o vaso e a feitiçaria está completa. O fogo derretendo o gelo representaria o amor aquecendo os corações do homem e da mulher.[10]

 Magia negra ou feitiçaria que se faz com dois bonecos para fazer mal a qualquer criatura

Fonte: Antigo Livro de São Cipriano (versão de N. A. Molina).

Fazei dois bonecos. Um deles significa a criatura a quem se vai fazer o feitiço, e o outro significa o que vai enfeitiçar. Depois que os ditos bonecos estejam prontos, deveis uni-los um ao outro, de maneira que fiquem muito abraçados. Depois de tudo isto pronto, atrai-lhes a ambos uma linha em volta do pescoço, como quem os Está a esganar, e depois de feita esta operação pregai-lhe cinco pregos, nas partes indicadas:

1° Na cabeça, que vare um e outro.

2º No peito, da mesma maneira.

3° No ventre, que vare de um lado ao outro.

4° Nas pernas, que vare de um ao outro lado.

5° Nos pés, de modo que lhes fure de um lado ao outro.

Há ainda uma condição é que os ditos pregos devem ser empregados com acompanhamento das seguintes invocações nos diferentes sítios em que se espetam:

1° prego — Fulano ou fulana, eu, fulano, te prego e te amarro e espeto o corpo, tal e qual como espeto, amarro e prego a tua figura.

2º prego — Fulano ou fulana, eu fulano, te juro debaixo do poder de Lúcifer e Satanás que, de hoje para o futuro, não hás de ter nem uma hora de saúde.

3° prego — Fulano ou fulana, eu fulano, te juro debaixo do poder da mágica malquerença, que não hás de hoje para o futuro, ter uma só hora de sossego.

4° prego — Fulano ou fulana, eu fulano, te juro debaixo do poder de Maria Padilha, que de hoje para o futuro ficarás possesso de todo o feitiço.

5° prego — Fulano ou fulana, eu fulano, te prego e amarro dos pés à cabeça, pelo poder da mágica feiticeira.

Desta forma a criatura enfeitiçada nunca mais pode ter uma hora de saúde.[11]

Exemplo de caso concreto

Fonte: Pesquisa de campo de Letícia Matheus e testemunho de Glória Perez.

 

Os ossos da atriz Daniella Peres, assassinada em 28 de dezembro de 1992, foram transferidos pela família para um lugar não revelado, depois que foi constatada a violação do túmulo da atriz, no Cemitério São João Batista, em Botafogo. De acordo com a novelista Glória Perez, mãe da vítima, o túmulo foi aberto na semana do Natal, e, dentro dele, havia flores do cruzeiro. Ao lado, foram encontrados dois bonecos amarrados e espetados com alfinetes. Na lápide, uma inscrição indicava a data do assassinado. — “Havia um detalhe impressionante, que nos remete à noite do crime: bem junto ao corpo dela, havia ossos de um animal grande serrados. As pontas da sapatilha que enfeita o túmulo também foram cuidadosamente serradas” — contou Glória, revoltada com o vandalismo. (…) Na época do assassinato da atriz Daniella Perez, a escritora Glória Perez acreditava que ela teria sido morta num ritual de magia negra. Próximo ao seu corpo foram achados ossos e na casa onde Guilherme e Paula moravam, em Copacabana, a polícia encontrou uma imagem de um preto velho. Uma ex-empregada confirmou que o casal praticava rituais. (…) A tese de que a atriz teria sido morta num ritual ganhou as páginas dos jornais, mas a polícia não levou a sério a hipótese de a jovem ter sido assassinada em meio a um espetáculo macabro. Ao ser encontrada, Daniella tinha 18 perfurações no corpo.[12]

Para livrar alguém da perseguição dos fantasmas

Fonte: Livro do Touro Negro.

Aquele que souber pintar ou desenhar poderá ver-se livre, muito facilmente, de algum fantasma que o perseguir. E é que, ao desenhar o fantasma, estará fazendo com que ele fique preso na tela ou no papel. E o que se desenhar ou pintar há de ser o mais possível semelhante ao fantasma que se vê, porque só assim ficará ele preso. E de outra maneira não ficará.[13]

Para livrar alguém da perseguição de vampiros

Fonte: Manual Prático do Vampirismo.

Os que se crêem perseguidos por vampiros devem pintar numa tela esses vampiros, ou desenhá-los num papel. Uma vez pintados ou desenhados, os vampiros ficam presos, e deixam de importunar os seres humanos. Quem tiver habilidade para pintar ou desenhar deve aproveitar essa habilidade para livrar-se dos vampiros que sugam o nosso sangue durante à noite.[14]

O Alfabeto Simpático

Fonte: Magia ensinada por Gérard Encause (1865-1916).

Este gênero de operação consiste em traçar algumas letras sobre o braço, por meio de uma agulha e em introduzir sangue de um amigo na incisão feita.

Esta operação deve ser praticada igualmente sobre o indivíduo com o qual se deve entrar em correspondência e, então, por muito afastado que esteja um do outro, podem ambos se comunicarem certos acontecimentos, dando o que avisa uma ligeira picada em certas letras de seu braço, e que será sentida imediatamente por aquele com quem se comunica.[15]

Feitiço contra distúrbio na produção de Oxitocina

Fonte: Wier, V. IX.

Para um homem que quer curar-se do amor infeliz que apaixonadamente devota a uma mulher, que ponha excremento mole dessa mulher no sapato, porque o seu cheiro fará diminuir nele progressivamente a chama![16]

Notas

[1] GEMWY, Murzim G. O Grande e Legítimo Livro Vermelho e Negro de São Cipriano. São Paulo, Edrel, p 77.

[2] BAKKATUYU, Sirih. Livro do Touro Negro. Rio de Janeiro, Ediouro, p 87.

[3] STAMM, Samuel. O Livro de São Cipriano. Rio de Janeiro, Rede Carioca, 2002, p 103.

[4] NEVES, Márcia Cristina A. Do Vodu à Macumba. São Paulo, Tríade, 1991, p 85.

[5] NEVES, Márcia Cristina A. Do Vodu à Macumba. São Paulo, Tríade, 1991, 72.

[6] VALLADARES, Clarival do Prado. Arte e Sociedade nos Cemitérios Brasileiros: Um estudo da arte cemiterial ocorrida no Brasil desde as sepulturas de igrejas e as catacumbas de ordens e confrarias até as necrópoles secularizadas. Vol I. Rio de Janeiro, Departamento de Imprensa Nacional, 1972, p 439-1440.

[7] A MAGIA DA IMITAÇÃO. Em: Homem, Mito & Magia. São Paulo, Três, 1973, p 44.

[8] LE DRAGON ROUGE. Em: N. A.MOLINA. Nostradamus, a Magia Branca e a Magia Negra. (2a edição). Rio de Janeiro, Espiritualista, p 122-124.

[9] GEMWY, Murzim G. O Grande e Legítimo Livro Vermelho e Negro de São Cipriano. São Paulo, Edrel, p 67.

[10] PICATRIX. Em: Homem, Mito & Magia. São Paulo, Três, 1973, p 45.

[11] N. A.MOLINA. Antigo Livro de São Cipriano: O gigante e verdadeiro Capa de Aço. (29a edição). Rio de Janeiro, Espiritualista, p 240-241.

[12] MATHEUS, Letícia. Túmulo de atriz é violado. Em: EXTRA, 2ª edição, 30/12/1999, p 12.

[13] BAKKATUYU, Sirih. Livro do Touro Negro. Rio de Janeiro, Ediouro, p 76.

[14] LIANO JR, Nelson e COELHO, Paulo. Manual Prático do Vampirismo. 1ª ed. Rio de Janeiro, ECO, 1986.

[15] PAPUS. Tratado Elementar de Magia Prática. Trd. E. P. São Paulo, Pensamento, 1978, p 401.

[16] DUMAS, François Ribadeau. Arquivos Secretos da Feitiçaria e da Magia Negra. Trd. M. Rodrigues Martins. Lisboa, Edições 70, 1971, p 126.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/realismo-fantastico/feiticos-de-envultamento/

Entradas das Trevas: uma introdução a magia de Mito de Cthullu

A Ordem Esotérica do Dagon é uma rede internacional de mágicos, artistas e outros visionários que estão explorando os mistérios ocultos inerentes ao horror e a fantasia escritos na Nova Inglaterra pelo escritos Howard Phillips Lovecraft (1890-1937). O “Mito de Cthullu” (como normalmente é conhecido) depende de uma serie de contos de Lovecraft, mais os de outros escritores que empregam dispositivos fictícios semelhantes. A premissa básica do Mito de Cthullu é que há um grupo de entidades transdimensionais – conhecidas como os Grandes Antigos que, “quando as estrelas estão certas” podem entrar em nosso mundo através de portões psíquicos ou portões físicos. Os Grandes Antigos representam um “Conhecimento Ancião” que antecede a civilização, para a percepção humana, são ambos imensamente poderosos e alienígenas. Nos contos do Mito de Cthullu, há uma rede (ou conspiração) de cultos que adoram os Grandes Antigos e procuram acelerar o seu retorno a Terra.

A inspiração de Lovecraft para seus escritos vieram de seus sonhos, e suas cartas (ele carregava uma volumosa correspondência com colegas escritores) mostram que ele teve um pesadelo todas as noites de sua vida. Extraído de uma carta ele descreve um pesadelo sobre Nyarlathotep, um dos Grandes Antigos:

“Como eu fui atraído para o abismo eu emitia um grito retumbante, e a imagem parou. Eu estava com muita dor – testa batendo e ouvidos zumbindo – mas eu tinha somente um impulso automático – para escrever e preservar a atmosfera de medo incomparável, e antes que eu percebesse eu tinha puxado a luz e estava rabiscando desesperadamente… Quando completamente acordado eu recordei de todos os incidentes, mas havia perdido a emoção requintada do medo – a real sensação da presença de um hediondo desconhecido.”

Embora Lovecraft tenha escrito inúmeras historias de horror ele não tinha nenhuma crença ou fascínio especial com a ocorrência real do fantástico. Enquanto ele negou veementemente a existência de fenômenos ocultos – que ele era incapaz de aceitar e por isso marca os Grandes Antigos como o mal e as praticas de seus cultistas como “blasfêmia”. Os ocultistas, no entanto, reconhecem o poder das imagens transmitidas por sonho. A capacidade de experimentar sonhos lúcidos que são internamente consistentes e contíguos uns aos outros é um elemento fundamental ao xamanismo, de fato, em algumas culturas, potencias xamãs sã reconhecidos pelas características dos seus sonhos. O sonho é um portal físico para as “vibrações” dos Grandes Antigos para entrarem na consciência humana, é um conceito recorrido muitas vezes nos contos de Lovecraft. Seus protagonistas, por vezes assistem aos “Sabat Astrais” em que são iniciados nos cultos secretos, são mostrados mistérios que abalam a sanidade e recebem os benefícios dos Conhecimentos Anciões. Tais experiências são bastante comuns entre os magos que trabalham em qualquer sistema, como ambos os eventos espontâneos e o resultado de “sonhar a vontade” (usando sigilos, por exemplo) em experimentação com agentes psicoativos. Vários dos Grandes Antigos aparecem para aqueles que buscam o Conhecimento Ancião através dos sonhos (ou quem busca de um “sintonizador desconhecido” para as transmissões dos Antigos), e o mais proeminente um Antigo Cthullu, uma estrela alada cefaloide que reside “no sonho da morte” dentro de uma cripta na cidade mais Anciã de R’Lyeh, sob o Oceano Pacifico. A historia de Lovecraft “O Chamado de Cthullu” relata os acontecimentos que envolveram  a breve aparição de R’Lyeh, que anunciada por uma onda mundial de insanidade, como certos indivíduos “sensitivos” pegam oníricas transmissões do Grande Cthullu. No Mito, ele é o senhor dos sonhos, e atua como uma espécie de intermediário entre a consciência humana e a natureza verdadeiramente alienígena dos Antigos tais como Azathoth ou Yog-Sothoth. Sua cidade, R’Lyeh, foi recentemente identificada com Nan-Madol, uma cidade de pedra arruinada consistindo de ilhotas artificiais na ilha do Pacifico de Pohnpei. No Mito, R’Lyeh é construída ao longo de linhas de uma geometria não Euclidiana, com ângulos e perspectivas estranhas em que os incautos podem ser engolidos. A cidade inteira é uma serie de portais para outras dimensões, e pode ser visto como uma forma de tuneis de Set Kenneth Grant. Ângulos estranhos e matemática foram também um interesse de Austin Osman Spare, que percebia coisas em sonhos, mas não podia coloca-las no papel. R’Lyeh é uma porta psíquica para as camadas mais profundas da consciência e os sonhos formam a interface pela qual há dois sentidos de trafego de imagens da consciência desperta para a Mente Profunda.

Nas historias de Lovecraft, muito do Conhecimento Ancião é preservado em uma coleção de grimorios, dos quais o mais famoso é o Necronomicon (Livro dos Nomes Mortos), que ao longo dos anos tem aparecido em varias formas. O Necronomicon é reconhecido pelo arquétipo de  “Livro Astral” – chaves primárias no discurso que são “secretadas” no mundo dos sonhos e que podem ser “ligadas a Terra” em forma de fragmentos por artistas, mágicos e outros visionários. Mais uma vez, esta é uma experiência oculta recorrente, não existindo uma grande variedade de obras que foram recebidas por clarividência ou canalizadas através de varias entidades. Dentro da E.O.D, existe uma “Escola de Sonho” (contatada através do sonhar) que consiste em uma variedade de locais, alguns dos quais são retirados os contos do Mito de Cthullu, na qual os iniciados podem ter acesso a artefatos e livros notáveis. Há alguns anos atrás, por exemplo, em um mosteiro no alto do Planalto Ciclópico de Leng, me foi mostrado uma serie de imagens de tarô de detalhes obscuros e cores vivas que embora tenha sido (e continua sendo) muito impossível para eu coloca-las para baixo, para mim é muito fácil chama-los a mente, mesmo quando escrevo este artigo. O “keeper” das imagens estava disposto a exibi-las, mas como ele cinicamente comentou na época sabia que eu não era capaz de traduzi-las a partir dos sonhos do mundo físico. O Mundo dos Sonhos Lovecraftiniano tem sua própria tipologia – ter ligações com ambos os locais terrestres e lugares que são acessíveis apenas para sonhadores qualificados e intrépidos. Ao explora-la é possível conversar com seus habitantes relativos do Conhecimento Ancião, visitar locais de renome e viajar através do tempo e espaço usando uma forma de exploração astral que novamente é primariamente Xamânica – o de mudança de forma. Imagens relacionadas com a mudança de forma ocorrem durante todo o Mito de Cthullu, com a transição de humano para “O Profundo” – uma corrida de batráquio – moradas do mar que são servos de Cthullu, relacionados ao deus Dagon; ou a transição de humano para Ghoul. O conceito magico relacionado com tais transformações é o “Ressurgimento Atavistic” – a reificação das “encarnações” anteriores da consciência humana desde as profundezas da mente, na consciência de vigília. Lovecraft apontou o caminho para ascender a estados específicos de consciência que se relacionam com nossos ancestrais reptilianos e os chamados “cérebro dragão” – o sistema límbico primitivo que é a sede de nossa consciência primal.

Outra chave para desvendar os segredos dos Conhecimentos Anciões é a técnica de vidência – em um copo ou bola de cristal. Ambas vidências de vidros e cristais que estão sintonizados para transmitir certas vibrações surgem em contos do Mito de Cthullu, muitas vezes como um processo de mão dupla. A pessoa que usa esses dispositivos vislumbra outras dimensões, mas ao mesmo tempo, os habitantes daquelas dimensões tornam-se cientes e eventualmente ameaçam os videntes. Esta foi a única maneira em que Lovecraft podia aceitar o processo de se tornar receptivo as imagens e “transmissões” da mente profunda, como ser acusado com ameaças de insanidade e eventualmente desgraça.

Todas as técnicas descritas até agora tendem a ser do praticante só, e são orientadas introspectivamente. Mas Lovecraft também faz uso extenso de “ritos amigáveis”, que são novamente remanescentes do xamanismo, vodu ou até mesmo bruxaria. Tais feitiçarias físicas estão relacionadas com pontos físicos de energia – normalmente círculos de pedra, edifícios especialmente construídos ou marcos estranhos. Eles muitas vezes envolvem sacrifícios humanos ou animal, cruzamento incestuoso e em “The Dunwich Horror” um “casamento sagrado” entre a entidade conhecida como Yog-Sothoth e uma cultista feminina. Lovecraft continuamente aludiu à natureza degenerada de cultistas de Cthullu, provavelmente refletindo suas atitudes à raça e realização intelectual. Mas há também uma consciência de degeneração das praticas de culto como a influencia os Antigos encolhendo o mundo devido à propagação do materialismo e a decadência das comunidades rurais. A entidade Nyarlathotep ocasionalmente aparece como o mítico “homem negro” ou líder da coleta cultista do sabat – sugerindo um avatar humano como base para o trabalho do culto, usando as gnoses mais físicas como a dança, flagelação, sexo, cânticos, tambores, respiração acelerada e sangria. Comentaristas modernos do Mito de Cthullu tem-se enganado supondo que magia é terror, principalmente a gnose emocional, porque este era o sentimento muitas vezes experimentado por protagonistas de Lovecraft (e de fato, o próprio Lovecraft). Embora o medo possa ser inicialmente empregado, logo o sepulcro como uma alavanca eficaz para a gnose, no entanto.

A implantação de feitiçarias físicas levou a uma grande variedade de experimentos pelos iniciados da E.O.D pelo mundo, tais como o uso de terraplanagem no Monte da Serpente na gnose Vodu – trabalhando com sede para Cincinnati Yig-Lodge (Yig é uma divindade serpente no Mito). Evocações “Dos Profundos” também foram realizadas em um lago em Wisconsin (nota do tradutor: EUA). Alguns iniciados da ordem estão atualmente interessados no uso de mantras e “fala primal”, bem como padrões de som “off-key” usados como pano de fundo sonoro para a evocação das entidades do Mito.

Magos ocidentais parecem ter uma tendência a tentar “encaixar” os Mitos de Cthullu em sistemas ordenados de logica ou correspondências. Executor de Lovecraft, August Derleth, também tentou colocar os Grandes Antigos dentro de alguma estrutura – dando-lhes associações elementares e as vinculando a determinados locais e formas. Isso só pôde ser feito de forma limitada, antes de perder o “sabor” dos Antigos que residem na sua natureza altamente proteica. Lovecraft deixa bem claro que os humanos não podem perceber claramente os Grandes Antigos e as entidades são raramente descritas com clareza ou coesão; ao contrario, eles são insinuados ou aludidos.  Sua própria natureza é que eles são “primais e não dimensionados” – eles mal podem ser percebidos, e para sempre “espreitam” na borda da consciência.

As mais poderosas energias são aquelas que não podem ser nomeadas – ou seja, elas não podem ser claramente apreendidas ou concebidas. Elas permanecem intangíveis e tênues. Muito parecido com a sensação de despertar de um pesadelo aterrorizador, mas incapaz de se lembrar do por que. Lovecraft entendeu isso muito bem, provavelmente porque a maioria de seus escritos envolviam seus sonhos.

Os Grandes Antigos ganhar seu poder de sua indefinição e intangibilidade. Uma vez que eles são formalizados em sistemas simbólicos e relacionados a meta sistemas intelectuais, alguns tem sua intensidade primal perdida. Willian Burroughs coloca desta forma:

“Assim que você nomeia algo, você retira o seu poder… Se você pudesse olhar a morte de frente ela perderia seu poder para mata-lo. Quando você pergunta a morte por suas credencias, seu passaporte é por tempo indeterminado.”

O LUGAR DAS ESTRADAS DA MORTE:

É a própria intangibilidade dos Antigos que lhes dá o seu poder, e permite que os muitos espaços mágicos para a exploração pessoal de suas naturezas.

É geralmente aceito que a maioria das magias “poderosas” são encontradas nos cultos xamânico primais e sobreviventes. A E.O.D esta preocupada em como angariar conhecimento e técnicas do que pode ser visto como primordial, magia Xamânica “dark”, como um amplo espaço para o desenvolvimento futuro e expansão. Sugere da estelar sobrevivência (“quando as estrelas estão certas”) baseada na sabedoria. E de raízes que se estendem em todo o mundo, e um conhecimento mais velho que esta enterrado dentro de nossas mentes, mas pode ser aproveitado, tanto na forma consciente, e no caso de Lovecraft, inconscientemente.

·         Nota: este ensaio foi publicado originalmente no “Starry Wisdom” uma coleção de ensaios de membros da Ordem Esotérica do Dagon, Pagan News Publications 1990. Desde então, o E.O.D. provocou em vigília, mais uma vez, e mesmo agora, seus tentáculos podem estar rastejando em sua direção.

por Frater Zebulon, Dunwich Lodge, E.O.D. – Tradução Carolina Rezende

Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/entradas-das-trevas-uma-introducao-a-magia-de-mito-de-cthullu/

A Corrente Anticósmica 218

As bases da Corrente 218 firmam se originalmente nos mitos sumérios contidos no poema épico Enuma Elish escrito há mais de 3000 anos. No mito babilônio, Tiamat, um monstruoso dragão feminino, é a mãe de tudo aquilo que existe e de todos os deuses. Ela é a personificação da água salgada, das águas do Caos. Tiamat tem originalmente Apsu como consorte. Apsu é a personificação do abismo primordial da água doce do mundo inferior. Da união de Tiamat e Apsu surgiram os primeiros deuses.

O comportamento dos primeiros deuses irritava o casal primordial e Tiamat e Apsu planejaram matar a própria descendência. Ea (deus das águas doces; patrono da magia e da sabedoria; dizia-se que era onisciente.) , deus da quarta geração após Tiamat e Apsu, descobriu os planos e engendrou um plano para matar Apsu.

Ea aguardou Apsu adormecer e o matou. Tiamat foi tomada por fúria violenta ao saber da morte de seu esposo, tomou seu filho Kingu (Tiamat e Kingu são chamados Dragões do Caos.) como novo consorte e criou um exército de onze demônios para vingar a morte de Apsu. Tiamat pretendia que seu filho e esposo se tornasse Senhor dos Deuses, deu a ele as Tábuas do Destino e o colocou à frente de sua armada.

Foi Marduk, filho de Ea e Damkina, quem enfrentou e venceu Tiamat e Kingu ( Segundo o mito babilônio, Marduk criou a humanidade com o sangue de Kingu.). A vitória sobre os dragões do Caos conferiu a Marduk “poderes supremos”.

Marduk representa os poderes cósmicos que são combatidos pela Corrente 218 que, por sua vez, é representada pelos deuses anticósmicos e pelos onze poderes criados por Tiamat, ou seja, por Azerate.

Cosmos e Logos, Um Esboço de Definição

O cosmos nos é apresentado como a totalidade de um universo “ordenado”. Descrevem-no como o espaço universal, composto de matéria e energia, regulado por certas leis.

À suposta lei universal e fixa, regedora da “harmonia”, Heráclito de Éfeso chamou “Logos”. “Logos” também significa Palavra, Verbo e Razão.

O evangelista João se referiu ao Cristo como sendo o Logos. “Adaptado”, o vocábulo passou a ser uma forma de sinônimo para Deus e para seu filho.

Para os filhos do Logos morto o universo está sob a lei de uma pretensa força criadora onipotente, responsável pela manutência da “harmonia”: o funesto e confuso “demiurgo”. O Logos Morto, a pretensa força criadora do “demiurgo”, os conceitos arcaicos, tolos e estagnados resumem a corrente cósmica, a Grande Ilusão de Maya.

Nesse contexto, encontramos Marduk, o “demiurgo” associado a Javé.

Da Não Percepção ou da Percepção Ilusória

O homem ordinário (não) “percebe” o universo ao seu redor através de sentidos comuns, sendo ele mesmo parte do cosmos. O homem ordinário não percebe nada além de ilusão. No estado de dormência há uma espécie de sensação de equilíbrio (falso‐), um caminho com o qual se conformar, uma senda que se segue guiado por outrem, por algo. Um “ir” junto aos “muitos”, um caminhar entre os vários. Um não ver aquilo que é. Um não‐ser. Um enaltecer da ilusão. Um doloroso sonho cósmico. O indivíduo tem o Eu (Ego) plasmado, modelado pelas restrições impostas pelas correntes cósmicas, por Maya. O indivíduo comum É algo que não É.

Da Dominação do Pão e do Circo

Servilismo. Subserviência. Alienação. Prostração. Cega sujeição à vontade alheia e aos interesses manipuladores daquilo que o próprio homem ordinário criou e que não controla. Alheação. Incapacidade. O rebanho oprimido sob o jugo se deleita no que é franca e deliberada mentira, ilusão. Os muitos são os Vermes.

Da Caosofia

O vazio informe e a vacuidade ilimitada a que se referiu Hesíodo, a desordem e a confusão dos platônicos. Estado indefinido de não‐ordem que antecedeu a pretensa obra do “demiurgo”. Caos, o estado original do que está além e sob o abismo. Propiciar o Caos é incitar, impelir e impulsionar Transformação. Somente a transformação é contínua. O cosmos é tridimensional, linear, causal, previsível. O caos é multidimensional, não linear, é acausal e imprevisível. No cosmos jazem forças. No caos, energia dinâmica explode mundos e possibilidades sem fim. O cosmos precisou ser criado. O caos é causado por si, em si. Caos é potencial ilimitado em destruição (transformação) e criação. Nele estão todas as coisas manifestas e não‐manifestas.


   Azerate

Divindade – Fórmula – Conceito

Azerate é formado pelos 11 demônios criados por Tiamat para ajudá‐la a vingar a morte de Apsu.

Azerate é o nome da Divindade amorfa e anticósmica originária da reunião dos Onze Arquidemônios das Qliphoth. É o Deus Híbrido formado pela totalidade dos aspectos de Nahema, Lilith, Adramelek, Baal, Belfegor, Asmodeus, Astaroth, Lucifuge Rofocale, Beelzebub e Moloch.

Azerate alude aos onze príncipes de Edom que reinaram ao sul do Mar Morto antes das guerras judaicoromanas. É a fórmula de consecução mágicka que opera a destruição dos véus da Ilusão que aprisiona e aliena.

Azerate é a união das onze potências da Árvore do Conhecimento que destroem a mentira sobre o Universo criado.

Azerate é a chave para as dimensões de poder além dos limites da consciência.

Azerate é o Dragão Negro de 11 Cabeças que vomita fogo, morte, destruição e terror.

218 é o número místico de Azerate e da Corrente Anticósmica.

Aleph = 1
Zayin = 7
Resh = 200
Aleph = 1
Teth = 9

1+7+200+1+9=218
218
2+1+8=11
1+2+3+4+5+6+7+8+9+10+11=66

Azerate evoca e manifesta o conceito maldito e banido do Onze sobre o Dez.

O Onze, aquele que sucede o Ciclo Eterno, aquele que traz destruição, antítese e embate ao cosmos.

Azerate é o Onze que é Sessenta e Seis.

66 é o número místico das Qliphoth e da Grande Obra.

Σ(1‐11) =66

Azerate é o duplo 109, a dupla Esfera da Iluminação.

Proposições Básicas da Corrente Anticósmica

Destruir os véus da Ilusão, trazer a condição de Caos ao universo manifesto. A implosão impele e impulsiona dolorosa Transformação e Renascimento em Nox.

Fazer ruir estruturas decrépitas nas quais se fundamentam as idéias dos opositores da Vida.

Desfazer laços e cortar amarras que impedem o avanço e a evolução do indivíduo.

Proporcionar desafio ao indivíduo que, por vocação, aprende e faz guerra contra os agentes alienadores em todos os aspectos.

Trazer ao Universo manifesto as forças que combatem eternamente para que elas possam destruí‐lo tal como o conhecemos.

Trazer Morte ao Universo, propiciar Dissolução do Ego plasmado sobre os moldes da restrição imposta por padrões hipócritas, vazios e mentirosos.

A Corrente 218, Algumas Características Mais

Podemos dizer que a Corrente 218 é anticósmica, caótica, luciferiana e satânica.

É uma corrente por ser caracterizada pelo movimento acelerado das forças que a compõe.

É anticósmica por estar alinhada à Destruição dos conceitos estagnados de cosmos e logos tal como os

conhecemos e por buscar a Dissolução da dispersão do Ego que concorre contra a verdadeira vontade.

É Caótica por não se apegar a conceitos estagnados, superficiais e submissos; por enfatizar que o processo verdadeiro de aprendizado e de evolução do indivíduo se dá através da própria experiência, do contato direto com as forças inerentes à corrente; por estar alinhada com muitas das idéias do que se costuma rotular como magia do CAOS; por ter como uma de suas proposições básicas trazer o CAOS ao Universo manifesto e Destruí-lo como Ilusão, como Maya.

Luciferiana por propiciar ao indivíduo a possibilidade de evolução através do Conhecimento (Luz, Gnose Luciferiana).

Satânica por ser uma força de embate contra valores idiotas, hipócritas, ultrapassados, dominadores e alienadores.

O motor da Corrente é a força dinâmica de Azerate como Divindade, Conceito, Chave e Fórmula de consecução mágicka.

A fundamentação da corrente se dá a partir de um vasto sincretismo de ramos e vertentes do Caminho da Mão Esquerda. Tal sincretismo busca sintetizar a essência de cada aspecto que compõe a heterogeneidade e aplicá-la na consecução das proposições fundamentais. Dentre as diversas tradições que coadunam forças que se combinam na Corrente 218 citamos: a magia do Caos, o Satanismo (Tradicional e Moderno), o Luciferianismo
(Tradicional e Moderno), a tradição Draconiana, a tradição Tifoniana, a Bruxaria Sabática, a Qabalah Qliphótica, Thelema, o Tantra, a Quimbanda, o Vodu e cultos ligados à Morte.

Atualmente o Templo da Luz Negra na Suécia é o maior expoente relacionado à corrente anticósmica. O Templo é a evolução do trabalho iniciado pela Ordem Misantrópica Luciferiana (MLO). Seus principais trabalhos literários publicados são Liber Azerate, Liber Falxifer – The Book of the Left‐Handed Reaper e Quimbanda – Vägen till det Vänstra Riket. O Templo planeja lançar Liber Azerate em inglês durante o ano de 2010.

Uma das principais manifestações artísticas relacionadas à Corrente 218 é o singular álbum Reinkaos, último trabalho da banda Dissection.

Algumas Divindades Anticósmicas

Kali e Shiva

Deuses hindus que conduzem à liberação removendo a ilusão do Ego. Kali é a toda‐consumidora do tempo (Kal), Deusa que traz Morte à falsa consciência, pois está além de Maya.

Kali é uma das variadas formas de Devi, Mãe compassiva que traz liberação (moksha) aos seus filhos. Seus devotos adoram‐na com amor incondicional. É conhecida e adorada por vários nomes: Kalikamata, Kali Ma, Bhavatarini, Dakshineshvara, Kalaratri, Kottavei, Kalighat e Negra Mãe Divina. Kali Ma é a dissolução e a destruição. Foi graças a ela que os deuses, feitos Shiva, puderam destruir Raktabija, pois Kali consumiu todo o sangue que jorrava dos ferimentos de Raktabija e ele não pôde mais se reproduzir.

Shiva é o Deus da destruição e regeneração, fogo consumidor da transformação, cujo olhar relampeja e destrói violentamente. É um dos Três formadores da Trimurti hindu. Shiva é chamado o Destruidor. Shiva e Kali costumam ser adorados em crematórios a céu aberto, pois aludem à transitoriedade da vida material. O Lingam está para Shiva como a Yoni está para Kali: na destruição estão os elementos da geração.

Apsu

Deus primevo sumero-acadiano das águas doces do submundo. Primeiro consorte de Tiamat.

Tiamat

Deusa Dragão senhora do Caos e das águas salgadas. Deusa das águas abissais e do oceano primevo. Na mitologia sumeriana é chamada Nammu. É provavelmente uma das divindades mais antigas do panteão sumeriano.

Kingu

Deus Dragão, filho de Tiamat. Seu sangue foi utilizado para criar a humanidade segundo o mito babilônio. Tiamat o tomou como esposo após a morte de Apsu.

Lúcifer

Insígnia máxima da não-servidão, da rebeldia, do conhecimento aplicado e esclarecido. Beleza sem mácula. Portador do Archote, da Luz que guia “seus filhos” no tortuoso caminho da liberação.

Lilith
Negra Mãe Divina, Rainha da Noite e das Bestas da Escuridão, personificação da plena

Pharzhuph

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/satanismo/a-corrente-anticosmica-218/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/satanismo/a-corrente-anticosmica-218/

Yesod – Bem-vindo ao Deserto do Real

Publicado no S&H dia 4/jun/2008,

Continuando nossa série sobre desmistificação de demônios, diabos, encostos e afins, precisamos neste momento ao mesmo tempo fazer uma parada e estabelecer uma conexão com a kabbalah. Sem explicar o que é o chamado “Plano Astral”, será muito difícil entrar em detalhes sobre como exatamente funciona a mecânica por trás dos Anjos, Demônios, Devas, Asuras, Elementais, Exus, Anjos Enochianos, Fantasmas e Gênios.
Da mesma maneira, estava devendo para vocês uma explicação gnóstica sobre o filme Matrix, então este período do tempo-espaço em relação à coluna me parece o ponto exato para comentar três coisas aparentemente distintas, mas ao mesmo tempo intrinsecamente conectadas: Yesod, o Plano Astral e Matrix.

Tome a pílula vermelha e siga o tio Marcelo para descobrir o quão funda é a Caverna de Platão.

Yesod
Para os que fizeram os exercícios do Sefira ha Omer já deve estar bastante clara qual é a função de Yesod dentro das emanações divinas. Yesod se situa abaixo de Tiferet e entre Netzach e Hod. É chamada de “Fundamento” ou “Fundação” e funciona como um reservatório onde todas as inteligências emanam seus atributos, que são misturados, equilibrados e preparados para a revelação material. É compilação das oito emanações e forma o Plano dos Pensamentos, Plano Astral, ou a Base da Realidade.
Malkuth é o plano físico puro, chamado de Plano Material, que nossos sentidos objetivos podem ver, ouvir, cheirar, tocar e provar, mas incapaz de perceber qualquer tipo de consciência além disto. Malkuth é o mundo criado das ilusões para nos manter em torpor ou, fazendo nossa comparação, Malkuth é a Matrix.

Em Malkuth vivem os adormecidos. Pessoas que acordam, tomam café, vão para suas baias em seus trabalhos, trabalham, almoçam, trabalham, vão para casa, jantam, assistem novela, assistem futebol, dormem e no dia seguinte acordam de novo… fazem isso durante a vida toda, aposentam-se e morrem, sem nunca terem realmente vivido. Suas almas estão presas em casulos sem imaginação, sugadas pelo sistema que mantém a ilusão funcionando, tal qual é retratado simbolicamente no filme.

Yesod representa os bastidores da realidade. O mundo real na qual são programados os acontecimentos que surgirão no mundo ilusório. Para fazer uma analogia, imaginemos que Malkuth seja um prédio comercial. Yesod será, então, toda a fundação: canos, fios, dutos de ar, fosso do elevador, esgotos, toda a parte elétrica e hidráulica que faz o prédio funcionar. Quando se aperta um interruptor na parede, a luz da sala acende. Os ignorantes chamam isso de “coincidência”, mas qualquer pessoa que tenha um conhecimento maior de ciência sabe que, por trás daquele interruptor correm fios elétricos escondidos na Fundação e que, quando se aperta um botão neste interruptor, uma série de conexões simples são acionadas, fazendo com que a eletricidade chegue até a lâmpada, acendendo-a.
Magia é compreender como os condutores de energia da realidade material funcionam e apertar os botões certos para que as lâmpadas certas se iluminem.

Yesod representa a Intuição; o sexto sentido; o despertar. Infelizmente, assim como Morpheus diz a Neo no começo do filme, ninguém vai conseguir explicar para você o que é o Plano Astral. Você precisa ter esta experiência sozinho para compreender. E a maioria das pessoas passa sua vida toda como gado, inconscientes da realidade ao seu redor, como baterias inertes de um sistema controlado por egrégoras que mantém as pessoas ocupadas demais rezando para deuses externos, com medo de falsos diabos e trabalhando como escravas para mantê-las no poder. As famosas “otoridades”. No filme, são representadas pelos Agentes da Matrix.

Uma das melhores cenas do filme ocorre logo no começo, quando Thomas (Tomé, escritor do principal livro apócrifo) Anderson (Andras [homem]+Son [filho], ou seja, “Filho do Homem”, em uma analogia a Jesus/Yeshua) está dormindo diante da tela e aparece o texto “Acorde, Neo”. Esta cena resume a fagulha que vai despertar dentro de cada um de nós em direção ao Cristo; a Princesa dos contos de fada; a espada presa dentro da pedra, a Branca de Neve adormecida em um caixão de vidro.
Minutos após despertar, um hacker diz a ele “você é meu salvador… meu Jesus Cristo”. Simbolicamente, isto representa que mesmo esta pequena fagulha de controle sobre a realidade é suficiente para despertar seguidores, de tão perdidas que as pessoas estão.
As referências ao caminho do Sábio na Kabbalah continuam: quando Neo chega a nave (que tem o Nome de Nabucodonosor, o rei da Babilônia que no Livro de Daniel teve um enigmático sonho que precisa ser interpretado) cujo número de série é “MARK III NR. 11” (Marcos, Capítulo 3, versículo 11: “E os espíritos imundos, quando o viam, prostravam-se diante dele e clamavam, dizendo: Tu és o Filho de Deus”). Neo passa pela morte e ressurreição e finalmente, no final do filme, chega a Tiferet, “o escolhido”.

Para os gnósticos, o Deus Supremo (Keter) é totalmente perfeito, e, por isso, estranho e misterioso, “inefável”, “inalcançável”, “imensurável luz, pura, santa e imaculada”(Apócrifo de João). Para este Deus existem outros seres menos divinos no Pleroma (similar ao Paraíso, uma divisão desse universo que não é a Terra), que é dotado de um sexo metafórico masculino (Hochma) ou feminino (Binah).
Pares desses seres são capazes de produzir descendência, que são, eles mesmos, emanações divinas perfeitas em si mesmas (a analogia no filme é a criação de múltiplas matrix pelos computadores). O problema surge quando um EON ou Ser chamado SOPHIA (Sabedoria em grego, representado no filme pela Oráculo), uma mulher, decide “levar adiante sua semelhança sem o consentimento do Espírito” – que gera uma descendência sem sua consorte (Apócrifo de João).

A antiga visão era a de que as mulheres oferecem a matéria na reprodução, e os homens, a forma. Por isso, o ato de Sophia produz uma descendência que é imperfeita ou até mesmo mal formada, e ela a afasta dos outros seres divinos do Pleroma, levando-a para outra região isolada do cosmos. Essas deformadas e ignorantes deidades, as vezes denominadas DEMIURGOS (o Arquiteto, no filme), que equivocadamente acreditam ser o único Deus.

Os gnósticos identificam o Demiurgo como o Deus Criador psicopata do Antigo Testamento, o qual decide criar os Arcontes (Anjos), o mundo material (Malkuth/Terra) e os seres humanos. Embora as tradições variem, o Demiurgo normalmente é enganado dentro do alento divino ou espírito de sua mãe Sophia que antigamente vivia nele, dentro do ser humano (especialmente Apócrifo de João, ecos do Gênese 2-3).
Para os gnósticos, somos pérolas no lodo, espíritos divinos (bom) aprisionados num corpo material (mau) e num mundo material (mau). O Paraíso é nosso verdadeiro lar, mas estamos exilados do Pleroma.
Felizmente, para o Gnóstico a salvação está disponível na forma de Gnose ou Conhecimento, dado pelo Redentor Gnóstico, que é o Cristo, a figura enviado pelo Altíssimo para libertar a espécie humana do Demiurgo, tal qual Neo é o “escolhido” para libertar as pessoas do jugo do Arquiteto.

Quando Neo é desconectado e desperta pela primeira vez em Nabucodonosor, em meio a um brilhante espaço branco iluminado (linguagem cinematográfica para indicar o despertar), seus olhos ardem, conforme explica Morpheus, porque ele nunca os havia usado antes. Tudo que Neo havia visto até aquele ponto o foi através do olho da mente, como num sonho, criado através de um software de simulação. Tal como um antigo Gnóstico, Morpheus explica que a respiração (prana, chi-kung, tai-chi, reiki) conduz Neo pelo programa de treinamento de artes marciais e que não há nada a fazer com seu corpo, a velocidade ou sua força, os quais são todos ilusórios. Mais ainda, eles dependem unicamente de sua mente, que é real.

Ainda outro paralelo com o Gnosticismo, ocorre na figura dos Agentes, como o Agente Smith e seu opositor, o equivalente gnóstico de Neo e todos os demais que tentam sair de MATRIX. A IA criou esses programas artificiais para funcionarem como “porteiros” – os Guardas das portas – que possuem todas as chaves. “Esses Agentes são parentes dos ciumentos Arcontes criados pelo Demiurgo para bloquearem a ascensão do Gnóstico quando tentam deixar o mundo material. Eles defendem as portas em sucessivos níveis ao paraíso (e.g. Apocalipse de Paulo, Divina Comédia de Dante, textos Babilônicos narrando os sete infernos, a estrela setenária dos alquimistas e assim por diante).

Sobre a questão do Samsara, até mesmo o título do filme evoca a visão budista de mundo. MATRIX é descrita por Morpheus como “uma prisão para a mente”. É uma “construção” dependente feita de projeções digitais interconectadas de bilhões de seres humanos (egrégoras) que desconhecem a natureza ilusória da realidade na qual vivem, e são completamente dependentes do “hardware” implantado em seus corpos reais e dos programas (softwares/mapas astrais) elaborados (para fazer a máquina funcionar), criados pelo Demiurgo. Essa “construção” é parecida com a idéia budista do SAMSARA, a qual ensina que o mundo, no qual vivemos nossas vidas diárias, é feito unicamente de percepções sensoriais formuladas por nossos próprios desejos.
O problema, então, pode ser examinado em termos budistas. Os humanos são aprisionados no ciclo da ilusão (Maya), e sua ignorância acerca do ciclo os mantém atados a ele, totalmente dependentes de suas próprias interações com o programa e com as ilusões da experiência sensorial que ele provê, bem como das projeções sensoriais dos demais. Essas projeções são consolidadas pelos enormes desejos humanos de acreditarem que o que eles percebem como real é real de fato (para eles). É o mundo dos materialistas, ateus e céticos.
Este desejo é tão forte que derruba Cypher, que não pode mais tolerar o “deserto do real”, e procura uma maneira de ser reinserido na Matrix. Tal como combina com o Agente Smith num restaurante fino, fumando um charuto com um copo grande de brandy, Cypher diz: “Eu sei que este bife não existe; eu sei que quando eu o levo a minha boca Matrix está dizendo ao meu cérebro que ele é suculento e delicioso. Depois de 9 anos você sabe o que está mais claro para mim? Que a ignorância é a felicidade!” (Ignorance is Bliss).
A contrapartida é a vida monástica dentro da nave: comem uma gororoba vegetariana, vestem-se com trapos, não possuem bens materiais e treinam um kung fu que beira o sobrenatural. Possuem a humildade de quem já se despojou dos bens materiais, tal qual os monges do monastério de Shaolin.
Em determinada parte do filme, Morpheus diz a Neo, “há uma diferença entre conhecer o caminho e percorrer o caminho”. E como Buda ensinou aos seus seguidores, “vocês, por vocês mesmos, devem fazer o esforço; só os Despertos são Mestres”.
Para quem já está no Caminho da Iluminação, Morpheus é somente um Guia. Em última instância, Neo precisará reconhecer a Verdade por ele mesmo.

Reinos Subterrâneos
Na Antiguidade, o estado de consciência de Yesod era representado por Hades, o Reino Subterrâneo. Como tal, podia ser acessado apenas pelos seres chamados Psychopompos (“Condutores das Almas”), que eram apenas cinco: Hermes, Hecate, Caronte, Morpheus e Thanatos. Cada um deles descreve exatamente os estados de consciência que habitam o Plano Astral.

Comecemos por Morpheus, o senhor dos sonhos e o nome do Personagem de Lawrence Fishburn como condutor de Neo (que representa nossa consciência crística que deve ser trabalhada até nos tornarmos “o Escolhido”). Morpheus é o senhor dos sonhos, indicando que uma das maneiras de acessarmos o Plano Astral é durante o sono, quando conseguimos atingir os estados de ondas teta e alfa, necessários para atingirmos a chamada superconsciência (ou meditação profunda, ou transe, dependendo para quem você pergunta). Anote ai no seu caderno: Sonhos.

A segunda Psychopompos é chamada de Hecate, deusa dos Templos Lunares. Ela representa os aspectos da consciência atingidos através do Ajna Chakra (o sexto chakra). Hecate representa as danças sagradas, o sexo mágico, o tantra, o despertar da kundalini, os oráculos (tarot, runas…) e todos os Templos que lidam com a energia lunar/feminina dentro da magia. Hecate também é conhecida como a “Deusa Tríplice” (Trinity).
Anote ai no seu caderno: Oráculos e Magia Sexual.

O terceiro deus condutor de almas é Caronte. Caronte é o barqueiro que conduz os viajantes até os Reinos de Hades. A lenda de Caronte deriva das histórias do Barco de Ísis e das antigas iniciações egípcias onde os sacerdotes e iniciados eram colocados em transe nas pirâmides e tinham sua alma liberta do corpo para que vissem a si mesmos deitados aos pés dos outros sacerdotes e tomassem consciência de que eram espíritos habitando temporariamente um corpo físico. Quando fazemos Viagens Astrais induzidas, a sensação de se desligar do corpo no momento em que saímos do Plano Material é muito semelhante ao deslizar que sentimos quando estamos dentro de um barco. Desta maneira, Caronte representa as Viagens Astrais Conscientes. Tanto a lenda de Orfeu quanto a de Hércules (e também Dionísio, Psique e Enéias) representam iniciados em cultos Dionísicos e o despertar da consciência. Os Barcos Espirituais (tanto de Caronte quanto de Ísis) estão representados na forma dos Hovercrafts. Anote no caderno: Viagens Astrais Conscientes.

Hermes representa o Templo Solar, a magia atuando sobre a Luz Astral. Hermes representa o mensageiro dos Deuses, aquele que domina o caduceu (kundalini) e trabalha com a imaginação de maneira racional. Ele representa os grandes magos e conjuradores, os grimórios que lidam com a conjuração de espíritos, o contato consciente entre os que estão no Plano Material e os que estão no Plano Astral. Assim como Salomão, Eliphas Levi e Crowley, Hermes representa todos os iniciados e médiuns capazes de estabelecer contatos entre o Plano Material e o Plano Espiritual.
Como veremos na próxima coluna, o Caduceu e os Chakras representam a porta de entrada e o controle sobre as energias que atuam sobre Yesod e o Plano Astral. Hermes aparece no filme Matrix na forma de “Mercúrio”, como o espelho que engloba Neo e o guia através da jornada que fará o despertar final.
Anote no seu caderno: Mediunidade, Imaginação e Vontade atuando sobre a Luz Astral.

Por fim, temos Thanatos, deus da morte. Irmão de Hypnos (o sono), Thanatos representava a morte e os espíritos dos mortos, que eram transportados por ele até o Reino Subterrâneo. O Reino dos Mortos. Thanatos está representado na máquina que descarta Neo nos esgotos assim que ele desperta e Thanatos o reconhece como não pertencente àquele local. Anote ai como o quinto item: Espíritos dos Mortos.

A partir destas alegorias, podemos compreender que o Plano Astral é habitado por diversas criaturas, objetos, egrégoras, seres e entidades que possuem uma complexa e intrincada estrutura de organização, a partir das quais explicaremos todas as lendas, contos e bases de muitas religiões e filosofias espiritualistas.

Homens e Espíritos
Começaremos nossa jornada da comunicação entre homens e espíritos pelo Xamanismo. Há mais de 40.000 anos as tribos mais antigas conseguiam entrar em contato com o Mundo Astral de diversas maneiras. Seus sacerdotes comunicavam-se com os espíritos dos antepassados em busca de conselhos e indicações enquanto dormiam ou durante rituais envolvendo ervas capazes de alterar o estado de consciência dos participantes no ritual. Os xamãs também eram capazes de entrar em contato com o Reino Espiritual através de oráculos e rituais de conjuração de seres que eles chamam de Elementais.
Nas religiões Aborígenes (Austrália) e Tribais (Africanas), os nativos possuem o mesmo nome para designar o “Reino dos Sonhos” e o “Reino dos Mortos”. Nestas religiões, os deuses e os espíritos iluminados conseguem se comunicar com os sacerdotes através da mediunidade deles (fazendo conexões entre seu corpo astral e os chakras dos médiuns, os espíritos conseguem agir através do corpo de um médium). Além dos espíritos, outras entidades astrais (chamadas de Devas pelos hindus, Orixás pelos africanos e Elementais pelos celtas) também são capazes de incorporar um médium capaz de recebê-los.
Na Babilônia, os cultos a Astarte envolviam danças sagradas, sexo sagrado e contato com os mortos através dos oráculos.
Entre os hindus, o tantra fazia a ponte entre o despertar da kundalini e a iluminação do ser humano através do sexo sagrado. Com a abertura e desenvolvimento dos chakras, os praticantes tornavam-se canais poderosos de conexão com o cósmico, despertando habilidades consideradas sobrehumanas.
Os Egípcios conheciam como ninguém os desdobramentos astrais, potencialidades dos chakras, telepatia e diversas outras habilidades que são preservadas até os dias de hoje dentro das Ordens Iniciáticas como a Rosacruz, Templários e Maçonaria.
Entre os gregos, as sacerdotisas de Hecate também eram conhecidas pelo nome de Ptionísia ou Oráculo (mais uma conexão com o filme Matrix) e conseguiam estabelecer um contato entre os vivos e os mortos para obter conselhos e previsões.
Do ponto de vista ocultista, praticamente não há diferença entre um oráculo grego da antiguidade e um centro espírita Kardecista, salvo pela ritualística. Os princípios e os mecanismos envolvidos são rigorosamente os mesmos.
O rei Salomão utiliza seu conhecimento sobre o astral para deixar um dos maiores legados ocultistas, o Ars Goetia, ou os 72 espíritos (falarei sobre eles mais adiante, quando retornarmos aos trilhos dos posts sobre demônios). Chamavam estes conhecimentos de Arte Real. Paralelamente, temos os judeus e seu vasto estudo sobre a kabbalah e os 72 nomes de Deus (chamados vulgarmente de “anjos cabalísticos”). Salomão compartilha estes conhecimentos com a rainha de Sheba, que os leva para os Reinos africanos e mistura este conhecimento com as religiões tribais, dando origem aos cultos africanos que muitos séculos mais tarde dariam origem indireta ao Candomblé, Umbanda, Santeria, Vodu e Quimbanda. (explicarei em detalhes cada um deles em posts futuros).

Da Grécia, os oráculos chegavam até praticamente todos os pontos do mundo conhecido. Rituais de magia que lidavam com o astral são descritos em diversos poemas e praticados por comandantes, soldados e sacerdotes iniciados.
Dos romanos e dos celtas, este conhecimento também chegou até a Europa, onde as bruxas utilizavam-se deste contato para conversar com os antepassados, conjurar elementais e adquirir conhecimento e iluminação. As belíssimas obras de arte deixadas por todos estes povos são um retrato claro da interação entre vivos e mortos, espíritos e sonhadores, deuses e mortais.
Os nórdicos possuíam lendas a respeito das Valkírias, dos Einherjar, das runas e de toda a estrutura de contato entre os vivos e os mortos. Suas lendas refletem um profundo conhecimento dos iniciados a respeito da Árvore da Vida. Um dos cursos que mais gosto de ministrar é justamente o de runas, pois cada uma das 24 pedras do Oráculo encerra uma lenda rica e profunda; desde a famosa “Ponte do arco Íris”, guardada por Heimdall, que representa o caminho de Tav na Árvore da Vida, até a própria estrutura da origem das runas, provenientes do sacrifício de Odin durante nove dias (nove esferas fora do mundo material na Kabbalah).

Semana que vem: Vampiros, Encostos, Espíritos do Mal e Poltergeists.

#Kabbalah

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/yesod-bem-vindo-ao-deserto-do-real

A Prática Vodu

1 – Introdução ao Vodu

Vodu é uma tradição espiritual originada no Haiti durante o período de escravidão colonial francesa. Africanos de muitas linhagens étnicas foram transportados à força para o Haiti, para servirem principalmente como escravos agricultores. Os povos nativos das ilhas, os Taino e os Carib, foram exterminados pelos espanhóis durante as primeiras invasões. Durante este período histórico, europeus da França e de outros países, incluindo deportados pro-Stuart da Escócia, radicaram no Haiti. Devido à tantas linhagens estarem representadas, nenhum culto africano poderia satisfazer todos os participantes, pois a reverência aos ancestrais era muito importante. Entretanto, cada nação tomaria sua vez num encontro. Essa alternância de cultos eventualmente evoluiu para a ordem cerimonial da liturgia Vodu. Durante este período formativo é que foram adotadas também entidades européias pré-cristãs, como Brigid, ou Maman Brigitte na tradição vodu. Também houve uma pequena influência das populações restantes de Tainos e Caribs.

Também há sectos no Vodu, assim como em tantas outras religiões. O primeiro e mais amplamente conhecido é o Vodu Ortodoxo. Nesta seita, o Rito Dahomeano tem posição de primazia e as iniciações são conduzidas com base principalmente no modelo dahomeano. Um sacerdote ou sacerdotisa recebe o asson, um chocalho ritual, como símbolo do sacerdócio. Neste rito, um sacerdote é chamado de Houngan, ou às vezes de Gangan; uma sacerdotisa é conhecida como Mambo.

No vodu ortodoxo, as linhas Iorubás também têm certa proeminência. Outras nações ou linhagens que não a Dahomeana são vistas com menor importância, como subtítulos na ordem cerimonial. Este rito é amplamente representado no Haiti, e concentrado em Port Au Prince e no sul do Haiti.

O segundo secto é chamado de Makaya. Neste rito, as iniciações são menos elaboradas e o sacerdote ou sacerdotisa não recebem o asson. Um sacerdote makaya é chamado de Bokor e uma sacerdotisa é às vezes chamada de Mambo, às vezes de sorcière. Os termos bokor e sorcière são pejorativos no vodu ortodoxo e o termo bokor pode também servir para classificar um especialista em magia maléfica não iniciado, também chamado de malfacteur.

Tais indivíduos não são clericais em qualquer seita. A liturgia makaya é menos uniforme de peristilo ( terreiro ) para peristilo do que a do vodu ortodoxo e há uma ênfase maior na magia do que na religião. Este rito está presente em Port Au Prince e é fortemente representado no Vale Artibonite, no Haiti central.

Um terceiro secto é o Rito Kongo. Como o próprio nome já diz, é quase que exclusivamente representante da tradição do Kongo. A iniciação é baseada no modelo kongo; o sacerdote e a sacerdotisa são ambos chamados de Serviteur. No vodu ortodoxo, um(a) serviteur é apenas o iniciado que serve o Loa (deidade do vodu). Este rito está concentrado perto de Gonaives, no centro do Haiti e um grande festival anual dos Kongo é realizado perto em Sucrie, perto de Gonaives.

Todas estas tradições têm pontos em comum :

– Há apenas um Deus, chamado de Gran Met, o Grande Mestre; e também de Bondye, do francês Bon Dieu, o Bom Deus.

– Há entidades menores, chamadas de Loa (singular). Elas são consideradas acessíveis de imediato através do mecanismo de possessão. Tal estado é considerado normal e natural dentro do contexto duma cerimônia vodu e também altamente desejável, havendo entretanto uma certa etiquette para a mesma ocorrer, que será discutida em lições mais avançadas.

– Todos os ritos empregam orações, cânticos, percussão, roupas específicas e danças durante as cerimônias.

2 – Quem pode participar do Vodu ?

Qualquer um pode participar dos ritos. Não há qualquer requisito de sexo, raça, idade, opção sexual ou origem nacional. Muito menos é pedido para se abandonar crenças e afiliações religiosas anteriores. No Haiti, a vasta maioria de praticantes é também católica romana.

Há vários níveis de participação, é claro, como em quase todas as outras religiões. Uma cerimônia vodu é pública e qualquer um pode entrar no peristilo, ou templo, e observar. Participação na cantoria e na dança são encorajadas. Porque não há qualquer hierarquia centralizada, pagando salário para houngans e mambos, e porque o templo é propriedade privada, é considerada normal uma pequena doação em dinheiro. Este dinheiro é normalmente empregado para pagar os percussionistas, as comidas que são oferecidas aos participantes, para a manutenção do peristilo e dos sacerdotes envolvidos. Isto é freq&utrema;entemente difícil de entender para pessoas criadas em tradições judaico-cristãs, onde padres, pastores e rabinos são profissionais assalariados.

Indivíduos que tenham um grau iniciático podem participar de cerimônias privadas relativas à outros indivíduos de seu próprio grau ou mais baixo. Pessoas com graus mais baixos não podem participar de cerimônias aferidas a graus mais altos porque o conhecimento ali presente é secreto e elas não seriam competentes para lidar com a mesma.

Houve algumas controvérsias nos últimos anos nos EUA sobre afiliação e participação étnica em religiões afroamericanas. Alguns houngans e mambos inescrupulosos enganam estrangeiros desavisados, realizando cerimônias falsas e cobrando taxas exorbitantes. Outros têm um certo entendimento silencioso de que eles não revelarão o conhecimento secreto do Vodu, isto é, informação e iniciação corretas, a pessoas que não sejam pretas e que não sejam haitianas. Entretanto, outros houngans e mambos têm a visão que as pessoas são escolhidas pelos loa, e não de outra maneira, e que qualquer sacerdote que recuse iniciar e treinar um estrangeiro enviado por um loa irá sofrer graves conseqüências. A iniciação requer um período significante de estudo e o compromisso mostrado por um estrangeiro será o suficiente para qualquer sacerdote/sacerdotisa oficiante. Eu inclusive vi um houngan defender vigorosamente seu candidato não haitiano e refutar quaisquer opiniões que invalidassem o iniciante.

Eu ressalvo que o respeito pelos negros de qualquer parte do mundo é imanente às tradições vodu. Nunca devemos esquecer que incontáveis negros foram arrancados de suas terras, estuprados, torturados, castrados e queimados vivos num esforço para erradicar o vodu. O Vodu deu suporte ao ímpeto de resistência à escravidão colonialista e foi combustível para a única rebelião de escravos de sucesso real na América, sendo responsável pela formação da primeira república independente negra americana. Mesmo recentemente na ocupação militar ianque no Haiti, de 1915 a 1934, foi realizado um esforço sistemático para a erradicação do vodu.

Templos foram destruídos, tambores ancestrais sem preço foram queimados e houngans e mambos foram surrados, presos e assassinados.

3 – Nomes e Graus dos Níveis Iniciatórios do Vodu

Há uma série de níveis iniciatórios no vodu ortodoxo, que são atingidos seqüencialmente conforme o indivíduo cresce em conhecimento e permanência na comunidade vodunista. Todos os graus de iniciação estão abertos tanto para os homens como para as mulheres.

Uma pessoa não iniciada que freqüenta as cerimônias, recebe aconselhamento e tratamento medicinal do houngan ou da mambo e toma parte nas atividades do vodu é normalmente chamada de vodunista. Este é um termo geral, assim como cristão ou budista .

Um não iniciado que está associado a um peristilo em particular, freqüenta as cerimônias regularmente e aparenta estar sendo preparado para a iniciação é classificado como hounsi bossale. Hounsi é da linguagem Fon dos Dahome e significa noiva do espírito , embora o termo no Haiti seja utilizado para homens e mulheres. Bossale significa selvagem ou indomado , no sentido de um cavalo selvagem.

O primeiro grau de iniciação confere o título de hounsi kanzo. Kanzo, também do Fon, refere-se ao fogo, e a cerimônia do fogo, também chamada de Kanzo, empresta seu nome a todo o ciclo iniciático. Indivíduos que são kanzo podem ser comparados a batizados numa seita cristã. Numa cerimônia vodu, os hounsi kanzo vestem-se com uma roupagem branca, formam o coro e são prováveis candidatos de possessão pelos loa.

O segundo grau é chamado de si puen, sur point em francês, isto é, no ponto , sobre o ponto . Este termo se refere ao fato de que o iniciado passa por cerimônias no ponto ou apadrinhado por um loa em particular. Essa pessoa é então considerada um houngan ou uma mambo e lhes é permitido o uso do asson, sagrado chocalho emblema do sacerdócio.

Indivíduos que são si puen podem ser comparados a pastores de seitas cristãs. Numa cerimônia eles conduzem orações, cânticos e rituais e são candidatos quase inevitáveis para possessão. Uma vez iniciados como sur point eles podem realizar iniciações de hounsi kanzo e de si puen.

O terceiro e último grau de iniciação é o asogwe. Houngans e mambos asogwe podem ser comparados aos bispos das seitas cristãs, pois podem consagrar outros sacerdotes. Indivíduos que são asogwe podem iniciar outros em kanzo, si puen e em asogwe. Numa cerimônia eles são a autoridade final sobre os procedimentos, a menos que um loa esteja presente e manifesto através do mecanismo de possessão. Eles são também o último recurso quando a presença de um loa específico é requerida. É dito que um asogwe tem o asson , referindo-se à capacidade do asogwe de conferir um outro iniciado com o asson, elevando então o grau deste a asogwe.

Mesmo um houngan ou mambo asogwe deve submeter-se à opinião do houngan ou da mambo que o iniciou, dos que foram iniciados em asogwe antes dele, do houngan ou mambo que iniciou seu iniciador, dos iniciadores deste e por aí vai. Estas relações podem se tornar realmente complexas e há um ponto na cerimônia do vodu ortodoxo onde todos houngans e mambos, sur point e asogwe, participam duma série de gestos e abraços rituais que servem para elucidar e regular estas relações.

LIÇÃO 2

OS ANCESTRAIS

Parte 1 – Os Ancestrais e a Maneira Vodu de Recuperação dos Mortos

Os ancestrais, zanset yo no Creole haitiano, estão sempre com um vodunista. Ele vive, age, respira com a consciência de sua presença. O hino nacional do Haiti começa assim Pelo país e pelos ancestrais, nós andamos unidos…

No interior do Haiti, cada aglutinado familiar tem seu cemitério familiar. As tumbas dos familiares são tão elaboradas quanto possível. Algumas lembram casas nas quais a cripta é subterrânea. As estruturas construídas para as famílias ricas podem até conter pequenas salas de estar, com um retrato do falecido e boas cadeiras. Quando um visitante adentra as terras de uma família para uma visita extensa, a cortesia requer que ele faça uma pequena libação de água nas tumbas para que os ancestrais o recebam bem. Membros da família e convidados podem também, a qualquer momento, fazer uma iluminação . Velas ou fitas de cera de abelha são acesas, colocadas nas tumbas e então uma pequena prece é dita.

Na cidade, a lei requer que se enterre no cemitério da cidade. Novamente, as estruturas podem ser bem elaboradas e grandes cadeados e outros meios de segurança são usados para evitar que violadores de tumbas roubem metais, ossos e outros artigos da pessoa morta.

Os ossos de indivíduos mortos são considerados de grande poder mágiko, especialmente se a pessoa morta fosse um houngan ou uma mambo ou fosse de alguma maneira notável e distinta, para o bem ou para o mal.

Um vodunista é enterrado com uma cerimônia católica romana e uma vigília é feita durante nove dias após a morte. A nona noite é chamada de denye priye, a última prece. Após a última prece, a parte católica do funeral é encerrada.

Em algum ponto, antes ou após a cerimônia católica, a cerimônia de vodu desounin é realizada. Neste rito, as partes componentes da alma e da força de vida da pessoa e o loa primário na cabeça da pessoa são separados e enviados para seus destinos corretos. O desounin de um houngan famoso e altamente respeitado pode ser assistido por centenas de enlutados lamentosos vestidos de robes brancos. É neste momento que o herdeiro de qualquer loa familiar libertado do falecido é normalmente revelado, ficando o indivíduo escolhido brevemente possuído.

Um ano e um dia após a morte do indivíduo pode ser feita a cerimônia mo nan dlo (tirar o morto da água). O espírito da pessoa é chamado através de um vaso com água, que é coada por um lençol branco para um pote de barro limpo chamado govi, onde é ritualisticamente instalado. A voz do morto pode ser ouvida através do govi ou através de uma pessoa brevemente possuída para o propósito. O govi é reverentemente colocado no djevo, ou salão interno do templo.

Algumas vezes o espírito de um ancestral pode retornar por sua própria vontade como um loa Ghede.

Parte 2 – Os loas ancestrais : Baron, Maman Brigitte e os loa Ghede

BARON – O cabeça da família de ancestrais loa é o Baron (barão). Ele é mestre do cemitério e guardião do conhecimento ancestral. Ele tem vários aspectos incluindo Baron Samedi, Baron Cemetiere, Baron la Croix e Baron Criminel. Em todos seus aspectos ele é um loa masculino com uma voz nasal, carrega um cajado ou baton, usa impropérios livremente e se veste de negro ou púrpura. Ele é considerado o último recurso para mortes causadas por magia, porque mesmo se um feitiço trouxer uma pessoa para perto da morte, se o Baron se recusar a cavar a cova , a pessoa não morre.

Baron, com sua esposa Maman Brigitte, é também responsável por recuperar as almas dos mortos e transformá-las em loa Ghede. Baron pode ser invocado para casos de esterilidade e ele é o juiz divino para o qual as pessoas podem trazer seus pedidos, cantando :

Ó kwa, Ó jibile ! 2x (Ó cruz, Ó júbilo !)
Ou pa we m inosan ? (Não vês que sou inocente ?)

O túmulo do primeiro homem enterrado em qualquer cemitério do Haiti, quer a pessoa em vida participasse do Vodu ou não, é dedicado para o Baron (não Ghede) e uma cruz cerimonial é erigida no ponto. Em terrenos familiares no interior, uma família pode erigir uma cruz para o Baron de sua linhagem e nenhum peristilo é completo sem sua cruz para Baron. Baron pode ser invocado a qualquer momento e ele pode aparecer sem ser chamado, tão poderoso é ele. Ele bebe rum no qual vinte e uma pimentas vermelhas foram pisadas, bebida que mortal algum pode suportar. Suas comidas cerimoniais são café preto, amendoim grelhado e pão. Ele dança extraordinariamente banda improvisada e às vezes coloca seu bastão no meio das pernas, representando assim o falo. Baron é um loa muito masculino.

O Festim dos Ancestrais, Fet Ghede, é considerado o final do velho ano e o começo do novo, tal qual na tradição européia Wicca. Quaisquer débitos com Baron, Maman Brigitte ou Ghede devem ser pagos nesta festa. O Baron Criminel canta para seus devedores :

Bawon Criminel, map travay pou ve de te yo, m pa bezwenn lajan ! 2x
Bawon Criminel, Ó! Lane a bout o, map paret tan yo !

Barão Criminal, estou trabalhando para os vermes da terra (pessoas pobres), eu não preciso de dinheiro ! 2x
Barão Criminal, Ó ! O ano terminou, eu aparecerei para esperá-los (para pagarem-me) !

MAMAN BRIGITTE

Maman Brigitte, surpreendentemente para um loa de Vodu, é britânica em origem, descende de Brigid/St. Brigit, a deusa tripla celta de poesia, forjaria e cura. Ela deve ter entrado para o Haiti nos corações dos escravos deportados escoceses e irlandeses. Há uma canção que nós cantamos em cerimônias : Maman Brijit, nan anglete de soti de li, Maman Brigitte, ela é da Inglaterra…” (Eu penso que Brigid era escocesa, não inglesa, mas talvez no Haiti a palavra anglete represente todas as Ilhas britânicas.)

Hoje em dia, Maman Brigitte é considerada esposa do Baron, mestre do cemitério e chefe de todos os ancestrais, conhecidos como loa Ghede. O túmulo da primeira mulher enterrada em qualquer cemitério no Haiti é consagrado a Maman Brigitte e lá é erigida a cruz cerimonial dela. Ela, também como o Baron, é invocada para elevar o morto “, significando curar e salvar os que estão no ponto de morte por enfermidade causada por magia. Aqui está uma canção muito famosa sobre Maman Brigitte cantada em cerimônias de Vodu:

Mesye la kwa avanse pou l we yo!
Maman Brigitte malad, li kouche sou do,
Pawol anpil pa leve le mo (morts de les, Fr.)
Mare tet ou, mare vant ou, mare ren ou,
Yo prale we ki jan yap met a jenou.

Cavalheiros da cruz (os antepassados falecidos) avancem para ela vê-los!

Maman Brigitte está doente, ela se deita de costas,
Muita conversa não elevará a morta,
Amarre sua cabeça, amarre sua barriga, amarre seus rins,
Eles verão como eles ajoelharão.

(Significando, arregace as mangas para se preparar , nós faremos para as pessoas que fizeram este feitiço maléfico ajoelharem-se, implorar perdão e receber o castigo delas.)

Maman Brigitte, como o resto da constelação Ghede é um loa boca-dura que usa muitas obscenidades. Ela bebe rum com pimenta, tão quente que uma pessoa não possuída por um loa nunca poderia beber isto. Ela também é conhecida por passar pimentas haitianas quentes na pele dos órgão genitais do cavalo e este é o teste para o qual são sujeitadas as mulheres suspeitas de falsa possessão . Ela dança a banda sexualmente sugestiva e artística e seu virtuosismo na dança é legendário. Maman Brigitte e Baron são a mãe e o pai que recuperam os mortos e os transformam em loa Ghede e os removem das águas místicas onde eles estavam sem conhecimento da própria identidade, nomeando-os. Há uma canção melancólica sobre a condição das almas nas águas místicas que também é cantada quando um iniciado está preparando-se para o período de exclusão, morte ritual e renascimento do ciclo de iniciação:

Dlo kwala manyan, nan peyi sa maman pa konn petit li,
Nan peyi sa, fre pa konn se li, dlo kwala manyan.

Água manyan de kwala (palavras não creole), naquele país uma mãe não conhece a própria criança.

Naquele país um irmão não conhece sua irmã, água manyan de kwala.

O LOA GHEDE

Os loa Ghede são uma família enorme de loa, tão numerosos e variados como eram as almas das famílias das quais eles se originaram. Desde que eles são todos membros da mesma família, as crianças espirituais de Baron e Maman Brigitte, eles têm todos o mesmo sobrenome – La Croix, a cruz. Não importa outros nomes que eles possam vir a carregar, a assinatura deles sempre é La Croix.

Algum os nomes de Ghede incluem: Ghede Arapice Croix, Brav Ghede de la Croix, Ghede Secretaire de la Croix, Ghede Ti-Charles la Croix, Makaya Moscosso de la Croix; e nomes tristes e degradantes como GhedeTi-Mopyon la de Deye Croix (Ghede Pequeno Piolho de Caranguejo Atrás da Cruz), Ghede Fatra de la Croix (Lixo Ghede da Cruz), Ghede Gwo nan de Zozo CrekTone de la Croix (Ghede Pinto na Buceta Trovão da Cruz) e por aí vai.. Há uma razão para estes nomes estranhos que ficará clara mais à frente.

A vasta maioria de Ghedes é masculina. Ghede pode possuir qualquer um, a qualquer hora, até mesmo os protestantes (para enorme vergonha deles.) No Haiti eu tenho uma amiga que um dia estava observando um grupo de mulheres possuído por Ghede dançando a banda. Ela disse algo como, ” Olhe as prostitutas nojentas, elas não têm nenhum respeito por si mesmas . Naquele mesmo lugar, a Ghede possuiu minha amiga, a lançaram ao solo, prostraram-na e declararam que ela iria se juntar aos ancestrais! Súplicas e intercessões dos familiares finalmente pacificaram o Ghede que prometeu ceder – com a condição de que a mulher e tornasse Mambo! Mambo Delireuse agora pratica em uma área rural próximo del’Artibonite de Riviere Delicada, no Haiti central! Os Ghedes são figuras muito transitivas, existindo entre a vida e a morte, entre os antepassados em Guiné e entre os homens e mulheres vivos do Haiti. Talvez é por isto que eles sejam homenageados a meio caminho da plena cerimônia de Vodu ortodoxa, depois do Rada (Dahomean e Iorubá) e antes do Petro.

O Ghedes vestem-se quase como seu pai Baron – roupas negras ou púrpuras, chapéus elaborados, óculos escuros, às vezes sem uma lente, um cajado ou baton. Eles também dançam a banda, mas eles retêm mais da personalidade da pessoa de quem eles se originaram.

A família de Ghede, incluindo o pai e a mãe, o Baron e a Maman Brigitte, são absolutamente notórios no uso de baixarias e termos sexuais. Há uma razão para isto – os Ghede estão mortos, além de qualquer castigo. Nada mais pode ser feito a eles, assim o uso de profanidades normalmente entre os haitianos um pouco formais são um modo de declaração, “Eu não me preocupo! Eu passei além de todo o sofrimento, eu não posso ser ferido “. Num país onde desrespeito para com figuras de autoridade era até recentemente punido com tortura ou morte, esta é uma mensagem poderosa. Porém, esta profanidade nunca é usada de modo maligna ou abusiva, para amaldiçoar alguém. Sempre é humorístico, até mesmo quando há uma forte mensagem envolvida.

Há algumas canções muito imponentes e dignas cantadas para Ghede, particularmente o mais velho, raciais ou aspectos raiz, como Brav Ghede. Hoje em dia, entretanto, a ênfase está no humor sexual e obsceno promovido pelos loa Ghede. Aqui está uma canção popular cantada para Ghede em peristilos de Vodu e em celebrações públicas:

Si koko te gen dan li tap manje mayi griye,
Se paske li pa gen dan ki fe l manje zozo kale!

Se vagina tivesse dentes, comeria milho assado,
É porque não tem nenhum dente que come pênis descascado !

Da mesma maneira, é dito que um ghede é um ladrão. É verdade que ele se apropria do que quiser de vendedores de rua, mas uma vez que este ceda às demandas do loa, este se limita a pegar um pouco de coco ou de milho de assado. Na Fet Ghede, a maioria dos terreiros cozinham especialmente comida para as centenas de Ghedes que aparece vagando pelas ruas. Aqui está uma canção que uma multidão de Ghedes cantou enquanto iam para a casa de uma Mambo famosa e particularmente generosa da área de Port au Prince :

Ting ting ting ting kay Lamesi,
Whoi mama,
Kay la Mesi gen yon kochon griye,
Whoi mama!

Ting ting ting ting a casa de Lamesi
Mamãe de Whoi,
A casa de Lamesi tem uma porca inteira assada,
Mamãe de Whoi!

FET GHEDE NO HAITI ATUALMENTE

Dois de novembro, Dia dos Mortos, normalmente chamado de Fet Ghede (pronuncia-se guêdei)é um feriado nacional no Haiti. Católicos assistem missa de manhã e então vão para o cemitério, onde eles rezam e fazem consertos nas tumbas de familiares. A maioria dos católicos haitianos também são vodunistas, e vice-versa, de modo que no caminho para o cemitério muitas pessoas mudam de roupas, do branco que eles vestem para ir à igreja para o púrpura e negro dos loa Ghede, os espíritos de antepassados.

No meio da manhã as ruas de Port Au Prince estão atulhadas de milhares de pessoas. Dúzias já estão possessas por um Ghede e suas vozes nasais, piadas obscenas e giros da dança banda os fazem inconfundíveis. Grand Cemetiere, o cemitério principal de Port Au Prince, é lotado por pessoas. Multidões apertam-se ao redor da cruz cerimonial de 8 metros de Baron e da cruz menor de Maman Brigitte. Muitos trazem oferendas de café e rum que eles vertem ao pé das cruzes. Eles também oferecem pão, amendoim grelhado, milho assado e às vezes comida apimentada.

Ocasionalmente uma pessoa, normalmente um Houngan ou Mambo, sacrificam uma galinha ou um par de pombos. As oferendas são rapidamente consumidas pelos mendigos que se amontoam pelo cemitério. Algumas pessoas vendem velas, fitas de cera de abelha e imagens religiosas de santos para representar o Baron, Maman Brigitte e os Ghedes.

Imagine uma Mambo em saias volumosas de negro e lavanda, um babado das mesmas cores, vários lenços de seda amarrados ao redor de sua cabeça e fios de contas ao pescoço dela; ela aproxima-se da cruz de Maman Brigitte com seus hounsis (os que receberam a primeira iniciação.) Ela leva fitas de cera de abelha pegajosa que ela afixa a cada braço da cruz e ao centro. Então ela retira uma galinha preta de seu saco de palha e a passa em cima dos corpos dos hounsis, removendo todas as más influências. Depois da oração, ela mata a galinha rapidamente da mesma maneira que ela faria para uma refeição ordinária. O sangue jorra na cruz e ela doa a galinha a uma mendiga faminta que espera. A Mambo é possuída por Maman Brigitte e profetiza os eventos do próximo ano. Um do hounsis que se comportou mal é castigado com alguns tapas gentis e um que está doente recebe uma receita para um tônico de ervas. Então Maman Brigitte encharca a cruz dela com rum, canta e dança a banda com grande virtuosismo para alegria dos presentes. Alguns momentos depois ela sai da cabeça da Mambo, que ,novamente consciente, recompõe-se a e deixa o cemitério com dignidade extrema.

Pela cidade, no cemitério de Drouillard, onde é enterrado o mais pobre dos pobres, as pessoas do bairro Cite de Soleil, a adoração é ainda mais intensa. Filas de vodunistas de vários peristilos marcham cantando atrás de times de percussionistas, com cada vez mais pessoas sofrendo possessões conforme eles se aproximam do cemitério. Os que permanecem conscientes visitam os sepulcros de amigos e parentes e falam a eles como se pudessem ouvir debaixo do solo.

” Olhe, Papai, ” diz uma mulher, ” eu trouxe comida para você “.

Irmão mais velho, lamenta um homem jovem, ” o Exército o matou, nós achamos seu corpo em pedaços, mas todos eles estão aí, irmão, não estão? Você não tocará os tambores novamente para nós, querido irmão…. Mamãe sente saudades, ela quis vir mas ela está doente. Veja o rum que eu trouxe para você “!

Os loa Ghede varrem o cemitério gritando piadas obscenas e cantando canções obscenas com todo o ar de seus pulmões. Aqui está uma canção popular entre os Ghedes ano passado no cemitério de Drouillard:

Zozo, tone! A la yon bagay ingra, (repita)
Koko malad kouche, zozo pa bouyi te ba l bwe ,
Koko malad kouche, zozo pa vine we l.

Pênis, pelo trovão! Que coisa ingrata, (repita)
Vagina está doente e cansada, pênis não ferve chá para ela,
Vagina doente e cansada, pênis não vem a ver.

Ano passado eu, uma Mambo americana, deixei um peristilo com um Houngan e nossa congregação. O Houngan teve em sua cabeça um Baron poderoso chamado Secretaire de la Croix, mas Secretaire estava recusando-se a possuir o Houngan, porque o Houngan tinha pego algum dinheiro dado para o Fet Gede e tinha usado para seus próprios propósitos. O Houngan foi muito humilhado, e decidiu ir diretamente para o cemitério pedir perdão.

Eu fiz uso de um caminhão, assim nós o enchemos de membros de nosso peristilo e rumamos pelas ruas sufocadas para o cemitério. Nós ficamos presos no tráfego e como esperamos demais, Baron Secretaire de la Croix ficou impaciente e me possuiu!

Até onde me foi falado, havia um carro na pista da contramão, também parado. Secretaire abriu a janela do motorista da pickup e começou a falar com os ocupantes do carro, muito surpreendidos por ver um Baron na cabeça de uma Mambo estrangeira! Duas senhoras muito ricas sentadas na parte de trás do carro foram para quem Baron prestou honra especial.

” Boa noite, senhoras. Baron disse.

” Boa noite, Baron, Papai.” elas deram risada.

” E como estão seus clitóris hoje ? o Baron inquirindo muito seriamente.

Se seus clitóris não estiverem bem, vocês podem me falar e eu direi para esses dois grandes pênis velhos na frente do carro para entrarem em ação!

As mulheres que em qualquer outra circunstância teriam ficado furiosas, riram, como fizeram os dois homens na frente do carro. As velhas apoiaram na janela e responderam ao Baron.

” Nossos clitóris estão muito bem, Papai Baron. Muito obrigado !

E em alguns momentos cessara o trânsito intenso e o Baron me lançou da possessão e me deixou dirigir a pickup até o cemitério e lidar com a vergonha de nossos membros do peristilo rirem histericamente, relatando o incidente para mim!

À noite, cada peristilo faz uma dança em honra de Baron, Maman Brigitte, e dos Ghedes. As pessoas que vêm devem estar todas alimentadas e os loa que aparecem também são festejados com caldeiras de comida especialmente preparadas para eles. A dança segue ao longo na noite, mesmo até a alvorada. O talento artístico dos loa é incomparável e até mesmo não-vodunistas vêm assistir. Então os adoradores exaustos voltam para casa, esperar o próximo Fet Ghede do ano seguinte.

O LWA

Parte 1 – Características Gerais dos Loa

O Vodu é mal entendido freqüentemente como sendo politeísta, sincrético e animista. Estes conceitos errados serão clareados conforme nós discutirmos as características dos loa.

Vodunistas acreditam em um Deus, Gran Met, ou Grande Mestre. Este Deus é todo poderoso, onisciente, mas lamentavelmente ele é considerado algumas vezes distante e destacado de negócios humanos. Ele é não obstante presente na fala diária dos haitianos que nunca dizem “Até amanhã”, sem que somem ” se Deus quiser “.

Os loa são entidades menores, mas mais prontamente acessíveis. À parte de um amor generalizado para com os descendentes de africanos, os loa requerem uma relação mútua com o adorador. Os loa servem aqueles que os servem. Os Loa têm características bem definidas, incluindo números sagrados, cores, dias, comidas cerimoniais, maneirismos de fala e objetos rituais. Então, um loa pode ser servido usando-se roupas das cores do loa, fazendo oferendas de comidas preferidas e observando os dias sagrados para o loa.

Muitos loa são figuras arquetípicas representadas em muitas culturas. Por exemplo, Erzulie Freda é uma deusa de amor comparável a Vênus, Legba é um loa da comunicação comparável a Hermes ou Mercúrio. Estas correspondências, e às vezes pura coincidência, levou os haitianos a comparar aspectos de loa e imagens de santos católicos como eles eram representados em litografias populares. Durante os dias do colonialismo francês, quando a maioria de pessoas pretas no Haiti eram escravas que haviam nascido na África, a adoração dos santos proveu uma cobertura conveniente para os rituais de deuses africanos. Até mesmo o priere Guiné, uma oração longa recitada perto do começo de cerimônias de Vodu ortodoxas, incorporam versos sobre a Virgem Maria e vários santos.

Isto não significa, porém, que os loa foram sincretizados com os santos católicos. Ninguém confunde Ogoun Feraille com São James, o Grande, simplesmente a imagem que é usada. Se São James é invocado, ele é considerado diferente de Ogoun. Embora o priere Guiné incorpore versos sobre santos católicos, ninguém confunde uma cerimônia de Vodu realizada num peristilo com uma missa católica. John Murphy, em seu livro Santeria , propõe simbiose como um termo mais preciso que sincretismo.

Os Loa às vezes são considerados residentes em árvores, pedras ou raramente em animais. Porém, o loa na árvore não é o loa da árvore e cerimônias realizadas ao pé da árvore são dirigidas ao loa, não a qualquer princípio animista de energia vital pertencente à árvore. Os Loa do Vodu manifestam sua vontade através de sonhos, incidentes incomuns e através do mecanismo de possessão. A possessão é considerada normal, natural e desejável no contexto de uma cerimônia de Vodu e sob outras circunstâncias. Lwa que se manifestam por possessão cantam, dançam, contam piadas, curam doentes e dão conselhos.

Parte 2 – Que grupos de loa são reconhecidos ?

Em uma cerimônia de Vodu ortodoxo, seguinte ao priere Guiné e às saudações para a assembléia e à energia espiritual dos tambores e percussionistas, os loa são honrados em seqüência. A sua vez, são oferecidas canções para cada loa e em casos específicos, oferendas de comida ou sacrifícios de animais. Um iniciado tem que memorizar esta seqüência como uma parte do seu treinamento e um Houngan ou Mambo devem poder observar esta ordem quando administrando uma cerimônia. Um mínimo de três canções são cantadas para cada loa e cada canção é repetida pelo menos três vezes.

No rito de Vodu ortodoxo, há três grupos principais de loa : o Rada, o Ghede e o Petro.

Os loa do Rada são principalmente mas não exclusivamente Dahomeanos em origem. Suar cor cerimonial é branca, com a qualificação que loas individuais dentro deste grupo podem ter suas próprias cores. Eles são considerados misericordiosos e em alguns casos tão antigos por serem vagarosos e desprendidos no agir. Os ritmos dos loas de Rada são batidos em tanbou kon, tambores com tiras de madeira que seguram o couro estirado em cima da cabeça de tambor. A pele do tambor maior, o maman, é couro de vaca, o outro de couro de cabra. Os tambores são tocados com baquetas. Esta parte da cerimônia é disciplinada, concentrada, meticulosa e cerebral.

Os loa Rada, em ordem cerimonial, são como segue: Legba, Marassa, Maluco, Aizan, Damballah e Aida Wedo, Sobo, Badessy,Agassou, Silibo, Agwe e La Sirene, Erzulie, Bossu, Agarou, Azaka, o grupo Ogoun (St. Jacques de Ogoun, Ossange, Ogoun Badagri, Ogoun Feraille, Ogoun Fer, Ogoun Shango, Ogoun Balindjo, Ogoun Balizage, OgounYemsen).

Seguindo os loa Rada, vêm a família Ghede incluindo Baron e Maman Brigitte. Não há nenhuma ordem particularde aparição destes loa dentro do seu próprio grupo. Suas cores cerimoniais são o violeta e o negro. O grupo dos Ghede é obsceno e lascivo, e eles provêem boas risadas para segurar o intenso e disciplinado esforço da seção Rada. Os Barons e Brigittes são muito místicos. Os Ghede estão sempre ansiosos para contar piadas e dar conselhos.

Depois do Rada e do Ghede resta uma parte da cerimônia dedicada para os loa do grupo Petro. Estes loa são predominantemente do Congo e de origem ocidental. Sua cor cerimonial é vermelha. Eles são considerados ferozes, protetores, mágikos e agressivo para com os adversários. O ritmo dos loa Petro é batido em tanbou fey, tambores com aro de corda que segura o couro estirado em cima da cabeça do tambor. A cabeça deste tambor é exclusivamente de couro de cabra e é batido com as palmas das mãos. Esta parte da cerimônia é quente, de ritmo rápido e excitante. Os loa Petro, em ordem cerimonial, são como segue: Legba Petro, Marassa Petro, Wawangol, Ibo, Senegal, Kongo, Kaplaou, Kanga,Takya, Zoklimo, Simbi Dlo, Gran Simba, Carrefour, Cimitiere, Gran Bwa, Kongo Savanne, Erzulie Dantor (também conhecida como Erzulie Je Rouge), Marinette, Don Petro, Ti-Jean Petro, Gros Point, Simbi Andezo, Simbi Makaya.

Quando as três repetições da canção final para Simbi Makaya são terminadas, a cerimônia acaba. Às vezes participantes que são especificamente entusiasmados continuarão a cantar canções populares que, embora relacionadas aos loa, necessariamente não são parte da ordem cerimonial. Tais canções são parte da música popular haitiana, feita por artistas haitianos. Uma vez que os participantes estejam satisfeitos, os tambores são deitados e todos vão descansar em esteiras de talos de bananeira até o alvorecer.

Parte 3 – Os loa chamados Djab

A palavra djab no Crèole haitiano é derivada do francês diable (diabo), mas o termo no contexto do Vodu haitiano leva conotação diferente. Certos loa são individuais e sem igual, servidos por só um indivíduo, às vezes uma Mambo ou um Houngan e são considerados quase propriedade do indivíduo. Estes loa não se ajustam facilmente na liturgia de Vodu ortodoxo, em qualquer dos três grupos. Tais loa, e mesmo loa mais comuns, como os loa Makaya, são comumente chamados djab, mas aqui na significação arcaica de espírito, não necessariamente bom ou ruim. A função destes djab é mágika ao invés de religiosa. Um djab é freqüentemente conjurado por um Houngan, Mambo ou Bokor, em nome de um cliente, para entrar em ação agressiva contra o inimigo do cliente ou concorrente do mesmo. Um djab requer pagamento do cliente por seus serviços, normalmente na forma de sacrifício animal regularmente realizado.

Um Houngan ou Mambo que servem um djab são normalmente protegidos de possíveis atos de agressão fortuita pelo djab; geralmente por um garde, uma proteção mágika efetuada esfregando ervas secas especialmente preparadas em cortes pequenos feitos cerimonialmente na pele do indivíduo. O garde é anualmente renovado no solstício de inverno, quando os membros se reúnem para preparar ervas.

As leves cicatrizes do garde formam um padrão peculiar para a sociedade, e podem servir como uma marca identificando membros. Por exemplo, eu tenho em meu ombro esquerdo um garde conferido a mim pelo Houngan Sauvert Joseph que ajudou a minha iniciação. No encontro anual de sua sociedade, eu recebi o garde do djab Kita Maza, um djab protetor afável mas agressivo e a forma da cicatriz, uma cruz dupla semelhante em forma a um jogo-da-velha, é distinguível para Kita Maza e para a sociedade do Houngan Sauvert Joseph.

Djabs também pode ser específicos para um determinado lugar. Nas cavernas de Bodde perto de Trouin no sul do Haiti, acredita-se que resida um djab de nome Met Set Joune, Mestre Dos Sete Dias. Até mesmo se uma Mambo, Houngan ou Bokor sirva este djab em um peristilo localizado em outro lugar, as cavernas permaneceram a casa do djab.

Certos djabs particularmente amorais podem ser invocados, drenar a energia vital de uma pessoa e efetuar seu falecimento. Quando um djab é responsável pela morte de uma pessoa, o dito crèole não é o djab matou a pessoa , mas ao invés, djab la manje moun nan, o djab comeu a pessoa . Isto não significa que a carne da pessoa é comida canibalisticamente pelo Houngan, Mambo ou Bokor possuído pelo djab, somente que o djab consome a força vital da pessoa.

Um Houngan ou uma Mambo ortodoxos estão sob juramento de nunca ferir alguém, embora as invocações de djabs são mais freqüentes no caso de Bokors. Porém um iniciado de Vodu ortodoxo pode invocar um djab e até mesmo dirigi-lo para matar uma pessoa, se a pessoa é uma assassina, um ladrão profissional ou um seqüestrador profissional.

Mambo Marinette invocou uma loa Petro freqüentemente chamada de djab, Erzulie Dantor, e executou o sacrifício de um porco selvagem, à cerimônia de Bwa Caiman em 1794, o que começou a revolução haitiana. Durante a revolução, djabs haitianos eram muito importantes e acreditava-se que conferiam imunidade contra as balas desferidas pelo escravizador francês branco. Até mesmo a morte da maioria dos membros da força expedicionária do Gel. LeClerc devido a febre amarela foi devida ao resultado do trabalho de djabs.

SEU ALTAR E PRIMEIRA OFERENDA AOS ANCESTRAIS

Parte 1 – Construindo um Altar

Pessoas de muitas fés diferentes constróem altares. Até mesmo pessoas que não pertencem a qualquer fé particular podem reservar um canto de um quarto onde eles se sentam e pensam, meditam e rezam, fazem yôga ou tocam um tambor africano. Muitas vezes eles criam altares improvisados que incluem muitos destes objetos – flores, pedras e cristais, símbolos sagrados, fotografias ou imagens dos antepassados do indivíduo ou de personagens importantes, incensos, instrumentos musicais, velas, livros espiritualistas.

Conscientemente ou inconscientemente, quando nós construímos altares nos comprometemos num esforço em abrir a mais enigmática de todas as portas – a porta entre o mundo humano e o mundo espiritual. Um altar é uma representação da mesma porta em termos materiais – o altar é a porta. Quando você se senta na frente de seu altar, você está convidando as forças espirituais do outro lado desta porta para te notarem, te visitarem e agirem sobre você.

Considerando que a maioria das pessoas que moram no Brasil não podem começar a prática desta religião assistindo cerimônias de Vodu, uma das primeiras coisas que se pode fazer é construir um altar. Os altares de Vodu são tão variados quanto os indivíduos que praticam o mesmo. De certo modo, um peristilo é um altar, grande o bastante para os adoradores dançarem ao redor do centro, tocar tambor, executar sacrifícios, sofrer possessão – em resumo, representar cada aspecto do drama cósmico. Dentro do peristilo há áreas dedicadas a um loa específico – a cruz do Baron ou uma barraca de folhas de palmeira para Erzulie. Junto ao peristilo existem salas menores chamadas djevo ou bagi nas quais são mantidos os objetos cerimoniais de uma sociedade de Vodu. Porém, estes objetos que incluem chocalhos sagrados, garrafas vazias para oferendas de bebida, tetes dados durante a iniciação e potes de barro chamados govi, não têm uso algum para quem não seja iniciado. Um modelo melhor é achado no kay myste (do francês caille des mysteres, casa de mistérios). Estas são casas pequenas, freqüentemente não maiores do que 5 a 7 metros, nas quais são construídos altares individuais para cada loa que o dono da kay myste serve . Estes altares incorporam muitos materiais comuns, facilmente disponíveis em todos lugares no mundo. Eles são notáveis por sua individualidade e beleza. Frequentemente são construídos altares no Haiti num chão sujo.

Sua kay myste pode consistir em uma área pequena em seu quarto ou sala, embora o sentimento no Haiti é que não é bom dormir no mesmo lugar com objetos consagrados ao loa, especialmente com uma pessoa do sexo oposto; exceto durante a iniciação, quando o sexo é proibido de qualquer maneira. Você pode separar esta área com uma cortina ou separar um quarto inteiro para o serviço ao loa. As instruções que seguem lhe darão sugestões para construir um tipo de altar muito básico que pode ser então ser elaborado para o serviço a qualquer loa específico que você deseje.

Sugestões para construir um altar básico:

No Haiti, quando um Vodunista deseja fazer um altar em casa para um aspecto determinado de Deus, um santo, ou um loa, eles freqüentemente compram certos objetos religiosos identificados com qualquer princípio que eles queiram servir e então um Houngan ou Mambo monta e consagra o altar. Alguns são feitos por definição em um chão sujo, outros são construídos em plataformas de tábuas ou mais freqüentemente de  concreto.

Aqui está um possível método para montar um altar básico em lugar fechado, sem ser em chão sujo. Adquira um pano branco e lave em água com sua primeira urinada da manhã. Você pode substituir a urina por vinagre. Deixe o lençol secar ao ar livre, ao sol se possível. Cubra sua mesa de altar com ele e então borrife-o levemente com seu perfume favorito. Logo, consiga quatro pedras pequenas que encontre próximas à sua casa, limpe-as deixando-as de molho com sal grosso e enxaguando bem, então coloque uma pedra em cada canto de seu altar. Limpe uma garrafa de vinho, uma tigela de vidro ou outra vasilha e encha de água. Não use metal ou louça – apenas vidro ou cristal. Coloque-a no centro de seu altar e adicione três de porções de anisete ou rum branco assim que você abençoar a água.

É comum no Vodu a prática de batizar objetos rituais, quer dizer, dar nomes a eles. Você pode levar um maço de manjericão e pode ungir o batismo sobre seu vidro de água que agora será uma passagem poderosa para energia espiritual. Você pode nomear quase qualquer coisa apropriado, de maneira fantástica e positiva – Água da Vida ou Gargarejo da Mamãe Que Traz Espírito ou o que quer que seja!

Em um castiçal de vidro, coloque um pouco de terra de próximo da sua casa e uns grãos de sal grosso. Pegue uma vela branca e com algum óleo vegetal puro esfregue do meio até o topo e então do meio até a base. Enquanto você lubrifica a vela, dirija sua energia para suas mãos e ore por consciência espiritual. Ponha firmemente na frente a vela no castiçal e coloque tudo na frente da vasilha de água. Não acenda a vela ainda.

Ao redor do altar você colocará outros objetos de acordo com os princípios divinos que você deseja servir. Um santuário de ancestrais terá imagens de antepassados mortos, o altar de Ogoun terá um machete e um lenço vermelho, o santuário de Erzulie Freda terá flores e jóias, e assim por diante.

Parte 2 – Realizando um Festim Ancestral

Agora que você construiu um altar básico, você está pronto para o primeiro passo na prática do Vodu – reverência aos seus ancestrais. Não importa como tenha feito seu altar, sempre se lembre que é uma porta entre o mundo humano e o mundo dos antepassados e dos loa. Deixe-o empoeirado, deixe que a água fique escura e envelheça, use-o como um local conveniente para deixar chaves e lápis; ignore-o, e você se achará cansado, drenado, azarado e não-inspirado. Trate-o com respeito, mantenha-o imaculado, limpo, visite-o freqüentemente e você será recompensado com crescimento espiritual, energia, vitórias pessoais e coincidências notáveis.

Seus antepassados o amam. Eles virão e o visitarão, aceitarão suas oferendas. Eles o instruirão, protegerão você, lutarão por você e o curarão. Eles lhe trarão mensagens através da intuição e dos sonhos. Obtenha uma foto ou figura de um parente falecido seu cujo amor para com você está além da dúvida. Se você não tem nenhum parente falecido de quem você se lembre bem, ou de sangue ou por adoção, você pode escolher uma imagem de uma pessoa que representa a você sabedoria e amor ancestrais e dê um nome a esta pessoa. Você também pode obter imagens que lhe agradem de antepassados de todas as raças humanas.

Coloque estas imagens atrás da vasilha de água em seu altar, em qualquer tipo de porta-fotos ou prenda-as na parede atrás de seu altar.

Esta parede também pode ser coberta com um pano branco e as imagens fixadas nele. Arrume as imagens até que você sinta como elas devem estar ordenadas. Você pode escolher trabalham com uma imagem ou muitas.

Sente-se na frente de seu altar. Você pode soar um sino pequeno ou pode balançar um chocalho cerimonial para sinalizar o começo de sua meditação. Acenda a vela branca do seu altar e se possível acenda algum incenso de coco ou baunilha. Amarre um pano branco em volta de sua cabeça se quiser. Contemple a água no cálice central. Relaxe e faça qualquer exercício mágiko com o qual você está familiarizado. Respire fundo, em contagem regressiva de dez até zero ou trabalhando com os chakras, tanto faz. Pense em seu antepassado escolhido. Se possível, relembre e visualize cenas do passado no qual você viveu com aquele antepassado. Sinta o amor entre vocês, que os conecta. Imagine o amor que brilha de seu coração como um raio de luz que atravessa a água e vai para a imagem do antepassado. Convoque o nome de seu antepassado em voz alta, repetidamente. Fale para o antepassado que você o ama e que você quer trabalhar junto com ele. É um princípio básico do Vodu que o vivo e o morto trabalham juntos ajudando-se mutuamente.

Quando você sentir a presença dos antepassados, verta no chão um pouco da água três vezes para lhes dar boas-vindas. Faça freqüentemente esta meditação, até que seja uma rotina confortável. Dentro de uma semana ou duas de prática regular e eficaz, você deverá fazer um festim ancestral para oferecer a seus antepassados.

É um banquete que deve incluir comidas favoritas de seus antepassados em vida, com a exceção que a comida não deve ser salgada. Oferendas de ancestrais genéricos (aqueles que você não conheceu vivos) incluem milho grelhado, amendoim grelhado, coco fresco, comidas brancas como pudim de arroz, leite e bolos de massa com farinha.

Coloque cada tipo de comida em uma tigela e coloque uma vela branca entre as tigelas. Podem ser colocadas oferendas de líquidos em copos. Toque cada prato ou tigela na sua testa, coração e área genital e então cheire profundamente a comida (quase encoste-a no nariz). Fale com seus ancestrais, lembre-lhes que eles já foram parte do mundo dos vivos e que um dia você irá se unir a eles. Peça-lhes para afugentar todo mal como pobreza, enfermidade, desemprego, fadiga, discórdia, tristeza. Peça-lhes para trazer a você tudo aquilo é bom, inclusive amor, dinheiro, trabalho, saúde, alegria, amizade, riso.

Acenda as velas, ponha a comida no altar e deixe o quarto. Quando as velas terminarem de queimar, e de preferência na manhã seguinte, pegue a comida e jogue-a fora ao pé de uma árvore grande. Se isso não for possível, ponha-a em uma bolsa de lixo e jogue-a separadamente de qualquer outro lixo. Lave os pratos, tigelas e copos, esfregue-os com sal e separe-os. Não os use para qualquer outra coisa, nem mesmo para refeições comuns, apenas para outro trabalho de Vodu.

Parte 3 – A Experiência de uma Mambo.

Meu primeiro banquete ancestral aconteceu antes de que eu fosse ordenada como uma Mambo. Eu queria que tudo estivesse tão bonito quanto possível, assim eu limpei minha sala primeiro, então meu altar e todos os objetos do altar, cristais, panos do altar, etc. Eu borrifei o altar com perfume e pus velas novas nos castiçais.

Eu fiz tipos diferentes de comida. Havia galinha, arroz e feijão, verduras cozidas e frutas tropicais para meus antepassados africanos; salsicha, batatas cozidas, saurkraut e doces para meus antepassados europeus, amendoins tostados, milho fervido e carne de coco como comida genérica de antepassado. Havia cerveja, rum, leite, suco de fruta – em resumo, tudo eu pude pensar. Todo prato de comida teve sua própria vela. Eu apresentei as comidas e as bebidas para os antepassados, acendi as velas, meditei e deixei o quarto.

Aquela noite, eu tive alguns sonhos muito interessantes. De manhã, eu notei a condição das velas – toda vela foi queimada até o fim – nem uma gota de cera ou um fragmento de pavio permaneceu em qualquer dos pratos. Puxa , eu pensei, esses antepassados realmente deviam estar famintos! Eu recolhi a comida e coloquei tudo ao pé de uma árvore perto de um rio. Enquanto eu caminhava para casa, eu pensei, qual de meus ancestrais ou loa virá me ajudar agora ?

Era um dia bonito de primavera e eu estava caminhando só em uma estrada rural. Um pequeno fusca amarelo estava passando e buzinou. Eu pensei que a pessoa devia estar perdida e queria indicações, mas assim que olhei, não havia motorista no carro! Instintivamente eu notei a placa – 125 LOA !

Agora, você poderia pensar que alimentar e servir 125 loa deixaria minha conta do supermercado enorme. Mas de fato, a parte de cerimônias maiores, os serviços regulares para os antepassados consistem de um pouco de comida no jantar de segunda-feira, libações ocasionais e a observância correta do Festim dos Mortos (Fet Ghede) a cada 2 de novembro.

Tradução: Michelle Valentim, Autor(a) desconhecido(a)

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/cultos-afros/a-pratica-vodu/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/cultos-afros/a-pratica-vodu/

Biologia Miskatônica: As Tripas de Nyarlathotep

Se você já tentou trabalhar com o Panteão Cthulhiano sabe que pé no saco isso pode ser. Todo Cabalista Lovecraftiano já se cansou de tropeçar nas armadilhas que um sistema ctônico traz de brinde no fundo da embalagem.

Azathoth é o equivalente a Kether, Cthulhu um elemental da Água, Shub-Niggurath é a representação primordial do Bode de Mendes… se essas afirmações fossem jogadas em um balde d’água boiariam como um belo pedaço de merda. Cada uma das entidades do Mito de Cthulhu tem características próprias complexas e só podem ser classificadas assim com uma dose de limitação e outra maior de ingenuidade. Como é que Cthulhu poderia ser comparado com um elemental da água, se é justamente o oceano sua prisão?

O ocultismo do final do século XX se tornou desleixado, e é nosso trabalho limpar a cagada de nossos predecessores para um novo ocultismo do século XXI – imaginem enviar Shub-Niggurath para o deserto para purgar nossos pecados, são todos animais!

O primeiro passo a se dar quando se deseja mergulhar no oceano turvo e sombrio que Lovecraft nos mostrou é deixar qualquer lógica humana de fora e lidar com os fatos por mais desconcertantes que sejam.

O núcleo primordial do universo lovecraftiano é o Caos, puro, simples e impessoal. Não existem demônios malignos, criaturas perversas, seres maliciosos, apenas a indiferença e a fome. A maior ameaça que alguém tem pairando sobre sua cabeça, tal qual a espada de Dâmocles, não é a morte e sim a loucura. Uma loucura contagiosa e pestilenta que tem vida própria. A idéia é que um mero vislumbre da realidade como um todo esfarela a mente, e não importa que você não deseje mais saber o que existe lá fora, a loucura cresce em seu cérebro, em seu corpo, em sua mente, como um cancêr até não restar nada além de caos, cacofonia e desespero.

No centro deste Caos, a primeira coisa que podemos reconhecer vagamente – ao menos vagamente bem para podermos dar um nome – é Azathoth.  Os antigos cabalistas afirmavam que o anjo da morte era tão belo, que um mero vislumbre dele fazia com que sua alma fosse arrancada de seu corpo através dos olhos. Com Azathoth não seria diferente, uma imagem tão além de qualquer descrição ou compreensão que um mero vislumbre cremaria sua sanidade com as chamas da agonia e então arrancaria alma, enlouquecida, para que ela se juntasse com outros farrapos ao redor de seu corpo, como escamas ensandecidas desgastadas pelo desespero.

Nyarlathotep

 

Sendo assim, podemos imaginar que qualquer contato direto entre o Caos Primordial, esse Deus Cego e Idiota, e o resto da criação é muito difícil. Seria como tentar passar um boi por um buraco de rato (tente adivinhar se você é o boi ou o buraco do rato), o maior GangBang Mindfuck de todos. Mas isso não significa que estamos a salvo do Sultão Caótico, pois ele tem arautos, mediadores entre o insuspeitável e o insuportável e nossa vidinha cotidiana.

Lovecraft falou de um desses arautos em uma carta que escreveu em 1921 para Reinhardt Kleiner. Ele descreveu este encontro como “o mais real e horrível [pesadelo] que tive desde a idade dos 10 anos”. Este encontro serviu como inspiração para seu poema em prosa: Nyarlathotep.

Nyarlathotep é mais humanoide dentre os seres que invadiram a mente de Lovecraft. Neste “pesadelo” descrito na carta, Lovecraft recebia uma carta de seu amigo Samuel Loveman que dizia:

“Não deixe de ver Nyarlathotep caso ele venha a Providence. Ele é horrível – horrível além de qualquer coisa que você possa imaginar – mas maravilhoso. Ele nos assombra por horas depois do encontro. Eu ainda estou tremendo com o que ele me mostrou.”

 

Após o sonho, Lovecraft comentou que nunca tinha ouvido o nome NYARLATHOTEP, mas conseguia imaginar do que se tratava.

“Nyarlathotep era uma espécie de showman itinerante, ou conferencista, que se apresentava em teatros públicos e despertava medo generalizado e discussões com suas exibições. Estas exibições consistiam de duas partes – a primeira, uma horrível – possivelmente profética – mostra cinematográfica, e depois de algumas experiências extraordinárias com aparelhos científicos e elétricos. No momento em que recebi a carta, parecia-me lembrar que Nyarlathotep já estava em Providência …. Parecia-me lembrar que pessoas haviam me contado em sussurros cheios de admiração e terror sobre seus horrores, me avisando para não chegar perto dele. Mas a carta onírica de Loveman já havia me convencido… quando saí de casa, vislumbrei uma multidão de homens se arrastando pela noite, todos sussurrando cheios de terror, se movendo em uma direção. Eu me rendi e me uni a eles, amedrontado mas ansioso para ver e ouvir o grande, o obscuro e o inominável Nyarlathotep.”

 

Esta primeira descrição do Arauto do Caos fez com que muitas pessoas, como Will Murray, chegassem a especular que este sonho foi inspirado por Nikola Tesla, cujas demonstrações públicas eram experiências extraordinárias, realizadas com aparelhos elétricos, que acabaram dando a Tesla uma fama, de certa forma, sinistra. Macacos, com ou sem rabo, peludos ou carecas, sempre buscarão a explicação menos assustadora para as luzes que surgem no céu, rugindo como um leão.

O mundo de Lovecraft, e estou sendo literal aqui, ou seja, o lugar onde ele existia, não era exatamente o nosso. Ele existia neste mundo em que habitamos, mas também existia em seus sonhos. Seus contos “criativos”, não eram meras alegorias racionais, mas transcrições, muitas vezes extremamente fiéis, das imagens que via quando sua mente racional era desligada. Nyarlathotep não era uma versão macabra de Tesla, Nyarlathotep era, e é, uma manifestação real do mundo que Lovecraft acessava via seus sonhos. E assim que começou a escrever sobre aquele que chamou de “O Caos Rastejante”, Lovecraft começou a infectar todos aqueles que liam seus contos.

Nyarlathotep aparece em apenas quatro contos e dois sonetos de Lovecraft – nenhuma outra criatura do Mito recebeu tanta atenção – mas com o tempo começou a surgir em inúmeros outros trabalhos de diferentes escritores.

O Homem Negro difere dos outros seres do Mito de inúmeras maneiras. A maioria deles foram exilados para as estrelas, como Hastur, ou se encontram aprisionados, como Cthulhu; Nyarlathotep, no entanto, está na ativa e freqüentemente anda pela Terra na forma de um ser humano, geralmente um homem magro e alto. Se no momento vivemos em um hiato onde os Antigos e os Deuses Mais Antigos estão em “stand-by” esse hiato parece não afetar o Arauto do Caos. Nyarlathotep tem “milhares” de outras formas, a maioria delas tem a reputação de ser enlouquecedoramente horríveis.

Grande parte dos Deuses Exteriores possuem seguidores e cultos que os servem; Nyarlathotep não, ele age como intermediário entre esses cultos e algo além. Eu arrisco dizer que ele é o link, o cabo de rede que liga de cada um dos diferentes cultos ao servidor primordial cego e idiota, de onde tiram o seu poder.

Nyarlathotep não apenas decreta a Vontade dos Deuses Exteriores, ele personifica esta Vontade. É seu mensageiro, coração e alma. Desta forma lidar com ele se torna um exercício não apenas de abraçar a loucura, a ruptura dessa coisa frágil que chamamos sanidade, mas de se tornar um tentáculo desta loucura. Não é à toa que alguns sugerem que será ele o responsável pelo fim da raça humana e deste planeta.

Nyarlathotep, Poderoso Mensageiro… desça do mundo dos Sete Sóis para zombar… Grande Mensageiro, o que trouxe a estranha alegria a Yuggoth através do vazio, Pai dos Milhões de favorecidos… Como explorar os aspectos místicos deste avatar, sem nos atirarmos dos mais altos edifícios? Como calcular a Gematria Cancerígena de seu nome?

NIRLAThTP = 780

MChQRI RZI MTH VMOLH {os mistérios mais profundos abaixo e acima}

ShPTh {lábio, linguagem; costa, fronteira}

Ophis {serpente, cobra}

 

NIRLAThVTP = 786

ShMSh OVLM {Sol do Mundo; Sol Eterno}

PShVTh {suave}

asteios {agradável, belo}

 

Niarlathotep = 656

Messias {O Ungido}

OQLThVN {O Tortuoso}

ShShVN {alegria, satisfação}

Assim que sonhou com Nyarlathotep, Lovecraft – Amor à Arte – o identifica com o Caos Rastejante e descreve como “o fascínio e aliciamento de suas revelações” por fim o levou a algum “cemitério revoltante do universo”, que é assombrado pela “aguda lamentação monótona de flautas blasfemas de inconcebíveis câmaras obscuras de além do tempo. ”

Nyarlathotep = 1046

aei polon {moto perpétuo, um dos títulos de Pan}

Eli eli leina sabachthani {Meu Deus, Meus Deus, por que me abandonaste?}

“Em minha solidão vem –
O som de uma flauta em bosques escuros que assombram as colinas longínquas.
Mesmo a partir do rio bravo chegarem até a borda
do deserto. E eu contemplo Pan ”

– Liber VII, Prólogo do não Nascido, 1-4, Crowley.

Nyarlathotep = 1776

Apokalypsis alethejas {Revelação da Verdade}

O Messias ek nekron {O Messias dos Mortos}

To alethinon Inysterion {O Mistério Verdadeiro}

Atributos que enfatizam o aspecto mensageiro de Nyarlathotep, ele que é o Messias do Caos, o Primeiro Emissário dos Grandes Antigos, o Mestre Negro do Necronomicon ~ Lovecraft apenas sonhou com o livro após ter sido apresentado a Nyarlathotep.

Mil máscaras escondem sua forma, privam o universo do horror de sua fisionomia. Há séculos caminhando pela Terra, chamado por mil nomes, adorado pelos insanos, os marginais, as filhas da histeria, os loucos solitários, os grupos de escolhidos.

No Congo surge como Ahtu, uma massa gelatinosa de onde saem tentáculos dourados. É adorado por humanos sem esperança, aqueles que habitam na própria loucura. Trazem em seu corpo os sinais de sua adoração – auto-mutilação. Amputados, cobertos de cicatrizes causadas por espancamentos e açoites que quase os levaram à morte. O culto moderno se mescla com o Vodu, seus sacerdotes o evocam com o uso de braceletes dourados.

Na Inglaterra é chamado de Black Man – o Homem Negro. Surge como um homem calvo, mais escuro do que a noite sem lua, apesar de suas feições caucasianas. Possui cascos e é adorado por covens de feiticeiras.

No Egito é conhecido como o Faraó Negro, e tem a aparência de um. Adorado pela Irmandade do Faraó Negro.

No Quênia é temido como o Vento Escuro, uma tempestade que varre a existência da face da Terra.

A Mulher Inchada Chinesa. A caricatura de um ser humano morbidamente obeso, coberto de tentáculos, que utiliza um leque para criar a ilusão de uma delicada donzela. Seu culto conta com emissários em Estocolmo.

Aqueles que alcançam a Terra dos Sonhos percebem sua presença como a pútrida neblina rastejante.

Os estudiosos das Artes Negras às vezes entram em contato com um demônio negro, que promete riquezas e poder, se dispondo a revelar uma sabedoria esquecida pelos primeiros seres criados no universo. Infelizmente para todos que compactuam com a criatura, ela cumpre sua parte do trato.

Na Califórnia, no Tennessee e na Louisiana já foi chamado de O Escuro. Um homem negro como o óleo que jorra do chão, sem a face. Com altura que ultrapassa os 2,40m é incapaz de ser detido por barreiras físicas.

O Que Vive nas Trevas. A criatura dos mil apêndices que habita a Floresta de N’gai.

No Antigo Egito enviava a mente de seus seguidores a eras remotas do tempo. Era adorado e temido como o Deus Sem Face, na forma de uma Esfinge Negra e sem rosto.

No Haiti o chamam de O Horror que Flutua, uma forma gelatinosa azulada, coberta de veias vermelhas, que surge no mar.

Austrália, Providência – Ilha de Rodes – e Yuggoth… nesses locais uma criatura semelhante a um morcego inchado. Ele evita a luz, como se ela o ferisse fisicamente. Adorado nesta forma pelo Culto da Sabedoria Estrelar, na América, que o evoca através do Trapezohedro brilhante. No continente australiano, aborígenes desajustados também lhe dão o título de Devorador de Faces, Asa Negra, Morcego da Areia, Pai dos Morcegos.

O Que Uiva na Escuridão. Na região norte dos Estados Unidos existem relatos de um gigante que possui um único tentáculo no lugar do rosto, que uiva pelas florestas. Relatos da Floresta de N’gai descrevem a mesma criatura.

L’rog’g! É Assim que os seres cubóides de L’gy’hx chamam o enorme morcego de duas cabeças.

Em São Paulo, Natal, Brasília, Mato-Grosso e na Califórnia, perguntando às pessoas certas, certificando-se de que não temam se passar por tolas, você pode ter a sorte de ouvir os relatos sobre o Sete Peles.

Os semitas antigos o chamaram de Samael, e hoje ainda é adorado em Israel pelo Culto de Malkira. Alguns gnósticos chegaram a afirmar que ele é o Demiurgo, que se fez passar como o criador para Moisés e lhe ditou os livros do Antigo Testamento.

Na Malásia aqueles que conhecem as velhas histórias temem Shugoran, aquele que se disfarsa como um homem negro, tocando um chifre enorme antes de grandes desgraças se abaterem sobre aqueles que escutam o som.

Em hospícios ao redor do mundo, é possível ouvir sobre o Homem Sussurrante, que atormenta os sonhos dos já insanos, lhes mostrando futuros desastres e guerras e sabendo que jamais acreditarão em seus profetas.

A Coisa Com a Máscara Amarela. Alguns afirmam que ele é o único ocupante do monastério sem nome construído no Platô de Leng, e o chamam de o Sumo Sacerdote que Não Deve Ser Descrito.

Esse é o caminho mais apropriado para quem quiser abraçar o universo de Lovecraft. Em vez de desesperadamente tentar encaixar os Deuses Antigos neste ou naquele sistema anterior veja as coisas como elas foram transmitidas. Somente assim algo novo pode explodir. Não tente categorizar nada, mas sim deixe que o nada categorizar você.

por LöN Plo

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/biologia-miskatonica-as-tripas-de-nyarlathotep/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/biologia-miskatonica-as-tripas-de-nyarlathotep/