Dez anos atrás, nesta data, a Rede Globo estreiou um remake da novela “O Astro”. Esta novela fez grande sucesso muitos anos atrás, quando Francisco Cuoco era o protagonista – um astrólogo charlatão. É oportuno abordarmos dois pontos que fatalmente virão à tona quando a novela estrear: este personagem pode ser ruim para a imagem da Astrologia e dos astrólogos? Mais: como discernir um astrólogo sério de um charlatão?
No que diz respeito à primeira pergunta, meu ponto de vista é o mesmo que sustento sempre que um personagem fictício é apresentado como um astrólogo de comportamento duvidoso: ficção é ficção, e nenhuma obra ficcional tem a menor obrigação de representar idealmente nenhuma atividade profissional. Quantos personagens em filmes ou novelas são médicos malignos, psiquiatras sem escrúpulos, engenheiros vilões? Inúmeros! Um personagem de obra ficcional não é criado para “representar classes”. Ademais, ainda que a ficção tivesse por objetivo retratar a realidade, quem disse que não existem vários astrólogos que fazem coisas duvidosas, como este que será apresentado na novela “O Astro”? Astrólogos não deveriam se preocupar com charlatães apresentados em filmes e novelas. Não conheço médico psiquiatra algum reclamando de Hannibal Lecter (vilão do filme “O Silêncio dos Inocentes”).
Já no que concerne à segunda questão, sobre como identificar um astrólogo charlatão, a resposta é mais difícil. Primeiro, porque para muitas pessoas a Astrologia já é, por si mesma, um exercício de charlatanismo. Deste modo, para estas pessoas, não haveria divisão entre “astrólogos sérios” e “charlatães”. Todos seriam enganadores.
Eu digo que este pensamento, isso sim, é enganoso. Explico:
Charlatanismo é uma palavra que explicita o desejo intencional de enganar, oferecendo algo que não se pode cumprir, ou afirmando algo que o próprio declamante sabe não ser verdade. Alguém que pratica ilegalmente a Medicina, sem ter formação para tanto, é um charlatão. Um astrólogo que afirma que pode fazer você ganhar na loteria ou que traz a pessoa amada em 3 dias através de magia é, igualmente, um enganador. Não é complicado identificar este tipo de pessoa perigosa. Procure referências sobre ela. No caso de um astrólogo, procure saber quem ele é, como trabalha, tente descobrir se pessoas de sua confiança já fizeram consultas com ele. Aliás, vale dizer que esta é uma dica preciosa no tocante a serviços astrológicos: o melhor astrólogo é aquele que lhe foi indicado. Note que a Astrologia não é algo que exige de ninguém um estudo formal. Qualquer pessoa pode se dizer “astróloga”. Logo, não é como a Medicina, atividade que exige um CRM, ou a Psicologia, que exige CRP (e ambos os registros exigem formação acadêmica).
OS LIMITES DA PRÁTICA ASTROLÓGICA
Há também outro tipo de charlatanismo, moralmente menos grave, que eu chamo de não-intencional. É quando a pessoa aprende uma coisa que não é verdade, acredita nela e propaga a falsidade, conduzindo outras pessoas ao erro. Para céticos em relação à Astrologia, essa descrição caberia a todos os astrólogos, pois estes céticos partem do pressuposto de que a Astrologia é, por si mesma, um engano – até mesmo para quem a pratica com a melhor das intenções. Argumentar sobre a validade da Astrologia é algo que não farei neste artigo. Limito-me a dizer que se o astrólogo pratica o que tradicionalmente é chamado de Astrologia, ele não é um charlatão, nem intencional, nem não-intencional. E, note: o que é tradicionalmente chamado de Astrologia não promete trazer pessoas amadas nem em um dia, nem em 100, Astrologia não faz ninguém ganhar na loteria (se isso fosse possível, astrólogos estariam ricos), Astrologia não cura doenças. Assim sendo, cuidado com quem promete coisas fantásticas. Astrólogos sérios geralmente deixam bem claro os limites da prática: o que pode e o que não pode ser feito.
O que eu chamo de charlatanismo não-intencional é a postura de incorporar à atividade astrológica um palavreado científico acadêmico sem verdadeiro conhecimento de causa. Geralmente, isso decorre mais de ingenuidade que de má fé. Associar Astrologia à física quântica, por exemplo, é forçar a barra. Jamais encontrei nenhum trabalho sobre Astrologia e física quântica que eu pudesse dizer que conta com qualquer mínimo conhecimento, mesmo que vago, de física quântica. Falar em “campos magnéticos”, “efeito quântico” e outras coisas do gênero, na minha opinião, não passa de desejo de impressionar através de palavras difíceis ou, na melhor das hipóteses, exercício de analogias forçadas entre dois saberes tão distintos (a Física e a Astrologia). Se um dia a Astrologia puder ser comprovada pela ciência, isso não se dará por mera retórica que se vale de palavras impressionantes e uso de termos exóticos.
Por fim, vale um conselho: se você procura um astrólogo, não tenha medo de inquiri-lo e buscar referências. Procure por alguém de quem você já ouviu falar bem, ou cujos textos você leu e gostou. Converse com ele. Se o astrólogo pontua claramente os limites do que pode ser feito, ele provavelmente é confiável.
Por Alexey Dodsworth
Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/como-identificar-um-bom-astr%C3%B3logo-1