A Natureza da Consciência (parte-3)

Alan Watts

Na sessão de ontem à noite, eu estava discutindo um mito alternativo aos modelos Cerâmicos e Totalmente Automáticos do universo, que chamarei de Mito Dramático. A ideia de que a vida como a experimentamos é um grande ato, e que por trás desse grande ato está o jogador, e o jogador, ou o eu, como é chamado na filosofia hindu, o atman, é você. Só você está brincando de esconde-esconde, pois esse é o jogo essencial que está acontecendo. O jogo dos jogos. A base de todos os jogos, o esconde-esconde. E como você está brincando de esconde-esconde, você está deliberadamente, embora não possa admitir isso – ou não queira admitir – você está deliberadamente esquecendo quem você realmente é, ou o que você realmente é. E o conhecimento de que seu eu essencial é o fundamento do universo, o ‘fundo do ser’ como Tillich o chama, é algo que você tem que os alemães chamam de hintengedanka. Hintengedanka é o pensamento bem, bem , bem,bem bem no fundo da sua mente. Algo que você conhece no fundo, mas não pode admitir.

Então, de certa forma, para trazer isso para a frente, para saber que é o caso, você tem que ser enganado. E então o que eu quero discutir esta manhã é como isso acontece. Embora antes de fazê-lo, eu deva ir um pouco mais longe em toda a natureza deste problema.

Você vê, o problema é este. Identificamos em nossa experiência uma diferenciação entre o que fazemos e o que nos acontece. Temos um certo número de ações que definimos como voluntárias e nos sentimos no controle delas. E então, contra isso, há todas aquelas coisas que são involuntárias. Mas a linha divisória entre esses dois é muito inarbitrária. Porque, por exemplo, quando você move a mão, sente que decide se abre ou fecha. Mas então pergunte a si mesmo como você decide? Quando você decide abrir sua mão, você primeiro decide decidir? Você não faz isso, não é? Você apenas decide, e como você faz isso? E se você não sabe como fazer, é voluntário ou involuntário? Vamos considerar a respiração. Você pode sentir que respira deliberadamente; você não controla sua respiração. Mas quando você não pensa sobre isso, ela continua. É voluntário ou involuntário?

Assim, chegamos a ter uma definição muito arbitrária do eu. Muito da minha atividade que sinto que faço  não inclui respirar na maior parte do tempo; não inclui os batimentos cardíacos; não inclui a atividade das glândulas; não inclui digestão; não inclui como você molda seus ossos; circula seu sangue. Você faz ou não faz essas coisas? Agora, se você ficar consigo mesmo e descobrir que você é todo você mesmo, uma coisa muito estranha acontece. Você descobre que seu corpo sabe que você é um com o universo. Em outras palavras, a chamada circulação involuntária do seu sangue é um processo contínuo com as estrelas brilhando. Se você descobrir que é VOCÊ quem circula seu sangue, você descobrirá ao mesmo tempo que está brilhando o sol. Porque seu organismo físico é um processo contínuo com tudo o que está acontecendo. Assim como as ondas são contínuas com o oceano. Seu corpo é contínuo com o sistema total de energia do cosmos, e é tudo você. Só você está jogando o jogo que você é apenas um pouco disso. Mas, como tentei explicar, na realidade física não existem eventos separados.

Então. Lembre-se também de quando tentei trabalhar em direção a uma definição de onipotência. Onipotência não é saber como tudo se faz; é só fazer. Você não precisa traduzi-lo para o idioma. Supondo que quando você acordasse de manhã, você tivesse que ligar seu cérebro. E você tivesse que pensar e fazer como um processo deliberado despertando todos os circuitos que você precisa para uma vida ativa durante o dia. Ora, você nunca terminaria! Porque você tem que fazer todas essas coisas ao mesmo tempo. É por isso que os budistas e os hindus representam seus deuses como muitos armados. Como você pode usar tantos braços ao mesmo tempo? Como uma centopéia poderia controlar cem pernas de uma só vez? Porque não pensa nisso. Da mesma forma, você está realizando inconscientemente todas as várias atividades do seu organismo. Só que inconscientemente não é uma boa palavra, porque soa meio morta. Superconscientemente seria melhor. Dê-lhe uma mais em vez de uma a menos.

A consciência é uma forma bastante especializada de percepção. Quando você olha ao redor da sala, você está consciente de tudo o que pode notar e vê um enorme número de coisas que não percebe. Por exemplo, eu olho para uma garota e alguém me pergunta depois ‘O que ela estava vestindo?’ Posso não saber, embora tenha visto, porque não prestei atenção. Mas eu estava ciente.  E talvez se eu pudesse responder esta pergunta sob hipnose, onde eu tiraria minha atenção consciente do caminho por estar em estado hipnótico, eu poderia lembrar que vestido ela estava usando.

Então, da mesma forma que você não sabe – você não foca sua atenção – em como você faz sua glândula tireoide funcionar, da mesma forma, você não tem nenhuma atenção focada em como você faz o sol brilhar. Então, deixe-me conectar isso com o problema do nascimento e da morte, que intriga enormemente as pessoas, é claro. Porque, para entender o que é o eu, você precisa se lembrar de que ele não precisa se lembrar de nada, assim como você não precisa saber como funciona sua glândula tireoide.

Então, quando você morrer, você não terá que tolerar a inexistência eterna, porque isso não é uma experiência. Muitas pessoas têm medo de que, quando morrerem, fiquem trancadas em um quarto escuro para sempre, e meio que passarão por isso. Mas uma das coisas interessantes do mundo é – isso é uma ioga, isso é uma realização – tente imaginar como será dormir e nunca mais acordar. Pense sobre isso. As crianças pensam nisso. É uma das grandes maravilhas da vida. Como será dormir e nunca mais acordar? E se você pensar o suficiente sobre isso, algo vai acontecer com você. Você descobrirá, entre outras coisas, que ele fará a próxima pergunta para você. Como seria acordar depois de nunca ter ido dormir? Foi quando você nasceu. Veja, você não pode ter uma experiência do nada; a natureza abomina o vácuo. Então, depois que você morre, a única coisa que pode acontecer é a mesma experiência, ou o mesmo tipo de experiência de quando você nasceu. Em outras palavras, todos nós sabemos muito bem que depois que outras pessoas morrem, outras pessoas nascem. E todas elas são você, só que você só pode experimentar uma de cada vez. Todo mundo sou eu, todos vocês sabem que são vocês, e onde quer que todos os seres existam em todas as galáxias, não faz a menor diferença. Você é todos eles. E quando eles vêm a ser, é você que vem a ser.

Você sabe muito bem disso, só que não precisa se lembrar do passado da mesma forma que não precisa pensar em como trabalha sua glândula tireoide, ou o que quer que seja em seu organismo. Você não precisa saber como brilhar o sol. Você apenas faz isso, como você respira. Não é realmente surpreendente que você seja essa coisa fantasticamente complexa, e que esteja fazendo tudo isso e nunca tenha tido nenhuma educação sobre como fazê-lo? Nunca aprendeu, mas você é esse milagre. A questão é que, do ponto de vista estritamente físico e científico, este organismo é uma energia contínua com tudo o que está acontecendo. E se sou meu pé, sou o sol. Só que temos essa pequena visão parcial. Temos a ideia de que ‘Não, eu sou algo NESSE corpo’. O ego. Isso é uma piada. O ego nada mais é do que o foco da atenção consciente. É como o radar de um navio. O radar em um navio é um solucionador de problemas. Há algo no caminho? E a atenção consciente é uma função projetada do cérebro para escanear o ambiente, como um radar faz, e observar quaisquer mudanças que causem problemas. Mas se você se identificar com seu solucionador de problemas, naturalmente você se definirá como estando em um estado perpétuo de ansiedade. E no momento em que deixamos de nos identificar com o ego e nos conscientizamos de que somos o organismo inteiro, percebemos de primeira como tudo é harmonioso. Porque seu organismo é um milagre de harmonia. Todas essas coisas funcionando juntas. Mesmo aquelas criaturas que estão lutando entre si na corrente sanguínea e se devorando. Se elas não estivessem fazendo isso, você não seria saudável.

Então, o que é discórdia em um nível do seu ser é harmonia em outro nível. E você começa a perceber isso, e começa a ter consciência também, que as discórdias de sua vida e as discórdias da vida das pessoas, que são uma discórdia em um nível, em um nível superior do universo, são saudáveis ​​e harmoniosas. E de repente você percebe que tudo o que você é e faz está nesse nível tão magnífico e tão livre de qualquer defeito quanto os padrões das ondas. As marcações em mármore. A maneira como um gato se move. E que este mundo está realmente bem. Não pode ser outra coisa, porque senão não poderia existir. E não quero dizer isso no sentido de Pollyanna ou Christian Science. Eu não sei o que é ou sobre o que é a Ciência Cristã, mas é uma coisa certinha. Tem uma sensação engraçada; veio da Nova Inglaterra.

Mas a realidade sob a existência física, ou que realmente é a existência física – porque na minha filosofia não há diferença entre o físico e o espiritual. Estas são categorias absolutamente desatualizadas. É tudo processo; não é ‘coisa’ por um lado e ‘forma’ por outro. É apenas um padrão – a vida é um padrão. É uma dança de energia. E por isso nunca invocarei conhecimento assustador. Ou seja, que eu tive uma revelação particular ou que tenho vibrações sensoriais em um plano que você não tem. Tudo está bem exposto, é apenas uma questão de como você olha para isso. Então você descobre quando percebe isso, a coisa mais extraordinária que eu nunca deixo de ficar boquiaberto sempre que  acontece comigo. Algumas pessoas usarão um simbolismo do relacionamento de Deus com o universo, no qual Deus é uma luz brilhante, apenas de alguma forma velada, ocultando-se sob todas essas formas enquanto você olha ao seu redor. Até agora tudo bem. Mas a verdade é mais engraçada do que isso. É que você está olhando diretamente para a luz brilhante agora que a experiência que você está tendo que você chama de consciência cotidiana comum – fingindo que você não é isso – essa experiência é exatamente a mesma coisa que ‘isso’. Não há diferença nenhuma. E quando você descobre isso, você ri de si mesmo. Essa é a grande descoberta.

Em outras palavras, quando você realmente começa a ver as coisas, e olha para um velho copo de papel, e entra na natureza do que é ver o que é visão, ou o que é cheiro, ou o que é tato, você percebe que essa visão do copo de papel é a luz brilhante do cosmos. Nada poderia ser mais brilhante. Dez mil sóis não poderiam ser mais brilhantes. Só que eles estão escondidos no sentido de que todos os pontos da luz infinita são tão pequenos quando você os vê na xícara que não explodem seus olhos. Veja, a fonte de toda luz está no olho. Se não houvesse olhos neste mundo, o sol não seria luz. Então, se eu bato o mais forte que posso em um tambor que não tem pele, ele não faz barulho. Então, se um sol brilha em um mundo sem olhos, é como uma mão batendo em um tambor sem pele. Sem luz. VOCÊ evoca a luz do universo, da mesma forma que você, por natureza de ter uma pele macia, evoca a dureza da madeira. A madeira só é dura em relação a uma pele macia. É o seu tímpano que evoca o ruído do ar. Você, sendo este organismo, chama à existência todo este universo de luz e cor e dureza e peso e tudo mais.

Mas na mitologia que nos venderam no final do século 19, quando as pessoas descobriram o quão grande era o universo, e que vivemos em um pequeno planeta em um sistema solar na borda da galáxia, que é uma galáxia menor , todo mundo pensou, ‘Uuuuugh, nós somos realmente sem importância, afinal. Deus não está lá e não nos ama, e a natureza não dá a mínima.’ E nós nos colocamos para baixo. Mas, na verdade, é esse pequeno micróbio engraçado, coisinha, rastejando neste pequeno planeta que está em algum lugar, que tem a ingenuidade, por natureza dessa magnífica estrutura orgânica, de evocar todo o universo do que de outra forma seriam meros quantas. Há jazz acontecendo. Este pequeno organismo engenhoso não é apenas um estranho. Este pequeno organismo, neste pequeno planeta, é todo o show que está crescendo, e assim percebendo sua própria presença. Faz isso através de você, e você é isso.

Quando você coloca o bico de uma galinha em uma linha de giz, ela fica presa; está hipnotizada. Então, da mesma forma, quando você aprende a prestar atenção, e quando criança você sabe como todos os professores estravam na aula: ‘Preste atenção!!’ E todas as crianças olham para o professor. E temos que prestar atenção. Isso é colocar o nariz na linha de giz. E você ficou preso com a ideia de atenção, e pensou que atenção era o Eu, o ego. Então, se você começar a prestar atenção na atenção perceberá qual é a farsa. É por isso que no livro ‘Ilha’ de Aldous Huxley, o Roger havia treinado os pássaros myna na ilha para dizer ‘Atenção! Aqui e agora, rapazes!’ Vê? Perceba quem você é. Venha, acorde!

Bem, aqui está o problema: se este é o estado de coisas que é assim, e se o estado consciente em que você está neste momento é a mesma coisa que poderíamos chamar de Estado Divino. Se você fizer qualquer coisa para torná-lo diferente, isso mostra que você não entende que é assim. Portanto, no momento em que você começa a praticar ioga, orar ou meditar, ou se entregar a algum tipo de cultivo espiritual, você está entrando de novo em seu próprio caminho.

Agora este é o truque budista: o buda disse ‘Nós sofremos porque desejamos. Se puder desistir do desejo, não sofrerá. Mas ele não disse isso como última palavra; ele disse isso como o passo inicial de um diálogo. Porque se você disser isso a alguém, eles vão voltar depois de um tempo e dizer ‘Sim, mas agora estou desejando não desejar’. E assim o buda responderá: ‘Bem, finalmente você está começando a entender o ponto.’ Porque você não pode desistir do desejo. Por que você tentaria fazer isso? Já é desejo. Assim, da mesma forma você diz ‘Você deveria ser altruísta’ ou desistir de seu ego. Deixe ir, relaxe. Por que você quer fazer isso? Só porque é outra maneira de vencer o jogo, não é? No momento em que você levanta a hipótese de que você é diferente do universo, você quer colocar um em cima do outro. Mas se você tenta se destacar no universo e está competindo com ele, isso significa que você não entende que você É ele. Você acha que há uma diferença real entre ‘eu’ e ‘outro’. Mas ‘eu’, o que você chama de si mesmo, e o que você chama de ‘outro’ são mutuamente necessários um para o outro, como frente e verso. Eles são realmente um. Mas, assim como um ímã se polariza no norte e no sul, mas é tudo um ímã, a experiência se polariza como eu e outro, mas é tudo um. Se você tentar fazer com que o pólo sul derrote o pólo norte, ou conseguir dominá-lo, você mostra que não sabe o que está acontecendo.

Portanto, existem duas maneiras de jogar o jogo. A primeira maneira, que é a maneira usual, é um guru ou professor que quer passar isso para alguém porque ele mesmo sabe disso, e quando você sabe, gostaria que os outros também vissem. Então, o que ele faz é fazer você ser ridículo com mais força e assiduidade do que o normal. Em outras palavras, se você está em uma disputa com o universo, ele vai provocar essa disputa até que se torne ridícula. E então ele lhe dá tarefas como dizer: Agora, é claro, para ser uma pessoa verdadeira, você deve desistir de si mesmo, ser altruísta. Então o senhor desce do céu e diz: ‘O primeiro e grande mandamento é ‘Amarás o senhor teu deus’. Você deve me amar.’ Bem, isso é uma ligação dupla. Você não pode amar de propósito. Você não pode ser sincero de propósito. É como tentar não pensar em um elefante verde enquanto toma remédio.

Mas se uma pessoa realmente tenta fazer isso – e é assim que o cristianismo é manipulado – você deve se arrepender muito de seus pecados. E embora todos saibam que não são, mas acham que deveriam ser, eles andam por aí tentando ser penetrantes. Ou tentando ser humilde. E eles sabem que quanto mais assiduamente a praticam, mais e mais falsa fica a coisa toda. Assim, no Zen Budismo, acontece exatamente a mesma coisa. O mestre Zen desafia você a ser espontâneo. “Mostre-me o verdadeiro você.” Uma maneira que eles fazem isso é fazer você gritar. Grite a palavra ‘Mu’. E ele diz ‘Eu quero ouvir VOCÊ nesse grito. Quero ouvir todo o seu ser nele. E você grita com seus pulmões e ele diz ‘Pfft. Isso não é bom. Isso é apenas um grito falso. Agora eu quero ouvir absolutamente todo o seu ser, direto do coração do universo, vindo neste grito.’ E esses caras gritam até ficarem roucos. Nada acontece. Até que um dia eles ficam tão desesperados que desistem de tentar e conseguem fazer aquele grito passar, quando não estavam tentando ser genuínos. Porque não havia mais nada a fazer, você só tinha que gritar.

E assim, desta forma – é chamada de técnica de reductio ad absurdum. Se você acha que tem um problema, e é um ego e está em dificuldade, a resposta que o mestre Zen lhe dá é ‘Mostre-me seu ego. Eu quero ver essa coisa que tem um problema.’ Quando Bodidharma, o lendário fundador do Zen, veio para a China, um discípulo veio até ele e disse: ‘Não tenho paz de espírito. Por favor, pacifique minha mente. E Bodhidharma disse ‘Traga sua mente aqui antes de mim e eu a pacificarei.’ “Bem”, disse ele, “quando procuro, não encontro.” Então Bodhidharma disse ‘Pronto, está pacificado.’ Porque quando você procura sua própria mente, isto é, seu próprio centro particularizado de ser que é separado de tudo o mais, você não será capaz de encontrá-lo. Mas a única maneira de você saber que não está lá é se você procurar com afinco, para descobrir que não está lá. E então todo mundo diz ‘Tudo bem, conheça a si mesmo, olhe para dentro, descubra quem você é’. Porque quanto mais você olhar, você não será capaz de encontrá-lo, e então você perceberá que ele não está lá. Não existe um você separado. Sua mente é o que existe. Tudo. Mas a única maneira de descobrir isso é persistir no estado de ilusão o mais forte possível. Essa é uma maneira. Eu não disse o único caminho, mas é um caminho.

Assim, quase todas as disciplinas espirituais, meditações, orações, etc, etc, são maneiras de persistir na loucura. Fazendo resoluta e consistentemente o que você já está fazendo. Então, se uma pessoa acredita que a Terra é plana, você não pode dissuadi-la disso. Ele sabe que é plano. Olhe pela janela e veja; é óbvio, parece plano. Então, a única maneira de convencê-lo de que não é dizer ‘Bem, vamos encontrar o limite’. E para encontrar a borda, você tem que ter muito cuidado para não andar em círculos, você nunca vai encontrar desse jeito. Então, temos que seguir consistentemente em uma linha reta para oeste ao longo da mesma linha de latitude e, eventualmente, quando voltamos para onde começamos, você convenceu o cara de que o mundo é redondo. Essa é a única maneira que vai ensiná-lo. Porque as pessoas não podem ser convencidas.

Há outra possibilidade, no entanto. Mas isso é mais difícil de descrever. Digamos que tomemos como suposição básica – que é a coisa que se vê na experiência do satori ou do despertar, ou como você quiser chamar – que este momento agora em que estou falando e você está ouvindo, é eternidade. Que embora de alguma forma tenhamos nos enganado na noção de que este momento é comum, e que podemos não nos sentir muito bem, estamos meio que vagamente frustrados e preocupados e assim por diante, e que deve ser mudado. É isso. Então você não precisa fazer absolutamente nada. Mas a dificuldade de explicar isso é que você não deve tentar não fazer nada, porque isso é fazer alguma coisa. É do jeito que é. Em outras palavras, o que é necessário é uma espécie de super relaxamento; não é um relaxamento comum. Não é apenas soltar, como quando você se deita no chão e imagina que está pesado para entrar em um estado de relaxamento muscular. Não é desse jeito. É estar consigo mesmo como você é sem alterar nada. E como explicar isso? Não há nada para explicar. É do jeito que está agora. Veja? E se você entender isso, isso o acordará automaticamente.

Então é por isso que os professores Zen usam o tratamento de choque, às vezes batem ou gritam com os discípulos ou criam uma surpresa repentina. Porque é aquele solavanco que de repente te traz aqui. Veja, não há caminho para aqui, porque você já está lá. Se você me perguntar ‘Como vou chegar aqui?’ Será como a famosa história do turista americano na Inglaterra. O turista perguntou a algum caipira o caminho para Upper Tuttenham, uma pequena vila. E o caipira coçou a cabeça e disse: ‘Bem, senhor, não sei onde fica, mas se eu fosse você, não começaria daqui.’

Então você vê, quando você pergunta ‘Como eu obtenho o conhecimento de Deus, como eu obtenho o conhecimento da liberação?’ Tudo o que posso dizer é que é a pergunta está errada. Por que você quer obtê-lo? Porque o próprio fato de você querer obtê-lo é a única coisa que o impede de chegar lá. Você já tem. Mas claro, depende de você. É seu privilégio fingir que não. Esse é o seu jogo; esse é o jogo da sua vida; é isso que te faz pensar que você é um ego. E quando você quiser acordar, você vai, simples assim. Se você não está acordado, isso mostra que você não quer. Você ainda está jogando a parte oculta do jogo. Você ainda é, por assim dizer, o eu fingindo que não é o eu. E é isso que você quer fazer. Então você vê, dessa forma, também, você já está lá.

Então, quando você entende isso, uma coisa engraçada acontece, e algumas pessoas interpretam mal. Você descobrirá enquanto isso acontece que a distinção entre comportamento voluntário e involuntário desaparece. Você perceberá que o que você descreve como coisas sob seu controle parecerá exatamente o mesmo que as coisas que acontecem fora de você. Você observa outras pessoas se movendo e sabe que está fazendo isso, assim como está respirando ou circulando seu sangue. E se você não entende o que está acontecendo, você pode ficar louco neste ponto, e sentir que você é deus no sentido de Jeová. Dizer que você realmente tem poder sobre outras pessoas, para que possa alterar o que está fazendo. E que você é onipotente em um sentido bíblico muito grosseiro e literal.  Muitas pessoas sentem isso e ficam loucas. Eles os colocaram de lado. Eles pensam que são Jesus Cristo e que todos deveriam se prostrar e adorá-los. Isso é só porque eles têm seus fios cruzados. Essa experiência aconteceu com eles, mas eles não sabem como interpretá-la. Então tome cuidado com isso. Jung chama isso de inflação. Pessoas que têm a síndrome do Homem Santo, que de repente descubro que sou o senhor e que estou acima do bem e do mal e assim por diante, e por isso começo a me dar ares e graças. Mas o ponto é que todo mundo também é. Se você descobrir que você é isso, então você deve saber que todo mundo é.

Por exemplo, vamos ver de outras maneiras como você pode perceber isso. A maioria das pessoas pensa quando abre os olhos e olha ao redor, que o que está vendo está do lado de fora. Parece, não é, que você está atrás de seus olhos, e que atrás dos olhos há um vazio que você não consegue ver. Você se vira e há outra coisa na sua frente. Mas por trás dos olhos parece haver algo que não tem cor. Não é escuro, não é claro. Está lá do ponto de vista tátil; você pode senti-lo com os dedos, mas não pode entrar nele. Mas o que é isso atrás de seus olhos? Bem, na verdade, quando você olha lá fora e vê todas essas pessoas e coisas sentadas ao redor, é assim que se sente dentro de sua cabeça. A cor desta sala está aqui no sistema nervoso, onde os nervos ópticos estão na parte de trás da cabeça. Está lá. É o que você está experimentando. O que você vê aqui é uma experiência neurológica. Agora, se isso o atinge, e você sente sensualmente que é assim, você pode sentir, portanto, que o mundo externo está todo dentro do meu crânio. Você tem que corrigir isso, com o pensamento de que seu crânio também está no mundo externo. Então você de repente começa a sentir ‘Uau, que tipo de situação é essa? Está dentro de mim, e eu estou dentro dele, e está dentro de mim, e eu estou dentro dele.’ Mas é assim que é.

Isso é o que você poderia chamar de transação, em vez de interação entre o indivíduo e o mundo. Assim como, por exemplo, na compra e venda. Não pode haver um ato de compra sem que haja simultaneamente um ato de venda e vice-versa. Então a relação entre o ambiente e o organismo é transacional. O ambiente desenvolve o organismo e, por sua vez, o organismo cria o ambiente. O organismo transforma o sol em luz, mas é necessário que haja um ambiente contendo um sol para que haja um organismo. E a resposta é simplesmente que eles são todos um processo. Não é que os organismos por acaso vieram ao mundo. Este mundo é o tipo de ambiente que desenvolve organismos. Foi assim desde o início. Os organismos podem, com o tempo, entrar ou sair de cena, mas a partir do momento em que se deu o BANG! no começo foi assim que começou o processo e organismos como nós estão sentados aqui. Estamos envolvidos nisso.

Perceba, tomamos a propagação de uma corrente elétrica. Eu posso ter uma corrente elétrica passando por um fio que percorre toda a Terra. E aqui temos uma fonte de energia, e aqui temos um interruptor. Um pólo positivo, um pólo negativo. Agora, antes que esse interruptor se feche, a corrente não se comporta exatamente como água em um cano. Não há corrente aqui, esperando, para correr assim que o interruptor for fechado. A corrente nem começa até que a chave seja fechada. Ele nunca começa a menos que o ponto de chegada esteja lá. Agora, levará um intervalo para que a corrente comece a circular em seu circuito se ela estiver percorrendo toda a Terra. É um longo prazo. Mas o ponto de chegada tem que ser fechado antes mesmo de começar do começo. De maneira semelhante, embora no desenvolvimento de qualquer sistema físico possa haver bilhões de anos entre a criação da forma mais primitiva de energia e a chegada da vida inteligente, esses bilhões de anos são exatamente a mesma coisa que a viagem dessa corrente ao redor do fio. Leva um pouco de tempo. Mas já está implícito. Leva tempo para uma bolota se transformar em carvalho, mas o carvalho já está implícito na bolota. E assim em qualquer pedaço de rocha flutuando no espaço, há inteligência humana implícita. Em algum momento, de alguma forma, em algum lugar. Todos eles vão juntos.

Portanto, não se diferencie e diga: ‘Sou um organismo vivo em um mundo feito de um monte de lixo morto, pedras e outras coisas.’ Tudo vai junto. Essas pedras são tanto você quanto suas unhas. Você precisa de pedras. Em que você vai se apoiar?

O que eu acho que um despertar realmente envolve é um reexame do nosso senso comum. Temos todos os tipos de ideias embutidas em nós que parecem inquestionáveis, óbvias. E nosso discurso os reflete em suas frases mais comuns. ‘Encare os fatos.’ Como se estivessem fora de você. Como se a vida fosse algo que eles simplesmente encontrassem como estrangeiros. ‘Encare os fatos.’ Nosso senso comum foi manipulado, entende? Para que nos sintamos estranhos e alienígenas neste mundo, e isso é terrivelmente plausível, simplesmente porque é com isso que estamos acostumados. Essa é a única razão. Mas quando você realmente começar a questionar isso, diz ‘É assim que eu tenho que assumir que a vida é? Eu sei que todo mundo tem feito isso, mas isso o torna verdade?’ Não necessariamente. Não é necessariamente tem que ser assim. Então, ao questionar essa suposição básica subjacente à nossa cultura, você descobre que obtém um novo tipo de bom senso. Torna-se absolutamente óbvio para você que você é contínuo com o universo.

Por exemplo, as pessoas costumavam acreditar que os planetas eram sustentados no céu por estarem embutidos em esferas de cristal, e todos sabiam disso. Ora, você podia ver as esferas de cristal ali porque podia olhar através delas. Era obviamente feito de cristal, e algo tinha que mantê-los lá em cima. E então, quando os astrônomos sugeriram que não havia esferas de cristal, as pessoas ficaram apavoradas, porque pensaram que as estrelas iriam cair. Hoje em dia, não incomoda ninguém. Eles também pensaram que, quando descobrissem que a Terra era esférica, as pessoas que viviam nas antiguidades cairiam, e isso era assustador. Mas então alguém navegou ao redor do mundo, e todos nós nos acostumamos, viajamos em aviões a jato e tudo mais. Não temos nenhum problema em sentir que a Terra é globular. Nenhuma. Nós nos acostumamos com isso.

Assim, da mesma forma que as teorias da relatividade de Einstein – a curvatura da propagação da luz, a ideia de que o tempo envelhece à medida que a luz se afasta de uma fonte, em outras palavras, as pessoas olhando para o mundo agora em Marte, estariam vendo o estado do mundo um pouco mais cedo do que estamos experimentando agora. Isso começou a incomodar as pessoas quando Einstein começou a falar sobre isso. Mas agora estamos todos acostumados a isso, e a relatividade e coisas assim são uma questão de bom senso hoje. Bem, em alguns anos, será uma questão de senso comum para muitas pessoas que eles são um com o universo. Vai ser tão simples. E então talvez se isso acontecer, estaremos em condições de lidar com nossa tecnologia com mais sentido. Com amor em vez de ódio pelo nosso meio ambiente.

parte 2

Postagem original feita no https://mortesubita.net/psico/a-natureza-da-consciencia-parte-3/

Introdução ao Shintoismo

O Shinto ou shintoísmo, a religião nacional do Japão, denominada mais corretamente pelos japoneses “Kami-no Michoi”, que significa “o caminho dos deuses”. Traduzida esta frase para o chinês, temos Shin-tao, cuja abreviação é Shinto, seu nome popular mesmo no Japão.

Muitas pessoas que são religiosas gostam de negar isso. “Eu? Não sou religioso”, dizem, “sigo o Jesus, Nosso Senhor… Mas isso não é religioso, é um fato histórico”. Assim dizem. E os xintoístas também são particularmente improváveis ​​de ver seu comportamento como sendo “religioso”. Eles podem ter seu carro purificado, podem ter pedido boa sorte ao deus local antes de seus exames de admissão na universidade ou fazer investimentos, provavelmente vão a um santuário todos os anos no dia de Ano Novo. Eles podem até pedir ajuda espirituais com empréstimos se precisarem de algum dinheiro. Mas se perguntados se eles são religiosos, eles dirão: “Quem eu? Isso não é religião. Isso é apenas um costume. Apenas, bem, a coisa normal a se fazer”.

Para verificar o fato de que os praticantes xintoístas não veem seu comportamento como religioso, realizei uma pesquisa perguntando aos visitantes de um santuário xintoísta “Você acredita em Deus?”, “Você é religioso?” e ​​”Quanto dinheiro eu daria tenho que pagar para você ir para casa hoje sem ter orado?”. Enquanto aqueles que responderam “sim” às duas primeiras perguntas foram a minoria, à terceira pergunta, todos, exceto um dos 40 entrevistados, responderam “Eu não iria para casa sem orar, não importa quanto dinheiro você me desse”. Era evidente que alguns dos alguns dos entrevistados ficaram levemente ofendidos por serem questionados. O único entrevistado que teria dispensado o dinheiro para ir para casa sem orar se definiu como cristão.

A partir disso, fica claro que: aqueles que praticam o xintoísmo não o consideram uma religião, mas também não consideram seu comportamento totalmente secular e mundano. As razões pelas quais o xintoísmo não é visto como religião são várias. Principalmente, a imagem de uma religião mantida por muitos japoneses é a de uma organização à qual se filia e que estipula várias maneiras de se comportar de acordo com algum tipo de ensinamento ou escritura.

Se o xintoísmo já teve uma organização, hoje não tem mais. Ao xintoísmo sempre faltou uma escritura além dos mitos que explicam a origem do Japão, mas não são proscritivos de forma alguma. As escrituras japonesas compõem-se de duas secções: o Kojiki ou “Registros de Assuntos Antigos”, e o Nihon-gi, as “Crônicas do Japão”, elaborada no oitavo século de nossa era.

Além de mitos e lendas desse tipo, o xintoísmo quase não tem tradição oral. Sem uma organização e qualquer formulação linguística de como se deve se comportar, o xintoísmo é particularmente transparente. Tudo o que o xintoísmo parece possuir é uma tradição corporal – um vê o corpo do outro, imita e a prática é transferida. A oração é uma questão de movimento – diante de Deus a pessoa se curva duas vezes, bate palmas duas vezes e se curva novamente. As festas xintoístas estão predominantemente ligadas ao calendário – a festa do ano novo, a festa da colheita – e, portanto, não parecem exigir qualquer justificação pela escritura ou como evento comemorativo.

Embora o xintoísmo seja muito diferente das religiões judaicas e até mesmo do budismo indiano, na minha opinião ele contém pontos em comum suficientes para permitir que seja comparado a eles e seja chamado de religião. No xintoísmo há oração e adoração a algo transcendente, que não faz parte do mundo físico mundano. E mais do que isso, o xintoísmo como o cristianismo e outras religiões do mundo tem, acredito, uma estrutura que firma a sociedade japonesa e em particular a família, da mesma forma que a “filosofia” do cristianismo estrutura as sociedades do ocidente cristão.

Totemismo Geográfico

A religião popular venera a sagrada montanha, Fuji-Yama. Religião e patriotismo acham-se tão intimamente entrelaçados, que vários governantes têm sido considerados praticamente deuses. Nas casas xintoístas existe em geral um pequeno altar consagrado aos deuses locais, o kamidana. Em cima deste altar encontra-se muitas vezes um amuleto oriundo do santuário local, do Grande Santuário de Ise e em alguns casos. Para encurtar a história, acho que o xintoísmo pode ser melhor entendido como uma forma de totemismo geográfico. Como mencionado acima, o sagrado no xintoísmo está quase invariavelmente ligado a uma determinada localização geográfica. No xintoísmo, Deus é algo que você pode apontar, está “lá”. O santuário ou “jinja” contém ou consagra uma coisa, mas também é um local sagrado. O corpo divino do santuário pode ser uma montanha, uma árvore, uma rocha ou outra característica natural, mas o mais importante será a coisa naquele lugar. E esse lugar cria uma atmosfera particular. O deus ou deuses que residem lá podem ter certas qualidades para conceder certos benefícios. Mas, acima de tudo, a característica fundamental de um santuário é o ponto geograficamente definido no espaço. Todos os aspectos do local sagrado: sua abordagem, seus limites, suas camadas são todos delineados de forma a enfatizar sua localização. Ao entrar na fronteira lava-se as mãos e a boca. A pessoa entra no santuário com o pé esquerdo primeiro e antes de sair se curva. De um modo geral, tradicionalmente se adora apenas o deus ou deuses do santuário localizado na proximidade geográfica de sua casa. E o mais importante, considera-se filho daquele santuário, daquele local.

É uma coisa impressionante acreditar ser filho de um local. Freud e Durkheim consideravam uma forma semelhante de “totemismo geográfico” como a mais “primitiva”, ou seja, a mais antiga forma de religião encontrada na sociedade humana, uma vez que, nas sociedades da Austrália central, os membros das tribos negavam a existência da paternidade. Aqui eu não considerarei as possíveis conexões entre o culto a um lugar e a ausência da crença na paternidade, exceto para notar que a paternidade também foi muitas vezes dita ter sido fraca ao longo da história japonesa (além do período Meiji e pré-guerra) e até mesmo ” ausente” no atual Japão. Em vez disso, concentro-me simplesmente na natureza localizada do xintoísmo e mostro como isso reflete, e pode-se dizer, que teve um efeito profundo na sociedade japonesa.

Sociedade Japonesa e Lugar

O título do livro tremendamente popular de Nakane Chie sobre a sociedade japonesa “Tateshakai no Ningen Kankei” (Relações humanas em uma sociedade verticalmente orientada) parece descrever o Japão como uma hierarquia – um equívoco que Nakane se esforçou para corrigir em suas publicações subsequentes. Ele fez as seguintes duas afirmações. O alicerce fundamental da sociedade japonesa não é o indivíduo no sentido ocidental, mas o pequeno grupo. A característica distintiva dos pequenos grupos japoneses é que eles contêm o elemento essencial de um espaço, um lugar onde são fundados. Alguns exemplos de como uma importância dada aos lugares são os seguintes:

O casamento foi descrito como “Vai ser uma noiva” no sentido de que não era um arranjo entre o marido e a esposa, nem mesmo entre a esposa e a família do marido, mas um movimento físico pelo qual uma pessoa entra e se torna um membro da família de outro espaço doméstico. Pode-se descrever o marido ou a esposa como “uchi no hito” a pessoa da minha casa.

Os casamentos japoneses são entre casas no sentido que só se mantêm na Grã-Bretanha pela aristocracia. A linhagem da família japonesa é por vezes descrita como sendo uma linhagem dupla (com linhas de descendência matrilinear e patrilinear) mas na verdade é mais correcto dizer que a família japonesa é, como um estudioso japonês a descreve, “linear segundo a casa” – ou seja, a linha de descendência é determinada por quem mora na casa.

A família japonesa ainda mantém a antiga tradição japonesa de manter um “honseki” ou registro de onde as pessoas são originárias. Agora que este registro foi assumido pelo sistema legal estadual, é possível mover o registro, mas o casamento ainda significa mover fisicamente a documentação para o registro de outra família. Este não é simplesmente o local de nascimento de um agrupamento social geograficamente definido que se poderia chamar de “lugar de família”.
Não se pergunta a alguém “Em qual empresa você trabalha” mas “Onde (é a) empresa em que você trabalha”

Todos os grupos, sejam eles clubes universitários ou grupos de pesquisa, sentem-se carentes, a menos que tenham um lugar, um ponto de apoio, algum lugar onde possam chamar de lar.

Os japoneses são muito sensíveis ao lugar e ao comportamento apropriado em relação a esse lugar. O comportamento aceitável em um local é inaceitável em outro. No local de trabalho, a pessoa é encorajada a se comportar de maneira altamente respeitosa em relação ao seu chefe. Depois do trabalho, enquanto estiver no local de trabalho, a situação não muda. Mas assim que alguém se muda para o bar, a maneira de comportamento provavelmente mudará radicalmente na medida em que a distinção entre patrão e trabalhador pode se dissolver. As regras são limitadas ao local.

Exemplos mais extremos são a tolerância japonesa de distritos da luz vermelha e sindicatos do crime. Se o bordel é uma certa parte da cidade, então é aceitável. Se o sindicato do crime organizado colocar uma placa dizendo “estamos aqui”, desde que todos saibam onde estão, até eles são aceitáveis.

Por outro lado, aqueles que não são aceitáveis ​​na sociedade japonesa, por exemplo, o burakumin (um nome que quando traduzido literalmente significa as pessoas nômades) são novamente confinados a um lugar. Diz-se que os burakumin são párias por causa de seu envolvimento com o abate de gado e tratamento de couro e outras atividades consideradas impuras pelo budismo japonês. Mas eles também são impuros em virtude de onde eles vêm. Eles vêm do lugar impuro. Eles são delineados do resto da sociedade precisamente por onde eles vêm.

O sumô, esporte nacional do Japão, consiste em uma batalha pela defesa de um espaço, que é sagrado. Este ano, foi recusada ao major de Oosaka permissão para entrar no ringue de sumô, pois, como mulher, ela é considerada impura. Mas isso é outra história.

Em suma, podemos chegar a dizer que no Japão, devido à natureza politeísta geograficamente localizada de sua religião xintoísta, não há deus universal nem regras universais. Em vez disso, existem normas de comportamento definidas localmente.

Xintoísmo e a Família Japonesa

A conexão entre essas características da sociedade japonesa e o xintoísmo deve ser clara. A adoração de locais sagrados estimula os japoneses a terem certos valores e certas formas de ver a organização – principalmente em termos espaciais. As pessoas são vistas como unidas pelo fato de compartilharem o mesmo ambiente, a mesma atmosfera, o mesmo espaço. A manutenção desses espaços e ambientes é considerada importante. A religião xintoísta fomentou essa forma de perceber o mundo. E essa forma de perceber o mundo encorajou o povo japonês a manter a religião xintoísta. No caso específico da família, os membros da família são definidos e vinculados à família por sua atitude compartilhada em relação ao lar. São pessoas que voltam para casa em um determinado lugar e se esforçam para manter e melhorar as condições nele. Ao fazê-lo, eles acreditam que viverão felizes e harmoniosamente de acordo com sua natureza. Isso é simplesmente, do ponto de vista xintoísta, o que os humanos fazem. Ou melhor, isso é simplesmente o que é natural para os humanos japoneses, ou seja, humanos que são da região geográfica Japão. O conceito de “humano” é um conceito não espacialmente limitado e, portanto, sob essa visão de mundo, um tanto falso. Os americanos, que cresceram em um ambiente diferente, são diferentes.

Defini o xintoísmo como uma forma de totemismo geográfico e, por sua vez, como espaço-centrismo ou orientação para o lugar. Mas isso é suficiente? De que estrutura precisa uma sociedade? Os princípios do cristianismo são bastante simples. Os seres humanos são todos filhos de um deus e todos eles têm o mesmo “amor” é são considerados uma unidade até mesmo com o próprio deus). Esta fórmula é simples e, no entanto, suficiente para organizar as sociedades de uma forma muito diferente do Japão. Sob o princípio do amor, homens e mulheres ocidentais podem ser unidos em casamento sob a presunção de ter o mesmo objetivo cristão.

Do ponto de vista japonês, esse suposto objetivo do cristianismo é falso, visto que homens e mulheres são vistos como tendo objetivos diferentes. Assim como do ponto de vista cristão é falso pensar que os humanos têm a propensão natural para criar e delinear lugares sagrados.

Xintoismo Hoje

O decorrer da história impôs ao povo japonês a revisão de seu credo. Nos últimos cinqüenta anos o facilismo que distinguira o shinto por tanto tempo, tem sido suprimido em grande parte. A partir do século sexto, o confucionismo e o taoísmo vieram da China. Na mesma época o budismo chegou ao país via Coréia, quando o rei de Paekche enviou uma estátua do Buda e cópias das suras ao imperador japonês.  Os xintoístas não viam conflito entre suas práticas e estas filosofias e logo todas foram liberalmente mescladas.

Com o tempo o budismo se sobressaiu, mas a religião tradicional não despareceu.

No século dezoito ocorreu uma grande revivificação do xinto, sob os auspícios dum grupo de intelectuais, que logrou restaurar em grande parte a religião nativa.. Nessa reformulação os  budas foram interpretados como kami encarnados, que assim deixavam o seu estado original para descerem à terra em benefícios das pessoas. Durante a era Meiji floresceu uma ideologia profundamente nacionalista e escolha de uma religião oficial recaiu sobre o xintoísmo, já antes aclamado como a religião nacional e desde então considerada pelo regime como superior a todas os outras. Aos poucos o xintoísmo de Estado promoveu uma laicização do xintoísmo, tornando um dever cívico de reverência ao Estado e ao imperador.

O xintoísmo estatal durou várias décadas e ainda reflete na cultura nacional. Em 1946, foi proclamada a nova constituição e o imperador foi destituído de todas as prerrogativas divinas e de todo o poder político, tornando-se apenas símbolo da unidade nacional.   Neste mesmo ano foi fundada em Tóquio a Associação dos Santuários (Jinja honchó) e desde então o xintoísmo tem experimentado um retorno as bases locais.

Contudo esta época assistiu também o retorno de religiões estrangeiras, incluindo agora as religiões ocidentais como o cristianismo. A tendência liberal dos shintonistas para com outras  doutrinas, converteu-se recentemente num movimento ambicioso visado fazer do shinto uma religião universal, compreendendo não só o budismo, confucionismo e taoísmo, como também os credos de Muhamad e Jesus. O Xintoísmo hoje pensa globalmente mas continua agindo localmente. Isso é possível porque existem “oitocentas miríades” de deuses, ou seja tantos quanto existem famílias, comunidades e locais sagrados espalhados pelo planeta. Como disse Madre Teresa: “Se você deseja mudar o mundo, vá para casa e ame a sua família.”

Fonte: http://www.nihonbunka.com/shinto/

Postagem original feita no https://mortesubita.net/asia-oculta/introducao-ao-shintoismo/

Realidade ou Ficção?

Se a vida é ilusão para o hinduísmo, para o budismo, e desta forma os mestres herméticos o afirmam, o que será então a realidade? E, igualmente, o que será esta ficção? Se o homem é estrangeiro nesta terra, e como tal vive ao começar um trabalho interno alheio aos outros, qual é o critério de “verdade” ou “mentira”? Que soleira sutil se transpassa entre uma forma de ver e a outra? Pois, embora o que se considere mais estranho no homem contemporâneo (do qual somos ainda parte) é sua maneira de se aferrar e se identificar com as coisas, aqueles que se permitem esta atitude interna ou extraterrestre são considerados igualmente estranhos para o meio. Ao se abrir uma porta e dar um passo à frente, as coisas estarão banhadas de uma outra luz e de um outro conteúdo. Se fecharmos essa porta e dermos um passo para trás, essas mesmas coisas aparecerão familiares em seu nível rasante e cotidiano. Realidade ou ficção? Permitir-se ver é algo castigado pela sociedade que não aspira a estes projetos. Do mais íntimo do coração alguém se pergunta quem tem razão. Mas será a razão o instrumento adequado, ou a ferramenta que nos permitirá elucidar estas experiências pessoais? Ou será que simplesmente a experiência justificaria toda nossa ação?

#hermetismo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/realidade-ou-fic%C3%A7%C3%A3o

Austin Osman Spare

1886 – 1956

Austin Osman Spare foi um dos artistas gráficos mais completos de seu tempo. Foi também um ocultista altamente capacitado que praticava uma forma de magia característica dos iniciados do Caminho da Mão Esquerda (este termo tem sido mal-interpretado pela maioria dos escritores ocultistas; no livro “Aleister Crowley and the Hidden God”, Kenneth Grant aborda o tema em questão adequadamente, explicando com maestria inquestionável que o termo significa especìficamente “o Caminho utilizado por aqueles que se valem das energias sexuais para adquirir controle dos mundos invisíveis”). Spare foi reconhecido como um Mestre deste Caminho por aqueles em condição de avaliar tais práticas e iniciou o núcleo de um movimento conhecido como Zos Kia Cultus.

Não se deve pensar que basta ser iniciado de alguma fraternidade esotérica para se conseguir acesso à corrente mágica deste Cultus, nem que isto foi fácil mesmo à época de Spare. Para se beneficiar desta poderosa prática de magia, será necessário colocar-se em sintonia com o Espírito do Culto.

A vida pessoal de Spare, por mais interessante que seja, não acrescenta muito à sua obra; apesar disto, forneceremos aqui alguns detalhes biográficos apenas para situà-la no tempo. Austin Osman Spare manteve um interesse perpétuo sobre a teoria e a prática da bruxaria, que começou em sua infância em virtude de seu relacionamento pessoal com sua babá, uma velha mulher do interior da Inglaterra chamada Paterson e que dizia ser descendente direta de uma linhagem das famosas feiticeiras de Salem. Se analisarmos a obra de Spare, reconheceremos nìtidamente a influência direta de uma corrente mágica vital que, certamente, só é transmitida por via oral e que indiscutìvelmente só poderia ter sido ensinada por um iniciado de alguma antiga tradição oculta.

Etimologicamente, feitiçaria ou bruxaria significa “aprisionar espíritos dentro de um círculo”. Não é a mesma coisa que praticar “magia”, que é a “arte de fazer ‘encantamentos’ ou ‘fascínios’”. Os métodos de Spare parecem pertencer mais à bruxaria que à magia, embora certamente envolvam ambas as técnicas.

Para Spare, do mesmo modo que para Aleister Crowley, a sexualidade é o centro da bruxaria e da magia, e é a chave para ambos os sistemas. Entretanto, se para Spare a bruxaria é um meio de realização do prazer, de transformação da velhice em juventude, de feiura em beleza, da natureza em arte, para Crowley ela é um meio de adquirir e irradiar poder, transformando a fraqueza em força e a ignorância em conhecimento. Ambos tiveram seus preceptores: Crowley foi fortemente influenciado por MacGregor Mathers, Grão-Mestre da antiga Ordem Hermética da Aurora Dourada, uma pessoa de energia marcial, enquanto Spare foi grandemente influenciado por uma feiticeira, Paterson, a bruxa arquetípica, velha e feia, que podia transmutar-se numa criatura de extraordinário poder de sedução a seu bel-prazer.

Crowley e Spare foram atraídos cada qual por diferentes gurus que influenciaram tanto seu caráter quanto sua obra. Isto explica porque Spare ficou tão pouco tempo na ‘Fraternidade da Estrela de Prata’ (Brotherhood of the Silver Star, ou AA – Argenteum Astrum, fundada por Aleister Crowley a partir dos ensinamentos da Golden Dawn, Aurora Dourada, e para a qual Spare entrou em 10 de julho de 1910 com o motto de Yihoveaum, que significa “Eu Sou AUM”, ‘eu sou a eternidade’): a disciplina que era exigida por Crowley para os membros de sua fraternidade não combinava com a concepção de liberdade de Spare, que consistia na expressão artística irrestrita do “sonho inerente” que é, de certa forma, idêntico à Verdadeira Vontade (Thelema) formulada por Crowley. Para Spare, entretanto, a transformação deste “sonho inerente” em algo real exigia um tipo de liberdade diferente daquela idealizada por Crowley. O resultado foi que Crowley, dois anos antes de sua morte em 1947, perguntado sobre o que achava de Spare, respondeu que este se havia tornado um ‘irmão negro’ (mago negro, um termo usado em ocultismo para representar alguém que deliberadamente se afasta da corrente evolutiva, passando a considerar como objetivo primordial o culto à sua personalidade) pelo cultivo do ‘auto-amor’ através do prazer. Se Crowley tinha ou não razão acaba não prejudicando o fato de que a contribuição de Spare para o moderno ocultismo foi tão grande quanto sua arte. Em duas ocasiões anteriores, em 1921 e em 1923, Crowley escrevera que seu discípulo “aprendeu muito do ‘Livro da Lei’ (que forma a base do Culto de Thelema de Crowley, psicografado pelo mesmo no Cairo em 1904 a partir da comunicação astral com uma entidade chamada Aiwass); o resto é um mistura de The Book of Lies (escrito por Crowley em 1913) com William Blake, Nietzsche e o Tao Teh King” e que “seu Livro parece-me ainda melhor e mais profundo do que quando o li pela primeira vez.” Estas declarações de Crowley sobre Spare são muito interessantes porque mostram que o primeiro considerava o segundo como seu aluno de ocultismo, além de o ter em alta consideração por ter o mesmo baseado suas teorias na mesma tradição oculta que Crowley ensinava, embora de uma forma um tanto diversa.

Seis ou sete anos antes da publicação de The Focus of Life, Spare publicou em edição do autor seu livro The Book of Pleasure (Self-Love), The Psychology of Ecstasy. Ambos eram e ainda são muito difíceis de se conseguir. Além disto, eles são igualmente difíceis de se entender, a não ser que se tenha a chave do sistema oculto proposto por eles.

Enquanto identificado com sua bruxaria, Spare usava o nome iniciático (motto) de Zos vel Thanatos, ou simplesmente Zos. Este indica a natureza de sua preocupação maior, sua obsessão primária: o corpo e a morte. ‘Zos’ era definido por ele como “o corpo considerado como um todo” e nisto ele incluía corpo, mente e alma; o corpo era o alambique de sua bruxaria. Seu outro símbolo chave, ‘Kia’, representa o “Eu Atmosférico”, o Eu Cósmico ou Eu Superior, que utiliza ‘Zos’ como seu campo de manifestação.

O culto de Zos e Kia envolve a interação polarizada da energia sexual em suas correntes positiva e negativa, simbolizada antropomòrficamente pela mão e pelo olho. Estes são os intrumentos mágicos utilizados pelo feiticeiro para invocar as energias primais latentes em seu inconsciente. A mão e o olho, Zos e Kia, ‘Toque-Total’ e ‘Visão-Total’, são os instrumentos mágicos do Id, o desejo primal ou obsessão inata que Zos está sempre buscando para corporificá-la em carne. O sistema de Spare assemelha-se a algumas técnicas dos iógues hindus e a certas práticas da escola Ch’an (Zen) do Budismo chinês (o budismo puro praticado durante a dinastia T’ang), embora existam diferenças importantes. O objetivo da meditação é abolir as transformações do princípio pensante (v. a definição de Yoga de Patanjali – Sutras de Yoga, 1, 2), de modo que a mente individual atinja o estado não-conceitual e se dissolva na Consciência indiferenciada. No Culto de Zos Kia, o corpo (Zos) se torna sensível a todos os impulsos da onda cósmica, de modo a “ser todo sensação” para realizar todas as coisas simultâneamente em carne ‘agora’. Esta pode ter sido a explicação mágica da doutrina do Cristo carnalizado (“…este é o meu Corpo; tomai e comei dele todos…”) que os últimos Gnósticos, por não a compreenderem adequadamente, denunciaram como uma perversão da Gnose genuína.

Nem sempre Spare definiu claramente os termos por ele criados; entretanto, ele sabia exatamente o que quis dizer com eles. Infelizmente, a gramática não era o seu forte e muito do que parece obscuro em seus escritos se deve a esta dificuldade. O Culto de Zos Kia parece postular uma interpretação literal (isto é, física) da identidade entre Samsara e Nirvana (samsara = existência fenomenal ou objetiva; sua contraparte é nirvana, que é a subjetivação da existência e, portanto, sua negação fenomenal ou objetiva). Por outro lado, os termos ‘corpo’, ou ‘carne’, podem denotar o ‘corpo adamantino’ (ou dharma-kaya, uma expressão budista que é sinônimo de “Nada”; o neti-neti dos budistas, ou o ‘nem isto, nem aquilo’ no sistema de Spare) e sua realização como o universo inteiro, neste exato momento e sensorialmente. O símbolo histórico supremo deste conceito é a imagem de Yab-Yum do Budismo Tântrico. Ela representa o nada (Kia) ensaiando sua união abençoada com o corpo (Zos). No Culto de Zos Kia, isto é realizável através da carne, enquanto no Budismo Ch’an (Zen) esta união é mental. Assim, tanto no Zen quanto no Zos o objetivo é o mesmo, embora os meios variem.

O sistema de Spare também sugere uma nova obeah, uma ciência de atavismos ressurgentes, uma magia primal baseada na obsessão e no êxtase. O subconsciente, impregnado por um símbolo do desejo, é energizado pelos êxtases reverberantes na suposição de que a profundeza primal, o Vazio, responda a antigas nostalgias revivendo suas ‘crenças’ obsessivas originais. O “Alfabeto do Desejo” (onde cada letra representa um princípio sexual, um impulso dinâmico) foi desenvolvido por Spare para sonorizar gràficamente estes atavismos e, quando o florescimento do símbolo acontece, a explosão de êxtase é a realização de Zos.

Em seu livro “Anotações sobre Letras Sagradas” Spare diz que: “as letras sagradas preservam a crença do Ego, de modo que a crença retorne contìnuamente ao subconsciente até romper a resistência. Seu significado escapa à razão, embora seja compreendido pela emoção. Cada letra, em seu aspecto pictórico, se relaciona a um princípio Sexual… Vinte e duas letras que correspondem a uma causa primeira. Cada uma delas análoga a uma idéia de desejo, formando uma cosmogonia simbólica.”

Estas vinte e duas letras, embora não sejam dadas consecutivamente nem inteiramente em quaisquer dos escritos de Spare, sem dúvida se equiparam de alguma forma com as vinte e duas cartas do Tarot, ou Livro de Thoth de Aleister Crowley e aos vinte e dois caminhos da Árvore Cabalística da Vida; elas são, de fato, as chaves primitivas da magia. Também existe uma possível afinidade com as onze posições lunares de poder refletidas, ou dobradas, nas noites claras ou escuras do ciclo lunar. O conhecimento secreto destas vinte e duas zonas de poder celestial e sua relação com o ciclo mensal da mulher formam uma parte vital da antiga Tradição Draconiana sobre a qual o Culto de Zos Kia se baseia.

 

[…] um livro reunindo as obras (conhecidas e desconhecidas) de Austin Osman spare. E não estamos falando apenas dos textos mas dos desenhos e pinturas – todas em alta […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/biografias/austin-osman-spare/

Cultos Fálicos

O falo se venera por seu estado de ereção. Nesta forma, como frutificador e doador da vida, se transforma em emblema da divindade. O falo era um elemento recorrente na arte paleolítica e aparece, com freqüência, justaposto a figuras de animais.  Antes de uma abordagem histórica sobre o falicismo é preciso esclarecer que o culto ao falo não é, ao contrário do que pode parecer um culto ao patriarcado e ao homem. O falo, não é apenas o pênis, mas sim o pênis ereto. E a ereção só acontece diante da presença (mesmo que apenas imaginária) da figura sexual passiva que é admirada e desejada ardentemente. Assim o falo é antes do símbolo do homem, o representante do desejo de união entre o macho e a fêmea.

A adoração ao falo só acontece porque o falo é ele mesmo uma afirmação inocultável e de adoração de aprovação. Existe nos cultos fálicos uma união e uma perda de identidade entre quem é adorado e quem adora. No falicismo, assim como no sexo, as figuras se unem e se confundem, sendo portanto óbvio porque desta ser uma das formas mais antigas de religião.

O que é seguro é que no antigo Egito, nos tempos de Sesostris I (à 1900 a.c), aos dias das colheitas, Min, se representava como uma figura em permanente ereção e se comparava com um touro montando na vaca ou um marido fecundando sua esposa. Com seu enorme e nada ambíguo falo empinado, Min era também deus dos caminhos, guia e protetor dos viajantes, uma função que compartilha com outros deuses fálicos.

As primeiras “imagens” do deus grego Hermes consistiam em montões de pedras, chamados herms, completados por uma pedra maior, que serviam como montes. Mais adiante, o herm foi se transformando em um bloco quadrado, com um falo e dois testículos talhados frontalmente. Hermes não somente guiava os vivos; também era o guia das almas.

Devido, possivelmente por que os mastros e montes se encontrassem nas margens das fronteiras, muitos deuses fálicos se transformaram em espíritos guardiões, como se sucedeu com os Dosojin japoneses. Todavia existem milhares destas figuras talhadas nas pedras, geralmente colocadas nos campos de trigo, onde asseguram a fertilidade da colheita e atuam como divindades guardiãs que protegem os campos dos intrusos e dos maus espíritos.

Todas as religiões têm conservado ao menos alguma reminiscência dos cultos fálicos. Os conquistadores e missionários, nas Américas, Ásia e Oceania, substituíram os antigos deuses locais por figuras equivalentes de seus panteões, porém muitos deuses originais sobreviveram a essa usurpação.

O budismo ascético pretendeu assimilar os Dosojin para a imagem do bodhisattva Kisitigarbha, que têm suas “partes intimas dentro de uma vagem”; porém no templo budista de Nagoya – Japão, atrás da estátua de Kisitigarbha há uma cortina que oculta falos talhados, descritos como os Dosojin.

Quando os arianos invadiram a Índia, criticaram o povo conquistado por “terem como deus o “falo” entretanto poucos séculos depois os mesmos arianos estavam adorando a linga [lingam] (falo) de Shiva. Há elementos fálicos nas tradições populares referentes a árvores sagradas, sobretudo na Irlanda, Europa Mediterrânea e Japão.

Em uma carta datada de 30 de Dezembro de 1781 Sir William Hamilton, K.B., ministro de sua majestade na Corte de Nápoles a Sir Joseph Banks, Bart., presidente da Royal Society, falasobre similitudes entre o “Papismo” (Cristianismo católico) e as religiões Pagãs:

A carta fala da devoção popular a Priapus, “divindade obscena” dos antigos. As provas seriam evidentes e disponíveis a qualquer um que visitasse o British Museum. Segundo Sir Hamilton: “Mulheres e crianças da classe baixa, em Nápoles e vizinhanças, freqüentemente usam [nas roupas] um tipo de amuleto, que elas imaginam ser protetor contra o mau olhado, os evil eyes, os encantamentos [e propiciador de outros benefícios]…

Esses amuletos que têm evidente relação com o Culto de Príapus são comumente feitos de prata, mas também de marfim, coral, âmbar, cristal e outras gemas… Na cidade de Isernia, uma das mais antigas do Reino de Nápoles, uma festa celebra, desde 1780, o moderno Príapus, São Cosmo. Sir William chama a atenção para a “indecência da cerimônia! – veja na ilustração abaixo, um “voto” de Isernia.

As relíquias dos santos são expostas e carregadas em procissão, da catedral até a igreja dedicada aos santos. No percurso da romaria, fac símiles de cera – os votos, representando as partes masculinas da geração, de vários tamanhos, são publicamente colocados à venda. Esses “devotos” distribuidores de tais votos [estatuetas de cera], com a cesta cheia do “produto”, daquelas “lembrancinhas”… comercializam sua mercadoria aos gritos de “São Cosme e São Damião!”

No cristianismo,o culto fálico sobreviveu como “o inimigo” na figura de um Satanás muito parecido com o Priapo ou o Pan (grego) e também nas figuras dos santos priápicos, quase sempre inventados. Por exemplo, São Guignole, primeiro abade de Landevenec (França), se converteu numa figura fálica por confusão de seu nome com o verbo gignere, gerar. Sua capela se manteve até 1740. As estátuas destes santos apresentavam membros exagerados, que as vezes se ungiam e veneravam separadamente e também eram utilizados para fecundar mulheres que desejavam engravidar.

Original de Carol Beck, Trad. EL CULTO AL FALO. Clifford Bishop. Revista Libertália. Itália: 2002

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-sexual/cultos-falicos/

ABC da Umbanda

 

Água Fluida Nada mais é que um veículo preparado com elementos espirituais e da natureza, saturada por hábeis manipuladores do astral, com fins terapêuticos.
Amaci Banho purificatório na cabeça, feito com folhas, flores, mel, perfumes, ervas e outros, de acordo com orientação das pelo diretor dos trabalhos. Sua finalidade é auxiliar na incorporação e firmar o médium e seus guias nas correntes material e espiritual do Centro Espírita (Egrégora). É o começo da caminhada mediúnica no Centro Espírita escolhido pelo médium, para o seu desenvolvimento e de suas entidades.
Amuletos Objetos os mais variados possíveis em todo o mundo, tornam-se populares como “quebradores”  de olho-grande. Ao serem colocados em locais visíveis, alguns preparados para dissolver descargas negativas, são a primeira coisa a ser vista por aqueles portadores deste tipo de magnetismo pesado, recebendo em primeiro lugar, a descarga do mesmo. Ou seja, viram objetos de descarrego, de limpeza, absorvendo ou dissolvendo tais vibrações na entrada de residências.

Todos esses objetos e práticas auxiliam muito como paliativos, no teor magnético existente nas casas. Todavia, o mais importante é o tipo de ambiente que é criado pelas mentes que ali habitam. Se não, tornam-se inúteis ou de muito baixa influência.

Aruanda Lugar de onde veem os Orixás e as entidades superiores. No catolicismo é o céu. No Espiritismo são as colônias espirituais.
As Ervas As ervas, ao crescerem, absorvem as radiações do sol, da lua, dos minérios, enfim, de toda a natureza, e dos elementos espirituais, à semelhança da aura humana, daí o seu uso nos tratamentos, nas limpezas e na fixação de energias. Devem ser frescas, se possível, e nunca demasiadamente fervidas.
As Leis de Umbanda São 10 os princípios básicos que regem a Umbanda:

1 – Crença em um Deus único, onipotente, eterno, incriado, potência geradora de todo o Universo material e espiritual, adorado sob vários nomes.

2 – Crença em entidades superiores: Orixás, anjos e santos que chefiam falanges.

3 – Crença em guias, em planos médios, mensageiros dos Orixás, anjos e santos.

4 – Existência da alma e sua sobrevivência após a morte.

5 – Prática da caridade desinteressada, na busca de aliviar o Karma do médium.

6 – Lei do Livre-Arbítrio, pela qual cada um escolhe fazer o bem ou o mal, e o ser humano afiniza com sua faixa vibratória e a do ambiente que o cerca.

7 – O ser humano é a síntese do universo.

8 – Crença na existência de vida inteligente em todo o Universo, vivendo e habitando.

9 – Crença na reencarnação, na lei cármica de causa e efeito.

10- Direito de liberdade de todos os seres.

Benzeduras Nada mais são do que passes magnéticos. Nossos pretos velhos eram eficazes, assim como nossos índios. Utilizam-se de metais, água, ervas, saliva etc. como condutores desse magnetismo curativo.
Crendices Há crendices verdadeiras e falsas. Quando muitos dizem que determinada atividade é correta, deve-se analisar os fundamentos do ponto de vista científico e espiritual. Ou seja, devem ser analisadas friamente, sem serem repetidas, mecanicamente, sem discussão prévia. Certa vez ouvi que determinada imagem, dentro de casa, produziria efeito negativo na sexualidade feminina e coisas do gênero. Já falamos repetidas vezes que o que vale são os pensamentos e a magnetização dos objetos. Como foi comprovado, mais tarde, a dita imagem nada produziu de negativo, muito pelo contrário.
Defumação Nada mais é do que as plantas que, com todo o magnetismo absorvido da natureza, ao serem queimadas e suas emanações dirigidas por entidades encarregadas da purificação de ambientes, diluiriam fluidos pesados ou  atrairiam boas vibrações. Usam-se desde a tradicional arruda ou outras ervas, cascas de alho, açúcar, resinas aromáticas etc.
Elementais Sem eles a Umbanda não existiria. São entidades primárias, quase infantis na espiritualidade, sempre dirigidas por entidades superiores, habitando um dos quatro elementos. No fogo, as salamandras que trabalham nas áreas relacionadas ao amor, ao sexo, à amizade, à agressividade e à proteção. Na terra, há vários, sendo os mais conhecidos os gnomos, cuja atividade relaciona-se ao trabalho, à criatividade, à perseverança e aos bens materiais. As ondinas, nas águas, atuam na sabedoria, na doçura, nas atividades espirituais e mediúnicas. Nos ar, os silfos, ágeis e inquietos, dominam as áreas de saúde, da cura e do equilíbrio físico e mental.

Todos eles participam dos trabalhos umbandistas como auxiliares valiosos, e nas outras doutrina e religiões, muitas vezes, em discreto anonimato.

Elementares São diferentes dos elementais. São entidades primitivas em situação intermediária entre o animal e a racionalidade. Dirigidos por entidades, colaboram na limpeza, na guarda, tomando formas as mais variadas possíveis. São colaboradores dos Exus e boiadeiros, principalmente.
Exu e Quiumba Os quiumbas são malfeitores do astral, avessos ao bem e altamente perturbadores. Tanto que há concordância entre autores quanto ao fato de serem eles os verdadeiros executores dos trabalhos destinados ao mal. São os costumeiros “encostos” ou “rabos de encruza”. Fazem-nos pensar que muitos quiumbas mistificam, fingindo, em casas desatentas, serem Exus ou até mesmo Orixás, com fins de alcançar seus objetivos.

Os Exus, não. São eles que desmancham os trabalhos de magia negra, transportando magneticamente as mazelas, as dores e doenças físicas e espirituais, aliviando Carmas. Alguns Exus, por estarem ainda no início de sua evolução, como trabalhadores do bem, necessitam de orientação e doutrina, tanto pelo médium como pelos dirigentes dos trabalhos e devem ser colocados na disciplina da Casa.

Daí temos os Exus orientados, que não pedem sacrifícios, com oferendas mais simples, e aqueles que não tiveram uma colocação correta, que se acostumam com extravagâncias e exigências repletas de vaidades  humanas

Fases da Lua para Trabalhos A ação eletromagnética da lua é conhecida desde a mais remota antiguidade nos fenômenos das marés, na germinação e crescimentos das plantas, na poda de plantações, na fecundação de seres, nas alterações de humor e um sem-número de fenômenos. Já que se trata de trabalhos, com fins quaisquer, é natural que se escolham dias em que a força eletromagnética  da Terra, sob a influência lunar, crie um ambiente mais propício ao crescimento, ou não, do teor magnético nocivo ou benigno desses mesmos trabalhos.

Na lua minguante são entregues os trabalhos destinados a diminuir ou acabar com algo, tal como doenças ou vícios, dias esses com poderoso influxo magnético lunar de retração. Nos dias de lua cheia ou crescente, para trabalhos de crescimento, tais como os destinados a melhoria no trabalho, estudos, amor e saúde. Na lua nova não recomendamos, pois já é sentida a influência da passagem para a lua minguante.

Feitiço Infelizmente existe sim. São trabalhos feitos pela quimbanda com fins de prejudicar alguém, perfeitamente lógicos, dentro do ponto de vista magnético.
Como Evitar (Feitiço) Já vimos no conceito de magnetismo que, dependendo da sintonia que vibre em cada um, podemos assimilar o feitiço ou não. Nesses casos, quando a pessoa vibra em frequência mais elevadas, a onda do mal emitida tende a ricochetear e, muitas vezes, retorna a quem o emitiu, que, na realidade, vibra nessa faixa, pelo simples fato de Ter desejado o mal.
Há Nomes Que Não Devem Ser Ditos na Umbanda? Cada letra possui um som. Cada som produz uma frequência. A soma das letras produz um nome que poderá, ou não, formar uma melodia harmoniosa do ponto de vista espiritual. Todavia, antes de mais nada, não produz efeitos desastrosos se comparados ao teor de pensamento que exprime a palavra.
Imagens de Exus. Por Que Tão Assustadoras? Os Exus costumam tomar tais formas como meio de impor respeito e medo a espíritos inferiores (quiumbas) e, desta forma, facilitar o controle e vigilância que obtêm sobre estas mentes vinculadas ao mal, para que não perturbem trabalhos ou até mesmo lares e locais.
O Pensamento Tem Cor Segundo Ramatis: “A qualidade do pensamento determina-lhe a cor; a natureza do pensamento compõe-lhe a forma; e a precisão do pensamento determina-lhe a configuração exata” (Magia de Redenção, pág. 64). Dependendo da intensidade do mesmo, podem-se criar as conhecidas formas- pensamento, criações estas com volume, cor, som, verdadeiros marionetes espirituais de quem os criou. Na maioria das vezes, exprimem o verdadeiro interior de cada um, visíveis pelos guias que as analisam. São percebidas, também, pelos médiuns videntes e, muitas vezes, confundidas com entidades.
O Que é Pemba? Em sua origem, é um calcáreo extraído da terra, cuja finalidade é riscar os pontos que identificam a linha vibratória da entidade. Há diversas cores. A mais comum é a branca, que serve para todos, pertencente a Oxalá.
O Que é um Orixá? São divindades africanas diretamente relacionadas às forças da natureza. Seriam as falanges específicas que trabalham especializadas em determinado meio, como mar, céus, plantas, etc. Um Orixá é um regente de uma das forças do mundo material, sempre abaixo de Olurum (Zambi, etc.), o Deus Supremo. Fala-se, também, que seriam antigos governantes africanos tornados deuses após a morte. Na África há em torno de 600 Orixás. No Candomblé, 16. Na Umbanda 7.
O Que é um Orixá de Cabeça? O mesmo que Orixá de Frente. No Brasil, costuma-se dar uma pessoa a dois Orixás, normalmente formando casais, sem ser, com isso, regra. Em certos cultos, adotam-se três Orixás, os demais seriam conhecidos como “passagens”, exercendo menor influência. O Orixá de Cabeça corresponde à energia básica, fundamental, do indivíduo, dando-lhe características mais marcantes em sua personalidade. O segundo é o Adjuntó, de características mais sutis, muitas vezes amenizando o caráter o Orixá de Cabeça, que poderá Ter o caráter arrebatado por ser jovem e guerreiro. O terceiro seria o Orixá de Herança, que acompanha a família por algumas gerações.
O Que é Umbanda? Surgiu em 1908, no Brasil. Grosso modo, seria a mistura do culto congo-angola (misturado com o nagô), catolicismo, noções de Espiritismo, esoterismo, pajelança e até mesmo budismo. Umbanda quer dizer “Arte de Curar” ou “Magia”.
Objetos de Cera e as Velas A cera natural, vinda das abelhas, é impregnada dos fluidos existentes nas flores, em grande quantidade. Este elemento, vindo da natureza, é utilizado na prática do bem e do mal como matéria prima poderosa para somar-se com os teores dos pensamentos, tornando eficaz o trabalho e o objetivo ao qual se propõe. Comparada  a uma bateria, uma pilha natural, a cera sempre foi utilizada em larga escala na magia. A vela é considerada, na espiritualidade, como uma das melhores oferendas por ter, em sua função, os quatro elementos da natureza ativos, desprendendo energia. O fogo da chama, a terra ( através da cera), a água (a cera ao ser diluída desprende este elemento), o ar aquecido queimando resíduos espirituais. O umbandista não deve, jamais, retirar  nada da natureza sem deixar, pelo menos, uma vela para repor aos elementos mentais o fluido retirado do seu ambiente, em profundo respeito à criação divina.
Oferenda Na Umbanda trabalha-se com os quatro elementos da natureza: água, fogo, terra e ar, como matéria-prima básica. Manejados convenientemente, por entidades especialistas, promovem o equilíbrio, o descarrego, a harmonia. Na Umbanda, em respeito à natureza, nada pode ser retirado sem uma restituição ao elemento básico. Muitas vezes, ao entregar-se determinada oferenda, por afinidade fluídica, a mesma fica saturada dos fluido densos retirados do solicitante, pelas entidades. Assim, os Exús utilizam o álcool com fins de evitar os vícios do médium; o dendê, para evitar a desordem psíquica; a farofa, para trazer bens materiais (alimentação); a pipoca, para atrair doenças cármicas.
Orixá não é uma Entidade Um Orixá é energia vinda de um elemento primordial. Existem entidades que trabalham com essas energias e são especializadas nelas. São com tais energias que os umbandistas trabalham. Assim, mesmo que a entidade se identifique como Oxóssi ou Odé, não é o Orixá em si, mas está se identificando em sua linha vibratória. Isso explica porque pode, em um mesmo trabalho ou simultaneamente em vários locais, haver entidades com o mesmo nome.
Os Mortos Não são Orixás, podendo se tornar um guia, Exú, auxiliar ou anjo, de acordo com sua elevação espiritual. São chamados Eguns.
Pintura de Objetos Na escala de cores, cada qual possui uma frequência específica, daí o seu uso.
Ponto Riscado Identifica a origem da entidade, quais os seus domínios e a quem é subordinada. Risca-se com a pemba.
Por Que Despachar Objetos em  Água Corrente? Sabemos que a água é um dos mais poderosos elementos da natureza, no que se refere a sua capacidade de excelente condutor de eletricidade e fluidos quaisquer, sendo um poderoso solvente. Ao atirar-se o objeto saturado, a água de imediato absorve este teor magnético, levando-o, para longe do enfeitiçado (ou daquele que quer  livrar-se de objetos imantados). Assim, quebra os vínculos que antes existiam, por proximidade ou assimilação do dono.
Quebrantos /
Olho-grande (ou gordo)
Funcionam similar as pragas. Há pessoas que, de baixo teor espiritual e magnético, emitem, alguma sem desejar, poderosos feixes de caráter nocivo capazes de matar plantas, animais ou causar mal-estar em pessoas.
Quiumbas Espíritos de mortos sem luz ou esclarecimento, escravizados pelos seus próprios sentimentos em grande ódio e revolta. São as levas de obsessores existentes na espiritualidade, que induzem ideias maléficas aos vivos, apreciam fingir que são entidades iluminadas, quando não o são. Da mesma forma, são os verdadeiros executantes da magia negra e os vampiros do astral.
Ritual É um processo gradativo, onde se utilizam acessórios, os mais diferentes possíveis, até ser atingido o clímax desejado. Na verdade, assemelha-se a uma subida em uma escada, degrau a degrau, frequência a frequência, até a sintonia com as falanges desejadas, cujos objetivos podem variar sobremaneira.
Umbanda Cruzada Chamada de Quimbanda pelos umbandistas (ditos de linha branca) e macumba, os seus trabalhos ou feitiços. Cultuam dez a doze Orixás, dependendo da nação africana de origem, sendo que os Orixás “descem” pessoalmente, podendo haver, ou não, gira de caboclos e pretos-velhos em outros dias, intercalados. Fazem comidas (oferendas) mais elaboradas que na Umbanda Branca e sacrifícios animais. Nela é comum o jogo de búzios e rituais assemelhados ao Candomblé, feitos pelo pai ou mãe-de-santo ou babalorixá e iyalorixá. O vestuário é elaborado, há toque de instrumentos (algumas casas de Umbanda Branca aboliram), seu cerimonial e ritualística possuem maior quantidade de preceitos, proibições e quizilas (proibições alimentares). Cultuam-se os Orixás ligados à morte e aos cemitérios, fonte de energética de muitos trabalhos de magia negra, como Xapanã (Obaluaiê ou Omulu), Exu (Elebaras) e Iansã como dominadora de Eguns.
Umbanda de Branco/Umbanda Branca/ou de Cáritas Na verdade, varia infinitamente de casa para casa. Mas seus fundamentos básicos são que algumas casas se recusam a trabalhar com giras de exus, por considerá-los indisciplinados e só trabalharem com sacrifícios sangrentos, coisas que já sabemos incorretas, apesar de serem ideias muito difundidas. Existem sete falanges, denominados por Orixás, Yorimá (Pretos-Velhos) e Yori (Crianças). Na legião de Iemanjá haveria  Orixás comandando suas subdivisões, tais como Oxum, Iansã e Nanã. Em alguns locais, os Orixás não “descem” pessoalmente, mas são representados por Pretos-Velhos, Caboclos e espíritos de Crianças. Há rituais em matas, praias, pedreiras, cachoeiras etc. Nela foram abolidos rituais com sangue e magia negra.
Umbanda Religião Cristã Em seus princípios (Leis de Umbanda), há a crença em um Deus único e a caridade desinteressada, visto nos mesmos princípios do Evangelho de amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Jesus, por sua vez, ocupa seu lugar nas preces como o divino coordenador ou mesmo na figura excelsa de Oxalá, sendo Deus, Ifá. Por que, então, não considerá-la cristã?
Valor das Palavras na Umbanda A palavra, no antigo Egito, era sinônimo de criação. Tanto é verdade que uma palavra exprime uma ideia. Uma ideia, um pensamento. E um pensamento é onda emitida. Daí usar-se algumas palavras que exprimem complexos sentimentos carregados de amor, nos trabalhos de Umbanda. São os conhecidos mantras, na Índia.

Lembretes:

 O respeito à natureza é um dos atributos do umbandista. Em respeito aos Orixás e manutenção de seus locais, jamais deixe lixo de qualquer espécie após as oferendas, como sacolas, papéis, embalagens e garrafas de vidro.

Médiuns devem abster-se de ingerir, nos dias de trabalho, bebidas alcoólicas, comidas picantes, excesso de carne vermelha e, dentro do possível, evitar discussões e agitações de toda a espécie. As entidades de Oriente não admitem o consumo de carne de gado, porco ou carneiro pelo seu médium no dia de trabalho. Incluem-se também nesses itens o excesso de café, chás e chocolates.

Para as Oferendas:

  • Todos os itens da oferenda deverão ser comprados por quem os oferece, sem nenhuma exceção.
  • O local escolhido não poderá ter outras oferendas ou ter havido agitações ultimamente, com exceção das encruzilhadas que são muito ocupadas.
  • Cumprimente o local e as entidades que ali trabalham e estão assistindo à entrega, e sais respeitosamente, em silêncio, não se voltando para trás.
  • Não ofereça bebida gelada.
  • Tudo deve ser aberto, desenrolado, inclusive balas.
  • Pode-se acender ou não cigarros e charutos. A caixa de fósforo deve ficar ao lado, aberta.
  • Os Orixás não se preocupam com a quantidade de itens oferecida, mas sim com o axé mínimo para a troca fluídica e o valor da intenção do pedinte.
  • Peça justiça, nunca o mal de ninguém. A Umbanda não admite trabalhos voltados para o lado da Quimbanda.
  • Não devem ser comidos ou provados os itens da oferenda. O que foi preparada deve ser entregue ou, se sobrar, posto fora.
  • Os despachos (oferendas a Exu) devem ser entregues em um dos quatro cantos da encruzilhada. Alguns trabalhos, com a devida orientação, constam também no centro. Nunca faça, sem o devido preparo e aval das entidades, tais oferendas. Limite-se as velas, charuto e cachaças.
  • As oferendas deverão ser entregues a partir das sete horas da noite ou pela manhã, antes do sol firmar-se no céu, com exceção de Oxalá e Ibeji que aceitam em dia claro. Nunca deverão ser entregues a partir da meia noite, quando se nota maior acúmulo de entidades perturbadoras à procura de encarnados dedicados aos prazeres mais inferiores.
  • Nada será entregue durante a chuva. Podem ser entregues nas estiagens, nas horas em que a chuva cessa.

Fonte: Sociedade Espiritualista Mata Virgem. Curso Básico de Doutrina Espírita – Aula 33. ABC da Umbanda.

Texto revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/cultos-afros/abc-da-umbanda/

Eu era xamã e não sabia

Zzurto

Quando mais novo eu sempre me impressionei com a natureza. Não entendia bem o por quê, mas tudo o qual fazia parte do que eu encarava como natureza era extremamente bem pensado. Passei por vários lugares e sempre me dediquei ao máximo em ver valor aonde muitos não viam utilidade. Cheguei a carregar pedras das mais variadas para casa e sempre tive o cuidado de reservar um espaço para tudo isso.

Cheguei a viver de certo modo envolto em paradigmas esotéricos e isso facilitou ainda mais essa visão da realidade. Meditava quase sempre em busca de um mundo do qual eu era o maior escritor. Contudo o caos das informações que recebia e trabalhava me davam a certeza de que tudo aquilo ali ocorria, e de fato ocorria.

Encontrei muitos espíritos* que me confundiram mais do que auxiliaram, mas isso ocorreu devido a falta de consciência minha em minhas práticas intuitivas. Fui xamã sem perceber.

Dedicava boa parte do meu tempo a coordenar energias das mais variadas e muitas vezes as lancei com a força de minha vontade, pura e simplesmente. Intervi na realidade por meio disso e por meio disso me tornei um indivíduo de ação, não necessariamente fisicamente falando, mas em outro plano.

Em minhas incursões meditativas invadi e vivi em regiões muito além da compreensão comum. Estive boa parte do tempo lidando com elementais dos quais certas literaturas prejudicam mais do que auxiliam. Eles enfeitam demais tais forças para se tornarem mais agradáveis aos olhos e esquecem que a realidade não quer agradar ninguém. Contudo eu aceitei sem pensar muito nisso.

Fui alvo de tantas coisas que não saberia por onde começar e criei laços com lugares e plantas das quais muitos não enxergariam mais do que um terreno baldio. Eu escutei o som do vento e muitas vezes fui capaz de captar emoções e pensamentos que vinham por meio deste. Quantas e quantas vezes não antecipei circunstâncias numa sincronicidade que só eu percebia. Quantas e quantas vezes não menti para mim dizendo que era devaneio.

No sonho eu era particularmente medroso e tive dificuldade em estar lá. Curiosamente claro. Entretanto ao aprender a voar nada mais me era impossível. Quantos e quantos sonhos me fizeram ser mais atento e cauteloso e quantas e quantas vezes o que falei não vinha de mim. Os outros achavam somente que eu era um garoto sensível por demais. Eu sabia que não era isso, eram as vozes do conhecimento que a todos pertence, já que não há paredes limitadoras determinando um alguém mais capaz ou menos de receber. E minha atenção dedicada a tudo isso criava claro um diferencial que me fazia um estranho aos olhos de tantos.

Amigos meus que viveram comigo nesse período e que chegaram a buscar tais coisas também muitas vezes me olhavam céticos. Poderia alguém ter e poder fazer tantas coisas, simples, mas coisas das quais estes não conseguiam? Seria de fato verdadeiro ou pura invencionice de um garoto mimado? Eu me calava, não sabia o que falar nesses casos para ser compreendido e demorei a perceber que ser compreendido não importa. Importa somente ser verdadeiro com o que sente. E muitas vezes temi o que senti, por perceber coisas demais que minha maturidade emocional pouco auxiliava em lidar com isso.

O que mais prejudicou tudo isso foi cair nas graças de pessoas que se fizeram passar por experientes. Curiosamente estes foram os que menos me ajudaram. Não tirando o crédito que há na ação desse tipo de pessoa que permite nos fazer achar que nossas compreensões são plausíveis para eles. Isso para mim era suficiente. Essa falsa sensação de liberdade que a atuação destes criava era a melhor coisa que eu tinha, pois nunca desejei estar só. Mas na verdade eu que buscava uma comprovação. Minha mente racional se rasgava de raiva por não conseguir conter tudo o mais que me ocorria. Eu era xamã sem saber e cheguei a achar que tudo não passara de um erro.

Deixei meus espíritos de lado, larguei em outros cantos os cristais que tinha achado. Parei de entender o som das árvores e o chiado do vento. Entristecia-me ao pensar que com minhas mãos eu poderia ajudar, sem nem tocar, tantos que eu não queria mais estar perto. Parei de me lançar neste outro mundo por vergonha de continuar sendo taxado de tolo, imaturo ou criativo demais. E tranquei meu altar durante meses num silêncio que só machucou a mim. E foi por meio disto que aprendi uma das coisas mais importantes que é a confiança. Quando percebi que certas coisas não deixaram de ocorrer. Quando vi que certos vultos continuavam a passar. Quando percebi que certas palavras que eu falava continham as informações que eu intuía, mesmo quando os receptores nem ao menos se lembravam de onde tinham vindo o conselho. E isso ocorria provavelmente por que eu era somente um mediador, mas isso não me chateava, sabia bem que o bem feito era mais valioso.

Entretanto me dediquei por demais em não aceitar pura e simplesmente. Havia em tudo ali uma ciência que demorei em compreender. Para me aceitar xamã tive de ser neófito hermético. Tive de acreditar tolamente em enfeites dos contos de fadas das tradições espiritualistas incompletas que possuímos aos montes enlouquecendo os crédulos. Tive de me aventurar pela árvore da vida e falar nomes sagrados. Tive de encarar o terror dos arcanos e de suas compreensões. Tive de não me importar com opiniões chulas de pessoas fracas que encontramos aos montes por ai. Tive de rejeitar a religião para perceber que o problema não são elas e sim as pessoas e seus medos. Tive de parar no meio do mato novamente, longe de todos os olhos que me observaram eternamente descrentes para me ver livre de minha própria dúvida. Tive de escrever para muitos achando provável que estava perdendo novamente meu tempo para perceber que nada se perde nesse caso.

E foi lendo um livro e outro que percebi que todas as minhas práticas, até as mais tolas eram práticas de grandes xamãs dos quais nunca tinha ouvido falar. Que meus jogos tolos mentais e minhas práticas no quintal de casa tinham mais valor do que o que certos gurus falavam ou faziam. E que o fato de eu nunca ter encontrado respostas nas palavras deles não era por falta de capacidade minha e sim por falta de visão deles com suas próprias ciências.

Hoje em dia vejo alguns diários que escrevi. Juntando vez ou outra informações das mais variadas para alcançar a compreensão da qual necessitava para entender, abarcar aquilo tudo, tão simples. E nunca algumas informações foram tão fortes como certas passagens dos livros de Eliphas. Foi assim que aprendi a me calar pois o que sabia só a mim me importava. E testei incansavelmente tudo, por fim me libertando da dúvida que me consumia. Hoje afirmo que sou um xamã, mas não qualquer xamã. Meus passos pelo ocultismo, hinduísmo, Zen, budismo, cristianismo, oráculos, magia, meditação, espiritualismo e afins não se perderam no meio do nada. Mas o xamanismo é tão livre e tão grande que não consigo separa-lo como um objeto exclusivo. Na verdade quando me refiro ao xamanismo não consigo formaliza-lo como um ponto no espaço. Quando digo que sou xamã, digo que sou tudo isso. E os espíritos nunca os perdi, só tive de reencontra-los.

E como um Dom Juan que bem conhecemos também me visto de terno e gravata. Contudo o nó que dou é muito mais divertido.

E é por meio disto que implico que somos o que buscamos ser, curiosamente abobalhados pela impressão de nunca termos sido antes. Assim é bem provável que no meio do mato eu trace no chão um desenho hermético qualquer olhando no céu alguma ave de rapina passando, sentindo no cheiro do vento a intuição de outrora. O ritual apenas começou e se escutar um cântico qualquer vindo de mim não se assuste quando for pronunciado nomes divinos para uma fogueira. Não se envergonhe ao me ver dançando sobre um pentagrama ou flutuando nas águas claras do outro espaço. Saberei bem sacar de minha bolsa um mantra, aforisma ou qualquer outra coisa para auxiliar-me, para nos auxiliar. Pois esta ciência é viva e me regozijo com prazer ao utiliza-la. Meu templo não tem portas, contudo sei bem como fecha-las. E em qualquer lugar podes me ver recitando umas frases soltas enquanto olho para bem mais longe.

Se não compreender o meu olhar o problema não está em mim ou noutro alguém. O problema está em não compreender o seu próprio olhar. E se tudo isso aqui não passar de devaneio, como poderia tuas práticas serem diferente para ti? Contudo não afirmo que para alçar voou terás que fazer assim ou assado. Afirmo somente que se quer lançar-se no universo é preciso antes de mais nada a capacidade do psiconauta. Este que sabe que todo e qualquer mundo é válido, quando é parte do caminho que alcançamos ao respeitarmos o coração.

Silêncio… é preciso escutá-lo. Silêncio… é preciso sê-lo. Silêncio.

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leia também:

estados alterados

Uno consigo e com o mundo – parte I

Uno consigo e com o mundo – parte II

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#xamanismo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/eu-era-xam%C3%A3-e-n%C3%A3o-sabia

Arthur Schopenhauer


Por Ágatha Carcass (PandoraC – Morte Súbita Inc.)

Filho de Heinrich Floris Schopenhauer e Johanna Schopenhauer, na exata data de 22 de fevereiro de 1788, em Danzig, nasce um dos filósofos que posteriormente seria considerado, dentre todos os outros de sua época, o mais pessimista. E é fato inegável que, ainda hoje, quase 150 anos depois de sua morte, prevalece esse título.

 

Filosofia Schopenhauriana

 

Basicamente, em suma, uma filosofia romântica e irracionalista. Sem receio, podemos afirmar que a filosofia schopenhaueriana foi um grande progresso na disseminação do pensamento filosófico irracionalista no século XIX, se delongando em apogeu também no século XX. Essa afirmação é, certamente, indiscutível, pois sabemos que não há outro filósofo que tenha se destacado mais que Arthur Schopenhauer no irracionalismo até os dias contemporâneos.

Ateu que era, é bastante citado nas comunidades relacionadas ao ateísmo. Essa ligação schopenhaueriana perdura na atualidade, como se pode testemunhar, por exemplo, no site Ateus.Net.

Não é minha pretensão, como já ficou claro, mastigar aqui todo desenvolvimento ideológico do schopenhauerismo. Contudo, ressalvo que a leitura de O Mundo Como Vontade e Representação é altamente satisfatória e deve ser efetuada por qualquer indivíduo interessado por uma filosofia séria.

Vampirismo Filosófico

Entretanto, o que seria uma filosofia séria? Eis, pois, um bom contexto para se utilizar fielmente da concepção schopenhaueriana; O estudo de Parerga e Paralipomena nos fornece, então, uma noção para responder esse questionamento. Usaremos o termo genérico de vampirismo filosófico.

Certa busca vampiresca é enfatizada pelo autor com o seguinte ditame: Ler apenas os autores que dão seu próprio sangue por seus livros; Aqueles que escrevem com toda a sua dedicação. E Arthur Schopenhauer é, sem dúvida, um dos nomes mais indicados para a resolução desse verdadeiro vampirismo filosófico.

Faz-se válido de nota o fato de que o próprio Nietzsche, veio, mais tarde, a incorporar essa idéia claramente schopenhaueriana. E isso é, inclusive, citado por Morbitvs Vividvs em biografia nietzschiana disponibilizada aqui, no MorteSubita.Org.

 

Estrutura Literária

O Mundo Como Vontade e RepresentaçãoSua Opus Magna é O Mundo Como Vontade e Representação, de 1819 (Originalmente, Die Welt als Wille und Vorstelling); O pilar de todo o legado filosófico que o schopenhauerismo possui; Muito embora, seu livro Parerga e Paralipomena (Parerga und Paralipomena), de 1851, seja o mais popular. Juntamente com essas duas obras já citadas, outras três são consideradas principais e merecem constar como indicadas: Sobre a Raiz Quádrupla do Princípio da Razão Suficiente (1813), Sobre a Vontade da Natureza (1836) e Os Dois Problemas Fundamentais da Ética (1841).

Destinada a obra-prima mencionada, o site LivrariaCultura.com.br apresenta a seguinte sinopse para a mais recente edição nacional encontrada no mercado (Unesp): “A mais completa edição em língua portuguesa do grande clássico da filosofia alemã, ‘O mundo como vontade e como representação’, traduzido por Jair Barboza. É imprescindível para o vislumbre do horizonte em que se movem as chamadas filosofias do impulso com sua reflexão sobre o irracional e o inconsciente, bem como uma crítica a esse irracional que também passa por uma crítica da razão. A obra se subdivide em quatro livros. Dois elegem o tema da Representação e dois, o tema da Vontade, e cada livro assume um ponto de vista diferente da consideração”.

Do parágrafo acima, já se pode deduzir que é um estudo amplo e que depende de um perspectivismo versátil para sua resolução.

É digno de ser lembrado o tratado inicialmente intitulado Erística. Não foi concluído pelo autor, e, no entanto, a priori, pode ser visto como um recomendável suplemento aos estudantes schopenhauerianos, ou uma visão diferente para os aristotélicos, já que as dialéticas erísticas de Schopenhauer e de Aristóteles (384 a. C. – 322 a. C.) são o foco. De qualquer forma, não pode ser considerada obra estrutural, mesmo porque está inconclusa.

Influências Filosoficas

Uma grande marca que ficou no campo da filosofia alemã depois das contribuições de Schopenhauer, foi uma inédita visão aderente ao budismo e ao hinduísmo na metafísica. Não vou me estender expondo esses determinados tópicos nessa resumida biografia, cuja qual o leitor está tendo acesso, porém, no entanto, recomendar que eles sejam devidamente estudados é um acréscimo importante.

Platão (428/27 a. C. – 347 a. C.), Hobbes (1588 – 1679) e Goethe (1749 – 1832) influenciaram as idéias de Arthur Schopenhauer; Não obstante, nenhuma dessas influências se compara com a desempenhada por Kant (1724 – 1804), a qual se mostra visceral.

Houveram muitos influenciados pelo schopenhauerismo, mais tarde. Homens tais como Nietzsche (1844 – 1800) e Freud (1856 – 1839), atualmente, muito conhecidos.

Ora, se pudermos designar um antônimo relativo para “Schopenhauer”, esse antônimo é, sem sombra de dúvida, “Hegel (1770 – 1831)”. Como já trouxe à baila o humor ácido e perspicaz de meu amigo Thiago (Atonalismo.BlogSpot.Com), a idéia hegeliana se assemelha mais com a de um poeta dadaísta. Aliás, essa perspectiva é estreitamente schopenhaueriana.

Vida de Schopenhauer

Túmulo de SchopenhauerEnquanto vivo, Arthur foi, além de filósofo, professor universitário da Universidade de Berlim; Função na qual não obteve muito sucesso, visto que precisamente nesse período, o pensamento hegeliano estava em ascensão na cadeia filosófica da Alemanha.

Em 21 de setembro dos confins de 1860, aos 72 anos, vítima de pneumonia, morre um dos maiores filósofos germânicos. No entanto, sua existência foi eternizada pelo respectivo e rico espólio filosófico dele herdado por nós.

Emblema Arquétipo

Por uma assídua schopenhaueriana…

Sim, é verdade que existiu tal grande homem: Paradoxalmente, aquele que soube aceitar, sem ludibriar a si próprio, sua pequenez; A pequenez da humanidade que se julga transcender, estruturada em suas mentiras;

Sim, é verdade que existiu tal homem que abriu os olhos para uma realidade nua e crua, inflamada nas profundezas do saber humano. Bem como mencionava acertadamente Lord Byron (1788 – 1824), a árvore do conhecimento não é a mesma árvore que a da vida. Poucos são os que encaram os ramos dessa sentença;

Sim, é verdade que existiu tal exemplo e modelo personificado do Saber que subordina o estéril Crer;

Ele é chamado Arthur Schopenhauer.

t

 

1788 – 1860

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/biografias/arthur-schopenhauer/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/biografias/arthur-schopenhauer/

Incensos Budistas

Foi no ano de 538 D.C que o Budismo se introduziu no Japão. Junto com ele, vieram as estátuas de Buda, antigos sutras, bem com o incenso. Daquele momento em diante, o incenso de tornou uma parte inseparável da história japonesa e seu uso se espalhou pelo país.

Lafcadio Hearn, estudioso da cultura japonesa, escreveu que “aonde quer que o budismo resida, há incenso. Em cada casa que contém um templo ou tábuas budistas, incenso é queimado de tempos em tempos, e até mesmo nas partes mais remotas do país, você encontrará incenso queimando diante de imagens esquecidas – pequenas imagens de pedra de Fudô, Jizô ou Kannon (Kwan Yin)”.

Nessa época, o rei Shomyo de Kudara enviou uma coleção de sutras, incenso, uma imagem de Buda e um conjunto completo de móveis para um templo. Outros monges budistas trouxeram incenso para o Japão. O principal incenso que eles trouxeram foi uma mistura picada chamada Shoko. As misturas variam de acordo com as práticas, assim como ainda são feitas em algumas tradições budistas. Muitas vezes, uma certa cerimônia ou meditação exigirá um tipo de incenso único, ao contrário de uma complexa combinação de ingredientes.

Há três materiais usados para incenso que são associados às três famílias búdicas da Mandala Taizoukai, ou Mandala do Ventre do Mundo, em antigos textos budistas. A Aquilária é associada a Vairocana (Dainichi Nyorai), representante da Família Buda, e simboliza a transmutação do “veneno da ignorância”. O Sândalo é associado à Família do Lótus e simboliza a transmutação do “veneno do apego”. O Cravo é associado à Famíia da Sabedoria e simboliza a transmutação do “veneno da aversão”. Esses incensos podem ser usados individualmente para uma prática específica, ou combinados como um “incenso todo-poderoso”.

Às vezes esses tipos de incenso não estão disponíveis. Algumas substituições são permitidas pelos monges budistas, nas quais se inclui Patchouli, Cássia, Canela, dentre outros. Dessa forma, isso torna difícil distinguir que tipos de incenso vieram das substituições budistas e que tipos vieram da medicina chinesa, que foi posteriormente introduzida no Japão. Muito se discute até que ponto a medicina tradicional chinesa influenciou as misturas de incenso budista, mas os três tipos de incenso acima mencionados são os tradicionais utilizados por esta tradição.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/asia-oculta/incensos-budistas/

O Alcorão e a Papisa Joana

Olá crianças,

Esta semana continuaremos a história oculta da Igreja Católica, e as origens do Islã, uma das religiões mais bombásticas do planeta, bem como os acontecimentos que dariam início à formação dos Cavaleiros Templários, Hospitalários e Teutônicos. Estamos no ano de 590 DC e São Gregório Magno acaba de ser coroado o 64º papa.
Esta é a quinta parte da série “Queima ele, jesus!”. Para quem não estava acompanhando, recomendo ler as partes anteriores deste texto AQUI, AQUI, AQUI e AQUI.

Enquanto o papa Sabiano I (604-606) organizava o número de vezes que os sinos deveriam ser tocados antes da missa ou se as velas deveriam ou não ser mantidas acesas o tempo todo nas igrejas, o papa Bonifácio III (607) decidia quantos dias seriam necessários esperar entre a morte de um papa e a eleição do próximo, Bonifácio IV (608-615) convertia os templos Vestais de Roma em Templos dedicados à Virgem Maria, Aedodato I (615-618) criava o “timbre papal” para validar documentos, Bonifácio V (619-625) instituía “imunidade de asilo” dentro das igrejas e Honório I (625-638) perseguia ingleses e restaurava igrejas em Roma, Abu al-Qasim Muhammad ibn ‘Abd Allah ibn ‘Abd al-Muttalib ibn Hashim estava ocupado batendo em hereges, destruindo ídolos antigos e convertendo guerreiros no deserto Árabe.

Allah Akhbar!
Para os muçulmanos, Maomé (Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso)(570-632) foi precedido em seu papel de profeta por Jesus, Moisés, Davi, Jacob, Isaac, Ismael e Abraão. Como figura política, ele unificou várias tribos árabes, o que permitiu as conquistas árabes daquilo que viria a ser um império islâmico que se estendeu da Pérsia até à Península Ibérica.
Não é considerado pelos muçulmanos como um ser divino, mas sim, um ser humano; contudo, entre os fiéis, ele é visto como um dos mais perfeitos seres humanos
Nascido em Meca, Maomé (louvado seja, Senhor do Universo) foi durante a primeira parte da sua vida um mercador que realizou extensas viagens no contexto do seu trabalho. Tinha por hábito retirar-se para orar e meditar nos montes perto de Meca. Os muçulmanos acreditam que em 610, quando Maomé (Clemente, o misericordioso) tinha quarenta anos, enquanto realizava um desses retiros espirituais numa das cavernas do Monte Hira, foi visitado pelo anjo Gabriel que lhe ordenou que recitasse uns versos enviados por Deus. Estes versos seriam mais tarde recolhidos e integrados no Alcorão. Gabriel comunicou-lhe que Deus tinha-o escolhido como último profeta enviado à humanidade.
Maomé (soberano do dia do Juízo) não rejeitou completamente o judaísmo e o cristianismo, duas religiões monoteístas já conhecidas pelos árabes. Em vez disso, informou que tinha sido enviado por Deus para restaurar os ensinamentos originais destas religiões, que tinham sido corrompidos e esquecidos.

Na opinião dos ocultistas, Maomé (Só a Ti adoramos e só de Ti imploramos ajuda) provavelmente conseguiu entrar em contato com o seu Sagrado Anjo Guardião durante suas meditações, escrevendo os versos do Alcorão da mesma maneira que, 1.300 anos mais tarde, Aiwass teria ditado o Livro da Lei a Aleister Crowley.

Claro que, para variar, os habitantes de Meca rejeitaram a sua mensagem e começaram a perseguí-lo, bem como aos seus seguidores (mas nós já vimos este filme antes, certo?).
Meca era nesta altura uma cidade-estado no deserto, onde se encontrava um santuário conhecido por Caaba (“Cubo”) administrado pelos Coraixitas. A Caaba era venerada por todos os árabes, sendo alvo de uma peregrinação anual. Nela se encontrava a Pedra Negra (o nome dela é Al-Hajarul Aswad para quem quiser procurar no google… é uma pedra negra com cerca de 50cm de diâmetro que segundo as lendas “foi enviada por Deus dos céus”) e uma série de ídolos, representações de deusas e de deuses, dos quais se destacava o deus nabateu Hubal. Alguns habitantes de Meca distanciavam-se quer dos cultos pagãos, quer do monoteísmo dos judeus e dos cristãos, declarando-se hunafá, isto é, crentes no Deus único de Abraão, que acreditavam ter sido o fundador da Caaba. Apesar de a cidade não possuir recursos naturais, ela funcionava como um centro comercial e religioso, visitado por muitos comerciantes e peregrinos.

Em 622 Maomé (Guia-nos à senda reta) foi obrigado a abandonar Meca, numa migração conhecida como a Hégira (Hijra), tendo se mudado para Yathrib (atual Medina). Nesta cidade, Maomé (À senda dos que agraciaste, não à dos abominados, nem à dos extraviados) tornou-se o chefe da primeira comunidade muçulmana. O seu tio Zubair fundou a ordem de cavalaria conhecida como a Hilf al-fudul, que assistia os oprimidos, habitantes locais e visitantes estrangeiros. O profeta foi um membro entusiasta; ajudou na resolução de disputas, e tornou-se conhecido como Al-Ameen (“o confiável”) devido à sua reputação sem mácula nestas intermediações.

Seguiram-se uns anos de batalhas entre os habitantes de Meca e Medina, que terminaram com a vitória do profeta e seus seguidores. A organização militar criada durante estas batalhas foi usada para derrotar as tribos da Arábia e estabelecer uma unidade cultural.
Após a Hégira, o profeta começou a estabelecer alianças com tribos nômades. À medida que a sua força e influência cresceu, insistiu que as tribos potencialmente aliadas se tornassem muçulmanas. Casou suas filhas com líderes de outras tribos e ele mesmo casou-se com filhas de líderes influentes.
Alguns viram agora Maomé como o homem mais poderoso da Arábia e a maioria das tribos enviou delegações para Medina, em busca de uma aliança. Antes da sua morte, rebeliões ocorreram em uma ou duas partes da Arábia mas o estado islâmico tinha força suficiente para lidar com elas.
Um ano antes da sua morte, o profeta dirigiu-se pela última vez aos seus seguidores naquilo que ficou conhecido como o sermão final. A sua morte em Junho de 632 em Medina, com a idade de 63 anos, deu origem a uma grande crise entre os seus seguidores. Na verdade, esta disputa acabaria por originar a divisão do islão nos ramos dos sunitas e xiitas. Os xiitas acreditam que o profeta designou Ali ibn Abu Talib como seu sucessor, num sermão público na sua última Hajj, num lugar chamado Ghadir Khom, enquanto que os sunitas discordam.

Matem o Infiel !!!
30 anos após a morte do profeta, a comunidade islâmica mergulhou numa guerra civil que deu origem a três grupos. Uma causa próxima desta guerra civil foi que os muçulmanos do Iraque e do Egito estavam muito putos da vida com os desmandos de poder do terceiro califa e dos seus governadores; outra causa foi a de rivalidades comerciais entre facções da aristocracia mercantil.
Após o assassinato do califa, a guerra eclodiu entre grupos diferentes, todos eles lutando pelo poder. A disputa sangrenta só foi terminar com a instauração de uma nova dinastia de califas que governavam desde Damasco (e esta dinastia vai continuar até as cruzadas)

Um dos grupos que surgiram desta disputa foi o dos sunitas. Eles tomam-se como os seguidores da sunna (“práctica”) do profeta tal como relatada pelos seus companheiros (a sahaba). Os Sunitas também acreditam que a comunidade islâmica (ummah) se manterá unida. Eles desejavam reconhecer a autoridade dos califas, que mantinham o governo pela lei e persuasão. Os sunitas tornaram-se o maior grupo do Islã (cerca de 84% do total).
Dois outros grupos menores surgiram também deste cisma: Os xiitas e os kharijitas, também conhecidos por “dissidentes”. Os xiitas acreditavam que a única liderança legítima era a que vinha da linhagem do primo e genro do profeta, Ali. Os xiitas acreditavam que o resto da comunidade cometera um erro grave ao eleger Abu Bakr e seus dois sucessores como líderes. Já os kharijitas inicialmente apoiaram a posição dos xiitas de que Ali era o único sucessor legítimo do profeta, e ficaram decepcionados quando Ali não declarou a guerra no momento em que Abu Bakr tomou a posição de califa, crendo que isto era uma traição ao seu legado por Deus. Ali foi mais tarde assassinado pelos kharijitas com uma espada envenenada.
Os Kharijitas consideravam que qualquer homem, até mesmo um escravo, poderia ser eleito califa, desde que reunisse um elevado carácter moral e religioso, e que era legítimo contestar um poder considerado injusto. Como os critérios de “justo” ou “injusto” são um tanto quanto subjetivos, podemos perceber uma certa tendência para a carnificina aparecendo nesta facção.
Tanto foi que em menos de 30 anos os Kharijitas se dividiram em quatro facções: os Azraquitas, os najadat, os sufris e os ibaditas.
A facção mais radical de todas eram os Azraquitas: consideravam como pecadores todos os outros grupos de muçulmanos e advogavam a luta contra o poder instituído, praticando atos de verdadeiro terrorismo político.
Distinguiam-se por duas práticas peculiares: a primeira era uma prova de sinceridade do recém-convertido ao movimento na qual se exigia que este decapitasse um prisioneiro adversário (imtihân) e a segunda constituía o assassinato religioso, que autorizava matar homens, mulheres e crianças fora do grupo (isti’râd). Entendiam que o território no qual viviam os outros muçulmanos era um território de infiéis (dar kufr), onde era permitido pilhar e matar.

O Alcorão
Entre 650 e 656, durante o califado de Otman, o Alcorão (livro cujo nome significa “a recitação”) se estruturou de uma forma mais oficial. Otman nomeou uma comissão para decidir o que deveria ser incluído ou excluído do texto final do Alcorão. Foi então constituído um “livro-referência” a partir do qual se criaram cópias que foram enviadas para Meca, Iémen, Bahrein, Bassora e Kufra. Somente mil anos mais tarde, em 1694, uma versão completa do Alcorão seria publicada no Ocidente, na cidade de Hamburgo, por Abraham Hinckelmann, um estudioso rosacruz não-muçulmano.

De 632 a 661, os muçulmanos dominaram toda a península Árabe, a Pérsia (chegando até Damasco) e partes do Egito (chegando até Trípoli). Por volta de 732, ou seja, um século após a morte de Maomé, os muçulmanos expandiram seus domínios até a Espanha.

Enquanto Isso, no Vaticano…
Severino I foi eleito em 640 e seu governo durou dois meses: como primeiro ato, desafiou o Imperador de Constantinopla criticando a Igreja Ortodoxa. Como castigo, o Imperador invadiu Roma, saqueou a cidade e matou o papa. João IV (640-642) também criticou o monotelismo e a Enciclopédia Católica diz que ele “aceitou e repatriou vários dissidentes da Igreja Copta”. Comparando os gráficos, vemos que, na realidade, estes refugiados não estavam deixando a Igreja Copta e se tornando católicos, mas sim fugindo do Egito para não terem suas cabeças cortadas pelos muçulmanos Kharijitas…
Teodoro I (642-649) conseguiu durar 7 anos criticando a heresia monofisista, até que foi envenenado por agentes do Imperador. Martinho I (649-655) convocou um concílio em Latrão para terminar de uma vez por todas com estas desavenças e acabou sendo preso e exilado para a ilha de Naxos pelo Imperador, onde acabou morrendo devido aos maus-tratos. Eugênio I (654-657) teve mais sorte. Em 655 os ataques incessantes dos muçulmanos estavam dando tanta dor de cabeça ao Imperador Constante II que ele mal tinha tempo para se preocupar com os católicos. O papa Vitaliano (657-672), vendo que os muçulmanos estavam dominando toda a Pérsia e avançando pela Espanha, tomou uma importante decisão: foi o primeiro papa a autorizar o uso de som de órgãos durante a missa.
Adeodato II, percebendo que os muçulmanos haviam tomado diversas cidades no sul da Espanha e estavam fortificando cada vez mais suas posições na Turquia, tomou uma decisão importantíssima: Foi o primeiro papa a datar os seus atos com os anos do seu pontificado e a usar nas leituras a fórmula “Salute ed apostolica benedizione“. O papa Dono (676-678) preocupou-se em resolver uma disputa entre bispos de Ravena, Agato I (678-681) preocupou-se com a Irlanda e com a Inglaterra; Leão II viajou até Constantinopla para o III Concílio de Constantinopla, para dar fim ao monotelismo, mas a seqüência de disputas filosóficas sobre a natureza divina de Jesus prosseguiu pelos governos de Bento II (684-685), João V (685-686), Conon (686-687), Sérgio I (687-701) e João VI (701-705), quando finalmente os turcos otomanos cortadores de cabeças vieram bater às portas de Roma, após terem causado por toda a Espanha durante quase 50 anos sem que o Vaticano tivesse mexido um único dado a respeito.

A expansão Omíada
Muawiya era um homem poderoso, governava a Síria, tinha o seu próprio exército e era o chefe da Casa Omíada. Com o passar do tempo, ele foi cada vez mais liderando os sentimentos de insatisfação que dominavam Medina. A autoridade de Ali foi enfraquecendo e ele acabou assassinado em 661, numa conspiração armada pelos Kharijitas (cortem-lhe a cabeça!!!). Ali foi o último dos califas a representar o verdadeiro conceito islâmico de governante, ou seja, aquele que combina as funções de chefe de estado com as de líder espiritual.

Muawiya proclamou-se califa, inaugurando a dinastia omíada, com capital em Damasco, que governou o mundo muçulmano por 90 anos, de 661 até 750. Ainda que Muawiya não possuísse as qualidades de um chefe religioso, ele foi um administrador eficiente e mesmo seus críticos são unânimes em afirmar que ele foi um grande estadista. Durante seu governo ele passou por cima de todas as cidades do Sul da espanha. Seguindo em direção à Ásia, os muçulmanos completaram a conquista de Corassã e chegaram ao território que hoje corresponde ao Afeganistão, ocupando Cabul. Muawiya construiu uma linha de fortalezas ao longo da fronteira, o que ajudava a manter os bizantinos afastados. Herdeiro dos estaleiros bizantinos da Síria, ele criou a primeira marinha do califado, e com ela chegou a atacar Constantinopla.

A Reconstrução de Roma
João VI e Sísino enfrentaram, com o auxílio das tropas de Ravena, os sarracenos que tentaram invadir Roma. Sísino passou a maior parte dos seus 3 meses de papado reconstruindo as muralhas destruídas de Roma. Constantino passou seu papado (608-615) pregando na Alemanha (curiosamente bem longe dos sarracenos), trabalho de fuga de evangelização, que foi continuado por Gregório II, que permaneceu fugindo pregando na Germânia de 715 a 731 (embora tenha mandado erguer e renovar as muralhas de Roma, por medo dos muçulmanos). Gregório II também foi o primeiro papa a enfrentar os iconoclastas.

Vamos quebrar tudo!!!
Iconoclastia (do grego eikon [ícone], klastein [quebrar]) é a doutrina que se opõe ao culto de ícones religiosos e outras obras, geralmente por motivos políticos ou religiosos. No cristianismo, a iconoclastia é geralmente motivada pela interpretação literal dos dez mandamentos, que proíbem os fiéis de adorar imagens. As pessoas envolvidas em tais práticas são conhecidas como iconoclastas, um termo que passou a ser aplicado a qualquer um que quebra dogmas ou convenções estabelecidas ou as desdenha.
As escolas iconoclastas enfatizam a compreensão e a transformação interior. São exemplos delas: o sufismo na religião islãmica, hassidismo e a cabala no judaísmo, advaita ventana no hinduísmo e o zen e o dzogchen no budismo. Esses movimentos nunca se expandiram bastante por serem considerados suspeitos pelas hierarquias religiosas estabelecidas.
O primeiro ciclo do Iconoclasmo foi constituído nas culturas judaico-cristã e islâmica e na tradição filosófica grega. O segundo durante o Império Bizantino (século VIII e IX), quando a produção, disseminação e o culto das imagens foram proibidos. A doutrina dilacerou o lado do antigo Império Romano durante mais de um século e provocou uma sangrenta guerra civil, que só terminaria em 843, com a restauração do culto aos ícones na catedral de Santa Sofia, em Constantinopla.

Gregório III (731-741) seguiu firme na batalha contra os iconoclastas e também teve uma idéia brilhante: pedir o chamado “Óbolo de São Pedro”, que eram doações de reis e governantes para a manutenção do Vaticano, uma das fontes de renda da cidade até os dias de hoje. Zacarias (741-752) foi o primeiro papa a investir e aprovar uma coroação (no caso, Pepino, o breve, rei dos Francos, em troca de fartos óbolos para a ICAR). Zacarias também enfrentou uma situação inusitada: os mercadores de Veneza estavam traficando escravos cristãos para os muçulmanos.
Os próximos sete papas (Estevão III, Paulo I, Estevão IV, Adriano I, Leão III, Estevão V e Pascoal I) passaram seu tempo bajulando ora os lombardos, ora os francos, ora os bizantinos, ora os carolígenos, dependendo de quem tinha o maior exército e desse os melhores óbolos na época. O Vaticano praticamente se prostituiu diante dos reis e imperadores europeus, alternando seu apoio para quem lhe pagasse mais.
O centésimo papa, Eugênio I (824-827), organizou a Cúria Romana e preparou novamente o conjunto de leis que regiam a escolha dos papas e as transições do bispado.

Enquanto isso, no reino dos sarracenos, Al-Khawarizmi desenvolvia a Álgebra e a Geometria entre as Escolas de Estudos Árabes, difundindo os algarismos que mais tarde ficaram conhecidos como “indo-arábicos”. Com as conquistas muçulmanas, os sábios árabes tiveram contato com as Escolas Iniciáticas Egípcias e absorveram muito do conhecimento de matemática, geometria, astronomia, astrologia, espiritualismo, kabbalah, música e alquimia (Al Kimia significa “do país dos negros”) que os antigos gregos também detinham. Hoje em dia a maior parte destes ensinamentos ainda existe, dentro da filosofia chamada Sufismo (uma corrente iniciática muçulmana que existe até os dias de hoje).

A Papisa Joana
Os muçulmanos foram avançando pelo território até que conseguiram invadir e saquear Roma em 846, no papado de Sérgio II. O papa Leão IV passou boa parte de seu governo (847-854) reconstruindo os muros da cidade. Quando faleceu, elegeram por unanimidade o papa João VIII… ou melhor, a papisa Joana.
A história da papisa Joana é bem controversa. Os católicos vão negar até o último fio de cabelo que ela tenha existido, embora haja um decreto no século IX proibindo explicitamente a sua colocação na lista de papas, a falta de um “João” na lista de papas e a existência da famosa “cadeira papal” que durou do século IX ao XVI não teria razão de existência se não fosse necessário comprovar o sexo do papa por algum motivo.
Na época, o escândalo de ter uma mulher infiltrada na Igreja que tivesse chegado à condição de papa teria sido abafado de todas as maneiras possíveis, tendo esta indiscrição perdurado até quase o século XI, quando o respeitável historiador Murdoch MacGroarty (1028-1082) estava compilando a lista de papas conhecida como “Chronicles of the Popes” e chegou a 20 papas de nome João. A lista de papas de Murdoch foi aprovada por Victor III, Urbano II, Pascoal II e Alberic de Montecassino e menciona a existência de uma papisa Joana.
Quando refizeram as contas, eliminando a papisa Joana quase 200 anos depois, o papa João XXI se recusou a mudar seu título e acabou ficando uma brecha entre os papas João VIII e João XIX. É ela quem aparece na imagem do Tarot de Marselha ocupando o arcano II, que se chama “Papisa” ao invés do tradicional “Sacerdotisa”.
A história mais confiável conta que Joana nasceu na Inglaterra, filha bastarda de um padre que, para ocultar o caso, precisou fugir para a Alemanha, onde a criou como um coroinha. Quando chegou a adolescência, Joana já sabia falar três línguas e possuía uma inteligência fora do comum. Foi enviada para estudar nas melhores escolas, sempre assumindo uma identidade masculina, pois não era permitida a presença de mulheres nos monastérios. Ela possuía um amante, também padre, que a acompanhou à Inglaterra, França e Grécia. Porém, conforme ficavam mais velhos, tiveram de mudar-se para Roma pois em todos os outros monastérios era comum os homens cultivarem barbas e a presença de Joana estava ficando difícil de ser explicada.
Joana conseguiu ser nomeada cardeal, quando teria ficado conhecida como João, o Inglês. Segundo as fontes católicas, no dia 17 de julho de 855, Leão IV faleceu.
João, em virtude de sua notável inteligência, foi eleito Papa por unanimidade. Apesar de ter sido fácil ocultar sua gravidez, devido às vestes folgadas dos Papas, terminou por sentir as dores do parto em meio a uma procissão numa rua estreita, entre o Coliseu de Roma e a Igreja de São Clemente, e deu à luz perante a multidão.
As versões também divergem sobre este ponto, mas todas coincidem em que a multidão reagiu com indignação por considerar que o trono de São Pedro havia sido profanado. Ela teria sido amarrada num cavalo e apedrejada até a morte.
O clero de Roma, ferido na sua dignidade e cheio de vergonha por aquele acontecimento singular, publicou um decreto proibindo aos pontífices atravessarem a praça pública onde tivera lugar o escândalo. Por isso, depois dessa época, no dia das Rogações, a procissão, que devia partir da basílica de São Pedro para se dirigir a Igreja de São João de Latrão, evitava aquele lugar abominável situado no meio do seu caminho, e fazia um longo roteiro.
Os ultramontanos, confundidos pelos documentos autênticos da história e não podendo negar a existência da papisa Joana, consideraram toda a duração do seu pontificado como uma vacância da santa sede e fazem suceder a Leão IV o papa Bento III, sob o pretexto de que uma mulher não pode desempenhar as funções sacerdotais, administrar os sacramentos e também conferir ordens sagradas. Mais de trinta autores eclesiásticos alegam este motivo para não incluirem Joana no número dos papas; mas um fato essencialmente notável vem dar um desmentido formal à sua opinião.

A Cadeira Furada
Para impedir que um semelhante escândalo pudesse renovar-se, imaginou para a entronização dos papas um uso singular e apropriado à circunstância, o qual leve o nome de “a prova da cadeira furada”.
O sucessor de Joana foi o primeiro a se submeter a essa prova, que passou a ser realizada na eleição do pontífice, no momento em que era conduzido ao palácio de Latrão para ser consagrado solenemente. Em primeiro lugar, o papa sentava em uma cadeira de mármore branco colocada no pórtico da igreja, entre as duas portas de honra; essa cadeira não era furada, e deram lhe esse nome porque o santo padre, ao levantar se dela entoava o seguinte versículo do salmo cento e treze: “Deus eleva do pó o humilde para o fazer assentar acima dos príncipes!”
Em seguida, os grandes dignitários da igreja davam a mão ao papa e conduziam-no á capela de São Silvestre, onde se achava uma outra cadeira de pórfiro, furada no centro, na qual faziam assentar o pontífice.
Antes da consagração, os bispos e os cardeais faziam colocar o papa sobre essa segunda cadeira, meio estendido, com as pernas separadas, e permanecia exposto nessa posição, com os hábitos pontífices entreabertos, para mostrar aos assistentes as provas da sua virilidade. Finalmente, aproximavam-se dele dois diáconos, asseguravam-se pelo tato de que os olhos não eram iludidos por aparências enganadoras e davam disso testemunho aos assistentes gritando com voz alla: “Temos um papa!”.
Este funcionário é chamado de Carmelengo e esta função era uma das mais importantes na aprovação do novo papa. Daqui originou-se o termo “Puxa-saco”.
Essa cerimônia das cadeiras furadas é mencionada na consagração de Honório III, em 1061; na de Pascoal II, em 1099; na de Urbano VI, eleito no ano de 1378. Alexandre VI, reconhecido publicamente em Roma como pai dos cinco filhos de Rosa Vanozza, sua amante, foi submetido à mesma prova. Finalmente, ela subsistiu até o décimo sexto século, e Cressus, mestre de cerimônias de Leão X, refere no jornal de Paris todas as formalidades da prova das cadeiras furadas a que o pontífice foi submetido.
Leão X foi o último papa a ter de passar pela cerimônia de Puxação de saco.

Na semana que vem:

A Reconquista, os Princípios da Cavalaria Templária
E Marosia: gente que faz!

#ICAR

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-alcor%C3%A3o-e-a-papisa-joana