BDSM e Magia Sexual

Em um curto espaço de tempo, os flagelantes da Peste Negra, terrível epidemia que varreu a Europa entre os anos de 1347 e 1350, transformaram-se de exemplo de temor a Deus a pervertidos morais. Só os membros da realeza e do clero, encontravam abrigo em castelos, palácios ou residências nas montanhas.

Onde a epidemia raramente chegava; aqueles homens misteriosos, munidos apenas de túnicas e capuzes negros, e seus inseparáveis chicotes, despertavam admiração e respeito, mas também a imaginação libidinosa das recatadas senhoras nas cidades e vilarejos por onde passavam. Da noite para o dia, o clero ( principalmente o alemão ) começou a enxergar um significado paralelo, nas andanças daqueles homens e do tipo de reação que causavam naqueles que presenciavam suas auto-flagelações em praça pública.

“Não há nada de santo nesse ato, apenas uma cruel perversão sensual que choca e oprime a imaginação destes pobres desesperados com a Peste; que vêem nestes homens, exemplos inócuos a serem seguidos.” disse historicamente Helmut Schaff, um frade alemão responsável por monitorar e vigiar os deslocamentos dos flagelantes no norte e noroeste do país. Logo surgiriam as denúncias.

Como os flagelantes viviam da caridade daqueles que davam alimento e abrigo entre um canto e outro, não faltavam línguas venenosas, especialmente de vizinhas vingativas (algo que se repetiria na caçada às bruxas ) – nas paróquias, furtivamente estas senhoras de respeito, vinham confessar seus pecados antes de entregar a alma a Deus via Peste Negra, mas também aproveitavam a ocasião para denunciar as rivais.

Testemunhos como estes podem ser encontrados em atas religiosas da Idade Média: “Um flagelante passou a noite abrigado na casa de V… acordei de madrugada ouvindo gritos e barulho de chicotadas. Vi pela janela que o flagelante era chicoteado por V… e depois copulavam. Tudo acompanhado por preces, cânticos e incensos do Diabo ( o que quer que isso possa significar ).”

Friederich von Spee, autor de Cautio Criminalis, o livro que denunciava os crimes dos inquisidores alemães, deu seu depoimento sobre o caso:

“Pura covardia. Sem precedentes na história do cristianismo. Basta que apareça algo que coloque em risco a pretensa autoridade espiritual do alto clero, e logo surge algo para minar as legítimas demonstrações de fé dos homens não consagrados pela Igreja.”

A epidemia arrefeceu e com ela o número de flagelantes; mas a identidade sadomasoquista; semeava as origens que dariam os frutos proibidos nas palavras de Sade e Masoch. Von Spee poderia ter razão quanto as calúnias provocadas pelo clero contra a maioria dos flagelantes, mas não poderia ignorar jamais, a atmosfera sensual, alimentada por eles. Durante as procissões, as mulheres eram ampla maioria na “platéia”. Elas fantasiavam com aquelas cenas: num ambiente onde quase sempre eram dominadas, maltratadas, submissas e sofredoras – a relação fé, espiritualidade, sensualidade e blasfêmia, travavam uma batalha inglória nas mentes e nos corações que esperavam a chegada da morte a qualquer minuto.

Basta lembrar que durante o pico da epidemia, o clero perdeu qualquer autoridade espiritual sobre os fiéis, os mais diversos tabus sexuais eram quebrados sem nenhuma cerimônia. Portanto, castigá-los e depois consolá-los com carícias mais íntimas e acolhedoras era algo extremamente excitante para aquelas mulheres; como atesta este relato atribuído a esposa de um Barão de Marselha; que fazia parte da compilação de material erótico relacionado ao período da Peste na França, de propriedade de Rétif de la Bretonne, inimigo número um do Marquês de Sade, de quem fez uma bem sucedida paródia de Justine e os Infortúnios da Virtude:

Eis o relato:

“A noite escura, mais escura das noites. Esta noite é a noite deles. Quão adorável é este homem. Com sua face crua e lisa, protegida pelo negro capuz. Por que escondê-lo ? Protegê-la das minhas mãos ? Minhas carícias ? Talvez uma pequena punição. Para tu ou para mim (…) Confesse menino ! Venha confessar seus pecados para mim ! Te darei alimento, proteção e o que mais precisar (…)” O texto é atribuído a esposa de um rico barão francês da cidade de Marselha.

Lamentavelmente, Bretonne morreu enquanto preparava aquela que certamente seria mais uma das tacadas de mestre que ajudariam a pôr ainda mais lenha no forno do governo e do clero francês.  Da Idade Média e Renascimento para cá, pouca coisa mudou. Fingimos vivenciar a liberação sexual que se manifestou nas décadas de 20 e 30, principalmente na Europa e na década de 60 nos Estados Unidos. Nestes períodos, surgiram os Spankin’ Clubs. Um deles funcionava adjacente a Igreja de Satã na Califórnia.

Locais freqüentados por satanistas que também faziam uso das práticas sadomasoquistas mescladas a práticas de magia sexual, embora elas ainda não fizessem parte de termos litúrgicos. Foi em locais como este que gente como Zeena Galatea LaVey, que adotou o sobrenome do marido Nikolas Schreck após romper com o pai, ajudaram a desenvolver as práticas BDSM misturadas com rituais satanistas e ocultistas em geral.

ENTREVISTA COM ZEENA SCHRECK

COMO VOCÊ ENCAROU O BLOQUEIO DO SITE ?

(Antigo WWW.SADELICIOUS.ORG, voltado para práticas sadomasoquistas mescladas com magia sexual.)

Como mais um ato covarde do fundamentalismo cristão americano. Eles são piores que os muçulmanos. Se pudessem, e temo que um dia poderão, pois trabalham incessantemente para isso, vão decepar os clitóris das mulheres americanas para que não sintam prazer. Eu nunca estive tão horrorizada na minha vida.

O SITE NÃO ERA ABERTO AO PÚBLICO, SÓ SE TINHA ACESSO MEDIANTE A UMA SENHA. QUANTOS ASSOCIADOS VOCÊS TINHAM ? QUANTOS DELES ERAM MEMBROS DA WEREWOLF ORDER ?

Não era um site para curiosos. Era necessário um convite formal. Era para pessoas interessadas em desenvolver sua espiritualidade com o auxílio de atividades BDSM. Tínhamos 17 mil acessos diários onde as pessoas trocavam experiências, davam seus depoimentos. Eu nunca fui membro do site mas apresentava aos membros da Werewolf a idéia para aqueles interessados em integrarem-se ao que eu chamo de “Left Hand Path Sex.” Todos os vídeos alí eram reais, experiências sadomasoquistas mediadas por um sacerdote satanista do Templo de Set.

VOCÊ CONCORDA QUE A MULHER PODE TER MELHORES RESULTADOS VIA BDSM DO QUE O HOMEM ? DESENVOLVER EXPERIÊNCIAS MAIS ENRIQUECEDORES ?

Acho que a mulher consegue ver além da prática do sexo em relações sadomasoquistas. Não resta dúvida que o limiar entre prazer e dor, amor e espiritualidade caminham de mãos dadas. Para os homens, especialmente no início das práticas, eles têm enormes dificuldades em se concentrar em questões espirituais, desperdiçam força e energia. Mas quando superam essa barreira, tornam-se grandes mestres, como o sadomasoquismo exige. É imperiosa a necessidade de alertar que a prática de BDSM mesclada a rituais satanistas, despendem uma grande quantidade de energia que se não for bem aproveitada, pode acarretar sérios danos tanto a pessoa submissa quanto aquele que submete. É uma forma de magia como qualquer outra.

A ALGOLAGNIA É A PRÁTICA DE SE TRANSFORMAR DOR EM PRAZER SEXUAL. COMO SE DÁ A TRANSFORMAÇÃO DO PRAZER SEXUAL EM  ENERGIA ESPIRITUAL ?

Pegamos o exemplo dos flagelantes: não há como duvidar que a experiência deles difundia uma experiência transcendental mediante a punição do corpo. O que é o uso do cilício pela Opus Dei senão uma experiência mágico-sexual ? Uma forma de extrair energia e libertar e concentrar energia ? Eu já vi muitos depoimentos de ex-membros da Opus Dei que afirmam liberar energia sexual pelo uso do cilício. A diferença é que ela não era reaproveitada por eles, diferente de nós que reutilizamos essa energia na forma de ritos e feitiços.

DÊ NOS UM EXEMPLO INICIAL. PARA AQUELES QUE DESEJAM PRATICAR O BDSM MEDIANTE AS PRÁTICAS SATANISTAS.

Não é necessário ser um satanista para praticar. É simples. Para começar você deve escolher: você inicialmente quer desenvolver uma relação espiritual ou física ? Suas necessidades mais urgentes no momento concernem à alma ou ao seu corpo ? Se é uma questão espiritual ? Opte pela submissão. Comece pela sua presença numa Missa Negra com seu altar particular, só então tome parte em rituais adjuntos ao BDSM. Se a operação é voltada para o lado físico e material, assuma a posição dominante.


O BRANDING TÊM LUGAR NAS MISSAS NEGRAS BDSM ?

É tudo uma questão de escolha. Boa parte dos membros do Templo de Set passaram pela experiência do Branding em práticas de sodomia principalmente; mas creio que só seja indicado para pessoas já acostumadas com práticas sadomasoquistas. Mas não tenho nenhuma dúvida que seja das práticas mais corajosas e que se assemelham as Satanistas. Embora eu já tenha dito que a maioria dos praticantes de BDSM não sejam Satanistas. Temos Wiccans, Pagãos tradicionais, até mesmo Cristãos.


PARTICIPEI DE ALGUMAS MISSAS NEGRAS BDSM E FIQUEI IMPRESSIONADO COM A NATURALIDADE COM QUE ELAS FLUEM. PARECEM TER SIDO INVENTADAS HÁ MILÊNIOS. O QUÊ VOCÊ ACHA ?

Elas foram criadas com os flagelantes da peste negra. Mediante o medo da morte, as pessoas se libertavam por meio da sexualidade reprimida. Se ainda hoje somos reprimidos sexualmente, imagine naquela época. Eu acho maravilhosa a transformação do prazer sexual em força espiritual. É como se eu tivesse caminhado por dias debaixo de um sol impiedoso e subitamente encontrasse uma cachoeira de águas cristalinas na qual eu pudesse me refrescar. Não é uma boa analogia eu sei ( risos ) mas é o melhor que encontrei no momento ( gargalhadas gerais )


O KAMA SUTRA E O TANTRISMO TERIAM LUGAR NAS MISSAS BDSM ?

Sim sempre. Os caminhos do ocultismo são muito ecléticos.


QUANTAS PESSOAS EM MÉDIA PARTICIPAM DAS MISSAS NEGRAS BDSM ?

Isso depende do número de seguidores de um culto. A liturgia é basicamente a mesma, com a única diferença da inserção de práticas SM nos rituais. O mais comum é a prática restrita a casais. E também é mais indicado para os iniciantes. Dando início a dois, no próprio lar, até se acostumar com as práticas.

EXISTEM PESSOAS QUE BUSCAM SIMPLESMENTE A ORGIA PURA NAS PRÁTICAS ASSOCIADAS ENTRE BDSM E MISSAS NEGRAS ?

Sim e não vejo nada de errado nisso. É uma forma de se libertar. Mas se a pessoa passa a não se interessar pelo lado mágico da história, fica bastante complicado prosseguir. A idéia de juntar as práticas do sadomasoquismo com a magia negra sexual, têm por objetivo principal confrontar as forças do ser humano. Por exemplo: quando você se encontra numa posição submissa, você é capaz de identificar e reconhecer a energia que você está dispersando. É possível capturá-la, analisá-la, saber se ela serve ou não para algum propósito mágico. Nesse caso é importante ter um dominante que te ajude a pressurizar essa energia.

VOCÊ LEU OS CONTOS ERÓTICOS DO RÉTIF BRETONNE SOBRE OS FLAGELANTES DA PESTE NEGRA?

Muitas vezes. Excitação a todo vapor. Tive muitos orgasmos naquelas páginas abençoadas. (risos)

VOCÊ JÁ LANÇOU FEITIÇOS ENQUANTO PRATICAVA OS RITUAIS DE BDSM ?

Claro. Essa é a idéia. Faço isso o tempo todo. Você têm nestes momentos toda a concentração de energia mental necessária para criar e lançar feitiços, sejam eles de amor ou ódio. Também é possível capturar energia de seu parceiro e usá-la em seus feitiços. Isso deve ser feito de comum acordo. Mas pode-se roubar energia sexual por meio de um parceiro de quem você queira se vingar por exemplo. O sexo pode e deve ser usado como plataforma de lançamento de feitiços ou maldições, é quando sua energia está mais crua e forte, apta a ser capturada.


ÍNCUBOS E SÚCUBOS SEXUAIS EXISTEM OU SÃO APENAS METÁFORAS ? QUAL A APLICAÇÃO DELES NO BDSM ?

É muito subjetivo. Incubos e Sucubos são termos criados pela igreja católica como forma de categorizar a sexualidade humana. No BDSM, Incubos e Súcubos têm aplicações semelhantes ao do Dominate e do Subsmisso. O importante na prática sexual mesclada as missas negras ou rituais de magia, é entender que o uso do BDSM é altamente recomendado quando têm-se a intenção de fornecer ou receber a maior quantidade possível de energia sexual para ser empregada em rituais de magia. Pode-se facilmente resumir as práticas de BDSM e magia a isso: transformação de energia sexual em feitiços de magia, seja ela negra ou branca.

Texto Paulie Hollefeld

 

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-sexual/bdsm-e-magia-sexual/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-sexual/bdsm-e-magia-sexual/

Corpos Celestes no Mito de Cthulhu

Lovecraft foi um homem de muitas paixões, e teve uma vida que lhe permitiu explorar várias delas. Mesmo que seu trabalho não tenha lhe proporcionado conforto, ou remuneração, ou mesmo um emprego, sua mente viajava sempre em busca de mais e mais conhecimento. Todos os que o conheceram se maravilhavam com sua cultura e o tamanho de seu conhecimento nas mais diversas áreas do saber. Dentre suas musas intelectuais uma que sempre teve um destaque especial foi a astronomia. Desde criança se dedicava a seu estudo e, quando começou a escrever, não a deixou de fora de seu material.

Quando sua ficção começou a ganhar volume e a inspirar outros escritores os corpos celestes se tornaram uma parte importante no Mito que começou a tomar forma. Os ritos inomináveis em seus textos, e nos de seus colegas, estavam ligados a astros e configurações estrelares. Suas criaturas enlouquecedoras provinham de outros planetas, alguns conhecidos, outros que não existiam em nosso plano mas em outras dimensões. Assim com o tempo tanto Lovecraft quanto seus “colaboradores”, acabaram criando uma carta celeste muito rica e assustadoramente mais estranha e bizarra do que os sonhos mais enlouquecidos dos astrólogos que já viveram.

Com o tempo esses corpos celestes deixaram de existir apenas nas páginas de contos e passaram a integrar a imaginação dos fãs de histórias de terror sobrenatural intergalático e tomaram vida em muitos rituais mágicos, onde cartas astrológicas Cthulhianas são usadas, e onde a energia dos planetas, outrora fictícios, é utilizada. Existem inclusive, horóscopos inteiros baseados nesses gigantes celestes que passam desapercebidos para os astrônomos que insistem apenas em fazer anotações sobre os astros que seus olhos podem perceber.

A Morte Súbita Inc. possuia um artigo com este mesmo título que lidava com alguns desses planetas e estrelas, mas o texto era muito pobre e limitado. Era como uma descrição de três cores deixando toda a caixa de lápis de cor de lado, assim decidimos revisar o artigo e dar o tratamento que um artigo que se propõe a explorar o universo Lovecraftiano merece. O presente texto é o resultado deste fuckerupper. O texto antigo continua no site, mas com o título de Astronomia Lovecraftiana.

Os corpos celestes que veremos a seguir aparecem de forma proeminente nas histórias do Mito de Cthulhu, mas que não foram descritos apenas por Lovecraft mas também por outros contribuintes do mito como August Derleth, Ramsey Campbell, Lin Carter, Brian Lumley, Clarck Ashton Smith e outros. Eles forma hoje parte integrante da egrégora dos Mitos de Cthulhu

 A Cartografia do Medo


Abbith

Um planeta que orbita ao redor de sete estrelas que existem além de Xoth. É habitado por cérebros metálicos que possuem acumulada toda a sabedoria do universo. De acordo com o livro escrito por Friedrich von Junzt, o Unaussprechlichen Kulten, Nyarlathotep vive ou está aprisionado neste planeta, apesar de outras lendas entrarem em contradição a este respeito. Considerado por algum os restos artificiais operantes de uma antiga civilização cósmica.

 

Arcturus

A estrela de onde os gêmeos Zhar e Lloigor vieram. Juntos eles são conhecidos como as “obscenidades gêmeas”, as vezes comportando-se como seres distintos as vezes como um sendo a parte do outro e ainda como sendo um ser só.

 

Celaeno

Uma das sete estrelas das Pleiades. No quarto planeta que a orbita é que se encontra a Grande Biblioteca de Celaeno e nela podemos encontrar as placas de pedra que contém os segredos roubados dos Grandes Antigos e dos Deuses Mais Velhos. Foi nesta biblioteca que o professor Laban Shrewsbury passou um período de tempo transcrevendo a sabedoria contida nos livros para seus cadernos de nota, essas transcrições acabaram se tornando o texto conhecido como os Fragmentos de Celaeno.

 

Cykranosh

Cykranosh é a forma pela qual os antigos sumérios chamavam o planeta Saturno. Ele foi o lar do deus Tssathoggua antes dele vir para a Terra e continua sendo a morada de inúmeros “parentes” seus, inclusive seu tio Hziulquoigmnzhah.

 

Glyu-Uho (também Glyu-Vho, também K’Lu-Vho)

É a maneira que os antigos habitantes do continente Mu chamavam Betelgeuse em sua linguagem nativa, o naacal. Ela é a estrela de onde os Deuses Mais Velhos vieram para guerrear contra os Grandes Antigos.

Existem ainda aqueles que afirmam que na verdade Glyu-Uho e o local onde se encontra um portal que leva para Elysia, a dimensão que se acredita seja o local de origem e habitação dos Deuses Mais Antigos.

 

Haddath (também Haddoth, talvez Urakhu)

É um planeta ardente que possivelmente de localiza no “olho” da constelação de Hidra. Muitos acreditam que ele é o lar dos chthonianos e também de Shub-Niggurath.

 

Ktynga (também o Cometa de Norby)

É o nome de um cometa azulado que faz sua órbita elíptica nas proximidades da estrela Arcturus. O cometa é excepcionalmente quente e possui propriedades estranhas como por exemplo, viajar mais rápido do que a velocidade da luz.

Na superfície do cometa se encontra uma enorme construção onde vive o ser Fthaggua e seus servos, os vampiros de fogo. Fthaggua e seus subordinados podem guiar o cometa e fazê-lo ciajar por entre as estrelas, e eventualmente visitará nosso sistema solar daqui a quatro séculos.

 

Kynarth

Um corpo celestial misterioso que se encontra além de Yuggoth (que muitos afirmam ser o planeta Plutão), nos limites do sistema solar.

 

Kythanil (também Kythamil, também Kthymil)

São planetas gêmeos orbitando a estrela Arcturus e foi dele que as crias sem forma de Tsathoggua vieram.

 

L’gy’hx

É como é conhecido o planeta Urano. É habitado por seres cúbicos metálicos que possuem múltiplas pernas. Essas criaturas adoram uma deidade menor conhecida como L’rog’g, que é possivelmente um outro aspecto de Nyarlathotep. Em sua adoração realizam um ritual que demanda um sacrifício de um ano na forma da amputação das pernas de um nativo.

Quando os Insetos de Shaggai, os Shan, chegaram ao planeta os nativos de L’gy’hx inicialmente os toleraram e permitiram que construíssem uma enorme cidade para si, mas com o passar de dois séculos os nativos começaram a acreditar que os Shan eram também governantes do planeta.

Com o passar do tempo, muitos Shan começaram a substituir a adoração que tinham por Azathoth pela adoração a L’rog’g, mas assim que alguns L’gy’hx passaram a substituir a adoração a L’rog’g pela a Azathoth, os sacerdotes de L’rog’g deram início a uma inquisição, infligindo horríveis punições aos hereges.

Por causa disso o relacionamento com os Shan rapidamente foi se tornando hostil e os sacerdotes de L’rog’g ordenaram que todos os templos erigidos em nome de Azathoth fossem demolidos. Um pequeno grupo de Shan, ainda fieis a Azathoth, abandonaram L’gy’hx teleportando a si e a sua templo para o planeta Terra.

 

Mthura

Planeta sombrio habitado por seres cristalinos e o lar do Grande Antigo Q’yth-az. Os Nug-Soth de Yaddith viajaram para este mundo na esperança de encontrar uma fórmula mágica que fosse útil para que eles derrotassem os Dholes.

 

Mundo dos Sete Sois

Possivelmente um planeta próximo de Fomalhaut, de acordo com alguns escritores. Seus habitantes criaram sete sóis artificiais para substituir seu sol natural moribundo. Lovecraft afirmou que Nyarlathotep habita no mundo de sete sóis, mas ele não faz nenhuma ligação com Fomalhaut. Já outros escritores ligam os setes sóis às sete estrelas das Pleiades, das Hyades ou provavelmente da Ursa Maior.

 

Shaggai (também Chag-Hai)

É um planeta orbitando os sois verdes gêmeos e o mundo natal dos Shan, os Insetos de Shaggai. O planeta foi destruído oito séculos atrás, provavelmente por Ghroth o Mensageiro. O ser conhecido apenas como O Verme que AtormentaRói à Noite também vivia neste planeta.

 

Shonhi (também Stronti) 

É um mundo transgalático frequentado pelos habitantes de Yaddith.

 

Thuggon

Um planeta habitado por algum tempo pelos Insetos de Shaggai. Eles inicialmente acreditaram que o planeta era inabitado, mas quando seus escravos começaram a desaparecer logo descobriram a terrível verdade. Eles deixaram o planeta logo depois.

 

Thyoph

Um planeta gigante que se partiu, formando um cinturão de asteróides. De acordo com os Fragmentos de G’harne, o evento foi causado por uma “semente de Azathoth”.

 

Tond

Um planeta misterioso que muitos acreditam fazer parte de nosso sistema solar, apesar de grande parte dos relatos o colocar em um sistema de estrelas binárias próximo de Baalbo (uma estrela negra) e do astro que a acompanha Yifne (um sol verde). Muitos dizem que o ser Glaaki visitou este mundo em sua rota rumo à Terra.

 

Vhoorl

Um planeta existente na “vigésima terceira nebula” e supostamente o local de nascimento do Grande Cthulhu.

 

Xentilx

Uma galaxia distante e o lar do Grande Antigo Zathog.

 

Xiclotl

O planeta irmã de Shaggai. Os Shan conquistaram este mundo e escravizaram seus habitantes nativos, uma raça de monstros carnívoros. Quando Shaggai foi destruído os Shan reuniram ali seus irmãos e lá permaneceram por algum tempo.

 

Xoth (também Zoth)

É a estrela binária verde que brilha como um olho demoníaco na escuridão além de Abbith. De acordo com o ciclo de lendas de Xoth, foi onde Cthulhu se acasalou com Idh-yao e gerou Ghatanothoa, Ythogtha, e Zoth-Ommog, antes de virem para a Terra.

Xoth também é o mundo nativo de Ycnágnnisssz e Zstylzhemghi e o lar temporário de Ghisguth, parceiro de Zstylzhemghi, e seu infante Tsathoggua.  Tsathoggua acabou mais tarde indo para Yuggoth, mais tarde indo para Cykranosh tentando escapar dos hábitos canibalísticos de Cxaxukluth.

Muitos estudiosos ligam Xoth à estrela Sirius, devido à sua similaridade com Sothis, o nome egípcio da estrela.

 

Yaddith

Um planeta distante que orbita cinco sóis. Eras atrás foi habitado pelos Nug-Soth, criaturas com características similares aos mamíferos, répteis e insetos. Os Nug-Soth buscavam uma forma de evitar a destruição da crosta de seu planeta pelos Dholes, mas sem sucesso. Eventualmente os Dholes os subjulgaram e destruiram a civilização Nug-Soth. Sobreviventes da catástrofe conseguiram escapar e se esconderam em outros planetas. Yaddith era o lar do feiticeiro Zkauba e seus cientistas visitavam a Terra regularmente para realizar experimentos em seus habitantes, alguns inofencivos, como muda o tipo sanguíneo de algumas pessoas de A para B, e outros nem tanto, como os gêmeos alemãos que afirmavam que um anjo surgiu e trocou suas mãos e olhos.

 

Yaksh

É como é conhecido o planeta Netuno e é habitado por estranhos seres de constituição fungóide. Foi o lar temporário de Hziulquoigmnzhah, antes que partisse para Yuggoth para escapar das compulsões canibais de Cxaxukluth. Hziulquoigmnzhah foi adorado pelos Yakshians, mas logo se cansou da veneração e se mudou para Cykranosh.

 

Yarnak

Planeta com três luas que orbita Betelgeuse no misterioso Golfo Cinza de Yarnak. A agora deserta cidade de Bel Yarnak ainda existe em sua superfície. Esse mundo pode ter sido o lar do Grande Antigo Mnomquah.

 

Yekub

Um planeta em uma galáxia distante. É habitado por uma raça de seres tecnologicamente avançados que se assemelham a centoupéias gigantes, pouco maiores que um ser humano. A população adora uma entidade conhecida como Juk-Shabb, que surge como uma orbe brilhante de cores que mudam. Muito pouco se sabe a respeito desta deidade além de ser telepata e muito reverenciada pelos cidadãos de Yekub.

Os Yekubianos destruiram toda a vida inteligente na galaxia que habitam e tentaram expandir sua influência para todo o universo. Como parte de seu grande plano eles enviaram probes em forma de cubo capazes de realizar uma troca de mentes com qualquer criatura inteligente que as encontrasse. Desta forma agentes Yekubianos poderiam se infiltrar no mundo do descobridor da sonda. Um desses cubos chegou à Terra no período do reinado da Grande Raça dos Yith. Quando os Yith descobriram o perigo do cubo vários membros da raça já haviam sido dominados, o cubo então foi escondido e mantido sob guarda. Eventualmente o cubo foi perdido.

 

Yith

O planeta natal da Grande Raça dos Yith, de acordo com o Eltdown Shards. Ele é descrito como uma “orbe negra morta ha eras”. Sua localização é atualmente um mistério, alguns estudiosos a colocam em algum lugar do nosso sistema solar logo além de Plutão; outros dizem que ele é o quarto dos cinco planetas que orbitam a estrela Ogntlach. Yith possui uma atmosfera muito rala e os oceanos são aquecidos pela energia geotérmica do planeta.

 

Ylidiomph

O nome hiperbóreo do planeta Jupiter.

 

Ymar

Um planeta na mesma constelação de Abbith, Xoth e Zaoth.

 

Yrautrom

É um planeta distante orbitando a estrela Algol, alguns afirmam ser o lar de Zvilpogghua, uma das crias de Tsathoggua.

 

Yuggoth (também Iukkoth)

É o planeta anão Plutão. Alguns estudiosos afirmam que na verdade se trata de um planeta gigante que orbita nos confins do sistema solar.

 

Zaoth

Um planeta próximo a Xoth. É o lar dos cérebros metálicos e possuiu uma grande biblioteca de livros de Yuggoth. Logo após a destruição de Yaddith pelos Dholes, vários sobreviventes da catástrofe fugiram para este planeta.

Mudança de Planos

Um ponto importante na questão da cartografia sideral dos mitos de Cthulhu é que as viagens entre estes mundos dificilmente, para não dizer nunca, são percorridas no estilo homo sapiens, ou seja com uso de naves, foguetes e sistemas de propulsão. A viagem entre mundos e muitos deles não possuem condição de ser habitados por seres humanos, é feita ou por intersecções dimensionais, ou viagens astrais ou ainda uma visita telepática onde é a mente e não o corpo que se desloca. Assim encerraremos este artigo propondo, como isso pode ser feito por um magista experiente.

Inicialmente, saiba que se você não tem nenhuma experiência com exercicios básicos do ocultismo, a prática abaixo pode se revelar não apenas inútil mas prejudicial a sua sanidade. Além disso se você não possui intimidade com a egrégora cthulhiana os resultados podem revelar-se igualmente funestos.

O primeiro passo é chamado ‘Mudar de fase’. Isso pode ser feito de muitas formas, seja induzindo um sonho lúcido, iniciando uma projeção astral ou entrando em estado de gnosis. Assim, apague a luz, certifique-se  que não será interrompido e abandone a realidade mundana.

Após isso contemple em sua mente o nome do Planeta para onde quer ir e expulse do pensamento qualquer outra impressão mental que possa surgir. Você deve manter em um estado abissal de vazio e silêncio onde tudo o que existe é o nome. A chave desta técnica é a mesma usada por tradições ocultistas para direcionar viagens astrais. Ela se baseia no fato de que no mundo real da mente não há diferença entre um nome e aquilo a que ele se refere. Pensar no nome de uma pessoa é para a consciência como estar com essa pessoa.

No caso dos planetas cthulhianos é natural e esperado que antes das primeiras imagens se formarem você seja invadido por um sentimento de medo ancestral. Não fuja disso, continue com sua concentração. O pavor é parte essencial daquilo que você vai ver em seguida.
por Shub-Nigger, A Puta dos Mil Bodes

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/corpos-celestes-no-mito-de-cthulhu/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/corpos-celestes-no-mito-de-cthulhu/

Fantasmas da China e Indochina

A respeito de deuses e fantasmas, dizia Confúcio, o sábio chinês: “Devemos respeitá-los, todavia, convém mantermo-nos longe deles”… Os chineses acreditam que estão rodeados de espíritos dos mortos – kui [e os Espíritas kardecistas também]. A crença e veneração aos ancestrais é um traço característico de sua cultura.

Entre os costumes antigos, havia a prática de fazer um buraco no telhado da casa para facilitar a ascensão da alma. Se uma criança estava moribunda, a mãe corria ao jardim e chamava o nome do filho [a] para trazer de volta o espírito. O suicídio era uma situação das mais desfavoráveis resultando em almas penadas e extremamente agressivas e amaldiçoadas. Seus filhos tornavam-se corruptos ou criminosos, suas terras se perdiam e sua esposa era assombrada pelo espectro do marido suicida atormentado e, não raro, ela mesma, sucumbia a alguma doença fatal.

Alguns fantasmas, todavia, permaneciam rondando os familiares por senso de dever, protegendo contra perigos, tentando minorar os sofrimentos e cuidando da prosperidade da casa. Uma das crenças mais difundidas era a do fantasma materno que velava seus filhos. Todavia, como na maioria das crenças de numerosos povos, os fantasmas daqueles que morriam em situações desafortunadas eram temidos.

No Cantão [cidade da China], em 1817, a mulher de oficial do governo causou a morte de duas escravas domésticas porque tinha ciúme do marido com as servas. Para se proteger das conseqüências de sua crueldade, simulou o suicídio das duas: pendurando os cadáveres pelo pescoço, pretendia forjar auto-enforcamento. Porém, passou tormentos de consciência e tornou-se insana: agia como se fosse as vítimas, o quê, para chineses, significava que estava sendo possuída pelos fantasmas das vítimas. Acabou confessando o crime e foi presa; mas os distúrbios continuaram. Ela rasgava as próprias roupas, machucava a si mesma em ataques de fúria e, em pouco tempo, morreu. Fantasmas de assassinados que perseguem seus algozes são os mais comuns entre os chineses.

A literatura chinesa explora o tema em contos que misturam e alternam o macabro e romântico: episódios protagonizados por mulheres que perderam a vida de maneira trágica, em situações de ciúme; amantes inconformados com a separação advinda da morte inesperada ou donzelas que encantam homens solitários. Os espectros femininos aparecem para suas rivais e parceiros em formas tão reais que os assombrados demoram a perceber que estão convivendo com espíritos. Conforme explica o estudioso da cultura chinesa Lin Yutang: “Na literatura chinesa, as almas do outro mundo dividem-se em duas categorias: ou nos horripilam ou nos cativam”.

O conto Hsiao Hsieh ─ Jojo, de P’su Sunling [1630-1715], trata de curiosos aspectos da tradição sobre fantasmas chineses: os espectros são tangíveis, podem tocar os vivos e até manter relações sexuais com eles; se caminham um longo percurso, ficam com bolhas nos pés; se violam as regras do mundo dos mortos, interferindo em assuntos dos vivos, podem ser julgados e punidos pelos deuses conforme suas ações sejam consideradas legais ou ilegais; finalmente, têm a possibilidade voltar à vida “tomando” o cadáver de alguém recém-morto: uma fórmula mágica é escrita em um pedaço de papel. Ao ver passar um cortejo fúnebre, o fantasma deve mergulhar o papel em um copo com água, beber a água e penetrar no caixão onde, ocupando o corpo inerte, torna-se dono dele, animando-o e passando a viver normalmente [YUTANG, 1954].

No  Cambodja, país pertecente  Indochina, acredita-se que os fantasmas retiram-se do cadáver lentamente, durante o processo de decomposição. Quando só restam os ossos, o espírito transforma-se em uma coruja ou em outro pássaro noturno. Os fantasmas mais horripilantes do país, chamados srei ap ou ghouls são representados tendo somente a cabeça e o esôfago, olhos injetados de sangue, e vagam na escuridão em busca de orgias abjetas

Festival dos Fantasmas Famintos

 Na China e em outros países com significativa presença da cultura budista popular, é realizado o Ghost Festival, também chamado Festival dos Fantasmas Famintos [Hungry GhostsQio Gor] no sétimo mês do calendário lunar, geralmente em agosto, a fim de atender às necessidades dos espíritos que não receberam cuidados funerários adequados ou, ainda, para aqueles que eram sozinhos no mundo e portanto não têm parentes vivos para cultuá-los como ancestrais. 

“Diz a lenda que um mercador convertido ao budismo e assim chamado Mahāmaudgalyāyana, ao se tornar um “Arhat”, [monge budista] quis que seus pais mortos se alegrassem com sua nova vida. Ele usou sua clarividência para encontrá-los nos outros mundos. O pai, logo foi achado, estava no Reino de Deus.

A mãe, entretanto, tinha tomado a forma de um Espírito Faminto e habitava um reino inferior, o reino do Pretas, que possuem a garganta tão fina que nenhum alimento pode passar. Desolado, o monge procurou saber o que poderia ser feito para ajudá-la e o próprio Buda Sakyamuni recomendou a oferenda de comida para todos os Pretas.

O alimento deveria ser colocado em um lugar limpo e o mantra da transformação seria, então, recitado por sete vezes [transformação do alimento físico em etéreo]. Deste modo, sua mãe poderia renascer como um cachorro! Insatisfeito, Mahāmaudgalyāyana pediu o senhor Buda que lhe ensinasse um modo de fazer sua mãe renascer em forma humana. O mestre recomendou, neste caso, que fosse oferecida comida suficiente para alimentar 500 bhikkhus [monges mendicantes] e por causa desse mérito, a mãe do devoto poderia obter uma nova vida como gente. O dia dos Espíritos Famintos também é comemorado na China e no Japão”
[CABÚS, 2007].


Acredita-se que no “mês dos fantasmas”, as entidades visitam a Terra para desfrutar dos rituais e oferendas de comida, incensos e “dinheiro-fantasma” ─ dinheiro falso ou “dinheiro espiritual”. Na Malásia, atualizando a lista de presentes, também são ofertadas réplicas de casas, carros e aparelhos de televisão que são queimados na rua. Lanternas e barquinhos de papel são postos nas águas de lagos, do mar ou dos rios para orientar as entidades perdidas.

por Ligia Cabús

[…] Interpretação dos sonhos, apaziguamento (厭劾yan ke) e propiciação (祠禳ci rang) relacionados a fantasmas e seus efeitos no corpo humano. (ver mais) […]

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/asia-oculta/fantasmas-da-china-e-indochina/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/asia-oculta/fantasmas-da-china-e-indochina/

CreepyPasta

CreepyPasta é o nome que os contos de horror ganharam na geração internet. Surgiram como correntes de email com casos de terror e morte acompanhados de uma ameaça no final que você sofrerá se não repassar e encaminhar. Aqui é o repositório final de todas estas histórias. “Quando uma única pessoa alega ter visto um espírito, é possível que esteja sofrendo de alucinações. Quando o mesmo espírito é visto por várias testemunhas, essa possibilidade fica bem reduzida. Quando as testemunhas são contadas às dezenas, não se pode mais falar de alucinação…”

A Bofetada

Teria eu uns 12 anos, numa ocasião em que fui de visita a uns tios que viviam no Barreiro,
numa quinta chamada Quinta Das Palmeiras, ficava perto do Lavradio. Naquele tempo havia perto dessa quinta algumas salinas, onde eu fui muita vez “gamar” sal para o gasto caseiro, não era muito rsrsrsr

Eu também tinha morado nessa quinta uns anos antes, foi até para a casa que fora dos meus pais, que os meus tios foram viver.

Ia muitas vezes passar alguns dias a casa desses tios, gostava e ainda hoje gosto bastante do Barreiro.

O meu tio Abílio assim se chama, trabalhava na CUF, e havia dias em que fazia serão. Nesses dias a minha tia ia levar-lhe o jantar, ao refeitório que ficava perto do quartel da GNR.

O caminho era pouco ou nada iluminado, na direcção Barreiro Lavradio, naquele tempo tinha á direita o cemitério, á esquerda o posto da GNR, e depois um considerável troço de estrada desabitada, á esquerda as salinas e a quinta ficava do lado direito.

Nessa noite, eu fui com a minha tia levar o jantar, na volta para casa, estava muito escuro
E a minha tia que era e é muito medrosa, ia sempre a olhar para trás. A minha avozinha sempre me ensinou que não se deve fazer isso, porquê? Não sei! Coisas da minha avó. O certo é que ainda hoje, eu nunca olho para trás se vou na rua seja a que horas forem, mas também não sou medrosa.

A minha tia, a cada passo olhava para trás, não se via um palmo á frente do nariz, a noite era escura como breu. E lá ia eu a dizer: – tia não olhes para trás, não é bom fazer isso, mas ela não me dava ouvidos.

Subitamente oiço-a dar um grito. Assustada perguntei o que tinha sido, ao que ela me respondeu que lhe tinham dado uma bofetada na cara. Quem foi? Nunca soubemos, o que sei é que ao chegar a casa, a minha tia, tinha marcados no rosto, os dedos de quem lhe bateu.
Hoje eu pergunto ainda, se estava escuro, nós não víamos ninguém, também não era possível alguém nos ver. Não ouvimos passos, ou qualquer ruído, e com o medo com que a minha tia vinha, ouvir-se ia o som duma formiga a anda no chão rsrsrsr quem poderia ter a mão tão certeira para dar a bofetada á minha tia?

Nunca irei saber

por Lylybety, Portugal

 

Dama de Branco

Há alguns anos atrás eu estive hospedado em casa de amigos e uma das amigas tinha uma linda menina de 8 anos…

Em certa noite estava D. Catarina com uma grande enxaqueca, uma daquelas de doer até os dentes sem cáries ou de doer até os ossos da mandíbula… e nessa noite ela tentava dormir lá pela meia noite e com muita dor, resolveu encontrar forças, se sentar na beirada da cama e orar na sua fé e assim fez…

Alguns minutos depois saiu do quarto e foi até a cozinha mas não havia visto que sua filha havia acordado com seu choro discreto e acompanhou os passos da mãe…que ao chegar na cozinha, foi ao filtro e pegou água para beber, tragando o liquido precioso com vontade de melhoria…Todos foram dormir…

Na manhã seguinte no café da manhã estava D. Catarina com sua filha à mesa e outros amigos dialogando com emoção, ao que a filha lhe fitando os olhos, disse: – Mamãe, ontem na noite vc tava chorando e eu vi quando voce foi até a cozinha beber água mas quem era aquela mulher linda de roupa branca que tava com a mão em cima do seu copo e a sorrir para você???  todo mundo silenciou e D. Catarina encheu os olhos pela emoção da lágrima…

(Ela havia dormido logo em seguida sem perceber a filha que caminhava de meias sem barulho…e como ela estava só na cozinha, houve ai um detalhe de sensibilidade pela visão, em que a filha percebeu a presença espiritual, sempre presente, aos nossos lados)

por Mr. Constantyne

 

Telefonema do além

Outro dia ouvi uma palestra científica a respeito de um caso real acontecido com um famoso poeta brasileiro chamado Coelho Neto, de décadas atrás…

E se comentando sobre morte e vida…fenômenos e dramas familiares, resolvemos postar um resumo dessa história real para que os colegas internautas meditem em comparação aos dias atuais, em que os equipamentos são bem superiores e globalizados.

Ele tinha uma filha que era casada há poucos anos e essa filha tinha uma filha, neta do poeta e era uma família próspera, cética e materialista… mas em certa data, a mulher se deparou com um grande drama em sua vida e não conseguia admitir que seu marido estava nos últimos dias na Terra, portanto, morreu subitamente, deixando a esposa e filha sozinhas na vida e entrou em pane, tendo apoio do pai na medida do possível, diante de sua poesia e letras nobres…

Ela chorava muito a perda do marido e a solidão da pequena Esther, filha do casal…

Mas a vida tem seus choques e suas artimanhas e em menos de um ano de viuvez, perde a filha Esther de forma muito dolorida, entrando em panico, quase a enlouquecer e o pai que era poeta famoso, lamentando tantas dores, gritou ao alto, brigando com Deus suas lágrimas, juntamente com a filha…

Os dias se passaram e uma data de muita reflexão e profunda emoção naquela noite, o telefone do segundo andar toca disparado…a mulher viúva atende quase em tom surdo e para sua surpresa, era a voz da filha que dizia: – Sou eu, não chore tanto mamãe…!!!

Ela dá um grito e naquela demência de horror e de alegria fica feliz em ter a certeza de estar ouvindo a voz da pequena morta, faziam poucos meses…

E assim a filha passou a se comunicar com a mãe, dizendo: – Eu estou bem, me encontrei aqui com minha avó e ela disse que meu pai tá trabalhando em outro lugar e vem me visitar de vez em quando e não morri, apenas to em outra dimensão…em outra fase da vida – a verdadeira vida…

A mãe já acostumada com o fato e feliz evitando tomar mais remédios descontroladamente, comentou com o pai poeta, ao que ele passou mal naquele dia, imaginando a filha estar com problemas psiquicos e um dia o telefone toca em certa hora da noite e ele com muito cuidado pega a extensão do andar térreo e para sua surpresa ouve em bom tom e lágrima nos olhos, a voz da neta e da filha que se emocionava a cada minuto de diálogo…

O poeta Coelho Neto sentiu a emoção da vida em outro angulo, em outra dimensão e isso abalou seu materialismo, abalou seu modus vivendi…

A história se tornou pública e um repórter um dia perguntou se ele havia se tornado mais espiritualista ou se tornado Espírita ou estudioso das filosofias orientais…ao que ele respondeu: ”

– Ápós esses fatos, nunca mais fui a mesma pessoa, porque isso abalou meu materialismo e digo com a certeza de um calculista e pesquisador frio de que a vida continua no além túmulo…”

 

No Escritório

 

Sou funcionário de um banco que presta serviços a algumas empresas de grande porte (seus correntistas). Em uma dessas empresas,eu ficava em uma salinha no térreo, enquanto os funcionários ficavam nos andares acima. Quase todo dia, quando estava sozinho na sala, tinha a sensação de que havia chegado alguém. No começo, quando olhava não via ninguém. Após algum tempo, podia até ver a pessoa. Um homem branco, alto, de traços nobres e sempre com roupa social.

Nunca tive medo dessas coisas, e ficava na minha. Até que um dia, uma funcionária dessa empresa veio falar comigo acompanhada do tal fantasma! Ela parecia não ver o espectro. Demorei alguns segundos para reconhece-lo. Nem pensei em falar com a moça sobre o fantasma, que se demorou um pouco no ambiente, deu meia volta e sumiu da sala andando.

Contudo, não pude disfarçar o meu espanto ao ver “alguém” ao lado da garota. Minha expressão nervosa foi inevitável e a funcionária notou. Ela perguntou o que eu tinha visto. Nunca fui de mentir e falei tudo. Expliquei ainda que tinha a impressão que o homem vinha da sala ao lado, que era como um laboratório cheio de equipamentos.

E quando comentei sobre as características e a fisionomia do fantasma, a moça começou a chorar. Falou que podia ser um funcionário que se suicidou na empresa, jogando-se pela janela do quinto ou sexto andar. Antes de morrer, ele teria ficado por um bom tempo nessa sala ao lado da minha, como se estivesse elaborando o suicídio. Que era colega de trabalho dela; trabalharam juntos…

Não quero dar mais dados para não perturbar os parentes do tal senhor, nem “tumultuar” a cabeça dos descrentes…

Depoimento de P.C. Araújo

 

Homem na Cozinha

Eu durante boa parte da minha vida não acreditei em espíritos, fantasmas ou coisa parecida. Só fui mesmo acreditar por volta de 2001 – 2002 por causa de umas paradas que presenciei.

A minha ex-namorada sempre teve uma mediunidade forte, dizia ver e sentir a presença de espíritos, mas como eu era muito cético na época eu não dava muita bola.

Um dia estávamos no quintal da casa dela conversando à  noite e de repente ela parou, olhou em direção à  porta da cozinha (que estava mais ou menos a uns 5 metros) e disse que tinha um homem parado lá. Eu olhei e obviamente não vi nada e disse pra ela que ela devia ter imaginado e talz, aí ela virou pra mim e disse “Ah é? Entà o olha só para as cachorras.” Ela tinha 3 beagles e quando eu olhei pra elas que foi foda, as 3 cachorras que até momentos antes estavam correndo e brincando, agora estavam paradas como estátuas olhando fixamente para a porta da cozinha. E ficaram assim por uns 2 minutos, depois que minha ex disse que ele tinha ido embora as cachorras também pararam de olhar.

Outra vez foi com ela também mas foi algo mais “light”, estávamos passeando no Jardim Botânico e do nada ela parou e disse que tinha um homem sentado ao lado de uma árvore. Dessa vez não deu pra notar nada, até pq não tinham animais por perto para denunciar, mas como isso já foi após o primeiro acontecido eu nem duvidei e pedi pra gente continuar andando. :angry:

Agora a vez em que eu fiquei com mais cagaço foi sozinho lá em casa. Eu tinha acabado de ir dormir, isso lá por volta das 03:00 da manhã e ouvi alguém entrando no meu quarto. Como nessa época minha mãe tinha insônia e as vezes ia lá pra usar a internet eu logo pensei “Pqp… nem posso dormir direito, já vem minha mãe usar o micro.” Aí já fui levantando meio puto falando que queria dormir só que quando fui ver não tinha ninguém no quarto.

Lá em casa é meio foda, já me falaram que ali tem umas paradas meio pesadas.

Por Ignarius

 

A Casa da minha avó

Meu tio quando tava desempregado morava aqui em casa e dormia no sofa da sala. Ele falava direto que de noite ouvia um barulho na cozinha, como se alguem pegasse um moeda e ficasse tacando no chão, fazendo isso varias e varias vezes. Na hora que ele ia ver o que era, o barulho parava. Outro dia minha prima veio aqui também e ouviu a mesma coisa. Só que ela correu assustada la pra cima chorando.

Uma vez quando minha mãe estava dormindo, ela sentiu como se o teto do quarto tivesse caindo em cima dela e acordou assustada. Até ai tudo bem, podia ser sonho, só que meu pai sentiu a mesma coisa na mesma hora!!! O pior é que ja aconteceu muita coisa estranha aqui (ja mandaram até padre benzer a casa), mas eu mesmo nunca vi nada.

Teve outra também com a minha avó, antes dela se mudar pra minha casa. Ela tava no quintal pendurando roupa, derrepente ouviu um barulho de louça caindo do escorredor (aqueles que eram pendurados na parede). Só que parecia como se alguem tivesse batendo nele, e o barulho não parava. Quando ela entrou pra ver, o barulho parou e não tinha uma única peça caida no chão 😛 No mesmo dia, um parente dela tinha morrido.

 

Lembranças da República

 

Minhas aulas da faculdade tinham de 4 a 5 horas de duração, para ficar mais aceitável passar esse tempo todo na aula alguns professores davam um intervalo. Nesse momento em uma roda de amigos da faculdade começou, não lembro como, esse assunto de assombração. Três das 5 pessoas que estavam la moravam juntos, e contaram que a casa tinha um fantasma no salão de festa que fica no segundo andar da casa. No inicio eu não acreditei, ate porque sempre pressuponho que tudo que me falam de alguma forma não é a verdade.

O que estava acontecendo, segundo eles, era alguns barulhos na casa. Em especial no segundo andar, que sempre fica vazio. Na casa toda havia alguma história de ação paranormal, exceto, por sorte deles, no quarto em que cada um dormia e estudava. Para tentar pegar eles na mentira comecei a perguntar, queria saber o que exatamente estava acontecendo. Um deles, que era o mais sério e responsável de todos, falou que certa vez, enquanto estava sozinho em casa, dormiu enquanto assistia televisão. Para a surpresa dele a geladeira pareceu se abrir e alguem passou pelo sofa onde estava deitado, como estava em estado de semi consciencia achou que era outra pessoa da casa, mas, segundo ele, segundos ou minutos depois ele acordou sozinho no momento que um deles abria o portão da republica.

Tinha outros relatos de sons e afins no primeiro andar, mas não acho necessário contar todos. Mas tem um mais impressionante que merece mais atenção. O segundo andar, era apenas um grande espaço cheio de janelas e uma porta que dava para uma escada que levava ao primeiro andar. Aconteciam festas nesse local algumas vezes, festas que não posso entrar em detalhes no forum. Quando não havia festa na casa o segundo andar ficava praticamente vazio. Entretanto, a tal porta do segundo andar era notadamente barulhenta, mesmo quando fechada. Se estivesse apenas os 4 moradores na casa, dissem eles, a porta não parava de bater. Eu, cético, conclui que a porta fica aberta e batendo, pois tem várias janelas no local. Mas diziam que as janelas dificilmente eram abertas.

Um deles contou que durante o CQC dois deles estavam em casa assintindo televisão, esse era um programa constante nosso: ir la juntos ver CQC e comer pizza. Nesse dia a porta começou a bater. Não parecia batida de vento, segundo ele, pois ela abria devagar e derrepente, como se uma mão empurrasse com força e certa raiva, ela batia forte e seco. Ele foi subindo as escadas para fechar a porta, ele descreveu o momento como se fosse cena de filme de terror, quando o personagem vai checar um barulho sozinho, andando devagar, no escuro e com medo. A porta estava aberta, o que dava uma conclusão obvia: de alguma forma era o vento. Fechou a porta e voltou, minutos depois a porta começa a bater novamente, pelo que foi dito os dois que estavam la ficaram com muito medo. Ele voltou rapidamente no segundo andar para ver se a porta estava aberta, pois ele fechou rápido. Mas estava fechada.

Obvio que não acreditei, eis que chega na faculdade o quarto morador da republica. Ele chega e fala direto: não aquento ficar naquela casa, aquela porta não para. Ou combinaram muito bem ou realmente estavam vendo algo estanho acontecendo, ou acreditavam ver. Tempos depois, conversando com um deles, fiquei sabendo que esses acontecimentos continuavam, mas com menos intensidade. E ficaram sabendo com um vizinho antigo que a cerca de dez anos um avião monomotor caiu naquela casa destruindo o telhado e uma das paredes que existia no segundo andar, no acidente o piloto morreu.

O que escrevi agora é verdade. Mesmo assim não tenho certeza se acredito no que me contaram, mas aprendi a não tomar nenhuma conclusão sem existir provas.

por Estudante

 

Mascarados

 

Eu estava na casa (que na verdade é uma mansão) do meu tio avô com meus primos. Era eu, meu irmão, um primo e uma prima. Na casa, era proibido crianças subirem para o segundo andar porque tinham medo que fizessemos alguma bagunça por lá. Solução? Íamos escondidos. Dessa vez, resolvemos explorar os vários quartos, banheiros e escritórios que haviam lá. É meio dificil de eu contar isso porque aconteceu ha muito tempo, mas eu lembro especificamente da cena… entramos no quarto ENORME do meu tio avô e da minha falecida tia avó para ver como era e tal. Era um quarto rústico, bonito e bem velho, com decorações que poderiam ser comparadas ao Barroco. Foi quando pensamos em ter ouvido alguem subir as escadas. Resolvemos logo nos esconder. Nesse quarto, havia duas portas que levavam para dois closets. Pensamos logo em nos esconder ali. Meu irmão e meu primo correram pra um e eu e minha prima corremos para o outro. Ficamos lá em silencio até sentir que a barra está “limpa”. Mas foi quando eu vi, ou então acho que vi, dois rostos similares a mascaras olhando fixamente para mim. E minha prima jurou ter visto também, foi um coro de gritos que não precisamos expressar em palavras nada na hora. Logo senti que ela tinha visto a mesma coisa que eu. Meu primo e meu irmão sairam correndo também, todos nós fomos para baixo com pavor. Até hoje eu realmente não sei o que foi aquilo. Por mais que tivesse explicado, achavam que era coisa de criança e tal. Mas até hoje tenho a imagem meramente na minha cabeça do ocorrido. Meu irmão e meus primos estavam ouvindo estalos na madeira e sentiram medo também. Pode parecer ridículo, talvez tenha sido algo da minha cabeça, mas o que mais me intriga é que minha prima TAMBÉM viu. Voltamos lá com meu pai e minha tia, mas não havia máscaras e nem nada que pudesser dar a forma da mesma. O que será que foi? Acho que, ou eu e minha prima não batemos bem da cabeça, ou então… eu prefiro não pensar na outra hipótese. Mas eu fico até hoje intrigada com isso. Realmente não sei o que foi aquilo. Loucura? Não sei.

por TaneeShion

Amigo da infância

Todo dia de manha minha mae e minha tia contavam pra minha avó do ” moço legal” q conversava com elas a noite. Cada dia era uma coisa, um dia ele contava historinhas, no outro brincava…
Minha avó foi ficando p da vida achando q essa brincadeira estava indo longe demais e mandou elas pararem, mas o tal moço sempre voltava e no dia seguinte tinha mais historia.

Ate q um dia minha avó deu u msenhor esporro nas nas duas e mandou elas pararaem ,q nao tinha comom ninguem entrar na casa, q isso era coisa da cabeça delas,( até chegou a se preocupar achando q seria um ladrao ou sei la..) mas elas mesmo assim nao paravam.

Até q um belo dia minha tia entra no quarto da minha avó segurando o nada como se estivesse de maos dadas com alguem : Olha aqui mamae, você nao disse q ele nao exisitia? Olha ele aqui!

Minha avó ficou bolada e na hora pegou um album de familia e sentou com minha tia pedindo pra elam ostrar o tal amigo caso ele aparecesse nas fotos. Minha tia apontou pro primo da minha avó q havia falecido ha alguns meses.
Na hora minha avó chamou minha tia pra rezar falando q elep oderia precisar de ajuda e nao podia mais ficar aqui. Explicou q ele havia morrido e tal mas sem meter medo na minha tia dizendo q ele era legal e nao ia fazer mal a elas.

Agora, se ele voltou depois disso ou nao, nao sei.. vou perguntar pra minha mae.

por sweet julie

 

Visita do meu pai

Esta história aconteceu com meu amigo/irmao lammeth. Eu o conheci poucos meses apos a morte do meu pai e eu havia tirado todas as fotos q tinha dele do meu quarto pq nao conseguia olhar pra elas sem chorar. Ou seja, ele sequer chegou a ver uma foto do meu pai.

Uma noite ele foi la em casa consertar algo no meu pc, eu acho, e a luz do quarto ligada refletia pela janela a imagem do meu quarto com os apartamentos vizinhos.

Do nada ele vira e me pergunta: Seu pai era ruivo? Estatura mais ou menos como a minha, meio calvo, cheios de pintas pelo corpo…

Na hora pensei: pqp,sera q esqueci alguma foto em lugar visivel?

Respondi: Sim, pq?

Lammeth( como se fosse a coisa mais normal do mundo): Ah, ta! É q eu acabo de ve-lo aqui!
Na hora gelei e perguntei como e ele disse q o viu pelo reflexo na janela, ele encostado na porta me olhando e quando o meu irmao foi olhar pro lugar mesmo a imagem havia sumido.
Nao fiquei com medo pois sei q meu pai jamais me faria mal, mas na hora deu um arrepio!
Frizando que: ele nunca havia visto uma foto do meu pai!! e ele tb ve coisas vez ou outra!

Caixinha de música

Relato 1

Mina bisavó tinha uma caixinha de musica gigante e quando vc abria tinha uma gueixinha q dançava quando am usica tocava. Quando ela faleceu, minha avó pegou a caixinha e levou pra casa de Petrópolis pra deixar no quarto dela de recordação.

Estávamso todos la e minha irma estava doente, sendo assim ,minha avó a proibiu de ir na piscina ( muita sacanagem, diga-se de passagem)

Sendo assim ,ela fico uem casa sozinha vendo tv enquanto todos estavam pegando sol e lá tem uns coimerciais q nao pegam devidso ao satélite. Dai fica aquele silencio com tela preta. Nesse sailencio ela escutou a caixinha dem usica tocando, pensou q minha avó tivesse subido e foi falar algo com ela… Quando ela chega no quarto a musica simplesmente parou e nao havia ninguem la.

Relato 2

Minha irma ganhou da minha tia um santinho ( só nao me lembro qual) e minha irma inclusive levou na igreja pra benzer com agua benta e preferiu bota-lo numa mesinha q ficava em frente a porta do quarto dela, do lado de fora mas virado pra dentro do quarto.

Toda vez q minha irma saia ou entrava no quarto, olhava pro santo pra ver se ele estava virado na posição q ela botou.

Um dia, ela estava sozinha em casa e tinha ido fazer um lanche na cozinha e voltou pro quarto. Olhou pro santinho e lá estava ele, bonitinho na mesma posicao ,até q ela fechou a porta e foi comer vendo tv e acabou tirando um cochilo.
Nisso ela teve um pesadelo com uma criatura esquisita q tentava fazer mal a ela e o santinho ficava de fora olhando.

Ela virou no sonho pro santo e perguntou: vc nao vai fazer nada? nao vai me ajudar?

E o santo: Nao, pra vc eu viro de costas!
E virou mesmo!

Ela acordou apavorada edepois de alguns minutos resolveu ir la ver o santo q pra surpresa dela tava realmente de costas !!!!

o santo virou sem ela mexer e nessa epoca, nem animal a gente tinha pra alguem dizer q poderia ter sido o bicihinho q pulou na mesa e acabou modificando a posição.

Ela desceu pra portaria com o celular e ligou pro namorado dela na epoca dizendo q nao queria ficar sozinha em casa.
Ela acabou jogando o santo fora.

 

Minha primeira vez

Tinha apenas 3 anos e lembro-me como se fosse hoje…

Todos os dias ao acordar de manhã saltava da minha cama para ir correndo para a cama do meu bisavô Vilas que dormia no quarto ao lado e contava histórias fantásticas. Este pequeno ato era o quanto bastava para eu ficar feliz da vida e o meu bisavô Vilas ficava todo contente.

Não me lembro de ele morrer, segundo a minha mãe eu fui uma semana para a casa dos meus tios para não passar pelo choque de o ter perdido. Penso que como era bastante nova devem ter pensado que o iria esquecer facilmente e nem iria reparar na sua ausência.

Voltei para casa e não sei se no mesmo dia ou no seguinte, quando acordei voltei a procurar o meu bisavô Vilas no quarto dele para mais histórias, mas quando lá cheguei a cama estava vazia, mas não fiquei triste porque o meu bisavô estava lá só não estava na cama estava flutuando como eu dizia, encostado no teto num canto do quarto.

Lembro-me que durante dias metia-me no quarto para falar com ele, ainda me lembro de algumas coisas que disse, mas vagamente.

Um dia a minha mãe reparou que eu estava sempre enfiada no quarto e entrou e deu comigo literalmente conversando com o teto e me perguntou com quem eu falava e eu respondi com o bisavô Vilas.

Segundo ela, apanhou-me mais do que uma vez mas eu só me lembro de uma.

Depois disto não me lembro de mais nada penso que ele a certa altura simplesmente partiu.

Pequena Aranha

 

No hospital infantil

 

Meu nome é Luciana do Rocio , resido em Curitiba , minha profissão na vida real é vendedora , mas nas horas vagas eu gosto de escrever .

Na minha vida , já passei por situações curiosas e um tanto sobrenaturais .

Porém , a situação mais interessante pela qual passei , ocorreu em 1979 , quando eu tinha 5 anos e peguei algumas doenças de uma maneira estranha . Primeiro , eu peguei encefalite , depois vieram se juntar a ela , outras doenças , como : a hepatite e a cachumba .

O Começo

Em casa , numa madrugada , eu passei mal e comecei a vomitar um líqüido verde . Meu pai não estava em casa , pois estava trabalhando . Então , minha mãe pediu ajuda ao vizinho para me levar ao hospital .

Assim , ele nos ajudou e fomos parar num hospital infantil , no bairro Batel , aqui em Curitiba . Deste jeito , fiquei internada lá .Meu quarto era simples , tinha uma cama , uma janela e um sofá para visitas .

Hoje , não me lembro se sentia dor . Só sei que eu tinha uma tremenda vontade de sair daquela cama para brincar .

Todas as enfermeiras me tratavam bem . Até que um dia , uma delas entrou no meu quarto sorridente , arrumou o meu soro e falou :

Bom – dia !

Então , eu respondi :

Bom – dia !

Assim , ela disse :

Meu nome é Cida !
E o seu ?

Deste jeito , eu respondi :

Luciana .

Então , ela indagou :

Qual é o seu maior sonho ?

Desta forma , eu respondi :

Sair daqui e poder brincar .

Assim , ela falou :

Isto você não pode fazer agora .
Mas , há outras maneiras de você sair daqui sem deixar este quarto .

Deste jeito , eu indaguei :

Como assim ?

Então , ela disse :

Através da imaginação , de uma boa história …

Assim , eu falei :

Eu escutei pessoas falando que eu tenho que escutar muitos contos infantis mesmo , pois eu vou para o céu logo … Dizem que eu vou morrer , mas eu nem sei o que é morrer …
Morrer é ir para o céu ?
Morrer é virar anjo ?

Desta maneira , Cida disse :

Eu poderei explicar isto , através de uma história que aconteceu neste hospital .

Então , eu exclamei :

Conta !

Assim , ela contou :

” -Era uma vez , uma menina chamada Sara , ela tinha uma doença incurável e estava internada neste hospital . Todos diziam que esta menina iria morrer .

Um belo dia , Sara estava sozinha em seu quarto neste hospital , quando ela acordou , olhou para o lado e viu uma linda princesa chorando .

Esta princesa era muito bela , pois tinha : cabelos dourados feitos com os raios do Sol do meio – dia ; olhos azuis feitos com o azul do céu da primavera ; pele rosada feita com pétalas de rosas orvalhadas ; asas brancas feitas com penas de cisnes e corpo em formato de violoncelo coberto com uma roupa medieval verde – clara . Em sua cabeça ela carregava uma coroa de diamantes e em seus braços ela carregava uma lira .

Então , Sara ao ver esta maravilhosa princesa chorando , perguntou :

Quem é você ?
Por que está chorando ?
Você é tão bonita !

Assim , a princesa respondeu :

Eu me chamo Morte !
Eu estou chorando porque as pessoas têm uma visão errada de mim . Eles acham que eu sou uma bruxa que veste : capa preta e que carrega uma foice . Mas no fundo eu sou uma princesa !
Eu liberto as pessoas do sofrimento .

Desta maneira , a menina disse :

Eu sinto que você é uma criatura boa !

Deste jeito , a Morte comentou :

Só as crianças e os idosos me entendem !

Então , Sara falou :

Por favor , não chore !
Eu queria tanto sair deste hospital …

Assim , a princesa indagou :

Você quer pegar a minha mão ?
Você quer vir comigo ?

Após isto , a criança exclamou :

Quero !

Então , as duas se deram as mãos e um túnel dourado se abriu no meio do ar .Assim , estas duas almas sumiram no meio deste túnel encantado . ”

Após ouvir esta história de Cida , fiquei encantada . Então comentei :

Que história legal !

Desta maneira , Cida agradeceu e disse :

Obrigada !
Agora , vou aos outros quartos contar mais histórias , mas eu voltarei outro dia .

Depois dela se despedir , fechei os olhos e dormi .

Após três dias , eu estava sozinha no meu quarto , e Cida entrou novamente falando :

Bom – dia !

Então , eu respondi :

Bom – dia !

Deste jeito , ela exclamou :

Tenho mais histórias hoje !

Assim , eu disse :

Hoje eu gostaria de escutar uma história de amor . Mas , não um romance que eu já sei . Pois , eu já conheço : Cinderella , Branca de Neve , A Bela Adormecida , Romeu e Julieta …

Desta forma , a enfermeira falou :

Tudo bem !
Eu contarei uma história sobre o amor de duas estátuas …
E este fato se passou em Curitiba .

Então , eu exclamei :

– Pode contar !

Assim , ela indagou :

Você conhece a estátua do casal desnudo da praça Zacarias ?

Deste jeito , eu respondi :

Sim !

Então , a enfermeira contou :

” – No dia em que colocaram a estátua do casal desnudo na praça Zacarias , no centro da cidade , várias beatas ficaram espantadas com a estátua da mulher , então elas pediram ao prefeito para retirar esta estátua feminina da praça .

Assim , ele colocou a estátua da mulher atrás da prefeitura , que ficava no bairro : Centro Cívico , um tanto distante da praça Zacarias .

Então , muita gente disse que a estátua do homem ficou com saudades da estátua da mulher e que por isto o espírito desta estátua masculina saia de madrugada para visitar a estátua feminina , que estava no Centro Cívico . Minha avô que morava num edifício em frente a Praça Zacarias , disse que numa madrugada , ela estava na janela , quando de repente viu uma neblina branca saindo da estátua do homem , e , que esta neblina saiu em direção ao Centro Cívico . ”

Então , após escutar esta história , eu exclamei :

Que lindo !
As estátuas têm alma ?

Assim , a enfermeira respondeu :

De uma certa forma : sim . Pois , toda a obra de arte tem as vibrações do artista e do material com que ela foi feita .

Após falar , isto , Cida disse :

Agora , irei cuidar de outros pacientes .
Até logo .

Numa outra semana , eu estava sozinha em meu quarto , quando Cida reapareceu novamente e disse :

Bom – dia !

Então , eu falei :

Bom – dia !
Hoje , eu quero escutar uma história que tenha animais !

Assim , ela falou :

Que sorte !
Eu conheço uma história com um cachorro , que aconteceu dentro deste hospital . A história é a seguinte :

” Era uma vez , um menino chamado Rodrigo , ele tinha um cachorro muito inteligente chamado : Rex . Um dia , o garoto ficou doente e foi internado neste hospital . Na sua casa , o cachorro vivia uivando e prestando atenção no movimento dos outros donos . Então , um dia , o pai de Rodrigo , saiu com o carro em direção ao hospital e o cachorro resolveu segui – lo . No meio do caminho o cão se perdeu , mas ele resolveu seguir a sua intuição e veio parar neste hospital infantil . Ele entrou no corredor do estabelecimento , fuçou tudo e empurrou a porta de um quarto . Mas , nele , não se encontrava o seu dono e sim , uma menina , que estava em pleno ataque epilético . Então , o animal latiu , com a intenção de chamar a atenção dos enfermeiros e conseguiu com que a garota fosse socorrida . Assim , ele aproveitou para verificar os outros quartos e finalmente achou o seu enfermo dono , que se derreteu em total alegria . ”

Após , escutar este conto , eu exclamei :

Que boa história !

Então , Cida se despediu e foi atender as outras crianças .

Naquele dia , recebi a visita de um padre , que me cobriu com um manto roxo , me benzeu e rezou uma oração em latim .

Depois , uma outra enfermeira falou que aquilo era uma tal de extrema unção .

Uns dias após isto , uma pomba entrou no meu quarto e ficou me olhando uns segundos e depois voou em direção a janela .

Um dia depois , sai do hospital , entrei no carro do meu padrinho Argeu e em frente a este hospital , vi a imagem de Cida acenando para mim , mas esta imagem , foi desaparecendo aos poucos , como se fosse um fantasma se desintegrando .

Depois , fui direto para a casa deste meu padrinho. Lá eles me colocaram num quarto quentinho e com cobertas felpudas , mas neste quarto havia um quadro de um gaúcho tocando alaúde . Olhei para esta obra e o gaúcho saiu do quadro para tocar para mim . Naquele dia , eu estava com um pouco de febre , não sei se foi a febre que me transmitiu aquela imagem , ou , se havia algo de sobrenatural nela , mesmo .

Depois , voltei para casa e retornei para a minha vida normal , quero dizer , nem tão normal porque tive seqüelas na coordenação motora e em algumas glândulas , mas nada que me prejudicasse muito .

Bem , esta é uma das minhas histórias sobrenaturais que aconteceram na minha vida real .

por Luciana do Rocio, Curitiba

O fantasma do Gari

 

Essa história me foi contada há alguns anos por um tio meu, quando ele trabalhava numa antiga empresa chamada MOORE.

Ele me disse que, certa vez, houve uma festa na empresa (não me lembro o motivo) e todos que trabalhavam na empresa estavam lá. Muita comida e bebida a vontade. Fim de festa. Havia muita sujeira e copos por todo o chão. Então, meu tio estava indo embora e encontrou com um senhor, vestido de gari, com uma sacola de lixo na mão, e um ferro com uma ponta afida pra catar os copos e papéis do chão.

– Boa noite, senhor. – disse meu tio.

– Noite. – respondeu o humilde senhor.

– O senhor vai ter muito trabalho esta noite, né?

– Ahh.. meu filho, ja estou acostumado, nem sinto mais.

– Esta bem, como o senhor se chama?

– Por Favor, me chama de José.

Me tio se despediu do José e foi embora. No dia seguinte, meu tio vai até o segurança da portaria, e pergunta, sobre aquele senhor da limpeza chamado José. O segurança fica com um ar de assustado, e responde:

– Como? Que estranho!! Esse senhor morreu há uma semana atropelado aqui em frente.

 

Lembranças do meu pai

Hoje meu pai esta com 94 anos, e me contou varias histórias que aconteceram na mocidade dele. Aqui vou escrever algumas: um compadre do meu pai chamado GALDINO sempre que ele voltava do trabalho, ele via uma mulher varrendo a frente de uma casa, isso era todos os dias. Um certo dia ele resolveu parar pra conversa com essa mulher, ela sempre de cabeça baixa varrendo, ele desconfiou: por que ela não olha pra mim. Pensou. De repente a mulher levanta a cabeça, e ele pôde ver a face cadavérica da mulher.

NA CIDADE DE LENÇOIS BH, um homem chegou de viagem e não tinha lugar pra ficar, então bateu na porta de uma casa e o dono veio atender, o homem perguntou: posso ficar aqui por alguns dias? Eu cheguei de viagem e não tenho onde ficar. O dono da casa concordou e mandou ele entrar. De repente o dono da casa sumiu. Quando o rapaz estava tomando banho, só ouviu a voz do dono da casa gritando: eu jogo!…Eu jogo!…,Quando o rapaz respondeu: pode jogar. Ele ouviu os barulhos das tabuas caindo, quando ele saiu do banho correndo ele viu um caixão com um corpo seco dentro. Esse rapaz saiu correndo pra rua. E foi informado que naquela casa não morava ninguém e que o dono tinha morrido há 22 anos.

Uma senhora costureira costumava trabalhar até tarde da noite. Um dia ela estava costurando, e chegou um homem pedindo que ela comprasse dele uma cabeça de repolho e insistiu muito. A costureira com dó dele comprou, deu-lhe o dinheiro e pegou o repolho, foi até a cozinha e colocou o repolho dentro da pia. No outro dia quando ela foi ver, o repolho era um crânio.

EM SALVADOR-BH, NO BAIRRO VERMELHO por volta da meia noite as pessoas não saiam de casa, pra não ver o bonde fantasma. Esse fenômeno sobrenatural acontecia sempre no mesmo horário. Era um bonde cheio de fogo, as pessoas que viam do trabalho tarde da noite, corriam pra não o bonde passar. Uma vez aconteceu que um passageiro parou esse bonde, pensando que era comum. Ele subiu e quando foi pagar o cobrador era uma caveira, esse homem saiu gritando pela estrada. Esse fato se passou nos anos 40, o fato é que um bonde incendiou no bairro vermelho, não sobrou um passageiro. Então passou a acontecer essa aparição fantasmagórica.

Essa história é verdadeira, e foram contadas pelo meu pai, que hoje está com 94 anos de idade e conheceu essas pessoas.

 

Brincadeira do Copo

 

Esta é uma história que aconteceu em 1996, com um conhecido de minhas amigas. Trata-se daquela brincadeira do “espírito no copo”, que com certeza todos já ouviram falar, e até se aventuraram a jogar. Essas minhas amigas estavam na casa de um amigo e outras pessoas em comum, e num clima de bagunça, resolveram jogar. Então, segundo a lenda original, como não tinham nenhum copo virgem, o “purificaram” com água corrente e sal grosso, e deixaram secar ao vento. Fizeram o tabuleiro redondo com letras, números, e inscrições sim e não.

Sentaram-se em volta, colocaram o copo virado no centro do tabuleiro, deram-se as mãos, rezaram três “Pai Nosso”, e concentrados fizeram a invocação: “Se há algum espírito neste recinto, que manifeste-se agora!”. Num silêncio mórbido e tenso, eles esperaram… Nada aconteceu. Invocaram novamente: “Se há algum espírito neste recinto, que manifeste-se agora.” – e desta vez continuaram – “Ó alma vagante, nos dê a chance de nos comunicar”.

De novo, nada aconteceu. Neste momento, um garoto de uns 14 anos, não se conteve e começou a rir. O que foi motivo de risada geral. Então, inusitadamente, o copo se mexeu. Todos calaram-se. O dono da casa, assustado, perguntou: “Quem está ai?”. O copo seguiu até as letras formando “assassino”. Congelado de medo, continuou e perguntou:”Quem você matou?”, e o espírito respondeu que “ninguém”. Sem entender muito bem, perguntou novamente: “Então o que quis dizer com assassino?”. E não teve nada como resposta. O tal menino de 14 anos, achando que tudo era uma piada, uma armação do anfitrião, perguntou debochando: “Ai, Seu Assassino, quando é que eu vou morrer? Será que dava pra você ver no calendário ai do além?”. Para surpresa dele e de todos, o copo se mexeu até o “H”, depois “O”, “J”, “E”.

O menino, achando graça, gargalhou e perguntou: “É mesmo? E como que eu vou morrer, hein?”. O copo respondeu: “S-U-I-C-Í-D-I-O”. Ele então começou a ficar irritado, quando gritou: “Vai a merda sua porra de espírito, não vou morrer nem à caralho”, e num acesso de raiva, pegou o copo e o jogou com força pela janela. O apartamento ficava no 10º andar, e a janela dava para uma área vazia do prédio, um extensão do térreo. Então notaram que não houve nenhum barulho de vidro sendo quebrado ao cair.

Todos assustadíssimos foram olhar pela janela, e perceberam que realmente o copo estava intacto. O tal garoto parecia estar enlouquecido com o fato, debruçou-se na janela dizendo que aquele copo tinha que quebrar, que ele vai quebrar….Repetindo enlouquecidamente.

Foi quando seu olhar paralisou-se no copo, ele gritou e jogou-se. Caiu em cima do copo, que desta vez quebrou-se e seus cacos atravessaram seu corpo. Hoje, minhas amigas podem falar abertamente deste caso, mas foi algo que demorou muito para elas se recuperarem. A cena foi realmente muito chocante. Não se sabe o que realmente aconteceu para o copo não quebrar, nem mesmo é claro o que fez o garoto ficar com aquele olhar desesperado segundos antes de se jogar, nem o motivo. É mais um mistério inexplicável. O velório foi feito com o caixão fechado, pois o corpo inexplicavelmente se decompôs muito rapidamente e sua face e peito ficaram totalmente desconfigurados em função dos cacos.

O enterro foi abafado e privado de visitantes. Após o fato, espalhou-se um boato de que o espírito denominado “assassino” era o culpado de um homicídio que ocorrera há muitos anos com um antepassado do menino. A família não se pronunciou. Até hoje poucas pessoas da redondeza tem coragem de jogar a tal brincadeira do copo por temerem o tal “espírito do assassino”.

por Rodrigo Rossi, São Paulo

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/espiritualismo/creepypasta/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/espiritualismo/creepypasta/

Principia Alchimica – Financiamento Coletivo

Dia 04/02 começa o Financiamento Coletivo dos livros de alquimia e Jornada da Alma.

Dos mesmos editores de Kabbalah Hermética, da Enciclopédia de Mitologia, dos Livros Sagrados de Thelema, do Tarot Hermético e dos Livros Essenciais da Cabalá.

Um projeto de Cinco Livros relacionados com a alquimia e a transformação do Ser.

https://www.catarse.me/Principia_alchimica

Principia Alchimica – Da colheita do orvalho ao ouro, o objetivo desta obra é explicar de forma simples e praticável todo processo da alquimia. Trata-se de uma metodologia para a ascensão, ou seja, uma forma de transformar seu eu cotidiano em uma condição mais elevada. Como resultado desta metodologia surge uma nova condição superior de vida física, emocional, intelectual e espiritual. A Alquimia e sua busca pela Pedra Filosofal – cuja receita está neste livro – pode ser entendida como uma metodologia para a expansão da consciência. Aqui toda sua simbologia clássica é esclarecida de maneira definitiva como uma metodologia objetiva e eficaz para a expansão da consciência e dos poderes que surgem com ela. Escrito por Thiago Tamosauskas.

Teodiceia Psíquica – A Alquimia e transformação da alma pelo ponto de vista Martinista. Os princípios psíquicos do bem e do mal no paradigma Junguiano e sua discussão no Midrash judaico-cristão de Martinez de Pasqualy. Escrito por Ivan Corrêa.

Ivan Corrêa, Mestre em Psicologia Clínica pelo Núcleo de Estudos Junguianos do Programa de Pós-Graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, é psicólogo formado pela PUCSP, estudioso da psicologia junguiana e atua em clínica na cidade de São Paulo. Há anos, dedica-se à pesquisa da mística religiosa do Ocidente, com especial ênfase naquelas tradições que a história teve como heréticas, transitando principalmente entra os mitos gnósticos e herméticos.

O Tarot Egípcio + Deck com 22 Arcanos – Publicado originalmente em 1929, este pequeno tratado explica os Arcanos do Tarot pela visão de R. Falconnier. Traduzido por Rafael Daher e as imagens das lâminas originais de 1929 transformadas em um deck jogável de Tarot pelas mãos de Rodrigo Grola.

LeMULgeton: Os Espíritos Estelares Babilônicos – Publicado originalmente pela editora “Fall of Men” por Leo Holmes. Ao longo das páginas deste trabalho, o autor relaciona o Lemegeton e Mul.Apin (um compêndio babilônico que lida com muitos aspectos diversos da astronomia e astrologia babilônica), atribuindo os Espíritos Goécios às Constelações Sumérias (que incluem estrelas e planetas)

A Sorte do Coveiro – O Coveiro foi um marido zeloso, um pai presente e um professor dedicado. Porém, após um golpe impiedoso ele passa a contestar a ventura dos vivos. Desnorteado, rejeita o fio de existência que lhe resta e se volta completamente para uma busca sinistra. Neste caminho, encontra uma entidade misteriosa conhecida como “O Psicopompo” que passa a figurar como seu mentor. É o desaparecimento de um corpo no cemitério, entretanto, que finalmente dispara uma série de acontecimentos que levará o Coveiro ao confronto final consigo mesmo e com sua sorte.

“A Sorte do Coveiro” é um romance angustiante adornado de elementos fantásticos e macabros. O cemitério é o palco principal do desenrolar da história permeada por elementos de magia e de tradições espirituais do Novo Mundo. Nestas páginas, descortina-se uma narrativa que passeia entre os mundos visível e invisível e que fará o leitor se confrontar com sua própria jornada rumo à sepultura.

Eduardo Regis é praticante de vertentes da tradição esotérica ocidental e ougan de Vodou Haitiano. Ele escreve regularmente no site “Espelho de Circe” e também no site da OTOA-LCN Brasil, onde assina como Frater Vameri. Além disso, é um dos coordenadores do Grupo de Estudos de Espiritualidade Haitiana – Gedeh, em colaboração com o “Espelho de Circe” e com o Instituto Pretos Novos. Ele já publicou contos em antologia e revistas e está trabalhando em livros de religião e magia! “A Sorte do Coveiro” é seu primeiro romance.

Você pode acrescentar qualquer um dos Livros cima ao Apoio, ou uma combinação deles, com um preço promocional e sem precisar adicionar nada ao valor do frete!

– POSTERS da Árvore da Vida + Lamen Rosacruz (+ R$ 30 o conjunto)

– POSTERS de Hermetismo (6 Posters do FC do livro de Kabbalah) (+ R$ 60)

– LIVRO DOS SALMOS (+R$ 60,00): o “Schimmush Sepher Tehillim – Usos mágicos dos Salmos”, faz parte de um Grimório medieval chamado 6° e 7° Livros de Moisés.

– KABBALAH HERMÉTICA (+R$ 250,00) – O melhor trabalho de Kabbalah Hermética já produzido em português. Em suas quase 700 pgs coloridas e ricamente ilustradas, o autor, Marcelo Del Debbio, detalha todos os aspectos da Árvore da Vida, História da Arte e religiões comparadas. Uma obra-prima.

– ENCICLOPÉDIA DE MITOLOGIA (+R$275) – Com 8500 verbetes e 1200 ilustrações, totalmente colorida e capa dura, é o maior e mais completo livro de mitologia comparada em língua portuguesa.

– LIVROS SAGRADOS DE THELEMA (+R$ 175,00) – Coletânea em alta qualidade dos 15 libers mais importantes da Thelema. Edição bilíngue Inglês/Português.

– LIBER 333 (+R$ 60,00) – nas palavras do próprio Crowley: “Esse livro lida com muitos assuntos em todos os planos da mais alta importância. Ele é uma publicação oficial para Bebês do Abismo, mas recomendado até mesmo para iniciantes como altamente sugestivo”

– RPGQUEST (+R$ 275,00) – Um Jogo de RPG/Boardgame baseado na alquimia e na Jornada do Herói. Crie um mundo de Fantasia Medieval com Grandes Desafios e viva uma Campanha Épica de RPG em uma tarde! (versão completa com todas as metas conquistadas no FC).

– RPGQUEST Dungeons (+R$ 275,00) – Um Jogo de Dungeon Crawler baseado nos Túneis de Seth e na Jornada do Herói.

– AS AVENTURAS DE LILITH (+R$ 35,00) – Um livro infantil com a Jornada Iniciática mais antiga da história. Detalha de uma maneira simples as virtudes e defeitos planetários e a jornada da Deusa Lilith através do Mundo Subterrâneo.

– AS AVENTURAS DE ISIS (+R$ 35,00) – Conheça as Aventuras de Isis e Osíris. escrito em uma linguagem simples para crianças. Ideal para presente de natal para crianças que gostam de Mitologia e Aventuras!

– AS AVENTURAS DE HÉRCULES (+R$ 35,00) – Os Doze Trabalhos de Hércules narrados sob a perspectiva do hermetismo. Cada Trabalho é uma tarefa que nós mesmos devemos resolver em nossas vidas para nos aproximarmos de nossa Verdadeira Vontade. Escrito na forma de um livro infantil.

– PEQUENAS IGREJAS, GRANDES NEGÓCIOS (+R$ 175,00) – Kit Pastor com todas as 360 cartas do FC. Um engraçadíssimo Cardgame no qual os jogadores devem representar pastores picaretas e igrejas caça-níqueis com o objetivo de arrecadar o máximo possível em cima da fé alheia enquanto tentam tirar seus oponentes da jogada com acusações absurdas (versão completa com todas as metas conquistadas no FC).

O Frete será calculado e pago apenas quando o Projeto for finalizado. Existem várias razões para isso: a primeira é que ele ficará mais barato 13% pois não teremos de incluir as taxas de FC, a segunda razão é que não sabemos ainda o peso de todas as metas e presentes liberados no decorrer do projeto. Também existe a possibilidade do Mundo voltar ao normal e organizarmos uma confraternização onde os apoiadores poderão pegar seus pacotes pessoalmente. No final da Campanha será enviado email para confirmação dos endereços de envio.

Se conseguirmos os valores estipulados, conseguiremos imprimir 300 Exemplares de cada título e enviar os livros para todos os apoiadores mas, conforme as Metas vão sendo batidas, todos os apoiadores ganham presentes da Editora.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/principia-alchimica-financiamento-coletivo

A longa e horrível história de pessoas tentando viver para sempre

Theo Zenou 

O filósofo renascentista Montaigne brincou certa vez que “a morte nos pega pela nuca a cada momento”. Ele poderia muito bem ter acrescentado: ‘até que, finalmente, nos estrangule.’ Mas e se soubéssemos como escapar do estrangulamento da morte? E se pudéssemos evitar a morte e viver para sempre? Seria possível? Seria ético? Seria desejavel?

A imortalidade pode parecer coisa de ficção científica, mas está se tornando cada vez mais o foco da ciência real. Em 2013, o Google lançou a Calico, uma empresa de biotecnologia cujo objetivo é “resolver” a morte. Enquanto isso, o cofundador do PayPal, Peter Thiel, prometeu “combater” a morte. E no ano passado, foi relatado que o presidente da Amazon, Jeff Bezos, fez um alto investimento na Altos Labs, uma empresa que planeja “rejuvenescer” as células para “reverter doenças”. (Bezos é também dono do Washington Post.).

Existe até uma startup desenvolvendo medicamentos para que os cães possam viver mais. Os ensaios clínicos estão programados para começar este ano. Se forem conclusivos, o plano é aplicar a mesma ciência às pessoas. A imortalidade – ou anti-envelhecimento, como os pesquisadores o chamam sobriamente – é a próxima grande novidade. As estimativas colocam o valor do setor em impressionantes US$ 610 bilhões até 2025. Do Vale do Silício a Cambridge, na Inglaterra, cientistas estão escrevendo o capítulo mais recente da tortuosa história de nossa busca pela vida eterna. É uma história que vem de longe.

A Epopéia de Gilgamesh

Nós temos tentado viver para sempre a muito tempo. A história mais antiga de nossa espécie, “A Epopéia de Gilgamesh”, é sobre esse anseio.

Gravado em tábuas de argila quatro milênios atrás na Mesopotâmia, diz respeito ao rei Gilgamesh, um “homem touro selvagem” com músculos gigantescos e um ego ainda maior. Após a morte de seu melhor amigo, Gilgamesh é forçado a enfrentar sua própria mortalidade. “Devo morrer também?” ele clama aos céus.

Em sua dor, ele se transforma em uma versão mesopotâmica de Peter Thiel e parte em uma missão para “superar” a morte. Ele falha, mas descobre o significado da vida ao longo do caminho:

“Os humanos nascem, vivem, depois morrem,
esta é a ordem que os deuses decretaram.

Mas até o fim chegar, aproveite sua vida,
gaste-o em felicidade, não desespero.

… Ame a criança que te segura pela mão,
e dê prazer à sua esposa em seu abraço.

Essa é a melhor maneira de um homem viver.”

Mas o resto da humanidade não recebeu o memorando. Veja o primeiro imperador da China, Qin Shi Huang, que governou no século III a.C. e estava determinado a viver para sempre.

Qin Shi Huang

Como Gilgamesh, Qin tinha pavor da morte. Tanto que ele proibiu qualquer discussão sobre o assunto no tribunal sob pena de – você adivinhou – morte.

De acordo com o livro “Imortalidade”, de Stephen Cave, quando Qin soube de um grafite profetizando que ele também morreria, ele ordenou que suas tropas matassem quem fosse responsável por essa afronta. Mas o meliante escapou da captura. Então o imperador mandou matar todos na área. (Para alguém com um medo tão neurótico da morte, Qin foi bem casual em matar seus súditos.)

Um dia, um enigmático feiticeiro chamado Xu Fu afirmou que sabia como conceder a imortalidade ao imperador. Tudo o que este último precisava fazer era absorver o “elixir da vida”. Esta bebida especial pode ser encontrada em uma ilha mágica do Mar da China Oriental. Qin, sempre crédulo, financiou a expedição de Xu lá.

Mas, é claro, não havia ilha. Xu era um vigarista tão descarado que fez Charles Ponzi parecer Desmond Tutu.

Ainda assim, o imperador permaneceu obcecado em prolongar sua existência. Para esse efeito, ele começou a beber uma mistura estranha… e morreu aos 49 anos de envenenamento por mercúrio.

Diane de Poitier

Qin não foi a única figura histórica convencida de que um coquetel poderia conferir imortalidade. Diane de Poitiers, supostamente a mulher mais bonita da França do século XVI, bebia ouro para preservar sua boa aparência.

Diane de Poitiers era uma nobre francesa e cortesão proeminente que bebia ouro para preservar sua boa aparência.

Poitiers não escolheu arbitrariamente o ouro como sua panacéia. O elemento foi associado à imortalidade graças à alquimia, a biotecnologia da Idade Média, que se centrava na busca da Pedra Filosofal. Acreditava-se que transmutava metais básicos em ouro e dava vida eterna.

Um alquimista parisiense do século XIV, Nicolas Flamel, descobriu a pedra sagrada e ainda estaria vivo hoje. Ou assim vai a lenda, que inspirou o primeiro livro de “Harry Potter”.

Papa Inocêncio VIII e Elizabeth Bathory

Ao longo da história, o sangue tem sido um remédio antienvelhecimento popular. Em 1492, o moribundo Papa Inocêncio VIII foi injetado com sangue de crianças, colocando em prática a recomendação do polímata italiano Marsilio Ficino de que os idosos sugam o sangue dos jovens “como sanguessugas” para voltar seu relógio biológico. (Se isso for muito grosseiro para você saiba que Ficino aconselhou misturar o sangue com água quente e açúcar.) Infelizmente para o Sumo Pontífice, era besteira. Inocentes morreram, junto com seus jovens doadores de sangue.

A longa e chocante história de papas atormentados por escândalos
Mas que tal banhar-se no sangue das virgens? Na virada do século XVII, a condessa húngara Elizabeth Bathory era aparentemente um adepto. Ela acreditava que mergulhos regulares evitariam que sua pele se enrugasse.

Busca pela imortalidade no Século XX

Avançando dois séculos, um eminente neurologista creditou injeções de cobaias e testículos de cachorro por fazê-lo “se sentir trinta anos mais jovem”. Um cirurgião empreendedor correu com a ideia, enxertando testículos de macaco nas partes íntimas de homens idosos em uma tentativa de reverter o envelhecimento. Saiba mais, por sua conta e risco, em seu tratado “Vida; um Estudo dos Meios de Restaurar a Energia Vital e Prolongar a Vida”.

A busca pela imortalidade se estendeu até a hora mais sombria do século 20. No auge da Segunda Guerra Mundial, o líder nazista Heinrich Himmler embarcou em uma busca para localizar o Santo Graal. O chefe da SS, mergulhado nas artes das trevas, acreditava que o Graal lhe concederia habilidades sobre-humanas, incluindo a vida eterna. Desde a Idade Média, dizia-se que beber do Graal anularia a morte. (Himmler nunca encontrou o Graal; ele morreu em 1945 quando tomou uma pílula de cianeto ao ser capturado pelos britânicos.)

O sonho que não morre

No entanto, se você espera viver para sempre, abandone os contos de fadas medievais. Em vez disso, estude a ciência emergente da programação de células, ou “hackeie” células para recodificá-las que ficou sob os holofotes recentemente graças a uma conferência no prestigiado London Institute for Mathematical Sciences (LIMS).

“Em princípio, a vida poderia ser projetada para viver mais”, disse o diretor do LIMS, Thomas Fink, ao The Post. Físico formado em Caltech e Cambridge, ele vê a imortalidade como um desafio matemático. Para resolvê-lo, é preciso primeiro perguntar por que envelhecemos. “A resposta canônica”, explicou Fink, “é que o envelhecimento é inevitável e uma condição fundamental da vida”. Todo organismo se degrada com o tempo e, eventualmente, se decompõe. Fim da história.

“Mas a história é muito mais estranha do que pensamos”, disse Fink. Em um artigo recente, ele usou a matemática para demonstrar que “o envelhecimento pode ser favorecido pela seleção natural”. Essa é uma visão chocante: significa que as primeiras formas de vida, que começaram há bilhões de anos, provavelmente não morreram.

A morte surgiu durante o curso da evolução porque conferia uma vantagem. Em suma, as espécies que morreram se saíram melhor do que as que não morreram.

Na frase memorável de Fink, “imortalidade – não mortalidade – é o estado natural das coisas”. Então, como podemos voltar a esse estado natural? É aí que entra a programação celular.

Várias empresas estão tentando fazer esse trabalho, como a bit.bio, que recodifica células para tentar encontrar curas para doenças como o Alzheimer. A longo prazo, essa biotecnologia revolucionária pode muito bem permitir que os cientistas redefinam as células para a imortalidade.

“Se o processo de envelhecimento é um mecanismo dentro da célula controlado por um programa de transcrição, então seremos capazes de influenciá-lo”, hipotetizou Forrest Sheldon, um membro júnior do LIMS que colabora com o bit.bio.

Mas Fink e Sheldon alertaram que ainda estamos muito longe de nos tornarmos imortais. Então não reserve ainda suas férias para o verão de 4500.

Fonte: https://www.msn.com/en-us/news/us/the-long-and-gruesome-history-of-people-trying-to-live-forever/ar-AAWNqyu?ocid=uxbndlbing

Postagem original feita no https://mortesubita.net/alquimia/a-longa-e-horrivel-historia-de-pessoas-tentando-viver-para-sempre/

Co-herdeiros do Caos

H. P. Lovecraft através de seus sonhos pode ter tido acesso ao universo paralelo que o permitiu relcthulhudesenho.jpgatar profecias a cerca da destruição do nosso mundo através de forças advindas do Caos. As perguntas a cerca das datas relacionadas a esse terror cósmico foram feitas desde sua morte em 1937. – Com isso, passou a existir duas escolas da filosofia de “lovecraft” – Uma entende as obras de H.P. Lovecraft como ficções de terror e consequentemente Lovecraft como um talentoso mestre das palavras – a outra, um corpo selecionado de pessoas que vêem Lovecraft como um conhecedor de verdades cósmicas ocultas, considerando-o como um receptor, um profeta involuntário do Caos.

Ainda que estranha, há uma evidência admissível para ambos os lados; Lovecraft sofria com estranhos sonhos relacionados a esses deuses antigos que representariam o próprio Caos. Alguns especialistas comparam essa estranha situação referente à Lovecraft e consideram que essa era uma situação que poderia ser chamada de dissonância cognitiva.

Ou seja, todos possuem modelos mentais de como as coisas são ou deveriam ser; isso inclui valores referentes a emoções, crenças, opiniões e etc. De forma que geralmente esses valores não possuem qualquer relação entre si, mas mantêm uma relação de concordância, ou seja, consonância. Agora o problema se inicia a partir do momento em que surge uma nova informação onde essa informação entra em choque com o modelo mental existente, e isso é a dissonância cognitiva, pois as pessoas não se sentem bem com esse tipo de incoerência entre modelos. – Isso levando em conta a aflição de Lovecraft com algo que dizia respeito à lei natural das coisas… Que o universo tendia ao Caos. – Essa evidencia foi suficiente pra alguns, mas para muitos não passou de especulação, principalmente para aqueles que viam Lovecraft como um profeta involuntário do Chaos; suas obras eram claras e muito do que era escrito se encaixava perfeitamente sobre os trabalhos místicos realizados na época.

H.P. Lovecraft então tomou seus sonhos como fonte de suas obras, transformando seus sonhos em arte, transformando-os nos mitos de Cthulhu. – Lovecraft atingiu o receio das pessoas através de seus contos; um universo unidimensional onde habitam seres tão antigos e poderosos e etc. – Isso causou grande polemica.

Kenneth Grant indiretamente sugeriu que H. P. Lovecraft era semelhante a uma lente defeituosa que recebia imagens distorcidas; neste caso, distorcidas por medos pessoais e pela rejeição consciente produzida por sua mente por causa dos sonhos. Grant compara os trabalhos de Lovecraft com os de Crowley fazendo conexões explicitas das entidades comentadas por Crowley e as comentadas por Lovecraft;

Lovecraft fala a cerca dos Antigos em muitos dos seus trabalhos; de forma que essas forças viriam de uma dimensão externa, não conhecida pelo homem, e que essa passagem se daria como uma fusão entre os mundos e isso teria sido iniciado por pequenas brechas entre as dimensões causadas pelos crimes do ser humano contra a criação. Fala, também, a cerca do alinhamento das estrelas. O que nos faz pensar em um tema atual – O grande Tsunami que devastou a costa da Ásia matando milhares de pessoas e deslocando o Eixo do planeta em alguns centímetros – Certo, os cientistas disseram que isso não causaria dano ao planeta Terra, mas lembrando da teoria de Lorenz acerca do “Efeito Borboleta” onde pequenas modificações poderiam alterar completamente a forma final de determinadas situações… Creio que devemos levar em consideração que essa pequena alteração no Eixo da Terra pode provocar modificações no Universo; alinhamento de estrelas que nunca deveriam se alinhar e outras coisas mais.

O homem gerou o Caos parcial ao cometer crimes contra a criação, contra a vida esse Caos buscou por sua fonte original; O núcleo do Caos… Onde habitam os Sete deuses antigos e não revelados. – Esse conceito de não revelados se deu referente aos trabalhos ministrados por sacerdotes do Antigo Egito; sacerdotes que em segredo trabalhavam com forças relacionadas ao Caos Inicial, as forças originadas do Duat – espaço inferior onde às estrelas se perdem; no texto é tratado como o núcleo do Caos – porém esses trabalhos foram proibidos e esses deuses relacionados ao Duat, foram considerados deuses negros e ‘banidos’ – não revelados.

Os Antigos sempre foram cultuados; em cada Era e em cada povo por um nome diferente; mas nunca estiveram tão presentes como agora. – Porém existe uma visão negativa a cerca desta força contida no Chaos; mas devemos analisar que a vida como à conhecemos se origina do Caos e tende a retornar ao Caos – enquanto ausência de ordem – Porém se essa força for controlada ele pode se tornar algo de grande valor; é como um jardim que com o auxilio do jardineiro fica belo e receptivo, porém sem o jardineiro as plantas tendem a desordem… Se tornando um lugar repulsivo. – Do mesmo modo é o trabalho realizado junto aos Antigos enquanto pórticos de acesso ao Núcleo do Caos… Se essa força for trabalhada adequadamente, se torna algo incomparável. – É por isso que muitos nos enviam e-mails para se informarem de como se tornam membros do Círculo Iniciático dos Sete Caos e nós sempre respondemos que o sistema trabalhado se baseia em capacidade e não em conhecimento; e os testes realizados são baseados na capacidade de trabalhar com a força contida no Caos; É o sistema que escolhe e não o candidato que se faz escolhido – Logo sendo radical… Ao se trabalhar com a força contida no Centro do Caos só duas coisas podem acontecer;

1) Ou você se torna parte dele, pois é capacitado e se torna não um magista, mas parte da magia através da força contida neste núcleo caótico. – de forma a controlar todo essa força.

Ou

2) Fica louco por não suportar uma verdade primitiva e que sempre esteve ao nosso alcance. – Essa loucura vem não da força contida no Caos, mas da mente que tenta não acreditar em algo tão presente – da mente que se limita em paradigmas e dogmas.

O ser humano precisa entender que nós enquanto criação somos uma derivada do Caos; isso é constatado em todos os seguimentos e filosofias; pelos egípcios, hebreus e etc. – E se o homem e toda a criação é derivada deste Chaos… Porque não buscar as verdades contidas nele. – Somos co-herdeiros do Caos.

E como co-herdeiros; estamos ligados ao Caos como um todo; ao Universo como um todo; a Criação e consequentemente aos Antigos que são a representação desta força contida no Caos.

Sejamos parte dessa magia… E através desta força… Sejamos uma das faces do Caos; do Universo.

Frater AhaZeD. Baseado no artigo ‘profeta relutante’ de Stephen Sennitt

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/co-herdeiros-do-caos/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/co-herdeiros-do-caos/

Fadas

“Quando um bebê ri pela primeira vez, sua risada se quebra em um milhão de pedaços e todos eles saem pulando por ai. É assim que nascem as fadas.”
J.M Barrie, Peter Pan

Quando queremos dizer que alguém é ingênuo, dizemos que esta pessoa acredita em Fadas. Quando contamos histórias de fantasia para crianças chamamos de “Contos de Fada”. Elas estão presentes nas histórias da Cinderela e do Peter Pan entre outras e seu fascínio não diminuiu com o passar dos séculos figurando ainda em obras ,contemporâneas como Harry Poter, na qual aparecem como humanóides diminutos de natureza mágica. Mas a idéia central por trás da figura folclórica das fadas é muito mais profunda e intrigante do que as maravilhas das histórias infantis e a frieza que nosso ceticismo cotidiano deixa transparecer. O que é uma fada? De onde surgiram suas lendas? O que há por trás dos relatos destas fascinantes criaturas? Estas e outras dúvidas foram o alvo da pesquisa que apresentaremos agora no presente artigo.

Mesmo que não constituam prova de sua existência as pessoas vêem ou pensam que vêem coisas estranhas como fantasmas, lobisomens, discos-voadores e, é claro, fadas. O primeiro testemunho escrito sobre este seres é de Pompônio Mela, um geógrafo euro-asiático que viveu durante o século I d.c. Desde então muitas são as lendas que descrevem estas criaturas ou contam suas façanhas.  Estes relatos são sempre esporádicos e isolados na vida de uma pessoa, mas persistentes e constantes na história da humanidade. As fadas não existem portanto apenas nas histórias, mas antes disso existem também naquilo que as pessoas chamam de experiências. Mas falta de precisão científica atribuída aos relatos populares, além do preconceito que julga que qualquer relato popular é baseado sempre em ignorância e crendices tolas, tornam-se uma desculpa para a má-vontade acadêmica de pesquisar estes assuntos. assim, em vez de estudar o que estas experiências realmente trazem de verdade, descarta-se previamente todo o testemunho e assim livra-se do problema. Este é um erro histórico da Ciência, foi essa rejeição da livre observação que retardou em séculos a descoberta “científica” do calamar gigante, do celacanto, da paralisia no sono, dos meteoros e pasmem até dos gorilas, só para citar alguns exemplos.

Isso não significa que devemos acreditar em todo relato que ouvimos sobre qualquer coisa, isso seria tão precipitado como descartar tudo. Ao contrário, nossa postura deve ser de exploração. Não é um absurdo completo considerarmos que as algumas pessoas e sociedades tradicionais acreditem em fadas, no mínimo porque parcialmente alguma coisa que eles não sabemos explicar foi vista. Como escreveu o criptozoólogo irlandês Douglas Hyde: “O conto folclórico não deve ser confundido com a crença no folclore. a história é coisa muito mais intrincada complicada e elaborada do que a crença. É muito fácil distinguir um do outro. A crença é curta e oral, relacionada a pessoas reais e não contêm uma extensa seqüência de incidentes; já o conto folclórico é comprido, complicado mais ou menos convencional e, acima de tudo, tem o interesse agrupado em torno de uma figura tradicional em particular. O que Hyde chama de crenças podemos chamar de aparições.

Existem basicamente três formas de lidar com essa questão. Para alguns folcloristas, como Stewart Sanderson e Katharine Briggs, ambos notadamente cristãos,  as “aparições” são descartadas e passadas adiante sem qualquer reflexão. Para os parapsicólogos em geral o assunto têm despertado interesse zero. Por fim para autores como Evans-Wentz (Autor de The Fairy-Faith in Celtic Countries) e o poeta W.B Yeats (o mesmo que escreveu extensamente sobre as tradições e aparições dos duendes irlandeses em The Celtic Twilight) e para a historiadora ocultista Leslie Shepard, os avistamentos de fadas pela história são indícios fortes da existência de um mundo paralelo, localizado numa espécie de dimensão alternativa.

Fadas: definições e descrições

A própria definição do que é um fada é tão fugidia quanto as suas aparições. O folclorista Joseph Ritson, na sua dissertação On Faries, define fadas como uma espécie de seres parcialmente materiais, parcialmente espirituais, com o poder de mudarem a sua aparência e de, conforme a sua vontade, serem visíveis ou invisíveis para os seres humanos. Já Jorge Luís Borges e Margarita Guerrero em O Livros dos Seres Imaginários dá a seguinte descrição: “Seu nome se vincula ao vocábulo latino fatum (fado, destino). Intervêm magicamente no que sucede aos homens. Já foi dito que as fadas são as mais numerosas, as mais belas e as mais memoráveis das divindades menores. Não estão limitadas a uma única região ou a uma única época. Os antigos gregos, os esquimós e os pele-vermelhas narram histórias de heróis que alcançaram o amor dessas fantásticas criaturas. Tais aventuras são perigosas; a fada, uma vez satisfeita sua paixão, pode matar seus amantes. Na Irlanda e na Escócia atribuem-lhes moradas subterrâneas, onde confinam crianças e os homens que costumam seqüestrar. O povo crê que elas possuíam as pontas de flechas neolíticas que desenterraram nos campos e as quais dotam de infalíveis virtudes medicinais. As fadas gostam da cor verde, do canto e da música.”

Apesar de nos dias de hoje, principalmente por causa da mídia de filmes e desenhos infantis, as fadas serem retratadas como pequenas mulheres com asas, originalmente e até hoj em locais onde a crença nesses seres é forte, elas eram descritas de formas muito diferente, inclusive conflitantes: para alguns era seres altos, com mais de 3 metros de altura, canibais e violentos, para outros eram criatura deformadas e ignorantes, ainda existem aqueles que as descrevem como seres quase angelicais. Isso mostra que provavelmente Fada era um adjetivo usado para se descrever grande parte dos seres culturais que existiam em certas localidades, mesmo que se tratassem de criaturas muito diferentes entre si. Da mesma que eram descritas como seres pequenos, existem inúmeros relatos que lhes conferem a estatura de uma pessoa normal. Isso pode indicar também que sua estatura está associada a sua natureza sutil, o resultado de sua vontade e não de sua limitação física.

Suas asas se tornaram populares na era vitoriana, nos séculos XV e XVI, quando as fadas passarma a ser pintadas, mas elas são raramente mencionadas nas compilações folclóricas, onde mesmo quando voam o fazem através de mágica e não asas, ou então surgem voando nas costas de insetos ou pássaros.

Além de descrições antropomórficas, existem relatos de fadas descritas com a aparência de um animal, às vezes a fada tem a capacidade de assumir a forma de um animal, outras ela não muda de forma e o animal, como cachorros negros, por exemplo, mantém sua forma constantemente, mas se difere de um simples cão por ser uma fada.

 

Em alguns casos surgem como seres que apesar de confundir não podem dizer uma mentira, outras vezes como seres malignos e mentirosos por natureza.

 

A breve abordagem acadêmica

Um dos primeiros estudos importantes sobre as fadas é “A República Secreta dos Elfos, das Fadas e dos Faunos“, escrito em 1691 pelo  pastor presbiteriano escocês, reverendo Robert Kirk de Aberboyle. Trabalhando nas Highlands da Escócia, ele tinha interesse vívido pelas crenças sobrenaturais da região e estava convencido da realidade das fadas. Ele mesmo pergunta no início do seu tratado: “Como seria possível a uma crença tão disseminada, mesmo que tenha apenas um décimo de verdade em suas histórias, brotar do nada?. Ele realizou suas investigações tendo em vista que quando tivesse informações sucifientes, poderia esmiuçar ao máximo a natureza da vida destas criaturas. Segundo ele as fadas são de uma “natureza intermediária entre os homens e os anjos, como eram os daemons descritos pelos antigos”. Esta definição não é muito diferente da dada pela teosofia. Dora Gelger em seu livro O mundo real das fadas e que as descreve como uma sorte de elemental.

Rev. Kirk detalha a aparência das fadas em seu tratado diz que elas possuem corpos de espíritos fluídos, capazes de mudar a cor da luz que emanam, mais ou menos da mesma natureza de uma nuvem condensada e que podem ser mais facilmente observadas durante o crepúsculo do anoitecer. Seu corpo é de uma matéria tão sutil que elas parecem poder aparecer e desaparecer ao seu bel prazer. Elas guardam costumes e idioma como o do povo do país em que vivem. Certas fadas possuem uma natureza tal que podem ser vistas em trânsito, mas nunca estacionárias. Outras nunca ficam paradas estando sempre em algum tipo de movimento. Outras ainda podiam ser ouvidas mas não vistas. Viajam muito, amiúde pelos ares, podiam roubar o que  quisessem (desde alimentos até bebês humanos)  e não tinham religião particular. Os mortais dotados de clarividência  tinham maior probabilidade de vê-las, já que eram geralmente invisiveis ao olho humano. Diz a lenda que o Rev Kirk foi arrebatado para o mundo das fadas pouco depois de publicar seu tratado, as fadas o teriam levado embora por ter revelado seus mistérios. Em 1815, Sir Walter Stooth Scott ( Não confundir com o famoso literato de mesmo nome) fez publicar esse manuscrito, e surpreendentemente também sumiu do dia para noite.

O assunto só ganhou interesse acadêmico um século depois quando o já citado W. Y Evans-Wentz publicou em 1911 seu livro “A Crença nos duendes nos Países Celtas“. Evans era antropólogo especializado em religião e doutorado pela Universidade de Oxford. Ele percorreu as ilhas britânicas e a Bretanha na costa oeste da França e publicou o resultado de suas viagens em um espesso livro que permanece um clássico dos estudos de criptozoologia. Além de documentar o que restava da tradição oral da crença Wentz concluiu que “Podemos postular cientificamente que, diante dos dados da pesquisa a existência dessas inteligências sutis. Se são deuses, gênios, demônios, ou como alega o próprio povo que o descreve fadas legítimas este é um trabalho inconcluso que o futuro nos reserva.”

Como vimos, a influência das fadas em escolas iniciáticas ou em grupos ocultistas se desenvolveu criando-se uma cultura igualmente rica à folclórica, mas focada para um aspecto menos cotidiano: a busca pela sabedoria. Inlfuencidos pelo cristianismo esotérico muitos esotéricos, como a própria Gelder, dividem os seres invisíveis da criação em grupos, os seres superiores seriam os anjos ou devas, que além dos próprios afazeres teriam também a supervisão dos seres “inferiores” em sua lista de tarefas. Então, tomados pela mesma sanha de catalogar e dividir, esses esoteriastas separam os seres invisíveis e os associam com os diferentes quatro elementos da cultura mística ocidental. De acordo com essa divisão as fadas seriam elementais do ar.

Embora com o tempo tenham sido comparadas com anjos, ou colocadas sob sua guarda e sejam vistas em sua maioria como seres benignos que gostam de ajudar as pessoas, uma compilação folclórica sobre costumes em relação a fadas mostram que grande parte do que se sabe a respeito de fadas são maneiras de se proteger se sua magia e sua malícia. Além disso uma crença comum era a de que fadas eram conhecidas por roubar recém nascidos, muitas vezes substituíndo-os por crianças fadas ou outro tipo de criaturas que se assemelhavam ao bebê, mas com o tempo iam revelando sua origem não humana.

No Brasil as fadas também não são desconhecidas, existem várias histórias, algumas até paralelos de contos europeus como o da Cinderela, batizada de Bicho de Palha, onde para fugir dos maus tratos de uma madrasta que se casou com seu pai, um rico comerciante, e possuía uma filha com a sua idade, uma jovem foge de casa e busca viver a vida em outro lugar. Ao passar perto de um rio encontra uma senhora de cara bondosa que a instrui a criar um manto de palha que lhe deixasse à mostra apenas os olhos e buscasse emprego em um castelo, lhe deixando de presente uma vara de condão. Bicho de Palha consegue o emprego e fica no castelo até que o belo príncipe decide se casar e prepara uma festa que durará três dias para escolher a futura esposa. Como todas as mulheres do castelo estão ocupadas se preparando para a festa todo o trabalho sobra para Bicho de Palha, de quem ninguém conhece a identidade. Eventualmente ela apela para a vara de condão e faz suas roupas de palha virarem um belo vestido e ganha seus sapatos de cristal. O resto da história todos conhecem, mas o curioso é que no final da história a velha senhora volta a encontrar ela para pegar de volta sua varinha e Bicho de Palha descobre que ela uma fada. Com o tempo e com a evangelização do pais, a figura da fada foi substituída pela de Nossa Senhora, mas o elemento da magia e da vara de condão permanecem presentes.

As Fadas de Cottingley

Muito do ceticismo atual em torno das fadas se deve a um episódio ocorrido em meados de 1917, o famoso caso conhecido como “As Fadas de Cottingley”. Nele, duas adolescentes inglesas Elsie Wright e Frances Griffiths ganharam fama ao alegar que conseguiram fotografias autênticas de fadas e duendes que habitavam o jardim da casa onde viviam. O caso ganhou atenção internacional, em especial do público espiritualista e foram publicadas no Strand Magazine em 1920. Confira algumas delas abaixo:

  

  

 

As duas primas de Cottingley ganharam um insuspeito advogado quando Sir Arthur Conan Doyle, criador do famoso personagem Sherlock Holmes chegou a escrever um livro The Coming of the Fairies (“A Vinda das Fadas”) para defender a veracidade das mesmas. De fato nenhum especialista até hoje conseguiu qualquer evidência de montagem fotográfica ou manipulação de imagens. Entrevistadas pela BBC muitos anos depois, em 1970 as duas senhoras continuaram defendendo sua história, mas Elsie declarou que “se você pensar seriamente em alguma coisa ela se tornará sólida, real. Acredito que as fadas eram invenção da nossa imaginação” e muitas pessoas viram nisso uma velada confissão de fraude. As suspeitas se confirmaram em 1982 quando numa entrevista a Joe Cooper as primas admitiram que haviam forjado as fotos. Sem nenhum talento para manipulação fotográfica, elas apenas posaram ao lado de recortes de papel.

Presente de Fadas

Independente de sua aparência ou motivação, as fadas são conhecidas por seus presentes. Geralmente após presentear uma pessoa, elas esperam um outro presente em troca, caso não recebam elas infernizam a vida e a calma da pessoa que teve a sorte de receber o que elas tinham para dar. Alguns consideram seus presentes um sinal de boa sorte, outros afirmam que nada que venha de uma fada é coisa boa, e deve ser evitado a qualquer custo e assim desenvolveram uma série de costumes para se afastar fadas, como o uso de amuletos, preces e o Ferro-Frio, que para uma fada é pior do que veneno.

Por outro lado, uma tradição que mostra como presentes de fadas são bem-vindos é a crença na fada-do-dente, disseminada para as crianças, onde os dentes de leite que caem são deixados deaixo do travesseiro para que a fada-dos-dentes o substitua por um doce, uma moeda ou um presente.

Acreditar em Fadas

Se o objetivo das fadas é esconder-se dos humanos nenhum golpe poderia ser mais certeiro. Desde então nenhum crédito científico ou acadêmico foi dado para qualquer relato envolvendo estes seres fantásticos. Se as fadas existirem de fato, estão hoje mais protegidas do que nunca. Porém, para sermos imparciais devemos admitir que  mesmo aquelas pessoas que desejam dar um salto de fé e confirmar a existência delas se deparam com um problema que não é trivial: as tradições sobre as fadas quando consideradas em seu conjunto são complexas e variadas demais para constituírem um todo coerente. Quando lemos a vasta quantidade de relatos pensamos muito mais em divagações da imaginação do que em um misterioso mundo invisível no qual elas habitariam.  De fato, a palavra fairyplain (o mundo das fadas) procede de uma palavra mais antiga fai-erie, que significava mais um estado de encantamento do que um lugar sobrenatural.  No clássico Peter Pan, lemos ludicamente que cada vez que alguém diz “Não acredito em Fadas”, uma fada cai morta no chão em algum lugar.  A título de hipótese talvez as fadas sejam dependentes de nossa imaginação, como sugere esta citação. Não por serem meras crenças, pois os relatos durante toda história nos proibe de achar isso, mas por serem centelhas de inteligências automonas que vivem em nossa imaginação. Vivem em nossa mente tal como as bacterias e microorganismos vivem em nossos corpos físicos e se revelam apenas quando nos tornamos receptivos a elas.

Dossiê de Criptozoologia de Herman Flegenheimer Jr.

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/criptozoologia/fadas/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/criptozoologia/fadas/

Deus e o Estado

Três elementos ou três princípios fundamentais constituem, na história, as condições essenciais de todo desenvolvimento humano, coletivo ou individual:

1º) a animalidade humana;
2º) o pensamento;
3º) a revolta.

À primeira corresponde propriamente a economia social e privada; à segunda, a ciência; à terceira, a liberdade.

Os idealistas de todas as escolas, aristocratas e burgueses, teólogos e metafísicos, políticos e moralistas, religiosos, filósofos ou poetas, sem esquecer os economistas liberais, adoradores desmedidos do ideal, como se sabe, ofendem-se muito quando se lhes diz que o homem, com sua inteligência magnífica, suas idéias sublimes e suas aspirações infinitas, nada mais é, como tudo o que existe neste inundo, que um produto da vil matéria.

Poderíamos responder-lhes que a matéria da qual falam os materialistas, matéria espontaneamente, eternamente móvel, ativa, produtiva, a matéria química ou organicamente determinada e manifesta pelas propriedades ou pelas forças mecânicas, físicas, animais e inteligentes, que lhe são forçosamente inerentes, esta matéria nada tem de comum com a vil matéria dos idealistas. Esta última, produto de falsa abstração, é efetivamente uma coisa estúpida, inanimada, imóvel, incapaz de dar vida ao mínimo produto, um caput mortuum, uma infame imaginação oposta a esta bela imaginação que eles chamam Deus; em relação ao Ser supremo, a matéria, a matéria deles, despojada por eles mesmos de tudo o que constitui sua natureza real, representa necessariamente o supremo nada. Eles retiraram da matéria a inteligência, a vida, todas as qualidades determinantes, as relações ativas ou as forças, o próprio movimento, sem o qual a matéria sequer teria peso, nada lhe deixando da impenetrabilidade e da imobilidade absoluta no espaço; eles atribuíram todas estas forças, propriedades ou manifestações naturais ao ser imaginário criado por sua fantasia abstrativa; em seguida, invertendo os papéis, denominaram este produto de sua imaginação, este fantasma, este Deus que é o nada, “Ser supremo”; e, por conseqüência necessária, declararam que o Ser real, a matéria, o mundo, era o nada. Depois disso eles vêm nos dizer gravemente que esta matéria é incapaz de produzir qualquer coisa que seja, até mesmo colocar-se em movimento por si mesma, e que por conseqüência deve ter sido criada por seu Deus.

Quem tem razão, os idealistas ou os materialistas? Uma vez feita a pergunta, a hesitação se torna impossível. Sem dúvida, os idealistas estão errados e os materialistas certos. Sim, os fatos têm primazia sobre as idéias; sim, o ideal, como disse Proudhon, nada mais é do que uma flor, cujas condições materiais de existência constituem a raiz. Sim, toda a história intelectual e moral, política e social da humanidade é um reflexo de sua história econômica.

Todos os ramos da ciência moderna, da verdadeira e desinteressada ciência, concorrem para proclamar esta grande verdade, fundamental e decisiva: o mundo social, o mundo propriamente humano, a humanidade numa palavra, outra coisa não é senão o desenvolvimento supremo, a manifestação mais elevada da animalidade pelo menos para nós e em relação ao nosso planeta. Mas como todo desenvolvimento implica necessariamente uma negação, a da base ou do ponto de partida, a humanidade é, ao mesmo tempo e essencialmente, a negação refletida e progressiva da animalidade nos homens; e é precisamente esta negação, racional por ser natural, simultaneamente histórica e lógica, fatal como o são os desenvolvimentos e as realizações de todas as leis naturais no mundo, é ela que constitui e que cria o ideal, o mundo das convicções intelectuais e morais, as idéias.

Sim, nossos primeiros ancestrais, nossos Adão e Eva foram, senão gorilas, pelo menos primos muito próximos dos gorilas, dos onívoros, dos animais inteligentes e ferozes, dotados, em grau maior do que o dos animais de todas as outras espécies, de duas faculdades preciosas: a faculdade de pensar e a necessidade de se revoltar.

Estas duas faculdades, combinando sua ação progressiva na história, representam a potência negativa no desenvolvimento positivo da animalidade humana, e criam consequentemente tudo o que constitui a humanidade nos homens. A Bíblia, que é um livro muito interessante, e aqui e ali muito profundo, quando o consideramos como uma das mais antigas manifestações da sabedoria e da fantasia humanas, exprime esta verdade, de maneira muito ingênua, em seu mito do pecado original. Jeová, que, de todos os bons deuses adorados pelos homens, foi certamente o mais ciumento, o mais vaidoso, o mais feroz, o mais injusto, o mais sanguinário, o mais despótico e o maior inimigo da dignidade e da liberdade humanas, Jeová acabava de criar Adão e Eva, não se sabe por qual capricho, talvez para ter novos escravos. Ele pôs, generosamente, à disposição deles toda a terra, com todos os seus frutos e todos os seus animais, e impôs um único limite a este completo gozo: proibiu-os expressamente de tocar os frutos da árvore de ciência. Ele queria, pois, que o homem, privado de toda consciência de si mesmo, permanecesse um eterno animal, sempre de quatro patas diante do Deus “vivo”, seu criador e seu senhor. Mas eis que chega Satã, o eterno revoltado, o primeiro livre-pensador e o emancipador dos mundos! Ele faz o homem se envergonhar de sua ignorância e de sua obediência bestiais; ele o emancipa, imprime em sua fronte a marca da liberdade e da humanidade, levando-o a desobedecer e a provar do fruto da ciência.

Conhece-se o resto. O bom Deus, cuja presciência, constituindo uma das divinas faculdades, deveria tê-lo advertido do que aconteceria, pôs-se em terrível e ridículo furor: amaldiçoou Satã, o homem e o mundo criados por ele próprio, ferindo-se, por assim dizer, em sua própria criação, como fazem as crianças quando se põem em cólera; e não contente em atingir nossos ancestrais, naquele momento ele os amaldiçoou em todas as suas gerações futuras, inocentes do crime cometido por seus ancestrais .

Nossos teólogos católicos e protestantes acham isto muito profundo e justo, precisamente porque é monstruosamente iníquo e absurdo. Depois, lembrando-se de que ele não era somente um Deus de vingança e cólera, mais ainda, um Deus de amor, após ter atormentado a existência de alguns bilhões de pobres seres humanos e tê-los condenado a um eterno inferno, sentiu piedade e para salvá-los, para reconciliar seu amor eterno e divino com sua cólera eterna e divina, sempre ávida de vítimas e de sangue, ele enviou ao mundo, como uma vítima expiatória, seu filho único, a fim de que ele fosse morto pelos homens. Isto é denominado mistério da Redenção, base de todas as religiões cristãs.

Ainda se o divino Salvador tivesse salvo o mundo humano! Mas não; no paraíso prometido pelo Cristo, como se sabe, visto que é formalmente anunciado, haverá poucos eleitos. O resto, a imensa maioria das gerações presentes e futuras arderão eternamente no inferno. Enquanto isso, para nos consolar, Deus, sempre justo, sempre bom, entrega a terra ao governo dos Napoleão III, Guilherme 1, Ferdinando da Áustria e Alexandre de todas as Rússias.

Tais são os contos absurdos que se narram e as doutrinas monstruosas que se ensinam, em pleno século XIX, em todas as escolas populares da Europa, sob ordem expressa dos governos. Chama-se a isto civilizar os povos! Não é evidente que todos os governos são os envenenadores sistemáticos, os embrutecedores interessados das massas populares?

Eis os ignóbeis e criminosos meios que eles empregam para reter as nações em eterna escravidão, a fim de poder melhor despojá-las, sem dúvida nenhuma. O que são os crimes de todos os Tropmann do mundo, em presença deste crime de lesa-humanidade que se comete quotidianamente, abertamente, sobre toda a superfície do mundo civilizado, por aqueles mesmos que ousam chamar-se de tutores e pais dos povos?

Entretanto, no mito do pecado original, Deus deu razão a Satã; ele reconheceu que o diabo não havia enganado Adão e Eva ao lhes prometer a ciência e a liberdade, como recompensa pelo ato de desobediência que ele os induzira a cometer. Assim que eles provaram do fruto proibido, Deus disse a si mesmo (ver a Bíblia): “Aí está, o homem tornou-se como um dos deuses, ele conhece o bem e o mal; impeçamo-lo pois de comer o fruto da vida eterna, a fim de que ele não se torne imortal como Nós”. Deixemos agora de lado a parte fabulosa deste mito, e consideremos seu verdadeiro sentido, muito claro, por sinal. O homem se emancipou, separou-se da animalidade e se constituiu homem; ele começou sua história e seu desenvolvimento especificamente humano por um ato de desobediência e de ciência, isto é, pela revolta e pelo pensamento .

O sistema dos idealistas apresenta-nos inteiramente ao contrário. É a reviravolta absoluta de todas essas experiências humanas e deste bom senso universal e comum, que é a condição essencial de qualquer conhecimento humano, e que, partindo desta verdade tão simples, há tanto tempo reconhecida, que 2 mais 2 são 4, até às considerações científicas mais sublimes e mais complicadas, não admitindo, por sinal, nada que não seja severamente confirmado pela experiência e pela observação das coisas e dos fatos, constitui a única base séria dos conhecimentos humanos.

Concebe-se perfeitamente o desenvolvimento sucessivo do mundo material, tanto quanto o da vida orgânica, animal, e da inteligência historicamente progressiva do homem, individual ou social. É um movimento completamente natural, do simples ao composto, de baixo para cima, ou do inferior ao superior; um movimento conforme a todas as nossas experiências quotidianas e, consequentemente, conforme também à nossa lógica natural, às leis próprias de nosso espírito, que só se formam e só podem desenvolver-se com a ajuda destas mesmas experiências, que nada mais são senão sua reprodução mental, cerebral, ou o resumo ponderado.

Longe de seguir a via natural, de baixo para cima, do inferior ao superior, e do relativamente simples ao mais complicado; ao invés de admitir sabiamente, racionalmente, a transição progressiva e real do mundo denominado inorgânico ao mundo orgânico, vegetal, animal, em seguida especialmente humano; da matéria ou do ser químico à matéria ou ao ser vivo, e do ser vivo ao ser pensante, os idealistas, obsedados, cegos e impulsionados pelo fantasma divino que herdaram da teologia, tomam a via absolutamente contrária. Eles vão de cima para baixo, do superior ao inferior, do complicado ao simples. Eles começam por Deus, seja como pessoa, seja como substância ou idéia divina, e o primeiro passo que dão é uma terrível queda das alturas sublimes do eterno ideal na lama do mundo material: da perfeição absoluta na imperfeição absoluta; do pensamento ao ser, ou ainda, do Ser Supremo ao Nada. Quando, como o por que o Ser divino, eterno, infinito, o perfeito absoluto, provavelmente entediado de si mesmo, decidiu-se a esse salto mortal desesperado, eis o que nenhum idealista, nem teólogo, nem metafísico, nem poeta, jamais soube compreender, nem explicar aos profanos. Todas as religiões passadas e presentes e todos os sistemas de filosofia transcendentes apoiam-se nesse único e iníquo mistério[‘].

Santos homens, legisladores inspirados, profetas e messias, procuraram lá a vida e só encontraram a tortura e a morte. Assim como a esfinge antiga, ele os devorou, porque não souberam explicar esse mistério. Grandes filósofos, desde Heráclito e Platão até Descartes, Spinoza, Leibnitz, Kant, Fichte, Schelling e Hegel, sem falar dos filósofos hindus, escreveram amontoados de volumes e criaram sistemas tão engenhosos quanto sublimes, nos quais disseram passagens muito belas, e grandes coisas, e descobriram verdades imortais, mas deixaram este mistério, objeto principal de suas investigações transcendentes, tão insondável quanto antes deles.

Os esforços gigantescos dos mais admiráveis gênios que o mundo conhece, e que, uns após outros, durante trinta séculos pelo menos, empreenderam sempre esse trabalho de Sísifo, só conseguiram tornar este mistério mais incompreensível ainda. Podemos esperar que ele nos seja desvendado pelas especulações rotineiras de algum pedante discípulo de uma metafísica artificialmente requentada, numa época em que todos os espíritos vivos e sérios desviaram-se dessa ciência equivoca, saída de uma transação entre o contra-senso da fé e a sadia razão científica? É evidente que esse terrível mistério é inexplicável, isto é, absurdo, e absurdo porque não se deixa explicar. E evidente que alguém que dele necessite para sua felicidade, para sua vida, deve renunciar à sua razão e retornar, caso seja possível, à fé ingênua, cega, estúpida; repetir com Tertuliano e com todos os crentes sinceros estas palavras que resumem a própria quintessência da teologia: Credo quja absurdum.

Nesse caso cessa toda a discussão e só resta a estupidez triunfante da fé. Mas logo em seguida surge uma outra pergunta: Como pode nascer, em um homem inteligente e instruído, a necessidade de crer nesse mistério? Que a crença em Deus, criador, ordenador, juiz, senhor, amaldiçoador, salvador e benfeitor do mundo, tenha se conservado no povo, e sobretudo nas populações rurais, muito mais do que no proletariado das cidades, nada mais natural.

O povo, infelizmente, é ainda muito ignorante e mantido na ignorância pelos esforços sistemáticos de todos os governos que consideram isso, com muita razão, como uma das condições essenciais de seu próprio poder. Esmagado por seu trabalho quotidiano, privado de lazer, de comércio intelectual, de leitura, enfim, de quase todos os meios e de uma boa parte dos estímulos que desenvolvem a reflexão nos homens, o povo aceita, na maioria das vezes, sem crítica e em bloco, as tradições religiosas. Elas o envolvem desde a primeira idade, em todas as circunstâncias de sua vida, artificialmente mantidas em seu seio por uma multidão de corruptores oficiais de todos os tipos, padres e leigos, elas se transformam entre eles em um tipo de hábito mental, freqüentemente mais poderoso do que seu bom senso natural.

Há uma outra razão que explica e legitima de certo modo as crenças absurdas do povo. Esta razão é a situação miserável à qual ele se encontra fatalmente condenado pela organização econômica da sociedade, nos países mais civilizados da Europa. Reduzido, sob o aspecto intelectual e moral, tanto quanto sob o aspecto material, ao mínimo de uma existência humana, recluso em sua vida como um prisioneiro em sua prisão, sem horizontes, sem saída, até mesmo sem futuro, se se acredita nos economistas, o povo deveria ter a alma singularmente estreita e o instinto aviltado dos burgueses para não sentir a necessidade de sair disso; mas, para isso, há somente três meios: dois fantásticos, e o terceiro real. Os dois primeiros são o cabaré e a igreja; o terceiro é a revolução social. Esta última, muito mais que a propaganda antiteológica dos livres-pensadores, será capaz de destruir as crenças religiosas e os hábitos de libertinagem no povo, crenças e hábitos que estão mais intimamente ligados do que se pensa. Substituindo os gozos simultaneamente ilusórios e brutais da orgia corporal e espiritual pelos gozos tão delicados quanto ricos da humanidade desenvolvida em cada um e em todos, a revolução social terá a força de fechar ao mesmo tempo todos os cabarés e todas as igrejas. Até lá, o povo, considerado em massa, crerá, e se não tem razão de crer, pelo menos terá o direito de fazê-lo .

Há uma categoria de pessoas que, se não crêem, devem pelo menos fazer de conta que sim. São todos os atormentadores, os opressores, os exploradores da humanidade: padres, monarcas, homens de Estado, homens de guerra, financistas públicos e privados, funcionários de todos os tipos, soldados, policiais, carcereiros e carrascos, capitalistas, aproveitadores, empresários e proprietários, advogados, economistas, políticos de todas as cores, até o último vendedor de especiarias, todos repetirão em uníssono essas palavras de Voltaire: “Se Deus não existisse seria preciso inventá-lo”. Vós compreendeis, “é preciso uma religião para o povo”. E a válvula de escape. Há também um número de almas honestas, mas fracas, que, muito inteligentes para levar os dogmas cristãos a sério, rejeita-os a retalho, mas não têm a coragem, nem a força, nem a resolução necessária para repeli-los por atacado. Elas abandonam à crítica todos os absurdos particulares da religião, elas desdenham de todos os milagres, mas se agarram desesperadamente ao absurdo principal, fontes de todos os outros, ao milagre que explica e legitima todos os outros milagres, à existência de Deus.

Seu Deus não é, em nada, o Ser vigoroso e potente, o Deus totalmente positivo da teologia. E um ser nebuloso, diáfano, ilusório, de tal forma ilusório que se transforma em Nada quando se acredita tê-lo agarrado; é uma miragem, uma pequena chama que não aquece nem ilumina. E entretanto elas se prendem a ele, e acreditam que se ele desaparecesse, tudo desapareceria com ele. São almas incertas, doentes, desorientadas na civilização atual, não pertencendo nem ao presente nem ao futuro, pálidos fantasmas eternamente suspensos entre o céu e a terra, e ocupando, entre a política burguesa e o socialismo do proletariado, absolutamente a mesma posição. Elas não seu tem força para pensar até o fim, nem para querer, nem para se decidir, e perdem seu tempo e sua ocupação esforçando-se sempre em conciliar o inconciliável. Na vida pública, estas pessoas se chamam socialistas burgueses .

Nenhuma discussão é possível com elas. Elas são muito doentes.

Mas há um pequeno número de homens ilustres, dos quais ninguém ousará falar sem respeito, e dos quais nada poderá colocar em dúvida nem a saúde vigorosa, nem a força de espírito, nem a boa fé. Basta que eu cite os nomes de Mazzini, Michelet, Quinet, John Stuart Mill [2] Almas generosas e fortes, grandes corações, grandes espíritos, grandes escritores, o primeiro, regenerador heróico e revolucionário de uma grande nação, são todos apóstolos do idealismo, e desprezadores, adversários apaixonados do materialismo, e, consequentemente, do socialismo, em filosofia tanto quanto em política. É pois contra eles que é preciso discutir esta questão.

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Constatemos inicialmente que nenhum dos homens ilustres que acabo de citar, nem qualquer outro pensador idealista com alguma importância em nossos dias ocupou-se, para dizer a verdade, com a parte lógica desta questão. Nenhum tentou resolver filosoficamente a possibilidade do salto mortal divino das regiões eternas e puras do espírito à lama do mundo material. Será que eles temeram abordar esta insolúvel contradição e se desesperaram de resolvê-la, depois que os maiores gênios da história fracassaram, ou será que eles a consideraram como já suficientemente resolvida? É segredo deles. O fato é que eles deixaram de lado a demonstração teórica da existência de um Deus, e só desenvolveram suas razões e conseqüências práticas. Eles falaram dele como de um fato universalmente aceito e, como tal, não podendo mais tornar-se objeto de uma dúvida qualquer, limitando-se, contra qualquer prova, a constatar a antigüidade e mesmo a universalidade da crença em Deus .
Esta unanimidade imponente, segundo a opinião de muitos homens e escritores ilustres, e, para citar apenas os mais renomados dentre eles, Joseph de Maistre e o grande patriota italiano Giuseppe Mazzini, vale mais do que todas as demonstrações da ciência; e, se a lógica de um pequeno número de pensadores conseqüentes e mesmo muito influentes, mas isolados, lhe é contrária, tanto pior, dizem eles, para estes pensadores e para sua lógica, pois o consentimento geral, a adoção universal e antiga de uma idéia foram sempre consideradas como a prova mais vitoriosa de sua verdade.

O sentimento de todo o mundo, uma convicção que é encontrada e se mantém sempre e em todos os lugares não poderia se enganar; eles devem ter sua raiz numa necessidade absolutamente inerente à própria natureza do homem. E visto que foi constatado que todos os povos passados e presentes acreditaram e acreditam na existência de Deus, é evidente que aqueles que têm a infelicidade de duvidar disso, qualquer que seja a lógica que os tenha levado a esta dúvida, são exceções, anomalias, monstros. Assim, pois, a antigüidade e a universalidade de uma crença seriam, contra toda ciência e contra toda lógica, uma prova suficiente e irrecusável de sua verdade. Por quê? Até o século de Galileu e de Copérnico, todo mundo acreditava que o sol girava em torno da terra.

Todo mundo não estava errado? O que há de mais antigo e de mais universal do que a escravidão? A antropofagia, talvez. Desde a origem da sociedade histórica, até nossos dias, sempre houve, e em todos os lugares, exploração do trabalho forçado das massas, escravos, servos ou assalariados, por alguma minoria dominante, opressão dos povos pela Igreja e pelo Estado. Deve-se concluir que esta exploração e esta opressão sejam necessidades absolutamente inerentes à própria existência da sociedade humana? Eis alguns exemplos que mostram que a argumentação dos advogados do bom Deus nada prova. Nada é, com efeito, nem tão universal nem tão antigo quanto o iníquo e o absurdo; é ao contrário a verdade, a justiça que, no desenvolvimento das sociedades humanas, aio as menos universais e as mais jovens. Assim se explica, por sinal, um fenômeno histórico constante: as perseguições àqueles que proclamam a primazia da verdade, por parte dos representantes oficiais, privilegiados e interessados pelas crenças “universais” e “antigas”, e freqüentemente também por parte destas mesmas massas populares que, após tê-los inicialmente desconhecido, acabam sempre por adotar e por fazer triunfar suas idéias.

Para nós, materialistas e socialistas revolucionários, não há nada que nos surpreenda e nos amedronte nesse fenômeno histórico.

Fortalecidos em nossa consciência, em nosso amor pela verdade, por esta paixão lógica que por si só constitui uma grande força, e fora da qual não há pensamento; fortalecidos em nossa paixão pela justiça e em nossa fé inquebrantável no triunfo da humanidade sobre todas as bestialidades teóricas e práticas; fortalecidos, enfim, em nossa confiança e no apoio mútuo que se dá o pequeno número daqueles que compartilham nossas convicções, nós nos resignamos por nós mesmos a todas as conseqüências desse fenômeno histórico no qual vemos a manifestação de uma lei social tão invariável quanto todas as outras leis que governam o mundo.

Esta lei é uma conseqüência lógica, inevitável, da origem animal da sociedade humana; e diante de todas as provas científicas, fisiológicas, psicológicas, históricas, que se acumularam em nossos dias, assim como diante das façanhas dos alemães conquistadores da França, que dão uma demonstração tão ruidosa, não é mais possível, realmente, duvidar disso. Mas, do momento em que se aceita esta origem animal do homem, tudo se explica. A história nos aparece então como a negação revolucionária, ora lenta, apática, adormecida, ora apaixonada e possante, do passado. Ela consiste precisamente na negação progressiva da animalidade primitiva do homem pelo desenvolvimento de sua humanidade. O homem, animal feroz, primo do gorila, partiu da noite profunda do instinto animal para chegar à luz do espírito, o que explica de uma maneira completamente natural todas as suas divagações passadas e nos consola em parte de seus erros presentes. Ele partiu da escravidão animal, e atravessando a escravidão divina, termo transitório entre sua animalidade e sua humanidade, caminha hoje rumo à conquista e à realização da liberdade humana.

Resulta daí que a antigüidade de uma crença, de uma idéia, longe de provar alguma coisa em seu favor, deve, ao contrário, torná-la suspeita para nós. Isto porque atrás de nós está nossa animalidade, e diante de nós nossa humanidade; a luz humana, a única que pode nos aquecer e nos iluminar, a única que nos pode emancipar, tornar-nos dignos, livres, felizes, e realizar a fraternidade entre nós, jamais está no princípio, mas, relativamente, na época em que se vive, e sempre no fim da história. Não olhemos jamais para trás, olhemos sempre para a frente; à frente está nosso sol, nossa salvação; se nos é permitido, se é mesmo útil, necessário nos virarmos para o estudo de nosso passado, é apenas para constatar o que fomos e o que não devemos mais ser, o que acreditamos e pensamos, e o que não devemos mais acreditar nem pensar, o que fizemos e o que nunca mais deveremos fazer. Eis o que concerne à antigüidade.

Quanto à universalidade de um erro, ela só prova uma coisa: a semelhança, senão a perfeita identidade da natureza humana, em todos os tempos e sob todos os climas. E, visto que está constatado que todos os povos, em todas as épocas de sua vida, acreditaram e acreditam ainda em Deus, devemos concluir disso, simplesmente, que a idéia divina, emanada de nós mesmos, é um erro historicamente necessário no desenvolvimento da humanidade, e nos perguntarmos por que, como ele foi produzido na história, por que a imensa maioria da espécie humana o aceita, ainda hoje, como uma verdade? Enquanto não soubermos dar-nos conta da maneira como a idéia de um mundo sobrenatural e divino se produziu, e pôde fatalmente se produzir no desenvolvimento histórico da consciência humana, de nada adiantará estarmos cientificamente convencidos do absurdo desta idéia, não conseguiremos nunca destruí-la na opinião da maioria, porque não saberemos jamais atacá-la nas profundezas do ser humano, onde ela se originou. Condenados a uma esterilidade sem saída e sem fim, devemos sempre contentar-nos em combatê-la somente à superfície, em suas inúmeras manifestações, cujo absurdo, tão logo abatido pelos golpes do bom senso, renasce imediatamente após, sob uma nova forma, não menos insensata.

Enquanto a raiz de todos os absurdos que atormentam o mundo não for destruída, a crença em Deus permanecerá intacta e jamais deixará de produzir novos brotos. E assim que, em nossos dias, em certas regiões da alta sociedade, o espiritismo tende a se instalar sobre as ruínas do cristianismo. Não é somente no interesse das massas, é no interesse da saúde de nosso próprio espírito que devemos nos esforçar para compreender a gênese histórica, a sucessão das causas que desenvolveram e produziram a idéia de Deus na consciência dos homens. De nada adianta nos dizermos e nos considerarmos ateus; enquanto não tivermos compreendido essas causas, nos deixaremos sempre mais ou menos dominar pelos clamores dessa consciência universal, da qual não teremos descoberto o segredo, e dada a fraqueza natural do indivíduo, mesmo do mais forte, contra a influência todo-poderosa do meio social que o entrava, corremos sempre o risco de recair, cedo ou tarde, de uma maneira ou de outra, no abismo do absurdo religioso. Os exemplos dessas conversões vergonhosas são freqüentes na sociedade atual.

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Falei da razão prática principal do poder exercido ainda hoje pelas crenças religiosas sobre as massas. Essas disposições místicas não denotam no homem somente uma aberração do espírito, mas um profundo descontentamento do coração. E o protesto instintivo e apaixonado do ser humano contra as estreitezas, as vulgaridades, as dores e as vergonhas de uma existência miserável. Contra esta doença, já disse, só há um único remédio: a Revolução Social. Em outros escritos me preocupei em expor as causas que presidiram ao nascimento e ao desenvolvimento histórico das alucinações religiosas na consciência do homem. E aqui quero tratar desta questão da existência de um Deus, ou da origem divina do mundo e do homem sob o ponto de vista de sua utilidade moral e social, e direi poucas palavras sobre a razão teórica desta crença, a fim de melhor explicar meu pensamento .

Todas as religiões, com seus deuses, seus semideuses e seus profetas, seus messias e seus santos, foram criadas pela fantasia crédula do homem, que ainda não alcançou o pleno desenvolvimento e a plena possessão de suas faculdades intelectuais. Em conseqüência, o céu religioso nada mais é do que uma miragem onde o homem, exaltado pela ignorância pela fé, encontra sua própria imagem, mas ampliada e invertida, isto é, divinizada. A história das religiões, a do nascimento, da grandeza e da decadência dos deuses que se se sucederam na crença humana, não é nada mais do que o desenvolvimento da inteligência e da consciência coletivas homens.

À medida que, em sua marcha histórica progressiva, eles descobriam, seja neles próprios, seja na natureza exterior, uma força, uma qualidade, ou mesmo grande defeito quaisquer, eles os atribuíam a seus deuses após tê-los exagerado, ampliado desmedidamente, como fazem habitualmente as crianças, por um ato de sua fantasia religiosa. Graças a esta modéstia e a esta piedosa generosidade dos homens, crentes e crédulos, o céu se enriqueceu com os despojos da terra, e, por conseqüência necessária, quanto mais o céu se tornava rico, mais a humanidade e a terra se tornavam miseráveis. Uma vez instalada a divindade, ela foi naturalmente proclamada a causa, a razão, o árbitro e o distribuidor absoluto de todas as coisas: o mundo não foi mais nada, ela foi tudo; e o homem, seu verdadeiro criador, após tê-la tirado do nada sem o saber, ajoelhou-se diante dela, adorou-a e se proclamou sua criatura e seu escravo.

O cristianismo é precisamente a religião por excelência, porque ele expõe e manifesta, em sua plenitude, a natureza, a própria essência de todo o sistema religioso, que é empobrecimento, a escravização e o aniquilamento da humanidade em proveito da divindade. Deus sendo tudo, o mundo real e o homem não são nada. Deus sendo a verdade, a justiça, o bem, o belo, a força e a vida, o homem é a mentira, a iniqüidade, o mal, a feiúra, a impotência e a morte. Deus sendo o senhor, o homem é o escravo. Incapaz de encontrar por si próprio a justiça, a verdade e a vida eterna, ele só pode alcançar isso por meio de uma revelação divina. Mas quem diz revelação diz reveladores, messias, profetas, padres e legisladores inspirados pelo próprio Deus; e estes, uma vez reconhecidos como os representantes da divindade sobre a terra, como os santos instituidores da humanidade, eleitos pelo próprio Deus para dirigi-la em direção à via da salvação, exercem necessariamente um poder absoluto. Todos os homens lhes devem uma obediência passiva e ilimitada, pois contra a razão divina não há razão humana, e contra a justiça de Deus não há justiça terrestre que se mantenha.

Escravos de Deus, os homens devem sê-lo também da Igreja e do Estado, enquanto este último for consagrado pela Igreja. Eis o que de todas as religiões que existem ou que existiram, o cristianismo compreendeu melhor do que as outras, sem excetuar a maioria das antigas religiões orientais, as quais só abarcaram povos distintos e privilegiados, enquanto que o cristianismo tem a pretensão de abarcar a humanidade inteira; eis o que, de todas as seitas cristãs, o catolicismo romano, sozinho, proclamou e realizou com uma conseqüência rigorosa .
É por isso que o cristianismo é a religião absoluta, a última religião, é por isso que a Igreja apostólica e romana é a única conseqüente, a única lógica. A despeito dos metafísicos e dos idealistas religiosos, filósofos, políticos ou poetas, a idéia de Deus implica a abdicação da razão e da justiça humanas; ela é a negação mais decisiva da liberdade humana e resulta necessariamente na escravidão dos homens, tanto na teoria quanto na prática. A não ser que queiramos a escravidão e o envilecimento dos homens, como o querem os jesuítas, como o querem os mômiers [3], os pietistas[4] e os metodistas protestantes, não podemos nem devemos fazer a mínima concessão, nem ao Deus da teologia nem ao da metafísica. Aquele que, neste alfabeto místico, começa por Deus, deverá fatalmente acabar por Deus; aquele que quer adorar Deus, deve, sem se pôr ilusões pueris, renunciar bravamente à sua liberdade e à sua humanidade. Se Deus é, o homem é escravo; ora, o homem pode, deve ser livre, portanto, Deus não existe. Desafio quem quer que seja para sair deste circulo, e agora que se escolha.

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É preciso lembrar quanto e como as religiões embrutecem e corrompem os povos? Elas matam neles a razão, o principal instrumento da emancipação humana e os reduzem à imbecilidade, condição essencial da escravidão. Elas desonram o trabalho humano e fazem dele sinal e fonte de servidão. Elas matam a noção e o sentimento da justiça humana, fazendo sempre pender a balança para o lado dos patifes triunfantes, objetos privilegiados da graça divina. Elas matam o orgulho e a dignidade humana, protegendo apenas a submissos e os humildes. Elas sufocam no coração dos povos todo sentimento de fraternidade humana, preenchendo-o de crueldade. Todas as religiões são cruéis, todas são fundadas sobre o sangue, visto que todas repousam principalmente sobre a idéia do sacrifício, isto é, sobre a imolação perpétua da humanidade à insaciável vingança da divindade. Neste sangrento mistério, o homem é sempre a vítima, e o padre, homem também, mas homem privilegiado pela graça, é o divino carrasco. Isto nos explica por que os padres de todas as religiões, os melhores, os mais humanos, os mais doces, têm quase sempre no fundo de seu coração – senão no coração, pelo menos em sua imaginação, em seu espírito – alguma coisa de cruel e de sanguinário.

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Tudo isso, nossos ilustres idealistas contemporâneos sabem melhor do que ninguém. São homens sábios, que conhecem sua história de memória; e como eles são ao mesmo tempo homens vivos, grandes almas penetradas de um amor sincero e profundo pelo bem da humanidade, eles amaldiçoaram e estigmatizaram todas estas malfeitorias, todos estes crimes da religião com uma eloqüência sem igual. Eles rejeitam com indignação toda solidariedade com o Deus das religiões positivas e com seus representantes passados e presentes sobre a terra. O Deus que eles adoram, ou que eles pensam adorar, distingue-se precisamente dos deuses reais da história por não ser um Deus positivo, determinado da maneira que se quiser, teologicamente, ou até mesmo metafisicamente. Não 6 nem o Ser supremo de Robespierre e de Rousseau, nem o deus panteísta de Spinoza, nem mesmo o deus, ao mesmo tempo inocente, transcedente e muito equívoco de Hegel. Eles tomam cuidado de lhe dar uma determinação positiva qualquer, sentindo muito bem que toda determinação o submeteria à ação dissolvente da crítica. Eles não dirão se ele é um deus pessoal ou impessoal, se ele criou ou não criou o mundo; sequer falarão de sua divina providência .

Tudo isso poderia comprometê-lo. Eles se contentarão em dizê-lo: Deus, e nada mais do que isso. Mas então o que é seu deus? Não é sequer uma idéia, é uma aspiração. É o nome genérico de tudo o que parece grande, bom, belo, nobre, humano. Mas por que não dizem então: o homem? Ah! E que o rei Guilherme da Prússia e Napoleão III, e todos os idênticos a eles são igualmente homens: eis o que os embaraça muito. A humanidade real nos apresenta um conjunto de tudo o que há de mais vil e de mais monstruoso no mundo. Como sair disso? Eles chamam um de divino e o outro de bestial, representando a divindade e a animalidade como dois pólos entre os quais eles situam a humanidade. Eles não querem ou não podem compreender que estes três termos formam um único, e que se os separarmos, nós os destruímos. Eles não são bons em lógica, e dir-se-ia que a desprezam. E isso que os distingue dos metafísicos panteístas e deístas, e o que imprime às suas idéias o caráter de um idealismo prático, buscando suas inspirações menos no desenvolvimento severo de um pensamento do que nas experiências, direi, quase nas emoções, tanto históricas e coletivas quanto individuais, da vida. Isto dá à sua propaganda uma aparência de riqueza e de potência vital, mas aparência somente, pois a vida se torna estéril quando é paralisada por uma contradição lógica. Esta contradição é a seguinte: eles querem Deus e querem a humanidade. Obstinam-se em colocar juntos dois termos que, uma vez separados, só podem se reencontrar para se entredestruir.

Eles dizem de uma só vez: Deus e a liberdade do homem, Deus e a dignidade, a justiça, a igualdade, a fraternidade, a prosperidade dos homens, sem se preocupar com a lógica fatal, em virtude da qual, se Deus existe, ele é necessariamente o senhor eterno, supremo, absoluto, e se este senhor existe, o homem é escravo; se ele é escravo, não há justiça, nem igualdade, nem fraternidade, nem prosperidade possível. De nada adiantará, contrariamente ao bom senso e a todas as experiências da história, eles representarem seu Deus animado do mais doce amor pela liberdade humana: um senhor, por mais que ele faça e por mais liberal que queira se mostrar, jamais deixa de ser, por isso, um senhor. Sua existência implica necessariamente a escravidão de tudo o que se encontra debaixo dele. Assim, se Deus existisse, só haveria para ele um único meio de servir à liberdade humana; seria o de cessar de existir .

Amoroso e ciumento da liberdade humana e considerando-a como a condição absoluta de tudo o que adoramos e respeitamos na humanidade, inverto a frase de Voltaire e digo que, se Deus existisse, seria preciso aboli-lo.

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A severa lógica que me dita estas palavras é muito evidente para que eu necessite desenvolver esta argumentação. E me parece impossível que os homens ilustres, dos quais citei os nomes tão célebres e tão justamente respeitados não tenham sido tocados e não tenham percebido a contradição na qual eles caem ao falar de Deus e da liberdade humana simultaneamente. Para que tenham passado ao longo do problema, foi preciso que tivessem pensado que esta inconseqüência ou esta injustiça fosse, na prática, necessária para o próprio bem da humanidade .
Talvez, também, ao falar da liberdade como de uma coisa que é para eles respeitável e cara, eles a compreendam completamente diferente da que concebemos, nós, materialistas e socialistas revolucionários. Com efeito, eles não faiam jamais dela sem acrescentar imediatamente uma outra palavra, a da autoridade, uma palavra e uma coisa que detestamos com toda a força de nosso coração.

O que é a autoridade? E a força inevitável das leis naturais que se manifestam no encadeamento e na sucessão fatal dos fenômenos do mundo físico e do mundo social? Efetivamente, contra estas leis, a revolta é não somente proibida, é também impossível. Podemos conhecê-las mal, ou ainda não conhecê-las, mas não podemos desobedecê-las porque elas constituem a base e as próprias condições de nossa existência: elas nos envolvem, nos penetram, regulam todos os nossos movimentos, pensamentos e atos; mesmo quando pensamos desobedecê-las, não fazemos outra coisa que manifestar sua onipotência. Sim, somos absolutamente escravos destas leis. Mas nada há de humilhante nesta escravidão. A escravidão supõe um senhor exterior, um legislador que se situe fora daquele ao qual comanda; enquanto as leis não estão fora de nós, elas nos são inerentes, constituem nosso ser, todo nosso ser, corporal, intelectual e moralmente: só vivemos, só respiramos, só agimos, só pensamos, só queremos através delas. Fora delas não somos nada, não somos. i)e onde nos viria então o poder e o querer de nos revoltarmos contra elas? Em relação às leis naturais, só há, para o homem, uma única liberdade possível: reconhecê-las e aplicá-las cada vez mais, conforme o objetivo de emancipação ou de humanização coletiva e individual que ele persegue. Estas leis, uma vez reconhecidas, exercem uma autoridade que jamais é discutida pela massa dos homens. E preciso, por exemplo, ser, no fundo, um teólogo ou um economista burguês para se revoltar contra esta lei, segundo a qual dois mais dois são quatro. E preciso ter fé para pensar que não nos queimaríamos no fogo e que não nos afogaríamos na água, a menos que tenhamos recorrido a algum subterfúgio, fundado sobre qualquer outra lei natural. Mas estas revoltas, ou melhor, estas tentativas ou estas loucas fantasias de uma revolta impossível não formam mais do que uma exceção bastante rara, pois, em geral, se pode dizer que a massa dos homens, na vida quotidiana, se deixa governar pelo bom senso, o que significa dizer, pela soma das leis naturais geralmente reconhecidas, de maneira mais ou menos absoluta .

A infelicidade é que grande quantidade de leis naturais já constatadas como tais pela ciência, permanecem desconhecidas das massas populares, graças aos cuidados desses governos tutelares que só existem, como se sabe, para o bem dos povos. Há, além disso, um grande inconveniente: é que a maior parte das leis naturais, que estão ligadas ao desenvolvimento da sociedade humana e são tão necessárias, invariáveis, quanto as leis que governam o mundo físico, não foram devidamente constatadas e reconhecidas pela própria ciência [5].

Uma vez tivessem elas sido reconhecidas pela ciência, e que da ciência, através de um amplo sistema de educação e de instrução popular, elas passassem à consciência de todos, a questão da liberdade estaria perfeitamente resolvida. As autoridades mais recalcitrantes devem admitir que aí então não haverá necessidade de organização, nem de direção nem de legislação políticas, três coisas que emanam da vontade do soberano ou da votação de um parlamento eleito pelo sufrágio universal, jamais podendo estar conformes às leis naturais, e são sempre igualmente funestas e contrárias à liberdade das massas, visto que elas lhes impõem um sistema de leis exteriores, e consequentemente despóticas. A liberdade do homem consiste unicamente nisto: ele obedece às leis naturais porque ele próprio as reconheceu como tais, não porque elas lhe foram impostas exteriormente, por uma vontade estranha, divina ou humana, coletiva ou individual, qualquer.

Suponde uma academia de sábios, composta pelos representantes mais ilustres da ciência; imaginai que esta academia seja encarregada da legislação, da organização da sociedade, e que, inspirando-se apenas no amor da mais pura verdade, ela só dite leis absolutamente conforme às mais recentes descobertas da ciência. Pois bem, afirmo que esta legislação e esta organização serão uma monstruosidade, por duas razões: a primeira, é que a ciência humana é sempre necessariamente imperfeita, e que, comparando o que ela descobriu com o que ainda lhe resta a descobrir, pode-se dizer que está ainda em seu berço. De modo que, se quiséssemos forçar a vida prática dos homens, tanto coletivo quanto individual, a se conformar estritamente, exclusivamente, com os últimos dados da ciência, condenar-se-ia tanto a sociedade quanto os indivíduos a sofrer martírio sobre um leito de Procusto, que acabaria em breve por desarticulá-los e sufocá-los, ficando a vida sempre infinitamente maior do que a ciência.

A segunda razão é a seguinte: uma sociedade que obedecesse à legislação emanada de uma academia científica, não porque ela tivesse compreendido seu caráter racional – em cujo caso a existência da academia se tornaria inútil – mas porque esta legislação, emanando da academia, se imporia em nome de uma ciência que ela veneraria sem compreendê-la, tal sociedade não seria uma sociedade de homens, mais de brutos. Seria uma segunda edição dessas missões do Paraguai, que se deixaram governar durante tanto tempo pela Companhia de Jesus. Ela não deixaria de descer, em breve, ao mais baixo grau de idiotia .

as há ainda uma terceira razão que tornaria tal governo impossível. É que uma academia científica, revestida desta soberania por assim dizer absoluta, ainda que fosse composta pelos homens mais ilustres; acabaria infalivelmente, e em pouco tempo, por se corromper moral e intelectualmente. E atualmente, com o pouco de privilégios que lhes deixam, a história de todas as academias. O maior gênio científico, no momento em que se torna acadêmico, um sábio oficial, reconhecido, decai inevitavelmente e adormece. Perde sua espontaneidade, sua ousadia revolucionária, e a energia incômoda e selvagem que caracteriza a natureza dos maiores gênios, sempre chamada a destruir os mundos envelhecidos e a lançar os fundamentos dos novos mundos. Ganha sem dúvida em polidez, em sabedoria utilitária e prática, o que perde em força de pensamento. Numa palavra, ele se corrompe. É próprio do privilégio e de toda posição privilegiada matar o espírito e o coração dos homens. O homem privilegiado, seja política, seja economicamente, é um homem depravado de espírito e de coração. Eis uma lei social que não admite nenhuma exceção e que se aplica tanto a nações inteiras quanto às classes, companhias e indivíduos. E a lei da igualdade, condição suprema da liberdade e da humanidade.

O objetivo principal deste estudo é precisamente demonstrar esta verdade em todas as manifestações da vida humana. Um corpo científico, ao qual se tivesse confiado o governo da sociedade, acabaria logo por deixar de lado a ciência, ocupando-se de outro assunto; e este assunto, o de todos os poderes estabelecidos, seria sua eternização, tornando a sociedade confiada a seus cuidados cada vez mais estúpida e, por conseqüência, mais necessitada de seu governo e de sua direção. Mas o que é verdade para as academias científicas, o é igualmente para todas as assembléias constituintes e legislativas, mesmo quando emanadas do sufrágio universal. Este último pode renovar sua composição, é verdade, o que não impede que se forme, em alguns anos, um corpo de políticos, privilegiados de fato, não de direito, que, dedicando-se exclusivamente à direção dos assuntos públicos de um pais, acabem por formar um tipo de aristocracia ou de oligarquia política .
Vejam os Estados Unidos e a Suíça. Assim,. nada de legislação exterior e nada de autoridade, uma, por sinal, sendo inseparável da outra, e todas as duas tendendo à escravização da sociedade e ao embrutecimento dos próprios legisladores.

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Decorre daí que rejeito toda autoridade? Longe de mim este pensamento .

Quando se trata de botas, apelo para a autoridade dos sapateiros; se se trata de uma casa, de um canal ou de uma ferrovia, consulto a do arquiteto ou a do engenheiro. Por tal ciência especial, dirijo-me a este ou àquele cientista. Mas não deixo que me imponham nem o sapateiro, nem o arquiteto, nem o cientista. Eu os aceito livremente e com todo o respeito que me merecem sua inteligência, seu caráter, seu saber, reservando todavia meu direito incontestável de crítica e de controle. Não me contento em consultar uma única autoridade especialista, consulto várias; comparo suas opiniões, e escolho aquela que me parece a mais justa .

Mas não reconheço nenhuma autoridade infalível, mesmo nas questões especiais; consequentemente, qualquer que seja o respeito que eu possa ter pela humanidade e pela sinceridade desse ou daquele indivíduo, não tenho fé absoluta em ninguém. Tal fé seria fatal à minha razão, à minha liberdade e ao próprio sucesso de minhas ações; ela me transformaria imediatamente num escravo estúpido, num instrumento da vontade e dos interesses de outrem. Se me inclino diante da autoridade dos especialistas, e se me declaro pronto a segui-la, numa certa medida e durante todo o tempo que isso me pareça necessário, suas indicações e mesmo sua direção, é porque esta autoridade não me é imposta por ninguém, nem pelos homens, nem por Deus. De outra forma as rejeitaria com horror, e mandaria ao diabo seus conselhos, sua direção e seus serviços, certo de que eles me fariam pagar, pela perda de minha liberdade e de minha dignidade, as migalhas de verdade, envoltas em muitas mentiras que poderiam me dar. Inclino-me diante da autoridade dos homens especiais porque ela me é imposta por minha própria razão. Tenho consciência de só poder abraçar, em todos os seus detalhes e seus desenvolvimentos positivos, uma parte muito pequena da ciência humana. A maior inteligência não bastaria para abraçar tudo. Daí resulta, tanto para a ciência quanto para a indústria, a necessidade da divisão e da associação do trabalho. Recebo e dou, tal é a vida humana. Cada um é dirigente e cada um é dirigido por sua vez .

Assim, não há nenhuma autoridade fixa e constante, mas uma troca contínua de autoridade e de subordinação mútuas, passageiras e sobretudo voluntárias. Esta mesma razão me proíbe, pois, de reconhecer uma autoridade fixa, constante e universal, porque não há homem universal, homem que seja capaz de aplicar sua inteligência, nesta riqueza de detalhes sem a qual a aplicação da ciência a vida não é absolutamente possível, a todas as ciências, a todos os ramos da atividade social. E, se uma tal universalidade pudesse ser realizada em um único homem, e se ele quisesse se aproveitar disso para nos impor sua autoridade, seria preciso expulsar esse homem da sociedade, visto que sua autoridade reduziria inevitavelmente todos os outros à escravidão e à imbecilidade. Não penso que a sociedade deva maltratar os gênios como ela o fez até o presente momento; mas também não acho que os deva adular demais, nem lhes conceder quaisquer privilégios ou direitos exclusivos; e isto por três razões; inicialmente porque aconteceria com freqüência de ela tomar um charlatão por um gênio; em seguida porque, graças a este sistema de privilégios, ela poderia transformar um verdadeiro gênio num charlatão, desmoralizá-lo, animalizá-lo; e, enfim, porque ela daria a si um senhor .
Resumindo.

Reconhecemos, pois, a autoridade absoluta da ciência porque ela tem como objeto único a reprodução mental, refletida e tão sistemática quanto possível, das leis naturais inerentes à vida material, intelectual e moral, tanto do mundo físico quanto do mundo social, sendo estes dois mundos, na realidade, um único e mesmo mundo natural. Fora desta autoridade exclusivamente legítima, pois que ela é racional e conforme à liberdade humana, declaramos todas as outras autoridades mentirosas, arbitrárias e funestas. Reconhecemos a autoridade absoluta da ciência, mas rejeitamos a infalibilidade e a universalidade do cientista. Em nossa igreja – que me seja permitido servir-me por um momento desta expressão que por sinal detesto: a igreja e o Estado são minhas duas ovelhas negras; em nossa Igreja, como na Igreja protestante, temos um chefe, um Cristo invisível, a ciência; e como os protestantes, até mais conseqüentes do que os protestantes, não queremos tolerar nem o papa, nem o concilio, nem conclaves de cardeais infalíveis, nem bispos, nem mesmo padres. Nosso Cristo se distingue do Cristo protestante no fato de este último ser um Cristo pessoal, enquanto o nosso é impessoal; o Cristo cristão, já realizado num passado eterno, apresenta-se como um ser perfeito, enquanto a realização e a perfeição de nosso Cristo, a ciência, estão sempre no futuro: o que equivale a dizer que elas jamais se realizarão .

Ao não reconhecer outra autoridade absoluta que não seja a da ciência absoluta, não comprometemos de forma alguma nossa liberdade. Entendo por ciência absoluta a ciência realmente universal, que reproduziria idealmente, em toda a sua extensão e em todos os seus detalhes infinitos, o universo, o sistema ou a coordenação de todas as leis naturais, manifestas pelo desenvolvimento incessante dos mundos. É evidente que esta ciência, objeto sublime de todos os esforços do espírito humano, jamais se realizará em sua plenitude absoluta. Nosso Cristo permanecerá pois eternamente inacabado, o que deve enfraquecer muito o orgulho de seus representantes titulados entre nós. Contra este Deus, filho, em nome do qual eles pretendiam nos impor sua autoridade insolente e pedantesca, recorremos a Deus pai, que é o mundo real, a vida real, do qual ele é apenas a expressão muito imperfeita, e do qual somos os representantes imediatos, nós, seres reais, vivendo, trabalhando, combatendo, amando, aspirando, gozando e sofrendo .

Numa palavra, rejeitamos toda legislação, toda autoridade e toda influência privilegiada, titulada, oficial e legal, mesmo emanada do sufrágio universal, convencido de que ela só poderia existir em proveito de uma minoria dominante e exploradora, contra os interesses da imensa maioria subjugada. Eis o sentido no qual somos realmente anarquistas.

* * *

Os idealistas modernos entendem a autoridade de uma maneira totalmente diferente. Ainda que livres das superstições tradicionais de todas as religiões positivas existentes, eles dão, todavia, a esta idéia de autoridade, um sentido divino, absoluto. Esta autoridade não é absolutamente a de uma verdade milagrosamente revelada, nem a de uma verdade rigorosa e cientificamente demonstrada. Eles a fundam sobre um pouco de argumentação quase-filosófica, e sobre muita fé vagamente religiosa, sobre muito sentimento e abstração poética. Sua religião é como uma última tentativa de divinização de tudo o que constitui a humanidade nos homens.

É bem o contrário da obra que realizamos. Em vista da liberdade, da dignidade e da prosperidade humanas, pensamos ter de retirar do céu os bens que ele roubou e queremos devolvê-los à terra. Eles, ao contrário, esforçando-se em cometer um último roubo religiosamente heróico, desejariam restituir ao céu, a este divino ladrão, tudo o que a humanidade tem de maior, de mais belo, de mais nobre. E a vez dos livre-pensadores pilharem o céu pela audaciosa impiedade de sua análise científica! Os idealistas acreditam, sem dúvida, que, para gozar de uma maior autoridade entre os homens, as idéias e as coisas humanas devem ser revestidas de uma sanção divina. Como se manifesta esta sanção? Não por um milagre, como nas religiões positivas, mas pela grandeza ou pela própria santidade das idéias e das coisas: o que é grande, o que e belo, o que é nobre, o que é justo, é divino. Neste novo culto religioso, todo homem que se inspira nestas idéias, nestas coisas, torna-se um padre, imediatamente consagrado pelo próprio Deus. E a prova? Não há necessidade disso; é a própria grandeza das idéias que ele exprime e das coisas que ele realiza. Elas são tão santas que só podem ter sido inspiradas por Deus.

Eis em poucas palavras toda a sua filosofia: filosofia de sentimentos, não de pensamentos reais, um tipo de pietismo metafísico. Isto parece inocente, mas não o é em absoluto, e a doutrina muito precisa, muito estreita e muito seca, que se esconde sob a onda inapreensível destas formas poéticas conduz aos mesmos resultados desastrosos de todas as religiões positivas: isto é, à mais completa negação da liberdade e da dignidade humanas. Proclamar como divino tudo o que se encontra de grande, de justo, de real, de belo, na humanidade, é reconhecer implicitamente que a humanidade, por si própria, teria sido incapaz de produzi-lo; isto significa dizer que abandonada a si própria, sua própria natureza é miserável, iníqua, vil e feia. Eis-nos de volta à essência de toda religião, isto é, à difamação da humanidade pela maior glória da divindade. E do momento em que a inferioridade natural do homem e sua incapacidade profunda de se levantar por si mesmo, fora de toda inspiração divina, até as idéias justas e verdadeiras, são admitidas, torna-se necessário admitir também todas as conseqüências teológicas, políticas e sociais das religiões positivas. No momento em que Deus, o Ser perfeito e supremo, posiciona-se em relação à humanidade, os intermediários divinos, os eleitos, os inspirados de Deus, saem da terra para esclarecer, dirigir e governar a espécie humana em seu nome. Não se poderia supor que todos os homens são igualmente inspirados por Deus? Neste caso não haveria, sem dúvida alguma, necessidade de intermediários. Mas esta suposição é impossível porque os fatos a contradizem sobremaneira. Seria preciso então atribuir à inspiração divina todos os absurdos e erros que se manifestam, e todos os horrores, as torpezas, as covardias e as imbecilidades que se cometem no mundo .

Só haveria, pois, poucos homens divinamente inspirados, os grandes homens da história, os gênios virtuosos, como dizia o ilustre cidadão e profeta italiano Giuseppe Mazzini. Imediatamente inspirados pelo próprio Deus e se apoiando sobre o consentimento universal expressado pelo sufrágio popular, Dio e Popolo, são eles que seriam chamados a governar as sociedades humanas[6]. Eis-nos de novo sob o jugo da Igreja e do Estado. E verdade que nesta nova organização, devida, como todas as organizações políticas antigas, à graça de Deus, é apoiada desta vez, pelo menos quanto à forma, à guisa de concessão necessária ao espírito moderno, e como nos preâmbulos dos decretos imperiais de Napoleão III, sobre a pretensa vontade do POVO, a Igreja não se chamará mais Igreja, ela se chama Escola. O que importa? Sobre os bancos desta Escola não estarão sentadas somente as crianças: haverá o eterno menor, o estudante para sempre reconhecido como incapaz de se apresentar a seus exames, de alcançar a ciência de seus mestres e de passar em sua disciplina: o povo.

O Estado não se chamará mais monarquia, chamar-se-á república, mas nem por isso deixará de ser Estado, isto é, uma tutela oficial e regularmente estabelecida por uma minoria de homens competentes, gênios, homens de talento ou de virtude, que vigiarão e dirigirão a conduta desta grande, incorrigível e terrível criança, o povo. Os professores da Escola e os funcionários do Estado chamar-se-ão republicanos; mas não deixarão de ser menos tutores, pastores, e o povo permanecerá o que foi eternamente até agora: um rebanho. Os tosquiados que se cuidem, pois onde há rebanho há necessariamente pastores para tosquiá-lo e comê-lo. O povo, neste sistema, será eterno estudante e pupilo. Apesar de sua soberania totalmente fictícia, ele continuará a servir de instrumento a pensamentos e vontades, e consequentemente também a interesses que não serão os seus. Entre esta situação e o que chamamos de liberdade, a única verdadeira liberdade, há um abismo. Será sob novas formas, a antiga opressão e a antiga escravidão; e onde há escravidão, há miséria, embrutecimento, a verdadeira materialização da sociedade, tanto das classes privilegiadas quanto das massas.

Divinizando as coisas humanas, os idealistas conseguem sempre o triunfo de um materialismo brutal. E isto por uma razão muito simples: este divino se evapora e sobe para sua pátria, o céu, e só o brutal permanece realmente sobre a terra. Perguntei um dia a Mazzini que medidas seriam tomadas para a emancipação do povo tão logo sua república unitária triunfante se estabelecesse definitivamente. “A primeira medida, disse-me, será a fundação de escolas para o povo.” – E o que será ensinado ao povo nestas escolas? “Os deveres do homem, o sacrifício e a abnegação.” – Mas onde ireis buscar um número suficiente de professores para ensinar estas coisas que ninguém tem o direito nem o poder de ensinar, se não se dá o exemplo? O número dos homens que encontram no sacrifício e na dedicação uma satisfação suprema não é excessivamente restrito? Aqueles que se sacrificam ao serviço de uma grande idéia obedecem a uma elevada paixão, e, satisfazendo esta paixão pessoal, fora da qual a própria vida perde qualquer valor a seus olhos, eles pensam normalmente em qualquer coisa que não seja erigir sua ação em doutrina, enquanto aqueles que fazem da ação uma doutrina esquecem freqüentemente de traduzi-la em ação, pela simples razão de que a doutrina mata a vida, mata a espontaneidade viva da ação.

Os homens como Mazzini, nos quais a doutrina e a ação formam uma admirável unidade, são raras exceções. No cristianismo também houve grandes homens, santos homens, que realmente fizeram, ou que pelo menos se esforçaram apaixonadamente para fazer tudo o que diziam, e cujos corações, transbordando de amor, estavam cheios de desprezo pelos gozos e pelos bens deste mundo. Mas a imensa maioria dos padres católicos e protestantes que, por profissão, pregaram e pregam a doutrina da castidade, da abstinência e da renúncia, desmentem sua doutrina através de seu exemplo. Não é em vão, é em conseqüência de uma experiência de vários séculos que se formaram, entre os povos de todos os países, estes ditados: “Libertino como um padre; comilão como um padre; ambicioso como um padre; ávido, interessado e cúpido como um padre”.

Está constatado que os professores das virtudes cristãs, consagrados pela Igreja, os padres, em sua imensa maioria, fizeram exatamente o contrário daquilo que eles pregaram. Esta própria maioria, a universalidade deste fato, provam que não se deve atribuir a culpa disso aos indivíduos, mas sim à posição social, impossível e contraditória em si mesma, no qual estes indivíduos estão colocados. Há na posição do padre cristão uma dupla contradição. Inicialmente a da doutrina de abstinência e de renúncia às tendências e às necessidades positivas da natureza humana, tendências e necessidades que, em alguns casos individuais, sempre muito raros, podem ser continuamente afastadas, reprimidas e mesmo completamente eliminadas pela influência constante de alguma poderosa paixão intelectual e moral, que, em certos momentos de exaltação coletiva, podem ser esquecidas e negligenciadas, por algum tempo, por uma grande quantidade de homens ao mesmo tempo; mas que são tão profundamente inerentes à nossa natureza que acabam sempre por retomar seus direitos, de forma que, quando não são satisfeitas de maneira regular e normal, são finalmente substituídas por satisfações daninhas e monstruosas. E uma lei natural, e, por conseqüência, fatal, irresistível, sob a ação funesta da qual caem inevitavelmente todos os padres cristãos e especialmente os da Igreja católica romana.

Mas há uma outra contradição comum a uns e a outros. Esta contradição está ligada ao titulo e à própria posição do senhor. Um senhor que comanda, oprime e explora, é um personagem muito lógico e completamente natural. Mas um senhor que se sacrifica àqueles que lhe são subordinados pelo seu privilégio divino ou humano é um ser contraditório e completamente impossível. E a própria constituição da hipocrisia, tão bem personificada pelo papa que, ainda que se dizendo o último servidor dos servidores de Deus, e por sinal, seguindo o exemplo do Cristo, lava uma vez por ano os pés de doze mendigos de Roma, proclama-se ao mesmo tempo vigário de Deus, senhor absoluto e infalível do mundo. E preciso que eu lembre que os padres de todas as Igrejas, longe de se sacrificarem pelos rebanhos confiados a seus cuidados, sempre os sacrificaram, exploraram e mantiveram em estado de rebanho, em parte para satisfazer suas próprias paixões pessoais, em parte para servir à onipotência da Igreja? As mesmas condições, as mesmas causas produzem sempre os mesmos efeitos. Isso acontece com os professores da Escola moderna, divinamente inspirados e nomeados pelo Estado. Eles se tornarão, necessariamente, uns sem o saber, os outros com pleno conhecimento de causa, os mestres da doutrina do sacrifício popular para o poderio do Estado, em proveito das classes privilegiadas.

Será preciso então eliminar da sociedade todo o ensino e abolir todas as escolas? Longe disso. É necessário distribuir a mancheias a instrução no seio das massas e transformar todas as Igrejas, todos estes templos dedicados à glória de Deus e à escravização dos homens, em escolas de emancipação humana. Mas, inicialmente, esclareçamos que as escolas propriamente ditas, numa sociedade normal, fundada sobre a igualdade e sobre o respeito da liberdade humana, só deverão existir para as crianças, não para os adultos, para elas se tornarem escolas de emancipação e não de servilismo, será preciso eliminar, antes de tudo, esta ficção de Deus, o escravizador eterno e absoluto. Será necessário fundar toda a educação das crianças e sua instrução sobre o desenvolvimento científico da razão, não sobre o da fé; sobre o desenvolvimento da dignidade e da independência pessoais, não sobre o da piedade e da obediência; sobre o culto da verdade e da justiça e, antes de tudo, sobre o respeito humano. que deve substituir, em tudo e em todos os lugares, o culto divino. O princípio da autoridade na educação das crianças constitui o ponto de partida natural: ele é legítimo, necessário, quando é aplicado às crianças na primeira infância, quando sua inteligência ainda não se desenvolveu abertamente. Mas como o desenvolvimento de todas as coisas, e por conseqüência da educação, implica a negação sucessiva do ponto de partida, este princípio deve enfraquecer-se à medida que avançam a educação e a instrução, para dar lugar à liberdade ascendente.

Toda educação racional nada mais é, no fundo, do que a imolação progressiva da autoridade em proveito da liberdade, onde esta educação tem como objetivo final formar homens livres, cheios de respeito e de amor pela liberdade alheia. Assim, o primeiro dia da vida escolar, se a escola aceita as crianças na primeira infância, quando elas mal começam a balbuciar algumas palavras, deve ser o de maior autoridade e de uma ausência quase completa de liberdade; mas seu último dia deve ser ó de maior liberdade e de abolição absoluta de qualquer vestígio do principio animal ou divino da autoridade. O princípio de autoridade, alicado aos homens que ultrapassaram ou atingiram a maioridade, torna-se uma monstruosidade, uma negação flagrante da humanidade, uma fonte de escravidão e de depravação intelectual e moral. Infelizmente, os governos paternalistas deixaram as massas populares se estagnarem numa tão profunda ignorância que será necessário fundar escolas não somente para as crianças do povo, mas também para o próprio povo Destas escolas deverão ser absolutamente eliminadas as menores aplicações ou manifestações do princípio de autoridade. Não serão mais escolas; serão academias populares, nas quais não se poderá mais tratar nem de estudantes, nem de mestres, onde o povo virá livremente ter, se assim achar necessário, um ensinamento livre, nas quais, rico de sua experiência, ele poderá. ensinar por sua vez muitas coisas aos professores que lhe trarão conhecimentos que ele não tem. Será pois um ensinamento mútuo, um ato de fraternidade intelectual entre a juventude instruída e o povo .

A verdadeira escola para o povo e para todos os homens feitos é a vida .

A única grande todo-poderosa autoridade natural e racional, simultaneamente, a única que poderemos respeitar, será a do espírito coletivo e público de uma sociedade fundada sobre o respeito mútuo de todos os seus membros. Sim, eis uma autoridade que não é absolutamente divina, totalmente humana, mas diante da qual nos inclinaremos de coração, certos de que, longe de subjugá-los, ela emancipará os homens. Ela será mil vezes mais poderosa, estejam certos, do que todas as vossas autoridades divinas, teológicas, metafísicas, políticas e jurídicas, instituídas pela Igreja e pelo Estado; mais poderosa que vossos códigos criminais, vossos carcereiros e vossos verdugos.

A força do sentimento coletivo ou do espírito público já é muito séria hoje.

Os homens com maior tendência a cometer crimes raramente ousam desafiá-la, enfrentá-la abertamente. Eles procurarão enganá-la, mas evitarão ofendê-la, a menos que se sintam apoiados por uma minoria qualquer. Nenhum homem, por mais possante que se imagine, jamais terá força para suportar o desprezo unânime da sociedade, ninguém poderia viver sem sentir-se apoiado pelo consentimento e pela estima, ao menos por uma certa parte desta sociedade. E preciso que um homem seja levado por uma imensa e bem sincera convicção, para que encontre coragem de opinar e de marchar contra todos, e nunca um homem egoísta, depravado e covarde terá esta coragem .

Nada prova melhor do que este fato a solidariedade natural e fatal que une todos os homens. Cada um de nós pode constatar esta lei, todos os dias, sobre si mesmo e sobre todos os homens que ele conhece. Mas, se esta força social existe, por que ela não foi suficiente, até hoje, para moralizar, humanizar os homens? Simplesmente porque, até o presente, essa força não foi, ela própria, humanizada; não foi humanizada porque a vida social, da qual ela é sempre a fiel expressão, está fundada, como se sabe, sobre o culto divino, não sobre o respeito humano; sobre a autoridade, não sobre a liberdade; sobre o privilégio, não sobre a igualdade; sobre a exploração, não sobre a fraternidade dos homens; sobre a iniqüidade e a mentira, não sobre a justiça e a verdade. Por conseqüência, sua ação real, sempre em contradição com as teorias humanitárias que ela professa, exerceu constantemente uma influência funesta e depravadora. Ela não oprime pelos vícios e crimes: ela os cria .

Sua autoridade é consequentemente uma autoridade divina, anti-humana, sua influência é malfazeja e funesta. Quereis torná-la benfazeja e humana? Fazei a revolução social. Fazei com que todas as necessidades se tornem realmente solidárias, que os interesses materiais e sociais de cada um se tornem iguais aos deveres humanos de cada um. E, para isso, só há um meio: destruí todas as instituições da desigualdade; estabelecei a igualdade econômica e social de todos, e, sobre esta base, elevar-se-á a liberdade, a moralidade, a humanidade solidária de todos .

* * *

Sim, o idealismo, em teoria, tem por conseqüência necessária o materialismo mais brutal na prática; não, sem dúvida, entre aqueles que o pregam de boa fé – o resultado habitual, para estes, é de ver todos os seus esforços atingidos pela esterilidade – mas entre aqueles que se esforçam em realizar seus preceitos na vida, em meio a toda a sociedade, enquanto ela se deixar dominar pelas doutrinas idealistas .
Para demonstrar este fato geral, que pode parecer estranho à primeira vista, mas que se explica naturalmente, quando refletimos um pouco mais, não faltam as provas históricas .

Comparai as duas últimas civilizações do mundo antigo: a civilização grega e a civilização romana. Qual delas é a mais materialista, a mais natural em seu ponto de partida, e a mais humanamente ideal em seus resultados? Sem dúvida, a civilização grega. Qual delas é, ao contrário, a mais abstratamente ideal em seu ponto de partida, sacrificando a liberdade material do homem à liberdade ideal do cidadão, representada pela abstração do direito jurídico, e o desenvolvimento natural da sociedade humana à abstração do Estado, e qual delas se tornou, todavia, a mais brutal em suas conseqüências? A civilização romana, certamente. E verdade que a civilização grega, como todas as civilizações antigas, inclusive a de Roma, foi exclusivamente nacional, e teve por base a escravidão. Mas, apesar destes dois imensos defeitos, a primeira nem por isso deixou de conceber e realizar a idéia da humanidade; ela enobreceu e realmente idealizou a vida dos homens; ela transformou os rebanhos humanos em livres associações de homens livres; ela criou, pela liberdade, as ciências, as artes, uma poesia, uma filosofia imortal, e as primeiras noções do respeito humano. Com a liberdade política e social ela criou o livre pensamento .

No fim da Idade Média, na época da Renascença, bastou que os gregos emigrados introduzissem alguns desses livros imortais na Itália para que a vida, a liberdade, o pensamento, a humanidade, enterrados no sombrio calabouço do catolicismo, fossem ressuscitados. A emancipação humana, eis o nome da civilização grega. E o nome da civilização romana? E a conquista, com todas as suas conseqüências brutais. Sua última palavra? A onipotência dos Césares. E o envilecimento e a escravidão das nações e dos homens .

Ainda hoje, o que é que mata, o que é que esmaga brutalmente, materialmente, em todos os países da Europa, a liberdade e a humanidade? E o triunfo do princípio cesáreo ou romano .

Compararei agora duas civilizações modernas: a civilização italiana e a civilização alemã. A primeira representa, sem dúvida, em sua característica geral, o materialismo; a segunda representa, ao contrário, tudo o que há de mais abstrato, de mais puro e de mais transcendente no que concerne ao idealismo. Vejamos quais são os frutos práticos de uma e da outra .

A Itália já prestou imensos serviços à causa da emancipação humana .

Ela foi a primeira que ressuscitou e que aplicou amplamente o princípio da liberdade na Europa, que devolveu à humanidade seus títulos de nobreza: a indústria, o comércio, a poesia, as artes, as ciências positivas e o livre pensamento. Esmagada depois de três séculos de despotismo imperial e papal, arrastada na lama por sua burguesia governante, ela reaparece hoje, é verdade, bem abatida em comparação ao que foi, e, entretanto, quanto ela difere da Alemanha! Na Itália, apesar desta decadência, passageira, esperemo-lo, pode-se viver e respirar humanamente, cercado de um povo que parece ter nascido para a liberdade. A Itália, mesmo burguesa, pode vos mostrar com orgulho homens como Mazzini e como Garibaldi .

Na Alemanha, respira-se a atmosfera de uma imensa escravidão política e social, filosoficamente explicada e aceita por um grande povo, com uma resignação e uma boa vontade refletidas. Seus heróis – falo sempre da Alemanha atual, não da Alemanha do futuro, da Alemanha nobiliária, burocrática, política e burguesa, não da Alemanha proletária – são totalmente o oposto de Mazzini e de Garibaldi: são, hoje, Guilherme 1, o feroz e ingênuo representante do Deus protestante, são os Srs. Bismarck e Von Moltke, os generais Manteuffel e Werler. Em todas as suas relações internacionais, a Alemanha, desde que existe, foi lenta e sistematicamente invasora, conquistadora, sempre pronta a estender sobre os povos vizinhos seu próprio servilismo voluntário; e desde que ela se constituiu em potência unitária, ela se tornou uma ameaça, um perigo para a liberdade de toda a Europa. Hoje, a Alemanha é o servilismo brutal e triunfante .

Para mostrar como o idealismo teórico se transforma incessante e fatalmente em materialismo prático, basta citar o exemplo de todas as Igrejas cristãs e, naturalmente, antes de tudo, o da Igreja apostólica e romana. No sentido ideal, o que há de mais sublime, de mais desinteressado, de mais desprendido em todos os interesses desta terra, do que a doutrina do Cristo pregada por esta Igreja? E o que há de mais brutalmente materialista que a prática constante desta mesma Igreja, desde o século VIII, quando começou a se constituir como poder? Qual foi e qual é ainda o objeto principal de todos os seus litígios contra os soberanos da Europa? Seus bens temporais, seus ganhos inicialmente, e em seguida seu poder temporal, seus privilégios políticos .

É preciso fazer-lhe esta justiça, pois ela foi a primeira a descobrir, na história moderna, esta verdade incontestável, mas muito pouco cristã, que a riqueza e o poder, a exploração econômica e a opressão política das massas são os dois termos inseparáveis do reino do idealismo divino sobre a terra: a riqueza consolidando e aumentando o poder, o poder descobrindo e criando sempre novas fontes de riqueza, e ambos assegurando, melhor do que o martírio e a fé dos apóstolos, melhor do que a graça divina, o sucesso da propaganda cristã. E uma verdade histórica, e as igrejas, ou melhor, as seitas protestantes também não a desconhecem. Falo naturalmente das igrejas independentes da Inglaterra, da América e da Suíça, não das igrejas servis da Alemanha .

Estas não têm nenhuma iniciativa própria; elas fazem aquilo que seus senhores, seus soberanos temporais, que são ao mesmo tempo seus chefes espirituais, lhes ordenam fazer. Sabe-se que a propaganda protestante, a da Inglaterra e a da América sobretudo, se liga de uma maneira muito estreita à propaganda dos interesses materiais e comerciais destas duas grandes nações; sabe-se também que esta última propaganda não tem absolutamente por objeto o enriquecimento e a propriedade material dos países nos quais ela penetra em companhia da palavra de Deus, mas sim a exploração destes países, à vista do enriquecimento e da prosperidade material de certas classes, que, em seu próprio país, só visam a exploração e a pilhagem .

Numa palavra, não é nada difícil provar, com a história na mão, que a Igreja, que todas as Igrejas, cristãs e não cristãs, ao lado de sua propaganda espiritualista, provavelmente para acelerar e consolidar seu sucesso, jamais negligenciaram de organizar grandes companhias para a exploração econômica das massas, sob a proteção e a bênção direta e especial de uma divindade qualquer; que todos os Estados que, em sua origem, como se sabe, nada mais foram, com todas as suas instituições políticas e jurídicas e suas classes dominantes e privilegiadas, senão sucursais temporais destas diversas Igrejas, só tiveram igualmente por objeto principal esta mesma exploração em proveito das minorias laicas, indiretamente legitimadas pela Igreja; enfim, que em geral a ação do bom Deus e de todas as fantasias divinas sobre a terra finalmente resultou, sempre e em todos os lugares, na fundação do materialismo próspero do pequeno número sobre o idealismo fanático e constantemente faminto das massas .

O que vemos hoje é uma nova prova disso. A exceção desses grandes corações e desses grandes espíritos enganados que citei mais acima, quem são hoje os defensores mais obstinados do idealismo? Inicialmente são todas as cortes soberanas. Na França, foram Napoleão III e sua esposa, Madame Eugénie; são todos os seus antigos ministros, cortesãos e ex-marechais, desde Rouher e Bazaine até Fleury e Piétri; são os homens e as mulheres do mundo oficial imperial, que tão bem idealizaram e salvaram a França. São seus jornalistas e seus sábios: os Cassagnac, os Girardin, os Duvernois, os Veuillot, os Leverrier, os Dumas. . . E enfim a negra falange dos jesuítas e das jesuítas de todos os tipos de vestido; é a alta e média burguesia da França. São os doutrinários liberais e os liberais sem doutrina: os Guizot, os Thiers, os Jules Favre, os Pelletan e os Jules Simon, todos os defensores aguerridos da exploração burguesa. Na Prússia, na Alemanha, é Guilherme 1, o rei demonstrador atual do bom Deus sobre a terra; são todos os seus generais, todos os seus oficiais pomeranianos e outros, todo o seu exército que, forte em sua fé religiosa, acaba de conquistar a França da maneira ideal que se sabe. Na Rússia, é o czar e toda a sua corte; são os Muravieff e os Berg, todos os degoladores e os religiosos conversores da Polônia. Em todos os lugares, numa palavra, o idealismo religioso filosófico, um destes qualificativos nada mais sendo do que a tradução mais ou menos livre do outro, serve hoje de bandeira à força sanguinária e brutal, à exploração material descarada; enquanto, ao contrário, a bandeira do materialismo teórico, a bandeira vermelha da igualdade econômica e da justiça social, é agitada pelo idealismo prático das massas oprimidas e famintas, tendendo a realizar a liberdade maior e o direito humano de cada um na fraternidade de todos os homens sobre a terra .

Quem são os verdadeiros idealistas, não – os idealistas da abstração, mas da vida; não do céu, mas da terra; e quem são os materialistas? * * * É evidente que o idealismo teórico ou divino tem como condição essencial o sacrifício da lógica, da razão humana, a renúncia à ciência .
Vê-se, por outro lado, que defendendo as doutrinas ideais, é-se forçosamente levado ao partido dos opressores e dos exploradores das massas populares. Eis duas grandes razões que, segundo parece, bastariam para afastar do idealismo todo grande espírito, todo grande coração. Como é possível que nossos ilustres idealistas contemporâneos, aos quais, certamente, não faltam nem o espírito, nem o coração, nem a boa vontade, e que devotaram toda sua existência ao serviço da humanidade, como é possível que eles se obstinem em permanecer entre os representantes de uma doutrina doravante condenada e desonrada? É preciso que eles sejam levados a isso por uma razão muito forte. Não pode ser nem a lógica nem a ciência, visto que a lógica e a ciência pronunciaram seu veredicto contra a doutrina idealista. Não podem ser também interesses pessoais, pois estes homens estão infinitamente erguidos acima de tudo o que carrega este nome. Só pode ser então uma forte razão moral. Qual? Só pode haver uma. Esses homens ilustres pensam, sem dúvida, que as teorias ou as crenças ideais são essencialmente necessárias à dignidade e à grandeza moral do homem, e que as teorias materialistas, ao contrário, rebaixam-no ao nível dos animais .

-E se o oposto fosse verdadeiro? Todo desenvolvimento, já disse, implica a negação do ponto de partida. A base, ou o ponto de partida, segundo a escola materialista, sendo material, a negação deve ser necessariamente ideal. Partindo da totalidade do mundo real, ou daquilo que se chama abstratamente de costume, ela chega logicamente à idealização real, isto é, à humanização, à emancipação plena e inteira da sociedade. Todavia, e pela mesma razão, sendo o ideal a base e o ponto de partida da escola idealista, ela chega forçosamente à materialização da sociedade, à organização de um despotismo brutal e de uma exploração iníqua e ignóbil, sob a forma da Igreja e do Estado. O desenvolvimento histórico do homem, segundo a escola materialista, é uma ascensão progressiva; no sistema idealista ele só pode ser uma queda contínua .

Qualquer que seja a questão humana que se queira considerar, encontra-se sempre esta mesma contradição essencial entre as duas escolas. Assim, como já fiz observar, o materialismo parte da animalidade para constituir a humanidade; o idealismo parte da divindade para constituir a escravidão e condenar as massas a uma animalidade sem saída. O materialismo nega o livre-arbítrio e resulta na constituição da liberdade; o idealismo, em nome da dignidade humana, proclama o livre-arbítrio, e, sobre as ruínas da liberdade, funda a autoridade. O materialismo rejeita o princípio de autoridade porque ele o considera, com razão, como o corolário da animalidade, e que, ao contrário, o triunfo da humanidade, objetivo e sentido principal da história, só é realizável pela liberdade. Numa palavra, vós encontrareis sempre os idealistas em flagrante delito de materialismo prático, enquanto vereis os materialistas buscarem e realizarem as aspirações, os pensamentos mais amplamente ideais .

A história, no sistema dos idealistas, como já disse, não pode ser senão uma queda contínua. Eles começam por uma queda terrível da qual jamais se levantam: pelo salto mortale das regiões sublimes da idéia pura, absoluta, à matéria. E em que matéria! Não nesta matéria eternamente ativa e móvel, cheia de propriedades e de forças, de vida e de inteligência, tal como ela se apresenta a nós, no mundo real; mas na matéria abstrata, empobrecida e reduzida à miséria absoluta, tal como a concebem os teólogos e os metafísicos, que lhe roubaram tudo para dar a seu imperador, a seu Deus; nesta matéria que, privada de qualquer ação e de qualquer movimento próprios, só representa, em oposição à idéia divina, a estupidez, a impenetrabilidade, a inércia e a imobilidade absolutas .

A queda é tão terrível que a divindade, a pessoa ou a idéia divina se avilta, perde sua consciência, perde a consciência de si mesma e nunca mais se reencontra. E nesta situação desesperada ela é ainda forçada a fazer milagres! Isto porque, do momento em que a matéria é inerte, todo movimento que se produz no mundo, mesmo o mais material, é um milagre, outra coisa não pode ser senão o efeito de uma intervenção providencial, da ação de Deus sobre a matéria. E eis que esta pobre divindade, quase anulada por sua queda, permanece alguns milhares de séculos neste sono, em seguida desperta lentamente, esforçando-se em vão para recuperar alguma vaga lembrança dela mesma, e cada movimento que faz com esta finalidade, na matéria, torna-se uma criação, uma formação nova, um novo milagre. Desta maneira ela ultrapassa todos os níveis da materialidade e da bestialidade; inicialmente gás, corpo químico simples ou composto, mineral, ela se espalha em seguida sobre a terra como organização vegetal e animal, depois se concentra no homem. Aqui, ela parece haver se reencontrado, pois ela acende no ser humano uma chama angélica, uma parcela de seu próprio ser divino, a alma imortal .

Como ela pode conseguir alojar uma coisa absolutamente imaterial numa coisa absolutamente material; como o corpo pode conter, encerrar, limitar, paralisar o espírito puro? Eis mais uma destas questões que somente a fé, esta afirmação apaixonada e estúpida do absurdo, pode resolver. E o maior dos milagres. Aqui, nada temos a fazer senão constatar os efeitos, as conseqüências práticas deste milagre .

Após milhares de séculos de vãos esforços para retornar a ela mesma, a Divindade, perdida e espalhada na matéria que ela anima e que põe em movimento, encontra um ponto de apoio, uma espécie de local para seu próprio recolhimento. E o homem, é sua alma imortal aprisionada singularmente num corpo mortal. Mas cada homem, considerado individualmente, é infinitamente restrito, muito pequeno para englobar a imensidão divina; ele só pode conter uma pequena parcela, imortal como o Todo, mas infinitamente menor que o Todo. Resulta disso que o Ser divino, o Ser absolutamente imaterial, o Espírito, é divisível como a matéria. Eis ainda um mistério cuja solução é preciso deixar à fé .

Se Deus, por inteiro, pudesse se alojar em cada homem, então cada homem seria Deus. Teríamos uma grande quantidade de Deuses, cada um se achando limitado pelos outros, mas nem por isso menos infinito, contradição que implicaria necessariamente a destruição mútua dos homens, a impossibilidade de que existisse mais do que um. Quanto às parcelas, é outra coisa; nada de mais racional, com efeito, que uma parcela seja limitada por outra, e que ela seja menor do que o Todo. Aqui se apresenta outra contradição. Ser maior e menor são dois atributos da matéria, não do espírito, tal como o compreendem os idealistas. Segundo os materialistas, é verdade, o espírito outra coisa não é senão o funcionamento do organismo totalmente material do homem, e a grandeza ou a pequenez do espírito dependem da maior ou menor perfeição material do organismo humano. Mas estes mesmos atributos de limitação e de grandeza relativas não podem ser atribuídos ao espírito, tal como o compreendem os idealistas, ao espírito absolutamente imaterial, ao espírito existindo fora de qualquer matéria. Lá não pode haver nem maior, nem menor, nem qualquer limite entre os espíritos, pois só há um único espírito: Deus. Se acrescentarmos que as parcelas infinitamente pequenas e limitadas que constituem as almas humanas são ao mesmo tempo imortais, evidenciar-se-á o cúmulo da contradição. Mas é uma questão de fé. Deixemos isto de lado .

Eis pois a Divindade destroçada e alojada por infinitas pequenas partes, numa imensa quantidade de seres de todos os sexos, de todas as idades, de todas as raças e de todas as cores. Eis aí uma situação excessivamente incômoda e infeliz, pois as parcelas divinas reconhecem-se tão pouco no início de sua existência humana, que começam por se entredevorar. Todavia, no meio desse estado de barbárie e de brutalidade totalmente animal, estas parcelas divinas, as almas humanas, conservam como que uma vaga lembrança de sua divindade primitiva, e são invencivelmente arrastadas rumo a seu Todo; elas se procuram, elas o procuram. E a própria Divindade, espalhada e perdida no mundo material, que se procura nos homens, e está de tal forma embrutecida por esta multidão de prisões humanas, nas quais se acha espalhada, que, ao se procurar, comete loucuras sobre loucuras .

Começando pelo fetichismo, ela se procura e adora a si mesma, ora numa pedra, ora num pedaço de pau, ora num esfregão. E até mesmo muito provável que jamais tivesse saído do esfregão se a outra divindade, que não se deixou diminuir na matéria, e se conservou no estado de espírito puro, nas alturas sublimes do ideal absoluto, ou nas regiões celestes, não tivesse tido piedade dela .
Eis um novo mistério. E o da Divindade que se cinde em duas metades, mas igualmente infinitas todas as duas, e das quais uma – Deus pai – se conserva nas puras regiões imateriais; a outra – Deus filho – se deixa enfraquecer na matéria. Nós iremos ver, daqui a pouco, estabelecerem-se relações contínuas de cima para baixo e de baixo para cima entre estas duas Divindades, separadas uma da outra; e estas relações, consideradas como um único ato eterno e constante, constituirão o Espírito Santo. Tal. é, em seu verdadeiro sentido teológico e metafísico, o grande, o terrível mistério da Trindade cristã .

Mas deixemos, rapidamente, estas alturas e vejamos o que se passa sobre a terra .

Deus pai, vendo, do alto de seu esplendor eterno, que o pobre Deus filho, humilhado, atordoado por sua queda, mergulhou e perdeu-se de tal forma na matéria, que, preso ao estado humano, não consegue se reencontrar, decide 5& corrê-lo. Entre esta imensa quantidade de parcelas simultaneamente imortais, divinas e infinitamente pequenas, nas quais Deus filho disseminou-se a ponto de não poder se reconhecer, Deus pai escolhe aquelas que mais lhe aprazem; ele toma seus inspirados, seus profetas, seus gênios virtuosos, OS grandes benfeitores e legisladores da humanidade: Zoroastro, Buda, Moisés, Confúcio, Licurgo, Sólon, Sócrates, o divino Platão, e sobretudo Jesus Cristo, a completa realização de Deus filho, enfim recolhido e concentrado numa pessoa humana; todos os apóstolos, São Pedro, São Paulo e São João, Constantino, o Grande, Maomé, depois Gregório VII, Carlos Magno, Dante, segundo uns, Lutero também, Voltaire e Rousseau, Ropespierre e Danton, e muitos outros grandes e santos personagens, dos quais é impossível recapitular todos os nomes, mas entre os quais, como russo, peço para não se esquecerem de São Nicolau .

* * *

Eis que chegamos à manifestação de Deus sobre a terra. Mas tão logo Deus aparece, o homem se aniquila. Dir-se-á que não se aniquila visto ser ele próprio uma parcela de Deus. Perdão! Admito que a parcela de um todo determinado, limitado, por menor que seja esta parte, seja uma quantidade, uma grandeza positiva. Mas uma parcela do infinitamente grande, comparada com ele, é infinitamente pequena. Multiplicai bilhões de bilhões por bilhões de bilhões, seu produto, em comparação ao infinitamente grande, será infinitamente pequeno, e o infinitamente pequeno é igual a zero. Deus é tudo, por conseguinte o homem e todo o mundo real com ele, o universo, nada são. Vós não escapareis disto .
Deus aparece, o homem se aniquila; e quanto maior se torna a Divindade, mais a humanidade se torna miserável. Esta é a história de todas as religiões; este é o efeito de todas as inspirações e de todas as legislações divinas. Na história, o nome de Deus é a terrível dava com a qual os homens diversamente inspirados, os grandes gênios, abateram a liberdade, a dignidade, a razão e a prosperidade dos homens .
Tivemos inicialmente a queda de Deus. Temos agora uma queda que nos interessa mais, a do homem, causada pelo aparecimento da manifestação de Deus sobre a terra .

Vede em que erro profundo se encontram nossos caros e ilustres idealistas. Ao nos falarem de Deus, eles crêem, eles querem nos educar, nos emancipar, nos enobrecer e, ao contrário, eles nos esmagam e nos aviltam. Com o nome de Deus, eles imaginam poder estabelecer a fraternidade entre os homens, e, ao contrário, criam o orgulho, o desprezo; semeiam a discórdia, o ódio, a guerra; fundam a escravidão .
Isto porque, com Deus, vêm os diferentes graus de inspiração divina; a humanidade se divide em homens muito inspirados, menos inspirados, não inspirados. Todos são igualmente nulos diante de Deus, é verdade; mas comparados uns aos outros, uns são maiores do que os outros; não somente pelo fato, o que não seria nada, visto que uma desigualdade de fato se perde por si mesma na coletividade, quando ela não se pode agarrar a nenhuma ficção ou instituição legal; mas pelo direito divino da inspiração: o que constitui logo em seguida uma desigualdade fixa, constante, petrificada. Os mais inspirados devem ser escutados e obedecidos pelos menos inspirados, pelos não inspirados. Eis o princípio da autoridade bem estabelecido, e com ele as duas instituições fundamentais da escravidao: a Igreja e o Estado .

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De todos os despotismos, o dos doutrinadores ou dos inspirados religiosos é o pior. Eles são tão ciumentos da glória de seu Deus e do triunfo de sua idéia que não lhes resta mais coração, nem pela liberdade, nem pela dignidade, nem mesmo pelos sofrimentos dos homens vivos, homens reais. O zelo divino, a preocupação com a idéia acabam por dissecar, nas almas mais delicadas, nos corações mais compassivos, as fontes do amor humano. Considerando tudo o que é, tudo o que se faz no mundo do ponto de vista da eternidade ou da idéia abstrata, eles tratam com desdém as coisas passageiras; mas toda a vida dos homens reais, dos homens em carne e osso, só é composta de coisas passageiras; eles próprios nada mais são do que seres que passam, e que, uma vez passados, são substituídos por outros, também passageiros, mas que não retornam jamais. O que há de permanente ou de relativamente eterno é a humanidade, que se desenvolve constantemente, de geração em geração. Digo relativamente eterno porque, uma vez destruído nosso planeta, e ele’ não pode deixar de perecer cedo ou tarde, pois tudo que começa tem necessariamente um fim, uma vez nosso planeta decomposto, para servir sem dúvida alguma de elemento a alguma nova formação no sistema do universo, o único realmente eterno, quem pode saber o que acontecerá com todo o nosso desenvolvimento humano? Todavia, como o momento desta dissolução se encontra imensamente afastado de nós podemos considerar, em relação à vida humana tão curta, a humanidade eterna. Mas esse fato de a humanidade ser progressiva só é real e vivo por suas manifestações em tempos determinados, em lugares determinados, em homens realmente vivos, e não em sua idéia geral .

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A idéia geral é sempre uma abstração e por isso mesmo, de alguma forma, uma negação da vida real. A ciência só pode compreender e denominar os fatos reais em seu sentido geral, em suas relações, em suas leis; numa palavra, o que é permanente em suas informações contínuas, mas jamais seu lado material, individual, por assim dizer, palpitante de realidade e de vida, e por isso mesmo, fugitivo e inapreensível. A ciência compreende o pensamento da realidade, não a realidade em si mesma; o pensamento da vida, não a vida. Eis seu limite, o único limite verdadeiramente intransponível para ela, porque ela está fundada sobre a própria natureza do pensamento, que é o único órgão da ciência .
Sobre esta natureza se fundam os direitos incontestáveis e a grande missão da ciência, mas também sua impotência vital e mesmo sua ação malfazeja, todas as vezes que, por seus representantes oficiais, nomeados, ela se arroga o direito de governar a vida. A missão da ciência é, constatar as relações gerais das coisas passageiras e reais: reconhecendo as leis gerais que são inerentes ao desenvolvimento dos fenômenos do mundo físico e do mundo social, ela assenta, por assim dizer, as balizas imutáveis da marcha progressiva da humanidade, indicando as condições gerais, cuja observação rigorosa e necessária e cuja ignorância ou esquecimento será sempre fatal. Numa palavra, a ciência é a bússola da vida; mas não é a vida. A ciência é imutável, impessoal, geral, abstrata, insensível, como as leis das quais ela nada mais é do que a reprodução ideal, refletida ou mental, isto é, cerebral (para nos lembrar de que a ciência nada mais é do que um produto material de um órgão material, o cérebro). A vida é fugidia e passageira, mas também palpitante de realidade e individualidade, de sensibilidade, sofrimentos, alegrias, aspirações, necessidades e paixões. É somente ela que, espontaneamente, cria as coisas e os seres reais. A ciência nada cria, ela constata e reconhece somente as criações da vida. E todas as vezes que os homens de ciência, saindo de seu mundo abstrato, envolvem-se com a criação viva, no mundo real, tudo o que eles propõem ou tudo o que eles criam é pobre, ridiculamente abstrato, privado de sangue e vida, natimorto, igual ao homunculus criado por Wagner, o discípulo pedante do imortal Dr. Fausto. Disso resulta que a ciência tem por missão única iluminar a vida, e não governá-la .

O governo da ciência e dos homens de ciência, ainda que fossem positivistas, discípulos de Auguste Comte, ou ainda discípulos da escola doutrinária do comunismo alemão, não poderia ser outra coisa senão um governo impotente, ridículo, desumano, cruel, opressivo, explorador, malfazejo. Pode-se dizer dos homens de ciência, como tais, o que digo dos teólogos e metafísicos: eles não têm nem sentido, nem coração para os seres individuais e vivos. Não se pode sequer fazer-lhes uma censura, pois é a conseqüência natural de sua profissão. Enquanto homens de ciência, eles só podem se interessar pelas generalidades, pelas leis absolutas, e não a levar em conta outra coisa .
A individualidade real e viva só é perceptível para uma outra individualidade viva, não para uma individualidade pensante, não para o homem que por uma série de abstrações põe-se fora e acima do contato imediato da vida; ela pode existir para eles somente como um exemplar mais ou menos perfeito da espécie, isto é, uma abstração determinada .

Se é um coelho, por exemplo, quanto mais bonito for o espécimen, mais o cientista o dissecará com felicidade, na esperança de poder fazer sair desta própria destruição a natureza geral, a lei da espécie .

Se ninguém se opusesse a isso, não existiria, mesmo em nossos dias, um número de fanáticos capazes de fazer as mesmas experiências sobre o homem? E se, todavia, os cientistas naturalistas não dissecam o homem vivo, não é a ciência, são os protestos todo-poderosos da vida que os fizeram parar. Ainda que eles passem estudando três quartos de sua existência, e que, na atual organização, formem um tipo de mundo à parte – o que prejudica simultaneamente a saúde de seu coração e a de seu espírito – eles não são exclusivamente homens da ciência, mas são também, mais ou menos, homens da vida .

Todavia, não se deve confiar nisso. Se se pode estar mais ou menos seguro de que um cientista não ousaria tratar um homem, hoje, como trata um coelho, resta sempre a temer que o corpo de cientistas submeta os homens vivos a experiências científicas, sem dúvida interessantes, mas que seriam não menos desagradáveis para suas vítimas. Se não podem fazer experiências com o corpo dos indivíduos, eles não pedirão nada mais do que fazê-las com o corpo social, e eis o que é precioso absolutamente impedir .

Em sua organização atual, monopolizando a ciência e permanecendo, assim, fora da vida social, os cientistas formam uma casta à parte, oferecendo muita analogia com a casta dos padres. A abstração científica é seu Deus, as individualidades são suas vítimas e eles são seus sacrificadores nomeados .

A ciência não pode sair da esfera das abstrações. Em relação a isso, ela é muito inferior à arte, que, ela também, está ligada a tipos e situações gerais, mas que os encarna por um artifício que lhe é próprio. Sem dúvida, essas formas da arte não são a vida, mas não deixam de provocar em nossa imaginação a lembrança e o sentimento da vida; a arte individualiza, sob uma certa forma, os tipos e as situações que concebe; por meio de individualidades sem carne e osso, e, consequentemente, permanentes e imortais, que tem o poder de criar, ela nos faz lembrar das individualidades vivas, reais, que aparecem e desaparecem sob nossos olhos. A arte é, pois, sob uma certa forma, o retorno da abstração à vida. A ciência é, ao contrário, a imolação perpétua da vida, fugitiva, passageira, mas real, sob o altar das eternas abstrações .

A ciência é tão pouco capaz de compreender a individualidade de um homem quanto a de um coelho. Não é que ela ignore o princípio da individualidade; ela a concebe perfeitamente como principio, mas não como fato. Ela sabe muito bem que todas as espécies animais, inclusive a espécie humana, só possuem existência real em um número indefinido de indivíduos, nascendo e morrendo para dar lugar a novos indivíduos, igualmente fugidios. Ela sabe que, elevando-se das espécies animais às espécies superiores, o princípio da individualidade se determina mais; os indivíduos aparecem mais completos e mais livres. Ela sabe que o homem, o último e o mais perfeito animal desta terra, apresenta a individualidade mais completa e mais notável por causa de sua faculdade de conceber, concretizar, personificar, de um certo modo, em sua existência social e privada, a lei universal. Ela sabe, enfim, quando não está viciada pelo doutrinarismo teológico ou metafísico, político ou jurídico, ou mesmo por um estreito orgulho, quando ela não é surda aos institutos e às aspirações da vida, ela sabe, e esta é sua última palavra, que o respeito ao homem é a lei suprema da Humanidade, e que o grande, o verdadeiro objetivo da história, o único legítimo, é a humanização e a emancipação, é a liberdade real, a prosperidade de cada indivíduo vivo na sociedade. A menos que se recaia nas ficções liberticidas do bem público representado pelo Estado, ficções fundadas sempre sobre a imolação sistemática do povo, deve-se reconhecer que a liberdade e a prosperidade coletivas só existem sob a condição de representar a soma das liberdades e das prosperidades individuais .

A ciência sabe de todas essas coisas, mas ela não vai e não pode ir além. A abstração, constituindo sua própria natureza, pode conceber bem o princípio da individualidade real e viva, mas não pode ter nada a fazer com os indivíduos reais e vivos. Ela se ocupa dos indivíduos em geral, mas não de Pierre ou de Jacques, não de tal ou qual, que não existem, que não podem existir para ela. Seus indivíduos nada mais são, mais uma vez, do que abstrações .

Todavia, não são individualidades abstratas, são os indivíduos agindo e vivendo que fazem a história. As abstrações só caminham conduzidas por homens reais. Para esses seres formados, não somente em idéia, mas em realidade, de carne e de sangue, a ciência não tem coração. Ela os considera quando muito como carne para desenvolvimento intelectual e social. O que lhe fazem as condições particulares e o destino fortuito de Pierre ou Jacques? Ela se tornaria ridícula, ela abdicaria, ela se aniquilaria se quisesse se ocupar disso de outra forma que não a habitual, em apoio de suas teorias eternas. E seria ridículo censurá-la, pois ela obedece a suas leis. Ela não pode compreender o concreto; ela só pode mover-se em abstrações. Sua missão é ocupar-se da situação e das condições gerais da existência e do desenvolvimento, seja da espécie humana em geral, seja de tal raça, de tal povo, de tal classe ou categoria de indivíduos, das causas gerais de sua prosperidade, de sua decadência e dos meios gerais bons para fazê-los progredir de todas as maneiras. Desde que ela realize ampla e racionalmente esta tarefa, ela terá feito todo seu dever e seria realmente injusto pedir-lhe mais .

Mas seria igualmente ridículo, seria desastroso confiar-lhe uma missão que ela é incapaz de realizar, visto que sua própria natureza força-a a ignorar a existência e o destino de Pierre e de Jacques. Ela continuaria a ignorá-los, mas seus representantes nomeados, homens em nada abstratos, mas, ao contrário muito vivos, possuindo interesses muito reais, cedendo à influência perniciosa que o privilégio exerce fatalmente sobre os homens, acabariam por esfolar os outros homens em nome da ciência, como os esfolaram até agora os padres, os políticos de todas as cores e os advogados, em nome de Deus, do Estado, do Direito jurídico .

O que prego é, até certo ponto, a revolta da vida contra a ciência, ou melhor, contra o governo da ciência, não para destruir a ciência – seria um crime de lesa-humanidade – mas para recolocá-la em seu lugar, de maneira que ela não possa jamais sair de novo. Até o presente momento toda a história humana nada mais foi senão uma imolação perpétua e sangrenta de milhões de pobres seres humanos a uma abstração impiedosa qualquer: Deus, Pátria, poder do Estado, honra nacional, direitos históricos, liberdade política, bem público. Tal foi até agora o movimento natural, espontâneo e fatal das sociedades humanas. Nada podemos fazer para mudar isso, devemos suportá-lo em relação ao passado, como suportamos todas as fatalidades atuais. Deve-se acreditar que esta era a única via possível para a educação da espécie humana .
Não devemos nos enganar: mesmo procurando informar amplamente sobre os artifícios maquiavélicos das classes governamentais, devemos reconhecer que nenhuma minoria teria sido bastante poderosa para impor todos estes horríveis sacrifícios às massas, se não tivesse havido, nelas mesmas, um movimento vertiginoso, espontâneo, levando-as a se sacrificarem sempre, ora a uma, ora a outra destas abstrações devoradoras que, vampiros da história, sempre se nutriram de sangue humano .

Que os teólogos, os políticos e os juristas achem isso muito bom, nós os compreendemos. Padres destas abstrações, eles vivem apenas desta contínua imolação das massas populares. Que a metafísica dê a isso também seu consentimento, não deve nos surpreender também. Ela não possui outra missão que a de legitimar e de racionar, tanto quanto seja possível, o que é iníquo e absurdo. Mas o que se deve deplorar é o fato de a ciência positiva ter mostrado as mesmas tendências. Ela o fez por duas razões: inicialmente, porque constituída fora da vida, ela é representada por um corpo privilegiado, e, em seguida, porque ela própria se colocou até aqui como objetivo absoluto e último de todo desenvolvimento humano. Por uma crítica judiciosa, que ela pode e que em última instância se verá forçada a exercer contra si mesma, ela deveria ter compreendido que, ao contrário, ela é somente um meio para a realização de um objetivo bem mais elevado: o da completa humanização de todos os indivíduos que nascem, vivem e morrem na terra .

A imensa vantagem da ciência positiva sobre a teologia, a metafísica, a política e o direito jurídico consiste no seguinte: no lugar das abstrações enganosas e funestas, pregadas por estas doutrinas, ela apresenta abstrações verdadeiras, que exprimem a natureza geral e a lógica das coisas, as relações e as leis gerais de seu desenvolvimento. Eis o que lhe assegurará sempre uma grande posição na sociedade. Ela constituirá, de alguma forma, sua consciência coletiva; mas há um lado pelo qual ela se parece com todas as doutrinas anteriores: possuindo e só podendo ter por objetivo abstrações, ela é forçada por sua natureza a ignorar os homens reais, fora dos quais as abstrações mais verdadeiras não têm nenhuma existência. Para remediar este defeito radical, a ciência do futuro deverá proceder de outra forma, diferente das doutrinas do passado. Estas últimas se prevaleceram da ignorância das massas para sacrificá-las, com volúpia, às suas abstrações, por sinal sempre muito lucrativas para aqueles que as representam em carne e osso. A ciência positiva, reconhecendo sua incapacidade absoluta de conceber os indivíduos reais e de se interessar por seu destino, deve definitiva e absolutamente renunciar ao governo das sociedades, pois se ela se imiscuir, não poderá fazer outra coisa senão sacrificar sempre os homens vivos que ela ignora às abstrações de que faz o único objeto de suas legítimas preocupações .
A verdadeira ciência da história ainda não existe; quando muito começa-se a entrever, hoje, as condições extremamente complicadas .

Mas suponhamo-la definitivamente feita, o que ela poderá nos dar? Ela restabelecerá o quadro fiel e refletido do desenvolvimento natural das condições gerais, materiais e ideais, econômicas, políticas e sociais, religiosas, filosóficas, estéticas e científicas das sociedades que tiveram uma história. Mas este quadro universal da civilização humana, por mais detalhado que seja, jamais poderá conter senão apreciações gerais e, por conseqüência, abstratas. Os bilhões de indivíduos que forneceram a matéria viva e sofredora desta história, ao mesmo tempo triunfante e lúgubre – triunfante pela imensa hecatombe de vítimas humanas “esmagadas sob sua carruagem” -, estes bilhões de obscuros indivíduos, sem os quais nenhum dos grandes resultados abstratos da história teria sido obtido – e que, notemo-lo bem, quer destes resultados jamais se beneficiaram com qualquer destes resultados -, não encontrarão sequer o mínimo lugar em nossos anais. Eles viveram e foram sacrificados pelo bem da humanidade abstrata, eis tudo! Será preciso censurar a ciência da história? Seria injusto e ridículo. Os indivíduos são inapreensível pelo pensamento, pela reflexão, até mesmo pela palavra humana, que só é capaz de exprimir abstrações; eles são inapreensíveis, no presente, tanto quanto no passado. Assim, a própria ciência social, a ciência do futuro, continuará forçosamente a ignorá-los .

Tudo o que temos direito de exigir dela é que nos indique, com mão fiel e segura, as causas gerais dos sofrimentos individuais, e, entre estas causas, ela sem dúvida não esquecerá a imolação e a subordinação ainda muito freqüentes, infelizmente, dos indivíduos vivos às generalidades abstratas; e ao mesmo tempo nos mostrará as condições gerais necessárias à emancipação real dos indivíduos vivendo na sociedade. Eis sua missão; eis também seus limites, para além dos quais a ação da ciência social só poderá ser impotente e funesta. Fora destes limites começam as pretensões doutrinárias e governamentais de seus representantes nomeados, de seus padres. F tempo de acabar com estes pontífices, ainda que se dessem o nome de democratas-socialistas .

Mais uma vez, a única missão da ciência é iluminar O caminho. Mas, liberta de todos os seus entraves governamentais e doutrinários, e devolvida à plenitude de sua ação, somente a vida pode criar .

* * *

Como resolver esta antinomia? De um lado, a ciência é indispensável à organização racional da sociedade, de outro, ela é incapaz de se interessar pelo que é real e vivo .
Esta contradição só pode ser resolvida

de uma única maneira: é preciso que a ciência não permaneça mais fora da vida de todos, tendo por representante um corpo de cientistas diplomados, é necessário que ela se fundamente e se dissemine nas massas. A ciência, chamada doravante a representar a consciência coletiva da sociedade, deve realmente tornar-se propriedade de todo mundo. Assim, sem nada perder de seu caráter universal, do qual jamais poderá se desviar sob pena de cessar de ser ciência, e continuando a se ocupar exclusivamente das causas gerais, das condições e das relações fixas dos indivíduos e das coisas, ela se fundirá à vida imediata e real de todos os indivíduos. Será um movimento análogo àquele que fez dizer aos pregadores, no momento do início da reforma religiosa, que não havia mais necessidade de padres para um homem que se tornará, dali em diante, seu próprio padre, graças à intervenção invisível do Senhor Jesus Cristo, tendo conseguido finalmente engolir seu bom Deus .

Mas aqui não se trata nem de Jesus Cristo, nem de bom Deus, nem de liberdade política, nem de direito jurídico, todas coisas teológicas ou metafisicamente reveladas, e todas igualmente indigestas. O mundo das abstrações científicas não é revelado; ele é inerente ao mundo real, do qual nada mais é do que a expressão e a representação geral ou abstrata. Sem que forme uma região separada, representada especialmente pelo corpo dos cientistas, este mundo ideal ameaça-nos tomar, em relação ao mundo real, o lugar do bom Deus, reservando a seus representantes nomeados o ofício de padres. E por isso que é preciso dissolver a organização especial dos homens de ciência pela instrução geral, igual para todos e para todas, a fim de que as massas, cessando de ser rebanhos conduzidos e tosquiados por padres privilegiados, possam controlar a direção de seus destinos[7] .

Mas enquanto as massas não tiverem chegado a este grau de instrução, será necessário que elas se deixem governar pelos homens de ciência? Certamente que não. Seria melhor para elas absterem-se de ciência do que se deixarem governar por homens de ciência. O governo destes homens teria, como primeira conseqüência, tornar a ciência inacessível ao povo, porque as instituições atuais da ciência são essencialmente aristocráticas. A aristocracia de homens de ciência! Do ponto de vista prático, a mais implacável, e do ponto de vista social, a mais vaidosa e a mais insultante: tal seria o poder constituído em nome da ciência. Este regime seria capaz de paralisar a vida e o movimento da sociedade. Os homens de ciência, sempre presunçosos, sempre auto-suficientes e sempre impotentes, gostariam de se imiscuir em tudo, e as fontes da vida se dissecariam sob seu sopro de abstrações .

Mais uma vez, a vida, não a ciência, cria a vida; somente a ação espontânea do povo pode criar a liberdade. Sem dúvida, será bastante feliz que a ciência possa, a partir de agora, iluminar a marcha do povo para a sua emancipação. Mas, é melhor a ausência de luz do que uma luz trêmula e incerta, servindo apenas para extraviar aqueles que a seguem. Não é em vão que o povo percorreu uma longa carreira histórica e que pagou seus erros por séculos de miséria. O resumo prático de suas dolorosas experiências constitui um tipo de ciência tradicional, que, sob certos pontos de vista, tem o mesmo valor de ciência teórica. Enfim, uma parte da juventude, aqueles dentre os burgueses estudiosos que sentirão bastante ódio contra a mentira, a hipocrisia, a injustiça e a covardia da burguesia, por encontrar em si próprios a coragem de lhe virar as costas, e bastante paixão para abraçar sem reservas a causa justa e humana do proletariado, estes serão, como já disse, os instrutores fraternos do povo; graças a eles ninguém precisará do governo dos homens de ciência .

Se o povo deve evitar o governo dos homens de ciência, com maior razão deve se precaver contra o dos idealistas inspirados .
Quanto mais sinceros são os crentes e os padres, mais se tornam perigosos. A abstração científica, já disse, é uma abstração racional, verdadeira em sua essência, necessária à vida, da qual é a representação teórica, ou se preferirem, consciência. Ela pode, ela deve ser absorvida e dirigida pela vida. A abstração idealista, Deus, é um veneno corrosivo que destrói e decompõe a vida, que a deturpa e a mata .
O orgulho dos homens de ciência, nada mais sendo do que uma arrogância pessoal, pode ser dobrado e quebrado. O orgulho dos idealistas, não sendo em nada pessoal, mas divino, é irascível e implacável: ele pode, ele deve morrer, mas jamais cederá, e enquanto lhe restar um sopro de vida, tentará subjugar os homens a seu Deus; é assim que os tenentes da Prússia, os idealistas práticos da Alemanha, gostariam de ver esmagar o povo sob a bota e espora de seu imperador .

E a mesma lei, e o objetivo não é nada diferente. O resultado da lei é sempre a escravidão; é ao mesmo tempo o triunfo do materialismo mais feio e mais brutal: não há necessidade de desmonstrá-lo para a Alemanha; seria preciso ser cego para vê-lo .

* * *

O homem, como toda natureza viva, é um ser completamente material. O espírito, a faculdade de pensar, de receber e de refletir as diferentes sensações exteriores e interiores, de se lembrar delas quando passaram, e de reproduzi-las pela imaginação, compará-las e distingui-las, abstrair as determinações comuns e criar assim noções gerais, enfim, formar as idéias agrupando e combinando as noções segundo maneiras diferentes, numa palavra, a inteligência, única criadora de todo o nosso mundo ideal, é uma propriedade do corpo animal e, especialmente, do organismo cerebral .

Sabemo-lo de maneira certa, pela experiência de todos, que nenhum fato jamais desmentiu e que todo homem pode verificar a cada instante de sua vida. Em todos os animais, sem excetuar as espécies complementares inferiores, encontramos um certo grau de inteligência, e vemos que, na série das espécies, a inteligência animal se desenvolve, ainda mais quando a organização de uma espécie se aproxima daquela do homem; porém, somente no homem ela alcança este poder de abstração que constitui propriamente o pensamento .

A experiência universal [8], que é a única origem, a fonte de todos os nossos conhecimentos, demonstra-nos pois que toda inteligência está sempre ligada a um corpo animal qualquer, e que a intensidade e o poder desta função animal dependem da perfeição relativa do organismo. Este resultado da experiência universal não é somente aplicável às diferentes espécies animais; nós o constatamos igualmente nos homens, cuja potência intelectual e moral depende, de forma tão evidente, da maior ou menor perfeição de seu organismo como raça, como nação, como classe e como indivíduos, que não é necessário insistir sobre este ponto [9] .

Por outro lado, é certo que nenhum homem tenha visto ou podido ver alguma vez o espírito puro desprendido de toda forma material, existindo separadamente de um corpo animal qualquer. Mas, se ninguém a viu, como foi que os homens puderam chegar a crer em sua existência? O fato desta crença é certo e, senão universal, como dizem todos os idealistas, pelo menos muito geral, e como tal é inteiramente digno de nossa extrema atenção. Uma crença geral, por mais estúpida que seja, exerce uma influência muito poderosa sobre Q destino dos homens, para que possa ser permitido ignorá-la ou dela fazer abstração .

Esta crença se explica, por sinal, de uma maneira racional. O exemplo que nos oferecem as crianças e os adolescentes, até mesmo muitos homens que ultrapassaram em vários anos a maioridade, prova-nos que o homem pode exercer por muito tempo suas faculdades mentais antes de perceber a maneira como as exerce. Neste período do funcionamento do espírito, inconsciente de si mesmo, desta ação da inteligência ingênua ou crédula, o homem, obsedado pelo mundo exterior, levado por este aguilhão interior que se chama vida e as suas múltiplas necessidades, cria uma quantidade de imaginações, noções e idéias necessariamente muito imperfeitas no início, muito pouco conformes à realidade das coisas e dos fatos que elas se esforçam por exprimir. Ainda não tendo consciência de sua própria ação inteligente, ainda não sabendo que ele próprio produziu e continua a produzir estas imaginações, estas noções, estas idéias, ignorando sua origem totalmente subjetiva, isto é humana, ele deve naturalmente considerá-las como seres objetivos, como seres reais totalmente independentes de si, existindo por eles e neles mesmos .
Foi assim que os povos primitivos, emergindo lentamente de sua inocência animal, criaram seus deuses. Tendo-os criado, sem suspeitar que foram seus únicos criadores, eles os adoraram; considerando-os como seres reais, infinitamente superiores a si próprios, atribuíram-lhes a onipotência e se reconheceram suas criaturas, seus escravos. À medida que as idéias humanas se desenvolvem, os deuses, que nunca foram outra coisa senão revelação fantástica, ideal, poética da imagem invertida, idealizam-se também. Inicialmente fetiches grosseiros, eles se tornam pouco a pouco espíritos puros, existindo fora do mundo visível, e, enfim, no transcurso da história, eles acabam por se confundir num único ser divino, Espírito puro, eterno, absoluto, criador e senhor dos mundos .

Em todo desenvolvimento legítimo ou falso, real ou imaginário, coletivo ou individual, é sempre o primeiro passo que custa, o primeiro ato é o mais difícil. Uma vez ultrapassada a dificuldade, o resto se desenvolve naturalmente, como uma conseqüência necessária .

O que era difícil no desenvolvimento histórico desta terrível loucura religiosa que continua a nos obsedar era apresentar um mundo divino tal e qual, exterior ao mundo real. Este primeiro ato de loucura, tão natural do ponto de vista fisiológico, e por conseqüência necessário na história da humanidade, não se realiza de uma só vez. Foram necessários não sei quantos séculos para desenvolver e para fazer penetrar esta crença nos hábitos sociais dos homens. Mas, uma vez estabelecida, ela se tornou todo-poderosa, como se torna necessariamente a loucura, ao apoderar-se do cérebro do homem. Tomai um louco, qualquer que seja o objeto de sua loucura, e vereis que a idéia obscura e fixa que o obseda parece-lhe a mais natural do mundo, e que, ao contrário, as coisas da realidade que estão em contradição com esta idéia, parecem-lhe loucuras ridículas e odiosas. Bem, a religião e uma loucura coletiva, tanto mais poderosa por ser tradicional e porque sua origem se perde na antigüidade mais remota. Como loucura coletiva, ela penetrou até o fundo da existência pública e privada dos povos; ela se encarnou na sociedade, se tornou, por assim dizer, sua alma e seu pensamento. Todo homem é envolvido por ela desde o seu nascimento; ele a suga com o leite de sua mãe, absorve-a de tudo o que toca, de tudo o que vê. Ele foi, por ela, tão bem nutrido, envenenado, penetrado em todo o seu ser que, mais tarde, por poderoso que seja seu espírito natural, precisa fazer esforços espantosos para se livrar dela, e ainda assim não o consegue de uma maneira completa. Nossos idealistas modernos são uma prova disso, e nossos materialistas doutrinários, os conservadores alemães, são outra .

Eles não souberam se desfazer da religião do Estado .

Uma vez bem estabelecido o mundo sobrenatural, o mundo divino, na imaginação dos povos, o desenvolvimento dos diferentes sistemas religiosos seguiu seu curso natural e lógico, todavia conformando-se com o desenvolvimento contemporâneo das relações econômicas e políticas, das quais ele foi, em todos os tempos, no mundo da fantasia religiosa, a reprodução fiel e a consagração divina. Foi assim que a loucura coletiva e histórica que se chama religião se desenvolveu desde o fetichismo, passando por todos os graus, do politeísmo ao monoteísmo cristão .
O segundo passo no desenvolvimento das crenças religiosas, sem dúvida o mais difícil, após o estabelecimento de um mundo divino separado, foi precisamente a transição do politeísmo ao monoteísmo, do materialismo religioso dos pagãos à fé espiritualista dos cristãos. Os deuses pagãos – e aí está seu caráter principal – eram antes de tudo deuses exclusivamente nacionais. Muito numerosos, eles conservaram necessariamente um caráter mais ou menos material, ou melhor, porque eram materiais é que foram tão numerosos, sendo a diversidade um dos principais atributos do mundo real. Os deuses pagãos não eram propriamente a negação das coisas reais; eles nada mais eram do que seu exagero fantástico .

Vimos o quanto esta transição custou ao povo judeu, do qual ela constituiu, por assim dizer, toda a história. Moisés e os profetas tentaram por todos os meios fazer a pregação do Deus único, mas o povo recaía sempre em sua primeira idolatria, a antiga fé, muito mais natural, com vários bons deuses materiais, humanos, palpáveis. O próprio Jeová, seu Deus único, o Deus de Moisés e dos profetas, ainda era um Deus extremamente nacional, servindo-se, para recompensar e para punir seus fiéis, seu povo eleito, somente de argumentos materiais, freqüentemente estúpidos, sempre grosseiros e ferozes. Não parece sequer que a fé em sua existência tenha implicado a negação da existência dos deuses primitivos. O Deus judeu não negava a existência de seus rivais, somente não queria que seu povo os adorasse ao lado de si. Jeová era um Deus ciumento. Seu primeiro mandamento foi o seguinte: “Eu sou teu Deus e não adorarás outros deuses além de mim Jeová, portanto, foi apenas um primeiro esboço material e muito grosseiro do idealismo moderno. Ele nada mais era, por sinal, que um Deus nacional, como o Deus eslavo a que adoram os generais, súditos submissos e pacientes do imperador de todas as Rússias, como o Deus alemão que proclamam os pietistas, e os generais alemães súditos de Guilherme 1, em Berlim. O Ser supremo não pode ser um Deus nacional, ele deve sê-lo de toda a Humanidade. O Ser supremo não pode ser também um ser material, ele deve ser a negação de toda a matéria, o espírito puro. Para a realização do culto do Ser supremo foram necessárias duas coisas: primeira, uma realização igual à Humanidade pela negação das nacionalidades e dos cultos nacionais; segunda, um desenvolvimento já muito avançado das idéias metafísicas para espiritualizar o Jeová tão grosseiro dos judeus .

A primeira condição foi preenchida pelos romanos, de uma maneira sem dúvida muito negativa: pela conquista da maioria dos países conhecidos dos antigos, e pela destruição de suas instituições nacionais. Graças a eles, o altar de um Deus único e supremo pôde se estabelecer sobre as ruínas de outros milhares de altares. Os Deuses de todas as nações vencidas, reunidas no Panteão, anularam-se mutuamente .

Quanto à segunda condição, a espiritualização de Jeová, ela foi realizada pelos gregos, bem antes da conquista de seu país pelos romanos. A Grécia, em seu fim histórico, já havia recebido do Oriente um mundo divino que fora definitivamente estabelecido na fé tradicional de seus povos. Neste período de instinto, anterior à sua história política, ela o tinha desenvolvido é prodigiosamente humanizado por seus poetas, e quando ela começou verdadeiramente sua história, já possuía uma religião inteiramente pronta, a mais simpática e a mais nobre de todas as religiões que tenham existido, pelo menos tanto quanto uma religião, isto é, uma mentira pode ser nobre e simpática. Seus grandes pensadores – e nenhum povo teve pensadores maiores do que a Grécia – encontraram o mundo divino estabelecido, não somente fora deles próprios, no povo, mas também neles mesmos, como hábito de sentir e pensar, e naturalmente eles o tomaram como ponto de partida. Já foi muito bom que eles nada fizessem de teologia, quer dizer, que eles não se aborrecessem em reconciliar a razão nascente com os absurdos deste ou daquele deus, como o fizeram, na Idade Média, os escolásticos. Eles deixaram os deuses fora de suas especulações e se ligaram diretamente à idéia divina, una, invisível, todo-poderosa, eterna, absolutamente espiritualista e não pessoal. Os metafísicos gregos foram, portanto, muito mais que os judeus, os criadores de um Deus cristão. Os judeus apenas acrescentaram a ele a brutal personalidade de seu Jeová .

Que um gênio sublime, como o divino Platão, tenha podido estar absolutamente convencido da realidade da idéia divina, isto nos demonstra o quanto é contagiosa, o quanto é todo-poderosa a tradição da loucura religiosa, mesmo sobre os maiores espíritos. Por sinal, não devemos nos surpreender com isso, pois mesmo nos dias de hoje, o maior gênio filosófico desde Aristóteles e Platão, que é Hegel, esforçou-se em repor em seu trono transcendente ou celeste as idéias divinas, das quais Kant havia demolido a objetividade por uma crítica infelizmente imperfeita e muito metafísica. E verdade que Hegel portou-se de uma maneira tão indelicada em sua obra de restauração que matou definitivamente o bom Deus. Retirou destas idéias seu caráter divino ao demonstrar, a quem quiser lê-lo, que elas jamais foram outra coisa senão uma criação do espírito humano, correndo à procura de si próprio através da história. Para pôr fim a todas as loucuras religiosas e à miragem divina, só lhe faltou pronunciar esta grande frase dita depois, quase ao mesmo tempo, por dois grandes espíritos, e sem que nunca tivessem ouvido falar um do outro: Ludwig Feuerbach, o discípulo e o demolidor de Hegel, e Auguste Comte, o fundador da filosofia política na França. A frase é: “A metafísica se reduz à psicologia”. Todos os sistemas de metafísica nada mais são do que a psicologia humana se desenvolvendo na história .

Agora não nos é mais difícil compreender como nasceram as idéias divinas, como foram criadas pela faculdade abstrativa do homem. Mas na época de Platão, este conhecimento era impossível. O espírito coletivo, e por conseqüência também o espírito individual, mesmo o do maior gênio, não estava maduro para isto. Mal pôde ser dito com Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo”. Este conhecimento de si próprio existia apenas em estado de abstração; na realidade, era nulo. Era impossível que o espírito humano desconfiasse que era o único criador do mundo divino .
Ele o encontrou diante de si, encontrou-o como história, como sentimento, com hábito de pensar, e fez dele necessariamente o objeto de suas mais elevadas especulações. Foi assim que nasceu a metafísica e que as idéias divinas, base do espiritualismo, foram desenvolvidas e aperfeiçoadas .

É verdade que depois de Platão existiu no desenvolvimento do espírito como que um movimento inverso. Aristóteles, o verdadeiro pai da ciência e da filosofia positiva não negou absolutamente o mundo divino, mas ocupou-se com isto o mínimo possível. Estudou primeiramente, como um analista e um experimentador que era, a lógica, as leis do pensamento humano, e, ao mesmo tempo, o mundo físico, não em sua essência ideal, ilusória, mas sob seu aspecto real .

Depois dele, os gregos de Alexandria fundaram a primeira escola das ciências positivas. Eles foram ateus. Mas seu ateísmo permaneceu sem influência sobre seus contemporâneos. A ciência tendeu cada vez mais a se isolar da vida. Quanto à negação das idéias divinas, pronunciada pelos epicuristas e pelos céticos, não teve nenhuma ação sobre as massas .

Uma outra escola, infinitamente mais influente, formou-se em Alexandria .

Foi a escola dos neoplatônicos. Estes, confundindo numa mescla impura as imaginaçõesmonstruosas do Oriente com as idéias de Platão, foram os verdadeiros preparadores e, mais tarde, os elaboradores dos dogmas cristãos .

Assim, o egoísmo pessoal e grosseiro de Jeová, a dominação não menos brutal e grosseira dos romanos, e a especulação metafísica ideal dos gregos, materializada pelo contato com o Oriente, tais foram os três elementos históricos que constituíram a religião espiritualista dos cristãos .
Um Deus que se elevava, pois, acima das diferenças nacionais de todos os países, que era de certa forma a negação direta, devia ser necessariamente um ser imaterial e abstrato. Mas já o dissemos, a fé tão difícil na existência de um semelhante ser não pôde nascer de uma só vez. Assim, também, ela foi longamente preparada e desenvolvida pela metafísica grega, que, inicialmente, estabeleceu, de maneira filosófica, a noção da idéia divina, modelo eternamente reproduzido pelo mundo visível. Mas a divindade concebida e criada pela filosofia grega era uma divindade pessoal. Nenhuma metafísica consequentemente séria, podendo se elevar, ou melhor, se rebaixar à idéia de um Deus pessoal, precisou, pois, imaginar um Deus que fosse único e que fosse três ao mesmo tempo. Ele se encontrou na pessoa brutal, egoísta e cruel de Jeová, o deus nacional dos judeus. Mas os judeus, apesar deste espírito nacional exclusivo que os distingue ainda hoje, tornaram-se, de fato, bem antes do nascimento de Cristo, o povo mais internacional do mundo .

Arrastados em parte como cativos, mas, muito mais ainda, levados por esta paixão mercantil que constitui um dos traços principais de seu caráter, eles se disseminaram em todos os países, levando com eles o culto de seu Jeová, ao qual permaneciam tanto mais fiéis quanto mais ele os abandonava .

Em Alexandria, o deus terrível dos judeus travou conhecimento pessoal com a divindade metafísica de Platão, já muito corrompida pelo contato com o Oriente, e a corrompeu ainda mais pelo seu. Apesar de seu exclusivismo nacional, ciumento e feroz, não pôde, com o tempo, resistir às graças desta divindade ideal e impessoal dos gregos. Desposou-a e deste casamento nasceu o deus espiritualista, mas não espiritual dos cristãos. Os neoplatônicos de Alexandria foram os principais criadores da teologia cristã .

Entretanto, a teologia ainda não constitui a religião, assim como os elementos históricos não bastam para criar a história. Denomino de elementos históricos as condições gerais de um desenvolvimento real qualquer, por exemplo a conquista do mundo pelos romanos e o encontro do deus dos judeus com a divindade ideal dos gregos. Para fecundar os elementos históricos, para fazê-los percorrer uma série de transformações, foi necessário um fato vivo, espontâneo, sem o qual teriam podido permanecer muitos séculos ainda em estado de elementos improdutivos. Este fato não faltou ao cristianismo; foi a propaganda, o martírio e a morte de Jesus Cristo .

Não sabemos quase nada deste personagem, tudo o que nos contam os evangelhos é tão contraditório e fabuloso que mal podemos extrair alguns traços reais e vivos. O certo é que foi o pregador do povo pobre, o amigo, o consolador dos miseráveis, dos ignorantes, dos escravos e das mulheres, e que foi muito amado por estas últimas. Prometeu a vida eterna a todos aqueles que sofrem aqui em baixo, e o número destes é imenso. Foi crucificado, como era de se esperar, pelos representantes da moral oficial e da ordem pública da época. Seus discípulos e os discípulos destes últimos puderam se espalhar, graças à conquista romana e à destruição das barreiras nacionais, e propagaram o Evangelho em todos os conhecidos dos antigos. Em todos os lugares foram recebidos de braços abertos pelos escravos e pelas mulheres, as duas classes mais oprimidas, mais sofredoras e naturalmente mais ignorantes do mundo antigo. Se fizeram alguns prosélitos no mundo privilegiado e letrado, devem isso, em grande parte, à influência das mulheres. Sua propaganda mais ampla exerceu-se quase exclusivamente no povo infeliz, embrutecido pela escravidão. Foi a primeira importante revolta do proletariado .

A grande honra do cristianismo, seu mérito incontestável e todo o segredo de seu triunfo inaudito, e por sinal totalmente legítimo, foi o de ter-se dirigido a este público sofredor e imenso, ao qual o mundo antigo impunha uma servidão intelectual e política estreita e feroz, negando-lhe inclusive os direitos mais simples da humanidade. De outra forma ele jamais teria podido se disseminar. A doutrina que ensinavam os apóstolos do Cristo, por mais consoladora que tenha parecido aos infelizes, era muito revoltante, muito absurda do ponto de vista da razão humana, para que homens esclarecidos tivessem podido aceitá-la. Com que alegria também o apóstolo Paulo fala do “escândalo da fé” e do triunfo desta divina loucura rejeitada pelos poderosos e pelos sábios do século, mas tanto mais apaixonadamente aceita pelos simples, pelos ignorantes e pelos pobres de espírito! Com efeito, seria preciso um bem profundo descontentamento da vida, uma grande sede no coração e uma pobreza quase absoluta de pensamento para aceitar o absurdo cristão, o mais monstruoso de todos os absurdos .

Não era somente a negação de todas as instituições políticas, sociais e religiosas da antigüidade; era a inversão absoluta de senso comum, de toda a razão humana. O ser vivo, o mundo real, eram considerados dali em diante como o nada; enquanto que, para além das coisas existentes, mesmo para além das idéias de espaço e de tempo, o produto final da faculdade abstrativa do homem repousa na contemplação de seu vazio e de sua imobilidade absoluta, esta abstração, este caput mortuum, absolutamente vazio de toda utilidade, o verdadeiro nada, Deus, proclamado o único ser real, eterno, todo-poderoso. O Todo real é declarado nulo, e o nulo absoluto, o Todo. A sombra se torna o corpo e o corpo se desvanece como uma sombra[10] .

Era de uma audácia e de um absurdo sem nome, o verdadeiro escândalo da fé para as massas; era o triunfo da insensatez crente sobre o espírito e, para alguns, a ironia de um espírito fatigado, corrompido, desiludido e enfadado pela busca honesta e séria da verdade; era a necessidade de se aturdir e de se embrutecer, necessidade que se encontra com freqüência entre os espíritos insensibilizados: “Credo quia absurdum” .

Não acredito somente no absurdo; acredito nele precisamente e sobretudo porque ele é absurdo. E assim que muitos espíritos distintos e esclarecidos acreditam, nos dias de hoje, no magnetismo animal, no espiritismo, nas mesas que giram – e por que ir tão longe? -, crêem ainda no cristianismo, no idealismo, em Deus .

A crença do proletariado antigo, tanto quanto a do proletariado moderno, era robusta e simples. A propaganda cristã havia se dirigido a seu coração, não a seu espírito, às suas aspirações eternas, às suas necessidades, aos seus sofrimentos, à sua escravização, não à sua razão, que dormia ainda, e para a qual, consequentemente, as contradições lógicas, a evidência do absoluto não podiam existir. A única questão que o interessava era a de saber quando chegaria a hora da libertação prometida, quando chegaria o reino de Deus. Quanto aos dogmas teológicos, não se preocupava com eles, pois deles nada compreendia. O proletariado convertido ao cristianismo constituía a potência material, mas não o pensamento teórico .

Quanto aos dogmas cristãos, eles foram elaborados em uma série de trabalhos teológicos, literários, e nos concílios, principalmente pelos neoplatônicos convertidos do Oriente .

O espírito grego tinha descido tão baixo, que no século VII da era cristã, época do primeiro concilio, a idéia de um Deus pessoal, espírito puro, eterno, absoluto, criador e senhor supremo, existindo fora de nós, era unanimemente aceita pelos padres da Igreja; como conseqüência lógica deste absurdo absoluto, tornava-se desde então natural e necessário crer na imaterialidade e na imortalidade da alma humana, hospedada e aprisionada em um corpo mortal, em parte somente, porque no corpo há uma parte que, ainda que sendo corporal, é imortal como a alma e deve ressuscitar com ela. Quanto foi difícil, mesmo aos padres da Igreja, imaginar o espírito puro, fora de qualquer forma corporal! E preciso observar que em geral o caráter de todo raciocínio metafísico e teológico é o de procurar explicar um absurdo por outro .

Foi muito oportuno para o cristianismo ter encontrado o mundo dos escravos. Houve outro motivo de alegria: a invasão dos bárbaros. Estes últimos eram uma brava gente, cheios de força natural e sobretudo levados por uma grande necessidade e por uma capacidade de viver; estes bandidos a toda prova, capazes de tudo devastar e tudo engolir, assim como seus sucessores, os alemães atuais; mas eles eram muito menos sistemáticos e pedantes que estes últimos, muito menos moralistas, menos sábios, e em compensação muito mais independentes e orgulhosos, capazes de ciências e não incapazes de liberdade, como os burgueses da Alemanha moderna. Apesar de todas as suas grandes qualidades, eles nada mais eram senão bárbaros, isto é, tão diferentes para todas as questões de teologia e de metafísica quanto os escravos antigos, dos quais um grande número, por sinal, pertencia à sua raça .

Assim, uma vez vencidas suas repugnâncias práticas, não foi difícil convertê-los teoricamente ao cristianismo .

Durante dez séculos, o cristianismo, armado com a onipotência da Igreja e do Estado, e sem nenhuma concorrência, pôde depravar, corromper e falsear o espírito da Europa. Não havia concorrentes, visto que fora da Igreja não houve nem pensadores nem letrados. Somente ela pensava, somente ela falava, escrevia, ensinava. Se heresias surgiram em seu seio, elas só atacavam os desenvolvimentos teológicos ou práticos do dogma fundamental, não a este dogma. A crença em Deus, espírito puro e criador do mundo, e a crença na imaterialidade da alma permaneciam de fora. Esta dupla crença tornou-se a base ideal de toda a civilização ocidental e oriental da Europa; penetrou todas as instituições, todos os detalhes da vida pública e privada das castas e das massas; encarnou-se nelas, por assim dizer .

Podemos surpreender-nos que depois disso esta crença se tenha mantido até nossos dias, continuando a exercer sua influência desastrosa sobre espírito de elite, tais como os de Mazzini, Michelet, Quinet e tantos outros? Vimos que o primeiro ataque foi dirigido contra ela pelo renascimento do livre espírito no século XV, que produziu heróis e mártires como Vanini, Giordano Bruno, Galileu. Ainda que sufocado pelo barulho, pelo tumulto e pelas paixões da reforma religiosa, ele continuou sem barulho seu trabalho invisível, legando aos mais nobres espíritos de cada geração sua obra de emancipação humana pela destruição do absurdo, até que, enfim, na segunda metade do século XVIII, ele reapareceu abertamente de novo, elevando ousadamente a bandeira do ateísmo e do materialismo .

* * * Pôde-se acreditar que o espírito humano iria enfim se livrar de todas as obsessões divinas. Foi um erro. A mentira da qual a humanidade era a vítima havia dezoito séculos (para só falar do cristianismo) deveria se mostrar, mais uma vez, mais poderosa do que a verdade. Não mais podendo servir-se da gente negra, dos corvos consagrados pela Igreja, padres católicos ou protestantes, que tinham perdido todo o crédito, serviu-se dos padres laicos, dos mentores e dos sofistas togados, entre os quais o principal papel foi destinado a dois homens fatais, um, o espírito mais falso, o outro, a vontade mais doutrinariamente despótica do último século: J .-J. Rousseau e Robespierre .
O primeiro é o verdadeiro tipo da estreiteza e da mesquinharia desconfiada> da exaltação sem outro objeto que sua própria pessoa, do entusiasmo frio e da hipocrisia simultaneamente sentimental e implacável, da mentira do idealismo moderno. Pode-se considerá-lo como o verdadeiro criador da reação. Aparentemente, o escritor democrático do século XVIII prepara em si mesmo o despotismo impiedoso do homem de Estado. Foi o profeta do Estado doutrinário, como Robespierre, seu digno e fiel discípulo, tentou tornar-se seu grande padre. Tendo ouvido dizer, por Voltaire, que se não existisse Deus seria preciso inventá-lo, Rousseau inventou o Ser Supremo, o Deus abstrato e estéril dos deístas .
E foi em nome do Ser Supremo e da hipócrita virtude comandada por este Ser Supremo que Robespierre guilhotinou os Hebertistas inicialmente, em seguida o próprio gênio da revolução, Danton, em cuja pessoa ele assassinou a república, preparando assim o triunfo, tornado desde aquele momento necessário, da ditadura napoleônica. Depois do grande recuo, a reação idealista procurou e encontrou servidores, menos fanáticos, menos terríveis, mais de acordo com a estatura consideravelmente diminuta da burguesia atual .

Na França, foram Chateaubriand, Lamartine e – é preciso dizê-lo – Victor Hugo, o democrata, o republicano, o quase-socialista de hoje, e depois deles toda a tropa melancólica, sentimental, de espíritos magros e pálidos que constituíram, sob a direção destes mestres, a escola romântica moderna. Na Alemanha, foram os Schlegel, os Tieck, os Novalis, os Werner, foram Schelling e muitos outros mais, cujos nomes sequer merecem ser lembrados .

A literatura criada por esta escola foi o reino dos espíritos e dos fantasmas. Ela não suportava a claridade; somente a penumbra permitia-lhes viver. Ela também não Suportava o contato brutal das massas. Era a literatura dos aristocratas delicados, distintos, aspirando ao céu, sua pátria, e vivendo, apesar dele, sobre a terra .

Tinha horror e desprezo pela política e pelas questões do quotidiano; mas quando falava disso, por acaso, ela se mostrava francamente reacionária, tomava partido pela Igreja contra a insolência dos livre-pensadores, em favor dos reis contra os povos e de todos os aristocratas contra o populacho das ruas .

De resto, como acabamos de dizer, o que dominava na escola do romantismo era uma indiferença quase completa pela política. No meio das nuvens nas quais ela vivia só se podia distinguir dois pontos reais: o rápido desenvolvimento do materialismo burguês e o desencadeamento desenfreado das vaidades individuais .

* * *

Para compreender esta literatura romântica é preciso procurar sua razão de ser na transformação que se operou no seio da classe burguesa, desde a revolução de 1793 .

Desde a Renascença e a Reforma até a Revolução, a burguesia, senão na Alemanha, pelos menos na Itália, na França, na Suíça, na Inglaterra, na Holanda, foi o herói e o representante do gênio revolucionário da história. De seu seio saía a maioria dos livre-pensadores do século XVIII, os reformadores religiosos dos dois séculos precedentes e os apóstolos da emancipação humana, inclusive, desta vez, os da Alemanha do século passado. Ela sozinha, naturalmente apoiada sobre o braço poderoso do povo que nela tem fé, fez a revolução de 1789 e de 1793. Ela havia proclamado a queda da realeza e da Igreja, a fraternidade dos povos, os Direitos do homem e do cidadão. Eis seus títulos de glória; eles são imortais! Em pouco tempo ele se cindiu. Uma parte considerável de compradores de bens nacionais, tornados ricos, apoiando-se não mais sobre o proletariado das cidades, mas sobre a maior parte dos camponeses da França, tornados, eles também, proprietários de terras, não aspirava a outra coisa senão à paz, ao restabelecimento da ordem pública e ao estabelecimento de um governo poderoso e regular. Ela aclamou pois com alegria a ditadura do primeiro Bonaparte, e, ainda que sempre voltairiana, não viu com maus olhos o tratado com o Papa e o restabelecimento da Igreja oficial na França: “A Religião e tão necessária ao Povo!” . O que significa dizer que, satisfeita, esta parte da burguesia começou desde então a compreender que era urgente, para a conservação de sua situação e de seus bens recém-adquiridos, enganar a fome não saciada do povo pelas promessas de um maná celeste. Foi então que Chateaubriand começou a pregar[11] .

Napoleão caiu. A restauração trouxe de volta à França a monarquia legítima e, com esta, o poder da Igreja e da aristocracia nobiliária, que recuperaram a maior parte de sua antiga influência, até que veio o momento oportuno de reconquistar tudo .

Esta reação relançou a burguesia na Revolução, e com o espírito revolucionário despertou também nela o da incredulidade: ela se tornou de novo um espírito forte. Pôs Chateaubriand de lado e recomeçou a ler Voltaire; mas não chegou até Diderot: seus nervos enfraquecidos não comportavam mais um alimento tão forte. Voltaire, simultaneamente espírito forte e deísta, ao contrário, convinha-lhe muito .
Béranger e P.-L. Courrier exprimiram perfeitamente esta nova tendência .

O “Deus das boas pessoas” e o ideal do rei burguês, ao mesmo tempo liberal e democrático, retraçado sobre o fundo majestoso e doravante inofensivo das vitórias gigantescas do Império, tal foi naquela época o quadro que a burguesia da França fazia do governo da sociedade .
Lamartine, excitado pela monstruosa e ridícula inveja de se elevar à altura poética do grande Byron, tinha começado estes hinos friamente delirantes em honra do Deus dos fidalgos e da monarquia legítima, mas seus cantos só ressoavam nos salões aristocráticos. A burguesia não os escutava. Béranger era seu poeta e Courrier seu escritor político .

A revolução de julho teve por conseqüência o enobrecimento de seus gostos. Sabe-se que todo burguês na França traz em si o tipo imperecível do burguês fidalgo, tipo que jamais deixa de aparecer, tão logo o novo-rico adquire riqueza e poder. Em 1830, a rica burguesia tinha definitivamente substituído a antiga nobreza no poder. Ela tendeu naturalmente a fundar uma nova aristocracia. Aristocracia de capital, antes de mais nada, mas, em suma, distinta, de boas maneiras e de sentimentos delicados. Ela começou a sentir-se religiosa .
Não foram, de sua parte, simples arremedos dos modos aristocráticos .

Era também uma necessidade de posição. O proletariado tinha-lhe prestado um último serviço ao ajudá-la uma vez mais a derrubar a nobreza. A burguesia já não precisava mais deste auxílio, pois sentia-se solidamente estabelecida à sombra do trono de julho, e a aliança do povo, doravante inútil, começava a se tornar incômoda. Era preciso recolocá-lo em seu lugar, o que não se pôde naturalmente fazer sem provocar uma grande indignação nas massas. Tornou-se necessário conter estas últimas. Mas em nome de quê? Em nome do interesse burguês cruamente declarado? Teria sido muito cínico. Quanto mais um interesse é injusto, desumano, mais ele necessita de sanção. Ora, aprisioná-lo, senão na religião, esta boa protetora de todos os satisfeitos e esta consoladora tão útil dos famintos? E mais do que nunca a burguesia triunfante compreendeu que a religião era indispensável ao povo .

Após ter ganho todos os seus títulos de glória na oposição religiosa, filosófica e política, no protesto e na revolução, ela enfim se tornou a classe dominante e, por isso mesmo, a defensora e a conservadora do Estado, instituição desde então regular do poder exclusivo desta classe .
O Estado é a força, e tem, antes de mais nada, o direito da força, o argumento triunfante do fuzil. Mas o homem é tão singularmente feito que este argumento, por mais eloqüente que pareça ser, não é mais suficiente com o passar do tempo. Para impor-lhe respeito, é-lhe absolutamente necessária uma sanção moral qualquer. E preciso, além do mais, que esta sanção seja simultaneamente tão simples e tão evidente que possa convencer as massas, que, após terem sido reduzidas pela força do Estado, devem ser lavadas ao reconhecimento moral de seu direito .
Há somente dois meios de convencer as massas da bondade de uma instituição social qualquer. O primeiro, o único real, mas também o mais difícil de empregar – porque implica a abolição do Estado, isto é, a abolição da exploração politicamente organizada da maioria por uma minoria qualquer – seria a satisfação direta e completa das necessidades e das aspirações do povo, o que equivaleria à liqüidação da existência da classe burguesa e, mais uma vez, à abolição do Estado. E, pois, inútil falar disso .

O outro meio, ao contrário, funesto somente ao povo, precioso ao bem-estar dos privilegiados burgueses, não é outro senão a religião. E a eterna miragem que leva as massas à procura dos tesouros divinos, enquanto que, muito mais astuta, a classe governante se contenta em dividir entre seus membros – muito desigualmente, por sinal, e dando cada vez mais àquele que mais possui – os miseráveis bens da terra e os despojos do povo, inclusive, naturalmente, a liberdade política e social deste .

Não existe, não pode existir Estado sem religião. Considerai os Estados mais livres do mundo, os Estados Unidos da América ou a Confederação Suíça, por exemplo, e vede que papel importante preenche neles, em todos os discursos oficiais, a divina Providência, esta sanção superior de todos os Estados .

Assim, todas as vezes que um chefe do Estado fala de Deus, quer seja o imperador da Alemanha ou o presidente de uma república qualquer, estai certo de que ele se prepara para tosquiar de novo seu povo-rebanho .

A burguesia francesa, liberal e voltairiana, levada por seu temperamento a um positivismo (para não dizer a um materialismo) singularmente estreito e brutal, tendo se tornado classe governante por seu triunfo de 1820, o Estado teve de assumir uma religião oficial. A coisa não era fácil .
A burguesia não podia se colocar cruamente sob o jugo do catolicismo romano. Havia entre ela e a Igreja de Roma um abismo de sangue e de ódio e, por mais práticos e sábios que nos tornemos, nunca conseguimos reprimir em nosso seio uma paixão desenvolvida pela história. Por sinal, o burguês francês se cobria de ridículo se retornasse à Igreja para tomar parte nas cerimônias religiosas de seu culto, levado muito longe. A burguesia foi levada, então, para sancionar seu novo Estado, a criar uma nova religião que pudesse ser, sem muito ridículo e escândalo, condição essencial de uma conversão meritória e sincera. Muitos o tentaram, é verdade, mas seu heroísmo não obteve outro resultado além de um escândalo estéril. Enfim, o retorno ao catolicismo era impossível por causa da contradição insólita que separa a política invariável de Roma e o desenvolvimento dos interesses econômicos e políticos da classe média .

No que diz respeito a isto, o protestantismo é muito mais cômodo. E a religião burguesa por excelência. Ela concede de liberdade apenas o necessário de que precisa o burguês e encontrou o meio de conciliar as aspirações celestes com o respeito que exigem os interesses terrestres .
Assim, foi sobretudo nos países protestantes que o comércio e a indústria se desenvolveram .
Mas era impossível para a burguesia francesa fazer-se protestante. Para passar de uma religião a outra – a menos que o faça calculadamente, como os judeus da Rússia e da Polônia, que se batizam três e até mesmo quatro vezes para receber o mesmo número de vezes a remuneração que lhes é concedida -, para mudar de religião seriamente, é preciso ter um pouco de fé. Ora, no coração exclusivamente positivo do burguês francês não há lugar para a fé. Ele professa a mais profunda indiferença para todas as questões que não dizem respeito nem ao seu bolso inicialmente nem à sua vaidade social em seguida .

Ele é tão indiferente ao protestantismo quanto ao catolicismo. Por outro lado, o burguês francês não poderia passar ao protestantismo sem se colocar em contradição com a rotina católica da maioria, o que teria sido uma grande imprudência por parte de uma classe que pretendia governar a nação .

Restava um meio: retornar à religião humanitária e revolucionária do século XVIII. Mas isto faria a religião altamente proclamada por toda a classe burguesa .

Foi assim que nasceu o Deísmo doutrinário .

Outros já fizeram, muito melhor do que eu poderia fazer, a história do nascimento e do desenvolvimento desta escola, que teve uma influência tão decisiva e, pode-se dizê-lo muito bem, tão funesta sobre a educação política, intelectual e moral da juventude burguesa na França. Ela data de Benjamin Constant e de Mme. de Staël; seu verdadeiro fundador foi Royer-Collard; seus apóstolos, Guizot, Cousin, Villemam e muitos outros .
Seu objetivo abertamente declarado era a reconciliação da revolução com a reação ou, para falar a linguagem da escola, do princípio da liberdade com o da autoridade, naturalmente em proveito deste último .

Esta reconciliação significava: em política, a escamoteação da liberdade popular em proveito da dominação burguesa, representada pelo Estado monárquico e constitucional; em filosofia, a submissão refletida da livre razão aos princípios eternos da fé .

Sabe-se que ela foi sobretudo elaborada pelo Sr. Cousin, pai do ecletismo francês. Orador superficial e pedante, incapaz de qualquer concepção original, de qualquer pensamento que lhe fosse próprio, mas muito forte em lugares-comuns, que ele confundia com o bom senso, este ilustre filósofo preparou sabiamente, para uso da juventude estudantil da França, um prato metafísico a seu modo, cujo uso foi tornado obrigatório em todas as escolas do Estado, submissas à Universidade: é o alimento indigesto ao qual foram condenadas necessariamente várias gerações .

* * *

[O manuscrito foi interrompido aqui.]

Mikhail Bakunin Notas:

[1] Eu o denomino “iníquo” porque este mistério foi e ainda continua sendo a consagração de todos os horrores que foram cometidos e que se cometem no mundo; eu o denomino “iníquo” porque todos os outros absurdos teológicos e metafísicos que embrutecem o espírito dos homens nada mais são do que suas conseqüências necessárias .
[2] Stuart Mill é talvez o único a quem seja permitido colocar em o idealismo sério; e isto por duas razões: a primeira é que, não é absolutamente o discípulo, ele é um admirador apaixonado, um adepto da Filosofia Positiva de Augusto Comte, filósofo apesar de suas inúmeras reticências, é realmente ateu; a segunda é que Stuart Mill era inglês, e na Inglaterra proclamar-se ateu é se colocar fora da sociedade, mesmo hoje .
[3] Mômiers – Apelidos de certos metodistas na Suíça (N. do T.) .
[4] Pietistas – adeptos da doutrina ascética da Igreja Luterana alemã do século XVII (N. do T.) .
[5] Bakunin fala aqui, sem dúvida, das “leis econômicas” e da “ciência social”, que, com efeito, ainda está em seu começo .
[6] Em Londres, eu ouvi o Sr. Louis Blanc exprimir, há pouco, mais Ou menos a mesma idéia: “A melhor forma de governo”, e logo depois, “será a que convocar sempre à direção os homens virtuosos” .
[7] A ciência, tornando-se o patrimônio de todo mundo, desposará, de certo modo, a vida imediata e real de cada um. Ela ganhará em utilidade e em graça o que tiver perdido em orgulho, em ambição e em pedantismo doutrinário. Isto não impedirá, sem dúvida, que homens geniais, melhor organizados para as especulações científicas do que a maioria de seus contemporâneos, se dediquem exclusivamente à cultura das ciências e prestem grandes serviços à humanidade. Todavia, eles não poderão ambicionar outra influência social senão a influência natural exercida sobre seu meio por toda a inteligência superior, nem outra recompensa que não seja a satisfação de uma nobre preparação .
[8] É preciso distinguir a experiência universal, sobre a qual os idealistas querem apoiar suas crenças; a primeira é uma constatação real de fatos, a segunda nada mais á que uma suposição de fatos que ninguém viu e que, por conseqüência, estão em contradição com a experiência de todo o mundo .
[9] Os idealistas, todos os que crêem na imaterialidade e na imortalidade da alma humana, devem estar excessivamente embaraçados com a diferença que existe entre as inteligências das raças, dos povos e dos indivíduos. A menos que se suponha que as diversas parcelas foram irregularmente distribuídas, como explicar esta diferença? Existe infelizmente um número considerável de homens completamente estúpidos, parvos até o idiotismo. Teriam eles, pois, recebido na divisão uma parcela ao mesmo tempo divina e estúpida? Para sair deste embaraço, os idealistas deveriam necessariamente supor que todas as almas humanas são iguais, mas que as prisões nas quais elas se encontram necessariamente fechadas, os corpos humanos, são desiguais, uns mais capazes que outros, para servir de órgão à intelectualidade pura da alma. Esta teria à sua disposição, deste modo, órgãos muito finos; aquelas, órgãos muito grosseiros . Mas estas são distinções de que o idealismo não tem o direito de se servir, sem cair, ele próprio, na inconseqüência e no materialismo mais grosseiro. Isto porque, na absoluta imaterialidade da alma, todas as diferenças corporais desaparecem, tudo o que á corporal, material, deve aparecer como indiferente, igual, absolutamente grosseiro. O abismo que separa a alma do corpo, a absoluta imaterialidade da materialidade absoluta, á infinito. Por conseqüência, todas as diferenças, inexplicáveis por sinal, e logicamente impossíveis, que poderiam existir do outro lado do abismo, na matéria, devem ser, para a alma, nulos, e não podem nem devem exercer sobre ela nenhuma influência. Numa palavra, o absolutamente imaterial não pode ser forçado, aprisionado e ainda menos exprimido em qualquer grau que seja pelo absolutamente material. De todas as imaginações grosseiras e materialistas, no sentido ligado a esta palavra pelos idealistas, quer dizer, brutais, que foram engendradas pela ignorância e pela estupidez primitiva dos homens, a de uma alma imaterial, aprisionada num corpo material, á certamente a mais grosseira, a mais estúpida, e nada melhor prova a onipotência, exercida até mesmo sobre os melhores espíritos, por preconceitos antigos, do que ver homens dotados de uma grande inteligência falarem ainda desta extravagante união .

[10] Sei muito bem que nos sistemas teológicos e metafísicos orientais, e sobretudo nos da Índia, inclusive o budismo, encontra-se já o princípio do aniquilamento do mundo real em proveito do ideal e da abstração absoluta. Mas ele ainda não traz o caráter de negação voluntária e refletida que distingue o Cristianismo; quando estes sistemas foram concebidos, o mundo do espírito humano, da vontade e da liberdade ainda não tinha se desenvolvido como se manifestou na civilização grega e romana .

[11] Creio ser útil lembrar aqui uma história, por sinal muito conhecida e inteiramente autentica, que lança uma luz sobre o valor pessoal destes reaquecedores das crenças católicas e sobre a sociedade religiosa dessa época. Chateaubriand havia levado ao editor uma obra dirigida contra a fé. O editor observou que o ateísmo tinha passado de moda, e que o público leitor não se interessava mais por este tema, que pedia, ao contrário, obras religiosas. Chateaubriand retirou-se, mas, alguns meses depois, retornou trazendo-lhe seu Génie du Christianisme .

Postagem original feita no https://mortesubita.net/baixa-magia/deus-e-o-estado/

Chamando Cthulhu: O Realismo Fantástico de H.P. Lovecraft

“Neste livro falaremos sobre […] espíritos e conjurações; em deuses, esferas, levitação, e muitas outras coisas que podem ou não existir. Isto é imaterial, o fato de existir ou não. Agindo-se de certas maneiras, certos resultados irão surgir; estudantes são seriamente alertados sobre não atribuir realidades objetivas ou validações filosóficas para qualquer um destes.”

– Aleister Crowley, Liber O

 

Consumido pelo câncer em 1937, com 46 anos de idade, o último descendente de uma decadente família aristocrática da Nova Inglaterra, o escritor de ficção fantástica Howard Phillips Lovecraft deixou um dos legados literários mais curiosos da América. A maior parte de seus contos apareceram na revista Weird Tales, uma publicação dedicada a histórias a respeito do sobrenatural. Mas preso nesses limites modestos, Lovecraft trouxe a fantasia sombria gritando para dentro dos séculos XX e XXI, levando o gênero, literalmente, a uma nova dimensão.

Em nenhum lugar isso é mais evidente do que no ciclo de histórias interligadas conhecido como o Mito de Cthulhu – batizado assim em homenagem a um monstro tentacular alienígena que espera sonhando sob o mar na cidade submersa de R’lyeh. O Mito abrange a trajetória cósmica de uma variedade de entidades extraterrestres horríveis que incluem Yog-Sothoth, Nyarlathotep, e o deus cego e idiota Azazoth, que se esparrama no centro do Caos Derradeiro, “cercado por sua horda contorcida de dançarinos estúpidos e amorfos, e embalado pelo sibilo monótono de flautas demoníacas ostentadas por patas inomináveis”. Sempre espreitando, nas margens de nosso continuum espaço-tempo, este grupo alegre de Deuses Exteriores e Grandes Antigos estão tentando, neste exato momento, invadir o nosso mundo através da ciência, de sonhos e rituais abomináveis.

Como um escritor popular marginal, trabalhando no equivalente literário da sarjeta, Lovecraft não recebeu muita atenção durante sua vida. Mas enquanto a maioria dos escritos de ficção pulp dos anos 1930 se tornaram insonsos e intragáveis nos dias de hoje, Lovecraft continua a atrair a atenção. Na França e no Japão, seus contos sobre fungos cósmicos, cultos degenerados e pesadelos realmente ruins são reconhecidos como obras de um gênio transtornado, e os célebres filósofos franceses Gilles Deleuze e Félix Guattari, elogiam seu abraço radical de multiplicidade em sua obra prima “A Thousand Plateaus”. Já, em território anglo-americano, uma cabala apaixonada de críticos preenche revistas como Lovecraft Studies e Crypt of Cthulhu com suas pesquisas quase talmúdicas. Enquanto isso, tanto hackers quanto talentosos discípulos continuam a criar histórias que desenvolvem ainda mais o Mito de Cthulhu. Há até uma convenção de Lovecraft – a NecronomiCon, que recebeu seu nome do mais famoso de seus grimórios proibidos. Assim como o escritor de ficção científica gnóstico Philip K. Dick, HP Lovecraft se tornou o epítome do autor cult.

A palavra “fã” se deriva do latim Fanaticus, um termo antigo para um devoto do templo, e os fãs de Lovecraft exibem a devoção incansável, fetichismo e debates sectários que caracterizaram as seitas religiosas populares ao longo das eras. Mas o status “cult” de Lovecraft tem uma dimensão curiosamente literal. Muitos magos e ocultistas tomaram seu Mito como fonte de material para a suas práticas. Atraídos das regiões mais obscuras da contracultura esotérica – Thelema, Satanismo e Magia do Caos – estes magos Lovecraftianos buscam ativamente gerar os terríveis e atávicos encontros do tipo que os protagonistas de Lovecraft parecem tropeçar compulsivamente, cegamente ou contra a própria vontade.

Fontes ocultas secundárias para a magia lovecraftiana incluem várias edições “falsas” do Necronomicon, rituais presentes no livro de Rituais Satânicos de Anton Szandor LaVey – criador da Igreja de Satã -, obras de magos britânicos como Kenneth Grant, Phil Hine, Peter Carroll e outros. Além da O.T.O. Tifoniana de Grant e da Ordem do Trapezóide do Templo de Set, outros grupos mágicos que também trabalham com a corrente Cthulhiana incluem A Ordem Esotérica de Dagon, a Cabala Bate, o Coven Lovecraftiano de Michael Bertiaux e o grupo da Sabedoria Estrelar, nomeado assim em homenagem ao grupo homônimo do século XIX presente no conto “O Assombro das Trevas”. Magos Caóticos se uniram às fileiras, costurando na internet retalhos de mistérios arcanos lovecraftianos remixando o Mito em seus (anti) trabalhos ctônicos de código aberto.

 

Este fenômeno torna-se ainda mais intrigante pelo fato de que o próprio Lovecraft era um “materialista mecanicista”, filosoficamente contrário à espiritualidade e à magia de quaisquer espécie. Entender esta discrepância é apenas um dos muitos problemas curiosos levantados pelo poder aparente da magia Lovecraftiana. Por quê e como essas visões marginais “funcionam”? O que pode ser definido como um ocultismo “autêntico”? Como é que a magia se relacionam com a tensão entre fato e fábula? Como espero mostrar, a magia Lovecraftiana não é uma alucinação pop, mas uma “leitura” criativa e coerente posta em movimento pela dinâmica dos próprios textos de Lovecraft, um conjunto de estratégias temáticas, estilísticas e intertextuais que constituem o que chamo de Realismo Mágico Lovecraftiano.

 

O realismo mágico já denota uma cepa de ficção latino-americana – exemplificado por Borges, Gabriel Garcia Marquez, e Isabel Allende – em que uma lógica onírica fantástica mescla perfeitamente e deliciosamente com os ritmos do quotidiano. O Realismo Mágico Lovecraftiano é muito mais sombrio e convulsivo, já que nele forças antigas e amorais pontuam violentamente a superfície realista de seus contos. Lovecraft constrói e, em seguida, destrói uma série de polaridades intensas – entre o realismo e a fantasia, livro e sonho, razão e sua caótica contraparte. Ao jogar com essas tensões em sua escrita, Lovecraft também reflete as transformações que o ocultismo sinistro sofreu, uma vez que confronta a modernidade em formas tais como a psicologia, fa ísica quântica, e a falta de fundamento existencial do ser. E, incorporando tudo isso em um Mito intertextual de profundidade abismal, ele chama o leitor para o caos que se encontra “entre os mundos” de magia e realidade.

 

 

por Shub-Nigger, A Puta dos Mil Bodes

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/chamando-cthulhu-o-realismo-fantastico-de-h-p-lovecraft/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/chamando-cthulhu-o-realismo-fantastico-de-h-p-lovecraft/