Música, Fibonacci e o Diabo

Um dos meios para expandir a consciência e modificar e transformar o indivíduo em seu aspecto psicomental e espiritual é a música. Na prática da Magia e da Filosofia a música tem sido utilizada de diversas maneiras, e na Via Draconiana ela é especialmente importante em seus aspectos mais ocultos.

A música sempre esteve presente em todas as culturas e épocas do mundo e foi se desenvolvendo ao longo do tempo, sendo usada para diversas finalidades. Os antigos povos de quase todos os lugares pensavam que a música fosse um presente dos deuses, e, especialmente para os gregos, um presente das deusas: as musas, e mais especificamente a musa Euterpe.

Agora, se a musa da música é quem estruturou todos os elementos musicais, ninguém sabe ao certo… Mas como se sabe, a música é caracterizada basicamente pelos seguintes elementos: melodia, harmonia e ritmo. Melodia pode ser definida como uma sequência de notas dentro de uma escala, uma após a outra (são os solos instrumentais e as linhas vocais ou instrumentais); harmonia é a combinação de notas que são vibradas simultaneamente; e ritmo é marcação do tempo e o que faz a melodia e a harmonia fluírem. Além desses, a boa música ainda apresenta dinâmica (volume e intensidade dos sons), timbres, etc. Para que uma música possa ser diferente da outra, esses elementos característicos devem ser compostos e arranjados de modos diferentes e com o feeling e a “pegada” pessoal de cada músico/compositor/instrumentista. E essas características e elementos apresentam certa variedade: diversos modos/tonalidades de escalas) que são a base para as harmonias (acordes de diferentes tipos); e diversos modos rítmicos.

E o que Fibonacci tem a ver com isso? Bom, toda essa variedade dentro da música, que existe essencialmente na matemática, está relacionada à sequência numérica de Fibonacci, que também está relacionada a diversas áreas do conhecimento. Fibonacci, ou Leonardo de Pisa, foi um matemático italiano da Idade Média (1170-1240) que descobriu uma sequência numérica em que o número seguinte é sempre a soma dos dois anteriores, assim: 0, 1, 1, 2, 3, 5, 8… Na música, essa sequência está presente nos intervalos musicais, ou seja, na relação entre duas notas, formando as escalas que são a base para as melodias e para os acordes (harmonia). Esses intervalos procedem em graus a partir da primeira nota ou tônica. Por exemplo, a escala básica e simples é formada por intervalos de terça (3º grau), quinta (5º grau) e oitava (8º grau) a partir da tônica (1º grau), ou seja, a sequência Fibonacci: 3, 5, 8. Essa sequência na escala natural, de tonalidade dó maior (ou C, em notação cifrada), apresentará, então, as notas mi (3º grau), sol (5º grau) e dó (8º grau) a partir da tônica dó (1º grau) – em cifras, E, G e C, respectivamente.

Entretanto, há outros números na série Fibonacci, antes e depois dos números 3 e 8. O número zero obviamente “expressa” pausa (ou silêncio), usada na música; o número 1 é a tônica; o outro número 1 é o uníssono, quer dizer, dó e dó, de mesmo grau e altura (ou frequência). Os números depois de 8 apresentam outros intervalos com notas da escala natural (no caso de dó maior) que entram na formação de outros acordes dessa tonalidade, repetindo as notas em oitavas, infinitamente. Quando se tratar de outras tonalidades/escalas, os mesmos intervalos são transpostos para a tonalidade em questão, mantendo-se a série Fibonacci inalterada.

Mas as músicas compostas com a escala natural (dó maior) e suas transposições para outras tonalidades que sempre estarão nos intervalos correspondentes à série Fibonacci em geral são bastante consonantes, “agradáveis”, estáveis em sua vibração, como a grande parte das composições musicais fáceis de digerir pela maioria das pessoas. Músicas ou meros sons consonantes são literalmente harmônicos, segundo o conceito geral e senso comum predominante. Refletem a harmonia comum e “perfeição” do mundo como ele deveria se manifestar para a grande maioria dos seres humanos e segundo o que esses humanos pensam sobre o que é harmonia. Os sons consonantes expressam, de modo geral, a harmonia universal segundo os padrões rígidos de estética, beleza e, até mesmo, alguns tipos de religiosidade. As escalas e intervalos consonantes e a série Fibonacci seguem padrões tradicionais que refletem um mundo/universo organizado segundo regras relativamente restritas. Mas, certamente, existem muitas obras musicais relativamente consonantes excelentes e realmente inspiradas, em diversos gêneros, e que podem levar o ouvinte a um grau de êxtase.

Agora, o que o capeta tem a ver com tudo isso? Simples. Antigamente, quando a religião mandava no mundo ocidental, controlando até mesmo a produção cultural, certos tipos de combinações de notas musicais, ou intervalos, eram proibidos e categorizados como coisas do Diabo. O mais famoso desses intervalos era conhecido como diabolus in musica, que era um intervalo dissonante de quarta aumentada (4º grau mais meio tom, a partir da tônica dó, por exemplo, que resulta na combinação entre as notas dó e fá sustenido) ou de quinta diminuta, ou seja, dó e sol bemol, sendo o sol bemol igual ao fá sustenido. Esse intervalo também era chamado de trítono porque era feito de três tons inteiros. No nosso exemplo, contando-se do dó (C) e indo até o fá sustenido (F#), temos três intervalos inteiros: 1) dó ao ré; 2) ré ao mi; e 3) mi ao fá sustenido. Não seria trítono se a partir da nota dó o intervalo fosse apenas fá natural; do mi ao fá natural há meio tom e não um tom inteiro. Logo, o “maldito” intervalo diabolus in musica é dó com fá sustenido, podendo ainda ser combinado com outros intervalos que podem ou não estar na série Fibonacci. É claro que esse e outros intervalos dissonantes são bastante usados em diversos gêneros musicais, mas apreciado somente por uma minoria se comparada às grandes populações ao redor do globo. Está claro que os intervalos dissonantes “perturbam” a ordem das coisas, se o leitor já estiver entendendo…

Note que o “som do capeta”, o intervalo de quarta aumentada, não faz parte da série Fibonacci! Quando se quebra a consonância com a dissonância, abre-se um outro universo musical (e não somente musical), mais rico e multifacetado; quando essa sequência numérica sofre alteração, a harmonia estável das coisas é quebrada e a “rebelião” é instalada na ordem das coisas, advêm as transformações, as mudanças, o progresso, novas regras (ou ausências de regras), novas experiências, novas percepções, novos mundos… E esses mundos, na Filosofia Oculta, são aqueles que as pessoas comuns, das consonâncias demasiadamente açucaradas e das regras restritas, não se atrevem a explorar. As dissonâncias subvertem as tradições e as regras inúteis e restritivas e provocam a inquietação do espírito, geram inquietudes pelo crescimento, por descobertas, pela evolução psicomental e espiritual. A dissonância na música é equivalente ao surrealismo, nas artes plásticas; à poesia “maldita” e romântica e aos poemas sem métricas exatas, na literatura; aos sabores “estranhamente” condimentados, agridoces e apimentados, na gastronomia; etc.

Se um intervalo trítono subverte as escalas comuns de sete notas – correspondentes aos sete planetas “tradicionais” e às sete cores –, a dissonância, na Via Draco-Luciferiana, subverte os sistemas mágico-ocultistas tradicionais (e os sistemas sociorreligiosos dogmáticos), obviamente, propiciando ao magista experiências sinestésicas, psicomentais e espirituais incomuns e gratificantes. A música dissonante em contextos filosófico-ocultos pode trazer experiências muito além do que se vive cotidianamente. Som, cor e sabor se fundem numa única entidade que “encarna” a essência de determinada vibração, e comunicações podem ser feitas. O som funde-se ao indivíduo, e este pode literalmente sentir o sabor de uma combinação de notas, pode ver o som em cores correspondentes às notas em suas progressões dinâmicas dentro de uma escala. As notas se mostram como entidades vivas e inteligentes e como som musical sem palavras, mas que podem se tornar palavras inteligíveis. O diabolus in musica pode trazer à tona atavismos da subconsciência e resolver problemas psicológicos – ou piorá-los, dependendo da vontade, compreensão e discernimento de cada um –, pois cada tonalidade, cada modo de escala, cada tipo de ritmo e cada tipo e timbre de instrumento tem suas características psicomentais e espirituais.

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Como mencionado, as notas estão relacionadas aos planetas da tradição oculta e alquímica e às cores, como seguem:

 

  • Saturno/nota si/cor preta;
  • Júpiter/nota dó/cor azul;
  • Marte/nota ré/cor vermelha;
  • Sol/nota mi/cor amarela;
  • Vênus/nota fá/cor verde;
  • Mercúrio/nota sol/cor laranja;
  • Lua/nota lá/cor violeta.

Os antigos egípcios sabiam disso e faziam invocações musicais para convocar esses sete planetas (na Filosofia Oculta, o Sol e a Lua são considerados planetas). Assim, uma sinfonia cósmica consonante é a conjunção e o ritmo próprio desses planetas, formando harmonias que alguns consideravam celestes. Uma conjunção entre Júpiter e Vênus faz um intervalo musical entre dó e fá, por exemplo. Quando uma dissonância surge nessa harmonia cósmica plácida e estável (e estabilidade demais provoca monotonia e tédio), os planetas revelam seu lado oculto, sombrio, sinistro, impetuoso e impulsivo, porém necessário para as transformações do universo, assim como conhecer o subconsciente (considerado “demoníaco”) é essencial para o crescimento e evolução espiritual de alguém. A dissonância faz brilhar as cores das notas sobre o fundo negro das trevas, pois sem esse contraste não é possível “extrair” a luz e o conhecimento. Quando o diabolus in musica se manifesta na experiência do indivíduo, com a nota “intrusa” “quebrando” a sequência da escala convencional, a dissonância faz uma ruptura, um buraco negro na sequência Fibonacci, e as notas dó e fá sustenido (em nosso exemplo aqui) abrem um portal para o qual a consciência é “sugada”, entrando assim na dimensão aberta sinistra e rica de Júpiter, conhecida na Via Draconiana como a qlipha jupiteriana (“concha”). De um modo geral, se a combinação de notas for maior, a experiência e expansão da consciência também se ampliarão.

Todos os planetas do sistema setenário planetário da Filosofia Oculta têm seu lado escuro, mais oculto e secreto que pode ser acessado por meio de seus trítonos. A nota tônica de cada planeta com sua quarta aumentada gera o vórtice energético para o lado oculto, para o “lado negro da força” planetária, para a qlipha correspondente ao plano planetário da nota tônica; a quarta aumentada é que cria a fenda para o “Outro Lado” (Sitra Ahra). Além disso, o intervalo de quarta justa (4J), em cada tonalidade, vibra os quatro elementos (Ar, Fogo, Água e Terra) no planeta correspondente a determinada tônica. A quarta aumentada “demoníaca” (4+), portanto, vibra o Espírito oculto e sombrio sobre esses elementos, a Sombra (junguiana) inacessível e secreta do Logos individual.

Assim, temos os trítonos de cada planeta, de cada vibração espiritual e frequência consciencial:

 

Nota tônica (1º grau) Quarta aumentada (#4º ou 4+) Qlipha planetária
Si (B) Mi sustenido = fá (E#=F) Saturno
Dó (C) Fá sustenido (F#) Júpiter
Ré (D) Sol sustenido (G#) Marte
Mi (E) Lá sustenido (A#) Sol
Fá (F) Si (B) Vênus
Sol (G) Dó sustenido (C#) Mercúrio
Lá (A) Ré sustenido (D#) Lua

 

Em termos práticos, e num contexto apropriado e em conjunto com outras “ferramentas”, a vibração sustentada e não resolvida dos trítonos deve ser feita de maneira correta e de acordo com a natureza de cada planeta/plano de consciência, por meio de certos procedimentos, concentração e vontade. Esse som dissonante juntamente com o ritmo sincopado é o buraco negro do universo mágico, aberto na superfície da consciência comum. Basicamente, a síncope é um deslocamento do tempo normal, da nota do acento rítmico para a batida fraca, que pode se prolongar até a batida forte (acento rítmico), abrindo um buraco no andamento rítmico (como um deslocamento de ar, ou o deslocamento da mente para outro “mundo”). A síncope “quebra” o ritmo, causando a sensação de vazio e de queda, e de queda no vazio; nesse “vazio”, o diabo in musica vibra e um portal pode ser aberto para a consciência. Quando a síncope e o trítono são contextualmente aplicados numa prática meditativa ou ritualística (simples ou complexa), pode-se atingir certo grau de êxtase correspondente à vibração planetária em questão. Se o êxtase for demais, o indivíduo pode ele mesmo ter uma síncope, ou seja, “apagar” temporariamente, com a consciência “vazia”.

Pelo que precede, o “diabo intruso” é o guardião do portal para a senda da autoconsciência expandida. O intervalo de quarta aumentada e a síncope vão além do conceito “tradicional”, comum e corrente do que seja divino (o que é muito relativo no próprio nível da vida cotidiana). O trítono sincopado rompe a tal “harmonia divina” para ir mais além da ordem estabelecida e das muitas regras inúteis da existência, para mais além do cosmos como é manifestado, para o “Outro Lado” (Sitra Ahra), para o Universo B, além de nosso universo pretensiosamente conhecido.

Pois é, parece que Fibonacci e o Diabo viviam em desarmonia antigamente, em tempos terríveis de dominação dogmática quando a Inquisição via o mal em tudo e categorizava coisas, animais e pessoas como sendo obras do Diabo, segunda sua visão distorcida, tendenciosa e realmente perversa. Tendo a música autêntica e honesta sido inspirada pela musa ao longo da história, fica evidente sua relação com feminino e sua forte influência. A musa Euterpe era também considerada a doadora dos prazeres, dos deleites e da alegria. Daí o controle da produção musical (e de todos os prazeres do povo) pelas instituições sociorreligiosas repressoras e opressoras, já que a religião/estado também controlava, perseguia e eliminava o feminino por essas e outras infinitas e estupidamente absurdas razões…


Adriano
Camargo Monteiro
é escritor de Filosofia Oculta, Draconismo, Mão Esquerda e é estudioso de simbologia e mitologia comparadas. É membro de diversas Ordens e possui diversos livros publicados. Escreve também para a Revista Universo Maçônico, para o Jornal Madras, para o Projeto Morte Súbita, para o Zine Lucifer Luciferax e para blogs pertinentes.

Contatos:

http://adrianocamargomonteiro.blogspot.com

http://www.geocities.ws/imaginariusarte

Por Adriano C. Monteiro

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/mindfuckmatica/musica-fibonacci-e-o-diabo/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/mindfuckmatica/musica-fibonacci-e-o-diabo/

Unus Pro Omnibus, Omnes Pro Uno

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UNUS PRO OMNIBUS, OMNES PRO UNO
(“Um por todos, todos por um”)

Uns quinze anos atrás, quando tomei ayahuasca pela primeira vez, me vi em um campo imenso por onde surgia uma Escada de Jacó enorme, que subia até as estrelas. Nos degraus destas escadas, imagens dos deuses de todas as mitologias pairavam em meio a arcanos do Tarot, signos zodiacais, personagens da cultura pop e heróis da literatura clássica. Por entre estes caminhos, percebi que todas as nossas grandes histórias e mitologias nada mais são do que paletas de cores de uma meta-linguagem muito superior à nossa consciência adormecida do dia-a-dia.

Antes daquele dia, eu tinha todas as ferramentas à mão: Mestre Maçom e membro das principais Ordens Herméticas do ocidente, escritor com dezenas de livros sobre RPG; profundo conhecimento na Construção da Jornada do herói e uma devoção acadêmica à obra de Joseph Campbell… todas as informações estavam ali, compartimentadas… mas faltava aquele “passo” a mais em direção ao Abismo de Daath no qual toda essa base seria transformada em algo ainda maior.

A ayahuasca foi a chave de TAV que permitiu o cruzamento das fronteiras entre Malkuth e Yesod e agora, dez anos depois, o resultado de toda esta pesquisa esta se materializando após passar por todas as Esferas da Árvore da Vida. Sou muito grato a todos que fizeram e fazem parte desta jornada no Teoria da Conspiração.

Aos que perderam a chance de apoiar o Projeto no Catarse, pode encontrá-lo na página da editora: https://daemoneditora.com.br/categoria-produto/kabbalah/

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/unus-pro-omnibus-omnes-pro-uno

Os Corvos de Wotan, parte final

» Parte final da série sobre Odin ver parte 1 | ver parte 2 | ver parte 3

Bran estava caindo mais depressa do que nunca. As névoas cinzentas uivavam em seu redor enquanto mergulhava para a terra, embaixo. “O que você está me fazendo?” – [Bran] perguntou ao corvo, choroso. Estou lhe ensinando a voar.

“Não posso voar!”. Está voando agora mesmo. “Estou caindo!”. Todos os voos começam com uma queda, disse o corvo. Olhe para baixo. “Tenho medo…” OLHE PARA BAIXO!

Bran olhou para baixo e sentiu as entranhas se transformarem em água. O chão corria agora em sua direção. O mundo inteiro espalhava-se por baixo dele, uma tapeçaria de brancos, marrons e verdes. Via tudo com tanta clareza que, por um momento, se esqueceu de ter medo. Conseguia ver todo o reino e toda a gente que nele havia.

[…] Agora você sabe, sussurrou o corvo ao pousar em seu ombro. Agora você sabe por que deve viver.

(Trechos das páginas 120 e 121 de A Guerra dos Tronos, de George R. R. Martin. Publicado no Brasil pela Editora Leya).

Dentre as inúmeras e intrincadas histórias contadas por George R. R. Martin em seu épico As crônicas de gelo e fogo [1], a aventura de Bran, o menino aleijado que, não obstante, parece destinado a se tornar um grande xamã, está certamente entre as de maior importância para a trama geral. Ora, a imagem da própria família de Bran, os Stark de Winterfell, já nos remete a elementos nórdicos, mas será que Martin estudou apenas as descrições de experiências xamãnicas, ou ainda neste caso podemos falar em alguma influência do mito de Odin?

Ora, como eu já havia dito, Odin é também um deus de muitos nomes, e muitas facetas. Boa parte das mais de 200 denominações a Odin estão ligadas, pela raiz (no nórdico arcaico), às palavras vada e od, e, no antigo alto alemão, a Watan e Wuot, que significavam a princípio razão, memória ou sabedoria [2]. Há ainda a palavra Óðr (também do nórdico arcaico) que está mais diretamente associada à deusa Freyja (uma deusa dos vanir, que posteriormente foi associada à Odin como sua esposa), mas que também deu origem ao próprio nome “Odin”, e que poderia significar: mente, alma, espírito, além de poesia e inspiração artística.

O nome de Odin que mais nos interessa, no entanto, para esta associação com o corvo de três olhos dos livros de Martin, é o que deriva do nórdico arcaico Hrafnáss, ou do germânico latinizado Hrafnagud, ou seja: The Raven God, O Deus Corvo. Sabemos que Odin está intimamente ligado aos corvos, tanto que possuí dois corvos muitos especiais (dos quais falarei a seguir); além disso, sabemos que um olho em meio à testa, entre nossos dois outros olhos, significa o olho da mente, o olho da alma: o sentido pelo qual o xamã percebe o mundo espiritual… Ora, o primeiro ato de iniciação de Bran [3], nos livros de Martin, é exatamente ser bicado pelo corvo bem no meio dos olhos, e na altura da testa. Logo após o garoto acorda e acha que tudo “não passou de um sonho estranho”, mas no decorrer dos livros sabemos que não foi bem assim, não é mesmo?

Huginn e Muninn

Por causa de seu voo alto, o corvo foi, muitas vezes, visto como um mensageiro dos deuses. Inúmeras histórias, de diferentes partes do mundo, falam-nos de como um corvo orientou humanos em suas jornadas. Por exemplo: segundo uma tradição, foram corvos que orientaram os beócios rumo ao lugar em que deveriam fundar uma nova cidade – a Beócia. Teriam sido eles que, também, guiaram Alexandre o Grande, até o templo de Júpiter Amon, no oásis de Siwa, no Egito (e que, lá, predisseram sua morte). O imperador japonês Jimmu, teria marchado para a guerra, no século VII, guiado por um corvo dourado. Um corvo era o mensageiro do Rei Marres, do Egito… E as histórias assim se seguem.

Mas é exatamente na mitologia nórdica que o corvo está ainda mais diretamente associado à magia. Diz-se que o voo do corvo simboliza a viagem espiritual, através do Grande Mistério, onde ela se torna igualmente desejada e perigosa, pois pode tanto trazer a iluminação quanto a loucura, dependendo do cuidado com que é realizada. Obviamente isso tudo tem a ver, claramente, com o xamanismo.

Odin possui então esses dois corvos, Huginn e Muninn, cujos nomes significam, no nórdico arcaico: pensamento (Huginn) e memória (Muninn, que também pode significar mente). Diz-se que, todos os dias, enquanto Odin cuida de seus afazeres como governante de Asgard, seus corvos sobrevoam todo o mundo e depois retornam, na calada da noite, para se empoleirar em seu ombro e lhe cochichar tudo o que virem e ouviram. Dessa forma, o Granda Xamã conseguia manter-se bem informado de todos os eventos, e todos os segredos do mundo, enquanto governava seu grande reino mítico.

Mas, o que é mais extraordinário nesta história, e o que a liga ainda mais profundamente ao xamanismo antigo, é o medo que Odin tinha de que seus corvos não retornassem de seus voos diários… Há um trecho da Edda Poética que fala exatamente dessa tal característica tão humana do deus nórdico:

Huginn e Muninn voam a cada dia
Sobre os grandes espaços de Midgard [4]
Eu temo por Huginn, que ele não consiga voltar,
Mas fico ainda mais ansioso pelo retorno de Muninn [5]

Me parece que esse é o mesmo medo de todo o xamã iniciante, de todo aquele que mergulha no Grande Mistério da própria alma, e teme se perder de seu corvo guia, e nunca mais encontrar o caminho de volta. Trata-se de uma belíssima metáfora não somente para a própria arte da magia, como para todo o risco que ela envolve… Ainda assim, Odin é o Grande Xamã, não mais habita nosso mundo (Midgard), mas o mundo espiritual (Asgard), e mesmo assim, mesmo do alto de toda sua sabedoria, ele ainda temia perder seus corvos. Mesmo um deus teme perder sua memória, e seu pensamento – sem estes, ele reduz-se a nada, ou quase nada. Um deus louco não é muito mais do que um xamã louco…

***

Através desta nossa curta, porém espiritualmente profunda, viagem pelo mito de apenas um único deus, quantos ecos ocultos de nossa história não parecem ter vido a tona…

Não tenho dúvidas de que, assim como Odin, todo grande deus, todo grande mito, um dia foi homem: um grande e feroz guerreiro, um exímio caçador cuja lança jamais errava o alvo, um xamã ancião que intercedia no mundo espiritual para proteger e guiar sua tribo ou, quem sabe, apenas mais um que contemplou as estrelas, e tornou-se um artista, um poeta. Nossos mitos mais grandiosos provavelmente são as histórias das vidas de grandes homens e mulheres, mescladas com nosso temor e fascinação pelas forças da natureza, e com os aspectos psicológicos – nossas mais belas e profundas reflexões acerca do porque, afinal, estamos aqui neste mundo.

Eis porque nós mesmos também somos da raça dos deuses, e porque todos, deuses e homens, nada mais são do que emanações da Alma do Mundo, do Grande Mistério, do Oceano que somente alguns de nós se arriscaram até hoje em mergulhar, e de lá trouxeram as mais belas e aterrorizantes interpretações daquilo de oculto que sentiram – mas que, claro, seria impossível traduzir em palavras, em linguagem cognoscível.

Interessante como iniciamos este relato de Odin através das histórias em quadrinhos, onde o mito está mais diluído, mas é exatamente um escritor de quadrinhos que nos traz, atualmente, uma das definições mais completas da grande viagem dos corvos: “Magia é arte, a arte. E essa arte, seja a escrita, a música, a escultura ou qualquer outra forma, é literalmente magia. A arte é como a magia, a ciência de manipular símbolos para operar mudanças de consciência” – define Alan Moore no genial The Mindscape of Alan Moore.

Toda a arte nasceu da mitologia. A pintura e a gravura nasceram na arte rupestre, pré-histórica, xamãnica. A música também se desenvolveu conjuntamente com os rituais religiosos ancestrais. Mesmo o teatro surgiu na Grécia antiga, quando os cultos ao deus Dionísio acabaram evoluindo para peças teatrais onde os atores, tal qual aos xamãs, vivenciavam aos mitos. Já a poesia, é pura magia posta em palavras… É exatamente por isso que a magia é a arte, a primeira arte, pois foi através dela que nossos ancestrais puderam transportar suas ideias e pensamentos, seus símbolos, para este nosso mundo de carne e osso. E o que é a mitologia senão o arcabouço simbólico de toda a nossa arte?

Sob um ponto de vista, você poderá dizer: “poxa, mas a magia é apenas isso?”; ou poderá dizer, sob outro ponto de vista: “puxa, mas então a magia é tudo isso!”. O seu ponto de vista dependerá tão somente da altura na qual seus corvos conseguem voar…

***

Há muito Heimdall não ouvia aquele pio tão familiar… De fato, há muitas eras nada se mexia – animal, homem ou deus – na ponte Bifröst; de modo que seu fogo havia quase se apagado, e suas cores se mesclado num acinzentado triste. “Eram os corvos”, o antigo guardião jamais se confundiria com tais sons, ainda que fosse difícil os escutar com o ouvido decepado, mergulhado na mesma fonte em que seu Senhor havia deixado um de seus olhos.

Soerguendo-se lentamente – algo que não fazia há gerações –, Heimdall tentou soprar seu berrante, mas faltou-lhe ar nos pulmões, e as aves negras adentraram a clausura dos deuses sem serem sequer anunciadas…

Não era necessário. Asgard estava morta, e todos os seus deuses e semideuses dormiam, algo que ansiavam há muito fazer. Há muitas eras nenhum pensamento chegara até ali, nenhuma invocação, nenhum pedido de boa colheita, nem mesmo um agradecimento… O Deus Corvo e sua linhagem estavam esquecidos, como estátuas antigas em meio à paisagem, das quais ninguém mais lembrava para que serviam, ou o que representavam…

Ainda assim, enraizado em seu trono, coberto pelo denso metal de sua ainda reluzente armadura, Odin dormia por detrás de sua extensa barba, branca como a neve do inverno. Quando o primeiro corvo pousou em seu ombro, foi o medo que o fez abrir lentamente o único olho que lhe restava: “Huginn está aqui, ele voltou, finalmente! Mas, onde está o outro, onde está Muninn?”

Seu outro corvo pousou imediatamente no outro ombro, e juntos eles lhe relataram tudo o que viram e ouviram nos últimos séculos, e sobre como o povo de Midgard, apesar de tudo o que foi dito a seu respeito, ainda o respeitava. E como, ainda hoje, alguns deles ainda tocavam as pedras antigas, e ainda invocavam a magia dos corvos… Foi então que, após tantas e tantas eras, o Grande Xamã sorriu uma vez mais, despiu-se de sua couraça metálica e, apanhando a mesma antiga capa com que perambulava pelo mundo ainda antes das civilizações, pôs-se a caminhar uma vez mais. Em sua mente, ecoavam os antigos sons que as pedras faziam…

Sigur Rós – Odin’s Raven Magic (ao vivo em Reykjavík/Islândia, 2002)

***
[1] Apesar de ainda incompleta, os livros já publicados da série (5 de prováveis 7, ao todo) já inspiraram uma legião de fãs, e uma excelente série de TV produzida pela HBO, canal a cabo americano. A melhor (e ao mesmo tempo pior) coisa que podemos falar de Martin é que “ele é o novo Tolkien”: melhor, pois realmente se trata de um dos grandes escritores de literatura fantástica das últimas décadas; pior, pois o seu estilo literário quase nada tem a ver com o de Tolkien, sendo bem mais ancorado na história “real” do que na mitologia em si.
[2] Mais tarde tornaram-se equivalentes a tempestuoso ou violento, sentido que os cristãos faziam empenho de acentuar, procurando depreciar a figura do deus nórdico.
[3] Em gaélico antigo a palavra “bran” significa exatamente “corvo”. Há também um gigante gaulês antigo chamado Bran o Abençoado, que em sua mitologia foi o rei de toda a Bretanha, e que também era associado à imagem do corvo. Martin provavelmente também se interessou pela mitologia celta.
[4] Na mitologia nórdica Midgard é a Terra (este mundo), portanto Odin permanecia em Asgard, mas seus corvos sobrevoavam o nosso mundo.
[5] Traduzido da interpretação (em inglês) de Benjamin Thorpe, conforme aparece na Wikipedia.

Este post originalmente foi publicado numa quarta-feira, e agora novamente…

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Crédito das imagens: [topo] Daaria (Bran e o corvo de três olhos); [ao longo] Google Image Search (Odin e seus corvos)

O Textos para Reflexão é um blog que fala sobre espiritualidade, filosofia, ciência e religião. Da autoria de Rafael Arrais (raph.com.br). Também faz parte do Projeto Mayhem.

Ad infinitum

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#Odin #Música #Mitologia #Magia #AlanMoore

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/os-corvos-de-wotan-parte-final

A Teosofia Termina no Vaishnavismo

Por Srila Prabhupada

O resumo de uma palestra proferida na sessão de abertura da Quinquagésima-Sexta Convenção Anual da Sociedade Teosófica na América, realizada em 25 de julho de 1943, foi-me entregue por um amigo bem intencionado em um panfleto sob o título “O Teosofista como o Cidadão Ideal na Guerra e na Paz”. Ao ler o panfleto, pudemos reunir os seguintes pontos que levam aos ideais e à filosofia do Vaishnavas.

O Teosofista acredita em uma Consciência Personalizada ou uma Vontade Direta por trás da operação da atividade universal. Esta conclusão é bastante lógica, como podemos ver em todos os campos de nossas atividades. Podemos observar que nada no mundo é possível de ser realizado sem uma Vontade Direta. A matéria não tem poder de movimentação sem um toque de Livre Vontade direcionadora e como tal é bastante natural pensar que toda a natureza material, por maior e consumadora que seja, é dirigida por trás, por uma grande Vontade que é denominada de forma diferente por diferentes especuladores.

Mas os Vaishnavas ou os devotos da Personalidade Absoluta da Divindade, não só acreditam em uma Consciência Personalizada no processo de direção das atividades universais, mas também aceitam Sri Krishna como a Pessoa Absoluta que é a raiz de todas as causas e de todos os efeitos.

Neste contexto, se nos referirmos a literaturas autênticas como Bhagavad Gita, Brahma-samhita etc., elas podem nos ajudar a nos aproximar mais da Consciência Personalizada da Personalidade Absoluta da Divindade. A primeira estrofe do Quinto Capítulo em Brahma-samhita, afirma muito enfaticamente que o Senhor Sri Krishna, que é conhecido como Govinda, é a Suprema Divindade. Ele tem um corpo espiritual eterno e bem-aventurado. Ele é a Origem de todos e Ele não tem outra origem, pois Ele é a Causa Principal de todas as causas.

Sua Divina Graça Sri Srimad Bhakti Siddhanta Saraswati Goswami Prabhupada explica esta estrofe da seguinte forma:

“Krishna é a entidade Suprema exaltada tendo Seu nome eterno, forma eterna, atribuição eterna e passatempos eternos. O próprio nome Krishna implica sua designação amorosa, expressando por sua eterna nomenclatura o Acme de entidade. Seu eterno e belo corpo azul-celeste brilhando com intensidade de conhecimento sempre existente, tem uma flauta em ambas as mãos. Como sua inconcebível energia espiritual está se estendendo, ele ainda mantém seu tamanho médium todo encantador por seus instrumentos espirituais qualificados. Sua suprema subjetividade é bem manifestada em sua forma eterna. A presença concentrada de todos os tempos, o conhecimento descoberto e a felicidade inebriante têm nEle sua beleza. A porção mundana manifestativa de Seu próprio Eu é conhecida como Paramatma, Iswara (Senhor Superior) ou Vishnu (Tudo-animador). Por isso é evidente que Krishna é a Única Divindade Suprema. Seu incomparável ou único corpo espiritual de encanto superexcelente é eternamente revelado com inúmeros instrumentos espirituais (sentidos) e atributos incontáveis mantendo sua localização significante adequadamente, ajustando-se ao mesmo tempo por seus inconcebíveis poderes conciliadores. Esta bela figura espiritual é idêntica a Krishna e a Entidade Espiritual de Krishna é idêntica a Sua própria figura”.

“A própria entidade combinada de intensidade de presença eterna de cognição feliz é o charmoso Ícone de mira ou transcendental. Segue-se que a concepção da magnitude indistinguível sem forma (Brahman), que é um indolente, laxista, pressentimento de bem-aventurança cognitiva, é meramente uma penumbra de intensidade de brilho misturado dos três concomitantes, ou seja, o bem-aventurado, o substantivo e o cognitivo. Este Ícone de manifestação transcendental de Krishna em sua face original é o fundo primordial da magnitude infinita Brahman e de toda a Superalma universal de Krishna como verdadeiramente visionada em seus variados passatempos, tais como Proprietário de vacas transcendentais, Chefe de vaqueiros, Consorte de criadas de leite, Governante da Morada terrestre Goloka e Objeto de adoração por residentes transcendentais das belezas de Goloka, é Govinda. Ele é a causa raiz de todas as causas que são os agentes predominantes e predominantes do Universo.

O olhar de Sua porção fracionária projetada na água Sagrada Originária, ou seja, a Alma Excedente Pessoal ou Paramatma, dá origem a uma potência-natureza secundária que cria o universo mundano. Esta energia intermediária da Superalma traz as almas individuais analogamente aos raios emanados do Sol”. O olhar de Sua porção fracionária projetada, como mencionado acima, é confirmado no 10º sloka do nono capítulo de Bhagavad Gita. A Personalidade da Divindade diz: “A Natureza Material (Prakriti) sob minha vigilância, dá à luz tudo que se move ou se fixa (animado ou inanimado) e por este processo, ó filho de Kunti, o universo evolui”.

Este olhar, superintendência ou vigilância, como podemos preferir chamar pela Suprema Personalidade da Divindade, é como a superintendência de um chefe executivo de um governo que faz tudo como vontade direta, mas ainda assim não o vê em todas as esferas das atividades governamentais. Sem ele, nada pode ser feito a não ser à face da atividade que ele parece estar ausente, pois o desempenho é completado por outro agente. Tal é a relação da Natureza Material com a Personalidade Absoluta da Divindade.

A Natureza Material é chamada de ‘Mãe Brahman’, ou seja, Ela está impregnada com as sementes da criação pela Personalidade Absoluta da Divindade, conforme confirmado no Bhagavad Gita no 14º capítulo.

Sri Krishna diz ali “Que a Natureza Material que também é chamada ‘Mahat Brahma’ é meu ventre; aí eu coloco as sementes ou germes da criação de onde vem o nascimento de todas as entidades, ó filho de Bharata”.

Sob a Consciência Personalizada em que o Teosofista acredita, é natural concluir que existe um grande plano para o universo criado.

Os Vaishnavas aceitam este plano de uma maneira muito simples. Sendo a Personalidade Suprema da Divindade o Desfrutador Absoluto e Criador de tudo o que é, o plano é feito de tal forma que tudo na criação é destinado à gratificação do sentido do Ser Supremo. Qualquer um que crie perturbação neste grande Plano do Ser Supremo é considerado pelo Vaishnava como Aparadhi ou Ofensor e aí ele conclui muito naturalmente que quando uma entidade ou alma Jiva se esquece de si mesmo como o eterno servidor do Ser Supremo para o ajuste do Grande Plano e se considera um desfrutador, ele é imediatamente apanhado pela potência externa do Ser Supremo que é chamado de Maya, e começa sua existência na natureza material esquecendo-se de sua verdadeira natureza de Espírito. Ele arrasta uma vida condicional sob os modos da Natureza, depois disso.

Este Grande Plano é explicado no Bhagavad Gita em dois slokas finais, ou seja, o 65o e o 66o slokas do 18o Capítulo que concluem os ensinamentos de Bhagavad Gita. A Personalidade da Divindade Sri Krishna diz ali que cada um deve oferecer-se a si mesmo como o eterno servo transcendental ou devoto de Sri Krishna com coração e alma. Ele não deveria ser como o “Karmayogi”, “Jnanyogi” ou “Dhyanyogi”, mas deveria ser “Bhaktayogi” puro e simples e, em cada esfera de sua atividade, ele deveria servir apenas ao propósito da Personalidade Suprema da Divindade, de acordo com Seu Grande Plano, sob a orientação Dele ou de Seu representante de boa-fé. Isto o levará gradualmente à posição de servidão eterna da Pessoa Eterna e este conselho foi dado a Sri Arjuna porque ele era o peito e o amigo mais querido de Sri Krishna.

Dentro deste plano de ação, Arjuna também foi aconselhado a desistir de todos os outros compromissos e simplesmente a seguir a Personalidade da Divindade. No início das lições de Gita, a Personalidade da Divindade explicou a Arjuna tantos compromissos diferentes como os deveres de um renunciante, de um Sanyasin, de um Yogi, ou um Jnani, de um Karmi, etc., e agora ele ordena diretamente a Arjuna que desista de todos esses compromissos e siga diretamente os desejos da Personalidade da Divindade. Dessa forma, ele garantiu a Arjuna que o protegeria de todos os vícios que pudessem acumular por não ter tentado cumprir todos os outros deveres e por isso teve que lamentar por nada. Pelos atos de serviço amoroso transcendental à Personalidade da Divindade, a pura natureza espiritual de cada um e tudo se torna manifesta. Os desempenhos de todos os chamados deveres neste mundo mundano, tais como o desempenho de deveres religiosos, deveres mundanos, deveres purificadores para um estado de vida superior, aquisição de conhecimento, meditação para controlar os sentidos e a mente, etc., são realizadas para se elevar da vida condicional da existência corporal e mental e para alcançar a existência espiritual de forma simples e simples; mas quando se transcende todo esse estado condicional de vida e se eleva alto pela atração espiritual da forma eterna e bem-aventurada de Sri Krishna, ele não tem nada a fazer e nada a realizar.

Todas as atividades da existência material são direcionadas a algum tipo de ideal ou plano. “O universo nunca é em momento algum o resultado de um mero ‘concurso fortuito de átomos’, mas, por outro lado, o resultado das operações da Direção da Vontade”. A partir disto, segue-se a conclusão lógica de que o Testamento opera de acordo com um plano: Em resumo, um crente da Teosofia aceita como fato que, “em e através de todas as coisas, uma Vontade Direta está em ação, com um plano de Ação de momento em momento em direção a um fim predominante”. Essa é a versão do Teosofista de uma maneira diferente como funciona o Vaishnavita. O fim predominado é servir ao propósito do Absoluto Predominador.

Em outras palavras, todas as nossas atividades são dirigidas ou ao fim de algum propósito corporal, ou algum propósito mental ou algum propósito espiritual. As atividades até o fim de algumas finalidades corporais e mentais não têm praticamente nenhum valor permanente, tendo em vista que o próprio fim é transitório e temporário e, portanto, são classificadas sob duas cabeças: boas ou más. Mas as atividades para o fim espiritual são chamadas transcendentais para todos os bons e todos os maus propósitos e como tais atividades podem ser divididas em três departamentos para a existência permanente e eterna. Esses três departamentos podem ser denominados apego à existência espiritual impessoal em oposição à existência material variegada, apego à Divindade Tudo-Perigosa ou ao aspecto localizado de Paramatma, a Superalma, ou apego à Personalidade Predominadora da Divindade em sua forma todo-brilhante, eterna e todo-atrativa. Se analisarmos todas as nossas atividades neste mundo, elas podem ser agrupadas sob qualquer um dos diferentes títulos acima, ou seja, mundano ou transcendental, temporário ou permanente e todas essas atividades atingem algum tipo de atmosfera de acordo com o plano ou ideal do executante. Eles são nomeados de forma diferente sob diferentes cabeçalhos e diferentes planos, mas tais atividades que são orientadas para a gratificação do sentido transcendental do Predominador, Personalidade da Cabeça de Deus Sri Krishna, são denominadas como devoção sem vínculo. Tais atividades são atividades devocionais e nunca devem ser mal concebidas como atividades comuns sob os títulos de plano de ação corporal ou mental. Estas atividades ou as atividades devocionais são atividades reais no final do Grande Plano e nunca devem perturbar o ajuste do Grande Plano, enquanto todas as outras atividades podem ser boas ou ruins, são simplesmente perturbadoras para o Grande Plano do Predominador e devem, portanto, ser abandonadas por alguém que deseje trabalhar de acordo com o Plano.

No nono capítulo (24º Sloka) a Personalidade da Divindade declara enfaticamente que “Eu sou o Desfrutador e Senhor também de todos os sacrifícios, mas os homens não Me conhecem na verdade e por isso sofrem”.

Sempre que qualquer atividade que não satisfaça os sentidos transcendentais da Personalidade da Divindade ou que não ajuste o Grande Plano de Ação é chamada de pecado. Quando Sri Krishna quis que Moharaj Judhisthir contasse uma mentira direta a Dronacharya, Moharaj Judhisthir primeiro se recusou a contar tal mentira e depois contou a verdade de uma forma que aparentemente parecia aos homens comuns ser inverdade de uma forma redonda. Mas o próprio Moharaj Judhisthir disse a verdade na medida do possível. Mas o resultado posterior foi que Judhisthir teve que visitar o inferno pela razão de que ele se recusou a contar uma mentira de acordo com o Plano de Sri Krishna. Os homens comuns entenderam que Judhisthir foi obrigado a visitar o inferno porque ele disse mentira de uma forma rotunda, mas os savants puderam entender que ele teve que visitar o inferno pela razão de que ele se recusou a dizer mentiras de acordo com a ordem de Sri Krishna. A importância da história é que contar mentiras ou dizer a verdade não importa se ela pode se reconciliar com o Fim Predominado. Na vida comum também podemos julgar um meio pelo resultado de seu fim. O fim justifica os meios. Se o fim é satisfazer o Grande Plano do Predominador Personalidade Absoluta da Divindade, não importa se os meios estão certos ou errados de acordo com o julgamento deficiente dos juízes imperfeitos. A Personalidade Absoluta da Divindade sendo o Desfrutador Supremo Ele deve ser satisfeito por todos os meios que é o Grande Plano de acordo com a filosofia dos Vaishnavitas.

O Teosofista empírico dá a este Grande Plano da Pessoa Absoluta nomes diferentes como “o Plano de Deus, que é Evolução”, o “Mundo Arquetípico”, um “Poder, não nós mesmos”, que faz justiça” e o Teosofista argumentará “que em e através de todas as coisas, de um elétron a uma estrela, de uma ameba a um anjo, há um padrão” e quem descobriu este padrão é chamado de Teosofista.

O Vaishnavita acredita no “Plano de Deus, que é Evolução”, mas não do modo como o Teosofista aceita. O Teosofista acredita que “todas as coisas estão se movendo para um fim ordenado, assim como uma raiz de lótus enterrada na lama, no processo de seu crescimento ordenado, produzirá inevitavelmente a bela flor”. Mas o Vaishnavita lhe aplicará mais razão do que qualquer outro filósofo, e ele dirá que o processo de crescimento ordenado também é condicional. A semente ou raiz de um lótus pode estar enterrada na lama, mas ainda assim o crescimento será verificado se não houver ajuda adequada da Natureza ou do Prakriti. A condição é oferecida pela natureza que faz com que a flor cresça ou morra no botão. A evolução não é constante de um estágio para outro, mas o mesmo depende também dos modos da Natureza Material e de acordo com os modos de trabalho de cada um. Portanto, não se deve concluir que uma vez que uma alma ou espírito Jiva é encarnado em forma humana, ele não é mais transformado em tigre ou anjo, mas de acordo com os Vaishnavitas a Evolução é tão flexível que um Anjo pode se tornar um tigre ou um tigre pode se tornar um Anjo a qualquer momento de acordo com as obras do livre arbítrio ajudado pelos modos da Natureza.

Cada alma individual que faz parte da Superalma tem independência subordinada à independência Absoluta do Predominador e esta independência nunca é prejudicada pela independência Predominadora da Pessoa Absoluta. Ele está cheio em Si mesmo e sua independência nunca é condicional à independência da alma Jiva. De acordo com o Plano Arquetípico, o Vaishnavita acredita que o Homem é feito de acordo com o próprio Modelo de Deus e, portanto, o Homem é considerado o ser mais elevado no processo de Evolução e é realmente assim, como podemos julgar pelas circunstâncias favoráveis.

A altura do homem, sua beleza em relação à cor e forma, sua inteligência e força, seu poder de resistência e acima de tudo seu desenvolvimento psíquico indicam claramente que ele é o mais alto de todos os seres criados. E para isso o Vaishnavita afirma que a encarnação de uma alma Jiva como ser humano é a forma de vida mais cobiçada e rara que é útil para a salvação espiritual dos encarnados e, portanto, o Vaishnavita conclui que esta forma de vida humana é muito mais importante do que a vida de um anjo e o que falar de outros em animais inferiores.

Mas infelizmente muito poucos homens percebem esta importância da vida humana e a maioria deles prefere aproveitar a vida ao máximo em suas melhores capacidades nas condições oferecidas pela natureza Material. Quando um homem percebe que sua forma humana de vida lhe foi concedida após crostas e crostas de nascimentos e mortes através de muitas espécies de encarnação pelo processo de Evolução e reconhece “um Poder, não nós mesmos, que faz justiça” e como tal distingue o mesmo com outro poder que faz justiça indiretamente, então ele tenta elevar-se à incondicional vida e atividade completamente livre no reino da Divindade e para este propósito ele engaja sua vida, dinheiro, inteligência e palavras para alcançar a mais alta forma de existência espiritual.

No processo de Autorrealização acima, o Vaishnavita como o Teosofista não só percebe que ele é também, em alguma medida, o Bom, o Verdadeiro e o Belo, mas também se lembra constantemente que quantitativamente sua bondade, veracidade e beleza nunca são comparáveis com as do Predominador. Como dizem os filósofos egípcios, “O Princípio que dá vida habita em nós, e sem nós, é imortal e eternamente benéfico, não é ouvido ou visto, ou cheirado, mas é percebido pelo homem que deseja a percepção”; assim, o Vaishnavita também percebe o mesmo Princípio tanto qualitativa quanto quantitativamente. Qualitativamente ele não faz diferença com o grande Predominador, mas quantitativamente ele sempre mantém uma diferença entre o Predominador e o Predominado.

Assim, o Vaishnavita não só reconhece “um Poder que não é nós mesmos, que faz justiça”, mas também reconhece o mesmo de forma indireta e dá a estes diferentes nomes, tais como Jogamaya e Mohamaya e as Jiva-almas que estão sob o controle de qualquer um dos Poderes ou Energias acima, são chamados de Poder Marginal. E acima de todos estes três Poderes, coloca o Poder ou o Predominador como a Personalidade Absoluta da Divindade. A Filosofia de Kshetra e Kshetrajna como discutida no Bhagavad Gita é baseada nestes três poderes e acima deles a Personalidade Todo-Poderosa da Cabeça-de-Deus Sri Krishna. Nosso ensaio sobre a Divindade e Suas potencialidades publicado neste folheto tenta explicar este assunto de forma mais elaborada. A conclusão pode ser tirada assim: a Divindade é o Todo e o Todo Poderoso e os Poderes podem ser grosseiramente divididos em três títulos que são como acima. O Vaishnavita, como o Teosofista, se acredita como uma unidade no mesmo Todo, sob o subtítulo Poder Marginal.

O deleite do Teosofista no sentimento de fraternidade de todas as entidades vivas é o plano mais alto do Vaishnavita chamado de palco de Mohabhagabat; mas o processo de realização dessa forma mais alta de fraternidade universal pelo Vaishnavita é diferente daquele do Teosofista.

O ideal de fraternidade universal do Teosofista é sem uma relação Central, enquanto que a fraternidade universal do Vaishnavita se baseia em uma relação Central. O Teosofista coloca seu ideal de fraternidade universal da seguinte forma:

“Mas ser irmão de tudo o que vive significa para o Teosofista uma responsabilidade para com tudo o que vive”. Como o Teosofista é um ser humano, sua responsabilidade é para com todos os outros seres como ele”. O conceito de uma Fraternidade Universal de toda a Humanidade passa de um mero ideal intelectual a uma Realidade sempre presente, sempre impulsionadora.

“É a partir desta realização de uma interligação de toda a humanidade, e de uma maneira muito precisa a interligação do homem e do homem dentro de qualquer comunidade, seja pequena como uma aldeia, ou grande como uma nação, que a realidade subjacente à palavra ‘cidadão’ deriva suas implicações de responsabilidade, dever e sacrifício. O Teosofista sabe, por seu conhecimento do padrão, que os homens não se uniram para formar comunidades por causa da ganância ou com o propósito de autoproteção; mas que se uniram principalmente porque devem ser mutuamente úteis, cada um para dar o que pode aos outros, e receber deles o que precisa e ajudar a liberar em todos os outros a Bondade, o Amor e a Beleza que se escondem no coração de cada homem, mulher e criança.

“É para este objetivo que o Grande Plano tem fomentado a civilização de selvagem para civilizado; portanto a palavra civilizado conotava os deveres da Cidadania. Entre estes deveres estão uma defesa corajosa daqueles que são injustamente atacados, para proteger os fracos contra a exploração pelos fortes, e para liberar a Beleza oculta do Divino em todos os homens e coisas, ajudando no desenvolvimento das ciências e das artes, e por todas as formas que apelam ao Altíssimo no Homem e que ligam o homem ao homem e nação à nação”.

O Vaishnavita aceita todos os princípios acima no vínculo da fraternidade universal, mas ele pode ver que estes laços de irmandade são apenas superficiais e não podem suportar um relacionamento permanente. Grandes líderes de pensamento em quase todos os países do mundo tentaram este método de ligar o homem ao homem e nação à nação por algum tipo de método altruísta, mas o Vaishnavita difere deles que tal processo pode causar temporariamente algum tipo de fraternidade externa entre homem e homem, etc., mas falhará no final, a menos que não seja ajudado a reviver sua natureza inata tecnicamente chamada de “Swarupa” como distinguida de sua “Birupa” ou natureza externa. A valente defesa daqueles que são injustamente atacados ou protegem os fracos da exploração pelos fortes, são sem dúvida dignos de menção por ligarem o homem ao homem e nação a nação, mas a Vaishnavita quer tornar cada um e todos tão fortes que ele não precisaria de nenhuma proteção externa nem será explorado por… …ninguém mais. O Vaishnavita diz que uma entidade viva quando ele esquece sua verdadeira “Swarupa” como a eterna unidade de serviço transcendental subordinada, torna-se explorada e constantemente atacada pela “Birupa” ou natureza material. A exploração e o ataque que geralmente vemos externamente sobre nossos semelhantes não são mais que os ataques e a exploração da natureza material sombria que tenta colocar a alma condicionada no caminho da retidão num método indireto – assim como o professor castiga o aluno a fim de colocá-lo na retidão. A ajuda temporária para salvar um de tal ataque ou exploração, pode salvar um de tais ataques ou exploração por um agente visível da natureza material, mas isso não salvará o doente das mãos da natureza material que é chamada de Deus e insuperável no Bhagavad Gita. Quando um culpado é punido dentro das paredes de uma prisão pelo Superintendente da prisão, o grito infantil de outros prisioneiros ou o protesto deles pode dar algum alívio temporário ao prisioneiro destinado à punição, mas isso não pode lhe dar alívio real. A fraternidade dentro dos muros da prisão pelos próprios prisioneiros não melhorará certamente seu ideal de fraternidade universal sob as rédeas do carcereiro responsável.

Todo o ideal de fraternidade universal, paz e amizade certamente dará prazer permanente assim que os irmãos receberem alívio da exploração e dos ataques da Natureza Material, assim como os prisioneiros, quando forem libertados do controle do Superintendente da Cadeia para desfrutar da doçura da fraternidade concebida por eles. Dentro dos muros da fraternidade de uma prisão para alívio mútuo está a revolta contra as leis da Cadeia e como tal a fraternidade universal dentro das leis da Natureza Material não tem sentido.

O Vaishnavita, portanto, tenta tirar um primeiro da exploração e ataque das mãos da Natureza Material, colocando um sob a orientação do Yogamaya e depois só ele concebe para uma verdadeira fraternidade universal entre homem para homem e nação para nação.

O processo de obter alívio da exploração e do ataque das mãos da Natureza Material é entregar-se incondicionalmente aos cuidados da Personalidade Absoluta da Divindade e essa é a fórmula reconhecida no Bhagavad Gita. Quando alguém consegue “VOLTAR A DEUS” ele pode realmente formar uma unidade nos ideais da Fraternidade Universal e nenhuma outra.

Toda ação no mundo mundano é influenciada pelos modos da Natureza Material e como tal são ativados ou por bons ideais, paixão ou ignorância. As ações de primeira classe são realizadas sob os modos de bondade, mas mesmo tais ações são influenciadas pela natureza material como resultado da qual elas são não permanentes, imperfeitas e não propícias.

Assim, para se livrar das mãos exploradoras e atacantes da natureza material, é preciso transcender os modos da natureza material através do serviço constante da Personalidade da Divindade, pois esse é o processo de transcender os modos da natureza material. Quando cada um, portanto, está engajado no serviço da Personalidade da Divindade é então e somente em relação à Personalidade da Divindade, tudo se torna perfeito, permanente e transcendental. Este é o processo concluído em Bhagavad Gita.

A Personalidade da Divindade diz no 26º sloka do 14º capítulo:

“E aquele que Me adora por uma devoção exclusiva no serviço, tendo passado por todas as três modalidades, está em conformidade com a natureza de Brahman (o Absoluto)”.

Assim, de acordo com o Vaishnavita, somente aqueles que se engajarem no serviço devocional da Personalidade da Divindade por sua vida, dinheiro, inteligência e palavras podem ser elegíveis para ser um membro do vínculo da fraternidade universal. Ao servir ao todo, somente as unidades podem ser servidas.

Os ideais do Teosofista, tal como foi dito por H. P. Blavatsky, são os seguintes:

“Que a tua Alma empreste seus ouvidos a todo grito de dor, como se o lótus batesse seu coração para beber o filho da manhã”.

Não deixe o sol feroz secar sobre lágrimas de dor antes que você mesmo as tenha enxugado do olho do sofredor”.

Mas que cada lágrima humana ardente caia sobre seu coração e lá permaneça; nem nunca a escove até que a lágrima seja removida.

Estas lágrimas, ó misericordioso de coração, são os rios que irrigam os campos da caridade imortal”.

Estas palavras só podem ser dadas forma prática por aqueles que dedicaram sua vida por cento do serviço da Personalidade da Divindade e sem isso simplesmente permanecerão como ideais de ouro que nunca serão cumpridos no reino do homem. Os devotos só pensam pelos caídos e abatidos, tentam pegá-los da lama da existência material e são eles que apenas tentam para o benefício permanente dos que sofrem com a exploração e o ataque das mãos da Natureza Material Soturna representada pela figura da Deusa Kalika em modo destrutivo.

A “Caridade imortal” só pode ser realizada quando somos capazes de reavivar a lembrança do serviço eterno da Personalidade da Divindade. Como este serviço pode ser realizado é um assunto a ser delineado em outro capítulo, mas como o Teosofista diz que tornar-se um cidadão no reino de Deus implica responsabilidade, dever e sacrifício, a responsabilidade de um Vaishnavita é reavivar na consciência de todos e de cada um, a relação transcendental da Divindade. O dever é primeiro se engajar no serviço transcendental da Personalidade da Divindade e depois tentar engajar outros também no mesmo compromisso transcendental e, portanto, deve haver sacrifício de vida, dinheiro, inteligência e palavra para a propagação e o renascimento de tais atividades transcendentais. O Senhor Jesus Cristo sacrificou Sua vida por esta causa e todos que querem entrar no Reino de Deus devem estar prontos para sacrificar pelo menos parte de sua renda se não outras coisas, a fim de transformar este inferno no Reino de Deus. Deus é Grande e Ele se reserva o direito de não ser exposto ao mundano especulador e filósofo seco, mas Ele próprio aparece por Sua própria vontade e independência quando lhe são oferecidos serviços amorosos transcendentais em todos os aspectos. O Sol aparece pela manhã apenas por Sua própria vontade e sem estar preso ao esforço alheio do cientista. O cientista deixará de fazer aparecer o Sol à noite pela descoberta de todos os holofotes e instrumentos científicos.
Quando Ele aparece, a ignorância desaparece e a pessoa é capaz de vê-lo Todo Bom, Todo Sabido e Todo Bonito e também é capaz de ver a si mesmo, que ele também é Todo Bom, Todo Sabido e Todo Bonito qualitativamente. Quando ele se levanta, pode-se ver o sol nos raios do sol e não só o sol, mas também a si mesmo e todas as outras coisas por ele. Assim como com a aparência do Sol, a escuridão voa, assim com a aparência da divindade por seu nome transcendental, fama, forma, qualidades, etc., a ignorância, a pobreza e a miséria desaparecem; esse é o veredicto de todos os aforradores e escrituras.

O Teosofista tenta conhecer a Divindade e Seu Reino no Padrão em graus lentos no processo de esforço próprio e pelo processo indutivo de generalização, mas o processo de Vaishnavita é o oposto. Ele se aproxima de uma Autoridade Superior que conhece a Divindade e Seu Reino e tenta saber dele submissamente pelo processo de dedução em um modo de serviço e perguntas sinceras relevantes para conhecer a verdade. O trigésimo quarto sloka do quarto capítulo de Bhagavad Gita ordena isto com as seguintes palavras:

“Aprenda isto (conhecimento da Divindade e de Seu Reino, etc.) fazendo reverência (isto é, tornando-se discípulo) por contraquestões e por serviços. O Sábio (aquele que realizou a Divindade e Seu Reino) que viu a Verdade te ensinará (este conhecimento)”.

O processo do Vaishnavita é mais fácil e perfeito do que o processo dos filósofos empíricos que tentam conhecer Deus e Seu Reino por causa de seu pobre fundo de sentidos limitados e conhecimento imperfeito derivado da especulação sensual. No curso normal de nossa vida também nos aproximamos da pessoa certa para aprender um assunto perfeitamente. Não nos aproximamos de um engenheiro se quisermos aprender a ciência dos medicamentos. Da mesma forma, se quisermos conhecer Deus e Seu reino ou se quisermos ser servidores de Deus, devemos nos aproximar de um verdadeiro servo de Deus e não devemos nos aproximar de um servo de cachorro. A menos, portanto, que não nos aproximemos dos pés de alguém que seja transcendentalmente sábio e perfeito, é inútil falar de Deus e de Seu reino.

Nesse processo, o Vaishnavita percebeu Sri Krishna como a Personalidade Absoluta da Divindade e a Origem de todas as causas. Os Grandes Goswamins descobriram 64 qualidades transcendentais em sua plenitude em Sri Krishna que nunca devem ser descobertas em nenhuma outra pessoa ou deus e, portanto, O encontraram (Krishna) como Todo Bom, Todo Conhecedor e Todo Bonito.

O Teosofista percebe Sri Krishna em seu aspecto impessoal Brahman ou Vishnu que reside dentro como Paramatma e fora como a Virata e esta realização está em perfeita harmonia com a observação do Vaishnava. Mas o Vaishnava vai ainda mais fundo e O vê como a Personalidade da Divindade “Bhagwan”. O aspecto que permeia tudo da Personalidade da Divindade é realizado pelo Vaishnava simultaneamente com a realização de seu Aspecto Pessoal. O exemplo vívido para isto é Pralhad Moharaj. Quando Pralhad Moharaj estava sendo ameaçado por seu pai ateu Hiranyakashipu de ser morto instantaneamente, Ele (Pralhad Moharaj) permaneceu firme e corajosamente sem qualquer cuidado com as palavras ameaçadoras de seu pai. Hiranyakashipu perguntou: “Como é que você, menino tolo, ousa negligenciar minha raiva que ameaça todo o universo? Sob a influência de quem você é tão destemido que não se importa com as minhas palavras”?

Pralhad Moharaj respondeu a seu pai: “Oh rei, a força da qual eu dependo não é apenas minha força, mas é também a sua força e essa força é também a força de todos os homens fortes. Sob essa força tudo anima ou inanimado neste universo funciona como subordinado. Ele é o Todo-Poderoso, Ele é o Tempo, Ele é o Poder dos sentidos, Ele é a força da mente, Ele é a força do corpo e Ele é o espírito dos órgãos dos sentidos. Seu poder é ilimitado, Ele é o Maior de todos, Ele é o Senhor dos três modos da natureza e Ele, por sua própria força, cria, mantém ou destrói todo este universo. Você pode desistir deste caráter infiel, não nutra esta natureza de inimizade e amizade dentro do seu coração, mas seja igual a todos os seres. Não há outro inimigo maior do que a mente que está descontrolada e sempre se extraviando. Sentir para todas as entidades como uma só conosco é a forma mais elevada de religião. Nos tempos antigos, alguns homens tolos como você costumavam pensar como se tivessem conquistado todos os quatro cantos do universo, sem conquistar os seis sentidos dentro de si mesmos, que são objetos que matam a todos. Mas não há inimigo para aquele, que é igual a todas as entidades, santo autoconquistado. O inimigo é criado apenas por nossa ignorância”.

O pai ateísta ficou muito irritado com estas palavras de seu filho Pralhad Moharaj e começou a insultá-lo dizendo: “Seu tolo, você se atreve a me fama de mal e se chama de conquistador de todo inimigo e, portanto, você está orgulhoso de sua aquisição. Com isto posso entender claramente que você está fortemente desejoso de morrer, pois conheço aqueles que querem morrer, dizem todas estas palavras de lixo diante de mim. Você acredita que existe algum Deus mais poderoso do que eu? Onde Ele vive? Se Ele é todo-penetrante, por que Ele não vive dentro deste pilar diante de mim? Eu arrancarei sua cabeça de seu corpo que está tão orgulhoso e deixarei seu Deus vir aqui e salvá-lo”.

Pralhad Moharaj ainda permaneceu em silêncio, pois sabia que Deus é onipresente e que Ele certamente viverá dentro do pilar marcado por Hiranyakashipu. Hiranyakashipu quebrou o pilar e a Personalidade da Divindade saiu dele na forma de Narasingha apenas para matar o ateu Hiranyakashipu e outras pessoas demoníacas.

Assim, a realização do Vaishnavita da Divindade Absoluta é plena e perfeita em todos os seus diferentes aspectos, enquanto a realização do Empirista ou do Trabalhador Místico (Iogins) ou Fruitivo é apenas parcial e imperfeita, pois eles só podem perceber em um aspecto da Verdade Absoluta.

O Teosofista como uma unidade no Todo deseja moldar seu destino e, portanto, o destino do Todo. A alma individual quando ele se torna um Vaishnava ou seja, se identifica com o interesse do Visnu, o Senhor do Universo, é então apenas ele percebe sua verdadeira posição como unidade no Todo e assim ele descobre seu dever para com o Todo também. Ele percebe que faz parte do Todo e não é igual ao Todo. Ele é simultaneamente um com o Todo e diferente também. Ele percebe que Sri Krishna, a Personalidade Absoluta da Divindade, é Grande e Infinita enquanto ele mesmo, embora a parte e parcela desse Infinito, seja infinitesimal. Ele é o Fogo e as almas individuais são inumeráveis faíscas emanadas Dele. Como tal, qualitativamente, as almas individuais têm a mesma potência de fogo que o próprio Fogo. Sri Krishna, a Personalidade Absoluta da Divindade, é Todo-atraente, portanto, a alma individual, quando realmente se dá conta de sua própria posição e assim se torna atraída por Sri Krishna, é então capaz de atrair milhares e milhares de outras almas individuais para os pés de lótus de Sri Krishna. Em outras palavras, quando uma alma individual se realiza plenamente pela misericórdia de Sri Krishna, então só é possível para ele atrair outros para os Pés de Lótus da Personalidade Absoluta da Divindade. Nesta fase, somente a alma individual pode perceber que ele é um eterno servidor do Grande e do Infinito. A vida eterna é sua constituição e o amor transcendental da Divindade é seu negócio ou religião. Como tal, o Vaishnavita nesta fase molda seu destino por atividades que transcendentalmente aumentam seu Amor a Deus e da mesma forma ele tenta para os outros de modo que eles também possam reviver sua constituição latente de Amor e Serviço para a Pessoa Absoluta. Estas atividades são tão práticas quanto temos que fazer nossos trabalhos diários necessários e nunca devem ser simplesmente uma especulação intelectual com resultado de fadiga e desapontamento. Os trabalhos práticos são tão reais que gradualmente se colocam no oceano da bem-aventurança transcendental e todo o universo aparecerá a tal amante de Deus, como todo bem-aventurado, eterno e cheio de luz. Isto é chamado de vida pura e eterna incondicional da alma individual em sua existência espiritual.

Como tal, o Vaishnavita pode distinguir a vida de uma alma individual em divisões: incondicional e condicional. Como mencionado acima, a alma individual permanece a mesma parte e parcela do Grande e do Infinito, tanto no estado incondicional quanto no condicional. Nunca deve ser mal entendido que no estado incondicional a alma individual se torna o Infinito do Infinito. E porque a alma individual é infinitesimal sempre e nunca o Infinito, ela está sujeita a se tornar condicional sob as leis da natureza material e se fosse infinita em qualquer estágio, ela nunca teria sido sujeita a uma vida condicional sob as leis da natureza. Essa é sua posição marginal.

[Este artigo também apareceu em duas partes em Back to Godhead Vol I Parte VIII e Vol I Parte IX publicado em 1952].

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PRABHUPADA, Srila. Theosophy Ends in Vaishnavism. In. Back To Godhead. January, 1944. Disponível em:
<https://back2godhead.com/theosophy-ends-in-vaishnavism/>. Acesso em 4 de março de 2022.

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/yoga-fire/a-teosofia-termina-no-vaishnavismo/

A Sublimação do Duplo Etéreo Materializado

Shirlei Massapust

Duplo etéreo ou perispírito é um segundo corpo com aparência idêntica à melhor versão que o corpo físico do falecido possuiu ou poderia ter possuído em vida. Como dizem, “a consciência intrafísica ao sair do corpo humano, geralmente apresenta-se com a aparência mais remoçada, bonita e, às vezes, surpreendentemente luminosa”.[1] Enquanto o corpo físico é feito de carne, ossos, sangue, etc., o duplo etéreo é feito de ectoplasma, assim como os demais objetos materializados por médiuns.

No século XIX, quando o espiritismo ganhou impulso nos Estados Unidos e na Europa, era comum se dizer que o ectoplasma é fotossensível. As pessoas realmente viam o perispírito dos mortos e o duplo dos vivos, sobretudo porque muitas vezes a coisa real era um boneco habilmente suspenso na escuridão. Porém nunca faltou gente de boa fé atestando que nem tudo na cena espírita era mera sugestão psicológica ou espetáculo de fraudes grosseiras. Havia sim um bom bocado de eventos miraculosos.

William Jackson Crawford (1881-1920) foi professor de Engenharia Mecânica da Universidade Queen’s de Belfast, na Irlanda. Ele foi um dos pesquisadores renomados que dedicaram tempo à investigação de fenômenos mediúnicos. W. J. Crawford observou e descreveu a materialização de “alavancas psíquicas” no Círculo Goligher.

Segundo Crawford, as extensões saíam do corpo do médium como se fossem braços mecânicos e movimentavam objetos. A intensidade da atividade sobrenatural era inversamente proporcional à claridade do ambiente:

O efeito da luz sobre os fenômenos é tão conhecido, que não comentarei o assunto. Quanto menos luz houver, mais intensidade terá o fenômeno. Cheguei à conclusão de que ela afeta a rigidez das hastes. (…) Não creio que a luz atue sobre as fibras da estrutura tanto quanto sobre a matéria intercalar que serve para enrijecê-la. Essa substância fria e viscosa talvez seja um composto químico complexo (…) do qual a luz dissocia as moléculas. Temos razões de sobra para assim crer, visto que a experiência nos demonstra que a luz, cuja extensão de onda é grande, isto é, a luz vermelha, é a menos nociva. Nas sessões, é naturalmente necessário levar em consideração o reflexo, a refração e a absorção da luz empregada[2].

Katie King, um dos espíritos mais famosos da literatura mediúnica, manifestou-se pela primeira vez em 22/05/1872 através da médium Srta. Cook. No início só conseguia assumir formas vagas; mas, com o tempo, Katie aprendeu a moldar um corpo. As forças de Katie King aumentaram gradualmente enquanto a Sra. Cook, que antes permanecia quase sempre acordada, mostrava-se cada vez mais fraca. Por fim, o espírito não mais apareceu sem que a médium entrasse em estado de transe.

De acordo com o registro da Sra. Florence Marryat, numa das sessões que ela testemunhou ocorrera o seguinte:

Perguntaram um dia a Katie King porque não podia mostrar-se sob uma luz mais forte. (Ela só permitia aceso um bico de gás e esse mesmo com a chama muito baixa). A pergunta pareceu aborrecê-la enormemente. Respondeu assim: “Já vos tenho declarado muitas vezes que não me é possível suportar a claridade de uma luz intensa. Não sei porque me é impossível; entretanto, se duvidais de minhas palavras, acendei todas as luzes e vereis o que acontecerá. Previno-vos, porém, de que, se me submeterem a essa prova, não mais poderei reaparecer diante de vós. Escolhei”. As pessoas presentes se consultaram entre si e decidiram tentar a experiência, a fim de verem o que sucederia. Queríamos tirar definitivamente a limpo a questão de saber se uma iluminação mais forte embaraçaria o fenômeno de materialização. Katie teve aviso de nossa decisão e consentiu na experiência. Soubemos mais tarde que lhe havíamos causado grande sofrimento.

O espírito Katie se colocou de pé junto à parede e abriu os braços em cruz, aguardando a sua dissolução. Acenderam-se os três bicos de gás. (A sala media cerca de dezesseis pés quadrados). Foi extraordinário o efeito produzido sobre Katie King, que apenas por um instante resistiu à claridade. Vimo-la em seguida fundir-se como uma boneca de cera junto de ardentes chamas. Primeiro, apagaram-se os traços fisionômicos, que não mais se distinguiam. Os olhos enterraram-se nas órbitas, o nariz desapareceu, a testa como que entrou pela cabeça. Depois, todos os membros cederam e o corpo inteiro se achatou qual um edifício que se desmorona. Nada mais restava do que a cabeça sobre o tapete e, por fim, um pouco de pano branco que também desapareceu, como se houvessem puxado subitamente. Conservamo-nos alguns momentos com os olhos fitos no lugar onde Katie deixara de ser vista. Terminou assim aquela memorável sessão[3].

Registros de época informam que o médium perde massa corporal à medida que o ectoplasma se forma e, às vezes, pequenas perdas são permanentes. Por exemplo, certa vez Crawford pediu aos “operadores” que extraíssem tanta matéria quanto lhes fosse possível do corpo de um médium imobilizado sobre uma balança, ao que o aparelho registrou a perda temporária de “um pouco mais de 24 quilos, durante uma dezena de segundos”[4].

Em 11 de dezembro de 1893, na Finlândia, a médium D’Espérance começou a se desmaterializar diante das testemunhas após uma sucessão de outros eventos, dentro de seu gabinete amplamente iluminado. Alguém do círculo propôs que terminassem o ato, visto que já se esgotavam as forças da médium, mas ao despertar do transe a mulher colocou as mãos nos joelhos e percebeu que a cadeira estava vazia.

Ela afirmou ter a sensação de que tudo em seu corpo impalpável e invisível permanecia no mesmo lugar, mas estava parcialmente desmaterializada; então pediu para continuarem a sessão até que os fantasmas lhe devolvessem as pernas![5]

Numerosos críticos crédulos na autenticidade das materializações professaram que todos os espíritos invocados agiam como vampiros que subtraíam sua essência vital do corpo do médium. Quanto a isto os espíritas objetavam alegando que se um espírito toma emprestada a matéria com o consentimento do médium, a conversão da carne ou sangue em ectoplasma não é um ato de vampirismo.

A propósito, até no Brasil do século XX o saudoso mineiro Waldo Vieira (1932-2015) reportou a queixa de certos alunos mal agradecidos, estudantes de um curso gratuito de projeção do corpo astral, que lhe acusaram de ser um “vampiro” e “suposto adversário ferrenho” cujo espírito consciente e desdobrado assedia os pupilos durante as tentativas de desdobramento astral.[6]

Bram Stoker estava ciente do debate em torno de fenômenos espíritas e extraiu dali ideias originais para que seus personagens literários pudessem se transformar em névoa e atravessar espaços estreitos. O psicanalista Aluísio Pereira de Menezes, atual professor nas Faculdades Integradas Hélio Alonso, escreveu a respeito em sua tese de doutorado De Sexo Jeito de Todos os Vampiros: Arte e Transmissão (UFRJ, 1991).

Tais passagens, que tratam da aproximação do vampiro, apresentam os elementos de uma ação hipnótica sobre a vítima. Silencio e barulho, imobilidade e movimento – termos contrários que vão se revolvendo, paralisando a subjetividade em relação aos seus modos correntes, “colocando-a num estado magnético, de quase câimbra, que não é acordado nem sonhado”[7]. Uma orgia onírica exaure a vítima; são os sonhos os restos de toda uma atividade, os produtos da atividade fantástica.

A névoa ficava cada vez mais densa, e eu sabia agora como ela tinha entrado, pois podia vê-la feito uma fumaça – ou feito um vapor de água fervendo – penetrando, não pela janela, mas pelas frestas da porta. Ela ficava mais e mais densa, até que tivesse como que se concentrado, no meio do quarto, em uma espécie de coluna de fumaça, através de cuja parte mais alta eu podia ver a luz do gás brilhando como um olho vermelho. As coisas começaram a rodar em meu cérebro ao mesmo tempo em que a coluna nebulosa rodopiava pelo quarto, como que formando as palavras bíblicas “uma coluna de fumaça de dia, de fogo à noite”[8].

Rodopio, turbilhão, redemoinho, são estas as palavras que traduzem whirl. O ponto máximo desse empuxo no que ele é suportável esbarra com um limite, o sujeito desmaia, muda de estado (que certamente não é definitivo). O essencial é este ponto preciso no qual a coluna rodopia “no cérebro” da personagem da mesma forma como ela estaria rodopiando lá fora. A personagem, ou melhor, certa dimensão que não mais está ligada ao específico da vida volitiva, se vê às voltas com uma posição que a situa num ponto de comparar o torvelinho de ectoplasma à aparição bíblica de deus a Moises e, com isso, blasfemar de forma involuntária.

A imagem que temos nos arquivos da memória são as evoluções do impressionante movimento natural da neblina fria e espessa, fantasmagórica, que escorre em cascata, flui no assoalho, se espalha por baixo dos lençóis e escapa em filetes descidos por entre os dedos das pessoas que ousam erguê-la no ar.

Ainda hoje muita gente se impressiona com aquela neblina encorpada, quase espumosa, bastante diferente da emissão fétida das máquinas de fumaça usadas nos clubes e danceterias. No cinema e no teatro estas cenas perfeitas e quase mágicas são produzidas atirando-se de gelo seco em panelas de água fervendo.

A primeira vez em que um vampiro entrou em combustão espontânea quando exposto à luz solar foi no filme de expressionismo alemão Nosferatu, Eine Symphonie des Grauens (1922). Na ficção de Bram Stoker o Conde Drácula se expõe à luz solar e nada lhe acontece. Aparentemente ele apenas prefere atuar à noite.

Acaso o fictício Conde Drácula não era como qualquer duplo etéreo sublimado ao sol na vida real? Por que H. P. Blavatsky não mencionou a questão de sublimação do duplo quando falou do desdobramento dos vampiros reais no capítulo XVIII de Isis Unveiled (1877)? Nós não podemos voltar no tempo para questionar, mas convenhamos a perda de uma chance de opinar a respeito foi muito significativa. O duplo do vampiro é, talvez, um perispírito doutro nível de condensação e estrutura.

Na primeira casa onde morei os fantasmas nem ligavam para o sol. Apareciam mais de dia do que de noite. Impressionavam as visitas. Eram muito VIPs. 😊

notas

[1] VIEIRA, Waldo. Projeciologia. (4ª edição). Rio de Janeiro, IIPC, p 679.

[2] CRAWFORD, W. J. Mecânica Psíquica. Trad. Haydée de Magalhães. São Paulo, Lake, 1963, 114.

[3] GIBIER, Paul e BOZZANO, Ernesto. Materializações de Espíritos. Trad. Francisco Klörs Werneck. Rio de Janeiro, Eco, p 23-24.

[4] CRAWFORD, W. J. Obra citada, p 138.

[5] AKSAKOF, Alexandre. Um Caso de Desmaterialização Parcial do Corpo dum Médium. Trad. João Lourenço de Souza. Rio de Janeiro, FEB, © 1900, p 47-49.

[6] VIEIRA, Waldo. Projeciologia. (4ª edição). Rio de Janeiro, IIPC, p 679.

[7] MENEZES, Aluisio Pereira de. De Sexo Jeito de Todos os Vampiros: Tese de doutorado em teoria literária. Rio de Janeiro, UFRJ, 1991, p 86.

[8] STOKER, Bram. Drácula. Em: MENEZES, Aluisio Pereira de. Op cit, p 88.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/vampirismo-e-licantropia/a-sublimacao-do-duplo-etereo-materializado/

A Corrupção Moderna da Magia

Eu me identifiquei muito com o autor do texto. Ao longo destes 30 anos estudando ocultismo, presenciei praticamente os mesmos problemas que o “Prophecy” (autor do texto original). Atualmente, graças à internet, tenho visto tomos e mais tomos de magias disponíveis em pdf, e gente que se acha mago e thelemitas de facebook só porque leram meia dúzia de livros, mas que se você for ver, não sabem nem ao menos fazer os rituais mais básicos do Pentagrama ou um banimento simples.

Magia é como kung fu ou natação: você pode ler todos os livros do mundo a respeito, mas não vai saber fazer a não ser que tenha a parte prática.

Esta será uma lição longa, portanto, ao trabalho. Não pule partes por causa de seu tamanho. Leia cada palavra, e tome notas diligentemente.

A predominante abordagem à magia, nos dias atuais, deve ser abolida. O processo iniciatório dos maçons do passado e a ideia do avanço espiritual através apenas do conhecimento devem ser deixados como relíquias do passado. Como a Jnana Yoga atesta, e como Francis Bacon declara, existe, certamente, poder no conhecimento. Porém, o melhor poder é aquele adquirido da prática e, consequentemente, da experiência. Um pouco de prática vale muitos livros. Esta deve ser a ideia predominante dos anos vindouros, se a humanidade quiser reviver a irmandade de magos no mundo e redistribuir a carga de trabalho espiritual que, no momento, cai quase inteiramente nos ombros de iogues.

A incompreensão da magia legítima criou uma ameaçadora carência de adeptos ocidentais iluminados. Esses adeptos mestres, reais Deuses-Homens do passado, estão raramente reencarnando. Parece, portanto, que, no geral, existem poucos grandes magos disponíveis. O número deles se tornou escasso; seu nível, baixo. Nos meus tempos de garoto, antes de minhas memórias retornarem, eu procurei aqui e ali alguma faísca de sabedoria, estudei muitos sistemas de magia e de xamanismo, e, no fim, me senti como Abraão, o Judeu, depois de seus anos de procura pela Ciência Divina, antes de ser abençoado por seu guru, Abramelin. Em lugar algum, eu pude encontrar alguém que merecesse o título de professor da ciência divina. Fraudes e charlatãos eram numerosos, e pessoas pensavam que eles eram magos só porque nunca conheceram um mago verdadeiro. Hoje, essas mesmas pragas ainda infectam bastante as buscas de jovens aspirantes ao redor do mundo.

Existe um número de razões para a escassez atual de sábios na tradição oculta ocidental. Eu me esforçarei aqui para compartilhar com vocês algumas das razões que as minhas experiências com aspirantes esperançosos, os ensinamentos de várias ordens e paradigmas, e meu tempo com as “vítimas” de vários movimentos new age, me levaram a classificar como causas para o problema. Eu baseei essas conclusões nas súplicas de aspirantes esperançosos buscando iniciação, e nos meus encontros pessoais com alguns dos ditos adeptos de vários grupos e ordens. Ao fazê-lo, eu compreendo totalmente que falar com alguns estudantes e alguns membros superiores nunca pode dar uma representação compreensiva. Porém, eu também compreendo que, não importa quão ideais as condições internas de uma ordem possam ou não ser, ela não deveria levar seus estudantes externos à procrastinação ou a um treinamento inadequado.

Eu identifiquei dez problemas principais na magia de hoje. O primeiro é que o treinamento proposto por certas ordens nos últimos 200 anos ou mais era incompleto, e por eles terem ditado a regra para as ordens de hoje, os problemas continuaram. O segundo é que os materiais originais e manuscritos para certos sistemas são atribuídos com mais valor do que o que eles realmente possuem. O terceiro é que a mente ocidental transformou a magia em algo feito para se realizar os desejos materiais. A quarta razão para o problema presente é que, na medida em que nossa cultura propaga a concessão à preguiça, a abordagem ocidental à magia se torna mais e mais preguiçosa. A quinta razão é a tendência peculiar da mente ocidental de se tornar altamente investida em sua própria personalidade. A sexta razão é a destruição da sucessão de mestre e discípulo, a causa que é a raiz para muitos outros problemas. A sétima razão, que é um verdadeiro veneno para a evolução, é o movimento presente, na magia ocidental, de se tentar remover a ideia essencial de Deus e o valor da moralidade da magia. A oitava razão é a popularidade crescente de charlatãos, e seu poder sobre as massas ignorantes. A nona razão é a tendência de magos legitimamente treinados permanecerem silenciosos, aceitarem poucos estudantes e escreverem pouco ou nada. A décima e última razão que discutiremos é a atenção dada, no Ocidente, ao desenvolvimento dos poderes mágicos em vez do desenvolvimento de estados elevados de consciência. Essas dez razões primárias bastarão para nossa consideração, embora mais razões pudessem ser listadas.

A Primeira Razão

Treinamento Inadequado em Ordens Modernas

Entre aproximadamente 1850 e 1920, o mundo ocultista presenciou a formação de várias ordens que se ergueram no mundo como realizações gloriosas. De seus ensinamentos, vieram muitos dos livros influentes que agora são considerados clássicos do ocultismo, e os quais agora muitos estudantes otimistas estudam. Infelizmente, essas ordens não eram tão ideais quanto tentavam parecer. A maioria delas usava como fonte manuscritos desatualizados, sobre os quais falaremos mais daqui a um momento, e o resto usava métodos que se baseavam inteiramente sobre estimulação intelectual ou emocional, e muito pouco sobre a consciência da alma.

Essas ordens iludidas criaram muitos iniciados igualmente ou até mais iludidos. Um número considerável deles publicou livros, muitos dos quais agora são considerados clássicos do oculto no mundo da literatura ocidental ocultista. Em alguns casos, esses livros tinham riqueza de informação teórica, mas a maioria deles não tinha quase um momento de percepção prática. O aspirante esperançoso é levado a folhear um livro de centenas de páginas, para perceber que ele não absorveu nada dele além de filosofia. Até mesmo os livros chamados de “teoria e prática” deveriam ser renomeados para “teoria e possível aplicação ritual”.

Isso pode parecer uma afirmação iconoclástica. Ela é, e com razão, porque a iconologia da magia está falhando gravemente. Portanto, o que não produz resultados deve ser jogado de lado. “E agora também o machado é enterrado nas raízes das árvores: desse modo, qualquer árvore que não traga bons frutos é cortada, e jogada no fogo. (Mateus 3:10)”. A série de ações à qual a magia ocidental foi levada não trouxe muitos frutos. Essas ações produziram pseudoiniciados que conseguem executar truques de salão, que eles, erradamente, chamam de magia. Enquanto magos de cadeira estiveram gastando seu tempo, exercitando suas mentes com teorias e filosofias, o trabalho prático que realmente cria um mago esteve apodrecendo. Quem pode culpá-los, quando cada livro que lêem diz que precisam saber essa ou essa outra palavra hebraica ou magia simbólica para serem efetivos? Tudo isso compõe as armadilhas postas para o teste de iniciados, testes nos quais essas “autoridades” não passaram.

Um indivíduo pode memorizar sigilos do sol, kameas planetários, selos e talismãs salomônicos, e compreender intelectualmente os muitos processos que compõem a Maquinaria Universal. Ainda assim, ele não será um mago nos olhos de iniciados verdadeiros. Eu conheci pessoas que poderiam ser chamadas de enciclopédias de filosofia oculta, e, ainda assim, não possuem rotina diária de prática estabelecida, e nenhuma faculdade mágica de qualquer tipo. Eles estão presos à ilusão de Maya do mesmo modo que os homens comuns também o estão. A única diferença é que eles sabem que existe uma ilusão, enquanto a maioria nem se apercebe disso. Pessoas assim gostam de falar muito, porque, ao se ouvirem, tentam apoiar sua abordagem à magia, psicologicamente, para si mesmos. Tais pessoas sempre terão uma opinião, sempre parecerão ter respostas prontas, e esse tipo de “aspirante em potencial” torna-se particularmente perigoso aos buscadores genuínos da verdade. Você não pode construir uma base confiável somente nas palavras! Ao mago treinado, aos irmãos e irmãs de minha Ordem (N.T.: Fraternidade Rosa-Cruz), e os verdadeiros mestres reinantes deste mundo, essas pessoas estão mais enganadas do que o mais cru dos iniciantes neste caminho. O grupo deles é o pior, e, infelizmente, não é sempre a culpa deles. Para essas pessoas, eu farei muito esforço para desligar suas mentes e abrir seus corações para receber instrução prática. É por isso que eu aconselho a todos não se tornarem ligados demais a livros. Eu já li todos esses livros, e extraí seus pontos importantes em artigos no fórum do Veritas para o benefício de todos.

Isso não significa que a informação teórica é ruim. Um conhecimento sólido da filosofia oculta é necessário para que o mago compreenda tudo que faz. Ele deveria se orgulhar de conhecer todas as operações em funcionamento quando ele manipula um tipo de energia, e, quando uma operação mágica se manifesta, ele deveria ser capaz de explicar perfeitamente os mecanismos envolvidos. De fato, ele deve ser um cientista. Contudo, mais e mais pessoas se contentam apenas com o conhecimento da filosofia e o “como fazer”, sem nunca colocarem nada na prática, e, normalmente, sem terem ideia de como fazê-lo. Em muitas ocasiões, estudantes vieram a mim e disseram, “Eu li todos os livros que as pessoas me recomendaram, mas não tenho idéia alguma de como começar o caminho.” Isso acontece porque a estimulação intelectual somente não faz de alguém um mago, e, lá no fundo, o estudante inteligente sabe isso. A mente procura por fórmulas e símbolos; a alma busca por prática e experiência.

Que utilidade há em se conhecer como as estrelas afetam as nossas atividades, e não ser capaz de meditar por nem dez minutos? Que utilidade há em se conhecer todas as filosofias sobre quem Deus é, sem nunca experimentar Deus diretamente? Essas pessoas nunca se tornam nada na verdade, mas sim só aparentam ser magos. Você não pode alcançar o Reino através de inquisição intelectual somente. Você precisa viajar até lá.

O ponto ao qual eu quero chegar aqui é que o estudo intenso da Tábua de Bembine de Ísis, ou do selo da Rosa-Cruz, ou do dodecaedro mágico, etc, é incorreto. Eu não estou sugerindo que, por exemplo, a investigação das fórmulas do Etz Chaim e dos Nomes Divinos é inútil. Eu não estou dizendo que uma pessoa não deveria compreender os usos mágicos do pentagrama e do hexagrama. Do contrário, eu sou um forte defensor de tudo isso. Porém, tudo deve ser aprendido no tempo certo! Um aspirante não tem razão alguma para estudar os pentagramas, hexagramas, etc. Ele não deveria passar seus dias praticando magia ritual. Sim, com o passar do tempo isso gerará resultados no termo de crescimento de poder, mas afetará muito pouco a consciência e a realização geral do mago, depois, em sua carreira mágica. Por, pelo menos, os dois ou três anos iniciais, dependendo da aptidão do estudante, o foco deveria ser colocado no treinamento da mente, do corpo material, e do corpo astral para a verdadeira execução da magia. Uma vez que o estudante se preparou dessa maneira, e criou uma excelente base em sua consciência, então ele pode continuar, a fim de compreender e apreciar totalmente o poder de tal conhecimento e do simbolismo oculto.

A razão pela qual esses autores, embora não intencionalmente, cobriram o mundo ocultista ocidental em filosofia, é a de que eles nunca receberam o treinamento correto que deveria dá-los a base da experiência espiritual autêntica. Eles serviam como enciclopédias que regurgitavam o que eles foram ensinados. Juntos, eles criaram uma imagem contraprodutiva de que a prática diária não era necessária para se tornar um adepto. Eles se referiam a pessoas que nem tinham conquistado suas emoções primitivas e desejos como adeptos! Desse modo, eles baixaram muito o nível para as gerações seguintes, que seriam forçadas a olhar os ensinamentos dessas pessoass se quisessem saber alguma coisa sobre magia. Agora que o nível está tão baixo, as pessoas em geral são incapazes de alcançar grandeza espiritual. Portanto, esse nível deve ser elevado novamente, certo?

O que exatamente essas ordens estão fazendo de errado? Seus dois problemas principais foram que eles tentaram ensinar aos iniciados a correr antes de mostrá-los como engatinhar e andar, e eles não incluíram o desenvolvimento do caráter como parte de seu treinamento. O aspirante egoísta, glutão, e de pavio curto, entraria na ordem como neófito, e sairia como um “adepto” ainda contendo essas falhas de caráter. Eles são todos capazes de pequenos feitos de magia, e pelo fato de o nível ser baixo, pensam que são adeptos.

Muitas vezes o aspirante começaria a trabalhar com ritual e forças espirituais muito antes de ter aprendido a como sensibilizar seu corpo astral ou desenvolver suas faculdades mágicas. Através de repetição contínua, alguma proficiência poderia ser alcançada, talvez algumas pancadas fantasmais durante uma evocação ou coisa do tipo, mas o resto de seu ser nunca era desenvolvido. O caminho para a evocação deveria ser um caminho longo e frutífero, que preparasse o estudante de modo que, pela primeira vez que ele execute um ritual, ele receba a total experiência, por causa de seu treinamento e as faculdades que ele já desenvolveu. Pessoas que entram na sala ritual para evocar sem tal treinamento estão apenas enganando a si mesmas. Elas irão, é claro, ser as primeiras a te contar que são magas bem-sucedidas, e que elas conversam regularmente com esse ou aquele espírito. Eles dirão que “sentiram” isso ou aquilo, ou receberam essa ou aquela “impressão”, e desse modo “sabiam” que um espírito estava presente. Deixe essas pessoas continuarem desse modo em suas práticas. Na verdade, o que você pode experimentar em uma evocação real não são “sensações” ou “impressões”, mas fenômenos muito reais!

Quantos aspirantes perdidos pensam que executar o Ritual Menor do Pentagrama cem vezes por dia os levará às alturas espirituais? Até mesmo o mago aspirante que medita somente 10 minutos por dia para controle e foco mental fará um progresso em um ano que o outro estudante fará em cinqüenta!

A Segunda Razão

Manuscritos originais Sobrestimados

Um número das ordens populares que surgiram no século 19 estilizou uma parte de suas práticas e rituais, baseando-se em coisas que não continham, na verdade, o valor atribuído a elas. Desses manuscritos, talvez aquele que foi mais usado (e abusado) foi o Livro Egípcio dos Mortos. Embora seja uma bela série de rituais e de invocações, os fundadores de uma pretensa ordem oculta não deveriam precisar de se basear em antigos pergaminhos empoeirados e da interpretação de seus hieróglifos para serem capazes de ensinar magia! Se a fonte deles para muitas de suas práticas e filosofias vem de tais coisas, então isso só serve para demonstrar que eles não tinham experiência prática real através da qual organizavam seus ensinamentos, e não eram treinados por adeptos verdadeiros que podiam iniciá-los numa linha de sucessão de mestre e discípulo. Simplesmente o fato de se ler algo que está disponível num Museu de História Egípcia nunca poderia ser o suficiente para permitir que alguém iniciasse uma ordem ocultista.

O Livro Egípcio dos Mortos não foi a única coisa atacada pela ignorância dos autoproclamados adeptos, no entanto. Sua hostilidade os levou também ao coração de Jerusalém, onde eles se uniram, com suas facas, para despejar terror sobre a Cabala. Usando dois ou três textos hebraicos pobremente traduzidos, eles presumiram ter diante deles informação cabalística suficiente para uma compreensão do sistema inteiro. Assim sendo, eles roubaram uma pequena parte desse sistema glorioso de misticismo e a levaram de volta a suas ordens, onde eles tentaram ao máximo fazer com que um fragmento se parecesse com algo completo.

A Cabala ocidental moderna, frequentemente chamada de Cabala Rosacruz (erradamente), se tornou apenas uma fina camada de manteiga espalhada em muito pão. Interpretações e mais interpretações bombardearam o sistema, e o tornaram inteiramente sujeito aos caprichos filosóficos de intelectuais e estudantes de simbolismo. Agora, reconhecidamente, a beleza da Cabala é a de que ela é um sistema universal, cuja ideia pode ser aplicada fora do esquema judaico. Porém, tudo deve ter seus limites razoáveis, e esses limites foram ultrapassados há muito tempo atrás pela maioria dos autores desse assunto. Se você quiser relacionar a esse esquema os deuses de outras religiões, os nomes divinos judaicos, plantas, animais, ações, planetas etc, tudo bem com isso, mas essas relações deveriam fazer ao menos sentido!

A mais infeliz destruição da Cabala não ocorreu em relação ao simbolismo empregado ou a seu papel como um método de categorização conveniente. Embora essas duas coisas tenham saído do controle, elas não são a jóia da Cabala. A jóia, o verdadeiro tesouro, é sua real aplicação prática na ciência da magia. Essa jóia tem sido quase inteiramente esquecida por ordens modernas e autores, que proclamam que a aplicação prática da Cabala reside somente em se conhecer quais nomes divinos ou cartas de tarô correspondem a quais sephiroth e a quais caminhos. Esse é um dos usos da Cabala, mas não é a verdadeira essência da Cabala prática posta em execução. Em sua raiz, anterior a todas as culturas, num nível muito mais profundo do que qualquer associação religiosa, a Cabala é uma bela síntese de forma, de som e de virtude. Isso pode ser dito de outra maneira, ao se afirmar que a Cabala combina, numa maneira prática, os três pilares primários de quantidade, vibração e qualidade. Isso se torna aplicado tangivelmente como luz, som e vibração. Quando isso é compreendido pelo iniciado, então, muitas portas são abertas a ele, e o uso prático da Cabala é entendido. Então, em vez de passar horas num devaneio espiritual, tentando fazer “pathworking” de uma esfera para outra, o adepto consegue absorver praticamente as autoridades e poderes daquela esfera e conquistá-los diretamente, de uma maneira mágica. Não apenas tal abordagem é muito mais eficiente, mas, por causa do maior número de habilidades conseguidas, artigos de sabedoria que se tornam compreensíveis, e por causa de mais trabalho meticuloso em todos os três reinos, é, dessa maneira, uma experiência mais significativa. Passar tempo se contemplando os símbolos de uma esfera pode ser uma prática útil, mas torná-la o curso principal é um erro. A consciência se expande mais quando todo o ser se torna imergido nas energias através de suas utilizações, não apenas através de sua contemplação.

A Cabala e sua aplicação apropriada devem ser, necessariamente, reservadas para um trabalho posterior em minha vida, mas é importante para o estudante sincero da magia de hoje compreender que uma das pedras angulares da magia ocidental moderna foi enormemente corrompida, e que ela não é tudo que as pessoas tentam fazê-la parecer. É meu conselho ao aspirante, se ele deseja aprender a Cabala, que espere até que um professor apropriado seja conseguido. Deixo que o estudante avançado contemple, nesse meio tempo, o significado da sabedoria de Poimandres a Hermes Trismegisto, quando ele disse, “A vida é união da palavra e mente.” O estudante que consegue entender isso, mais especialmente em conexão à formula Abracadabra, começará a pegar a essência da Cabala prática.

Portanto, acontece que os fundadores das ordens mágicas eram, simplesmente, intelectuais. No início, eles só eram mais avançados que o homem comum, em vista de sua compreensão superior de linguística e sua vontade de visitar frequentemente os museus. Por causa de sua habilidade de apenas traduzir, não por sua proeza mágica, tais homens eram tratados como adeptos. Embora houvesse alguns raros, como MacGregor Mathers, que eventualmente se tornou um adepto por um curto tempo, em essência, a maioria deles era simplesmente de intelectuais. Intelectuais podem treinar intelectuais, mas eles não têm nem uma ideia de como criar magos.

A Terceira Razão

A Corrupção da Magia para a Realização de Desejos Pessoais

Quando se folheia livros sobre espiritualidade, e até livros que, supostamente, ensinam a evolução espiritual, descobre-se que a maioria dos ensinamentos espirituais se adequou à satisfação de paixões e desejos mundanos. Ironia peculiar, porque o indivíduo iluminado compreende que essas duas coisas (evolução espiritual e desejos materiais) não podem vir juntos, porque um é contraprodutivo à consumação do outro. Eu não consigo deixar de rir alto ao ler títulos tais como “Tornando-se um Mestre Ascencionado: Como Materializar Todos os Seus Desejos”. Seria igual a intitular um livro de “Tornando-se Elevado: Como ser Inferior.”

A poluição da tecnologia espiritual foi uma inevitabilidade quando alguns relances das leis espirituais foram obtidos pelas massas indisciplinadas. O homem normal, abatido pela tristeza, procura um caminho fácil de sair dela, e erradamente acredita que ele encontrou a alegria dentro dos salões da espiritualidade. Realmente, nada poderia ser mais distante da verdade. Essas pessoas, desejando modos de alcançarem facilmente todos os seus desejos mundanos e terem sucesso, glória, honra, riquezas etc, se trancam ao pequeno número de leis espirituais que foi publicado, nas esperanças de usá-las para seus próprios fins egoísticos. Eles lêem um livro que discute alguns dos pequenos mistérios, e então corrompem essas chaves para fins egoísticos. Se eles tiverem algum sucesso, eles ficam cheios de excitação e, ansiosamente, escrevem livros ou criam websites que pregam os bons ensinamentos do egoísmo. Desse modo, em apenas poucas décadas, a vasta maioria de livros “ocultistas” se tornou livros que prometem ao homem fraco e egoísta um caminho fácil, ao se usar leis ocultas básicas para abastecerem seu animalismo. As pérolas foram jogadas aos porcos, e, tão certo quanto o sol deva nascer e se pôr novamente, também os porcos pisaram sobre essas pérolas, aprofundando-as na lama.

Muito mais perigosos do que o homem de negócios ambicioso desejando modos de aumentar seu portfólio, ou do que aquelas pessoas em sofrimento que procuram por um modo fácil de sair dele, são aqueles que perseguem seriamente a magia prática e ainda assim a corrompem numa arte egoística. Eles proclamam, ignorantemente, “A Magia é uma ferramenta do homem, e deixemos o homem usá-la para conseguir tudo que ele deseja!”. Eles gritam orgulhosamente, “Faça como quiser, tudo é caos mesmo, e não existem repercussões negativas”. Tais pessoas cegaram a si mesmas a até a mais básica das operações, observada até na própria natureza. Elas são tão cegas, contudo, que nem percebem que suas “realizações” não são realmente mágicas. Elas são egoístas e egoísticas, e, realmente, executam apenas truques de salão. Elas ficam tão presas em suas ilusões de sucesso por terem sido capazes de ganhar um aumento de salário ou seduzir alguém que não percebem quão fracos e inferiores esses pequenos truques são. Quando essas pessoas, iludidas como são, passam para os mundos espirituais depois da morte física, eles percebem imediatamente o tempo que gastaram, e depois de servirem o seu tempo, voltam ao mundo para levarem uma vida mais frutífera. Por eles nunca terem buscado uma realização imortal, e não “construíram seu tesouro no céu”, eles não estão mais distantes no caminho supremo do que o homem mediano. Esse é um ponto importante, que todos aqui deveriam dedicar à memória: você NÃO CARREGA poderes mágicos com você para a sua próxima encarnação. Até que você alcance henosis, que é a deificação e a imortalidade do corpo astral, a única coisa que continuará a crescer e expandir, de uma vida a outra, é a sua consciência. Isso irá, naturalmente, carregar algumas siddhis, que são poderes inerentes, mas não os frutos de uma grande parte de seu treinamento mágico. O corpo astral cresce e evolui de uma vida a outra, como resultado de treinamento mágico, e discutiremos isso mais no futuro.

Por causa da obsessão com os pequenos mistérios, que podem ser aprendidos até antes de alguém ter alcançado um caráter iluminado, as pessoas se tornaram satisfeitas com o aperitivo e esqueceram até que a entrada principal exista. O resultado disso é que o termo “magia” tomou um significado ambíguo, que nunca pretendeu de ter: na mão esquerda, refere-se simplesmente à mudança de acordo com a vontade, e, na mão direita, significa a perseguição da evolução espiritual. Se o mundo fosse um lugar bom e o último significado de magia o mais bem conhecido, todos compreenderiam que a magia é uma maneira de se buscar Deus. Esse não é o caso, contudo, e o mundo é um lugar predominantemente egoístico. Assim, a mais comum compreensão do quê magia significa é fenomenalmente egoísta e corrompida. Através da graça de Deus, o século por vir verá uma evolução acontecer dentro do mundo da magia, no qual esse grande e glorioso caminho será exaltado à sua altura correta em seu mérito espiritual.

A Quarta Razão

Preguiça

Na medida em que a tecnologia avança e o mundo material se torna mais e mais uma parte do ser de alguém, as pessoas têm se tornado mais e mais preguiçosas. A preguiça, é claro, é um instinto diretamente conectado ao egoísmo, o qual vimos acima como um desejo dominante no modo com o qual as pessoas abordam a magia. Assim, a preguiça também é inerente na maioria das abordagens das pessoas à magia.

Hoje, as pessoas se acostumaram a ter tudo em suas mãos. O sucesso se tornou definido como se fazer o mínimo possível para alcançar alguma coisa. Pessoas ao redor do mundo, todos os dias, prefeririam passar dez minutos em busca de um controle remoto do que levantarem e ligarem ou desligarem a televisão em poucos segundos de esforço físico. Essas pessoas abordam a magia do mesmo modo. Querem saber onde o controle remoto para a evolução espiritual está, de modo que eles possam se ligar em Samadhi quando não estão muito ocupados para Deus, e então o desligam novamente quando eles têm coisas “melhores” para fazer. Do mesmo modo que se procura por um controle remoto, eles gastarão uma hora numa livraria procurando por um livro “torne-se um mago rapidamente”, quando o fato de se gastar até mesmo dez minutos daquela hora em meditação teria sido muito mais benéfico.

A profundidade do egoísmo da pessoa comum nunca cessa de me impressionar. Eu falo a eles sobre magia, e sobre se procurar Deus e evolução espiritual, e eles desistem porque soa como “muito trabalhoso”. As mesmas pessoas que não jogarão nem dez dólares para um dízimo também não darão a Deus nem dez minutos de seu dia. “Eu dou a Ele uma hora por semana todo domingo”, dizem para si mesmos. “Se isso não é bom o bastante para Ele, Ele precisa superar isso. Eu estou ocupado.”

A falta de habilidade de se perturbar a rotina usual de preguiça por até poucos minutos, por Deus, é precisamente o que muitos autores e os chamados professores pregam hoje. Eles ganham centenas de milhares de dólares ao escreverem livros especificamente criados para esse tipo de pessoa, dizendo a ela “É normal ser preguiçoso”. Nos olhos desse autor, é claro que é normal. Essas pessoas irão torná-lo rico!

Formas de magia que estão surgindo hoje estão refletindo essa preguiça. As pessoas estão tentando convencer outras de que a magia pode ser um esporte de um tipo fácil, e que tudo estará bem. O que eles estão ganhando? Eles estão convencendo pessoas de que magia não é real, porque, depois de tentarem essas tentativas preguiçosas e não verem nenhum resultado, proclamam que, uma vez, tentaram fazer magia e descobriram que era tudo mentira. Nunca diriam que talvez eles só estivessem sendo preguiçosos. O homem comum se levanta orgulhosamente e grita, “Eu, com certeza, não sou o problema!”.

Não espere ter uma boa colheita sem primeiro trabalhar o solo e cultivar as plantas com cuidado. Não espere ter uma boa refeição sem primeiro cozinhá-la. Não espere chegar a um lugar distante sem viajar até lá. O universo não é mau; mas ele não atenderá à sua egoística letargia.

A Quinta Razão

Egomania

A quinta razão que eu observei como fonte dos problemas de hoje na magia, é a egomania geral que infesta o mundo ocidental. No mundo de hoje, somos constantemente ensinados a sermos individuais, que ser único é o sonho humano, que você é especial e diferente de todo mundo, e que tudo isso é bom e verdadeiro. Infelizmente, o incorreto nessas autoafirmações é uma ligação fenomenalmente resistente à falsa percepção de quem se é. As pessoas se tornaram absolutamente investidas em suas cascas de ego que permeiam a parte mais externa de sua personalidade, e a defendem selvagemente.

Um dos medos mais comuns que as pessoas têm no que diz respeito à evolução espiritual é a perda de autoidentidade. Esse medo é baseado sobre duas percepções inteiramente falsas: a falsa percepção do que a iluminação é, e a falsa percepção de si mesmo. Quando esses dois se unem, um medo intrínseco surge, colocando muralhas entre a mente e a ideia de realização espiritual. Em algum ponto, as pessoas colocaram em suas cabeças que a destruição do ego é a destruição de sua personalidade, de seu caráter, e isso é, simplesmente, não verdadeiro. É, na realidade, simplesmente, a purificação do seu caráter, de modo que se eliminem os vícios e defeitos maiores, removendo-se assim o desequilíbrio espiritual. O problema real surge quando alguém é tão defensivo de sua personalidade que defenderá até mesmo seus vícios. Eles dirão coisas como “Claro, eu sou um mentiroso crônico, mas isso é quem eu sou, é assim que Deus me fez”. Tal ideia é inteiramente sem fundamento. Você não é um mentiroso crônico, porque, em sua essência, você é Deus. Apenas sua casca de ego mais externa é mentirosa, e não foi porque Deus o fez, mas por causa de suas ações que você, conscientemente, escolheu perseguir. Contudo, as pessoas não aceitarão isso.

Isso cai novamente no quarto problema, o da preguiça. As pessoas desejam tudo por nada, ou, se elas investem dez dólares, querem instantaneamente cem dólares de volta. Elas não acreditam que um relacionamento com Deus é um relacionamento recíproco, mas sim que é um relacionamento de “servidão”, onde Deus dá tudo, enquanto nós recebemos. Não funciona dessa maneira; nunca funcionou, nunca funcionará. Deus é um pai melhor que isso. Infelizmente, as pessoas prefeririam se apegar a seus vícios do que oferecerem seus aspectos negativos ao fogo alquímico para que sejam destruídos. A uma pessoa assim, o “ser único” é sempre mais importante que a Divindade. Existe esperança para tal pessoa? Você não pode ajudar alguém que não ajuda a si mesmo.

A falta de desejo de se sacrificar as falhas pecaminosas de caráter resultou não apenas na corrupção da magia, mas contribuiu grandemente à queda de um grande número de ordens ocultistas. No campo geral da magia, autores não treinados, que não são mais maduros do que uma criancinha de um ponto de vista mágico estão lançando livros que são absolutamente corrompidos por suas falhas pessoais. No campo das ordens ocultistas, os “adeptos superiores” são ainda crianças egoístas que tramarão vários dramas dentro da ordem, normalmente a fim de abolirem a autoridade do Grão-Mestre, de modo que possam competir com esse poder. Uma ordem ocultista genuína consiste de adeptos que ultrapassaram tais simples preocupações, e que nunca tentarão se elevar para prejudicar outras pessoas ou ao risco de prejudicarem um bem maior. Quando pessoas são permitidas a carregarem todas as suas falhas mundanas para uma posição de, supostamente, autoridade divina, o caos deve, necessariamente, resultar. Precisa-se meramente olhar a história do Papa para ver as evidências.

Deveria ser suficiente, nesse meio tempo, enfatizar que aspirantes nunca são postos em algum programa de lavagem cerebral que faz com que eles pensem e ajam de um modo determinado. Isso não poderia ser mais verdadeiro. Cada pessoa tem uma personalidade absolutamente única, e essa personalidade é uma expressão muito real do próprio Deus. Desse modo, todos são um avatar, uma manifestação de uma Personalidade Divina. A diferença entre uma pessoa comum e um santo realizado, porém, é a de que a pessoa comum turvou e sujou sua personalidade divina com uma lama imunda, enquanto o santo realizado poliu sua alma de modo que sua verdadeira personalidade pudesse brilhar. Você não é quem pensa que é! As pessoas acreditam que são tão velhas quanto seus corpos físicos, mas, na verdade, você é muito mais velho. Pelo fato de que a única personalidade que você pode lembrar é aquela em seu presente corpo, que tem apenas alguns anos de idade, você pensa que é você. A verdade é que você tem uma personalidade universal, uma personalidade muito única, sendo a única expressão total de Deus em essa forma exata, que esteve por aí por muito mais tempo do que o seu corpo. Deslocar a sua identidade de si mesmo da falsa percepção de seu corpo, para o supremo local de sua alma, é a meta da Grande Obra, a Verdadeira Alquimia. Para fazer isso, você deve remover gradualmente a lama que se acumulou como um grosso muco sobre sua alma, de modo que você se torne o você verdadeiro, em vez de esse você mortal e temporário. A personalidade que você tem neste momento tem todas as virtudes positivas da sua alma, mas você adicionou a elas os vários vícios e defeitos que você adquiriu nesta e nas últimas encarnações. A sua personalidade pode ser vista como uma parede cheia de buracos. A luz que brilha através desses buracos é sua personalidade real, enquanto o resto da parede é a imundície e o muco com o qual você se cobriu. A meta da sublimação pessoal é fazer com que o seu inteiro ser brilhe com pura luz.

Isso é, como muitos assuntos do oculto são, uma coisa difícil de ser explicada se usando a linguagem humana. Até com a explicação acima, será difícil, até para os mais inteligentes leitores, absorverem exatamente o que eu estou tentando dizer, até se pensam que compreendem. É algo que deve ser experimentado individualmente para saber, e, portanto, eu evitarei qualquer discussão compreensiva sobre isso.

A Sexta Razão

A Destruição da Sucessão de Mestre e Discípulo

A sexta maior razão para o deplorável estado da magia moderna é a destruição de uma linha de sucessão entre o guru e chela, mestre e discípulo. Quanto mais pessoas lançaram vários livros contendo os Pequenos Mistérios, mais pessoas começaram a, lentamente, substituir o mestre pela estante. Eles colocam em suas cabeças que, desde que consigam ler muito, nunca precisarão de um professor. Não é preciso dizer que essa abordagem raramente encontra sucesso. Por razões que já foram clarificadas, a vasta maioria dos livros de hoje é quase inteiramente inútil para alguém que esteja procurando por um meio prático e eficiente de autoavanço. Seu conhecimento pode crescer, mas sua alma normalmente não.

Uma razão para essa substituição, que deveria agora ser óbvia ao leitor, é o fato de que as pessoas hoje simplesmente não gostam da ideia de um professor, de um guru. Um mentor é, às vezes, bem recebido, mas apenas sob a exigência de que o mentor não seja saudado com muita apreciação, e a de que ele possa ser facilmente afastado. O ego da maioria das pessoas as leva a odiar a ideia de serem subservientes a um verdadeiro professor, por até mesmo pouco tempo, para assegurarem sua evolução espiritual. Isso as faria sentir menos sagradas que o guru, o que, de fato, elas são, e isso machucaria demais os seus egos. Dessa forma, elas não tolerarão isso.

Isso tudo fez com que muitos autores de hoje não tenham recebido treinamento legítimo de um professor verdadeiro. O conhecimento que eles apresentam em seus livros é, simplesmente, a mesma informação reprocessada que qualquer um poderia armazenar com tempo suficiente numa biblioteca, e eles, portanto, não se tornaram melhores que seus predecessores uma centena de anos atrás, os quais pensavam ser adeptos simplesmente por causa de sua habilidade de compilar a informação disponível. Tais autores, assim, começaram uma tendência que infectará totalmente os autores do amanhã, e, dessa maneira, solidificará essa tendência infeliz e autodestrutiva. Eu rezo seriamente para que, no futuro, mais adeptos que tenham passado por treinamento real nas mãos de um professor treinado dêem um passo à frente e passem os ensinamentos de seus mestres para o mundo. Até se isso acontecesse, cada livro deveria dizer dentro de suas páginas o que eu estou precisamente para dizer: embora o conhecimento ajude e ilumine a mente, a iluminação da alma deve ser recebida de um bom professor.

Por que você não pode fazer tudo sozinho? Por que você não pode ser aquele “lobo solitário” sobre o qual você ouviu falar? Aquele lobo solitário e durão que nunca precisa da ajuda de ninguém? Supere você mesmo. Você não pode fazer isso sozinho porque você nem sabe o que fazer ou onde começar, e se você soubesse, você não entenderia como fazê-lo mesmo assim. Se você pode derrotar o seu ego o suficiente para admitir isso, então você pode ainda ter esperança para o Reino de Deus. Se não, então você está muito mais interessado em si mesmo do que em Deus. Um livro pode sugerir lugares para começar, pode fornecer fórmulas e técnicas práticas (embora poucos, muito poucos o fazem) e podem até suprir uma rotina de treinamento completa. Até se você tenha esses livros memorizados, a quem você se voltaria quando um obstáculo surgisse que você não pudesse superar intelectual ou espiritualmente? Se você, embora com treinamento rigoroso, não visse resultados, como adivinharia o porquê disso? De qual lugar você receberia a informação que nunca foi antes publicada? Além disso, você seria forçado a aceitar a legitimidade de qualquer sistema de treinamento ou séries de informação, baseado inteiramente sobre a sua própria crença. Quando você tem um bom professor que está lhe iniciando diretamente, numa linha de mestre e discípulo, na magia genuína, então você tem alguém para se referir como um modelo e um exemplo. Você consegue ver quão efetiva essa abordagem à magia é, toda vez que você vê o seu professor. Através das ações dele, você pode decidir se o sistema é válido ou não. Dessa forma, o professor destruirá níveis de dúvida que, frequentemente, infectam pessoas que se submetem ao que agora é popularmente chamado de “autoiniciação”.

Neste ponto, nós dificilmente poderíamos continuar sem uma rápida consideração de uma jóia em particular, o livro O Caminho do Adepto, pelo Mestre Arion, Grande Iniciador Rosacruz, o S.F.C.R. (Sagrado Frater Christian Rosencreutz), que vocês conhecem pelo nome de Franz Bardon. Essa grande alma, um dos doze maiores adeptos mestres na inteira Fraternidade Branca, que governa particularmente sobre a iniciação, veio ao mundo em total Nirvikalpa Samadhi, na glória de seu corpo astral imortal, por toda a humanidade. Houve um grande sacrifício nisto.

Urgaya o invocou e ordenou que, enquanto estivesse aqui, ele lançasse ao mundo os primeiros três dos vinte e dois estágios de iniciação da Fraternidade Branca. Ele o fez, mas, do mesmo modo que Veos e eu fizemos, ele suavizou o sistema consideravelmente, para alcançar e ajudar o maior número possível de pessoas, enquanto tomava como estudantes pessoais aqueles poucos que estavam prontos para os ensinamentos mais sérios. O resultado desse serviço altruísta foram os três livros que ele escreveu, que foram feitos para levar o estudante até o ponto em que ele atraia um mestre espiritual que o inicie nos Grandes Mistérios. Embora essa trilogia seja excelente, particularmente seu primeiro livro, O Caminho do Adepto, eles ainda contém todas as inibições que um livro traz. Você não pode perguntar questões ao livro, não pode receber experiências espirituais dele, não pode chorar nos seus ombros quando o mundo parece ter se voltado contra você. O livro não irá assumir o seu karma para te ajudar, não limpará suas nadis e trabalhar nos seus chakras, não imergirá você, amavelmente, em sua própria aura. Acima de tudo, não servirá como um canal de mediação entre sua Kundalini pequena e a Kundalini Cósmica superior.

É minha convicção, baseada na experiência, que existe somente um tipo de pessoa que pode se submeter à autoiniciação com sucesso sem nunca ter tido um professor. Deve ser um adepto reencarnado que está simplesmente recapitulando seu desenvolvimento mágico de vidas passadas. Para tal pessoa, na medida em que ele aprende até apenas técnicas básicas, suas memórias mágicas começarão a, quietamente, voltar a ele, na forma de intuição acurada sobre como certas coisas deveriam ser executadas. Essa intuição mágica guiará suas ações, e sua alma guiará a consciência aos lugares corretos. Essa pessoa não precisa de um professor. Porém, a um tempo atrás ele certamente teve um, e se não tivesse sido pelo professor, ele nunca teria se tornado o adepto que se tornou.

A Sétima Razão

A Remoção de Deus da Situação

Na medida em que o mundo se torna, gradualmente, mais materialista, uma escuridão começa a envolver o intelecto de pessoas inteligentes. É um tipo de doença que dá a uma pessoa cegueira e a torna surda; de fato, deixa-a quase completamente insensível a qualquer estímulo. O nome dessa aflição, que paralisa e torna mudos todos os três corpos, é chamado Ateísmo. Quando algumas pessoas são afligidas por ele, tornam-se totalmente desafiantes contra todos os impulsos espirituais que sugiram a existência de Deus. Eles são uma ninhada de pessoas peculiar, sendo ignorantes ao grau de se tornarem engraçados aos olhos do iniciado.

Existe uma ninhada particular de ateístas que é mais divertida que todas as outras. É uma ninhada relativamente nova, que apareceu apenas neste século passado. Esse tipo de pessoa é um ateísta que acredita que fenômenos espirituais são, na verdade, fenômenos físicos num nível altamente refinado, e dessa forma buscam explicações para as coisas espirituais. Eles não negarão que as energias dos elementos, por exemplo, existem. Eles simplesmente pensarão em alguma teoria absurda e estúpida de como essas energias são apenas divisões de uma substância mental física, mas enormemente refinada, e que suas qualidades atribuídas são algum tipo de ilusão. Eles dirão que espíritos são as expressões externas de arquétipos subconscientes na psique, e sugerem que, quando eles são conjurados à aparência visível, tudo que está ocorrendo é autohipnotismo. Essa estranha espécie de pessoa fará tudo pelo motivo de ser capaz de sugerir que Deus não existe, que mundos espirituais não são reais, que não existe alma, etc, etc.

É óbvio ao iniciado que qualquer pessoa que se submeta ao treinamento adequado possa provar a si mesma além de qualquer possibilidade de dúvida que espíritos não são arquétipos pessoais, que mundos espirituais existem, que existem energias externas diferenciadas, que a alma é real e imortal, e que Deus é uma verdade eterna. Qualquer pessoa que sugere ao contrário está fazendo-o do ponto de vista da teoria e especulação somente, e não tem base prática na magia. Embora o iniciado devesse sempre mostrar respeito sobre a opinião da outra pessoa, de modo a não causar conflito imediato e desconforto, ele não deveria permitir ser persuadido por tais argumentos. Frequentemente, essas pessoas são ótimas em argumentar e debater, mas não podem fazer quase nada a esse respeito com magia verdadeira. Dessa forma, deixe-os falarem a si mesmos enquanto você quietamente volta a sua mente à meditação sagrada.

Isso precisa que consideremos um ponto importante, contudo. Apenas você, no fim, pode provar a si mesmo a realidade de todas essas coisas. Apesar de todos os meus poderes e siddhis, eu não posso fazê-lo. A mente animal duvidará da sua escolha de perseguir esse caminho a cada virada, e, acima de tudo, também tentará me fazer duvidar, não importa o que eu faça. Alguns exemplos podem ilustrar bem este ponto. Ano passado, quando eu estava morando com um grupo de oito aprendizes (com mais cinco visitando regularmente) num belo lote de 5 acres firmado entre árvores e invisível a todos os vizinhos ou à estrada, uma grande tempestade apareceu sobre nós. O vento uivava ferozmente, a chuva parou por um momento, e, então, no pátio próximo a nós, um tornado começou a descer. Os aprendizes, até Veos (até hoje eu brinco com ele sobre isso!) ficaram muito assustados. Na verdade, eu estaria assustado também, apesar da minha confiança para lidar com a situação, se eu não tivesse aberto meus olhos de uma maravilhosa hora de meditação profunda no momento em que o tornado começou a surgir. A mim, naquele estado elevado de felicidade, o tornado era apenas uma demonstração da natureza para ser amada e reverenciada. Apesar disso, eu me esforcei o suficiente para me convencer de que o tornado, tão próximo à casa, era uma coisa ruim. Eu me coloquei na direção da tempestade, com Veos ao meu lado e ajudando, e nós dois elevamos o tornado de volta ao céu e redirigimos a direção da tempestade para longe da casa. Isso foi feito com todos os estudantes assistindo. Em outra ocasião, apenas quatro semanas antes, eu usei um sigilo para criar uma chama sólida e negra no coração de um grande fogo ritual que todos viram e cuja realidade de sua presença atestaram. No momento em que começou a chover, por ele ser um importante ritual do fogo, eu chamei um espírito que me serve para nos proteger da chuva. A chuva parou, mas os estudantes logo notaram que estava chovendo em todos os lugares da propriedade, menos no lugar onde estávamos!

Eu estou relembrando essas coisas não para glorificar a mim mesmo, mas para ajudar a ilustrar este assunto. Embora eu demonstrasse essas aparentemente “maravilhosas” ocorrências, sem pouco esforço meu, eu rudemente exibia a magia aos meus estudantes como um prêmio por sua devoção duradoura aos meus ensinamentos, e, mesmo assim, essas coisas não preveniam suas mentes de, às vezes, duvidar que magia não existia. Pouco menos de um mês depois do incidente com o tornado, um dos meus estudantes melancolicamente veio a mim e confessou que ele estava tendo de lutar com a dúvida, porque ele nunca tinha visto antes um poder mágico. Numa classe do Veritas quatro anos atrás, eu tive um estudante para o qual, um dia, eu mandei uma mensagem e informei que ele estava desenvolvendo uma infecção de sinus. Sendo alguém que duvida por natureza, ele decidiu não tomar nenhum remédio. Quatro dias depois, ele pegou uma infecção de sinus, e, num instante, eu o curei da infecção completamente. Eu não consegui mais informações desse estudante, que terminou aquela classe como um estudante de magia muito devotado, por um longo tempo depois que a classe terminou. Eu descobri, poucos meses atrás, que, pouco depois da minha classe terminar, ele decidiu que eu era uma fraude e um mentiroso, e que eu não tinha habilidade mágica ou consciência elevada, e que ele estava convencido de que magia em si pudesse nem ser real.

Essas, e outras experiências parecidas, me convenceram de que não é o dever do professor fazer o estudante acreditar em magia, e, realmente, que o professor não é capaz de fazê-lo, não importa quais habilidades ele possa ter demonstrado. No final, a última evidência convincente que o estudante será capaz de usar para conquistar a dúvida de seu ser inferior é a evidência que surge de suas próprias práticas continuadas, as recompensas de sua fé douradoura em seu caminho.

Mas, voltando ao assunto à mão, é uma grande má sorte ao mundo dos aspirantes sinceros que esses mesmos ateístas estão realmente se juntando para formar sistemas de “magia” juntos, embora esses, na realidade, sejam feitiçaria astral no máximo. Ao fazê-lo, eles estão apelando aos lados animalistas e mundanos da consciência do ego que governa sobre os não iniciados antes de alma ter uma chance de se agarrar a algo significativo. Por tais sistemas de feitiçaria não terem nenhuma ênfase real na moral, por eles não terem ideia nenhuma de Deus ou de avanço espiritual, as pessoas estão se unindo para achar uma desculpa para praticar o que eles pensam que é magia sem ter de desistir de seus modos pecaminosos de viver. Tais pessoas adoram se ostentar, dizendo “Eu descobri que magia é tão efetiva sem o componente espiritual desnecessário”. Eu juro a todos vocês, pelo meu grande amor por essa ciência, que, nos meus anos de magia, eu nunca encontrei, nunca mesmo, nenhum estudante dessa escola de feitiçaria que poderia produzir até a mais simples das demonstrações mágicas. Eu nunca descobri um estudante dessa escola que possuísse alguma das faculdades mágicas a um grau demonstrável ou talvez significativo. Por quê? Porque eles estão praticando ideias, não verdades. Eles estão tentando fazer com que o universo satisfaça os seus próprios desejos egoísticos, em vez de quererem sacrificar qualquer coisa que seja para se tornarem magos reais.

A Oitava Razão

Charlatãos

À luz de todas as razões previamente mencionadas, deveria se tornar óbvio que charlatãos e fraudes naturalmente surgiriam. A falta quase total de iniciados verdadeiros e adeptos conhecidos às pessoas comuns tornou impossível se comparar uma fraude contra a coisa real. Os fraudadores, é claro, saberão isso, e usam isso ao seu favor. O fato de que existam tantos enganadores que se tornaram muito bem-sucedidos não sugere em momento algum que eles tenham alguma habilidade, mas, em vez disso, simplesmente mostra o quão mal informada e enganada a pessoa comum é nesses assuntos.

Bem como fizeram no início dos anos 1900, médiuns começaram a ir e vir e a escreverem pilhas de lixo para encherem as estantes das livrarias modernas. Essas pessoas, que são normalmente tão boas em enganar a si mesmas quanto a enganar os outros, lançam livro após livro. Eles escrevem centenas de páginas, e ainda, de alguma forma, não dizem nada nelas. Eles citam seres espirituais como a fonte de sua sabedoria, ou guias espirituais, ou animais totem, ou trevos de quatro folhas e tal nonsense. Embora eu ainda não o tenha encontrado, eu estou certo de que exista um médium por aí que alega receber instruções místicas de seu sanduíche de presunto. Não seria mais absurdo que as alegações anteriores. Embora, é claro, uma vez, eu tive uma conversa muito reveladora com uma garrafa de coca-cola, e um espírito decidiu, por uma razão qualquer, falar comigo numa voz audível que até os não iniciados poderiam ter ouvido.

Se tais médiuns estão de fato conversando com seres espirituais, então esses espíritos são muito misteriosos ou são muito estúpidos. Se esses médiuns estão conversando com guias espirituais, eles devem estar precisando despedir seus guias e encontrar novos. Em minhas experiências com seres espirituais, animais totem e guias espirituais, nenhum deles era tão mal informado quanto os desses médiuns. Dessa forma, podemos concluir que é muito provável que eles não estejam falando com nenhum dos acima, mas, em vez disso, que eu estou terrivelmente enganado, e que todos estão, na verdade, conversando com sanduíches de presunto. Se eles estivessem conversando com garrafas de coca, então, baseado na experiência, eu seria levado a acreditar que seus livros poderiam ter sido melhores.

Nada disso implica que todos os médiuns são fraudes. É, porém, um infeliz fato que a vasta maioria de fraudadores alegue ser médium, e, se o resto da comunidade de bons médiuns não quiser ser associada com esses charlatãos, então eles deveriam aparecer e lutar contra eles. Eu conheci vários bons médiuns em meu tempo, alguns deles naturais e outros treinados, portanto, essas declarações, de modo algum, se aplicam a esses tipos de pessoa. O leitor observador, porém, será capaz de fazer uma caminhada, achar uma estante de New Age numa livraria popular e ser capaz de ver precisamente de quais autores eu estou falando.

O grupo de médiuns impostores é apenas uma das duas maiores categorias de fraudadores na comunidade ocultista. Para a pessoa firmada em pensamento racional e com pelo menos alguma educação em literatura ocultista, os médiuns impostores são comparativamente fáceis de serem reconhecidos. Embora eles agarrem um número entristecedor de otimistas da New Age, os mais eruditos tendem a ficar longe deles. É, portanto, minha opinião que o mais perigoso dos dois grupos não é o médium impostor, mas o sim mago impostor.

O mago impostor é muito mais difícil de distinguir, e apenas alguém que é firmemente enraizado na experiência prática pode descobrir o disfarce. Existem autores que escrevem livros que fascinam seus leitores sobre simbolismo oculto, aparente conhecimento da Cabala, algumas correspodências ocultas etc, e mostram isso como se a experiência os tivesse levado a acreditar nessas coisas. Eu não estou falando aqui de meros ocultistas. Um ocultista é um filósofo, portanto ele se preocupa com as várias cosmogonias filosóficas, em vez de experimentar o lado prático da espiritualidade. Desse modo, é perfeitamente normal para um ocultista falar num nível puramente intelectual, igual ao filósofo. Não, eu não estou me referindo a esses autores, mas aos autores que criam um véu de suposto conhecimento experimental. Essas pessoas são geralmente indivíduos que aprenderam e, subsequentemente, praticaram apenas duas ou três técnicas básicas, e, então, se consideraram a si mesmos grandes magos. Eles escrevem livros sob esse propósito, e prescrevem ridículos regimes de treinamento para seus leitores.

Tudo isso naturalmente resultou numa situação na qual pessoas que queiram aprender magia, queiram comprar um livro e, por causa da probabilidade, pegarão um livro escrito por um autor fraudulento. Percebendo como pessoas que são completamente novas à magia não são tão sábias, elas acreditam em muito do que é dito, e assim a corrupção começa. Muitos desses aspirantes promissores vieram à minha casa por um curto tempo, e eu descobri que, depois de alguns anos de encherem suas mentes com tal lixo, eles se tornaram ligados demais a esses mundos ilusórios para serem salvos pela luz da experiência prática. Espero que, nas próximas vidas deles, suas almas levarão suas mentes a buscarem algo mais elevado.

A Nona Razão

O Silêncio dos Adeptos

Durante o período do Renascimento, e por um tempo após, houve um número de adeptos que escrevia. O advento do aparecimento público dos rosacruzes na Europa, por um pouco tempo, gerou informação suficiente para os autores discutirem por muitos anos. Pessoas como Paracelso, Agrippa e Francis Bacon forneceram suficientemente os Pequenos Mistérios às pessoas. Autores rosacruzes como Francis Bacon promoviam a iluminação intelectual das pessoas, como a Ordem Exterior Rosacruz (que eventualmente gerou a Maçonaria), focada primariamente no avanço espiritual através de conhecimento e de sabedoria em vez da prática. As práticas estavam presentes, mas eram normalmente ritualísticas e reservadas para dias especiais. Os exercícios mágicos verdadeiros eram mantidos para o próximo nível de iniciados.

Autores como esses forneciam tanto uma vantagem quanto uma desvantagem. De um lado, as pessoas estavam engajando suas mentes, pela primeira vez, no feijão-e-arroz da magia teórica. Em vez de lerem sobre demônios e feitiços mágicos, eles podiam aprender sobre o magnetismo espiritual, o archeus, os éteres, a lei de atração, a lei do microcosmo, e por aí vai. Alguns dos Pequenos Mistérios mais básicos tinham finalmente se tornado disponíveis às pessoas. Isso permitiu que leitores da época checassem duas vezes os escritos de pessoas sobre ocultismo contra autoridades conhecidas. Embora fraudes e charlatãos estivessem ainda rampantes, eles não estavam se focando tanto nas contribuições literárias ao ocultismo e assim não deixaram uma impressão duradoura sobre aspirantes das gerações futuras.

Por outro lado, a explosão de informação intelectual sem uma fundação de trabalho prático levaria gerações futuras ao engajamento somente na filosofia, em vez de na magia verdadeira. Isso permitiria a todos que tivessem lido alguns livros a regurgitarem a informação em novos livros e chamá-los seus. Acima de tudo, deixaria muitas questões sem resposta nas mentes de muitos aspirantes sinceros, sobre onde começar e como avançar na magia. A tendência de alguns dos grandes magos do passado de não aceitarem discípulos diretos resultou numa falta de sucessão de mestre e discípulo, como foi falado anteriormente, e o fato de nenhum manual real de avanço na magia ter sido publicado resultaria em autores lançando livros em assuntos puramente teóricos, em vez de terem investigado praticamente suas ideias.

Nos últimos cinqüenta anos, quase não houve adeptos escritores, e até aqueles que escreveram algo normalmente não forneceram uma base prática para os leitores. Toda uma geração surgiu e desapareceu sem ter quase informação publicada confiável sobre magia. É claro, tudo isso aconteceu de acordo com a Providência Divina, e há razões exatas para os períodos históricos de silêncio que os adeptos escritores assumiram e assumem. Ainda assim, é importante considerar os efeitos desses períodos.

Os poucos adeptos que ainda estão por aí no hemisfério ocidental têm permanecido silenciosos, e talvez por razão, porque o dom de expressar ideias na linguagem escrita não pertence a todas as pessoas. Pelo fato de existirem tão poucos adeptos, existem poucos autores entre eles. Eu espero honestamente que, num futuro próximo, isso comece a mudar.

A Décima Razão

A Falta de Expansão da Consciência

A natureza incompleta das deploráveis desculpas de muitas ordens modernas para rotinas de treinamento resultou na quase extinção da real expansão de consciência entre os chamados iniciados. Seus estudantes recebem complicado “pathworking” e várias invocações para executarem, mas esses são meios tão indiretos de progresso que uma inteira vida de prática renderia pouco sucesso. Infelizmente, a lavagem cerebral de muitos aspirantes hoje os convenceu de que um conhecimento simplesmente experimental dos símbolos das esferas elevadas, e até seu funcionamento, é a realização de modos superiores de consciência. Isso simplesmente não é verdadeiro. Até se você colocar sua mente regularmente na contemplação de reinos nos quais vibrações são muito mais elevadas e puras que as suas, nunca se produzirão os mesmos resultados se você tivesse elevado sistematicamente sua consciência a esse nível. Isso dá um bom suplemento, mas não deveria ser a completa abordagem.

Existem duas principais maneiras de se expandir a consciência:

1) Imergir-se em energias, como em invocação ou viagem esférica.

2) A ascensão gradativa da Kundalini psicossexual da base da espinha e órgãos sexuais até o córtex cerebral.

Nenhum desses métodos resultará necessariamente na realização do outro. A ativação dos seis maiores centros inteiros da consciência na espinha não resultará no aumento de vibração no seu corpo astral, para se adequar às vibrações das esferas elevadas, e passar tempo em esferas mais elevadas não despertará automaticamente a Schechinah-Kundalini e despertar as fortalezas, de modo que ela possa entrar e estar com Elohim-Siva. No mago, ambos deveriam ser realizados. O primeiro é a deificação de si de fora para dentro, e o segundo de dentro para fora.

Até os sistemas de treinamento que utilizam pelo menos o primeiro método de ascensão da consciência, sendo o mais comum no mundo ocidental hoje, não prestam tanta atenção a ele quanto deveriam. Muito frequentemente, ênfase excessiva é dada sobre as habilidades mágicas, ou pelo professor ou na mente do estudante. A meta da magia se torna o poder, em vez da evolução da consciência pessoal. Quando nenhuma habilidade é conseguida, ou uma vez que a curiosidade científica do estudante seja satisfeita, o caminho para. É por essa razão que as escrituras orientais advertem tão ferozmente que poderes mágicos devam ser rejeitados, e não porque tais poderes são inerentemente maus. Os iniciados do Oriente compreendiam simplesmente que, se o estudante acreditasse, do primeiro dia de seu treinamento, que habilidades mágicas eram ruins, ele provavelmente não sacrificaria depois sua evolução espiritual por causa da tentação dessas siddhis. Ele não se distrairia. Na realidade, isso não é ruim, e o estudante é altamente encorajado a adquirir várias habilidades mágicas para manifestar a Vontade Divina mais efetivamente no mundo, mas isso deve ser abordado muito metodicamente e apenas de uma base muito bem estabelecida, com os motivos corretos.

“Pathworking” se tornou, infelizmente, o modo principal com o qual as escolas ocidentais tentam fazer com que seus estudantes expandam sua consciência, mas existem muitas desvantagens nisso. O estudante consegue captar uma compreensão intuitiva de esferas superiores ao elevar suas vibrações às delas diretamente. Quando ele tem um flash e uma visão de Tzaphqiel, ele percebe o simbolismo de Luna e de Hécate, e compreende o tridente e os quatro minotauros índigo que cercam o Templo da Deusa de Três Faces e o Homem Nu, e começa a acreditar que ele realmente elevou seu status espiritual à esfera de Yesod. A iluminação intelectual sobre simbolismo universal é confundida com realização espiritual legítima. O resultado é que o tolo que consegue superar as imagens do Demônio de Face de Cachorro e o Portador do Vinho no limiar do abismo intelectual acredita ter fatualmente cruzado esse abismo e emergido no outro lado como “Magister Templi” ou qualquer cargo sua facção possa ter designado para essa realização. A direção do simbolismo, e a natural habilidade da mente de entrar num modo de resolução de problemas, quando confrontada com a diversidade, levou, neste caso, a mente racional a uma série de equações lineares, resultando na compreensão de certos símbolos ocultos. Embora essa compreensão tenha um efeito positivo sobre o espírito, é quase uma blasfêmia dizer que essa estimulação intelectual sozinha pode ser considerada como uma cruzada do Abismo. Quando a respiração cessa, quando a pele se torna gelada e as suturas entre os ossos parietal e occipital do crânio ficam quentes, quando visões de anjos e personificações de Deus aparecem no olho da mente, quando todas as escrituras se tornam instantaneamente compreendidas, quando os joelhos de cada anjo e arcanjo se dobram em reverência, quando a aura se estende para encompassar um inteiro vale, quando a palavra se torna universalmente criativa, então saiba que o abismo foi cruzado. Procure o homem com o inteiro universo em seus olhos; ele é um deus.

Isso deve bastar por agora. O estudante terá agora uma sólida compreensão dos problemas no modo com o qual a magia é frequentemente praticada hoje, e, com esse conhecimento, ele pode escolher começar seu caminho com uma compreensão correta e a salvação resultante desta bela ciência. Eu forneci nesta aula meras linhas de direção pelas quais o estudante pode checar a si e àqueles que se chamam gurus. Busque o homem que fala da autoridade da experiência, e não da autoridade dos livros.

#Magia #Pessoal

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Cthulhu pode ser pacificado?

Neste vídeo falaremos sobre “O Chamado de Cthulhu”, a obra mais conhecida do mestre do horror cósmico, H. P. Lovecraft. Através de uma análise da vida do autor, de seu isolamento social, do amor pela literatura clássica e a aversão as culturas não europeias, tentaremos explicar como o próprio Cthulhu pode ser um deus em seu aspecto colérico – como dizia Joseph Campbell. Seriam os deuses monstruosos de Lovecraft uma mensagem do seu inconsciente para ele mesmo?

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#Lovecraft

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/cthulhu-pode-ser-pacificado

Aldous Huxley

por Marco Scott Teixeira

Na cidade inglesa de Goldaming (Surrey, Inglaterra), onde nasce a 26 de julho de 1894, Aldous Leonard Huxley passa uma infância de menino tímido.

Quando começa a cursar o colégio de Hillside, revela-se um aluno inteligente e esforçado, que escreve poesias entre uma aula e outra e aproveita o recreio para decorar seu papel numa peça de Sheakspeare, tradicionalmente encenada no fim do ano letivo. Com treze anos, obtém seu primeiro “sucesso literário”. A publicação de seu poema “Cavalos do Mar” na revista da escola.

Em 1910, ingressa no colégio de Eton, reservado às crianças de famílias ricas. E Aldous tem razões para se orgulhar de seus parentes: o avô paterno, Thomas Huxley, fora médico e zoólogo de renome; o irmão mais velho, Julian, iniciava brilhante carreira de biólogo.

Também Aldous demonstra este interesse familiar pelas ciências naturais: quando sua cegueira começa a se manifestar, ele está olhando através de um microscópio (1910). A doença progride até que ele só possa ver sombras indistintas, mas desaparece ao fim de oito meses. (A desagradável experiência seria descrita em A Arte de Ver, publicada em 1943.) Em 1914, quando o trauma causado pela doença já está superado, Aldous recebe novo e profundo abalo: seu irmão Trev suicida-se.

Tudo isso faria do menino solitário um homem precocemente amadurecido, cuja obra refletiria a amargura e o pessimismo irônico e resignado de seu caráter.

Mas essa sofrida maturidade não impede que, aos 25 anos, Aldous seja um noivo nervoso e embaraçado. Em 1919, casa-se com Maria Nys, quatro anos depois de ter se formado em letras pela Universidade de Oxford. E a vida de casado viria a ampliar a atividade literária que começara em 1916, quando ele publicara versos na revista Wheels, editada pela poetisa Edith Sitwell (1887-1964), e que continuara em 1919, quando passara a colaborar no Athenaeum, revista dirigida pelo crítico John Middleton Murry.

Fugindo da agitação das grandes cidades, o casal aluga um chalé retirado, na Suíça, onde ele passa a maior parte do tempo escrevendo. Maria datilografa os manuscritos (Aldous jamais se habituaria à “diabólica” máquina de escrever) e, mais que esposa e secretaria, é um estímulo à produção do marido. Faz o impossível para que ele escreva romances e ensaios sem se deixar vencer pela insegurança e pela severidade do julgamento que dispensava a seus textos. Sua coluna de crítica dramática da Westminster Gazette, por exemplo, é quase uma consagração, mas ele tem a sensação de estar enganando o público. Maria consegue vencer esses anseios injustificados e leva Aldous a escrever dia e noite. Só interrompem o trabalho para breves passeios pela floresta ou viagens ocasionais à Itália (país que fascina o escritor e ambiente de muitos dos seus romances) Surgem o Limbo (1920), Crome Yellow (Amarelo Brilhante, 1921) e Essas Folhas Murchas (1925).

De 1928 é Contraponto, romance incomum, saudado e criticado no mundo literário da época, em que faz uma ousada elaboração formal ao construir um romance dentro de um romance e adaptar a estrutura na “Suíte Número 2 em Si Menor” de Bach à narrativa em palavras. Nele, Aldous denuncia o que acredita ser a impossibilidade do amor, da comunicação e da arte na sociedade excessivamente racionalizada, cheio de sofisticação e materializada da Inglaterra de entre-guerras. A intelectualidade britânica é mordaz e implacavelmente dissecada – Huxley está se colocando ao lado de James Joyce, Virgínia Woolf e D. H. Lawrance, inovadores que recusam criticamente a sociedade em que vivem. O misticismo e a angústia intelectual do pós-guerra estão sendo substituídos pela reação desesperada a um mundo cada vez mais tecnicista e impessoal, e Aldous, fustigando as injustiças e a hipocrisia, anseia pela volta do homem aos princípios básicos da sua natureza.

Admirável Mundo Novo, de 1932, é uma utopia na qual a fé no progresso científico e materialista é cruelmente ridicularizada: Aldous descreve em minúcias uma sociedade que resolveu o problema do excesso de população esmagando racionalmente qualquer individualidade. Outro ponto importante é o consumo. No livro, tudo gira em torno da questão do consumo, como hoje, onde vivemos atrás de marcas e etiquetas. O livro é muito bem aceito – talvez por alertar os leitores para um possível estado da sociedade futura, e se manteve conhecido através de sete décadas provavelmente por seu tom panfletário e porque quase todo mundo pode enxergar nele sustentação para suas próprias crenças. Foi saudado do na época por André Maurois como um “prognóstico pessimista, uma terrificante distopia”. No minha concepção é um extraordinário romance, que deixa marcas indeléveis mesmo no leitor mais insensível. É, respeitado o ano de publicação, a mais trágica, profética e aterradora visão do mundo, de uma civilização escravizada pela máquina e dominada pela tecnologia. Uma sociedade onde as crianças são geradas em laboratórios e especialmente treinadas para desempenhar funções pré-determinadas no meio social programado. Um mundo em que foi abolida a família e onde não há lugar para os sentimentos e para o amor. Ainda em 1932, Aldous edita a Correspondência de Lawrance. Dois anos depois, viaja para a América Central.

Em seus romances seguintes ele demonstra crescente preocupação com os grandes problemas morais e religiosos.

Sem Olhos em Gaza, de 1936, em que o relato da história salta no tempo em vez de obedecer à cronologia tradicional – recurso pouco utilizado na época e que se destaca pela criatividade ou qualidade do conteúdo, deixa clara a influência do budismo e do misticismo oriental. A bagagem cultural de Huxley impressiona. Em um determinado trecho, por exemplo, cita, com desenvoltura e pertinência, Pavlov, David Hume e o Marquês de Sade.

A narrativa em si pode não ser encontrada nas entrelinhas do livro, no entanto o enredo fez com que os intelectuais conservadores da época entrassem em polvorosa.

Se Huxley com sua alucinada lucidez utilizou a sensibilidade para prever acontecimentos, aí já é outra coisa… Lançada antes da Segunda Guerra Mundial, o fato é que a publicação trouxe idéias e visões que mais uma vez fariam os leitores refletir acerca da sociedade em que viviam.

A epígrafe de abertura é um verso da obra Samson Agonistes, do poeta inglês John Milton, cuja cegueira não era empecilho para captar o universo e transcrevê-lo como sentia, consagrando-se como uma dos maiores escritores já existentes.

Aliás, “Sem Olhos em Gaza” pode ser considerado um estudo sobre a cegueira humana que permeava as altas camadas da sociedade nas primeiras décadas do século XX. E metáforas com os olhos são bastante comuns em toda sua obra, fato que encontra justificativa biográfica.

Em 1937, Aldous transfere-se para Los Angeles, com sua mulher. Os americanos conhecem então um escritor para o qual o bem e o mal não existem em si mesmos: a vida é composta por ambos. A ninguém cabe julgar radical e definitivamente coisa alguma. Assim, seu romance já não procura mais destruir para melhorar: contenta-se em contemplar os homens, fixando sua realidade. É o espírito que transparece em Fins e Meios (1937).

Nos Estados Unidos, o trabalho continua intenso: Também o Cisne Morre (1939), sobre o tema da morte e da imortalidade. O público não identificou que o inspirador do enredo é o mesmo que levou Orson Welles a realizar o filme “Cidadão Kane”, ou seja: William Randolph Hearst, o legendário empresário, jornalista e político da Califórnia, ícone permanente da cultura de massa; Eminência Parda (1941), biografia do padre Joseph (confessor e conselheiro de Richilieu), onde se revela também a preocupação entre bem e mal; A Arte de Ver; O Tempo Precisa Parar (1944) e a Filosofia Perene (1946) são os principais livros do período, acompanhados de dezenas de ensaios literários e filosóficos.

Em 1948, Aldous recebe Laura Archera em sua casa em Wrigwood, perto de Los Angeles. Ela deseja fazer um filme, e espera contar com a ajuda do escritor, familiarizado com os meios cinematográficos. Mas Laura é italiana, e acabam falando muito mais de seu país do que a respeito de tal filme. Torna-se amiga dos Huxley e passam muito tempo juntos.

Os três se encontrariam pela última vez na Itália, em 1954. Foram dias agradáveis, mas poucos: o casal logo volta aos Estados Unidos, e Maria morre no ano seguinte. Quando recebe o telegrama de Aldous, Laura intui, antes de lê-lo, que seu amigo está agora mais sozinho que nunca. Precisa de sua companhia. Faz as vezes, durante um ano, da secretária e da companheira estimulante que Aldous perdera. E, em março de 1956, passa a substituir também a esposa, após um casamento repentino e informal.

Huxley continua sendo um homem de intensa atividade intelectual: além de sua enorme produção literária, encontra tempo para ler de tudo, desde os grandes autores da época até a Enciclopédia Britânica, que sabia quase de cor, passando pelas revistas mais extravagantes. Numa delas, lida em 1952, um artigo chamou particularmente sua atenção. Era o trabalho de um certo Dr. Osmond acerca de alguns cactos e cogumelos que produzem visões semelhantes às do êxtase religioso. Não se restringindo à teoria, Aldous entra em contato com o médico e faz experiências – com a atitude objetiva de um cientista – com mescalina e ácido lisérgico (LSD). No ano seguinte, As Portas da Percepção relatam suas impressões a respeitos dos alucinógenos. Talvez esta obra nunca tivesse saído da obscuridade se Jim Morrison não tivesse dado este nome à sua banda. As conseqüências da droga sobre a mente humana passaram a constituir um dos temas prediletos do autor.

Huxley escreve incessantemente. No ano da morte de Maria, publicara O Gênio e a Deusa, seguido, já em 1956, de Céu e Inferno.

Em 1958, acompanhado de Laura, está no Brasil, como hóspede oficial do governo. Quer ver de tudo (as obras de Brasília, as favelas do Rio de Janeiro, os índios do Mato Grosso), mas as jornadas lhe são fatigantes, apresenta-se pálido e fraco às inúmeras entrevistas e conferências. É um câncer na garganta que começa a se manifestar.

Mesmo assim, publica, no ano seguinte, Volta ao Admirável Mundo Novo, e, em 1961, viaja à Suíça. Mas os sintomas da doença, agora, já são conclusivos: Aldous deve retornar imediatamente aos Estados Unidos, para um tratamento que – no máximo – lhe prolongará a espera. De volta a Los Angeles, escreve seu último romance, A Ilha (1962), onde volta a falar da experiência com drogas, numa mensagem de amor e de confiança na humanidade. O livro trata da tentativa da fusão cultural do Ocidente e do Oriente na busca de uma convivência pacífica entre os homens (radicalmente oposta ao ceticismo irônico de Contraponto). O romance começa com Will Farnaby, jornalista que encontra-se perdido em Pala, a ilha em questão. Descoberto pelos nativos, Farnaby começa uma jornada que o levará a conclusões sobre si mesmo em relação ao novo meio em que viverá: uma nova cultura em que os valores foram estabelecidos a fim de alcançar o equilíbrio pleno da sociedade.

O Oriente como um ‘espelho’ do Ocidente. Ao invés da atitude predadora do consumo ocidental frente à mansidão oriental, o inverso acontece: o pensamento milenar tem como objetivo restaurar os resultados da inconseqüência gerada pelo avanço tecnológico.

Os habitantes da ilha seguem um livro filosófico chamado “Notas sobre o que é o quê e sobre o que seria razoável fazer a respeito disso”, que traz os princípios básicos a serem seguidos.

Aldous Huxley foi um personagem interessante. Precursor do que hoje se chama de “intelectual público” (o que se aventura em todas as áreas da criação e da política e se torna referência constante da atenção da mídia) e um dos últimos exemplares do que antigamente se chamava “renaissance man” (pessoa de múltiplos interesses e habilidades, da música ao esporte, das ciências à literatura).

Apesar das aplicações de cobalto, o escritor não apresenta melhoras. Está praticamente mudo, não pode mais ditar (como era seu hábito). Escrever a mão lhe é penoso, mas pior seria não poder empregar em literatura seus últimos dias.

Se houve no século XX um escritor que nunca cedeu ao cansaço e ao tédio, que conservou até o fim um apaixonado interesse pela vida e pelo conhecimento, que não cessou de se elevar a patamares cada vez mais altos de compreensão, até chegar, em seus últimos dias, às portas de uma autêntica sabedoria espiritual, esse foi Aldous Huxley.

Morre em 22 de novembro de 1963. Mas, nesse dia, o mundo, abalado com o assassínio de John F. Kennedy, não fica sabendo dessa outra perda. Apesar do renome que alcançara, e de contar entre seus amigos com grandes nomes das letras e da política, o escritor não tem um enterro muito concorrido: Laura e Mathew (filho único do escritor e de Maria) enterram-no como ele vivera – com simplicidade e discrição. Depois da cerimônia, comunicam ao mundo que Aldous Leonard Huxley já não existia.

1894 – 1963

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/biografias/aldous-huxley/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/biografias/aldous-huxley/

Além das Abduções de OVNIs

Por Preston Dennett.

O fenômeno OVNI é extraordinariamente complexo, porém o foco principal é inegavelmente os encontros face a face ou a experiência OVNI a bordo. Ainda assim, quando as pessoas pensam nesses tipos de encontros íntimos, elas frequentemente assumem que a experiência é um evento aterrorizante durante o qual a vítima relutante é colocada sobre uma mesa e examinada por ETs do tipo grey (cinzento) sem emoção. Embora eu acredite que estes tipos de encontros acontecem, esta é apenas uma pequena parte da experiência com OVNIs. Na realidade, as pessoas experimentam uma variedade muito maior de encontros. Ao contrário da opinião popular, as experiências de OVNIs a bordo nem sempre são involuntárias e aterrorizantes. Muitas pessoas experimentam encontros durante os quais elas são realmente ajudadas ou curadas. Parece haver múltiplas razões pelas quais as pessoas são contatadas por alienígenas.

Meu livro, Extraterrestrial Visitations: True Accounts of Contact (Visitas Extraterrestres: Relatos Verdadeiros de Contato) (Llewellyn, 2002) enfoca apenas aqueles tipos de encontros que envolvem interação considerável entre as testemunhas e o OVNI. Cada caso envolve ou um encontro presencial, tempo perdido ou uma experiência a bordo. Embora estes casos estejam entre os mais extensos que já investiguei, pelo menos metade deles não são típicos e vão além do cenário padrão de abdução.

RESGATADOS POR ALIENÍGENAS:

O caso a seguir é um exemplo perfeito. Sherry Jamison (pseudônimo) trabalhou primeiro como agente imobiliário, depois voltou à escola, obteve um diploma e tornou-se terapeuta licenciada. Ela é casada há muitos anos e tem um filho adulto. Ela é ao mesmo tempo humilde e digna, com uma rápida inteligência e uma visão positiva da vida. Olhando para ela, você nunca adivinharia que ela teve muitas experiências bizarras com extraterrestres.

A primeira experiência de Sherry ocorreu quando ela tinha apenas oito anos. Ela viveu com seus pais na zona rural de New Jersey. Uma noite, no início dos anos 50, Sherry acordou para se encontrar fora de sua casa, de pé num campo próximo. Ela não tinha ideia de como chegou lá, mas olhando para cima, viu uma pequena nave, metálica, em forma de pires, pairando sobre ela. Ele imediatamente desceu e enviou um feixe de luz diretamente sobre ela. Diz Sherry: “A nave estava em uma nave muito grande… mas o que aconteceu foi que ela colocou sua luz sobre mim. Eu me lembro de correr ao longo da cerca, tentando fugir dela…. Eu me lembro de correr ao longo da cerca, e esta nave estava me perseguindo. Eu estava tentando me abaixar e este ofício estava me perseguindo….I estava correndo e caindo, correndo e caindo”.

A próxima coisa que Sherry percebeu foi que a nave a tinha atingido com um feixe de luz e ela foi levantada a bordo. “Era como uma lanterna. Era um feixe muito forte porque eu subi logo para dentro da nave. Minha sensação de medo me deixou. Tive tanto medo quando ela estava me perseguindo”.

Naquele momento, Sherry não se lembrava de mais nada além de acordar na manhã seguinte. No início ela pensou que tinha sido um sonho estranho, mas percebeu que tinha uma roupa diferente quando foi para a cama, e suas roupas estavam inexplicavelmente sujas. O que quer que tivesse acontecido, não era um sonho.

Enquanto crescia, Sherry começou a ter experiências noturnas bizarras, sonhos meio lembrados e lembranças de alienígenas greys (cinzentos) em pé ao redor de sua cama. Ela começou a despertar com marcas e cicatrizes incomuns em seu corpo. Durante um período de anos, ela lentamente começou a conectar suas experiências e se perguntou se ela era uma daquelas pessoas rotuladas como contatos de OVNIs.

É claro que não foi uma revelação repentina. Ela sabia que algo estranho estava acontecendo, mas extraterrestres… Parecia muito estranho para sequer considerar.

Então, nos anos 60, Sherry viveu um evento que não deixou dúvidas de que ela estava em contato com extraterrestres. Este continua sendo um dos encontros mais estranhos que eu já investiguei.

Sherry estava dirigindo sozinha no meio da noite pelas montanhas Watchung de Nova Jersey quando perdeu o controle de sua motocicleta e caiu. Como era tão tarde da noite e a estrada estava totalmente isolada, não havia nenhum trânsito. Sherry estava totalmente sozinha.

Ou assim pensava ela.

Momentos após o acidente, Sherry se assustou ao ver três figuras estranhas. Ela as reconheceu imediatamente como as figuras que havia visto antes, em seu quarto à noite. Sherry diz: “Quando eu estava dirigindo em uma motocicleta uma vez nas montanhas, eu tive uma experiência – essas mesmas pessoas me apareceram. Eram como greys (cinzentos), mais detalhadas, mais brancas, não muito humanas”. Eu diria como um terno corporal sobre uma figura humana, um terno corporal branco, não grey (cinzento), mas talvez um branco ou um bege-grey (bege-cinzento).

“Eu estava andando de bicicleta e deslizei minha bicicleta. Eu tinha dobrado o suporte quando o fiz. Eu não me machuquei, mas tinha dobrado o chicote, e não conseguia me mexer [para começar a pedalar]. Estava muito escuro. Eu não vi um navio-mãe nem nada. Mas novamente, só agora os chamo de alienígenas. Eu sempre não sabia o que chamá-los. Eles eram apenas meus amigos. Havia dois deles. Eles olharam para mim e silenciosamente pegaram minha motocicleta, pegaram a barra e endireitaram-na novamente. Eu acenei com a cabeça e chutei. Foi como se fosse, tudo bem. Eu chutei; não tínhamos arrancadores elétricos naquela época. Eu chutei a motocicleta e fui embora”.

Sherry ficou surpresa com o evento. Ela já estava abalada com o acidente, mas a aparência das figuras a pegou totalmente de surpresa. Sherry disse: “Eles estavam ambos bem ali. Eles estavam a cerca de um pé e meio de distância. Um olhou para mim. Os dois olharam para aquele que estava fazendo isso. Ambos pareciam “greys (cinzentos)”, sem roupas. Eles não tinham nenhuma roupa vestida ou nada vestido. Pareciam greys (cinzentos), exceto que eram mais proporcionados pelo homem. Exceto que eles tinham os olhos escuros, mas não tão em forma de amêndoa. Era o único pensamento escuro que aparecia neles.

“E eu gostaria agora de não ter ficado tão preocupado e perturbado, ou que pudesse ter prestado mais atenção”. Mas eles não eram ameaçadores. Eles apenas acenaram com a cabeça e seguiram seu caminho…. eles pareciam quase luminosos. Portanto, foi meio estranho. Foi muito estranho”.

Embora esse tenha sido o encontro cara-a-cara mais intenso de Sherry, ela continuou a ter uma série de outros avistamentos de perto de artesanato metálico.

O caso de Sherry é difícil de classificar. Embora ela tenha tido uma aparente abdução, ela também teve um encontro indiscutivelmente positivo. Ela não tem desejo de ser hipnotizada, e se contenta em chamar os alienígenas de seus “amigos”.

Sherry levou muito tempo para concluir que ela estava tendo encontros com alienígenas porque os números pareciam quase humanos, a única diferença real é que seus olhos eram maiores e mais escuros que os humanos. Sherry é apenas uma pessoa entre muitas que foram além de abduções.

CONVIDADA A BORDO E CURADA:

Em 1995, o casal aposentado William e Rose Shelhart teve um encontro de tempo perdido com um OVNI fora de Sedona, Arizona. Enquanto dirigiam por uma estrada isolada, eles viram uma luz que os seguia. Ela apareceu primeiro à frente deles, como se estivesse jogando um jogo de esconde-esconde. De repente, a luz fez um zoom para baixo do céu e pousou em um campo ao lado de seu carro. O casal perdeu rapidamente a consciência. Sua próxima lembrança foi de tropeçar em um hotel horas depois.

Percebendo que haviam passado por um tempo perdido, sofreram hipnose durante a qual se lembraram de que não haviam sido abduzidos, mas foram convidados a bordo. Rose diz: “Não fomos sequestrados ou abduzidos. Nós embarcamos voluntariamente e fomos bem-vindos. Nós os procuramos e subimos a bordo, não sendo abduzidos como “à força”.

Rose ficou surpresa com o aparecimento dos ETs. Como ela diz: “Eles se pareciam muito mais com as pessoas do que alguns desses esboços”. Muito mais”. Seus olhos eram um pouco maiores do que os olhos grandes de qualquer pessoa branca, mas eles não eram enormes. Pareciam poder passar por nós, se quisessem. E brilhavam com uma aura azul que me fazia sentir mais tranquilo, mais ou menos no plano mental, que eles eram pacíficos”.

Rose também ficou surpresa com a roupa deles. “Algo como uma roupa militar, mas nada que eu já tenha visto, e eu já estive na Europa e aqui e assim por diante. Mas se assemelharia a isso porque eram todos parecidos, mas mais soltos, mas com cinto. Uniformes, mas com uma estrutura mais parecida com, “quero dizer negócios”.

Outra surpresa foi a falta de equipamento tecnológico a bordo. “Oh, havia todos os tipos de luzes, mas muito poucos aparelhos como os que temos em qualquer aeronave aqui”. [Era] como se eles não precisassem delas. Não parecia que eles precisassem de muitas coisas. É como se eles quase tivessem controle da mente para pôr a coisa a funcionar. Mas havia poucas luzes, acho que para monitores e coisas”.

Rose lembrou outros detalhes sobre o local de origem dos ETs e suas intenções sobre a Terra. William, entretanto, não era um bom sujeito hipnótico e não conseguia se lembrar de nada além da aterrissagem da nave e de terem sido convidados a bordo.

William havia vivido um episódio anterior aterrorizante com o tempo perdido, então ele ficou um pouco aliviado que o encontro deles tenha se revelado benevolente.

Mais tarde, William e Rose tiveram outro encontro em sua casa isolada no Havaí, o que confirmou para eles que os ETs estavam interessados em seu bem-estar. Sua primeira pista ocorreu ao acordar uma manhã e encontrar uma marca estranha em seu corpo. William diz: “Acordei uma manhã e senti uma coceira no meu pé direito e descobri três feridas perfurantes em um triângulo perfeito. Eles estavam no processo de crostas. Eu durmo em uma cama de água, então nada poderia tê-la arranhado. Minha esposa foi a única testemunha. Eu senti algo comichoso no tornozelo direito, e foi quando olhei. Porque não há como fazer isso na noite, e foi quando aconteceu”.

William estava preocupado com as marcas porque era óbvio que elas não eram naturais. Mas o que poderiam ser?

A resposta veio cerca de duas semanas depois quando o mesmo incidente ocorreu novamente, só que desta vez William foi despertado por um feixe de luz brilhante inexplicável entrando em seu quarto. William diz: “Acordei no meio da noite com uma luz brilhante entrando pela janela dos fundos”. Ela durou cerca de trinta a sessenta segundos. Eu congelei e não consegui sair da cama para olhar para fora. Meu quintal é uma selva de coqueiros e plantas. Como vivo no campo, nenhum carro conseguia chegar lá naquele tempo. Quando a luz entrou pela janela das traseiras, era o mais brilhante que podia ser. Eu não podia acreditar, e não havia nada lá atrás. Não há como um carro ter entrado ali. Era o que parecia – o farol de alguém brilhando diretamente na janela. Eu me lembro de acordar e ver isso. Isto foi uma coisa chocante”.

O primeiro instinto de William foi levantar-se e investigar. Estranhamente, porém, ele se viu paralisado. Segundos depois, ele se sentiu sendo colocado para dormir. Quando chegou a manhã e ele acordou, lembrou-se imediatamente do incidente que havia ocorrido no meio da noite. Ele só conseguia abanar a cabeça em meio ao espanto. Então ele olhou para seu braço direito e recebeu um choque incrível. Diz William: “Meu pulso direito estava comichoso. A mesma coisa aconteceu – três feridas de perfuração em um triângulo perfeito… Acordei e encontrei aqueles pinos triangulares na minha mão direita”. E esta era a mão que eu usava quando carregava correio. Isto estava em uso constante. E eles eram muito frescos, porque ainda se podia ver, eles tinham quase uma crosta. Eu os mostrei imediatamente à minha esposa. Eu disse: “Meu Deus! Olhem só para isto. É perfeito. É um triângulo perfeito”.

William tinha trabalhado durante anos como funcionário dos correios e tinha desenvolvido grave síndrome do túnel de carpelo no pulso direito, bem como danos permanentes em seu tornozelo esquerdo. Entretanto, imediatamente após os dois incidentes acima, ele notou uma melhora dramática em sua saúde. “Fui comprar uma banheira de hidromassagem. Fiz tudo o que pude para tirar um pouco dessa dor”. E só depois do meu incidente é que as coisas começaram a melhorar”. Só sei que progredi e comecei a melhorar”. Desde que fiquei magro, estou curado a 90%…. Tenho quase sessenta e sete anos de idade e posso pendurar numa escada de vinte pés colocando o peso no meu pé direito e pintar com minha mão direita, dia após dia. Eu realmente não me importo se as pessoas duvidam de minha explicação. Eu sei o que eu sinto”.

William e Rose são o exemplo perfeito de pessoas que foram além do típico cenário de abdução. Não apenas foram curados, mas agora eles mesmos se tornaram curandeiros. Este padrão apareceu em outros casos. Rose diz: “Nós dois nos tornamos cada vez mais interessados em ajudar as pessoas em formas alternativas de cura. Mesmo William, ele tem esta energia em suas mãos que não tinha antes de ….. É como se eu sentisse este calor saindo que é realmente bom. E as pessoas dizem que também o sentem fora de mim. E eu digo: ‘Oh, de onde eu tirei isso’. Eu tenho muitas histórias de bons resultados da vizinhança. Mas estou grato, porque acho que [a conexão OVNI] tem muito a ver com isso”.

SEIS HORAS A BORDO DE UM OVNI:

Em 1972, quando tinha 12 anos de idade, Jack Stephens foi abduzido de seu veículo em plena vista de sua mãe e de seu irmão. Ele foi levantado dentro de um feixe de luz e levado para dentro de uma enorme nave do tamanho de um pequeno prédio. Ele experimentou um encontro de seis horas a bordo do OVNI antes de ser depositado de volta no carro.

A família atônita voltou para casa, com a maior parte do evento envolto em amnésia. Eles se lembraram apenas de uma luz poderosa batendo no carro, o motor desligando e uma leve sensação de flutuação. Sua próxima lembrança foi a luz desligando, o motor do carro ligando e seis horas haviam passado. Era um típico encontro de tempo perdido.

Anos mais tarde, quando adulto, Jack mordeu em um dente do siso impactado. Isto causou uma enxurrada de lembranças. Jack de repente lembrou-se de tudo o que aconteceu.

Na maioria dos aspectos, Jack experimentou o típico cenário de abdução. Ele se lembrou de ter sido levado a bordo da nave. Ele foi colocado sobre uma mesa e examinado. Eles espetaram os pés dele, sondaram dentro de sua boca. Jack não consegue se lembrar da aparência dos seres, apenas que eles eram curtos e de aparência incrivelmente assustadora.

É o que aconteceu em seguida, no entanto, que torna o relato de Jack único na literatura de OVNIs.

Os investigadores há muito notaram que os OVNIs muitas vezes pairam sobre linhas de energia elétrica, como se estivessem puxando eletricidade para dentro de sua nave. Jack é o primeiro abduzido a testemunhar este procedimento exato da perspectiva de dentro da nave ET.

Após o exame, Jack foi levado para fora da mesa e para outra sala. Os seres então o colocaram em um estranho dispositivo que lhe permitiu ver o procedimento. Jack disse: “Fomos direto para cima do nevoeiro. Eu podia olhar para fora. A próxima coisa, eu estava lá embaixo nesta coisa”. Era como uma coisinha de diamante transparente no fundo [do ofício]. Estou nesta coisa e há como cordas de bungee em mim. Sentei-me nesta coisa transparente em forma de diamante – suspenso, quase parecia como cordas de bungee, mas eu podia ver tudo ao meu redor. Tive uma visão de 360 graus. Eu podia olhar para todos os lugares. Voltamos a descer e estamos perto da minha fazenda. Estamos literalmente no pasto, acima desta vala. E há algumas grandes linhas de alta tensão, linhas de força de alta tensão por ali. Você pode simplesmente sentir a eletricidade saindo.

“Bem, à medida que descemos para esta coisa, qualquer que fosse a coisa clara em que eu estava, no fundo, meio que ficou menor. Era como se fosse um espaço mais confinado. Parecia-me muito aberto antes, e mesmo assim eu estava fechado, em uma espécie de plástico ou vidro”.

Jack estava em pavor. Parecia que ele estava pendurado abaixo da nave com uma visão perfeita de tudo ao redor. A sala em que ele estava parecia ser projetada especificamente para observação. Na verdade, toda a sala girava em direção a qualquer direção que ele olhasse. “Em lugares onde não se movia de forma alguma, como se eu quisesse apenas olhar para um lado, ele simplesmente ficava ali. Mas se eu me virasse, ele se moveria por toda parte. Mas se eu parasse e olhasse apenas para um lado, ele pararia e olharia para um lado”.

Neste ponto, o procedimento começou. “[Eles] estavam me explicando o que estavam fazendo. Eu não sei o que era, mas fomos até as linhas de energia. E depois que descemos de novo, aquela coisinha em que eu estava parecia encolher por dentro. [Havia quatro coisas girando de cada lado dessa coisa – o diamante ou triângulo ou o que quer que fosse – havia quatro luzes que começaram a girar. E eu podia vê-las de onde eu estava… E vi todos aqueles feixes sugarem todos juntos, entrarem em um grande feixe e baterem no poste de energia, sugando a eletricidade para fora dele. E estes eram como, quero dizer, LUZES! Todos eles se concentraram em um só e começaram a sugar a eletricidade dos postes de energia. Não consigo descrever, mas pude literalmente senti-lo passando pelo meu corpo.

“Eu me lembro de ter frio. Foi quando eles sugaram a eletricidade. Essa é a parte mais viva de tudo isso. Estávamos acima dele, um poste telefônico, talvez dois comprimentos de postes telefônicos acima dele. E todas aquelas luzes focalizadas em uma luz superbrilhante – apenas ufa! Só de ver literalmente a eletricidade saindo dali, e senti-la. Era como se tivesse drenado tudo, apenas pegado tudo.

“Outra coisa, quando eu estava lá em cima naquela coisa, estávamos acima da névoa, apenas flutuando acima desta névoa. E quando eles foram sugar a eletricidade das linhas de energia, aquela neblina simplesmente saiu do caminho. Ela apenas se abriu bem, só saiu do caminho, e eu pude ver com clareza cristalina.

“Outra coisa, eu me lembro de meus dentes doerem quando estava sugando aquela coisa. Como quando se mastigava papel de alumínio. Lembro-me de sentir como: ‘Despache-se, acabe com isso’”.

Enquanto Jack se lembra de vários outros eventos, foi o incidente acima que continua sendo o mais memorável. Como pode ser visto, os alienígenas parecem ter intenções além de um simples abdução e exame físico.

LEVADOS PARA UMA BASE SUBTERRÂNEA:

O cenário padrão de abdução geralmente envolve uma pessoa sendo levada dentro de um OVNI e examinada por extraterrestres do tipo grey (cinzento). Mas novamente, este cenário não é tão comum quanto muitos poderiam acreditar. Considere o seguinte caso, no qual um jovem foi abduzido, não por ETs do tipo grey (cinzento), mas por ETs do tipo louva-a-deus. Ele também não foi levado dentro de um OVNI. Na verdade, ele se lembrou de ter sido levado para uma base aparentemente subterrânea!

Em 1967, Paul Nelson (pseudônimo), de doze anos, estava visitando a ilha de Catalina com seus pais. Também estava o melhor amigo de Paul, Michael (pseudônimo.) Os dois rapazes decidiram entrar em seu barco e ler alguns novos gibis. De repente, porém, ambos experimentaram um episódio de tempo perdido. A próxima lembrança deles foi de acordar na manhã seguinte. Enquanto Paul não conseguia convencer seus pais de que algo incomum havia acontecido, tanto Paul como seu amigo sabiam que o evento era estranho.

Duas semanas depois, Paul estava sozinho em sua casa em Reseda, Califórnia, quando teve outra estranha experiência. Ele estava sozinho em seu quarto quando a porta começou a chocalhar. Ele pulou e a jogou aberta. Ao seu choque, ele viu a sombra de uma pequena figura correndo pelo corredor. Ele correu atrás dela, mas não encontrou nada.

Paul não sabia como explicar estas experiências e não o ligava ao fenômeno dos OVNIs. Entretanto, depois ele desenvolveu um interesse em OVNIs e começou a ler sobre o assunto.

Muitos anos mais tarde, ele cresceu, casou-se, tornou-se médico e teve dois filhos. Então ele teve um avistamento de OVNIs de um objeto distante no céu durante o dia. Isto renovou seu interesse em OVNIs. Ele começou a ler sobre o aspecto do tempo perdido nos encontros com OVNIs quando percebeu que havia experimentado o tempo perdido.

Intrigado, ele eventualmente passou por hipnose para recuperar suas memórias perdidas. Tendo lido sobre OVNIs, ele esperava descobrir que tinha um encontro assustador, durante o qual ele seria examinado por ETs do tipo grey (cinzento), a bordo de um OVNI usando equipamento altamente tecnológico. Ao invés disso, não foi nada parecido com isto.

Como Paul sofreu a regressão, sua primeira surpresa foi que ele não estava a bordo de um OVNI, mas parecia estar a bordo de uma base subterrânea. Diz Paul: “Fui levado para uma sala com paredes redondas. Parecia-me mais subterrâneo do que a bordo de um navio”. As paredes tinham uma espécie de faceta rochosa para eles”. E eu estava sobre uma mesa… Sim, paredes tipo rocha em vez de paredes do tipo artesanato metálico”. Deu a impressão de que eu estava em uma caverna [em vez de] em um navio… Era mais uma sensação de subterrâneo que é verdade. Isso é um pouco anômalo”.

Sob hipnose, Paul lembrou seu amigo Michael, próximo, também sendo examinado. Sua próxima surpresa foi que os seres eram o que ele esperava. Diz Paul: “Os seres não eram os greys (cinzentos) típicos, eles eram mais do tipo ‘louva-a-deus’, como eu entendi mais tarde. Os olhos eram ligeiramente maiores do que o que se vê no grey (cinzento) pequeno típico, e um pouco mais insetoides… Eles usavam uniformes apertados, creio eu. Havia até uma cor para eles, mas não me lembro qual era a cor…fato de salto apertado como as coisas. Acho que havia um naquele bando que tinha uma coisa do tipo túnica, mais solta por cima. Eu não conseguia dizer qual era a altura deles porque eles estavam sobre mim e eu estava de costas. Por isso, não podia lhe dar a altura exata. Mas eles não pareciam particularmente altos”.

Outra surpresa foi o tipo de maquinaria na sala. Tendo lido um bom negócio sobre OVNIs, Paul esperava novamente ver equipamentos complexos. Ao invés disso, tudo parecia surpreendentemente primitivo. Diz Paul: “As máquinas pareciam consoles típicos de computador do tipo militar, em vez de máquinas com aparência alienígena. Havia luzes e botões. Bem, eu não sei se eram botões, mas áreas que pareciam ser para empurrar. Luzes coloridas – não consigo lembrar qual era a cor da parte de cima da minha cabeça”.

Paul se lembrou de um exame muito curto, mas caso contrário, nada assustador aconteceu. Ele nunca sentiu nenhum medo. “Não me lembro de ter ficado particularmente assustado com tudo isso”. Na verdade, eu estava um pouco intrigado com isso. Não me lembro de nada doloroso ter acontecido”.

CONCLUSÕES:

Como os casos acima nos mostram, pode ser extremamente difícil categorizar uma experiência de OVNI. Embora existam padrões definidos, os encontros são tão individuais quanto as pessoas que os têm. As testemunhas, como regra, experimentam uma grande variedade de eventos além do abdução e do exame. Atualmente estou trabalhando com várias pessoas cujas experiências com ETs são tipicamente atípicas. Um caso envolve uma mulher do sul da Califórnia que teve múltiplos encontros com ETs do tipo grey (cinzento). Ela tem várias testemunhas e provas físicas para apoiar a veracidade de seus encontros, que foram além do padrão de abduções e exames que faltam e evoluíram para encontros totalmente conscientes durante os quais ela foi curada de vários males, foi ensinada a curar e recebeu outras informações espirituais. Ela relata que os greys (cinzentos) são muito amorosos e emocionais. Outro caso envolve uma senhora que já teve múltiplos encontros com alienígenas do tipo louva-a-deus. Seus encontros não têm sido benevolentes; sua saúde tem sofrido com isso. Entretanto, em algumas ocasiões, os alienígenas lhe disseram informações extremamente pessoais que lhe demonstraram conclusivamente que estavam muito preocupados com sua vida. Eles não só mostraram que a haviam observado durante toda a infância, mas também lhe deram uma série de previsões, várias das quais já se tornaram realidade. Algumas das informações eram tão pessoais, que a testemunha se recusou até mesmo a discuti-las.

Embora as abduções e exames pareçam ser o fator mais comum, há um vasto número de experiências além disso. Mais uma vez, a conclusão é inescapável de que os extraterrestres têm um profundo na humanidade. Por que outro motivo, eles levariam algum tempo para consertar a motocicleta de alguém, curar alguém com síndrome do túnel do carpelo ou pendurar alguém abaixo de sua nave e mostrar como eles sugam a eletricidade das linhas de energia?

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Fonte:

Beyond UFO Abductions, by Preston Dennett.

https://www.llewellyn.com/journal/article/530

COPYRIGHT (2003) Llewellyn Worldwide, Ltd. All rights reserved.

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/ufologia/alem-das-abducoes-de-ovnis/

A Bruxaria na Velha Itália

E quando um padre causar-te mal com suas bênçãos,
deves imputar a ele males duas vezes piores.
-Mito da Vinda de Aradia

Charles G. Leland no século XIX apresentou para o mundo em seu livro Aradia: Evangelho das Bruxas, a obra que cem anos mais tarde inspiraria Gardner junto com os escritos de Crowley a tecer a Wicca ou Bruxaria Moderna. Mas a crença das Bruxas da Itália, nem de longe se limitaria a ele. Outro historiador e escritor, Raven Grimassi, dedicou sua vida a explorar os mistérios da Bruxaria da Velha Europa.

Altamente influenciado pela Wicca, Grimassi manteve em seus livros um paradigma cerimonial básico para a estrutura da Bruxaria, isto é, celebrações de lua cheia, oito festivais ligados a roda do ano (as treguendas), e adoração a Diana e estranhamente Dianus. Dianus não é outro senão Lúcifer, que utilizando seu outro nome, tornava seu material mais viável e menos diabólico. Afinal, as bruxas do século XXI fazem de tudo para se afastar da imagem de adoradores do Diabo. Talvez mais ligadas ao cristianismo do que eram as bruxas de antigamente, a palavra diabo sequer é mencionada em livros de bruxaria. Ou totalmente repugnada.

É interessante que a palavra diabo vem de diabolus, em latim, “o adversário”. Assim como a palavra Bruxaria e Witchcraft, a Stregheria era um culto marginal. Era encontrado mais nas beiras da comunidade, com mulheres que jogavam cartas ou faziam poções. E um aborto ou outro de vez em quando.

E uma das coisas que mantinha a fé na Stregheria era a Sagrada Strega – Aradia.

Aradia, a Filha de Lúcifer

E deves ser a primeira das bruxas conhecidas;
E deves ser a primeira de todas no mundo;
E deves ensinar a arte do envenenamento,
-Aradia, Evangelho das Bruxas

Na Itália, a Inquisição foi fundada para reprimir a seita dos cátaros e começou a funcionar em 1224 quando o Papa Honório III incumbiu vários bispos para proceder contra os hereges; como tribunal, oficialmente começou a funcionar, como nos demais países, no ano de 1232 pela bula do Papa Gregório IX. Ela era responsável por julgar indivíduos acusados de um vasto leque de crimes relacionados com a heresia, incluindo a feitiçaria, a imoralidade, blasfêmia, e bem como para a censura da literatura impressa.

A Igreja não imaginava que no meio de toda sua diversão – o roubo de terras, estupros, saques, abuso de poder dos papas e tudo que só o Catolicismo faz por você – iria nascer uma contra cultura, uma mulher que mudaria os rumos daquela terra. No norte da Itália na região de Toscana, no dia 11 de agosto de 1313 iria nascer uma das figuras mais peculiares da Bruxaria: Aradia.

Foi dito que Aradia ouvia vozes desde pequena. E em um certo dia, ela escutou Diana a chamando e então começou a aprender com Ela a arte da Stregheria. E nem de longe era essa bruxaria regada a borboletas e unicórnios que vemos atualmente. Diana ensinava a ela evocar tempestades, envenenar pessoas, amaldiçoar padres. Padres eram os alvos mais claros de toda bruxaria italiana. Em um dos seus vários mitos, um padre após ter insultado uma imagem de Diana, é acordado várias vezes com assombrações e então decepado.

Lúcifer, o pai de Aradia e filho/irmão de Diana tem um mito interessante. Ele foi criado pela própria Diana logo no inicio, que em seguida se apaixonou pela sua criação. Tão grande era a beleza de Lúcifer que fez Diana fazer o primeiro de todos os feitiços de amor: e então prende-lo a si para gerar toda a criação.

No trabalho de Raven Grimassi, o nome Lúcifer foi substituído por Dianus, “Divino”. Dianus Lucifero, o nome correto do Deus da Luz e do Esplendor da Itália, que mais adiante se tornou o temido Lúcifer, rei do inferno.  É interessante que no livro do Leland, Lúcifer e Diana são tidos tanto como reis do céu como do inferno. Charles Godfrey Leland (18241903) escritor de diversas obras sobre folclore e ocultismo, entre as mais conhecidas Aradia, or The Gospel of the Italian Witches, Etruscan and Roman Remains e Legends of Florence, obras que falam sobre Stregheria, a Bruxaria Italiana. O evangelho das bruxas, foi lançado em 1899 através de umas cartas que ele recebeu de uma bruxa chamada Madalena, que jogava tarot e ocasionalmente, passava uma parte dos mistérios para ele.

Aradia então passou a ensinar as pessoas a cultuar Lúcifer e Diana. A própria figura de Aradia é muito discutida entre historiadores e poucos realmente acreditam que ela viveu. Ela supostamente foi capturada pela inquisição e então, após seduzir os guardas e escapar desapareceu pela velha Itália. Sua magia, que na época passou para seus treze discípulos, foi então espalhada em vários outros grupos e sobreviveu a fogueiras, torturas e missas nauseantes.

O Elo Perdido do Catolicismo e a Stregheria

 

Se há algo que as bruxas italianas entendem, é de missas e santos. É dito que quem é do sangue, nasce vendo e usando o poder em cada oportunidade. A missa é a base da magia cerimonial cristã – é o encontro entre o céu e a terra, a purificação e a iluminação. É aonde as bruxas buscam para amaldiçoar nomes, enfiando-os na agua benta.

Os movimentos da streghe são sempre delicados. O terço nas mãos é usado antes de qualquer ritual, que muito diferente da cerimônia atualmente praticada em grupos modernos, se baseia tradicionalmente em se sentar na cozinha, com algumas velas acesas e um terço na mão. E então evocando enquanto conta o terço, o streghe começa a dar vida a Chama – o elo espiritual entre as bruxas da Velha Europa.

A Chama é um conceito espiritual erroneamente tido como um fogo no meio da cerimônia, por grupos que tentam modernizar a stregheria. A Chama, é a palavra Fé, é o espírito da própria bruxaria, que é pedido enquanto o praticante reza “Diana , bella Diana , pensa a me in questo momento”, é acreditado dentro da Stregheria que a Chama, é algo que deve ser alimentado, através da pratica de adoração aos antigos. Segundo contam as lendas, no dia que não houver mais um streghe para para alimentar a Chama, nem o Sol, nem a Lua irão brilhar mais.

As Bruxas da Velha Itália mantém uma vela acesa ao San Michele Arcangelo, que assim como San Pietro e Santa Luzia, tem papel fundamental. Ele não é visto como um arcanjo guerreiro pronto para combater Satã. Pelo contrario, ele é visto como um antigo espírito de guerra, que foi usurpado pelo catolicismo e ganhou a forma de anjo; o mesmo ocorreu com San Pietro que é um espírito que prende, amarra ou libera as pessoas e situações.

Por nascer em uma terra fortemente católica, a bruxaria italiana mantém essas raízes. Tanto católicas, como etruscas. Os etruscos são povos que viveram na região da Península Itálica. O período exato em que houve a ocupação não se sabe, mas acreditam que ela ocorreu por volta dos anos de 1200 a 700 a.C. A região cuja qual eles habitavam equivale o que é hoje a Toscana, com partes no Lácio e Umbria, na Itália.

A Bruxaria se espalhou pelo mundo e aqui no Brasil também tem fortes representantes. Obviamente, cada grupo de bruxaria incorpora sua visão, suas praticas e acaba alterando um pouco o conteúdo recebido. É importante que a tradição se mantenha viva, mesmo que não nos tornemos fanáticos pela mesma, mas mantendo um respeito pela sua beleza e sua manifestação.

A Stregueria é uma das manifestações da Bruxaria, carregando consigo a riqueza de um povo apaixonado, fervoroso e forte. Que Aradia abençoe a cada um de nós.

 

 

por King

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/paganismo/a-bruxaria-na-velha-italia/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/paganismo/a-bruxaria-na-velha-italia/