H. P. Lovecraft, Charles Dexter Ward, Joseph Curwen e Necromancia

No início do ano de 1927, Howard Phillips Lovecraft escreveu o seu único romance, entitulado “O Caso de Charles Dexter Ward“, um romance que o autor não pôde ver publicado. A história foi impressa de forma resumida em 1941, quatro anos após a morte do escritor, nas edições de Maio e Julho da revista Weird Tales e em sua forma completa apenas dois anos depois, na coleção Beyond the Wall of Sleep publicada pela editora Arkham House.

O livro conta a história de Charles Dexter Ward, um jovem preso ao passado, especialmente à figura de seu tataravô Joseph Curwen, um feiticeiro que fugiu da caça às bruxas que tomou conta da cidade de Salem indo se estabelecer na província de Providência, na Ilha de Rodes. Joseph Curwen ganhou notoriedade em sua época por seus estranhos hábitos, como vagar por cemitérios, e pelas experiências alquímicas que realizava. A semelhança física que compartilha com o antepassado é motivo de espanto para Ward, que se torna obcecado em reproduzir as experiências cabalísticos e alquímicas registradas nos diários de Curwen e, pesquisando as anotações do mago, descobre uma forma de trazer de volta à vida qualquer ser já morto, e decide que conversar com seu ascendente renderia mais frutos do que apenas estudar sobre sua vida.

Apesar do resumo da obra, o primeiro presuposto deste texto é que o leitor já tenha lido o romance. Caso não seja o seu caso seria interessante parar agora para ler a obra antes de prosseguir, não apenas porque o texto que segue contém o que pode ser considerado como spoilers, mas também porque isso contribui com um compreendimento mais amplo sobre o que será apresentado. Você pode fazer o download do texto integral clicando aqui.

Antes de continuar é importante frisar que este tratado não defende de forma alguma que Lovercraft tenha se envolvido com o ocultismo, tenha participado de alguma ordem iniciática secreta ou que praticasse qualquer forma de magia além de sua própria escrita. Ele era um homem extremamente culto, um gênio até para os padrões modernos, e tinha acesso a muita informação. De mitologia a obras de ocultismo, que já eram de conhecimento geral como os escritos de Papus, Blavatsky e Eliphas Levi – todos esses livros que poderiam ser adquiridos por qualquer curioso na época. Lovecraft cresceu entre livros e aproveitou cada oportunidade que tinha para ler e estudar. Outro ponto que não será desenvolvido aqui é o argumento que defende que mesmo não sendo mago ele era um médium, um portal de contato com uma realidade maior e mais sombria. Sabemos que ele era vítima de sonhos e devaneios que lhe serviam de inspiração para muito do que escrevia, mas qualquer tentiva de desenvolver a hipótese de um dom de vidência do desconhecido merece um tratado próprio que desenvolva o assunto com a seriedade que merece.

 

Despertando os Mortos

Conforme a história se desenrola Ward, a princípio gradualmente e então de maneira brusca, vai perdendo a sanidade e a substituindo com rituais mágicos, evocações e experimentos alquímicos que o distanciam não apenas de seus entes mais próximos como também da realidade, atingindo seu clímax quando é realizado o ritual para trazer da morte Joseph Curwen. O ritual em si é descrito de forma simples mas traz implicações profundas.

O ritual e seus elementos podem ser organizados da seguinte forma:

 

– Sais Essenciais

“Sobre a imensa mesa de mogno jazia virado para baixo um exemplar de Borellus, gasto pelo uso, trazendo muitas notas misteriosas escritas à mão por Curwen ao pé da página e entre as linhas”, este livro trazia um “trecho sublinhado” de “forma febril”. O trecho dizia:

“Os Sais Essenciais dos Animais podem ser preparados e preservados de tal forma que um Homem engenhoso possa ter toda a Arca de Noé em seu próprio Estúdio e fazer surgir a bela Forma de um Animal de suas próprias Cinzas a seu Bel-prazer; e, pelo mesmo Método, dos Sais essenciais do Pó humano, um Filósofo pode, sem recorrer à Necromancia criminosa, evocar a Forma de qualquer ancestral Falecido das cinzas resultantes da incineração de seu Corpo”.

 

– Um Local Reservado ou Afastado Para o Ritual

Conforme sua obcessão por seu antepassado, Curwen, crescia, Ward comprou uma “fazenda na Pawtuxet Road que havia sido propriedade do bruxo. Um lugar para onde se mudava, durante o verão. A propriedade era habitada apenas por duas pessoas, além do próprio Ward, um casal de índios da tribo Narragansett “o marido mudo e com curiosas cicatrizes, e a mulher com uma expressão extremamente repulsiva”, eles eram “seus únicos empregados, trabalhadores braçais e guardas”.

Em um anexo dessa casa ficava o laboratório onde era realizada a maior parte das experiências químicas. Os vizinhos mais próximos à fazenda se encontravam a uma distância de mais de um quarto de milha. Também existe menção “a um grande edifício de pedra, pouco distante da casa, com estreitas fendas em lugar das janelas”.

 

– Diagramas e figuras geométricas desenhados no chão

Dr. Willet, outro personagem central na história, quando investiga o sótão onde Ward passava tanto tempo, percebe “restos semi-apagados de círculos, triângulos e pentagramas traçados com giz ou carvão no espaço livre no centro do amplo aposento” e mais tarde, investigando o laboratório subterrâneo de que Ward montara no antigo bangalô de Curwen, em Pawtuxet, “um grande pentagrama no centro, com um círculo simples de cerca de noventa centímetros pés de diâmetro, entre este e cada um dos outros cantos”

 

– Invocação Per Adonai

Durante uma Sexta-Feira Santa, no fim do dia, “o jovem Ward começou a repetir certa fórmula num tom singularmente elevado” enquanto queimava “alguma substância de cheiro tão penetrante que seus vapores se expandiram por toda a casa”. A repetição da fórmula se prolongou por tanto tempo que a mãe de Ward foi capaz de reproduzí-la por escrito.

A fórmula descrita pela senhora Ward era:

Per Adonai Eloim, Adonai Jehova, Adonai Sabaoth, Metraton On Agla Mathon, verbum pythonicum, mysterium salamandrae, conventus sylvorum, antra gnomorum, daemonia Coeli God, Almonsin, Gibor, Jehosua, Evam, Zariatnatmik, veni, veni, veni. 

Depois de duas horas repetindo initerruptamente a evocação “se desencadeou por toda a vizinhança um pandemônio de latidos de cachorros”, tamanho foi o estardalhaço dos latidos que viraram manchetes de jornal no dia seguinte.

 

– A Invocação Dies Mies Jeschet

Então o pandemônio causado pelos cães da região foi sobrepujado por um “odor que instantaneamente se seguiu; um odor horrível, que penetrou em toda parte, jamais sentido antes nem depois” e então se seguiu “uma luz muito nítida como a do relâmpago, que poderia ofuscar e impressionar não fosse dia pleno”. Uma voz, “que nenhum ouvinte jamais poderá esquecer por causa de seu tonitroante tom distante, sua incrível profundidade e sua dissemelhança sobrenatural da voz de Charles Ward […] abalou a casa e foi claramente ouvida pelo menos por dois vizinhos, apesar do uivo dos cães”. A voz dizia claramente:

DIES MIES JESCHET BOENE DOESEF DOUVEMA ENITEMAUS 

 

– A Invocação Yi-nash-Yog-Sothoth

Logo após a poderosa voz declarar seu intento, “a luz do dia escureceu momentaneamente, embora o pôr-do-sol demorasse ainda uma hora, e então seguiu-se uma lufada de outro odor, diferente do primeiro, mas igualmente desconhecido e intolerável”. Ao mesmo tempo Ward volta a entoar de forma monótona uma nova fórmula, que era percebida como sílabas aparentemente sem sentido:

Yi-nash-Yog-Sothoth-he-lgeb-fi-throdog

Sendo seguida por um grito de YAH!, “cuja força desvairada subia num crescendo de arrebentar os tímpanos”.

Instantes depois um “grito lamentoso que irrompeu com uma explosividade desvairada e gradativamente foi se transformando num paroxismo de risadas diabólicas e histéricas”, este episódio foi seguido por um segundo grito, desta vez proferido certamente por Ward, se fez ouvir, ao mesmo tempo em que a risada continuava a ser ouvida.

 

Tão Morto Quanto Um Morto Pode Estar

Necromancia é uma forma de divinação que envolve os mortos. Na grécia antiga o objetivo do ritual era enviar o mago praticante para o mundo subterrâneo, onde ele consultaria os mortos e voltaria com o conhecimento adquirido. Com o passar do tempo a viagem às profundezas foi substituída por uma evocação, o morto era arrancado do domínio da morte e por momentos poderia se comunicar com os vivos em nosso mundo. Nekros, “morte”, e manteia, “divinação”, o termo foi adotado pelos povos cuja língua se derivou do latim, como os italianos, espanhois e franceses, como nigromancia, nigro significando também “negro”, uma forma negra, escura, de divinação; termo que deu origem a magia negra ou artes negras, uma prática que causava resultados maravilhosos graças à intervenção de espíritos mortos.

Conforme o cristianismo foi se tornando a crença dominante na europa, os espíritos dos mortos que se envolviam com tais rituais começaram a ser considerados espíritos cruéis, almas atormentadas e eventualmente demônios do próprio inferno. Se havia uma magia “negra”, em um mundo de dualidade com certeza haveria o seu oposto, a magia “branca”, se a primeira lidava com almas de mortos que habitavam o submundo e com demônios a segunda obviamente colocava o mago em contato com os espíritos dos Santos e com os Anjos de Deus. Em uma analogia ao Gênese bíblico ou ao Big-Bang moderno, a escuridão e trevas “nigro” deu origem à luz. Nesta aspecto a magia negra é muito mais antiga do que a sua contraparte branca.

 

Necromancia à Moda Antiga

A necromancia é encontrada com outras formas de divinação e magia em praticamente todas as nações da antiguidade, mas nada pode ser dito com certeza a respeito de suas origens. Strabo afirmou que era a principal forma de divinação dos Persas, ela também era praticada na Caldéia, Babilônia e Etrúria. O livro de Isaias, da Bíblia, se refere à prática entre os egípcios – 19:3 – e no livro de Deuteronômio – 18:912 – alerta os israelitas contra a sua prática, chamada de “abominação dos Cananeus”.

Como vimos, as práticas mais antigas eram de ir ao submundo buscar os mortos no reino do qual não podiam escapar, assim na Grécia e em Roma o ritual tinha lugar especialmente em cavernas ou vulcões, que supostamente tinham ligação com o submundo, ou próximo a lagos e rios, já que a água era vista como um “canal de acesso” de comunicação com os mortos, sendo o rio Acheron o mais procurado.

A menção mais antiga à prática da necromancia é a narrativa da viagem de Ulisses ao Hades e sua evocação das almas dos mortos através de vários rituais que lhe foram ensinados por Circe. Outra romantização da evocação de mortos está no sexto livro da Eneida, de Virgílio, que relata a descida de Enéas às regiões infernais, mas neste caso não existe um ritual, o herói vai fisicamente à morada das almas.

Além das narrativas poéticas e mitológicas existem inúmeros registros, por parte de historiadores, de praticantes da necromancia. Em Cabo Tenarus, Callondas evocou a alma de Archilochus. Periandro, o tirano de Coríntio, conhecido como um dos sete sábios da Grécia, enviou mensageiros para o oráculo do Rio Acheron para interrogar sua falecida esposa, depois de dois encontros os mensageiros conseguiram a resposta que buscavam. Pausanis, rei de Esparta, matou Cleonice ao confundí-la com um inimigo durante a noite, e como consequência não encontrava mais paz de espírito nem descanso, após tentativas infrutíferas de se livrar dos sentimentos que o afligiam ele se dirigiu para o Psicopompeion de Phigalia e evocou a alma da morta, recebendo a garantia de que assim que voltasse para Esparta seus pesadelos e medos desapareceriam, assim que voltou para a cidade ele morreu. Após sua morte os espartanos viajaram para Psicagogues, na Itália, para evocar e aplacar sua alma. Entre os romanos, Horácio constantemente alude à evocação dos mortos. Cícero testemunha que seu amigo Appius praticava a necromancia e que Vatinius conjurava as almas do além. O mesmo é dito a respeito do imperador Drusus, de Nero e de Caracalla.

Não existe certeza sobre os rituais realizados, ou os encantamentos feitos. A cada relato surgem descrições complexas e completamente diferentes entre si da maneira de chamar os mortos. Na odisséia Ulisses cava uma trincheira, entorna libações nela e sacrifica uma ovelha negra, cujo sangue será bebido pelas sombras, antes que elas lhe respondam a qualquer pergunta. Lucan descreve em detalhes inúmeros encantamentos e fala de sangue fresco sendo injetado nas veias de um cadáver para que ele retorne à vida. Cícero nos relata sobre Vatinius, que oferecia à alma dos mortos as entranhas de crianças e São Gregório fala de virgens e meninos sendo sacrificados e dissecados para que os mortos pudessem ser evocados ou para que o futuro pudesse ser visto.

Nos primeiros séculos depois de Cristo, os patriarcas da nova religião testemunharam a adoção da prática dentre seus novos convertidos, a necromancia era praticada em conjunto com outras artes mágicas que passaram a ser associadas com demônios, e passaram a advertir seus novos seguidores contra essas práticas nas quais: demônios se apresentavam como se fossem a alma dos mortos” (Tertuliano, De anima, LVII, em P.L., II, 793), mesmo assim, como seria de se esperar, muitos ignoravam os alertas e se entregavam à prática. Surgiram então os esforços das autoridades eclesiásticas, Papas e conselhos em suprimir por completo tal abominação. Leis criadas por imperadores cristãos como Constantino, Constantius, Valentino, Valens e Teodósio não se restringiam apenas à necromancia mas a qualquer forma de magia considerada pagã – precisamos nos lembrar que a igreja aceita que de acordo com a vontade de Deus as almas de pessoas mortas podem aparecer para os vivos lhes revelando coisas desconhecidas, ou que milagres podem ser realizados. Graças a este combate contra magia, rituais e superstição pagã, com o tempo o termo necromancia perdeu seu sentido estrito e passou a ser aplicado a toda forma de “magia negra”, se tornando associado com alquimia, bruxaria e magia. Mesmo com todos seus esforços, a igreja não conseguiu abolir essas práticas e a necromancia sobreviveu, se adaptando quando necessário, à Idade Média ganhando um novo ímpeto pela época do renascimanto.

 

As Raízes da Necromancia de Charles Dexter Ward

smackDuas coisas precisam ser levadas em consideração quando estudamos os rituais de necromancia apresentados por Lovecraft em sua obra, especialmente no Caso de Charles Dexter Ward.

Em primeiro lugar a superstição causada pela religião dominante. O cristianismo abominava qualquer ato religioso e ou mágico que não os rituais consagrados pela igreja e realizado por seus clérigos. Qualquer coisa além disso era vista de forma agressiva pelos religiosos, isso se refletiu no grande público frequentador de igreja e formado por uma sociedade criada a partir de uma moralidade cristã. O medo do sobrenatural acompanhou a raça humana desde seus primórdios, mas além deste sentimento natural houve, a partir do século IV, uma campanha focada em cristalizar esse medo e mudar seu status de característica humana em virtude humana. Isso é o motivo por até hoje religiões que não flertem diretamente com o cristianismo sejam vistas com preconceito, medo ou indiferença por uma sociedade religiosamente “morna”.

No início do século XX, a menção de rituais depravados era tabu. Ordens religiosas como a Golden Dawn, O.T.O., Maçonaria, Teosofia, Wicca e Rosa-Cruz, haviam mostrado para a Europa que cultos mágicos haviam sobrevivido ao feudo religioso da Idade Média, grimórios mágicos falavam sobre as práticas de evocação e negociação com espíritos vindo do inferno. E rumores sobre tais feitos e grupos chegavam através do oceano a um continente onde por anos a luta contra a feitiçaria havia sido uma realidade. A Inquisição teve seus ecos em solo americano, onde bruxas eram caçadas, torturadas e queimadas ainda com vida. Novas religiões nasciam em segredo e tinham que se afastar de áreas populadas para poderem ser seguidas – religiões que se derivavam do cristianismo, como os Mórmons por exemplo. Esses rumores assustavam muitas pessoas que consideravam estar a salvo da sombra do diabo e de seus seguidores.

Em segundo lugar havia a literatura gótica e fantástica. Escritores de contos de terror tinham inspiração de sobra na época. Cultos pagãos que haviam sobrevivido em segredo. Criaturas demoníacas que roubavam crianças recém nascidas e colocavam cópias maléficas em seu lugar. Livros que ensinavam a evocar o próprio demônio. Histórias que se aproveitavam dos temores mais profundos das pessoas e os exploravam para se tornarem fenômenos comerciais, em uma época, diga-se de passagem, em que o analfabetismo era a regra.

Dos principais temas góticos que se tornaram sucesso, e por isso recorrentes em inúmeros livros, temos o dos fantasmas que surgiam como pessoas vivas, interagindo com os protagonistas para apenas revelar sua natureza sobrenatural no clímax da obra, e o do alquimista que após concluída a aventura se revelava uma pessoa com séculos de idade, prolongada de forma artificial através de rituais, acordos e da química proibida. Esses livros inspiraram muito o trabalho de Lovecraft e estão presentes em muitos de seus contos como por exemplo Ar Frio, O Alquimista e A Coisa Na Soleira da Porta.

Quando Lovecraft escrevia ele buscava transpor para o papel algo que despertasse no leitor seus medos mais ocultos e violentos, um temor puro e inexplicável de algo incompreensível para a mente humana. E assim ele combinou em um texto a ficção que admirava com a superstição que dominava as pessoas, e para isso ele buscou bases reais para seu romance.

 

Senhor Mather e Mestre Borellus

Durante o desenrolar da história o nome do livro de Borellus não é citado, e nem qualquer outra informação direta sobre seu autor, mas Lovecraft nos dá uma pista importante. Durante sua narrativa ele escreve uma passagem sobre uma carta escrita por Jebediah Orne, de Salem, para Curwen na qual lemos:

“[…]Não possuo as artes químicas para imitar Borellus e confesso que fiquei confuso com o VII Livro do Necronomicon que o senhor recomenda. Mas gostaria que observasse o que nos foi dito a respeito de quem chamar, pois o senhor tem conhecimento do que o senhor Mather escreveu nos Marginalia de______”

Aqui entram dois personagens importantes na solução do mistério, Mather e suas escritas marginais em algum livro.

Mather muito provavelmente se trata de Cotton Mather, o ministro puritano da Nova Inglaterra que teve grande influência nos tribunais de caças a bruxas nos Estados Unidos, especialmente na cidade de Salém. A mera citação do nome de Mather no texto é importante pois ajuda a dar credibilidade ao passado de Joseph Curwen, um bruxo que deixou Salém na época em que bruxos era perseguidos e se isolou para dar continuidade a seu trabalho, sem perder o vínculo com os feiticeiros de lá. Em 1702, a maior obra de Mather é publicada, o Magnalia Christi Americana – Os Gloriosos Trabalhos de Cristo na América, o livro traz biografias de santos e descreve o processo de colonização da Nova Inglaterra. A obra, composta de sete livros, traz também o livro entitulado “Pietas in Patriam:  A vida de Vossa Excelência Sir William Phips”. Pietas havia sido publicado anonimamente em Londres em 1697.

Aqui se faz necessária a apresentação de outro escritor, Samuel Taylor Coleridge. Coleridge foi um famoso poeta e ensaista inglês, considerado um dos fundadores do Romantismo na Inglaterra. Dentre de suas obras mais conhecidas se destacam Balada do Antigo Marinheiro – conhecida também por ter inspirado a música de mesmo nome da banda Iron Maiden – Kubla Khan e Cristabel. Lovecraft conhecia e admirava o escritor, como deixa claro em seu O Horror Sobrenatural na Literatura. Mas além de escrever os próprio poemas e prosas, Coleridge era famoso por suas marginália nos livros que possuia. Como todo leitor da revista MAD ou qualquer fã de Sérgio Aragonés já sabe, marginália (do latim marginalia, como também é usado – sem o acento) é o termo geral que designa as notas, escritos e comentários pessoais ou editoriais feitos na margem de um livro, o termo é também usado para designar desenhos e floreados nas iluminuras dos manuscritos medievais. Tantas foram que hoje existem volumes com suas anotações pessoais sendo impressos e um livro em particular se encaixa nesta obra de Lovecraft, o Magnalia Christi Americana de Mather. A Biblioteca de Huntington contém alguns dos livros que Coleridge cobriu com suas notas e comentários e um deles é a edição de 1702 do Magnalia. A principal característica dessas notas são o tom anti puritano e anti Mather, Coleridge se surpreende com a credulidade do ministro e se perturba com suas descrições sobre bruxaria, como detectar e tratar as acusadas de feitiçaria. Em um ponto Coleridge se aborrece com a incapacidade de Mather fornecer dados suficientes para que o poeta pudesse calcular a velocidade com que um fantasma se desloca.

Neste ponto é importante frisar que não há evidência de que Lovecraft tenha descoberto o livro de Mather por causa de Coleridge, existe uma chance dele próprio ter possuido uma cópia do Magnalia, ou ao menos do Pietas. Muitas das coisas descritas ali com certeza seriam de seu interesse, especialmente as alusões ao sobrenatural e à bruxaria, um tema também tratado por ele em muitos contos. Mas de fato este livro contém a chave para a identificação de Borellus. Mather o inicia com algumas palavras sobre a natureza da arte da biografia, comparando o biógrafo com a teoria defendida por Borellus de se evocar a forma dos ancestrais – Livro II, Capítulo XII. Na época de Mather viveu um químico, alquimista, físico e botânico francês que ganhou muita notoriedade escrevendo sobre ótico, história antiga, filologia e também sobre bibliografia, Pierre Borel (1620-1679). Não é difícil de se supor que Mather, também um biógrafo apaixonado, conhecesse Pierre Borel e sua obra. Dos muitos textos existentes de Borel não existe a passagem literal citada por Mather, o que leva a crer que Mather parafraseou o alquimista francês usando suas próprias palavras. Este ponto também é importante porque mostra que Lovecraft de fato teve acesso ao livro de Mather e não à obra de Borel, cujo nome em latim era escrito Petrus Borellius, ou simplesmente Borellus, já que atribui ao alquimista a passagem literal.

Fora isso, a menção de uma Marginalia de punho do próprio Mather pode servir como subterfúgio para indicar que Curwen e Jebediah possuiam anotações não publicadas de Mather, o que agrega ao romance um ar muito mais sinistro; uma das grandes contribuições de Mather para os tribunais de feitiçaria foi o incentivo do uso de provas sobrenaturais para acusar as supostas feiticeiras. Notas marginais de Mather em  um livro de evocações demoníacas seria o mesmo que um selo legitimando o ritual.

 

A Alquimia do Sal

“Se um químico renomado como Quercetanus, juntamente com uma tribo inteira de ‘trabalhadores no fogo’, um homem culto encontra dificuldades em fazer a parte comum da humanidade acreditar que eles podem pegar uma planta em sua consciência mais vigorosa, e após a devida maceração, fermentação e separação, extrair o sal da planta, que, como se encontra, no chaos, de forma invisível reserva a forma do todo, que é seu princípio vital; e que, mantendo o sal em um pote hermeticamente selado, podem eles então, ao aplicar um fogo suave ao pote, fazer o vegetal se erguer ao poucos de suas próprias cinzas, para surpreender os espectadores com uma notável ilustração da ressurreição, na mesma fé que faz os Judeus, ao retornarem das tumbas de seus amigos, arrancarem a grama da terra, usando as palavras da Escritura que dizem “Seus ossos florecerão como uma erva”: desta forma, que todas as observações de tais escritores, como o incomparável Borellus, encontrarão a mesma dificuldade de criar em nós a crença de que os sais essenciais dos animais podem ser preparados e preservados de tal forma que um homem engenhoso possa ter toda a Arca de Noé em seu próprio estúdio e fazer surgir a bela forma de um animal de suas próprias cinzas a seu bel-prazer: e, pelo mesmo Método, dos sais essenciais do pó humano, um filósofo pode, sem recorrer à necromancia criminosa, evocar a Forma de qualquer ancestral falecido das cinzas resultantes da incineração de seu corpo. A ressurreição dos mortos será da mesma forma, um artigo tão grandioso de nossa crença, mesmo que as relações desses homens cultos se passem por incríveis romances: mas existe ainda a antecipação da abençoada ressurreição, carregando em si algumas semelhanças a estas curiosidades, quando em um livro, como no pote, nós reservamos a história de nossos amigos que partiram; e ao aquecermos tais histórias com nosso afeto nós revivemos, de suas cinzas, a forma verdadeira desses amigos, e trazemos com uma nova perspectiva tudo aquilo que era memorável e reprodutível neles.”

Magnalia Christi Americana – Livro II, Capítulo XII

Como descrito por Mather, Borellus, Quercetanus e os membros da tribo dos “Trabalhadores no Fogo” afirmam que para ressucitarmos os mortos, precisaríamos apenas de um processo puramente químico, isso se torna evidente na passagem “sem recorrer à necromancia criminosa”. Mas, em sua história, Lovecraft sugere que Borellus, em seu livro misterioso, afirmava a necessidade de componentes ritualísticos. Na troca de correspondência entre Jebediah, Hutchinson e Curwen lemos:

Jebediah:

“Eu ainda não possuo a arte química para seguir Borellus…”

Curwen:

“As substâncias químicas são fáceis de serem conseguidas, eu indico para isso bons químicos na cidade. Doutores Bowen e Sam Carew. Estou seguindo o que Borellus disse, e consegui ajuda no sétimo livro de Abdul Al-Hazred.

Hutchinson:

“Você me supera em conseguir as fórmulas para que um outro o possa dizê-las com sucesso, mas Borellus supôs que seria assim, se apenas as palavras corretas fossem proferidas.”

Isso faria com que o processo alquímico da obtenção dos sais e da sua conseguinte restauração em suas formas originais deveria ser acompanhado de certos rituais, fórmulas pronunciadas, combinando a química com a Alta Magia.

 

Entra em Cena Eliphas Levi

A fórmula recitada por Ward na Sexta-Feira Santa, anotada por sua mãe foi identificada por especialistas como uma das evocações encontradas “nos escritos místicos de ‘Eliphas Levi’, aquele espírito misterioso que se insinuou por uma fenda da porta proibida e teve um rápido vislumbre das terríveis visões do vazio além”.

Eliphas Levi era o nome mágico do ocultistas francês Alphone Louis Constant (1810-1875), um dos grandes, se não o maior, responsável pelo renascimento do ocultismo moderno. Paracelso elevou a magia ao status de ciência, Cagliostro a incorporou na religião que buscava a regeneração da espécie humana, mas foi Levi que a tranformou em literatura. A atmosfera e densidade com que trata o ocultismo diferenciava as obras de Levi dos outros grimórios que existiam e circulavam na época. O assunto que parecia tomar a forma de livros de receitas demoníacas e angelicais, passou a ser tratado com reverência, como uma filosofia e um estudo no qual eram necessários anos de aprimoramento para se dominar.

Seu livro mais conhecido do grande público é o Dogma e Ritual da Alta Magia, e é exatamente nesta obra que encontraremos a fórmula usada por Ward, mas muito provavelmente não foi este livro que Lovecraft teve em suas mãos para inspirar esta passagem.

Crowley sempre fez questão de ser conhecido e lembrado como o mais depravado dos homens, o mago negro de sua geração, a Grande Besta 666, e fez um bom trabalho nisso. Mas como devemos chamar então o seu arqui-inimigo, aquele que inspirou a vilão Arthwate do livro Moonchild escrito por Crowley?

Arthur Edward Waite se tornou um místico muito menos popular do que Crowley, mas em alguns pontos muito mais poderoso. Durante sua vida escreveu extensamente sobre ocultismo e esoterismo. Foi um dos criadores do Tarô Raider-Waite, considerado um Tarô clássico até os dias de hoje. Ele fez parte da Ordem Hermética da Aurora Dourada, Sociedade Rosa-Cruz Inglesa, Sociedade da Cruz Rosada, dentre outras. Seus trabalhos atravessaram o atlântico e acabaram chegando às mãos de Lovecraft que inclusive o incluiu em um de seus contos, também como um vilão, o mago negro Ephraim Waite de A Coisa Na Soleira da Porta. Mas não foi com seus trabalhos que Waite influenciou O Caso de Charles Dexter Ward. Além de escrever sobre Tarô, divinações, esoterismo, os Rosacruz, Maçonaria, Cabala e alquimia, Waite também traduzia e publicava muitos livros ainda inéditos na língua inglesa, e Eliphas Levi havia se tornado uma celebridade entre os praticantes de magia cerimonial. Em 1886 Waite publicou um livro intitulado Os Mistérios da Magia, formado por vários artigos tirados de livros de Levi, posteriormente em 1896 conseguiu publicar as duas obras do ocultista francês, Dogma da Alta Magia e Ritual da Alta Magia, em uma versão em inglês, rebatizada para Magia Transcedental, Sua Doutrina e Rituais. Ambos os livros possuem um mesmo capítulo entitulado O Sabbat dos Feiticeiros, e neste capítulo encontramos a fórmula Per Adonai. Hoje não há como saber com certeza de qual livro de Waite Lovecraft tirou o encantamento, mas muitos pesquisadores apontam para o livro de coletânia de textos, o Mistérios da Magia.

O capítulo em questão, trata do que Levi define como “o fantasma de todos os espantos, o dragão de todas as teogonias, o Arimane dos persas, o Tifon dos egípcios, o Píton dos gregos, a antiga serpente dos hebreus, a vouivre , o graouilli , tarasque , a gargouille , a grande besta da Idade Média, pior ainda do que tudo isso, o Baphomet dos templários, o ídolo barbado dos alquimistas, o deus obsceno de Mendes, o bode do Sabbat”. Dentro do assunto tratado em seu romance, Lovecraft não podia ter escolhido uma fonte melhor de onde tirar a porção de magia cerimonial do ritual realizado por Ward. Mas apesar de tratar do ritual de adoração ao Diabo, Levi deixa clara sua visão quando afirma que “digamos bem alto, para combater os restos de maniqueísmo que ainda se revelam, todos os dias, nos nossos cristãos, que Satã, como personalidade superior e como potência, não existe. Satã é a personificação de todos os erros, perversidades e, por conseguinte, também de todas as fraquezas”. Indo mais a fundo em sua exposição, Levi classifica tais rituais em três grupos distintos:

– Os que se referem a uma realidade fantástica e imaginária;

– Aqueles que revelam os segredos expostos nas assembléias ocultas dos verdadeiros adeptos;

– Aqueles realizados por loucos e criminosos, tendo como objetivo a magia negra.

E prossegue:

“[…]e existiu realmente; até ainda existem as assembléias secretas e noturnas em que foram e são praticados os ritos do mundo antigo, e destas assembléias umas têm um caráter religioso e um fim social, outras são conjurações e orgias. É sob este duplo ponto de vista que vamos considerar e descrever o verdadeiro Sabbat , quer seja o da magia luminosa, quer o da magia das trevas.”

Levi então descreve a personalidade de alguém que será bem sucedido em suas evocações infernais. A pessoa deve ser teimosa, ter uma consciência ao mesmo tempo endurecida e acessível ao remorso e ao medo, acreditar naquilo que “a parte comum da humanidade” não acredita ser real. Para o ritual ter sucesso são necessários sacrifícios sangrentos.

Por toda a cidade se comentavam sobre os hábitos estranhos adotados pelo jovem ward, que incluíam encomendas de quantidades imoderadas de carne e sangue fresco fornecidas pelos dois açougues da vizinhança mais próxima, uma quantidade muito grande para uma casa em que habitavam apenas três pessoas.

Levi então diz que após os preparativos, que podem levar dias a evocação deve ser feita, de segunda para terça-feira ou de sexta-feira para sábado, o que coincide com o ritual realizado na Sexta-Feira Santa por Ward. A pessoa então deve traçar círculos e triângulos e os molhar não com o sangue de uma vítima, mas do próprio operador.

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“A pessoa pronunciará, então, as fórmulas de evocação que se acham nos elementos mágicos de Pedro de Apono ou nos engrimanços, quer manuscritos, quer impressos. A do Grande Grimório , repetida no vulgar Dragão Vermelho , foi voluntariamente alterada na impressão. Ei-la como deve ser lida:

“Per Adonai Elohim, Adonai Jehova, Adonai Sabaoth, Metraton On Agla Adonai Mathom, verbum pythónicum, mystérium salamándrae, convéntus sylphórum, antra gnomórum, doemónia Coeli Gad, Almousin, Gibor, Jehosua, Evam, Zariatnatmik, veni, veni, veni ”.

 

Veni, Veni, Veni

Como Levi afirma, a evocação Per Adonai já existia muito tempo antes dele a publicar em seu livro, dizendo que a do Grande Grimório, talvez mais antiga que tenha visto pessoalmente, foi reimpressa de forma alterada no Dragão Vermelho.
Apesar de na cabeça das pessoas a história dos grimórios, ou engrimaços, se perder no tempo, eles não são tão antigos assim. A maior fonte de todos os livros mágicos que surgiram na Europa até recentemente, foi a Bíblia. Os primeiros cinco livros das Escrituras Sagradas, conhecidos como Pentateuco, são atribuídos a Moisés. Muitas pessoas acreditavam que Moisés escreveu muito mais coisas do que apenas os cinco livros e não demoraram a aparecer cópias do livro entitulado o oitavo livro de Moisés. Esse livro, datado de aproximadamente IV d.C., trazia, supostamente, os ensinamentos de Deus que ficaram fora do Pentateuco, as maneiras de se chamar anjos e realizar maravilhas, curiosamente os manuscritos mais antigos retratavam Moisés como um egípcio e não um judeu. Outros textos que diziam ter sido escritos por Salomão, existiam na forma de um livro que circulava no primeiro século cristão. Outro autor bíblico que fazia sucesso era Enoque, haviam inúmeros manuscritos mágicos que descreviam o que Deus supostamente havia lhe ensinado sobre o controle das forças por trás da Criação. Todos esses livros, obviamente, não tinham ligação direta com os patriarcas bíblicos, mas eram muito populares porque as pessoas que os adquiriam acreditavam nisso, o que torna os primeiros grimórios excelentes exemplos de jogadas de marketing séculos antes do marketing sequer ser criado. Em 1436, com o advento da prensa móvel por Gutenberg, dezenas de grimórios “antigos” começaram a circular, dentre eles as Claviculas de Salomão, o Pequeno Alberto, o Grimório de Honório, o Sexto e Sétimo Livros de Moisés, o Galo Negro, Grande Grimório, Grimorium Verum e inúmeros outros. Os livros mais caros eram grandes, ilustrados, os mais baratos eram cópias mal feitas, com coletânias de textos vindo de outros livros sem muita explicação de como seguí-las, eram de fato livros de receitas em que anjos e demônios eram evocados em horas planetárias pré determinadas.
O Grande Grimório, citado por Levi, traz uma introdução que afirma que a obra foi impressa em 1552, mas não existem registros de publicações anteriores ao século XVIII. Seu autor é apresentado como Alibek, o Egípcio. Em sua página de introdução está escrito:
“Este livro é tão raro e procurado em nosso país que foi chamado, por nossos rabinos, de a verdadeira Grande Obra. Foram eles que nos entregaram este precioso original que muitos charlatães tentaram inutilmente reproduzir, tentando imitar a verdade que eles nunca encontraram, de forma a tirar vantagem de indivíduos ingênuos que tem fé em encontros com pessoas quando buscam a Fonte original.
Este manuscrito foi copiado de inúmeros escritos do grande Rei Salomão. Este Grande Rei passou muitos de seus dias na mais árdua busca atrás dos mais obscuros e inesperados segredos.”
Ao examinar o Grande Grimório é fácil perceber que a evocação Per Adonai não se encontra nele, a maior parte das evocações lá presentes são variantes da fórmula:
“Eu Te imploro, O grande e poderoso ADONAI, lider dos espíritos. Eu Te imploro, O ELOHIM, eu Te imploro O JEHOVA, O grande Rei ADONAI, seja condescendente e favorável. Que assim seja. Amém.”
Mas isso não é uma surpresa. Grimórios eram colchas de retalhos, hoje um exemplo disso é o Livro de São Cipriano, diferentes editoras o lançam com diferentes nomes, O Livro de São Cipriano, O Verdadeiro Livro de São Cipriano, São Cipriano da Capa Preta, São Cipriano da Capa Metálica, etc. Na época de Levi ainda havia o agravante de cada tradução ser uma versão diferente do grimório traduzido, partes eram introduzidas ou retiradas, assim quando mudava de língua, o livro mudava de conteúdo, não eram traduções e sim editorações de conteúdo. Outro problema era a origem do livro e seu nome real. Muitos grimórios afirmavam ser versões modernas inspiradas por livros mais antigos, no caso do Grande Grimório, há aqueles que acreditem que ele foi amplamente inspirado no livro conhecido como o Grimório Jurado de Honório, o Liber Juratus – não confundir com o Grimório do Papa Honório III. No Liber Juratos é possível se encontrar fórmulas muito mais próximas à de Levi, como por exemplo:
“HAIN, LON, HILAY, SABAOTH, HELIM, RADISH~~, LEDIEHA, ADONAY, JEHOVA, YAH, TETRAGRAMMATON, SADA!, MESSIAS, AGIOS, ISCHYROS, EMMANUEL, AGLA”
O que pode indicar que talvez o Grande Grimório ao qual Levi se referia seria na verdade o Liber Juratus. Levi o compara ao Dragão Vermelho, que se conecta de forma diferente aos dois livros, Grande Grimório e Liber Juratus. Muitos afirmam que o Dragão Vermelho e o Grande Grimório são os mesmos livros, outros afirmam que são livros diferentes, mas que o Dragão Vermelho, por seu conteúdo também era conhecido como um grande grimório, o maior e mais perverso de todos, dai o nome Grande Grimório ser mais um título no ranking dos maiores grimórios do que simplesmente o nome que trazia. Como Levi o descreve nos leva a crer que ao menos na França, onde circulava com o nome “Le Veritable Dragon Rouge” o Dragão Vermelho poderia ser uma versão mais popular do Grande Grimório original. Neste caso ele poderia ter alguma relação ao Liber Juratus e trazer uma versão mais próxima da fórmula apresentada, mas sem o livro que Levi tinha em mãos, não há como saber se a evocação se manteve fiel ao original ou não, mas hoje é sabido que Levi tinha uma estranha atração pelo livro, o que pesa a favor da fidelidade do texto, por outro lado Levi era um romancista e adorava “corrigir” textos que ele percebia haver chegado em suas mãos com desvios do original, assim essa evocação pode ter sido desenvolvida pelo próprio Levi para sua obra.
Independente de sua origem a evocação se consagrou, fazendo parte de inúmeros livros publicados posteriormente. Tais evocações, mesmo conflitantes entre si em sua formulação, eram muito comuns nos livros. Como grande parte dos os grimórios, se não todos eles, se derivaram da Bíblia, por mais nafasta que fosse a criatura evocada, ela deveria se curvar perante o poder de Deus, assim a fórmula era recitada, após os diagramas desenhados, para obrigar, em nome de Deus, que o espírito se materializasse.
Nas palavras de Cornelius Agrippa, quando fala sobre necromancia em seus Três Livros de Filosofia Oculta:
“Para a empreitada de chamar e compelir os maus espíritos, adjurando por um certo poder, especialmente aquele dos nomes divinos; pois sabemos que toda criatura teme, e reverencia, o nome de quem a criou, não é de admirar, se infiéis goetians, pagãos, judeus, sarracenos, e homens de toda seita profana e da sociedade, conseguirem controlar demônios ao se invocar o nome divino.”
Assim, a evocação Per Adonai traduzida se lê:
Por meu Senhor Deus, meu Senhor que Vive, meu Senhor Das Hostes Celestes, por Metraton[1] On[2] e o Senhor Eternamente Forte, pela quinta hora da noite, pela palavra profética, pelo mistério das salamandras, pelos espíritos das florestas, pelas cavernas dos gnomos, pela fortuna descrita nos céus pelos espíritos, por Almousin, Senhor da Força, por Jesus, por Evam[3], o Filho de Deus, VENHA, VENHA, VENHA.”
[1] Metraton é o príncipe dos Anjos, o único que fala diretamente com Deus, por isso chamado também A Voz de Deus.
[2] ON é outro nome de Deus.
[3] Evam é um termo que permanece incerto
O objetivo era, assim que um canal com o mundo dos mortos fosse aberto, obrigar, através da menção dos nomes/qualidades de Deus, o espírito escolhido a se manifestar. Mas, seguindo a lógica do texto de Lovecraft, as conversas trocadas pelo círculo de Curwen, o espírito deveria animar a forma, ou seja o corpo, criado alquimicamente a partir dos sais do corpo original, não apenas se manifestar em sua forma etérea. A alquimia criava um corpo físico, uma versão antiga da gentética de hoje, e a magia devolvia o espírito original a esse novo corpo.
E aparentemente Ward obteve sucesso em sua evocação, já que junto com seus clamores uma segunda voz lhe respondeu, uma voz que com certeza não era a sua.
Corta Para o Signore Pietro d’Abano
Também conhecido como Petrus De Apono ou Aponensis, viveu entre as décadas de 1250 e 1310, ele foi um filósofo italiano, que estudava astrologia e medicina em Pádua. Eventualmente, como toda pessoa culturalmente prolífera que não fazia parte da igreja, foi acusado de heresia e ateísmo e acabou caindo nas mãos da Inquisição, morrendo na prisão em 1315.
Durante sua vida estudou por muitos anos em Paris, onde recebeu os três graus de doutorado em filosofia e medicina, se tornando um médico talentoso e de muito renome, chegando a ser chamado de O Grande Lombardo. Foi em Pádua que ganhou sua reputação como astrólogo e físico e foi acusado pela primeira vez de praticar magia – diziam que com a ajuda do demônio ele conseguiu recuperar todo o dinheiro que gastou em sua educação e que possuia uma pedra filosofal, as pessoas que o acusavam disso não deviam saber dos honorários salgados que cobrava para exercer a medicina.
Pietro também gostava de escrever e registrar os conhecimentos que ia coletando, criando uma verdadeira enciclopédia de ciências ocultas, procurando sempre provar através de experimentos, aquilo que registrava sobre fisiognomia – diferente de fisionomia -, geomancia e quiromancia entre outros. E foi dentre esses estudos que registrou o seguinte:
pega saci“A peneira é sustentada por tenazes ou pinças que são erguidas pelos dedos médios de dois assistentes. Desta forma pode ser descoberto, com a ajuda de demônios, as pessoas que cometeram um crime ou que roubaram algo ou feriram alguém. A conjuração consiste de seis palavras – que não são compreendidas nem por aqueles que as proferem nem pelos que as escutam – que são DIES, MIES, JUSCHET, BENEDOEFET, DOWIMA e ENITEMAUS; uma vez que sejam pronunciadas elas compelem o demônio a fazer a peneira, apoiada nas tenazes, a girar no momento que o nome da pessoa culpada for pronunciado (pois o nome de todos os suspeitos devem ser pronunciados), tornando o culpado imediatamente conhecido.”
Mais de 200 anos depois da morte de Pietro, Agrippa começa a coletar o conhecimento ocultista existente até então em seus próprios escritos, que posteriormente foram coletanos em dois volumes entitulados Opera omnia em 1600 pela editora Lyons. Em seu total os volumes traziam seus três volumes do De occulta philo-sophia, De incertitudine et vanitate scientiartn argue artium declamatio, Liber de Iriplici ratione cognoscendi Dewn e In artem brevem Ravtnundi Lulli commentaria. Popularmente esse trecho foi apontado como saindo de algum dos três livros do Occulta, mas ele não se encontra neles, o que fez muitos pesquisadores modernos o atribuirem ao apócrifo quarto livro do Occulta philo-sophia, um livro que surgiu, escrito em latim, aproximadamente 30 anos após a morte do autor e que foi denunciado como fraude por Johann Weyer, um dos estudantes de Agrippa. Esse tipo de confusão entre D’Abano e Agrippa é comum já que um dos maiores tratados ocultos, o Heptameron – ou Elementos Mágicos – atribuído a D’Abano apareceu como apêndice no quarto livro de filosofia oculta atribuído a Agrippa. Em ambos os casos parece que os livros apenas foram atribuídos aos ocultistas como forma de marketing, já que parece que nenhum dos dois redigiu nenhuma das obras. Mas Agrippa faz menções a D’Abano em seu trabalho, especificamente em seu terceiro livro da Filosofia oculta, apontando o italiano como sendo sua fonte para o alfabeto Thebano, desenvolvido por Honório de Thebas, o suposto autor do Liber Juratus.
Assim um texto escrito por D’Abano se tornou famoso como sendo a Grande Evocação de Agrippa:
“Dies Mies Jeschet Boenedoesef Douvema Enitemaus”
As seis palavras, que antes surgiam como fórmulas mágicas individuais, agora são uma única frase, ou fórmula. Levi provavelmente a incluiu nesta parte de seu tratado por se tratar de uma fórmula de evocação ao demônio, e a associou ao ritual do sabbat, onde o diabo era supostamente evocado, mas como podemos ver, o objetivo original da fórmula não era chamar O diabo, e sim forçar algum diabo a identificar um malfeitor. Levi provavelmente teve acesso aos dois volumes do Opera omnia de Agrippa e reproduziu de lá a frase. E de lá cai nas mãos de Lovecraft.
Em seu texto sobre o Sabbat Levi esclarece:
“A grande evocação de Agrippa consiste somente nestas palavras: Dies Mies Jeschet Boenedoesef Douvema Enitemaus . Não temos a pretensão de entender o sentido destas palavras que, talvez, não têm nenhum, e ao menos não deve ter nenhum que seja razoável, pois que têm o poder de evocar o diabo, que é a soberana irracionalidade.”
Esta declaração talvez tenha tornado este trecho da obra de Levi irresistível a Lovecraft, pai dos livros que não podiam ser lidos, dos cultos inomináveis e dos nomes impronunciáveis. Giovanni Pico della Mirandola, o cabalista italiano do século XV, era outro que afirmava que  as palavras mais bárbaras e absolutamente ininteligíveis são as que produzem melhores resultados em rituais na magia negra. Até nas Mil e Uma Noites encontramos referências a tal prática, onde uma feiticeira apanha uma porção de água lago com as mãos e sussurra sobre ela “palavras que não podiam ser compreendidas”, e as Mil e Uma Noite foram uma das maiores fontes de inspiração de Lovecraft, tanto quando criança quanto quando adulto.
 
Eis o Professor de Aleister Crowley
O encontro de Darth Vader e Obi Wan Kenobi, no filme Uma Nova Esperança da saga Guerra nas Estrelas, se tornou um clássico do cinema, mas poderia ter sido plagiado da vida de dois outros grandes ocultistas: Samuel Liddell MacGregor Mathers e Aleister Crowley. Mathers, antigo amigo e mestre de Aleister Crowley nas artes mágicas, com o tempo se tornou um vilão para o ex-aprendiz.
Mathers era um Mestre Maçom, um membro da Societas Rosicruciana in Anglia e então em 1888 fundou a Ordem Hermética da Aurora Dourada. Ele também era um poliglota que dominava, entre outras línguas, o inglês, o francês, o latim, o grego, o hebraico, o gaélico e o copta, e dedicou parte da vida a traduzir e publicar antigos livros de magia em inglês, sua língua nativa. Um desses livros foi o grimório conhecido como A Clavícula Maior de Salomão – ou a Chave do Rei Salomão. Mathers aceitava a tradição que dizia que livro havia de fato sido escrito pela Rei Bíblico, mesmo que o manuscrito mais antigo que tenha estudado fosse datado do século XVI. Até a publicação da versão de Mathers o texto da Clavicula se encontrava fragmentado, partes dele circulavam em diferentes países até ser reunido em um único tomo na edição de 1889. No trabalho traduzido e publicado por Mather a evocação Dies Mies Jeschet aparece no capítulo IX do livro I no feitiço para “Como Saber Quem Cometeu o Roubo”, a fórmula aparece ligeiramente diferente e apesar de não haver uma tradução oferecida Mathers oferece, de forma discreta um possível significado:
“DIES MIES YES-CHET BENE DONE FET DONNIMA METEMAUZ; Deus Meu, Que liberou a santa Susanna da falsa acusação do crime”
Este feitiço descreve exatamente o mesmo procedimento do de D’Abano, se utilizando de uma peneira para descobrir quem realizou um roubo. Isso indica que Mathers pode ter tido acesso ou a algum texto de D’Abano ou a algum texto ao qual D’Abano teve acesso.
Curiosamente Lovecraft usa esta fórmula como uma resposta por parte do morto que foi trazido de volta a este mundo graças ao ritual realizado por Ward, ou talvez Lovecraft tenha achado interessante um espírito que volta da morte proferir as palavras usadas em rituais de demonologia antigos que ninguém sabe o significado. Mas historicamente Joseph Curwen e seus associados poderiam ter obtido a fórmula Dies Mies Jeschet tanto da Opera omnia de Agrippa, algum manuscrito que poderia fazer parte da Clavicula de Salomão.
Muito Trabalho, Sem Diversão
Tudo o que Jack Torrance precisou para resolver dar um fim em sua mulher e filho com um machado foi um tempo isolado nas entranhas do Hotel Overlook. De fato a isolação pode perturbar uma mente comum e ordinária, mas ela é ingrediente fundamental para a magia – tanto o isolamento quando a perturbação mental.
A magia é real e nos cerca, mas enxergá-la e lidar com ela é algo trabalhoso. O mago ou feiticeira deve aprender a percebê-la e a trabalhar com ela e para isso deve se distanciar da rotina que o cerca. Da mesma forma que um casal pode buscar lugares que despertem o desejo sexual e a inspiração luxuriante quando desejam novas experiências, o praticante deve buscar ambientes que tornem mais fácil para seus sentidos perceberem os poderes ocultos. Quando o ritual tem a ver com necromancia, o local de isolamento deve evocar sentimentos característicos no mago.
Levi recomenda “um lugar solitário e assombrado, tal como um cemitério freqüentado por maus espíritos, uma ruína temida no campo, os fundos de um convento abandonado, o lugar onde foi cometido um assassinato, um altar druídico ou um antigo templo de ídolos”.  Esta citação tem uma origem judaica, nos livros do antigo testamento que faz um alerta sobre rituais e sacrifícios realizados no alto de montanhas ou nos profundezas da terra.
Ward realizou rituais tanto no porão da casa da família, quanto no bangalô de seu antepassado, na cripta subterrânea. Curwen, antes dele, era conhecido também por vagar em cemitérios, e posteriormente construiu um laboratório subterrâneo em seu bangalô, sua “ruína no campo”.
Yog-Sothotheria: A Cabeça e a Cauda do Dragão
 
beautyful one
Seguindo a agenda de Ward, após a invocação Dies Mies, seguiu-se uma invocação a Yog-Sothoth, quando ele volta a entoar de forma monótona uma nova fórmula, que era percebida como sílabas aparentemente sem sentido:
“Yi-nash-Yog-Sothoth-he-lgeb-fi-throdog”
Sendo seguida por um grito de YAH!, “cuja força desvairada subia num crescendo de arrebentar os tímpanos”.
Esta nova fórmula descrita por Lovecraft não possui origem clássica; ou invés de se utilizar de um ritual tradicional Lovecraft parece ter inventado um ritual próprio dedicado a uma das deidades que apresentou ao público. A invocação a Yog-Sothoth criada por Lovecraft segue um padrão usado não apenas pelo autor, mas também por outros escritores, de se fazer valer da linguagem alienígena, batizada de Aklo, sempre que se tenta evocar, banir ou chamar algum de seus antigos. Essa “pseudo-liguagem” está presente em outros contos, como O Chamado de Cthulhu e o Horror de Dunwich e não possui um significado claro.
O Portão, a Chave e o Guardião
Em o Horror de Dunwich, Lovecraft nos oferece a seguinte descrição deste Antigo:
“Também não é para se pensar (dizia o texto, que Armitage ia traduzindo mentalmente) que o homem é o mais velho ou o último dos mestres da Terra, nem que a massa comum de vida e substância caminha sozinha. Os Antigos foram, os Antigos são e os Antigos serão. Não nos espaços que conhecemos, mas entre eles. Caminham serenos e primitivos, sem dimensões e invisíveis para nós. Yog-Sothoth conhece o portal. Yog-Sothoth é o portal. Yog-Sothoth é a chave e o guardião do portal. Passado, presente e futuro, todos são um em Yog-Sothoth. Ele sabe por onde os Antigos entraram outrora e por onde Eles entrarão de novo. Ele sabe por quais campos da Terra Eles pisaram, onde Eles ainda pisam e por que ninguém pode vê-los quando pisam […] Yog-Sothoth é a chave para o portal, onde as esferas se encontram.”
No conto Através dos Portões da Chave de Prata, Randolph Carter identifica Yog-Sothoth com a origem de todo o universo criado:
“Era um Tudo em Um e Um em Tudo de ser e existir ilimitado – não meramente uma coisa de um continuum de espaço-tempo, mas aliado à essência criadora máxima de toda a existência – aquele último ímpeto sem limites que não possui fronteiras e que transcende tanto a fantasia quanto a matemática. Foi, talvez, isso que certos cultos secretos da terra sussurraram como sendo Yog-Sothoth…”
Podemos dividir os seres do universo Lovecraftiano em alguns grupos. Existem aqueles que podem ser classificados como seres, indivíduos, como o próprio Cthulhu, Nyarlatothep, Shub Niggurath, e outros. Existem também as criaturas “menores” como Bronw Jenkings, shoggoths, o sabujo voador e entidades que fazem parte de uma história maior ou que estão ligadas a outros seres maiores. E existem aqueles que são como forças da natureza, Azathoth e Yog-Sothoth são exemplos desses. Eles cumprem uma função quase cósmica. Enquanto Cthulhu pode ser considerado um líder ou um sacerdote alienígena Yog-Sothoth está além da mera existência, ele não tem um propósito da forma que compreendemos propósitos. Em um primeiro momento Yog-Sothoth parece ser alguém excessivamente poderoso para ser usado apenas com o objetivo de se trazer alguém de volta da morte. Mas dentro da mitologia Lovecraftiana ele também se mostra uma escolha lógica para essa tarefa. Como vemos pela descrição do Horror de Dunwich, Yog-Sothoth é aquele que será usada pelos antigos “mortos”, como Cthulhu por exemplo, para retornarem à vida. Isso nos mostra que nossa compreensão de vida e morte é extremamente limitada, se comparada àquela de criaturas que mesmo mortas sonham, e com a afirmação de que até mesmo a morte um dia pode morrer. Assim, magos como Curwen talvez tenham enxergado uma vantagem em entrarem em contato com algo tão poderoso assim. Podemos acompanhar essa decisão na correspondência trocada por ele com outros magos de seu círculo:
“Mas eu estou disposto a enfrentar tempos difíceis, como lhe disse, e tenho trabalhado muito sobre a maneira de reaver o que perdi. Na noite passada, descobri as palavras que evocam YOGGE-SOTHOTHE e vi pela primeira vez aquele rosto de que fala Ibn Schacabac”.
Em uma carta escrita por Simon Orne encontramos a saudação “Yogg-Sothoth Neblon Zin” e mais adiante em outra escrita por Curwen lemos:
“Evoquei três vezes Yog-Sothoth e no dia seguinte fui atendido.”
Evidentemente o poder de Yog-Sothoth é reconhecido como algo que jamais poderia ser controlado após a primeira morte de Curwen, em uma carta escrita por Ezra Weeden, onde o escritor cita um aviso de Simon Orne enviado anteriormente para Curwen:
“Eu lhe digo novamente, não chame aquilo que você não possa dispensar depois; e com isso me refiro a ninguém que, por sua vez, possa evocar algo contra o senhor, algo contra o qual seus recursos mais poderosos não terão nenhuma eficácia. Busque os menores, para que aqueles que são grandes não respondam mostrando um poder maior do que o seu”.
Este não é o primeiro conto de Lovecraft onde Yog-Sothoth é evocado mas traz uma peculiaridade que não surge em nenhum outro lugar. A evocação usada por Ward, como mais tarde é descoberto por Willett, é uma das duas partes de um feitiço aparentemente maior. As fórmulas descobertas são:
Y’AI ‘NG’NGAH,
YOG-SOTHOTH
H’EE—L’GEB
F’AI THRODOG
UAAAH
OGTHROD AI’F
GEB’L—EE’H
YOG-SOTHOTH
‘NGAH’NG AI’Y
ZHRO
Assim como Willett percebeu, basta uma olhada cuidadosa em ambas as fórmulas para notarmos que uma é o inverso da outra. Se excluimos os dois gritos finais, UAAAH e ZHRO, uma fórmula é exatamente a outra com cada letra escrita de trás para frente, à excessão do nome de Yog-Sothoth. Os gritos finais são uma pista da funcionalidade das fórmulas – indicam o início e o fim, talvez uma aluzão ao A e ao Z do alfabeto, ao “Alfa et Ômega”. Junto com as  fórmulas encontramos dois símbolos:
caput e  cauda
conhecidos respectivamente como a Cabeça do Dragão e a Cauda do Dragão.
Esses dois conceitos estão presentes em três ciências que possuem ligações íntimas: a alquimia, a geomancia e a astrologia.
Quando Lovecraft escreveu o texto, seu personagem lidava com a alquimia, e nela o dragão tem um papel fundamental, como explicou Carl Gustav Jung em seu Psicologia e Alquimia:
“Quando o alquimista fala de Mercúrio ele está falando de duas coisas, superficialmente ele está falando do elemento químico mercúrio, mas de forma mais profunda ele se refere ao espírito criador do mundo que se encontra aprisionado na matéria. O dragão é provavelmente o mais antigo símbolo pictórico na alquimia que temos evidência. Ele surge como o Ouroboros, deverando a própria cauda, no Codex Marcianus, que data do século X ou XI, juntamente com a legenda ‘O Um o Todo’. Vezes sem fim o alquimista reafirma que a obra se origina no um e leve de volta ao um, que é como um círculo tal qual um dragão que devora a própria cauda. Por essa razão a obra já foi chamada de circulare (circular) e rota (roda). O Mercúrio está presente no início e no fim do trabalho: ele é a matéria prima (primeira matéria), o caput corvi, o nigredo; como o dragão ele também se devora, morrendo para então ressurgir no lápis.”
Assim um símbolo draconiano deixa claro o objetivo do trabalho, ou obra, que estava sendo realizado, seria um trabalho lidando com morte e renascimento. Algo que tanto Curwen quanto Ward estavam fazendo.
na geomancia ambos os símbolos tem uma relação oposta. Cauda Draconis está relacionada à má orientação, mau conselho, más companhias, engano, etc., já a Caput Draconis à boa orientação, bom conselho, bons contatos, boa dica. A geomancia é uma arte muito antiga, uma das ferramentas oraculares mais primitivas que se tem notícia. Suas origens remontam à Pérsia antiga, e traz consigo muitas semelhanças com o I-Ching chinês. Algumas pessoas mais exaltadas inclusive apontam para as passagens bíblicas que mostram Jesus escrevendo nas areias antes de responder aos questionamentos de alguns homens que o procuravam como evidências de Jesus ser um geomante. Os 16 símbolos geomânticos possuem hoje uma ligação direta com os planetas e signos da astrologia e com os Planetas da Alquimia.
A escolha dos símbolos atrelados à fórmula de evocação de Yog-Sothoth se mostram curiosos, pois apesar de existirem em tratados alquímicos antigos, como o Últimos Desejos e Testamento de Basil Valentine, publicado em 1671, traz um símbolo semelhante ao Caput Draconis com o significado de Sublimação ou o Medicinisch Chymisch und Alchemistisches Oraculum, publicado em 1755, que traz o símbolo equivalente ao Caput Draconis com o significado de purificação, estão ligados à astrologia a aos nodos lunares. Os dois símbolos usados na obra de Lovecraft se derivam, então, da astrologia.
A Cabeça e a Cauda do Dragão, ou Caput Draconis e Cauda Draconis, são os nomes dos dois nós ou nodos lunares; são pontos imaginários que mostram onde a órbita da lua ao redor da Terra atravessa a órbita que a terra faz ao redor do sol. Essas órbitas coincidem a cada 28 dias, em 2 momentos,como se fossem 2 nós, amarrando aquelas órbitas naquele momento específico.
Na interpretação astrológica, todos os signos têm os seus nós que em algum momento cortam a órbita ascendente e descendente. O nós ascendente é onde a lua atravessa o norte da elipse, o descendente onde cruza o sul, é por isso que as eclipses só podem ocorrer próximos aos nós lunares, os eclipses solares ocorrem apenas quando a lua cruza o nó em sua fase Nova e eclipses lunares quando a lua cruza o nó em sua fase Cheia.
Os nós recebem diferentes nomes em diferentes lugares do mundo. O nó ascendete, também chamado de nó norte, era conhecido na europa antiga como Cabeça do Dragão, ou Anabibazon, e representado pelo símbolo à esquerda. O nó descendente, ou sul, era chamado de Cauda do Dragão, ou  Catabibazon, e representado pelo símbolo da direita – uma inversão do primeiro.
Com a popularização da astrologia e seu distanciamento com a estronimia, esses nós acabaram se relacionando com aspectos ocultos e indicadores do destino das pessoas. A crença é que a Cabeça do Dragão se relacione com o caminho do destino da pessoa, enquanto a Cauda do Dragão se relaciona com o passado da pessoa, ou o Karma que traz consigo.
Não há como apontar uma obra específica que tenha inspirado Lovecraft a usar esses dois signos, mas com certeza ele estava familiarizado com eles de estudos que realizou e de contatos que tinha com entusiastas do assunto, como mostra este trecho de uma carta que escreveu para E. Hoffmann Price em fevereiro de 1933:
“Quanto a astrologia – como sempre fui um devoto da ciência real da astronomia, que tira todo o apoio no qual se baseiam os arranjos celestes irreais e aparentes todas nos quais se derivam todas predições astrológicas, eu desprezo essa arte de forma que não tenho interesse nela – exceto quando refutando suas afirmações pueris. Pelos idos de 1914 eu realizei uma pesada campanha contra um defensor local de astrologia em um de nossos jornais, e em 1926 eu li uma bela quantidade de livros astrológicos (desde então esquecidos em sua maioria) para que pudesses trabalhar como escritor fantasma em uma obra que expusesse de forma irrefutável a falsa ciência, tendo como cliente ninguém menos do que Houdini. Isto resume a soma do meu conhecimento astrológico – já que criar horóscopos nunca foi uma de minhas ambições. Se eu em algum momento me utilizar de qualquer subterfúgio astrológico em algumas de minhas histórias eu com todo o prazer lhe escreverei atrás de detalhes mais realistas”
Com o desenrolar da história a fórmula acaba se revelando não apenas a chave para de evocar o morto, para que possa se manifestar em nosso mundo, mas também a chave para despachá-lo de volta para a morte. Isso se reflete na escrita das duas chamadas, uma sendo o inverso da outra, a primeira cria a obra, a segunda a descria.
Curiosamente, o efeito reverso “Caput Draconis” parece ser muito mais poderoso do que a obra para se trazer o vivo e se recriar seu corpo a partir de seus sais. Qual o possível motivo disso?
E Se Eu Cortasse Seus Braços e Cortasse Suas Pernas?
Outro livro de ocultismo que com certeza fez parte da coleção de Lovecraft foi a Enciclopádia de Ocultismo de Lewis Spence. O artigo sobre necromancia no livro a define como “divinação através dos espíritos dos mortos”. Lovecraft foi muito além disso.
A história nos fala de duas pessoas que foram trazidas de volta: Curwen e Daniel Green.
Daniel Green foi trazido de volta por Curwen e posteriormente escapa de sua fazenda em Pawtuxet. O processo utilizado por Curwen difere em muito daquele descrito no livro de Spence, que escreve:
“Se o fantasma de uma pessoa morta deve ser chamado, a sepultura deve ser procurada à meia-noite e uma forma diferente de conjuração se faz necessária. Ainda outra é o sacramento infernal “todo corpo que já foi enforcado, afogado ou de outra forma liquidado”; e neste caso as conjurações são realizadas sobre o corpo, que finalmente se erguerá e, de pé, responderá com uma fraca voz oca as questões que lhe forem feitas.”
Parte do trabalho de Curwen reflete a necromancia clássica. Ele violou a sepultura de Green, que posteriormente foi encontrada vazia, e tinha o costume de interrogar o morto:
“A natureza das conversas pareciam sempre ser uma espécie de catequismo, como se Curwen estivesse tentando extorquir algum tipo de informação de horrorizados prisioneiros rebeldes […] a maior parte das questões que podia compreender eram de cunho histórico ou científico; ocasionalmente relativas a lugares e eras remotas.”
Mas sua obra não tinha como objetivo apenas prender uma alma a um corpo morto, ele desejava restaurar a vida ao corpo morto. Ao contrário dos processos descritos em outros livros que falam sobre necromancia, como O Livro da Magia Negra de A. E. Waite – que Lovecraft chegou a recomendar a um amigo escritor em uma carta escrita anos depois de ter terminado O Caso de Charles Dexter Ward -, o corpo utilizado por Curwen não precisava ser o de um suicida. O corpo não precisava ser de alguém que havia morrido há pouco tempo. Não necessitava ser revivido no local. O processo envolvia substâncias químicas que podiam ser obtidas de “bons químicos na cidade”
O morto deveria então ser incinerado para que seus sais – ou cinzas – fossem conseguidos antes que a operação tivesse início. A reanimação necessitava de grandes quantidades de sangue fresco, não importando se animal ou humano. Posteriormente quando revivido, Curwen diz para Ward que precisa de sangue humano por três meses – o que deu origem à série de ataques vampíricos.
O corpo revivido aparentemente pode permanecer vivo por longos períodos, mas não é imortal. Daniel Green, assim que foge da fazenda de Curwen é encontrado morto, se pelo frio ou pela falta de novas infusões de sangue não há como dizer. Curwen depois de ressuscitado viveu por mais de um ano.
A chave para esse ligação mais duradoura pode ser a presença de Yog-Sothoth, que é evocado com a fórmula da Cabeça do Dragão depois de longos rituais – Ward passou horas recitando a evocação Per Adonai, a fórmula Dies Mies, além de qualquer outra coisa que possa ter realizado que não foi percebida graças ao desmaio de sua mãe, a única testemunha do ocorrido.
E mesmo assim, o novo corpo recriado pelo trabalho com os sais não é perfeito: Daniel Green apresentava certas “peculiaridades” como um aparelho digestivo que parecia nunca ter sido usado, “enquanto toda a sua pele tinha uma textura grosseira e frouxa impossível de explicar”. Curwen também possuia os tecidos grosseiros e suas funções vitais eram mínimas, mesmo assim ele foi capaz de personificar e então tomar o lugar de seu descendente, Ward.
A necessidade constante de quantidades de sangue e a indicação de que o sistema digestivo dos novos corpos pareciam nunca ter sido usados sugerem que os novos corpos não possuiam um metabolismo próprio e necessitavam ser constantemente “alimentados”. Além da alquimia e do sangue a magia era parte fundamental de sua manutenção. Quando o Dr. Willet acaba se confrontando com Curwen, ele usa a fórmula OGTHROD AI’F, associada à Cauda Draconis, para desfazer o feitiço que mantinha a alma presa ao corpo, fazendo com que ele “morra” imediatamente. Isso indica que apesar de ser necessário muito trabalho e muita energia para se recriar e reviver alguém, apenas um encantamento pode desfazer o trabalho. Outra sugestão é que o corpo permanecesse funcional pela intervenção de Yog-Sothoth, e que a menção da fórmula Cauda Draconis encerra o acordo, Yog-Sothoth encerra seu contato, seja lá qual for, com o corpo e ele morre novamente, isso tornaria o papel de Yog-Sothoth no ritual muito mais importante do que uma mera evocação para liberar uma alma.

por Rev. Obito

Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/h-p-lovecraft-charles-dexter-ward-joseph-curwen-e-necromancia/

Astrologia Caótica

Particularmente nunca utilizei o suficiente as práticas de magia caótica. Todavia, gosto de analisar a teoria do Caos. É muito interessante de se aplicar a tudo que se vê, com resultados interessantes.

Pois vejamos, para pessoas que acham que o universo é regido pelo Grande Arquiteto do Universo, temos uma impressão de que tudo está em seu local, tudo tem uma função e simbolismo, tudo tem um lugar. De certo modo, essa visão extremamente virginiana da organização do mundo é refletido nas formas de demonstrar como se manifesta. Pessoas procuram através da magia cerimonial auferir a si mesmas um modelo belo, fixo, metódico e detalhado. Cada gesto é milimetricamente feito, conforme um simbolismo rebuscado e pouca vezes compreendido por aqueles aos quais realizam essas práticas.

Einstein tinha uma visão dessa forma do universo, se não me falha a memória, o que provocou nele a distorção de certos fenômenos. Primeiramente Einstein acreditava em um universo estático quase maçônico. Foi o grande erro que cometeu. Fenômenos como os buracos negros e os quasars mostram que o universo é um moinho de destruição. Quasars e buracos negros podem ser associados a duas grandes forças que podemos chamar de Caos e Ordem.

Já dizia Hesiodo que Caos, Eros (ordem), Gaia e Érebo seriam os quatro seres primordiais.

No principio, dois grandes exércitos se digladiavam pelo poder do universo. As grandes forças do Caos e as grandes forças da Ordem. Ambas igualmente com visões e desejos distorcidos, ambas em busca do poder puro.

Posso associar isso ao velho e bom Necronomicon. No principio Tiamat, o grande dragão lutou com Marduk e foi morta. De seu corpo vieram todas as coisas. Tiamat, senhora do Caos teve vários filhos, senhores do Caos, representados principalmente por Asa Thoth e Yog Sothoth. Asa Thoth, o deus louco e cego, que é a origem da mente. Yog Sothoth, o Mercúrio dos magos negros, cujo corpo tem 13 esferas e representa o universo reverso das sombras, a Árvore da Morte.

Regendo a esses e outros seres, que tem por objetivo a destruição do universo organizado, está Cthulu, aquele que dorme, mas sonha. Por isso que dos sonhos vem o principio da destruição do real. Existe, para dar um exemplo, uma maldição que se não me engano foi “descoberta” por Lovecraft. A maldição do eterno despertar. De um pesadelo, a pessoa desperta, mas está em um pesadelo pior. Aí desperta e está em um pesadelo pior e assim ao infinito…

Segundo essa teoria, tudo que existe é um amalgama entre Caos e Ordem, ou Caos e Eros. Isso dá muito o que se pensar.

Na Astrologia, existem 7 planetas que compõem a personalidade. Aquilo que podemos dizer por tornar real a pessoa. Delimitam quem ela é, determinam e libertam do que seja e até onde possa chegar. Essas são as forças que deixam a pessoa coesa, sendo algo real, algo efetivo. Impedem algo da dissolução, uma vez criam leis para a realização de qualquer coisa. De certo modo, criam amarras ao ser, fundamentam uma ordem e uma possibilidade de expressão e manifestação daquilo a que esse ser é.

A palavra “é” representa aquilo que podemos chamar de Ordem, as forças de Eros, que envolve a tudo e a tudo dá a forma e faz ser. Evidentemente, se existe uma contra parte, que não é dicotômica, mas destrutiva dessa realidade, a ela se opõe, existem as forças do “não é”. Essa expressão se liga ao Caos.

Os planetas transpessoais podem significar as forças do Caos. Os chamaria até de planetas anti-pessoais.

Meditemos no fato que a oposição do Caos com Eros está além do conceito do Yin-Yang, além da possibilidade da harmonia entre opostos. É a pura guerra. Por isso que não acredito que o Caos

seja alguma evolução do Taoismo. Pois ao Caos não existe evolução, apenas a primalidade e a possibilidade da reversão. Procurar em si o anterior, o reptilineo, a destruição pura de qualquer coisa fixa e ordenada. O Caos também não pode ser chamado de uma melhor compreensão de alguns princípios, pois ele não propicia a compreensão, mas apenas a dissolução.

Nesse conceito, Urano passa a ser o senhor do Caos, um verdadeiro amalgama (vejamos, “união” nos termos caóticos é algo impossível) entre Asa Thoth e Yog Sothoth. Descobrir os transpessoais é ir no profundo não ser, da auto-dissolução, a busca daquilo que é primal em nós. Urano é a fonte da energia caótica, não por tendências revolucionárias e libertárias, mas imprevisíveis, como o cego e louco Asa Thoth.

Netuno é dissolução pelos sonhos, como Cthulu, o que sonha adormecido, preso nas profundezas do existente. Um dia retornará e governará o mundo, diz a crença dos que cultuam os antigos e, segundo alguns, destruirão a humanidade.

Plutão é o mais profundo da destruição do Caos. Aquele que traz a completa dissolução, a própria morte, o fim para a reciclagem que as forças da Ordem vão buscar para refazer o que chamamos de real.

Esses três cavaleiros da destruição mostram apenas parte de sua face, uma vez que só podemos conhecer sua real força uma vez aprofundados na dissolução e com o Caos vivendo no nosso ser. Apenas aquele que é o “não ser”, pode compreender as forças que geram um campo de explosão de energia como os Quasars, objetos do mais puro Caos.

 

by Frater Cronos

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-do-caos/astrologia-caotica/

Falsos Necronomicons

“… o Necronomicon, um texto mágico ultra-secreto publicado em edições encadernadas.”

-William S. Burroughs

Necronomicon é um livro tão controverso que o debate de sua existência deve primeiro ser substituido pelo debate de se ao menos alguma das suas várias versões é ou não real. Virtualmente todo magista do caos acaba escrevendo o seu próprio tomo, mas estas são as principais versões que podem ser encontradas hoje pelo pesquisador sério.

O Necronomicon De Camp – Scithers

O biógrafo de Lovecraft e escritor de ficção científica L. Sprague De Camp narra um conto de intrigas sobre como ele conseguiu contrabandear esse livro, entitulado Al Azif do Iraque conseguindo escapar de vários perigos. Um estudioso que tentou traduzí-lo, ele continua nos contando, terminou espalhado por todas as paredes do seu estúdio. Na verdade o livro publicado pela Owlswick Press consiste meramente de oito páginas contendo textos sírios escritos de desconexa repetidos várias e várias vezes, com os caracteres próximos à margem alterados para ajudar a mascarar a repetição. Como isso obviamente não pode ser levado a sério seria injusto considerar este livro como sendo uma fraude ao invés de uma brincadeira.

O próprio De Camp, em um comentário sobre sua introdução, disse:

“Eu espero que vocês se divirtam com essa introdução – mas eu também sei que vocês não vão levá-la a sério. Eu posso um dia desejar voltar ao Iraque e espero que essa minha brincadeira não crie complicações para a minha visita.”

O Necronomicon de Wilson-Hay-Turner-Langford

Pouco esforço foi necessário para se descobrir que esta versão do Necronomicon era falsa, já que o próprio Colin Wilson adimitiu isso em seu artigo “The Necronomicon, the Origin os a Spoof” (Necronomicon, a origem de um logro), que apareceu em Crypt of Cthulhu e foi republicada em Black Forbidden Things: Cryptical Secrets from the Crypt of Cthulhu, editada por Robert Price. As afirmações de Wilson não podem ser totalmente levadas a sério, pois ele mesmo escreve:

“De fato, qualquer um com a menor noção de latim irá instantaneamente reconhecer o livro como sendo uma fraude, ele recebe o subtítulo de O Livro dos Nomes Mortos (Aqui no Brasil saiu publicado como “Necronomicon, O Livro dos Mortos”, n.t.), quando a palavra Necronomicon significa realmente o livro das leis dos mortos.”

De fato, qualquer um com a menor noção de latim irá instantaneamente reconhecer que o título está escrito em grego.

Wilson descreve como George Hay se aproximou dele com a idéia de que ele escrevesse um aintrodução para uma sátira do necronomicon contendo histórias sobe o livro maldito. Os contos, de acordo com Wilson, eram realmente amedrontadores, todos contando histórias sobre estudiosos que acabam se encontrando com o tomo infernal, estupidamente invocam poderes maiores do que eles poderiam controlar e acabam espalhados pelas paredes. Wilson, então, propôs que eles poderiam tentar criar uma sátira que realmente pudesse passar como sendo o Necronomicon de fato. A idéia foi parcialmente inspirada por um conto escrito por David Langford, no qual uma série de análises feitas por computador provam a existência do Necronomicon, com os mesmos resultados desagradáveis. Na versão final do volume Langford chegou a contribuir com uma parte na qual ele clama que uma análise de computador decifrou o manuscrito Liber Logaeth de Jonh Dee, mostrando que ele não outro senão. RObert Turner, um praticante de magicka cerimonial contribuiu com outra sessão supostamente a tradução do Liber Logaeth. Em sua maior parte o livro é uma coletânea de material de ocultismo, com receitas mágickas típicas se utilizando de alguns nomes existente no Mito de Cthulhu. O próprio Wilson contribuiu para a introdução que nos apresenta uma colcha de retalhos de fatos e fantasia, declarando que o pai de Lovecraft pertencia à Maçonaria Egípcia (uma afirmação completamente sem fundamentos) e que através dela teria aprendido todo o tipo de segredos ocultos, os quais ele mais tarde revelou em sua loucura (real). Existe também uma carta escrita por um ‘Dr. Hinterstoisser’, que foi realmente escrita por Dominic Purcell.

A versão americana também incluia dois ensaios supostamente escritos antes da descoberta da chave para decifrar o manuscrito, e se alguma coisa vale a pena nesta versão do Necronomicon são esses ensaios. Eles são: “Dreams of Dead Names: The Scholarship of Sleep” por Christopher Frayling, que por sinal inclue uma pesquisa detalhada de como Lovecraft inventou Abdul Alhazred e o Necronomicon, e “Lovecraft and Landscape”, por Angela Carter.

No Brasil este livro foi publicado pela editora Anubis, esses ensaios foram deixados de fora e em seu lugar existe um estudo introdutório sobre os grimórios através dos tempos e algumas partes do Grimório do Papa Honório III. Excertos da obra estão disponíveis no portal para consulta.

Além disso existe pouco mais a ser dito a respeito do livro. A introdução de Wilson é interessante para aqueles com um background no assunto que saberiam separar o que é fato do que é invensão. Alguns acham que as informações sobe criptografia contidas na parte escrita por Langford interessante, existem livros inteiros sobre o assunto disponíveis que seriam uma fonte melhor de informação. O material apresentado como sendo de fato o Necronomicon não tem nenhum valor estético. Por exemplo o uso quase constante, mas inconsistente, do uso de ‘ye’ ao invés de ‘the’, na versão em inglês (na versão brasileira é possível ver isso nas imagens, cujos textos ficaram no original com algumas legendas, n.t.), seria aceitável o uso do autêntico ye arcaico. Se ele tem ou não valor para mágicos praticantes eu deixo para eles descobrirem por si mesmos.

O uso do Mito de Cthulhu também é suspeito. O verso místico conhecido de todos aparece várias vezes escrito errado como: “That which is not dead which can eternal lie…” Outras inconsistências com os conceitos de Lovecraft também aparecem: Shub-Niggurath aparece como uma deidade masculina, quando Lovecraft a descreve claramente como sendo feminina. Os Antigos estão relacionados com os quatro elementos, usando um esquema empresatado dos contos de Agust Derleth que não apenas nunca apareceu em um trabalho de Lovecraft como também não tem nenhuma consistência com ele. O trabalho também nos apresenta os dois grupos antagônicos dos Antigos e dos Deuses Mais Antigos, outra inovação de Derleth no mito Lovecraftiano assim como seus contos da guerra entre os Antigos e os Deuses Mais Antigos inpirada por seus princípios cristãos. A verdade simples e pura é que a maioria do material nesta versão do Necronomicon foi inspirada não pelos contos de Lovecraft e sim pelos de Derleth que são bem diferentes, quando não surgem apenas as receitas mágicas.

Algum tempo depois surgiu um suposto Texto de R’lyeh, compilado pelo mesmo grupo, que supostamente seria mais uma parte do manuscrito por eles apresentado anteriormente. É interessante notar que Lovecraft nunca usou o nome R’lyeh Text, que na verdade foi inventado por August Deleth após a morte de Lovecraft e que não tem semelhança nenhuma com o Necronomicon anteriormente apresentado por eles. (Supostamente ele se encontra na língua nativa de Cthulhu e possivelmente foi trazido com ele das estrelas). Em sua maior parte o livro simplesmente é o mais do mesmo, nele está incluso um interessante ensaio “Awake in the Witch-House: On the Trail os the ‘real’ Brown Jenkin”, escrito por Patricia Shore, texto esse que inclui a famigerada e falsa citação da “Magia Negra”. Achamos que no ano de 1992 os conhecimentos de alguém sobre esse assunto deveriam ser muito melhores.

O Necronomicon de Simon

Como este é o Necronomicon que se qualifica como uma fraude completa ao invés de simplesmente uma brincadeira ou um jogo entre amigos, ele vai receber uma olhada mais cautelosa do que os outros. Existem uma série de problemas com este volume, todos indo contra a sua proposta de ser o texto real do Necronomicon.

As afirmações a respeito do suposto manuscrito não convencem. O editor afirma que o original não pode ser entregue a público para qualquer tipo de confirmação ou exame. Mas estudiosos não permitiriam que se utilizassem o manuscrito original de um livro como este; eles trabalhariam a partir de cópias fotográficas dele, cópias estas que com certeza iriam apoiar a autenticidade do livro. De qualquer forma a história contada a respeito da descoberta do manuscrito é muito parecida com um conto ruim de Cthulhu para se acreditar. Além disso eles afirmam que o manuscrito é em grego quando Lovecraft deixa bem claro que a versão grega do texto se perdeu há séculos. Simon diz que uma das partes de seu suposto texto o TEXTO URILLIA “pode ser o texto de R’lyeh do qual Lovecraft falava”. Lovecraft, entretanto, nunca se referiu a um Texto de R’lyeh, que foi inventado por August Derleth após a morte de Lovecraft, e este texto é bem diferente do proposto por Derleth.

É evidente que a maior parte do trabalho é composto de adaptações de textos mágicos e religiosos existentes da Mesopotâmia reais, com alguns nomes inventados por Lovecraft espalhados aqui e ali quando não se conseguiram traduzir o texto original. Simon também joga no caldeirão materiais Sumérios, Assírios, Babilônios e outros sem discriminar o que é o quê, de uma maneira historicamente impossível de acontecer. As partes supostamente representando as línguas orignais usadas em várias encantamentos são aparentemente grunhidos sem sentido.

Simon gostaria que enxergássemos grandes semelhanças entre seu material mesopotâmico, o trabalho de Aleister Crowley e o Mito de Lovecraft, mas não nos aferece nenhuma correspondência entre eles. O pouco que ele tenta defender não convence. Ele gostaria que nós, por exemplo, víssemos grande similaridades entre o nome Cthulhu e a palavra grega stélé (como aparece no trabalho de Crowley Stélé of Revealing), se utilizarmos caracteres gregos para escrevê-la ela lembra um pouco CTH^H. As outras comparações em sua curta lista são comparações entre elementos comuns de magick e figuras de ficção científica ou coisas ainda mais esquisitas. Novamente ele quer que notemos a semelhança entre Shub-Niggurath e o Pan de Crowley (um elemento comum de Magick combinado com um elemento de ficção científica), onde ele se esquece que Shub-Niggurath é fêmea. (Uma combinação que poderia funcionar melhor seria usar Yog-Sothoth se nos baseássemos no nas bases apresentadas para o conto “The Dunwich Horror” por Arthur Machen em seu livro “The Great God Pan”). De novo ele quer que reparemos na semelhança entre a exclamação Lovecraftiana IA! e o IO! de Crowley e a deidade IAO e a deidade suméria IA, que Simon diz ser uma variante do deus EA (apesar disso em seu necronomicon a exclamação usada é a de lovecraft).

Simon também gostaria que nós pudéssemos notar a correspondência entre o Mito de Lovecraft e a mitologia mesopotâmica. Ele nos diz:

“Lovecraft nos mostrava algo semelhante à mitologia cristã e seu combate entre forças opostas entre Luz e Trevas, entre Deus e Satã, no Mito de Cthulhu.”

E novamente:

“Basicamente existem dois grupos de deuses no mito: Os Deuses Mais Antigos, sobre os quais pouco nos é revelado além do fato deles serem uma raça estrelar que ocasionalmente vem até a Terra para salvar a humanidade, e que corresponderiam à ‘Luz’ no cristianismo; e os Antigos, sobre os quais muito é dito, às vezes em muitoas detalhes, que correspondem às ‘forças das trevas’. Esses últimos são Deuses Cruéis que não desejam outra coisa que não o mal para a raça dos Homens e que constantemente tentar voltar para o nosso mundo se utilizando de um portal ou uma porta que liga a dimensão deles à nossa.”

O conhecimento moderno sobre a obra de Lovecraft nos mostra que esta descrição não bate com o trabalho dele (Lovecraft), no qual não existem Deuses mais Antigos nem um conflito cósmico entre o bem e o mal. O termo “Os Mais Antigos” (The Ancient Ones) só é usado em uma história, e nela é explicado de forma clara que eles são moralmente indiferentes à existência do Homem e não que sejam ‘malvados’. De fato esta é uma descrição precisa do Mito de Derleth ou invés do de Lovecraft, isso se levarmos em consideração que atribuir conseitos de bondade e maldade às deidades mesopotâmicas “Os Deuses mais Antigos” e “Os Antigos” é a maior tentativa de sincretisar os dois sistemas, e aparentemente essa tentativa foi feita em vão.

Em se tratando das deidades de forma individual Simon não se sai melhor. Cthulhu surge como sendo KUTULU, um nome que nunca apareceu entes desta publicação. Simon deriva este nome de KUTU, a cidade Kutha, e LU, que significaria homem. O problema é que a forma suméria correta seria LU-KUTU se se fossem fazer uma composição das palavras. De qualquer forma o nome Cthulhu tem origem alienígena e por isso não faz sentido querer procurar sua origem em alguma cultura humana.

Simon deriva Azathoth do nome composto AZAG-THOTH, onde AZAG é um demônio sumério e THOTH é o nome cópitcoda deidade egípcia Tehuti. O porquê dele ter criado essa composição permanece um mistério, assim como o fato dela nunca ter surgido em lugar nenhum antes da sua publicação neste livro.

As outras comparações de deidades são ainda mais fracas: Shub-NIggurath aparece como ISHNIGGARAB, Yog-Sothoth aparece como IAK SAKKAK.

Mesmo quando Simon cita um nome Lovecraftiano sem querer nos dar um nome correspondente ele sempre o soletra de forma diferente transformando Yog-Sothoth em Yog Sothot, Azathoth como Azatot, “o árabe louco” como “O Árabe Louco”, shoggoth como shuggoth, etc…

Pelo menos uma das deidades de grande importância do universo Lovecraftiano não aparece neste trabalho, Nyarlathotep não tem nenhuma correspondência no livro de Simon, assim como outras criações menores de Lovecraft que se seria esperado aparecerem no livro como Yig, Nug e Yeb, Ghatanothoa ou Rhan-Tegoth, em seus lugares sáo citadas inúmeras deidades sumérias que nunca surgiram ou tiveram suas correspondências no trabalho de Lovecraft, entre elas: MARDUK, TIAMAT, PAZUZU, ENKI, NANNA e INANNA (ISHTAR). Também é importante notar que as várias raças alienígenas inventadas por Lovecraft não são citadas em ponto algum do livro equanto várias criaturas sobrenaturais da mesopotâmia são, e com bastante frequência.

Outra afirmação questionável de Simon é a seguinte:

“O Mito de Lovecraft lida com o que são conhecidas como deidades chthônicas [sic], ou seja, deuses e deusas do submundo muito semelhantes ao Leviatã do Antigo Testamento. A pronúncia correta de chthônica é ‘katônica’, o que explica a famosa universidade de Miskatonic e o conhecido rio de Miskatonik que ele usa em várias de suas histórias, isso sem mencionar a deidade chefe [sic] de seu panteão, Cthulhu, um monstro marinho que se encontra “não morto, mas sonhando” nas profundezas do mundo; um Ancião supostamente inimigo da raça humana e da Raça inteligente.”

Existem uma série de problemas com esta afirmação:

  •  A pronúncia correta de Chthônica é ‘tó-nik’, o ch é mudo (em português Chthonic é traduzido como atônico ou atoniano, n.t.).
  •  Monstros marítimos não são considerados chthônicos.
  • O nome de Cthulhu se deriva de uma língua alienígena predatando a raça humanapor eras, ele não pode derivar da palavra chthonic, apesar de existir a possibilidade de Lovecraft ter sido influenciado por essa palavra ao criar o nome. De qualquer forma essa afirmação é conflitante com a proposta do próprio Simon de que o nome seria uma derivação da palavra KUTU+LU, usada em todo o Necronomicon.
  • Cthulhu não é a deidade chefe do suposto panteão de Lovecraft, mas é importante por causa de sua atuação no mito.
  • Cthulhu não é um ‘monstro marinho’ e sim uma criatura extraterrestre ou extradimensional inconsciente e aprisionada no fundo do oceano.
  • Cthulhu nunca foi referido como sendo um ‘Ancião’, apesar de ser associado com um grupo conhecido como os Antigos.
  • Cthulhu não é exatamente um inimigo da raça humana, ela simplesmente está no seu caminho. Isto é o mesmo que dizer que um humano é inimigo dos cupins porque ele exterminou aqueles que infestavam sua casa.
  • Não se sabe o que exatamente ele quis dizer com a ‘Raça inteligente’, essa raça nunca apareceu em conto nenhum de Lovecraft.

Muitos leitores parecem achar que a sessão do livro intitulada como “O testemunho do Árabe Louco” se encaixa muito bem na ficção de Lovecraft. Muitos dizem que o livro funciona maravilhosamente em práticas mágickas, sem importar se o livro é uma fraude ou não, mas isso é bem consistente com as teorias de Magick modernas.

Além da edição brochura barata, o Necronomicon de Simon foi lançado em uma cara edição encadernada com couro com uma tiragem de 666 cópias, seguida por outra tiragem de 3.333 cópias.

Existe também um Livro de Feitiços do Necronomicon de Simon (originalmente entitulado The Necronomicon Report), que não passa de um livro dedicado aos feitiços que aparecem no capítulo “O Livro dos Cinquenta Nomes”. Outro volume entitulado The Gates of Necronomicon (Os Portões do Necronomicon) foi anunciado como lançamento futuro pela editora, mas aparentemente o projeto nunca foi levado a diante. A editora americana Avon Books recentemente relançou o livro Os Feitiços do Necronomicon.

Existem vários rumores sobre a real identidade de “Simon”. Um deles diz que ele seria na verdade Herman Slater, o proprietário da livraria Magickal Childe em Nova Iorque, que por sinal recebe algumas menções no livro. Outro desses rumores afirma que ele era um mago precisando de dinheiro e que subsequentemente fez fama no rama da Magia Caótica. Outros rumores mais improváveis dizem que os reais responsáveis pelo Necronomicon de Simon poderiam ter sido um dos seguintes: L. Sprague De Camp, Colin Wilson, L. Ron Hubbard, Robert Anton Wilson, Timothy Leary ou Sandy Pearlman (o escritor das letras inspiradas por Lovecraft da banda Blue Öyster Cult).

O Necronomicon de Gregorius

Publicado na Alemanha em alemão entitulado como Das Necronomicon: Nach den Aufzeichnungen von Gregor A. Gregorius (O Necronomicon: Da Trancrição de Gregor A. Gregorius). Esta é simplesmente uma tradução do Necronomicon de Simon. O volume inclui também uma versão alemã de um autêntico grimório medieval entitulado Goetia ou Lesser Keys of King Solomon.

O Necronomicon de Quine

A suposta tradução do Necronomicon feita por Antonius Quine parecer ser tão falsa que ela sequer existe.

Entretanto se você tiver alguma informação a respeito não se sinta acanhado: atendimento@mortesubita.org

O Necronomicon de Ripel

Publicado por Frank G. Ripel, cabeça da Ordo Rosae Mysticae (Ordem da Rosa Mística), na Itália, 1987-1988, como parte da Trilogia Sabaean. Ela inclui um livro chamado Sauthenerom, de origens egipcias e um texto do Necronomicon, que supostamente teria 4000 anos de idade e que teria sido plagiarizado por Abdul Alhazred.

O Necronomicon de Perez-Vigo

Recentemente publicado na Espanha, esta versão publicada por Fernando Perez-Vigo inclui um Tarô Necronômico juntamente com um texto derivado dos necronomicons de Ripel e de Wilson-Hay-Turner-Langford.

O Necronomicon de Lin Carter

“Se o Necronomicon realmente existisse ele seria uma pequena encadernação com um prefácio escrito por Lin Carter.”
T.E.D. Klein

Lin Carter escreveu vários contos curtos que supostamente seriam capítulos da tradução do Necronomicon feitas por John Dee. Elas relatam várias aventuras de Abdul Alhazred. Obviamente e explicitamente declaradas como sendo fictícias, esta versão está inclusa aqui simplesmente para deixar este trabalho o mais completo possível.

A versão de Lin Carter está inclusa em um volume disponibilizado pela Chaosium, editada por Robert M. Price e entitulado The Necronomicon: Selected Stories and Essays Concerning the Blasphemous Tome os the Mad Arab, contendo uma série de trabalhos interessantes.

O Necronomicon de H.R. Giger

O surrealista suiço H.R. Giger usou o título Necronomicon para uma compilação de sua arte necroerótica. Obviamente este trabalho não clama ser o Necronomicon autêntico, mas foi incluído aqui não somente para tornar a pesquisa o mais completa possível como também como forma de elogiar seu fantástico trabalho. Giger também produziu uma sequência a seu trabalho entitulado Necronomicon II.

The Necronomicon Project

Este é um trabalho em conjunto para criar um Necronomicon falso na internet. Não existe nenhuma tentativa de se provar que os resultados deste trabalho sejam o real Necronomicon. Confira aqui o resultado.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/falsos-necronomicons/

Entradas das Trevas: uma introdução a magia de Mito de Cthullu

A Ordem Esotérica do Dagon é uma rede internacional de mágicos, artistas e outros visionários que estão explorando os mistérios ocultos inerentes ao horror e a fantasia escritos na Nova Inglaterra pelo escritos Howard Phillips Lovecraft (1890-1937). O “Mito de Cthullu” (como normalmente é conhecido) depende de uma serie de contos de Lovecraft, mais os de outros escritores que empregam dispositivos fictícios semelhantes. A premissa básica do Mito de Cthullu é que há um grupo de entidades transdimensionais – conhecidas como os Grandes Antigos que, “quando as estrelas estão certas” podem entrar em nosso mundo através de portões psíquicos ou portões físicos. Os Grandes Antigos representam um “Conhecimento Ancião” que antecede a civilização, para a percepção humana, são ambos imensamente poderosos e alienígenas. Nos contos do Mito de Cthullu, há uma rede (ou conspiração) de cultos que adoram os Grandes Antigos e procuram acelerar o seu retorno a Terra.

A inspiração de Lovecraft para seus escritos vieram de seus sonhos, e suas cartas (ele carregava uma volumosa correspondência com colegas escritores) mostram que ele teve um pesadelo todas as noites de sua vida. Extraído de uma carta ele descreve um pesadelo sobre Nyarlathotep, um dos Grandes Antigos:

“Como eu fui atraído para o abismo eu emitia um grito retumbante, e a imagem parou. Eu estava com muita dor – testa batendo e ouvidos zumbindo – mas eu tinha somente um impulso automático – para escrever e preservar a atmosfera de medo incomparável, e antes que eu percebesse eu tinha puxado a luz e estava rabiscando desesperadamente… Quando completamente acordado eu recordei de todos os incidentes, mas havia perdido a emoção requintada do medo – a real sensação da presença de um hediondo desconhecido.”

Embora Lovecraft tenha escrito inúmeras historias de horror ele não tinha nenhuma crença ou fascínio especial com a ocorrência real do fantástico. Enquanto ele negou veementemente a existência de fenômenos ocultos – que ele era incapaz de aceitar e por isso marca os Grandes Antigos como o mal e as praticas de seus cultistas como “blasfêmia”. Os ocultistas, no entanto, reconhecem o poder das imagens transmitidas por sonho. A capacidade de experimentar sonhos lúcidos que são internamente consistentes e contíguos uns aos outros é um elemento fundamental ao xamanismo, de fato, em algumas culturas, potencias xamãs sã reconhecidos pelas características dos seus sonhos. O sonho é um portal físico para as “vibrações” dos Grandes Antigos para entrarem na consciência humana, é um conceito recorrido muitas vezes nos contos de Lovecraft. Seus protagonistas, por vezes assistem aos “Sabat Astrais” em que são iniciados nos cultos secretos, são mostrados mistérios que abalam a sanidade e recebem os benefícios dos Conhecimentos Anciões. Tais experiências são bastante comuns entre os magos que trabalham em qualquer sistema, como ambos os eventos espontâneos e o resultado de “sonhar a vontade” (usando sigilos, por exemplo) em experimentação com agentes psicoativos. Vários dos Grandes Antigos aparecem para aqueles que buscam o Conhecimento Ancião através dos sonhos (ou quem busca de um “sintonizador desconhecido” para as transmissões dos Antigos), e o mais proeminente um Antigo Cthullu, uma estrela alada cefaloide que reside “no sonho da morte” dentro de uma cripta na cidade mais Anciã de R’Lyeh, sob o Oceano Pacifico. A historia de Lovecraft “O Chamado de Cthullu” relata os acontecimentos que envolveram  a breve aparição de R’Lyeh, que anunciada por uma onda mundial de insanidade, como certos indivíduos “sensitivos” pegam oníricas transmissões do Grande Cthullu. No Mito, ele é o senhor dos sonhos, e atua como uma espécie de intermediário entre a consciência humana e a natureza verdadeiramente alienígena dos Antigos tais como Azathoth ou Yog-Sothoth. Sua cidade, R’Lyeh, foi recentemente identificada com Nan-Madol, uma cidade de pedra arruinada consistindo de ilhotas artificiais na ilha do Pacifico de Pohnpei. No Mito, R’Lyeh é construída ao longo de linhas de uma geometria não Euclidiana, com ângulos e perspectivas estranhas em que os incautos podem ser engolidos. A cidade inteira é uma serie de portais para outras dimensões, e pode ser visto como uma forma de tuneis de Set Kenneth Grant. Ângulos estranhos e matemática foram também um interesse de Austin Osman Spare, que percebia coisas em sonhos, mas não podia coloca-las no papel. R’Lyeh é uma porta psíquica para as camadas mais profundas da consciência e os sonhos formam a interface pela qual há dois sentidos de trafego de imagens da consciência desperta para a Mente Profunda.

Nas historias de Lovecraft, muito do Conhecimento Ancião é preservado em uma coleção de grimorios, dos quais o mais famoso é o Necronomicon (Livro dos Nomes Mortos), que ao longo dos anos tem aparecido em varias formas. O Necronomicon é reconhecido pelo arquétipo de  “Livro Astral” – chaves primárias no discurso que são “secretadas” no mundo dos sonhos e que podem ser “ligadas a Terra” em forma de fragmentos por artistas, mágicos e outros visionários. Mais uma vez, esta é uma experiência oculta recorrente, não existindo uma grande variedade de obras que foram recebidas por clarividência ou canalizadas através de varias entidades. Dentro da E.O.D, existe uma “Escola de Sonho” (contatada através do sonhar) que consiste em uma variedade de locais, alguns dos quais são retirados os contos do Mito de Cthullu, na qual os iniciados podem ter acesso a artefatos e livros notáveis. Há alguns anos atrás, por exemplo, em um mosteiro no alto do Planalto Ciclópico de Leng, me foi mostrado uma serie de imagens de tarô de detalhes obscuros e cores vivas que embora tenha sido (e continua sendo) muito impossível para eu coloca-las para baixo, para mim é muito fácil chama-los a mente, mesmo quando escrevo este artigo. O “keeper” das imagens estava disposto a exibi-las, mas como ele cinicamente comentou na época sabia que eu não era capaz de traduzi-las a partir dos sonhos do mundo físico. O Mundo dos Sonhos Lovecraftiniano tem sua própria tipologia – ter ligações com ambos os locais terrestres e lugares que são acessíveis apenas para sonhadores qualificados e intrépidos. Ao explora-la é possível conversar com seus habitantes relativos do Conhecimento Ancião, visitar locais de renome e viajar através do tempo e espaço usando uma forma de exploração astral que novamente é primariamente Xamânica – o de mudança de forma. Imagens relacionadas com a mudança de forma ocorrem durante todo o Mito de Cthullu, com a transição de humano para “O Profundo” – uma corrida de batráquio – moradas do mar que são servos de Cthullu, relacionados ao deus Dagon; ou a transição de humano para Ghoul. O conceito magico relacionado com tais transformações é o “Ressurgimento Atavistic” – a reificação das “encarnações” anteriores da consciência humana desde as profundezas da mente, na consciência de vigília. Lovecraft apontou o caminho para ascender a estados específicos de consciência que se relacionam com nossos ancestrais reptilianos e os chamados “cérebro dragão” – o sistema límbico primitivo que é a sede de nossa consciência primal.

Outra chave para desvendar os segredos dos Conhecimentos Anciões é a técnica de vidência – em um copo ou bola de cristal. Ambas vidências de vidros e cristais que estão sintonizados para transmitir certas vibrações surgem em contos do Mito de Cthullu, muitas vezes como um processo de mão dupla. A pessoa que usa esses dispositivos vislumbra outras dimensões, mas ao mesmo tempo, os habitantes daquelas dimensões tornam-se cientes e eventualmente ameaçam os videntes. Esta foi a única maneira em que Lovecraft podia aceitar o processo de se tornar receptivo as imagens e “transmissões” da mente profunda, como ser acusado com ameaças de insanidade e eventualmente desgraça.

Todas as técnicas descritas até agora tendem a ser do praticante só, e são orientadas introspectivamente. Mas Lovecraft também faz uso extenso de “ritos amigáveis”, que são novamente remanescentes do xamanismo, vodu ou até mesmo bruxaria. Tais feitiçarias físicas estão relacionadas com pontos físicos de energia – normalmente círculos de pedra, edifícios especialmente construídos ou marcos estranhos. Eles muitas vezes envolvem sacrifícios humanos ou animal, cruzamento incestuoso e em “The Dunwich Horror” um “casamento sagrado” entre a entidade conhecida como Yog-Sothoth e uma cultista feminina. Lovecraft continuamente aludiu à natureza degenerada de cultistas de Cthullu, provavelmente refletindo suas atitudes à raça e realização intelectual. Mas há também uma consciência de degeneração das praticas de culto como a influencia os Antigos encolhendo o mundo devido à propagação do materialismo e a decadência das comunidades rurais. A entidade Nyarlathotep ocasionalmente aparece como o mítico “homem negro” ou líder da coleta cultista do sabat – sugerindo um avatar humano como base para o trabalho do culto, usando as gnoses mais físicas como a dança, flagelação, sexo, cânticos, tambores, respiração acelerada e sangria. Comentaristas modernos do Mito de Cthullu tem-se enganado supondo que magia é terror, principalmente a gnose emocional, porque este era o sentimento muitas vezes experimentado por protagonistas de Lovecraft (e de fato, o próprio Lovecraft). Embora o medo possa ser inicialmente empregado, logo o sepulcro como uma alavanca eficaz para a gnose, no entanto.

A implantação de feitiçarias físicas levou a uma grande variedade de experimentos pelos iniciados da E.O.D pelo mundo, tais como o uso de terraplanagem no Monte da Serpente na gnose Vodu – trabalhando com sede para Cincinnati Yig-Lodge (Yig é uma divindade serpente no Mito). Evocações “Dos Profundos” também foram realizadas em um lago em Wisconsin (nota do tradutor: EUA). Alguns iniciados da ordem estão atualmente interessados no uso de mantras e “fala primal”, bem como padrões de som “off-key” usados como pano de fundo sonoro para a evocação das entidades do Mito.

Magos ocidentais parecem ter uma tendência a tentar “encaixar” os Mitos de Cthullu em sistemas ordenados de logica ou correspondências. Executor de Lovecraft, August Derleth, também tentou colocar os Grandes Antigos dentro de alguma estrutura – dando-lhes associações elementares e as vinculando a determinados locais e formas. Isso só pôde ser feito de forma limitada, antes de perder o “sabor” dos Antigos que residem na sua natureza altamente proteica. Lovecraft deixa bem claro que os humanos não podem perceber claramente os Grandes Antigos e as entidades são raramente descritas com clareza ou coesão; ao contrario, eles são insinuados ou aludidos.  Sua própria natureza é que eles são “primais e não dimensionados” – eles mal podem ser percebidos, e para sempre “espreitam” na borda da consciência.

As mais poderosas energias são aquelas que não podem ser nomeadas – ou seja, elas não podem ser claramente apreendidas ou concebidas. Elas permanecem intangíveis e tênues. Muito parecido com a sensação de despertar de um pesadelo aterrorizador, mas incapaz de se lembrar do por que. Lovecraft entendeu isso muito bem, provavelmente porque a maioria de seus escritos envolviam seus sonhos.

Os Grandes Antigos ganhar seu poder de sua indefinição e intangibilidade. Uma vez que eles são formalizados em sistemas simbólicos e relacionados a meta sistemas intelectuais, alguns tem sua intensidade primal perdida. Willian Burroughs coloca desta forma:

“Assim que você nomeia algo, você retira o seu poder… Se você pudesse olhar a morte de frente ela perderia seu poder para mata-lo. Quando você pergunta a morte por suas credencias, seu passaporte é por tempo indeterminado.”

O LUGAR DAS ESTRADAS DA MORTE:

É a própria intangibilidade dos Antigos que lhes dá o seu poder, e permite que os muitos espaços mágicos para a exploração pessoal de suas naturezas.

É geralmente aceito que a maioria das magias “poderosas” são encontradas nos cultos xamânico primais e sobreviventes. A E.O.D esta preocupada em como angariar conhecimento e técnicas do que pode ser visto como primordial, magia Xamânica “dark”, como um amplo espaço para o desenvolvimento futuro e expansão. Sugere da estelar sobrevivência (“quando as estrelas estão certas”) baseada na sabedoria. E de raízes que se estendem em todo o mundo, e um conhecimento mais velho que esta enterrado dentro de nossas mentes, mas pode ser aproveitado, tanto na forma consciente, e no caso de Lovecraft, inconscientemente.

·         Nota: este ensaio foi publicado originalmente no “Starry Wisdom” uma coleção de ensaios de membros da Ordem Esotérica do Dagon, Pagan News Publications 1990. Desde então, o E.O.D. provocou em vigília, mais uma vez, e mesmo agora, seus tentáculos podem estar rastejando em sua direção.

por Frater Zebulon, Dunwich Lodge, E.O.D. – Tradução Carolina Rezende

Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/entradas-das-trevas-uma-introducao-a-magia-de-mito-de-cthullu/

Em Busca de Alhazred

Por Donald Tyson

Abdul Alhazred é atribuído como o misterioso autor do Necronomicon. Como o livro negro que ele tem a fama de ter escrito, ele foi a criação da mente fértil de Howard Phillips Lovecraft (1890-1937), que inventou tanto Alhazred quanto o Necronomicon como detalhes de fundo para suas terríveis histórias de horror cósmico.

Lovecraft escreveu que Alhazred era um poeta louco do Iêmen que em sua juventude explorou o grande deserto árabe conhecido como o Espaço Vazio. Ele viajou muito pelo mundo antigo em busca da sabedoria arcana, e em sua velhice escreveu um livro documentando o que ele havia colhido em lugares secretos sob a terra – necromancia estranha, cidades perdidas e raças de extraterrestres tão alienígenas que nem eram compostas de carne. Alhazred adorava esses deuses, e no ano 738, enquanto vivia sua velhice em Damasco, ele pagou o preço final por sua arrogância. Ele foi apanhado no ar no mercado da cidade em plena vista da multidão e devorado pedaço a pedaço por um monstro invisível.

Alhazred não desempenha nenhum papel ativo nas histórias de Lovecraft, mas é meramente dito ser o autor do Necronomicon, que é o foco da atenção do leitor. Quando montei o Necronomicon (Llewellyn, 2004), senti constantemente a presença de Alhazred no meu ombro, enchendo minha mente com suas andanças e suas curiosas aventuras. Ele não aparece em minha versão do Necronomicon, exceto por uma breve menção no final do livro, mas sua presença invisível assombra cada página. O Necronomicon foi baseado no conhecimento que ele adquiriu enquanto perambulava pelo Espaço Vazio e viajava pelo Egito, Pérsia e outras terras. Foi escrito em sua velhice, enquanto ele olhava para trás, ao longo dos anos, para seu passado.

Quando terminei Necronomicon, eu sabia que havia outra história para contar – a história de Alhazred em sua juventude, as maravilhas e os terrores que ele experimentou enquanto perambulava por terras distantes adquirindo sabedoria proibida, a paixão que o levou a aventurar-se nas cavernas escuras nas raízes do mundo e a enfrentar as abominações da natureza que ali habitam, as circunstâncias de sua vida que resultaram em sua loucura nas areias ardentes do Espaço Vazio. Enquanto o Necronomicon é uma reunião de sabedoria do poeta em sua velhice, despojado da emoção humana e de detalhes pessoais, o romance Alhazred apresenta a vida real do jovem poeta como ela está sendo vivida.

Por causa de indiscrições juvenis com a filha do rei, Alhazred, que havia sido poeta da corte do Iêmen e favorito do rei, foi exilado no Espaço Vazio. Antes de sua expulsão para o deserto, ele foi castigado de maneiras horripilantes demais para mencionar neste ensaio, maneiras que o roubaram de seu amor, de sua humanidade, até mesmo de sua própria razão. Suas andanças detalham seus esforços para recuperar o que lhe havia sido tão cruelmente despojado e para se transformar de um vagabundo nu e sem um tostão em um necromante. Ao viajar por cidades perdidas e portais ocultos desconhecidos para aqueles que andam eretos, ele aprende da história inicial deste planeta, das raças das estrelas que foram seus mestres muito antes da evolução da humanidade, de suas terríveis guerras e das consequências de seu inevitável retorno.

Alhazred não vagueia em solidão, mas se move pelo mundo rico do Oriente Médio no final do século VII, não muitas décadas depois que os exércitos de Maomé varreram a Arábia, Síria, Egito, Pérsia e outras terras para criar o império muçulmano. Ele é externamente um membro da classe dominante muçulmana, mas em sua alma torturada ele não dá nenhuma lealdade aos ensinamentos de Maomé. Os deuses de Alhazred são os Grandes Antigos que vieram do passado éons além das estrelas, e que continuam a manter uma posição de apoio em nosso mundo, dando seu tempo até que os céus se realinhem e deixem de lançar raios venenosos para sua espécie.

Contra sua vontade, Alhazred é forçado a se tornar um espião do Antigo conhecido como Nyarlathotep, que procura usá-lo para sondar os enredos de seus inimigos. No século VII, muitos cultos sem nome ainda floresceram ao lado do cristianismo e do islamismo. Grande parte do mundo permaneceu inexplorado e desconhecido. Estranhos adoradores de deuses alienígenas realizavam rituais obscuros sob a lua, e davam sacrifícios de sangue humano. No entanto, além daqueles que permaneceram leais aos Antigos, havia inimigos jurados que os combatiam com artes potentes.

Alhazred encontra estas e outras maravilhas em suas andanças, mas talvez a maior de todas elas seja o amor. Apesar dos horrores cometidos contra ele e de sua loucura, que juntos o transformam em algo diferente do humano, ele não está sem companheirismo e afeto, embora eles tomem formas que lhe renderiam uma sentença de morte se eles se tornassem conhecidos, pois seu amante é ainda menos humano que Alhazred.

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Fonte:

TYSON, Donald. In Quest Of Alhazred. The Llewellyn’s Journal, 2006. Disponível em: <https://www.llewellyn.com/journal/article/1163>. Acesso em 8 de março de 2022.

COPYRIGHT (2006). Llewellyn Worldwide, Ltd. All rights reserved.

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/em-busca-de-alhazred/

E Se Lovecraft Estivesse Certo?

Quando pensamos em Howard Philips Lovecraft, não tem como não nos perguntarmos, mesmo que aparentemente não passe de uma brincadeira ou tolice, “E se Lovecraft estivesse certo?”

Para aqueles que ainda não o conhecem de maneira resumida podemos dizer que Howard Philips Lovecraft foi um dos maiores, se não o maior de acordo com alguns, escritores de horror e ficção da história. Agora a diferença entre ele e outros escritores de horror é que por inúmeros motivos algumas pessoas começaram a acreditar que o que ele escrevia era real. Para entender isso basta ter em mente que como grande parte dos gênios, Lovecraft não foi reconhecido em sua época, ele escrevia para revistas de horror e ficção, ganhava com isso o suficiente para ter uma vida extremamente simples e modesta – ou seja tinha um pouco de comida, e não dormia na rua. Na época, além dos fãs que conquistava com seus contos acabou atraindo vários escritores que se maravilhavam com os mundos e criaturas descritos por sua pena, esses escritores acabaram expandindo esse universo, emprestando personagens, lugares e até escrevendo em parceria, e então Lovecraft morre, e anos depois ele se torna cult e seus contos viram livros e ele ganha um universo de fãs, e um universo de seguidores.

Mas como dissemos muita gente acabou acreditando que aquilo que ele escrevia era real, que as criaturas que enlouqueciam, e voavam, e matavam – às vezes tudo ao mesmo tempo – de fato estavam à espreita. Apesar de Lovecraft por mais de uma vez desmentir que seus tomos malditos e lugares sombrios existissem em seus sonhos, criou-se muita especulação de até onde esses sonhos seriam “apenas sonhos”. E assim criou-se o Mito de Cthulhu ou simplesmente o Mito.

Várias pessoas ao longo dos anos começaram a questionar até onde a ficção escrita por aquele jovem acanhado e problemático da Nova Inglaterra não teria seus reflexos sombrios na nossa realidade, desde céticos cínicos como LaVey que dedicou parte de seu Rituais Satânicos ao Mito, deixando um texto sugestivo na como introdução intitulado Metafísica Lovecraftiana:

“Os Innsmouth e Arkhams de Lovecraft possuem suas contra partes em pequenas vilas praianas e áreas costeiras abandonadas ao redor do mundo, e para localizá-los não precisamos de nada além de nossos sentidos. Aonde houver pessoas onde a terra firme sede lugar a água completando a transição para os mares e oceanos com medo e desejo mesclados em seus corações a promessa de Cthulhu existe.”

Até magos mais “crentes” ao redor do mundo que tendem a ter uma visão mais ligada ao sobrenatural como nos mostra Stephen Sennitt em seu texto Co-Herdeiros do Caos.

“H. P. Lovecraft através de seus sonhos pode ter tido acesso ao universo paralelo que o permitiu relatar profecias a cerca da destruição do nosso mundo através de forças advindas do Caos. As perguntas a cerca das datas relacionadas a esse terror cósmico foram feitas desde sua morte em 1937.”

E isso nos deixa em um lugar interessante. Até hoje quando pensamos em fenômenos estranhos os ligamos mais às pessoas que os viram do que ao próprio fenômeno. Três crianças presenciam a aparição de Nossa Senhora e o que vem à mente não é a questão: “O que a mãe de Cristo fazia em Portugal, descalça, no meio do mato?” e sim: “Mas só as crianças viram? Tinha mais gente? Crianças tem imaginação fértil! Cada um vê o que quer, o meu tio quando está lelé conversa com o Chacrinha!” e por ai a fora. Parece que fenômenos estranhos são sempre relatados por pessoas que por mais confiáveis acabam se mostrando abaladas, ou então registrados de maneira sinistra como fotos borradas, bolinhas de luz num zoom extremo de uma câmera sem resolução, ou algo que parece um mecânico vestindo uma roupa de macaco andando no meio da floresta. E terminamos, ou a maioria de nós, com a coisa resolvida da seguinte maneira: “É ver pra crer! Não sei se existe, nunca vi um! Se isso acontecesse iriam ter mais fotos ou registros, é tudo coisa de nego chapado!”

Mas ai voltamos à questão: e se Lovecraft estivesse certo? ou pior ainda: e se aqueles que falam que aquilo que Lovecraft escrevia é real estivessem certos?

Bem, vamos dar uma rápida viagem para descobrir como seria um mundo assim, só por diversão, como seriam as manchetes de jornal local e os registros históricos para os seguintes casos:

– Yog-Sothoth – a.k.a. “Yog-Sothoth conhece o portal. Yog-Sothoth é o portal. Yog-Sothoth é a chave e o guardião do portal. Passado, presente, futuro, todos são um em Yog-Sothoth. Ele sabe onde os Antigos se libertaram no passado e sabe onde se libertarão de novo no futuro. Sabe por onde eles cruzaram a terra e sabe onde eles ainda vivem, e porque ninguém pode percebê-los quando as cruzam hoje” –  resolvesse dar as caras enquanto você leva sua filha para a escola de manhã:

Dia 9 de dezembro de 2009:

ESPIRAL MISTERIOSA NO CÉU NA NORUEGA

ESPIRAL DE LUZ NA NORUEGA DEIXA A POPULAÇÃO SURPREENDIDA: NÃO HÁ EXPLICAÇÃO OFICIAL

MYSTERY AS SPIRAL BLUE LIGHT DISPLAY HOVERS ABOVE NORWAY
(MISTÉRIO QUANDO UMA LUZ AZUL EM ESPIRAL FLUTUA SOBRE NORUEGA)

Uma misteriosa espiral de luz pairou nos céus da Noruega na noite de 9 de Setembro, deixando centenas de residentes no norte do país intrigados.

Segundo reportagem do Daily Mail, das cidades de Trøndelag a Finnmark, moradores disseram ter presenciado as estranhas luzes, que acreditam ser um meteoro ou um teste de foguetes russo.

O fenômeno começou quando uma luz azul surgiu de trás de uma montanha, parou no meio do ar e começou a girar. Em segundos, uma espiral gigante teria se formado e coberto o céu.

Então, um feixe azul-esverdeado de luz saiu de seu centro, durando entre dez e 12 minutos antes de desaparecer completamente. A reportagem afirma que, segundos após o incidentes, o Instituto Meteorológico da Noruega foi inundado de telefonemas – e que muitos astrônomos não acreditam que as luzes estejam ligadas às auroras, fenômenos comuns na região.

O Controle Aéreo de Tromsø alegou que o acontecimento durou apenas dois minutos, mas admitiu que foi muito tempo para ser um fenômeno astronômico.

Em entrevista à imprensa norueguesa, o pesquisador do Observatório Geofísico de Tromso Truls Lynne Hansen disse ter certeza de que a luz foi causada por um lançamento de míssil – que, provavelmente, teria perdido o controle e explodido.

O porta-voz da Defesa Norueguesa Jon Espen Lien teria dito que os militares do país não sabiam do que se tratava, mas que era provavelmente um míssil russo.

No entanto, ainda segundo o Daily Mail, a Rússia negou ter feito qualquer teste de mísseis na região.

videos:

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– Cthulhu – a.k.a. “Em sua morada em R’lyeh Cthulhu, morto, espera sonhando” “Não está morto aquele que pode eternamente jazer, embora, em estranhas eras, até a morte virá a morrer” – despertasse de sua soneca e tentasse, de novo, se libertar para tornar os seres humanos assim como os antigos, livres e selvagens, criaturas além do bem e do mal, se livrando de suas leis e morais, matando e exultantes de alegria:

Verão de 1997:

SOM SUBMARINO INTRIGA PESQUISADORES

Som submarino de frequência ultra-baixa extremamente poderosa detectado pelo National Oceanic and Atmospheric Administration várias vezes durante o verão de 1997. Sua origem continua sendo um mistério.

A localização de seu rastreamento foi de algo em torno de 50° S 100° W, a mesma localização dada por Lovecraft para a cidade submergida de R’lyeh.

Uma afirmação frequente é que ele corresponda ao perfil de áudio de uma criatura viva. Sendo que esta visão é defendida principalmente pelas pessoas da área da criptozoologia, não é popular entre os principais cientistas. Se o som veio de um animal, ele teria que ser várias vezes o tamanho do maior animal conhecido na Terra, a baleia-azul.

Há vários casos de sons desconhecidos registrados, assim o Bloop, como ficou conhecido, não é um fenômeno único.

Ouça o Bloop


– A cor que caiu do céu – a.k.a. “A cor indescritível e tóxica que veio do espaço, tornando a região que atingiu estéril e que enquanto não pode ser explicada por cientistas enlouquecia e matava a todos que entraram em contato com ela – realmente caísse do céu:

1947:

CIENTISTAS AINDA DEBATEM A NATUREZA DO EVENTO DE TUNGUSKA

2008:

QUEM OLHA ATUALMENTE PARA A PLANÍCIE DE TUNGUSKA ESTÁ LONGE DE IMAGINAR O QUE ALI SE PASSOU HÁ QUASE CEM ANOS.

O ano é 1908, e já são 7 horas da manhã. Um homem está sentado na varanda de uma agência dos correios em Vanara, na Sibéria. Ele não sabia, mas em poucos momentos ele seria atirado de sua cadeira e o calor que sentiria seria tão intenso que ele poderia jurar que suas roupas pegavam fogo. Ele estava sentado a 60km de distância do ponto de impacto. Hoje passados cem anos do acontecido, cientistas ainda debatem o ocorrido.

Quem olha atualmente para a planície de Tunguska, na Rússia, está longe de imaginar o que ali se passou há quase cem anos. No dia 30 de Junho de 1908 uma explosão de uma intensidade tremenda abalou a terra. Na época o fenómeno passou quase despercebido internacionalmente, talvez devido ao isolamento da região, situada em pleno coração da Sibéria. É provável que tenham sido feitas explorações no local mas a turbulência dos anos que se seguiram (a 1ª Guerra Mundial e a Revolução Russa, seguida de uma guerra civil) deve ter apagado todo e qualquer registo do acontecimento. Foi preciso esperar por 1920 para que uma expedição científica consistente fosse enviada a Tunguska, liderada pelo mineralogista russo Leonid Kulik. É a ele que devemos grande parte do conhecimento acerca deste fenómeno, ainda que nebuloso, de que dispomos atualmente.

A primeira expedição teve início em 1921 e, durante mais de uma década, outras se lhe seguiram. Kulik ouviu e registou os relatos dos habitantes da região. Referiam ter observado um rasto luminoso azul a cruzar o céu, um flash muito brilhante, um ruído de trovão e ondas de choque que abalaram a terra e partiram vidros. Durante as várias noites que se seguiram o céu brilhou e cintilou. Os testemunhos não coincidiam nem na sequência nem na duração dos acontecimentos.

Kulik tentou também delimitar toda a zona onde ocorreu o fenómeno, denunciada pela destruição de cerca de 80 milhões de árvores num raio de 50 Km tombadas radialmente a partir de um ponto central, de onde parecia provir a força que as deitou abaixo. Uma observação aérea revelou que possuía a forma de uma borboleta e que correspondia a uma área de 215 000 hectares literalmente arrasada. No entanto, não foi encontrado um único vestígio de uma cratera.

As observações feitas levaram Kulik a propor a teoria que permanece, ainda hoje, a mais consistente, pese embora as inúmeras especulações que têm surgido: a explosão de um meteorito ou de um asteróide a poucos quilómetros do solo. Imagens captadas recentemente dão conta de uma região que ainda não recuperou o seu aspecto normal mas as fotografias feitas pelas expedições de Kulik foram o único testemunho de um ambiente devastado e insólito como nunca até então se tinha visto no planeta.

Assista o documentário

– Durante os festivais pagãos sons cósmicos inundassem a terra ensurdecendo pessoas, enlouquecendo-as e fazendo-as participar de rituais para se comunicarem com os antigos em sonhos e alucinações, como os percebidos por Walter Gilman no conto: Sonhos na Casa da Bruxa.

Maio de 2009:

VOCÊ JÁ OUVIU O ‘HUM’?

Por décadas, centenas de pessoas ao redor do mundo tem sido vítimas de um zumbido elusivo conhecido como o ‘Hum’. Algumas delas culpam os encanamentos da linha de gás ou de energia, outros acham que tem problemas auditivos. Algumas outras ainda acham que isso é o resultado de forças sinistras em ação.

“É como uma tortura, às vezes você tem vontade de gritar”, afirma Katie Jacques, uma das pessoas atormentadas pelo Hum.

O elemento essencial que define o Hum é ser um som persistente, de baixa frequência, ouvido tanto dentro de prédios e casa quanto nas ruas e ao ar livre. Muitos dizem que sentem também vibrações que o acompanham e podem ser sentidas por todo o corpo. Equipamentos de proteção como plugs auriculares são inúteis para fazer o som sumir. O Hum é percebido com maior frequência e maior intensidade à noite. Além do fato de não poder ser ouvido por qualquer pessoa.

Os Hums já foram registrados em várias localidades ao redor do mundo e para completar não podem ser sempre gravados. E não se tem certeza de sua origem ou localização exatas.

Foi durante a década de 1990 que o fenômeno Hum começou a ser reportado nos Estados Unidos e se tornou conhecido do grande público, mas o mesmo fenômeno já havia sido registrado nas décadas de 1980 e 1970. Não se sabe até hoje se o Hum registrado nas décadas de 70 e 80 é o mesmo fenômeno do da década de 1990, mas no início desde século, durante a última década, o hum passou a ser registrado também em outros locais, como o Havai (que apesar de ser território americano está muito distante do continente), Canadá, Europa, Austrália e outras regiões do mundo.

Criaram-se muitas teorias sobre a sua origem, desde uma origem no próprio sistema nervoso da pessoa que o ouve, a um efeito acústico causado pelo formato das orelhas de algumas pessoas até ondas do oceano. Mas não existe ainda uma explicação final sobre o assunto.

Katie Jacques também diz que ela não tem mais um momento de paz e silêncio, e que dormir se tornou impossível.

“É pior à noite. Você não consegue se desligar do som, e eu fico ouvindo-o, como um som de fundo que não termina e não desliga, e eu não consigo dormir e fico me virando na cama, e quanto mais eu ouço, mais agitada eu fico.”

As pessoas que a visitam não escutam nada, mas para ela o som é constante, presente e agonizante:

“Ele tem um ritmo, fica mais alto e mais baixo. Quase se parece com um carro movido a dísel, que você ouve à distância, e dá vontade de ir lá pedir para a pessoa desligar o motor, mas isso não é possível”.

Katie fez inúmeros testes médicos e constatou que seu sistema auditivo está perfeito não sofre de nenhum mal que explique o ruído, como tinnitus, um som produzido pelo próprio organismo que segue a pessoa onde quer que ela vá. Assim como ocorre com outras vítimas do hum, katie apenas ouve o zumbido em um lugar específico, no caso dela a própria casa.

Apesar de morar no mesmo local por mais de 50 anos o hum só se manifestou recentemente, nos últimos 30 meses.

Ouça aqui uma simulação do Hum tornado auditível.


– Os Grandes Antigos – a.k.a. seres extraterrenos muito (MUITO) antigos, imbuídos de poderes e tamanho descomunais, adorados por cultos humanos dementes, além de por outras raças extra terrenas antigas. Foram aprisionados por seus inimigos, os Veneráveis antigos, alguns debaixo do mar, outros no interior da terra e outros em sistemas planetários distantes, além de muitos se encontrarem não nos espaços conhecidos, mas na região entre os espaços. – começassem a sinalizar para alguns de seus adoradores que pretendem retornar.

Agosto de 1977:

SINAL VINDO DO ESPAÇO SURPREENDE PESQUISADORES DO SETI.

Na noite de 15 de agosto de 1977 o astronômo Jerry Ehman, da Universidade de Ohio observava a saída dos dados que informavam a potência e a duração dos sinais recebidos pelo radiotelescópio Big Ear.

A maior parte dos sinais já eram de conhecidos objetos celestes naturais que produzem sinais de rádio como galáxias e satélites mas então repentinamente um pequeno sinal começou a crescer até atingir seu máximo e então decrescer e sumir. No total o sinal teve um tempo de duração de 72 segundos, mas o mais surpreendente era sua intensidade, era tão forte que o a agulha extrapolou os limites o papel de registro.

Completamente atônito, sem muito tempo para pensar em descrições cientificamente precisas, Ehman escreveu ao lado do código que representava, na impressão feita pelo computador, a intensidade do sinal:

“WOW !”

A imagem da impressão original, a região circulada indica o sinal “WOW”:

(os números são códigos que indicam a intensidade e outras características do sinal )

A radiação provinha da direção de Sagitário, e de uma faixa de freqüência em torno de 1.42 Giga Hertz (parte da conhecida como a “janela da água” em radioastronomia). Esta freqüência é exclusiva a radioastronomia, acordos internacionais não permitem que transmissões terrestres sejam feitas nesta frequência

A estrela mais próxima nessa direção está a uns 220 anos luz, assim se o sinal provinha dali, deve ter sido um acontecimento astronômico de enorme potência e jamais identificado pela ciência.

Mas uma caracteristica intrigante do sinal Wow o torna especialmente interessante: a maneira como este cresceu e diminui de intensidade ao longo dos 72 segundos.

E por que isto é interessante?

Pq a pesquisa do céu pela Universidade de Ohio manteve o telescópio fixo, deixando à rotação diária da terra a função de pesquisar os céus através do feixe estreito do telescópio. O “feixe”, claro, seria o alongado caminho do céu para o qual o telescópio seria sensivel – a direcção da qual o telescópio poderia receber sinais cósmicos. A sensibilidade era maior no centro do feixe, diminuindo para cada um dos lados. Assim, sempre que uma fonte de radio celestial passava, aumentava em aparência quando a rotação da Terra trazia essa fonte para o centro do feixe, chegava a um pico no centro, e depois diminuia gradualmente até desaparecer. Dado o tamanho do feixe deste telescópio a subida e diminuição do feixe deveria demorar 72 segundos.

E para o sinal Wow, demorou.

Agora contraste isto com aquilo que seria de esperar se o telescópio tivesse sido meramente inundado por um sinal interferente terrestre. A intensidade iria rapidamente ter valor máximo e passado algum tempo apenas se desligaria. Mesmo que a interferência fosse devido a um satélite terrestre, uma fonte que iria subir e descer gradualmente de intensidade, não seria de esperar que durasse precisamente 72 segundos.

Outra possibilidade é a de que alguém interessado em “entusiasmar” ou “enganar” os cientistas do Big Ear, forjando transmissões clandestinas na faixa da “janela d’agua”.

O grande problema com esta hipótese é a característica do sinal.

Como explicado acima uma antena de radiotelescópio possui um feixe de recepção que mais ou menos estreito conforme o diâmetro da antena. Assim a antena do radiotelscópio de Big Ear possui um “cone” de recepção de 8 minutos de arco ( 1 minuto de arco = 1/60 de grau , a lua cheia compreende ½ grau ou 30 minutos de arco no céu ), isto representa que o Big Ear capta sinais de uma área muito estreita do céu.

A sensibilidade deste cone de recepção aumenta conforme o sinal de rádio aproxima-se do centro do cone. Assim para uma fonte que esteja provindo do céu esteja fixa ( uma estrela por exemplo ) espera-se que o sinal comece fraco ao atingir a “borda” do cone a aumente sua potência ao centro, diminuindo sua força ao se aproximar da outra “borda” do feixe de recepção. Outro ponto a ser levado em conta é que a antena permanece fia apontada em uma direção do céu esperando que o movimento da Terra faça com que as fontes de rádio celestes ( estrelas, galáxias, etc ) passem na frente do feixe da antena.

O sinal WOW apresentou este “crescimento, potência máxima e diminuição” do sinal e além disso atravessou o feixe dentro do tempo estimado para que uma fonte fixa cruzasse o feixe devido ao movimento da Terra.

Assim ao que tudo indica o sinal realmente proveio de uma fonte fixa no céu.

O que é levantado ( pelo próprio observatório ) como hipótese alternativa a origem do sinal é que um sinal de rádio emitido na Terra coincidentemente refletiu na carcaça de algum satélite geoestacionário e foi captado pelo radiotelescópio. O problema é que nenhum satélite geoestacionário encontrava-se naquela posição do céu naquele momento.

Por estas razões, o sinal Wow é um forte e credível sinal candidato SETI já que ela definitivamente veio do céu e não de interferências terrestres.

Além do sinal WOW, até hoje foram captados 37 sinais que não foram explicados.

– Tsathoggua – a.k.a. “O ser que se assemelha a um Deus, mas achatado com um enorme ventre inchado e uma cabeça monstruosa que lembra mais um sapo do que um Deus, com o corpo todo coberto com uma imitação de pêlos curtos, dando uma sensação vaga de se parecer tanto com um morcego quanto com um bicho-preguiça. Ele permanece em sua caverna, e não sai dali nem quando afligido pela fome, mas aguarda em sua preguiça divina pelo sacrifício” – ou Atlach-Nacha – a.k.a. “A aranha gigante com cabeça humana, que vive em uma caverna profunda, onde tece uma enorme teia que une as Terras dos Sonhos e o mundo desperto, e que quando estiver terminada trará o fim ao nosso mundo” – resolverem sair de seu planeta Cykranos, conhecido por nós como Saturno, e vir dar um rolê pela terra, através de seus portais de geometria não euclidiana.

10 de Dezembro de 2009:

SONDA CASSINI CAPTA FIGURAS GEOMÉTRICAS EM HEXÁGONO DE SATURNO

A sonda Cassini da Nasa e da Agência Espacial Europeia (ESA) captou imagens de círculos concêntricos e outras formas geométricas que não tinham sido detectadas até agora no polo norte de Saturno, informou hoje o Laboratório de Propulsão a Jato (JPL, na sigla em inglês).

As figuras estão em um misterioso formato hexagonal no polo norte desse planeta e foram descobertas pela sonda Voyager da Nasa há 30 anos.

“Trata-se de uma das coisas mais estranhas que já vimos em todo o sistema solar”, indicou Kevin Baines, cientista em temas atmosféricos de JPL.

As imagens do hexágono, criado pelos feixes de luz que surgem do polo, revelam círculos concêntricos e outras formas geométricas que ainda não tinham sido detectadas.

O hexágono onde estão localizadas as figuras fica no polo norte de Saturno, a 77 graus de latitude, e seu diâmetro seria duas vezes o da Terra.

Acredita-se que os jatos que dão forma se deslocam cem metros por segundo.

“A longevidade do hexágono o transforma em algo especial, como as estranhas condições meteorológicas que dão origem à Grande Mancha Vermelha descoberta em Júpiter”, disse Kunio Sayanagi, cientista de Cassini no Instituto Tecnológico da Califórnia.

As câmeras de luz visível da sonda, que têm maior resolução que as registradas pela Voyager, registraram as imagens do hexágono em janeiro, quando o planeta chegava a seu equinócio.

Os cientistas do JPL combinaram 55 imagens para criar um mosaico.

Os cientistas querem descobrir agora o que provoca a formação do hexágono, de onde surge sua energia e por que se manteve durante tanto tempo.

– Sarcófagos – a.k.a. Criaturas carnívoras horrendas, com olhos vermelhos, que andam sobre duas patas, cobertas de pêlos, maiores do que um homem com uma aparência meio canina meio humanóide – saíssem dos subterrâneos para passear nas cidades de noite.

13 de fevereiro de 2009:

JOVEM DO RS AFIRMA TER SIDO ATACADA POR “LOBISOMEM”

Segundo descrição da vítima, criatura era parecida com cachorro grande. Polícia procura suspeito que teria usado fantasia para atacar mulher.

Moradores de São Sepé (RS) têm um motivo a mais para temer esta sexta-feira (13). Além do azar e dos estranhos acontecimentos atribuídos ao dia, um ‘lobisomem’ estaria à solta. Uma das possíveis vítimas, de 20 anos, registrou ocorrência na delegacia.

Segundo a Polícia Civil, Kelly Martins Becker afirma ter sido atacada, na noite de 28 de janeiro, por um bicho parecido com um cachorro grande, que ficava apoiado nas patas traseiras e andava como se fosse um homem. Ela chegou a fazer um rascunho para descrever a criatura.

De acordo com a ocorrência registrada, o agressor teria arranhado o rosto e os braços da vítima. A polícia informou que Kelly foi submetida a um exame de corpo de delito, no qual foram constatadas as escoriações.

A polícia afirma que irá investigar se alguém está usando uma fantasia de lobisomem para assustar a população. Nenhum suspeito foi detido até a manhã desta sexta-feira.

lobisomem1.jpg

Vítima de ‘lobisomem’ fez desenho do agressor (Foto: Lauro Alves/Diário de Sta. Maria/Ag. RBS)

Outros casos semelhantes ao de São Sepé foram registrados. Na zona rural de Tauá (CE), moradores procuraram a polícia em julho de 2008, assustados com aparições de um indivíduo “meio homem e meio lobo”, que estaria furtando ovelhas e arrombando residências.

Moradores da zona rural de Tauá (CE) estão assustados com a ação de um ‘lobisomem’ que está furtando ovelhas e arrombando residências na região. Dois casos foram registrados pela Polícia Civil da cidade na quarta-feira (9).

Apesar de ser lua nova na segunda-feira (7), uma mulher afirmou à polícia ter visto um indivíduo “meio homem e meio lobo”. Na terça-feira (8), um garoto de 12 anos também disse aos policiais que viu uma figura semelhante perto de sua casa.

Ambos os relatos indicam que a figura é “muito feia e exala cheiro de enxofre”. “Acredito que se trata de uma pessoa que usa uma máscara de lobisomem para assustar os moradores da região, que acreditam muito em folclore. São pessoas inocentes e ingênuas”, disse Marcos Sandro Lira, delegado regional de Tauá.

Ele confirmou ter registrado dois boletins de ocorrência sobre o caso. “Estamos investigando um possível grupo que está agindo dessa maneira para cometer crimes, mas nada que seja sobrenatural”, disse Lira.

Pastor distribui crucifixo para afugentar homem misterioso (Foto: Duda Pinto/Zero Hora/Ag. RBS)

Na época, a Polícia Civil investigou o caso, suspeitando de uma quadrilha que estaria usando fantasias para assustar os moradores e cometer crimes. O caso, apelidado de “o mistério da meia-noite”, passou a ser tratado com humor na cidade.

– Se “aquilo” que inspirou Abdul al Hazred – a.k.a. “o poeta árabe louco” – a escrever o Necronomicon – a.k.a. “o tomo maldito Al Azif, o som noturno dos gritos de demônios e zumbidos de insetos do deserto” – decidisse procurar outros escritores para ditar suas histórias:

no século XIII:

“As areias que cantam, às vezes enchem o ar com o som de todo tipo de instrumentos musicais, e também com o som de tambores e com a marcha de exércitos”

Marco Polo, que deixou o registro acima, assim como muitos viajantes junto com ele, registraram que os sons do deserto eram malignos e causados por espíritos cruéis e impuros. Esses espíritos criavam músicas mas também sons de berros, gritos de ajuda, que tentavam desviar nômades de seu caminho, e enchiam a noite de zumbidos e chiados que podiam durar mais de 15 minutos e eram ouvidos a mais de 10 quilómetros de distância.

Ouça o cantar e o zumbir dos demônios do deserto

– Se as anotações de Herbert West – a.k.a. “Reanimator, o brilhante, narcisista e obcecado cientista, cuja arrogância e falta de respeito pela vida (e pela morte) o levam a desenvolver uma solução especial, o “reagente” que pode trazer os mortos de volta para a vida” – caíssem nas mãos de outros cientistas:

Março de 1934:

CIÊNCIA: LAZARO, MORTO E VIVO

Robert E. Cornish foi uma criança prodígio, se graduando na Universidade da Califórnia com honras com a idade de dezoito anos, com vinte e dois anos recebeu seu doutorado. Em 1932 ele se interessou na idéia de que poderia devolver a vida aos mortos. Para isso desenvolveu um equipamento que bombeava sangue de volta no corpo daqueles que tivessem morrido recentemente, em 1933 ele tentou ressuscitar vítimas de ataques cardíacos, afogamento e eletrocussão com seu equipamento, mas não obteve nenhum sucesso. Cornish decidiu então aperfeiçoar seu método com animais e em 1934 e 1935 conseguiu trazer de volta da morte dois cachorros, batizados de Lázaro II e Lázaro III. Ele ligou os corpos em sua máquina, fazendo sangue circular pelo corpo enquanto injetava uma solução de epinefrina (adrenalina) e anti-coagulantes.

Em 1934 a revista LIFE fez uma matéria a respeito de suas experiências, nela o repórter descreve como o pequeno fox terrier, asfixiado até a morte, foi ligado na máquina do Dr. Cornish, em um laboratório do Campus da Universidade da Califórnia. Depois de seis minutos morto foi injetavo com uma solução salina saturada de oxigênio, adrenalina, heparina e um pouco de sangue canino sem nenhuma fibrina (a substância coagulante). O cão recebeu respiração artificial. Depois de alguns minutos as máquinas registraram uma pulsação fraca, as pernas do animal tiveram pequenas convulsões e o coração voltou a bater sozinho. Sua respiração a início fraca e hesitante se estabilizou. Lazaro II estava vivo.

Por oito horas e 13 minutos o cachorro permaneceu em um coma, gemendo e ganindo, como se estivesse sofrendo de pesadelos. Ansioso em acelerar a recuperação do animal o Dr. Cornish administrou uma solução com glicose. Um coagulo sanguíneo se formou e Lazaro II morreu novamente, desta vez de maneira definitiva.

O Dr. Cornish então selecionou outro animal, o matou e o ressuscitou da mesmo forma, mas desta vez não administrou a glicose, o animal acabou morrendo depois de cinco horas. “Se o segundo animal tivesse permanecido morto por apenas dois minutos ao invés de oito, eu acredito que ele conseguiria se recuperar. Nós tentaremos novos experimentos nos próximos dias.”

Alguns meses depois Cornish foi notícia dos jornais, quando os cães Lázaro IV e Lázaro V foram de fato trazidos de volta à vida. O cão Lázaro IV aprendeu a se arrastar, latir, sentar e consumia quase um quilo de carne por dia. O cachorro ficou cego depois de voltar da morte, e não consegue se erguer sozinho. Lázaro V, morto da mesma forma que seus predecessores, foi trazido de volta depois de 30 minutos que sua respiração havia parado. O Dr. Cornish disse que Lazaro V havia retornado à sua forma normal depois de quatro dias.

Agora, porque essas experiências pararam no passado? Se o bom doutor conseguiu trazer os cães de volta da morte, porque não ouvimos mais falar disso? Provavelmente porque simplesmente não procuramos mais. Este é o site do Centro Safar de Pesquisas de Ressurreição.

por Rev. Obito

Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/e-se-lovecraft-estivesse-certo/

Dissecando Cthulhu

26 de Outubro de 2012.

Eu sou amigo do proprietário do Miskatonic Press (MRP) que generosamente me entregou cópias de todos os seus livros. Dissecting Cthulhu – Dissecando Cthulhu – editado por S.T. Joshu é o primeiro de uma série de ensaios críticos sobre H.P Lovecraft, August Derleth e da natureza do Mito de Cthulhu.

 

O primeiro capítulo, Some Overviews, pode soar como um tópico bem amplo mas na verdade é uma série de ataques minuciosos a Derleth. Incia-se com Richard L. Tieney que argumenta sobre a frase  “Cthulhu Mythos” é um termo impróprio criado por Derleth mas atribuído a Lovecraft. Com isso retira a primeira camada de críticas ao legado de Derleth: as atribuições elementais de Cthulhu et al, a aplicação de camadas de ordem no universo caótico de Lovecraft e o tricotar cuidadoso de tudo isso numa malha coesa. Dirk W. Mosig despareia as contribuições de Derleth de Lovecraft com uma nova frase, “Yog-Sothoth Cycle of Myth” e é uma tentativa valiosa de corrigir os escritos de um pupilo que Lovecraft chamou de “Observador terreno cego”. E aqui chegamos a uma das maiores ligas de contenção com “Little Augie Derleth” que foi responsável por espalhar uma citação incorreta atribuída a Lovecraft:

 

“Todas as minhas histórias, desconexas que possam ser, são baseadas na crença fundamental na lenda de que este mundo outrora foi habitado por uma outra raça que, praticando magia negra, perderam seu rumo e foram despejados, no entanto vivem numa periferia, de prontidão para voltar e possuir esta terra novamente.”

Lovecraft nunca disse isso. Harold Farnese, que ensaios mais velhos mostram que tinham uma memória não muito confiável, citou erroneamente Lovecraft para Derleth. Segue o que ele realmente escreveu:

 

“Todos os meus contos são baseados na premissa fundamental de que as leis humanas comuns e seus interesses, bem como emoções não têm validade alguma ou significado em comparação com o a imensidão do cosmo… Para atingir a essência da realidade externa, tanto de tempo e espaço, como de dimensão, precisa-se esquecer tais coisas como vida orgânica, bem e mal, amor e ódio, e todos os atributos locais de uma raça temporária chamada “Humanos” existam realmente. Estas duas citações são repetidas diversas vezes no texto. David E. Schultz e Simon MacCullouch continuam a instigar Derleth enquanto Joshi vai clareando as coisas. Joshi mais tarde denigre a idéia de que os “Deuses” de Lovecraft eram elementais, que o Deus Ancião era poderoso o bastante para se opor a eles e que o Mito, como um todo, era um paralelo para o Cristianismo. Ou para colocar em outras palavras, acabamos dissecando Derleth.

 

Somente Steven J. Mariconda aponta que todo este furduncio está confuso, pra começar. Lovecraft frequentemente se contradizia. O exemplo mais brilhante é Cthulhu (Tulu) descrito no “O Monte/A Colina” como um “espírito de harmonia universal antigo e simbolizado como o Deus com cabeça de polvo que trouxe a raça humana das estrelas.” Mariconda mira em todo mundo, incluindo em Robert Price. Curiosamente Mariconda é uma das poucas acadêmicas que inclui na mistura as contribuições do RPG, que é algo para ser notado com significância, como as contribuições de Chaosium e seus autores. Chaousium tem uma visão ampla e inclusiva do Mito, por conta de elaborar um universo muito mais produtivo para se jogar, com objetivos cruzados, unidos a uma estreita e indefinida visão de mundos compartilhados originalmente lançados por Lovecraft.

 

O Segundo capítulo cobre “The Books” – Os Livros – aqueles esotéricos que detonam com a sanidade e que foram buscas recorrentes de inspiração por Lovecraft e seu legado de ficção: O Necronomicon, De Vermis Mysteriis, Cultes dês Goules, e Chaat Aquadigen. Price, um bibliotecário e estudante de Lovecraft, não resiste em fazer uma compação entre o Necronomicon e a Biblia, fazendo um paralelo entre os Apócrifos e o “verdadeiro” Necronomicons. Dan Clore examina as raízes de “Paratext” de Lovecraft e como ele criou um universo fictício compartilhado que outras publicações acabaram criando suas próprias ficções.

 

O terceiro capítulo detalha “The Gods” – Os Deuses. Price lidera o caminho aqui, desnudando os termos “Deuses Anciões” e  “Grandes Antigos”, comentando que eles são invenções de Derleth exclusivamente e nunca foram envisionados como um grupo coerente por Lovecraft. Will Murray mergulha na identidade por trás de Nyarlathotep o que é fascinante. Mas então tece uma “Indústria Artesanal Crítica” acerca da identidade de Nug e Yeb em “Joking Allusions in private correspondence” como Mariconda coloca. Existem tantos outros Deuses Antigos (que Price diz não existirem como tais) que poderiam ter sido mais focados, mas somente Nyarlathotep é revelado neste capítulo.

 

O quarto capítulo cobre “The Landscape” – A Paisagem. Inicia-se com Robert D. Marten atacando Murray por uma série de artigos intitulados “In Search of Arkham Country”, no qual ele postula as verdadeiras inspirações e locações das cidades na literatura de Lovecraft. Consiste em um texto de 35 páginas, sarcástico, bajulador e puramente arrogante contra Murray. Seria muito melhor se pudéssemos ler a resposta de Murra, mas somente a Marten foi concedido este privilégio. “Dissecting Cthulhu” teria se beneficiado muito com a inclusão de mais artigos que Marten considera ofensivo. Teremos que nos satisfazer então com o texto excelente de Murray “Where Was Foxfielf?” que como Mariconda, Edwards W O’Brien, Jr faz um excelente trabalho mostrando como Lovecraft escreveu duas versões diferentes de Arkham como pedia a maré de sua história.

 

O último capitulo detalha as influências de Lovecraft. Marco Frenschkowski faz um ótimo trabalho explicando as origens de Hali, Jason C. Eckhardt por outro lado trabalha dobrado para ligar o trabalho de Lovecraft com a mitologia nórdica. Schultz retorna para a “Magia Negra”, que foi erroneamente citada por Farnese e mais tarde por Derleth. Price compartilha das contribuições de Robert E. Howard sobre a mitologia de Lovecraft. Stefan Dziemianowicz termina juntando tudo escavando ainda mais os escritos de Derleth mais desta vez mostrando sua influência em autores mais contemporâneos como Lin Carter e Brian Lumley.

 

Tem muitos acadêmicos apontando o dedo em “Dissecting Cthulhu” acerca das indignações perpetuadas por Derleth sobre o trabalho de Lovecraft. Somente Mariconda e Dziemianowicz fazem a conexão de Derleth com a homogenização e dissolução do trabalho de Lovecraft e como com isso atingiu a cultura popular. Algumas vezes enfurecedor mas sempre esclarecedor, este é um livro que deve ser lido por qualquer um que quer saber mais do legado de Lovecraft.

Trad. por Pythio

Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/dissecando-cthulhu/

John Dee

John Dee nasceu em Londres, em 13 de julho de 1527 e morreu em dezembro de 1608, tendo vivido 81 anos. Seu pai, Roland Dee, foi um comerciante e Oficial do governo de Henrique VIII, em Londres. Estudou no Saint John’s College, em Cambridge. Construiu robôs, como um escaravelho mecânico que soltou durante a apresentação teatral “Paz de Aristófanes” e causou pânico. Foi expulso de Cambridge em 1547, acusado de bruxaria e chamado de herege. Então foi para a Universidade de Louvain onde se tornou um hábil astrólogo, passando a ganhar a vida fazendo horóscopos.

Dee era da religião anglicana. Estudou Hermetismo, Cabala, o Talmud, Astrologia e Alquimia. Na maior parte de sua vida foi um alquimista itinerante. Mas, além de hábil astrólogo e filósofo oculto, foi um grande estudioso de Matemática. Previu as seguintes invenções posteriores: microscópio, telescópio, navios à propulsão de motores, automóveis e máquinas voadoras.

Dee recebeu uma proposta de lecionar na Universidade de Paris em 1551, e ocupar uma posição como conferencista em matemática em Oxford em 1554. Ele decaiu em ambas posições. Foi sustentado na maior parte de sua vida por meio de patrocínios, nunca viveu necessariamente de seu trabalho e esforço, sempre soube tirar o melhor proveito de seus conhecimentos ocultos, porque o estudo da filosofia oculta sim era o seu forte. Recebeu apoio financeiro para as suas pesquisas da Duquesa de Northumberland e de seu marido, de 1551 a 1555. Neste período, foi também tutor das crianças do ducado de Northumberland, tendo sido tutor do futuro Conde de Leicester. O Rei Edward lhe concedeu uma pensão anual de cem coroas, quando retornou à Inglaterra, em 1552. Dee também recebeu dinheiro de estudantes que o procuravam para aprender alquimia.

Em Louvain, de 1548 a 1550, Dee começou a ser tutor pessoas influentes em assuntos como matemática e geografia. Em algum ponto entre estas datas, ele tutorou o Conde de Warwick. Aparentemente o Senhor Philip Sidney estudou com ele, um pouco mais tarde. Em 1550, em Paris, expôs a teoria da matemática mágica, teoria revivida por Ficino. Ele trouxe instrumentos astronômicos e de navegação para a Inglaterra quando ele voltou do continente em 1550.

Ele foi uma figura importante para as descobertas geográficas que ocorreram durante o reinado Tudor. Por um longo período, aproximadamente de 1551 a 1583, Dee foi o conselheiro para as viagens de descobrimento inglesas, do Nordeste ao Noroeste. Ele pode ter tido Drake como um conselheiro para viagens. Sua Arte Perfeita de Navegação (mais geografia e propaganda para império Inglês do que a ciência de navegação propriamente dita), de 1577, originalmente pretendia ser um trabalho mais grandioso, uma história geral de descobertas. Ele foi um consultor de navegação da Companhia de Muscovy , aproximadamente de 1551 a 1583. A serviço da Companhia, em 1553, ele desenvolveu um gráfico para navegação em regiões polares. Em 1558, escreveu Propaedeumata Aphoristica, um livro de astrologia.

A coroação da Rainha Elizabeth I (05/09/1533), em 1559, teve sua importante participação. Dee, que já havia calculado horóscopos para Elizabeth I durante o reinado de Mary Tudor, e recebido o título de Astrólogo Real, escolheu a data e hora da coroação de Elizabeth I (a Rainha Virgem). O seu trabalho foi considerado o melhor trabalho de Astrologia Eletiva (especialidade na qual o astrólogo escolhe data e hora em que devem ocorrer acontecimentos importantes). Contudo, nunca recebeu o patrocínio esperado por parte de Elizabeth I, tendo recebido apenas quantias irrisórias e cargos pouco pomposos da mesma. O interessante é que havia sido preso no Hampt Court (na mesma semana antes do pentecostes em que Elizabeth I, antes de subir ao trono, também esteve ali prisioneira), acusado de bruxaria e conspiração contra a vida da Rainha Mary Tudor (Bloody Mary). Tudo porque certa vez, durante um retiro em Woodstock, sua irmã mais nova Elizabeth I o consultou sobre a época da morte de Mary Tudor, e este a revelou através de horóscopo. Ele foi julgado e conde nado à fogueira. Se livrou da morte com ajuda de Elizabeth I, e quando esta assumiu tudo melhorou para ele.

Pesquisou durante sete anos a “Steganographia” (alfabeto secreto) de Jean Tritheme (1462-1516), uma figura da renascença germânica que foi um dos mestres de Paracelso. Inspirado em tal obra escreveu Monas Hieroglyphia em 1564. No mesmo ano, apresentou uma cópia de Monas Hieroglypha ao Rei Maximillian II, ao qual ele tinha dedicado o trabalho. Monas Hieroglypha foi feito em 12 dias, e os segredos deste livro ligam-se à criptografia. Dee tinha contato por telepatia e clarividência com seres não-humanos. Quando Dee ficou gravemente doente em 1571, Elizabeth I enviou dois médicos para o curar. Entretanto, ela nunca concedeu a ele as posições lucrativas que este esperava Prefaciou a tradução do livro do grande matemático grego Euclides, em 1570.

Ele projetou um instrumento astronômico de longo alcance para Thomas Digges observar a nova estrela de 1572. Depois, continuou a trabalhar no desenvolvimento de instrumentos científicos. Smet o reconheceu como figura central no desenvolvimento da cartografia científica na Inglaterra, e sugeriu que a influência de Dee fosse transmitida à Holanda, onde o tal influencia ajudou a formular a cartografia Holandesa em sua idade dourada

Em 1573, escreveu Parallacticae commentationis praxos que- teoremas trigonométricos . Foi um admirador e de Copérnico, cujo trabalho estudou.

Em 1580, em Praga, estava na mira de uma condenação por parte da Igreja Católica.
Em 1582, ele se associou com o Edward Kelly em projetos alquímicos e ocultos.
Elizabeth I, finalmente lhe concede uma posição honrosa: a Tutela da Universidade Cristã, em Manchester, de 1595 a 1605.Em maio de 1583, o conde Alberto Laski, um rico polonês, viajou à Oxford especialmente para conhecer os Dee e Kelly. Perante as boas aventuranças que Kelly previa para Laski, este os levou a Polônia, onde começa uma nova fase em suas vidas.

John Dee e Edward Kellley

Antes de relatar os acontecimentos ocorridos após a associação de Dee E Kelly, remontemos à origem de tudo…Quando estava em seu museu, em meio a fervorosas preces, na janela que olhava para o ocidente. O Anjo Uriel (anjo de Mercúrio) lhe apareceu e lhe deu um cristal de forma convexa com o qual se comunicaria com seres de outras esferas se fitasse atentamente o cristal. Dee viu outros mundos e inteligências não humanas. Disse que a linguagem de tais criaturas era linguagem enoquiana. Para praticar sua “Cristalomancia”, chamou os ajudantes Barnabas Saul e Edward Tabolt (mais tarde se tornaria Edward Kelly) para que olhassem no espelho enquanto anotasse. Barnabas Saul foi dispensado por suspeita de agir como um espião.

Edward Kelly nasceu em 1 de agosto de 1555. Segundo Anthony Wood, durante o terceiro ano reinado de Mary Tudor, Kelly teria passado pela Universidade de Oxford;. Wood dia que este fez aprendizado de Boticário, obtendo conhecimentos químicos, e que ainda entrou para as profissões da lei e foi notório, que sabia inglês arcaico, e que por ser natural de Worcester, sabia galês. Era hábil calígrafo, e usava tal habilidade para falsificar documentos. Foi exposto ao pelourinho em Lancaster e perdeu as duas orelhas. Cobriu o local onde estariam as orelhas com um “barrete negro”, escondendo tão bem seu segredo, que o próprio Dee nuca descobrira este aspecto da vida de Kelly.

Depois de tal mutilação e de várias estadias na cadeia, Kelly fugiu para o país de Gales e adotou uma vida nômade, andando pelos arredores da abadia de Glastonbury (território famoso pela lenda do Rei Arthur). Numa hospedaria, ganhou a amizade do proprietário que lhe forneceu um velho manuscrito em língua galesa antiga. O manuscrito tratava da transmutação de metais e foi encontrado durante a violação de um túmulo de um bispo, numa igreja das vizinhanças. Junto ao corpo, estava o manuscrito e dois cofrinhos de marfim que continham respectivamente pó vermelho e pó branco, as “duas tinturas da Filosofia Hermética(!)”. Kelly se tornou dono do “kit”, já que aqueles que o descobriram ignoravam o seu valor. Os pós eram essenciais para a execução do Magnus Opus. Foi assim, num golpe de sorte, que Kelly se tornou proprietário do Livro de Saint Dustan e de seus pós alquímicos. Saint Dustan, ou arcebispo da Cantuária foi um alquimista e “Santo Padroeiro dos Ourives”.

John Dee, que já conhecia a alquimia, e Edward Kelly unidos a este manuscrito achado em Glastonbury (primeiro local Druídico) somaram uma corrente hermética poderosa.
Em relação ao espelho, Dee considerou Kelly um médium excelente. Não é para menos, Kelly havia visto e conversado com os 72 Anjos Herméticos!

Com a fama, o Conde Alberto Laski, os levou à Polônia, na Cracóvia, custeando as suas experiências alquímicas para que lhe fabricassem ouro. Foi durante este período, em 1584, que Dee teve a notícia da destruição de sua Biblioteca e de sua casa em Mortlake, pelas mãos de fanáticos que o acusavam de bruxaria. Com o ocorrido, deixam a corte de Laski, que fica arruinado financeiramente e sem resultados de seu investimento.

A dupla parte para a corte de Rodolfo II, de Habsbourg, em Praga, onde ficam de 1584 a 1589. É para Rodolfo II que Dee deixa o famoso manuscrito Voynich, depois de tenta-lo decifrá-lo em vão. O manuscrito Voynich foi achado pelo duque de Northumberland, quando este pilhava mosteiros durante o reinado de Henrique VIII. A família do duque passou o manuscrito a Dee. Segundo documentos encontrados, o manuscrito teria sido escrito por Roger Bacon (1214-1294). O manuscrito consiste em uma brochura de 15 por 27 cm, sem capa e, segundo a paginação, lhe faltam 28 páginas. Nele se encontram desenhos de mulheres nuas, diagramas e quatrocentas plantas imaginárias.

Em uma determinada altura, dizem que Dee prostituiu a sua esposa nos altares da alquimia. A esposa de Kelly, Joan Kelly, não era bonita e tinha hábitos vulgares, o que o levou a cobiçar Jane Dee, esposa de seu amigo, que era bonita e atraente. Um dia, perante o espelho mágico, Kelly disse a Dee que lhe havia aparecido uma mulher nua que lhe advertiu que os mesmos deveriam fazer uma troca de esposas sob pena de que o espelho não os revelaria mais nada se não o fizessem. Dee não aceitou, e já se encontrava saturado com a figura de Kelly, este por sua vez não conseguia mais esconder a insatisfação de apenas Dee levar o mérito de tudo. Dee dispensa Kelly e coloca seu filho Arthur Dee, na época com oito anos. Para olhar no espelho. Como vidente, seu filho foi uma negação, então Dee teve que recorrer a Kelly e ocorreu a troca de casais.

Em marco de 1589, em Praga, Dee e seus assistentes instalaram uma série de espelhos mágicos, através dos quais conseguiam emitir sinais a largas distâncias. Isso funcionava melhor em noites enluaradas.

Nesta época, a campanha contra os turcos na Hungria estava incerta, mas mesmo assim Dee informou a Rodolfo II que a cidade de Raab acabara de ser conquistada pelas forcas imperiais. É por esta e outras que a estadia de Dee na corte de Praga não foi muito feliz. George Popel Von Lobkowitz afirmava ao povo: “esse homem foi enviado pela rainha Elizabeth I, uma protestante, para afastar o nosso imperador da causa católica”. Rodolfo II expulsou Dee da Boêmia, por causa deste boato. Mas Dee não deixou a Boêmia e se tornou conselheiro de Guilherme de Roisenberg. Kelly permanece na corte de Rodolfo, do qual torna-se amigo e lhe dá um elixir misterioso.

Kelly, em Praga, não havia obtido ainda um bom resultado de suas experiências. O impaciente Rodolfo II, o manda prender na masmorra do Castelo de Zobeslau, para pressioná-lo. Kelly disse que teria que consultar Dee e foi-lhe permitido retornar escoltado à Praga, mas a casa onde se instalou era uma verdadeira prisão. Os católicos se voltaram contra Kelly. Lobkowitz induziu um jovem a desafiar Kelly para um duelo, mesmo com a proibição de duelos por parte de Rodolfo II. Ao se defender, Kelly feriu mortalmente o opositor, foi apanhado e preso. Elizabeth I enviou o capitão Peter Gwinne. Para persuadir Kelly para fugir e retornar ao seu país. Ao tentar fugir, Kelly quebrou uma perna (era muito gordo e a corda da fuga não agüentou o seu peso), e como a ferida não foi tratada adequadamente, ele morreu.

Dee dizia que a Terra não era completamente redonda, e sim composta por esferas superpostas alinhadas ao longo de uma outra dimensão. Entre estas esferas haveria pontos e superfícies de comunicação. Entendia a “Groelândia” como o “infinito” sobre as terras além das nossas. Dizia a Elizabeth I para que ela tomasse conta da Groelândia para que ela tivesse acesso a outros mundos. Conheceu Shakespeare, que se inspirou em Dee para criar seu personagem “Próspero” da obra “Tempestade”. Diz-se que Dee estava mais próximo da obra de Shakespeare do que Francis Bacon. Escreveu o livro chamado “Filosofia Oculta” e um tratado chamado “Harptarchia Mystica”, um sistema hermético prático que ficou conhecido como “Sistema Enoquiano”. Também dizem que Dee teria traduzido o “Necronomicon” de Abdul-Al-Azrid.

A Pedra Negra (espelho mágico), vinda de outro universo, foi recolhida pelo conde Peter Borough e depois por Horace Walpole. Atualmente, se encontra no Museu do Louvre e não pode ser tocado e nem estudado.

Dee havia sido convidado pelo Tzar da Rússia para ir à Moscou, talvez recusou por intermédio de Elizabeth I. Depois de tantos altos e baixos, já estava com a fortuna arruinada e pediu auxílio à Elizabeth I, que lhe negou ajuda dizendo que se fosse um alquimista de verdade não passaria por necessidades. Suas obras foram queimadas por ordem de James I, no triste episódio de Mortlake, local onde mais tarde faleceu por morte natural. Seu “Sistema Enoquiano” influenciou várias ordens secretas, inclusive a Golden Dawn, por onde passaram renomados ocultistas que influenciaram as Ordens Modernas.

Texto de Soror Agarath

1527 – 1608

Postagem original feita no https://mortesubita.net/enoquiano/john-dee/

Conexão ZosKia – Aliens

O contato imediato entre Magos e os seres de fora de nosso mundo é um fato há muito conhecido pelos interessados em Ocultismo. Quer seja o ser contatado do Espaço Sideral ou procedente de Espaços Interiores, eles representam em si aspectos da consciência que são a síntese do próprio Universo e que talvez seja o que há de perene nele: informação & dissolução, o velho jogo entre Thanatos e Eros. Sendo assim, cada magista que contata esses seres de outros mundos impregna de si a própria manifestação exterior do ser contatado. Isso explicaria o que seja popular e, digamos, erudito, em se tratando de contatos.

Essas visões e manifestações diferentes revelam também um pouco mais como a vida em seus diversos graus de evolução e consciência se dá como fenômeno e provam, talvez, que o próprio ser humano já fora alienígena à este mundo. Sejam deuses, anjos, demônios, gnomos, supermáquinas, todas estas visões foram se expressando de acordo com o lugar, época e pessoas que com elas fizeram contato. A interpretação que trata esses seres como Alienígenas, no atual sentido que compreendemos o termo, sempre existiu desde o antiqüíssimo passado. É o que vemos expressado, por exemplo, na Cabala e seu design de mundos interconectados; no Egito com seus deuses zoomórficos; no conhecimento sideral destes mesmos egípcios assim como dos Maias, dos Dogons da África, dos deuses astronautas dos Astecas, os seres divinos do Bön Po e da tradição Lamaista do Tibet relatado por Lobsang Rampa; assim como mais remotamente, na Suméria e sua tradição Tiphoniana.

Aleister Crowley e sua filosofia-mágicka, chamada Thelema, pertence à essa tradição Sumeriana, uma corrente mágicka que teve John Dee como antecessor direto de Crowley, como perscrutador de seus mistérios e busca de contato com seres ditos angelicais. E tanto Crowley como seus contemporâneos, principalmente aqueles que se engajaram nas fileiras renovadoras do que foi Thelema então, adentraram em uma verdadeira orgia de relações com seres alienígenas particularmente designadas então de “Inteligências Praeter-Humanas”.

No livro “Aleister Crowley e o Deus Oculto” Kenneth Grant escreve que Aleister Crowley “estava ciente da possibilidade de abrir portais espaciais e admitir a existência de uma corrente extraterrestre na onda vital do ser humano”, e que ao contrário do que outros iniciados de sua época chegavam a crer, essas forças não eram más e não queriam destruir a raça humana, mas investiam na expansão e evolução da consciência humana para torná-la cósmica, como salienta Robert Anton Wilson, que em seus escritos expõe tais conexões cósmico-consciência-thelemicas. Essa corrente leva consigo personagens como Ron Hubbard, Jack Parsons, Charles Stanfield Jones, Dion Fortune, Austin Osman Spare; assim como os expoentes mais recentes do ocultismo que inclui principalmente Kenneth Grant, Michael Bertiaux, tudo, pode-se dizer, seguidos de refrões de sucesso de Raul Seixas em parceria com Marcelo Motta.

Não podemos deixar de citar o background dos contos de H.P. Lovecraft que se interpenetra com H.P. Blavlastsk dando em J.J. Benitez, etc… Pensadores que fundiram espiritualidade e ufologia. Dentre todo o rol de magistas que tentaram contatos com seres extraterrestres, talvez aquele que tenha destilado a visão mais estranha destes seres alienígenas foi Austin Osman Spare. Encarando estes Aliens como seres interdimencionais, os quais viajam pelas frestas dos Universos, da matéria, do espaço, do tempo e da consciência, eles podem também podem possuir corpos como forma de traficar entre mundos sensações, conhecimento, energias e todo tipo de coisas que se pode trazer dos sonhos à carne e levar do Ser ao Não-Ser e vice-versa. A forma dos seres que se expressaram à Spare se aproxima bastante da descrição de entidades como o Mothman, que fora pesquisado por John Keel, ou como os alienígenas nomeados de Greys da casuística OVNI; seres extraterrestres que se relacionam intimamente no nível conciência-carne-medo-vácuo-matéria-caos… Seres sem nenhum vestígios de causalidade ou moral humana, seres que não podem ser compreendidos através da lógica, alcançando seus particulares objetivos somente se usando da loucura ou da crença cega que reflete a impotência da inteligência humana diante de tão dês-aforado lócus de ação por parte deles.

Particularmente em se tratando da criatura conhecida como Mothman que fez “fama” em suas aparições nos EUA no fim da década de 1960, é sabido que houve aparições deste em Londres nos idos do final do Século 19, mas precisamente na região de Piccadilly Circus Station, no centro de Londres. O que fazia lá, como fora atraído para o lugar, é como sempre uma questão que o pensamento humano comum não tem como responder, e talvez só se responda pela lógica da mística ou da própria loucura. Esses seres “entremundos” recordam-nos muito também os seres dos contos de Lovecraft, ligação que Kenneth Grant fez remetendo-se até a Anciã Paterson, iniciadora de Austin Osman Spare no culto da feitiçaria. Esses seres são feitos da mais pura essência do Necronomicon, o guia cósmico das aberrações interestelares. Seres, assim como a caracterização do Mothman feito por John Kell, parecem se alimentarem do próprio medo humano, vampiros psíquicos que se nutrem de emoções. Seres assim são citados inclusive pela tradição de alguns discípulos de Carlos Castãneda.

Tais parâmetros de contato e de seres, acrescido ao caráter especial de Austin Osman Spare, traz à tona o quanto mais tenebroso e intrínseco é o Fenômeno Alien e sua relação com o fator humano. É uma emanação que abarca Sexo, referência da lembrança humana de deuses, anjos e todo tipo de seres que desejaram e copularam com “as filhas dos homens”. Há também o congresso sempiterno da Carne que relembra o contato Alien carregado de mutilações e experiências cientificas com corpos humanos e animais, espécies de “êxtases feios”. Austin Osman Spare sempre aventa também o papel da Medicina, da Ciência, do Vírus, o que aproxima as referências aos agentes da desinformação no mundo OVNI, sempre munidos de tecnologia avançada e táticas de combate mental. Falamos dos misteriosos interventores conhecidos como Homens de Preto (MiB) e sua proximidade com os Irmãos Negros (Black Brothers), humanos que dedicam sua existência à construírem no Astral a engenharia necessária para a permanência indefinida de seu Ego (EU).

Em suas obras de arte, Spare retrata paisagens estranhas, de outros mundos onde habitam seres de uma estranheza inumana, parecendo seres vistos pela lente distorcida da mente que não os compreende em sua perfeição, uma carência estética humana talvez, ou simplesmente a distorção da compreensão máxima. Kenneth Grant escreve em “O Estranho Espírito de Zos vel Thanatos”, referente à Spare e o Culto de Zos Kia: “…Há um certo estado de consciência caracterizado por uma estranha perichoresis em que os sentidos mundanos, exaltados e infundidos com a Vontade magickamente carregada, i. e., dirigida, atraem influencias misteriosas do exterior.

A interação de elementos deste mundo com elementos de outro criam uma realidade ultradimensional Universo conhecido como Meon que só os artistas (ou Magos) mais sensíveis são capazes de responder de forma criativa…” Na obra que Spare busca representar aquilo que talvez seja o ponto de partida de sua inspiração místico-artística, tal obra é “Isis Sem Véu”, a figura dos mitos egípcios que representa o Infinito Espaço de Infinitas Estrelas, a morada dos Aliens. Enquanto que no livro-mor de Thelema, o Líber AL vel Legis (de 1904), já são explicitas as referências à alienígenas, outros mundos, tecnologia nuclear, et. al, já nos escritos de Spare tais referências são muitas das vezes subentendidas pelo véu da mística particular do Culto de Zos Kia. Assim podemos traçar uma linha de influência extraterrestre vindo através da Anciã Paterson, trazendo consigo a sabedoria de uma corrente mágicko-alienigena proveniente das paragens da América do Norte que fora herdada pelos nativos aos quais pertencia a anciã bruxa, tradição esta registrada pavorosamente nos escritos de Lovecraft e da qual Kenneth Grant pesquisou e descobriu ligações. A Sra. Paterson, como era usualmente chamada por Spare, migrou dos Estados Unidos para a Inglaterra, talvez fugindo do ambiente hostil de caça às bruxas das terras da outrora colônia, e então transmitiu ao jovem Spare essa diligência de outros mundos. Tal determinada espécie de conhecimento coincidentemente entraria novamente na vida de Spare quando mais tarde ele fora iniciado na Aurora Dourada e no pensamento de Thelema de Crowley. Conta-se que Spare só veio a aceitar de fato a revelação de “Líber AL” no fim de sua vida, mas Grant também nos revela que em certa fase de sua vida, Spare esteve totalmente devotado em fazer contato com seres alienígenas, buscando para isso os meio adequados. E esses meio segundo Grant, se revelam além dos grimórios que são cada uma de suas obras de arte e sigilos, mas também, e principalmente como sendo através da “Postura de Morte” como uma espécie de meio mediúnico para o contato interrealidades, uma forma de levar a consciência às plataformas de lançamento cósmicas para alcançar seres dispostos ao contato com os homens.

Dois parênteses: Primeiro, tais espécies de contatos a nível mediúnico, de forma mais tradicional, foram mais tarde efetuados com sucesso também pelo dito Grupo Rama nos Andes para contatar alienígenas e programar então avistamentos e até contatos do terceiro grau também. E segundo, em plena atividade nos dias de hoje, Michael Bertiaux, sacerdote Voodoo, identificou e em contatou, usando das mais diversas tecnologias mágickas-mediúnicas, os chamados Voltigeurs, seres esses que são caracterizados como reptilianos que saltam de mundo em mundo e que abarcam uma mística da lua. Parece-nos então que Austin Osman Spare foi um vetor muito especial de contatos com aliens, e seu Culto de Zos Kia então não poderia deixar de ser também um poderoso vortex que converge para si os portais de contato yóguicos da flexão da carne e da mente, uma espécie de crença astral e para o astral.

Com a influência Ameríndia através da Anciã Paterson e a influência Sumeriana via Aleister Crowley e Thelema, onde talvez o ponto de convergência seja não só o Necronomicon, mas também a própria ancestralidade humana neste mundo, que Spare explorou através da flexão dos atavismos, onde se pode perceber um verdadeiro rememoramento de “nomes mortos”. Então, do Oriente provém a Tradição Sumeriana via a síntese abrangente de Thelema, do Ocidente os eflúvios dos Mitos de Cthulhu, no meio de tudo isso o Greenwich de Zos Kia Cultus: a corrente xamânica que leva direto aos Alienígenas que sempre estiveram próximos ao seres humanos, em corpo, alma & Discos Voadores.

De todas estas escassas aproximações e fantásticos desdobramentos, a mente recua, mas as cartas estão na mesa. Anjos, Demônios ou Alienígenas, Inteligências Praeters-humanas, irradiações do subconsciente ou radiação do espaço sideral. Código Morse das estrelas refletida no DNA. Homens possuídos por deuses usando tecnologia e irremediando a realidade com vislumbres de outros mundo incapazes de habitarmos por simples leis físicas… Nikola Tesla pisou neste mundo… Heinrich Reich pisou nestas terras, Albert Einstein viveu aqui… Austin Osman Spare habitou aqui e lá, mas não viveu nem por isto e nem por aquilo. Ele traficou interrealidades através de uma arte alienígena a tudo, pois concretizou em caos e tinta sentimentos que não poderiam nunca coabitar com os homens sem pedir o pagamento do engrandecimento da visão humana que tem do vislumbre que é estar-aqui e do que está lá. A Ciência de mais baixa tecnologia que poderia haver abriu todos os canais de comunicação que poderiam existir com o Além/Alien, e essa ciência foi Arte, a expressão mais ferrenha e sem mentiras que possamos juntos fluir do Zos Kia Cultus.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-do-caos/conexao-zoskia-aliens/

Das Páginas do Anuncio do Editorial de Arkham

Caro editor,

 

Eu tenho 8 anos de idade. Alguns de meus amiguinhos dizem que não á o Grande Cthullu. Papai diz: “Se você o ver, será em um grande terror, Cthullu é assim.” Por favor, me diga a verdade, há um Grande Cthullu que vai subir a partir da profundidade aquosa do Pacifico para limpar a Terra de todas as coisas vidas?
Virginia Marsh.

 

Virginia, seus amiguinhos estão errados. Eles têm sido afetados pela febre de esclarecimento dado a eles por uma chamada era “iluminada”. Eles não acreditam em qualquer coisa, a menos que ela carregue o mesmo peso da autoridade cientifica. Eles pensam que nada pode ser o que não é compreensível por suas pequenas mentes. A realidade é que o que pode ser catalogado e medido, para ser em colheradas racionais dosadas para pessoas comuns. Todas as mentes Virgínia, sejam elas adultas ou crianças, são poucas. Neste vasto caos que rindo ligam o universo, o homem é um mero inseto cujo o intelecto tem tanta chance de aprender toda a verdade, como a formiga tem.

 

Sim Virgínia, há um Grande Cthullu. Ele não existe tão certamente quanto a insensibilidade das frias saídas dos cosmos, e você sabe que essa falta de sentido é abundante e dá a sua vida o seu maior absurdo. Ai de mim! Quão confortável serio se o não existisse Cthullu! Seria tão reconfortante como se um Papai Noel realmente se importasse e recompensasse crianças por fazerem o bem. Não haveria então fé infantil, um mundo de poesia crível, doce e romântica para tornar a existência idílica e atraente. A luz externa com que a infância enche o mundo não iria acabar nunca.

 

Não acredite no Grande Cthullu! Você poderia não muito bem acreditar em Hastur ou no Necronomicon. Você pode adquirir os livros de ciência de seu papai e inquisidores céticos para ver se Cthullu é mencionado em algum contexto histórico ou se R’Lyeh realmente descansa sobre o Oceano Pacifico, mas mesmo se você não encontrou nem mencionado em seus livros “sagrados”, o que isso provaria? Ninguém vê ou sabe de Cthullu, mas isso não é sinal de que não há nenhum Grande Cthullu. As coisas mais reais do mundo são aquelas que não podemos saber através dos sentidos. Pode a dor de cabeça de seu amigo ser sentida por você? Não, mas a sua dor afeta sua vida independentemente. Você sente a angustia de viver uma vida que você nunca quis através de qualquer um dos seus cinco sentidos? Não, mas o desespero permanece. No entanto, se tais realidades são conhecidas, mas nunca são vistas, então por que a ignorância do invisível do outro nos leva a compartilhar em sua cegueira. Com que direito têm eles de ganhar a sua obediência? Ninguém pode conceber o inconcebível, incluindo seus lideres de pensamento.

 

Você rasgar o chocalho de um bebe para ver o que esta dentro para fazer tal barulho, mas as pequenas bolas que não podem explicar ou ilustrar o medo de um mundo hostil, que faz com que a embreagem do bebe e da vibração que chacoalhar assim. So pegando insanidade, poder agastar a cortina de nossas esperanças e ver com uma gritante loucura o vazio que esta além. Isso é a realidade? É essa a verdade? Para dar uma resposta é de substituir a cortina com apenas mais de um. E é isto que faz com que o Grande Cthullu, como verdadeiro e real quanto qualquer véu que colocamos sobre o além-caos. Se for preciso criar um significado, porque não, o Grande Cthullu. Pelo menos a escolha é livre.

 

Obrigado Azathoth! O Grande Cthullu vive e viverá para sempre. Mil anos a partir de agora, Virgínia, ou melhor 10 vezes, 10 mil anos a partir de agora, ele vai continuar a aguardar o momento em que as estrelas são boas novamente. Para com aqueles que mentiram eternamente, como eras estranhas até a morte pode morrer.

 

(Da Página Editorial, Anúncios Arkham, 1928)

Trad. Carolina Rezende

Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/das-paginas-do-anuncio-do-editorial-de-arkham/