Carta a um evangélico

Olá Sr. Evangélico, aqui quem fala sou eu, o Sr. Espiritualista.

Antes de mais nada, preciso lembrar-lhe de que somos irmãos, ou pelo menos não há nada explícito em nossas doutrinas que afirme o contrário…

Vejamos, então, a questão da espiritualidade africana. Tenho visto o senhor dizer que os orixás são demônios e que toda macumba é necessariamente coisa do Capeta… No entanto, é preciso que saiba: para o pessoal lá dos terreiros, macumba é só um instrumento musical, tipo reco-reco, sabe como é? Nem tem tanta importância assim, o som dos tambores é bem mais importante no ritual deles; E, já que falamos nos rituais, são coisas bem antigas, bem antigas mesmo! Muito antes dos termos “demônio” e “Capeta” terem sido inventados, já se faziam rituais para os orixás na África. Se ler um pouco de ciência e antropologia, saberá o que os cientistas já dão por quase certo: que viemos todos da África, o homo sapiens surgiu em algum ponto entre a parte sul e central do continente mãe.

O próprio deus bíblico deve muito ao deus que era cultuado na Mesopotâmia por povos que já eram bisnetos milenares dos primeiros africanos que batiam tambores em homenagem a Natureza. Sem El, Javé não seria muito mais do que o espírito ancestral de alguma tribo de hebreus perambulando por Canaã. Javé foi cultuado como um patriarca de homens, El foi compreendido como um deus cósmico, criador de tudo o que há [1]… Mais ou menos como Olorun, que criou o mundo, mas está tão acima de nosso plano de existência que não há nenhum xamã africano que tenha tido coragem de tratar diretamente com ele [2].

Foi muita engenhosidade dos hebreus esta que associou Javé a El, e com isso criou a ideia de um deus cósmico que, não obstante, poderia ser contatado como qualquer outro grande patriarca. O problema é supor que somente os rabinos podiam contatá-lo… Não foi exatamente por isto que Lutero lutou toda sua vida? Para que as pessoas comuns pudessem ler os textos sagrados e conhecer a Deus por si mesmas, sem a intermediação de Roma? Pois bem, pois os nossos irmãos africanos já falavam com Deus há muito mais tempo que a gente, e nem precisavam de livros para isso.

Quer dizer que todo o ritual que evoca orixás é coisa do bem? Claro que não, mas a maioria é. Maçãs podres, temos em qualquer pomar, e tenho certeza de que mesmo o neopentecostalismo tem as suas… Ou o senhor acha que abençoar talismãs com óleo ungido, ou derrubar fileiras inteiras de pessoas ao chão, é algo perfeitamente baseado nas Escrituras?

Tudo bem, vamos ser honestos: o que achamos um barato é essa tal experiência religiosa. Decerto Pentecostes foi uma loucura do Espírito Santo, mas quem garante que foi a primeira? Se até hoje os senhores procuram falar a língua dos anjos, porque encrencar com o caboclo que fala a língua dos espíritos da Natureza? Por mim, anjos e rios, cachoeiras e carruagens de fogo, florestas e sarças ardentes, se foram vistas pelas mentes que creem, se fizeram o bem para elas, que mal há? Onde o senhor vê o Capeta nessa história toda?

Por mim, se existe um ser assim, condenado a ser mal por toda a eternidade, ele não iria atuar sobre os verdadeiramente religiosos, mas antes optar pela via mais simples: tentar aqueles que já não creem, que não se dedicam, que nunca se arriscaram realmente a mergulhar neste Oceano de Amor que permeia todo o espaço e todos os tempos…

Me perdoe, eu tenho certeza que não é o seu caso, mas acaso nunca viu um cristaozão desses que bate no peito dentro da Igreja e diz: “Sou de Cristo!”, mas que começa a falar mal da sogra 5 minutos depois de terminar a oratória do pastor? De que adianta se achar um grande cristão ao chutar imagens de santos e orixás por aí, se ao chegar em casa chuta o seu cachorro e esbofeteia sua esposa? Será que Cristo falou numa espada para matar os infiéis, ou em oferecer a outra face para o agressor?

Os índios das Américas, coitados, também nunca tinham ouvido falar em Cristo. Os colonizadores europeus não deram muitas escolhas para eles: ou se convertiam, ou eram exterminados [3]. Até mesmo muitos que disseram ter se convertido foram exterminados do mesmo jeito, pois não serviam para o trabalho escravo… E o que há de cristão nisso tudo? Nas Cruzadas, o general francês perguntou ao representante do Papa como iriam identificar os cristãos dos não cristãos, na invasão de uma cidade onde cristãos, judeus e cátaros viviam em harmonia; Ele apenas disse isto: “Matem todos, que Deus escolherá os seus”… Ao que lhe pergunto: e quais deles não eram “de Deus”?

Ainda hoje, no Centro-Oeste do Brasil, há tribos indígenas sendo evangelizadas. Evangelizar não é o problema, pois ao menos estão dando a oportunidade para que esses indígenas se tornem parte de alguma outra comunidade que não a sua, e não vivam isolados, como párias, em um país construído sobre a invasão e o extermínio de suas terras ancestrais… O problema, este sim, é proibi-los de pintar o corpo de vermelho. “Vermelho é a cor do Capeta!”, seus colegas dizem… Mas, e o que diabos os índios tem a ver com o Capeta? Na maioria das mitologias indígenas, sequer existe um ser representante do mal, quanto mais um anjo caído… Eles nem sabem o que é um anjo! Se não podem se pintar de vermelho, vão se pintar de branco? Ou de verde? Ou lilás? Convenhamos, isso não faz o menor sentido.

Vamos tentar ser mais seguidores de El, e menos seguidores de Javé. Javé era um espírito ancestral, e precisava de barganhas e favores, e tinha ciúmes dos cultos de espíritos e deuses alheios, como foi o caso com Baal. Mas El não, El não tinha um oposto, pois o Tudo não tem oposto – o Nada não existe.

Dessa forma, se existe um Capeta, seria injustiça da parte de Deus que ele pudesse controlar a mente dos seres puros, corrompendo-os… Acho que faz mais lógica, além de estar mais de acordo com o que vemos na Natureza e na psicologia humana, considerarmos que o mal existe na alma de cada um de nós, e que é somente lá, precisamente lá, que precisamos fazer uso desta espada de que Cristo falou…

Para cortar a trave que obstruí nosso próprio coração. Para que nossa luz de amor transborde, e englobe os irmãos a nossa volta. Para que evangelizemos realmente uma boa nova, uma notícia de uma nova era, de uma nova sociedade, uma nova espiritualidade, uma nova religião… Assim, quem sabe, também poderemos ler, dentro de nossa alma, conectada a Alma do Mundo: “também eu sou da raça dos deuses, também eu trago o Pai dentro de mim, também eu farei tudo aquilo que o Cristo realizou, e talvez até mais”. E nem sequer precisaremos de um livro para guardar tal Verdade.

Cristo salva, afinal, todos aqueles que o encontram dentro de si mesmos… Mas Cristo é apenas uma palavra. O que salva é a fé, e não há fé mais profunda do que a fé no Amor. Pense nisso meu amigo, meu irmão. Pense, e reflita esta boa nova adiante!

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[1] Maiores detalhes na série A roda dos deuses (esta teoria não é minha, mas de Mircea Eliade, um dos maiores especialistas em mitologia do séc. XX).

[2] Na mitologia Iorubá, talvez a de maior influência no Brasil, Olorun ou Olodumare é o criador do universo e mora no Orun (Céu). Embora reconhecido como Ser Supremo, não existe um culto ou templo que lhe é dedicado exclusivamente. Os orixás são os seus representantes em Aiye (Terra).

[3] Michel de Montaigne dá sua opinião, bem mais embasada do que a minha, nesta série de Reflexões sobre o sexo.

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#Cristianismo #Candomblé #sabedoriaindígena #Protestantismo #UmbandaSagrada #ecumenismo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/carta-a-um-evang%C3%A9lico

Grandes Iniciados – Salomão

Grande parte dos conhecimentos secretos oriundos da Civilização da Atlântida acompanhou o povo Hebreu quando de sua saída do Egito para a Terra da Promissão. Os Hebreus conservaram aqueles conhecimentos e deles extraiu uma parcela baseados na qual estruturaram a face esotérica da religião, a qual posteriormente veio a se chamar Cabala. Este termo, em essência, significa Conhecimento.

Com certeza os hebreus se constituíram um grupo que conservou certos conhecimentos elevados de uma forma pura, e que eram inicialmente transmitidos de uma para outra pessoa considerada digna do saber. Mas isto fez com que a conjura decretasse perseguições àquele povo cuja história está repleta de perseguições, guerras, injustiças – sofridas e praticadas – e que ainda vêm ocorrendo. O que não tem sido dito é o fato daqueles conhecimentos haverem sido alterados por ordem de Jeová, e também perseguidos pela “conjura do Sillêncio” – obscurantismo – assim como por algumas “Escolas Iniciáticas”. Estas não permitiam o conhecimento fora do controle que exerciam, e por sua vez a conjura primava para que conhecimento algum fosse cultivado. O intento de Jehová era idêntico ao da conjura, porém por um motivo diferente. Essa situação só veio a ser modificada quando veio à terra uma Centelha da Consciência Cósmica na pessoa de Salomão.

Devemos sentir o quanto uma ciência secreta existia entre os hebreus e a política oculta que operava nos bastidores. Visando tal entendimento, antes já expomos, agora analisaremos alguns dos aspectos da natureza do Rei Salomão. Evidentemente existe muita fantasia, muita lenda em torno dele, mas isto não invalida a acertiva de que ele entre os Reis de Israel foi o mais sábio, o portador de maior cabedal de conhecimentos gerais e também dos “proibidos.”

Salomão destaca-se ainda na atualidade tanto pelo História Bíblica quanto pelas tradições maçônicas e de outras escolas místicas. Mas, não é só isto, Ele também é reconhecido de forma preponderante pelo Islamismo, que têm aquele rei entre os mais importantes seres que já estiveram na terra. Mas, o que é mais curioso, Salomão também é respeitado e admirado por todos os seguidores do ocultismo. Até hoje o Seu nome impera entre os adeptos de inúmeras seitas, chegando mesmo a ser aceito e respeitado pela magia negra. É precisamente em Salomão e na construção do Templo de Jerusalém que se fundamentam muitas histórias ligadas a inúmeras Ordens Iniciáticas.

Por que Salomão se tornou tão importante perante tão heterogênea massa? Por que nele confluem pensamentos tão díspares e tantas religiões e seitas? – Quando se fala de Salomão torna-se difícil separar o que é verdade do que é lenda ou mesmo calúnia. Torna-se quase impossível se estabelecer os limites onde termina a verdade histórica e onde começa o mito e a fantasia, haja visto ao tamanho número de coisas sensacionais que lhes são atribuídas.

Com a morte de David, pai de Salomão, quem normalmente deveria assumir o trono seria Adonias. A Bíblia cita uma luta política que se estabeleceu entre os sacerdotes a respeito de qual dos dois deveria assumir o trono de Israel, cabendo a vitória a Salomão. É deveras incompreensível o porquê de Salomão, que pelo direito de progenitura não era o herdeiro da coroa, foi ungido Rei de Israel. O Primogênito era Absalão que por haver morrido em batao direito de progenitura cabia então a Adonias – o segundo na escala de sucessão – mas o escolhido por David para sucedê-lo foi Salomão.

Adonias foi apoiado para ser proclamado Rei por alguns sacerdotes, sendo o principal deles Abiatar. Quando David estava para morrer Adonias já se auto-proclamou rei e exaltava-se dizendo: “Eu reinarei.” Bíblia cap. 1 ver. 5 e seguintes: “Mandou fazer par si um coche, e tomou cavaleiros e seu pai nunca disse: Por que fazes isto? Mas nem o pontífice Sadoc, nem Banaias, nem o profeta Natan, nem Semei, nem Rei, nem o grosso do exército era por Adonias” Adonias, pois, tendo imolado carneiros, novilhos e toda sorte de vítimas gordas, ao pé da pedra de Zoelet, que está fundo da fonte de Rogel, convidou todos os seus irmãos, filhos do rei e todos os de Judá, criados do rei. Mas não convidou nem o profeta Natan, nem Banaias, e nem os soldados mais valentes, nem Salomão, seu irmão. (Note-se o festival se sacrifícios com sangue ).

“Disse pois Natan a Betsabéia, mãe de Salomão: Tu não ouviste que Adonias, filho de Hagit, se fez rei e que David, nosso senhor, ignora isto? Vem pois agora, toma o meu conselho e salva a tua vida e a do teu filho Salomão. Vai, apresenta-te ao rei David e diz-lhe: Porventura tu, ó rei, meu senhor, não mo jurastes a mim tua escrava, dizendo: Salomão, teu filho, reinará depois de mim, e ele se sentará no meu trono? Porém quem reina, pois Adonias? E estando tu ainda falando com o rei, eu sobrevirei depois de ti, e apoiarei as tuas palavras“.

Apresentou-se, pois, Betsabéia ao rei no seu quarto. O rei era já muito velho e Abisag de Sunam o servia.

Inclinou-se Betsabéia profundamente e fez uma profunda reverência ao rei. O rei disse-lhe: Que queres tu? Ela, respondendo, disse: Meu senhor, tu jurastes à tua escrava pelo Senhor, teu Deus: Salomão, teu filho, reinará depois de mim e ele se sentará no meu trono. Agora, eis que Adonias reina sem tu, ó rei meu senhor, o saberes. Ele imolou bois, toda a sorte de vítimas gordas e muitos carneiros, convidou todos os filhos do rei, o pontífice Abiatar e Joab, general do exército; mas não convidou Salomão, teu servo. ToDavida, todo o Israel, está com os olhos em ti esperando que declares quem é que deve sentar-se depois de ti no trono, ó rei meu senhor. Porque, logo que o meu senhor dormir com seus pais, eu e meu filho Salomão seremos tratados como criminosos.

Enquanto ela falava ainda com o rei, eis que chegou o profeta Natan. E avisaram o rei, dizendo: Eis aqui está o profeta Natan. Tendo entrado à presença do rei, e, tendo-lhe feito uma profunda reverência, prostrando-se em terra disse Natan: Ó rei, meu senhor, porventura disseste tu reine Adonias depois de mim e seja ele o que se sente no meu trono? Porque ele desceu hoje, imolou bois, vítimas gordas, muitos carneiros, convidou todos os filhos do rei, os generais do exército e o pontífice Abiatar; e comeram e beberam diante dele dizendo: Viva o rei Adonias! Mas não convidou a mim, que sou teu servo, nem ao pontífice Sadoc, nem a Banaias, filho de Jojada, nem a teu servo Salomão. Porventura saiu essa ordem do rei meu senhor? Mas não é assim que tu me declaraste a mim, teu servo, quem era o que devia, depois do rei meu senhor, sentar-se sobre o seu trono?

O rei David respondeu, dizendo: Chamai-me Betsabéia. Tendo ela se apresentado ao rei e estando de pé diante dele o rei jurou e disse: Viva o Senhor, que livrou a minha alma de toda a angústia, pois que assim como te jurei pelo Senhor Deus, dizendo: Salomão teu filho reinará depois de mim, e ele se sentará em meu lugar sobre o meu trono, assim o cumprirei hoje. Betsabéia, prostrando-se com o rosto em terra, fez uma profunda reverência ao rei, dizendo: Viva David, meu senhor, para todo o sempre. Disse mais o Rei David: Chamai-me o pontífice Sadoc, o profeta Natan e Banais, filho de Jojada. E todos eles entrando à presença do rei, disse-lhes: Toma convosco os servos do vosso amo, fazei montar na minha mula o meu filho Salomão, e levai-o a Gion. O pontífice Sadoc com o profeta Natan o ungiram ali como rei de Israel, vós fareis soar a trombeta e direis? Viva o rei Salomão! E voltareis atrás dele, e ele virá, e sentar-se-á sobre o meu trono, e reinará em meu lugar e eu lhe ordenarei que governe Israel e Judá.

Desceram, pois, o pontífice Sadoc, o profeta Natan e Banaias filho de Jojada, com os cereteus e os feleteus e fizeram montar Salomão na mula do rei David, e levaram-no a Gion. O pontífice Sadoc tomou do tabernáculo o vaso do óleo e ungiu Salomão; tocaram a trombeta e disse todo o povo: Viva o rei Salomão! Subiu toda a multidão após ele e o povo, ecoando ao som das flautas, e mostrando grande regozijo, e a terra retiniu com suas aclamações” ( Vejam o contraste entre o festival de Salomão e o festival de sacrifícios de sangues promovido por Adonias.)

Assim prossegue a descrição. No versículo 50 se lê: Adonias, pois, temendo Salomão, levantou-se e foi abraçar-se com os chifres do altar. Noticiaram a Salomão dizendo: Eis que Adonias, temendo o rei Salomão, está refugiado a um lado do altar, dizendo: O rei Salomão, me jure hoje que ele não fará morrer o seu servo à espada. Salomão respondeu:? Se ele se houver como homem de bem, não cairá em um só cabelo da sua cabeça, mas, se nele se encontrar maldade, morrerá. Mandou, pois o rei Salomão que o fossem tirar do altar, e Adonias, tendo entrado, fez uma profunda reverência ao rei Salomão, o qual disse-lhe: Vai para tua casa.

Neste ponto vamos fazer algumas apreciações. Porque David quando do nascimento de Salomão jurou para Betsabéia que este seria o rei quando na realidade por direito de progenitura isto não lhe caberia? David era um rei sábio, por que razão ele tomara aquela decisão? Com certeza podemos acreditar que David tinha consciência de que Salomão não era como os seus demais filhos, que não era uma pessoa qualquer e sim uma entidade de natureza extremamente elevada. Um ser com uma sabedoria sem par em toda a terra, como veio a se comprovar depois quando ele reinou sobre Israel. Se a decisão de David fosse apenas em decorrência de uma paixão carnal por Betsabéia porque haviam de concordar com a escolha o profeta Natan e outros sacerdotes e militares de Israel? por que nunca fizeram David revogar a promessa feita durante muitos anos enquanto Salomão ainda era criança e sim o contrário fazer Betsabéia cobrar do rei quando este estava próximo a desencarnar, o cumprimento da promessa de fazer Salomão o seu sucessor? Só tem uma explicação possível, eles conheciam a verdadeira identidade espiritual de Salomão, sabiam QUEM É SALOMÃO.

Enquanto Salomão era proclamado, e simplesmente desfilava montado na mula do Rei David, Adonias promovia banquete com sangue, com carne, sacrifícios cruentos, espetáculo bem mundano. Sacrifícios de animais foram realizados, espetáculos de sangue, exalação de energia vital ( energia sutil ) dos seres imolados.

Adonias não empreendeu qualquer luta direta contra Salomão e sim se abrigou no templo e se abraçou com os chifres do altar, numa atitude temerosa, com medo de ser morto por Salomão. Por que Adonias temeu Salomão se por direito de progenitura o trono era dele desde que o primogênito David, Absalão, havia anteriormente sido morto numa revolta contra o próprio rei David? Depois de Absalão, o herdeiro por direito era Adonias o legítimo herdeiro do trono pela escala de progenitura? Ele contava com parte do exército, mas não enfrentou diretamente Salomão, por que? Não enfrentou e ficou pedindo para que a sua vida fosse poupada? Por que isso se ele não havia cometido crime algum aparentemente? Pelo direito de progenitura o usurpador do trono poderia ser considerado Salomão e não Adonias. Somente Absalão é que poderia acusar Adonias de usurpador do torno de Israel e não Salomão, mas aquele já havia morrido.

Outro ponto importante a ser considerado diz respeito à velhice de David.

Bíblia 1-1 e seguintes: Ora, o rei David tinha envelhecido, e achava-se numa idade muito avançada, e por mais que o cobrissem de roupa, não aquecia. Disseram-lhe, pois, os seus criados: Busquemos para o rei nosso senhor uma jovem virgem, que esteja diante do rei, o esquente, durma ao seu lado e preserve do grande frio o rei nosso senhor. Buscaram, pois, em todas as terras de Israel uma jovem formosa, acharam Abisag de Sunam e levaram-na ao rei. Era esta uma donzela de extrema beleza, dormia com o rei, e o servia, mas o rei deixou-a sempre virgem.

Os seres dos planos inferiores, dependendo da disponibilidade de energia sutil, tanto podem influenciar, induzir, ou inspirar as pessoas da terra fazendo o jogo de interesse deles, induzindo pessoas à consciente ou inconscientemente a agirem de acordo com o que eles querem, ou é possível até mesmo assumirem e se apresentarem diretamente numa estrutura ponderável, num determinado tipo de corpo físico.

Depois de Salomão haver assumido o trono Adonias fez um pedido que lhe custou a vida. Sem que se tenha conhecimentos ocultos é difícil se entender a razão da decisão de Salomão de tirar a vida de Adonias se o rei era considerado o mais justo de todos os reis. Só se pode entender aquela atitude sabendo-se do envolvimento do reino das sombras e as ingerências dos palácios da impureza sobre o plano terreno e no caso em estudo, sobre o povo hebreu.

Vejamos o que diz a os livros sagrados : Bíblia: Cap. 1 ver 12 e seguintes:

Salomão tomou posse do trono de David seu pai, e o seu reino consolidou-se sobrema­neira. Adonias, filho de Hagit, foi ter com Betsabéia, mãe de Salomão. Ela disse-lhe: É porventura de paz a tua entrada? Ele respondeu-lhe: Sim. Fala e ele disse: Tu sabes que o reino era meu e que todo o Is­rael me tinha escolhido de preferência para ser rei. Mas o reino foi transferido e pas­sou para meu irmão, porque o Senhor o destinou para ele. Agora, pois, uma só coisa de peço, não me faças passar pela vergonha de ma recusares. Ela disse-lhe: Fala, Adonias disse: Peço-te que digas a Salomão, visto que Ele não pode negar-te nada, que me dê Abisag sunamita por mulher. Betsabéia respondeu: Está bem, eu falarei por ti ao rei. Foi, pois, Betsabéia ter com o rei Salomão, para lhe falar em favor de Adonias. O rei levantou-se para a vir receber, saudou-a com profunda reverência e sentou-se no seu trono; e foi posto um trono para a mãe do rei, a qual se sentou à sua mão direita. Então disse-lhe: Eu só te peço uma pequena coisa, não me envergonhes, com a resposta. O rei disse-lhe: Pede, minha mãe, porque não é justo que vás descontente. Disse Betsabéia: Dê-se Abisag sunamita por mulher a Adonias, teu irmão. O rei Salomão respondeu e disse à sua mãe: Por que pedes tu Abisag sunamita para Adonias? Pede também para ele o reino, porque ele é meu irmão mais velho e tem por si o pontífice Abiatar e Joab, filho de Sarvia. Jurou, pois o rei Salomão dizendo: Deus me trate com todo o seu rigor, se não é verdade que Adonias por esta palavra falou contra a sua própria vida. E agora juro pelo Senhor, que me confirmou e que me colocou no trono de David, meu pai, e que estabeleceu a minha casa como tinha dito, que Adonias será hoje morto. O rei Salomão deu ordem a Anaias, filho de Jojada, o qual o matou e assim morreu. Disse também o rei a pontífice Abiatar: Vai para Anatot, para as tuas terras; na verdade és digno de morte, mas eu não te matarei hoje, porque levaste a arca do senhor Deus diante de meu pai David, e acompanhaste meu pai em todos os trabalhos que padeceu. Salomão decretou, pois, Abiatar, para não ser mais pontífice do senhor…”

Chegou essa notícia a Joab, por que Joab tinha seguido o partido de Adonias, e não o de Salomão, fugiu pois, Joab para o tabernáculo do senhor e agarrou-se aos chifres do altar. Foram dizer ao rei Salomão que Joab tinha ido para o tabernáculo. Mandou Banais, filho de Jojada, dizendo: Vai e mata-o e sepulta-o. Com isto lavará a mim e a casa de meu pai do sangue inocente, que Joab derramou. O senhor fará recair o seu sangue sobre a sua cabeça. Salomão ordenou que Semei fizesse uma casa em Jerusalém e de não saísse. pois seria morte de tal fizesse.

Vemos a justiça de Salomão recair sobre os três principais envolvidos no incidente da escolha do sucessor do rei David. Muitas pessoas não compreendem o porquê daquela atitude de Salomão, por desconhecerem a natureza do GRANDE REI e a sua missão na terra.

Como já deixamos transparecer em outras palestras o lado negativo da natureza havia se infiltrado no seio da divina religião hebraica desde o tempo de Abraão, modificando os ensinamentos, alterando a história e estabelecendo convênios.

Grande número de vezes o Poder Superior enviou, em todos os ciclos de civilização, projeções do mais alto nível a fim de dar seguimento ao desenvolvimento espiritual na terra. Entre estes, podemos afirmar ser Salomão um deles.

A presença de Salomão na terra teve como uma das metas por fim à influência dos mundos negativos dentro da religião hebraica e aquelas que lhe sucederiam. Haviam desde a civilização egípcia três interesses diferentes ligados à problemática humana, como já mostramos em outra palestra na qual enfatizamos os Três Poderes que governam a terra.

Um, o primeira era aquele representado pelos INICIÁTICOS, que visam dar ao homem o conhecimento segundo o merecimento. Assim, Para o cumprimento desta meta foram criadas as Escolas de Mistérios ( Escolas Iniciáticas ). O segundo, aquele representado pelos OBSCURANTISTAS visava uma vida singela sem conhecimento algum sobre as leis da natureza. O terceiro, aquele ligado diretamente aos mundos inferiores que não tinham para dar mas tudo exigia em troca por se considerarem deuses os seus elementos na terra. Aquele grupo na história agiu independentemente em algumas ocasiões, em outras apoiando uma ou outra das duas.

Dentro deste contexto, um dos três poderes atuou maciçamente dentro da religião e da comunidade hebraica se fazendo passar por Deus, fazendo acordos, estabelecendo pactos, exigindo obediência, promovendo guerras, incentivando o genocídio, cobrando oferendas com sacrifícios envolvendo sangue, elegendo raças e tudo aquilo que, como já vimos, é próprio dos mundos inferiores. Algo que se apresentou com resquícios de crueldade, punitivo, intolerante, irado e vingador… Tanto é assim que impiedosamente puniu o povo hebreu com uma peste horrível, por David haver simplesmente permitido um recenseamento. Por haver David autorizado o recenseamento o povo de Israel foi castigado impiedosamente punido por uma peste que dizimou 70 mil homens.

Em Samuel 24 -15 e seguintes vemos que houve uma terrível fome que durou três anos como conseqüência da ira de Jehová, e que somente foi aplacada mediante um holocausto de muitos bois. É estranho que a ira haja sido aplacada pelo derramamento de grande quantidade de sangue ( liberação de Força Vital ).

Salomão, embora educado dentro dos preceitos oficias da religião hebraica, tinha consciência bem clara, por isso todos os ensinamentos que dizem haver Ele recebido na realidade não os necessitava por ser detentor daquilo tudo e de muito mais.

A história cita a passagem de Salomão pelas Escolas Iniciáticas de Memphis no Egito. Na realidade ele ali esteve não para aprender, mas para se inteirar do ponto em que o as verdades históricas estavam sendo ministradas e quanto à organização daquelas instituições eram ministradas. Como não era possível ser admitido numa Escola de Mistérios sem passar pelo cerimonial de iniciação Salomão não foi exceção, também se submeteu às normas oficiais, embora não tivesse coisa alguma a aprender, e sim para ensinar. Ele certamente mostrou a sua colossal sabedoria nas Escolas Iniciáticas onde esteve.

A importância de Salomão foi tamanha naquele período que Ele chegou a desposar a filha do próprio Faraó, conforme conta a Bíblia.

Podemos dizer que a religião hebraica de então, inicialmente uma religião pura, estava totalmente minada desde a época de Abrão pelos conceitos de uma outra força. Sucessivamente três Patriarcas vieram, espíritos elevados com a missão de orientar o povo hebreu, de manter aquele núcleo de disseminação dos conhecimentos cósmicos, mas todos os três foram envolvidos pelo lado negativo da natureza. Em consequência disso houve a necessidade da própria Consciência Cósmica se destacar e animar um corpo físico para conseguir superar as interferências do lado negativo dominante. Assim foi o que ocorreu no que diz respeito a Salomão. Um ser humano com Consciência Cósmica clara, com a missão de restaurar a pureza da religião hebraica, de “dar um basta” no domínio dos “palácios da impureza”. Para isto foi preciso que Salomão agisse com firmeza. Existem muitas passagens da vida de Salomão que são difíceis de serem entendidas se a pessoa não ter ciência da sua MISSÃO CÓSMICA. Sendo ele o mais justo dos reis como poderia ter mandado matar o seu próprio irmão Adonias aparentemente sem uma causa justa, apenas por haver ele pedido através de Betsabéia, que Salomão lhe concedesse Abisag de Sunan, aquela jovem que havia convido com o seu pai David.

É de se estranhar não ter havido luta alguma quando Adonias tomou conhecimento de que Salomão havia sido proclamado rei. É estranho que ele simplesmente haja fugido e se abrigado no templo ficando ali abraçado com os chifres do altar e pedindo que Salomão poupasse a sua vida. Assim foi feito, até que Adonias pediu para casar com Abisag. Com o pedido Salomão disse. Em Reis 2.-23 Deus me trate com todo o seu rigor se não é verdade que Adonias por esta palavra falou contra a sua própria vida. Reis 2-24: E agora juro pelo Senhor, que me confirmou e me colocou no trono de David, meu pai, e que estabeleceu a minha casa com tinha dito, que Adonias será hoje morto. 25 – O rei Salomão deu ordem a Banaias, filho de Jojada, o qual o matou, e assim morreu. 26 – Disse também o rei ao pontífice Abiatar: Vai para Anatot, para as tuas terras; na verdade és digno de morrer, mas eu não te matarei hoje porque acompanhaste meu pai em todos os trabalhos que padeceu.- 27 – Salomão desterrou, pois Abiatar, para não ser mais pontífice do Se­nhor, a fim de se cumprir a palavra … 28 – Chegou essa noticia a Joab, porque Joab tinha seguido Adonias, e não a Salomão, fugiu, pois, Joab para o tabernáculo do senhor e agarrou-se aos chi­fres do altar. ( Novamente o agarrar-se aos chifres), Salomão manda que ele saia do templo e ele respondeu: Não sairei, mas morrerei neste lugar. Salomão disse a Banaias, fazei como ele te disse, mata-o e sepulta-o. Com isto lavarás a mim e a casa de meu pai do sangue inocente que Joab derramou. 2-36 Mandou também o rei chamar Semei e disse-lhe: Faze para ti uma casa em Jeru­salém e habita aí; não saias, andando de uma parte para outra em qualquer dia, pois, se daqui saíres e pas­ses a torrente do ebron que será morto…. Três anos depois Semei desobedeceu e Salomão lhe disse: Tu sabes de todo o mal que tua consciência te acusa de teres feito a David, meu pai, o senhor fez recair a tua malícia sobre a tua cabeça. 2-45 – O rei Salomão será abençoado e o trono de David será sempre estável diante do Senhor deu, pois, o rei ordem a Banaias, filho de Jojaba, o qual tendo saído, feriu Semei, e ele morreu.

Tudo isso que parece uma luta palaciana, na realidade é algo muitíssimo mais importante, não só para o povo de Israel como para toda a humanidade. A luta era entre duas forças a força inferior infiltrada na religião dos hebreus constituindo o seu lado exotérico e representado por muitas pessoas, especialmente por Adonias, Semei e o pontífice de Abiatar, e a Força Superior implícita no lado esotérico e fundamentalmente representada em Salomão.

A Salomão cabia restaurar a ordem, assim Ele teve que destruir os principais representantes da força negativa, especialmente Adonias.

Querendo Abisag como esposa ele tramava se colocar no lugar de David e usar tal condição como escada para chegar ao poder. Ter a “viúva” de David como esposa, especialmente pela natureza de Abisag era na realidade uma tentativa de se imiscuir dentro da direção do reino de Israel.

Abisag por haver vivido intimamente com David ela mantinha os padrões vibratórios do rei e isso seria usado por Adonias como meio de conseguir os seus intentos. Salomão com consciência clara se percebendo isso, e assim tomou a decisão de libertar de uma vez o povo daquela ameaça negativa.

Muitas pessoas se chocam quando tomam conhecimento de situações sem que uma vida é dizimada. É bom que se tenha em mente que quando o Poder Superior precisa agir para libertar os espíritos das garras da força negativa Ela embora sendo a própria justiça age com de uma fora que segundo os padrões humanos parece ser uma crueldade. Consciência clara sabe a natureza daquelas supostas vitimas. Vejam quando a força negativa imperava na terra dominando a q quase totalidade das pessoas, os espíritos encarnavam, e reencarnavam sucessivamente sem se libertarem do domínio da forma inferior, então o Poder Superior determinou o dilúvio quando morreram quase todas as pessoas, independentemente de serem adultos, homens, mulheres, velhos ou crianças, num aparente ato de injustiça ou mesmo crueldade se analisado segundo a escala de valores da humanidade. Mas na realidade foi um ato de justiça um e uma forma de libertação espiritual porque a humanidade estava tão poluída que nenhum daqueles espíritos tinha mais condição de se desenvolver, estavam todos os espíritos estagnados por isso teria que haver um choque. Eles não mereciam mais do que aquilo.

Não foi um ato de vingança, ou de crueldade, mas para que o trauma do acontecimento pudesse agir como uma “terapia de choque” um grande impacto visando essencialmente o despertar daqueles espíritos, fazendo-os reconhecer que existe uma finalidade maior a ser cumprida. Um choque para acordar os que estavam dormindo.

Assim também não foi crueldade Salomão eliminar algumas pessoas quando em reali­dade Ele estava propiciando condições para aqueles espíritos se libertarem, se integrarem de que estavam sendo veículos dos intentos da força.

Autor: José Laércio do Egito – F.R.C.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/grandes-iniciados-salom%C3%A3o

Afinal de contas, o que torna o TdC Especial?

Por Frater Dybbuk,, Zelator do AA

Nos dias de hoje, onde qualquer estudante de primeiro ano de filosofia pode inventar para si um titulo pomposo e criar um blog esotérico para tentar impor suas verdades, e dezenas de blogs de magias e pactos e ordens e curiosos de todos os calibres esquisotéricos surgem a cada dia na internet, como podemos saber se determinado autor é confiável?

Eu me fiz essa pergunta oito anos atrás, quando encontrei com o Del Debbio pela primeira vez em uma loja Maçônica, em uma palestra sobre “Kabbalah Hermética” (que vocês ja devem ter assistido pelo menos alguma versão dela. São todas iguais, mas todas diferentes. Só assistindo duas para ver. Para quem não viu, tem um link de uma delas no youtube Aqui). Adoro essa palestra porque sempre os judeus tradicionais se arrepiam todo quando ele faz as correlações da árvore das vidas com outras religiões. E este, talvez, seja o maior legado que ele deixará na história do Hermetismo.

Mas o que o gabarita para fazer estas afirmações?

Talvez porque a história do MDD dentro das Ordens iniciáticas seja única. A maioria de nós, estudiosos do ocultismo pré-internet, começávamos pela revista Planeta, depois comprávamos os livros da editora Pensamento, entrávamos na Maçonaria, em alguma ordem rosacruz e seguíamos pela senda sem nunca travarmos contato com outras vertentes. Quem é da macumba, caia em um terreiro escondido no fundo de algum quintal e ficava por lá décadas, isolado. Cada um com suas verdades…

O DD começou em 1989 lá na Inglaterra. E ainda teve sorte (se é que alguém aqui ainda acredita que existam coincidências) de cair em um craft tradicional de bruxaria, com a parte magística da coisa (que inclui incorporações) e contato com o pessoal da SRIA, do AA e de outros grupos rosacruzes. Quando voltou para o Brasil, talvez tivesse ficado trancado em seu quarto estudando e nunca teríamos este blog… mas ele também foi um dos primeiros Jogadores de RPG aqui no Brasil. (RPG é a sigla de um jogo que significa “role playing games” ou jogos de teatro). Em 1995 publicou um livro que utilizava o cenário medieval de mitologias reais em um jogo que foi um dos mais vendidos da história do RPG no Brasil (Arkanun). Por que isso é importante?

Porque ele se tornou uma espécie de celebridade pop. E isso, como veremos, foi de importância vital para chegarmos onde estamos hoje (vai anotando as coincidências ai…).

Bem, o DD se graduou em arquitetura e fez especializações em história da arte, semiótica e história das religiões comparadas. De um trabalho de mais de dez anos de pesquisas, publicou a Enciclopédia de Mitologia, um dos maiores trampos sobre o assunto no Brasil.

Com a faculdade veio a maçonaria e aqui as coisas começam a ficar interessantes. Por ser um escritor famoso, ele conheceu o Grande Secretário de Planejamentos do GOB, Wagner Veneziani Costa, um dos caras mais importantes e influentes dentro da maçonaria, editor da Madras, uma das pessoas mais inteligentes que eu conheço e fundador da loja maçônica Madras, que foi padrinho do Del Debbio. E aqui entra o ponto que seria crucial para a história do hermetismo no Brasil, a LOJA MADRAS.

No período de 2004 a 2008, a ARLS Madras contou entre seus membros com pessoas como Alexandre Cumino (Umbanda), Rubens Saraceni (Umbanda Sagrada), Johhny de Carli (Reiki), Cláudio Roque Buono Ferreira (Grão Mestre do GOB), Sérgio Pacca (OTO, Thelemita e fundador da ARLS Aleister Crowley), Mario Sérgio Nunes da Costa (Grão Mestre Templário), Adriano Camargo Monteiro (LHP, Dragon Rouge), José Aleixo Vieira (Grande Secretário de Ritualística), Severino Sena (Ogan), Waldir Persona (Umbanda e Candomblé), Carlos Brasilio Conte (Teosofia), Alfonso Odrizola (Umbanda, diretor da Tv espiritualista), Ari Barbosa e Cláudio Yokoyama (Magia Divina), Marco Antônio “Xuxa” (Martinismo), Atila Fayão (Cabalá Judaica), César Mingardi (Rito de York), Diamantino Trindade (Umbanda), Carlos Guardado (Ordem da Marca), Sérgio Grosso (CBCS), entre diversos outros experts em áreas de hermetismo e ocultismo. Agora junte todos estes caras em reuniões quinzenais onde alguém apresentava uma palestra sobre um tema ocultista e os outros podiam questionar e debater sobre o assunto proposto com seus pontos de vista e você começará a ter uma idéia do que isso representou em termos de avanço do conhecimento.

Entre diversas contribuições para a maçonaria brasileira, trouxeram o RER (Rito Escocês Retificado), O Rito Maçônico-Martinista, para o Brasil, fundando a primeira loja do rito, ARLS Jerusalem Celeste, em SP, e organizaram as Ordens de Aperfeiçoamento (Marca, Nauta, Arco Real, Templários e Malta). O Del Debbio chegou a ser Grande Marechal Adjunto da Ordem Templária em 2011/2012.

Em paralelo, tínhamos a ARLS Aleister Crowley e a ARLS Thelema, onde naquela época se estudava magia prática e trocávamos conhecimento com a OTO no RJ (Loja Quetzocoatl, com minha querida soror Babalon) e a Ordem dos Cavaleiros de Thelema (que, dentre outros, tivemos a honra de poder conversar algumas vezes com Frater Áster – Euclydes Lacerda – antes de seu falecimento em 2010). Além disso, tínhamos acesso a alguns dos fundadores do movimento Satanista em São Paulo e Quimbandeiros (cujos nomes manterei em segredo para minha própria segurança ).

Palestra no evento de RPG “SANA”, em 2006. Eu avisei que ele era subcelebridade, não avisei? Bem… nesse meio tempo, o MDD já estava bem conhecido dentro das ordens Iniciáticas, dando diversas palestras e cursos fechados apenas para maçons e rosacruzes. De dia, popstar; de noite, frequentando cemitérios para desfazer trabalhos de magia negra com a galera do terreiro. Fun times!

Ok, mas e a Kabbalah Hermética?

O lance de toda aquela pesquisa sobre Mitologia e suas correlações com a Cabalá judaica o levou a estudar a Torah e a Cabalá com rabinos e maçons do rito Adonhiramita por 5 anos, tendo sido iniciado na Cabalá Sefardita em um grupo de estudos iniciáticos coordenado pelo prof. Edmundo Pellizari (Ras Adeagbo). Apesar da paixão e conhecimento pela cultura judaica, ele escolheu não se converter (segundo palavras do próprio “Não tem como me converter ao judaísmo; como vou ficar sem filé à Parmigiana?“). Seus estudos se intensificaram entre os textos de Charles “Chic” Cicero via suas publicações na Ars Quatuor Coronatorum, nas Lojas Inglesas e os textos de Tabatha Cicero via Golden Dawn.

A idéia da Kabbalah associada aos princípios alquímicos, unificando tarot, alquimia e astrologia sempre levantou uma guerra com os judeus ortodoxos, que consideram a Cabalá algo profundamente vinculado à sua religião (por isso costumamos grafar estas duas palavras de maneira diferente: Kabbalah e Cabalá.

Em 2006, Adriano Camargo publica o “Sistemagia”, um dos melhores guias de referência de Kabbalah Hermetica, onde muitas das correlações debatidas em loja foram aproveitadas e organizadas.

No meio de todos estes processos de estudos, chegamos em 2007 em uma palestra na qual estava presente o Regis Freitas, mais conhecido como Oitobits, do site “Sedentário e Hiperativo”, que perguntou a ele se gostaria de ter um blog para falar de ocultismo. O nome “Teoria da Conspiração” foi escolhido pelo pessoal do S&H e em poucas semanas atingiu 40.000 leitores por post.

Del Debbio se torna a primeira figura “pública” dentro do ocultismo brasileiro a defender uma correlação direta entre os orixás e suas entidades com as Esferas da Árvore das Vidas e as entidades helênicas evocadas nos rituais da Golden Dawn “Apenas uma questão de máscaras que a entidade espiritual escolherá de acordo com a egrégora em que estiver trabalhando” disse uma vez em uma entrevista.

Estes trabalhos em magia prática puderam ser feitos graças ao intercâmbio de conhecimentos na ARLS Madras, pois foi possível que médiuns umbandistas estudassem hermetismo, kabbalah e cabalá em profundidade e, consequentemente, as entidades que trabalham com eles pudessem se livrar das “máscaras” africanas e trabalharem com formas mais adequadas, como alquimistas, templários e hermetistas. Com a ajuda dos terreiros de Umbanda Sagrada, conseguimos trabalhar até com judeus estudiosos da cabalá que eram médiuns, cujas entidades passaram grandes conhecimentos sobre correspondências dos sistemas judaico e africano, bem como de sua raiz comum, o Egito. A maioria deste conhecimento ainda está restrito ao AA, ao Colégio dos Magos e a outros grupos fechados mas, aos poucos, conforme instruções “do lado de lá”, estão sendo gradativamente abertos.

Em 2010, conhece Fernando Maiorino, diretor da Sirius-Gaia e ajuda a divulgar o I Simpósio de Hermetismo, onde participam também o Frater Goya (C.I.H.), Acid (Saindo da Matrix), Carlos Conte (Teosofia), Renan Romão (Thelema) e Ione Cirilo (Xamanismo). Na segunda edição, em 2011, participam além dos acima o monge Márcio Lupion (Budismo Tibetano), Mário Filho (Islamismo), Alexandre Cumino (Umbanda), Adriano Camargo (LHP), Gilberto Antônio (Taoísmo) e Lázaro Freire (projeção Astral).

A terceira edição ampliou ainda os laços entre os pesquisadores, chamando Felipe Cazelli (Magia do Caos), Wagner Borges (Espiritualista), Claudio Crow (Magia Celta) e Giordano Cimadon (Gnose).

O Blog do “Teoria da Conspiração” também cresce, agregando pensadores semelhantes. Além de textos de todos os citados neste post, também colaboram estudiosos como Jayr Miranda (Panyatara, FRA), Kennyo Ismail (autor do blog “No Esquadro” e um dos maiores pesquisadores contemporâneos sobre maçonaria), Aoi Kwan (Magia Oriental), Raph Arrais (responsável pelas belíssimas traduções da obra de Rumi), o Autor do blog “Maçonaria e Satanismo” (cujo nome continua em segredo comigo!), Tiago Mazzon (labirinto da Mente), Fabio Almeida (Música e Hermetismo), Danilo Pestana (Satanismo), Bruno Cobbi (Ciganos), PH Alves e Roe Mesquita (Adeptus), Frater Alef (Aya Sofia), Jeff Alves (ocultismo BR), Yuri Motta (HQs e Ocultismo), Djaysel Pessoa (Zzzurto), Leonardo lacerda e Hugo Ramirez (Ordem Demolay).

A ARLS Arcanum Arcanorum, braço maçônico da Ordem de Estudos Arcanum Arcanorum, que trabalha em conjunto com a SOL (Sociedade dos Ocultistas Livres), o Templo Aya Sofia, o Colégio dos Magos e o Teoria da Conspiração.

E os frutos desse trabalho se multiplicaram. Com o designer Rodrigo Grola, organizou o Tarot da Kabbalah Hermética, possivelmente um dos melhores e mais completos tarots que existem, além dos pôsteres de estudo. Hoje seus alunos estão desenvolvendo HQs, Livros, Músicas, dando aulas e até mesmo produzindo um Filme baseado nos estudos da Kabbalah Hermética (“Supernova”).

E o estudo de mitologias comparadas, kabbalah e astrologia hermética nunca mais será o mesmo. Isso se chama LEGADO.

E ai temos a resposta que tive para a pergunta do início do texto: Como saber se um autor é confiável? Oras, avaliando toda a história dele e quais são suas bases de estudo, quem são seus professores, quais as pessoas que o ajudam e quem são seus inimigos. Quais são os caras que ele pode perguntar alguma coisa quando tem dúvida? e quais são os caras que tentam atrapalhar o seu trabalho?

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Pronto. Aqui está o texto que eu tinha prometido sobre os doze anos de Blog. Parabéns, Frater Thoth, já passou da hora de alguém começar a organizar uma biografia decente sobre os seus trabalhos.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/afinal-de-contas-o-que-torna-o-tdc-especial

Salomão, o Grande Iniciado

Grande parte dos conhecimentos secretos oriundos da Civilização da Atlântida acompanhou o povo Hebreu quando de sua saída do Egito para a Terra da Promissão. Os Hebreus conservaram aqueles conhecimentos e deles extraiu uma parcela baseados na qual estruturaram a face esotérica da religião, a qual posteriormente veio a se chamar Cabala. Este termo, em essência, significa Conhecimento.

Com certeza os hebreus se constituíram um grupo que conservou certos conhecimentos elevados de uma forma pura, e que eram inicialmente transmitidos de uma para outra pessoa considerada digna do saber. Mas isto fez com que a conjura decretasse perseguições àquele povo cuja história está repleta de perseguições, guerras, injustiças – sofridas e praticadas – e que ainda vêm ocorrendo. O que não tem sido dito é o fato daqueles conhecimentos haverem sido alterados por ordem de Jeová, e também perseguidos pela “conjura do Sillêncio” – obscurantismo – assim como por algumas “Escolas Iniciáticas”. Estas não permitiam o conhecimento fora do controle que exerciam, e por sua vez a conjura primava para que conhecimento algum fosse cultivado. O intento de Jehová era idêntico ao da conjura, porém por um motivo diferente. Essa situação só veio a ser modificada quando veio à terra uma Centelha da Consciência Cósmica na pessoa de Salomão.

Devemos sentir o quanto uma ciência secreta existia entre os hebreus e a política oculta que operava nos bastidores. Visando tal entendimento, antes já expomos, agora analisaremos alguns dos aspectos da natureza do Rei Salomão. Evidentemente existe muita fantasia, muita lenda em torno dele, mas isto não invalida a acertiva de que ele entre os Reis de Israel foi o mais sábio, o portador de maior cabedal de conhecimentos gerais e também dos “proibidos.”

Salomão destaca-se ainda na atualidade tanto pelo História Bíblica quanto pelas tradições maçônicas e de outras escolas místicas. Mas, não é só isto, Ele também é reconhecido de forma preponderante pelo Islamismo, que têm aquele rei entre os mais importantes seres que já estiveram na terra. Mas, o que é mais curioso, Salomão também é respeitado e admirado por todos os seguidores do ocultismo. Até hoje o Seu nome impera entre os adeptos de inúmeras seitas, chegando mesmo a ser aceito e respeitado pela magia negra. É precisamente em Salomão e na construção do Templo de Jerusalém que se fundamentam muitas histórias ligadas a inúmeras Ordens Iniciáticas.

Por que Salomão se tornou tão importante perante tão heterogênea massa? Por que nele confluem pensamentos tão díspares e tantas religiões e seitas? – Quando se fala de Salomão torna-se difícil separar o que é verdade do que é lenda ou mesmo calúnia. Torna-se quase impossível se estabelecer os limites onde termina a verdade histórica e onde começa o mito e a fantasia, haja visto ao tamanho número de coisas sensacionais que lhes são atribuídas.

Com a morte de David, pai de Salomão, quem normalmente deveria assumir o trono seria Adonias. A Bíblia cita uma luta política que se estabeleceu entre os sacerdotes a respeito de qual dos dois deveria assumir o trono de Israel, cabendo a vitória a Salomão. É deveras incompreensível o porquê de Salomão, que pelo direito de progenitura não era o herdeiro da coroa, foi ungido Rei de Israel. O Primogênito era Absalão que por haver morrido em batao direito de progenitura cabia então a Adonias – o segundo na escala de sucessão – mas o escolhido por David para sucedê-lo foi Salomão.

Adonias foi apoiado para ser proclamado Rei por alguns sacerdotes, sendo o principal deles Abiatar. Quando David estava para morrer Adonias já se auto-proclamou rei e exaltava-se dizendo: “Eu reinarei.” Bíblia cap. 1 ver. 5 e seguintes: “Mandou fazer par si um coche, e tomou cavaleiros e seu pai nunca disse: Por que fazes isto? Mas nem o pontífice Sadoc, nem Banaias, nem o profeta Natan, nem Semei, nem Rei, nem o grosso do exército era por Adonias” Adonias, pois, tendo imolado carneiros, novilhos e toda sorte de vítimas gordas, ao pé da pedra de Zoelet, que está fundo da fonte de Rogel, convidou todos os seus irmãos, filhos do rei e todos os de Judá, criados do rei. Mas não convidou nem o profeta Natan, nem Banaias, e nem os soldados mais valentes, nem Salomão, seu irmão. (Note-se o festival se sacrifícios com sangue )

“Disse pois Natan a Betsabéia, mãe de Salomão: Tu não ouviste que Adonias, filho de Hagit, se fez rei e que David, nosso senhor, ignora isto? Vem pois agora, toma o meu conselho e salva a tua vida e a do teu filho Salomão. Vai, apresenta-te ao rei David e diz-lhe: Porventura tu, ó rei, meu senhor, não mo jurastes a mim tua escrava, dizendo: Salomão, teu filho, reinará depois de mim, e ele se sentará no meu trono? Porém quem reina, pois Adonias? E estando tu ainda falando com o rei, eu sobrevirei depois de ti, e apoiarei as tuas palavras“.

Apresentou-se, pois, Betsabéia ao rei no seu quarto. O rei era já muito velho e Abisag de Sunam o servia.

Inclinou-se Betsabéia profundamente e fez uma profunda reverência ao rei. O rei disse-lhe: Que queres tu? Ela, respondendo, disse: Meu senhor, tu jurastes à tua escrava pelo Senhor, teu Deus: Salomão, teu filho, reinará depois de mim e ele se sentará no meu trono. Agora, eis que Adonias reina sem tu, ó rei meu senhor, o saberes. Ele imolou bois, toda a sorte de vítimas gordas e muitos carneiros, convidou todos os filhos do rei, o pontífice Abiatar e Joab, general do exército; mas não convidou Salomão, teu servo. ToDavida, todo o Israel, está com os olhos em ti esperando que declares quem é que deve sentar-se depois de ti no trono, ó rei meu senhor. Porque, logo que o meu senhor dormir com seus pais, eu e meu filho Salomão seremos tratados como criminosos.

Enquanto ela falava ainda com o rei, eis que chegou o profeta Natan. E avisaram o rei, dizendo: Eis aqui está o profeta Natan. Tendo entrado à presença do rei, e, tendo-lhe feito uma profunda reverência, prostrando-se em terra disse Natan: Ó rei, meu senhor, porventura disseste tu reine Adonias depois de mim e seja ele o que se sente no meu trono? Porque ele desceu hoje, imolou bois, vítimas gordas, muitos carneiros, convidou todos os filhos do rei, os generais do exército e o pontífice Abiatar; e comeram e beberam diante dele dizendo: Viva o rei Adonias! Mas não convidou a mim, que sou teu servo, nem ao pontífice Sadoc, nem a Banaias, filho de Jojada, nem a teu servo Salomão. Porventura saiu essa ordem do rei meu senhor? Mas não é assim que tu me declaraste a mim, teu servo, quem era o que devia, depois do rei meu senhor, sentar-se sobre o seu trono?

O rei David respondeu, dizendo: Chamai-me Betsabéia. Tendo ela se apresentado ao rei e estando de pé diante dele o rei jurou e disse: Viva o Senhor, que livrou a minha alma de toda a angústia, pois que assim como te jurei pelo Senhor Deus, dizendo: Salomão teu filho reinará depois de mim, e ele se sentará em meu lugar sobre o meu trono, assim o cumprirei hoje. Betsabéia, prostrando-se com o rosto em terra, fez uma profunda reverência ao rei, dizendo: Viva David, meu senhor, para todo o sempre. Disse mais o Rei David: Chamai-me o pontífice Sadoc, o profeta Natan e Banais, filho de Jojada. E todos eles entrando à presença do rei, disse-lhes: Toma convosco os servos do vosso amo, fazei montar na minha mula o meu filho Salomão, e levai-o a Gion. O pontífice Sadoc com o profeta Natan o ungiram ali como rei de Israel, vós fareis soar a trombeta e direis? Viva o rei Salomão! E voltareis atrás dele, e ele virá, e sentar-se-á sobre o meu trono, e reinará em meu lugar e eu lhe ordenarei que governe Israel e Judá.

Desceram, pois, o pontífice Sadoc, o profeta Natan e Banaias filho de Jojada, com os cereteus e os feleteus e fizeram montar Salomão na mula do rei David, e levaram-no a Gion. O pontífice Sadoc tomou do tabernáculo o vaso do óleo e ungiu Salomão; tocaram a trombeta e disse todo o povo: Viva o rei Salomão! Subiu toda a multidão após ele e o povo, ecoando ao som das flautas, e mostrando grande regozijo, e a terra retiniu com suas aclamações” ( Vejam o contraste entre o festival de Salomão e o festival de sacrifícios de sangues promovido por Adonias.)

Assim prossegue a descrição. No versículo 50 se lê: Adonias, pois, temendo Salomão, levantou-se e foi abraçar-se com os chifres do altar. Noticiaram a Salomão dizendo: Eis que Adonias, temendo o rei Salomão, está refugiado a um lado do altar, dizendo: O rei Salomão, me jure hoje que ele não fará morrer o seu servo à espada. Salomão respondeu:? Se ele se houver como homem de bem, não cairá em um só cabelo da sua cabeça, mas, se nele se encontrar maldade, morrerá. Mandou, pois o rei Salomão que o fossem tirar do altar, e Adonias, tendo entrado, fez uma profunda reverência ao rei Salomão, o qual disse-lhe: Vai para tua casa.

Neste ponto vamos fazer algumas apreciações. Porque David quando do nascimento de Salomão jurou para Betsabéia que este seria o rei quando na realidade por direito de progenitura isto não lhe caberia? David era um rei sábio, por que razão ele tomara aquela decisão? Com certeza podemos acreditar que David tinha consciência de que Salomão não era como os seus demais filhos, que não era uma pessoa qualquer e sim uma entidade de natureza extremamente elevada. Um ser com uma sabedoria sem par em toda a terra, como veio a se comprovar depois quando ele reinou sobre Israel. Se a decisão de David fosse apenas em decorrência de uma paixão carnal por Betsabéia porque haviam de concordar com a escolha o profeta Natan e outros sacerdotes e militares de Israel? por que nunca fizeram David revogar a promessa feita durante muitos anos enquanto Salomão ainda era criança e sim o contrário fazer Betsabéia cobrar do rei quando este estava próximo a desencarnar, o cumprimento da promessa de fazer Salomão o seu sucessor? Só tem uma explicação possível, eles conheciam a verdadeira identidade espiritual de Salomão, sabiam QUEM É SALOMÃO.

Enquanto Salomão era proclamado, e simplesmente desfilava montado na mula do Rei David, Adonias promovia banquete com sangue, com carne, sacrifícios cruentos, espetáculo bem mundano. Sacrifícios de animais foram realizados, espetáculos de sangue, exalação de energia vital ( energia sutil ) dos seres imolados.

Adonias não empreendeu qualquer luta direta contra Salomão e sim se abrigou no templo e se abraçou com os chifres do altar, numa atitude temerosa, com medo de ser morto por Salomão. Por que Adonias temeu Salomão se por direito de progenitura o trono era dele desde que o primogênito David, Absalão, havia anteriormente sido morto numa revolta contra o próprio rei David? Depois de Absalão, o herdeiro por direito era Adonias o legítimo herdeiro do trono pela escala de progenitura? Ele contava com parte do exército, mas não enfrentou diretamente Salomão, por que? Não enfrentou e ficou pedindo para que a sua vida fosse poupada? Por que isso se ele não havia cometido crime algum aparentemente? Pelo direito de progenitura o usurpador do trono poderia ser considerado Salomão e não Adonias. Somente Absalão é que poderia acusar Adonias de usurpador do torno de Israel e não Salomão, mas aquele já havia morrido.

Outro ponto importante a ser considerado diz respeito à velhice de David.

Bíblia 1-1 e seguintes: Ora, o rei David tinha envelhecido, e achava-se numa idade muito avançada, e por mais que o cobrissem de roupa, não aquecia. Disseram-lhe, pois, os seus criados: Busquemos para o rei nosso senhor uma jovem virgem, que esteja diante do rei, o esquente, durma ao seu lado e preserve do grande frio o rei nosso senhor. Buscaram, pois, em todas as terras de Israel uma jovem formosa, acharam Abisag de Sunam e levaram-na ao rei. Era esta uma donzela de extrema beleza, dormia com o rei, e o servia, mas o rei deixou-a sempre virgem.

Os seres dos planos inferiores, dependendo da disponibilidade de energia sutil, tanto podem influenciar, induzir, ou inspirar as pessoas da terra fazendo o jogo de interesse deles, induzindo pessoas à consciente ou inconscientemente a agirem de acordo com o que eles querem, ou é possível até mesmo assumirem e se apresentarem diretamente numa estrutura ponderável, num determinado tipo de corpo físico.

Depois de Salomão haver assumido o trono Adonias fez um pedido que lhe custou a vida. Sem que se tenha conhecimentos ocultos é difícil se entender a razão da decisão de Salomão de tirar a vida de Adonias se o rei era considerado o mais justo de todos os reis. Só se pode entender aquela atitude sabendo-se do envolvimento do reino das sombras e as ingerências dos palácios da impureza sobre o plano terreno e no caso em estudo, sobre o povo hebreu.

Vejamos o que diz a os livros sagrados : Bíblia: Cap. 1 ver 12 e seguintes:

Salomão tomou posse do trono de David seu pai, e o seu reino consolidou-se sobrema­neira. Adonias, filho de Hagit, foi ter com Betsabéia, mãe de Salomão. Ela disse-lhe: É porventura de paz a tua entrada? Ele respondeu-lhe: Sim. Fala e ele disse: Tu sabes que o reino era meu e que todo o Is­rael me tinha escolhido de preferência para ser rei. Mas o reino foi transferido e pas­sou para meu irmão, porque o Senhor o destinou para ele. Agora, pois, uma só coisa de peço, não me faças passar pela vergonha de ma recusares.

Ela disse-lhe: Fala, Adonias disse: Peço-te que digas a Salomão, visto que Ele não pode negar-te nada, que me dê Abisag sunamita por mulher. Betsabéia respondeu: Está bem, eu falarei por ti ao rei. Foi, pois, Betsabéia ter com o rei Salomão, para lhe falar em favor de Adonias. O rei levantou-se para a vir receber, saudou-a com profunda reverência e sentou-se no seu trono; e foi posto um trono para a mãe do rei, a qual se sentou à sua mão direita. Então disse-lhe: Eu só te peço uma pequena coisa, não me envergonhes, com a resposta. O rei disse-lhe: Pede, minha mãe, porque não é justo que vás descontente. Disse Betsabéia: Dê-se Abisag sunamita por mulher a Adonias, teu irmão. O rei Salomão respondeu e disse à sua mãe: Por que pedes tu Abisag sunamita para Adonias? Pede também para ele o reino, porque ele é meu irmão mais velho e tem por si o pontífice Abiatar e Joab, filho de Sarvia. Jurou, pois o rei Salomão dizendo: Deus me trate com todo o seu rigor, se não é verdade que Adonias por esta palavra falou contra a sua própria vida. E agora juro pelo Senhor, que me confirmou e que me colocou no trono de David, meu pai, e que estabeleceu a minha casa como tinha dito, que Adonias será hoje morto. O rei Salomão deu ordem a Anaias, filho de Jojada, o qual o matou e assim morreu. Disse também o rei a pontífice Abiatar: Vai para Anatot, para as tuas terras; na verdade és digno de morte, mas eu não te matarei hoje, porque levaste a arca do senhor Deus diante de meu pai David, e acompanhaste meu pai em todos os trabalhos que padeceu. Salomão decretou, pois, Abiatar, para não ser mais pontífice do senhor…”

Chegou essa notícia a Joab, por que Joab tinha seguido o partido de Adonias, e não o de Salomão, fugiu pois, Joab para o tabernáculo do senhor e agarrou-se aos chifres do altar. Foram dizer ao rei Salomão que Joab tinha ido para o tabernáculo. Mandou Banais, filho de Jojada, dizendo: Vai e mata-o e sepulta-o. Com isto lavará a mim e a casa de meu pai do sangue inocente, que Joab derramou. O senhor fará recair o seu sangue sobre a sua cabeça. Salomão ordenou que Semei fizesse uma casa em Jerusalém e de não saísse. pois seria morte de tal fizesse.

Vemos a justiça de Salomão recair sobre os três principais envolvidos no incidente da escolha do sucessor do rei David. Muitas pessoas não compreendem o porquê daquela atitude de Salomão, por desconhecerem a natureza do GRANDE REI e a sua missão na terra.

Como já deixamos transparecer em outras palestras o lado negativo da natureza havia se infiltrado no seio da divina religião hebraica desde o tempo de Abraão, modificando os ensinamentos, alterando a história e estabelecendo convênios.

Grande número de vezes o Poder Superior enviou, em todos os ciclos de civilização, projeções do mais alto nível a fim de dar seguimento ao desenvolvimento espiritual na terra. Entre estes, podemos afirmar ser Salomão um deles.

A presença de Salomão na terra teve como uma das metas por fim à influência dos mundos negativos dentro da religião hebraica e aquelas que lhe sucederiam. Haviam desde a civilização egípcia três interesses diferentes ligados à problemática humana, como já mostramos em outra palestra na qual enfatizamos os Três Poderes que governam a terra.

Um, o primeira era aquele representado pelos INICIÁTICOS, que visam dar ao homem o conhecimento segundo o merecimento. Assim, Para o cumprimento desta meta foram criadas as Escolas de Mistérios ( Escolas Iniciáticas ). O segundo, aquele representado pelos OBSCURANTISTAS visava uma vida singela sem conhecimento algum sobre as leis da natureza. O terceiro, aquele ligado diretamente aos mundos inferiores que não tinham para dar mas tudo exigia em troca por se considerarem deuses os seus elementos na terra. Aquele grupo na história agiu independentemente em algumas ocasiões, em outras apoiando uma ou outra das duas.

Dentro deste contexto, um dos três poderes atuou maciçamente dentro da religião e da comunidade hebraica se fazendo passar por Deus, fazendo acordos, estabelecendo pactos, exigindo obediência, promovendo guerras, incentivando o genocídio, cobrando oferendas com sacrifícios envolvendo sangue, elegendo raças e tudo aquilo que, como já vimos, é próprio dos mundos inferiores. Algo que se apresentou com resquícios de crueldade, punitivo, intolerante, irado e vingador… Tanto é assim que impiedosamente puniu o povo hebreu com uma peste horrível, por David haver simplesmente permitido um recenseamento. Por haver David autorizado o recenseamento o povo de Israel foi castigado impiedosamente punido por uma peste que dizimou 70 mil homens.

Em Samuel 24 -15 e seguintes vemos que houve uma terrível fome que durou três anos como conseqüência da ira de Jehová, e que somente foi aplacada mediante um holocausto de muitos bois. É estranho que a ira haja sido aplacada pelo derramamento de grande quantidade de sangue ( liberação de Força Vital ).

Salomão, embora educado dentro dos preceitos oficias da religião hebraica, tinha consciência bem clara, por isso todos os ensinamentos que dizem haver Ele recebido na realidade não os necessitava por ser detentor daquilo tudo e de muito mais.

A história cita a passagem de Salomão pelas Escolas Iniciáticas de Memphis no Egito. Na realidade ele ali esteve não para aprender, mas para se inteirar do ponto em que o as verdades históricas estavam sendo ministradas e quanto à organização daquelas instituições eram ministradas. Como não era possível ser admitido numa Escola de Mistérios sem passar pelo cerimonial de iniciação Salomão não foi exceção, também se submeteu às normas oficiais, embora não tivesse coisa alguma a aprender, e sim para ensinar. Ele certamente mostrou a sua colossal sabedoria nas Escolas Iniciáticas onde esteve.

A importância de Salomão foi tamanha naquele período que Ele chegou a desposar a filha do próprio Faraó, conforme conta a Bíblia.

Podemos dizer que a religião hebraica de então, inicialmente uma religião pura, estava totalmente minada desde a época de Abrão pelos conceitos de uma outra força. Sucessivamente três Patriarcas vieram, espíritos elevados com a missão de orientar o povo hebreu, de manter aquele núcleo de disseminação dos conhecimentos cósmicos, mas todos os três foram envolvidos pelo lado negativo da natureza. Em consequência disso houve a necessidade da própria Consciência Cósmica se destacar e animar um corpo físico para conseguir superar as interferências do lado negativo dominante. Assim foi o que ocorreu no que diz respeito a Salomão. Um ser humano com Consciência Cósmica clara, com a missão de restaurar a pureza da religião hebraica, de “dar um basta” no domínio dos “palácios da impureza”. Para isto foi preciso que Salomão agisse com firmeza. Existem muitas passagens da vida de Salomão que são difíceis de serem entendidas se a pessoa não ter ciência da sua MISSÃO CÓSMICA. Sendo ele o mais justo dos reis como poderia ter mandado matar o seu próprio irmão Adonias aparentemente sem uma causa justa, apenas por haver ele pedido através de Betsabéia, que Salomão lhe concedesse Abisag de Sunan, aquela jovem que havia convido com o seu pai David.

É de se estranhar não ter havido luta alguma quando Adonias tomou conhecimento de que Salomão havia sido proclamado rei. É estranho que ele simplesmente haja fugido e se abrigado no templo ficando ali abraçado com os chifres do altar e pedindo que Salomão poupasse a sua vida. Assim foi feito, até que Adonias pediu para casar com Abisag. Com o pedido Salomão disse. Em Reis 2.-23 Deus me trate com todo o seu rigor se não é verdade que Adonias por esta palavra falou contra a sua própria vida. Reis 2-24: E agora juro pelo Senhor, que me confirmou e me colocou no trono de David, meu pai, e que estabeleceu a minha casa com tinha dito, que Adonias será hoje morto. 25 – O rei Salomão deu ordem a Banaias, filho de Jojada, o qual o matou, e assim morreu. 26 – Disse também o rei ao pontífice Abiatar: Vai para Anatot, para as tuas terras; na verdade és digno de morrer, mas eu não te matarei hoje porque acompanhaste meu pai em todos os trabalhos que padeceu.- 27 – Salomão desterrou, pois Abiatar, para não ser mais pontífice do Se­nhor, a fim de se cumprir a palavra … 28 – Chegou essa noticia a Joab, porque Joab tinha seguido Adonias, e não a Salomão, fugiu, pois, Joab para o tabernáculo do senhor e agarrou-se aos chi­fres do altar. ( Novamente o agarrar-se aos chifres), Salomão manda que ele saia do templo e ele respondeu: Não sairei, mas morrerei neste lugar. Salomão disse a Banaias, fazei como ele te disse, mata-o e sepulta-o. Com isto lavarás a mim e a casa de meu pai do sangue inocente que Joab derramou. 2-36 Mandou também o rei chamar Semei e disse-lhe: Faze para ti uma casa em Jeru­salém e habita aí; não saias, andando de uma parte para outra em qualquer dia, pois, se daqui saíres e pas­ses a torrente do ebron que será morto…. Três anos depois Semei desobedeceu e Salomão lhe disse: Tu sabes de todo o mal que tua consciência te acusa de teres feito a David, meu pai, o senhor fez recair a tua malícia sobre a tua cabeça. 2-45 – O rei Salomão será abençoado e o trono de David será sempre estável diante do Senhor deu, pois, o rei ordem a Banaias, filho de Jojaba, o qual tendo saído, feriu Semei, e ele morreu.

Tudo isso que parece uma luta palaciana, na realidade é algo muitíssimo mais importante, não só para o povo de Israel como para toda a humanidade. A luta era entre duas forças a força inferior infiltrada na religião dos hebreus constituindo o seu lado exotérico e representado por muitas pessoas, especialmente por Adonias, Semei e o pontífice de Abiatar, e a Força Superior implícita no lado esotérico e fundamentalmente representada em Salomão.

A Salomão cabia restaurar a ordem, assim Ele teve que destruir os principais representantes da força negativa, especialmente Adonias.

Querendo Abisag como esposa ele tramava se colocar no lugar de David e usar tal condição como escada para chegar ao poder. Ter a “viúva” de David como esposa, especialmente pela natureza de Abisag era na realidade uma tentativa de se imiscuir dentro da direção do reino de Israel.

Abisag por haver vivido intimamente com David ela mantinha os padrões vibratórios do rei e isso seria usado por Adonias como meio de conseguir os seus intentos. Salomão com consciência clara se percebendo isso, e assim tomou a decisão de libertar de uma vez o povo daquela ameaça negativa.

Muitas pessoas se chocam quando tomam conhecimento de situações sem que uma vida é dizimada. É bom que se tenha em mente que quando o Poder Superior precisa agir para libertar os espíritos das garras da força negativa Ela embora sendo a própria justiça age com de uma fora que segundo os padrões humanos parece ser uma crueldade. Consciência clara sabe a natureza daquelas supostas vitimas. Vejam quando a força negativa imperava na terra dominando a q quase totalidade das pessoas, os espíritos encarnavam, e reencarnavam sucessivamente sem se libertarem do domínio da forma inferior, então o Poder Superior determinou o dilúvio quando morreram quase todas as pessoas, independentemente de serem adultos, homens, mulheres, velhos ou crianças, num aparente ato de injustiça ou mesmo crueldade se analisado segundo a escala de valores da humanidade. Mas na realidade foi um ato de justiça um e uma forma de libertação espiritual porque a humanidade estava tão poluída que nenhum daqueles espíritos tinha mais condição de se desenvolver, estavam todos os espíritos estagnados por isso teria que haver um choque. Eles não mereciam mais do que aquilo.

Não foi um ato de vingança, ou de crueldade, mas para que o trauma do acontecimento pudesse agir como uma “terapia de choque” um grande impacto visando essencialmente o despertar daqueles espíritos, fazendo-os reconhecer que existe uma finalidade maior a ser cumprida. Um choque para acordar os que estavam dormindo.

Assim também não foi crueldade Salomão eliminar algumas pessoas quando em reali­dade Ele estava propiciando condições para aqueles espíritos se libertarem, se integrarem de que estavam sendo veículos dos intentos da força.

Autor: José Laércio do Egito – F.R.C.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/salom%C3%A3o-o-grande-iniciado

Longevidade e Mortalidade

Gilberto Antônio Silva

Os temas “longevidade” e “imortalidade” são recorrentes dentro do Taoismo. Há milênios que os antigos chineses se debruçam sobre esses problemas, buscando soluções muitas vezes pitorescas. Mas qual seria a real importância de se obter a longevidade? E, quando falha a busca pela imortalidade, como lidar com nossa própria mortalidade? São questões que muito importam aos taoistas do século XXI.

A pouco mais de um mês perdi um professor e amigo, alguém muito importante e que possuía um conhecimento tremendo de Medicina Chinesa, Qigong e artes marciais internas. Foi algo inesperado, súbito e decisivo do tipo “uma hora está aqui e na outra não está mais”. E o que mais me marcou nesse evento foi, mais uma vez, a certeza de que todos estamos nesse mesmo processo e podemos ter nosso cartão carimbado a qualquer momento.

Existe uma ideia equivocada, mas muito difundida, de que mestres em artes taoistas vivem muitos anos a mais que a média das pessoas. Isso não é necessariamente verdade. Embora existam mestres de grande longevidade, isso não é uma norma. No Brasil, Mestre Liu Pai Lin fez seu passamento com 93 anos, enquanto Mestre Wu Jhy Cherng nos deixou aos 45 anos. Na verdade, Paramahansa Yogananda afirmou que, em geral, os mestres yogues vivem cerca de 60 anos, pouco mais. Então devemos enxergar algo de muito importante nisso: a longevidade deve ter um motivo e a imortalidade é relativa.

Dediquei o último capítulo de meu livro “26 Dicas de Saúde da Medicina Oriental” à longevidade. E o que digo lá repito aqui: a longevidade, em si mesma, nada representa; o importante é o que fazemos com nossa longevidade. Qual meta temos, quais objetivos almejamos, o que pretendemos fazer com nossos muitos anos a mais. Isso é de total importância nesse assunto. Bruce Lee viveu apenas 33 anos, mas seu trabalho servirá de inspiração e ensinamento por muitas décadas. Swami Vivekananda morreu com 39 anos, mas seu trabalho foi fundamental na introdução do pensamento indiano e do Yoga no Ocidente no início do Século XX. Então o período de vida de uma pessoa é relativo e a longevidade, se adquirida, deve ser utilizada para algum objetivo.

Do mesmo modo a imortalidade é relativa. No início, há cerca de 2.200 anos, era uma busca pela imortalidade física por meio de elixires feitos com substâncias químicas muitas vezes venenosas. Muitos alquimistas e alguns imperadores chineses morreram dessa forma (esse conhecimento chegou à Europa través dos árabes e levou a outro contingente de vítimas). John Blofeld encontrou reclusos taoistas na década de 1930 que ainda acreditavam na obtenção da imortalidade física. Apesar disso, a partir do segundo século de nossa era os alquimistas chineses perceberam que a imortalidade tinha mais a ver com o espirito do que com o corpo e que se integrar ao Tao após a morte seria uma maneira mais consistente de obter a tão sonhada imortalidade. Nascia a Alquimia Interna, que busca obter a realização com o Tao ao mesmo tempo em que promove a longevidade. É aí que nossa busca se afunila.

Obter a imortalidade pelo aprofundamento no Tao é algo complicado e que demanda grande esforço por muito tempo. Nada mais natural, portanto, que se busquem práticas que acentuem a saúde e prolonguem a vida de modo a ter tempo hábil para finalizar esse projeto ou, ao menos, adiantar o máximo possível.

Como ninguém sabe exatamente quando sua validade vence neste planeta, procurar se cuidar e se adiantar no Caminho é a coisa mais lógica a se fazer. Porque morrer é parte do processo, parte integrante do fluxo ininterrupto de ciclos a que estamos submetidos assim como todos nesse Universo Manifestado, que o Yi Jing já explicava há 3.000 anos.

Encarar nossa própria mortalidade faz parte da busca pelo Tao e mostra o quanto próximo estamos deste objetivo. Uma de minhas histórias preferidas é de Zhuangzi, um dos mais claros taoistas do Período Clássico chinês.

“A mulher de Zhuangzi morreu e Huizi chegou a fim de o consolar, mas Zhuangzi permaneceu sentado de pernas cruzadas, a bater numa bacia surrada e a cantar.

Huizi disse: “Viveste com ela como homem e mulher, e ela criou-te os filhos. Na morte o que pelo menos devias fazer seria sentir vontade de prantear, em vez de estares por aí a fazer da bacia um tambor e a cantar – isso não está certo.”

Zhuangzi respondeu: “Certamente que não. Quando ela morreu, decerto que fiz o luto tal como toda a gente! Contudo, recordei que ela já existia antes, num estado anterior ao do nascimento. Na verdade, não só antes que nascer, mas antes do seu corpo ser sequer criado. Não só sem forma como sem substância, mas antes mesmo do seu sopro vital ser adicionado ao seu corpo. E por meio do maravilhoso mistério da mudança foi-lhe atribuído o alento de vida. Esse alento vital forjou uma transformação e ela passou a possuir um corpo. O seu corpo gerou outra transformação e ela morreu. Ela assemelha-se às quatro estações, na forma como a primavera, o verão, o outono e o inverno se sucedem. Agora encontra-se em paz, a repousar no seu ataúde, mas se eu me entregar aos soluços e ao pranto decerto parecerá que eu não compreenda o destino. É por isso que me abstenho.”

Vemos que Zhuangzi percebeu ser uma incoerência tentar compreender o funcionamento do Universo e não estender esse conhecimento à morte de um ente querido. Mas, mesmo assim, passou pelo luto normal. Quando percebemos, ainda que muito superficialmente, as ações do Tao, ampliamos nossa compreensão das coisas ainda que não percamos totalmente nossa natureza emocional humana. Muitas pessoas acham que um taoista não deve se emocionar com o mundo, mas isso é falso. Por mais iluminados que sejam, não conseguem deixar de serem humanos. E isso não é apenas no Taoismo. Consta que o grande iniciado tibetano Milarespa chorou copiosamente a morte de um filho. Uma importante Mestra Zen, Sul, perdeu sua neta e chorou copiosamente. Ao ser questionada, disse que suas lágrimas ”eram maiores que todos os Sutras, que todas as palavras dos Patriarcas e de todas as possíveis cerimônias”. As pessoas próximas não entenderam, mas ela falava sobre a própria alma humana.

O que nos torna humanos é nossa capacidade de almejar elevados níveis espirituais enquanto convivemos com nossas fraquezas e, eventualmente, as sobrepujamos. Ser humano é apontar nossa cabeça para o Céu enquanto plantamos firmemente os pés na Terra. Obter longevidade é uma ferramenta poderosa para ter tempo de superar o ego e poder atingir a imortalidade na fusão com todas as coisas.

A busca pela imortalidade espiritual passa pela superação de nossa própria mortalidade humana.

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Gilberto Antônio Silva é Parapsicólogo, Terapeuta e Jornalista. Como Taoista, atua amplamente na pesquisa e divulgação desta fantástica filosofia e cultura chinesa através de cursos, palestras e artigos. É autor de 14 livros, a maioria sobre cultura oriental e Taoismo, Coordenador Editorial da Revista Brasileira de Medicina Chinesa e Editor Responsável da revista Daojia, especializada em filosofia e artes taoistas e cultura chinesa. Sites: www.taoismo.org e www.laoshan.com.br

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/longevidade-e-mortalidade

A postura da morte: uma instrução definitiva

Por Alan Chapman*

*membro da iot londrina e autor de Advanced Magick for Beginners

 

A Postura da Morte de Austin Spare tem sido difundida em círculos mágicos do caos recentemente e é amplamente mal compreendida. Provavelmente é a técnica mágica mais incompreendida do mundo.

A técnica é descrita em O Livro do Prazer  e, portanto, simpatizo com qualquer confusão inicial que os leitores possam ter sobre a postura; afinal. A escrita de Spare é delirante. (Nota do tradutor: neste artigo usaremos aqui a magistral tradução da Oficina Palimpsestus)

No entanto, uma simples releitura da página em questão deve ser suficiente para dissipar a confusão. Só posso supor, com base no lixo absoluto apresentado em muitos livros, revistas e sites, como “a postura da morte” se deve ao fato de que a maioria das pessoas não se dá ao trabalho de ler com atenção.

O Ritual e a Doutrina

A instrução é dada em três parágrafos. Veja como eles são impressos:

“Deitado confortavelmente de costas, permita que o corpo expresse a condição de um bocejo, suspirando enquanto concebe pelo sorriso – essa é a ideia da postura. Esqueça o tempo e todas as coisas que antes eram essenciais e agora refletem a própria insignificância. Este momento está além do tempo, e sua virtude já aconteceu.

De pé na ponta dos dedos, com as mãos entrelaçadas atrás do corpo e os braços rígidos, estique-se ao máximo, inclusive o pescoço, e respire profunda e espasmodicamente, até sentir em ondas uma mistura de êxtase e leve vertigem – isso gera a exaurição e a preparação para o passo anterior.

Olhe para o seu reflexo até que a imagem fique indistinta e você não se reconheça. Feche os olhos (isso costuma acontecer involuntariamente) e visualize. Atenha-se à luz que vai surgir (sempre na forma de X em curiosas evoluções) e mantenha-se firme até que não seja mais um esforço. Isso gera uma sensação de imensidão.. cujo limite é impossível alcançar. Esse passo deve ser praticado antes de realizar o passo anterior. A emoção sentida é o conhecimento que lhe diz o porquê.” (pág 234-235)

É óbvio, não é? A própria postura da morte está completamente aberta à interpretação. Não há ‘uma’ postura em vez disso, varia desde prender a respiração até desmaiar e se olhar no espelho. E pode ser usado para ‘carregar’ sigilos, certo? Na verdade não! Nada disso. Essa é uma besteira gorda e cabeluda!

Se relermos esses três parágrafos, veremos que o parágrafo dois (“De pé na ponta dos dedos…”), gera ” gera a exaurição e a preparação para o passo anterior.” Ou seja, é um exercício preliminar à instrução dada no primeiro parágrafo (“Deitado confortavelmente de costas…”). Quanto ao exercício dado no parágrafo três (“Olhe para o seu reflexo…”), somos informados: “Esse passo deve ser praticado antes de realizar o passo anterior. ”

O parágrafo três é, portanto, um exercício preliminar a ser praticado antes das instruções dadas nos parágrafos um e dois. A postura de morte adequada é, portanto, dada no parágrafo um. Então, para esclarecer:

1 – Pratique olhar fixamente para seus olhos no espelho, até que seu reflexo pareça bizarro. Entendo que não ajuda neste ponto quando Spare lhe diz para fechar os olhos e visualizar, e então passa a descrever algo que você deveria ver (“sempre na forma de X em curiosas evoluções”), que eu proponho que use a imagem deixada na retina – na verdade, é muito semelhante a um exercício budista), mas o ponto é que você se concentra em algo, nunca deixando ir, até atingir “uma sensação de imensidão.. cujo limite é impossível alcançar.”

Spare é bastante explícito quando diz que isso deve ser experimentado antes de praticar a postura de morte adequada. Em outras palavras, você deve ter um certo grau de proficiência em concentração. Conhecendo o histórico mágico de Spare, acredito que ele está aqui descrevendo dhyana (estados de absorção).

Deve-se notar que não há nada de especial neste exercício de concentração, como Spare explica um pouco mais tarde: “Existem muitos exercícios preliminares, tão ​​quanto há pecados, fúteis por si sós, mas que conduzem aos mesmos meios” (pág 235).. Uma vez que Dhyana seja alcançada, podemos passar para a própria postura da morte.

2 – A postura da morte requer um certo grau de relaxamento e, para obtê-lo, primeiro você pode esticar todo o corpo e hiperventilar. Claro, você também pode correr ou levantar alguns pesos – o objetivo é ficar relaxado para a prática da postura adequada. Só para ser explícito: prender a respiração até desmaiar não é a postura da morte.

3 – Assim, uma vez que um grau de competência em concentração seja alcançado (ou seja, você pode entrar em um estado de dhyana, ou transe), você pode agora praticar a postura adequada descrita no primeiro parágrafo.

Eu acredito que a maior dificuldade em entender a postura da morte está no fato de que Spare parece estar nos dizendo para deitar, bocejar, sorrir e ‘deixar ir’ todas as nossas preocupações. Mas isso não está correto. A postura é realmente deitada de costas, relaxado, sem  preocupação do mundo. No entanto, se você acha que ele está defendendo o relaxamento pelo relaxamento, você está perdendo o ponto. Se dermos uma olhada no próximo parágrafo. Spare diz:

“… saiba que isso é a negação de toda fé ao simplesmente vivê-la, é o fim da dualidade da consciência… Eis a postura da morte e sua realidade na aniquilação da lei – uma ascensão que se afasta da dualidade.”(pág 235)

O objetivo da postura da morte não é alcançar a “gnose” para “carregar” um sigilo, mas experimentar o não-dual. Spare está falando sobre samadhi, ou a experiência do que ele chamou de Kia.

Spare elabora a prática:

“Não se atinge a vacuidade primordial (da crença) pelo exercício de concentrar a mente na negação de todas as coisas concebíveis, identidade entre unidades e dualidade, caos e uniformidade, etc, mas só ao fazer isso agora, não depois. Perceba e sinta sem necessidade de um oposto, mas pelo que há de relacionado. Perceba a luz sem sombra como contraste, mas pela própria cor, evocando emoção do riso no momento do êxtase em união,  e também pela prática até que a emoção se torne sutil e duradoura. A lei da reação é anulada pela inclusão… Pratique diariamente, portanto, até chegar ao centro do desejo, e assim terá arremedado o grande propósito. Desse modo, todas as emoções encontrarão um equilíbrio no momento em que emanarem até se tornarem uma. Assim, ao bloquear a crença e o sêmen da concepção, elas se tornam simples e cósmicas.” (pág 235-236)

A ‘vacuidade primordial’, ou Kia, é alcançada cultivando a consciência da sensação imediata. Por exemplo, em vez de experimentar uma sensação e entendê-la como “apertada”, simplesmente experimente a sensação. A atitude mental correta é aquela que você experimenta quando você ri; você aceita toda experiência e sensação (incluindo a sensação de pensamentos) sem resistência.

Se essa atitude de consciência inclusiva for cultivada pela prática diária, você acabará por experimentar um estado de não dualidade e bem-aventurança.

Os paralelos entre as instruções de Spare e as de Buda são bastante impressionantes. A postura da morte facilita a mesma consciência que a “prática do insight” ou vipassana, que só pode ser praticada com competência quando um grau de proficiência em concentração é alcançado.

Um Resumo Prático

1. Pratique exercícios de concentração até sentir dhyana.

2. Pratique estar ciente de todas as sensações e experiências à medida que surgem, sem fixar sua atenção ou se identificar com qualquer coisa. (A atitude correta pode ser engendrada sorrindo ou mesmo rindo.) Isso é mais fácil de fazer quando está relaxado, portanto, praticar após o exercício físico é o ideal. Alternativamente, a prática de insight, vipassana ou meditação taoísta obterá o mesmo resultado.

O ensino fundamental

Dos dezesseis capítulos do Livro do Prazer, oito tratam exclusivamente do não-dual ou Kia, expondo as virtudes da busca do não-dual, fornecendo instruções para alcançar o não-dual, ou detalhando o estado resultante uma vez que o o não dual é alcançado e se torna habitual (o que Spare chama de ‘Amor de si’).

Spare está essencialmente preocupado com o hedonismo. (Acho que o título do livro revela isso.) Se você deseja o máximo de êxtase e prazer possível, se deseja o maior grau de satisfação, deve se preocupar com o não-dual:

“Aquele que busca o prazer sabiamente, ao perceber que eles são “diferentes graus do desejo” e nunca desejáveis, renuncia tanto ao vício quanto a virtude e se torna um kiaísta. Montado no tubarão de seu desejo, ele cruza o oceano da dualidade e se lanã no amor-de-si.” (pag 211)

O amor-de-si é o estado que resulta da experiência habitual do não dual, obtido praticando a postura da morte todos os dias. É liberdade de desejo. Agora me diga, o que traz o maior prazer: usar sigilos para adquirir um efeito mágico ou a transcendência de todos os desejos?

Por muito tempo Spare foi homenageado como o pai da “Magia do Caos” e o inventor da Magia dos Sigilos. Mas sua maior conquista mágica, o ensinamento central do Livro dos Prazeres, ou foi mal interpretado como um componente arbitrário da magia de sigilos, ou completamente ignorado como divagações de um místico.

Com sua postura de morte Spare conseguiu condensar a essência de toda prática meditativa em um método muito simples, fácil e agradável de genuína realização mágica, e não por qualquer propósito espiritual elevado, mas simplesmente por causa do prazer.

Se você ainda acha que a magia não tem nada a ver com misticismo, ou está preocupada apenas com a manifestação de resultados materiais, considere o título do livro responsável por ‘começar tudo’O Livro do Prazer (Amor de si): A Psicologia da Êxtase.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-do-caos/a-postura-da-morte-uma-instrucao-definitiva/

O Taoísmo – Igor Teo

Bate-Papo Mayhem #096 – gravado dia 29/10/2020 (Quinta) Marcelo Del Debbio bate papo com Igor Teo – O Taoísmo

Os bate-Papos são gravados ao vivo todas as 3as, 5as e sábados com a participação dos membros do Projeto Mayhem, que assistem ao vivo e fazem perguntas aos entrevistados. Além disto, temos grupos fechados no Facebook e Telegram para debater os assuntos tratados aqui.

Site: igorteo.com.br

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Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-tao%C3%ADsmo-com-igor-teo

A Postura da Morte & a Nova Sexualidade

Desde tempos imemoriais, a partir do culto místico à múmia no Antigo Egito até o ritual da assunção de formas divinas praticado na Aurora Dourada (Golden Dawn), quando o Adepto Chefe (Sumo Sacerdote) simulava o papel de Christian Rosenkreutz e se deitava no túmulo (pastos), pronto para a ressurreição, o conceito de morte tem sido inseparável do de sexo.

A ilustração intitulada “A Postura da Morte” (ver ao lado), que forma o fronstispício do “Livro do Prazer”, de Austin Osman Spare, contém, numa forma alegórica, a doutrina completa da Nova Sexualidade.

A figura de Zos (o nome Zos não apenas é o nome mágico de Austin Osman Spare, como ele também considera no “Livro do Prazer” que “o corpo considerado como um todo eu o chamo de Zos”) está sentada à uma mesa circular repleta de imagens estranhas. Sua mão direita está pousada em seu rosto, selando a boca e impedindo o fluxo de ar (força vital) através das narinas; seus olhos se concentram com intensidade fixa em VOCÊ – a testemunha. Com sua mão esquerda ele escreve os caracteres místicos que materializam seus desejos sob a forma de “sigilos”. A identidade da mão com a serpente (isto é, phallus) é inequívoca. Ao redor desta figura, encontram-se as inumeráveis imagens de desejos passados, disfarçados sob formas humanas ou bestiais, elementares ou incomuns, algumas delas transfixadas pelo metal do ódio, outras elevadas pela sua mão direita ao local do amor, outras tantas em atitudes de entrega feliz, contemplativa ou sedutora, uma outra brilha através duma máscara impenetrável de êxtase interior, transcendendo a dualidade por um tipo de prazer além da compreensão. Diante de Zos, acima dele e à sua esquerda, encontram-se os crânios dos mortos. O crânio, emblema da morte, está colocado em lugar de destaque, envolto em seus cabelos desalinhados. A idéia é a de que a morte domina o pensamento ou, mais exatamente, todo pensamento é morto, totalmente nulo, e um nada intensamente hipnótico emana de seus olhos fixos no além; e, sob estes olhos, a mão sustenta a cabeça da mesma forma que um pedestal a um cálice.

Os dois instrumentos mágicos, o Olho e a Mão, estão submissos à morte; eles cumpriram seu objetivo único e encontraram a apoteose na aniquilação. Nenhuma respiração (princípio vital, prana) faz com que as formas imóveis à sua volta se mexam. Está implícito um estado de suspensão animada que simula a Morte (qhe, thané). A Morte ou thané é o motto (nome mágico ou iniciático) de Zos (Austin Osman Spare), cujo nome mágico completo era Zos vel Thanatos. Ele diz, em seu “Inferno Terrestre” escrito em 1905, que “a Morte é Tudo”.

Todas as religiões e cultos mágicos da antiguidade enfatizavam a idéia de morte, que era interpretada como um nascimento num outro plano da existência. Túmulo e útero eram termos intercambiáveis que denotavam as idas e vindas do ego em vários níveis ou planos da realidade, com o objetivo de fazer cumprir as leis do karma decretado pelo destino. A Morte é “a vinda daquilo que foi reprimido; o tornar-se pelo ir além, a grande chance: uma aventura na Vontade que se traduz no corpo”. Esta é a chave para a Postura da Morte, na verdade uma impostura, uma simulação de morte com o objetivo de permitir que o sonho reprimido emerja e se corporifique, se transforme em realidade.
Entretanto, a Postura da Morte é mais que uma simulação ritual da Morte, do mesmo modo que no ritual supremo da Maçonaria há (ou deveria haver) uma verdadeira ressurreição nascida da ressurreição teatral ensaiada com o objetivo de externar a verdade interior.

No “Alfabeto dos Símbolos Sensoriais” que Spare idealizou para formar a base de sua Linguagem do Desejo, um símbolo representa o Ego, ou princípio da dualidade, enquanto outro representa a “Postura da Morte”, a dissolução da dualidade no estado sem forma da Consciência Absoluta.

A “sensação preliminar” da Postura da Morte (conforme “O Livro do Prazer”) é um ótimo exemplo da habilidade de Spare de “visualizar a sensação”). A figura está curvada sobre si mesma num “estado de graça” de concentração interior e a “Estrela da Vontade” brilha em seu coração nas suas seis cores; a mão direita cinge uma arma invisível. A mão simboliza a Vontade Criativa e os Olhos, que simbolizam tanto desejo quanto imaginação, estão fechados ou cobertos. É fácil interpretar a gravura em questão como significativa de um intenso poder preso dentro do corpo que será liberado através de uma explosão que tomará uma forma desejada. É através da união entre vida e morte, entre a corrente ativa da Vontade e a corrente passiva da Imaginação, a união de Mão e Olho, que nasce o conceito da Nova Sexualidade. A compreensão plena da Postura da Morte leva à plena compreensão da sexualidade primal, irrestrita e “nova” (no sentido de “revigorante”).

Spare descreve a Postura da Morte como “uma simulação da morte através da negação absoluta do pensamento, isto é, a prevenção da transformação do desejo em crença manipulada por aquele, e a canalização de toda a consciência através da sexualidade”. “Pela Postura da Morte, permitimos que o corpo se manifeste espontâneamente, impedindo a ação arbitrária, causada pelo pensamento. Só os que estão inconscientes de suas ações têm coragem para ir além do bem e do mal, em sua sabedoria pura de sono profundo”.

Para se assumir corretamente esta postura é necessário “re-lembrar-se” (em inglês, um jogo de palavras com re-member, isto é, lembrar-se para transformar outra vez em membro ou parte integrante) daquela parte distante da memória subconsciente onde o conhecimento se transforma em instinto e, daí, em curso forçado, ou lei. Neste momento, que é o momento da geração do Grande Desejo, a inspiração flui da fonte do sexo, da Deusa primordial que existe no coração da matéria. “A inspiração sempre acontece num instante de esvaziamento da mente e a maioria das grandes descobertas é acidental, acontecendo geralmente após uma exaustão mental”, isto é, quando o “conhecimento” consciente foi descartado e a percepção puramente instintiva tomou o seu lugar.

A Postura da Morte é o somatório de quatro gestos (mudras) principais que constituem os sortilégios mágicos de Zos. Vontade, Desejo e Crença constituem uma unidade tripartite capaz de estremecer o subconsciente, forçando-o a ceder o seu potencial criativo. Este varia de acordo com a natureza do desejo e da quantidade de crença “livre” que o sigilo contem. Os métodos de energização da crença variam, mas a imaginação sugere o melhor deles. Em outras palavras, seja espontâneo, não dê espaço ao pensamento. Para reificar (transformar em algo real) o sonho ou desejo, Spare utiliza a mão e o olho. A nostalgia intensa faz com que se retorne a remotos caminhos passados e o desejo ardente se mistura com todos os outros, o Ser com o Não-Ser, de modo que um “espírito” familiar há muito esquecido acabe se tornando uma obsessão para a mente consciente; então, e só então, a experiência ancestral é revivida e se corporifica.

A corporificação de entidades mentais “ressuscitadas”, evocadas pelo desejo ardente de se entrar novamente em contato com elas, acaba se tornando “real” tanto para o olho quanto para a mão. Deste modo, o “corpo” é ressuscitado, não como um sonho enevoado, mas palpável ao toque e visível ao olho. “Do Passado chega este novo ser”.
A “ressurreição do corpo” está sempre acontecendo, inclusive no quotidiano, mas é uma ressurreição involuntária, freqüentemente anacrônica e, portanto, indesejada. Através do uso da teurgia auto-erótica de Zos é possível viver todas as “mentiras” e encarnar todos os sonhos agora, neste mesmo instante. No “Grimório de Zos“, Spare afirma que “a identidade é uma obsessão, um composto de múltiplas personalidades, cada uma delas sabotando a outra; um ego multifacetado, um cemitério ressurgente onde os demiurgos fantasmagóricos buscam em nós a realidade deles”.

Através da Postura da Morte, a nossa consciência sobre algo se identifica com a consciência dos que chamamos de outros; uma qualidade que, em si mesma, é uma não-qualidade, uma vez que ela não é isto nem aquilo. E, pela apreensão de Kia (Ser) como “nem isto, nem aquilo” (neither-neither, ou neti-neti dos budistas), nasce a nova estética ou percepção da sexualidade, que é a nossa percepção individual das coisas vista sob uma nova ótica, que também é a fonte de todas as percepções dos outros que nós freqüentemente “projetamos” como se fossem corpos femininos.

Isto nos leva ao estranho conceito de sexualidade que Spare utilizou como a base de sua teurgia. Todas as mulheres são vistas como formas de nossos desejos; elas são desejos sigilizados e, por causa da qualidade condicionada de nossas crenças, elas estão condicionadas e sujeitas a mudanças, surgindo em nossas mentes como a realidade dos outros que deseja unir-se à nossa realidade. “Feliz é o que absorve estes ‘corpos femininos’ – sempre projetados – pois ele adquire a percepção da verdadeira extensão de seu próprio corpo”.

Spare não restringe o significado da palavra “corpo” ao corpo físico; se este fosse o caso, não haveria qualquer sentido na sua declaração de que “a Morte é Tudo”, nem na glorificação da simulação de uma condição que decreta o fim do organismo físico. A frase “a verdadeira extensão de seu próprio corpo” envolve a percepção de um estado sensorial do qual o organismo físico é apenas uma reificação ou ressurreição (isto é, nosso próprio corpo é muito mais do que apenas seu limite físico nos faz crer, embora este possa “encarnar” sua verdadeira dimensão através da Postura da Morte). A doutrina de Spare, em última instância, prega a unificação de todos os estados sensoriais em todos os planos simultâneamente, de modo que o ego possa estar plenamente consciente de suas múltiplas entidades e identidades num “aqui” e “agora” que seja eterno. Este é o significado de “adquirir a percepção da verdadeira extensão de seu próprio corpo”.

No “Grimório” ele nos diz que: “nunca estamos completamente conscientes das coisas a não ser pelo influxo do desejo sexual que nos desperta esta percepção”, e a Postura da Morte concentra todas as sensações e as devolve a seu sentido primal, isto é, sexual, que confere ao corpo a percepção total de todos os planos simultâneamente. Sem o conhecimento de como assumir a Postura da Morte, “o ser existe simultâneamente em muitas unidades, sem a consciência de que o Ego é uma só carne. Que miséria maior que esta pode haver?”

No mesmo livro, Spare pergunta: “por que razão ocorre esta perda de memória através destas surpreendentes refrações da imagem original um dia percebida por mim?” A Postura da Morte contém a resposta a esta pergunta, pois, pela união da crença vital (i.e., desejo orgânico) com a vontade dinâmica se chega à “verdadeira extensão de seu próprio corpo”.

Êxtase, auto-amor perfeito (deve-se notar que a expressão ‘Self-love’ em Inglês também é um jogo de palavras com ‘Self’, auto e Ser Superior ou Eu Superior, e ‘love’ amor, significando também “amor pelo Eu Superior” além de ‘auto-amor’) contém sua apoteose na Postura da Morte, pois “quando o êxtase é transcendido pelo êxtase, o ‘Eu’ se torna atmosférico e não há lugar para que objetos sensuais reajam ou criem diferentemente”.

E assim se chega ao ponto focal do Culto de Zos Kia, que é implícito pela sigilização do desejo através de uma figura que não conserva qualquer semelhança gráfica com a natureza do desejo. De modo a escapar do ciclo de renascimentos ou reencarnações, devemos livrar-nos do ciclo transmigratório da crença, pois não devemos acreditar numa determinada coisa por nenhum período de tempo. Assim, através do paciente esvaziamento da energia contida em nossas crenças e pelo direcionamento da nova energia que desta forma é liberada para um auto-amor (Self-love) não-reacionário e sem necessidades, chegamos à negação do karma (causa e efeito) e alcançamos o universo de Kia (o ‘Eu’ Atmosférico). O verdadeiro autocontrole é conseguido “deixando os acontecimentos em nossas vidas seguirem seu curso natural. Quanto mais interferimos neles, mais nos tornamos identificados com o seu desejo e, portanto, sujeitos a eles.”

Esta doutrina se assemelha à filosofia de Advaita Vedanta, ou não-dualidade, embora não sejam exatamente idênticas. Spare acrescenta as seguintes palavras: “enquanto persistir a noção de que existe ‘uma força compulsória’ no mundo, ou mesmo nos sonhos, esta força se torna real. Devemos eliminar as noções de Escravidão e de Liberdade em qualquer situação através da meditação da Liberdade sobre a Liberdade pelo ‘nem isto, nem aquilo’ (neither-neither). E acrescenta: “não há necessidade de crucifixão.”

Desta forma, para se poder apreciar adequadamente a idéia da Nova Sexualidade, é necessário que a mente se dissolva no Kia e que não haja stress na consciência (i.e., pensamento), pois os pensamentos modificam a consciência e criam a ilusão absurda de que o indivíduo ‘possui’ a consciência.

O conceito da Mulher Universal, Aquela com quem Zos “caminhou na senda perfeita”, leva-nos à transcendência da dualidade. Ela é o glifo da polaridade perfeita que, em última instância, nos remete ao Nada. No culto de Crowley ela é Nuit, cuja fórmula mística é 0 = 2. A Consciência Absoluta (Kia, o Eu Superior), como o Espaço Infinito (Nuit), não tem limites; ela é o vazio-pleno, ou vazio fértil, sem forma e sem localização definida, significando coisa alguma, embora ela seja a única Realidade!

Nos recônditos mais ocultos do subconsciente, esta realidade se assemelha ao relâmpago, ou a uma luz faiscante de brilho intenso. Ela é o hieroglifo do desejo potencial, sempre pronta para penetrar numa forma e se transformar na “concretização de nosso último Deus”, i.e., a corporificação de nossa crença mais recente.
Este desejo primal, esta sexualidade ‘nova’ ou imemorial, é o unico sentido verdadeiro. Ele é o fator constante em nossa mutabilidade. Quanto mais este sentido puder ser ampliado de modo a abranger todas as coisas, tanto mais o Eu Superior (Self) poderá realizar-Se, fazer-Se entender, fazer-Se conhecer e, finalmente, ser Ele mesmo, integralmente, eternamente e sem necessidades. “A nova lei será o segredo do provérbio místico ‘nada importa – nada precisa ser’; não existe nenhuma necessidade, que sua crença seja simplesmente ‘viver o prazer’ (a Crença, sempre buscando sua negação, é mantida livre pela sua retenção neste estado de espírito)”. Isto é muito parecido com o credo de Crowley “faze o que queres”, embora haja uma diferença. O Caminho Negativo do Taoísmo e o Caminho Positivo do hinduísmo tradicional se relacionam da mesma forma que o Auto-amor e o Culto de Zos Kia e a Lei de Thelema e “amor sob vontade”.
Para Spare, a mulher simboliza o desejo de se unir com “todas as outras coisas” como Eu Superior (Self); não as manifestações individuais da mulher, mas a mulher primordial ou primitiva da qual todas as mulheres mortais são fragmentos de imagens refletidas.

Podemos chamar este conceito inconcebível de sexo, desejo ou emoção; ou ainda, personificá-lo como a Deusa, a Bruxa, a Mulher Primitiva, que é a cifra de toda intertemporalidade, o êxtase alusivo ao caminho do relâmpago que Zos chamava de “o precário caminho do prazer ambulante”. Para adorar a esta mulher primitiva não se pode aprisioná-la numa forma efêmera e limitá-la a isto ou aquilo, mas se deve transcender o isto ou aquilo de todas as coisas e experienciá-la na unidade do auto-amor (Self-love).
Spare não a materializou arbitrariamente como Astarté, Ísis, Cibele ou Nuit (embora ele freqüentemente a desenhasse nestas formas divinas), pois limitá-la é sair do caminho e idealizar o ídolo, o que é falso porque é parcial, e irreal porque não é eterno. “Os possessivos personalizam, idolatram o amor, daí seu despertar mórbido…” (‘O Grimório de Zos’). A utilização de tais ídolos não apenas é permitida como desejável, com o objetivo de armazenar crenças livres durante um período inativo ou não-criativo, quando a energia não é necessária. Entretanto, a principal objeção ao uso continuado de ídolos é que ‘o que é familiar nos induz ao cansaço e este nos leva à indiferença; que coisa alguma seja vista desta maneira. Que possamos ver de modo visionário: cada visão, uma revelação. O cansaço desaparece quando esta é a atitude constante’, i.e., quando a imagem é sempre nova e a sexualidade, portanto, constantemente estimulada através de novas inspirações.

Por não permitir que a crença livre seja aprisionada numa forma divina específica, o impacto da visão como revelação pode ser facilmente incutido, acabando-se com a esterilidade. Uma das máximas fundamentais de Spare é a de que “o que é comum é sempre estéril” (‘O Grimório de Zos’), pois não se pode criar a partir de imagens comuns ou familiares. Esta familiaridade conduz à desvitalização, preguiça e atitudes convencionais, o caminho mais fácil para se evitar os obstáculos. “Se eu superar este cansaço indesejado, transformar-me-ei num Deus”. A mente deve estar treinada para conseguir enxergar de modo sempre renovado e a fórmula de Spare para conseguir isto é “provocar a consciência pelo toque e o êxtase pela visão… Permita que sua maior virtude seja a o Desejo Insaciável, a corajosa auto-indulgência e a sexualidade primal”.

A chave para a sexualidade primal, ou Nova Sexualidade, é dada no livro The Focus of Life (“O Objetivo da Vida”) onde Zos exclama: “livre-se de todos os meios para atingir um fim”. É o caminho do imediatismo em contraste com o do adiamento da realidade numa simulação desenergizada: “faça agora, não daqui a pouco…pois o desejo só é realizável pela ação” (esta é, sem dúvida, uma crítica direta que Spare faz das pomposas técnicas ritualísticas praticadas na Aurora Dourada, da qual ele foi membro em 1910).  Continua ele: “o objetivo final é alcançado não pela mera pronúncia das palavras ‘eu sou o que eu sou’, nem pela simulação, mas pelo ato vivo. Não pretenda ser o ‘eu’ apenas, seja o ‘Eu’ absoluto, completo e real, agora.”

Esta é a teurgia da transformação da Palavra em carne. No “Livro do Prazer”, ele pergunta: “porque vestir robes e máscaras cerimoniais e simular posturas divinas? Não é preciso repetir gestos ou fazer imitações teatrais. Você está vivo!” Este é o motivo pelo qual Spare rejeitava as práticas de seus colegas magos e daqueles que simplesmente “ensaiam” a realidade, em detrimento da sua verdadeira vitalidade e desejo, através de uma simulação que, em última instância, acaba negando a própria realidade! Spare alega que a magia simplesmente destrói a realidade por ser praticada num momento em que o Eu Superior não é real nem vital, em que Ele não é todas as coisas ou em que o poder para se transformar em tudo não está presente. As pessoas “prezam magia cerimonial ou ritual e o palco mágico acaba cheio de fãs. Será através de mera representação que nos transformaremos naquilo que estamos representando? Se eu me coroar Rei, transformar-me-ei num? Mais certamente, transformar-me-ei num objeto de piedade ou desgosto.”

Estes ensinamentos, desenvolvidos por Spare antes da I Guerra Mundial, estão muito próximos das doutrinas da Escola Ch’an de Budismo, cujos textos principais apenas recentemente foram colocados à disposição do público em geral.

Livrar-se de todos os meios para atingir um fim é simples de se dizer, mas não tão simples de se fazer. Um desenvolvimento pleno do senso estético é necessário, pois sem este não é possível aceitar nem entender a doutrina da Nova Sexualidade, seja intelectual ou simbolicamente. Isto pode ser conseguido pela saturação do complexo corpo-mente nas emanações sutis do Culto de Zos Kia, através do acompanhamento do trabalho de Spare em direção às células iluminadas do subconsciente; pela aquisição de uma percepção ultra-sensível para as situações do quotidiano, como se elas não estivessem distanciadas do Eu Superior. Spare compreende a Natureza inteira (o universo objetivo) como o somatório de nosso passado, simbolizado, aparentemente cristalizado fora de nós mesmos. Apenas o potencial, naquele exato instante meteórico de sua manifestação, deve ser agarrado e tornado vivo num segundo de êxtase, pois “quando o êxtase é transcendido pelo êxtase, o ‘Eu’ se torna Atmosférico (Superior) e deixa de haver espaço para que os objetos sensuais criem de modo diverso…”

Contudo, não se consegue localizar a Crença Suprema na Natureza porque, tão logo a Palavra tenha sido pronunciada, sua realidade se transforma em passado, já não é mais uma realidade agora, podendo apenas reviver pela ressurreição quando recriada em carne; entretanto, o que confere realidade a esta Crença não é aquele que pronuncia a Palavra, nem a pronúncia Dela em si, mas uma sutil e vaga intertemporalidade que ocorre numa fração de segundo de êxtase. “Não existe verdade falada que não seja passada, sábiamente esquecida” (‘O Anátema de Zos’). No ‘Grimório’, Spare ainda nos diz que “esta fração de segundo é o caminho que deve ser aberto…” Este caminho e o caminho do relâmpago são sinônimos e descrevem um estado indescritível que é não-conceitual: Neither-Neither (‘nem isto, nem aquilo’), Self-love (‘Auto-amor’ ou ‘Amor pelo Eu Superior’), Kia, ou a Nova Sexualidade.

A arte de Spare não é conhecida do grande público nem recebeu o merecido reconhecimento, e seu sistema intensamente pessoal de bruxaria ainda não abriu seu caminho na estrutura do ocultismo moderno. Entretanto, existem indícios de que não será preciso muito tempo mais para que sua magia verdadeira receba um poderoso estímulo da corrente mágica deste final de século, pois se houve alguém no início deste que antecipou e interpretou corretamente tal corrente, este alguém certamente foi Austin Osman Spare.

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-do-caos/a-postura-da-morte-a-nova-sexualidade/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-do-caos/a-postura-da-morte-a-nova-sexualidade/

Desvendando o Onmyoudou

Aoi Kuwan

O Onmyoudou (leia-se onmyodo) é um sistema de magia oriental que abrange princípios do taoísmo, do budismo, do shungendou e do xintoísmo. Eu já havia comentado brevemente sobre ele aqui.

Sei que fiquei devendo em falar um pouco mais sobre essa arte, já que as informações são escassas e nada confiáveis. Ao invés de explicar os conceitos pouco a pouco, decidi fazer o contrário: reuni uma lista de grandes bobagens que circulam da internet sobre Onmyodou, e agora vocês saberão como surgiram essas esquisitices e a como filtrar melhor as informações que procuram.

Shikigami

São entidades criadas e ou evocadas pelo magista para determinado fim. Diferente dos seres elementais/familiares parecem depender muito da capacidade do magista em questão nos quesitos energia e controle dessa energia, assim sendo sempre dependentes de alguma forma do mago que os ‘gerou’. Os Shikigamis “básicos” que protegem, auxiliam e até emprestam poder para o onmyoji são os chamados Zenki e Goki (ou ainda há uma tradução Kouki para esse último, embora não seja utilizada), cada um feito de uma polaridade Yin-Yang oposta.

A.K. A primeira parte do texto está parcialmente correta. Shikigamis são entidades criadas pelos magistas para determinado fim. Se assemelham aos elementais artificiais dos sistemas ocidentais e, exatamente por serem criados pelos onmyouji, dependem de sua capacidade e de sua energia.

A segunda parte do texto já é um completo FAIL. Novamente, exatamente pelo fato de serem criados, é muito difícil um onmyouji possuir mais do que UM shikigami. Dizem que Abe no Seimei chegou a possuir 12 shikigamis ao longo de sua existência, mas, de qualquer forma, é necessário ser um onmyouji muito avançado para possuir mais do que um.

Os shikigamis são criaturas pessoais e recebem o nome que o magista der para eles. Zenki e Goki são dois onis que passaram a servir Ozunu, tido como fundador do Shugendou. Ou seja, eles não são shikigamis, quanto mais shikigamis “básicos”. Esse hoax de que seriam shikigamis e que protegeriam onmyoujis surgiu do anime Shaman King. O personagem principal, Yoh Asakura, é de uma família de onmyojis. Seu irmão gêmeo, Hao Asakura, é a reencarnação de um poderoso onmyoji, antepassado da família que possuía dois shikigamis chamados Zenki e Koki.

Para saber mais sobre a lenda de Ozunu, Zenki e Goki: http://dungeon.taisa-labs.com/facts/ask_ozunu_who_zengoki.htm (em inglês)

Onmyoujutsu é uma técnica de magia baseada nos conceitos do Yin-Yang que utiliza vários “encantamentos” e invocação de shikigamis (espiritos demoníacos), para defender ou libertar pessoas.

A.K. Shikigamis são criaturas criadas da energia do e pelo próprio onmyoji. Não há nada de demoníaco num shikigami.

Alguns exemplos de Onmyoujutsu e suas respectivas traduções:

A.K. Jura que você vai encontrar onmyoujutsu na internet em pleno século XXI, sendo que o Onmyouryou (espécie de secretaria a qual todo onmyouji estava vinculado) foi extinto no início da era Meiji devido ao poder que os onmyoujis exerciam, razão pela qual é tão difícil achar informações mesmo em japonês.

Enfim… já adiantando o que vem por aí, os “onmyoujutsus” abaixo foram todos usados pelos personagens do mangá X/1999, da CLAMP. Ou seja, são fantasia, não são encantamentos verdadeiros. Eles funcionam tanto como os encantamentos de Harry Potter, os do seu livro de RPG, ou os de qualquer obra FICCIONAL, de LITERATURA ou ENTRETENIMENTO, fui clara?

“On vajra dharma kiri shawa” – Invoca ou sela um espírito.

“Rin pyo to sha kai chin retsu zai zen” – Exorciza espíritos consumidos por demônios ou outras criaturas ocultas.

A.K. Essas palavras são os nomes dos mudras do Kuji-In, usadas também no Kuji-Kiri. Simplesmente recitá-las não faz absolutamente NADA, ainda mais se não se tem o devido preparo, sem saber o seu significado, nem nada. Recitá-las tendo uma idéia do que fazer, mas sem saber o que fazer exatamente, causa um baita desequilíbrio nos chakras.

“On abokya beiroshanam” – Cria uma barreira espiritual (kekkai).

A.K. hauahuahauahauhaauhauahauaha. Momento para me recompor. Criar uma kekkai é algo extremamente complexo que leva anos de treinamento! Ela é muito mais forte do que o Ritual Menor do Pentagrama, que era ensinado aos neófitos da Golden Dawn. Jura que recitar um simples mantra irá construir uma kekkai!

“Makabodara… Manihandomajin… Parahara paritayanam” – Liberta espíritos presos dentro de objetos. Normalmente usado em espíritos irritados ou perigosos.

“On batarei yo sowaka” – Liberta espíritos presos dentro de objetos. Normalmente usado em espíritos pacíficos.

“On sanmaji handomei kiriku” – Convoca espíritos assombrando uma área.

“Noumaku shamandra bastra donkam” – Cria chamas para engolir um espírito ou outra criatura oculta.

“Rin pyo to sha… Kai chin retsu zai… Zen…” – Cria uma luz espiritual que ajuda a acalmar os espíritos.

A.K. Olha o Kuji-In aí de novo. Ele é muito utilizado em mangás e animes como base para “encantamentos”. Em Sailor Moon (episódio 10 da primeira fase), Rei Hino (Sailor Marte) recita essas mesmas palavras no episódio em que ela recebe seus poderes para ter visões em uma fogueira.

Link do You Tube para os preguiçosos: http://www.youtube.com/watch?v=vR-M6elRTYg (a partir de 1:02)

“On kirikyara harara futaranbaswoha” – Desmorona uma barreira espiritual ou queima o espírito de vigilância ausente (ofuda).

“Nouboua-kyasha… Kalabhaya-on-arikya… Maribhori-showaha…” – Permite que o espírito de quem a usa possa entrar em outro corpo e interagir com a alma que anima este. Comumente usado para entrar no Chakra do Coração de outra pessoa.

A.K. Depois as pessoas desequilibram seus chakras, ficam doentes, tudo começa a dar errado para elas e elas não sabem por quê.

“On sowahanba shuda saraba tamara sowahanba shudo kan… On tatagyato dohanbaya sowaka… On handobo dohanbaya sowaka… Onbazoro dohanbaya sowaka… On basaragini harajihattaya sowaka… On barodaya… sowaka” – Cria uma Kekkai (barreira) poderosa usando um ofuda molhado para proteger de energias mágicas já estabelecidas dentro de uma área.

A.K. Um simples mantra não cria uma kekkai, um mantra mais “encorpado” tampouco irá criar. Um ofuda só funciona com a sua respectiva kotodama e, ainda assim, um ofuda também não é capaz de criar uma kekkai. Pelo amor dos deuses! Quer saber por que não cria? Primeiro, procure saber como é o Ritual Menor do Pentagrama, depois, considere que uma kekkai é muito mais forte do que ele. Agora, leia meus posts “Os três mistérios do Shingon” e “Como funciona um Ofuda” que você vai entender.

“On boku ken” – Usado como uma Kekkai-barreira- para parar energias mágicas dentro de uma área. Normalmente destrói a Kekkai-barreira- no processo.

“Shuku… Dou… Shou…” – Invoca um espírito cerimonial (Shikigami).

“Hikuu” – Normalmente usado depois de invocar um Shikigami para fazê-lo atacar.

“Rin… pyou… tou… sha… kai… jin… retsu… zai… zen” – Utilizado em conjunto com uma faca cerimonial para controlar um shikigami para atacar outra criatura oculta em áreas distantes da redondeza.

A.K. Mais uma vez o Kuji-In. Sério, a CLAMP bem que podia ser mais original, não é?

“Noubu aratannou tarayaaya… Nou makuariya mitabaya… Tatagyataya arakatei sanmyaku sambodya…” – Magia poderosa que purifica uma área de feitiços e criaturas ocultas, bem como criar uma Kekkai para proteção adicional.

“Saraba arata sadanei… sarabakyara kishougyarei…” – Usado para exorcizar espíritos ou outras criaturas ocultas.

“Amirita gyarabi… Amirita shiddi… Amirita teisei… Amirita beki andei… Kisha yogyarei sowaka…” – Magia poderosa que ataca e defende contra magia ofensiva.

“Namah samanta buddhanam Indraya svaha…” – Uma magia de ataque que invoca um raio do relâmpago(?).

A.K. Repetindo, já que repetir nunca é demais: esses “encantamentos” foram todos retirados do mangá X/1999, da CLAMP. Ainda que sejam baseados em mantras de verdade, eles não são técnicas verdadeiras do Onmyoudou, eles não funcionam! Nem preciso lembrar que recitar palavras em sânscrito (ou em qualquer idioma) sem saber o seu significado é a mesma coisa do que brincar com fogo, não é?

Observações:

*Os textos aqui em maioria são traduções do japonês, chinês para o inglês, e do inglês para português, então algumas falhas de tradução são comuns de serem encontradas.

A.K. Volta e meia eu procuro por informações sobre Onmyodo na internet em chinês e em japonês (e, apenas para constar, eu tenho nível intermediário em língua japonesa – o tradutor do Google até que dá uma mão, mas ele é uma porcaria em língua japonesa, para não dizer coisa pior) e eu NUNCA li nada parecido nessas línguas. Muito menos em inglês.

Não vou divulgar de onde eu tirei esses textos porque meu objetivo não é “atacar” ninguém. Qualquer pessoa com o mínimo de juízo e bom senso, que estude qualquer tipo de sistema de magia, sabe que esses textos são fantasia.

Acontece que, como vocês podem observar, a maioria das informações que circulam pela internet sobre o assunto são retiradas de animes e mangás por alguém sem mais o que fazer, e reproduzida por pessoas interessadas que, sem ter fontes confiáveis, acaba acreditando por ser a única coisa que encontrou.

Só que o problema começa quando alguém resolve pegar algum desses “encantamentos” aí de cima para ver “se funciona mesmo”, faz alguma besteira e se prejudica, tal qual fazem os satanistas de Orkut.

Muito pior, na verdade, porque um encosto ocidental é mais fácil de se livrar do que um encosto oriental. Quero ver encontrarem um sacerdote taoísta ou xintoísta para se livrar da criatura. Por essas e outras que vocês jamais verão um post meu ensinando como fazer ofuda.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/asia-oculta/desvendando-o-onmyoudou/

As raízes judaicas da Magia Sexual

Excerto de “Modern Sex Magick” de Donald Michael Kraig

Para aqueles que não estão familiarizados, a história da magia sexual começa com os Cavaleiros Templários. Fundado em 1118 EC, o propósito declarado dos Templários era proteger os peregrinos que iam para o Oriente Médio durante a Segunda Cruzada. A história dos Templários é bastante fascinante, mas para nossos propósitos basta dizer que eles foram suprimidos em 1312 por autoridades religiosas e temporais que tinham inveja de seu poder e riqueza. Vários dos seus membros foram presos ou mortos. Seu líder, Jacques DeMolay, foi queimado vivo. Os Templários, como outros acusados ​​de heresia, feitiçaria e prática de magia, foram acusados ​​de uma litania de crimes. Essas acusações provavelmente foram apenas um ardil perpetuado pela igreja e pelo estado para obter a imensa riqueza e amplas propriedades que os Templários possuíam. A história aceita é que os templários aprenderam magia sexual com os sufis do Oriente Médio, que a aprenderam com os tântricos da Índia. Os alquimistas medievais receberam esta informação dos Templários e a codificaram em alguns ensinamentos em suas obras. Eventualmente, Aleister Crowley, que aprendeu sobre magia sexual em suas viagens à Índia e à África, começou a experimentar tanto as técnicas tradicionais quanto as suas próprias técnicas recém-criadas.

Enquanto isso, um homem chamado Pascal Beverly Randolph havia descoberto os segredos da magia sexual ou inventado algumas novas técnicas também. Nascido em 1815, era filho de um médico e de uma dançarina de salão. Tornou-se grumete e aprendeu o ofício de marinheiro, tornando-se em seguida mestre de embarcação. Ser marinheiro permitiu-lhe viajar muito. Aos vinte e cinco anos, foi iniciado na Irmandade Hermética de Luxor. Em 1868 (depois de várias viagens à França), fundou a Irmandade de Eulis, que acabou tendo muitos seguidores. Ele publicou um livro (Magia Sexual) que postulava um tipo de bissexualidade espiritual junto com a ideia de que o orgasmo era mágico e sagrado. Randolph influenciou as pessoas que recriaram os Cavaleiros Templários na forma da Ordo Templi Orientis (OTO). Crowley se juntou a esta Ordem e, eventualmente, após uma batalha divisória, tornou-se seu chefe. Hoje, assim como a maioria dos ensinamentos sobre magia cerimonial foi filtrada pelas lentes dos membros da Golden Dawn, também a maioria dos ensinamentos sobre magia sexual foi filtrada através da lente de Aleister Crowley e da OTO.

A história acima é precisa, mas representa apenas uma parte da corrente. É uma versão um tanto quanto limitada da história da magia sexual ocidental – uma visão de túnel que ignora a realidade mais ampla e falha em duas áreas:  Primeiro, não identifica onde e como a magia sexual se desenvolveu originalmente. Em segundo lugar, implica que a magia sexual permaneceu relativamente inalterada ao longo do tempo (especialmente no último século) e simplesmente transportada para o presente. De fato, há ampla evidência de que a magia sexual tem uma história muito mais ampla do que é comumente reconhecida. Para entender essa história mais profunda, no entanto, devemos primeiro examinar a natureza da Cabala.

Nos últimos anos, tive a sorte de dar palestras em todos os EUA, da Flórida a São Francisco e de San Diego a Nova York. Uma das coisas que faço agora perto do início de cada palestra, não importa o assunto, é escrever as seguintes letras no quadro-negro: T F Y Q A

As letras representam as palavras em inglês para “Pense por si mesmo. Questione a autoridade”. Continuo explicando que simplesmente porque eu ou qualquer outra “autoridade” ou autor escreve ou diz algo não o torna verdadeiro. Eu sempre peço aos meus alunos que ouçam o que eu tenho a dizer, mas depois que verifiquem. Encorajo as pessoas a confiar em si mesmas em vez de acreditar em um líder ou professor, mesmo quando esse professor seja eu.

Muitos de vocês, sem dúvida, estão familiarizados com a Cabala. São os fundamentos místicos do judaísmo, do cristianismo e até, até certo ponto, do islamismo. Aqueles de vocês familiarizados com a Cabala usada em grupos ocultistas conhecem suas teorias sobre a Árvore da Vida com suas correspondências, bem como os sistemas numerológicos como a gematria. Na minha biblioteca, tenho bem mais de 1.000 livros especificamente relacionados à Cabala ou associados a ela. A maioria deles são semelhantes em conteúdo, simplesmente expressando as mesmas coisas de maneiras diferentes. Todos eles alegam explicar as bases do que é a “A” Kabalah.

Todos eles estão errados.

Para aqueles de vocês que foram estudantes da Cabala, eu lhes peço que reflitam sobre estas questões: Não é possível que a Cabala seja muito mais do que gematria, notarikon, temurah e a Árvore da Vida e suas correspondências? Se sim, então por que tão pouco se sabe de outros aspectos da Cabala? Para responder isso temos que olhar um pouco de história.

Nos anos 1700, um grupo de judeus ortodoxos e piedosos se formou na Europa Oriental. A palavra para “piedoso” em hebraico é Hasid (pronuncia-se: “RASSID”). Assim, essas pessoas ficaram conhecidas como os “Piedosos” ou os Hasidim.

Anteriormente, o judaísmo místico incluía muitas maneiras de desenvolver poder sobre o ambiente: o que hoje chamaríamos de magia. Mas os hassidim não queriam nada disso. Eles buscavam a exaltação espiritual, não a capacidade de mudar o mundo. Eles queriam aumentar o poder de suas orações, não o poder sobre as coisas ao seu redor. Como resultado, eles se concentraram nos aspectos mentais da Cabala, incluindo correspondências sobre a Árvore da Vida, meditação sobre como Deus criou o mundo e as manipulações de letras e números, uma versão moderna (para a época) de formas místicas mais antigas do que é chamado de “magia das letras”.

Como essa informação era mística, era inevitável que ela chegasse ao mundo oculto local (alemão), onde se tornou parte da tradição maçônica daquele país. Esses ensinamentos foram posteriormente traduzidos para as línguas românicas e acabaram se tornando, para muitas pessoas, os ensinamentos centrais da Cabala.

Mesmo depois dessa história, muitas pessoas vão duvidar do que estou dizendo sobre a Cabala. Peço-lhe, então, que olhe para o único trabalho publicado que é aceito como talvez o texto cabalístico mais importante – o Zohar. Há muito pouco lá sobre tal numerologia. O mesmo ocorre no pequeno mas importante livro cabalístico primitivo, o Sepher Yetzirah.

Para resumir, a versão da Cabala que é mais amplamente aceita entre os ocultistas hoje é basicamente nada mais do que parte dos ensinamentos místicos dos hassidim alemães. Isso não torna tais estudos de forma alguma “ruins” ou “errados” ou mesmo incompletos. Em vez disso, simplesmente indica que tais estudos são apenas uma abordagem em um tipo ou escola da Cabala,  e não na coisa toda.

Quando comecei a estudar a Cabala, ou melhor, o que é comumente conhecido entre os ocultistas ocidentais por esse nome, eu era como um cachorro faminto na loja de um açougueiro de bom coração. Eu queria provar e experimentar tudo.

Para quem não conhece a gematria, sua ideia básica é simples. Cada letra hebraica está associada a um número. Soma-se os números das letras de uma palavra e, se forem iguais ou tiverem relação com os números de outra palavra, há uma relação entre as duas palavras. Em Magia Moderna dei o famoso exemplo que mostrava como, em hebraico, a enumeração da palavra “amor” era igual ao valor numérico da palavra “unidade” e como, quando suas numerações são somadas, o total é igual a o valor numérico de uma palavra hebraica para “Deus”. É um sistema numerológico simples que, neste caso, indica que Deus é uma unidade e que Deus é amor.

Muitas noites eu ficava acordado até as primeiras horas da manhã seguinte me debruçando sobre cálculos para tentar provar alguma coisa. Analisei meu nome mágico de três letras escolhido em um papel que tinha várias páginas. Da mesma forma, tenho visto pessoas analisando seções das obras de Aleister Crowley, rituais da famosa Ordem Hermética da Golden Dawn, seções da Bíblia, etc., por mais páginas do que gostaria de lembrar.

Mas um dia percebi que faltava algo. Fiquei com a pergunta atormentadora que Peggy Lee fez em sua música: “Isso é tudo o que existe?” Depois de anos de manipulação numerológica cabalística, cheguei à conclusão de que – para mim, pelo menos – uma exploração mais aprofundada já não provava nada de importante. Percebi que havia se tornado uma estrada falsa, como um falso vidente que parece dar muitas informações, mas na verdade fala pouco.

Claro, eu poderia passar horas provando que as palavras estavam relacionadas. Esse tipo de trabalho ainda é feito hoje (veja, por exemplo, os livros de Kenneth Grant) e pode ser de grande valia para pessoas que sentem que precisam desse tipo de prova. Para eles, esse trabalho é importante e valioso. Eu também precisei disso no passado e recebi isto muitas recompensas e insights espirituais.

Mas para mim, os ensinamentos comumente considerados o núcleo da Cabala agora pareciam nada mais do que uma forma de masturbação mental. Para o exemplo de “amor mais unidade é igual a Deus”, eu disse: “E daí? Isso já não é aceito por muitos (inclusive eu)?” Eu já sabia disso. Eu não precisava “provar” isso para mim ou para qualquer outra pessoa. Sei que a Declaração da Independência foi assinada em 1776. Não preciso passar horas tentando provar que esse evento aconteceu. Não preciso ler centenas de livros para saber que esse evento ocorreu em um determinado ano. Fazer tal estudo neste momento da minha vida seria chato e uma perda de tempo. Um dos tipos de pessoas que encontramos no caminho oculto é o “mago de poltrona” que fará alguma magia assim que “acabar com mais um livro” ou “construir mais uma ferramenta mágica”. Ele não consegue nada prático porque nunca faz mágica. Sim, ele ganha conhecimento, o que certamente é um objetivo digno em si. Mas o conhecimento por si só não é o objetivo de um mago praticante. Para todos os efeitos práticos, ele está fazendo o mesmo trabalho que os do místico hassídico do século XVIII. Isso não era o suficiente para mim. Um mágico de poltrona não era alguém que eu queria ser. Esta foi uma grande crise. Eu estava prestes a perder completamente meu interesse pela Cabala – algo que havia me transformado e tinha sido o maior interesse da minha vida por mais de vinte anos. Eu hibernei, fiz leituras de tarô para mim mesmo e meditava. Então, um dia, ficou claro.

Experiência! Era isso que faltava em todas as manipulações numerológicas. Cheguei à conclusão de que pensar em algo não era suficiente para mim. Eu sou ação. E embora muitas das técnicas cabalísticas que usam a numerologia cabalística para fazer talismãs bem-sucedidos, por exemplo, proporcionassem uma gratificação tardia quando o talismã atingia seu objetivo, eu queria algo mais imediato. Eu conhecia apenas uma técnica que forneceu a aventura, ação e experiência que eu desejava: Pathworking cabalístico.

Devido a muitos trabalhos publicados, o termo pathworking perdeu seu significado original. Hoje, pathworking significa qualquer tipo de meditação guiada em que se faz uma viagem mental ou astral visualizada ou algum tipo de viagem. Eu uso a expressão “pathwork cabalístico para representar o significado original da palavra pathworking: andar na Árvore da Vida cabalística enquanto estiver no plano astral. A chave aqui é ser capaz de separar a consciência do corpo e viajar no plano astral. Em outras palavras, esta técnica cabalística requer que você alcance um estado alterado de consciência. Exceto pelos métodos fornecidos em fontes como The Golden Dawn de Regardie e as várias versões dessas instruções que foram publicadas, pouca informação apareceu de um antigo ponto de vista cabalístico. Se o pathworking cabalístico requerer acesso ao plano astral através de um estado alterado de consciência, segue-se que deve haver métodos cabalísticos tradicionais para alcançar tal estado.

Um método que descobri nas obras de Aryeh Kapi era simplesmente colocar a cabeça entre os joelhos. Isso muda o fluxo de sangue para o cérebro, resultando em um estado alterado. No entanto, ao investigar mais, descobri outro método para alcançar um estado alterado, uma técnica que Marsha Schuchard chama de transe sexual. Este método faz parte da teoria cabalística, embora tenha sido ignorado pela maioria dos pesquisadores e praticantes, pois não era uma parte publicada do movimento hassídico alemão. E enquanto esta chave cabalística para o mistério tem estado no subsolo por mais de 2.500 anos, ela vazou ou foi redescoberta de tempos em tempos e formou a base da magia sexual ocidental, em todas as suas formas, como existe hoje. Eu precisava daquilo.

Se você ler a Bíblia como um tipo de história, verá que os profetas de todas as gerações criticaram os hebreus por não adorarem os deuses e deusas de outras culturas. A implicação disso é que os hebreus não eram monoteístas desde a época de Abraão, mas eram tão politeístas quanto suas culturas vizinhas. De fato, em The Hebrew Goddess, o respeitado antropólogo Raphael Patai mostra que os hebreus adoravam uma deusa tanto em suas casas quanto no templo sagrado em Jerusalém até a destruição do segundo templo em 70 EC, você encontrará frequentemente nos artigos sobre as práticas religiosas dos primeiros hebreus, práticas que incluíam a adoração tanto de um Deus quanto de uma Deusa.

Na maioria dos templos judaicos de hoje, o local onde reside a Torá – os primeiros cinco livros da Bíblia em forma de pergaminho – está localizado em uma plataforma elevada. Essa plataforma geralmente tem a forma de um tipo de palco onde o Rabino (o líder das orações) e o Cantor (o líder dos cantos ) também têm suas posições rituais. Esta área é conhecida como bimah (pronuncia-se: bee-mah). A palavra “bimah” significa uma plataforma ou palco. No entanto, a origem da palavra é bamah (bah-mah) que se refere à ideia de um “lugar alto”. No Oriente Médio, uma área elevada era comumente onde várias divindades, não apenas o Deus judeu, eram adoradas. Outros resquícios de tempos pagãos anteriores – incluindo a adoração da Lua como uma forma da Deusa Lunar Levanah (que agora é o próprio nome da Lua em hebraico) – também são encontrados em várias tradições folclóricas judaicas.

As primeiras formas de paganismo tinham vários propósitos, talvez o mais importante fosse a fertilidade. Os primeiros pagãos praticavam ritos para garantir a fertilidade das colheitas, rebanhos e pessoas. Freqüentemente, esses ritos incluíam comportamento sexual. Por exemplo, em algumas culturas, os pagãos teriam ritualizado a relação sexual em cima de colheitas recém-plantadas. Acreditava-se que a energia levantada durante seu rito, através da imitação de sua magia sexual elementar, ajudaria as plantações a crescer.

Existe alguma evidência de que os primeiros hebreus, como seus vizinhos politeístas, tinham ritos e mistérios sexuais? A resposta é sim. Na verdade, alguns desses ritos têm até versões modernas.

Um exemplo é a prática da circuncisão. Antes que essa prática fosse fixada no judaísmo para oito dias após o nascimento de um menino, provavelmente fazia parte dos ritos da puberdade. Em outras palavras, era realizada quando um menino atingia a maioridade como sinal de maturidade sexual. Os ritos de puberdade para meninos e meninas são comuns nas culturas pagãs. Em algumas culturas, os ritos de circuncisão masculina na puberdade ainda são praticados como parte dos “Mistérios Masculinos”. No judaísmo, os meninos ainda têm um tipo de tal rito (embora sem a circuncisão) quando passam pelo ritual de entrada na idade adulta conhecido como Bar Mitzvah. Mais recentemente, as meninas foram adicionadas a essa tradição quando passam por um Bat Mitzvah semelhante.

Na Torá, a circuncisão é um sinal de um pacto entre Deus e os judeus. Nisto se insinua a ligação entre sexualidade e espiritualidade. Outras vezes, você lerá sobre situações em que colocar a mão na “coxa” é sinal de acordo, geralmente entre um humano e o Divino. “Coxa” é um eufemismo para “pênis” (assim como a Bíblia usa o verbo “conhecer” para significar “coito”). Essa ideia foi adotada ou emprestada de outras culturas onde um homem juraria colocando a mão sobre os testículos do outro. De fato, nossa palavra “testemunhar” (derivada, é claro, da palavra “testes”) vem dessa prática.

Há mais evidências de ritos sexuais no antigo judaísmo. O livro de Raphael Patai, “The Hebrew Goddess “, mostra claramente que não havia apenas um forte componente sexual no misticismo judaico mais antigo, mas que era algo muito importante.

Desde a realização do filme Caçadores da Arca Perdida, muitas pessoas se familiarizaram com a forma da Arca da Aliança. Em cima dela estavam dois Querubins. De acordo com Patai, há uma tradição talmúdica de que “… enquanto Israel cumpriu a vontade de Deus, os rostos dos querubins estavam voltados um para o outro: no entanto, quando Israel pecou, ​​eles viraram os rostos um do outro. ” O que isso pode significar?

A Arca da Aliança foi mantida no “Santo dos Santos”, a parte mais privada e sagrada do templo em Jerusalém. Já o famoso historiador primitivo dos judeus, Flávio Josefo (37 D.C.–100 D.C.), escreveu que não havia nada no Santo dos Santos. Por quê? É bem aceito que ele queria representar o judaísmo como “anti-icônico”, uma religião livre da adoração de ídolos ou ícones. Mas haveria algo mais? Algo que Josefo poderia até ter vergonha de mencionar?

A resposta vem de um historiador ainda mais antigo, Filo (30 A.C-45 D.C ). Ele escreveu que na parte mais interna do templo, na parte mais sagrada do local judaico mais sagrado, havia as estátuas dos Querubins. E esses Querubins estavam “entrelaçados como marido e mulher”. Ou seja, eles foram mostrados tendo relações sexuais.

Isso foi verificado mais tarde pelo relato de um talmudista conhecido como Rabi Qetina, que afirmou que nos dias santos, quando as pessoas iam em peregrinação para ir ao templo, os sacerdotes realmente mostravam os Querubins a eles e diziam: “Vejam! o amor diante de Deus é como o amor do homem e da mulher”. Várias centenas de anos depois, o famoso Rashi escreveu: “Os Querubins estavam unidos, agarrados e abraçados, como um macho que abraça uma fêmea”.
Em outras palavras, o segredo final do Santo dos Santos não era que ele continha a Arca da Aliança, a Torá ou as tábuas dos Dez Mandamentos. Em vez disso, era a natureza espiritual do sexo. A tradição talmúdica mencionada anteriormente implicaria que os querubins estariam envolvidos em relações sexuais constantes enquanto Israel cumprisse a vontade de Deus, mas eles se separariam de seu abraço se Israel pecasse. Além disso, acreditava-se que Deus “falava” entre os Querubins.

Lembre-se, de acordo com a Torá e a Cabala, Deus cria através da fala: “E o Senhor disse: “Haja luz.” E eis que havia luz.” Esta, então, é a revelação do segredo cabalístico da magia sexual: profecia, adivinhação e invocação que podem resultar do sexo espiritualizado.  De fontes talmúdicas também sabemos que um dos maiores feriados para os antigos judeus ocorreu cerca de duas semanas após o Ano Novo Hebraico. Os peregrinos vinham ao templo em Jerusalém de todas as partes para este feriado que era considerado uma festa alegre. No entanto, ao final dos sete dias desta festa, que era celebrada tanto por homens como por mulheres, as festividades se tornariam tão intensas que homens e mulheres se misturariam e cometeriam atos que eufemisticamente chamavam de “vertigem”. Em termos modernos, a multidão corria sexualmente desenfreada. Este comportamento terminou algo entre cerca de 100 AEC. e 70 d.C.

Outra fonte que indica que o judaísmo primitivo tinha ritos sexuais é encontrada no livro O Cântico dos Cânticos, de Carlo Suares, que é sua interpretação desse pequeno texto bíblico (conhecido também por seu título mal traduzido, Cantares de Salomão). Na introdução, Suares descreve brevemente o honrado Rabi Akivah (também conhecido como Akiba), que nasceu em 40 D.C e foi executado no ano 135.
D.C. depois de passar muitos anos na prisão por ser um apoiador da guerra judaica contra Roma. Hoje, Rabi Akivah é homenageado por judeus em todo o mundo. Poemas e orações atribuídos a ele são recitados por judeus fiéis. Ainda me lembro da bela e ritmada oração cantada que começa com “Amar Rabi Akivah…” (assim falou Rabi Akiba…). Ele é considerado o pai da versão escrita das leis orais judaicas conhecidas como Mishná. Ele também é considerado por muitos como o pai da Cabala.

Assim como as principais seitas cristãs têm divisões entre si, também houve divisões no judaísmo. No primeiro século EC, o rabino Ismael assumiu uma posição semelhante à de alguns cristãos fundamentalistas modernos de hoje. Ele e seus apoiadores sustentavam que os escritos sagrados judaicos foram escritos em uma linguagem que falava diretamente aos homens e deveriam ser aceitos literalmente. Rabi Akivah discordou e sustentou que as palavras eram apenas a forma da mensagem. O verdadeiro significado da Torá deveria ser encontrado em sua interpretação mística, sua essência interior. Assim, quando uma discussão sobre quais livros deveriam ser considerados parte da Bíblia judaica estava ocorrendo entre os principais Rabinos, a maioria deles queria excluir o aparentemente profano poema de amor que é o Cântico dos Cânticos. Afinal, como poderia um judeu hoje em dia ter frases como “beije-me com os beijos de sua boca” e “seus seios são como dois filhotes” em seu livro sagrado?

Rabi Akivah foi um dos rabinos mais honrados de seu tempo e assim permanece até os dias atuais. Em seu tempo, ele foi mantido em grande respeito e era considerado uma autoridade poderosa no judaísmo. Akivah exerceu sua reputação e autoridade para mudar a atitude dos outros rabinos. “O universo inteiro não vale o dia em que aquele livro… [foi] dado a Israel”, disse ele, “porque todas as escrituras são sagradas, mas o Cântico dos Cânticos é o mais sagrado”.

Quando li pela primeira vez esta citação, fiquei fascinado e intrigado. Não é estranho que um dos rabinos mais importantes da história judaica tenha defendido a canção de amor não apenas como um bom livro, não (como alguns diriam) porque é Deus dizendo como Ele ama Israel (ou vice-versa), mas porque é a “santíssima” de todas as escrituras?

Lembre-se, Akivah é considerado o pai da Cabala. Não poderia a razão para a defesa do livro de Akivah ser que ele retinha o segredo sagrado do judaísmo, o segredo da magia sexual? Este segredo teria então sido passado para seus seguidores e de lá para muitas das escolas da Cabala.

Mesmo o bastante enfadonho e pedante AE Waite, em The Holy Kabbalah, refere-se ao fato de que os judeus místicos consideravam o casamento um sacramento e que praticavam um “ensino em caminhos pouco freqüentados, algo herdado do passado … [dos quais ] há algum vestígio de ensino no Oriente.” Isso aparece na seção do livro de Waite intitulada “O Mistério do Sexo”, e indica que entre os cabalistas havia um ensinamento de magia sexual que era de certa forma semelhante aos ensinamentos sexuais dos taoístas e tântricos. Em uma nota de rodapé ele diz que os magos sexuais cabalísticos:

… tinham um ideal interior, espiritual e divino, no qual eles habitavam, e pelo qual eles parecem ter realizado transmutações abaixo. Isto é, sua magia sexual (que era tanto um ato físico quanto espiritual) e produzia mudanças – magia – no plano físico.

Como nota final para esta seção, eu acrescentaria que entre os judeus devotos de hoje é uma mitsvá (uma palavra que significa tanto um mandamento de Deus quanto uma bênção) fazer sexo com seu cônjuge no sábado. Isso porque Deus é considerado um andrógino Divino e ao fazer sexo, unindo homem e mulher, eles estão simulando Deus. Uma interpretação alternativa é que eles estão imitando Deus em união com sua consorte, a Shekhina (semelhante à noção pagã ocidental do Deus unido à Deusa ou à noção hindu de Shiva unida a Shakti).

A Disseminação da Cabala Após a destruição do Segundo Templo no ano 70 d.C., os judeus foram dispersos por toda a Ásia e Europa. Muitos judeus consideravam isso um castigo de Deus sobre eles por não seguirem as tradições do judaísmo. Especificamente, eles não estavam seguindo as muitas leis judaicas e estavam adorando outros deuses e deusas. Mas os cabalistas alegaram que, ao dispersar os judeus, a sabedoria da Cabala se espalhou por todo o mundo. Deste ponto de vista, a diáspora não era uma maldição para os judeus, mas uma bênção para o resto do mundo. E essa bênção, a Cabala, consistia, pelo menos em parte, nos segredos da magia sexual. À medida que os judeus se moviam pela Europa, formavam pequenas comunidades. Em alguns deles havia escolas de cabalistas. A separação entre as comunidades acrescentou diversidade, e muitos dos ensinamentos cabalísticos, incluindo aqueles relativos à magia sexual, devem ter mudado e evoluído. Mas como os ensinamentos foram além das escolas do judaísmo místico? A resposta, acredito, vem da própria natureza do judaísmo e sua longa tradição de judeus sendo o povo do livro. À medida que a Igreja Católica se fortaleceu, a educação secular (incluindo leitura, escrita e matemática) dos fiéis foi desaprovada e limitada à realeza, aos ricos, escribas da Igreja e certos membros das forças armadas. Mas porque muitos judeus sabiam ler, escrever e sabiam matemática, agiam como mensageiros viajantes ou como cobradores de impostos para os ricos. Com alguns deles veio junto Cabala e a magia sexual.

Eles se comunicavam com outros que viajavam, incluindo os músicos errantes conhecidos por nomes como trovadores, menestreis, bardose os posteriores minicantores e meistersingers que vagavam por partes da Europa ocidental nos séculos XII e XIII d.C.  Não eram apenas homens como como registrado por historiadores do sexo masculino que, durante séculos, subestimaram a importância das mulheres na história, algumas mulheres também atuavam assim.

No século XIII, um livro pouco conhecido chamado Iggeret Ha Kodesh (A Carta Sagrada) foi difundido entre os judeus na Espanha. Foi por muitos anos atribuído ao famoso rabino chamado Nachmanides, mas os estudiosos hoje concordam que o rabino provavelmente não foi o autor. O livro era tão popular que três manuscritos variados deste livro são conhecidos. Foi dito que todos os livros verdadeiramente sagrados podem ser lidos em três níveis: físico, espiritual e místico. No nível físico, este livro parece ser um manual de casamento judaico. Em um nível espiritual, este livro é visto como uma “obra cabalística que descreve o relacionamento de Deus” com os judeus. Mas em um nível místico revela virtualmente todos os mistérios e técnicas de magia sexual que estão em uso até hoje. É minha opinião que os menestréis errantes medievais tinham alguma familiaridade com este livro ou com aqueles que usaram suas técnicas e ajudaram a difundir o conhecimento.

Até então, os casamentos não eram muito conhecidos. As pessoas viveriam juntas e se chamariam de marido e mulher. Eles eram considerados casados ​​mesmo sem um ritual de casamento. Nas Ilhas Britânicas, as regras para proteger as mulheres tornaram-se parte do que era conhecido como “lei comum [principalmente não escrita]”. Assim, após um certo período de tempo de convivência e alegando ser marido e mulher (e aceito como tal pela comunidade), uma mulher seria legalmente reconhecida como esposa de direito comum de um homem. Daquele ponto em diante, ele não poderia simplesmente jogá-la na rua quando estivesse cansado dela. Ela tinha direitos sob as leis do divórcio, embora eles não tivessem passado por uma cerimônia formal de casamento. O direito comum é inda hoje uma das bases do sistema jurídico americano.

Geralmente, na sociedade ocidental, controlada pelos cristãos, eram apenas os ricos e a realeza que se casavam. O objetivo dessa exibição pública era mostrar a todos que apenas os filhos dessa mulher seriam os herdeiros legítimos de um determinado homem. Na verdade, o casamento era mais um contrato legal do que um desejo de se unir por amor. Às vezes, pinturas eram feitas para mostrar a cena do casamento para provar que um casamento havia sido realizado.

Governantes e homens ricos queriam saber que seus filhos, na verdade, eram seus filhos de sangue. Acreditava-se que o sangue tinha qualidades mágicas inatas. Existe até uma crença hoje entre alguns bretões no “Toque do Rei” – que o próprio toque de um rei (que também foi aprovado pelo Deus cristão, ou então como ele poderia ser rei?) poderia curar várias doenças. Para garantir uma linhagem contínua, a monogamia tornou-se a regra para as esposas dos ricos e da realeza. Mesmo assim, há ampla evidência de que tanto as esposas quanto os maridos costumavam fazer sexo fora do casamento.

Eventualmente, a ideia de amor tornou-se um acessório do casamento. Foi uma conseqüência da noção de “amor cortês” que foi difundida pelos bardos viajantes. Eles até tinham regras para o amor cortês, algumas das quais escondiam os segredos da magia sexual. Por exemplo, a regra 30, de acordo com Andreas Capellanus cerca de 1.500 anos atrás, diz: “Um verdadeiro amante é continuamente é ininterruptamente obcecado pela imagem de sua amada”.

Dentro dessas palavras está um segredo de magia sexual que alguns dizem ter sido “descoberto” por A. O. Spare neste século. Como pode ser visto, este aspecto da magia sexual antecedeu Spare em mais de um milênio!

Outro grupo de viajantes eram os comerciantes, artesãos capazes de muitas habilidades valiosas. Eles vieram desde os primeiros tempos (quando cada ofício também estava associado a uma divindade) e continuaram no Renascimento. Na Roma antiga, essas guildas eram conhecidas como collegia (a fonte de nossa palavra “faculdade”). Eles tinham seus próprios edifícios onde eles compartilhariam os segredos de sua guilda. Os membros realizavam festas conhecidas como ágape, provavelmente a fonte das festas ágape cristãs do primeiro século. Para identificar outros membros ou permitir entrada nos limites das casas de guildas, eles tinham sinais de mão, gestos e toques especiais, incluindo beijos especiais e ritualísticos. Dessa forma, eles eram os elos entre as antigas escolas de mistérios e as modernas lojas ocultistas. De fato, os collegia foram influenciados pelos gregos, que, por sua vez, foram influenciados por uma variedade de culturas do Oriente Médio, incluindo os ensinamentos dos egípcios, dos sírios e dos antigos Hebreus.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-sexual/as-raizes-judaicas-da-magia-sexual/