A Vassoura Atrás da Porta

“Nunca convide um vampiro para entrar em sua casa. Isso deixa você sem poder”.
– Janice Fischer e James Jeremias, The Lost Boys.

Num de seus poucos ensaios de não ficção Gedeone Malagoa afirma que, em 1855, “um ferreiro de Exter inventou um trinco de segurança que até hoje nós usamos em casa, para que bruxas e monstros não entrassem”.[1] Segundo Bram Stoker, o mesmo é válido contra vampiros salvo quando bem-vindos:

>>He cannot go where he lists; he who is not of nature hás yet to obey some of nature’s laws — why we know not. He may not enter anywhere at the first, unless there be some one of the household who bid him to come; though afterwards he can come as he please.[2]

Ele não tem acesso a todos os lugares aos quais desejaria ir e, mesmo não pertencendo à natureza, deve obedecer a algumas dessas leis naturais… e não sabemos por que motivo. Não lhe será possível jamais entrar em nenhuma moradia, pela primeira vez, se não for convidado por um dos moradores, embora depois disso possa ir e vir à vontade.[3]<<

O vampiro não precisa ser reconhecido quando convidado, pois, no oitavo capítulo de Drácula (1897), Lucy Westenra realizou um convite bem sucedido a um grande morcego.[4] Trata-se de uma situação diametralmente oposta a da adaptação no filme Nosferatu (1922) de F. W. Murnau onde a ardilosa Ellen Hutter (Greta Schröder) abre a janela para receber, na cama, o velho Conde Orlok (Max Schreck), afim de fazê-lo perder a noção do tempo entretendo-o até a aurora. No primeiro caso o vampiro domina a donzela em estado de sonambulismo hipnótico enquanto, no segundo, a mulher sagaz ludibria e subjuga o vampiro.

Outros artistas trabalharam sobre o mesmo problema. – A solução mais criativa talvez esteja na comédia The Monster Squad (EUA, 1987) onde Drácula (Duncan Regehr) obriga as pessoas a saírem de um local impenetrável atirando dinamite pela janela! – Conforme anotado por Leonard Wolf, apenas um habitante da residência necessita convidar o vampiro, não havendo necessidade da anuência de todos.[5] Por isto muitos roteiros destinados ao público infanto-juvenil falam de adultos incrédulos que deixam abertos os seus armários cheios de monstros e convidam vampiros para uma visita doméstica a despeito das súplicas das crianças; sendo o mito ocasionalmente tratado como metáfora da insegurança do menor que tem sua privacidade invadida pela presença de um estranho que tomou sua mãe por mulher e age como se tivesse direito ao pátrio poder sem ser seu pai.

Um tratamento inteligente pode ser visto em Fright Night (EUA, 1985) onde Tom Holland cria uma situação onde a mãe solteira Judy Brewster (Dorothy Fielding) nutre um desejo secreto por seu novo vizinho Jerry Dandrige (Chris Sarandon) mesmo suspeitando que ele seja homossexual. Na primeira oportunidade ela o convida, contra a vontade do filho Charley Brewster (William Ragsdale), sob pretexto de cumprir normas de etiqueta, e Jerry se apressa a aproveitar a oportunidade para coagir Charley, ameaçando matar sua mãe.

No roteiro de Janice Fischer e James Jeremias para The Lost Boys (1987) o discurso do vampiro Max (Edward Herrmann) é ainda mais específico:

>>I know what you’re thinking, Sam. But you’re wrong. I’m not trying to replace your father or steal your mother away from you. I would just like to be your friend. That’s all.

Eu sei o que você está pensando, Sam. Mas você está enganado. Não estou tentando substituir o seu pai ou roubar sua mãe de você. Eu apenas gostaria de ser seu amigo. Só isso.[6]<<

A comédia Mamãe Saiu com um Vampiro (Mom’s Got a Date With a Vampire) lançada em 2000 pela Walt Disney Pictures, com direção de Steve Boyum, assimila um contexto pós-moderno, onde as crianças estão mais abertas para mudanças do que os próprios pais e tentam arrumar um namorado para Lynette (Caroline Rhea), mãe divorciada, mas escolhem o cara errado…
Em certas mídias o vampiro só não pode entrar “na casa de Deus” – expressão geralmente usada para designar uma igreja católica ou mosteiro e, muito raramente, a residência de um cristão. – Seriam área de caça lícita todos os bares, motéis e a casa do devasso. Tal como o Morto do Pântano, o vampiro também pode agir como justiceiro anti-herói eliminando humanos “que não merecem viver”.[7] (Se bem que certas publicações voltadas a um público mais adulto repetem teimosamente que apenas o sangue inocente sacia-lhes a sede).

CONCLUSÃO:

Uma simpatia muito conhecida no Brasil manda botar uma vassoura de cabeça para baixo, com a piaçava virada para o alto, atrás da porta dos fundos de uma residência para encurtar a visita de humanos indesejáveis.[8] Isso significa que ninguém pode viver confinado, evitando um problema para sempre. É preciso encarar o inoportuno e enfrentá-lo para fazê-lo sair… O tabu do impedimento teve sua utilidade à época da sua criação e principal difusão, servindo para aumentar o número de situações onde a prática da hipnose – proibida em vários países, quando anexa ao espiritismo – pudesse ser retratada. Mas os tempos mudaram, as leis caíram, a liberdade sexual e religiosa prosperou e os artifícios para velar o desejo das mulheres ou a fé dos excluídos deixaram de ser necessários.

O caráter progressivo da arte não pode aceitar dogmas eternos e absurdos, tais como a sugestão de que a falta de convite funcione como um campo de forças invisível que impede o vampiro de entrar num local da mesma forma que o vidro interrompe o vôo dos insetos que batem e caem. A boa produção artística deve ser, na medida do possível, verossímil e comedida.

Também, como a possibilidade de imaginar saídas engenhosas é limitada, o vasto comércio nascido em torno do mito estaria com os dias contados se, em todo momento, o Conde Drácula tivesse de parar para hipnotizar, seduzir, ludibriar ou explodir algo ou alguém enquanto a vítima almejada corre de casa em casa.
Enfim, ao longo do tempo os produtores de cinema, editores, etc., perceberam que não fazia sentido limitar os movimentos de Drácula por ser ridícula a hipótese do vampiro ‘bem educado’ necessitar de convite enquanto o ladrão comum continua a invadir qualquer domicílio sem permissão.

Notas:

[1] GEDEONE. Um Rastro em Linha Reta. Em: Mestres do Terror. São Paulo, D-Arte, 1982, Ano I, nº 4, 3ª capa.
[2] WOLF, Leonard (ed). The Essential Dracula: The Definitive Annotated Edition of Bram Stoker’s Classic Novel. New York, Plume, 1993, p 290.
[3] STOKER, Bram. Drácula. Trd. Vera M. Renoldi. São Paulo, Abril, 2002, p 236.
[4] WOLF, Leonard (ed). Op Cit, p 126, nota 20 e 290, nota 18.
[5] WOLF, Leonard (ed). Op Cit, p 290, nota 18.
[6] Ao contrário de outros vampiros que mentem o tempo todo, Max foi quase sincero. Ele desejava desposar Lucy (Dianne Wiest) de forma que o casal, os dois filhos dela e os seis filhos dele formassem uma única família. O problema é que ele omitiu o fato de ser vampiro e precisar converter a todos na mesma espécie, além de pelo menos dois dos seus ‘filhos’ terem sido roubados de outras famílias e adotados. Daí o título Garotos Perdidos.
[7] MIRANDA JR, Décio. O Morto do Pântano, p 7. Em: ZALLA, Rodolfo (ed). Mestres do Terror. São Paulo, D-Arte, 1982, nº 1.
[8] A lógica desta superstição segue o princípio da similitude, já que a vassoura é normalmente usada para varrer o lixo para fora de casa.

Shirlei Massapust

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/vampirismo-e-licantropia/a-vassoura-atras-da-porta/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/vampirismo-e-licantropia/a-vassoura-atras-da-porta/

Causos de Fantasmas Brasileiros

No Brasil, país que tem o maior contingente do mundo de adeptos declarados da religião Espírita, o elenco de fantasmas da tradição popular são caracterizados pelas cores da História que permeiam a formação da cultura nacional. As assombrações são personagens que viveram episódios dramáticos e/ou traumáticos da colonização, dos tempos do Império e da República Velha, misturando elementos indígenas, lusos e africanos. Assim, há muitos fantasmas de escravos e sua contrapartida, de senhores [as] de engenho ou de cafezais que foram extremamente cruéis. São todos atormentados e tormentosos. Na história mais recente, fantasmas do século XX já assombram grandes metrópoles, como São Paulo que, assim como Londres e outras localidades do Reino Unido, tem até roteiro turístico de lugares assombrados bem como Recife, esta, uma cidade que conta com tradições fantasmagóricas mais antigas e bem documentadas.

A Procissão dos Mortos

 

Essa procissão assombrada é o tema de uma lenda contada em vários estados, especialmente no Nordeste e Centro-Oeste. O caso se passa nas cidades pequenas e vilas do interior onde é costume ir dormir cedo. Existem, porém, os insones, que altas horas da noite, se põem à janela observando o “nada acontece”  da rua. Nestas ocasiões sucede o episódio macabro: eis que lá vem uma procissão com toda a aparência de uma caminhada de penitentes usando túnicas escuras com capuz, segurando velas acesas, entoando ladainhas tristes. Em dado momento, um ou uma destas aparentemente piedosas criaturas, aproxima-se do [a] curioso [a] que está na janela e lhe oferece uma vela. O incauto aceita a oferta e lá fica, vendo passar o estranho cortejo. O sono vem, apaga a vela e vai dormir sem suspeitar de qualquer estranheza. No dia seguinte, ao despertar, vai constatar, com grande pavor, que a vela se transmutou em osso de gente e a procissão era um cortejo de mortos vagando no vilarejo, cumprindo a sina das almas penadas que, sem descanso, nada mais têm a fazer senão assombrar os viventes. [Conforme relatou Dona Antônia, a avó cearense desta jornalista].

A Missa dos Mortos de Ouro Preto – MG

 

O caso aconteceu entre o fim do século XVIII e começo do século XIX, na igreja de Nossa Senhora das Mercês que fica ao lado de um cemitério. Quem viu foi João Leite, zelador e sacristão que se preparava para dormir em sua casa, próxima ao templo, quando percebeu luzes na igreja e foi verificar o que acontecia. Deu com uma missa em andamento, repleta de fiéis vestidos em longas túnicas escuras e um estranho padre cuja nuca era pelada e branca. Eis que o padre voltou-se para a assembléia e pronunciou “Dominus Vobiscum”. Foi aí que o sacristão viu-lhe a face cadavérica e bem reparando constatou que todos os presentes eram igualmente esqueletos. Tratou se escafeder-se sem chamar a atenção mas ainda a tempo de observar que a porta de acesso ao cemitério estava aberta. O episódio entrou para os anais das histórias de assombração da cidade de Ouro Preto.

O Fantasma de Teresa Bicuda & Outros Filhos que Maltratam os Pais [Jaraguá ─ Goiás]

Teresa Bicuda era uma moça de lábios grossos que lhe valeram o apelido. Morava em Jaraguá, no Larguinho de Santana. Pessoa de maus bofes, tratava a mãe de forma absolutamente cruel: botava a velha para mendigar nas ruas, batia nela, humilhava. Um dia, chegou ao extremo da maldade e, diz o povo, colocou um freio de cavalo na bocada genitora, montou, e nela andou montada à frente de todo o povo. Aquilo foi demais: a pobre mulher morreu mas, antes, excomungou a filha desnaturada. Teresa Bicuda, que já era psicopata, finalmente, ficou maluca de vez: deu de beber e vagava pelas ruas gritando todo tipo de sandices até que morreu e foi enterrada no cemitério. Perturbada em vida, virou fantasma atormentado e tormentoso na morte. Alma penada, seu espírito vagava pelas ruas e gritando do mesmo jeito, como no dia em que cavalgara a própria mãe; os lamentos da vítima também eram ouvidos. Desenterraram seu corpo e sepultaram atrás da Igreja do Rosário. De nada adiantou a providência: o fantasma continuava com seus escândalos. Mais uma vez, trocaram-na de cova, desta vez, foi para a cabeceira de um córrego onde puseram uma cruz e desde então o lugar ficou mal assombrado, o córrego da Teresa Bicuda.

Corpo-Seco [São Paulo]

O caso de Teresa Bicuda não é exclusivo de Goiás. Outros filhos que maltrataram seus pais e por isso se tornaram almas penadas são lembrados em vários estados e há indícios que crença vem de além mar, posto que existe tradição semelhante em Portugal. O “Corpo-Seco” é outra assombração desse gênero cuja lenda, relativamente recente, meados do século XX, é contada em São Paulo. “Nem a terra aceita receber essas pessoas”. Este foi um homem chamado Zé Maximiano, morador do município de Monteiro Lobato, região da Serra da Mantiqueira, conhecido por bater no pai e na mãe.

Quando morreu, supostamente de “morte matada”, foi enterrado em cemitério porém, rejeitado pela sepultura e assombrando lugares habitados, tal como Maria Bicuda, acharam por bem transferir o corpo para um lugar ermo e, por recomendação do próprio padre [apesar dos dogmas católicos], decidiram por uma gruta cuja entrada era delimitada por um córrego, medida de segurança porque esse tipo de fantasma não atravessa a água. Um amigo do defunto, que mesmo sendo “sangue ruim” ainda tinha um amigo, um tal de Pedro Vicente, encarregou-se de fazer o transporte. O corpo foi colocado em um balaio e, ainda por recomendação do padre, Pedro levou consigo uma vara de marmelo: o de cujus podia se rebelar e, nesse caso, o jeito era bater no morto com a vara. Dito e feito: o fantasma tentou agarrar o amigo a fim de matá-lo mas foi repelido com varadas.

Diz o povo que fantasmas como Corpo-Seco agem nas noites de sexta-feira à meia noite. Aparece na beira dos rios e açudes e se alguém aparece, pede para ser transportado para a outra margem. Em troca, promete revelar o esconderijo de um tesouro. Seja no barco ou nas costa do benfeitor, quando está no meio do curso d’água, a assombração começa a pesar e assim, afunda pequenas embarcações ou a pessoa que o carrega nas costas matando sua vítima por afogamento. Outros contam que ele fica nas estradas tocaiando os viandantes dos quais, ao modo dos vampiros, chupa o sangue para se manter na Terra evitando, deste modo, ser tragado para os quintos dos infernos.

Almas Sedutoras

Este tipo de assombração já virou lenda urbana e faz suas aparições em muitas metrópoles brasileiras: são damas de branco e as louras do táxi que têm rendido histórias desde o começo do século XX e se renovam, em versões contemporâneas que já viraram tema de reportagem em programa de televisão, como uma bem recente que apareceu no SBT e assombra taxistas em São Paulo. Neste caso, era uma jovem que tinha morrido no dia do seu aniversário e todos anos, neste mesmo dia, acena para um táxi, pede para dar voltas na cidade e, ao cair da noite, parando em frente a uma casa, alega não ter dinheiro para pagar a corrida e combina com o taxista saldar a dívida no dia seguinte. O motorista volta ao endereço e lá descobre que a bela passageira morreu há algum tempo. Minas Gerais também tem sua alma penada sedutora: é a  Loira do Bonfim de Belo Horizonte, datada entre 1940 e 1950:

“…uma mulher que aparecia por volta das duas horas da madrugada, sempre vestindo roupas brancas, insinuando-se junto aos boêmios que aguardavam condução no ponto de bonde existente diante de uma drogaria, no centro da cidade. Dizia que morava no Bonfim, que estava afim de um programa, e quando alguém se interessava, ela o levava para o cemitério do bairro, desaparecendo assim que chegavam àquele local. Como às vezes a criatura preferia chamar um táxi, os motoristas desses veículos de aluguel, além dos motorneiros e condutores dos bondes, passaram a não aceitar a escala de trabalho no horário noturno. Não era por medo, diziam eles, mas sim por precaução…

Existem, porém, algumas variações sobre essa história fantasmagórica: na primeira delas, a loira é apenas um vulto meio indefinido que aparece aos freqüentadores das regiões boêmias existentes nas imediações do bairro do Bonfim; uma segunda versão diz que ela, na verdade, não tem a intenção de seduzir qualquer homem, limitando-se a chamar um táxi e pedir ao seu motorista que a leve ao alto do Bonfim, onde desaparece dentro do cemitério tão logo o veículo pare diante de seu portão de entrada; a terceira diz que certa noite a loira procurou a delegacia policial existente no atual bairro da Lagoinha, vizinho ao do Bonfim, e pediu que um dos policiais a acompanhasse até sua casa, no que foi atendida: mas o detetive quase morreu de susto quando descobriu que o destino da moça era o cemitério. Seja como for, o fato é que, na época, os comentários sobre a misteriosa mulher apavoraram muitos moradores da capital mineira, que simplesmente deixaram de sair de casa após certa hora da noite” [DANNMANN].

O Fantasma de Ana Jansen [Maranhão]

Ana Joaquina Jansen Pereira [1787-1889], Donana Jansen, nasceu e morreu em São Luis do Maranhão. Duas vezes casada, duas vezes viúva, teve 12 filhos, nem todos fruto dos casamentos, mas das relações com amantes que escandalizavam a sociedade da época. Comerciante poderosa, foi uma pessoa influente, posição rara para as mulheres daquele tempo. Senhora de muitos escravos, tornou-se conhecida pela crueldade com que tratava os negros, submetendo-os às mais bárbaras torturas que, não raro, provocavam a morte de suas vítimas. Muitas das ossadas destes infelizes foram encontradas em um poço localizado nas terras da tirana.

Quando morreu, aos 82 anos, em seu casarão da Praia Grande, sua alma não encontrou descanso. Nas noites de sexta-feira, ela assombra as ruas da capital maranhense, à bordo de uma carruagem que passa em desabalada carreira puxada por uma parelha de cavalos brancos sem cabeça [algumas versões dizem: “com chamas no lugar das cabeças”], guiada pelo esqueleto espectral de um escravo também decapitado. É o coche “maldito”, que sai do cemitério do Gavião em seu passeio macabro seguido pelo som dos lamentos dos escravos supliciados. O fantasma quer orações pela sua salvação e quem se recusa a atender o pedido, é visitado pelo fespectro de Donana: aparece ao leito do devedor antes que caia no sono e entrega-lhe uma vela que, no dia seguinte, terá se transformado em osso humano [olha a vela-osso de novo!].

por Ligia Cabús

Essa igreja Nossa Senhora das Mercês em Ouro Preto tem muitos “causos” sobre ela.

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Postagem original feita no https://mortesubita.net/espiritualismo/causos-de-fantasmas-brasileiros/

A Sublimação do Duplo Etéreo Materializado

Shirlei Massapust

Duplo etéreo ou perispírito é um segundo corpo com aparência idêntica à melhor versão que o corpo físico do falecido possuiu ou poderia ter possuído em vida. Como dizem, “a consciência intrafísica ao sair do corpo humano, geralmente apresenta-se com a aparência mais remoçada, bonita e, às vezes, surpreendentemente luminosa”.[1] Enquanto o corpo físico é feito de carne, ossos, sangue, etc., o duplo etéreo é feito de ectoplasma, assim como os demais objetos materializados por médiuns.

No século XIX, quando o espiritismo ganhou impulso nos Estados Unidos e na Europa, era comum se dizer que o ectoplasma é fotossensível. As pessoas realmente viam o perispírito dos mortos e o duplo dos vivos, sobretudo porque muitas vezes a coisa real era um boneco habilmente suspenso na escuridão. Porém nunca faltou gente de boa fé atestando que nem tudo na cena espírita era mera sugestão psicológica ou espetáculo de fraudes grosseiras. Havia sim um bom bocado de eventos miraculosos.

William Jackson Crawford (1881-1920) foi professor de Engenharia Mecânica da Universidade Queen’s de Belfast, na Irlanda. Ele foi um dos pesquisadores renomados que dedicaram tempo à investigação de fenômenos mediúnicos. W. J. Crawford observou e descreveu a materialização de “alavancas psíquicas” no Círculo Goligher.

Segundo Crawford, as extensões saíam do corpo do médium como se fossem braços mecânicos e movimentavam objetos. A intensidade da atividade sobrenatural era inversamente proporcional à claridade do ambiente:

O efeito da luz sobre os fenômenos é tão conhecido, que não comentarei o assunto. Quanto menos luz houver, mais intensidade terá o fenômeno. Cheguei à conclusão de que ela afeta a rigidez das hastes. (…) Não creio que a luz atue sobre as fibras da estrutura tanto quanto sobre a matéria intercalar que serve para enrijecê-la. Essa substância fria e viscosa talvez seja um composto químico complexo (…) do qual a luz dissocia as moléculas. Temos razões de sobra para assim crer, visto que a experiência nos demonstra que a luz, cuja extensão de onda é grande, isto é, a luz vermelha, é a menos nociva. Nas sessões, é naturalmente necessário levar em consideração o reflexo, a refração e a absorção da luz empregada[2].

Katie King, um dos espíritos mais famosos da literatura mediúnica, manifestou-se pela primeira vez em 22/05/1872 através da médium Srta. Cook. No início só conseguia assumir formas vagas; mas, com o tempo, Katie aprendeu a moldar um corpo. As forças de Katie King aumentaram gradualmente enquanto a Sra. Cook, que antes permanecia quase sempre acordada, mostrava-se cada vez mais fraca. Por fim, o espírito não mais apareceu sem que a médium entrasse em estado de transe.

De acordo com o registro da Sra. Florence Marryat, numa das sessões que ela testemunhou ocorrera o seguinte:

Perguntaram um dia a Katie King porque não podia mostrar-se sob uma luz mais forte. (Ela só permitia aceso um bico de gás e esse mesmo com a chama muito baixa). A pergunta pareceu aborrecê-la enormemente. Respondeu assim: “Já vos tenho declarado muitas vezes que não me é possível suportar a claridade de uma luz intensa. Não sei porque me é impossível; entretanto, se duvidais de minhas palavras, acendei todas as luzes e vereis o que acontecerá. Previno-vos, porém, de que, se me submeterem a essa prova, não mais poderei reaparecer diante de vós. Escolhei”. As pessoas presentes se consultaram entre si e decidiram tentar a experiência, a fim de verem o que sucederia. Queríamos tirar definitivamente a limpo a questão de saber se uma iluminação mais forte embaraçaria o fenômeno de materialização. Katie teve aviso de nossa decisão e consentiu na experiência. Soubemos mais tarde que lhe havíamos causado grande sofrimento.

O espírito Katie se colocou de pé junto à parede e abriu os braços em cruz, aguardando a sua dissolução. Acenderam-se os três bicos de gás. (A sala media cerca de dezesseis pés quadrados). Foi extraordinário o efeito produzido sobre Katie King, que apenas por um instante resistiu à claridade. Vimo-la em seguida fundir-se como uma boneca de cera junto de ardentes chamas. Primeiro, apagaram-se os traços fisionômicos, que não mais se distinguiam. Os olhos enterraram-se nas órbitas, o nariz desapareceu, a testa como que entrou pela cabeça. Depois, todos os membros cederam e o corpo inteiro se achatou qual um edifício que se desmorona. Nada mais restava do que a cabeça sobre o tapete e, por fim, um pouco de pano branco que também desapareceu, como se houvessem puxado subitamente. Conservamo-nos alguns momentos com os olhos fitos no lugar onde Katie deixara de ser vista. Terminou assim aquela memorável sessão[3].

Registros de época informam que o médium perde massa corporal à medida que o ectoplasma se forma e, às vezes, pequenas perdas são permanentes. Por exemplo, certa vez Crawford pediu aos “operadores” que extraíssem tanta matéria quanto lhes fosse possível do corpo de um médium imobilizado sobre uma balança, ao que o aparelho registrou a perda temporária de “um pouco mais de 24 quilos, durante uma dezena de segundos”[4].

Em 11 de dezembro de 1893, na Finlândia, a médium D’Espérance começou a se desmaterializar diante das testemunhas após uma sucessão de outros eventos, dentro de seu gabinete amplamente iluminado. Alguém do círculo propôs que terminassem o ato, visto que já se esgotavam as forças da médium, mas ao despertar do transe a mulher colocou as mãos nos joelhos e percebeu que a cadeira estava vazia.

Ela afirmou ter a sensação de que tudo em seu corpo impalpável e invisível permanecia no mesmo lugar, mas estava parcialmente desmaterializada; então pediu para continuarem a sessão até que os fantasmas lhe devolvessem as pernas![5]

Numerosos críticos crédulos na autenticidade das materializações professaram que todos os espíritos invocados agiam como vampiros que subtraíam sua essência vital do corpo do médium. Quanto a isto os espíritas objetavam alegando que se um espírito toma emprestada a matéria com o consentimento do médium, a conversão da carne ou sangue em ectoplasma não é um ato de vampirismo.

A propósito, até no Brasil do século XX o saudoso mineiro Waldo Vieira (1932-2015) reportou a queixa de certos alunos mal agradecidos, estudantes de um curso gratuito de projeção do corpo astral, que lhe acusaram de ser um “vampiro” e “suposto adversário ferrenho” cujo espírito consciente e desdobrado assedia os pupilos durante as tentativas de desdobramento astral.[6]

Bram Stoker estava ciente do debate em torno de fenômenos espíritas e extraiu dali ideias originais para que seus personagens literários pudessem se transformar em névoa e atravessar espaços estreitos. O psicanalista Aluísio Pereira de Menezes, atual professor nas Faculdades Integradas Hélio Alonso, escreveu a respeito em sua tese de doutorado De Sexo Jeito de Todos os Vampiros: Arte e Transmissão (UFRJ, 1991).

Tais passagens, que tratam da aproximação do vampiro, apresentam os elementos de uma ação hipnótica sobre a vítima. Silencio e barulho, imobilidade e movimento – termos contrários que vão se revolvendo, paralisando a subjetividade em relação aos seus modos correntes, “colocando-a num estado magnético, de quase câimbra, que não é acordado nem sonhado”[7]. Uma orgia onírica exaure a vítima; são os sonhos os restos de toda uma atividade, os produtos da atividade fantástica.

A névoa ficava cada vez mais densa, e eu sabia agora como ela tinha entrado, pois podia vê-la feito uma fumaça – ou feito um vapor de água fervendo – penetrando, não pela janela, mas pelas frestas da porta. Ela ficava mais e mais densa, até que tivesse como que se concentrado, no meio do quarto, em uma espécie de coluna de fumaça, através de cuja parte mais alta eu podia ver a luz do gás brilhando como um olho vermelho. As coisas começaram a rodar em meu cérebro ao mesmo tempo em que a coluna nebulosa rodopiava pelo quarto, como que formando as palavras bíblicas “uma coluna de fumaça de dia, de fogo à noite”[8].

Rodopio, turbilhão, redemoinho, são estas as palavras que traduzem whirl. O ponto máximo desse empuxo no que ele é suportável esbarra com um limite, o sujeito desmaia, muda de estado (que certamente não é definitivo). O essencial é este ponto preciso no qual a coluna rodopia “no cérebro” da personagem da mesma forma como ela estaria rodopiando lá fora. A personagem, ou melhor, certa dimensão que não mais está ligada ao específico da vida volitiva, se vê às voltas com uma posição que a situa num ponto de comparar o torvelinho de ectoplasma à aparição bíblica de deus a Moises e, com isso, blasfemar de forma involuntária.

A imagem que temos nos arquivos da memória são as evoluções do impressionante movimento natural da neblina fria e espessa, fantasmagórica, que escorre em cascata, flui no assoalho, se espalha por baixo dos lençóis e escapa em filetes descidos por entre os dedos das pessoas que ousam erguê-la no ar.

Ainda hoje muita gente se impressiona com aquela neblina encorpada, quase espumosa, bastante diferente da emissão fétida das máquinas de fumaça usadas nos clubes e danceterias. No cinema e no teatro estas cenas perfeitas e quase mágicas são produzidas atirando-se de gelo seco em panelas de água fervendo.

A primeira vez em que um vampiro entrou em combustão espontânea quando exposto à luz solar foi no filme de expressionismo alemão Nosferatu, Eine Symphonie des Grauens (1922). Na ficção de Bram Stoker o Conde Drácula se expõe à luz solar e nada lhe acontece. Aparentemente ele apenas prefere atuar à noite.

Acaso o fictício Conde Drácula não era como qualquer duplo etéreo sublimado ao sol na vida real? Por que H. P. Blavatsky não mencionou a questão de sublimação do duplo quando falou do desdobramento dos vampiros reais no capítulo XVIII de Isis Unveiled (1877)? Nós não podemos voltar no tempo para questionar, mas convenhamos a perda de uma chance de opinar a respeito foi muito significativa. O duplo do vampiro é, talvez, um perispírito doutro nível de condensação e estrutura.

Na primeira casa onde morei os fantasmas nem ligavam para o sol. Apareciam mais de dia do que de noite. Impressionavam as visitas. Eram muito VIPs. 😊

notas

[1] VIEIRA, Waldo. Projeciologia. (4ª edição). Rio de Janeiro, IIPC, p 679.

[2] CRAWFORD, W. J. Mecânica Psíquica. Trad. Haydée de Magalhães. São Paulo, Lake, 1963, 114.

[3] GIBIER, Paul e BOZZANO, Ernesto. Materializações de Espíritos. Trad. Francisco Klörs Werneck. Rio de Janeiro, Eco, p 23-24.

[4] CRAWFORD, W. J. Obra citada, p 138.

[5] AKSAKOF, Alexandre. Um Caso de Desmaterialização Parcial do Corpo dum Médium. Trad. João Lourenço de Souza. Rio de Janeiro, FEB, © 1900, p 47-49.

[6] VIEIRA, Waldo. Projeciologia. (4ª edição). Rio de Janeiro, IIPC, p 679.

[7] MENEZES, Aluisio Pereira de. De Sexo Jeito de Todos os Vampiros: Tese de doutorado em teoria literária. Rio de Janeiro, UFRJ, 1991, p 86.

[8] STOKER, Bram. Drácula. Em: MENEZES, Aluisio Pereira de. Op cit, p 88.

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A Primeira Ordem Vampírica do Ocidente

Este breve dossiê trará alguma informações sobre a primeira ordem vampírica do ocidente. Trata-se de considerações iniciais sobre as aparições de Otto von Graff e Helena Karponoava ao escapar dos tribuais da Satnat Veheme e o abrigo de Frenc Nadasdy em Bratislava em 1579.

PARTE I:

Uma Introdução Histórica a Bathory: A Lolita Medieval

 

  • (Agosto de 1560) Erzsébet Bathory nasce em Nyirbátor, Hungria. Filha de George e Anna Bathory. Passa toda sua infância no castelo de Ecsed, umas das muitas propriedades de sua família; das mais importantes e influentes nos séculos doze, treze e quatorze. Desde os quatro anos de idade, Erzsébet sofre com terríveis dores de cabeça que fazem-na despertar durante a noite aos gritos, tornando-a uma criança agressiva e reclusa.
  • (Julho de 1572) Bathory é prometida em casamento ao Conde Ferenc Nadasdy. Ela recebe uma educação invejável: aprende o francês, alemão, italiano e o russo, além da língua-materna. Interessa-se por assuntos como Biologia, Matemática e Astronomia, algo incomum para as mulheres da época.
  • (Novembro de 1574) Bathory muda-se com o noivo para o castelo de Sárvár, propriedade da família Nadasdy. Dois meses após sua chegada ao castelo, ela se envolve com um camponês de quem terá um filho ilegítimo. Recusa-se a fazer um aborto e deixa a criança com uma família lituana e uma pensão de 350 florins anuais. Nadasdy forja a notícia de que a criança já nasceu morta. A esta altura, ela já têm a exata noção de seu poder de dominação sobre os homens e os manipula com grande habilidade. Tal qual a Lolita do livro de Vladimir Nabokov. Uma criada da família diz que Bathory é possuidora de uma beleza e encantos que fazem o mais santo dos homens na Terra cair em tentação.
  • (Agosto de 1575) Bathory casa-se com Ferenc Nadasdy em Varannó. O presente de casamento de Ferenc à esposa é um castelo em Csejte, tendo a sua volta os tenebrosos montes cárpatos. O castelo fica numa localidade cercada de pequenos vilarejos que somam juntos, uma população de três mil habitantes.
  • (Novembro de 1578) Nadasdy é nomeado comandante-chefe das tropas húngaras contra os turcos otomanos. Com apenas dezoito anos, Bathory assume quase todos os negócios do casal.
  • (Janeiro de 1579) Bathory é apresentada a Helena Karpanova. Esta ucraniana misteriosa introduzirá Bathory na magia negra e nos cultos e rituais vampíricos.
  • (Maio de 1581) Bathory dá início a uma relação amorosa com um jovem alemão chamado Otto von Graff – apresentado a ela por Helena Karpanova, juntos os três formaram um dos clãs vampíricos mais sangrentos de todos os tempos.
  • (Dezembro de 1583) Bathory faz as suas primeiras vítimas em rituais vampíricos: um casal de gêmeas ainda na pré-adolescência. O ritual contou com a supervisão de von Graff e Karponova. Foi a primeira vez em que Bathory bebeu o sangue de suas vítimas.
  • (Primavera de 1584) O castelo de Csejte torna-se um ponto de encontro para as madames da alta burguesia húngara. Em pouco tempo, Bathory e Karponova fazem do lugar um antro de feitiçaria e despudor sexual. Bathory desenvolve o gosto pelo vouyerismo, principalmente para casos de estupro.
  • (Outono de 1590) Surgem pela primeira vez, denúncias contra o estranho comportamento de Bathory e seu casal de hóspedes. Meses depois ela opta por uma reclusão na propriedade da família em Viena para melhor dedicar-se as estudos da magia negra.
  • (Fevereiro de 1592) Bathory retorna ao castelo de Csejte.
  • (Inverno de 1593) Karponova e Bathory sequestram e mantém como prisioneiras quase uma dezenas de jovens. As virgens são mantidas reclusas para o uso em rituais de magia negra e vampirismo – as outras são entregues a Otto von Graff que estupra e mata uma por uma segundo depoimento de Dorotthya Szentes ao tribunal que julgou Bathory. O castelão de Csejte suspeita do cheiro de cadáveres em decomposição e questiona Bathory sobre o caso. Karponova aconselha-a matar o pobre camponês.
  •  (Verão de 1594/Primavera de 1604) No período que corresponde exatamente uma década, Bathory e seus companheiros passam a ser mais cuidadosos no trato com os rituais e com o comportamento ante aos olhos de possíveis curiosos. É neste período também que ela torna-se mais agressiva com suas vítimas. Bathory passa a divir o seu tempo entre Viena, Csejte e Bratislava, onde fica sabendo da morte do marido. Bathory sequer retorna para os funerais, limitando a redigir uma carta onde exalta a coragem e a bravura de Ferenc Nadasdy, morto no campo de batalha contra os turcos. Ao contrário do que se verifica nos relatos sobre Erzsébet e Ferenc, ele jamais participou dos rituais da esposa. Embora o diário de Helena Karponova nos mostre que ele tinha conhecimento de quase tudo o que se passava. Num relato assombroso de uma carta de Helena para uma tal Sarah Taddwell ( possivelmente uma nobre galesa da época ) -, ela demostra preocupação quanto ao comportamento de Bathory em relação a ela e a Otto von Graff. Chega a imaginar que Bathory – enciumada – planeje a morte de ambos, ou pelo menos a dela. Embora Bathory já despertasse certa desconfiança, cada vez que ela retornava a Csejte, retornavam também as damas ( inclusive membros da corte ) para sua companhia. É certo que a decisão de não incluir os diários de Karponova e Darvulia no julgamento, tinha como objetivo omitir a participação de tantas outras mulheres em festas orgiásticas no castelo.

 

 Csejte, 22 de Maio de 1597

“Foram duas noites de terror. Sei que ela planeja a minha morte e talvez a de Otto. Bathory torna-se cada vez mais violenta e possessiva. O retorno de Karel ( filho dela com o camponês ) parece ter deixado-a um pouco mais calma, mas tenciono não mais retornar ao convívio dela (…) Estou certa de que Bathory e Karel mantém uma relação incestuosa, encontrei ambos nus em sua cama poucos dias após seu retorno ao castelo. As carícias entre ambos estavam longe daquelas verificadas entre mãe e filho (…) ela assume as práticas vampíricas ao extremo.”

Os trechos da carta encontrada no castelo por Gyorgy Thurzo, Palatino da Hungria e responsável pelo julgamento de Erzsébet, mostra que até mesmo aqueles que introduziram Bathory na magia negra já temiam pelo seu comportamento cada vez mais violento. O estranho neste fato e que mais tarde discutiremos, é o fato de os diários e escritos de Anna Darvulia e Helena Karponova não serem aceitos no julgamento de Bathory. Darvulia foi o braço direito de Bathory para assuntos particulares entre 1596 e 1601, quando esta veio a falecer.

  • (Novembro de 1604) O Pastor luterano Istvám Magyari pressiona as autoridades locais a respeito das notícias que vem de Vienna e Bratislava, locais onde Bathory têm propriedades. Após muita relutância, Thurzo convoca alguns notários para acompanhá-lo até o castelo de Bathory  e intimá-la a comparecer no julgamento em que será acusada por homicídio, estupro e ocultação de cadáveres. A discussão dos termos do julgamento ganha novo rumo quando os homens de Thurzo descobrem que existe participação de membros da corte e muitas mulheres de nobres nas festas orgiásticas que Bathory promovia no castelo. Fica acordado que Bathory não estará presente ao seu julgamento e que apenas poucas testemunhas e acusadores serão levados em consideração pelo júri.
  • (Fevereiro de 1605) O rei Matthias, que havia contraído um empréstimo vultuoso junto a Ferenc Nadasdy, enxerga no aprisionamento e execução de Bathory uma maneira de se ver livre dos débitos, já que sua corte encontra-se semi-falida no início do século dezessete. Além disso, Matthias planeja apossar-se das muitas propriedades de Bathory, inclusive as propriedades em Bratislava, Vienna e Sárvár.
  • (Inverno de 1609) A região registra o desaparecimento de quase quarenta meninas entre 11 e 14 anos de idade. Uma testemunha afirma junto aos juízes que viu dois homens em uma carroça carregada de corpos. Ao seguí-los noite adentro, pode vê-los amontoando os cadáveres e ateando fogo em todos eles. Foi a gota d’agua para que o Rei aumentasse a pressão sobre as autoridades locais, inclusive ameaçando-os com o cárcere caso não capturassem Bathory.
  • (Maio de 1610) Paul, filho mais novo de Bathory recebe Thurzo para acertar os últimos detalhes sobre o julgamento da mãe. Ao saber das ameaças de Bathory sobre os segredos de tantos nobres locais e suas relações comerciais ( proibidas na época ) com os Otomanos, Thurzo arquiteta junto a Helena Karponova e Paul Bathory a fuga de Bathory para Florença na Itália.
  • (Julho de 1610) Uma testemunha relata para os juízes a constituição física de Erzsébet Bathory, da qual a maioria dos cidadãos da região não viam há muitos anos: “Alta e esguia, cabelos longos castanho-avermelhados e bastante volumosos. Olhos negros como azeviche, pele branca como a mais branca das neves. Seios relativamente fartos e uma pele sem nenhuma marca de expressão, rugas ou manchas provenientes de alguma enfermidade, algo bastante incomum para uma mulher de quarenta anos de idade naquela época. E o mais assustador de tudo: Bathory não aparentava mais do que 20, no máximo 25 anos de idade. Sua jovialidade impressionava aqueles poucos que com ela conviveram.

 As acusações contra Erzsébet Bathory no tribunal:

1. Expôr as vítimas a temperaturas muito baixas ao ponto do congelamento por hipotermia.
2. Morte por inanição.
3. Espancamento por longos períodos de tempo até a morte devido a complicação dos ferimentos.
4. Queima ou mutilação de órgãos como mãos e braços e as vezes a genitália.
5. Ferimentos nas vítimas por mordidas na face, braços, pernas e genitália.

Todas as acusações eram feitas e aceitas pelo modo: ouvi dizer que alguém sabe ou viu ou ouviu; ou seja, a maioria dos que a acusavam jamais viu ou ouviu alguma coisa da própria acusada. Mesmo assim todas as acusações foram aceitas. O tal diário que continha as atrocidades de Bathory relatadas de próprio punho jamais foi encontrado se é que realmente existiu. Os supostos ajudantes de Bathory nos crimes: Dorottya Szentes, Ilona Jó, Katalin Benická e János Újváry tiveram as suas sentenças decretadas na tarde do dia 11 de Janeiro de 1611.

Szentes, Ilona e Újváry foram considerados culpados. Os três tiveram as mãos decepadas e foram mantidos em cativeiro por dez dias para então, serem queimados em fogueiras assim como haviam procedido sob as ordens de Bathory. Benická não pôde ser acusada como culpada ( também era amante de um dos jurados do tribunal ). Decidiu-se que ela fora totalmente dominada por Bathory e que tinha apenas 12 anos quando começou a prestar seus serviços no castelo de Sárvár como criada da condessa.

Severamente ameaçados por Paul Bathory, houve o recuo da acusação e uma proposta de acordo: Bathory deixaria o país e cederia grande parte de suas terras para Matthias e seus aliados. Além de perdoar a dívida contraída pelo rei junto ao falecido esposo. A farsa toda foi montada por Gyorgy Thurzó. Primeiramente ele assegurou-se de que não havia o menor risco de os escritos de Helena Karponova e Anna Darvulia caírem em mãos erradas – isso comprometeria gente do mais alto escalão burguês do império Austro-Húngaro, e que se caso isso ocorresse, se vingaria sobre os três filhos e os dois afilhados de Bathory.

Para desespero de Matthias, isso seria o máximo que conseguiria pois as terras confiscadas serviriam apenas no abatimento da dívida do Império com exércitos mercenários e outras provisões necessárias. Na madrugada de 30 de Julho de 1611, Bathory deixa o castelo rumo ao porto de Varna, de onde embarcaria numa viagem para Florença e mais tarde Veneza. Uma camponesa é amarrada e atirada para dentro da cela que Bathory deveria ocupar em Csejte. Daí em diante, as autoridades fizeram e ainda fazem o possível e o impossível para manter longe da história da Hungria e da Eslováquia o nome e o legado de Erzsébet Báthory. Padres e estudiosos que coletaram material sobre a vida e o comportamento da Condessa até a sua fuga para a Itália desapareceram misteriosamente, até que tudo passasse a cheirar a lenda. A versão de sua prisão no castelo seguida de sua morte três anos depois acabou se tornando a versão oficial dos fatos.

Helena Karponova e Otto von Graff também desapareceram e chega-se a especular se estes realmente eram os seus nomes. Ao longo do século 17, a família Bathory perde prestígio e poder. Pouca informação temos sobre o destino dos filhos e netos de Bathory. Especula-se que Karel, seu primeiro filho, tenha partido com a mãe para a Itália. Otto von Graff, assim como misteriosamente chegou, misteriosamente se foi. Mas há um interessante relato sobre este homem no díario de Karponova em 7 de Agosto de 1580, vigésimo aniversário da condessa:

“Graff presenteou Bathory com esmeraldas quase tão lindas quanto os seus próprios olhos. A primeira vista, é muito difícil dizer se Otto é mesmo um homem ou alguma coisa de sexualidade confundível. Seus traços são tão delicadas quanto os de uma jovem da idade de Bathory. Seus lábios grossos e severamente avermelhados e sua incapacidade de sorrir sem ter de flertar com alguém. Isso enfurece Bathory, disse-me que ele é o único homem a quem ela poderia amar. A masculinidade agressiva e repleta de músculos e coragem não a atraem em nada. Bathory é amante de mulheres e homens com certeza. Mas lembro agora da longa e macia cabeleira de nosso belo Otto. Se eu acreditasse nos anjos, certamente acreditaria que este homem é um deles. Termino meus pensamentos de hoje e provavelmente o único desta semana a relembrar o sabor daquela tez branca e saudável. Feliz da fêmea que repousa em tua cama meu querido, e que Bathory não nos ouça.”

Já no século dezoito, pouca informação é tida como concreta a respeito de Erzsbet Báthory. Diversos biógrafos tentam repaginar a história apenas misturando lendas e tentando associar Báthory à história de Vlad Tepes. Embora sejam originários do mesmo local, jamais travaram qualquer tipo de contato. Possivelmente nem mesmo suas famílias tiveram relações mais estreitas.

Lendas & Fatos

… certo dia a condessa, envelhecendo, estava sendo penteada por uma jovem criada, quando a menina puxou seus cabelos acidentalmente. Elizabeth virou-se para ela e a espancou. O sangue espirrou e algumas gotas ficaram na mão de Elizabeth. Ao esfregar o sangue nas mãos, estas pareciam tomar as formas joviais da moça. Foi a partir desse incidente que Elizabeth desenvolveu sua reputação de desejar sangue de jovens virgens…

Isso não é verdade. A condessa ( bissexual assumida ), numa relação com um outra jovem, exerce o seu já conhecido sadismo: mordendo, chicoteando e coisas mais – típicas dos sadomasoquistas. A menina em questão também mantinha relações sexuais com Karponova. Com esta sim, a relação envolvia agressão e prazeres mútuos. Báthory não aceitava ser agredida. Quando a menina a golpeou no rosto durante o coito, Báthory enfurecida, partiu para cima da garota espancando a violentamente. Este incidente é relatado no diário de Karponova no dia 14 de Novembro de 1686 – portanto – Báthory contava apenas 26 anos de idade na época e nenhum sinal de envelhecimento era notado em suas expressões; como aliás jamais pôde ser notado devido ao seu envolvimento com o vampirismo.

…Elizabeth após a morte do marido, se dizia que ela envolvia-se com homens mais jovens. Numa ocasião, quando estava em companhia de um desses homens, viu uma mulher de idade e perguntou a ele: “O que você faria se tivesse de beijar aquela bruxa velha?”. O homem respondeu com palavras de desprezo. A velha, entretanto, ao ouvir o diálogo, acusou Elizabeth de excessiva vaidade e acrescentou que tal aparência era inevitável, mesmo para uma condessa. Diversos historiadores têm ligado a morte do marido de Elizabeth e essa história à sua preocupação com o envelhecimento, daí o fato de ela se banhar em sangue…

Fato real. O jovem em questão era Otto von Graff e a velha era uma das cozinheiras do castelo de Csejte. Na ocasião Báthory contava 37 anos de idade. Em 1607, Karponova, Graff e a condessa já haviam assassinado quase 400 meninas em Bratislava, Vienna e Csejte; segundo o próprio diário ignorado da primeira professora de Erzsébet Báthory.

Embora a Igreja Ortodoxa mantenha essas informações e as estude com certa frequencia, a posição oficial é de que os documentos são fraudulentos, incluindo os de propriedade de Willi Schrodter, autor de AS ARTES SECRETAS DOS ROSA-CRUZES. Willi foi o responsável por coletar e  documentar os escritos de Otto von Graff e Helena Karponova sobre a primeira ordem vampírica do ocidente, inclusive descobrindo seus nomes e locais de nascimento.

Parte II

Consideraçõe Iniciais por Otto Von Graff e Helena Karponova

Nenhum ser humano sobre a Terra deve renegar o seu direito a imortalidade. Sim, um direito inalienável. Pode-se exercê-lo u entregá-lo nas mãos dos espíritos elementares. Reencarnes são etapas da existência que o homem desconhece e prefere cedê-los aos destronadores. Roubam do homem o trono oferecido a nós pela Grande-Mãe, que nos arrebatou do julgo do criador.

A Grande-Mãe, que ao contrário de Eva, recusou-se a se submeter e fez de cada ser, de cada alma, um princípio de poder, força e energia; vivenciados com gozo e liberdade. Grilhões rompidos, física e espiritualmente, honraremos a Grande-Mãe. De cada culto a ela surgirá uma Ordem Fraterna. Irmãos e irmãs, seus filhos-amantes que honraram com carne, sangue e espírito sua luta por liberdade e poder.

O vampirismo é a condição natural do homem, que acumula poder, força e inteligência através de séculos.

Ordens e Cultos Vapíricos

Otto von Graff e helena Karponova, alto sacerdote e alto sacerdotisa respectivamente da primeira Ordem Vampírica do Ocidente ( têm-se registros de cultos vampíricos no antigo Egito em adoração a Ísis, embora o termo vampiro ainda não existisse ) foram expulsos de um templo paramaçônico de Bremen, norte da Alemanha em 1576, e condenados a morte por um tribunal da Santa Vehme.

Em fuga, Graff e Karponova trocaram diversas vezes de identidade, até encontrarem refúgio na propriedade da família Nadasdy em Bratislava. Ferenc Nadasdy era então, noivo de Erzsébet Báthory, da qual Graff e Karponova se tornariam bastante íntimos.

O folclore dos balcãs possui diversas versões para a origem e desenvolvimento dos cultos vampíricos e fica difícil decidir-se sobre qual deve ser levado em consideração. O fato dis tribunais terem caçado sem sucesso a intrépida dupla, por converter rituais dos rosacruzes em rituais vampíricos, nos faz admirar e respeitar a coragem destes precursores do vampirismo como arte negra.

O Despertar do Sono

A primeira ordem fundada por Graff e Karponova tinha um interessante método de recrutamento: parodiando a Vehme, um pilar afixava com uma adaga, um pergaminho na porta do recrutado, com a inscrição Vade et Vine; numa analogia aos sucessivos despertares do vampiro. Se o recrutado u201cdespertasse do sonou201d, ele escreveria as iniciais de seu nome com o próprio sangue no pergaminho, e cravaria-o com a adaga de volta a porta na primeira noite de lua nova. O pilar então recolheria o pergaminho e conduziria o profano até o local de culto.

Os “degraus” da ordem dos vampiros

Alto Sacerdote/Sacerdotisa
Pilares
Neófitos
Profanos

A Formação do Culto

A formação de um culto vampírico é relativamente simples. Não há necessidade de altares, templos ou cerimônias complicadas. Tendo sido originada de uma dissidência de membros rosa-cruzes, seus codificadores optaram por simplificar ao máximo a doutrina, se é que assim pode ser chamada. Seus membros munem-se exclusivamente de velas negras ou vermelhas, amuletos de prata em formato de lua ou cruzes egípcias, e objetos pessoais das pessoas de quem se deseja sugar energia. O Consumo de sangue só é indicado em casos em que se deseja o extermínio definitivo da vítima ou pactos de amor.

Culto Transformado em Ordem

Quando um culto atinge um número igual ou superior a doze integrantes, ele é automaticamente transformado em ordem. Realiza-se então um sufrágio onde serão escolhidos o Alto-Sacerdote ou Alto-Sacerdotisa. Também serão escolhidos os dois pilares, um homem e outro mulher. Pilares são os responsáveis pelo recrutamento de novos membros e adoção de profanos.

A Escolha por meio do Sufrágio

A eleição do líder da ordem têm por objetivo, testar a reciprocidade e respeito a autoridade pelos integrantes do culto que será transformado em ordem. Enquanto simples culto, todos são iguais; após a formação da ordem, todos devem obediência e liderança cega ao Alto Sacerdote/Sacerdotisa.

Paulie Hollefeld

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/vampirismo-e-licantropia/a-primeira-ordem-vampirica-do-ocidente/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/vampirismo-e-licantropia/a-primeira-ordem-vampirica-do-ocidente/

O Vampiro na literatura, filmes e na cultura pop – Com Lorde A

Bate-Papo Mayhem #028 – Com Lorde A – O Vampiro na literatura, filmes e na cultura pop

Bate Papo Mayhem é um projeto extra desbloqueado nas Metas do Projeto Mayhem.

O vídeo desta conversa está disponível em: https://youtu.be/L9I4MHt4j7E

Todas as 3as, 5as e Sabados as 21h os coordenadores do Projeto Mayhem batem papo com algum convidado sobre Temas escolhidos pelos membros, que participam ao vivo da conversa, podendo fazer perguntas e colocações. Os vídeos ficam disponíveis para os membros e são liberados para o público em geral duas vezes por semana, às segundas e quintas feiras e os áudios são editados na forma de podcast e liberados uma vez por semana.

Faça parte do projeto Mayhem:

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-vampiro-na-literatura-filmes-e-na-cultura-pop-com-lorde-a

A Pedra de Sangue

Shirlei Massapust

Segundo o geólogo Walter Schumann, heliotrópio é uma calcedônia opaca verde escura pontilhada de machas vermelhas: “Foram-lhe atribuídos, durante a Idade Média, poderes mágicos, porque as pequeninas manchas vermelhas eram consideradas gotas de sangue de Cristo”.[1]

Uma edição do Les Admirables Secrets D’Albert Le Grand (1703), livro mais conhecido como Grande Alberto, diz-nos que os padres se serviam do heliotrópio, importado de jazidas “na Etiópia, em Chipre e nas Índias”, para adivinhar e interpretar os oráculos e as respostas dos ídolos.[2] A homonímia da planta e da pedra conduziu à ideia do uso conjunto como ingrediente de fórmulas milagrosas:

Os caldeus chamam a primeira erva Ireos, os Gregos Mutichiol e os Latinos Eliotropium. Esta interpretação vem de Hélios, que significa o Sol, e de Tropos, que quer dizer “mudança”, porque esta erva vira-se para o Sol. Tem ela uma virtude admirável, se a colhermos no mês de agosto, quando o Sol está no signo do Leão, porque ninguém poderá falar mal, nem prejudicar com más palavras quem a trouxer consigo, envolvida numa folha de loureiro com um dente de lobo, pelo contrário, não se dirá dele senão bem. Além disso, quem a puser sob a cabeça, durante a noite, verá e conhecerá aqueles que poderiam vir roubá-lo. Mais ainda, se se puser esta erva, da maneira que acima se disse, numa igreja onde estejam mulheres, aquelas que tiverem violado a fidelidade prometida aos seus maridos não conseguirão sair se não a tirarem da igreja.[3]

A versão do personagem Rabino Hebognazar no manuscrito da Chave de Salomão (1890), compilado por Stanislas de Guaïta e François Ribadeau Dumas, ensina a produzir um anel astronômico com aro forjado numa liga de ferro e ouro e adorno superior contendo “um retalho de folha de Heliotropium europaeum, outro de Aconitum napellus, um pedacinho de pele de leão, outro de pele de lobo, um pouco de pluma de cisne e de abutre e, acima de tudo, um rubi lapidado”.[4]

O Grande Alberto atribui aos “antigos filósofos” a afirmação de que a pedra possui grandes virtudes quando associada com a planta homônima. A tradição sugere que a união do heliotrópio mineral com o vegetal produz “outra virtude muito maravilhosa sobre os olhos dos homens, que é a de suspender sua capacidade, vivacidade e penetração, e de cegá-los de forma a não poderem ver a quem os levam”.[5] Ou seja, a gema untada adquire a propriedade prodigiosa “de confundir os olhos das pessoas a ponto de tornar o usuário invisível”.[6]

Tal ideia deriva da mitologia grega, onde os artefatos de invisibilidade são propriedade dos deuses e titãs. Platão narra uma história fantástica sobre Giges, rei do Hindustão (c. 687-651 a.C.), que usou um anel de invisibilidade encontrado junto ao corpo de um gigante para assassinar o monarca anterior, Candaules, e desposar a viúva deste:

Era ele um pastor que servia em casa do que era então soberano da Lídia. Devido a uma grande tempestade e tremor de terra, rasgou-se o solo e abriu-se uma fenda no local onde ele apascentava o rebanho. Admirado ao ver tal coisa, desceu por lá e contemplou, entre outras maravilhas que para aí fantasiam, um cavalo de bronze, oco, com umas aberturas, espreitando através das quais viu lá dentro um cadáver, aparentemente maior do que um homem, e que não tinha mais nada senão um anel de ouro na mão. Arrancou-lhe e saiu. Ora, como os pastores se tivessem reunido, da maneira habitual, a fim de comunicarem ao rei, todos os meses, o que se dizia respeito aos rebanhos, Giges foi lá também, com o seu anel. Estando ele, pois, sentado no meio dos outros, deu por acaso uma volta ao engaste do anel para dentro, em direção à parte interna da mão, e, ao fazer isso, tornou-se invisível para os que estavam ao lado, os quais falavam dele como se se tivesse ido embora. Admirado, passou de novo a mão pelo anel e virou para fora o engaste. Assim que o fez, tornou-se visível. Tendo observado estes fatos, experimentou, a ver se o anel tinha aquele poder, e verificou que, se voltasse o engaste para dentro, se tornava invisível; se o voltasse para fora, ficava visível. Assim senhor de si, logo fez com que fosse um dos delegados que iam junto do rei. Uma vez lá chegado, seduziu a mulher do soberano, e com o auxílio dela, atacou-o e matou-o, e assim se assenhoreou do poder.[7]

O homem invisível pode agir livremente, conforme sua vontade, pois está protegido das reprimendas e comentários maldosos do vulgo. Henri Cornélio Agrippa (1486-1535) atribuiu a Alberto Magno e Willian de Paris o registro de crenças medievais, segundo as quais o Heliotropium europæum confere glória constante e boa reputação a quem o carrega. Francis Barret interpreta a afirmativa de que “quem a usar terá uma boa reputação, boa saúde e viverá muito tempo[8]”, concluindo que o porte da planta e/ou da pedra “faz do usuário uma pessoa segura, respeitável e famosa, e contribui para uma vida longa”.[9]

O mago envolto em brumas

O anel de heliotrópio não deveria funcionar exatamente como o hipotético anel de Giges. Aparentemente, ele deveria envolver seu possuidor em névoa… Na versão do Magus (1801), Francis Barret omitiu um efeito citado por Cornélio Agrippa (1486-1535), segundo o qual o heliotrópio “tem admirável virtude sobre os raios do sol, pois diz-se que os converte em sangue. Quer dizer, faz o sol aparecer como em um eclipse, se lhe unta com uma erva que leva o mesmo nome e o coloca em vaso cheio d’água”.[10]

Presumo que a pedra deveria ser fervida com suco de heliotrópio até que a água em ebulição produzisse uma nuvem de vapor suficientemente densa para filtrar os raios solares. Apesar de incompleta, a descrição mais extensa deste rito aparece no Grande Alberto:

Para fazer com que o Sol pareça cor de sangue deve-se usar a pedra que se chama Heliotrópio, que tem a cor verde e que se parece com a Esmeralda e é toda pintalgada como que de gotas de sangue. Todos os necromantes lhe chamam comumente a pedra preciosa de Babilônia; esta pedra, esfregada no suco de uma erva do mesmo nome, faz ver o Sol vermelho como sangue, da mesma maneira que num eclipse. A razão disto é que fazendo ferver água em grandes borbotões em forma de nuvens, ela espessa o ar que impede o Sol de ser visto como de costume. Contudo, isto não pode fazer-se sem dizer algumas palavras com certos caracteres de magia.[11]

Se as palavras e caracteres de magia forem padronizados com aquela outra tradição da Chave de Salomão, onde se utiliza a erva, as palavras consistem na invocação voltada para o ocidente “no dia e hora de marte” dos anjos “Michael, Cherub, Gargatel, Turiel, Tubiel, Bael, os Silfos Camael, Phaleg, Samael, Och, Anael”.[12] Estes caracteres de magia são gravados no halo do anel:

O que se publicou em todos os manuais de magia editados desde o fim do séc. XIX até meados do séc. XX, que tive a oportunidade de consultar, foram apenas cópias, muitas vezes incompletas, dos textos supracitados.

Por exemplo, Gérard Encausse (1865-1916) reproduz “um tratado muito curioso sobre pedras extraído de um livro sob os nomes de Evax e de Aaron”, igual aos tratados de Agripa e Kircher, adicionando-lhe a classificação das pedras “conforme as relações planetárias”.[13] A “pedra heliotrópio” foi relacionada com o Sol.[14]

Embora N.A. Molina conhecesse e recomendasse uma versão integral do Grande Alberto publicada “por um ocultista muito conhecido na Espanha e na América sob o nome de Mago Bruno[15]”, ele preferiu copiar a cópia imperfeita de Gérard Encausse com todos os seus rearranjos e omissões, conforme a tradução para português pré-existente, em seu Antigo Livro de São Cipriano.[16]

Anel de pedra heliotrópio em aro de prata forjado pelo meu finado amigo Afrânio, fazedor de joias e artigos de umbanda. Foi untado com extrato de heliotrópio.

O anel do vampiro

Waldo Vieira, fundador do Instituto Internacional de Projeciologia, autor de obras psicografadas junto com Chico Xavier, foi também um dos maiores colecionadores de gibis do Brasil. Em 1978 ele selecionou e forneceu a maioria das “histórias antológicas” publicadas pelo editor Otacílio D’Assunção Barros no número especial sobre vampiros da revista Spektro. É claro que o nível de informação nas entrelinhas subiu à estratosfera!

Um dos romances gráficos cuidadosamente seletos entre dez mil exemplares foi publicado pela primeira vez no Brasil em julho de 1954, no n º 44 de O Terror Negro. No enredo um personagem acerta uma lança no coração de um vampiro possuidor de um “anel com um morcego”.[17] Ataíde Brás incrementou o motivo num novo roteiro onde o vampiro Paolo coloca “um anel, com um morcego como enfeite” no dedo de sua amada e, imediatamente, “os caninos dela começam a crescer”.[18]

Parece que esta variante do mito surgiu de um equivoco. Todos os filmes da Hammer em que Christopher Lee interpretou Drácula terminaram com a morte do conde. O corpo, as roupas e até mesmo o castelo do nobre vampiro dissolviam-se, restando apenas um anel.  Ninguém sabia por que a joia escapava intacta nem qual era o seu significado. Todos os fãs queriam ter aquilo. Os mais crédulos desejavam que o suposto amuleto existisse e tivesse poderes mágicos.

Poucos conheciam a explicação de Christopher Lee sobre o valor emocional do apetrecho: O anel com aro de prata e pedra vermelha gravada com as iniciais B•L era mera réplica de outra joia enterrada no dedo do finado ator Bela Lugosi, que também interpretou Drácula, sendo usada pelo sucessor em sua memória.[19]

Enquanto durou a polêmica, Robert Amberlain afirmou ter encontrado manuais de feiticeiros alemães descrevendo a confecção de um anel especial:

Um Vampiro gravado na pedra heliotrópio transforma-a numa pedra de sangue. Ela dará a quem a transportar, segundo os ritos convenientes, o poder de comandar os demônios íncubos e súcubos. Ela assisti-lo-á nas suas conjurações e nas suas evocações.[20]

Juro pela alma de Nicolae Paduraru que não existe um manual de feitiçaria contendo semelhante rito ou que, se existe, é um livro particular que nunca foi editado, certamente escrito entre 1958 e 1978 por um feiticeiro fã de vampiros cinematográficos que achou que a descrição do mago envolto em brumas, no Grande Alberto, parecida com a do Conde Drácula virando névoa.

O jornalista fantástico Jean-Paul Bourre também procurou o tal livro e ouviu o seguinte quando entrevistou Vladimir S, membro da seita veneziana Ordem Verde:

Casanova foi encarcerado em Veneza, nas celas do palácio ducal. E sabem os motivos? Foi preso pela Santíssima Inquisição a seguir a uma denúncia em que foi acusado de magia negra. Manuzzi, espião dos inquisidores de Veneza, mandou apreender em sua casa os livros e manuscritos ocultos, entre os quais se contavam os seguintes: Clavículas de Salomão, as obras de Agrippa e o Livro de Abramelin o Mágico. Quais eram então as atividades ocultas do jovem veneziano? Ele afirmava, na sua correspondência, que não praticava a Cabala, mas a arte do Kab-Eli, isto é, a arte da “pedra do sol”. Esta pedra é nossa conhecida. É o heliotrópio (…), os nossos adeptos chamam-lhe “pedra de sangue”, uma vez que permite evocar os defuntos e originar o aparecimento dos vampiros. Outrora tinha também uma função medicinal ligada ao sangue: Ajudava a neutralizar as hemorragias.[21]

Essa estória vingou e se desenvolveu. De acordo com Robert Amberlain e Jean-Paul Bourre, usando isto se podia distinguir “os espectros, os manes e os Vampiros” quando o Sol aparecia vermelho por traz dos vapores. O anel mágico destinado às operações de vampirismo devia ter a pedra montada sobre prata (metal lunar, noturno), enquanto o anel de proteção seria forjado em ouro vermelho (símbolo solar, diurno).

Pela razão de que é verde (cor do astral ou do ‘mundo’ imediato dos mortos) e verde escura (os mortos maléficos), raiada de traços vermelhos (o sangue), esta pedra liga-se aos mistérios da morte, do vampirismo e do sangue. (…) Outrora era tida como capaz de parar as perdas de sangue, as hemorragias, e como proteção contra os venenos e mordeduras dos Vampiros.[22]

Robert Amberlain reconhece que quando se penetra no domínio da magia, penetra-se igualmente no da superstição. Então, “no caso de se tratar de uma seita votada ao vampirismo” os nobres afligidos pela seita poderiam ser enterrados com o anel contendo a “pedra do sangue” na crença de que ele protegeria o túmulo, os despojos e o “duplo” durante as saídas e materializações. “Imaginavam que o uso do anel maléfico lhes evitaria uma acidental e desastrosa exposição aos raios do Sol”.[23]

Jean-Paul Bourre incluiu a proteção contra “o aparecimento de caçadores de vampiros, a estaca aguçada e o fogo que podia destruir em poucos segundos o corpo do não morto”.[24] Como isso? O amuleto protege o vampiro causando a morte de quem quer que pise “dentro do perímetro mágico”. A sorte do homem que penetra na zona sagrada se assemelha a dum inseto caído numa teia de aranha. “Uma pequena e subtil vibração basta para que toda essa teia seja sacudida”. A aranha desperta e abocanha o intruso. “Sua lei é inexorável”.[25]

Fada do Heliotrópio, ilustração de Cicely Mary Barker (1895-1973), parte duma coleção de 168 fadas com plantas botanicamente corretas, no livro Flower Fairies of the Garden (1944).

Sangue de dragão

Existem lendas sobre uma pedra impossível cuja descrição parece remeter ao jaspe sanguíneo, chamado “sangue de dragão”, que só um exímio caçador de dragões consegue obter. O frade Rogério Bacon (1214-1292) escreveu o seguinte:

 

Sábios etíopes vieram à Itália, à Espanha, à França, à Grã Bretanha e essas terras cristãs onde existem bons dragões voadores. E, por uma arte oculta, que possuem, excitam os dragões a saírem das suas cavernas. E tem selas e freios já prontos, e montam esses dragões e fazem-nos voar a toda a velocidade pelos ares a fim de amolecerem a rigidez da sua carne (…) e quando desse modo amaciam esses dragões, tem a arte de preparar a sua carne (…) que utilizam contra os acidentes da velhice, para prolongarem a sua vida e subutilizarem a sua inteligência de maneira inconcebível. Porque nenhuma doutrina humana pode fornecer tanta sabedoria como o consumo da sua carne.[26]

Esse é o tipo de estória mirabolante na qual ninguém acredita, mas que todos gostam de ouvir. A temática faz boa parelha com uma instrução obscura do talvez contemporâneo livro do Grande Alberto:

Para vencer os inimigos deve usar-se a pedra Draconite, que se tira da cabeça do dragão; é boa e maravilhosa contra o veneno e a peçonha, e quem a usar no braço esquerdo sairá sempre vitorioso dos seus adversários.[27]

Estas são estórias para divertir crianças, embasadas na interpretação literal da lenda cristã onde São Jorge ou o arcanjo Miguel mata um dragão.

Em 1222, o National Council of Oxford decidiu organizar um grande festival em honra ao santo, no qual o dragão foi apresentado, à guisa de satânico adversário da verdadeira fé, para ser dominado e vencido pelo herói do dia. Por todos esses motivos foram inúmeras as histórias ligando São Jorge ao dragão, naqueles tempos. A mais popular entre todas foi, talvez, a que contou Jacques de Voragine, arcebispo de Gênova (de 1236-1898), em sua Lenda Dourada (…) Segundo essa lenda, houve uma vez, na Líbia, uma cidade chamada Selene. Todos os campos em seu redor tinham sido devastados por um monstro terrível, que somente era impedido de atacar e devastar a cidade pela oferta diária de dois gordos carneiros. Mas chegou um tempo em que não havia mais nem um só carneiro para apaziguar a fome do monstro, que imediatamente começou a aumentar sua devastação em torno da cidade. Por isso, diariamente, eram sorteadas duas crianças até a idade de quinze anos e as indicadas pela sorte eram oferecidas em sacrifício ao monstro. Um dia a sorte apontou a própria filha do rei, Cleodolinda. Imediatamente o soberano ofereceu tudo o que possuía ao cidadão que se apresentasse para substituir a infeliz. Porém todos recusaram e Cleodolinda foi abandonada, só, fora das muralhas de Selene, a fim de seguir o seu triste destino. Um tribuno do exército romano, Jorge da Capadócia, surgiu cavalgando um cavalo branco e, ao saber da triste história da jovem princesa, decidiu, imediatamente, sair ao encontro do dragão, em nome de Jesus Cristo, a fim de matar a fera ou morrer nessa empresa.

 

O monstro se atirou contra o cavalheiro e tremenda luta se seguiu, até que Jorge, com ousadia e perícia sem par, varou o dragão com sua espada. Porém a fera não morreu imediatamente e Jorge disse a Cleodolinda que passasse seu próprio cinto em redor do pescoço do monstro, a fim de o conduzir em triunfo até a cidade. Ela assim fez e o monstro seguiu-a submisso. À chegada do estranho grupo, o povo, cheio de terror, tratou de fugir. Porém, Jorge a todos serenou e, depois de os ter reunido na praça principal, degolou o dragão. Foram necessários quatro juntas de bois para arrastar para fora da cidade a imensa carcaça.

 

O rei, a rainha, Cleodolinda e vinte mil cidadãos abraçaram o cristianismo. O rei ofereceu a Jorge a mão de sua filha em casamento. Porém o santo herói, cortesmente, declinou essa proposta e, após recomendar ao rei que honrasse a religião e amasse aos pobres, beijou-o nas duas faces e continuou viagem.[28]

Quanta imaginação para dizer que nem uma princesa virgem, nem um reino inteiro valem a quebra de um voto de castidade de um santo católico!

Pedrarias genéricas

A cultura da desinformação aconselha os brasileiros a nacionalizar toda e qualquer coisa pela substituição do antigo pelo novo, do raro pelo disponível, da economia pela ostentação. Em meados do século XX um famoso autor brasileiro – que eu me absterei de identificar pelo nome – aconselhou seu público alvo, os mandingueiros, a empapar seus objetos de uso pessoal com Helianthus annuus, óleo de girassol, ao invés de extrato perfumado de Heliotropium europaeum, de fragrância agradável e duradoura, que custava seis reais o frasco.

Na virada do milênio um quilo de pedra heliotrópio custava cinco centavos de dólar no atacado, no Rio de Janeiro. Mesmo assim faltava no estoque das lojas revendedoras onde pseudo-especialistas nos ofereciam o conteúdo da caixa etiquetada “bloodstone” que poderia conter jaspe sanguíneo, hematita e até mesmo pedra imã.

Eu tive de insistir e pagar adiantado pela lapidação de um heliotrópio, pois o especialista em produção de artigos para terapeutas alternativos relutou a crer que uma mulher pudesse preferir uma pedra barata a um rubi-zoisita. Algo parecido ocorreu algumas vezes no passado. Hebognazar intercambia heliotrópio e rubi em sua Chave de Salomão. Por que trocar um pelo outro? Naquela época o herói da mineralogia George Frederick Kunz (1856-1932) ainda não havia nascido nem catalogado um batalhão de pedras mágicas de baixo custo para a alegria do povo e felicidade geral da nação.

Sem ninguém para explicar aos soberbos que gosto não se discute pareceria um desperdício gastar um aro de ouro ou prata para equipar uma pedra adquirida ao custo de poucas moedas numa barraquinha de camelô. Uns e outros pensariam ser mais adequado portar uma gema digna de ser comercializada numa joalheria que fornece certificado de origem. O problema é que a troca prejudica a lógica ritualística pondo a perder a relação de homonímia entre erva e pedra, onde o semelhante reage com o semelhante.

Notas:

[1] SCHUMANN, Walter. Gemas do Mundo. Trad. Rui Ribeiro Franco e Mario Del Rey. Rio de Janeiro, Ao Livro Técnico, p 128.

[2] HUSSON, Bernard (org). O Grande e o Pequeno Alberto. Trad. Raquel Silva. Lisboa, Edições 70, 1970, p 163.

[3] HUSSON, Bernard (org). Obra citada, p 149-150.

[4] CLAVÍCVLAS DE SALOMON: Libro de Conjuros y Fórmulas Mágicas. Trad. Jorge Guerra. Barcelona, Editorial Humanitas, 1992, p 93 do fac simile.

[5] AGRIPPA, Cornélio. La Filosofia Oculta: Tratado de magia y ocultismo. Trad. Hector V. Morel. Buenos Aires, Kier, 1998, p 42.

[6] BARRET, Francis. Magus: Tratado completo de alquimia e filosofia oculta. Trad. Júlia Bárány. São Paulo, Mercuryo, 1994, p 60.

[7] PLATÃO. A República. Trad. Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1996, p 56-57.

[8] HUSSON, Bernard (org). O Grande e o Pequeno Alberto. Trad. Raquel Silva. Lisboa, Edições 70, 1970, p 163.

[9] BARRET, Francis. Obra citada, p 60-61.

[10] AGRIPPA, Cornélio. Obra citada, p 42.

[11] HUSSON, Bernard (org). O Grande e o Pequeno Alberto. Trad. Raquel Silva. Lisboa, Edições 70, 1970, p 163.

[12] CLAVICULAS DE SALOMON (1641). Barcelona, Humanitas, 1997, p 93 do fac simile.

[13] PAPUS. Tratado Elementar de Magia Prática. Trad. E. P. São Paulo, Pensamento, 1978, p 232-233.

[14] PAPUS. Obra citada, p 235.

[15] MOLINA, N. A. Nostradamus – A Magia Branca e a Magia Negra. Rio de Janeiro, Espiritualista, p 63 e 76.

[16] MOLINA, N. A. Antigo Livro de São Cipriano: O gigante e verdadeiro capa de aço. Rio de Janeiro, Espiritualista, p 131-135.

[17] A VILA DO VAMPIRO. Em: SPEKTRO: Especial dos vampiros. Rio de Janeiro, Vecchi, março de 1978, nº 5, p 82.

[18] BRAZ, Ataíde (roteiro) e KUSSUMOTO, Roberto (desenho).  A Noite da Vingança. Em: SPEKTRO: Especial dos vampiros. Rio de Janeiro, Vecchi, março de 1978, nº 5, p 68.

[19] AS VÁRIAS FACES DE CHRISTOPHER LEE. Brasil, Dark Side, 1996, DVD.

[20] AMBERLAIN, Robert. O Vampirismo. Trad. Ana Silva e Brito. Lisboa, Livraria Bertrand, 1978, p 213.

[21] BOURRE, Jean-Paul. O Culto do Vampiro. Trad. Cristina Neves. Portugal, Europa-América, p 137.

[22] AMBERLAIN, Robert. Obra citada, p 213.

[23] AMBERLAIN, Robert. Obra citada, p 214.

[24] BOURRE, Jean-Paul. Os Vampiros. Trad. Margarida Horta. Portugal, Europa-América, 1986, p 133.

[25] BOURRE, Jean-Paul. Idem, p 133-134.

[26] BACON, Rogério. Opus Majus: Vol. II. Oxford, J. H. Bridges, 1873, p 211. Em: HUSSON, Bernard (org). O Grande e o Pequeno Alberto. Trd. Raquel Silva. Lisboa, Edições 70, 1970, p 75.

[27] HUSSON, Bernard (org). O Grande e o Pequeno Alberto. Trd. Raquel Silva. Lisboa, Edições 70, 1970, p 167.

[28] SÃO JORGE: HISTÓRIA, TRADIÇÃO E LENDA. Em: EU SEI TUDO, nº 11. Abril de 1954, p 16-18.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/vampirismo-e-licantropia/a-pedra-de-sangue/

9 Declarações Satânicas

Anton Szandor LaVey

1. Satã representa indulgência ao invés de abstinência!

2. Satã representa a vida ao invés ilusões espirituais!

3. Satã representa a sabedoria livre de preconceitos ao invés da auto ilusão hipócrita!

4. Satã representa bondade para aqueles que a merecem ao invés de amor desperdiçado com ingratos!

5. Satã representa vingança ao invés de oferecer a outra face!

6. Satã representa responsabilidade para o responsável ao invés de tempo gasto com vampiros psíquicos!

7. Satã representa o homem como qualquer outro animal, às vezes melhor, mas freqüentemente pior do que aqueles que caminham em quatro patas, e que graças ao seu “desenvolvimento intelectual e espiritual divino”  se tornou o animal mais corrupto e cruel de todos!

8. Satã representa todos os assim chamados pecados, pois todos levam à gratificação física, mental e emocional!

9. Satã é o melhor amigo que a igreja jamais teve, pois é graças a ele que ela se manteve funcionando por todos esses anos!

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/satanismo/as-nove-declaracoes-satanicas/ […]

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A Ordem de Aset Ka e a Popularização do Vampirismo Moderno

Em Hotep,

Tomei conhecimento da Ordem de Aset Ka em 2007 quando a Bíblia Asetiana foi liberada para deleite do publico em geral, em especial os europeus que já tinham alguma noção dos trabalhos vinculados a misteriosa sociedade cuja sede, sabe-se através do autor Luís Marques, se encontra na cidade de Porto, Portugal. É provavel que hajam outros capitulos da mesma espalhados ao redor do globo terrestre, todos estes interligando os adeptos as suas origens vampíricas presentes no Egito Antigo, onde a matriarca divina, Ísis, compartilhou não somente sua sabedoria entre sua descendencia, como sua própria imortalidade.
Por séculos a Ordem tomou a si a regencia do Antigo império egipcio, em um glamoroso reinado de Beleza e Poder, meramente esquecido pelos historiadores de nossa época, sequer reconhecido pelos mesmos.

“Para o seu grupo secreto e silencioso, Aset (Ísis) atribuiu-lhes o nome de Aset Ka, um símbolo direto de suas verdadeiras origens – a essência de Ísis, o Ka de Aset. E assim ela disse te-los vinculados através do sangue, e os fiéis a ela seriam para sempre fiéis para eles próprios, porque eles eram um só. Em seu “Beijo Negro”, ela gravou o sigilo santo no fundo de suas almas, que seria para sempre sua Marca Asetiana, e eles fariam o mesmo com seus seguidores” A Bíblia Asetiana.

A Aset Ka, enquanto ordem iniciática, existia muito antes de qualquer ordem vampírica, tal como Crimson Tongue, Dreaming, House Kheperu, ou até mesmo a notória Black veil, famosa pelos seus roles playing games e fãs de Nox Arcana. É certo que, em contexto de exposição muito diferente e com recursos completamente distantes dos que utiliza hoje em dia, vide o site oficial circulando na Web, mas já à 20 anos atrás haviam serões de palestras sobre manipulação de energia organizadas pela Aset Ka em Londres e Paris. Fatos tais são dificilmente encontrados em textos liberados, mas correm aos sussurros pelos círculos ocultistas, da onde a autora que os expõe aqui, sugou deliberadamente as informações.

Pois bem, antes que tomem notas através do trabalho que aqui se segue, é importante fazer um parecer sobre a pratica do Vampirismo, já muito propagada fora dos círculos ocultos, em especial pelos sujeitos mais problemáticos que são os adolescentes deslumbrados e fãs de qualquer alegoria sombria/sensual. Tais ordens como Aset Ka jamais registraram qualquer indicio de prática canibalista em seus meios como uma questão de obrigatoriedade de sua natureza divina, senão uma alusão ao que seria “sugadores da essência divina”, energia psiquica ou sexual. Fora isto, moldar em mente sujeitos de preto, cabelos longos, pele pálida e feições aquilinas voando entre árvores de um bosque a caçar mocinhas, é apenas uma visão romanceada, figurativa, do que o Vampiro de fato representa. A questão da alimentação sanguinea não é uma condição inerente ao Asetiano, que privado desta dieta, padecerá em uma funesta não-existencia cá entre os vivos. Sobre esta questão, busquei referencias na fonte mais correta da Ordem, sua Bíblia, que nos trás a questão de maneira bem direta:

“O que um vampiro real realmente anseia em seu núcleo é o Ka, a essência da vida, se liberada por um intenso orgasmo sexual, desde o sangue pingando da veia do doador, ou simplesmente pelo toque da carne”

Procede-se então que o Vampiro se comporta de maneira similar a um daemon invocado cujo sigilo necessita ser alimentado pela energia do seu conjurador, seja numa gota de sangue, seja através do fluído sexual. O Vampiro todavia, não é uma condição sobrenatural inalcançavel. Tomando o presuposto que o Vampiro se alimenta da energia exterior, o vampirismo psiquico fora abordado de maneira bastante elucidatoria por autores como Dion Fortune e Anton Lavey.O “Psyvamp” sendo uma condição repassada seja geneticamente ou através de ataques exteriores, PORÉM, não resulta no recrutamento do mesmo para uma Ordem como Aset Ka. Simplesmente porque ser asetiano não é somente ser um vampiro. A questão é mais profunda e essencialmente vinculada a hereditariedade.

Não adianta donativos, puxa-saquismo, sequer seu sangue é interessante a Ordem. Sendo um círcuo estritamente fechado, entende-se bem o porque de poucos conhecerem Aset ka. Esta casa ocultista não é como as casas por ai que dizem serem secretas, e fazem entrevistas até para o Jô Soares se puderem. Não deve-se confundir Ordem restrista com Ordem Secreta, pois nem todas as ordem restritas sobrevivem na obscuridade, por exemplo a famosa Maçonaria. Mas então porque diabos lançar um livro, um site, até uma pagina na Wikipedia, se a palavra de ordem da Aset Ka é Sigilo?

Em dialogos com um possivel conhecedor dos trabalhos asetianos nas terras lusitanas, este me deu a entender que alguns descendentes da Ordem vagavam por ai sem conhecimento de suas origens. As publicações rescentes, por tanto, pretendiam, e pretendem, despertar esses irmãos e levá-los de encontro a suas origens. O reconhecimento se daria de uma maneira profundamente íntima, é deduzível, já que não consta um manual de comportamentos asetianos, senão poucas caracteristicas referentes as linhagens. Obviamente, as publicações atraíram muitos tipos de fanboys e fangirls de RPG, Anne Rice, Saga Crepúsculo e até membros de outras ordens, curiosos acerca desta identidade otherkind presente no asetiano. Mas é provavel que os curiosos não obtiveram sucesso em suas pesquisas, tal como eu que apenas pude me satisfazer com informações minguadas espalhadas entre os círculos.

 

Aset Ka e as Três Linhagens Vampíricas

“Vivemos em segredo. Vivemos em silêncio. E nós vivemos sempre …Que a Serpente beije o infinito de sua beleza fria”

A palavra Asetiana refere-se à linhagem imortal criada por Ísis no Antigo Egito. Em seu ato de criação divina, ela deu sozinha à luz a três crianças para fora de sua essência. Esses são os Asetianos Primordiais, os primeiros de seus parentes, representações perfeitas das Linhagens encontrados em Asetianismo. Isso explica a natureza tríplice da linhagem que é representada por três linhagens distintas: Serpente, a Linhagem dos Viperines, Escorpião, a linhagem dos Guardiões, Escaravelho, a Linhagem dos Concubines.

1 – Linhagem das Serpentes (tambem conhecida como a linhagem de Hórus): Esta linhagem assenta as suas bases na honra, no poder e na força da liderança. Os seres desta linhagem destacam-se por possuir elevados poderes metafisicos, e uma criatividade extraordionária. São habitualmente temidos por aqueles que conhecem os seus poderes. Fisicamente, tem uma aparência frágil (apesar de serem de todas as linhagens os mais poderosos) devido a possuirem um grande desprendimento da Terra em si. São na maioria das vezes pessoas palidas, magras, e tem um olhar profundo que lhes é caracteristico.

2 – Linhagem dos Escorpiões (Guardiões) :os seres desta linhagem denotam-se por uma grande ligação ao amor, e busca do mesmo. Para eles, o amor é a propria razão da vida. São desligados das pessoas em geral, apresentando por diversas vezes pontos de vista divergente da maioria das opinioes da sociedade. São muito ligados á Terra, o que resulta no desenvolvimento de um grande escudo de protecção á sua volta quase constante. São seres notoriamente protetores, contudo só permitem a alguns aproximarem-se de si intimamente. Nao interagem muito facilmente com a energia, devido precisamente ao seu “escudo” quase constante. São donos de uma saude excelente assim como de um ótimo sistema imunologico. São poucos sensiveis á luz solar, e podem ainda ser menos palidos que os asetianos das outras duas linhagens. Tem um metabolismo energetico lento, logo sao raras as vezes em que necessitam de retirar energia dos outros. São avançados na alimentação tantrica. Alimentam-se de energia sexual.

3 – Linhagem dos Escaravelhos (Concubines): Tem uma natureza caótica, e ao mesmo tempo adaptativa. Tem a habilidade de partilhar grandes quantidades de energia, tornando-os excelentes doadores , sobretudo para a linhagem das serpentes. Sao submissos e controlados, mas apenas por aqueles que lhe são bastante proximos. Tem uma grande necessidade de contacto humano social, e por isso mesmo sao das 3 linhagens a que possui uma alma mais humanizada, sendo que o facto de se misturarem com os humanos e agirem muitas vezes como eles emotivamente é um dos seus maiores fardos, uma vez que assim se torna mais dificil de atingir o seu eu interior divino. Umas das suas capacidades mais marcantes é a de conseguirem transformar a dor fisica em prazer, alimentando-se muitas vezes de energia sexualmente liberada. Não tem uma aparencia fisica esteriotipamente definida, a mesma costuma variar imensamente.

Keepers – Crianças de Anubis

São os protetores dos Asetianos, estão a eles ligados através de lealdade, respeito, honra e dedicação. Tal como os Asetianos, tem uma alma imortal nao humana, logo sao conhecidos como otherkins. Alguns possuem uma alma vampirica, outros tem uma alma humanizada. Discípulos de Anubis, sao extremamente avançados no que toca a praticas e ritos de magia e feitiçaria. A sua maior ambiçao é proteger os Asetianos.

“Desenvolvimento e iluminação são processos lentos e persistentes da viagem Asetiana através da vida. Esta iniciação metafísica é um sistema de transmutação. Com esta mudança pura e profunda, significa que o Asetiano consegue alterar de forma,aparência e natureza, que é uma manifestação da força da Chama Violeta em si. Esta transmutação, profundamente conectada com o nascimento vampírico, representa a natureza da alquimia da alma Asetiana, sempre mudando eternamente. De acordo com isto, podemos estabelecer o Asetianos como os alquimistas do alma, criadores e destruidores,catalisadores de mudança e evolução, com o poder de transformar chumbo em ouro. Asetianos são os doadores de vida, os pilares da existência sutil, os proprietários darespiração da imortalidade. ”

Mas então, qual seria o sistema asetiano? Como vivem e o que fazem?

Existem trechos deveras notáveis nas obras de Luis Marques que calam a boca dos insistentes, porém nao conseguem fazer morrer o interesse. Tal como o autor é uma pessoa física E conhecida, os asetianos assim são, habitando entre nós, podendo ser nossos vizinhos ou um apresentador de um talk show na TV.
“Para aqueles fora da Ordem, nós jamais existiremos” (A Biblia Asetiana).

No entando, sabemos que eles sim existem, mas não da maneira extravagante que Hollywood demonstrou.

“Os vampiros e criaturas similares podem ser encontradas em quase todas as culturas ao redor do mundo. Nos contos do Vetalas da Índia encontram-se no folclore sânscrito, chamados demonios vampiricos, tanto que os Lilu são conhecidos desde os mistérios da Babilônia, e mesmo antes, os sanguessugas de Akhkharu foram vistos na mitologia suméria. De fato,um desses demônios do sexo feminino, chamado Lilitu, foi adotado mais tarde pelademonologia judaica, Lilith, sendo um arquétipo ainda atualmente utilizado em algumas tradições ritualísticas do Caminho da Mão Esquerda. Mas a maioria do que é reconhecido do vampiro vem da Romênia e contos eslavos, os Strigoi chamados Nosferatu e Varcolaci, entre outros. No entanto, o Vampiro verdadeiro, como um ser real e não o conceito encontrado em todo o mundo e na história como puro mito criado pelo homem, tem suas raízes no Antigo Egito, sendo ele o Asetiano”. (A Bíblia Asetiana)

Nathalia Claro.

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/vampirismo-e-licantropia/a-ordem-de-aset-ka-e-a-popularizacao-do-vampirismo-&#8230; […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/vampirismo-e-licantropia/a-ordem-de-aset-ka-e-a-popularizacao-do-vampirismo-moderno/

Bonecos Vampiros Gigantes

Shirlei Massapust

Muito se discute se BJD de tamanho 1/1 é algo para além de um mero boneco. A Fonte (1917) de Marcel Duchamp é um urinol, todavia se expõe como obra de arte. BJD de tamanho 1/1 é boneco, mas raramente é tratado como tal. Aparece mais como representação artística daquilo que de fato é.[1] Estes sobrebonecos são sofregamente achados em galerias de arte ou leilões onde as vezes se paga até para dar lances perdidos. Seus produtores são bonequeiros conhecidos. A Geração Y viveu para ver Marmite Sue, Bleuacide (Taissia Abdoullina) e Marina Bychkova deixando o comércio de colecionáveis para mergulhar nas brumas do mundo invisível da alta sociedade.

O tamanho máximo para um BJD que o homem médio asiático planeja ter em casa varia de 55 a 75 cm, muito raramente obtendo também algum de 80 ou 90cm. A maioria dos colecionadores não chega a consumir figuras humanas em escala 1/1 por não terem onde guardá-las e porque nem tudo convém levar para casa. É mais cômodo adquirir periódicos, livros de arte e outros materiais impressos, donde vem o costume entre os escultores-bonequeiros de trabalhar em dupla com fotógrafos.

No século XIX já existia isto que nos países de língua inglesa é chamado de “ball jointed doll” (BJD), nos de língua francesa de “sujet de la jointure à boules”, nos de língua alemã de “das kugelgelenk”, etc. Porém eram brinquedos infantis, bonecos ocos articulados com juntas esferoides e esqueleto de elástico. Quem primeiro os julgou impróprios para menores de oito anos e teve a ideia de produzir BJD em escala 1/1, para apreciação do público adulto, foi o alemão Hans Bellmer (1902-1975).[2]

A junta universal – que gira para todos os lados – surgiu na época transitória da substituição do astrolábio geocêntrico pelos globos terrestres. Graças a ela a caneta tinteiro deu lugar à esferográfica e a mobilidade dos bonecos foi ampliada ao ponto da imitação fidedigna dos movimentos humanos. Por este motivo Hans Bellmer imaginou que o manejo do BJD pode estimular o engendramento de novas aplicações da junta universal na elaboração de teorias científicas, criação de máquinas e artesanato.

Isto nos permite identificar precisamente a função da boneca, que é o “estimulador poético”. Não importa se mais ou menos realista ou confusa — flutuando, como costuma fazer, entre os papeis de animado ou inanimado — nós sempre estaremos olhando para uma coisa móvel, passiva e incompleta que pode ser personificada. Em última análise, no quadro geral cujo princípio do objeto articulado parece atender à demanda, nós devemos estar tratando do fator mecânico por trás da mobilidade: A junta universal. [3]

Hans Bellmer definia os jogos de interpretação como uma categoria de poesia experimental. Por isso chamava a projeção do humano em relação ao boneco de “das Du”, na segunda pessoa singular, repudiando termos usados em psicologia (ego e id são Ich ou self e Es em idioma alemão). Ficção não se mistura com realidade; logo, a réplica guarda sua própria natureza enquanto objeto de abstração e espelhamento.

1) Antiga fotografia anônima duma boneca de Hans Bellmer em exibição temporária no Art Institute of Chicago.[4]

 2) Antiga fotografia de La Poupée (1935) de Hans Bellmer.[5]

 

O gênero de bonecos Iki-ningyō (生人形) retrata fielmente a imagem humana e, não raro, critica a realidade em que vivemos. Sua tipologia assimilou o hiper-realismo difundido nos EUA e na Europa desde 1969, porém uma forma primária já existia no Japão desde o século XIX permeando a confecção de bonecos de todos os tamanhos.

O Museu Nacional do Japão possui uma ala inteira destinada à exposição permanente 球体関節人形展・Dolls of Innocence, onde são exibidos vários bonecos com juntas esféricas em escala 1/1 ou maiores. A peça mais antiga é La Poupée (1935), criada por Hans Bellmer; um corpo feminino com dois sexos, quatro pernas e nenhum busto, notoriamente uma mulher em mitose. Essa é a boneca autorreplicante que se desdobra em dois corpos inteiros na introdução de três minutos e vinte e nove segundos que fez do filme Innocence (イノセンス, 2004) o produto da franquia Ghost in the Shell (攻殻機動隊) mais ovacionado pela crítica filosófica.

Depois desta amostragem da arte de Hans Bellmer, as bonecas mais antigas da referida exposição são peças datadas de 1986 produzidas pelo chinês Ryo Yoshida (吉田 良) e pelo japonês Jin Yamamoto (山本仁), os quais trabalharam com temas mórbidos, eróticos e infantis. Outros vieram depois, inclusive a japonesa Koitsukihime (恋月姫) que esculpiu quatro bonecas adquiridas pela curadoria do museu. Uma delas é uma graciosa menina deitada num caixão, produzida em 2003.

1) Criança no caixão, esculpida por Koitsukihime e fotografada por Mario Ambrosius na exposição 球体関節人形展・Dolls of Innocence do Museu Nacional do Japão.[6]

2) Vampiro da série Kamitsukitai (咬みつきたい) esculpido por Katan Amano e fotografado por Ryo Yoshida.[7]

 

Esta última pode ser uma vampira pois Koitsukihime[8] exibiu sua especialidade, em parceria com o fotógrafo Hiroshi Nonami (野波浩), na coleção de cartões postais Misericordia (恋月姫展 ミゼリコルディア; 2008), editada pelo Studio Parabolica. Nela vemos dezoito fotografias de treze bonecas esculpidas entre 1980 e 2006. Isso foi anunciado como matéria de capa do número especial sobre vampiros de revista de artes Yaso 夜想 ヴァンパイア (2007), também impressa pelo Studio Parabolica.

Posteriormente a escultora-bonequeira Mari Shimizu (清水真理) também publicou o livreto Ashes to Ashes, Dust to Dust (2014) contendo cinco fotos duma série de bonecas com temática vampírica, todas esculpidas por ela, junto a um conto bilingue (inglês/nihongo) escrito por Mari Ishigami (石神茉莉). Foi um projeto tão bem sucedido que, no ano seguinte, Mari Shimizu fez mais seis BJDs e uma escultura na série Kyūketsuki gensō (吸血鬼幻想), “Fantasia de Vampiro”, divulgada pelo Twitter.[9]

BJD vampiros em tamanho 1/1:

1) Escultura Harukanaru nemuri 「遥かなる眠り」 (sono distante), esculpida por Koitsukihime e fotografada por Hiroshi Nonami, reproduzida na capa da revista Yaso 夜想 ヴァンパイア (2007).

2) Capa do livreto bilingue Ashes to Ashes, Dust to Dust (2014) com fotografias de esculturas de Mari Shimizu e texto de Mari Ishigami.

 

Jovens vampiras estão na ponta dum iceberg que se avoluma numa profusão de outras coisas impressionantes que os apreciadores de horror e arte obscura podem encontrar no Japão do século XXI. A própria Koitsukihime esculpiu gêmeas siamesas. Entre as bonecas que se destacam há mulheres-violino, mulheres de ventre aberto e outros temas macabros esculpidos pelo bonequeiro Miura Etsuko (三浦悦子).[10] A bonequeira Tari Nakagawa (中川多理)[11] frequentemente esculpe cadáveres putrefatos. Uma cabeça enfaixada aparece na capa do livro Emmurée (アンミュレ, 1993) onde o fotografo Masaaki Toyoura (豊浦正明) expõe a arte de Yuriko Yamayoshi (山吉由利子).

Escultura Inside Vampire, da série Kyūketsuki gensō (吸血鬼幻想; 2005). Arte de Mari Shimizu. Fotos de Yukio Yoshinari.

O escultor-bonequeiro Katan Amano (天野可淡; 1953-1990) produziu alguns croquis aquarelados de arte conceitual e pelo menos quatro bonecos – três vampiros masculinos e uma vítima feminina – destinados à montagem de cenas vampirescas na série Kamitsukitai (咬みつきたい), “Eu Quero Morder”, fotografada por seu parceiro e biógrafo Ryo Yoshida (吉田 良).[12] A inspiração foram os filmes clássicos do cinema ocidental, com Bela Lugosi e Christopher Lee. Os bonecos estão vestidos como o Conde Drácula, com smoking e capa de ópera, e posando à semelhança dos atores. Também dormem no caixão e, num croqui, o vampiro voa como homem-morcego.

Outras esculturas de humanoides com asas de morcego, que nos lembram vampiros, podem ser representações de animais comuns que se tornaram bakemono, como os tsukumogami transformados aos noventa e nove anos. A mulher-morcego com relógio no ventre (腹時計蝙蝠婦人), de Kai Akemi, é metáfora da vida noturna.

1) Mulher-Morcego (腹時計蝙蝠婦人). Arte e foto © 1995, Kai Akemi. 2) Fotografia de Ryo Yoshida duma escultura de Katan Amano (天野可淡, 1953-1990), no livro Katan Doll (1989).

Quando alguém tão celebre quanto Katan Amano sai da vida para entrar para a História tendo deixado cópias fieis do mitologema e da iconografia padronizada pelos filmes ocidentais, ao esculpir vampiros articulados, é porque falta um toque original, regional, no projeto… Seu bebê morcego é muito melhor que seus Dráculas.

Notas:

[1] Exceto casos excepcionais como o da coleção trinity doll da Dollmere, composta de bonecas de 1,05 m de altura, reproduzidas em série e vendidas junto com outros bonecos de tamanho pequeno, da mesma marca.

[2] Hans Bellmer (1902-1975) foi um fotógrafo, escultor, escritor e pintor associado ao movimento surrealista.

[3] BELLMER, Hans. The Doll. Trad. Malcolm Green. London, Atlas Press, 2005, p 60.

[4] BUNYAN, Marcus. Exhibition: ‘shatter rupture break’ at the Art Institute of Chicago: Exhibition dates: 15th February – 3rd May 2015. Publicado em Art Blart, 19/03/2015. URL: <https://artblart.com/2015/03/19/exhibition-shatter-rupture-break-at-the-art-institute-of-chicago/>.

[5] EQUIPE EDITORIAL. Hans Bellmer e suas bonecas perturbadoras: Seu polêmico trabalho destacava temas do subconsciente, sonhos, sexualidade e morte. Em: Arte Ref, 02/05//2022. URL: <https://arteref.com/escultura/hans-bellmer/>.

[6] AMBROSIUS, Mario. 球体関節人形展・Dolls of Innocence. Tokyo, Nippon Television Network Corporation, 2004, p 46.

[7] YOSHIDA, Ryo. Katan’s Vampire. 「吸血鬼人形に込められた思い」 Em: YASO 夜想 ヴァンパイア. Japão, Studio Parabolica, 2007, p 53.

[8] Para obter bonecas em tamanho 1/1 de Koitsukihime o colecionador de arte deve preencher um cadastro em nihongo no portal Chateau de Lune <http://koitsukihime.jp>, verificar a disponibilidade do artesanato na área reservada, pagar o preço combinado e viajar ao Japão para buscar sua escultura em terracota de boneca gigante.

[9] 清水真理 作品集発売中。@shimizumari. Publicado no Twitter em 09/06/2016 5:34 AM. URL: <https://twitter.com/shimizumari/status/740824451298758656>.

[10] MIURI ETSUKO. Site oficial: <http://www.miuraetsuko.com/>.

[11] KOSTNICE: Tari Nakagawa Doll Site. <https://www.kostnice.net/>.

[12] YOSHIDA, Ryo. Katan’s Vampire. 「吸血鬼人形に込められた思い」 Em: YASO 夜想 ヴァンパイア. Japão, Studio Parabolica, 2007, p 47-53.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/vampirismo-e-licantropia/bonecos-vampiros-gigantes/

Cultura do Horror: um guia para o seu clube do terror

O medo nos une. Enquanto é cada vez mais difícil encontrar pessoas com os mesmos valores culturais, políticos e religiosos, o horror ainda oferece uma forma de união sem igual que permanece constante desde as primeiras reuniões noturnas em volta da fogueira. Quando a espinha gela não há diferença entre nós. O horror desafia a lógica como a fantasia, questiona a moralidade como a comédia e aproxima as pessoas como o romance. Quando a motossera aparece esquecemos temporariamente nossas disputas e nos reencontramos na base da pirâmide de maslow. A religião sabe disso, a política sabe disso. Porque então não usar estes mesmos gatilhos de um modo controlado e divertido começando o seu próprio clube do terror?

Nada mais simples do que convidar alguns amigos para apreciar algumas obras da cultura macabra. Mas há vantagens também em apreciar sozinho – de preferência a noite – os calafrios das obras primas do terror.  Diversos estudos mostram que um pouco de pavor controlado pode nos deixar mais saudáveis, resilientes, integrados, equilibrados e (quem diria) menos ansiosos na vida real. Quando o cérebro reptiliano assume não existem angustias existenciais.

Não sabe por onde começar? Como diria Jack, o estripador, vamos por partes. Nas listas abaixo você encontrará os nomes das obras mais assustadoras já criadas, separadas por ano e tipo de mídia. Cada uma a sua maneira colaborou na formação da atual e crescente cultura do horror.

🎃 para facilitar sua vida os nome imperdíveis estarão marcados

O Grotesco nas Artes Plásticas

Para esquentar, as primeiras expressões da cultura de horror veio pelas artes plásticas, primeiro pela pintura e em seguida pela fotografia e artes digitais. Inicialmente eram reproduções de medos e crenças populares da arte gótica, mas hoje a estética grotesca e macabra existe por si mesma. Estes são as principais artistas de cada período por data aproximada de atuação, todos com um grande acervo para decorar seus pesadelos.

1486 – Hans Memling
1494 – Hieronymus Bosch 🎃
1581 – Frans Francken II
1610 – Peter Paul Rubens
1738 – Benjamin West
1782 – Henry Fuseli 🎃
1797 – Utagawa Kuniyoshi
1805 – William Blake
1810 – Théodore Géricault,
1823 – Francisco de Goya🎃
1887 – Odilon Redon
1890 – Franz Stuck
1893  – Edvard Munch
1953 – Francis Bacon
1969 – John Bellany
1977 – H.R. Giger 🎃
1981 – Ray Donley
1984 – Zdzisław Beksiński 🎃
1987 – Joel Peter Witkin
2010 – Trevor Henderson
2015 – Peter Polach
2016 – Laura Makabresku
2017 – Joshua Hoffine🎃
2018 – Stefan Koid
2019 – Scott Kirschners
2020 – Anton Semenov

A Literatura de Horror

O macabro é parte da natureza humana e está presente desde o início da literatura seja nos textos sagrados ou nos contos de fadas.  Mas embora épicos como “A Divina Comédia” e “Macbeth” tenham seu lugar na história do pavor, foi apenas no século XVIII que o romance de horror ganhou a forma que conhecemos hoje.

Literatura Estrangeira de Horror

Confira a seguir a evolução deste gênero literário através do ano de nascimento de seus principais autores e monte sua biblioteca especializada. A literatura estrangeira exige tradutores tão bons quanto seus autores e isso foi levado em consideração na seleção das obras. Comece pelos contos curtos dos autores marcados e então siga seus instintos.

1764 – Horace Walpole (O Castelo de Otranto)
1764 – Ann Radcliffe (O Romance da Floresta)
1775 – Matthew Lewis (O Monge)
1776  – E.T.A. Hoffmann (O Homem de Areia)
1797 – Mary Shelley (Frankenstein)
1809 – Edgar Allan Poe🎃 (Histórias Extraordinárias)
1814 – Sheridan Le Fanu (Carmilla)
1831 – Amelia B Edwards (O Cocheiro Fantasma)
1847 – Bram Stoker (Drácula)
1842 – Ambrose Bierce (A Janela Velada)
1847 – Irmãs Brontë (Morro dos Ventos Uivantes)
1850 – Robert Louis Stevenson (O Médico e o Monstro)
1852 – M. R. James (Histórias de Fantasmas)
1854 – Oscar Wild (O retrato de Dorian Gray)
1863 – Arthur Machen (O Grande Deus Pã)
1865 – Robert W. Chambers (O Rei de Amarelo)
1869 – Algernon Blackwood (A Casa Vazia)
1878 – Horacio Quiroga (Contos de amor, loucura e morte)
1877 – William Hope Hodgson (Carnacki, O Caçador De Fantasmas)
1884 – Sir Andrew Caldecott (Not Exactly Ghosts)
1897 – Christine Campbell Thomson (Not at Night)
1890 – Howard Phillips Lovecraft🎃(A maldição de Sarnath)
1893 – Clark Ashton Smith (Além da Imaginação e do Tempo)
1903 – Wade Manley Wellman (Who Fears the Devil?)
1906 – Robert E. Howard (O Mundo Sombrio)
1907 – Daphne Du Maurier (Pássaros e outros contos macabros)
1916 Shirley Jackson 🎃(A assombração da Casa da Colina)
1917 – Robert Bloch (O Psicopata)
1920 – Ray Bradbury (Algo sinistro vem por aí)
1921 – James Blish (Páscoa Negra)
1924 – Ray Rusel (The Case Against Satan)
1926 – Richard Matheson 🎃 (Eu sou a Lenda)
1928 – William Peter Blatty (O Exorcista)
1940 – Thomas Harris (Dragão Vermelho)
1942 – Peter Straub 🎃 (Ghost Story)
1943 – James Herbert (Sepulcher)
1945 – Dean Koontz (O Estranho Thomas)
1946 – Ramsey Campbell (Alone with the Horrors)
1947 – Stephen King🎃(Sombras da Noite)
1948 – Dan Simmons (O Terror)
1949 – Tanith Lee (Red as Blood)
1950 – Mercedes Lackey (Burning Water)
1952 – Clive Barker🎃 (Livros de Sangue)
1953 – Thomas Ligotti (Songs of a Dead Dreamer)
1954 – Lisa Goldstein (O Mago vermelho)
1957 – Koji Suzuki (Ring)
1959 – Shaun Hutson (Slugs)
1965 – Scott Smith – (As Ruínas)
1966 – Tananarive Due (The Good House)
1967 – Mark Z. Danielewski (House of Leaves)
1969 – Gary McMahona (Pretty Little Dead Things)
1969 – Adam Nevill (O Ritual)🎃
1970 – David Moody (Autumn)
1971 – Paul G. Tremblay (Na escuridão da mente)
1972 – Victor LaValle (A Balada do Black Tom)
1973 – Mariana Enriquez (As coisas que perdemos no fogo)
1975 – Lauren Beukes (The Shining Girls)
1976 – Kealan Patric Burke (Kim)
1977 – Marisha Pessl (Filme noturno)
1978 – Samanta Schweblin (Pássaros na Boca)
1979 – Will Elliott 🎃 (The Pilo Family Circus)
1980 – Jac Jemc  (The Grip of It)
1981 – Ania Ahlborn (Brother)
1983 – Thomas Olde Heuvelt🎃 (Hex)

A Literatura de Horror Nacional

Os fãs de Poe e Lovecraft podem ficar orgulhosos também da safra nacional de escritores de horror, em especial ao subgênero contista. Confira algumas obras tupiniquins que merecem atenção dos amantes do medo por data de publicação.

1855 – Alvarez de Azevedo 🎃  (Noite na Taverna)
1870 – Machado de Assis  (A Vida Eterna e outros contos)
1872 – Bernardo Guimarães (Lendas e Romances)
1893 – Cruz e Souza (Missal)
1893 – Aluísio de Azevedo (Demônios)
1903 – Júlia Lopes de Almeida (Ânsia eterna)
1910 – João do Rio (A peste)
1922 – M. Deabreu (Rag)

1939 – Monteiro Lobato  🎃 (Boca torta e outros contos)
1947 – Graciliano Ramos (Paulo)
1951 – Carlos Drummond de Andrade (Contos de aprendiz)
1965 – Walter Martins (Tuj)
1975 – Rubens Francisco Lucchetti (As Mascaras do Pavor)
1988 – Lygia Fagundes Telles 🎃 (Venha ver o por do sol)
1999 – André Vianco (Os Sete)
2007 – Gustavo Faraon (Os internos)
2012 – Tailor Diniz (A superfície da sombra)
2014 – Rô Mierlings (Diário de uma escrava)
2016 – Karen Alvares (Horror em gotas)
2019 – Larissa Prado (O rastro da serpente)
2021 – Thiago Tamosauskas 🎃 (Rei das Dores)

Filmes de Terror

Com a invenção do cinema o mundo conheceu uma nova forma de expressão do horror. Os filmes mudos que assombraram o público não acostumado com imagens em movimento são hoje vistos como truques de crianças, mas isso apenas mostra como o gênero evoluiu até tornar-se um dos mais lucrativos nichos cinematográficos. Não sabe por onde começar? Assista os marcados de cada década e depois explore sua época favorita. Continuações e reboots, mesmo quando mais celebrados foram omitidos desta lista.

1896 – Le Manoir du diable🎃
1897 – Le château hanté
1898 – La damnation de Faust
1899 – Le diable au couvent
1900 – The Prince of Darkness
1901 – Le diable géant ou Le miracle de la madonne
1902 – Les trésors de satan
1903 – Le chaudron infernal
1904 – Sorcellerie culinaire
1905 – O Diabo Negro
1906 – Les quatre cents farces du diable
1907 – La maison ensorcelée
1908 – La légende du fantôme
1909 – The Sealed Room
1910 – Dorian Grays Portræt
1911 – The Mummy
1912 – Dr. Jekyll and Mr. Hyde
1913 – O Estudante de Praga🎃
1914 – The Avenging Conscience
1915 – Les Vampires
1916 – Homunculus
1917  – Rapsodia satanica
1918 – Os Olhos da Múmia
1919 – Der Golem
1920 – O Gabinete do Dr. Caligari
1921 – A Carruagem Fantasma
1922 – Nosferatu🎃
1923 – O Corcunda de Notre Dame
1924 – As Mãos de Orlac
1925 – O Fantasma da Ópera
1926 – Uma Página de Loucura
1927 – Vampiros da Meia Noite
1928 – O Homem que Ri
1929 – Häxan: A Feitiçaria Através dos Tempos
1930 –  Meia Noite em Ponto
1931 – Frankenstein🎃, Drácula
1932 – Freaks, O Médico e o Monstro
1933 – King Kong, A Mumia
1934 – O Gato Preto, Os Crimes do Museu
1935 – A Noiva de Frankenstein
1936 – O Morto Ambulante
1937 – Canção da Noite
1938 – Sexton Blake and the Hooded Terror
1939 – O Cão dos Baskervilles
1940 – Sexta-Feira 13
1941 – O Lobisomem
1942 – Sangue de Pantera🎃
1943 – A Morta-Viva, A Sétima Vítima
1944 – O Solar das Almas Perdidas
1945 – Na Solidão da Noite
1946 – A Casa dos Horrores
1947 – A Cativa do Castelo
1948 – A Filha das Trevas
1949 – A Dama de Espadas
1950 – The Fall of the House of Usher
1951 – O Monstro do Ártico
1952 – Valkoinen Peura
1953 – El Vampiro Negro, House of Wax
1954 – Godzilla, Invasores de Marte
1955 – Les Diaboliques 🎃, Tarântula
1956 – Vampiros de Almas
1957 – O Abominável Homem das Neves, A Noite do Demônio
1958 – A Bolha Assassina, A Mosca da Cabeça Branca
1959 – Eyes Without a Face, O Vampiro da Noite
1960 – Psicose🎃, A Maldição do Demônio
1961 – O Poço e o Pêndulo
1962 – Tales of Terror, O Corvo
1963 – Os Pássaros, Desafio do Além
1964 – Kaidan, A Meia Noite Levarei sua alma
1965  – A Orgia da Morte
1966 – Drácula: O Príncipe das Trevas
1967 – Vij
1968 – A Noite dos Mortos-Vivos
1969 – Bebê de Rosemary
1970 – An Evening with Edgar Allan Poe
1971 – O Abominável Dr. Phibes
1972 – Contos do Além, O Homem de Palha
1973 – O Exorcista🎃
1974 – O Massacre da Serra Elétrica
1975 – Tubarão, Prelúdio Para Matar
1976 – A Profecia, Carrie
1977 – Suspiria
1978 – Halloween, Terror em Amityville
1979 – Alien: o 8.º Passageiro, Phantasm
1980 – O Iluminado, Sexta-feira 13
1981 – Evil Dead, Poltergeist
1982 – Enigma de Outro Mundo
1983 – Colheita Maldita, Videodrome, Elevador Assassino
1984 – A Hora do Pesadelo🎃, The Stuff
1985 – A Hora do Espanto, Re-Animator
1986 – A Casa do Espanto, Do Além
1987 – Hellraiser, Near Dark
1988 – Brinquedo Assassino, Eles vivem
1989 – O Mestre dos Brinquedos, Cemitério Maldito 
1990 – It: obra prima do medo, Louca Obsessão
1991 – Begotten, Silêncio dos Inocentes
1992 – Drácula de Bram Stoker, Candyman
1993 – Cronos, Sonâmbulos
1994 – A Beira da Loucura
1995 – A Cidade dos Amaldiçoados
1996 – Pânico, Event horizon
1997 – Eu sei o que vocês fizeram no verão passado, Wishmaster, Mutação
1998 – Ringu (O Chamado)🎃
1999 – A Bruxa de Blair
2000 – Premonição, A Tempestade do Século
2001 – El Espinazo del Diablo, Os Outros
2002 – Juon (O Grito), The Eye
2003 – Pânico na Floresta, A Tale of Two Sisters, Bhoot
2004 – Jogos Mortais🎃, O Albergue, Espiritos – A morte está ao seu lado
2005 – Noroi (A Maldição), Abismo do Medo
2006 – O Labirinto do Fauno, O Hospedeiro, 13 Desafios
2007 – Atividade Paranormal, O Orfanato, REC
2008 – Mártires, Cloverfield, Kandisha, Deixe ela entrar
2009 – Arraste-me para o Inferno, Anticristo
2010 – Insidious, Contatos de 4.º Grau
2011 – O Segredo da Cabana, Casa dos Sonhos
2012 – Sinister, All Hallows’ Eve, Ilha do Medo
2013 – Invocação do Mal🎃, Somos o que somos, Uma noite de Crime
2014 – Babadook, Corrente do Mal
2015 – A Bruxa, O Lamento
2016 – Vozes da Escuridão, A Dama do Espelho, Rua Cloverfield 10
2017 – Get Out, Gerald’s Game, Mother!
2018 – Hereditário, Um Lugar Silencioso
2019 – Nós, Midsommar,
2020 – O que ficou para trás, La Llorona
2021 – Candyman, Maligno, Last night in Soho
2022 – The Celler

Quadrinhos de horror

Quando os primeiros leitores de histórias em quadrinhos chegaram a idade adulta, o horror ganhou também sua versão ilustrada. Conheça abaixo os principais nomes dos quadrinhos de horror até os dias de hoje.

1947 – Eerie Comics
1948 – Adventures into the Unknown
1950 – Tales from the Crypt🎃
1951 – The Haunt of Fear
1952 – The Vault of Horror
1954 – Beware: Chilling Tales of Horror
1964 – Creepy
1967 – Cat Eyed Boy
1968 – Ghost Manor
1970 – Tomb of Dracula
1971 – Monstro do Pântano
1972 – The Drifting Classroom
1980 – Twisted Tales
1982 – Creepshow
1983 – Yummy Fur
1984 – Fly in My Eye
1985 – Taboo (Spiderbaby Grafix)
1986 – Dylan Dog🎃
1987 – Tomie
1988 – Sandman
1989 – Hellblazer, From Hell
1990 – Clive Barker’s Hellraiser
1991 – Flinch
1992 – Spawn
1993 – Hellboy
1994 – Shadows Fall🎃
1995 – Black Hole, Ankoku Jiten
2000 – Uzumaki🎃
2001 – Gyo
2002 – 30 Days of Night
2003 – The Walking Dead🎃
2005 – Museum of Horror
2008 – Locke and Key
2010 – Neonomicon, PTSD Radio
2011 – Hideout, Colder
2012 – Fatale, Severed
2013 – Afterlife with Archie, Fuan No Tane
2014 – Wytches, Outcast
2015 – Mostri, Harrow County
2016 – Dora, Ibitsu
2017 – Melvina’s Therapy
2018 -1000 Nightmares
2019 – Something is Killing the Children
2020 – Tales of the Unusual, Sweet Heart
2021 – I Breathed a Body

Séries de Horror

Assim que a televisão se popularizou as histórias de terror entraram também para a sala de estar. Confira a lista abaixo o melhor da cultura do horror, ano a ano,  dos contos de Hitchcock até o terror por streamming da atualidade.

1955 – Alfred Hitchcock Presents
1959 – Além da Imaginação
1963 – The Outer Limits
1966 – Dark Shadows
1969 – Night Gallery
1979 – Tales of the unexpected
1974 – Kolchack, Demônios da noite
1983 – Tales of the Darkside
1987 –  Sexta-Feira 13: O Legado
1988  – Monsters, Freddy’s Nightmares
1989 – Tales from the Crypt🎃
1994 – Arquivo-X
1990 – Twin Peaks
2001 – Night Visions
2002 – Most Haunted
2004 – Ghost Hunters
2005 – Masters of Horror, Supernatural
2006 – A Haunting
2007 – Ghost Hunt
2008 – Fear Itself
2009 – Ghost Adventures
2010 – Walking Dead, Shiki
2011 – American Horror Story🎃, Grimm – Contos de Terror
2013 – Bates Hotel, Hemlock Grove
2014 – Penny Dreadful
2015 – Scream, Ash vs. Evil Dead
2016 – Channel Zero, Slasher
2017 – Eu vi, Into the Dark
2018 – The Hauting, The Terror, Castle Rock
2019 – Creepshow,  Two Sentence Horror Stories
2020 – Lovecraft Country, Ratched
2021 – Them, Midnight Mass

Músicas de Horror

Embora Paganini e Robert Johnson sejam sombrios à sua maneira e tenham a fama de ter vendido a alma ao diabo foi  Black Sabbath que nos anos sessenta escureceu as nuvens que pairavam sobre o movimento hippie e com temas ocultos e sonoridade sombria criou o que podemos chamar de “música de terror”. Desde então o metal seguiu seu próprio caminho e surgiram subgêneros como o Black Metal, Death Metal e Doom Metal, mais mesmo assim de tempos em tempos surgem mesmo em outros gêneros músicos para nos lembrar que a música de horror sempre voltará dos mortos.

1968 – Black Sabbath🎃
1969 – Coven
1970 – Alice Cooper
1071 – John Carpenter
1972 – Claudio Simonetti’s Goblin🎃
1973 – Blue Oyster Cult
1974 – Fabio Frizzi
1975 – Iron Maiden
1976 – The Cramps
1977 – The Misfits🎃
1978 – The Dickies
1979 – Venom, 45 Grave
1980 – Ozzy, The Meteors
1981 – Mercyful Fate
1982 – Demented Are Go
1983 – Gwar
1984 – Mayhem🎃
1985 – Richard Band
1986 – Darkthrone,
1987 – Danzig
1989 – Nekromantix
1989 – Insane Clown Posse🎃
1990 – Marilyn Manson
1991 – Cradle of Filth
1992 – Gorgoroth
1993 – Dimmu Borgir
1994 – Wednesday 13
1995 – Slipknot, Dahmer
1996 – Twiztid
1997 – Midnight Syndicate
1998 – Rob Zombie🎃
1999 – Schoolyard Heroes
2000 – Coph Nia
2001 – The Young Werewolves
2002 – Lordi, Murderdolls
2003 – Calabrese
2004 – Dr. Chud’s X-Ward
2005 – Nox Arcana🎃
2006 – Dead Vampires
2007 – Acid Witch
2008 – Ghost
2010 – Silent Horror
2012 – Antoni Maiovvi
2013 – Zeal & Ardor
2014 – Dance With The Dead 🎃
2015 – Terrible Tom & the Dingbatz
2016 – Carpenter Brut
2017 – Daniel Deluxe

Animes de Horror

O sucesso do terror japonês no final dos anos 90, com filmes como o Chamado, e o Grito, abriram espaço no mercado para animes de horror. Ao contrário do bônus no final deste artigo estas animações não são para crianças.

1987 – Wicked City
1997 – Perfect Blue🎃
1999 – Gakkou no Kaidan
2000 – Vampire Hunter D: Bloodlust
2001 – Hellsing
2004 – Monster, Elfen Lied
2005 – Jigoku Shojo
2006 – Ayakashi – Samurai Horror Tales
2007 – Fears of the Dark, Mononoke
2008 – Ghost Hound
2009 – When They Cry
2010 – Berserk: The Golden Age Arc
2011 – Shiki
2012 – Corpse Party Tortured Souls, Another
2013 – Yamishibai: Japanese Ghost Stories🎃
2014 – Pupa, Parasyte
2015 – Kagewani
2016 – Seoul Station
2018 – Junji Ito Collection🎃

Jogos de Horror

Nos anos noventa a primeira geração de gamers chegava a adolescência e com isso temas mais sombrios passaram a ser abordados. A crescente qualidade técnica de roteiro, música e artes gráficas, assim como a possibilidade de uma verdadeira imersão nos mundos criados fez desta uma opção difícil de superar para aqueles que amam a arte do assombro.

1990 – Elvira: Mistress of the Dark
1992 – Alone in the Dark
1993 – The 7th Guest
1994 – Phantasmagoria🎃
1995 – Clock Tower
1996 – Resident Evil🎃
1998 – Hellnight
1999 – Silent Hill🎃
2001 – White Day: A Labyrinth Named School
2002 – The Thing
2003 – Eternal Darkness
2004 – The Suffering
2005 – Condemned
2006 – Haunting Ground
2007 – Manhunt
2008 – Dead Space
2009 – F.E.A.R
2010 – Amnesia🎃
2011 – Dead Space 2
2012 – Slender: The Eight Pages
2013 – Outlast
2014 – Kraven Manor, Murdered: Soul Suspect
2015 – Until Dawn, SOMA
2016 – NightCry
2017 – Darkwood
2018 – Remothered
2019 – Call Of Cthulhu, Pacify
2020 – Phasmophobia🎃
2021 – Dagon

Jogos de Mesa de Horror

Desde a invenção da tábua Ouija o medo tem unido as pessoas de forma lúdica. A partir dos anos 80 apenas as mães mais bem treinadas sabiam diferenciar um jogo de RPG de um ritual satânico. Desde então as mecânicas e temáticas de jogos de horror evoluíram e nenhum Clube do Terror está completo sem pelo menos um dos nomes abaixo:

1981 – Chamado de Cthulhu (RPG)🎃
1983 – A Mansão do Inferno de Steve Jackson (Gamebook)
1984  -Chill (RPG)
1986 – Mafia/Werewolf (Party game)
1987 – GURPS Horror (RPG)
1989 – D&D Ravenloft (RPG)
1990 – Nightmare/Atmosfear (Boardgame)
1991 – Vampiro: a Máscara (RPG)
1992 – Kult: Divinity Lost (RPG)
1993 – Grave Danger (Boardgame)
1995 – Arkanun/Daemon (RPG)🎃
1996 – Barbecue With The Vampire (Boardgame)
1997 – In Nomine (RPG)
1998 – Murder Mystery Party (Party game)
1999 – Witchcraft (RPG)
2000 – All Flesh Must Be Eaten (RPG)
2001 – Kill Puppies for Satan (RPG)
2002 – Zombies!!! (Boardgame)
2003 – My Life With Master (RPG)
2004 – Historias Sinistras (Party game)🎃
2005 – Betrayal at House (Boardgame)
2006 – Dread (RPG)
2007 – Don’t Rest Your Head (RPG)
2008 – Shadow Hunters (Boardgame)
2009 – Fiasco (Cardgame)
2010 – Mansions of Madness (Boardgame)
2011 – Cave Evil (Boardgame)
2012 – Blood of Zombies (Gamebook)
2013 – Eldritch Horror (Boardgame)🎃
2014 – Psycho Raiders (Boardgame)
2015 – Mysterium (Boardgame)
2016 – Monster Of The Week (RPG)
2017 – Ten candles (RPG), Choose Cthulhu (Gamebook)
2018 – Escape the Dark Castle (Boardgame)
2019 – Zombie world (RPG)
2020 – Mythos Tales (Party game)
2021 – Edgar Allan Poe: The Horror (Gamebook)

Horror infarto-juvenil

Nos anos 60 a cultura do horror  já era tão estabelecida e rica em ícones culturais que iniciou-se a criação de produtos culturais voltados para o público infanto-juvenil permitindo as crianças darem seus primeiros goles no macabro. Preste atenção à faixa etária de classificação e confira a abaixo quais foram os principais nomes do modalidade açucarada do grotesco para curtir com as crianças.

1964 – Os Monstros e Família Addams🎃
1967 – A Dança dos Vampiros
1969 – Scooby-Doo
1974 – O Jovem Frankenstein
1975 – The Rocky Horror Picture Show
1981 – Um Lobisomem Americano em Londres
1982 – Vicent
1983 – No Templo das Tentações
1984 – Gremlins, Caça-Fantasmas
1986 – A Pequena Loja dos Horrores, O Labirinto
1987 – Os Garotos Perdidos, Deu a Louca nos Monstros
1988 – Os Fantasmas se Divertem
1989 – Palhaços Assassinos do Espaço Sideral
1990 – Clube do Terror, Convenção das Bruxas
1992 – Hocus Pocus
1993 – O Estranho Mundo de Jack
1994 – Goosebumps🎃
1995 – Gasparzinho
1996 – Coragem, o Cão Covarde
1997 – Buffy, a Caça-Vampiros
2006 – Casa Monstro
2007 – Noiva Cadáver
2009 – Coraline e o Mundo Secreto
2010 – R.L. Stine’s The Haunting Hour
2011 – Deadtime Stories
2012 – Frankenweenie
2013 – Hotel Transilvânia🎃
2016 – Strange Things
2017 – Castlevania, Creeped Out
2018 – O Mundo Sombrio de Sabrina
2019 – The Order
2020 – Locke & Key
2021 – Nightbooks🎃

2022 – Monster High

Dicas finais de um bom Clube do Terror

Assim como qualquer outro gênero de ficção, o horror oferece diferentes estilos para diferentes gostos. Experimentem vários e troquem informações e interpretações depois de cada sessão.  Se estiverem perdidos por onde começar consumam obras de épocas específicas para descobrirem qual mais agrada o grupo e então explorem a partir dai. Além disso, deixe espaço aberto para que todos possam sugerir o que ler, jogar ou assistir juntos.

Mais importante ainda, respeite as os limites dos participantes. Algumas pessoas simplesmente não suportam carnificina, outras são sensíveis a temas obscuros demais. Respeite isso. Não há problema nenhum em fechar os olhos, virar o rosto ou preferir assistir de luz acessa.

Por fim, especialmente se for um consumidor solitário ou adepto de mataratonas, cuidado com comportamentos obsessivos. A chave aqui é monitorar quanto você tem consumido e como isso afeta seu próprio comportamento. Observe como se sente no dia seguinte e se seus sonhos não estão sendo afetados a noite. Tudo em excesso pode ser prejudicial.

Bônus: Podcasts de Horror

Para encerrar esse catálogo e manter você constantemente informado sobre a cultura do medo, selecionamos sete podcasts com causos e histórias reais bem como resenhas, análises e bate-papos sobre a ficção de terror, em particular de filmes e séries.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/popmagic/cultura-do-horror-guia-historia-macabro/