Austin Osman Spare e o Atavismo

ATAVISMO significa “reversão a um tipo remoto”. Aplicado aos seres humanos, atavismo é o ressurgimento das características de um certo ancestral (ou ancestrais) após um lapso de tempo que pode ser de várias gerações. As implicações são quase sempre de algo incompleto e assustador, e a idéia foi utilizada em muita histórias de terror.

Em um sentido mais amplo, o termo atavismo é usado por ocultistas para designar a reaparição de características que vêm de tanto tempo que chegam a constituir reencarnações, ou incorporações frescas, de uma consciência pré-humana. Coisas vindas do tempo de criaturas semi-humanas e semi-bestiais. Atavismos deste tipo são muito raros, e nem sempre emergem espontaneamente.

Uma fórmula para atingir estas profundezas remotas da mente foi descoberta por Austin Osman Spare. Spare foi um artista, membro de um grupo ocultista chamado Golden Dawn (Aurora Dourada), que floresceu nos primeiros anos deste século e que ensinava ‘assunção de formas-Divindade’ nos moldes da antiga magia egípcia, na qual o mago tenta fundir sua consciência com a de um deus, normalmente imaginado sob forma animal.

A “fórmula de ressurgência atávica” de Spare se baseava no uso de figuras simbólicas, que davam uma forma visível a vários impulsos e desejos atávicos das profundezas da mente. Ele afirmava que precisava apenas visualizar uma das figuras para que o impulso atávico surgisse. Um exemplo dado por ele fala sobre uma ocasião em que ele necessitava mover um pesado monte de lenha, sem ninguém para ajudá-lo.

Spare fechou seus olhos por alguns momentos e visualizou uma figura que simbolizava um desejo pela força dos tigres. Quase imediatamente, sentiu uma resposta interior. Então sentiu repentinamente um aumento de energia fluindo através de seu corpo. Durante um momento, sentiu-se como um arbusto curvado pela força de um vendaval. Com grande força de vontade, ele se acalmou e direcionou a força ao objeto apropriado. Sentiu uma grande calma e se descobriu capaz de carregar facilmente a lenha.

Em outra ocasião, duas pessoas pressionaram Spare para que ele conjurasse um espírito atávico sob uma forma visível. Ele os avisou dos perigos envolvidos, explicando que tais criaturas existem dentro da mente, em níveis não normalmente em comunicação com o consciente, e que seria tolo evocá-las porque incorporavam os instintos e desejos atávicos de quem quer que o contemplasse. Mas o casal insistiu. Spare utilizou novamente seu método da figura simbólica. Ele fechou os olhos e esperou. Não demorou muito para que uma substância esverdeada, como tênues algas, começasse a invadir o recinto, obscurecendo parcialmente os objetos que ele continha. A substância parecia uma massa de vapor em forma de espiral, que lentamente se congelava sob uma forma definida. Foi ganhando mais e mais substância a cada momento, até que os diletantes imploraram a Spare para que a banisse. Antes porém que ela se desvanecesse, ainda puderam enxergar um enorme rosto espreitando para fora da névoa, com olhos semelhantes a poços de óleo negro em chamas.

Spare morreu em 1956, em um quarto de porão em Brixton (Inglaterra), pobre e desconhecido.

Por Kenneth Grant, traduzido por k-Ouranos 333

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-do-caos/austin-osman-spare-e-o-atavismo/

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