A morte de Cérbero: A elevação da personalidade
Valorizar as qualidades da alma. O desafio era descer ao inferno para vencer Cérbero, cão de três cabeças que guardava o Mundo Inferior. O herói agarrou o animal pelo pescoço e não o soltou até que concordasse em acompanhá-lo. “Esse trabalho fala da imortalidade. Ensina que o corpo pode perder o viço, mas a alma deve irradiar cada vez mais a beleza construída ao longo dos anos. É um ensinamento importante para estes tempos, em que o envelhecimento e as transformações do corpo não são aceitas com naturalidade.”
– Os Doze Trabalhos de Hércules e a iniciação
– O Leão da Neméia
– A Hidra de Lerna
– A Corça Cerínia
– O Javali de Erimanto
– Os Estábulos de Augias
– As Aves de Estinfalo
– O Touro de Creta
– As Éguas de Diomedes
– O cinturão de Hipólita
– O Gado de Gerião
– O Jardim das Hespérides
Mitologia
O Mestre disse a Hércules: “Enfrentaste com êxito mil perigos. Hércules, e muitas consquistas foram feitas. A sabedoria e a força pertencem-te. Farás uso delas para salvar alguém em angústia, uma presa de imenso e infindável sofrimento?” e tocando gentimente a fronte de Hércules, diante de seu olho interno, surgiu uma visão.
Um homem jazia sobre uma rocha e gemia como se seu coração fosse partir-se. Suas mãos e pés estavam acorrentados; as fortes correntes que o prendiam estavam ligadas a anéis de ferro. Um abutre, feroz e audacioso, mantinha-se bicando o fígado da vítima; em consequência, uma corrente de sangue jorrava do seu flanco. O homem elevava suas mãos acorrentadas e clamava por socorro; mas suas palavras ecoavam em vão na desolação e eram engolidas pelo vento.
A visão desapareceu e o Mestre falou: “Aquele que viste acorrentado chama-se Prometeu. Ele sofre assim há muito tempo, e contudo, sendo imortal não pode morrer. Do céu ele roubou o fogo; por isso foi punido. O lugar de sua morada é conhecido por Inferno, o reino de Hades. Pede-se que seja o salvador de Prometeu, Hércules. Desce às profundezas e liberta-o do sofrimento.”
Hércules iniciou a sua viagem descendo sempre através das ligações dos mundos da forma. A atmosfera tornava-se cada vez mais pesada, e a escuridão crescia. Contudo, a sua vontade era firme. Essa descida longa demorou muito tempo e sozinho, mas não absolutamente só, ele vagueava, e quando ele procurou no seu íntimo ouviu a voz prateada da deusa da Sabedoria, Athena, e as palavras encorajadas de Hermes.
Por fim, dele chegou a um rio escuro e envenenado que as almas dos mortos tinham que cruzar. Uma moeda tinha de ser dada a Caronte, o barqueiro, para que ele as levasse para o outro lado.
O visitante da terra assustou Caronte que levou Hércules ao outro lado, sem lembrar-se de cobrar-lhe, Hércules penetrou o Hades, uma nevoenta e escura região onde as sombras, ou melhor, as conchas dos que haviam partido esvoaçavam. Quando Hércules percebeu a Medusa, com o seu cabelo encaracolado com serpentes sibilantes, ele tomou a espada e tentou atingi-la, mas não bateu senão no ar vazio.
Ele seguiu por caminhos labirínticos até chegar à corte do rei que governava o mundo subterrâneo, Hades. Este, inflexível, severo e com semblante ameaçador, sentava-se em seu negro trono quando Hércules se aproximou.
“Que procuras, um mortal vivo, em meus reinos?” Interpelou-o Hades.
Hércules disse, “Procuro libertar Prometeu”.
“O caminho está guardado pelo cão Cérbero, um cão com três grandes cabeças, cada uma com serpentes enroladas em torno”, replicou Hades.
“Se puderes derrotá-lo com tuas mãos vazias, um feito que ninguém jamais realizou, poderá libertar o sofredor Prometeu”.
Satisfeito com a resposta, Hércules prosseguiu até deparar-se com o cão de três cabeças e ouviu o seu feroz latido. Ameaçador, avançou para Hércules que agarrou a primeira cabeça e a manteve presa em seus braços enquanto o monstro se debatia. Finalmente a sua força cedeu e Hércules seguiu até encontrar Prometeu numa laje de pedra, em dores atrozes. Hércules partiu as correntes e libertou o sofredor.
Simbologia
Este trabalho está associado ao signo de Capricórnio/Cancer, que é um dos mais difíceis para se escrever e é o mais misterioso de todos os doze. Há dois portões de importância dominante: Cancer, no que erroneamente chamamos a vida, e Capricórnio, o portão para o reino espiritual.
Capricórnio, o portão através do qual nós finalmente passamos quando não mais nos identificamos com o lado forma da existência, mas nos tornamos identificados com o espírito. É isto que significa ser iniciado.
Um iniciado é uma pessoa que não põe mais a sua consciência na sua mente, ou desejos, ou corpo físico. Ele pode usá-los, se quiser; e fá-lo para ajudar toda a humanidade, mas não é neles que focaliza a sua consciência. Ele está focalizado no que chamamos a alma, que é aquele aspecto de nós mesmos que está livre da forma. É na consciência da alma que finalmente funcionamos em Capricórnio, conhecendo-nos como iniciados e entramos nos dois grandes signos universais de serviço à humanidade.
É em Capricórnio, o adulto que existe em nós que Hércules desce às profundezas do inferno, munido da compaixão de Cancer, para conseguir resgatar Prometeu.
O caminho da alma é exatamente o mesmo, é com profundo amor (Cancer) que necessitamos de descer às profundezas dos nossos infernos interiores, amá-los e resgatar em nós a nossa sombra, para podermos depois, escalar a montanha, que caracteriza Capricórnio, com o mesmo determinismo e firmeza com que descemos ao inferno.
Após cumprir a sua tarefa, o héroi regressa ao reino dos vivos e ali reencontra a sua alma e é-lhe mostrado que aquele foi o seu primeiro serviço em prol de um mundo melhor.
Enquanto nos pássaros de Estínfalo, Hércules ainda tinha mergulhado nos pântanos do inferno pessoal, é em Cérbero que o mergulho se dá no inferno coletivo.
Este crescimento na capacidade de prestar serviço é a realização da alma. Não se pode aprender por ‘ouvir dizer’, mas sim através da realização e vivendo as circunstâncias.
#Hércules #Mitologia
Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/d%C3%A9cimo-segundo-trabalho-a-morte-de-c%C3%A9rbero