– Por que você estuda magia?
– Porque estou em busca da Verdadeira vontade.
– então você está em busca de uma verdade.
– Sim
– Quando a gente busca a verdade, é normal as mentiras caírem pelo caminho.
Em 2000, uma figuraça apareceu na mídia nacional alegando, aos 99 anos, falar 33 idiomas e 72 dialetos. Omar Kayan dizia ter 107 títulos de doutor e três indicações ao Prêmio Nobel.
Ninguém no país tinha ouvido falar nesse detentor de tanta sapiência. Mesmo assim, o senhor com ares de profeta enganou todo mundo direitinho. Deu entrevistas para os grandes jornais e chegou a ocupar dois blocos do Programa do Jô Soares. Khayam na verdade se chamava Alexandre Selva, tinha 62 anos, e não era doutor coisíssima nenhuma. Tratava-se de um charlatão que se fazia passar por gênio para dar palestras e faturar dinheiro. Um estelionatário de marca maior.
Recentemente, tivemos um caso semelhante aqui no Brasil. Rafael Chiconeli, a.k.a. Raphael Chiconelli, a.k.a. Rafael Ithzaak, a.k.a. Rafael Moura Pessoa Freire, se passava por rabino, cabalista e rav para dar cursos e se aproveitar das alunas seduzidas com seu papo mole de “alma gêmea”. Chegou a palestrar no mais importante Simpósio de Hermetismo da América do Sul e até escreveu posts para este blog. Mas nem judeu ele é. Como ele conseguiu chegar tão longe? e como foi descoberto?
Tivemos o desprazer de conhecer esta figura uma semana antes do Simpósio de Hermetismo. Para quem não o conhece, ele é extremamente simpático e de uma cara de pau inacreditavel. Coisa de psicopata mesmo.
Quando o encontrei pela primeira vez, ele foi extremamente simpático e conversamos durante umas duas horas e vi que ele sabia o básico da cabalá judaica. Não aprofundamos porque ele era indicado de pessoas conhecidas do RJ, então não tínhamos a menor razão para desconfiar dele.
[Update 2013] – as pessoas no RJ o recomendaram sem o conhecer pessoalmente, com base em seu blog, que depois verificamos ser apenas um amontodado de plágios de blogs de cabalistas famosos. quando denunciado, Rafael Moura tentou deletar o blog, mas mantivemos uma cópia no Internet Archive.
No Simpósio, tanto sua palestra sobre a Cabalá quanto o ritual conduzido no final da palestra foram bem executados ([Update] O ritual e a palestra são recortes de palestras dadas no Kabbalah Centre). A pedidos, ele começou a ministrar o módulo de Cabala I em São Paulo também ([update] O curso de “cabala iniciática” – nomenclatura que ele INVENTOU e que não existe em nenhum lugar, é uma colcha de retalhos montada com material do Kabbalah Centre também, como alguns alunos relataram posteriormente). Perdi contato com ele até as vésperas do Sefirat ha Omer. Nesse meio tempo, conseguiu fazer diversos contatos nas lojas de maçonaria mista e espaços holísticos com pouca seriedade.
Quando ele quis começar a palestrar na Maçonaria regular, fiz o pedido de praxe: número do CIM e Loja na qual foi iniciado. E ele começou a me enrolar. Logo em seguida, dois fatos ocorreram em menos de uma semana para terminar de desmascará-lo.
O primeiro foi ele ter falhado com o Sefirat ha Omer e, de quebra, ferrado o exercício de quase quinhentas pessoas que estavam “seguindo o rabino” ao invés das orientações do Blog, pois ele disse que só poderia haver uma fonte. Mas a melhor veio pelo Facebook.
[Update] Rafael Moura tentou duas vezes entrar na Maçonaria depois dos ocorridos, e foi rejeitado em ambas as tentativas. Descobrimos que ele fingia ser maçom desde 2010.
Uma moça que estava em recuperação pela Narcóticos Anônimos tinha como um dos passos buscar a espiritualidade e acabou na cabala judaica, com o “mestre” que lhe garantiu que já havia cuidado de vários casos assim e que precisaria vê-la pessoalmente. Depois do encontro, do qual não teve tratamento cabalistico nenhum, o rabino se dizia apaixonado, que ela era a alma gêmea dele e que iriam se casar. E, uma semana depois, desapareceu sem dar explicações e, quando confrontado, disse que ela era louca e que tudo era imaginação dela. O que ele não contava é que a guria estava pensando em se suicidar e que, quando foi conversar com uma psicóloga, por essas “coincidências” dos deuses, foi parar justamente em uma amante do rabino, que já estava tendo um caso com ele há quase um ano e também achava que era a alma gêmea do “mestre”.
Com as duas garotas muito putas da vida, decidiram investigar o caso a fundo e acharam quase uma dezena de alunas na mesma situação… em SP e RJ… cada uma achando que era a alma gêmea dele e que iria se casar e ter filhos koshers. Uma delas, uma senhora, planejava fazer uma viagem a Israel acompanhada do rav. E ai a novela chega aos ouvidos deste que vocês escreve.
[update] Pelo menos 8 casos com o mesmo modus operandi.Escolhe mulheres fragilizadas emocionalmente e usa de manipulação e lábia para prometer casamento, dizendo serem almas gêmeas. apesar do papo mole de don juan, ele é CASADO. Casou-se com Márcia Chiconeli para adotar o sobrenome dela (no Brasil, que homem adota o sobrenome da mulher?) pouco antes de tentar processar o autor deste blog pelas denúncias feitas.
Primeira lição: Coerência
A Primeira coisa que se aprende em uma Ordem Iniciática séria, no grau de Zelator, é o Caminho da Terra. O Caminho da Terra ensina a Coerência, ou seja, que devemos agir de acordo com o que pregamos. Não faz o menor sentido criticar o Vaticano por ficar remanejando padres pedófilos e ao mesmo tempo passar a mão na cabeça de um suposto rabino que abusava da confiança das alunas pelo seu cargo. Aqui no TdC, cortamos a própria carne se precisar.
Como somos justos, tentamos entrar em contato de todas as formas para perguntar o que estava acontecendo e dar a ele amplo direito de defesa. Porém, algumas das almas gêmeas já haviam contado a ele sobre o caso e ele desapareceu. Nesse meio tempo, procurando por telefones e meios de contato, descobrimos que “Rafael Chiconeli” simplesmente não existia. Nenhum RG, nenhum CPF, nenhum telefone, nenhum registro… um fantasma. E como ele chegou até o Aya? Excelente pergunta.
Em 2011 ele começou a dar os cursos de Cabalá no RJ, no espaço da mãe, em uma empresa fantasma sem CNPJ ou endereço e seduziu algumas alunas como o papo mole de alma gêmea. Uma delas o apresentou a organização da Mystic Fair RJ. E lá ele conheceu outra palestrante, que se tornou aluna e alma gêmea e o trouxe para espaços em São Paulo. Ele teve problemas no primeiro espaço que conseguiu, com absurdos do tipo andar de cuecas na casa da pessoa que o acolheu, deixar camisinhas jogadas pelo espaço e causar brigas entre alunas apaixonadas pelo don juan cabalístico, um completo absurdo… ([update] conforme fomos levantando material dele para o processo, mais e mais absurdos apareciam…) e levou o que restou da turma que ainda não sabia dos escândalos para o novo espaço.
Segunda Lição: Conhecimento não traz caráter
Ele teria sido descartado de cara pelo Leo, por mim ou pelo frater Alef se não tivesse um grande conhecimento. E de onde diabos veio isso? ao investigarmos a vida do sujeito, descobrimos que tudo era uma fraude. Ele nunca pisou em Israel, a historinha do pai diplomata era outra mentira ([update] o pai é um sargento aposentado da marinha com segundo grau completo, nunca nem abriu um livro de cabala na vida); a história da avó ser uma judia milionária dona de imóveis também é uma farsa ([update] a família toda de Rafael Moura mora no subúrbio do RJ, na Vila Sulacap) e ele tentou ser iniciado na maçonaria, mas foi rejeitado, e nunca esteve nem perto de uma Yeshiva ou de um rabino de verdade.
A resposta veio de uma namorada do tempo de adolescente: ele estuda por livros e fez uns módulos do Kabbalah Centre. E, segundo ela, já tinha essa mitomania de falar que era judeu desde sempre. Tentou aplicar os primeiros golpes como Rafael Ithzaak (o sobrenome de um rabino famoso) e depois de 2010, Chiconeli (sobrenome de uma tal de Márcia, que vive com ele e para uns diz que é irmã, para outros diz que é esposa ([update] Márcia Chiconeli é esposa dele desde 2013, quando ele assumiu o nome dela para posteriormente tentar processar o autor deste blog)).
O que, para mim, é o mais triste dessa história toda: a necessidade dele inventar toda essa maluquice doente. Não há nada de errado em se ter estudado a cabalá judaica no Kabbalah Center e ter adquirido esse conhecimento pelo esforço próprio. Foi essa psicopatia e necessidade de enganar as pessoas e abusar das mulheres que fez com que ele fosse banido do cenário sério do ocultismo brasileiro, sendo relegado a ficar como uma barata se juntando com outros lixos para enganar quem ainda não o conhece.
[update] Hoje ele ainda tenta se vender como “cabalista”, em espaços de quinta categoria e acompanhado de “simbologistas” e “cientistas quanticos” e “sagrado masculinos” em uma invencionice pior que a outra para angariar quem ainda não o conhece.
Você é responsável por sua própria queda, Rafael.
#cabala #Fraudes
Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-que-aprendemos-com-rafael-chiconeli