Fantasmas da China e Indochina

A respeito de deuses e fantasmas, dizia Confúcio, o sábio chinês: “Devemos respeitá-los, todavia, convém mantermo-nos longe deles”… Os chineses acreditam que estão rodeados de espíritos dos mortos – kui [e os Espíritas kardecistas também]. A crença e veneração aos ancestrais é um traço característico de sua cultura.

Entre os costumes antigos, havia a prática de fazer um buraco no telhado da casa para facilitar a ascensão da alma. Se uma criança estava moribunda, a mãe corria ao jardim e chamava o nome do filho [a] para trazer de volta o espírito. O suicídio era uma situação das mais desfavoráveis resultando em almas penadas e extremamente agressivas e amaldiçoadas. Seus filhos tornavam-se corruptos ou criminosos, suas terras se perdiam e sua esposa era assombrada pelo espectro do marido suicida atormentado e, não raro, ela mesma, sucumbia a alguma doença fatal.

Alguns fantasmas, todavia, permaneciam rondando os familiares por senso de dever, protegendo contra perigos, tentando minorar os sofrimentos e cuidando da prosperidade da casa. Uma das crenças mais difundidas era a do fantasma materno que velava seus filhos. Todavia, como na maioria das crenças de numerosos povos, os fantasmas daqueles que morriam em situações desafortunadas eram temidos.

No Cantão [cidade da China], em 1817, a mulher de oficial do governo causou a morte de duas escravas domésticas porque tinha ciúme do marido com as servas. Para se proteger das conseqüências de sua crueldade, simulou o suicídio das duas: pendurando os cadáveres pelo pescoço, pretendia forjar auto-enforcamento. Porém, passou tormentos de consciência e tornou-se insana: agia como se fosse as vítimas, o quê, para chineses, significava que estava sendo possuída pelos fantasmas das vítimas. Acabou confessando o crime e foi presa; mas os distúrbios continuaram. Ela rasgava as próprias roupas, machucava a si mesma em ataques de fúria e, em pouco tempo, morreu. Fantasmas de assassinados que perseguem seus algozes são os mais comuns entre os chineses.

A literatura chinesa explora o tema em contos que misturam e alternam o macabro e romântico: episódios protagonizados por mulheres que perderam a vida de maneira trágica, em situações de ciúme; amantes inconformados com a separação advinda da morte inesperada ou donzelas que encantam homens solitários. Os espectros femininos aparecem para suas rivais e parceiros em formas tão reais que os assombrados demoram a perceber que estão convivendo com espíritos. Conforme explica o estudioso da cultura chinesa Lin Yutang: “Na literatura chinesa, as almas do outro mundo dividem-se em duas categorias: ou nos horripilam ou nos cativam”.

O conto Hsiao Hsieh ─ Jojo, de P’su Sunling [1630-1715], trata de curiosos aspectos da tradição sobre fantasmas chineses: os espectros são tangíveis, podem tocar os vivos e até manter relações sexuais com eles; se caminham um longo percurso, ficam com bolhas nos pés; se violam as regras do mundo dos mortos, interferindo em assuntos dos vivos, podem ser julgados e punidos pelos deuses conforme suas ações sejam consideradas legais ou ilegais; finalmente, têm a possibilidade voltar à vida “tomando” o cadáver de alguém recém-morto: uma fórmula mágica é escrita em um pedaço de papel. Ao ver passar um cortejo fúnebre, o fantasma deve mergulhar o papel em um copo com água, beber a água e penetrar no caixão onde, ocupando o corpo inerte, torna-se dono dele, animando-o e passando a viver normalmente [YUTANG, 1954].

No  Cambodja, país pertecente  Indochina, acredita-se que os fantasmas retiram-se do cadáver lentamente, durante o processo de decomposição. Quando só restam os ossos, o espírito transforma-se em uma coruja ou em outro pássaro noturno. Os fantasmas mais horripilantes do país, chamados srei ap ou ghouls são representados tendo somente a cabeça e o esôfago, olhos injetados de sangue, e vagam na escuridão em busca de orgias abjetas

Festival dos Fantasmas Famintos

 Na China e em outros países com significativa presença da cultura budista popular, é realizado o Ghost Festival, também chamado Festival dos Fantasmas Famintos [Hungry GhostsQio Gor] no sétimo mês do calendário lunar, geralmente em agosto, a fim de atender às necessidades dos espíritos que não receberam cuidados funerários adequados ou, ainda, para aqueles que eram sozinhos no mundo e portanto não têm parentes vivos para cultuá-los como ancestrais. 

“Diz a lenda que um mercador convertido ao budismo e assim chamado Mahāmaudgalyāyana, ao se tornar um “Arhat”, [monge budista] quis que seus pais mortos se alegrassem com sua nova vida. Ele usou sua clarividência para encontrá-los nos outros mundos. O pai, logo foi achado, estava no Reino de Deus.

A mãe, entretanto, tinha tomado a forma de um Espírito Faminto e habitava um reino inferior, o reino do Pretas, que possuem a garganta tão fina que nenhum alimento pode passar. Desolado, o monge procurou saber o que poderia ser feito para ajudá-la e o próprio Buda Sakyamuni recomendou a oferenda de comida para todos os Pretas.

O alimento deveria ser colocado em um lugar limpo e o mantra da transformação seria, então, recitado por sete vezes [transformação do alimento físico em etéreo]. Deste modo, sua mãe poderia renascer como um cachorro! Insatisfeito, Mahāmaudgalyāyana pediu o senhor Buda que lhe ensinasse um modo de fazer sua mãe renascer em forma humana. O mestre recomendou, neste caso, que fosse oferecida comida suficiente para alimentar 500 bhikkhus [monges mendicantes] e por causa desse mérito, a mãe do devoto poderia obter uma nova vida como gente. O dia dos Espíritos Famintos também é comemorado na China e no Japão”
[CABÚS, 2007].


Acredita-se que no “mês dos fantasmas”, as entidades visitam a Terra para desfrutar dos rituais e oferendas de comida, incensos e “dinheiro-fantasma” ─ dinheiro falso ou “dinheiro espiritual”. Na Malásia, atualizando a lista de presentes, também são ofertadas réplicas de casas, carros e aparelhos de televisão que são queimados na rua. Lanternas e barquinhos de papel são postos nas águas de lagos, do mar ou dos rios para orientar as entidades perdidas.

por Ligia Cabús

[…] Interpretação dos sonhos, apaziguamento (厭劾yan ke) e propiciação (祠禳ci rang) relacionados a fantasmas e seus efeitos no corpo humano. (ver mais) […]

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/asia-oculta/fantasmas-da-china-e-indochina/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/asia-oculta/fantasmas-da-china-e-indochina/

Cantando Hare Krishna em Pureza – As Dez Ofensas

Por Sua Santidade Acyutananda Svami.

[Sua Santidade Acyutananda Svami é um dos primeiros estudantes americanos iniciados na consciência de Krishna por Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada. Quando Srila Prabhupada inicia um novo devoto, ele pede ao devoto que cante o mantra Hare Krishna e, enquanto canta, evite dez ofensas. Em uma recente cerimônia de iniciação para novos discípulos em Vrindavana, Índia, Srila Prabhupada pediu a Acyutananda Svami para instruir os novos iniciados sobre essas dez ofensas. A pedido de Srila Prabhupada, as observações de Acyutananda Svami são reproduzidas aqui.]

 

O nome de Sri Krishna, conforme encontrado no maha-mantra Hare Krishna – Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare/Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare – é uma vibração sonora transcendental. Rupa Gosvami diz: nama cintamanih Krishnas caitanya-rasa-vigrahah/purnah suddho nitya-mukto ‘bhinnatvan nama-naminoh. Krishna e Seu nome não são diferentes. O próprio Krishna é transcendental, assim como a forma de Krishna, o nome de Krishna e a parafernália de Krishna, assim como o próprio Krishna. Eles são todos feitos de energia transcendental.

 

Conforme declarado no Bhagavad-gita, janma karma ca me divyam: o nascimento e as atividades de Krishna são eternos e transcendentais. Quando uma pessoa comum nasce devido ao karma, as leis da ação e reação materiais, seu corpo está todo enrugado e coberto de sangue e muco. Mas Krishna nasce sorrindo. Em Mathura Ele nasce segurando um búzio, disco, maça e lótus e decorado com uma coroa, joias, uma linda guirlanda e todos os Seus ornamentos transcendentais. Nenhum de nós nasceu assim aqui; todos nós nascemos por causa do karma. Mas não Krishna. E simplesmente por saber que o nascimento e as atividades de Krishna são divinos, a pessoa também se torna divina. Então não é necessário nascer de novo no mundo material.

 

A natureza espiritual tem forma (caitanya-rasa-vigraha); não é sem forma. A natureza de Krishna tem forma, mas essa forma é divina, transcendental, cintamani. Cintamani também implica consciência (cinta significa “consciência” ou “substância divina”). E a forma de Krishna não é diferente de Seu nome. Um som transcendental, no entanto, não pode ser proferido por lábios materiais. Um som transcendental deve ser proferido pelos sentidos transcendentais. A forma transcendental de Krishna só pode ser vista por olhos transcendentais, e o nome transcendental de Krishna só pode ser falado com lábios transcendentais. Portanto, temos que purificar nossos sentidos, purificar nossos olhos, purificar nossa língua, purificar nossos lábios, purificar nossas mãos – tudo deve ser purificado. Então podemos entender Krishna.

 

Isso é natural, porque o espírito é adhoksaja; não pode ser percebido pelos sentidos materiais. Os cientistas querem ver tudo com seus olhos mundanos, mas muitas coisas não podem ser vistas dessa maneira. Para ver minúsculos micróbios ou planetas distantes, você precisa melhorar sua visão com um microscópio ou telescópio. Então, para ver o espírito, você também tem que purificar sua visão, torná-la mais fina. Premanjana-cchurita-bhakti-vilocanena: você tem que passar a pomada do amor em seus olhos. Iogues comuns e especuladores mentais não podem ver Krishna. Somente devotos, ou bhaktas, podem vê-Lo (bhaktya mam abhijanati; bhaktya tv ananyaya sakyah).

 

Há dez ofensas (nama-aparadhas) a serem evitadas enquanto se canta o mantra Hare Krishna. Estes são dados em The Nectar of Devotion, e também no Padma Purana. Somente os devotos podem ver Krishna em Sua forma pessoal, porque são eles que evitam essas dez ofensas. Quando cantamos Hare Krishna, devemos, portanto, ter muito cuidado para evitar essas ofensas.

 

Alguém está cantando Hare Krishna de forma ofensiva ou sem ofensas? Você pode não saber. Suponha que eu lhe mostrasse duas pílulas brancas — uma de arsênico e outra de aspirina. Você pode não saber qual é qual. Você teria que ir a uma autoridade – um médico, por exemplo – que poderia lhe dar a coisa certa. Você não iria a um charlatão; ele pode te dar o arsênico. Afinal, é uma pílula branca e você não sabe a diferença. Portanto, você tem que ir a um médico genuíno. Da mesma forma, devemos ouvir o canto de Hare Krishna apenas de devotos que estão evitando essas dez ofensas. Caso contrário, o canto será como leite tocado pelos lábios de uma serpente. O leite é muito puro e saudável, mas o leite tocado pelos lábios de uma serpente se transformará em veneno. Podemos ver um bom sadhu, ou uma pessoa santa, cantando Hare Krishna, mas se ele não estiver evitando essas ofensas, ouvi-lo é perigoso.

 

A primeira ofensa é sadhu-ninda: blasfemar devotos que dedicaram suas vidas a propagar o santo nome do Senhor. Os devotos que entregam suas vidas ao Senhor e que se engajam plenamente na pregação devem ser imaculados em seu caráter. Ainda assim, o Bhagavad-gita diz que se alguém se engaja totalmente na pregação da consciência de Krishna e no canto do santo nome, ele deve ser considerado santo mesmo que por acaso cometa alguma atividade abominável. Não devemos magnificar as faltas de um devoto. A lua está brilhando, espalhando sua luz doce e fria, e embora a lua também tenha algumas manchas pretas, a luz da lua brilha tão forte que não devemos considerá-las. Da mesma forma, mesmo que um pregador acidentalmente cometa um erro grave, isso deve ser desculpado. Krishna diz, ksipram bhavati dharmatma: muito rapidamente ele será purificado. Temporariamente pode haver alguma mancha em seu caráter, mas muito em breve ela será lavada pela potência de cantar o santo nome. Então ele será puro, como o céu claro. Se havia uma nuvem sobre um pedaço do céu alguns momentos atrás, mas agora o céu está claro, qual é a diferença entre esse céu e o céu que nunca foi coberto? Não há diferença; ambos são puros.

 

Se falarmos mal dos devotos, as pessoas perderão a fé em suas palavras. Tal perda de confiança apenas impede o progresso espiritual da humanidade. As abelhas procuram mel, enquanto as moscas procuram feridas abertas. Algumas pessoas são como moscas. Se eles veem a menor falha, eles a ampliam desproporcionalmente. Mas não devemos ser como moscas; devemos ser como abelhas zumbindo e ver todas as boas qualidades de um devoto. Se houver qualidades ruins, elas logo serão eliminadas. Nunca devemos falar mal ou fofocar sobre devotos que entregaram suas vidas ao santo nome.

 

A segunda ofensa é considerar semideuses, como o Senhor Shiva ou o Senhor Brahma, iguais ou independentes do nome do Senhor Vishnu, ou Krishna. No mundo material existem muitos seres vivos superpoderosos que controlam o funcionamento da natureza. Eles são chamados de semideuses. Assim como alguns seres humanos são mais poderosos que outros, os semideuses são ainda mais poderosos que qualquer ser humano. Mas a Suprema Personalidade de Deus é Sri Krishna. Ele é completo e pleno porque tem opulências plenas – toda riqueza, toda força, toda fama, toda beleza, todo conhecimento e toda renúncia. Nenhuma outra personalidade, nenhuma outra divindade ou semideus tem essas qualidades em sua totalidade. Krishna é, portanto, purna-avatara. Purna significa que Ele é completo – completamente completo. Todos os semideuses, como Shiva, Candra e Indra, são aspectos parciais deste purna. Por exemplo, a lua esta noite é amavasya, a lua escura. A lua está lá, mas você não pode ver nenhuma luz. Então amanhã haverá uma luz tênue vindo da lua. A lua inteira está lá, mas você pode ver apenas aspectos parciais dela, até que a lua cheia apareça. Da mesma forma, Krishna tem muitas formas, mas o Senhor manifesta Sua plena potência apenas como Sri Krishna, Syamasundara, com dois braços segurando a flauta (venum kvanantam aravinda-dalayataksam). Ele é a Personalidade de Deus original e completa.

 

Há muitas pessoas que adoram muitas divindades, até mesmo Krishna, mas não acreditam que Krishna seja supremo. Eles pensam que, embora Deus não tenha forma ou nome, alguma porção de Deus deslizou para maya e assumiu a forma de Krishna, Shiva, Durga ou outros semideuses. “Vou adorar esta divindade e me concentrar em sua forma”, pensa tal adorador, “e então um dia a forma se dissolverá e eu me dissolverei, e me tornarei tão bom quanto ele. Eu me tornarei igual a Krishna” Isso é uma ofensa. Isso não é bhakti, mas prostituição. É o que chamei de vesya-vada, a filosofia de uma prostituta. Qual é a proposta de uma prostituta? Uma prostituta não ama ninguém. Qualquer homem na rua é tão bom quanto qualquer outro. Mas a prostituta pensa: “Se esse homem me der alguma coisa, vou fingir que o amo. Se eu conseguir alguma coisa desse homem – ou de qualquer homem, não importa quem – então vou fingir que o amo.” Da mesma forma, as pessoas pensam: “Oh, qualquer deus, é tudo a mesma coisa. Se eu conseguir algo, então vale a pena fingir bhakti. Eu vou adorar no templo”. Mas isso não é bhakti – isso é trapaça. Você não está adorando o que pensa ser o Supremo. Você acha que o Supremo não tem forma. Então por que você está realizando arcana, sadhana, puja e outros tipos de adoração?

 

Os semideuses são apenas partes parciais de uma parte de Krishna. Eles estão muito longe da Suprema Verdade Absoluta. A Verdade Absoluta não tem nada a ver com a matéria. Portanto, mesmo o Senhor Shiva, que é quase tão bom quanto Krishna, não é o Supremo porque sua atividade diz respeito apenas à destruição material. O Senhor Krishna é comparado ao leite, e o Senhor Siva é comparado ao iogurte. Iogurte é leite, mas se você comer iogurte a reação no estômago é fria, e se você beber leite a reação no estômago é quente – exatamente o oposto. Então, se você adorar o Senhor Shiva, ou qualquer semideus, a reação será material, mas se você adorar Krishna, a reação será o desenvolvimento espiritual eterno. Portanto, não devemos igualar os nomes de Shiva, Durga, Candra e outros semideuses com o nome de Krishna. O nome de Krishna tem plena potência espiritual.

 

Os devotos na linha discipular do Senhor Caitanya entendem que todos os nomes dos semideuses vêm do nome de Krishna. Tomemos Indra como exemplo. “Indra” significa “rei”. Krishna é paramesvara, o rei supremo, então realmente o nome “Indra” pertence a Krishna. Krishna é Indra. E o semideus Indra, que é o rei dos planetas celestiais, recebeu o nome de Krishna. Outro semideus: Shiva. “Siva” significa auspicioso. Krishna é mangalo mangalanam: nada é mais auspicioso do que Krishna. Portanto, Krishna é Śiva, e o Śiva, que é a divindade da destruição, recebeu o nome Dele. Meu nome é Acyutananda. Eu não sou acyuta. Acyuta significa Krishna. Eu sou o servo de Acyuta. Dasa significa “servo”. Assim, tenho o nome de Krishna como Seu servo, dasa. Da mesma forma, todos os semideuses são Krishna dasa. Indra significa Krishna dasa. Shiva significa Krishna dasa. Candra significa Krishna dasa. Todos são Krishna dasa. Ekala isvara Krishna ara saba bhrtya: o único desfrutador supremo, a personalidade suprema, é Krishna; todos os outros são Seus servos. Portanto, devemos nos concentrar no nome de Krishna.

 

A terceira ofensa é desobedecer às ordens do guru, ou mestre espiritual. O guru é a única conexão que temos entre nós e Deus. Se uma formiga rasteja em seu corpo, a formiga não pode nem entender que você é um ser humano e que ela está andando em um homem. Ele pensa que está andando em uma floresta de árvores. Nem você pode explicar, “Sr. Ant, você está andando em cima de mim. Você não tem o poder de se explicar para ele, e ele não tem o poder de entender onde está. Vocês dois estão indefesos. Mas ainda mais distantes estão a entidade viva (jiva) e Krishna. Somos minúsculos; o jiva é um décimo de milésimo do tamanho da ponta de um fio de cabelo. E Krishna é tão grande que dos poros de Maha-Visnu, que é apenas um aspecto parcial de Krishna, inúmeros universos estão surgindo, como partículas de poeira entrando por uma janela.

 

Devemos perceber nossa posição como pequenos seres vivos e não tentar imitar a Deus. O universo em que vivemos tem muitas galáxias diferentes e um número infinito de planetas, e todos eles estão encerrados em uma bolha que veio de um poro de Maha-Visnu. Milhões e milhões de universos semelhantes a bolhas estão vindo de cada poro de Maha-Visnu, e estamos vivendo em um desses universos. Nosso universo tem milhões de planetas, e um pequeno planeta é a Terra. Nesse planeta terra há tanta água e terra, e a terra, que é apenas cerca de um terço do planeta, está dividida em tantos países, com tantos estados em cada um. Um país insignificante entre todos esses países é a Índia, que é dividida em vinte e um estados. Um estado é Bengala, e em Bengala existem muitas cidades. Uma cidade é Calcutá, que é dividida em muitas áreas – Ballygunge, Tallygunge, Burra Bazaar e assim por diante. Um lugar ali é a Rua Camac, e na Rua Camac há uma casa na qual muitos devotos estão morando, e um desses devotos está pensando: “Eu sou Deus”. Você é tão pequeno, tão insignificante! A única conexão que você, como um ser insignificante, tem com o Ser Supremo Significativo é o guru.

 

O guru, o mestre espiritual, é o meio transparente entre o Deus infinito e a alma finita. O Infinito pode dar-se a conhecer ao finito. Ele não é fraco. Não podemos nos explicar a uma formiga, mas Krishna pode se explicar a uma jiva. Portanto, ofender ou desobedecer à ordem do representante de Krishna, o guru, é suicídio.

 

Se alguém tem guru-sraddha, fé no guru, se é noite, mas o guru diz que é dia, você verá o sol brilhando. Além de nossa percepção sensorial material, devemos aceitar a ordem do guru fidedigno. Nossos sentidos são falíveis, limitados, imperfeitos, mas as palavras do guru fidedigno são puras e perfeitas. Guru-mukha-padma-vakya, cittete kariya aikya, ara na kariha mane asa: nosso único desejo é ouvir e compreender as ordens do mestre espiritual. Desobedecer às ordens do mestre espiritual impedirá qualquer progresso na vida espiritual. Yasya prasadad bhagavat-prasado yasyaprasadan na gatih kuto ‘pi: se Krishna está satisfeito com você, mas o guru está descontente, não há esperança; e se o guru está satisfeito e Krishna está descontente, você não tem nada com que se preocupar.

 

Estamos pregando a escravidão, a escravidão divina. Cada país do mundo tem um esquema de prazer – comunismo, socialismo, democracia ou qualquer outra coisa – mas todos eles estão tentando ter prazer independente do Senhor Supremo. Estamos pregando que a escravidão é muito mais feliz do que uma falsa sensação de independência. O que o guru diz, nós fazemos. Mas ele é perfeito. Ser escravo da perfeição — isso é vida extática.

 

Quarta ofensa: blasfemar a literatura védica ou literatura de acordo com a versão védica. As literaturas védicas estão em harmonia com as palavras do mestre espiritual, pois o mestre espiritual não dirá nada que não seja confirmado nas escrituras. Portanto, as palavras das escrituras e do mestre espiritual são nossas diretrizes.

 

As escrituras védicas são faladas pelo próprio Deus, e por aqueles que têm perfeito entendimento. Ao contrário das filosofias inventadas pela inteligência humana imperfeita, as escrituras védicas foram escritas pela inteligência perfeita, por devotos, por grandes sábios que sacrificaram suas vidas, não por líderes que viviam no luxo e queriam escrever alguma constituição ou propor alguma política para promover seu senso. gratificação. Esses líderes vivem no luxo às custas de todos os outros. Tanto quanto podem, eles tentam blefar as pessoas com conversas altruístas, mas seu verdadeiro objetivo é viver no luxo às suas custas. Você passa fome e eles vivem no luxo, não importa o que eles pregam. Os grandes sábios que viram a Suprema Verdade Absoluta sacrificaram suas vidas pelo Supremo; eles viviam em tantas dificuldades — para nós — porque eram nossos benquerentes. Os devotos são todos oceanos de misericórdia que vêm para nos salvar.

 

vancha-kalpa-tarubhyas ca

krpa-sindhubhya eva ca

patitanam pavanebhyo

vaisnavebhyo namo namah

 

“Ofereço minhas respeitosas reverências a todos os devotos conscientes de Krishna do Senhor. Eles são como árvores de desejo que podem satisfazer os desejos de todos, e estão cheios de compaixão pelas almas condicionadas caídas.”

 

Os grandes sábios e devotos não vêm para trapacear; eles vêm para nos dar as literaturas védicas. Portanto, essas escrituras são cientificamente puras. Encontramos muitas evidências científicas para apoiar as declarações dos Vedas. Por exemplo, os Vedas declaram que o esterco de vaca é tão puro que você pode até colocá-lo no templo, e agora a ciência está descobrindo que, de fato, o esterco de vaca tem muitas qualidades anti-sépticas. Mas por milhares de anos sabíamos que o esterco de vaca é puro; não tivemos que fazer pesquisa científica. Então, por que não aceitar a literatura védica como ela é, pura e perfeita, sem duvidar dela?

 

Algumas pessoas interpretam as palavras nas escrituras védicas, assumindo que todas são alegóricas ou simbólicas. Mas tais interpretações não podem influenciar os devotos que têm servido na Índia, pois vimos os lugares onde as encarnações de Krishna estiveram. Se alguém insistir obstinadamente que os passatempos de Krishna são todos mitologia, posso levá-lo pela orelha a Hastinapura e ao forte Indraprastha onde os Pandavas viviam, depois puxá-lo pela outra orelha para Kurukshetra, a 160 quilômetros de lá, onde Krishna falou o Bhagavad-gita. , então pelo nariz para Vrindavana, onde Krishna realizou Seus passatempos, e mergulhou sua cabeça grossa no sagrado Rio Yamuna. Esses lugares foram feitos apenas para justificar alguns poemas? Certamente não. Aqui em Vrindavana e Mayapur desenvolvemos fé, a semente de bhakti, quando vemos os lugares onde o Senhor Krishna e o Senhor Caitanya Mahaprabhu tiveram Seus passatempos.

 

Quinta ofensa: considerar imaginárias as glórias de cantar o mantra Hare Krishna. É dito na literatura védica que cantando uma vez o santo nome de Krishna a pessoa pode erradicar mais pecados do que ela pode cometer em todos os quatorze mundos. Portanto, não devemos duvidar disso. Não devemos considerar isso um exagero. Mas essa afirmação é uma grande pílula para engolir. Portanto, embora possamos dizer que cantar Hare Krishna é um processo fácil para a perfeição espiritual, as pessoas duvidarão que seja verdade. Se eu ficasse na rua e dissesse “diamantes, diamantes grátis”, ninguém acreditaria em mim. Mas aqui as escrituras estão dizendo mais do que isso. Ceto-darpana-marjanam bhava-maha-davagni-nirvapanam: você pode obter a liberação completa de todos os pecados apenas cantando Hare Krishna uma vez. As pessoas duvidarão que isso seja verdade. Ter plena fé no santo nome não é fácil; ainda devemos. Nunca devemos pensar que as escrituras védicas estão apenas blefando, tentando nos convencer a cantar, exagerando a potência do canto. Não, devemos ter fé completa.

 

Sexta ofensa: interpretar o canto do santo nome do Senhor. Algumas pessoas gostam de distorcer as declarações dos Vedas ou o significado do santo nome de Krishna. Por exemplo, cantamos os nomes Hare Krishna. Hari significa ladrão, hari significa leão e hari também significa cobra. Então, Hare Krishna significa serpente Krishna, ladrão Krishna, leão Krishna? Não. Harir om tat sat: Hari é a Suprema Verdade Absoluta. Isso significa que um ladrão é a Suprema Verdade Absoluta? Devemos construir um templo para um ladrão? Devemos construir um templo para uma cobra?

 

Com um dicionário você pode interpretar, dobrar e torcer palavras ilimitadamente. Por exemplo, posso falar do presidente Kennedy. Mas “ken” pode significar “posição mental” e “redemoinho” significa uma piscina em redemoinho, então um malabarista de palavras pode dizer que Kennedy era alguém cuja mente estava confusa e que se tornou o presidente. Pode-se torcer palavras como bate-papo de muitas maneiras. “O professor”, disse o menino, “é um tolo”. O professor disse que o menino é um tolo. Se mudarmos a pontuação, toda a frase terá um significado completamente diferente. Da mesma forma, algumas pessoas tentam distorcer os significados falsos e completamente enganosos dos Vedas, mas nós não queremos isso.

 

Não queremos uma interpretação distorcida. Queremos a verdade, como ela é. Srila Prabhupada está dando o Bhagavad-gita como ele é. Não se deve tentar distorcer algum outro significado. Não devemos ser como o homem tolo cuja esposa lhe disse para comprar um pouco de ghee, manteiga clarificada. Ele saiu para comprar ghee, mas quando foi até o homem que vendia ghee, aquele homem disse: “Meu ghee é tão bom, é como óleo”. Então o homem disse: “Oh, óleo. O óleo deve ser melhor que o ghee.” Então ele foi até o homem que vendia óleo. Mas o homem do petróleo disse: “Meu óleo é tão claro, é tão claro quanto a água”. Então o sujeito pensou que a água devia ser melhor que o óleo. Então, em vez de ghee, ele comprou um pouco de água. Passo a passo, ele chegou a algo inútil. Você não pode fritar nada na água, mas ele achava que água é melhor que ghee. Dessa forma, um especulador mental pode torcer e transformar tudo. Krishna significa preto, preto significa escuro, escuro é desconhecido, Então Krishna significa desconhecido. É um tipo muito perigoso de filosofia. Portanto, não podemos interpretar os significados dessas palavras; antes, devemos aceitá-los de acordo com a compreensão dos acharyas, os devotos puros na linha discipular.

 

Sétima ofensa: cometer atividades pecaminosas com a força de cantar o santo nome do Senhor. Cantar o santo nome nos livra de tantos pecados, mas não devemos pensar: “Vou cometer atividades pecaminosas e depois cantar para me tornar puro. Então eu cometerei mais pecados e então cantarei novamente.” Isso é um absurdo. Isso é trapaça. Você não pode enganar Krishna, nem pode enganar o santo nome. O santo nome é Krishna. Portanto, Krishna saberá o que você está fazendo. Em algumas religiões é uma política que no sábado a pessoa possa confessar todos os seus pecados e assim tornar-se pura para que no domingo ela possa entrar na igreja. Então, a partir de segunda-feira, ele pode retomar sua tolice pecaminosa. Mas se alguém confessou que seus pecados são errados, por que deveria cometê-los novamente? Ele será perdoado uma ou duas vezes, se os cometer sem saber, mas na terceira ou quarta vez terá que sofrer. Ninguém pode continuar usando o Senhor para justificar seu pecado. Isso é um absurdo. Tentar usar a força do santo nome para justificar suas más propensões é considerado a pior ofensa.

 

Oitava ofensa: considerar o canto de Hare Krishna uma das atividades ritualísticas auspiciosas oferecidas nos Vedas para ganhos fruitivos (karma-kanda). Estamos cantando Hare Krishna para obter Krishna-prema, amor a Krishna – não por causa da religiosidade (dharma), desenvolvimento econômico (artha), satisfação dos sentidos (kama) ou mesmo liberação (moksa). Quando alguém está imbuído de amor por Krishna, a liberação parece totalmente miserável porque na liberação impessoal não há amor. Krishna se manifesta em Suas moradas espirituais, como Goloka e Vaikuntha, e Ele aparece no mundo material como um avatara, ou encarnação. Na forma do avatara Varaha, Krishna foi para a região mais escura do inferno para resgatar o planeta Terra. Portanto, Krishna aparece para Seus devotos no inferno, na terra, no céu e em Goloka Vrndavana, mas no Absoluto impessoal, o brahmajyoti, Krishna não se manifesta. Portanto, kaivalyam narakayate; a liberação impessoal (kaivalya-mukti) é pior que o inferno para um devoto.

 

Não estamos cantando Hare Krishna para nenhum ganho pessoal. No dhanam na janam na sundarim kavitam va jagad-isa kamaye: não queremos dinheiro, não queremos seguidores, não queremos mulheres bonitas, nem queremos popularidade, educação ou uma posição importante. Mama janmani janmanisvare bhavatad bhaktir ahaituki tvayi: queremos devoção sem causa, bhakti, aos pés de Krishna. Nada mais. Portanto, estamos cantando Hare Krishna – apenas para isso.

 

Nona ofensa: instruir uma pessoa infiel sobre as glórias de cantar o santo nome. Qualquer pessoa pode participar do canto do santo nome, mas não devemos dar instruções ou iniciações mais profundas a quem é infiel. Essa falta de fé pode ser devido à sua ignorância e, portanto, podemos dar-lhe conhecimento e purificá-lo. Mas antes que ele seja purificado, se ele decidiu ser avesso a Krishna (bahir-mukha, vimukha), quanto mais o instruirmos sobre Krishna, mais ele odiará Krishna. Então estaremos fazendo com que essa pessoa cometa mais ofensas, e isso é uma ofensa da nossa parte. Portanto, não se deve dar instruções mais profundas sobre cantar o santo nome para alguém que não tem fé; antes, devemos primeiro desenvolver sua fé dando-lhe conhecimento.

 

As pessoas não têm fé em Krishna apenas porque são ignorantes. Eles não foram expostos ao conhecimento real de Krishna, mas absorveram apenas noções falsas. Por exemplo, no Japão, durante a Segunda Guerra Mundial, a força aérea japonesa pegou meninos de treze ou quatorze anos e os ensinou a pilotar aviões. Eles não os ensinaram como pousar os aviões, mas apenas como decolar e voar. Eles disseram a esses garotos inocentes que, pelo bem de seu país, eles poderiam bater o avião em um barco inimigo e eles sairiam vivos. Eles não disseram a eles que explosivos haviam sido carregados no avião e que eles seriam mortos. Os pilotos receberam apenas uma pequena quantidade de combustível, para que não pudessem voltar se ficassem com medo. Finalmente, seus comandantes os acusaram de algumas noções falsas sobre amor à pátria e amor por seus antepassados ​​e os enviaram em sua missão. Eles eram simplesmente um esquadrão suicida. Tudo o que tinham era conhecimento parcial, combustível parcial e educação parcial, e assim, carregados de alguns sentimentos falsos, foram iludidos a cometer suicídio. Da mesma forma, a educação moderna está nos dando apenas educação parcial, para que trabalhemos como cães.

 

Segundo a crença popular, o povo indiano não tem capacidade para trabalhar. Este é um equívoco. Já vi pessoas extremamente idosas andando 13 ou 15 quilômetros ao redor da Colina Govardhana sob o sol quente. Eles escalam as sete colinas até o templo de Tirupati, tomam banhos frios no mês de Magh (janeiro) ou caminham até Badarikasrama. Eles estão tão dispostos a realizar essas atividades para a realização espiritual, então por que não estão ansiosos para trabalhar em uma fábrica? Porque eles sabem que não estão obtendo benefícios espirituais trabalhando em uma fábrica. Eles querem benefício espiritual, porque as pessoas na Índia são basicamente religiosas. Eles sabem que mukti (libertação) não pode ser alcançada trabalhando em uma fábrica, mas o governo está tentando propor a filosofia de que trabalho é adoração. Os líderes do governo sabem que as pessoas são basicamente religiosas, então estão dizendo: “Se você trabalhar duro na fábrica quente, obterá mukti”. Eles estão tentando destruir um falso significado do Bhagavad-gita – trabalhe duro e esqueça qualquer outra coisa. Sem religião, sem templo, apenas trabalho na fábrica. Eles estão tentando impor essa filosofia ao público para fazer com que as pessoas trabalhem na fábrica e pensem que o trabalho fabril ou o trabalho duro é uma atividade auspiciosa e piedosa.

 

Mas não funciona. Entre em qualquer prédio de escritórios e você encontrará todos sentados fumando, tentando fazer o mínimo de trabalho possível. Mas se você for a Jagannatha Puri, verá um enorme templo construído há milhares de anos. Como as pessoas conseguiram a energia para construir tal templo? Eles sabiam: “Estou fazendo isso por Jagannatha, por Krishna”. Isso trouxe o melhor deles. Se as pessoas souberem que estão trabalhando para algum ministro trapaceiro, também serão trapaceiros. Eles farão a menor quantidade de trabalho possível. No entanto, se trabalham para Deus, sabem que Ele vê tudo o que fazem e que, ao agradá-lo, podem vê-lo e viver com ele. Isso é uma inspiração. Mas os líderes modernos não gostam disso. Eles querem que as pessoas trabalhem para eles, não para Krishna. Eles têm inveja de Krishna. Eles pensam: “Oh, se você trabalha para mim, isso é adoração”. Isso é falso. Estamos aceitando o mahatma-panthah, o caminho dos acaryas anteriores, os grandes mestres espirituais. A sociedade moderna sabe mais do que os grandes acharyas?

 

A última ofensa é não ter fé completa no canto do santo nome e manter o apego material mesmo depois de entender tantas instruções sobre este assunto. Krishna declara no Bhagavad-gita, rasa-varjam raso ‘py asya param drstva nivartate: “Aquele que está apegado ao prazer sensual se liberta desse apego quando experimenta um gosto mais elevado.” Nós, devotos na Índia, aparentemente estamos vivendo vidas muito difíceis. Embora sejamos americanos, estamos dormindo no chão, comendo apenas uma ou duas refeições por dia, vivendo neste país quente e nos vestindo e vivendo humildemente. Então as pessoas podem pensar que estamos sofrendo, mas na verdade não estamos – somos felizes. Estamos felizes porque temos o santo nome, porque estamos tendo um sabor mais elevado. Mas se depois de ter esse sabor mais alto quisermos novamente o sabor mais baixo, isso é um grande erro. Uma pessoa nessa posição é chamada de vantasi. Vantasi significa aquele que come seu próprio vômito. Quando alguém rejeita seus apegos baixos, isso é comparado ao vômito. No entanto, depois de ter obtido um sabor mais elevado, ceder novamente a um sabor mais baixo é tão bom quanto comer vômito. Portanto, manter apego material depois de ouvir as glórias do santo nome do Senhor é uma ofensa.

 

Se evitarmos essas dez ofensas ao santo nome do Senhor, certamente progrediremos, pela graça do mestre espiritual, Senhor Caitanya e Senhor Sri Krishna. O resultado será, ceto-darpana-marjanam; nossa consciência será purificada. Isso é uma necessidade. Como podemos ter paz ou fazer algum progresso quando nossa consciência está turva e agitada?

 

Houve uma reunião entre alguns líderes do Oriente Médio preocupados em fazer a paz em Israel. Eles haviam se reunido em uma sala e estavam prestes a se sentar em mesas diferentes. A Jordânia foi atribuída a uma mesa, a Síria a outra, o Irã a outra e Israel a outra. Os israelenses, no entanto, não quiseram ocupar seus assentos designados. Eles queriam se sentar em uma mesa do outro lado da sala. Mas os sírios disseram: “Não, queremos esta mesa”. Então, seguiu-se uma discussão furiosa, na qual os membros da conversa de paz ameaçaram encerrar as negociações e ir à guerra. Como suas mentes estavam agitadas, eles não conseguiam fazer as pazes nem mesmo em uma sala de três metros. Portanto, a primeira necessidade na sociedade é a pureza da consciência.

 

Com consciência impura interior, como podemos externamente ter paz ou pureza? Primeiro devemos nos tornar puros internamente. Por exemplo, aqui na Índia os comerciantes agora adulteram o ghee (manteiga clarificada) misturando muitas coisas impuras para economizar dinheiro. Por quê? Porque eles não acreditam mais em Deus. Se acreditassem em Deus, pensariam: “Este ghee pode ser oferecido em um templo em algum lugar. Torná-lo impuro seria uma grande ofensa”. Mas porque eles não são conscientes de Deus, eles pensam: “Quem se importa? Ninguém vai me ver. O governo não vai saber.” Mas embora se possa escapar da visão do governo, não se pode escapar da visão de Deus. O Senhor Supremo vê tudo. No entanto, se eliminarmos a ideia de Deus como saksi, a testemunha, então o inferno prevalecerá. Portanto, devemos purificar a consciência. Bhava-maha-davagni-nirvapanam: quando nossa consciência é purificada, automaticamente o fogo de nossa existência material será extinto.

 

O canto de Hare Krishna dissemina o conhecimento transcendental no coração como a luz da lua (sreyah-kairava-candrika-vitaranam vidya-vadhu-jivanam) e aumenta nosso êxtase a cada momento (anandambudhi-vardhanam). No êxtase material, o prazer diminui gradualmente. Se você tem prazer em comer um pedaço de doce, em pouco tempo precisará de dois pedaços para obter o mesmo prazer. Então você vai precisar de três, depois de cinco, e logo você não vai querer mais olhar para doces. Isso é prazer material; ele diminui. Mas em consciência de Krishna, anandambudhi-vardhanam pratipadam purnamrta svadanam: a cada passo você terá um sabor mais completo do néctar. Sarvatma-snapanam param vijayate sri-Krishna-sankirtanam: todos podem se purificar cantando este maha-mantra Hare Krishna. Atma significa o corpo, a mente, a inteligência, o esforço, a alma e Krishna. Caitanya Mahaprabhu deu todos esses significados diferentes para a palavra atma quando explicou o verso atmarama do Srimad-Bhagavatam. Portanto, ceto-darpana-marjanam . . . sarvatma-snapanam. quando cantamos Hare Krishna, todos os atmas se purificam – a mente, a inteligência, a alma. Ao cantar Hare Krishna, todas as entidades vivas podem se tornar felizes. E Krishna também fica feliz quando cantamos.

 

Podemos oferecer uma flor a Krishna (patram puspam phalam toyam), mas o nome de Krishna é o próprio Krishna (abhinnatvan nama-naminoh). Assim, cantando os santos nomes do Senhor Krishna, estamos dando a Ele a melhor oferenda. No Srimad-Bhagavatam afirma-se, yajnaih sankirtana-prayair yajanti hi sumedhasah: aqueles que são inteligentes nesta Era de Briga adorarão o Senhor Supremo por nama-sankirtana-yajna, o sacrifício de cantar o santo nome do Senhor. Yajna (sacrifício) deve ser realizado, pois sem yajna, mesmo a prosperidade material é impossível. Nesta Era de Kali, o sacrifício recomendado é sankirtana-yajna, e aqueles que são inteligentes realizarão este canto dos santos nomes do Senhor e, portanto, seguirão os ensinamentos do Senhor Caitanya Mahaprabhu.

 

Caitanya Mahaprabhu é nosso objetivo, nosso objeto de meditação e adoração. Ele é o próprio Krishna com uma tez dourada, cercado por Seus associados. O Senhor Caitanya, no entanto, não carrega armas, o Senhor Ramacandra carrega um arco e flecha, Parasurama tem Seu machado, Krishna tem Seu disco e Vishnu carrega uma concha, disco, maça e lótus. Mas Caitanya Mahaprabhu está de mãos vazias. Suas únicas armas são Seus associados, como o Senhor Nityananda e Haridasa, porque Sua arma é o amor. Em vez de matar os demônios e libertá-los, Ele os transformou em devotos e os conquistou pelo amor. O Senhor Nityananda costumava ir de casa em casa, bater em suas portas e implorar às pessoas que por favor cantem Hare Krishna. Ele abria a porta, caía prostrado no chão e rolava no chão, implorando para que cantassem o santo nome do Senhor. Como você pode negar Seu pedido? A Suprema Personalidade de Deus está aos seus pés, implorando por você rolando na poeira de sua casa. Você O negará? Você pode recusar? Nenhuma pessoa inteligente pode rejeitá-Lo. Portanto, cante Hare Krishna e evite essas ofensas. Essa é a perfeição da vida humana.

 

***

 

Fonte:

 

Chanting Hare Krishna in Purity — The Ten Offenses, by His Holiness Acyutananda Svami.

 

Back To Godhead Vol 68, August 1974.

 

Chanting Hare Krishna in Purity — The Ten Offenses.

 

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/yoga-fire/cantando-hare-krishna-em-pureza-as-dez-ofensas/

Fantasmas

Vultos e vozes à noite.
Medo do que não conheço.
Depois que meu pai morreu,
ele nunca mais foi o mesmo.

Texto e Pesquisa de Ligia Cabús

Fantasma é manifestação sensível, no sentido de perceptível, de uma pessoa que morreu, que não pertence mais a este mundo ou não pertence a este plano de existência. Em termos de normalidade metafísica é um ser que não deveria estar na Terra… mas está. Relatos e crenças sobre essas manifestações de “mortos” existem em culturas de todos os tempos e lugares e esta universalidade é o que confere um considerável grau de credibilidade ao fenômeno. Os registros são encontrados desde a mais remota antiguidade: representações gravadas em petroglifos, as preocupações funerárias de homens pré-históricos, desenhos, lendas, sim, mas, em época mais recente, inúmeras são as fotografias e fonografias. A internet, somente em língua inglesa, abriga centenas de milhares de sites sobre o assunto repletos de relatos, fotos e vídeos de fantasmas.

Admitir a existência de fantasmas implica, antes de mais nada, aceitar a continuidade da existência do Ser humano depois da morte ou depois da falência completa do organismo, do corpo físico de matéria densa terrena. Portanto, acreditar em fantasmas significa acreditar no Espiritismo em termos gerais ou seja, sem que seja necessária a adoção de uma doutrina específica.

 

– Alemanha: Geist

– Arábia Saudita: شبح

– Argentina: Fantasma.

– Brasil: Fantasma, Assombração, Espírito

– China:

鬼魂

 

– Finlândia:

Kummitus

 

França:

Fantôme

 

– Grécia:

φάντασμα, πνεύμα

 

Holanda:

Spook


– Hungria: Kísértet

– Índia: Butha, Preta, Pisaca

– Indonésia: Hantu

– Israel:

רוח רפאים


– Itália

: Spirito, Fantasma

 

– Japão

: 幻影


– Polônia:

Duch

 

– Rússia:

привидение, дух

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/criptozoologia/fantasmas/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/criptozoologia/fantasmas/

Dorman Seyman: o milenar Ritual do Pentagrama Japones – Abenoseimei no hoshi no gishiki – 安倍晴明の星の儀式

Por Robson Bélli

Doman Seyman são símbolos magico muito usados pelas mulheres que coletam produtos marinhos enquanto mergulham na parte sul da província de Mie no Japão, as chamadas mulheres Ama (海女), costumavam desenhar em toalhas de mão, camisetas e ferramentas.

O padrão Doman é um conjunto de 4 linhas verticais e 5 horizontais formando um padrão quadriculado e o segundo é um pentagrama. Uma teoria é que o padrão quadriculado “impede monstros com uma malha” e o pentagrama “na posição original feito a partir de um único traço”. Cria uma barreira, que impede os monstros/demônios/fantasmas de entrar.” A propósito, as atuais mulheres Ama usam uma roupa de mergulho, então elas raramente usam Doman e Seyman, nos dias de hoje.

A linhas do padrão quadriculado chamado Doman são um total de nove e estão ligados aos ideogramas do Kuji-Kiri e a estrela de cinco pontas esta ligada de Abe Seimei (Aproximadamente em 990 d.c), um dos maiores (se não o maior) dos magos japoneses de todos os tempos.

Uma curiosidade que seja interessante acrecentar é que Abe Seimei teve um outro mago poderoso como inimigo e este se chamava Ashiya Doman, estes tem muitos duelos mágicos descritos na literatura, alegadamente se sabe que Abe Seimei sai como o vencedor de um destes duelos matando Ashiya Doman com uma magia.

No japão costuma se afirmar que os ideogramas e os mudras do Kuji-kiri esotérico tem o efeito de defesa contra demônios, então pode-se dizer que é perfeito para as Ama usarem para evitar acidentes marítimos. Da mesma forma, o pentagrama também foi usado como símbolo de proteção e anti-demônios em todo o mundo, para então poder estar relacionado ao nome de Seimei (exclusivamente no Japão) mais tarde.

Este feitiço tornou-se conhecido do público em geral porque um personagem costumava dizer “Dorman Seyman” no filme “Tokyo: The Last Megalopolis”.

A forma da mão para traçar tais traços no ar é a seguinte:

A Estrela de cinco pontas. Chama-se Seimei Kikyo-in porque se assemelha a uma flor Kikyou. A origem de “Seyman” vem do nome de Seimei Abe, para a execução do ritual de proteção e diz-se: apenas “Seyman” enquanto se traça o pentagrama de um golpe só, costuma-se dizer que este ritual funciona pois:

“pois ele retorna à sua posição original com um único golpe, não há lacunas para que os monstros possam entrar”

“一筆書きでもとの位置に戻るため、隙間がな いので魔物が入り込めない”

Ippitsugaki de moto no ichi ni modoru tame, sukima ga na inode mamono ga hairikomenai

A forma quadriculada para aprisionar espíritos e demônios deve ser desenhada na seguinte ordem:

Quando se traça cada traço se deve dizer o nome do ideograma correspondente do kuji-kiri sendo os mesmos na seguinte ordem:

  1. (臨) Rin – PODER sobre si mesmo e os outros
  2. (兵) pyo – DIREÇÃO da energia
  3. (闘) Toh – HARMONIA com a natureza
  4. (者) Sha – CURA para mim e para os outros
  5. (皆) Kai – PREMONIÇÃO do perigo
  6. (陣) Jin– CONHECER os pensamentos dos outros
  7. (列) Retsu – DIMENSÃO
  8. (在) Zai – CRIAÇÃO
  9. (前) Zen – ILLUMINAÇÃO

Após finalizar os traços tanto de um padrão quanto do outro deve-se adotar a seguinte postura com amas as mãos:

E dizer em voz alta, YOSHHHH.


Robson Belli, é tarólogo, praticante das artes ocultas com larga experiência em magia enochiana e salomônica, colaborador fixo do projeto Morte Súbita, cohost do Bate-Papo Mayhem e autor de diversos livros sobre ocultismo prático.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/asia-oculta/pentagrama-japones/

Chamando Cthulhu: O Realismo Fantástico de H.P. Lovecraft

“Neste livro falaremos sobre […] espíritos e conjurações; em deuses, esferas, levitação, e muitas outras coisas que podem ou não existir. Isto é imaterial, o fato de existir ou não. Agindo-se de certas maneiras, certos resultados irão surgir; estudantes são seriamente alertados sobre não atribuir realidades objetivas ou validações filosóficas para qualquer um destes.”

– Aleister Crowley, Liber O

 

Consumido pelo câncer em 1937, com 46 anos de idade, o último descendente de uma decadente família aristocrática da Nova Inglaterra, o escritor de ficção fantástica Howard Phillips Lovecraft deixou um dos legados literários mais curiosos da América. A maior parte de seus contos apareceram na revista Weird Tales, uma publicação dedicada a histórias a respeito do sobrenatural. Mas preso nesses limites modestos, Lovecraft trouxe a fantasia sombria gritando para dentro dos séculos XX e XXI, levando o gênero, literalmente, a uma nova dimensão.

Em nenhum lugar isso é mais evidente do que no ciclo de histórias interligadas conhecido como o Mito de Cthulhu – batizado assim em homenagem a um monstro tentacular alienígena que espera sonhando sob o mar na cidade submersa de R’lyeh. O Mito abrange a trajetória cósmica de uma variedade de entidades extraterrestres horríveis que incluem Yog-Sothoth, Nyarlathotep, e o deus cego e idiota Azazoth, que se esparrama no centro do Caos Derradeiro, “cercado por sua horda contorcida de dançarinos estúpidos e amorfos, e embalado pelo sibilo monótono de flautas demoníacas ostentadas por patas inomináveis”. Sempre espreitando, nas margens de nosso continuum espaço-tempo, este grupo alegre de Deuses Exteriores e Grandes Antigos estão tentando, neste exato momento, invadir o nosso mundo através da ciência, de sonhos e rituais abomináveis.

Como um escritor popular marginal, trabalhando no equivalente literário da sarjeta, Lovecraft não recebeu muita atenção durante sua vida. Mas enquanto a maioria dos escritos de ficção pulp dos anos 1930 se tornaram insonsos e intragáveis nos dias de hoje, Lovecraft continua a atrair a atenção. Na França e no Japão, seus contos sobre fungos cósmicos, cultos degenerados e pesadelos realmente ruins são reconhecidos como obras de um gênio transtornado, e os célebres filósofos franceses Gilles Deleuze e Félix Guattari, elogiam seu abraço radical de multiplicidade em sua obra prima “A Thousand Plateaus”. Já, em território anglo-americano, uma cabala apaixonada de críticos preenche revistas como Lovecraft Studies e Crypt of Cthulhu com suas pesquisas quase talmúdicas. Enquanto isso, tanto hackers quanto talentosos discípulos continuam a criar histórias que desenvolvem ainda mais o Mito de Cthulhu. Há até uma convenção de Lovecraft – a NecronomiCon, que recebeu seu nome do mais famoso de seus grimórios proibidos. Assim como o escritor de ficção científica gnóstico Philip K. Dick, HP Lovecraft se tornou o epítome do autor cult.

A palavra “fã” se deriva do latim Fanaticus, um termo antigo para um devoto do templo, e os fãs de Lovecraft exibem a devoção incansável, fetichismo e debates sectários que caracterizaram as seitas religiosas populares ao longo das eras. Mas o status “cult” de Lovecraft tem uma dimensão curiosamente literal. Muitos magos e ocultistas tomaram seu Mito como fonte de material para a suas práticas. Atraídos das regiões mais obscuras da contracultura esotérica – Thelema, Satanismo e Magia do Caos – estes magos Lovecraftianos buscam ativamente gerar os terríveis e atávicos encontros do tipo que os protagonistas de Lovecraft parecem tropeçar compulsivamente, cegamente ou contra a própria vontade.

Fontes ocultas secundárias para a magia lovecraftiana incluem várias edições “falsas” do Necronomicon, rituais presentes no livro de Rituais Satânicos de Anton Szandor LaVey – criador da Igreja de Satã -, obras de magos britânicos como Kenneth Grant, Phil Hine, Peter Carroll e outros. Além da O.T.O. Tifoniana de Grant e da Ordem do Trapezóide do Templo de Set, outros grupos mágicos que também trabalham com a corrente Cthulhiana incluem A Ordem Esotérica de Dagon, a Cabala Bate, o Coven Lovecraftiano de Michael Bertiaux e o grupo da Sabedoria Estrelar, nomeado assim em homenagem ao grupo homônimo do século XIX presente no conto “O Assombro das Trevas”. Magos Caóticos se uniram às fileiras, costurando na internet retalhos de mistérios arcanos lovecraftianos remixando o Mito em seus (anti) trabalhos ctônicos de código aberto.

 

Este fenômeno torna-se ainda mais intrigante pelo fato de que o próprio Lovecraft era um “materialista mecanicista”, filosoficamente contrário à espiritualidade e à magia de quaisquer espécie. Entender esta discrepância é apenas um dos muitos problemas curiosos levantados pelo poder aparente da magia Lovecraftiana. Por quê e como essas visões marginais “funcionam”? O que pode ser definido como um ocultismo “autêntico”? Como é que a magia se relacionam com a tensão entre fato e fábula? Como espero mostrar, a magia Lovecraftiana não é uma alucinação pop, mas uma “leitura” criativa e coerente posta em movimento pela dinâmica dos próprios textos de Lovecraft, um conjunto de estratégias temáticas, estilísticas e intertextuais que constituem o que chamo de Realismo Mágico Lovecraftiano.

 

O realismo mágico já denota uma cepa de ficção latino-americana – exemplificado por Borges, Gabriel Garcia Marquez, e Isabel Allende – em que uma lógica onírica fantástica mescla perfeitamente e deliciosamente com os ritmos do quotidiano. O Realismo Mágico Lovecraftiano é muito mais sombrio e convulsivo, já que nele forças antigas e amorais pontuam violentamente a superfície realista de seus contos. Lovecraft constrói e, em seguida, destrói uma série de polaridades intensas – entre o realismo e a fantasia, livro e sonho, razão e sua caótica contraparte. Ao jogar com essas tensões em sua escrita, Lovecraft também reflete as transformações que o ocultismo sinistro sofreu, uma vez que confronta a modernidade em formas tais como a psicologia, fa ísica quântica, e a falta de fundamento existencial do ser. E, incorporando tudo isso em um Mito intertextual de profundidade abismal, ele chama o leitor para o caos que se encontra “entre os mundos” de magia e realidade.

 

 

por Shub-Nigger, A Puta dos Mil Bodes

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/chamando-cthulhu-o-realismo-fantastico-de-h-p-lovecraft/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/chamando-cthulhu-o-realismo-fantastico-de-h-p-lovecraft/

Consagração da água da arte enochiana

por Robson Bélli

Esta oração foi desenvolvida para fim de consagrar a agua da arte para ser usada por praticantes de magia enochiana por Robson Bélli em 08 de outubro de 2022 em Fujinomiya no Japão as 23:35.

Coloque o recipiente com agua sobre o Sigillum dei Aemeth, coloque uma pitada de sal na agua e diga (opcional):

– zacam a calz noan oln g a nothoa c a zilda, od zacam a zilda od zacam de a zilda noan nalvage lrasd a zilda, pala drilpa od prdzar, de basgm od dosig a sald c a el.  Ascha i t micalz Mad, Babalon lulo, od a ozongon ozazm. ohorela a caosg torzu de madriax, od let madriax uniglag de caosg. Ol zodameta g, ham c zodinu, ar g noan a zilda c a Ascha g tia vaul od a balye c apila od ohorela lrasd doalim. Zorge!

 

Forma transcrita (para pronuncia direta)!

-Zacame a calazod noanu olanu gi a notarroa ca a zilada, oda zacame a zilada oda zacame de a zilada noanu nalavage larasada a zilada, pala darilapa oda perédazaré, de basaguime oda dosigui a salada ca a ela. asacarra i ta micalazod mada, Babalonu lulo, oda a ozonugome. orrorela a caosagui torézu de madariashi, oda leta madariashi uniguilagui de caosagui. Ola zodameta gui, rrame ca zodinu, aré gui noanu a zilada a a Asacarra gui tia vaula oda a balaie ca apila oda oda orrorela larasada doalime. Zorége!


Robson Belli, é tarólogo, praticante das artes ocultas com larga experiência em magia enochiana e salomônica, colaborador fixo do projeto Morte Súbita, cohost do Bate-Papo Mayhem e autor de diversos livros sobre ocultismo prático.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/enoquiano/consagracao-da-agua-da-arte-enochiana/

A origem de Zé Pelintra

Mas afinal, qual a origem de nosso personagem? seu zé torna-se famoso primeiramente no nordeste seja como frequentador dos catimbós ou já como entidade dessa religião. O catimbó está inserido no quadro das religiões populares do norte e nordeste e traz consigo a relação com a pajelança indígena e os candomblés de caboclo muito difundidos na bahia.

Conta-se que ainda jovem era um caboclo violento que brigava por qualquer coisa mesmo sem ter razão. Sua fama de “erveiro” vem também do nordeste. Seria capaz de receitar chás medicinais para a cura de qualquer male, benzer e quebrar feitiços dos seus consulentes. Já no nordeste a figura de zé pelintra é identificada também pela sua preocupação com a elegância. no catimbó, usa chapéu de palha e um lenço vermelho no pescoço.

Fuma cachimbo, ao invés do charuto ou cigarro, como viria a ser na umbanda, e gosta de trabalhar com os pés descalços no chão. de acordo com ligiéro (2004), seu zé migra para o rio de janeiro onde se torna nas primeiras três décadas do século xx um famoso malandro na zona boêmia carioca, a região da lapa, estácio, gamboa e zona portuária. segundo relatos históricos seu zé era grande jogador, amante das prostitutas e inveterado boêmio. quanto a sua morte, autores descordam sobre como esta teria acontecido. afirma-se que ele poderia ter sido assassinado por uma mulher, um antigo desafeto, ou por outro malandro igualmente perigoso.

Porém, o consenso entre todas essas hipóteses é de que fora atacado pelas costas, uma vez que pela frente, afirmam, o homem era imbatível. para zé pelintra a morte representou um momento de transição e de continuidade”, afirma ligiéro, e passa a ser assim, incorporado à umbanda e ao catimbó como entidade “baixando” em médiuns em cidades e países diversos que nem mesmo teriam sido visitadas pelo malandro em vida como porto alegre ou nova york, japão ou portugal, por exemplo. todo esse relato em última instância não tem comprovação histórica garantida e o importante para nós nesse momento é o mito contado a respeito dessa figura.

Seu zé é a única entidade da umbanda que é aceita em dois rituais diferentes e opostos: a “linha das almas” (caboclos e pretos-velhos) e o ritual do “povo de rua” (exus e pombas-giras). A umbanda de zé pelintra é voltada para a prática da caridade – fora da caridade não há salvação -, tanto espiritual quanto material – ajuda entre irmãos – , propagando que o respeito ao ser humano, é a base fundamental para o progresso de qualquer sociedade.

Zé pelintra também prega a tolerância religiosa, sem a qual o homem viverá constantemente em guerras. Para zé pelintra, todas as religiões são boas, e o princípio delas é fazer o homem se tornar espiritualizado, se aproximando cada vez mais dos valores reais, que são deus e as obras espirituais. Na humildade que lhe é peculiar, zé pelintra, afirma que todos são sempre aprendizes, mesmo que estejam em graus evolutórios superiores, pois quem sabe mais, deve ensinar a quem ainda não apreendeu e compreender aquele que não consegui saber.

Zé pelintra, espírito da umbanda e mestre catimbozeiro, faz suas orações pelo povo do mundo, independente de suas religiões. Prega que cada um colhe aquilo que planta, e que o plantio é livre, mas a colheita é obrigatória. Zé pelintra faz da umbanda, o local de encontro para todos os necessitados, procurando solução para o problema das pessoas que lhe procuram. Ajudando e auxiliando os demais espíritos.

Zé pelintra é o médico dos pobres e advogado dos injustiçados, é devoto de santo antonio, e protetor dos comerciantes, principalmente bares, lanchonetes, restaurantes e boates, e sempre recorre a jesus, fonte inesgotável de amor e vida. Na gira em que zé pelintra participa são invocados os caboclos, pretos velhos, baianos, marinheiros e exus. A gira de zé pelintra é muito alegre e com excelente vibração, e também disciplina é o que não falta.

Sempre zé pelintra procura trabalhar com seus camaradas, e às vezes, por ser muito festeiro, gosta de uma roda de amigos para conversar, e ensinar o que traz do astral. Zé pelintra atende a todos sem distinção, seja pobre ou rico, branco ou negro, idoso ou jovem. Seu zé pelintra tem várias estórias da sua vida, desde a lapa do rio de janeiro até o nordeste.

Todavia, a principal história que seu zé pelintra quer escrever, é a da caridade, e que ela seja praticada e que passemos os bons exemplos, de pai para filho, de amigo para amigo, de parente para parente, a fim de que possa existir uma corrente inesgotável de amor ao próximo.

Zé pelintra prega o amparo aos idosos e às crianças desamparadas por esse mundo de deus. Se você, ajudar com pelo menos um sorriso, a um desamparado, estarás, não importa sua religião ou credo, fazendo com que deus também sorria e que o amor fraterno triunfe sobre o egoísmo.

Zé pelintra pede que os filhos de fé achem uma creche ou um asilo e ajudem no que puder as pessoas e crianças jogadas ao descaso. Não devemos esquecer que a fé sem as obras boas é morta.

Zé pelintra nasceu no nordeste, há controvérsias se o mesmo tivesse nascido no recife ou em pernambuco e veio para o rio de janeiro, onde se malandreou na lapa e um certo dia foi assassinado a navalhadas em uma briga de bar. Assim, zé pelintra formou uma bela falange de malandros de luz, que vêm ajudar aqueles que necessitam, os malandros são entidades amigas e de muito respeito, sendo assim não aceitamos que pessoas que não respeitam as entidades e a umbanda, digam que estão incorporados com seu zé ou qualquer outro malandro e que eles fumam maconha ou tóxicos; entidades usam cigarros e charutos, pois a fumaça funciona como defumador astral.

Podemos citar além de seu zé pelintra, seu chico pelintra, cibamba, zé da virada, seu zé malandrinho, seu malandro, malandro das almas, zé da brilhantina, joão malandro, malandro da madrugada, zé malandro, zé pretinho, zé da navalha, zé do morro, maria navalhada, etc.

Os malandros vêm na linha de exú, mas malandros não são exús! ao contrário dos exús que estão nas encruzilhadas, encontramos os malandros em bares, subidas de morros, festas e muito mais.

salve seu zé pelintra!

salve os malandros!

salve a malandragem!

Fonte: https://guardiaooxossi.com.br/orixas/categoria/ze-pilintra/181/a-origem-de-ze-pelintra

 

Postagem original feita no https://mortesubita.net/cultos-afros/a-origem-de-ze-pelintra/

Como montar um altar Xintoísta (Kamidana) – 神棚

Por Robson Bélli

No xintoísmo, um Kamidana (literalmente “prateleira de deuses”) é um santuário doméstico em miniatura para um kami doméstico ou um kami externo (de longe), como da cidade natal de alguém. Aqui está como montar um. (nota editorial: Confira o link ao lado para uma Introdução ao Shintoismo)

Consulte o clérigo xintoísta local. Ele pode abençoar sua casa e aconselhá-lo a obter e estabelecer um Kamidana. No entanto, já que você está lendo este artigo, assumimos que consultar um clérigo não é uma opção viável.

Selecione um local para o Kamidana em sua casa. Na maioria das casas japonesas, ele é colocado em uma prateleira no alto da parede, bem perto do teto. Deve ser a prateleira mais alta da sala. O Kamidana deve ficar de frente para o sul ou leste, e não estar em um banheiro. Se você  tiver um butsudana (altar budista), certifique-se de não colocar o Kamidana de frente para ele.

Adquira o Kamidana. Se você estiver no Japão, isso pode ser tão simples quanto comprar em uma loja de departamentos local. Se você não estiver no Japão, isso pode ser feito através de sites como amazon ou mercado livre. Eles custam de 5.000 a 40.000 ienes.

Compre os acessórios.

Os acessórios geralmente incluem dois pequenos pires, uma tigela com tampa, dois heishi (potes de saquê com tampa), um Gautama (jarro de água com tampa), dois vasos e, às vezes, dois castiçais. Com exceção dos castiçais, estes são geralmente de cerâmica branca. Os castiçais são geralmente de metal preto. Há também frequentemente dois vasos de cerâmica de estilo chinês e/ou um espelho em um suporte de madeira.

Reúna as oferendas.

Isso geralmente inclui dois raminhos de sakaki, sal, arroz, água e saquê. Você também pode querer velas brancas para o santuário.

Obtenha um kamifuda.

Um ofuda é um talismã inscrito com a essência de um kami. Lembre-se de que “você não deve fazer isso sozinho”, e eles devem ser obtidos em um santuário. Alguns santuários enviam para o exterior.

Coloque o ofuda dentro das portas abertas do Kamidana.

Coloque as essências da vida.

Na frente das escadas, coloque um dos pires. Encha-o com sal. À esquerda coloque o outro pires. Recheie com arroz seco. À esquerda, coloque a tigela de água com tampa. Encha-o com água. Estes são os três fundamentos da vida que você está oferecendo aos kami.

Coloque os outros acessórios.

Em ambos os lados da escada central, coloque primeiro o heishi, depois os vasos chineses e, finalmente, os vasos. Sake é derramado no “heishi, e raminhos de sakaki são colocados nos vasos brancos altos. Coloque os castiçais na frente do Kamidana. Velas podem ser colocadas neles. Seu Kamidana agora está pronto.

Outras opções para o Kamidana.

Muitos Kamidana são colocados dentro de uma caixa de madeira ou metal, muitas vezes com portas de vidro para protegê-la. Uma cortina, muitas vezes de bambu ou tecido roxo estampado com um mitsudomoe branco, pode ser colocada na frente do Kamidana. Uma shimenawa (corda de palha de arroz) pode ser pendurada bem na frente. Shide (tiras dobradas de papel branco), muitas vezes embrulhadas dentro do shimenawa, marcam a área do Kamidana como pura.

Adore o deus fazendo suas orações exaltando aquilo que o Deus escolhido em questão faz de melhor, ou ajoelhe-se frente ao Kamidana (ou curve-se, reverencie) enquanto faz essa exaltação e seu pedido. As ofertas devem ser alteradas todos os dias.


Robson Belli, é tarólogo, praticante das artes ocultas com larga experiência em magia enochiana e salomônica, colaborador fixo do projeto Morte Súbita, cohost do Bate-Papo Mayhem e autor de diversos livros sobre ocultismo prático.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/asia-oculta/como-montar-um-altar-xintoista-kamidana-%e7%a5%9e%e6%a3%9a/

No Início era o CAOS

A matemática nasceu nas sociedades coletoras e caçadoras primitivas, se derivando da necessidade de manter um registro de gado e outros bens. Eles se utilizavam de marcas em pedaços de paus, pedras, etc. aplicando o princípio de correspondência biunívoca[1]. Essas necessidades foram responsáveis por uma crescente abstração por parte desses povos como, por exemplo, a percepção que um grupo de duas maçãs e um grupo de duas laranjas possuem algo em comum. Desta forma a matemática evoluiu gradualmente para

Espere. Por um momento me esqueci que este blog passa por constantes processos de higienização, tornando-o livre de merda. Isso mesmo. Se duvida confira o selo abaixo.

Viu? Um livre de merda.

Afirmar que conceitos matemáticos primitivos se limitavam a experiências nascidas de uma necessidade práticas é apenas uma forma moderna de poder ser racista sem que as pessoas falem mal de você. Isso é apenas uma maneira de dizer que os homens primitivos eram limitados e burros, incapazes de fazer contas e de lidar com abstrações filosóficas complexas. Bem, eles podiam ser feios. Com certeza eram fedidos e tinham bafo, piolhos talvez. Mas burros? Me dê uma prova de que a burrice foi extinta com a evolução e continuamos com esta conversa.

Já que a burrice e a limitação existem até hoje, de forma refinada ainda, e a matemática continua evoluindo, podemos afirmar que limitações cerebrais não tem nada a ver com o seu desenvolvimento.

Pare para pensar. O texto mais antigo que temos hoje, ou o registro mais antigo de um texto que temos hoje, é a Epopéia de Gilgamesh, um registro que conta a história de um monarca que existiu provavelmente no fim do segundo período dinástico da Suméria, aproximadamente no século XXVII a.C. O registro mais completo deste texto está em uma tábua de argila escrita na língua acádia que data do século VIII a.C., embora existam tábuas com excertos do texto datando do século XX a.C. Em 1860 George Smith traduziu o texto para que pudéssemos apreciá-lo.

Por acaso você sentiu calafrios ao ler o parágrafo acima? Não? Então releia-o mais devagar, pode ler acompanhando com a boca, ninguém vai tirar sarro.

Imagine agora que um texto escrito há mais de quarenta (40) séculos (grupo de 100 anos), não apenas pode ser lido como também traduzido e compreendido. Não só isso, ele pode ser compreendido e comentado, “nossa, esse Gilgamesh era mesmo um malandro não? Um velhaco de fato!” Hoje uma criança de sete anos pode ler e entender, e talvez achar chato, um coisa escrita em argila a mais de quatro mil (4000) anos atrás, depois de traduzida – a não ser que a criança tenha sido alfabetizada em acádio e assim pode entender sem a tradução. E o que assusta mais é que se a coisa foi escrita é porque a escrita já existia, e a história já circulava muito antes, pelo menos desde alguns anos depois do século XXVII a.C. Meu ponto aqui não é me surpreender com o período relativamente curto da história, desde que a linguagem escrita se desenvoleu até os dias de hoje e blah blah blah. Meu ponto é que sabendo a língua e as gírias, uma pessoa de hoje poderia trocar figurinhas e fofocar com um ser humano que viveu quarenta séculos atrás, cinquenta, sessenta séculos atrás. Ou seja, hoje vivemos praticamente o que se vivia naquela época, claro que temos essas chatisses de facebook e provão do Enem, mas de resto, tirando os odores corporais uma pessoa de 5.000 anos atrás é basicamente como nós. Dê um uniforme e alguns dias de treinamento ao homem de Cro-Magnon e ele poderá trabalhar no metrô. Tendo as mesmas dúvidas, os mesmos desejos e as mesmas divagações que qualquer um de nós teria.

Obviamente que historicamente isso não é muito, para se ter uma idéia eu perdi meu tempo criando uma linha do tempo (não se pode falar de tempo por muito tempo sem se esbarrar nesses malditos paradoxos) da evolução do que hoje é cientificamente conhecido como “nós”. Para entender o que é aceito cientificamente hoje pelo Dogma, temos que entender que ser humano, no contexto de evolução humana, se refere especificamente aos macacos carecas do gênero Homo (podem fazer suas piadinhas de bichas sendo nossos antepassados e como isso influencia nosso medo de esfregar pintos no metrô, eu faço o tempo todo). Como sei que desde crianças somos ensinados a associar nomes a formas coloridas, preparei um gráfico para que você não se perca com essa linha do tempo:

No início havia o nada e então BUM! O primeiro de nós, o macaco.

7.000.000 a 5.000.000 de anos atrás – aquilo que virariam seres humanos ramificaram-se de seu ancestral comum com os lêmures;

5.000.000 a 4.000.000 de anos atrás – Depois de uma boa caminhada com o resto da macacada Ardipithecus ramidus se separa dos chipanzés para explorar seu próprio ramo evolutivo

4.000.000 a  3.500.000 de anos atrás – os Australopithecus espicham um pouco o cérebro e se sentem muito importantes para compartilhar o mesmo ramos dos Ardipithecus.

3.500.000 a 2.300.000 de anos atrás – o Gênero Homo se afastou dos Australopitecos na África.

ALERTA DE FATO IRRELEVANTE

Fato irrelevante: Dado à limitação do progresso linear do Dogma, o pessoal das antigas já andava ereto muito antes do Homo Erectus (1,8 milhões a 300 mil anos atrás – elemento 4) aparecer e ficar com a fama. Da mesma forma existem indícios de que já usavamos e construíamos coisas muito antes do Homo Habilis (2.3 a 1.4 milhões de anos atrás – Elemento 1) levar o título para casa. Isso é compreensivel já que no momento em que seus fósseis foram descobertos, respectivamente em 1891 e 1962 todos os macacos já haviam esquecido destes fatos ou eram novos demais para lembrar deles, e todos os livros a respeito de nossa evolução já haviam sido escritos e ficava complicado recolher a todos, reescrever os fatos, mudar todos os nomes e colocar tudo no mercado de novo como se nada houvesse acontecido.

400.000 e 250.000 de anos atrás – o Homo sapiens (Elemento 2) arcaico evoluiu.

O Dogma segue afirmando que o Homo sapiens surgiu na África e migrou para fora da continente num período que engloba provavelmente 100.000 a 50.000 anos atrás, substituindo as populações de H. erectus na Ásia e de H. neanderthalensis (Elemento 7) na Europa.[2]

(Os elementos restantes são Australopithecus boisei – Elemento 5 – que viveu entre 2.3 e 1.4 milhões de anos atrás. Homo Heidelbergensis 700.000 a 300.000 anos atrás – Elemento 6 – e o H. Floresiensis – Elemento 3 – que ficou famoso por comer ratos gigantes entre  95.000 e 13.000 anos atrás.)

Pelo menos 400.000 anos atrás já havia pessoas como nós contanto piadas e falando mal dos outros. Agora, caso você seja um racista de primeira linha, pode dizer que só em 250.000 anos atrás surgiram “pessoas como nós” correndo para cima e para baixo pelo mundo, as mesmas que alguns milênios depois e estariam escrevendo coisas como o Gilgamesh.

Seria justo imaginar que esses “primitivos” seriam tão diferentes de nós hoje em dia, que teriam que ficar olhando maçãs e laranjas feito imbecis babando antes de perceber que havia algo sinistro ali?

Esqueça que somos humanos por um momento. Será que a abstração que chamamos de números é algo unicamente primata? Como outros animais lidam com números?

Kevin C. Burns, da Victoria University em Wellington, Nova Zelândia, e seus colegas realizaram experimentos. Ele fizeram buracos em troncos e pedaços de troncos caídos. Mas não pararam por ai, dentro dos buracos eles colocaram diferentes númeras de larvas de besouros e, não se dando por satisfeitos por essa ousadia, fizeram isso na frente de grupos de tordos – tordos são pássaros ( No futuro será provado que pássaros são répteis, mas este é outro assunto). Não sabemos o que ele quis originalmente provar com esse experimento, mas sabemos o que ele descobriu com ele. Não apenas os tordos voavam juntos para os buracos que tinham uma maior quantidade de larvas, como se Kevin os enganasse, removendo alguns dos insetos quando os pássaros não podiam ver, após devorar todas as larvas que tiveram a infelicidade de ser colocadas no buracos, os pássaros permaneciam muito mais tempo lá “procurando algo” do que quando o número de larvas que eles viam ser postos não era adulterado.

Rosa Rugani, da Universidade de Trento, na Itália, e seu time de pesquisa realizaram experimentos. Eles chocaram ovos de pintinhos. Obviamente não se contentaram em parar por ai e foram além, assim que nasceram os pintinhos foram criados com cinco objetos idênticos. Obviamente as pequenas aves se encontravam em um de seus momentos de vulnerabilidade de impressão[3] e por isso passaram a considerar os objetos seus pais. Não sabemos o que ela quis originalmente provar com esse experimento, mas sabemos o que ela descobriu com ele. Quando um dos cientistas subtraia dois ou três dos objetos originais colocando os objetos subtraídos atrás de um biombo, os pintinhos saiam em busca pelo número maior de objetos, como se dissessem que sua mãe estava mais para um 3 do que para um 2. Rugani também variou o tamanho dos objetos para descartar a possibilidade de que os pintinhos se baseassem simplesmente no grupo de itens que ocupasse mais espaço.

Elizabeth Brannon da Universidade de Duke realizaou experimentos. Ela fez uma máquina que apitava. Mas não parou por ai. Na frente da máquina havia monitores que mostravam formas geométricas, um com o número de objetos igual ao número de apitos que a primeira máquina produzia e outros com números que não combinavam com nada. Não satisfeita ela pegou macacos rhesus e os fez ouvir os apitos e apresentou os víros monitores. Não sabemos o que ela quis originalmente provar com esse experimento, mas sabemos o que ela descobriu com ele. Os macacos eram capazes não apenas de contar, mas de combinar inputs vindo de diferentes estímulos. Claro que ela não parou por ai. Ela pegava uma tela mostrando um número X de objetos, cobria a tela e subtraia alguns deles, mostrando a tela depois. Os macacos eram colocados em telas que mostravam a diferença e outras com objetos aleatórios. Claro que eles acertaram as telas com as diferenças corretas. Não satisfeita ela colocou duas telas lado a lado, cada uma mostrando um grupo de pontos, a pegadinha é que um tinha mais pontos e o outro menos pontos. E não se limitou a macacos desta vez, ela colocou estudantes da universidade na cadeira também. O objetivo apontar a tela com mais pontos. “A performance final dos estudantes e a dos macacos é praticamente indistinguível uma da outra”. Olhando apenas os resultados você não sabe dizer se o teste foi realizado por um humano ou um macaco.

Claudia Uller, da Universidade de Essex, Reino Unido, descobriu que Salamandras sabem contar, escolhendo tubos de ensaios que possuem mais quantidades de moscas. Primeiro escolhendo entre tudo com 1, 2 e 3 moscas e depois entre tubos que possuiam diferenças de até 16 moscas entre si.

Porra, Christian Agrillo e seus colegas mostraram que um peixe-mosquito consegue contar, discriminando números até 16!

Pela Deusa, vivemos em um mundo onde atá galinhas fazem aritmética! E nós achando que os árabes eram fodas.

Se animais percebem números, por que nós, ou nossas versões antigas, não perceberiam também?

Assim, se fôssemos ignorar tudo isso que foi escrito para então reescrever o primeiro parágrafo, ele seria mais ou menos assim:

“Aquilo que conhecemos como matemática nasceu antes de nós, e é passada para nós através de nosso cérebro, queiramos ou não.” [4]

Concordo que é muito mais elegante e sucinto. Mas nem por isso menos real.

Querendo ou não, a matemática é algo que parece vir de brinde quando se é vivo. Macaco ou não. Mamífero ou não. Assim a história da matemática estaria de certa forma ligada à história de nosso sistema nervoso. Hoje existem cientistas fazendo pesquisas que indicam que invertebrados tem essa “abstração numérica” também. Logo vão descobrir que a abstração numérica é algo que independe de um sistema nervoso e ai as pessoas começam a pirar, ou não. Já existem hoje aqueles que afirmam que a Matemática existe pronta na natureza, nós apenas a percebemos. Se Pascal já não tivesse feito isso eu diria que é uma questão de tempo até as pessoas começarem a afirmar que a matemática é algo que não apenas emana de Deus como também Deus pode ser comprovado matematicamente. Deixemos isso para outro dia.

Peixes contam, anfíbios contam, répteis contam, aves contam, macacos contam, nós contamos. Assim não houve sociedades caçadoras e coletoras primitivas desenvolvendo uma noção abstrata de números, esse noção já fazia parte delas antes delas nascerem.

Mas ela pode ter sido desenvolvida graças à contagem de rebanhos e frutas, certo?

Hoje em dia, o conceito público do que é evolução tem a ver com algo primitivo se tornando moderno, com um aumento de sofisticação, com uma melhoria. Os primeiros computadores pesavam toneladas e ocupavam salas inteiras e não tinham 1/100 da capacidade do seu relógio digital de hoje certo? Se a voz do povo é a voz de Deus então infelizmente Deus é burro. Evolução tem a ver com um aumento de complexidade. Pense na primeira célula que só sabia comer, cagar, se dividir e morrer e pense no que existe hoje no tocante a variedade de espécies. Tecnicamente essas novas espécies fazem as exatas mesmas coisas que aquela célula primitiva, mas houve um aumento significativo na complexidade desses seres e mais ainda, na variedade desses seres. É ai que Darwin pisou na bola, já que seu cânon explica muito bem como uma espécie se adapta e evolui, mas não como surgem novas espécies com tanta variedade. Mas não viemos discutir religião aqui, voltemos aos números.

Se a Matemática se desenvolveu, ou evoluiu, partindo de uma forma simples de abstração numérica rumo a uma forma muito mais complexa, acompanhando o desenvolvimento do raciocínio, ela deve ter deixado evidências. Vejamos se podemos encontrar por ai alguns fósseis de idéias abstratas.

Estudos sobre como a matemática surgiu, recuando até 50.000 anos atrás, supostamente a época que os Homo sapiens começaram a se espalhar pelo mundo, chegaram-se à conclusão que o conceito de divisão numérica tem aproximadamente 12.000 anos, antes disso ele seria muito complexo para que os pobres macacomens que zanzavam pelo mundo a compreendessem.

Um entalhe feito na presa de um mamute, datado de aproximadamente 32.500 anos atrás traz uma representação da constelação de Orion. Num primeiro momento isso pode não parecer muito, mas quem fez esse entalhe já possuia uma noção muito boa de constelações. Fazer uma representação de um grupo aleatório de coisas é algo, uma costelação já é outra diferente. Você precisa saber que aquele grupo de estrelas surge constantemente. Isso já mostra uma noção de abstração de tempo muito boa. Datado quase da mesma época, aproximadamente 32.000 anos atrás, uma espécie de calendário trazendo o desenho de uma mulher a cada 28 dias. Pessoas, como você e eu, há dezenas de milhares de anos, com uma compreensão do mundo muito próxima da nossa hoje. Muito primitivo não? Esses dois entalhes nos mostram de cara que nossos tatatatatatatatatata elevado a tata taravós já se utilizavam de conceitos abstratos (números) para medir outro conceito abstrato (tempo), dividindo esse conceito em grupos menores – constelações de um lado, períodos de 28 dias do outro. Além disso existem outras evidências interessantes hoje como, por exemplo, um culto a cobras na Africa, datando de pelo menos 70.000 anos atrás ou um registro, datando de 30.000 anos atrás, da cerimônia de enterro de um xamã – para terem idéia isso é coisa do paleolítico, da idade da pedra lascada, é nessa época que o Dogma acredita que o homem descobriu o fogo e a roda. Esses achados já mostram que abstrações eram algo que já fazia parte do dia a dia dos antepassados, e já eram abstrações complexas. As formas de culto ou cerimônias de sepultamento não eram diferentes das que temos hoje – nossa capacidade de abstração não evoluiu tanto quanto gostaríamos de pensar que ela fez.

Dizer que o homem da caverna tinha medo do relâmpago e por isso achava que ele era um Deus, já que não sabia explicá-lo cientificamente, e ai criava uma religião para adorá-lo é uma besteira. Um pensamento simplista e tosco, mas que mesmo assim já mostra uma capacidade complexa de abstrações gerando ainda mais abstrações. Agora o que seriam esses primitivos e sociedades primitivas?

Quando pensamos em civilizações antigas hoje, a grande maioria de nós pensa nos Egípcios, nos Babilônios, nos Sumérios. A civilização Suméria é considerada a mais antiga de todas, ela é datada de 6.000 anos atrás mais ou menos. Antes disso a crença não era em civilização, mas em sociedades mais ou menos complexas e organizadas. Infelizmente esse pensamento a cada dia parece afundar cada vez mais e fazer cada vez menos sentido.

Ruinas submersas na ilha de Yonaguni no Japão, são o testemunho de sociedades complexas com economia e engenharia que datam de cerca de 11.000 anos atrás. Ou seja,  dezenas de milênios antes da nossa “civilização” mais antiga já haviam japoneses contando e medindo não apenas o tempo ou trabalhando com padrões cíclicos e repetitivos, mas erguendo obras arquitetônicas e lidando com economia.

Assim, não é de se surpreender que os artefatos matemáticos mais antigos que temos hoje venham deste período pré-civilizado, o osso Lebombo sendo o bisavô de todos eles. Datado de 37,000 anos, ele é uma fíbula de babuíno marcada com 29 talhos, e foi descoberto nas montanhas da Suiça. “Primitivo”, mas interessante, se bem que se peixes contam isso não deveria nos surpreender. Na Checoslováquia encontraram outro desses ossos com marcas, foi chamado de osso de Lobo, datados de 30.000 anos atrás, esse osso traz 55 marcas e uma escultura da figura de Vênus em uma das pontas; contagem ligada à Deusa da Fertilidade, a Deusa-Mãe. Uma complexidade maior, mas matematicamente simples ainda, afinal se envolve a deusa Mãe é apenas matemática aliada à biologia.

Olhemos para outro osso agora, batizado de osso Ishango. Ele foi encontrado perto do rio Nilo, no Congo, datado de 20,000 anos. Outra fíbula de babuíno com marcas, em um aponta trazia um cristal de quartzo preso, o que levou muitos a acreditarem que esse osso era uma espécie de caneta antiga, usada para marcar outras coisas. Nada sensacional certo?

Vamos olhar o osso de Ishango:

garotas, é só clicar na imagem acima com jeitinho que ela cresce pra vocês

Repare nos talhos que aparecem nele. Bem, logo que foi descoberto acreditaram que as marcas deste osso fossem simplesmente uma forma de deixar o osso menos escorregadio, e melhorar a “pegada” nele, a versão antiga das capinhas de silicone das canetas metidas de hoje.

Como essa imagem ainda é confusa, vamos remover o osso e deixar apenas as marcas:

Coluna A

Coluna B

Coluna C

Se você parou para contar as marcas das 3 colunas do osso deve ter se assombrado também. Repare como elas estão em três colunas assimétricas. na primeira coluna as marcas estavam agrupadas em 4 grupos:

19 riscos
17 riscos
13 riscos
11 riscos

Na coluna do centro em 8 grupos:

7 riscos
5 riscos
5 riscos
10 riscos
8 riscos
4 riscos
6 riscos
3 riscos

na última coluna 4 grupos:

9 riscos
19 riscos
21 riscos
11 riscos

Bem, isso implica que alguém, ou alguma coisa, 20.000 anos atrás, em pleno Paleolítico, pegou o osso do braço de um babuíno, e como não tinha nada a fazer começou a riscar nele, em colunas. Na primeira coluna marcou apenas números ímpares, listando todos os números primos entre 10 e 20, o que, se não bastasse forma um primo quádruplo – primos quádruplos são uma série de quatro primos na forma {p,p+2, p+6, p+8}, que representa o agrupamento mais próximo possível de quatro primos maiores que 3, caso você não esteja conseguindo seguir o raciocínio do primitivo limitado que riscava ossos.

Na coluna do meio, a pessoa/coisa começou fazendo 3 riscos e depois fez 6 (olhe da direita para a esquerda). Para provar que essa evolução não foi por acaso, em seguida foram feitos 4 riscos seguidos por 8. Notou algum padrão? Se não olhe de novo e veja que foram feitos 10 riscos e então 5. Para aqueles desavisados isso parece muito com multiplicação e divisão por 2.

Na terceira coluna números que podem ser representados como [10-1], [20-1], [20+1] e [10+1]. Se isso não fosse assustador o suficiente repare que as somas dos riscos da primeira coluna é igual a 60 e da terceira é igual a 60 também. Como vimos, de acordo com o Dogma, o ser humano só adquiriu o conceito de divisão em aproximadamente 10.000 a.C. e sem ele não haveria a chance de ter idéia do que são números primos, que por sua vez só seriam compreendidos no ano 500 a.C. Bem, parece que de novo o Dogma vai por água abaixo; bem, vimos que macacos e estudantes costumam ter o mesmo desempenho em alguns tipos de testes matemáticos, talvez este tenha sido o caso au invés de considerações matemáticas complexas – pense assim se imaginar um homem das cavernas brincando com números primos e coisas assim te faz cagar tijolos.

SIM IRMÃOS E IRMÃS! A MATEMÁTICA ESTÁ DENTRO DE NÓS! E ELA QUER SAIR! ALELUIA!

Mas antes de começarmos a cantar hinos e fazer dancinhas sinistras, vamos ver como diferentes pessoas ativaram esses circuito de contar de dentro de si, e como eles colocaram ele em uso. E então vejamos como podemos usar a própria matemática para alterar esse circuíto que existe dentro de nós.

Notas:

[1] Correspondência biunívoca é simplesmente a capacidade de comparar dois conjuntos estabelecendo uma relação entre o conjunto que se conta e o conjunto contado. Em linguagem simples, fechar a mão e levantar um dedo para cada vez que alguém espirrar, ou fazer uma marca para cada ave que enxergar.

[2] Existem, obviamente, hereges defensores da crença de que o Homo sapiens evoluiu em regiões geograficamente separadas. Muitos cientistas hoje invejam em segredo a Igreja Católica por ter inventado a inquisição e ficam tristes porque hoje queimar pessoas vivas em praça pública pode dar cadeia.

[3] Abracadabra

[4] Claro que se consideramos a matemática uma música que existe por tráz da existência, desenrolando de maneira sutil e que gradualmente é percebida por nós, eu afirmo que a matemática nos é passada independente de termos ou não um cérebro. Não precisamos dele para perceber a harmonia matemática, sentimos ela com o nosso ser – independente dele ser humano ou não.

Créditos fotográficos:

A imagem de abertura é da calculadora mecânica O Macaco Educado. Inventada na distante antiguidade, aproximadamente 100 anos atrás, era usada como um auxílio educacional e funcionava de forma totalmente mecânica, bastava mover os pés do macaco para os números que você desejava multiplicar e as mãos mostravam o resultado.

A imagem da rapaziada é de autoria de Ivan Allen.

fecham-se as cortinas – lembrem-se que é expressamente proibido alimentar os animais sem as calças.

Por LöN Plo

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/mindfuckmatica/no-inicio-era-o-caos/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/mindfuckmatica/no-inicio-era-o-caos/

Como entender e ler o I-Ching

Ao fluir com as circunstâncias se evita o atrito
e portanto a resistência: esse é o caminho do homem sábio.

CONTEÚDO:

O I Ching [pronuncia-se “I Jing”] ou Livro das Mutações é um poderoso oráculo que usa as imagens do Céu, da Terra, dos elementos e da natureza para prever as mudanças do tempo na vida dos humanos, e um livro de sabedoria chinês muito difundido entre os orientais, onde o consultante utiliza-se de moedas ou varetas, que são jogadas enquanto faz uma pergunta, formando um Hexagrama* – figuras formadas pelas combinações de 6 linhas inteiras ou partidas superpostas – para ser consultado em um livro, onde a resposta à pergunta é respondida.

Um Hexagrama é composto pela combinação de dois Trigramas (figuras formadas pelas combinações de 3 linhas inteiras ou partidas superpostas), um sobreposto ao outro.

12º Hexagrama do I Ching = Pi (Estagnação)
Formado por dois Trigramas:
1. Abaixo Trigrama K’um (três linhas Yin)
2. Acima Trigrama Chi’em (três linhas Yang)

O I Ching é um dos mais antigos e um dos únicos textos antigos chineses que chegaram até nossos dias. A parte principal dos textos tem pelo menos 3.000 anos de existência. Antes era chamado apenas “I”, cujo ideograma é traduzido de muitas formas, e no século XX ficou conhecido no ocidente como “mudança” ou “mutação”; Ching, significa “clássico”, foi o nome dado por Confúcio (nome latinizado de King Fu Tze – século VI a. C.) à sua edição dos antigos livros.

O livro é um texto clássico chinês composto de várias camadas, sobrepostas ao longo do tempo, e traz 64 Hexagramas, acompanhados de seus respectivos textos explicativos. Cada um dos textos está dividido em várias partes:

1 – a Sentença – é a interpretação do Hexagrama como um todo, atribuída ao Rei Wen.
2 – o Comentário – é uma explicação das Sentenças (ou Julgamentos) do Rei Wen, atribuída a Confúcio.
3 – a Imagem – é o simbolismo maior ou a idéia do Hexagrama, também atribuído a Confúcio. Refere-se às imagens associadas aos Trigramas.
4 – as Linhas – com duas subdivisões: a primeira é a explicação dada pelo Duque de Chou, e a segunda são as observações de Confúcio, sobre esta explicação, ou o simbolismo menor.

Como fonte que alimentou diversas religiões e filosofias orientais, ele tem sido usado desde as mais remotas épocas até os tempos atuais, nos países cuja cultura tem forte influência chinesa, como Japão, Coréia e Vietnã. No Japão, até a época da Reforma Meiji, um século atrás, mesmo as táticas militares eram baseadas em configurações inspiradas por este livro extraordinário. Muitos japoneses acreditam que as vitórias navais que conseguiram na primeira parte da Guerra do Pacífico se deveram ao fato de serem os livros de estratégia baseados no “Livro das Mutações”. Nas universidades japonesas, a obra ainda retém parte de seu papel tradicional; na verdade, entre os povos do Extremo Oriente, o livro conserva um número incontável de admiradores em todas as camadas populares.

Na China, tradicionalmente, se utiliza o I Ching em todos os momentos, especialmente para a tomada de grandes decisões e definições de impasses. Decide caminhos políticos e econômicos do governo, auxilia empresários em suas definições, orienta famílias inteiras com relação à mudanças, casamentos, auxilia indivíduos a escolher os melhores lugares para construir suas residências, e ainda prevê as possíveis transformações na vida particular e coletiva das pessoas, oferecendo a oportunidade de que se decida qual o melhor rumo a tomar, sem sofrer conseqüências desagradáveis.

TRADUÇÕES E EDIÇÕES INDICADAS

Várias tentativas de transpô-lo para os idiomas ocidentais foram feitas, destacando-se a do sinólogo Richard Wilhelm, considerada a melhor existente em idioma ocidental, que aliou a sua compreensão do pensamento chinês (incluindo a concepção básica de que as situações por que passamos são, em essência, as mesmas) a uma refinada tradução: após verter o texto original para o alemão, passou-o novamente para o chinês, a fim de se garantir contra eventuais erros que comprometessem o sentido dos Hexagramas.

Richard Wilhelm traduziu o I Ching para o alemão ao longo dos anos em que viveu na China, inclusive durante a invasão japonesa, quando a cidade em que estava foi cercada. Teve o apoio de um velho e sábio mestre, Lao Nai Suan, que morreu ao ser concluída a tradução. Wilhelm traduziu também outro clássico chinês, o “Tao Te Ching”.

No Brasil, a melhor tradução do I Ching é a do monge budista Gustavo Alberto Corrêa Pinto, feita com Alayde Mutzenbercher, a partir da edição feita pelo sinólogo alemão Richard Wilhelm, publicada em 1923. Seguindo a tendência histórica do livro, a tradução para o português custou três anos de trabalho.

TEORIA DA SINCRONICIDADE

Foi baseando-se no I Ching que Jung elaborou sua “Teoria da Sincronicidade”, segundo a qual tudo o que acontece em um dado momento está legado à situação universal daquele instante.

O psicanalista suíço Carl Gustav Jung, que escreveu o prólogo da tradução inglesa da versão alemã de Richard Wilhelm, sugeriu que o efeito dos textos oraculares do “Livro das Mutações” é extrair do inconsciente para a superfície da consciência os elementos necessários à compreensão de determinado problema. E foi baseando-se no I Ching que Jung elaborou sua teoria da sincronicidade, segundo a qual tudo o que acontece em um dado momento está ligado à situação universal daquele instante.

A definição da tradição hermética, fonte primordial do ocultismo ocidental, ajuda a entender esta concepção de acaso significativo: “Toda a Causa tem seus Efeito, todo o Efeito tem sua Causa; tudo acontece de acordo com a Lei; o Acaso é simplesmente um nome dado a uma Lei não reconhecida; há muitos planos de causalidade, porém nada escapa à Lei” (O Caibalion, Três Iniciados, Ed. Pensamento, São Paulo, 1985).

ORIGEM DO I CHING

A origem do I Ching é amplamente discutida, mas de qualquer forma, ela é cercada de mistérios e misticismo. Ele surgiu antes da dinastia Chou (1150-249 a.C.) e era um conjunto de oito Kua, figuras formadas por três e seis linhas sobrepostas. Na tradição chinesa, o I Ching foi usado para adivinhação na dinastia Shang.

Dizem que este oráculo sagrado foi escrito na China há cerca de 3.000 anos por Fu Hsi, o criador mítico chinês, conhecido como o pai da civilização, e até a dinastia Chou eles formavam o “I”. Conta a lenda que um dia, quando em suas meditações diárias, ele avistou uma tartaruga emergindo da água de um rio. Analisando o casco desta tartaruga, Fu Hsi concebeu que todo o universo estava representado em pequenas marcas, dispostas ordenadamente no casco. Estes oito símbolos, cada um com certas características, receberam no Ocidente o nome de Trigramas [James Legge, em sua tradução para o inglês (1882), chamou de Trigrama o conjunto de três linhas e Hexagrama o de seis, para distingui-los entre si. Os oito Trigramas têm nomes não encontrados em chinês, sua origem é pré-literária.]. Com a combinação destes oito Trigramas em todas as variações possíveis, tem-se 64 Hexagramas (composto por 6 linhas), ou seja, todo o I Ching.

O tempo obscureceu a compreensão das linhas, e no começo da dinastia Chou surgiram dois anexos: o Julgamento, atribuído pela tradição ao Rei Wên, e as Linhas Móveis, atribuídas a seu filho, o Duque de Chou, ambos fundadores desta dinastia. Essa era a forma do livro quando Confúcio o encontrou. Mais tarde, mesmo o significado destes textos começou a ficar obscuro, e no século VI a.C. foram acrescentadas as Dez Asas, que a tradição atribui a Confúcio, embora seja claro que a maioria delas não pode ser de sua autoria. O nome “I Ching” é dado ao conjunto dos textos posteriores. Dizem que Lao-Tsé também contribuiu com sua sabedoria ao I Ching.

Um fato célebre ocorreu ao “Livro das Mutações”: no ano de 213 a.C., Ch’in Shih Huang Ti, um tirano conhecido como “o Grande Unificador” (foi o construtor de parte da Grande Muralha e o unificador das províncias chinesas), ordenou a queima de todos os livros existentes, exceto os dos arquivos imperiais. Verdadeiro desastre para a maior parte da velha literatura chinesa: entre os livros clássicos que deveriam ser lançados às chamas, foi feita uma exceção àqueles que tratassem de “medicina, adivinhação e agricultura”. Como nessa época o I Ching era considerado livro de adivinhação, escapou a esta tragédia.

A doutrina do yin-yang foi sobreposta ao texto.

O QUADRADO MÁGICO DE LO SHU – Literalmente: Diagrama do Rio Lo.

Existe uma lenda que diz que este quadrado apareceu magicamente às margens do Rio Lo, afluente do Rio Amarelo, no centro da China, cinco mil anos atrás, inscrito no osso peitoral de uma tartaruga gigante que saiu do rio durante os trabalhos de irrigação, e lhe são atribuídas poderes mágicos.

As marcas no casco dela formavam um quadrado mágico perfeito, com nove ideogramas de números, que estavam organizados de tal maneira que, quando 3 números fossem somados, seja no sentido horizontal, vertical ou diagonal, o resultado era sempre 15, e foi interpretado como revelação da geometria secreta do universo, que está por trás de todas as coisas, origem do seu nome “quadrado mágico”. Em alguns lugares é chamado de “Chi das Nove Estrelas” porque reflete a posição de Vega, Polaris e as sete estrelas da Ursa Maior no céu.

Todos os sábios da época se interessaram por esse evento, resultando disso a criação do I Ching, do Feng Shui, e da Astrologia Chinesa. Esse “Quadro Mágico” também indicava 8 direções (sendo 1 o Norte e 9 o Sul), que representavam diferentes aspectos da vida da pessoa.

A INFLUÊNCIA DE CONFÚCIO

Confúcio (King Fu Tze) passou a se dedicar intensamente ao estudo do I Ching, escrevendo explicações relativas ao texto e transmitindo-as oralmente a seus discípulos. Por isso, considera-se como altamente provável, mas não absolutamente certo, que a parte denominada “Comentário” (Tuan Chuna) seja da autoria do famoso filósofo, assim como as explicações sobre as “Imagens”. Confúcio disse certa vez que poderia dar sábios conselhos apenas após ter estudado com profundidade o I Ching.

Lao Tse inspirou-se no I Ching para escrever os aforismos mais profundos do seu Tao Te King (traduzido no Ocidente como “Caminho Perfeito”), obra clássica do Taoísmo.

COMO CONSULTAR O ORÁCULO

Como todo oráculo, exige a aproximação correta: a meditação prévia, o ritual, e a formulação precisa da pergunta.

A consulta oracular é tradicionalmente feita com 50 varetas (originalmente de mil-folhas, uma planta sagrada), das quais uma é separada e as outras 49 manuseadas, seguindo seis vezes a mesma operação matemática, para a obtenção da resposta.

O I Ching, por ser um livro sagrado, e as varetas usadas na consulta, eram guardados em uma caixa de madeira virgem, embrulhados em seda também virgem.

No Japão, a consulta é feita com o uso de três moedas. Esta prática encurta a consulta, e aí reside seu defeito: nem sempre cria a disposição interior necessária à consulta.

Aqui, vamos ensinar o método das 3 moedas:

Você vai precisar de uma edição do livro do “I Ching“.

Usam-se 3 moedas, que serão lançadas juntas por 3 vezes. Consiste basicamente em jogar moedas e registrar o resultado (cara ou coroa) e daí consultar um padrão já definido de conselhos e/ou orientações no manual ou livro.

Você poderá procurar em casas de produtos esotéricos as “Moedas Chinesas do Feng Shui”, ou poderá usar pequenas moedas antigas (iguais, ou seja do mesmo tamanho e valor), de preferência moedas que não tenham mais valor comercial; costuma-se dar propriedade às moedas de cobre. Separe, limpe, purifique e consagre três moedas. Primeiramente, lave-as, e ponhas ao Sol (se puder depois as enterre na terra ou em um vaso com sal grosso, deixando-as por 3 dias, e por último torne a lavá-las).

As moedas chinesas têm um furo quadrado no centro, que representa a Terra (que os chineses antigos acreditavam ser quadrada); a forma circular da moeda representa o céu. Na moeda chinesa um lado é Yang (descrito por quatro caracteres), o outro o lado Yin (dois caracteres).

Se usar uma moeda comum, dê à sua face “cara” (Yang) o valor 3 e à face “coroa” (Yin) o valor 2.

1 – Pense no caso para o qual precisa de orientação.

2- Junte as mãos em concha e sacuda delicadamente as moedas na concavidade formada pelas palmas das mãos. Quando achar que sacudiu as moedas o suficiente para mistura-las, deixe-as cair suavemente sobre uma superfície plana (tradicionalmente usa-se um diagrama com os 8 Trigramas distribuídos ao redor da figura do símbolo do Tao).

3 – Quando elas pararem, examine quais caíram com a face “cara” e quais caíram com a face “coroa” (ou se caíram todas com a mesma gravura), contando o número total de pontos (“cara” = 3, “coroa” = 2). Há somente quatro possibilidades, pois não importa a ordem em que as moedas sejam examinadas. Por conseguinte, os números que podem ser obtidos pelas combinações cara-coroa do lançamento das três moedas, em cada uma das 6 jogadas, são: 6 (3 coroas – “Grande Yin”), 7 (2 coroas e 1 cara), 8 (2 caras e 1 coroa) e 9 (3 caras – “Grande Yang”). O primeiro lançamento formará a linha inferior do Hexagrama de seis linhas que você está construindo. O Hexagrama é produzido de baixo para cima, de forma que o resultado da primeira jogada determina a linha inferior ou primeira; o da segunda, a segunda linha, e assim por diante. Se o lançamento deu o número 6 (três coroas) ou 8 (duas caras e uma coroa), trace uma linha partida assim , e coloque o número obtido ao lado da linha. Se o lançamento deu o número 7 (duas coroas e uma cara) ou 9 (três caras), trace uma linha contínua, assim , e coloque o número obtido ao lado da linha.

4 – Para completar o Hexagrama, sacuda novamente as mãos e repita o lançamento das moedas, com os mesmos pensamentos em mente, e desenhe a linha apropriada (números pares = linhas interrompidas; linhas ímpares = linhas contínuas), estruturando o seu Hexagrama da linha de baixo (a primeira) para a de cima (a sexta).

A numeração ao lado indica apenas a seqüência das linhas, e não os números obtidos pelas jogadasdas moedas, que produzem as lin

Consulte a tabela abaixo. A coluna da esquerda traz 8 Trigramas, onde você irá procurar o “Trigrama inferior” do seu Hexagrama. Na coluna horizontal superior, você encontrará o seu “Trigrama superior”. Do cruzamento desses dois você terá o Hexagrama da questão consultada. Anote o número e nome dele e procure-o no manual ou livro.

NOTA: Ficou claro que as três moedas devem ser jogadas jutas seis vezes, sucessivas. O Hexagrama é formado de baixo para cima, ou seja, a primeira vez que você jogar as moedas estará formando a linha de baixo. E assim vai até a sexta linha – a última, ou linha de cima. Há somente sessenta e quatro (64) possibilidades de arranjo das linhas.

Preste atenção no pequeno número que aparece ao lado de cada linha. Se tiver algum 6 (3 coroas – “Grande Yin”) ou 9 (3 caras – “Grande Yang”), essas linhas estão com excesso do principio ativo ou passivo, e tendem a se transformar na sua oposta, ou complementar, de onde vem a fama do I Ching como “Livro das Mutações”. Estas Linhas têm significado próprio (há um comentário para as “Linhas Móveis” no texto que fala do primeiro Hexagrama obtido). Se não há nenhuma linha 6 ou 9 (linhas mutantes) no Hexagrama original, não haverá um segundo Hexagrama, geralmente dito “Hexagrama Futuro”.

O primeiro Hexagrama refere-se ao presente ou ao passado recente; já o segundo indica as mudanças necessárias para que o objetivo seja atingido. Se numa consulta o Hexagrama resultante não contêm nenhuma linha móvel, a situação que ele simboliza é constante e firme.

COMO INTERPRETAR

A linguagem do I Ching é, para a nós ocidentais do século XXI, um tanto quanto cifrada. Devemos sempre ter em mente que o I Ching é um intermediário entre o nosso “EU” interior, o nosso inconsciente, nosso Mestre Interior e o ambiente; dessa forma, nós o utilizamos para obter as respostas que temos dentro de nós.

A primeira linha representaria a sensação, chamada de “a causa externa”; a segunda o pensamento, a terceira o sentimento, a quarta o corpo, a quinta a alma e a sexta o espírito; que é o “resultado”. Esta sexta linha, como a primeira também não depende de sua consciência. A segunda linha é o “oficial”; a quinta “o príncipe”; a terceira é “a sua motivação” que o levará à quarta linha que é o “Karma”.

Cada Hexagrama tem uma ou mais linhas diretrizes, uma das quais normalmente ocupa o quinto lugar. As linhas 1 e 6 são extremidades da situação principal, e por isso, são as menos importantes. A linha 6 freqüentemente representa um sábio afastado da vida ativa.

EXPRESSÕES MAIS USADAS NOS TEXTOS

Há algumas expressões mais utilizadas pelo I Ching que para quem está começando a utilizá-lo podem parecer herméticas. Aqui seguem algumas dicas do que elas costumam significar:

  • A perseverança traz boa sorte: podemos dar prosseguimento aos nossos planos.
  • A perseverança traz desgraça: É melhor desistir dos nossos planos.
  • Arrependimento: consciência de nossos erros.
  • Boa fortuna – O céu está de acordo com a nossa vontade
  • Desgraça: acontecimentos ruins aos olhos dos outros e aos nossos próprios olhos.
  • É favorável atravessar a grande água: podemos empreender alguma coisa difícil ou viajar.
  • É favorável ver o grande homem – Seremos recompensados se buscarmos conselho e assistência de alguma pessoa de alto valor moral
  • É propício ter um objetivo em vista: desde que tenhamos um objetivo determinado, podemos seguir adiante.
  • É propício ver o grande homem: seremos recompensados se buscarmos conselho e assistência de alguma pessoa de alto valor moral.
  • Êxito Supremo: o Céu está de acordo com a nossa vontade.
  • Homem superior, nobre ou santo sábio: homem de grande valor moral, capaz de resistir firme e serenamente a forças que transformariam outros homens (os homens inferiores) em joguetes. Invulnerável à glória e à derrota, não gasta suas energias tentando o impossível. “Os tolos o consideram ainda mais tolo; os sábios, um sábio incomparável”. Invulnerável à glória e à derrota, não gasta suas energias tentando o impossível. Com freqüência designa o melhor de nós mesmos, nosso lado mais elevado, sábio, ético e nobre. Eventualmente pode designar pessoas em posição superior ou de poder.
  • Infortúnio – Acontecimento ruim aos olhos dos outros e aos nossos próprios olhos.
  • Nenhuma culpa – Se os resultados não são bons, devem-se a circunstâncias alheias à nossa vontade.
  • Sem erro ou culpa: se os resultados não são bons, devem-se à circunstâncias alheias à nossa vontade.

FILOSOFIA CHINESA

O I Ching é considerado um sistema operacional vazio, que independe do objeto e pode ser aplicado em diversas áreas, tornado-se a espinha dorsal de todas as ciências clássicas chinesas, como a Acunpuntura, o Feng Shui, etc. Para o pesquisador Ion Freitas Filho, seus símbolos são como uma álgebra, um código de barras. De fato, o próprio criador do cálculo binário, o filósofo e matemático alemão Leibniz (1646-1716) deve ao I Ching o “insight” para terminar seu estudo que possibilitou o surgimento da informática. “Ao contemplar a mudança de um símbolo em outro na seqüência circular dos 64 Hexagramas do I Ching, ele associou as linhas Yin e Yang a zero e 1, formulando o cálculo binário, que é a linguagem dos computadores modernos”, explica Ion . Portanto, não é nada exagerado dizer que o I Ching é o avô da informática.

As oito figuras que formam o I Ching estão na base da cultura que se desenvolveu na China durante milênios. Para os chineses a ordem do mundo depende de se dar o nome correto às coisas, portanto o significado de “I” sempre foi objeto de discussão.

A idéia básica do I Ching é o conceito de mutação, a eterna lei que rege todo o Universo. Entre os chineses, esta lei era chamada de Tao (que pode ser imperfeitamente traduzido com diversos significados: o Caminho, o curso dos acontecimentos) e se manifesta através do “Grande Princípio Primordial” (Tai Ch’i), cuja representação é um círculo dividido em escuridão e luz: Yin e Yang.

Para o pensamento chinês, não há o que mude, há apenas o mudar. A mutação seria o caráter mesmo do mundo. Mas a mutação é, em si mesma, invariável, ela sempre existe. Portanto, “I” significa mutação e não-mutação. Subjaz, à complexidade do Universo, uma “simplicidade” que consiste nos princípios que estão por trás de todos os ciclos. Ao fluir com as circunstâncias se evita o atrito e portanto a resistência: esse é o caminho do homem sábio. Tudo está em movimento e mutação constante, pois só a mudança é permanente. Aquele que reconhece a mutação não mais se detém sobre as coisas particulares, mas dirige-se à eterna lei imutável presente em toda mutação. Esta lei é o Tao.

O Tao representa o aspecto funcional do Absoluto e não deve ser confundido com o T’ai Chi, embora em muitos aspectos se assemelhe a este. Para cada coisa ou cada indivíduo existe um sentido próprio, um caminho.

Não há um homem que possa banhar-se duas vezes no mesmo rio”, dizia o filósofo grego Heráclito, “porque nem o rio é o mesmo rio, nem o homem é o mesmo homem”. Este sentido de transitoriedade para nossa cultura é algo terrível, mas para o pensamento chinês tradicional é a própria essência da mudança e da mutação. As coisas são transitórias porque mudam constantemente, mas não mudam por mudar, mudam constantemente porque tem um sentido, um TAO. Compreender que as coisas acontecem e se desvanecem é, então, compreender o movimento para adiante. Tudo na natureza muda e nunca é estável, lembrando o símbolo que representa o Yin e Yang.

Tanto o Taoísmo como o Confucionismo, as duas linhas da filosofia chinesa, beberam da fonte do I Ching. A ênfase no aspecto oracular variou com o tempo. No século VI a.C. era visto mais como livro de filosofia, ao passo que na dinastia Han, quando a magia teve grande papel, era visto como oráculo. No ocidente, infelizmente, seu uso como livro de sabedoria tem papel irrelevante.

O I Ching tem o conceito de uma família, cada pessoa representada por um Trigrama. Assim, temos o Pai e a Mãe, e mais três filhas e três filhos. O Trigrama do Pai, por exemplo, compreende três linhas inteiras. Também chamado “O Criativo”, e associado com o pai, o líder, o homem. Seu nome chinês é Chien . Simboliza o céu, o firmamento e a perseverança. Todos os outros Trigramas têm características próprias.

A cada Trigrama corresponde um ponto cardeal e uma direção na bússola; também representam os Elementos e, como vimos, sintetizam um determinado membro da família.

NOTA AUXILIAR AO USO DO I CHING:

Para descobrir a dinâmica do Trigrama é melhor analisar suas linhas.

 

O 1o Trigrama (linhas 1-2-3) contém assuntos pessoais e humanos. O 2o segundo Trigrama (linhas 4-5-6) contém assuntos universais. As linhas 1 e 6 estão nas extremidades do Hexagrama e por isso são as menos importantes. Os Trigramas (e os Hexagramas) são sempre lidos de baixo para cima.

ESTUDO DOS TRIGRAMAS

Os 8 Trigramas e seus principais significados:

BIOGRAFIA

 

I Ching, tradução do chinês para o alemão por Richard Wilhelm, 1923. Edição brasileira, 1982, traduzida do alemão por Alayde Mutzenbecher e Gustavo Corrêa Pinto; traz o prefácio de C.G.Jung à tradução inglesa.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/asia-oculta/como-entender-e-ler-o-i-ching/