Seguem-se algumas notas gerais sobre a música e os estados alterados de consciência:
1. Ser sempre seletivo com a música que escutamos
Não devemos simplesmente aceitar o que é gerado pela televisão, pelo rádio ou pelos sistemas de som instalados em nossa casa, trabalho ou local de encontro social. Esse tipo de escolha torna-se cada vez mais difícil na sociedade moderna, mas não devemos temer ser inconvenientes caso seja preciso: se a música num restaurante ou numa loja estiver alta demais, é justo pedir aos funcionários que a abaixem. A maioria das pessoas simplesmente aceita a poluição musical, sem jamais pensar em controlá-la. É essencial não sucumbirmos a essa atitude.
2. A consciência musical começa em casa
Não devemos ligar o rádio ou a televisão para “fazer companhia”. Um verdadeiro contato com a música só é estabelecido quando dedicamos a ela toda a nossa atenção – do contrário é melhor não ouvir nada. Quase tudo que sai dos meios de comunicação de massa age sobre nossa consciência porque não sabemos escutar verdadeiramente. Um período sem música deve ser considerado da mesma forma que uma mudança de dieta ou um jejum salutar: seu objetivo é eliminar os venenos do sistema. E quando conseguimos realizá-lo, sentimo-nos mais aptos, mais atentos e mais radiantes.
3. Evitar a música muito alta
Particularmente em concertos de rock e de música popular ou em discotecas. Essa regra deve ser aplicada também às músicas tocadas em casa ou em reuniões sociais. Se a música estiver alta demais e não houver como controlá-la, sempre podemos nos retirar para algum lugar onde ela seja menos ouvida. O volume do som em si funciona como uma droga, ativando nossos centros de energia de maneira deturpada e malsã (mesmo a medicina já mostrou que certas combinações de ritmo, luzes e baixas frequências produzem desequilíbrio mental, doenças físicas e, em casos extremos, convulsões). Após um período de”jejum musical”, ficaremos perplexos com o poder e o vigor da música orquestral, ao mesmo tempo em que nos nausearemos numa boate agitada. Não é uma questão de esnobismo ou de elitismo, mas de mecânica, biologia e psicologia. Com toda a justiça, vale acrescentar que certas formas musicais clássicas e de vanguarda também podem ser extremamente deprimentes e doentias.
4. Adquirir gosto pela música primordial
De início, isso pode ser difícil, particularmente se estivermos condicionados à música comercial ou estritamente à música clássica. Ressaltamamos que a música primordial ativa certas regiões primordiais de nossa consciência, e que não podemos esperar apreciar verdadeiramente a magia da música se não estivermos em contato com essas áreas vitais em nós mesmos.
5. Cantar e entoar para si
Há não muito tempo atrás, as pessoas tinham o costume de cantar. Hoje nós praticamente não cantamos mais, a menos que para copiar alguma canção das paradas de sucesso. Não devemos nos deixar desanimar por qualquer temor subjetivo de que nosso canto não seja “bom”. É o ato de fazer sons musicais com a voz que é importante, não um concerto público. Cantar e entoar podem ser associados à meditação ou podem fazer parte somente do esforço diário de usar musicalmente a voz. Ambas as possibilidades são igualmente importantes para nossa saúde musical.
6. Usar a própria voz; não devemos imitar as idiossincrasias alheias
Um hábito muito difundido hoje é imitar o estilo das músicas comerciais. Para evitar isso, devemos nos preparar e nos dispor a usar nossa voz natural, pois esse é o nosso melhor som. Em alguns de nós o hábito de cantar em entonações bizarras está profundamente arraigado, e o uso de um gravador pode ser um corretivo bastante útil.
7. Tentar aprender a tocar um instrumento musical
Novamente aqui, a profissionalização é irrelevante, pois é o ato de fazer música que possui significação mágica ou espiritual, e não as opiniões ou padrões correntes da música. Em vez de meramente efetuar os exercícios ou interpretar peças simples, podemos ficar tocando e repetindo várias vezes uma única nota, ouvindo o instrumento com total atenção para descortinar cada som individualizado que ele produz. De acordo com as tradições metafísicas, cada vez que fazemos uma nota soar estamos espelhando a criação do universo.
8. Dedicar um período do dia ao silêncio absoluto
Este é um tipo importantíssimo de meditação, e não precisa levar mais do que dez ou quinze minutos. O hábito regular de dedicar um período ao silêncio todos os dias tem a capacidade de transformar o modo como reagimos a todos os tipos de música num espaço de tempo relativamente curto (cerca de um mês).
9. Escutar música em circunstâncias de meditação
Numa sala em que não sejamos perturbados, sentamo-nos com os olhos fechados e colocamos uma música para tocar. Veremos que alguns tipos de música têm um poderoso efeito interno sobre nós, enquanto outros, que parecem superficialmente atraentes nas festas ou encontros sociais compulsivos, surtem pouco ou nenhum efeito, e podem ser até antagônicos à mente e ao corpo tranquilos.
Fonte:
R.J. STEWART, Música e Psique. Editora Cultrix: 1987. pg. 133.
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Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/uma-dieta-musical