Francis Barret que nasceu por volta de 1765 e vive até 1825 segundo registro é o herdeiro de uma vasta tradição ocultista europeia. Foi um estudioso da química, metafísica, filosofia natural e oculta e sua importância é o de ser a ponte entre o legado anterior da feitiçaria ocidental e o renascimento mágico do século XIX. Sua base foram as tradições orais vindas do oriente e as obras e manuscritos de homens como Abade Tritemo e Cornelio Agripa.
Paradigma Mágico de Francis Barrett
Ao contrário da maioria de seus antecessores Francis Barrett não acreditava simplesmente que o processo mágico consistia em apelações a forças exteriores que deveriam ser exaltadas ou intimidadas para se alcançar objetivos diversos. Ao contrário, para ele “O poder mágico está dentro dos homens. Uma certa proporção deste homem interno se alonga e se extende sobre todas as coisas. Quando uma pessoa está em uma disposição apropriada uma conexão apropriada entre homem e objetos pode ser obtida.”
Assim como Levi, Barrett tinha uma grande preocupação em aliar a prática mágica com suas o espírito científico nascente assim como com as suas próprias convicções religiosas cristãs. Sobre este respeito ele deixo registrado que “Magia é uma ciência muito boa e louvável da qual uma pessoa pode tirar proveito, tornando-se sábia e feliz. Sua prática está longe de ser ofensiva a jDeus ou ao homem, pois a própria raiz ou fundamento de toda a magia brota das Escrituras Sagradas, a saber: ‘O temos a Deus é o início de toda a sabedoria’, e a caridade é o objetivoe por essa razão os sábios eram chamados de Magi.” Portanto os reis Magos com todo conhecimento e sabedoria, puderam reconhecer que Cristo, o Salvador, havia nascido entre os homens. Suas últimas recomendações, antes que alguém leia o livro, dizem respeito ao uso deste conhecimento: que seja usado para a honra de nosso Criador e benefício do próximo, sentindo, portanto, a satisfação de estar cumprindo o dever. Manter silêncio e só falar àqueles que mereçam ouvir, para não dar pérolas a porcos. “Sê amável com todos, mas não íntimo, como dizem as Escrituras, pois muitos são lobos em pele de cordeiro.”
A Sociedade Mágica de Francis Barrett
Sabe-se muito pouco da vida de Barrett mas existem provas de que ainda jovem forma um seleto grupo de discípulos ou aprendizes de magos em Londres (Inglaterra) para estudar, ampliar e preservar esta tradição. Entre os membros do grupo se encontra Sir Edward Bulwer-Lytton (1803-1873) conhecido escritor e autor da novela “Zanoni”, talvez ainda o maior romance ocultista que tem como pano de fundo os princípios da Ordem Rosa-cruz e tratando metaforicamente da evolução da alma.
Esta sociedade mágica não era uma sociedade secreta, mas segundo o próprio Barret, uma “sociedade seleta e discreta”. Fora a menção deste grupo no legado de Francis Barret, existem documentos conservados até hoje sobre as atividades e natureza dos encontros. Summers, um pitoresco clérigo e ocultista nos tempos livres, relata que Barrett fundara uma “pequena confraria de estudiosos destes profundos mistérios”, complementando que “esta não estaria restrita apenas a Londres” e continua, afirmando que: “Alguns avançaram no caminho, e pelo menos um deles era um homem de Cambridge. A tradição de Barrett se manteve em Cambridge, embora de maneira muito reservada, transmitindo seus ensinamentos a discípulos promissores.”
Magus
Contudo, Barret é conhecido, não por sua escola ocultista, mas por seu famoso livro, Magus. Um compêndio de dois volumes que prometia encapsular um completo sistema de filosofia oculta e conhecimento mágico. Publicado em Lodres em 1801 consiste de uma seleção, organização, desenvolvimento e comentários dos quatro livros de filosofia oculta de Cornelius Agrippa e das traduções de Robert Turner do Heptameron datada de 1655. Barrett fez algumas correções, atualizaou a teoria e modernizou a sintaxe e vocabulário das invocações trazendo para o seu século o conhecimento ocultista das gerações anteriores, exatamente como faria Eliphas Levi, Aleister Crowley e Peter Carroll posteriormente.
Magus lidava com invocações, magnetisno, talismãs, alquimia, numerologia, cabala, demonologia, angeologia, magia elemental, a propriedade das pedras e hervas e trazia também as biografias de fomosos adeptos dos séculos anteriores. Além disso, Magus serviu também como uma ferramenta de propaganda para Barret. Nele, o ocultista despertou o interesse dos londrinos pela magia e conhecimentos ocultos e consequentemente em seu circulo de estudos. Um anúncio na página 140 do segundo volume da edição original especificamente se referia ao grupo fundado por Barrett:
“O autor desta obra respeitosamente informa para aqueles curiosos nos estudos da Arte e Natureza, e em especial da Filosofia Oculta Natural, Química, Astrologia, etc., etc., que tendo sido incansável em suas pesquisas das ciências sublimes, tratadas largamente neste livro, dá também aulas particulares e palestras sobre todas as ciências acima mencionadas, nas quais são reveladosmuitos curiosos e raros experimentos.”.
“Aqueles que se tornarem estudantes serão iniciados nas operações escolhidas de Filosofia Natural, Magia Natural, Cabbala, Química, Arte Talismânica, Filosofia hermética, Astrologia, Fisiognosis, etc, etc.. desta forma eles atingirão conhecimento dos Ritos, Mistérios, Cerimônias e Princípios dos antigos filósofos, nagos, cabalistas e adeptos.”
“O Propósito desta escola ( que consiste em um número não superior a 12 estudantes) é investigar os tesouros escondidos da natureza; trazer a mente a contemplação da Sabedoria Eterna, promover as descobertas do que quer que conduza a perfeição humana , aliviar as misérias e calamidades desta vida, em respeito a nós mesmos e a nossos semelhantes , estudar a moralidade e religião com vista em assegurar nossa felicidade eterna, e finalmente promulgar o que quer que conduza a felicidade e bem estar geral da humanidade.”
“Magus”, ou “A milicia celeste” compila um sistema completo de filosofia oculta, tratando de magia natural, cabala, magia cerimonial, alquimia e magnetismo. Serviu de referência para magos e estudiosos como Eliphas Levy e Papus por reunir conhecimentos de Zoroastro, Hermes Trismegistro, Apolônio e Tyana, Simão do Templo, Trithemus, Agrippa, Porta – o Napolipano, Dee, Paracelso, Roger Bacon e muitos outros.
O livro foi escrito quando as correspondências astrológicas já estavam plenamente incorporadas à Tradição Mágica Ocidental e cada planeta possuía seu próprio anjo. Dominando este conhecimento, teoricamente o mago poderia conjurar este anjo e obter o domínio sobre os aspectos da vida controlados pelo planeta correspondente. O acesso ao anjo costumava ser efetuado por intermédio do seu espírito, subordinando-o. Cassiel, por exemplo, era o espírito subordinado ao anjo de Saturno. Montague Summers assegurava que os espíritos que apareciam nas ilustrações do “Magus” eram desenhados do “natural”.
Legado e Posteridade
O livro ganhou popularidade local quase instantânea, mas Francis e sua obra só se tornaram referências do ocultismo quando ganhou uma segunda edição em 1875 e foi promovido por Eliphas Levi. É ainda hoje uma obra importante na coleção dos estudiosos e sua influência continua sendo enorme no meio ocultista até os dias de hoje.
A morte de Barret, Sir Edward Bulwer Lytton é datada em 1825. Após seu falecimento o grupo que formou começa a perder força até que eventualmente termina por extinguir-se, mas sua obra teve um importante papel no renascimento mágico que aocnteceu na Europa durante as primeiras decadas do século XIX.
1765 – 1825
Postagem original feita no https://mortesubita.net/biografias/francis-barrett/