Hércules e o Javali de Erimanto

Foram necessários dois anos para Hércules capturar um javali feroz que devastava tudo por onde passava. Esse trabalho está relacionado ao aprendizado da vida em sociedade.

“O javali é um monstro sem fronteiras, que não respeita limites. Cada um de nós tem dentro de si essa fera, que é preciso dominar, aprendendo a reconhecer nosso espaço e o das outras pessoas. É um teste para vencer o egoísmo e a equilibrar os impulsos”.

Mitologia

Hércules é incumbido de capturar o Javali de Erimanto, sem contudo saber que este trabalho era na verdade uma dupla prova: a prova da amizade rara e da coragem destemida. Foi-lhe recomendado que procurasse pelo javali e Apolo que lhe deu um arco novo para usar, porém Hércules disse que não o levaria consigo, porque temia matar. Ele disse:

“Eu não o levarei comigo neste trabalho, pois temo matar. Deixo aqui o arco.”

E assim desarmado, a não ser por sua clava, ele escalou a montanha, procurando pelo javali e encontrando um espetáculo de medo e terror por toda a parte. Mais e mais ele subia e em determinada altura encontrou um amigo, Pholos, que fazia parte de um grupo de centauros, conhecidos dos deuses.

Eles pararam e conversaram e por algum tempo Hércules esqueceu-se do objetivo da sua busca. E Pholos convidou Hércules para furar um barril de vinho, que não era dele mas do grupo de centauros e que viera dos deuses, juntamente com a ordem de que eles jamais deveriam furar o barril, a não ser quando todos os centauros estivessem presentes, já que ele pertencia ao grupo. Mas Hércules e Pholos abriram-no na ausência dos seus irmãos, convidando Cherion, um outro sábio centauro, para se juntar a eles. Assim ele fez, e os três beberam e festejaram e se embebedaram-se e fizeram muito ruído que foi ouvido pelos outros centauros.

Enraivecidos eles vieram e seguiu-se uma feroz batalha e uma vez mais Hércules fez-se mensageiro da morte e matou os seus amigos, a dupla de centauros com quem ele antes tinha bebido.

E, enquanto os demais centauros com altos lamentos choravam as suas perdas, Hércules escapou novamente para as altas montanhas e reiniciou a sua busca pelo javali. Até aos limites das neves ele avançou, seguindo a pista do animal, mas não o encontrava. Depois de muito pensar, Hércules colocou uma armadilha habilidosamente oculta e esperou nas sombras pela chegada do javali.

Quando a aurora surgiu, o javali saiu da sua toca levado por uma fome atroz e caiu na armadilha de Hércules que, no tempo devido, libertou a fera selvagem, tornando-a prisioneira da sua habilidade. Ele lutou com o javali e domesticou-o, e fê-lo fazer o que lhe determinava e seguir para onde Hércules desejava.

Do pico nevado da alta montanha Hércules desceu, regozijando-se no caminho, levando adiante de si, montanha abaixo, o feroz, contudo domesticado javali. Pelas duas pernas traseiras ele conduziu o javali, e todos na montanha se riam ao ver o espectáculo. E todos os que encontrava Hércules, cantando e dançando pelo caminho, também riam ao ver a sua caminhada. E todos na cidade riram ao ver o espectáculo: o exausto javali e o homem cantando e rindo.

Quando reencontrou seu Mestre, este lhe disse: “O Trabalho foi completado. Medita sobre as lições do passado, reflecte sobre as provas. Por duas vezes mataste a quem amavas. Aprende porquê.”

Simbologia

Este trabalho está associado ao signo de Libra e Áries, onde a aprendizagem consiste na capacidade de manter o equilíbrio perante as adversidades (Libra), sendo capaz de manter as necessidades básicas atendidas (Áries).

Libra é o primeiro signo que não tem um símbolo humano ou animal, mas sustentando a balança, está a figura da Justiça – uma mulher com os olhos vendados. Ele apresenta-se com muitos paradoxos e extremos, dependendo de se o discípulo que se voltou conscientemente para o caminho de volta ao Criador segue o zodíaco segundo os ponteiros do relógio, ou no caminho inverso. Diz-se que é um interlúdio, comparável com a silenciosa escuta na meditação; um tempo de cobranças do passado.

Neste ponto percebemos como o equilíbrio dos pares de opostos deve ser atingido. A balança pode oscilar do preconceito até à injustiça ou julgamento; da dura estupidez à sabedoria entusiástica. Neste majestoso signo de equilíbrio e justiça nós verificamos que a prova termina numa explosão de riso, o único trabalho em que isso acontece.

Hércules conviveu, riu e cantou com os amigos, sendo que socializar é uma característica de Libra, e em vez de seguir a recomendação, de abrir o barril para o grupo, abriu-o para celebrar com um único centauro, procurando aqui um espelho, uma identificação com o outro. E embora estivesse determinado a não matar, o seu impulso, primeiro, de Áries, foi mais forte.

No entanto, Hércules conseguiu também entregar o javali ainda com vida e já domesticado, demonstrando que era possível domesticar o animal, devido à sua dedicação e delicadeza no trato, atributo natural de Libra.

Caminho de Iniciação

O Caminho de Iniciação considera o 3º Trabalho – A Captura da Corça Cerínia e o 4º Trabalho – O Javali de Erimanto como um só.

O céu de Vênus é a morada dos Principados. Esses vivem no Mundo Causal. O Iniciado que anela entrar nessa oculta morada interior, antes dve descer aos infernos de Vênus, e ali, como Hércules, capturar a Corça de Cerínia e o Negro Javali de Erimanto. Nesses dois símbolos vemos claramente a delicadeza e a brutalidade, o refinado e o tosco, a bela e a fera.

O Javali, perverso como poucos, é o símbolo vivo de todas as baixas paixões animais, a luxúria mais grosseira e devassa. Portanto, temos aí o contraste entre o denso e o sutil.

Mesmo após haver eliminado os defeitos do Mundo Astral Inferior e do Mundo Mental Inferior (as duas primeiras façanhas de Hércules), as “causas” desses defeitos continuam existindo. Essas causas são eliminadas durante os processos do terceiro e quarto Trabalhos de Hércules: a captura da Corça Cerínia e do Javali de Erimanto.

Se todos os defeitos têm origem sexual (não importa se os defeitos são refinados ou toscos), as maiores provas do Terceiro e Quarto Trabalhos consistem em resistir às tentações da carne, cujo drama foi ricamente descrito pelo patriarca gnóstico Santo Agostinho: Imenso é o número de delitos cujos gérmens causais devem ser eliminados nos infernos de Vênus.

Findo o Trabalho nos infernos do Mundo Causal, o Mundo de Tipheret, o Cristo Cósmico penetra no coração do Iniciado e este, cheio de êxtase, exclama: “Deixai vir a mim as criancinhas, porque delas é o Reino dos Céus…”

Biblioteca de Antroposofia.

#Hércules #Mitologia

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/h%C3%A9rcules-e-o-javali-de-erimanto

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