O catarismo, do grego katharos, que significa puro, foi uma seita cristã da Idade Média, descendente direta dos essênios, que se tornou conhecida no Limousin (França) ao final do século XI, a qual praticava um sincretismo cristão, gnóstico e maniqueísta, manifestado num extremo ascetismo. Concebia a dualidade entre o espírito e a matéria, assim como, respectivamente, o bem e o mal. Os cátaros foram condenados pelo 4º Concílio Lateranense em 1215 pelo Papa Inocêncio III, e foram aniquilados durante a quarta cruzada e pelas ações da Inquisição, tornada oficial em 1233.
Que segredo possuíam os cátaros, para causar tanto mal estar à Igreja Católica?
Antes de começar com os Cátaros, seria interessante ao leitor acompanhar os textos mais antigos sobre como o cristianismo original se desenvolveu até chegar aos Cátaros e ao Sul da França:
– Bota o Natal na conta do Papa
– Jesus Cristo e Maria Madalena
– Pitágoras e Buda, os professores de Jesus
– Seria Yeshua um X-men?
– Que fim levaram os Apóstolos?
O maniqueísmo
Maniqueísmo, filosofia religiosa sincrética e dualística ensinada pelo profeta persa Mani (216-276), combinando elementos do Zoroastrismo, Cristianismo e Gnosticismo, condenado pelo governo do Império Romano, filósofos neoplatonistas e cristãos ortodoxos.
A igreja cristã de Mani era estruturada a partir dos diversos graus do desenvolvimento interior. Ele mesmo a encabeçava como apóstolo de Jesus Cristo. Junto a ele eram mantidos doze instrutores ou filhos da misericórdia. Seis filhos iluminados pelo sol do conhecimento assistiam cada um deles. Esses “epíscopos” (bispos) eram auxiliados por seis presbíteros ou filhos da inteligência. O quarto círculo compreendia inúmeros eleitos chamados de filhos e filhas da verdade ou dos mistérios. Sua tarefa era pregar, cantar, escrever e traduzir. O quinto círculo era formado pelos auditores ou filhos e filhas da compreensão. Para esse último grupo, as exigências eram menores. Mani foi um preservador da tradição gnóstica. Com a morte de Mestre Jesus, o Cristo, os discípulos se separaram em dois grupos, e fugiram. Um, como bem sabemos, o maior, seguiu para o Egito (onde escolas gnósticas floresceram nas décadas seguintes), seguindo depois para o porto de Marselha, na França. Tal é o motivo de Maria Madalena ser tão venerada na França, e Tiago ter seu famoso “Caminho de Santiago de Compostela”. Tal é o motivo das historias britânicas estarem estritamente relacionadas a José de Arimatéia e assim por diante. Do outro lado temos o grupo de Tomé, Simão o Mago, Matheus… que sobe para as regiões da Síria, onde pequenos núcleos de buscadores da gnosis serão formados. Décadas depois a Síria estará entre as regiões visitadas por Apolônio de Tyana e o gnóstico Paulo. Aliás, a Síria sempre foi objeto de grande interesse espiritual, séculos depois é para a Síria que os Templários se dirigem em busca dos Mistérios, e é igualmente para a Síria que Christian Rosenkrantz, o pseudônimo do fundador dos rosacruzes, se dirige, e lá encontra o seu “livro secreto”, e um “augusta fraternidade”.
“Coincidência” ou não, é impossível ignorar a importância dessa região. Algo, sem dúvida, devia haver lá.Então, esse segundo grupo de discípulos se dirige para a Síria. Há relatos que sugerem que Tomé teria passado um tempo lá e retornado para a Índia (como indica o Hino da Perola, que é simbólico, mas usa de base a historia de um príncipe que veio do Oriente). Curiosamente esse ‘Hino da Pérola’ (Ou ‘Hino da veste de glória’) vai ser divulgado a partir de escolas na Síria.
Entre a coleção de textos divulgados pela escola da Síria, está o dito Hino e também os escritos de Tomé; cópias do Evangelho de Tomé se preservaram graças a esses gnósticos antigos.
Além do Evangelho de Tomé, temos o “Livro de Tomé” redigido por Matheus enquanto Jesus conversava com Tomé, segundo consta o próprio livro. Esses textos são divulgados mais tarde principalmente por um gnóstico chamado Bardesanes, na Síria. Bardesanes não é nada menos que o avô de Mani. Portanto é nesse contexto gnóstico de Hinos da veste de glória e Evangelho de Tomé que Mani, o Profeta da Luz, é educado. Mani, jovem e inspirado, ignorou ingenuamente o perigo que vinha do oeste e ensinou abertamente a população; logo, os atentos olhos da Igreja de mão de ferro que se formava em Roma viram em Mani um problema.
Assim o maniqueísmo passou a ser combatido.
Os Paulicianos
Os Paulícianos ou Paulacianos eram um grupo de Cristãos considerados hereges pelo Catolicismo que predominavam na Armênia, antiga Babilônia, Síria, Palestina, Monte Arará, Cordilheira do Touro e Antióquia no Séc. VI d.c no chamado Império Bizantino.
Eles traziam os ensinamentos dos apóstolos que foram para a Síria e tiveram seu início a partir das pregações dos mesmos no primeiro século depois de Cristo.
O Imperador Justiniano ao promulgar seu código a partir de 525 d.C, declarou que o “rebatismo” ou “Anabatismo”(grego) era uma das heresias que deveriam ser punidas por morte, os Paulacianos tinham como apelido “Sabian” que expressava o ato de batizarem por imersão e rebatizarem indivíduos provindos do catolicismo, pois rejeitavam a submissão à Igreja Romana, por isso eram tidos como “Anabatistas hereges”.
Em 668 DC iniciou-se uma grande perseguição aos Paulacianos que provocou a morte de um de seus grandes líderes chamado Constantino em 690 DC,que foi morto apedrejado e seu sucessor queimado vivo. Eles tiveram um pequeno fôlego nos anos seguintes por conta do filho de Leão III, que simpatizava com a sua causa.
A Imperadora Teodósia, no séc.IX (842-867 DC) iniciou uma perseguição que matou 100.000 deles, pois eram acusados de Anabatismo e denominados Gnósticos e Maniqueísmo Dualistas. (não confundir Teodósia com Teodora, nem com Marósia que, assim como a Imperadora, também são gente que faz!) A Imperadora era defensora do culto com ícones (imagens), os Paulacianos porem negavam-se ao uso de imagens, rejeitavam cultos aos santos e culto a Maria.
Após as perseguições os então denominados hereges Paulacianos expandiram-se para os Balcãs ocidentais, dando origem aos Bogomilos e aos Albigenses nos Alpes do sul da França ao se unirem com os “hereges” que lá residiam.
Nos registros do século XII (mais precisamente no ano de 1.116 DC), um grupo que se denominava Paulaciano desembarcou na Inglaterra, sendo então perseguido pelo Imperador Henrique II que ordenou que fossem ferreteados na testa e expulsos do território Inglês. Alguns teólogos e historiadores pertencentes à Igreja Batista afirmam que os Paulacianos eram os “Batistas antes da Reforma”.
Os bogomilos diziam ser a “verdadeira e oculta Igreja Cristã”. Esta heresia precipitou o surgimento do catarismo e era tradicionalmente reconhecida por eclesiásticos e inquisidores como “tradição oculta por trás do catarismo”.
Os Cátaros
Nos meados do século XII, iniciou-se na Itália um movimento religioso denominado Catarismo (Albigenses), a doutrina dos cátaros era nitidamente diferente da Igreja Católica, numa reação à Igreja Católica e suas práticas, como a venda de indulgências, e a soberba vida dos padres e bispos da época, que viviam imersos em corrupção, prostituição e baixarias sem fim.
Os cátaros eram radicais e dualistas, assim como os maniqueístas; acreditavam que a salvação vinha em seguir o exemplo da vida de Jesus, negavam que o mundo físico imperfeito pudesse ser obra de Deus, acreditavam ser o mundo criação do príncipe das trevas, rejeitavam a versão bíblica da criação do mundo e todo o antigo testamento, acreditavam na reencarnação, não aceitavam a cruz, a confissão e todos os ornamentos religiosos.
Com medo da repressão da Igreja, os Cátaros mantiveram sua fé em segredo; porém, em pouco tempo esta ordem atraiu muitos seguidores. Cresceram bastante no sul da França e se estenderam a região do Flandres e da Catalunha, funcionaram abertamente com a proteção dos poderosos senhores feudais, capazes de desafiar até mesmo o Papa.
O chamado “Pays Cathare” (País Cátaro) se estendia pela zona chamada Occitania , atual Languedoc, em uma extensão fronteiriça com Toulouse até o oeste, nos Pirineus até o sul, e no Mediterráneo até o leste. Em definitivo, uma área política que, durante o século XIII, limitava-se com a Coroa de Aragão, França e condados independentes como o de Foix e Toulouse.
As cerimônias cátaras eram muito simples e consistiam basicamente em um sermão breve, uma benção e uma oração ao Senhor; essa simplicidade influenciou posteriormente uma gama de seguimentos protestantes. Possuíam duas classes ou graus.
Os leigos eram conhecidos como crentes e a esses não eram exigidos seguir suas regras de abstinência reservada aos perfecti, ou bonhomes eleitos, que formavam a mais alta hierarquia do catarismo. Para ser um perfecti tinham que tanto homem quanto mulher, passar por um período de provas nunca inferior a 2 anos, e durante esse tempo, faziam a renúncia de todos os bens terrenos, abstinham de carne e vinho, não poderiam ter contato com o sexo oposto. Depois deste período o candidato recebia sua iniciação conhecida com o nome de Consolamentum que era realizada em público. Essa cerimônia parecia com o batismo e continha também uma confirmação e uma ordenação.
Na idade média, marcada pela violência e pela sede de poder da igreja Católica Romana, o Catarismo chocou-se frontalmente com o dogmatismo da Igreja. A religião cátara propunha, como aspectos básicos, a reencarnação do espírito, a concepção da terra como materialização do Mal, por encher a alma de desejos e prende-la às coisas efêmeras do mundo, e do céu como a do Bem, numa concepção dualista do mundo. Mas o principal ponto de discórdia tenha sido o de que os cátaros não admitiam qualquer tipo de intemediação entre o homem e Deus. Sem papa, sem dízimo. Neste ponto o leitor já deve ter uma noção que uma religião como esta não duraria muito quando a Igreja católica resolvesse agir, certo?
A Cruzada Albigesa
A Cruzada Albigesa (devido à cidade de Albi), comandada por Simon de Montfort (1209 – 1224) e pelo Rei Luis VIII (1226-1229) durou 40 anos. A perseguição arrasou a região dos Cátaros, a resistência teve que enfrentar-se com duas forças enormes, o poder militar do Rei de França e o poder espiritual da Igreja Católica.
Na primeira fase da cruzada, foi destruída a cidades de Béziers (1209), onde 60.000 pessoas morreram. Destruída a cidade, os cruzados marcham para a cidade de Carcassone, onde Simon de Montfort se apossa dos condados de Trencavel (carcassone, Béziers), conquistando também Alzonne, Franjeaux, Castres, Mirepoix, Pamiera e Albi.
Em Béziers, tornou-se célebre o diálogo entre o comandante dos cruzados e o representante do papa: Disse o comandante “Mas senhor, nesta cidade encontram-se vivendo em paz cristãos, judeus, árabes e cátaros. Como vamos saber quais são os inimigos?” ao que a Igreja respondeu “Matem todos; Deus escolherá os seus!”
Em 1216, houve outra investida contra os cátaros. Simon morre em 1218, acabando também a cruzada, sem, entretanto, extinguir a heresia. Amaury, filho de Montfort, oferece as terras conquistadas por seu pai a Felipe Augusto, rei da França que as recusa, porém seu filho Luís VIII acabará aceitando as terras.
Em 1224 Luís VIII liderando os barões do norte, empreendeu uma nova cruzada que durou cerca de três anos alcançando muitas conquistas até chegar a Avignon, onde termina o cerco contra os hereges. O resultado dessa disputa foi um acordo imposto pelo rei da França aos Senhores feudais das áreas conquistadas e conseqüentemente os domínios disputados passariam para a coroa da França (Tratado de Meaux, 1229).
Militarmente, apesar de terem o apóio de pequenos condados, os cátaros não conseguiram resistir ao genocídio das cruzadas, embora elas não tenham conseguido erradicar o Catarismo de forma definitiva… até a Inquisição!
Muitos dos Cátaros encontraram refúgio dentro das Ordens Templárias, chegando até mesmo a executar seus rituais dentro das Igrejas e Castelos templários. O abrigo e proteção aos Cátaros foi uma das inúmeras alegações que a Igreja usou contra os Templários em 1314.
Os Cátaros deram origem aos primeiros grupos dos chamados “Alquimistas” e seus textos simbólicos, que a partir do século XVII passaram ser conhecidos como Rosacruzes.
Líderes Templários do Período:
Gilbert Horal: Um grande líder templário, que tentou estabelecer alianças e fazer as pazes com os muçulmanos. Por conta disso, as tensões entre os Templários e os Hospitalários ficaram maiores do que nunca, a ponto quase de eclodir uma guerra interna entre os cavaleiros. Durante as reuniões com o papa Inocente III, este argumentou a favor dos Hospitalários, pois o papa estava furioso com os acordos de paz entre os Templários e Malek-Adel, irmão de Saladino. Gilbert organizou e ampliou as posses dos Templários na França.
Phillipe de Plessis: foi o décimo-terceiro Grão Mestre Templário, de 1201 a 1208. Ele se juntou aos cruzados durante a Terceira Cruzada e acabou conhecendo e se iniciando nos místérios Templários em Jerusalém. Não houveram muitas intervenções militares durante seu governo, pois a 4a cruzada nunca saiu da europa; os Templários atingiram seu pico de influencia e força e criaram uma grande disputa com os Teutônicos na Germania (o que quase causou a expulsão dos Templários do território, se não fosse a intervenção do papa).
#Templários
Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/os-c%C3%A1taros-e-a-quarta-cruzada